TCC Geovani Maciel Schneider.pdf - Repositório Institucional ...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CAMPUS CURITIBANOS
CURSO AGRONOMIA
Rogerio Kormann
Desenvolvimento de um protótipo Arduíno para monitoramento de dióxido de carbono,
amônia, etileno, óxido nítrico e nitroso do solo na cultura da soja.
Curitibanos
2022
Rogerio Kormann
Desenvolvimento de um protótipo Arduíno para monitoramento de dióxido de carbono,
amônia, etileno, óxido nítrico e nitroso do solo na cultura da soja.
Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Agronomia do Campus de Curitibanos da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Agronomia. Orientador: Prof.a Sonia Purin da Cruz, Ph.D. Coorientador: Prof. Crysttian Arantes Paixão
Curitibanos
2022
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Coordenação do Curso de Graduação em Agronomia Rodovia Ulysses Gaboardi km3
CP: 101 CEP: 89520-000 - Curitibanos - SC
TELEFONE (048) 3721-2176 E-mail: [email protected].
ROGERIO KORMANN Desenvolvimento de um protótipo Arduíno para monitoramento de dióxido de carbono,
amônia, etileno, óxido nítrico e nitroso do solo na cultura da soja.
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do Título de Engenheiro Agrônomo, e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação em
Agronomia.
Curitibanos, 11 de março de 2022.
Prof. Dr. Samuel Luiz Fioreze Coordenador do Curso
Banca Examinadora:
Prof. a Sonia Purin da Cruz, Ph.D.
Orientadora Universidade Federal de Santa Catarina
Prof. a Mariangela Hungria da Cunha, Dr.a Avaliadora EMBRAPA Soja
Prof. Crysttian Arantes Paixão, Dr. Avaliador Universidade Federal da Bahia
AGRADECIMENTOS
A toda minha família que foi apoio, amparo e incentivo nessa fase da minha vida.
Em especial aos meus pais Wendelino e Clara, que de suas maneiras sempre ofereceram a
força que eu precisei para seguir em frente. Passar por tudo isso foi sempre pensando em
orgulhá-los.
Aos colegas e amigos com quem convivi durante a graduação.
A todos os amigos que de uma forma ou de outra me ajudaram a chegar até aqui.
Aos professores da Universidade Federal de Santa Catarina pela preocupação com o
ensino de qualidade, por nos proporcionarem conhecer todas as faces da Agronomia, vocês
todos fazem a diferença. Em especial a minha orientadora, Sonia Purin da Cruz, por toda
dedicação e atenção que deu a condução desse trabalho, pelas considerações valiosíssimas,
mas principalmente, por ser uma profissional exemplar e inspiradora.
Muito obrigado a todos!
''A estatística é a refinada técnica de torturar
os números até que eles confessem a verdade.”
Ditado popular do leste europeu
RESUMO
No Brasil, a inoculação da soja com bactérias do gênero Bradyrhizobium elimina a
necessidade de fertilizantes nitrogenados industriais na produção deste grão. Além disso, a
inoculação melhora a atividade microbiana do solo, o que pode afetar diretamente a
concentração de diversos gases no solo. Esses efeitos são mais diversos e pronunciados
quando, além das bactérias do gênero Bradyrhizobium, os gêneros Azospirillum e
Pseudomonas são explorados em uma técnica chamada de coinoculação, pois tais grupos
possuem ação reconhecida nos ciclos do carbono, nitrogênio e fósforo. Contudo, a análise de
concentração de gases no solo ainda é um problema para grande parte dos pesquisadores,
devido aos custos de aquisição da instrumentação. Desta forma, o presente estudo apresenta
uma plataforma de monitoramento baseada em Arduino para medir as concentrações de gases
CO2, C2H4, NH3 e NOX no solo, avaliando-se paralelamente ou crescimento, nodulação e
produtividade. O experimento foi conduzido em casa de vegetação em Curitibanos/SC sob
delineamento inteiramente casualizado, com tratamentos de inoculação (T1) e coinoculação
(T2). Quando detectadas diferenças significativas, as médias foram comparadas pelo teste de
Tukey ao nível de 5% de significância. Ao todo, 90,90% dos vasos de T2 apresentaram
plantas emergidas em apenas 4 dias após a semeadura, enquanto que em T1 esse valor foi de
54,54%. Até 35 DAE (dias após a emergência), na maior parte dos períodos analisados, a
evolução da concentração de NH3 foi menor em T2. Da mesma forma, durante todo o
experimento e na maior parte dos períodos analisados, a evolução da concentração de NOX foi
menor em T2. A correlação foi positiva e significativa (p <0,05) entre NH3 e número de grãos
por vagem. Os valores de NOx relacionaram com o número de médio de grãos por planta e a
massa de raízes secas. Por outro lado, correlações negativas e significativas foram observadas
entre o CO2 e a massa de raízes secas, bem como entre o C2H4, e a altura de inserção da
primeira vagem. O protótipo desenvolvido utiliza o sensor MQ-135 e possui baixo custo de
desenvolvimento (U$ 150,00). Ele atendeu aos requisitos do projeto e possibilitou analisar
continuamente a concentração de CO2, C2H4, NH3, e NOX no solo. A coinoculação mostrou-se
vantajosa em termos de qualidade de solo e desenvolvimento da soja, visto que seus principais
efeitos se relacionaram a uma aceleração na emergência das plantas, menores emissões de
NOx, e maior atividade microbiana em grande parte do período analisado.
Palavras-chave: Inoculação. Fertilizantes. gases do solo.
ABSTRACT
In Brazil, inoculation of soybean with bacteria of the genus Bradyrhizobium eliminates the
need for industrial nitrogen fertilizers in the production of this grain. In addition, inoculation
improves soil microbial activity, which can directly affect the concentration of various gases
in the soil. These effects are more diverse and pronounced when, in addition to the bacteria of
the Bradyrhizobium genus, the Azospirillum and Pseudomonas genera are explored in a
technique called co-inoculation, as these groups have recognized action in the carbon,
nitrogen and phosphorus cycles. However, the analysis of the concentration of gases in the
soil is still a problem for most researchers, due to the costs of acquiring the instrumentation.
In this way, the present study presents an Arduino-based monitoring platform to measure the
concentrations of CO2, C2H4, NH3 and NOX gases in the soil, evaluating in parallel or growth,
nodulation and productivity. The experiment was carried out in a greenhouse in
Curitibanos/SC under a completely randomized design, with inoculation (T1) and co-
inoculation (T2) treatments. When significant differences were detected, the means were
compared using the Tukey test at a 5% significance level. Altogether, 90.90% of the T2 pots
had plants emerged in just 4 days after sowing, while in T1 this value was 54.54%. Up to 35
DAE (days after emergence), in most of the analyzed periods, the evolution of the NH3
concentration was lower in T2. Likewise, throughout the experiment and in most of the
analyzed periods, the evolution of NOX concentration was lower in T2. The correlation was
positive and significant (p < 0.05) between NH3 and number of beans per pod. The NOx
values related to the average number of grains per plant and the dry root mass. On the other
hand, negative and significant correlations were observed between CO2 and dry root mass, as
well as between C2H4, and the height of insertion of the first pod. The prototype developed
uses the MQ-135 sensor and has a low development cost (U$ 150.00). It met the design
requirements and made it possible to continuously analyze the concentration of CO2, C2H4,
NH3, and NOX in the soil. Co-inoculation proved to be advantageous in terms of soil quality
and soybean development, since its main effects were related to an acceleration in plant
emergence, lower NOx emissions, and greater microbial activity in most of the analyzed
period.
Keywords: Inoculation. Fertilizers. soil gases.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1A - Aspectos dos vasos do experimento, contendo solo - Figura 1B: Vasos vedados
com saco plástico para período de repouso por 60 dias. .......................................................... 30
Figura 2 - Aplicação de inoculante sobre as sementes. ............................................................ 31
Figura 3A - Detalhe de abertura do solo para inserir a semente - Figura 3B: Disposição das
sementes em torno da estrutura que comporta os sensores, dentro de cano plástico. .............. 31
Figura 4 - Curva da concentração de gases, na escala log, de acordo com o fabricante do
sensor. ....................................................................................................................................... 32
Figura 5 - Protótipo de Arduíno, que consiste em um esquema e sistema de captação de
concentração de gases. .............................................................................................................. 33
Figura 6A - Arduíno - Figura 6B: Sensor MQ-135. ................................................................. 33
Figura 7A - Sensor dentro do tubo subterrâneo - Figura 7B: Sensor isolado com parafilme. . 34
Figura 8A - Arduíno protegido por garrafas plásticas. ............................................................. 34
Figura 9 - Arquivo texto com os dados da gravação do sensor. ............................................... 35
Figura 10 - Raízes sendo submetidas à pesagem. .................................................................... 37
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Médias marginais da evolução da concentração de CO2 entre 7 e 35 DAE com
intervalo de confiança a 95%.................................................................................................... 39
Gráfico 2 - Médias marginais da evolução da concentração de C2H4 entre 7 e 35DAE com
intervalo de confiança a 95%.................................................................................................... 40
Gráfico 3 - Médias marginais da evolução da concentração de NH3 entre 7 e 35DAE com
intervalo de confiança a 95%.................................................................................................... 41
Gráfico 4 - Médias marginais da evolução da concentração de NOX entre 7 e 35 DAE com
intervalo de confiança a 95%.................................................................................................... 42
Gráfico 5 - Médias marginais da evolução da concentração de CO2 entre 7 e 116 DAE com
intervalo de confiança a 95%.................................................................................................... 47
Gráfico 6 - Médias marginais da evolução da concentração de C2H4 entre 7 e 116 DAE com
intervalo de confiança a 95%.................................................................................................... 48
Gráfico 7 - Médias marginais da evolução da concentração de NH3 entre 7 e 116 DAE com
intervalo de confiança a 95%.................................................................................................... 49
Gráfico 8 - Médias marginais da evolução da concentração de NOx entre 7 e 116 DAE com
intervalo de confiança a 95%.................................................................................................... 50
Gráfico 9 – Correlação 3D de superfície entre média de NH3, altura de inserção da primeira
vagem (cm) e número de grãos aos 116 dias após emergência. ............................................... 52
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Quantidade de vasos por tratamento que alcançaram o estádio VE em dias após o
plantio de plantas de soja (Glycine max). ................................................................................. 38
Tabela 2 - Valores médios da altura (cm) de plantas de soja (Glycine max) em dias após
emergência. ............................................................................................................................... 38
Tabela 3 - Coeficientes de correlação de Pearson (r) entre estádio vegetativo, altura e a média
de concentração de gases analisados em plantas de soja (Glycine max) aos 35 dias após
emergência. ............................................................................................................................... 42
Tabela 4 - Valores médios da massa de raízes frescas (g), massa de raízes secas (g), massa de
parte aérea fresca (g) e massa de parte aérea seca (g) de plantas de soja (Glycine max) 35 dias
após emergência e seus respectivos coeficientes de variação (CV%) ...................................... 43
Tabela 5 - Valores médios de número total de nódulos, número de nódulos > 2mm, número de
nódulos viáveis e a massa de nódulos frescos (g) de plantas de soja (Glycine max) 35 dias
após emergência e seus respectivos coeficientes de variação (CV%) ...................................... 43
Tabela 6 - Coeficientes de correlação de Pearson (r) entre variáveis experimentais analisadas
em plantas de soja (Glycine max) em 35 dias após emergência e médias de concentração de
gases.......................................................................................................................................... 45
