UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CURSO DE MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CURSO DE MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
BERNARDO AUGUSTO PAROLIN WOUK
MANOBRAS CRIATIVAS DO FAZER PUBLICITÁRIO: ANÁLISE DE
PEÇAS PUBLICITÁRIAS DA REVISTA ARCHIVE
CURITIBA
2006
1
BERNARDO AUGUSTO PAROLIN WOUK
MANOBRAS CRIATIVAS DO FAZER PUBLICITÁRIO: ANÁLISE DE
PEÇAS PUBLICITÁRIAS DA REVISTA ARCHIVE
Dissertação apresentada, para cumprimento parcial de créditos, com vistas à obtenção do título de Mestre, junto ao Mestrado em Comunicação e Linguagens da Universidade Tuiuti do Paraná UTP. Orientador: Profa. Dra. Kati E. Caetano.
CURITIBA 2006
2
AGRADECIMENTOS
Á Deus A minha família,
Em especial aos meus pais Felipe e Dóris, pelos ensinamentos ministrados com
inúmeras lições de honestidade, generosidade, apoio constante e incondicional.
Aos professores,
O meu muito obrigado pela contribuição de vossos conhecimentos e incentivo,
em especial à Professora Doutora Kati E. Caetano pela valiosa atenção e
disposição em ouvir e opinar sobre a elaboração desta obra.
A equipe da Eikón Comunicação
Pelo apoio e disponibilidade para que este estudo se fizesse realidade.
Aos amigos
Pelo incentivo e momentos de descontração.
3
SUMÁRIO
1 2 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 3 3.1 4 4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8 4.9 4.10 5 5.1 5.2 5.3,5.4 5.5 6
INTRODUÇÃO........................................................................................... A QUESTÃO DA CRIATIVIDADE: POSIÇÕES E INTER-RELAÇÕES ................................................................................................ A CRIATIVIDADE ..................................................................................... AS TEORIAS FILOSÓFICAS DA CRIATIVIDADE................................. TEORIAS PSICOLÓGICAS ....................................................................... ANÁLISE FATORIAL................................................................................. CRIATIVIDADE E O PAPEL DOS HEMISFÉRIOS CEREBRAIS .......... AS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS .......................................................... CRIATIVIDADE NA PUBLICIDADE E PROPAGANDA .................... O QUADRADO SEMIÓTICO DE FLOCH: TIPOS DE PUBLICIDADE .. ANÁLISE DOS ANÚNCIOS PUBLICITÁRIOS: ESTRATÉGIAS COMUNICACIONAIS .............................................................................. BILD JOURNAL .......................................................................................... HEWLETT PACKARD ................................................................................ ROZZA BEEF ............................................................................................... RICCARDO CARTILLONE ....................................................................... VOLVO ........................................................................................................ LEVIS ......................................................................................................... PETROBRAS ............................................................................................... VOLVO PALAVRAS .................................................................................. FEDEX ........................................................................................................ MC DONALD´S .......................................................................................... DISCUSSÕES DAS ANÁLISES: IMPLICAÇÕES COMUNICACIO-NAIS NA PRODUÇÃO DE SENTIDO .................................................... TEMÁTICO - FIGURATIVAS ................................................................... ESTÉSICAS ............................................................................................... LÚDICAS .................................................................................................... METALINGÜÍSTICAS .............................................................................. SEMI-SIMBÓLICAS .................................................................................. CONCLUSÃO ........................................................................................... REFERÊNCIAS ......................................................................................... ANEXOS .....................................................................................................
8
11 11 13 15 18 20 20 22 26
38 40 45 50 53 55 60 63 69 73 79
83 85 85 86 87 88 96 99 102
4
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Figura 2 Figura 3 Figura 4 Figura 5 Figura 6 Figura 7 Figura 8 Figura 9 Figura 10 Figura 11 Figura 12 Figura 13 Figura 14 Figura 15 Figura 16 Figura 17 Figura 18 Figura 19 Figura 20 Figura 21 Figura 22
- Capa da Revista Archive ................................................................ - FedEx .............................................................................................. - Mc Donalds ...................................................................................... - Ricardo Cartillone .......................................................................... - Rozza Beef ...................................................................................... - Hewlett Packard ………………………………………………… - Petrobrás ......................................................................................... - Bild Journal ..................................................................................... - Levis ............................................................................................... - Volvo .............................................................................................. - Volvo Palavras ............................................................................... - FedEx ............................................................................................. - Mc Donalds ..................................................................................... - Volvo .............................................................................................. - Levis ................................................................................................ - Rozza Beef ..................................................................................... - Ricardo Cartillone ........................................................................... - Bild Journal ............................................................................ - Hp .................................................................................................... - Petrobrás ........................................................................................ - Volvo Palavras ............................................................................. - Quadro Semiótico ..........................................................................
9 38 38 38 38 38 38 39 39 39 39 85 85 86 86 87 87 88 88 88 88 94
RESUMO
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O presente trabalho tem como objetivo examinar procedimentos e estratégias criativas utilizadas em produções gráficas (peças publicitárias consideradas de alta qualidade estética pela crítica da área) veiculadas na revista Lürzer’s Int’l Archive, especializada em publicidade e espaço de divulgação de anúncios premiados internacionalmente. Pretende-se, por meio desta análise, investigar o modo de produção dos sentidos nos anúncios, os diversos níveis de organização discursiva e a articulação dos planos da expressão e do conteúdo, com vistas ao estabelecimento do que se consagra como produto criativo. Para a investigação, a pesquisa bibliográfica serve de base teórica para discutir a natureza da comunicação pela publicidade e a composição visual dos discursos em sua articulação com a linguagem verbal, uma vez que constituem discursos sincréticos, ou seja, utiliza-se de várias linguagens em sua elaboração. Do ponto de vista teórico-metodológico, o trabalho baseia-se em obras que discorrem sobre a constituição dos discursos publicitários e as definições de processo criativo na publicidade dadas por Joly, Dondis, Barthes, Eco, Floch e Osborn, buscando estabelecer um contraponto entre a base teórica coletada e a análise do processo criativo visual do corpus selecionado. A idéia principal é a de não se limitar a pontuar, nos textos analisados, e sim, como principal objetivo, de buscar definir, no conjunto da análise, procedimentos e valores comuns que permitam formalizar o conceito implícito de produto criativo na revista em questão.
Palavras-chave: Publicidade; linguagem visual; processo criativo; significante plástico; linguagens sincréticas.
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ABSTRACT
The present work has the objective of examining creative strategies and procedures commonly used in graphic art productions (projects considered as of high aesthetic quality by specialized critics) published in the Lürzer’s Int’l Archive, a magazine dedicated to advertisement and a space to exhibit internationally acclaimed campaigns. This analysis will serve to investigate the assembly mode of the general sense of the advertisements, dissecting the diverse levels of discursive organization and the articulation of the plans for content and expression trying to establish what really works towards creating an effective creative product. In order to perform this investigation, the bibliographic research serves as the theoretical basis for discussing the nature of communication via advertisement and the visual assemblage of the written language in its interaction with the verbal language since they are syncretistic, in other words, it employs several language formats in its elaboration. From the methodological theory viewpoint, the work is based on publications that discuss about constitution of the advertisement language and definitions of the creative process used in advertising campaigns according to Joly, Dondis, Barthes, Eco, Floch and Osborn, trying to establish a counterpart between theoretical basis collected and the analysis of the visual creative process of the selected corpus. The main idea is not limited to score the analyzed texts. The objective involves trying to define, in the whole analysis the procedures and common values that will allow formalizing an implicit concept of creative product in the above mentioned magazine.
Keywords: advertisement; visual language; creative process; syncretic languages; plastically significant
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1 INTRODUÇÃO
Vive-se em uma época em que a comunicação verbal e não-verbal da
publicidade está inserida no cotidiano. O bombardeamento de publicidades nos meios
de comunicação de massa (TV, revistas, jornais, rádios, etc.), nas ruas (outdoors,
frontlights, etc.) e, até mesmo, no ambiente de trabalho (Internet) é muito forte, o que
faz o homem buscar, constantemente, maneiras de se comunicar e transmitir
informação.
Hoje, devido à vivência do homem em uma sociedade de consumo, a
comunicação publicitária - sendo ela verbal ou (principalmente) não-verbal - tornou-se
praticamente essencial para a manutenção desse modelo de sociedade na qual o
homem se encontra. E, diante desse quadro extremamente consumista, surgem muitas
questões para entender a maneira como ele vem se comunicando e utilizando os
veículos de comunicação para transmitir informações por meio da publicidade.
Cada vez mais, o homem se depara com um número muito grande de
publicidades circulando nas mídias e, para reunir um pouco desses apelos, existem
alguns veículos que publicam periodicamente obras premiadas. A existência de tais
veículos, e a sua importância como veículos de referência para os profissionais da
comunicação, determinam o interesse em pesquisar a questão da comunicação na
publicidade, analisando a estética visual da mesma.
O ponto de partida para este trabalho consistiu em estudar de que maneira
ocorre o processo criativo em um anúncio (peça) publicitário analisado em sua
estrutura. Para isto, decidiu-se delimitar a pesquisa no estudo do produto criativo a
partir das publicações em um veículo impresso (revista). E, para esta pesquisa,
escolheram-se os termos “produto criativo” já que a palavra “produto” fornece a idéia
de resultado, de obtenção de algo, e a conjunção “produto criativo” define bem o
término de um processo de criação.
Para a investigação sobre o produto criativo na publicidade, foi selecionado o
meio impresso, ou seja, os anúncios premiados e publicados em uma revista de
circulação mundial. O objetivo deste trabalho é, portanto, identificar os procedimentos
8
e estratégias criativas dentre algumas produções gráficas publicadas na revista
especializada em publicidade nomeada Archive.
FIGURA 1 – Capa da Revista Archive
Fonte: Corpus: Revista Archive
Deste modo, o corpus deste trabalho foi delimitado que a partir da revista
Lürzer’s Int’l Archive, publicação constituída por uma coletânea dos melhores
anúncios publicitários produzidos pelas agências de propaganda em todo mundo,
conhecida pelos profissionais da área de publicidade como revista Archive.
A revista Archive é estrangeira, mais precisamente, editada na cidade de
Salzburg, Áustria, fundada em 1984 por Walter Lürzer, dedicando-se à apresentação
das melhores campanhas impressas e comerciais de tv do mundo inteiro. Sua
veiculação é trimestral e a seleção e o julgamento dos anúncios é feito por uma
comissão julgadora composta de profissionais que trabalham na área de publicidade e
design, sendo que cada número tem 160 páginas, trazendo de 70 a 80 melhores
campanhas impressas do mundo assim como 50 sinopses de comerciais de tv datados e
classificados por grupos de produto.
É uma revista altamente conceituada no meio publicitário por possuir critérios
rígidos na qualidade de elaboração das peças. Os profissionais que julgam os anúncios
publicados na revista possuem qualificação técnica, sendo consagrados no mundo
publicitário, comprovando assim, que a Archive pode oferecer um corpus relevante,
pois além de passar por uma seleção rigorosa dentro de um propósito de serem
criativos e bem resolvidos visualmente, sofreram críticas em sua elaboração.
9
A revista Archive apresenta ótima qualidade gráfica, o que a torna mais atrativa
quando se analisa a parte visual de anúncios publicitários. Esse suporte de alta
qualidade permite analisar vários dispositivos em instâncias de elaboração criativa
para o efeito visual dos anúncios publicitários impressos.
Sendo assim, a revista tem leitores na América, Ásia, Europa, Austrália e África.
Os pôsters são apresentados em seu desenho original, e sua circulação total é de 38000
exemplares divididos nas versões EUA, Europa, Alemanha e China.
Como a revista apresenta anúncios publicitários de todo o mundo, estabeleceu-se,
para este trabalho, uma delimitação para constituir o corpus de análise. Os anúncios
escolhidos para análise foram selecionados a partir dos volumes editados da revista
Archive entre o período de setembro de 2003 e julho de 2004. Cinco exemplares da
revista foram selecionados no período, exemplares que nos permite ter uma base de
seleção dos anúncios com grande variedade. O recorte de um período que compreende
a transição entre 2 (dois) anos de sua edição (2003 e 2004) é proposital, já que as
mudanças de um ano para o outro também podem ser analisadas em termos de técnica
visual neste trabalho de pesquisa.
O critério de escolha dos anúncios publicitários que compõe o corpus deste
trabalho é o aleatório. Os anúncios foram escolhidos pelo grau de atração visual
ocorrido numa leitura preliminar. Tal critério foi pertinente à presente pesquisa já que
esta trata da questão estética e visual. Todas as peças (anúncios) publicitárias
selecionadas, em sua elaboração, tiveram uma preocupação em serem entendidas por
críticos e profissionais de todo o mundo. Por isso, todas essas peças publicitárias
eliminam o contexto local de sua veiculação para o entendimento dos significados
encontrados.
Ressalta-se que o estudo do produto criativo obtido nos anúncios publicitários
não se detém a quantificar ou qualificar a criatividade neles contida, mas, sim,
aproximar a teoria da linguagem visual, especificamente com base nos postulados da
semiótica plástica, à prática de produção visual. Pretende-se, então, investigar o modo
de produção dos sentidos nos textos visuais, os diversos níveis de organização
10
discursiva e a articulação dos planos da expressão e do conteúdo, com vista ao
estabelecimento do que se consagra como produto criativo.
Este trabalho enfoca, no segundo capítulo, o tema criatividade, mostrando, com
base na opinião de teóricos de renome, a inter-relação do assunto com aspectos da
publicidade e propaganda.
No terceiro capítulo o tema criatividade é, abordado no âmbito da publicidade e
propaganda, mostrando que há no mercado um lugar a ser ocupado junto à
determinado público-alvo, para a apresentação de um produto ou uma marca.
No capítulo quarto, são analisados os anúncios enfatizados neste trabalho, e as
estratégias de comunicação usadas pelos profissionais.
O capítulo cinco apresenta a discussão sobre as análises realizadas nos
anúncios, agrupando-os com a finalidade de definir uma linha metodológica que
facilite a identificação das estratégias de produção de sentido utilizadas nos anúncios
publicitários que compõem o corpus.
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2 A QUESTÃO DA CRIATIVIDADE: POSIÇÕES E INTER-RELAÇÕES
2.1 A CRIATIVIDADE
Analisando o momento atual, pode-se ressaltar que a sociedade está
vivenciando uma mudança de paradigmas em direção a uma nova ordem geo-política-
econômica e social – exigindo dos indivíduos uma maior motivação no sentido de
ativar a criatividade para manter o emprego ou obter um posto nesta sociedade da
exclusão.
Quem percebeu isto, ainda recentemente, foi o sociólogo do trabalho, o italiano
Domenico de Masi (1999). Ele - em seu livro A Sociedade Pós-Industrial e o Ócio
Criativo-associou essas exigências da nova época ao maior tempo livre de que
dispomos por conta da exclusão promovida pela globalização, alimentada pela
revolução tecnológica, na qual estamos agora até ameaçados da exclusão do pensar.
De Masi (1999) percebe o maior número de horas livres que se passará a ter e
lembra que, em outros tempos, em que isto também se deu, este tempo livre foi bem
aproveitado para o crescimento intelectual e organizacional do homem. Foi assim, por
exemplo, que surgiu a escola. E é exatamente por meio da escola que se deve
conscientizar os jovens e futuros profissionais para que saibam desfrutar do tempo
livre para o pensar e o criar.
A criatividade é que leva o individuo hoje a buscar algo que todas as empresas
na sociedade pós-industrial precisam obter e que recebe a denominação de inovação. É
de Gary Hamel (2002), um dos maiores nomes da administração moderna, a sentença:
“Você não consegue criar mais lucro sem criar novas receitas. Se quiser gerar riqueza,
a empresa tem de inovar”. Sendo assim, a velha prática de copiar processos e importar
tecnologia tende a não dar certo com o aprofundamento da globalização. Somente com
produtos e serviços diferenciados é que as empresas conseguirão ganhar os mercados
lá fora.
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No Brasil, conforme expressa Roberto Dualibi (2000, p. 73), “este setor ainda
infelizmente padece de um enorme atraso. Em relação à inovação tecnológica pode-se
considerar uma área bastante inexperiente”. Daí a necessidade premente de incentivar
a criatividade na escola, na empresa e na própria administração pública. Para isto, ela
se faz necessária desde a idade mais precoce.
A inovação baseada nas idéias e na criatividade não se limita apenas a produtos.
É possível também inovar em diversos campos: desde os processos de fabricação até a
relação com os mercados.
Para Dualibi e Simonsen (2000, p. 73), “a criatividade exige, porém, um bom
número de qualidades por parte das empresas e dos profissionais; das escolas e dos
estudantes. Dentre essas qualidades estão o inconformismo, o bom humor e também
uma boa dose de entusiasmo e motivação”.
Voltando a Domenico de Masi, o ócio criativo é a única forma de produzir
idéias geniais e fazer com que essas idéias fluam através de atividades que consigam
unir aprendizagem, reaprendizagem, trabalho e alegria.
Para que a criatividade possa se manifestar com mais eficácia, vale a
observação de um dos seus pesquisadores na atualidade, Richard Florida, citado por
Hamel e Prahalad (2002), afirmando, que tanto cidades como organizações precisam
oferecer condições para que a criatividade aflore com intensidade. Essas condições,
segundo Florida são: um clima ou ambiente de maior liberdade onde exista uma maior
compreensão e respeito para com as diferenças sociais e culturais das pessoas ou
trabalhadores criativos. Em outras palavras: os famosos três “T” que Florida propõe
para o êxito da classe criativa: Tolerância, Tecnologia e Talento.
Então, pode-se considerar que criatividade é o processo de mudança, de
desenvolvimento, de evolução na organização de idéias. Sendo assim, Cave (1999) vê
“a criatividade como a tradução dos talentos humanos para uma realidade exterior que
seja nova e útil, dentro de um contexto individual, social e cultural”. Essa tradução
pode-se fazer, basicamente, de duas formas. A primeira é a habilidade de recombinar
objetos já existentes em maneiras diferentes para novos propósitos. A segunda,
“brincar” com a forma com que as coisas estão inter-relacionadas. Em ambos os casos,
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considera a criatividade como uma habilidade para gerar novidade e, com isso, idéias e
soluções úteis para resolver os problemas e desafios do dia-a-dia.
George F. Kneller (1978, p. 15) identifica quatro dimensões da criatividade:
As definições corretas de criatividade pertencem a quatro categorias, ao que parece. Ela pode ser considerada do ponto de vista da pessoa que cria, isto é, em termos de fisiologia e temperamento, inclusive atitudes pessoais, hábitos e valores. Pode também ser explanada por meio dos processos mentais – motivação, percepção, aprendizado, pensamento e comunicação – que o ato de criar mobiliza. Uma terceira definição focaliza influências ambientais e culturais. Finalmente, a criatividade pode ser entendida em função de seus produtos, como teorias, invenções, pinturas, esculturas e poemas.
Eunice de Alencar (1993, p. 15), por sua vez, identifica duas dimensões que
parecem permear a noção de criatividade:
[...] pode-se notar que uma das principais dimensões presentes nas mais diversas definições de criatividade propostas até o momento diz respeito ao fato de que criatividade implica emergência de um produto novo, seja uma idéia ou invenção original, seja a reelaboração e aperfeiçoamento de produtos ou idéias já existentes. Também, presente em muitas das definições propostas é o fator relevância, ou seja, não basta que a resposta seja nova; é também necessário que ela seja apropriada a uma dada situação.
Para compreender melhor o contexto e a variedade das definições, é interessante
uma análise histórica das teorias da criatividade. A interpretação do que é criativo,
bem como a explicação do ato propriamente dito, acontece sempre em um contexto
que percebe fatores sociais, culturais e tecnológicos.
2.2 AS TEORIAS FILOSÓFICAS DA CRIATIVIDADE
Os métodos para abordar a criatividade estiveram sempre ligados às doutrinas
filosóficas e cientificas de sua época. Assim, a explicação da criação atravessou
diferentes pontos de vista, desde o enfoque filosófico, até o recente cognitivismo. Não
havendo ainda teoria universalmente aceita para a criatividade, são apresentadas várias
visões, na busca de um entendimento amplo sobre o assunto.
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O contexto histórico da Antiguidade Clássica utilizou-se do pensamento
filosófico para entender a criação. Essas teorias tinham como sustentação a atividade
mental aplicada ao entendimento do mundo como este era concebido. Perduraram até
o surgimento do método cientifico quando, gradualmente, a criatividade começa a
possuir fundamentações mais sólidas e verificáveis.
2.2.1 Criatividade como inspiração divina
Segundo Hallman (1964) apud Kneller (1978), uma das mais velhas concepções
da criatividade é a sua origem divina. A melhor expressão dessa crença é creditada a
Platão:
E por essa razão Deus arrebata o espírito desses homens (poetas) e usa-os como
seus ministros, da mesma forma que com os adivinhos e videntes, a fim de que os que
os ouvem saibam que não são eles que proferem as palavras de tanto valor quando se
encontram fora de si, mas que é o próprio Deus que fala e se dirige por meio deles.
(KNELLER, 1978, p. 31)
Essa concepção se ampara na afirmação de que “o poder criativo depende do
reconhecimento da existência de um inconsciente, ou melhor, preconsciente espiritual,
de que dava conta Platão e os sábios, e cujo abandono em favor do inconsciente
freudiano apenas é sinal da estupidez de nosso tempo”.(KNELLER, 1978, p. 32)
2.2.2 Criatividade como loucura
Também creditada à Antiguidade, esta explicação concebe a criatividade como
forma de loucura, dada a sua aparente espontaneidade e sua irracionalidade. Platão,
novamente, parece haver visto pouca diferença entre a visitação divina e o frenesi da
loucura. Durante o século XIX, Lombroso (1891) citado por Eunice Alencar (1993),
alegou que a natureza irracional ou involuntária da arte criadora deve ser explicada
patologicamente.
