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PROTOCOLOS E INDICADORES DE EFICÁCIA DAS TÉCNICAS DE BIOFEEDBACK E NEUROFEEDBACK NO TREINAMENTO...
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INSTITUTO DE PSIQUIATRIA - IPUB
Centro de Ciências da Saúde - CCS
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ
PROTOCOLOS E INDICADORES DE EFICÁCIA DAS TÉCNICAS DE
BIOFEEDBACK E NEUROFEEDBACK NO TREINAMENTO
PSICONEUROFISIOLÓGICO DE ATLETAS DE ALTO RENDIMENTO
SILVIO DE SOUZA AGUIAR CARVALHO
Monografia apresentada no Instituto de
Psiquiatria - IPUB da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, como
requisito final do Curso de
Especialização em Neurociências
Aplicadas à Aprendizagem.
Orientadora: Prof.ª Bruna Brandão Velasques
RIO DE JANEIRO - RJ 2014
II
Carvalho, Silvio
Protocolos e indicadores de eficácia das técnicas de biofeedback e neurofeedback no treinamento psiconeurofisiológico de atletas de alto rendimento – Silvio de Souza Aguiar Carvalho – Rio de Janeiro – 2014
64f.
Orientador acadêmico: Prof.ª Bruna Brandão Velasques. Monografia (especialização). Instituto de Psiquiatria - IPUB da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Curso de Especialização em Neurociências Aplicadas à Aprendizagem.
Título em inglês: Protocols and indicators of effectiveness of neurofeedback and biofeedback techniques on training psychoneurophysiological of top level athletes
Rio de Janeiro, Brasil
1. Autorregular 2. Biofeedback 3. Indicadores 4. Neurofeedback 5. Psiconeurofisiológico
III
AGRADECIMENTOS À minha orientadora, Profa. Bruna Brandão Velasques, pela orientação e apoio durante a realização da monografia. A todos os professores atuais e passados, pelas experiências e conhecimentos transferidos que me permitiram galgar com segurança mais esse degrau na minha jornada acadêmica. Ao Peter Van Deusen, meu mentor em Neurofeedback. Ao Comitê Olímpico Brasileiro, pelo incentivo e apoio ao projeto do Laboratório de Psiconeurofisiologia do Esporte, meu próximo desafio e principal motivo do presente trabalho.
IV
“Toda alteração no estado fisiológico é acompanhado pela apropriada alteração no estado mental-emocional, consciente ou inconsciente, e, reciprocamente, toda
alteração no estado mental-emocional, consciente ou inconsciente, é acompanhado pela apropriada alteração no estado fisiológico”
(GREEN, GREEN & WALTER, 1970, p. 3)
V
RESUMO
No alto rendimento esportivo o Treinamento das Habilidades Psicológicas (THP),
como prática sistemática e consistente, representa um grande diferencial
competitivo. Nesse contexto as modalidades de Biofeedback (BFB) e Neurofeedback
(NFB), em conjunto com as tradicionais técnicas de treinamento mental, têm
apresentado excelentes resultados como técnicas de autorregulação do nível
ativação psiconeurofisiológica, permitindo ao atleta manter-se dentro da sua Zona
Individualizada de Desempenho Ideal (ZIDI), de forma voluntária e nos momentos
competitivos. Para tal, é necessário elaborar criteriosamente os protocolos de
treinamento em BFB e NFB, integrando-os ao Programa Geral de Treinamento do
atleta. Periodizado em conjunto com a preparação física, técnica e tática o THP
deverá conter indicadores objetivos que comprovem a sua eficácia e permitam
monitorar a evolução do treinamento. O presente trabalho teve como objetivo
descrever as técnicas de NFB e BFB, os métodos de elaboração e integração dos
protocolos ao treinamento de atletas de alto rendimento, apontando os indicadores
objetivos para o gerenciamento do treinamento psiconeurofisiológico. A metodologia
W5SA destacou-se tanto pela abrangência como pelos resultados obtidos no
treinamento de atletas nos dois últimos ciclos Olímpicos.
Palavras chave: 1. Autorregular 2. Biofeedback 3. Indicadores 4. Neurofeedback 5.
Psiconeurofisiológico
VI
ABSTRACT
At the peak performance sports, the Psychological Skills Training (PST) represents a
major competitive advantage as systematic and consistent practice. In this context
the modalities of Biofeedback (BFB) and Neurofeedback (NFB), associated to the
usual of mental training procedures, have shown very good results as a self-
regulatory technique of the psychophysiological activation level, allowing the athlete
to remain within their Individualized Zone of Optimal Functioning (IZOF), in a
voluntary way including, competitive situations. Taking this in to account is necessary
to develop the training protocols for NFB and BFB carefully, integrating them to the
General Program of the athlete training. Together with the physical preparation
periodization, technique and tactics of THP should contain objective indicators that
prove its effectiveness and allow monitoring the progress of training. This study
aimed to describe the techniques of NFB and BFB, methods of preparation and
integration of protocols to high-performance athletes training, pointing out the
objective indicators for managing the psychophysiological training. The methodology
W5SA stood out both for its comprehensiveness as the results obtained in training
athletes in the last two Olympic cycles.
Keywords: 1. Self-regulation 2. Biofeedback 3. Indicators 4. Neurofeedback 5.
Psychoneurophysiological
VII
SUMÁRIO
CAPÍTULO UM PROJETO 8
1.1 HISTÓRICO 8
1.2 INTRODUÇÃO 11
1.3 JUSTIFICATIVA 12
1.4 OBJETIVOS 13
1.5 HIPÓTESE 14
1.6 DEFINIÇÃO DE TERMOS 14
CAPÍTULO DOIS REVISÃO DA LITERATURA 16
2.1 BIOFEEDBACK E NEUROFEEDBACK 16
2.1.1 Bases Conceituais 16
2.1.2 Modalidades de Biofeedback 17
2.1.3 Modalidades de Neurofeedback 24
2.2 O PROGRAMA DE TREINAMENTO PSICONEUROFISIOLÓGICO 38
2.2.1 Periodização do Programa de Treinamento 40
2.2.2 Avaliação e Linha de Base 45
2.2.3 Elaboração do Protocolo de Treinamento 49
2.3 INDICADORES DE EFICÁCIA 56
CAPÍTULO TRÊS CONSIDERAÇÕES FINAIS 60
3.1 CONCLUSÃO 60
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 62
8
CAPITULO UM PROJETO
1.1 HISTÓRICO
A preparação psicológica no desporto já se fazia presente nos Jogos
Olímpicos da Grécia Antiga, avaliando a relação entre as cargas de trabalho e a
recuperação com o estado de ânimo do competidor. Ao final do século XIX e início
do século XX, os estudos realizados nos laboratórios de medicina esportiva sobre a
regulação psicofisiológica na ação motora dão origem a diversas pesquisas que
enfatizam a influência da atividade cardiovascular, contração muscular e a fadiga, no
funcionamento do sistema nervoso dos atletas. Inseridos no campo da fisiologia do
esporte, diversos trabalhos publicados correlacionam a atividade do sistema nervoso
com o desempenho do atleta, investigando a natureza dos fenômenos psíquicos no
ambiente esportivo e sua influência nos mecanismos de transmissão neuromuscular
(PLATONOV, 2008, p.21- 26).
A produção de uma corrente elétrica na contração muscular foi descoberta em
1842 por Carlo Mantteucci em pesquisa com sapos e confirmada em músculos
humanos por H. Piper em 1907. Em 1908, Edmond Jacobson realiza as primeiras
pesquisas sobre o controle voluntário do relaxamento muscular, visando a
eliminação da tensão residual como método para acalmar a mente. Após a
publicação em 1936 do seu artigo The Course of Relaxation in Muscles of Athletes,
no American Journal of Psychology, a técnica, que ficou consagrada como
Relaxamento Progressivo de Jacobson, incorporou-se ao treinamento de atletas. O
treinamento do relaxamento progressivo, acompanhado por aparelhos que
registravam e informavam a atividade elétrica dos neurônios motores, é apontado
como a origem das técnicas de biofeedback (BFB) no campo esportivo.
(JACOBSON, 1959, p.10, 101-114; STRACK, LINDEN, WILSON, 2011, p. 30-31)
9
De grande importância para o desenvolvimento das técnicas de treinamento
psicofisiológico foi o método de relaxamento sistemático desenvolvido pelo
neurologista alemão J. H. Schultz, com base nas pesquisas no campo da hipnose
realizadas pelo também neurologista alemão Oscar Vogt. O método, publicado em
1932 com o título de Treinamento Autógeno - auto-relaxação concentrativa, consiste
basicamente na autoindução sugestiva da vivência das sensações de peso
(descontração muscular) e calor corporal (vasodilatação dos vasos periféricos),
sincronização rítmica da respiração e da frequência cardíaca (regulação
autonômica), e da sensação de calor na região do plexo solar, finalizando com a
sensação de frescor na testa (relaxamento facial). Segundo Schultz, a prática
sistemática do Treinamento Autógeno (TA) regulariza o equilíbrio autonômico
constituindo-se e um meio coadjuvante no tratamento da ansiedade, angústia,
depressão, neuroses, moléstias funcionais e o stress. A sequência dos exercícios
permite atingir o estado hipnótico de forma auto conduzida, e, em seguida, modificar
pensamentos automáticos disfuncionais através de repetição mental de formulações
específicas. Na literatura esportiva o TA aparece como ferramenta fundamental no
treinamento mental do atleta de alto rendimento. (SCHULTZ, 1967; HOSSRI, 1970;
ALBISETTI, 1996; VAINSHTEIN, 1969, p. 62-65; GOULD E WEINBERG, 2001, p.
277-278; WEINECK, 2003, p. 588-591)
Em 1875, Richard Caton realiza experimentos colocando eletrodos em
cérebros abertos de animais, e descobre flutuações na atividade elétrica do cérebro
acompanhadas de alterações da atividade mental. Em 1920, Hans Berger capta,
amplifica e grava o primeiro Eletroencefalograma (EEG) bruto através de eletrodos
posicionados no escalpo humano, preconizando em estudo publicado em 1926, que
alterações no EEG representavam desordens clínicas. O biofeedback EEG, ou
10
neurofeedback (NFB), surge na década de 1960, no Langley Porter Neuropsychiatric
Institute da Universidade da Califórnia, em San Francisco, com as pesquisas
realizadas por Joe Kamiya, correlacionando os estados psicológicos do sujeito em
treinamento com a leitura do seu EEG. Kamiya treinou alunos da universidade para
obterem o controle voluntário sobre a produção de ondas cerebrais na faixa entre 8
e 12 Hz, denominada de banda Alpha, no lobo parietal direito, abrindo as portas para
as pesquisas e o desenvolvimento do neurofeedback. Posteriormente, Barry
Sterman e colegas do Departamento de Anatomia e Neurologia da Universidade da
Califórnia, em Los Angeles, descobriram em pesquisas com gatos que os animais
desenvolveram o controle voluntário do ritmo de 12 a 15hz no córtex sensório-motor
pela total imobilidade corporal, reforçados por uma recompensa comestível. Sterman
cunhou a expressão Ritmo Sensório Motor (RSM) para a banda de frequência de 12
a 15hz, quando produzida no córtex sensório-motor (NICOLELIS, 2011, p. 267;
DEMOS, 2005, p. 16; GREEN, GREEN, WHALTERS,1970, apud. BLUMENSTEIN,
BAR-ELI, TENENBAUN, 2002, p. xii).
A década de 1970 marca o início do período científico do treinamento
esportivo. A evolução tecnológica é incorporada aos equipamentos e sistemas
computacionais de biofeedback e neurofeedback, tornando-os portáteis e
aumentando a velocidade e precisão da coleta e processamento das informações.
Os avanços na microinformática impulsionam os estudos dos processos fisiológicos
do cérebro e a sua influência sobre a atividade física, permitindo relacionar as
variáveis psiconeurofisiológicas com o comportamento e desempenho do atleta em
treinos e competições (TUBINO, MOREIRA, 2003, p.337-340; GOULD E
WEINBERG, 2001, p. 39).
11
A publicação do trabalho de Zaichowsky e Sime em 1982, aliando conceitos
de psicofisiologia e gestão do estresse esportivo, é apontada como o nascimento da
Psicofisiologia do Esporte. A modelagem do padrão cerebral e/ou das respostas
fisiológicas é incorporada ao macrociclo de treinamento dos atletas, em protocolos
que reúnem exercícios de neurofeedback (NFB) e/ou biofeedback (BFB),
obedecendo ao princípio da psicofisiologia, onde paralelamente, de forma
consciente ou inconsciente, alterações dos estados fisiológicos produzem alterações
nos estados mentais e emocionais, e vice-versa. (LEHRER, WOOLFOLK, SIME,
2007, p. 615; EDMONDS; TENENBAUM, 2012, p. 7; BLUMENSTEIN, BAR-ELI,
TENENBAUN, 2002, p. 2)
1.2 INTRODUÇÃO
A preparação do atleta exige a elaboração e o cumprimento de um programa
individualizado de treinamento, sistemático e de longa duração, onde diferentes
variáveis estão envolvidas, incluindo as fisiológicas e psicológicas. A teoria e
metodologia do treinamento esportivo reúnem diversas ciências auxiliares que se
cooperam para fornecer ao treinador, e ao próprio atleta, indicadores de
desempenho que permitem monitorar a qualidade dos exercícios e as características
das cargas de trabalho, auxiliando no planejamento e ajuste dos ciclos de
treinamento. Com base nesses indicadores, a equipe multidisciplinar avalia e modela
as funções fisiológicas e psicológicas, de forma que o atleta possa atingir o máximo
desempenho no período desejado (BOMPA, 2002, p. 4-5).
