PROTOCOLOS E INDICADORES DE EFICÁCIA DAS TÉCNICAS DE BIOFEEDBACK E NEUROFEEDBACK NO TREINAMENTO...

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INSTITUTO DE PSIQUIATRIA - IPUB Centro de Ciências da Saúde - CCS UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ PROTOCOLOS E INDICADORES DE EFICÁCIA DAS TÉCNICAS DE BIOFEEDBACK E NEUROFEEDBACK NO TREINAMENTO PSICONEUROFISIOLÓGICO DE ATLETAS DE ALTO RENDIMENTO SILVIO DE SOUZA AGUIAR CARVALHO Monografia apresentada no Instituto de Psiquiatria - IPUB da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito final do Curso de Especialização em Neurociências Aplicadas à Aprendizagem. Orientadora: Prof.ª Bruna Brandão Velasques RIO DE JANEIRO - RJ 2014

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INSTITUTO DE PSIQUIATRIA - IPUB

Centro de Ciências da Saúde - CCS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ

PROTOCOLOS E INDICADORES DE EFICÁCIA DAS TÉCNICAS DE

BIOFEEDBACK E NEUROFEEDBACK NO TREINAMENTO

PSICONEUROFISIOLÓGICO DE ATLETAS DE ALTO RENDIMENTO

SILVIO DE SOUZA AGUIAR CARVALHO

Monografia apresentada no Instituto de

Psiquiatria - IPUB da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como

requisito final do Curso de

Especialização em Neurociências

Aplicadas à Aprendizagem.

Orientadora: Prof.ª Bruna Brandão Velasques

RIO DE JANEIRO - RJ 2014

II

Carvalho, Silvio

Protocolos e indicadores de eficácia das técnicas de biofeedback e neurofeedback no treinamento psiconeurofisiológico de atletas de alto rendimento – Silvio de Souza Aguiar Carvalho – Rio de Janeiro – 2014

64f.

Orientador acadêmico: Prof.ª Bruna Brandão Velasques. Monografia (especialização). Instituto de Psiquiatria - IPUB da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Curso de Especialização em Neurociências Aplicadas à Aprendizagem.

Título em inglês: Protocols and indicators of effectiveness of neurofeedback and biofeedback techniques on training psychoneurophysiological of top level athletes

Rio de Janeiro, Brasil

1. Autorregular 2. Biofeedback 3. Indicadores 4. Neurofeedback 5. Psiconeurofisiológico

III

AGRADECIMENTOS À minha orientadora, Profa. Bruna Brandão Velasques, pela orientação e apoio durante a realização da monografia. A todos os professores atuais e passados, pelas experiências e conhecimentos transferidos que me permitiram galgar com segurança mais esse degrau na minha jornada acadêmica. Ao Peter Van Deusen, meu mentor em Neurofeedback. Ao Comitê Olímpico Brasileiro, pelo incentivo e apoio ao projeto do Laboratório de Psiconeurofisiologia do Esporte, meu próximo desafio e principal motivo do presente trabalho.

IV

“Toda alteração no estado fisiológico é acompanhado pela apropriada alteração no estado mental-emocional, consciente ou inconsciente, e, reciprocamente, toda

alteração no estado mental-emocional, consciente ou inconsciente, é acompanhado pela apropriada alteração no estado fisiológico”

(GREEN, GREEN & WALTER, 1970, p. 3)

V

RESUMO

No alto rendimento esportivo o Treinamento das Habilidades Psicológicas (THP),

como prática sistemática e consistente, representa um grande diferencial

competitivo. Nesse contexto as modalidades de Biofeedback (BFB) e Neurofeedback

(NFB), em conjunto com as tradicionais técnicas de treinamento mental, têm

apresentado excelentes resultados como técnicas de autorregulação do nível

ativação psiconeurofisiológica, permitindo ao atleta manter-se dentro da sua Zona

Individualizada de Desempenho Ideal (ZIDI), de forma voluntária e nos momentos

competitivos. Para tal, é necessário elaborar criteriosamente os protocolos de

treinamento em BFB e NFB, integrando-os ao Programa Geral de Treinamento do

atleta. Periodizado em conjunto com a preparação física, técnica e tática o THP

deverá conter indicadores objetivos que comprovem a sua eficácia e permitam

monitorar a evolução do treinamento. O presente trabalho teve como objetivo

descrever as técnicas de NFB e BFB, os métodos de elaboração e integração dos

protocolos ao treinamento de atletas de alto rendimento, apontando os indicadores

objetivos para o gerenciamento do treinamento psiconeurofisiológico. A metodologia

W5SA destacou-se tanto pela abrangência como pelos resultados obtidos no

treinamento de atletas nos dois últimos ciclos Olímpicos.

Palavras chave: 1. Autorregular 2. Biofeedback 3. Indicadores 4. Neurofeedback 5.

Psiconeurofisiológico

VI

ABSTRACT

At the peak performance sports, the Psychological Skills Training (PST) represents a

major competitive advantage as systematic and consistent practice. In this context

the modalities of Biofeedback (BFB) and Neurofeedback (NFB), associated to the

usual of mental training procedures, have shown very good results as a self-

regulatory technique of the psychophysiological activation level, allowing the athlete

to remain within their Individualized Zone of Optimal Functioning (IZOF), in a

voluntary way including, competitive situations. Taking this in to account is necessary

to develop the training protocols for NFB and BFB carefully, integrating them to the

General Program of the athlete training. Together with the physical preparation

periodization, technique and tactics of THP should contain objective indicators that

prove its effectiveness and allow monitoring the progress of training. This study

aimed to describe the techniques of NFB and BFB, methods of preparation and

integration of protocols to high-performance athletes training, pointing out the

objective indicators for managing the psychophysiological training. The methodology

W5SA stood out both for its comprehensiveness as the results obtained in training

athletes in the last two Olympic cycles.

Keywords: 1. Self-regulation 2. Biofeedback 3. Indicators 4. Neurofeedback 5.

Psychoneurophysiological

VII

SUMÁRIO

CAPÍTULO UM PROJETO 8

1.1 HISTÓRICO 8

1.2 INTRODUÇÃO 11

1.3 JUSTIFICATIVA 12

1.4 OBJETIVOS 13

1.5 HIPÓTESE 14

1.6 DEFINIÇÃO DE TERMOS 14

CAPÍTULO DOIS REVISÃO DA LITERATURA 16

2.1 BIOFEEDBACK E NEUROFEEDBACK 16

2.1.1 Bases Conceituais 16

2.1.2 Modalidades de Biofeedback 17

2.1.3 Modalidades de Neurofeedback 24

2.2 O PROGRAMA DE TREINAMENTO PSICONEUROFISIOLÓGICO 38

2.2.1 Periodização do Programa de Treinamento 40

2.2.2 Avaliação e Linha de Base 45

2.2.3 Elaboração do Protocolo de Treinamento 49

2.3 INDICADORES DE EFICÁCIA 56

CAPÍTULO TRÊS CONSIDERAÇÕES FINAIS 60

3.1 CONCLUSÃO 60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 62

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CAPITULO UM PROJETO

1.1 HISTÓRICO

A preparação psicológica no desporto já se fazia presente nos Jogos

Olímpicos da Grécia Antiga, avaliando a relação entre as cargas de trabalho e a

recuperação com o estado de ânimo do competidor. Ao final do século XIX e início

do século XX, os estudos realizados nos laboratórios de medicina esportiva sobre a

regulação psicofisiológica na ação motora dão origem a diversas pesquisas que

enfatizam a influência da atividade cardiovascular, contração muscular e a fadiga, no

funcionamento do sistema nervoso dos atletas. Inseridos no campo da fisiologia do

esporte, diversos trabalhos publicados correlacionam a atividade do sistema nervoso

com o desempenho do atleta, investigando a natureza dos fenômenos psíquicos no

ambiente esportivo e sua influência nos mecanismos de transmissão neuromuscular

(PLATONOV, 2008, p.21- 26).

A produção de uma corrente elétrica na contração muscular foi descoberta em

1842 por Carlo Mantteucci em pesquisa com sapos e confirmada em músculos

humanos por H. Piper em 1907. Em 1908, Edmond Jacobson realiza as primeiras

pesquisas sobre o controle voluntário do relaxamento muscular, visando a

eliminação da tensão residual como método para acalmar a mente. Após a

publicação em 1936 do seu artigo The Course of Relaxation in Muscles of Athletes,

no American Journal of Psychology, a técnica, que ficou consagrada como

Relaxamento Progressivo de Jacobson, incorporou-se ao treinamento de atletas. O

treinamento do relaxamento progressivo, acompanhado por aparelhos que

registravam e informavam a atividade elétrica dos neurônios motores, é apontado

como a origem das técnicas de biofeedback (BFB) no campo esportivo.

(JACOBSON, 1959, p.10, 101-114; STRACK, LINDEN, WILSON, 2011, p. 30-31)

9

De grande importância para o desenvolvimento das técnicas de treinamento

psicofisiológico foi o método de relaxamento sistemático desenvolvido pelo

neurologista alemão J. H. Schultz, com base nas pesquisas no campo da hipnose

realizadas pelo também neurologista alemão Oscar Vogt. O método, publicado em

1932 com o título de Treinamento Autógeno - auto-relaxação concentrativa, consiste

basicamente na autoindução sugestiva da vivência das sensações de peso

(descontração muscular) e calor corporal (vasodilatação dos vasos periféricos),

sincronização rítmica da respiração e da frequência cardíaca (regulação

autonômica), e da sensação de calor na região do plexo solar, finalizando com a

sensação de frescor na testa (relaxamento facial). Segundo Schultz, a prática

sistemática do Treinamento Autógeno (TA) regulariza o equilíbrio autonômico

constituindo-se e um meio coadjuvante no tratamento da ansiedade, angústia,

depressão, neuroses, moléstias funcionais e o stress. A sequência dos exercícios

permite atingir o estado hipnótico de forma auto conduzida, e, em seguida, modificar

pensamentos automáticos disfuncionais através de repetição mental de formulações

específicas. Na literatura esportiva o TA aparece como ferramenta fundamental no

treinamento mental do atleta de alto rendimento. (SCHULTZ, 1967; HOSSRI, 1970;

ALBISETTI, 1996; VAINSHTEIN, 1969, p. 62-65; GOULD E WEINBERG, 2001, p.

277-278; WEINECK, 2003, p. 588-591)

Em 1875, Richard Caton realiza experimentos colocando eletrodos em

cérebros abertos de animais, e descobre flutuações na atividade elétrica do cérebro

acompanhadas de alterações da atividade mental. Em 1920, Hans Berger capta,

amplifica e grava o primeiro Eletroencefalograma (EEG) bruto através de eletrodos

posicionados no escalpo humano, preconizando em estudo publicado em 1926, que

alterações no EEG representavam desordens clínicas. O biofeedback EEG, ou

10

neurofeedback (NFB), surge na década de 1960, no Langley Porter Neuropsychiatric

Institute da Universidade da Califórnia, em San Francisco, com as pesquisas

realizadas por Joe Kamiya, correlacionando os estados psicológicos do sujeito em

treinamento com a leitura do seu EEG. Kamiya treinou alunos da universidade para

obterem o controle voluntário sobre a produção de ondas cerebrais na faixa entre 8

e 12 Hz, denominada de banda Alpha, no lobo parietal direito, abrindo as portas para

as pesquisas e o desenvolvimento do neurofeedback. Posteriormente, Barry

Sterman e colegas do Departamento de Anatomia e Neurologia da Universidade da

Califórnia, em Los Angeles, descobriram em pesquisas com gatos que os animais

desenvolveram o controle voluntário do ritmo de 12 a 15hz no córtex sensório-motor

pela total imobilidade corporal, reforçados por uma recompensa comestível. Sterman

cunhou a expressão Ritmo Sensório Motor (RSM) para a banda de frequência de 12

a 15hz, quando produzida no córtex sensório-motor (NICOLELIS, 2011, p. 267;

DEMOS, 2005, p. 16; GREEN, GREEN, WHALTERS,1970, apud. BLUMENSTEIN,

BAR-ELI, TENENBAUN, 2002, p. xii).

A década de 1970 marca o início do período científico do treinamento

esportivo. A evolução tecnológica é incorporada aos equipamentos e sistemas

computacionais de biofeedback e neurofeedback, tornando-os portáteis e

aumentando a velocidade e precisão da coleta e processamento das informações.

Os avanços na microinformática impulsionam os estudos dos processos fisiológicos

do cérebro e a sua influência sobre a atividade física, permitindo relacionar as

variáveis psiconeurofisiológicas com o comportamento e desempenho do atleta em

treinos e competições (TUBINO, MOREIRA, 2003, p.337-340; GOULD E

WEINBERG, 2001, p. 39).

11

A publicação do trabalho de Zaichowsky e Sime em 1982, aliando conceitos

de psicofisiologia e gestão do estresse esportivo, é apontada como o nascimento da

Psicofisiologia do Esporte. A modelagem do padrão cerebral e/ou das respostas

fisiológicas é incorporada ao macrociclo de treinamento dos atletas, em protocolos

que reúnem exercícios de neurofeedback (NFB) e/ou biofeedback (BFB),

obedecendo ao princípio da psicofisiologia, onde paralelamente, de forma

consciente ou inconsciente, alterações dos estados fisiológicos produzem alterações

nos estados mentais e emocionais, e vice-versa. (LEHRER, WOOLFOLK, SIME,

2007, p. 615; EDMONDS; TENENBAUM, 2012, p. 7; BLUMENSTEIN, BAR-ELI,

TENENBAUN, 2002, p. 2)

1.2 INTRODUÇÃO

A preparação do atleta exige a elaboração e o cumprimento de um programa

individualizado de treinamento, sistemático e de longa duração, onde diferentes

variáveis estão envolvidas, incluindo as fisiológicas e psicológicas. A teoria e

metodologia do treinamento esportivo reúnem diversas ciências auxiliares que se

cooperam para fornecer ao treinador, e ao próprio atleta, indicadores de

desempenho que permitem monitorar a qualidade dos exercícios e as características

das cargas de trabalho, auxiliando no planejamento e ajuste dos ciclos de

treinamento. Com base nesses indicadores, a equipe multidisciplinar avalia e modela

as funções fisiológicas e psicológicas, de forma que o atleta possa atingir o máximo

desempenho no período desejado (BOMPA, 2002, p. 4-5).