15
2.2.3 Criatividade como gênio intuitivo Esta explicação deve sua origem à noção do gênio, surgida no fim do
Renascimento, para explicar a capacidade criativa de Da Vinci, Vasari, Telésio e
Michelangelo. Durante o século XVIII, muitos pensadores associaram criatividade e
genialidade. Kant apud Kneller (1978, p. 35), “entendeu ser a criatividade um processo
natural, que criava as suas próprias regras; também sustentou que uma obra de criação
obedece a leis próprias, imprevisíveis; e daí concluiu que a criatividade não pode ser
ensinada formalmente”. Além de gênio, essa teoria identifica a criação como uma
forma saudável e altamente desenvolvida da intuição, tornando o criador uma pessoa
rara e diferente: é a capacidade de intuir direta e naturalmente o que outras pessoas só
podem apurar divagando longamente que caracteriza essa teoria.
2.2.4 Criatividade como força vital
Reflexo da teoria da evolução de Darwin, a criatividade foi considerada como
manifestação de uma força inerente à vida. Assim, a matéria inanimada não é criadora,
uma vez que sempre produziu as mesmas entidades, como átomos e estrelas, enquanto
a matéria orgânica é fundamentalmente criadora, pois está sempre gerando novas
espécies. Um dos principais expoentes dessa idéia é Sinnott (1962), quando afirma que
a vida é criativa porque se organiza e regula a si mesma e porque está continuamente
originando novidade. (KNELLER, 1978, p. 36)
2.3 TEORIAS PSICOLÓGICAS A partir do século XIX, criação passou a receber um tratamento mais científico,
proporcionado pelo desenvolvimento da Psicologia. As principais contribuições foram
o associacionismo, a teoria da Gestalt e a psicanálise. Essas contribuições seriam uma
das bases para a formação dos conceitos modernos de criatividade.
16
2.3.1 Associacionismo
As raízes do associacionismo remontam a John Locke, no século XIX. Parte do
princípio de que:
[...] o pensamento consiste em associar idéias, derivadas da experiência, segundo as leis da freqüência, da recência e da vivacidade. Quanto mais freqüentemente, recentemente e vividamente relacionadas duas idéias, mais provável se torna que, ao apresentar-se uma delas à mente, a outra a acompanhe.
Essa abordagem diz que, para se criar o novo, se parte do velho, em um
processo de tentativa e erro, por meio da combinação de idéias até que seja encontrado
um arranjo que resolva a situação. Há algumas críticas contundentes a essa teoria,
como coloca Kneller (1978, p. 39):
Dificilmente, entretanto, o associacionismo se adapta aos fatos conhecidos da criatividade. Pensamento novo significa que se retiraram do contexto idéias anteriores e se combinaram elas para formar pensamento original. Tal pensamento ignora conexões estabelecidas e cria as suas próprias. Não seria fácil atribuir as idéias de uma criação criativa a conexão entre idéias derivadas de experiência pregressa, uma vez numa criança relativamente incriativa experiências semelhantes podem deixar de produzir uma única idéia original. Na verdade, seria de esperar que a confiança nas associações passadas produzisse, em lugar de originalidade, respostas comuns e previsíveis.
2.3.2 Teoria de Gestalt Wertheimer (1945) apud Kneller (1978, p. 40-41) , afirma que o pensamento
criador é uma reconstrução de gestalt estruturalmente deficientes. A criação tem seu
início com uma configuração problemática, que, de certa forma, se mostra incompleta,
porém permite ao criador uma visão sistêmica da situação. A partir das dinâmicas, das
forças e das tensões do próprio problema, são estabelecidas linhas de tensão
semelhantes na mente do criador. Para “fechar” a gestalt, deve-se restaurar a
harmonia do todo. Nas palavras do próprio Wertheimer, “o processo todo é uma linha
consciente de pensamento. Não é uma adição de operações dispares, agregadas.
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Nenhum passo é arbitrário, de função conhecida. Pelo contrário, cada um deles é dado
com visão de toda a situação”.
A teoria da gestalt não explica como surge a configuração inicial, mesmo que
problemática, a partir da qual o criador começa a desenvolver seu trabalho. É,
portanto, incapaz de explicar a capacidade de fazer perguntas originais, não sugeridas
diretamente pelos fatos a sua disposição. Entretanto, para resolver a gestalt, é
necessária uma reorganização do campo perceptual, o que sugere a relação existente
entre percepção e pensamento.
2.3.3 Teoria psicanalítica
Para Freud, apud Alencar (1993, p. 48), a criatividade está relacionada à
imaginação, que estaria presente nas brincadeiras e nos jogos da infância. Nessas
ocasiões, a criança produz um mundo imaginário, com o qual interage rearranjando os
componentes desse mundo de novas maneiras. Da mesma forma, o indivíduo criativo
na vida adulta comporta-se de maneira semelhante, fantasiando sobre um mundo
imaginário, que, porém, discrimina da realidade. As forças motivadoras de tais
fantasias seriam os desejos não satisfeitos, e cada fantasia, a correção de uma realidade
insatisfatória. Essa característica de sublimação estaria vinculada, portanto, à
necessidade de gratificação sexual ou de outros impulsos reprimidos, levando o
indivíduo a canalizar suas fantasias para outras realidades.
Freud apud Kneller (1978) coloca a criatividade como resultado de um conflito
no inconsciente. Este, mais cedo ou mais tarde, produz uma solução para o conflito,
que pode ser “ego-sintônica”, resultando em um comportamento criador, ou à revelia
do ego, originando uma neurose. De qualquer forma, Freud deixa claro que a criação é
sempre impelida pelo inconsciente.
Um aspecto importante na visão psicanalítica é a função do ego sobre as
pressões do inconsciente:
No doente mental, o ego tende a ser tão estrito que barra todos, ou praticamente todos os impulsos inconscientes, ou tão fraco que é freqüentemente posto de lado. Essa pessoa exerce excessivo ou deficientíssimo controle; seu comportamento é altamente estereotipado e
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intelectualizado, ou espontâneo e estranho. Se o comportamento se altera entre tais extremos, nunca se integra como o de alguém mentalmente são. É sempre rígido e habitual o comportamento produzido apenas pelo ego, sem influencia do inconsciente criador. [...] Por outro lado, sempre que os impulsos criadores contornam inteiramente o ego, seus produtos, como nos sonhos e nas alucinações, podem ser altamente originais, mas em muito pouco têm relação com a realidade. Sua criatividade é inútil [...]. (KNELLER, 1978, p. 42)
2.3.4 Psicologia humanista
Surgiu como uma forma de protesto à imagem limitada do ser humano imposta
pela psicanálise. Seus principais representantes são Maslow, Rollo May e Carl Rogers,
e suas principais ênfases são o valor intrínseco do indivíduo, que é considerado como
fim em si mesmo; o potencial humano para desenvolver-se; e as diferenças
individuais.
Rogers, apud Alencar (1993, p.50), portanto, enfatiza a relação do sujeito com o
meio e a sua própria individualidade, acrescentando na originalidade e na
singularidade.
Maslow (1967, 1969) apud Alencar possui posição similar, considerando a
abertura à experiência como uma característica da criatividade auto-realizadora. Já
Rollo May (1976) identifica a criatividade como saúde emocional e expressão das
pessoas normais no ato de se auto-realizar. Como os demais humanistas, considera a
interação pessoa ambiente como fundamental para a criação. Assim, não basta apenas
o impulso em auto-realizar-se: “também as condições presentes na sociedade, a qual
deve possibilitar à pessoa liberdade de escolha e ação”, fazem parte do processo
criativo.(ALENCAR, 1993, p.53)
2.4 ANÁLISE FATORIAL
Segundo Guilford, apud Alencar (1993), a mente abrange 120 fatores ou
capacidades diferentes – dos quais 50 são conhecidos -, formando duas classes
principais: capacidades de memória e capacidades de pensamentos. As capacidades de
pensamentos são divididas em categorias, espécies e fatores.
19
A fatoração de Guilford ainda determina uma segunda divisão para as categorias
produtivas, identificando duas espécies de pensamentos: o convergente e o divergente.
O pensamento convergente move-se em direção a uma resposta determinada ou
convencional, a partir de um sistema de regras previamente conhecido. Já o divergente
tende a ocorrer quando o problema ainda não é conhecido ou quando não existe
método definido para resolvê-lo. A criatividade, portanto, estaria grandemente
localizada no pensamento divergente.
Koestler (1964) apud Kneller (1978) apresenta uma teoria da criatividade que
tenta integrar todas as suas expressões – ciência, arte e humor. Sua fundamentação
lança recursos da psicologia, da neurologia, da fisiologia, da genética e diversas
ciências na proposição de um padrão comum – a bissociação – que consiste na
conexão de níveis de experiência ou sistemas de referencias. Koestler argumenta que,
no pensamento comum, a pessoa segue rotineiramente em um mesmo plano de
experiências, enquanto, no criador, pensa simultaneamente em mais de um sistema de
referências.
A formação de tais planos de experiências pressupõe a existência de estruturas
de pensamentos e de comportamentos já adquiridos, que dão coerência e estabilidade,
mas deixam pouco espaço para a inovação. Todo padrão de pensamento ou de
comportamento (que Koestler chamou de “matriz”) é regido por um conjunto de
normas ou código, que tanto pode ser aprendido quanto inato. Esse código possui uma
certa flexibilidade e pode reagir a algumas circunstâncias.
A explosão criadora ocorre quando duas ou mais matrizes independentes
interagem entre si.
Koestler vai ainda mais longe, a relacionar criatividade a todas as formas de
padrões existentes:
Segundo Koestler, a criatividade manifestada na ciência, na arte e no humor tem análogos em todos os níveis da hierarquia orgânica, desde o mais simples até o maior dos gênios humanos. [...] Todo padrão de pensamento, ou ação, organizado – toda matriz, afinal – é governada por um código de regras, sem deixar de possuir entretanto um certo grau de flexibilidade em sua adaptação às condições do meio ambiente.(KNELLER, 1978, p. 58)
20
2.5 CRIATIVIDADE E O PAPEL DOS HEMISFÉRIOS CEREBRAIS Segundo Katz (1978), apud Eunice Alencar (1993, p. 52) as pessoas criativas
discriminam dois aspectos: um relacionado a como o problema que está sendo
trabalhado é subitamente percebido sob um novo ângulo e outro referente à
elaboração, confirmação e comunicação da idéia original. Identificam-se, portanto,
dois padrões de pensamentos distintos – um deles capaz de reestruturar conceitos, e
outro, de avaliá-los. Segundo autores como Torrance (1974), tais pensamentos
ocorreriam em partes distintas do cérebro: o primeiro no hemisfério direito, e o
segundo, no esquerdo,
Nas palavras de Alencar (1993, p. 53),
[...] o que tem sido proposto é que cada hemisfério cerebral teria sua especialidade: o esquerdo seria mais eficiente nos processos de pensamento descrito como verbais, lógicos e analíticos, enquanto o hemisfério direito seria especializado em padrões de pensamento que enfatizam percepção, síntese e o rearranjo geral de idéias.
Para a criatividade musical e artística, o hemisfério direito seria especialmente
importante, facilitando o uso de metáforas, intuição e outros processos geralmente
relacionados à criação. Há que se considerar, entretanto, o papel fundamental do
hemisfério esquerdo em avaliar a adequação do que foi intuído – se a idéia atende aos
requisitos da situação. Portanto, é delicado afirmar que a criatividade reside em um ou
em outro hemisfério.
2.6 AS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS A teoria das inteligências múltiplas trata das potencialidades humanas. Seu
autor, Howard Gardner (1995), observando que a inteligência possuía maior
abrangência, concebeu sua teoria como uma explicação da cognição humana que pode
ser submetida a testes empíricos e definiu inteligência como “a capacidade de resolver
problemas ou de elaborar produtos que sejam valorizados em um ou mais ambientes
comunitários.” Essa definição, propositadamente, aproxima-se muito do que Gardner
(1999) considera a própria essência da criatividade.
21
As informações preliminares foram sistematizadas em sete inteligências:
lingüística ou verbal, lógico-matemática, espacial, musical, corporal-cinestésica,
interpessoal e intrapessoal. Mais tarde, foi incluída a inteligência naturalística, e a
inteligência espiritual.
Cabe ressaltar, que as idéias desse tópico envolvem pressupostos teóricos, de
várias disciplinas, como a filosofia, a psicologia, a neurologia, entre outras, que não
cabem nos limites desse trabalho, motivo pelo qual, o próximo capítulo trará
informações mais precisas sobre a criatividade e a publicidade.
22
3 CRIATIVIDADE NA PUBLICIDADE E PROPAGANDA
O processo de criação deve se desenvolver de modo natural, disciplinado pelo
planejamento, pela definição de objetivos, e pela estratégia a ser adotada para
se chegar a esses objetivos.
Segundo Henri Joannis (1998, p. 15) “um criador moderno não pode ignorar
estes dados. Também não tem o direito de procurar ao acaso imagens e palavras e,
uma vez atingido o nível de originalidade e de esteticismo que o satisfaz, deve
proclamar como válida a estratégia que implicam e as motivações subjacentes.”
Cabe ressaltar, que fazer publicidade é entender que há no mercado um lugar a
ser ocupado junto de determinada categoria de consumidores com a apresentação de
um produto ou uma marca de determinado tipo.
Sendo assim, para Joannis (1998) por detrás de toda criação publicitária, existe,
uma fase formulada ou informulada, uma hipótese de marketing, uma estratégia. Não a
formular previamente, é por em perigo a eficácia da criação.
Dessa maneira, a criatividade é um fenômeno histórico: a era da Agricultura
durou milênios, até que chegou a era Industrial. Nas últimas décadas iniciou-se a era
da Informática e agora, queira-se ou não, entra-se na era da criatividade e da inovação.
Existe um paradigma de que apenas algumas áreas são movidas pela
criatividade: marketing, propaganda, promoções, desenvolvimento de novos produtos.
As demais, principalmente as burocráticas e administrativas nada teriam em comum
com criatividade.
O burocrata, como todo e qualquer ser humano, é criativo. Só que ele não está
acostumado a usar a criatividade. Ele faz trabalhos mecânicos e iguais. Mas, a natureza
de seu trabalho não o impede de ter idéias, de pensar diferente para simplificar
métodos e procedimentos, melhorando sistemas, agilizando fluxos, além de reduzir
burocracia, papelada, custos, controles mais eficientes, para organizar mais
racionalmente.
Como explica Joannis (1998, p. 19) “o Plano de Trabalho Criativo não é uma
inovação no plano do conteúdo da plataforma criativa em si mesma [...]. o PTC
23
constitui um progresso na prática da sua utilização: a obrigação leva a um concentrado
de marketing que tende a eliminar as estratégias [...] que prejudicam a qualidade da
criação”.
O profissional deve saber usar sua criatividade, sendo observador e
identificando a oportunidade. Pensando diferente e solucionando um problema,
diferencia-se e melhora o resultado de seu trabalho. A utilização de técnicas de
criatividade ameniza, assim, o esforço constante de ultrapassar estereótipos, distinguir
os pontos comuns de universos aparentemente estranhos.
Uma das técnicas de criatividade é a praticada pelo criativo, isoladamente ou
em diálogo com outros criativos, conhecidas como técnicas informais, em que,
segundo Joannis (1998), como estímulo, o acaso pode desempenhar um papel
importante no processo criativo. Não se trata de um método, são as menos estruturadas
das abordagens, mas devem ser mencionadas nos mecanismos da criação,
especificando que elas não negam o talento criativo, pelo contrário, confirmam-no.
Outra das técnicas criativas, as organizadas, são as de grupos de diversas
ordens: sinética, criática, etc. que na maioria inspiram-se fortemente na psicologia dos
grupos.
De acordo com Joannis (1998, p. 98) “utilizam o grupo e as relações
interindividuais que nele nascem para estimular a verve criativa e, sobretudo, para
eliminar os estereótipos do pensamento”. Consistem, geralmente, em seminários
residenciais de vários dias, e podem ser utilizadas as técnicas de desestruturação, que
têm por objetivo situar os participantes num ambiente desestruturado, facilitando o
acesso ao nunca dantes imaginado, ao não conformismo e preparando para a prática,
técnicas que recorram ao inconsciente.
Uma outra técnica, a da fantasia, consiste na exploração psicológica aplicada à
criatividade, e permite que uma pessoa estimulada e apoiada pelo grupo se deixe
arrastar completamente para as zonas do inconsciente evocadas pelo produto.
Cabe ressaltar, também a técnica inventada pelo publicitário americano Osborn,
o brainstormig, que consiste em formular um problema (muitas vezes de criação
publicitária) perante um grupo composto por elementos heterogêneos e em lhe pedir
24
que forneça o máximo de idéias possíveis, proibindo qualquer manifestação de espírito
crítico.
Segundo Osborn (199, p.108)
A associação de idéias é um fenômeno em virtude do qual a imaginação se entrosa à memória, fazendo com que um pensamento conduza a outro. Há mais de 2000 anos que se lhe reconhece a força. Platão e Aristóteles atribuem-lhe papel de relevo como princípio fundamental da psicologia humana. A associação de idéias atua mais profundamente naqueles em que o impulso imaginativo é mais intenso e cujo espírito está melhor armado. Quanto mais vivida a memória, tanto mais se presta ao processo associativo.
Para Joannis (1998, p. 116) “De todas as técnicas que nos foi dado utilizar, ou
de que temos conhecimento, é o brainstormig a que parece mais eficaz e mais
adaptada aos problemas de criação de campanhas”.
Dessa maneira, considera-se que são os critérios de apreciação e de seleção que
fazem as grandes criações. Saber reconhecer uma boa idéia é tão importante como tê-
la encontrado.
Se se têm na mão alguns projetos, todos eles adaptados à estratégia escolhida,
mas variando no nível dos conceitos, das expressões, dos visuais, para Joannis (1998,
p.116) trata-se de escolher alguns para sabermos quais os que atingirão uma realização
definitiva. Para tanto, propõem-se o método pessoal, baseado na passagem dos
projetos através de um crivo de critérios, e um método científico, baseado nos pré-
testes.
A eliminação é importante na primeira fase, pois na fase do pré-teste, que
consiste em expor uma amostra de consumidores aos projetos dos manifestos
escolhidos, e que estão tão próximo quanto possível do resultado final, os princípios da
experimentação científica são aplicados para evitar enfeixamentos.(JOANNIS, 1998,
p. 117).
O pré-teste permite saber se aquilo que foi inserido no anúncio é bem aceito
pelo público, se determinado pormenor técnico é considerado de preço justo, se não há
contra-sensos nem interpretações errôneas, se o toque de humor ou de segundo grau
contido na mensagem é corretamente entendido pelo público.
25
Se a agência quiser ter certeza de que os fenômenos da comunicação paralela se
produzem, o pré-teste torna-se insubstituível.
A fase da realização é a que compreende as operações que conduzem à
passagem da fase de projeto para a realização definitiva pronta para a reprodução.
Segundo Joannis (1998, p. 128) “na publicidade impressa trata-se da passagem
“maqueta” para a fase “documento” pronto para a fotogravura”.
É nesta fase que excelentes projetos podem ser desfigurados por uma realização
medíocre ou projetos medíocres melhorados por um realizador de talento, por isso é
particularmente delicada, pois aqui o profissional que imaginou visualmente um
anúncio passa para outra pessoa, um artista que retoma a mensagem e tem por missão
realizá-la e concretizá-la, acrescentando-lhe um toque do seu talento. Nesse ponto,
entende-se que pode ocorrer uma dificuldade de compreensão entre duas personagens
que, devido à sua função, são pessoas sensíveis, porém, nem sempre racionais, íntegras
nos seus gestos e opiniões. (JOANNIS, 1998)
Depois, de preparado, o documento sai das mãos daqueles que estão inseridos
nos detalhes de preparação da campanha, e de suas mais ínfimas intenções, passando
para as mãos dos técnicos encarregados da impressão das revistas.
Joannis (1998, p. 132) afirma que:
[...] o documento deve comportar de forma muito precisa e por escrito todas as indicações necessárias à sua reprodução: quais os títulos que dever ser a negro e quais os que devem ser a cores, quais os textos que devem ser a “preto e branco” (texto negro com base branco ou de cor), as ilustrações que devem ser destacadas e as que devem permanecer sobre fundo, quais objetos e cores capitais para as fotografias e quais os de menor importância, etc.
Para que seja bem sucedido na realização de um anúncio em revistas, alguns
princípios devem ser seguidos pelo profissional:
� Saber escolher o fotógrafo, pois toda parte da eficácia da campanha vai nascer
da concordância entre o produto, a mensagem, a sensibilidade e o talento do
fotógrafo.
� Guiar o fotógrafo sem o sufocar, pois sob a avalanche dos objetivos, diretivas e
constrangimentos da campanha, o fotógrafo não produzirá como se for deixado
à vontade, desenvolvendo a arte sem relação com a estratégia.
26
� Os milagres nunca se repetem, pois pode acontecer que um fotógrafo
verdadeiramente muito bom apresente um defeito mínimo, mas redibitório, que
necessite de um retoque para satisfazer a meta traçada.
� Conservar a integridade no mecanismo de comunicação, pois um anúncio
comunica a satisfação pela apresentação do produto, pela apresentação do
resultado, ou pelo seu universo.
� Escolher o concretizador, que é aquele que mesmo não realizando diretamente,
o seu talento e a sua personalidade manifesta-se na escolha dos participantes da
sua equipe, na apreciação dos argumentos que lhe são apresentados, na filosofia
que soube imprimir à equipe.
Dessa maneira, pode-se considerar que a criação é um ofício, com tudo o que
comporta de apaixonante, como enfrentar um problema abstrato, e ver algum tempo
mais tarde, nas revistas, a solução com foi construída, é profundamente gratificante
para o profissional.
Tendo em vista que, no âmbito da semiótica discursiva, de linha européia, o
estudioso Jean-Marie Floch desenvolve uma tipologia do fazer publicitário,
considerando-o do ponto de vista de suas estratégias criativas, se fará a discussão desse
autor, cujas idéias se revelarão fundamentais para as análises aqui apresentadas, como
se verá.
