Sexo na cabeça

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DADOSDECOPYRIGHT

Sobreaobra:

ApresenteobraédisponibilizadapelaequipeLeLivroseseusdiversosparceiros,comoobjetivodeoferecerconteúdoparausoparcialempesquisaseestudosacadêmicos,bemcomoosimplestestedaqualidadedaobra,comofimexclusivodecomprafutura.

Éexpressamenteproibidaetotalmenterepudíavelavenda,aluguel,ouquaisquerusocomercialdopresenteconteúdo

Sobrenós:

OLeLivroseseusparceirosdisponibilizamconteúdodedominiopublicoepropriedadeintelectualdeformatotalmentegratuita,poracreditarqueoconhecimentoeaeducaçãodevemseracessíveiselivresatodaequalquerpessoa.Vocêpodeencontrarmaisobrasemnossosite:lelivros.loveouemqualquerumdossitesparceirosapresentadosnestelink.

"Quandoomundoestiverunidonabuscadoconhecimento,enãomaislutandopordinheiroepoder,entãonossasociedadepoderáenfimevoluiraumnovonível."

KaytSukel

SexonacabeçaComoocérebroinfluenciaoamor,odesejoeosrelacionamentos

Tradução:MariaLuizaX.deA.Borges

Revisãotécnica:EdsonAmâncioneurocirurgião,doutorpelaUniversidadeFederaldeSãoPaulo–Unifesp

ParaChet,minhamãeetodosaquelescheeseburgers

Sumário

Notasobreasilustrações

Introdução

1.Aneurociênciadoamor:Umahistória(deleseminha)

2.Océrebrosempreenamorado

3.Aquímicaentrenós

4.Epigenética(ou:Étudoculpadaminhamãe)

5.Nossosprimatas,nósmesmos(ou:Porquenãosomosescravosdosnossoshormônios)

6.Océrebrodeleeodela

7.Aneurobiologiadaatração

8.Parafazeroamordurar

9.Océrebrodamamãe(eodopapai)

10.Émelhorencarar:Vocêéviciadoemamor

11.Suamentetraidora

12.MinhasaventurascomaEquipeO

13.Umaquestãodeorientação

14.Estúpidoéquemamaestupidamente

15.Háumalinhatênueentreamoreódio

16.Omaiordetodososamores

Conclusão:Umadmirávelmundonovodeamor

Notas

AgradecimentosÍndice

Notasobreasilustrações

Océrebroéumórgãocomumaintrincadaarquiteturabiológica.Aodiscutirosresultadosdeestudosdeneuroimagem,usei ilustraçõesparaajudara indicara localizaçãoaproximadadeáreasde importânciavitalnesseórgão.Noentanto,devidoàsuacomplexidade,podeserdifícildistinguir todasasáreasdeinteresse numúnico estudo a partir damesma perspectiva visual.Em alguns casos, apenas as regiõesmais significativas estão realçadas, ou duas imagens são usadas. Além disso, a lateralidade (se aativaçãoocorreunohemisférioesquerdo,nohemisfériodireito,ouemambososhemisférios)émuitasvezesignoradaembenefíciodasimplicidade.Paraaquelesinteressadosnasáreasnãoilustradasouemposicionamentosmaisexatos,recomendovisitaroWholeBrainAtlas–umdetalhadomanualonlinedeneuroimagem criado pelos professores Keith A. Johnson e J. Alex Becker – em:www.med.harvard.edu/AANLIB/home.html.

Whatisthisthingcalledlove?aCOLEPORTER

aEmportuguês,“Oqueéessacoisachamadaamor?”.(N.T.)

Introdução

TODOSNÓSSABEMOSoqueéoamor.Oupelomenospensamossaber.Oamoréumarocha,umadroga,umatorturarecíprocaeumcharutoexplosivo.Oamorétudodequevocêprecisa–enoentantoéumfrioedesalentadoaleluia.Éumacoisaesplendorosa,umcampodebatalhaeumrio.Oamornãopresta.Eleédivino.Énuncaterdepedirperdão.Outalvezterdepedirmuitomaisdoqueseprevia.Oamoréumaputa.Écomoumadoença.Éumaarmadilha.TedNugent,numdeseusmomentosmaisromânticos,chegouacompararoamoraumachavederoda.aHámuitasmetáforasporaí,emuitassoamverdadeiras,masnão há nenhuma definição excelente, de fato abrangente. Talvez seja por isso que alguém julgounecessário criar um adesivo de para-choque que diz apenas “O amor é…” e evita qualquerespecificação.Tentevocêmesmoumdia–expliqueoconceitodeamor.Nacertaalgumacoisavemàmente.Emseguidatorne-aaplicávelatodasaspessoasemtodasassituaçõespotenciaisrelacionadasaessesentimento.Nãoéfácil,é?

“ÉcomoaquiloqueaSupremaCortedissesobreapornografia–reconheçooamorquandoovejo!”,sugeriuumamigomeu.“Ouosinto,porassimdizer.”

Issosemdúvida temalgumfundamento.Creioqueamaioriadenóssabedemaneira inataoqueéamor.Podemosreconhecê-loesenti-lo.Apenasnãopodemostraduzi-loempalavras.Eleésimplesmenteabstrato demais, elusivo demais e estranho demais para ser explicado. O mesmo pode ser dito doscúmplicesnocrimedoamor:atraçãosexual,desejo,monogamiaeódio.Algotãocomplicadoquantooamorescapaàesferadasimplesdescrição–eémelhordeixá-laparaosfilósofos,osromancistaseasbandaspop.

A falta de uma definição clara não impediu as pessoas de oferecer conselhos sobre como atrair,alimentareprolongaroamor.Mães,amigoseatécompletosestranhosgostamdenosdizertudosobreasmaneiras certas de conduzir nossa vida amorosa. Em geral são sugestões que prometem salvar umarelaçãopormeiodemelhorcompreensão,melhorcomunicaçãoemelhorsexo.Nãoimportaqueamaiorparte dessa orientação caia na categoria “Ouça o que eu digo, não faça o que eu faço”. Evidênciasanedóticas das estratégias de comunicação (ou das peripécias no leito conjugal) que consertaram ocasamentodatiaJaneedotioMikesimplesmentenãofuncionammais.Nosdiasdehoje,queremosquenossosconselhos–mesmoparaalgotãointangívelcomooamor–sejamrespaldadospelaciênciafriaerigorosa. Em vez do ombro damamãe, do divã de Freud ou do conselho do padre, agora buscamosrespostasemperfisgenéticoseescânerescerebrais.

Certavezviumcomercialdetelevisãoparaumremédiocontraaacne.Osloganera“Aculpaédabiologia”. Esqueça dieta, higiene adequada ou um bom sabonete (a solução segura de meu própriodermatologista): essecomercial insinuavaquea acneeraexclusivamenteumaquestãobiológicaequeuma pele perfeita dependia apenas de uma receita médica. Avanços nas pesquisas fizeram com quefenômenos anteriormente inexplicáveis, como depressão, obesidade e um grande número de outrasdoençasgenéticas,possamagoraserexaminadosdentrododomíniodabiologiaepossamemsuamaiorpartesertratadoscomestaouaquelanovapílula.Essestratamentosfarmacológicossãoumabênçãoparaaquelesdenósquefazemumenormeesforço(esemmuitoresultado)paramanteralgumaaparênciadeequilíbrionocorpoenamente.Somoslevadosacrerqueessestiposdeproblemasnãosãonossaculpa,que a responsabilidade é todadaquelamalditabiologia.Portanto eladeverianosdarumamaneirade

solucioná-los.Intuitivamente,temosaimpressãodequedeveríamosveroamoratravésdamesmaespéciedelente.

Emboraalgunspossamdiscordar,considero-meumapessoarelativamenteinteligente.Apesardeváriasrelaçõesprolongadas(edeumbomnúmerodeoutrasmaisbreves),umcasamentofracassadoeumfilho,àmedidaqueficomaisvelhaperceboquenãoseimuitosobreoamor.Hádiasemque tenhobastantecerteza de que não sei absolutamente nada sobre ele. E, ao que parece, não sou a única. Inicie umaconversacomalguémqueestácomeçandoaseapaixonarousaindodeumarelação,eemnovedecadadezvezesvocêacabaráouvindoaspalavras:“Eudeveriatertomadomaiscuidado.”

Emgeral,seestamossendohonestos,vamosadmitirquesomosumtantoestúpidosquandosetratadeamor,pormaisexperiênciaquepensemoster.Tendoissoemmente,pôraculpanabiologianãopareceuma opção tãomá. Na certa não continuaríamos a cometer osmesmos erros tolos se a biologia nãoestivessenosimpelindo.

A tecnologia e a ciência já avançaram a tal ponto que disciplinas como biologia, genética,epidemiologia,ciênciaevolutiva,psicologia, filosofia,ciênciadacomputaçãoemedicinaconvergiramno campo genérico da neurociência. Cada vez mais, neurocientistas demonstram que o cérebro écomportamento – os dois simplesmente não podem ser discernidos. Nossos cérebros são a sede dabiologiaquedirigecadamovimentoquefazemos.(Seiquemuitosacreditamnaexistênciadeumaespéciedemãoespiritualqueguianossasvidasamorosas,talvezatéinfluenciandonossoscérebros.Umavezqueesseéumargumentocontroversoqueaciêncianãopodenemprovarnemrefutar,considero-o foradoescopodestaspáginas.Discutirei,porém,algunsdosestudosneurocientíficosqueexaminamadevoçãoreligiosaeocérebronoCapítulo16.)

Asdescobertasneurocientíficasmaisrecentesproporcionamumamelhorcompreensãodocérebroedeseupapelnadoençaenocomportamento, inclusiveemcomportamentoscomplexoscomooafeto,oamor romântico e a tomada de decisão sexual. Pesquisadores já identificaram áreas específicas docérebro envolvidas com o amor, diferentes substâncias neuroquímicas que podem nos fazer confundiramoredesejosexual,efatoresgenéticoseambientaisquepodeminteragirparaalteraramaneiracomoabordamos nossas relações. Com esses achados, os antiquados debates sobre o amor em termos denaturezaversus criação (sugerindoquepodemossimplesmentedecidirmudar amaneira comoagimos,como afirmam muitos manuais de autoajuda e de paquera) estão sendo contestados por uma novaperspectivaquesugerequenós,sereshumanos,talvezsejamosmaisescravizadospornossabiologiadoquesepensavaanteriormente.

Claroqueascoisasnãosão tãosimplesassim.Pesquisasatuais tambémmostramdequemaneirascomplexas nosso DNA é diretamente influenciado pelo ambiente. A epigenética, um florescente novocampodaneurobiologia,temdemonstradoqueinfluênciasambientaispodemdefatoalteraraexpressãodegenesduranteodesenvolvimentoemesmoposteriormente.Àmedidaquea tecnologia avançaparapermitir um exame mais focado dessa intricada dança entre nossos cérebros e o ambiente, podemosformularnovasquestões sobre anaturezado amor–questões extraídasunicamentedaneurociência, aciênciadamodernabiologiahumana–edescartarvelhassuposiçõesbaseadasemautoajuda,sociologiaeespiritualidade.

Commétodosinovadoreseextremamenteavançadoscomoaneuroimagem,estudosdeassociaçãodogenomaplenoemodelosanimais transgênicos,oscientistasagora sãocapazesdeobservar fenômenosrelacionadosaoamornonívelmolecular.Esqueçaacomunicaçãopessoaapessoaesuaimportâncianasrelações;podemosagoramediracomunicaçãoentrecélulascerebrais.

“Estamos entrando em um mundo completamente novo de pesquisas aqui”, diz Helen Fisher,antropólogaevolucionáriadaUniversidadeRutgersqueestudaoamordeumaperspectivacientífica.Elaatécompartilhoualgumasdesuasdescobertassobreocérebroeoamorcomoconsultoradacompanhia

de encontros on-line Chemistry.com. “Isso está apenas começando – o escaneamento do cérebro, osestudosepigenéticos,seguindoocursodasviasdesinalizaçãoenvolvidasnoamor.Hámuitacoisaaquiparanosajudararesponderàsperguntasquefizemosduranteséculos.Apenascomeçamosadescobrircomo o amor pode desligar áreas de tomada de decisão, como a infância pode afetar nosso controleemocional e para que tipo de pessoa o amor pode se tornar um vício. Na verdade, estamos apenascomeçando a compreender verdadeiramente a naturezado amordeumaperspectivaneurobiológica.Éextraordinário.”

Essa é semdúvidaumanovamaneirade considerar fenômenosuniversais, enigmáticos.Muitosdenós esperamos que esses estudos possam fornecer as respostas que sempre buscamos em relação aoamor:Oqueéeleexatamente?Comopossofazê-lodurar?Amonogamiaénatural,oumesmopossível?Oquetemaquelapessoa–aquelapessoaqueétãoerradaparamim–paraqueeuaachetãoirresistível?Porquemeuamorpormeufilhomudouminhamaneiradegostarde todasasoutrascoisasepessoas?Podemos escolher entre muitas questões intrigantes, e, como o amor também tem o poder de fazer amaioriadenóssesentircompletamenteidiota,algumasboasrespostasseriambem-vindas.Masoexamede hormônios, vias neurais e regulação epigenética de genes pode realmente nos dar as respostas àsindagaçõesdesesperadasdenossosinseguroscorações?

Atéhojeforamfeitasmilharesdeinvestigaçõescientíficassobreanaturezadoamor.Provavelmenteumnúmeroigualdelivrosdeaconselhamentoamorosoocupouasprateleirasdestinadasàspublicaçõesdeautoajudaemlivrariasdetodooglobo.Hojeemdiamuitosdeles(bemcomoosartigosderevistaeostemas de talk shows baseados neles) afirmam ter extraído seus conselhos dos mais recentes dadosneurocientíficos. Eles nos dizem que homens emulheres têm tipos diferentes de cérebro e que fomosprojetadospara exibir comportamentos específicos em relação ao amor.Dizemque certas substânciasquímicas(algumasdisponíveisnainternetporapenas19,95dólaresmaistaxadeexpediçãoemanuseio)podem nos ajudar a atrair o parceiro adequado. Sugerem que nossa biologia determina tudo e que ahereditariedadedesempenhaenormepapelemnossacapacidadedeobterounãosucessonoamor.Maisainda,seestivermosdispostosaseguiralgumasnormassimplesbaseadasnasmaisavançadaspesquisassobre o cérebro, nós também podemos alcançar o nirvana das relações. O fato de as descobertascientíficas citadas nesses livros seremmuitas vezes generalizadas, mal-interpretadas ou retiradas umpoucodemaisdocontextoafimdepromoverumpontodevistanãoarrefeceemnadaoentusiasmodeseus fãs. De fato, isso não é uma surpresa. Esses livros nos dizem que, se seguirmos as regras eabordarmosnossas relaçõesdamaneira “certa”, overdadeiro amor estará aonosso alcance.Algumasdessas descobertas confirmam ideias que você talvez tivesse sobre o amor desde o princípio.Outrasparecemerradas,completamenteerradas,sejaemtermosdeprecisãooudeapelo.Elasvãocontratudoquevocê foiensinadoaacreditar sobre relações.Você lê sobreessesestudoseelesoarrasam(e lhepartem o coração), porque, se estiverem certos, você está ainda mais ferrado do que pensava: overdadeiro amor é algo que nunca acontecerá para você.Títulos, normas, regras, listas, orientações efrases de efeito abundam, mas o que eles podem realmente nos dizer sobre a natureza de nossoscorações?

Na verdade, os neurocientistas não oferecem nenhumamaneira garantida de evitar uma desilusãoamorosa ou fazer um casamento durar. Em geral, eles estãomuitomais interessados em questões queenvolvem percepção cognitiva, consciência, processamento de recompensas ou o comportamento degenes aindanão caracterizados.Alguns estão àprocurade tratamentosparadoenças comoautismooucâncer.Oamoréumassuntoimportante,masumtantotangencialemrelaçãoaostiposderesultadosqueoscientistasrealmenteestãobuscando.

Dadaacomplexainteraçãoentregeneseambientenessescomportamentos(bemcomoofatodequeamaioria dessas interações é testada em animais e não em pessoas), qualquer conselho específico não

fariamuitobemavocê,mesmoquelhefosseoferecido.Aneurociência,emparticularasinvestigaçõesepigenéticas do cérebro, sugere que, embora os cérebros das pessoas tenhammuito em comum, elespodemdefatoserdiferentesobastanteparaexigirtratamentosindividuaisparasuamiríadededoenças.Porextensão,podehaveralgumasdiferençasindividuaisnasmaneirascomoencaramosoamor,odesejosexualeosrelacionamentos.

“O comportamento é uma coisa realmente complicada”, diz Alexander Ophir, pesquisador daUniversidadeEstadualdeOklahomaqueestudaacasalamentoecomportamentossexuaisemarganazes-do-campo,umaraçadepequenosroedoresqueformaabasedamaioriadaspesquisassobremonogamia.“Háimportantesdiferençasentrenóseosarganazes-do-campo.Nós,sereshumanos,temosconsciênciaecultura que afetam nossas condutas. Tomado em conjunto, isso torna o estudo desses comportamentosmuitocomplicado.”

Cada vez mais, parece não existir uma abordagem única a relacionamentos bem-sucedidos. Se épossível de fato “pôr a culpa na biologia”, só podemos levar em conta a nossa própria. Esta ideia éaterrorizante, mas libertadora. Nossos comportamentos complexos geram mentes complexas – euchegariamesmoadizermentessujas,comtantasvariáveisturvandoaságuasproverbiais–eproduzemestudoscomplexos.

Aspáginasqueseseguemnãofornecerãonenhumconselhoounormaemrelaçãoaoamor.Estelivronãolhedirácomosetornarmaisatraenteparaosexooposto(ouparaomesmo),comosetornarmelhorcomopaioumãe,nemcomofazerseuparceirocontinuarcomvocê.E,emboraeupossaquererlhedizerparaabandonaronovíssimolivrosobrerelacionamentos,jogarforaaquelessuplementosparaaquímicadocérebroquevocêcomprououmudardecanalquandooprogramadeconselhosdodoutor fulanoétransmitido,voumeabsterdefazê-lo.

Oquefareiétentarexplicaroqueaneurociênciarealmenteaprendeusobreasváriasmaneirascomonossos cérebros podem afetar nossos corações – e o que esses achados significam no contexto docomportamentohumano.Mesmosemainclusãodecincopassosparaamanutençãodafidelidadeoudedezmaneiraspelasquaismamãepodesebeneficiardoestiloparentalbiológicodopapai,estelivropodesituarnocontextocorretooquevocêestálendoouvendonatelevisão.Esperoqueeleofaçadesistirdecomprar uma pílula ou um spray (ou, se não, pelomenos lhe dê uma ideiamelhor do efeito que umainvençãodessetipopoderiarealmenteter).Napiordashipóteses,esperolheoferecerumacompreensãomelhordarazãoporquenós,sereshumanos,agimosdemaneiratãoestranhaquandoestáemjogoessacoisinhamalucachamadaamor.

aNestetrecho,aautorafazjogosdepalavrascomtítuloseversosdecançõessobreoamor.(N.T.)

1.Aneurociênciadoamor:Umahistória(deleseminha)

EM 1994 UMA CIENTISTA chamadaSueCarter apresentou umpedidode bolsa para estudar umhormôniochamadooxitocina(quenãodeveserconfundidocomonarcóticoOxycontin,tambémconhecidocomo“aheroínadospobres”)numpequenoroedorchamadoarganaz-do-campo.

Umarganaz-do-campo(Microtusochrogaster)émuitoparecidocomumcamundongocomum,porémcompelomaisarrepiadoecaudamaiscurta.Escavandoalegrementesob jardinsepradosnumgrandetrechodaAméricadoNortecentral, essespequenos roedorespoderiamescaparporcompletoànossaatenção,nãofosseumtraçoespecial:elessãomonógamos.

Isto é, socialmente monógamos. Diferentemente da maioria dos outros roedores – ou, de fato, damaioria dos outrosmamíferos –, os arganazes-do-campo formamvínculosmonogâmicos vitalícios, ourelações sociais e sexuais duradouras com um único membro do sexo oposto. Machos e fêmeasenvolvem-setambémdiretamentenacriaçãodaprole.Dadaararidadedehábitoscomoessesnoreinoanimal, muitos estudiosos do comportamento animal tornaram-se excepcionalmente interessados noarganaz-do-campo.SueCarterfoiumdeles.

Famíliadearganazes-do-campo.FotodeToddAhern,UniversidadedeMassachusetts.

ProfessoradepsiquiatrianaUniversidadedeIllinois,emChicago,Carterformulouahipótesedequeaoxitocina,queestáassociadaaopartoeàamamentação,poderiareforçarovínculosocial.Elajáhaviaconduzidoumapesquisaparasustentara ideiaeesperavaqueessasubvenção lhepermitissecontinuarestudando o hormônio e sua relação com comportamentos sociais no arganaz-do-campo. Em suasolicitação,elanãomencionouamor,casamentooumesmosereshumanos.Dealgumamaneira,porém,ocomitêqueanalisouospedidosdesubvençãoconcluiuqueelaestavaestudandoapequeninapalavradequatroletrasquecomeçacoma–istoé,amor–,oqueeraconsideradoalgoabsolutamenteinadmissívelnoclimapredominantedacomunidadecientíficadaépoca.

“Euestavatentandoobterfinanciamentofederalparacontinuarmeutrabalho,ederepentefuiacusadadeestudaroamor”,disse-meelaquandovisiteiseulaboratórioemChicago.Miúda,decabelosbrancos

e comumestilo um tanto boêmio,Carter conseguia de algummodo a proeza de ser aomesmo tempoincrivelmente acolhedora e intelectualmente intimidadora. “Francamente, foi um choque paramim. Eunãoteriausadoapalavraamor–nuncauseiapalavraamor.Enãopensavanotrabalhoemtermosdeamor.Estavasimplesmentefalandodapreferênciadeumanimalporoutro–nãodeumconstrutohumanoquepareciaterpoucoavercomoqueestávamosrealmenteestudando.”

Carter me contou que ficou insegura quanto ao modo de responder à avaliação. Conversou comKerstin Uvnäs-Moberg, uma colega cientista também interessada na oxitocina e que trabalhava noInstitutoKarolinskaemEstocolmo.Seriapossívelqueotrabalhodelasestivesserelacionadoaalgotãocomplicadoeindefinívelquantooamor?Poderiahaverumabaseneurobiológicaparaoestudofuturodoamor? Examinando pesquisas recém-publicadas por vários laboratórios relacionadas à oxitocina, aovínculo social e ao acasalamento em arganazes-do-campo e outras espécies demamíferos, a respostapareceusersim.CartereUvnäs-Mobergpensaramqueestavanahoradeparardeseesquivardoassuntoeadmitirqueotrabalhodelastinhaimplicaçõesparaocomportamentohumano.

“Parecia ter chegado omomento de realmente tentar expressar e explicar a ideia de que vínculossociaiseramcruciaisparaoamorhumano”,disseCarter.Emboraosexosempretenhasido,sejaeváserda máxima importância para a propagação da nossa espécie, Carter e Uvnäs-Moberg estavamconvencidasdequeoamorprecisavaserexpressonocontextonãoapenasdapropagaçãogenética,mastambémdasobrevivência–especificamente,asmaneiraspelasquaisvínculossociaispodemajudaraspessoasaprosperaremfacedoestresseeoutrascomplexidadesdavidadiária.Talveznossoscérebrospromovamrelaçõessociaisparaassegurarquemaisdeumapessoaestejaimediatamentedisponívelparaevitarperigos,paraassegurarquehajaalimentosuficienteporpertoafimdealimentarafamíliaeparaajudaracriarosfilhotes.Investigarcomoaneurociênciasubjacenteaoslaçossociaispoderiapromoveressescomportamentospareciaumalinhadeestudosapropriada.

Embora essa linha de investigação parecessemuito clara paraCarter eUvnäs-Moberg, foi difícilobterrespeito(e,talvezomaisimportante,financiamento)paraestudarexperimentalmenteideiascomoessas.Jáhaviaamplaevidêncianaliteraturadaneurociênciadequeoamoreraumtópicoquemereciaserpesquisado.Masoscientistasnuncalhehaviamaplicadoessenome,evitando-ocomoapalavrasujaque é. Em vez disso, referiam-se a tópicos relacionados, como formação de vínculo duradouro,monogamia, ligação e comportamentos de acasalamento. Lendo nas entrelinhas, havia uma grandequantidade de informação ali, talvez até suficiente para tornar o estudo neurocientífico do amor umcampoàparte.Aindaassim,amaioriadoscientistasprofissionaistinhamedodechamaroamorporseuverdadeironome.

Nãohaviasentidoemfalardaneurociênciadoamorsemumadefiniçãooperacionalapropriada–umpadrão comum que cientistas de várias disciplinas pudessem usar para validar suas hipóteses.Infelizmente, pormais adequada (e comovente) que pudesse ser a caracterização do amor como uma“chavederoda”,namúsicadeTedNugent,serialimitadorutilizá-lacomobaseparaumestudocientíficodignodecrédito,replicável.Paraessefim,CartereUvnäs-Mobergconvidaram38eminentescientistasno campo da neurobiologia para um encontro intitulado “Há uma neurobiologia do amor?”, que serealizarianoâmbitodoWenner-GrenSymposiade1996emEstocolmo.

Um dos produtos desse encontro foi uma definição. Em vez de adotar a afirmação básica dodicionárioMerriam-Webstersegundoaqualoamoréumcasode“forteafeiçãoporoutrem”,oconsensodogrupofoiqueoamoré“umprocessopermanentedeaprendizagemquecomeçacomarelaçãodobebêcomamãeeseugradualafastamentodelaembuscadeconfortoesatisfaçãoemocional”.EstadefiniçãofoiincluídanorelatórioescritopeloeminenteneurocientistaBruceMcEwen.1Elaoferecemaisdetalhesdoqueadefiniçãodeamorcomoestritamenteumaemoçãoouumimpulsomamíferobásico,comofomeou sede – ainda que sejamenos romântica que “doce rendição” ou “meu primeiro,meu último emeu

tudo”.Emboraumtantolongaedifícilderepetir,elaserviriacomoopadrãoaoqualfuturosestudosemtodoocampodaneurobiologiapoderiamsereferir.

O encontro também deu início a uma espécie de renascimento, uma luz verde para queneurocientistas, neurobiólogos e neuroendocrinologistas finalmente chamassemo amor de, bem,amor.Isso também lhes permitiu começar a estudar as nuances desse fenômeno humano a partir dasperspectivas do cérebro e da biologia. Dois anos depois, muitos dos destacados participantes doencontropublicaramestudosnumnúmeroespecialdarevistaPsychoneuroendocrinology sobre tópicosque iamdesdeosantecedentesevolucionáriosdoamoratéasconsequências fisiológicasde recusá-lo.Comcientistastãorespeitadosendossandooconceito,ospesquisadorespuderamestudarmaisfacilmenteapalavracomeçadacomanoâmbitodocérebroedaneurobiologia.

Aproibiçãodobebêsexy

Dez anos se passaram. Muitos excelentes estudos sobre aspectos neurocientíficos daquele “processopermanentedeaprendizagem”quechamamosdeamorforampublicadosnofinaldosanos1990,eváriosdelesapareceramem revistasdegrandeprestígiocomoNatureeScience.O cérebro, ao que parecia,tinhamuita coisa a ver como amor – certamentemais do que nossos proverbiais corações.Enquantotrabalhava numa matéria para um website de neurociência, deparei por acaso com o relatório deMcEwen.Umsimplescliqueequivocadonobancodedadosdeumabibliotecalevou-meaelee,emboranãotivessenenhumarelaçãocommeuassunto,senti-mecompelidaalê-lo.

Talvezeutenhasidoatraídapelaperguntaformuladanotítulo:“Háumaneurobiologiadoamor?”Eununcativeraoportunidadedeestudaressetemaantes.TalveztenhasidoofatodeeletersidoescritoporMcEwen, um aclamado neurocientista da Universidade Rockefeller. Seu trabalho me impressionavadesdequandoeucursavaapós-graduação.Ou talvezeuestivesseapenasprocrastinando.Eu teriasemdúvidalidoocatálogotelefônicoparatirarumafolganaquelatardesufocante.Outalvezissotenhatidoalgumacoisaavercomminhaprivaçãodesono.Mencioneiquehaviametornadomãerecentemente?

Seháumestereótipodeumanovamãe–pense:manchada, sobrecarregadaecomolheiras–,euopreenchiacomsobra.Dasmanchasnaminhablusaaoestadodaminhacasa,nenhumapartedaminhavidaescaparaintactadosefeitosdamaternidade.Pormaisqueeunãoaceiteanoçãode“cérebrodemãe”,istoé,aideiadequeamaternidadenostornaestúpidas,tenhodeadmitirqueporvezeseuperguntavaamimmesmaoqueestavaacontecendoláemcima.Honestamente,porém,oquemaismudaradesdequemetornaramãe–demaneiraumtantoinexplicável–forameucasamento.

A chegada do filho alterara por completominha relação commeumarido.Embora eu semdúvidaesperassemudançasnocasamentodepoisquetivéssemosfilhos,nãoestavapreparadaparaumacompletaperda de intimidade. Tínhamos sido uma equipe estreitamente unida, embora heterogênea, mas agoraéramossatélitesemórbitasseparadas,nossastrajetóriassósecruzandoquandosetratavadenossofilho.Meus amigos com filhosme asseguravam que essa situação era natural e se corrigiria com o tempo,depoisqueochoquedenossonovoacréscimodiminuísse.Umaamiga,mãedetrês,iaalém:“Vocênãopodemaisesperarsesentirdamesmamaneiraemrelaçãoaseumarido.Suarelaçãoprecisamudarparaqueseufilhopossaserofoco.Nossoscérebrossãoequipadosparaqueosfilhospossamviremprimeirolugar.Éumacoisaevolucionária.”

Essaafirmaçãoficounaminhacabeça.Eunãopodiaentendercomo“umacoisaevolucionária”,comoelaformularacomtantaeloquência,poderiaexcluirumarelaçãonutritivaeamorosaentredoisadultosouumavidasexualativa.Agoraqueeuingressaranacategoriadosprocriadores,nãoseriadeesperarque

continuasse produzindo bebês para garantir a propagação da linhagem ancestral? O sexo, se não umpouco de amor apaixonado, era necessário para o cumprimento dessa meta. Talvez alguma coisaestivessemeescapando.

Eraumacharada.Comoamaioriadasnovasmães,euestavaexausta.Noentanto,meencantavacomessemenininhoquedealgumamaneiraconseguiaalegrarcadamomentodaminhavida,enquantosugavaaminhaenergia.Comooenigmáticoeditoevolucionáriodeminhaamiga,essaeraumacontradiçãoqueeunãoconseguiaresolver.

Sendoalguémqueganhavaavidaescrevendosobreneurociência,comeceiameperguntarquepapelocérebrodesempenhavanoqueestavaacontecendocomigo.Talveztudoaquilo–meuloucoamorpormeu filho e a implosão de meu casamento – pudesse ser explicado por mudanças em meu cérebroocorridasdurante e apósoparto.Continuei convencidadequeo cérebrodemeumaridopodia ter sealteradoumpoucotambém.Acópiadorelatóriodeumareuniãosobreaneurobiologiadoamorpareceuumbomlugarparacomeçaraaprendermais.

Ao lero relatóriodeMcEwen,umaúnica linhachamou-me imediatamentea atenção, a citaçãodeuma frase de Nicolas Read, pesquisador britânico que também participara do simpósio: “Sepercebêssemosoquantoosbebêssãosexy,elesjáteriamsidoproibidos.”

Francamente,essetipodefraseéumaanomalianaliteraturacientífica.Nãoencontramosobservaçõescomoessaemmuitosrelatóriosdepesquisa.Acrediteemmim.Amaioriadosartigosque leioquandoestoutrabalhandonumamatériasobreneurociênciaincluifrasescomo:“OdepósitodeAβestimulaumaresposta imune local pela micróglia, que se torna macrófaga.”2 Embora fascinante (isto é, depois detraduzidoparaumalinguagemhumanasimples),essenãoéexatamenteotipodecoisaquenosfazsoltarumarisada.

“Foiumapilhéria,obviamente”,disseMcEwenquando lhepergunteiporquedecidira incluiressafrase. “Mas o vínculo mãe-filho parece um fenômeno muito forte, extraordinário.” O que ospesquisadores poderiam aprender se estudassem essas coisas de uma perspectiva biológica emecanicista?Eraexatamenteissoqueosparticipantesdosimpósioqueriamcomeçarafazer–bemcomoadotar uma abordagem mais mecanicista e biológica no estudo da monogamia, do sexo e de outroscomportamentosrelacionadosaoamor.

Mesmo num estágio tão inicial do estudo neurocientífico do amor,McEwenme conquistou com aproibiçãodobebêsexy.Háumacertapoesiaperversanaexpressão.Paranãomencionarqueelaproduzforteimpressãonumamulherqueacaboudevirarmãe,privadadesonoebiologicamentecuriosacomoeu.Paraosquenãosãopais(esemdúvidaparaalgunsdosquesãotambém),estoucertadequeessaspalavrassoambastanteatemorizantes.Afinal,ocontextoétudo.Paraaminhamente,porém,elascaíambem.Meubebêeramuitosexy–muitomaisdoqueeuestavapreparadaparaencontrar.Nãoàmaneiradeumsujeitonuexcitanteeimpetuoso,masdeummodoirresistívelearrebatadorquehaviaalteradomeucorpo,minhamente eminha vida de alto a baixo.Eu não tinha amenor ideia se devia atribuir essasmudançasàevolução,àneurobiologiaouàminhasituaçãoparticular,masqueriasabermaissobrecomoa maternidade – e, sim, o amor – as estava facilitando. Assim, enquanto eu ficava a cada dia maisapaixonadapelomeufilho,sentia-metambémigualmenteintrigadaporestudosneurocientíficosquemedessemumacompreensãomaiordamaternidade,damonogamia,dosexoedoamor.

Oaprendizadodaspeculiaridadesdoamor

Já confessei que não sei nada sobre o amor.Aprendi que nos tornamosmenos relutantes a dizer isso

assimquenosfamiliarizamoscomointeriordoescritóriodeumadvogadoespecializadoemdivórcios.Adesintegraçãodemeucasamentonãofoisúbita;elelevouanoseanosparadescerpeloralo.Alguémpoderiapensarquehouveamplaoportunidadeparacorrigirocursoduranteaquelespoucosanosemquenossainfelicidadetornava-seaparente.Mas,pormaisqueeuquisesseconsertarascoisas,simplesmentenuncaencontravaoportunidade.Duvidoquemeuex-maridoencontrassetambém.Nãopossodizerondeeleeeuerramos.Possodizerapenasquandodescobriqueascoisasnuncamaisteriamconserto.

Aoqueparece, aindanãodomineiaquele“processopermanentedeaprendizagem”;apesardemeubebê, agora um encantador e curioso aluno do jardimde infância, continuar tão “sexy” como sempre,minhabuscadeconfortoesatisfaçãoemocionalcomumparceirocontinua.Poderia isso teralgoavercommeus hormônios?Comomodo comomeu cérebro é equipado?Comminha escolha de parceiro?Comotempoqueestamosjuntos?Comafrequênciacomquefazemossexo?Comamaneiracomomeucorpo,inclusivemeucérebro,mudoudepoisquetiveumfilho?Comtodasascoisasacima?Issofoialgoquepreciseidescobrirpararealmenteavançardepoisquemeucasamentosedesintegrou,paranãofalaremmeanimarnomomentoemquereingresseinoreinodonamoro.

Comoamaioria,eutinhaesperançadeencontraralgumasrespostasfáceis,algumconselhoviávelqueme ajudasse a compreender minhas relações passadas e, mais importante, evitar cometer os mesmoserros no futuro. Com o mundo do namoro acenando para mim, eu esperava que a aquisição doconhecimentoadequadocompensasseodesenvolvimentodepésdegalinha,umasilhuetapós-partoeadesconfiançapós-divórcio.

Minhabuscadeumamelhor compreensãodanatureza científicadoamor começouquandodepareicomaquele relatóriodepesquisae continuouàmedidaqueeu lia tudoqueconseguiaencontrar sobreamor,sexoeocérebro.Nãoerasuficientesaciarminhacuriosidade–euprecisavaconversarcomessescientistas sobre seu trabalhoe asdiferentes interpretaçõesaque seusachados seprestavam.Tinhadevisitar alguns laboratórios e ver parte da ciência em ação. E certamente não faria mal participar eumesmadealgunsestudos.

Aprendi muito no curso dessa jornada. Descobri que o estudo do amor – de qualquer maneira,neurocientíficaououtra–éumacoisaespinhosa,complicada,maisdoqueumacéticanaturalcomoeujamais supusera. Mas, apesar de muitas discussões esclarecedoras e aventuras pessoais, nada queexperimenteiofereceuqualquerinformaçãosegurasobreoqueamaioriadenósesperadescobrir:comoencontraroamoredepoisconservá-loporalgumtempo.Acontecequenãohánenhumafórmulamágica,nenhum livro de regras para a compreensão do papel do cérebro no amor.Não há respostas exatas erápidas. Há, contudo, muitas surpresas interessantes sobre nossas mentes “sujas”, tanto em modelosanimais quanto nos estudos de fRMI. Para começar, preciso fornecer um pequeno pano de fundo, umresumo das áreas cerebrais e das substâncias químicas que alimentam amais inebriante das emoçõeshumanas.Estahistóriadecérebrosenamoradoscomeçacomumpoucodehistóriacientíficaedaregiãodocérebroresponsávelpeloprocessamentodasrecompensas,chamadanúcleosdabase.

2.Océrebrosempreenamorado

ALGUMACOISAPODERIArepresentaroamormelhorqueumgrandecoraçãovermelho?Provavelmentenão.MesmoquandonãoéDiadosNamorados(oumelhor,asseissemanasdefrenéticomarketingdemassaque o precedem), essa imagem particular é onipresente. A tal ponto que substituí-la por um cérebro,mesmoagoraquesabemosqueocoraçãopoucotemavercomemoção,parecesimplesmenteumerro.Vocêpodeimaginaralguémlhedandoumacaixadebombonsouumcartãodeaniversáriocomoformatode um cérebro? Não funciona muito bem. A ideia é um pouco perturbadora até para alguém tãointeressadanocérebrocomoeu.

Porqueessepequenosímbolo,umórgãocardiovascularquehojesabemosnãopassarbasicamentedeumabombadesangue,étãodifundido?Talvezsejaporque,durantegrandepartedeumperíododemilanos, muitos dos maiores pensadores acreditaram que o coração era não só a sede da emoção, mastambémocentrodopensamentoracionaledacognição.

Desde os primórdios da nossa história, nós, seres humanos, quisemos nos diferenciar como sereslógicoserazoáveiseprocuramosidentificarapartedocorporesponsávelporcontrolararacionalidade.Aristótelesacreditavaqueocoraçãoeraafontedainteligênciaedavitalidadehumanasemrazãodeseucalor e movimento. (O cérebro, ele acreditava, era responsável por esfriar as paixões geradas pelocoração.)Platão,ummestredeAristóteles,discordavadeseudiscípuloquantoaocentrodopensamentoedaemoção.Elepostulavaocérebrocomoórgãoracionalporserapartedocorpomaispróximadocéu.

Duranteanos,filósofos,teólogosemédicosdiscutiramseocoraçãoouocérebroeraoórgãomaisimportante(comofígado,por incrívelquepareça, fazendoapariçõesocasionaisnodebate).Mas,semacesso a métodos científicos e recursos tecnológicos com os quais observar como esses órgãosfuncionamdentrodocorpovivo,nãopodiamchegaranenhumarespostadefinitiva.1

CláudioGalenodePérgamo,médicoefilósofogregodoséculoII,foiumdosprimeirosadarmaiscréditoaocérebro,combaseemobservaçõesbiológicasreais.Issofoiprovavelmenteumadecorrênciadeseutrabalho:antesdesetornaromaisinfluentemédicodeseutempo,eletrabalhoucomocirurgiãoparaosgladiadores,oquecertamente lhepermitiucolheramplasevidênciasdoqueumbomgolpenacabeçapodiafazercomapersonalidade,omovimentoeocomportamento.EmseutratadoDautilidadedas partes do corpo humano, ele afirmou que o encephalon (do grego enképhalos) deveria serresponsável tantopelomovimentoquantopelapercepção.Deoutromodo,nãoestaria ligadoàs fontesdossentidos(olhos,ouvidos,narizeboca),assimcomoaosprincipaisnervosmotores.Elenãopensavaqueocérebrotivessequalquercoisaavercomainteligênciapropriamentedita–afinal,muitosanimaisestúpidostêmcérebrosbastantedesenvolvidos–,masquefosseoórgãoquenosajudavaaprocessarainformaçãosensorialearesponderaelacomosmovimentoscorporaisapropriados.Mesmocomessefocosobreocérebro,Galenoaindadeixavaespaçoparaocoraçãoemsuasteorias.Acreditavaqueeleeraa sededenosso“espíritovital”,umvaporqueviajavaatravésdasveiasedasartériase forneciaenergiaao“espíritoanimal”emnossoscérebros.2

Alocalizaçãodasfunçõesnocérebro

Nosséculosseguintes,teoriassobreoqueocérebrofazecomoofazproliferaram.Pormeiodoestudocuidadoso de pacientes com lesão cerebral, os cientistas chegarampor fim à ideia de que as funçõesmentaisoriginam-senocérebro.Issodemandoualgumtempo,porém;aideianãovingourealmenteatéoséculo XIX. Nessa altura, a maioria dos cientistas admitia que diferentes áreas do cérebro eramresponsáveisporfunçõesespecíficaselocalizadas.Opassológicoseguinteeradeterminarquepedaçodocérebroeraresponsávelpeloquê.

UmdosprimeirosatentarfazerummapafuncionaldocérebrofoiFranzJosephGall,ummédicoeanatomista alemãoque examinou tanto a nata da sociedade quanto a ralé no intuito de compreender aorganizaçãodocérebro.Medianteoexamecuidadosodecrâniosdepoetas,políticos,mães,assassinos,ladrões,filósofos,prostitutasecientistas(eprovavelmentequalqueroutrapessoadispostaaposarparaele),GallcrioucomJohannGasparSpurzheimateoriadafrenologia–tambémconhecidaeminglêspelagíriabumpology.Podesoarmaiscomoonomedeumamúsicaesquisitadehip-hopdoquecomoumateoriacientíficarespeitável,maselaestevenocentrodasatençõesemmeadosdadécadade1850.

A teoria era bastante simples. Gall postulou que o cérebro tinha partes distintas, regiões que elechamavade“órgãos”,emquequalidadescomosagacidade,memória,coragem,destrutividade,alegriaeaté capacidade metafísica se localizavam. Quanto maior o órgão (cujo tamanho estaria diretamenterelacionadoàpropensãodapessoaparaaqualidadeassociada),maisele seprojetaria, empurrandoocrânio para fora. Se a pessoa fosse desprovida de certa faculdade, poderia haver até uma pequenadepressão no seu crânio para mostrar isso. Segundo a teoria, um bom estudante deveria ter olhosprotuberantes,esbugalhados,paradarmaisespaçoparaosórgãosdamemóriaedalinguagemmaioresatrás deles. Um criminoso violento teria uma série de protuberâncias características logo atrás dasorelhas.Eumhomemvenerávelmostrariaalgumvolumebemnoaltodacabeça– talvez sobreoqualmelhorapoiarumaauréola.

Num manual prático de frenologia publicado originalmente em 1885, o presidente do AmericanInstituteofPhrenology,NelsonSizer, e seucolegaH.S.Draytonescreveram:“A frenologiaensinaquecadasentimento,cadaelementodegostoeaversão,deesperançaemedo,deamoreódio,bemcomoasfaculdades intelectuais e a memória, têm suas sedes especiais em alguma parte do cérebro.”3Simplesmente correndo a mão sobre a topografia do crânio de uma pessoa, o perito poderia ficarsabendotudoqueprecisariasabersobreela.

Parteposteriordeummodelodafrenologia,destacandoasáreasconsideradasresponsáveispelas“propensõesdomésticas”,comoamorosidade,conjugalidadeeamizade.Fotodaautora.

Essateoriaincluíaoamor.Ponhaaspalmasdassuasmãossobreassuasorelhas.Avanceaspontasdosdedospara trásesintaaparteposteriordesuacabeça.NaépocadeGall,essapartedocrânio,ooccipício,eraconsideradaolocalemquesesituavamas“propensõesdomésticas”deumapessoa,istoé,os órgãos cerebrais característicos responsáveis pela amorosidade (amor físico), pelo amor conjugal,peloamorparental,pelaamizadeepelahabitatividade(amoraolar).Osfrenologistasacreditavamqueuma pessoa harmonicamente desenvolvida deveria possuir um occipício liso, alongado e largo – umagrupamentoequilibradodessesváriosórgãosrelacionadosaoamor.SizereDraytonexplicam:

[Os indivíduos]podemser intelectualmente sábios;podemser tecnicamentehonestosem relaçãoàpropriedade e aosdireitos sociais,mas, se lhes faltarAmorParental, nãoquererão filhos; se lhesfaltar Amor Conjugal, não quererão o casamento. Se tiverem forte amorosidade, podem desejarsociedadeatravésdoexercíciodessa faculdade.…Animaispromíscuosehomenspromíscuos têmumacarênciaquenãooshonra.OAmorConjugal,oacasalamentoespecial,vitalício, individualeexclusivo,éhumano,honroso,natural,eaúnicafilosofiasadiadeacasalamentosexual.

Basicamente,sevocêestivesseprocurandoamornaeravitoriana,omelhorquepoderiaesperareraque sua tutora se distraísse durante tempo suficiente para quevocêpudessedar umaboa apalpadanooccipício de seu cônjuge potencial antes de se comprometer com algo permanente. Segundo osfrenologistas,umaprotuberânciaouumadepressãonolugarerradopodiafazertodaadiferençaparaasuafuturafelicidade.

NãoimportaqueolugarqueGalleSpurzheimapontaramcomoasededaquelamalditaamorosidadenãosejanemmesmoadjacenteaocérebro.Elesesituapertodealgumascavidadeseveias,aumaboadistânciadequalquersubstânciacinzenta.Essapequenaimprecisãoilustraumdosmuitosproblemasdafrenologia. Embora a ideia básica de Gall e Spurzheim – de que pedaços do cérebro determinamdiferentesfunções–correspondaperfeitamenteàsteoriasneurocientíficasatuais,seufocotantoemtraçospositivos,maldefinidos(aqueexatamentepoderiaestarassociadoumórgãoparaa“firmeza”ouparaa“sublimidade”?),quantonoexteriordocrânio,emdetrimentodointerior,significaquesuateorianãoé

cientificamentebem-fundada.Embora a frenologia tenha acabado caindo em descrédito tanto no domínio popular quanto no

científico,oconceitodelocalizaçãodefunçõesconseguiuperdurar.Duranteosdoisséculosseguintes,oscientistas se concentraram em tentar apontar com precisão áreas do cérebro associadas àmemória, àlinguagem,àatençãoeaomovimento,observandopacientescomlesãocerebralemodelosanimais,bemcomousandoumavariedadedetécnicaseletrofisiológicas.Mesmooestudodessesconceitos“simples”nocérebroeradifícil.Algocomooamor,comoscomportamentoseróticosecognitivosorientadosparaumfimaeleassociados,erademaisparamuitospesquisadores sequercogitaremestudar, emespecialporque não estava claro o que o amor poderia ser. Seria uma emoção, como tristeza ou medo? Umimpulso, como fome ou sede? Um construto humano para justificar o sexo, sem nenhuma base nabiologia?Ninguémsabiaaocerto.Ofatodeoscientistasnãoconseguiremexplicarsuanaturezaexatafazia o amor parecer inacessível a uma investigação científica séria – e o pôs em segundo plano napesquisapormaisdeumséculo.

Oamorescaneado

NofinaldoséculoXX,avançosnatecnologiapermitiramaospesquisadoresultrapassarumadasmaioresdeficiências da frenologia. As técnicas de neuroimagem, como a tomografia axial computadorizada(TAC), a tomografia computadorizada por emissão de fóton único (Spect, na sigla em inglês) e atomografiaporemissãodepósitrons(PET,nasiglaeminglês),permitiramaoscientistasolhardentrodocrânioeobservarocérebrovivo,emfuncionamento,emvezdesebasearemprotuberânciascranianas,espécimesdenecropsiaouanimais.Essasnovasabordagenspermitiramumaanálisemaisdetalhadadefunções cerebrais e sua localização. Mas foi só no início dos anos 1990, quando uma nova técnicachamadaimagemporressonânciamagnéticafuncional(fMRI,nasiglaeminglês)entrouemcena,queosneurocientistas puderam examinar o cérebro mais profundamente e tentar localizar algo tão caóticoquantooamor.

Como funciona a fMRI? Tudo se baseia no fluxo sanguíneo. Como os demais órgãos do corpo, océrebroprecisadesangueparatrabalhar.Atéamenoráreadeatividadeneuraléacompanhadaporuminfluxodesangueoxigenado.Océrebrousaesseoxigênioparaauxiliarafunçãoedepoisoenviaadiante.Essepontoéfundamentalparaamedição,pormeiodofMRI,daativaçãodasáreas.Aspropriedadesdosangueoxigenadosãodiferentesdasdosanguedesoxigenado.UmgrandemagnetogiratórionofMRIpoderastrearparaondeo sanguevai e comoesse fluxomuda ao longodo tempo.Seguindo esse rastro, osneurocientistaspodemverqueáreasdocérebrosãoativadasemrespostaadiferentesestímulosetarefas.

A questão de quem foi o primeiro a ter a ideia de tentarmapear os correlatos neurais do amor éobjetodedebate.Nofinaldosanos1990,tantoAndreasBartels,queacabaradeconcluirodoutoradonoUniversity College London, quanto Helen Fisher, a experiente antropóloga da Universidade Rutgers,acreditavam que devia haver alguma evidência neurobiológica do amor no cérebro. Isso precisavaapenassertestado.Desdeosdiasdafrenologia,porém,ninguémotentaradefato.

Fisherpassaradécadasestudandoosaspectosantropológicosdasexualidadehumana,damonogamiaedoamor.Suapesquisaaconvenceradequeoamorromânticonãoeraumaemoção,comotantosoutroshaviampostulado,mas um impulso físico real, como sede ou fome. “Simplesmenteme ocorreu que oamorromânticoéumaexperiênciafísicamuitoforte”,disseelaquandodiscutimosseuprimeiroestudosobreocérebroeoamor.“Eque,seeuexaminassefunçõescerebrais,poderiasercapazdeestabeleceroquesepassanocérebroquandoalguémseapaixona.”

Após falar sobre essa ideia em várias conferências, Fisher associou-se a Lucy Brown, umaneuroanatomistadoAlbertEinsteinCollegeofMedicine, eArthurAron,neurocientista socialdaSuny(StateUniversityofNewYork)emStonyBrook.Ogrupo formulouahipótesedequehá três sistemascerebrais distintos para o amor: um para a sexualidade e o comportamento sexual, um segundo parasentimentos de afeto profundo e o terceiro para o amor romântico.4 “Parecia-me que havia trêssentimentosbásicosqueacompanhamoamor,etodososoutrosderivariamdelesdecertomodo”,disseFisher,numtompensativoecalmo.“Eupensavaqueoamorromânticoseriaomaisfácildemedir.Éumsentimentotãodramático,comforteselementosdefoco,energiaemotivação.”

Fisherestácerta;ossintomasdoamorsãodefatofísicosedramáticos.Osquesãoafligidosporeledistraem-secomfrequência,sempredevaneandosobreobem-amado.Tambémsãoemotivos,propensosarisosexagerados,lágrimasemedos.Nãopodemosesquecerasmanifestaçõesfísicasreaisdessadoença:osrecém-apaixonadospodemsentiroestômagoembrulhado,ocoraçãoacelerado,suornaspalmasdasmãosejoelhosbambos.Essesindivíduospodemexibirsinaisdeansiedade,perdadoapetiteeligeirastendências obsessivo-compulsivas, bem como ter sua capacidade de tomar decisões comprometida.Podem sair de casa às escondidas à noite, chegar constantemente atrasados ao trabalho, abandonar afaculdadeousemudarparaoutracidadesemnenhumaoutrarazãoalémdodesejodeestarcomoamado.Emmeucaso,atribuominhacomprairracionaldeumdetestávelsofároxounicamenteaofatodequeeuestavadequatropeloobjetodeminhaafeiçãoquandooadquiri.Fisherestavafortementeconvencidadequehaviaumaexplicaçãobiológicanabasedessasmudanças extremasde comportamento.Ela e seuscolegassedispuseramaencontrá-la.

Antesqueogrupoconcluísseseustestes,porém,Bartelseseuex-orientador,SemirZeki,professordeneuroestética(departamentoprojetadoporelemesmoparainvestigarasbasesneuraisdaestética)noUniversityCollegeLondon,publicaramseupróprioestudocomparandoamorapaixonadoeamizadepormeiodo fMRInonúmerodenovembrode2000daNeuroreport.Zeki foi inspiradopelasmençõesaoamornaarte.Quantasvezes,emmeioaossofrimentosdeumamorapaixonado,ocorreu-lhequeaquelepoemadeRumiou aquela cançãodeElvisPresleyparecia ter sido escrito para você?Quantas vezesvocêolhoupara umapintura e pensouque ela representavaum sentimentoprofundo e verdadeiro queexperimentara?Penseemtodasasdefiniçõesdeamorqueexistemporaí–mencioneiumbomnúmerodelasnaintrodução.Zekiacreditavaque,seosentimentopodiaserapreendidoecompreendidonessescontextosartísticos(oucomoumachavederoda,conformeocaso),deveriahaveralgodecomumentreoamoreoutrasemoçõesdentrodecadaumdenós.Algoqueseriaparteintrínsecadenossaconstituição,transmitido de uma geração para outra, que nos permitisse compartilhar experiências emocionaissemelhantes.Deoutromodo,nãoseríamoscapazesdereconhecertantasexpressõesartísticasdoamorounosconectarcomelas.Suaideiaéconvincente.

Nãohádúvidadequeaimagemvisualcorretapodeprovocarumarespostaemocional.Ficoapenasligeiramenteembaraçadaaoadmitirquesempremeemocionoaoverfotosdebebêsfofinhos,comerciaisdaAT&Te trailersdecomédiasromânticas.Enãosouaúnica.Aimagem,ocheiroouacançãocertapodemevocarlembrançaspoderosas,juntamentecomqualqueremoçãoportrásdelas.Confiandonessetipo de poder, Bartels e Zeki escanearam dezessete pessoas que declararam estar apaixonadas, onzemulheres e seishomens, enquantoolhavam fotosde seus amados,bemcomode trêsoutros amigosdomesmo sexo.Os pesquisadores instruíram os participantes do estudo a simplesmente olhar cada foto,pensar na pessoa retratada e relaxar.Ao comparar a ativação do cérebro quando os sujeitos estavamvendoapessoaamadaevendoumamigo,encontraramfortesreaçõesemduasáreasdocérebro:aínsulaesquerda, uma área implicada na emoção, na autopercepção e nas relações interpessoais; e o córtexcinguladoanterior,associadoàantecipaçãoderecompensas,àtomadadedecisãoeàemoção.E,quandoabaixaramligeiramenteo limiardeativação,viramtambémfluxosanguíneoelevadonohipocampo,nonúcleocaudadoenoputâmen, todasáreasenvolvidascomaaprendizagemeamemória,bemcomono

cerebelo,envolvidocomoajustefinodocontrolemotor.Eraumpadrãoúnico,afirmarameles,quenãopodiaserproduzidoporqualqueroutracoisaquenãooamorapaixonado(embora,gracejouZekimaistarde,opadrãodeativaçãocerebralfosseincrivelmenteparecidocomoquesevênumcérebrodepoisde uma dose de cocaína). Para saber o que isso significava exatamente, seriam necessários outrosestudos.5

Umsistemaseparadoparaoamorromântico

Fisher,Brown eAron aplicaramummétodo semelhante de contemplaçãode fotos em seu estudo comfMRI.Mas, em vez de pedir aos participantes apenas que pensassem em seus amados, pediram-lhestambémquepensassememeventosespecíficosrelacionadosaessapessoa,comoumjantarromânticoouumaviagemrecenteàpraia–qualquersituaçãoemqueestivessemjuntos,excluindoaquelasdenaturezapicante.Apesardessaligeiramudançadefoco,seusresultadosmostraramumagrandesobreposiçãoaosdoestudodeBartelseZeki.Combasenesses resultados,Fishersugeriuuma teoriacoerentedoamor:trêssistemascerebraisdistintos,mascominterseções,quecorrespondemasexo,amorromânticoeafetoduradouro (comoovínculomãe-filhoou a confortável relaçãoquepodemos encontrar numcasal comsessenta anos de vida comum). Esses três sistemas separados, afirmou ela, poderiam cobrir todas asfacetasdoamor:romântico,parental,platônicoeaquelevelhomalandro,odesejosexual.

ÁreascujaativaçãofoiidentificadanoestudooriginaldoamorporneuroimagemdeSemirZekieAndreasBartels.Esseestudoencontroutambémumasignificativareduçãonaativaçãodocórtexpré-

frontal.IlustraçõesdeDorlingKindersley.

AequipedeHelenFisherformulouahipótesedequehátrêssistemasdistintosenvolvidosnoamor:ohipotálamoparaodesejosexual,onúcleocaudadoeaáreategmentalventralparaoamorromânticoeo

pálidoventralparaoafeto.IlustraçãodeDorlingKindersley.

Hámuitooscientistassabemqueasededoimpulsosexualéohipotálamo.Quandoeleéremovido,aspessoasnãosóperdemtodoo interesseporsexocomose tornamincapazesdedesempenhosexual.Essa área cerebral do tamanho de uma amêndoa está ligada à hipófise, que produz os hormôniosnecessáriosparaalimentarodesejode“transar”.Masossereshumanosnãosereduzemaseusimpulsossexuais.Nocasodoamorromântico,Fishereseuscolegasobservaramatividadecerebralemáreasforadohipotálamo,entreasquaisaáreategmentarventral(ATV)eonúcleocaudadodireito.Osdoisfazempartedosnúcleosdabase,umaáreaconectadatantoaocórtexquantoaotroncocerebral.Osnúcleosdabase,juntamentecomohipotálamoeaamígdala,estãoimplicadosnoprocessamentoderecompensasenaaprendizagem.Éumpoucocomonosuborno:quandoexperimentamosalgoagradável,comosaciarafome ou ter uma boa transa, ou passar algum tempo como objeto de nossas afeições, essas áreas docérebro nos dão um pequeno empurrão extra, estimulando-nos a fazer isso de novo. Se estivermosfalandodeligaçãoemocionalprofunda,opálidoventral,umapartediferentedosistemadecircuitosdosnúcleos da base, é ativado. Todas essas áreas são muito sensíveis às substâncias neuroquímicasdopamina, oxitocina e vasopressina, que são consideradas indutoras de prazer e decisivas para aformaçãodecasaisemanimaissocialmentemonógamos(aserdiscutidoemmaisdetalhesnoCapítulo3).Mascadaumadelasfuncionadeumamaneiraumpoucodiferente.6

AsduasregiõesqueparecerammaisimportantesparaoamorromânticonoestudodeFisherforamonúcleocaudadoeaATV.Essasáreasresidemnochamado“cérebroreptiliano”–umgrupoderegiõessubcorticaispróximasaotroncocerebralqueexistemdesdequeevoluímosparaandareretos–eestãofortemente envolvidas tanto no processamento de recompensas quanto em sentimentos eufóricos. Elastambém são parte de um importante circuito estimulado pela dopamina chamado sistema límbicomesocortical,umaviadecisivaparasistemasmotivacionais;comonãoédesurpreender,trata-sedeumcircuitoquefoirelacionadoaovício.EssesresultadoslevaramFisher,AroneBrownaconcluirqueoamor romântico não é uma emoção, mas uma pulsão. Segundo Brown, “o amor existe para ajudar aestimularareprodução,paranosajudarpsicologicamenteanosconectarcomoutros.Eleédistintododesejosexualedoafeto,emborarelacionadocomeles”.

Pense nisso da seguinte maneira: o desejo sexual pode ser o mais simples dos três sistemashipotéticos, um processo de natureza quase reflexa que nos mantém ativos. Certamente, se fosse umprocessomaisevoluído,nãonosveríamostãointeressadosempessoascomoPamelaAndersonemtodaasuaglóriaemS.O.S.Malibu,ou–comoumademinhasamigas,constrangidademaisparaterseunomecitado– fortemente atraídas porMike “TheSituation”Sorrentino, participante do reality showJerseyShore, certo? Ao mesmo tempo, temos um sistema para o afeto. Sentir-se conectado a alguém é umcomportamentorecompensador,por issoessaativaçãodopálidoventral;éagradável terumapessoaànossaesperaemcasa,mesmoquenãoestejamosmaisinclinadosafazersexocomela24horaspordia.Emalgum lugar entre uma coisa e outra está o sistemado amor romântico, conectado tanto aodesejosexualquantoaoafeto.Elesechocacomáreasenvolvidasnoafetoenodesejosexual,bemcomocomaquelasrelacionadasaoprocessamentoderecompensaseàaprendizagem.Nãosurpreendequeoamorromânticosejaagradávelenosajudeanosvincularaoutrapessoa(promovendo,consequentemente,aprocriação).

“Essessistemascerebraismuitasvezestrabalhamjuntos,maspensoqueéjustodizerquetambémnãotrabalham juntos outras tantas vezes”, disse Fisher quando lhe perguntei se esses três sistemas sesobrepunham de outras maneiras. “Uma pessoa pode sentir um profundo afeto por um parceiro,desenvolverumamorromânticoporoutroedepoissesentirsexualmenteatraídapormuitosoutros.Há

sobreposição,mas,comonumcaleidoscópio,ospadrõessãodiferentes.”Étambémpossívelqueessessistemasfuncionemnumcertocontínuo:nossaatraçãofísicaporumapessoapodesetransformarcomotempoemamorromânticoedepoisnumafetoarraigado.Issopoderiaatéfuncionarnosentidoinverso:um bom amigo por quem você é profundamente afeiçoado pode um dia, inexplicavelmente, parecerfisicamenteirresistível.Umgestorápido,umamudançanascircunstânciasounaidade,eocaleidoscópionosofereceumaconfiguraçãocompletamentediferente.

Oamortambémdesativa

Porvezesasáreascerebraisativadasnãosãoasúnicasimportantesparaacompreensãodafunção;áreasdesativadastambémpodemnosdizeralgumacoisa.Essesestudosdeneuroimagemmostraramativaçãodiminuída,quepodeestarrelacionadaafunçãodiminuída,emcertasáreasdocérebro.Olobofrontal,oloboparietaleaamígdalaapresentaramfluxosanguíneoreduzidonoamorenoafeto.Dizemqueoamorécego,esealgumdiavocêseapaixonoupelapessoaerradasabequeissoéverdade.Zekiafirmaqueafaltadefluxosanguíneonessasáreassugerefunçãoreduzidanojulgamento,natomadadedecisãoenaavaliaçãodesituaçõessociais.

Vocênãomesaíadacabeça

Uma imagempode valermais quemil palavras,mas não são necessários estímulos visuais explícitosparaativarosistemacerebraldoamorromântico.StephanieOrtigue,neurocientistadaUniversidadedeSyracuse,observouquepessoasapaixonadas fazemassociaçõesentreoobjetodesuaafeiçãoecertaspalavraseconceitoscommuitarapidez.Seumlugar,umapalavra,umasituaçãoouumacançãotiveramenor relação com a pessoa amada, elas farão toda espécie de conexões interessantes. Pessoasapaixonadasnãoconseguemparardepensarnoamado.Esseefeitodetonador,aforçadasconexõesentreapessoaamadaetudoqueserelacionacomela,podefacilitaressetipoderecordaçãorápida.Ortiguedecidiuexaminarisso.

Com alguns colegas, ela escaneou os cérebros de 36 mulheres que estavam apaixonadamenteenamoradas enquanto o nome da pessoa amada lhes era apresentado de maneira subliminar. Ao queparece, ainda que demaneira implícita, o amor realmente exerce um forte controle sobre o indivíduoapaixonado.Atéquandoforamusadaspalavrasemvezdefotos,muitasdasmesmasáreassubcorticaisdocérebro relacionadas à recompensa ficaram ativadas nessa pesquisa, como haviam ficado em estudosanteriores de neuroimagem: o núcleo caudado, a ínsula e a ATV. Mas esses pesquisadores tambémdocumentaram ativação em áreas cerebrais de ordem mais elevada, partes do córtex envolvidas naatenção, na cognição social e na autorrepresentação: o giro angular, o giro frontal médio e o girotemporalsuperior.7

OestudodeStephanieOrtigueusandonomesemvezdefotosencontrouativaçõessemelhantesàquelasobservadasnosestudosdeZekieFisher.Elaconstatoutambémativaçãodenívelmaiselevadonogiro

angular,nogirotemporalsuperiorenogirofrontalmédio.IlustraçãodeDorlingKindersley.

“Nossasdescobertassugeremquesãoimportantesnoamornãoapenasessessistemasderecompensa,mastambémáreasmaiscognitivasrelacionadasàtomadadedecisão,àrepresentaçãodoselfeàimagemcorporal”, disse Ortigue. “É muito interessante – isso sugere que o amor pode ser uma extensão daprópria pessoa.Oumelhor, os apaixonados realmente se põem emoutros. Issomuda amaneira comoconceituamos o amor apaixonado.” Semeu objeto de amor podemudar amaneira como vejo amimmesmo internamente, oquemais poderiamudar?Essapesquisa traz todoumnovo significado aodito“Vocêétalcomoseuamanteovê”.

Juntandoaspeças…

Embora Fisher afirme que o amor romântico é uma pulsão – que teria sido selecionadoevolucionariamenteparanosmotivara ter filhosecriá-loscomoparesmonógamos–,Ortigueadverteque é perigoso simplesmente classificá-lo como um instinto básico.Há um número grande demais dediferentesáreascerebraisimplicadas.

Ela tem razão. Nenhuma parte do cérebro é uma ilha; todas essas regiões são interconectadas eenviamsinaisumasparaasoutras.Maisainda,umaáreanãoselimitaaumaúnicafunção.Umdemeusprofessoresdeneurociênciadissecertavez,brincando,queocérebroéo“supremoreciclador”,porqueevoluiuaolongodosúltimos100milhõesdeanosparasersupereficiente.Afinal,muitosangueeenergiasãonecessáriosparafazerumcérebrofuncionar.Seriaumgravedesperdícioderecursosseumamesmaregiãonãopudesseparticipardeumavariedadedetarefas.Océrebrodesaprovaredundâncias–e temtodaarazão.

Numaanálisede todososestudosdeneuroimagemfeitossobreoamor (oconsiderávelnúmerodeseis nos últimos dez anos), Ortigue identificou doze regiões distintas ativadas no curso de diferentes

tarefas,comoverfotos,assistiravídeosdapessoaamadaouserobjetodaapresentaçãosubliminardonomedessapessoa.8Dadasaslimitaçõesatuaisnatecnologiadaneuroimagem,inclusivedostemposdemedição,quepodemnãosercapazesdeacompanharaextremarapidezdossinaisneurais,nãoestáclaroquaisdessasáreassãoativadasemprimeiro lugarnoamorromântico,muitomenoscomoequandoasdiferentesáreas interagem.Nãosabemosaocertocomoasregiõescerebraissubcorticais–ochamadocérebroreptilianorelacionadocomoprocessamentodarecompensaeaeuforia–podeminfluenciarasáreas cognitivas de nívelmais elevado envolvidas na atenção, na autorrepresentação e na tomada dedecisãoevice-versa.Aindatemosmuitoaaprender.

“Quandodizemqueestaouaquelaáreadocérebroéativadanoamor,costumoresponder:edaí?”,afirmouOrtigueenfaticamentequandodiscutíamosoquesuaanálisedoamoredocérebrorealmentenosdiz.“Aspessoaspensamqueé fácilobservaressasativaçõesesaberoqueestáacontecendo.Mashátantasoutrascoisasportrásdisso.Émuitoperigosotentarsimplificaressetipoderede.Nãoháapenasumaáreacerebral em funcionamentoaqui.Precisamoscompreendercomo todasessasáreas trabalhamjuntasantesdedizerqualquercoisasobreanaturezadoamor.”

Aindanãochegamoslá–nãoestamosnempertodisso–,masavançamosnacompreensãodecomoaárea tegmental ventral, o núcleo caudado, o putâmen e outras áreas funcionam. Antes que eu possaexplicar como elas podem interagir a fim de nos levar a algumas das situações mais abençoadas (eespinhosas) do amor, preciso discutir um poderoso neurotransmissor chamado dopamina e outrassubstânciasquímicasqueajudamaestimularessaredecerebralrelacionadaaoamor.

3.Aquímicaentrenós

CADAREGIÃODISTINTAdocérebrocompõe-sedecélulasespecializadaschamadasneurônios.Hámuitosdeles–bilhões,naverdade–, eacadapardeanosalguém tentachegaraumcálculopreciso.Éumatarefaatemorizante,massegundoaúltimaestimativaelesdevemsercercade86bilhões.1Émuitacélula.Muita.

Nenhuma célula, contudo, trabalha sozinha. Para que o cérebro execute suamágica, é preciso queesses neurônios enviem sinais uns aos outros, liberando uma variedade de mensageiros químicoschamadosneurotransmissores.Umacélulaestimuladaliberaomensageiro,queentraentãonasinapse,ominúsculoespaçoentreelaesuasvizinhas.Alioneurotransmissorpodeserrecolhidoporumneurônioadjacente, associar-seaoutra substânciaquímicaoupermanecer inativoporalgum tempoantesde serrecebido de volta pela célula inicial. Isso é uma simplificação extrema do processo,mas descreve obásico.

Muitasvezes,discutimosa funçãodessasvárias substânciasquímicascomoseelas fossemapenasmoléculasúnicasviajandoentreduascélulas–umpequenopassageirosolitáriopercorrendoumcaminhosimples,direto.Naverdade,duranteumaneurotransmissãoemtemporeal,umaúnicasinapseassemelha-semaisaumaimportanteviaexpressaengarrafadanavoltadeumferiadoprolongado.Centenas,senãomilhares de diferentes substâncias neuroquímicas, hormônios e proteínasmovem-se por toda parte nasinapse em qualquer momento, e as regras que vigoram são as do “salve-se quem puder”; além deestimular células adjacentes, esses compostos podem tambémmodular seus companheiros de viagem.Enquantoflutuamnasinapse,podemtransformaredividiroutrassubstânciasquímicasouatéimpedirqueelas se comuniquem com outras células. Ou podem apenas passar algum tempo na sinapse até seremrecebidosdevoltapelacélulaqueosliberou,afimdemodificarassubstânciasqueserãoliberadasnapróximavezqueacélulaforexcitada.Oupodematéajudaroutrassubstânciasneuroquímicasachegaraseusdestinosmaisdepressaesecomunicarcomdiferentestiposdereceptores.

Temosaquiumasituaçãoemqueovelhoadágiosobreelefantesfuncionamuitobem.Comofazerparacomerumelefanteinteiro?Sóépossíveldeumamaneira:umpedaçodecadavez.Dequeoutramaneirasepoderia lidar commilhõesdeneurônios, trilhõesde sinapses emilharesde substânciasquímicas eproteínasquevagamemcada sinapse?Observandouma reação, umneurotransmissor, um receptor, oscientistasdescobriramváriassubstânciasquímicasinteressantesrelacionadasaoamor.

Ovícioemdopamina

Na base do cérebro anterior, o grande córtex frontal que diferencia os seres humanos dos demaismamíferos, estão os núcleos da base. Centenas de milhões de anos atrás, quando saíram da água ecomeçaramapassaralgumtemponaterraseca,nossosancestraispossuíamcérebrosnãomuitodiferentesda atual encarnaçãodenossosnúcleosdabase, compostospelo corpo estriado, umaestrutura sulcadaformadapelonúcleocaudado,oputâmeneonúcleoacumbens;pelopálido,comseuglobopálidoeo

vizinhopálidoventral;pelasubstâncianegra,aregiãonosnúcleosdabasequeparecemaisescuraqueoresto;pelaáreategmentalventral;epelonúcleosubtalâmico,umapequenaáreaadjacenteaotálamo,aregiãoresponsávelporretransmitirassensações.Àmedidaquedesenvolvemoslobosfrontaismaiores,nossosnúcleosdabaseconservaramseuformidáveldomíniosobreocomportamentoeaaprendizagem,criando fortes conexões tanto dirigidas para o córtex pré-frontal e outras áreas cerebrais essenciaisquanto provenientes delas. A região dos núcleos da base está ligada a quase todos os aspectos dacognição e faz parte também de uma importante via cerebral chamada sistema límbico mesocortical,envolvidanamotivaçãoenoprocessamentoderecompensas.

Nosso“cérebroreptiliano”,asprincipaisestruturasdosnúcleosdabase.IlustraçãodeDorlingKindersley.

Os núcleos da base abrigammuitos neurotransmissores diferentes, mas essas áreas, bem como osistemalímbicomesocortical,sãoestimuladasprincipalmentepeladopaminaliberadaporumgrupodeneurônios na substância negra e na ATV. É essa influente substância química que permite profundasmudançasnocérebro,que resultamemaprendizagem,memóriaemovimento.Adopaminaé tãoantigaquantooprópriocérebroreptiliano–eumasubstânciamuitopoderosa.2

AdopaminafoiamplamenteestudadaemindivíduosquetêmmaldeParkinson.Amortedeneurônioscruciais para a sua produção, localizados na substância negra, resulta nos sintomas característicos doParkinson: tremor, rigidez e demência. A esquizofrenia, por sua vez, foi caracterizada comosuperabundânciadeproduçãodedopaminanocérebro.Alémdisso,elatemparticipaçãonasíndromedeTourette, na anorexia nervosa, no transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), no transtorno do déficit deatenção e hiperatividade (TDAH) e no vício em drogas. Este é um neurotransmissor que exerceconsiderávelinfluênciasobrenós.

Agorapensemossobreoenamoramento.Umapessoapodeapresentarcertastendênciasobsessivasnoqueserefereaseuamado,nãodiferindomuitodeumindivíduocomTOC.Elapodeficardistraídanotrabalhoouemcasa,terumpequenoTDAHrelacionadoaoamor.Podecomeçaraatribuirumsignificado

muito especial a pequenos traços que tem em comum com o companheiro – suamútua adoração porfilmesdehorroreofatodeambosseremviciadosempistache,paranãomencionaramaneiracomoasnaturezas competitivas de ambos se manifestam durante as finais do campeonato de basqueteuniversitárioamericano.Encontrarconexõestriviaisetransformá-lasemassuntosdegrandeimportânciaé algoque pode ser vistomuitas vezes empacientes esquizofrênicos (comoosmétodos de quebra decódigo de JohnNash emUmamentebrilhante).Uma pessoa apaixonada pode ter sua capacidade detomardecisõesprejudicada.Pacientesparkinsonianosapresentamcomfrequênciagrandedificuldadeemfazeratéasescolhasmaissimples.

Vício?Nãoédifícildaressesalto.Ésemprefácillembraraquelesprimeirosmesesdeumarelação,quando nunca podíamos nos fartar da presença do ser amado. Não estou dizendo que o amor é umadoença (embora um bom número de escritores o tenha dito, poeticamente), nem que é uma partenecessária desses transtornos. O que estou sugerindo é que, se examinamosmais de perto os efeitoscomportamentaisdoexcessooudafaltadedopaminanosnúcleosdabase,podemosverporqueHelenFisherpensouqueeladeveriaestarnabasedaneurobiologiadoamor.“Lidescriçõesdoamorromânticodos últimos quarenta anos para poder fazer uma ideia de quais eram os elementos”, explicou ela. “Equando examinei esses elementos – o foco do amor, a energia, os fatores motivacionais – propus ahipótesedequeadopaminatinhadeestarportrásdele.”

Elaestavacerta–muitasáreasnosnúcleosdabase,emparticularaquelasqueenviamourecebemcargas de dopamina, são ativadas em resposta ao amor românticonas imagens de fMRI.Estudos comanimaissugeriramqueadopaminadesempenhaumpapelextraordinárionoestabelecimentoderelaçõesmonogâmicas. Os arganazes-do-campo são uma espécie monógama; mais de 80% desses pequenosroedoresseacasalamcomapenasumparceirodurantetodaavida.Adopaminaliberadaapósasessãoinicialdeacasalamento,provavelmentea fontedeseuprazer,preparaocérebroparaestabeleceressevínculo.Quandooscientistasdavamaelesdrogasqueinibemaproduçãodedopamina,essesroedoressupermonógamos tornavam-se incapazes de formar relações dessa natureza após o acasalamento.3 Emcontraposição, os que recebiam drogas que aumentavam a quantidade de dopamina em seus cérebrosformavam vínculos mesmo sem a sessão preliminar de acasalamento. A dopamina é importante. Nãoapenasnoreforçopositivoapartirdosexoparaformarovínculooriginal,mastambémnosconstantesacasalamentosquepermitemaosanimaismanteressevínculoaolongodotempo.4

Comopodeumapequenaquantidadede substânciaquímica ter tamanhopoder?Emúltimaanálise,trata-se do processamento de riscos e recompensas. Uma pesquisa recente sobre processamento derecompensasetomadadedecisãodemonstrouoimportantepapeldesempenhadopeladopamina.Usandomodelosanimais,cientistasobservaramquequandoumratofazumaescolhaquelevaaumarecompensainesperada, como alimento ou uma droga positivamente estimulante, ocorre um notável aumento naliberaçãodedopaminanosnúcleosdabase.Depoisqueeleétreinadoparaesperarumarecompensacomumestímuloemparelhado,senãoorecebeourecebealgoquenãochegaaserexcelente(algumassimplesbolinhas de comida em vez de uma dose de cocaína, por exemplo), as células dos núcleos da baseliberam menos dopamina. O mesmo tipo de efeito foi observado em pessoas durante estudos deneuroimagem.

MichaelFrank,neurocientistadaUniversidadeBrownqueestudaosnúcleosdabase,acreditaqueéassim que a dopamina facilita a aprendizagem.Afinal, quando recebemos uma recompensa, queremosdescobriroquefizemosparaganhá-la,demodoapoderobtê-ladenovo.Dependendodequãoprazerosaforaexperiência,podemosatéexecutaraquelatarefamaisalgumasvezesdepois.Poroutrolado,secertocomportamentoresultaempuniçãoounumaconsequêncianegativa,vamosbuscarevitaraquelasituaçãonofuturo.“Ocircuitodosnúcleosdabaseestáperfeitamenteestruturadoparafomentaraaprendizagembaseada em recompensa”, disse-me Frank. “Ele nos permite aprender sobre os resultados positivos e

negativos de nossas escolhas. Quando experimentamos esse aumento na dopamina, ficamos maispropensosaperseguiromesmoresultadorecompensadornofuturo.”

Nosarganazes-do-campo,ofluxodedopaminaqueresultadoacasalamentopreparaocérebroparacriarumarelaçãomonogâmicacomummembrodosexooposto.Semessesúbitoaumentodadopaminaarelaçãopoderianuncaseformar.Issoseaplicaaossereshumanostambém–enãosóemrelaçãoaosexo.Qualquerinteraçãosocialpromovealiberaçãodedopamina.Rircomamigos,acariciarosfilhos,ficardemãos dadas como amado, até afagar nosso cachorro – o simples ato de estar comoutras pessoasconstituiporsimesmoumarecompensa.

Masosnúcleosdabasepossibilitammaisdoqueapenassentimentosprazerosos.Esseagrupamentode regiões envia sinais para áreas que ajudam a filtrar informações desnecessárias, de modo quepossamosnosconcentrarnosaspectosmaisimportantesdatarefaquenospropomosaexecutar.Elesnospermitemconstruira lembrançadeumaexperiênciaquepoderemos recobrarquandonosencontrarmosmaistardenumasituaçãosemelhanteenosajudamaorganizarnossosmovimentosafimdequepossamosagiremrespostaaumestímulo.Osnúcleosdabasesãoumcircuitodecisivo,queinformatodasortedeatividades cognitivas, e a dopamina o estimula, isto é, quando está em jogo qualquer tipo deaprendizagemquetenhaorigemnumarecompensa–inclusiveoamor.

Osneurocientistastêmmuitointeressenamaneiracomoavaliamostantoarecompensaquantoorisco,e no papel que essa avaliação desempenha emmuitos tipos de comportamento. Isso significa que sãofascinados por sexo e amor; afinal, há recompensamaior (ou risco, na verdade) que encontrar nossoverdadeiro amor (ou, na falta dele, obter alguma coisinha enquanto esperamos que ele apareça)? Háalgumoutroestímulocomefeitos tãoprofundosede tão longoalcancesobreocomportamento?Muitopoucos,euapostaria.

Oxitocina,oxitocinaemtodaparte

Logo acima do tronco cerebral, abaixo do tálamo e dos núcleos da base, situa-se o hipotálamo.Essapequenaregiãocerebralemformadeamêndoatemafunçãodecisivademediaracomunicaçãoentreocérebroeosistemaendócrino.Emoutraspalavras,essaáreateminfluênciasobrequaishormônios,essesgrandesdeflagradorescomportamentais,sãoliberadosnacorrentesanguíneaepenetramnocérebro.Elaestá diretamente ligada à glândula pituitária ou hipófise, a chamada glândula-mestra do cérebro esecretora de hormônios, bem como ao tálamo, ao núcleo acumbens e à área tegmental ventral. Áreasespecializadas dentro do hipotálamo, como o núcleo paraventricular (NPV) e o núcleo supraóptico(NSO),contribuemparaaliberaçãodeoxitocinapelahipófise.

A oxitocina é uma maravilha de composto. Alguns chegam até a qualificá-la de mágica.Tecnicamente, é um neuropeptídio, uma pequenamolécula semelhante a uma proteína que pode atuarcomoneurotransmissor,estimulandoeinibindoneurôniosnocérebro.Temsidoapontadacomoelementoatuante, quando liberada na corrente sanguínea, em comportamentos como a ejeção do leite emmãeslactantes,aestimulaçãodecontraçõesuterinasduranteotrabalhodepartoeamodulaçãodociclodocio.Apitocina, umaversão sintéticadaoxitocina, é usadapara ajudar a acelerar o trabalhodeparto.Emrazão desses efeitos maternais, os pesquisadores acreditavam de início que a oxitocina fosse umasubstânciaquímicaespecificamentefeminina,masoNPVeoNSOtambémenviamoxitocinadiretamentepara o córtex cerebral – tanto emmulheres quanto em homens. Em resposta ao toque, ao sexo e aosvínculos sociais, a oxitocina estimula células na área tegmental ventral.Depois de estimuladas, essascélulasiniciamaquelabelaeagradávelcascatadedopaminanosnúcleosdabase.