O estágio atual das ciências da computação permite, de forma não invasiva,

obter uma visão do que ocorre no interior do corpo do ser humano e do seu cérebro,

quando ele pensa, sente e atua. Utilizando equipamentos especiais que fazem a

interface entre o organismo e computador, o atleta aprende a perceber e controlar,

12

de forma voluntária respostas fisiológicas e padrões cerebrais. Para tanto, utiliza-se

técnicas computacionais de modelagem conhecidas como biofeedback (BFB) e

neurofeedback (NFB), ambas fundamentadas nos conceitos do condicionamento

operante, cujos alvos de treinamento são variáveis fisiológicas e/ou a atividade

elétrica ou hematológica do cérebro (EEG/HEG), respectivamente. Ambas as

técnicas, desenvolvidas em pesquisas conduzidas nos laboratórios universitários

com populações acadêmicas e, na sua maioria, para aplicação clínica, encontram-se

cada dia mais presente nos programas de treinamento que visam potencializar o

desempenho de atletas, estudantes, músicos e de artistas em diversas áreas, bem

como de executivos no ambiente corporativo (DEMOS, 2005, p. 20; STRACK,

LINDEN, WILSON, 2011, p. 13-15; EDMONS, TENENBAUM, 2012, p. 4-6).

A dificuldade de realizar pesquisas específicas com atletas de alto rendimento

torna crítica a habilidade de transferir o conhecimento adquirido no ambiente

controlado dos laboratórios para a prática diária do esporte. Para a inserção dessas

técnicas no macrociclo do treinamento, além das questões metodológicas, como

periodicidade e características das seções, planejamento das intervenções e

planificação no programa regular de treinamento, destaca-se a escolha de

indicadores objetivos que permitam mensurar e gerenciar o desenvolvimento do

treinamento psicofisiológico, em conjunto com os demais profissionais envolvidos na

preparação do atleta (BLUMENSTEIN, BAR-ELI, TENENBAUN, 2002, p.x-xii).

1.3 JUSTIFICATIVA

A adequação do treinamento psicológico dos atletas é um dos fatores determinantes

de sucesso, requerendo, como todas as demais áreas do treinamento esportivo, um

acompanhamento constante da sua evolução.

13

Apesar de serem técnicas de intervenção psiconeurofisiológica consagradas

no meio clínico e desportivo internacional, a utilização de protocolos que reúnam de

forma sistemática o biofeedback e neurofeedback no macrociclo do atleta, com

métricas que avaliem de forma clara o desenvolvimento obtido na sua aplicação, tem

pouca evidência na literatura brasileira especializada.

O trabalho se justifica pela necessidade de se preencher essa lacuna,

buscando nos autores pesquisados as informações que permitam estabelecer

diretrizes para a elaboração dos protocolos de treinamento psiconeurofisiológico,

bem como para a escolha dos indicadores objetivos que ratifiquem a sua eficácia e

proporcionem o gerenciamento do programa de treinamento.

O tema é relevante pela importância de entendermos a dinâmica da

elaboração dos protocolos e parâmetros de gestão do treinamento

psiconeurofisiológico, bem como a forma de inseri-los no macrociclo do atleta de alto

rendimento, permitindo a interlocução e a cooperação com os demais profissionais

da Ciência do Desporto que compõem a equipe multidisciplinar responsável pelo

treinamento do atleta.

1.4 OBJETIVOS

O presente trabalho tem como objetivo geral definir os indicadores

psiconeurofisiológicos correlacionados ao desempenho esportivo que permitam

avaliar a eficácia dos protocolos de treinamento de biofeedback e de neurofeedback.

Em especial o presente trabalho busca: 1) descrever as bases conceituais das

técnicas de biofeedback e neurofeedback. 2) descrever as modalidades de

biofeedback e neurofeedback adotadas no treinamento psiconeurofisiológico de

atletas de alto rendimento. 3) descrever a metodologia adotada pelos autores

14

pesquisados na elaboração e periodização dos protocolos de treinamento

psiconeurofisiológico do atletas de alto rendimento.

1.5 HIPÓTESE

Os protocolos de treinamento psiconeurofisiológico com base nas técnicas de

biofeedback e neurofeedback são utilizados por psicólogos do esporte em diversos

países, inseridos no macrociclo de treinamento de atletas de alto rendimento. Esses

protocolos incluem indicadores objetivos que comprovam a sua eficácia e permitem

monitorar a evolução do treinamento, auxiliando a equipe multidisciplinar na

elaboração e gerenciamento do macrociclo.

1.6 DEFINIÇÕES DE TERMOS

TREINAMENTO ESPORTIVO: é o processo ativo complexo regular

planificado e orientado para a melhoria do aproveitamento e desempenho esportivos

(CARL, 1989, apud WEINECK, 2003).

PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO ESPORTIVO: é a organização de tudo

o que ocorre nas etapas de preparação do atleta, como um sistema que inter-

relaciona os momentos de preparação e competição. É a integração do processo de

obtenção do rendimento (LA ROSA, FARTO, 2007).

PERIODIZAÇÃO DO TREINAMENTO ESPORTIVO: é a estrutura temporal do

Treinamento Esportivo organizada em ciclos anuais ou semestrais, estabelecida

cronologicamente de forma a alcançar certos objetivos previamente estabelecidos.

(DICK, 1988; MC FARLANE, 1986, apud LA ROSA, FARTO, 2007).

ABORDAGEM PSICOFISIOLÓGICA NA PSICOLOGIA DO ESPORTE: campo

da Psicologia do Esporte que acredita que a melhor forma de estudar

comportamentos durante o esporte e o exercício é examinar os processos

fisiológicos do cérebro e suas influências sobre a atividade física, avaliando

15

batimentos cardíacos, atividades de ondas cerebrais e potenciais de ação muscular,

determinando relações entre essas medidas psicofisiológicas com o comportamento

no esporte e no exercício (GOULD E WEINBERG, 2001).

TEORIA DO “U” INVERTIDO: modelo desenvolvido por Yerkes & Dodso

(1908) para representar a relação entre os estados de ativação fisiológica (arousal) e

o desempenho do atleta, representada por uma curva em forma de “U” invertido,

onde para cada tipo de atividade haverá um nível ótimo de ativação, correlacionado

ao melhor desempenho. Níveis mais baixos ou mais altos afetam negativamente o

desempenho. (PAPAIOANNOU & HACKFORT, 2014, p. 388)

ZONA INDIVIDUALIZADA DE DESEMPENHO IDEAL: modelo desenvolvido

por Hanin (1997) alternativo à teoria do “U” invertido, onde cada atleta possui uma

zona ótima de estado de ansiedade na qual produz o melhor desempenho, não

necessária mente correspondendo ao ponto central do contínuo de ativação. Fora da

zona ótima os níveis de desempenho são baixos. Ou seja, para a mesma atividade,

atletas diferentes apresentam níveis ótimos de ativação em pontos diferentes do

contínuo. (SAMULSKI, 2002, p. 169)

REPRESENTAÇÃO MENTAL (IMAGERY): processo cognitivo no qual

criamos ou recriamos uma experiência gerada pelas informações da memória,

envolvendo características quase-perceptuais, quase-sensoriais e quase-afetivas,

sob o controle voluntário da imaginação, podendo ocorrer na ausência dos estímulos

antecedentes reais que normalmente estariam associados à experiência verdadeira.

(MORRIS, SPITTLE & WATT, 2005, p. 19)

16

CAPITULO DOIS REVISÃO DA LITERATURA

2.1 BIOFEEDBACK (BFB) E NEUROFEEDBACK (NFB)

2.1.1 Bases Conceituais

No aprimoramento do desempenho esportivo e preparação

psiconeurofisiológica do atleta de alto rendimento, o BFB e o NFB têm sido usados

como técnicas para ensinar ao atleta a perceber e obter o controle voluntário sobre

suas respostas fisiológicas viscerais, sua atividade muscular e seus estados de

consciência, com base na leitura da atividade eletrofisiológica do organismo.

Utilizadas em conjunto ou em separado, as modalidades de BFB e NFB, capacitam o

atleta a desenvolver estratégias de autoregulação psiconeurofisiológica, frente ao

estresse de treinamento e competição, detectando e intervindo na atividade do

sistema nervoso central (SNC - NFB) e periférico autonômico (SNPA - BFB), de

forma a permitir o seu ótimo desempenho esportivo. (EDMONS, TENENBAUM,

2012, p. 3)

Tendo como paradigma o aprendizado por condicionamento operante, as

técnicas de BFB e NFB englobam as seguintes etapas: a) coleta de dados através

da aquisição do sinal eletrofisiológico da variável alvo do treinamento, por sensores

fixados na superfície da pele do atleta, de forma não invasiva, expressos, por

exemplo, em micro volts (µV) ou ciclos por segundo (Hz); b) processamento do sinal

por software específico (amplificação, tratamento matemático, análise e

interpretação), transformando os dados captados em informação; c) apresentação,

em tempo real, do feedback ao treinando, nas modalidades auditivas e/ou visuais,

informando-lhe o quão próximo se encontra do padrão estabelecido como meta do

treinamento para a resposta alvo; d) generalização do treinamento, ou seja,

execução do controle voluntário da resposta psiconeurofisiológica sem

17

intermediação e feedback instrumental. Um termômetro que informe ao atleta a sua

temperatura corporal enquanto ele realiza um processo operante para elevá-la (p.ex.

indução autógena da sensação de calor), é um sistema simples de treinamento em

BFB térmico. A escolha das variáveis psiconeurofisiológicas alvo determina quais

modalidades de BFB e NFB poderão ser incluídas no protocolo de treinamento.

(PEPER, 2008, p. 2; CRISWELL, p. 49-68)

Cada modalidade de treinamento em BFB correlaciona-se a uma resposta

psicofisiológicas utilizada como variável de trabalho, via de acesso indireto e

intervenção à atividade dos ramos simpáticos e parassimpáticos do SNA. As

modalidades de NFB têm como foco a autorregulação dos processos neurológicos

utilizando como via de acesso a atividade do SNC, em especial do cérebro, expressa

em bandas de ondas cerebrais (EEG - Eletroencefalograma) e/ou a atividade

metabólica do fluxo sanguíneo cerebral (HEG – Hemoencafalografia). Reunidas em

protocolos de treinamento, têm como objetivos melhorar o desempenho atlético

mediante o controle voluntário da ansiedade, redução ou indução da energia e

intensidade, aumento do foco e da concentração, redução da dor e da fadiga,

aumento da flexibilidade muscular, bem como a percepção e autoregulação do nível

de ativação psiconeurofisiológico visando atingir e manter-se na sua Zona

Individualizada de Desempenho Ideal. (STRACK, LINDEN & WILSON, 2011, p. 24)

2.1.2 Modalidades de Biofeedback

Na prática esportiva, quatro situações destacam-se pela relação com

dinâmica psiconeurofisiológica, sendo, portanto, passíveis de serem influenciadas

pelo treinamento em BFB e NFB: a) estado de excitação e nível de ativação; b)

estado emocional e atividade cognitiva pré-desempenho; c) atividade competitiva

(concentração e atenção); d) a atividade muscular e a aquisição de habilidades. Os

18

indicadores correlacionados às situações são: frequência e variabilidade cardíaca,

ritmo e volume respiratório, pressão sanguínea, temperatura da pele, atividade

eletrodérmica, atividade eletromiográfica e atividade eletro/hemoencefalográfica,

influenciados pelo treinamento psicofisiológico do atleta através das seguintes

modalidades de BFB e NFB: (EDMONDS, TENENBAUM, 2012; CRISWELL, 1995;

BLUMENSTEIN, BAR-ELI, TENENBAUN, 2002 p. 23-39; STRACK, LINDEN,

WILSON, 2011; GOMES, COGHI & COGHI, 2014; WELLS et al., 2012)

Eletromiografia BFB (EMG – de Electromyography) é a modalidade que

utiliza como variável de trabalho a leitura em µV da atividade bioelétrica produzida

pela contração muscular. Para a leitura utilizam-se dois eletrodos ativos, usualmente

de prata ou cloreto de prata, posicionados sobre o tecido eletricamente ativo, como a

barriga do músculo, e um de referência (terra), posicionado sobre tecido inativo,

como um osso. A distribuição dos eletrodos pode compreender uma área restrita,

quando o alvo de treinamento é a atividade de um músculo específico, ou

abrangente, quando o alvo do treinamento é o relaxamento de um grande grupo

muscular. Os músculos mais comuns de serem treinados em atletas visando o

relaxamento são os do ombro, pescoço, maxilar e os frontais da testa. Porém,

dependendo da modalidade e do gestual esportivo, qualquer atividade muscular

pode ser alvo de treinamento, como por exemplo, a contração disfuncional dos

músculos da mão durante o acionamento do gatilho pelo atleta do tiro esportivo.

EMG BFB é efetivo na redução voluntária das tensões musculares e da ansiedade,

bem como no treinamento corretivo da atividade muscular disfuncional que produz

tensões residuais desnecessárias e dores, fixando hábitos musculares prejudiciais

ao desempenho. O nível elevado de ansiedade provoca um aumento da tensão

muscular que retarda e dificulta os movimentos, afetando o tempo de reação e a

19

execução fluida do gestual, com consequente queda no rendimento atlético,

principalmente nas ações motoras finas.