3.1 O QUADRADO SEMIÓTICO DE FLOCH: TIPOS DE PUBLICIDADE
Como este trabalho trata do discurso publicitário nos meios impressos, buscam-
se referências de discussões e estudos do discurso. Um dos estudiosos que contribui
para esta discussão é Jean-Marie Floch (1993), integrante do grupo de pesquisa da
chamada Escola de Paris, dirigida por A. J. Greimas (1984). Ele tem como um dos
focos de seus estudos a dimensão plástica dos textos, tanto verbais quanto visuais e
estrutura seus estudos numa classificação de tipos de discurso publicitário passíveis de
serem distribuídos no quadrado semiótico, sendo que o quadrado semiótico foi
27
idealizado por Greimas (1984), porém, Floch (1993) o utiliza para aplicação de seus
desenvolvimentos teóricos.
De acordo com o texto de Floch (1993), “Semiotica; marketing y
comunicación”, que será usado como referência ao longo de toda esta reflexão, o
mundo dos sentidos é inteligível pela semiótica, ou seja, é passível de ser estudado
pela semiótica. A semiótica comparece para tentar explicar algo que, muitas vezes,
caracteriza a estética e a crítica visual publicitária. A publicidade como produto de
uma construção de sentido.
O estudo da semiótica vai ao encontro dessa carência de definições e conceitos
presentes no produto publicitário, pois investiga o sistema de relações que formam as
diversas produções textuais (verbal e visual) e as compreende a partir do modo de
organização de suas unidades estruturais. Essas relações são constituídas sempre de
maneiras diferentes porque seus valores se agregam aos contextos nos quais estão
inseridos. Um signo de forma isolada nunca é analisado, mas sim dentro de um
contexto que irá dar sentido e forma a este signo. Dentro desta linha de estudos há
outros estudiosos que apóiam este raciocínio de sistemas de relações na determinação
de um significado, como, por exemplo, Greimas (1984), que faz estudo do percurso
gerativo do sentido sob o cunho interpretativo da semiótica, a qual distingue e
hierarquiza os diferentes níveis do discurso podendo situar as invariantes da
comunicação na prática social. Situar e analisar os diversos signos da manifestação do
discurso é o que contribui para a definição do percurso gerativo do sentido presente
nas produções de peças publicitárias. Para Floch (1993), o signo não é um princípio,
mas sim ponto de partida para a investigação das formas significantes subjacentes.
Em seu texto, Floch (1993) comenta que o conceito publicitário constitui uma
pequena parte que emerge como um iceberg de sentido; o conceito publicitário é
sensivelmente modificado de acordo com seu uso e evolução da comunicação. A
interpretação que aponta a semiótica é a do conceito, de recuperá-lo e confrontá-lo à
medida que o contexto da publicidade é criado.
Levando em consideração as questões apontadas por Floch (1993), a
comunicação é o uso da relação recíproca entre o plano da expressão e plano do
28
conteúdo de um conjunto significante, entre seu significante e seu significado. Na
publicidade, por exemplo, este acordo ocorre entre anunciantes e criativos na definição
de bases convenientes a ambos na obtenção de um resultado que, no caso, é a
conceituação e venda de uma marca ou idéia. Obviamente que ambos defendem seu
posicionamento de acordo com sua conveniência. No caso do anunciante é sob a ótica
econômica, a obtenção de venda e lucro; e o criativo defende sob a ótica estética e
criativa, pois tem como objetivo potencializar o caráter sedutor do produto ou conceito
que a peça publicitária está propondo. Nesse caso, a semiótica interveio para facilitar a
argumentação e definição de conceitos encontrados em algumas situações vividas
pelos criativos na elaboração de peças publicitárias; uma maior lucidez de como o
criativo obteve o seu produto criativo, a peça publicitária. Floch (1993), diz que, pela
análise semiótica das peças publicitárias, é possível estabelecer os conceitos de
linguagem publicitária (e linguagem em geral) subjacentes ao discurso.
Aprofundando-se na discussão sobre publicidade, ele comenta que, se forem
olhadas as revistas dedicadas às publicidades e observar-se a defesa e a ilustração que
os publicitários fazem de suas campanhas, pode-se verificar que em cada ano ocorre
uma mudança ou um ciclo. Mas, isto não significa para Floch (1993) que as
articulações e declarações dos publicitários não tenham importância, pelo contrário,
apenas não possuem uma base teórica de significação. Deste modo, muitas destas
declarações feitas por profissionais da área da publicidade são confundidas com juízos
pessoais e não consideradas colocações teóricas fundamentadas.
Ao longo do seu texto Floch (1993) procura ir contra o estatuto de discussão
vaga que a publicidade acabou incorporando. Ele promove uma discussão sobre
diferentes concepções e representações da criação publicitária, para daí depreender as
distintas concepções do que é o fazer publicitário e do que é linguagem subjacente ao
trabalho de cada criativo, e com o auxílio de declarações de profissionais da área:
criativos que desenvolvem e trabalham com a ideologia da publicidade. Os criativos
selecionados para a discussão neste trabalho são: D. Ogilvy, J. Feldman, J. Següela e
Ph. Michel, que na acepção de Floch (1993), são representativas de tendências
consagradas no mundo da publicidade. O intuito de inserir esses profissionais na
29
discussão é tentar identificar, por trás das estratégias criativas, as ideologias
publicitárias, ou seja, o fazer publicitário.
Em suas análises, Feldman, citado por Floch (1993) comenta a grande mudança
da publicidade ao longo de sua história, a mudança da publicidade descritiva para a
conceitual. Também comenta que as publicidades na década de 50 eram apenas
descritivas e apontavam apenas as características físicas e funcionais dos produtos
anunciados. Isso porque o mercado não apresentava produtos similares em sua
constituição. Todo produto que era lançado no mercado era praticamente único. Não
havia uma concorrência direta entre fabricantes.
Mas, hoje, o mercado é diferente do que Feldman, citado por Floch (1993),
comenta. Existe uma gama enorme de produtos similares. Além de possuírem a mesma
função, possuem praticamente o mesmo preço, aparência e composição. E é por isso
que os publicitários produzem a propaganda conceitual, ou seja, propaganda que traz à
tona uma qualidade substancial do produto ou serviço ao invés de abordar apenas sua
concepção, do que é feito. Estas afirmações tornam muito pertinente a discussão de
Floch (1993) sobre a contribuição dos estudos semióticos para a análise dos discursos
publicitários.
Para Floch (1993), mesmo a semiótica tendo como objeto de estudo a
significação e o discurso, o princípio da inserção da semiótica estrutural na
publicidade é o de compreender e diferenciar as relações estabelecidas nas
publicidades de hoje em dia. Ele também afirma que, juntamente com criativos da
área, é possível estabelecer bases e apontamentos de que estratégias os profissionais se
valem na produção de uma peça publicitária consagrada como criativa. Portanto o
caráter multidisciplinar (designers, escritores, pintores, publicitários etc.) presente nas
agências de publicidade contribui para este enriquecimento criativo que Feldman,
citado por Floch (1993), comenta.
Em seus estudos, Floch discute que os questionamentos existentes no campo da
publicidade também ocorrem no campo da semiótica. Os publicitários discutem sobre
a relação da publicidade com o produto e os teóricos da linguagem discutem sobre a
relação do discurso com o mundo. Fato este que desperta discussões secundárias sobre
30
funções da linguagem e do que se trata a linguagem visual e verbal. Os publicitários
acabam se questionando se para o consumidor o valor do produto é o mesmo após a
publicidade, e se há uma mudança de comportamento, ao mesmo tempo em que os
semióticos discutem a representação do sentido existente com a representação de sua
construção. Tanto do ponto de vista teórico quanto prático Floch ressalta que a
publicidade e a semiótica desembocam no mesmo tipo de dupla problemática: a função
da linguagem e a origem do sentido.
A análise dos conceitos de publicidade desenvolvidos pelos 4 teóricos
selecionados (D. Ogilvy, Ph. Michel, J. Séguéla e J. Feldman) permitiu a Floch
estabelecer 4 posicionamentos teóricos representativos do que se concebe como o
“fazer publicitário”, passíveis de serem dispostos no esquema visual do quadrado
semiótico.
Com diferentes opiniões expostas por estes criativos é possível identificar que tipos de
estratégias e bases conceituais são adotadas na produção de publicidades ditas
criativas.
Floch (1993) conclui que o estudo feito por ele das ideologias publicitárias pode
ser investido no quadrado semiótico.
Com base nas afirmações destes publicitários publicadas em livros e veículos
diversos, Floch chega a uma primeira distinção entre o uso da linguagem publicitária
com função construtiva ou representativa. D. Ogilvy, apud Floch (1993), por exemplo,
diz que a publicidade deve ser coerente, verdadeira, criativa e agradável. Um
representante da marca ou serviço que seja mentiroso e sem educação não vende nada
31
já que ao vender um produto para uma família não deve-se contar mentiras, pois o
vendedor também irá mentir para sua própria família. D. Ogilvy, apud Floch (1993),
também afirma que o abandono da publicidade factual e informativa não gera vendas
de um produto e sim uma publicidade mal sucedida e, sobre este assunto, Ph. Michel,
apud Floch (1993), completa dizendo que a publicidade não é um jogo de palavras e
sim um jogo de sentidos já que, havendo uma multidisciplinaridade de pontos de vista,
alguns consumidores podem gostar ou não gostar. Ph. Michel, de acordo com Floch
(1993), também relata que, quando cria, despreza sua visão de mundo para inventar o
que necessita provocação. Para ele este é o método que melhor comunica.
No entanto, Feldman, apud Floch (1993) inicia seu processo criativo
perguntando a si mesmo se o produto permite utilizar uma de suas virtudes para exaltar
e tornar o produto um sucesso. Em contrapartida, Séguéla, apud Floch (1993), aborda
o aborrecimento que uma pessoa tem em fazer as compras do cotidiano, dizendo que o
profissional de publicidade deve despertar no consumidor uma curiosidade de
conhecer novos produtos e promover neste consumidor uma curiosidade de conhecer
novos produtos e viver novas situações. Séguéla, apud Floch (1993) prima, assim, por
uma criatividade que faça o consumidor fugir do cotidiano.
Sendo assim, Floch achou pertinente, em seu texto, expor a opinião de criativos
da área para que ele pudesse categorizar os diversos tipos de ideologias publicitárias
dentro das funções representativas e construtivas do discurso, instaurando uma
discussão sobre o sentido da linguagem e mediante os discursos produzidos pelos
publicitários presentes neste debate classifica estes discursos em construtivos ou
representativos.
Para chegar a tais conclusões, Floch recorreu a sete opiniões de publicitários
para que o leitor não se visse obrigado a acreditar que as ideologias da publicidade
pudessem ser organizadas a partir de duas categorias: função representativa, atribuída
ao discurso, e função construtiva. Deste modo, o leitor se dá conta de que alguns
publicitários falavam de “informar sobre o produto”, utilizando a verdadeira natureza
do produto, “dizer a verdade”, assim como “propor um momento de vida apenas mais
verdadeiro que a verdade”, enquanto os outros, por outro lado, falavam de fazer com
32
que os produtos não sejam mais do que são na vida cotidiana, de “representar e
modificar a relação de apresentação”, de “mudar a visão de mundo” ou ainda de “criar
uma analogia”.
O debate sobre o sentido anterior à linguagem, ou construído por ele, foi empreendido a partir destas opiniões, o que vale dizer, o debate entre aqueles que defendem a função representativa da linguagem (o homem quer interpretar a realidade - os objetos do mundo - mediante o seu discurso e captar o sentido “já presente”) com aqueles partidários da função construtiva da linguagem que negam a possibilidade ou a legitimidade da dita representação; o homem considera que só reconhece as casas se estas forem construídas mediante seu próprio discurso. Em termos mais profissionais, cabe frisar que se instaura uma oposição entre o valor inerente ao produto ( que será manifestado ou utilizado pela publicidade) e o valor criado pela publicidade. (FLOCH, 1993, p. 210-211).
A partir do momento que Floch articula essas funções representativas e
construtivas no quadrado semiótico, há o reconhecimento do universo das ideologias
da publicidade, obtendo-se quatro posições possíveis e interdefinidas segundo relações
de contrariedade, contradição e complementaridade.
A intenção de Floch (1993) ao classificar o discurso desses publicitários está
motivada na constatação de suas diferenças manifestadas em debates ocorridos nas
mídias e na possibilidade de converter tais posicionamentos em unidades conceituais
definidoras de 4 tipos representativos de estratégias publicitárias. Mesmo porque são
profissionais que têm uma capacidade de avaliar seus próprios trabalhos e o de outros
profissionais.
As peças de D. Ogilvy são classificadas por Floch (1993) como exemplos de
uma publicidade referencial. Uma publicidade que parece tratar da verdade (como
mero efeito de sentido), um discurso que quer se adequar à realidade do público ao
qual ela se destina. Entretanto, Floch questiona o critério de julgar o discurso
verossímil como referencial. Este tipo de publicidade referencial exige do criativo
(publicitário) um caráter crítico e observador do cotidiano para buscar subsídio
informacional para a construção de um discurso envolvente com o público receptor da
mensagem. A essência do anúncio se torna a busca por um referencial interno, algo
que aproxime o receptor da realidade que ali está sendo representada.
33
Em contraposição à publicidade referencial, há a publicidade oblíqua. Floch
(1993) comenta que a publicidade oblíqua é um paradoxo entre a opinião comum e a
fuga de um lugar comum, manifestando no sujeito receptor um caráter interpretativo
da mensagem. A eficácia deste discurso não se mede pela rapidez de leitura do
público-alvo. E quem vai contra Ogilvy neste ponto de vista é Ph. Michel, segundo
Floch (1993), o qual defende uma ideologia que caracteriza o Floch designa como
publicidade oblíqua. Para Ph. Michel o consumidor é parte do fazer comunicacional,
por isso Floch (1993) completa dizendo que a publicidade oblíqua busca uma
modificação do estado de percepção das coisas por parte do receptor (público-alvo) da
mensagem. Ela faz com que o indivíduo (público-alvo) seja persuadido por ele mesmo,
uma vez que o público-alvo faz parte do processo de persuasão da publicidade, e esta
publicidade gera uma mudança de comportamento no público-alvo, que muitas vezes é
considerada como a ação de comprar um conceito ou produto.
Entretanto, para Ph. Michel, apud Floch (1993), a ideologia da publicidade é
fazer com que o consumidor seja um sujeito com fazer cognitivo e que sua inteligência
seja colocada ‘à prova’. Nesse caso há uma compreensão de um valor mútuo entre
consumidor (público-alvo) e publicidade (anúncio). Assim, cria-se um vínculo de co-
produção por parte do sentido da mensagem iniciada pelo enunciatário, a publicidade.
Quando se comenta o tema publicidade oblíqua é pertinente citar que é uma
publicidade fundada sobre uma relação afetiva. Isso porque o público-alvo participa do
fazer comunicacional. Desta maneira, as manifestações emocionais na publicidade
oblíqua são pertinentes, como a ironia, por exemplo. Floch (1993) comenta que a
exposição de uma situação irônica em um anúncio cria naquele momento um sistema
axiológico (de valores positivos e negativos, eufóricos e disfóricos). Este sistema
constrói um conjunto de valores e conceitos. O enunciador cria uma situação em que o
sentido se constrói em ato, não está numa organização do referente público-alvo, que
vai acompanhar este sistema axiológico de tal forma que esse não precisará de um
universo referencial prévio. Todo o conjunto de referências informacionais será
fornecido naquele momento. Por isso, a publicidade oblíqua se torna tão íntima,
porque o público-alvo (consumidor) participa do fazer comunicacional. O público-alvo
34
não se sente tão agredido pela publicidade oblíqua porque ele participa do processo de
persuasão. Quando o público-alvo é persuadido por ele mesmo, deixa de sentir-se
manipulado pela marca ou produto e sim movido por uma ação arbitrária dele mesmo.
A eficácia deste tipo de estratégia enunciativa publicitária é o que torna esta uma das
mais utilizadas em publicidade hoje em dia.
Floch estabelece quatro tipos de relações para tornar essas relações visíveis e
articuladas, ele as coloca no quadro semiótico, que é resultado, e não ponto de partida.
Após explorar uma discussão sobre o conceito de publicidade oblíqua, inicia-se uma
discussão sobre publicidade mítica, com a exemplificação dada por um publicitário. O
publicitário J. Séguéla, apud Floch (1993), diz que a publicidade mítica é uma
máquina de fazer publicidade. A publicidade mítica torna o ato de consumo, a compra
cotidiana, um ato interessante e divertido. Floch (1993) comenta que quando há esse
confronto no ato da compra entre produto e consumidor definimos bem a relação entre
publicidade mítica e referencial. Enquanto a publicidade referencial é algo que se
manifesta no consumidor no momento do contato visual com o produto, a publicidade
mítica busca um respaldo na oblíqua para se tornar menos indicial como a referencial.
A malícia e a ironia da publicidade oblíqua fornecem um bom sentido de percepção e
referencialidade com o produto ou serviço. Com isso, se constrói um imaginário em
torno do ato de compra. Uma forma (produto) sendo convertido em algo significante
para o consumidor.
Floch (1993) pensou ser pertinente à discussão sobre publicidade mítica a
reflexão sobre a publicidade de dois grandes publicitários: Léo Burnett e Bill
Bernbach. Léo Burnett fez a campanha da Marlboro trabalhando o conceito do usuário
de Marlboro definindo uma imagem padrão do cowboy. Já Bill Bernbach trabalhou a
própria imagem do produto, o produto por si só, mas, no entanto, tornou o olhar sobre
o produto algo irônico, com humor. O automóvel Fusca, objeto da publicidade de
Bernbach foi utilizado sem nenhuma alteração física, apenas uma frase como legenda:
“Think small”, traduzindo “Pense pequeno”. Na época em que esta publicidade foi
veiculada, o americano estava vivendo um período do consumo de carros grandes com
motorizações fortes devido ao preço da gasolina muito baixo, além de um reflexo da
35
popularidade da ideologia de supremacia americana presente nos cidadãos americanos.
Indo, porém, contra o popular e gerando um desvio de atenção para o seu produto,
Bernbach fez sua campanha do automóvel Fusca.
Contudo Floch (1993) comenta que seria prejudicial reduzir a publicidade
mítica a uma utilização direta ou indireta dos grandes referenciais populares. O que
define esse tipo de publicidade é a construção do valor semântico do produto de
acordo com um discurso arquetípico. Para ele, este tipo de publicidade tem a
enunciação sendo afirmada pelo enunciado mediante a bricolagem de figuras e frases
que fazem parte dos desejos e anseios do imaginário coletivo. A reorganização destes
motivos que irão definir a enunciação mítica desejada. Um exemplo é a campanha da
Marlboro, a qual coloca vaqueiros cavalgando em planícies no oeste americano em
ritmo particular como se estivessem em outra dimensão: a fuga para um prazer de
fumar Marlboro.
Neste trabalho de análise, a publicidade substancial tem como representante J.
Feldman. E Floch (1993) acredita que este tipo de publicidade se define mediante a
negação da publicidade mítica, assim como sua ideologia, e afirma que o trabalho de J.
Feldman se foca no produto, em assegurar a posse de valor que essa apresentava,
transformando as virtudes do produto em um diferencial de consumo. Uma visão da
realidade intrínseca do produto faz com que o ato criativo possa ser materializado em
um desenho, tamanha a associação de valor criada sobre o produto.
Floch (1993) também define o trabalho de um publicitário em negar todo tipo
de conotação pessoal ou qualquer tipo de moda que possa estar intrínseca em seu
discurso publicitário. Enquanto Feldman utiliza a essência do produto, outros
publicitários se baseiam no discurso referencial do usuário do produto, ou seja, na
descrição e ambientação da situação de consumo do produto. Estratégia esta de
enunciação utilizada por Ogilvy. (In: FLOCH, 1993)
Floch (1993) ainda tenta explicar o modo de enunciação que caracteriza a
publicidade substancial. Para Floch (1993), a publicidade substancial não é uma ilusão
referencial propriamente dita. A publicidade referencial procura estabelecer bases de
sentido na realidade, ao contrário da substancial que procura gerar uma sensação de
36
estranhamento no consumidor perante o produto. A publicidade substancial ressalta de
tal forma as qualidades do produto transformando-as em diferenciais de percepção
para o consumidor. O grau de diferença é grande a tal ponto de fazer com que o
consumidor opte pelo produto. A imagem substancial prefere os valores táteis,
claridade de formas e uso do primeiro plano, como aspectos que podem inverter a
relação do sujeito com o universo de consumo.
Em suas análises, Floch (1993) ainda faz uma alusão a Baudelaire dizendo que
a publicidade substancial promove uma emoção estética. Ele define esta emoção
estética como uma incapacidade repentina de o sujeito dominar o mundo sensível
(sensibilidade, prazer etc). Esta manifestação concreta está reforçada pela tentativa de
o sujeito projetar um esquema de leitura que reorganize esta emoção estética. Algo que
descreve o entendimento de publicidade substancial como sendo o contrário da
publicidade oblíqua.
Para ele, antes de se abordar a teoria da publicidade e marketing é válido
tratarmos das relações entre discurso e realidade, além de nossas ideologias que
também geram bastante discussão. O semiótico se encarrega de definir as relações
existentes entre as diferentes filosofias com o objetivo de entender melhor sua
legitimidade e competência. Floch (1993) finaliza colocando que a interpretação do
quadrado semiótico contribui para fornecermos sentido e razão para as diferenças
existentes nas estratégias elaboradas pela publicidade.
A tipologia de Floch (1993) mostra-se pertinente a esse trabalho porque
operacionaliza o estudo do corpus. O estudo das estratégias criativas presentes nesses
anúncios; a construção de sentidos e as ideologias publicitárias mediante a
classificação de Floch (1993) dos tipos de publicidades, podem contribuir para
constatarmos aspectos que concebam o fazer publicitário do criativo (o publicitário).
A análise que será apresentada a seguir examina os dispositivos estruturais do
texto visual na esteira de autores que trabalham com o assunto como: César (2001);
Gomes Filho (2003); Farina (1990); Hurlburt (2002); Perez (2004); Dondis (2003);
Bigal (1999), entre outros.