Ohipotálamomedeiaaliberaçãodeoxitocinaevasopressinatantoparaocorpoquantoparaocérebro.Ahipófise,aglândulaemformadeamêndoaabaixodohipotálamo,liberaoutrosimportanteshormônios.

IlustraçãodeDorlingKindersley.

“Aoxitocinaéumasubstânciaquímicamuito importante.Océrebropossui seupróprio sistemadeoxitocina,quecommuita frequênciaéativadoemparalelopelaoxitocinasistêmica”,explicouKerstinUvnäs-Moberg, especialista em oxitocina e coorganizadora do simpósio Wenner-Gren original. ElacontinuaseutrabalhocomaoxitocinaatualmentenaUniversidadeSuecadeCiênciasAgrícolasedispôs-segentilmenteadiscutirasmaravilhasdessasubstânciaemmeioaosestalosdeumaligaçãotelefônica.

Quemlêasnotíciassobreciênciahojeemdiadificilmentepodeevitaraoxitocina.Pesquisadoresnomundo inteiro estão descobrindo novas maneiras pelas quais os níveis dessa substância sãopositivamente influenciados.Atividades comoacarinhar nossobebê, sentindo suapele contra a nossa,passearcomocachorro,ganharumamassagem,terorgasmos,passaralgumtemponoTwitteroumesmoexperimentarumsimplescontatoolhoaolhocomoutrapessoapodemelevarnossoníveldeoxitocina.Níveis elevados desse neuropeptídio foram associados à capacidade de perceber melhor nuancessociais, uma confiança e emoção, a vínculos sociais fortes e a umamelhor disposição de ânimo. Poroutrolado,senossoníveldeoxitocinaémuitobaixo,podemosterdificuldadeparareconhecerrostos,criarapropriadamentenossosfilhosouevitarodesejodeconsumiralimentossalgadosedoces.Vínculossociais, relaçõespais-filhos,comportamentos sexuais, confiança–aoxitocinaparecedesempenharumpapel em todos esses e em tantos outros comportamentos complexos.Hoje ela é considerada tambémparte dos tratamentos potenciais para autismo, esquizofrenia e depressão. Alguns “especialistas”chegaramatéaproporquetalvezvalhaapenacheirarumpouquinhodeoxitocinaparaajudaramelhoraroestadodeânimoeasociabilidadeantesdeumencontroamorosoouumaentrevistadeemprego,emboraamaioriadospesquisadorescientíficosqueestudamaoxitocinafaçaforteobjeçãoatalprática.

Embora seja uma substância química de amplo alcance, os efeitos da oxitocina são bastante sutis.QuandoneurocientistasnaUniversidadeEmoryusaramtécnicasdeinativaçãopararemoverosgenesqueproduzem oxitocina em camundongos, pensavam que iriam encontrar algumas mudanças nocomportamentomaterno.Verificaram,porém,queafaltadeoxitocinanaregiãodaamígdalamedial,umaáreacerebralricaemreceptoresdeoxitocina,fezcomqueosanimaisnãopudessemreconheceroutroscamundongos.Oolfatoeapercepçãoespacialpermaneciamintactos,bemcomoamemória,masmachosemqueosgenesprodutoresdeoxitocinahaviamsidoinativadosnãoeramcapazes,apóstrintaminutosde

separação,dereconhecerfêmeasquelheshaviamsidopreviamenteapresentadas,algoquecamundongosnormaispodemfazersemproblema.Quandoospesquisadoresinjetaramoxitocinanessesanimaisantesdoencontro inicial,o reconhecimentosocial foi restaurado.5Emcomparação,o reconhecimento socialtambém foi prejudicadoquandoumantagonista da oxitocina, umadroga que impede sua conexão comreceptores, foi injetado na amígdalamedial de animais normais. Ao que parece, a falta de oxitocinaduranteaapresentaçãointerferiunacodificaçãodasinformaçõessociaisapropriadassobreafêmea.Esseachado correlaciona-se com estudos feitos com seres humanos.Cientistas demonstraramque danos naamígdalalevamaproblemasnoreconhecimentofacial,nainterpretaçãodedeixassociaisenaexpressãodeemoções.Fazsentido.Comoformarumvínculo,duradouroounão,comumapessoasenemsequerareconhecemosnumsegundoencontro?

AteoriadeUvnäs-Mobergéqueesseneuropeptídioestánocernedeumsistemapsicofisiológicoqueseopõediretamenteaofenômenode“lutaoufuga”,umarespostaaoestresseagudomediadaporativaçãonohipotálamo,notroncocerebralenaamígdalaemsituaçõesqueameaçamasobrevivência.Elapropõeque há uma resposta análoga de “calma e conexão”.Emvez de ritmo cardíaco acelerado e níveis deglicose elevados – as características da “luta ou fuga” –, a oxitocina ajuda a mediar um circuitocontrastantequeresultaemrelaxamento,ritmocardíacodiminuídoeumasensaçãogeraldecalma.

Afaltadeoxitocinanaamígdalafoiassociadaadéficitsdereconhecimentosocial.IlustraçãodeDorlingKindersley.

Quandopercebemosumaameaça,temosdeestarpreparadosparaagir.Fisiologicamente,nossocorpoprecisaestarpreparadoparabrigaroucairfora,earespostadeveserimediata.Umestadofisiológicodecalmaeconexãonãorequeromesmotipodevelocidade.Naausênciadeperigo,podemos irdevagar.Mostrou-se que a administração repetida de oxitocina induz efeitos duradouros em áreas do cérebroenvolvidasnaformaçãodevínculossociais,nocomportamentosexualenoafetoparental.Comopassardotempo,esseestadocalmoeconectadotemcomoresultadonãoapenasumsentimentodeeuforia,comopoderíamos experimentar quando tomados por um novo amor, mas também uma sensação geral derelaxamentoepaz.Essasensaçãodebem-estartambémpodeterbenefíciosparaasaúde.Muitosestudossugeriram que uma conduta calma e relações sociais sólidas podem ajudar as pessoas a suportarsituações estressantes, lutar contra doenças e até prolongar a vida. Some essas diferentes linhas de

pesquisa, sustenta Uvnäs-Moberg, e você verá a considerável vantagem evolucionária de um sistemaantitéticoaodelutaoufuga.Alémdisso,afirmouela,dadososseusefeitossobreosistemanervoso,aoxitocinaqualifica-separaseresseagentedecalmaeconexãonocérebro.6

Aanimadavasopressina

Comoaoxitocina,avasopressina(maisformalmentechamadadevasopressinaarginina)éumpequenoneuropeptídio, também liberado pelo NPV e pelo NSO no hipotálamo. Ela é muito parecida com aoxitocina;de fato,osgenesparaambasas substânciasquímicas residemnomesmocromossomo.Suassemelhanças são tais que alguns cientistas formulam a hipótese de que as duas podem ter evoluído apartirdeummesmocompostoalgumascentenasdemilhõesdeanosatrás.7

Avasopressinaestáenvolvidanaregulaçãodapressãosanguínea–por issovaso,numareferênciaaosvasossanguíneos.Estátambémimplicadanafunçãorenal,nahomeostasecelularenaregulaçãodaglicose. Na esfera do comportamento, está ligada à atenção, à aprendizagem, à memória e àagressividade.Comoaoxitocina,temumpapelnoestabelecimentoderelaçõesmonogâmicas.Trabalhacomoumaabelhinhadiligente.

Se a oxitocina outrora foi considerada uma substância química feminina, a vasopressina era seucorrelatomasculino; contudo, tal como a oxitocina, a vasopressina está presente em ambos os sexos.Estudoscomarganazes-do-campomostraramqueelaintensificacomportamentosterritoriais.Atéumdiadepois do acasalamento e da formação de vínculo com uma fêmea, os machos se mostrarão maisagressivos;esserecém-casadomataráparaassegurarquesuadama,fértilepronta,nãosejafecundadaporumrival.Aagressividadenasfêmeastambémaumentadepoisqueelassevinculamaummacho,masdemaneiramais lenta.Omelhorqueoutras fêmeas têma fazer énempensar emseaproximarde seumacho.Pelomenossetiveremamoràprópriapele.

É difícil estudar a vasopressina, principalmente em razão de suas vastas e variadasresponsabilidadesportodoocorpo.Essasubstânciaquímicanãoéliberadaemrespostaaosexoapenasno cérebro,mas também em outras partes do organismo.Dada a sua importância para o coração e afunçãorenal,nãoéumelementoquepesquisadoresdesejariaminativarporcompletoemexperimentos,jáqueissoresultariaemanimaisdoenteseprovavelmentemortos.Acomplexidadealcançaumnívelaindamaior porque a vasopressina pode trabalhar com e contra a oxitocina. Cada uma dessas substânciasquímicaspodeseligaraosreceptoresdaoutra,porvezesfacilitandoeporvezesbloqueandoasuaação.Ospesquisadoresaindaestãotentandodeslindarseusrespectivospapéisnaformaçãoenamanutençãoderelaçõesmonogâmicas.

Algunsoutrosjogadores-chave

Váriosoutrosneurotransmissoresforamrelacionadosaoamor.Oglutamatoéumasubstânciacríticaparaaaprendizagemeamemória.Oácidogama-aminobutíricoéumcompostomaisconhecidoporseupapelinibidor(oarrefecimentodeneurôniossuperexcitados),bemcomoporseusefeitossobreavigilânciaeodespertar.Mostrou-se que ambos estão envolvidos em vias de recompensa,mas não está claro comointeragementresipararesultarnosmuitoscomportamentosdoamor.Estudosestãoemcurso.8

Aserotonina,umneurotransmissorquevocêtalvezreconheçaporsuaimportâncianotratamentodadepressão,étambémrelevantequandolidamoscomoamor.Emboraelasejaconhecidaporseusefeitosna melhora do humor, seus níveis caem nos estágios iniciais do amor. É um enigma. O amor nosproporciona bem-estar, certo? Ele melhora o humor. Não deveria fazer os níveis de serotonina seelevarem?Masoamortambémliberagrandesquantidadesdedopamina.Quandoadopaminaseeleva,aserotoninabaixa.Essaéumadasmaneiraspelasquaisocérebroseequilibra.Muitasvezessefaladaserotonina comoum freio, umamaneira de estancar o fluxo de dopamina para não ficarmos sempre àmercêdessassensaçõespositivas.

Masoamornãonosproporcionaapenasbem-estar.Torna-nos tambémumpoucoobsessivos–eaobsessãopodeserestressante.Umdosprimeirosestudosmolecularesdoamorexaminouotransportadorde serotonina, uma pequena proteína que ajuda a serotonina a se deslocar na sinapse. DonatellaMarazziti, neurocientista italiana daUniversidade de Pisa que estuda o amor, comparou o número depontosdeligaçãodotransportadordeserotoninaemindivíduosquehaviamseapaixonadorecentemente,emindivíduosquesofriamdeTOCeemumgrupodeindivíduos-controlecompessoasnãoenvolvidasnuma relação. Marazziti e seus colegas constataram que o número de pontos de ligação erasignificativamentemaisbaixotantoempacientescomTOCquantonosenamorados.Oquesignificaisso?Provavelmente, a ação neuroquímica da serotonina teria um papel tanto na origem dos pensamentosobsessivosqueocorremnoTOC,quantonoamor.AmesmafaltadeserotoninaquelevaumpacientecomTOCaacreditarquetocarcincovezesnumaportaaoentrarpodegarantirsegurançatalvezestejaportrásdamaneira comoumapessoa pensa constante e compulsivamente numnovonamoradoquando está nafasedeluademeldeumarelação.9

Talvezvocêtenhanotadoqueaindanãomencioneiestrogêniooutestosterona.Seriadeimaginarqueesseshormôniosgonadaisdesempenhassemumimportantepapelnoamor;afinal,osensocomumsugereque todososnossoscomportamentosrelacionadosaoamorsão impelidosporeles.Talvezvocêpensequeoestrogênioestáportrásdoseudesejodeseuniraseuverdadeiroamor.Emborapresenteemambosossexos,eleémuitasvezeschamadodehormôniofemininoeécaracterizadocomoamoléculaquenostorna vulneráveis aos outros e abertos a eles. Quando Marazziti e colegas na Universidade de Pisamediram níveis hormonais em indivíduos apaixonadamente enamorados, em solteiros e naqueles queestavamnuma relaçãodecompromissohaviaalgum tempo,nãoviramnenhumadiferençanoestradiol,uma forma de estrogênio, ou na progesterona, outro dos chamados hormônios femininos. O queencontraramfoiumnívelmaisaltodetestosteronanasmulheresapaixonadaseumaquedanapresençadetestosterona e de hormônio folículo-estimulante (FSH, na sigla em inglês), um hormônio associado àreprodução, em homens. Viram também níveis mais elevados de cortisol, um hormônio liberado emrespostaaoestresse.Quandoessaspessoasapaixonadamenteenamoradasforamnovamentetestadasdoisanosdepois,todasasdiferençashormonaisentreosgruposhaviamdesaparecido.

A razãoporqueessesníveismudaramdessamaneiraestáaberta à interpretação.Marazziti sugereque os níveis aumentados de cortisol representam excitação,mas também certo nível de estresse nosprimeiros dias de uma relação. A ideia harmoniza-se com as conclusões de vários estudos animaissegundo os quais um pouco de estresse favorece de fato a interação social e o afeto. Em animais, apercepçãodeumaameaçaéumincentivoàassociação.Seumanimaltemumcompanheiroouparceiropermanenteaseu ladoparaajudaraprocurarcomida, tomarcontadosfilhotese lhedarproteção,suaprobabilidadedesobrevivênciaaumentaenormemente.

É também possível que esses níveis elevados de cortisol representem apenas o velho e simplesestressecomum.Vocêpodeestarnosétimocéu,mascomotercertezadequeoeleitosesentedamesmamaneira? Qualquer pessoa que esteja nos primeiros dias de uma relação sabe o que é passar o diarecitandoo“bem-me-quer-mal-me-quer”.Issopodeserfontedealgumaconsternação.Comoeudisse,a

razãoporqueMarazzitiviuessesníveisaumentadosdecortisolestáabertaàdiscussão.Podesedeveraalguma resposta ao estresse vestigial a um sistema de afeto de 100 milhões de anos atrás, àspreocupaçõesdeumanovarelaçãoouaalgototalmentediferente.Talveznuncavenhamosasaber.

QuantoaosseusachadosemrelaçãoàtestosteronaeaoFSH,Marazzitinãotemrespostasprecisaserápidas.NumartigosobreoestudopublicadonaPsychoneuroendocrinology,elaescreveu:

Todos os sujeitos apresentaram esse fenômeno, como se o enamoramento tendesse a eliminartemporariamente algumas diferenças entre os sexos, ou atenuar algumas característicasmasculinasnoshomense,emparalelo,acentuá-lasnasmulheres.Étentadorassociarasmudançasnosníveisdetestosteronaamudançasnocomportamento,aatributossexuaisou,talvez,atraçosagressivosquesemovem emdireções diferentes nos dois sexos.Contudo, afora algumas evidências anedóticas, nãotemosnenhumdadoqueapoieissoequejustifiquepesquisasadicionais.

Poderíamosdizer,portanto,quea testosterona tornaasmulheresmaisabertasaosexoeoshomensmaisabertosàscarícias,porexemplo,masaverdadeéquenãosabemosnadaalémdosimplesfatodeque esses níveis mudam – e apenas nos estágios iniciais do amor romântico. Quando os sujeitosestabelecemumarelaçãomaisestável,duradoura,osníveistantodetestosteronaquantodeFSHretornamaonormal.10

Masaneuroquímicanãosereduzaneurotransmissoresehormônios.Outrogrupodeneurocientistasitalianosexaminouosníveisdeneurotrofinasemcirculaçãonosanguedaspessoasrecém-apaixonadas.As neurotrofinas, também chamadas de fatores de crescimento, são proteínas simples envolvidas naplasticidade sináptica, isto é, na capacidade de mudança da conexão entre os neurônios. Algunsneurocientistas referem-se a elas afetuosamente como “fertilizadores cerebrais”, porque podem ajudarneurônios a se desenvolver, especializar, crescer e viver mais. Estão também implicadas em seufortalecimento para promover a aprendizagem e em processos de memorização. Como descrevi, océrebro passa por muitas mudanças quando nos apaixonamos: ele concentra nossa atenção no eleito,aumenta nosso bem-estar e nossa energia e nos torna um pouquinho obsessivos. Se o amor forcorrespondido, isso pode levar a um vínculo duradouro. Temos aqui algumas mudanças bastantesignificativasqueenvolvemmuitasáreascerebraisemuitassubstânciasneuroquímicasdiferentes.Paraque elas ocorram, há necessidade de plasticidade sináptica. Sem ela, e sem as neurotrofinas que afacilitam,nossoscérebrospermaneceriaminalteradosparasempre,incapazesdeaprenderoudecrescer.

Considerandoquemudançasrelacionadasàaprendizagemeàmemórianocérebroforamassociadasaníveis aumentadosdeneurotrofinas, obiólogomolecularEnzoEmanueleperguntoua simesmo seoamor – que envolve ele próprio bastante aprendizagem,memória emudanças cerebrais –mostraria omesmo tipo de padrão. Ele e seus colegas mediram os níveis de quatro diferentes neurotrofinas emindivíduos apaixonadamente enamorados, em outros não envolvidos numa relação e em outrosenvolvidosemrelaçõesduradourasquejánãosesentiamtãoapaixonadosporseusparceiros.Ogrupodescobriuqueumfator,ofatordecrescimentoneural(NGF,nasiglaeminglês),estavasignificativamentemais elevado nas pessoas apaixonadas. Além disso, o NGF se correlacionava positivamente com aintensidade do amor, tal como medida por uma escala padronizada: quanto mais apaixonado umparticipanteserevelava,maiselevadooníveldeNGF.Comonoestudodoshormônios,Emanuelevoltouatestarosparticipantesquemantinhamsuasrelaçõesamorosasdedozeavintemesesdepois.Exatamentecomo fora observado quanto aos hormônios, o tempo foi suficiente para fazer os níveis de NGFretornaremaonormal,osmesmosníveisencontradosnosdoisgruposdeindivíduos-controle.11Estáclaroquealgumacoisaacontecenessesestágiosiniciaisdoamor,eoNGFpodeterumpapelnamodulaçãodeoutrassubstânciasquímicascerebrais,mediandoalgumasmudançasnocérebroenocomportamentoque

identificamos no amor recente.12 A verdade, no entanto, é que simplesmente não sabemos o queexatamente o NGF poderia estar “fertilizando”, ou como ele se relaciona com os sentimentos e oscomportamentosdeamor.

Umaquestãoderecepção

Costuma-sedizerqueémelhordardoquereceber.Masdarerecebersãoigualmenteimportantesquandose trata de sinapses e neurotransmissão. Nenhuma discussão sobre substâncias neuroquímicasrelacionadas ao amor é completa sem um rápido olhar sobre seus receptores. Para qualquerneurotransmissor–naverdade,paraqualquersubstâncianeuroquímica–podehaverumpunhadodetiposde receptores, que resultamemdiferentes ações celulares.Um tipodemoléculapodemuitasvezes seemparelhar com o receptor primário de outra substância química. Não basta ter certo nível de umasubstância neuroquímica particular; é preciso ter o tipo certo de receptores disponíveis, no númeroapropriado, para que ela seja absorvida por uma célula receptora e exerça seu efeito.Atualmente, oscientistas estão estudando uma grande variedade de diferentes receptores relacionados a todas essassubstânciasneuroquímicas,emparticularnoestudodamonogamia.Diferentesreceptores,inclusiveumavariedade de receptores de vasopressina e dopamina, têm algo a dizer sobre a intensidade e alongevidadedeumadadarelaçãomonogâmica.Falareimaissobreesses receptoresespecíficoseseuspapéisnospróximoscapítulos.

Tudoéquímica

Há alguns livros de aconselhamento por aí afirmando que o amor duradouro depende unicamente daquímica cerebral adequada. Para ser capaz de conectar-se com a pessoa certa, você precisa do nível“certo”de testosteronaouoxitocina.Basta seguir essas regras,mudar suadieta, evocê serácapazderestauraroequilíbrionaturaldeseucorpo–ou,seissofortrabalhosodemais,bastacomprarumalinhade suplementos indicadosna loja on-linedo autor do livropara chegar a umaótimaneuroquímicadoamor.13Emboranãohajadúvidadequeumadietabalanceadaeexercícioregularsãoimportantesparaaboa saúde, inclusive a saúde cerebral, não há evidências de que exista apenas um equilíbrio químicocorreto no cérebro. Distúrbios dos sistemas de neurotransmissores podem levar a desordens comodepressão, TOC e TDAH,mas nas chamadas populações normais esses sistemas apresentam incrívelvariação.Mesmoquandolivresdedoenças,nossoscérebrosesuaneuroquímicainatacontinuamsendoparticularmentenossos,tãoesquisitoseúnicosquantoqualqueroutrodenossostraços.Osestudosatuaisde neurociência não oferecem nenhuma indicação de que o amor requeira um nível específico dequalquersubstâncianeuroquímicaouqualquercombinaçãodelas.

Todasessassubstânciasquímicascerebrais–dopamina,oxitocina,vasopressina,serotoninaeoutras–estãomisturadasnocoquetelquechamamosdeamor.Agite-oe–voilà! –vemosumavariedadedediferentesáreascerebraisseativarem,bemcomoumcontínuodecomportamentosrelacionadosaoamor.Comoqualquer bombartender lhe dirá, pormais habilidoso que você seja, e pormelhor que seja aqualidadedeseusinstrumentosouingredientes,jamaisdoiscoquetéisterãoexatamenteomesmogosto.Algunsbartenderspassamanostentandorecriaraqueledrinqueperfeito.Mastentamemvão.

Infelizmente, encontramos omesmo fenômeno no cérebro.Não encontraremos duas pessoas com amesmaquímicacerebral,eduaspessoasnuncaterãoexperiênciasidênticasnoamor.Assim,emboraosneurocientistas estejam avançando no conhecimento de como esses vários neurotransmissores esubstâncias químicas semisturam para criar comportamentos complexos, inclusive aquela palavra dequatroletrasquecomeçacoma,aindahámuitoterrenoaexplorar.

4.Epigenética(ou:Étudoculpadaminhamãe)

QUANDOEUDISSEàminhamãequeumcapítulodestelivroteriaosubtítulo“Étudoculpadaminhamãe”,elariuerespondeu:“Foramoscheeseburgers!”Éumaantigapiadadafamília.Quandoestavagrávidademim, aúnica coisaqueminhamãe suportava comer eramos cheeseburgersdeumacadeiapopular defast-food.TendoacabadodesemudarparaaáreametropolitanadeChicago,elaemeupaifaziamquasetodasasrefeiçõesforaenquantoesperavamquesuanovacasaficassepronta.Acadanoite,minhamãesentava-seestoicamente, tentandonão terânsiasdevômitoduranteosmaisfabulosos jantaresquemeupaipediaemótimosrestaurantesdetodaacidade.Invariavelmente,porém,pormaisqueseesforçasse,elaacabavaesperandoporelenotoaletefemininoounocarro,porqueacomidaarepugnava.Assimqueelepagavaaconta,minhamãepediaparaserlevadaaodrive-thrudareferidacadeiadefast-foodmaispróximo.Alielafaziaseupedidoedevoravadoisouatétrêscheeseburgers.Eleseramaúnicacoisaqueaatraía–eaúnicaqueelaconseguiasegurarnoestômago.Desdeentão,qualquermaucomportamentodeminha parte, qualquer linguagem imprópria ou má ação, foi explicado com a simples frase: “Foramaquelescheeseburgers!”(Muitasvezes,éclaro,meussucessossãoatribuídosaelestambém.)

Malsabíamosnósqueoscientistasestavamdescobrindoqueacomidaqueasmães(etalvezospaistambém)comemenquantoosbebêsestãonoúteropoderealmenteprovocarmudançasnosseusgenomas–pelomenosnamaneiracomogenesindividuaissãoexpressosnocorpo.Eamaneiracomoospaissecomportamdepois que esses bebês nascempode também ter efeitos profundos sobre a expressão dosgenes. A soma desses comportamentos pode afetar amaneira como, por sua vez, seus filhos amam ecriamosprópriosfilhosdurantetodaaexistênciadeles.

Veja o poder dos cheeseburgers! É bem possível que eles tenham mudado a maneira como medesenvolvi, a maneira como me alimento em minha idade adulta, a maneira como amo e até minhamaneiradesermãe.Quemdiria?

Genesecomportamento

Aideiadequeosgenessãoalteradospeloambienteénomínimocontráriaaosensocomum.DesdequeaquelapequenahéliceduplachamadaDNAfoidescoberta,fomosensinadosquenossosgenessãonossodestino, inviolávele inflexível.Nossasdiferenças individuais,aconstituiçãofísica,apersonalidade,ainteligência,ocomportamentoetodasasdemaiscaracterísticaspoderiamserexplicadospelamisturadevários genes que recebemos de nossos pais – mas os próprios genes individuais permaneceriampraticamenteosmesmos.Aevoluçãopodeporcertocurvarumbico,gerarumamembranaentreosdedos,ou promover outros pequenos aperfeiçoamentos aqui e ali, mas essas mutações se produzem muitolentamente, ocorrendo ao longo de milhões e milhões de anos. Danos diretos aos genes, através dedoençasouacidentesambientais,poderiamtambémexcluiralgunsgenesdamisturaoucausararepetiçãodecertas sequências–mas isso,maisumavez,eraaexceçãoà regradegenes inalteráveis.E,como

iníciodoProjetoGenomaHumanoem1990,pareciacertoquelogoteríamosumachave,naformadeumconvenientemapagenômico,paracompreendertantooscomportamentosquantoasdoenças.AmensagemconstantedacomunidadecientíficaeraquenossoDNAeraofatordecisivo,controlandoocrescimento,odesenvolvimento,asdoençase,porfim,ocomportamento.Depoisque tivéssemosmapeadoogenoma,teríamosomanualparanosajudaracompreendertudo.

Há alguns problemas com essa ideia de determinismo genético. Um dos maiores? Gêmeosmonozigóticos (idênticos). Você já notou que por vezes essas pessoas não são tão idênticas assim?Muitasvezesháalgumtraçofísicoúnico,umsinalbemsituadonapeleou talvezuma linhadocabeloligeiramentediferente,paraajudarosoutrosadistingui-losfisicamente.Maisimportante:ummembrodoparpodedesenvolverumdoençacomoasmaouesquizofrenia,enquantoooutropermaneceintocadoporela.E,emtermosdepersonalidade,pormaisunidoqueumcasaldegêmeospossaser,cadaumtemseupróprio caráter distinto. É surpreendente pensar que essas diferenças possam ocorrer mesmo entrepessoasquetêmgenomaspraticamenteidênticos.Comoissofuncionaexatamente?

Deveria sermencionado tambémque os estudos genéticos na esfera do comportamento social nãoforam tão satisfatórios quanto alguns esperavam. Estudos de gêmeos procuraram genes subjacentes atraçoscomoaltruísmo,confiançaefidelidade,masforamincapazesdeapontarogeneouosgenesexatosenvolvidos nessas qualidades.1 O que esses estudos puderam oferecer foi uma estimativa básica daherdabilidade.Emboraissosejaútil,nãoélámuitoespecífico.

Naúltimadécadahouveumaumentononúmerodeestudosdeassociaçãodogenomapleno,emquepesquisadorescomparamasidiossincrasiasgenéticasdemilharesdeindivíduoscomumcomportamentoparticularemcomum(emgeralusandodadosdelevantamento).Maisumavez,porém,excetoemrarostranstornos, a maioria dos comportamentos, como doenças, envolve múltiplos genes. Esses métodospermitem aos cientistas avaliar probabilidades,mas não oferecem quaisquer respostas definitivas emrelaçãoaopapeldeumgeneindividualemalgotãocomplexocomooamor.

Muitas vezes falamos sobre os genes como se fossem pequenos deuses, dirigindo doenças ecomportamentos de toda sorte, em especial quando se trata de evolução. Você ouvirá até algunspesquisadores falaremsobreoqueosgenesquerem.Elesqueremsepropagar,selecionarosmelhorestraços,perdurar,eassimpordiante.Naverdade,osgenessãoapenaspequenascadeiasdenucleotídiosqueoferecemàscélulasummanualde instruçõesparaaproduçãodepequenasmoléculasdeproteína.Eles não têm livre-arbítrio e nenhum grande plano para você ou para o universo. São simplesmecanismosbiológicosqueajudamascélulasadesempenharsuafunção.

Emborasejamdecisivasparaa funçãocerebral–aquele“salve-sequempuder”quechamamosdeatividade sináptica –, essas proteínas não agem num vácuo. Muitas vezes se diz que o cérebro écomportamentoequeeleéconstruídosobregenes.Masnãohácomportamentosemalgumaespéciedeestímulo para instigá-lo. Há claramente uma interação crucial aqui: os produtos de nossos genes e onossoambientesecombinampararesultarnumcomportamentoparticular.Comosediz,ocontextoétudo.

Por issoexisteagoraumnovofoconeurobiológicosobreoepigenoma.Apalavravemdogrego;oprefixoepisignifica“sobre”ou“acima”.Oepigenomaéummecanismodeexpressãogênicaquesesituaacimadoprópriogenoma.Oestudodessasmudançasquímicasambientalmente induzidasnaexpressãogênica (que ocorrem semmutação oumudança na sequência de nucleotídios doDNA) é chamado deepigenética.Trata-sedeumfenômenovigoroso;oepigenomamuitasvezesétransmitidoatravésdeváriasgerações junto com os próprios genes. E está promovendo uma grande transformação no mundo daneurociêncianoquedizrespeitoàcompreensãodaaprendizagem,damemóriaedocomportamento.

Nãodiga!

Dêumaboaolhadanoseucomputador.Eleéumobjetofísicocompostodehardware,comumHDeummonitor.Provavelmentevocêtemtambémalgumsoftwarenessecomputador:umsistemaoperacional,umbomprogramadeprocessadordetextoe,comsorte,umbomjogodepaciênciaouumTetrisparaajudá-loaprocrastinar.Ohardwareeosoftwaresãoelementosseparados,emgeralprojetadoseproduzidosporcompanhiasdiferentes.Parafazeralgoútil,digamosescreverumacartaoualcançarumescoremaiorqueodoseufilhonogamedamoda,vocêprecisaqueosdoistrabalhemjuntos.Basicamente,osoftwaredirigeaaçãodoseuhardware.Paravocê,ousuário,osdoisparceirosseconfundem.Vocênãopensaqueseusoftwareéoprogramaequeohardwareoexecuta.Issonãoénecessário.Vocêsimplesmenteusaseucomputador.Sóquandoumdosdoissofreumaavaria, impossibilitando-odevenceraquelejogoidiotaqueteminvadidoseussonhos,aseparaçãodascoisassetornaaparente.

Não é muito diferente no campo da epigenética. “O genoma é comparável ao hardware. E oepigenoma ao software”, diz Randy Jirtle, diretor do Epigenetics and Imprinting Laboratory naUniversidadeDuke.“Éumaboaanalogiaparacompreendercomoissofunciona.”

Emtermossimples,aepigenéticaéamaneiracomoasexperiênciasdevida,asdeseuspaiseassuaspróprias,podemrealmentefazeranotaçõesemseuDNA.Deixandooequivalentebiológicoadestaques,tiques e notasmarginais sobre genes individuais ou grupos de genes, a epigenética podemudar a suaexpressão.De fato, essasmudanças epigenéticaspodemdeterminar se essesgenes serão expressosdealgummodo–mesmoporváriasgerações.Pensoqueéjustodizerquealgumasdessasmarcassãofeitasalápis,sendofacilmenteapagáveispornovasexperiênciasoupelotratamentodireto,aopassoqueoutrassãoescritasnumatintamaisduradoura,permanecendoinalteradasenquantoessesgenessãotransmitidosageraçõessubsequentesdefilhos.

Sevocêtemalgumalembrançadesuasaulasdebiologianononoanodoensinofundamental,devesaber que o DNA é uma hélice dupla, duas cadeias de polímeros de nucleotídios simples chamadosadenina, citosina,guaninae timinaenroscadasna formadeparesdebases.Essaarquiteturamolecularparticularforneceocódigogenético,oprojetoqueorientaráaconstruçãoeafunçãodecadacélulaemseu corpo.Mas ela não age isoladamente.Ospesquisadoresdescobriramagoraváriasmaneiras pelasquaisdiferentesproteínaspodemaderir quimicamente aoDNA,ouao seucompanheiromensageiro, oácidoribonucleico(RNA),a fimdealterarnãooprópriomaterialgenético,masamaneiracomoesseDNAéusadopelascélulasparaproduzirtodasaquelasdiferentesproteínasdecisivas.

OprimeiroemaisestáveldessesmecanismosmoleculareséametilaçãodoDNA.Nossaexperiêncianoúteroenosprimeirosanosdevidapoderesultarnaadiçãodenovasmoléculasaosnucleotídiosdecitosina de nossa cadeia de DNA por meio de uma enzima chamada de DNAmetiltransferase. EssamudançaquímicanãomudaopróprioDNA.Nossocódigogenéticopermaneceabsolutamenteintacto,eaordem dos nucleotídios, inalterada.O que o processo demetilação faz é acrescentar uma espécie demarca de checagem junto aos genes que ele afeta, o que resulta tipicamente na inibição ou remoçãocompletadaexpressãogênicadaproteínaassociada.

Um segundo fenômeno epigenético envolve proteínas chamadas histonas e uma maior expressãogênica.Nacélula,oDNAestáenroladoemvoltadeumnúcleodeproteínasalcalinaschamadashistonas,quepossuemlongascaudasqueporvezesconseguemsairdeseurecintonahélicedupla.Numprocessochamadoacetilação,umdiferentetipodemolécula,umgrupoacetil,seprendeaessacaudadesvianteecriamais espaço entre as proteínas e oDNA.Ao fazer isso, leva a uma intensificação da expressãogênica. De maneira semelhante, a desacetilação também pode ocorrer. Como você provavelmenteimaginou,umacontecimentopodeiniciarumacadeiaquímicaqueacabaliberandoumaenzimachamadahistonadesacetilase,removendoessesgruposacetil(ecomelesoespaçoentreoDNAeashistonas),o

queresultaemmenorproduçãodeproteínas.UmterceiromecanismomolecularestudadonaepigenéticadocomportamentoenvolvemicroRNAs.

Voltemosaononoano:provavelmentevocêtemumavagalembrançadequeRNAsmensageiroscopiamocódigogenéticodoADNedepoisviajamatéonúcleodacélulaparaqueelepossaproduzirasproteínasprescritas.OsmicroRNAs sãomoléculas curtas deRNAque se prendem àquela cadeiamensageira efazemumapequeninaalteraçãonamensagem,oquetemefeitofinaldedeteraexpressãodogene.

Sevocêsóleuporcimaostrêsparágrafosanteriores,eunãoocensuro.Ofereciapenasainformaçãomaisbásicaparaumpequenopanodefundo.Paraasfinalidadesdestelivro,osmecanismosmolecularesexatossubjacentesàsmudançasepigenéticasdaexpressãogênicatêmpoucaimportância.Amensagemaserretidaéqueaexperiênciadevidatemopoderdemudarnossomaterialgenéticononívelmolecular,não mudando nossos genes, mas afetando a maneira pela qual eles se expressam – ou, maisespecificamente,facilitandoaproduçãodemaisoumenosproteínaspelascélulas.E,comoaprendemosno Capítulo 3, a quantidade dessas proteínas pode ter consequências formidáveis no modo como ascélulas de nosso cérebro se comunicam umas com as outras, o que resulta por fim emmudanças emnossospróprioscomportamentos.“Écomoseaevoluçãoseaproveitassedosoftware”,contou-meJirtle.“Essamudançasocorremrapidamente.Émaisfácilmudarocódigodosoftware,ouoepigenoma,doquemodificar os genes no hardware. E essas mudanças podem ter efeitos profundos em nossoscomportamentos.”

Começacomumabatalhagenética

Querveraepigenéticaoperarsuamágica?Considereumbebêrecém-nascido.Eleéoprodutodeseusdois pais, que contribuíram ambos com seu próprio DNA quando o esperma fertilizou o óvulo e ascélulassedesenvolveramnumfeto.Eleaindanãotemmuitaexperiênciadomundo.Dorme,comeesujaasfraldas.Talvezjáarrulheumpouquinho.Mas,apesardesuafaltadetraquejo,seugenoma,compostodemetadedoDNAdesuamãeemetadedodeseupai,jámostraalgunsmarcadoresepigenéticosdeumfenômenochamadoimprintinggenômico.

Herdamosduascópiasdecadagenedenossospais.Emalgunscasos,porém,oscientistasficaramsurpresos ao constatar que uma dessas cópias é desligada. Tome o gene para o fator de crescimentoinsulínico2(IGF2,nasiglaeminglês),umhormônioquedesempenhaumgrandepapelnocrescimentogestacional.Emboraherdemosumacópiadessegenedecadaumdenossospais,somenteacópiadopaiseráexpressa.Oaleloherdadodamãeésilenciado.Emcontraposição,oinibidordecinasedependentede ciclina 1C, um gene que, segundo se pensa, inibe o crescimento de tumores, mostra o padrão deexpressãooposto:acópiadopaiédesligada,amaternaéexpressa.Oscasosemqueessesefeitosdaorigem parental são observados – em cerca de duzentos a quatrocentos genes – são chamados de“imprintinggenômico”.

“O fenômeno é paradoxal”, explicou Catherine Dulac, pesquisadora do Howard HughesMedicalInstitutequeestudaoimprintinggenômiconaUniversidadeHarvard.“Éumaenormevantagemterduascópiasdecadagene.Masaquitemosalgoquedesligaumadasduascópiasdeumgeneessencial.Devehaveralgumavantagem.”

DavidHaig,umgeneticistaevolucionáriodaUniversidadeHarvard,formulouahipótesedequeumimprinting genômico é simplesmente uma batalha evolucionária por nutrientes, isto é, um conflitogenéticoentreosdoissexosqueajudaadeterminarotamanhoeocrescimentodofilho.Voltandoàquelelindoefoforecém-nascido–suamãesabiaqueeleeradeladesdeoinício.Afinal,carregou-onabarriga

durantenovemeses.Opai,noentanto,nãotemnenhumamaneirarealdesaberseédefatoopaidaquelebebê;podeapenasconfiar,anãoserquerecorraaummodernotestedeDNA.Nosúltimosmilhõesdeanos, dada essa discrepância de conhecimento, sugere Haig, genes maternalmente expressos vêmtrabalhandoparaassegurarquetodososváriosfilhosdeumamãeobtenhamosrecursosdequeprecisamparasobreviver,permitindoaomesmotempoàmãepermanecersaudávelobastanteparatermaisfilhosnofuturo.Osgenespaternalmenteexpressos,contudo,nãoestãopreocupadoscomamãeoucomasaúdedequaisqueroutrosfilhos,quepodempertencerapaisdiferentes.Emvezdisso, trabalhamparaexigirmais nutrientes damãe para aquele único recém-nascido no útero e posteriormente, demodo que eletenhaumavantagemsobreosirmãos,quepodemserfilhosdeoutrospais.

TomemosIGF2,ogenedocrescimentogestacionalpaternalmenteexpressoquemencioneiacima.Seacópiamaternadessegenenãofossesilenciada,asmãesacabariamprovavelmenteparindoalgunsbebêsmuitograndes–grandesdemaisparasenutriremcomsucessosemprejudicartantoaelaquantoaseusoutros filhos.Haigsugereque,enquantoosgenespaternalmenteexpressosestimulamocrescimentodaprole,osmaternalmenteexpressos ajudama limitar esse crescimentoaum tamanhoviável.Ele chamaessateoriade“hipótesedoconflito”,ealgunstrabalhoscientíficoscommodelosanimaistendemadarcredibilidadeàideia.“Osgenesdeorigempaternafazemosfilhoscrescermaiseexigirmaisrecursosdamãe”,disse-meHaig.“Masosgenesmaternalmenteexpressosmostrampreferênciapelacapacidadedamãedereproduzirnofuturoeajudamaimpedirquecadafilhotomedemais.”

Porque resolvi apresentaresse fenômeno?Nãohánenhumaevidênciadequeobebêou seuspaistenham feito alguma coisa para mudar a expressão de seus genes, e nenhuma evidência de queexperiências de vida acrescentem grupos metil ou façam alterações em microRNAs com imprintinggenômico.Masesseéumresultadoepigenéticobásicoquepodeterprofundoimpactonocomportamento.Mais ainda, trata-se de um efeito que é transmitido de uma geração para outra. Sem dar sequer umamordidanumcheeseburger,meuspais estavamme legandoumepigenomaque fez alteraçõesnomodocomomeusgenes seexpressarameemmeuscomportamentos subsequentespormeiodealgunsdessesgenes “imprintados”. Porque eles não afetam apenas o crescimento; genes “imprintados” têm tambémmuitoadizersobredesenvolvimentoefunçãocerebral.“Quandocientistasmanipularamgeneticamentegenes‘imprintados’,oefeitomaisfrequenteidentificadorelaciona-secomocrescimentoembrionário”,disseDulac.“Masosegundofenótipomaisfrequenteidentificadoenvolvefunçãocognitiva.”

Emdoisartigospublicadosnumnúmerodeagostode2010darevistaScience,Dulac,Haigeoutroscolegasrelataramseuachadodeexpressãodiferencialdegenessegundoaorigempaternaoumaternanocérebrodecamundongos.Elesencontraram347genescomcaracterísticasdeimprintingespecíficasdesexoque influenciavamodesenvolvimentodediferentesáreasdocórtexe,muitocuriosamente,aqueledevasso hipotálamo.2 Esses achados sugerem que genes “imprintados” estão envolvidos emcomportamentosdealimentação,acasalamentoesociais–comonossosvelhosamigos,osexoeoamor.

O imprinting não é apenas uma mudança simples, estática, produzida no útero. Os genes“imprintados”ligam-seedesligam-seaolongodotempo,regulandoaexpressãodegenesemdiferentespontos da existência.Mais ainda, genesmaternalmente expressos contribuemmais para o cérebro emdesenvolvimento, ao passo que genes paternalmente expressos parecem trabalhar mais depois que océrebro chega à idade adulta. Por que, exatamente, não se sabe.3 “[O imprinting genômico] é umprocessodinâmico”,disseDulac.“Nãoéalgofixodocomeçoaofimdavidadoorganismo.Duranteodesenvolvimento,osneurônioseosprecursoresneuronaistêmcertorepertóriodequaisgenesmaternosoupaternossãopreferencialmenteexpressados.Maistardenavida,opadrãodeexpressãoédiferente.Esseéumimportantemododeregulaçãoepigenéticaeumaminadeouroparaafuturacompreensãodecomoosgenespodemcontrolarnossoscomportamentos.”

Comoeudisse,foitudoculpadaminhamãe.Épossívelqueaorigemdeváriostraçoseaspectosde

meucomportamento,inclusiveaquelesenvolvidosemamoresexo,estejaempartenaexpressãodegenes“imprintados”deminhamãe.Paraserjusta,porém,devoreconhecerquemeupaitambémexerceuumainfluênciaconsiderável.Porissovoulheatribuirumapartedaculpatambém.

Equantoàquelescheeseburgers?

Posso adivinhar o que você está pensando: “O imprinting genômico é interessante, mas você poderealmente saber se a culpa é da sua mãe ou do seu pai? E, a propósito, o que tem isso a ver comcheeseburgers ou com o amor?” Você tem razão. Continuo falando sobre genes como se eles fossempequenos generais Pattons dirigindo as tropas. É um hábito difícil de quebrar. Mas o imprinting éimportante.Elemostradequemaneiraaepigenéticapodemudaromodocomoseugenomafuncionaantesquevocêdêsequerosaltodeembriãoparafeto,paranãofalardosaltodainfânciaparaaidadeadulta.Masoscheeseburgerspodemdesempenharumpapeltambém,secamundongosagutitêmalgumacoisaadizersobreisso.

Camundongosagutisãoumavariedadedecamundongosdelaboratóriousadacomomodelonoestudodedoençascomodiabetes,obesidadeecâncer.Comotal,provavelmentenãoédesurpreenderqueelessejammuitogordosesuscetíveisadoenças.Poracaso,sãotambémdeumtommuitocaracterísticodeamarelo. (Acor lembrabastanteadaprimeiraurinadamanhã.)Essescamundongossãoassimporquetêmcertapermutaçãodeumgenechamadoaguti.Eessapermutaçãoparticularprovou-semuitoresiliente.Quandocamundongosdessavariedadesereproduzemporcontaprópria,seusfilhossãotambémgordos,amarelosepropensosaproblemasdesaúde,propagandoamesmavariaçãonogeneagutidegeraçãoemgeração.Jirtleeumdeseuspós-doutorandos,RobertWaterland,perguntaramasimesmossepoderiammudaramaneiracomoogeneagutiseexpressavanessesanimaissemengenhariagenéticaoutratamentomedicamentoso.Elesoptaramportentarmudarumsimplesfatorambiental:adieta.4

JirtleeWaterlandsimplesmenteajustaramaalimentaçãodeumgrupodecamundongosaguti.Emvezdacomidausual,ofereceram-lheumadietaricaemdoadoresdemetil,comoácidofólico,vitaminaBecolina.Ocorrequepodemosencontraressesdoadoresdemetilnaturalmenteemalimentoscomocebolas,beterrabaseemvitaminaspré-natais.ComosesabequegruposmetilpodemseligaraoDNAemudá-lodemaneiraepigenética,JirtleeWaterlandesperavamverumamudançanaexpressãodogeneaguti.Elesmantiveramoscamundongosnessadietaedepoispermitiramqueacasalassem.

Osfilhosgeradosporpaisalimentadoscommetilerammenores,tinhammelhorescondiçõesfísicaseumacormarrommaistípicadecamundongos.Eramtambémmuitomenosvulneráveisacondiçõescomoobesidadeecâncerqueseuspais.Asdiferençasentremãeebebêeramenormes,noentantoogeneagutinão semodificara.Os filhos ainda tinhamexatamente amesmavariaçãoque suasmãesmaisgordas emaisamarelas.Essesgruposmetilpresentesnadietasimplesmentese ligavamaogeneagutie inibiamsua expressão, permitindo aos filhotes sermais saudáveis emarrons. “Quandovemosumefeito comoesse,tudomuda”,disseJirtle.“Nuncamaisvoltamosapensarnagenéticadamesmamaneira.”

Isso certamente dá todo um novo sentido à frase “Você é o que você come” (eme leva a quererassegurar quemeu filho ingira a quantidade recomendada de doadores demetil). É aí que entram oscheeseburgers.Muitacoisapodetersidodeterminadapelapreferênciademinhamãeporessesanduíchequando estava grávida. Quem sabe que tipos de marcadores epigenéticos essa ânsia deixou em meugenomaenquantoeuaindaestavanoútero,mudandomeucorpoeminhasaúde?Nãotenhocertezadequequero saber. E, como duvido que essa cadeia particular de fast-food vá financiar algum estudo paradescobrir isso,é tambémpoucoprovávelqueumdiasaiba.Aconclusãoimportanteéquemesmoalgo

como a nutrição, tanto no útero quanto depois, tem o poder de alterar a expressão gênica – e,consequentemente,odesenvolvimentocerebraleocomportamento.Legal(eumpoucoassustador),não?

Aexperiêncianosprimeirosanosdevida

Aepigenéticanãosereduzaimprintingoualimentação.5Aexperiênciaquetemosnosprimeirosanosdevida desempenha umpapel. Por exemplo, o nível de cuidado e afeição de umamãe nessa fase temopoder de gerar grandes mudanças no epigenoma. Há sem dúvida muitas evidências sugerindo quecuidadosapropriadosno iníciodavida são importantesparaocomportamento.Nosanos1950,HarryHarlow,umpsicólogodaUniversidadedeWisconsin,separoumacacosrecém-nascidosdesuasmãesepôs“substitutas”artificiaisfeitasdearameepanonasgaiolasdosmacacos-bebê.Ospesquisadoreslogoverificaramque alimentonão era suficiente; para prosperar, os bebêsprecisavamdeum toquemacio.Sem afagos regulares, eles demonstravam comportamentos de tipo quase autístico: balançar-se, emitirruídos estranhos e evitar novos estímulos.6 Esse fenômeno não é exclusivo demacacos.Crianças quetiveramoinfortúniodeviveremorfanatosromenos,negligenciadasedeixadassozinhasemseusberçosduranteogovernodeCeausescu,tambémmanifestaramgrandenúmerodedeficiênciasmentais,físicaseemocionaismaistardenavida.Naépocaessasdiferençasforamvistascomoefeitosestritosdacriação.Maso trabalhodeumpsicólogocanadensechamadoMichaelMeaneydaUniversidadeMcGill sugereque efeitos epigenéticos também entramnessa relação.Num influente estudo,Meaney demonstrou quediferençasnocuidadomaternonosprimeirosanospodiammudaramaneiracomocertogenerelacionadoaoestresseeraexpressonofilho.

Entre os ratos, as mães não expressam seu amor com brinquedos caros, abraços extras ou idasregulares ao parque. Concentram-se, em vez disso, em lamber e limpar muito os seus filhotes até odesmame. Esse comportamento não apenas mantém o bebê limpo; ele também promove maiorcrescimento e desenvolvimento ao estimular sistemashormonais.Sevocê juntasseumgrupodemães-ratas,veriaumavariedadedemaneirasdelamber.Meaneyecolegascompararamdoisgruposdelas,umderatasquepassavammuitotempolambendoelimpandoseusfilhos(altoLL)eoutroderatasquenãoofaziam(baixoLL).7

Quandoospesquisadoresobservaramos filhosdessas ratas,notaramalgumascoisas interessantes.Primeiro,depoisqueasfilhotesfêmeascresciametinhamsuasprópriasninhadas,tendiamaempregaromesmotipodeestratégiaadotadaporsuasmãesao lambê-los.Sehaviamsidomuito lambidasquandobebês,lambiammuitoseusfilhotestambém;senãotinhamrecebidomuitaatençãoquandomaisjovens,adotavamomesmo tipo de comportamento negligente em relação aos próprios filhotes.Era um efeitomuitoestável,previsível.Ratasnetastambémempregavamamesmaestratégiaqueasavós.Maisainda,issoaconteciamesmoquandofilhoteseramcriadospormãessubstitutasdeoutrotipo.Assim,seamãebiológicadeumarataeraumagrandelambedora,elaprópriaacabavaexibindoessecomportamentoemrelaçãoàsuacriamesmoquetivessesidocriadaporumaratadooutrotipo,sendopoucolambida.Decertomodoocomportamentosuplantavaabiologia.

O grupo deMeaney também descobriu que filhotes de baixoLL não sabiam lidar tão bem com oestressequantoosquetinhamaltoLL.Emboratodososratoscostumassemsesobressaltaraoouvirumruído alto inesperado, os filhotes que tinham mães atenciosas conseguiam lidar com isso, voltandorapidamenteàatividadequedesempenhavamantesqueoestressor soasse.Filhotescujasmãesnãooslambiamtanto,porém,nãoeramtãoresilientes,ficandoencolhidosdemedoporalgumtempodepoisqueo ruído diminuía. Filhotes de alto LL também davammostras de aprendermais que os de baixo LL.

Meaney perguntou a si mesmo se essas diferenças, com significativa persistência transgeracional,poderiamserprodutodeumainteraçãogene-ambiente.EleentãoseassociouaMosheSzyf,umcientistaqueestudavaefeitosepigenéticosnocâncer,afimdeinvestigarisso.

De fato, quando examinaram o genoma dos ratos, eles descobriram que diferenças noscomportamentos observados estavam ligadas à quantidade de hormônios do estresse circulantes, emparticular num tipo de elemento químico de estresse chamado glicocorticoide. Num exame maisprofundo,MeaneyeSzyfdescobriramqueocomportamentomaternodelamberelimparremoviagruposmetil do gene do receptor de glicocorticoide dos filhos. A atenção extra de uma mãe por meio delambidaspermitiaqueaproduçãodessesreceptoresflorescesse,absorvendotodoaqueleglicocorticoideextraeproduzindoratosmaisrelaxados,serenos.

Essesresultadossãoaplicáveisasereshumanos?Nãoééticoestudarpessoasdomesmomodocomoestudamosratos.Ninguémvaipediramãesquenegligenciemseusfilhosparaquecientistastentemmedirseushormôniosdoestressenumambientecontrolado.Mas,comohistóriasdemaus-tratosnainfânciatêmsereveladofortementeassociadasaestresseedepressão,fazsentidoqueoscientistaspresumamqueomesmotipodemudançaseverifiqueemsereshumanos.Paratestaraideia,ogrupodeMeaneysubmeteuaexamepóstumoogenedoreceptordeglicocorticoidedevítimasdesuicídio.ExaminandooDNAdecélulas do hipocampo, descobriram que vítimas de suicídio com história de maus-tratos na infânciamostravammetilação no ponto desse gene – embora já tivessem entrado haviamuito na idade adulta.Aquelasquetinhamtidoinfânciamaisfeliznãomostravamomesmotipodemarcaepigenética.

QuandoconverseicomSzyf,elemedisseamesmacoisaqueeuaprenderacomJirtleemrelaçãoàepigenética:ogenomaéohardwareeoepigenomaéosoftware.Masacrescentou:“Oprogramadoréamãe.Elapodenãosaberdisso,masé.”SegundoSzyf,ocomportamentodamãeéumsinalparaacriançasobre que tipo de ambiente deve esperar. “Se ela dá para o filho uma grande quantidade de comidasgordas,issoéumsinal.Selhedáverduraselegumes,issoéumsinaldiferente.Essesdiferentessinaisresultam em programação,mudanças programadas no epigenoma que preparam aquela criança para omundoàsuavolta.”

Seria fácil sugerir que a programação relacionada ao estresse é permanente – se não constitutiva,certamentemuito estável. É o que ocorre com ametilação no imprinting genômico e outros tipos deprogramação epigenética. Apesar disso, ela não é irreversível. Quando Meaney e seus colegasemparelharam os ratos de baixo LL commães de alto LL depois que eles chegaram à puberdade ouquandopuseramosanimaisnumambienteenriquecido (umagaiolacomrodasgiratórias,brinquedoseoutrosartefatosestimulantes),observaramainterrupçãodaherançadocomportamentodebaixoLL:osratossecomportavammaiscomoasmãesdealtoLLquandotinhamseusprópriosbebês.Aoqueparece,há bastante plasticidade oumaleabilidade nesses sistemas; ambiente e biologia unem-se estreitamentepara resultar em aprendizagem e comportamento. “Tampouco isso é determinístico”, disse FrancesChampagne, uma ex-aluna de Meaney que agora tem seu próprio laboratório de epigenética naUniversidadeColumbia.“Hácamadasde informaçãoemtornodeumgenequeafetamamaneiracomoeleseráexpresso.Eelasconferemplasticidade.Essaéachave.”

O cérebro está sempre mudando. Cada experiência, interação e relação tem o poder de mudardeterminadasconexõesentreneurôniose,porextensão,mudarosistemadecircuitosdoprópriocérebro.Quandonascemos,nossocérebronãoéomesmoqueseráemnossaadolescência,muitomenosoqueserána idade adulta. Na última década, neurocientistas ficaram estarrecidos ao descobrir o grau deplasticidade do cérebro. Anteriormente, acreditava-se que, uma vez concluído o desenvolvimento docérebro–emalgummomentodaadolescência–,suaestruturaestavadefinitivamenteestabelecida.Masnovaspesquisasmostramqueaexperiênciatemopoderdetransformarocérebroemqualqueridade,emparticularnonívelmolecular.Eessaspequenasmudanças seacumulamao longodo tempo.Mudanças

epigenéticassãosomenteumamodalidadedasváriastransformaçõesquepodemocorrer.Meaneyecolegasdescobriramquecomportamentosdelamberelimparmuitoosfilhotesporpartede

mãestêmoutroefeitointeressante.Nãoapenasajudamapreveroestiloparentaldaprole,comopodemtambémdesempenharumpapelnosfuturoscomportamentosdeacasalamentodaquelesratos.

“Altosníveisdecuidadomaternolevamaaltosníveisdecuidadomaternonasfilhas.Levamtambémareceptividadesexual reduzida.Poroutro lado,osfilhotesquerecebembaixosníveisdecuidado têmumareceptividadesexualaumentada”,disse-meChampagne.“Parece,portanto,haverganhoseperdasemdiferentesaspectosdareproduçãoemfunçãodocuidadomaterno.”

Mãesatenciosasproduzemfilhotesfêmeasquecrescerãonãosóparaserelaspróprias lambedorasprolíficas,mastambémumtantopudicasemsuaconduta.Nãobastaráaomachodizer“comovaivocê?”paraseacasalarcomessamenina.Elalevarámaistempoparaalcançaramaturidadesexuale,depoisdealcançá-la,serámenosreceptivaaosexo.Éexigenteenãoseapressa.Faráosrapazestrabalharemparaconquistá-la.Emcontraposição,mãesdebaixoLLproduzemfilhas fogosas.Elasnãosãoapenasmaisreceptivasaosexo,sãodefatomaispropensasasolicitá-lo.NicoleCameron,umaalunadeMeaneyqueencabeçouesse trabalho, logodescobriuquecomportamentosmaternosde lambere limparnãoapenasalteramepigeneticamenteaexpressãodoreceptordogenedoestresse;elestambémpromovemmudançasnopromotordeum tipode receptorde estrogênio.Para sua surpresa, ogrupodescobriuquemãesdebaixo LL apresentavam aumento desse promotor, o qual é provavelmente responsável por essasdiferençasobservadasno comportamento sexual.Mais umavez, quandoos animais foramcriadospormãesadotivascomcomportamentodiferentedodesuasmãesbiológicas,ogrupoverificouqueosefeitoseramdeterminadospelocomportamentodamãe,nãoporseusgenes.OquefaziaadiferençanãoeraserfilhobiológicodeumamãedealtooubaixoLL,tudosereduziaàexperiênciadeumnívelparticulardeLLnoiníciodavida.8

Desde que Meany e Szyf iniciaram essa linha de pesquisa epigenética comportamental, maiscientistasaadotaram.Eupoderiaarrolarumadezenadeoutrosestudosquetratamdediferentesmodospelosquaisaepigenéticapodeafetarocomportamento,nãoapenasnosprimeirosanosdevida,masaolongo de toda a existência. É provável que toda experiência e interação significativa que temos comoutras pessoas tenha o poder de mudar nossa biologia. Alguns dos estudos mais relevantes serãodiscutidosnospróximoscapítulos.Masintroduzooconceitoaquiparailustrarsuaimportância.Pormaisqueaspessoasqueiramdiscutirtodosostraçosindividuaiseoscomportamentosemtermosdenaturezaoucriação,nãoháumamaneiraefetivadesepararumacoisadaoutra.Nossabiologiainfluenciaomodocomosomosconstituídos,omodocomopercebemosomundoànossavoltaeomodocomointeragimoscomele.Nosso ambiente fornece a informação sensorial que ajudao corpo a se adaptar e responder,modificandoporfimabiologiasubjacente.Eemseguidaocírculovoltaagirar.Ograuemquenaturezaoucriaçãoexercemcertosefeitossobrenossocomportamentoéincrivelmentedependentedocontexto–eprovavelmente não pode ser determinado demaneira quantitativa. Szyf brinca que émuitomais fácilexplicaroconceitodeepigenéticaparaumamãecomumdoqueparaumsujeitoqueestudouosaspectosmaiscomplexosdabiologiamoleculardurantedezanos.Asmãesocompreendemdemaneiraimediata,emespecialsetiveremfilhosqueestãosetransformandoemindivíduossingularesapesardabiologiaedo ambiente familiar semelhantes.Mas não foi fácil para aqueles imbuídos do determinismo genéticochegaraumarealcompreensãodisso.

“Essesefeitosforamcompletamenteignoradospelosgeneticistasnopassado.Agorapercebemosqueeles são forças poderosas que podem sermoduladas tantomatemática quanto experimentalmente. Issomuda todooquadro”, disseSzyf. “Nãopodemosmais estudar apenas a célula.Nãoexisteumacélulaisolada.Elaagenumcorpo,essecorpotemumcérebroeagenumambiente.Nãopodemosdesconectá-los.Nossafamília,nossacomunidade,nossacidade,nossopaís,nossomundo–tudoissoéimportante

paraacompreensãodabiologia.”E,defato,essestambémsãopontosimportantesparaacompreensãodecomportamentosrelacionadosaosexo,aoamoreàcriaçãodosfilhos.

Tenhoumaconfissãoafazer.Pormaisqueeugostedeculparminhamãe,debrincadeira,porminhaquedaporhambúrgueresgordurosos,pormeuinsaciávelamoraoscarboidratosouporminhaafeiçãoporhomens de olhos escuros que acabarão partindo o meu coração, esse é somente um fator entre osmilhares, milhões na verdade, que moldaram a pessoa que sou, o modo de me comportar – e, porextensão, minha maneira de amar. Não há como separar minha biologia – meu cérebro – do meuambiente.Eissonãooferecenenhumaexplicaçãofácil,nenhumanormaouregrageral,quandose tratadasminhasrelaçõescomaspessoas.

5.Nossosprimatas,nósmesmos(ou:Porquenãosomosescravosdenossoshormônios)

ALGUNS MESES ATRÁS uma amiga mostrou-me um e-book que ela baixara para ajudar a explicar asinúmerasmudançasquesuafilhapoderiaexperimentarduranteapuberdade.EraumaversãomodernadosantiquadosfolhetoscomtítuloscomoVocêestácrescendo!querecebíamosemnossapré-adolescência,muitasvezesnumconsultóriomédicoounumaauladeeducaçãoparaasaúde,cheiosdeilustraçõesdetrompasdeFalópiocor-de-rosaedocrescimentodepelospubianos.Aofolheá-lo,fiqueiimpressionadacomoconteúdo.Emumdoscapítulosoautorescreveu:“Seucérebroguiatodasessasmudançasusandomensageirosquímicoschamadoshormônios.Oshormôniosafetammuitaspartesdiferentesdoseucorpo…Essassubstânciasquímicastambématuamsobreseuspensamentosesuasemoçõeseafetarãotudoquevocêdizefaz.”1

Tudo que você diz e faz. Desde nossos primeiros anos dizem-nos que os hormônios podeminfluenciartudo,denossosseios(outestículos,conformeocaso)anossoscomportamentos,passandopornossos cérebros. Os hormônios inundarão nosso sistema. Assumirão o comando e se tornarãoincontroláveis.Eesseimpactovaialémdosaltosebaixoscomportamentaisextremosdeumadolescente.Recorremosaoshormôniosparaexplicarporqueummeninodedoisanosgostadebrincadeirasagitadas,porquenossoshumoresadultososcilameporqueumamigolançanotóriosolharesamorososparaummembro do sexo oposto. Nossos hormônios, dizem-nos, são uma forçamotivadora por trás de nossodesejodeprocuraramoreconsumá-lo.Masapalavra-chaveaquiémotivar.

Os dois hormônios que nos ajudam ao longo da jornada da infância à vida adulta também estãoenvolvidos no amor e nos comportamentos sexuais: a testosterona e o estrogênio.Os dois sãomuitasvezes mencionados como se fossem específicos de um sexo – a testosterona para os meninos e oestrogênioparaasmeninas–,mas,comonocasodaoxitocinaedavasopressina,ascoisasnãosãotãosimplesassim.Ambosossexospossuemfartasquantidadesdecadaumdelesnocorpo,bemcomováriostiposde receptorespara cadaumpor todoo cérebro.Ambos trabalhamemconjunto e separadamenteparanosajudaracrescereaacasalar.

OtrabalhodeDonatellaMarazzitidemonstrouquenãohámudançassignificativasnoestrogênioounaprogesteronaempessoasqueseapaixonam.Maselaencontroumudançasnosníveisdetestosterona.2Épossível que os hormônios sexuais façam jus a seu nome e estejammais envolvidos namediação decomportamentossexuaisquenoarrebatamentoamoroso.

É isso mesmo – o que eles fazem é mediar. Nossos comportamentos não são regulados peloshormônios. Isso fica claro quando vemos um animal como um rato comum de fato sob o poder doestrogênioedatestosterona.Oshormôniosrealmentecontrolamocomportamentosexualnessaespécie–nãomedeiam oumotivam, mas controlam. O ciclo de ovulação da rata dura de quatro a cinco dias.Quandoafêmeaestáemseumomentodemaiorfertilidade,seusníveishormonaisseelevameelaempinao traseiro,expondosuaspartes íntimasparaomundo. Issoéchamadode lordose reflexaeéumsinalparatodososratosmachosdequeagarotaestáprontaparatransar(paranãomencionarqueessalordosetornamuitomaisfácilparaomachomontareexecutaraproeza).Aratanãoprecisaconsiderarseestáemcondições de fazer sexo após um longo dia percorrendo labirintos no laboratório. Ela não pensa na

própriadisposiçãoemocionalnemseestágordaoumagra.Seusníveishormonaislhedizemqueestánahoradeentraremação,eéoqueelafaz.Casocontrário,nãoaceitaserimportunada.Ésimplesassim.

Paraosmachosascoisassãoaindamaisfáceis.Elestentamseacasalarcomtodasasfêmeasférteisquefarejam.Desdequenãohajaoutromachonasproximidades,alordosesignificaquenossorapaznãoterá muita dificuldade. Tudo de que ele precisa está bem ali, aberto e à sua espera. Em suma, oshormônios regulamoqueconstituiuma relação sexual em ratos.Ao fazê-lo, elesasseguramqueessesanimaissejamreprodutoresprodigiosos.

Podemos ver efeitos hormonais semelhantes, embora não tão regulatórios, em outras espécies.Cadelasentramnocio.Ostraseirosdasfêmeasdosbabuínosinchameficamvermelhosparadeixarosmachossaberemqueelasestãoférteiseprontas.Emmachos,níveiselevadosdetestosteronadãoacertasespéciesdeavesumaplumagemmaisbrilhanteecantosmaisbonitosparacortejarasfêmeas.Essessãosinais externosdoqueestá acontecendodentrodocorpoedocérebro, tornando fácilparaos animaissaber quando terão sorte. Não há lugar para jogos quando seu corpo revela abertamente seu estadohormonal.

Empessoas, porém, as coisasnão são tão claras.Nosso comportamento sexual duranteosúltimos100milanosfoiemancipadodenossoshormônios.Asmulheresnãoconsentememtransarapenasduranteos dias férteis de seus ciclos, uma fase chamada estro; com frequência estamosmuito dispostas, nãoimportaqualsejaafasedomês.Eoshomensnãoparecemfazernenhumaobjeçãoemfazersexoconoscomesmoquandonãoestamosovulando.Nãomeentendamal:estrogênio,testosteronaeoutroshormônioscontinuamsendomuitonecessáriosparaareprodução.Qualquercasalquesesubmeteatratamentosparaafertilidadepodelhedizerisso.Maselesnãodecidemquandoeondevamosfazersexo.

“Os hormônios não são reguladores absolutos do comportamento”, disse Kim Wallen, umneuroendocrinologistadoYerkesNationalPrimateResearchCenterdaUniversidadeEmory.“Afunçãodeleséalteraroequilíbriodocomportamentonumadireçãoounoutra.Apresençadecertoshormôniosnãosignificaquevamosexibircertocomportamento,apenasaumentaaprobabilidadedequeofaçamos.”

Essaprobabilidadeaumentadamanifesta-sedemaneirasinteressantes.Emboravocêpossaassociaraovulaçãoaoinchaçoeàirritabilidade,sintomascaracterísticosdasíndromepré-menstrual,aspesquisassugerem que ela pode fazer uma mulher se sentir muito sexy. Kristina Durante, psicóloga social daUniversidadedeMinnesota,descobriuqueaovulaçãoestáassociada,emmulheres,àcomprademaisroupas reveladoras, àmanifestaçãodemaior interesseporhomensviris e à tendência inconscientedefrequentarboates.Umaveznessasboates,mulheresqueestãoovulando sãomais receptivasàatençãomasculina.NicolasGuéguen, pesquisadordaUniversidadedeBretagne-Sud, naFrança, descobriuquemulheresnoaugedeseuciclosãomaispropensasaaceitaroconvitedeumdesconhecidoparadançar.3Seporacasoelastrabalhamnumaboate,comodançarinasexóticas,porexemplo,elasobterãogorjetasmaiores depois de uma lap dance quando estão mais férteis.4 Os homens classificam constantementemulheresqueestãoovulandocomotendoodorcorporal,traçosfaciaisesimetriafísicamaisatraentes.Eváriosestudosrelataramquemulherescomníveiselevadosdeestradiol,umaformadeestrogênio,sãomaispropensasatrairseusparceiros.

Oshomenstambémsãoinfluenciadospeloshormônios.Emboraestudosdemachoscastradostenhammostradoqueafaltade testículos(e,portanto,de testosterona)nemsempreos impededefazersexoealcançar o orgasmo, uma quantidade maior ou menor de testosterona foi associada a mudanças emcomportamentosagressivos,enfrentamentoderiscos,níveisdeenergiaelibido.

Emsereshumanos, está claroqueoshormônios sexuais trabalhamdemaneiras sutis, tão sutisquealguns biólogos evolucionários afirmaramque as fêmeas humanas têmum “estro oculto”.Mas, seja oestroocultoounão(e,dadososresultadosdealgunsdessesestudos,elenãoparecetãoocultoassim),oshormôniossexuaiscontinuaminfluenciandoocomportamento–tantonoladodoadorquantonoreceptor.

Oscientistasacreditamqueoshormôniospodemfazerissopormeiodeaçãodiretasobreocérebro.

Arecepçãodehormôniosnocérebro

Oshormônios sexuais não estão simplesmente circulandopor toda parte emnossa corrente sanguínea,semdireção.Comoalgunscientistasconstataram,háreceptoresparaelesespalhadospelocorpo.QuandoeuestavanabibliotecadoKinseyInstituteforResearchinSex,GendereReproduction,liostrabalhosinéditosdeJohnMoney,pesquisadorpioneirodosexonaUniversidadeJohnsHopkinsnosanos1950.5Num de seus trabalhos não publicados sobre sexualidade e gênero, ele lamentou que ainda nãocompreendêssemos o pleno impacto dos hormônios sobre o erotismo e o comportamento sexual. Suaesperança era que o futuro trouxesse a explicação. E de certo modo isso aconteceu. Sabemos que océrebroestácheiodereceptoresparaesteroidessexuais,equeesseshormôniosagemsobreascélulascerebraistantocomomediadores–ajudandooutrassubstânciasquímicasafazerseutrabalhonasinapse–quantoporsuaprópriaaçãodireta.Podemagircomoneurotransmissoresporsuaprópriaconta,e,alémdefabricadosnocérebro,operamnelesuamágicadesinalização.6Masoqueelesfazem,precisamente?Aindanãodescobrimos.

“É escandalosamente complicado”, disse Paul Micevych, um biólogo molecular que estuda asinalizaçãodoestradiolnocérebronaUniversidadedaCalifórniaemLosAngeles.“Nãoháapenasumamodalidadedesinalizaçãoporestrogênio.”Omesmopodeserditosobreatestosterona.Váriostiposdereceptores foram identificadosparaambososhormônios sexuais;noentanto,provavelmentehámuitosoutrosqueaindaprecisamserdescobertos–eessenãoéoúnicofatorcomplicador.

Comoaoxitocinaeavasopressina,oestrogênioeatestosteronasãocompostosmuitosemelhantes.Muito semelhantes. Na verdade, jogue um pouco de aromatase, um tipo de enzima, sobre umatestosteronaandrogênicaeelamudaráaestruturaquímicadamolécula–transformando-aemestrogênio.Océrebromasculino temmuitaaromatase,eporessarazão todaessa testosteronanosanguepodenãochegar ao cérebro no mesmo estado. Ela tampouco está envolvida apenas em comportamentosreprodutivos.7“Muitasdasatividadesquepensamosseremandrogênicassãodefato,emúltimaanálise,estrogênicas”,disseMicevych.“Istoé,atestosteronaandrógenaéconvertidaemestradiolporaromatase.Emseguidaoestradiolliga-seaumreceptornoscircuitosneuraisqueafetamocomportamento.Nãoéumprevalecendosobreooutro,sãoambos.”

Umexemplodissoéaagressividade.Muitosestudosassociaramníveiselevadosde testosteronaacomportamentos agressivos. Pensamos nisso como um fenômeno puramente androgênico.Mas sabe deumacoisa?Sevocêinativarreceptoresdeestrogênionocérebrodeumcamundongo,ocomportamentoagressivoglobaldiminui.

Oquemaissabemosentãosobreasinalizaçãodeestrogênionocérebro?Atéhoje,doisreceptoresdeestrogênioforamconclusivamenteidentificados,oreceptordeestrogênioalfaeoreceptordeestrogêniobeta, embora haja um terceiro suspeito e provavelmente alguns outros ainda por ser descobertos. É aversão alfa, no hipotálamo, que parece estar diretamente envolvida em comportamentos reprodutivos.Mas, enquanto não conhecermos todos os tipos de receptor, a verdadeira compreensão dos efeitos damoléculacontinuaráelusiva.Aindaassim,nosdoisreceptoresconhecidos,parecequeoestrogênioajudaocérebroaprocessarinformação.“Osestrogêniostrabalhamnocérebrocomoseestivessemabrindoumportão”,afirmouMicevych.“Asmesmasdeixasquímicaseambientaisestãolá,queroestrogênioestejaounão.Mas,quandoocérebroéexpostoaoestrogênio,eleabreesseportão,porassimdizer,epermiteàinformaçãofluirparaospontoscertoseinfluenciarumcomportamentoparticular.”

Assim, talvez o estrogênio nos torne mais propensos a captar subconscientemente deixas sociais.Pode realçar o som de uma vozmasculina atraente ou acentuar a sensação do toque de umamulher.Micevychadverte,contudo,queaindatemosmuitoaaprendernonívelmolecularantesdesequerpensaremtraduzirasinalizaçãohormonalnocérebroparaonívelcomportamentaldeumamaneiramecanicista.Éalgomuitodifícildeestudar,emrazãodaquelasmúltiplasviasdesinalização,dos tiposdereceptornão caracterizados e da transformação de androgênios em estrogênios. E tudo isso antes deacrescentarmosainterferênciadeoutrosmensageirosneuroativos.Porque,éclaro,oestrogênioenossavelhaamigaoxitocinainteragememáreasdocérebro,comoohipotálamo.8

Micevych,umhomemaltocomumrostointeressante,anguloso,evozáspera,ficoufelizemcontinuardiscutindo essas questões quandome aproximei dele numa conferência de neurociência. “Não é neminterferência direta – os dois de certa forma ativam um terceiro tipo de receptor, chamado receptormetabotrópicodeglutamato,nohipotálamo,aáreadocérebroqueregulaocomportamentosexual”,disseele.“Oreceptordeestrogênioeoreceptordeoxitocinacompetemparaativaresseterceiroreceptor.Oestradioleaoxitocinalevamàativaçãodoreceptormetabotrópicodeglutamato,earespostaéamesma,queroestrogênioativeessereceptorprimeiro,antesdaoxitocina,querocorraocontrário.Curiosamente,nãoháaumentodasinalizaçãoseelesforemambosaplicadosaomesmotempo.Parecehaverumcontroleinternodasinalizaçãodeoxitocinapeloestradioledasinalizaçãodeestradiolpelaoxitocina.”

Talvez o dr.Money tenha alimentado a esperança de que, a esta altura, houvesse respostas maisconcretas sobreopapelexatoqueoshormôniosdesempenhamnocomportamentosexual.Mas,aoqueparece,aspesquisastrouxeramàtonatantasnovasquestõesquantorespostas.Elembre-se,nãosetrataapenas de biologia: o ambiente tambémdesempenha umpapel.O comportamento sexual, e portanto aatividadedesseshormônios,dependedocontexto.Oambienteimporta–emuito.

“Estudosmaisantigosmostramque,sehomensmaisjovensjogamfutebolevencem,seusníveisdetestosteronasobem”,comentouJuliaHeiman,diretoradoKinsey Institute.“Nãoé tãodiferentedoqueacontecequandoumnovomacacodebaixostatuséintroduzidonumgrupo.Àmedidaqueeleganhastatusno grupo, seus níveis de testosterona se elevam também.” Isto suscita uma boa ideia.Uma vez que édifícilexaminarainfluênciadehormôniossobreocomportamentosexualhumano,comousemcontexto,comoospesquisadorespodemaprendermaissobrecomocontextoehormôniosinteragempararesultarem diferentes comportamentos? Na verdade, há muito a aprender através da simples observação docomportamentosexualdemacacos.

Amorapimentadoentremacacos

Comoeudisse,estudarocomportamentosexualpodeserdifícil.Seiqueestoumerepetindo,masesteéum ponto importante. Seres humanos não são lá muito chegados a convidar pesquisadores para seusquartos,eosconselhosdeéticadasuniversidadesnãoadmitemquepessoasfaçamsexoemlaboratóriosacadêmicos.Talvezfiquemosintimidadospelaideiadejalecoseanotaçõesfrenéticas,outalvezsejaaideia de que nossas vidas sexuais não são da conta de mais ninguém – mas, embora o sexo sejaabertamentediscutidoemmuitasrevistasemuitosdenossosprogramasdetelevisãofavoritos,aindanãonos sentimos à vontade para falar nós mesmos sobre ele, muito menos para examinar seus detalhes.Certamentenãodeumamaneiracientíficaneutra.Emboraminhasamigaseeutenhamosdissecadoalgunsatossexuaisdurantecoquetéis,eunãopoderialhesdizercomalgumaprecisãoquantosparceirossexuaiscadaumadelasteve,ouqueatosconstituem“sexo”paraelasindividualmente.Afinal,fomoseducadosparaacreditarque sexoéprivado, senão francamente imoral, epode serdifícilnos livrarmosdessas

noções.Até hoje, grande parte dos dados de que dispomos sobre comportamento sexual foram coletados

mediantelevantamentosanônimos.Emboradadosdessetipopossamdaraospesquisadoresumaideiadastendênciasedostemasgeraisdocomportamentosexualhumano,elesnãofornecemmuitosdetalhes.Eésobredetalhesquegostaríamosdesabermais.

Paraessefim,ospesquisadorescomeçaramaprocuraremoutroslugares,istoé,entrenossosprimosevolucionários, as espécies primatas. Afinal, os macacos estão livres dos constrangimentos que nóshumanostemosemrelaçãoaosexo.Elesparecemterumacompreensãoimplícitadosexocomoumatonaturalqueocorresemjulgamento,eofatodeseremobservadoslheséindiferente.Nãotêmmedodoqueseus pais, seus amigos ou os pesquisadores poderiam dizer se soubessem o que estão fazendo, comoestãofazendooucomquemestãofazendo.Enãoparecemsepreocuparemevitargravidez,emsaberseopênis é grande o bastante ou se aqueles dois quilos extras vão desencorajar por completo um novoparceiro.Elessimplesmentefazemsexo.Reconfortante,não?

Pesquisadores interessadosna sexualidadepodemobservar esses animais a fimdedescobrirmaissobre os comportamentos exibidos. Podem também usar modelos animais para examinar mais quecomportamentos propriamente ditos e medir coisas como níveis hormonais e atividade cerebralassociadosaosexo.Essetipodeestudonãopermitedemaneiraalgumaumacomparaçãoperfeitacomasexualidadehumana,mas,atéqueestejamosmaisdispostosanosabrirparaobservação, temosdenoscontentarcomele.

Para aprender sobre como os primatas nos ajudam a compreender o comportamento sexual, emparticular amotivação sexual, visitei oYerkesNational PrimateResearchCenter para conversar comKimWallen.Euqueriadescobrirmais sobreoqueoabandonodeconsiderações sobredisposiçãodeânimo, escrotos excessivamente bambos e “adequação” geral pode nos ajudar a descobrir sobre ocomportamento sexual humano. Wallen, um homem de aparência rude com uma bem-cuidada barbagrisalha,conduziu-meatéumgrupoestabelecidodemacacosRhesus,afimdeobservaroqueaconteceriaquandoquatronovosmachosfossemintroduzidosaoconjunto.“Vocêtevesorte”,disse-meele,subindonumaguaritaquenospermitiriaterumavisãodecimadocercado.“Istoéoquecorrespondeaexcitaçãoporaqui.”

Quaseimediatamente,Wallenapontouparaumafêmeamarromebrancaqueseabancara,confiante,diantedeummachonumcantodocercado.Quandoumadaspessoaspresentesaproximou-sedemais,elausouasmãosparadartapasnoarefazergestosameaçadoresemdireçãoàcerca.“Vêasmãosdela?Elaestánaverdade solicitando sexodomacho.Estáusandoaquelaspessoas comoum realce, ameaçandocomo se houvesse umdesafio real ali”, explicouWallen. “Nunca entendi completamente por que issofunciona, mas as fêmeas costumam usar gestos agressivos e ameaçadores direcionados a outros paraincitaromachoaacasalar.”

“Talvezparapareceremmaisatraentes”,sugeri,“parafazeropapeldadonzelaemperigoelevaromachoasentirqueeleénecessário.”

Omacho,umbonitocavalheirodecaravermelhaqueeudeimediatoapelideideCasanova,nãocaiuem seu jogo. Abaixou a cabeça e moveu-se timidamente para o lado. “Ele está pedindo para serpenteado”, disse Wallen. “Está dizendo: ‘Sei que você está interessada em sexo, mas eu só querorealmentequemepenteie.’”

“Querosócarinhos”,acrescenteicomumsorriso.“Nãosouumpedaçodecarne.”A fêmea consentiu, até com impaciência. Começou a passar os dedos na cabeça de Casanova,

emitindooutrosinaldequeaindaestavadispostaapassarumbommomentoquandoeleestivessepronto.“MinhaimpressãoapósobservarmuitosmacacosRhesusenvolvendo-seemcomportamentosexualé

que as fêmeas estão intensamente interessadas em sexo, e osmachos só querem ser penteados”, disse

Wallen. “Tendemos a pensar que são osmachos que perseguem as fêmeas para tentar convencê-las afazersexo.Naverdade,asfêmeastêmdefazerumgrandeesforçoparaconvencê-los.”