Atividade Eletrodérmica BFB (EDA – de Electrodermal Active) ou Resposta

Galvânica da Pele BFB (GSR – de Galvanic Skin Response) é a modalidade que

utiliza como variável de trabalho a leitura da condutividade elétrica da pele em

função da sudorese, como indicador do nível de ativação autonômica simpática. A

resposta eletrodérmica ou atividade elétrica da pele é mensurada pela resistência,

em Ohms (Ω), ou condutividade, em µS (micro Siemens), medida entre dois

eletrodos posicionados na sua superfície. Devido à condutividade elétrica

determinada pela composição salina do suor da palma das mãos e da sola dos pés,

o aumento da sudorese durante os estados de excitação autonômica reduz a

resistência elétrica da pele, facilitando o fluxo de corrente que entre os dois

eletrodos. O medidor galvânico (resistência da pele) detecta a variação

transformando-a em informação visual e/ou auditiva que é apresentada

imediatamente ao treinando como feedback do seu estado de excitabilidade,

permitindo-lhe monitorar o progresso do treinamento. Dois elementos são

importantes na leitura eletrodérmica: as alterações do nível tônico e alterações do

nível fásico. O nível tônico representa a média da atividade eletrodérmica ao longo

de um determinado período de observação e é utilizado como nível referencial ou

linha de base do atleta. As alterações do nível fásico representam flutuações súbitas

da atividade eletrodérmica em função da ativação autonômica simpática aos

estímulos emocionais, medo ou ansiedade. O treinamento de EDA BFB visa ensinar

o atleta a perceber as alterações simpáticas em função de determinados estressores

situacionais, bem como capacitá-lo para, quando necessário, intervir para reduzi-la.

A ação é mediada por técnicas de relaxamento e/ou pela atividade cognitiva

20

apropriada, demonstrando ao atleta de forma prática a conexão mente/corpo e a

possibilidade de intervenção voluntária nos estados psiconeurofisiológicos através

de pensamentos e comportamentos funcionais. Na prática diária o EDA BFB

também é utilizado para regular o nível de ansiedade nos momentos pré-

competitivos e eliminar e/ou minimizar condicionamentos respondentes disfuncionais

como, por exemplo, situações pontuais ou específicas que estejam gerando um nível

de ativação simpática elevada e inadequada.

Temperatura Periférica da Pele BFB (PST – de Peripheral Skin

Temperature ou TB de Thermal Biofeedback) é a modalidade que utiliza como

variável de trabalho a temperatura da superfície da pele lida através de um termistor

(sensor cuja resistência elétrica varia termicamente), normalmente expressa em oC

(graus Celsius). Como nas demais modalidades, a variação da temperatura é

captada por sensores acoplados aos dedos ou à palma da mão do atleta e

transformada em sinal auditivo e/ou visual, apresentado ao atleta como feedback do

seu progresso no treinamento. O mecanismo psicofisiológico que sustenta o PST

BFB parte do princípio de que a ativação simpática produz a contração da

musculatura lisa dos vasos periféricos (vasoconstrição) reduzindo o fluxo sanguíneo

nessa região e direcionando-o para o cérebro, coluna vertebral e musculatura

estriada, áreas ativadas nas respostas de luta e/ou fuga. A redução do fluxo

sanguíneo periférico reduz a temperatura da pele, atuando como um indicador da

ativação autonômica simpática e do nível de ansiedade do atleta. Esse é o princípio

inverso do Treinamento Autógeno, onde a indução sugestiva da sensação de calor

corporal normaliza a pressão arterial, relaxando a ativação simpática e a

musculatura lisa dos vasos sanguíneos, aumentando consequentemente o fluxo

sanguíneo periférico e a temperatura corporal. Na pratica esportiva, mão fria é

21

normalmente interpretada como um sinal de ansiedade excessiva. Por outro lado,

induzir a sensação de calor é um recurso utilizado para tranquilizar e relaxar o atleta.

O treinamento PST BFB desenvolve no atleta a capacidade de influenciar a

temperatura corporal, sendo importante nas modalidades de inverno, nos esportes

aquáticos, e naqueles onde o atleta manuseia peças de metal, como no tiro

esportivo, onde a baixa temperatura ambiente dificulta o acionamento fluido da tecla

do gatilho. É normalmente utilizado em conjunto com outras modalidades de BFB

visando o controle do nível de ansiedade pré-competitiva, no relaxamento da

ativação simpática ou no treinamento de relaxamento corporal.

Variabilidade Cardíaca BFB (HRV – de Heart Rate Variability) é a

modalidade que utiliza a frequência cardíaca como variável de trabalho em conjunto

com a frequência respiratória e a atividade cerebral. Destaca-se das demais

modalidades pela influência holística no balanço psiconeurofisiológico do atleta, fato

que justifica descrevê-la com mais detalhes. Alguns termos específicos devem ser

definidos para entendermos como o HRV BFB atua no sistema nervoso do atleta: a)

Frequência Cardíaca (FC ou HR de Heart Rate) é o número de contrações

cardíacas por minuto (batimentos cardíacos ou pulsos cardíacos), medido pela

ocorrência dos picos máximos identificados no pela letra “R” proveniente da

contração dos ventrículos (despolarização ventricular). A FC ou taxa cardíaca, é

função do intervalo de tempo entra cada batimento cardíaco, representado pela sigla

R-R; b) Variabilidade Cardíaca (VC ou HRV de Heart Rate Variability) é a variação

temporal entre um batimento cardíaco e o próximo, ou seja, a diferença entre

intervalos de batimentos cardíacos sequenciais (R-R) no eletrocardiograma, durante

um período de tempo. Baixa variabilidade cardíaca está associada às desordens de

humor e ansiedade, enquanto alta variabilidade cardíaca está associada à boa

22

saúde e bem estar; c) Taxa de Respiração (TR ou RR – Respiration Rate) é o

número de ciclos respiratórios (inspiração + expiração) por minuto (r/min); d) Razão

de Respiração é a relação entre o tempo de inspiração e expiração em um mesmo

ciclo respiratório; e) Arritmia Sinusal Respiratória (ASR ou RSA de Respiratory

Sinus Arrhythmia) é a flutuação normal da FC caracterizada pela desaceleração da

FC quando o atleta expira e a aceleração da FC quando ele inspira; f) Reflexo

Barorreceptor ou Barorreflexo é o circuito de feedback que interliga a FC e a

pressão sanguínea, atuando como um regulador da primeira em função da segunda.

A FC é reduzida quando a pressão sanguínea aumenta e acelera quando ela

diminui, atuando como mecanismo de controle homeostático; g) Frequência de

Ressonância é a frequência respiratória que produz a maior amplitude de

variabilidade cardíaca, alcançada pela ressonância entre dois mecanismos de

regulação cardiovascular: o reflexo barorreceptor e a arritmia sinusal respiratória, em

conjunto com um estado de tranquilidade mental e baixo processamento cognitivo. O

termo foi cunhado pelo fisiologista russo Evgeny Vaschillo no início dos anos 1980,

em estudo feito com astronautas sobre a influência do ritmo respiratório sobre a

amplitude da variabilidade cardíaca; h) Análise Espectral é o método estatístico

utilizado para quantificar em unidade de potência a atividade da variabilidade

cardíaca durante determinado período de gravação, sendo apresentada

graficamente na tela do computador segmentada em três bandas de frequência:

muito baixa frequência (VLF de very low frequency), engloba a atividade entre 0,001

a 0.07 Hz; baixa frequência (LF de low frequency), atividade entre 0,08 a 0,14 Hz; e

alta frequência (HF de high frequency), atividade entre 0,15 e 0,4 Hz.

O objetivo do treinamento em HRV BFB é capacitar o atleta a atingir e manter

a coerência cardíaca, ou seja, a sincronia e a ressonância entre o ritmo cardíaco

23

modulado pela arritmia sinusal respiratória e o ritmo cardíaco modulado pela

atividade barorreflexa. A atividade da variabilidade cardíaca na banda de alta

frequência (HF - 0,15 a 0,4 Hz) representa o tônus parassimpático. Quando o atleta

executa a respiração diafragmática na taxa de 6 r/min a atividade em HF decresce,

dando lugar ao aumento da atividade na faixa de baixa frequência (LF - 0,08 a 0,14

Hz). A atividade nessa banda de frequência, em especial 0,1 Hz (taxa de 6 ciclos por

minuto), caracteriza o estado de coerência cardíaca produzido pelo equilíbrio da

atividade simpática e parassimpática e modulado pelo reflexo barorreceptor. A

frequência ressonante de 0,1 Hz é considerada, portanto, um indicador de harmonia

autonômica, correlacionada com aumento na atenção e concentração, relaxamento

muscular, redução no tempo de reação, capacidade de adaptação ao estresse,

controle emocional e zona de ótima performance. A redução da potência em HF

indica o aumento na capacidade de enfrentamento de situações de estresse e

controle da ansiedade modulada pela atenuação da atividade simpática. Por outro

lado, a atividade na faixa de frequência muito baixa (VLF – 0,001 a 0,07 Hz) indica o

acréscimo da atividade simpática correlacionada com inquietude mental e diálogo

interno excessivo. No treinamento de HRV BFB o atleta é levado a concentrar a

atividade na frequência de 0,1 Hz, reduzindo tanto a atividade em HF como em VLF.

O software de HRV BFB deve informar ao atleta os gráficos representativos da RR e

HR, bem como o espectro da atividade em cada faixa de frequência. Dependendo

do equipamento utilizado, a tela ainda poderá fornecer a taxa respiratória, os

gráficos de temperatura e da atividade eletrodérmica. Embora recente, pelos

resultados positivos e o desenvolvimento de equipamentos e sistemas cada dia mais

adequados ao trabalho de campo, o HRV BFB vem ganhando considerável espaço

no treinamento psiconeurofisiológico.

24

2.1.3 Modalidades de Neurofeedback

Obedecendo os mesmos princípios do condicionamento operante, as

modalidades de Neurofeedback (NFB), também conhecidas como Biofeedback EEG

atuam no SNC utilizando a atividade elétrica cerebral (EEG e HEG) como variáveis

de trabalho e via de acesso para o treinamento e alvo de intervenção. Por serem

modalidades pouco difundidas no Brasil, optamos por transcrevê-las em maiores

detalhes. (DEMOS, 2005, p. 23; CHAPIN & RUSSEL-CHAPIN, 2014, p.94;

EDMONDS, TENENBAUM, 2012, p. 17)

O NFB baseia-se nos princípios de que a atividade elétrica do cérebro reflete

os estados mentais e o comportamento e que essa atividade pode ser treinada para

modifica-los. Os diferentes padrões de EEG/HEG correlacionados, por exemplo, aos

estados de concentração focada ou o comportamento de tolerância ao estresse,

podem ser identificados, treinados (reforçados ou inibidos) e ativados

voluntariamente. (THOMPSON E THOMPSON, 2003, p. 4)

No NFB EEG, o sinal da atividade bioelétrica neural é captado por eletrodos

posicionado no escalpo do atleta e enviado para o equipamento denominado

Interface Cérebro Computador (BCI de Brain Computer Interface) que o amplifica e o

remete ao computador na forma de onda denominada de EEG bruto. No

computador, o sinal bruto é tratado por um programa computacional específico e

segmentado em determinadas bandas de frequência distribuídas entre 0,5 Hz a 60

Hz. A segmentação em bandas é realizada por filtros digitais matemáticos e por

análise estatística, apresentando-as na forma numérica ou gráfica nas dimensões de

frequência (Hz – tipos de ondas), amplitude (µV – força da onda) e relação de

conectividade (fase, coerência e sincronia). A filtragem também elimina a atividade

25

indesejada, denominada artefato, produzida por fontes como interferência elétrica,

contração muscular, piscar de olhos, etc. Os padrões de onda constituem a base de

dados utilizada tanto na avaliação, como na montagem e execução do treinamento.

A decomposição do EEG bruto em bandas de ondas é denominada de QEEG (de

Quantitative Electroencephalogram), pela transformação dos sinais em medidas

numéricas que possibilitam quantificar a atividade elétrica de uma frequência em

particular (p.ex. 10Hz) ou dentro de uma banda de frequência (p.ex. 8-12Hz).

(SOUTAR, LONGO, 2011, p. 93-117; CHAPIN & RUSSEL-CHAPIN, 2014, p. 88-89;

THOMPSON E THOMPSON, 2003, p. 4-35)

Softwares especiais são desenvolvidos para a avaliação e/ou treinamento. Na

avaliação os dados são lidos, processados e transformados em informações

numéricas ou gráficas que, depois de comparadas a parâmetros, indicadores,

padrões estatísticos ou banco de dados normativos, fornecerão subsídios para o

treinamento. No treinamento, além de receber e processar o sinal dos eletrodos, o

software identifica e informa ao treinando o quanto a sua atividade neuronal está se

aproximando ou se afastando do padrão pré-definido como objetivo do treinamento.

