programa de pós-graduação em educação matemática
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UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
ALEXSANDRO SOARES CANDIDO
O DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA
PROFISSIONAL DE ESTUDANTES DE PEDAGOGIA
PARA ENSINAR O RACIOCÍNIO
PROPORCIONAL
SÃO PAULO
2019
ALEXSANDRO SOARES CANDIDO
O DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA
PROFISSIONAL DE ESTUDANTES DE PEDAGOGIA
PARA ENSINAR O RACIOCÍNIO
PROPORCIONAL
Tese apresentada como exigência parcial à Banca Examinadora da Universidade Anhanguera de São Paulo, para obtenção do título de DOUTOR em Educação Matemática, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Angélica Garcia da Silva Fontoura
SÃO PAULO
2019
Ficha Catalográfica elaborada por: Bibliotecária Roselaine R. de Bastos Novato CRB/8 9676
C223d
Candido, Alexsandro Soares
O desenvolvimento da competência profissional de estudantes de pedagogia para ensinar o raciocínio proporcional. / Alexsandro Soares Candido. – São Paulo, 2019.
310 f.: il.; 30 cm Tese (Programa de Pós-graduação em Educação Matemática) –
Coordenadoria de Pós-graduação - Universidade Anhanguera de São Paulo, 2019.
Orientadora: Profa. Dra. Angélica Garcia da Silva Fontoura
1. Raciocínio proporcional. 2. Formação inicial de professores. 3.
Competência profissional. 4. Conhecimentos necessários para o ensino. I. Título. II. Anhanguera Educacional
CDD 372.7
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou
parcial desta Dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos
Dedico este trabalho a meus pais queridos,
à minha filha e à minha amada esposa,
pela compreensão e pelo incentivo em
todos os momentos.
AGRADECIMENTOS
Ao senhor Jesus Cristo, pela sustentação nos momentos difíceis, por ter me dado
forças quando fraquejei, pelo direcionamento e capacitação que me fizeram chegar
até aqui.
À minha orientadora, Professora Doutora Angélica Garcia da Silva Fontoura, pelos
ensinamentos, pela amizade e, principalmente, paciência durante as orientações.
Ao Professor Doutor Ubiratan D’Ambrosio, da Universidade Anhanguera de São
Paulo, que muito nos honrou em participar da banca de defesa.
À Professora Doutora Vera Helena Giusti de Souza, pelas contribuições, sugestões
e críticas importantes na fase inicial do curso e nas orientações que me ajudaram a
iniciar a presente pesquisa.
À Professora Maria Elisabete Brisola Brito Prado, pelas contribuições durante a
concepção da pesquisa, pelo apoio e conselhos proporcionados durante o curso e por
sua participação na banca de defesa.
Ao Professor Doutor Alécio Damico, que aceitou participar da banca e pelas
contribuições fornecidas na qualificação.
À Professora Doutora Monica Karrer, por ser uma das melhores pessoas que conheci
e por ter me auxiliado a dar os primeiros passos na Educação Matemática.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela
bolsa de Estudos fornecida.
Ao Professor Doutor Ruy Pietropaolo, por ter me propiciado a oportunidade de
estudar num curso de excelência no País e fornecer a todos um ambiente agradável.
Aos Professores do Programa de Ensino de Pós-graduação em Educação
Matemática da Universidade Anhanguera de São Paulo, pelas contribuições no trajeto
da pesquisa.
Aos amigos que construí ao longo do curso, pelas colaborações, pelas conversas e
apoio nessa empreitada.
Às estudantes voluntárias do curso de Pedagogia da Universidade Estácio-FNC, pela
dedicação integral durante as seções e pelas ricas contribuições fornecidas.
À minha esposa Andréa, pela parceria, por seu apoio, sua paciência e seus conselhos
em tempos de angústia.
Aos meus pais, por terem me possibilitado chegar aonde jamais poderia imaginar.
À minha filha Alessandra, pela compreensão, pelo carinho e paciência com minha
ausência.
Meus sinceros agradecimentos a todos.
“Ao professor é reservada alguma coisa
mais nobre. Ao professor é reservado o
papel de dialogar, de entrar no novo junto
com os alunos, e não o de mero
transmissor do velho” (D’ AMBROSIO,
1997, p. 10).
RESUMO A presente pesquisa, de natureza qualitativa, buscou analisar os conhecimentos profissionais e a competência docente – “olhar com sentido para o raciocínio proporcional de seus alunos” – de 30 futuras professoras que cursavam Pedagogia em uma universidade particular de São Paulo, participantes de um curso de formação sobre o raciocínio proporcional e seu ensino. Esta investigação se desenvolveu em três etapas: a primeira foi destinada à revisão de literatura; a segunda foi dirigida à pesquisa de campo; e a terceira etapa voltou-se à análise dos dados. As informações coletadas durante as 10 sessões de um curso de 20 horas, fundamentaram-se nos estudos de Ball, Thames e Phelps acerca dos conhecimentos necessários para o ensino e em Llinares e Fernández e Llinares, que discutem os pressupostos para o desenvolvimento da competência profissional – olhar com sentido para o pensamento matemático dos alunos. Os resultados do questionário preliminar revelaram dificuldades de as estudantes relacionarem a temática a exemplos do cotidiano e do ensino, apontaram suas limitações ao lidar com situações de valor omisso e de comparação entre dois pares de razões e identificaram que a maioria apresentou problemas em diferenciar situações proporcionais de não proporcionais. Os resultados das atividades de resolução expuseram evoluções nas atividades relativas às ideias de dobro, triplo e redução de grandezas em situações de proporcionalidade. Nas atividades de resolução, a maioria das futuras professoras compreendeu, reconheceu e utilizou o fator de proporcionalidade corretamente. Embora algumas ainda apresentassem dificuldades ao relacionar o raciocínio proporcional às relações multiplicativas e não aditivas, elas conseguiram resolver situações envolvendo uma maior diversidade de estratégias de resolução: escalar, funcional, produto cruzado, valor unitário e up down. Nas primeiras atividades houve lacunas na aprendizagem de algumas participantes quanto ao trabalho com números racionais nas representações fracionária e decimal, as quais foram discutidas durante o processo formativo. Os resultados das atividades profissionais apontaram avanços: o grau de compreensão e a capacidade de resolução das participantes aumentaram, pois elas reconheceram resoluções de alunos fictícios; a maioria descreveu corretamente estratégias utilizadas e procedimentos de cálculo associados à regra de três, à multiplicação, à divisão, aos cálculos com frações e à proporcionalidade. Algumas participantes – mesmo aquelas que não utilizaram a linguagem matemática específica para nomear os procedimentos – até utilizaram as nomenclaturas referentes à estratégia. As vivências, as discussões e as reflexões realizadas durante o desenvolvimento do processo formativo ampliaram a base de conhecimentos das futuras professoras para o ensino e a competência docente para o ensino de situações envolvendo o raciocínio proporcional. Revelou-se também necessário um enfoque mais amplo acerca do raciocínio proporcional, complementado pela análise de atividades profissionais visando ao desenvolvimento da competência docente de olhar com sentido para o raciocínio proporcional dos seus alunos. E concluiu-se que, para ampliar o conhecimento e a competência profissional de professores sobre o ensino e a aprendizagem do raciocínio proporcional, é necessária uma constante reflexão sobre a prática, sobretudo em ambientes que propiciem um trabalho colaborativo. Palavras-chave: Raciocínio proporcional. Formação inicial de professores. Competência profissional. Conhecimentos necessários para o ensino.
ABSTRACT
This qualitative research aimed to analyze the professional expertise and the teaching competence - "look with meaning to the proportional reasoning of its students" - of 30 future teachers who studied Pedagogy in a private university of São Paulo, participants of a course training on proportional reasoning and its teaching. This research was developed in three stages: the first was aimed at the literature review; the second was directed to field research; and the third step was to analyze the data. The information collected during the 10 sessions of a 20-hour course was based on the studies of Ball, Thames and Phelps about the expertise required for teaching and on Llinares and Fernández and Llinares, who discuss the assumptions for the development of professional competence - look meaningfully at the students' mathematical thinking. The results of the preliminary questionnaire revealed difficulties for students to relate the theme to examples of everyday life and teaching, pointed out their limitations when dealing with situations of low value and comparison between two pairs of reasons and identified that the majority presented problems in differentiating proportional situations of non-proportional. The resolution activities result showed changes in activities related to ideas of double, triple and reduction of magnitudes in situations of proportionality. In resolution activities, most future teachers understood, recognized, and used the proportionality factor correctly. Although some still had difficulties in relating proportional reasoning to multiplicative and non-additive relations, they were able to solve situations involving a greater diversity of resolution strategies: apply, functional, cross product, unit value and up down. In the first activities there were gaps in the learning of some participants regarding the work with rational numbers in the fractional and decimal representations, which were discussed during the formative process. The professional activities result indicated advances: the comprehension degree and the resolution capacity of the participants increased, since they recognized resolutions of fictitious students; most correctly described strategies used and calculation procedures associated with rule three, multiplication, division, fractions, and proportionality calculations. Some participants - even those who did not use the specific mathematical language to name the procedures - even used the nomenclatures referring to the strategy. The experiences, discussions and reflections carried out during the development of the training process have broadened the knowledge base of the future teachers for teaching and teaching credentials for teaching situations involving proportional reasoning. It also revealed a need for a broader approach to proportional reasoning, complemented by the professional analysis activities aiming at developing teacher competence to look meaningfully at the proportional reasoning of its students. It was concluded that, in order to increase the expertise and professional expertise of teachers about teaching and learning of proportional reasoning, a constant reflection on practice is necessary, especially in environments conducive to collaborative work. Key-Words: Proportional reasoning. Initial teacher training. Professional expertise. Expertise required for teaching.
RESUMEN La presente investigación, de naturaleza cualitativa, buscó analizar los conocimientos profesionales y la competencia docente - "mirar con sentido para el razonamiento proporcional de sus alumnos" - de 30 futuras profesoras que cursaban Pedagogía en una universidad particular de São Paulo, participantes de un curso de formación sobre el razonamiento proporcional y su enseñanza. Esta investigación se desarrolló en tres etapas: la primera fue destinada a la revisión de literatura; la segunda fue dirigida a la investigación de campo; y la tercera etapa se volvió al análisis de los datos. La información recogida durante las 10 sesiones de un curso de 20 horas, se fundamentar en los estudios de Ball, Thames y Phelps acerca de los conocimientos necesarios para la enseñanza y en Llinares y Fernández y Llinares, que discuten los supuestos para el desarrollo de la competencia profesional - mirar con sentido hacia el pensamiento matemático de los alumnos. Los resultados del cuestionario preliminar revelaron dificultades de las estudiantes relacionar la temática a ejemplos de lo cotidiano y de la enseñanza, apuntar sus limitaciones al lidiar con situaciones de valor omiso y de comparación entre dos pares de razones e identificaron que la mayoría presentó problemas en diferenciar situaciones proporcionales de no proporcionales. Los resultados de las actividades de resolución expusieron evoluciones en las actividades relativas a las ideas de doble, triple y reducción de magnitudes en situaciones de proporcionalidad. En las actividades de resolución, la mayoría de las futuras profesoras comprendió, reconoció y utilizó el factor de proporcionalidad correctamente. Aunque algunas todavía presentaban dificultades al relacionar el razonamiento proporcional a las relaciones multiplicativas y no aditivas, ellas consiguieron resolver situaciones envolviendo una mayor diversidad de estrategias de resolución: escalar, funcional, producto cruzado, valor unitario y up down. En las primeras actividades hubo lagunas en el aprendizaje de algunas participantes en cuanto al trabajo con números racionales en las representaciones fraccionaria y decimal, las cuales fueron discutidas durante el proceso formativo. Los resultados de las actividades profesionales apuntaron avances: el grado de comprensión y la capacidad de resolución de las participantes aumentaron, pues ellas reconocieron resoluciones de alumnos ficticios; la mayoría describió correctamente estrategias utilizadas y procedimientos de cálculo asociados a la regla de tres, a la multiplicación, a la división, a los cálculos con fracciones ya la proporcionalidad. Algunos participantes - incluso aquellos que no utilizaron el lenguaje matemático específico para nombrar los procedimientos - hasta utilizaron las nomenclaturas referentes a la estrategia. Las vivencias, las discusiones y las reflexiones realizadas durante el desarrollo del proceso formativo ampliaron la base de conocimientos de las futuras profesoras para la enseñanza y la competencia docente para la enseñanza de situaciones envolviendo el razonamiento proporcional. Se reveló también necesario un enfoque más amplio acerca del raciocinio proporcional, complementado por el análisis de actividades profesionales visando al desarrollo de la competencia docente de mirar con sentido hacia el razonamiento proporcional de sus alumnos. Y se concluyó que, para ampliar el conocimiento y la competencia profesional de profesores sobre la enseñanza y el aprendizaje del raciocinio proporcional, es necesaria una constante reflexión sobre la práctica, sobre todo en ambientes que propicien un trabajo colaborativo. Palabras clave: Razonamiento proporcional. Formación inicial de profesores. Competencia profesional. Conocimientos necesarios para la enseñanza.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Questão apresentada no Saresp – 2013 31 Figura 2: Trabalho com tabela proporcional – Lamon ..Erro! Indicador não definido. Figura 3: Esquema de proporcionalidade simples apresentado pelo autor.......... Erro! Indicador não definido. Figura 4: Exemplo 1 - Proporcionalidade simples (multiplicação) – Escalar 54 Figura 5: Exemplo 1 - Proporcionalidade simples (multiplicação) – Funcional 54 Figura 6: Proporcionalidade simples (quarta proporcional) – Escalar 54 Figura 7: Quarta proporcional – Escalar 55 Figura 8: Proporcionalidade simples (quarta proporcional) – Funcional 56 Figura 9: Problema de correspondência um para muitos 58 Figura 10: Problema proposto por Llinares 63 Figura 11: Tentativas de resolução de uma situação não proporcional 71 Figura 12: Resolução correta de uma situação não proporcional 72 Figura 13: Problema de proporcionalidade apresentado pelos autores 72 Figura 14: Resolução de dois alunos sobre o problema de proporcionalidade 73 Figura 15: Modelo apresentado por Fonte: Ball, Thames e Phelps 85 Figura 16: Modelo proposto por Llinares 90 Figura 17: Imagem da questão 3 102 Figura 18: Reprodução da imagem - atividade introdutória 104 Figura 19: Reprodução da atividade 1 105 Figura 20: Reprodução de uma tela do computador 108 Figura 21: Exemplo de barrinhas usadas na atividade – Material concreto 108 Figura 22: Resolução da atividade profissional de valor omisso 111 Figura 23: Resolução da atividade profissional de valor omisso 113 Figura 24: Resolução da atividade profissional de comparação entre dois pares de grandezas 115 Figura 25: Resolução da atividade profissional de não proporcionalidade 117 Figura 26: Resolução da questão 01 do questionário preliminar - BA Sorriso 120 Figura 27: Resolução da questão 01 do questionário preliminar - Cami 120 Figura 28: Resolução da questão 01 do questionário preliminar - Binna 121 Figura 29: Resolução da questão 01 do questionário preliminar - Duda 122 Figura 30: Resolução da questão 01 do questionário preliminar - Mandala 122 Figura 31: Resolução da questão 01 do questionário preliminar - Margarida 123 Figura 32: Resolução da questão 01 do questionário preliminar - Orquídea 123 Figura 33: Questão a respeito de comparação entre grandezas 124 Figura 34: Resolução da questão 02 do questionário preliminar - Moana 125 Figura 35: Resolução da questão 02 do questionário preliminar - Moana 125 Figura 36: Resolução da questão 02 do questionário preliminar - Babich 125 Figura 37: Resolução da questão 02 do questionário preliminar - Ana Paula 126 Figura 38: Apresentação da questão 03 do questionário 126 Figura 39: Resolução da questão 03 do questionário preliminar - Ana 127 Figura 40: Resolução da questão 03 do questionário preliminar - Carla 128 Figura 41: Resolução - Carolina 128 Figura 42: Resolução da questão 03 do questionário preliminar – Duda 129 Figura 43: Resolução da questão 03 do questionário preliminar – Cami 129 Figura 44: Primeira tentativa de resolução da questão 3 - Groove 130 Figura 45: Segunda tentativa de resolução da questão 3 - Groove 130
Figura 46: Resolução da questão 3 do questionário preliminar – Pejo 130 Figura 47: Resolução da questão 3 do questionário preliminar – Pejo 131 Figura 48: Resolução da questão 01 do questionário preliminar - Mandala 132 Figura 49: Resolução da questão 4 do questionário preliminar – Margarida 134 Figura 50: Resolução da questão 4 do questionário preliminar – Babich 134 Figura 51: Resolução da questão 4 do questionário preliminar – BA Sorriso 135 Figura 52: Resolução da questão 4 do questionário preliminar – Binna 136 Figura 53: Resolução da questão 4 do questionário preliminar – Pejo 136 Figura 54: Resolução da questão 4 do questionário preliminar – Fênix 136 Figura 55: Resolução do item “a da questão 6” – Duda 139 Figura 56: Resolução do item “a” da questão 6 – B 139 Figura 57: Resolução do item “a” da questão 6 - Regina 140 Figura 58: Resolução do item “b” da questão 6 – B 140 Figura 59: Alunas do lado direito do professor-pesquisador olhando para a imagem 141 Figura 60: Alunas do lado esquerdo do professor-pesquisador olhando para a imagem 141 Figura 61: Alunas do centro do professor-pesquisador olhando para a imagem 141 Figura 62: Foto selecionada para a realização da atividade introdutória 142 Figura 63: Alteração realizada pelo professor-pesquisador 143 Figura 64: Professor-pesquisador expandindo a foto lateralmente 143 Figura 65: Professor-pesquisador expandindo a foto lateralmente 144 Figura 66: Professor-pesquisador apresentando o exemplo uma figura retangular 145 Figura 67: Relato de Ana Paula - proporcionalidade envolvida na redução 145 Figura 68: Tulipa relatando sobre um exemplo de proporcionalidade 146 Figura 69: Reação de Duda ao fazer seu relato 147 Figura 70: Tulipa ao relatar e perceber que possuía conhecimento do tema 148 Figura 71: Resolução da questão 01 do questionário preliminar - Tulipa 149 Figura 72: Imagem da atividade 1 150 Figura 73: Produção de Margarida do primeiro item da atividade 1 151 Figura 74: Margarida mostrando ao professor formador sua produção 151 Figura 75: Jú ao explicar sua dificuldade inicial do item “a” da atividade 1 152 Figura 76: Produção do item “b” da atividade1 – Docinho 152 Figura 77: Produção do item “b” da atividade1 - Mandala 153 Figura 78: Jú, após perceber seu erro - posterior ao diálogo 154 Figura 79: Produção de Jú após perceber o erro e refazer o item “c” 155 Figura 80: Protocolo de Binna - item “c” da atividade1 155 Figura 81: Protocolo de Vitória - item “c” da atividade1 156 Figura 82: Protocolo de Moana - item “c” da atividade1 157 Figura 83: Protocolo de Sempre Viva – item “d” da atividade1 158 Figura 84: Protocolo de Duda - item “d” da atividade1 158 Figura 85: Protocolo de Tulipa - item “d” da atividade1 158 Figura 86: Protocolo de Marisa Letícia- item “d” da atividade1 158 Figura 87: Pesquisadora Angélica sistematizando os itens “a” e “b” da atividade 1 159 Figura 88: Professor-pesquisador sistematizando o item “d” 161 Figura 89: Imagem apresentada na tela do computador das participantes 163 Figura 90: Primeira imagem apresentada na tela do computador 163 Figura 91: Segunda imagem apresentada na tela do computador 164 Figura 92: Imagem de Mariza Letícia alterando a figura inicial 165 Figura 93: Imagem do rosto de João achado 165
Figura 94: Imagem do rosto de João alongado 166 Figura 95: Imagem contendo o registro da não proporcionalidade 167 Figura 96: Imagem da relação entre as dimensões dos rostos de João 168 Figura 97: Imagem do registro da semelhança entre as fotos 168 Figura 98: Imagem do registro da razão entre as fotos de João 169 Figura 99: Imagem da tela do primeiro item - atividade 2 170 Figura 100: Imagem da tela do segundo item - atividade 2 171 Figura 101: Protocolo da participante Margarida 172 Figura 102: Protocolo da participante Jú 172 Figura 103: Protocolo da participante Hortência, contendo suas dificuldades 172 Figura 104: Protocolo da participante Jú – ideias relacionadas a soma 173 Figura 105: Protocolo da participante Groove – ideias relacionadas a soma 173 Figura 106: Imagem da tela do item b - resolução Babich 176 Figura 107: Imagem da tela do item c - atividade 2 177 Figura 108: Reprodução de uma resolução do terceiro item - atividade 2 178 Figura 109: Imagem da tela do item d- atividade 2 179 Figura 110: Protocolo da participante Hortência 180 Figura 111: Protocolo da participante Tarsila – questão 3 da atividade 2 182 Figura 112: Protocolo da participante Groove – questão 3 da atividade 2 182 Figura 113: Atividade material concreto – item “a” 184 Figura 114: Produção de Girassol (ampliação duas e três vezes) – item “a” 185 Figura 115: Produção de B (ampliação duas e três vezes) – item “a 186 Figura 116: Produção de Cami (ampliação em 2,5) – item “a” 187 Figura 117: Produção de Duda (ampliação em 2,5) – item “a” 187 Figura 118: Produção de Carla (ampliação em 2,5) – item “a” 188 Figura 119: Produção de Groove (ampliação em 2,5) – item “a” 188 Figura 120: Produção de Tarsila (redução pela metade) – item “a” 189 Figura 121: Produção de Cami (redução um quarto) – item “a” 189 Figura 122: Produção de Binna (redução um quarto) – item “a” 190 Figura 123: Produção de Tulipa (redução um quarto) – item “a” 190 Figura 124: Atividade material concreto – item “b” 192 Figura 125: Produção de Mandala – item “b” 193 Figura 126: Produção de B – item “b” 193 Figura 127: Atividade material concreto – item “c” 194 Figura 128: Produção de Angel – item “c” 195 Figura 129: Produção de Cami – item “c” 195 Figura 130: Produção de Sempre Viva – item “c” 196 Figura 131: Atividade material concreto – item “d” 197 Figura 132: Produção de Girassol – item “d” 197 Figura 133: Produção de Mandala – item “d” 198 Figura 134: Produção de Pejo – item “d” 198 Figura 135: Produção de Cami – item “d” 199 Figura 136: Produção de Sempre Viva – item “d” 199 Figura 137: Resolução de Tulipa – Primeira situação da atividade 4 203 Figura 138: Resolução de Angel – Primeira situação da atividade 4 204 Figura 139: Resolução de Tulipa - Segunda situação da atividade 4 205 Figura 140: Resolução de B - Segunda situação da atividade 4 205 Figura 141: Resolução de Orquídea - atividade 5 207 Figura 142: Resolução de Margarida - atividade 5 208 Figura 143: Resolução de Carla - atividade 5 208
Figura 144: Resolução de Tulipa – atividade 5 209 Figura 145: Produção de Tulipa – segunda situação da atividade 5 209 Figura 146: Resolução de Cami – atividade 5 210 Figura 147: Resolução de Pejo – atividade 5 210 Figura 148: Resolução de Cami – atividade 6 213 Figura 149: Resolução de B – atividade 6 214 Figura 150: Resolução de Margarida – atividade 6 214 Figura 151: Resolução de Groove – atividade 6 215 Figura 152: Resolução de Girassol – atividade 6 216 Figura 153: Resolução de Angel – atividade 6 217 Figura 154: Resolução de Duda – atividade 6 217 Figura 155: Resolução de Ana – atividade 6 218 Figura 156: Resolução de Orquídea – atividade 6 218 Figura 157: Resposta de Tulipa – item “a” da atividade 7 222 Figura 158: Resposta de Mandala – item “a” da atividade 7 222 Figura 159: Resposta de Nilma – item “a” da atividade 7 222 Figura 160: Resposta de Angel – item “a” da atividade 7 223 Figura 161: Resposta de Nilma – item “b” da atividade 7 223 Figura 162: Resposta de Cami – item “b” da atividade 7 224 Figura 163: Resposta de Sempre Viva – item “b” da atividade 7 224 Figura 164: Resposta de Mandala – item “d” da atividade 7 226 Figura 165: Resposta de Cami – item “d” da atividade 7 226 Figura 166: Resposta de Carla – item “d” da atividade 7 226 Figura 167: Resposta de Tulipa – item “d” da atividade 7 227 Figura 168: Figura proposta na atividade 8 228 Figura 169: Atividade profissional de valor omisso 230 Figura 170: Discussões entre Carla e Mariza Letícia 231 Figura 171: Resposta de Mandala – item “b” da atividade 8 232 Figura 172: Resposta de Babich – item “b” da atividade 8 232 Figura 173: Resposta de Orquídea– item “b” da atividade 8 233 Figura 174: Resposta de Carla – item “c” da atividade 8 233 Figura 175: Resposta de Angel – item “c” da atividade 8 234 Figura 176: Resposta de Orquídea– item “c” da atividade 8 234 Figura 177: Resposta de Margarida – item “c” da atividade 8 234 Figura 178: Resposta de Orquídea– item “d” da atividade 8 235 Figura 179: Resposta de Groove – item “d” da atividade 8 235 Figura 180: Resposta de Margarida – item “d” da atividade 8 236 Figura 181: Atividade profissional de comparação entre dois pares de grandezas 239 Figura 182: Resposta de Tulipa – item “a” da atividade 9 240 Figura 183: Resposta de Margarida – item “b” da atividade 9 241 Figura 184: Resposta de Groove – item “c” da atividade 9 242 Figura 185: Resposta de Girassol – item “c” da atividade 9 242 Figura 186: Resposta de Orquídea – item “c” da atividade 9 243 Figura 187: Resposta de Nilma – item “d” da atividade 9 244 Figura 188: Resposta de Angel – item “d” da atividade 9 244 Figura 189: Orquídea explicando sua produção 246 Figura 190: Resposta de Nilma – item “a” da atividade 9 248 Figura 191: Resposta de Groove – item “a” da atividade 9 248 Figura 192: Resposta de Sempre Viva – item “a” da atividade 9 249 Figura 193: Atividade profissional de não proporcionalidade 250
Figura 194: Resposta de B – item “b” da atividade 10 250 Figura 195: Resposta de Tulipa – item “b” da atividade 10 251 Figura 196: Resposta de Angel – item “d” da atividade 10 252 Figura 197: Resposta de Groove – item “d” da atividade 10 252 Figura 198: Tulipa em seu relato 254
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Resultados em percentual de acerto dos alunos 59 Quadro 2: Pesquisa de perfil 96 Quadro 3: Desenho do Curso de Formação 100 Quadro 4: Relação de dependência 103 Quadro 5: Questão 5 do questionário preliminar 137 Quadro 6: Atividade 7 221
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 - CONFIGURAÇÃO DA PESQUISA 26 1.1 Motivações para desenvolvimento do estudo 26 1.2 Das motivações pessoais aos resultados de pesquisa: em busca de justificativas dessa escolha 28 1.3 Objetivo e questões de Pesquisa 32 1.4 Breve descrição dos procedimentos utilizados na pesquisa 33 1.5 Fundamentação teórica 34 CAPÍTULO 2 - RACIOCÍNIO PROPORCIONAL: UM OLHAR SOBRE PESQUISAS ANTERIORES E O MARCO TEÓRICO 35 2.1 Raciocínio proporcional, pensamento proporcional e proporcionalidade 35 2.2 Proporções e raciocínio proporcional: alguns pressupostos 37 2.3 Proporções e raciocínio proporcional em crianças 52 2.4 A formação de professores e o raciocínio proporcional 70 2.5 O que dizem os documentos curriculares a respeito da temática 74 2.6 O uso de diferentes tecnologias no ensino 80 2.7 Conceitos teóricos relacionados à competência e aos conhecimentos do professor 84 2.7.1 Deborah Loewenberg Ball e os conhecimentos do futuro professor 84 2.7.1.1 Conhecimento comum do conteúdo 86 2.7.1.2 Conhecimento especializado do conteúdo 86 2.7.1.3 Conhecimento horizontal do conteúdo 87 2.7.1.4 Conhecimento de conteúdo e de alunos 87 2.7.1.5 Conhecimento de conteúdo e de ensino 88 2.7.1.6 Conhecimento curricular do conteúdo 89 2.8 Salvador Llinares: a competência docente e o olhar profissional 89 CAPÍTULO 3 - A PESQUISA 94 3.1 A escolha metodológica 94 3.2 As participantes da pesquisa 95 3.3 Os procedimentos metodológicos 98 3.4 Breve descrição da formação desenvolvida para coleta de dados 99 3.4.1 A apresentação da proposta e a dinâmica de apresentação 101 3.4.2 Descrição do questionário preliminar 101 3.4.3 Descrição da atividade “Alterando o rosto do professor” 104 3.4.4 Descrição da atividade 1 104 3.4.5 Descrição da atividade2 106 3.4.6 Descrição da atividade - Material concreto 108 3.4.7 Descrição das Atividades 4 e 5 109 3.4.8 Descrição da atividade 6 109 3.4.9 Descrição da atividade 7 110 3.4.10 Descrição da atividade 8 112 3.4.11 Descrição da atividade 9 114 3.4.12 Descrição da atividade 10 116 3.4.13 Descrição do memorial reflexivo 117 CAPÍTULO 4 - ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO PRELIMINAR 119 CAPÍTULO 5 - ANÁLISE DA FORMAÇÃO 141 5.1 Atividade introdutória (alterando a foto do professor) 142 5.2 A atividade 1 150
5.2.1 O item “a” da atividade 1 150 5.2.2 O item “b” da atividade 1 152 5.2.3 O item “c” da atividade 1 153 5.2.4 O item “d” da atividade1 157 5.2.5 Sistematização da atividade 1 159 5.3 A atividade 2 162 5.3.1 O item “a” da atividade 2 170 5.3.2 O item “b” da atividade 2 171 5.3.3 O item “c” da atividade 2 177 5.3.4 O item “d” da atividade 2 178 5.3.5 A sistematização da atividade 2 179 5.4 A atividade com material concreto 184 5.4.1 O item “a” da atividade com material concreto 184 5.4.2 O item “b” da atividade com material concreto 191 5.4.3 O item “c” da atividade com material concreto 194 5.4.4 O item “d” da atividade material concreto 196 5.4.5 A sistematização da atividade com material concreto 200 5.5 A atividade 4 203 5.5.1 A sistematização da atividade 4 206 5.6 A atividade 5 206 5.6.1 A sistematização da atividade 5 211 5.7 A atividade 6 212 5.7.1 A sistematização da atividade 6 219 5.8 A atividade 7 220 5.8.1 O item “a” da atividade 7 222 5.8.2 O item “b” da atividade 7 223 5.8.3 O item “c” da atividade 7 225 5.8.4 O item “d” da atividade 7 225 5.8.5 A sistematização da atividade 7 227 5.9 A atividade 8 228 5.9.1 O item “a” da atividade 8 229 5.9.2 O item “b” da atividade 8 232 5.9.3 O item “c” da atividade 8 233 5.9.4 O item “d” da atividade 8 234 5.9.5 A sistematização da atividade 8 236 5.10 A atividade 9 238 5.10.1 O item “a” da atividade 9 240 5.10.2 O item “b” da atividade 9 241 5.10.3 O item “c” da atividade 9 242 5.10.4 O item “d” da atividade 9 243 5.10.5 A sistematização da atividade 9 245 5.11 A atividade 10 247 5.11.1 O item “a” da atividade 10 247 5.11.2 O item “b” da atividade 10 250 5.11.3 O item “c” da atividade 10 251 5.11.4 O item “d” da atividade 10 252 5.11.5 A sistematização da atividade 10 253 5.12 O memorial reflexivo 255 CONSIDERAÇÕES FINAIS 257 REFERÊNCIAS 270
APRESENTAÇÃO
Neste estudo, investigamos um processo de formação inicial realizado em uma
instituição particular com um grupo de 30 estudantes de pedagogia, as quais
cursavam semestres distintos. Esse curso1, realizado fora do período regular das
aulas, tinha como pressupostos desenvolver competências profissionais das
participantes para o ensino do raciocínio proporcional.
A formação foi organizada a partir de discussões sobre o ensino e a
aprendizagem da temática escolhida, por meio da vivência de diferentes estratégias e
recursos de ensino. Além disso, procurou promover reflexões compartilhadas acerca
de práticas docentes, dificuldades na aprendizagem de conceitos relativos ao olhar
profissional sobre seu ensino.
Nessa perspectiva, fundamentamos esta investigação em Llinares (2008, 2013,
2015a, 2015b), Fernández e Llinares (2012) e em Ball, Thames e Phelps (2008), por
meio dos quais buscamos relacionar conhecimentos do conteúdo com conhecimentos
a respeito de alunos, do ensino e do currículo e desenvolver competências relativas
ao olhar profissional do pensamento matemático das futuras professoras sobre o
raciocínio proporcional. Para realizar o processo formativo e analisar as informações
coletadas, buscamos resultados de pesquisa que discutissem eventuais lacunas na
compreensão de estudantes, o que será relatado no capítulo destinado à revisão de
literatura. Portanto, com base nessa revisão, planejamos as atividades profissionais2
e de aprendizagem3 para serem discutidas durante o processo formativo. Elas serão
aqui analisadas nos capítulos 5 e 6.
Nesta investigação, de natureza qualitativa, exercemos a função de professor-
pesquisador. Contamos com a participação de uma cinegrafista em todas as sessões
e, de forma esporádica, de outra professora-pesquisadora, Angélica4. A formação foi
1 O curso de formação inicial foi um curso de aprofundamento de estudos realizado fora do horário regular das aulas - teve a carga horária de 20 horas em atividades complementares validas para o curso de pedagogia. 2 Neste estudo chamamos de atividades profissionais os problemas profissionais que oportunizam formas efetivas de os estudantes para professores enxergarem tarefas matemáticas, visando à aprendizagem de determinado conteúdo pelos seus futuros alunos (LLINARES, 2013). 3 Diferentemente da Tarefa Profissional, denominamos Tarefas de Aprendizagem as situações por nós selecionadas para investigar os conhecimentos explicitados pelas participantes sobre o raciocínio proporcional. Tais situações também foram discutidas durante a formação, com o propósito de refletir sobre as ideias que envolvem o raciocínio proporcional. 4 A pesquisadora Angélica atuou exclusivamente nas duas primeiras sessões e também auxiliou na condução do processo de formação.
desenvolvida em dez sessões de duas horas cada uma, todas elas devidamente
filmadas para propiciar a análise em momentos posteriores. Ao final de cada sessão,
realizamos uma primeira análise do material coletado e da filmagem, com o objetivo
de refletir e planejar as atividades das sessões seguintes. Para o desenvolvimento
desse processo formativo, utilizamos recursos diversificados, como lápis e papel
(APÊNDICES - C, D, E, G, H, I, J, K, L, M, N), computador (APÊNDICE E) e atividades
com materiais concretos (APÊNDICE F)5. Empregamos o quadro como apoio para
sistematização das ideias que emergiram das situações e procuramos, ao longo dos
encontros, ouvir as estudantes em suas conjecturas e problematizá-las. As tarefas
foram propostas a elas de forma individual e também, em diferentes momentos, de
forma coletiva, como descreveremos no capítulo destinado à análise dos dados.
Em consonância com os procedimentos escolhidos para esta nossa pesquisa,
temos como objetivo: Analisar a competência docente e os conhecimentos
profissionais desenvolvidos pelas participantes de um curso de formação
docente para o ensino do raciocínio proporcional. Para atingir este objetivo,
buscamos respostas às seguintes questões de pesquisa:
a) Quais competências relativas ao olhar profissional do pensamento
matemático de alunos são evidenciadas por futuras professoras durante
sua participação em um curso de formação inicial?
b) Quais conhecimentos profissionais são revelados por um grupo de
estudantes de pedagogia a respeito de situações envolvendo raciocínio
proporcional durante a participação de um curso?
Para buscar respostas para estas questões, desenvolvemos um processo
formativo que vislumbrou oferecer espaços para as participantes aprenderem a
ensinar ideias relacionadas ao raciocínio proporcional.
Para apresentar este estudo, organizamos o texto nos capítulos descritos a
seguir:
No capítulo 1 exporemos como o estudo se configurou. Apresentamos
inicialmente a trajetória profissional, para justificar a escolha do tema: raciocínio
proporcional e formação de professores do ponto de vista pessoal, procurando
mostrar como essa preocupação foi se constituindo. Posteriormente, justificamos a
pesquisa, fundamentados em alguns estudos sobre o tema, e em seguida,
5 Essas ferramentas e suas aplicações serão descritas com maiores detalhes na seção 2.6.
apresentamos de forma sucinta os objetivos e as questões de pesquisa, os teóricos e
uma breve descrição do percurso deste estudo.
No capítulo 2, buscaremos localizar e fundamentar o estudo em questão.
Optamos por organizar em tópicos a revisão de literatura e os aportes teóricos que
nortearam a análise de dados. Quanto ao enfoque da base de conhecimentos para o
ensino, foram consideradas as categorias estabelecidas por Ball, Thames e Phelps
(2008). No que tange ao tema sobre a competência relacionada ao olhar com sentido
o pensamento matemático de alunos, apoiamo-nos nas ideias de Llinares e
Fernández e de Llinares. Para as questões didáticas ligadas ao raciocínio
proporcional, nossos aportes foram os estudos de Lesh, Post e Behr; Lamon; Post,
Behr e Lesh; Silvestre e Ponte; Spinillo; e Oliveira, em que identificamos
potencialidades para detectar e analisar lacunas no ensino de questões relacionadas
ao raciocínio proporcional.