O estágio atual das ciências da computação permite, de forma não invasiva,
obter uma visão do que ocorre no interior do corpo do ser humano e do seu cérebro,
quando ele pensa, sente e atua. Utilizando equipamentos especiais que fazem a
interface entre o organismo e computador, o atleta aprende a perceber e controlar,
12
de forma voluntária respostas fisiológicas e padrões cerebrais. Para tanto, utiliza-se
técnicas computacionais de modelagem conhecidas como biofeedback (BFB) e
neurofeedback (NFB), ambas fundamentadas nos conceitos do condicionamento
operante, cujos alvos de treinamento são variáveis fisiológicas e/ou a atividade
elétrica ou hematológica do cérebro (EEG/HEG), respectivamente. Ambas as
técnicas, desenvolvidas em pesquisas conduzidas nos laboratórios universitários
com populações acadêmicas e, na sua maioria, para aplicação clínica, encontram-se
cada dia mais presente nos programas de treinamento que visam potencializar o
desempenho de atletas, estudantes, músicos e de artistas em diversas áreas, bem
como de executivos no ambiente corporativo (DEMOS, 2005, p. 20; STRACK,
LINDEN, WILSON, 2011, p. 13-15; EDMONS, TENENBAUM, 2012, p. 4-6).
A dificuldade de realizar pesquisas específicas com atletas de alto rendimento
torna crítica a habilidade de transferir o conhecimento adquirido no ambiente
controlado dos laboratórios para a prática diária do esporte. Para a inserção dessas
técnicas no macrociclo do treinamento, além das questões metodológicas, como
periodicidade e características das seções, planejamento das intervenções e
planificação no programa regular de treinamento, destaca-se a escolha de
indicadores objetivos que permitam mensurar e gerenciar o desenvolvimento do
treinamento psicofisiológico, em conjunto com os demais profissionais envolvidos na
preparação do atleta (BLUMENSTEIN, BAR-ELI, TENENBAUN, 2002, p.x-xii).
1.3 JUSTIFICATIVA
A adequação do treinamento psicológico dos atletas é um dos fatores determinantes
de sucesso, requerendo, como todas as demais áreas do treinamento esportivo, um
acompanhamento constante da sua evolução.
13
Apesar de serem técnicas de intervenção psiconeurofisiológica consagradas
no meio clínico e desportivo internacional, a utilização de protocolos que reúnam de
forma sistemática o biofeedback e neurofeedback no macrociclo do atleta, com
métricas que avaliem de forma clara o desenvolvimento obtido na sua aplicação, tem
pouca evidência na literatura brasileira especializada.
O trabalho se justifica pela necessidade de se preencher essa lacuna,
buscando nos autores pesquisados as informações que permitam estabelecer
diretrizes para a elaboração dos protocolos de treinamento psiconeurofisiológico,
bem como para a escolha dos indicadores objetivos que ratifiquem a sua eficácia e
proporcionem o gerenciamento do programa de treinamento.
O tema é relevante pela importância de entendermos a dinâmica da
elaboração dos protocolos e parâmetros de gestão do treinamento
psiconeurofisiológico, bem como a forma de inseri-los no macrociclo do atleta de alto
rendimento, permitindo a interlocução e a cooperação com os demais profissionais
da Ciência do Desporto que compõem a equipe multidisciplinar responsável pelo
treinamento do atleta.
1.4 OBJETIVOS
O presente trabalho tem como objetivo geral definir os indicadores
psiconeurofisiológicos correlacionados ao desempenho esportivo que permitam
avaliar a eficácia dos protocolos de treinamento de biofeedback e de neurofeedback.
Em especial o presente trabalho busca: 1) descrever as bases conceituais das
técnicas de biofeedback e neurofeedback. 2) descrever as modalidades de
biofeedback e neurofeedback adotadas no treinamento psiconeurofisiológico de
atletas de alto rendimento. 3) descrever a metodologia adotada pelos autores
14
pesquisados na elaboração e periodização dos protocolos de treinamento
psiconeurofisiológico do atletas de alto rendimento.
1.5 HIPÓTESE
Os protocolos de treinamento psiconeurofisiológico com base nas técnicas de
biofeedback e neurofeedback são utilizados por psicólogos do esporte em diversos
países, inseridos no macrociclo de treinamento de atletas de alto rendimento. Esses
protocolos incluem indicadores objetivos que comprovam a sua eficácia e permitem
monitorar a evolução do treinamento, auxiliando a equipe multidisciplinar na
elaboração e gerenciamento do macrociclo.
1.6 DEFINIÇÕES DE TERMOS
TREINAMENTO ESPORTIVO: é o processo ativo complexo regular
planificado e orientado para a melhoria do aproveitamento e desempenho esportivos
(CARL, 1989, apud WEINECK, 2003).
PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO ESPORTIVO: é a organização de tudo
o que ocorre nas etapas de preparação do atleta, como um sistema que inter-
relaciona os momentos de preparação e competição. É a integração do processo de
obtenção do rendimento (LA ROSA, FARTO, 2007).
PERIODIZAÇÃO DO TREINAMENTO ESPORTIVO: é a estrutura temporal do
Treinamento Esportivo organizada em ciclos anuais ou semestrais, estabelecida
cronologicamente de forma a alcançar certos objetivos previamente estabelecidos.
(DICK, 1988; MC FARLANE, 1986, apud LA ROSA, FARTO, 2007).
ABORDAGEM PSICOFISIOLÓGICA NA PSICOLOGIA DO ESPORTE: campo
da Psicologia do Esporte que acredita que a melhor forma de estudar
comportamentos durante o esporte e o exercício é examinar os processos
fisiológicos do cérebro e suas influências sobre a atividade física, avaliando
15
batimentos cardíacos, atividades de ondas cerebrais e potenciais de ação muscular,
determinando relações entre essas medidas psicofisiológicas com o comportamento
no esporte e no exercício (GOULD E WEINBERG, 2001).
TEORIA DO “U” INVERTIDO: modelo desenvolvido por Yerkes & Dodso
(1908) para representar a relação entre os estados de ativação fisiológica (arousal) e
o desempenho do atleta, representada por uma curva em forma de “U” invertido,
onde para cada tipo de atividade haverá um nível ótimo de ativação, correlacionado
ao melhor desempenho. Níveis mais baixos ou mais altos afetam negativamente o
desempenho. (PAPAIOANNOU & HACKFORT, 2014, p. 388)
ZONA INDIVIDUALIZADA DE DESEMPENHO IDEAL: modelo desenvolvido
por Hanin (1997) alternativo à teoria do “U” invertido, onde cada atleta possui uma
zona ótima de estado de ansiedade na qual produz o melhor desempenho, não
necessária mente correspondendo ao ponto central do contínuo de ativação. Fora da
zona ótima os níveis de desempenho são baixos. Ou seja, para a mesma atividade,
atletas diferentes apresentam níveis ótimos de ativação em pontos diferentes do
contínuo. (SAMULSKI, 2002, p. 169)
REPRESENTAÇÃO MENTAL (IMAGERY): processo cognitivo no qual
criamos ou recriamos uma experiência gerada pelas informações da memória,
envolvendo características quase-perceptuais, quase-sensoriais e quase-afetivas,
sob o controle voluntário da imaginação, podendo ocorrer na ausência dos estímulos
antecedentes reais que normalmente estariam associados à experiência verdadeira.
(MORRIS, SPITTLE & WATT, 2005, p. 19)
16
CAPITULO DOIS REVISÃO DA LITERATURA
2.1 BIOFEEDBACK (BFB) E NEUROFEEDBACK (NFB)
2.1.1 Bases Conceituais
No aprimoramento do desempenho esportivo e preparação
psiconeurofisiológica do atleta de alto rendimento, o BFB e o NFB têm sido usados
como técnicas para ensinar ao atleta a perceber e obter o controle voluntário sobre
suas respostas fisiológicas viscerais, sua atividade muscular e seus estados de
consciência, com base na leitura da atividade eletrofisiológica do organismo.
Utilizadas em conjunto ou em separado, as modalidades de BFB e NFB, capacitam o
atleta a desenvolver estratégias de autoregulação psiconeurofisiológica, frente ao
estresse de treinamento e competição, detectando e intervindo na atividade do
sistema nervoso central (SNC - NFB) e periférico autonômico (SNPA - BFB), de
forma a permitir o seu ótimo desempenho esportivo. (EDMONS, TENENBAUM,
2012, p. 3)
Tendo como paradigma o aprendizado por condicionamento operante, as
técnicas de BFB e NFB englobam as seguintes etapas: a) coleta de dados através
da aquisição do sinal eletrofisiológico da variável alvo do treinamento, por sensores
fixados na superfície da pele do atleta, de forma não invasiva, expressos, por
exemplo, em micro volts (µV) ou ciclos por segundo (Hz); b) processamento do sinal
por software específico (amplificação, tratamento matemático, análise e
interpretação), transformando os dados captados em informação; c) apresentação,
em tempo real, do feedback ao treinando, nas modalidades auditivas e/ou visuais,
informando-lhe o quão próximo se encontra do padrão estabelecido como meta do
treinamento para a resposta alvo; d) generalização do treinamento, ou seja,
execução do controle voluntário da resposta psiconeurofisiológica sem
17
intermediação e feedback instrumental. Um termômetro que informe ao atleta a sua
temperatura corporal enquanto ele realiza um processo operante para elevá-la (p.ex.
indução autógena da sensação de calor), é um sistema simples de treinamento em
BFB térmico. A escolha das variáveis psiconeurofisiológicas alvo determina quais
modalidades de BFB e NFB poderão ser incluídas no protocolo de treinamento.
(PEPER, 2008, p. 2; CRISWELL, p. 49-68)
Cada modalidade de treinamento em BFB correlaciona-se a uma resposta
psicofisiológicas utilizada como variável de trabalho, via de acesso indireto e
intervenção à atividade dos ramos simpáticos e parassimpáticos do SNA. As
modalidades de NFB têm como foco a autorregulação dos processos neurológicos
utilizando como via de acesso a atividade do SNC, em especial do cérebro, expressa
em bandas de ondas cerebrais (EEG - Eletroencefalograma) e/ou a atividade
metabólica do fluxo sanguíneo cerebral (HEG – Hemoencafalografia). Reunidas em
protocolos de treinamento, têm como objetivos melhorar o desempenho atlético
mediante o controle voluntário da ansiedade, redução ou indução da energia e
intensidade, aumento do foco e da concentração, redução da dor e da fadiga,
aumento da flexibilidade muscular, bem como a percepção e autoregulação do nível
de ativação psiconeurofisiológico visando atingir e manter-se na sua Zona
Individualizada de Desempenho Ideal. (STRACK, LINDEN & WILSON, 2011, p. 24)
2.1.2 Modalidades de Biofeedback
Na prática esportiva, quatro situações destacam-se pela relação com
dinâmica psiconeurofisiológica, sendo, portanto, passíveis de serem influenciadas
pelo treinamento em BFB e NFB: a) estado de excitação e nível de ativação; b)
estado emocional e atividade cognitiva pré-desempenho; c) atividade competitiva
(concentração e atenção); d) a atividade muscular e a aquisição de habilidades. Os
18
indicadores correlacionados às situações são: frequência e variabilidade cardíaca,
ritmo e volume respiratório, pressão sanguínea, temperatura da pele, atividade
eletrodérmica, atividade eletromiográfica e atividade eletro/hemoencefalográfica,
influenciados pelo treinamento psicofisiológico do atleta através das seguintes
modalidades de BFB e NFB: (EDMONDS, TENENBAUM, 2012; CRISWELL, 1995;
BLUMENSTEIN, BAR-ELI, TENENBAUN, 2002 p. 23-39; STRACK, LINDEN,
WILSON, 2011; GOMES, COGHI & COGHI, 2014; WELLS et al., 2012)
Eletromiografia BFB (EMG – de Electromyography) é a modalidade que
utiliza como variável de trabalho a leitura em µV da atividade bioelétrica produzida
pela contração muscular. Para a leitura utilizam-se dois eletrodos ativos, usualmente
de prata ou cloreto de prata, posicionados sobre o tecido eletricamente ativo, como a
barriga do músculo, e um de referência (terra), posicionado sobre tecido inativo,
como um osso. A distribuição dos eletrodos pode compreender uma área restrita,
quando o alvo de treinamento é a atividade de um músculo específico, ou
abrangente, quando o alvo do treinamento é o relaxamento de um grande grupo
muscular. Os músculos mais comuns de serem treinados em atletas visando o
relaxamento são os do ombro, pescoço, maxilar e os frontais da testa. Porém,
dependendo da modalidade e do gestual esportivo, qualquer atividade muscular
pode ser alvo de treinamento, como por exemplo, a contração disfuncional dos
músculos da mão durante o acionamento do gatilho pelo atleta do tiro esportivo.
EMG BFB é efetivo na redução voluntária das tensões musculares e da ansiedade,
bem como no treinamento corretivo da atividade muscular disfuncional que produz
tensões residuais desnecessárias e dores, fixando hábitos musculares prejudiciais
ao desempenho. O nível elevado de ansiedade provoca um aumento da tensão
muscular que retarda e dificulta os movimentos, afetando o tempo de reação e a
19
execução fluida do gestual, com consequente queda no rendimento atlético,
principalmente nas ações motoras finas.
