ÁREA DE CONTATO INTERFACIAL: ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO
PROPORCIONAMENTO DA ARGAMASSA E DA TENSÃO SUPERFICIAL DO
SUBSTRATO ATRAVÉS DE DIGITALIZAÇÃO TRIDIMENSIONAL A LASER
CARINA MARIANE STOLZ (1); ANGELA BORGES MASUERO (2)
(1) NORIE/UFRGS- Universidade Federal do Rio Grande do Sul –[email protected]; (2) NORIE/UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul –[email protected].
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo avaliar a influência do proporcionamento das
argamassas e da tensão superficial dos substratos no desenvolvimento da área de contato na
interface argamassa/substrato. Para tal, foram dosadas argamassas de proporcionamentos
1:0:3, 1:1:6 e 1:2:9 (cimento:cal:areia, materiais secos, em volume). Estas foram lançadas
através de energia controlada sobre substratos não porosos e não rugosos com duas diferentes
tensões superficiais: o vidro e o polietileno. Após curadas e separadas dos substratos, as
interfaces das argamassas foram digitalizadas através de scanner tridimensional a laser, de
forma que a imagem resultante da nuvem de pontos permitiu a quantificação da área de contato
real. Os resultados mostram que a tensão superficial e o proporcionamento das argamassas
exercem influência significativa sobre a área de contato e que a digitalização tridimensional a
laser é uma ferramenta adequada para a quantificação desta propriedade.
Palavras-chave: argamassa, área de contato, tensão superficial, scanner tridimensional a laser.
argamassa.
INTERFACIAL CONTACT AREA: ANALYSIS OF MORTAR PROPORTIONING AND SURFACE
TENSION INFLUENCE THROUGH 3D SCANNING LASER
ABSTRACT
This paper aims to evaluate the influence of mortar proportioning and the surface tension on
contact area the at the interface mortar / substrate development. Mortars were prepared with
compositions 1:0: 3, 1: 1: 6 and 1: 2: 9 (cement: hydrated lime: dry sand). Mortars were applied,
with controlled energy, on two non-absorbent substrates with different wettability ratings were
chosen: glass and polypropylene. After applied on substrates and cured, manual separation of
the mortar/substrates was performed. The mortar interface was then digitalized with a
Tecnodrill tridimensional laser scanner. The results were treated with the Geomagic Studio 10
software to generate a tridimensional image and contact area was quantified on Photoshop CS5
Software. Results showed that the surface tension and mortar proportioning had significant
influence on the contact area development and the three-dimensional laser scan is an
appropriate tool for this property quantification.
Keywords: mortar, contact area, superficial tension, tridimensional laser scanner, mortar.
1. INTRODUÇÃO
“O fenômeno do molhamento consiste na expansão espontânea de uma fase sobre a superfície
de outra” (1). Em contato com um sólido, o líquido pode se espalhar total ou parcialmente ao
longo da superfície sólida, ou mesmo não se espalhar. De acordo com o princípio da minimização
de energia em processos espontâneos, o líquido se espalhará com maior facilidade quanto
menor a tensão superficial na interface líquido/sólido(1).
O termo molhamento é aplicado quando nos referimos ao deslocamento do ar em uma
superfície sólida ou líquida pela água ou outra solução aquosa. Os tipos de molhamento podem
ser divididos em três, quais sejam(2):
a. molhamento por espalhamento: um líquido em contato com um substrato se espalha e
expulsa outro fluido, como o ar, da superfície. Para este molhamento acontecer
espontaneamente, a energia livre do substrato deve diminuir durante o espalhamento
(figura 1a);
b. molhamento por adesão: um líquido que originalmente não estava em contato com o
substrato passa a fazer contato e adere a ele pela ação de uma “força propulsora”
dependente das tensões sólido/ar, líquido/ar e sólido/líquido (figura 1b);
c. molhamento por imersão: um substrato que inicialmente não estava em contato com
um líquido é imerso completamente pelo líquido (figura 1c).