AfêmeaparoudepentearemaisumavezmostrouseutraseiroparaCasanova.Eleolhouparalonge,como se não estivesse recebendo o equivalenteRhesus de uma lap dance com final feliz garantido.Quando ela se sentou de novo, ele fez um movimento com a cabeça – pedindo novamente para serpenteado.Pudequaseouvirosuspiroresignadodafêmeaquandoelasevirouevoltouapentearomacho,emboracomumpoucomenosdeentusiasmo.Essadança,fêmeamostrandootraseiroparasolicitarsexoe macho sacudindo a cabeça pedindo para ser penteado, aconteceu três outras vezes nos minutosseguintes.Novonessegrupo,Casanovajáhaviadominadoaartedejogarduroparaconquistar.

UmmacacoRhesusmachoqueapresentanotávelsemelhançacommeuamigoCasanova.FotodeKimWallen,YerkesNationalPrimateResearchCenter

NaculturaRhesus,afêmeainiciaecontrolaosexo.Elasqueremoquequeremquandoquerem.Osmachos, se almejam ter sexo, devem se submeter aos caprichos e desejos das fêmeas.No entanto, osmachosnãosãocompletamenteimpotentesnessecenário.Elespodemdizernão,eofazem.ComomeuamigoCasanova.Garoto novo na cidade, ele observou a paisagem atentamente.Como as colônias demacacosRhesus são uma espécie de clube dasmulheres –Casanova não seria ummembro aceito dafamília até ser acolhido pelas fêmeas do grupo –, ele sabia que era do seu interesse estudar aconfiguraçãodoterrenoantesdeconcordarcomqualquertravessura.

Derepenteouvimosumgritoestridente.Umasegundafêmea,berrandoepulando,enxotouaprimeiraamantedeCasanova.Depoisdeseassegurardequevenceraacompetição,elasesentoudiantedeleefezsua própria tentativa de conquistar sua afeição. Por um momento Casanova pareceu confuso, depoisreassumiusuaposturadedesinteresse.Umaligeiraviradadacabeça–outropedidoparaserpenteado–foioúnicosinaldequeelenotouamudançadecompanhia.

“A ideia de que a única coisa que machos têm na cabeça é sexo praticamente desaparece nestecontexto”, diz Wallen com uma risada. Novo no grupo e ainda tentando entender a estrutura social,Casanovaestavacomníveisdetestosteronabastantebaixos.Atéqueeleencontrasseseulugardentrodacomunidade, seus níveis do hormônio continuariam pequenos. Mas o garoto não estava totalmentedesprovidodetestosteronacorrendoporseucorpo,eseriadeimaginarque,comváriasopçõesdesexodisponíveis,seushormôniosoimpeliriamparaafaçanhamesmosendoeleonovocaranopedaço.

Umaoutraapresentaçãodo traseiropela fêmea,umpedidode“penteie-me”maisenfático, e essesdoismacacos tornaram-se objeto deminha firme atenção. Tive a impressão de estar assistindo a umepisódiodoantigoseriadoFriends.EssesdoismacacosestavamtendoseuprópriomomentodeRosseRachel bem ali no recinto dosmacacosRhesus. Ficando impaciente, perguntei amimmesma quantasvezesessafêmeaprecisariamostraraCasanovaqueestava interessada.Comoelepodiasimplesmente

ignoraressastentativasdeconquistarsuaatenção?E,principalmente,oqueteriadeacontecerparaqueessesdoisparassemcomaquelesjoguinhosefossemàsviasdefato?Expresseiessaideiaemvozaltaquandovi,numaoutrapartedocercado,umdosoutrosmachosrecém-introduzidosjáchegandolá.

“Por vezes é realmente como assistir a uma telenovela”, disseWallen, rindo. “Hámuita coisa emjogoaqui.Seeleseacasalarcomafêmeaerrada,easoutrasfêmeasdogrupoorejeitarem,estámorto.Nanaturezaeleseriaexpulsodogrupo.Masaquiogrupooatormentariaeatacariaapontodeferi-lo.”

Por fim a fêmea decidiu que não estava mais interessada em joguinhos. Ignorando o pedido deCasanovaparaserpenteado,mostroudenovootraseirocomimpaciência.Depoisdenovo.Emseguidauma terceira vez.Casanova simplesmenteolhavapara longe, a cabeçaviradaparao ladonumângulocoquete.

“Agoraelesestãonumbecosemsaída”,disseWallen.“Elasabeoqueelequer,masnãovailhedarisso.”ElaignoravaosrepetidospedidosdeCasanovaparaserpenteado.Iriaesperar.Noinstanteemquepenseiquehaviadesistido, ela solicitou sexonovamente.Maisumpedidode“penteie-me”.Solteiumresmungo. Quem iria finalmente ceder? Estávamos num impasse, e nem Casanova nem sua namoradapareciaminteressadosemdaromenorpassoparasuperá-lo.

Então, exatamente quando pensei que toda esperança estava perdida, a fêmea cedeu e deu umapenteadelarápidaesuperficialemtornodacaradeCasanova.Osmovimentosnãodurarammaisquedezaquinzesegundos.Seeunãoestivesseolhandocomtantaatenção,poderiameterescapado.Comigualrapidez, ela apresentou o traseiro para ele de novo. Casanova não esboçou nenhuma reação. Sem sedeixarperturbarportodaessarejeição,elaoapresentoudenovo.Casanovarespondeuobstinadamentecomoutropedidoparaserpenteado.Essemacaquinhoeradeterminado.Nãocederia,pormaistentadorquefosse,atéestarcompletamentepronto.

“Penso que o padrão de promiscuidade em Rhesus talvez reflita o que seria o padrão docomportamento sexual humano se removêssemos as limitações culturais”, disseWallen. “Não é difíciltomar a promiscuidade emoldá-la em algo que se assemelha ao tipo demonogamia a que nós sereshumanosfinalmentechegamos.”Elefezumapausa.“Amonogamiahumanaémuitomenosrigorosadoquepensamos.”

Obstinadamente,comóbviairritação,afêmeaapresentouseutraseirodenovo.Eracomoseestivessedizendo:“Ok,garoto,últimachance.Leve-meparaacamaoumepercaparasempre.”Destavez,nolugardepedirpara serpenteado,Casanova simplesmenteolhouparaoutro ladoe começouelemesmoa sepentear.Eraogestofinalderejeição:senãovaimepentear,nãoprecisodevocê.Afêmeaafastou-secompassosrígidos,provavelmenteembuscadeumacompanhiamaisreceptiva.

Casanovanãoficoumuitotemposozinho.Antesqueeupudessesequerfazerumcomentáriosobreapartidaabruptadesuaúltimanamorada,umaterceirafêmeasentou-sepertodele.Eestaeraumadama;ela solicitou seus favores com muita sutileza, como uma vitoriana que mostra delicadamente ostornozelosaosesentar.Casanovamaisumavezpediuparaserpenteado.Elaconsentiu,masapenasporummomento.Erafácilverquepentearnãoerasuaatividadefavorita.Damaounão,elaestavaembuscadealgumaação.MaisumavezCasanovapareceucompletamentedesinteressado.Solteiumsuspirodeaborrecimento.

“Oqueachadisso?”,perguntouWallen.“Francamente,eumeperguntoquediabosCasanovaestáesperando!”Trêsfêmeasdiferentes, todas

bembonitonas àmaneiraRhesus, haviam lhe oferecido o que supostamente todomacho deseja: sexo.Comoeleousarecusartodaselas?

“Issoébastantetípico”,explicouWallen.“Ummachoeumafêmeapodemlevarumahoraemeiaatérealmente fazerem sexo.Mesmo então, podem começar a acasalar, parar, se separar e então se juntarnovamente.Depoisqueoacasalamentocomeça,omachopode levarumahoraoumaispara realmente

ejacular.”Aideiadeixou-meexausta.Comtodosessesjogos,mesmonapopulaçãodemacacosRhesus,como

bebêschegamalgumdiaasergerados?Mas,antesqueeupudessecomeçaragritarcomCasanovaparaqueparassedefazerposeefosseaoqueinteressavaimediatamente,guinchosirromperamabaixodemim.Pulandoegritandodemaneiraameaçadora,umgrandegrupodemacacos rumoudecididamenteparaocantoondeCasanovaeseugrupodeamigasestivera.Elesestavamperturbadoscomumanimaldiferente,um dos outros novos machos, e uniram-se em grande número para dar-lhe uma lição.Wallen desceucorrendoparaapartarabrigaantesqueumdosanimaissemachucasse.

Quandoacalmafoirestaurada,leveiumminutoparaencontrarCasanova.Logooavistei,escondidodebaixodeumaespéciedegrande trepa-trepa,amedrontadoesozinho.Nenhumafêmeaseaproximavadeleagora.Depoisque retornouàguarita,WallenexplicouqueCasanova tiverabonsmotivospara seabsterdesexo:comaintroduçãodequatromachosnogrupoaomesmotempo,haviamuitas incertezassobre o que os novosmembros fariam com a estrutura social existente. “Agora sabemos por que eleestavatãohesitante”,disseWallen.“Estavaapavorado.Érealmentedifícilconseguirumaereçãoquandoseestápetrificadodemedodeseratacado.”

OmembromaisgraduadodequalquergrupodeRhesusésempreummacho.Mesmoassim,trata-sedeumclubedemulheres,comregrasimpostasporelas.Éafêmeaalfaqueescolheomachoalfaaoseacasalar com ele. Se ele a ofende de algumamaneira, pode sempre ser substituído. Enquanto nossosolhosestavamsobreCasanova,afêmeaalfaaindaestavatentandodecidirquemeradignodesuaafeição.Omacacosobataqueeraomachoquecometeraagafedesedivertirantesqueelafizessesuaescolha.Aestrutura social do grupo, inclusive suas regras, sua cultura e sua liderança, ainda estava por serdecidida.Era de interesse vital paraCasanova esperar que isso ocorresse – não só para o caso de afêmea alfa decidir conceder-lhe o prêmiomáximo,mas também para se assegurar de que não estavaofendendoinadvertidamentealguémqueteriainfluênciadepoisqueaordemfosseestabelecida.Sexonãoéoprêmiomáximoquandopodeacarretarsuaexpulsãodogrupo.Apesarde todosaqueleshormôniosagindodemaneiradescontroladaemmeuamigoCasanova,elefoicapazdemanteracabeçafriaepensarnasconsequências.Atéummacacotemopoderdesuplantarseushormônios.

Ainfluênciadasociedadesobrenossoshormônios

AgoraqueoespetáculodeCasanovaterminara,Walleneeunosdirigimosparaoutraáreadaestaçãodecampo, onde umade suas alunas de pós-graduação, ShannonStephens, observava umgrupomenor demacacos Rhesus. Nesse recinto mais estreito, os animais podiam correr e brincar, aparentementeesquecidosdenósenquantoosobservávamosdoalto.Parameusolhosnãotreinados,elesnãopareciamdiferentes dos queWallen e eu havíamos observado antes.Mas havia uma diferença significativa noscérebrosdealguns,queapresentavampadrõespintadosnascostas.

Shannonestavaestudandodiferençascomportamentaisnessesanimaisapósamigdalectomianeonatal,um procedimento cirúrgico que extraía a amígdala após o nascimento. Em particular, ela e Warrenestavaminteressadosemverificarsearemoçãodessaregiãocerebralemformadeamêndoa,responsávelpelamemóriaemocional,podiaafetaroiníciodapuberdadeemjovensfêmeas.

Aidademédiadamenarcahumana,ouocomeçodamenstruação,reduziu-senosúltimoscemanos.Algunsestudosepidemiológicossugeriramcomopossíveiscausasaabundânciadealimentosgordurososemnossadietaeasquantidadesmaioresdehormôniosque ingerimos.Mas igualnúmerodepesquisasfocalizouopapeldoambientesocial.Abusosexual,apresençadeumafiguramasculinanãoaparentada,

comoumpadrastomorandonacasa,aexposiçãoaestímulossexuais,tudoissofoiassociadoàmenarcaprecoce.Amenstruaçãomaistardiapareceocorreremfamíliasmaiores,ouquandoumameninatemumarelaçãomaisestreitacomseupaibiológico,emboraos“porquês”eos“comos”dessefenômenosejamdesconhecidos. Aí está o contexto novamente, interferindo em nossos hormônios e confundindo-os.Tomados em conjunto, os achados sugerem que o ambiente pode alterar a maneira como nossoshormôniossãoexpressos–e,porextensão,nossoscomportamentos.

Emboranãohajanenhumeventohormonalespecíficoquedesencadeieaprimeiramenstruaçãodeumamenina, foi observado um nívelmais elevado de estrogênio.Omesmo ocorre noRhesus. O fluxo deestrogênioqueprecedeamenarcaéumpassodecisivoparaafertilidadedoanimal.Oambientesocialtambéméimportante.Aposiçãosocialnogrupoéumfatorquepermitepreverseoiníciodapuberdadeseráprecoceeemquemedida.Maisumavez,ambienteecontextoestãoinfluenciandonossoshormônios,nãoocontrário.“Fêmeasdealtaposiçãosãomaispropensasapassarpelapuberdademaiscedoqueasdebaixaposição”,disseWallen.“Umahipótesesobreaamígdalaéqueelaimprimeocontextosocialnamemóriaemocional.…Assim,umavezqueapuberdadeemfêmeasésocialmentemediada,nestecasopelaposiçãosocial,indagamosqualseriaoefeitoseremovêssemosaamígdala.”

Oqueacontececomaexpressãohormonalquandoremovemosacapacidadedeinterpretarocontextosocial? Dos oito macacos que sofreram amigdalectomias neonatais, seis já haviam passado pelapuberdade,umanointeiromaiscedoqueasfêmeasíntegrasqueapresentamumamenarcamaisprecoce.Mais interessante para Stephens e Wallen, porém, foi que o primeiro macaco a ser submetido aoprocedimento apresentou ciclos ovulatórios normais, mas um completo e absoluto desinteresse emsolicitar sexo, um importante comportamento social em fêmeasRhesus. “Ela nãodemonstravanenhuminteressepelosmachos”,comentouWallen.“Elesasolicitavam,enadaacontecia.”

Diferentemente daquelas assanhadas que exibiam audaciosamente seus traseiros para mostrar aCasanova que estavam a fim,Opie, a primeira fêmea a ter sua amígdala removida, nunca acertou ospassos da dança do acasalamento.Não ficou claro se ela chegava a compreender o contexto social osuficiente para entender que havia uma dança. Ela apresentava ciclos normais e os níveis certos dehormônioparatercria,masnuncaseaproximavademachosoulhessolicitavasexo.Afaltadaamígdalasignificava que a compreensão do ambiente social, em especial no tocante a rituais de acasalamento,estavaacimadela.Foiumarevelaçãoassombrosa.

O estudo de Stephen continua; o grupo espera para ver se os outros macacos que tiveram suasamígdalas removidas vão se comportar como Opie. Mas, segundo Wallen, os estudos preliminaresreforçavamoqueelesempredissera:nãosomosescravosdenossoshormônios.Muitosfatores,inclusiveocontextosocial,desempenhamumenormepapel.Oshormôniosfalamconosco,nãohádúvida.Massuasmensagensnãosãoordensperemptórias.“Naminhaconcepçãodoshormônios,elassãodefatoapenassugestões”, explicou-me Wallen. “De um ponto de vista evolucionário, a única coisa que fazem éaumentaraprobabilidadedevirmosaquerersexonomomentocertoparaareprodução.”

Isso parece estar em conformidade com a declaração de Micevych de que, no nível celular, oshormôniosabremportõesafimdequetenhamosmaisacessoainformação.Maselesnãoinsistemnumcurso de ação particular, nemnos tiram a capacidade de escolher comonos comportamos.Emúltimaanálise,sejamquaisforemnossosníveishormonaisounossograudemotivaçãoparafazersexo,aindatemos o poder de decidir se o faremos, mesmo que, como no caso de Casanova, uma oportunidadegarantida se apresente bemnanossa frente.ComodisseWallen: “Não temosmecanismos regulatórioshormonais.Oquenós,sereshumanos,temossãomerosmecanismosmotivacionais.Emotivaçõespodemserfacilmenteignoradasoulevadasemconta,dependendodocontextoedoambiente.”

Os hormônios exercem uma grande influência, não resta dúvida, mas estamos longe de ser seusescravos.

6.Océrebrodeleeodela

BILLCOSBY,comedianteefigurapaternaparaaturmadageraçãox,dissebrincandocertavez:“Homensemulherespertencemaespéciesdiferentes,eacomunicaçãoentreelesaindaestáemsua infância.”Éumafraseexcelente,porquepareceumaxiomabásicodasrelaçõesentreosgêneros(epareceria,mesmoquenãotivessesidopronunciadaporumpersonagemdeBillCosby,odr.Huxtable).Vamosencararisso:homensemulheresaparentamserfundamentalmentediferentes.

Quantasvezesvocê reagiuaumcomportamentodesconcertantedo sexoopostocomfrasesdo tipo“Eleétãohomem”ou“Devesercoisademulherzinha”?Atémeufilhodecincoanospareceentenderqueaspalavras“Porqueelaémenina”ou“Porqueeleémenino”constituemexplicaçõesemsimesmas.Nãoémisoginiadapartedele– elenãovê issocomocrítica–, trata-sede simples racionalização.Desdetenraidadecompreendemostacitamentequemeninosemeninas,homensemulheressãodiferentes.Ponto.Algunsespecialistaspoderiamatéquerernosconvencerdequehomensemulheressãotãodiferentesqueestãodestinadosaseoporsemprequandosetratatantodecomunicaçãoquantodecomportamento.

DesdequeJohnGraypublicouseulivroOshomenssãodeMarte,asmulheressãodeVênus,quefrequentou a lista dos livrosmais vendidos doNew York Times, temos tentado explicar todo tipo deproblemasderelacionamentoamontoandocomportamentosoutendênciasemcertascategorias.Porqueoshomensnãotelefonamquandodizemquevãotelefonar?Issoécoisadehomem.Porqueasmulheresperdemointeresseporsexoquandoficammaisvelhas?Issodeveteralgumacoisaavercomseugênero.Porquetantasrelaçõesfracassam?Homensemulheressimplesmentenãosãocapazesdeserelacionarsemalgumtipodemanualqueosensinea traduzirocomportamentounsdosoutros.Muitosafirmaramque talvez omaior problemado sexo e do amor (em sua variedade heterossexual, pelomenos) é quehomensemulheressãodiferentesdemaisparaserelacionaremapropriadamente.Seráqueosproblemasqueenfrentamosnoamorenosexosereduzememúltimaanáliseàsdiferençasentreosgêneros?

Nos últimos anos, inúmeros cientistas e escritores escreveram milhares de páginas discutindo asdistinçõesentreoscérebrosdosdoissexos–e,porextensão,asdiferençassexuaisquecostumamseridentificadas no comportamento. Segundo alguns, embora meninos e meninas costumem apresentarvariaçõesnaturaisnodesenvolvimentoenaestruturadocérebro,acriaçãopodesempresuplantá-las.1Outros têm promovido a ideia do “neurossexismo”, a suspeita de que os estudos neurocientíficos dasdiferenças sexuais no cérebro, em particular os estudos de neuroimagem, são apenas uma maneiramoderna de apoiar a velha ideia de que os homens são de certomodo intelectualmente superiores àsmulheres.2 Podemos deixar que outros defendam ou refutem ambos esses conceitos. De minha parte,prefiro explicar o que a neurociência ofereceu expondo como essas diferenças intergêneros sedesenvolvemecomoelaspodemseaplicaraoestudodocomportamentoedoamor.

“EvamaisandrogênioéigualaAdão”

JohnMoneyfoiumeminentepesquisadordosexonaUniversidadeJohnsHopkinsnasegundametadedo

séculoXX.Grandepartedeseutrabalhoenvolveuoestudodehermafroditas,indivíduosquenasceramcomgenitaistantomasculinosquantofemininosouambíguos.Ampliandoessetrabalho,eletambémtevemuitoadizersobreainfluênciadogêneronocomportamentoesobrecomodiferençasobservadasentremeninosemeninaspodemsedesenvolver.NummanuscritoinéditooriginalmentedestinadoàScientificAmerican e intitulado “Pygmalion Updated”, ele explicou sucintamente como hormônios indicam ogêneronoútero:“EvamaisandrogênioéigualaAdão.”3

Frasefácildelembrar,não?Mas,naverdade,elaexpressaumprocessobastantecomplicadodeumamaneirasimples.Quasetodososembriõescomeçamcomofêmeas.Elessimplesmentenãopermanecemsempre assim. Se o feto em questão recebe uma cópia do cromossomo Y do papai, um fluxo detestosterona, um androgênio, agita o útero no início da gravidez, em algummomento entre a sexta e adécima segunda semana. Esse nível aumentado de testosterona guia o desenvolvimento do pênis, doescroto e dos testículos. Sem ele, o feto permaneceria fêmeo e desenvolveria o kit de ferramentasreprodutivocorrespondente.

Masosandrogêniosnãoselimitamadeterminaroqueestáporbaixodasnossascalças.Testosterona,estrogênioeprogesteronasãotambémdecisivosparaodesenvolvimentodocérebro.Elestrabalhamemsintoniacomumavariedadedeoutrasproteínasesubstânciasquímicasparaajudaraorganizarocérebroem regiões e circuitos distintos. São também responsáveis pelo dimorfismo sexual, ou as diferençassistemáticasdeformaencontradasemváriasáreasdocérebro.

Océrebrosexualmentedimórfico

Historicamente, quando as pessoas falavam sobre diferenças sexuais no cérebro, o foco estava nareprodução.Provavelmentenãocausanenhumasurpresasaberqueohipotálamo,aquelapequenaestaçãorepetidora para a hipófise implicada em todo tipode comportamento sexual, é diferente emmachos efêmeas. Em ratos, hámuito se sabe que um pequeno grupo de células no hipotálamo chamado núcleosexualmentedimórficoé significativamentemaiornosmachosquenas fêmeas.Oquequerodizer com“maior”?Querodizerqueovolumerealdessaáreaémaioremrelaçãoaovolumetotaldocérebroemquereside.Otrabalhocommodelosanimaissugereque,quantomaiorotamanhodeumaáreacerebral,maiorsuaimportância.Porexemplo,ratosvalem-semaisdeseusentidodoolfatoquedesuavisãoparase orientar no mundo, por isso suas áreas cerebrais olfativas são proporcionalmente maiores que asvisuais.Os seres humanos, que dependemmais da visão para se orientar, apresentam uma proporçãocontráriadostamanhosrelativosdessasregiõescerebrais.

O análogo humano do núcleo sexualmente dimórfico dos ratos é chamado de terceiro núcleointersticialdohipotálamoanterior.Essaáreadocérebrodenometãocomplicadofoiassociadaaoapetitesexual masculino, bem como ao comportamento sexual global. Como entre os ratos, ela é maior noshomensquenasmulheres.Dadasasvariaçõesobservadasnascaracterísticassexuaissecundárias(pelospubianos,mamasetc.),nãosurpreendequevejamosalgumasdiferençassexuaisnasregiõesdocérebroassociadasaelas.Edurantedécadasamaioriadospesquisadoresacreditouqueissoeratudo.

Novaspesquisas,contudo,demonstramquehádiferençassexuaisespalhadasportodoocérebro,easáreas cerebrais afetadas por esses banhos hormonais inutero específicos de cada gênero influenciammuitomaisqueareprodução.Regiõescerebraisenvolvidasnaemoção,namemória,naaprendizagem,napercepção,na funçãoexecutivaena respostaaoestresse tambémapresentamalgumasdiferençasentreindivíduos de sexos diferentes. JillGoldstein, uma neurocientista daHarvardMedical School, usou aneuroimagemparaexaminardiferençassexuaisemtodoocérebro.Elaecolegasdescobriramquepartes

do córtex frontal são maiores emmulheres que em homens, assim como várias regiões cerebrais nocórtexlímbico,aáreadocérebroresponsávelpelarespostaemocional.Emhomens,ocórtexparietaleaamígdala, emmédia, sãomaiores. Essas áreas estão envolvidas, respectivamente, na percepção e naorientaçãoespacial,enaestimulaçãoenoenvolvimentoemocional,respectivamente.Maisinteressanteainda é que todas essas áreas apresentam umnúmeromuito grande de receptores de hormônio sexualduranteodesenvolvimentoembrionário.Esseshormôniospromovemalgumasmudançasimportantesnoútero. E quando, mais tarde na vida, a puberdade ocasiona outro violento ataque hormonal, essescircuitossãoativadoseficamprontosparaentraremação.4

Comoeudisse,hámuitosesupõeque,quantomaioraáreadocérebro,maisimportanteelaéparaoorganismoemquestão.Àmedidaqueaprofundarama investigação,ospesquisadoresdescobriramqueessasáreasmaiorestambémdemonstramtermaiordensidadedeneurônios,bemcomomaiorcrescimentodendrítico,oqueéumindicadordealcanceneural–quantomaisdendritostemumacélula,maissinapseselapodeformar.Seriapossívelafirmarqueessasvariaçõesindicariamumadiferençanoprocessamentocognitivoentreosdoissexos?Evidênciasanedóticascertamenteasugeriam.MasoscientistassótiveramcertezadissodepoisquecomeçaramausarfMRIenquantoossujeitosdesempenhavamtarefascognitivas.

LarryCahill,pesquisadordaUniversidadedaCalifórniaemIrvinequeestudaamemóriaemocional,faz uso frequente de neuroimagem em suas pesquisas. Vários anos atrás, ele notou uma interessantepeculiaridadeentreparticipantesdossexosmasculinoefemininonumestudoemqueusavafMRI.Elejásabiaqueaamígdalacostumavasermaiornoshomenseporissosuspeitavaqueelapoderiaapresentarmaior ativação durante certos tipos de tarefas emocionais. Ficou surpreso, contudo, ao constatar quehomensemulheresmostravamdiferentesníveisdeativaçãodelinhadebasenaamígdala.Istoé,quandoosparticipantesdoestudoestavamapenasrelaxandodentrodomagneto(atéondesepoderelaxardentrodeumaparelhodefMRI),suasamígdalasmostravam-seativadasdemaneirasdiferentes.

Estefoiumachadomuitoimportanteparaoestudodacogniçãoedecomportamentosrelacionadosaoamor. Muitos dos estudos de neuroimagem encontrados na literatura científica, inclusive alguns queexaminamoamoreocomportamentosexual,medemofluxosanguíneoemapenasumgênero.Todasasconclusões extraídas dos resultados têm de ser reconsideradas quando nos damos conta de que oscérebros de homens emulheres são umpouquinho diferentes.5À luz do trabalho deCahill, teria sidomuitofáciljogarobebêforajuntocomaáguadabaciaefazerpoucodetodoestudodeneuroimagemquesó escaneou um gênero. Para não mencionar que a ideia de que há um cérebro dele e um dela écertamente um tópico político. No mundo pós-feminista, com demasiada frequência a noção de“diferente”,talcomodemonstradanumestudocientífico,transforma-sepoucoapoucoem“melhor”ou“maisinteligente”.MaspesquisadorescomoCahilleGoldsteintêmocuidadodeobservarque,aindaqueos cérebros masculino e feminino possam ter se desenvolvido a partir de um projeto ligeiramentediferente,seucomportamentoresultantepodenãodiferirtantoassim.Tomemosoestresse,porexemplo.“O cérebromasculino e o feminino trabalhamdemaneira ligeiramente diferente sob estresse, emboraissopossalevaraníveissemelhantesdedesempenho”,afirmouGoldstein.“MuitasvezesusooexemplodeumcomputadorMaceumPC.Elesforamconstruídosdemaneirasdiferentes,maspodemrealizarosmesmostiposdetarefacomníveisdedesempenhosemelhantes.”

Goldstein e seus colegas compararam a ativação do circuito de resposta ao estresse (amígdala,hipotálamo, hipocampo, tronco cerebral, córtex orbifrontal, córtex pré-frontalmedial e giro cinguladoanterior) emhomensemulheres (tantona fase fértilquantonomeiodociclomenstrual) enquantoelesviamuma série padronizada de fotos desagradáveis – pense empartes do corpo ensanguentadas apósdesastresdecarroecoisassemelhantes.Emmulheres,oestudomostroupadrõesdiferentesdeativaçãonas duas fases do ciclo menstrual. Mulheres e homens também apresentaram padrões distintos deativação.SegundoGoldstein,porém,umadascoisasmaisinteressantesemrelaçãoaesseestudofoique

todososparticipantesrelataramterosmesmostiposdesentimentosdeestresseaoverasfotos.6Ativaçãocerebraldiferente,massentimentossemelhantes.Oquedizerdisto?

“Mostramosquenasmulheresostatushormonalregulaarespostaaoestressenocérebrodemaneirasdiferentes em diferentes pontos do ciclo menstrual”, disse Goldstein. “Além disso, essas diferençashormonais explicavam diferenças entre os sexos na resposta cerebral ao estresse, mesmo que nãohouvessediferençasnossentimentossubjetivosdeestressedecadagênero. Issosugerequehormôniosestão envolvidos na manutenção da homeostase no cérebro em resposta ao estresse.” Basicamente,homens e mulheres experimentam o estresse da mesma maneira, mas suas respostas a ele envolvemmecanismosdiferentesnocérebro.

Não posso deixar de observar que muitas das áreas cerebrais que integram esses circuitos deresposta ao estresse se superpõem àquelas ativadas pelo amor romântico. Mas até hoje ninguémexaminouespecificamentesehádiferençasnoamorsegundoossexos, talvezporqueoestudodoamorseja tão novo na neurociência. Mas, quando perguntei a Goldstein se poderíamos ver diferenças degêneronoamorenasrelaçõessexuaisnofuturo,elamelembroucomoéimportanteserconservadoraointerpretarresultadosdeestudosdessetipo.

“Sabemosquehánumerosasdiferençasentreossexosnamaneiracomoocérebrosedesenvolveaolongo da infância e funciona depois, até a idade adulta”, disse ela. “Mas não se sabe como essasdiferençasserelacionamounãocomconceitoscomplexoscomo‘amor’ou‘desejo’.”Elaparouporummomentoantesdecontinuar:“Oestudodealgocomooamorémuitocomplicadoenãopodeserreduzidosimplesmente ao nível neuronal. Ele pode ser pensado em muitos níveis diferentes, conscientes einconscientes, envolvendo coisas tão diversas quanto emoção, cognição, fisiologia, psicologia,sociologiae‘química’,paracitarapenasalgumas.”

QuandofaleicomHelenFishersobreseusestudosdeneuroimagem,eladissequeseriainteressanterealizar um examemais atento de diferenças de gênero em futuros estudos de neuroimagem do amorromântico. “As pessoas são propensas a supor commuita rapidez que homens e mulheres são muitodiferentesnesseaspecto,quehomensevitamcompromissoemulheresrealmenteoquerem.Semdúvida,de uma perspectiva evolucionária, é igualmente benéfico para ambos os sexos ter um parceirocomprometidoparaajudaracriarosfilhos.Masseráqueocérebrodásustentaçãoa isso?Éalgoqueaindaprecisamosexaminar.”

Vamosfalardesexo

Aindanãosesabeaocerto,portanto,se,deumaperspectivaneurobiológica,homensemulheresabordamoamordemaneirasdiferentes.Masosexonãoparecerequerermuitamassacinzenta.Osensocomumnosdizquehomensemulheres sãomuitodiferentesnoquediz respeitoaosexo.Oshomenssãomaisvisuais,asmulheres,maisemocionais.Oshomenssedispõemafazê-locompraticamentequalquercoisaque cruze seu caminho; as mulheres são mais seletivas ao escolher seus parceiros. E muitas vezespensamosqueoshomensqueremsexoquaseconstantemente,aopassoqueasmulheressãomaisdotipocamelo em matéria de sexo, capazes de passar sem intercurso por um tempo bastante longo semproblema. Pelo menos, é isso que costumamos ouvir. Se esses estereótipos particulares foremverdadeiros,seriadesuporquehouvessealgumaevidêncianeurobiológicapararespaldá-los.

Comparadas com outras imagens visuais, as imagens eróticas parecem ter um efeito especial naativaçãocerebral,tantonoshomensquantonasmulheres.“Quandocolocamospessoasnomagnetoelhesmostramosestímulossexuais,arespostanocérebroéduasatrêsvezesmaisfortequeaprovocadapor

qualquer outro tipo de imagem ou estímulo que já usamos”, disse Thomas James, neurocientista daUniversidade de Indiana que trabalha com pesquisadores no Kinsey Institute estudando processoscerebraisdetomadadedecisãosexual.“Fotoseróticassãoimagensincrivelmenteexcitantes,exatamenteno sentido geral da palavra excitação.”Mesmo que essas imagens não resultem em excitação sexualdireta, tal como indicada por ereção perceptível ou lubrificação vaginal, a intensidade da ativaçãocerebral aumenta enormemente.Nossos cérebros, ao que parece, foram finamente sintonizados para apornografia.

Há reações diferentes entre os sexos quando vemos essas imagens eróticas? Parece haver. KimWallen, meu companheiro favorito para a observação de macacos Rhesus, e seus colegas naUniversidadeEmory notaramque homens parecem reagirmais intensamente quemulheres a estímulosvisuaisdenaturezaexcitante.QuandopuseramtantohomensquantomulheresnofMRIelhesmostraramuma variedade de fotos apimentadas, ambos tiveram padrões semelhantes de ativação no circuito darecompensa. Mas a amígdala esquerda, uma área do cérebro responsável por associar contexto esignificadoaoambienteexterno,apresentouumfluxodesanguesignificativamentemaiornoshomensquenasmulheres.Regiõeslímbicascorrelacionadasarespostasemocionais,eohipotálamo,aquelasededasexualidade, também apresentaram maior ativação nos homens. Entre todas essas variações no fluxosanguíneocerebral,Wallenecolegasconcentraram-senadiferençaobservadanaamígdala;elesafirmamque essa área pode ser responsável pelo fato de os homens seremmais afetados por imagens visuaisquandosetratadecomportamentosexual.7

“O queme pareceu realmente interessante foi que asmulheres nesse estudo de fato classificaramsubjetivamente as imagens como mais sexualmente excitantes que os homens”, explicouWallen. “Noentanto,foinoshomensquevimosmaiorativaçãonaamígdalaenohipotálamo.Issodizalgumacoisa.”

HeatherRupp,ex-alunadepós-graduaçãodeWallenque,apósdeixarseulaboratório,foi trabalharno Kinsey Institute, afirma que o sistema geral de circuitos neurais subjacente à excitação sexual éprovavelmente bastante similar em homens e mulheres. Mas, sustenta ela, esses circuitos podem serativadosdemaneirasdiferentes,dependendodotipodeestímuloapresentado.8

Aamígdalaapresentamaiorativaçãoemhomensqueemmulheresquandolhessãoapresentadosestímulossexuaisvisuais.IlustraçãodeDorlingKindersley.

Estaéumaexplicação.Aliás,muitoboa.Existe,éclaro,umahipótesealternativa.Osimplesfatodeaspessoasolharemparacópiasdamesmafotonãosignificaqueestejamprestandoatençãoaosmesmoselementos.Considereumaboapornografia,filmeoufoto;emgeral,hámuitacoisaacontecendo.Eseasdissimilaridades observadas na ativação cerebral se devessem simplesmente ao fato de as pessoasestarematentasainformaçõesdiferentes?

Rupp eWallen reuniram quinze homens, quinze mulheres que tomavam pílula anticoncepcional equinzequenãofaziamusodecontraceptivoshormonaiselhesapresentaramcentenasdefotoseróticasdewebsites gratuitos de pornografia. Quando cada foto era exibida, os participantes eram solicitados aclassificarsuaatratividadesexualusandoumnúmero;0correspondiaaomenorgraudeatratividadee4,aomaior.Seaimagemlhesparecessecompletamentesematrativo,poderiamlhedaraclassificação−1;quandoissoacontecia,afotonãoeraincluídanaanálise.

Enquantoosparticipantesdoestudotomavamsuasdecisõesquantoàatratividadesexualdasfotos,ospesquisadoresregistravamnãosóporquantotempocadaumolhavacadafoto,mastambém,usandoumsoftware que rastreava o olhar, para onde exatamente estavam olhando. Rupp eWallen descobriramalgumas coisas interessantes. A primeira e mais importante foi que não havia nenhuma diferençasignificativaentrehomensemulheresemsuasclassificaçõessubjetivasdosestímulosnemnotempoquededicavam à observação das imagens. Com base nessas duas medidas, eles eram idênticos, o querefutavaaideiadequemulheresnãoapreciamestímulossexuaisvisuais;asmulheresseigualaramaoshomenstantonasclassificaçõesquantonotempodeobservação.

Segundo,emborahomensemulheres tenhammostradoapreçopelapornografia,osdoisgruposnãoolhavampara asmesmas coisas emcada foto.Asmulheres tendiama classificar comomais atraentesaquelasfotosemqueasatrizesnãoolhavamparaacâmera.Paraoshomens,porém,nãopareciaimportarparaondeelasestavamolhando.Nenhumdosgênerossedeuaotrabalhodeexaminarmuitodetidamenteclose-ups de genitais, mas só as mulheres que tomavam pílula anticoncepcional e os homens asclassificaram como significativamente menos atraentes. Portanto, houve diferenças – preferênciasespecíficas de cada gênero – apesar de, nos estímulos em seu conjunto, homens e mulheres teremclassificadodemaneirasemelhanteaatratividadedasfotos.9Maisumavez,ocontextotemimportância.

Estudoscognitivosecomportamentaissugeriramváriasoutrasdiferençasessenciaisentreossexos.Aoexaminar ograu emque indivíduos se lembravamde informações sexualmente relevantes contidasnumcontoerótico,pesquisadoresdoSexualPsychophysiologyLaboratorydaUniversidadedoTexasemAustindescobriramdiferençasdegênero.Muitasvezessesupõequediferençasentreossexosemtarefascognitivas são correlatas a diferenças na ativação neural. Estudos anteriores haviam sugerido que oshomens seriammais propensos que asmulheres a reconhecer frases eróticas específicas, e também ofariam commais rapidez. Mas as mulheres erammais precisas ao reconhecer frases românticas queapareciamnotexto.Emestudossobrearecordação,homensmuitasvezesselembravamerroneamentededetalhes da história, de natureza tanto sexual quanto romântica. Para determinar precisamente o queestavaacontecendo,CindyMeston,chefedoSexualPsychophysiologyLaboratory,ecolegaspedirama77alunosdegraduaçãoquelessemumcontoeróticoedepoisrealizassemumatarefamnemônica.Nesseestudo, os homens semostrarammais propensos a se lembrar dos elementos eróticos do conto, e asmulheresmaispropensasa recordarospersonagensespecíficos,bemcomoos trechosque falavamdevínculosemocionais.Nestecaso,osparticipantescorresponderamexatamenteaoestereótipo.10

Quando perguntei aMeston se ela acreditava poder haver, sob essas diferenças, uma variação naativaçãoneural,comomuitospesquisadoressupõemquandoveemumadisparidadeentreosgênerosemtarefascognitivas,elafezumapausaantesderesponder.“Nãosei”,disse.“Poderíamosargumentarquedicaseróticassãomaisrecompensadorasparahomensdoqueparamulheres,quetalvezumhomemtenhaumamaiorexplosãodedopaminaaoverumafotoeróticaoulerumcontoerótico.Masrealmentenãosei

oqueveríamosemtermosdeativaçãocerebral.”

Motivaçõessexuais

Aamígdalaeohipotálamosãoativadosdemaneirasdiferentesemhomensemulheres.Eles,homensemulheres, não olham para as mesmas coisas em fotos eróticas. Também se lembram de detalhescontrastantes de contos eróticos. E quanto às motivações sexuais? Teriam homens e mulheres razõesdiferentesparafazersexo?

Recentemente,o laboratóriodeMestonexaminouessaquestão.Numestudoqueusouquestionárioscomumagrande amostragemde indivíduos, ela analisou comcolegas todas as razões que pessoas dedezoitoasetentaanospoderiamterpara fazersexo.Osresultadosasurpreenderam.“Sempreouvimosdizer quemulheres sãomais propensas a fazer sexo por amor, e os homens por gratificação física.Evimosdefatoumpoucodisso”,disseela.“Porexemplo,oshomenstinhammaiortendênciaaseenvolverem sexo oportunístico, e as mulheres, em sexo por empatia. Mas em toda essa larga faixa etária,encontramosmuitomais semelhanças que diferenças entre os gêneros. As três principais razões parafazersexoforamasmesmasnosdoisgêneros–homensemulheresofaziamporamor,porcompromissoeporgratificaçãofísica.”

Você ouviu isso. É claro que são encontradas diferenças de gênero numa variedade de estudos.Muitosdelescorroboramaideiaquetemossobreasmaneirascomohomensemulheresencaramosexo.Mas tambémhámuitassemelhançasentreelesnesse terreno.Relatóriossubjetivossobreexcitação,ourazõesparafazersexo,mostrammuitasuperposiçãoentreosgêneros.

“Algumas dessas diferenças podem ser explicadas simplesmente por diferenças na anatomia”,afirmou Meston. “Anatomicamente, os homens têm uma ereção quando ficam excitados. Isso é algobastante difícil de ignorar. É um sinal forte, aparente, que chama a atenção dele, provavelmentedistraindo-odeoutrascoisasquetenhadefazer.Nocasodasmulheres,arespostasexualéescondida,eavagina não retém tanto sanguequanto o pênis.Esse podenão ser um sinal forte.Assim, neste caso, adistraçãopodeseroqueestásepassandonorestodomundo,nãoaprópriaexcitação.Épossívelqueessasdiferençasanatômicasexpliquemgrandepartedasdiferençasdegênerodequeouvimosfalar.”

Oamorpermaneceomesmo

Equantoaopróprioamor?Oqueexperimentoquandosintoamorseráqualitativamentediferentedoqueumhomemexperimenta?SelevaremconsideraçãoahipótesedeSemirZekidequealiteraturaeaarteatravésdaserasrevelamumsubstratocomumparaoamornamente,eupoderiasugerirquedescriçõesdosexofeitasporescritoresepintoresdosdoissexossãoporvezesdiferentes.Masdescriçõesdoamorporescritoresdeambososgêneros?Elasnãosãoassimtãodíspares.

Embora estudos de neuroimagem do amor romântico anteriores feitos por Zeki e Fisher tivessemincluídomembrosdeambosossexos,umacomparaçãoprecisadaativaçãocerebralentreosdoisaindanãohavia sidoempreendida.Zekie seucolaborador JohnPaulRomayadecidiramexaminaraquestãomaisdepertoa fimdedeterminar sehaviadiferençasdegêneronamaneiracomohomensemulheresexperimentamoamor.11

Eles compararam o fluxo sanguíneo cerebral em 24 pessoas comprometidas que diziam estarapaixonadamente enamoradas (e tiveram pontuações bastante altas num questionário sobre amorapaixonadopararespaldaressaafirmação).Dozedessesparticipanteseramhomens,seisdosquaisgays.Os demais membros do grupo eram doze mulheres, e entre elas havia igualmente seis gays e seisheterossexuais.O paradigma do estudo foi idêntico ao do estudo inicial do amor romântico feito porZeki: o cérebrode cadaparticipante foi escaneadoenquanto eleouelaviapassivamente fotosde seuparceiroedeumapessoamuitoconhecidadomesmogêneroedamesmaidade.

ZekieRomayaencontrarampadrõessemelhantesdeativaçãoedesativaçãocerebralentretodososparticipantes,replicandoosachadosdoestudooriginaldeZekisobreoamorromântico.Maisumavez,medições do fluxo sanguíneo cerebral corroboraram a ideia de que amor é ao mesmo temporecompensadorecego.Masnãohouvequaisquerdiferençassignificativasentreospadrõesdeativaçãoemhomensemulheres.Emvistadodimorfismosexual encontradoemmuitaspartesdocérebro, éumresultadointrigante.Parecequeamoréamor,nãoimportadequegênerovocêé.

QuandopergunteiaZekiseficarasurpresocomoachado,eledeuumarisadinha.“Paraserfranco,euera inteiramente agnóstico”, respondeu. “Nãopossodizer que fiquei surpreso comos resultados.Maspensoqueesteéumdessesestudosqueteriamlevadoaspessoasadizer‘Nãoestousurpreso’,mesmoqueosresultadostivessemsidoocontrário.”

Eentão,homensemulheressãoounãodiferentes?

Éfácilrecairemvelhosestereótipos,dizersimplesmentequehomensemulheressãopolosopostos.Etalvezessasdiferençassejamsuficientesparaalimentaraquelastempestadesquevemoscomumenteemrelações.Talvezfossemaisfácilsedisséssemosqueoscérebrosmasculinoefemininosãosimplesmentetãodiferentesquepercebemeprocessamoamoreosestímulossexuaisseparadamente; issonosdariaalgoaquenosagarrarquandonenhumaoutraexplicaçãoparanossos infortúniosrelacionadosaoamorparecedisponível.Infelizmente,ascoisasnãosãotãosimples.

“Quandofalamossobrediferençassexuaisnocérebro,aspessoasqueremverascoisasemtermosde‘MarteeVênus’.Queremtomaressesresultadosetentarsituarhomensemulheresagrandedistânciaunsdos outros em função e capacidade”, disse Cahill. “Não é assim. Quando falamos a respeito deinfluências do gênero sobre a função cerebral, podemos ter duas curvas em forma de sinosignificativamentediferentesumadaoutraemcertoscasos.Mesmoassim,ambassesuperpõem.”

Goldstein concorda. “Hámais variabilidade dentro de um dado sexo que entre os dois sexos nocomportamentocognitivoenocérebro.Issoéimportante.Naverdade,sempredigoissoduasvezesparaque as pessoas realmente o compreendam”, afirmou ela. “Há mais variabilidade observada entremulheres que entre mulheres e homens, tanto no tamanho quanto na função de diferentes regiões docérebro.”

Mestonencontrouemsuapesquisaosmesmostiposdecurvasemformadesinosuperpostas.“Cadapessoatrazsuaprópriahistóriaindividualparaqualquersituaçãosexual”,explicouela.“Asrazõesporqueestãofazendosexo,amaneiracomosesentememrelaçãoaosexoeasconsequênciasdefazersexosãotodasmuitodiferentesentreosindivíduos,sejaqualforoseugênero.”

Istoéalgoaserconsideradodapróximavezquevocêquiseratribuirasesquisiticeseosdefeitosdeseuparceiroapenasaseugênero.

7.Aneurobiologiadaatração

OQUENOSATRAIemoutrapessoa?Quandopergunteiameusamigosoqueosatraírainicialmenteemseusparceiros, as respostas variaram de “seus lindos olhos azuis” a “sua honestidade e inteligência”,passando por “ele tinha um aparelho de ar-condicionado – nós nos conhecemos naNigéria durante overão”.Mas tambémouviumbomnúmerodecomentáriossobresorrisosbonitosebelos traseiros,deambososladosdalinhadivisóriadosgêneros,bemcomotributosacachorrosengraçadinhos,pacotesdecanais esportivos na TV a cabo, paixão por uma carreira,motocicletas, habilidadesmanuais, amigosatraentes, e até uma doce, doce compaixão. As respostas realmente cobrem toda a gama. Quandoconsiderominhaprópriaexperiência,possodizerhonestamentequejámesentiatraídapormuitascoisas.Namoreiumhomemquetinhaumarisadaquemepunhaimediatamenteàvontade,outrocujobrilhantismoo situava no topo de seu campo. Não vejo razão para deixar demencionar que saí com um ou doisrapazessimplesmenteporqueeramdeslumbrantes.

Embora muitos de nós consigamos apontar aquela coisa singular que primeiro despertou nossointeresse,issonuncaéassimtãoinequívoco.Trocandoemmiúdos,nãoháumaúnicacoisa.Pormaisqueotraseirodeumamulherpareçabonitoouqueoverãonigerianosejaquente,todaatraçãoécompostaporuma variedade de elementos físicos, mentais e emocionais – talvez até fisiológicos. Outros tipos decomentários feitos por amigosmencionavam frio na barriga, a sensação de ser atraída para a pessoacomoseporum“raiodeatração”,oude“simplesmentesaber”queaquelapessoaforafeitaparaeleouela.Unspoucosamigoschegaramaadmitirqueabasedesuaatraçãoeraummistério:elesnãosabiamaocertooqueexatamenteosatraíranapessoa,sóqueaatraçãoerainegávelnaépoca.Esteéumcasoemqueotodoémuito,muitomaisqueasomadesuaspartes.

“Obviamente, a atratividade é feita demuitas coisas”, disse Thomas James, um neurocientista daUniversidade de Indiana que estuda a tomada de decisão sexual. “Há o rosto do rapaz, e isso éimportante.Masvocêquervê-lolevantar-seedançar,observarcomoelesemovimenta.Querouvirsuavoz. Ele pode ter um rosto sério,mas, se ele for acompanhado por uma voz esganiçada, lá se vai aatração.Seele tiverumaboavoz,oquerealmente tiveradizerdesempenhaumenormepapel.Muitascoisascontam.”

“Vocênãopodeseesquecerdocheiro”,acrescentei.“Ocheiroéimportantetambém.”Jáfuivencidaporáguas-de-colôniabaratasvezesdemaisparanãomencionarisso.

“Certo.Estamos,portanto,alémdovisualaqui.Temosoauditivo,oolfativo,omodocomoosujeitosemovimenta, o que ele diz – e estamos só começando”, continuou James. “Hámuita coisa aí. É umverdadeirodesafiotentarapreendertodasessasvariáveisdeumamaneiraexperimental.”

E o desafio só aumenta quando tentamos examiná-lo de uma perspectiva neurobiológica. O quepercebemosemoutrapessoaqueatrainossaatençãocomtamanhaforçaparaela?Oquepodenosexcitarsexualmente em um olhar ou em uma palavra apenas? Fazer-nos ansiar pela futura companhia dessapessoa?Depoisqueaatraçãofoiestabelecida,oquedeterminaseelasedesenvolveráemamor?Essaatração temde estar ali imediatamente ou pode crescer como tempo?É difícil saber de que questãodevemostratarprimeiro.

Esteéumcasoemquemodelosanimaisnãoajudammuito.Ratasnãoqueremsaberseratostêmounãosensodehumoroucomoelesganhamavida.Paraumrato,nãoimportacomquantosratosumafêmea

já se divertiu, nem se ela tem ou não ingressos para uma temporada de futebol. Não sei nem comocomeçaraqualificaroquepoderiacontarcomoatraentenabalançadosratos,masseique,entreessesanimais, uma demonstração de dentes costuma preceder um ataque. A corte entre roedores e sereshumanosdefatonãoélámuitoanáloga.

Porexemplo,oarganaz-do-campo,omascoteroedordoamor,ficaatraídoporoutroarganazdepoisdemuitofarejarsuaurina.Osferomônios–pequenoscompostosquimiossensoriais–presentesnaurinadãoa esses animais suficiente informaçãopara levá-los a fazerumaconexãoedecidir se acasalar.Omesmo arranjo não vai funcionar com seres humanos. Embora eu tenha feito questão demencionar ocheiroquandoconversavasobreatraçãocomThomasJames,nuncachegueiaopontodecheiraraurinadeumrapaz.

Issonãosignificaquediferentesodoresnãotenhamalgumainfluênciasobreocérebrohumano.WenZhou eDeniseChen, pesquisadores daUniversidadeRice, descobriram que o suor humano durante aexcitaçãosexualativaseletivamentediferentesáreasdocérebro.Aduplapediuadoadoresmasculinosdesuorqueseabstivessemdeusardesodorante,antiperspiranteeprodutosaromatizadosparaocuidadodo corpo antes de comparecer ao laboratório para assistir a vinteminutos de um filme pornográficoheterossexualedepoisumvídeoneutrodeigualduração.Oshomensassistiramàsduassessõesusando,sobasduasaxilas, chumaçosabsorventesquecoletavamosuorassociadoacadasituação.Depoisdecadasessão,ospesquisadoresreuniramosuordetodososparticipantesafimdecriarosdoisestímulosolfativos(esteéonomequeaciênciadáparaaamostradealgumacoisaquesujeitosdeumexperimentodevemcheirar)paraestudo.

Usando fMRI, Zhou e Chen escanearam dezenove mulheres que haviam fungado os produtoscombinadosdosespectadoresdofilmepornôedovídeoneutro.Elestambémmediramofluxosanguíneocerebraldepoisqueosparticipantescheiraramumsupostohormôniosexualchamadoandrostadienona,ummetabolitodatestosteronaquefoiassociadoahumorexaltadoecogniçãoemmulheres,eumcheirodecontrolenãosocial.Asparticipantesdoestudoinalavamcadacompostopordozesegundos,depoisclassificavamaagradabilidadedecadaodornumaescalade1a5.Observe-sequeessasmulheresnãoeram informadas do que eram esses estímulos olfativos, nemmesmo de que eram de origem humana.Eram simplesmente instruídas a dar uma boa fungada em cada um e determinar em que grau oapreciavam.

Ospesquisadoresdescobriramqueosuorproduzidoduranteaexcitaçãosexualhumanageravaumpadrãodistintodeativaçãonocórtexórbito-frontaldireito,árearelacionadaàregulaçãosocioemocionale ao comportamento, e no giro fusiforme direito, área usualmente implicada de modo específico napercepçãodafaceedocorpohumano.Ogrupoidentificoutambémativaçãonohipotálamodireito,asededocomportamentosexual,apartirdosuorproduzidonaexcitaçãosexual,masnenhumaapartirdocheirodecontrole.1

Isso significa que nosso cérebro está fazendo muita coisa com a informação quimiossensorialpresentenosuorproduzidoduranteaexcitaçãosexual.Dealgumamaneira,sabemosqueelepertenceaoutro ser humano sem que isso nos tenha sido dito explicitamente. Nosso cérebro também parececompreender que o cheiro tem algo a ver com sexo. Esses odores são capazes de transmitir muitainformaçãoimportantesemquetenhamosconsciênciadisso.

ZhoueChenencontraramativaçãonocórtexórbito-frontalenogirofusiformequandoparticipantesdoestudocheiraramsuorproduzidoduranteaexcitaçãosexual.Ohipotálamotambémfoiativado.Ilustração

deDorlingKindersley.

Dado que nós, seres humanos, não temos uma compreensão sólida de tudo que está envolvido naatração,edadaasuposiçãodequeaevoluçãonão jogaria foraumsistemaque funcionaparaamaiorpartedoreinoanimal,algunsneurocientistassugeriramquepistasquimiossensoriaisdesempenhamalgumpapelnaatraçãohumana.Talvez,juntamentecomsorrisosradianteseconversainteligente(ouatéemvezdeles),ocheirodeumapessoanosdeixesabersevaleapenapassaralgumtempocomela.Semdúvidaumbomnúmerodecompanhiasfabricantesdefragrânciaseempresasdee-commerceacreditamnisso–hámuitoseanunciam“feromônios”humanoscomoummeiosegurodeatrairmembrosdosexooposto.Emboraalgunssustentemqueferomôniohumanoécoisaquenãoexiste,oestudodeZhoueChensugerequenossoscérebroscaptamalgoapartirdecheirossociais.

Oqueéumferomônio?

Háquase150anos,CharlesDarwinsalientouquesermalcheiroso–vocêsabe,dojeitocerto–podiaajudarpatos,elefantesebodesaconseguirumaparceira.Nemtudoseresumiaaumabelaplumagemouaumbarridopoderoso.Defato,emAorigemdohomemeaseleçãosexual,Darwinafirmouquesinaisquímicossãotãoimportantesquantosinaisvisuaisouauditivosquandosetratadeatraçãoanimal.2ComodizavelhacançãodeColePorter:“Birdsdoit,beesdoit,eveneducatedfleasdoit”a–comadiferençadeque,emvezdeseapaixonar,essesanimaisliberamumavariedadedesinaisquímicosatravésdapelee dos excrementos que indicam a membros do sexo oposto que podem se aproximar. Esses sinaisquímicosseriamosferomônios.

Originalmente definidos por Peter Karlson e Martin Lüscher em 1959, os feromônios (do gregopherein,“transferir”,ehormon,“excitar”)sãopequenasmoléculasquímicasqueajudamosanimaisasecomunicaremcomoutrosdentrodesuaespécie.Seiqueissoparecevago.Vocêpodeestarperguntando:“Comunicarexatamenteoquê?”Arespostaé:“Muitascoisas.”Emboraapalavraferomôniosejausada

diversasvezescomosinônimodeatrativosexual, essaéumadenominação imprópria.Vários tiposdeferomônios foram identificados no reino animal: pré-ativadores, liberadores, moduladores e desinalização.

Feromôniospré-ativadoressãosimplesmenteestopinsqueagemsobreosistemaneuroendócrinodocorpo e desencadeiamdiferentes funções, como amenarca e a puberdade.Os liberadores fornecem avariedadedeferomôniosqueatuamcomoatrativossexuais,provocandorespostascomportamentaiscomoalordoseemfêmeas,posiçãodeprontidãoparaosexoemqueotraseiroéempinado.Podemtambémsersinaisdealarme,motivandocertasespéciesanimaisaseafastardesituaçõesperigosasouaseprepararparaumabriga.Osmoduladoresporsuavezpodemalteraremoções;sãosubstânciasquímicasliberadaspelo corpo capazes de afetar positivamente o humor e o estado emocional. Já os de sinalização sãocompostos que fornecem informação sobre gênero, status reprodutivo e idade.Nossos corpos, ao queparece,nãoguardammuitossegredos.Acadamomentoelesliberampartículasdeinformaçãoparaoutroscaptaremdemaneira inconsciente.Essaspartículaspodementãoalteraraquímica internadocorpoouajudarumindivíduoaavaliarintuitivamentesituaçõessociais.3

NoscinquentaepoucosanosdesdequeKarlsoneLüschercunharamo termo,houvealgumdebatesobre a existênciaounãode feromônioshumanos.Hámuitas razõespara isso, e amaioria delas estáalémdoescopodeste livro.Algunsdizemqueos feromôniosagematravésdoórgãovomeronasal,umórgãoolfativoespecializadoqueemmamíferosinferioresécontíguoaocérebro.Masoserhumanonãopossui esse órgão; por isso, afirmam outros, não processamos feromônios. Segundo outros ainda, oprocessamento olfativo humano evoluiu para além da simples molécula. Em nossos grandes lobosfrontais,ossinaisquimiossensoriaishumanossãomaiscomplexosquesimplesmoléculasdeferomônio.Mas talvezacríticamais importanteà ideiade feromônioshumanos sejaque, atéhoje,nemumúnicodeles foi identificado. O único candidato, descoberto por Martha McClintock na Universidade deChicago, é uma substância química que ajuda a sincronizar os ciclos menstruais de mulheres quecoabitam. Embora estudos como o de Zhou e Chen tenham demonstrado que seres humanos sãosuscetíveisamensagensquímicasprovenientesdeodores,nãoestáclaroseessassubstânciasquímicassãoferomôniosnosentidoestritodapalavra.4

Um composto quimiossensorial submetido a intenso estudo é o complexo de histocompatibilidadeprincipal (MHC, na sigla em inglês). Como o nome diz, trata-se de um complexo: uma mistura decentenasdediferentescompostos,talvezmais.EmborasefalemuitasvezesnocomplexoMHCcomosefosseumferomônio,elenãocorrespondeplenamenteaoscritérios.Trata-sedeumgrupodegenesqueconduzauma“impressãoodorífera”específica.Defato,cadaserhumanotemumodorcaracterístico–comoumaimpressãodigital.Nossereshumanos,ocomplexoMHCtemcomobaseosistemaantígenoleucocitáriohumano(HLA,nasiglaeminglês).Essegrupodegenesqueregulamosistemaimunehumanoé tambémresponsávelpornossas impressõesúnicasdeodor.AvariabilidadenogrupodegenesHLAresultaemnossobuquêpessoaleparticular.

OcomplexoMHCauxiliaanimaisnaidentificaçãodesuaprópriaproleedosmembrosdafamília.Ajuda-ostambémaavaliarumparceiropotencial.AvariabilidadeidentificadanocomplexoMHCnãoéresponsável apenaspor essa impressãoodorífera; está tambémdiretamente ligadaaumsistema imunesaudável.Nãoédiferentenossereshumanos:quantomaioravariabilidadeemseuHLA,melhorestáseusistemaimune.Poressarazão,pormuitotemposesupôsqueaspessoasseriammaisatraídasporaquelasque tinham um complexo MHC tão diferente do seu próprio quanto possível – uma pequena notafarejável,aindaqueinconsciente,quenospermitisseencontraroparceiroquenosajudariaaproduzirosfilhosmaisfortesesaudáveis.

Maisdedezanosatrás,pesquisadoressuíçosdaUniversidadedeBernaempreenderamoquepasseiachamardeexperimentoda“camisetamalcheirosa”.5Ogrupoidentificouogenótipode45estudantesdo

sexofemininoe44dosexomasculino,examinandoespecificamentesuassequênciasdegenesHLA.Emseguidaoshomensforamsolicitadosaviverlivresdeodoresporalgunsdias,evitandoatividadesexual,alimentos que produzem odor e cigarros. Em duas noites consecutivas eles dormiram com camisetasfornecidas pelos pesquisadores. Depois que as camisetas lhes foram devolvidas, os pesquisadorespediram às mulheres para cheirar seis diferentes camisetas e classificá-las por intensidade,agradabilidadeesensualidade.

OspesquisadoresdescobriramqueoHLAimportava:asmulheresclassificaramoodordoshomenscujos sistemas HLA erammais diferentes dos seus comomais agradável e sexy, comparado aos doshomens cujos sistemas HLA eram semelhantes aos seus. Essa tendência se invertia nasmulheres quetomavamanticoncepcionaisorais.OsachadoslevaramospesquisadoresaconcluirquegenesligadosaoHLA de fato influenciam a escolha de parceiro pelas mulheres, corroborando a hipótese de quecomplexosMHCdivergentesresultamematração.

Um estudo mais recente, liderado por McClintock, contestou a ideia de que quanto maior for adiferençamaioréaatração.Ogrupofezseuprópriotesteda“camisetamalcheirosa”com49mulheres.Neste caso, os pesquisadores selecionaram um grupo variado de doadores masculinos de camisetassuadas,masasseguraramaexistênciadealgumasuperposiçãocomalelosHLAcomunsencontradosnasfamíliasdasmulheresquecheirariamascamisetas.McClintockecolegasdescobriramqueasmulhereseramcapazesdediscriminarasdiferençasemgenótiposHLA.Faziam-no,contudo,combasenosalelosHLAquehaviamherdadodopai.Oqueissosignificaexatamente?Essasmulheresnãopreferiamodorescompletamente diferentes de sua própria impressão odorífera influenciada pelo sistema HLA; naverdade,preferiamodoresquetinhamumpardealelosemcomumcomodopai.Aoqueparece,elassãoprogramadasparapreferirhomensqueconservamalgumasemelhançagenéticacomsuapróprialinhagempaterna.

“Asmulheresprecisamotimizarsuaescolhadeparceironaesperançadeforneceromelhorsistemaimunepossívelparaseusfilhos”,disseCharlesWysocki,pesquisadordoMonellChemicalSensesCenterna Filadélfia. “Elas podem fazer isso escolhendo um homem cujos genes do sistema imune sejamdiferentesdosseus.Masfavoravelmentediferentes.”

Assim, se na reunião da família do ano passado seu primo em quarto grau pelo lado do pai lhepareceumaisatraentedoquevocêpensava,vocênãoétãoestranhaassim.Seusistemaolfativoestavasimplesmenteàespreitadadiversidadegenéticaotimizada.6

Atualmente, várias empresas de encontros on-line oferecem serviços de compatibilização deHLAcomo parte de seus programas. Pela pechincha de mil dólares, você pode ter parceiros potenciaisselecionados por genótipos para ver em que medida seus sistemas HLA são relacionados. Emboraprovavelmente não vá prejudicar seu placar no namoro, não há nenhuma garantia de que genes HLAsemelhantes contribuam para um relacionamento feliz. E o complexo HLA não é a única substânciaquímica que o corpo libera.Wysocki afirma que pode havermais deixas olfativas que podem ajudarmulheresadescobrirparceirosótimos.Elassimplesmenteaindanãoforamcaracterizadas.

Sexycomoasalivadeumporco

Emboranãotenhamdesignadooficialmentenenhumasubstânciaquímicacomoum“feromônio”emsereshumanos, os cientistas identificaram algumas em outros mamíferos. A mais conhecida delas é umcomposto chamado androstenona. Quando porcas excitadas farejam essa substância na saliva de umvarrão,elasassumemimediatamenteaposiçãodelordose,ouaposiçãodeprontidãoparaosexoemque

o traseiro é empinado. É possível até comprar essa substância numa conveniente lata de spray, umproduto chamado Boarmate, para todas as suas necessidades na criação de suínos. Ele é usado emfazendasdecriaçãodeporcosnomundointeiroparaauxiliarnainseminaçãoartificial.

Naverdade,aandrostenonaeumasubstânciaquímicarelacionadachamadaandrostadienonatambémforam encontradas em compostos axilares domacho humano – uma designação elegante para suor desovaco –, bem como em sua saliva e urina. Isso levou alguns estudiosos a sugerir que esses doiscompostosagiriamcomoferomôniosigualmenteemsereshumanos.Outros,contudo,sustentamquesuaspropriedadesdeatrairfêmeassãoexclusivasdosporcos.

Essedebatenãoimpediuváriascompanhias,amaioriadelastrabalhandopelainternet,deanunciarevender androstenona como uma fragrância de “feromônio”. Homens podem comprar sua própriaandrostenona,aqual,segundoosvendedores,osajudaráaconquistarmulheres.MasWysockiadvertiuquenãodeveríamosacreditaremtodoessealarde.“Osferomôniosnãosãoaquiloquedizemalgunssitesdainternet”,disse-meele.“Aevoluçãohumanaafastou-sedarespostareflexaaferomôniosquevemosemmariposas, ratosoucamundongos.Temosumgrande inputcognitivonomodocomorespondemosasituações–hámuitomaisdoquepuroreflexoacontecendo.”Elefezumapausa.“Sabemosqueháalgumprocessamento inconsciente do odor corporal humano. E algumas evidências sugerem que o odorcorporal pode nos ajudar a identificar indivíduos que conhecemos ou talvez nos atrair para outrosindivíduos.Massimplesmentenãohánenhumaevidênciaboa,confiável,paraapoiaraafirmaçãodequeumpoucodeferomônioemspraycompradonainternetoajudaráasetornarumapessoamaisatraente.”

Muitaspessoasquetorceramonarizparaopreçodeumacolôniadeandrostenonafeitaparasereshumanos optaram por experimentar, em vez disso, Boarmate como fragrância pessoal. Alguns atéescreveramna internet sobre suas experiências.Todas essas histórias parecemmuito positivas.Aindaassim,vi-meperguntandoamimmesma:seessaspessoasestavamtãoocupadasfazendosexograçasaesse feromônio de porco, como tinham tempo para escrever com tanta eloquência (e com tantafrequência)sobresuasmuitasfaçanhassexuais?

Umadascoisasmaisinteressantessobreaandrostenonaéquenemtodoserhumanoécapazdesentirseu cheiro – e que, para os que são capazes, ele parece ou bastante agradável, como baunilha, ouabsolutamente repugnante. Seria de esperar que, fosse ela um feromônio humano com capacidadegarantidadeatrairasgarotas,tivesseumcheirodeliciosoparatodasasmulheres.Fiqueicuriosa,éclaro,sobrecomoelapoderiacheirarparamimedeciditirarissoalimpo.EmboraWysockitenhameditoqueeupoderiaadquirirumalatadeBoarmateemqualquerlojadesuprimentosagrícolas,conseguirumafoimaisdifícildoqueeuprevia.Porfim,apósintensaprocura,encontreiumalojaon-linenoReinoUnidodispostaameenviarumalata.

Quandoopacotechegou,logotrateideabri-loeencontreiumalataamareladeaerosolornamentadacom um porco vermelho de desenho animado. Muito pouco sexy. Destinava-se claramente a uso emporcos,nãoahomensdesejososdeatrairfêmeasfogosasnobebedourolocal.Enroscadaemminhacama,comminhagataBooBooaosmeuspés,liasinstruçõesdeaplicação:“Vaporizeboarmate™nofocinhodaporcapordoissegundosdeumadistânciadeaproximadamentesessentacentímetros,depoisapliquepressãonascostasdafêmea.”Se,depoisquevocêpressionarsuascostasparabaixo,aporcaassumiraposiçãolordótica,elaestápronta.Éomomentodeinseminar.Bastantesimples.

Suponhoqueeupoderia terapenasvaporizadoBoarmatenoaredadoumafungadaparasatisfazerminhacuriosidade.MasBooBoo,quecochilavacomdeleitenopédacama,deu-meumaoutra ideia.Sim, foi uma ideiamalvada. Uma ideia desprezível, de fato.Mas dificilmente eu poderia pressionarminhasprópriascostasapósaaplicaçãoparaverseeuassumiriaaposiçãodelordose.Sereshumanosnãoofazem.Masgatos,sim.Assimpensando,vaporizeioprodutopertodofocinhodapobreBooBoodurantedoissegundoseempurreilevementeassuascostas.

Sendo um animal gentil e plácido, omelhor dos bichos de estimação, ela não se empinou e nemarrancoumeusolhosporsubmetê-laaumexperimentodessamaneira.Francamente,eunãoaculpariaseo tivesse feito.Ela simplesmente fungouo spraycomolhos arregalados, sacudiu a cabeçademaneiraameaçadoraesaiucorrendodoquartoomaisdepressaquesuaspatinhaspermitiram.Masnãoantesqueeupudessedarumrápidoempurrãonassuascostas.Provavelmentenãoédesurpreenderquenãotenhahavidonenhumalordose,sobretudoporqueelaestavatentandotãodesesperadamentefugir.Issopoderia,éclaro,tertambémalgoavercomofatodenãoestarnocio;asinstruçõesdoBoarmatediziamqueeudeveriaesperaratéqueaporcaestivesseemestroantesdevaporizar.Mas,comoBooBooeraumagata,nãoumaporca,nãosentimuitanecessidadedeseguirasinstruçõesaopédaletra.Amaioriadossereshumanosqueusama substância tambémnãoo faz: elesnãovaporizamuma jovemdesprevenidanumaboatecomandrostenona,umaaçãoquepoderialhesvalerumtapanacaraouumadetenção;elesborrifamasimesmos.Eduvidotambémquesedeemaotrabalhodeesperarocio.Mesmoassim,comoeudisse,foiumaideiamalvada.Minharápidavaporizadanãoresultounumanimalprontoparaumaapimentadaaçãoreprodutiva.Oquefezfoiapenasirritarumfelinonormalmenteamoroso,queserecusouachegarpertodemimpelorestododia.

Sobumaspecto,contudo,oexperimentofoiumsucesso:permitiuqueeucheirasseandrostenonapormimmesma. Incluo-mena categoria dos seres humanos capazesde cheirá-la. Inalandoprofundamente,não me pareceu em absoluto que ela cheirasse como baunilha, mas tampouco como lixo. Para mim,Boarmate lembrouomomentoqueprecedeovencimentododesodorante.Sabequandovocê sente umcheiropoucoagradávelqueachaquevemdoseuprópriocorpoe,diantedisso,tentadarumacheiradadiscretasobobraçoparaverificarseprecisaselavar?Apóscuidadosareflexão,concluíque,paramim,aandrostenonatemumcheiromuitoparecidocomesseantecedentesuarento–algopróximodefedordesovaco. Se eu sentisse esse cheiro num rapaz que estivesseme cantando, tenho quase certeza de quetentariamanteralgumadistância,outalvezfosseaotoaleteparameassegurardequeocheironãoestavavindodemim.

Por quehaveria tantas diferençasnamaneira comoas pessoaspercebema androstenona?Tudo sereduz a um tipo de receptor olfativo. “Sabia-se que diferentes pessoas tinham diferentes perceptosolfativosparaaandrostenona”,afirmouHiroakiMatsunami,geneticistamoleculardaUniversidadeDuke.“Estávamosinteressadosemdescobrirabasegenéticadisso.”

Matsunamieseuscolegascoletaramsanguedequasequatrocentos indivíduosparagenotipagem.Ogrupotinhaparticularinteresseporgenesdereceptoresolfativos–istoé,receptoresnoepitéliodonarizque percebem odores. Em seguida foi solicitado aos participantes do estudo que classificassem aintensidadeeograudeatratividadedemaisdesessentaodoresdiferentes,inclusiveaandrostenonaeseuprimopróximo, a androstadienona.Ogrupodescobriu queumgenede receptores particular, chamadoOR7D4,estavaassociadoàcapacidadedeos indivíduoscheiraremesses feromônios.Eumavariaçãoparticular,oupolimorfismo,dogeneemalgunsindivíduosestavarelacionadaaseucaráteragradávelourepugnante.7

Parece haver, portanto, um receptor olfativo humano específico para essa substância química, umconhecidoferomôniosuíno.QuandopergunteiaMatsunamiseessetrabalhoforneceevidênciasafavoroucontraasinalizaçãohumanamediadaporferomônios,elemanifestoucautela.“Aideiaaindaémuitocontroversa, e há evidências de ambos os lados”, disse ele. “Seminha contribuição sobre a variaçãonessesreceptoreslevasseaumacompreensãodomodocomoessassubstânciasquímicaspodemterumefeitoferomonalemsereshumanos,seriaótimo.Masaindanãochegueiaconclusãoalguma.”

Matsunami apressou-se a ressaltar que seu estudo envolveu um receptor entre centenas. Para nãomencionarqueassubstânciasquímicasandrostenonaeandrostadienonasãoapenasduasmoléculasentrepotencialmentemilhões.Atarefaaindaporfazer–tentarcompreendercomoocérebrointerpretatodas

essasdiferentessubstânciasquímicasequeefeitoselaspodemtersobreocomportamento–é,namelhordashipóteses,intimidante.

Osferomônioseocérebro

Apesardacontrovérsiasobrearealpossibilidadedeferomôniosafetaremsereshumanos,umgrupodepesquisadoresdoInstitutoKarolinka,naSuécia,incluindoIvankaSavic,usouatomografiaporemissãode pósitrons (PET), uma técnica de neuroimagem, para examinar de quemaneira feromônios como aandrostadienona(AND)eumesteroideestrogênico(EST),umcompostoencontradonaurinademulhereseemodoresmaiscomunscomolavandaecedro,afetamofluxosanguíneocerebral.8

Estudos anteriores haviam demonstrado que a exposição a AND e EST pode alterar o humor, osritmoscardíacoerespiratórioeacondutânciadapeleemsereshumanos.Foidemonstradotambémqueelesexercemessesefeitosdeumamaneiraespecíficaemcadagênero.ANDexerceoefeitoemmulheres,aopassoqueoESTfuncionaemhomens.Saviceseuscolegasperguntaram-seseoefeitoseestenderiaàativaçãocerebral.Paraverificarisso,ospesquisadoresescanearamoscérebrosdedozehomensedozemulheres,todossaudáveis,enquantoelescheiravamAND,ESTearsemodor.OgrupodescobriuqueaANDeoESTativavamohipotálamoanteriordamesmamaneirarelacionadaaogênerovistaemoutrosestudos.Istoé,aANDativavaaregiãodocérebroassociadaasexoereproduçãonasmulheres,enquantoo EST a ativava nos homens. Esse tipo de efeito sexualmente dimórfico não é produzido por odorescomuns. Portanto, afirma Savic, isso é evidência de que seres humanos são influenciados por sinaissemelhantesaferomônios.“Algunsafirmamquenãopodemosperceberferomôniosporquenãotemosum[órgão vemeronasal]. Parece, no entanto, que podemos interpretar sinais de compostos semelhantes aferomôniosatravésdosistemaolfativo”,disseSavic.“Elesegueoutravia,umaviabastantedireta,damucosaolfativaatéocérebro.”

Numestudomais recente,Saviceseuscolegas testaramhomensanósmicos, istoé,desprovidosdeolfatoemrazãodepóliposnasais,eindivíduos-controlenormais,usandoumparadigmasemelhanteaodeseuprimeiroestudodeferomônios.Comoseesperava,homensdesprovidosdeolfatonãomostraramaativaçãoporEST.Savicacreditaque issoprovaqueo sistemaolfativoénecessárioe suficienteparaprocessarsinaissemelhantesaferomôniosemsereshumanos.9

OtrabalhodeSaviccontinuacontroverso.Osníveisdeferomôniosqueelausaemseusestudossãode ordens de grandeza mais elevadas que os que poderiam ser encontrados comumente entre sereshumanos.Essaaltaconcentração,afirmammuitos,anulaosresultados.“Essessãoníveismilvezesmaisconcentradosdoqueosqueencontraríamosnocorpohumano”,comentaWysocki.“Casosesuponhaseresseumferomôniohumano,seriadeesperarosmesmosefeitosemníveisencontradosnocorpohumano,oumesmoabaixodeles.”

Savicreconheceuqueosníveisusadosemseusexperimentospodemnãoserosmesmosencontradosnanatureza,masalegouqueseutrabalhoaindamereceseraprofundado.Combaseemseusachados,elaacreditaquesereshumanossãosuscetíveisasinalizaçãomediadaporferomôniosequeestudosfuturosapoiarãosuahipótese.Mas,quandolhepergunteisobreaimportânciaqueelespoderiamternaatração,elafezumapausa.“Nãoexaminamosaatração,simplesmenteconstatamosqueessescompostospodemoperar mudanças fisiológicas no cérebro”, respondeu. “Está claro que há odores comuns que nãopercebemos conscientemente, mas que atingem regiões específicas do cérebro. Isso é muitoimpressionanteeestimulante.Masaindahámuitoaaprender.”

Ohipotálamoéativadoquandosereshumanoscheiramferomôniosanimais.IlustraçãodeDorlingKindersley.

“Entãoaatraçãopoderiaserapenasumaquestãodeferomônios?”,perguntei.“Não,demaneiraalguma”,disseela,rindo.“Aatraçãoécomplexa,háumsem-númerodefatores.Os

feromôniospodemserumdessesfatores.Seforem,háconexõesinibitóriasprovenientesdeoutraspartesdo cérebro que podem aumentar o que esses odores particulares podem fazer no cérebro. Mas nãosabemos.Issoaindanãofoiapropriadamentetestado.”

Háalgoaconsiderarantesquevocêpeguesuaprópria latadeBoarmateevaporize-se (ouaoseugato)comele.

Sintoqueprecisomeapressar

Nãoháquasenadatãoamedrontadorquantoreingressarnomundodonamoroquandovocêéumamulherna casa dos trinta e poucos.Acredite emmim.Nos idos dos anos 1980, quando comecei a sair comrapazes,minhamaiorpreocupaçãoeraconvencerminhamãeamelevaratéocinemasemfazermuitasperguntas.Numcertosentido,ascoisasnãomudaramtanto.Hojeaindatenhodelidarcomminhamãe,embora agora precise apenas convencê-la a tomar conta do meu filho sem fazer muitas perguntas. Édolorosoadmitir,mascontinuoumpoucoboba.Aindaquemuitospossamargumentarqueaidadefazdemim uma candidata melhor para o circuito do namoro (ainda que apenas por ter reduzidoapropriadamenteminhasexpectativas),nãopossoevitarsentiroutracoisa.

Meusamigosmeempurramdevoltaparaaarena,deumamaneiraoudeoutra.Umamigo,paisolteiroe profissional ocupado, diz que o chamado speed dating é a solução. Esse novo paradigma temalcançadocrescentesucesso,sobretudoporqueapessoanãoprecisainvestirtodoaqueletempoetemagarantia de conhecer mais de dez “candidatos” numa só noite. Cada evento envolve cerca de vintemulheres, vinte homens e um bom cronômetro. Cada solteiro passa cerca de quatro a oito minutos(dependendodaempresaquecoordenaoevento)comcadamembrodosexooposto.Aofimdanoite,oscandidatosprecisamtomarumadecisãosimplessobrecadapessoaqueconheceram:vocêgostariadevê-

lo(ouvê-la)denovo?Seumhomemeumamulherrespondemambosafirmativamente,oscoordenadoresdo evento enviam aos dois as respectivas informações de contato.Meu amigo é um grande fã dessearranjo.Recomenda-oenfaticamentecomoumamaneiradivertida(massobretudoeficiente)deconhecerpotenciaisnamoradosounamoradas.Aoqueparece,temlhevalidoumaintensaatividadesexual.Alémdisso,ospeeddatingestáoferecendoaospesquisadoresmaisinformaçõessobreaatração.

Em2004,EliFinkel,professordaUniversidadeNorthwestern,levoualunosseusdeumsemináriodepós-graduaçãosobrerelaçõesíntimas,inclusivePaulEastwick(hojeprofessordaUniversidadedoTexasA&M),aumaexcursãodespeeddating.Foiumacertafarra,mas,apósexperimentaremelesmesmosacoisa,FinkeleEastwickpensaramqueelaconstituíaumbomparadigmaparaestudo;ficaramsurpresoscom a quantidade de informação que deduziram após apenas alguns minutos de encontro com umapotencial namorada. Talvez, pensaram, o speed dating permitisse novas descobertas sobre o que nosatraiemoutraspessoas.

Aatração,comooamor,recebeupoucaconsideraçãonomundodapesquisa,epelasmesmasrazões:éalgocomplexoedifícildedefinirouestudardemaneirasistemática.Apartirdosanos1970,pesquisasem psicologia social dedicaram alguma atenção ao assunto. Ideias do senso comum, como a de quehomens valorizam a atração físicamais do quemulheres e a de quemulheres sãomais atraídas porhomensqueganhambem,provêmdessesestudos.Seráqueessesresultadoscobremtodaaextensãodofenômeno?Ajulgarpelavariedadederespostasqueobtivedeumpequenogrupodeamigossobreoqueelesconsideravamatraenteemseuscompanheiros,creioquenão.

FinkeleEastwickfizeramasimesmosamesmapergunta.Osdoispassaramentãoapromoverseuspróprioseventosdespeeddating,paradigmasexperimentaisemquepessoasseencontravamcomoutrasde sexo oposto durante quatrominutos e depois avaliavam se gostariamde voltar a encontrar algumadelas.Desta vez, no entanto, cada encontro era gravado emvídeo, paramais tarde ser codificado emcomportamentosespecíficosporobservadorestreinados,etodososparticipantesrecebiamatualizaçõesmesesapósparticipardoexperimento.

