The Hegemony of Agrarian Elites and the Land's Market Establishment: the Colonization of Western...

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Toledo, 12 a 14 de novembro de 2013 ENCONTRO PARANAENSE DE ECONOMIA A HEGEMONIA DAS ELITES AGRÁRIAS E A FORMAÇÃO DO MERCADO DE TERRAS: A COLONIZAÇÃO DO OESTE DO PARANÁ (1946-1980) Leandro de Araújo Crestani Mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio (UNIOESTE), Doutorando em História Contemporânea na Universidade de Évora, Membro do Grupo de Pesquisa Cultura, Fronteira e Desenvolvimento Regional (UNIOESTE) e Professor da Faculdade Sul Brasil FASUL. E-mail: [email protected] Nilton Marques de Oliveira Doutorando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). Professor da Universidade Federal do Tocantins - UFT. Pesquisador dos Grupos de Estudos em Economia Aplicada e Interdisciplinar de Estudos e Pesquisa sobre Estado, Educação e Sociedade (Geipees) da UFT, e-mail: [email protected] Udo Strassburg Mestre em Controladoria e Contabilidade Estratégica (FECAP-SP), Doutorando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio na Unioeste Toledo PR, Professor da Unioeste Cascavel PR. Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Contabilidade e Controladoria, e-mail: [email protected] Área Temática: História econômica do Paraná RESUMO: O presente artigo trata dos conflitos e mercado de terras no Oeste do Paraná, sendo que foi selecionada uma área específica para estudo: Fazenda Britânia. A escolha desta área deveu-se ao fato slogan que a Industrial Madeireira Colonizadora Rio Paraná Ltda. MARIPÁ de um modelo “exemplar” de estrutura fundiária da pequena propriedade, e não teria ocorrido como no caso da Colonizadora Norte do Paraná (Região do Vale do Piquiri), conflitos agrários com colonos e posseiros. Delimita-se como marco temporal de referência o ano de 1946 até o ano de 1980. Utilizou nesta pesquisa, fontes primárias, secundárias, bibliográficas, narrativas, particulares e públicas. A metodologia foi entendida como caminho ou procedimento de reflexão e análise necessária para a articulação do corpo conceptual (ou teoria) com a realidade de investigação. No estudo de caso da Fazenda Britânia busca- se a abordagem analítico-comparativa a compreensão das disputas territoriais no Oeste do Paraná. Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa é uma reflexão acerca da especulação, concentração e apropriação das terras devolutas geraram, posteriormente, os confrontos e conflitos contra os colonos, posseiros na Fazenda Britânia, enquanto forma de entendimento utilizado para se compreender aquela realidade, suas disputas, conflitos e hegemonia de grupos locais e regionais. PALAVRAS-CHAVE: Fazenda Britânia; Disputas Territoriais; Mercado de Terras.

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Toledo, 12 a 14 de novembro de 2013 ENCONTRO PARANAENSE DE ECONOMIA

A HEGEMONIA DAS ELITES AGRÁRIAS E A FORMAÇÃO DO

MERCADO DE TERRAS: A COLONIZAÇÃO DO OESTE DO PARANÁ (1946-1980)

Leandro de Araújo Crestani

Mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio (UNIOESTE), Doutorando em História Contemporânea na Universidade de Évora, Membro do Grupo de Pesquisa Cultura,

Fronteira e Desenvolvimento Regional (UNIOESTE) e Professor da Faculdade Sul Brasil – FASUL. E-mail: [email protected]

Nilton Marques de Oliveira Doutorando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio pela Universidade Estadual do

Oeste do Paraná (Unioeste). Professor da Universidade Federal do Tocantins - UFT. Pesquisador dos Grupos de Estudos em Economia Aplicada e Interdisciplinar de Estudos e

Pesquisa sobre Estado, Educação e Sociedade (Geipees) da UFT, e-mail: [email protected]

Udo Strassburg Mestre em Controladoria e Contabilidade Estratégica (FECAP-SP), Doutorando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio na Unioeste – Toledo – PR, Professor da Unioeste – Cascavel – PR. Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Contabilidade e

Controladoria, e-mail: [email protected]

Área Temática:

História econômica do Paraná RESUMO: O presente artigo trata dos conflitos e mercado de terras no Oeste do Paraná, sendo que foi selecionada uma área específica para estudo: Fazenda Britânia. A escolha desta área deveu-se ao fato slogan que a Industrial Madeireira Colonizadora Rio Paraná Ltda. – MARIPÁ de um modelo “exemplar” de estrutura fundiária da pequena propriedade, e não teria ocorrido como no caso da Colonizadora Norte do Paraná (Região do Vale do Piquiri), conflitos agrários com colonos e posseiros. Delimita-se como marco temporal de referência o ano de 1946 até o ano de 1980. Utilizou nesta pesquisa, fontes primárias, secundárias, bibliográficas, narrativas, particulares e públicas. A metodologia foi entendida como caminho ou procedimento de reflexão e análise necessária para a articulação do corpo conceptual (ou teoria) com a realidade de investigação. No estudo de caso da Fazenda Britânia busca-se a abordagem analítico-comparativa a compreensão das disputas territoriais no Oeste do Paraná. Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa é uma reflexão acerca da especulação, concentração e apropriação das terras devolutas geraram, posteriormente, os confrontos e conflitos contra os colonos, posseiros na Fazenda Britânia, enquanto forma de entendimento utilizado para se compreender aquela realidade, suas disputas, conflitos e hegemonia de grupos locais e regionais. PALAVRAS-CHAVE: Fazenda Britânia; Disputas Territoriais; Mercado de Terras.