Já no capítulo 3 descreveremos a investigação, a qual a caracterizamos como
uma pesquisa de natureza qualitativa, e descreveremos os procedimentos
metodológicos utilizados no seu desenvolvimento.
No capítulo 4, apresentaremos a análise do questionário que nos forneceu um
diagnóstico que serviu para conceber o planejamento inicial da formação.
O capítulo 5 foi destinado à apresentação dos resultados da pesquisa de
campo. Analisaremos a formação realizada, utilizando resultados de pesquisa e o
marco teórico descrito anteriormente.
Enfim, nas considerações finais, realizaremos a descrição sucinta do
percurso do trabalho, retomaremos as análises feitas e as relacionaremos com
resultados de outras pesquisas. Em seguida, finalizaremos o estudo com as
indicações das “limitações” da pesquisa e as possibilidades de realização de outros
estudos a respeito do tema.
Apontado este panorama do estudo, iniciaremos a próxima seção, em que
exporemos como a pesquisa foi configurada.
26
CAPÍTULO 1 - CONFIGURAÇÃO DA PESQUISA
Neste capítulo, apresentamos de maneira resumida as motivações e a trajetória
profissional, por acreditarmos terem elas influenciado na escolha do segmento de
ensino, da temática a ser investigada e nas opções pela linha de pesquisa.
Posteriormente apresentamos o objetivo e as questões de pesquisa, em seguida uma
breve descrição dos procedimentos utilizados na pesquisa e, por fim, quais teorias
foram utilizadas na tese.
1.1 Motivações para desenvolvimento do estudo6
Pela experiência adquirida em mais de 20 anos, atuando em diferentes níveis
e modalidades de ensino nas disciplinas Matemática, Ciências, Física e Biologia,
observei dificuldades acentuadas dos estudantes da Educação Básica para
compreender situações que envolvem o raciocínio proporcional.
Uma formação inicial sólida a respeito dessa temática poderia ter favorecido
minha atuação profissional. Entretanto, encontrei dificuldades para tratar desse e de
outros assuntos na sala de aula, pois questões específicas e didáticas ligadas ao
ensino da matemática não foram contempladas durante o meu curso de graduação.
Durante minha trajetória profissional, inquietações ligadas à minha atuação e
aos demais professores que ensinavam matemática se evidenciaram e senti
necessidade de buscar cursos que pudessem responder a meus questionamentos.
Eu e alguns colegas participamos de cursos promovidos pela Secretaria de Estado da
Educação de São Paulo – SEE – com o propósito de ampliar nossos conhecimentos
a respeito do ensino da Matemática. Alguns deles nos trouxeram mais subsídios e
outros nem tanto. Considero que o mais relevante foi o curso “Especialização em
Educação Matemática”, coordenado pela professora Tânia Campos, que me
proporcionou um novo olhar para o ensino da matemática, uma vez que tivemos
contato com diferentes resultados de pesquisa, utilizamos diferentes abordagens e
instrumentos tecnológicos. Percebi que essa experiência favoreceu mudanças na
minha prática pedagógica, e a principal delas foi a busca por resultados de pesquisa.
6 Esta subseção será escrita na primeira pessoa do singular, por relatar motivações pessoais do professor-pesquisador. As demais estão redigidas na primeira pessoa do plural.
27
Queria compreender um pouco mais sobre questões ligadas ao ensino e à
aprendizagem da matemática e à Educação Matemática, tendo em vista que já
atuava, então, como coordenador pedagógico e buscava resposta aos meus
questionamentos e aos dos professores.
Nesse contexto, ingressei no mestrado acadêmico em Educação Matemática
da Universidade Bandeirante de São Paulo – UNIBAN. O desenvolvimento do estudo
que gerou minha dissertação trouxe-me, por um lado, ricas experiências quanto ao
ensino mediado por tecnologia e, por outro lado, direcionou meu olhar para a pesquisa
acadêmica. Sob esses dois aspectos, esse curso favoreceu meu desenvolvimento
profissional.
Já como mestre, comecei a atuar como professor no curso superior de uma
Universidade particular da Grande São Paulo e, dentre outros cursos, lecionei na
Pedagogia. Em minha atuação como professor de disciplinas ligadas a cálculo,
percebi que os estudantes possuíam grandes dificuldades para lidar com números.
Muitos optaram por fazer tal curso por achar que não teriam matemática.
Percebi a necessidade de compreender um pouco mais sobre os processos de
ensino e de aprendizagem da matemática para os anos iniciais e sobre a formação
inicial do professor desse segmento. Com isso, em 2015, após quatro anos do término
do mestrado, ingressei no curso de doutorado, na Universidade Anhanguera de São
Paulo.
Assim, a partir dessas concepções e experiências de ensino, surgiu o desejo
de realizar uma investigação em um curso de formação inicial e, quem sabe, dar minha
contribuição aos estudantes para professores da instituição na qual estou inserido.
Busquei também, por meio da investigação, propor um processo formativo que os
ajudasse a compreender mais e, quem sabe, gostar um pouco mais da matemática e
seu ensino. Para isso, escolhi o tema raciocínio proporcional, por ser uma das
principais ideias da matemática e pela relevância no cotidiano da sociedade. Nesse
contexto, planejei uma formação que tivesse como pressupostos oferecer espaços
para divulgação de resultados de pesquisa durante as discussões e as reflexões sobre
os processos de ensino e de aprendizagem do raciocínio proporcional.
Pretendia, por meio deste estudo, ampliar as discussões e reflexões dos futuros
professores, por acreditar, assim como Angeloni e Fiates (2005), que as Instituições
de Ensino Superior podem ser consideradas locais privilegiados para a aquisição, a
criação, o compartilhamento e a utilização de diversos conhecimentos. Dessa forma,
28
assim como os autores, considero possível que o desenvolvimento de uma pesquisa
na própria instituição na qual as alunas estudam possa contribuir para a produção de
seus conhecimentos. Além disso, acredito que os resultados obtidos poderão fornecer
a outros estudantes de pedagogia material para estudo, análise e reflexão acerca das
situações ligadas aos processos de ensino e de aprendizagem do raciocínio
proporcional.
1.2 Das motivações pessoais aos resultados de pesquisa: em busca de
justificativas dessa escolha
Para proceder à escolha da temática raciocínio proporcional, analisamos
documentos curriculares e pesquisas que discutem o raciocínio proporcional e seu
ensino. Em documentos curriculares oficiais, como os Parâmetros Curriculares
Nacionais (BRASIL, 1997, 1998), encontramos uma discussão sobre a relevância do
tema proporcionalidade e do desenvolvimento do raciocínio proporcional. Segundo os
autores desse documento, o ensino desse conteúdo deverá perpassar toda a trajetória
escolar dos alunos e envolver não só Matemática, mas também outras disciplinas do
Ensino Fundamental e Médio.
O documento, ao apresentar a organização dos conteúdos dos diferentes
ciclos7 do Ensino Fundamental, considera a proporcionalidade como um princípio
básico do corpo de conhecimento matemático. Os autores desse documento afirmam:
[...] O fato de que vários aspectos do cotidiano funcionam de acordo com leis
de proporcionalidade evidencia que o raciocínio proporcional é útil na interpretação de fenômenos do mundo real. Ele está ligado à inferência e à predição e envolve métodos de pensamento qualitativos e quantitativos [...].
Para raciocinar com proporções é preciso abordar os problemas de vários pontos de vista e também identificar situações em que o que está em jogo é a não proporcionalidade. (BRASIL, 1997, 38, grifo nosso)
Sobre esse tema, os alunos realizam estudos a respeito da densidade
demográfica na disciplina Geografia e de equilibração de forças em Física. Ademais,
atividades diárias, como a confecção de um bolo, a compra e a venda de produtos, a
construção civil requerem conhecimentos ligados ao raciocínio proporcional.
7 Segundo esse documento o primeiro ciclo do Ensino Fundamental no Brasil é formado por crianças de 6 a 10 anos que cursam desde o 1.° ao 5.° anos; já o segundo ciclo acolhe alunos de 11 a 17 anos, do 6.° ao 9.° anos.
29
Além dos PCN, documentos oficiais recentes, os quais norteiam a Educação
brasileira, como a Base Nacional Comum Curricular – BNCC – (BRASIL, 2017) e
propostas curriculares estrangeiras, como a de Portugal (Ministério da Educação)8 e
a dos Estados Unidos (NCTM, 2000)9, orientam a exploração do raciocínio
proporcional com as crianças desde os anos iniciais.
Ademais, a temática é tão relevante que na BNCC (BRASIL, 2017, p. 264) é
uma das sete ideias fundamentais “para o desenvolvimento do pensamento
matemático dos alunos e devem se converter, na escola, em objetos de
conhecimento”.
Todavia, a aprendizagem do raciocínio proporcional não está ocorrendo a
contento nas escolas brasileiras e tampouco nas de outros países. No Brasil, por
exemplo, Oliveira (2009) aponta que, muitas vezes, problemas que envolvem
raciocínio proporcional se reduzem à aplicação de regras matemáticas.
No âmbito internacional, Lamon (2005) revela que, mesmo com indicações
curriculares ressaltando o uso de diferentes procedimentos metodológicos para o
ensino do tema, em geral, os alunos muitas vezes aplicam regras de álgebra, de
geometria ou de trigonometria sem compreensão. Para a autora, os estudantes "não
estão preparados para aplicações reais [...] onde princípios importantes e
fundamentais se apoiam na proporcionalidade"10 (LAMON, 2005, p. 3, tradução
nossa).
Segundo tais estudos, geralmente não se desenvolvem habilidades para
compreender tais conceitos. Procuramos argumentos, analisando resultados de
avaliações externas: o Sistema de Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb)
e o Sistema de Avaliação Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp).
Nessas avaliações, realizadas em redes públicas de Ensino, verificou-se que
alunos que estudam nos anos iniciais do Ensino Fundamental possuem dificuldades
em relação à proporcionalidade. Em 2014, por exemplo, os resultados mostraram, no
desempenho de crianças, limitações na compreensão de situações que envolvem a
ideia de proporções. É possível perceber na Tabela 1 que a proporcionalidade simples
foi avaliada com alunos que estudam no 5.° ano do Ensino Fundamental em uma
8 Programa de Matemática do Ensino Básico de Portugal 9 National Council of Teachers of Mathematics (NCTM) 10 “They are unprepared for real applications in statistics, biology, geography, or physics—where important, foundational principles rely on proportionality” (LAMON, 2005, p. 3).
30
situação que envolve a multiplicação. Pode também ser analisado comparativamente
o índice de acerto das crianças em 2013 e 2014.
Tabela 1: Relatório do SARESP 2014
Fonte: Adaptado do Relatório - SARESP (2014, p. 74)
Analisando o ocorrido, observamos que 55,2% das crianças acertaram o item
em 2013 e 58,9% em 2014, um índice baixo de acertos. Tal resultado é preocupante,
se considerarmos que até mesmo alunos no final da Educação Básica (17 anos)
revelam dificuldades quando resolvem problemas com esse tipo de raciocínio. Por
exemplo, no Saresp de 2013 foi apresentado aos alunos o item a seguir, que pretendia
avaliar se eles identificavam figuras semelhantes, mediante o reconhecimento de
relações de proporcionalidade.
31
Figura 1: Questão apresentada no Saresp – 2013
Fonte: Relatório Pedagógico Saresp (2013, p. 145)
Analisando o resultado, observamos que a situação foi respondida
corretamente por 33,2% dos estudantes. Esse, de nosso ponto de vista, é um índice
baixo de acerto, uma vez que os alunos que realizaram a prova eram concluintes do
Ensino Médio.
Entretanto, tais limitações podem ser ainda maiores, se levarmos em conta o
quão complexo é o raciocínio proporcional, pois, mesmo que a taxa de acertos fosse
maior, não seria possível afirmar que os alunos que acertaram esse tipo de item
desenvolveram o raciocínio proporcional. Lamon (2005) ajuda-nos a entender a
complexidade desse tipo de raciocínio, ao apontar algumas habilidades a serem
desenvolvidas: compreensão da covariação de grandezas, identificação de situações
proporcionais ou não e a percepção da sua utilidade; aquisição de argumentos para
justificar sua forma de pensar situações de proporcionalidade.
Nesse contexto se verifica a importância do raciocínio proporcional para o
ensino da Matemática. Assim, tomamos como ponto de partida a ideia de que o futuro
32
professor precisa estar preparado para explorar esse tipo de raciocínio em diferentes
situações, e isso requer dele um repertório expressivo de conhecimentos que lhe
permitam ir além de indicar procedimentos de cálculo, fazer as adequações
necessárias ao nível de compreensão dos alunos e favorecer algumas articulações
dessas noções com outros conteúdos já estudados.
Uma das motivações para a proposição deste estudo foi a percepção da
necessidade de realizar investigações que tratem dessa temática, uma vez que
leituras já realizadas sinalizam que ainda há um amplo campo de investigação para
estudar esse tipo de raciocínio em contexto de formação inicial com futuros
professores que lecionarão matemática para os primeiros anos do Ensino
Fundamental.
Com a intenção de produzir uma pesquisa acadêmica que favoreça o ensino
de ideias ligadas ao raciocínio proporcional, organizamos esta investigação e
convidamos 30 estudantes de um curso de Pedagogia de uma universidade particular
da Grande São Paulo para que participassem voluntariamente.
Tendo justificado a escolha do tema “raciocínio proporcional” e do grupo de
participantes desta pesquisa, apresentaremos a seguir o objetivo e as questões de
pesquisa que nos ajudaram a desenvolver este estudo.
1.3 Objetivo e questões de Pesquisa
A investigação em questão está pautada segundo o seguinte objetivo:
Analisar a competência docente e os conhecimentos profissionais desenvolvidos
pelas participantes de um curso de formação docente para o ensino do raciocínio
proporcional.
Para atingir esse objetivo, foi desenvolvida uma formação inicial, cujos
pressupostos foram discussões e reflexões realizadas de forma colaborativa tanto
sobre a aprendizagem do tema por parte das futuras professoras como sobre o seu
ensino.
Realizamos um estudo em que buscamos respostas às seguintes questões de
pesquisa:
a) Quais competências relativas ao olhar profissional do pensamento
33
matemático de alunos são evidenciadas por futuras professoras durante
sua participação em um curso de formação inicial?
b) Quais conhecimentos profissionais são revelados por um grupo de
estudantes de Pedagogia a respeito de situações envolvendo raciocínio
proporcional durante a participação em um curso?
1.4 Breve descrição dos procedimentos utilizados na pesquisa
A pesquisa em questão, de natureza qualitativa, solicitou avaliação ética pelo
sistema CEP/CONEP e obteve a aprovação, sob o número 1.843.270, para a sua
realização. Tal estudo levou em conta as palavras de D’Ambrosio (2004, p. 4), quando
nos diz que a pesquisa qualitativa “[...] é o caminho para escapar da mesmice”, uma
vez que, segundo o autor, ela “lida e dá atenção às pessoas e às ideias, procura fazer
sentido de discursos e narrativas que estariam silenciosas e a análise dos resultados
permitirá propor os próximos passos” (p. 21).
Dessa forma, consideramos, assim como o autor, que neste estudo procuramos
um caminho para desvelar os discursos e as narrativas por meio de um processo que
envolveu a reflexão e a análise do ocorrido em uma formação inicial. Essa formação
visou dar voz ao futuro professor, para compreender como se desenvolve sua
competência profissional no contexto analisado e na forma como estruturamos a
formação. Exporemos esta investigação na forma de dois estudos.
O primeiro, de natureza analítica descritiva, analisou as respostas das
participantes a um questionário preliminar por meio do qual buscamos traçar um perfil
profissional do grupo de pesquisa, identificar competências dessas participantes
quanto ao olhar profissional do pensamento matemático e seus conhecimentos acerca
do raciocínio proporcional no momento inicial da formação.
Já no segundo estudo, de caráter experimental e analítico, no qual
desenvolvemos e analisamos uma formação inicial com as futuras pedagogas,
procuramos discutir e refletir acerca de uma sequência de atividades elaboradas e/ou
organizadas a partir da revisão de literatura realizada previamente. Para a pesquisa e
a análise das informações coletadas, utilizamos o marco teórico apresentado a seguir.
34
1.5 Fundamentação teórica
A análise dos dados deste estudo fundamentou-se em Lesh, Post e Behr
(1988); Lamon (2005); Post, Behr e Lesh (1995); Silvestre e Ponte (2009); e Oliveira
(2009), dentre outros, no tocante às ideias ligadas ao raciocínio proporcional. Como
marco teórico nos apoiamos nas ideias de Llinares (2008, 2011, 2013, 2015a, 2015b)
e Fernández e de Llinares (2012) a respeito da competência profissional docente; e
de Ball, Thames e Phelps (2008), relativamente aos conhecimentos necessários ao
ensino.
A partir da exposição de como esta investigação se configurou,
apresentaremos no próximo capítulo a revisão de literatura, em que apontaremos
estudos pertinentes que localizam nossa pesquisa na área Educação Matemática e
procuraremos expor nosso diferencial em relação aos trabalhos já realizados.
Seguiremos para o capítulo 2.
35
CAPÍTULO 2 - RACIOCÍNIO PROPORCIONAL: UM OLHAR SOBRE
PESQUISAS ANTERIORES E O MARCO TEÓRICO
Para a realização desta investigação foram feitas leituras preliminares, a fim de
mapear os trabalhos já existentes, a partir dos seguintes subitens:
● 2.1 Raciocínio proporcional, pensamento proporcional e proporcionalidade.
● 2.2 Raciocínio proporcional: alguns pressupostos.
● 2.3 Proporções e raciocínio proporcional em crianças.
● 2.4 A formação de professores e o raciocínio proporcional.
● 2.5 O que dizem os documentos curriculares a respeito da temática.
● 2.6 O uso de diferentes tecnologias no ensino.
No primeiro subitem nos ateremos à discussão ocorrida no meio acadêmico a
respeito dos termos “raciocínio proporcional”, “pensamento proporcional” e
“proporcionalidade”. Em seguida, apresentaremos alguns pressupostos relativos às
escolhas teóricas observadas em estudos já realizados. Já no terceiro subitem,
voltaremos nossas atenções aos trabalhos com alunos menores. E, no quarto
subitem, buscaremos literaturas associadas à formação de professores e à temática
da nossa pesquisa. No quinto subitem, procuraremos compreender as orientações
oficiais contidas em documentos curriculares. E, por fim, buscaremos descrever como
utilizaremos tecnologia neste trabalho. A seguir, discorreremos sobre as leituras
realizadas sobre tais temáticas.
2.1 Raciocínio proporcional, pensamento proporcional e proporcionalidade
Ao iniciarmos a revisão de literatura, notamos tanto em pesquisas brasileiras
quanto em internacionais que não há uniformidade na utilização dos termos “raciocínio
proporcional”, “pensamento proporcional” e “proporcionalidade”. Tal fato também foi
observado por Silvestre e Ponte (2009, p. 1), que chamam a atenção, sobretudo, para
a dualidade de interpretação do termo “proporcionalidade”, ora interpretada como uma
proporcionalidade direta, ora como raciocínio proporcional:
[...] nem sempre é fácil reconhecer na literatura se o termo proporcionalidade se refere a uma definição matemática de proporcionalidade directa (como igualdade entre duas razões, a/b = c/d, ou como função linear y=mx, com m≠0) ou pelo contrário, se este termo diz respeito ao conceito psicológico,
36
isto é, aos aspectos do raciocínio que atendem ao significado matemático daquele conceito (estrutura, invariância e equivalência sob uma variedade de transformações). (SILVESTRE; PONTE, 2009, p. 1)
Segundo os autores, essa "confusão terminológica" está associada a estudos
desenvolvidos ao longo das últimas décadas, que tiveram por base diferentes
perspectivas sobre o próprio conhecimento matemático que envolve a
proporcionalidade direta, como, por exemplo, "razão, proporção, frações equivalentes,
conversão de unidades de medida (grandezas extensivas e intensivas) e escalas"
(SILVESTRE; PONTE, 2009, p. 02). No nosso estudo consideramos que a
compreensão da proporcionalidade é parte integrante do raciocínio proporcional.
Assim, de nosso ponto de vista, a definição matemática de proporcionalidade será um
fator relevante para o desenvolvimento do raciocínio proporcional.
No tocante ao uso dos termos “pensamento” e “raciocínio proporcional”,
observamos a mesma polissemia. Estudos como os de Poggio (2012), por exemplo,
distinguem os dois termos, porém Miranda (2009) os considera como sinônimos.
Poggio (2012) procura definir e delimitar o pensamento proporcional como um
tipo de pensamento que envolve um conceito maior que fornece elementos para o
sujeito na tomada de decisão, e o raciocínio proporcional "implica na avaliação que o
indivíduo aplica diante de um problema, o que chamamos de raciocínio típico de
proporcionalidade" (p. 59).
A autora considera que faz parte do pensamento proporcional o
reconhecimento através da análise de propriedades tanto da proporcionalidade direta,
proporcionalidade inversa como dos casos onde não há proporcionalidade. Já o
raciocínio proporcional, por sua vez, é mobilizado, segundo ela, quando o estudante
utiliza seus conhecimentos acerca do tipo de proporcionalidade para resolver a tarefa.
Diferentemente de Poggio (2012), estudos como os de Miranda (2009), por
exemplo, afirmam não haver distinção entre pensamento e raciocínio proporcional.
Depois de um estudo minucioso sobre os diferentes olhares para esses dois termos,
a autora, fundamentada nos estudos de Manktelow (1999), discute que, numa visão
tradicionalista, o pensamento pode ser dedutivo ou indutivo e que o indutivo pode ser
equiparado ao raciocínio; e como, segundo essa autora, “esta divisão não pode ser
considerada como rígida” (MIRANDA, 2009, p. 20), o pensamento e o raciocínio
proporcional podem ser utilizados como sinônimos.
Em nosso estudo, da mesma forma, consideramos os dois termos como
37
sinônimos, pois, a nosso ver, tanto o raciocínio quanto o pensamento elucidam a
possibilidade de análise das propriedades e tomada de decisão do estudante.
Ao revisarmos os trabalhos que discutem conceitualmente os termos
proporcionalidade, raciocínio proporcional ou pensamento proporcional, observamos
que há uma linha que separa o raciocínio do pensamento proporcional e que não será
fácil analisar tal distinção no estudo que nos propomos a desenvolver aqui. Assim,
consideramos esses termos como sinônimos. Além disso, acreditamos que a
compreensão do que vem a ser a proporcionalidade é condição necessária, mas não
suficiente, para o desenvolvimento do raciocínio/pensamento proporcional. Em
síntese, entendemos o raciocínio proporcional como um processo gradual no qual são
privilegiadas relações multiplicativas de primeira e/ou de segunda ordem em situações
diversas, incluindo a proporcionalidade e em diferentes contextos.
Ademais, em nossa visão, essa ideia está ligada ao reconhecimento dos
estudantes em situações proporcionais de qualquer natureza e na escolha da forma
de resolução para tais problemas, tendo como primícias o conhecimento de distintas
estratégias possíveis e sua melhor decisão de resolução. Neste estudo utilizaremos
quase exclusivamente o termo “raciocínio proporcional” e buscaremos uma base
teórica para defini-lo. A seguir apresentaremos os fundamentos que nos levaram aos
caminhos traçados na pesquisa.
2.2 Proporções e raciocínio proporcional: alguns pressupostos
Para desenvolver este estudo, fomos à busca de trabalhos correlatos, os quais
nos permitiram observar que, dentre as referências mais presentes estão os estudos
de Lesh, Post e Behr (1988) e Post, Behr e Lesh (1995).
Lesh, Post e Behr (1988, p. 1) definem o termo raciocínio proporcional da
seguinte forma:
o raciocínio proporcional é uma forma de raciocínio matemático que envolve o sentido de covariância e múltiplas comparações, assim como a aptidão para reunir e processar mentalmente diversos conjuntos de informações [e além disso] está relacionado com inferência e predição e envolve o pensamento qualitativo e quantitativo.
Segundo esses autores, o raciocínio proporcional pressupõe, sobretudo,
raciocinar sobre “a relação holística entre duas expressões racionais, como taxas,
38
índices, quocientes e frações” (LESH; POST; BEHR, 1988, p. 1). Isso presume a
assimilação e a síntese mental dos vários componentes dessas expressões, a aptidão
para inferir sobre sua igualdade ou desigualdade11 e a habilidade de analisar e
identificar com sucesso valores omissos12, independentemente dos aspectos
numéricos da situação. Lesh, Post e Behr (1988, p. 2) alertam que nem todas as
pessoas resolvem problemas de proporcionalidade com o uso do raciocínio
proporcional. Na sua visão, a aplicação do produto cruzado 𝐴
𝐵=
𝑥
𝐷 limita o raciocínio
proporcional dos alunos; por isso eles sugerem que seja evitado, sobretudo quando
tratam da proporcionalidade com crianças dos anos iniciais13. Além disso, os autores
afirmam que esse procedimento de cálculo não é compreendido em sua plenitude
pelos alunos.
Além dessas dificuldades apresentadas, Lesh, Post e Behr (1988, p. 16) trazem
alguns estudos como os de Karplus, Pulos e Stage (1983) e de Noelting (1980a,
1980b) no qual relatam que, para a apreensão do raciocínio proporcional, os alunos
deveriam resolver problemas diversos de valor omisso.
Nas quatro pesquisas em questão, os estudantes que tivessem condições de
resolver problemas mais complicados que apresentavam "múltiplos de números não
inteiros dentro e entre os pares da razão" (LESH; POST; BEHR, 1988, p. 2), o qual
classificaram como questões numéricas consideradas "difíceis", se apropriaram do
raciocínio proporcional. No entanto, Lesh, Post e Behr (1988, p. 2) e Post, Behr e Lesh
(1995, p. 90) contestam tal afirmação, pois para eles apenas a resolução de problemas
dessa natureza – valor omisso – não garante a apreensão do raciocínio proporcional.
Na opinião dos autores, resolver corretamente esse tipo de problema é condição
necessária, mas não suficiente para garantir a compreensão do raciocínio
proporcional. Assim afirmam: “é uma combinação de aspectos matemáticos e
cognitivos” (POST; BEHR; LESH, 1995, p. 90). Nesta investigação combinamos
aspectos matemáticos e cognitivos, ao explorar e discutir sobre características,
resoluções e situações de ensino envolvendo problemas de outras categorias, além
11 Quando os autores destacam que o raciocínio proporcional está ligado à capacidade de identificação
e reconhecimento de igualdade ou desigualdade de pares ou séries das expressões AB= CD, AB< CD ou AB> CD. 12 Lesh, Behr e Post (1988, p. 2) associam esse tipo de raciocínio aos problemas de valor desconhecido,
dos tipos: AB= xD, AB= Cx, Ax= CD e xB= AD, independente dos aspectos numéricos de um
problema. 13 Também podemos encontrar tais relatos nos estudos de Post, Behr e Lesh (1995, p. 93).
39
dos de valor omisso.
Lesh, Post e Behr (1988, p. 4-5) apresentam sete tipos de problemas diferentes
acerca de proporções que permeiam os diversos conteúdos matemáticos, são eles:
“problemas de valor omisso; de comparação entre grandezas; de transformação; de
valor médio; proporções que envolvem a conversão entre razão, taxa e frações;
proporções que envolvem unidades de medida assim como números; problemas de
conversão entre sistemas de representação”. A seguir faremos uma breve descrição
de cada um.
● Problemas de valor omisso - são considerados mais comuns em
situações de proporção em que são dados três valores e o quarto valor é solicitado.
● Problemas de comparação - contêm situações em que são
apresentadas duas razões e se solicita a comparação das duas, com a indicação
de qual é a maior, a menor ou se são iguais.
● Problemas de transformação - são estratégias pouco usuais, pois há
uma supervalorização na técnica de obtenção do valor desconhecido pelo produto
cruzado. Nesses problemas é dada a equivalência 𝑎
𝑏=
𝑐
𝑑, e devem ser alterados
um ou dois dos quatro valores (𝑎, 𝑏, 𝑐 𝑜𝑢 𝑑), e o objetivo é decidir se uma das
relações se tornará “menor que”, “maior que”, “igual a“ ou “equivalente a” outra.
Ainda, há transformações em que, para se obter uma igualdade, é dada uma
desigualdade de um valor de uma das razões e é pedido para determinar esse
valor, de modo a obter uma igualdade, como, por exemplo, 𝑎+𝑥
𝑏=
𝑐
𝑑.
● Problemas de valor médio - são apresentados dois valores, e a intenção
é encontrar um terceiro que represente a média dos outros dois. Geralmente tais
situações são encontradas em problemas de médias: geométrica e harmônica.
● Proporções que envolvem a conversão entre razão, taxa e frações - são
problemas que envolvem a equivalência entre duas ou mais unidades.
● Problemas de proporções que envolvem unidades de medida, assim
como números.
● Problemas de conversão entre sistemas de representação - tarefas que
são apresentadas em uma determinada forma, e a proposta é representá-los em
outro sistema de representação, prevalecendo a relação igual entre eles.
Lesh, Post e Behr (1988) afirmam que, dentre os problemas destacados, os
mais referenciados em programas de currículo e nos trabalhos em sala de aula são
40
os de valor omisso e de comparação entre dois pares de grandezas.
Os autores ainda referenciam os estudos de Piaget e Inhelder (1975)14 e
identificam como principal característica do raciocínio proporcional as chamadas
relações de segunda ordem, ou seja, "relações entre relações", mais que as relações
de primeira ordem, "relação entre dois objetos".
Os estudiosos de Piaget apresentam problemas conhecidos como balance-
beam15 como protótipo de atividades que incluem o raciocínio proporcional, mesmo
que o raciocínio envolvido geralmente não seja dado pela expressão 𝐴
𝐵=
𝐶
𝐷 e sim
pela expressão 𝐴 𝑥 𝐵 = 𝐶 𝑥 𝐷.
Ademais, Piaget e Inhelder (1975) asseguram ainda que as primeiras noções
que as crianças adquirem acerca do raciocínio proporcional são aditivas, do tipo 𝐴 −
𝐵 = 𝐶 − 𝐷. No entanto, Lesh, Behr e Post (1988, p. 3) discordam dessa afirmação,
pois atribuem ao raciocínio proporcional as diversas relações multiplicativas existentes
entre expressões racionais. As expressões apresentadas, na visão dos
pesquisadores, não são relações multiplicativas e nem estão na forma de expressões
racionais. Portanto, esses autores não a caracterizam no raciocínio proporcional, mas
a denominam raciocínio pré-proporcional.
Na visão dos pesquisadores, nessas relações 𝐴 𝑥 𝐵 = 𝐶 𝑥 𝐷 , " as crianças vão
além das comparações entre quantidades perceptíveis, para pensar sobre a
semelhança estrutural entre sistemas matemáticos como um todo" (LESH; POST;
BEHR, 1988, p. 13).
Para os autores, mais do que resolver problemas dessa natureza, os
estudantes devem compreender a semelhança na estrutura das duas relações. Ou
seja, nas situações de balance-beam, por exemplo, os alunos devem entender as
relações de segunda ordem, e não isoladamente as relações de primeira ordem do
tipo 𝐴 𝑥 𝐵. Eles apresentam o seguinte exemplo para ilustrar.
[...] se 𝐴 𝑥 𝐵 corresponde a uma quantidade directamente perceptível (em vez da relação entre duas grandezas), então uma tarefa que podia ter sido aliás caracterizada como 𝐴 𝑥 𝐵 = 𝐶 𝑥 𝐷, pode realmente ser reduzida (na mente da
criança) a uma tarefa caracterizada por 𝑃 = 𝐶 𝑥 𝑋, em que P é um “novo” elemento do sistema. Neste caso, não é reconhecida a semelhança estrutural e o raciocínio proporcional não é requerido. (LESH; POST; BEHR, 1988, p. 13)
14 Piaget e Inhelder (1975) consideram o raciocínio proporcional como indicador de que a criança está no estágio formal das operações, uma vez que, segundo esses autores, as crianças de até aproximadamente 12 anos não são capazes de raciocinar proporcionalmente. 15 Equilíbrio do braço da balança (tradução nossa)
41
No exemplo apresentado, os autores apontam que tarefas 𝐴 𝑥 𝐵 = 𝐶 𝑥 𝐷,
características de um raciocínio pré-proporcional, podem ser indicativos de caminhos
para obtenção do raciocínio proporcional. Os pesquisadores reafirmam a importância
dos vários aspectos das expressões multiplicativas entre expressões racionais e
propõem o uso da expressão 𝐴
𝐵=
𝐶
𝐷 em atividades com proporções.
Em nossa pesquisa, em uma formação com futuras professoras que lecionam
matemática para os anos iniciais, discutimos essa questão, ao propor situações
ligadas ao raciocínio multiplicativo, por meio de ideias vinculadas ao raciocínio
proporcional em situações-problema de resolução e atividades profissionais.
Tivemos a intenção de favorecer, por meio dessas situações, o
desenvolvimento do raciocínio proporcional para as participantes da pesquisa (futuras
professoras) e, de maneira indireta, também para as crianças (seus futuros alunos),
uma vez que foram inseridas discussões e reflexões sobre diferentes estratégias de
resolução e sua relação direta com a construção da prática pedagógica do professor.
Lesh, Post e Behr (1988, p. 15) afirmam que o raciocínio proporcional é um
componente não estático: relatam que ele se desenvolve a partir da vivência e da
resolução de diferentes classes de situações-problema envolvendo a ideia de
proporcionalidade.
Em outro estudo, Post, Behr e Lesh (1995, p. 90) relatam que o raciocínio
proporcional não se restringe à aplicação do algoritmo "produto cruzado". Ademais,
mesmo que os participantes sejam capazes de resolver problemas de proporção de
níveis mais elevados, isso não lhes garante o raciocínio proporcional. Para os
pesquisadores, é uma condição necessária; no entanto, não suficiente.
Eles apontam que o raciocínio proporcional é utilizado para resolver problemas
que utilizam igualdade de duas razões ou taxas16 (velocidade, densidade, preços,
porcentagem, escala e conversão de unidades). Esses problemas são denominados
de "problemas de comparação" e envolvem tanto o pensamento quantitativo em
tarefas em que a resposta é fornecida por meio de um resultado numérico ou um
pensamento qualitativo que não depende de valores específicos. Apresentamos, a
seguir, um exemplo acerca do pensamento qualitativo:
“Se Nicki, ao correr, desse menos voltas na pista e gastasse mais tempo do
que ontem, sua velocidade seria maior, menor, igual, ou impossível de dizer? (E
16 Nome dado pelos autores para exemplificar diferentes grandezas
42
quanto a menos volta em tempo menor?)” (POST; BEHR; LESH, 1995, p. 90).
No exemplo apresentado não há valores numéricos, porém, ao resolver a
situação, o estudante necessita refletir proporcionalmente sobre as relações entre
distância, tempo e espaço. Os autores afirmam que “esses tipos de problemas são
viáveis pela generalização da ideia de proporcionalidade” (POST; BEHR; LESH,1995,
p. 91). E apontam, como um possível caminho, inserir problemas de raciocínio
qualitativo antes dos problemas de raciocínio quantitativo. Na visão dos
pesquisadores, os alunos às vezes apresentam respostas erradas a determinada
situação, por não raciocinarem de maneira qualitativa.
Acreditamos que situações qualitativas podem ser inseridas para os anos
iniciais do Ensino Fundamental, pois os estudantes desse segmento podem
compreender as relações de proporcionalidade e o raciocínio proporcional que estão
envolvidos nesses problemas. Dessa forma, durante o processo formativo, discutimos
e refletimos sobre esse tipo de situação e seu ensino.
A afirmação a seguir justifica, a nosso ver, a necessidade de introduzir a
proporcionalidade por meio de situações qualitativas, uma vez que será preciso
distinguir entre os diferentes tipos de situação. Para Post, Behr e Lesh (1995, p. 91,
grifo no original):
Para raciocinar com proporções é preciso ter a flexibilidade mental para abordar problemas por vários ângulos, e ao mesmo tempo, ter noções suficientemente sólidas para não se deixar afetar por números grandes ou "complicados" ou pelo contexto que se insere o problema [...] a pessoa precisa ser capaz de distinguir entre situações proporcionais e não proporcionais. Isso tem implicação direta no ensino.
Os autores recomendam também que problemas envolvendo os conceitos de
razão e proporção sejam introduzidos com a utilização de conhecimentos prévios dos
alunos sobre multiplicação e divisão. Além disso, relatam que, para a obtenção do
raciocínio proporcional é necessário que o aluno tenha clara a distinção entre
situações proporcionais e não proporcionais, compreenda a ideia de covariação e
saiba realizar comparações numéricas e não numéricas. Eles realçam, ainda, que
alguns alunos podem recorrer à "taxa unitária"17 para resolver problemas de
proporcionalidade e afirmam que as crianças usam esta estratégia de maneira
intuitiva, pois, quando compram produtos, utilizam esse método para calcular o preço
17 Estratégia de resolução de problemas que consiste em encontrar o valor de uma quantidade e em seguida multiplicar pela quantidade pedida.