Umdosprimeiros achadosdadupla foi emalgumamedidauma surpresa:oquepensamosdesejarnumparceironãoéemgeraloqueprocuramos.FinkeleEastwickpediramaumgrupodeparticipantesdo speed dating que preenchessem um questionário sobre o que procuravam num parceiro. Nesseslevantamentos,ovelhoadágiodequeoshomensapreciambeleza físicaeasmulheres,opotencialdeganhardinheiroseconfirmou.Noentanto,quandoosmesmosindivíduosencontram-sefaceafacecompessoas do sexo oposto, esses ideais não semostraram tão importantes.De fato, tanto homens quantomulheres foram atraídos primeiro pela aparência física e depois pela personalidade, seguida pelopotencialdeganho.Numasituaçãoreal(outãopertodissoquantoépossívelchegarnumexperimento),essas diferenças entre o que atrai os dois sexos, que por tanto tempo sustentamos como verdadesuniversais,desapareceram.10Aatraçãofísicasuplantavatudo,querapessoativessedoiscromossomosXouumXeumY.

Numa entrevista à revista Newsweek, Finkel ofereceu este conselho: “Cuidado com a lista decompras.Quandovocêestáàprocuradeumparromântico,nãoleveumalistadecaracterísticasqueapessoa precisa ter. Vá com a mente aberta. Conheça-a realmente face a face. Porque talvez vá sesurpreendercomapessoapelaqualsesenteatraído.”11

Háalgoaserditoemfavordisso.Certamentejámesentiatraídapormuitas“surpresas”aolongodeminhacarreiradeencontrosromânticos.Muitoseudispenseiporquenãocorrespondiamàminhaideiadeparceiroideal.Agoraperguntoamimmesmasefuiumpoucoprecipitadaaodecidirqueelesnãoeramparamim.

Aatraçãonãoéapenasumaquestãodeboaaparência;umaconversaagradáveltambéméimportante.Para pôr essa ideia à prova, Finkel, Eastwick e colegas examinaram o emparelhamento do estilo de

linguagem,ouamaneiracomoindivíduosemparelhamsuaconversacomadoparceiro,oralmenteouporescrito, e como isso se relaciona com a atração. Essa coordenação verbal é algo que realizamos demaneira inconsciente–pelomenosumpouco– comqualquerpessoa comquemconversamos,masospesquisadoresperguntaramasimesmosseumnívelelevadodesincroniapoderiaoferecerpistassobrequetiposdepessoaosindivíduosgostariamdeverdenovo.

Numestudoinicial,ospesquisadoresanalisaramousodalinguagememquarentaspeeddatings.Elesdescobriramque,quantomaissemelhantea linguagemdeduaspessoas,maioraprobabilidadedeelasquererem voltar a se encontrar. Até aí, tudo bem. Mas poderia esse emparelhamento do estilo dalinguagemajudarapreverseumoudoisencontrosvãoevoluirparaumarelaçãodecompromisso?Paradescobrir,ospesquisadoresanalisarammensagensde textodecasaiscomprometidosqueconversavamdiariamente e compararam o nível de emparelhamento do estilo da linguagem com medidas daestabilidadedorelacionamentoobtidaspormeiodeumquestionáriopadronizado.Trêsmesesmaistarde,ospesquisadoresverificaramseessescasaiscontinuavamjuntoselhespedirampararesponderaoutroquestionário.

O grupo constatou que o emparelhamento do estilo da linguagem permite também prever aestabilidade do relacionamento. Pessoas em relacionamentos com altos níveis de emparelhamento doestilo da linguagem tinham probabilidade duas vezes maior de ainda estarem juntas quando foramnovamenteentrevistadaspelospesquisadorestrêsmesesmaistarde.12Aoqueparece,aconversa,oupelomenosacapacidadedesincronizar-seeseentender,éimportante.

Nãohádúvidadequeessesresultadosrepresentamumaespéciedeproblemadoovoedagalinha.Aspessoascombinambementresiporquecompartilhamestilosdeconversasemelhantes?Oudesenvolvemestilosdeconversasemelhantesporquecombinam?Édifícildizer.Masospesquisadoresacreditamqueestaémaisumavariávelessencialparaacompreensãodasrelaçõesinterpessoais.

Baseado no sucesso dos estudos de Finkel e Eastwick, Jeff Cooper, pós-doutorando primeiro naTrinityUniversityemDublinehojenoCalifornia InstituteofTechnology,decidiuusarospeed datingpara examinar os aspectos recompensadores da atração interpessoal. Mas ele alterou um pouco oparadigma,demodoapoderacrescentarumcomponentedeneuroimagem.Afinal,seateoriadeHelenFisherestivercorretaeencontrarumparceiroforumadasmelhoresrecompensasqueexistem,seriadeesperarverasáreasdocérebroassociadasàrecompensaseativaremquandoencontramosumcandidatopotencial.SemdúvidaCooperpensouquedeviaserassim.“Sabemos,dopontodevistacomportamental,queháumvalordereforçoemnossapercepçãodomodocomooutraspessoaspensamsobrenós”,disse-meele.“Maséumacoisadifícildeestudar,emespecialpormeiodaneuroimagem.Recompensassociaisativam as redes de recompensa do cérebro, sabemos disso.Mas ficamos interessados em saber se aatraçãointerpessoal,osentimentodequeoutrapessoagostadenós,ativariaasmesmasregiões.”

CooperecolegaspromoveramseiseventosdespeeddatingepediramaosparticipantesparavoltaraolaboratórioumoudoisdiasdepoisafimdeseremsubmetidosaumexamedefMRI.Cadaparticipantefoientãoescaneadoenquantoolhavaafotodeumapessoaquehaviaconhecidoeemseguidainformadoseestahaviarespondidosimounãoquandoperguntadasedesejavavoltaravê-lo.Imediatamentedepois,cadaumfoisolicitadoaclassificarseugraudesatisfaçãoouinsatisfaçãocomadecisãodaoutrapessoasobreumfuturoencontro.

Numa análise preliminar, o grupo encontrou forte ativação do sistema de recompensa – mas sóquandoparticipantesrecebiamumaresposta“sim”dealguémsobrequemelestambémtinhamdito“sim”.Correlacionou-se,portanto,comaclassificaçãodograudesatisfaçãocomadecisãodaoutrapessoa.Àprimeiravista,essesdadosindicamqueofatodeumapessoagostardenósérecompensador,masapenassenóstambémgostamosdela.

Coopereseuscolegasperguntaram-seseaantecipaçãodadecisãodeoutrapessoapoderiatambém

afetarocérebro.Assim,examinaramaativaçãocerebralquandoosparticipantesdoestudoolhavamafoto antes de ver se a outra pessoa queria ou não voltar a vê-los.Mais umavez a análise preliminarmostrou as áreas da recompensa no cérebro iluminando-se como fogos de artifício. A explicação deCooper é que, quando gostamos de uma pessoa o suficiente para lhe dar um “sim”, antecipamos aresposta que ela nos dará. No contexto do speed dating, ao que parece, a ativação do sistema derecompensa ocorre não apenas quando recebemos recompensas,mas também quando as antecipamos.Masaobtençãodeum“sim”sóerasignificativamenterecompensadoraseestivesseocorrendoumapreçomútuo;docontrárioosistemade recompensapermanecia relativamentecalmo.“Emoutraspalavras,ovalor da recompensaquevemcomaobtençãode um simvaria enormemente em funçãode comonossentimosemrelaçãoàpessoadequemeleproveio”,disseCooper.13

Essecampodetrabalhoénovoecontinuaemcurso.Ospesquisadoresplanejamfazerestudosfuturosemqueescanearãoindivíduosantesdeumeventodespeeddating.Talvezhajanumafotoporsisóalgocapazdeindicarsehaveremosdequerersaircomaquelapessoa.Dadoqueaatratividadefísica–paraambosossexos–éumavariávelessencialnaatraçãointerpessoal,umafototalvezvalhamaisquemilpalavras nesse contexto. Depois que os pesquisadores analisarem cuidadosamente todos os dados epassaremaestudosmaiscomplexos,éprovávelquedescubrammuitascoisasinteressantessobreoqueparece recompensador ao nosso cérebro quando uma nova pessoa atrai nossa atenção. Afinal, pararoubarumadasopçõesdestatusamorosodoFacebook,quandosetratadeatraçãoerelacionamentoascoisasàsvezessão“enroladas”.

Amensagemfinal

Não importa para onde olhe, você vai encontrar toda espécie de conselho sobre como atrair umcompanheiro.Capasderevista,serviçosdeencontros,anúncios,fabricantesdeperfumes–todosqueremnos fazer acreditar que há uma chave para encontrar a pessoa certa, e chegammesmo a nos ofereceraqueleprodutoouserviçoespecialquenosajudará.Aciência,noentanto,dizqueascoisasnãosãotãosimplesassim.Nãohánadaqueestejasempreassociadoàatração,querestejamosfalandodeferomôniosoudopotencialdeumapessoaparaganhardinheiro.Oúnicoelementoquesequalifica repetidamentecomo importanteéaatração física. Issonãoédesurpreender–maséumfenômenodifícildeestudarempiricamente.

“Aatraçãofísica,tantoemhomensquantoemmulheres,éumacoisaimportante.Éumachadomuitoconstanteempesquisas”,disseCooper.“Masháumsem-númerodevariaçõesnoqueaspessoasachamfisicamenteatraente.Elassimplesmentetêmgostosdiferentes.”

Até os gregos antigos sabiam que a beleza está nos olhos de quem vê. A neurociência não nosofereceunadamaisinteligentedoqueistonosséculostranscorridosdesdeentão.Aspessoasgostamdoque gostam – traseiros sexy, olhos em chamas, braços esculpidos – e o que elas apreciam numcompanheiro potencial pode não parecer tão atraente em outro.Como disseCooper, é algo difícil deanalisar.

Perguntei a Cooper sobre os desafios de estudar a atração a partir de uma perspectivaneurocientífica.“Sãomuitos”,disse-meele.“Assituaçõessociaissãocomplicadaseheterogêneas.Hámuitasvariáveisemqualquermomentodetomadadedecisão.Hámaisaindaquandoenvolvemosoutrapessoanessadecisão.Vemosamesmacoisanospeeddating.Mesmoentreaspessoascomquemnosentrosamos, não sentimos amesma coisa em relação a todas elas. Podemos dizer sim para diferentespessoasporrazõesmuitodiferentes.”

Ele continuou: “É uma situação complexa, em que muita coisa está se passando. Claramente, ascoisasqueprecisamosreunircomo‘relaçãointerpessoal’emnossotrabalhonãosãosempreasmesmas.”

“Então vale a pena estudar a atração? Podemos aprender alguma coisa de valor sobre ela?”,perguntei.

“Sim,podemos.Pensoqueémuitointeressantesaberque,aotomarumadecisãosobreumparceiroamoroso, estamos usando grande parte dos mesmos sistemas que usaríamos num jogo econômico”,respondeu ele. “A decisão sobre compartilhar ou não cinco dólares com outra pessoa num jogoeconômicoéalgoquesesuperpõebastante,tantononívelcomputacionalquantononeural,àdecisãoquetemosde tomarquandoalguémnospergunta: ‘Ei, quer sair comigoumdiadesses?’Essaéumacoisainteressanteaaprendersobreoserhumano.”

“Entãoaatraçãoésobretudoumaquestãodeponderarumpunhadodevariáveisdiferentesecalcularalgumresultado?”

Cooperriuebateunacabeça:“Tudosereduzanúmerosaquiemalgummomento.”“Nossa,issoétãoromântico!”,respondicomsarcasmo.“Creioqueé também importante saberqueaatraçãoéextremamentedependentedocontexto, e se

produzdemaneiramuito rápida”, disse ele. “Não recebemosnenhumamensagemnovácuo.Sempre arecebemoscontraopanodefundodequemaestáfornecendoparanósedoquepensamosousentimosemrelaçãoaessapessoa.Econseguimosextrairtodaainformaçãodequeprecisamosedepoistomarnossasdecisõescommuita,muitarapidez.Comoeudisse,écomplicado.”

Acreditonele;écomplicado.Mas,mesmoqueaspesquisasemneurociêncianãopossammeoferecerum feromônio de efeito garantido ou uma lista de qualidades que eu deveria buscar num encontroromântico, elas demonstraram que a atração é recompensadora, rápida e um pouco diferente em cadasituação.Saber,comosediz,émeiabatalhaganha.

“Então, você tem algum conselho para os infelizes no amor? Aqueles que procurariam ler suapesquisa na esperança de encontrar algum tipo de orientação sobre a melhor maneira de atrair umcompanheiro?”

“Naverdade,não”,respondeuCooper.“Exceto,talvez,procurarconhecermaispessoas.”“Vocêquerdizer:aumenteaamostragem?”“Issomesmo,aumenteoseuN.”Eleriu.Emestatística,Nrepresentaotamanhodaamostragem.“Esta

nãomepareceserumarespostapsicologicamentemuito inspirada.Mas,diantede tantacomplexidade,comcertezanãolhefaránenhummalsaireconhecermaispessoas.”

aEmportuguês,“Pássarosfazem,abelhasfazem,atepulgaseducadasfazem”.(N.T.)

8.Parafazeroamordurar

A MONOGAMIA É RARA no reino animal; estima-se que apenas 3% das espécies mamíferas sejammonógamas.1Ossereshumanosincluem-senessapequenaeexclusivacategoria.Temosacapacidadedeformarvínculosemocionaisforteseduradouroscomoutraspessoas–vínculosquepodemduraratéumavidainteira.

HelenFisheracreditaqueoamoréumapulsão:oimpulsodeencontrarumcompanheiropreferencial.O ideal humano vai além dessa maneira utilitária de pensar. Segundo os votos usuais de casamento,queremosalguémaquem“amareserfiéis”.Queremosencontrarapessoaquenosinspiraráa“abandonartodososoutros”.Queremosnoscomprometercomessapessoaespecial“atéqueamortenossepare”.Vocêcaptouaideia.Encontraroamornãoéobastante;queremosquenossoamordure.Oque,quandoconsideramosamatéria,éapartedifícil.

A maioria de nós já se apaixonou pelo menos algumas vezes em nossas vidas. E nem todosconseguimos nos agarrar a esse amor.A atração não garante o afeto.Damesmamaneira, o afeto nãogaranteumvínculoparaavidatoda.Nosúltimosanos,apareceramvárioslivrossobrerelacionamentoafirmandoqueumamelhorcompreensãodaneuroquímicanaturaldocorpopodeajudarasolidificarumvínculomonogâmico comoutra pessoa.Apremissa nesses volumes é bastante simples: compreendaocérebroecompreenderáoqueéprecisoparamanterumrelacionamento.Elesatéoferecemsuplementosque supostamente proporcionam ótima química cerebral, seja lá o que for isso, e técnicas decomunicação para nos ajudar nesse esforço. Mas a neurociência realmente é capaz de nos forneceralguma informação sobreoque énecessáriopara transformar atraçãomútua numvínculo de amor?Acompreensãodocérebropoderealmentenosajudaramanteressevínculoaolongodotempo?

Monogamiaaoestilodosarganazes-do-campo

Lembra-se do nosso amigo, o arganaz-do-campo? Oh, o lindo e afetuosoMicrotus ochrogaster. Àprimeira vista você poderia não pensar que o arganaz-do-campo temmuito a nos ensinar sobre comofazeroamordurar.Essepequenoroedorparecemaispropensoaprovocarumguinchonumameninadenove anos que a fornecer qualquer insight sobre relacionamentosmonogâmicos duradouros.Mas essaespécie,juntamentecomseusprimospróximos,oarganazmontanhês(Microtusmontanus)eoarganaz-do-prado (Microtus pennsylvanicus), proporcionou aos cientistas uma boa visão das substânciasquímicasnocérebroquetalvezsubjazamaumvínculoexclusivo.

Oarganaz-do-campoéumaespéciemonógama.Os riscos inerentes àvidano campo, comcomidalimitadaepredadoresperigosos,tornamlógicoacasalar-secedoemanterauniãopelavidatoda.Éaindamaisimportante,nanatureza,teralguémqueoajudeacolherlarvasdeinsetosetomarcontadosfilhotes.Os arganazes-do-campo estabelecem vínculos monogâmicos imediatamente após chegar à maturidadesexual – na verdade, após um único embate sexual. As coisas se passam exatamente como na velhahistóriaromântica:orapazconheceamoça;orapazeamoçacopulamduranteumperíodode24horas;o

rapazeamoçavivemfelizesparasempre.Emcontraposição,oarganazmontanhêseoarganaz-do-pradosãodotipojogador.Diferentementede

seus primos do campo, eles vivem em lugares com mais comida e mais abrigo, tornando-se menosimportanteterumcompanheiroporperto.Nenhumadessasespéciesformavínculosduradouros;defato,machosefêmeastêmaquelamentalidade“ameapessoacomquemvocêestá”,comadiferençadequenãoamamrealmente,apenasseacasalamcomquemquerqueestejaporpertoedisponível.Ambossãoantissociais; não anseiampor contato próximo e pessoal àmaneira dos arganazes-do-campo.De fato,elespassamapenas5%deseutempocomosoutros.E,oqueémaisdignodenota,seafastamomaisdepressaquepodemdepoisdo acasalamento.Você jápassoupela situaçãode acordardepoisdeumanoitedebebedeiracomobraçopresosobacabeçadeumapessoafeiaedesconhecida,epreferirroê-loaterdeacordá-laparasedesvencilharesairdefininho?Eminglês,essapessoaéchamadade“coiotefeioso”, mas creio que haveria algum mérito em peticionar a mudança do nome para “feioso-da-montanha”.(“Feioso-do-prado”tambémseaplicanestecaso,masnãosoatãobem.)

Masoquepoderiaexplicaressasvastasdiferençasnocomportamentodeacasalamentodeespéciestãopróximas?Tudopareceestar relacionadocomaoxitocinaeavasopressina.Aoxitocina,comofoidiscutidonoCapítulo3,éumhormônioproduzidonohipotálamoquedesempenhaumgrandepapelnoauxílioaopartoeàamamentaçãoemmulheres.Essecompostoagetambémcomoumneurotransmissor,ajudando a passagem de mensagens químicas entre neurônios. Ele recebeu seu apelido, “substânciaquímica do carinho”, por causa de seu papel no amor, na formação de vínculos monogâmicos e noorgasmo.A vasopressina, que é sintetizada no hipotálamo, temmúltiplas responsabilidades no corpo,inclusive regulando a pressão sanguínea e a retenção de água. Ela trabalha também como umneurotransmissor e foi associada à formação dememórias, à agressividade e à formação de relaçõesmonogâmicas. Aqui está como a oxitocina e a vasopressina operam sua mágica sobre os hábitos deacasalamentodenossosamigos,osarganazes-do-campo.

Nessaespécie,tantoomachoquantoafêmeatêmaltadensidadedereceptoresdeoxitocinanonúcleoacumbens no cérebro, o que os tornamais sociais emais propensos a preferir um companheiro a umestranho.Váriosestudosmostraramquequantomaisreceptoreshouvernessaárea,maisamistososeráumanimal.Oscientistasformularamahipótesedeque,aoseligaraessesreceptores,aoxitocinaliberaumfluxo de dopamina, o transmissor do “bem-estar” que reforça as relações sociais. Pense nisso destamaneira:osexoparecebastanteagradável–muitoagradávelquandoofazemosdaformacorreta.Quandofazemossexocomnossoparceiropermanente,dopaminaadicionalé liberadaatravésdessesistemadeoxitocina.Eessadopaminaadicionalconfereaosexoaquelapequenadoseextradedesejabilidadequenosfazquerervoltaràquelemesmoparceiroparamais.Emais.Eprovavelmenteumpoucomaisdepoisdisso. Alguns cientistas sociais acreditam que a razão pela qual mulheres são mais propensas a seapaixonarporumhomemcomquemfizeramsexo–emcontraposiçãoaumcomquemapenaspassaramalgumtempo–éessesúbitoaumentodedopaminainduzidopelosexo.

Depoisdeosarganazes-do-campoteremseacasaladodurante24horas,essadopaminaextracausamudançasfísicasnocérebro:agorasexocomqualqueroutroparceironãoserá tãoagradável.Defato,cientistas observaram que a aproximação de um membro do sexo oposto pode até suscitar umcomportamento agressivo. Depois que esse primeiro acasalamento acontece, arganazes-do-campo nãotêm razão para sair à cata de um hambúrguer, pois têm em casa um filé preparado exatamente comogostam.2

Uma combinação de duas substâncias químicas ajuda os arganazes-do-campo a permanecermonógamos.Juntamentecomaoxitocina,avasopressinadesempenhaumgrandepapelemfazeroamordo arganaz durar, em particular nos machos. Os meninos têm receptores de vasopressina no pálidoventral, o que também provoca uma tempestade de dopamina (o que, por sua vez, fortalece ligações

monogâmicasdemaneiramuitoparecidacomaoxitocina,pormeiodoincentivoquímicoparaacasalarcom o parceiro familiar). Tanto o pálido ventral quanto o núcleo acumbens fazem parte da via deprocessamentoderecompensaetiveramseuenvolvimentodetectadonocérebrohumanoquandosetratadeamoreafeto.

Pode não soar romântico, mas os pesquisadores levantam a hipótese de que a monogamia dosarganazes-do-campo resulte de simples condicionamento. Os animais se acasalam, as substânciasneuroquímicasoxitocinaevasopressinasãoliberadas.Elasseligamareceptoresnaviadarecompensa,eessefluxoespetaculardedopaminaseproduz.Todavezqueumarganaz-do-campofazsexocomseuparceiropermanente,recebenãouma,masduasdosesextrasdeaçúcar.Comessetipoderecompensa,porqueiriaprocuraramoremalgumoutrolugar?

Autorradiogramadocérebrodeumarganaz-do-campomacho.AsáreaspretasemformadeCmostramadensidadedereceptoresdeoxitocinanaregiãodonúcleoacumbens.FotodeSaraM.Freeman,Universidade

Emory.

Autorradiogramadocérebrodeumarganaz-do-campomacho.Asáreasescurasrealçamadensidadedereceptoresdevasopressinanopálidoventral(asduasáreasescuraspertodabase).FotodeSaraM.Freeman,

UniversidadeEmory.

Masosprimospróximosdosarganazes-do-campo,osarganazesmontanhêsedoprado,nãotêmessadensidade de receptores de vasopressina no pálido ventral, e por isso não experimentam esse afluxo

extradedopaminaduranteosexocomumaparceiraparticular.Semessadopamina,nadaimpeleessesarganazesaretornaràmesmafêmea.Aúnicarecompensaéoprópriosexo–eumarganazmontanhêsoudopradonãoprecisadeumafêmeaespecíficaparaisso.

Emúltimaanálise,osnúcleosdabase fornecemumaespéciedeplataformaparaamonogamianosarganazes-do-campo. Com receptores de vasopressina presentes nessa área do cérebro, a sinalizaçãomolecular predispõe os animais a preferir sexo com um parceiro monogâmico. Quando o gene queexpressa esses receptores não está presente, como nos arganazes montanhês e do prado, é mais umaquestãodetraseiroqueumarelaçãomonogâmica.Equandoeleestápresente,entãooamor,pelomenostalcomovistonumarelaçãomonogâmicaentrearganazes-do-campo,dura–istoé,quandousamoscomodefinição operacional de amor a oxitocina, a vasopressina e mudanças relacionadas à dopamina noscircuitoscerebraisassociadosàrecompensa.

Recepçãodedopaminaemanutenção

As substâncias neuroquímicas oxitocina, vasopressina e dopamina trabalham juntas para ajudar osarganazes-do-campoaformarumarelaçãomonogâmica.Essescompostos,misturadoscomumpoucodesexo quente (além de algumas outras substâncias químicas ainda não caracterizadas), transformam aatraçãogeradapor algumas fungadas de urina numa ligação.Oque faz essa ligaçãodurar?Oque lhepermiteperseverar,mesmoquandooutraarganaz-do-campodecheirodoceentraemcena?Parecequetudosereduzaotipocertodereceptordedopamina.

Nos arganazes-do-campo, além de ter uma alta densidade de receptores de oxitocina, o núcleoacumbenstambémabrigadoistiposdereceptoresdedopamina:D1eD2.Umtrabalhoanteriorcomessesanimais sugere que os efeitos prazerosos da dopamina são decisivos para a formação do vínculomonogâmico.Daràsarganazes-do-campofêmeasumagonistadadopamina,umadrogaqueliberaamplaquantidade de dopamina no cérebro, permitiria-lhes formar uma ligaçãomonogâmica seletiva comummachosemoinconvenientederealmentefazersexo.QuandoospesquisadoresbloquearamoreceptordeD2usandoumadroga,issoimpediuqueosanimaisformassemumvínculomonogâmico,pormaisfluidosorgânicosquetrocassem.

Umavez que hámúltiplas vias de dopamina no cérebro,BrandonAragona, hoje neurocientista daUniversidadedeMichigan, e colegasdaUniversidadeEstadual daFlóridaperguntaram-se seumaviaespecíficapoderiaserresponsávelpelaligaçãomonogâmica.Logodescobriramqueotipodereceptorno núcleo acumbens que absorvia toda a dopamina liberada pelo sexo ou por umadroga determinavaefeitosmuitodiferentessegundootipodearganazeseustatusderelacionamentoatual.

Ogrupotomouummachoenvolvidonumvínculomonogâmicoeoalojoucomumafêmea,quepodiasersuaparceirapermanenteouumaestranha.Normalmentenessasituação,osmachosenroscam-secomsuasparceiraseesnobamasestranhas;ovínculosignificaqueelesósecontentacomoverdadeiroamor,eumafêmeadiferenteévistacomoumaameaça.QuandoAragonaeseuscolegasinjetaramdiretamenteno núcleo acumbens dos machos um antagonista do receptor D1 (uma droga que bloqueavaespecificamenteosreceptoresD1),osanimaismostraram-sefelizesemseenroscarcomqualquerfêmeaque aparecesse. Era como se seu vínculo monogâmico anterior nunca tivesse existido. Apenas umasimplesinjeçãoe–puff!–oamordesapareceu.

Os arganazes-do-prado têm naturalmente muitos receptores do tipo D1 residindo em seu núcleoacumbens.Issoéverdademesmoantesqueseacasalem.Oqueacontece?SeD1étãoimportanteparaumvínculo monogâmico, eles deveriam ser ainda mais fiéis que arganazes-do-campo. Quando os

pesquisadores bloquearam os receptores de D1 no núcleo acumbens dessa espécie de arganaz, essesmachos associais tornaram-se de repente muito mais afetuosos. Embora não formassem um vínculomonogâmico,afaltadereceptoresdeD1ostornoumuitomaisreceptivosacompanhia.Essasdiferençasmostramqueadopamina funcionadeumavariedadedemaneirasquando se tratados relacionamentosdosarganazes.

OtrabalhodeAragonasugerequereceptoresD1têmpapéisdistintosquandosetratademonogamia.Receptoresdo tipoD2,napartedonúcleoacumbensqueseprojetanopálidoventral (aáreacerebralenvolvidana ligação), ajudamos animais inicialmente a formaruma ligaçãomonogâmica após aquelasessão inauguraldeacasalamento.Adopamina liberadaduranteoacasalamentoéabsorvidaporessesreceptoreseoperamudançasfísicasnocérebro,resultandonaligação.Agoraomachoassociasuadama,ouseuodorsingular,porassimdizer,aamor.

Receptores do tipoD1 parecemmais importantes para amanutenção desse vínculomonogâmico.3Depois que o vínculo é formado, arganazes-do-campomachos apresentam um aumento dos níveis dereceptoresD1nonúcleoacumbens.Aragonaeseuscolegasformularamahipótesedeque,depoisqueosarganazesestabelecemumaligação,sãoosreceptoresD1queajudamaassegurarqueummachosótenhaolhosparaseuúnicoeverdadeiroamor.Todasasoutrasfêmeasserãoignoradasouatacadas.Sãoessesreceptoresquefacilitamaquelacombinaçãodesubstânciaspreviamentediscutida.

Quando pensamos sobre isso, parece espantoso.Uma única substância química pode ser usada deumavariedadedemaneirasparaestimularessestiposdecomportamentossociais,eessaúnicasubstânciaoperamudanças físicas no cérebro, criando nos núcleos da base o equivalente neural de um voto defidelidade.

Esse receptordiferencialdedopaminaagiriadamesmamaneiraemoutrasespécies?UmgrupodaUniversidadedaCalifórniaemDavis,emqueestavaKarenBales,examinoualigaçãopeloreceptorD1em macacos zogue-zogues (Callicebus cupreus), uma espécie primata monógama. O grupo usoutomografia por emissãode pósitrons paramedir a ligaçãoD1, ouquanta dopamina era absorvidaporessereceptorespecífico,nonúcleoacumbens,nopálidoventralenoputâmencaudadodezogue-zoguesmachosantesqueelesformassemumaligaçãomonogâmicacomumafêmeaequatroaoitohorasdepoisde formarem.Os resultados preliminares obtidos pelo grupomostraram um efeito oposto ao que foravisto em arganazes-do-campo: o potencial de ligação nãomudou nosmachos envolvidos em relaçõesmonogâmicas. Na verdade, foram os machos que não acasalaram que mostraram um aumento dereceptoresD1nessastrêsáreascerebrais.Paraconhecerarazãodessadiferençaseránecessáriofazernovosestudos.Podeserqueosmacacoszogue-zoguestenhamdesenvolvidoumsistemadedopaminaquefuncionademaneiraumpoucodiferentedodesenvolvidopelosarganazes-do-campo,ouqueumaterceiravariável, ainda por ser descoberta, esteja em ação aqui.4 Bales planeja fazer um seguimento dessetrabalho com zogue-zogues, acrescentando estudos tomográficos meses depois de as relações seremformadas, para melhor compreender que tipos de mudanças as relações monogâmicas provocam nocérebrodozogue-zoguemacho–ecomoosistemadadopaminapodemediá-las.

Adopaminaobviamentedesempenhaumpapel em fazeroamordurar,mas seusváriosefeitos sãoreguladospordiferentesfatores.Aragonasugerequedistribuiçõesúnicasdessesdiferentessubtiposdereceptores de dopamina podem estar subjacentes a estratégias de acasalamento típicas das espécies.5Nessecaso,eleestavafalandosobrediferentestiposdearganazes.Mas,emfacedotrabalhodeBale,éigualmente provável que possamos observar padrões únicos de receptores de dopamina em todas asespécies, sejam elas arganazes-do-campo,macacos zogue-zogues ou até seres humanos.Mesmo tendoestratégias semelhantes de acasalamento – neste caso, uma relação monogâmica –, é possível quemamíferosdeordemmaiselevada tenhamdesenvolvidodiferentespadrõesdereceptoresdedopaminaassim como desenvolveram cérebros anteriores maiores para facilitar as mesmas espécies de

comportamentos. É inteiramente possível, mas antes de podermos ter certeza mais trabalhos sãonecessários.

Oxitocinaerelaçõesmonogâmicasduradouras

Os seres humanos não querem apenas um relacionamento duradouro. Eles também querem umrelacionamentodequalidade:umaconexãoamorosaebenéfica.Supõe-sequeasduascoisascaminhemjuntas,emborasaibamosquenãoébemassim.Talvezacompreensãodaneuroquímicaportrásdeumarelaçãomonogâmicadequalidadeofereçaalgumasrespostassobrecomofazeroamordurar.

Os saguis-cabeça-de-algodão (Saguinus oedipus), outra espécie monógama de macaco, tambémcriamos filhotesdemaneira cooperativa.Mães, pai e até irmãosmais velhos, todos trabalham juntosparaajudaracriarosbebês.Comoossereshumanos,elesnãosãosexualmenteativosapenasquandoasfêmeas estãoovulando; costumampraticar sexo recreativoou “não conceptivo”.Os saguis-cabeça-de-algodãoesbaldam-secomsexopeloprazerdoato,nãoapenasquandoafêmeaestáfértil.Aoobservaressessaguisparecidoscomsereshumanos,CharlesSnowdon,zoólogoepsicólogodaUniversidadedeWisconsinemMadison,percebeuquehaviabastantevariaçãoentrediferentescasais.“Osanimaistinhamtipos muito diferentes de relacionamento entre si”, disse-me Snowdon. “Alguns eram extremamenteafetuosos,commuitocontato físico.Essescasaisestavamsempre juntos, semprese tocando.E faziammuito sexo.Outros paresmais pareciammoléculasmovendo-se aleatoriamentepara cá e para lá, semmuitaconsideraçãoumapelaoutra.Pareciamtermuitopoucointeresseemestarjuntos.Francamente,nemdiríamosqueformavamumcasalsejánãosoubéssemosdisso.”

Ocorreamesmacoisaemrelacionamentoshumanos.Algunscasais,mesmoapósanosdecasamento,permanecemmuitoconectadosfísicaeemocionalmente.Conheçoumcasal,quedesejaserchamadodeDirkeLola(provavelmenteafimdequepossamincorporar issomais tardeemalgumtipodefantasiaerótica),queestáassimdesdequeosdoisseconheceramnaadolescência.Elesfazemsexo“semprequepodem”, o que, se pudessem escolher, seria pelo menos uma vez por dia. Ambos dizem que fazemesforçosextrasparasergentisumcomooutrotambémsemprequepossível.Emboraàsvezesbriguem–segundo eles suas discussões podem ser muito acaloradas –, permanecem concentrados, em últimaanálise,emfazerooutrotãofelizquantopossível.Mesmodepoisdeanoseanosjuntos,aindaestãonoperíododeluademeldeseurelacionamento.

DirkeLolapodemfazeraspessoasqueoscercamsentirem-seumpoucoinvejosasdaqualidadedesuaconexão(ouatémesmosentirem-sedoentes–aspessoasqueestãoforadeumarelaçãomonogâmicasódeveriamtolerarumaquantidadelimitadadechamego).Elesrepresentamumextremodocontínuodequalidadedosrelacionamentos.Nooutroextremo,temoscasaisqueagemcomoseapenassuportassemotempo que são obrigados a passar juntos. Perguntamo-nos como conseguiram se manter numrelacionamentopor tanto tempo,emfacedesuasvidasobviamentedesvinculadas.Sãoaspessoasquenuncavemossetocarem–naverdade,rarasvezesasvemosjuntas.Podemsertecnicamentecasadas,masnãoparecem,bem, ligadas.Esseéocasalparaoqualvocêapontaquandodiz:“Euprefiro ficarsóamanterumarelaçãocomoaquela.”

Pesquisas anterioreshaviammostradoquehá liberaçãodeoxitocinaapósafagose comportamentosexual. Isso levou Snowdon e sua equipe a se perguntar se pares de saguis-cabeça-de-algodão maisafetuosos,queseenvolviamemmaissexoetrocadecarinhos,teriamníveismaisaltosdeoxitocinaquecasaismenosafetuosos.

O grupo de pesquisa observou o comportamento emediu níveis de hormônio na urina de catorze

casaisdesaguis-cabeça-de-algodãodurante trêssemanas.Emboraexistaacrençadequeaoxitocinaéumpoucomais importantena formaçãode relaçõesmonogâmicas em fêmeas,Snowdonnão encontrouuma diferença global nos níveis de oxitocina entre os sexos. “Em um casal, se um animal tinha altosníveisdeoxitocina,omesmoseverificavaemseuparceiro”,explicouSnowdon.“Seafêmeatinhaníveisbaixos,seucompanheirotambémtinha.Haviaumaestreitacorrelaçãodentrodoscasais.”

De um par para outro, os níveis de oxitocina variavam muito; tanto quanto os tipos decomportamentos afetuosos observados. Quando o grupo analisou esse comportamento, constatou quecontato, carinhos e comportamento sexual explicavam mais da metade da variação dos níveis deoxitocina.Istoé,quantomaisafetuosoeraocasal,maisaltosseusníveiscorrespondentesdeoxitocina.Inversamente,quantomenosafetuosoeraumpar,maisbaixosseusníveiscorrespondentesdeoxitocina.6

Snowdone suaequipeaprofundaramumpoucomais a análise.Eramcomportamentosdosmesmostiposqueocasionavamaquelesníveisdeoxitocina?Ouestavamosmachoseasfêmeasobtendoaqueleaumentodoníveldohormônioapartirdediferentestiposdetoques?Aosubmeterosdadosaumexamemaisminucioso,eleeseuscolegasdescobriramqueaconchegoecarinhosestavamportrásdavariaçãonasfêmeas,aopassoqueparaosmachoselavariavasegundoaquantidadedesexo.

Emrelaçõescomaltoníveldeoxitocina,cadamembrodocasalseesforçavaparaassegurarqueooutroestivesseobtendootipodecontatodequeeleouelaprecisavam.Osmachosiniciavamosafagosque sua parceira queria, e as fêmeas solicitavam o sexo em que o parceiro estava interessado. Osachadossugeremquehádiferentesmecanismoscomportamentaisportrásdosníveisdeoxitocinaequenosmelhoresrelacionamentos,comotalvezodeDirkeLola,osdoismembrosdocasalempenham-seemdaraoparceiroaquilodequeooutroprecisa.

De certo modo, os resultados encontrados por Snowdon colocam-no no problema do ovo e dagalinha.Os indivíduos ligadospor relaçõesmonogâmicascuidamumdooutroporcausadeseusaltosníveis de oxitocina? Ou pôr o parceiro em primeiro lugar causa a elevação desses níveis? É difícilresponder, mas, quando perguntei a Snowdon o que pensava, ele não hesitou. “Nunca conseguiremostestar isso diretamente”, disse. “Mas inclino-me a pensar que é o comportamento que impele oshormônios.Nos bons casais, ummembro é sensível à necessidade de seu parceiro. E, ao dar ao seuparceiroaquilodequeeleprecisa,vocêelevaosníveisdeoxitocinadeambos.”

Snowdonacreditaqueesseestudotemrelevânciadiretaparasereshumanos.“Pensoquetendemosadarênfaseexcessivaaosaspectosintelectualeemocionaldosrelacionamentoseasubestimarofísico.Macacosse reconciliamcomtoqueecomportamentosexualquandoalgoperturbaa relação.Édarumbeijoefazeraspazes,realmente.Enãohárazãoparapensar,quandoháestressenasrelaçõeshumanasoualgumtipodeseparação,queocontatofísiconãoseriaimportanteparaamanutençãodovínculo.”Elefezumapausa.“Ecertamentenãofazmal.”

Aoxitocinaesereshumanos

Níveiscorrespondentesdeoxitocinaforamencontradosemcasaishumanos.IlanitGordon,pesquisadoradaUniversidadeYale,estudaníveisdeoxitocinaemrelacionamentos.Eladizqueosachadossemostramconstantes em pais e casais estáveis. Aparentemente, a oxitocina também é importante emrelacionamentoshumanos.

“Então eu deveria submeter um homem a um teste de seu nível de repouso de oxitocina antes deconcordaremnamorá-lo?”,perguntei-lhequandonosencontramos.

“Estudosmostraramqueníveisdeoxitocinaemparesromânticossecorrelacionam.Elesseelevamnosprimeirosmesesdarelaçãoeemseguidacaemaonívelquevemosempaisdepoisdisso”,explicou.“Algumacoisaaconteceaí.Seráqueescolhemosalguémparecidoconosco,quetemumnívelsimilardeoxitocina? Ou será a união de duas pessoas que promove a sincronização? Poderia até ser as duascoisas.” Ela fez uma pausa. “Respondendo à sua pergunta, não sei se eu testaria um homem antes denamorá-lo.Esseéapenasummarcadorentremuitos.Paramim,euverificariaquãomeigoéalguémantesdenamorá-lo.Issoseriaosuficienteparamim.”

“Podenãosersuficienteparaalguns,porém.Éclaro,seeufossefazerumtestedequalquermaneira,nãosaberianemoquebuscar.Qualéumbomníveldeoxitocina?”

“Basicamente,aspessoastêmentre50e1.500picogramaspormililitro”,disse-meela.“Éumavariaçãoenorme”,observei,surpresa.“Defato”,concordouelacomumsorriso.Eupoderiamesubmeteraoteste.Poderiapediraumpretendentepotencialquefizesseomesmo.Mas

nãopossodeixardesentirqueissonãofazsentido.Oscientistasnãosabemseéaoxitocinaqueimpeleocomportamentoouseéocomportamentoqueimpeleaoxitocina.Alémdisso,elanãoéaúnicavariávelque age na formação ou na manutenção de um vínculo. Os cientistas identificaram muitas outrassubstânciasquímicasquedesempenhampapéisimportantes.

Mudançasaolongodotempo

Como foi discutido no Capítulo 3, DonatellaMarazziti descobriu que o amor romântico afeta nossosníveis de testosterona, hormônio folículo-estimulante (FSH) e cortisol.7 Estar apaixonadamenteenamorado também altera os níveis de fator de crescimento neural no cérebro.8 E todas as variaçõesobservadasduranteesseperíodoromânticoinicialnãoestavammaispresentesquandooscasaisforamnovamentetestadosumadoisanosdepois.Aquímicamudaquandopassamosdosprimeirosardoresdeumamorapaixonadoparaumarelaçãodecompromisso.

HelenFishereseuscolegaspropuseramquetrêssistemasdistintos,emborasobrepostosnocérebroreptiliano, estariam implicados no amor.A atração sexual tem sede no hipotálamo.O amor românticoreside na área tegmental ventral e no núcleo caudado.E a ligação emocional profunda ativa o pálidoventral.Todasessasáreas funcionampormeiodedopamina,oxitocinaevasopressina–apenas fazemissodemaneirasumpoucodiferentes,dependendodotipoderelaçãoamorosaemqueapessoaestejaenvolvida. Quando o grupo de Fisher conduziu seu estudo, todos os participantes relataram se sentirapaixonadamenteenamoradosporumperíododeumadezessetemeses.Elesforammedidosapenasumavez. Poderíamos supor que o tempo pelo qual as pessoas mantêm um relacionamento seria uma dasvariáveis que transformam a ativação do sistema do amor romântico na ativação subjacente ao afetoprofundo.

UmgrupodepesquisadoresnaUniversidadeCatólicadaCoreiausou fMRIparacompararo fluxosanguíneocerebralemcincocasaisheterossexuaisquediziamestarapaixonadamenteenamorados,tantonoiníciodeseurelacionamento(nosprimeiroscemdias)quantoseismesesmaistarde.Elesusaramumparadigma semelhante ao usado por Fisher e colegas em seu estudo original do amor romântico: osparticipantesforamescaneadosenquantoolhavampassivamenteumafotodapessoaamada,fotosdeumgrandeamigodomesmosexoqueoparceiro,facesborradaseumpanodefundocinzasemumrosto.Elestambémpreencheramumquestionáriopadronizadoparamediraintensidadedeseuamor.

Ospesquisadoresdescobriram,parasuasurpresa,queasativaçõescerebraismudavamcomotempo.Os participantes do estudomostraram-semenos apaixonados por seus parceiros após seismeses. Emtermos de fluxo cerebral, a ativação do núcleo caudado, uma área de recompensa que se revelaraenvolvidanoamorapaixonado,reduziu-sedemaneirasignificativa.Segundoosautoresdoestudo,essaredução na atividade demonstra que o amor romântico promovemudanças dinâmicas àmedida que orelacionamentoevoluiaolongodotempo.9

Masessespesquisadorespararamemseismeses.Quetiposdemudançapoderíamosencontrarapósumano?Dez anos?Vinte anos?Quando perguntei a Fisher se ela pensava que as ativações cerebraismudariamaolongodotempo,elarespondeupositivamente.“Osrelacionamentosmudamcomotempo”,disse.“Eeuesperariaverissorefletidonaativaçãocerebral.”

Poderiamasativaçõesmudardeumamaneirapassíveldegeneralização?Afinal,talveznemtodososrelacionamentosestejamcondenadosasetransformarnaligaçãocalma,morna,relacionadaàativaçãodopálidoventral.Talvezrelacionamentosdealtaqualidade,comoodeDirkeLola,sejamassimporqueosparceiros conseguem de alguma maneira permanecer apaixonadamente enamorados, por mais que otempopasse.

Recentemente, Fisher e seus colegas examinaram o fluxo sanguíneo cerebral de indivíduos queafirmavam ainda amar intensamente seu parceiro após décadas de convívio. O grupo escaneou dezmulheresesetehomensnofMRIenquantoelesolhavamfotosdoparceiro,deumamigoíntimodelongadata,deumapessoamuitoconhecidaedeumapessoamenosconhecida.Descobriu-sequea ativaçãocerebral desses amantes demuitos anos assemelhava-semuito à dos recém-apaixonados: houvemuitasuperposiçãoentreesseestudoeoprimeiroestudodoamorromânticopublicadopelogrupoem2005.Fishereseuscolegasobservaramqueáreasderecompensaricasemdopamina,comoaáreategmentalventral (ATV) e o estriado dorsal, eram ativadas no amor duradouro, assim como o globo pálido, asubstância negra, o tálamo, a ínsula e o córtex cingulado. Ao que parece, seria possível permanecerloucamenteapaixonadomesmodepoisdedécadasdeunião.

Depoisdoestudo,ogrupocomparouaativaçãocerebralcomaspontuaçõesobtidasnumquestionáriosobreamorerelacionamentoeencontroualgumascorrelaçõesinteressantes.Aativaçãonaáreategmentalventral e no núcleo caudado estava altamente correlacionada às pontuações que indicavam amorromântico. A frequência sexual, por outro lado, estava associada à ativação do hipotálamo e dohipocampo posterior. Os resultados sugerem que o amor – o amor intenso, apaixonado – pode sersustentadoaolongodotempo.Aoqueparece,épossível,defato,manteroamorvivo.10

Éumaconclusãomagnífica,inspiradora.Masesseestudo,pormaisotimistaquepossaparecer,nãooferecenenhumaindicaçãodeporqueessescasaiseramcapazesdepermanecerapaixonadosportantotempo.Emboraospesquisadoresdigamqueasustentaçãodoamorapaixonadotalvezpossaserauxiliadapormecanismoscerebraisespecíficos,aindaestamospordescobrirquaisseriameles.

Menosvasopressina,maisproblemasconjugais

UmapesquisarecentefeitanoInstitutoKarolinskadaSuéciasugerequeavasopressinatemumimpactonaqualidadedosrelacionamentos.UmaequipedepesquisadoreslideradaporHasseWalummostrouquehomens com uma variante particular do gene considerado responsável pelo processamento davasopressina são mais propensos a experimentar conflitos quando numa relação monogâmica do queaquelescomumgenótipodiferente.

Walum e seus colegas examinaram o DNA de centenas de indivíduos em relacionamentos

prolongadoscomcoabitação(algunscasados,outrosnão,masjuntosporpelomenoscincoanos).Alémdisso,ospesquisadoresentregaramaosparticipantesdoestudoeaseusparceirosquestionáriossobreoestado de seus relacionamentos. Depois compararam essas respostas com a constituição genética dosparticipantes.Ospesquisadores tinhamparticular interesseemverificarsehaviaalgumvínculoentreaintensidadedarelaçãoeosgenesrelacionadosàvasopressinaeaseusreceptores.“Tínhamosesperançade identificar variação na intensidade do vínculo desses indivíduos com seus parceiros”, explicouWalum. “Nosso principal interesse era ver se a variação no gene específico que se mostrara tãoimportante para a formação de relações monogâmicas em arganazes influenciaria também sereshumanos.”

De fato, foi exatamente isso queWalum e colegas encontraram. Os genes não são estáticos; elespodemevoluiremudarporinteraçãocomdiferentesvariáveisambientais.Issoestáimplicadonaprópriaideiadeevolução:nossosgenesdevemmudarporseleçãonatural,favorecendoasmutaçõesquenosdãomaiorprobabilidadedesobreviveremnossoambientesemprecambiante.NoestudodeWalum,homensque tinham uma variante genética particular, chamada variante 334 do gene AVPR1A, eram maispropensosaexpressarinsatisfaçãoemseurelacionamento.OgeneAVPR1Aéoequivalentehumanodosuposto gene damonogamia nos arganazes-do-campo; ele foi associado a problemas na expressão doreceptordevasopressinanocérebrohumanoe,curiosamente,aoautismo,umadesordemcaracterizadaporseverasdificuldadesemformarrelaçõessociais.11

Se o indivíduo tivesse uma falha em seu DNA que resultasse emmais de uma cópia desse genealteradonocromossomo,suachancederelatarumacriseemseurelacionamentonoperíododeumanorealmente duplicava. Uma mutação num único gene – o mesmo que aparentemente liga e desliga amonogamia no arganaz-do-campo e no arganaz-do-prado – estaria associada a relacionamentosmonogâmicos mais problemáticos em seres humanos do sexo masculino. De maneira interessante, asmulheresnãorevelaramessamesmacorrelaçãoentregeneerelacionamento.

Comoessasváriaslinhasdepesquisaneurocientíficaconvergem,ficaclaroqueavasopressinaeadopaminadesempenhampapéisimportantestantonaformaçãodevínculosquantonasuamanutençãoaolongo do tempo. Mas essas não são as únicas substâncias químicas envolvidas. Como eu disse noCapítulo 3, o amor, em todas as suas formas, depende de uma complexa combinação de substânciasneuroquímicas no cérebro. Recentemente, Aragona e seu laboratório apresentaram novos achadosdemonstrandoqueumtipoespecíficodereceptordeopioideseriatambémimportanteparaamanutençãode um vínculo.12 Provavelmente há mais substâncias químicas e subtipos de receptor com papéisrelevantesnotocanteàligaçãosocialapenasàesperadeserdescobertos.

Quandoconsideramosasincógnitasquepermanecemquantoaessassubstânciasquímicaseaomodocomoelasseinfluenciammutuamente,evidencia-sedeimediatooproblemacomossuplementosparaaquímica cerebral que supostamente fomentam o amor. Como essas pílulas modulam a oxitocina, atestosteronaouavasopressinanocorpoenocérebro(sedefatoelastêmessepoder),elaspodemmuitobemalteraroutrassubstânciasquímicasetiposdereceptorigualmenteimportantesparavínculossociais.Podem alterar a produção endógena e a regulação dessas substâncias químicas e dos receptores pelocorpo ao longo do tempo. Sem uma melhor compreensão de todos os ingredientes desse complexocoquetelneurobiológico,nãohácomosaberseessasmudançasnosbeneficiamouprejudicam.

Infelizmente,nossaatualcompreensãodaneuroquímicadocérebronãocontribuiumuitoparanossoconhecimento prático de como fazer um relacionamento durar. Não há nenhuma substância química,nenhuma fórmulamágica responsávelpelapermanênciadoamor.Emborao trabalhodeSnowdoncomsaguis-cabeça-de-algodãosugiraqueumaconexãofísicaéimportanteparaamanutençãodeumaligaçãodequalidadeaolongodotempo,éduvidosoqueessesejaoúnicofatorenvolvidonasrelaçõeshumanas–embora,comoeledisse,umaintensificaçãodeesforçosnessedepartamentocertamentenãofaçamal.

9.Océrebrodamamãe(eodopapai)

JÁ MENCIONEI O QUANTO amo meu filho? Quero dizer, eu realmente o amo – sou completamenteapaixonada,fascinada,loucadeamorporessemenino.Peguequalquerclichêsobreumgrandeamorquequiser;absolutamentetodoselescorrespondemaomodocomomesintoemrelaçãoameufilho.Sevocême fizer começar a descrever como meu filho é brilhante, encantador e absolutamente perfeito, éprovávelqueeufaleatéseusolhosficaremvidradosevocêmeforçaramudardeassunto.Chegoaesseponto.Comoeudisseantes,meufilhopodeser“sexy”obastanteparamerecerserproibido–nãodamaneiradesagradável,masdaquelamaneirairresistívelsobreaqualNicolasReadgracejounoprimeiroencontrosobreaneurobiologiadoamor.1

BruceMcEwen,oautordorelatóriodareuniãorealizadanoWenner-GrenSymposiaem1996,disseterincluídoacitaçãodeReadsobreaproibiçãodobebêparailustraropoderdarelaçãomãe-filhoeaimportânciadeestudaresse fenômenodeumamaneiramecanicista.Depoisquemencioneiquea frasetinhaumasignificaçãopessoalparamim,McEwenriu.“EssafrasefazlembrarumartigoassombrosodeCraigFerris”,disse-me.“Eleapresentoufilhotesparamãesratazanasedescobriuqueonúcleoacumbenseramuitomaisativadopelosfilhotesquepeladroga.ÉumachadoextraordinárioejustificaafrasedeRead,numsentidomuitoprático,mostrandoaforçaqueovínculoentreamãeeseusfilhotesrealmentetem.”2

Eeleéforte.Nãotenhomedodeadmitirqueoquesintopelomeufilhonãoseparececomnadaqueeu já tenha experimentado.É abrangente e inalterável, umaverdadeira força a ser reconhecida.Essessentimentosmesurpreendem.Emboraeusempretenhagostadodecrianças,nãofuiaquelameninacujomaiorsonhoeraterbebês.Naverdade,eraumtantoambivalentecomrelaçãoàideiadesermãe.Masalguma coisa mudou em mim após o nascimento do meu filho. E muito profundamente, eu poderiaacrescentar.

Vemosessasmesmasmudançasemratos.Ratosvirgensnãotêmgrandeentusiasmoporfilhotes.Naverdade,parecemachá-losbastanterepulsivosemuitasvezestentamcomê-losoumatá-los.Masalgumacoisa acontece quando uma fêmea dá à luz e em seguida começa a amamentar suas crias: uma sériaalteraçãodoscircuitosdeprocessamentoderecompensasnocérebroresultaemumamãequeachaseusbebêsmaissedutoresquecocaína.Quemdiria?

CraigFerris,neurocientistadaUniversidadeNortheastern,observouqueváriosestudosdemonstramquefilhotesderatosãodefatooreforçopositivoparaasmães.Mãesratazanasseesforçammuitoparaestarpertodosfilhotesenquantoelesestãomamando.Chegamaté,quandoobrigadasporumparadigmaexperimental, a pressionar uma barra, loucas para que a porta automática se abra e seus filhotes lhessejamentregues.

Ferrisperguntou-seoquesepassavanocérebrodamãeparaexplicartaisefeitos.NumestudocomfMRI,umgrupodepesquisadoresdoqualfaziaparteobservouqueoatodeamamentarfilhotesativavanasmãesoscircuitosqueprocessamasrecompensas.Essasáreascerebrais,incluindoosistemaolfativo,o núcleo acumbens, a área tegmental ventral, a amígdala cortical e o hipotálamo, entre outras,apresentaram um padrão semelhante de ativação nos cérebros de fêmeas virgens após uma dose decocaína.“Sabíamosqueacocaínaativavaessescircuitosderecompensapordopaminaemotivaçãoemfêmeasvirgens.Nasmães,osfilhotesestavamativandoosmesmoscircuitos”,disseFerris.“Queríamos

versepoderiahaverumconflito.Assim,demoscocaínaàsmãesparaveroqueaconteceria.”Vejam só, quandomães lactantes foram expostas a cocaína e em seguida escaneadas nomagneto,

houveuma supressãodaatividadecerebralno sistemade recompensa. “Alémdenãoativaro sistemamotivacionalnasmães,acocaínaobloqueou”,disseFerris.

Segundo ele, esse períodonavidadamãe é essencial para a sobrevivência da espécie.Umamãeratazanaprecisaamamentaraquelesbebês,ouelesnãosobreviverão.Éumcomportamentodecisivo–tãocríticoque temde sermaisdoqueapenasprazerosoparaamãe.Temde sobrepujarquaisqueroutrasdistraçõesagradáveisquepoderiamafetá-lo.Apósopartoea lactação,océrebroéorganizadode talmaneiraqueatribuiráumavalêncianegativaatudoquenãosejacompletamentedointeressedosfilhotes,mesmo que seja prazeroso, inclusive cocaína. A simples experiência de estar perto dos filhotes atuacomo um reforço, por assim dizer, ajudando amudar amaneira como os circuitos de recompensa docérebrooperamnessasmães.

Comoresultadodessasmudanças,osbebêsvêmemprimeirolugar,etudoquepoderiainterferirnoscuidadosaseremdispensadosaelestorna-sesecundário.Issomelembraoqueumaamigaminha,mãedetrês filhos, disse-me quando lhe confessei que meu casamento estava mudando para pior depois donascimentodomeufilho.Talvezelativesserazãoquandofalouquemeussentimentosintensospormeumarido poderiam se transferir parameu filho.Nomínimo, amaternidade geroumodificações emmeucérebro que eu não poderia ter imaginado antes de ter um filho. Levanta-se a hipótese de que aexperiênciadopartoalteraoscentrosderecompensaemotivaçãodocérebro,demodoqueasmãesnãosósentemumamoravassaladorporseusfilhos,mastambémconcentram-sefortementeemseubem-estare sua criação.O que poderia favorecer esses tipos demudança?Não seria difícil adivinhar: estudosanimais envolvendo ratos, ovelhas e arganazes-do-campo demonstraram que nossas velhas amigasoxitocinaedopaminaestãoenvolvidas.

Amaternidademudatudo

Todosnósparecemossaberdemaneirainata,quersejamospaisounão,queháalgodeúniconarelaçãoentreumamãeeseufilho.Comooamorromântico,essevínculoétemaderomancesefilmesedificantesetemumpapeldedestaqueaténatradiçãoreligiosa.Psicólogossociaisestudamosvínculosmaternoshábastantetempo,bemcomoseuefeitosobreasaúdefísicaementaldaprole,mas,emboraosistemaquelheésubjacentesejatãoantigoquantonossoscérebrosreptilianos,asinvestigaçõesneurobiológicasdofenômenosãobastanterecentes.

“Amaternidade é o protótipo biológico, o protótipo neural e endócrino de todos os aspectos dogregarismomamífero”,afirmouSueCarter,umadaspioneirasnapesquisadarelaçãoentreaoxitocinaea formaçãode relaçõesmonogâmicas. “Osmecanismosneurobiológicosenvolvidosna relaçãoentreamãemamífera e seubebê são extremamente preservados.E sustento que relaçõesmonogâmicas, amorromântico, amizade e todos os relacionamentos sociais enraízam-se nos circuitos e processos queidentificamosnosvínculosmaternos.”

Muito antes que pesquisadores como Carter estudassem o papel da oxitocina em relaçõesmonogâmicas, sabia-se que esse neuropeptídio estava envolvido na maternidade. Fisiologicamente, aoxitocinafoiassociadaàscontraçõesdoúteroduranteoparto,bemcomoaoreflexodaejeçãodoleitenalactação,discutidonoCapítulo3.Porumlongotempooscientistasacreditaramqueeraessaaextensãodeseupapel.Mas,porfim,ficouclaroqueesseneuropeptídioestabeleciatambémalgumtipodeconexãocognitiva entre amente e o corpo.Considere umamãeque amamenta.Ela pode estar descansandona

sala,vendoumpoucodetelevisãoouconversandoaotelefonecomumaamiga,enquantoofilhodormenosegundoandar.Seessebebêacordaechora,chamando-a,nãoéincomumqueocorraumaejeçãodeleitesegundosdepoisdeamãeouvirosom.Essaejeçãopodeocorrersemnenhumtoqueouinteraçãodiretacomobebê;seuchoroésuficienteparacausá-la.Essetipodefenômenodeixouclaroqueaoxitocinafazmais do que facilitar o parto e a amamentação. Ela desempenha também uma espécie de papelpsicogênico,conectandoapercepçãodochorocomumarespostafísicaefetiva.

Alémdisso,quandopesquisadoresinjetaramoxitocinaemratos,hamstersearganazes-do-campo,elafoicapazdeinduzircomportamentosmaternos,mesmoqueosanimaisaindanãotivessemdadoàluz.Asomadessesresultadossugerequeesseneuropeptídiotemumfortepapelemcomportamentosmaternos–e,porextensão,estárelacionadoàquelevínculoespecialentremãeefilho.

Receptoresebonscuidadosmaternos

Jásabemosquefaltadeoxitocinaemmodelosroedoreslevaaumreconhecimentosocialprejudicado,aproblemas com a memória espacial e dificuldades com relações monogâmicas.3 Como não é desurpreender,elafuncionademaneirasemelhantenarelaçãoentremãesefilhos.Afinaldecontas,paraterumvínculoespecialcomseufilho,vocêprecisasercapazdereconhecerelocalizarobebêantesmesmodeterachancedecuidardele.Parece,contudo,quenãoéumnívelparticulardeoxitocinanosanguequedetermina se ratazanas terãouma relaçãodeamorcomsuaprole,mas simonúmerode receptoresdeoxitocinaemdiferentespartesdeseucérebro.

Como foi esboçado no Capítulo 4, o comportamento materno em ratos influencia o modo comodiferentesgenesserãoexpressosmaistardenavidadobebê,influenciandofinalmenteodesenvolvimentoneural e o comportamento do próprio filho no futuro. Ocorre uma grande variação natural docomportamento nessas espécies: vemos ratazanas que mimam os filhotes, passando muito tempolambendo-oselimpando-os(altoLL),bemcomoratazanascombaixoLLquerecaemmaisnacategoriade negligentes. Michael Meaney e Frances Champagne, aqueles extraordinários pesquisadoresepigenéticos, perguntaram-se que mudanças cerebrais estariam subjacentes a essas diferenças emcomportamentosmaternos.4

Meaney,ChampagneeseuscolegasexaminaramdetidamentecérebrosderatazanascomaltoebaixoLL. Os animais com alto LL apresentaram uma densidade significativamente maior de receptores deoxitocinaemtodoocérebro,emespecialemalgumasáreasenvolvidasnoamor,comoaáreapré-ópticamedial (APOm), o septo lateral, o núcleo central da amígdala, o núcleo paraventricular (NPV) dohipotálamo e os núcleos do leito da estria terminal. Houve forte correlação entre os níveis dessesreceptoreseaqualidadedoscomportamentosmaternais.Natentativademelhorassociaressesníveisdereceptores de oxitocina aos comportamentos, o grupo injetou em algumas das mães com alto LL umcomposto que bloqueava os receptores de oxitocina. Isso eliminou quaisquer diferenças que havia nocomportamento de lamber e limpar entre os grupos antes classificados como de alto e baixo LL.Basicamente, quando a oxitocina não podia ser devorada por esses receptores, todas as ratazanas semostravamlambedorasdebaixaqualidade.

Dopontodevistaepigenético,aoqueparece,serumamãedealtoLLajudaosgenesdosreceptoresdeoxitocinaacriarumagrandequantidadedereceptoresemcertasáreascerebrais. Isso,porsuavez,favorececomportamentosdealtoLLdepoisqueumamãecomeçaaamamentar.Equantoàdopamina?Otrabalho de Ferris demonstrou que amamentar ativava as áreas de processamento de recompensadopaminérgicanocérebro.Experimentosquedestroemadopaminaemcamundongosparecemprivaras

mães da capacidade de cuidar apropriadamente dos filhotes. Poderia a sinalização por dopamina tertambémalgumacoisaadizersobrevariaçõesnoscuidadosmaternos?Numestudodeacompanhamento,outro grupo de que faziam parte Champagne e Meaney examinou o papel da dopamina noscomportamentosdealtoebaixoLL.5

Usandoumatécnicainvivochamadavoltametria,umamaneirademediraatividadedadopaminaemmãesratazanas,ogrupodescobriuqueneurôniosdedopaminaentravamemfrenéticaatividadenaconchadonúcleoacumbens,nãosóquandomãeslambiamelimpavamseusbebês,masemantecipaçãoaisso.Ataxadeatividade,emtermostantodemagnitudequantodeduração,estavapositivamentecorrelacionadacomonívelaltooubaixodeLLdaratazana.Istoé,mãescomaltoLLapresentavammagnitudeeduraçãosignificativamentemaioresda sinalizaçãodedopaminanaconchadonúcleoacumbensdoqueaquelascombaixoLL.Segundoospesquisadores,essadiferençapoderiaexplicarasdiscrepânciasobservadasna qualidade dos cuidados maternos. Essa maior magnitude e duração da liberação de dopamina nosistemaderecompensasimplesmentetornavaaatividadedecuidardosfilhotesmaisprazerosa,levandoassimacomportamentosdealtoLL.

Num estudo recente, o laboratório deMeaney detectou a conexão entre oxitocina e dopamina nasvariações naturais observadas nos cuidados maternos. A área tegmental ventral (ATV) mostrou-seenvolvidanoamorromânticoemváriosestudos;elarecebetambémestímulosdaAPOmedoNPV,áreasqueapresentaramumaconcentraçãomaiselevadade receptoresdeoxitocinaemmãescomaltoLL.AATVestáassociadaaonúcleoacumbens,queapresentamaisatividadededopaminanasmãescomaltoLL.Écomoaversãocerebraldavelhacanção“DemBones”,amas,emvezdeoossodojoelhoconectar-secomoossodacoxa,temosoAPOmconectadocomaATV,aATVconectadacomonúcleoacumbenseassim por diante. Você captou a ideia. Quando o grupo de Meaney injetou um pouco de oxitocinadiretamentenaATV,identificousinaisdemaisdopaminanonúcleoacumbensemaiscomportamentosLL.Quandobloquearamosreceptoresdeoxitocina,virammenoratividadededopamina,bemcomomenoscomportamentosLL.Esseestudoéoprimeiroamostrarqueaoxitocinaagediretamentenaliberaçãodedopaminanocérebro.Assim,aliberaçãodeoxitocinaduranteaamamentaçãolevanãosóamaisprazer,masacuidadosmaternosdemaisqualidadeemratazanascomaltoLL.6

Éfácil ler sobreessesestudosedizer:“Ahá!Mãesboasemaisamorosas têmmais receptoresdeoxitocina e mais sinalização de dopamina. Precisamos apenas elevar essas duas coisas em todas asmulheres!”Lamentavelmente,essalinhadepensamentoéumasupersimplificação.

“Naverdade,nãogostodadistinçãoentremãeboaemãemá”,disse-meChampagne.“Issonãofazsentidodeumpontodevistaevolucionário.NãoénecessariamentebomoumausercriadoporumamãecombaixoLL.Issoapenaspreparaofilhoteparaareproduçãoeoambientedeumamaneiradiferente.”ComodisseMosheSzyf, outro eminente epigeneticista, se o genomaéohardware e o epigenomaéosoftware, amãeéoprogramador.Seucomportamentodiz aos filhosque tipodeambienteelesdevemesperar.Emboraalgunsdosmesmossistemaspareçamestaremação,tantoemtermosdesubstratoneuralquanto de substâncias neuroquímicas, lamber e limpar durante um período de amamentação de umasemanaéalgobemdiversodaquiloquenóssereshumanosconsideramosamormaterno.Encontraríamosomesmotipodeneurobiologiamaternanummodeloanimalumpoucomaisparecidocomsereshumanos?

Aneurobiologiadocomportamentoaloparental

Os arganazes-do-campo têm um modelo de criação dos filhotes muito diferente do dos ratos. Essaespécieéaloparental;istoé,todosdesempenhamumpapelnacriação.Parecendosaberintrinsecamente

queauniãofazaforça,ospais,osirmãoseasirmãsparticipamdoprocesso.Nãoéraroqueumatocaabrigueumamãeeumpaialémdeváriasninhadasdefilhotesdeváriasidades.Jovensfêmeasqueaindanãoatingiramamaturidadesexualpodemsernaturalmentematernais, limpandobebêse trazendo-osdevoltaseescapamdoninho,masessetipodecuidadomaternoespontâneosóocorreemcercademetadedasmeninas. Ao que parece, o ambiente dita se elas vão sermães naturais; a permanência no ninhodepois do desmame e a proximidade do pai têm alta correlação com o comportamento naturalmenteafetuosodeumarganazfêmea.

Aoxitocinatambéméimportante.Umaúnicaadministraçãodeoxitocina24horasapósopartopodetornarmãesarganazes-do-campomaisatenciosaseafetuosascomosfilhotes.Umavezqueadensidadede receptores de oxitocina nonúcleo acumbensvaria enormemente de umanimal para outro, como seobserva em ratos, Larry Young e seus colegas levantaram a hipótese de que um número maior dereceptoresestarialigadoamaiorcomportamentoaloparentalemjovensfêmeas.Paratestaressahipótese,Young, neurocientista da Universidade Emory que estuda ligações sociais, usou um vetor viral paraaumentaraproduçãodereceptoresdeoxitocinanessaáreacerebral.Surpreendentemente,nãoencontrounenhumadiferençaentreessesanimaiseindivíduos-controle.Nuncaémuitosimples,nãoé?Estáclaroqueaoxitocinamedeiaalgunsefeitossobreocomportamentomaterno,masnãoestáclarocomoofaznoarganaz-do-campo.7

Entresereshumanos

Ratosearganazes-do-campooferecemaosneurocientistasummodelo,umamaneiradeexaminarcomosubstâncias neuroquímicas medeiam comportamentos. Mas esses comportamentos não são exatamenteiguaisaosquevemosemsereshumanos.Aspessoasnãotêmninhadasdefilhotes;tipicamente,temosumfilhodecadavez.Assim,nãoédifícilimaginarqueessasespéciesterãonaturalmentediferentestiposdeestratégiasbiológicasdecriaçãode filhos,mesmoquecompartilhemosalgumsubstratoneural comosroedores.Fizeram-sealgunsestudoscomovelhasemacacosRhesus,animaisqueapresentamumvínculopreferencial com seus filhotes, o que demonstra que a oxitocina desempenha um importante papel noreconhecimento da prole. Esses estudos também encontraram uma variação natural nos cuidadosmaternos.Omodo comoa oxitocina pode ser reguladapelo ambiente oupor outros fatores, causandomudançasnocérebroouinfluenciando,porsuavez,outrassubstânciasneuroquímicas,aindaestásendoexaminado.

Dadas essas limitações, o que podemos extrair de modelos animais de comportamento materno?Dependedapessoaaquemfazemosessapergunta.QuandopergunteiaChampagneatéquepontoessesachadospodemser transpostosdeumaespécieparaoutra,elafoicautelosamenteotimista.“Pensoquehá,semdúvida,indicadoresclarosdeque,pelomenosemseunívelmaisbásico,osmesmosprocessosseaplicamemsereshumanos”,afirmouela.“Éclaroque,quandosetratadecompreendercomotudoissofunciona,adificuldadeestánosdetalhes.”

E há muitos detalhes ainda por descobrir. Em vez de se basear em modelos animais, muitosneurocientistas estão tentando agora estudar os efeitos da oxitocina e da dopamina diretamente emsujeitos humanos.RuthFeldman, psicóloga daUniversidadeBar-Ilan em Israel, examinou correlaçõesentreníveisdeoxitocinaecomportamentoemmulherestantoduranteagravidezquantodepoisdoparto.Umgrupodoqualelafaziapartemediuosníveisdeoxitocinanoplasmademaisdesessentamulheresgrávidasduranteseuprimeiroeterceirotrimestresenoprimeiromêsapósoparto.Depoisobservouasmãesinteragindocomseusbebês,prestandomuitaatençãoaoolhar,àrespostaemocional,aotoqueeàs

vocalizações.Ospesquisadorespediramtambémqueasmãesrespondessemaumextensoquestionáriosobre suas emoções e seus comportamentos. Quando Feldman e seus colegas analisaram os dados,descobriramalgo surpreendente.Onível deoxitocinadeumamãe era estável ao longodagravidez eapós o parto.Como se esperava, níveis elevados de oxitocina indicavammaior probabilidade de umfortevínculomãe-filho,acompanhadopormuitochamego,atençãoeafeiçãodepoisqueacriançanascia,masesseníveleraestabelecidomuitotempoantesqueamãesequerbatesseosolhosnorecém-nascido.

Dada a estabilidade dos níveis de oxitocina tanto durante quanto depois da gravidez, o nívelapresentado por umamulher no início de sua gravidez permite prever a interação materna posterior.Pense: isso significa que desde o primeiro semestre da gestação, muito antes de uma mulher poderamamentar ou sequer olhar o filho, a oxitocina estámediando algo no cérebro que resultará em certaqualidadedecuidado.Oquepoderiaserisso?Ninguémsabeaocerto,emboraprovavelmentesejaalgoque envolva uma variedade de diferentes processos e substâncias neuroquímicas, entre as quaisestrogênio,progesteronaeoxitocina.8

Neuroimagemeamormaterno

Vários pesquisadores empreenderam estudos de neuroimagem do amor materno. Logo depois de seuestudodoamorromântico,SemirZekicomparouoamorromânticocomoamordeumamãepelofilho.Elelevantouahipótesedequecircuitoscerebraissemelhantesseriamativadosnosdoiscasos.Maisumavez, recorreu a estímulos visuais. Vinte mães olharam passivamente fotos de seu filho (com idadesvariandodenovemesesatrêsanosemeio),deumaoutracriançaconhecidacommaisoumenosamesmaidade,deseuparceiro,deumapessoadequemelanãogostava,deumacriançadesconhecidaedeumadulto desconhecido. Elas foram instruídas a olhar as fotos e relaxar enquanto o fluxo sanguíneo eramedidoporfMRI.9

Zeki e seus colegas descobriramque, quando asmulheres olhavam fotos de seus filhos, havia umsignificativoaumentodofluxosanguíneonasubstâncianegra,noestriadodorsaleventral,notálamoeempartesdocórtexpré-frontal.Notavelmente,essasáreassãoricasemreceptorestantodeoxitocinaquantode vasopressina, bem como em neurônios dopaminérgicos – e, como você terá notado, há algumasuperposiçãocomáreasativadasnoamorromântico.OsresultadoslevaramZekiaconcluirqueoamor,sejaromânticooumaterno,éummecanismodotipoempurraepuxa.Istoé,aativaçãocerebralespecíficaéacompanhadadeumamolecimentodenossacapacidadedejulgareavaliar.Vemosaspessoasamadas,quer sejam filhosouparceiros românticos,damesmamaneira, atravésdeóculos cor-de-rosa.QuandoNicolas Read fez originalmente aquela piada sobre bebês “sexy”, estava se referindo a isso. Vamosreconhecer,nossoprópriobebêéabsolutamenteirresistível.Umamaquininhadeberrar,fazercocôenoslevaràexaustão,talvez–masmesmoassimirresistível.

Não estou exagerando quando digo que não existe criança mais maravilhosa que a minha. Meucérebromedizqueéassim.EquandominhaamigaAlysondizqueseufilhoéomelhor,elatambémnãoestáerrada.Mesmoquandoconfrontadascomevidênciasexatamentedocontrário,sentimos–sabemos–quenossosfilhossãofantásticos.Senãotivéssemosessemecanismoempurraepuxaincorporado,senãoreconhecêssemosdemaneira inerente quantonossospróprios filhos são “sexy”, poderíamosoptar pornãoalimentá-losoudeixá-losnabeiradaestradaquando,acaminhodacasadavovó,elesnosperguntampela milésima vez: “Já estamos chegando?” Associe esse empurrão neurobiológico sobre nossossistemas de julgamento ao puxão dos aumentos súbitos dos níveis de dopamina no circuito derecompensa,eassimcriamosumvínculoforteeduradourocomnossosfilhos.

EllenLeibenluft,cientistadoNationalInstituteofMentalHealth,fezumestudosemelhantecommãesdecriançasmaisvelhas.Noentanto,Leibenluftpediuàsmãesquefizessemumatarefacognitivasimplesenquantoolhavam fotos no escâner de fMRI; as participantes tinhamde indicar se a fotoque estavamvendoeraamesmaquetinhamvistoanteriormente.Elaencontrouumpadrãodeativaçãosemelhanteaoidentificado no estudo de Zeki, mas verificou também ativação maternal no núcleo paracinguladoanterior,nonúcleocinguladoposteriorenosulco temporalsuperior.Nãosesabeseessadiferençasedeve àmaior idade das crianças ou ao fato de as participantes terem sido solicitadas a realizar umatarefacognitivaemvezdeapenasolharfotos.Épossível,contudo,queossistemascerebraisenvolvidosquandoseestálidandocomumbebêsejamdiferentesdaquelesenvolvidosnacriaçãodecriançasmaisvelhas.10

AlgumasdasáreasativadasnoestudodoamormaternoporneuroimagemrealizadoporZeki.IlustraçãodeDorlingKindersley.

Ochorodeumbebê

Fotossãoótimas,masosbebêstêmoutrasmaneirasdeatrairaatençãodeumamãe–ochoro.Aquelemesmosomqueécapazde fazermeusseiosvazaremquandooouçoemoutroquartopoderia tambémcausarumpadrãoúnicodeativaçãocerebralquandoouvidono fMRI? JamesSwain,daUniversidadeYale,usoufMRIparamedirofluxosanguíneoemnovemãesdeprimeiraviagemalgumassemanasapósoparto,enquantoouviamumagravaçãodochorodeseuprópriobebêeodeumoutro.Quandoasmãesouviamochorodeseufilho,ogrupodeSwainencontrouativaçãoemmuitasdasáreasrelacionadasaoamor, inclusive os núcleos da base, o cingulado, a amígdala e a ínsula. Quando essas mães foramreescaneadastrêsaquatromesesdepois,aamígdalaeaínsulanãoestavammaisativadas.Swainlevantaahipótesedequeessamudançanofluxosanguíneocerebralpossasugerirmaiorfamiliaridade.Issofazsentido:quandovocêémãepelaprimeiravez,ochorodeumbebêpodesermuitoalarmante.Passeioprimeiromêsemcasacommeufilhobastanteaflita,consultandotodososlivrosewebsitesrelacionados

abebês na esperançade encontrar algummanual secreto de instruções queme ajudasse a decodificarexatamenteoqueelequeria.Comotempo,àmedidaquefiqueimaisfamiliarizadacomseuschoros,suasidiossincrasias e seu horário natural, tornei-memenos ansiosa. Isso, sustenta Swain, pode explicar asmudançasnopadrãodeativação.11

Madoka Noriuchi, pesquisadora da Universidade Metropolitana de Tóquio, também examinou aativaçãoneuralmaternaemrespostaaochorodeumbebê–masseuestudotinhaumadiferença.OgrupodeNoriuchimediuo fluxo sanguíneocerebral enquantomãesassistiamavídeos semsomdeumbebêchorandoparachamaramãe,bemcomoumclipeemqueelesorriaparaela.Essesclipes,afirmaramospesquisadores, demonstravam dois comportamentos de bebês que ajudam a fomentar e fortalecer ovínculomãe-bebê.Ogrupocomparouomodocomoocérebrodamãereagiaaseuprópriofilhoeaumoutro,bemcomoentreosclipesdesorrisoedechoro.Elesdescobriramqueapenasolharoprópriobebêativavaocórtexórbito-frontal,a ínsulaanteriorepartesdoputâmen.Quandoseuprópriobebêestavasofrendoechorandoporela,haviaumaativaçãoadicionalnonúcleocaudado,nocinguladoanterior,nocinguladoposterior,notálamo,nasubstâncianegraenosulcotemporalsuperiorposterior.Arespostaaochororesultavanãoapenasnumpadrãodeativaçãodiferente,mastambémemativaçãomaisforte.Isso,segundoosautores,sugerequeocérebrodasmãesestáemgrandeatividade,absorvendodicasdosbebêsdemodoqueasmulherespossamaprender,adaptar-seeconsequentementesuprirasmuitasnecessidadesenvolvidasemseucuidado.12

Algumasdasáreasdeativaçãoencontradasemdiferentesestudosdoamormaterno.IlustraçãodeDorlingKindersley.

Houveumasignificativasuperposiçãoentreosestudosdoamormaternoporneuroimagem,osestudosdoamorromânticoeestudosenvolvendooxitocinaedopamina.SegundoStephanieOrtigue,queincluiuessesestudossobreamormaternoemsuametanálisedoamorporneuroimagem,aquestãodequalquerestudodeneuroimagemnessecampoé:“Edaí?”Emborasaibamosquemuitasáreassãoativadasnumavariedade de diferentes paradigmas relacionados ao amor, e embora tenha sido possível reproduziralgumasdescobertas, aindaédifícil apontaroqueexatamenteessasdiferentes regiõescerebrais estãofazendoecomotrabalhamjuntasparaforjarovínculomãe-filho.Édifícilatésaberaocertoseoafeto

maternoésignificativamentediferentedequalqueroutrotipodeafeto.Essas incertezas levaram alguns pesquisadores a dar um passo para trás. Antes de podermos

compreender de algum modo as ativações cerebrais envolvidas no amor materno, talvez precisemosentendermelhorostiposdemudançaqueamaternidadeprovocaemtodoocérebro.Consideretodasasalteraçõesfísicasqueacompanhamagravidez.Ventreprotuberanteecabelogrossoevolumososãoasóbvias.Grávidas tambémnosassustamcomhistóriasdenarizesepésquecrescem.Qualquermãe lhediráqueéumtipodeexperiênciaqueenvolveocorpointeiro.Porquenãoveríamosalgumasmudançasnocérebrotambém?

“Aliteraturasobreneurofisiologiadeanimaissugerequehámudançasestruturaisreaisnocérebro,emespecialnoiníciodoperíodopós-parto.Sãomudançasqueaumentamocérebro”,explicouPilyoungKim,quefoipós-doutorandanaUniversidadeYale.“Parasermaisclara,trata-sedemudançaslocais–algumas áreas cerebrais experimentamcrescimento e outraspermanecem iguais.Mas ahipótese é quetoda mudança que ocorre nesse período provavelmente desempenha um papel importante nodesenvolvimentodoscomportamentosdecriação.”

Omaisrelevantedessescomportamentoséoafeto,ouamor.Masserumaboamãeenvolvemaisdoqueisso.Éprecisoprover,resolverproblemaseaprender–querissoenvolvadiferenciartiposdechoro,evitarperigosoutrocarumafraldaimundadecocôsemsujaraúnicablusabrancaqueaindalheserve.Háumaideiageneralizadadequemãesrecentesnãosãomuitointeligentes.Acondiçãoémuitasvezeschamadade“cérebrodemãe”,e,dadaaprivaçãodesonoeamudançadeprioridades,entendoporqueaideiaétãocorrente.Masaliteraturaanimalnãocorroboraaideiadequeamaternidadenostornamaisestúpidas.Mãesroedoraspercorremlabirintosmaisrapidamente,capturammaispresasqueasvirgensetêmmelhordesempenhonumavariedadedetarefasdememóriaecognição.