Ou seja, para obter a recompensa o cérebro do treinando deverá inibir ou aumentar

o percentual ou amplitude de determinada banda de frequência e/ou relações de

conectividade, nas redes neurais sob os eletrodos. A reforço é dado em tempo real

através de feedback sonoro e/ou visual, permitindo a modelagem do padrão alvo. Na

medida em que o treinando atinge o objetivo do treinamento, este pode ser alterado,

criando um novo padrão de exigência. (COLLURA, 2014, p. 5-14)

Aprender a mudar a imagem/som do computador reflete a autoregulação do

EEG e dos estados mentais subjacentes. Na medida em que os padrões de EEG

refletem mudanças nas relações entre os sistemas tálamo - gânglios basais -

26

corticais, o treinando está realmente aprendendo à autorregular esse complexo e

dinâmico sistema neural. Modelar padrões mentais funcionais utilizando como

feedback a atividade neural subjacente, desenvolve no treinando a capacidade de

acessar de forma voluntária e fora do ambiente de treinamento os melhores estados

mentais. Os avanços tecnológicos e computacionais contribuem para o

desenvolvimento de equipamentos cada vez menores e de processamento mais

rápido, capazes de relacionar a atividade cerebral aos comandos de geradores de

tons, jogos de computador e drivers de vídeo, aumentando bastante a flexibilidade e

a eficácia do treinamento. Três características são importantes na elaboração do

feedback: rapidez, precisão e estética. (COLLURA, 2014, p. 5-14; THOMPSON,

THOMPSON, 2003, p. 3-7; DEMOS, 2005, p. 5)

O significado exato das ondas do EEG ainda não é bem conhecido, porém,

sabe-se que são geradas pela atividade sináptica, principalmente proveniente do

tálamo, sobre os neurônios piramidais do córtex cerebral, ocorrendo de formas

variadas de acordo com a atividade talâmica na comunicação com o córtex,

enviando ou filtrando as informações provenientes dos sistemas sensoriais e de

outras regiões corticais. Os padrões e as formas variam conforme a voltagem, a

frequência e conectividade da atividade sináptica cortical. (LENT, 2005, p. 538)

Todas as frequências e faixas de frequências são úteis, ou seja, não há uma

frequência melhor. Cada uma é apropriada para certo momento ou tarefa. Podemos

pensar as faixas de frequências como as marchas do carro, onde todas são

importantes e úteis em situações distintas, e precisamos aprender a muda-las de

forma suave e rápida. A eficiência do cérebro é determinada pela flexibilidade de

mudança rápida de uma faixa de frequência para outra, dependendo da tarefa

demandada. (THOMPSON, THOMPSON, 2003, p. 37; COLLURA, 2014, p. 146)

27

Para administrar o treinamento em NFB, é fundamental conhecer as

correspondências entre bandas de ondas, estruturas neuroanatômicas geradoras e

os estados mentais correlatos, resumidas a seguir. Cabe ressaltar que adotamos os

limites de bandas de ondas de maior consenso, uma vez que existem pequenas

variações entra os autores pesquisados. (THOMPSON & THOMPSON, 2003, p. 37-

40; MASCARO, 2008, p. 52-54; CHAPIN & RUSSEL-CHAPIN, 2014, p. 99-103;

SWINGLE, 2008, p. 43-59; DEMOS, 2005, p. 112-121; STRACK, LINDEN &

WILSON, 2011, p.180-181)

Ondas Delta (δ) – abrange a faixa de frequências mais lentas de 0,5 a 3 Hz,

presentes no estado mental de sono profundo, ou seja, no estágio 4 do sono não-

REM1, e nos momentos de redução da atividade dos neurônios piramidais,

caracterizando a mente inconsciente. São ondas dominantes no cérebro do bebe até

seis meses de idade, representando até 50% da atividade cerebral do adulto na

quarta fase do sono, relacionada às funções hipotalâmicas e liberação do hormônio

de crescimento. Quando produzidas no estado de vigília atingem 5% da atividade

cerebral, correlacionadas à intuição e a detecção de um perigo iminente,

característico da resposta de orientação. É faixa de frequência estimulada por

atividades que demandem uma percepção mais refinada, ligada a ideias ou

conceitos, arte ou à compreensão da experiência subjetiva alheia. Porém,

dependendo da amplitude pode significar um cérebro lento e ineficiente ou mesmo

dano cerebral e infecções virais. Amplitudes altas no córtex pré-frontal podem estar

relacionadas a dores crônicas tais como fibromialgia. No córtex superior central

indicam problemas de aprendizagem e atenção. Artefatos como, movimento de

eletrodos, movimento dos olhos ou piscar de olhos imitam o sinal de delta no EEG.

1 As quatro fases do sono que ocorrem entre a vigília e o sono REM. (BEAR, CONNORS,

PARADISO, 2008, p. 595)

28

Ondas Theta (θ) – engloba as frequências entre 4 e 8 Hz observadas no

estágio 1 do sono não-REM e no sono REM2, dominantes no EEG do ser humano

dos 6 meses a 6-7 anos de vida. Oriunda da atividade talâmica e do sistema límbico

está relacionada à mente subconsciente e seus conteúdos emocionais,

pensamentos globais, crenças e valores, bem como à criatividade, espiritualidade e

ao potencial individual, como habilidades, vocações, etc. Combinada

adequadamente com as demais frequências, produz, seja casualmente (sonhando

acordado) ou pelo treinamento (meditação, treinamento autógeno e NFB), o estado

mental hipnótico, na faixa de 6 a 8 Hz. A frequência de 7 Hz é útil no processamento

cognitivo das informações e das memórias, estando presente também nos processo

de foco interno, representação mental, e nos momentos de insight. Amplitude alta na

faixa de 4 a 5 Hz está relacionada à sonolência, depressão e ansiedade. A atividade

normal no lobo occipital está associada à capacidade de quietude mental voluntária,

enquanto a baixa atividade pode indicar baixa tolerância ao estresse, predisposição

a vícios, distúrbios de ansiedade e de sono, pela dificuldade em desligar o cérebro.

As áreas afetadas por traumatismo apresentarão elevada atividade em theta.

Ondas Alpha (α) – com forma senoidal regular abrange o intervalo de

frequência entre 8 a 14 Hz e, ao que tudo indica, são produzidas também por

geradores talâmicos. Relaciona-se com estados meditativos de calma e

tranquilidade interior, foco relaxado, estado observador, calmo, porém atento, sendo

descrito como o ritmo da marcha lenta. É a frequência dominante no EEG de 90%

das pessoas dos 9 anos até a idade adulta, quando de olhos fechados. Está

correlacionada com os estados mentais que permitem visualizar o material

proveniente do mundo interno envelopado em imagens sensorialmente enriquecidas

2 REM – sono de movimento rápido dos olhos. É uma das fases do sono. (BEAR, CONNORS,

PARADISO, 2008, p. 595)

29

(visuais, táteis, olfatórias e gustatórias). É a ponte entre a mente consciente, em

beta, e o subconsciente, em theta. Usuários de maconha apresentam, mesmo com

os olhos abertos, uma grande produção de ondas alpha que perdura por vários dias.

Na faixa de 8 a 10Hz está associada aos estados de clama e relaxamento, porém

sem atenção ao mundo exterior. Já a faixa de 11 a 12 Hz, está associada ao estado

mental de consciência ampliada onde somos capazes de responder a uma gama de

alterações no nosso ambiente, com rapidez e precisão. É, portanto, a faixa alvo do

treinamento de atletas de alto rendimento, pela correlação com o estado de calma

física e mental, economia de energia e prontidão para a ação. A consciência

ampliada é comumente referida por atletas como o estado mental de fluidez, onde as

altas performances acorrem. Treinar a produção e sincronia da atividade entre 11 a

12 Hz (alpha rápido) é provavelmente a meta mais comum no treinamento de NFB

para melhorar o desempenho motor e intelectual. No estado de vigília com os olhos

fechados as ondas alpha devem ser predominantes na área occipital. Porém,

excesso de alpha na área frontal pode estar associado a problemas de atenção e

dificuldade de planejamento, organização sequencial e acompanhamento de

atividades, bem como, hiperverbosidade e distúrbios de sono. O desequilíbrio da

atividade alpha no pré-frontal, com mais alpha no lado esquerdo do que no direito,

pode acarretar depressão e comportamento de evitação com pensamentos

negativos predominantes em situações de estresse emocional.

Ritmo Sensório-Motor (SMR de Sensory Motor Rhythm) é a banda de 13 a

15 Hz medida na região do córtex sensório-motor que vai de orelha a orelha

passando pelo topo do crânio, sendo produzida pelo núcleo ventral basilar do

tálamo, correlacionando-se ao estado de pausa ativa e redução da atividade das

vias sensoriais e/ou motoras. É o estado de prontidão para executar um movimento,

30

um estado calma ativa (corpo calmo e mente alerta) que permite o ajuste

antecipatório à ação. Pela conexão das áreas sensoriais e motoras o treinamento

para aumentar a atividade da banda SMR é usado no aprimoramento da atividade

atlética, sendo também o principal alvo de treinamento nos casos de hiperatividade

e/ou impulsividade, e demais questões relacionadas com a atividade motora e

sensorial como epilepsia, síndrome de Tourette, tiques, dor crônica, tremores

corporais, dores de cabeça, distonia, etc. Em qualquer outra região do córtex que for

encontrada atividade na faixa de 13 a 15 Hz será denominada de beta e terá um

formato arrítmico de ondas rápidas, diferente do RSM.

Ondas Beta (β) é a faixa que reúne as frequências mais rápidas, acima de 12

Hz, produzidas no tronco cerebral e no córtex, associadas ao processamento da

informação, a atenção e orientação externa. Da denominação exclui-se a faixa de 13

a 15 Hz, produzida no córtex sensório motor e denominada SMR. Quando

produzida na região cortical indica a ativação da área específica abaixo do eletrodo.

Representa o estado de alerta, extremamente focado, atento, lógico, de solução de

problemas, sendo a base da atividade cerebral consciente e da cognição. É em Beta

que as operações racionais acontecem, bem como as experiências e as percepções

de como elas nos afetam. Ao ativá-la, as redes neurais consomem níveis altos de

energia, sendo importante que só ocorra quando necessário e, mais importante, que

desative tão logo termine a tarefa, retornando ao descanso. A hipoatividade em beta

no córtex frontal está associada à desatenção, dificuldades de aprendizagem e

compreensão. A hiperatividade em beta na parte posterior do córtex configura uma

mente analítica e crítica, interpretativa e julgadora, comportamento característico dos

estados de ansiedade, com baixa tolerância ao estresse, problemas de sono e

depressão. Nessa mesma região, a atividade em beta alto (20 a 30 Hz) está

31

correlacionada à dependência de álcool ou drogas, preocupação desproporcional,

hipervigilância, pensamentos ruminantes e ataques de pânico, sendo o padrão de

onda responsável pela distração e queda no rendimento atlético. Já no córtex medial

pré-frontal (giro cingulado anterior), encontramos beta alto em sujeitos com

transtorno obsessivo-compulsivo e em crianças autistas. A faixa de 15 a 20 Hz,

conhecida como beta útil, é ativada na resolução de um problema, tendo um

aumento significativo de amplitude no momento exato da execução da tarefa, com

redução de ondas teta e alpha baixas (8 a 10 Hz). No estado de vigília com os olhos

fechados, a atividade beta deve ser predominante na área frontal. Espera-se

também maior presença de beta no hemisfério esquerdo. Cabe ressaltar que as

ondas theta e beta normalmente são analisadas em conjunto através da razão

theta/beta.

Ondas Gama (ɣ) – faixa que reúne as frequências de 38 a 42 Hz, ou mais

especificamente 40 Hz ou “ritmo Sheer”, em homenagem ao pesquisador David

Sheer pelos trabalhos sobre o aumento da atividade de 40 Hz. É encontrada em

todo o cérebro e está relacionada com a eficiência cognitiva, aprendizado,

compreensão da linguagem, retenção da memória, ao aumento da atenção e foco

concentrado, no tipo de tarefa atencional onde o sujeito consolida diferentes

aspectos de um objeto em uma única percepção. No alto desempenho, além dos

benefícios já citados, o treinamento em gama ativa as funções cognitivas altas e

promove a organização cerebral, aperfeiçoando a integração e transferência das

informações e desenvolvendo o sentimento de força e energia mental. Em NFB a

atividade gama é treinada para consolida o aprendizado e as mudanças

neurológicas. As pesquisas de David Sheer utilizando pranchas de equilíbrio

32

assinalaram o incremento da atividade de 40 Hz nos momentos de equilíbrio correto

e ritmo preciso.

Tanto na avaliação como no treinamento em NFB utilizamos técnica e

terminologia específica dos neuroterapeutas para posicionamento dos eletrodos e

designação das áreas cerebrais, denominado sistema internacional 10-20, que

atribui letras e números para identificar os pontos ou sítios no escalpo. (DEMMOS,

2005, p. 35 et.seq.)

É um sistema de coordenadas onde os números ímpares representam os

pontos no hemisfério esquerdo e os pares no direito, enquanto as letras se referem

aos lobos ou regiões específicas, sendo F (frontal), Fp (polo frontal), T (temporal), O

(occipital), P (parietal), C (central ou córtex sensório motor), Z (linha central que

separa os dois hemisférios ou fissura inter-hemisférica). Assim, o site Fpz representa

o ponto anterior ventral medial do lobo pré-frontal, enquanto P3 representa o ponto

posterior dorsal lateral esquerdo do lobo parietal.

As informações sobre as especializações de cada área do cérebro, obtidas

em pesquisas e intervenções cirúrgicas, permitiram correlacionar as áreas com

funções e sintomas específicos, destacando a importância desse conhecimento

Figura 1 - posição dos sites no sistema internacional 10-20

Fonte: http://recibe.cucei.udg.mx/revista/en/vol1-no1/biomedica.html

33

tanto na avaliação como no treinamento em NFB. Uma das pesquisas mais famosas

sobre a localização das áreas corticais foi realizada pelo neuroanatomista alemão

Korbinian Brodmann. Baseado no tipo de célula que reuniam, Brodmann distinguiu

52 duas regiões no neocórtex e publicou em 1909 o seu mapa citoarquitetônico.