Tabela 7 - Valores médios de inserção da primeira vagem (cm), vagens por planta, grãos por
planta e grãos por vagens de soja (Glycine max) 116 dias após emergência e seus respectivos
coeficientes de variação (CV%) ............................................................................................... 46
Tabela 8 - Valores médios de massa de grãos por planta (g), massa de mil grãos (g),
produtividade de grãos (kg ha-1) e massa de raízes secas (g) (Glycine max) 116 dias após
emergência e seus respectivos coeficientes de variação (CV%) .............................................. 46
Tabela 9 - Coeficientes de Correlação de Pearson (r) entre variáveis experimentais analisadas
em plantas de soja (Glycine max) após 116 dias após emergência e médias de concentração de
gases.......................................................................................................................................... 51
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
°C Escala Celsius
ACC Ácido 1-carboxílico-1-aminociclopropano
ADC Conversão analógico digital
Al2O3 Óxido de alumínio
ATP Adenosina trifosfato
C Carbono
C2H4 Etileno
CCP Coeficientes de Correlação de Pearson (r)
CH4 Metano
CO Monóxido de carbono
CO2 Dióxido de carbono
COP26 Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021
DAE Dias Após a Emergência
EUA Estados Unidos da América
FBN Fixação Biológica de Nitrogênio
IDE do inglês Integrated Development Environment ou Ambiente de Desenvolvimento
Integrado
IoT do inglês Internet of Things ou Internet das Coisas
IRGA do inglês infrared gas analyzer ou analisador de gases por infravermelho
MCU do inglês Uno Microcontroller Board ou Placa de Microcontrolador Uno
N Nitrogênio
N2 Nitrogênio Atmosférico ou Dinitrogênio
N2O Óxido nitroso
NASA Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço
NH3 Amônia
NH4 Amônio
NO Óxido nítrico
NO3- Nitrato
NOx Óxidos de nitrogênio
P Fósforo
Ppm Partes por milhão
kg ha-1 quilos por hectare
SD do inglês Secure Digital Card ou cartão digital seguro
SNO2 Dióxido de estanho
UR Umidade Relativa
USD do inglês United States Dollar ou Dólar dos Estados Unidos
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 16
1.1 OBJETIVOS .......................................................................................................... 18
1.1.1 Objetivo Geral ...................................................................................................... 18
1.1.2 Objetivos Específicos ........................................................................................... 18
2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................. 19
2.1 CO2, NOX E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS .................................................... 19
2.2 CICLOS DO C E N EM SISTEMAS EDÁFICOS E PAPÉIS DA MICROBIOTA20
2.3 VARIAÇÃO TEMPORAL DE GASES DO CICLOS DO C E N NO SOLO ...... 21
2.4 INOCULAÇÃO E COINOCULAÇÃO DA SOJA ............................................... 22
2.5 IMPORTÂNCIA DO ETILENO EM CULTURAS AGRÍCOLAS ...................... 24
2.6 METODOLOGIAS PARA QUANTIFICAÇÃO DE GASES .............................. 26
3 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................ 29
3.1 INOCULAÇÃO, COINOCULAÇÃO E SEMEADURA ..................................... 30
3.2 ESTABELECIMENTO DO SISTEMA DE CAPTAÇÃO DE LEITURA DE
GASES 32
3.3 OPERAÇÃO DO DISPOSITIVO ......................................................................... 32
3.4 COLETA DE DADOS AOS 35 DAE ................................................................... 35
3.5 COLETA DE DADOS EM MATURAÇÃO PLENA ........................................... 36
3.6 ANÁLISE DE DADOS ......................................................................................... 37
4 RESULTADOS .................................................................................................... 38
4.1 CRIAÇÃO DO PROTÓTIPO E PROGRAMAÇÃO DO ARDUÍNO .................. 38
4.2 DADOS DE GERMINAÇÃO DA SOJA .............................................................. 38
4.3 ALTURA E FENOLOGIA ENTRE 3 E 35DAE .................................................. 38
4.4 EMISSÃO DE GASES ENTRE 7 E 35DAE ........................................................ 39
4.5 NODULAÇÃO E CRESCIMENTO VEGETATIVO AOS 35DAE .................... 43
4.6 CORRELAÇÕES ENTRE VARIÁVEIS EXPERIMENTAIS AOS 35DAE ....... 44
4.7 ANÁLISES EM MATURAÇĀO PLENA ............................................................ 46
4.8 EVOLUÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE GASES E SUA CORRELAÇÃO
COM DADOS DE MATURAÇĀO PLENA ........................................................................... 47
5 DISCUSSĀO ........................................................................................................ 53
6 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 62
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 63
16
1 INTRODUÇÃO
As recomendações da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima de
2021 - COP26 - indicam que manter um aumento de temperatura de 2°C em relação aos
níveis pré-industriais requer uma rápida transição para economias de baixo carbono (REES,
2021). Considerando a dependência atual da economia global de combustíveis fósseis, uma
quantidade significativa de pesquisa e investimento tem sido direcionada para a aplicação de
captura e armazenamento de carbono no solo e metodologias ágeis no uso de nutrientes nas
lavouras para menores emissões de gases do efeito estufa (XING et al., 2021). De acordo com
a NASA, aproximadamente 1,87 bilhão de hectares são destinados à agricultura no mundo e,
desta forma, o solo possui um grande potencial para regulação e armazenamento dos gases
responsáveis pela intensificação do efeito estufa, mas também pode ser grande fonte de
emissão. No Brasil, cerca de 30% das emissões de gases do efeito estufa estão diretamente
relacionados com o uso do solo (EMBRAPA, 2021).
No Brasil, existe uma grande preocupação em relação ao elevado consumo de
fertilizantes nitrogenados na agricultura. A produção destes insumos está ligada ao custo do
petróleo, com o agravante de que cerca de 70% do fertilizante nitrogenado usado no país
ainda é importado e, portanto, cotado em dólares (EMBRAPA, 2021). As emissões de gases
de efeito estufa associadas aos fertilizantes nitrogenados estão relacionadas desde a síntese
química, até as transformações do N no solo, principalmente pela emissão de gás óxido
nitroso, que é um forte gás do efeito estufa (CARVALHO, 2018).
Diante deste cenário, a biotecnologia associada a microrganismos pode ser uma das
melhores alternativas no combate às mudanças climáticas em nível mundial (CUADRA et al.,
2020). A associação simbiótica entre bactérias do gênero Bradyrhizobium e a soja (Glycine
max) elimina completamente a necessidade de fertilizantes nitrogenados na cultura.
Recentemente, os gêneros Azospirillum e Pseudomonas vêm sendo explorados juntamente a
Bradyrhizobium, uma técnica denominada de coinoculação, e podem ser utilizados como
ferramentas para redução do aporte de fertilizantes fosfatados. Além disso, a coinoculação
aumenta a população microbiana e estimula processos de decomposição de matéria orgânica e
ciclagem de nutrientes, aumentando a imobilização de C e N, sendo um indicativo de maior
atividade microbiológica e, consequentemente, qualidade do solo.
17
A escolha do método para avaliar as emissões de gases no solo é um passo importante
para o conhecimento e/ou desenvolvimento de práticas agrícolas com potencial de mitigação
do aquecimento global (COSTA et al., 2006). As ferramentas de análises de concentração de
gases no solo mais desenvolvidas atualmente utilizam analisadores de gás infravermelho
implantáveis em campo (AUBINET et al., 2016). Porém, apesar destes terem melhorado
muito a medição de concentração de gases no solo, os custos devido à aquisição da
capacidade de instrumentação, manutenção e, em alguns casos, capacidade de armazenamento
limitada e controle sobre a frequência de medição, usando sistemas proprietários, limitam
muito o espaço e extensão temporal do monitoramento (COLOMBANI et al., 2020).
Na última década, a disponibilidade e o uso de microcontroladores e
“microcomputadores” relativamente baratos para pesquisas científicas aumentaram
significativamente (NITE et al, 2020). O uso dessas plataformas para fazer a interface de
sensores cresceu, em parte, a partir da crescente disponibilidade de sensores, barateamento
destes e da necessidade de interface personalizada para medir e monitorar as condições em
experimentos a campo cada vez mais complexos e em configurações ambientais desafiadoras
(KASISELVANATHAN et al, 2021).
Desta forma, o presente estudo apresenta o desenvolvimento de uma plataforma de
monitoramento baseada em Arduíno, de baixo custo, para medir as concentrações de gases
CO2, NH3, C2H4 e NOX no solo. Incluídos aqui estão métodos de fabricação, medição de
referência (ou seja, gases de referência zero e de amplitude), correções de valor de
instrumento e resultados de avaliações práticas. Como parte da medição de referência, uma
nova apresentação da operação teórica do sensor e saída do sensor foi feita para verificar a
saída do instrumento teórico e correções ambientais aplicáveis. O teste prático compreendeu:
(1) Montagem e calibração do sensor; (2) Um ensaio comparativo entre as repetições de um
mesmo tratamento; (3) Coleta e análise dos dados após correções e calibração do
equipamento.
Como contribuição inédita desse trabalho, essa metodologia foi desenvolvida e
implementada para medir as concentrações de gases no solo através de um protótipo Arduíno
na região rizosférica de plantas de soja (Glycine max). A abordagem proposta baseia-se em
medições, indicando o potencial para estimar a qualidade do solo através da concentração de
gases CO2, C2H4, NH3, e NOX na região próxima ao sistema radicular da soja em plantas
inoculadas e coinoculadas, paralelamente a avaliações de nodulação, desenvolvimento
vegetativo e produtividade.
18
1.1 OBJETIVOS
1.1.1 Objetivo Geral
Desenvolver uma plataforma, baseada em Arduíno, para avaliar a concentração de
gases (Dióxido de Carbono, Etileno, Amônia, Óxido Nítrico e Nitroso) do solo através de um
sistema de monitoramento, bem como parâmetros de crescimento e produtividade, em
resposta a inoculação e coinoculação na cultura da soja.
1.1.2 Objetivos Específicos
Projetar o sistema baseado em Arduíno e seus componentes para monitorar, de forma
contínua, a emissão de Dióxido de Carbono, Etileno, Amônia, Óxido Nítrico e Nitroso na
região rizosférica de plantas de soja no ciclo total de desenvolvimento da cultura;
Calibrar o protótipo relacionando os dados da resistência inicial e resistência atual
com a parametrização de concentração de gases fornecido pelo fabricante do sensor;
Implantar um experimento com soja em condições de casa de vegetação, para
monitoramento de gases rizosféricos;
Avaliar os resultados de crescimento vegetativo, produtividade, monitoramento de
gases e desempenho do protótipo.
19
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 CO2, NOX E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
No contexto das pesquisas científicas mais consolidadas, o foco principal de
mudanças climáticas é dado ao gás carbônico (CO2), uma vez que o volume de suas emissões
para a atmosfera corresponde a, aproximadamente, 60% dos valores totais. Apesar disso,
segundo dados da CETESB (2021), o N2O (óxido nítrico), mesmo sendo emitido a uma taxa
de 6% do total, pode ser mais significativo em função do seu tempo de residência e
reatividade. Além destes gases, o NO (óxido nitroso) possui ação indireta no papel das
mudanças climáticas. Ambos, conjuntamente, são denominados de NOx (DÍAZ CÓNSUL et
al., 2004).
A concentração de CO2 atmosférico aumentou significativamente desde que as
medições começaram a ser efetuadas no Observatório Mauna Loa em 1958, passando de
menos de 1 parte por milhão por ano (ppm ano-1), antes de 1970, para mais de 2 ppm ano-1 nas
últimas décadas. A concentração era relativamente estável (280 ppm) até os anos de 1800, e
passou para 362 ppm após a Revolução Industrial (HOFMANN et al., 2009). Mesmo durante
a década de 1970, quando as emissões de combustíveis fósseis caíram drasticamente durante a
crise do petróleo de 1973, o nível antropogênico de CO2 atmosférico continuou a aumentar
exponencialmente (MUNKSGAARD et al., 2000). A concentração atmosférica de CO2
continua a aumentar, e prevê-se que atinja, aproximadamente, 700 ppm até 2100 (LAHIVE et
al., 2018).
A principal fonte mundial de liberação de CO2 para a atmosfera ainda é a queima de
combustíveis fósseis (PEREIRA et al., 2020). Por outro lado, no Brasil, a principal fonte de
CO2 são as mudanças no uso do solo e a decomposição dos resíduos (NOVAES et al., 2017).
Mesmo que as fontes de CO2 sejam interrompidas, as consequências decorrentes do
enriquecimento da atmosfera por CO2 prosseguirão ocorrendo por um ciclo não menor que o
do seu tempo de residência que varia entre 50 e 200 anos (KÖHLER et al., 2018).