Ninguém, é claro, está julgando um rato comum por deixar acidentalmente as compras dosupermercadonobancodetrásdocarrodeumdiaparaooutroouporperdersuaschavespelaterceiravez numa semana.Oque poderia, portanto, constituir de fato um “cérebro demãe”?Ogrupo deKimdecidiutirarissoalimpoexaminandomudançasnoscérebrosdedezenovemãesnasprimeirassemanasapósopartoetrêsmesesmaistarde.Ogrupodescobriuumaumentodevolumenocórtexpré-frontal,noslobosparietaiseemmuitasáreasdomesencéfaloe,quandoasmãestinhampensamentosmuitopositivossobre seus bebês, também no hipotálamo, na amígdala e na substância negra. É uma descobertafascinante:apercepçãopositivadamaternidadecontribuiriaparaalgumasdessasmudançasdevolume.Segundo Kim, isso reforça o argumento de que as interações com o próprio bebê, uma variávelambiental,sãotãoimportantesquantoquaisquermudançasbiológicasqueocorremaolongodagravidezedoparto.13“Alteraçõeshormonaisdesempenhamumpapelimportanteduranteagravidez,emespecialperto do final e logo antes e logo depois do parto”, disse ela. “Há evidências de que os níveis deoxitocina e estrogênio sobem antes do parto, e isso ajuda o cérebro damãe amudar, permitindo-lheperceber o bebê como positivo e recompensador e não como repulsivo. Após o parto, porém, oscomportamentosdebrincareinteragircomobebêtambémajudamemmaisreestruturações.”

Kim afirma que tanto a natureza quanto a criação estão envolvidas em mudanças específicas nocérebro. As mudanças de volume em áreas do cérebro sugerem umamaior capacidade para integrarestímulossensoriais,maiorcogniçãodealtonívelemaiorcapacidadedeapreciartodasasrecompensasrelacionadasàdopaminadoamor.Masessasmudançasseriamnecessáriasapenasparapermitirqueamãeseadapteaumrecém-nascidoecuidedele?QuandopergunteiaKimquantotempoessasmudançasduravam, ela fez uma pausa. “Não sabemos. É possível que a estrutura cerebral permaneça enquantocuidardofilhoforumaparte importantede suavida”,afirmouela. “Masposso também imaginarque,depois que isso deixa de ser uma atividade importante na sua vida, o cérebro deve voltar a sofrermudanças.”

AequipedePilyoungKimidentificouumaumentodevolumenocórtexpré-frontal,noslobosparietaiseemmuitasáreasdomesencéfaloemmãesquehaviamdadoàluzalgumassemanasantes.Quandoelas

tinhampensamentospositivossobreseusbebês,observava-setambémumcrescimentodohipotálamo,daamígdalaedasubstâncianegra.IlustraçãodeDorlingKindersley.

Océrebrodopapai

Atéagoralimiteiadiscussãoàsmães.Elassãoofocoprincipaldessalinhadepesquisas–emboradevaadmitirque,sendoeumesmamãe,tenhocertatendenciosidade.Umavezquemeuinvestimentofísicononascimentodemeufilhodemandouumpouquinhomaisdetempodemimquedemeumarido(paranãomencionarasestriasqueocasionou),tendoarircomdesdémquandomefalamsobregravidezsolidáriaecoisasdogênero.Nãopossoevitar.Comagravidezprovocandotantasmudançasfísicasemmeucorpo,parece perfeitamente lógico que tenha alterado meu cérebro também. Mas é difícil imaginar que oscérebrosdefuturospaisseriamtambémafetados.Noentanto,novaspesquisasestãodescobrindoqueoscérebros dos homens também passam por algumas alterações depois que eles se tornam pais (ou sãoincumbidosde cuidardeumacriança).Podemnão ser iguais àsmudançasqueacontecememmães (esinto-metentadaaacrescentarummaldoso“nemdelonge”),mas,mesmoassim,acontecem.

Comofoiditoantes,osarganazes-do-camposãoaloparentais:nãoapenasasmães,masospais,asirmãs e os irmãos ajudam a cuidar dos filhotes. Embora algumas fêmeas virgens possam ficar umpouquinhoconfusasquandosetratadefilhotes,machossexualmenteimaturostêmumsúbitoaumentodeoxitocinaquandosãoexpostosabebês.Esseempurrãolhespermiteformarvínculosmonogâmicosmaisdepressa quando se acasalam e tornarem-se paismais atenciosos. Se a hipótese subjacente de que aoxitocinamedeiaalgumasdessasmudançasnocérebroestiver correta, éprovávelqueessesaumentosoperemalgumamágicasobreocérebromasculinotambém.

Aoexaminarosníveisdeoxitocinaaolongodagravidezedoperíodopós-parto,RuthFeldamannãoserestringiuàsmães.Elaestudouosníveistantodenovasmãesquantodenovospaislogoapósopartoe

seismeses depois. E,mais uma vez, ela havia treinado observadores para analisar o comportamentoparental.Oestudoproduziualgunsachadosinteressantes.Primeiro,osníveisdeoxitocinadospaiseramsurpreendentementeparecidoscomosdesuasparceirasnasduasmedições.Emboraopartoealactaçãoajudassemaempurraroníveldamãeparacima,algumacoisaestavaproduzindoomesmotipodeefeitonopai,semquefossenecessáriaumaperidural.Nãoparecenadajusto.

Segundo, os pais não só exibiam níveis semelhantes de oxitocina, mas seus respectivos níveisestavam correlacionados comumamaneira de cuidar do bebê específica de gênero.Mães comníveiselevadosdeoxitocinaacarinham,arrulhamefitamlongamenteobebê.Paiscomessesníveis,contudo,tendemasermaisbrincalhõeseestimuladores,eencorajamaexploraçãoeainteraçãocombrinquedos.Será isso biologia ou algum tipo de influência social? Ninguém pode dizer ao certo. Isso sugere, noentanto,queosníveisdeoxitocinaalteramoscérebrosdamãeedopaidemaneirasdiferentes–demodoaestimulardiferentestiposdecomportamentosdecriação.14

EssesresultadosrelativosàsmaneirasdelidarcomosbebêsforamcomprovadosquandoogrupodeFeldmanmediuosníveisdeoxitocinaemmãesepaiscombebêsdequatroaseismesesapósumasessãodebrincadeirasdequinzeminutos.Osníveis estavamaltamente correlacionados entreosmembrosdocasal,masmães superafeiçoadas a bebêsmostraramuma elevação significativa do nível de oxitocinaapós a sessão de brincadeiras. Os pais, no entanto, só apresentaram esse aumento do neuropeptídioquando se envolveram em brincadeirasmais físicas e estimulantes – você sabe, o tipo turbulento. Ogrupo levantouahipótesedequemãesepais teriamevoluídopara suprirnecessidadesdiferentesdascrianças.E,comofoiconstatadoemestudosepigenéticos,asexperiênciasdaprimeirainfânciatêmpoderdemoldarodesenvolvimentoneurobiológicoquandosetratadeamoreafeto.15

Éfácil,sobretudoparanós,mães,sugerirqueháalgoúniconovínculomaternoequeocérebropós-partoproporcionaosubstratocertoparaumaligaçãosingulareamorosaquenãopodeserencontradaemnenhumoutrolugar.Issonãodiminui,contudo,opapeldopai–ouodeumaavó,deumpaiadotivoouatédeumairmãouumtio.Emúltimaanálise,quemquerqueestejaoferecendoamorecuidadoaumbebêprovavelmenteteráseucérebroalteradodemaneirasqueajudemacimentarovínculo.

Quando conversei comKarenBales, neurocientista daUniversidade daCalifórnia, emDavis, queestudou o vínculo materno numa variedade de espécies, sobre a existência ou não de algoneurobiologicamentedistintonoamordeumamãe,elameperguntouseeutinhaconhecimentodamaneiracomomacacoszogue-zogues(Callicebuscupreus),umaespéciemonógamaealoparental,criamaprole.Reveleiquenão.“Essencialmente”,disse-meBales,“oszogue-zogues têmumapegoseletivoaospais,nãoàsmães.Elestêmumareaçãodeestresseaoseremseparadosdospais;procuramospaisembuscade conforto. Penso que a ideia é que aquele que nos proporciona contato físico confortador enquantocrescemos é aquele por quem teremos um afeto especial, e isso se manifesta de alguma maneira nocérebro.Anormaemmuitasespécieséhaverumarelaçãodeafetoespecialcomamãe,masnãohárazãoparaacreditarquenãoseriapossívelteressemesmotipoderelaçãocomquemlhedispensecuidados,sejaelequemfor.”

Para mim, isso faz sentido. Afinal, sabemos que o ambiente é uma variável importante nodesenvolvimentoenamanutençãodeumvínculosocial.Quandosetratadovínculoentrepaisefilhos,obebêémaisqueapenasumacria,éporsimesmoumincentivoaoaprendizado.Nossasinteraçõescomumbebêdesempenhamumpapelemmuitasdasmudançascerebraisidentificadasempaisemães.Numcasalquemantémumarelaçãomonogâmica,oscérebrospodemmudarde talmaneiraquemãesepaisadotamdiferentesestratégiasnocuidadodobebê.Éigualmentefácil,contudo,defenderaideiadeque,numa situação com dois pais (ou duasmães, ou umamãe e uma avó, ou um pai e um tio – qualquercombinaçãoqueconvenhaaumafamíliaparticular),encontraremosumadivisãosemelhantedotrabalhocerebral, por assimdizer.Diante do que sabemos sobre a plasticidade do cérebro, nãohá razãopara

pensarqueaexperiênciadapaternidadeoudamaternidadenãomudariaoscérebrosdepaisadotivos,padrastosoupaisdecriação.Aúnicacoisaquepodemosdizercomcerteza,creio,équeaindahámuitoaaprender.Honestamente,porvezesapesquisaparecefornecermuitíssimomaisperguntasquerespostas.

Emseuatualestágio,oconhecimentodaneurobiologiadacriaçãode filhos,comoadoamoredosexo,aindaestáemsuainfância.Hámuitasquestõesaformular(eresponder)sobreomodocomonossocérebromudadepoisquenostornamospaisesobrequaissistemasneuroquímicospodemestarmediandoessasmudanças.

Paraserfranca,pormaisqueosneurocientistaspossamdescobrir,elesnãomudarãominhamaneiradepensarsobreminhaprópriaexperiênciadamaternidade.Pormaisinteligentesouelegantesquesejamseus estudos, eles nunca afetarão o quanto adoro meu filho. Como eu lhes disse, meus sentimentospermanecemintactos(e,seSemirZekiestivercerto,elessãosustentadosporumsistemadeempurraepuxaentremeus lobos frontais eos sistemasde recompensadocérebro).Assim,não importaoqueofuturo desse campo possa trazer, vou continuar a pensar que meu garoto é tão sexy que merece serproibido.Sabereiemmeucoraçãoquenossovínculonãoseparececomnenhumoutro.Eissoémaisquesuficienteparamim.

aCançãospiritualtradicionalamericana,cujaletra,emsuaversãomaissimples,contemosversos:“Toeboneconnectedtothefootbone/Footboneconnectedtothelegbone/Legboneconnectedtothekneebone…”[Ossododedodopéligadoaoossodopé/Ossodopéligadoaoossodaperna/Ossodapernaligadoaoossodojoelho…].(N.T.)

10.Émelhorencarar:Vocêéviciadoemamor

LIGUEORÁDIO aqualquerhoradodia e émuitoprovávelqueváouvirumacançãodeamor. Issovaiacontecerquervocêgosteimensamentedeópera,heavymetalourockalternativo–oamorécelebradoemcanções,sejaqualforseugênero,maisdoquequalqueroutrotópico.Emboratodacançãodeamorpossatersuaqualidadeparticular,hámuitasuperposiçãoquandosetratadostemasexplorados.Umtemaque surgecom frequênciaé a ideiadoamorcomoumvício–ouumaadição,parausaro termomaiscientífico.Seuamoréaminhadroga.Nãoconsigomelivrardohábito.Nãoseiporquenuncamefartodoseuamor,babe.Nãoqueronenhumacura.Precisotertodooseuamor.Nãopossolargarvocê.1Eupoderiacontinuar,masvocêjácaptouaideia.Háalgumacoisanoamorquetendeanosfazersentircomoadictosemcrack.

Aadição,numadefiniçãofrouxa,éacompulsãoinescapávelporbuscareconsumirumasubstânciacomoálcooloudroga,apesardasconsequênciasadversasenocivasqueemgeralaacompanham.Éumadoença que nunca desaparece por completo, embora possa ser tratada e abrandar-se com o tempo.Quandooadictoabandonaessasubstância,sofresintomasfísicosetalvezatéemocionaisementaisdeabstinência.Mesmoqueeleaprendaestratégiasparaevitarouso,aindasofreráânsiase,pormaistempoquepermaneçalimpo,continuarásempresoboriscodeumarecaída.Éumacoisacomplicada,daqualnãoéfácilselivrar.

Embora a neurobiologia da adição em drogas tenha sido extensamente estudada, sua etiologia, oucausamédica,aindanãofoibemcaracterizada.Oqueosneurocientistaspodemnosdizeréqueasdrogasinfluenciam os sistemas de neurotransmissores e receptores no sistema límbico mesocortical, nossosistemadeprocessamentoderecompensas.Acocaína,porexemplo,bloqueiaareabsorçãodadopaminapelos neurônios, proporcionando ao usuário aquele súbito aumento de energia prazerosa, ainda quemaníaca.Avariável(ouasvariáveis)quelevaumapessoaqueusadrogasabuscarapenasummomentodeprazerocasional,enquantofazdeoutrapessoaumusuáriocrônico,aindanãoestáclara.Dealgumamaneira,amisturadeumapredisposiçãogenética,doambientesocialepsicológicoederepetidasdosesde uma substância preferida conduz à doença. Isso nos faz pensar: apesar de todas aquelas cançõespopularesdecantaremoamorcomoumvício,seráqueelerealmenteatendeaoscritérios?

Considere minha amiga Tasha, que enfrenta neste momento os sofrimentos do amor. O mundo deTashacomeçouagirarem tornodeseuamor,eclipsando tudoqueantesera importanteparaela.Suasoutras relações pessoais sofreram desde que ela começou a namorar esse rapaz: não lhe sobramuitotempooupaciênciaparacoisaalgumaalémdele.Tashaadmitequesenteumaexcitaçãofísicaquandovêoobjetodeseuamor,eseucoraçãoseaceleraesuaspalmasficamsuadas.Quandoestálongedele,elasentefaltadesuapresençaedeseutoque.Issoparecesemanifestardeumamaneirafísicatambém.Elaanseiaporamor.Tashadizqueasensaçãoquetemquandoestácomseuamadonãoseparececommaisnadanomundo.Alémdisso,elagastamuitodinheirocomoamor,arriscasuasituaçãonotrabalhoporamor, jábrigoucoma família e comos amigospor amor, e tomoualgumasdecisões inadequadasporamor. Se seu amado viesse a rejeitá-la e se afastasse por completo de sua vida, ela ficariaemocionalmente desalentada, talvez até fisicamente doente.2 Seus amigos chegaram a temer que essaobsessão pudesse lhe fazermal.Oque começara como algo positivo, uma sensação de extremobem-estar,transformara-se:agoraesseamorsemanifestamuitasvezescomoumapreocupaçãoeumconjunto

decomportamentosumtantodestrutivosecompulsivos.Comovocêpodever,esseamorexercegrandepodersobreela.

Agora volte e substitua a palavra amor no parágrafo anterior por heroína ou cocaína. O amor,correspondidoounão,podetransformaratéomaisfortedenósemviciadostípicos.

Revelação:nãoexistenenhumaTasha.Eua fabriquei.Noentanto,poderia terpostoonomedeumbomnúmerodemeusamigosnoparágrafoanterior.Eumearriscariaadizerqueamaioriadenósjáteveessasensaçãoavassaladoradeestarloucadeamorporpelomenosumapessoaemsuavida,talvezmaisdeuma.Nós já experimentamosumamorque tinhaopoderdenos fazer sentirmelhoresquenuncae,contudo,eracapazdenostransformarnapiorversãodenósmesmos.Nãotenhonecessidadedeescolherapenasumdemeusamigosparailustraroconceito.

Porvezes esse comportamento semelhante à adiçãonem sequer envolve amorpropriamentedito–apenas um sexo inacreditável, de sacudir o mundo, que acabou ganhando um controle absurdamenteexcessivo sobre nossa vida. Na verdade, eu apostaria que muitos de nós já nos vimos tambéminexplicavelmenteatraídosporumparceiro sexualdequemnemmesmogostávamos tantoassimcomopessoa. Isso acontece com os melhores de nós. Mesmo que essa situação possa incluir apenas umavolúpiadotipo“queroarrancarassuasroupas”enãoternenhumasemelhançacomamor,elatambémtemopoderdenoscompelirafazercoisasquenormalmentenãofaríamos(emuitasvezesnãodeveríamosfazer).

Emgeral,essessentimentos irresistíveiseesmagadores,sejamamorososousensuais,abrandam-secom o tempo – de preferência antes que causem danos demais à nossa vida. A sensação pode setransformar pouco a pouco num forte sentimento de afeto ou redundar no mais infeliz dos términos.Toleramos nossos amigos (e talvez a nós mesmos) quando mergulhados nesse louco amor porquesabemosintrinsecamentequeissotambémvaipassar.Pelomenos,éoqueesperamos.

Paraalguns,porém,osentimentonãopassa.Essacomichãodoamornuncapodesersuficientementecoçada.Três anos atrás, uma conhecidaminha,Kristie, entrounumprogramade recuperação emdozepassos. Sua droga preferida não era heroína ou álcool; ela não fumava crack nem se injetavametanfetamina.Não, seuscomportamentoscompulsivos tinham tudoavercomsexoeamor.“Antesdarecuperação, quando eu estava com um homem, aquilo parecia um sonho. Eu nunca estava realmentepresente quando estávamos juntos, era como se eu estivesse flutuando acima de qualquer situação,sentindo-mefisicamenteeufórica”,contou-meela.“Quandoumrapazflertacomigo,qualquerrapaz,sintoumaverdadeiraeuforiafísica.Comoseeuacabassedecheirarcocaína.Narecuperação,chamamosissode‘aintriga’.Antesdereceberajuda,eusentiaessebaratoefaziaoquepudesse,atémecolocandoemsituaçõesperigosas,paravoltarasenti-lo.”

Atualmente,oDiagnosticandStatisticalManualofMentalDisorders(DSM-IV)nãoincluinenhumamençãoaadiçãoasexoouamor.AprópriaKristiesediagnosticouquandoreconheceuodanoqueseuvício em sexo estava causando à sua vida. Em seguida ela procurou um programa de recuperaçãobaseado no conhecidomodelo dosAlcoólicosAnônimos.Até hoje todas as desordens relacionadas àadição listadasnoDSM-IVenvolvemsubstâncias reais, nãoas chamadasnão substâncias, como jogo,comidaousexo.3

“A adição vaimuito além das drogas”, disseWolfram Schultz, neurocientista daUniversidade deCambridgequeestudaoprocessamentoderiscoserecompensaseomodocomopodemestarenvolvidosna adição. “Nos últimos vinte anos, temos visto que outras coisas podem gerar adições, como sexo,comidaeatépublicidade.Algumaspessoassãoadictasaestarnocentrodopalco.Quandovocêcruzaessalinhaeprecisadessacoisaàqualéadicto,quandotemsintomasdeabstinênciaaotentarlivrar-sedela,issoémuitoperniciosoepodeameaçarasuavida.”

PessoascomoKristie,queenfrentaramovícioemumanãosubstância, sabemqueelapodecausar

tanto dano físico e emocional quanto a adição emVicodin ou em vodca.Àmedida que aumentam asevidênciasneurobiológicasdassemelhançasentretodosostiposdeadição,tantoasubstânciasquantoanãosubstâncias,muitosestãofazendopressãoparaqueacategoriadoDSM-IVsejaampliadademodoaincluir todas elas. Uma área de foco para a melhor compreensão da adição, seja qual for sua baseparticular, éo sistemadecircuitos límbicomesocortical,que incluiosnúcleosdabasee sua fontedeenergia,oneurotransmissordopamina.4

Odesenvolvimentodaadição

Recompensas inesperadas levam à liberação de dopamina nos núcleos da base, o que facilita aaprendizagem. Quanto mais recompensador é um estímulo particular, maior a probabilidade de essecomportamento particular que permite obtê-lo se tornar mais usual. Muitas vezes falamos sobre osnúcleos da base como o sistema de recompensa no circuito límbico mesocortical. Craig Ferris, opesquisadordaUniversidadeNortheasternquefoioprimeiroademonstrarqueratazanaspreferemseusprópriosfilhotesacocaína,disse-mequevaleapenasermosumpoucomaisespecíficosquandofalamossobreessecircuito.“Essavianaverdadenãoéumsistemaderecompensaemsimesma”,explicouele.“Trata-se antes, essencialmente, de um sistema para amotivação. Ele está envolvido na avaliação deriscos e recompensas associados a certos comportamentos, bemcomonaprevisibilidadedoquepodeocorrerseempreendermosumcomportamentoparticular.”

Riscoserecompensas:issoéimportante.Assimcomonenhumaboaaçãoficaimpune,nenhumaboarecompensa – seja sexo, alimento ou ganho potencial numamáquina caça-níqueis – ocorre sem risco.Pode-se alegar que é o risco que confere a um comportamento particular aquela atratividade extra,tornando-oexcitanteobastanteparaqueodesejemostanto.Ocircuitolímbicomesocortical,queenvolveessesnúcleosdabasericosemdopamina,nãoestáapenaspreparadoparaajudá-loaobtercomidaextraou fazer sexomais vezes. Está ajustado para compreender os riscos decorrentes de uma recompensaparticulareparaajudá-loatomarasdecisõescertasdemodoamaximizaressarecompensa.Quandoessecircuitoestáfuncionandomal,vocêpodeacabarcomumaadição.5

“Aadiçãoébasicamenteumprocessoderecompensaqueentraemdescontrole”,disseSchultz.“Nemtodomundosetornaadicto,issoéimportante.Nãosabemosporquealgunssetornameoutrosnão.Mas,naquelesquesetornam,éclaroqueháalgumdesacertonamáquinaemresultadodoqualessaspessoasprecisammais de uma recompensa particular do que costumam receber e não são capazes de avaliarapropriadamenteos riscosenvolvidosemsuaobtenção.Essedesacertoestá ligadodealgummodoaosistemadedopamina,comaliberaçãoexcessivadasubstâncianocérebro.Porfim,essesaltosníveisdedopaminalevamàplasticidadecerebral,amudançasnosistemadeprocessamentoderecompensasquetornamapessoaincapazdecompreenderdeformaapropriadaossinaisdedopaminaouarelaçãoquepodemtercomomundoexterior.”

Emsíntese,osistemadeprocessamentoderecompensasécomprometidopelaadição,conferindoauma recompensa particular um forte sinal de valor, ao mesmo tempo que subestima o sinal de riscoassociado. Com o tempo, o sistema de processamento de recompensas comprometido toma umarecompensaantespositivaeatransformaemalgogravementenegativo.Ospesquisadoresnãosabemoque pode causar essa deturpação no funcionamento (tanto a natureza quanto a criação parecemdesempenharumpapel),mas,depoisqueelaocorre,osefeitospodemserdevastadores.

Amor:modelodovício?

Quase dez anos atrás, Thomas Insel, hoje diretor doNational Institute ofMentalHealth, publicou umartigo de revisão intitulado “IsSocialAttachment anAddictiveDisorder?”.Antesmesmoque o amortivesse sido relacionado a áreas cerebrais na via límbica mesocortical em estudos de neuroimagem,haviamuitas conjecturas deque as ligações sociais poderiamcompartilhar um substratoneural comaadição.Estudosemmodelosanimaisapresentaramfortescorrelaçõesentreaneurobiologiaderelaçõesmãe-bebê e de relaçõesmonogâmicas e a da adição em drogas – e alguns sugeriram que o abuso desubstâncias poderia ser uma tentativa de substituir as substâncias químicas prazerosas usualmentefornecidasaocérebropelaligaçãocomoutraspessoas.6

É uma hipótese convincente. Afinal, é difícil defender a ideia de que a evolução selecionounaturalmentesereshumanosparaseremsuscetíveisaoabusodedrogas.Emvezdisso,talvezasdrogastenham assumido o controle do circuito límbicomesocortical desenvolvido para promover o impulsosexualealigaçãoamorosa,levandoàadição.Épossível.Masissosignificaqueopróprioamortambéméumaadição?

“Adiçãotemumaconotaçãonegativa.Declaramoscomexcessivarapidezqueaadiçãoésemprealgonegativo,masnão temoscertezadisso”,dizSchultz.“Aspessoasapaixonadasexibemváriossinaisdeadição, inclusive uma fascinação pelo parceiro, uma reorientação da atenção e a disposição a fazergrandesesforçosporumparceiro.Issoéclaro.Eváriosestudosjámostraramqueoamorativaosistemaderecompensas.”Esseseriaomesmosistemadeprocessamentoderecompensasenvolvidonaadiçãoadrogas.

SegundoSchultz,éfácilreconheceroamorcomoumarecompensadealtovalor.Pensoqueamaioriadaspessoas solteirasnosdiriaqueencontrarumparceirodevidaverdadeiroeamorosoestáentreosprimeirositensdesualistadedesejospessoais.(Formulotambémahipótesedequeaspessoascasadaspoderão nos dizer que sexo quente e regular é ainda melhor.) Nem amor nem sexo são semprerecompensadores. Ambos têm consequências potenciais negativas – até perigosas. Algumasconsequênciassãotãonegativasque,seasconsiderarmosdevidamenteemnossasdecisões,talveznuncamaisnosempenhemosemfazersexoouestabelecerrelaçõesafetivas.

Considereamaternidade.Entreenjoosmatinais,estriasedoresdoparto,ageraçãodeumacriançaestálongedeserummarderosas,maséconsideradaumadasmaisbelasexperiênciasqueumamulherpodeter.Qualquermulhercomumahistóriadeepisiotomia(emuitasdenóstemosumasrealmentemuitoboas)pode lhedizer isso.Em resposta ao estudode fMRI conduzidoporPilyoungKimmostrandoasmudançasqueseproduzemnocérebroapósoparto,ElizabethMeyer,pesquisadoradaUniversidadedeRichmond,sugeriuqueelassãosubjacentesaumvícionaprópriamaternidade.Porqueasmulheressesentem desejosas de gerar outra criança após amortificante e penosa experiência do parto? Talvez agravidezeopartopromovamumapequenaalteraçãonosistemalímbicomesocorticaldeumamãe–e,comela, emsuaavaliaçãode riscos e recompensas–, levando-a a se concentrar apenasnos aspectospositivosdareprodução,eemconsequênciaacontinuardandoàluzaquelesbebês.

NumaentrevistaàrevistaTime,Meyer,queestavagrávidadeseusegundofilhonaépoca,declarou:“Ser mãe e também estar grávida neste momento, tudo isso é muito gratificante. Se tivéssemos deaprender com fatores punitivos, creio que não faríamos isso muitas vezes. As recompensas têm desuplantaraspunições.”7

Éprovávelquenossosistemaderecompensastenhaevoluídodemaneiraanoscompeliraacasalareprocriar apesar das consequências negativas potenciais, a aprender a associar nossos filhos a boasexperiências, e não a experiências penosas (para não mencionar as engordativas). É uma excelenteestratégiaparapromoverapropagaçãodaespécieeacriaçãosaudáveldecrianças–nãotãoexcelente

quandoocontroledessesistemaétomadoàforçapelohábitodeconsumircocaínaregularmente.8Essesistemaevoluídoteriatambémdeoperarsuamágicasobreosexoeoamor.Elenãopodeser

exclusivodamaternidade;deoutromodonuncachegaríamosàpartedoprogramadedicadaàfabricaçãodos bebês. Simplesmente não podemos nos dar ao luxo, de umponto de vista evolucionário, de ficarexcessivamentedesencorajadoscomopéssimodesempenhosexualdeumparceiroanterioroucomofimdeumrelacionamentoprévio.Comopassardotempo,sãoascoisasboasqueconservamos:aexcitaçãoantecipatóriaquesentimosantesdaqueledesapontamentosexual;osbonsmomentosquecompartilhamoscomnossosex-namorados;oquesentimosaoserfísicaouemocionalmentetocadosporoutrapessoa.Sefossem os maus momentos que continuassem mais memoráveis, talvez não montássemos de novo nocavalo. As boas lembranças relacionadas a vínculos sociais devem ter mais peso que as más.Provavelmente nosso sistema límbico mesocortical garante isso. Um estudo recente que examinou osefeitosdadecepçãoamorosasobreocérebrooferecealgumasevidênciasquecorroboramessaideia.

Separar-seédifícil

Os sintomasmais graves do vício no amor tendem a continuar conosco ainda que nosso amante nãocontinue.Mesmo depois de uma ruptura, os apaixonados continuam intensamente concentrados no ex-parceiro,porvezesatémais.Comfrequência, asoscilaçõesdohumor,ospensamentosobsessivos, asmudanças de personalidade, as decisões equivocadas e a falta de autocontrole também permanecem.Podem até se intensificar. Os efeitos do chamado coração partido não são tão diferentes assim dossintomasdeabstinênciaqueverificamosnumdrogadoemdesintoxicação.Ardenteeimplacável,umamorperdidopodesermuitodebilitante.

Helen Fisher e outros pesquisadores decidiram usar fMRI para examinar os sistemas cerebraisativados após a rejeição amorosa. O grupo recrutou dez mulheres e cinco homens que haviam sidorejeitados mas não conseguiam se desprender por completo dos ex-parceiros. Em especial, elesdesejavam,apesardetudo,avoltadapessoaqueosrejeitara.Osparticipantesrelataramquepensavamnapessoaamadadurantemaisde85%dotempoquepassavamacordados.Admitiramtambémquedavamtelefonemasou faziamvisitas inapropriadasaosex-amantes,bebiamdemaisousoluçavamporhorasafio.Comoorelatóriodoestudoobservou,demonstravamtambémambivalênciaeemoçõesconflitantesnoquediziarespeitoaoantigoamante.Aomesmotempoqueoconsideravamseuparperfeito,expressavamgrande raiva e confusão em relação a ele por causa da maneira como as coisas haviam terminado.Basicamente,todosseencaixavamnoestereótipodaqueletolodoentedeamortãocomumenteencontradona“CidadedosCoraçõesPartidos”.

Osparticipantesforamescaneadosenquantoolhavamumafotodapessoaamadaqueosrejeitara,bemcomo a de uma pessoa muito conhecida mas emocionalmente neutra. Por demonstrarem emoções tãofortesemrelaçãoaosex-parceiros,eramsolicitadosafazerumatarefaenvolvendocontagemregressiva,emquedeviamcontardetrásparafrente,emincrementosdesete,apartirdeumnúmeroaleatórionacasadosmilhares,entreaapresentaçãodeumafotoeoutra,paralimparamente,porassimdizer.Enquantoolhavam as fotos, eram simplesmente solicitados a pensar sobre situações que haviam experimentadocom a pessoa retratada. As situações vividas com o ex-parceiro tendiam a ser emocionalmentecarregadas,comoumaúltimabrigaouumpungentefimdesemanaromântico,eaquelasvividascomomeroconhecidobastanteenfadonhas,comoassistirtelevisãojuntosnasalacomumdeumdormitóriodeestudantes.

OgrupodeFishertinhaváriashipótesesespecíficasparaesseestudo.Asduasmaisimportanteseram

queencontrariamativaçãoemalgumasdasmesmasáreasativadasnoestudooriginaldoamordescritonoCapítulo2,emparticularaárea tegmentalventral,eemáreasenvolvidasnaânsiapordrogas,comoonúcleo acumbens e o córtex pré-frontal. De fato, foi isso que encontraram. Quando compararam osresultadosdiretamentecomaquelesdoestudooriginaldoamor,distinguirammaioratividadenocernedireitodonúcleoacumbens,noputâmenventralenopálidoventraldoqueentreaspessoasfelizesnoamor. Essas evidências, segundo eles, sugeriam que o impulso romântico é um “estado demotivaçãoorientado para um fim” e não uma simples emoção, e, além disso, uma forma de vício. Assim comoproporciona alegria, o amor pode também resultar em imenso sofrimento – e até ser potencialmenteperigoso.9

Aspessoasrejeitadasnoamorcompartilhampadrõesdeativaçãocerebralcomasrecém-apaixonadas,bemcomocomdependentesdedrogas.Mas,diferentementedessesdoisúltimosgrupos,apresentam

tambémmaiorativaçãononúcleoacumbensenopálidoventral.IlustraçãodeDorlingKindersley.

Vícioemsexo

Quer a ideia do amor como uma dependência lhe pareça ou não plausível, a maioria das pessoasconcordaqueosexotemsemdúvidaopoderdenosescravizar.Políticospoderosos,atletasfamososepessoascomunsperderamaintegridade,aposiçãoeafamíliaapenaspornãoseremcapazesderesistiraocantodasereiadosexo.ComominhaamigaKristiepodecontar,ovícioemsexocobraumpreçoalto.O trabalho em modelos animais sugere que certas formas de dependência sexual podem se dever aproblemasnocórtexpré-frontal.

LiqueCoolen,neurocientistadaUniversidadedeMichiganqueestudaaneurobiologiadarecompensaedamotivação,estavacuriosaporsaberemquemedidaumdanoespecíficoaocórtexpré-frontal(CPF)pode afetar o comportamento sexual, em particular nas áreas que se ligam ao sistema límbicomesocortical.ElaeseuscolegasprovocarampequenaslesõesnosCPFsderatos,numaáreaespecífica

que se conecta diretamente com os circuitos de recompensa, e depois condicionaram os animais aassociarsexoadoençainjetando-lhesumadrogaqueosdeixavanauseadosapóscadasessãodecópula.“Sabíamos que o lobo frontal é ativado quando pessoas são expostas a estímulos eróticos por algumtempo”,explicouCoolen.“Mas,apesardesaberqueeleficavaativoduranteatividadesexual,suafunçãoexatapermaneciadesconhecida.Pensávamosque talvezestivesseenvolvidoemalgumtipodecontroleinibitório.”

Ratos normais expostos à droga fariam sexo algumas vezes, aprenderiam que ele causava umasensação desagradável em seu estômago e parariam de tentar acasalar. De fato, disse-me Coolen, osmachos tentariam ficar omais longepossível de fêmeasdepoisque a associação entre sexo edoençativesse sido estabelecida. Os animais com danos no CPF, em contraposição, continuavam tentandoacasalar apesar das injeções indutoras de náusea. Embora fossem capazes de aprender emostrassemmemória associativa normal em outras tarefas, esse dano no CPF os tornava incapazes de inibir seucomportamentosexualmesmoquandoeletinhaumaconsequênciatãonefasta.10

QuandopergunteiaCoolenqueefeitopensavaqueodanotinhasobreocircuitoderecompensa,elaadmitiunãosaber.“Podeseralgumaespéciededisfunçãonasconexõesdessecircuitooumesmoalgoqueleveàdesregulaçãodosneurotransmissoresnecessários.Nãotemoscerteza”,respondeu.“Masestáclaroqueocórtexpré-frontaléimportanteparaocontroleinibitórioquandosetratadecomportamentosexualcompulsivo.”

Negócioarriscado

Alémdeprocessararecompensa,osistemalímbicomesocorticaltemumaparticipaçãonaavaliaçãoderiscos.Amaior parte dos estudos que consideram o amor ou o sexo como um vício examina a parterelativa à recompensadessemodelo.Mas e quanto ao risco?Haveria algumamudançanesse sistema,talvez na sinalização de dopamina no circuito, que alterasse a capacidade de uma pessoa avaliar osriscosenvolvidosemumcomportamentoparticular?Éoqueparece.

Qualquerneurotransmissorpode terumarsenalde tiposde receptorpotenciais.Adopaminanãoéexceção. Os receptores do subtipo D2 e D1 foram associados respectivamente à formação e àmanutençãoderelaçõesmonogâmicasemarganazes-do-campomachos.Noentanto,eles foramtambémassociados à adição. Em estudos com ratos, a estimulação do receptor D2, o mesmo associado àformaçãoderelaçõesmonogâmicas,provocourecaídasemanimaisadictos.AestimulaçãodoreceptorD1,poroutrolado,inibiaessescomportamentosdebuscadecocaína.D2estáassociadoàconexãocomoutro animal ou à busca da euforia produzida pela droga, a busca de algo para satisfazer o próprioanseio,porassimdizer.D1estáligadoàrecusapelomachodequalquerfêmeaquenãosejasuaparceiranovínculomonogâmico,bemcomoàrecusadacocaína.Aquitalvezoanimalestejasatisfeitoenãotenhanenhumanecessidadedeprocurarumestímuloexterior,sejaeleamoroudroga.Emboraaindahajamuitotrabalho a fazer nessa área, é difícil ignorar as superposições. Tomados em conjunto, esses estudoscorroboramaideiadequeasdrogasassumemocontroledossistemasnaturaisdeligaçãodocérebroquelevamàadição.11

Umoutro tipo de receptor de dopamina,DRD4, tambémé importante quando se trata de negóciosarriscados.DRD4foiassociadonãosóaumavariedadedecomportamentosdebuscadesensações,mastambémàadição.UmpolimorfismoparticulardogenedeDRD4chamadoDRD47R+,denotandoseteoumais repetiçõesdessavariantenocódigogenético, éum fator importantenoestudodoalcoolismo,docomportamento impulsivo,doTDAHedaanorexianervosa.Foi tambémassociadoaocomportamento

sexualarriscado.Evidentemente, há muita variação no comportamento sexual. Algumas pessoas querem transar em

todasasoportunidades,outraspodemfazersexoounão.Algunsindivíduosapreciamanovidadeegrandevariedadedeparceiros,outrossósepermitemfazersexonocontextodeumarelaçãodecompromisso.Dadaasuaassociaçãocomcomportamentosmaisarriscados,JustinGarciaperguntou-sesepartedessadiversidadepoderiaserexplicadapelogenedeDRD4.Garcia,umbiólogoevolucionáriodoLaboratoryofEvolutionaryAnthropologyandHealthdaUniversidadeBinghamton,estudaoamoreocomportamentosexual.“Essegeneé importantedeumpontodevistaevolucionário”,afirmouele.“Provavelmente foiselecionadohá40ou50milanos,quandoossereshumanoscomeçaramadeixaraÁfricaeamigrarparaoutras partes domundo.Éumgeneque está envolvidona buscade novidade, numa tendência geral abuscarsensações.Eacredita-sequeeledeuanossosancestraiso tipocertodemotivaçãoparadeixaraquelevaleparatráseveroquehaviadooutroladodomorro.”

Estaria ele envolvido também com motivações relacionadas a atravessar morros sexuais? Paraverificar,Garciaecolegasrecrutaram181estudantes(118mulherese63homens)paraparticipardeumestudo.Osparticipantes foramsolicitadosapreencherumextensoquestionárioconfidencial sobre suaexperiência sexual, preferências e comportamentos, bem como passaram pormedições completas queexaminavam a dependência de nicotina e comportamentos impulsivos. Os participantes tambémforneciamumaamostradeDNAporbochecho,istoé,bochechavamdezmilímetrosdeantissépticobucaledevolviamolíquidousadoaospesquisadoresparagenotipificação.12

Quando o grupo deGarcia comparou o genótipo dos participantes, considerando em particular sepossuíamavariedade7R+dogeneDRD4(24%daamostratotaltinhaessavariaçãoparticular),comsuahistória sexual, fizeram algumas descobertas interessantes. Primeiro, a presença de 7R+ não tinhanenhuma relação com o número total de parceiros sexuais de uma pessoa; contudo, os que tinham aversão 7R+ do gene apresentavam de fato uma maior taxa de promiscuidade, ou maior número deexperiênciassexuaissemcompromisso,“porumasónoite”–quasevintevezesataxadaquelesquenãopossuíamamesmavariação.Emboranãohouvesseumataxasignificativamentemaiordeinfidelidadenogrupo com 7R+, os que relataram ser infiéis tinham quase duas vezesmais parceiros sexuais fora docasamento.

“Sabíamosqueadopaminaestáenvolvidanamotivaçãosexualporcausadeseupapelnocircuitodeprazer e recompensanocérebro”, explicouGarcia. “Oquemeparece interessante équepessoascomesse tipo de geneDRD4 7R+ não relataram ter um maior impulso sexual ou um número maior deparceiros sexuais. O que variava era o contexto dos parceiros. Eles buscavam um tipo menoscomprometido,maisarriscadodesexo.”

Garcia teveocuidadodeobservarqueesseefeitoéprobabilístico,nãodeterminístico.Istoé,umamaiorproporçãodaspessoascomo7R+émotivadaabuscarcomportamentosarriscadosquandosetratadesexo,masapossedo7R+nãosignificaqueelasofarão.

“Podemosrealmenteatribuiressasdiferençascomportamentaisaumúnicogene?”,perguntei-lhe.“Não, há múltiplos genes envolvidos na motivação do comportamento. E há diferentes fatores

ambientaisquemudarãosuaexpressão”,respondeuGarcia.“Masesseéumgenequepodeexplicarparteda diferença num comportamento que por muito tempo se pensou ser em grande parte culturalmentedefinido.Issonosdizalgumacoisa.Eéimportante.”

Entãoeleéumvício?

HelenFisherlhediriaqueoamornãoéumaemoçãosimples,queeleéumimpulsomotivacionalparaperseguiramaiordasrecompensasdavida:umparceiropreferencial.Comoesseimpulsoestáassociadoaocircuitoderecompensaricoemdopamina,bemcomoaáreascorticaisassociadasaodesejoardente,elasustentaqueeletambémcompartilhacaracterísticascomovício.Váriaslinhasdiferentesdepesquisaneurobiológica corroboraram essa hipótese de maneira sistemática. Quando olho para Kristie, umaviciadaemsexoconfessa,vejoqueamoresexopodemsetornarvíciosporsimesmos.Drogaspodemassumirocontroledosistemanaturaldeprocessamentodarecompensaedorisco,masépossívelqueamoresexotambémsejamobjetodeabuso.Oquehánosadictos–algumtipodepredisposiçãogenética,danosnocircuitoderecompensaounosistemadedopamina–queresultanumvícionãorelacionadoaumasubstância?Osneurocientistasnãotêmumarespostaclaraparaisso.

Também é importante observar que cada relação que temos com outra pessoa é qualitativamentediferente – com frequênciamuito diferente. Tive parceiros que eu comia, respirava e dormia – nãoconseguiamefartardeles,apesardofatodequenemsemprecombinávamos.Quandonosseparávamos,eu tinha a sensação de que alguém havia morrido. Ansiava por eles e os pranteava. Essesrelacionamentoserammuitoparecidoscomoqueeuimaginavaqueseriaumvício.Damesmamaneira,também estive envolvida com homens que eram companhias bastante agradáveis,mas não exatamentefaziam meu mundo girar. Suponho que você pode dizer o mesmo. Cada relação é diferente. Essasvariações suscitam uma boa pergunta: o amor e o sexo viciam sempre? Ou certos parceiros, os quetrazemconsigoocoquetelperfeitodequímicainternaeexterna,proporcionamumestadomaisviciante?Intuitivamente,estasegundaopçãoparecemaisexata.

IndagueiaFishersobreisso:“Possorompercomalguémqueameiumdiasemsequerolharparatrás.Outros partem o meu coração. Há alguma hipótese sobre onde reside a diferença, como diferentesrelaçõespodemafetarossistemasdedopaminadediferentesmaneiras?”

Ela foi franca em sua resposta: “Ninguém sabe. Algumas pessoas surgem no momento certo,correspondembemaonossoconceitopessoaldeumparceiroidealeficamosloucamenteapaixonados.Outras, por alguma razão, não têm esse poder, e talvez o sistemade dopamina não seja ativado.Masninguémsabe.”

Hámuitasquestõesaindapor responder.Emborapareçaqueoamorusaomesmosubstratoneuralqueaadiçãoemsubstâncias,aindanãosesabeoquenosfazamarumapessoaapaixonadamenteeoutracomcalmaeserenidade,quemudançasocorremnocérebroparacausarumafastamento,oumesmodeque modo o sistema de dopamina poderia ser regulado em cada caso. Mas aqueles de nós queexperimentam um amor tão irresistível (e destrutivo) como heroína sintética sabem que todas aquelascanções de amor que falam de vício têm razão,mesmo que a neurociência ainda não tenha fornecidotodososdetalhes.

11.Suamentetraidora

DURANTE SÉCULOS, filósofos, teólogos, antropólogos, físicos e esposas entediadas no mundo todorefletiramsobreanaturezadamonogamia.Serianaturaloacasalamentocomumasópessoanocursodeumaexistência?Se for, entãoporque tantaspessoas saemde suas relaçõesmonogâmicas, “pulando acerca”?

Asestatísticassobreinfidelidadevariam.FaçaumabuscapeloGoogleeencontraráamplavariaçãode números. A literatura científica apresenta igual variabilidade. Segundo Janis Abrahms Spring eMichaelSpring,autoresdeAftertheAffair:HealingthePainandRebuildingTrustWhenaPartnerHasBeenUnfaithful,fontemuitocitadaemartigosderevistaspopulares,ainfidelidadeafeta1emcada2,7casaisnosEstadosUnidos:issocorrespondea37%doscasais.1Segundooutrassondagensbaseadasemdeclaraçõespessoais,22%doshomense14%dasmulheresentregam-seaatividadessexuaisforadeseucasamento. Muitos pesquisadores estimam que cerca de 25% de todos os casais casados ou dosindivíduosemrelaçõesdecompromissotraem.Paraosobjetivosdestecapítulo,vamosapenasmanterascoisassimpleseficarcomos22eos14%.Comoessasenquetessãobaseadasemdeclaraçõespessoais,muitos pesquisadores supõem em geral que os números são significativamente mais altos; afinal, emmuitasculturasatraiçãocontinuasendovistacommuitomausolhos.E,setodosfossemtãofiéisquantosedeclaram,aincidênciadedoençassexualmentetransmissíveis(paranãomencionarodivórcio)seriamuitomaisbaixa.

Quando perguntei a Helen Fisher sobre a prevalência damonogamia (ou sua ausência, por assimdizer), elame disse: “Não há uma cultura sequer na terra em que as pessoas não traiam. Estudei 42culturas diferentes em todo o globo, e isso pode ser encontrado em absolutamente todas.” A questãopermanece.Umavezquetantasdessasmesmasculturasatribuemumaltovaloràmonogamia,porqueainfidelidadeétãodifundida?

Tenhocertezadequeessaéumaperguntaquetodasnósfizemosanósmesmosemummomentoououtro,emgeralenquantolançamosolharesdeesguelhaparaoshomens.Talvezissotenhaalgoavercomtodasaquelasestatísticasquesugeremqueoshomenstraemcommaisfrequência,mas,quandootópicoda infidelidadevemàbaila,parecequesupomosdemaneiraautomáticaqueesseéprincipalmenteumpassatempomasculino.Épossívelqueamonogamianãosejaumaopçãoviávelporhaveralgumacoisanocérebromasculinoquepredispõeoshomensatrair?Estaporcertonãoéumaideianova.

Umconhecidomeu–vouchamá-lodeRoger–acreditaqueéseuimperativobiológicoconseguiromaiornúmerodemulheresquepuder.Elelhedirásempestanejarqueama–não,venera–suaesposa,comquemse casouhádez anos.Naverdade, nãopoderiaviver semela.Apesardisso, não consegueresistiraocantodeuma“estranhazinha”(comoelese refereaosexocasualcomestranhas)devezemquando.OuvindoRogerfalar,emgeraldepoisdealgunsdrinques,vocêpoderiapensarqueelelevaumanovamulherparaacamaacadadia.Nãoéoqueacontece–afinal,eletemumamulheraquemprecisamanterfeliz.Algumasvezesacadaano,Rogerusaviagensatrabalhoousaídasànoitecomamigosparasatisfazerseudesejoporessa“estranha”.

Pergunte a um homemqualquer que traiu a esposa por que o fez e talvez a resposta seja que suamulher não quer fazer sexo sempre que ele deseja ou que lhe faz falta um poucomais de variedadesexual.Rogerdizquenenhumadessasdesculpasseaplicaàsuaprópriasituação.Eleeamulhertêmuma

vidasexualativa.Nasuaopinião,aculpaporsuainfidelidadeédosseusgenes;comomacho,aemoçãodacaçada–odesejodeperseguir e capturarumapresa sexualocasionalmente– é simplesmenteumapartedesuacomposiçãobiológicaqueelenãopodenegar.

Algunsdadosoriundosdocampodabiologiaevolucionáriapodemdaralgumcréditoàsuahipótese,mas um exame neurocientífico das vidas amorosas de carinhosos arganazes-do-campo – e daquelasdelicadassubstânciasneuroquímicas,aoxitocinaeavasopressina–nosdizquehámuitacoisaemjogoalémdameraevoluçãoquandosetratadepermanecerfiel.

Aperspectivaevolucionária

Vamos falar de números. Após a maturidade sexual, o macho humano comum produz cerca de 200milhões de espermatozoides por ejaculação. O número pode chegar a 800 milhões se ele tiverpermanecido inativopor algum tempo.Nãohá tampouco alguma regra do tipo “sabendousar, nãovaifaltar” em vigor aqui. Os homens podem ejacular tanto quanto queiram, e seu corpo continuarásimplesmenteproduzindomaisespermatozoides.

As mulheres nascem com todos os óvulos que terão. Se supusermos que uma mulher começa amenstruar por volta dos catorze anos e libera, emmédia, umóvulo pormês até entrar namenopausa,estamosdiantedeumcálculoaproximadodedozeóvulosporanodurante31anosde fertilidade. Issocorrespondea372óvulosnumaexistência.

Bilhõesebilhõesdeespermatozoidespodemserejaculadosnumúnicomês.Cercadequatrocentosóvulossãoliberadosnocursodeumaexistência.Éumadiscrepânciabastantegrande.

Uma vez que os biólogos evolucionários afirmam que no fundo somos completa e absolutamenteescravizadospornossosgenes,os sereshumanos teriamsidoessencialmenteprogramadospara certoscomportamentos,demodoaajudarapropagaraespécie.Oquequeremnossosgenes?Sertransmitidosànossaprole.Esqueçaavida,aliberdadeeaprocuradafelicidade:osgenesbuscamaprocriação;elesquerem apenas reproduzir outras linhagens ancestrais. Alguns cientistas acreditam que os homens,possuidores desse arsenal inesgotável de espermatozoides, foram evolucionariamente selecionadosduranteosúltimos150milanosparaagirexatamentecomoaproverbialabelhadoreideSiãonomusicalOreieeu,fertilizandoomaiornúmerodefloresemqueconseguiapousar.Parateramelhorchancededifundirseusgenespelomundo,évantajosoparaelesespalharsuasementeeengravidaromaiornúmerodemulherespossível.

Do outro lado da moeda evolucionária dos gêneros, as mulheres são mais bem-servidas ao serseletivas em relação a seus parceiros sexuais. Afinal, há uma disputa pelos óvulos; uma moça nãodeveria desperdiçar um deles numa má aposta. E, o que é mais importante, uma mulher encara umcompromissosérioseumdaquelesóvulosforfertilizado:novemesesdegravidez,acrescidosdeváriosanosdecriaçãodofilho.Ébenéficoparaela(eseusgenes)nãoseapressareencontrarumparceirocomgenes excelentes, bem como os recursos e a inclinação para ajudá-la a criar um filho. “Como umprincípio básico, isto é até certo ponto indiscutível”, disse Marlene Zuk, professora de biologia daUniversidadedaCalifórniaemRiversideeautoradeSexualSelections:WhatWeCanandCan’tLearnAbout Sex fromAnimals.2 “Ele se aplica de esquilos a libélulas, e vemos, como regra geral, que osmachostêmmaiorprobabilidadedesebeneficiardapossedemúltiplasparceirassexuais,aopassoqueasfêmeasnão.”

Tenho certeza de que Roger gostaria muito que as coisas fossem claras assim: os homenssimplesmentetêmgrandequantidadedeespermatozoidesqueprecisamespalharpelaterraeporissovão

trair–não,têmnecessidadedetrair.Antesquealgumleitordosexomasculinotenteusarestalinhaderaciocínio para explicar o que aconteceumês passado numa viagem de negócios, Zuk adverte que ocomportamento humano não é tão simples. As libélulas têm alguns neurônios para estimular essecomportamento.Osesquilostêmumpoucomaisacontecendoláemcima,masestãoporcertolongedeserosmamíferosmaiscomplexosdoreinoanimal.RogerpodenãoserumcandidatoaoPrêmioNobel,maseletambémnãoéumescravoestritodeseusgenes.Hámuitomaisacontecendoaqui.

Sabe-sequeogêneromaisfiel,apesardavantagemevolucionáriadeserseletivoquandosetratadeparceiros sexuais, também “pula a cerca” em número considerável.Aquela estatística segundo a qual14% das mulheres são infiéis? Ela não é de todo desprezível. (Lembre-se, esses 14% consistemunicamenteemmulheresdispostasaadmitirquetraem–onúmerorealésemdúvidamaior.)Setivessemdesermais seletivasaoescolher seusparceirossexuaisem razãodaescassezdeóvulos, asmulheresdeveriam trair muito menos que os homens. Se elas já têm uma boa aposta em casa, trair seriacompletamente contraproducente de uma perspectiva evolucionária. Ao que parece, a infidelidadeabrangemaisqueomeroimperativoevolucionário.

Alémdaseleçãonatural,oquemaispoderiaserincluídonodebatesobreainfidelidade?Acontecequeos sereshumanos têmestruturasneurobiológicascomplexasqueestãonabasedecomportamentosrelacionadosaoamorromântico,aoafetoe,éclaro,aosexo.

Océrebrotraidor

Lembra-se daqueles três sistemas cerebrais distintos encontrados nos estudos de neuroimagem?HelenFisherpostulaquehátrêssistemasseparadosparasexo,amorromânticoeafeto.Essessistemasativammuitasdasmesmasregiõescerebrais,inclusiveáreasfundamentaisnosnúcleosdabaseenolobofrontal.É aquele velho caleidoscópio de novo: as mesmas partes, padrões diferentes. E esse caleidoscópiosignificaqueépossívelterafetoporumparceiroesentir-seaomesmotemposexualmenteatraído,ouatéromanticamenteapaixonadoporoutro.

“O que você sente quando está loucamente apaixonado é diferente do que sente depois de sexocasual”, disse-meFisher.Esses sistemasusam redes neuroquímicas distintas, resultando emdiferentesestados emocionais e comportamentos. “Fatalmente, no entanto, ocorre alguma interação entre essasdiferentesáreasdocérebro.Emcertosentido,océrebroémuitobem-construídotantoparaamonogamiaquantoparaatraição.”

Ecomo.Ocórtexfrontaldesempenhaprovavelmenteumgrandepapelnafidelidade.Emboratodososmamíferostenhamcérebroanterior,olobofrontalhumanoéomaioremaiscomplexo.AlémdoDNA,éele que nos diferencia de nossos primos primatas. O lobo frontal é a sede do que os neurocientistaschamam de “função executiva” – o lugar em que ocorrem o planejamento, a tomada de decisão, ametacognição e outros processamentos e comportamentos cognitivos mais elevados – e também estáimplicadoemsistemasdejuízosmoraisedecrençareligiosa.Considerandoofatodequeeleestáligadoaoscircuitosdosnúcleosdabase (emuitasvezes é ativadoemestudosdeneuroimagemcom foconoamor) e contémosneurôniosmais sensíveis àdopaminade todoo cérebro, tenderíamosapensarquetambémtemopoderde influenciarse traímosounão.Elecertamente temaconfiguraçãocertaparasecandidatar ao governo dos comportamentos monogâmicos, com o lobo frontal processando sinaisprovenientesdossistemasdoamorromânticoedoimpulsosexualnosnúcleosdabaseedepoisagindode uma maneira inibitória quando certos comportamentos tiverem o potencial de estorvar afetosduradouros.

Há também evidências de que danos nessa área podem mudar relações sociais. Em 1848, umtrabalhadorferroviáriochamadoPhineasGagesofreuumagravelesãodolobofrontalesquerdo.Numaexplosãoquedeuerrado,foiarremessadaumavarademetalquepenetrounoseugloboocularesaiupelotopodesuacabeça.Alesãofoitãoextensaqueasobrevivênciadohomemdeixoumuitagentesurpresa.Mais chocante, contudo, foram asmudanças que ela provocou em sua personalidade.Antes da lesão,Gage era considerado um sujeito alegre e trabalhador. Depois do acidente, seumédico, JohnMartynHarlow,escreveuoseguinteaseurespeito:

Ele é inconstante, irreverente, entregando-seporvezes à linguagem indecorosamaisvulgar (oquenão era seu costume anteriormente),manifestandomuito pouca deferência por seus companheiros,impaciente com restrições ou conselhos quando conflitam com seus desejos, por vezes pertinaz eobstinado,nãoobstante caprichoso evacilante, traçandomuitosplanospara futurasoperaçõesquesão sucessivamente abandonados, assim que formulados, em troca de outros que parecem maisviáveis.3

Corriatambémoboatodequeessesujeitoíntegro,decente,tornou-seumgrandemulherengodepoisdoacidente.Dadooestadodaciêncianaépoca–lembre-se,afrenologiaeraaciênciadocérebroemvigor–,porém,amaiorpartedasevidênciassobreGageéanedotalenãomuitodignadecrédito.

Clínicosdehojepodemlhedizerquelesõesnolobofrontaldocérebroestãoassociadasadisfunçãosexual, maior impulso sexual e supostos comportamentos sexuais aberrantes. E lembre-se de que olaboratóriodeLiqueCoolenassocioudanosnolobofrontalacomportamentostípicosdovícioemsexo.Masoquesabemossobreopapeldolobofrontalnãodanificadonoamorenocomportamentosexual?

SegundoLucyBrown,colaboradora frequentedeFishernoAlbertEinsteinCollegeofMedicine,ocórtexfrontaltrabalhacomaATV,opálidoventraleonúcleoacumbensnacomplexadançadoamoredoafeto. É difícil destrinchá-los e dizer de maneira conclusiva qual área é responsável pelo quê. Oprovável é que essas áreas cerebrais trabalhem juntas, mas desempenhem funções ligeiramentediferentes. “O lobo frontal precisa do apoio do tronco cerebral.Áreas importantes para a tomada dedecisãosãoalimentadaspordopaminaliberadapelaATV,easduasáreassecomunicamparaafrenteeparatrás”,disseBrown.“Quandovocêestáfalandosobreesseníveldecomplexidade,nuncasetratadeapenasumapartedocérebro.”

NãopossodeixardepensaremCasanova,aquelepobremacacoRhesussexualmenteinsatisfeitoqueobserveiaovisitaraestaçãodecampodoYerkesNationalPrimateResearchCenter.MesmonaculturanãomonogâmicadosRhesus,queodeixavalivreparaamarcomobementendesse,eleusavaaqueleseucérebroanteriorparaavaliarumasituaçãosocialpotencialmentevolátileevitartentações.Sabiaoquepoderiaperderseparticipassedosexofácil:seustatusdentrodogrupo.Atéummacacocompreendeque,apesardeamplaoportunidadeparasexo,eramaisdeseuinteresseafastar-se.Seummacacopodeusaressetipodetomadadedecisãoejulgamento,tudoindicaqueumserhumanocomumtambémpoderia.

Issolevoucientistasaaprofundarumpoucomaisainvestigação–aexaminarasviasmoleculares,ouas interações de substâncias neuroquímicas, enzimas, proteínas e receptores no nível dos neurônios,nessas regiões cerebrais.Há algo namaneira como dopamina, vasopressina e oxitocina atuam nessaspartesdocérebroquepoderialevarumapessoaasermaisoumenosmonogâmica?Comaajudadenossoamigoarganaz-do-campo,cientistasestãoinvestigandoessaquestão.

Arganazestraidores

Como já discutimos nos capítulos anteriores, os núcleos da base fornecem a plataforma para amonogamia em arganazes-do-campo. Receptores de vasopressina e oxitocina ajudam esses animais aaprenderapreferirosexocomumparceirofixoaosexocomumestranho.Quandoogenequeexpressaessesreceptoresnãoatuaemsuaplenacapacidade,comonosarganazesmontanhesesenosarganazes-do-prado,hámaisinteressenaconquistadoqueemqualquertipoderelaçãodecompromisso.Seadiferençafor simplesmente a existência desses receptores, encontrar uma maneira de elevá-los em arganazesnaturalmentepromíscuosdeveriaajudaressesanimaisasetornarmaismonógamos.

Quandopesquisadoresno laboratóriodeLarryYoungnoYerkesNationalPrimateResearchCenteraumentaramadensidadedereceptoresdevasopressinanopálidoventraldearganazes-do-pradomachos,seu comportamento apresentou uma mudança impressionante. Subitamente, esses roedores antesnamoradores desenvolveram fortes preferências por uma fêmea singular – qualquer umaque estivessemaisàmão.Essafoiumamudançaimportanteparaumaespécietãosolitária.

De maneira semelhante, quando Young e seus colegas bloquearam a expressão de receptores devasopressinaemnossosfiéisarganazes-do-campomachos,finalmenteconseguiramtirarseusdom-juansinteriores do armário. Não mais capazes de se associar a uma fêmea em particular com aquelaesmagadoraondadedopamina,elessetornarampromíscuosesempreferências.Paraarganazesmachos,aomenos,parecequeumúnicogene,quedeterminaadensidadedesses receptoresdeoxitocina,podesubjazer a comportamentosmonogâmicos.4 Será possível que umgene semelhante governe osmesmostiposdecomportamentosemsereshumanos?

Nuncaétãosimplesassim,nãoé?

Lembra-sedoestudofeitoporHasseWalumarespeitodainfluênciadogeneAVPR1Anasatisfaçãonorelacionamento?QuandoeleeseuscolegasnoInstitutoKarolinskaexaminaramoDNAdecentenasdeindivíduosquehaviamestadoemrelaçõesdecompromissoporpelomenoscincoanos,descobriramqueaqueles que possuíam uma variante de um gene de receptores da vasopressina, AVPR1A, eram maispropensosasesentir infelizesemseurelacionamento.5Entreesseestudoeo trabalhodeYoungsobrevasopressina,muitos supuseramqueAVPR1A teria também algo a dizer sobre a fidelidade sexual.Asmanchetes que anunciaram os resultados obtidos porWalum foram de “Por que os homens traem”6 a“Infidelidade:Tudoestánosgenes”.7OpressupostoeraqueAVPR1Adeviasero responsávelcasoumsujeitoseextraviassedeumarelaçãodecompromisso.Orelatodosresultadospelamídiafoimaisqueuma mera supersimplificação do estudo de Walum – foi errado. Walum não tentou correlacionarinfidelidade com AVPR1A. E nem poderia: os questionários não perguntavam diretamente aosparticipantesseeleseraminfiéis.

AntesquevocêpeçaaomédicoparatestarosanguedoseuparceiroafimdeidentificaravarianteAVPR1A como uma espécie de teste pré-nupcial, examine a questão mais atentamente. Apesar dosresultadosmuito interessantes que encontrou,Walum seria o primeiro a dizer que um casamento felizrequermuitomaisdoqueumsimplesgene.Elesugerequepoderiahavermuitasoutrasrazõesparaqueessesrelacionamentosestivessemcomproblemas.Primeiro,háumoutroefeitoobservadoemarganazesque tiveram seus sistemas de vasopressina alterados: agressividade e ansiedade. Talvez osrelacionamentosexaminadosnoestudodeWalumfossemmenosfelizesemdecorrênciadeumasituação

de violência doméstica ou algum outro tipo de problema na saúdemental. Segundo ponto, alguns dosparticipantestinhamfilhos.Nós,mãesepaisrecentes,conhecemosaspressõesadicionaisquecriançaspequenaspodemexercersobreoestadodeumarelação,quevãodesdediferençasnafilosofiadacriaçãodefilhosatéadivisãoderesponsabilidades.Issosemdúvidadesempenhouumpapelnotérminodomeucasamento. Essa variável não foi examinada pelo grupo deWalum. Em terceiro lugar, não podemosesquecer as mulheres nessa equação. Como se diz, quando um não quer, dois não brigam. Emborasejamosmaispropensosaapontarodedoparaoshomensquandosetratadeinfidelidade,ofatode14%dasmulheresdeclararemtersexoforadeseucasamentonãopodeserignorado.Éinteiramentepossívelque parte da angústia no relacionamento observada no estudo de Walum tivesse mais a ver cominfidelidade feminina do que com uma variante do DNA exclusivamente masculina. O grupo de fatoexaminouvariaçõesnogeneAVPR1A emmulheres,masnãoencontrounenhumelo significativocomasatisfação no relacionamento. O efeito foi encontrado apenas em homens. Sem mais dados, é difícilapontarumacausaprecisaparaainteraçãoobservada.

Dopaminaefidelidade

AVPR1A não é o único gene que foi implicado na fidelidade e na satisfação com o relacionamento.Lembre-se de que Justin Garcia descobriu que a variação 7R+ do gene DRD4, relacionado com ocomportamentoderiscoeovício,estavaassociadaaumnúmeromaiordeparceirossexuaisforadeumarelaçãodecompromisso.Econvémrepetirqueseuestudonãoencontrounenhumadiferençasignificativaentrehomensemulheresnotocanteaesseefeito.8

Mais umavez,Garcia enfatiza que umavariaçãogenética particular não significa que umapessoaacabará traindo seu parceiro; indivíduos que apresentam a variação 7R+ no gene dos receptores dedopaminapodemsersimplesmentemaispropensosasaltardeaviões,dirigircarrosvelozesoucomercomidasétnicasextravagantes.“Umadasprincipaisrazõesqueaspessoasdãoparanãotrairéquenãoqueremferirapessoaqueamam.Essapodeserumarazãosuficienteparaqueaspessoasnãoofaçam”,afirmouGarcia.“Somoscriaturascognitivas.Reconhecemosquenossasações têmconsequências.Nãoimportaqual sejanossa constituiçãogenéticaparticular, podemosusar nossos lobos frontais e decidirnãotrair.”

Éimportanteobservarqueaquelesbiólogosevolucionários tinhamrazãoempelomenosumponto:nossosgenes,emparticularaquelesqueinfluenciamossistemasdedopaminaevasopressina,têmalgumacoisa a dizer sobrenossos afetos e talvez sobrenossa fidelidade.Não se trata, contudo, deumefeitodeterminístico.Omero fato de você ter uma pequena esquisitice no código genético envolvendo umadessassubstânciasneuroquímicasnãosignificaqueestádestinadoatrair.Ascoisasnãosãotãosimples.Além disso, há uma variedade de outras substâncias químicas e vias neurais, algumas ainda por serdescobertas,quepodemtambémdesempenharumpapelnofatodesairmosdostrilhosounão.

Comodefinimosmonogamia?

Para tornar as coisas mais complicadas, nossos modelos de monogamia, os pequenos arganazes-do-campo,estão longede serpuroscomoaneve.Essesanimaispodemser socialmentemonógamos,mas

algunsdeles, tantomachosquanto fêmeas,nãodeixamdedar suasvoltinhas.UmestudodeAlexanderOphir, hoje na Universidade Estadual de Oklahoma, descobriu que, embora os arganazes-do-campopermanecessemcomseuparceiro fixo, nem todosos seus filhos eramde fatogeneticamente ligados aambosospais.9

O grupo de Ophir analisou 26 ninhadas de filhotes de arganazes-do-campo para determinar apaternidade.Aproximadamente80%dasninhadashaviamsidogeradaspeloparceiromachodamãe;asoutras20%nãoeramgeneticamenterelacionadascomele.Vocêadivinhou:aversãodosarganazes-do-campode“oleiteiroentrousorrateiramentenoninhoenquantoomaridoestavaausente”.Eessesujeitotinhaelepróprio,muitasvezes,umvínculomonogâmicocomoutrafêmea.Quandose tratadeamordearganazes, há uma grande diferença entremonogamia social e sexual, para nãomencionar a diferençaentreo laboratórioeoambientenaturaldeumanimal.Dá-seomesmocomos sereshumanos;nãohánenhumaevidênciabiológicaparasugerirquetodoserhumano,sejaqualforadensidadedereceptoresdevasopressinano seunúcleoacumbensouavariaçãoparticularque tenhaemDRD4, é naturalmentemonógamo. Podemos ser cultural e socialmente estimulados a ser fiéis,mas não está claro o grau dedomínioqueissopodetersobrenossanaturezabiológica.Essefatoengraçado,infelizmente,noslevadevoltaaoargumentodeRoger,dequetrairpodesersimplesmenteumimpulsoinstintivofascinantedemaisparaserignorado.

Os fabricantes de produtos farmacológicos estão depositando muita confiança em antagonistas dereceptoresdevasopressina;defato,muitosestão trabalhandocomafinconumadrogada“monogamia”baseadanapesquisadeYoungcomarganazes-do-campo.Antesquevocêpeçaumareceitaaomédico(ouinvistaemalgunsmilharesdeaçõesdaBigPharma),lembre-sedequegenesnãooperamnumvácuo.Emqualquerrelaçãomonogâmicahátodotipodevariáveisambientaisrelacionadascomafelicidade:comoascriançasestãosesaindonaescola,quantodinheirovocêstêmecomoogastam,quantoosparentesseintrometemna vida do casal e a frequência comque vocês fazem sexo. Isso cobremais oumenos osproblemas sobreosquaismeuex-maridoeeudiscutíamosnumasemanahabitual.Oambiente tambémdesempenhaumgrandepapelnomodocomonossosgenessãoexpressos,inclusiveoAVPR1A.

“Sequiserexplicartodaavariaçãonasrelaçõesmonogâmicashumanas,vocêprecisaexaminarmaisdoqueumúnicogene”, disseWalum. “Pensoqueháumbocadodebiologia envolvida,masgenes sópodemexplicar umpouquinho esses comportamentos. São diferentes fatores trabalhando juntos – seusgenes, suacultura, sua idade, seuparceiro–quecriamoverdadeiro impacto.Nãopodemosdizerqueumadessascoisasémaisimportantequeoutra.”

Homensmonógamospedemorientação

Enquantotrabalhavacomseuex-orientador,StevePhelps,Ophirtambémdescobriuqueopálidoventralnãoéaúnicaáreadocérebroligadaàmonogamia.Ocinguladoposterior,umaregiãodocérebrocríticaparaoprocessamentodainformaçãoespacial, tambémestáenvolvido.Emboraosarganazes-do-camposejam monógamos, uma pequena porcentagem da espécie na natureza nunca forma um vínculomonogâmico. Esses arganazes simplesmente vagam de um lugar para outro, acasalandooportunisticamente com uma fêmea quando podem. Quando estudaram os cérebros dos “residentes”,machosmonógamosqueformamumvínculo,edos“errantes”,aquelesnômadesenamoradoresnaturais,OphirePhelpsnãoencontraramnenhumavariaçãosignificativanonúmerodereceptoresdevasopressinano pálido ventral. Encontraram, no entanto, diferenças significativas em seu número no cinguladoposterior,bemcomononúmerodereceptoresdeoxitocinaempartesdohipocampo,umaáreaenvolvida

namemória.10Essesresultadososlevaramaconcluirqueaorientaçãonoespaçoinfluenciaastáticasdeacasalamento– e, logo, amonogamia.Para procriar com sucessona natureza, os arganazes-do-campoprecisam processar não só informação social sobre outros animais,mas também informação espacialreferenteàsualocalização.Teracapacidadedereconhecersuaparceiranãolheadiantamuitosevocênãotiveracapacidadedeencontrá-la.Édifícilcontestaressalógica.Machoscommuitosreceptoresdevasopressinanocinguladoposteriorsãomaispropensosaserresidentes.Poucasligaçõesnessaáreadocérebrotendemaproduzirumerrante.SegundoOphir,essescircuitoscomplementaressãocríticosparaqueumanimalplanejemelhorsuaestratégiadeacasalamento,eelestambémsãotributáriosdoscircuitosderecompensa.Alémdisso,curiosamente,parecequeonúmerodereceptoresnocinguladoposteriortemmaiorprobabilidadedesertransmitidoparaaproledoqueaquelesnopálidoventral,contribuindoparadeterminarsefuturasgeraçõessetornarãoelasprópriasresidentesouerrantes.11

“Entãoumerranteésempreumerrante?”,pergunteiaOphirdiantedopôsterquedemonstravaessesresultadosnumaconferência.“Ouumdiaencontrarásuacompanheiraidealeseacomodará?”

Eleriu.“Aindanãofizemosesseexperimento.Ahistórianaturalsugerequeosarganazescomeçamsolteiros, perambulam um pouco, encontram aquele parceiro e se acomodam. Se o parceiromorre, amaioria permanecerá solteira, mas ainda acasalará com múltiplas fêmeas. Se há algum tipo dereorganizaçãodocérebroemcadaumdessespassos,nãosei.”

Trabalhoconjunto

Estáclaroquenenhumaáreacerebralenenhumasubstânciaquímicaémaisimportantequeoutras.E,comtodaessaconversasobrevasopressinaedopamina,talvezvocêtenhaesquecidoqueaoxitocinatambémdesempenhaumpapelfundamentalnaformaçãodevínculosmonogâmicosduradouros.Ela tambémnãoteriaalgoadizersobrefidelidade?Algunspropuseramahipótesedeque,emboraosdoissexostenhamambasassubstânciasquímicas,aoxitocinatemmaiorinfluênciasobreasfêmeaseavasopressinasobreosmachos.Para terumacompreensãodafidelidadefeminina,bastaria identificaroequivalenteparaaoxitocinadogeneAVPR1A.Atéhojeosestudosnãocorroboraramessahipótese.Quandocomparouosefeitosdaoxitocinaedavasopressinana formaçãodepreferênciaporparceirosecontato social,SueCarter constatou que ambas eram necessárias nos dois sexos. Na verdade, uma vez que as duassubstânciasquímicaspodemseligaraoreceptordaoutra–istoé,aoxitocinapodeseligaraoreceptordavasopressinanoneurônioevice-versa–,épossívelqueasduasseajudemmutuamente.12

“Eu pensava que os dados revelariam que a oxitocina era mais importante nas fêmeas e avasopressina nos machos. Todos nós pensávamos”, disse Carter. “O que verificamos, porém, é queambaseramimportantesnosdoissexos.Noentanto,osmachosproduzemmaisvasopressinaemcertasregiõesimportantesdocérebroassociadasacomportamentosdefensivos.Épossívelqueessenívelmaiselevado de vasopressina ajude a explicar diferenças namaneira como os vínculosmonogâmicos sãoexpressosemmachosefêmeas.”

Asmuitasmaneiras pelas quais a oxitocina e a vasopressina podem interagir na formação de umvínculo – e por extensão na monogamia – ainda não são conhecidas. Mudanças evolucionárias naexpressão de genes podem ser observadas em diferentes características físicas em raças no mundointeiro.Oscientistasestãoapenascomeçandoacompreendercomoasexperiênciasdevida,oumesmoaquelas de quando ainda estamos no útero, podem influenciar nossos comportamentos monogâmicosposteriores.

Umaquestãodeepigenética

KarenBales,aneurobiólogadaUniversidadedaCalifórniaemDavisqueestudaarganazes-do-campoemacacos zogue-zogues, examina diferentes efeitos do desenvolvimento que podem impactar amaneiracomoumanimalformarelaçõessociais.“Aideiaéquealgonoambienteinicialdeumanimal,talvezumestressoroualgumtipodecuidadoparentaldiferencial,podeterumefeitonossistemasdeoxitocinaevasopressinanocérebro”,disseela.“Osquais,porsuavez,desempenhamumpapelnomodocomooanimalformaumvínculomonogâmicomaistardenavida.”Elapropõeahipótesedequeaexposiçãoàoxitocina ou à vasopressina numa idade precoce produz esse efeito epigenético, emque umavariávelambientalmudaomodocomoosgenessãoexpressosnocérebro.Asmulheressãomuitasvezesexpostasapitocina,umaformasintéticadeoxitocina,paraacelerarotrabalhodeparto;portanto,adescobertadeumefeitoepigenéticonosarganazesteriacertamenteimplicaçõessignificativasparaossereshumanos.

OgrupodeBalesinjetouumaúnicadosedeoxitocinanumaninhadadearganazes-do-camponodiaemquenasceram.Dadasasdiferençasnodesenvolvimento, issoequivaleriamaisoumenosaoúltimomêsdegestaçãodeumacriançahumana.Depoisospesquisadoresobservaramosarganazes,bemcomoum grupo de controle, enquanto eles amadureciam. Depois que os animais alcançaram a maturidadesexual,notou-seuminteressanteefeitosexualmentedimórfico,dependendodaquantidadedeoxitocinaaqueofilhotehaviasidoexposto.13“Quandomachosrecebiamaoxitocina,aquelaúnicapequenainjeçãoos ajudava a formar um vínculomonogâmicomais depressa e eles apresentavammaior densidade dereceptoresdevasopressinanopálidoventral”,explicouela.Masamesmadoseemfêmeasnãomudavaaprobabilidade de formarem relações monogâmicas. Na verdade, com uma dose de oxitocinasuficientemente grande, muitas dessas fêmeas pareciam preferir machos estranhos aos pais de seusfilhotes.

Issoimplicaque,afinaldecontas,a infidelidadepodenãoserumimperativobiológicomasculino.Essesefeitosepigenéticos,ascombinaçõescertasdegeneseinfluências,têmoindubitávelpotencialdealterar amaneiracomoos sereshumanosabordamamonogamia, sejaqual foro seugênero. “A ideiacentralaquiéqueestamosencontrandomudançasdelongoprazonocomportamentosocialbaseadasemfatores a que os filhotes estiveram expostos”, afirmou Bales. “As primeiras experiências são muitopoderosas–praticamentequalquercoisaquevocêfizercomumbebêtemopotencialdemudarocérebrodele.”Assim, ainda que as companhias farmacêuticas consigam criar uma droga capaz de aumentar onúmerodereceptoresdevasopressinaquebrotamnoscircuitosderecompensadenossocérebro,émuitoimprovável que essa mesma droga seja capaz de neutralizar todos os outros fatores envolvidos nafidelidade–mesmoqueestivéssemosdispostosaministraressadrogaaindivíduosquandoaindafossembebês.

O laboratóriodeBalesestá indoalémdeexposiçõesa substânciasquímicas.Essespesquisadorestêmtambémexaminadoamanipulaçãodecomportamentos,arranjosdevidaeatéoefeitodediferentestiposderesponsabilidadesparentais.Numestudorecente,elesdescobriramquearganazes-do-campoqueajudavamacriar seus irmãos tinhammais receptoresdevasopressinanaamígdala,que,alémde fazerparte dos circuitos de recompensa, é uma área do cérebro implicada namemória emocional. Assim,ainda que haja apenas um único gene em ação – o que é improvável –, asmais diferentes variáveisambientais podem ter algum efeito sobre a maneira como ele é realmente expresso no cérebro emdesenvolvimento.

Derrubado,masnãonocauteado

EmboraeuusemeucamaradaRogerparailustrarotraidortípico,elenãopodefalarportodosos22%dehomens infiéis (e provavelmente não pelos 14%demulheres que também traem).Dê uma olhada naspessoasquevocêconhece,noslivrosqueleu,nosfilmesqueviu;nãoháduaspessoasinfiéisexatamenteiguais. Amor, lascívia ou simples oportunidade podem estar em ação em qualquer situação dada. Ostraidores podem compartilhar algumas qualidades, uma ou duas peculiaridades; é possível atécompartilharemalgumasdasmesmasrazõesparaseextraviardesuarelaçãodecompromisso.Massuassituaçõesnãosãoidênticas,tampoucoseusgenomasousuasconstituiçõesgenéticas.

Apesar de terem demonstrado que muitos fatores podem influenciar a maneira como AVPR1A éexpresso,oqueosneurocientistasaindanãoconsideraramécomolevaremcontadiferençasindividuais.Comoeudisse,nãohádoistraidoresiguais,dadosseusambienteseseusgenessingulares.Assim,doisindivíduos não expressarão AVPR1A exatamente da mesma maneira. Com tantas variáveis em jogo,diferençasindividuaissãodecisivasparaacompreensãodocomportamentoresultante.

“Ébastantesurpreendente”,comentouLarryYoung.“Vocêolhaumgrupodessesanimais,ealgunstêmníveisaltosdereceptores,algunstêmníveisbaixos,depoiselesapresentamcomportamentosdiferentesdo esperado. Pode ser apenas um efeito pequeno e não um indicador particularmente bom decomportamento.Masestálá.”

Young e uma aluna de pós-graduação, Katie Barrett, estão estudando diferenças individuais noreceptordevasopressina.Usandoumvírus,Barrett“reduz”ogeneafimdeestudarseusefeitossobreosanimais. Diferentemente das técnicas de desligamento, pelas quais os cientistas silenciam um geneparticular, osmétodosde reduçãopermitemqueogene se expresse,masnão em seuplenopotencial.Comprecisão,atécnicapodepermitiraneurocientistascriargruposdeanimaiscomdiferentesvariaçõesde expressão de genes, e depois comparar de quemaneira eles agem com seus companheiros e seusfilhos.

Quando sugeri a Young que isso tornava o estudo desses efeitos ainda mais complicado, eleconcordou pressurosamente. “Isso turva as águas, sem dúvida”, disse. “Mas turva de uma maneirarepresentativadecomoaságuasrealmentesão.”

Elesapenasiniciaramessalinhadepesquisa,eYoungtemocuidadodeobservarque,mesmoquandootrabalhoestiverconcluído,nãohaverárespostasprecisaserápidasparaaquestãodeseumapessoavai ou não vai trair – há simplesmente variáveis demais em jogo. O resultado final desse trabalho,contudo,oferece-nosdefatomuitasinformaçõesinteressantes.

“Mostramos que um único gene e uma variação nesse gene podem ter um impacto sobre algo tãocomplexo como o relacionamento com outras pessoas”, afirmou ele. “Mas esse impacto pode serrelativamentepequenoenãotergrandevaliaparapredizerocomportamento.Eunãoestimularianinguémasairecomprarumtesteparainvestigarogenótipodeumpossívelparceiro,porquenamaiorpartedasvezes ele estará errado.” Depois de uma pausa, ele acrescentou: “Embora o número de erros vá sermenorqueocasual.”

Voltemosentãoaoquenosinteressa

O que podem os nossos cérebros dizer sobre a infidelidade? Será ela decorrente da constituiçãoneurobiológica dos homens?Talvez dasmulheres também? Se você esperava uma resposta simples –

talvez acompanhada por um teste genético ou uma terapia medicamentosa para predizer ou curar ocoraçãoinfiel–,bem,aneurobiologianãopodelheoferecernadaparecidonomomento.Éincertoquepossa fazê-loalgumdia.Defato,pesquisasneurocientíficasconvergentessugeremqueéextremamenteimprovávelquetodososhomenssejaminfiéispornatureza,masépossívelquealgunsdeles,bemcomoalgumas mulheres, tenham variantes genéticas resultantes de exposições ambientais precoces quemudaramseuscérebrosdemaneiraatorná-losmaispropensosasairdalinha.