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THE HEGEMONY OF AGRARIAN ELITES AND THE LAND'S MARKET

ESTABLISHMENT: THE COLONIZATION OF WESTERN REGION OF

PARANÁ STATE, BRAZIL (1946-1980)

ABSTRACT:

This paper analizes the conflicts and land’s market in western region of Paraná State, Brazil, in which a specific area, the Britannia Farm, was selected for studying. The choice of this area was due to the fact that in the Industrial Madeireira Colonizadora Rio Paraná Ltda.-MARIPÁ, an "exemplary" model of the agrarian structure of small property, agrarian conflicts

among settlers and squatters did not occurred as in the Company of Colonizadora Norte do Paraná (Valley Region of Piquiri River). The years 1946 to 1980 are the reference time frame. Sources for this research were primary, secondary, literature, narratives, private, and public. The methodology was understood as a way or procedure of necessary reflection and analysis for the articulation of the conceptual framework (or theory) with the research reality. In the case study of the Britannia Farm, analytic and comparative approach and the understanding of territorial disputes in the western region of Paraná were addressed. In this sense, the objective of this research is a reflection on the speculation, concentration, and ownership of lands that generated later clashes and conflicts against settlers, squatters in Britain Farm, as a way for understanding that reality, disputes, conflicts, and hegemony of local and regional groups. KEYWORDS: Britannia Farm, Territorial Disputes, Land Market.

1. INTRODUÇÃO

A presente pesquisa trata dos conflitos agrários e mercado de terras no Oeste do

Paraná, sendo que foi selecionada uma área específica para estudo: Fazenda Britânia (atual

município de Toledo/PR). A escolha desta área deveu-se ao fato slogan que a Industrial

Madeireira Colonizadora Rio Paraná Ltda. – MARIPÁ de um modelo “exemplar” de estrutura

fundiária da pequena propriedade, e não teria ocorrido como no caso da Colonizadora Norte

do Paraná (Região do Vale do Piquiri)1, conflitos agrários com colonos e posseiros.

No processo de investigação sobre a temática, podemos constatar que muitas

pesquisas realizadas sobre a Fazenda Britânia preocuparam-se em conhecer o processo de

colonização. A maioria das publicações existentes está em consonância com a retórica

produzida pela MARIPÁ, ou seja, “observa-se uma certa fidelidade ao que a empresa

escreveu sobre si mesma, a partir da aceitação de um vasto complexo narrativo que faz dela

o centro irradiador da história do Oeste paranaense”2.

1 Cf. CRESTANI, Leandro de Araújo. Conflitos Agrários e Mercado de Terras nas Fronteiras do Oeste do

Paraná (1843/1960). 2012. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio) –

Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Campus de Toledo. 2 SCHNIEDER, 2001, p.4.

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Diante do vazio na escrita sobre os conflitos agrários no município de Toledo, a

problemática que persiste nessa pesquisa é o estudo disputas territoriais na “Fazenda

Britânia”. Uma questão de disputa das fronteiras agrícolas entre a MARIPÁ, contra, colonos,

posseiros e grileiros.

Sob esse aspecto se faz necessário estabelecer um critério científico, no sentindo

de se pautar a atuação da MARIPÁ3, no tocante dos conflitos possessórios. A formação das

fronteiras compreende-se por meio da intervenção estatal e policial no caso de ocupação

das terras. Sabe-se que as atuações desses aparelhos especialmente as áreas rurais (nas

regiões fronteiriças com as outras colonizadoras), em favor dos poderosos.

Delimita-se como marco temporal de referência o ano de 1946 até o ano de 1980.

Dessa forma, o estudo pretende compreender a dinâmica da formação das fronteiras

internas na Fazenda Britânia, a partir do ano de 1946 e a participação da Companhia

Colonizadora nesse processo, as quais moldaram a forma institucional desse mercado de

terras. Contudo, o estudo da formação do mercado de terras no Oeste do Paraná é o ponto

chave para o entendimento das fronteiras internas.

A questão agrária no Oeste o Paraná tem sua origem no próprio processo de

ocupação das terras devolutas na faixa de Fronteira. Ao longo dos anos a estrutura agrária

do Oeste, é decorrente da exploração e expropriação de famílias que viviam na zona rural e

que possuem unicamente ou pouca coisa além do que a sua posse e força de trabalho.