37
4 ANÁLISE DOS ANÚNCIOS PUBLICITÁRIOS: ESTRATÉGIAS COMUNICACIONAIS
Após estudo da maneira como Floch (1993) definiu sua classificação tipológica
das estratégias criativas executadas pelos publicitários, esse capítulo apresenta a
análise da forma e conteúdo das peças (anúncios) que constituem o corpus da presente
pesquisa, com o objetivo de examinar, com base nas tipologias de Floch (1993), os
procedimentos criativos e fatos ideológicos manifestados nas peças selecionadas. O
corpus é constituído pelos seguintes anúncios:
Figura 2 – FedEx Figura 3 – Mc Donalds
Fonte: Revista Archive Fonte: Revista Archive
Figura 4 - Ricardo Cartillone Figura 5 – Rozza Beef
Fonte: Revista Archive Fonte: Revista Archive
Figura 6 - HP Figura 7 – Petrobras
Fonte: Revista Archive Fonte: Revista Archive
38
Figura 8 – Bild Journal Figura 9 – Levis
Fonte: Revista Archive
Fonte: Revista Archive
Figura 10 – Volvo Figura 11 – Volvo Palavras
Fonte: Revista Archive Fonte: Revista Archive
Os anúncios acima, que são analisados neste tópico, estão dispostos em
tamanho reduzido. Para uma melhor visualização, as respectivas peças estão inseridas
nos anexos desse trabalho em dimensões ampliadas, com melhor qualidade de
resolução e as devidas fichas técnicas.
Muitas dessas peças selecionadas compõem, um conjunto com outras
campanhas publicitárias. Para compreensão das campanhas em sua totalidade, foram
colocadas em anexo as outras peças pertencentes às mesmas campanhas. Em alguns
momentos da análise, essas outras peças são referenciadas apenas porque enriquecem
o entendimento por parte do leitor, embora não sejam submetidas a uma análise
minuciosa.
Portanto, as mesmas peças de uma campanha serão, de certo modo, abordadas
na representatividade das que foram escolhidas para o corpus de análise, evitando-se,
assim, comentários repetitivos.
39
4.1 BILD JOURNAL1 (imagem em anexo 1)
O diário sensacionalista alemão "Bild Zeitung”2, da Editora Axel Springer, foi
lançado em 1952 e continua sendo o preferido dos alemães. Com uma tiragem de 4,6
milhões de exemplares, é um dos maiores do mundo, logo após os jornais japoneses,
caracterizando-se pelas manchetes e fotos grandes.
Seja na padaria, no supermercado ou na tabacaria, o Bild Zeitung atrai seus
leitores todos os dias com a mesma fórmula: manchetes sensacionalistas em letras
garrafais, sexo, esporte, curiosidades e notícias policiais, sempre em linguagem
popular.
O maior jornal da Europa nasceu numa segunda-feira, das rotativas da Editora
Axel Springer, em Hamburgo. A tiragem inicial, de 455 mil exemplares, cresceu para
um milhão em 12 meses.
O proprietário da editora e idealizador do jornal, Axel Springer, pretendia criar
um diário nos moldes do britânico Daily Mirror, usando o poder da fotografia (Bild,
em alemão). Em plena fase de reconstrução no pós-guerra, o objetivo era informar e
oferecer entretenimento aos alemães.
Sua primeira edição teve quatro páginas, textos curtos e fotos grandes.
Entendendo-se como orientador da população numa nova situação histórica, a
Alemanha estava dividida em Ocidental e Oriental, ocupada pelos soviéticos desde
cedo seu alvo foi o "inimigo comunista".
Para reforçar este objetivo, foi aberta uma sucursal em Berlim, diretamente
junto ao Muro que separava ambas as Alemanhas, Oriental e Ocidental. A crítica ao
comunismo dirigia-se não só à República Democrática Alemã, mas também aos
estudantes radicais de esquerda na Alemanha Ocidental no final da década de 60.
Os meios usados para garantir as vendas nem sempre seguem o código de ética
do jornalismo. No ano de 2001, por exemplo, o Bild recebeu 12 advertências do
Conselho Alemão de Imprensa (Deutscher Presserat).
1 Disponível em: http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,581737,00.html 2 Jornal de fotografia.
40
Com cerca de quatro milhões de exemplares vendidos a cada dia, o jornal atinge
12 milhões de leitores (18,8% da população alemã) acima de 14 anos. Tempo médio
de leitura: 38 minutos. As 31 edições regionais, cada uma com redação própria, são
feitas por mil jornalistas.
A edição dominical surgiu em 1956 e tem uma tiragem de 2,6 milhões de
exemplares. Somente na Renânia do Norte-Vestfália, o estado mais populoso da
Alemanha, a tiragem diária é de um milhão de exemplares. O Bild é vendido em 100
mil locais no país e exportado para 48 nações. Além disso, ele é impresso diretamente
nos centros turísticos preferidos dos alemães, em cidades da Itália e da Espanha.
Embora nem todos admitam, quem se considera bem informado dá uma
espiada, nem que seja só na capa, para saber do que o Bild está tratando. "Formador de
opinião" é o lema do jornal, que tem entre seus colunistas semanais o Kaiser Franz
Beckenbauer, o mais famoso jogador de futebol da Alemanha.
O anúncio do Bild Zeitung, aqui analisado, chama a atenção devido ao uso da
metalinguagem3, pois se trata de um anúncio que se baseou no seu próprio sistema de
signos para produzir uma mensagem. Uma peça publicitária de jornal construindo
sentidos por meio de significantes existentes no próprio universo lingüístico do
jornalismo.
Após esta conceituação, o olhar enfoca as peças publicitárias. A análise incide
sobre uma peça da série, pois os conceitos e discussões de produção visual se refletem
nas outras peças, conforme mencionado anteriormente. Como peça base selecionou-se
a que representa a imagem da esfinge juntamente com as pirâmides egípcias. Nessa
análise visual, parte-se de uma descrição dos elementos constituintes da composição
gráfica e, então, discute-se sua produção de sentido.
O anúncio possui uma forma horizontal que se reforça pela maneira como os
elementos que a compõem se comportam. As formas e texturas são definidas em linhas
horizontais. Para se explicar um pouco mais sobre a forma horizontal deste anúncio,
utilizaremos dois outros conceitos trabalhados pela Escola de Gestalt: o conceito de
3 A metalinguagem faz uso de signos equivalentes na construção de uma equação lingüística que tenha resultado, um objetivo definido. Uma espécie de linguagem que se utiliza dela mesma para compor a mensagem.
41
continuidade e o conceito de forma. Para Gestalt (GOMES FILHO, 2003, p. 42), a boa
continuidade ou continuação é a impressão visual de como as partes se sucedem
através da organização perceptiva da forma de modo coerente, sem quebras ou
interrupções na sua trajetória ou na sua fluidez visual. A boa continuidade atua no
sentido de alcançar a melhor forma possível do objeto, a forma mais estável
estruturalmente com pontos, linhas, planos, cores e outros. Uma direção estabelecida
para o olhar. Algo que é enfatizado pelas linhas do layout. Essas aumentam a sensação
de direcionamento, contornando e delimitando objetos e coisas de modo geral. “Em
design, principalmente, o termo linha, no plural, define também estilos e qualifica
partidos formais como:“Linhas Modernas”, “Linhas Orgânicas”, “Linhas
Geométricas”, “Linhas Aerodinâmicas”, e outros”(GOMES FILHO, 2003, p.43).
A montagem composta de recortes de jornais define a imagem central, uma
pirâmide egípcia e esfinge. E nessa montagem há uma preocupação em manter esta
horizontalidade da forma presente no layout do anúncio. No canto inferior direito do
layout há um packshot do jornal Bild enrolado com a sobreposição da logomarca do
jornal e título do anúncio. Packshot na publicidade, já emprestando seu conteúdo
semântico do inglês, significa pequena foto da embalagem do produto. Essa estratégia
de colocação do produto no anúncio aproxima o receptor, aqui público-alvo comprador
ou futuro comprador do jornal, do produto vendido. Dessa maneira, cria-se uma
espécie de pré-contato com o produto, mesmo que seja apenas visualmente.
Esses dois conjuntos de elementos gráficos descritos anteriormente são
sustentados por uma textura de papel amassado que se estende por toda dimensão do
anúncio, textura esta que lembra muito a de pergaminhos egípcios e até a própria
textura do papel jornal. Trata-se, portanto, de fazer com que o receptor assimile
conceitos e idéias em um anúncio publicitário por meio de signos verbais e não-
verbais.
Essa série de anúncios impressos foi produzida para a marca do jornal Bild.
Bild é um jornal alemão e como todo jornal tem a tarefa de informar os seus leitores
sobre os diversos acontecimentos no seu país e em todo o mundo. Este aspecto
funcional do produto nos leva a um questionamento. Como foi descrita anteriormente,
42
a logomarca do produto jornal foi posicionada no anúncio ao lado do título que diz em
inglês: “Visit the world of news daily”, traduzindo, “Visite o mundo das notícias
diariamente”. Um título que traduz o apelo ao leitor em buscar no jornal informação e
atualização diárias, cujo aspecto já faz parte do senso comum dos leitores de jornal. E
é com os conceitos procurados pelas pessoas, aqui leitor de jornal, que a publicidade
articula. Um conjunto de associações de idéias pertencentes ao universo pragmático
dos públicos-alvos dos anúncios e campanhas publicitárias.
Após a identificação geral de todos os elementos gráficos deste layout, o olhar
analítico será dirigido para decupagem conceitual de cada elemento. Como se observa,
a imagem da pirâmide com a esfinge é representada por meio de colagem, definida
pela montagem de diversos recortes obtidos do jornal Bild. A disposição destes
recortes não é feita aleatoriamente e, apesar de terem sido posicionados digitalmente,
os recortes não perdem sua característica analógica do jornal. Isso porque não foram
eliminados ou modificados os elementos que caracterizam um jornal impresso que são
as cores e diagramação.Por serem recortes que apresentam tipologias de diversos
estilos, possuem diferenças de contraste de cores e formas. O contraste é uma
estratégia visual que produz muito significado.
Para a Gestalt (GOMES FILHO, 2003, 43), o contraste não só excita e atrai a
atenção do observador, como também dramatiza esse significado para fazê-lo mais
importante e mais dinâmico. As tipologias também contribuíram para esse contraste
visual apresentando tamanhos e estilos diferentes. Os tipos encontrados com maior
incidência foram os sem serifa e alguns decorativos. Como já disse César (2001, p.
185), fazer um bom uso dos tipos sem serifa é complexo, pois na maioria das vezes
esses tipos não são elegantes e bonitos quanto os com serifa4. Ele também comenta
que uma boa solução para isso é trabalhar o contraste dos pesos dos tipos com diversas
famílias de fontes, da mesma forma que foi trabalhado nesse layout. No layout do
anúncio, foram utilizados tipos (negrito), e .
4 Serifa = pequeno traço, ou, às vezes, simples espessamento, que remata, de um ou de ambos os lados, os terminais das letras não lineais de caixa-alta e caixa-baixa, e que pode ter a forma de filete, barra etc.
43
Assim constata-se que o criativo nesse layout combinou bem os contrastes das
tipologias resultando em uma peça harmoniosa e bonita.
O conceito de qualidade jornalística e documental foi trabalhado neste anúncio
por meio da metalinguagem.5 Conceitos e formas que se referenciam no mesmo
produto que é o Jornal Alemão Bild. Muitas vezes esse trabalho metalingüístico parece
ser redundante, mas é extremamente criativo. “Enquanto a informação documentária e
também a semântica admitem diversas codificações, podem ser transmitidas de várias
maneiras”. “Na informação documentária e na semântica, a redundância (isto é, os
elementos previsíveis, substituíveis, que podem ser reconstituídos por outra forma) é
elevada, comparativamente à estética,...” (CAMPOS, 1992, p. 22). A busca de diversas
referências visuais torna o sentido deste anúncio rico em relações associativas. “A
informação estética é, assim, inseparável de sua realização, sua essência, sua função
está vinculada a seu instrumento, a sua realização singular” (CAMPOS, 1992, p. 22).
Mas é claro que essas relações se tornam interessantes na medida que se tem
idéia do público receptor dessa mensagem. Um público informado do que acontece na
história e no mundo de hoje. Dependendo do repertório do leitor, há outras associações
com o anúncio, como por exemplo: Onde o jornal é publicado? Quem são seus
leitores? Quem é o índice de circulação deste jornal?
5 A metalinguagem faz uso de signos equivalentes na construção de uma equação lingüística que tenha resultado, um objetivo definido. Uma espécie de linguagem que se utiliza dela mesma para compor a mensagem.
44
4.2 HEWLETT PACKARD6 (imagem em anexo 2)
A Hewlett Packard do Brasil foi fundada em 1967 e está, atualmente, presente
em todo o território nacional, com escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo
Horizonte, Curitiba, Florianópolis, Brasília e Porto Alegre, totalizando cerca de 1,4 mil
funcionários. Com unidades fabris em Sorocaba, Campinas e Jaguariúna, a HP produz,
localmente, servidores UNIX7 e padrão da indústria, PC’s, desktops, notebooks e
impressoras jato de tinta e laser. Em 2004, a HP Brasil registrou um crescimento três
vezes superior ao índice de incremento do mercado nacional de tecnologia da
informação.
Assim como a HP Corporation, a subsidiária brasileira presta serviços em todas
as áreas, para consumidores e pequenas e médias empresas até grande corporações e
clientes do setor público, com um portfólio abrangente de soluções líderes de mercado,
especificamente projetadas para atender as necessidades de cada segmento. No
mercado brasileiro, a companhia é líder em multifuncionais jatos de tinta e laser,
servidores UNIX e Windows (em unidades), impressoras jato de tinta e laser e Pocket
PC (iPAQs com sistema operacional Windows CE).
O investimento de cerca de US$ 139 milhões nos últimos cinco anos em
Pesquisa e Desenvolvimento impulsiona o trabalho local nesta área e a colaboração
com organismos internacionais. O TecnoPUC, centro inaugurado em parceria com a
PUC do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, é o maior da companhia na América
Latina, com 3 mil m2 e cerca de 80 profissionais atuando no desenvolvimento de novas
tecnologias para clustering8 e supercomputação, entre outras.
O nível de excelência e de colaboração internacional da área brasileira de P&D9
resultou, em abril de 2005, em sua integração oficial à Unidade de Estratégia e
Tecnologia da corporação, a OS&T. Manter relações tão estreitas com a OS&T
6 Disponível em: http://welcome.hp.com/country/br/pt/companyinfo/aboutus.html 7 UNIX é um sistema operativo (ou sistema operacional) portátil (ou portável), multitarefa e multiutilisador (ou multiusuário) originalmente criado por um grupo de programadores da AT&T e dos Bell Labs, que incluem Ken Thompson, Dennis Ritchie e Douglas McIlroy.(http://pt.wikipedia.org/wiki/Servidor) 8 É o "ato ou efeito" de utilizar vários PCs ligados em rede para formar um cluster, onde todos passam a se comportar como se fossem um único PC. 9 Programas de Pesquisa e Desenvolvimento.
45
significa dispor de maior acesso às informações e profissionais da organização,
alinhando a atividade brasileira à rede mundial e, dessa forma, ampliando sua
contribuição nos processos estratégicos e de desenvolvimento.
Os Laboratórios HP mantêm seu foco na descoberta e no desenvolvimento de
novas tecnologias que melhorem a vida dos nossos clientes, provoquem mudanças nos
mercados e criem oportunidades de negócio.
Esta série foi selecionada dentro da proposta de trabalhar com anúncios que
tiveram tratamento metalingüístico e, para não tornar cansativa e redundante este
estudo, será feita a análise de apenas uma.
O anúncio é horizontal. Por toda a extensão do anúncio percebe-se uma
tonalidade acinzentada na qual sustentam-se diversos outros elementos neste layout.
De acordo com Farina (1990, p. 201), a cor cinza indica discrição e esta é utilizada
para atitudes neutras e diplomáticas, para evitar conflitos entre os elementos que irão
compor o layout.
Ao longo das análises, concorda-se com o que afirma Guimarães (2004, p.15)
Utilizaremos o conceito de cor na sua dimensão aplicativa, ou seja, a cor aplicada a algum objeto, seja ele corpóreo ou etéreo, material ou conceitual. Extrairemos a simbologia das cores, sempre de alguma de suas varias aplicações. Utilizaremos a cor como informação que desempenha determinadas funções quando aplicada com determinada intenção em determinado objeto.
Essa superfície suportará a disposição dos outros elementos nesta diagramação.
No canto superior esquerdo, há uma estrutura com formas retas juntamente com uma
forma tipográfica ao lado. Respectivamente essas duas estruturas representam o
símbolo de adição matemático e Hp a abreviatura do nome da marca do produto
anunciado que é Hewlett Packard. Com a comunicação moderna e rápida, a linguagem
sentiu a necessidade de recuperar as formas pré-verbais e visuais de comunicação, que
podem expressar funções e operações sem a presença de palavras. É o caso deste
anúncio da Hp que utilizou o símbolo de adição para emitir um conceito de exagero e
superação de qualidade de impressão Hp. Uma referência sobre a caracterização do
46
símbolo é a definição de Paul Rand no livro de Hurlburt (2002, p. 72) que diz: “o
símbolo é a linguagem comum entre o artista e o observador... e pode ser representada
por uma forma abstrata, uma figura geométrica, uma fotografia, uma ilustração, uma
letra do alfabeto, um número”.
Ao centro do layout está o principal elemento visual. Uma dobradura (Origami)
feita de papel com a impressão de uma textura de pele de camaleão. Para contribuir
com esta representação do camaleão foi utilizada a fita de abertura da embalagem da
Hp para ser a língua do animal. O efeito de sentido de realidade da imagem é obtido
graças ao jogo de sombras. “O contraste por luz e tom baseia-se nas sucessivas
oposições de claro-escuro. O efeito da luz, reproduzindo-se sobre os objetos, cria a
noção de volume com a presença ou ausência da cor” (GOMES FILHO, 2003, p. 64).
O contraste por luz e tom é um recurso visual muito utilizado pela fotografia. As
sombras permitem que o observador tenha uma visão com profundidade, semelhante à
visão a olho nu. No entanto, pode-se afirmar que esta dobradura foi realmente montada
e possivelmente fotografada.
A sua fina e bela representação teria sido mais difícil de ser realizada se fosse
por meio de processo digital, no caso um computador. Possivelmente, o computador
foi utilizado para a aplicação da textura de camaleão e correção de cores. Esta correção
acontece por meio das escalas cromáticas e, como este anúncio trata de uma peça
impressa, a escala utilizada é a CMYK ou sistema CMYK. Com definições extraídas
do livro de Cesar (2001, p. 189), o CMYK baseia-se nas três cores primárias: Cian
(azul), Magenta (vermelho) e Yellow (amarelo). Adicionando o K (preto) a essas três
cores pode-se reproduzir uma quantidade infinita de cores, cores que também são
chamadas de cores-pigmento já que são cores de impressão gráfica. Esses 4 canais de
cores é que serão trabalhados pelo criativo para se obter uma regulagem de cor perfeita
da imagem resultando em uma imagem harmoniosa cromaticamente.
Logo acima do camaleão de dobradura encontram-se os seguintes dizeres: “73
jaar kleurvast. Papier maakt prints speciaal” - tradução: “Colorindo rapidamente por
73 anos. O papel irá fazer suas impressões especiais”. E no canto inferior esquerdo do
47
layout está a logomarca do produto Hp e seu slogan ao lado: “Speciaalpapier” –
tradução: “Papéis Especiais”.
Após a descrição dos diversos elementos presentes neste layout, é pertinente
analisá-los estabelecendo correlação entre eles. Primeiramente a correlação das cores.
O layout trabalhou com cores vivas e luminosas, cuja denominação para cores é devida
ao grau de saturação e luminosidade dada a cor. Para Farina (1990, p.87), saturação de
cor é quando na cor não entra preto ou branco, mas está dentro do comprimento de
onda correspondente no espectro solar definindo a cor saturada. Já luminosidade de
cor é a denominação dada à capacidade da cor de refletir luz branca. Tanto o verde do
camaleão quanto o rosa do símbolo de adição matemático, da língua do animal e do
título são cores chamativas e, por serem cores muito luminosas são muito difíceis de
serem obtidas com ótima qualidade em impressões. Estas cores foram utilizadas para
reforçar o conceito de que com o papel Hp você pode obter cores vivas.
Para reforçar o conceito de cores vivas com o papel HP também foi utilizada a
imagem do animal camaleão. Isto para criar a idéia de que fazendo uso do papel Hp o
usuário obtém cores vivas como a natureza, como a cor de um ser vivo. Trabalha-se
aqui o conceito de cor viva. Primeiramente, a seleção de cores ditas vivas e luminosas,
depois a escolha de um ser vivo que possui essas cores e, finalmente, o exemplo de
animal escolhido (camaleão). Animal que tem como característica a capacidade de
mudar de cor de acordo com o ambiente: estratégia biológica de sobrevivência,
mudança tão fiel que o auxilia na proteção contra ataques de predadores camuflando-
se no ambiente. Neste caso, a cor é o fator especial que contribui para a sobrevivência
do animal e, estabelecendo uma analogia com o usuário do papel Hp, o usuário do
produto Hp também obterá ótimos resultados.
Sendo assim, pode-se dizer que todo o tratamento visual do anúncio trabalha
com o conceito de impressões especiais. Isso ocorre da mesma forma no texto verbal.
Tanto o título quanto o slogan enfatizam o conceito de impressões especiais com
papéis especiais. Esta busca e articulação de um mesmo conceito em diversos
elementos de um mesmo discurso caracteriza a metalinguagem. Esta análise ainda
pode ser aprofundada apontando mais um aspecto metalingüístico neste anúncio. O
48
conceito de impressão. Impressão significa parecer algo. E esse conceito é reiterado
quando se escolhe o animal camaleão e nenhum outro. Vale ressaltar que o camaleão é
um ser que depende da fidelidade de representação das cores do ambiente para
sobreviver. E este é o compromisso que a marca Hp estabelece com o seu público
consumidor: produzir um papel que garanta a fidelidade e qualidade de cores.
49
4.3 ROZZA BEEF (imagem em anexo 3)
Dentre todos os anúncios analisados neste trabalho esta é a série de anúncios
que obteve a melhor associação entre suporte, produto e conceito. Apesar de essas
associações terem ocorrido empregando-se apenas código visual, elas tiveram uma
complementação da mensagem verbal na obtenção da produção de sentido.