Já em relação ao ciclo do nitrogênio, a concentração média é de, aproximadamente,
0,3 ppm na atmosfera, e um incremente médio de 0,25% ao ano. O N2O é um gás diretamente
relacionado com a destruição da camada de ozônio na estratosfera (WANG et al., 2020). Da
mesma forma que o CO2, as fontes principais de emissão do N2O também estão diretamente
relacionadas com a agricultura, uso do solo e desmatamento, além da indústria química
20
(BORCHARD et al., 2019). Além disso, o NO é precursor importante da fotoquímica
produção de O3, que é o principal gás de efeito estufa (DAVIDSON et al., 1998). A
agricultura contribui com, aproximadamente, 41 % das emissões globais de NO (CETESB,
2021) e os picos de emissões ocorrem em decorrência da adição de fertilizantes nitrogenados
(GAIHRE et al., 2018).
2.2 CICLOS DO C E N EM SISTEMAS EDÁFICOS E PAPÉIS DA MICROBIOTA
O impacto da atividade humana após o início da Revolução Industrial, em meados do
século XVIII, tomou proporções em escalas continentais e globais sobre o ambiente. Segundo
Ethos (2019), atividades compreendendo a queima de combustíveis fósseis para uso
industrial, residencial, queima da biomassa (desmatamento seguido de queimadas) e o uso
inadequado do solo, originam gases de efeito estufa que afetam negativamente a composição
da atmosfera. A mudança no uso da terra, causada pela transformação de florestas em áreas
para a agricultura ou pecuária, afeta as propriedades físicas e biológicas edáficas e seus efeitos
possuem impacto significativo no clima terrestre, especialmente sobre ciclos de carbono e
nitrogênio (MACHADO et al., 2005). Dentre eles, o principal ciclo biogeoquímico e o do
carbono.
Em sistemas edáficos, a atividade microbiana é a principal via de armazenamento de
carbono imobilizado, o que contribui para sequestro desse elemento em sistemas agrícolas. O
carbono da biomassa microbiana é um parâmetro diretamente relacionado com a qualidade do
solo (FLIESBACH et al., 2007; BASTIDA et al., 2008; ANTISARI et al., 2021). Ao mesmo
tempo, a comunidade de bactérias e fungos do solo exerce intensa atividade de decomposição,
e com isso os compostos orgânicos são oxidados, gerando emissão de CO2 e CH4 para a fase
gasosa (COLE et al., 2021). Assim, maiores níveis desses gases estão também intimamente
associados a solos com alta taxa de respiração, atividade e diversidade microbiana
(FRANCHINI et al., 2007; BARGETT et al., 2008)
Já o ciclo do nitrogênio compreende processos primordiais que possibilitam a síntese
de proteínas, ácidos nucleicos e outros compostos celulares essenciais para o metabolismo. A
maior parte do nitrogênio no planeta encontra-se na atmosfera como dinitrogênio (N2),
compondo cerca de 80% da mesma. Para se mover através das diferentes partes do ciclo, o
nitrogênio atmosférico deve inicialmente ser fixado, ou seja, transformado em NH3, um
21
processo que ocorre naturalmente através da ação de certos grupos de bactérias, que no caso
da soja compreendem, principalmente, espécies nodulantes do gênero Bradyrhizobium
(MYLONA et al., 1995; HUNGRIA et al., 2006). Uma vez fixado no interior da planta, o
nitrogênio encontra-se em uma forma utilizável por microrganismos e plantas.
Já a amônia produzida pela fixação biológica, principalmente no caso de bactérias
não nodulantes como Azospirillum, pode depositar-se no solo e estar suscetível a processos de
nitrificação gerando nitrato (NO3-), forma de nitrogênio preferencialmente absorvida pelas
plantas. Porém, em condições adversas de oxigenação e estrutura física do solo, o nitrato sofre
desnitrificação e o nitrogênio é então perdido para a fase gasosa nas formas de NO (óxido
nítrico) e óxido nitroso N2O, que são gases de efeito estufa (GRYSCHKO et al., 2004). Essas
perdas são acentuadas em solos com microambientes de anaerobiose, onde a atividade de
microrganismos desnitrificantes é acentuada. Nesse sentido, a coinoculação pode estimular o
desenvolvimento de raízes, como já observado em algumas culturas agrícolas (CÂNDIDO et
al., 2020), que contribuem para a aeração do solo. Além disso, as bactérias produzem
compostos polissacarídeos que contribuem positivamente para agregação e porosidade do solo
(FOSTER et al., 1990), gerando maior aeração. Dessa maneira, a coinoculação tem potencial
para diminuir as perdas de nitrogênio que ocorrem no sistema rizosférico por desnitrificação.
2.3 VARIAÇÃO TEMPORAL DE GASES DO CICLOS DO C E N NO SOLO
Em ambientes agrícolas, a produção e emissão de gases variam no tempo e no espaço
em consequência de fatores que orientam a dinâmica do C e do N no solo. A heterogeneidade
temporal decorre em função do estádio fenológico da planta, sazonalidade e práticas
agrícolas. A heterogeneidade espacial é definida pelas características edáficas, práticas
agrícolas, ação rizosférica, diferenças topográficas e variações de temperatura e umidade
(FERNANDES, 2008).
As dinâmicas do C e do N no solo estão correlacionadas entre a interação entre
plantas e microrganismos. Da mesma forma, na região da rizosfera das plantas o C está
estreitamente relacionado ao N durante os processos de mineralização e imobilização (DAI et
al., 2020).
Uma importante fonte de C para os microrganismos do solo provém da exsudação de
moléculas de baixo peso molecular liberados pela planta (GU et al., 2020). Essa liberação
afeta a dinâmica das populações de bactérias, que varia entre espécies e depende do estádio
22
fenológico e de fatores capazes de modificar a fisiologia das plantas (KORENBLUM., et al.,
2020).
O aumento da biomassa microbiana no solo incrementa a decomposição da matéria
orgânica e a demanda de N mineral na rizosfera (WANG et al., 2018), com aumento na taxa
de mineralização do N (SOINNE et al., 2021) e liberação de NH4+ e NO3- no sistema
(KIRSCHKE et al., 2019), o que pode espontaneamente induzir a uma maior emissão de
gases traço no solo.
Outro fator que deve ser considerado é a respiração do solo, que é resultante da
respiração das raízes e microrganismos heterotróficos (GIOVANETT et al., 2019). Além do
CO2, na rizosfera são encontrados acetaldeido, etanol, flavonoides, acido fórmico e outros
gases traço, que estimulam o crescimento das populações de microrganismos na rizosfera
(DON et al., 2019). Conforme Meng et al. (2018), existe uma correlação positiva entre fluxo
de CO2 no solo e biomassa de raiz.
Em solos com elevado nível de N, após fertilização, pode ocorrer diminuição da
atividade de raízes devido à menor taxa de respiração por unidade de biomassa (ZHU et al.,
2018). Isso deve-se ao fato de que plantas em solos com elevados teores de N investem
prioritariamente na parte aérea e em raízes de diâmetro menor. Pode, ainda, haver indução de
mortalidade de raízes com diâmetro inferior a 2 mm, as quais contribuem significativamente
para a respiração do solo (LOU et al., 2017).
2.4 INOCULAÇÃO E COINOCULAÇÃO DA SOJA
Diversas pesquisas científicas provam que as bactérias do gênero Bradyrhizobium
diminuíram os custos de produção e promoveram lavouras de soja mais sustentáveis no Brasil
ao eliminar completamente a necessidade de fertilização com N mineral. Caso o fornecimento
de nitrogênio para a cultura da soja fosse exclusivamente via fertilizantes, seria necessário um
total de 534kg ha-1 para uma produção média de 3000 kg ha-1, (considerando uma eficiência
de apenas 46%), a um custo médio de R$ 3.200,00 ha-1 (dezembro de 2021). O custo por
hectare da inoculação varia, conforme o produto comercial, entre R$ 2,00 a R$ 8,00. Ou seja,
com o processo de inoculação são economizados aproximadamente R$ 3.192,00 ha-1. Se
forem considerados os 37,2 milhões de hectares plantados com soja no Brasil (IBGE, 2020), a
economia proporcionada pela não utilização de adubos nitrogenados é da ordem de R$ 118,7
23
bilhões anuais, algo em torno de US$ 21,19 bilhões de dólares (EMBRAPA, 2021). Esse fato
está diretamente relacionado ao aumento da competitividade brasileira dessa commodity no
mercado mundial, já que o uso de inoculantes à base de Bradyrhizobium é hoje indispensável
para o cultivo da soja (EMBRAPA, 2021).
No Brasil, a inoculação dessa cultura é uma técnica reconhecida e recomendada há
anos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O método conhecido como
inoculação consiste em adicionar o inoculante turfoso às sementes e realizar a semeadura em
até 24 horas (HUNGRIA et al., 2001). Atualmente, quatro estirpes de microrganismos são
utilizadas para produção industrial de inoculantes para a soja, devidamente registradas no
Ministério da Agricultura: Bradhyrhizobium japonicum SEMIA 5079, Bradhyrhizobium
diazoefficiens SEMIA 5080, Bradhyrhizobium elkanii SEMIA 587 e Bradhyrhizobium elkanii
SEMIA 5019.
Porém, nos últimos anos a grande maioria de trabalhos científicos em relação à
inoculação da soja foi voltada para a introdução de outros grupos de microrganismos
juntamente a Bradyrhizobium, tais como Azospirillum, Pseudomonas, Bacillus e até mesmo
fungos leveduriformes, uma técnica denominada de coinoculação (ARAUJO; HUNGRIA,
1999). Dentre esses microrganismos, o mais estudado até o momento compreende bactérias
do gênero Azospirillum. Elas podem estar associadas à rizosfera da planta, na superfície
externa, ou também endofiticamente. Entre as principais espécies do gênero estão A.
brasilense, A. lipoferum, A. halopraeferens e A. oryzae, as quais possuem potencial para
serem utilizadas como inoculantes, particularmente em culturas cerealíferas.
Bactérias do gênero Azospirillum são capazes de promover o crescimento das plantas
por diferentes mecanismos, incluindo a biossíntese e liberação de aminoácidos, ácido
indolacético, citocininas, giberelinas e outras poliaminas, favorecendo o crescimento radicular
e, consequentemente, intensificando a absorção de água e nutrientes pelas plantas (BASHAN
et al., 2010). Além desses benefícios, Azospirillum tem a capacidade de fixar o N2 e pode,
portanto, contribuir diretamente para disponibilizar o N para espécies leguminosas
(PANKIEVICZ et al., 2015). Desta forma, o efeito de Azospirillum pode ser melhor explicado
pela "Teoria dos Mecanismos Múltiplos" formulada por Bashan e Levanony (BASHAN et al.,
1990), que assume que vários fatores podem ser responsáveis no sucesso da associação
Azospirillum-planta (BASHAN et al., 2010).
Já bactérias do gênero Pseudomonas exercem efeitos positivos na absorção de
fósforo e antibiose. Conforme Kaneko et al. (2021), o P é um elemento demandado durante
24
todo o ciclo da cultura da soja, fundamental para o crescimento, desenvolvimento vegetal e
responsável para atingir elevadas produtividades. Os teores disponíveis deste macronutriente
na solução do solo são, em geral, baixos, devido à baixa solubilidade dos compostos de P
existente no solo, e da alta habilidade de fixação do elemento pelas partículas presentes no
meio em solos tropicais (MUMBACH et al., 2018). A deficiência de fósforo na fase
vegetativa da soja está associada a plantas raquíticas, de crescimento lento, baixa estatura e
afeta negativamente a fixação simbiótica de nitrogênio, a qual exige ATP para o processo de
formação dos nódulos (GONÇALVES et al., 2020). Em caso de deficiência de fósforo na
época de formação das vagens, o florescimento e a maturação são atrasados. Além disso, a
colheita será prejudicada pois ocorre redução no porte da planta e na altura da primeira vagem
(BALBOA et al., 2019).
Segundo Durán et al. (2021), as espécies de Pseudomonas promotoras de
crescimento de plantas também exercem seu efeito benéfico pela exclusão ativa de patógenos
da rizosfera. As principais características incluem fatores alelopáticos, como toxinas,
antibióticos e proteção das plantas contra a infecção por patógenos, impulsionando a indução
de resistência sistêmica. Todos esses efeitos contribuem para o melhor desenvolvimento
vegetal, principalmente do sistema radicular. Como raízes mais expandidas proporcionam
maior agregação e porosidade do solo, há maior aeração. Com menores condições de
anaerobiose, a desnitrificação é minimizada, ocasionando maior retenção de N no solo.