43
unitário. Podemos citar um exemplo: Joãozinho pagou $ 4,50 por 5 chocolates.
Quanto ele pagaria por 12? Neste caso, um dos métodos a ser usado pela criança
poderia ser o da taxa unitária. A criança dividiria 4,50 por 5 e, em seguida, multiplicar
por 12. Dessa maneira, encontraria o resultado. Em nosso estudo não descartamos
essa estratégia, até porque as crianças a utilizam com frequência, valendo-se da
intuição. Procuramos levar para a formação essas discussões, pois entendemos ser
fundamental a compreensão de como alunos menores aprendem.
Post, Behr e Lesh (1995, p. 95) apresentam mais um método de resolução de
problemas de proporcionalidade, denominado "fator de mudança"18. Segundo eles,
em "situações proporcionais, se uma variável é x vezes uma outra num dado par-taxa,
essa variável deverá ser igualmente x a outra no par-taxa equivalente". Apresentam o
seguinte exemplo: Sally pagou $ 3,60 por 4 disquetes, quanto pagaria por 12? Neste
exemplo, relatam que as crianças poderiam relacionar que 12 é o triplo de 4, e assim,
associar com o triplo de $ 3,60. E afirmam que esse tipo de resolução é frequente em
situações com valores numéricos múltiplos. Na sua visão, a estratégia "fator de
mudança" é menos funcional, principalmente quando os valores não são múltiplos,
pois os alunos podem encontrar mais dificuldades para resolver problemas dessa
natureza.
O estudo de Post, Behr e Lesh (1995) foi utilizado nesta nossa investigação
com dois propósitos: para subsidiar as análises das estratégias utilizadas pelas futuras
professoras e também como texto teórico de apoio para subsidiar as discussões e as
reflexões sobre o ensino de situações que envolvam o raciocínio proporcional.
Outra pesquisa que considera o raciocínio proporcional como uma condição
necessária para a compreensão de contextos e de aplicações relacionadas à
proporcionalidade é de Lamon (2005). A pesquisadora, assim como as duas
investigações apresentadas anteriormente, relata que o conceito de raciocínio
proporcional não pode ser restrito à mecanização de estratégias formais de resolução
de problemas. Além de as reflexões acerca do raciocínio proporcional estarem
próximas das ideias apresentadas por Post, Behr e Lesh (1995), Lamon (2005) analisa
situações resolvidas por alunos em diferentes etapas escolares, com ênfase nos anos
iniciais.
Dessa forma, utilizamos tais resultados para elaborar situações cujo propósito
18 Essa estratégia consiste em chegar a umas das duas taxas do mesmo par por meio de um fator de proporcionalidade e realizar o mesmo para o outro par, com um valor desconhecido entre eles.
44
foi promover a reflexão das futuras professoras participantes deste estudo. Para
desenvolver o que Llinares (2015a)19 chama de “competência docente”20, propusemos
atividades envolvendo "atividades profissionais". Apresentamos às futuras
professoras problemas resolvidos por estudantes com base nos resultados propostos
por Lamon (2005). Nossa intenção foi desenvolver o que Llinares (2015a) chama de
“olhar profissional” no ensino de matemática. Além disso, inserimos tarefas para que
os alunos pudessem resolvê-las e discuti-las, com a finalidade de desenvolver tal
competência. Segundo Lamon (2005, p. 100), as crianças em níveis mais elementares
utilizam ideias de metade e de dobro para resolver problemas de proporcionalidade.
E ainda, segundo a autora, usam outros passos para resolver uma tarefa, mas, com
a experiência obtida, os estudantes ampliam suas estratégias; e isso lhes permite a
resolução em menos passos.
Na pesquisa em questão, a autora identifica, em algumas atividades realizadas
por alunos, estratégias multiplicativas e/ou aditivas, com ênfase na "building up"21, na
qual os estudantes resolvem problemas e relacionam as quantidades, até obter o
resultado final. Eis um exemplo:
● Duas camisas custam R$ 12,50, quanto custarão sete camisas?
No problema apresentado, de acordo com a estratégia destacada
anteriormente, as crianças podem relacionar duas camisas 12,50, quatro camisas 25,
seis camisas 37,50. Como sabem que duas camisas custam 12,50, uma deve custar
6,25; agora elas adicionam o valor de seis camisas a uma camisa e encontram assim
a resposta.
Na atividade anterior, as crianças investigadas por Lamon (2005) utilizaram a
estratégia building up, “em que as crianças usam espontaneamente uma estratégia
intuitiva que funciona em muitas situações"22 (LAMON, 2005, p. 100, tradução nossa).
Porém, esse estudo chama a atenção para o fato de os estudantes, nesse tipo de
resolução, reconhecerem relações multiplicativas ou apenas aplicarem estratégias
aditivas para obter o resultado. Se eles não o fizerem, não relacionarem as grandezas
19 Este conceito foi discutido por Llinares (2015a) em palestra proferida na Unian no III Seminário Integrado Observatório da Educação em dezembro de 2015. Os conceitos aqui apresentados serão discutidos mais detalhadamente no próximo capítulo. 20 Segundo Llinares (2015a), competência é o “conhecimento em uso” na resolução de problemas profissionais do professor de matemática. 21 De construção. 22 “The building up strategy is one that children use spontaneously and it is an intuitive strategy that works in many situations”. (LAMON, 2005, p. 100)
45
e não perceberem a covariação, provavelmente terão dificuldades com o raciocínio
proporcional, pois não foram incentivados a explorar outras estratégias mais
eficientes.
Concordamos com a autora que se deve chamar a atenção dos futuros
professores para a relação entre as quantidades, e os estudantes devem ir além da
aplicação das multiplicações como procedimento de resolução de problemas de
proporção, pois é importante que compreendam as ideias que envolvem a
proporcionalidade.
Os alunos dos anos iniciais devem ser incentivados a enxergar a covariação
entre as grandezas e, ainda, identificar uma relação que é constante entre duas
grandezas (invariância), pois apenas a inserção do campo multiplicativo na atividade
não garante o raciocínio proporcional, uma vez que situações cujo fator de
proporcionalidade é formado por números não inteiros provavelmente gerarão
dificuldades na compreensão do conceito.
Nesse estudo, Lamon (2005, p. 100) pondera que é importante os professores
incentivarem seus alunos a esse raciocínio, o que poderá resultar em ampliação nas
formas de pensamento. Para ela, “no início, as crianças dependem de reduzir para a
metade e dobrar, e elas podem usar muitos passos para completar um problema"23
(p. 100, tradução nossa). E, com a experiência escolar, as crianças podem
desenvolver outras estratégias e diminuir o número de passos em suas soluções.
As crianças, inicialmente, podem utilizar essa estratégia de maneira intuitiva,
mas os futuros professores devem pensar na ampliação das estratégias de seus
alunos – o que a autora denomina como “diminuição de passos” – e apresentar
diferentes formas de resolução, oferecendo diferentes abordagens de ensino. Em
nossa visão, as futuras professoras precisam compreender essas noções iniciais e as
relações estabelecidas pelos estudantes, para saber como intervir.
Lamon (2005, p. 100) destaca que, ao resolverem problemas mais difíceis, os
estudantes criam estratégias, planejam com antecedência, até chegar ao resultado. A
pesquisadora indica que, à medida que as crianças têm contato com problemas com
relações envolvendo frações, suas ideias são ampliadas. E podem ter mais condições
de desenvolver raciocínios estratégicos em cada vez menos etapas de resolução, até
chegar a resolver situações-problema de proporções de nível mais elevado.
23 “At first, children rely on halving and doubling, and they may use many steps to complete a problem”.
46
Susan J. Lamon (2005, p. 100) realça a importância de variar as atividades e
os tipos de perguntas e selecionar os números, para que os alunos sejam forçados a
sair de sua zona de conforto. No trabalho docente, isso é imprescindível, e as futuras
professoras precisam sentir a necessidade de, em suas atividades profissionais,
indicar situações em que os alunos pensem, reflitam e desenvolvam suas próprias
trajetórias em busca do raciocínio proporcional.
A autora apresenta uma lista de problemas que podem auxiliar na ação docente
para a obtenção do raciocínio proporcional: problemas em que os valores diminuam
proporcionalmente nas duas grandezas; com grandezas que aumentam em ambas as
relações; que envolvam relações inversamente proporcionais; em que as frações
sejam inevitáveis, para que os estudantes não fiquem restritos às operações com
números inteiros; nos quais as soluções permitam combinações de
multiplicação/divisão e operações de adição/subtração. E, por fim, em nossa visão, é
necessário que as futuras professoras percebam a importância de apresentar aos
estudantes problemas que não possam ser resolvidos exclusivamente pela redução à
metade ou pela duplicação dos valores. Em nossa pesquisa com futuras professoras
discutimos na formação a possibilidade de inserir problemas com tais características
também nos anos iniciais do Ensino Fundamental e as estratégias a ser exploradas
com seus alunos.
Concernente à representação das situações, Lamon afirma ser o trabalho com
tabelas uma boa estratégia para apresentar as respostas para as crianças, pois, caso
as crianças não tenham convicção de determinada etapa da resolução, tal
representação lhes permite retomar o que foi feito. Para Lamon (2005) há a
possibilidade de os alunos retornarem e verificarem suas resoluções. Para
exemplificar tal representação, a autora apresenta a situação a seguir e sua
representação – Figura 2.
● "3 pizzas vão servir para cerca de 7 pessoas. Quantas pizzas são necessárias
para 350 pessoas?"24 (LAMON, 2005, p. 103, tradução nossa).
24 “[…] 3 pizzas will serve about 7 people. How much pizza is needed for 350 people?”
47
Figura 2: Trabalho com tabela proporcional – Lamon
Fonte: Lamon (2005, p. 103)
Analisando as duas tabelas, é possível observar que ambos se utilizaram da
“estratégia escalar”, e o fator 50 foi encontrado de forma diferente nos dois exemplos.
Segundo Lamon (2005, p. 104), em situações como essa, não se trata de se utilizar
da tentativa e erro, mas de uma forma de organizar as operações de multiplicação,
divisão, adição e subtração, para se encontrar o resultado. Concordamos com as
ideias propostas pela autora, pois a inserção de tabelas pode auxiliar na construção
do raciocínio dos alunos das futuras professoras e contribuir para que compreendam
e resolvam situações problema de proporcionalidade.
Outro estudo que nos chamou a atenção foi o de Silvestre e Ponte (2009), já
referenciados anteriormente, que também se pautaram nos estudos de Lesh, Post e
Behr (1988) e de Lamon (2005) para discutir as estratégias dos estudantes e sua
relação com a escolha, pelos professores, dos valores apresentados na situação.
Assim como eles, consideramos também que, quando o docente propuser atividades
para alunos, deve considerar essas possibilidades, uma vez que a estratégia a ser
utilizada pelos estudantes pode ser influenciada pela situação e pelos números
apresentados.
Com base nas informações coletadas na revisão de literatura, Silvestre e Ponte
(2009) realizaram um estudo com duas alunas (Célia e Carolina), do 6.º ano de
escolaridade do ensino português. O foco dos pesquisadores foi a análise da
resolução de problemas de valor omisso, de comparação entre dois fatores de
proporcionalidade, e das estratégias das alunas nas tarefas apresentadas. Os autores
acompanharam essas estudantes antes e durante uma experiência de ensino e
realizaram um pré-teste e um pós-teste, antes e depois da aplicação das atividades.
No pré-teste foram apresentados dois problemas numéricos de valor omisso. Na
primeira situação apresentada, ambas as alunas o resolveram de forma correta e
48
parecem ter usado a estratégia escalar para encontrar as respostas, tomando como
referência a ideia de dobro de metade, relações de somas sucessivas. Na segunda
situação, Carolina optou pela busca do valor unitário para, em seguida, encontrar a
resposta para o problema. Já Célia teve dificuldades na resolução, tentou relacionar
os valores, porém colocou um sinal de igual entre as variáveis, o que, segundo os
pesquisadores, pode ter dificultado a resolução, pois tentou encontrar uma igualdade
em termos numéricos.
Após o pré-teste, foi aplicado o teste intermediário, "durante a experiência de
ensino", composto por duas atividades. As estratégias utilizadas foram "escalares e
funcionais" e usaram relações multiplicativas. A apresentação das relações pelas
alunas indicou que os conhecimentos construídos nas primeiras aulas da experiência
de ensino proporcionaram-lhes avanços. Os pesquisadores verificaram que a escolha
dos números interfere na opção por uma estratégia, como já apontamos
anteriormente. Após o pós-teste, os autores concluíram que Carolina conseguiu
desenvolver diferentes estratégias na resolução dos problemas de valor omisso e
utilizou cálculos considerados simples.
Na visão dos pesquisadores, a experiência de ensino contribuiu para
desenvolver a capacidade das alunas para resolver problemas de proporção, em que
puderam identificar variáveis, dados numéricos e formular estratégias de resolução.
Os autores finalizam o estudo, afirmando que "as alunas revelaram alguma melhoria
na apresentação escrita das suas estratégias, mas só a Carolina foi capaz de
descrever com algum detalhe o seu raciocínio" (SILVESTRE; PONTE, 2009, p. 13).
Com base na pesquisa apresentada e em concordância com os autores,
podemos afirmar que apenas conhecer algumas atividades de valor omisso não
garante o domínio do raciocínio proporcional. É necessário ampliar a gama de
situações e, também, precisam saber aplicá-los em outros tipos de problemas, como
por exemplo, os de comparação entre grandezas. Isso nos fez refletir e, nesta
pesquisa, para fomentar as discussões e reflexões do grupo de participantes,
utilizamos atividades de valor omisso, comparação entre dois fatores de
proporcionalidade e situações não proporcionais.
Além disso, percebemos, ao realizar as leituras, que algumas pesquisas
apresentam uma lista de condições para o raciocínio ou o pensamento proporcional.
Verificamos que, tanto as pesquisas de Silvestre e Ponte (2009) como as de Silvestre
(2012) e Sousa (2010), dentre outras, apresentam a categorização proposta por
49
Cramer e Post (1993), que revelaram que o raciocínio proporcional vai além de aplicar
algoritmos e apontam que ele envolve:
− saber das características matemáticas de situações proporcionais;
− ser capaz de discernir características matemáticas de raciocínio proporcional
daquelas de contextos não proporcionais;
− conseguir exemplificar no contexto real e matemático de situações
proporcionais;
− ter a percepção de que podem ser usados vários métodos na resolução de
tarefas proporcionais e que esses métodos se relacionam entre si;
− compreender como resolver tarefas de raciocínio proporcional de natureza
quantitativa e qualitativa;
− não ser influenciado pelos números e por seu contexto, quando resolver
situações problemas.
Dentre essas características, Silvestre e Ponte (2009, p. 2) consideram
que o desenvolvimento de raciocínio proporcional envolve as seguintes condições:
[...] (i) distinções de relações de natureza proporcional de relações que não o são e utilizaram como referência para esta definição [...]; (ii) compreensão da natureza matemática das relações proporcionais [...]; (iii) capacidade de resolução vários de tipos de problemas [...].
Tais condições também serão observadas nesta investigação. Para a análise
das formas de resolução dos participantes desta investigação utilizamos como base a
classificação de Oliveira (2009) (valor unitário, fator escalar, funcional, produto
cruzado, linear e grandeza intermediária). Oliveira (2009) realizou a investigação com
33 alunos do 3.º ciclo (6.ª série) de uma escola de Montreal em Quebec, aplicando
sete problemas de situações proporcionais e situações não proporcionais que
envolveram o raciocínio proporcional, para verificar quais as estratégias mais
executadas pelos alunos e as de maior dificuldade antes do ensino formal. Como um
segundo objetivo, a autora pretendeu verificar se os resultados obtidos no Quebec se
assemelham aos detectados no Brasil na pesquisa do ano 2000.
A análise dos dados evidenciou que os estudantes utilizaram diferentes
estratégias para resolver problemas de estratégia escalar, linear, funcional, valor
unitário, grandeza intermediária... antes do ensino formal da proporcionalidade. E,
como Post, Behr e Lesh (1995); Lamon (2005); Silvestre e Ponte (2009) revelaram,
ela demonstrou que o contexto e os números escolhidos influenciam na escolha da
50
estratégia, bem como na resolução.
Oliveira (2009) alerta aos leitores que é necessário, antes de propor uma
situação de ensino, identificar os conhecimentos sobre os procedimentos já
dominados pelos estudantes, bem como suas dificuldades em tarefas de
proporcionalidade. A autora realça que isso poderia facilitar o avanço dos
conhecimentos dos alunos, o que nos auxiliou a levar em considerações esses
apontamentos na hora em que pensamos na elaboração de nosso estudo.
Em nossa pesquisa, procuramos identificar em que tipo de situações dentre as
apresentadas por Oliveira (2009) – valor omisso, de comparação entre dois fatores de
proporcionalidade e de situações não proporcionais – nossas estudantes utilizaram as
estratégias descritas anteriormente e quais precisaríamos explorar.
Na formação proposta às futuras professoras, tentamos enfatizar essas
estratégias. No entanto, procuramos chamar a atenção das participantes para que
evitassem a mera aplicação mecânica do produto cruzado. Acreditamos ser
necessário aflorar a análise da situação e o reconhecimento dessas relações serem
proporcionais ou não proporcionais, pois entendemos que identificar características
da proporcionalidade é um dos indicadores do raciocínio proporcional.
Outro estudo que trata a temática investigada é de Norton (2005), que destaca
a importância do trabalho com frações e o uso de diferentes representações
(fracionária, decimal, figural entre outras) em problemas envolvendo
proporcionalidade. O pesquisador aponta que a relação entre os conceitos de fração
(relação parte-todo) e de proporção é explorada em diversos livros de Matemática e
apresentada “na forma de representar as informações em problemas de proporção
como uma equação de frações equivalentes (igualdades entre duas frações) e, para
resolvê-los, multiplicando em cruz e depois dividindo"25. Na visão do autor, "o
problema com esta abordagem é que, no contexto das frações, o numerador
representa uma parte e o denominador o todo, enquanto que no caso da razão, tanto
o numerador como o denominador representam partes"26 (NORTON, 2005, p. 18).
O pesquisador destaca ainda que:
25 “The students are shown how to represent the information in proportion word problems as an equivalent fraction equation, and to solve it by cross multiplying and then dividing”. (NORTON, 2005, p. 18) 26 “The problem with this approach is that in the context of fractions the numerator represents a part and the denominator the whole, while in the case of ratio both the numerator and the denominator represent parts”. (NORTON, 2005, p. 18)
51
[...] o uso da notação fração ao resolver alguns problemas de proporção pode parecer expediente em que se estabelece uma multiplicação e depois algoritmo de divisão, é susceptível de confundir os estudantes, como o que é realmente a totalidade, enquanto na proporção é a soma das duas partes. Uma vez que os livros de matemática geralmente não ensinam frações e raciocínio proporcional de forma integrada.27 (NORTON, 2005, p. 18, tradução nossa)
É importante integrar esses conceitos com o de proporção, e, em nosso estudo,
procuramos relacionar as duas grandezas: distância e peso, além de procurar
minimizar a lacuna apresentada nos estudos de Norton (2005).
Acreditamos ser importante distinguir fração de razão e, ainda, compreender o
conceito de proporção. Ademais, procuramos inserir neste estudo situações
vivenciadas usualmente pelas estudantes para professora. Ao pensarmos a
elaboração das situações do nosso estudo, usamos as ideias de Lopes (2008, p. 6),
que relata que, ao ensinar o conceito de proporção, devemos tomar certos cuidados,
pois a modelagem matemática, com problemas da vida cotidiana, pode gerar certas
complicações para os alunos.
O pesquisador exemplificou que, com uma redução de receita culinária, os
estudantes de 10 e 11 anos tiveram dificuldade para saber o significado da terça parte
de uma pitada de sal. Para esse autor, é importante que os professores não apenas
contextualizem os conteúdos matemáticos a qualquer preço, pois é fundamental que
os conteúdos estejam alinhados com a realidade dos estudantes e que utilizem
atividades que explorem um contexto dos alunos.
Assim como o autor, entendemos que o raciocínio proporcional deve ser
largamente explorado em sala de aula, em todos os níveis e modalidades de ensino.
Corroborando tais afirmações, encontramos o estudo de Spinillo, segundo o qual o
ensino de proporcionalidade está frequentemente presente em níveis mais elevados
de ensino. Spinillo (1993) relata que pesquisas analisadas por ela indicaram que o
ensino de proporções pode ocorrer mais cedo:
[...] a maioria das pesquisas na área tem se concentrado na investigação do pensamento proporcional em adolescentes, e pouco se sabe acerca das noções iniciais que a criança tem sobre proporções, negligenciando-se em parte, outras possíveis manifestações do pensamento proporcional a níveis mais elementares. (SPINILLO, 1993, p. 350)
27 “Thus, while the use of fraction notation in solving some proportion problems may seem expedient in setting out a multiplication and then division algorithm, it is likely to confuse students as to what really is the whole, in fractions this is the denominator, while in ratio it is the sum of the two parts. Since the mathematics text books generally do not teach fractions and proportional reasoning in an integrated
52
Ao ler os trabalhos apontados na revisão (Lopes, 2008; Oliveira; 2009; Spinillo,
1993), percebemos ser necessário propor estudos mais voltados para os anos iniciais
no Ensino Fundamental e para quem atua nos anos iniciais. Visando preencher tal
lacuna, decidimos realizar um estudo com ideias ligadas ao raciocínio proporcional,
com foco em alunas de Pedagogia. A intenção foi refletir sobre o tema raciocínio
proporcional e seu ensino. Procuramos, por meio de análise de situações próximas
ao ensino, (re)significar os conhecimentos necessários ao ensino das participantes.
Na próxima seção, procuraremos aprofundar nossa compreensão acerca da
relação das crianças com o raciocínio proporcional.
2.3 Proporções e raciocínio proporcional em crianças
Como nosso foco foi o trabalho com futuros professores do Ensino
Fundamental I, pretendemos, nesta seção, discutir alguns estudos específicos para
este nível de escolaridade, a fim de entender algumas possibilidades para o trabalho
em sala de aula, envolvendo a temática proporção e o desenvolvimento do raciocínio
proporcional em crianças.
Nossa experiência docente indica que é cultural ao professor dos anos finais
ensinar a alunos de 12 a 14 anos o conteúdo proporcionalidade, e tal tema é proposto
para esse segmento de ensino. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL,
1998, p. 53) o conteúdo de proporcionalidade é indicado para ser desenvolvido nos
anos finais do Ensino Fundamental. Ademais, alguns documentos, como: Parâmetros
Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997) e a Base Nacional Comum Curricular
(BRASIL, 2017) orientam o ensino de proporções e da ideia de proporcionalidade
desde os anos iniciais.
Quando tratamos de abordagens acerca de proporcionalidade e temas
similares, utilizamos um dos autores mais citados, ao discutir esse tema – Gérard
Vergnaud. Vergnaud (1983) apresenta a ideia das estruturas multiplicativas e, para
isso, se utiliza de conceitos envolvendo multiplicação e divisões. De acordo com
Vergnaud (1983, 2009), as Estruturas Multiplicativas apresentam em seu campo de
estudo situações de Isomorfismo de Medidas, Produto de Medidas, Comparação e
Proporcionalidade múltipla. No isomorfismo de medidas, a relação é quaternária, e o
produto de medidas é uma relação ternária entre três quantidades, das quais uma é o
produto das duas outras. Os problemas que envolvem relações quaternárias, segundo
53
Vergnaud (1990, 1994, 2011), são situações com quatro variáveis em que duas delas
representam certo tipo de grandeza e as duas restantes, outras. A seguir
apresentaremos as quatro situações relatadas pelo autor para problemas de
proporcionalidade simples e seus respectivos esquemas.
Figura 3: Esquema de proporcionalidade simples apresentado pelo autor
Fonte: Vergnaud (2011, p. 22)
Podemos notar, na Figura 3, que nos problemas de proporcionalidade simples
o autor apresenta quatro esquemas.
Nos três primeiros (multiplicação, partição e quota) são fornecidas três variáveis
conhecidas, em que uma delas é o número “um”, e a finalidade é descobrir o valor
desconhecido da quarta variável. Já no quarto esquema (quarta proporcional) são
apresentados quatro valores – um dentre eles será desconhecido, e o objetivo será
encontrá-lo. Para solucionar esses problemas de isomorfismo de medidas, Vergnaud
(2011, p. 23) propõe duas formas de resolução: escalar e funcional. A seguir
apresentaremos dois exemplos, visando ilustrar melhor tais propostas de resolução
expostas pelo autor.
● Exemplo 1 - "Tenho 3 pacotes de iogurte. Há 4 iogurtes em cada pacote.
Quantos iogurtes eu tenho?" (VERGNAUD, 2009, p. 239).
● Exemplo 2 - "Vou comprar 12 garrafas de vinho a R$ 19,50 por três garrafas.
Quanto vou gastar?" (VERGNAUD, 2009, p. 240).
O primeiro exemplo expõe uma situação de proporcionalidade simples
54
denominada “multiplicação”. Ela envolve relações que podem ser observadas
verticalmente e horizontalmente, conforme apontam as Figuras 4 e 5, em que
podemos perceber as possibilidades de resolução já apontadas pelo pesquisador
nesse estudo, para obter o valor em falta.
Figura 4: Exemplo 1 - Proporcionalidade simples (multiplicação) – Escalar
Fonte: Elaboração nossa
Figura 5: Exemplo 1 - Proporcionalidade simples (multiplicação) – Funcional
Fonte: Elaboração nossa--
Já no segundo exemplo, o autor expõe uma situação, a chamada “quarta
proporcional”, em que identificamos diferentes estratégias de resolução (duas
escalares e uma funcional), como visualizamos nas próximas três figuras a seguir.
Figura 6: Proporcionalidade simples (quarta proporcional) – Escalar
Fonte: Elaboração nossa
55
A primeira solução apontada na Figura 6 é a escalar, em que a relação se dá
por meio da comparação de variáveis de mesma natureza, cuja finalidade é encontrar
um valor desconhecido. Para isso, é necessário determinar o operador (constante de
proporcionalidade), ou seja, divide-se 12 por 3 e assim se obtém o número 4. Em
seguida, com o fator de proporcionalidade em mãos, no caso o 4, divide-se 19,50 por
ele e tem-se como resultado o valor desconhecido (4,875). Ainda, na resolução
escalar, outra forma de resolução possível seria descobrir o preço unitário da garrafa
de vinho, para o qual se dividem ambos os lados por 12 e, posteriormente, multiplica-
se por três para encontrar o valor de três garrafas (4,875), conforme notamos na
Figura 7.
Figura 7: Quarta proporcional – Escalar
Fonte: Elaboração própria
Além das estratégias já apresentadas, o autor propõe a estratégia funcional.
Nessa abordagem a resolução se dará por meio da comparação de variáveis de
naturezas diferentes, ou seja, divide-se 19,50 (preço) por 12 (garrafas); com isso,
acha-se o valor de uma garrafa, "fator de proporcionalidade" (1,625), e em seguida,
multiplica-se esse resultado por três, para assim chegar ao valor desconhecido, como
notamos na Figura 8.
56
Figura 8: Proporcionalidade simples (quarta proporcional) – Funcional
Fonte: Elaboração própria
Nos dois exemplos apresentados nas Figuras 7 e 8, outra possibilidade de
resolução seria a aplicação da regra de três para resolvê-los, em que se utilizam
propriedades ligadas à álgebra para obter o valor da variável desconhecida por meio
da aplicação do produto cruzado. No presente estudo, notamos distintas formas de
solução para problemas de proporcionalidade simples, o que possibilita aos alunos
distintas maneiras de compreender isomorfismo de medidas.
A partir dos estudos de Vergnaud, outros pesquisadores discutem o trabalho
com proporcionalidade e raciocínio proporcional nos anos iniciais. Um grupo de
pesquisadoras é composto por Gitirana et al. (2014), que nos oferece suporte para
compreender os esquemas de alunos dos anos iniciais quando resolvem problemas
multiplicativos e o raciocínio proporcional. As autoras apontam que a criança precisa
conhecer e dominar diversas situações de multiplicação, e o raciocínio proporcional é
indispensável elemento para tal êxito. Gitirana et al. (2014, p. 38) afirmam que apenas
a resolução de cálculos numéricos com algoritmos não garante que os alunos
entendam tais ideias. No estudo em questão, as autoras apresentaram quatro
problemas de sondagem que envolviam o cálculo 2x4 em diferentes abordagens. Aqui
transcrevemos os problemas e a posterior resolução:
Problema 1 – “A receita de brigadeiro de Dona Maria levou 1 lata de leite
condensado para 4 colheres de chocolate. Ela vai fazer brigadeiros com 2 latas de
leite condensado. Quantas colheres de chocolate ela usará para fazer a receita
corretamente?” (GITIRANA et al., 2014, p. 38). Esse problema envolve
proporcionalidade simples entre as grandezas (leite condensado e chocolate), cuja
57
resolução é realizada por meio da “multiplicação”28 entre essas relações.
Problema 2 - "Uma loja no shopping vende tudo em 2 vezes mais caro que a
lojinha da esquina. Uma sandália custa R$ 4,00 na lojinha da esquina. Quanto a
mesma sandália custa na loja do shopping?" (GITIRANA et al., 2014, p. 38). O
problema em questão trata de uma situação com uma grandeza "sandália", cuja forma
mais comum de resolução é a escalar.
Problema 3 - "Um parque de diversão cobra R$ 1,00 para cada criança brincar
em qualquer brinquedo durante 1 hora. Dona Lulu levou 2 seus filhos para brincar no
parque durante 4 horas. Quanto ela pagou?" (GITIRANA et al., 2014, p. 39). Essa
situação, na visão da autora, envolve bilinearidade: taxa por pessoa e por hora para
utilizar os brinquedos.
Problema 4 – “[...] o sorvete de uma bola pode ser servido em casquinha ou
copinho. Tem 4 sabores diferentes: menta, baunilha, chocolate, morango, Maria quer
um sorvete de uma bola, de quantas maneiras diferentes ela tem para escolher?”
(GITIRANA et al., 2014, p. 39). Esse problema, segundo Gitirana et al. (2014, p. 39)
apresenta a ideia de combinação ligada a grandezas discretas, e a autora afirma
tratar-se de um problema que contém um grau de dificuldade mais elevado para as
crianças.
Na pesquisa realizada pelos autores, foram aplicados problemas com tais
características para 504 alunos de 2.° a 9.° anos do Ensino Fundamental, e os
resultados mostraram que os índices de acertos aumentam de acordo com o passar
dos anos escolares, ou seja, nas etapas finais de ensino os resultados foram maiores
que nas etapas iniciais. Além disso, o número de acerto nos dois primeiros problemas
foi maior que nos dois últimos.
Apesar de as situações propostas envolverem a mesma operação aritmética,
conjecturamos que estão relacionadas às diferentes formas de raciocínio. Segundo a
pesquisadora, as apreensões desses conceitos passam pela escolha dos problemas.
A escolha de situações que possibilitem o progresso do aluno faz parte da
"competência profissional", e procuramos discutir com as participantes da pesquisa
tais questões, tendo em vista que o conteúdo em questão permeia todo o Ensino
Fundamental e Médio.
Outro estudo que nos ajuda a compreender como as crianças pensam é o de
28 Ver Figura 3.
58
Nunes et al. (2009), que propuseram às crianças de primeiro e segundo ano dos anos
iniciais29 a resolução situações que envolviam ideias de covariância entre as
grandezas e da invariância entre as relações por um valor fixo. Os pesquisadores
destacam como um invariante conceitual do raciocínio multiplicativo: “[...] é a
existência de uma relação fixa entre duas variáveis (ou duas grandezas ou
quantidades). Qualquer situação multiplicativa envolve duas quantidades em relação
constante entre si" (NUNES et al., 2009, p. 85). Esses pesquisadores relatam que as
crianças resolvem situações como as classificadas por Vergnaud como de
proporcionalidade simples (multiplicação, partição e quota) já nas duas primeiras
séries dos anos iniciais. Eles adaptaram para alunos brasileiros um problema de
proporcionalidade aplicado por Ekaterina Kornilaki30 na Inglaterra. Segue a imagem
do problema apresentado por Nunes et al. (2009) na Figura 9:
Figura 9: Problema de correspondência um para muitos
Fonte: Nunes et al. (2009, p. 88)
Nunes et al. verificaram que crianças de 6 e 7 anos são capazes de resolver
tais situações. A diferença nas propostas foi que Kornilaki aplicou o problema com
materiais concretos, enquanto Nunes et al. (2009) utilizaram apenas desenhos e
ilustrações orais com papel e lápis.
Os resultados apresentados pelo estudo realizado com crianças inglesas e o
29 Crianças de 6 a 7 anos no Brasil. 30 Ekaterina Kornilaki é uma pesquisadora inglesa que trabalhou conceitos de multiplicação com crianças de 5 a 7 anos de idade.
59
uso do material concreto foram melhores que os do trabalho de Nunes et al. (2009),
realizado no Brasil com utilização de papel e lápis. O primeiro estudo (KORNILAKI)
do problema de “correspondência-um-a-muitos” apresentou acerto de 100% dos
alunos, já no segundo (NUNES et al., 2009), para a mesma faixa etária, os alunos
tiveram acertos entre 60% e 90%, conforme podemos ver no quadro comparativo a
seguir.
Quadro 1: Resultados em percentual de acerto dos alunos
Ekaterina Kornilaki Nunes et al.
Fonte: Adaptado de Nunes et al. (2009, p. 87-88)
Os autores relatam ser necessário que as crianças passem por um processo
de trabalho com situações dessa natureza por meio de representações distintas. Na
visão dos pesquisadores, é fundamental que os professores considerem as ideias
sobre multiplicação já internalizadas pelos estudantes da primeira série escolar, ao se
institucionalizar o conceito de multiplicação para estudantes das demais séries, pois
muitas vezes é deixado de lado o que os alunos já sabem, quando se inicia o ensino
de relações multiplicativas.
Ademais, no estudo em questão, os pesquisadores apresentaram outro
problema mais difícil para os alunos, pois não é conhecida a relação fixa: "Márcio
convidou três amigos para uma festa de aniversário. Para cada amigo, ele quer dar 5
bolas de gude. Quantas bolas de gude precisa comprar?" (NUNES et al., 2009, p. 89).
Tabela 2: Proporcionalidade simples
Dados dos problemas de multiplicação e divisão
Número de amigo Número de bola por amigo Número de bolas
1 5 5
2 5 10
3 5 15
Fonte: Adaptado de Nunes et al. (2009, p. 90)
60
Segundo os autores, para resolver problemas dessa natureza, os alunos
podem recorrer ao uso de uma bolinha para o amigo A, uma para o amigo B e uma
para C, e repetir os procedimentos, até acabarem as bolinhas.
Esse estudo nos permitiu considerar as estratégias usadas por crianças em
processo inicial de escolarização no tratamento dessas relações multiplicativas. Tais
dados foram utilizados nas discussões com as futuras professores desta investigação,
pois pretendíamos ampliar sua compreensão a respeito do ensino desse tipo de
situação.
Outra referência utilizada neste estudo é a pesquisa de Silva (2012, p. 71), que
destaca que “a proporcionalidade é uma propriedade da multiplicação que explica o
fato de que, se um número qualquer sofrer alguma transformação, por exemplo, for
dobrado, todos os resultados da multiplicação por ele sofrem transformação na
mesma proporção”. Essa autora apresenta a ideia de covariância, ao relatar as
transformações conjuntas, e propõe como possibilidades a ideia de dobro, triplo e
quádruplo. E, assim como Lamon (2005) e Nunes et al. (2009), destaca a importância
do trabalho com tabelas. No entanto, Silva (2012, p. 72) alerta que problemas
resolvidos por meio de tal recurso podem levar as crianças a introduzir relações
aditivas, e isso poderia induzi-las ao erro em outras situações. A autora explica tal
equívoco, utilizando-se da situação a seguir: "Se uma lapiseira custa 5 reais, quanto
custarão 3 lapiseiras?”. Segundo a pesquisadora, para resolver essa situação, os
alunos podem recorrer às relações aditivas, ou seja, somar 5+5+5 e, depois disso,
começar a contar de um em um, para encontrar o resultado final.
Silva (2012, p. 72) orienta para que essa estratégia seja utilizada como as
primeiras possibilidades para cálculo, mas que o professor precisa aumentar a
dificuldade e mostrar que tal estratégia nem sempre é a mais eficiente, pois se, ao
invés de três, fossem nove, o trabalho já teria outro grau de dificuldade e, portanto, a
adição reiterada de parcelas iguais poderia se mostrar um recurso mais demorado;
daí a necessidade da multiplicação.
Esse estudo completa o anterior e nos auxiliou a refletir com as futuras
professoras acerca da relação entre os conceitos que envolvem a ideia de
multiplicação e o raciocínio proporcional. Procuramos discutir o ensino e analisar
também as possibilidades e as limitações do trabalho com adição reiterada de
parcelas iguais e o uso de tabelas.
Outra pesquisa que utilizamos como aporte bibliográfico foi a de Fernández e
61
Llinares (2012), que trabalharam com 755 estudantes, envolvendo características do
desenvolvimento do raciocínio proporcional com crianças e adolescentes. Os
pesquisadores buscaram determinar os perfis de comportamento dos alunos, ao
resolverem problemas com grandezas proporcionais e não proporcionais; e, ainda,
procuraram analisar o desenvolvimento do raciocínio proporcional ao longo Ensino
Fundamental.