A tendência a associar a estrutura verbal e a visual é perfeitamente compreensível. Uma das razões é natural. Os dados visuais têm três níveis distintos e individuais: o imput visual, que consiste de miríades de sistemas de símbolos; o material visual representacional, que identificamos no meio ambiente e podemos reproduzir através do desenho, da pintura, da escultura e do cinema; e a estrutura abstrata, a forma de tudo aquilo que vemos, seja natural ou resultado de uma composição para efeitos intencionais. (DONDIS, 2003, p. 20)
Essa série foi criada para uma marca de comida congelada japonesa. O produto
caracteriza-se por ser constituído de cubos de carne de diversos sabores: carne de
porco, carne de frango e carne bovina. Em todas as peças há uma foto em close de um
animal com a postura corporal toda encolhida, sendo que cabeça e membros do corpo
dos animais estão limitados em seus movimentos. A impressão percebida é que os
animais estão presos dentro de algo bem apertado, como se eles estivessem embalados
dentro de uma caixa. Para darmos continuidade na análise selecionamos o layout com
a imagem de porco.
A iluminação utilizada na realização da foto desse layout reforça essa idéia de
profundidade cúbica, de estarem dentro de uma caixa. As arestas do layout apresentam
menor quantidade de luz e a parte frontal da foto, correspondente a frente do animal
apresenta uma projeção maior de luminosidade. Com uma iluminação difusa no
primeiro plano e deixando uma parte sombreada no perímetro da imagem concebe-se
bem a forma de uma caixa. Como no anúncio da Hp mencionado anteriormente, a
iluminação participa, mais uma vez, na construção de sentido através do contraste de
luz e tom. Isso porque a iluminação projetada no primeiro plano proporcionou um
destaque da textura corporal do animal. Observando-se a imagem conseguem-se
50
identificar diversas tonalidades de cores e textura de pêlos. Essa percepção gera
igualmente efeitos de sentido de verdade nas imagens.
A noção de realismo é auxiliada pela intervenção digital no tratamento de
acabamento visual da imagem, como por exemplo, regulagem de cores, sombras,
texturas e colocação dos outros elementos gráficos que compõem o layout. Esses
outros elementos seriam o texto verbal, uma pequena imagem da embalagem do
produto (packshot) e um logotipo no canto superior esquerdo. É interessante ressaltar
que a embalagem do produto é retangular, assim como as dimensões do próprio
anúncio. A forma trabalhada na criação deste layout é retangular. E o mais interessante
é que a comida ou produto aqui vendido também se apresenta em formas retas, em
cubos de carne. Essa estrutura em abismo denotando similaridade de formas tende o
olhar do leitor a estabelecer agrupamentos. A semelhança entre os elementos do layout
promove a unificação do todo, ou seja, fornecem uma maior unidade e equilíbrio a
composição visual. A pregnância da forma é uma das leis básicas da Percepção Visual
da Gestalt que é definida da seguinte maneira: “Qualquer padrão de estímulo tende a
ser visto de tal modo que a estrutura resultante é tão simples quanto o permitam as
condições dadas”. “As forças de organização da forma tendem a se dirigir tanto quanto
o permitam as condições dadas, no sentido de harmonia e do equilíbrio visual”
(GOMES FILHO, 2003, p. 36).
É conhecido o conceito de que comidas congeladas após serem descongeladas
não preservam ainda as propriedades e sabor dos alimentos frescos, feitos na hora. A
sensação gerada no consumo de uma comida congelada é bem diferente do consumo
de uma comida preparada minutos antes de sua elaboração. A manufaturação do
alimento fresco é quase que imediata, diferentemente da comida congelada que foi
submetida a um acondicionamento.
Utilizando-se deste conhecimento que a maioria das pessoas tem sobre comida
congelada, o criativo desenvolveu essas peças publicitárias. A associação lúdica entre
um animal encaixotado pelas dimensões dos anúncios e o produto carne congelada em
cubos é lúdica. O criativo conseguiu tornar palpável a associação entre os signos de
sua composição visual, criando efeitos visuais poéticos. “Tal função poética aprofunda
51
a dicotomia fundamental de signos e objetos” (JAKOBSON, 8ª ed., p. 128). A
associação de idéias geométricas é conduzida pelo reforço das formas retas, mais
objetivamente, do aspecto retangular das dimensões do layout associado à forma da
caixa do produto e a própria apresentação do produto em cubos de carne.
Assim, todo o arranjo visual juntamente com o texto verbal “Rozza Pork broth
cube”, traduzindo “Porco Rozza servido em cubo” pressupõem a idéia de que carne
congelada Rozza é produzida com produtos frescos. O mesmo efeito pode ser obtido
nas outras peças que compõem a série, mas com outros tipos de animais (frango e
vaca).A idéia é a de que a carne é tão fresca a ponto de se aproximar do próprio animal
em seu estado natural. Outro aspecto interessante que deve ser observado nessa série é
a redundância de formas retangulares que contribuíram para a definição das relações
associativas. Caso no layout não houvesse essa preocupação, seria muito difícil para o
receptor ou público-alvo da mensagem perceber a intenção de sentido que seria a
venda de um produto próximo da fonte natural.
52
4.4 RICCARDO CARTILLONE (imagem em anexo 4)
Percorrendo temática de redundâncias verbais e visuais será feita a análise de
outro anúncio. A mesma estratégia enunciativa usada nos anúncios de comida
congelada também acontece neste anúncio.
O layout do anúncio consiste na foto de um pé feminino posicionado sobre um
tapete. O tapete possui uma textura de pele de animal similar a da textura de casacos
de vison. No canto superior esquerdo do layout, há a foto de uma bota feminina. O que
nos leva a esta identificação é a presença de um salto na bota. Ao lado da imagem da
bota está presente uma estrutura visual composta por tipologias. “Muitos acreditam
que a tipologia deva ser tratada apenas como imagem. Não precisa, necessariamente,
ser lida com facilidade. O mais importante é tirar o leitor do lugar comum para fazê-lo
prestar atenção no conjunto, na manipulação dos tipos e no que a desconstrução da
leitura, afinal, significa”(CESAR, 2001, p.178).
Agora o olhar será um pouco mais atento para cada elemento disposto no
layout. O pé feminino apresenta um corte na extremidade do dedão. A postura do pé
acompanha a linha estrutural da bota. Há uma associação da forma delineada pelo pé e
a delineada pela bota. O que reforça tal associação é o aspecto cromático do layout. A
cor da manta de pele, sobre a qual repousa está o pé é a mesma da bota situada no
canto superior esquerdo do layout. “A cor é a parte mais emotiva do processo visual.
Possui uma grande força e pode ser empregada para expressar e reforçar a informação
visual. É uma força poderosa do ponto de vista sensorial. As cores, dependendo de
como se organizam, podem fazer algo recuar ou avançar, de acordo com o contexto em
que atuam” (GOMES FILHO, 2003, p. 65). E indo ao encontro dessa amarração
conceitual há o seguinte texto verbal: “Promoção, só restam os de menor tamanho”.
Feitas essas considerações, buscam-se algumas possíveis referências que o criativo
usou para criar as peças publicitárias. Por exemplo: o pé do layout está em postura
angelical e lúdica, tal como presente nos contos de fadas, o que confere o valor lúdico
a imagem. Qual é a menina ou mulher que não se lembra da história da Cinderela?
Pois bem, é com referenciais do universo de signos do público-alvo que o criativo
53
procura produzir um significado que gere o consumo do produto. A relação motivada
entre as mulheres e as Cinderelas dos contos aproxima muito o produto com o
universo mítico feminino.
Outro elemento semântico no layout é a sobreposição do pé feminino em uma
pele de animal selvagem, muito parecida com a de casacos de vison. Este é um
elemento muito forte de representação de um público consumidor sofisticado e de alto
poder aquisitivo. No entanto, por utilizar-se de um pé machucado, acaba produzindo
um efeito conflitante no discurso: uma pessoa sofisticada e rica, com um grande
impulso de consumo que, para satisfazê-lo, chega até a comprar um sapato de número
menor e abrir mão do conforto físico, em prol do prazer do consumo.
Embora esse layout apresente arranjos visuais tão distintos e conceitos
diferentes tanto no plano da expressão quanto do conteúdo, juntos compõem um
enunciado lúdico de extremo requinte e sensibilidade por parte do criativo. Isso porque
não são estabelecidas relações indiciais de forma e cor, mas sim uma procura por uma
enunciação rica em expressividade. A busca constante de relações entre o verbal e o
não-verbal dentro de um anúncio publicitário impresso é o que o torna criativo, pois
desperta no leitor (receptor da mensagem) uma proximidade e comprometimento com
a proposta de construção de sentido que o anúncio lhe propõe.
54
4.5 VOLVO10 (imagem em anexo 5)
“[…] os carros são dirigidos por pessoas. O princípio orientador por trás de tudo
que fizemos na Volvo, portanto, é, e deverá sempre ser, segurança…” – Assar
Gabrielsson e Gustaf Larson em 1927, quando os fundadores da Volvo desenharam o
projeto do seu primeiro carro, eles fizeram uma promessa de colocar as pessoas em
primeiro lugar. Mais de setenta anos depois, tanto o mundo quanto os carros mudaram
de forma dramática, mas a promessa feita por Assar Gabrielsson e Gustaf Larson não
mudou.
A visão dos fundadores estabeleceu a base do que se tornaram valores
fundamentais: segurança, meio ambiente e qualidade. Esses valores representam o
compromisso contínuo em ajudar a proteger as vidas dos motoristas e passageiros de
Volvos e das pessoas em todos os lugares cujas vidas são afetadas pelos produtos. Eles
são as diretrizes da abordagem de design simples e despretensioso, e inspiram uma
abertura à inovação. Permeiam, igualmente, os laboratórios de pesquisa, estúdios de
projetos, instalações de testes e linhas de montagem.
Enquanto permanece leal aos valores fundamentais, a Volvo também está
comprometida em montar carros que inspiram as pessoas. Através de design simples e
elegante e desempenho dinâmico de condução, os veículos têm um caráter durável que
tornam o ato de dirigir um prazer. Esforços têm sido mobilizados, para não só proteger
as pessoas, como também para tocá-los emocionalmente.
Essa série de anúncios foi produzida para uma marca de automóveis sueca
Volvo, consagrada como uma marca de automóveis de alto padrão e preço. Os
veículos da marca Volvo são conhecidos mundialmente por sua segurança e
acabamento.
O carro é um objeto de grande relevância na sociedade de consumo por ser um
objeto de cobiça e conseqüentemente status social. Para essa sociedade, o carro reflete
conquista e sucesso por parte de seu usuário, no caso o dono do automóvel. Por ser um
mercado promissor encontram-se muitos anúncios dirigidos a esse nicho de mercado.
10 Disponível em: http://www.volvocars.com.br/_Tier2/WhyVolvo/Heritage/
55
Com a competição e ofertas de diferentes tipos de automóveis, os anúncios criados
para esse tipo de produto devem apresentar atributos e diferenciais para poderem se
destacar nesse competitivo mercado.
A série de anúncios apresentados possui uma atraente composição cromática.
Todos os anúncios utilizaram tons de pastel em uma cadência cromática muito sutil
entre elas. A textura aplicada às cores foi muito similar às pinturas em aquarela
resultando num efeito leve e fluido. Esse efeito pode ser teorizado por duas categorias
conceituais das Leis da Gestalt. Elas são harmonia e sutileza. A harmonia seria a
perfeita articulação visual na integração e coerência formal das unidades do layout. E a
sutileza seria uma técnica elegante de composição e é utilizada praticamente em toda
manifestação visual.
Essa textura artística é feita em todos os elementos gráficos das peças, até
mesmo no produto automóvel. Algo inusitado porque a maioria dos anúncios de
automóveis procura não alterar as propriedades descritivas do objeto, o carro em sua
essência e maneira de utilização. Nessa composição visual, a imagem do carro toma
uma forma quase que homogênea em relação ao ambiente gráfico onde ela está
inserida. A sensação de harmonia e leveza das formas gerada pelo anúncio se deve,
portanto, a tal composição gráfica. Algo que vai ao encontro do conteúdo semântico
que o anúncio quer gerar: o carro Volvo possui um design suave e harmonioso.
O tratamento visual dado a este layout provavelmente foi feito por meio da
interface digital (uso do instrumento computador), mas seu efeito não se abstém da
característica analógica de uma obra pintada em aquarela. A mesma parada do olhar
contemplativo que realizamos diante de uma obra de arte, fazemos nesta série de
anúncios. O que facilita esta parada do olhar é a forma como se dá a composição
gráfica das peças. Todas elas articulam os elementos gráficos de acordo com a
diagonal de leitura, colocando o objeto em destaque no canto inferior direito.
Estabelecem-se linhas contínuas e cadências cromáticas em relação ao automóvel. A
perspectiva do anúncio é sempre obtida partindo do objeto carro, como se o
observador estivesse dentro do carro contemplando aquele visual. Pode ser que por
essa razão os receptores não se fixam no que está escrito nos anúncios. E, se houver
56
uma possibilidade de apreensão do significado verbal, isto não é aspecto decisivo no
despertar do efeito estésico gerado pelas peças.
No entanto, a perspectiva do layout se torna ainda mais interessante quando o
observador se imagina sentado no carro Volvo contemplando aquele cenário composto
dentro do enquadramento do anúncio. Essa pode ser uma das possíveis estratégias
estéticas usadas pelo criativo para tornar sua peça publicitária ainda mais vendável.
A mensagem verbal do anúncio é constituída pela seguinte frase: “There is
plenty of room in the back for a family. Or to start one”. ; traduzindo “Há muito
espaço no bagageiro para a sua família. Ou até para começar uma”. Já no outro
anúncio da série encontramos a seguinte frase: “As long as there are cars like this.
There will be people who decide to become valets”; traduzindo “Enquanto houver
carros como este haverá pessoas que decidem ser manobristas”. Essas frases que
compõem a parte verbal dos anúncios possuem uma conotação bem próxima ao
universo do consumidor desse tipo de automóvel. A articulação dessas frases é a
descrição de significados contidos em um possível consumidor da marca Volvo. Os
valores abordados são: a conquista, presente na primeira frase, e a vaidade e a cobiça
de você possuir um automóvel Volvo. Esses aspectos podem nos elucidar que tanto o
hemisfério visual, quanto o verbal de um anúncio contribuem para uma construção de
sentido, caracterizando assim um discurso sincrético.
Essa série de anúncios foi produzida para a marca Volvo que é bem conceituada
por estar associada a automóveis confortáveis e seguros. Isso porque a fábrica possui
um departamento de desenvolvimento de equipamentos de segurança de alta
tecnologia. No entanto a marca Volvo estava perdendo, nos últimos anos, espaço no
mercado automobilístico. As vendas de carro Volvo caíram vertiginosamente. A
fábrica realizou uma pesquisa e constatou que o problema estava no design da
carroceria dos automóveis, razão pela qual se procederam às mudanças do design dos
automóveis da marca.
As campanhas publicitárias desenvolveram anúncios com um design
sofisticado. Muitas vezes, as buscas por um design hoje com idéias arrojadas levam os
criativos a desenvolverem composições plásticas com características estésicas
57
(trabalham com o sensorial, a mistura de sentidos) . O que se pretende realçar é que
são publicidades que em sua observação instantânea, ou seja, em um primeiro olhar,
geram no observador (receptor) um grau de estesia, de sensação e sentimento. Muitas
vezes esse efeito é tão intenso que leva o observador a realizar mentalmente diversas
associações. Estas podem ser de situações vividas ou até mesmo de emoções
resultando em uma sinestesia dos sentidos.
Com os signos selecionados, o emissor elabora o sintagma, cuja construção, o modo de associar os signos, é por combinação; nessa associação sintagmática são procuradas, nos elementos, equivalências que revelem uma outra associação, desta vez pragmática. Isso quer dizer que, sem perder os traços distintivos, os signos associados no sintagma configuram um desenho paradigmático, que leva o receptor a uma atividade mental de leitura formada por novos signos que reciclam o repertório de elementos daquele grupo em questão.11
Hoje, a publicidade moderna e eficiente é aquela que não apenas descreve as
características do produto, mas agrega valor conceitual e ideológico a este. Recorre a
utilização de um “discurso dionisíaco” em prol de um efeito maior de sedução do
público-alvo consumidor de determinado produto. Discurso Dionísiaco, na concepção
de Carrascoza em seu curso de Redação Publicitária12, seria um discurso baseado em
um vetor emocional ou humorístico.
O texto publicitário dionisíaco segue o cânone do gênero narrativo. Evidentemente, há por vezes descrição de um produto ou serviço, ou pequena dissertação sobre suas características, como poderá ser visto em inúmeros exemplos dessa outra vertente, a cada dia mais explorada pela propaganda impressa brasileira, ao refazermos brevemente seu percurso ao longo do último século. Mas a dominância é a da narração, uma vez que esse modelo de texto, ao contrário da persuasão apoiada na racionalidade e na lógica, [...] busca influenciar o leitor por meio de uma história.(CARRASCOZA, 2004, p. 98-99)
No caso desse anúncio seria emocional. Este tipo de estratégia enunciativa se
deve a grande similaridade entre produtos existentes no mercado. O produto por si só,
11 BIGAL, Solange. O que é Criação Publicitária ou O Estético na Publicidade. São Paulo: Nobel, 1999, p.49. 12 Ciclo de Palestras e Curso da Especialização Em Comunicação Publicitária, promovido pelo Curso de Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda, da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade Tuiuti do Paraná, de 05 a 20 de agosto de 2005.
58
ou seja, seu aspecto técnico não é mais um elemento decisivo no momento da compra.
O que determina a venda é sua representação. O que o produto irá representar ou
oferecer de status social para o consumidor. Para se esclarecer a imagem como parte
do universo das representações coloca-se a seguinte citação:
O mundo das imagens se divide em dois domínios. O primeiro é o domínio das imagens como representações visuais: desenhos, pinturas, gravuras, fotografias e as imagens cinematográficas, televisivas, holo e infográficas pertencem a esse domínio. Imagens, nesse sentido, são objetos materiais, signos que representam o nosso ambiente visual. O segundo é o domínio imaterial das imagens na nossa mente. Neste domínio, imagens aparecem como visões, fantasias, imaginações, esquemas, modelos ou, em geral, como representações mentais. (SANTAELLA, 1998, p. 15)
Sendo assim, do ponto de vista de Perez (2004, p. 147) a imagem pode ser
concebida como uma representação plástica, tudo aquilo que evoca um determinado
objeto por ter com este semelhança ou relação simbólica. A imagem pode ser produto
da imaginação, consciente ou inconsciente.
59
4.6 LEVIS (imagem em anexo 6)
Em outros anúncios publicitários podem-se encontrar características de um
efeito estésico no observador, segundo Perez (2004, p. 148). Um bom exemplo é a
série de anúncios Volvo, já analisada. No entanto a série de anúncios Levis possui
também característica estésica.
Levis é uma marca de roupa, que é conhecida produzindo calça de jeans,
material muito utilizado e procurado pelas pessoas e principalmente por jovens nas
últimas décadas. Um material muito prático para quem usa e muito versátil para quem
cria as roupas, no caso estilistas de moda. Essas podem ser algumas das razões pelas
quais o jeans se popularizou tanto no mundo.
Analisando essa série de peças como um corpus só, pode-se extrair uma linha
de processo criativo com quatro aspectos: produto, público, forma e conceito de
marca. Cabe ressaltar que para gerar efeito de sentido e de venda, todo anúncio
publicitário deve apresentar estes aspectos. Isso porque a produção de sentido irá se
definir com os elementos relacionados entre essas quatro variáveis. Por exemplo, o
criativo seleciona a característica do produto a qual o público provavelmente irá
buscar, elabora relações de conteúdo e expressão produzindo um conceito para este
produto. E nada mais conveniente do que inserir neste trabalho peças impressas
criativas que nos permitam analisar e identificar estratégias de produção de sentido
estético, ou seja, peças que operam no sentido da relação estreita entre conteúdo e
expressão visual. Perez (2004, p. 161), em suas análises da imagem, já havia
mencionado a importância de se analisar nos textos o conteúdo como também a
expressão. E Perez (2004, p. 161) completa definindo que o plano da expressão pode-
se manifestar de diversas maneiras como verbal, imagética, gestual etc.
Primeiramente será analisado o aspecto produto. A composição plástica do
anúncio se fez com o próprio produto: recortes de calças jeans dispostos no quadro da
peça, mimetizando um rosto humano. Mesmo que montagem de recortes
possivelmente tenha sido feita digitalmente, ela não perde seu caráter analógico e
material. Isso se deve ao tipo de recorte despojado (mal feito) nos talhos de tecido e a
não perda da definição visual da textura do tecido jeans. O que nos leva a compor
60
rostos nessas estruturas visuais não é apenas a forma como esses recortes foram
dispostos, mas também o contraste gerado pelas áreas ausentes de textura, ou seja, as
áreas brancas do layout. O branco como área ausente de cor produz um efeito de
repouso e tranqüilidade na leitura visual. Desta forma, as áreas brancas do layout
servem para um delineamento das imagens.
Como, geralmente, um campo visual contém áreas iluminadas e áreas escuras, a adaptação da retina se faz sempre com ajuste para as áreas claras. Isso significa, para produtores de imagem, que a informação escura, ou na penumbra, em determinado campo visual com áreas claras e escuras combinadas e fortemente contrastantes, não terá tão boa visibilidade para detalhes. (GUIMARÃES, 2004, p. 32)
A definição dos públicos-alvos desses anúncios é a composição dos rostos.
Todos os rostos figurativizados são de jovens. Estes que são o maior público
consumidor da marca. Um público extremamente preocupado com a moda e a beleza
estética das coisas, aqui no caso roupas. Por isso que nesse layout foi utilizada uma
estética arrojada e despojada. A disposição de recortes aparentemente aleatória é
reforçada pela parte verbal da peça que compõe o conceito do que o jovem mais
procura: individualidade e originalidade. O rosto é a parte do corpo que mais
caracteriza a individualidade de um ser humano. Nunca são encontradas duas pessoas
com o mesmo rosto, por mais parecidas que elas sejam. O rosto caracteriza o único em
um indivíduo.