Historicamente, aponta-se o dedo acusadoramente para os homens quando o assunto é traição. E,considerandoaqueleantigoargumentodo imperativoevolucionário,parecequeaindapensamosnessestermos.Eminglês,háumvelhoditado:“Menstray,womenstay”[Oshomensseextraviam,asmulheresesperam].Mas esse é apenasumpensamento falho.Portanto, se não éumaquestãodegêneronemdeimperativoevolucionário,oqueimpeleumapessoaatrairumparceiropermanente?Oqueseconstataéque ainda temosmuito a aprender, e Zuk diz que o que a ciência nos ensina deve ser aplicado comcautela:“Éfácilolharumserhumanoindividualedizer:‘Ah!Seusgenesolevamafazeraquilo’”,disse-meela.“Quandofalamossobrehomenspoderososquetraemsuasesposas,éfácildemaisdizerque,emtermos evolucionários, isso é exatamente o que homens poderosos fazem e sempre fizeram.Mas nãopassadeumaparódiadomodocomoaevoluçãorealmenteopera.Nenhumindivíduoéescravodeseusgenes.”No entanto, umamelhor compreensão da forma como nossos genes podem sermoldados peloambientepoderáumdianosoferecermuitomaisinformaçõesúteis.

“Aspessoaspensamemgenescomosendodemasiadoabsolutos.Quandosefaladegene‘datraição’,trata-sedeumgenecomoqualqueroutro”,afirmouKimWallen.“Elepodecriarumatendênciaemcertadireção, mas não é um elemento absolutamente decisivo. Ter certa variação no gene da traição nãosignificaquevocêvátrair,assimcomotercertavariaçãonogenequeregulaaalturanãosignificaquevocêseráalto.”Pensesobreisso:mesmoquesuafamíliasejacheiadegigantes,essesgenesdeestaturanãoserãoplenamenteexpressosamenosquevocêtenhao tipocertodedietaeeviteacidentes.Genesnãosãodeterminísticos.

Ainda assim, é inquestionável que nossos genes desempenham de fato um papel no modo comonossoscérebrossedesenvolveme,porsuavez,nomodocomonoscomportamos.Éprovávelqueumamelhorcompreensãodecomoavasopressinaeaoxitocinaoperamseuvodusobrenossoscérebrosnosproporcione ummelhor entendimento dos fundamentos neurobiológicos da monogamia. Não podemosignorar que amaneira como esses genes são expressos tem bastante a ver com nosso ambiente, tantoquandosomoscriançascomomaistarde.

OqueRogerdissesobretudoisto?Depoisquelhefaleisobrealgunsdostrabalhosqueestãosendofeitosnocampodamonogamia,eleadmitiudemaneiraenvergonhadaqueseupaitraírasuamãeantesdeosdoissedivorciarem,eramaisdo tipo“errante”e,poracaso, fora tambémofornecedororiginaldateoriapessoaldoimperativobiológicodopróprioRoger.“Vocêachaqueocomportamentodelepoderter feito alguma coisa com meu cérebro? Com meus genes e com meu, como se chama, sistema devasopressina?”,perguntouele.

“Pode ser”, respondi. “Mas lembre-se, não somos escravos de nossos genes. Não há nadadeterminado na biologia.” Fiquei tentada a lhe dizer que seu comportamento podia também indicarsimplesmenteumagravefaltadediscernimentoquepoderiaserdominadacomumpoucodeautocontrole,masme contive.Apesar disso, está claro que ainda temosmuito a aprender sobre asmaneiras comonossosgenesenossocérebropodeminfluenciarocomportamentoquandosetratademonogamia.Nossasprimeiras experiências moldam a forma como os genes são expressos – o que por sua vez molda odesenvolvimento de nossos cérebros – e influenciam o comportamento. Mesmo que pudéssemosdesemaranhar todas as variáveis e avaliar a contribuição singular de cada uma, é provável que nãoconseguíssemos fazer nenhuma generalização além do que temos agora. Cada indivíduo é diferente.

Provavelmentenuncaseremoscapazesdeexaminarumparceiropotencialesabercomcertezaseeleouelanostrairáumdia.Sónosrestaconfiaremnossoinstintoeesperaromelhor.

12.MinhasaventurascomaEquipeO

HÁDIASEMQUEtenhoaimpressãodequesimplesmentenãoconsigoescapardoorgasmofeminino.Nãoimportaparaondeeuolhe,parecequeapalavra,comumagrandeecintilanteletraO,mepersegueportodaparte.Vejo-anacapadasrevistasfemininaspopulares,nafiladocaixanosupermercado,juntocomsugestõesetruquesparatorná-loincrível.Ouço-oserdiscutidoemdetalhesnasreuniõesdomeuclubedolivroemvezdotítulodenãoficçãoescolhidoparaomês.Elesetornouoassuntopreferido(eúnico)paraumaboaamigaquerecentementecomeçouanamorarumhomemdozeanosmaisnovoqueela.Comorecenteanúnciodequeumacompanhiafarmacêuticaalemãiriasuspenderodesenvolvimentodomuitoesperado“Viagra feminino”após resultados insatisfatóriosem testesclínicos,oorgasmofeminino temfeitoapariçõestantonasmanchetesdosnoticiáriosquantonostalkshowsapresentadostardedanoite.

Nãoimportaqueeunãoestejatendotodosessesorgasmosmúltiplos.Estouatoladanasminúciasdeumdivórcioexaustivo–nãoexatamenteumacoisasexy.Aidaparaacamacomalguémpodeesperaratéqueosadvogadosterminemdeseentender,amenosqueeuinadvertidamentelhesdêmaisalgummotivoparasealvoroçar.Masorestodomundocontinuaatrazeroorgasmoàbailaemtodasasoportunidades.

Desde que o Viagra tornou-se disponível em 1998, o mundo vem clamando por seu equivalentefeminino.Emminhahumildeopinião, sãoosmesmoshomensque estão consumindo aquelas pequenaspílulasazuiscomobalasquedefatogeramtodaessademanda.Dequalquermaneira, tantoosclínicosquanto as companhias farmacêuticas parecemestar ouvindo.Aúltimagrande esperança foi umadrogachamada flibanserina, que age sobre dois diferentes tipos de receptores de serotonina. Ela foioriginalmente estudada por suas propriedades antidepressivas, mas, quando pacientes relataram umaumento de eventos sexuais quando a tomavam, uma raridade entre pessoas que usammedicamentosantidepressivos,aBoehringerIngelheim,responsávelpeloseudesenvolvimento,decidiuqueelapoderiaterfinalidadesmaiselevadascomoumadrogaparaintensificarodesejosexualfeminino.

Segundoestudosdeprevalência–pesquisasqueexaminamafrequênciadedeterminadasdoençasnapopulaçãogeral–,quase10%dasmulheresdemeia-idadeseenquadramnoscritériosdiagnósticosdotranstornododesejosexualhipoativo(TDSH),oelegantenomeclínicoparabaixodesejosexual.EntreoscritériosarroladosnoDSM-IVparaoTDSHestáapresençadealgumsofrimentopelofatodenãoterinteressepelaatividadesexual.OTDSHécomumenteencontradoemmulheresprestesafazera“grandemudançadevida”.ComosucessodoViagraemhomens,drogasparaodesejosexualfemininopareciamcapazesdesuprirummercadoextremamenteinexploradopelascompanhiasfarmacêuticas.Afinal,quemnãoquerfazermaissexo?Pelomenos,éoquesesupõe.

Lamentavelmente,ninguémfoicapazdeencontrarumbomtratamentomedicamentosoparaoTDSH–e não foi por falta de esforço. Tentativas voltadas para uma variedade de hormônios, entre os quaisestradiol e testosterona, bem como uma variedade de outros compostos hormonais emedicamentososvinculadosaummaiordesejosexual,nãoapresentaramosefeitosdesejadosemtestesclínicos.Ojogodepalavras foi intencional.Apesardagrandepublicidadeque cercouos efeitosdo flibanserina (edaquantidadeum tantoobscenadedinheiroderramadaemseudesenvolvimento), aBoehringer IngelheimdecidiususpendersuastentativasderegistraradrogacomoumtratamentoaprovadoparaTSDHdepoisqueelanãopromoveunenhumamelhoranodesejosexualdasmulheresduranteostestes.

Dadooprofundoconhecimentoarespeitodehormônios,deKimWallenperguntei-lheoqueachava

dodesenvolvimentointerrompidodoflibanserina.ElemencionouoMelbourneWomen’sMidlifeHealthProject, um grande estudo longitudinal liderado por Lorraine Dennerstein que acompanhou quasequinhentasmulheresàmedidaqueelasfaziamsuatransiçãoparaamenopausa.Oprojetorealizoutodosostiposdemediçãoquepoderíamosimaginar,inclusiveníveishormonais,detalhessobreamenstruaçãoe uma variedade de diferentes questionários sobre a função sexual. Com um estudo tão vasto, haviaesperança de que Dennerstein e seus colegas fossem capazes de encontrar algum tipo de revólverhormonalfumeganteapontadoparadesejodiminuídonessacoorteparticular.Maselesnãotiveramessasorte.

“Sabequalfoioprincipalfatorque[Dennerstein]encontrouemtermosdesexualidadeemmulheresquehaviampassadodamenopausa?Foiofatodeteremounãoumnovoparceiro.Nãotinhanadaavercom hormônios”, disse-meWallen com um sorrisomatreiro. Em outras palavras, a motivação sexualhumananãoéummeroprodutodehormôniosoudesubstânciasquímicascerebrais.Hámuitomaiscoisasenvolvidas:seustatusderelacionamento,suaidade,suacultura,esimplesmenteapessoacomquemvocêestátransandonaépoca.

Os achados de Dennerstein são reforçados pelos resultados do mais recente National Survey ofSexualHealthandBehavior,umestudoemgrandeescaladecomportamentossexuaisedesaúdesexualnosEstadosUnidosconduzidopeloCenterforSexualHealthPromotiondaUniversidadedeIndiana.Enão apenas emmulheres que estão fazendo a transição para um estado hormonal não reprodutivo. Olevantamentoentrevistouquase6milindivíduosdosexofeminino,comidadesentrecatorzee94anos,sobre comportamentos sexuais e o resultado de seu evento sexual mais recente. As senhoras tiverammuitoadizersobreambasascoisas.

Embora as manchetes que abordaram os resultados do levantamento tenham focalizado oscomportamentossexuaisarriscadosnogrupodosbabyboomers e o fatodemais indivíduos relataremagora experiências com o sexo anal, os pesquisadores encontraram algo que me pareceu muitointeressante.Nãofoiaquestãodequeoshomenssuperestimamofatodesuaparceirasexualtertidoounãoumorgasmodurantearelaçãosexualmaisrecente.Amaioriadasmulheresadmitefingirumavezououtra,eamaioriadoshomensacreditaquenenhumamulher jamaisfingiucomeles.Façaaconta.Nãofiqueisurpreendidanemmesmocomofatodequemulheresquerelataramorgasmoemseuúltimoeventosexual não se limitavam ao intercurso pênis-vagina propriamente dito,mas apreciavam um repertóriomais variado de comportamentos sexuais durante o intercurso sexual.Mais uma obviedade, naminhaopinião. A variedade é o tempero da vida, certo? O que me impressionou foi que os pesquisadoresdescobriram que uma porcentagem maior de mulheres relatou ter tido orgasmo durante seu encontrosexual mais recente quando este foi com alguém com quem não estavam envolvidas. Esqueça ocompromisso.Esqueçaaestabilidade.Esqueçaaforçadeumrelacionamentodelongoprazoemqueoparceiro a conhece pelo avesso. Embora seja difícil extrapolar o significado exato de dados delevantamentos,nestecasoanovidadeindicavamaiorprobabilidadedoorgasmofemininodoqueaquiloquetodamoçasupostamentedeseja:umarelaçãoduradouraeamorosa.1

Oqueissonosrevela?Emtermossimples,quenãohánenhumacoisaisolada,nenhumnívelhormonalparticularoustatusderelacionamentoatual,quedetermineumimpulsosexualouoníveldesatisfaçãodealguém.Háumavariedadedefatoresqueafetamodesejofeminino–e,aindaquenãopareçasersempreassim,odesejomasculinotambém.Emboraavisãoandrocêntricadoorgasmo(aideiadequesóograndemomentodeumhomemrealmenteimportanoesquemareprodutivo)nãomaisprevaleça,averdadeéquesimplesmentenãosabemos tantoassimsobreanaturezadodesejosexual“normal”.Nãosomossequertãoversadosassimnoqueaconteceduranteumorgasmo.

“Tenhoumproblemacomaexpressão ‘disfunçãosexual feminina’eemfalar sobreela”,disse-meBeverlyWhipple,pesquisadoradaUniversidadeRutgersquevemestudandoasexualidadefemininahá

maisdetrêsdécadas.“Aindahámuitoqueprecisamossabersobrefunçãonormativaantesdepodermosverdadeiramentedizeroqueédisfuncional.”

Ela,BarryKomisarukeoutroscolegasnaRudgerspodemaindanãosercapazesdedefinir funçãonormativa,mastêmmuitoanosdizersobreoqueacontecenocorpoduranteumorgasmo.Eboapartedissoacontecenocérebro.

Estátudonasuacabeça

Muitasvezessedizqueocérebroéomaisimportanteórgãosexual.Emborasejaumclichê,éverdade;qualquerpessoapodelhedizerqueédifícilchegaraoorgasmoquandovocêsedistraipensandonoqueaconteceumaiscedoaqueledianotrabalhoouseperguntandoseseutraseiroestáparecendoenorme.Océrebrotemimportância–emuita.Nasúltimasdécadas,pesquisadoresvêmtrabalhandodiligentementeparacompreenderafisiologiadoorgasmo.Grandepartedofocopermaneceuabaixodopescoço,noqueestava acontecendo com o pênis, o clitóris e a vagina. Nos últimos anos, no entanto, estudos deneuroimagemmostraram–surpresa,surpresa–queocérebrodesempenhaumenormepapelnoorgasmo.Vocêpoderiamuitobempensaremseucérebrocomoumagônadagigante.Decertomodoeleé,poisestáativomesmoquandoaestimulaçãogenitalestáausentedaexperiência.

Estácerto–oorgasmoéimpossívelquandonãohánenhumaatividadeláembaixo.Todomundotemconhecimentodaspoluçõesnoturnas.Sonhosmolhadosestãoentreosprimeiros tópicosdiscutidosnasaulasdeeducaçãosexual, sesuaescolaprimária foravançadaobastanteparaoferecê-las.Seria fácilatribuiressasemissõesnoturnasa reflexos,ouaalgumtipodesestro ligadoaodesenvolvimento.Masorgasmosduranteosonoestãobemdocumentadosatravésdegeraçõesnumaamplafaixadeidades.

Tenhoalgumaexperiênciapessoalcomisso.Duranteminhagravidezeutinhasonhossexuaismalucos.Vívidos,claros,eumtantotolos–umdameiadúziadequemelembroenvolviapalhaçosepistolasdeágua,evouficarporaqui–,essessonhosemgeralmelevavamaumorgasmointensoobastanteparameacordardessamisturadecochiloeescapadasexual.Meuslivrossobregravidezmediziamqueissoeraperfeitamente normal. Na verdade, pesquisasmostraram quemesmomulheres que não estão grávidaspodem chegar a um orgasmo durante o sono, havendo aceleração do ritmo cardíaco e respiratório eaumentodofluxovaginalduranteaexperiência.Emboraessanãofosseumarespostareflexa,haviaumaestimulaçãoenvolvida.Masessaestimulaçãovinhadocérebro.

Isso não acontece apenas em sonhos.Alguns indivíduos com lesão namedula espinhal podem terorgasmosmesmoquenão tenhamnenhumasensibilidadedacinturaparabaixo.Algunsepilépticos têmorgasmoscomosubprodutosdeseusataques.Jáhouvecasosdeindivíduoscomlesãocerebralcapazesde ter orgasmos a partir de uma verdadeira cornucópia de estimulações não genitais (vibrações dasnarinas,alguém?).Podemosestimularocérebroquímicaeeletricamenteparagozar.Háumsem-númerodemaneiras de prescindir por completo dos genitais e chegar à chamadapequenamorte.Opênis e avaginasãosemdúvidaótimosacessóriosparaseterporperto.Apenasnãosãonecessários.

Háatépessoascapazesdegozarcomopensamento.Basta-lhespensaremalgumacoisa–àsvezescoisasnemtãosexyassim–parachegaraoorgasmo.Pareceimprovável,quaseumapiada,outalvezumapessoatentandofazeramelhorsimulaçãopossível,àmaneiradeSallynadelicatessenemHarryeSally:feitosumparaooutro.Maséverdade.Nãoseisobrevocê,mas,seeuconseguisse,teriadeencontrarboasrazõesparasairdolocal.

Umaamiga,quegostariaqueeuachamassedeTrixienestaspáginas,éumadessasabençoadas.Eladizque“gozarcomopensamento”nãoéalgoassimtãoexplícito,oumesmotãoexcitante.Conta-meque,

muitasvezes, suporta teleconferênciasenfadonhasno trabalho fazendo talcoisaemseuescritório, semqueninguémjamaisperceba.Emboraissoesticasseumpoucooslimitesdenossaamizade,perguntei-lhesepoderiafazerumademonstração.Depoisdeumasduasmargueritas,Trixieaceitou.

Eu esperava algo grandioso: um espetáculo que lembrasse SallyAlbright em toda a glória de seufalsoorgasmo,talvezcomalgumascontorçõesdosquadriseumououtrogritoparacompletar.Nãofoinadade tãodramático.Trixie simplesmente reclinou-seno sofá, fechouosolhos e ficoumuitoquieta.Tentei não olhar para ela demaneira intensa demais,mas havia obviamentemuito poucomovimento.Após algunsminutos (e uma ou duas falsas partidas, quando ela abriu os olhos para ver com quantaatençãoeuaestavamonitorandoecomeçouarir),asúnicasmudançasperceptíveisforamumarespiraçãomais pesada e as mãos cerradas. Durante vários minutos não houve nada além disso. Para dizer averdade,euestavaficandoumpoucoentediada.EunemteriasabidoqueTrixieestavaàbeiradoêxtasese não fosse ela ter gemido uma vez, assustando-me umpouco, e depois expirado demaneira lenta edeliberadaerelaxadoasmãos.Játendoterminado,elaabriuosolhosepediuenvergonhadamentemaisumamarguerita.

“Só isso?”,perguntei, incrédula.“Issofoiumorgasmo?”Temiqueminha inspeçãoatentaa tivesseintimidadoumpouco,desviando-adatarefa,porassimdizer.

“Eu lhe disse que não era nada de excepcional”, respondeu ela, as faces coradas e um poucoencabulada.“Éisso.”

“Emquevocêestavapensando?”,perguntei.Ela se ruborizou, intensificando o tom de suas faces para um rosa Technicolor. “Na verdade, em

JohnnyDepp.”“SóJohnnyDepp?”“Bem,JohnnyDeppfazendocoisascomigo.Precisosermaisexplícita?”Nãofoidifícilextrapolarapartirdaí.Mastivedeperguntarsómaisumacoisa.Esperandonãoestar

indolongedemais,pressionei:“Comoissosecomparacomumorgasmoquevocêtemsemasturbando?Oucomumhomem?”

“Bem,umorgasmo é umorgasmo”, respondeuTrixie. “A sensação é boa, não importa comovocêchegalá.Masachomuitomelhorestarcomumparceiro.”Eladeudeombros.“Pensonistoapenascomoummétododemasturbaçãomaiseficiente,menoscomplicado.”

Faz sentido. A maioria de nós aprecia um pouco de autoestimulação de vez em quando, sejaclitoridiana,penianaoumental,mesmoqueprefiramosfazersexocomoutrapessoa.Imaginesevocênemprecisassesujarasmãos.PoderiaoorgasmomentaldeTrixieserigualaoproporcionadoporumaboamasturbação àmoda antiga?É o que sugerem estudos de neuroimagem; um orgasmo ativa asmesmasáreascerebrais,nãoimportacomovocêchegalá.

Komisaruk e Whipple descobriram várias áreas-chave do cérebro que estão ativas nas mulheresduranteumorgasmo:hipotálamo,amígdala,hipocampo,córtexcinguladoanterior,córtexinsular,núcleoacumbens, cerebelo e córtex sensorial. Seu trabalho encontrou também ativação do córtex pré-frontal,emboraoutrapesquisafeitaporumgruponaHolandasugiraqueumorgasmopodenaverdadedesligaressa parte do cérebro envolvida na tomada de decisão e na função executiva.2 (Isso se deveprovavelmenteadiferençasmetodológicas.EnquantootrabalhodogrupodeKomisarukusaafRMIparaestudar mudanças no fluxo de sangue, os holandeses usam tomografia por emissão de pósitrons. Asmediçõespodemserumpoucomaislentasnesteúltimométodo.Oquetalvezsejamaisimportanteéquenosestudosholandesesosparticipantesforamestimuladosporumparceiro.Épossívelqueaativaçãodocórtexfrontaltenhaalgoavercomacoordenaçãodomovimentoduranteaautoestimulação.Nãohácomosaberaocerto.)

Umaáreadeparticularinteresseparaospesquisadoresfoiumapartedohipotálamoanteriorchamada

núcleo paraventricular, que produz e secreta oxitocina na corrente sanguínea, no cérebro e namedulaespinhal após o orgasmo. Essas secreções, que ativammuitos receptores de oxitocina nos centros derecompensa,resultandonumaintensaliberaçãodedopamina,podemteralgoavercomarazãopelaqualoorgasmoproporcionaumasensaçãotãomaravilhosa.Essasáreassãocarregadas,quervocêestejasemasturbando,tenhaumparceiroparaajudá-lacomalgumaestimulaçãomanualouesteja“gozandocomopensamento”.Como dizTrixie, ao que parece umorgasmo é umorgasmo é umorgasmo, não importacomovocêchegueaele.3

Equantoàativaçãocerebralnoshomens?Quandocontei àminhaamigaSarahqueestava fazendoumapesquisasobreessefenômenoparticular,elabrincou:“Háalgumacoisaparaestudar?Poderíamoslevantar a hipótese de que o cérebro humano se desmaterializa por completo durante a ejaculação.”Embora eu esteja certa de quemuitasmulheres gritariam “Apoiado! apoiado!” em resposta a isso (ealgunshomenssacudiriamtalvezosombrosemrelutanteconcordância),váriosestudosqueexaminamofluxo sanguíneo cerebral masculino durante um orgasmo descobriram que alguma coisa se passa nocérebro.

UmgrupodaUniversidadeStanfordcomparouaativaçãocerebraleaturgidezpeniana(esteéonomeelegante da ereção) em homens heterossexuais enquanto eles assistiam a vídeos de esportes,materialeróticooucenasrelaxantes.Possoapenasimaginaroscartazesusadospararecrutarparticipantes:“Vocêgostadeesportes?Gostadepornografia?Gostariadeterumaimagemdoseucérebro?”Decertaforma,nãome parece que devam ter tido dificuldade em encontrar homens interessados em participar desseestudo. Seja como for que os tenham conseguido, os pesquisadores descobriram forte ativação,correlacionada com uma boa ereção, no claustro, no lado esquerdo dos núcleos da base que inclui ocaudado e putâmen, no hipotálamo, em áreas no occipital médio e nos giros temporais, no córtexcinguladoenasregiõessensório-motorasquandooshomensestavamassistindoaosvídeoseróticos.Aativaçãodohipotálamoedosnúcleosdabasefoirelacionadaàexcitaçãosexualeàereção.Nãofoiumagrande surpresa ver maior fluxo sanguíneo nessas áreas, que estão envolvidas com a oxitocina e adopamina.Asoutrasativaçõesexigiramumpoucomaisdeexplicação.Aativaçãodoclaustro,associadacomadasáreastemporaleoccipital,sugerequeosparticipantesestavamaomesmotemporeconhecendo(e talvez estimulando) suas ereções, bem como traduzindo mentalmente tudo que acontecia no vídeoeróticopara algoquepoderia lhes acontecer pessoalmente.Énesseponto, contudo, queos resultadosparam. O grupo não levou as medições adiante até o orgasmo. Talvez os pesquisadores não tenhamconseguido ninguém para limpar o aparelho de fMRI depois que os participantes terminassem. E,infelizmente, não houve nenhuma menção a resultados sobre fluxo sanguíneo cerebral (ou ereções)duranteosvídeosdeesportes.4

JannikoGeorgiadis, um importantepesquisadorholandês interessadoemorgasmo,usou tomografiaporemissãodepósitronsparaestudaraativaçãocerebralduranteaejaculaçãoefetiva.Seugrupomediuo fluxo sanguíneo cerebral enquanto cada participante era estimulado a chegar ao orgasmo por umaparceira.Ospesquisadoresencontraramativaçõesnasprofundezasdocerebelo,novermisanterior,naponte e no tálamo ventrolateral, todas áreas localizadas perto do tronco cerebral e implicadas nomovimento. Segundo os pesquisadores, os achados anteriores de ativação dos núcleos da base e doneocórtexeramsinaisdeexcitação,emcontraposiçãoaopróprioorgasmo.Assim,aativaçãodocerebeloeofluxosanguíneorelacionadopodemseratribuídosàscontraçõesmuscularesassociadasaoatofísicoda ejaculação.O achadomais importante, afirmarameles, foi a desativação, relacionada ao orgasmo,atravésdocórtexpré-frontal.TalvezaideiadeSarahdequeocérebromasculino,pelomenosocórtexpré-frontal,sedesmaterializaduranteoorgasmonãosejatãoerrada.5

Num estudo mais recente, Georgiadis e seus colegas compararam o fluxo sanguíneo cerebralrelacionado ao orgasmo em homens e mulheres. O grupo concluiu que os dois gêneros diferiam na

ativação durante a estimulação genital, mas não no orgasmo. Dadas as diferenças no equipamentoanatômicobásico,esseachadonãoéexatamenteumagrandesurpresa.Emgeral,manuseamosumpênisdemaneiraumpoucodiferentedecomoestimulamosumclitóris–éoqueseespera,pelomenos.Apesardessas diferenças observadas na estimulação, houve bastante superposição na ativação entre os doisgruposduranteoorgasmo.Maisumavez,ogruporelatouumafaltadeativaçãonocórtexpré-frontaltantoemhomensquantoemmulheres.6

Mesmocomasdiferençasverificadasentreeles,essesestudosdemonstraramqueoorgasmotemumanítidaassinaturacerebral.Algumasdessasáreasparecemfamiliares?Vocêviuohipotálamoeosnúcleosdabaseapareceremtambémemestudosdeneuroimagemdoamorromântico.ComodisseHelenFisher,écomoumcaleidoscópio:opadrãopodemudardependendodascircunstâncias.Maisumavezocérebrodemonstraser,comodissemeuprofessor,osupremoreciclador.Nãoháredundânciasaqui.

Edaí?

ComodisseStephanieOrtigue,há limitesparaoqueaprendemosaosaberoqueéativadonocérebroduranteaexcitaçãosexualeoorgasmo.OgrupodepesquisadoresdeKomisaruktentoulevarascoisasumpoucomais longe.A fMRIevoluiudesde seu trabalho inicialna área.Comoumacâmerade time-lapse – que registra imagens sequenciais a intervalos de tempo regulares –, novos paradigmas podemacompanharaativaçãodocérebroàmedidaqueoorgasmoacontece,demodoqueospesquisadoressãocapazes de mapear sua trajetória em tempo real. Mas o cérebro move-se rapidamente, talvez maisrapidamente do que a tecnologia atual conseguemedir. Apesar disso, Komisaruk pretende obter umaideiamelhorde comoessas áreasdo cérebro interagemduranteoorgasmoestudandoaordemde suaativação.“Queremosverseháalgumtipodepadrão”,disse-meele.“Oorgasmoéumperfeitoestudodecaso para descobrir como a atividade pode se intensificar num crescendo e levar a um clímax, umaliberação no cérebro. Podemos aplicar uma estimulação constante, contínua, com a esperança de ver,minutoaminuto,comodiferentesregiõesdocérebrosãomobilizadaseativadas.”

Emquepontooorgasmocomeça, continua e termina?Komisaruk supõequeopadrãode ativaçãocomeçanocórtexsensorial,umaáreachamadadelóbuloparacentral,ondeocérebroregistraeprocessaa resposta dos genitais à estimulação;move-se para o núcleo paraventricular (NPV), que libera todaaquelaboaoxitocina;e terminanonúcleoacumbenseseusubsequenteafluxodedopamina.Aindaestáporserconfirmadoseesseéocaminhotomadoemtodososcasos.

Naesperançadetraçaromapaexatodaativação,ogrupodeKomisarukescaneoualgumaspessoasecompilou seus achados iniciais para um pôster de apresentação numa das maiores conferências deneurociência do mundo, patrocinada pela Society for Neuroscience. A fim de se preparar para esseevento, os pesquisadores reuniram rapidamente participantes para criar um filme documentando essaativação em tempo real.Oferecimeu cérebro – bem comominhas partes pudendas – para fazer partedele.

Ansiedadededesempenho,estilofMRI

Sealgumdiavocêquiserdeixaratéosmaiscosmopolitasdeseusamigossemfala,contar-lhesquevocê

seofereceuparaviajaratéNewark,NovaJersey,comafinalidadedechegaraoorgasmomasturbando-senumaparelhodefMRIéumaótimamaneiradecomeçar.Depoisqueelesserecuperaremdochoque,émuito provável que comecem a fazer perguntas.Muitas perguntas. Fui capaz de responder à maioriadelas.Paracomeçar,não,nãoestoubrincando.Vou realmente fazer isso.Realmente,nãoéumapiada,juro.Sim,ficareidentrodoescâner,omesmotipodetuboclaustrofóbicoemquevocêentrouparaqueseujoelhofosseescaneadoaquelavez.Sim,seiqueéumespaçomuitoapertado.Ebarulhentotambém.Sim,voumeautoestimular.Como?Manipulandomeuclitóris,paraserexata,atéchegaraoorgasmo.Sevouusarumvibrador?Não,amaioriadelestemmetal,algoproibidodentrodessesaparelhos.Tereidecontar apenas com minhas próprias mãos para fazer o trabalho. Sim, tecnicamente pessoas estarãoobservando – apenas os cientistas que estão conduzindo o estudo, creio.Mas vou estar coberta paraefeitodediscriçãoeaúnicacoisaqueelesestarãodefatoobservando,alémdemeucérebronateladocomputador,éminhamão,queindicaráquandoeutiveratingidooêxtase.KomisarukesuacolegaNanWiseexplicaram-metodooprocessoemdetalhes.Não,nãotenhocertezadequesereirealmentecapazde fazer isso. Mas, como fui instruída, tenho praticado em casa e farei o melhor de meus esforços.Pareciaqueeuestavarepetindoomesmodiscursovezessemconta.Apósascuidadosas instruçõesdeWiseeminhasreiteradasrecitações,eupensavaconheceroprocessodetrásparafrente.Pelomenoseraaminhaimpressão.

Sónavésperadodiaemqueeudeveriaserescaneada,ànoite,ocorreu-mequehaviameesquecidodefazeramaisimportantedetodasasperguntas:oquedeveriavestirparaessasessão?NemEmilyPostnemmeunúmeromaisrecentedaCosmopolitanpodiammedizerqualocódigodevestuárioapropriadoparaalguémquevaiseautoestimularatéchegaraoorgasmonumaparelhodefMRI.Eminhaexperiênciaanterior em outros estudos de neuroimagem não era de nenhuma ajuda. Eu havia posto na malaautomaticamente algumas calças para ioga e uma camiseta regata, pensando no conforto num espaçoconfinado,nãoemfacilidadedeacessoaminhasregiõesinferiores.Empânico,pegueiotelefoneparaligarparaWise.

“Oquesecostumavestirparaessetipodecoisa?”,perguntei.“Sempre sugiro um vestido solto, sem calcinha. É o que eu uso.” Wise, ex-terapeuta sexual

transformadaemestudantedepós-graduaçãoemneurociência, sempre servede cobaianos estudosdefMRI antes que outros participantes sejam introduzidos.Aquilo era costumeiro para ela. “Algo solto,confortávelefácildevestiréomelhor.”

Oúnicovestidoqueeupuseranamaladestinava-seasituaçõesmais típicasdesedução,nãoaumescaneamentofMRI.Elepodeproporcionarfácilacessoàsminhaspartesdebaixo,masograndezípermetálicodoladosignificaqueéimpróprioparaoaparelho.“Sintomuito”,desculpei-me.“Eunãosabia.Nãopenseiempôrnadadessetiponamala.”

“Tudo bem, tudo bem”, disseWise. “Temos algumas camisolas hospitalares. Você pode usar umadelasparasecobrir.”

A ideia de uma camisola fina (ou duas) aberta nas costas deu início a uma crescente sensação deansiedade de desempenho. Eu não conseguia parar de pensar no espaço confinado, na limitação demovimento,no ruídoestrepitoso, e eunumacamisolahospitalar.Emboranão sejao tipodemoçaquenecessitaacendervelas,vestirlingerieeouvirumamúsicadeBarryWhiteparasesatisfazer,precisodefato de um pouquinho de disposição para fazer as coisas acontecerem. Estava começando a ficarpreocupada.Euseriacapazdeencontrarinspiraçãoparaexplorarminhavulvanotipodeambientequeestariaenfrentando?

Namanhã seguinte, quando cheguei ao SmithHall naUniversidadeRutgers, umprédio escuro, noestilodosanos1970,nomeiodocampusemNewark,estavacomumpoucodepânico.Apesarde terpassado uma ou duas horas na noite anterior tentando inventar alguma fantasia sexual relacionada a

jalecoseespaçosconfinados,eutemiaque,nahoradovamosver,fosseincapazdechegaraoorgasmo.ReconheceiNanWisede imediato.Nossasconversas telefônicas jáhaviamreveladoqueelaeraa

quintessênciadotipomaternal,sempreprontaparaacalentareconfortar.Elaquisseassegurardequeeuhaviatomadoumbomcafédamanhã,jáestavatratandodepedirmeualmoçoesimultaneamentegarantiu-mequeoexperimentoseriaumabrincadeira.Fomosparaumasalamaisantiganosegundoandarparapreparar a sessão de escaneamento, que ocorreriamais tarde. Num quadro branco sobre uma paredelateralestavaescrito,emgrandes letrasverdes:“Q.G.daEquipeO.”Pergunteiamimmesma,emvozalta,seolaboratóriojáteriamandadofazercamisetas.“Não,aindanão”,disseWise.“Masessaéumaótimaideia!”

Komisaruk, pequeno e elegante, estava à nossa espera. Suasmaneiras serenas também tiveramumefeitocalmante.Outraboacoisa–oprimeiroitemdapautafoimedir-meparaumamáscarafacial,umaespéciedeversãomodernadosistemadecontençãodocondedeMonteCristofeitadeumaapertadarededeplástico.Brancoeazul,odispositivoeraummistodeacessóriopornográficobaratoparasubjugaçãoekitparatratamentoclínicoporradiação.Maselenãopretendiaserbonito.Suafinalidadeeramanteraminhacabeçaomais imóvelpossívelduranteo escaneamento.Depoisqueoprocessocomeçasse, eleseriaaparafusadonoleitodoescâner,significandoqueeuseriaincapazdeentrarousairdotubodefMRIsemajuda.Quandomedeiteinumamesaparasermedida, tenteiperguntarcasualmentesealgumoutroparticipantetinhatidodificuldadeemchegaraoorgasmoduranteosestudos.Imagineiqueumaconversaajudariaamedistrairdoplásticomolhadoaquecidoqueeleestavaprestesapôrsobremeurosto.

“Alguns.Masnãomuitos.”Elepressionouoplástico,mornoemaleável,sobremeurostoeminhasorelhas,procurandoassegurarqueeleendurecerianoexatocontornodeminhacabeça.“Não,realmentenãotivemosmuitodisso.Talvezduasoutrêspessoasentretodasqueescaneamos.”

Sendomedidaparaamáscaradecabeça“sexy”queuseinoestudodoorgasmoporfMRI.Fotodaautora.

Ah.Entãonenhumapressão.Absolutamentenenhuma.“Vocêestápreocupadacom isso?”,perguntouelegentilmente.Solteiumgrunhidodeafirmação, já

que,serespondessecomacabeça,estragariaomolde.“Bem, não se preocupe com isso. Vamos lhe pedir para fazer alguns exercícios de Kegel; assim,

pense apenas em fazer alguns exercícios de Kegel para podermos comparar as ativações no córtexsensóriosobasduascondições.Mesmosenãohouverumorgasmo,issoaindaserámuitoútilparanós.”

“Você farámuito bem”, concordouWise enquanto enfiava um frasco de lubrificanteCVSnumdosmuitosbolsosdeseujaleco.Imagineiqueelescontinhamumenormenúmerodeitensdequeelapoderialançar mão para me ajudar a relaxar, se necessário – um pouco de canja de galinha, uns dois

comprimidosdeDramamine,outalvezatéumconsoloquepudesseserusadocomsegurançanoaparelhode fMRI sea situaçãoexigisse.A ideiame fez rirumpouco,mas sópordentro.Eunãoqueriaqueamáscaraprecisasseserremodelada.

Chegaraoorgasmo

AlgumashorasdepoisogruposetransferiuparaassalasdofMRInavizinhaUniversidadedeMedicinaeOdontologia do New JerseyMedical Center. Vesti uma camisola hospitalar e fui enfiada no tubo doescâner,maisprontadoquenuncaparaterumorgasmonumfMRI.QuaseimediatamenteouviavozdeKomisaruk através demeus fones de ouvido, dizendo-mepara ficar deitada imóvel a fimde que elespudessem realizarum levantamento anatômicodedezminutos, isto é, umescaneamentoqueobtémumconjuntoprecisodeimagensde“fatias”detodoomeucérebro.Essasimagensformariama“tela”emqueelesprojetariamoslocaisativosemmeucérebrodemodoaespecificarprecisamenteondeaatividadeocorreria.Asestaçõesrepetidorasdocérebroeasviasqueasconectamsãotãocomplexasedispostascom exatidão quanto os prédios e as estradas de uma cidade.Dessemodo, assim como um corpo debombeiros pode localizar um incêndio num prédio específico, as técnicas de neuroimagem permitemlocalizarumpontoquentedeativaçãonumaestruturacerebralespecífica.

“Procureapenasrelaxar,Kayt”,disseele.“Durma,sequiser.”O magneto começou a girar em torno de mim. Como fora prometido, era ruidoso. Da

dadadadadadadadadada.Clic.Auunnnnnnnnnnnnnnnnc.Clanc.TUNC!TUNC!TUNC!Osomnãodeixavadelembrarumacombinaçãodebritadeiras,algunsdançarinosamadoresdesapateadoeumtestedosistemaderadiodifusãonovolumemáximo,tudoissonosmeusouvidos.Eledurouamaiorpartedeminhasessãodentrodoescâner,quefoidecercadeumahoraemeia.Mesmocomprotetoresdeouvido,pudesentircadaclinc,clanceuuirrportodaaminhaespinhaabaixo.Emboraasituaçãonãofossepropíciaaosono,tentei me pôr deliberadamente num estado de relaxamento. O fMRI exige que fiquemos tão imóveisquantopossível,erelaxarajuda.

A primeira vez que conversei com Wise, semanas antes, ela me deu um dever de casa pré-escaneamento.“Pratiquelevar-seaoorgasmoporautoestimulaçãocomamaiorfrequênciaquepuder.E,quandoo fizer, tente ficar omais imóvel possível”, instruiu ela. “Émuitomais difícil doqueparece.Poucassemanasatrás,tivedeseguraraspernasdeumamulherporqueelasesacudiademais.Rezeiparaque obtivéssemos alguns dados utilizáveis a partir daquilo.” O aparelho é incapaz de rastrear comprecisão o fluxo de sangue se houvermovimento demais; não seria possível saber se o resultado eradevidoaoestímulo(istoé,àautoestimulação)ouapenasruídoextradecorrentedemovimento.UmavezqueumexameporfRMIindividualcustamilharesdedólares,essemovimentoindutorderuídoéalgoqueospesquisadoresbuscamevitar.Eminhapráticaemcasadeixouclaroqueficaromaisimóvelpossívelnaquelasituaçãoparticularnãoserianadafácil.

Justoquandoeuestavacomeçandoamedesligar,nãoadormecendoexatamente,masalgoparecido,os ruídos cessaramde repente.Após os dezminutos de cacofonia, a ausência de estrondos foi quaseigualmente ensurdecedora.Agora eu estava acordada eprestandoatenção.Algunsmomentosdepois, avozsuavedeKomisarukchegou-medenovoatravésdemeusfonesdeouvido.“AgoravamosfazertrintasegundosdeexercíciosdeKegel, seguidospor trintasegundosde repouso”,disseele.“Evamosfazerissoumtotaldecincovezes.”

Os exercícios deKegel, que têm o nome de seu criador e dedicado promotor, AlfredKegel, sãosimplesmentecontraçõesdosmúsculosdoassoalhopélvico,osmesmosqueusamosparainiciaredetero

fluxodeurina.Eles costumamser recomendadosparamulheres grávidas e homens comproblemasnapróstata.Seiqueerammuitoapreciadosporminhaobstetraalemã.Emminhaprimeiraconsultapré-natal,elamedissequeeudeveriafazermeusKegelsreligiosamenteeconcluiucomafrase,aindamaisenfáticagraçasaseufortesotaqueteutônico:“DoyourKegelseverydayandkeepincontinenceatbay!”[FaçaseusKegelsefiquelivredaincontinência!]ElanãocompreendiaporqueseusversinhosàlaBenjaminFranklinmefaziammorrerderir.

Depois que o estrépito recomeçou, passei a flexionarmeusmúsculos pélvicos. Komisaruk queriacomparar se fazer efetivamente exercícios Kegel ativava as mesmas áreas cerebrais ativadas quandoapenassepensaemfazê-los.Algunsdeseustrabalhosanterioressugeriamqueocórtexsensorial,pelomenos no que dizia respeito aos genitais, podia ser ativado apenas pelo pensamento. Se isso seconfirmasse, seria um resultado novo e empolgante, que tinha o potencial de dar base para futurostratamentos para aqueles que não conseguem ter orgasmos, talvez até dar aos pesquisadores algumasmaneirasnovasdeestudarodesejosexual.

Commeuassoalhopélvicoamplamenteexercitado(eaimaginaçãoalimentadapelosKegels),agoraerahoradograndeespetáculo.Estivesseprontaounão,eutinhademeencherdecoragememelevaraoorgasmo.Dentrodealgunsminutossaberiaseestrepitososclancseclics,camisolashospitalareseumarede apertada segurando minha cabeça podiam fazer a mágica acontecer. Era certamente o que euesperava. Minha personalidade competitiva significava que eu estava muito empenhada em ser bem-sucedida.Nãoqueriaserumdaquelespoucosparticipantesincapazesdefazeraproeza.

“Tudo bem, Kayt. Vamos fazer três minutos de repouso e depois começar de imediato aautoestimulaçãoparaoorgasmo”,avozdesencarnadadeKomisarukchegou-meaosouvidosaltaeclara.“Podemoslhedarumpoucodelubrificante?”

Euiriaprecisardetodaaajudaquepudesseobter.Lubrificantecomcertezanãofariamal.“Sim,porfavor”,respondi.QuandoouviWiseentrarnasala,estiqueiamãoesentiolubrificante,frioeuntuoso,serdepositadonapalmadaminhamão.Tenteinãopingarnadanopisoantesdeenfiaramãodevoltadebaixodocobertoredacamisolahospitalarparaesperarqueamáquinarecomeçasseafuncionar.

Da dadadadadadadadadada. Clic. Auunnnnnnnnnnnnnnnnc. TUNC! Fui instruída a passar os trêsminutosseguintesrelaxando,sempensaremnada.Emvezdisso,passei-osremoendominhaansiedade,fazendoumapreleçãopreparatóriaparamimmesma.Soucapazdemeproporcionarumorgasmonestascircunstâncias.Achoquesou.Achoquesou.Achoquevougozar.Eupoderiafazerisso,quediabo!Eupoderia.

“Aautoestimulaçãoparaoorgasmocomeçaagora.”Aoouvirminhadeixa,respireifundoecomecei.Oambientealidentropodianãoserromânticonem

sexy e, cara, aquela máscara estava começando a ficar realmente desconfortável, mas eu iria ter umorgasmode qualquermaneira.Concentrando-me omáximopossível, apliquei-me à tarefa,mantendo acabeçaomaisimóvelquepude.Algunsminutosdepois,levanteiamãoparaavisaraKomisarukquemeuorgasmocomeçara.Eunãodiriaquefoiumdemeusmelhores,mas,ei!,naminhahumildeopinião,elenãofezfeio.Infelizmente,foimelhordoquealgunsqueeutiveaofazersexocomumoudoisdemeusex-namorados.Abaixeiamãoparaindicarqueterminarae,comisso,deixeiescaparumlongosuspirodealívio.Seeutivessepodidoesticarobraçoparamedarumtapinhanascostas,naverdadeparamedarumtapinhaemqualquerlugarexcetoemmeuclitóris,euoteriafeito.

“Obrigado,Kayt”,disseKomisaruk.“Porfavor,descanse.”Foioquefiz.Euagora tinhaumahistóriaespetacularparacontarsealguémalgumdiamepedisse

paracitarolugarmaisestranhoemqueeutiveraumorgasmo.Ehaviaauxiliadoaciênciaaofazerisso.Triunfoparatodasaspartesenvolvidas!

Após alguns minutos, os tons brandos de Komisaruk fluíram mais uma vez através dos fones de

ouvido. “Hã…Kayt, seria possível você tentar se autoestimular para chegar ao orgasmo de novo?”,perguntouele,hesitante.

“Denovo?”,perguntei,umpoucoconfusa.Tinhahavidoumproblemacomoaparelho?Euhaviafeitoalgumacoisaerrada?MeuorgasmonãohaviasidosuficientementeorgásticoparaaEquipeO?

“Bem,aduraçãodoorgasmofoiumpoucocurta”,eleexplicou.“Seriapossívelfazerissomaisumavez?”

Droga.Toda a autocongratulaçãomental acabaranisso.Euhavia conseguido fazer o trabalho,masmeuorgasmonãoforadeboaqualidade.Essahaviasidominhagrandecontribuiçãoparaaciência.Nãohavia escapatória – eu tinha de tentar mais uma vez. “Claro. Posso fazer de novo”, respondi. Esseorgasmo tolo estava se tornando meu albatroz, minha baleia branca. Mas eu não podia deixar issoacontecer.Destavezlhedariaumchutenotraseiro.Nãosóiriafazê-loacontecer,masencontrariaumamaneirademedeleitarcomele.

“Ótimo,obrigado”,disseKomisaruk.“Precisademaisumpoucodelubrificante?”“Não, obrigada, estoubem”, respondi.Parar e esperar o lubrificante só iriamedistrair.Agora eu

precisavalevarissoatéofim.Vocêsabe,antesqueperdessecompletamenteacoragem.Comoaparelhovoltandoàvidacomumclanceumbang,respireifundoevolteiaenfiarobraçosob

oscobertores.Latênciacurtaounão,meusesforçosanteriorestornaramoprocessomaisfácildestavez.Pormais estranho que possa parecer, relaxei emmeu trabalho e comecei a me curtir um pouquinho.Talvez um pouco mais que isso. Quando me ouvi gemer audivelmente, hesitei, perguntando-me sepoderiammeouvirnasaladecontrole.Descarteia ideiaecontinuei.Quandomeouvigemerdenovo,nãomeimporteicomapossibilidadedealguémmeouvirounão.Euestavanomomento–estavaprestesachegarládenovo.Edestavezeuchegarialácomalgumestilo.Levanteiamãoparaindicaroiníciodoorgasmoeemseguidapegueiaonda.

“Kayt,issofoimaravilhoso.Grandeduraçãoelatência”,disse-meKomisaruk.“Foirealmentemuito,muitobom.”

Sentindo-me atrevida, respondi: “Não foi ruim para mim também.” Ouvi risadas explodirem emsegundoplano.Tenteinãopensarsobreoquemaiselespoderiamterouvidoalgunsmomentosantes.

Apósserinstruídaarelaxarduranteosdezminutosseguintes,enquantoospesquisadoresterminavamdeescanearmeucérebro,fecheiosolhosefizexatamenteisso.Destavez,apesardobarulho,conseguicochilarumpouco.Aoqueparece,umorgasmoéumorgasmoéumorgasmoparamimtambém.

Tudoéumaquestãodetiming

Doismeses depois, na ensolaradaSanDiego, encontrei-me comKomisaruk eWise na conferência daSociety for Neuroscience, que reúne aproximadamente 30 mil neurocientistas para discutir os maisrecentes avanços no campo. Tendo criado sua linha do tempo do orgasmo por meio de fMRI, elesapresentaramosdadosdemeutemponoaparelho,juntocomosdeoitooutrosparticipantes,emumadassessõesdepôsterdaconferência.Naapresentação,usavamumfilmetridimensionalquerealçavaalinhadotempodaativaçãodocérebro.Chameissodepornografiacerebral–muitosdosneurocientistasquederamumapassadaporláafimdedarumaolhadanofilmenãotiveramnenhumproblemaemfazê-lo.DuvidoqueKomisarukouWisetambémteriam.

Quando vi o filme, fiquei impressionada com a simples quantidade de ativação. Havia umaquantidade descomunal dela. Senti o mesmo que havia sentido ao ver a imagem compósita de meu

própriocérebroduranteumorgasmoalgumassemanasantes.Muitasáreasestavamiluminadas,ascoresmais quentes indicando os níveis mais elevados de ativação. Era difícil decifrar o que tudo aquilosignificava. Quando mencionei esta observação para Wise, ela riu. “É verdade, há muita ativação”,disse-meela.“Umorgasmoérealmenteumtipodeexperiênciaqueenvolveocérebrotodo.”

Meucérebronoinstantedoorgasmo.ComodisseNanWise,éumtipodeexperiênciaqueenvolveocérebrotodo.FotoadaptadaapartirdedadosregistradosporBarryKomisaruk,UniversidadeRutgers.Usadacompermissão.

Sem brincadeira. O grupo identificou trinta áreas cerebrais discretas ativadas durante aautoestimulaçãoparaoorgasmo.Trinta.Emmulheres,aomenos,parecequerecrutamosumagrandepartedenossocérebroparaobteralgumasatisfação.Dadaessaextensivaquantidadedeativação,podeserumpoucocomplicadoavaliarcomprecisãooquetodasessasáreascerebraisestãofazendo.Apesardisso,Komisaruk foicapazde identificaralgumasáreasdistintasquese iluminamantes,duranteedepoisdoorgasmo.

O que aconteceu no meu cérebro durante o orgasmo? À medida que me estimulava, meu córtexsensorial genital, áreas motoras, o hipotálamo, o tálamo e a substância negra iluminaram-se. Ohipotálamo não foi nenhuma surpresa; ele havia sido invariavelmente implicado em toda sorte decomportamento reprodutivo, inclusiveaexcitaçãosexual.Onúcleoparaventricular,apartedocérebroqueproduzoxitocina,tambémlocaliza-seali.Minhasáreasmotorascontrolavammeusdedosenquantoeumeautoestimulava, emeucórtex sensorialgenital registravaessaestimulação.Meu ritmocardíacoemaceleração podia provavelmente ser atribuído àquela ativação do cerebelo. E o tálamo? Ele estavaintegrandonãosóaatividadedemeusdedoserrantescomotambémaslembrançaseasfantasiasqueuseiparaajudarnaminhaexcitação.Asubstâncianegra,umaárearicaemneurôniosprodutoresdedopamina,juntocomaliberaçãodeoxitocinapeloNPV,fazia-mesentirbemerelaxada.

Depoisquelevanteiamãoparaindicaraospesquisadoresqueestavanopontodenãoretorno,meucórtex frontal, aquele bastião da função executiva, entrou em cena.Áreas implicadas namemória, naintegração da informação sensorial e na emoção também se tornaram ativas. Quando meu orgasmoaproximou-se do fim, o hipotálamo voltou a se ativar, e áreas ligadas à recompensa, como o núcleoacumbenseonúcleocaudado,ficaraminundadasdedopamina.Foiissoquemedeuaqueleímpetofinal.O resumo da história foi que Komisaruk e seus colegas viram atividades temporais distintas, com

diferentesáreascerebraissendorecrutadasenquantoeupassavadaexcitaçãoparaoorgasmoedepoisretornavaaorepouso.

“Entãoosresultadoscorresponderamaoquevocêsesperavam?”,pergunteiaKomisarukenquantoumpunhadodeneurocientistasexaminavaopôster.

Ele sorriu. “Algumas coisas eram esperadas.As regiões sensoriais são ativadas cedo, e depois onúcleoacumbenséativadomuitomaistardequeasoutrasáreas.Euesperavaisso.Masfoiinteressante:algumasáreastornam-seativasmuitosubitamentenoiníciodoorgasmo,aopassoqueoutrasseativamdemaneiramuitogradativa.”

“Subitamente?”,perguntei.“O giro temporal inferior é uma área que se ativa de repente no início”, disse ele. “O mesmo

acontececomocerebelo.”Komisarukexplicouentãoqueasúbitaativaçãodocerebelopodeteralgoavercomtônusmuscular.

Nãoéexagero–tendoameapertarumpouconoorgasmo.Tudobem,talvezmeapertemuito.Maseogirotemporalinferior?Essaéumaáreausualmentereservadaparaopensamentoeaimaginaçãodenívelmaisalto, talvezafantasia.Atéondepossomelembrar,meusolhosestavambemcerrados,emboraeuadmitaqueestavadistraídaenãopossadizercomcerteza.Mesmoqueelesestivessemabertos,nãohaviamuitos itens interessantes a ver dentro de um tubo de fMRI. Mas eu estava sem dúvida imaginandoalgumascoisasquandoatingioclímax.

“Háalgumtipodeprocessocognitivoemcursoaí,emboranãosaibamosaocertooqueé”,explicou-meKomisaruk.“Vimosmuitaativaçãocorticalemtodoocórtexquenãofoirelatadaemoutrosestudos.”

Uma suposição de Komisaruk para esse processo cognitivo é uma espécie de inibição. Talvezaquelas instruções para que eu mexesse o menos possível, quaisquer temores internos de que meusgemidos fossemouvidos na sala de controle e todas as pequenas coisas que fiz para dominarminhastendênciasusuaisamecontorcerefazerruídosduranteoorgasmotenhamativadomeulobofrontal.Outalvez,comoeunãotinhanenhumaoutrapessoameestimulandoparaoorgasmo,essaativaçãopossaseratribuídaàcoordenaçãodemeusprópriosesforços.Éumenigmaaindaporserresolvido.

Wise interveio com suas próprias revelações. “O processo começa commuito pouca atividade edepois aumenta gradualmente. Isso não surpreende.Mas o queme pareceu curioso foi que, dentro dotroncocerebral,identificamosmuitospadrõesdiferentesentreosváriosparticipantes.Maspareciahavermuitasimilaridadenocórtex.Háalgumacoisaacontecendoali.”

“Todosnóstemosdiferentestiposdetoquesquenosparecemagradáveis”,continuouela.“Nofuturo,precisamosdemais informaçãosobreaquiloemqueaspessoasestãorealmentepensandoenquantoseestimulametalvezumpoucomaissobreoqueestãofazendoparachegarlá.”

Umorgasmoéumaexperiência intensa.Atingiressepontoenvolveumavariedadedecomponentescognitivos, emocionais e sensoriais – mesmo quando só você está fazendo o trabalho. Ao final,Komisaruk, Wise e Whipple esperam compreender o bastante sobre as diferentes áreas do cérebrorecrutadasafimdeajudarpessoascomanorgasmia,aquelainfelizporcentagemdemulheresquenuncatêmorgasmos.Elesadmitemabertamente,contudo,queháaindaumlongocaminhoapercorrerantesquepossamoscompreenderascomplexidadesdetudoisso.

“Comoessasdiferentesregiõesdocérebrotrabalhamjuntas?Comosãodiferentementerecrutadasnoprazerenador?Oquepodemosaprenderapartirdemulherescapazesde induzirumorgasmocomopensamento a fimde ajudar indivíduosquenão conseguem ter umorgasmo?”Wise especulou: “Possoimaginarumtempoemqueaspessoasserãocapazesderegularsuaprópriaquímicacerebralatravésdealgumtipodeprocessointerno.Masaindaestamosnainfância.Quenada,aindaestamosnoperíodopré-natalnessecampo.Masmalpossoesperarparaveroqueviránospróximosdezanos.Seráassombroso.”

Embora preliminares, os resultadosme espantaram.O orgasmo é decididamente complexo e afeta

múltiplossistemascerebrais.NãotenhonenhumadúvidadequepesquisadorescomoKomisarukeWisepassarãoorestodesuascarreirastentandodecifrá-lo.Mesmoquemeutotaldeorgasmospós-divórciopermaneça baixo, posso dizer que fiz a minha parte, por menor que tenha sido, para ajudar aneurociência.

13.Umaquestãodeorientação

QUANDO VIAJAVA DE VOLTA daUniversidadeRutgers para casa, após termeu orgasmo no aparelho defMRI,aúltimanotíciaeraotrágicosuicídiodeumalunodaprópriauniversidade,TylerClementi.SeucorpohaviasidoretiradodorioHudsonnaquelamanhãmesmo,diasdepoisdeelesaltarparaamortedaponteGeorgeWashington.Acreditava-sequeseusuicídiotivessesidoumareaçãoaofatodeseucolegade quarto ter postado imagens ao vivo pela webcam dele fazendo sexo com outro estudante do sexomasculino.Esseatoinvasivofora,aoqueparecia,aculminaçãodeváriosataquescruéisdebullyingqueTylerenfrentaraporcausadesuaorientaçãosexual.

Duranteotempoquepasseinasaladeesperadacompanhiaaéreaantesdeembarcarnomeuvooparacasa, programas de notícias locais e nacionais davam destaque à tragédia, bem como aos suicídiosrecentesdeváriosoutrosrapazesgaysportodoopaís.Amaioriadessasreportagensconcentrava-senobullyingenopapelqueeledesempenhavanesses terríveissuicídios,masumespecialistaconservadorconsultadoemumprogramausouseutempoparainsinuarqueamortedeClementinadamaiseraqueummau(etalvezesperado)desfechoparaumaescolhadeestilodevidaimoraleantinatural.

JoelDerfneréautordeSwish:MyQuest toBecometheGayestPersonEverandWhatEndedUpHappening Instead e uma das estrelas do reality show Girls Who Like Boys Who Like Boys, doSundanceChannel.Quandoeulhedissequenãopodiaacreditarqueumapessoafossecapazdeexpressarideiascomoessaàquelahoradamanhã,elesuspirouedisse:“Achoqueàsvezeselesnãoconseguemseconter.”1

Durantedécadas,oOcidentedebateuseorientaçãosexualéalgocomquenascemosouumaescolhade estilo de vida. Trata-se de um assunto delicado e politicamente carregado, sobretudo desde que odireito aocasamentocivilparapessoasdomesmosexo foi aprovadoemvários estados.Todomundopareceterumaopiniãosobreorientaçãosexualbaseadaemideiasreligiosas,experiênciapessoalou,àmedidaquemaisresultadossãopublicadosedepoisdivulgados,pesquisascientíficas.

Oque,então,aneurociênciatemadizersobreorientaçãosexual?Atéagora,apesquisasugerequeela é determinada antes mesmo do nascimento. (Observe, por favor, que a bissexualidade não serádiscutida neste capítulo.Houvemuito poucapesquisa neurocientífica sobre essa orientaçãoparticular,provavelmente por haver tão ampla variabilidade de comportamento entre aqueles que se identificamcomo bissexuais, tornando seu estudo muito difícil.) “Não vi absolutamente nenhuma evidência quesugerisse que a homossexualidade é uma escolha”, disseQazi Rahman, pesquisador especializado napsicobiologia da orientação sexual na Universidade Queen Mary de Londres. “No entanto, o debatecontinua.”

Paracompreenderporqueessedebatecontinua,precisamosexaminarcommaisatençãoas(poucas)pesquisaspublicadas.Historicamente,oestudodaorientaçãosexualconcentrou-seemgenes.Estudosdegêmeossugeriramhámuitotempoqueumcomponentegenéticoinfluenciaogêneropeloqualumapessoaacabasendoatraída;istoé,estima-sequecomponentesgenéticoscompõemcercade50%dasdiferentesvariáveispossíveisque influenciamaorientaçãosexual.Noentanto,pormaisquepossamosgostardeanunciaraciênciacomoalgocompletamenteobjetivo,elaéinfluenciadapelaculturaepelasociedadedaépoca.

“As pessoas tendem a pensar que a ciência é a verdade, a quintessência de tudo. É objetivo: os

cientistas têm uma hipótese e a testam”, disse Steve Wiltgen, pós-doutorando no Departamento deNeurobiologiaeComportamentodaUniversidadedaCalifórniaemIrvine,eumhomemabertamentegay.Quando o conheci, ele havia apresentado recentemente um pôster discutindo a história do estudoneurobiológicodahomossexualidadenumaconferênciadeneurociência.“Mas,quantomaisvocêvoltaosolhosparaaciênciaquejáfoifeita,maisvêcomoasquestõeseosestudoscorrespondemàscrençasdaépocaemqueessapesquisafoirealizada.”2

Historicamente,aênfaseneurobiológicanoschamadosgenesgaysexistiuporqueahomossexualidadeera consideradaumdistúrbiopsiquiátrico; até 1973, ela era até arrolada como tal noDiagnostic andStatisticalManualofMentalDisorders.Remanescentesdacrençadequeahomossexualidadeéumtipodedoençaaindapersistem,senãonosprópriosestudoscientíficos,semdúvidanamaneiracomograndeparte do público geral opta por interpretá-los. Os primeiros estudos que consideraram a orientaçãosexualeramclaramentecoloridospelaideiadequeahomossexualidadeeraumerrobiológicoquedeviaser desfeito. Com esse pano de fundo instalado, alguns dos primeiros trabalhos em neurobiologiabaseavam-senaideiadequeseriapossívelassociarumgeneouumgrupodegenesàorientaçãosexual,edequehaveriaapossibilidadedetratamento,talvezatédecura.

Genes“fruta”

Sealgumdiadeixousuasbananasnabancadadacozinhapor tempodemais,ébempossívelquevocêtenhavistoDrosophilamelanogaster, amosca-da-fruta comum,deperto e aovivo.Essasmosquinhasgostammuito de frutamadura passada.Embora você possa pensar apenas emmaneiras de exterminaressespequenosinsetosirritantes,elessãoummodeloanimalpreferencialparamuitosneurobiólogos.Seucérebro simples oferece um bom gabarito para testar grande número de teorias neurobiológicas, emtópicosquevãodaaprendizagemàfunçãosexual,passandopelamemória.Ahistóriadaneurobiologiadaorientaçãosexualcomeçacomesseprotótipo.

Essesinsetosirritantessãomuito,muitoheterossexuais.Defensoresdedireitada“família”poderiamcertamenteusá-los comoumemblemadapróximavezquequiserempromover algum tipodeprotesto.KulbirGill, geneticista que trabalhava naUniversidadeYale no início dos anos 1960, descobriu que,mutando um único gene da Drosophila, podia transformar esses bastiões masculinos daheterossexualidade em bissexuais que tentam fazer sexo com fêmeas e machos igualmente. EmGay,StraightandtheReasonWhy:TheScienceofSexualOrientation,SimonLeVay,umcientistaqueestudaa orientação sexual, escreve: “Quando essas moscas eram postas juntas em grupos formados só pormachos, formavam longas cadeias móveis que pareciam filas de conga, cada macho tentando (semsucesso)acasalarcomoqueestavaàsuafrente.”Éumaimagemmentaletanto.SevocêéfãdeCarmenMiranda, issoquase lhepermitiriaacreditarqueoscientistasdecidiramapelidaressegenede fruity–“fruta”, afeminado – por causa desses insetos dançantes, não por qualquer homofobia. Mas nãointeiramente.Aquiestáumexemplodecomoosestereótiposdaépocapodeminfluenciaraciência.Detodomodo,mais tarde os cientistas dariam a esse gene a designação ligeiramentemenos abominávelfruitless–estéril–(FRU).3

EmboraFRUtenhasidodeclaradooprimeirogene“gay”,estadenominaçãofoiumtantoimprópria.Quasetrintaanosdepois,quandoatecnologiaavançouapontodelhespermitirisolaresequenciarFRU,osgeneticistasdescobriramqueelenãodeterminavaaorientação sexualpropriamentedita.Oqueeledeterminava, de fato, era a capacidade das moscas de discriminar entre machos e fêmeas. QuandocientistasmanipulavamFRU,moscascomogenequesofreumutação tentavamacasalarcommachose

fêmeasindiscriminadamente.Sevocênãopodeperceberadiferençaentreumrapazeumamoça,porquenãotentaracasalarcomqualquermoscaqueporacasocruzeoseucaminho?Eramaisoumenosissoqueestava acontecendo com aquelas moscas-da-fruta mutadas. Seria difícil considerar esse achado umverdadeiroanálogodocomportamentohomossexual.

DesdequeGillidentificouFRU,váriosoutrosgenes“gays”foramidentificadosemmoscas-da-frutaeatéemespéciesdeordemmaiselevada,comocamundongos.Nãoédesurpreenderquemuitosdessesgenesestejamenvolvidosnoprocessamentodadopaminaedoglutamato,neurotransmissoresessenciaisnos comportamentos de amor e sexo.A descoberta desses genes deu credibilidade à ideia de que oscientistas estavam na pista certa – de que existiria um gene homossexual, apenas à espera de serdescoberto.Aolongodasdécadasseguintes,porém,opanodefundomudou.ComahomossexualidaderetiradadalistadedistúrbiosnoDSM,ofococientíficodeixoudeserumacuraoutratamento,passandoaseramaneiracomoaorientaçãosexualpodesedesenvolver.

Trabalhos recentes apontaram outra possibilidade, um gene chamado “gender-blind” [cego paragênero]ouGB,queexpressaumaproteínaqueajudaatransportarglutamatodeumneurônioparaoutro.Em 2007, David Featherstone, um biólogo da Universidade de Illinois em Chicago, mutou GB emmoscas-da-fruta. ComoFRU, essa mutaçãoGB alterou o comportamento de nossas resolutas moscashétero,demodoqueelaspassaramatentaracasalarcommoscasrapazesemoçasindiscriminadamente.Maisumavez,elassimplesmentenãopodiamprocessarainformaçãosensorialcorretaparaperceberadiferençaentreosdoissexos.OgrupodeFeatherstoneformulouahipótesedequemudançasnessegenepoderiam levar a alterações na força sináptica, e consequentemente produzir uma incapacidade deprocessarestímulossexuais.

De fato, quando Featherstone usou drogas ou outras vias genéticas para reforçar as sinapses, asmoscas mostraram-se novamente capazes de interpretar os estímulos sensoriais e retornar acomportamentos heterossexuais de acasalamento. Muitas pessoas comuns leram sobre esse estudo,ouvindoaomesmotempoobarulhoqueamídiafezemtornodele,ededuziramqueaorientaçãosexualnãoerabiologicamentedeterminada.Emvezdisso,podiaseralteradacomdrogasouterapiasgenéticas,contantoqueoscientistasencontrassemogenecorrespondenteemsereshumanos.Seessaeraounãoaintenção de Featherstone não era o que importava. Até hoje esse estudo é usado por alguns comoevidênciadequeahomossexualidadeéumfenômenoalterável.4

Derfner,quenãodiscordaquandoseusamigosodescrevemcomo“muito,muitogay”,acreditaqueosgenesprovavelmentetêmalgoadizersobreomodocomoaorientaçãosexualsedesenvolve,assimcomopodeocorrercomqualqueroutravariaçãonaturalrelacionadaaocomportamento.Masosimplesfatodeuma coisa ser alterável não a transforma numa escolha. “Fiquei surpreso por não ver mais pessoasenfurecidasporcausadoestudo[deFeatherstone]”,disse-meele.“Mesmoqueaciênciasedesenvolvaatéopontoemquenosserápossívelmudardeorientaçãosexual,etalvezissosejaapenasumaquestãodetempo,issonãocontemplaaquestãodesedeveríamosfazê-lo.”

Quando lhe perguntei se, em algummomento de sua vida, ele teria considerado umamudança deorientaçãosexualseissoestivessedisponível,suarespostafoiumimediatoeenfático“Não”.

Uma das mais recentes descobertas de gene “gay” ocorreu durante um estudo da regulação daabsorção do açúcar, uma enzima chamada fucose mutarotase. Chankyu Park e sua equipe depesquisadores no Instituto Avançado de Ciência e Tecnologia da Coreia chamaram esse geneoriginalmente deFucU, até que um gentil editor de jornal sugeriu queFucM seria mais apropriado.QuandoogrupodestruiuFucM(ou,comogostodechamá-lo,ogeneconhecidooutroracomoFucU)emcamundongos,descobriuqueissomudavaocomportamentosexualdasfêmeas.Amelhorpartedahistóriaé que a descoberta foi uma completa surpresa para os pesquisadores. Não havia nenhuma hipóteseoriginal de que comportamentos de acasalamento seriam alterados pela remoção do gene.5 “Foi um

resultado inesperado, mas é muito difícil prever qual será o fenótipo de um gene, mesmo quandopensamos conhecer sua função”, disse-me Park. “Especulamos que removê-lo poderia resultar emproblemasparaosistemaimune,masmesmoissoeraumaconjectura.”

Emvezdisso,Parkeseuscolegasdescobrirampeculiaridadesnoscomportamentosdeacasalamentoemfêmeascomogeneremovido.Oscamundongosmachosagiamnormalmente,fazendosexosemprequepodiam.Masasfêmeas,presasemgaiolasjuntocommachoseoutrasfêmeas,evitavamosmachosatodocusto.Elasnãoassumiamaposiçãolordóticaduranteocioenãoreagiamàurinadomachoenemmesmoafarejavam.Maisainda,essasfêmeascomogeneremovidotentavamacasalarcomoutrasmoçasdeumamaneiramuitomasculina.

“Aoqueeusaiba,éaprimeirademonstraçãodeumgenehomossexualemfêmeas”,dissePark.Elelevanta a hipótese de que FucM influencia as proteínas envolvidas no desenvolvimento cerebralsexualmentedimórfico,eoresultadoéqueessasfêmeascomogeneremovidotêmáreasenvolvidasnocomportamento sexual mais semelhantes às áreas cerebrais sexualmente ativadas dos rapazes, emparticularaáreapré-óptica.

Portanto, os cientistas encontraram supostos genes gays, de vários tipos, em moscas-da-fruta ecamundongos.Emalgunscasosforamcapazesdeinverteroscomportamentoshomossexuaiscomdrogasouamutaçãodeoutrosgenesrelacionados.Nãoseconseguiuencontrar,contudo,umcorrelatogenéticono genoma humano, e não podemos ignorar o fato de que o suposto comportamento homossexualobservado nessas moscas e nesses camundongos não é estritamente análogo ao comportamentohomossexualobservadoemsereshumanos.

Essaéumadistinçãocrítica.Sereshumanosgaysemgeralapresentamumaestritapreferênciaporumsexo,oseupróprio.Elessãocapazesdediscriminarentreossexos,apenaspreferemoseupróprio.Issoocorre em ambos os gêneros. O modelo de Park pode imitar melhor o comportamento de mulhereshomossexuaisquemodelosgenéticosanteriores,masasalteraçõesnãotiveramefeitoemmachos.Apesarda esperança de que os genes lançariam alguma luz sobre diferenças entre heterossexuais ehomossexuais,nãohá respostaclaranaspesquisasatuais.Aúnicaconclusãoquepodeserextraídadoatualcorpusdetrabalhoéqueháalgunscorrelatosgenéticossubjacentesàhomossexualidade,atéagoradesconhecidos.Eissopodevariarentremachosefêmeas.

Abuscadeparalelosnoreinoanimal

Talvezfossemaisfácilapontarquegenesestãoenvolvidosnocomportamentohomossexual(emvezdeencontrá-losacidentalmente)sepudéssemosobservarcomportamentosanálogosemoutrasespécies.Comtantos comportamentos superpondo-se entre seres humanos e nossos parentes evolucionários maispróximos,osprimatas,poderíamospensarquedevehaverpelomenosumaespéciedemacacosqueexibacomportamento homossexual. Embora comportamento sexual com o mesmo sexo seja amplamenteobservado em espécies primatas – macacos sentem-se felizes em fazer estripulias com membros domesmosexo–,essesanimaisnuncamanifestamumaescolhapreferencialporseuprópriosexo.Eessapreferênciaporumsexoemrelaçãoaooutroéoquedefineaorientaçãosexual:homensgayssentem-seatraídos por outros homens, mulheres lésbicas sentem-se atraídas por outras mulheres. Primatassimplesmente não se comportam assim.6 “Isto demonstra uma dificuldade na extrapolação demodelosanimais para seres humanos”, disse-me Kim Wallen. “A exigência é que eles compartilhemcaracterísticasdemaneirainvariável.Quandoconsideramosocomportamentoparacomomesmosexo,oqueencontramosemmacacosnãocompartilhaumacaracterística-chavecomoquevemosemhumanos.A

semelhançadesuperfícienãoseajustaàsubstânciadofenômenoqueestamostentandoestudar.”Há uma única exceção no reino animal: carneiros. De fato, aproximadamente 8% dos carneiros

machossãoorientadosparaseuprópriosexo.Elesaindaexibemcomportamentosmasculinosdecoito;apenas fazem essa mágica funcionar com outros carneiros machos. Essa preferência não muda nemmesmo quando esses carneiros são castrados (embora a castração de fato desacelere um pouco suaatividadesexual,reduzindoototaldetentativasdecopular).7Comoparecenãohaverovelhaslésbicas,porém,édifícil traçarparalelosexatos.Tambémnãosedescobriuumgenegaydecarneiros–nenhumanálogodosgenesFRU,FucMouGBfoiencontradonessaespécie.

Dada a singularidade do comportamento homossexual em seres humanos, muitos neurocientistasoptaram por se abster por completo de modelos animais e ir direto à fonte: seres humanos.Lamentavelmente, o trabalho feito em modelos humanos não produziu os resultados desejados. “HáevidênciasdequeocromossomoXdesempenhaumpapelnaorientaçãosexual”,disseDickSwaab,umneurocientista holandês que vem liderando o estudo da orientação sexual há décadas. Estudos deassociaçãodogenomaplenodeummarcadorgenéticonocromossomoXchamadoXQ28,realizadosporumlaboratórionosNationalInstitutesofHealthelideradosporDeanHamer,sugeremquepodehaverumvínculo do cromossomo com a homossexualidade masculina, mas os achados ainda precisam serreplicados.8

Apesardessepossívelmarcadorgenético,Swaabfezumadeclaraçãodecautela:eleduvidaquehajaumúnicogene emaçãonesses comportamentos epropõeque émaisprovável queospossíveis genesassociados à orientação sexual sejam relacionados a processos de desenvolvimento do cérebro queocorremenquantoo indivíduoaindaestánoútero.Lembra-sedoscérebrosdeleedeladoCapítulo6?Talvezodesenvolvimentodaquelasáreas sexualmentedimórficas,enquantoo fetoaindaestánoútero,sejaalteradoouperturbadodealgumamaneira,levandonãosóaprobabilidadesalteradasdedistúrbioscomoesquizofreniaeanorexianervosa,mastambémadiferentesorientaçõessexuais.

Alémdoquartodedormir

Todos nós conhecemos os estereótipos homossexuais. Homens gays sãomuitas vezes descritos comocriaturasmagricelaseefeminadasquegostamdemodaecachorrinhos,aopassoqueasmulhereslésbicasseriam atarracadas e masculinizadas. Se você tem amigos ou parentes gays, sabe que essas sãocaricaturas supersimplificadas. Assim como entre os heterossexuais, há grande variabilidade nacomunidadegay.Semdúvidaexistemasbichaseasmachonas,mas tambémhápessoasquevocênemsaberiaquejogavamnooutrotimeseelasnãolhetivessemcontado.Apesardessaimensadiversidade,estudos epidemiológicos e neuropsicológicos identificaram algumas diferenças entre populaçõesheterossexuaisehomossexuais.

Nofrontcognitivo,homenshomossexuaisdemonstramsistematicamentemaisdificuldadecomtarefasde rotação mental e percepção espacial que os heterossexuais; eles se equiparammais ou menos àsmulheres heterossexuais. Compensam essa deficiência com melhor memória de localização espacial.Tambémcomomulheresheterossexuais,têmboalembrançademarcosespaciaisduranteanavegação.Etendem a se sair melhor em vários índices relacionados à linguagem. Rahman acredita que essasdiferençascognitivassugeremalgumavariaçãonocérebro.“Sabemos,porexemplo,quearotaçãomentalé dependente do lobo parietal. Homens gays se saem nessas tarefas exatamente como mulheresheterossexuais”, afirmouRahman. “O interessante é quemulheres lésbicas não diferemnessas tarefas.Issosugerequeáreasparietaispodemserorganizadasdemaneiradiferente.”

Rahmanafirmaqueaorientaçãosexualnãoésóumaquestãodequemnosatrai;éumpacote,comumavariedadedeoutrostraçosenvolvidos.Elesincluemdiferençasnasoluçãodeproblemas,orientaçãoespacial,linguagemecogniçãosocial.Testandoessasdiferençaspodemoscompreendermelhorasáreascerebrais envolvidas, bem como a maneira como esses sistemas evoluíram para crescer juntos ecompletarunsaosoutros.

Istomefazpensarnosarganazes-do-camporesidenteseerrantesdeAlexanderOphireStevePhelps– a descoberta de que o número de receptores de vasopressina em certas áreas espaciais do cérebroindicammaiorprobabilidadedemonogamiaqueonúmerode receptoresnoscircuitosde recompensa.Comportamentosreprodutivospodemnãoenvolverapenassexoeformaçãodecasais;oprocessamentoespacialpodeajudardealgumamaneiraaseleçãodeestratégiasreprodutivasbem-sucedidasaolongodotempo.Essaideiaprovavelmenteseaplicaacomportamentoshomossexuaistambém.Ésemdúvidaalgoaconsiderar.

Diferençasneuroanatômicas

Com as técnicas de neuroimagem agora mais acessíveis aos laboratórios de pesquisa, os cientistaspodemfazermaisdoqueapenassuporquehádiferençasnocérebro;podemtestarahipótesediretamente.A suposição básica na neurociência é de que todos os comportamentos têm um correlato neuralsubjacente. Se as hipóteses baseadas em genes sobre mudanças no cérebro normal e sexualmentedimórfico tiverem fundamento, os pesquisadores deveriam encontrar diferenças claras entre cérebrosheterossexuaisehomossexuais–edefatoelesasveem.

Várias diferenças cerebrais estruturais e funcionais entre homens heterossexuais e homossexuaisforam identificadas,muitasdelasno laboratóriodeSwaab.Em1992,RogerGorski eLauraAllen,naUniversidadedaCalifórniaemLosAngeles,descobriramquehomenshomossexuaistêmumacomissuraanterior, uma área do cérebro que se supõe estar envolvida na habilidade linguística,maior que seusparesheterossexuais.Édignodenotaqueotamanhodessaáreaeramaissemelhanteàqueleencontradonos cérebros de mulheres heterossexuais. Ivanka Savik, pesquisadora extraordinária na área dosferomônios,notouassimetriasatípicasdogêneroemcérebrosdehomossexuais,significandoqueelesseassemelhavammuitomaisaosdemembrosheterossexuaisdosexoopostoqueaosdeoutroshomens.Porexemplo,homenshéterostêmcérebrosassimétricos,comhemisfériosdireitosmaiores;assimtambémaslésbicas.Aamígdala,aárearesponsávelpeloenvolvimentoemocional,apresentaconexõessemelhantesemhomensgaysemulhereshéteros,noentantoumpadrãodiferentedeconectividadeécompartilhadoporhomenshéterosemulheresgays.Outrasáreassexualmentedimórficas,comoohipotálamoanterior,envolvido no comportamento sexual, e o núcleo supraquiasmático, ou relógio biológico, tambémapresentamdiferençasentregênerosatípicasemindivíduoshomossexuais.Estudosdaexcitaçãosexualsugeremquecircuitoscerebraisseparadossãoativadosemparticipanteshomossexuaiseheterossexuais.9Há ampla evidência de que cérebros heterossexuais e homossexuais simplesmente se desenvolvemdemaneiras diferentes, o que resulta em circuitos, habilidades cognitivas e comportamentos tambémdiferentes.10“Nãosabemosseessasdiferençasexistemporqueasconexõesnocérebrosãodistintasouseháalgumefeitodapráticasexualoudaexperiêncianaorganizaçãodocérebro”,disse-meSavic.“Mas,sejaoquefor,estáláeédiferente.”

Swaab levanta a hipótese de que tudo se deve fundamentalmente à testosterona. Entre a sexta e adécimasegundasemanasdeumagravidez,ocromossomoY,seestiverpresente,iniciaumatempestadedetestosteronanoútero.Oaparecimentodessatestosteronaextraresultanodesenvolvimentodopênise

detodaagenitáliamasculina.Emsuaausência,genitaisfemininosdesenvolvem-se.Atestosteronanãoéapenas para as gônadas. Juntamente com o estrogênio e a progesterona, ela também age sobre odesenvolvimento e a organização do cérebro.Algum tempo depois que toda a questão pênis/vagina édecidida,esseshormônios,juntamentecomumacornucópiadeoutrasproteínasesubstânciasquímicas,influenciamodesenvolvimentodocérebro,oqueresultaemáreassexualmentedimórficas–vocêsabe,aqueles cérebros dele e dela. O aumento súbito dos hormônios que acompanha a puberdade sela onegócio, ativandoaqueles circuitos cerebrais específicosde cada sexoqueoriginalmentehaviamsidoorganizadosduranteesseprocessosecundárionoútero.