Os autores detectaram nessa pesquisa que, ao resolverem problemas
proporcionais e não proporcionais, os alunos mostraram estratégias diferentes,
dependendo da faixa etária: os menores se utilizavam de estratégias aditivas,
enquanto os adolescentes analisados se apropriaram de estratégias multiplicativas.
Fernández e Llinares (2012) afirmam que os alunos, ao se depararem com
diversas situações independentes das variáveis, qualitativas ou quantitativas,
precisam compreender as relações envolvidas no problema. E devem usar o
pensamento correto para resolver problemas envolvendo relações aditivas31 e
relações multiplicativas32.
Nesse cenário é bem provável que a compreensão inicial do conceito de
proporcionalidade nos anos iniciais possa ser aprendida por meio da exploração de
problemas qualitativos. Fernández e Llinares (2012, p. 130, tradução nossa)
apresentam um exemplo no qual é possível visualizar esta falta de coordenação entre
as relações:
Marta e Sofia querem pintar seus quartos exatamente da mesma cor. Marta mistura três latas de tinta amarela e seis latas de tinta vermelha. Sofia usou sete latas de tinta amarela. Quantas latas de tinta vermelha que ela precisará, considerando que todas as latas têm o mesmo volume?33
A situação envolve um problema de "valor omisso", cuja finalidade foi
descobrir o item que falta. Neste caso, a resolução dos alunos investigados pelo autor
(12 a 16 anos) identificou resoluções aditivas entre o número de latas de tinta amarela
(três) usadas por Marta e o número de latas de tinta vermelha (seis) e calcularam: 3
+ 3 = 6. Os estudantes usaram esta relação para determinar o número de latas de
tinta vermelha que Sofia terá 7 + 3 = 10.
31 Reconhecimento de problemas aditivos - identificação de relações não proporcionais, como, por exemplo, verificar as relações aditivas no primeiro problema apresentado pelo autor. 32 Reconhecimento de problemas proporcionais - identificação de relações de proporcionalidade, que é possível notar no segundo exemplo de situação apresentada pelo autor nesse estudo. 33 “Marta y Sofía quieren pintar sus habitaciones exactamente del mismo color. Marta mezcla 3 botes de pintura amarilla y 6 botes de pintura roja. Sofía ha usado 7 botes de pintura amarilla. ¿Cuántos botes de pintura roja necesitará?”.
62
Na investigação feita pelos pesquisadores, os alunos utilizaram-se do
pensamento aditivo para resolver este problema e, dessa forma, não acertaram a
solução. Além das situações em que os estudantes associam o pensamento aditivo
de forma incorreta, os autores detectaram também que eles utilizaram estratégias
multiplicativas incorretas na resolução de problemas não proporcionais. Este é um dos
problemas propostos por Fernández e Llinares (2012): “Raquel e Juan estão
plantando flores. Plantam na mesma velocidade, porém Juan começou antes. Quando
Raquel havia plantado 4, Juan já havia plantado 12 flores. Se Raquel plantou 20,
quantas flores plantou Juan?” (FERNÁNDEZ; LLINARES, 2012, p. 131, tradução
nossa)34.
Este exemplo não é um problema de proporcionalidade; de acordo com os
autores, é um exemplo do tipo f(x) = x + b, b ≠ 0. A situação descreve uma relação
aditiva entre as quantidades. Juan plantou 8 flores mais que Raquel (12 = 4 + 8). A
diferença entre as duas situações está em considerar “3 vezes”, a partir da relação
multiplicativa entre 4 e 12 “8 flores a mais”, a partir da relação aditiva entre 4 e 12. No
entanto, alguns alunos usaram métodos multiplicativos incorretos para resolvê-lo;
notamos que eles utilizaram a relação flores de Raquel e flores de Juan, ou seja, para
obter 12, se multiplicam 4 flores de Juan por 3 (4 x 3 = 12). A partir dessa relação,
multiplica–se a razão 3 por 20 flores de Raquel para encontrar as flores de Juan.
Nesse contexto, o autor realça que o "raciocínio matemático"35 envolve não
só uma compreensão das relações multiplicativas entre as variáveis de um
determinado problema, mas também a capacidade de reconhecer situações
proporcionais e situações não proporcionais. Já o "raciocínio cognitivo" está associado
à forma como os professores aprendem o raciocínio proporcional, ao analisarem
tarefas realizadas por alunos. Dessa forma, o modo como a tarefa é desenhada pelo
professor pode interferir no raciocínio e na resolução dos estudantes e dos estudantes
para professores. Por isso, entendemos que os participantes deste estudo devem ter
bem claros os conceitos que envolvem o raciocínio proporcional, independente da
forma com que é apresentado o problema, das variáveis ou do contexto.
Fernández e Llinares (2012) propõem uma variação para o segundo problema:
34 “Raquel y Juan están plantando flores. Plantan a la misma velocidad pero Juan empezó antes. Cuando Raquel ha plantado 4 flores, Juan ha plantado 12 flores. Si Raquel ha plantado 20 flores, ¿cuántas flores ha plantado Juan?” 35 O autor aponta duas vertentes para a competência docente: olhar para o raciocínio matemático e olhar o raciocínio cognitivo dos alunos.
63
“Raquel e Juan estão plantando flores. Eles começaram ao mesmo tempo, mas Juan
é mais rápido. Quando Raquel plantou 4 flores, Juan plantou 12 flores. Se Raquel
plantou 20 flores, quantas flores foram plantadas por Juan?” (FERNÁNDEZ;
LLINARES, 2012, p. 131, tradução nossa)36.
Nesta situação, a frase "iniciaram ao mesmo tempo, mas Juan é mais rápido.
Quando Raquel plantou 4 flores, Juan plantou 12 flores" (FERNÁNDEZ; LLINARES,
2012, p. 131, tradução nossa)37 indica uma relação multiplicativa entre as variáveis.
Nessa relação proporcional, podemos notar que o número de flores plantadas
por Juan sempre será o triplo de flores plantadas por Raquel. Ou seja, Raquel plantou
4 flores, Juan plantou 12. Se mantiver o mesmo ritmo, quando Raquel plantar 20, Juan
terá plantado 60, e essa relação será mantida. Assim, deve aflorar o raciocínio
matemático implícito na tarefa.
Podemos ver aqui o problema anterior contendo a resolução de seis alunos:
Figura 10: Problema proposto por Llinares
Fonte: PPT apresentado por Llinares (2015a, p. 94) no II Seminário Integrado.
As situações que descrevem as frases: "Raquel e Juan", "plantado com a
mesma velocidade, mas Juan iniciou antes" ou "começaram ao mesmo tempo, mas
Juan é mais rápido" discriminam o tipo de pensamento requerido nas atividades.
36 “Raquel y Juan están plantando flores. Empezaron al mismo tiempo pero Juan es más rápido. Cuando Raquel ha plantado 4 flores, Juan ha plantado 12 flores. Si Raquel ha plantado 20 flores, ¿cuántas flores ha plantado Juan?”. 37 “Empezaron al mismo tiempo pero Juan es más rápido. Cuando Raquel ha plantado 4 flores, Juan ha plantado 12 flores”.
64
Fernández e Llinares, (2012) em outro estudo, propõem uma série de
problemas de raciocínio proporcional em que se manipulam as duas variáveis, do tipo
razão entre as quantidades (inteiros ou não inteiros) e do tipo natureza entre as
quantidades (discretas ou contínuas). Segundo o pesquisador, isso
justifica-se porque a pesquisa sobre raciocínio proporcional tem indicado que estas duas variáveis influenciam no desempenho dos estudantes em problemas proporcionais (Cramer, Correios e Currier, 1993; Fernández e Llinares, 2011; Fernández, Llinares, Van Dooren, De Bock e Verschaffel, 2011; Karplus, Pulos e Palco, 1983; Tourniaire e Pulos, 1985; Van Dooren, De Bock, Evers e Verschaffel, 2009). (FERNÁNDEZ; LLINARES, 2012, p. 131, tradução nossa)38
Os pesquisadores realçam que implicações no tratamento com variáveis
influenciam no ensino, na aprendizagem e no desenvolvimento do raciocínio
proporcional. Os autores complementam e sugerem que os currículos apresentem
distintas situações proporcionais e situações não proporcionais. Ademais, enfatizam
a necessidade de os alunos reconhecerem ambos os tipos de situações. Eles também
sugerem que os conceitos iniciais de razão e proporção possam ser inseridos por meio
de diferentes tipos de razões (inteiras e não inteiras). E orientam que, nessa fase
escolar, a razão não esteja somente relacionada com ideia de fração, ou de quociente,
mas com a ideia de razão em índices comparativos. Recomendam também levar em
conta os resultados de pesquisas, pois
podem ajudar aos estudantes a reconhecer as dificuldades que os estudantes têm para identificar diferentes situações na transição do pensamento aditivo para o multiplicativo e de que maneira os estudantes têm dificuldades em ampliar o significado da ideia de razão, incorporando significados que procedem da estrutura aditiva. (FERNÁNDEZ; LLINARES, 2012, p. 139, tradução nossa)39
Todos esses resultados de pesquisas são relevantes para apoiar os trabalhos
em sala de aula. São ainda necessárias pesquisas que observem como os
professores e os estudantes para professor consideram tais informações, ao pensar
no ensino das relações entre as estruturas aditivas e multiplicativas nos problemas de
38 “Viene justificado porque las investigaciones sobre el razonamiento proporcional han indicado que estas dos variables influyen en las actuaciones de los estudiantes en los problemas proporcionales (Cramer, Post y Currier, 1993; Fernández y Llinares, 2011; Fernández, Llinares, Van Dooren, De Bock y Verschaffel, 2011; Karplus, Pulos y Stage, 1983; Tourniaire y Pulos, 1985; Van Dooren, De Bock, Evers y Verschaffel, (2009)” 39 “puede ayudar a los estudiantes para profesor a reconocer las dificultades que tienen los estudiantes en identificar diferentes situaciones en la transición del pensamiento aditivo al multiplicativo y de qué manera los estudiantes tienen dificultades en ampliar el significado de la idea de razón incorporando significados que no proceden de la estructura aditiva”.
65
proporções; e outras que tragam propostas de transição do pensamento aditivo para
o pensamento multiplicativo.
O trabalho com proporções e o desenvolvimento do raciocínio proporcional
podem ser explorados por meio da resolução com o auxílio de tabelas. Fernández e
Llinares (2012, p. 139, tradução nossa) afirmam que a "utilização de ‘tabelas de
números proporcionais e não proporcionais’ em contextos reais podem ajudar os
alunos identificar relações entre os números [...]"40.
Anteriormente neste mesmo capítulo destinado aos estudos teóricos, já
havíamos identificado essas mesmas indicações no trabalho com tabelas em Lamon
(2005), que propõe seu uso como uma alternativa para a inserção do raciocínio
proporcional. Em nosso entendimento, esta pode ser uma rica estratégia na resolução
dos problemas que envolvem o raciocínio proporcional, pois, associada ao olhar
profissional, permite aos futuros professores verificar relações de proporcionalidade
ou de não proporcionalidade na construção de tabelas, ao resolverem problemas.
Nesse cenário, os pesquisadores orientam o uso de problemas para que os
estudantes para professor e seus alunos classifiquem problemas em proporcionais ou
não proporcionais em diferentes contextos, tais como problemas aritméticos e
geométricos, sem a necessidade inicialmente de resolvê-los, mas apenas de
reconhecê-los.
Primeiramente, apenas a identificação da proporcionalidade ou não
proporcionalidade pode ser uma boa estratégia para refletir sobre os conceitos iniciais
a respeito do raciocínio proporcional. A intenção, nesse tipo de situação, segundo o
autor, é de focar nas relações e não nas quantidades e, com isso, fortalecer a
compreensão e o desenvolvimento do raciocínio proporcional. Por isso, é preciso levar
em conta como importantes para o desenvolvimento da competência docente no
trabalho de fortalecimento de compreensão e desenvolvimento do raciocínio
proporcional: as características do problema; a forma com que a situação é
apresentada; o tipo de variável (qualitativa e quantitativa); e o modo como os números
são utilizados, se são múltiplos ou não.
Llinares em seus estudos afirma que o trabalho do docente é olhar de forma
profissional os perfis de estudantes e compará-los entre si, ou seja, é fundamental
40 “En este sentido, el uso desde la Educación Primaria de «tablas de números proporcionales» y no proporcionales en contextos reales puede ayudar a los estudiantes a identificar las relaciones entre los números (LAMON, 1999; SINGER; KOHN; RESNICK, 1997)”.
66
explorar o potencial, saber as limitações dos estudantes e procurar agrupá-los de
forma a favorecer o sucesso na resolução de problemas.
Complementando nossas leituras, notamos que Alina Spinillo é outra referência
muito utilizada por autores no trabalho do raciocínio proporcional. A pesquisadora
analisa e interpreta a evolução das crianças em diversas atividades de proporção.
Procurou "examinar a natureza das relações de primeira ordem em tarefas de
proporção que envolvem dimensões complementares" (SPINILLO, 1992, p. 306) e
destacou os seguintes resultados:
Esta análise revelou que as relações de primeira ordem tanto podem ser estabelecidas através de comparações parte-parte como através de comparações parte-todo, e que as crianças são capazes de resolver problemas de proporção quando as relações de primeira ordem envolvem comparações parte-parte.
Na visão da pesquisadora, as crianças desde muito cedo conseguem
estabelecer relações de comparação entre dois pares de grandezas. "Em proporção
estas relações requerem estruturar relações entre relações (relações de segunda
ordem) que envolvem comparações entre duas (ou mais) relações de primeira ordem"
(SPINILLO, 1992, p. 307). Com base nos estudos de Piaget e Inhelder (1975), ela
chama a atenção do leitor para o fato de que as relações de primeira ordem podem
ser parte-todo ou parte-parte41. E classifica essas últimas como mais fáceis para as
crianças. Acrescenta que comparações entre duas relações parte-parte podem ser de
dois tipos: iguais ou diferentes.
Para o trabalho com essas relações, a autora indica o uso do referencial
"metade", em que as crianças são capazes de fazer julgamentos em "mais que
metade", "menos que metade" e "igual à metade", ao comparar dimensões
complementares nas relações de primeira ordem. Para Spinillo (1992) a utilização
deste referencial pode ser uma boa estratégia para as crianças compreenderem
inicialmente sobre proporções e conceberem o pensamento proporcional em
atividades com dimensões complementares (parte-parte).
Ademais, “Spinillo e Bryant (1990) verificaram que crianças entre 6 e 8 anos de
idade também usam o referencial de ‘metade’ em julgamentos proporcionais acerca
41 “Relações parte-todo - consistem em comparações entre uma classe e uma de suas subclasses, como na tarefa piagetiana de inclusão de classes (rosas x flores). Em termos matemáticos referem-se a fração. Relações parte-parte envolvem comparações entre duas subclasses (rosas x margaridas) que, juntas, formam a classe das flores. Em termos matemáticos referem-se a razão” (SPINILLO, 1992, p. 307).
67
de quantidades numéricas” (SPINILLO, 1992, p. 315). Em nosso estudo utilizamos os
resultados das pesquisas de Spinillo com a finalidade de realizar discussões e
reflexões com grupo investigado acerca da maneira a serem explorado o conceito de
proporção e o desenvolvimento do raciocínio proporcional em crianças menores.
Uma convergência observada nos estudos até aqui apresentados42 foi quanto
ao uso das ideias de Piaget e Vygotsky. Ao lermos Vergnaud, percebemos que ele
relaciona seus estudos a conceitos utilizados pelos dois autores. Também Nunes et
al. e Gitirana et al. se utilizam desse referencial, por apoiarem suas investigações nos
estudos de Vergnaud.
Além desses estudos já apontados, Schliemann (1998) também apresenta tais
evidências em seu trabalho. A autora afirma que na teoria piagetiana as crianças, ao
resolverem situações-problema de matemática, mobilizam estruturas mentais já
existentes; por meio de seus esquemas mentais, chegam à resolução. À medida que
ocorrem as aprendizagens, novos esquemas são incorporados, para que as crianças
acomodem novos conceitos. Esse processo é conhecido nessa teoria como
assimilação e acomodação.
Para Schliemann (1998), o desenvolvimento na criança ocorre quando elas
são inseridas em situações de ensino de níveis mais complexos, em que elas possam
relacionar conhecimentos prévios com novos conceitos, a fim de favorecer a
construção de novos conhecimentos. A autora chama a atenção para que, ao abordar
situações problema, se considere o contexto no qual os estudantes vivem, ou seja, é
preciso ter em conta a matemática diária dos alunos para promover aprendizagens.
De acordo com relatos da pesquisadora, pessoas sem escolarização ou quase
nenhuma têm dificuldades no trabalho com situações de ensino que envolvem regras
e algoritmos matemáticos.
Ela realizou uma investigação com estudantes que tinham conceitos adquiridos
na escola e alunos que não possuíam escolarização, porém utilizavam conceitos
matemáticos diariamente. Em situações que envolviam o raciocínio proporcional,
pescadores eram capazes de relacionar o preço de várias unidades de peixes,
recorrendo à ideia do preço unitário43. Diante disso, a autora afirma que "os
pescadores conseguiram transferir procedimentos que utilizaram para cálculo de
42 Vergnaud; Gitirana et al.; Nunes et al.; Silva. 43 Estratégia conhecida neste trabalho como “taxa unitária”, em que, para encontrar o valor omisso, busca encontrar o valor da unidade e em seguida multiplicá-lo pela quantidade a ser obtida.
68
preços para problemas de proporcionalidade entre a quantidade de peixes não
processados e a quantidade de peixes processados" (SCHLIEMANN, 1998, p. 17). No
entanto, apresentaram dificuldades quando foram propostas atividades escolares.
Em outra situação a autora realizou um estudo com cozinheiras que se
inscreveram em um curso de alfabetização de adultos. Foram propostas tarefas de
proporcionalidade que envolviam dois contextos de compra e venda de produtos e
receitas de cozinha, e um terceiro contexto contendo fórmula de remédios. A primeira
situação fazia parte da vida dos alunos, mas a segunda não. A autora propôs tais
problemas em ordem diferentes e notou que, mesmo com diferentes formas de
apresentação, as alunas tiveram dificuldades na resolução de problemas com
fórmulas de remédio, pois não condiziam com o contexto delas. A pesquisadora
concluiu que:
[...] embora a experiência escolar tenha um papel importante na determinação da forma como as pessoas enfrentam problemas em contextos desconhecidos, o conhecimento matemático desenvolvido nos contextos da vida diária são flexíveis e gerais. (SCHLIEMANN, 1998, p. 18)
A autora complementa e afirma que é possível aplicar situações específicas a
situações mais genéricas, desde que as quantidades no novo contexto sejam
conhecidas dos alunos e tenham relações com o contexto conhecido por eles. Tais
resultados nos permitirão refletir com o grupo investigado neste estudo.
Schliemann (1998, p. 18) relata que, para resolverem problemas de
proporcionalidade, crianças não escolarizadas geralmente recorrem às estratégias
escalares, mesmo quando estratégias funcionais sejam mais fáceis, enquanto
crianças escolarizadas conseguem distinguir qual estratégia é mais adequada para
resolver cada problema. No entanto, estas últimas encontram dificuldades quando a
quantidade de itens de certo produto é maior que seu preço, o que se explica pelos
referenciais das duas quantidades iniciais: elas geralmente fazem confusão, se o
resultado se refere ao preço unitário ou à quantidade de itens.
Na visão da pesquisadora, a matemática da vida diária pode induzir os alunos
a limitar-se a situações específicas, com exemplos concretos, e isso pode dificultar a
generalização dos conceitos de proporcionalidade pelos estudantes.
Com base nos resultados apresentados pela pesquisadora, acreditamos que
tanto no ensino quanto no processo de aprendizagem é preciso articular aspectos da
vida diária dos estudantes a aspectos ligados ao ensino escolar de matemática. As
69
crianças, ao serem escolarizadas, podem ter contato com diferentes abordagens de
ensino, diversas representações do objeto matemático. Para tal, os professores e os
estudantes para professores devem pensar em propor situações motivadoras e que
façam sentido para os alunos, para que mobilizem seus conhecimentos e os adaptem
a novas situações.
Schliemann (1998, p. 32) defende que essas situações "[...] devem abranger
conceitos variados e permitir a descoberta de aspectos matemáticos que não são
facilmente encontrados em situações fora da escola". A autora entende que apenas
reproduzir situações do dia a dia na sala de aula não propicia aprendizagens para os
estudantes, pois constitui uma simples aplicação de atividades. O trabalho deve ir
além da simples reprodução de situações, ou seja, essas devem ser otimizadoras para
as crianças e "devem, portanto, procurar engajar o estudante em utilizar todos os seus
recursos para compreender novos sistemas e situações. E essas situações nem
sempre são aquelas que ele encontra fora da escola" (SCHLIEMANN, 1998, p. 33).
Assim como Schliemann (1998), acreditamos que as situações do cotidiano
devam ser inseridas no contexto dos estudantes. É necessário ampliar tais ideias para
que os estudantes não fiquem no senso comum, apenas em resoluções de problemas
do mundo real. É essencial que as futuras professoras explorem as mais variadas
situações de proporcionalidade e não proporcionalidade. Ademais, para que tenham
sucesso em sua atuação profissional, precisam conhecer e utilizar como apoio:
material concreto, computador, papel e lápis, entre outros.
Portanto, os estudos de Schliemann (1998) fornecem contribuições a esta
investigação, por analisar o raciocínio matemático de crianças escolarizadas e de
crianças que não possuem escolarização. Ela acredita que a criança desenvolve a
compreensão de razão e proporção fora da escola, mas o raciocínio proporcional
envolve conhecimentos que podem ser desenvolvidos no âmbito escolar.
Ademais, Schliemann (1998) indica o uso de dobro e triplo em situações
cotidianas envolvendo conceitos de razão e proporção. Além de Schliemann (1998),
os estudos de Spinillo (1992) e Fernández e Llinares (2012) indicaram orientações
semelhantes para o desenvolvimento do raciocínio proporcional de crianças, com
ideias do referencial metade e dobro.
Os estudos apresentados reforçam a necessidade de pensar e discutir, em
nossa formação, possibilidades de introdução ao raciocínio proporcional para futuras
professoras dos anos iniciais e alternativas para desenvolver esse raciocínio em
70
crianças. Dessa forma, corroboramos os estudos da autora e consideramos que o
raciocínio proporcional precisa ser explorado com crianças menores (06 a 10 anos de
idade). Entendemos ser necessário criar diferentes estratégias e abordagens para que
alunos menores compreendam as ideias acerca de proporções e desenvolvam o
pensamento proporcional. Para tal, é importante saber como as crianças pensam e
agem, para que possamos pensar em atividades profissionais. E nesta seção
apresentamos estudos que enfatizam como se dá o raciocínio proporcional nos anos
iniciais.
Portanto, em nossa pesquisa, partimos do pressuposto que a compreensão dos
estudantes para professores investigados sobre o que vem a ser raciocínio
proporcional está intrinsecamente relacionada com a competência em resolver
problemas multiplicativos e compreender como as crianças pensam.
Na próxima seção apresentaremos estudos que tratam da formação de
professores relacionados ao raciocínio proporcional.
2.4 A formação de professores e o raciocínio proporcional
Em nossas buscas, procuramos relacionar, inicialmente, a formação inicial de
professores dos anos iniciais com as ideias de proporcionalidade ou raciocínio
proporcional. Como não obtivemos sucesso, procuramos ampliar a revisão para
outros segmentos de ensino. Separamos dois estudos que entendemos serem os
mais relevantes.
O primeiro selecionado foi o de Nunes e Costa (2016), uma pesquisa qualitativa
com um grupo de (futuros) professores de Matemática, ou seja, estudantes de
licenciatura. O trabalho teve como objetivo verificar como esses (futuros) professores,
em formação inicial, desenvolviam o raciocínio proporcional por meio da resolução de
problemas, e ainda, como reconstruíram o conceito de proporcionalidade. Para tal
investigação foram propostos aos participantes dois problemas. O primeiro já havia
sido proposto por Tinoco (1996) e apresentava uma situação não proporcional:
Suely e Júlia estavam correndo na mesma velocidade ao redor de uma trilha. Suely começou primeiro. Quando Suely completou 9 voltas, Júlia completou 3 voltas. Quando Júlia completou 15 voltas, quantas voltas Suely completou? a) () 45 voltas b) () 24 voltas c) () 21 voltas d) () 6 voltas Este problema expressa uma situação de proporcionalidade? Justifique! (TINOCO, 1996 apud NUNES; COSTA, 2016)
71
Os resultados indicaram que os estudantes tiveram dificuldades no
reconhecimento da não proporcionalidade e resolveram o problema de três formas
(Figura 11).
Figura 11: Tentativas de resolução de uma situação não proporcional
Fonte: Nunes e Costa (2016, p. 55-56)
Os participantes questionaram os pesquisadores porque o resultado
apresentado não condizia com a situação. Foi solicitado que realizassem uma nova
leitura do problema e verificassem o que haviam feito. A dupla notou que os
procedimentos não correspondiam à situação proposta e perceberam, nesse
momento, que as atletas corriam a uma mesma velocidade. Assim, a partir da terceira
volta de Júlia, quando a diferença entre as corredoras era de 6 voltas, foi possível
perceber que essa diferença se manteve nas demais voltas; portanto, quando Júlia
terminou 15 voltas, Suely terminou 21 voltas. Nunes e Costa (2016, p. 56) pediram
aos alunos que registrassem suas conjecturas, o que resultou na seguinte
representação (Figura 12).
72
Figura 12: Resolução correta de uma situação não proporcional
Fonte: Nunes e Costa (2016, p. 57)
A partir das produções e dos relatos dos futuros professores, os autores
identificaram que os alunos apresentaram dificuldades para reconhecer a relação
aditiva entre as grandezas, pois o número de tentativas para se chegar ao resultado
foi grande. Detectaram também que os estudantes empregaram tanto o raciocínio
quantitativo, que envolve algoritmos numéricos, quanto o qualitativo, ao explicar as
estratégias utilizadas.
Já a segunda situação foi um problema de proporcionalidade, conforme vemos
na Figura 13:
Figura 13: Problema de proporcionalidade apresentado pelos autores
Fonte: Tinoco (1996 apud NUNES; COSTA, 2016, p. 58-59).
Os autores solicitaram que os estudantes resolvessem esse problema
individualmente. As resoluções apresentadas no protocolo indicaram que os futuros
73
professores não tiveram dúvidas, pois fizeram poucos questionamentos. A seguir, na
Figura 14, apresentamos dois protocolos com o preenchimento da tabela.
Figura 14: Resolução de dois alunos sobre o problema de proporcionalidade
Fonte: Nunes e Costa (2016, p. 59)
Segundo os pesquisadores o primeiro estudante possivelmente resolveu o
problema por meio da “estratégia escalar”, ou seja, encontrou os valores respectivos
da segunda e da terceira linha e o multiplicou por 7, para determinar o resultado. Já o
segundo estudante resolveu pela regra de três. Os autores notaram que os licenciados
não relacionaram com o que lhes foi solicitado no item (a), sugerindo que o registro
na tabela não estava acompanhado da compreensão efetiva de quais eram as
grandezas envolvidas no problema. No item (b), as respostas foram diversificadas: o
estudante da primeira tabela reconheceu, por meio da variação constante, que as
grandezas eram proporcionais; já o segundo grupo de alunos informou que as
grandezas eram proporcionais até 20 alunos. As respostas demonstraram para os
pesquisadores que ainda havia dificuldades no reconhecimento de uma proporção.
Ou seja, nem todos os futuros professores têm clara a relação diretamente
proporcional entre duas grandezas, expressa por uma função linear. Apesar disso, os
autores identificaram indícios do raciocínio proporcional nos estudantes, quando
demonstravam habilidades em reconhecer, explicar, pensar sobre, fazer gráficos e
representar proporções diretas. Além disso, as discussões e as reflexões realizadas
possibilitaram, na visão dos autores, o desenvolvimento do raciocínio proporcional.
Corroboramos o que dizem os autores:
Não basta encontrar a solução para um problema; também é importante explicar como a encontrou. Por vezes, nos preocupa a maneira como o raciocínio proporcional tem sido trabalhado nas escolas: um ensino restrito a cálculos e à manipulação de regras, propiciando um desenvolvimento frágil e pouco significativo desse raciocínio matemático. (NUNES; COSTA, 2016, p. 61)
74
A diversificação das atividades, bem como as estratégias de resolução e
compreensão das ideias ligadas ao raciocínio proporcional são essenciais para o
ensino de proporcionalidade. Nesta investigação, identificamos que nos estudos de
Nunes e Costa (2016), os alunos tiveram dificuldades do reconhecimento de situações
não proporcionais e apresentaram limitação na identificação de uma constante de
proporcionalidade.
Optamos pelo estudo em questão por ter certa relação com a presente
pesquisa, embora o número de pesquisas voltadas para a formação inicial de
professores dos anos iniciais com o tema proposto seja restrito. Há estudos com
futuros professores de matemática, mas estudantes de Pedagogia não são tão
comuns. Os resultados aferidos nesse estudo auxiliaram na elaboração e nas
discussões durante a formação proposta nesta pesquisa.
Um dos pontos destacados no presente estudo foi o conhecimento profissional
de futuras professoras que vão ensinar matemática. Para isso, elas precisam
conhecer a temática e suas abordagens, bem como estratégias e ferramentas de
ensino. Mas, além disso, devem ter o “conhecimento acerca do currículo” (BALL;
THAMES; PHELPS, 2008).
Vejamos agora o que orientam principais os documentos oficiais sobre o
raciocínio proporcional.
2.5 O que dizem os documentos curriculares a respeito da temática
Nesta pesquisa elencamos alguns dos principais documentos que norteiam a
educação básica no Brasil e escolhemos discorrer sobre os Parâmetros Curriculares
Nacionais (BRASIL, 1997, 1998) e a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL,
2017), por se tratarem de documentos de referência em nível nacional.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais dos anos iniciais (BRASIL, 1997) e dos
anos finais (BRASIL, 1998) do Ensino Fundamental apontam que proporcionalidade é
uma das ideias fundamentais e está presente em todos os blocos de conteúdo
(números, medidas, espaço e forma e tratamento de informação).
Ao tratar da aprendizagem matemática, os Parâmetros Curriculares Nacionais
sugerem que o ponto inicial para a atividade matemática deve ser a exploração de
problemas, e os estudantes precisam mobilizar estratégias para resolvê-los. Assim
propõem os PCN para os anos iniciais:
75
aproximações sucessivas ao conceito são construídas para resolver um certo tipo de problema; num outro momento, o aluno utiliza o que aprendeu para resolver outros, o que exige transferências, retificações, rupturas, segundo um processo análogo ao que se pode observar na história da Matemática. (BRASIL, 1997, p. 33)
As indicações ali apresentadas orientam que conteúdos servem de guia para o
desenvolvimento de ideias fundamentais (como as de proporcionalidade, equivalência
etc.) e que devem ser selecionados “levando em conta sua potencialidade quer para
instrumentação para a vida, quer para o desenvolvimento do raciocínio, nem sempre
são observadas” (BRASIL, 1997, p. 22). Corroborando essa afirmação, os Parâmetros
Curriculares Nacionais a complementam e apontam que,
ao relacionar ideias matemáticas entre si, [os alunos] podem reconhecer princípios gerais, como proporcionalidade, igualdade, composição e inclusão e perceber que processos como o estabelecimento de analogias, indução e dedução estão presentes tanto no trabalho com números e operações como em espaço, forma e medidas. (BRASIL, 1997, p. 29)
Com isso, percebemos que o estabelecimento de relações é tão importante
quanto a exploração dos conteúdos matemáticos, pois, abordados de forma isolada,
os conteúdos podem acabar representando muito pouco para a formação do aluno,
particularmente para a construção de conhecimentos, para obter uma melhor visão de
mundo e, principalmente, para a formação da cidadania. Portanto, os PCN (BRASIL,
1997, p. 33) indicam que "é necessário desenvolver habilidades que permitam pôr à
prova os resultados, testar seus efeitos, comparar diferentes caminhos, para obter a
solução".
Para completar as afirmações anteriores, os autores do PCN destacam que:
o fato de que vários aspectos do cotidiano funcionam de acordo com leis de proporcionalidade evidencia que o raciocínio proporcional é útil na interpretação de fenômenos do mundo real. Ele está ligado à inferência e à predição e envolve métodos de pensamento qualitativos e quantitativos (Essa resposta faz sentido? Ela deveria ser maior ou menor?). Para raciocinar com proporções é preciso abordar os problemas de vários pontos de vista e também identificar situações em que o que está em jogo é a não proporcionalidade. (BRASIL, 1997, p. 38)
Além disso, o documento apresenta alguns exemplos de situações do dia a dia,
tais como estudos de porcentagem, matemática financeira, análise de tabelas,
gráficos e funções, nas quais o aluno deve reconhecer princípios matemáticos
diversos, dentre eles a proporcionalidade. Nessa grande variedade de relações que
76
podem ser estabelecidas entre os diferentes blocos, segundo os autores do
documento, o professor, ao planejar suas atividades,
[...] procurará articular múltiplos aspectos dos diferentes conteúdos, visando a possibilitar a compreensão mais ampla que o aluno possa atingir a respeito dos princípios e métodos básicos do corpo de conhecimentos matemáticos (proporcionalidade, equivalência, indução, dedução etc.); além disso, buscará estabelecer ligações entre a Matemática, as situações cotidianas dos alunos e as outras áreas do conhecimento. (BRASIL, 1997, p. 40)
Para tal, salientamos que, dessa forma, conceitos relacionados às ideias
matemáticas fundamentais, como a de proporcionalidade, não devem ser ensinados
de maneira isolada ou mecânica, mas em um contexto bem escolhido, principalmente
nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o que, acreditamos, poderá favorecer a
aprendizagem e, por consequência, o desenvolvimento do raciocínio proporcional.
Assim como nos ciclos iniciais44, também para os ciclos finais do ensino
fundamental há referências ao fato de a proporcionalidade ser uma das ideias
fundamentais. Para as séries iniciais do Ciclo II do Ensino Fundamental, cuja idade
vai dos 11 aos 12 anos, percebemos a presença da exploração de proporcionalidade
em problemas, com questões como: "O número encontrado deveria ser maior ou
menor? Quanto maior? Esta resposta faz sentido?" (BRASIL, 1998, p. 67).
O documento (BRASIL, 1998) discute que, para o professor desenvolver o
raciocínio que envolva a proporcionalidade, ele deve explorar situações “que levem o
aluno a observar a variação de grandezas, estabelecendo relações entre elas e
construir estratégias de solução para resolver situações que envolvam
proporcionalidade” (BRASIL, 1998, p. 65).
O segundo texto analisado é a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL,
2017), documento normativo elaborado com a intenção de fornecer indicações do que
os estudantes devem ter aprendido nas diversas disciplinas ao fim de cada ano
escolar. Assim como os PCN (BRASIL, 1997, 1998), a Base Nacional Comum
Curricular considera a proporcionalidade como uma das ideias fundamentais da
matemática e ainda:
[...] leva em conta que os diferentes campos que compõem a Matemática reúnem um conjunto de ideias fundamentais que produzem articulações entre eles: equivalência, ordem, proporcionalidade, interdependência, representação, variação e aproximação. (BRASIL, 2017, p. 264, grifos do documento)
44 No Brasil compreende alunos de 06 a 09 anos de idade.
77
A BNCC (BRASIL, 2017, p. 264) ainda reforça ser essencial a
proporcionalidade no desenvolvimento do pensamento matemático e destaca sua
importância em diversas ações do cotidiano deles:
A proporcionalidade, por exemplo, deve estar presente no estudo de: operações com os números naturais; representação fracionária dos números racionais; áreas; funções; probabilidade etc. Além disso, essa noção também se evidencia em muitas ações cotidianas e de outras áreas do conhecimento, como vendas e trocas mercantis, balanços químicos, representações gráficas etc. (BRASIL, 2017, p. 264)
Esse documento, além disso, realça que os estudantes devem ser estimulados
a encontrar soluções para problemas diversos. Ele orienta quanto à utilização dos
conhecimentos produzidos pelos alunos e ao uso de diferentes recursos, com a
finalidade de oferecer aos estudantes oportunidade de resolver problemas diversos
com o apoio de desenhos, gráficos, tabelas, esquemas e materiais diversos (BRASIL,
2017, p. 263).
É certo que o professor neste contexto se torna indispensável, pois é ele que
deverá propor situações para que os alunos interpretem informações, conjecturem,
criem estratégias de solução e confrontem os resultados. Para a construção de
conhecimento por parte dos alunos, a BNCC orienta que
é imprescindível levar em conta as experiências e os conhecimentos matemáticos já vivenciados pelos alunos, criando situações nas quais possam fazer observações sistemáticas de aspectos quantitativos e qualitativos da realidade, estabelecendo inter-relações entre eles e desenvolvendo ideias mais complexas. (BRASIL, 2017, p. 294)
Fundamentados nestas indicações, nossa proposta visou apresentar uma
formação para o ensino e a aprendizagem em situações que utilizem diferentes
estratégias e estimulem a capacidade de reflexão e análise de resolução de
problemas de proporcionalidade por estudantes de pedagogia. A finalidade foi
explorar tais ideias, visando à competência profissional de futuros professores que
ensinarão matemática para os anos iniciais.