Outro aspecto relevante a se comentar neste estudo é a técnica de montagem
desses recortes de calça jeans. Essa técnica lembra muito a época hippie dos anos 60.
Momentos onde jovens insatisfeitos com o modelo sócio-econômico da época
começam a manifestar comportamentos e estilos de vida próprios. Essas manifestações
se mostraram aparentes nos estilos de roupa que eles usavam. Muitas delas eram
customizadas, ou seja, cortadas e costuradas utilizando diversos tipos de texturas e
cores. Tudo isso para buscar uma individualidade até mesmo no modo de se vestir.
Por essa razão, o título foi posicionado ao lado da marca, nos fornecendo a
seguinte leitura: “Levis, cut for you”, traduzindo “Levis, cortado para você”. Este
título enfatiza a relação mimética entre a roupa e o usuário. O jovem que vê estes
61
anúncios se identifica com eles. No jovem gera um sentido de ser único e distinto dos
demais. A Levis é feita para ele. Anúncios que geram uma identificação com o público
jovem. “No caso da apropriação o grande problema é descobrir a lógica da escolha, o
fundamento lógico, consciente ou inconsciente, para a seleção de alguns itens e a
rejeição de outros” (BURKE, 2003, p.71).
62
4.7 PETROBRÁS13 (imagem em anexo 7)
Em outubro de 1953, por meio da Lei 2.004, a criação da Petrobrás foi
autorizada com o objetivo de executar as atividades do setor petróleo no Brasil em
nome da União.
A Petróleo Brasileiro S.A. iniciou suas atividades com o acervo recebido do
antigo Conselho Nacional do Petróleo (CNP), que manteve sua função fiscalizadora
sobre o setor:
Campos de petróleo com capacidade para produzir 2.700 barris por dia (bpd):
� Bens da Comissão de Industrialização do Xisto Betuminoso;
� Refinaria de Mataripe-BA (atual RLAM), processando 5.000 bpd;
� Refinaria em fase de montagem, em Cubatão-SP (atual RPBC);
� Vinte petroleiros com capacidade para transportar 221 mil toneladas;
� Reservas recuperáveis de 15 milhões de barris;
� Consumo de derivados de 137.000 bpd;
� Fábrica de fertilizantes em construção (Cubatão - SP).
Ao longo de quatro décadas, a empresa tornou-se líder em distribuição de
derivados no País, num mercado competitivo fora do monopólio da União, colocando-
se entre as quinze maiores empresas petrolíferas na avaliação internacional. Detentora
de uma das tecnologias mais avançadas do mundo para a produção de petróleo em
águas profundas e ultraprofundas, por isso a Companhia foi premiada duas vezes, em
1992 e 2001, pela Offshore Technology Conference (OTC), o mais importante prêmio
do setor.
Em 1997, o Brasil, através da Petrobrás, ingressou no seleto grupo de 16 países
que produz mais de 1 milhão de barris de óleo por dia. Nesse mesmo ano foi
promulgada a Lei n º 9.478, que abriu as atividades da indústria petrolífera no Brasil à
iniciativa privada. 13 Disponível em: http://www2.petrobras.com.br/portal/Petrobras.htm
63
Com a lei, foram criados a Agência Nacional do Petróleo (ANP), encarregada
de regular, contratar e fiscalizar as atividades do setor e o Conselho Nacional de
Política Energética, um órgão formulador da política pública de energia.
Desde então a Petrobrás dobrou sua produção e em 2003 ultrapassou a marca de
2 milhões de barris de óleo e gás natural por dia. Neste mesmo ano, coincidindo com a
comemoração dos seus 50 anos, a Petrobrás identificou novas províncias petrolíferas
de óleo leve, no Espírito Santo e em Sergipe, o que pode ser considerada a sua maior
conquista, na área de exploração e produção, depois da descoberta de óleo na Bacia de
Campos em 1974.
O exercício de 2004 foi caracterizado por importantes realizações da Petrobrás,
a Empresa anunciou o aumento das reservas de óleo e gás natural, no Brasil e no
exterior, em cerca de 20%, notícia fundamental para indicar a eficiência de uma
empresa petrolífera e altamente relevante para o Brasil.
A Petrobrás ultrapassou pela primeira vez, em 12 de maio de 2005, a marca de
1,8 milhão de barris de produção de petróleo por dia, chegando perto da auto-
suficiência brasileira. Neste ano a companhia bateu o recorde brasileiro de
profundidade de perfuração, em 12 de agosto, com um poço inclinado que chegou a
6.915 metros além do fundo do mar. O poço foi perfurado no bloco BMS-10, na Bacia
de Campos, localizado a 200 km da costa sul da cidade do Rio de Janeiro.
A explicação para o sucesso da Petrobrás está na eficiência de suas unidades
espalhadas por todo o Brasil: nas refinarias, áreas de exploração e de produção, dutos,
terminais, gerências regionais e na sua grande frota petroleira.
O anúncio foi elaborado para a marca Petrobrás. Petrobrás é uma empresa
brasileira de extração e refinamento de petróleo, bem consagrada no mercado
brasileiro e até no mercado mundial. A Petrobrás é uma marca bem conhecida por
estar ligada a iniciativas ambientais e culturais. Uma empresa que apóia e patrocina
esses tipos de iniciativas.
Como em outros anúncios presentes ao longo deste trabalho, esse anúncio
apresenta uma diagramação horizontal. Portanto os elementos constituintes estão
seguindo esta orientação de leitura (horizontal).
64
Ao centro do layout há uma estrutura complexa formada por corpos humanos.
Não há uma preocupação em demonstrar o sexo destes indivíduos e sim uma
apresentação disforme e assexuada. Essa percepção visual é gerada em virtude do tipo
de iluminação que lhe é projetada e também pela ausência de qualquer sinal
representativo de sexo. Verifica-se a eliminação de elementos reveladores da
identidade sexual como pêlos (cabelo) e adereços (colar, roupa etc). Esse tipo de
montagem traz à tona muitas técnicas de montagens utilizadas hoje nos espetáculos de
balé moderno. Um espetáculo que procura compor coreografias de alto grau de
complexidade por meio de movimentos e gestos realizados pelos bailarinos. Uma boa
referência dessa espécie de produção é a criada pela bailarina Deborah Colker14. Em
sua criação, há uma preocupação em centralizar a imagem gestual apresentando-a de
forma solitária em cena e decodificando-a em um novo sentido.
Toda essa estrutura formada de corpos é circunscrita por uma iluminação
posicionada atrás. Com isso, criam-se regiões de contraste de pouca e muita luz,
delineando um contorno que aparentemente é a representação de um caminhão com
um motorista. O mais interessante é que a luz se dissipa por um fundo azul gerando
um efeito degradê à coreografia, criando a impressão de três dimensões e maior
volume para os corpos humanos. Muitas vezes, proximidade e semelhança agem em
comum para constituírem a unificação da forma. Proximidade na interpretação de
Gomes Filho (2003, p. 34) seria a tendência de um grupo de elementos serem vistos
juntos na constituição de um todo, como forma, cor, tamanho, textura, peso entre
outros. A semelhança auxiliaria a proximidade despertando a construção de unidades e
estabelecendo agrupamentos de partes semelhantes de forma e cor. Semelhança e
proximidade são dois fatores que concorrem para formação do todo no sentido da
harmonia, ordem e equilíbrio visual, além das sombras projetadas no chão, que
também auxiliam para esse efeito visual, pois são indiciais de volume e profundidade.
No entanto, pode-se identificar mais uma lei da Gestalt, a ambigüidade. Por ser um
fator que concorre para a indefinição geométrica ou orgânica da forma, não parece ser
coerente com as outras duas leis acima descritas (proximidade e semelhança). Mas no
14 Companhia de Dança Deborah Kolker, In: www.ciadeborahcolker.com.br
65
caso dessa construção visual há sim uma coerência. Como os elementos constituintes
da forma do caminhão são corpos humanos e não peças mecânicas, se não houvesse a
ambigüidade induzindo a interpretações diferentes daquilo que está sendo visto, o
observador dessa construção visual não configuraria essa forma como a de um
caminhão, mas sim continuaria a visualizar a forma dos corpos humanos de maneira
indicial.
Dentro dessa composição de balé moderno, o azul em degradê servirá de
suporte para a diagramação do anúncio. De acordo com o significado psicológico das
cores encontrado no livro de Farina (1990, p. 201) o azul possui grande poder de
atração; é um neutralizador de cores, acalmando o indivíduo observador. No caso
dessa peça publicitária o azul irá contribuir na construção da mensagem da marca
Petrobrás oferecendo uma sensação de paz para o produto combustível que precisa
informar sua segurança e confiabilidade. Outra possível razão da utilização do azul é o
da existência, na categorização lexical de cores, do azul petróleo. Um tipo de azul que
existe na gama de cores e contém até no nome o produto comercializado pela marca
Petrobrás.
Segundo Guimarães (2004, p. 60)
Nossa percepção, no entanto, não dá conta de discernir todos esses tons e o nosso vocabulário só é capaz de atribuir nomes próprios a algumas dezenas deles. A composição do nome da cor com “claro” e “escuro”, ou com termos que indicam inclinação para outra cor, como “amarelado”, “esverdeado”, “azulado” e “acinzentado” etc., multiplica em algumas vezes o repertório de nomes das cores. Em muitos outros casos, compomos a denominação da cor com termos que identificam a origem material (branco-de-cádimo, azul-cobalto, negro-de-fumo etc.) – muito utilizados pelos fabricantes de pigmentos -, termos que indicam a localidade de origem ou de divulgação (azul-egípcio, amarelo-de-Nápoles, vermelho-de-Tiro etc,), ou termos que indicam a semelhança da cor com o mundo natural (uma das cores principais, o verde, por exemplo, recebe nomes como verde-bandeira, verde-folha, verde-esmeralda, verde-petróleo, verde-da-Prússia, verde-musgo, verde-garrafa, verde-limão, verde-abacate etc.)
Esse degradê irá do preto ao azul claro no sentido vertical de cima para baixo,
mas com uma pequena emissão de um degradê radial ao centro do anúncio. Referindo-
se à parte de texto verbal deste anúncio existem dois grupos: o primeiro localizado no
canto superior esquerdo que compreende o título do anúncio, e o segundo localizado
66
na parte inferior do anúncio, acompanhado de um texto complementar juntamente com
a logomarca e logotipo do produto. Os textos são os seguintes: título, “It´s not easy to
produce a gasoline that correponds to the demands of a sophisticated machine like the
human being”, traduzindo “ Não é fácil produzir uma gasolina que corresponda a uma
sofisticada máquina como a criação humana”; texto complementar, “We work hard to
produce not just the best fuel for your car, but for your life as well”, traduzindo “ Nós
trabalhamos duro, não para produzir o melhor combustível para o seu carro, mas para
que a sua vida seja melhor”.
Neste caso o produto não está sendo vendido de forma ativa como em um
anúncio promocional, mas de forma conceitual e subjetiva caracterizando um anúncio
tipo institucional. O anúncio institucional tem uma construção mais emocional e
poética, não vendendo a marca diretamente e sim de maneira conceitual e ideológica.
Tornando um pouco mais claro, em um anúncio institucional prevalece uma
articulação entre os elementos verbais e não-verbais de maneira muito refinada. A
função poética é trabalhada com grande intensidade. “Na poética ou estética a
mensagem está estruturada de modo ambíguo e pretende atrair a atenção do
destinatário especialmente para a sua própria forma” (CARRASCOZA, 2003, p. 39).
Ao se tratar desse anúncio institucional, a estratégia semi-simbólica está sendo
empregada com relevância. Para existir semi-simbolismo em um discurso é necessário
se estabelecer uma relação de categorias similares entre o plano da expressão e
conteúdo. Discutindo-se sobre construção estética, o plano da expressão se
referenciará pela composição plástica e o plano do conteúdo ao valor semântico, ao
efeito de sentido que a imagem quer transmitir. Para um anúncio ser semi-simbólico
ele precisa, em sua estratégia de enunciação, estabelecer associações de categorias do
plano da expressão (cor, linhas, tipologia etc) com figuras do plano do conteúdo
(rotina versus não-rotina, trabalho versus lazer, problemas versus abandono, por
exemplo.).
As relações entre as categorias da expressão e do conteúdo são trabalhadas de
forma criativa. As relações das categorias dos planos são: corpo humano, complexo e
sofisticado (plano da expressão) com a máquina tecnológica representada pela figura
67
do caminhão (plano do conteúdo); a complexa formação de bailarinos representando
por um caminhão (plano da expressão) com a difícil tarefa de se produzir um
combustível de alta qualidade (plano do conteúdo).
Este anúncio estabelece uma relação motivada entre a busca da perfeição de um
combustível com a perfeição do ser humano. Algo que leva o leitor deste anúncio a
outro estágio de compreensão e envolvimento. O leitor chega a estabelecer uma
ligação biológica com o anúncio. Isso porque o leitor é um ser humano e a instituição
Petrobrás vislumbra ser perfeita como o ser humano. Portanto, o leitor se identifica
com a marca porque esta procura a perfeição que ele possui. Uma estratégia
enunciativa que mexe com a vaidade do leitor ou público-alvo. Fato que muitas vezes
se torna diferencial na escolha de uma marca ou outra pelo consumidor.
68
4.8 VOLVO PALAVRAS (imagem em anexo 8)
Essa análise dispensa apresentações da marca anunciada porque já foi feita
anteriormente em outra análise (análise do anuncio intitulado Volvo). Este anúncio
apresenta uma diagramação horizontal condizendo com seu formato. A disposição dos
elementos verbais e não-verbais seguem esta linha de orientação de leitura
(horizontal). Em toda a extensão do anúncio há a coloração azulada que define um
suporte ou como dizemos em linguagem publicitária, background15. Aqui a cor azul
cumpre a mesma função psicológica que foi definida por Farina (1990, p. 201) no
anúncio da Petrobrás, de que a cor azul, de um ponto de vista cultural avaliativo,
transmite uma sensação de paz, segurança e confiabilidade.
Há uma mancha gráfica composta pelos tipos que se estende por quase todo o
layout. Esta aparece como projetada pela imagem de um carro Volvo, situado no canto
inferior direito do layout; a concentração de densidade gráfica desta mancha torna-se
maior quando se aproxima da imagem do carro. Para a construção desta mancha
gráfica foram utilizados dois conceitos das Leis da Gestalt, a sobreposição e a
desarmonia por irregularidade. Gomes Filho (2003, p. 100) define sobreposição como
uma técnica que organiza elementos uns em cima de outros, expressando a interação
de estímulos visuais pela colocação de no mínimo duas figuras na composição
relacionada. Além da desarmonia que também contribui para este efeito estético, como
o nome já diz, caracteriza-se pela ausência de ordem e de nivelamento. Muitas vezes,
esse tipo de conceito visual é utilizado para causar efeitos visuais inesperados, como é
o caso desse layout. A mancha composta de tipos vai se dissipando gradativamente
conforme a disposição destes, à medida que a distância entre eles vai aumentando. Em
um primeiro olhar se tem a impressão de ser um monte de lama sendo projetada, mas
na verdade são palavras compondo uma mancha gráfica.
No canto inferior esquerdo do enquadramento, há uma estrutura geométrica
retangular de cor cinza 10% ou 15% black com a logomarca e slogan da empresa
Volvo inseridos nela. Ao lado, de forma linear, o título do anúncio em caixa alta e
15 Traduzindo = segundo plano.
69
negrito com o seguinte dizer: “New Volvo Cross Country 163hp. The fastest way to
run from your daily routine”, traduzindo “Novo Volvo Cross Country 163hp. O
caminho mais rápido para você correr da sua rotina diária”.16
A partir do título iniciaremos nossa análise da produção de sentido contida neste
anúncio. Para podermos classificar o anúncio como semi-simbólico, precisamos
estabelecer algumas relações. Como já foi comentado na análise do anúncio anterior,
para um anúncio ser semi-simbólico ele precisa, em sua estratégia de enunciação,
estabelecer associações de categorias do plano da expressão com categorias figurativas
do plano do conteúdo.
Por ser um veículo de modelo cross country, a sua utilização é em áreas hostis
como trilhas e estradas sem pavimentação. Lugares onde a resistência e conforto do
veículo são testados no seu limite. Uma situação não muito comum no dia-a-dia de
uma pessoa que tenha seu trabalho no meio urbano. A oportunidade de uma pessoa
vivenciar uma situação como esta é fora de sua rotina diária, mesmo porque as pessoas
em sua rotina trabalham e executam diversas outras tarefas. Uma situação de aventura
e desafio acontece em um momento de lazer. A pessoa busca prazer em um ambiente
natural (uma trilha no meio da floresta) diferente do ambiente urbano que ela encontra
em seu cotidiano. Este momento de lazer caracteriza-se pela necessidade de evasão
que a pessoa realiza fugindo de seus problemas, anseios, vícios, trabalho como
diversos outros aspectos de sua rotina de vida.
É com este conteúdo de sentido que esta peça publicitária irá trabalhar. A
representação de uma situação de um carro derrapando em uma lama que no layout é
representada por palavras. É como se o motorista estivesse dirigindo o carro e este
derrapasse nas palavras ao invés de derrapar na lama. Estas palavras são projetadas
gerando o significado de libertação de uma rotina tediosa vivida pelo usuário de um
16 Parece pertinente na descrição gráfica desse anúncio da marca Volvo a exposição de um dado referente a uma experiência profissional. Há alguns anos, trabalhando em uma agência de publicidade que atendia a Volvo do Brasil, percebemos que a marca Volvo possui uma preocupação muito grande com sua identidade visual, pelo fato de a empresa ter solicitado o desenvolvimento de uma tipologia própria para seus anúncios, reforçando ainda mais sua identidade visual.
70
carro Volvo. Um aspecto que caracteriza uma relação semi-simbólica entre lama feita
de palavras, como exemplo: 17 18 19 20
e problemas da rotina diária, melhor elucidado no quadro abaixo:
Esse é um anúncio que aproxima o público-alvo do produto carro Volvo,
mesmo porque ocorre uma identificação por parte do receptor (público-alvo).
O que se pretende com a informação é que o receptor participe ativamente de seu processo de construção do significado, única via para uma mudança de comportamento não paternalista e produtiva. Essa constatação revela uma vontade de participação intensa do receptor no processo comunicativo, sendo necessário, no entanto, uma habilidade especial por parte do informador para transformar essa experiência em real participação, evitando a mera deglutição constatada a todo o momento nos meios de comunicação ditos de massa (NETTO, 2000, p. 158).
É por isso que o anúncio em poucos elementos gráficos consegue transmitir
todos os paradigmas vividos por um possível usuário de um carro Volvo. Como por
exemplo, a relação entre a fuga da rotina e a busca do não-comum, o duro trabalho
diário e o prazer do lazer, os problemas enfrentados no dia-a-dia e o abandono de tudo.
A criatividade deste anúncio está na articulação de poucos elementos gráficos
suscitando uma representação simbólica rica em sentidos. Palavras significando
problemas e situações rotineiras sendo atiradas como lama por um automóvel de alta
tecnologia. A resistência e conforto “pilotados” por um indivíduo que procura um
17 Boss do inglês chefe. 18 Business do inglês negócio. 19 Computers do inglês computadores. 20 Dollar do inglês moeda.
71
diferencial em sua vida que é fugir da rotina. Essas relações definem o que Greimas
chama de arquétipos da publicidade mítica.
Portanto, pode-se concluir que esse anúncio é vendedor e sedutor porque
trabalha com os anseios das pessoas pertencentes a este público-alvo (empresários e
homens de sucesso). Para isso, Bigal (1999, p. 21) diz que o emissor da mensagem
publicitária transpõe o produto, marca ou serviço para uma condição material de
linguagem (imagem, movimento, forma, cor) que, auxiliada por um aspecto semântico
(tendências, motivos) determina a qualidade da criação publicitária.
A aquisição de um carro como esse é o significado que a pessoa
inconscientemente procurava. Um carro Volvo deixa de ser uma aquisição simplória
de um bem e se torna conquista da liberdade de poder fugir da rotina e desfrutar um
pouco dos prazeres da vida.
Um anúncio pertinente ao universo pragmático do público-alvo. Isso porque o
layout concretizou a busca de significado e conteúdo em poucos elementos gráficos
caracterizando uma linguagem simples e de fácil assimilação. Algo que se assemelha
muito ao que o público consumidor de carros de alto desempenho procura. Um
significado a mais em um objeto de consumo presente no cotidiano. Tudo isso
reforçado pelo slogan da marca: “Volvo for Life”, traduzindo “Volvo para a vida”.
Neste o slogan ficou apenas como legenda do texto visual. Isto acontece muito quando
o anúncio em sua enunciação obteve uma amarração visual e verbal (título e texto)
muito forte, deixando o slogan como uma legenda. “O objetivo analisado e declarado
do compositor visual, seja informativo seja funcional, ou ainda de ambos os tipos,
serve de critério para orientar a busca da forma que será assumida por uma
manifestação visual. Se, como afirmou Louis Sullivan, “a forma segue a função”, seria
lógico ampliar seu pensamento e acrescentar “ a forma segue o conteúdo”(DONDIS,
2003, p. 138).
72
4.9 FEDEX21 (imagem em anexo 9)
A Federal Express é a primeira empresa a oferecer serviço de entrega para o dia
seguinte nos E.U.A., atividade que teve início em 1973.
Em 1981, a FedEx introduz serviços de transporte expresso para a América
Latina e Caribe com a abertura de escritórios em Porto Rico.
A empresa destacou-se também, por ser a primeira a oferecer garantia de
reembolso de frete, e em 1987 adquiriu a Island Courier e expandiu suas rotas no
Caribe para servir 37 ilhas na região.
Em seguida, A FedEx compra a Flying Tigers, expandindo suas atividades para
os principais mercados internacionais, incluindo a América Central, e torna-se a maior
empresa de transporte aéreo expresso com serviço para cinco países, entre eles o
México
Em 1994 a FedEx obtém o certificado ISO 9001 para todas as suas operações
globais, sendo a primeira transportadora a receber esta certificação.
Com esse crescimento da empresa a FedEx anuncia a escolha do Aeroporto
Internacional de Miami para a construção de suas novas instalações, avaliadas em $50
milhões de dólares. Este centro de distribuição estendeu a presença da FedEx na
América Latina e no Caribe e reforçou um elo estratégico na rede internacional da
empresa.