Uma falha nesse processo (ou talvezmais de uma) conduz a diferenças na orientação sexual, bemcomo na identidade sexual. A transexualidade, ou transgeneridade (o termo preferido por alguns nacomunidade lésbica,gay,bissexual e transgênera), éumacondiçãoemqueumapessoacomosórgãossexuaisdeumsexoidentifica-sefortementecomosexooposto.Essesindivíduosdizemcomfrequênciaque nasceramno corpo errado, que sua aparência não reflete seu verdadeiro gênero.É uma condiçãoextrema – que causa imenso sofrimento tanto para o indivíduo quanto para sua família. Tal como oshomossexuais, os transgêneros também exibem diferenças cerebrais atípicas em seu sexo,especificamente no hipotálamo e no núcleo do leito da estria terminal, ambos associados aocomportamentosexualemroedores.Nessasáreas,indivíduostransgênerosexibempadrõesdevolumeedenúmerodecélulascerebraismaisparecidoscomosdogênerocomquese identificamdoquecomaquele que habitam. Essa condição particular ainda é arrolada como um distúrbio no DSM, emboramuitos na comunidade de LGBT acreditem que não deveria ser. Swaab sustentou que, embora nãodevesseserobjetodeestigma,atransexualidadeaindaéumacondiçãomédica.Alterarocorpoparaquecorresponda ao gênero interno da pessoa envolve cirurgia invasiva de redesignação sexual, terapiahormonalemuitoaconselhamento.“Comohomossexual,épossívelviversemproblemas–nãohárazãoparaconsiderarahomossexualidadeumdistúrbio”,disse-meSwaab.“Atransexualidadeédiferente.Elerequerqueapessoaseadapteaumcorpoquenãopodeseadaptaraocérebro.Éumgrandeproblema.”

O que poderia explicar o desenvolvimento cerebral que resulta em homossexualidade e não emtransexualidade?Arespostaédesconhecida.Umavezqueessasdiferençascerebraisnãosãoaparentesaté a idade adulta, não há como detectá-las no início da vida.Cientistas sugeriramquemutações nosgenes responsáveis por um tipo de receptor de estrogênio, por um receptor de androgênio e pelaaromatase,umaenzimaqueconvertetestosteronaemestrogênio,podemtodoslevaraníveishormonaisanormais inutero e, como tal, sãopossíveis fatores subjacentes à transexualidade.Noentanto,não seconseguiudeterminarnenhumarelaçãocausalentrequaisquerdessesfatoreseatransexualidade.Algumacoisa acontece no desenvolvimento do cérebro; a fabricação daquele coquetel hormonal e químicoprecisoqueresultanacorrespondênciaentregônadasecérebroédealgummododesativada.Oquepodeestarportrásdetudoissoaindaestáporserdeterminado.

Mesmodeixandoatransexualidadeforadaequação,nãoparecehavernenhumarespostafácilparaodesenvolvimento da homossexualidade. É improvável que a disfunção seja a mesma em homens emulheres homossexuais. Embora estudos sugiram que testosterona excessiva no útero pode levar àhomossexualidadeemmulheres,éprovávelqueissonãoopereisoladamente.Alémdisso,asituaçãoemhomens não é tão direta. Alguns estudos apontam uma falta de testosterona; outros sugerem que umaquantidadeexcessivapodelevaradiferençasnaorientaçãosexualemhomens;outrosaindaindicamquea testosterona não está envolvida de maneira alguma. Ray Blanchard, professor de psiquiatria daUniversidade de Toronto, propôs um mecanismo diferente para a homossexualidade em homens, queenvolveumarespostaimunenoútero.11

Quer saber um fato curioso sobre homens homossexuais?A probabilidade de ser gay aumenta emmaisde30%comcadairmãomaisvelhoquevocêtenha.Éochamadoefeitodaordemdenascimento

fraterna (FBO, na sigla em inglês). Homens gays em geral têm mais irmãos mais velhos que seuscoetâneos héteros. É um achadomuito significativo, e limitado a homens. Ter irmãsmais velhas nãoaltera sua probabilidade de ser gay, e irmãos em geral não parecem ter nenhum tipo de efeito emmulheres lésbicas. Aqui está outra informação interessante: homens homossexuais com irmãos maisvelhostendemanascercomumpesomenorqueosheterossexuais.AcombinaçãodessesachadoslevouBlanchardasugerirque,depoisdonascimentodemúltiplos filhos,osistema imunematernocomeçaaproduziranticorposcontraosantígenosdofeto.Essaprogressivaimunizaçãopoderesultaremvariaçõesnodesenvolvimentodocérebroe,porconseguinte,naorientaçãosexual.12Háevidênciasbastantesparaampararessateoria,porém,maisumavez,édifícilprová-laourefutá-la.E,comoseestimaqueoefeitoFBOsóexplicaumemsetehomenshomossexuais,podehaverumpunhadodediferentesmaneiraspelasquaisosfatoresquedefinemaorientaçãosexualsãoalteradosnoútero.

Cheirovocêmaistarde

Oqueéqueofazsentir-seatraídoporalguém?Encontreipoucaspessoasquesesentematraídasapenaspor um pênis ou uma vagina, seja qual for sua orientação sexual. Elas acabam chegando lá, é claro,porémaatraçãocomeçaemalgumoutrolugar.Masonde?

“Agrandequestãoqueaindanãorespondemoséparaondeaorientaçãosexualrealmenteaponta,parao que ela está orientando”, disse Rahman. “A resposta intuitiva é gênero ou sexo. Mas isso podesignificarumgrandenúmerodecoisas.Podeseraformadeumcorpo,umtipoderosto,omovimento,algo na voz, ou uma combinação de todas essas coisas. Mais ainda, não sabemos em que medidadiferençasindividuaisdesempenhamumpapelnessarespostaorientadora.”

Hágrandeprobabilidadedequeheterossexuaisehomossexuaissimplesmenteprocesseminformaçãosensorial – visões, aromas, sons e paladares – de maneiras um pouco diferentes. Considere osferomônios,porexemplo.ComodiscutinoCapítulo7,essescomponentesfísicossãocontroversos,maspodem nos dizer alguma coisa sobre as diferentes maneiras como cérebros heterossexuais ehomossexuais processam mensageiros químicos. Savic e sua equipe examinaram a ativação cerebralusandotomografiaporemissãodepósitronsemhomenshomossexuais,homensheterossexuaisemulheresheterossexuais que haviam sido expostos a androstadienona (AND), um composto encontradoprincipalmente no suor masculino, a um esteroide estrogênico (EST) presente na urina feminina e aodoresmaiscomuns,comolavandaecedro.Savicsabia,porestudosanteriores,queANDeESTativamo hipotálamo anterior de umamaneira específica em cada gênero. O que ela não sabia era se haviaefeitosdiferenciaisbaseadosnaorientaçãosexual.

Talvez não seja uma grande surpresa, mas foi exatamente isso que ela encontrou. Homenshomossexuais e mulheres heterossexuais mostraram ativação hipotalâmica em resposta ao AND, comefeito máximo na área pré-óptica medial e no hipotálamo anterior. Não houve nenhuma diferençasignificativanaativaçãocerebralquandoosgruposcheiraramosodorescomuns.13

QuandoSavictentouomesmoestudoemmulhereslésbicas,encontrouocorolárioesperado.LésbicasehomensheterossexuaisapresentaramativaçãonohipotálamoanterioremrespostaaoEST;asmulheresheterossexuais,não.SegundoSavic,essepardeestudos fornece fortesevidênciasdequeaorientaçãosexualestáassociadaaprocessamentodiferencialdeestímulosrelacionadosasexo.14

Equanto a indivíduos transgêneros?Eles tambémapresentamdiferenças emseuprocessamentodehormônios?SavicpensouquetestarANDeESTemtransexuaishomem-para-mulhernãohomossexuaiseraopassológicoseguinte.Casovocêestejaconfuso,trata-sedepessoascomcorpomasculinoquese

identificam como mulheres e só fazem sexo com mulheres. O jargão pode ficar complicado;intuitivamentevocêpoderiapensarqueumtransexualhomem-para-mulhersófariasexocomhomens.Eupensava assimaprincípio.Masnesse estudoSavic e colegasoptarampordefinir a orientação sexualbaseadanagenitáliaqueapessoaexibeaonascer,enãoemqualqueroutrofator.

Quando comparado a indivíduos-controle heterossexuais femininos, esse grupo de transexuaishomem-para-mulherapresentouativaçãocerebralmuitosemelhante,mascomumaalteraçãointeressante.OANDativavaohipotálamonumgrupodeneurôniossimilaraovistoemmulheres,aopassoquehaviaumpequenoefeitodeativaçãopeloESTnumaáreadiferentedohipotálamo,semelhanteàquelavistaemhomens. Este último efeito era limitado, mas estava presente. Os dados sugerem, afirma Savic, umsistemadecircuitosatípiconosexomasculinonohipotálamodesseshomenstransgêneros.15

Aplicam-se a esses estudos as mesmas restrições feitas a outros estudos envolvendo feromônios.Savicusouumelevadoníveldeferomônios,centenasdevezesmaiordoqueoqueencontraríamosemsuor real. Contudo, apesar disso, os padrões diferenciais de ativação observados nesses diferentesgrupos sugerem que há diferenças importantes na maneira como o cérebro processa mensageirosquímicos,baseadatantonaorientaçãosexualquantonaidentidadesexual.

Amoréamor

Grandepartedos estudosdeneuroimagem referentes àorientação sexual concentrou-senasdiferençasentre os cérebros de homossexuais e heterossexuais e em como eles respondema estímulos olfativos.Esseéumbomlugarparacomeçar,porquecoisasdiferentesosativam.Masnãosignificaquenãohajaalgumas semelhanças essenciais entreosdoisgrupos.Oqueacontece senos concentramosapenas emsentimentosdeamoredeixamosdeladoquemporacasopõeoquêeondeduranteosexo(oque,parafalarcomfranqueza,provavelmentediferetantodentrodessesgruposquantoentreumeoutro)?Vocêselembra de Semir Zeki, o professor de neuroestética doUniversityCollege London, um dos primeirospesquisadores a tentarmapear os correlatos neurais do amor? Ele observou que centenas de anos depoesiaenarrativasdescrevemoamordemaneiras semelhantes.Nãoescapouà suaatençãoqueessasdescriçõespermaneciamsimilaresseoautorestivessediscutindooamorpelomesmosexooupelosexooposto. Portanto, sugeriu ele, o amor deveria parecer o mesmo para todos os cérebros,independentementedeorientaçãosexual.

ZekieseucolegaJohnPaulRomayaescanearam24pessoas,dozehomensedozemulheres.Todososparticipantes no estudo admitiram estar apaixonadamente enamorados, bem como em relações decompromissodecarátersexual;nocasodemetadedaspessoasdeambosossexos,essarelaçãoeracommembrosdomesmosexo.ComonoprimeiroestudodeZeki,eleeRomayamediramofluxosanguíneocerebralquandoindivíduosviamfotosdeseuparceiroedeumconhecidodomesmosexodoparceiroeidadeaproximada.

Mais uma vez Zeki e Romaya encontraram ativação do hipotálamo, da área tegmental ventral, donúcleocaudado,doputâmen,da ínsula,dohipocampoedocórtexcinguladoanterior.Emaisumavezhouveextensadesativaçãoem todoocórtex.Esses resultados reproduziramoestudooriginaldeZeki,bemcomoa ideiadequeoamoréaomesmo temporecompensadorecego.Osdoisnãoconseguiramencontrarnenhumadiferençaentreosparticipantesheterossexuaisehomossexuais.Noquedizrespeitoaocérebro,amorapaixonadoéamorapaixonado,nãoimportaqualsejaoseugêneroouodoseueleito.16

Equantoacomportamentosaprendidos?

Com um foco tão forte na epigenética, certamente você está pensando que algum tipo de componenteligadoàcriaçãodeveestarenvolvidonodesenvolvimentodaorientaçãosexual.Pareceumasuposiçãológica.Talvezcertoscomportamentosaprendidosoucertasexperiênciassexuaismoldemposteriormente,de algummodo, aquele sistemade circuitos neurais estabelecidonoútero.Afinal, quantas vezes vocêouviuavelhahistóriadequemãesdominadorasinfluenciamaorientaçãosexual?MasSwaabriudessaideia. “Quando dou aulas na escola demedicina, sempre peço aos alunos que não tiveram umamãedominadoraquelevantemamão.Ninguémlevantaumdedo”,disseele,continuandoarir.“Achoqueterumamãedominadoraéumacondiçãoprevalentedemaisparainfluenciaraorientaçãosexual.”

Assimcomonãohánenhumaevidêncianeurobiológicaquesugirahaverumaescolhaquandosetratade orientação sexual ou de identidade sexual, não há nada que indique que a experiência teria acapacidade de alterá-las. “As pessoas sempre quiseram falar sobre escolha. Isso é absurdo”, afirmouSwaab.“Averdadeé:aescolhafoifeitaporvocênoútero.”

Com base em sua própria experiência pessoal, na de amigos e em sua pesquisa para seu livro,Derfnerconcordaquenuncahouveumaescolha.Eleacreditaqueapesquisasobreosgenesenvolvidosdo desenvolvimento do cérebro parece promissora. “Isso faz sentido para mim, parece verdadeiro”,disse-me ele. “Obviamente, porém, tenho a impressãodequeomais provável é que estejamem jogotodos os fatores sobre os quais as pessoas estão falando mais outros 23 que ainda não foramdescobertos.”

Nãohánenhumarespostaúnicasobreorientaçãosexualouidentidadesexual,nenhumprocessobem-delineadonoúteroqueresultenessavariabilidadecomportamental.Épossível,senãoprovável,queumavariedade de diferentes processos resulte nesses fenótipos comportamentais. Provavelmente nenhumaquantidadedepaisdominadores,cançõesdemusicais,cabeloscurtosouHarleyDavidsonstemopoderdealterá-los.

“Não é como se cada homem gay acordasse um dia e dissesse: ‘Gente, aBarbra Streisand não éfantástica?!’ou‘Precisoassistiraummusicaleaprenderatricotar’”,afirmouDerfner.“Háumaenormevariação.E,sepudermosdeixarapolíticadelado,emboraeumepergunteseépossívelfazertalcoisanosEstadosUnidosatualmente,talvezessasvariaçõespossamumdiaserexplicadasbiologicamente.”

Qualéosentidodisto?

Na conferência de neurociência em San Diego, Steve Wiltgen contou-me que volta e meia, quandoapresentavaseupôstersobreahistóriadapesquisaneurobiológicasobrehomossexualidade,faziam-lheuma pergunta: “Deveríamos fazer esse tipo de pesquisa?” Ele admitiu que se sentiu pressionado aformularumaresposta.“Averdadeéquerealmentenãoseicomoresponderàpergunta.Quandoinicieiminhaprópriapesquisa,pergunteiamimmesmoporqueessanãoeraumalinhadeestudosmaisativa.Hátantoaaprender.Depoisrefletisobreofocoemcurasemepergunteioqueessainformaçãonosdiria.Sede fato encontrássemos um gene gay, o que a sociedade iria querer fazer com isso? Como não tenhorespostaparaisso,orapensoquedeveríamoscontinuar,orapensoquenão.”

Como Wiltgen, Derfner é um tanto ambivalente, no entanto alimenta a esperança de que maisconhecimentopossatrazermaiorcompreensão.“OobsessivonumaTorredeMarfimqueexisteemmimdiz: ‘Sem dúvida alguma, vamos estudar isso.’Mas estamos tão longe de saber o que está realmente

envolvido.Sechegarmosmaispertoem,digamos,cemouduzentosanos,minharespostapoderiamudar.Eupoderiadizernão.”

Wiltgen eDerfner deveriam se sentir encorajados como fato de que pesquisadores comoSwaab,SaviceRahman,diferentementedosprimeirospioneirosneurobiológicosnessecampo,nãotêmnenhuminteresseemcurasoutratamentosparaahomossexualidade.Swaabsustentaqueoestudodediferençasneuroanatômicasentrecérebroshomossexuaiseheterossexuaispodenosensinarmais sobreamaneiracomo todos os cérebros se desenvolvem. “É importante compreender. Compreendendo, podemosaprender a aceitá-lo”, disse-me ele. “Acredito que a aceitação tanto da homossexualidade quanto datransexualidadedeuumgrandepassopor causados estudosque fizemos aqui nosPaísesBaixos. Issosignificamuitoparamim.”

Rahman concordou.Ele também sugeriu que a neurobiologia da homossexualidade pode nos dizeralgumacoisa sobreomodocomoaorganizaçãodocérebroevoluiuatravésdaseras.Naverdade,elepropôsquetergenes“gays”napopulaçãopoderiaproporcionarumbenefícioevolucionáriodireto.“Aspessoasafirmamqueahomossexualidadeéalgoqueimpedeaevolução.Nãoéassimqueissofunciona.Aevoluçãoéumaquestãodecompromissosentrecustosebenefícios”, explicouele. “Sabemosque ahomossexualidadevemcomumpacotedeoutrostraços–talvezapossedecertonúmerodealelosgaysnumapopulaçãoheterossexual tragaconsigoalgumasvantagensclarasquepodemser transmitidas.Nomínimo, podemos supor que os genes gays são bons porque são claramente bem-sucedidos. Eles vêmsendo reproduzidos entre seres humanos há um longo, longo tempo.E continuarão a ser ainda por umlongo,longotempo.”

14.Estúpidoéquemamaestupidamente

VOCÊ JÁOUVIU istoantes:oamorpodeemburrecê-lo.Podefazê-locorrer riscosdesnecessários.Podetorná-lo um pouquinho maluco. Na verdade, discutimos isto nos capítulos anteriores deste livro. Noentanto,emboraoamorsemdúvidasejacapazdecausarprofundasperturbaçõesnocomportamento,elenuncaagesozinho.Émaisdotipoquejogaemequipe.

O problema parece começar com a atração, aquele puxãomagnético que você sente em relação aalguém muito antes que qualquer vínculo duradouro tenha se formado. Sentir-nos atraídos por outrapessoa, fisicamente ou de outra maneira, parece ter o poder de turvar nossa tomada de decisão.Shakespearedissequeoamorécego,mastalvezaatraçãosexualsejaacoisaquerealmentelimitanossavisão.

Estudos que examinam esses tipos de efeitos muitas vezes associam a hormônios esses déficitsrelacionados à atração. A atração sexual tem como efeito um aumento súbito de androgênios eestrogênios, aqueles pequenos motivadores químicos (ou, como Paul Micevych os caracterizou noCapítulo5,elesabremportões).Masseráqueaneurociênciadárespaldoàideiadequehormôniosnostornamestúpidos–naatraçãoounoamor?

Acabeçapequenapensandopelagrande

Nos tempos em que fazia shows stand-up, RobinWilliams arrancava aplausos ruidosos com a frase:“Vejam,oproblemaéqueDeusmedeuumcérebroeumpênis,esangueosuficienteparafazerapenasumdelesfuncionardecadavez.”Umaexplicaçãobastanteplausívelparaofatodeoshomensficaremmuitasvezessempalavrasnapresençademulheresbonitas,essapiadapareceuencontrarcorroboraçãoemmeadosde2009,quandopesquisadoresholandesesdaUniversidadeRadboudpublicaramumestudodemonstrandoquemulheresatraentespodiamdescarrilarofuncionamentocognitivodehomens.Nãoqueamaioriadenósprecisassedessaprova.Euapostariaquemuitosdenósjávimosemaçãoumavezououtraaestupidezmasculinaassociadaàatração.

Johan C. Karremans, membro do Departamento de Psicologia Social e Clínica da UniversidadeRadboud,iniciaoartigodescrevendooestudocomumadivertidaanedota:

Algumtempoatrás,umdosautoresdosexomasculinoconversavacomumamoçamuitoatraentecomquemnuncaestiveraantes.Emboraestivesseansiosoporcausarumaboaimpressão,quandoelalheperguntou onde elemorava, ele de repente não foi capaz de se lembrar do próprio endereço. Foicomo se sua preocupação em administrar a impressão que causava tivesse absorvidotemporariamenteamaiorpartedeseusrecursoscognitivos.1

Nãoémencionadoqualdosdoisautoresdosexomasculino,amboshomensrefinadosecomelevadonível de instrução, experimentou essa falha de memória particular. Mas o sentido é claro:

anedoticamente,parecequetodosnóssabemosquebelasmulheresexercemcerto tipodeinfluêncianoraciocíniodoshomens,mesmoaquelessujeitossuperinteligentesquedeveriamestarasalvodisso.IssofezKarremansperguntarasimesmosehaveriamaiscoisaspor trásdessahistóriaalémdaquelacoisaengraçadaqueaconteceucomaquelesujeitoquandoencontrouumalindamulher.

Para investigar isso,Karremans recrutouquarenta estudantes do sexomasculinopara realizar algochamadotarefa“duasatrás”.Umasucessãodeletraséapresentadanumateladecomputador,cadaumaporquinhentosmilissegundos,seguidaporumatelavaziapordoissegundos.Acadaletra,oparticipanteésolicitadoaindicar,comamaiorrapidezeprecisãopossível,seelaéamesmaapresentadaduasletrasantesdela.Sehouvercorrespondência,osujeitodeveapertarumatecladoteclado;senãohouver,deveapertaroutra.Umamedidadamemóriafuncional,oudacapacidadedemanterativamenteinformaçãonamentedemodoapodermanipulá-lamaistarde,atarefa“duasatrás”éconsideradaumbomindicadordacapacidadecognitivabásica.

Após completar umamedida de referência da tarefa, os participantes eram levados para uma salaadjacente,supostamenteparapassaralgumtempoenquantoatarefaquefariamemseguidanocomputadorerapreparada.Esperandoalihaviaum“experimentador”ou“experimentadora”,umassociadodoestudooualguémsefazendopassarportal,queseenvolviacomossujeitosdoestudoporalgumtempo.Apóssete minutos de conversa, os sujeitos voltavam à tarefa “dois atrás” no computador. Depois queterminavam, eram solicitados a classificar o grau de atratividade do “experimentador” e a indicar seestavamenvolvidosnomomentonumarelaçãoromântica.

Provavelmente ninguém ficará surpreso ao saber que uma mulher atraente no papel de“experimentadora”levouaumdeclíniosignificativonodesempenhocognitivo;nãosóisso,como,quantomaisatraenteosujeitoachavaa“experimentadora”,pioreraseudesempenhonatarefa.Essesresultadosmantiveram-se firmemente, quer o sujeito estivesse envolvidonuma relação românticanomomentoounão.

Num experimento de seguimento, a equipe de Karremans testou homens e mulheres numa tarefacognitivadiferenteeosfez interagirunscomosoutrosemvezdecomumassociadodoestudo.Destavez, pares domesmo sexo oumistos eram reunidos e instruídos a passar cincominutos conversando.Posteriormente,osdois eram testadosnoqueé conhecidocomo“tarefadeSimonmodificada”.Nessatarefa, apresentam-se palavras numa tela de computador nas cores branco, azul e verde. Se a palavraaparecerembranco,osparticipantessãosolicitadosadeterminarseénumapalavrapositivaounegativaapertandouma tecladesignada.Se estiver emazulouverde, são instruídos a ignoraro significadodapalavraeapenasdeterminarsuacor:azulouverde.Issopodeparecersimples,masnarealidadeéumatarefabastantedifícil, exigindoque sepasse rapidamentedeum tipode tarefaparaoutro.Depoisqueconcluíamessamissãocomplicada, os participantes recebiamumquestionário queperguntava emquemedidaquiseram impressionarooutroparticipantedoestudo,bemcomo se estavamenvolvidosnumarelaçãoromânticanomomento.

Maisumavez,oshomens,fossequalfosseseustatusderelacionamento,tiveramumdesempenhopiornesta tarefa sehaviamestadoconversandocomumamoça sexyanteriormente.Eles tambémadmitiramestar muito mais interessados em causar uma boa impressão quando foram emparelhados com umamulher. Quantomais queriam impressionar amoça, ao que parece, pior se saíram na tarefa. Nenhumefeitofoivistoquandoforamemparelhadoscomoutrohomem.

Agrandesurpresa?Asmulheresnãoapresentaramosmesmosefeitos.Emboraaquelasqueadmitiramestarmuitoansiosasporimpressionarsuacompanhiamasculinatenhamtidoumdesempenholigeiramentepior na tarefa cognitiva, esse resultado não chegou nem perto da correlação vista nos homens. Osresultados desse estudo não demorarammuito para se espalhar por toda a internet, com títulos como“Moçasbonitasemburrecemoshomens”2e“Porquemulheresbonitastornamoshomens(literalmente)

mais estúpidos”.3 Karremans e seus colegas afirmaram que os participantes do estudo usaram tantosrecursoscognitivosnatentativadeimpressionaromembrodosexoopostoquesimplesmentenãosobrounadaparaatarefa.(Observequeosautoressugeremtambémqueumestudosemelhantedeveriaserfeitocomparticipanteshomossexuaisparaverseoefeitosemantémquandoumhomemgayestáinteressadoemoutrohomem.Afinal,talveznãosejaosexoopostoqueestejainterferindonacognição,masosefeitoscolateraisdaprópriaatração.)

Assimqueoestudofoidivulgado,euaindaviviacommeuex-marido.Quandolhemencioneiessesresultadosenpassant, ele sacudiuacabeçaedisse: “Tenhoquasecertezadeque já sabiadisso.Nãopossoacreditarquealguémtenhasedadoaotrabalhodeestudarumacoisadessas.”

É verdade que os achados de Karremans correspondemmuito bem àmaneira habitual de pensar;certamente, é algoquepoderíamos incluir na categoria das tolices.Masos resultados de duas tarefascognitivasnãoprovamexatamenteestupidez.Poderíamos talvez identificaroutroefeitoseumamedidacognitivadiferentefosseusada.

Há um sem-número de distrações por aí no mundo que podem se interpor no caminho da ótimacognição; pode-se argumentar que temores com relação a uma reunião no trabalho ou que deixar dealmoçar também reduziriamodesempenhonuma tarefa cognitiva.Talvezummembro atraentedo sexooposto não seja tão especial nesse aspecto. Ou talvez haja alguma coisa acontecendo com os níveishormonaisqueinterfiranacapacidadederealizartarefascomplexas.

“Ébastantefácildemonstrarquehomensemulheresterãoestratégiasemetasdiferentesemtermosdojogodoacasalamento,talvezatéqueelessãoumpouquinhomaisimediatistas”,disseHeatherRupp.NoKinseyInstitute,elaeKimWallenencontrarampadrõesdeativaçãocerebralespecíficosdecadagêneroemindivíduosqueolhavamimagenseróticas.“Masmuitacoisadependedotipodetarefaquevocêestápedindo às pessoas que executem. Homens e mulheres têm habilidades cognitivas diferentes. Umaelevação na testosterona para um homem depois de interagir com umamulher atraente pode sermaisprejudicialparatarefasdetipoverbal,eaomesmotemponãoafetarmulheres.Mas,sevocêtiveralgumtipodetarefaespacial,talvezencontreoefeitooposto.”

MasKarremans e companhia nãomediram a testosterona nesses homens; eles não olharam para atumescênciapenianaenemmesmoperguntaramsobreníveisdeexcitação.Emvezdisso,suasconclusõesforamsimples:sevocêtemcertaquantidadederecursoscognitivosàsuadisposiçãoeusaumpunhadodeles na tentativa de impressionar umamoçabonita, não se sairá bemem tarefas cognitivas.Bastantedireto,defato.Mas,francamente,pormaisquequeiramosabraçaraideiadequeumamoçabonitatemopoderdetornarumhomemestúpido,continuamossemconseguirresponderamuitosdosporquêsecomosaqui, inclusive se esses resultados se sustentam através de toda uma bateria de diferentes tarefascognitivas, em grupos heterossexuais e homossexuais, ou se são de algummodo resultado de nossoshormônios.Assim,emboraotítulo“Moçasbonitasemburrecemoshomens”sejaeminentementedignodesercitado,elenãoé,quandoexaminamososdadoscommaisatenção,exatamentepreciso.

Boasmoçasgostamdecarasmaus?

Semulheres bonitas emburrecemos homens, o corolário é óbvio: boasmoças gostamde carasmaus.Maisumavez,issodáaimpressãodeserverdadeeéumfenômenoque,quandoestudado,temopoderdegeraralgunstítulosrealmenteirresistíveis.

Acontece que alguns trabalhos têm examinado se mulheres se sentem mais atraídas por homens“masculinos”. Quando esses estudos são divulgados, a expressão homemmasculino muitas vezes se

transformamagicamenteem“caramau”.Issoparecelógicoporqueesseshomensmasculinoscostumamser transgressores das regras, um pouco desordeiros e não impressionados pela autoridade. Sãocarismáticos e sociáveis. Com frequência são um pouco egocêntricos também. Podem ser do tipoheroico,arrancandocriancinhasdeprédiosemchamasoucorrendoatravésdeumcampodebatalhaparasalvar um camarada caído. Em geral não são muito saudáveis. As mulheres parecem amá-los. Enaturalmentesãoabarrotadosdetestosterona.4

Oque se verifica é que não precisamos examinar o currículo de umhomemoumesmopassar umtempotãograndecomeleparasaberseeleéumsujeitomasculino.Podemosformarumaideiabastanteboa simplesmente dando uma olhada em seu rosto. Aqueles mesmos níveis de testosterona que secorrelacionamcomoscomportamentosanimadoslistadosacimatambémtêmopoderdeentalharumtipoparticularderosto.“Étudoumaquestãodearcadasupraciliarelinhadoqueixo”,disseRupp,antesdeme dizer que o ator australiano Hugh Jackman é um bom exemplo de rosto masculino. “Outro bomexemploéoatorJavierBardem.Elenemétãobonito,masaindaassimérealmentesexy.”

Balancei a cabeça, concordando. Javier Bardem é um excelente exemplo do que os roteiristasHeather Juergensen e Jennifer Westfeldt definiram de maneira tão pungente como “feio sexy” noprovocativofilmedosanos1990BeijandoJessicaStein–istoé,extremamenteatraente,emboranãonosentidoconvencional.Eusemdúvidanãoojogariaforapordeixaratoalhamolhadaemcimadacama.“Mas,comJavierBardem,nãoésóoseurosto”,eudisse.“Eletemaquelesotaque,aquelavozgrave,rouca.Esecomportacommuitagraçaeconfiança.”

“É uma observaçãomuito pertinente”, respondeu ela. “Mas esses também são traços relacionadoscomatestosterona.Estamosfalandoderostos,éclaro,mas,nomundoreal,essestraçosrelacionadosàtestosteronaandamjuntos.”

Ainda assim, os rostos nos oferecem muita informação. Repetidamente, estudos neurocientíficosmostraramqueocérebroamaalgumas feições.Aspessoas sãomuitoboasem reconhecer edistinguirrostos,mesmoquandoelessãoincrivelmenteparecidos.Erevelou-sequeumaáreaespecíficadocórtexchamadagirofusiformeajudaaidentificá-los.Estáclaroqueosrostossãoespeciais.

Váriosestudosdemonstraramquemulheressentem-semaisatraídasporumrostomasculinoquandoestão em seumomentodemaior fertilidade, umperíododo ciclomenstrual chamado fase folicular.Aideiaaquiéquehormôniosfemininos,emparticularosestrogêniosaumentados,sugeremàsmoçasquebusquem um tipo particular de parceiro, o tipomasculino.Afinal, esses genesmasculinos com saúdemelhorada e uma dose extra de audácia seriam benéficos para qualquer prole potencial. Se ela nãoestiverovulando,bem,nessecasoumsujeitomaisfemininoserve,umquesejaatraente,masnãotãofortenosupercílioenoqueixo.Deumaperspectivaevolucionária,essesujeitomaisfeminino,semtodaaquelatestosteronaimpetuosa,dariaummelhorcompanheiro;seriaalguémquesemanteriaporperto,ajudariaacriar os filhos e faria sua parte paramanter a casa arrumada. É uma excelente história,mas é difícilintegrar diretamente todas essas coisas. As evidências sugerem que há algum tipo de relação entrehormônioseotipodehomempeloqualumamulhersesenteatraída,masaindanãosesabecomoesseefeitoémediado.

Para examinar os correlatos neurais subjacentes a esse fenômeno, Rupp e outros pesquisadores,inclusiveThomasJames,neurocientistadaUniversidadedeIndianaqueestudaapercepção,mediramaatividadecerebralemdezesseisparticipantesdosexofemininosolteirasenquantoelasavaliavamfotosderostosmasculinosquehaviamsidoligeiramentemasculinizadosefeminizadospormeiodesoftwaredetransformaçãogradativadeimagens.“Quandopúnhamososdoisrostosladoalado,asmulheresnãoosviamconscientementecomomasculinizadosoufeminizados”,disseJames.“Émuitodifícilperceberadiferençaentreosdois.”

Atarefaerabastantesimples.Cadarostoeraapresentadocomonúmerodeparceirassexuaisrecentes

do homem em questão e o uso típico de preservativos.As participantes no estudo eram solicitadas aindicar se provavelmente fariam sexo com o homem com base nas informações dadas. A atividadecerebraleramedidaenquantoasparticipantesestavamnafasefoliculardeseusciclosetambémdepois,nafase lútea(metadenãofértildociclomenstrual).Seusangueera tambémexaminadoporocasiãodeambasassessõesparaseobterumamedidamaisexatadeseuestadohormonal.5

Ogrupoencontroualgunsresultadosinteressantes.Primeiro,comparadascomasfacesfeminizadas,asfacesmasculinizadasgeraramatividadeemcincoáreascerebraisespecíficas:ogirotemporalsuperioresquerdo, o giro pré-central bilateral, o córtex cingulado posterior direito, o lobo parietal inferiorbilateral e o córtex cingulado anterior bilateral. Essas áreas estão envolvidas no processamento defeições,bemcomonaavaliaçãoderiscos,sugerindoque,conscientementeounão,rostosmasculinizadossão percebidos não só comomais atraentes,mas também comomais perigosos. O efeito foi bastantesignificativo,considerando-sequãoligeiramenteasfaceshaviamsidoalteradas.

Quando o grupo examinou os níveis hormonais, constatou que o nível de testosterona da própriamulherprediziapositivamenteaativaçãonocinguladoanterioreposterior,regiõescerebraisenvolvidasna tomada de decisão. No entanto, a fase do ciclo menstrual em que a participante por acaso seencontrava não se correlacionou com nenhuma das ativações cerebrais significativas. Os autorespropuseramahipótesedequenãohaviamsidosuficientementeespecíficosnaescolhadomomentoemqueotestefoiaplicado.Comumacurtajaneladefertilidade,elespodemsimplesmentetererradooalvoaotentarcapturarafasefolicular.Aindaassim,osachadosforamimpressionantes.

Estasáreasforamativadasnoprocessamentoderostosmasculinizados.Aativaçãonocinguladotantoanteriorquantoposteriorcorrelacionou-secomoestadohormonal.IlustraçãodeDorlingKindersley.

Essessinaisdemasculinidadeerambastante subconscientes.“Tantoasmulheresquantooshomenssãobonsemcaptar sinaisnãoverbais subconscientes sobreumparceiro sexualpotencial,que lhesdátoda sorte de informação semque eles tenham consciência de estar recebendo”, disse-meRupp. “Seunível hormonal poderia torná-las mais salientes.” Mas como seu ex-orientador, Kim Wallen, Ruppapressou-se em assinalar que ver um sujeitomasculino durante sua fase folicular não significa que amulherestácompelidaairatéofim.“Elarecebeessassugestõessubconscientes,sim,quepodemtorná-

lamaispropensaa irparaacamacomumsujeitoparticular”,dizela.“Mas issoéseusubconsciente.Nãoésóelequedecide.Aparteconscientedeseucérebropodeemseguidaentraremaçãoeajudaradecidirseelavaiounãorealmentefazerisso.”

Rupp, James e seus colegas perguntaram-se se os níveis hormonais estariam alterando a maneiracomoasmulheres avaliavam rostosmasculinos.Talvezosníveismais elevadosde estrogêniona fasefolicularaumentassemamotivaçãoparaveressesrostosmasculinizados,sexymasarriscados,sobumaluz mais positiva. Eles decidiram testar isso com um segundo grupo de participantes, o qual faria amesma tarefa do estudo anterior,mas desta vez asmulheres veriam também fotos de casas comoumacondiçãodecontrole.

Nesteestudodeseguimento,ospesquisadoresdefatoidentificaramfluxosanguíneocerebralalteradodependendo da fase do ciclo de uma mulher. Quando estavam em seu momento mais fértil, na fasefolicular,elasapresentavammaiorativaçãonocórtexórbito-frontal,umaáreadocérebroenvolvidanarecompensa e na avaliação de riscos, bem como no julgamento da atratividade. Isso foi observadoquandoasmulheresviramrostostantomasculinizadosquantofeminizados,levandoRuppasugerirqueafase folicular trazconsigonão somenteumaquantidademuitomaiordeestrogênio,mas tambémmaioravaliação positiva, oumaior probabilidade, para umamoça, de usar óculos de lentes cor-de-rosa aointeragircomumsujeitobonitão.6

ComoocorreucomoestudodeKarremans,essesresultadosgeraramalgunsótimostítulos,entreosquais“Exploreseuladomauparaconquistá-la”7emeufavorito:“Porqueosbonzinhosficamparatrás.”8É claro que nenhum dos dois tópicos era realmente o que Rupp, James e os demais pesquisadoresestavaminvestigando,demodoque,quandopergunteiparaJames:“Asmoçassentem-seatraídaspelosmausrapazes?”,eleriu.

“Minha resposta é que não sabemos o bastante”, respondeu ele. “Sei que as pessoas queremrespostas,emgeralumarespostapretonobranco.Masaciêncianãofornecerespostasassim.”

Ruppdeu-meuma resposta semelhante: “Overedicto aindaestápendente.Obviamente,paraque areproduçãofísicaocorra,precisamosdessasvastasmudançashormonais.Etambémsabemosqueessasalterações afetam a percepção e amotivação.Mas ainda estamos trabalhando commuitas suposiçõesnestecaso.Hámuitosfurosemnossacompreensãoqueprecisamospreencher.”

Sexoetomadadedecisão

Talvezumdesses furosenvolvaaprópria tomadadedecisão. Istoé, seriamasdecisõesque tomamossobresexofundamentalmentediferentesdaquelasquetomamosaoescolheroquecomernocafédamanhãouquaisasaçõesquedevemosounãocomprar?Apesardofatodeocérebroseiluminarfreneticamenteemrespostaaestímulossexuais,RuppeJamessustentamqueessesprocessosdetomadadedecisãonãosãodiferentesdaquelesdequalqueroutrotipo.

Ao examinar mais atentamente a ativação do córtex cingulado anterior enquanto as mulherescontemplavam todosos rostosmasculinos,ogrupopercebeualgo interessante.Participantesdoestudorelatavam que prestavam atenção ao número de parceiras sexuais que um homem tivera e se ele erapropenso a usar preservativos; quanto mais baixo o risco, maior a probabilidade de que tivesseminteresseemfazersexocomohomem.Esseshomensdebaixoriscoprovocavamativaçãomaisfortenocórtexcinguladoanterior,bemcomonomesencéfaloenosulcointraparietal,quesãoáreasqueseativamem todo tipo de tomada de decisão, quer a tarefa envolva um jogo econômico ou a necessidade deponderar riscos e recompensas. Isso, supuseram os pesquisadores, significa que a tomada de decisão

sexualnãoédiferentedadequalqueroutrotipo.9“Aspessoastendemapensarnocomportamentosexualenatomadadedecisãosexualcomocoisas

singularesquenãocompreendemos”,disseRupp.“Osdados,noentanto, sugeremoutracoisa. Isso fazsentido–o cérebronãocria redundâncias.E, aoque tudo indica, amotivaçãoe a tomadadedecisãosexual não são diferentes de nenhum outro tipo de tomada de decisão baseada em recompensas quefazemosnavida.”

Rupp, James e seus colegas propuseram-se a testar a hipótese diretamente em um novo estudo.Ofereci-me como sujeito-piloto. Embora um pouco acima da faixa etária que eles focalizavam, aindaassimpudeauxiliá-los.Eufariatodasascoisasqueumaparticipantenormalteriadefazereosajudariaaresolverquaisquerdificuldadesnoparadigmadoestudo.ViajeiparaaUniversidadede Indiana, comopartedeminhaperegrinaçãoaofamosoKinseyInstitute,paratermeucérebroescaneadoduranteminhafaselúteanãofértil–destavezparaexaminarnãomeusorgasmos,masminhasdecisões.

Nesseestudo,mostraram-mequatrodiferentestiposdefotos:comidas,bebidasalcoólicas,homenseobjetosdavidacotidiana.Cadafoto,qualquerquefosseseutipo,tinhaumacifranuméricaeapalavraSimouNãojuntodela.Paraqualquercomidadada,onúmerorepresentavaseunúmerodecaloriaseoSimouNãomediziaseorestaurantequeapreparavahaviasidocitadoanteriormenteporviolaçõesàsnormassanitárias.Osvaloresjuntoàsbebidasindicavamonúmerodeunidadesdeálcooleseeutinhaummotoristadesignadodeprontidãoparamelevarparacasaseeuatomassealémdamedida.Pertodosrapazes?Haviaonúmerodesuasparceirassexuaisrecenteseseosujeitocostumavausarpreservativoemsuasrelações.Quantoaosobjetoscomuns,onúmeroeraumpreçoeoSim/Nãodenotavasealojaqueosvendiaaceitavadevoluções.Minhatarefaeraavaliarasfotoseosvalorescorrespondentesedecidirse eu comeria aquelas comidas, beberia aquelas bebidas, transaria comaqueles homensou comprariaaquelesobjetos–eudeviasimplesmente tomarumadecisão intuitivacombasena informaçãodada.Eteriadefazê-lousandoumaescaladequatropontos–extremamente improvável,umtanto improvável,um tanto provável ou extremamente provável – digitandominhas respostas num teclado numérico queentrariacomigonoescâner.Emborafosseumatarefasimples,eranecessárioumpoucodecoordenaçãomentalparacompletá-lanospoucossegundosemquecadafotoeraexibida.

Comoeunãoestariamexendopartesdemeucorpoparaprovocarorgasmo,apreparaçãodofMRIfoimuito mais simples. Para começar, ele estava situado não num hospital, mas no próprio prédio dodepartamento de psicologia, algumas portas depois das salas dos professores. Acesso muito fácil, enenhumamáscaraderedetipoS&Meranecessáriadestavez.Minhacabeçafoicentradaeimobilizadacom um pouco de espumamacia.O nível de ruído foi omesmo – não há comomudar o som de ummagneto que gira. Mas fiquei numa situação infinitamente mais confortável que no estudo sobre oorgasmo,oquefoiumaboacoisa,considerando-sequeteriadepensarmais.Paranãodizerqueteriadepressionarquatrodiferentesbotões,emcontraposiçãoaumúnicolocalizadoemminharegiãoinferior.

Momentosdepoisqueomagnetocomeçouagirar,umpequenosinaldemaisnomonitormefezsaberparaondeeudeveriaolhar.Clanc.Clic.TUNC!TUNC!TUNC!Eu estava pronta.Aprimeira foto foi umcoqueteldefruta,umabebidacommorangosgeladosnumcopodemartíni,guarnecidacomumacintilantee açucarada fatia de abacaxi. Junto dela estavamo número 4 e a palavra Sim.Ok, esse drinque teriaquatrounidadesdeálcool.Pareciamuito(emespecialàsoitohorasdamanhã),maseutinhaummotoristadesignadodeprontidãoparamelevarparacasa.Mesmoassim,eunãoestavarealmentecomdisposiçãoparaumaressacadesorvete.Cliquei“umtantoimprovável”eespereiqueaimagemseguinteaparecesse.

Eraafotodeumgaroto.Eledeviateruns22anosepareciasaídodeumcatálogodaAbercrombie&Fitch.Seucabeloeracompridodemaisparameugosto,deliberadamentedesgrenhadoecommuitogelpara desafiar a gravidade. Ele também precisava fazer a barba. Os valores que lhe correspondiaminformaram-mequeeletiveraapenasumaparceirasexualnomêsanterioreusavapreservativos.Claro

que não era umparceiro de cama de alto risco.Objetivamente era um sujeito bonitão.Mas não pudeengoliraquelecabelo.Comoumavelharabugenta,querialhedizerparacortá-lo.Aúnicacoisaquepudefazerfoiclicar“extremamenteimprovável”epassaràfotoseguinte.

Durante os trintaminutos que se seguiram foram-memostradas imagens de brownies, fita adesiva,camarõesfritos,cheesecake,várioscoquetéis,relógios,macarrãoaoqueijoeumainfinidadedemarcasdetestáveisdecervejalight.E,sim,tambémviumgrandenúmerodegarotos.Meuusodotermogarotosaqui é intencional.Esses jovensencantadores, comooprimeiroexibido, eram todos indiscutivelmentebonitos. Por certo não posso contestar isso.No entanto, nenhum fazia omeu gênero.Entre os olharespenetrantes(tipoOlhar43)eoscabelosrealmenteridículos,permaneciinvariavelmentefria.Descobrique, por mais seguros que eles pudessem ser como parceiros sexuais, eu estava usando o botão“extremamenteimprovável”cadavezqueumaparecia.Começavaamesentirumavelhotaesquisita,umavelhotaesquisitaeassexuada.PeloamordeDeus,asmulheresmaisvelhasestãonoauge–eudeveriaestarávidapelosjovenzinhos.Assim,quandoummeninobonitodeexpressãomaisoumenosnormalnorosto apareceu, respondi que seria “extremamente provável” que eu fosse para a cama com ele emprincípio.Naverdade,seestivéssemosemalgumaboateoucaféeelerealmentemeabordasse,euteriaficadomaispropensaacontratá-loparatomarcontadomeufilhodoqueameenfiarsoboslençóisnacasadele.

Durante toda a sessão, além dessa vez para esse único rapaz, cliquei o botão “extremamenteprovável”umtotaldecincovezes.Issoapartirdoquedevetersidoalgopróximodecemfotosdeváriascomidas,bebidas,rapazeseobjetos.Imaginoqueoueuestavamuitoargutaecriteriosa,mergulhadaemminhafaselútea,ousimplesmenteprontaparaentrarnumconventograçasàidadeeaodivórcio.Oquemedispusadizerqueera“extremamenteprovável”queapreciarianaquelabelamanhã?Unsbloquinhosde Post-it cor-de-rosa (provavelmente porque acabara de ficar sem nenhum em casa), um belo filémalpassado,ummacarrãoaoqueijoabsolutamentedecadenteeumagarrafadevinho tinto.Entre todasaquelasfotos,inclusiveadoúnicorapazaceitável,tenhoaforteimpressãodequefoidiantedofiléquemeucérebromostrouamaisintensaativação.

Mais tarde conversei comRupp, a pesquisadora que criou o conjunto de estímulos para o estudo.Quandomencioneiqueasfotosdosmeninosrealmentenãohaviammexidocomigo,elariu.“Lembro-mede que, quando estava escolhendo essas fotos, senti-me como se fosse uma velhota escolhendopornografiamasculina”,disseela.“Essesrapazesdestinam-sesemdúvidaamulheresmaisjovens.Istoé,pelomenoselesnãoparecerãomeninosparaelas.”

Mais tardeencontrei-mecomJuliaHeiman,diretoradoKinsey Instituteecoautoradessesestudos,comRuppeJames.Elameperguntouoqueeuacharadosestímulos.Comohaviasidofrancacomtodososoutrosaesserespeito,faleidocabeloridículomaisumavez.Mas,apósteralgumashoraspararefletirsobre minha experiência no aparelho de fMRI, senti-me obrigada a tentar justificar minha falta deinteresse.“Estounomeiodeumdivórcionesteexatomomento”,disse-lhe.“Tenhoaimpressãodeque,atéeleterminar,meuestímulorecompensadorótimocontinuarásendoumfiléeumcopodevinhotinto.”

Elariu.“Issosuscitaumaquestãoimportante.Nãoachoqueamaneiracomovocêrespondeuhojeéamaneira como responderá para sempre. Seria interessantemedir sua resposta hoje e daqui a um ano.Quemsabe,depoisdetodoessetempo,vocêestaránumnovorelacionamento,ourelacionando-secomváriaspessoas.Vocêpodeatéviratercertaquedaporaquelessujeitoscomcabeloridículo.”

EmboraHeiman estivesse obviamente procurando fazer comque eume sentissemelhor, o que eladissemefezpensar.Rupptiveraocuidadodedizerquetemosumgrandenúmerodepressupostosduranteatomadadedecisãosexual.Elespoderiammudarcomotempo?Elaesuascolegastestarammulheresentredezoitoe23anos.Eseexaminassemmulheresmaisjovens?Mulheresmaisvelhas?Épossívelquenossosgostosmudemcomotempo–enossasdecisõestambém.Nãosesabetambémseessasdecisões

estão correlacionadas com estados hormonais, que podem flutuar tanto com a idade quanto com ocontexto. É claro que o cérebro está sempre mudando, com cada coisa que aprendemos, com cadarelacionamento que temos.Mas sabemos pouco sobre o que acontece ao longo de nossa existência, ecomo issopodesermediadoporníveisdehormônio.Talvezaqueles“carasmaus”, seéquepodemoschamá-losassim,sósejaminteressantesquandosomosjovens.

Éigualmentedignodenotaqueessestiposdeestudosóexaminaramatomadadedecisãosexualdemulheres.Oqueveríamosseestudássemoshomens?Poderiaseuprocessodetomadadedecisãomostrardiferentesefeitosemdiferentesidades?Terãoelesproblemacomocabelodeumamulher?Atomadadedecisão inadequadamediada pormulheres atraentes ocorreria apenas quando os homens são jovens eviris?

A resposta para todas essas questões é que simplesmente não sabemos. Apesar daqueles títulosengraçados, amaioria desses estudos oferecemuitomais perguntas que respostas. E, quanto àminhaprópriafaltadeapreçopeloscarasmaus,possoapenasaceitaroconselhodeHeimanesugerirquevocêmeperguntesobreelesdaquiaumano.Outroaniversárioouumatransasexycomumnovocaratalvezmeleveagostardocabeloridículo.

15.Háumalinhatênueentreamoreódio

OQUEUMAMULHERqueacaboudesetornarmãeeumsoldadotêmemcomum?Issosoaquasecomoumapiada, que admite vários desfechos, os quais,muito provavelmente, não seriammuito engraçados.Naverdade, porém, tanto soldados quanto mães exibem o que alguns chamam de resposta de “vigiar edefender”quandosetratadeprotegerosseus:osfilhosouoscamaradas.Umestudorecentesugerequeessa resposta está ligada à oxitocina.O trabalho commodelos animais indicou hámuito tempo que aoxitocinanãoapenaspromoveumvínculo;elatambémpodeincitarcertotipodeagressão.

“Aoxitocina ajuda comovínculo,mas elanão resulta apenas emamor”, explicouKerstinUvnäs-Moberg, o especialista sueco em oxitocina e um dos co-organizadores do primeiro encontro sobreneurobiologiadoamor.“Mãesrecentessãomuitodefensivas,superprotetorasdosfilhoscontraseumeioambiente.Assimtambéméumhomemapaixonado.Elepodeserciumentoeagressivo.Háumamudançanosentimentoqueéextremamenteagradávelecalmante,sim,masparecehaverumamudançatambémemnossamaneira deperceber e naquilo quepodemos identificar comoameaçador quando estabelecemosessevínculo.”

Podemosvislumbrarquantoumpoucodeamorpodenostornaragressivosexaminandoarganazes-do-campo recém-acasalados. Quando pesquisadores conduzem testes sobre preferência de parceiro comarganazes-do-campo, pondo um animal vinculado a outro numa gaiola de acrílico com seu parceiro emais um estranho do sexo oposto após uma separação, não leva muito tempo para que os animaisacasalados se tornem agressivos com o intruso. Um macho numa relação monógama disputará suacompanheira com outro macho até a morte. As fêmeas, embora não tão agressivas, também tendemfortementeadefenderseuterritório.

“Arganazes-do-campofêmeasnãocompartilharãoseuparceirocomumaoutrafêmeanãoconhecida”,disseSueCarter,aquelapesquisadorapioneiradaoxitocinaquetrabalhanaUniversidadedeIllinois,emChicago.“Descobrimosque,secolocássemosduasfêmeasnãoaparentadaseummachojuntos,omachoacasalariacomambas.Noentanto,apósacasalarequandoos filhotesnasciam, só restavaumadessasfêmeas.Aoutramorria.Ninguémconseguiaidentificaracausadamorte,porquenamaioriadasgaiolasnãohaviasinaisóbviosdeluta.Noentanto,podíamospreverqueumadasfêmeasmorreriaporqueaquelaque viveria estava sempre sentada entre ela e omacho, aparentemente guardando-o. Podíamos preverqualdelasiriasobrevivercommuitacertezaporqueessafêmeasereposicionavacontinuamentedemodoqueaoutrasimplesmentenãopudessechegarpertodomacho.Erahorrívelperceberquearganazes-do-campo podiam ‘morrer de estresse’, presumivelmente por serem repelidos. Paramos de fazer essesexperimentosdepoisquecompreendemosqueumadessasfêmeasiriasempremorrerseasdeixássemosnessetipodesituação.”

Ai!O amor, como se costuma dizer, é cruel. Tanto nos vínculos românticos quanto nosmaternos,juntamentecomauniãosurgemníveisaumentadosdeestresseeagressão.CarstenDeDreu,pesquisadorda Universidade de Amsterdã, queria ver que papel a oxitocina desempenharia nessa agressividadeaumentada–eseelapoderiatranscenderumaconexãoamorosaeexplicarovínculocomumgrupoeaagressividadeaosquenãopertencemaele,talcomovemosemguerraseoutrostiposdeconflitohumano.Mais especificamente, De Dreu formulou a hipótese de que a oxitocina modula o que ele chama de“altruísmo paroquial”, ou confiança e autossacrifício em benefício do próprio grupo, usando a

agressividadetantoparasedefenderdosestranhosquantoparaatacá-los.

Altruísmoparoquial

DeDreu e seus colegas recrutaram homens para participar de uma variante do chamado “dilema doprisioneiro”.Naversãoclássicadessatarefa,opçõesparaumacordosãooferecidasadoissuspeitosdeumcrime.Elessão informadosdeque,seumdenunciaroparceiroeconcordaremtestemunharcontraele,serálibertado,enquantoocúmplicereceberáasentençamáxima–digamos,dezanos.Seambossetraíremmutuamente,ambosobterãosentençasreduzidasdecincoanos.Seambosconseguiremficaremsilêncio, receberão uma punição extremamente branda – apenas seismeses por uma acusaçãomenor.Cada umdeve decidir se vai delatar o outro suspeito ou ficar em silêncio. Se os suspeitos estiverempensandonogrupo e não apenas em simesmos (e confiaremqueo parceiro estará também fazendoomesmo),aescolhaé fácil: ficaremsilêncio.Fazê-losignificaqueosdoisparceiros receberãoapenamínima.Apesardisso,amaioriadosindivíduossimplesmentedelataoparceiro.Edemaneirabastanterápida;emtermoseconômicosindividuais,issoéoquefazmaissentido.

NoestudodeDeDreu,osparticipantesforamaleatoriamentedestinadosaumdedoisgruposdetrêspessoas.Essavariaçãodo“dilemadoprisioneiro”originalenvolveudinheiro.Cadaindivíduorecebeudez euros.Os participantes podiam então decidir compartilhar esse dinheiro com osmembros de seugrupoouentreosdoisgrupos.Seoparticipanteguardasseodinheiroparasimesmo,cadaeurovaleriaexatamenteisso:umeuro.Sedesseumeuroaofundocomumdeseugrupo,cinquentacentavosdeeuroextrasseriamacrescentadosparacadamembrodeseugrupo–portanto,basicamenteoeurovaliaagora1,50. Os participantes tinham outra opção: dar para um fundo intergrupal. Se o fizessem, não apenasdavam cinquenta centavos de euro extras a cadamembro de seu próprio grupo,mas também tiravamcinquentacentavosdeeurodecadamembrodogrupooposto.

Sei que parece complicado, mas, examinando onde cada participante punha seu dinheiro, ospesquisadorespodiamavaliarsuaconfiançanoprópriogrupoesuaagressividadequantoaooutrogrupo.Porexemplo,acontribuiçãoparaofundodoprópriogrupoproporcionaobenefíciomáximoparatodoogrupo,representandooamorporele.Contribuirparaofundointergrupalatingiaooutrogrupoondedói,tirando dinheiro de seusmembros aomesmo tempo em que ainda se oferece algum benefício para oprópriogrupo.Seoparticipantedecidisseguardarseudinheiroparasimesmo,issosugeriaqueelenãose identificava com seu grupo demaneira alguma; estava cuidando apenas de simesmo.Antes de sesentarpara jogar,osparticipantescheiravamumpoucodeoxitocinaouumplacebo (eles ignoravamoqueestavamrecebendo).1

A equipe de De Dreu descobriu que a oxitocina ampliava o amor ao próprio grupo. Isto é, osparticipantesficavammaispropensosacontribuirparaofundodoprópriogrupose tivessemrecebidoumapitadadoneuropeptídioemvezdoplaceboantesdetomarsuasdecisões.Noentanto,aoxitocinanãomudouomodocomocontribuíramparaofundointergrupal.Aoqueparece,elanãointerferiunodesejodeprejudicarooutrogrupo,apenasnodecontribuirparaobemcomumglobaldoprópriogrupo.

Alémdisso,quandofoiperguntadoaosparticipantes,depoisquehaviamdistribuídoodinheiro,oquepensavam que seus companheiros de grupo haviam feito, os pesquisadores descobriram que os quehaviam cheirado oxitocina estimavam que os outros haviam dado quantias muito maiores que asestimadaspelosquenãohaviamrecebidooneuropeptídio.Nãohouvediferençasnosjulgamentosfeitossobre o outro grupo. Isso, sugerem os pesquisadores, significa que a oxitocina também aumentou aconfiançadentrodogrupo.

Aadministração de oxitocina não resultou emnenhumódio ou agressividade total ao outro grupo.Masajudariaa fomentarumestadodefensivo,comovistoemmãeseanimais recém-acasalados?Paratestara ideia,DeDreuconduziuumexperimentodeseguimento.Essesparticipantesdesempenharamamesmatarefa,masfoi-lhesoferecidaaopçãodecooperarcomummembrodooutrogrupoparapromovera doação intergrupal – algo que beneficiaria todos, não apenas os membros do próprio grupo. Osindivíduosquereceberamoxitocinaforammuitomenospropensosacooperarcomummembrodooutrogrupo, citando a necessidade de proteger o seu próprio. Ao que parece, a oxitocina não promove aagressividade para atacar, mas promove a agressividade para defender um vínculo de uma ameaçapotencial.

O estudo de De Dreu testou apenas homens. Isso nos faz pensar se veríamos a mesma coisa emmulheres,nãoé?Meu instintodizquesim,equalquermulherque já seviu repelidaporumbandode“meninas malvadas” sabe sobre o que estou falando. De Dreu não tem uma resposta. Ele afirma norelatório do estudo que “conflitos intergrupais violentos envolvem commaior frequência homens quemulheres”, por isso os experimentos se referem ao sexo mais relevante. Não tenho tanta certeza.Arganazes-do-campofêmeas,cabeobservar,tambémsãomaisagressivasapósaformaçãodeumvínculomonogâmico. Talvez diferentes situações afetem homens e mulheres de diferentes maneiras. De todomodo,sustentoqueénecessáriofazermaispesquisasafimdeavaliaremquemedidahomensemulherespodemserdiferentesaesserespeito.

Está claroqueaoxitocinadesempenhaumpapel tantoemcertos tiposdeagressividadequantonoamor e na formaçãodevínculosmonogâmicos.DeDreu acredita que esse trabalho ilustra o papel daoxitocinanacapacidadedossoldadosdeagircoesamentecomoumaunidadecontrauminimigocomumodiado.Osjogoseconômicospodemrealmentenosrevelaralgosobreaquela linhatênuequeseparaoamoreoódionumcontextomaispessoal?EmboraoestudodeDeDreuilustreoalcancedaoxitocina(paranãomencionarsuasutileza)ecomoelapoderiainfluenciartantoacoesãoquantoodefensivismoemcertostiposdeinteraçãosocial,elenãonosdizmuitosobreaneurobiologiadoódio.Tambémnãoincluitodasasoutrassubstânciasquímicasquepodemmediaressesefeitos.

“Nãohánenhumcomportamentoquesejaapenasummecanismodeoxitocinaouvasopressinaoudequalquersubstânciaquímicaisolada”,disseCraigFerris,pesquisadordaagressividadedaUniversidadeNortheastern.“Aperguntaquesempre façoéoquemaisé liberado,comoquemaisaoxitocinapodeestarinteragindoaqui.Earrisco-meaconjecturarquehácinquentacoisasdiferentessendoliberadas,senãomais.”

Neuropeptídiostêmespíritodeequipe–elesnãotrabalhamsozinhos.Ferrisapressou-seemassinalarque todo comportamento agressivo é dependente do contexto, o que afetará quais substâncias sãoliberadase,porextensão,quetipodeatividadecerebralocorre.Nemtudoéumaquestãodeoxitocina.Ascoisassimplesmentenãosãoassimtãosimples.

Correlatosneuraisdoódio

Equantoàsregiõescerebrais?Seháumalinhatênueentreamoreódio,querdefinidapelaagressividadequerporumestadoemocionalmaissubjetivo,nãodeveríamosencontrarumaativaçãocerebralanáloga?Como um estudo de seguimento para seu trabalho sobre o amor, Semir Zeki, do University CollegeLondon, decidiu usar fMRI para examinar as regiões cerebrais subjacentes ao ódio. Ele previu quepoderia haver alguma semelhança entre esses dois estados que talvez se refletisse em resultados deneuroimagem.

“Tantooamorquantooódiosãosentimentosbiológicosfortes”,explicouele.“Ambostambémsãofatoresmotivadores, que podem impelir pessoas a realizar grandes coisas, e por vezes as impelem afazercoisasmuitomás.Ambospodemseravassaladores.Oódioemgeraltemumaconotaçãonegativa,masnarealidadeéumfenômenobiológicoqueserveparamanterosindivíduosjuntosafimderealizarcoisascontraoutros.Éexatamentetãodignodeserestudadoquantooamor.”

QuandopergunteiaZekiseeleachaqueoódioéumapulsão–comomuitospesquisadoresafirmaram–,eledisseque,sim,épossívelquerecaianamesmacategoria.“Pensoqueéumapulsãonegativa,masque pode ajudar uma pessoa a realizar coisas, algumas das quaismuito úteis e outrasmuito nocivas.Pensoqueoódionosimpeleaperseguirlinhasprejudiciaisparaoutros,mastambémaperseguirlinhasbenéficasparanósmesmoseparaoutros.”

Oamoreoódiodeumindivíduoestãomuitasvezesassociados.Pensesobreisto:comquefacilidadeodiamosumapessoaqueoutroraamamos,emespecialseorelacionamentoterminounumanotaamarga?Pormaisquetenhamossidoensinadosdesdetenraidadequeoódioéalgoruim,porvezesparecequasemaisfácilalimentaressetipodeemoçãointensaporalguémquenostenhasidomuitoquerido.Haveriaumaconexão?FizaZekiexatamenteessapergunta.“Hátantaambiguidadenarelaçãoentreessascoisas”,disse ele. “A beleza pode muitas vezes levar ao desejo, que pode levar ao amor. Esse é um tópicointeressantedopontodevistadaneurobiologia,compreenderessaprogressão.Assimtambém,amaneiracomooamorpodesetransformaremódioéigualmenteinteressante.Certamente[oamoreoódio]estãomuitasvezesligados.”

ZekieseucolegaJohnPaulRomayaescanearamdezesseteindivíduossaudáveisenquantoelesviamfotos de alguémpor quem expressavam intensa raiva, bem como de três conhecidos por quem tinhamsentimentos neutros (tão emparelhados por sexo e aparência básica quanto possível). Para medirsentimentoseaçõesbaseadasnoódio,ZekieRomayaelaboraramumnovoquestionário.Aoprepararasquestões,concentraram-seemtrêselementosque lhespareciamnecessáriosparaosentimentode forteódio: uma negação de intimidade, ou o desejo de estar omais longe possível do objeto de ódio; umsentimento de paixão, ou uma raiva ou medo demonstráveis em relação ao objeto de ódio; e uma“desvalorização”doobjetodeódiobaseadaemexpressõesdedesprezo.Apontuaçãodeódioresultantevariava de 0 (absolutamente nenhum ódio) a 72 (ódio com uma paixão devoradora, impetuosa).Dezesseis dos dezessete participantes do estudo confessaram odiar intensamente um ex-amante ou umcolegadetrabalho.Onúmerodezessetefoiumpoucodiferente–elareservouseuódioparaumpolíticofamoso.Aindaquepossamosdemonstrar facilmentequeesses tiposdeódio sãomuitodiferentes, elesforam agrupados juntos, uma vez que, em todos os casos, o sentimento estava dirigido para umúnicoindivíduo.

DepoisqueentravamnoaparelhodefMRI,osparticipantesviamcadarostoindividualmente;orostoodiado bem como os três neutros, cada um por cerca de dezesseis segundos. Cada participante foiinstruídoaclicaremumbotãodepoisqueorostodesaparecia;nãofoidadanenhumainstruçãoadicionalsobreoqueosparticipantesdeveriamsentirouimaginaraovercadafoto.Foiumasimplestarefapassivadeolhar.

Talcomoesperado, todosos rostosativaramogiro fusiforme,umaáreacerebralquehámuito foirelacionada com o processamento visual de feições. Quando Zeki e Romaya compararam o rosto doobjeto odiado com os outros, encontraram ativação adicional em várias áreas, entre as quais o girofrontalmédio;ocórtexpré-motor,áreanecessáriaparaoplanejamentoeaexecuçãomotora;eopolofrontal, uma estrutura envolvida na previsão de como outros indivíduos podem agir ou reagir. Zekiinterpretouessaativaçãocomoevidênciadequeasviasneuraisparaoódiosãodistintasdasdoamor.Além disso, formulou a hipótese de que essas áreas compõem uma rede, a qual é importante para afocalização da atenção sobre o objeto odiado, a previsão de seus comportamentos potenciais e a

preparaçãoparaatacá-looudefender-sedele.ZekieRomayaencontraramtambémalgumasuperposiçãocomseusestudosanterioresdoamor.Tanto

a ínsula quanto o putâmen, duas regiões que apareceram em vários estudos de neuroimagem do amorromântico,tambémseiluminaramquandoosparticipantesolharamparaumapessoaqueodiavam.2

Esteúltimoresultadonãomepareceutãosurpreendente.Quandomeuexeeuestamosesclarecendoosdetalhesdenossodivórcio,háocasiõesemquefico incrivelmente irritadacomele.Eupoderiaatédizerqueporvezes,decertomodo,sintoraivadele.Discutirquestõesdedinheiro temesseefeitoatésobreaspessoasmaisangelicais,oquedecididamentenãosou,masaverdadeéque,quandovejosuasfotos,emparticularaquelasemqueeleestá sorrindocommeu filho, sintoalgo inteiramentediferente.Quasedetestoadmitirisso,masoquesintoéamor.Seestousimplesmentelembrandooamorquesentiaporeleouse,emalgumamedida,aindaalimentoesseamor,nãoseidizer.Imaginoqueessesentimento,nãoimportaoqueseja,talveztivesseopoderdeconfundirosresultadosseeuestivesseparticipandodeumestudocomoodeZeki.

“Você acha que talvez tenha encontrado ativação no putâmen e na ínsula porque tantos dosparticipantesdoestudoeramex-amantes?”,perguntei-lhe.

Áreascerebraisativadasduranteumatarefaenvolvendoódio.Aínsulaeoputâmen(nãomostrados)tambémsãoativadosemestudosdeneuroimagemdoamor.IlustraçãodeDorlingKindersley.

“Nãopossodizer”,respondeuele.“Essefoiumestudomuitoinicial.Eugostariadeseguiradianteecompararpessoasqueodeiamoutrastalvezpordiscordaremdelas,ouporteremsidoprejudicadasporelas,comaquelasqueodeiamoutraspessoasporqueasamaramnopassado.”

“Evocêdiriaqueosresultadosdesseestudoinicialprovamaideiadeque,comosecostumadizer,háumalinhatênueentreamoreódio?”

“Nãosei”,respondeuelesimplesmente.“Nenhumaconjectura?”“Não.Estousendomuitoconservadoremrelaçãoaisso.Agora,obviamenteháalgumaconexão.Mas

qualpoderiaserela,nãosei.”Quando perguntei a Zeki que achado nesse estudo mais o havia surpreendido, ele respondeu

rapidamente:“Aausênciadedesativaçãonocórtexmesurpreendeu.Oódio,comooamor,podelevaraspessoas a comportamentos e ações irracionais. Fiquei surpreso por não vermos o mesmo tipo dedesativaçãodetodoocórtexqueidentificamosnoestudodoamor.”

Oqueexplicariaessafaltadedesativação?Zekinãosabeaocerto,maspodeteralgoavercomaansiedade. Perto dessa área de desativação há outra cujo envolvimento em estados obsessivo-compulsivosfoipreviamentedemonstrado.Talvezafaltadedesativaçãotenhaalgoavercomaobsessãoeacompulsãonecessáriasparamanteroódiovivo.Vamosadmitir,odiarrequerumbocadodeesforço.

Não pude deixar de observar que a superposição entre regiões cerebrais no amor e no ódiocorrespondeaoresultadodealgunsestudosanimaisqueapontamopapeldaoxitocinatantonaformaçãodevínculosmonogâmicosquantona agressividade.Perguntei aZeki se ele pensaque aoxitocina estáenvolvida,seessasáreascerebraissão,talvez,favorecidaspelaliberaçãodeoxitocina.“Acreditoquenão é apenas a oxitocina que está envolvida, mas também substâncias químicas como a dopamina, avasopressinaeaserotonina”,afirmouele.“Todaselasestãofortemente ligadasumasàsoutras,unidasnumequilíbriofino.Eesseequilíbrioentreastrêsparecesermuitodecisivoparadeterminarestadosdeamoreódio.”

AtéhojeoestudodeZekieRomayafoioúnicoqueexaminouoscorrelatosneuraissubjacentesaoódio.Trata-sedeumestudoúnicoque,comoZekiadmitedebomgrado,exigealgumtrabalhosequencial.Ele planeja continuar examinando diferentes tipos de ódio, daquele entre ex-amantes a divergênciasraciais.ComodisseFerris,ocontextoéimportante–narealidade,decisivo–paraacompreensãodoquepodeacontecernocérebro.Umgrandeamorquese transformaemódioparecemuitodiferentedeumaposturadefensivacontraumgrupoalheioaonossooucontraumcompanheirodetrabalhoquesurrupiounossapromoção.

Maisumavez,questioneiZekiacercada ideiadeumalinha tênueentreamoreódio.Eleachaqueessaafirmaçãoéverdadeira?Talvezsejaopanodefundodemeudivórcioquemefazinsistiremobteruma respostapara isso.Epor isso ficopasmaaoverumneurocientista responder simplesmente“Nãosei”,semobenefíciodealgumaconjectura.Zekiriuquandopergunteidenovoeemseguidarespondeuàminhaperguntacomoutrapergunta:“Comovocêexplicaaambiguidade?Hámaisumacoisaquevocêdeveexplicar.Háumarelaçãoentreamor,belezaedesejo.Ódiotambém.Abelezamuitasvezeslevaaodesejo,quepodelevaraoamor.Oamorpodelevaraoódio.Essatransmutaçãoémuitointeressantedopontodevistadaneurobiologia.”

“Sem sombra de dúvida”, concordei. “Podemos dizer alguma coisa sobre como essa transmutaçãoocorre?Istoé,emtermosneurobiológicos?”

“Isso suscita mais uma questão. Temos as ferramentas adequadas para estudar essas questões?”,perguntou.“Pensoquetemosalgumas,masnãotodasasferramentasdequeprecisamos.Eciência,boaciência,sópodeexistirgraçasàpossedasferramentasapropriadasparaestudarquestõesparticulares.Nesteexatomomento,nãoestoucertodequetenhamosasferramentasparatratardessasquestões.Mas,por enquanto, podemos dizer que o ódio, pelo menos aquele dirigido para um indivíduo, tem umaassinaturaúnicanocérebro.”

16.Omaiordetodososamores

ALGUMAS SEMANAS ATRÁS, peguei um carro alugado no aeroporto de Indianápolis numa fria e ventosamanhã de domingo para ir ao Kinsey Institute. Estava ocupada demais tentando encontrar a saída dolabirintodemúltiplos terminaisparamexernobotãodorádio,e foisóquandomeviemsegurançanarodovia interestadual queme dei conta de que ele estava sintonizado numa estação cristã.Apesar depreferirumpoucoderock’n’rollquandoestounaestrada,ouviporalgunssegundosenquantoumamulhercomumcarregadosotaquesulistaprestavaumtestemunhoreligioso.

“MeuamorporJesus,comoodelepormim,émaiordoquetudo”,disseela.Emseguida,contouahistóriade seu renascimentoespiritual,narrandocomohavia superadoasmuitasdecisõeserradasquetomaraantesdasalvação,relaxandoedeixandoJesusassumiradireçãodascoisas.Osdetalhesdesuahistórianãosãoimportantes,excetoofatodequeelaatribuíaàsuafé(esomenteàsuafé)areviravoltaocorridaemsuavida.Suaspalavras finais foramoqueme impressionou;ela terminouseu relatocomoutraproclamaçãodeamor. “Nãohánadana terracomoabrir seucoraçãoparauma relação íntimaepessoalcomJesus”,exclamouela.“Éoverdadeiroêxtase.”

Nãopudedeixardenotaraescolhadepalavrasaolongodetodooseutestemunho:relaçãomaiordoquetudo,íntimaepessoal.Foiaqueleardenteempregodapalavraêxtaseaofinalquedefatomechamouaatenção.Mudeocontexto,eessamulherpoderiaperfeitamenteestarfalandosobreumnovonamoradodeumamaneiraextremamentesensual,nãosobreseuSenhoresalvador.Parecehaverumaboamedidadesuperposiçãoentreaspalavrasqueusamosparadescreveroamorromânticoeaquelasqueempregamosemdiscussõessobreadevoçãoreligiosa.SeguindoacartilhadeSemirZeki,essacorrelação,presenteemescritosedepoimentosreligiososdosúltimosséculos,podesugerirqueáreascerebraiscomparáveissubjazem a esses fenômenos. E veja bem, não em uma determinada fé; essa não é apenas umacaracterísticacristãoubudista.Temavercomaquelabuscainteriorporcompreenderalgoqueestáalémdenossomundo,nãoimportacomoaempreendemos.

“Areligiãotemmuitoavercomcultura”,disse-meMarioBeauregardnaUniversidadedeMontreal.Ele é um pesquisador do florescente campo da neurociência espiritual, por vezes chamada deneuroteologia.“Masespiritualidadeédiferente.Apossibilidadedaespiritualidadeestáemnossosgenes,emnossocérebro.Demodogeral,trata-sedealgobiologicamentepossível.”

Debatessobreanaturezadaalmafogemaoescopodestelivro.Háváriosvolumesporaíquepodemconduzi-loatravésdalongaeumtantoestranhahistórianeurocientíficadaconexãoentrementeecorpoecomoamentepode teralgoemcomumcomaalma.Oqueestáemquestãoaquiémais seadevoçãoreligiosamereceserchamadade“omaiordetodososamores”(comodefinidanaescoladominicaldaminha infância, em contraposição à conhecida música de Whitney Houston), se o amor religiosocompartilhaalgumasdasmesmascaracterísticasneurobiológicasdealgumasdasoutrasformasdeamorquediscutimos.

O“módulodeDeus”

Porquealgumaspessoaspensamqueaexperiênciareligiosa,espiritualoumísticatemopoderdeoperarmudançasnocérebro?Porquetudotemesseefeito–essasexperiênciasnãosãoexceção.“Nãohánadade único na experiência religiosa nesse aspecto”, disse Jordan Grafman, neurocientista que estuda acrença. “Qualquer exposição a qualquer coisa mudará o cérebro um pouquinho. O que nos permiteavançar pela vida é a maneira como nos adaptamos e nos organizamos de acordo com novasexperiências.Nãodeveriasurpreenderaninguémqueareligiãonãosejanadadiferente.”

Areligião,comoqualqueroutraexperiência, temopoderdemudarocérebro.Masoquepodesermais interessanteésaberqueáreascerebraisespecíficasestariamenvolvidasnaexperiênciareligiosa.Em 1997 Vilayanur Ramachandran, diretor do Brain and Perception Laboratory da Universidade daCalifórniaemSanDiego,chegouàsmanchetesquandoapresentouevidênciasdeumchamado“módulodeDeus”nocérebroduranteareuniãodaqueleanodaSocietyforNeuroscience.1Indivíduoscomepilepsiado lobo temporal, condiçãomarcada por crises convulsivas espontâneas e repetidas, apresentam comfrequênciaintensadevoçãoreligiosa.AlgunspesquisadoresatépropuseramqueprofetasreligiososcomoJoanad’ArceJosephSmithJr.sofreriamdessaenfermidade,emboraessessejamdiagnósticospóstumose,portanto,merasconjecturas.Dequalquermaneira,háumalongahistóriadeestudosligandoepilepsiaaintensozeloreligioso.

As crises epilépticas são de natureza elétrica. São explosões de superatividade no cérebro queresultam em comportamentos que variam de simples períodos de ausência a convulsões violentas. AequipedeRamachandrancomparouaatividadecerebraldeindivíduosreligiososcomepilepsiadolobotemporal,indivíduosmuitoreligiosossemaenfermidadeeumgrupodeindivíduos-controlenãoreligiosoenquantoelesviampalavraseimagensdecaráterreligioso,violento,sexualouneutro.Aavaliaçãodoresultadodessaexposiçãofoifeitaapartirdarespostadecondutânciadapele,queindicaindiretamenteaforça das conexões entre o córtex temporal inferior e a amígdala, área que reconhecidamente atribuisignificado emocional às coisas.A avaliação poderia dizer aos pesquisadores se a atividade elétricaanormalnoscérebrosdosepilépticosestava“excitando”oureforçandoviasneuraisparaconferirpoderadicionalaobjetosepalavras.Esseefeitodeexcitaçãopoderiaexplicarofervordessespacientes,bemcomoarespostacerebralintensificadaacertostiposdepalavraseimagens.Seessaexcitaçãoestivesseocorrendo, tudo,de fenômenos religiososameiasparapráticaesportiva, seriamais significativoparaessespacientes.Talvezaepilepsiaelevasseesseenvolvimentoemtodasascategorias.

Emgeral,empacientesnormais,océrebrorespondesobretudoaestímulossexuais.ComomedisseThomasJames,oprofessordaUniversidadedeIndianaqueconduziuoestudosobretomadasdedecisãoapetitivas, imagenssexuais“põemocérebroparafuncionar”.Emtodasascategorias,a intensidadedarespostanocérebroaestímulos sexuais é emgeralduasa trêsvezesmaiorquea respostaaqualqueroutro tipo de estímulo. Se você não aproveitarmais nada deste livro, pelomenos terá aprendido quenossoscérebrossãomuito,muitointeressadosemsexo.NoestudodeRamachandran,omesmotipodeefeito se confirmou no caso dos participantes não epilépticos, quer eles fossem ou não religiosos: asimagenseaspalavrassexuaisdeixavamseuscérebros,ouasrespostasdesuapele,ligados,porassimdizer.

Nosepilépticos,contudo,opadrãodeatividadefoidiferente.Elesapresentaramcondutânciadapelemaiselevadaemrespostaapalavraseíconesreligiosos,comrespostasdiminuídasaosoutrostiposdeestímulos–inclusiveitens ligadosaosexo.SegundoRamachandran,osresultadosdemonstraramhaverumaárea localizadadocérebro responsávelpelaexperiência religiosa,maisprovavelmenteemalgumlugarnolobotemporal.2(Paraefeitoderegistro,Ramachandranadmitetambémapossibilidadedehaverum Deus que visita essas pessoas diretamente. Esta é apenas uma teoria não passível de sercientificamentetestada.)3

AomesmotempoqueRamachandrantestavapacientesepilépticos,MichaelPersinger,psicólogoda

UniversidadeLaurentiannoCanadá,observou,demaneiraindependente,queumgrupodeneurôniosnolobo temporal, perto da amígdala, se ativava quando indivíduos refletiam sobre Deus ou aespiritualidade. Ocorre que essa era a mesma área geral do cérebro que Ramachandran estavaexaminandoemseuspacientesepilépticos.QuandoPersingerestimulavaessasáreasusandoumacorrentemagnética baixa que imitava a atividade neural, algo muito interessante acontecia: essas pessoasrelatavam sentir uma “presença” abrangente por perto, juntamente com uma sensação intensificada debem-estar.Persingerafirmouter induzidoumaexperiênciareligiosausandounicamenteumcapacetedemotocicletaealgunssolenoides(umsolenoideéumfinofiocondutorenroladoemhélicequeproduzumcampomagnéticoseaplicadaumacorrenteelétrica).4

Esses dois estudos fizeram furor na imprensa – em especial o chamado “capacete de Deus” deMichaelPersinger.MuitoscríticossugeriramquecientistascomoPersingerestavamtentandoreduzirosentimento religioso a um simples artefato neurobiológico.Amaioria dos pesquisadores no campodaneurociência espiritual, porém, deseja apenas compreender melhor o efeito da experiência religiosasobreocérebro.Nãoestãointeressadosemdesmascará-laoujulgá-la.

“Paramim,ainformaçãoqueMichaelPersingerforneceufoiqueoslobostemporaisdesempenhamum importante papel em diferentes tipos de experiências religiosas e espirituais”, explicou AndrewNewberg, diretor de pesquisa doMyrna Brind Center for Integrative Medicine no Thomas JeffersonUniversityHospitalandMedicalCollegeeumafiguradedestaquenessecampo.“Nãoachoqueoslobostemporaissãoosúnicosmediadoresdessasexperiências.Enãopensoqueessesresultadospodemnosdizeralgodedefinitivosobrequalseriaaverdadeiranaturezadessasexperiências.”