Figura 1 - Tipos de molhamento: a) por espalhamento; b) por adesão; c) por imersão (adaptado
de 2)
A hidrofilicidade, ou facilidade de molhamento, de um determinado substrato pode ser medida
através do ângulo que uma gota forma com a base e, através deste ângulo medido, pode-se
calcular sua tensão superficial, pela Equação de Young-Laplace. No caso dos ângulos de contato,
a interface líquido-vapor incide sobre a sólida. Este ângulo é único para cada sistema, pois
Ar (A) ƔLA
ƔSL ƔSA B C
Substrato (S)
Líquido (L)
a)
ɸ Líquido (L)
Substrato (S)
b)
Ar (A)
Líquido (L)Substrato (S)
c)
dependerá da interação entre as três interfaces (3). Com ângulo de contato como condições de
contorno, a equação de Young-Laplace fica conforme a equação (A).
LV
SLSV
cos
(A)
Onde ɣSV é a energia de interface entre o sólido e o vapor, ɣSL entre o sólido e o líquido, ɣLV entre
o líquido e o vapor e o ângulo θ é obtido experimentalmente.
Uma suspensão, ao molhar uma superfície, gera uma área de contato na interface entre as
mesmas, de forma que pode-se dizer que existe uma área de contato potencial e uma área de
contato real. A área de contato (real) não é igual a área da interface (potencial), uma vez que
não há superfície perfeitamente plana, qualquer superfície em escala microscópica possui
muitas rugosidades, de forma que a área de contato entre duas superfícies é muito menor do
que a área de contato aparente (potencial), como mostra a figura 2 (4).
Figura 2 - Contatos reais formados na interface de duas superfícies (adaptado de 4)
São diversas as características do substrato que irão influenciar no comportamento da
argamassa aplicada sobre ele e no desenvolvimento do contato interfacial, como a rugosidade,
a tensão superficial e a porosidade.
Dentro deste contexto, o presente trabalho objetiva avaliar a influência da tensão superficial do
substrato e do proporcionamento da argamassa no desenvolvimento da área de contato na
interface argamassa/substrato.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
A figura 3 apresenta a matriz experimental executada neste trabalho. Foram produzidas três
argamassas de proporcionamentos 1:0:3, 1:1:6 e 1:2:9 (cimento:cal:areia, materiais secos, em
volume). Os materiais foram dosados em massa.
Figura 3 – Matriz experimental
2.1. Produção das argamassas
As argamassas foram produzidas com cimento Portland CPIV-32, classificado segundo a ABNT
NBR 5736:1991(5) como um cimento pozolânico, cuja caracterização está apresentada na Tabela
1.
Tabela 1 – Caracterização do cimento
Método ResultadosExigências NBR
5736/91
Superfície específica Blaine*** NBR NM 76/98 4398,5cm²/g
Massa específica* NBR NM 23/01 2,76g/cm³
Diâmetro médio** Granulometria a laser 16,95µm
Finura peneira nº 200*** NBR 11579/91 0,27%
Início de pega*** NBR NM 65/02 243,25min ≥1h
Fim de pega*** NBR NM 65/02 284,80min ≤12h
7 dias NBR 7215/96 25,03MPa ≥20MPa
28 dias NBR 7215/96 36,20MPa ≥32MPa
Resíduo insolúvel*** NBR NM 22/04 35,84%
Anidrido Sulfúrico (SO3)*** NBR NM 146/04 2,28%
Óxido de Magnésio (MgO)*** NBR NM 14/04 4,61% ≤ 6,5%
Perda ao fogo*** 3,64% ≤ 4,5%*ensaio realizado no LAMTAC -NORIE - UFRGS
**ensaios realizados no LACER - UFRGS
***dados fornecidos pelo fabricante
Ensaio
Resistência à compressão***
A cal utilizada na confecção das argamassas é classificada como hidratada CH-I conforme a ABNT
NBR 7175:2003(6) e possui massa específica de 2,28 g/cm³ e diâmetro médio de partículas de
9,03mµ.