O novo centro para a América Latina e Caribe entrou em funcionamento em
dezembro de 1999, com 63.000 metros quadrados, o centro possui instalações
climatizadas, 15 desembarcadouros de caminhões, capacidade de processamento de até
12.000 pacotes por hora e pistas para acomodar até 11 aeronaves de grande porte.
Hoje a FedEx é a maior empresa aérea de transporte de cargas, com 650
operações aéreas em mais de 220 países e territórios e 46 centros de tele-atendimento
recebendo 500.000 chamadas diariamente. A empresa emprega mais de 150.000
pessoas, incluindo 43.500 couriers (mensageiro em português), que entregam mais de
3.3 milhões de pacotes a cada dia.
21 Disponível em: http://www.fedex.com/br/about/story.html?link=4
73
A peça publicitária feita para marca de serviços de entrega expressa FedEx
divulga a própria marca, caracterizando um institucional. O anúncio institucional
caracteriza-se por não apresentar caráter de varejo, mas sim apenas expõe a marca. Os
publicitários utilizam o termo Publicidade Institucional para denominar uma
Campanha Publicitária que anuncie conceitos agregados especificamente a uma
empresa e não um produto ou serviço da mesma22.
O anúncio consiste em layout composto em uma dupla página de revista. Este
tipo de anúncio tem boa visibilidade na mídia ao qual ele foi aplicado, pois todo o
campo visual da revista é tomado pelo layout do anúncio.
O anúncio apresenta uma foto de imagem urbana; incêndio em uma loja. A loja
que está em chamas se posiciona no terceiro plano da fotografia. Em segundo plano,
estão localizados um caminhão com a logomarca da companhia de entregas expressas
FedEx e a seguinte frase: “ We live to deliver”, traduzindo “Nós vivemos para
entregar”, slogan da marca. Dentro deste caminhão há outro caminhão; um caminhão
de bombeiros.
Tendo vários objetos com distâncias diferentes no mesmo campo visual, o observador seleciona aquele que lhe desperta maior interesse. Este objeto estará em foco (coordenado pelo cristalino). Os demais objetos do campo visual estarão proporcionalmente mais desfocados conforme maior for a distância do objeto principal (o escolhido como foco de atenção do olhar).(GUIMARÃES, 2004, p. 30)
Além disso, entre o segundo plano e primeiro plano há a figura de um homem
segurando em suas mãos uma máquina filmadora. Este homem está filmando o fato,
supostamente um cinegrafista amador. Também em primeiro plano temos a figura de
um outro homem com sua bicicleta observando o incêndio. Toda cena se situa em uma
grande e vasta avenida, local onde se encontra uma empresa comercial, em chamas. O
anúncio como um todo apresenta uma coloração escura e esfumaçada, mostrando um
dia nublado com pouca luminosidade. Assim, pode-se salientar que este anúncio se
mostra exclusivamente como publicidade, mas empresta uma linguagem da qual o
jornalismo se utiliza, o registro de um fato, dando um aspecto mais verossímil ao
22 Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Publicidade_Institucional
74
anúncio. Portanto, o observador (público-alvo) fica sem saber se a imagem foi retirada
de uma situação real ou produzida publicitariamente.
O quadro é definido pelo enquadramento da foto. Esse tipo de corte na imagem
não mexe com o espectador, pois delimita o campo visual, dando maior ênfase aos
objetos inseridos no layout. Neste caso, a utilização deste tipo de quadro é interessante,
pois enfatiza o caráter da imagem documental que o anúncio quer transmitir.
A proximidade da imagem é grande e o enquadramento está em plano geral.
Não é uma tomada angulada, pois a câmera está perpendicular à posição do ambiente,
no caso, uma avenida, num ângulo aproximado de 90 graus. O espectador encontra-se,
portanto, em pé juntamente com outras pessoas que estão também participando da
cena, ou seja, observando o incêndio.
Referindo-se à escolha da objetiva da máquina fotográfica, provavelmente foi
utilizada uma lente normal de 50mm, o que proporciona uma visão natural, diferente
de outras objetivas que distorcem a imagem. Contudo, o fotógrafo pode também ter
utilizado uma lente grande angular. Isso porque a imagem comporta um grande campo
visual.
Além disso, o fotógrafo deve ter ajustado em sua máquina uma profundidade de
campo média, pois todos os planos da foto estão bem nítidos, não havendo nenhum
tipo de distorção focal. Aparentemente, a descrição técnica da realização da fotografia
parece ser irrelevante para a discussão aqui proposta. Pelo contrário, quando
debatemos sobre produção de sentido de uma imagem é plausível, se possível,
comentarmos que recursos técnicos e com qual objetivo foram utilizados na obtenção
do resultado desejado. Portanto, a partir de uma imagem já produzida podemos extrair
indícios técnicos que definiram a imagem como produto de um processo técnico que
neste caso é o fotográfico.
A diagonal de leitura (da esquerda para a direita e de cima para baixo) neste
anúncio não foi usada e sim uma leitura centralizada. Por essa razão, o layout ganhou
força em centralidade, condizendo com o posicionamento da marca ou serviço em
questão. O caminhão da FedEx que faz o serviço de entrega do caminhão do corpo de
bombeiros está posicionado bem neste ponto, convergindo todo o foco da cena descrita
75
pela imagem do anúncio.
Sendo assim, a marca, cujo anúncio está se propondo a divulgar, FedEx serviço
de entrega expressa, é bastante destacada. De acordo com Bigal (1999, p. 22),
recortando o receptor-alvo (público-alvo), o emissor selecionará os elementos
pertinentes à mensagem publicitária como imagem e tendências visuais. Tudo isso por
meio de forma harmoniosa.
A maneira como a imagem foi fotografada obteve plasticamente efeito muito
real. Essa composição permite que se interprete que o fotógrafo que tirou esta foto
estava registrando um fato real, mas extraordinário. O fato ali registrado era o de um
incêndio onde o corpo de bombeiros estava sendo levado até o local por uma empresa
de entregas expressas. Uma obtenção de sentido de expressão semelhante a foto
jornalística, ou seja, o registro documental de um acidente. E para uma aproximação
emocional da cena (a imagem fotografada), o formato de página dupla contribuiu. O
campo visual de uma página dupla de anúncio possui uma proporção semelhante a
visão periférica de uma pessoa. A sensação gerada pela imagem é a de participar da
cena, compartilhando experimentalmente o conteúdo ali expresso. Com isso o
observador assume o compromisso de ser também uma testemunha do fato registrado
na imagem fotográfica.
Há presença de diversos efeitos de sentido de texturas, as quais são bem comuns
a uma paisagem urbana. Exemplo: textura de grades (na loja ao lado da qual está em
chamas), de asfalto (o chão da avenida), textura de fumaça, textura de fogo entre
outras. Pode se dizer que o aspecto realista da foto pode ter sido reforçado por um
tratamento técnico de produção dos objetos enquadrados que produzisse a impressão
de que aquele fato não estava sendo encenado. Como, por exemplo, não limpar a rua,
não arrumar a roupa dos espectadores, as janelas dos prédios ao fundo deixadas abertas
de forma desordenada e a escolha de um dia nublado para registro da cena. Esses
aspectos técnicos de produção contribuem para a definição da textura realista de um
acidente. O tratamento dado a todos os objetos em cena gera um resultado verossímil
muito bem adequado a produção de sentido que quer ser criada nesse anúncio.
A presença de um escurecimento da imagem é predominante no layout.
76
Entretanto, a imagem se torna mais clara na região onde o caminhão da FedEx se
localiza. O contraste entre ambiente e os objetos dispostos nos diversos planos da
cena, no caso a loja em chamas, o caminhão e os espectadores, foram definidos pelo
grau de iluminação. Pontos a serem mais enfatizados estão mais iluminados. Com isso
não conseguimos definir um foco apenas de luz, sendo mais plausível dizer que a
imagem possui uma iluminação natural de um dia nublado.
Tendo em vista a mensagem plástica do anúncio, pode-se dizer que o objetivo
primordial desta propaganda é introduzir um serviço no mercado. Sendo assim, para
que o receptor da mensagem do anúncio se identifique e gere o ato de consumo do
serviço, no caso a FedEx, este anúncio fez uso de uma estratégia muito interessante, a
de emprestar o caráter documental do jornalismo. Não se vende o produto de forma
agressiva, mas vende-se sim uma situação nada comum onde o serviço pode atuar. A
idéia de um caminhão da FedEx transportar o caminhão de bombeiros até o local do
incêndio resume todo o conceito de uma empresa de entregas expressas, ou seja, o
serviço da FedEx é tão eficaz e rápido que superou o próprio serviço do corpo de
bombeiros. “Os anúncios mudaram. Mudaram a linguagem, as formas, as mídias, as
massas. A comunicação, enfim, não está só. Globalizou-se”(CESAR, 2001, p.243).
Portanto pode-se aproximar o público-alvo, ou seja, empresários e pessoas em
geral que possam utilizar os serviços da FedEx. Tudo isso por meio de uma imagem
extraordinária com características realistas de um serviço de entregas expressas.
O conjunto icônico acima analisado é todo reforçado por uma frase: “ We live to
deliver”, traduzindo “ Nós vivemos para entregar”. Esta frase se torna interessante
porque faz uma analogia com o princípio do corpo de bombeiros, “viver para salvar
vidas”. Essa relação metalingüística de um serviço transmitido pela figura do
caminhão da FedEx e a entrega do caminhão de bombeiros acontece porque a
mensagem está utilizando o seu próprio código. Neste caso o código utilizado é o
verbal. “Sempre que o remetente e/ou destinatário têm necessidade de verificar se
estão usando o mesmo código, o discurso focaliza o código; desempenha uma função
metalingüística”(JAKOBSON, 8 ed., p.127).
De acordo com Carrascoza (2003, p.33), optar por este ou aquele termo não é
77
uma atitude arbitrária, mas ideológica. Nesse anúncio, a mensagem lingüística não
serviu apenas como legenda de uma imagem, reforçou sim ainda mais o conceito da
empresa aqui em questão (FedEx). Derivando desse raciocínio podemos aprofundar a
análise da função poética sob o foco do plano da expressão do verbal. A construção
fonética da frase “We live to deliver” permite fazer-se uma analogia a um estudo já
realizado por Jakobson sobre isso. Ele analisou o trocadilho fonético realizado na frase
“I like Ike”. O reforço fonético realizado nas sílabas da frase causam o mesmo efeito
de ressonância sonora ocasionado pela frase “I live to deliver” utilizada nesse anúncio
da Fedex. Sendo assim é possível dizer que o verbal não se prende apenas a categorias
do conteúdo, mas também a categorias da expressão. Como foi este caso onde o efeito
sonoro da frase gerou um efeito de sentido pela repetição da palavra “live” na mesma
construção frasal. Não esquecendo que o efeito de sentido só é definido quando há
uma relação motivada entre o plano da expressão e conteúdo.
Assim isto acontece quando traduzimos a palavra “live” que quer dizer “vida”. O
conteúdo, “I live to deliver”, no caso o significado da palavra “live” (vida em
português), estabelecendo com a expressão (jogo fonético) uma relação motivada
produzindo um efeito de sentido. Há uma repetição sonora e semântica da palavra
“live” que fornece força de sentido a esta frase da Fedex. Tanto o conteúdo quanto a
expressão da frase contribuem para um efeito estético e comunicacional.
78
4.10 MC DONALD´S23 (imagem em anexo 10)
O McDonald's é a maior e mais conhecida empresa de serviço rápido de
alimentação do mundo. Presente em 118 países, a rede possui 31,8 mil restaurantes,
onde trabalham 1,5 milhão de funcionários que alimentam diariamente mais de 47
milhões de clientes.
No Brasil, a rede chegou em 1979 e, desde então, já atendeu mais de 4,5 bilhões
de clientes. Além disso, trata-se de um dos oito maiores mercados da corporação e está
entre os cinco com o maior crescimento desde 2000, sendo que em 2005 registrou um
crescimento de 13,1% nas vendas no País.
Atualmente, possui mais de 1.146 pontos-de-venda, entre restaurantes,
quiosques e McCafés, distribuídos em todas as regiões do País. A empresa ainda
emprega cerca de 34 mil funcionários e arrecada por ano aproximadamente R$ 249
milhões em impostos e contribuições sociais.
Não é por acaso que o McDonald's é hoje um reconhecido núcleo de formação
profissional, no qual os jovens são expostos a atividades educativas, visando à
qualificação técnica, ao senso de comprometimento com o negócio e a valores como
espírito de equipe e responsabilidade social.
Os sanduíches, acompanhamentos, bebidas, sobremesas e itens de cafeteria que
compõem a linha de produtos do McDonald's são reconhecidos internacionalmente
pelo característico padrão de qualidade da marca.
Dos ingredientes rigorosamente selecionados à rapidez e à cortesia no
atendimento, da limpeza das instalações aos cuidados com a decoração do ambiente,
tudo é concebido para proporcionar uma refeição saborosa, nutritiva e, em todos os
sentidos, agradável.
Anualmente, essas preocupações com o cliente rendem prêmios ao McDonald's.
O último concedido nessa área foi o de "Empresa de fast food que mais respeita o
consumidor", baseado em pesquisa da TNS/Intersciense.
23 Disponível em: http://www.mcdonalds.com.br/institucional/mc_brasil.asp
79
Para compreensão do que será discutido e analisado, iremos descrever o produto
aqui anunciado. McDonald´s cadeia americana de sanduíches que marcaram a era do
fast food. Comidas elaboradas de forma rápida e com alto valor calórico, ou seja,
engordam o consumidor. O conceito fast food é o consumidor comprar um alimento de
rápido preparo. A partir dessa breve contextualização partiremos para a análise.
Em ambas as peças o trabalho de rompimento da textura visual da imagem é
fundamental. No anúncio com fundo céu azul há a presença de uma grade de metal
sobrepondo-se a este céu. Desta forma é criada uma textura quase que homogênea em
quase toda a extensão do anúncio. Como no anúncio da Petrobrás, o conceito de
semelhança e continuidade está sendo empregado nesta peça publicitária. Ao fundo da
grade de metal há uma quebra linear de tonalidade cromática no sentido vertical
ocasionado pelas diferenças de tom de azul presentes, sendo um o azul do céu e um
suposto azul do mar. Na teoria de Gestalt essa capacidade de separação de cores e
texturas é definida como segregação. (GOMES FILHO, 2003, p. 42)
No entanto esta textura é rompida pela presença de uma estrutura longilínea
presente no sentido vertical próximo à extremidade esquerda do layout. Um tipo de
barra metálica. Por ser uma estrutura de cor sólida e forma diferente da forma da grade
(parece um “favo de mel”) hexagonal, o percurso do olhar sofre um impacto. Este
impacto visual é chamado de ruído visual pela Gestalt. No livro de Gomes Filho
(2003, p.42) ele aborda os conceitos da Gestalt e define ruído visual. Este seria uma
interferência ou distorção que interfere na harmonia numa composição, geralmente de
maneira parcial. Este recurso visual pode ser muito criativo a fim de criar centros de
interesse na composição visual, como neste layout.
A barra de cor sólida e forma vertical causa este ruído em relação à grade de
metal. Esta parada do olhar gerada por este ruído visual indica uma forma circular
presente na grade metal. Um buraco criado pelo rompimento dessa. Esta sobreposição
de formas e texturas gera um grau de tensão visual no lado esquerdo da peça. Além da
barra de cor preta servir de ponto de parada do olhar, ela também possui a função de
estabelecer proporções dentro da imagem enquadrada. Sendo assim, a abertura feita na
grade de metal toma uma dimensão pequena perto da dimensão total do layout.
80
Ao centro desta abertura está presente a frase “Stay fit” traduzindo “Fique em
forma”. Os tipos desta frase estão em cor amarela e circunscrevendo esta frase há um
quadrado vermelho. Dessa forma, o vermelho do quadrado com o azul da foto, cria um
efeito de contraste, dando maior destaque à cor vermelha. Segundo Guimarães (2004,
p. 109) Utilizando uma combinação de cores saturadas e complementares lado a lado,
como vermelho e o cyan, podemos provocar uma reação de vibração e flutuação das
cores na retina. É uma forma determinada pelo uso dos códigos secundários, da regra
de uso consciente das cores complementares, que interferem diretamente na percepção
daquelas cores.
A combinação de cores destes dois elementos, frase em amarelo e quadrado
vermelho, é a mesma da logomarca do produto que está sendo vendido. Esta
redundância cromática leva o receptor / leitor do anúncio a fazer uma associação por
similaridade com a logomarca do produto. “ Esse tipo de associação por similaridade é
o mais complexo de todos os raciocínios. O sistema decorre de “operações mentais
analógicas” e os signos por similaridade são ícones que se relacionam por
coordenação”(BIGAL, 1999, p. 31). Ao lado da logomarca do produto Mc Donald´s
está uma frase em cor branca contrastando com o fundo escurecido. A frase diz “New
salad menu” traduzindo “Novo menu de saladas”.
Esta descrição detalhada do anúncio tem a proposta de nos levar a refletir sobre
o porquê desta composição gráfica. Podemos dizer que este anúncio foi feito para um
público-alvo bem definido, o qual já consumiu fast food . No entanto a imagem que se
tem desse tipo de alimentação não é muito boa, pois não possui uma qualidade
nutricional adequada.
Tendo conhecimento deste preconceito em relação ao seu produto, o Mc
Donald´s lançou um menu de saladas para contrapor a má impressão que os
consumidores têm do sanduíche Mc Donald´s. Trabalhando com tal conceito, a
agência de publicidade da marca Mc Donald´s criou estes dois anúncios. Eles
transmitem ao público-alvo a mensagem de que o consumo da salada Mc Donald´s é
saudável. O conceito aqui transmitido é o de você consumir um produto saudável, leve
e que proporciona uma beleza corporal. Um alimento que possui um valor nutricional
81
mais atraente que um hambúrguer. O consumidor irá ficar em forma, com um corpo
esbelto e magro. O estereótipo que a maioria das pessoas tem em mente sobre beleza.
Principalmente o público feminino que procura o consumo da salada com pouco valor
calórico na obtenção de cumprir o tão desejado regime.
Dessa maneira, a utilização de uma composição visual baseada na forma foi
pertinente ao conceito vendido no anúncio. Aqui o conceito de forma é o de estrutura
geométrica. As formas estreitas e pequenas que compõem o layout exprimem a idéia
de que você com seu corpo esbelto poderá passar por dentro destas formas criadas na
composição visual. Em um layout a forma estreita é representada pelo buraco na grade
e no outro layout pela pequena fresta ocasionada pela abertura da porta. Nesses layouts
foram trabalhados os conceitos de similaridade de formas e dimensões para venda de
um conceito de beleza.
Outro aspecto relevante à esta análise é a coloração do layout com o elemento
porta na sua composição. A tonalidade avermelhada da parede ao fundo remete a
coloração do alimento ketchup usado como molho dos sanduíches. Uma cor não
apropriada para o processo de conceituação do anúncio porque remete ao aspecto
negativo do alimento fast food que são os sanduíches supercalóricos. A intenção do
anúncio é vender a salada do Mc Donald´s. Assim seria plausível utilizar uma cor mais
leve como um verde claro para haver um processo de referenciação cromática com o
alimento salada. Uma relação associativa que pode contribuir para o conceito de
beleza atribuído ao consumo da salada do Mc Donald´s.
Sendo assim, trata-se a seguir, com base nas análises elaboradas até esse ponto,
apresentado de forma mais elucidativa as implicações comunicacionais, que levam o
público-alvo a se identificar com os anúncios publicitários.
82
5 DISCUSSÕES DAS ANÁLISES: IMPLICAÇÕES COMUNICACIO-
NAIS NA PRODUÇÃO DE SENTIDO
A análise das peças permite agrupá-las segundo alguns traços comuns suprindo
as necessidades conceituais e práticas de como as publicidades já mencionadas
fundamentam sua criatividade na função poética. Basicamente, esta função poética
decorre de uma relação entre o plano da expressão e o plano do conteúdo - como já
definiu Hjelmslev; apud Jakobson (2001, p. 127) a organização plástica determinando
a leitura da figurativização do conjunto de elementos verbais e não-verbais dentro de
um anúncio publicitário. A função poética não é a única função do verbal e não-verbal,
mas está sobreposta às demais funções da linguagem. Como afirma Jakobson (2001.,
p. 128), esta função promove o caráter palpável dos signos e aprofunda a dicotomia
fundamental entre signos e objetos, enfatizando a própria mensagem. A função poética
projeta o princípio de equivalência do eixo da seleção sobre o eixo da combinação.
De forma mais clara, a seleção é feita em base de equivalência, semelhança e
dessemelhança, e a combinação se baseia na contigüidade construindo uma seqüência.
Tal dispositivo consiste em estratégias enunciativas de aproximação do destinatário
(público-alvo) em relação ao produto ou marca, com efeitos de sentido que podem ir
do estésico24 (efeitos sensoriais) e passando pelo estético (por exemplo, a relação do
pictórico de um anúncio com uma obra de arte) ao lúdico (elaborado através de signos
pertencentes ao imaginário do criativo que se associam ao cômico, ao humorístico).
Nesse trabalho pode-se observar que a poética não se restringe a poesia, mas também
aos estudos da estética visual.
Dentro desse entendimento conceitual, procura-se definir uma linha
metodológica que facilite identificar e analisar as diversas estratégias de produção de
sentido encontradas nos anúncios publicitários que compõem o corpus. Com base
nessa linha de análise, o objeto corpus é dividido em cinco grupos, sendo que os
anúncios publicitários são classificados em grupos de acordo com a similaridade de
24 Qualidade de estesia, deslumbrante, sentimento do belo, do grego aísthesis.
83
suas estratégias criativas. Apesar de a articulação dos elementos verbais e não-verbais
serem diferentes em cada peça publicitária, no resultado final de produção de sentido
verifica-se que as articulações e associações de idéias permeiam lugares ou estratégias
comuns em todas as peças publicitárias que compõem o grupo no qual são
classificadas.