2.5 IMPORTÂNCIA DO ETILENO EM CULTURAS AGRÍCOLAS
O crescimento e a senescência de folhas, flores e frutos envolvem diversas rotas
genéticas onde o etileno desempenha papel fundamental, juntamente com outros
fitohormônios, integrando diferentes sinais e permitindo o aparecimento de condições
favoráveis ou desfavoráveis à progressão de estágio, sucesso reprodutivo e longevidade do
órgão (LARRIEU et al., 2015). A produção de etileno também pode ser induzida por uma
variedade de fatores externos, como ferimentos mecânicos, tensões ambientais e interação
com vários microrganismos (HARREN et al., 2013). Mudanças no nível de etileno, sua
percepção e a interferência hormonal, regulam direta ou indiretamente o tempo de vida das
plantas. Além disso, ele promove ou inibe os processos de crescimento e senescência,
25
dependendo de sua concentração, época de aplicação e espécie de planta (COSTA et al.,
2010).
Todos os tipos de tecido e, provavelmente, todas as células das plantas superiores
produzem e liberam etileno (FOMENKOV et al., 2015). A atividade da ACC sintase (ACS)
determina a taxa de produção de etileno e, portanto, a regulação desta enzima é a chave para a
biossíntese de etileno (NORIKOSHI et al., 2022). A etapa final do etileno requer oxigênio e
envolve a ação da enzima ACC oxidase. Estresses ambientais (físicos, químicos e biológicos)
e sinais hormonais, como auxina, citocinina e até o próprio etileno, estimulam a síntese da
ACC sintase, proporcionando um meio de autorregulação de sua produção (POÓR et al.,
2021).
Na soja, mesmo em condições ambientais consideradas adequadas à cultura, há um
pico de produção de etileno durante o início do florescimento. Situação oposta ocorre com a
citocinina, que diminui sua concentração a partir do florescimento, devido ao fato deste
hormônio ser sintetizado principalmente em raízes novas, em desenvolvimento (FISHER et
al., 2018). O etileno, quando produzido em altos níveis, sensibiliza uma camada de células da
camada de abscisão, localizada no pedicelo das flores (MISHRA et al., 2008). Lima et al.
(2021) reportam que, durante a senescência foliar, a sensibilidade ao etileno nos tecidos
aumenta, bem como sua biossíntese. Em condições de déficit hídrico intenso, a difusão do
etileno no ar é maior do que na solução nutritiva do solo e, portanto, com desidratação mais
rápida nestas condições, não existe tempo hábil para efetivar respostas moleculares que
envolvam a transcrição de genes e a posterior tradução em proteínas antes da dessecação
irreversível das plantas (QIN et al., 2019). Desta forma, sugere-se que, em curtos intervalos
de déficit hídrico (25 - 50 minutos), a biossíntese deste fitohormônio e a sinalização por ele
mediada seja ainda reflexo das condições de cultivo (LUO et al., 2021). Na medida em que o
tempo de estresse aumenta, a sinalização é gradativamente reduzida, dando lugar a uma
resposta mais intensa à seca (ARRAES et al., 2015).
O papel crítico da ACC deaminase é degradar o ACC, o precursor da síntese de
etileno, em α-cetobutirato e amônia, e impedir a síntese de etileno em plantas cultivadas em
ambientes de estresse múltiplo (ALI et al., 2014). Bactérias produtoras de ACC deaminase
podem promover o crescimento da planta e aumentar a tolerância da planta à salinidade, seca,
alagamento e estresses de metal, reduzindo a produção de etileno (SUN et al., 2022).
Azospirillum brasilense não produz ACC deaminase e, portanto, não pode diminuir
níveis de etileno produzidos pelas plantas em resposta ao estresse e produção de AIA
26
bacteriana (HOLGUIN et al., 2001). No entanto, a substituição do promotor endógeno com a
Escherichia coli promotor lac, ou uma resistência a tetraciclina codificada por plasmídeo
promotor, resultou na ACC deaminase sendo expressa em A. brasilense (HOLGUIN et al.,
2003). Assim, tratamentos com A. brasilense produziram raízes mais longas no cravo (LI et
al. 2005). Da mesma forma, a inoculação com Pseudomonas sp. e produtores de ACC
deaminase causou germinação e crescimento precoce na cultura do milho (CATTELAN et al.
1999) e reduziu a incidência de doenças solos contendo fungos patogênicos como Fusarium
oxysporum, Sclerotium rolfsii e Rhizoctonia solani (HUSEN et al. 2011), além de aumentar a
tolerância a salinidade (YASMIN et al., 2020).
2.6 METODOLOGIAS PARA QUANTIFICAÇÃO DE GASES
A maior parte de trabalhos a respeito da emissão de gases na rizosfera do solo baseia-
se na atividade de respiração microbiana, ou seja, em avaliações da emissão de CO2 feitas por
captura em solução alcalina (GOMES et al., 2021). Outra metodologia é o uso de câmaras
abertas ou fechadas, de onde são retiradas amostras de gases que posteriormente são
analisadas em laboratório (COSTA et al., 2006). Porém, quantificações dessa natureza
geralmente são pontuais ao longo do ciclo de desenvolvimento das culturas agrícolas (QIAO
et al., 2009), e não permitem o completo entendimento da dinâmica gasosa e seus efeitos
sobre a qualidade do solo a médio ou longo prazo. Outro sistema desenvolvido é o de
detectores de infravermelho, porém, seu uso para outros gases, como CH4 e N2O, ainda não é
padronizado (COSTA et al., 2006).
Em relação à quantificação de outros gases, a metodologia mundialmente adotada é
de cromatografia gasosa (MONDINI et al., 2010). Entretanto, também é dependente de coleta
de amostras in loco e implica estrutura de equipamentos e reagentes, agregando um alto custo
às análises. Nesse sentido, não há nenhum sistema de quantificação de gases no solo
atualmente desenvolvido que permita um monitoramento contínuo e estime diferentes
elementos simultaneamente, sem limitações atreladas a coleta manual de amostras e dados ou
custos que inviabilizariam a execução de projetos.
O Arduíno é uma plataforma de prototipagem baseada em uma placa com
microcontrolador (MCU), uma estrutura de software para este MCU e um ambiente de
desenvolvimento integrado - IDE (BANZI et al., 2020). Desde sua introdução em 2003, a
27
plataforma Arduíno se tornou uma ferramenta muito popular para projetos de hobby com
microcontroladores. Pode ser encontrada em laboratórios de pesquisa como uma plataforma
acessível e fácil de usar para controlar vários aparelhos ou realizar experimentos em muitas
áreas (MCROBERTS, 2018).
Considerado de baixo custo, o Arduíno é muito utilizado no aprendizado de robótica
e em protótipos de experimentos científicos. Basicamente, ele é formado por uma placa
principal, o Arduíno propriamente dito, e vários sensores que podem ser acoplados à placa
principal. Todo o hardware (Arduíno e sensores) é programado através de um software da
própria fabricante e que pode ser instalado em qualquer computador pessoal (BANZI, 2011).
O sensor MQ-135 é o dispositivo principal do protótipo, ele é um tipo de sensor
químico sensível a compostos como NH3, NOx (óxido nítrico + óxido nitroso), álcool, benzol,
CO e CO2. Ele é fabricado pela Hanwei Electronics Group Corporation, fundada em 1998,
que é a maior fabricante de sensores e instrumentos de gás e a principal fornecedora de
soluções de IoT (Internet das Coisas) baseadas em sensores na China (HANWEI, 2021).
Este sensor é feito com um tubo de cerâmica de Óxido de alumínio (Al2O3), uma
camada sensível de Dióxido de estanho (SnO2), um eletrodo fixo e sistema de medição de
aquecimento na crosta feito de plástico e tecido de aço. O sensor possui pinos, dos quais 4 são
usados para recuperar os dados do sinal, e os demais são usados para fornecer correntes de
aquecimento (HAREVA et al., 2019).
O sensor funciona efetuando leituras nas mudanças no valor da resistência analógica
quando exposto ao gás. Este sensor é amplamente utilizado no mundo para marcadores de
perigo de poluição, pois é prático e não consome muita energia. O ajuste da sensibilidade do
sensor é determinado pelos diferentes valores de resistência do MQ-135 para várias
concentrações de gases. Portanto, ao usar este componente, o ajuste de sensibilidade se faz
necessário. O sensor fica conectado a uma placa programável, Arduíno Uno R3, que é
responsável pelo processamento dos dados do experimento.
A resistência do sensor de gás diminui conforme a concentração do gás poluente
aumenta. O valor da tensão é lido pelo Arduíno e é representado em uma escala adimensional
entre 0 e 1023, comumente conhecida como conversão analógica para digital (ADC).
Portanto, quanto maior a concentração de gases, menor será a resistência entre os pontos A e
B.
O desenvolvimento de uma indústria móvel madura e de um computador pessoal,
acompanhado de plataformas de sensores Arduíno, que podem ser conectadas ao sistema em
28
nuvem pela internet, deu origem à tecnologia IoT. Diante disso, como o sensor, juntamente
com o Arduíno e seus componentes, são adaptáveis a ambientes fora do laboratório, buscou-se
implementar uma ferramenta que fosse capaz de realizar leituras de concentração de gases em
condições de casa de vegetação.
29
3 MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em condições de casa de vegetação na Universidade
Federal de Santa Catarina, no município de Curitibanos/SC (Latitude: 27° 16' 60'' Sul,
Longitude: 50° 35' 7'' Oeste) com duração entre agosto e dezembro de 2021, com parte da
coleta de dados automatizada. Este experimento foi estabelecido em um delineamento
inteiramente casualizado (DIC), com dois tratamentos e onze repetições.
O solo utilizado no experimento foi proveniente da Fazenda Agropecuária da
Universidade Federal de Santa Catarina. Foi realizada uma análise química e o mesmo foi
posteriormente peneirado.
Cada vaso utilizado no experimento possuía capacidade para 11 litros, recebendo
cada um deles o volume de 10 litros de solo (total de 0,40m3). Levando em consideração que
1 hectare, considerando-se a profundidade de 0-20 cm, possui 2000 m3 de solo e que o índice
SMP da análise foi de 4,9 chegou-se à necessidade de 10,7t ha-1 para a correção do solo e,
portanto, 2,14kg de calcário para os 40 vasos do experimento. Através da calagem buscou-se
a correção do pH do solo de 5,0 para 6,0, visando produtividade de 5t ha-1 para um solo nunca
antes cultivado.
O solo foi inserido em uma betoneira com capacidade de 150 L para a adubação e
calagem de forma homogênea e que atendesse à análise realizada anteriormente e às
especificações técnicas contidas no Manual de adubação e calagem para os estados do Rio
Grande do Sul e Santa Catarina (MANUAL, 2010).
Juntamente com a incorporação do calcário, foi realizada a adubação de base com K
e P nos vasos de todos os tratamentos. Foram utilizados e incorporados de forma homogênea
ao solo dois fertilizantes: KCl e Supertriplo. Com relação ao potássio, a recomendação de
adubação total para a cultura foi de 0,185 t ha-1, sendo parcelados na base e em cobertura. Já
em relação ao supertriplo, a recomendação calculada foi de 0,185 t ha-1.
Os fertilizantes potássicos e fosfatados foram homogeneizados no solo com auxílio
de betoneira. Após essa etapa, foi feito o acondicionamento do solo nos vasos (Figura 1A).
Em seguida, cada vaso foi saturado com água e aguardou-se um intervalo de 48 h. Cada vaso
foi então mantido fechado e impermeabilizado com auxílio de sacos plásticos na bancada da
casa de vegetação em condição de capacidade de campo. Aguardou-se um período de 60 dias
para que ocorresse a reação do solo com o calcário aplicado (Figura 1B).
30
Figura 1A - Aspectos dos vasos do experimento, contendo solo - Figura 1B - Vasos vedados com saco plástico para período de repouso por 60 dias.