A Base Nacional Comum Curricular destaca o uso de proporcionalidade nos
mais diversos anos do Ensino Fundamental, porém, embora não tenha a indicação do
raciocínio proporcional, enxergamos possibilidades de inseri-lo nas diferentes
unidades temáticas da matemática.
Por exemplo, na unidade “Geometria” para o 5.º ano dos anos iniciais, a BNCC
propõe a noção de semelhança, por meio de atividades envolvendo ampliação e
78
redução de figuras poligonais. Nesse conteúdo os alunos devem “Reconhecer a
congruência dos ângulos e a proporcionalidade entre os lados correspondentes de
figuras poligonais em situações de ampliação e de redução em malhas quadriculadas
e usando tecnologias digitais” (BRASIL, 2017, p. 293).
Na unidade temática "Grandezas e medidas" é indicado o trabalho com o
raciocínio proporcional com estudantes, de modo que eles possam resolver situações-
problema, por exemplo, envolvendo a compra e a venda de mercadoria. Além disso,
o documento sugere que os alunos desenvolvam atitudes éticas e responsáveis em
relação ao consumo (BRASIL, 2017, p. 269).
Neste caso, pode ser indicada a ideia de levar dois, três ou mais produtos e
relacionar com o preço e, desta forma, trabalhar situações de proporcionalidade no
campo multiplicativo. Ainda, o professor pode inserir atividades que requeiram o uso
do raciocínio proporcional no aumento ou na diminuição do valor monetário de certo
produto.
Ademais, no trabalho com o raciocínio proporcional nesta unidade, há a
possibilidade de instigar os estudantes a estabelecerem relações de primeira-ordem45
em "problemas de comparação" de comprimentos e/ou outras medidas. Para isso, é
indicado o uso de materiais concretos, e a tarefa poderá ser feita sem nenhum recurso
especial, como, por exemplo, comparação de copo com certa quantidade de água
(parte com água e parte sem água) com o referencial "metade" (SPINILLO, 1993, p.
361).
Já para a unidade "Probabilidade e estatística", uma alternativa para o estudo
envolvendo o pensamento proporcional nesta etapa escolar é o trabalho com a coleta,
a organização e a análise de informações, por meio da construção de tabelas e
gráficos. Para reforçar nossas afirmações, segue um dos objetivos dessa unidade.
Ler, interpretar e comparar dados apresentados em tabelas de dupla entrada, gráficos de barras ou de colunas, envolvendo resultados de pesquisas significativas, utilizando termos como maior e menor frequência, apropriando-se desse tipo de linguagem para compreender aspectos da realidade sociocultural significativos. (BRASIL, 2017, p. 285)
Em problemas dessa natureza, é possível explorar com os estudantes
diferentes estratégias: a escalar e a funcional, para a construção de tabelas e gráficos,
e sua posterior análise.
45 As relações de primeira ordem são baseadas nos estudos de Piaget e Inhelder (1975) e Spinillo (1992, 1993) e nesta pesquisa refere-se às relações de comparação "parte-parte" ou "parte todo".
79
Na unidade "Números", a BNCC para os anos iniciais orienta que os estudantes
desenvolvam os conhecimentos sobre as frações e associem o resultado de uma
divisão à ideia de relação parte de um todo (BRASIL, 2017, p. 291) e, ainda, indica a
inserção de problemas envolvendo significados de dobro, metade, triplo e terça parte
(BRASIL, 2017, p. 278).
Nesta perspectiva, uma possível forma de explorar o raciocínio proporcional é
a construção de relações de primeira e de segunda ordem46 por meio da equivalência
de frações (comparações) e a resolução de problemas de "valor omisso".
Ainda, na mesma unidade temática, a BNCC (BRASIL, 2017, p. 287) apresenta
aos estudantes do 4.º ano situações que envolvem multiplicação (parcelas iguais ou
configuração retangular e proporcionalidade). Ademais, para os 4.° e 5.° anos, neste
documento (BRASIL, 2017, p. 290), é indicada para a unidade “Números” a inserção
de problemas envolvendo grandezas diretamente proporcionais. Nossa intenção
nessa unidade é identificar relações existentes entre os números e ampliar suas
estratégias de cálculo, visando à (re)construção do raciocínio proporcional.
Enfim, para a unidade "Álgebra”, espera-se que os estudantes desenvolvam o
pensamento algébrico – “que é essencial para utilizar modelos matemáticos na
compreensão, representação e análise de relações quantitativas de grandezas e,
também, de situações e estruturas matemáticas, fazendo uso de letras e outros
símbolos" (BRASIL, 2017, p. 266). Ademais, o documento destaca que, para
desenvolvê-lo, “é necessário que os alunos identifiquem regularidades e padrões de
sequências numéricas e não numéricas, estabeleçam leis matemáticas que
expressem a relação de interdependência entre grandezas em diferentes contextos”
(BRASIL, 2017, p. 266).
Podemos pensar na inserção do raciocínio proporcional, por exemplo, na ideia
de variação proporcional direta entre duas grandezas. Esta situação-problema consta
neste documento: “Se, com duas medidas de suco concentrado, obtenho três litros de
refresco, de quantas medidas desse suco concentrado preciso para ter nove litros de
refresco?” (BRASIL, 2017, p. 266).
Segundo esse documento, esse problema pretende explorar a noção intuitiva
de função a partir da variação proporcional. Acreditamos ser possível que os alunos
46 As relações de segunda ordem, também chamadas de relações de relações, estão centradas nas pesquisas de Piaget e Inhelder (1975) e Spinillo (2002, p. 475) e nesta pesquisa referem-se às ligações entre relações de primeira ordem.
80
avancem com o raciocínio proporcional, se lhes forem proporcionadas diferentes
situações. E o exemplo poderá contribuir para tal compreensão.
Nesta subseção expusemos os pressupostos que embasaram o currículo
brasileiro. Da mesma forma que Ball, Thames e Phelps (2008), consideramos ser
importante, para a atividade profissional do professor que ensinará matemática para
os anos iniciais, conhecer as indicações contidas nesses documentos. Por essa razão,
as indicações aqui propostas também foram foco de algumas das discussões e das
reflexões realizadas durante o processo formativo.
Na seção seguinte exporemos nossas ideias acerca do uso de diferentes
tecnologias no ensino deste nosso estudo.
2.6 O uso de diferentes tecnologias no ensino
Nessa seção, inicialmente apresentaremos como usamos a tecnologia em
nossa pesquisa.
O termo tem origem no grego, tekhno (de tékhné, "arte") e logia (de lógos, ou
"linguagem, proposição") (MORAN et al., s.d.). Nesse estudo, os autores mostram a
amplitude da utilização do termo tecnologia:
Tecnologia é um termo usado para atividades do domínio humano, embasadas no conhecimento de um processo e/ou no manuseio de ferramentas. A tecnologia tem a possibilidade de acrescentar mudanças aos meios por resultados adicionais à competência natural, proporcionando, desta forma, uma evolução na capacidade das atividades humanas, desde
os primórdios do tempo (MORAN et al., s.d.).
Pensamos em agregar diferentes tecnologias a esta investigação, por
considerá-las mais um elemento potencializador dos processos de ensino e de
aprendizagem, com a finalidade de contribuir para a construção de conhecimentos e
fortalecer, em nossa pesquisa, reflexões sobre o raciocínio proporcional e seu ensino.
Discorreremos aqui sobre estudos que envolvem tecnologia, cujo uso se torna
fundamental para o ensino e a aprendizagem de Matemática.
Ao acompanhar os resultados apresentados nas avaliações externas
(SARESP) e (SAEB), realizadas nos últimos anos, percebemos que podem contribuir
para uma reflexão mais profunda sobre os conteúdos e conceitos matemáticos e ainda
sobre a forma como são abordados.
Um caminho para a superação das várias dificuldades que essas avaliações
81
mostram é o uso de diferentes tecnologias, incluindo as digitais em sala de aula, pois
a globalização impulsionou a inserção de recursos tecnológicos digitais no dia a dia
dos indivíduos, em todos os ramos da atividade humana.
Na Educação, ainda há quem questione a utilidade e, principalmente, a
funcionalidade de qualquer tecnologia no ensino e na aprendizagem de Matemática,
mas não somos partidários dessa visão, uma vez que há estudos que indicam avanços
tanto no ensino quanto na aprendizagem, com a inserção de diferentes recursos, seja
um jogo, uma calculadora, um material manipulável ou até mesmo um recurso
computacional. É preciso ressaltar que tais recursos exercem uma importante função
no processo de ensino e aprendizagem e são indicados pelos documentos oficiais
brasileiros, como os PCN (BRASIL, 1997, p. 19) e a BNCC (BRASIL, 2017, p. 272).
As orientações dos PCN relatam que tais recursos podem levar os alunos a
desenvolverem diversas habilidades: refletir, analisar e comparar, que auxiliam na
aprendizagem matemática. Com relação, especificamente, aos recursos tecnológicos,
afirmam que "o computador pode ser usado como elemento de apoio para o ensino
(banco de dados, elementos visuais), mas também como fonte de aprendizagem e
como ferramenta para o desenvolvimento de habilidades" (BRASIL, 1997, p. 35).
Corroborando essas afirmações, a BNCC (BRASIL, 2017, p. 272) destaca que
recursos como “malhas quadriculadas, ábacos, jogos, livros, vídeos, calculadoras,
planilhas eletrônicas e softwares de geometria dinâmica têm um papel essencial para
a compreensão e utilização das noções matemáticas”. Além disso, esses documentos
propõem a utilização de situações contextualizadas e jogos e materiais concretos.
Portanto, procuramos seguir tais orientações na elaboração do processo formativo de
nossa pesquisa.
Aliamo-nos a essas indicações e concordamos plenamente com elas, visto que
a dissertação de Mestrado deste pesquisador (CANDIDO, 2010) sobre vetores propôs
o uso de um recurso computacional, o software Cabri 3D. Os resultados desse estudo
apontaram que, naquele contexto, com a abordagem proposta e a ajuda do software,
os participantes puderam compreender e melhorar seus conhecimentos em relação a
algumas propriedades dos vetores do IR³ no sistema (0, x, y, z).
Atualmente, há muitos softwares, plataformas digitais e sites da internet que
podem ser considerados de boa qualidade e favorecem a exploração de diferentes
habilidades dos usuários. No entanto, a experiência enquanto atuava como professor
de matemática do Ensino Fundamental revelou ao presente pesquisador certa
82
resistência por parte de professores de Matemática quanto ao uso dessas
ferramentas, talvez pela falta de conhecimento ou até mesmo pelo tempo necessário
para aprenderem a usar alguns dos softwares ou ainda por outras razões como a falta
de estrutura tecnológica nas escolas.
Podemos citar como exemplos de softwares educativos o Logo ou o Cabri
(CONFREY, 1992), para os quais os professores devem disponibilizar tempo para
apropriação e exploração. Além disso, Kaput (1992) destaca que as dificuldades
podem estar relacionadas com as mudanças rápidas na tecnologia, que exigem um
constante repensar pedagógico e curricular.
Constatamos que diversos autores defendem a utilização de computadores em
sala de aula, mas só isso não basta; por exemplo, Balacheff e Kaput (1996) apontam
para a necessidade de estudos que proponham mudanças curriculares e novas
abordagens em sala de aula, com a inserção de ferramentas computacionais, o que
também é sugerido por Kaput (1992). Concordamos com essa visão, pois entendemos
que o uso adequado de recursos computacionais pode favorecer a elaboração de
estratégias para a resolução de atividades pelos estudantes e ser um rico aliado na
confecção e na aplicação de atividades de uma pesquisa acadêmica.
Conforme já vimos aqui, os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam o uso
de tecnologia e apontam o computador “como um instrumento que traz versáteis
possibilidades ao processo de ensino e aprendizagem de Matemática, seja pela sua
destacada presença na sociedade moderna, seja pelas possibilidades de sua
aplicação nesse processo” (BRASIL, 1998, p. 43). Ademais, a BNCC orienta que
alunos nos anos iniciais resolvam “problemas envolvendo dobro, metade, triplo e terça
parte, com o suporte de imagens ou material manipulável, utilizando estratégias
pessoais” (BRASIL, 2017, p. 279).
Em nossa tese, procuramos inserir tais problemas com elementos mediados
pela tecnologia que, pelos resultados apresentados em nosso estudo, contribuíra para
a produção de conhecimentos das participantes da pesquisa.
Um dos recursos utilizados foi o Objeto de Aprendizagem (OA), pois “é um
recurso que permite aos alunos pesquisar, experimentar, fazer simulações,
conjecturar ideias prévias e construir novas formas de representação mental" (REIS;
FARIAS, 2003). Para complementar tais ideias, os Objetos de Aprendizagem podem
ser compreendidos como “qualquer recurso digital que possa ser reutilizado para o
suporte ao ensino” (WILEY, 2000, p. 3). As simulações realizadas com um OA
83
permitem a criação de várias situações que visam contribuir para o processo de
aprendizagem dos alunos.
No Brasil, podemos destacar a Rede Interativa Virtual de Educação (RIVED),
desenvolvida pela Secretaria de Educação a Distância – SEED47 –, cujo objetivo foi a
produção de conteúdos pedagógicos digitais, na forma de objetos de aprendizagem.
O material é gratuito e está disponível para uso no site
http://rived.mec.gov.br/site_objeto_lis.php. (Acesso em: 14 jun. 2018).
Ali, os conteúdos produzidos são públicos e licenciados pelo Creative
Commons. Segundo Branco e Britto (2013, p. 21), "as licenças Creative Commons
funcionam como uma fonte de instrumentos jurídicos para aqueles que desejam abrir
mão de alguns de seus direitos em favor da coletividade e em prol da difusão de obras
culturais". O site permite aos usuários explorarem os conteúdos publicados e
possibilita que copiem e distribuam o material, desde que atribuam o crédito aos
autores. Além disso, os conteúdos ficam armazenados num repositório e, quando
acessados pelos estudantes, por meio de uma busca, vêm acompanhados de um guia
do professor, com sugestões de uso. Essas potencialidades proporcionam aos
professores diversas formas de trabalho em sala, ou seja, é possível usar o conteúdo
como um todo ou apenas algumas atividades ou alguns objetos de aprendizagem,
como animações e simulações.
Além de recursos computacionais, usamos como diferente ferramenta
tecnológica o material concreto, ou seja, recortamos papel cartão em forma de
barrinhas, para que as participantes comparassem quantidades. Esse material foi
utilizado no ensino e na aprendizagem do raciocínio proporcional, principalmente
atrelado à ideia de dobro, triplo e metade, conforme destacado anteriormente pela
BNCC (BRASIL, 2017, p. 279).
Em nossa visão, os materiais concretos poderiam propiciar às futuras
professoras oportunidades de refletir sobre a situação descrita no problema.
Acreditamos, assim como Pais (2006), que o uso do material concreto poderá
propiciar aulas mais dinâmicas e ampliar o pensamento abstrato por um processo de
retificações sucessivas, que possibilita a construção de diferentes níveis de
elaboração do conceito.
47 A partir de 2011, a Secretaria de Educação a Distância – SEED foi extinta do Ministério da Educação, passando a Diretoria de Regulação e Supervisão em Educação a Distância, pertencente a Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior – SERES, a assumir a regulação e supervisão das ações de educação a distância no ensino superior.
84
Ademais, corroboramos o que afirmam Miorim e Fiorentini (1990, p. 1):
O professor nem sempre tem clareza das razões fundamentais pelas quais os materiais ou jogos são importantes para o ensino-aprendizagem da matemática e, normalmente, não questiona se estes realmente são necessários, e em que momentos devem ser usados.
Por meio da experiência obtida em sala de aula ao longo do tempo e nos relatos
apresentados por professores do Ensino Fundamental, um dos argumentos usados
pelo professor para implementar esses elementos é o aspecto “motivador”, para tornar
suas aulas mais atraentes e dinâmicas, pois, com isso, acreditam que os estudantes
possam ter mais empatia com matemática. Porém, em nossa visão, apenas o aspecto
motivação não é suficiente, pois a intencionalidade pedagógica da forma de utilizá-
los, bem como o momento de usá-los são atributos fundamentais na competência
profissional. Na formação proposta, refletimos e discutimos acerca desses aspectos
com as participantes.
Na seção que segue, apresentaremos conceitos teóricos relacionados à
competência do professor e à aplicação do conhecimento em uso, dentre outros.
2.7 Conceitos teóricos relacionados à competência e aos conhecimentos do
professor
Antes de planejar as etapas de aplicação e análise, tínhamos a preocupação
de selecionar concepções teóricas que estivessem relacionadas a nossa proposta
temática e aos pressupostos que vislumbramos para o processo de formação
profissional que pretendíamos colocar em prática. Ao realizar leituras e, em contato
com os integrantes da linha de pesquisa, decidimos usar como marco teórico as ideias
de Ball, Thames e Phelps e de Llinares. A seguir, traremos as contribuições dos
estudos desses autores para esta pesquisa.
2.7.1 Deborah Loewenberg Ball e os conhecimentos do futuro professor
Nesta investigação analisamos um grupo de estudantes em atividade
matemática e, dessa forma, entendemos a importância de uma teoria que dê ênfase
ao trabalho de futuros professores – e com eles – que analisam os conhecimentos
necessários para o ensino. Além disso, procuramos algo que abarque a relação
85
educacional de professores de Matemática e as questões pedagógicas envolvidas. Ao
realizar uma pesquisa bibliográfica em algumas teorias na área de formação de
professores, optamos pelos estudos do grupo norte-americano liderado por Deborah
Loewenberg Ball.
Ball, Thames e Phelps (2008) apresentam um modelo multidimensional de
domínio do conhecimento matemático, que consideram essencial para a docência e
que pode ser observado na Figura 15.
Figura 15: Modelo apresentado por Fonte: Ball, Thames e Phelps
Fonte: Ball, Thames e Phelps, (2008, p. 403, tradução nossa)48.
Podemos ver, do lado esquerdo, o conhecimento específico do conteúdo, no
qual estão inseridos o conhecimento comum do conteúdo (CCK), o conhecimento
especializado do conteúdo (SCK) e o conhecimento horizontal do conteúdo (SCK). Do
lado direito, Ball, Thames e Phelps (2008) apresentam o conhecimento pedagógico
48
86
do conteúdo, no qual estão contidos o conhecimento do conteúdo e dos alunos, o
conhecimento do conteúdo e do ensino e o conhecimento do conteúdo e do currículo.
A seguir descreveremos cada um deles.
2.7.1.1 Conhecimento comum do conteúdo
Ball, Thames e Phelps (2008, p. 399) relatam que o conhecimento comum do
conteúdo é aquele que qualquer sujeito sabe e que utiliza matemática em suas ações,
independentemente de ser professor ou não.
Para os futuros professores, este domínio é imprescindível e, sem ele,
dificilmente será possível desenvolver os demais domínios apresentados no modelo
proposto por Ball, Thames e Phelps (2008).
No trabalho do professor, essa categoria de conhecimentos é indispensável
que ele tenha conhecimentos dos conteúdos matemáticos a serem ensinados.
Este domínio, em especial, seria a capacidade de estudantes para professor
de resolver situações-problema que envolvem o raciocínio proporcional pelo uso de
diferentes estratégias (convencionais ou não convencionais).
Um exemplo elementar de proporcionalidade presente no cotidiano: “Na
compra de 5 (cinco) pãezinhos paga-se R$2,50 se nestas condições, tivesse sido
gasto R$7,50 a quantidade de pães comprados, seria...?”. Essa situação não é
resolvida somente por professores de Matemática, todavia é importante que o
professor que irá lecionar situações que envolvam o raciocínio proporcional a resolva.
2.7.1.2 Conhecimento especializado do conteúdo
Este domínio, segundo Ball, Thames e Phelps (2008, p. 400), é destinado
exclusivamente a quem ensina matemática, ou seja, é necessário aos docentes e aos
futuros professores, em seu ofício. Segundo os pesquisadores, este conhecimento é
estritamente ligado ao conteúdo matemático, no entanto extrapola o "conhecimento
comum do conteúdo", na medida em que é exigido dos futuros professores que
saibam identificar as estratégias que possam ser usadas por todos os estudantes. É
importante que os futuros professores tenham condições de detectar a natureza dos
erros cometidos pelos alunos e, por consequência, intervir, com a finalidade de auxiliá-
los a evoluir na aprendizagem.
87
Podemos retomar o exemplo de proporcionalidade direta apresentado
anteriormente. Caso os alunos não entendam o problema ou errem o resultado, é
importante que os futuros professores possam identificar a natureza dos erros e,
ainda, que apontem possíveis caminhos que ajudem os alunos a superá-los. Nesta
dimensão de conhecimento, os estudantes provavelmente não têm elementos para
saber a causa de não terem êxito na atividade, porém aos futuros docentes é
indispensável tal habilidade.
2.7.1.3 Conhecimento horizontal do conteúdo
Aos futuros professores, conforme apontam Ball, Thames e Phelps (2008, p.
403), é imprescindível conhecer o currículo de forma holística e suas potenciais
articulações. Eles precisam ter bem claras as conexões entre os conteúdos e os
diferentes blocos da matemática, para poder explorar todas as possibilidades de inter-
relações entre os conteúdos a serem ensinados.
Ainda com relação ao pensamento proporcional, os futuros professores que
pretendem ensinar proporcionalidade nos anos iniciais devem entender que a ideia de
proporcionalidade transita entre a Aritmética, a Álgebra, a Geometria, a Trigonometria,
favorecendo a compreensão dos conceitos e procedimentos envolvidos, bem como a
articulação entre eles. Com isso, podem explorar diversos problemas em que aflore o
pensamento proporcional em seus futuros alunos.
2.7.1.4 Conhecimento de conteúdo e de alunos
Esta dimensão é proveniente das relações entre alunos, professores e o saber
matemático. Professores mais experientes tendem a levar certa vantagem no
"Conhecimento de conteúdo e de alunos", pelo fato de já terem contato com
estudantes. Em contrapartida, os futuros professores, que ainda estão em formação,
têm condições de se apropriar de tais conhecimentos sobre os saberes matemáticos
dos alunos, pois na Universidade eles têm possibilidade de aprender assuntos
relevantes a sua formação e contar com resultados de pesquisa, o que lhes fornecerá
elementos para iniciar suas atividades na docência.
Segundo Ball, Thames e Phelps (2008, p. 401), esta dimensão do
conhecimento se diferencia do conhecimento comum do conteúdo e do conhecimento
88
especializado do conteúdo, na medida em que os futuros professores, além de
resolver a atividade, devem diagnosticar os erros e avaliar sua natureza e, ainda,
prever quais deles os alunos são mais suscetíveis de apresentar.
Para exemplificar, apresentamos um problema de proporcionalidade inversa.
Os estudantes podem confundir este tipo de situação com atividades relacionadas à
proporcionalidade direta. Cabe ao futuro professor, nesta dimensão, identificar como
os alunos compreendem o problema e quais são as eventuais razões que os
conduziram ao erro. Outra circunstância muito comum de erros cometidos pelos
alunos é quando interpretam situações que envolvem proporcionalidade como
situações aditivas. Por exemplo: ao apresentar um problema em que os estudantes
devem aumentar certo ingrediente de uma receita culinária, os professores precisam
saber que um erro comum é adicionar a mesma quantidade a todos os outros
ingredientes. Neste caso, os estudantes acabam por desconsiderar o fator de
proporcionalidade e utilizam estratégias aditivas de forma incorreta, conforme relatado
nas pesquisas de Oliveira (2009).
2.7.1.5 Conhecimento de conteúdo e de ensino
De acordo com Ball, Thames e Phelps (2008, p. 401), esta dimensão do
conhecimento está intrinsecamente ligada ao trabalho do professor, porque se
relaciona ao entendimento dos conteúdos específicos de Matemática, aliados à
compreensão dos contextos pedagógicos. Tais domínios habilitam o professor a
interferir nos processos de ensino e de aprendizagem de seus estudantes. O
conhecimento do conteúdo e do ensino, segundo nossa compreensão, vai desde a
seleção de materiais e recursos pedagógicos, passa pela intervenção que o professor
realiza em aula e finaliza no feedback feito pelo futuro docente na avaliação. Portanto,
o futuro professor poderá encontrar certas dificuldades nesta dimensão, pois ele ainda
não dispõe da experiência com os alunos e com atividades relacionadas em sala de
aula.
Podemos ilustrar a dimensão apresentada com um exemplo de nosso estudo
com raciocínio proporcional: elaborar uma sequência de atividades. Em nossa
proposta, é indispensável o conhecimento acerca do conteúdo matemático a ser
explorado (proporção e/ou outros) e dos diferentes procedimentos metodológicos,
inclusive as escolhas de exemplos.
89
2.7.1.6 Conhecimento curricular do conteúdo
O futuro professor, nesta dimensão, com base nas ideias de Ball, Thames e
Phelps (2008, p. 401) deve conhecer os programas e os conteúdos que permeiam a
trajetória escolar dos estudantes. É fundamental, ainda, que o futuro docente saiba
quais materiais didáticos estão à disposição em cada etapa de ensino, de que forma,
e quando pode utilizá-los ou não. Em proporcionalidade, por exemplo, cabe ao futuro
professor saber quais as etapas de ensino, quais as possibilidades de utilização de
materiais e como é possível explorá-los de acordo com o respectivo ano escolar e
com o desenvolvimento de seu aluno.
A seguir discutiremos os estudos de Llinares, que também fundamentaram esta
investigação.
2.8 Salvador Llinares: a competência docente e o olhar profissional
Para construir nossa fundamentação, optamos pelos trabalhos de Llinares, pois
esse pesquisador volta sua atenção para a formação inicial, foco de nossa pesquisa.
Além disso, alguns de seus estudos também investigam sobre o desenvolvimento de
competências profissionais a respeito do raciocínio proporcional (LLINARES, 2008,
2011, 2013, 2015a e 2015b; LLINARES; FERNÁNDEZ, 2012). Nessa perspectiva, as
ideias de Salvador Llinares nos ajudaram tanto na preparação do processo formativo
como na análise dos dados coletados.
Já em 2011, para Llinares (2011, p. 6, tradução nossa), “a ideia de competência
docente deve ser entendida como o uso do conhecimento para resolver atividades
profissionais da prática de ensinar matemática”49. Nesse contexto, notamos que
alguns constructos teóricos utilizados pelo autor são também de nosso interesse,
como certas categorias de conhecimentos necessários ao profissional que ensinará
matemática. Llinares (2015b, p. 271), por exemplo, discute que esse tipo de
conhecimento deve estar associado a um contexto em que a prática potencialmente
ocorre e em situações nas quais se desenvolvam relações dialéticas entre o
conhecimento necessário ao ensino e às concepções dos futuros professores sobre a
49 “La idea de competencia docente entendida como el uso del conocimiento para resolver los problemas profesionales de la práctica de enseñar matemáticas”.
90
sua prática pedagógica. Para discutir os conhecimentos profissionais docentes, o
autor se fundamenta, assim como este estudo, nas propostas de Shulman (1986) e
de Ball, Thames e Phelps (2008). Llinares (2015a) preocupa-se com a prática docente
e considera ainda ser necessário que o futuro professor tenha um olhar diferenciado
para as tarefas matemáticas.
Figura 16: Modelo proposto por Llinares
Fonte: PPT apresentado por Llinares (2015a, p. 10) no II Seminário Integrado.
Llinares defende que o ensino de Matemática para os estudantes para
professor aconteça como uma prática profissional, muito próxima ao que o futuro
profissional vivenciará. Para isso, o autor propõe um sistema composto por três
atividades profissionais focadas no ensino de matemática. O autor considera que o
futuro professor precisa:
- Selecionar e projetar tarefas matemáticas apropriadas.
- Iniciar e guiar o seu discurso matemático em sala de aula.
- Interpretar e analisar o pensamento matemático de seu aluno.
Llinares (2013, p. 119, tradução nossa), apoiado nas ideias de Ball Thames e
Phelps (2008), afirma que "o significado da competência docente está associado a
tentativas de compreender a maneira pela qual o professor ‘usa o conhecimento da
matemática para o ensino’ quando realiza várias tarefas profissionais"50. Ele se
50 “El significado de esta competencia docente está vinculado a los intentos de comprender la manera
91
aproxima das ideias de Ball, na medida em que considera que o professor se
diferencia de outros profissionais porque ele precisa saber analisar, diagnosticar e
dotar de significado as produções matemáticas de seus alunos.
Além disso, Llinares (2015a, p. 7) relata que os estudantes para professor
devem “olhar profissionalmente” para o ensino e para a aprendizagem da matemática
como uma componente da prática profissional do professor de matemática. De acordo
com o autor, o olhar profissional para o ensino faz parte da competência profissional
que “[...] se caracteriza pelo fato de que o professor é capaz de reconhecer os fatos
que podem ser relevantes na sala de aula para explicar a aprendizagem da
matemática [...]"51 (LLINARES, 2015a, p. 7, grifo nosso, tradução nossa).
Esse "olhar profissional", na visão do pesquisador, permite aos estudantes para
professor enxergar situações de ensino e de aprendizagem de matemática de maneira
particular, ou seja, diferente de uma pessoa que não é um professor pedagogo.
Outro conceito destacado pelo pesquisador é o "conhecimento em uso", que
permite ao estudante para professor generalizar informações acerca de situações de
ensino, para ter elementos para tomar decisões. A utilização do conhecimento em uso
é gerada por um sistema de atividades de ensino, no qual os estudantes para
professor aplicam o ensino da matemática como uma prática. Ou seja, situações
hipotéticas de ensino criadas para possibilitar a esses futuros profissionais colocar em
prática seus conhecimentos pedagógicos.
De nosso ponto de vista, é fundamental que as estudantes para professoras,
em suas atuações profissionais futuras, tenham condições de interpretar e analisar o
pensamento matemático de seus alunos. Por isso, é importante que elas vivenciem
situações por meio das quais sejam estimuladas a conjecturar e utilizar formas de
pensar como as que seriam utilizadas por seus alunos. Tais situações podem
favorecer a reflexão sobre a prática, mesmo sem que essa se efetive. Neste estudo,
a tais situações denominaremos Atividades Profissionais.
Ademais, sabemos que faz parte das atribuições profissionais dos professores
de matemática “o acompanhamento” das resoluções encontradas por seus alunos
para as situações que lhes são propostas durante a aula. Nesse contexto, as
en la que el profesor ‘usa el conocimiento de matemáticas para la enseñanza’ cuando realiza diferentes tareas profesionales”. 51 “mirar profesionalmente’ la enseñanza se caracteriza por el hecho de que el profesor sea capaz de reconocer los hechos que pueden ser relevantes en el aula para explicar el aprendizaje de las matemáticas”.
92
Atividades Profissionais podem ajudar a desenvolver o “olhar profissional” de futuros
professores para essa atribuição. Além de buscar fundamentos nos pressupostos
sobre a formação de professores, encontramos nos estudos de Llinares algumas
investigações que nos ajudaram a selecionar alguns casos para discutir durante a
formação.
Llinares (2015a) mostra a possibilidade da criação de um questionário que
favorecesse o processo reflexivo do futuro professor. A partir de pesquisas anteriores
(FERNÁNDEZ; LLINARES, 2012), Llinares apresenta diferentes estratégias de
resolução de problemas proporcionais (do tipo f (x) = ax) e problemas não
proporcionais do tipo f (x) = x + b. Ele apontou quatro categorias:
● os alunos que raciocinam corretamente, ou seja, resolvem os quatro problemas
proporcionais proporcionalmente e os quatro problemas aditivos aditivamente;
● os alunos que raciocinam proporcionalmente, ou seja, resolvem problemas
aditivos e proporcionais, proporcionalmente;
● os estudantes que raciocinam aditivamente, ou seja, resolvem os problemas
aditivos e proporcionais, aditivamente;
● os alunos que raciocinam, dependendo do tipo de relação entre os números
(inteiros ou não), ou seja, eles resolvem problemas com proporções inteiras
proporcionalmente e problemas com razões não inteiras aditivamente.
Assim, o autor considera que tais situações possam favorecer aos estudantes
para professor o desenvolvimento de um novo olhar para as tarefas de ensino, agora
“de maneira profissional”. A partir da análise realizada (LLINARES, 2015a, p. 95), é
possível também perceber algumas atividades cognitivas, dentre elas, identificar o que
é relevante em uma situação; interpretar seus aspectos; decidir a situação e a tarefa
mais adequada para os estudantes.
Para o autor, ao analisar as atividades cognitivas produzidas pelos estudantes
para professores a partir das respostas apresentadas pelos alunos sobre um
determinado problema, Llinares (2015a, p. 95) relata que alguns deles fizeram
comentários de forma genérica, em que apenas relataram os processos de resolução
descritos pelos alunos na tarefa. Outros estudantes para professor conseguiram ir
além da resolução e identificaram comportamento dos alunos. Já certos estudantes
para professor foram capazes de separar os perfis de alunos nas produções
realizadas por eles em vários tipos de problemas.
Nessas ações, foi verificado pelo pesquisador que os estudantes para
93
professor, ao descreverem as respostas dos alunos, denotaram competência docente
para identificar e interpretar o pensamento dos alunos a fim de nortear suas decisões.
Na visão do pesquisador, é preciso entender como as relações entre o
pensamento matemático e o cognitivo se proliferam no discurso dos estudantes para
professor e, principalmente em suas decisões. Llinares (2015a, p. 102) apontou, com
base nas respostas aferidas pelos estudantes para professor, os seguintes níveis do
desenvolvimento do raciocínio proporcional:
● Nível 1 - não discriminam o problema.
● Nível 2 - discriminam o problema, porém não o justificam.
● Nível 3 - discriminam o problema e o justificam.
● Nível 4 - discriminam o problema, justificando e identificando os perfis.
Segundo o autor, há diferentes tipos de estudantes para professor. No
entanto, ele chama a atenção para a necessidade de que esses profissionais tenham
conhecimentos específicos, sejam capazes de argumentar, discriminar e analisar o
comportamento dos alunos. Além disso, para que aflore sua capacidade para olhar
com sentido os perfis dos estudantes e as respostas fornecidas por eles. De acordo
com o pesquisador, é necessário inter-relacionar os aspectos matemáticos e
cognitivos e criar um contexto de situações problemas para "olhar de forma
profissional".
Em nossa pesquisa, procuramos propiciar esse contexto, ao apresentar
atividades que potencializassem o desenvolvimento da competência docente por meio
do olhar profissional proposto por Salvador Llinares.
Investigamos, no estudo em questão, como futuras professoras analisam e
interpretam as produções de alunos, quais aspectos foram considerados por elas nas
atividades propostas e quais foram suas decisões.
No próximo capítulo, destacaremos a metodologia utilizada na pesquisa.
94
CAPÍTULO 3 - A PESQUISA
Ao realizar este estudo e ao longo dos 20 anos de atuação profissional na área
da Educação, percebemos que o conhecimento profissional docente não é algo
espontâneo, pois se trata de um processo contínuo. Para tanto, visando ampliá-lo,
acreditamos que são necessárias pesquisas que valorizem a produção de
conhecimentos acerca dos processos de ensino e procurem também compreender os
processos por meio dos quais os estudantes constroem seus saberes.
O pesquisador, no percurso de seu estudo, deve se preparar para as mais
variadas situações e os diversos fatores que podem ocorrer ao realizar uma pesquisa.
A opção metodológica pode exercer papel fundamental na pesquisa a ser
desenvolvida, pois ela poderá potencializar a coleta de informações. Tal escolha pode
favorecer o pesquisador que deseja imergir em determinado estudo intervencionista e
extrair o máximo possível de informações da situação investigada e, principalmente,
das observações realizadas das ações, reflexões e discussões dos participantes de
seu estudo.
No âmbito desta pesquisa, precisávamos escolher uma metodologia que
relacionasse a teoria à prática, a fim de contribuir para que o pesquisador
compreendesse um pouco mais sobre as relações estabelecidas em todo o processo
investigativo. As justificativas de nossas escolhas metodológicas encontram-se na
próxima seção.
3.1 A escolha metodológica
Escolhemos para a construção e a condução da pesquisa uma metodologia
que nos proporcionasse flexibilização e nos favorecesse na busca de melhores
resultados na aquisição, na estruturação e na reestruturação do pensamento de cada
participante. Pensamos numa metodologia qualitativa que nos possibilitasse fazer e
refazer conjecturas de forma constante, a fim de construir novas concepções.
Pensamos em um modelo próprio, que considerasse o progresso do aluno em uma
comunicação mais próxima à de uma sala aula.
As participantes desta pesquisa possuíam certas particularidades que estão
descritas na próxima seção, e a forma de trabalho nos auxiliou a explorar suas mais
95
diversas potencialidades. O não engessamento dos procedimentos nos auxiliou na
identificação tanto das limitações das participantes como de suas conquistas relativas
à compreensão da temática estudada. Essa escolha favoreceu a formação, pois o
pesquisador tinha liberdade de analisá-la e redesenhá-la constantemente.
Neste estudo, de caráter qualitativo, optamos por trabalhar com um grupo
pequeno (30 participantes), por entender que dessa forma conseguiríamos
acompanhá-lo mais sistematicamente. Assim, acreditamos ter fornecido uma
contribuição às futuras professoras. Apresentadas as potencialidades e as
justificativas que nos levaram a optar por uma metodologia qualitativa,
apresentaremos brevemente, na seção seguinte, as participantes da pesquisa do
curso de pedagogia.