Atividade Eletrodérmica BFB (EDA – de Electrodermal Active) ou Resposta
Galvânica da Pele BFB (GSR – de Galvanic Skin Response) é a modalidade que
utiliza como variável de trabalho a leitura da condutividade elétrica da pele em
função da sudorese, como indicador do nível de ativação autonômica simpática. A
resposta eletrodérmica ou atividade elétrica da pele é mensurada pela resistência,
em Ohms (Ω), ou condutividade, em µS (micro Siemens), medida entre dois
eletrodos posicionados na sua superfície. Devido à condutividade elétrica
determinada pela composição salina do suor da palma das mãos e da sola dos pés,
o aumento da sudorese durante os estados de excitação autonômica reduz a
resistência elétrica da pele, facilitando o fluxo de corrente que entre os dois
eletrodos. O medidor galvânico (resistência da pele) detecta a variação
transformando-a em informação visual e/ou auditiva que é apresentada
imediatamente ao treinando como feedback do seu estado de excitabilidade,
permitindo-lhe monitorar o progresso do treinamento. Dois elementos são
importantes na leitura eletrodérmica: as alterações do nível tônico e alterações do
nível fásico. O nível tônico representa a média da atividade eletrodérmica ao longo
de um determinado período de observação e é utilizado como nível referencial ou
linha de base do atleta. As alterações do nível fásico representam flutuações súbitas
da atividade eletrodérmica em função da ativação autonômica simpática aos
estímulos emocionais, medo ou ansiedade. O treinamento de EDA BFB visa ensinar
o atleta a perceber as alterações simpáticas em função de determinados estressores
situacionais, bem como capacitá-lo para, quando necessário, intervir para reduzi-la.
A ação é mediada por técnicas de relaxamento e/ou pela atividade cognitiva
20
apropriada, demonstrando ao atleta de forma prática a conexão mente/corpo e a
possibilidade de intervenção voluntária nos estados psiconeurofisiológicos através
de pensamentos e comportamentos funcionais. Na prática diária o EDA BFB
também é utilizado para regular o nível de ansiedade nos momentos pré-
competitivos e eliminar e/ou minimizar condicionamentos respondentes disfuncionais
como, por exemplo, situações pontuais ou específicas que estejam gerando um nível
de ativação simpática elevada e inadequada.
Temperatura Periférica da Pele BFB (PST – de Peripheral Skin
Temperature ou TB de Thermal Biofeedback) é a modalidade que utiliza como
variável de trabalho a temperatura da superfície da pele lida através de um termistor
(sensor cuja resistência elétrica varia termicamente), normalmente expressa em oC
(graus Celsius). Como nas demais modalidades, a variação da temperatura é
captada por sensores acoplados aos dedos ou à palma da mão do atleta e
transformada em sinal auditivo e/ou visual, apresentado ao atleta como feedback do
seu progresso no treinamento. O mecanismo psicofisiológico que sustenta o PST
BFB parte do princípio de que a ativação simpática produz a contração da
musculatura lisa dos vasos periféricos (vasoconstrição) reduzindo o fluxo sanguíneo
nessa região e direcionando-o para o cérebro, coluna vertebral e musculatura
estriada, áreas ativadas nas respostas de luta e/ou fuga. A redução do fluxo
sanguíneo periférico reduz a temperatura da pele, atuando como um indicador da
ativação autonômica simpática e do nível de ansiedade do atleta. Esse é o princípio
inverso do Treinamento Autógeno, onde a indução sugestiva da sensação de calor
corporal normaliza a pressão arterial, relaxando a ativação simpática e a
musculatura lisa dos vasos sanguíneos, aumentando consequentemente o fluxo
sanguíneo periférico e a temperatura corporal. Na pratica esportiva, mão fria é
21
normalmente interpretada como um sinal de ansiedade excessiva. Por outro lado,
induzir a sensação de calor é um recurso utilizado para tranquilizar e relaxar o atleta.
O treinamento PST BFB desenvolve no atleta a capacidade de influenciar a
temperatura corporal, sendo importante nas modalidades de inverno, nos esportes
aquáticos, e naqueles onde o atleta manuseia peças de metal, como no tiro
esportivo, onde a baixa temperatura ambiente dificulta o acionamento fluido da tecla
do gatilho. É normalmente utilizado em conjunto com outras modalidades de BFB
visando o controle do nível de ansiedade pré-competitiva, no relaxamento da
ativação simpática ou no treinamento de relaxamento corporal.
Variabilidade Cardíaca BFB (HRV – de Heart Rate Variability) é a
modalidade que utiliza a frequência cardíaca como variável de trabalho em conjunto
com a frequência respiratória e a atividade cerebral. Destaca-se das demais
modalidades pela influência holística no balanço psiconeurofisiológico do atleta, fato
que justifica descrevê-la com mais detalhes. Alguns termos específicos devem ser
definidos para entendermos como o HRV BFB atua no sistema nervoso do atleta: a)
Frequência Cardíaca (FC ou HR de Heart Rate) é o número de contrações
cardíacas por minuto (batimentos cardíacos ou pulsos cardíacos), medido pela
ocorrência dos picos máximos identificados no pela letra “R” proveniente da
contração dos ventrículos (despolarização ventricular). A FC ou taxa cardíaca, é
função do intervalo de tempo entra cada batimento cardíaco, representado pela sigla
R-R; b) Variabilidade Cardíaca (VC ou HRV de Heart Rate Variability) é a variação
temporal entre um batimento cardíaco e o próximo, ou seja, a diferença entre
intervalos de batimentos cardíacos sequenciais (R-R) no eletrocardiograma, durante
um período de tempo. Baixa variabilidade cardíaca está associada às desordens de
humor e ansiedade, enquanto alta variabilidade cardíaca está associada à boa
22
saúde e bem estar; c) Taxa de Respiração (TR ou RR – Respiration Rate) é o
número de ciclos respiratórios (inspiração + expiração) por minuto (r/min); d) Razão
de Respiração é a relação entre o tempo de inspiração e expiração em um mesmo
ciclo respiratório; e) Arritmia Sinusal Respiratória (ASR ou RSA de Respiratory
Sinus Arrhythmia) é a flutuação normal da FC caracterizada pela desaceleração da
FC quando o atleta expira e a aceleração da FC quando ele inspira; f) Reflexo
Barorreceptor ou Barorreflexo é o circuito de feedback que interliga a FC e a
pressão sanguínea, atuando como um regulador da primeira em função da segunda.
A FC é reduzida quando a pressão sanguínea aumenta e acelera quando ela
diminui, atuando como mecanismo de controle homeostático; g) Frequência de
Ressonância é a frequência respiratória que produz a maior amplitude de
variabilidade cardíaca, alcançada pela ressonância entre dois mecanismos de
regulação cardiovascular: o reflexo barorreceptor e a arritmia sinusal respiratória, em
conjunto com um estado de tranquilidade mental e baixo processamento cognitivo. O
termo foi cunhado pelo fisiologista russo Evgeny Vaschillo no início dos anos 1980,
em estudo feito com astronautas sobre a influência do ritmo respiratório sobre a
amplitude da variabilidade cardíaca; h) Análise Espectral é o método estatístico
utilizado para quantificar em unidade de potência a atividade da variabilidade
cardíaca durante determinado período de gravação, sendo apresentada
graficamente na tela do computador segmentada em três bandas de frequência:
muito baixa frequência (VLF de very low frequency), engloba a atividade entre 0,001
a 0.07 Hz; baixa frequência (LF de low frequency), atividade entre 0,08 a 0,14 Hz; e
alta frequência (HF de high frequency), atividade entre 0,15 e 0,4 Hz.
O objetivo do treinamento em HRV BFB é capacitar o atleta a atingir e manter
a coerência cardíaca, ou seja, a sincronia e a ressonância entre o ritmo cardíaco
23
modulado pela arritmia sinusal respiratória e o ritmo cardíaco modulado pela
atividade barorreflexa. A atividade da variabilidade cardíaca na banda de alta
frequência (HF - 0,15 a 0,4 Hz) representa o tônus parassimpático. Quando o atleta
executa a respiração diafragmática na taxa de 6 r/min a atividade em HF decresce,
dando lugar ao aumento da atividade na faixa de baixa frequência (LF - 0,08 a 0,14
Hz). A atividade nessa banda de frequência, em especial 0,1 Hz (taxa de 6 ciclos por
minuto), caracteriza o estado de coerência cardíaca produzido pelo equilíbrio da
atividade simpática e parassimpática e modulado pelo reflexo barorreceptor. A
frequência ressonante de 0,1 Hz é considerada, portanto, um indicador de harmonia
autonômica, correlacionada com aumento na atenção e concentração, relaxamento
muscular, redução no tempo de reação, capacidade de adaptação ao estresse,
controle emocional e zona de ótima performance. A redução da potência em HF
indica o aumento na capacidade de enfrentamento de situações de estresse e
controle da ansiedade modulada pela atenuação da atividade simpática. Por outro
lado, a atividade na faixa de frequência muito baixa (VLF – 0,001 a 0,07 Hz) indica o
acréscimo da atividade simpática correlacionada com inquietude mental e diálogo
interno excessivo. No treinamento de HRV BFB o atleta é levado a concentrar a
atividade na frequência de 0,1 Hz, reduzindo tanto a atividade em HF como em VLF.
O software de HRV BFB deve informar ao atleta os gráficos representativos da RR e
HR, bem como o espectro da atividade em cada faixa de frequência. Dependendo
do equipamento utilizado, a tela ainda poderá fornecer a taxa respiratória, os
gráficos de temperatura e da atividade eletrodérmica. Embora recente, pelos
resultados positivos e o desenvolvimento de equipamentos e sistemas cada dia mais
adequados ao trabalho de campo, o HRV BFB vem ganhando considerável espaço
no treinamento psiconeurofisiológico.
24
2.1.3 Modalidades de Neurofeedback
Obedecendo os mesmos princípios do condicionamento operante, as
modalidades de Neurofeedback (NFB), também conhecidas como Biofeedback EEG
atuam no SNC utilizando a atividade elétrica cerebral (EEG e HEG) como variáveis
de trabalho e via de acesso para o treinamento e alvo de intervenção. Por serem
modalidades pouco difundidas no Brasil, optamos por transcrevê-las em maiores
detalhes. (DEMOS, 2005, p. 23; CHAPIN & RUSSEL-CHAPIN, 2014, p.94;
EDMONDS, TENENBAUM, 2012, p. 17)
O NFB baseia-se nos princípios de que a atividade elétrica do cérebro reflete
os estados mentais e o comportamento e que essa atividade pode ser treinada para
modifica-los. Os diferentes padrões de EEG/HEG correlacionados, por exemplo, aos
estados de concentração focada ou o comportamento de tolerância ao estresse,
podem ser identificados, treinados (reforçados ou inibidos) e ativados
voluntariamente. (THOMPSON E THOMPSON, 2003, p. 4)
No NFB EEG, o sinal da atividade bioelétrica neural é captado por eletrodos
posicionado no escalpo do atleta e enviado para o equipamento denominado
Interface Cérebro Computador (BCI de Brain Computer Interface) que o amplifica e o
remete ao computador na forma de onda denominada de EEG bruto. No
computador, o sinal bruto é tratado por um programa computacional específico e
segmentado em determinadas bandas de frequência distribuídas entre 0,5 Hz a 60
Hz. A segmentação em bandas é realizada por filtros digitais matemáticos e por
análise estatística, apresentando-as na forma numérica ou gráfica nas dimensões de
frequência (Hz – tipos de ondas), amplitude (µV – força da onda) e relação de
conectividade (fase, coerência e sincronia). A filtragem também elimina a atividade
25
indesejada, denominada artefato, produzida por fontes como interferência elétrica,
contração muscular, piscar de olhos, etc. Os padrões de onda constituem a base de
dados utilizada tanto na avaliação, como na montagem e execução do treinamento.
A decomposição do EEG bruto em bandas de ondas é denominada de QEEG (de
Quantitative Electroencephalogram), pela transformação dos sinais em medidas
numéricas que possibilitam quantificar a atividade elétrica de uma frequência em
particular (p.ex. 10Hz) ou dentro de uma banda de frequência (p.ex. 8-12Hz).
(SOUTAR, LONGO, 2011, p. 93-117; CHAPIN & RUSSEL-CHAPIN, 2014, p. 88-89;
THOMPSON E THOMPSON, 2003, p. 4-35)
Softwares especiais são desenvolvidos para a avaliação e/ou treinamento. Na
avaliação os dados são lidos, processados e transformados em informações
numéricas ou gráficas que, depois de comparadas a parâmetros, indicadores,
padrões estatísticos ou banco de dados normativos, fornecerão subsídios para o
treinamento. No treinamento, além de receber e processar o sinal dos eletrodos, o
software identifica e informa ao treinando o quanto a sua atividade neuronal está se
aproximando ou se afastando do padrão pré-definido como objetivo do treinamento.