Fonte: Autor (2021)
3.1 INOCULAÇÃO, COINOCULAÇÃO E SEMEADURA
A cultivar de soja utilizada foi a BMX Zeus, que foi adquirida na empresa Cultivar
distribuidora de insumos agrícolas de Curitibanos – SC. Inicialmente foi realizado o
tratamento químico das sementes com o produto Standak Top, na dose de 2 mL kg-1 de
semente.
As sementes dos tratamentos T1 receberam inoculação com bactérias fixadoras de
nitrogênio da espécie Bradyrhizobium japonicum e Bradyrhizobium diazoefficiens, na dose de
2 mL kg–1 (Figura 2), por meio do inoculante comercial líquido TotalNitro. As sementes dos
tratamentos T2 receberam também o tratamento de coinoculação, onde adicionou-se o
inoculante utilizado no T1 em associação com um segundo inoculante comercial, Biofree. Ele
é composto pelas espécies Azospirillum brasilense e Pseudomonas fluorescens, e foi utilizado
na dose de 3 mL kg-1 de sementes, conforme recomendação do fabricante.
1A 1B
31
Figura 2 - Aplicação de inoculante sobre as sementes.
Fonte: Autor (2021)
A semeadura ocorreu no dia 20/08/2021. Em cada vaso, foram semeadas 5 sementes
(Figura 3B) a 4 cm de profundidade (Figura 3A). Em seguida, cada vaso foi irrigado com 500
mL de água. A água utilizada no experimento provém de um poço artesiano localizado na
própria área da universidade.
Figura 3A - Detalhe de abertura do solo para inserir a semente - Figura 3B - Disposição das sementes em torno da estrutura que comporta os sensores, dentro de cano plástico.
Fonte: Autor (2021)
3A 3B
32
3.2 ESTABELECIMENTO DO SISTEMA DE CAPTAÇÃO DE LEITURA DE GASES
O protótipo de Arduíno desenvolvido no presente projeto é uma metodologia inédita
para mensuração de gases no solo, e supera todas as limitações práticas apresentadas por
outros sistemas desenvolvidos até o momento.
O sensor ficou conectado a uma placa programável Arduíno Uno R3, que foi
responsável pela medição dos níveis de CO2, C2H4, NH3 e NOx, coletados no experimento.
Os dados coletados pelo sensor (valor de R) foram correlacionados com a resistência
inicial (R0) e, diante disso, foi possível, através de uma equação exponencial e da curva
disponibilizada pelo fabricante (Figura 4), o valor correspondente à concentração do gás no
atual momento. É possível observar pelo gráfico 9 que existe uma correlação negativa, ou
seja, quanto maior a resistência do sensor, menores são as concentrações dos gases.
Figura 4 - Curva da concentração de gases, na escala log, de acordo com o fabricante do sensor.
Fonte: Hanwei Electronics Group Corporation (2021)
3.3 OPERAÇÃO DO DISPOSITIVO
O sistema geral de captação de dados é um protótipo de Arduíno (Figura 5). Ele
consiste em uma matriz composta por um microcontrolador Arduíno Uno (Figura 6A) e um
33
sensor MQ-135 (Figura 6B), um módulo gravador de dados de cartão SD e um software
desenvolvido para captura e gravação no cartão SD.
Figura 5 - Protótipo de Arduíno, que consiste em um esquema e sistema de captação de concentração de gases.
Fonte: Autor (2021)
Figura 6A - Arduíno - Figura 6B: Sensor MQ-135.
Fonte: Autor (2021)
Antes de iniciar as medições, os sensores foram pré-aquecidos por 48 h e calibrados
conforme recomendação do próprio fabricante.
6B 6A
34
Esse sensor foi colocado em um cano de PVC-V 6,3” com 15 cm de comprimento, em
posição vertical e mantido com 12,5 cm abaixo do solo e 2,5 cm acima da linha do solo
(Figura 7A). Ambas aberturas, superior e inferior do PVC, foram revestidas com filme
plástico de parafina para impedir a entrada de água, porém, permitindo trocas gasosas (Figura
7B). A placa principal do Arduíno foi revestida evitando, desta forma, a umidade (Figura 8A).
A Figura 7A mostra o sensor já instalado na região próxima à rizosfera das plantas de soja.
Figura 7A - Sensor dentro do tubo subterrâneo - Figura 7B - Sensor isolado com parafilme.
Fonte: Autor (2021)
Figura 8A - Arduíno protegido por garrafas plásticas.
Fonte: Autor (2021)
A leitura dos dados ocorreu entre 27/08/2021 e 21/12/2021. Seguindo
recomendações do fabricante, nas primeiras 48 horas de operação do dispositivo, as leituras
8A
7A 7B
36
período de cinco dias. Após secagem, o material foi pesado novamente para quantificação de
massa de nódulos, raízes e parte aérea seca.
3.5 COLETA DE DADOS EM MATURAÇÃO PLENA
No dia 21/12/2021, 119 dias após emergência, quando as plantas se encontravam em
estádio de maturação plena (R8), foram coletados os dados finais dos gases CO2, C2H4, NH3 e
NOx que estavam sendo armazenados nos cartões SD. Após estas coletas, todo o Arduíno foi
desligado e as plantas não foram mais irrigadas.
Primeiramente, foram coletados os dados da altura de inserção da primeira vagem
das plantas. Em seguida, foi realizada a separação da parte aérea da radicular, cortando em
nível do solo. As raízes foram lavadas e, para secagem, permaneceram 5 dias na estufa a
60ºC. Decorrido esse período foram retiradas e pesadas (Figura 10) em uma balança analítica
para a obtenção da massa de raízes secas.
Procedeu-se à contagem manual do número de vagens por planta e, posteriormente,
as vagens foram abertas para contagem do número total de grãos por planta. O número médio
de grãos por vagem foi estimado com base na relação entre o número total de grãos por planta
dividido pelo número de vagens.
Os grãos de cada planta foram posteriormente acondicionados separadamente em
sacos de papel pardo e levada à estufa de circulação forçada com temperatura média de 60ºC
por um período de cinco dias. Após 5 dias na estufa, os grãos foram retirados da estufa e
pesados em uma balança analítica para a obtenção da massa de grãos por planta. Para a
obtenção da massa de mil grãos foi utilizada uma regra de três simples, de acordo com o
número de grãos por planta e a massa total dos grãos da planta.
Para o cálculo da produtividade foram levados em consideração 289 mil plantas/ha
(13 plantas por metro de linha e espaçamento entre linhas de 0,45cm), com correção para 13%
de umidade dos grãos.
37
Figura 10 - Raízes sendo submetidas à pesagem.
Fonte: Autor (2021)
3.6 ANÁLISE DE DADOS
Os dados obtidos foram submetidos ao teste de normalidade e, posteriormente, foi
realizada a análise de variância. Quando detectadas diferenças significativas, as médias foram
comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade utilizando o pacote do R: GExpDes
(KORMANN et al., 2019).
Para a análise de correlação das variáveis contínuas foi realizado o teste de
correlação de Pearson, utilizando o software Statistica (2022), versão 13.5.0.17 da TIBCO
Software Inc. O mesmo programa foi adotado para a geração dos gráficos de médias
marginais (com intervalo de confiança a 95%) e os gráficos 3D de superfície.
38
4 RESULTADOS
4.1 CRIAÇÃO DO PROTÓTIPO E PROGRAMAÇÃO DO ARDUÍNO
O protótipo atendeu às expectativas esperadas com relação a medições de
concentração de gases em tempo real. Durante as fases iniciais de teste de software, e de
calibração dos sensores, foram realizadas alterações no código de programação e que, desta
forma, atenderam aos objetivos do trabalho. Dentre as alterações realizadas, podem-se citar a
alteração das gravações de leituras dos sensores, que passaram a ser gravadas de 5s para 1h e
a programação para que cada Arduíno trabalhasse com dois ou três sensores simultaneamente.
4.2 DADOS DE GERMINAÇÃO DA SOJA
A tabela 1 apresenta a quantidade de vasos por tratamento que alcançaram o estádio
de Emergência.
Tabela 1- Quantidade de vasos por tratamento que alcançaram o estádio VE em dias após o
plantio de plantas de soja (Glycine max). Tratamento 4 dias 7 dias 11 dias 18 dias
T1 6 9 11 11 T2 10 11 11 11
T1: Inoculação com Bradyrhizobium japonicum e Bradyrhizobium diazoefficiens.
T2: Inoculação + coinoculação com Azospirillum brasilense e Pseudomonas fluorescens.
4.3 ALTURA E FENOLOGIA ENTRE 3 E 35DAE
A tabela 2 apresenta os valores médios da altura (cm), demonstrando desta forma a
evolução cada tratamento em dias após a emergência.
Tabela 2 - Valores médios da altura (cm) de plantas de soja (Glycine max) em dias após
emergência. Tratamento 3 DAE 7 DAE 14 DAE 21 DAE 28 DAE 35DAE
T1 3,54* 6,95* 14,96* 19,40* 27,84* 36,0* T2 3,71 6,31 14,88 19,65 27,42 37,0
CV (%) 41,94 27,44 8,47 10,20 8,85 10,07 Valor-p 0,77 0,38 0,87 0,74 0,66 0,49
*: Médias não diferem estatisticamente entre si. T1: Inoculação com Bradyrhizobium japonicum e Bradyrhizobium diazoefficiens.
T2: Inoculação + coinoculação com Azospirillum brasilense e Pseudomonas fluorescens.
39
4.4 EMISSÃO DE GASES ENTRE 7 E 35DAE
O gráfico 1 apresenta a evolução da concentração média entre os tratamentos de CO2
entre 7 e 35 DAE. Os resultados apresentam uma concentração menor de CO2 nas primeiras
cinco partes do período analisado em T1 na comparação com T2. A partir dos 32 DAE,
aproximadamente, não é possível indicar diferença significativa entre ambos os tratamentos.
Gráfico 1 – Médias marginais da evolução da concentração de CO2 entre 7 e 35 DAE com intervalo de confiança a 95%.
Fonte: Autor (2021)
No gráfico 2 é demonstrada a evolução da concentração média entre os tratamentos
de C2H4 entre 7 e 35 DAE. Os resultados apresentam uma evolução na concentração de C2H4
em ambos os tratamentos logo no início do período analisado (até 11 DAE), seguido de uma
menor evolução na sua concentração até 35 DAE. Da mesma forma que em CO2, na última
40
parte do período analisado não é possível indicar diferença significativa entre ambos os
tratamentos.
Gráfico 2 - Médias marginais da evolução da concentração de C2H4 entre 7 e 35DAE com intervalo de confiança a 95%.
Fonte: Autor (2021)
No gráfico 3 apresenta-se a evolução da concentração média entre os tratamentos de
NH3 entre 7 e 35 DAE. Os resultados apresentam uma visível evolução na concentração de
NH3 no T2, principalmente a partir de 21 DAE.
41
Gráfico 3 - Médias marginais da evolução da concentração de NH3 entre 7 e 35DAE com intervalo de confiança a 95%.
Fonte: Autor (2021)
A evolução da concentração média NOx entre 7 e 35 DAE é demonstrada no Gráfico
4. Observou-se uma tendência de queda ao longo do período e, na maior parte do tempo, os
valores de NOx foram menores no tratamento de coinoculação.
42
Gráfico 4 - Médias marginais da evolução da concentração de NOX entre 7 e 35 DAE com
intervalo de confiança a 95%.
Fonte: Autor (2021)
A tabela 3 apresenta os Coeficientes de Correlação de Pearson (r) entre estádio,
altura e a concentração de gases analisados aos 35 DAE. A análise de CCP mostra uma
correlação positiva significativa (p <0,05) entre altura e NH3, CO2.
Tabela 3 - Coeficientes de correlação de Pearson (r) entre estádio vegetativo, altura e a média
de concentração de gases analisados em plantas de soja (Glycine max) aos 35 dias após emergência.