3.2 As participantes da pesquisa
As alunas foram convidadas a participar voluntariamente de um curso de
formação de 20 horas fora do período regular do curso. Aceitaram o convite 30
estudantes, e, no contato inicial, solicitamos que escolhessem um pseudônimo,
visando garantir o anonimato e o sigilo das informações nessa investigação.
Conforme já mencionamos no capítulo de apresentação, já havíamos lecionado
para essas alunas no primeiro semestre do curso, na disciplina ”Matemática e
Ciências aplicadas a Educação” e, portanto, de certa forma, já conhecíamos o grupo,
o que nos ajudou a traçar os primeiros passos do processo formativo. Todavia, ainda
no ato da inscrição, procuramos conhecê-las melhor por meio da proposição de um
questionário destinado à descrição do perfil. Nele obtivemos as primeiras informações
das participantes e apresentamos algumas delas no Quadro 2, a seguir:
96
Quadro 2: Pesquisa de perfil
Nome Faixa etária Formação
Ano da
conclusão
Escolarização
básica em escola
Você trabalha? Em caso afirmativo, qual é sua
profissão atual?
Ana 30 a 39 anos E.M. - Regular 2000 Pública Não
Angel 18 a 29 anos E.M - EJA 2008 Pública Não
AP 30 a 39 anos E.M. - Regular 2015 Pública Sim, monitora
B 30 a 39 anos E.M. - Regular 2015 Pública Sim, técnico educacional de monitoramento
Ba sorriso 18 a 29 anos E.M. - Regular 2015 Pública Sim, auxiliar de classe
Babich 30 a 39 anos E.M. - Regular 2000 Pública Não
Binna 18 a 29 anos E.M. - Regular 2015 Pública Não
Cami 30 a 39 anos E.M. - Regular 2002 Privada Sim, auxiliar de classe
Carla 30 a 39 anos Prova - Encceja 2006 Pública Não
Docinho 40 a 49 anos E.M. - Regular 1996 Pública Não
Duda 30 a 39 anos Ensino Técnico 2010 Pública Não
Fênix 40 a 49 anos Outro 2001 Pública Sim, Escola - estagiaria
Girassol 30 a 39 anos E.M. - Regular 2008 Pública Sim. Costureira
Groove 18 a 29 anos E.M. - Regular 2015 Pública
Analista de contas medicas - faturamento hospitalar
Hortência 49 a 59 anos E.M - EJA 2001 Pública Não
Ju 18 a 29 anos E.M. - Regular 2006 Pública Não
Mandala 30 a 39 anos E.M - EJA 2008 Privada Não
Margarida 30 a 39 anos E.M. - Regular 1995 Pública Não
Mariza Leticia 18 a 29 anos E.M. - Regular 2015 Pública
Sim, Estagiária -monitoramento de alunos
Moana 30 a 39 anos E.M. - Regular 2001 Pública Não
Nádia 18 a 29 anos E.M. - Regular 2009 Pública Não
Nilma 30 a 39 anos E.M. - Regular 2018 Pública Não
Orquídea 18 a 29 anos E.M. - Regular 2006 Pública Não
Pejo 40 a 49 anos E.M. - Regular 2000 Pública Não
Pocahontas 18 a 29 anos E.M. - Regular 2015 Pública Atendente telemarketing
Regina 40 a 49 anos E.M - EJA 2000 Privada Não
Sempre Viva 40 a 49 anos E.M. - Regular 2000 Pública
Sim, auxiliar de desenvolvimento infantil
Tiana 30 a 39 anos E.M. - Regular 2015 Pública Sim, Auxiliar de sala
Tulipa 30 a 39 anos E.M. - Regular 2006 Pública Não
Vitoria 30 a 39 anos E.M. - Regular 2001 Pública Não
Fonte: Elaborado pelo pesquisador
Para complementar, solicitamos a elas outros dados: residem na região
metropolitana de São Paulo, em regiões próximas a Universidade, 5 delas possuem
casa própria e as outras moram de aluguel. Elas têm idades que variam entre 18 e 50
anos. Identificamos qual era a profissão atual das alunas para que tivéssemos
condições de ter uma ideia sobre suas experiências anteriores:23,67% dessas
97
participantes têm alguma experiência profissional na área educacional, 63,33% estão
desempregadas e as outras 10% trabalham em outras profissões, como aponta o
Quadro 2. Procuraremos levar em conta tais experiências profissionais durante
nossas discussões com o grupo de estudantes.
Por já termos sido professor dessas participantes, identificamos que a maioria
utiliza como fonte de busca de informações a internet e a televisão, talvez pelo fato de
possuir televisão e computador em casa. Quanto à leitura, costumam ler revistas e
jornais, esporadicamente e leem, geralmente, os livros e as apostilas solicitados pelos
professores em aula. A participação em um curso pode ampliar o acesso à informação
sobre a proporcionalidade e o raciocínio proporcional; todavia, cabe ressaltar que
pretendemos ir além, pois o curso foi desenvolvido com o propósito de ampliar
competências e conhecimentos profissionais das participantes, ao promover
discussões e reflexões a respeito do ensino dessa temática.
As alunas, em geral, cursaram o Ensino (Fundamental e Médio) na modalidade
regular, exceto 3 que fizeram sob a modalidade de E.J.A. (Educação de Jovens e
Adultos), e a maioria delas estudou em escolas públicas. Uma estudante cursou o
Ensino Técnico e uma outra realizou a certificação por meio da avaliação Encceja52
(Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos).
Os dados coletados neste estudo são ainda numericamente superiores aos
encontrados por Gatti (2010). A autora observou que 68,4% dos estudantes de
Pedagogia e de Licenciatura cursaram todo o Ensino Médio em escolas públicas.
Analisando a situação, é possível inferir que, por um lado, possivelmente, essas
alunas mostram ter um projeto de vida e estar motivadas a buscar na profissão
professor um meio de ascender socialmente. Por outro lado, é importante lembrar que
elas são oriundas de um sistema de ensino que vem se mostrando ineficaz,
especialmente no tocante ao ensino da Matemática. Portanto, podemos dizer que,
possivelmente, muito precisa ser feito no Ensino Superior.
Segundo relatos apresentados pelas estudantes, elas têm muitas dificuldades
com relação à disciplina Matemática. Tal fato foi também identificado quando
relataram que, ao ingressarem no curso ficaram surpresas por saber que no curso
teriam que cursar disciplinas de cunho matemático53. Mas, segundo elas, foi uma rica
52 O Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos – Encceja – é uma avaliação para aferir competências, habilidades e saberes de jovens e adultos que não concluíram o
Ensino Fundamental ou Ensino Médio na idade adequada. 53 Na grade curricular das participantes além da disciplina metodologia do Ensino da Matemática, havia
98
experiência, pois puderam tirar proveito da situação, conseguiram minimizar o “medo”
de matemática e avançar em suas aprendizagens. Além disso, as estudantes para
professora informaram que possuíam dificuldades quando resolviam questões que
envolvem a interpretação de problemas e o uso do raciocínio lógico, mas relataram
que estavam dispostas a aprender e, por isso, aceitaram o desafio de participar do
curso de formação.
Depois de expor o perfil das participantes deste estudo, discorreremos a seguir
sobre os procedimentos metodológicos.
3.3 Os procedimentos metodológicos
A investigação se desenvolveu em três etapas. Na primeira fase
desenvolvemos a revisão de literatura, por meio da qual procuramos apontar a
relevância do tema, buscamos localizar nossa pesquisa no meio acadêmico e
analisamos investigações que, de alguma forma, se relacionavam com a nossa. Isso
nos serviu para embasar nossas escolhas e auxiliar no caminho trilhado para
desenvolver este estudo. Apropriamo-nos também de documentos que regem a
Educação brasileira, uma vez que os professores dos anos iniciais são norteados por
tais referenciais para preparar suas aulas. Portanto, este estudo precisa levar em
conta os pressupostos desses documentos.
A revisão de literatura – primeira etapa – foi primordial para confeccionarmos o
questionário preliminar (que será descrito no item 3.4.2), no qual buscávamos
compreender quais eram os conhecimentos prévios das participantes.
Reiteramos que, para fundamentar este estudo, apoiamo-nos em Llinares.
Utilizamos as ideias desse autor para elaborar alguns casos envolvendo atividades
profissionais as quais serão analisadas no capítulo 5. Como este pesquisador já havia
trabalhado com tais situações envolvendo o tema aqui investigado, nos sentimos
fortalecidos para fazer algumas das proposições. Além disso, por intermédio das
ideias de Ball, Thames e Phelps (2008), procuramos identificar os conhecimentos dos
professores e definir quais deles seriam necessários para desenvolver a competência
profissional das participantes para ensinar situações que envolviam o raciocínio
proporcional.
outra disciplina denominada “Matemática e estatística aplicadas à Educação.
99
A segunda etapa desta investigação foi destinada à pesquisa de campo, por
meio da proposição de um processo formativo. Os dados foram coletados por meio
de registros de observação, produzidos pelas participantes durante a formação. Essa
foi desenvolvida em 10 encontros, de 02 horas cada um, num total de 20 horas. As
técnicas e os instrumentos envolveram: observação direta, observação indireta,
análise de materiais produzidos pelas futuras professoras, vídeo e audiogravações
dos encontros. A coleta de informações foi realizada pelo próprio
formador/pesquisador, com o auxílio, em algumas sessões, da orientadora. Para a
realização da filmagem foi contratada uma profissional. Ao final de cada encontro
realizamos uma pré-análise com o propósito de desenhar os próximos encontros.
Na fase 3 foi concebida a análise dos dados, e apoiamos nossa coleta nos
estudos de Bardin (1979). Realizamos uma pré-análise, em seguida, exploramos o
material e, finalmente, realizamos o tratamento dos resultados. Posteriormente, de
posse dos protocolos e das filmagens de cada encontro, ouvimos os depoimentos das
participantes e selecionamos trechos de narrativas orais e escritas que entendemos
constituir unidades de significação, com o propósito de categorizar os dados a partir
dos aspectos significativos encontrados para responder à questão da pesquisa. A
seguir faremos uma breve descrição da formação.
3.4 Breve descrição da formação desenvolvida para coleta de dados
No Quadro 3, apresentamos o desenho do processo formativo, resultado da
primeira etapa na qual desenvolvemos a pesquisa bibliográfica.
100
Quadro 3: Desenho do Curso de Formação
Fases de Formação Desenho do curso de formação
Fase Inicial: Identificação de conhecimentos prévios Duração: Primeiro encontro
- Apresentação da proposta e das participantes.
Questionário preliminar (ANEXO C) - Resolução do questionário preliminar - 06 questões; - Discussão e reflexão com o grupo sobre as respostas apresentadas no questionário preliminar; - Sistematização das principais ideias envolvidas nas 06 questões;
Segunda fase: Intervenção Duração: oito encontros
Atividade “Alterando o rosto do professor” - Apresentação da atividade "alterando o rosto do professor"54; - Discussão e reflexão das ideias que emergiram acerca do raciocínio proporcional com base na atividade anterior;
Atividade 1 (ANEXO D) - Apresentação de uma atividade envolvendo “semelhança de figuras” - Identificação das estratégias usadas pelas alunas ao resolver tal atividade; - Discussão, reflexão e sistematização das ideias envolvidas;
Atividade 2 (ANEXO E) - Vivências de uma atividade envolvendo "proporcionalidade e semelhança"; - Discussão, reflexão e sistematização das ideias envolvidas.
Material Concreto (ANEXO F) - Apresentação de uma atividade com material concreto – “Atividade material concreto”; - Exposição, discussão e reflexão sobre as ideias; - Sistematização as principais ideias envolvidas na situação.
Atividades 4 e 5 (ANEXO G e H) - Resolução de compreensão das atividades 4 e 5 - duas atividades de Receita de muffins; - Identificação das estratégias usadas pelas alunas ao resolver tais atividades; - Sistematização dos principais conceitos envolvidos.
Atividade 6 (ANEXO I) - Resolução, discussão e reflexão de uma “tarefa de resolução” – identificação de estratégias das estudantes para professora.
Atividades 7, 8, 9 e 10 (ANEXOS J, K, L e M) - Apresentação, resolução, discussão e reflexão de “atividades profissionais” – desenvolvimento da competência docente das estudantes para professora ao desenvolverem tais atividades; - Sistematização dos principais conceitos envolvidos nas atividades.
Terceira fase: Avaliação Duração: último encontro
Memorial Reflexivo (ANEXO N) - Sistematização das ideias desenvolvidas ao longo das seções; - Identificação do que foi desenvolvido ao longo dos 10 encontros; - Reflexão das participantes acerca dos conhecimentos profissionais (re) construídos durante a formação.
Fonte: Elaborado pelo pesquisador
O Quadro 3 reproduziu como planejamos o curso de formação. Descreveremos
aqui a atividade desenvolvida em cada uma das sessões.
54 A atividade envolve a variação ou não das grandezas (comprimente e largura) por meio da manipulação de uma imagem apresentada no computador. Essa imagem nos proporcionou ampliar e reduzir o seu tamanho de modo que as futuras professoras percebessem relações entre suas dimensões (comprimente e largura).
101
3.4.1 A apresentação da proposta e a dinâmica de apresentação
Na fase inicial da formação, tínhamos como finalidade apresentar a proposta e
as participantes. Na apresentação da proposta do curso, proporíamos uma dinâmica
de integração das participantes, para que todas pudessem se conhecer e conhecer
os pesquisadores, pois nem todas as futuras professoras cursavam a mesma turma
regular. Esperávamos, com isso, favorecer a participação delas e deixá-las mais
seguras e tranquilas durante a formação.
Após a apresentação dos formadores, cada participante deveria entregar um
bombom para sua colega e apresentá-la ao grupo, dizendo o nome da colega, sua
turma, o que a levou a participar do curso e o que ela gosta de fazer nas horas de
lazer – tais informações foram coletadas e registradas no (APÊNDICE B).
Após a dinâmica de apresentação, expusemos os objetivos do curso e o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido. Assinado o termo, entregamos o questionário
preliminar cuja descrição faremos na próxima seção.
3.4.2 Descrição do questionário preliminar
Inicialmente propusemos que respondessem a um questionário (APÊNDICE C)
composto por seis questões diagnósticas, com o objetivo de identificar conhecimentos
explicitados pelas futuras professoras a respeito do raciocínio proporcional e fornecer
subsídios para as demais fases da pesquisa.
As participantes deveriam responder aos questionamentos no próprio
instrumento. Na questão 1 foi apresentado o seguinte enunciado “O raciocínio
proporcional e a proporcionalidade estão presentes no nosso dia a dia. Você poderia
exemplificar situações da vida cotidiana em que utilizamos o raciocínio proporcional
e/ou a proporcionalidade?”. Nosso propósito era saber se elas tinham algum
conhecimento de raciocínio proporcional e se já o haviam utilizado em alguma
situação, ou seja, pensamos em fazer um prognóstico inicial.
Na questão 2, solicitamos que elas associassem o tema ao ensino por meio da
seguinte proposta: "Ao lecionar matemática você tratará da temática raciocínio
proporcional e proporcionalidade. Você lembra de conteúdo matemático em que esse
tipo de raciocínio é utilizado para resolvê-lo? Se lembrar, dê um exemplo de uma
situação".
102
Já nas questões 3 e 4, nosso objetivo foi verificar o conhecimento comum do
conteúdo (BALL; THAMES; PHELPS, 2008) e as estratégias de resolução
apresentadas pelas alunas, visando ter elementos para desenvolver propostas que
favorecessem a construção de competência profissional para o ensino do raciocínio
proporcional, como proposto por Llinares (2015a), Llinares (2015b) e por Fernández
e Llinares (2012).
Optamos por duas questões: uma de valor omisso e outra de comparação entre
dois fatores de proporcionalidade, por se tratar de situações mais usuais no ensino,
conforme relatam Lesh, Post e Behr (1988).
A questão 3 (APÊNDICE C) foi uma atividade por meio da qual procuramos
identificar como os estudantes resolveriam uma questão de valor omisso.
Apresentamos uma imagem e perguntamos: “Na figura seguinte, podemos observar
o Senhor Baixo cuja altura mede seis clipes. Se fôssemos medi-lo com fósforos,
seriam necessários quatro fósforos. Ele tem um amigo, o Senhor Alto, que mede seis
fósforos. Quantos clipes utilizaríamos para medir o Senhor Alto? Visando a uma
melhor compreensão do problema, apresentamos a Figura 17, proposta na situação.
Figura 17: Imagem da questão 3
Fonte: Adaptado de Silvestre (2012, p. 127)
Já a questão 4 envolvia uma situação de comparação entre dois pares de
grandezas por meio da qual as alunas deveriam responder à seguinte questão: “No
último sábado à tarde, a família Smith foi para o teatro Starr e todos os 6 integrantes
entraram no cinema, pagando $ 10. A família West foi ver um filme no Odyssey e todos
os 4 entraram no cinema, pagando $ 7. Que teatro tem melhores preços na matinê de
sábado?55” (LAMON, 2005, p. 101, tradução nossa)56.
55 É importante ressaltar que na aplicação do questionário a tradução desta situação não estava muito boa e o pesquisador precisou explicá-la, por isso optamos por apresentar aqui a situação traduzida corretamente. 56 “Last Saturday afternoon, the Smith family went to the Starr Theater and all 6 members went in for $ 10. The West family was a movie on the Odyssey and all 4 came in for $ 7. That theater has better prices on the matinee collapsed? ”
103
Na questão 5 apresentamos às estudantes para professora algumas perguntas,
com o objetivo de identificar se elas reconheciam uma situação que envolva o
raciocínio proporcional ou a não proporcionalidade. Para isso, elas colocariam um X
quando observassem nas questões relações de dependência, que poderiam ser
diretamente proporcionais (DP) ou não proporcionais (NP), conforme o Quadro 4
mostra:
Quadro 4: Relação de dependência
Dependência - Diretamente proporcionais (DP) ou Não Proporcional (NP) DP NP
a) A quantidade de pães comprados e o preço pago por eles.
b) A idade de uma pessoa e o número de calça que ela veste.
c) A idade de uma pessoa e seu peso.
d) A quantidade de ovos para uma receita de bolo e a quantidade de ovos para cinco receitas do mesmo bolo.
e) O salário de um trabalhador e o número de irmãos que esse trabalhador tem.
Fonte: Elaboração do pesquisador
Para finalizar o questionário, a questão 6 propunha a resolução de um problema
cuja finalidade foi reconhecer a não proporcionalidade envolvida na situação. Ao final
da seção, faríamos a sistematização das principais ideias envolvidas no questionário.
Nas questões 5 e 6, tínhamos como objetivo verificar se as alunas
diferenciariam situações proporcionais de não proporcionais, tendo em vista que
estudos como os de Fernández e Llinares (2012); Nunes e Costa (2016); Post, Behr
e Lesh (1995) apontam dificuldades de alunos em reconhecer situações não
proporcionais.
Pensamos em questões dessa natureza pelo fato de que uma das
características do raciocínio proporcional é a capacidade de distinguir entre situações
proporcionais e não proporcionais, conforme apontam Cramer e Post (1993); Post,
Behr e Lesh (1995); e Oliveira (2009). E, com base nas respostas apresentadas,
verificaríamos o que as alunas sabiam sobre o tema e as orientaríamos a respeito das
vertentes do assunto.
A seguir apresentaríamos as atividades da formação que envolviam situações
presentes na atuação das participantes. Além disso, proporíamos problemas que
apresentassem dificuldades de estudantes em pesquisas apontadas nos capítulos 2
e 3. E, por fim, indicações contidas no currículo a ser vivenciado pelas futuras
professoras em sua atuação profissional.
104
3.4.3 Descrição da atividade “Alterando o rosto do professor”
Propusemos uma atividade denominada “Alterando a foto do professor”, para
expor nossas ideias e, para isso, recorremos a uma situação do mundo físico
(tratamento de imagem) a qual, geralmente, envolve a variação de grandezas.
Nossa intenção foi apresentar uma aplicação prática da ideia de
proporcionalidade e raciocínio proporcional. Utilizaríamos como ferramenta de apoio
uma imagem do “paint”57 que nos proporcionaria ampliar e reduzir o tamanho da
figura. Ou seja, projetaríamos a imagem no datashow e alteraríamos várias vezes as
dimensões da figura, de maneira dinâmica, para que as participantes enxergassem
relações entre suas dimensões (comprimento e largura). A seguir apresentamos a
imagem escolhida para o desenvolvimento da atividade (Figura 18).
Figura 18: Reprodução da imagem - atividade introdutória
Fonte: Acervo pessoal
Após as movimentações, pretendíamos discutir com as futuras professoras e
verificar se emergiriam ideias acerca do proporcional. A seguir apresentamos a
atividade 1.
3.4.4 Descrição da atividade 1
Ao propor a atividade 1 (APÊNDICE D), tínhamos intenção de inserir uma
atividade envolvendo “semelhança de figuras” e desenvolver nas participantes as
57 O Paint é um aplicativo do Windows que permite o desenvolvimento, a edição e a impressão de imagens digitais.
105
seguintes habilidades:
● Relacionar a atividade 1 com a atividade "Alterando o rosto do
professor".
● Identificar a proporcionalidade envolvida na situação.
● Compreender a ideia que envolve a covariação das grandezas (largura
e altura).
● Reconhecer o fator de proporcionalidade e sua função.
● Resolver situações que envolvam números racionais.
Com o desenvolvimento de tais habilidades, pretendíamos ampliar a
compreensão que as participantes tinham sobre o raciocínio proporcional. Esta é a
atividade 1: “Em uma aula, a senhora Julia, professora da escola onde Maria estuda,
solicitou a seus alunos que fizessem um desenho de sua casa. Maria, antes de realizar
sua produção, fez uma malha quadriculada para ficar mais fácil o desenho e
apresentou à professora a seguinte figura”.
Figura 19: Reprodução da atividade 1
Fonte: Elaboração própria
Dona Julia, após esta etapa solicitou aos alunos que:
a) dobrassem o tamanho do desenho;
b) reduzissem pela metade o tamanho do desenho;
c) aumentassem 2,5 o tamanho da casa;
d) reduzissem 1/4 o tamanho do desenho da casa.
Reproduza as possíveis figuras que Maria fez para sua professora.
106
Propusemos esta situação, uma vez que a BNCC (BRASIL, 2017, p. 292) indica
que, dentre as aprendizagens indicadas como necessárias para a Geometria,
encontram-se a ampliação e a redução da figura poligonal.
Nesse sentido, pensamos nessa situação por ser muito referenciada nos
documentos que regem o ensino de matemática para a temática e também por
considerarmos resultados de pesquisa que indicam ser importante que os estudantes
vivenciem situações que apresentem razões distintas. Sobre essa temática,
Fernández e Llinares (2012, p. 139) sugerem que, nos conceitos iniciais de razão e
proporção, sejam inseridos diferentes tipos de razões (inteiras e não inteiras). Tais
relatos de estudos foram apresentados e discutidos com as participantes durante a
sistematização realizada ao fim da atividade. A seguir descreveremos a atividade 2.
3.4.5 Descrição da atividade2
A atividade 2 (APÊNDICE E) foi realizada no computador, com o propósito de
identificar se as estudantes para professora haviam compreendido conceitos que
envolvem o raciocínio proporcional em semelhança de figuras.
Pretendíamos explorar com elas algumas estratégias de resolução: relação
escalar e funcional das dimensões largura e altura de figuras planas (rosto de João).
Ademais, tínhamos como premissa explorar relações com o fator de proporcionalidade
(com um número natural e decimal), pois já havíamos detectado certas dificuldades
das participantes na atividade anterior e no questionário preliminar, ao se depararem
com atividades dessa natureza.
Utilizamos como recurso didático para a atividade desenvolvida no computador
um objeto de aprendizagem denominado "proporcionalidade e semelhança". As
futuras professoras inicialmente se depararam com um texto acerca da ampliação da
foto do menino João, e, com o uso da seta localizada do lado direito da tela do
computador, poderiam avançar nas telas seguintes. Na tela posterior se depararam
com a imagem de João, em que suas dimensões eram cercadas por duas retas
contendo os sinais de (+) e (–); ao clicar ali, a foto de João aumentaria para direita e
para esquerda, conforme os cliques nos sinais. Em seguida, ao avançar na seta do
lado direito, nas duas telas seguintes, poderiam notar figuras com fotos de João
achatada e alongada respectivamente. Na terceira tela, era possível visualizar
imagens da foto original de João (3 x 4), (5 x 4) e (5 x 10).
107
Após os exemplos iniciais, pedimos para avançarem para as próximas telas
contendo os itens e, ao resolverem cada item e clicarem em “ok”, seria possível
avançar nas telas seguintes.
A atividade em questão pode ampliar as possibilidades de as participantes
compreenderem melhor a temática, pois, a nosso ver, o recurso computacional pode
fornecer o resultado de imediato ao usuário, à medida que ele insere no quadradinho
o valor e clica no botão “ok”. Com isso é possível verificar se as conjecturas
formuladas estavam certas ou erradas e, ainda, possibilitar a reflexão e a
reelaboração da resposta para a atividade, pois o erro seria um ponto de partida para
um novo caminho rumo ao valor correto.
Propusemos às futuras professoras que resolvessem a atividade no
computador em duplas ou em trios. Em seguida fornecemos um protocolo (APÊNDICE
E) e pedimos que, após sua realização, as futuras professoras respondessem a três
questões:
● Questão 1 - Na atividade proporcionalidade e semelhança, quais
dificuldades você encontrou?
● Questão 2 – Quais relações você poderia identificar na atividade?
● Questão 3 – Em sua opinião, seria possível trabalhar com os alunos dos
anos iniciais? Em caso afirmativo, explique.
Depois de apresentar a atividade no datashow, iniciamos as explicações sobre
a atividade proposta, por meio da sistematização das ideias das atividades anteriores
e alterando o rosto do professor. Pedimos que as futuras professoras iniciassem as
atividades, e, com isso, obtivessem uma imagem semelhante à apresentada na Figura
20.
108
Figura 20: Reprodução de uma tela do computador
Fonte: http://rived.mec.gov.br/atividades/matematica/proporcionalidde/AtividadeMat.html
Na atividade, verificamos quais pontos comuns encontramos com os estudos
apresentados no capítulo 2 e, ao final da seção, realizamos a sistematização das
principais ideias envolvidas. A seguir descreveremos a atividade “material concreto”.
3.4.6 Descrição da atividade - Material concreto
Essa atividade (APÊNDICE F) foi proposta, visando favorecer a compreensão
das participantes sobre a temática e ampliar os conhecimentos propostos por Ball,
Thames e Phelps, 2008. Usamos barrinhas feitas de papel cartão com cores e
tamanhos variados – cada cor tinha um tamanho específico.
Figura 21: Exemplo de barrinhas usadas na atividade – Material concreto
Acervo do pesquisador
109
Optamos por esse material concreto por ser de fácil acesso às futuras
professoras, construído com papel cartão, geralmente acessível às estudantes. Essa
atividade é composta por quatro itens (a, b, c, d). Foram propostas às participantes a
ampliação e a redução com uso das barrinhas, envolvendo as ideias do raciocínio
proporcional. Fornecemos para elas um protocolo (APÊNDICE F) contendo a
atividade e algumas tirinhas com cores e tamanhos diferentes. Ao final da seção,
faríamos a sistematização das principais ideias envolvidas na situação. As atividades
4 e 5 estão aqui descritas.
3.4.7 Descrição das Atividades 4 e 5
Optamos por descrever de maneira conjunta as atividades 4 e 5 (APÊNDICES
G e H), por envolverem o mesmo cenário e as ideias de dobro e metade, como já
explicitado (BRASIL, 2017; SPINILLO, 1992).
A primeira situação apresentava o seguinte enunciado: “Uma receita de muffins
de morango para 16 pessoas é a seguinte: 8 xícaras de farinha, 2 xícaras de
morangos, 8 colheres de manteiga, 1 xícara de açúcar e ½ xícara de manteiga. Você
vai cozinhar para 32 pessoas. Quanto de cada um desses ingredientes você precisa
usar?”. Já a segunda situação trazia o seguinte enunciado: “Agora você vai cozinhar
para 8 pessoas. Quanto de cada um desses ingredientes você precisa usar?”.
Apoiados em indicações acerca da inserção das relações de dobro e metade
para os anos iniciais, contidas nos documentos oficiais, como os PCN (BRASIL, 1997)
e a BNCC (BRASIL, 2017), que regem a Educação brasileira, planejamos discutir tais
situações. Nossa intenção foi inserir discussões e reflexões sobre algumas relações
entre as ideias de metade e dobro, por meio de atividades usuais, e sobre alguns
caminhos para o ensino e a aprendizagem do raciocínio proporcional.
Aproveitamos essa proposta para discutir com o grupo sobre o fato de que tais
ideias são as primeiras do raciocínio proporcional para os anos iniciais (FERNÁNDEZ;
LLINARES, 2012; LLINARES, 2015a, 2015b). A seguir, a atividade 6 será descrita.
3.4.8 Descrição da atividade 6
A atividade 6 (APÊNDICE I) apresenta um problema de valor omisso.
Pensamos nessa situação com o objetivo de verificar se as participantes haviam
110
incorporado o conhecimento comum do conteúdo (BALL; THAMES; PHELPS, 2008).
Além disso, procuramos identificar eventuais estratégias de resolução, pois naquele
momento já teriam feito atividades do questionário preliminar e de resolução.
Escolhemos um problema de valor omisso por ser esse tipo de situação
referenciado nos programas curriculares (BRASIL, 1998, p. 110; BRASIL, 2017, p.
266), mas parece não ser frequentemente elaborado por professores que lecionam
matemática para os anos iniciais (SANTOS, 2012; SOUZA, 2015).
A situação selecionada por nós para ser resolvida e analisada fornecia três
grandezas e solicitava o valor da quarta. Optamos por um problema dessa natureza
com a finalidade de explorar relações mais complexas acerca do raciocínio
proporcional. Pretendíamos identificar quais estratégias seriam apresentadas pelas
estudantes nesta atividade e suas eventuais dificuldades.
A atividade 6 apresentava o seguinte enunciado: “Jim tem que imprimir o jornal
da escola, mas ele só pode fazê-lo no tempo do intervalo. Ele leva 15 minutos para
imprimir 12 jornais. Quantos jornais ele pode imprimir durante os 35 minutos de
intervalo?” (APÊNDICE I).
3.4.9 Descrição da atividade 7
A atividade 7 (APÊNDICE J) envolve uma situação de valor omisso, são
fornecidas três grandezas e o valor da quarta é requerido. Este problema aborda a
ideia de proporcionalidade, o que torna difícil recorrer à taxa unitária, conforme aponta
Almeida (2015). Ademais, vários estudos, como os de Lamon (2005); Oliveira (2009);
Post, Behr e Lesh (1995); Silvestre e Ponte (2009); Spinillo (1992) e Vergnaud (1983,
2009) também indicam a utilização de problema de valor omisso como fonte para a
apreensão do raciocínio proporcional.
A atividade tinha o seguinte enunciado “Em uma caixa há 5 bombons de
caramelo e 13 de chocolate. Uma outra caixa tem 100 bombons de caramelo. Quantos
bombons de chocolate devemos colocar para que se tenha a mesma proporção da
primeira?”.
111
Figura 22: Resolução da atividade profissional de valor omisso Aluna Resolução
Aline
Bianca
Cássia
Daiane
Fonte: Elaborada pelo autor
Com base na Figura 22, as participantes responderiam às seguintes questões:
a) Qual (is) resposta (s) você acredita que está (ão) correta (s)?
b) Identifique e analise as estratégias utilizadas pelas alunas.
c) Quais conhecimentos o professor precisa dominar em sala de aula para
lecionar esse tema?
d) Se tiver alguma resolução incorreta, identifique o erro e indique como você
auxiliaria seu aluno a compreender esse conteúdo matemático.
Com problemas dessa natureza, procuramos discutir e refletir sobre a
competência docente de olhar profissionalmente para as estratégias dos estudantes
(FERNÁNDEZ; LLINARES, 2012; LLINARES, 2015a; LLINARES, 2015b). Pensamos
em tais atividades para que pudéssemos verificar quais conhecimentos haviam sido
112
construídos nas ações realizadas anteriormente (BALL; THAMES; PHELPS, 2008).
Apresentamos aqui a atividade 8.
3.4.10 Descrição da atividade 8
A atividade 8 (APÊNDICE K) consistiu em um problema de valor omisso,
conforme já mencionamos também. Ela foi escolhida por ser uma situação muito
referenciada nos programas curriculares58; todavia, parece não ser frequente que tal
situação seja elaborada por professores que lecionam Matemática para os anos
iniciais, como revelam, por exemplo, investigações como as de Santos (2012) e Souza
(2015).
Essa tarefa (atividade 8)59 já havia sido apresentada na questão 3, contendo
diferentes métodos de resolução em problemas de tarefas proporcionais, conforme
relatam Cramer e Post (1993). No entanto, dessa vez a proposta foi identificar as
análises realizadas pelas futuras professoras em diferentes estratégias de resolução
e perceber as relações que elas estabelecem entre tal análise e o conhecimento
profissional docente.
Para isso, apresentamos a resolução de quatro alunas fictícias.
58 Este tipo de problema é citado nos PCN (BRASIL, 1998) como de comparação de razões. Nele se propõe que o estudante encontre a constante de proporcionalidade. Esse documento curricular afirma que neste tipo de situação é comum os estudantes desenvolverem procedimentos não convencionais de solução e resolverem o problema, mesmo antes de aprender a utilizar procedimentos convencionais, como a regra de três (BRASIL, 1998, p.110). 59 Para garantir que a leitura desta tarefa (atividade 8) não interferisse no resultado, apresentamos uma questão de cada vez, ou seja, só depois de recolher a atividade anterior a aluna receberia a próxima atividade.
113
Figura 23: Resolução da atividade profissional de valor omisso
PRISCILA
ELIOTE
ALESSANDRA
FERNANDA
Fonte: Elaborada pelo autor
114
Com base nessas produções nosso objetivo foi identificar o olhar profissional
das participantes por meio da inserção das seguintes questões:
a) Qual (is) resposta (s) você acredita que está (ão) correta (s)?
b) Descreva e analise as estratégias utilizadas pelas alunas.
c) Quais conhecimentos o professor precisa dominar em sala de aula para
lecionar esse tema?
d) Você acredita que há alguma resolução incorreta? Em caso afirmativo,
identifique o erro e como você auxiliaria seu aluno a compreender o
exercício.
Esta, a seguir, é a descrição da atividade 9:
3.4.11 Descrição da atividade 9
A atividade 9 (APÊNDICE L) foi apresentada anteriormente como tarefa de
resolução na questão 4 do questionário preliminar e propunha o seguinte problema:
“No último sábado à tarde, a família Smith foi para o teatro Starr e todos os 6
integrantes entraram no cinema, pagando $ 10. A família West foi ver um filme no
Odyssey e todos os 4 entraram no cinema, pagando $ 7. Que teatro tem melhores
preços na matinê de sábado?
Essa situação, segundo Lamon (2005, p. 101), envolve a comparação entre
quatro quantidades, formando duas razões, e a proposta é descobrir se os dois índices
são equivalentes ou não.
Assim como problemas de valor omisso, situações de comparação entre fatores
de proporcionalidade visam ao desenvolvimento do raciocínio proporcional e também
são amplamente referenciadas em programas de currículo e em sala de aula,
conforme ressaltam Lesh, Post e Behr (1988). Tal situação de comparação já havia
sido apresentada anteriormente na questão 4 do (APÊNDICE C) – questionário
preliminar –, porém nesta atividade procuramos analisar a resolução de alunos,
conforme mostra a Figura 24.
115
Figura 24: Resolução da atividade profissional de comparação entre dois pares de grandezas
Cristiane
Lizzie
Debora
Mariana
Fonte: Acervo pessoal
Visando nortear a análise e identificar conhecimentos profissionais
interiorizados pelas participantes, inserimos as seguintes perguntas:
a) qual (is) resposta (s) você acredita está (ão) correta (s)?;
b) identifique e analise as estratégias utilizadas pelas alunas;
c) quais conhecimentos o professor precisa dominar em sala de aula para
lecionar esse tema?;
116
d) se tiver alguma resolução incorreta, identifique o erro e explique como você
auxiliaria seu aluno a compreender esse conteúdo matemático.
Para elaborar esta questão, apoiamo-nos em Lamon (2005). Essa autora
afirma: “o raciocínio proporcional é um dos melhores indicadores de que um estudante
chegou à compreensão dos números racionais e dos conceitos multiplicativos
relacionados a ele”60 (p. 3, tradução nossa), Assim, procuramos aproveitar essa
questão para discutir questões referentes a dificuldades no tratamento com números
racionais na representação decimal e na relação entre as duas razões.
Eis agora a descrição da atividade 10.
3.4.12 Descrição da atividade 10
A atividade 10 (APÊNDICE M) envolveu uma situação de não
proporcionalidade (FERNÁNDEZ; LLINARES, 2012; NUNES; COSTA, 2016; POST;
BEHR; LESH, 1995).
Pelos resultados apresentados pelas participantes no questionário preliminar
(questões 5 e 6) e pelas sistematizações já realizadas durante as seções anteriores,
procuramos verificar se as futuras professoras identificavam que esse problema não
envolvia a ideia de proporcionalidade.
Pensamos em questões dessa natureza porque uma das características do
raciocínio proporcional é a capacidade de distinguir entre situações proporcionais e
não proporcionais, como sinalizam Post, Behr e Lesh (1995), Cramer e Post (1993) e
Oliveira (2009).