Posteriormente pode-se comprovar a relação entre as áreas corticais de Brodmann

com as diferentes funções que executam.

Conhecer a correlação entre os sites do sistema 10-20, as funções cerebrais

e as áreas de Brodmann é muito importante para a interpretação do mapa cerebral e

manejo do treinamento. A tabela abaixo sintetiza essas correlações: (BEAR,

CONNORS, PARADISO, 2008, p. 197; SOUTAR & LONGO, 2011, p. 46; DEMOS,

2005, p. 39-55; CHAPIN & RUSSEL-CHAPIN, 2014, p. 134; COLLURA, 2014, p.

205-221)

Figura 2 – Áreas de Brodmann

Fonte:http://www.thebrainperformancecenter.com/our-

34

SITE ÁREAS DE BRODMANN

FUNÇÃO

Fpz 10, 11, 32 Inibição emocional, sensibilidade emocional, impulsividade; Flexibilidade mental, cooperação, valores morais, julgamento Motivação e atenção.

Fp1 10, 11, 46

Atenção lógica, valência emocional cognitiva, concentração, planejamento, tomada de decisão, conclusão de tarefa, recuperação episódica verbal e emoções positivas; Memória de trabalho visual; Orquestração das interações entre redes neurais; Consciência social - comportamento de aproximação; Irritabilidade, pensamentos intrusivos, depressão, TDAH, rigidez de foco;

Fp2 10, 11, 46

Atenção emocional, julgamento, sentimento de self, autocontrole, freio de impulsos, processamento facial e de objetos, inibição emocional; Memória episódica verbal; Impulsividade, indelicadeza (falta de tato), mania; Consciência social – comportamento de evitação Medos e ansiedade, controle emocional excessivo.

F7 45, 47, 46

Fluência e expressão verbal (Área de Broca F7-T3), regulação cognitiva do humor, memória de trabalho visual e auditiva, atenção seletiva e dividida (válvula de controle atencional); Memória trabalho semântica (recuperação de palavras). Problemas verbais na busca de palavras, controle de estímulos externos.

F8 45, 47, 46

Expressão emocional, regulação do humor endógeno, reconhecimento facial, processamento emocional, manutenção da atenção, prosódia, desenhar (mão direita); Memória de trabalho – visual e espacial, Gestalt; Hipersensibilidade para a informação do discurso de terceiros, codificação social;

F3 8, 9, 46

Planejamento motor das extremidades superiores direitas, coordenação motora direita fina, memória de trabalho – recuperação de memória episódica visual; Codificação intelectual, reconhecimento facial, processamento lógico incluindo de objetos, planejamento e solução de problemas, interpretação emocional, elevação do humor, humor positivo, WCST – inflexibilidade, rigidez Depressão, funções executivas, TOC

F4 8, 9, 46

Planejamento motor das extremidades superiores esquerdas, coordenação motora esquerda fina, memória de trabalho e recuperação episódica e semântica verbal, vigilância, seletividade e sustentação atencional, Consciência social, tato social, organização do diálogo, uso de analogia e ironia; Hipervigilância.

Fz 8, 6, 9

Planejamento motor das extremidades inferiores e da linha medial, correr, andar, chutar; Alterações na personalidade, comportamento social, valores morais e firmeza de caráter, controle da impulsividade, respostas e inibição emocional; Atenção, intensão e motivação – apatia e pobreza de discurso; Cingulado anterior (possibilidade) – atenção interna X externa; Eferências do gânglio basal; Comportamentos antissociais, desafiador oposicionista; TDAH, problemas de atenção e motivação, TOC.

C3 3, 1, 4

Integração sensório-motora, planejamento motor das extremidades superiores direitas, escrita (mão direita), memória de curto prazo, atenção, respostas atencionais e processamento mental; Escrita pobre e hiperatividade motora;

C4 3, 1, 4 Integração sensório-motora, planejamento motor das extremidades superiores esquerdas, escrita (mão esquerda), memória de curto prazo, calma, emoção e empatia; Hipervigilância.

35

Cz 6, 4, 3

Processamento e integração sensório-motora das extremidades inferiores e da linha medial, marcha, habilidades motoras finas e destreza manual; Controle da impulsividade, estabilidade de humor; Gânglios da base, eferências talâmicas, substância negra; TDAH, problemas de atenção e motivação.

T3 42, 22, 21

Lógica, compreensão da linguagem, processamento fonológico, expressão e entendimento verbal, audição (bilateral); Área de Wernicke – diálogo (voz) interior, supressão de zumbidos; Memória verbal de longo prazo, processamento declarativo e episódico; Eventos Sequenciais – visualização Amígdala e área hipocampal; Problemas de memória e linguagem, irritabilidade.

T4 42, 22, 21

Formação e armazenagem de memória autobiográfica e emocional, audição (bilateral), personalidade, colorido emocional (raiva, tristeza, agressividade), interpretação da entonação da voz, habilidades musicais; Expressão não verbal – conteúdo emocional; Reconhecimento de objetos, pistas sociais, organização em categorias; Visualização e córtex auditivo.

T5 39, 37, 19

Lógica, compreensão verbal, reconhecimento de palavras, processamento auditivo, memória de curto prazo, voz interior, construção do significado, significado metafórico; Entendimento do significado, confusão, esforço de leitura e resolução de problemas; Acalculia.

T6 39, 37, 19

Reconhecimento facial e de símbolos, entendimento do conteúdo emocional, pistas sociais, memória de longo prazo, processamento auditivo; Problemas de memória faciais e musicais; Conexões com a amígdala.

P3 7, 40, 19

Percepção e processamento cognitivo da metade direita do espaço, relação espacial, sensações multimodais, resolução de problemas com dígitos e matemática (cálculo), organização da informação, práxis; Associação e compreensão verbal e gramática complexa, raciocínio verbal; Pensamentos excessivos e preocupação com os seus limites.

P4 7, 40, 19

Percepção e processamento cognitivo da metade esquerda do espaço, relação espacial, sensações multimodais, práxis, processamento visual, bloco de notas do mapa espacial e geométrico, consciência espacial e geometria, vigilância; Associação e raciocínio não verbal, senso de direção; Personalidade – auto zelo excessivo (egoísmo), vitimização; Agnosia, apraxia, limites de contexto, ruminação emocional.

Pz 7, 5, 19

Percepção da linha medial, relações espaciais, práxis, Mudança do foco atencional, integração atencional, perseverança, autoconsciência, área associativa de orientação, encontro de rota; Agnosia, apraxia, problemas com perseverança, vigilância sensorial.

O1 18, 19, 17 Processamento visual metade direita, memória de procedimento, reconhecimento de padrões, cores, movimento, preto e branco, percepção de bordas, sonho.

O2 18, 19, 17 Processamento visual metade esquerda, memória de procedimento,

reconhecimento de padrões, cores, movimento, preto e branco, percepção de bordas, sonho.

Oz 18, 17, 19 Processamento visual, sensações visuais primárias, leitura, alucinações.

36

Como visto anteriormente, frequência da onda representa a velocidade do

sinal em ciclos por segundo (Hz) e sua amplitude representa a altura do sinal em

micro volts (µV). A leitura feita por dois eletrodos ativos mede a diferença de

potencial entre dois sites diferentes, numa montagem denominada sequencial (ou

bipolar), onde teremos ainda um ou dois eletrodos de referência e um terra. Na

montagem sequencial a medida representará a comparação entre duas ondas e os

valores apurados irão depender da variável temporal denominada fase na

comparação morfológica entre as duas ondas, avaliando o padrão de comunicação

entre os dois sites. (DEMOS, 2005, p. 68-85; SOUTAR & LONGO, 2011, p. 47-59)

Duas ondas estarão em fase quando o traçado de ambas sobe e desce ao

mesmo tempo, cruzando o eixo horizontal no mesmo ponto. Quando as subidas e

descidas são similares, porém não ocorrem ao mesmo tempo, as ondas estão

defasadas, sendo a diferença de tempo expressa em graus de defasagem. Ondas

opostas estão defasadas em 180º. Quando as ondas de dois sites apresentam

ângulo de fase consistente, elas estão em coerência, indicando que há comunicação

entre os sites. Coerência é, portanto, uma medida quantitativa da informação que

está sendo trocada entre os sites, definida pela relação estável de fase ao longo do

tempo. Enquanto a coerência representa a quantidade de informação, a fase

representa a velocidade da comunicação entre os sites. Haverá momentos em que

será necessário transferir uma quantidade pequena de informação com alta

velocidade (baixa coerência e fase pequena) e outros onde será necessário

transferir uma quantidade maior de informação com velocidade mais baixa

(coerência mais alta e fase maior). Ou seja, não há coerência ou fase boa ou ruim, e

sim a mais adequada à rede neuronal, à banda de onda que está em análise e à

tarefa a executar. Hipocoerência indica uma péssima comunicação com máxima

37

independência entre sites, enquanto hipercoerência indica comunicação e

dependência mantida entre os dois sites, o que também pode não ser útil quando a

tarefa terminar. Quando dois sites estão em coerência e em fase, eles estão em

sincronia, conseguindo altas taxas de transferência. Os conceitos de fase e

coerência são muito importantes na análise de como as redes neurais estão se

comunicando e que tipo de comportamento está sendo produzindo. Diferentes níveis

de coerência e fase levam a diferentes padrões funcionais. Em termos de

treinamento, a coerência poderá ser treinada para subir ou baixar, sendo que a

coerência em alpha pode ser treinada bilateralmente, occipital e parietal, sem efeitos

colaterais. (COLLURA, 2014, p. 116-126)

Como última modalidade, cabe citar o treinamento em Hemoencefalografia

NFB (HEG NFB). A técnica, desenvolvida por Hershel Toomim em 1995, utiliza o

nível de oxigenação do sangue como varável de trabalho e a informação da sua

leitura espectroscópica como feedback para o treinamento do controle voluntário do

fluxo sanguíneo (perfusão) no CPF. O princípio é simples: quando você ativa uma

área do cérebro você consome mais oxigênio nessa área e o sangue fica mais

vermelho. A cor azul indica hipoperfusão ou baixos níveis de oxigênio no sangue. A

ativação voluntária permite uma forma de exercício cerebral, incrementando a

sinaptogênese e a angiogênese na região estimulada. O fluxo sanguíneo é lido por

um equipamento denominado Near Infrered Spectroscopy (NIRS) que mede o

quanto vermelho está o sangue circulante na região pela emissão de um fecho de

luz infravermelha que penetra no crânio e reflete retornado ao equipamento. A

atividade metabólica no processamento do oxigênio e da glicose torna o sangue

mais vermelho indicando maior atividade na região. A informação de aumento ou

diminuição do fluxo sanguíneo é enviada ao computador que a transformada em

38

feedback auditivo e/ou visual (vídeo ou jogo) repassado ao sujeito em treinamento.

O HEG NFB é largamente utilizado para o treinamento do CPF em pacientes com

TDAH para melhorar as funções executivas, bem como no alto rendimento. O

equipamento de HEG é montado numa faixa com velcro que posiciona os sensores

nas regiões ao longo da testa: giro orbitofrontal, córtex pré-frontal ventromedial e

ventrolateral (Fp1, Fp2, Fpz, F7 e F8), permitindo a leitura do fluxo sanguíneo

cerebral nessas regiões (rCBF de Regional Cerebral Blood Flow). Pela facilidade de

operar e pela ausência de artefato, o NFB HEG é indicado como a solução ideal

para treinar o CPF. (BUDZYNSKI et al., 2009, p. 169-192; DEMOS, 2005, p. 85-89;

TINIUS, 2004, p. 5-19)

2.2 O PROGRAMA DE TREINAMENTO PSICONEUROFISIOLÓGICO

No alto rendimento esportivo, as estratégias de intervenção devem estar

focadas na regulação dos estados psiconeurofisiológicos que atuam de forma

sistêmica, ou seja, a intervenção para regulação em uma parte do sistema afeta todo

o sistema de forma positiva, como círculo virtuoso. (EDMONDS & TENEBAUM,

2012, p. 19)

O esquema abaixo (fig.3) ressalta a interligação de três subsistemas

regulatórios, destacando o arco formado pela [ativação ↔ regulação das emoções],

interligado ao equilíbrio autonômico e a interocepção, como estado de consciência

corporal. O segundo arco, formado pela [ativação ↔ funções executivas],

destacando as cognitivas, memória de trabalho, planejamento motor e funções

motoras, se interliga ao terceiro arco, [ativação ↔ excitabilidade do sistema

sensorial], representando a rede tálamo-cortical e circuitos correlatos. O treinamento

psiconeurofisiológico, pela sua ação sistêmica, deve ter como principal preocupação

atuar no que integra os arcos regulatórios. A correta elaboração dos protocolos de

39

treinamento é, pela influência sistêmica, determinante para o sucesso do

treinamento em BFB e NFB. (ibid. p. 20)

Ativação/Excitação

Funções Executivas

Regulação das

Emoções

Planejamento Motor

Funções Cognitivas

& Memória de

Trabalho

Equilíbrio Autonômico

Ativação Motora

Interocepção

Excitabilidade do Sistema Sensorial

Figura 3 – Perspectiva Sistêmica de Edmonds e Tenenbaum (2012, fig.2.1, p. 20)

O treinamento psiconeurofisiológico é parte integrante do complexo programa

de Treinamento das Habilidades Psicológicas (THP) que, junto a preparação física,

técnica e tática, irão compor o programa de preparação geral do atleta, elaborado

levando-se em conta as suas características individuais e as especificidades de cada

modalidade. Congregando as modalidades de BFB e NFB às diversas técnicas e

práticas mentais tradicionais, o THP desenvolve as habilidades mentais e

emocionais relacionados ao desempenho do atleta, destacando atenção e

concentração, relaxamento muscular e mental, visualização e representação, diálogo

interior, aumento da motivação e compromisso (estabelecimento de metas)