Investigar os conflitos agrários e o mercado de terras nos municípios de atuação da

Companhia Colonizadora MARIPÁ, a partir, principalmente dos Autos Criminais da Comarca

de Toledo (1954-1980) do Núcleo de Documentação e Pesquisa (NDP) da

Unioeste/Campus Toledo referentes aos municípios de Toledo, Marechal Cândido Rondon,

Quatro Pontes, Nova Santa Rosa, Maripá, São Luiz do Oeste, São Pedro do Iguaçu e Ouro

Verde do Oeste. Aspectos como a composição do patrimônio produtivo e das fortunas das

terras do Oeste, bem como a evolução do preço dos bens de produção ao longo do tempo.

Entre todos os bens, a terra teve papel privilegiado na análise, tendo em vista a importância

que o processo de mercantilização que o campo adquiriu, neste momento, enquanto

variável a influenciar as transformações das estruturas agrárias e fundiária do Oeste

Paranaense.

A metodologia foi entendida como caminho ou procedimento de reflexão e análise

necessária para a articulação do corpo conceptual (ou teoria) com a realidade de

3 Nesta pesquisa, utiliza-se do estudo da atuação de uma companhia colonizadora para a análise das disputas

territoriais e mercados de terras. Porém, existiram outras companhias colonizadoras na região.

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investigação. No estudo de caso da Fazenda Britânia busca-se a abordagem analítico-

comparativa a compreensão das disputas territoriais no Oeste do Paraná.

Nesse sentido, o artigo é uma reflexão acerca da especulação, concentração e

apropriação das terras devolutas geraram, posteriormente, os confrontos e conflitos contra

os colonos, posseiros na Fazenda Britânia, enquanto forma de entendimento utilizado para

se compreender aquela realidade, suas disputas, conflitos e hegemonia de grupos locais e

regionais.

2. HISTÓRIA AGRÁRIA: A PROBLEMÁTICA NA OCUPAÇÃO DA FAZENDA BRITÂNICA

Os fundamentos da História Agrária são conceitos-chave para sustentam a análise

do objeto de pesquisa, pois, a análise parte-se da formação do mercado de terra, para a

compreensão do surgimento dos conflitos, que formaram dessa maneira as fronteiras

internas na referida região.

A História Agrária, segundo Márcia Motta (2005) é um campo que privilegia o

universo rural em seus múltiplos desdobramentos sobre as formas de ocupação e

concepções de direito e confronto, e principalmente sobre a ocupação territorial enquanto

um processo marcado por lutas.

Para Maria Yelda Linhares (1997), a História Agrária como campo de estudo

sistematizado é uma expressão que reúne três tipos diversos de abordagem, tipologia de

Jean Meuvret, desenvolvida por Ciro Flamarion Cardoso, como: 1) A história da agricultura,

“Stricto Sensu”, tendo o seu objeto de estudo as forças produtivas (meio ambiente,

superfície cultivada, tecnologia agrícola, população); 2) A história agrária, como uma

mobilidade de história social da agricultura, tendo o objeto de estudo as formas de

apropriação e uso do solo, pelo estatuto jurídico e social dos trabalhadores rurais, ou seja,

um estudo das relações de produção e das tipologias agrárias; 3) A História da agricultura e

seu amplo campo de estudo, consistiria em combinar as duas primeiras modalidades, tendo

como referência a teoria econômica do sistema em questão, logo, essa modalidade seria a

“História econômica do mundo rural”, sendo um estudo macro e microeconômico da

produção e da comercialização do setor agrícola.

A História Agrária, segundo Márcia Motta (2005), é um campo que privilegia o

universo rural em seus múltiplos desdobramentos acerca das formas de ocupação, das

concepções de direito e confronto e, principalmente, sobre a ocupação territorial enquanto

um processo marcado por lutas.

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Segundo Neves (2004), a História Agrária envolve a estrutura social rural, ou seja, a

forma de apropriação e uso da terra e às condições jurídicas e sociais dos trabalhadores

rurais, agregando informações da geografia humana à análise das diferentes modalidades

históricas de organização e exploração da força de trabalho, enfatizando as relações de

trabalho e tipologias agrárias como: meeiro e diarista.

As referências agrárias são elementos essenciais que marcaram os conflitos

agrários dos diferentes grupos sociais que construíram a trajetória histórica do Oeste do

Paraná. Nessa perspectiva, podemos distinguem-se dois tipos de História Agrária: a “história

agrária regional” e “história agrária local”. Segundo Neves (2004), ambas proporcionam

vantagens e inconvenientes ao pesquisador.

Na primeira, os documentos para o estudo encontram-se, quase sempre, dispersos

em vários acervos arquivísticos, dificultando a consulta, sendo, entretanto, mais abundantes

e podem levar a pesquisa à busca de mais fontes que o inicialmente previsto. Na segunda, a

documentação mantém-se, em certos casos, reunida, porém, não oferece da vida rural

“mais que uma imagem fragmentada, ou, enganosa”, permitindo “captar pouco os

fenômenos massivos”, além de faltar a unidade geográfica tão necessária em todos os

estudos históricos.