Após investigação desenvolvida ao longo dessa análise, podem ser classificados
e definidos cinco grupos para seguintes discussões. A nomeação destes grupos surgiu
após estudo e pesquisa de diversos conceitos encontrados na bibliografia que servem
de base teórica para a elaboração deste trabalho. Não foram nomeados os grupos
apenas por serem pertinentes a uma teoria de base, mas também por condizerem com o
aspecto prático e didático de análise da estética nos anúncios. Cabe ressaltar, que numa
peça publicitária pode existir mais de uma dessas dominâncias, mas, para efeito desse
trabalho foi considerada a mais presente, como por exemplo, em apenas uma peça
pode-se encontrar características estésicas mais dominantes e ao mesmo tempo,
metalingüísticas relevantes.
As peças publicitárias se dividem em:
� Temáticas, nas quais estão contidas estratégias enunciativas que circundam o
tema presente em sua concepção;
� Estésicas, nas quais a leitura produz no receptor ou indivíduo que está lendo o
anúncio um efeito de estesia, ou seja, um estado de pura contemplação ou bem-
estar com o que está sendo observado;
� Lúdicas, brincam com o receptor de forma que o obrigam a estabelecer
associações entre o seu repertório de conhecimento e os elementos constitutivos
da peça publicitária;
� Metalingüísticas, cujas peças articulam a composição verbal e não-verbal
partindo do pressuposto de que o receptor sabe que está lendo uma mensagem
publicitária;
� Semi-simbólicas, em cujas enunciações foram utilizadas relações associativas
em dois universos representativos distintos, as dicotomias presentes entre
84
categorias dos planos da expressão e conteúdo. Para tornar a divisão de forma
didática foi criado um título-referência para cada anúncio publicitário.
5.1 TEMÁTICO - FIGURATIVAS
Ricas em descrição, com grande quantidade de elementos que possibilitem ao
receptor identificar o que está sendo retratado ou “tematizado”; uma estrutura visual,
que permita que o receptor defina um percurso do olhar por toda a extensão da peça
publicitária. Mais ainda, um conjunto de signos que levam o observador (leitor) à
refletir sobre o que está sendo figurativizado.
O anúncio temático serve apenas de referência visual de um tema que vai além
do perímetro da peça. Aqui, neste estudo, a intenção não é explorar ao máximo a
composição gráfica, mas explorar apenas o necessário para que o receptor (público-
alvo) possa relacionar e identificar o tema proposto pelo anúncio. Os anúncios
publicitários que fazem parte deste grupo são os seguintes:
Figura 12 – FedEx Figura 13 – Mc Donalds
Fonte: Revista Archive Fonte: Revista Archive
5.2 ESTÉSICAS25
Como já foi comentado anteriormente, são peças publicitárias que produzem no
receptor um efeito de contemplação juntamente com um estado de bem-estar do que
25 Qualidade de estesia, deslumbrante, sentimento do belo, do grego aísthesis.
85
está sendo observado. Não só, mas principalmente sensações táteis, visuais, olfativas
etc; ou seja, causam um efeito sinestésico no leitor. Nesse tipo de peça (anúncio), a
qualidade da composição gráfica é muito refinada, além da exploração de traços
sensoriais da imagem na relação com o destinatário (leitor). As técnicas de
refinamento das formas e cores são bem trabalhadas.
Entre as técnicas encontra-se a pintura, a gravura, o desenho, a colagem entre
outras. Muitas delas foram obtidas manualmente ou até digitalmente por intermédio da
ferramenta computador. Os anúncios publicitários que fazem parte deste grupo são os
seguintes:
Figura 14 – Volvo Figura 15 – Levis
Fonte: Revista Archive
Fonte: Revista Archive
5.3 LÚDICAS
Esta nomeação é dada aos anúncios presentes no corpus que em seu processo
criativo buscam trabalhar signos e significados que possam ser associados ludicamente
pelo público-alvo da mensagem. São anúncios que dizem respeito ao jogo de humor,
com brincadeiras e situações possíveis de serem vividas pelo destinatário (leitor).
Anúncios que mexem com o imaginário cômico do leitor.
86
Nos anúncios lúdicos, o destinatário (leitor) consegue participar ativamente
tendo algum tipo de expressão (ex: rir, suspirar etc) . Os anúncios publicitários que
fazem parte deste grupo são os seguintes:
Figura 16 – Rozza Beef Figura 17 – Ricardo Cartillone
Fonte: Revista Archive Fonte: Revista Archive
5.4 METALINGÜÍSTICAS
Para o entendimento desses anúncios, é necessário esclarecer melhor o conceito
de metalinguagem. Esta, de acordo com Jakobson (2001, p.130), estuda e se vale dos
códigos da própria linguagem para definir uma mensagem. A metalinguagem faz uso
de signos equivalentes na construção de uma equação lingüística que tenha resultado,
como já citado anteriormente, um objetivo definido, quando essa for elaborada com
signos verbais. Uma espécie de linguagem que se utiliza dela mesma para compor a
mensagem. Ou, como explica Barthes (1964, p. 96), uma metalinguagem é um sistema
cujo plano do conteúdo já constitui um sistema de significação.
Nos estudos deste trabalho, restringe-se a metalinguagem à publicidade. A
linguagem publicitária utiliza a própria linguagem para compor mensagens
publicitárias. Um exemplo é o fato do anúncio do jornal Bild remeter à própria
configuração da folha impressa do jornal para compor o preenchimento e definição da
imagem da pirâmide e da esfinge. Outro exemplo acontece no anúncio da HP. A
qualidade de impressão do papel HP é remetida ao caráter tátil (sensorial) da textura
impressa em uma dobradura de camaleão feita de papel HP. O conjunto de signos
87
sendo selecionados e relacionados de acordo com o repertório lingüístico do próprio
anúncio. Os anúncios publicitários que fazem parte deste grupo são os seguintes:
Figura 18 – Bild Journal Figura 19 – Hp
Fonte: Revista Archive Fonte: Revista Archive
5.5 SEMI-SIMBÓLICAS
Como já foi comentado acima, para existir semi-simbolismo em um discurso é
necessário se estabelecer uma relação categórica entre o plano da expressão e
conteúdo. Discutindo-se sobre construção estética o plano da expressão se referenciará
pela composição plástica e o plano do conteúdo ao valor semântico, ao efeito de
sentido que a imagem quer transmitir.
Os anúncios publicitários que fazem parte deste grupo são os seguintes: Figura 20 – Petrobrás Figura 21 – Volvo Palavras
Fonte: Revista Archive Fonte: Revista Archive
88
Com estas considerações teóricas, que explicam a divisão do nosso corpus, fica
mais claro e coerente começarmos a fazer a análise da forma e conteúdo que foram
gerados em nosso objeto de estudo. Não nos limitamos em exemplificar conceitos, mas
sim procurar discutir de que forma ocorreram os procedimentos criativos para as
produções de sentido criativo nas peças publicitárias que constroem o nosso corpus.
Ao término das análises pontuais de cada anúncio surge a iniciativa de fazermos
uma análise conjunta de todas elas. Os anúncios posicionados um do lado do outro nos
permitiram refletir outros questionamentos e indagações. A primeira delas é a
diferenciação do discurso visual entre elas, ocasionada pela utilização de diversas
maneiras de representação e construção de sentido. Em algumas, observa-se a
utilização da fotografia, em outras do desenho (grafismo) e em algumas há a aplicação
de ambas as técnicas de fotografia e desenho. Algo que nos instiga a realizar ainda,
novas reflexões sobre esses anúncios publicitários. Sendo assim, elaborarmos a
seguinte seqüência, da esquerda para direita e de cima para baixo:
Fedex Mc Donalds Ricardo Cartillone
RozzaBeef Hp Petrobrás
Bild Journal Levis Volvo
89
Volvo Palavras
A seqüência proposta foi elaborada de acordo com a percepção do altamente
figurativo até a sua diluição, numa forma de figurativo mais estilizado nesses
anúncios, ou seja, a utilização das técnicas de fotografia e do desenho na obtenção de
efeitos de sentido. O altamente figurativo seria a necessidade de uma grande
representatividade do real; a busca da leitura imediata do visual sem a necessidade de
uma interpretação do verbal para entendimento da mensagem proposta pelo anúncio.
Anúncios figurativos tendem a utilizar técnicas que agreguem uma maior apreensão do
real, como por exemplo, a fotografia. A fotografia agrega uma representatividade
maior que um desenho, devido a sua proximidade com a idéia que se tem do
referencial representado. O apelo fotográfico nos evidencia uma carga informacional
maior que o apelo gráfico (desenho), pois trabalha com um número maior de variáveis
que seriam iluminação, textura, profundidade de campo, cor, velocidade do registro da
imagem, distância entre outras. Algumas dessas variáveis também estão presentes no
desenho, mas não com a intensidade verossímil da fotografia. A fotografia apresenta
um caráter indicial com a realidade muito maior que o desenho. Um anúncio exemplo
seria o da Fedex que posteriormente será comentado. Já a utilização do desenho em
alguns anúncios evidencia um figurativo mais estilizado composto muitas vezes por
meio de recursos digitais, como por exemplo, o anúncio Volvo Palavras. Nesses casos
torna-se quase que necessária a leitura do verbal para a compreensão do sentido total
da mensagem.
Todos esses recursos e técnicas visuais (fotografia, desenho, montagens
digitais) utilizados na construção do discurso nesses anúncios publicitários contribuem
para a discussão de conceituar a diferença entre expor uma marca e criar uma
identidade com o leitor ou público-alvo.
90
A marca representada em anúncios é apreendida pelo leitor da mensagem
quando ela faz parte de um sentir comum. “Isso acontece quando a marca através da
criação de uma representatividade ideal (produto criativo) consegue se transpor de um
parecer algo para um ser algo”. (TAVARES, 1998, p. 21)
Com isso, cria-se um diálogo intermediático entre a função representativa e
função construtiva contextualizada nesses anúncios publicitários. O diálogo
intermediático ocorre quando se estabelece a relação entre linguagem versus realidade
ou publicidade versus realidade, abordadas em suas função representativa ou função
construtiva. Essa relação entre publicidade e leitor se estabelece definitivamente
quando o anúncio com suas implicações comunicacionais cria um vínculo com o
leitor; faz com que o leitor participe daquele universo de sentido e significado que o
anúncio está propondo naquele momento. Essas implicações comunicacionais seriam
as diversas distinções de capacidade de compreensão, gosto estético, modo de vida e
de valores ideológicos produzidos pelos recursos enunciativos e estratégias da
publicidade.
Portanto, as linguagens visuais e verbais dos anúncios publicitários seriam
tentativas de materializar conceitos buscando uma identidade com o leitor (público-
alvo) da marca. As estratégias enunciativas criadas pelo criativo buscam uma relação
motivada entre a publicidade de uma marca ou produto e a realidade do leitor (público-
alvo). Desta maneira, o criativo constrói uma situação que define a identificação do
leitor com a marca. O criativo permeia por diversas estratégias enunciativas na
obtenção de criar um vínculo de identidade entre marca e leitor. É essa articulação dos
diversos níveis de organização discursiva que irá consagrar o produto criativo, o
anúncio criativo.
Para tornar mais prática e visível esta discussão voltar-se o olhar para os
anúncios publicitários que compõem o corpus deste trabalho. A partir da seqüência
construída iniciando no anúncio Fedex com característica figurativa e terminando no
anúncio Volvo Palavras, bem estilizado com o uso do desenho, pode-se, por meio
dessa seqüência, pontuar aspectos que denotem essa passagem do anúncio figurativo,
91
que trabalha mais com o fazer crer, para o mais estilizado, que atua essencialmente no
âmbito do fazer sentir.26
a) Anúncio Fedex
Fotografia documental, de caráter contemplativo, sem a necessidade do verbal;
somente com a imagem retratada ocorre o entendimento da idéia que o anúncio se
propõe a vender. Não há uso de grafismos e não há representação da imagem através
de efeitos digitais. Com isso, o caráter indicial da imagem se torna forte porque foi
utilizada a fotografia como técnica.
b) Anúncios Mc Donalds, Ricardo Cartillone e Rozza Beef
Uma fotografia menos documental e sim montada digitalmente de acordo com a
mensagem proposta. Essa mensagem não se define apenas com a imagem porque há a
necessidade da leitura do texto verbal. Por mais que a imagem tenha um caráter
totalmente analógico, o que aproxima o leitor do universo cognitivo da imagem, há
ainda a necessidade da parte verbal como legenda.
c) Anúncios Hp, Petrobras, Bild Journal e Levis
Há um maior distanciamento do real em relação aos outros anúncios. Na
construção da representação visual utiliza-se de elementos do substrato do próprio
produto que está sendo abordado como tema do anúncio. Um exemplo é p anúncio Hp.
A imagem de um camaleão foi impressa no papel Hp e montada uma dobradura. Uma
estratégia semelhante de construção visual foi utilizada nos outros anúncios. Um outro
caso foi o anúncio Bild Journal. O produto jornal utilizado como textura e
preenchimento da forma visual de lugares turísticos. Outros exemplos são os anúncios
da Levis e da Petrobrás. A utilização de recortes de jeans na criação de textura e
contraste na representação de rostos humanos no anúncio Levis e corpos humanos
compondo a representação de carro no anúncio Petrobrás. Nesses anúncios, há
simbiose entre substrato (constituição física e material) do produto vendido com sua
representação física e visual. 26 Com isso, não se quer dizer que sempre a fotografia e o desenho terão esses efeitos de sentido, mas que no corpus estudado eles atuam dessa maneira para a economia simbólica da comunicação.
92
d) Anúncio Volvo
A questão estética e representativa do anúncio é totalmente construída através
do desenho. Isso ocorre de tal maneira que o anúncio fica com uma textura visual
semelhante a de uma pintura artística. Uma textura que não desprende o anúncio de
uma tentativa de representação do real e sim gera um caráter contemplativo e
observador do que foi desenhado. Uma estratégia visual bem diferente da usada no
anúncio Fedex onde a representação visual é próxima ou até mesmo confundida com o
real.
e) Anúncio Volvo Palavras
Já neste último anúncio da seqüência proposta anteriormente ocorre totalmente
o inverso do que ocorreu no primeiro anúncio (Fedex). A necessidade da leitura do
verbal é imediata. E além do verbal atuar como legenda do visual, o verbal também
participa da composição visual produzindo uma mancha gráfica cheia de significado.
Isso porque cada palavra que compõe esta mancha gráfica possui um significado; cada
palavra apresenta um conteúdo semântico que enriquece ainda mais o anúncio em
carga informacional. A coerência visual da fotografia com o grafismo tipográfico neste
anúncio é intensa porque constrói uma situação de uso do automóvel enfatizado.
Por meio dessa breve análise da seqüência proposta podemos extrair algumas
considerações. Independente dos anúncios terem tido um tratamento visual analógico
ou digital, ambas estratégias visuais possuem construções de sentido criativas. A
criatividade não está na técnica empregada, mas sim como ela é explorada visualmente
e com qual objetivo ela está sendo utilizada, ou seja, como ela se integra na economia
geral do texto sincrético para gerar valores conotativos. A produção de sentido definia
a técnica e não o inverso.
A partir dessas análises começa-se a estabelecer algumas comparações teóricas.
Uma delas seria a relação entre as estratégias publicitárias e os valores ideológicos
encontrados nesse conjunto de anúncios publicitários. As estratégias publicitárias, tais
como foram estudas por Floch (1993), denotam a concepção da publicidade, buscando
refletir uma determinada realidade definindo assim uma ideologia.
93
Uma relação que se assemelha a existente nas estratégias enunciativas utilizadas
nos anúncios. Nessas estratégias ocorre a tentativa de aproximar a publicidade à
realidade do leitor através de efeitos comunicacionais podendo esses, serem visuais e
verbais. Sendo assim a motivação existente em aproximar a publicidade e leitor
através de um efeito estético juntamente com um valor estésico é o que define a
relação entre plano da expressão e plano do conteúdo em um discurso publicitário.
Portanto, esta motivação latente da publicidade e de que maneira ela é manifestada
formata a tentativa de definirmos o que é criativo; o que é entendido como produto
criativo. O termo produto criativo é aqui mencionado porque define bem a idéia de
resultado de um processo criativo motivado entre expressão e conteúdo, aproximando
publicidade e leitor e criando efeitos de realidade ou verdade.
Tudo isso se torna mais visível quando se compara a classificação dos anúncios
de acordo com suas estratégias e efeitos comunicacionais feita nesse presente trabalho.
Conforme discutido na parte teórica, Floch (1993), em sua tese do quadrado
semiótico define quatro tipos de publicidade: a referencial, a mítica, a oblíqua e a
substancial. Essa tipologia de Floch, é possível de ser aplicada para explicar as
estratégias comunicacionais encontradas nos anúncios analisados:
FIGURA 22 – Quadrado semiótico
A temática, com caráter documental preferencialmente obtido pela utilização da
fotografia limita-se a apresentar o produto como ele é, que comparando com a tese de
Floch (1993) seria a publicidade referencial; a semi-simbólica, com valores
conotativos obtidos pela utilização da fantasia, apelo a imaginação, que poderia ser
94
associada à publicidade mítica; a lúdica e a metalingüística, ambas construindo o
atributo ao produto com a capacidade de captar algo do destinatário, uma relação do
verbal e visual construída negando-se a referencialidade do real e que só enquadraria
na publicidade oblíqua; finalmente a estésica, com estabelecimento ideológico
temático-figurativo e verbal-visual com grande intensidade, a busca pela essência do
produto que seria a publicidade substancial de Floch (1993). A definição da
classificação desses tipos de publicidade não implica a exclusão de características
presentes nas outras, mas aqui as características estão sendo tratadas em termos de
predominância.
95
6 CONCLUSÃO
Ao final das análises e dos comentários tecidos no capítulo anterior, é possível
estabelecer algumas conclusões a respeito do processo criativo no corpus selecionado
que orientam em duas direções:
1) de um lado, a demonstração da operacionalidade da tipologia de Floch para a
distinção das publicidades;
2) de outro, o reconhecimento de um dispositivo comum em todas as peças que
lhes dão um caráter insólito, criativo.
1. Assim como Floch procedeu com os discursos representativos dos quatro
publicitários (Ogilvy, Feldman, Michel e Séguéla), as peças analisadas no presente
trabalho puderam ser distribuídas no quadrado semiótico, representando seja uma
visão representativa da publicidade, seja o caráter construtivo de sua linguagem.
A referencial caracteriza, no presente caso, os discursos predominantemente
temático-figurativos, aqueles em que a qualidade do produto parece estar se expondo
em toda a sua evidência ao enunciatário. Não é por acaso que o exemplo escolhido
para ilustrar esse tipo de publicidade recorre à excelência da fotografia como forma de
fazer crer. A negação da referencialidade consiste na exposição do produto como
resultado do fazer publicitário, ou seja, como um jogo humorístico que se cria entre
criador e consumidor no sentido de reconhecer a qualidade do produto pelo
mecanismo da brincadeira. Constitui o que Floch designou de publicidade oblíqua.
Para isso, conta-se com a competência do enunciatário para saber interpretar,
dando-lhe a impressão de ser capaz de integrar o grupo dos consumidores daquele tipo
de produto. Na análise aqui desenvolvida, pertencem a esse grupo as peças lúdicas e
metalingüísticas. A obliqüidade implica um deslocamento do olhar para além das
figuras imediatamente reconhecíveis. A afirmação do fazer publicitário construtivo
pode lançar mão da fantasia, do projeto explicitamente cheio de imaginação e, por isso
mesmo, fundada na maior parte das vezes em nossos arquétipos. Trata-se, nesse caso,
da publicidade mítica, plenamente ilustrada nas construções semi-simbólicas, aquelas
em que uma categoria da expressão deve corresponder a uma categoria do conteúdo,
96
como no exemplo da peça da Petrobrás em que linhas retas e linhas curvas,
performance animada e inanimada correspondem a humano e objeto, à conformação
absoluta entre o homem e o carro mediados pelo combustível, à expressão do artístico
enfim. Homem X objeto, arte X tecnologia constituem valores arquetípicos das
culturas ocidentais. A negação, por fim, do caráter construtivo da publicidade mítica
configura o que Floch designa como publicidade substancial. Aqui não se trata da
materialidade do produto que deve ser exposta em toda a sua concretude, como na
publicidade referencial, mas um aspecto de sua essência, daí o nome “substancial”. No
corpus analisado, tal tipo foi exemplificado pelas peças da Volvo e do jeans, em
exploração evidente dos traços sensoriais do produto: a sensação do tecido jeans
vestindo o corpo (e a cabeça) e o prazer do passeio num carro Volvo. É importante
esclarecer que a escolha da fotografia ou do desenho não é exclusiva deste ou daquele
tipo de publicidade, mas, no presente caso, ela coaduna com o efeito de sentido
pretendido dando-lhe maior eficácia interpretativa. Do mesmo modo, as características
apontadas nas peças analisadas não pertencem sempre e necessariamente ao mesmo
tipo de publicidade. Traços de uma podem estar presentes em outra – tratamos aqui
apenas das dominâncias.
2. Todas essas diferenças resultam de tratamentos pessoais dos criativos e de
suas concepções do que significa o fazer publicitário, conforme expôs Floch. O que as
conjuga, porém, como peças criativas, consiste na relação motivada, analógica, entre
os planos da expressão e do conteúdo. O plano da expressão não é, em tais exemplos,
mero veículo de conteúdos; não está ali apenas para falar de ou mostrar um
produto/serviço/empresa, mas suscitar nos leitores formas de compartilhamento de
cognições, sensações, percepções em relação aos referentes apresentados. Nesse
sentido, a publicidade pode se beneficiar da fotografia para fazer crer nos tributos dos
objetos ou do desenho para evocar seus efeitos, ou ainda inverter essa relação. O que
interessa é que do ponto de vista icônico – visual e lingüístico – e do ponto de vista
plástico, haja consonância de sentidos e sensações.
Ao concluir este trabalho, afirma-se que não se pretendeu apresentar um texto
conclusivo sobre o tema, mas sim, indicar uma via de abordagem para estudos futuros.
97
Registra-se também, a intenção de que esta pesquisa possa contribuir para a
ampliação da compreensão e da aplicação consciente da linguagem visual publicitária.
98
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