40

autorregulação da ativação, autoconfiança, além da coesão e liderança nos esportes

coletivos. Cabe ao psicólogo esportivo definir o pacote de técnicas que melhor se

adapte ao binômio atleta-modalidade buscando integrá-las no seu programa geral de

treinamento. As técnicas mais usuais são: relaxamento/regulação da ativação,

representação mental, estabelecimento de metas, gerenciamento dos pensamentos,

diálogo interior, treinamento de BFB/NFB e rotinas mentais pré-competitivas. O THP

é elaborado em conjunto com os demais membros da comissão técnica e

principalmente com o técnico, partindo da avaliação inicial do atleta e da definição

das habilidades psicológicas mais importantes para a modalidade, obedecendo à

teoria e metodologia de periodização do treinamento esportivo. (BLUMENSTEIN &

ORBACH, 2012, p. 1-6; WEINBERG & GOULD, 2001, p. 248-257)

2.2.1 Periodização do Programa de Treinamento

No alto rendimento, onde os níveis de preparação técnica, física e tática

frequentemente se equiparam, vence o atleta / equipe que possui as melhores

qualidades psicológicas ou mentais. Isso só é possível através do correto

planejamento do treinamento das habilidades psicológicas (THP) inserido no

programa geral de treinamento do atleta, eliminando a abordagem aleatória e sem

objetivo. O ponto de partida para a elaboração do programa geral é a análise do

calendário de competições, determinando os principais eventos competitivos do

período para o qual ele está sendo montado. Normalmente no alto rendimento

elabora-se um programa quadrienal com foco nos Jogos Olímpicos, subdividido em

quatro programas anuais, cada qual com os seus eventos principais. (BOMPA, 2002,

p. 158-207)

Periodização é a metodologia utilizada na montagem do programa de

treinamento de longo prazo tendo como base a planificação cronológica das

41

atividades que serão realizadas pelo atleta, permitindo a gerência e a avaliação

gradual e progressiva do seu desenvolvimento técnico, físico, tático e psicológico, de

forma a conduzi-lo ao ápice da sua forma atlética durante os períodos competitivos

de maior importância. O programa anual de treinamento é organizado em ciclos e

dividido em três períodos principais: preparatório (geral e específico), competitivo

(pré-competitivo e competitivo) e de transição. Os três períodos compõem um

macrociclo (anual ou semestral), o qual é subdividido em microciclos (semanais),

cada qual com objetivos específicos, de acordo com os objetivos anuais. Para

alguns autores, o macrociclo é subdividido em mesocilclos com duração de um mês

ou meses, sendo esses subdivididos em microciclos. (ROSA & FARTO, 2007, p.

208-217; BOMPA, 2002, p.207-208; BLUMENSTEIN & ORBACH, 2012, p. 18-19)

Curvas de volume (azul) e

intensidade (vermelho)

Período Preparatório – Geral e

específico Competitivo Transição

Figura 4 – Variação Volume X Intensidade – adaptado de BOMPA, 2002, p. 215

A dinâmica do programa de treinamento é determinada pelo balanceamento

de duas componentes, estabelecidas de acordo com as características funcionais e

psicológicas de cada modalidade (fig. 4): volume (dimensão quantitativa; função

temporal – tempo de duração, distância ou peso por unidade de tempo, e repetições

por unidade de tempo) e intensidade (dimensão qualitativa; função da força do

estímulo, dependente da carga, da velocidade, da variação do intervalo de

recuperação e do esforço psicológico). (BOMPA, 2002, p. 83-99; BLUMENSTEIN &

ORBACH, 2012, p. 18-21)

42

No THP a dinâmica seguirá o mesmo princípio, em relação direta com o

volume e a intensidade do treinamento físico do atleta e em função dos objetivos de

cada período. No período preparatório geral o objetivo principal é adquirir a melhor

condição física geral, desenvolvendo a capacidade de trabalho do atleta, força e

resistência, além de melhorar elementos técnicos e manobras táticas básicas. No

THP, após a avaliação inicial, o atleta dará ênfase ao aprendizado das capacidades

mentais básicas. As atividades são realizadas no laboratório utilizando técnicas de

relaxamento que auxiliam na recuperação física, técnicas de estabelecimento de

metas. As modalidades de BFB/NFB são apresentadas e ensinadas, elegendo as

que melhor se adequam ao atleta/modalidade. No período preparatório específico,

como transição para o período competitivo, os objetivos são os mesmos do anterior,

porém, com ênfase em exercícios específicos da modalidade, relacionados aos

padrões de habilidades e técnica, unificando o desenvolvimento físico e fisiológico.

Nessa fase, utilizando as modalidades de BFB/NFB escolhidas, o THP dará ênfase

no foco das metas de treinamento e no desenvolvimento das habilidades aprendidas

(relaxamento, concentração e excitação) em situações variadas, simulando o

estresse competitivo. No período pré-competitivo, o volume de treinamento diminui e

a intensidade aumenta, com ênfase no desempenho técnico do gestual e simulação

das situações de competição, onde o treinamento tático assume maior importância.

No THP, ainda realizado no laboratório, é elaborado o plano de jogo mental através

de exercícios de representação carregados do colorido emocional competitivo. Nos

exercícios de BFB/NFB são introduzidos vídeos de momentos competitivos e

distratores específicos da modalidade, ajustando o plano mental à rotina pré-

competitiva do atleta. O período competitivo sege a mesma linha de ação do pré-

competitivo, porém, os recursos técnicos dos treinos de BFB/NFB são mais

43

específicos, como por exemplo, vídeos com imagens e situações do local e dos

oponentes que o atleta irá enfrentar na competição em vista. A ênfase recai sobre o

aperfeiçoamento do plano mental, o gerenciamento do estresse e a ótima regulação

da ativação, agora fora do laboratório. Na fase de transição, ou descanso ativo, o

atleta encontra-se em alto nível de fadiga fisiológica e psicológica, sendo a

psicológica mais persistente, o que torna a redução do estresse e a recuperação da

fadiga do SNC o principal objetivo desse período. O atleta participa de atividades

recreativas, fora da sua modalidade, que lhe permitam manter a atividade física.

Exercícios de respiração e técnicas de relaxamento mental auxiliam na recuperação

psiconeurofisiológica do atleta. Nessa fase, avaliam-se os resultados alcançados no

macrociclo que terminou e elabora-se o novo plano de treinamento, estabelecendo

as metas e objetivos da próxima temporada. (BOMPA, 2002, p. 217-240;

BLUMENSTEIN & ORBACH, 2012, p. 19-21; WEINECK, 2003, p. 62-65;

BLUMESTEIN, BAR-ELI & TENENBAUM, 2002, p. 55-62)

A inclusão das modalidades de BFB/NFB no THP e a transição do laboratório

para o sete de treinamento e competição é uma tarefa complexa. Nos autores

pesquisados destacou-se a metodologia Wingate Five-Step Approach (W5SA),

desenvolvida pelo psicólogo russo Dr. Boris Blumenstein, no Wingate Institute,

Israel’s National Center for Physical Education and Sport em conjunto com os

pesquisadores israelenses Michael Bar-Eli e Gershon Tenenbaum. Aplicada com

sucesso nos dois últimos ciclos Olímpicos (2008/2012), segue detalhada nas tabelas

1 e 2 abaixo: (EKLUND & TENENBAU, 2014, p. 71-72; EDMONDS & TENENBAUM,

2012, p. 74)

44

PERIODIZAÇÃO DO TREINAMENTO DAS HABILIADES PSICOLÓGICA - THP

MÊS JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET NOV DEZ

Períodos de Treinamento PREPARATÓRIO COMPETITIVO TRANSIÇÃO

Subfases PREP GERAL PREP ESPECÍFICA PRÉ-COMPETITIVA COMPETITIVA TRANSIÇÃO

Local Laboratório Laboratório - Treino Laboratório - Treino - Competição Laboratório

SU

BP

RO

GR

AM

AS

E T

ÉC

NIC

AS

DO

TH

P

Avaliação - STR Linha de Base Nível médio de estresse Nível máximo de estresse

THP Específico Fase de aprendizado

ou educação Fase de modificação ou aquisição Fase de aplicação ou prática

Relaxamento Muscular - longo Na prática - curto Na rotina pré-competitiva - rápido Recuperação

Mentalização (representações

mentais)

Do exterior para representação interna

Aspectos técnicos e táticos do gestual e do desempenho

Como parte da performance e da rotina pré-competitiva, visualizando o gestual com foco nos

elementos chaves.

Diálogo interior

Antes e depois do treino

Interromper pensamentos negativos na prática

Palavras chaves; interromper pensamentos negativos na competição

Concentração Vários exercícios de

concentração Rápida e intensa concentração na

prática Concentração na rotina pré-competitiva e na

performance

Estabelecimento de metas

Metas de treinamento Metas técnicas e táticas Metas de performance Metas de longo prazo

W5SA - BFB/NFB Introdução e identificação

Identificação e simulação Transformação e realização Recuperação e ajustes

Tabela 1 – Periodização do Treinamento das Habilidades Psicológicas – Adaptado de BLUMENSTEIN & ORBACH, 2012, p. 20.

45

DETALHAMEMTO DAS FASES DO TREINAMENTO EM BIOFEEDBACK E NEUROFEEDBACK - W5SA

Fase Introdução Identificação Simulação Transformação Realização

Local Laboratório Laboratório Lab e ambiente de treino Lab - Treino - Competição Competição

Objetivo

Apresentação e aprendizado das técnicas e

dos equipamentos e avaliação inicial

estabelecendo a linha de base das modalidades

disponíveis

Identificar as modalidades de BFB/NFB que o atleta melhor

responde, observando as características do esporte e

fortalecendo o uso das técnicas escolhidas.

Contextualizar as técnicas aprendidas às situações

de competição, obedecendo as

características do atleta e da modalidade.

Transferir e executar as técnicas aprendidas no

laboratório para o local de competição e durante

competições, preparando-se para a principal

competição.

Aplicar as técnicas aprendidas nas

competições preparatórias e na

principal.

Tipo de Seção Grupo/individual, através de reuniões e workshops

Individual ou em grupo Individual Individual Individual

Conteúdo

Relaxamento (TA, relaxamento muscular,

diálogo interior e BFB) e avaliação de

autorregulação em várias modalidades.

BFB com as modalidades escolhidas e avaliação de

autorregulação, em mais de uma modalidade.

Ensaio dos ciclos de relaxamento-excitação assistindo vídeos de competições, com o

aumento gradual do nível de estresse. Ao final da

fase, o atleta é novamente avaliado.

Execução das técnicas aprendidas no sete

competitivo, incluídos nas rotinas pré-competitivas e

durante o evento competitivo, com foco em importantes elementos da

performance..

Aplicação das técnicas no momento

competitivo, com o aumento gradual do nível de importância.

Metas

Relaxar em 2-3 min, manter o relaxamento

profundo cerca de 5-10 min e então ensaiar a excitação

por 2-3 min.

Executar os ciclos de transição de relaxamento-excitação, requeridos na modalidade, com rapidez,

precisão e segurança.

Executar os ciclos de relaxamento-excitação no contexto competitivo da modalidade, orientado

pelo vídeo de uma competição sua.

Executar com maestria a autoregulação no ambiente

real de competição.

Domínio da aplicação das

técnicas aprendidas em competições.

Número de Seções

10-16, sendo de 5-8 em grupo e de 5-8 individuais

15 15 15 10-15

Periodicidade 2-3 vezes na semana 2-3 vezes na semana 2-3 vezes na semana 2-3 vezes na semana e nas competições preparatórias.