A areia utilizada tem origem quartzosa e é proveniente do Rio Jacuí/RS. A mesma foi seca e
passou por peneiramento em quatro frações, quais sejam: passante na malha 2,4 mm e retida
na malha 1,2 mm; passante na malha 1,2 mm e retida na malha 0,6 mm; passante na malha 0,6
mm e retida na malha 0,3mm e passante na malha 0,3 mm e retida na malha 0,15mm. Compôs-
se então um agregado miúdo com características semelhantes a de uma areia natural média,
disponível na cidade de Porto Alegre/RS conforme mostra a Tabela 2.
Tabela 2 – Composição e características físicas do agregado miúdo
# 1,2 #0,6 #0,3 #0,15 Massa
específica Massa
unitária Coeficiente de uniformidade
10% 40% 40% 10% 2,62 g/cm³ 1,48 g/cm³ 2,48
Foram produzidas três argamassas, chamadas de A3, A6 e A9 com proporcionamentos de 1:0:3,
1:1:6 e 1:2:9 (cimento:cal:areia, materiais secos, em volume), respectivamente. A água para
cada um destes proporcionamentos foi ajustada para se obter o índice de consistência de
240mm.
As argamassas foram produzidas em conformidade com a ABNT NBR 13276:2005(7) em
argamassadeira eletromecânica automática com controlador automático digital, movimento
planetário e capacidade de 5 litros. Todas as argamassas foram produzidas com 1,5kg de
material seco, para que a quantidade de material não exercesse influência sobre a mistura e,
consequentemente, sobre o seu comportamento reológico.
2.2. Escolha dos substratos
Visando isolar a variável tensão superficial, tomou-se a decisão de utilizar substratos lisos e não
porosos com diferentes tensões superficiais. Mensurou-se o ângulo de contato de diversas
superfícies lisas (oito valores de cada), obtendo-se os ângulos de contato médios (θm) para cada
uma delas. Então, definiram-se como superfícies de estudo o vidro e o polietileno, visto que seus
comportamentos foram diferentes entre si, podendo ser classificados como hidrofílico (θm<30º)
e hidrofóbico (θm>90º), conforme classificação apresenta na Tabela 3. Com o valor do ângulo
de contato médio, foi possível calcular, através da equação de Young-Laplace os valores de
tensão superficial sólido/líquido (ƔSL) para cada um dos substratos.
Tabela 3 – Tensão superficial dos substratos de vidro e polietileno
Material Ângulo de contato Tensão
Superficial
Vidro
𝜽m = 27º
ƔSL=935,13 dinas/cm
Polietileno
𝜽m= 96º
ƔSL= -38 dinas/cm
2.3. Lançamento das argamassas sobre os substratos
A aplicação das argamassas sobre os substratos foi realizada através da utilização de um
dispositivo denominado caixa de queda (Figura 4a) com base nos dispositivos desenvolvidos por
Carasek(8) e Paes(9), com altura de queda de 100cm.
Para manter constante e facilitar o lançamento da quantidade de argamassa produzida nesta
pesquisa, foi confeccionado um gabarito de madeira com uma guilhotina horizontal de acrílico
adaptada (Figura 4b e c). O gabarito superior possui dimensões de 10cmx10cm e 5cm de altura,
o qual é preenchido com argamassa até sua borda e submetido a cinco golpes com martelo de
borracha em cada uma de suas arestas. Este adensamento é realizado para padronizar a
quantidade de argamassa a ser lançada sobre os substratos e evitar possíveis efeitos de
variações no adensamento das argamassas no desenvolvimento da área de contato das mesmas,
eliminando-se assim um possível fator de ruído.
Posteriormente, a guilhotina era aberta e a argamassa lançada sobre o gabarito inferior
confeccionado em madeira, com dimensões internas de 10cmx10cm, sendo a espessura dos
revestimentos fixada em dois centímetros. Visando evitar o efeito do “aperto” causado pelo
sarrafeamento, o excesso de argamassa foi retirado através da utilização de régua metálica
posicionada a 45°, no sentido oposto ao seu deslizamento.