A atividade 10 apresentou o seguinte enunciado: “Raquel e Juan estão
plantando flores, plantam na mesma velocidade, mas Juan começou antes. Quando
Raquel havia plantado 4 flores, Juan já havia plantado 12 flores. Se Raquel plantou
20 flores, quantas plantou Juan?”.
Primeiramente as futuras professoras deveriam responder: a) O problema
descrito envolve a ideia de proporcionalidade? Justifique. Em seguida foi lhes
apresentada uma figura contendo resoluções de alunos fictícios.
60 “Proportional reasoning is one of the best indicators that a student has attained understanding of rational numbers and related multiplicative concepts”.
117
Figura 25: Resolução da atividade profissional de não proporcionalidade
João
Marcos
E, por fim, solicitamos que respondessem aos seguintes questionamentos:
a) Descreva detalhadamente as estratégicas de resolução que cada um dos
alunos utilizou.
b) Qual deles acertou a questão?
c) Se você fosse o professor desse aluno, para as duas respostas, o que você
faria e por quê?
Além de identificar a proporcionalidade na situação proposta anteriormente, as
futuras professoras deveriam verificar a resolução correta, competência que faz parte
dos conhecimentos: comum do conteúdo, do conteúdo e do estudante e conhecimento
do conteúdo e do ensino (BALL; THAMES; PHELPS, 2008), requeridos delas para os
anos iniciais.
A seguir apresentamos o memorial reflexivo.
3.4.13 Descrição do memorial reflexivo
Pensamos inicialmente em realizar uma atividade de elaboração de um
memorial no último encontro. Para tanto, elaboramos a seguinte proposta: “Agora
você fará um memorial sobre nosso curso, ou seja, relatará o que aprendeu, em que
tem dúvida, o que até o presente momento contribuiu para sua aprendizagem e o que
118
será relevante para desenvolver seu trabalho com seus alunos futuramente”
(APÊNDICE N).
Nossa intenção foi que as estudantes para professora pudessem rever suas
trajetórias, seus percursos de aprendizagem e refletissem sobre o curso. Para os
pesquisadores, esse memorial constituiu um registro de feedback acerca dos
conhecimentos dentre os destacados por Ball, Thames e Phelps (2008, p. 401), no
qual procuramos verificar quais conhecimentos foram (re) construídos durante a
formação.
Procuramos visualizar neste memorial como futuras professoras dos anos
iniciais enxergam tarefas matemáticas (LLINARES, 2015a; LLINARES, 2015b) e o
que é necessário para raciocinar proporcionalmente.
A seguir traremos a análise dos dados das atividades previstas neste capítulo
e das situações que foram elaboradas e inseridas na pesquisa.
119
CAPÍTULO 4 - ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO PRELIMINAR
Nossa análise foi pautada em aspectos qualitativos. Procuramos apresentar os
resultados desta investigação, identificando dificuldades e/ou avanços e comparando
nossos resultados com outros resultados de pesquisas.
Inicialmente, como já descrito no capítulo anterior, realizamos uma dinâmica de
apresentação, com o objetivo de proporcionar um ambiente descontraído, no qual as
alunas ficassem à vontade, visando contribuir para o processo formativo com a
aproximação entre elas. Dessa forma, as duplas, sob a nossa orientação,
prosseguiram e desenvolveram o curso.
De posse de todo o material, protocolos, transcrição dos áudios e dos vídeos,
realizamos a análise do questionário preliminar, conforme descrito no capítulo
anterior, com o objetivo de identificar conhecimentos prévios das alunas acerca da
temática proposta e planejar a segunda fase da investigação – a pesquisa de campo.
Tínhamos como premissa algumas impressões acerca das participantes61, por já
conhecê-las, mas o diagnóstico nos auxiliaria a identificar conhecimentos prévios e
dificuldades com o raciocínio proporcional e seu ensino por elas explicitadas. Isso
também nos daria parâmetros para o desenrolar e o final da pesquisa.
O diagnóstico, já mencionamos aqui, foi composto por seis questões, e os
resultados da análise de cada uma, segundo a ótica deste pesquisador, foram
apresentados ao grupo. Procuramos verificar se as alunas identificariam algum
aspecto do raciocínio proporcional em seu dia a dia, por meio deste questionamento:
“O raciocínio proporcional e a proporcionalidade estão presentes no nosso dia a dia.
Você poderia exemplificar situações da vida cotidiana em que utilizamos o raciocínio
proporcional e/ou a proporcionalidade?”.
Nessa questão tivemos a resolução de 30 alunas, e dez delas deram algum
exemplo sobre o raciocínio proporcional ou proporcionalidade em seu cotidiano.
Destas, notamos que seis estudantes – Jú, Nilma, Docinho, BA Sorriso, Carla e
Groove – realizaram associação entre grandezas por meio de exemplos ligados à
culinária, como podemos notar na produção da aluna BA Sorriso, na Figura 26.
61 Tais impressões e interpretações ao longo da pesquisa foram realizadas com base na análise qualitativa dos dados e foram favorecidas pelo fato de o pesquisador já ter sido professor das alunas antes do curso de formação e já ter desenvolvido, de maneira informal, algumas atividades envolvendo o tema.
120
Figura 26: Resolução da questão 01 do questionário preliminar - BA Sorriso
Fonte: Acervo pessoal
Já quatro participantes, Cami, Moana, Regina e Ana, apresentaram outros
exemplos de relação entre grandezas, como a aluna Regina, que associou a
quantidade de água ao sabão a ser usado na lavagem de roupas ou Cami, que
comparou preços e quantidades de produtos em uma compra de supermercado. Eis
a produção de Cami, na Figura 27.
Figura 27: Resolução da questão 01 do questionário preliminar - Cami
Fonte: Acervo pessoal
Uma das alunas – Binna – respondeu à questão relacionando o tema à regra
de três, provavelmente por tê-la aprendido na escolarização básica. A esse respeito,
os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) afirmam ser comum que alunos
dos anos finais do Ensino Fundamental utilizem recursos algorítmicos pela regra de
três. A Figura 28 expõe a produção da aluna.
121
Figura 28: Resolução da questão 01 do questionário preliminar - Binna
Fonte: Acervo pessoal
Oito participantes tiveram dificuldades para identificar a presença do raciocínio
proporcional no seu cotidiano, duas por confundir conceitos e/ou temáticas
matemáticas, como Pejo e Angel: Pejo revelou: “Não tenho ideia de como iniciar um
raciocínio lógico”, e parece ter considerado raciocínio proporcional e raciocínio lógico
como sinônimos. Já Angel apresentou uma resposta genérica: “Entendemos um
assunto de forma limitada”.
Esses relatos nos fizeram conjecturar que algumas das participantes não
relacionaram a temática a situações do seu cotidiano. As seis restantes, Babich,
Mariza Letícia, Vitória, Tiana, Duda e Hortência relacionaram o raciocínio proporcional
ou a proporcionalidade a outras situações numéricas ou algébricas não proporcionais.
Por exemplo, Babich respondeu: “Pegar ônibus e verificar a numeração, placas de um
carro”, a aluna Hortência relatou que o raciocínio proporcional envolve “contas de
somar de subtrair, dividir as quais usamos no supermercado e no nosso dia a dia”. Já
a participante Duda parece ter associado a equivalência nas equações de primeiro
grau, conforme aponta a Figura 29:
Figura 29: Resolução da questão 01 do questionário preliminar - Duda
Fonte: Acervo pessoal
122
Três estudantes para professora: Pocahontas, Mandala e Sempre Viva
relataram não se lembrar da temática, provavelmente, por não associar o nome ao
conceito, como revela o protocolo da aluna Mandala na Figura 30.
Figura 30: Resolução da questão 01 do questionário preliminar - Mandala
Fonte: Acervo pessoal
Por fim, oito delas – Ana Paula, Nádia, Fênix, Tulipa, B, Margarida, Orquídea e
Girassol – responderam de maneira genérica, ou seja, não apresentaram indícios de
que tivessem conhecimento acerca do raciocínio proporcional. Portanto, não podemos
afirmar que essas alunas saibam do que trata o tema proposto. Tais indícios estão
nos protocolos de Margarida e Orquídea, nas Figuras 31 e 32, respectivamente.
Figura 31: Resolução da questão 01 do questionário preliminar - Margarida
Fonte: Acervo pessoal
123
Figura 32: Resolução da questão 01 do questionário preliminar - Orquídea
Fonte: Acervo pessoal
As estudantes pareciam explicitar de forma genérica suas respostas, o que
deixava para as atividades seguintes maiores condições de identificar a relação dos
seus conhecimentos prévios.
Escolhemos essa questão visando acompanhar a evolução das participantes e
tomamos por base pesquisadores piagetianos, como Vergnaud (1996) e Schliemann
(1998), dentre outros. Schliemann (1998, p. 13), por exemplo, afirma que os alunos
se desenvolvem em situações de ensino em que tenham a oportunidade de relacionar
conhecimentos prévios com novos conceitos, para que possam atribuir significado e
desenvolver novos patamares de aprendizagem.
Corroborando esse estudo, Oliveira (2009) afirma que, antes de apresentar
uma situação de ensino, é necessário identificar os conhecimentos já dominados
pelos estudantes. Nessa perspectiva, a pesquisadora sugere que, ao apresentar
situações problema aos alunos, seja considerada a matemática diária dos estudantes,
para favorecer a atribuição de sentido e significado para aprender.
Já a questão 2 pedia às futuras professoras a seguinte informação: “Ao lecionar
matemática, você tratará da temática raciocínio proporcional?”.
A questão 1 foi proposta com a finalidade de verificar se as alunas reconheciam
o raciocínio proporcional em uma situação do cotidiano, e a questão 2 complementaria
a primeira resposta com a informação sobre como essas participantes lidariam com o
raciocínio proporcional no ambiente intraescolar.
Pelas produções apresentadas, detectamos que cinco alunas, Pocahontas,
Hortência, Moana, Tulipa e Nilma, lembraram que em determinada aula do curso
regular62 usaram tal ideia. Essa aula consistia em relacionar a matemática com a vida
62 Conforme já mencionado no capítulo de apresentação, o professor-pesquisador foi professor desse
124
diária e foi proposta às estudantes a resolução de um problema de comparação entre
grandezas. Na situação apresentada, elas deveriam, por meio de cálculos
matemáticos, verificar qual a melhor opção, entre dois detergentes, para obter maior
economia. Após as resoluções, discutimos com as alunas formas de resolução e em
seguida apresentou a solução correta. A Figura 33 contém o problema.
Figura 33: Questão a respeito de comparação entre grandezas
Fonte: Acervo pessoal
As Figuras 34 e 35 levam a supor que Moana e Pocahontas, possivelmente,
associaram o tema ao que já haviam visto anteriormente em aula no curso de
Pedagogia:
Figura 34: Resolução da questão 02 do questionário preliminar - Moana
Fonte: Acervo pessoal
grupo de alunas na disciplina Matemática e Ciências aplicadas à Educação, do curso regular
125
Figura 35: Resolução da questão 02 do questionário preliminar - Moana
Fonte: Acervo pessoal
Já cinco futuras professoras (Cami, Nadia, Babich, Vitória e Tiana)
apresentaram exemplos que aparentemente não tinham relação com a temática
proposta. Por exemplo, a aluna Nadia relatou em seu protocolo que o conceito do
número se relaciona com os cardinais, os ordinais e o numeral. Na produção de
Babich, por exemplo, é possível observar que ela relacionou novamente a situação a
cálculos de adição e subtração, conforme verificamos na Figura 36.
Figura 36: Resolução da questão 02 do questionário preliminar - Babich
Fonte: Acervo pessoal
Outras seis futuras professoras (Fênix, Mariza Letícia, B, Binna, Ana Paula e
Jú) responderam de forma genérica, e a maioria apresentou exemplo, registrando
situações problema, como fizeram as alunas B e Fênix. Binna e Mariza Letícia
registraram razão e proporção. Já Ana Paula (Figura 37) relacionou o tema a
elementos da matemática encontrada no seu dia a dia.
Figura 37: Resolução da questão 02 do questionário preliminar - Ana Paula
Fonte: Acervo pessoal
126
As 14 participantes restantes (Margarida, Orquídea, Girassol, Regina, BA
Sorriso, Carla, Docinho, Angel, Pejo, Mandala, Ana, Groove, Duda e Sempre Viva)
relataram que não se lembraram de nada a respeito da questão.
Identificamos, pelas últimas 25 resoluções apresentadas, que as alunas não
relacionavam o raciocínio proporcional ao conteúdo que ensinariam. Acreditamos que
isso pode ter ocorrido por não relacionarem o termo “raciocínio proporcional” ao
conteúdo que poderiam ensinar, pois em seus relatos algumas delas afirmaram, como
Tulipa: “Nossa, não sabia que o nome era esse, eu faço isso e nem sabia o nome”.
Posteriormente propusemos uma situação de valor omisso e outra de comparação,
para reunir mais elementos de identificação de conhecimentos prévios acerca do tema
investigado. Pretendíamos verificar se as alunas compreendiam a ideia de covariação
e se sabiam realizar comparações numéricas (POST; BEHR; LESH, 1995, p. 91).
Passemos à questão 03.
Figura 38: Apresentação da questão 03 do questionário
Fonte: Adaptado de Silvestre (2012, p. 127)
Essa questão já havia sido proposta nos estudos de Karplus e Karplus (1972)
e Silvestre (2012). É uma situação típica de valor omisso, em que são fornecidas três
grandezas, e a quarta é solicitada. Além disso, o problema apresenta uma ilustração
que pode ser explorada tanto com adultos quanto com crianças.
Notamos, assistindo ao vídeo, que inicialmente as participantes demonstraram
dificuldades para encontrar uma estratégia de resolução. Isso foi também observado
quando estávamos acompanhando as alunas em suas produções: houve muitas
tentativas e o uso constante da borracha, por parte delas, para encontrar um caminho
para resolver a questão. A imagem seguinte, na Figura 39, registra a participante Ana
pensativa, após três tentativas de resolução.
127
Figura 39: Resolução da questão 03 do questionário preliminar - Ana
Fonte: Acervo pessoal
Ademais, ao analisar os protocolos com as resoluções, percebemos que das
30 participantes, 05 (Ana, Carla, Docinho, Duda e Pocahontas) escolheram a taxa
unitária como estratégia de resolução. Posteriormente, questionamos as cinco
participantes acerca do motivo da escolha. Nas respostas, informaram que estavam
acostumadas a usar esse método em situações usuais diárias e por isso acharam
mais fácil resolver daquela forma. Corroborando tal afirmação, Post, Behr e Lesh
(1995) e Schliemann (1998, p. 13) apontam que as crianças se identificam mais com
a estratégia "taxa unitária" por já ser familiar para elas. Na Figura 40 notamos que a
futura professora Carla identificou em seu desenho que cada fósforo equivaleria a um
clipe e meio.
Figura 40: Resolução da questão 03 do questionário preliminar - Carla
Fonte: Acervo pessoal
128
Estudos como os de Post, Behr e Lesh (1995); de Lamon (2005); e de Silvestre
e Ponte (2009) afirmam que o contexto e os números escolhidos influenciam na
escolha da estratégia, bem como na resolução. Acreditamos que, neste caso, a
escolha do problema e dos números, possivelmente, determinou a escolha da taxa
unitária. Ela foi a utilizada por uma das alunas investigadas por Silvestre (2012, p.
128), Carolina:
Figura 41: Resolução - Carolina
Fonte: Silvestre (2012, p. 128)
Nossos estudos resultaram em produções semelhantes às dos trabalhos de
Silvestre (2012). Tal fato pode ser visualizado na Figura 42. Nela a aluna Duda
calculou o resultado da divisão para a busca da taxa unitária e se apoiou na imagem
para relacionar a quantidade de clips do Senhor Baixo, e assim encontrar os clipes do
senhor alto.
Figura 42: Resolução da questão 03 do questionário preliminar – Duda
Fonte: Acervo pessoal
Além dessa estratégia, duas participantes (Cami e Groove) decidiram utilizar o
produto cruzado. Cami tem sua tarefa reproduzida na Figura 43.
129
Figura 43: Resolução da questão 03 do questionário preliminar – Cami
Fonte: Acervo pessoal
Segundo declaram as participantes em seus relatos, elas resolveram com esse
método, pois se lembraram da regra de três, aprendida na escola. Apesar de não
terem se lembrado, na questão 1, do diagnóstico de exemplos de utilização da
proporcionalidade ou do raciocínio proporcional, as alunas informaram verbalmente:
“professor eu não lembrei naquela hora, mas com um exemplo prático ficou mais fácil”.
Assim, aplicaram seu conhecimento sobre os procedimentos para o cálculo do valor
desconhecido por meio do produto cruzado. Perguntamos a elas se havia outra forma
de resolver a atividade, e Groove relatou que até havia tentado de outra forma, mas
não conseguiu e recorreu ao produto cruzado, como aponta seu protocolo nas Figuras
44 e 45.
Figura 44: Primeira tentativa de resolução da questão 3 - Groove
Fonte: Acervo pessoal
130
Figura 45: Segunda tentativa de resolução da questão 3 - Groove
Fonte: Acervo pessoal
Apenas duas participantes usaram a regra de três como procedimento de
cálculo, pois, segundo elas, “haviam lembrado”. Em análise em outras produções,
detectamos que quatro delas parecem ter dificuldades em analisar a situação e
identificar relações proporcionais entre grandezas, pois replicaram a medida da altura
do Senhor Baixo (seis clipes) para o Senhor Alto, como revela a Figura 46:
Figura 46: Resolução da questão 3 do questionário preliminar – Pejo
Fonte: Acervo pessoal
Além da resolução incorreta apontada anteriormente, 19 alunas (Ana Paula,
Angel, B, BA Sorriso, Babich, Binna, Fênix, Girassol, Jú, Mandala, Margarida, Tulipa,
Mariza Letícia, Moana, Nadia, Orquídea, Pejo, Regina e Vitória) resolveram o
problema usando a estratégia aditiva. Ao compararem as alturas do Senhor Baixo e
do Senhor Alto para descobrir o valor omisso, elas relataram que o Senhor Alto
possuía dois clipes a mais que o Senhor Baixo, ou seja, oito clipes, pois a maioria fez
mentalmente o cálculo, conforme podemos notar na resolução da aluna Pejo (Figura
47).
131
Figura 47: Resolução da questão 3 do questionário preliminar – Pejo
Fonte: Acervo pessoal
Ali percebemos o equívoco de Pejo e de outras, que optaram por resolver a
atividade dessa maneira, como podemos visualizar na imagem (Figura 48) retirada do
vídeo.
Figura 48: Resolução da questão 01 do questionário preliminar - Mandala
Fonte: Acervo pessoal
Depois da realização da questão, algumas das participantes nos apresentaram
argumentos como os de Mandala: “Eu achei que para resolver esse problema bastava
132
juntar dois clipes para chegar na altura do Senhor Alto, achei que era um problema
fácil demais” (referindo-se ao fato de ser um problema de adição). Assim como
Mandala, outras alunas declararam também acreditar que bastaria apenas adicionar
dois clipes para obter a altura do Senhor Alto. De acordo com trabalhos de Karplus,
Pulos e Stage (1983), os alunos por eles investigados – que frequentavam o
equivalente à Educação Básica de hoje – utilizaram uma generalização inadequada
da lógica das relações parte-todo: particularmente, usaram estratégias aditivas para
pensar na relação entre as duas grandezas, assim como fizeram as participantes de
nosso estudo.
Conjecturávamos desde o início que as estudantes possuíam, inicialmente
arraigado, o raciocínio aditivo e, durante o processo formativo, procuraríamos fazer
com que elas percebessem a necessidade de ampliá-lo. Esperávamos que nossas
discussões a respeito do raciocínio proporcional mostrassem que ele está
intimamente ligado às relações multiplicativas. Dessa maneira, em consonância com
as ideias de Lesh, Post e Behr (1988), concluímos que o raciocínio proporcional se
desenvolve de maneira gradativa, e ainda não estava plenamente desenvolvido pelo
grupo. Portanto, poderia ser ampliado.
A partir de tal conclusão, analisamos 80% das respostas incorretas, ou seja, 24
das 30 respostas, e 23 delas tiveram dificuldades em compreender o problema,
provavelmente, por se basear somente no raciocínio aditivo. Nesse caso, poderiam
pensar que tal fato garantiria a verificação da proporção em relação às alturas dos
Senhores Baixo e Alto. Segundo Post, Behr e Lesh (1995, p. 91), os alunos às vezes
apresentam respostas incorretas por não raciocinar de maneira qualitativa, ou seja,
por não analisar a covariação de grandezas antes de operar quantitativamente.
Acreditamos que esse pode ser o motivo pelo qual as participantes deste estudo
responderam à questão corretamente.
Procuramos então mapear o estudo com base nas ideias de Ball, Thames,
Phelps (2008) e verificamos inicialmente, no problema de valor omisso apresentado
às futuras professoras, o conhecimento das noções de proporcionalidade na
perspectiva do conhecimento comum do conteúdo. Revelaram-se ainda as eventuais
dificuldades que teriam, ao trabalhar com esse tema (conhecimento especializado do
conteúdo e conhecimento do conteúdo e estudantes).
Posteriormente, apresentamos a questão 4 do questionário preliminar: “No
último sábado à tarde, a família Smith foi para o teatro Starr e todos os 6 integrantes
133
entraram no cinema, pagando $ 10. A família West foi ver um filme no Odyssey e todos
os 4 entraram no cinema, pagando $ 7. Que teatro tem melhores preços na matinê de
sábado?”.
Essa questão, segundo Lamon (2005), é uma situação típica de comparação
envolvendo raciocínio proporcional, em que, segundo a autora, é dado um problema
com quatro quantidades, formando duas razões. A tarefa é descobrir se os dois
índices são equivalentes ou não. A questão envolve uma situação prática das
participantes, e há indicações de problemas dessa natureza nos PCN (BRASIL,1997).
Ao analisar os protocolos apresentados pelas participantes, detectamos que 17
das 30 alunas que resolveram a questão (Ana, Angel, B, BA Sorriso, Babich, Binna,
Carla, Docinho, Duda, Jú, Groove, Margarida, Moana, Nadia, Regina, Vitória e Tulipa)
optaram pela estratégia de cálculo do valor unitário. As participantes que resolveram
dessa forma associaram os valores pagos nas entradas com o número de integrantes
das respectivas famílias. Primeiro dividiram $ 10 por 6 e encontraram o valor
aproximado de $ 1,66 para a família Smith; em seguida, repetiram o procedimento
para a família West, ou seja, dividiram $ 7 por 4 e obtiveram o valor de $ 1,75, como
aponta a produção a seguir da futura professora Margarida, na Figura 49.
Figura 49: Resolução da questão 4 do questionário preliminar – Margarida
Fonte: Acervo pessoal
A participante acertou a resolução e justificou corretamente a questão, por meio
da comparação do valor unitário resultantes das divisões. Esse tipo de estratégia,
segundo Nesher e Sukenik (1991) e Pittalis, Christou e Papageorgiou (2003), é
informal, todavia deve ser associada à compreensão do raciocínio multiplicativo, pois,
segundo Pittalis, Christou e Papageorgiou (2003), apoiados em Singh (2000), a
estratégia de taxa unitária, utilizada sem tal compreensão, torna-se uma operação
quase exclusivamente mecânica.
134
Dentre elas uma participante (Babich) realizou adições sucessivas para
comparar os preços dos teatros, ou seja, a participante adicionou $1,75 para os 4
integrantes da família West e obteve o valor $ 7 pagos pela entrada no teatro Odyssey.
Em seguida realizou 6 adições de $ 1,65 para encontrar o valor pago pela família
Smith; chegou a $ 9,90, um valor aproximado, concluindo que a melhor opção seria
pelo teatro Starr, conforme aponta sua produção na Figura 50.
Figura 50: Resolução da questão 4 do questionário preliminar – Babich
Fonte: Acervo pessoal
Outra estudante, dentre essas 17 (BA Sorriso), registrou a quantidade de
integrantes da família nos numeradores das razões e os valores dos ingressos nos
denominadores; todavia, procedeu ao cálculo da divisão e chegou ao resultado – 1,67
e 1,75, como demonstra seu protocolo na Figura 51 em que a participante registrou 4
por 7 (na linguagem da aluna, seria 4 dividido por 7).
Figura 51: Resolução da questão 4 do questionário preliminar – BA Sorriso
Fonte: Acervo pessoal
Tais equívocos já eram esperados, uma vez que, como afirma Lamon (2005, p.
3), situações que se utilizam do raciocínio proporcional podem se mostrar como “[...]
um dos melhores indicadores de que um estudante chegou à compreensão dos
135
números racionais e dos conceitos multiplicativos relacionados”.
Stacey et al. (2001) relataram equívocos semelhantes acerca do conhecimento
específico e pedagógico de números racionais na representação decimal, em futuros
professores primários. Apontaram algumas categorias de erros – as mesmas
encontradas nesta investigação.
Os pesquisadores citados chamam a atenção para o fato de que 20% dos
futuros professores apresentavam limitações quando lidavam com a comparação de
números racionais na representação decimal. Para os autores, isso é preocupante,
uma vez que tais limitações poderiam ser transferidas para seus futuros alunos. Neste
estudo, tal identificação nos fez reservar espaços, na formação inicial, para refletir
sobre os números racionais nas representações fracionária e decimal, principalmente
para discutir questões relativas a sua utilização no fator de proporcionalidade.
Outras seis participantes (Ana Paula, Binna, Mariza Letícia, Orquídea e Tiana)
analisaram e compararam o total que cada família pagou, em vez de analisar a relação
entre os valores. As alunas realizaram o cálculo da multiplicação de 6 por 10 e de 4
por 7. Elas afirmaram que a melhor opção seria o teatro Odyssey, como aponta uma
das produções da futura professora Binna, na Figura 52.
Figura 52: Resolução da questão 4 do questionário preliminar – Binna
Fonte: Acervo pessoal
Para finalizarmos, sete alunas apenas registraram suas opções sem apresentar
justificativas. Dessas, quatro (Girassol, Hortência, Mandala e Pejo) optaram pelo
teatro Odyssey. Para chegar a essa conclusão as futuras professoras, provavelmente,
multiplicaram mentalmente as grandezas, assim como fizeram Ana Paula, Binna,
Mariza Letícia, Orquídea e Tiana, conforme produção de Pejo na Figura 53.
136
Figura 53: Resolução da questão 4 do questionário preliminar – Pejo
Fonte: Acervo pessoal
As três alunas restantes (Fênix, Nilma e Pocahontas), possivelmente,
realizaram mentalmente o cálculo entre as grandezas, assim como fizeram Ana,
Angel, B, BA Sorriso, Babich, Binna, Carla, Docinho, Duda, Jú, Groove, Margarida,
Moana, Nadia, Regina, Vitória e Tulipa, e optaram pelo teatro Star, como podemos
observar na Figura 54.
Figura 54: Resolução da questão 4 do questionário preliminar – Fênix
Fonte: Acervo pessoal
Detectamos, assim, como identificaram Greer e Mangan (1984), que os
números racionais na representação decimal podem ter gerado mais dificuldades do
que os números naturais. Por essa razão, acreditamos ser importante promover
discussões e reflexões que garantam que um futuro pedagogo observe a necessidade
de diversificar, além da classe de situações, o grau de complexidade do cálculo no
interior de uma mesma categoria, segundo apontam os estudos de Ball, Thames e
Phelps (2008).
Em consonância com os estudos de Post, Behr e Lesh (1995) e de Spinillo
(1992), podemos concluir também que situações de comparação cuja intenção é
identificar, entre duas razões, qual é maior ou se são iguais estão mais presentes no
cotidiano das crianças. Dessa forma, esse tipo de situação pode ser inserido nas
etapas iniciais de ensino, favorecendo maior compreensão dos conceitos de
proporção e, quem sabe até, evitando a mecanização pela aplicação do algoritmo.
137
Neste grupo investigado há preferência pela estratégia de busca da taxa
unitária, porém não podemos afirmar se as futuras professoras reconhecem outras
estratégias. Isso nos parece preocupante, uma vez que pesquisas de Nesher e
Sukenik (1991); Pittalis, Christou e Papageorgiou (2003); Post, Behr e Lesh (1995); e
Silvestre e Ponte (2009) afirmam que essa estratégia não garante o uso do raciocínio
proporcional.
Após a resolução das questões de valor omisso e comparação entre dois pares
de grandezas, decidimos verificar se as participantes reconheciam o raciocínio
proporcional em situações rotineiras. Nessas relações elas deveriam assinalar se
havia dependência e se poderiam ser diretamente proporcionais (DP) ou não
proporcionais (NP), conforme o Quadro 5, a seguir.
Quadro 5: Questão 5 do questionário preliminar
Dependência - Diretamente proporcionais (DP) ou Não Proporcional (NP) DP NP
a) A quantidade de pães comprados e o preço pago por eles.
b) A idade de uma pessoa e o número de calça que ela veste.
c) A idade de uma pessoa e seu peso.
d) A quantidade de ovos para uma receita de bolo e a quantidade de ovos para cinco receitas do mesmo bolo.
e) O salário de um trabalhador e o número de irmãos que esse trabalhador tem.
Nas respostas apresentadas, identificamos que 28 alunas responderam
corretamente, assinalando (DP) no item “a”, e apenas 02 (Mandala e Moana)
responderam (NP) para a primeira situação, pois não reconheceram a relação
proporcional entre quantidade e preço.
No item “b”, verificamos que 26 participantes assinalaram (NP), enquanto 04
delas (Binna, Carla, Hortência e Moana) assinalaram incorretamente (DP), pois para
elas havia uma relação de proporcionalidade entre idade e número de calça.
Já no item “c”, 24 futuras professoras registraram corretamente (NP) em seus
protocolos e 06 alunas (Binna, Duda, Groove, Hortência, Moana e Tiana) entendiam
que as grandezas idade e peso eram proporcionais e, assim, registraram em seus
protocolos de maneira incorreta (DP).
Vinte e três participantes apontaram como respostas corretas (DP) e sete
(Cami, Duda, Hortência, Pocahontas Mandala, Moana e Vitória) identificaram que
salário e vendas não eram proporcionais e assinaram (NP) para o item “d”.
Para o item “e”, 25 alunas assinalaram (DP) e as 05 restantes (Babich, Binna,
Fênix, Moana e Vitória) marcaram (NP) para a relação entre quantidades, ou seja, não
138
identificaram que havia uma relação de proporcionalidade envolvida.
Notamos, ao analisar as respostas das participantes nessas sete perguntas
objetivas, alto índice de acertos, ou seja, mais de 87% parecem ter identificado
problemas de proporcionalidade. No entanto, percebemos equívocos de certas alunas
e notamos, ainda, haver mais erros nas produções de Binna, Hortência e Moana, o
que nos levou a conjecturar que essas estudantes apresentaram dificuldades de
identificar o raciocínio proporcional na questão 5.
Para concluir nosso diagnóstico, precisávamos verificar se as participantes
reconheciam situações de não proporcionalidade, pois segundo o documento oficial
(BRASIL, 1997), é necessário identificar situações em que o que está em jogo é a não
proporcionalidade. O raciocínio proporcional pressupõe a distinção entre situações
proporcionais e não proporcionais (POST; BEHR; LESH, 1995, p. 91).
Portanto, apresentamos a questão 6. “Seu Manuel é vendedor de uma lojinha
de conveniência e recebe mensalmente R$ 850,00. Além de seu salário fixo, seu
Manuel recebe também 10% por cada venda feita. Responda:
a) quanto o vendedor deverá receber, se vender R$10000,00?
b) essa é uma situação de proporcionalidade, por quê?”
Ao analisar os registros das respostas, identificamos que 27 alunas
responderam corretamente o valor que o vendedor deveria ganhar (item a). E a
maioria optou por resolver a situação aritmeticamente, ou seja, calcular 10% de R$
10.000,00 e adicionar esse valor aos R$ 850,00, referentes ao valor fixo, como
apresentado no protocolo a seguir, na Figura 55.
Figura 55: Resolução do item “a da questão 6” – Duda
Fonte: Acervo pessoal
Notamos que, da mesma forma que a aluna Duda, a maioria das participantes
que respondeu corretamente parecia não ter preocupação em representar com a
mesma correção, do ponto de vista da matemática, suas resoluções. Dentre elas, é
importante destacar as alunas que tentaram utilizar-se do produto cruzado e não
conseguiram representar corretamente o esquema de resolução. B, por exemplo,
encontrou o valor correto mentalmente, mas não conseguiu encontrá-lo quando se
utilizou do esquema da quarta proporcional.
139
Figura 56: Resolução do item “a” da questão 6 – B
Fonte: Acervo pessoal
Quando questionamos a aluna sobre o esquema utilizado, ela afirmou:
Eu primeiro fiz de cabeça e sabia que 10% daria mil e o total seria mil oitocentos e cinquenta, mas precisava mostrar a conta. Tentei fazer por regra de três aqui [apontando o dedo para o esquema 1], mas me compliquei e não consegui, então escrevi a conta que fiz de cabeça [referindo-se à representação 2] e escrevi a resposta aqui [apontando para 3].
A aluna, depois de resolver aritmeticamente, tentou representar pelo esquema
do produto cruzado; todavia, parecia não compreender se tratar de duas variáveis de
naturezas diferentes, ao utilizar propriedades ligadas à álgebra, para obter o valor da
variável desconhecida por meio da aplicação do produto cruzado.
Além disso, outras duas participantes (Binna e Regina) não identificaram a não
proporcionalidade envolvida, e uma (Margarida) deixou esse item em branco. A seguir
apresentamos a resposta de Regina, expressa na Figura 57.
Figura 57: Resolução do item “a” da questão 6 - Regina
Fonte: Acervo pessoal
Para o item “b” não houve nenhum acerto, ou seja, 27 responderam ser uma
questão de proporcionalidade, como aponta a estudante B na Figura 58, a seguir.
140
Figura 58: Resolução do item “b” da questão 6 – B
Fonte: Acervo pessoal
Percebemos que a futura professora citada, bem como a maioria, sabe resolver
a questão, porém elas associaram o simples fato de aumentarem as duas grandezas
como proporcionalidade.
Os resultados do diagnóstico para esse item se assemelharam aos de Nunes
e Costa (2016). Assim como os pesquisadores, identificamos as dificuldades das
participantes deste estudo no reconhecimento de situações não proporcionais e
pareceu-nos ser limitada sua capacidade de reconhecer como não proporcional uma
relação aditiva entre as grandezas. Ao desenvolver o questionário preliminar,
detectamos dificuldades das estudantes em lidar com situações proporcionais e,
principalmente, na diferenciação entre proporcionalidade e não proporcionalidade.
Percebemos ainda que as participantes, possivelmente, teriam problemas em
sua atividade profissional ao ensinar esse assunto, se não discutíssemos e
refletíssemos acerca dessas dificuldades, relacionando-as com sua ocorrência no
ensino. Afinal, consideramos, assim como Ball, Thames e Phelps (2008), que o
conhecimento comum do conteúdo é condição necessária para o desenvolvimento
das demais categorias. Portanto, com base nos resultados obtidos, entendemos que
seria oportuno, para o desenvolvimento do raciocínio proporcional, promover novos
estudos com situações que as levassem a refletir acerca do reconhecimento de
situações proporcionais e não proporcionais.
A partir dos dados aqui apresentados, planejamos e executamos um trabalho
de formação inicial, levando em conta a necessidade de discutir e refletir de forma
colaborativa tanto sobre a aprendizagem do tema por parte das futuras professoras
como sobre o seu ensino nos anos iniciais. Buscamos alcançá-los por meio de análise
de casos de ensino e vivências de diferentes estratégias e abordagens de ensino
descritas no próximo capítulo.
141
CAPÍTULO 5 - ANÁLISE DA FORMAÇÃO
Para realizar a formação, escolhemos uma sala de aula comum com dimensões
de aproximadamente 10 metros de comprimento por 5 de largura. As salas estavam
equipadas com carteiras universitárias (em torno de 60 carteiras), 5 ventiladores, uma
lousa, um apagador e giz para nosso uso. Solicitamos às alunas que sentassem em
círculos, visando favorecer as discussões, conforme podemos observar pelas Figuras
59, 60 e 61.
Figura 59: Alunas do lado direito do professor-pesquisador olhando para a imagem
Fonte: Acervo pessoal
Figura 60: Alunas do lado esquerdo do professor-pesquisador olhando para a imagem
Fonte: Acervo pessoal
Figura 61: Alunas do centro do professor-pesquisador olhando para a imagem
Fonte: Acervo pessoal
142
Após a organização da turma e com base nas respostas apresentadas no
capítulo anterior, iniciamos a formação explicitando às alunas, brevemente, acerca do
raciocínio proporcional e sua importância no currículo de Matemática da Educação
Básica. Informamos a elas que desenvolver esse tipo de raciocínio é uma das metas
que o futuro professor precisa almejar. Ademais, que esse tipo de raciocínio é
necessário para a compreensão das relações multiplicativas, fundamental para a
resolução de muitos problemas.
Relatamos que muitas situações cotidianas requerem resolver e identificar
problemas de proporcionalidade: a interpretação da escala de um mapa ou da planta
de uma casa, a adaptação de uma receita culinária para mais pessoas ou a
comparação de preços de produto em quantidades diferentes são alguns exemplos
que ilustram o uso da noção de proporcionalidade no dia a dia e que farão parte dos
nossos estudos posteriores.