O Estudo da questão agrária ainda hoje tem como maior obstáculo o fator

econômico, social, político e ético ao desenvolvimento do conjunto do Brasil. Para Linhares

e Silva (1999), a pesquisa sobre a questão agrária envolve as condições de exploração,

violência, e injustiça social prevalecentes no campo, como ainda em virtude das

consequências que tal situação acarreta para a vida cotidiana nas cidades. Logo, o êxodo

rural, agrava e amplia os bolsões da pobreza urbana.

Para Delgado e Fernandes Filho (1999), o mercado de terras começou a se

constituir nesse período de 1850, uma vez que ficou estabelecido que o acesso à

imensidade de terras existentes no país seria realizado somente através da “compra”. A

partir da Lei de Terra a propriedade passou a ter expressão monetária, e que se generaliza

seu caráter de ativo transacionado no mercado.

Para Kirdeikas (2003), a formação do mercado de terras, bloqueio o livre acesso à

terra (a não existência de livre acesso à terra). O surgimento do mercado de terras tirou o

acesso daqueles que não tinham condições de “compra”.

O mercado de terras no Oeste privilegiou o surgimento dos conflitos agrários com

aqueles que não tinham condições de compra da terra, tendo como única solução a venda

de trabalho para a sobrevivência.

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O primeiro conjunto de questões que se coloca frente a tal corpus documental

(Autos Criminais) centra-se nos seguintes autores: Venilda Saatkamp (1985)4, Ondy Helio

Niederauer (1992)5, Pawelke (1970)6 e Oscar Silva (1988)7, obras de cunho histórico que

procuraram tecer algumas considerações sobre a região Oeste, anterior a 1950. Dão forte

ênfase nos aspectos econômicos, porém, não retrataram as disputas territoriais. Quais as

intenções dos autores em escrever e publicar tais obras? Como perceberam e interpretaram

o contexto histórico e espacial da Fazenda Britânia? Qual a relação dos autores com os

membros da Industrial Madeireira Colonizadora Rio Paraná Ltda. – MARIPÁ? A quem

destinavam as respectivas obras? Como tais obras abordaram as disputas territoriais e o

mercado de terras?

O segundo conjunto de questões busca problematizar os Autos Criminais da

Comarca de Toledo, entre os anos de 1954 a 1980 do Núcleo de Documentação e Pesquisa

(NDP). Quais foram as principais áreas da Fazenda Britânia que tiveram disputas

territoriais? Como ocorreram as disputas? Quais agentes envolvidos nas disputas? Como se

deu ação da Industrial Madeireira Colonizadora Rio Paraná Ltda. – MARIPÁ em relação aos

colonos e posseiros? Como a polícia resolveu os conflitos de terras? Como procedeu a

formação das fronteiras internas na Fazenda Britânia? Por que a problemática da disputa

pelas terras faixa de fronteira na Fazenda Britânia ficaram esquecidas da historiografia

oficial?

Cabe questionar e refletir, também, como aconteceu a luta pela terra? Como é a

produção de memórias sobre a disputa das fronteiras agrícolas entre Industrial Madeireira

Colonizadora Rio Paraná Ltda. – MARIPÁ, contra, colonos, posseiros e grileiros? Quais os

interesses que estão por trás da amnésia que se edificou sobre as disputas territoriais e o

mercado de terras na Fazenda Britânia?

A historiografia sobre a companhia colonizadora MARIPÁ é vasta, porém, contém

elementos importantes que merecem ser estudados, a começar pela escrita de sua história

por memorialistas e por historiadores. Podemos afirmar que houve interesses diversos na

produção da escrita sobre a Fazenda Britânia. Os Autos Criminais da Comarca de Toledo,

entre os anos de 1954 a 1980, demonstram que existiam diversas memórias sobre as

disputas territoriais e o mercado de terras no município de Toledo e região, na busca de

tornarem-se legítimas e verdadeiras. Entretanto, aqueles que narram a história da referida

4 SAATKAMP, Venilda. Desafios, lutas e Conquistas: história de Marechal Cândido Rondon. Cascavel:

Assoeste, 1985. 5 NIEDERAUER, Ondy Helio. Toledo no Paraná: a história de um latifúndio improdutivo, sua reforma agrária,

sua colonização, seu progresso. Toledo: Grafo-Set, 1992. 6 PAWELKE, J. Ficando rico no Oeste do Paraná. Marechal Cândido Rondon: Igreja Martin Luther, 1970. 7 SILVA, Oscar; MACIEL, Clori Fernandes. Toledo e sua história. Toledo: Prefeitura Municipal, 1988.

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região, preocupados com problemas presente, selecionaram acontecimentos históricos e

promoveram os “esquecimento” de outros.

Há vários estudos e livros publicados sobre a colonização da Industrial Madeireira

Colonizadora Rio Paraná Ltda. – MARIPÁ que dão ênfase a história do município de Toledo

e Região. Uma excelente pesquisa, nessa ótica, é o trabalho de Claércio Ivan Schneider

(2001), o qual analisou o programa de colonização desenvolvido pela Industrial Madeireira

Colonizadora Rio Paraná Ltda. – MARIPÁ, entre os anos de 1946 a 1960. O Estudo de

Schneider (2001) investiga a trajetória de duas caracterizações fortemente sedimentadas na

memória histórica que retrata o Oeste do Paraná, a partir de sua colonização sistemática.