Ou seja, para obter a recompensa o cérebro do treinando deverá inibir ou aumentar
o percentual ou amplitude de determinada banda de frequência e/ou relações de
conectividade, nas redes neurais sob os eletrodos. A reforço é dado em tempo real
através de feedback sonoro e/ou visual, permitindo a modelagem do padrão alvo. Na
medida em que o treinando atinge o objetivo do treinamento, este pode ser alterado,
criando um novo padrão de exigência. (COLLURA, 2014, p. 5-14)
Aprender a mudar a imagem/som do computador reflete a autoregulação do
EEG e dos estados mentais subjacentes. Na medida em que os padrões de EEG
refletem mudanças nas relações entre os sistemas tálamo - gânglios basais -
26
corticais, o treinando está realmente aprendendo à autorregular esse complexo e
dinâmico sistema neural. Modelar padrões mentais funcionais utilizando como
feedback a atividade neural subjacente, desenvolve no treinando a capacidade de
acessar de forma voluntária e fora do ambiente de treinamento os melhores estados
mentais. Os avanços tecnológicos e computacionais contribuem para o
desenvolvimento de equipamentos cada vez menores e de processamento mais
rápido, capazes de relacionar a atividade cerebral aos comandos de geradores de
tons, jogos de computador e drivers de vídeo, aumentando bastante a flexibilidade e
a eficácia do treinamento. Três características são importantes na elaboração do
feedback: rapidez, precisão e estética. (COLLURA, 2014, p. 5-14; THOMPSON,
THOMPSON, 2003, p. 3-7; DEMOS, 2005, p. 5)
O significado exato das ondas do EEG ainda não é bem conhecido, porém,
sabe-se que são geradas pela atividade sináptica, principalmente proveniente do
tálamo, sobre os neurônios piramidais do córtex cerebral, ocorrendo de formas
variadas de acordo com a atividade talâmica na comunicação com o córtex,
enviando ou filtrando as informações provenientes dos sistemas sensoriais e de
outras regiões corticais. Os padrões e as formas variam conforme a voltagem, a
frequência e conectividade da atividade sináptica cortical. (LENT, 2005, p. 538)
Todas as frequências e faixas de frequências são úteis, ou seja, não há uma
frequência melhor. Cada uma é apropriada para certo momento ou tarefa. Podemos
pensar as faixas de frequências como as marchas do carro, onde todas são
importantes e úteis em situações distintas, e precisamos aprender a muda-las de
forma suave e rápida. A eficiência do cérebro é determinada pela flexibilidade de
mudança rápida de uma faixa de frequência para outra, dependendo da tarefa
demandada. (THOMPSON, THOMPSON, 2003, p. 37; COLLURA, 2014, p. 146)
27
Para administrar o treinamento em NFB, é fundamental conhecer as
correspondências entre bandas de ondas, estruturas neuroanatômicas geradoras e
os estados mentais correlatos, resumidas a seguir. Cabe ressaltar que adotamos os
limites de bandas de ondas de maior consenso, uma vez que existem pequenas
variações entra os autores pesquisados. (THOMPSON & THOMPSON, 2003, p. 37-
40; MASCARO, 2008, p. 52-54; CHAPIN & RUSSEL-CHAPIN, 2014, p. 99-103;
SWINGLE, 2008, p. 43-59; DEMOS, 2005, p. 112-121; STRACK, LINDEN &
WILSON, 2011, p.180-181)
Ondas Delta (δ) – abrange a faixa de frequências mais lentas de 0,5 a 3 Hz,
presentes no estado mental de sono profundo, ou seja, no estágio 4 do sono não-
REM1, e nos momentos de redução da atividade dos neurônios piramidais,
caracterizando a mente inconsciente. São ondas dominantes no cérebro do bebe até
seis meses de idade, representando até 50% da atividade cerebral do adulto na
quarta fase do sono, relacionada às funções hipotalâmicas e liberação do hormônio
de crescimento. Quando produzidas no estado de vigília atingem 5% da atividade
cerebral, correlacionadas à intuição e a detecção de um perigo iminente,
característico da resposta de orientação. É faixa de frequência estimulada por
atividades que demandem uma percepção mais refinada, ligada a ideias ou
conceitos, arte ou à compreensão da experiência subjetiva alheia. Porém,
dependendo da amplitude pode significar um cérebro lento e ineficiente ou mesmo
dano cerebral e infecções virais. Amplitudes altas no córtex pré-frontal podem estar
relacionadas a dores crônicas tais como fibromialgia. No córtex superior central
indicam problemas de aprendizagem e atenção. Artefatos como, movimento de
eletrodos, movimento dos olhos ou piscar de olhos imitam o sinal de delta no EEG.
1 As quatro fases do sono que ocorrem entre a vigília e o sono REM. (BEAR, CONNORS,
PARADISO, 2008, p. 595)
28
Ondas Theta (θ) – engloba as frequências entre 4 e 8 Hz observadas no
estágio 1 do sono não-REM e no sono REM2, dominantes no EEG do ser humano
dos 6 meses a 6-7 anos de vida. Oriunda da atividade talâmica e do sistema límbico
está relacionada à mente subconsciente e seus conteúdos emocionais,
pensamentos globais, crenças e valores, bem como à criatividade, espiritualidade e
ao potencial individual, como habilidades, vocações, etc. Combinada
adequadamente com as demais frequências, produz, seja casualmente (sonhando
acordado) ou pelo treinamento (meditação, treinamento autógeno e NFB), o estado
mental hipnótico, na faixa de 6 a 8 Hz. A frequência de 7 Hz é útil no processamento
cognitivo das informações e das memórias, estando presente também nos processo
de foco interno, representação mental, e nos momentos de insight. Amplitude alta na
faixa de 4 a 5 Hz está relacionada à sonolência, depressão e ansiedade. A atividade
normal no lobo occipital está associada à capacidade de quietude mental voluntária,
enquanto a baixa atividade pode indicar baixa tolerância ao estresse, predisposição
a vícios, distúrbios de ansiedade e de sono, pela dificuldade em desligar o cérebro.
As áreas afetadas por traumatismo apresentarão elevada atividade em theta.
Ondas Alpha (α) – com forma senoidal regular abrange o intervalo de
frequência entre 8 a 14 Hz e, ao que tudo indica, são produzidas também por
geradores talâmicos. Relaciona-se com estados meditativos de calma e
tranquilidade interior, foco relaxado, estado observador, calmo, porém atento, sendo
descrito como o ritmo da marcha lenta. É a frequência dominante no EEG de 90%
das pessoas dos 9 anos até a idade adulta, quando de olhos fechados. Está
correlacionada com os estados mentais que permitem visualizar o material
proveniente do mundo interno envelopado em imagens sensorialmente enriquecidas
2 REM – sono de movimento rápido dos olhos. É uma das fases do sono. (BEAR, CONNORS,
PARADISO, 2008, p. 595)
29
(visuais, táteis, olfatórias e gustatórias). É a ponte entre a mente consciente, em
beta, e o subconsciente, em theta. Usuários de maconha apresentam, mesmo com
os olhos abertos, uma grande produção de ondas alpha que perdura por vários dias.
Na faixa de 8 a 10Hz está associada aos estados de clama e relaxamento, porém
sem atenção ao mundo exterior. Já a faixa de 11 a 12 Hz, está associada ao estado
mental de consciência ampliada onde somos capazes de responder a uma gama de
alterações no nosso ambiente, com rapidez e precisão. É, portanto, a faixa alvo do
treinamento de atletas de alto rendimento, pela correlação com o estado de calma
física e mental, economia de energia e prontidão para a ação. A consciência
ampliada é comumente referida por atletas como o estado mental de fluidez, onde as
altas performances acorrem. Treinar a produção e sincronia da atividade entre 11 a
12 Hz (alpha rápido) é provavelmente a meta mais comum no treinamento de NFB
para melhorar o desempenho motor e intelectual. No estado de vigília com os olhos
fechados as ondas alpha devem ser predominantes na área occipital. Porém,
excesso de alpha na área frontal pode estar associado a problemas de atenção e
dificuldade de planejamento, organização sequencial e acompanhamento de
atividades, bem como, hiperverbosidade e distúrbios de sono. O desequilíbrio da
atividade alpha no pré-frontal, com mais alpha no lado esquerdo do que no direito,
pode acarretar depressão e comportamento de evitação com pensamentos
negativos predominantes em situações de estresse emocional.
Ritmo Sensório-Motor (SMR de Sensory Motor Rhythm) é a banda de 13 a
15 Hz medida na região do córtex sensório-motor que vai de orelha a orelha
passando pelo topo do crânio, sendo produzida pelo núcleo ventral basilar do
tálamo, correlacionando-se ao estado de pausa ativa e redução da atividade das
vias sensoriais e/ou motoras. É o estado de prontidão para executar um movimento,
30
um estado calma ativa (corpo calmo e mente alerta) que permite o ajuste
antecipatório à ação. Pela conexão das áreas sensoriais e motoras o treinamento
para aumentar a atividade da banda SMR é usado no aprimoramento da atividade
atlética, sendo também o principal alvo de treinamento nos casos de hiperatividade
e/ou impulsividade, e demais questões relacionadas com a atividade motora e
sensorial como epilepsia, síndrome de Tourette, tiques, dor crônica, tremores
corporais, dores de cabeça, distonia, etc. Em qualquer outra região do córtex que for
encontrada atividade na faixa de 13 a 15 Hz será denominada de beta e terá um
formato arrítmico de ondas rápidas, diferente do RSM.
Ondas Beta (β) é a faixa que reúne as frequências mais rápidas, acima de 12
Hz, produzidas no tronco cerebral e no córtex, associadas ao processamento da
informação, a atenção e orientação externa. Da denominação exclui-se a faixa de 13
a 15 Hz, produzida no córtex sensório motor e denominada SMR. Quando
produzida na região cortical indica a ativação da área específica abaixo do eletrodo.
Representa o estado de alerta, extremamente focado, atento, lógico, de solução de
problemas, sendo a base da atividade cerebral consciente e da cognição. É em Beta
que as operações racionais acontecem, bem como as experiências e as percepções
de como elas nos afetam. Ao ativá-la, as redes neurais consomem níveis altos de
energia, sendo importante que só ocorra quando necessário e, mais importante, que
desative tão logo termine a tarefa, retornando ao descanso. A hipoatividade em beta
no córtex frontal está associada à desatenção, dificuldades de aprendizagem e
compreensão. A hiperatividade em beta na parte posterior do córtex configura uma
mente analítica e crítica, interpretativa e julgadora, comportamento característico dos
estados de ansiedade, com baixa tolerância ao estresse, problemas de sono e
depressão. Nessa mesma região, a atividade em beta alto (20 a 30 Hz) está
31
correlacionada à dependência de álcool ou drogas, preocupação desproporcional,
hipervigilância, pensamentos ruminantes e ataques de pânico, sendo o padrão de
onda responsável pela distração e queda no rendimento atlético. Já no córtex medial
pré-frontal (giro cingulado anterior), encontramos beta alto em sujeitos com
transtorno obsessivo-compulsivo e em crianças autistas. A faixa de 15 a 20 Hz,
conhecida como beta útil, é ativada na resolução de um problema, tendo um
aumento significativo de amplitude no momento exato da execução da tarefa, com
redução de ondas teta e alpha baixas (8 a 10 Hz). No estado de vigília com os olhos
fechados, a atividade beta deve ser predominante na área frontal. Espera-se
também maior presença de beta no hemisfério esquerdo. Cabe ressaltar que as
ondas theta e beta normalmente são analisadas em conjunto através da razão
theta/beta.
Ondas Gama (ɣ) – faixa que reúne as frequências de 38 a 42 Hz, ou mais
especificamente 40 Hz ou “ritmo Sheer”, em homenagem ao pesquisador David
Sheer pelos trabalhos sobre o aumento da atividade de 40 Hz. É encontrada em
todo o cérebro e está relacionada com a eficiência cognitiva, aprendizado,
compreensão da linguagem, retenção da memória, ao aumento da atenção e foco
concentrado, no tipo de tarefa atencional onde o sujeito consolida diferentes
aspectos de um objeto em uma única percepção. No alto desempenho, além dos
benefícios já citados, o treinamento em gama ativa as funções cognitivas altas e
promove a organização cerebral, aperfeiçoando a integração e transferência das
informações e desenvolvendo o sentimento de força e energia mental. Em NFB a
atividade gama é treinada para consolida o aprendizado e as mudanças
neurológicas. As pesquisas de David Sheer utilizando pranchas de equilíbrio
32
assinalaram o incremento da atividade de 40 Hz nos momentos de equilíbrio correto
e ritmo preciso.
Tanto na avaliação como no treinamento em NFB utilizamos técnica e
terminologia específica dos neuroterapeutas para posicionamento dos eletrodos e
designação das áreas cerebrais, denominado sistema internacional 10-20, que
atribui letras e números para identificar os pontos ou sítios no escalpo. (DEMMOS,
2005, p. 35 et.seq.)
É um sistema de coordenadas onde os números ímpares representam os
pontos no hemisfério esquerdo e os pares no direito, enquanto as letras se referem
aos lobos ou regiões específicas, sendo F (frontal), Fp (polo frontal), T (temporal), O
(occipital), P (parietal), C (central ou córtex sensório motor), Z (linha central que
separa os dois hemisférios ou fissura inter-hemisférica). Assim, o site Fpz representa
o ponto anterior ventral medial do lobo pré-frontal, enquanto P3 representa o ponto
posterior dorsal lateral esquerdo do lobo parietal.
As informações sobre as especializações de cada área do cérebro, obtidas
em pesquisas e intervenções cirúrgicas, permitiram correlacionar as áreas com
funções e sintomas específicos, destacando a importância desse conhecimento
Figura 1 - posição dos sites no sistema internacional 10-20
Fonte: http://recibe.cucei.udg.mx/revista/en/vol1-no1/biomedica.html
33
tanto na avaliação como no treinamento em NFB. Uma das pesquisas mais famosas
sobre a localização das áreas corticais foi realizada pelo neuroanatomista alemão
Korbinian Brodmann. Baseado no tipo de célula que reuniam, Brodmann distinguiu
52 duas regiões no neocórtex e publicou em 1909 o seu mapa citoarquitetônico.
Posteriormente pode-se comprovar a relação entre as áreas corticais de Brodmann
com as diferentes funções que executam.
Conhecer a correlação entre os sites do sistema 10-20, as funções cerebrais
e as áreas de Brodmann é muito importante para a interpretação do mapa cerebral e
manejo do treinamento. A tabela abaixo sintetiza essas correlações: (BEAR,
CONNORS, PARADISO, 2008, p. 197; SOUTAR & LONGO, 2011, p. 46; DEMOS,
2005, p. 39-55; CHAPIN & RUSSEL-CHAPIN, 2014, p. 134; COLLURA, 2014, p.