Figura 4 – caixa de queda: a) representação gráfica do dispositivo, b) representação gráfica da
vista inferior do gabarito de madeira com o sistema de guilhotina c) vista inferior do gabarito
de madeira com o sistema de guilhotina d) vista geral do dispositivo e seus componentes.
a)
b)
c)
d)
2.4. Ensaios de caracterização das argamassas
Para a caracterização das argamassas no estado fresco foram realizados ensaios de densidade
de massa (ABNT NBR 13278:2005(10)), teor de ar incorporado (ABNT NBR NM 47:2002(11)),
retenção de água (ABNT NBR 13277:2005(12)) e reometria rotacional. Para a realização da
reometria rotacional foi utilizada palheta do tipo vane, V 30x15, com 30mm de altura e 15mm
de diâmetro, em recipiente padrão para todas as argamassas. A rotina escolhida para a análise
das argamassas consistiu em quatro patamares de leituras, sendo uma a cada 20 segundos,
atingindo-se uma taxa de cisalhamento máxima de 1001/s.
No estado endurecido foram realizados, aos 28 dias, os ensaios de resistência à compressão e
resistência à tração na flexão (ABNT NBR 13279:2005(13)), absorção de água por capilaridade
(ABNT NBR 15259:2005(14)), densidade de massa aparente no estado endurecido (ABNT NBR
13280:2005(15)) e módulo de elasticidade dinâmico (ABNT NBR 15630:2008(16)).
2.5. Mensuração da área de contato através de Scanner tridimensional a laser
Para a realização das digitalizações foi utilizado um scanner tridimensional a laser da marca
Tecnodrill, modelo Digimill (3D), disponível no Laboratório de Design e Seleção de materiais
(LdSM) da UFRGS.
As imagens foram digitalizadas com lentes de 50mm, com precisão entre pontos de 0,1mm, em
seguida, a nuvem de pontos resultantes da digitalização foi tratada em dois softwares. No
software Geomagic Studio 10 foi realizada transformação da nuvem de pontos resultante do
scanner em uma malha de triângulos, gerando uma imagem tridimensional. Esta imagem gerada
foi salva em formato PNG e exportada para o software Photoshop CS5, no qual é possível medir
a quantidade de área de contato e de falhas, através dos pixels.
A Figura 5 apresenta exemplos de imagens obtidas da digitalização tridimensional a laser
tratadas no software Geomagic Studio 10 e no software Photoshop CS5, respectivamente. Na
imagem “a” observa-se as falhas de contato em azul mais escuro, enquanto na imagem “b”, após
o tratamento, as falhas de contato estão na cor preta, conforme indicado pelas setas.
Figura 5 – Tratamento de imagens: a) Geomagic Studio 10 b) Photoshop CS5
a)
b)
3. RESULTADOS
Os resultados obtidos para o programa experimental proposto estão apresentados nos
subitens abaixo.
3.1. Dosagem das argamassas
A tabela 4 apresenta a dosagem das argamassas A3 (1:0:3), A6 (1:1:6) e A9 (1:2:9).
Tabela 4 – Dosagem das argamassas
Composição Granulométrica - 10%, 40%, 40%, 10%
Argamassa Água (g) Consistência média (mm) Relação a/c Relação a/ l
A3 237,5 250 1,04 1,04
A6 229 240 1,94 1,21
A9 261,3 247 3,29 1,48
* a/c= relação água/ cimento; a/ l= relação água/ ligantes
3.2. Caracterização das argamassas
Os ensaios de caracterização no estado fresco e endurecido das argamassas A3, A6 e A9 estão
apresentados na Tabela 5.