Apontando em seu estudo, que o Oeste do Paraná teria sido habitado pelo melhor tipo de

colono os descendentes de alemães e italianos, e de que estes foram inseridos num

programa “exemplar” de estrutura fundiária a pequena propriedade. O que se pretende

nesta pesquisa é um recorte temporal entre os anos 1946 a 1980, pois a partir dos Autos

Criminais da Comarca de Toledo do Núcleo de Documentação e Pesquisa (NDP), trazem a

tona muitos relatos e informações das disputas territoriais envolvendo a companhia

colonizadora MARIPÁ contra colonos e posseiros.

Para a compreensão do Caso da Fazenda Britânica é necessário compreender os

elementos constituintes da formação do mercado de terras e dos conflitos agrários nas

fronteiras internas. Outro fator são as dificuldades nesse tipo de pesquisa, pois uma das

maiores dificuldades da pesquisa foi o levantamento de “fontes”, tanto escritas quanto orais,

já que em certos arquivos ou entrevistas notam-se lacunas, silêncios, memórias ainda vivas

que podam certas informações. Ao pesquisar a memória dos conflitos agrários entra-se em

contato com o “ato da memorização”, a pior de todas as memórias existentes, “memória

viva” que se constitui por aquelas pessoas que lutam para o não esquecimento dos crimes

cometido pela posse da terra, e os que defendem esquecimento, na busca de colocar uma

"pá de cal" no assunto.

3. TERRAS DO OESTE PRA QUE TE QUERO?

Nesse item, será abordada a problemática da consolidação do mercado de terra no

Oeste do Paraná, sendo o mercado de terra em dias atuais, o responsável das condições de

exploração, violência e injustiça social que prevaleceram no campo, como o êxodo rural,

com seu desfilar de mazelas, aumentando assim os bolsões da pobreza urbana.

As formações das fronteiras internas no Oeste foi causadora da consolidação do

mercado de terras, gerando dessa forma, o fechamento da fronteira. Com a consolidação do

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mercado de terras, as companhias colonizadoras mandavam os pistoleiros de aluguel,

jagunços para ameaçar, espaçar, incendiar, os locais onde estavam colonos, posseiros e

grileiros, como forma de manter o controle sobre os mesmos nessa região em questão.

A partir dos Autos Criminais da Comarca de Toledo (1954-1980) do Núcleo de

Documentação e Pesquisa (NDP) da Unioeste/Campus de Toledo, pode-se compreender a

problemática dos conflitos agrários no Oeste do Paraná.

Um exemplo desses conflitos agrários é a invasão da Imobiliária Ipiranga na

propriedade de Fernando Conniki. E o desaparecimento do seu empregado Pedro de

Oliveira, que foi posto por jagunços da colonizadora num Jeep e levado para a cidade de

Palotina, nesse trajeto aconteceu o seu desaparecimento do mesmo na posse de 12

jagunços armados da Colonizadora.

Mostra o caso da invasão da Gleba Rio Azul, pelo agrimensor Ludomir Psacki, na

propriedade da Industrial Madeireira Colonizadora Rio Paraná Sociedade Anônima. Sendo

essa gleba localizada no município de Guayra.

Aponta a disputa das Fronteiras duvidosas de uma determinada Gleba. João

Aparecido, Administrador da Imobiliária Ipiranga denunciou um grupo armado com carabinas

(quatro homens) que astuciosamente penetraram nas terras daquela Imobiliária,

embargando os serviços de estradas na referida gleba.

A disputa de José Francisco de Morais, contra os Srs. Drs. Adir Seleme e Anuar

Seleme, e seus pistoleiros “Manoelzinho de Tal”, Piaui vulgo “João Guarda”, Getúlio de

Araújo, Ayrton de tal, João Irineu vulgo “Rosa”, Divanor Cunci e outros não identificados.

O requerente há mais de 7 (sete) anos vem ocupando no município de Palotina, Comarca e Estado, uma área de terras, com 34 (trinta e quatro) alqueires dentro da FAIXA DE FRONTEIRA de 66,00 quilômetros, - onde sempre residiu com sua numerosa família, tendo tornado a totalidade da referida área produtiva, com seu trabalho e o de seus familiares. (AUTO CRIMINAL: 729/65, 1972. fls. 2).

Outro fator interessante desse auto criminal é que o Delegado enfatiza que a região

Oeste é bem conhecida pelo golpe usado por pessoas que se valendo da “boa fé dos

proprietários” tentam fabricar posse sobre os imóveis.

Na Gleba Lopeí nas proximidades da Fazenda Britânica aconteceu o seguinte

conflito.