205-221)
Figura 2 – Áreas de Brodmann
Fonte:http://www.thebrainperformancecenter.com/our-
34
SITE ÁREAS DE BRODMANN
FUNÇÃO
Fpz 10, 11, 32 Inibição emocional, sensibilidade emocional, impulsividade; Flexibilidade mental, cooperação, valores morais, julgamento Motivação e atenção.
Fp1 10, 11, 46
Atenção lógica, valência emocional cognitiva, concentração, planejamento, tomada de decisão, conclusão de tarefa, recuperação episódica verbal e emoções positivas; Memória de trabalho visual; Orquestração das interações entre redes neurais; Consciência social - comportamento de aproximação; Irritabilidade, pensamentos intrusivos, depressão, TDAH, rigidez de foco;
Fp2 10, 11, 46
Atenção emocional, julgamento, sentimento de self, autocontrole, freio de impulsos, processamento facial e de objetos, inibição emocional; Memória episódica verbal; Impulsividade, indelicadeza (falta de tato), mania; Consciência social – comportamento de evitação Medos e ansiedade, controle emocional excessivo.
F7 45, 47, 46
Fluência e expressão verbal (Área de Broca F7-T3), regulação cognitiva do humor, memória de trabalho visual e auditiva, atenção seletiva e dividida (válvula de controle atencional); Memória trabalho semântica (recuperação de palavras). Problemas verbais na busca de palavras, controle de estímulos externos.
F8 45, 47, 46
Expressão emocional, regulação do humor endógeno, reconhecimento facial, processamento emocional, manutenção da atenção, prosódia, desenhar (mão direita); Memória de trabalho – visual e espacial, Gestalt; Hipersensibilidade para a informação do discurso de terceiros, codificação social;
F3 8, 9, 46
Planejamento motor das extremidades superiores direitas, coordenação motora direita fina, memória de trabalho – recuperação de memória episódica visual; Codificação intelectual, reconhecimento facial, processamento lógico incluindo de objetos, planejamento e solução de problemas, interpretação emocional, elevação do humor, humor positivo, WCST – inflexibilidade, rigidez Depressão, funções executivas, TOC
F4 8, 9, 46
Planejamento motor das extremidades superiores esquerdas, coordenação motora esquerda fina, memória de trabalho e recuperação episódica e semântica verbal, vigilância, seletividade e sustentação atencional, Consciência social, tato social, organização do diálogo, uso de analogia e ironia; Hipervigilância.
Fz 8, 6, 9
Planejamento motor das extremidades inferiores e da linha medial, correr, andar, chutar; Alterações na personalidade, comportamento social, valores morais e firmeza de caráter, controle da impulsividade, respostas e inibição emocional; Atenção, intensão e motivação – apatia e pobreza de discurso; Cingulado anterior (possibilidade) – atenção interna X externa; Eferências do gânglio basal; Comportamentos antissociais, desafiador oposicionista; TDAH, problemas de atenção e motivação, TOC.
C3 3, 1, 4
Integração sensório-motora, planejamento motor das extremidades superiores direitas, escrita (mão direita), memória de curto prazo, atenção, respostas atencionais e processamento mental; Escrita pobre e hiperatividade motora;
C4 3, 1, 4 Integração sensório-motora, planejamento motor das extremidades superiores esquerdas, escrita (mão esquerda), memória de curto prazo, calma, emoção e empatia; Hipervigilância.
35
Cz 6, 4, 3
Processamento e integração sensório-motora das extremidades inferiores e da linha medial, marcha, habilidades motoras finas e destreza manual; Controle da impulsividade, estabilidade de humor; Gânglios da base, eferências talâmicas, substância negra; TDAH, problemas de atenção e motivação.
T3 42, 22, 21
Lógica, compreensão da linguagem, processamento fonológico, expressão e entendimento verbal, audição (bilateral); Área de Wernicke – diálogo (voz) interior, supressão de zumbidos; Memória verbal de longo prazo, processamento declarativo e episódico; Eventos Sequenciais – visualização Amígdala e área hipocampal; Problemas de memória e linguagem, irritabilidade.
T4 42, 22, 21
Formação e armazenagem de memória autobiográfica e emocional, audição (bilateral), personalidade, colorido emocional (raiva, tristeza, agressividade), interpretação da entonação da voz, habilidades musicais; Expressão não verbal – conteúdo emocional; Reconhecimento de objetos, pistas sociais, organização em categorias; Visualização e córtex auditivo.
T5 39, 37, 19
Lógica, compreensão verbal, reconhecimento de palavras, processamento auditivo, memória de curto prazo, voz interior, construção do significado, significado metafórico; Entendimento do significado, confusão, esforço de leitura e resolução de problemas; Acalculia.
T6 39, 37, 19
Reconhecimento facial e de símbolos, entendimento do conteúdo emocional, pistas sociais, memória de longo prazo, processamento auditivo; Problemas de memória faciais e musicais; Conexões com a amígdala.
P3 7, 40, 19
Percepção e processamento cognitivo da metade direita do espaço, relação espacial, sensações multimodais, resolução de problemas com dígitos e matemática (cálculo), organização da informação, práxis; Associação e compreensão verbal e gramática complexa, raciocínio verbal; Pensamentos excessivos e preocupação com os seus limites.
P4 7, 40, 19
Percepção e processamento cognitivo da metade esquerda do espaço, relação espacial, sensações multimodais, práxis, processamento visual, bloco de notas do mapa espacial e geométrico, consciência espacial e geometria, vigilância; Associação e raciocínio não verbal, senso de direção; Personalidade – auto zelo excessivo (egoísmo), vitimização; Agnosia, apraxia, limites de contexto, ruminação emocional.
Pz 7, 5, 19
Percepção da linha medial, relações espaciais, práxis, Mudança do foco atencional, integração atencional, perseverança, autoconsciência, área associativa de orientação, encontro de rota; Agnosia, apraxia, problemas com perseverança, vigilância sensorial.
O1 18, 19, 17 Processamento visual metade direita, memória de procedimento, reconhecimento de padrões, cores, movimento, preto e branco, percepção de bordas, sonho.
O2 18, 19, 17 Processamento visual metade esquerda, memória de procedimento,
reconhecimento de padrões, cores, movimento, preto e branco, percepção de bordas, sonho.
Oz 18, 17, 19 Processamento visual, sensações visuais primárias, leitura, alucinações.
36
Como visto anteriormente, frequência da onda representa a velocidade do
sinal em ciclos por segundo (Hz) e sua amplitude representa a altura do sinal em
micro volts (µV). A leitura feita por dois eletrodos ativos mede a diferença de
potencial entre dois sites diferentes, numa montagem denominada sequencial (ou
bipolar), onde teremos ainda um ou dois eletrodos de referência e um terra. Na
montagem sequencial a medida representará a comparação entre duas ondas e os
valores apurados irão depender da variável temporal denominada fase na
comparação morfológica entre as duas ondas, avaliando o padrão de comunicação
entre os dois sites. (DEMOS, 2005, p. 68-85; SOUTAR & LONGO, 2011, p. 47-59)
Duas ondas estarão em fase quando o traçado de ambas sobe e desce ao
mesmo tempo, cruzando o eixo horizontal no mesmo ponto. Quando as subidas e
descidas são similares, porém não ocorrem ao mesmo tempo, as ondas estão
defasadas, sendo a diferença de tempo expressa em graus de defasagem. Ondas
opostas estão defasadas em 180º. Quando as ondas de dois sites apresentam
ângulo de fase consistente, elas estão em coerência, indicando que há comunicação
entre os sites. Coerência é, portanto, uma medida quantitativa da informação que
está sendo trocada entre os sites, definida pela relação estável de fase ao longo do
tempo. Enquanto a coerência representa a quantidade de informação, a fase
representa a velocidade da comunicação entre os sites. Haverá momentos em que
será necessário transferir uma quantidade pequena de informação com alta
velocidade (baixa coerência e fase pequena) e outros onde será necessário
transferir uma quantidade maior de informação com velocidade mais baixa
(coerência mais alta e fase maior). Ou seja, não há coerência ou fase boa ou ruim, e
sim a mais adequada à rede neuronal, à banda de onda que está em análise e à
tarefa a executar. Hipocoerência indica uma péssima comunicação com máxima
37
independência entre sites, enquanto hipercoerência indica comunicação e
dependência mantida entre os dois sites, o que também pode não ser útil quando a
tarefa terminar. Quando dois sites estão em coerência e em fase, eles estão em
sincronia, conseguindo altas taxas de transferência. Os conceitos de fase e
coerência são muito importantes na análise de como as redes neurais estão se
comunicando e que tipo de comportamento está sendo produzindo. Diferentes níveis
de coerência e fase levam a diferentes padrões funcionais. Em termos de
treinamento, a coerência poderá ser treinada para subir ou baixar, sendo que a
coerência em alpha pode ser treinada bilateralmente, occipital e parietal, sem efeitos
colaterais. (COLLURA, 2014, p. 116-126)
Como última modalidade, cabe citar o treinamento em Hemoencefalografia
NFB (HEG NFB). A técnica, desenvolvida por Hershel Toomim em 1995, utiliza o
nível de oxigenação do sangue como varável de trabalho e a informação da sua
leitura espectroscópica como feedback para o treinamento do controle voluntário do
fluxo sanguíneo (perfusão) no CPF. O princípio é simples: quando você ativa uma
área do cérebro você consome mais oxigênio nessa área e o sangue fica mais
vermelho. A cor azul indica hipoperfusão ou baixos níveis de oxigênio no sangue. A
ativação voluntária permite uma forma de exercício cerebral, incrementando a
sinaptogênese e a angiogênese na região estimulada. O fluxo sanguíneo é lido por
um equipamento denominado Near Infrered Spectroscopy (NIRS) que mede o
quanto vermelho está o sangue circulante na região pela emissão de um fecho de
luz infravermelha que penetra no crânio e reflete retornado ao equipamento. A
atividade metabólica no processamento do oxigênio e da glicose torna o sangue
mais vermelho indicando maior atividade na região. A informação de aumento ou
diminuição do fluxo sanguíneo é enviada ao computador que a transformada em
38
feedback auditivo e/ou visual (vídeo ou jogo) repassado ao sujeito em treinamento.
O HEG NFB é largamente utilizado para o treinamento do CPF em pacientes com
TDAH para melhorar as funções executivas, bem como no alto rendimento. O
equipamento de HEG é montado numa faixa com velcro que posiciona os sensores
nas regiões ao longo da testa: giro orbitofrontal, córtex pré-frontal ventromedial e
ventrolateral (Fp1, Fp2, Fpz, F7 e F8), permitindo a leitura do fluxo sanguíneo
cerebral nessas regiões (rCBF de Regional Cerebral Blood Flow). Pela facilidade de
operar e pela ausência de artefato, o NFB HEG é indicado como a solução ideal
para treinar o CPF. (BUDZYNSKI et al., 2009, p. 169-192; DEMOS, 2005, p. 85-89;
TINIUS, 2004, p. 5-19)
2.2 O PROGRAMA DE TREINAMENTO PSICONEUROFISIOLÓGICO
No alto rendimento esportivo, as estratégias de intervenção devem estar
focadas na regulação dos estados psiconeurofisiológicos que atuam de forma
sistêmica, ou seja, a intervenção para regulação em uma parte do sistema afeta todo
o sistema de forma positiva, como círculo virtuoso. (EDMONDS & TENEBAUM,
2012, p. 19)
O esquema abaixo (fig.3) ressalta a interligação de três subsistemas
regulatórios, destacando o arco formado pela [ativação ↔ regulação das emoções],
interligado ao equilíbrio autonômico e a interocepção, como estado de consciência
corporal. O segundo arco, formado pela [ativação ↔ funções executivas],
destacando as cognitivas, memória de trabalho, planejamento motor e funções
motoras, se interliga ao terceiro arco, [ativação ↔ excitabilidade do sistema
sensorial], representando a rede tálamo-cortical e circuitos correlatos. O treinamento
psiconeurofisiológico, pela sua ação sistêmica, deve ter como principal preocupação
atuar no que integra os arcos regulatórios. A correta elaboração dos protocolos de
39
treinamento é, pela influência sistêmica, determinante para o sucesso do
treinamento em BFB e NFB. (ibid. p. 20)
Ativação/Excitação
Funções Executivas
Regulação das
Emoções
Planejamento Motor
Funções Cognitivas
& Memória de
Trabalho
Equilíbrio Autonômico
Ativação Motora
Interocepção
Excitabilidade do Sistema Sensorial
Figura 3 – Perspectiva Sistêmica de Edmonds e Tenenbaum (2012, fig.2.1, p. 20)
O treinamento psiconeurofisiológico é parte integrante do complexo programa
de Treinamento das Habilidades Psicológicas (THP) que, junto a preparação física,
técnica e tática, irão compor o programa de preparação geral do atleta, elaborado
levando-se em conta as suas características individuais e as especificidades de cada
modalidade. Congregando as modalidades de BFB e NFB às diversas técnicas e
práticas mentais tradicionais, o THP desenvolve as habilidades mentais e
emocionais relacionados ao desempenho do atleta, destacando atenção e
concentração, relaxamento muscular e mental, visualização e representação, diálogo
interior, aumento da motivação e compromisso (estabelecimento de metas)
40
autorregulação da ativação, autoconfiança, além da coesão e liderança nos esportes
coletivos. Cabe ao psicólogo esportivo definir o pacote de técnicas que melhor se
adapte ao binômio atleta-modalidade buscando integrá-las no seu programa geral de
treinamento. As técnicas mais usuais são: relaxamento/regulação da ativação,
representação mental, estabelecimento de metas, gerenciamento dos pensamentos,
diálogo interior, treinamento de BFB/NFB e rotinas mentais pré-competitivas. O THP
é elaborado em conjunto com os demais membros da comissão técnica e
principalmente com o técnico, partindo da avaliação inicial do atleta e da definição
das habilidades psicológicas mais importantes para a modalidade, obedecendo à
teoria e metodologia de periodização do treinamento esportivo. (BLUMENSTEIN &
ORBACH, 2012, p. 1-6; WEINBERG & GOULD, 2001, p. 248-257)
2.2.1 Periodização do Programa de Treinamento
No alto rendimento, onde os níveis de preparação técnica, física e tática
frequentemente se equiparam, vence o atleta / equipe que possui as melhores
qualidades psicológicas ou mentais. Isso só é possível através do correto
planejamento do treinamento das habilidades psicológicas (THP) inserido no
programa geral de treinamento do atleta, eliminando a abordagem aleatória e sem
objetivo. O ponto de partida para a elaboração do programa geral é a análise do
calendário de competições, determinando os principais eventos competitivos do
período para o qual ele está sendo montado. Normalmente no alto rendimento
elabora-se um programa quadrienal com foco nos Jogos Olímpicos, subdividido em
quatro programas anuais, cada qual com os seus eventos principais. (BOMPA, 2002,
p. 158-207)
Periodização é a metodologia utilizada na montagem do programa de
treinamento de longo prazo tendo como base a planificação cronológica das
41
atividades que serão realizadas pelo atleta, permitindo a gerência e a avaliação
gradual e progressiva do seu desenvolvimento técnico, físico, tático e psicológico, de
forma a conduzi-lo ao ápice da sua forma atlética durante os períodos competitivos
de maior importância. O programa anual de treinamento é organizado em ciclos e
dividido em três períodos principais: preparatório (geral e específico), competitivo
(pré-competitivo e competitivo) e de transição. Os três períodos compõem um
macrociclo (anual ou semestral), o qual é subdividido em microciclos (semanais),
cada qual com objetivos específicos, de acordo com os objetivos anuais. Para
alguns autores, o macrociclo é subdividido em mesocilclos com duração de um mês
ou meses, sendo esses subdivididos em microciclos. (ROSA & FARTO, 2007, p.