Tabela 5- Caracterização das argamassas no estado fresco e endurecido
Ensaio A3 A6 A9
Valor Class.* Valor Class.* Valor Class.*
Densidade de massa (kg/m³) 1850 D6 1609 D6 1793 D6
Teor de ar incorporado (%) 2,20 NA 2,25 NA 2,00 NA
Retenção de água (%) 93 U6 96 U6 95 U6
Resistência à compressão (MPa) 6,04 P5 1,85 P2 0,61 P1
Resistência à tração na flexão (MPa) 1,65 R3 0,27 R1 0,30 R1
Absorção de água por capilaridade (g/dm².min½)
9,97 C5 18,64 C6 25,97 C6
Módulo de elasticidade dinâmico (GPa)
12,93 NA 6,72 NA 3,37 NA
*Classificação NBR 13281/05; NA: Não se aplica
Os resultados obtidos na reometria rotacional estão apresentados através de gráficos de
Viscosidade vs. Taxa de cisalhamento e Tensão de cisalhamento vs. Taxa de cisalhamento na
Figura 6.
Figura 6- Reometria Rotacional
A reometria rotacional mostrou que a A6 apresentou valores de viscosidade e tensão de
cisalhamento superiores aos obtidos para a A3 e a A9. Este fato deve estar relacionado, muito
provavelmente, ao empacotamento dos grãos nas argamassas com cal, de forma que esperava-
se que a argamassa A3, sem cal, resultasse em maiores valores de viscosidade, o que não
ocorreu. O fenômeno que pode estar ocorrendo na A6, que possui cal em sua composição, no
entanto apresentou alta viscosidade e resistência ao escoamento, também pode estar
relacionado com o teor de finos ter chegado a um “valor crítico”. Esta teoria foi citada por alguns
autores (17, 18, 19) que observaram que, para um mesmo teor de cimento (com relação a/c
constante), a adição de finos, reduz a viscosidade da pasta antes de causar um aumento desta
propriedade. Isso ocorre, segundo os autores, quando o teor de finos excede um determinado
valor crítico, que é dependente da relação água/cimento.
Complementarmente, ao estudar pastas com e sem cal, Quarcioni (20) concluiu que a presença
de cal torna o material cimentício mais aglomerado, promovendo um aumento da viscosidade
e da tensão de cisalhamento. O autor justifica este fato, pela cal induzir uma maior coesão inicial
das partículas, que se mantém durante a evolução da consolidação, quando comparada com a
pasta do cimento.
0
2
4
6
8
10
0 50 100 150
VIS
CO
SID
AD
E (P
A.S
)
TAXA DE CISALHAMENTO (1/S)
A32 A62 A92
0
50
100
150
200
250
300
350
400
0 50 100 150TEN
SÃO
DE
CIS
ALH
AM
ENTO
(P
A)
TAXA DE CISALHAMENTO (1/S)
A32 A62 A92
3.3. Medição da área de contato
Os valores referentes às medições de áreas de contato estão apresentados na tabela 6. A
princípio, seriam realizadas três amostras para cada combinação de variáveis, mas nos casos
que apresentaram maior variabilidade nos resultados, realizou-se maior número de amostras.
Tabela 6 – Valores de área de contato medidos através de programas computacionais
Argamassa Substrato Contato (%) Média (%) Desvio Padrão
(%) Coeficiente de variação (%)
A3 POLIETILENO 82,64
79,32 2,89 4 A3 POLIETILENO 77,37
A3 POLIETILENO 77,95
A3 VIDRO 90,40
89,53 3,72 4 A3 VIDRO 84,15
A3 VIDRO 90,86
A3 VIDRO 92,69
A6 POLIETILENO 76,04
79,01 6,69 8 A6 POLIETILENO 88,27
A6 POLIETILENO 79,00
A6 POLIETILENO 72,72
A6 VIDRO 76,90
78,31 9,92 12
A6 VIDRO 83,70
A6 VIDRO 61,90
A6 VIDRO 81,70
A6 VIDRO 87,35
A9 POLIETILENO 82,85
84,66 4,66 6
A9 POLIETILENO 91,26
A9 POLIETILENO 78,49
A9 POLIETILENO 86,11
A9 POLIETILENO 84,58
A9 VIDRO 93,96
92,19 1,42 2 A9 VIDRO 90,48
A9 VIDRO 92,00
A9 VIDRO 92,32
Visando verificar a significância entre os valores medidos, realizou-se análise estatística através
de análise de variância (ANOVA), com o Software Statistica 7.0. A tabela 7 apresenta os
resultados obtidos, onde pode-se verificar que tanto o proporcionamento da argamassa quanto
a tensão superficial do substrato exerceram influência significativa no desenvolvimento da área
de contato na interface argamassa/substrato.