Durante ou entre competições

Seção 55-60 min 50-60 min 50-60 min 50-60 min Varia

Tabela 2 – Metodologia Wingate Five-Step Approach - W5SA. (BLUMENSTEIN, BAR-ELI & TENENBAUM, 2002, p. 55-69)

46

2.2.2 Avaliação e Linha de Base

O propósito do treinamento em BFB/NFB no alto rendimento vai além da

simples consciência do controle sobre uma determinada resposta

psiconeurofisiológica. O objetivo maior é ensinar o atleta a obter o controle voluntário

sobre os processos subjacentes (e involuntários), possibilitando a autorregulação

dos estados mentais e do nível de ativação, estresse e ansiedade, nos momentos

competitivos. Como todo programa de treinamento, estabelece metas e um ponto de

partida. A realização da avaliação específica de cada modalidade de BFB e NFB é,

pois, o passo inicial para a montagem do protocolo de treinamento, estabelecendo

os valores que representarão a linha de base. (SOUTAR & LONGO, 2011, p. 170)

Nas avaliações em BFB, o sinal lido representa o valor de face de uma

resposta psicofisiológica e tem grande relevância na medida em que, de forma

indireta, representa a leitura da dinâmica autonômica. Considerando a possibilidade

de agregar estressores competitivos à avaliação, teremos então uma leitura mais

significativa do comportamento do atleta. O mesmo método pode ser utilizado para

avaliar a evolução do treinamento de autorregulação autonômica, nos dando uma

boa pista para os indicadores de eficácia. (BLUMENSTEIN, BAR-ELI &

TENENBAUM, 2002, p. 102-103; BLUMENSTEIN & ORBACH, 2012, p. 7-15;

EDMONDS & TENENBAUM, 2012, p. 120-133; COLLURA, 2014, 199-222)

A pesquisa destacou, pela sua metodologia e abrangência, o Teste de

Autorregulação (STR de Self-Regulation Test), parte integrante do W5SA. Utilizado

tanto para estabelecer a linha de base, como para avaliar o desenvolvimento da

capacidade de autorregulação do atleta, o STR é aplicado ao longo do programa de

THP ao final de cada fase do W5SA. Derivado da técnica de autossugestão do

treinamento autógeno, o STR grava com equipamentos de HR (de Heart Rate), EMG

47

(de Electromyography) e GSR (de Galvanic Skin Response), a leitura das três

respostas fisiológicas em quatro momentos de 2 min cada: repouso, tensão,

relaxamento e competição. Após a gravação inicial que servem de linha de base, o

atleta é solicitado a representar mentalmente estando (ele) em repouso, tenso,

relaxado e em competição. Os valores gravados no primeiro STR servem de

referência para avaliar a evolução do atleta durante o macrociclo comparando os

valores apurados ao término de cada período do programa. (PAPAIOANNOU &

HACK, 2014, p. 409-413; BLUMENSTEIN & ORBACH, 2012, p. 7-8)

A avaliação em NFB é realizada com gravação do EEG em ambiente

apropriado, verificando o comportamento e a eficiência do cérebro durante a

realização de tarefas, conforme roteiro pré-definido. Como visto anteriormente, a

decomposição do EEG bruto em bandas de ondas é denominada de QEEG (de

Quantitative Electroencephalogram), sendo utilizado originalmente na investigação

clínica, pela comparação a padrões disfuncionais relacionados a distúrbios

comportamentais e emocionais. O QEEG pode ser conduzido com diferentes graus

de detalhamento, complexidade e profundidade, dependendo do procedimento

adotado e do número de sites investigados, podendo durar de 15 min a 2 horas. A

aquisição dos dados pode ser feita um a um, de dois em dois, ou de quatro em

quatro sites, gravando de 5 a 19 sites posicionados pelo sistema 10-20. A leitura é

feita de forma simultânea ou em grupos homólogos de sites (C4-C4; F3-F4; etc.), em

três etapas com o mínimo de um minuto de duração cada: olhos fechados, olhos

abertos e realizando tarefa. Uma vez processado, os dados são comparados a

bancos de dados normativos e/ou transformados em relatório/diagnóstico com

indicadores de frequência, amplitude, potência, coerência, fase, assimetria, etc.,

razões entre os percentuais de bandas de ondas (Alpha/Theta; Theta/Beta),

48

histogramas e mapas cerebrais topográficos. Visando tornar a avaliação quantitativa

mais rápida, simples e menos custosa, alguns pesquisadores desenvolveram

sistemas de avaliação que não utilizam bancos de dados normativos ou softwares

sofisticados. Os principais são o TLC, desenvolvido por Peter Van Deusen (1999),

hoje avaliando 19 sites na versão TLC7a (2010), o MiniQ de Soutar & Longo (2011)

e QuikQ de Paul Swingle (2008). (CHAPIN & RUSSEL-CHAPIN, 2014, p. 109-119)

A montagem dos protocolos de treinamento é feita com base nas informações

geradas na avaliação, não havendo diferenciação entre a avaliação clínica e

realizada para o alto rendimento. A diferença está na análise dos dados, onde na

avaliação clínica os protocolos são desenvolvidos com base nos sintomas, enquanto

no alto rendimento, os protocolos são definidos com base em indicadores de

desempenho e eficácia do cérebro. Isso não elimina a possibilidade de incluir no

treinamento do atleta protocolos semelhantes aos dos objetivos clínicos, uma vez

que a assinatura neural do TDAH engloba as mesmas redes e sites que serão

treinados para aumentar a capacidade de concentração e atenção do atleta. É muito

importante o cumprimento de normas técnicas durante a gravação do EEG,

principalmente no que tangem eliminação leituras geradas por artefatos, como:

movimentos oculares verticais e horizontais momentâneos, piscar de olhos,

movimentos de cabeça, elevação de eletrodos, contrações musculares contínuas ou

momentâneas, ruídos da rede elétrica (60Hz) e ruídos do aparelho de EEG.

(SOUTAR & LONGO, 2011, p. 63-76; SWINGLE, 2008, p. 9-29)

49

2.2.3 Elaboração do Protocolo de Treinamento

A união das modalidades de BFB e NFB com técnicas de treinamento mental

representa a essência do treinamento psiconeurofisiológico, enfatizando a

indivisibilidade corpo-mente e integrando ferramentas comportamentais, mentais e

fisiológicas na eliminação de padrões disfuncionais e melhora do desempenho

esportivo, preparando o atleta para atuar na sua Zona Individualizada de

Desempenho Ideal (IZOF de Individualized Zones of Optimal Functioning) nos

momentos competitivos. A questão agora é como transformar os dados das

avaliações em protocolos eficazes de treinamento. (EDMONDS & TENENBAUM,

2012, p. 6-12)

Tanto para o BFB como para o NFB, o resultado da avaliação inicial nos dará

a ideia dos pontos fortes e fracos do atleta, definindo a estratégia de intervenção e

de montagem dos protocolos. Junto com os demais dados do atleta, informações do

contexto (condições) e da modalidade (tarefa), a avaliação apontará as melhores

práticas para a situação em questão. O protocolo é personalizado, de acordo com as

características e necessidades do atleta. Pelo grande número de variáveis

envolvidas, é importante adotar um roteiro padrão que oriente na montagem dos

protocolos. A pesquisa destacou, para essa tarefa, a metodologia Wingate Five-Step

Approach (W5SA), descrita na tabela 2 (p. 40), devido a sua abrangência e a

aplicação prática comprovada. Além do roteiro, cada psicólogo estará mais

familiarizado com determinadas técnicas e terá acesso a determinados

equipamentos que influenciarão nas suas escolhas. Pesquisas recentes apontam

determinadas combinações com resultados positivos, servindo como orientação

inicial, principalmente para a seleção e aquisição dos equipamentos e sistema de

BFB/NFB (Tabela 3). (BLUMENSTEIN, BAR-ELI & TENENBAUM, 2002, p. 55-60)

50

Característica do Esporte Modalidade BFB/NFB

Técnica Mental

Esportes com alvo HRV e EEG Treinamento Autógeno,

Relaxamento Progressivo e

Representação Mental.

Ginásticas EEG, GSR, HRV e

EMG

Esportes de combate EEG, EMG e GRS

Esportes de inverno Temperatura

Natação HRV, EMG e GRS

Corridas EMG e HRV

Tabela 3 – Características do Esporte X BFB/NFB e Técnicas Mentais.

(BLUMENSTEIN, BAR-ELI & TENENBAUM, 2002, p. 46-50)

A metodologia W5SA parte do princípio que o atleta só conseguirá obter o

autocontrole sobre os estados mentais e emocionais se primeiro obtiver a

compreensão e domínio das técnicas que irá utilizar. É dada ênfase às metas de

processo para depois estabelecer metas de resultado. Dessa forma, as duas fases

iniciais, Introdução e Identificação, são dedicadas ao domínio das modalidades,

equipamentos e softwares que serão utilizados, bem como à seleção e ao

fortalecimento daquelas que apresentam maior eficiência de resposta. Além da

compreensão e domínio das técnicas, o sucesso do treinamento dependerá em

grande parte do reconhecimento pela equipe multidisciplinar e, principalmente, pelo

atleta, da eficácia e relevância do programa proposto. No BFB/NFB, como em todo

processo de aprendizado, a motivação do treinando é fundamental, uma vez que

nem os equipamentos nem as informações que eles produzem irão por si só

capacita-lo a controlar de forma voluntária seus estados psiconeurofisiológicos.

Reconhecer as informações contidas na resposta fisiológica fornecida pelos

equipamentos e aprender a alterá-la de forma voluntária irá requere o cumprimento

deliberado e sistemático do programa proposto, exigindo do atleta disciplina,

comprometimento e autogestão. O atleta tem papel ativo e relevante no processo de

51

mudança de comportamento e só poderá exercê-lo se devidamente instruído,

motivado e compromissado. (ibid. p. 113-120)

Nesse sentido, o W5SA enfatiza o desenvolvimento de crenças de

autoeficácia, de Albert Bandura, como mecanismo psicológico de motivação do

atleta. A confiança de que ele será capaz de atingir o objetivo final de exercer o

autocontrole sobre seus estados mentais e emocionais é fortalecida

progressivamente. Para tanto, desde o início o atleta é encorajado a autorregular o

processo, desenvolvendo competências como: fixação de metas adequadas;

autoinstrução através do diálogo interior para se manter motivado;

automonitoramento dos processos, principalmente na fase de simulação do estresse

competitivo; autoavaliação, para ajustar estratégias, identificar e corrigir erros; e a

busca de ajuda quando não souber como corrigir uma falha no seu desempenho.

(ibid.)

A tabela 2 (p. 40) apresenta uma visão detalhada das informações

necessárias à montagem dos protocolos de treinamento em BFB dentro da

metodologia W5SA, na qual, entre cada fase, o atleta é novamente avaliado pelo

Teste de Autorregulação (SRT de Self-Regulation Test). O balanceamento do

volume e intensidade dependerá da subfase em treinamento, conforme o programa

geral do atleta. É importante ter em mente que os equipamentos de BFB informam

de forma indireta pelo valor de face da variável de trabalho, o balanço autonômico e

o progresso do atleta no autocontrole do mesmo. A possibilidade de acoplar ao

treinamento, por vídeo ou representação mental, estressores congruentes com a

modalidade desportiva no grau de dificuldade desejado, abre um leque de

possibilidades para a criatividade do treinador. Especificamente o EMG BFB pode

também ser utilizado para correção de atividades musculares disfuncionais

52

localizadas. A distribuição das atividades por seção deve conter as informações de

atividade/modalidade, tempo de duração e número de repetições, conforme sugerido

no modelo abaixo: (ibid., p. 55-76; LEHRER, WOOLFOLK & SIME, 2007, p. 621-626;

BLUMENSTEIN & ORBACH, 2012, p. 6-21)

Fase 1 - Introdução

Seção Duração Conteúdo da Seção

6 55-60 min Relaxamento + Representação Mental: 3-5 min x 2-3 vezes); Teoria de GRS BFB (versão audiovisual)

7 55-60 min Relaxamento muscular + Representação Mental: 3-5 min x 2-3 vezes Teoria de EMG BFB e HRV BFB (versão audiovisual)

Tabela 4 – Modelo de descrição de protocolo de BFB

A prática em NFB exige do psicólogo esportivo, além dos conhecimentos

inerentes à profissão e a formação em NFB, uma boa base em neurologia e uma

relação amigável e atualizada com a informática e a tecnologia de EEG. Ele terá que

dominar os sistemas computacionais de apoio e o hardware empregado tanto na

avaliação quanto no treinamento. Além disso, o treinamento em NFB sempre será

assistido pelo psicólogo, diferente do BFB onde muitos treinos serão autodirigidos

pelo atleta. Isso por que no treinamento em NFB, tanto a autorregulação como a

eficiência cerebral, dependerão do treinador para modelar a atividade dos

subsistemas regulatórios durante o treinamento. Os protocolos utilizam software

específico e são construídos levam em consideração os sites e a atividade cortical

subjacente que se deseja inibir ou reforçar. Um bom software de treinamento em

NFB, além da possibilidade de a conexão com jogos e drivers de mídia, deverá

permitir a seleção de diversos parâmetros, como: sites de treinamento, bandas de

trabalho, reforçar/inibir, ajuste nas informações aa tela do treinador e do treinando

(gráficos, indicadores, escores, etc.), tipo de feedback (visual, sonoro ou

53

sinestésico), modulação do feedback (volume e claridade da imagem), tempo de

treinamento, gravação da seção e playback, arquivamento dos dados, e, o mais

importante, parametrizar em tempo real a sensibilidade e o limiar do reforço. Essas

características garantem a eficácia do condicionamento operante na modelagem das

redes neurais e permitem a montagem personalizada dos protocolos. (DEMOS,

2005, p. 160-164; EDMONDS & TENEBAUM, 2012, p. 17-29; CHAPIN & RUSSEL-

CHAPIN, 2014, p. 115-130; COLLURA, 2014, p. 1-29)

Nesse ponto é importante diferenciar o protocolo de treinamento do design

que será utilizado no protocolo. O design é um arranjo de todos os objetos e rotinas

que serão executados pelo software de treinamento, incluindo gráficos, botões de

comando e seleção, filtros, osciloscópios, comando de drivers, layout das telas, etc.

Os designs são programados no próprio software de treinamento, requerendo

conhecimento avançado sobre as suas funcionalidades. Normalmente o software

vem acompanhado de alguns designs básicos e um pacote maior pode ser adquirido

posteriormente, conforme a necessidade. O protocolo define o que e como será

treinado, ou seja, os sites do sistema 10-20, os tipos de montagem dos eletrodos, as

bandas de frequência que serão inibidas ou reforçadas, se reforçaremos coerência

ou sincronia, o tipo de feedback, o limiar e a sensibilidade de reforço, se o treino

será de olhos fechados, abertos ou excetuando uma tarefa, o tempo de duração de

cada seção, etc. O conjunto de protocolos compõe o plano de treinamento

individualizado. (CHAPIN & RUSSEL-CHAPIN, 2014, p. 132-135)

Cada protocolo terá um objetivo específico diretamente relacionado às redes

neurais cobertas pelos sites designados. Alguns protocolos padrões e

comprovadamente eficazes cobrem grande parte das necessidades do treinador e

estão resumidos no quadro abaixo: (COLLURA, 2014, p. 132-135)

54

Nome Site 10-20 Bandas de ondas treinadas

Aumentar Inibir

Alerta C3 ou Cz Beta 15-20 Hz Beta Alto 20-30Hz

Profundo - AT Pz Alpha 8-10 Hz / Theta 4-7 Hz

Foco C4 ou Cz RSM 12-15 Hz Theta 4-7 Hz / Beta Alto 20-30

Hz

Alta Performance C3 - C4 Coerência em Alpha

Alta Performance C3 - C4 Alerta (C3) e Foco (C4) combinados

Relaxamento Pz ou Oz Alpha 8-10 Hz Theta 4-7 Hz / Beta Alto 20-30

Hz

Squash Cz Banda de 4-20 Hz

Tabela 5 – Protocolos tradicionais em NFB. (COLLURA, 2014, p. 133)

Fig. 5 - Atleta M M em treinamento de HEG NFB

O treinamento dos sites ventral lateral (F7 e F8) e os polos frontais (Fp1, Fp2

e Fpz) deve ser realizado com HEG NFB (fig. 5). Os demais sites, dorsais e

temporais, devem ser treinados com EEG NFB, utilizando basicamente dois

sistemas de distribuição dos eletrodos, cujo entendimento é muito importante para a

eficácia do treinamento: sistema com um canal de treinamento (1C) e sistema com

dois canais de treinamento (2C). A tabela 6 abaixo detalha os dois sistemas:

(DEMOS, 2005, p. 72-88; CHAPIN & RUSSEL-CHAPIN, 2014, p. 139-142)

55

Canais Montagem Referência Leitura Alvo de

intervenção Finalidade

Posicionamento dos eletrodos

Observação

1C

Mono canal Referencial

ou Monopolar

Site neutro for a do

escalpo e sem

atividade elétrica.