208-217; BOMPA, 2002, p.207-208; BLUMENSTEIN & ORBACH, 2012, p. 18-19)
Curvas de volume (azul) e
intensidade (vermelho)
Período Preparatório – Geral e
específico Competitivo Transição
Figura 4 – Variação Volume X Intensidade – adaptado de BOMPA, 2002, p. 215
A dinâmica do programa de treinamento é determinada pelo balanceamento
de duas componentes, estabelecidas de acordo com as características funcionais e
psicológicas de cada modalidade (fig. 4): volume (dimensão quantitativa; função
temporal – tempo de duração, distância ou peso por unidade de tempo, e repetições
por unidade de tempo) e intensidade (dimensão qualitativa; função da força do
estímulo, dependente da carga, da velocidade, da variação do intervalo de
recuperação e do esforço psicológico). (BOMPA, 2002, p. 83-99; BLUMENSTEIN &
ORBACH, 2012, p. 18-21)
42
No THP a dinâmica seguirá o mesmo princípio, em relação direta com o
volume e a intensidade do treinamento físico do atleta e em função dos objetivos de
cada período. No período preparatório geral o objetivo principal é adquirir a melhor
condição física geral, desenvolvendo a capacidade de trabalho do atleta, força e
resistência, além de melhorar elementos técnicos e manobras táticas básicas. No
THP, após a avaliação inicial, o atleta dará ênfase ao aprendizado das capacidades
mentais básicas. As atividades são realizadas no laboratório utilizando técnicas de
relaxamento que auxiliam na recuperação física, técnicas de estabelecimento de
metas. As modalidades de BFB/NFB são apresentadas e ensinadas, elegendo as
que melhor se adequam ao atleta/modalidade. No período preparatório específico,
como transição para o período competitivo, os objetivos são os mesmos do anterior,
porém, com ênfase em exercícios específicos da modalidade, relacionados aos
padrões de habilidades e técnica, unificando o desenvolvimento físico e fisiológico.
Nessa fase, utilizando as modalidades de BFB/NFB escolhidas, o THP dará ênfase
no foco das metas de treinamento e no desenvolvimento das habilidades aprendidas
(relaxamento, concentração e excitação) em situações variadas, simulando o
estresse competitivo. No período pré-competitivo, o volume de treinamento diminui e
a intensidade aumenta, com ênfase no desempenho técnico do gestual e simulação
das situações de competição, onde o treinamento tático assume maior importância.
No THP, ainda realizado no laboratório, é elaborado o plano de jogo mental através
de exercícios de representação carregados do colorido emocional competitivo. Nos
exercícios de BFB/NFB são introduzidos vídeos de momentos competitivos e
distratores específicos da modalidade, ajustando o plano mental à rotina pré-
competitiva do atleta. O período competitivo sege a mesma linha de ação do pré-
competitivo, porém, os recursos técnicos dos treinos de BFB/NFB são mais
43
específicos, como por exemplo, vídeos com imagens e situações do local e dos
oponentes que o atleta irá enfrentar na competição em vista. A ênfase recai sobre o
aperfeiçoamento do plano mental, o gerenciamento do estresse e a ótima regulação
da ativação, agora fora do laboratório. Na fase de transição, ou descanso ativo, o
atleta encontra-se em alto nível de fadiga fisiológica e psicológica, sendo a
psicológica mais persistente, o que torna a redução do estresse e a recuperação da
fadiga do SNC o principal objetivo desse período. O atleta participa de atividades
recreativas, fora da sua modalidade, que lhe permitam manter a atividade física.
Exercícios de respiração e técnicas de relaxamento mental auxiliam na recuperação
psiconeurofisiológica do atleta. Nessa fase, avaliam-se os resultados alcançados no
macrociclo que terminou e elabora-se o novo plano de treinamento, estabelecendo
as metas e objetivos da próxima temporada. (BOMPA, 2002, p. 217-240;
BLUMENSTEIN & ORBACH, 2012, p. 19-21; WEINECK, 2003, p. 62-65;
BLUMESTEIN, BAR-ELI & TENENBAUM, 2002, p. 55-62)
A inclusão das modalidades de BFB/NFB no THP e a transição do laboratório
para o sete de treinamento e competição é uma tarefa complexa. Nos autores
pesquisados destacou-se a metodologia Wingate Five-Step Approach (W5SA),
desenvolvida pelo psicólogo russo Dr. Boris Blumenstein, no Wingate Institute,
Israel’s National Center for Physical Education and Sport em conjunto com os
pesquisadores israelenses Michael Bar-Eli e Gershon Tenenbaum. Aplicada com
sucesso nos dois últimos ciclos Olímpicos (2008/2012), segue detalhada nas tabelas
1 e 2 abaixo: (EKLUND & TENENBAU, 2014, p. 71-72; EDMONDS & TENENBAUM,
2012, p. 74)
44
PERIODIZAÇÃO DO TREINAMENTO DAS HABILIADES PSICOLÓGICA - THP
MÊS JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET NOV DEZ
Períodos de Treinamento PREPARATÓRIO COMPETITIVO TRANSIÇÃO
Subfases PREP GERAL PREP ESPECÍFICA PRÉ-COMPETITIVA COMPETITIVA TRANSIÇÃO
Local Laboratório Laboratório - Treino Laboratório - Treino - Competição Laboratório
SU
BP
RO
GR
AM
AS
E T
ÉC
NIC
AS
DO
TH
P
Avaliação - STR Linha de Base Nível médio de estresse Nível máximo de estresse
THP Específico Fase de aprendizado
ou educação Fase de modificação ou aquisição Fase de aplicação ou prática
Relaxamento Muscular - longo Na prática - curto Na rotina pré-competitiva - rápido Recuperação
Mentalização (representações
mentais)
Do exterior para representação interna
Aspectos técnicos e táticos do gestual e do desempenho
Como parte da performance e da rotina pré-competitiva, visualizando o gestual com foco nos
elementos chaves.
Diálogo interior
Antes e depois do treino
Interromper pensamentos negativos na prática
Palavras chaves; interromper pensamentos negativos na competição
Concentração Vários exercícios de
concentração Rápida e intensa concentração na
prática Concentração na rotina pré-competitiva e na
performance
Estabelecimento de metas
Metas de treinamento Metas técnicas e táticas Metas de performance Metas de longo prazo
W5SA - BFB/NFB Introdução e identificação
Identificação e simulação Transformação e realização Recuperação e ajustes
Tabela 1 – Periodização do Treinamento das Habilidades Psicológicas – Adaptado de BLUMENSTEIN & ORBACH, 2012, p. 20.
45
DETALHAMEMTO DAS FASES DO TREINAMENTO EM BIOFEEDBACK E NEUROFEEDBACK - W5SA
Fase Introdução Identificação Simulação Transformação Realização
Local Laboratório Laboratório Lab e ambiente de treino Lab - Treino - Competição Competição
Objetivo
Apresentação e aprendizado das técnicas e
dos equipamentos e avaliação inicial
estabelecendo a linha de base das modalidades
disponíveis
Identificar as modalidades de BFB/NFB que o atleta melhor
responde, observando as características do esporte e
fortalecendo o uso das técnicas escolhidas.
Contextualizar as técnicas aprendidas às situações
de competição, obedecendo as
características do atleta e da modalidade.
Transferir e executar as técnicas aprendidas no
laboratório para o local de competição e durante
competições, preparando-se para a principal
competição.
Aplicar as técnicas aprendidas nas
competições preparatórias e na
principal.
Tipo de Seção Grupo/individual, através de reuniões e workshops
Individual ou em grupo Individual Individual Individual
Conteúdo
Relaxamento (TA, relaxamento muscular,
diálogo interior e BFB) e avaliação de
autorregulação em várias modalidades.
BFB com as modalidades escolhidas e avaliação de
autorregulação, em mais de uma modalidade.
Ensaio dos ciclos de relaxamento-excitação assistindo vídeos de competições, com o
aumento gradual do nível de estresse. Ao final da
fase, o atleta é novamente avaliado.
Execução das técnicas aprendidas no sete
competitivo, incluídos nas rotinas pré-competitivas e
durante o evento competitivo, com foco em importantes elementos da
performance..
Aplicação das técnicas no momento
competitivo, com o aumento gradual do nível de importância.
Metas
Relaxar em 2-3 min, manter o relaxamento
profundo cerca de 5-10 min e então ensaiar a excitação
por 2-3 min.
Executar os ciclos de transição de relaxamento-excitação, requeridos na modalidade, com rapidez,
precisão e segurança.
Executar os ciclos de relaxamento-excitação no contexto competitivo da modalidade, orientado
pelo vídeo de uma competição sua.
Executar com maestria a autoregulação no ambiente
real de competição.
Domínio da aplicação das
técnicas aprendidas em competições.
Número de Seções
10-16, sendo de 5-8 em grupo e de 5-8 individuais
15 15 15 10-15
Periodicidade 2-3 vezes na semana 2-3 vezes na semana 2-3 vezes na semana 2-3 vezes na semana e nas competições preparatórias.