Tabela 7 – ANOVA das variáveis
SQ GDL
MQ
Fcalc
Fator p
Significativo
Argamassa 427,6 2 213,8 5,983 0,009655 Sim
Substrato 195,8 1 195,8 5,479 0,030304 Sim
Argamassa*Substrato 132,3 2 66,1 1,851 0,184340 Não SQ: soma quadrática; GDL: graus de liberdade; MQ: média quadrática; Fcalc: valor calculado de F
Esta interação entre os parâmetros analisados pode ser melhor analisada nas figuras 7 e 8, onde
observa-se que a argamassa que apresentou maior área de contato média foi a A9, seguida da
A3 e da A6. Observa-se ainda que, diferentemente do que se imaginava, a A3 e a A9
apresentaram comportamento semelhantes, enquanto a A6 e a A9 apresentaram
comportamentos significativamente diferentes. Este comportamento parece estar diretamente
ligado aos valores de viscosidade apresentados por estas argamassas, sendo que a viscosidade
parece ser inversamente proporcional à área de contato na interface, para as argamassas e
substratos estudados nesta pesquisa.
Figura 7 –influência da argamassa na área de contato
Figura 8 –influência do substrato na área de contato
Quanto à tensão superficial do substrato, a figura 8 mostra que quanto mais hidrófuga a
superfície, maior a dificuldade de molhamento do substrato pela argamassa, de forma que
aumenta as falhas de contato. O substrato hidrofílico (vidro) apresentou maior porcentagem de
área de contato.
A3 A6 A9
Argamassa
72
74
76
78
80
82
84
86
88
90
92
94
96
Co
nta
to (
%)
POLIETILENO VIDRO
Substrato
76
78
80
82
84
86
88
90
92
Co
nta
to (
%)
Na figura 9 é possível observar que a argamassa A6 não foi influenciada significativamente pela
tensão superficial do substrato, enquanto as argamassas A3 e A9 obtiveram um incremento de
área de contato em substrato hidrofílico. Talvez, a maior viscosidade da A6 tenha mascarado a
influência da tensão superficial nesta argamassa.
Figura 9 – Interação da argamassa vs. substrato na área de contato
4. CONCLUSÕES
Com o presente trabalho conclui-se que, para as variáveis aqui analisadas, tanto o
proporcionamento das argamassas quanto à tensão superficial dos substratos exercem
influência significativa no desenvolvimento na área de contato na interface
argamassa/substrato. A reologia, medida através da viscosidade também parece ser um
parâmetro que exerce grande influência no desenvolvimento da área de contato, sendo que há
uma tendência de a viscosidade e a área de contato interfacial serem inversamente
proporcionais. Além disso, verificou-se que o scanner tridimensional a laser é uma ferramenta
adequada para a medição da área de contato, bem como os softwares Geomagic Studo e
Photoshop são adequados para a quantificação das áreas de contato.
Argamassa A3 Argamassa A6 Argamassa A9
POLIETILENO VIDRO
Substrato
65
70
75
80
85
90
95
100
Co
nta
to (
%)
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AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à UFRGS/PPGEC e ao NORIE/LAMTAC por proporcionar o desenvolvimento do programa experimental, ao LdSM/UFRGS e ao LACER/UFRGS pelo auxílio na execução de ensaios e ao CNPQ pela bolsa de fomento à pesquisa.
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