Variável Estádio
Altura
NH3
CO2
C2H4
NOx
Estádio
1,000 0,256 0,257 0,363 0,036 -0,210
Altura
1,000 0,401* 0,519* 0,339 -0,299
NH3
1,000 0,707* 0,231 -0,486*
CO2
1,000 0,523* -0,462*
C2H4
1,000 -0,003
NOx
1,000 Correlação linear positiva quando valores de r ficam próximos a 1 (azul na tabela) enquanto que quando o coeficiente r se aproxima de -1 (vermelho na tabela) existe a correlação negativa ou inversa, por outro lado valores de r próximos a 0 indicam que não há relação entre as duas variáveis. * = valores de correlação que
apresentam P-valor com coeficiente significativo a 5%.
43
4.5 NODULAÇÃO E CRESCIMENTO VEGETATIVO AOS 35DAE
A tabela 4 apresenta os valores médios da massa de raízes frescas (g), massa de
raízes secas (g), massa de parte aérea fresca (g) e massa de parte aérea seca (g) aos 35 DAE.
Não houve diferença na massa da parte aérea fresca entre T1 e T2. Da mesma forma, não
houve diferença em relação a massa de raízes frescas, massa parte aérea seca e massa de
raízes secas.
Tabela 4 - Valores médios da massa de raízes frescas (g), massa de raízes secas (g), massa de parte aérea fresca (g) e massa de parte aérea seca (g) de plantas de soja (Glycine max) 35 dias
após emergência e seus respectivos coeficientes de variação (CV%) Tratamento Massa de raízes
frescas Massa de raízes
secas Massa de parte
aérea fresca Massa de parte
aérea seca T1 13,15* 1,65* 18,41* 3,37* T2 12,07 1,51 17,53 3,20
CV (%) 23,10 21,66 25,21 24,9 Valor-p 0,53 0,50 0,74 0,72
*: Médias não diferem estatisticamente entre si. T1: Inoculação com Bradyrhizobium japonicum e Bradyrhizobium diazoefficiens.
T2: Inoculação + coinoculação com Azospirillum brasilense e Pseudomonas fluorescens.
Já na tabela 5 exibem-se os valores médios de número total de nódulos, número de
nódulos > 2mm, número de nódulos viáveis e a massa de nódulos frescos (g) aos 35 DAE.
Não houve diferença em nenhuma das características avaliadas.
Tabela 5 - Valores médios de número total de nódulos, número de nódulos > 2mm, número de
nódulos viáveis e a massa de nódulos frescos (g) de plantas de soja (Glycine max) 35 dias após emergência e seus respectivos coeficientes de variação (CV%)
Tratamento Número total de
nódulos Número de
nódulos > 2mm
Número de nódulos viáveis
Massa de nódulos frescos
T1 38,00* 17,50* 16,16* 0,13* T2 38,50 11,83 10,33 0,13
CV (%) 33,6 36,74 34,27 39,19 Valor-p 0,94 0,09 0,05 0,95
*: Médias não diferem estatisticamente entre si. T1: Inoculação com Bradyrhizobium japonicum e Bradyrhizobium diazoefficiens.
T2: Inoculação + coinoculação com Azospirillum brasilense e Pseudomonas fluorescens.
44
4.6 CORRELAÇÕES ENTRE VARIÁVEIS EXPERIMENTAIS AOS 35DAE
Na tabela 6 apresentam-se os Coeficientes de correlação de Pearson (r) entre
variáveis experimentais analisados aos 35 DAE. Houve uma correlação positiva significativa
(p <0,05) entre número de nódulos >2mm e número de nódulos ativos. Podem-se também
destacar relações entre massa da parte aérea fresca e nódulos frescos, massa da parte aérea
fresca e NH3 e CO2, bem como massa de parte aérea seca e C2H4 e CO2.
45
Tabela 6 - Coeficientes de correlação de Pearson (r) entre variáveis experimentais analisadas em plantas de soja (Glycine max) em 35 dias após emergência e médias de concentração de gases.
Variável Número total de nódulos
Número de nódulos
> 2mm
Número de nódulos
viáveis
Massa de nódulos
frescos (g)
Massa da parte aérea fresca (g)
Massa de raízes
frescas (g)
Massa de nódulos secos (g)
Massa parte aérea
seca (g)
Massa de raízes secas
(g)
NH3
CO2
C2H4
NOx
Número total de nódulos
1,000 0,670* 0,635* 0,467 0,456 0,398 0,494 0,535 0,579* 0,544 0,236 0,163 -0,227
Número de nódulos > 2mm
1,000 0,941* 0,495 0,420 0,289 0,684 0,459 0,355 0,397 0,053 0,160 -0,368
Número de nódulos viáveis
1,000 0,532* 0,517 0,392 0,730* 0,538 0,499 0,437 0,080 0,088 -0,481
Massa de nódulos frescos
(g)
1,000 0,859* 0,735* 0,763* 0,865* 0,482 0,864* 0,713* 0,620* -0,009
Massa da parte aérea fresca (g)
1,000 0,917* 0,724* 0,990* 0,780* 0,916* 0,774* 0,656* -0,137
Massa de raízes frescas (g)
1,000 0,545 0,921* 0,829* 0,757* 0,668* 0,531 -0,211
Massa de nódulos secos (g)
1,000 0,764* 0,489 0,649* 0,549 0,387 -0,369
Massa parte aérea seca (g)
1,000 0,796* 0,908* 0,784* 0,652* -0,118
Massa de raízes secas (g)
1,000 0,680* 0,444 0,250 -0,109
NH3
1,000 0,789* 0,693* -0,188
CO2
1,000 0,870* -0,226
C2H4
1,000 -0,250 Correlação linear positiva quando valores de r ficam próximos a 1 (azul na tabela) enquanto que quando o coeficiente r se aproxima de -1 (vermelho na tabela) existe a
correlação negativa ou inversa, por outro lado valores de r próximos a 0 indicam que não há relação entre as duas variáveis. * = valores de correlação que apresentam P-valor com coeficiente significativo a 5%.
46
4.7 ANÁLISES EM MATURAÇĀO PLENA
Apresenta-se na tabela 7 os valores médios da altura de inserção da primeira vagem
(cm), vagens por planta, grãos por planta e grãos por vagens aos 116 DAE. Não houve
diferença na altura de inserção da primeira vagem entre T1 e T2. Da mesma forma, não houve
diferença em relação ao número de vagens por planta, grãos por planta e grãos por vagens.
Tabela 7 - Valores médios de inserção da primeira vagem (cm), vagens por planta, grãos por planta e grãos por vagens de soja (Glycine max) 116 dias após emergência e seus respectivos
coeficientes de variação (CV%)
Tratamento Altura de inserção da primeira vagem
Vagens por planta
Grãos por planta Grãos por vagens
T1 5,5 * 37,8 * 93,0 * 2,46 * T2 5,0 35,0 86,2 2,4
CV (%) 35,32 12,16 7,72 6,81 Valor-p 0,68 0,34 0,15 0,78
*: Médias não diferem estatisticamente entre si. T1: Inoculação com Bradyrhizobium japonicum e Bradyrhizobium diazoefficiens.
T2: Inoculação + coinoculação com Azospirillum brasilense e Pseudomonas fluorescens.
A tabela 8 apresenta os valores médios de massa de grãos por planta (g), massa de
mil grãos (g), produtividade de grãos (kg ha-1) e massa de raízes secas (g) aos 116 DAE. Não
houve diferença significativa entre nenhuma variável estudada.
Tabela 8 - Valores médios de massa de grãos por planta (g), massa de mil grãos (g),
produtividade de grãos (kg ha-1) e massa de raízes secas (g) (Glycine max) 116 dias após emergência e seus respectivos coeficientes de variação (CV%)
Tratamento Massa de grãos por planta (g)
Massa de mil grãos (g)
Produtividade de grãos (kg ha-1)
Massa de raízes secas (g)
T1 25,2 * 268,0 * 8138,1 * 5,2 * T2 23,2 269,4 7601,9 4,3
CV (%) 13,57 16,77 9,93 21,91 Valor-p 0,23 0,84 0,41 0,12
*: Médias não diferem estatisticamente entre si. T1: Inoculação com Bradyrhizobium japonicum e Bradyrhizobium diazoefficiens.
T2: Inoculação + coinoculação com Azospirillum brasilense e Pseudomonas fluorescens.
47
4.8 EVOLUÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE GASES E SUA CORRELAÇÃO COM
DADOS DE MATURAÇĀO PLENA
No gráfico 5 apresenta-se a variação na concentração de CO2 durante todo o ciclo da
soja. Em grande parte do período analisado, a concentração de CO2 no tratamento T1 foi
inferior a T2, porém, nos três períodos finais analisados, essa diferença não pode ser
considerada significativa. Portanto, maiores valores de CO2, relacionados à maior atividade
microbiológica, foram identificados com a coinoculação na maior parte do experimento. As
maiores concentrações do referido gás foram captadas entre 40 e 71 DAE, durante a fase de
enchimento de grãos.
Gráfico 5 - Médias marginais da evolução da concentração de CO2 entre 7 e 116 DAE com intervalo de confiança a 95%.
Fonte: Autor (2021)
No gráfico 6 exibe-se a variação na concentração de C2H4 durante todo o ciclo da
soja. A concentração de etileno aumentou progressivamente até os primeiros 30 dias,
48
aproximadamente, período que coincidiu com o início do florescimento das plantas. A partir
dessa data, observou-se uma diminuição sucessiva que continuou até os 90 DAE. Em seguida,
houve uma leve alta na concentração do referido gás em todos os tratamentos, período em que
as plantas se encontram no estádio de maturação plena.
Gráfico 6 - Médias marginais da evolução da concentração de C2H4 entre 7 e 116 DAE com intervalo de confiança a 95%.
Fonte: Autor (2021)
O gráfico 7 apresenta-se a variação na concentração de NH3 ao longo do estudo.
Houve uma elevação na concentração de NH3 em todos os tratamentos até aproximadamente
50 DAE, seguidos de uma queda gradual em sua concentração até o final do período
analisado.
49
Gráfico 7 - Médias marginais da evolução da concentração de NH3 entre 7 e 116 DAE com intervalo de confiança a 95%.
Fonte: Autor (2021)
Por fim, no gráfico 8 demonstra-se a variação na concentração de NOx. Desde o
início do experimento houve uma queda gradativa na concentração dos referidos gases, até o
final do ciclo. Com exceção de alguns períodos finais analisados, o T2 foi o tratamento com
menores concentrações de NOx.
50
Gráfico 8 - Médias marginais da evolução da concentração de NOx entre 7 e 116 DAE com intervalo de confiança a 95%.
Fonte: Autor (2021)
Na tabela 9 são apresentados os coeficientes de Correlação de Pearson (r) entre
variáveis experimentais analisados após 116 DAE.
Das múltiplas variáveis analisadas na análise de CCP observa-se uma correlação
positiva significativa (p <0,05) ou negativa significativa (p <0,05) entre várias variáveis
analisadas. A correlação foi positiva e significativa (p <0,05) entre número médio de grãos
por vagem e NH3, número médio de grãos por vagem e NOx, massa de raízes secas e NOX..
.
51
Tabela 9 - Coeficientes de Correlação de Pearson (r) entre variáveis experimentais analisadas em plantas de soja (Glycine max) após 116 dias após emergência e médias de concentração de gases.
Variável
Altura inserção da
primeira vagem (cm)
Número de vagens
Número de grãos
Número médio de grãos por
vagem
Massa de grãos por planta (g)
Massa mil grãos (g)
Produtividade de grãos (kg ha-1)
Massa de raízes
secas (g)
NH3
CO2
C2H4
NOx
Altura inserção da primeira vagem
(cm)
1,000 -0,475 -0,329* 0,488* -0,305* -0,129 -0,305* 0,252* 0,023* -0,286* -0,573* 0,155*
Número de vagens
1,000 0,912* -0,830* 0,901* 0,438 0,901* 0,144* -0,529* -0,326* -0,015* 0,324*
Número de grãos
1,000 -0,539* 0,933* 0,328 0,933* 0,162* -0,461* -0,504* -0,065* 0,474*
Número médio de grãos por vagem
1,000 -0,625* -0,516 -0,625* -0,027* 0,434* 0,048* -0,061* -0,088*
Massa de grãos por planta (g)
1,000 0,645 1,000* -0,053* -0,435* -0,376* -0,050* 0,334*
Massa mil grãos (g)
1,000 0,645 -0,501 -0,150 0,080 0,033 -0,115
Produtividade de grãos (Kg ha-1)
1,000 -0,053* -0,435* -0,376* -0,050* 0,334*
Massa de raízes secas (g)
1,000 -0,411* -0,529* -0,417* 0,520*
NH3
1,000 0,289* 0,358* -0,112*
CO2
1,000 0,092* -0,694*
C2H4
1,000 -0,442* Correlação linear positiva quando valores de r ficam próximos a 1 (azul na tabela) enquanto que quando o coeficiente r se aproxima de -1 (vermelho na tabela) existe a
correlação negativa ou inversa, por outro lado valores de r próximos a 0 indicam que não há relação entre as duas variáveis. * = valores de correlação que apresentam P-valor com coeficiente significativo a 5%.