Em dias de janeiros do corrente ano, em um armazém de propriedade MELITA KOECHE, localizado na localidade Lopeí, nesta comarca, o denunciado ofereceu à Sebastião ... Gomes, a importância de CR$ 1.000,00 (hum mil cruzeiros) e um revólver, para que este matasse o Procurador da Gleba Lopeí, Dr. Luiz Carlos Lima, e em virtude da recusa do proposto, aumentou tal oferta, para o dobro de tal quantia, desde que aquele pusesse fim a vida da vítima. (AUTO CRIMINAL: 828/76, 1971. fls. 2).

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O presente auto retrata as questões referentes aos conflitos na região Oeste do

Paraná.

No dia de ontem, 15 de fevereiro, 3ª feira, por volta das 14,00 horas, os indivíduos Expedito Maia de Oliveira e Vivaldo Vilasboas, “Jagunços”, assalariados de Antonio Luiz Padovani, compareceram à serraria de Julio Kimura, estabelecimento no lote rural nº44, do loteamento do “Banco do Estado do Paraná S.A.”, e onde se achavam trabalhando cerca de 11 operários [...] os mesmos “jagunços” determinaram a um terceiro, que serrasse todos os cepos de madeira de lei que estavam sendo preparados para a montagem da Serraria, inutilizando, por inteiro, todos os serviços feitos pelos operários de Julio Kimura. [...] Quando a inutilização dos cepos de madeira de lei estava quase concluída, chegou ao local dos acontecimentos um soldado da Polícia Militar, sediado na localidade de São Pedro. O mesmo soldado, tomando conhecimento do que ocorria, rumou para a cidade de Cascavel, e horas depois, voltou ao lote rural nº44, acompanhado de Celso Padovani, dizendo que a atuação dos jagunços de Antonio Luiz Padovani era perfeitamente legal e que as terras pertenciam a Antonio Luiz Padovani. (AUTO CRIMINAL: 849/78,1972, fls.02-03).

O presente auto aponta a disputa na Região do Piquiri, em 40 alqueires de terras

próximas da Fazenda Jussara. Alegação da posse foi feita na base de ser região de Faixa

de Fronteira. “Outrossim, referido o Decreto Federal nº69.411 de 22 de outubro de 1971,

que incluiu a área que integra esta comarca (Municípios de Palotina e Toledo) como

prioritária para fins de reforma agrária.”(AUTO CRIMINAL: 861/79, 1972, s/n).

Na Gleba Palotina aconteceu o seguinte conflito:

Plinio Carlito Strocher [...] ora requerente é senhor e legítimo proprietário dos lotes nºs. 190, 191, 192 e 193, do 11ª perímetro, da Gleba Palotina, com a área de 1.002,000 metros quadrados, situados em Palotina, comarca de Toledo [...] adquiriu primitivamente, a referida propriedade em 8 de fevereiro de 1958, de Ruy de Castro, através da firma “Pinho e Terras Ltda”. Posteriormente, face processo desapropriatório o suplicante adquiriu do poder público estadual, os mesmos lotes nºs os mesmos lotes nºs 190, 191, 192 e 193, do 11ª perímetro de imóvel Palotina. [...] Arrimado em seus títulos dominais, o peticionário, vem dinamizado desde o ano de 1960, por si e por seus prepostos, atos insofismáveis de posse mansa e pacífica, nos lotes de sua propriedade, retratada pela derrubada e consequente plantação de cereais. 3. – Acontece, porém, que no dia 7 de novembro do ano em curso de 1973, 10 (dez) elementos desconhecidos do requerente, fortemente aramados, invadiram a sorte de terras de propriedade do suplicante, mediante a prática de Violência. 4. – A par da ilícita invasão, tais elementos se adorariaram “a manu militari” da terra, digo de toda a área de terras do expoente e alardeam serem os donos daquelas terras. 5.- Os invasores montaram nas terras de propriedade do requerente uma barraca e de lá não querem sair, praticando assim o ilícito do artigo 161, § 1º, item II, do Código Penal. 6. – Não satisfeito, os invasores das terras do requerente, embargaram os serviços de destoca que estava sendo feito para o próprio suplicante e expulsaram o tratorista das terras. (AUTO CRIMINAL: 874/81, 1972, fls. 04-05).

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Retrata os conflitos na Faixa de Fronteira.

[...] no dia 17 de setembro passado, um grupo formado por cêrca de trinta homens armados, invadiram a propriedade e residência da requerente e de seu marido e ali derrubou a casa de residência do casal, cuja a casa foi derrubada em cima de cereais e móveis e utensílios que estão se deteriorando diante das intempéries. [...] o marido da requerente estava sendo perseguido pela Policia Florestal e não se encontrava em casa no dia da destruição da casa e, como existem porcos de propriedade da requerente e de seu marido, fechados no local, no dia 15,00 do corrente, cêrca das 10,00 horas, - foi agredida a tiros pelos indivíduos – ASSIS PERREIRA, JOSÉ FEIO, JOÃO SIQUEIRA, JOSÉ SIQUEIRA, JOSÉ BOBO, outros que não foram identificados pela requerente e teve que sair dali correndo para não morrer. (AUTO CRIMINAL: 903/84, 1972, fls. 2).