Osso mastoide é o

mais utilizado.

Valor absoluto da amplitude do canal

ativo

Região neurológica

específica do cérebro situada

abaixo do eletrodo ativo.

Aumentar ou diminuir a amplitude de determinada banda de onda (podendo se mais de uma), em um

determinado local reconhecidamente

relacionado a determinada função neurológica.

Terra (Grd) - lobo da orelha do hemisfério

oposto ao eletrodo ou no osso mastoide;

Referência (-1) - lobo da orelha do mesmo

hemisfério do eletrodo ou osso mastoide;

Ativo (+) - no site 10-20 acima da região alvo

do treinamento.

Sujeito a interferência (artefato) da atividade muscular do pescoço, mandíbula, movimento

facial e batimento cardíaco, quando a

referência está no lobo da orelha.

Mono canal Sequencial ou Bipolar

Site ativo no escalpo

Soma ou diferença de

amplitude entre os

sites ativo e referência.

Regiões neurológicas

específicas do cérebro situadas

abaixo do eletrodo ativo e de referência.

Aumentar ou diminuir a amplitude de determinada banda de onda (podendo

se mais de uma), nos locais abaixo dos eletrodos

(ativo e referência) reconhecidamente

relacionados a determinada função

neurológica, bem como melhorar a comunicação entre ativo e referência

Terra (Grd) - lobo da orelha do hemisfério

oposto ao eletrodo ou no osso mastoide;

Referência (-1) site 10-20; Ativo (+) - site 10-20 acima da região

alvo do treinamento.

2C Bi canal

Site neutro for a do

escalpo e sem

atividade elétrica.

Osso mastoide é o

mais utilizado.

Amplitude de cada

canal ativo

Nas duas regiões abaixo dos eletrodos e

na região e redes neurais de

comunicação entre os dois sites ativos.

Além de atuar sobre a amplitude de determinadas ondas em cada site ativo,

permite intervir na comunicação entre eles -

assimetria (frente-trás; esq.-dir)e coerência (hipo;

hiper; fase).

Terra (Grd) - local neutro tipo osso

externo no peito; 2 Referências (-1 e -2) lobos das orelhas ou ossos mastoides; 2

Ativo (+) - sites 10-20 acima das regiões alvo

do treinamento.

Os eletrodos ativos e referências devem estar no mesmo

hemisfério, esq./dir.; no caso dos ativos

serem posicionados frente e trás, a

referência esq. será para o site mais a

frente.

Tabela 6 – Sistemas de montagens de eletrodos para o treinamento em EEG NFB. (DEMOS, 2005, p. 72-88; CHAPIN & RUSSEL-CHAPIN, 2014, p. 139-142)

56

2.3 INDICADORES DE EFICÁCIA

O gerenciamento de um programa de treinamento, independente dos seus

objetivos, exige um sistema organizado e consistente de avaliação que quantifique

objetivamente a evolução do atleta. Isso só será possível se estabelecermos

objetivos precisos e mensuráveis. Indicadores tangíveis auxiliam na predição do

desempenho através do resultado de testes e a comparação com padrões que irão

balizar o progresso e a eficácia do programa em curso, permitindo o diagnóstico de

pontos fracos específicos e o ajuste tanto do programa como dos próprios objetivos.

(BOMPA, 2002, p. 256-261)

No treinamento em BFB, os mesmos índices obtidos na avaliação inicial e

utilizados para definir as estratégias e protocolos de treinamento, são utilizados

também para acompanhar a evolução do THP, permitindo, por conseguinte, avaliar a

eficácia tanto das estratégias como dos protocolos. Pela dificuldade de obter dados

em momentos competitivos, os testes devem incluir recursos que simulem o

estresse competitivo tão próximo quanto possível, ajustados conforme o período de

treinamento. Além disso, assim como nos protocolos, os mecanismos de testagem

devem estar congruentes com a modalidade esportiva priorizando as habilidades

psicológicas mais importantes, evitando-se medidas subjetivas.

Ao aferir as alterações provocadas nas três respostas psicofisiológicas (HR,

EMG e GSR) em função da eficiência da representação produzida pelo atleta em

cada fase (repouso, tenso, relaxado e em competição), qualificando o atleta pela sua

habilidade de autorregulação em categorias de desempenho, o STR, aplicado ao

final de cada fase de treinamento do W5SA, tem sido utilizado como um método

prático e confiável para avaliar a eficácia do treinamento em BFB. As alterações nos

57

índices psicofisiológicos são registradas em direção (↑ subindo ou ↓ descendo) e

intensidade (% de variação) no antes (A) e depois (D) de cada estágio do teste. O

atleta marca um ponto positivo (+) para cada representação efetiva, ou seja, na

direção esperada e na intensidade, sendo categorizado pelo número de (+) que

obtiver no teste. As tabelas 7, 8 e 9 abaixo exemplificam os registros e parâmetros

adotados: (EDMONDS & TENEBAUM, 2012, p. 123-132; PAPAIOANNOU &

HACKFORT, 2014, p. 402-413)

Intensidade das Respostas Fisiológicas

Direção da variação esperada em cada estágio - 2 min

Repouso Tensão Relaxamento Competição

HR - 10% ↓ ↑ ↓ ↑

EMG - 20% ↓ ↑ ↓ ↑

GSR - 10% ↑ ↓ ↑ ↓

Tabela 7 – Direção e intensidade das respostas fisiológicas

Categorias quanto ao nível de autorregulação

A - Alto nível de autorregulação 11-12 (+)

M - Médio nível de autorregulação 8-10 (+)

B - Baixo nível de autorregulação 6-7 (+)

Tabela 8 – Categorias de autorregulação

Base Repouso Tensão Relaxamento Competição Score

A D +/- A D +/- A D +/- A D +/-

HR bpm 68 67 59 + 61 69 + 63 61 - 65 75 + 2+

EMG µV 2.6 - 2.4 2.3 1.3 + 1.8 3.1 + 2.6 1.2 + 2.5 3.7 + 3+

GSR KΩ 610 - 630 611 721 + 689 640 - 641 809 + 660 450 + 2+

Total 10+

Categoria A

Tabela 9 – Tabela de registros do STR

Cabe ressaltar que o score utilizado para categorizar o atleta foi estabelecido

com base nos dados colhidos em oito anos de experiência na aplicação do STR pelo

Wingate Institute, Israel’s National Center for Physical Education and Sport.

(BLUMENSTEIN, BAR-ELI & TENENBAUM, 2002, p. 58)

58

O treinamento em NFB na clínica tem caráter de programa de tratamento e,

como visto anteriormente, está focado nos sintomas. Assim, o sucesso do programa

está relacionado ao desaparecimento dos sintomas e não especificamente na

observação de alterações da atividade neuronal. Porém, com o objetivo de ajustar

os protocolos, alguns autores recomendam realizar, a cada 20 ou 30 seções, uma

nova avaliação quantitativa do EEG (QEEG), ocasião em que se poderá se

comparar aos resultados aferidos anteriormente. Uma forma recomendada por

alguns autores para acompanhar o progresso do treinamento é a observação dos

scores de desempenho oferecidos pelos designs. Bateria de testes relacionados à

patologia também são aplicados, como o T.O.V.A. (de Test of Variables of Attention)

no TDAH. (SOUTAR & LONGO, 2011, p. 107-114)

No esporte, os protocolos de NFB são definidos pelos indicadores de

desempenho e eficácia do cérebro, levando-se em conta as características da

modalidade esportiva. Assim, da mesma forma que na clínica, o acompanhamento

desses indicadores através da comparação dos relatórios de avaliações periódicas,

juntamente com o registro dos scores durante as seções de NFB, permite ajustar os

protocolos e aferir a eficácia do programa de treinamento. Alguns autores constroem

tabelas com determinados indicadores de desempenho ou utilizam testes cognitivos

para avaliar habilidades específicas, com observação e gravação simultânea do

EEG, filtrando as bandas de interesse. Em algumas modalidades, como no tiro

esportivo, tiro com arco e golfe, onde o gestual produz pouca atividade muscular, é

possível gravar e modelar a atividade cerebral em tempo real, ajustando os estados

mentais nas diversas fases do gestual. Em outras modalidades, como por exemplo,

no tênis, monitora-se a ativação do estado de prontidão para recepção do saque,

59

registrando em tabelas valores que mensuram tanto a ativação quanto a resistência

em repeti-la por diversos momentos seguidos. Diversas razões entre bandas

específicas, em sites específicos, permitem interpretações importantes e auxiliam na

investigação e no acompanhamento do treinamento. (STRACK, LINDEN & WILSON,

2011, p. 202-218; EDMONDS & TENENBAUM, p. 34-107)

Alguns estudos mesclam avaliações de indicadores de BFB e NFB, em

construtos específicos, monitorando tanto respostas fisiológicas como determinadas

bandas do EEG, relatando como principal dificuldade a eliminação do artefato de

contração muscular na leitura da atividade cortical. (BOZANOVA, et.al, 2007;

STRACK, LINDEN & WILSON, 2011, p.72-90)

60

CAPITULO TRÊS CONSIDERAÇÕES FINAIS

3.1 CONCLUSÃO

A pesquisa permitiu confirmar a hipótese ao verificar que as modalidades de

Biofeedback (BFB) e Neurofeedback (NFB) são reunidas em protocolos de

treinamento psiconeurofisiológico, como parte do Treinamento de Habilidades

Psicológicas (THP), integrados e periodizados em harmonia com o Programa Geral

de Treinamento de atletas de alto rendimento, destacando como modelo a

metodologia Wingate Five-Step Approach (W5SA) desenvolvida pelo psicólogo

russo Dr. Boris Blumenstein, no Wingate Institute, Israel’s National Center for

Physical Education and Sport, em conjunto com os pesquisadores israelenses

Michael Bar-Eli e Gershon Tenenbaum, pela abrangência e pelos resultados

positivos obtidos nos dois últimos ciclos Olímpicos.

Verificou que as modalidades, Eletromiografia (EMG), Atividade Eletrodérmica

(EDA), Temperatura (TB) e Variabilidade Cardíaca (HRV), de BFB, e as

Eletroencefalografia (EEG) e Hemoencefalografia (HEG), de NFB, integram o

conjunto de práticas psiconeurofisiológicas utilizadas no treinamento esportivo. Que

as técnicas de BFB estão mais consolidadas, utilizando equipamentos mais práticos

e portáteis com a possibilidade de treinamentos autodirigidos, enquanto o NFB exige

equipamentos e softwares mais sofisticados com treinamento exclusivamente

presencial. Que ambas as técnicas se complementam, destacando a flexibilidade do

NFB em treinar a autorregulação de padrões cerebrais, e a eficácia do BFB em

utilizar indicadores fisiológicos que refletem as variações dos estados de ativação.

Descreveu as modalidades de BFB e NFB, os processos de montagem de

protocolos e os métodos de avaliação.

No que tange aos indicadores de eficácia, constatou que os métodos

utilizados para estabelecer a linha de base na avaliação inicial, também são

utilizados nas avaliações periódicas de gerenciamento, permitindo, pela comparação

dos resultados, aferir a eficácia do treinamento. Destacou o Self-Regulation Test

(SRT), parte integrante do W5SA, como modelo de avaliação e testagem no

treinamento de BFB. No NFB as avaliações quantitativas (QEEG e miniEEG), a

61

gravação do EEG durante tarefas específicas e os indicadores acoplados nos

designs, demonstraram cumprir ambas as tarefas.

Apesar da constante busca por indicadores de desempenho e predição de

resultados no alto rendimento esportivo, concluímos que, devido o caráter sistêmico

e a complexidade do SN, bem como a inter-relação das vaiáveis – tarefa, situação e

sujeito – determinantes do comportamento humano, a regulação dos estados

psicológicos e mentais-emocionais não deve ser considerada uma ciência exata.

Porém, os indicadores psiconeurofisiológicos, trabalhados dentro de uma

metodologia adequada e utilizando as técnicas de BFB e NFB, representam uma

excelente opção para o psicólogo esportivo integrar e contribuir de forma objetiva

para o sucesso da equipe técnica interdisciplinar no alto rendimento.

Finalizando, o trabalho sugere a necessidade da realização de pesquisas com

atletas de alto rendimento no Brasil utilizando as técnicas de BFB e NFB, e a

divulgação de trabalhos no meio científico e acadêmico, de forma a difundir o uso

das práticas em questão.

62

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