52
No gráfico 9 temos a correlação superfície entre média de NH3, altura de inserção da
primeira vagem (cm) e número de grãos onde é possível observar que plantas com menores
concentrações de NH3 e maiores alturas de inserção da primeira vagem (cm) foram as que
apresentaram os menores números de grãos por planta.
Gráfico 9 – Correlação 3D de superfície entre média de NH3, altura de inserção da primeira
vagem (cm) e número de grãos aos 116 dias após emergência.
Fonte: Autor (2021)
53
5 DISCUSSĀO
O presente estudo representa um avanço singular e de extrema aplicabilidade para
avanços da interface entre tecnologia de informação, microbiologia agrícola e produção de
soja. A metodologia desenvolvida permitiu um entendimento completo e contínuo da
dinâmica de gases ao longo do ciclo da cultura da soja, o que até o presente momento não foi
reportado em nenhum trabalho literário em nível nacional ou internacional.
Até o momento não existem na literatura referências sobre o desenvolvimento de um
protótipo em Arduíno semelhante a este. Os projetos mais próximos são de Araujo et al.
(2019), com a quantificação de CO2 na palhada de soja e os trabalhos realizados na Indonésia.
Um exemplo é o trabalho de Muhammad (2021), realizado com um fotobiorreator de
microalgas, em laboratório, medindo a concentração de CO2 em tempo real. Porém, nenhum
desses sistemas foi desenvolvido para monitoramento em sistemas edáficos, o que é algo
inédito em nível mundial. Além disso, outro grande diferencial do protótipo aqui apresentado
é a possibilidade e facilidade de adaptação aos mais diversos ambientes. Com pequenas
adaptações na sua estrutura de proteção, fica possível sua utilização em ambientes controlados
ou em condições a campo. É possível, por exemplo, a sua integração com pequenos painéis
solares acoplados a baterias seladas de longa duração. Diante disso, é possível sua utilização
em lugares remotos e sem o seu constante monitoramento.
Resultados semelhantes com a programação do Arduino e o sensor MQ-135 foram
alcançados por Karar et al. (2020), com um sistema de monitoramento de ar, integrado ao
Android, na Universidade de Cornell. O objetivo principal desse experimento foi de se criar
um sensor de alerta, para elevadas concentrações de gases, em tempo real e via aplicativo de
celular, que levariam risco à saúde humana. Karar e colaboradores desenvolveram um sistema
de classificação do ar de acordo com a concentração de gases. Porém, a concentração dos
gases de forma individual, diferentemente do trabalho aqui desenvolvido, não foi realizada.
Os dados de desenvolvimento da soja coletados até os 35 DAE, em sua maioria, não
refletiram efeitos positivos da coinoculação em comparação com a inoculação. Segundo
Mendes et al. (2010), as bactérias promotoras de crescimento possuem a capacidade de
aumento no número de pelos radiculares em plântulas de soja. Porém, em relação à
germinação, raros são os trabalhos relatados na literatura, semelhantes ao trabalho aqui
apresentado, que comparem a germinação de sementes de soja coinoculadas com a
inoculação. Em estudos realizados por Ferlini (2006) houve aumento na velocidade de
54
emergência nas plantas tratadas com Azospirillum. Segundo o mesmo autor, a velocidade de
emergência nas plantas coinoculadas foi maior, pois elas emergiram entre 1 ou 2 dias antes, o
que significa uma diferença entre 25% e 40% maior que o controle. No trabalho aqui
apresentado, 90,90% dos vasos de T1 apresentaram plantas em VE em apenas 4 dias após o
plantio, enquanto que em T1 esse valor foi de 54,54%. Da mesma forma, a inoculação com
Pseudomonas sp. ocasionou 100% de germinação na cultura do milho após 7 dias de plantio,
em experimento de testes de germinação conduzido por de Cattelan et al. (1999). Essa
germinação mais acelerada pode favorecer algumas situações de atraso de plantio ou janela de
plantio curto, e representa um aspecto vantajoso, já que quanto mais cedo germinar, menos
suscetível são as plantas ao ataque de patógenos do solo.
Já a nodulação das plantas é um aspecto de grande importância para as plantas, pois
indica a presença das bactérias responsáveis pela fixação biológica de nitrogênio, que
suportará o desenvolvimento da cultura (HUNGRIA et al., 2020). Durante a fase de floração
da cultura da soja, observou-se a presença de 15 a 30 nódulos por planta, ou 100 e 200 mg de
nódulos secos por planta, indicando uma boa nodulação em T1 e T2. Segundo Ferlini (2006),
Azospirillum brasilense tem a capacidade de produzir fitohormonios (auxinas, giberelinas,
citocininas e etileno) que podem contribuir para um maior desenvolvimento do sistema
radicular e maior produção de nódulos. Estes hormônios atuam nas células das raízes,
promovendo divisões celulares, com afrouxamento das paredes celulares e,
consequentemente, maior crescimento de tecidos. Segundo Pommorsky (2015), a combinação
de microrganismos pode aumentar em 84% o número de nódulos, quando comparado ao
tratamento que utiliza somente bactérias simbiontes de soja. Outros trabalhos, como o de
Guimarães et al. (2021), analisaram tratamentos contendo diferentes doses de Pseudomonas
fluorescens em conjunto à inoculação. O tratamento com 50% de adubação fosfatada e
coinoculação com P. fluorescens resultou em maior número de nódulos por planta (32,06) e
massa seca de nódulos (459,62 mg). Assim, esperava-se maior número e massa de nódulos no
tratamento de coinoculação, porém, essa observação não foi confirmada. O mesmo já foi
registrado por outros autores, como Magro et al (2016), que avaliaram a coinoculacao com B.
japonicum e A. brasilense e outro tratamento com B. japonicum, A. brasilense, P. fluorescens
e R. tropici. A nodulação não foi diferente entre os tratamentos, apresentando uma média
geral de 35 nódulos por planta. Da mesma forma, não houve diferenças em função da
55
coinoculação com B. japonicum e A. brasilense, no ensaio conduzido na Lapa/PR por
Pacentchuk et al. (2020).
Tanto a altura como a parte aérea das plantas estão diretamente relacionadas com
produção fotossintética pois, plantas mais bem desenvolvidas apresentam maior área foliar e
consequentemente, maior potencial de fotossíntese pela planta. Desta forma, há maior
produção de fotoassimilados, maior potencial produtivo e maior incorporação de CO2 durante
a fotossíntese, o que contribui para remoção de CO2 atmosférico e redução do efeito estufa.
Normalmente, na literatura são encontrados diversos trabalhos relatando o potencial da
coinoculação com A. brasilense e P. fluorescens como estimulantes de crescimento de parte
aérea. A aplicação de A. brasilense, segundo Araújo (2019), também promove maior
capacidade de translocação de fotoassimilados, impulsionando o desenvolvimento das plantas.
Por outro lado, bactérias do gênero Pseudomonas também contribuem para a promoção do
crescimento das plantas (HUNGRIA et al., 2021). Entretanto, apesar da coinoculação, não
houve efeito dos tratamentos sobre altura ou parte aérea. Resultados semelhantes foram
relatados por Braccini et al. (2016) e Finoto et al. (2017) ao avaliarem a coinoculação de
Bradyrhizobium japonicum e Azospirillum brasilense na soja.
A exemplo das variáveis de início de ciclo, as relacionadas à produção e à
produtividade também não refletiram em efeitos positivos da coinoculação. A altura de
inserção da primeira vagem é uma variável importante quando da colheita da soja. Segundo
Lima et al. (2009), a baixa altura de inserção das primeiras vagens afeta negativamente a
produtividade e aumenta as perdas de produção na cultura devido à colheita mecanizada. Da
mesma forma, Viera et al. (2021) citam que a altura de inserção das primeiras vagens esta
positivamente correlacionada com a altura de plantas e, como a soja e uma planta na qual a
colheita e realizada principalmente de forma mecanizada, estas características são necessárias
para se reduzir as perdas no processo. Ela varia conforme a cultivar, população de plantas e
seu padrão de crescimento, determinado ou indeterminado. Normalmente, para a BMX Zeus a
altura de inserção da primeira vagem fica próximo a 13 cm. Porém, no experimento aqui
apresentado os resultados foram bem inferiores a isso, próximos a 5,25 cm e sem diferença
entre os tratamentos. Resultados semelhantes foram relatados por Libório (2019), que não
encontrou diferença nesta variável quando as sementes foram coinoculadas com Azospirillum,
porém a altura de inserção observada foi superior a 10 cm. Da mesma forma, os valores
obtidos são semelhantes aos encontrados por Junior et al. (2020), mas abaixo das médias
56
encontradas para esta cultivar, ou seja, inferior a 12 cm, valores estes mínimos para se evitar
perdas durante a colheita da soja.
A quantidade de grãos por vagem e por planta é uma variável que está diretamente
relacionada com a produtividade. Sua variabilidade está relacionada com disponibilidade de
fotoassimilados a partir do florescimento. Assim, o período crítico para a determinação do
número de grãos é relacionado com o período reprodutivo da soja (SILVA, 2020). Outros
autores como Padilha et al. (2019) relatam aproximadamente 50 vagens por planta para a
BMX Zeus. Porém, no presente experimento, a média foi de 36 vagens e sem diferença entre
os tratamentos. Resultados semelhantes avaliando a coinoculação com Azospirillum e
Pseudomonas também foram relatados por Oliveira et al. (2020).
Cabe ressaltar que o resultado não significativo dos tratamentos com relação à
quantidade de grãos por vagem e altura de inserção da primeira vagem podem estar ligadas ao
fato de serem características genéticas da planta e não responderem a fatores externos de
modo a alterar o fenótipo vegetal.
A produtividade da soja é a variável que vai determinar a eficiência agronômica,
gerando ganho para o produtor. Segundo Santos et al. (2018), os fatores de produção que
afetam a produtividade da soja são genéticos, que englobam as características da soja, sua
adaptação ao ambiente e sua resistência a herbicidas, pragas e doenças; e os ambientais, que
englobam os fatores climáticos e edáficos além, da simbiose com microorganismos. Outros
autores, como Guimarães et al. (2021), relatam resultados de produtividade próximos a 4.500
kg ha-1, obtidos com a inoculação e P. fluorescens. Outros autores observaram que a
inoculação associada a A. brasilense gerou como resultados 4.700 kg ha-1 (SANTOS et al.,
2018). Da mesma forma, Hungria et al (2015) relataram ganhos na produtividade de mais de
150 kg ha-1 com a coinoculação com Bradyrhizobium e Azospirillum na comparação com a
inoculação. Resultados semelhantes foram relatados por Santos et al. (2018), que não
encontraram diferenças usando P. fluorescens ou A. brasilense. Da mesma forma, Nogueira et
al (2018), também não encontraram diferenças na produtividade estudando inoculação +
coinoculação com A. brasilense.
A falta de diferença estatística pode estar relacionada à limitação de crescimento nos
vasos, já que, visivelmente as raízes encontraram limitação de espaço para seu
desenvolvimento, o que, pode ter também influenciado nas demais variáveis analisadas.
57
Diversos são os fatores que podem ter influenciado na falta de resposta da maioria
das variáveis em relação à coinoculação com A. brasilense e P. fluorescens. Dentre eles,
pode-se pensar no efeito das bactérias nativas, presentes no solo utilizado. Cavalcante et al.