Discutir as disputas pelas terras devolutas do Oeste paranaense entre o Estado do

Paraná e as Companhias Colonizadoras, caracterizando que os conflitos agrários não

aconteceram somente entre companhias colonizadoras, contra colonos, posseiros e

grileiros.

Apelação cível nº5/61 do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, sobre as terras

da Companhia Paranaense de Colonização Espéria S/A (1961). Essa apelação mostra a

briga da Companhia Colonizadora contra o Estado do Paraná com base legal das

concessões de 26 de agosto de 1919, no decreto estadual nº 1.678., sobre a vendas da

terras feitas pelo Estado, e depois o seu cancelamento dos respectivos títulos da

colonizadora. A problemática dessa disputa está nas concessões de terras na faixa de

fronteira, pelo Estado do Paraná, que se opôs a legislação federal do período. Vendo as

terras da Faixa de fronteira a companhias colonizadora e depois desapropriando as

mesmas.

Lei nº 2.597 – de 12 de Setembro de 1955, que dispõe sobre Zonas Indispensáveis

à defesa do País, elaborado pela Comissão Especial da Faixa de Fronteiras. Nessa fonte

aponta que o governo sancionou a seguinte lei com o objetivo de defesa das zonas

indispensáveis do país, a prática de atos referentes à concessão de terras, à abertura de

vias de comunicação, à instalação de meios de transmissão, à construção de pontes e

estradas internacionais e ao estabelecimento ou exploração de indústrias que

interessassem por colonizar a região de fronteira. E principalmente a concessão de terras

seria só para brasileiro, “poderá possuir terras em qualquer município integrado, parcial ou

totalmente, na faixa de fronteiras, até área igual a um têrço (1/3) da respectiva superfície.

Atingindo tal limite, nenhuma nova aquisição poderá ser processada sem assentimento da

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Comissão Especial da Faixa de Fronteiras, sob pena de responsabilidade de Notários e

Oficiais de Registro de Imóveis”.

O relatório dos “Títulos Nulos expedidos pelo Governo do Estado do Paraná”

(Glebas denominadas: Rio Quarto, Guaíraca, Rio Azul, Píqueroby, Tucuruví, Pindorama,

Jaraguá e Peruibê, situados nos municípios de Foz do Iguaçu, Cascavel, Toledo e Guaíra).

Para compreender a troca de nomeclatura da Gleba Piquiri, como forma de titular a mesma,

diversas vezes. “A Denominação da gleba ‘Piquiry’ foi substituída por outros nomes fictícios,

como colônia ou núcleos ‘Piquerobi’, ‘Rio Azul’, ‘Jaraguá’ e ‘Peruibe’; e as glebas, realmente

portadoras dos nomes ‘Ocoy’, ‘Silva Jardim’ e ‘Andrada’ passaram a sêr fantaciosamente

denominadas de, respectivamente, colônias ‘Guairacá’, ‘Tucuruvi’ e ‘Pindorama’.”

Outro fator é que em certos casos, as companhias colonizadoras, afirmavam ter

direito pela posse das terras dos colonos, grileiros e posseiros, tentando apropriar-se dos

lotes já ocupados por estes. De acordo com a pesquisa, depois do processo de limpeza da

área cobiça ou em litígio pelos colonos, posseiros e grileiros, as companhias colonizadoras

passavam para a fase do trabalho “sujo”, isto é, davam até 50 alqueires de terras para os

colonos, e depois do desbravamento da mata feito por este, tomavam uma grande parcela

da propriedade, deixando uma metragem de 5, 10, 15 ou 20 alqueires.

Feita a limpeza da área cobiçada ou em litígio, passada a fase do trabalho “sujo”, onde os Direitos Humanos na relação entre os posseiros e as empresas colonizadoras simplesmente viravam palavrão, aspiração e prática remota e inexistente, começava a fase de comercialização e capitalização. Rapidamente, as companhias colonizadoras investiam na montagem da estrutura que consistia no trabalho de metragem, divisão e venda dos lotes de 5, 10, 15 e 20 alqueires paulistas, paralelo ao estímulo, fundação e consolidação de povoados, vilas e cidades que serviam de base de irradiação das vendas dos lotes rurais. (SOUTO MAIOR, 1996, p. 33-35).

Pode-se perceber, de forma subjetiva, a interligação entre o poder político e

econômico de tal companhia na região Oeste no processo de colonização, além do abuso

que esses poderes legitimaram por meio da interligação entre polícia, delegado,

administração municipal, governadores e outros, conseguindo ocultar fatos, construindo uma

imagem de uma empresa que defendia a “Reforma Agrária”.

A partir dessa questão, o objetivo geral desta dissertação é explorar o surgimento

do mercado de terras como causadora dos conflitos agrários, constituindo assim as

fronteiras internas no Oeste do Paraná entre 1930 aos dias atuais, em sua gênese,

destacando a participação do Estado do Paraná, das companhias colonizadoras nesse

processo, privilegiando o estudo de leis, decretos, relatórios, apelações cíveis e autos

criminais.