Durante ou entre competições
Seção 55-60 min 50-60 min 50-60 min 50-60 min Varia
Tabela 2 – Metodologia Wingate Five-Step Approach - W5SA. (BLUMENSTEIN, BAR-ELI & TENENBAUM, 2002, p. 55-69)
46
2.2.2 Avaliação e Linha de Base
O propósito do treinamento em BFB/NFB no alto rendimento vai além da
simples consciência do controle sobre uma determinada resposta
psiconeurofisiológica. O objetivo maior é ensinar o atleta a obter o controle voluntário
sobre os processos subjacentes (e involuntários), possibilitando a autorregulação
dos estados mentais e do nível de ativação, estresse e ansiedade, nos momentos
competitivos. Como todo programa de treinamento, estabelece metas e um ponto de
partida. A realização da avaliação específica de cada modalidade de BFB e NFB é,
pois, o passo inicial para a montagem do protocolo de treinamento, estabelecendo
os valores que representarão a linha de base. (SOUTAR & LONGO, 2011, p. 170)
Nas avaliações em BFB, o sinal lido representa o valor de face de uma
resposta psicofisiológica e tem grande relevância na medida em que, de forma
indireta, representa a leitura da dinâmica autonômica. Considerando a possibilidade
de agregar estressores competitivos à avaliação, teremos então uma leitura mais
significativa do comportamento do atleta. O mesmo método pode ser utilizado para
avaliar a evolução do treinamento de autorregulação autonômica, nos dando uma
boa pista para os indicadores de eficácia. (BLUMENSTEIN, BAR-ELI &
TENENBAUM, 2002, p. 102-103; BLUMENSTEIN & ORBACH, 2012, p. 7-15;
EDMONDS & TENENBAUM, 2012, p. 120-133; COLLURA, 2014, 199-222)
A pesquisa destacou, pela sua metodologia e abrangência, o Teste de
Autorregulação (STR de Self-Regulation Test), parte integrante do W5SA. Utilizado
tanto para estabelecer a linha de base, como para avaliar o desenvolvimento da
capacidade de autorregulação do atleta, o STR é aplicado ao longo do programa de
THP ao final de cada fase do W5SA. Derivado da técnica de autossugestão do
treinamento autógeno, o STR grava com equipamentos de HR (de Heart Rate), EMG
47
(de Electromyography) e GSR (de Galvanic Skin Response), a leitura das três
respostas fisiológicas em quatro momentos de 2 min cada: repouso, tensão,
relaxamento e competição. Após a gravação inicial que servem de linha de base, o
atleta é solicitado a representar mentalmente estando (ele) em repouso, tenso,
relaxado e em competição. Os valores gravados no primeiro STR servem de
referência para avaliar a evolução do atleta durante o macrociclo comparando os
valores apurados ao término de cada período do programa. (PAPAIOANNOU &
HACK, 2014, p. 409-413; BLUMENSTEIN & ORBACH, 2012, p. 7-8)
A avaliação em NFB é realizada com gravação do EEG em ambiente
apropriado, verificando o comportamento e a eficiência do cérebro durante a
realização de tarefas, conforme roteiro pré-definido. Como visto anteriormente, a
decomposição do EEG bruto em bandas de ondas é denominada de QEEG (de
Quantitative Electroencephalogram), sendo utilizado originalmente na investigação
clínica, pela comparação a padrões disfuncionais relacionados a distúrbios
comportamentais e emocionais. O QEEG pode ser conduzido com diferentes graus
de detalhamento, complexidade e profundidade, dependendo do procedimento
adotado e do número de sites investigados, podendo durar de 15 min a 2 horas. A
aquisição dos dados pode ser feita um a um, de dois em dois, ou de quatro em
quatro sites, gravando de 5 a 19 sites posicionados pelo sistema 10-20. A leitura é
feita de forma simultânea ou em grupos homólogos de sites (C4-C4; F3-F4; etc.), em
três etapas com o mínimo de um minuto de duração cada: olhos fechados, olhos
abertos e realizando tarefa. Uma vez processado, os dados são comparados a
bancos de dados normativos e/ou transformados em relatório/diagnóstico com
indicadores de frequência, amplitude, potência, coerência, fase, assimetria, etc.,
razões entre os percentuais de bandas de ondas (Alpha/Theta; Theta/Beta),
48
histogramas e mapas cerebrais topográficos. Visando tornar a avaliação quantitativa
mais rápida, simples e menos custosa, alguns pesquisadores desenvolveram
sistemas de avaliação que não utilizam bancos de dados normativos ou softwares
sofisticados. Os principais são o TLC, desenvolvido por Peter Van Deusen (1999),
hoje avaliando 19 sites na versão TLC7a (2010), o MiniQ de Soutar & Longo (2011)
e QuikQ de Paul Swingle (2008). (CHAPIN & RUSSEL-CHAPIN, 2014, p. 109-119)
A montagem dos protocolos de treinamento é feita com base nas informações
geradas na avaliação, não havendo diferenciação entre a avaliação clínica e
realizada para o alto rendimento. A diferença está na análise dos dados, onde na
avaliação clínica os protocolos são desenvolvidos com base nos sintomas, enquanto
no alto rendimento, os protocolos são definidos com base em indicadores de
desempenho e eficácia do cérebro. Isso não elimina a possibilidade de incluir no
treinamento do atleta protocolos semelhantes aos dos objetivos clínicos, uma vez
que a assinatura neural do TDAH engloba as mesmas redes e sites que serão
treinados para aumentar a capacidade de concentração e atenção do atleta. É muito
importante o cumprimento de normas técnicas durante a gravação do EEG,
principalmente no que tangem eliminação leituras geradas por artefatos, como:
movimentos oculares verticais e horizontais momentâneos, piscar de olhos,
movimentos de cabeça, elevação de eletrodos, contrações musculares contínuas ou
momentâneas, ruídos da rede elétrica (60Hz) e ruídos do aparelho de EEG.
(SOUTAR & LONGO, 2011, p. 63-76; SWINGLE, 2008, p. 9-29)
49
2.2.3 Elaboração do Protocolo de Treinamento
A união das modalidades de BFB e NFB com técnicas de treinamento mental
representa a essência do treinamento psiconeurofisiológico, enfatizando a
indivisibilidade corpo-mente e integrando ferramentas comportamentais, mentais e
fisiológicas na eliminação de padrões disfuncionais e melhora do desempenho
esportivo, preparando o atleta para atuar na sua Zona Individualizada de
Desempenho Ideal (IZOF de Individualized Zones of Optimal Functioning) nos
momentos competitivos. A questão agora é como transformar os dados das
avaliações em protocolos eficazes de treinamento. (EDMONDS & TENENBAUM,
2012, p. 6-12)
Tanto para o BFB como para o NFB, o resultado da avaliação inicial nos dará
a ideia dos pontos fortes e fracos do atleta, definindo a estratégia de intervenção e
de montagem dos protocolos. Junto com os demais dados do atleta, informações do
contexto (condições) e da modalidade (tarefa), a avaliação apontará as melhores
práticas para a situação em questão. O protocolo é personalizado, de acordo com as
características e necessidades do atleta. Pelo grande número de variáveis
envolvidas, é importante adotar um roteiro padrão que oriente na montagem dos
protocolos. A pesquisa destacou, para essa tarefa, a metodologia Wingate Five-Step
Approach (W5SA), descrita na tabela 2 (p. 40), devido a sua abrangência e a
aplicação prática comprovada. Além do roteiro, cada psicólogo estará mais
familiarizado com determinadas técnicas e terá acesso a determinados
equipamentos que influenciarão nas suas escolhas. Pesquisas recentes apontam
determinadas combinações com resultados positivos, servindo como orientação
inicial, principalmente para a seleção e aquisição dos equipamentos e sistema de
BFB/NFB (Tabela 3). (BLUMENSTEIN, BAR-ELI & TENENBAUM, 2002, p. 55-60)
50
Característica do Esporte Modalidade BFB/NFB
Técnica Mental
Esportes com alvo HRV e EEG Treinamento Autógeno,
Relaxamento Progressivo e
Representação Mental.
Ginásticas EEG, GSR, HRV e
EMG
Esportes de combate EEG, EMG e GRS
Esportes de inverno Temperatura
Natação HRV, EMG e GRS
Corridas EMG e HRV
Tabela 3 – Características do Esporte X BFB/NFB e Técnicas Mentais.
(BLUMENSTEIN, BAR-ELI & TENENBAUM, 2002, p. 46-50)
A metodologia W5SA parte do princípio que o atleta só conseguirá obter o
autocontrole sobre os estados mentais e emocionais se primeiro obtiver a
compreensão e domínio das técnicas que irá utilizar. É dada ênfase às metas de
processo para depois estabelecer metas de resultado. Dessa forma, as duas fases
iniciais, Introdução e Identificação, são dedicadas ao domínio das modalidades,
equipamentos e softwares que serão utilizados, bem como à seleção e ao
fortalecimento daquelas que apresentam maior eficiência de resposta. Além da
compreensão e domínio das técnicas, o sucesso do treinamento dependerá em
grande parte do reconhecimento pela equipe multidisciplinar e, principalmente, pelo
atleta, da eficácia e relevância do programa proposto. No BFB/NFB, como em todo
processo de aprendizado, a motivação do treinando é fundamental, uma vez que
nem os equipamentos nem as informações que eles produzem irão por si só
capacita-lo a controlar de forma voluntária seus estados psiconeurofisiológicos.
Reconhecer as informações contidas na resposta fisiológica fornecida pelos
equipamentos e aprender a alterá-la de forma voluntária irá requere o cumprimento
deliberado e sistemático do programa proposto, exigindo do atleta disciplina,
comprometimento e autogestão. O atleta tem papel ativo e relevante no processo de
51
mudança de comportamento e só poderá exercê-lo se devidamente instruído,
motivado e compromissado. (ibid. p. 113-120)
Nesse sentido, o W5SA enfatiza o desenvolvimento de crenças de
autoeficácia, de Albert Bandura, como mecanismo psicológico de motivação do
atleta. A confiança de que ele será capaz de atingir o objetivo final de exercer o
autocontrole sobre seus estados mentais e emocionais é fortalecida
progressivamente. Para tanto, desde o início o atleta é encorajado a autorregular o
processo, desenvolvendo competências como: fixação de metas adequadas;
autoinstrução através do diálogo interior para se manter motivado;
automonitoramento dos processos, principalmente na fase de simulação do estresse
competitivo; autoavaliação, para ajustar estratégias, identificar e corrigir erros; e a
busca de ajuda quando não souber como corrigir uma falha no seu desempenho.
(ibid.)
A tabela 2 (p. 40) apresenta uma visão detalhada das informações
necessárias à montagem dos protocolos de treinamento em BFB dentro da
metodologia W5SA, na qual, entre cada fase, o atleta é novamente avaliado pelo
Teste de Autorregulação (SRT de Self-Regulation Test). O balanceamento do
volume e intensidade dependerá da subfase em treinamento, conforme o programa
geral do atleta. É importante ter em mente que os equipamentos de BFB informam
de forma indireta pelo valor de face da variável de trabalho, o balanço autonômico e
o progresso do atleta no autocontrole do mesmo. A possibilidade de acoplar ao
treinamento, por vídeo ou representação mental, estressores congruentes com a
modalidade desportiva no grau de dificuldade desejado, abre um leque de
possibilidades para a criatividade do treinador. Especificamente o EMG BFB pode
também ser utilizado para correção de atividades musculares disfuncionais
52
localizadas. A distribuição das atividades por seção deve conter as informações de
atividade/modalidade, tempo de duração e número de repetições, conforme sugerido
no modelo abaixo: (ibid., p. 55-76; LEHRER, WOOLFOLK & SIME, 2007, p. 621-626;
BLUMENSTEIN & ORBACH, 2012, p. 6-21)
Fase 1 - Introdução
Seção Duração Conteúdo da Seção
6 55-60 min Relaxamento + Representação Mental: 3-5 min x 2-3 vezes); Teoria de GRS BFB (versão audiovisual)
7 55-60 min Relaxamento muscular + Representação Mental: 3-5 min x 2-3 vezes Teoria de EMG BFB e HRV BFB (versão audiovisual)
Tabela 4 – Modelo de descrição de protocolo de BFB
A prática em NFB exige do psicólogo esportivo, além dos conhecimentos
inerentes à profissão e a formação em NFB, uma boa base em neurologia e uma
relação amigável e atualizada com a informática e a tecnologia de EEG. Ele terá que
dominar os sistemas computacionais de apoio e o hardware empregado tanto na
avaliação quanto no treinamento. Além disso, o treinamento em NFB sempre será
assistido pelo psicólogo, diferente do BFB onde muitos treinos serão autodirigidos
pelo atleta. Isso por que no treinamento em NFB, tanto a autorregulação como a
eficiência cerebral, dependerão do treinador para modelar a atividade dos
subsistemas regulatórios durante o treinamento. Os protocolos utilizam software
específico e são construídos levam em consideração os sites e a atividade cortical
subjacente que se deseja inibir ou reforçar. Um bom software de treinamento em
NFB, além da possibilidade de a conexão com jogos e drivers de mídia, deverá
permitir a seleção de diversos parâmetros, como: sites de treinamento, bandas de
trabalho, reforçar/inibir, ajuste nas informações aa tela do treinador e do treinando
(gráficos, indicadores, escores, etc.), tipo de feedback (visual, sonoro ou
53
sinestésico), modulação do feedback (volume e claridade da imagem), tempo de
treinamento, gravação da seção e playback, arquivamento dos dados, e, o mais
importante, parametrizar em tempo real a sensibilidade e o limiar do reforço. Essas
características garantem a eficácia do condicionamento operante na modelagem das
redes neurais e permitem a montagem personalizada dos protocolos. (DEMOS,
2005, p. 160-164; EDMONDS & TENEBAUM, 2012, p. 17-29; CHAPIN & RUSSEL-
CHAPIN, 2014, p. 115-130; COLLURA, 2014, p. 1-29)
Nesse ponto é importante diferenciar o protocolo de treinamento do design
que será utilizado no protocolo. O design é um arranjo de todos os objetos e rotinas
que serão executados pelo software de treinamento, incluindo gráficos, botões de
comando e seleção, filtros, osciloscópios, comando de drivers, layout das telas, etc.
Os designs são programados no próprio software de treinamento, requerendo
conhecimento avançado sobre as suas funcionalidades. Normalmente o software
vem acompanhado de alguns designs básicos e um pacote maior pode ser adquirido
posteriormente, conforme a necessidade. O protocolo define o que e como será
treinado, ou seja, os sites do sistema 10-20, os tipos de montagem dos eletrodos, as
bandas de frequência que serão inibidas ou reforçadas, se reforçaremos coerência
ou sincronia, o tipo de feedback, o limiar e a sensibilidade de reforço, se o treino
será de olhos fechados, abertos ou excetuando uma tarefa, o tempo de duração de
cada seção, etc. O conjunto de protocolos compõe o plano de treinamento
individualizado. (CHAPIN & RUSSEL-CHAPIN, 2014, p. 132-135)
Cada protocolo terá um objetivo específico diretamente relacionado às redes
neurais cobertas pelos sites designados. Alguns protocolos padrões e
comprovadamente eficazes cobrem grande parte das necessidades do treinador e
estão resumidos no quadro abaixo: (COLLURA, 2014, p. 132-135)
54
Nome Site 10-20 Bandas de ondas treinadas
Aumentar Inibir
Alerta C3 ou Cz Beta 15-20 Hz Beta Alto 20-30Hz
Profundo - AT Pz Alpha 8-10 Hz / Theta 4-7 Hz
Foco C4 ou Cz RSM 12-15 Hz Theta 4-7 Hz / Beta Alto 20-30
Hz
Alta Performance C3 - C4 Coerência em Alpha
Alta Performance C3 - C4 Alerta (C3) e Foco (C4) combinados
Relaxamento Pz ou Oz Alpha 8-10 Hz Theta 4-7 Hz / Beta Alto 20-30
Hz
Squash Cz Banda de 4-20 Hz
Tabela 5 – Protocolos tradicionais em NFB. (COLLURA, 2014, p. 133)
Fig. 5 - Atleta M M em treinamento de HEG NFB
O treinamento dos sites ventral lateral (F7 e F8) e os polos frontais (Fp1, Fp2
e Fpz) deve ser realizado com HEG NFB (fig. 5). Os demais sites, dorsais e
temporais, devem ser treinados com EEG NFB, utilizando basicamente dois
sistemas de distribuição dos eletrodos, cujo entendimento é muito importante para a
eficácia do treinamento: sistema com um canal de treinamento (1C) e sistema com
dois canais de treinamento (2C). A tabela 6 abaixo detalha os dois sistemas:
(DEMOS, 2005, p. 72-88; CHAPIN & RUSSEL-CHAPIN, 2014, p. 139-142)
55
Canais Montagem Referência Leitura Alvo de
intervenção Finalidade
Posicionamento dos eletrodos
Observação
1C
Mono canal Referencial
ou Monopolar
Site neutro for a do
escalpo e sem
atividade elétrica.