EmboraostrabalhostantodeRamachandranquantodePersingersugiramqueconexõesentreolobotemporaleaamígdalasãoimportantesnaexperiênciareligiosa,nenhumadasduasmetodologiasofereceoutrosdetalhes.Desdequeosestudosforampublicados,diversosneurocientistasusaramváriastécnicasde neuroimagem para tentar captar o que acontece no cérebro durante uma experiência religiosa ouespiritual real. Mario Beauregard mediu a atividade cerebral de freiras carmelitas enquanto elas sepunhamnum“estadodeuniãocomDeus”.Essasfreirastêmumavidaenclausurada,enchendoseusdiascomserviçoeprececontemplativa.Beauregardchama-asde“atletasolímpicasdaprece”; cada freiraqueparticipoudoestudohaviapassadomilharesemilharesdehorasdejoelhosfalandocomohomemláde cima. Se isso não é uma espécie de amor, é sem dúvida um compromisso impressionante. Para oestudodeneuroimagem,aequipedeBeauregardisolouasparticipantesporcercadetrintaminutosparadeixá-lasrelaxareentrarnumestadomístico,exatamentecomofariamnumasessãodiáriadeprecenoclaustro,edepoismediramsuaatividadecerebral.5

“Essasfreirasacreditamnãoserpossívelautoinduzirumestadomísticoprofundoporqueissoseriaproduto da vontade de Deus. Isso está de acordo com seu sistema de crenças e também com suatradição”, explicou Beauregard. “Mas elas podem entrar num estado moderado de união se ficaremfisicamente isoladas.Suapráticadiáriadeprece,essaexperiênciadiária,e seus relatossubjetivosdotempoquepassaramnofMRInoslevamacrerqueelasforamcapazesdealcançarumestadoreligiosooumísticosignificativo.”

QuandoasfreirasforamescaneadasenquantointeragiamcomseuconceitodeDeus,váriasáreasdeseuscérebrosapresentaramativação.Umavezqueessasexperiências sãocomplexaseenvolvemumavariedadedediferentes tiposde imagens, esse resultadonão é surpresa.Comoemestudos anteriores,Beauregard de fato encontrou ativação na área temporal média do cérebro, que, segundo ele e seuscolaboradores, talvez se relacione com a experiência subjetiva de entrar em contato com a própriaespiritualidade. Estudos de neuroimagem de monges tibetanos e outros praticantes religiosos tambémidentificaramativaçãonessaáreatemporaldocérebro.

“Quandoaspessoasestãoenvolvidasempráticasreligiosasouespirituais,issoafetamuitas,senão

todasaspartesdocorpoedocérebro”,disseNewberg.“Partesdocérebroquenosajudamaconcentraraatenção,regularnossasrespostasemocionaiseintegrarestímulossociaismudamduranteessaspráticas.Também no corpo ocorrem modificações que podem influenciar a maneira como o sistema nervosoautônomofunciona.Eessasexperiênciasprovavelmenteafetamtambémnossossistemashormonais.”

Algumasoutrasáreasinteressantesativaram-senoscérebrosdasfreirascarmelitasduranteoestudodeBeauregard,emparticularonúcleocaudado,aínsulaeocinguladoanterior.Todasessasregiõesdocérebroforamtambémobservadasemestudosdeneuroimagemdoamorromânticoematerno.

Amorincondicional

QuandoBeauregardconversoucomasfreirascarmelitasdepoisqueelashaviampassadoalgumtemponoaparelhodefMRI,todasmencionaramterexperimentadoumsentimentodeamorincondicionalenquantooravam.Essesentimento,quandoelasseconectavamespiritualmentecomseuDeus,explicariaaativaçãocerebral? Isso deu o que pensar a Beauregard. Haveria uma maneira de testar o conceito de amorincondicionalemindivíduosquenãodevotassemsuavidaaDeus?Comoemoutrosestudosdoamor,oprimeiro desafio foi definir isso operacionalmente. “Nem todos no campo de estudo acreditam noconceitodeamorincondicional,nessapossibilidade”,afirmouBeauregard.Certamente,quandoindagueiamigossobreoconceito,elestambémnãosemostraramtãoseguros.

TalvezminhaamigaAlysontenharesumidooassuntodamelhormaneiraquandodisse:“Acreditoemmuitascoisassobreoamor.Masamor incondicional…provavelmenteacreditariaqueseriaocasodoamor dos pais por um filho.” Não sendo particularmente religiosa, mas estando completamenteapaixonadapormeufilho, tendoaconcordarcomela.Outros,porém,creemfortementenoconceitodeamor incondicional fora da esfera parental. Sociólogos e teólogos que estudaram o fenômenoconsideram-no de suprema importância para o futuro da humanidade. Stephen G. Post, presidente doInstitute forResearchonUnlimitedLove,postulaque,emsuaprópriaessência,experimentarumamorincondicional é “afirmar emocionalmente o bem-estar dos outros, assim como nele deleitar-sealtruisticamenteeengajar-sedemaneiradeliberadaematosdecuidadoeserviçonobenefíciodeoutremsem nada esperar em troca”. Os que são capazes de amor incondicional por definição exercem-nolivremente e sem expectativa, mas também admitem sentir-se muito recompensados pelos atos quepraticamemnomedesseamor.

Uma obra filantrópica que atrai pessoas capazes de amar incondicionalmente é L’Arche. Essainstituiçãocrialaresdeféeamizadeparaindivíduosincapacitadosecuidadoresvoluntários,chamadosassistentes,quededicamumanooumaisacompartilharacasaeavidacomumapessoaintelectualmenteincapaz.Essaorganizaçãonãosóacreditaemamorincondicional,masfazdacapacidadedesenti-loeexpressá-lo umdospré-requisitos para que alguém se candidate comoassistente.Beauregard recrutoudezesseteassistentesdeduascomunidadesL’ArchepróximasdeMontrealparaparticipardeumestudodefMRIdestinadoaidentificaroscorrelatosneuraissubjacentesaoamorincondicional.

Cada assistente foi escaneado enquanto olhava fotos de pessoas incapazes. Em um momento, osparticipantesforamsolicitadosaapenasolharpassivamenteasfotos;emoutro,pediramquegerassemumsentimento de amor incondicional pela pessoa representada na imagem. Por causa dos aspectosrecompensadores do amor incondicional, Beauregard esperava encontrar padrões de fluxo sanguíneosemelhantesàquelesobservadosemestudosanterioresdoamorromânticoedomaterno.6“Provavelmenteessas várias formas de amor têm um substrato comum, em especial em relação aos aspectos derecompensa”, disse ele. “Mas há também algumas distinções neurais entre elas. Isso faz sentido,

considerando-sequehádiferençasnamaneiracomoaspessoassentemeexperimentamessesvariadostiposdeamor.”

Comonãoédesurpreender,foiprecisamenteissoqueBeauregardeseuscolegasencontraram.Comonaquelesprimeirosestudosdeneuroimagemdoamor,aáreategmentalventraleonúcleocaudado,ambospartessignificativasdamáquinaderecompensadocérebro,iluminaram-secomoumaárvoredeNatal.Oglobopálidodoamormaterno,outraáreaderecompensa,easubstânciacinzentadomesencéfalo,regiãocom grande número de receptores de oxitocina, também estavam ativos. Beauregard identificou aindaatividade significativanocórtex cinguladoanterior, umaárea envolvidanumavariedadede formasdeamoreafeto.Oamorincondicional,pelomenosdeumaperspectivaneural,parecemereceressenome.Comopodemosverpelaatividadecerebralmapeadaporessesestudos,háumagrandesuperposição.

Beauregard tambémlevantouahipótesedequeosistemadedopaminaestejaenvolvido.“Algumasdas áreas que vimos ativadas estão envolvidas na produção de dopamina”, disse-me ele. “Isso aindaprecisa ser testado, mas eu defenderia a ideia de que há provavelmente um envolvimento desseneurotransmissor nessa forma de amor, em especial quando consideramos quão recompensador aspessoasdizemqueessesentimentolhesparece.”

Oamorincondicionaltambémapresentouumaativaçãocerebraldiferentedeoutrasformasdeamor.Emboraativaçãonaínsulatenhasidoidentificadaemestudosanteriores,otrabalhodeBeauregardnotouque uma parte diferente dela ficava ativa quando os participantes sentiam amor incondicional. Eleacredita que a ativação estava associada a reações à visãodas fotos.Estudos anteriores sugeremqueessapartedaínsulaénecessáriaparaintegrarrepresentaçõessensoriaiseemocionais,bemcomoparasentirempatia.Váriasoutrasáreasquemedeiamaatenção,oprocessamentovisualeadistinçãoentresimesmoeooutrotambémforamativadas.

“Nãocompreendemosbemporqueessaformadeamorérecompensadora.Elanãotemasmesmascaracterísticasdeoutros tiposdeamor”,disseBeauregard. “Masaquelesquepodemsenti-la– enemtodos podem – relatam tratar-se de uma experiênciamuito rica, muito recompensadora, que constituigrandepartedesuatradiçãoespiritual.”

LembremosqueHelenFisherfaloudoamorcomoumcaleidoscópio–umadiferentesériedepadrõesdeativaçãodocérebrorelacionadosasexo,amorromânticoeafeto.Talvezoamorincondicionaldentrode um forte ritual ou tradição espiritual forneça um quarto sistema, com um padrão semelhante, masexclusivo. Esse amor é certamente um sentimento possível – ao menos para os que são capazes deexperimentá-lo.Nãosabemos,noentanto,oque,nocérebrodeumapessoa,atornacapazdisso.Comonamaioriadoscasosquevimosatéagora,maisestudossãonecessários.

Conclusão:Umadmirávelmundonovodeamor

EM JANEIRO DE 2009, Larry Young, neurocientista da Universidade Emory que estuda a formação devínculosmonogâmicosemarganazes(eprovavelmenteumdospesquisadoresmaisprolíficosnessaárea),publicouumensaiointitulado“Love,NeuroscienceRevealsAll”narenomadarevistaNature.Elediz:

Aconcepçãodoamorcomoumapropriedadeemergentedeumcoqueteldeantigosneuropeptídioseneurotransmissores suscita questões importantes para a sociedade. Em primeiro lugar, drogas quemanipulamsistemascerebraisaseubel-prazer,intensificandooureduzindonossoamorporoutrem,podem não estar muito distantes … Talvez um dia tornem-se disponíveis testes genéticos daviabilidade de parceiros potenciais, cujos resultados poderiam acompanhar, ou mesmo suplantar,nossosinstintosvisceraisnaseleçãodoparceiroperfeito.Dequalquermaneira,avançosrecentesnabiologia da formação de vínculos monogâmicos significam que não falta muito para que umpretendente inescrupuloso possa jogar uma “poção do amor” farmacêutica em nossa bebida. E sealgumofizesse,nósnosimportaríamos?Afinaldecontas,amoréloucura.1

Oensaiogeroumuitodebate, tantonomundodaneurociênciaquantoalémdele.AlgunsafirmaramqueYoungseexcedera,que,mesmoqueaneurobiologiativesseavançadoapontodenospermitircriaruma suposta poção do amor (emuitos concordavamque ela avançara tanto), criá-la seria antiético, etalvez até perigoso.Outros, como JohnTierney, que escreve noNewYorkTimes, alegraram-se com aperspectiva de uma “poção antiamor, uma vacina que evitaria que nos transformássemos em idiotasapaixonados”,quesupostamenteestavaacaminho.2

Quando visitei Young em seu laboratório cheio de arganazes-do-campo em Atlanta, perguntei-lhesobreoensaio:“Achaqueumadrogadoamoroualgumtipodetestegenéticoparaoamoréalgoquerealmentedeveríamoscriaraestaaltura?Maisimportante:éalgoquedeveríamoscriar?”

“Deveríamos?Nãopensoqueissosejaalgoquedeveríamosbuscar.Não,nãopenso”,respondeuele.“E não é algo que poderíamos fazer agora, com certeza. Dados todos esses excelentes trabalhos, osestudos moleculares, comportamentais e genéticos, talvez um dia sejamos capazes de realizar essascoisas.”Ele fezumapausa. “Mas seriaumavergonha se tomássemosumadecisão sobreoutrapessoacombasenumtestegenéticoouemalgumadrogaenãoemnossareaçãoinstintiva.Poderíamosperderalguémexcepcional.”

Naverdade,osneurocientistascomquemconverseiconcordaramunanimementequeacriaçãodeumaPoçãodoAmorNº9combasenosestudosneurobiológicosdoamorseriaumamá ideia.Nãoapenasaindanãosabemososuficienteparafabricarumadrogaquefuncionariadamaneirapretendida,mas,sealgum dia chegarmos lá, os riscos envolvidos em promover mudanças num sistema cerebralevolucionariamente preservado são imensos. E quanto a uma vacina para o amor? Você sabe, paraaqueles de nós que querem evitar o amor e suamiríade de sintomas desagradáveis, como distração,obsessãoeatédor.Semdúvida,acriaçãodeumavacinaparecemaisbenignaqueadeumadrogadoamor.

“Essaideiaimpressionoumuitaspessoas.Hámuitagenteporaíquesimplesmentenãoconseguetirar

alguém da cabeça”, disse Young. “Recebi muitas cartas sobre isso. Na verdade, recebi três cartasescritasàmãodeumhomemnoQuênia.EleleuoartigodoNewYorkTimeseescreveuperguntando:‘Porfavor,poderiameenviaressavacinacontraoamor?Precisodela.’Elememandavaumacartaacadatrêsmeses,implorando-meessavacina.”

Imagino que o cavalheiro do Quênia não está sozinho. Muitos de nós que sentimos a ferroadapenetrante do amor talvez estejamos igualmente desejosos de umadroga ou umavacina.Nomínimo,acreditoqueamaioriadenósanseieporalgumasrespostas.Apenaspistasbiológicas,talvez,sobrecomopoderíamosatravessarmelhoraságuaslamacentasdoamordeumamaneiraquenospermitisseabrire,contudo,protegernossosdelicadoscorações.

Se este fosse um livro de autoajuda, é aqui que eu lhe contaria que me apaixonei perdidamenteduranteocursodeminhapesquisa,queascoisasqueaprendiaoexploraraneurobiologiadoamor,dosexo e dos relacionamentos me ajudaram a finalmente encontrar minha alma gêmea. Talvez umneurocientistasexyquesimplesmentepercebeuquetínhamosníveisdeoxitocinacombinadosassimqueafivelouminhacabeçaparaumexamedefMRI.Ouummédicobem-sucedidoque,porcoincidência,émeuparidealemmatériadecomplexodehistocompatibilidadeprincipal,bemcomoumcaracomotipocerto de varianteAVPR1A para um relacionamento amoroso e duradouro. Talvez eu não tenha sequerprecisadoencontraralguémnovo.Talvezminhapesquisasobreoamortenhameajudadoacompreendermelhorcomominha“mentesuja”,oumeupanodefundoepigenéticosingular,desempenhouumpapelnadissoluçãodemeucasamento.E, tendocompreendido isso,meuex-maridoeeuestamosacaminhodareconciliação,deumafelicidadeeternacombaseneurobiológica.Esseseriaumexcelentedesfechoparaumlivrodememóriasouumfilmebaratoparaatelevisão.

Éevidentequenadadissoaconteceu.Simplesmentenãoéassimqueaciência–pelomenosaciênciareal–funciona.

Asnovaspesquisastêmdesvendadoalgumascoisasrealmenteextraordinárias.Estamosaprendendomuito sobre como uma variedade de substâncias neuroquímicas funcionam juntas para promovermudançasfísicasemnossoscérebrosesobrecomonossoambienteestáenvolvidonessasmodificações.Masosdetalhesexatoscontinuamumenigma,umquebra-cabeçaaindaporresolver.

“Pensoque é assombroso que coisas que nunca supusemos ser baseadas na biologia ou impelidaspelaquímica,comoamor,desejoeafeto,sejamnarealidadeexatamenteisso”,disse-meYoung.“Háumacascatadeeventosneuroquímicosacontecendonocérebroquenosfazemsentircomonossentimosemrelaçãoaumaoutrapessoaenoscomportarcomonoscomportamosquandosentimosisso.Semdúvidatemosocórtex,quenospermitepensarsobrecoisaseplanejá-las–massobele temosessessistemasneuroquímicos antigos que influenciam estados que por muito tempo consideramos ser unicamentehumanos.Éextraordinário.”

Estamos apenas começando a compreender isso. Embora haja alguns achados verdadeiramenteassombrososnaliteraturacientífica,nãohánadaquepossaserresumidoem“Cincomaneirasdefazeroamordurar”ou“Porqueocérebrodeleofaztrair?”.Vocêpergunta:porquenão?Aciênciapublicadaatéhojepodelheoferecerquatrorazõesmuitoimportantes.

Porque nossos cérebros são plásticos. Quando participei do estudo sobre tomada de decisão naUniversidadedeIndiana,nenhumdosgarotosnoestiloAbercrombie&Fitchmepareceuatraente.Pelomenos,nãoobastanteparaqueeutivessevontadededizerquequeriairparaacamacomalgumdeles.Quando lamenteiminha falta de interesse por esses rapazes de cabelo ridículo para JuliaHeiman noKinseyInstitute,elasorriuedissesimplesmente:“Nãopensoqueamaneiracomovocêestáhojeéaquelacomoestaráparasempre.”

Elatemrazão.Nossoscérebrosestãosempremudando.Àmedidaqueacompreensãoquetemosdelecresce,aprendemosqueeleé incrivelmenteplástico; istoé,mudaao longode todaanossavida.Com

cada nova experiência, cada novo item aprendido, cada novo relacionamento, nossas sinapses sofremmudançassutis.Comocorrerdo tempoessaspequenasmudançasequivalemamuitacoisa.Océrebroqueeutinhaquandomeapaixoneipelaprimeiraveznaadolescêncianãoéomesmoquetenhoagora.Osneurocientistas ainda estão trabalhando arduamente para compreender os detalhes dessa incrívelplasticidade,eelestêmumlongocaminhoapercorrer.Masjáestáclaroquenossocérebronãoéumacoisaestática.

“A plasticidade é uma coisa curiosa”, disse Thomas James. “Costumava-se pensar que nossoscérebros paravam de se desenvolver quando tínhamos cerca de seis anos. Era isso: nessa altura elesestavamprontos.Ecomeçamosacompreender todasasmaneiras segundoasquaisocérebrocontinuaplásticodurantenossavidainteira.Issotemenormesimplicaçõesemtodaapesquisaemneurociência.”

O que inclui o estudo do amor. A maneira como reajo – como as substâncias químicas em meucérebroreagem–aummembrodosexoopostopodecertamentemudaràmedidaqueficomaisvelha.Paranãomencionarasmudançasqueocorremdepoisdasalteraçõesmaisextremasnomeucérebroenomeucorpoprovocadaspelagravidezepeloparto.Comotudoissomudou,ecomoissovai influenciarminha neuroquímica e meus comportamentos sociais complexos tanto agora quanto no futuro,simplesmenteaindanãoestábemcompreendido.

Nofuturo,àmedidaqueacomunidadeneurocientíficaseampliareestudarpopulaçõesforadaquelasfacilmenterecrutáveisnoscampiuniversitários,éprovávelquevejamosqueessaplasticidadeimporta–eimportamuito–quandosetratadecomportamentossociaiscomplexoscomoamoremonogamia.

Porquenossoscérebrossãocomplexos.Osestudosdeneuroimagemnosmostraramqueoamortemseupadrãosingulardeativaçãonocérebro.Mas,comomelembrouStephanieOrtigue,neurocientistadaUniversidade de Syracuse, esse padrão não nos conta a história toda. Atualmente, as medidas dasneuroimagem são limitadas tanto pela velocidade quanto pelo detalhe; com a paulatina evolução datecnologia, aprenderemos mais sobre como as peças neuroanatômicas do quebra-cabeça do amorrealmenteseencaixam.

Quando pedi a Craig Ferris, o pesquisador da agressividade e especialista em neuroimagem, quedescrevesse os desafios de extrair conclusões de estudos de fMRI que examinam comportamentoscomplexos,elemedissequeastécnicasatuaisnãopossuemodetalhamentonecessárioparanospermitircompreender o que o cérebro está realmente fazendo durante qualquer comportamento complexo. Eleusou como exemplo a amígdala, uma área cerebral implicada emmuitos estudos relacionados com oamor. “A amígdala do rato tem aproximadamente vinte diferentes subdivisões”, explicou-me.“Pesquisadorespassaramavida inteiramapeandoapenasaamígdalado rato, a fimdecompreenderacomplexidadedetodasessasdiferentessubdivisões,oqueelasfazemeoqueprojetamfazer.Cadaumadelasrealizaalgodiferente.Éumapequenaáreamuitocomplexa.Quandonosvoltamosparatrabalhosdeneuroimagemcomsereshumanos,contudo,hámençãoaapenasduaspartesdaamígdala:aesquerdaeadireita.Simplesmenteessaéumaregiãodaqualédifícilterumaimagememsereshumanos,oquenoslimita.Mastambémimpõeapergunta:oquesignificarealmente‘ativaçãodaamígdala’nessesestudos?Até que possamos chegar a certo nível de detalhe,mapear todas as diferentes partes da amígdala emsereshumanos,pensoquenãopodemosdizerrealmentequesabemos.”

Essasmediçõessãomuitomenosexplícitasdoquefomoslevadosacrer.Aativaçãodaamígdalafoiidentificadacomacompreensãodedeixassociais,bemcomocomaatribuiçãodevalênciaemocionalaomundo externo. É possível, contudo, que ela façamuito,muitomais. É provável que desempenhe umpapel sutil numa variedade de outros processos cognitivos. Com o passar do tempo e com melhortecnologia,descobriremosaextensãodesuafunção.

Além da difícil interpretação dos estudos de neuroimagem, nossa compreensão da maneira comodiferentes substâncias neuroquímicas funcionam no que diz respeito ao amor é também limitada pela

complexidade. Oxitocina, dopamina, vasopressina, estrogênio, testosterona – todas essas substânciasquímicasestãoimplicadasnoamoreemcomportamentossexuais.Etambémsãocandidatasacomporasdrogas e as vacinas do amor quemuitos esperam logo encontrar à venda. Só há um problema: essassubstâncias interagem e interferem umas com as outras demaneiras que os neurocientistas ainda nãocompreenderam inteiramente. Podem se ligar aos receptores umas das outras. Podem influenciar aproduçãoumasdasoutras.Eestãoenvolvidas emmuitosoutrosprocessos físicos alémdos simples ebonsamoresexo.

Quando perguntei a Sue Carter, uma das pioneiras na pesquisa sobre oxitocina e formação devínculosmonogâmicos, sobreapossibilidadedeumadrogadoamoroudamonogamia,ela respondeucom alguma preocupação. “Se fôssemos considerar o que já sabemos sobre todos os outros sistemasbiológicos,pensaríamosduasvezesantesdetentarlograraMãeNaturezacomumadroga”,explicouela.“Oamoréimportante.Precisamossermuitocuidadosos.Ousocrônicodeumadrogadestinadaaafetarosreceptoresdeoxitocina,porexemplo,temtodosostiposdeefeitospotenciaisinteressantesque,atéondesei,nãoforamapropriadamenteestudadosemnenhummodelo.Épossívelquehajaumareduçãonaproduçãodeoxitocinaendógena.Comotempoocorpopoderiaparardeproduzirohormônionatural.Asegundapreocupação seria que a produçãode receptores de oxitocina fosse reduzida. Isso criaria umsistemamenosreativo.Precisaríamosdeumaquantidadecadavezmaiordadrogaparaobterosmesmosefeitosoutalvezatéefeitosmenores.”

Até que neurocientistas consigam elucidar melhor os comos e os porquês das muitas maneirassegundoasquaisessassubstânciasquímicasoperamnocérebroenocorpo,éarriscadoatéconsiderarapossibilidadede tomarumadrogaouvacina. Isso inclui inalarumpequeno spraydeoxitocina, lançarsobresimesmoumjatodeandrostenonaoutomarumsupostosuplementoquímicocerebralrelacionadoaoamor–tudojáàvendanainternet.“Simplesmentenãosabemosoqueaconteceráseinterferirmosnoscircuitosnaturaisderetroalimentação,portantoatéagoraissonãofoipropriamenteestudadonemmesmonummodeloanimal”,disseCarter.

Mais importante, a simples elevação do nível de um tipo de substância química não nosproporcionaráoefeitopretendido.Issoseopõeaofatodequeossereshumanossãomuitomaisdoqueasoma de seus neuropeptídios. Precisamos de todas essas substâncias – e de muito mais – paraexperimentaroamor.“Abiologiaéapenasumapartedoamor.Háanossacultura,háanossaeducação,eháonossoenormecórtexcerebral,quepodenospersuadiranãoamarnascircunstânciasadequadas”,afirmouHelenFisher.“Estamosnainfânciadessecampodeestudo.Apenascomeçamosacompreendertodas as maneiras pelas quais o cérebro pode estar envolvido com o amor. Apenas começamos acompreendercomotudoissoécomplexo.Levaremosmuitotempoparachegaraofundo.”

Porqueocontexto importa.Nosso cérebro não age numvácuo.Ele é profundamente afetadopeloambiente–atéoníveldoneurônio.ComodisseMosheSzyf,oeminentegeneticista:“Nãopodemosmaissimplesmente estudar a célula. Não existe uma célula isolada.” Todos os nossos comportamentos,inclusiveoamoreosexo,sópodemsercompreendidosnocontextodonossoambiente.Naverdade,noníveldenossosgenes,essescomportamentossãorealmentereguladospeloambiente.

“Ogenoma é reguladonumcerto nível. Isso é altamente programado, semdúvida”, explicouSzyf.“Masoambientenaprimeirainfânciaenviasinaisparaogenoma,dizendo:‘Esteéotipodemundoemqueestegarotovaiviver.Vamosprogramartodasessascoisasparaqueelassejamcompatíveiscomestemundo.’Eemseguidareprogramaosistema.Realizamudançasmuitopequenasemmuitos,muitosgenesdiferentes,demodoqueoanimalpossaseadaptaraomundoexterno.”

E,comofoidemonstradopelotrabalhodeSzyfeMichaelMeaney,algumasdessasmudançastêmopoderdealterarnossocomportamentoparentalereprodutivo.Abiologianãoéaúnicaresponsável,porassim dizer, por nossos pontos fracos no relacionamento. Nosso ambiente e nossas relações com os

outrosdesempenhamumpapeligualmenteimportante.Porquesomostodosindivíduos.Estaéarazãofundamental.Plasticidade,complexidadeecontexto

unem-se para assegurar que cada umde nós seja único à nossa própriamaneira. Somoso produto denossosgenes enossas experiências.Nãopenseque a somade tudo issonão terá alguma relação comnossasvidasamorosas.

“A verdade sobre a sexualidade, o amor e comportamentos complexos em geral é que eles sãoincrivelmentevariáveis”,disseJuliaHeiman.“Tantoquemuitosdizemqueavariabilidadeéanorma.E,vocêsabe,issoestábastantedeacordocomabiologia.Variabilidadeebiologiaandamdemãosdadas.”

Emestatística,adistribuiçãonormaldequalquercoisaé representadaporumacurvaemformadesino.Quandooscientistasfalamsobreumtipo“normal”deamor,umavidasexual“normal”,ouumestiloparental“normal”,nuncasetratadeumúnicovalor.Essescomportamentosestãodistribuídosao longodacurva,comosvaloresmais“normais”aparecendonopontomaisaltoeosdemaissedistribuindoparaoslados.“Sedefinimosoqueénormalcomoestatisticamentenormal,háumaamplavariaçãodoqueseencaixanessacategoria”,afirmouHeiman.“Hátambémasduaspontasdeumacurvanormal,emquehámenos casos – por exemplo, pessoas com desejo sexual muito alto ou muito baixo. Elas estão nosextremosmenos frequentesda curvanormal?Sim.Portanto, elas sãomásouproblemáticas?Não, nãonecessariamente.”

Somostodos,cadaumdenós,umpoucodiferentesdosdemais.Issoérefletidoemnossoepigenoma,emnossassubstânciasneuroquímicaseemnossocomportamento.Comopoderíamosnãoserindivíduostambém em todas as maneiras que temos de amar? Simplesmente, em face de nossa própriaindividualidade, as respostas fáceis que nossos corações têmbuscadona neurociência – as regras, asnormaseosmétodosgarantidosdedominaroamor–podemnãoexistir.

Ograndemistériodoamor

NumarecentesériedepalestrassobreciênciassensoriaiseartenaUniversidadeJohnsHopkins,SemirZeki,oprimeiropesquisadorapublicarumestudodeneuroimagemdoamor, comentou:“Oestudodoamor está progredindomuitobem,nonívelmolecular e nonível comportamental.”Apalavra-chave éprogredindo.Quandoconverseicomeleportelefonealgumassemanasdepois,perguntei-lhesealgumdiadesvendaríamosomistériodoamor.

“Se viéssemos algum dia a desmistificar o amor, simplesmente substituiríamos o mistério pelaestupefação.FrancisCrickdissealgumacoisanessesentidomuitosanosatrás”,respondeuZeki.“Ponha-senaposiçãodealguémnosanos1920entrevistandoumcientistaeperguntando:‘Achaquealgumdiaconseguiremosdesmistificaromistériodavida?’Edepois,em1953,CrickeWatsondisseram: ‘Bem,todosossegredosdavidaestãocontidosnestesdois filamentosdeDNAcomseusparesdebase.’Decertomodo,omistériofoidesvendado.Efoisubstituídopelaestupefação.Pensoque,sechegarmos lácomoamor,ocorreráamesmacoisa.”

Há uma frase do romance cult de Tom Robbins, A natureza-morta e o pica-pau, que continuoucomigoaolongodosanos:“Quandoomistériodaconexãoacaba,oamorsevai.Ésimplesassim.”3SeRobbinsestivercerto,estamosasalvo:oamornãovaiparalugarnenhum.Nãocorremosoperigo,atéagora,dedeslindarseusmuitosmistérios,neurocientificamenteoudeoutramaneira.Eumearriscariaadizer que temos também muito tempo antes de precisarmos nos preocupar em lidar com algumaestupefação.

Oestudoneurocientíficodoamorestáavançando,eganhaímpetoacadaano.Noentanto,àmedidaquenovosestudossãopublicados,aindalhesfaltaacapacidadederesponderàsnossasgrandesquestõessobreoamor.Pensenisto:oDNArespondeuatodasasnossasquestõessobreanaturezadavida?Creioquenão.Elaaindaconservamaisdoqueumvestígiodoenigmático.Creioquecomoamorseráamesmacoisa:pormais longequeosneurocientistascheguememseuestudodesse fenômenoparticular, algummistériopermanecerá.

“Ninguémquerouviristo,massabemosmuitopoucosobrecomonossocérebrofuncionaemrespostaaexperiênciasdosistemaderecompensa,aexemplodasexualidadeedoamor.Paranãomencionarqueessascoisasnemsempresãorecompensadoras”,disse-meHeiman.“Osleitoresprecisamserumpoucomais céticos a respeito das coisas brilhantes que são ditas, as ideias simples sobre como o cérebrofuncionaecomoeleseajustaànossavidacotidiana.Nãoétãosimplesassim.Precisamosconfiarnofatodequeascoisassãoprovavelmenteumpoucomaiscomplicadas–eéemnossobenefícioqueelassãocomplicadas,paraquetenhamosotipodeflexibilidadeeadaptabilidadequetemos–econfiarqueelasnãosãocomplicadasapenasporqueoscientistasqueremtorná-lasassim.”

Emborapossamosdesejarrespostasfáceis,elassimplesmentenãoexistemquandosetratadeamor.Nãohánenhumguia inteligentequesirvaparanosorientaremmeioàssituaçõesmaiscomplicadasdoamor;nenhumapromessaaserreveladapormatériasderevistassobrecincopassosouporsuplementosdesubstânciasquímicascerebrais.Océrebroécomplicadodemaisparaisso.Essaéamánotícia.Masanime-se:essamesmacomplexidadeneurobiológicaétambémaboanotícia.Elanospermitetransmitirpara nossos filhos a informação correta sobre o tipo de mundo que eles provavelmente encontrarão.Permitequeváriosneuropeptídiostomemolugarunsdosoutrosquandonecessário.Proporciona-nosaliberdade de fazer escolhas, de nos adaptar e mudar de curso com relativa facilidade. Dá-nos acapacidadedeavaliarqualquersituaçãoqueenvolvaoutroserhumano,delembrarnossasexperiênciaspassadas,deaprendercomelasedecalcularriscosfuturos.Epermite-nosamar,amareamarnovamente–mesmodepoisquenossocoraçãofoipartido.Realmente,essacomplexidadeéumabênção.

Noiníciodestelivro,prometinãodarnenhumconselhoounormaemrelaçãoaoamor.Nãovoltareiatrás em relação a esse compromisso agora. Portanto, se você ainda sentir necessidade de comprar opróximobest-sellersobrerelacionamentos(hásempreumoudoisporaí)oudeouviratentamentemaisumepisódiodaquele consultório sentimental transmitidoporvárias estaçõesde rádio, nãoo condeno.Compreendoanecessidadedeagarrar-seaalgumacoisaemmeioaessa loucacomplexidade.Talvez,após ler estas páginas, você possa seguir com um grama de ceticismo as orientações dadas pelosespecialistas,discriminarentreosensocomumeahipérboleeavaliaroqueoestudodocérebropodedefatonosoferecerquandosetratadecompreenderoamor.

Quanto amim, ficarei com omistério. Não pretendo depreciar a neurociência – em absoluto. Aspesquisas realizadas até hoje somente aguçaram meu apetite por aprender mais sobre a baseneurobiológica do amor.Estou inteiramente decidida a ficar de olho emnossos amigos arganazes-do-campo, bem como no progresso dos trabalhos comneuroimagem.Agora queme encontro de volta aograndeemaumundodonamoro,omistériomepareceumpouquinhoreconfortante.Afaltaderespostasexataserápidassignificaquenãohánenhumamaneira“correta”deabordarosrelacionamentos,nenhumparceiro“certo”paramim.Tenhodeadmitirqueachoessaideiamuitolibertadora–empequenamedida,étambémasalvaçãodoamor.Souoprodutosingulardeminhabiologiaemeuambiente.Cadaparceiropotencial pode dizer o mesmo. A complexidade do meu cérebro oferece-me possibilidades infinitasquandosetratadeamor.Ameuver,issoémuitomelhorquealgummanualdecondutaprecisobaseadonaneurobiologia,umalistaúnicaegeneralizadoradecoisasafazerenãofazerquepodesertãorestritivaquantoumacamisadeforça.Jáhápressãosuficienteenvolvidanaprocuradoamor,muitoobrigada.Nãopreciso da carga extra de testes genéticos,medições de neuropeptídios, oumedicamentos capazes de

melhorarminhavidaamorosaàcustademinhafunçãocognitiva.Portanto,sim,acolhereitodoomistérioquemeusneurôniosoferecem.Nomínimo,issoéalgocom

quepossocontar.

Notas

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10.Émelhorencarar:Vocêéviciadoemamor

1.Ke$ha,“YourLoveIsMyDrug”;SpinDoctors,“ICan’tKicktheHabit”;BarryWhite,“Can’tGetEnoughofYourLove,Babe”;DianaRoss,“LoveHangover”;TheFourTops,“Baby,INeedYourLovin’”;MariahCarey,“Can’tLetGo”.

2.Beydoun,S.R.,Wang,J.T.,Levine,R.L.,eFarvid,A.“EmotionalstressasatriggerofmyastheniccrisisandconcomitantTakotsubocardiomyopathy:Acasereport”,JournalofMedicalCaseReports,4,2010,p.393.

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11.Suamentetraidora

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8.Garcia,J.R.,MacKillop,J.,Aller,E.L.,Merriwether,A.M.,Wilson,D.S.,eLum,J.K.“AssociationsbetweendopamineD4receptorgenevariationwithbothinfidelityandsexualpromiscuity”,PLoSOne,5(11),e14162.

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12.MinhasaventurascomaEquipeO

1.Herbenick,D.,Reece,M.,Schick,V.,Sanders,S.A.,Dodge,B.,eFortenberry,J.D.“Anevent-levelanalysisofthesexualcharacteristicsandcompositionamongadultsages18to59:resultsfromanationalprobabilitysampleintheUnitedStates”,JournalofSexualMedicine,7(suplemento5),2010,p.346-61.

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13.Umaquestãodeorientação

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3.LeVay,S.Gay,StraightandtheReasonWhy:TheScienceofSexualOrientation.NovaYork,OxfordUniversityPress,2010.4.Grosjean,Y.,Grillet,M.,Augustin,H.,Ferveur,J.F.,eFeatherstone,D.E.“Aglialamino-acidtransportercontrolssynapsestrengthandcourtshipinDrosophila”,NatureNeuroscience,11(1),2008,p.54-61.

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15.Háumalinhatênueentreamoreódio

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2.Zeki,S.,eRomaya,J.P.“Neuralcorrelatesofhate”,PLoSONE,3(10),2008,p.1-8.

16.Omaiordetodososamores

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5.Beauregard,M.,ePaquette,V.“NeuralcorrelatesofamysticalexperienceinCarmelitenuns”,NeuroscienceLetters,405(3),2006,p.186-90.

6.Beauregard,M.,Courtemanche,J.,Paquette,V.,eSt-Pierre,E.L.“Theneuralbasisofunconditionallove”,PsychiatryResearch:Neuroimaging,172(2),2009,p.93-8.

Conclusão

1.Young,L.J.“Beinghuman:Love:Neurosciencerevealsall”,Nature,457(8),2009,p.148.2.Tierney,J.“Anti-lovedrugmaybetickettobliss”,NewYorkTimes,12jan2009.3.Robbins,T.StillLifewithWoodpecker.NovaYork,Bantam,1990.

Agradecimentos

Tenhoumaenormedívidaparacomospesquisadoresquemepermitiramnãosóvisitareexplorarseuslaboratórios,mastambémlhesfazerperguntassobreosfuturosestudosneurobiológicosdoamor.Muitosagradecimentos a SueCarter, LarryYoung,KimWallen, JuliaHeiman,BarryKomisaruk,NanWise eThomasJamesporseutempoeseusinsights.Tivetambémagrandesortedeentrevistardezenasdeoutrosmaravilhosos cientistas no cursodeminhapesquisa, entre os quaisKarenBales,KatieBarrett,MarioBeauregard, Ray Blanchard, Lucy Brown, Joshua Buckholtz, Frances Champagne, Lique Coolen, JeffCooper, Andrea Di Sebastiano, Catherine Dulac, Craig Ferris, Helen Fisher, Michael Frank, JustinGarcia, Jill Goldstein, Ilanit Gordon, JordanGrafman, Cynthia Graham,DavidHaig, Carla Harenski,Randy Jirtle, Pilyoung Kim, Sean Mackey, Hiroaki Matsunami, Bruce McEwen, Cindy Meston, PaulMicevych, Fernando Munoz, Andrew Newberg, Alexander Ophir, Stephanie Ortigue, Chankyu Park,Stephen Porges, George Preti, Qazi Rahman, Heather Rupp, Ivanka Savic, Wolfram Schultz, CharlesSnowdon, Shannon Stephens, Dick Swaab, Moshe Szyf, Ei Terasawa, Kerstin Uvnäs-Moberg, HasseWalum, BeverlyWhipple, ShawnWilson, SteveWiltgen, CharlesWysocki, Jason Yee, Semir Zeki eMarleneZuk.Eunãopoderiadesejarumgrupomaisabertoesolícito.Aneurociênciaéverdadeiramenteumcampoabençoadocommaisdoqueinteligência–todasaspessoascomquemconverseiduranteesteprojetoforamincrivelmenteafáveisebondosas.

ObrigadaaDemiGandomkar,DeniseSchipanie JenMillerpor leremrascunhos iniciaisdeminhaproposta,eaCarolLeeStreeterKiddesuaequipeporsuaexcelêncianatranscrição.ObrigadaaKimWallen,ToddAherneSaraM.Freemanporalgumasimagensincríveis.PalavrasnãopodemexpressarminhagratidãoaAlysonEnglish,ThomasStrickland,NickyPenttilaeJoelDerfnerporseuscomentáriosenquantoeuescreviaomanuscrito.

Dizemque todoescritorprecisadeumbomeditorde texto.Éverdade.Tiveasortede terSydneyTanigawa,HilaryRedmoneDominickAnfusoparameajudaratransformaristoemalgoquemerecesseser lido. Todo escritor estaria também perdido sem um bom agente.Obrigada a Joy Tutela daDavidBlackAgencyeaseuassistente,LukeThomas,por,bem,tudo.

Eudeveriatambémacrescentarquetodoescritorprecisadebonsamigosedafamíliaparaalegrá-lo(epôrdrinquesemsuamão).Fuimaisdoquebem-servidaporSarahRose,CarlMorales,DaveDillon,Jamie Pearson, Scott Collins, Aaron Bailey, Alison Buckholtz, Lily Burana, RachelWeingarten, KimPlace-Gateau,SylviaHauser,HillaryBuckholtz,ShawnGorrell,ClorindaVelez,HeleneGayleKing,epelo animado grupo deBüdingen,Eleanor JakesWillis, Tyler Schill,ReedSchill eMaxSchill.Amotodos vocês. Valorizei também todos os comentários estimulantes (bem como a resposta a perguntasaleatóriassobrerelacionamentos)feitosaolongodocaminhopormeusamigos,reaisevirtuais,tantonoTwitterquantonoFacebook–comumasaudaçãoespecialparaJohnMiller.Suaspalavrasbondosaseiluminadorasmeajudarammaisdoquevocêimagina.

RoanLow,euestariaperdida semvocê.Vocêéamelhoramigadosexomasculinoqueumamoçapoderiater.

Chet,vocêéumainspiraçãoeumgarotosensacional.Prometonuncamaismereferiravocêemletrade formacomo“sexy”.Mas,acimade tudo,muitoobrigadaàminhamãe,LaurelWillisSukel.Eunãoteriapassadodaprimeirapáginasemseuamor,seuincentivoesuasexcelenteshabilidadescomobabá.

Índice

Númerosdepáginasemitálicoreferem-seailustrações.

abusosexual,1aceitaçãoderiscos,1,2-3,4,5-6acetilação,1ácidofólico,1ácidogama-aminobutírico,1açúcar,1adenina,1afeto,1,2,3,4,5,6

duradouro,1,2profundo,1,2-3,4social,1-2,3

AftertheAffair:HealingthePainandRebuildingTrustWhenaPartnerHasBeenUnfaithful(SpringeSpring),1agressividade,1,2,3,4,5,6,7

aindivíduosforadogrupo,1,2-3defensiva,1-2,3-4,5-6

água,retençãode,1AlbertEinsteinCollegeofMedicine,1,2alcoolismo,1,2,3,4alelos,1,2,3Allen,Laura,1alma,1altruísmo,1-2

paroquial,1-2amamentação,1,2,3

ejeçãodoleite,1,2emratos,1-2,3-4

ambiente:comportamentosexuale,1-2,3-4felicidadee,1interaçãodecérebroe,1,2,3interaçãodegenese,1,2,3-4,5-6

AmericanInstituteofPhrenology,1amigdalectomianeonatal,1-2amizade,1,2,3,4,5amorreligioso,1-2

cérebroe,1,2,3-4epilepsiae,1-2êxtase,1vidanaclausurae,1-2

amor:aolar,1apaixonado,1,2,3-4,5,6,7,8-9,10-11,12buscaeencontrodo,1cegueirado,1-2,3,4cérebroe,1,2,3,4,5-6,7-8comoprocessodeaprendizagemqueduraavidatoda,1,2comoumapalavrasuja,1compromissocomo,1conjugal,1-2

conselhosobre,1,2,3,4,5definiçõesde,1-2desejosexualversus,1destrutivo,1diferençasdegênerono,1,2-3doentesde,1enamoramento,1,2,3,4,5,6,7,8encontrarsucessono,1estudodo,1-2,3-4,5-6,7,8,9-10,11-12,13,14,15-16evitandoo,1evoluçãoe,1,2,3expressãoartísticado,1,2,3filial,1fimdeumarelação,1físico,1incondicional,1-2insegurançacomrelaçãoao,1intensidadedo,1ligaçãoentreódioe,1-2,3-4manutençãodo,1,2-3materno,1,2-3,4,5-6,7-8,9,10metáforaspara,1mistériodo,1-2naturezado,1-2,3orientaçãoespirituale,1palavraseconceitosassociadosao,1-2,3,4-5parental,1,2-3,4,5perdado,1-2perplexidadediantedo,1platônico,1primeirosestágiosdo,1prolongamentodo,1,2químicado,1,2-3recompensasdo,1-2,3,4recusado,1rejeiçãodo,1-2,3reproduçãoe,1romântico,1,2-3,4,5,6,7,8,9-10,11-12,13,14-15,16,17-18,19,20,21,22,23sintomasdo,1-2verdadeiro,1vícioem,1-2,3-4,5-6

Amsterdã,Universidadede,1Anderson,Pamela,1androgênios,1-2,3-4,5,6androstadienona(AND),1,2,3-4,5androstenona,1-2animais:

cio/estroem,1comportamentosexualde,1,2,3,4-5,6-7,8-9,10-11deestimação,1estudosde,1,2-3,4,5-6,7,8-9,10-11,12,13-14,15,16-17,18-19formaçãodevínculosmonógamosentre,1,2,3lamberelimpar(LL)entre,1-2,3-4,5-6modelostransgênicosde,1monógamos,1,2,3-4,5-6predadores,1vertambémanimaisespecíficos

anorexianervosa,1,2,3

anorgasmia,1ansiedade,1,2antidepressivos,1antígenos,1antropologia,1

evolucionária,1apetite,perdado,1aprendizagem,1,2,3,4-5,6,7,8,9,10Aragona,Brandon,1-2,3arganazesmontanheses,1,2,3arganazes,1arganazes-do-campo,1,2,3,4,5

acasalamentoecomportamentosexualde,1,2-3,4,5,6-7,8-9,10-11,12,13-14cérebrode,1,2criaçãodosfilhosem,1-2,3,4,5,6experimentoscom,1,2monogamiade,1,2-3,4,5-6,7,8,9,10-11

arganazes-do-prado,1,2,3,4,5Aristóteles,1aromatase,1,2Aron,Arthur,1,2,3artérias,1asma,1atraçãosexual,1,2,3-4

apreçodemulheresbonitase,1-2,3apreçoderostosmasculinose,1-2,3cheiroe,1-2,3,4-5contextoe,1efeitoscerebraisda,1-2elementosemocionaisda,1elementosfísicosda,1-2,3-4,5-6elementosquímicosda,1-2,3-4,5estímulosvisuaiseauditivosna,1-2,3-4,5,6excitaçãoe,1-2,3-4,5masculinoversusfeminino,1-2,3-4,5-6mistérioda,1-2neurobiologiada,1-2

autismo,1sintomasdo,1tratamentodo,1

autoconsciência,1autocontrole,1aves,1avós,1,2

babuínos,1babyboomers,1Bales,Karen,1-2,3-4,5-6Bardem,Javier,1Barrett,Katie,1Bartels,Andreas,1-2,3Beauregard,Mario,1,2-3,4-5bebês:

amormaternoa,1,2-3,4,5-6,7-8,9,10,11-12baixopesoaonascerem,1brincareinteragircom,1,2-3chorode,1,2,3-4crescimentogestacionalde,1-2,3-4,5,6,7,8,9-10,11,12manuaissobre,1

“sexy”,1,2,3,4,5sorrisode,1vertambémcrianças

BeijandoJessicaStein,1beleza,desejoe,1-2,3,4bem-estar,1Berna,Universidadede,1biologia,1-2,3,4-5,6,7,8-9,10bissexualidade,1,2,3Blanchard,Ray,1-2Boarmate,1-2,3boca,1BoehringerIngelheim,1BooBoo(gata),1Bretagne-Sud,Universidadede,1Brown,Lucy,1,2,3,4budismo,1

cachorros,1,2,3,4Cahill,Larry,1-2,3CaliforniaInstituteofTechnology,1Califórnia,Universidadeda:

emDavis,1,2,3emIrvine,DepartamentodeNeurobiologiaeComportamentona,1emLosAngeles,1,2emRiverside,1emSanDiego,BrainandPerceptionLaboratoryna,1

Cambridge,Universidadede,1Cameron,Nicole,1camposmagnéticos,1camundongos,1,2,3,4-5,6,7,8,9,10-11câncer,1,2,3cançõesdeamor,1,2,3“capacetedeDeus”,1capacidadecognitiva,1,2,3,4,5,6,7,8,9,10

atraçãosexuale,1-2mulheresbonitasehomens,1-2,3rapazes“maus”emulher,1-2testesda,1-2,3-4,5-6

Carter,Sue,1,2,3,4,5casamento,1

“conserto”do,1duradouro,1estresseno,1-2fracassodo,1,2,3homossexual,1maternidadee,1-2,3relaçõessexuaisno,1-2,3-4testespré-nupciais,1votosdo,1

Casanova(macaco),1-2,3,4,5,6,7castração,1,2Ceausescu,Nicolae,1cérebro,1-2,3-4

amígdalacorticaldo,1amígdalado,1,2,3-4,5,6-7,8,9,10,11-12,13,14,15,16,17,18,19,20,21,22-23,24-25áreapré-ópticado,1áreapré-ópticamedial(APOm)do,1,2áreategmentalventral(ATV)do,1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12,13,14,15,16

áreasespaciaisdo,1,2,3,4áreasolfativasdo,1,2-3,4,5,6áreasvisuaisdo,1ativaçãodo,1-2,3-4,5-6,7-8,9,10,11,12,13-14,15,16-17,18,19,20,21-22atividadesinápticado,1-2,3,4,5,6célulasdo,1,2-3,4,5cerebelodo,1,2,3,4-5,6-7cinguladoanteriordo,1,2,3cinguladodo,1cinguladoposteriordo,1,2,3,4,5,6claustrodo,1comissuraanteriordo,1complexidadedo,1-2,3,4contextoe,1corpoestriadodo,1córtexcerebral,1,2,3córtexcinguladoanteriorbilateraldo,1córtexcinguladoanteriordo,1,2,3,4,5,6,7,8córtexcinguladodo,1,2córtexcinguladoposteriordo,1,2córtexdo,1,2,3,4,5córtexfrontaldo,1,2,3,4,5,6,7córtexinsulardo,1córtexlímbicodo,1córtexórbito-frontaldo,1,2,3,4córtexparietaldo,1córtexpré-frontal(CPF)do,1,2,3,4,5,6,7,8,9-10,11,12,13córtexpré-frontalmedialdo,1córtexpré-motordo,1,2córtexsensorialdo,1,2,3córtexsensorialgenitaldo,1,2córtextemporalinferiordo,1desenvolvimentodo,1,2,3,4,5,6,7-8devoçãoreligiosae,1doençaedanodo,1,2-3efeitosambientaissobre,1estriadodo,1estriadodorsaldo,1,2estriadoventraldo,1evoluçãodo,1,2,3fluxosanguíneoparao,1,2,3,4,5,6,7,8-9,10,11;vertambémefeitoscerebraisespecíficosfunçõesespecíficaslocalizadasno,1-2,3,4-5,6,7,8,9-10,11-12,13giroangulardo,1,2girofrontalmédiodo,1,2,3girofrontalmédio,1,2,3girofusiformedo,1,2,3,4,5girooccipitalmédiodo,1giropré-centralbilateraldo,1giropré-centraldo,1,2girotemporaldo,1girotemporalinferiordo,1-2girotemporalsuperiordo,1,2,3girotemporalsuperioresquerdodo,1globopálidodo,1,2,3,4hemisfériosassimétricosdo,1hipocampodo,1,2,3,4,5,6,7hipocampoposteriordo,1hipófisedo,1,2,3,4,5

hipotálamoanteriordo,1,2,3,4,5hipotálamodo,1-2,3,4,5,6,7,8,9,10-11,12,13,14,15,16,17,18,19,20,21,22,23,24,25,26,27,28,29,30,31,32individualidadee,1ínsulaanteriordo,1ínsulado,1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11loboparietaldo,1,2loboparietalinferiorbilateraldo,1loboparietalinferiordo,1,2lobotemporaldo,1,2,3lobosfrontaisdo,1,2,3,4,5-6,7,8masculinoversusfeminino,1,2-3,4-5,6,7,8,9-10mudançasno,1-2,3,4,5,6-7,8,9,10,11-12,13-14neocórtexdo,1núcleoacumbens,1,2,3,4,5,6-7,8,9,10-11,12,13,14,15,16,17,18núcleocaudadodo,1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12,13,14,15,16,17,18núcleocentraldaamígdalado,1núcleodoleitodaestriaterminal,1-2,3núcleoparaventricular(NPV)do,1,2,3,4,5,6,7núcleosubtalâmicodo,1,2núcleosupraóptico(NSO)do,1,2núcleosupraquiasmáticodo,1núcleosdabase,1,2,3-4,5,6,7,8,9,10,11,12,13,14,15,16pálidodo,1pálidoventraldo,1-2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12,13,14,15,16,17,18,19paracinguladoanteriordo,1paracinguladodo,1,2paterno,1-2plasticidadedo,1,2-3,4polofrontaldo,1,2processamentodarecompensaedamotivaçãono,1,2,3,4,5,6,7,8-9,10,11-12,13,14,15-16,17,18,19,20,21-22,23-24,25,26,27,

28,29-30,31processamentodeinformaçãono,1putâmendo,1,2,3,4,5,6,7,8,9,10putâmenventraldo,1químicado,1,2,3,4,5,6-7,8-9,10-11,12-13,14,15-16,17regiõessensório-motorasdo,1“reptiliano”,1,2,3,4,5,6septolateraldo,1sexualmentedimórfico,1-2,3sistemalímbicomesocorticaldo,1,2,3-4,5,6-7,8,9sistemasneuraisdo,1,2,3-4,5-6,7,8,9,10,11,12,13-14,15-16,17,18-19,20-21,22substânciacinzentadomesencéfalodo,1substâncianegrado,1-2,3,4,5,6,7,8,9,10-11sulcointraparietaldo,1sulcotemporalsuperiordo,1,2,3,4sulcotemporalsuperiorposteriordo,1,2,3supressãodeatividadeno,1tálamodo,1,2,3,4,5,6,7,8,9temporalmédiodo,1teoriasantigasdo,1-2terceironúcleointersticialdohipotálamoanteriordo,1troncodo,1,2,3,4,5usodooxigêniono,1

Champagne,Frances,1,2,3-4,5cheiros,1-2,3,4-5

característicasindividuaisdos,1comuns,1experimentoscom,1-2,3,4,5-6,7-8

intensidadeeatratividade,1vertambémferomônios

Chemistry.com,1Chen,Denise,1-2,3,4Chicago,Universidadede,1chorodebebês,1,2,3-4cigarros,1citosina,1-2ciúme,1Clementi,Tyler,1clitóris,1,2,3,4,5cocaína,1,2,3-4,5,6,7,8,9-10

crack,1colina,1comida,1,2,3

ânsiapor,1buscade,1gordurosa,1gravideze,1-2,3-4,5vícioem,1,2

complexodehistocompatibilidadeprincipal(MHC,nasiglaeminglês),1-2comportamento,1,2

complexo,1-2,3deacasalamento,1,2-3efeitosculturaissobre,1estudosdo,1-2,3extremo,1impulsivo,1inibiçãodo,1mediaçãodo,1-2mudançasno,1,2,3-4,5puniçãodo,1,2relacionadoaoamor,1,2-3sexual,1,2,3-4social,1,2

computadores,1-2,3-4MacversusPC,1

comunicação:decélulas,1,2-3pessoaapessoa,1

comunidadelésbica,gay,bissexualetransgênera(LGBT),1confiança,1

intragrupal,1,2-3confortoemocional,1,2consciência,1consolos,1contraceptivosorais,1,2contraçõesmusculares,1conversação,1-2Coolen,Lique,1-2,3Cooper,Jeff,1-2coração,1-2,3

amorsimbolizadopelo,1cérebroe,1,2comoumabombadesangue,1“partido”,1,2,3,4

coragem,1corte,1

cortisol,1-2,3Cosby,Bill,1Cosmopolitan,1crânio,1-2

occipíciodo,1-2crianças,1,2

amorecriaçãode,1,2,3-4,5-6,7crescimentode,1,2,3-4,5,6desenvolvimentoeeducaçãode,1dietade,1educaçãode,1negligênciaeabusode,1-2puberdadeem,1-2,3-4,5,6,7vertambémbebês

Crick,Francis,1criminosos,1cristianismo,1-2cromossomos,1,2,3

X,1,2XQ,1,2Y,1,2,3

Dautilidadedaspartesdocorpohumano(Galeno),1Darwin,Charles,1DeDreu,Carsten,1,2-3demência,1dendritos,1Dennerstein,Lorraine,1-2Depp,Johnny,1depressão,1,2,3,4,5,6

tratamentoda,1,2,3Derfner,Joel,1,2,3,4desacetilação,1desejosexual,1,2,3,4,5,6,7

amorversus,1desejosexual,1

aspectosculturaisdo,1baixo,1,2belezae,1-2,3,4,5cérebroe,1-2feminino,1-2masculino,1

diabetes,1DiagnosticandStatisticalManualofMentalDisorders(DSM),1DiagnosticandStatisticalManualofMentalDisorders(DSM-IV),1DiasdosNamorados,1dieta,1,2,3,4“dilemadoprisioneiro”,1-2

versãoeconômicado,1-2dimorfismosexual,1-2,3,4,5,6,7,8-9DirkeLola,1,2,3,4disfunçãosexual,1,2,3divórcio,1,2,3,4,5-6,7,8DNA(ácidodesoxirribonucleico),1,2-3,4,5,6,7-8,9

descobertado,1estruturaemhéliceduplado,1,2,3,4origensmaternaepaternado,1-2testesde,1

DNAmetiltransferase,1

doençadeParkinson,sintomasde,1,2doençassexualmentetransmissíveis,1dopamina,1,2,3-4,5,6,7,8,9,10,11,12-13,14,15,16,17,18-19,20,21,22

fidelidadee,1-2liberaçãode,1-2,3-4,5,6,7-8receptorDRD4de,1-2receptorDRD47R+de,1,2,3receptoresD1eD2de,1-2,3-4

dopamina,agonistada,1Dramamine,1Drayton,H.S.,1-2drogas,1,2

administraçãoperiduralde,1tratamentomedicinalcom,1,2,3vícioem,1,2-3,4-5,6,7vertambémdrogasespecíficas

Dulac,Catherine,1-2Durante,Kristina,1

Eastwick,Paul,1-2,3educaçãosexual,1Emanuele,Enzo,1emoções,1,2-3,4-5,6

controledas,1deamor,1-2excitaçãodas,1-2expressãodas,1mudançanas,1satisfaçãodas,1,2

empatia,1energia,1,2,3

maníaca,1enzimas,1,2,3,4epigenética,1,2,3,4-5,6-7,8,9,10

definiçãode,1epilepsia:

crisesconvulsivasna,1,2devoçãoreligiosae,1-2dolobotemporal,1-2efeitoexcitadore,1

erotismo,1,2,3-4,5,6escânerescerebrais,1,2,3,4-5,6,7-8,9,10-11,12;vertambémtecnologiasespecíficasescroto,1,2esperma,1,2,3espiritualidade,1,2,3,4esquilos,1esquizofrenia,1,2,3

tratamentoda,1esteroideestrogênico(EST),1-2,3esteroides,1,2estilosparentais,1,2,3,4,5-6,7,8estradiol,1,2,3,4,5estresse,1-2,3,4-5,6,7

conjugal,1-2reaçãoao,1,2-3,4

estrogênio,1,2,3-4,5,6,7,8,9,10,11,12,13receptoresde,1,2

euforia,1evolução,1,2,3,4

amore,1,2,3cérebroe,1,2,3,4dosgenes,1,2relacionamentose,1,2,3-4,5,6-7,8seleçãonaturale,1,2,3

exercício,1

Facebook,1fatordecrescimentoinsulínico2(IGF2,nasiglaeminglês),1fatordecrescimentoneural(NGF,nasiglaeminglês),1-2Featherstone,David,1-2Feldman,Ruth,1,2felicidade,ambientee,1feromônios,1-2,3,4,5

animais,1-2,3-4,5cérebroe,1-2,3deporco,1-2definiçãode,1experimentoscom,1,2-3,4-5humanos,1,2-3,4,5,6,7liberadores,1modificadores,1pré-ativadores,1sinalizadores,1

Ferris,Craig,1-2,3,4,5-6,7,8fidelidade,1fígado,1Finkel,Eli,1-2Fisher,Helen,1,2-3,4-5,6,7,8,9,10,11,12,13,14-15,16,17,18-19,20,21,22,23,24,25flerte,1flibanserina,1,2fome,1,2,3formaçãodevínculosmonogâmicos,1,2-34,5-6,7,8

oxitocinae,1-2,3,4,5,6,7,8,9-10fotografias,1

denamoradospotenciais,1-2depessoasamadas,1,2,3,4,5-6,7-8,9,10depessoasincapacitadas,1-2,3derostosmasculinos,1-2derostosodiadosversusneutros,1-2desagradáveis,1sexuais,1,2,3,4-5

Frank,Michael,1fraseseróticas,1freirascarmelitas,1-2,3frenologia,1-2,3,4-5,6Freud,Sigmund,1Friends,1funçãoexecutiva,1,2,3,4

Gage,Phineas,1-2GalenodePérgamo,1Gall,FranzJoseph,1-2Garcia,Justin,1-2,3gatos,1,2Gay,StraightandtheReasonWhy:TheScienceofSexualOrientation(LeVay),1gêmeos:

estudosde,1,2idênticos,1

genes,1,2,3-4,5,6AVPR1A,1,2-3,4,5,6,7comportamentosexuale,1-2,3-4,5,6-7danosetranstornosdos,1,2,3DRD4de,1-2DRD47R+de,1,2,3expressãodos,1-2,3-4,5,6-7,8,9,10-11FRU,1-2,3FucM,1,2“gay”,1-2,3,4“gender-blind”GB,1,2hereditariedadee,1,2,3,4-5infidelidadee,1-2,3-4interaçãodeambientee,1,2,3-4,5-6ligadosaoHLA,1-2mudançasquímicasnos,1mutaçãode,1,2,3-4,5,6,7OR7D4,1perfisde,1procriaçãoe,1-2receptordeglicocorticoide,1receptorolfativode,1-2testesde,1,2,3,4tipificaçãode,1variantesde,1,2-3,4-5vertambémDNA;epigenética;RNA

genitais,1ambíguos,1desenvolvimentodos,1-2estimulaçãodos,1,2-3,4-5femininos,1-2,3fotografiasde,1genomapleno,estudosdeassociaçãodo,1,2,3identidadesexuale,1,2masculinos,1,2-3,4

genomas,1,2,3,4,5,6Georgiadis,Janniko,1-2Gill,Kulbir,1,2GirlsWhoLikeBoysWhoLikeBoys,1glutamato,1,2,3-4Goldstein,Jill,1,2,3,4Google,1Gordon,Ilanit,1Gorski,Roger,1Grafman,Jordan,1gravidez,1,2-3,4

alteraçõesdocorpona,1,2,3consultaspré-nataisna,1contracepção,1crescimentofetalna,1-2,3,4,5,6,7,8,9dietana,1-2,3-4,5enjoomatinalna,1hormôniose,1níveisdeoxitocinana,1,2,3-4sonhossexuaisna,1-2

Gray,John,1gregosantigos,1guanina,1

Guéguen,Nicolas,1

“Háumaneurobiologiadoamor?”,1,2,3Haig,David,1-2Hamer,Dean,1hamsters,1Harlow,Harry,1Harlow,JohnMartyn,1HarryeSally:feitosumparaooutro,1Heiman,Julia,1,2-3,4,5-6,7hermafroditas,1heroína,1,2hipófise,1,2,3,4,5HomenssãodeMarte,asmulheressãodeVênus,Os(Gray),1homofobia,1,2homossexualidade,1-2,3,4

bullyinge,1comodistúrbiopsiquiátrico,1comoescolhadeestilodevida,1-2“cura”etratamentoda,1debatesobrecausasda,1-2efeitodaordemdenascimentofraterna(FBO,nasiglaeminglês)e,1-2estereótiposda,1ideiasconservadorasecríticassobre,1-2vertambémorientaçãosexual

hormôniofolículo-estimulante(FSH),1,2,3hormônios,1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11

mediaçãodocomportamentoe,1,2partoe,1receptoresde,1,2-3,4sexuais,1-2,3-4,5,6,7-8,9,10-11terapiacom,1-2vertambémhormôniosespecíficos

Houston,Whitney,1HowardHughesMedicalInstitute,1humor,oscilaçõesdo,1,2,3,4,5,6humor,sensode,1

Illinois,Universidadede,1,2,3imagiologiaderessonânciamagnéticafuncional(fMRI),1,2-3,4,5,6,7,8,9,10-11,12,13,14,15,16,17,18,19,20

contençãodacabeçana,1-2,3,4magnetosna,1,2-3,4,5,6mapeamentodadevoçãoreligiosacom,1-2,3mapeamentodatomadadedecisãocom,1-2mapeamentodoódioedoamorna,1-2,3,4mapeamentodoorgasmocom,1-2,3,4,5,6

imprintinggenômico,1-2,3,4Indiana,Universidadede,1,2,3,4,5,6

CenterforSexualHealthPromotionda,1indústriafarmacêutica,1,2-3infância,controleemocionale,1infidelidade,1,2,3-4

cérebroe,1,2-3,4-5consequênciasda,1estatísticassobre,1-2,3-4,5feminina,1-2,3,4,5,6genese,1-2,3-4masculina,1,2-3,4-5,6-7,8-9,10-11

inibidordecinasedependentedeciclina1C,1-2

Insel,Thomas,1InstituteforResearchonUnlimitedLove,1InstitutoKarolinska,1,2,3,4inteligência,1,2,3,4,5

gêneroe,1intercurso,1

anal,1peniano-vaginal,1

internet,1,2-3,4postagemdematerialpessoalna,1redessociaisna,1,2

“IsSocialAttachmentanAddictiveDisorder?”(Insel),1

Jackman,Hugh,1James,Thomas,1,2-3,4-5,6,7,8,9,10JerseyShore,1JesusCristo,1Jirtle,Randy,1,2,3-4,5Joanad’Arc,1Juergensen,Heather,1

Karlson,Peter,1,2Karremans,JohanC.,1-2,3Kegel,Alfred,1Kegel,exercíciosde,1,2Kim,Pilyoung,1-2,3,4KinseyInstituteforResearchinSex,Gender,andReproduction,1,2,3,4,5,6,7,8,9Komisaruk,Barry,1,2-3,4-5,6,7,8,9-10

L’Arche,1-2lágrimas,1Leibenluft,Ellen,1lesbianismo,1,2-3,4,5,6,7LeVay,Simon,1libélulas,1libido,1linguagem,1,2lógica,1lordose,1,2,3,4“Love:NeuroscienceRevealsAll”(Young),1-2Lüscher,Martin,1-2lutaoufuga,respostade,1

macacos,1-2comportamentosexualde,1-2,3-4,5,6-7Rhesus,1-2,3,4-5,6,7,8saguis-cabeça-de-algodão,1-2,3zogue-zogue,1-2,3-4,5

mamíferos,impulsosbásicosdos,1,2Marazziti,Donatella,1-2,3,4massagem,1masturbação,1-2,3-4maternidade:

amoracriançase,1,2-3,4,5-6,7-8,9,10cérebroe,1-2,3,4-5privaçãodesonoe,1,2relaçõesconjugaise,1-2,3vícioem,1-2

Matsunami,Hiroaki,1-2

McClintock,Martha,1,2McEwen,Bruce,1-2,3Meaney,Michael,1-2,3,4-5,6medulaespinhal,1

lesãoda,1MelbourneWomen’sMidlifeHealthProject,1memória,1,2,3,4,5,6,7,8,9

boaversusmá,1emocional,1-2,3espacial,1,2formaçãoda,1funcional,1perdada,1

menopausa,1,2menstruação,1-2,3-4,5,6,7

ciclossincronizadosda,1-2fasefolicularfértilda,1,2,3-4faselúteanãofértilda,1inícioda,1

Mentebrilhante,Uma,1Merriam-Webster,dicionário,1Meston,Cindy,1,2,3metanfetaminas,1metilação,1,2-3Meyer,Elizabeth,1-2Micevych,Paul,1,2,3,4Michigan,Universidadede,1,2microRNA,1,2Minnesota,Universidadede,1Miranda,Carmen,1modulaçãodociclodocio,1“módulodeDeus”,1-2MonellChemicalSensesCenter,1Money,John,1,2,3mongestibetanos,1monogamia,1,2,3,4,5,6,7,8-9,10,11-12,13

aspectosculturais,1,2-3dosarganazes-do-campo,1,2-3,4,5-6,7,8,9,10-11naturezada,1raridadeda,1,2social,1,2

Montreal,Universidadede,1mosca-da-fruta,1-2,3movimento,1

controledo,1músculospélvicos,1

namoro,1,2conselhossobre,1,2,3emparelhamentodoestilodelinguagemno,1-2manuaissobre,1on-line,1,2speeddating,1-2,3tomadadedecisãosobre,1,2-3,4-5,6voltaao,1,2

nariz,1epitéliodo,1póliposno,1

Nash,John,1

NationalInstituteofMentalHealth,1,2NationalInstitutesofHealth,1NationalSurveyofSexualHealthandBehavior,1Nature,1,2naturezaversuscriação,1,2Natureza-mortaeopica-pau,A(Robbins),1navegação,1,2neurobiologia,1,2,3,4,5-6neurociência,1-2,3-4,5-6,7,8,9,10-11,12neuroestética,1,2neuroimagemverescânerescerebraisneuropeptídios,1,2,3,4,5-6,7,8-9,10,11,12-13Neuroreport,1neurossexismo,1neurotransmissores,1,2-3

receptoresrelacionadosa,1,2neurotrofinas,1-2NewJerseyMedicalCenter,UniversidadedeMedicinaeOdontologiado,1NewYorkTimes,1,2,3Newberg,Andrew,1-2Newsweek ,1Noriuchi,Madoka,1nucleotídios,1-2Nugent,Ted,1,2

obesidade,1,2ódio,1,2-3,4-5

comoumimpulsonegativo,1-2correlatosneuraisdo,1-2elementosdo,1,2-3vínculoentreamore,1-2,3-4

olhos,1,2contatoolhonoolho,1,2

Ophir,Alexander,1,2,3-4,5ordemdenascimentofraterna(FBO),1-2orfanatosromenos,1órgãovomeronasal,1orgasmos,1,2,3-4

cérebroe,1-2,3clímaxdos,1,2-3,4comopensamento,1-2,3escaneamentocerebraldos,1-2,3,4,5,6feminino,1-2,3-4masculino,1,2-3,4-5masturbaçãoe,1-2,3-4“pequenamorte”dos,1qualidadedos,1,2,3simulaçãode,1,2

orientaçãosexual,1-2amore,1-2cérebroe,1-2comportamentosaprendidose,1-2definiçãode,1emanimais,1-2estudosgenéticosda,1-2,3,4genitáliae,1,2mudançada,1,2,3traçosneuroanatômicose,1-2,3,4vertambémhomossexualidade;lesbianismo;transexualidade

Origemdohomemeaseleçãosexual,A(Darwin),1Ortigue,Stephanie,1-2,3,4,5,6ouvidos,1,2ovelhas,1,2,3ovulação,1,2,3óvulos,1-2

fertilizaçãode,1,2liberaçãode,1

oxitocina,1,2,3,4-5,6,7,8,9,10-11,12-13,14,15-16,17,18,19,20,21,22,23,24-25endógena,1faltade,1,2,3-4,5receptoresde,1-2,3,4,5-6,7,8,9,10,11,12sintética,1vínculosmonogâmicose,1-2,3,4,5,6,7,8,9-10agressividadee,1-2,3sistemascirculatórioversuscerebralda,1-2tratamentocom,1-2,3-4,5

oxitocina,antagonistada,1Oxycontin,1

pais,1,2,3adotivos,1-2relaçõesdecriançase,1,2,3,4,5-6substitutos,1vertambémmaternidade

parceiros:atraçãode,1,2escolhade,1,2

Park,Chankyu,1-2parto,1,2,3,4,5,6

cérebroe,1,2,3,4-5episiotomiasno,1evoluçãoe,1níveisdeoxitocinano,1,2,3-4períodopós-parto,1trabalhode,1,2,3,4

pele,1,2,3,4pênis,1,2,3,4,5,6,7,8

desenvolvimentodo,1-2,3ejaculaçãodo,1,2ereçãodo,1,2,3,4

percepçãoespacial,1,2,3-4Persinger,Michael,1-2personalidade,1,2

mudançade,1,2Phelps,Steve,1,2,3Pisa,Universidadede,1,2pitocina,1,2Platão,1“poçãodoamor”,1-2,3-4poluçõesnoturnas,1pornografia,1,2,3,4,5,6,7,8Porter,Cole,1,2Post,Emily,1Post,StephenG.,1prece,1-2preservativos,1,2-3Presley,Elvis,1pressãosanguínea,regulaçãoda,1,2

primatas,1-2,3,4-5;vertambémmacacosproblemasdapróstata,1profetasreligiosos,1progesterona,1,2,3,4,5programaderecuperaçãoemdozepassos,1-2ProjetoGenomaHumano,1promiscuidade,1,2proteínas,1,2,3,4,5,6,7-8,9,10,11,12,13

histona,1psicologia,1Psychoneuroendocrinology,1,2puberdade,1,2,3-4,5,6,7“PygmalionUpdated”(Money),1

racionalidade,1Rahman,Qazi,1,2,3,4Ramachandran,Vilayanur,1-2ratos,1,2-3,4-5,6-7,8,9,10-11,12,13,14,15,16,17,18,19mãe,1-2razão,1Read,Nicolas,1,2,3receptordeopioides,1receptormetabotrópicodeglutamato,1reconciliação,1,2reconhecimentofacial,1,2redesignaçãosexual,cirurgiade,1regulaçãodaglicose,1Reieeu,O(RodgerseHammerstein),1ReinoUnido,1rejeição,1relações,1,2,3,4

autoajudae,1,2bem-sucedidas,1breves,1decompromisso,1,2,3,4,5duradouras,1,2,3emparelhamentodoestilodelinguagemem,1-2fracassode,1-2mãe-filho,1,2-3,4,5-6,7-8,9,10,11novas,1rompimentode,1-2,3,4singularidadedas,1-2sociais,1-2,3-4vertambémrelaçõesespecíficas

relaçõessexuais:abstençãode,1-2,3arriscadas,1,2-3,4,5deanimais,1,2,3,4-5,6-7,8-9,10-11decepçãocom,1estágiosiniciaisdas,1,2frequênciadas,1,2-3,4gratificaçãofísicae,1monogâmicas,1,2-3,4,5,6oportunísticas,1,2porempatia,1qualidades,1,2receptividadeàs,1,2-3,4recreativas,1,2,3vertambémintercurso;orgasmos

relógiobiológico,1Rhesus,macaco,1-2,3,4-5,6,7,8rins,1riso,1,2,3ritmocardíaco,1

acelerado,1,2,3,4diminuído,1

ritmorespiratório,1,2RNA(ácidoribonucleico),1,2Robbins,Tom,1Romaya,JohnPaul,1,2,3-4,5rotaçãomental,1Rumi,poemade,1Rupp,Heather,1,2,3,4,5,6-7,8,9,10

S.O.S.Malibu,1saguis-cabeça-de-algodão,1-2,3saliva,1sangue,1,2,3,4,5,6

circulaçãodo,1,2-3,4,5fluxocerebralde,1,2,3,4,5,6,7,8-9,10,11neurotrofinasno,1-2oxigenado,1testesde,1

saúdemental,1Savic,Ivanka,1-2,3,4-5,6Schultz,Wolfram,1,2,3Science,1,2ScientificAmerican,1sede,1,2,3sentidos,1,2serotonina,1-2,3,4

receptoresde,1serviçosdeencontrosamorosos,1sexo,1,2,3,4,5

ambientee,1-2,3-4arriscado,1,2-3,4,5aspectosantropológicosdo,1associaçãodedoençascom,1,2baixointeresseem,1,2casamentoe,1-2,3-4estereótipossobre,1,2,3,4,5,6motivaçãoparao,1,2,3-4,5,6oportunístico,1,2recreativo,1,2,3reproduçãoe,1,2,3,4sistemascerebraiscorrespondentesao,1-2,3-4,5-6,7-8,9tomadadedecisãoe,1,2-3,4,5vícioem,1-2,3-4,5

sexoanal,1SexualSelections:WhatWeCanandCan’tLearnaboutSexfromAnimals(Zuk),1Shakespeare,William,1síndromepré-menstrual,1sistemaantígenoleucocitáriohumano(HLA,nasiglaeminglês),1-2sistemaendócrino,1sistemaimune,1,2,3

anticorposproduzidospelo,1sistemanervosoautônomo,1

sistemaneuroendócrino,1,2sistemaolfativo,1,2-3,4,5-6,7,8,9Sizer,Nelson,1,2Smith,Joseph,Jr.,1Snowdon,Charles,1-2,3SocietyforNeuroscience,1,2,3sociologia,1,2solenoides,1sonhos,1

molhados,1-2sexuais,1-2

sono,1,2orgasmosno,1perdado,1,2

Sorrentino,Mike“TheSituation”,1Spring,JanisAbrahms,1Spring,Michael,1Spurzheim,JohannGaspar,1,2Stephens,Shannon,1,2Streisand,Barbra,1suicídio,1,2SundanceChannel,1Suny(StateUniversityofNewYork),1SupremaCorte,EstadosUnidos,1Swaab,Dick,1-2,3,4-5,6-7Swain,James,1Swish:MyQuesttoBecometheGayestPersonEverandWhatEndedUpHappeningInstead(Derfner),1Syracuse,Universidadede,1,2Szyf,Moshe,1-2,3-4,5,6

“tarefadeSimonmodificada”,1televisão,realityshowsna,1,2terapiasexual,1testículos,1,2,3testosterona,1-2,3,4-5,6,7,8,9,10,11,12-13,14-15,16Texas,Universidadedo,SexualPsychophysiologyLaboratoryna,1ThomasJeffersonUniversityHospitalandMedicalCollege,MyrnaBrindCenterforIntegrativeMedicineno,1Tierney,John,1Time,1timina,1tomadadedecisão,1,2,3

amore,1,2,3,4resultadospositivosenegativosda,1sexoe,1,2-3,4,5

tomografiaaxialcomputadorizada(TAC),1tomografiacomputadorizadaporemissãodefótonúnico(Spect,nasiglaeminglês),1tomografiaporemissãodepósitrons(PET,nasiglaeminglês),1,2,3,4Toronto,Universidadede,1trabalhodeparto,1

aceleraçãodo,1,2contraçõesuterinasno,1,2doresdo,1

transexualidade,1-2,3homem-para-mulher,1-2

transtornododéficitdeatençãoehiperatividade(TDAH),1,2,3transtornododesejosexualhipoativo(TDSH),1transtornoobsessivo-compulsivo(TOC),1,2,3-4TrinityUniversity(Dublin),1trompasdeFalópio,1

Twitter,1,2

UniversidadeBar-Ilan,1UniversidadeBinghamton,LaboratoryofEvolutionaryAnthropologyandHealth,1UniversidadeBrown,1UniversidadeCatólicadaCoreia,1UniversidadeColumbia,1UniversidadedoTexasA&M,1UniversidadeDuke,EpigeneticsandImprintingLaboratoryna,1UniversidadeEmory,1,2,3,4,5

YerkesNationalPrimateResearchCenterna,1UniversidadeEstadualdaFlórida,1UniversidadeEstadualdeOklahoma,1,2UniversidadeHarvard,1

HarvardMedicalSchool,1UniversidadeJohnsHopkins,1,2,3UniversidadeLaurentian,1UniversidadeMcGill,1UniversidadeMetropolitanadeTóquio,1UniversidadeNortheastern,1,2,3UniversidadeNorthwestern,1UniversidadeQueenMarydeLondres,1UniversidadeRadboud,DepartamentodePsicologiaSocialeClínicada,1UniversidadeRice,1UniversidadeRockefeller,1UniversidadeRutgers,1,2,3,4,5

SmithHallna,1UniversidadeStanford,1UniversidadeSuecadeCiênciasAgrícolas,1UniversidadeYale,1,2,3,4UniversityCollegeLondon,1,2,3,4urina,1,2,3,4,5,6,7,8Uvnäs-Moberg,Kerstin,1-2,3,4,5,6

vagina,1,2,3-4,5,6fluxosanguíneoparaa,1,2

vasopressina,1,2,3-4,5,6,7,8-9,10,11,12-13,14,15,16,17,18,19,20receptoresde,1,2-3,4,5,6,7,8,9-10,11,12-13,14,15,16,17

vasossanguíneos,1,2veias,1Viagra,equivalentefemininodo,1-2vibradores,1vício/adição,1,2-3,4

abstinência,1,2,3-4álcool,1,2,3,4aoamor,1-2,3-4,5-6definiçãode,1desejose,1,2,3,4droga,1,2-3,4-5,6,7gravesaspectosnegativosda,1,2,3-4predisposiçãogenéticaa,1recaída,1recuperaçãode,1sexual,1-2,3-4,5sinaisesintomasde,1-2,3-4

vícioemjogo,1vícioempublicidade,1Vicodin,1“vigiaredefender”,respostade,1

vigilância,1violênciadoméstica,1vitaminaB,1vitoriana,era,1,2Vocêestácrescendo!,1voltametria,1vozes,1

Wallen,Kim,1,2-3,4-5,6-7,8,9-10,11,12,13Walum,Hasse,1-2,3-4,5Waterland,Robert,1Watson,JamesD.,1Wenner-GrenSymposia,1,2,3Westfeldt,Jennifer,1Whipple,Beverly,1,2,3White,Barry,1Williams,Robin,1Wiltgen,Steve,1,2-3Wisconsin,Universidadede,1,2Wise,Nan,1-2,3,4,5-6,7,8-9Wysocki,Charles,1-2,3,4

Young,Larry,1,2,3,4,5,6-7

Zeki,Semir,1-2,3,4,5,6-7,8-9,10,11,12-13,14-15,16,17Zhou,Wen,1-2,3,4zogue-zogues,macacos,1-2,3-4,5Zuk,Marlene,1,2

Títulooriginal:DirtyMinds(HowOurBrainsInfluenceLove,Sex,andRelationships)

Traduçãoautorizadadaprimeiraediçãoamericana,publicadaem2012porFreePress,umadivisãodaSimonandSchuster,deNovaYork,EstadosUnidos

Copyright©2012,KaytSukel

Copyrightdaediçãobrasileira©2013:JorgeZaharEditorLtda.ruaMarquêsdeS.Vicente99–1º|22451-041RiodeJaneiro,RJtel(21)2529-4750|fax(21)[email protected]|www.zahar.com.br

Todososdireitosreservados.Areproduçãonãoautorizadadestapublicação,notodoouemparte,constituiviolaçãodedireitosautorais.(Lei9.610/98)

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Capa:BrunaBenvegnùFotodacapa:©PatriciaCuri/Corbis/Corbis(DC)/LatinstockProduçãodoarquivoePub:SimplíssimoLivros

Ediçãodigital:junho2013ISBN:978-85-378-1098-9