(2017) em seu experimento, relataram que a aplicação de inoculante com Bradyrhizobium sp.
nas sementes de feijão-caupi tem eficiência reduzida devido à competição com as bactérias
nativas do solo. Da mesma forma, no experimento de Moraes et al. (2017) não houve
respostas significativas com a inoculação de Azospirillum brasilense no milho e sugere a
possibilidade de competição com microrganismos nativos do solo.
Outra possibilidade é a homogeneidade do ambiente, que é bem diferente do
ambiente a campo, e pode não ser o mais adequado para o ótimo desenvolvimento e expressão
dos benefícios por parte das bactérias, já que estas normalmente têm seus efeitos
maximizados em condições de estresse para as plantas. Segundo da Silveira et al. (2007), a
alteração variação drástica em fatores abióticos pode interferir favorável ou
desfavoravelmente no desempenho de bactérias promotoras de crescimento de plantas. O
mesmo já foi relatado, inclusive, para espécies arbóreas. Shishido et al. (1998), por exemplo,
observaram que processos de armazenamento e congelamento de solos alteraram as respostas
de abeto à inoculação de Pseudomonas spp. e Bacillus spp, e concluíram que as mudanças
induzidas pelo armazenamento na composição das comunidades microbianas do solo
contribuem para a variabilidade na eficácia das bactérias promotoras de crescimento de
plantas, porém, essa contribuição foi positiva ou negativa conforme o tempo de
armazenamento e a região de origem do solo.
Ao contrário da maioria das características relacionadas à soja, as concentrações de
gases refletiram diferenças proporcionadas pela coinoculação. De modo abrangente, a
oscilação nas concentrações de CO2, C2H4, e NH3 podem ser explicadas pela atividade
microbiológica no solo e das raízes das plantas no solo. Segundo Araújo (2019), o processo de
emissão de gases e a qualidade do solo estão associados a atividade microbiana, respiração
das raízes, decomposição dos resíduos vegetais, oxidação da matéria orgânica, o que é
aumentado com maior diversidade microbiana, que nesse estudo é representada pelo
tratamento de coinoculação.
A oscilação na concentração de CO2 no solo, está particularmente relacionada com a
respiração das raízes e microrganismos heterotróficos (GIOVANETT et al., 2019). A
comunidade de bactérias e fungos do solo exerce intensa atividade de decomposição, e com
isso os compostos orgânicos são oxidados e ocorre emissão de CO2 e CH4 para a fase gasosa
58
(COLE et al., 2021). Assim, maiores níveis desses gases estão também intimamente
associados a solos com alta taxa de respiração, atividade e diversidade microbiana
(FRANCHINI et al., 2007; BARGETT et al., 2008), o que no presente trabalho foi
confirmado em relação à coinoculação. A correlação positiva entre fluxo de CO2 no solo e
biomassa de raiz foi relatada por Meng et al. (2018), suportando o efeito relacionado ao
sequestro de C nos tecidos vegetais. Porém, estudos específicos com relação à evolução na
concentração de CO2 nas regiões próximas às raízes das plantas de soja são escassos e não
foram localizados estudos que contemplam o ciclo completo da cultura.
No presente estudo, a concentração de CO2 foi maior em quase todo o período
analisado em T2, na comparação com T1. De modo geral houve uma elevação na
concentração do referido gás até o estádio de florescimento das plantas, seguido de uma queda
em ambos os tratamentos. A maior concentração de CO2 pode demonstrar maior atividade
microbiana no solo. Populações microbianas maiores indicam incremento de biomassa
microbiana e, consequentemente, maior imobilização do carbono, o que é importante do ponto
de vista de sequestro desse elemento químico. Segundo Pulrolnik (2009), a biomassa
microbiana corresponde entre 2% a 3% do carbono orgânico total presente no solo.
Com maior presença de microrganismos associados à promoção de crescimento de
plantas ocorre maiores liberações de exsudatos, substâncias produzidas pelas plantas e
liberadas na rizosfera (MONTEIRO et al., 2012) e, consequentemente, maior atividade
fotossintética pelo maior desenvolvimento da planta (DIAS, 2018). Com maior atividade
fotossintética ocorre maior captura de carbono pela planta contribuindo, assim, com menores
concentrações de gases do efeito estufa na atmosfera (PIMENTEL et al., 2011).
Essas hipóteses são suportadas por registros de vários trabalhos de pesquisa. Prévost
et al. (2009) demonstraram que a alta concentração de CO2 do ambiente aumenta o
crescimento das plantas e afeta a atividade simbiótica e impulsiona a nodulação da soja
inoculada com Bradyrhizobium japonicum. Entretanto, estudos com Azospirillum são
reportados apenas para gramíneas. Heulin et al. (1987) inocularam bactérias em plantas de
arroz em frasco fechado. Sete dias depois, diferentes componentes de um balanço de carbono
foram avaliados: CO2 respirado, carbono da parte aérea e das raízes, carbono bacteriano e
solúvel no meio. Duas cepas (A. lipoferum 4B e A. brasilense A95) na região da rizosfera de
arroz causaram aumento na exsudação, de 36% e 17%, respectivamente, em relação ao
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controle. Menores concentrações de CO2 foram observadas na região rizosférica, e
demonstram o potencial dos microorganismos para a diminuição de gases do efeito estufa.
Em relação ao etileno no solo, cabe ressaltar a importância dos microrganismos sobre
seus níveis e, consequentemente, efeitos nas culturas agrícolas. Bactérias como o A.
brasilense, podem promover o crescimento da planta e aumentar a tolerância da planta à
salinidade, seca, alagamento e estresses a metais, reduzindo a produção de etileno (SUN et al.,
2022). Neste estudo, houve grande oscilação na concentração de C2H4 durante o período
analisado. Em alguns períodos a concentração foi maior em T1 e, em outros, em T2. A
concentração de etileno aumentou progressivamente até, aproximadamente, 30 dias, período
que coincidiu com o início do florescimento das plantas. A partir dessa data, observou-se uma
diminuição sucessiva que continuou até os 90 DAE, fase de enchimento de grãos. Em
seguida, houve um leve incremento na concentração do referido gás em todos os tratamentos,
período em que as plantas se encontram no estádio de maturação plena e quando ocorre a
senescência foliar.
Resultados idênticos, comparando a concentração de gases em tratamento padrão e
com coinoculação na soja, não foram encontrados na literatura. Porém, Lima et al. (2021)
reportam que, em seu experimento com soja inoculada com B. japonicum, durante a
senescência foliar, a sensibilidade ao etileno nos tecidos aumentou, bem como sua biossíntese.
Por outro lado, Pedrinho (2009) demonstrou que a taxa de produção de etileno para a estirpe
Ab-V6 de A. brasilenses foi positiva, aumentando conforme o tempo de cultivo nos tubos de
ensaio.
Da mesma forma que ocorreu com a concentração de etileno, houve grande oscilação
na concentração de NH3 durante o período analisado. Em alguns períodos, a concentração foi
maior em T1, e outros em T2. A concentração de NH3 aumentou progressivamente até
aproximadamente 35 DAE, período de florescimento pleno nas plantas, A partir dessa data,
observou-se uma diminuição sucessiva que continuou até o final do período analisado
(116DAE), período em que as plantas se encontram no estádio de maturação plena e ocorre a
senescência foliar. Segundo Sengik (1993), elevadas taxas de perdas são indicações de grande
população microbiana, causando maior produção de urease, o que pode ter ocorrido a partir
do florescimento pleno.
O estudo de Koyama (2019) avaliou as perdas de NH3 por volatilidade em diferentes
tratamentos, com inibidores de urease ou nitrificacao além da inoculação e doses de N
mineral, no milho safrinha. A variação de NH3 foi calculada em uma câmara semiaberta livre
60
estática, por período de 77 dias após a adubação. O uso do inoculante A. brasiliense sem a
aplicações de ureia não resultou em volatilidade. Entretanto, associado a aplicação de ureia
em cobertura resultou em alta taxa de volatilização da amônia, 90 kg ha-1 de N-NH3.
Outros trabalhos também buscaram soluções para monitorar a concentração de NH3
no solo, mesmo sem estimar o efeito dos microrganismos sobre a variação na concentração. O
trabalho de Nômmik (1973) apresentou um semiaberto estático no campo, que possui abertura
permanente que possibilita a troca de ar interna e externa, da mesma forma que o protótipo
aqui apresentado, para o monitoramento da amônia no solo. Ele verificou que na aplicação de
ureia em cobertura em solo de floresta a perda por volatilidade é maior em pellets maiores, de
2060 mg de ureia por unidade. Por outro lado, Lara Cabezas et al. (1999) monitoraram a
perda de N-NH3 na cultura do milho na comparação ao sistema convencional de plantio e o
plantio direto, por meio de coletores adaptados, com uma câmara fixa ao solo de 15 cm de
diâmetro e 35 cm de altura contendo dois anéis de espuma embebidos com H2SO4 e glicerina.
As perdas no sistema de plantio direto foram mais significativas quando da aplicação de ureia
em superfície (78% de perda), por outro lado, as perdas quando do sistema de plantio
convencional também foram mais significativas em ureia aplicada em cobertura (30,7%).
Outro estudo de Bouwman et al. (2002), utilizou a técnica de medição aberta indireta - IOC,
baseado na comparação entre fontes de volatilização de NH3 conhecidas e desconhecidas, ela
foi utilizada para estimar a perda por volatilização da NH3. A perda média calculada de NH3
da aplicação global de fertilizantes sintéticos de N (78 milhões de toneladas de N por ano) e
esterco animal (33 milhões de toneladas de N por ano) totalizam 14% (10–19%) e 23% (19–
29%).
Em relação à NOx, houve diferença significativa entre os tratamentos, com exceção
de alguns períodos finais analisados. De modo geral, o T2 foi o tratamento com menores
concentrações de NOx. Desde o início do experimento houve uma queda gradativa na
concentração dos referidos gases, até o final do ciclo.
Da mesma forma que para NH3, não foram encontrados na literatura resultados
semelhantes ao presente trabalho, e que comparam a concentração de NOx em diferentes
tratamentos de inoculação. Outros trabalhos reportam a produção de NOx em plantas
inoculadas, porém em outros contextos experimentais. Segundo Salas et al. (2020), em B.
diazoefficiens, a desnitrificação é o principal processo envolvido na formação de NO por
nódulos de soja e verificou que condições de anaerobiose aumentaram a perda de N por
61
volatilização. Molina-Favero et al. (2008) buscaram um meio de quantificar a produção
aeróbica de NO no solo, porém, o foco foi em diferentes cepas de A. brasilense (Sp245 tipo
selvagem e os mutantes Faj009 e Faj164) em raízes de tomateiro. Eles encontraram maior
produção nas cepas selvagem e Faj009, que produziram 120 nmol de NO por grama de
bactérias em meio contendo nitrato aerado. Obando et al. (2019) compararam diferentes cepas
de Bradyrhizobium sp. inoculadas na soja na contribuição de emissões de óxido nitroso (N2O)
e concluíram que as cepas E109, SEMIA 5019, CPAC15 e SEMIA 587 apresentaram a maior
produção de N2O.
Houve uma correlação negativa e significativa entre NOx e NH3 de -0,112. Segundo
Grosseli (2011), essa correlação é negativa devido à capacidade da amônia na sua atuação
como agente de redução catalítica seletiva do NOx, produzindo água e nitrogênio.
Finalmente, é importante considerar que a grande quantidade de variáveis resultantes
do trabalho aqui apresentado, torna possível diversos outros trabalhos com um foco maior em
determinadas variáveis e suas respectivas correlações. Da mesma forma, pretende-se, nos
próximos estudos, a utilização de previsão através da análise de regressão dos gases com
redes neurais artificiais. Essa previsão é importante para estimar concentrações futuras de
gases a partir da dados temporais e, desta forma, garantindo previsões de emissões de gases.
62
6 CONCLUSÃO
O protótipo desenvolvido permitiu o monitoramento eficiente dos gases do solo ao
longo de todo o ciclo da cultura da soja. Através deste, foi possível verificar que as
concentrações de CO2 e NOx na rizosfera foram as que mais refletiram efeitos da coinoculação
no sistema edáfico, gerando informações inéditas sobre o ciclo de cultivo da soja, qualidade
do solo e contribuição da microbiota para produção de gases de efeito estufa.
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