Osso mastoide é o
mais utilizado.
Valor absoluto da amplitude do canal
ativo
Região neurológica
específica do cérebro situada
abaixo do eletrodo ativo.
Aumentar ou diminuir a amplitude de determinada banda de onda (podendo se mais de uma), em um
determinado local reconhecidamente
relacionado a determinada função neurológica.
Terra (Grd) - lobo da orelha do hemisfério
oposto ao eletrodo ou no osso mastoide;
Referência (-1) - lobo da orelha do mesmo
hemisfério do eletrodo ou osso mastoide;
Ativo (+) - no site 10-20 acima da região alvo
do treinamento.
Sujeito a interferência (artefato) da atividade muscular do pescoço, mandíbula, movimento
facial e batimento cardíaco, quando a
referência está no lobo da orelha.
Mono canal Sequencial ou Bipolar
Site ativo no escalpo
Soma ou diferença de
amplitude entre os
sites ativo e referência.
Regiões neurológicas
específicas do cérebro situadas
abaixo do eletrodo ativo e de referência.
Aumentar ou diminuir a amplitude de determinada banda de onda (podendo
se mais de uma), nos locais abaixo dos eletrodos
(ativo e referência) reconhecidamente
relacionados a determinada função
neurológica, bem como melhorar a comunicação entre ativo e referência
Terra (Grd) - lobo da orelha do hemisfério
oposto ao eletrodo ou no osso mastoide;
Referência (-1) site 10-20; Ativo (+) - site 10-20 acima da região
alvo do treinamento.
2C Bi canal
Site neutro for a do
escalpo e sem
atividade elétrica.
Osso mastoide é o
mais utilizado.
Amplitude de cada
canal ativo
Nas duas regiões abaixo dos eletrodos e
na região e redes neurais de
comunicação entre os dois sites ativos.
Além de atuar sobre a amplitude de determinadas ondas em cada site ativo,
permite intervir na comunicação entre eles -
assimetria (frente-trás; esq.-dir)e coerência (hipo;
hiper; fase).
Terra (Grd) - local neutro tipo osso
externo no peito; 2 Referências (-1 e -2) lobos das orelhas ou ossos mastoides; 2
Ativo (+) - sites 10-20 acima das regiões alvo
do treinamento.
Os eletrodos ativos e referências devem estar no mesmo
hemisfério, esq./dir.; no caso dos ativos
serem posicionados frente e trás, a
referência esq. será para o site mais a
frente.
Tabela 6 – Sistemas de montagens de eletrodos para o treinamento em EEG NFB. (DEMOS, 2005, p. 72-88; CHAPIN & RUSSEL-CHAPIN, 2014, p. 139-142)
56
2.3 INDICADORES DE EFICÁCIA
O gerenciamento de um programa de treinamento, independente dos seus
objetivos, exige um sistema organizado e consistente de avaliação que quantifique
objetivamente a evolução do atleta. Isso só será possível se estabelecermos
objetivos precisos e mensuráveis. Indicadores tangíveis auxiliam na predição do
desempenho através do resultado de testes e a comparação com padrões que irão
balizar o progresso e a eficácia do programa em curso, permitindo o diagnóstico de
pontos fracos específicos e o ajuste tanto do programa como dos próprios objetivos.
(BOMPA, 2002, p. 256-261)
No treinamento em BFB, os mesmos índices obtidos na avaliação inicial e
utilizados para definir as estratégias e protocolos de treinamento, são utilizados
também para acompanhar a evolução do THP, permitindo, por conseguinte, avaliar a
eficácia tanto das estratégias como dos protocolos. Pela dificuldade de obter dados
em momentos competitivos, os testes devem incluir recursos que simulem o
estresse competitivo tão próximo quanto possível, ajustados conforme o período de
treinamento. Além disso, assim como nos protocolos, os mecanismos de testagem
devem estar congruentes com a modalidade esportiva priorizando as habilidades
psicológicas mais importantes, evitando-se medidas subjetivas.
Ao aferir as alterações provocadas nas três respostas psicofisiológicas (HR,
EMG e GSR) em função da eficiência da representação produzida pelo atleta em
cada fase (repouso, tenso, relaxado e em competição), qualificando o atleta pela sua
habilidade de autorregulação em categorias de desempenho, o STR, aplicado ao
final de cada fase de treinamento do W5SA, tem sido utilizado como um método
prático e confiável para avaliar a eficácia do treinamento em BFB. As alterações nos
57
índices psicofisiológicos são registradas em direção (↑ subindo ou ↓ descendo) e
intensidade (% de variação) no antes (A) e depois (D) de cada estágio do teste. O
atleta marca um ponto positivo (+) para cada representação efetiva, ou seja, na
direção esperada e na intensidade, sendo categorizado pelo número de (+) que
obtiver no teste. As tabelas 7, 8 e 9 abaixo exemplificam os registros e parâmetros
adotados: (EDMONDS & TENEBAUM, 2012, p. 123-132; PAPAIOANNOU &
HACKFORT, 2014, p. 402-413)
Intensidade das Respostas Fisiológicas
Direção da variação esperada em cada estágio - 2 min
Repouso Tensão Relaxamento Competição
HR - 10% ↓ ↑ ↓ ↑
EMG - 20% ↓ ↑ ↓ ↑
GSR - 10% ↑ ↓ ↑ ↓
Tabela 7 – Direção e intensidade das respostas fisiológicas
Categorias quanto ao nível de autorregulação
A - Alto nível de autorregulação 11-12 (+)
M - Médio nível de autorregulação 8-10 (+)
B - Baixo nível de autorregulação 6-7 (+)
Tabela 8 – Categorias de autorregulação
Base Repouso Tensão Relaxamento Competição Score
A D +/- A D +/- A D +/- A D +/-
HR bpm 68 67 59 + 61 69 + 63 61 - 65 75 + 2+
EMG µV 2.6 - 2.4 2.3 1.3 + 1.8 3.1 + 2.6 1.2 + 2.5 3.7 + 3+
GSR KΩ 610 - 630 611 721 + 689 640 - 641 809 + 660 450 + 2+
Total 10+
Categoria A
Tabela 9 – Tabela de registros do STR
Cabe ressaltar que o score utilizado para categorizar o atleta foi estabelecido
com base nos dados colhidos em oito anos de experiência na aplicação do STR pelo
Wingate Institute, Israel’s National Center for Physical Education and Sport.
(BLUMENSTEIN, BAR-ELI & TENENBAUM, 2002, p. 58)
58
O treinamento em NFB na clínica tem caráter de programa de tratamento e,
como visto anteriormente, está focado nos sintomas. Assim, o sucesso do programa
está relacionado ao desaparecimento dos sintomas e não especificamente na
observação de alterações da atividade neuronal. Porém, com o objetivo de ajustar
os protocolos, alguns autores recomendam realizar, a cada 20 ou 30 seções, uma
nova avaliação quantitativa do EEG (QEEG), ocasião em que se poderá se
comparar aos resultados aferidos anteriormente. Uma forma recomendada por
alguns autores para acompanhar o progresso do treinamento é a observação dos
scores de desempenho oferecidos pelos designs. Bateria de testes relacionados à
patologia também são aplicados, como o T.O.V.A. (de Test of Variables of Attention)
no TDAH. (SOUTAR & LONGO, 2011, p. 107-114)
No esporte, os protocolos de NFB são definidos pelos indicadores de
desempenho e eficácia do cérebro, levando-se em conta as características da
modalidade esportiva. Assim, da mesma forma que na clínica, o acompanhamento
desses indicadores através da comparação dos relatórios de avaliações periódicas,
juntamente com o registro dos scores durante as seções de NFB, permite ajustar os
protocolos e aferir a eficácia do programa de treinamento. Alguns autores constroem
tabelas com determinados indicadores de desempenho ou utilizam testes cognitivos
para avaliar habilidades específicas, com observação e gravação simultânea do
EEG, filtrando as bandas de interesse. Em algumas modalidades, como no tiro
esportivo, tiro com arco e golfe, onde o gestual produz pouca atividade muscular, é
possível gravar e modelar a atividade cerebral em tempo real, ajustando os estados
mentais nas diversas fases do gestual. Em outras modalidades, como por exemplo,
no tênis, monitora-se a ativação do estado de prontidão para recepção do saque,
59
registrando em tabelas valores que mensuram tanto a ativação quanto a resistência
em repeti-la por diversos momentos seguidos. Diversas razões entre bandas
específicas, em sites específicos, permitem interpretações importantes e auxiliam na
investigação e no acompanhamento do treinamento. (STRACK, LINDEN & WILSON,
2011, p. 202-218; EDMONDS & TENENBAUM, p. 34-107)
Alguns estudos mesclam avaliações de indicadores de BFB e NFB, em
construtos específicos, monitorando tanto respostas fisiológicas como determinadas
bandas do EEG, relatando como principal dificuldade a eliminação do artefato de
contração muscular na leitura da atividade cortical. (BOZANOVA, et.al, 2007;
STRACK, LINDEN & WILSON, 2011, p.72-90)
60
CAPITULO TRÊS CONSIDERAÇÕES FINAIS
3.1 CONCLUSÃO
A pesquisa permitiu confirmar a hipótese ao verificar que as modalidades de
Biofeedback (BFB) e Neurofeedback (NFB) são reunidas em protocolos de
treinamento psiconeurofisiológico, como parte do Treinamento de Habilidades
Psicológicas (THP), integrados e periodizados em harmonia com o Programa Geral
de Treinamento de atletas de alto rendimento, destacando como modelo a
metodologia Wingate Five-Step Approach (W5SA) desenvolvida pelo psicólogo
russo Dr. Boris Blumenstein, no Wingate Institute, Israel’s National Center for
Physical Education and Sport, em conjunto com os pesquisadores israelenses
Michael Bar-Eli e Gershon Tenenbaum, pela abrangência e pelos resultados
positivos obtidos nos dois últimos ciclos Olímpicos.
Verificou que as modalidades, Eletromiografia (EMG), Atividade Eletrodérmica
(EDA), Temperatura (TB) e Variabilidade Cardíaca (HRV), de BFB, e as
Eletroencefalografia (EEG) e Hemoencefalografia (HEG), de NFB, integram o
conjunto de práticas psiconeurofisiológicas utilizadas no treinamento esportivo. Que
as técnicas de BFB estão mais consolidadas, utilizando equipamentos mais práticos
e portáteis com a possibilidade de treinamentos autodirigidos, enquanto o NFB exige
equipamentos e softwares mais sofisticados com treinamento exclusivamente
presencial. Que ambas as técnicas se complementam, destacando a flexibilidade do
NFB em treinar a autorregulação de padrões cerebrais, e a eficácia do BFB em
utilizar indicadores fisiológicos que refletem as variações dos estados de ativação.
Descreveu as modalidades de BFB e NFB, os processos de montagem de
protocolos e os métodos de avaliação.
No que tange aos indicadores de eficácia, constatou que os métodos
utilizados para estabelecer a linha de base na avaliação inicial, também são
utilizados nas avaliações periódicas de gerenciamento, permitindo, pela comparação
dos resultados, aferir a eficácia do treinamento. Destacou o Self-Regulation Test
(SRT), parte integrante do W5SA, como modelo de avaliação e testagem no
treinamento de BFB. No NFB as avaliações quantitativas (QEEG e miniEEG), a
61
gravação do EEG durante tarefas específicas e os indicadores acoplados nos
designs, demonstraram cumprir ambas as tarefas.
Apesar da constante busca por indicadores de desempenho e predição de
resultados no alto rendimento esportivo, concluímos que, devido o caráter sistêmico
e a complexidade do SN, bem como a inter-relação das vaiáveis – tarefa, situação e
sujeito – determinantes do comportamento humano, a regulação dos estados
psicológicos e mentais-emocionais não deve ser considerada uma ciência exata.
Porém, os indicadores psiconeurofisiológicos, trabalhados dentro de uma
metodologia adequada e utilizando as técnicas de BFB e NFB, representam uma
excelente opção para o psicólogo esportivo integrar e contribuir de forma objetiva
para o sucesso da equipe técnica interdisciplinar no alto rendimento.
Finalizando, o trabalho sugere a necessidade da realização de pesquisas com
atletas de alto rendimento no Brasil utilizando as técnicas de BFB e NFB, e a
divulgação de trabalhos no meio científico e acadêmico, de forma a difundir o uso
das práticas em questão.
62
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