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FIGURA 1 – Faixa de fronteira de 150 km do Oeste do Paraná

Fonte: Foweraker, 1981, p. 25

A consolidação do mercado de terras no Oeste do Paraná, que aconteceu mediante

aos conflitos agrários, isto é, as disputas nas fronteiras internas geraram a luta entre as

companhias colonizadoras, colonos, posseiros e grileiros na Faixa de fronteira. A construção

da fronteira teve a característica duvidosa, ou seja, a fronteira se formou a partir da ausência

de leis ou do imaginado, que nesse caso sempre é construída na ótica dos interesses de

grupos hegemônicos.

Com o crescimento da economia nacional nos centros industriais e financeiros,

aumentou a expansão da fronteira. Logo, a fronteira na ótica de Foweraker (1981), não

exprime toda e qualquer atividade econômica voltada para o mercado exterior, e sim a

atividade particular que integra as regiões inexploradas à economia nacional, sendo o motor

impulsionador das forças e contradições dessa economia. “A fronteira pode ser quase

inteiramente isolada, ou integrada à economia nacional e regional através de estradas de

rodagem ou uma rede desenvolvida de mercado”. (FOWERAKER, 1981.p.33).

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A fronteira Oestina aparece num primeiro momento, um tema nebuloso, estranhos

que preocupam apenas os estudos acadêmicos. Porém, compreender os conflitos agrários

na fronteira é analisar as relações políticas e sociais ocultas de uma determinada região.

Para Foweraker (1981), a fronteira mede o homem em confronto com a natureza e exige o

domínio do ambiente físico, sendo a base de toda atividade econômica. Ou seja, no avanço

da fronteira, acarreta igualmente o confronto entre os homens e revela as relações políticas

e sociais que freqüentemente permaneceram ocultas nos limites da sociedade nacional.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS:

O estudo da consolidação do mercado de terras no Oeste do Paraná, relacionando-

o com os conflitos agrários, onde as disputas nas fronteiras internas geraram a luta entre as

companhias colonizadoras, colonos, posseiros e grileiros na ocupação da Faixa de fronteira.

A construção da fronteira teve característica duvidosa, ou seja, a fronteira se formou a partir

da ausência de leis ou imaginado, que nesse caso sempre é construída na ótica dos

interesses de grupos hegemônicos.

Com a consolidação da formação do mercado de terras ocorre o processo de

integração da região na economia nacional. Desse modo, as relações de produção e

propriedade vão determinar a expansão da fronteira, e não o crescimento populacional. Pois

a integração do Oeste paranaense com a economia nacional ocasionará o fechamento da

fronteira, levando as frentes migratórias para outras fronteiras abertas.

São fontes documentais de grande importância que foram deixadas à margem

pelos pesquisadores, e principalmente pelos historiadores. A dificuldade de encontrar fontes

de pesquisa sobre as disputas territoriais (principalmente no caso MARIPÁ) é muito evidente

nos arquivos dos municípios da região, onde não existe uma consciência na preservação de

acervos municipais. Muitas vezes, acaba-se dando fim na pouca documentação que ainda

existe, o que acarreta na não disposição da pesquisa para os historiadores.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

6. 1 Fontes documentais

AUTO CRIMINAL: 052/06, 1954.

AUTO CRIMINAL: 019/03, 1955.

AUTO CRIMINAL: 093/09, 1957.

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AUTO CRIMINAL: 135/13, 1960.

AUTO CRIMINAL: 315/27, 1962.

AUTO CRIMINAL: 828/76, 1971.

AUTO CRIMINAL: 917/85, 1971.

AUTO CRIMINAL: 674/60, 1972;

AUTO CRIMINAL: 771/71, 1972.

AUTO CRIMINAL: 849/78, 1972.

AUTO CRIMINAL: 903/84, 1972.

AUTO CRIMINAL: 687/61, 1973.

AUTO CRIMINAL: 690/62, 1973.

AUTO CRIMINAL: 784/72, 1973.

AUTO CRIMINAL: 874/81, 1973.

AUTO CRIMINAL: 1164/113, 1974.

AUTO CRIMINAL: 1102/105, 1976.

AUTO CRIMINAL: 980/092, 1977.

INDUSTRIAL COLONIZADORA RIO PARANÁ – MARIPÁ. Relatório do Plano de

Colonização. 1960.

PROCURADORIA DA REPÚBLICA. Nulos os Títulos Nulos expedidos pelo Governo do

Estado do Paraná nas glebas denominadas “Rio Quarto”, “Guaíraca”, “Rio Azul”,

“Píqueroby”, “Tucuruví”, “Pindorama”, “Jaraguá” e “Peruibê”, situados nos municípios de Foz

do Iguaçu, Cascavel, Toledo e Guaíra. Curitiba: 1958. [Documento elaborado para

divulgação e conhecimento de terceiros].

6.2 BIBLIOGRAFIAS

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