Informamos às futuras professoras que, apesar de sua larga aplicação, o
raciocínio proporcional é difícil de definir em duas ou três frases simples, pois é um
processo que envolve tanto as relações qualitativas quanto as quantitativas. E, por
meio da formação, pretendíamos explorar tais relações. Iniciamos então a atividade
introdutória.
5.1 Atividade introdutória (alterando a foto do professor)
A atividade introdutória “Alterando a foto do professor”, conforme mencionamos
no capitulo voltado para a descrição das atividades, foi a primeira atividade do curso
de formação. Apresentamos uma situação que envolvia relações entre comprimento
e largura, em que procuramos desenvolver ideias envolvendo raciocínio proporcional
por meio da exposição da imagem apresentada na Figura 62.
Figura 62: Foto selecionada para a realização da atividade introdutória
Fonte: Acervo pessoal
143
A partir da figura reproduzida no datashow, realizamos alguns questionamentos
com as alunas. Eis o diálogo:
Professor-pesquisador: Por favor, olhem a figura, vocês conhecem tal ferramenta? Participantes: Sim, professor, usamos para tratar imagens. Professor-pesquisador: Olha o que vou fazer na figura [posicionando o mouse do computador no vértice inferior do lado esquerdo e arrastando, para aumentar proporcionalmente a foto conforme figura seguinte] ampliei a figura?
Figura 63: Alteração realizada pelo professor-pesquisador
Fonte: Acervo pessoal
Professor-pesquisador: Mudou alguma coisa? Participantes: Sim. Professor-pesquisador: O que eu fiz na figura? Babich: Aumentou por completo. Professor-pesquisador: Então, para vocês, [a figura] aumentou por igual? Participantes: Sim. Ana: Você pegou a ponta da figura e arrastou na diagonal. Professor-pesquisador: Exatamente. Babich: Se você pegar do lado e arrastar vai mudar o formato. Professor-pesquisador: Vamos fazer o que disseram para ver o que acontece.
Neste momento, selecionamos a figura e realizamos com o mouse um
movimento no vértice inferior lado direito da imagem, com ênfase maior para a
horizontal da foto, como podemos notar na Figura 64.
Figura 64: Professor-pesquisador expandindo a foto lateralmente
Fonte: Acervo pessoal
144
Groove: Você engordou, seu rosto ficou enorme. Babich: Você ficou achatado (risos). Professor-pesquisador: O que ocorreu com a figura? Participantes: Mudou o foco. Professor-pesquisador: Como? Expliquem melhor! Nilma: Mexeu na proporção da figura. Ana: Mudou a estrutura da figura. Professor-pesquisador: Deixa-me mexer novamente [selecionei o vértice inferior lado esquerdo da foto e arrastei com o mouse do computador diagonalmente, porém com direção maior para baixo, deixando a foto alongada como é possível notar na figura 65], e agora?
Figura 65: Professor-pesquisador expandindo a foto lateralmente
Fonte: Acervo pessoal
Groove: Ficou alongado, bem magrinho? Participantes: Tem mais altura que largura Moana: Alterou a proporção. Professor-pesquisador: Vou colocar as duas figuras essa e a original lado a lado, o que vocês percebem? Participantes: A figura ficou esticada. Professor-pesquisador: Pelo que vocês falaram, vocês verificaram que, à medida que mexo na figura, ora ela fica achatada, ora fica esticada. Por que acontece isso? Participantes: Por que altera a proporção? Professor-pesquisador: Vocês percebem alguma relação? Participantes: Sim, de proporcionalidade. Professor-pesquisador: Vamos registrar na lousa exemplos do que estão me falando.
Apresentamos, então, na lousa uma figura retangular com seis (6u) de
comprimento por três (3u) de altura, conforme Figura 66.
145
Figura 66: Professor-pesquisador apresentando o exemplo uma figura retangular
Fonte: Acervo pessoal
Em seguida, construímos ao lado outra figura com doze (12u) de comprimento
por três (3u) de altura e perguntou: “A figura manteve a mesma estrutura, ou seja,
permaneceu na mesma proporção?”. As alunas disseram que não, pois apenas
aumentou o comprimento. E a participante Cami disse: “Dobrou o comprimento e a
altura permaneceu igual”. Perguntamos: “O que temos que fazer para a figura
permanecer com as mesmas relações entre as medidas?”. As alunas (em coro)
informaram que deveria aumentar a altura para seis (6u), ou seja, dobrar a altura.
Nesse instante, a participante Ana Paula relatou: “É mais ou menos como
quando você vai fazer a planta de uma casa e você associa um metro a um centímetro
para poder reduzir o tamanho, vai ficar com a mesma proporção, porém com o
tamanho menor”. Podemos notar o gesto feito pela aluna na Figura 67.
Figura 67: Relato de Ana Paula - proporcionalidade envolvida na redução
Fonte: Acervo pessoal
146
Após o exemplo apresentado pela aluna, informamos que em documentos
oficiais como os PCN, por exemplo, há indicações para que o professor desenvolva o
trabalho com ampliação e redução, por meio de mapas, escalas e figuras. A
pesquisadora Angélica complementou, dizendo que, na construção de uma casa, a
planta tem que ser em tamanho menor, porém deve seguir a proporção.
Posteriormente, solicitamos às alunas mais exemplos de situações que
envolvessem a ideia de proporcionalidade. Tulipa informou que “em uma malha de
papel quadriculado você faz em um tamanho menor e pode aumentar o tamanho de
um desenho, eu faço isso para bordar”, como podemos notar no gesto representado
na Figura 68.
Figura 68: Tulipa relatando sobre um exemplo de proporcionalidade
Fonte: Acervo pessoal
Em seguida, visando sistematizar as ideias, perguntamos: “Se eu tiver uma
imagem e diminuir um lado, o que terei que fazer com o outro?”. As participantes
responderam: “diminuir da mesma forma, ou seja, na mesma proporção”. Duda, em
seguida, nos questionou sobre outro exemplo: “Em uma receita culinária também faço
isso, sou boleira, faço bolo (risos). Cara, agora me passou pela cabeça que uso as
mesmas ideias nas quantidades”. Na Figura 69, percebemos a reação de Duda, ao
relatar e descobrir que se trata da mesma ideia.
147
Figura 69: Reação de Duda ao fazer seu relato
Fonte: Acervo pessoal
Dissemos que a ideia era exatamente essa e apresentamos um exemplo “Se
tenho uma receita para duas pessoas, se vocês quiserem fazer para quatro pessoas,
o que devem fazer?”. Duda disse: “dobrar todos os ingredientes”.
Babich, em seguida, apresentou outro exemplo: “Vou fazer um macarrão e na
receita diz usar 100 gramas por pessoa, se eu for fazer para quatro pessoas devo
usar 400 gramas e assim por diante”. A pesquisadora Angélica perguntou para as
alunas: “Se tiver que aumentar esta mesma receita para oito pessoas, como ficaria?
E para seis, como ficaria?”.
As alunas relataram ser mais difícil aumentar a receita para seis pessoas, pois
a partir dos ingredientes para quatro pessoas, para preparar para oito bastaria apenas
dobrar a quantidade de cada um dos ingredientes, já para seis o trabalho se tornaria
mais complicado. O grupo discutiu por alguns instantes e. ao final, Duda relatou nesse
momento: “Basta usar a metade da metade, ou seja, a metade de oito seria quatro e
a metade de quatro seria dois. Se sei para oito pessoas e para quatro pessoas,
consigo saber para duas e somar a quantidade para quatro com a quantidade para
duas”.
Percebemos nas afirmações das participantes que elas conhecem as
estratégias do tipo "up down", que, normalmente, nessa situação, são as mais
requisitadas, conforme apontam Lamon (2005) e Post, Behr e Lesh (1995).
A pesquisadora Angélica relatou que os exemplos apresentados por elas são
situações do dia a dia e, muitas vezes, não os trazemos para escola. Porém, nossa
intenção, neste trabalho, é trazer os conhecimentos da prática para a escola, para
compreender uma ideia que é fundamental na vida e a usamos para muitas coisas,
que é o raciocínio proporcional.
148
Ademais, a pesquisadora comentou que às vezes erramos por não o conhecer.
Nesse momento, Tulipa tomou a palavra e disse: “Eu não estou acreditando que
quando respondi o questionário lhe disse que não sabia o que é raciocínio
proporcional, eu tinha conhecimento do que era isso!”.
Figura 70: Tulipa ao relatar e perceber que possuía conhecimento do tema
Fonte: Acervo pessoal
Pocahontas então disse: “Então pelo que vi esse raciocínio vai nos fazer pensar
mais rápido para resolver algumas situações como nas receitas de bolo”.
Novamente a pesquisadora Angélica tomou a palavra e relatou que o raciocínio
proporcional é uma das principais ideias em matemática e que é importante que as
participantes conheçam tais conceitos. Além disso, informou às futuras professoras
que também sabiam conhecer quando não há proporcionalidade envolvida. Ela
completou, relatando que, conforme elas mesmas haviam observado na atividade
alterando a foto do professor, que não basta simplesmente aumentar
desordenadamente as grandezas.
Em seguida Babich apresentou um exemplo:
Babich: Um exemplo que eu estava pensando de [situação] proporcional é quando a pessoa toma um ônibus. Acho que o preço do ônibus e o que ela andou é proporcional. Pesquisadora Angélica: Você está se referindo a situação real ou fictícia? Babich: Real. Pesquisadora Angélica: Se é real, se pegamos o mesmo ônibus, pagamos o mesmo valor, certo? Todos: Certo. Duda: Acho que não é proporcional não, pois pagamos o mesmo valor, mas a distância não é a mesma, cada um desce em um ponto. Groove: Concordo com Duda, todo mundo paga a mesma coisa e cada um anda o que lhe interessa, ninguém paga só pelo que andou. Fora os idosos que não pagam (risos).
149
O grupo continuou discutindo a respeito de tal situação e chegou à conclusão
que essa não seria uma situação proporcional.
Tal observação nos fez perceber que a aluna Babich até aquele momento não
havia compreendido as ideias do raciocínio proporcional, mas considerávamos que
nossas discussões e reflexões ampliariam as possibilidades para tal compreensão.
Ao analisar o debate gerado a partir da vivência desta proposta relativa ao
conhecimento para o ensino do raciocínio proporcional, observamos que a maioria
das participantes nos apresentaram exemplos encontrados no cotidiano. Todavia,
nem todas as futuras professoras pareciam estar prontas para selecionar exemplos e
ilustrações que pudessem facilitar a compreensão desse conteúdo por alunos dos
anos iniciais do Ensino Fundamental. Foi possível notar que algumas delas, como
Babich, por exemplo, não identificam com clareza exemplos de relações de
proporcionalidade, e isso parecia estar ligado a limitações no domínio do conteúdo
específico da temática. A esse respeito, concordamos com Ball, Thames e Phelps
(2008), quando afirmam que tal fato pode implicar em conhecimentos que não
favoreçam seu ensino.
Identificamos, segundo a perspectiva de Ball, Thames e Phelps (2008), os
possíveis conhecimentos das participantes: algumas delas pareciam desconhecer o
que era o raciocínio proporcional. Já outras pareciam apenas não relacionar o nome
da temática ao que sabiam, como foi o caso de Tulipa, citado anteriormente, no
questionário preliminar. Pudemos identificar que, na discussão, ela percebeu do que
se tratava a temática. A Figura 71 revela o protocolo que aponta a falta de
conhecimento da estudante ao responder o questionário preliminar.
Figura 71: Resolução da questão 01 do questionário preliminar - Tulipa
Fonte: Acervo pessoal
Dessa forma, acreditamos que a discussão e a reflexão coletivas a respeito da
presença de proporcionalidade favoreceram a compreensão das participantes sobre
150
a temática. E, da mesma forma que Tulipa, outras futuras professoras também
puderam compreender melhor o assunto a partir do debate coletivo. Visando ampliar
os conhecimentos das participantes, propusemos seguir com a atividade 1.
5.2 A atividade 1
A atividade 1 apresentava a seguinte situação, revelada na Figura 72.
Figura 72: Imagem da atividade 1
Fonte: Elaboração própria
Nosso propósito era que as participantes reconhecessem a proporcionalidade
entre a medida de todos lados correspondentes da figura, ao alterá-la na malha
quadriculada (BRASIL, 2017). Essa atividade teve 4 itens e a participação de 24
alunas. A seguir apresentamos a análise detalhada do que foi desenvolvido em cada
um dos itens e as reflexões coletivas decorrentes da sua discussão.
5.2.1 O item “a” da atividade 1
Notamos que nem todas as alunas compreenderam o solicitado no primeiro
item. Binna, por exemplo, questionou: “Professor, os quadradinhos de fora devem ser
aumentados também?”. Ao notar tal dificuldade de compreensão, chamamos a
151
atenção do grupo para o fato de “que a ampliação deveria ser realizada observando
as dimensões da figura, utilizando a medida do quadradinho como referência”.
Notamos que, ao construir suas figuras, as estudantes para professora não
tiveram grandes dificuldades, ou seja, 100% delas obtiveram êxito na resolução. As
Figuras 73 e 74 apresentam a produção da futura professora Margarida.
Figura 73: Produção de Margarida do primeiro item da atividade 1
Fonte: Acervo pessoal
Figura 74: Margarida mostrando ao professor formador sua produção
Fonte: Acervo pessoal
Ao percorrermos a sala, questionamos o grupo quanto às dificuldades
encontradas por eles. Nesse momento Jú relatou que, inicialmente, teve dificuldades
com o vértice central do teto da casa:
“Eu achei que era para colocar no meio dos quadrinhos a figura, aí o teto não daria certo, cairia no meio do quadrinho, então eu percebi que não dependia de qual local eu construiria a figura, era apenas para fazê-la com o dobro da figura original [referindo-se ao fato dela ter dobrado a medida de todos os lados da figura]”.
152
A seguir apresentamos, na Figura 75, a imagem que retrata o relato da
estudante.
Figura 75: Jú ao explicar sua dificuldade inicial do item “a” da atividade 1
Fonte: Acervo pessoal
Em seguida solicitamos a elas que fizessem o item “b”.
5.2.2 O item “b” da atividade 1
Notamos que a maioria delas reduziu corretamente a metade de cada lado. A
Figura 76 mostra a estudante Docinho resolvendo esse item.
Figura 76: Produção do item “b” da atividade1 – Docinho
Fonte: Acervo pessoal
No entanto, duas participantes (Mandala e Moana) reduziram apenas a base
da “casa” e deixaram o “telhado” com as mesmas dimensões da figura inicial, como
notamos a seguir no protocolo de Mandala, na Figura 77.
153
Figura 77: Produção do item “b” da atividade1 - Mandala
Fonte: Acervo pessoal
Ao observarmos que essas participantes se equivocaram na redução da figura,
perguntamos se elas haviam reduzido corretamente, e elas relataram que sim.
Novamente chamamos a atenção das alunas para detectarem o erro: pediu que
comparassem o telhado da figura construída com o da figura original, porém, nesse
momento elas ainda não perceberam nenhuma diferença. Durante a resolução elas
pareciam ainda não terem compreendido as características de figuras proporcionais.
Mesmo observando tais equívocos, optamos por realizar a discussão somente após a
resolução de todos os outros itens, por considerarmos que seria interessante que o
grupo todo vivenciasse todas as propostas antes. A seguir apresentamos o item “c”
da atividade 1.
5.2.3 O item “c” da atividade 1
Analisando a resolução das alunas, observamos que algumas delas, como
Margarida, Ana e Groove, achavam que deveriam aumentar a figura em dois
centímetros e meio, em vez de duas vezes e meia a medida de cada lado. Depois de
esclarecer que o aumento seria de duas vezes e meia, Tulipa respondeu: “aumentar
mais que a letra a, que era duas vezes”. Perguntamos: “Então, se é um aumento de
duas vezes e meia, o que isso significa?”. A aluna disse: “Já entendi o que é para
fazer”. Novamente tomamos a palavra, para saber se não havia mais dúvidas. As
demais participantes não se pronunciaram naquele momento.
Ao analisar os protocolos e os relatos de vídeo acerca do item c da atividade,
identificamos que a maioria delas, como Jú, Cami e Orquídea, acertaram a atividade,
ou seja, apesar das dificuldades iniciais, conseguiram concluí-la com êxito.
Dentre elas, Jú chamou-nos próximo a sua mesa e perguntou: “Esse meio é
154
metade da casinha?”. Perguntamos para aluna: “Se numa dimensão tem quatro, o que
significa um aumento de duas vezes e meia essa medida?”. Jú disse: “Seria no caso
duas casas e mais metade da casa”. Questionamos: “Jú, então com quanto ficará a
base da casinha?”. Jú pensou e contou mentalmente as unidades de comprimento e,
em seguida, respondeu: “Dez”. Solicitamos que ela olhasse a sua figura e verificasse,
conforme podemos observar na imagem seguinte, na Figura 78.
Figura 78: Jú, após perceber seu erro - posterior ao diálogo
Fonte: Acervo pessoal
A futura professora realizou a contagem das unidades de comprimento,
percebeu o equívoco, pois havia triplicado a figura, e a reconstruiu corretamente.
Notamos que a participante utilizou em seu relato a estratégia do tipo "up down", que
envolve a junção de uma multiplicação com adição, ao somar a metade do
comprimento com o seu dobro. Percebemos, assim, como nos informam Lamon
(2005) e Post, Behr e Lesh (1995), que essa foi a estratégia mais requisitada por ela
e pelas demais alunas que realizaram de forma correta o item c da atividade. A Figura
79 aponta a resolução de Jú e o registro de sua contagem ao lado.
155
Figura 79: Produção de Jú após perceber o erro e refazer o item “c”
Fonte: Acervo pessoal
As outras oito estudantes para professora resolveram o terceiro item de forma
incorreta, e demonstraram dificuldades com números racionais na representação
decimal. Uma delas foi Binna, que confirmou nossas impressões: “Professor, tenho
muita dificuldade em trabalhar com números com vírgula e frações”. Estudos como os
de Norton (2005) relatam que um problema dos alunos, ao se depararem com
questões que envolvem o raciocínio proporcional, é a falta de compreensão dos
números racionais. O autor propõe o trabalho com frações e o uso de diferentes
representações (fracionária, decimal, figural entre outras) em problemas envolvendo
proporcionalidade.
Além do que foi descrito aqui, outras duas futuras professoras, B e Binna,
triplicaram a largura e a altura da casa e aumentaram corretamente o teto, a partir do
vértice, para cinco unidades de comprimento da diagonal do quadrado, conforme
produção de Binna a seguir, ilustrada na Figura 80.
Figura 80: Protocolo de Binna - item “c” da atividade1
Fonte: Acervo pessoal
156
As participantes se confundiram ao construir a base da figura e relataram
também ter dificuldades com números racionais na representação decimal e
fracionária. Ademais, detectamos que duas dessas alunas (Babich e Ana) triplicaram
a figura por completo.
Três alunas: Vitória, Mandala e Fênix construíram uma imagem três vezes e
meia maior que a figura original, conforme a Figura 81:
Figura 81: Protocolo de Vitória - item “c” da atividade1
Fonte: Acervo pessoal
A estudante parece ter usado a estratégia “up down”. Indicou corretamente que
o dobro teria 8 unidades de comprimento e que a metade seria dividida por 2. Todavia,
na última linha de seu registro a participante indicou “duas casas 8 e ½ casa 2”;
bastava apenas adicionar corretamente os valores.
Já Moana registrou corretamente dez quadrinhos nas bases da figura; no
entanto, se confundiu, ao construir o teto da casa, e não percebeu que a figura havia
se desconfigurado da figura original, como é possível notar em sua produção na Figura
82.
157
Figura 82: Protocolo de Moana - item “c” da atividade1
Fonte: Acervo pessoal
Notamos que essas alunas não relacionaram suas produções com a atividade
introdutória, na qual, quando a imagem do professor era alterada de forma
desproporcional, as dimensões ficavam desconfiguradas, ou seja, não havia relação
de proporcionalidade.
Ao analisar os protocolos das alunas que erraram o problema, percebemos que
elas não apresentaram as características necessárias para o raciocínio proporcional
(identificadas no início da atividade). Detectamos que essas futuras professoras não
relacionaram a presente atividade com a atividade "Alterando o rosto do professor” e
tiveram dificuldades para identificar a proporcionalidade. Além disso, percebemos que
elas não compreenderam a covariação entre as grandezas (largura e altura) e, por
fim, não conseguiram resolver a situação proposta com números racionais nas
representações decimal e fracionária.
A seguir expomos o item “d” da atividade 1.
5.2.4 O item “d” da atividade1
No item “d” foi solicitado que as alunas obtivessem um quarto da figura, e
notamos, inicialmente, que elas apresentaram dificuldades de compreender do que se
tratava um quarto. Nesse momento, depois do questionamento das participantes,
pedimos que o grupo exemplificasse o significado de um quarto, utilizando-se de
158
alguns exemplos da vida cotidiana.
Ao debruçar-nos sobre os protocolos, identificamos que metade das
participantes investigadas resolveram corretamente o que lhes foi solicitado, dentre
elas: Margarida, Sempre Viva, Orquídea e Groove. A seguir apresentamos na Figura
83 um dos protocolos, o da participante Sempre Viva.
Figura 83: Protocolo de Sempre Viva – item “d” da atividade1
Fonte: Acervo pessoal
Notamos que nove futuras professoras erraram o problema, três reduziram
corretamente as bases da figura, no entanto, tiveram dificuldades no teto, pois
deveriam reduzi-lo ao meio, e não a um quarto, como mostra a Figura 84.
Figura 84: Protocolo de Duda - item “d” da atividade1
Fonte: Acervo pessoal
Outras três reduziram a figura ao meio, como apresentamos no protocolo da
aluna Tulipa, na Figura 85.
Figura 85: Protocolo de Tulipa - item “d” da atividade1
Fonte: Acervo pessoal
As três restantes representaram as metades das bases e um quarto do teto,
conforme é possível verificar a seguir, na Figura 86.
Figura 86: Protocolo de Marisa Letícia- item “d” da atividade1
Fonte: Acervo pessoal
159
Entendemos que as nove participantes restantes não compreendiam ainda as
propriedades que envolvem a ampliação e a redução de figuras. Os professores-
pesquisadores realizaram, então, a sistematização da atividade 1.
5.2.5 Sistematização da atividade 1
Os professores-pesquisadores, ao sistematizarem as ideias envolvidas na
atividade 1, retomaram o conceito de ampliação e redução de figuras a partir da
experiência com a foto do professor.
Nesse momento, a pesquisadora Angélica chamou a atenção para o fato de
que as participantes poderiam começar suas produções por qualquer parte da malha
quadriculada. Em seguida, questionou as alunas sobre como deveriam construir as
figuras para responder aos itens “a” e “b” (dobro da medida e metade da medida da
figura dada).
Elas relaram que fizeram suas construções por partes, deram instruções, e a
pesquisadora, com base nos seus relatos, produziu a imagem na lousa, como mostra
a seguir a Figura 87.
Figura 87: Pesquisadora Angélica sistematizando os itens “a” e “b” da atividade 1
Fonte: Acervo pessoal
No item “c” havíamos identificado que algumas alunas apresentaram dúvidas
se era para somar dois centímetros e meio ou duplicar duas vezes e meia. As alunas
160
nos questionaram, e as orientamos a ampliar duas vezes e meia, pois não teria régua
para aumentar dois e meio [referindo-se à medida em centímetros]. Nessa hora
percebemos que algumas estudantes pretendiam utilizar o princípio aditivo, e não o
multiplicativo, o que caracteriza que o raciocínio proporcional ainda não estava claro
para elas.
Pudemos notar que as dúvidas surgidas durante a resolução da atividade eram
analisadas por algumas das integrantes do grupo. Por exemplo, observando o relato
de Jú: “inicialmente usei a figura inicial para dobrar e, depois, usei a figura com
dimensões já ampliadas para dobrar novamente e percebi que a figura era muito
grande. Agora eu vejo que aumentei quatro vezes”.
Outras estudantes, como Duda, por exemplo, declararam que, inicialmente,
usaram como referência a parte de fora da figura, ou seja, pretendiam que a figura a
ser construída tivesse o mesmo número de quadrinhos do lado de fora da figura, como
os da figura inicial. Somente após ouvirem que a ampliação era apenas da figura inicial
e que deveriam apenas considerar a parte interna da figura representada na malha,
conseguiram realizar suas produções.
E, por fim, no item “d” algumas estudantes, como Pejo, por exemplo, disseram
que no início tiveram dificuldades para compreender o que viria a ser um quarto de
uma medida. Além disso, Tulipa também relatou que inicialmente achava difícil
resolver esse último item, pois ela pensava que fosse preciso diminuir a figura em uma
parte de quatro, e ficariam três partes63. Nesse momento a pesquisadora-formadora
realizou alguns questionamentos para aluna, a fim de que ela compreendesse o que
significava 1/4 para ela; apresentou-lhe alguns exemplos, para que ela entendesse
que sua dificuldade era em decorrência de ela enxergar a relação da parte e do todo,
somente do ponto de vista procedimental. Ao final, as futuras professoras mostraram-
se mais confiantes em lidar com os números racionais (frações e decimais).
Em seguida, os formadores perceberam que grande parte das participantes
possuía tais dificuldades e explanaram conceitos de fração, apresentando algumas
situações do cotidiano. Posteriormente ressaltaram a importância de resolver
situações de proporcionalidade, apropriando-se das diferentes representações e
situações dos números racionais (frações), como destacam os estudos de Fernández
e Llinares, (2012); Lamon (2005); Lesh, Post e Behr (1988); e Norton, (2005).
63 Aqui parece que ficou evidente que a futura professora Tulipa tinha muito presente a concepção parte-todo da fração.
161
Detectamos também que algumas estudantes erraram a construção do teto da
figura, pois achavam que deveriam fazer um quarto da metade produzida no item
anterior, ou seja, a referência para elas era a figura anterior, e não a principal. Estudos
como os de Caraça (1952) alertam para a importância de olhar para a unidade de
referência e consideram fundamental, para a construção do número racional, a
escolha da unidade. Ademais, Escolano e Gairin (2005), apoiados em Caraça, quando
discutem a construção do conceito de fração, criticam a predominância de situações
parte-todo, presentes no ensino, e apontam obstáculos provocados por essa
abordagem.
Percebemos tal problema e alertamos: “Gente, a altura do teto da figura inicial
é dois comprimentos da diagonal dos quadradinhos”. Em seguida perguntamos: “O
que significava para vocês um quarto dessa figura?”. Babich respondeu: “um
quadradinho”. Questionamos novamente: “qual é a metade de dois quadrinhos?”. As
alunas responderam: “um”. Em seguida, chamamos a atenção das participantes
quanto à metade de um quadrinho”. Tulipa respondeu: “meio”. Quisemos saber delas
qual seria a conclusão. Babich disse: “a altura deve ser meio quadradinho”.
Posteriormente apresentamos a resolução na lousa, como mostra a Figura 88.
Figura 88: Professor-pesquisador sistematizando o item “d”
Fonte: Acervo pessoal
162
Corroboramos as afirmações de diversos autores, como: Fernández e Llinares
(2012); Lamon (2005); Schliemann (1998); Silvestre e Ponte (2009; e Spinillo (1992),
que sugerem que no estabelecimento entre relações apareçam as ideias de metade,
dobro, triplo e assim por diante.
Entendemos que é fundamental que as participantes de nossa pesquisa
reconheçam tal forma de resolução (comum do conteúdo), pois estudos como o de
Lamon (2005) e de Silva (2012) apontam que crianças em níveis mais elementares
usam ideias de metade e de dobro para resolver problemas de proporcionalidade.
Essas estudantes precisam conhecer as formas de resolução de problemas
pelas crianças, uma vez que no futuro provavelmente lidarão com tais procedimentos.
E, para isso, acreditamos que as futuras professoras devam ter bem definidos os
conhecimentos acerca das categorias (especializado do conteúdo e do conteúdo e
alunos) propostas por Ball, Thames e Phelps (2008), visando melhorar seus olhares
profissionais. Ao identificar tais lacunas, apresentamos atividades que pudessem
proporcionar ideias para sanar as dúvidas das participantes no tocante ao trabalho
com decimais e frações.
Assim, apresentamos a atividade 2.
5.3 A atividade 2
Como já mencionamos aqui, a atividade 2 foi proposta com o auxílio de um
recurso computacional e, em seguida, explicamos a atividade, relacionando-a com as
atividades 1 e alterando o rosto do professor.
Feito isso, entregamos um protocolo (APÊNDICE E) e pedimos que após a
realização respondessem a três questões: Questão 1 - Na atividade proporcionalidade
e semelhança quais dificuldades você encontrou?; Questão 2 – Quais relações você
poderia identificar na atividade?; Questão 3 – Em sua opinião seria possível trabalhar
com os alunos dos anos iniciais? Em caso afirmativo, explique.
Solicitamos que as participantes ligassem o monitor, pois nele já iriam se
deparar com uma imagem semelhante à apresentada na Figura 89.
163
Figura 89: Imagem apresentada na tela do computador das participantes
Fonte: http://rived.mec.gov.br/atividades/matematica/proporcionalidde/AtividadeMat.html
Pedimos que lessem a proposta em voz alta, elas leram a atividade e, em
seguida, pedimos que clicassem na seta localizada no lado direito da figura.
Perguntamos o que ocorreu com a figura, e as participantes responderam que
aumentou a foto do menino, conforme a figura seguinte (Figura 90).
Figura 90: Primeira imagem apresentada na tela do computador
Fonte: http://rived.mec.gov.br/atividades/matematica/proporcionalidde/AtividadeMat.html
164
Confirmamos no datashow acerca do que relataram e, em seguida solicitamos
a elas que clicassem novamente na seta; provavelmente verificaram uma imagem
como a da Figura 91.
Figura 91: Segunda imagem apresentada na tela do computador
Fonte: http://rived.mec.gov.br/atividades/matematica/proporcionalidde/AtividadeMat.html
Ao verificarem no computador a imagem reproduzida na figura anterior,
pedimos para as participantes mexerem nos sinais de soma e subtração livremente,
e fizemos a seguinte pergunta: “O que ocorreu com a figura, ao clicarem nos
símbolos?”. As futuras professoras responderam: “Na medida em que vamos
mexendo nas pontas a imagem do menino aumenta ou diminui para esquerda ou para
direita”. Então perguntamos se elas se lembraram de algo já visto, e Sempre Viva
respondeu: “A atividade da foto do senhor”, referindo-se à atividade introdutória,
alterando a imagem do professor. Confirmamos a relação dessa atividade com a
atividade introdutória e pedimos para clicarem novamente na seta vermelha do lado
direito. Ao verificarem a imagem reproduzida na tela do computador, perguntamos o
que haviam notado. Mariza Letícia respondeu: “Conforme clico nos símbolos a figura
fica achatada ou alongada”. Na Figura 92, seguinte, procuramos ilustrar a futura
professora Mariza Letícia, ao responder à questão solicitada por nós.
165
Figura 92: Imagem de Mariza Letícia alterando a figura inicial
Fonte: Acervo do pesquisador
Após ouvir as participantes, sistematizamos as principais ideias, de acordo com
as respostas de Mariza Letícia e Sempre Viva e, em seguida, solicitamos às futuras
professoras que avançassem, clicando novamente na seta do lado direito para mudar
de tela, observassem a imagem e clicassem novamente. Ao realizarem os cliques,
provavelmente perceberam, ao verem nas duas telas do computador, a confirmação
de suas afirmações, com duas imagens como as apresentadas nas Figuras 93 e 94 a
seguir.
Figura 93: Imagem do rosto de João achado
Fonte: http://rived.mec.gov.br/atividades/matematica/proporcionalidde/AtividadeMat.html
166
Figura 94: Imagem do rosto de João alongado
Fonte: http://rived.mec.gov.br/atividades/matematica/proporcionalidde/AtividadeMat.html
Ao se deparar com a figura 94, Jú relatou: “A figura está desproporcional,
professor, se a largura da figura inicial do rosto de João é 3 e a altura é 4, na segunda
figura ampliou apenas a altura para 6, por isso o rosto ficou alongado”. Jú continuou
seu relato: “quando comparamos a primeira figura com a terceira imagem, a largura
dobrou de tamanho para 6, já a altura também deveria dobrar para 8 e não para 10”
para que fosse proporcional.
Podemos perceber, ao ouvir o relato de Jú, que ela detectou a relação de
proporcionalidade entre as dimensões da figura, bem como o fator de
proporcionalidade. Nesse momento pedimos a palavra e perguntamos o que as
demais participantes entendiam e se concordavam com Jú. Elas, verbalmente e por
meio de sinais afirmativos com a cabeça, concordaram; então sistematizamos tais
ideias, relatando que deveria haver uma relação entre as dimensões da imagem de
João. Chamamos a atenção e ratificamos que essa atividade estava associada com a
atividade “Alterando o rosto do professor” e com a “atividade 1”, envolvendo a
ampliação e a redução de figuras.
Posteriormente solicitamos que as estudantes comparassem o rosto de João 3
x 4 com rostos 5 x 4 e 9 x 8 apresentados na tela anterior do computador e
representados pela figura 89. Babich, Moana e Duda, responderam; “as figuras
ficaram achatadas, por que não houve proporção”. Babich, prosseguiu: “se eu
167
quisesse dobrar a figura 3 x 4 teria que ser 6 x 8 e não 5 x 4”, perguntamos: “por que
os rostos 2 e 3 tomaram essa forma?”, e as participantes responderam: “no segundo
rosto aumentou apenas a largura e no terceiro rosto aumentou mais a largura que a
altura”.
Novamente procuramos verificar se as estudantes haviam realmente
compreendido a preservação da proporção nas dimensões de uma figura e o uso de
um fator de proporcionalidade com eixo central para isso e perguntou: “As figuras 2 e
3 são semelhantes à primeira figura?”. Elas acenaram com a cabeça de forma
negativa e responderam “não”. Então pedimos para clicarem novamente na seta do
lado direito; ao clicar, Pejo relatou: “Está vendo? Estamos certas, não manteve a
proporcionalidade”. A Figura 95 ilustra a tela que proporcionou o relato de Pejo.
Figura 95: Imagem contendo o registro da não proporcionalidade
Fonte: http://rived.mec.gov.br/atividades/matematica/proporcionalidde/AtividadeMat.html
Com base no relato apresentado pela participante e na visão da tela
reproduzida no computador por meio da Figura 91, notamos que as futuras
professoras, possivelmente, haviam entendido a ideia. Então, solicitamos que dessem
dois cliques na seta para direita e obtivessem uma imagem como apresentada na
Figura 96.
168
Figura 96: Imagem da relação entre as dimensões dos rostos de João
Fonte: http://rived.mec.gov.br/atividades/matematica/proporcionalidde/AtividadeMat.html
Visando sistematizar e dar prosseguimento à execução da atividade
envolvendo esse Objeto de Aprendizagem, questionamos: “O que foi feito com as
dimensões da figura, o que foi feito com o valor 3 em vermelho e com o valor 6 em
azul?”. Pejo e as demais participantes responderam: “Dobrou de tamanho”.
Novamente usamos da palavra, para relatar: “Então, conforme vocês me disseram,
há uma relação de proporcionalidade entre as figuras”. Em seguida indicamos que
clicassem novamente no botão direito da tela do computador, e provavelmente
visualizaram uma imagem no computador semelhante à da Figura 97.
Figura 97: Imagem do registro da semelhança entre as fotos
Fonte: http://rived.mec.gov.br/atividades/matematica/proporcionalidde/AtividadeMat.html
169
Relatamos a elas que a semelhança entre as figuras envolvia uma relação entre
as dimensões, conforme as participantes haviam relatado anteriormente, e essa
relação era denominada “razão”. Novamente indicamos que clicassem no botão
direito, e, com isso, obtiveram a seguinte imagem (Figura 98).
Figura 98: Imagem do registro da razão entre as fotos de João
Fonte: http://rived.mec.gov.br/atividades/matematica/proporcionalidde/AtividadeMat.html
Ao perceberem que o número 2 apresentado na tela do computador
correspondia ao dobro informado anteriormente por elas, Cami relatou: “Eu sabia o
que era isso, mas não lembrava o nome”. Informamos a elas: “Vocês já haviam
relatado isso em outras situações e vão perceber ao longo dos encontros que com
várias ideias vocês já devem ter tido contato, e isso é bom” e perguntou: “Vocês
entenderam a proposta?”.
Neste momento, com o datashow, reproduzimos a próxima ação a ser
realizada. Em seguida lemos a questão apresentada na tela do computador,
explicamos a proposta para as participantes e pedimos que, conforme fizessem as
questões, registrassem no protocolo. Ademais, informamos que, caso o número
inserido não fosse o correto, na tela do computador apareceria seguinte mensagem
em vermelho: “Preste mais atenção!!! Este valor deve corresponder à Razão de
Semelhança”.
Ao procederem dessa forma, poderiam fazer novamente a questão
apresentada no computador e, se acertassem, apareceria o resultado correspondente
e a mensagem em vermelho: “Resposta correta”. Posteriormente, orientamos que
170
prosseguissem na execução da atividade e fizessem os quatro itens. Ao final de cada
item pedimos para clicarem com o botão direito da tela do computador para
prosseguir. Estes são os itens e as respectivas análises.
5.3.1 O item “a” da atividade 2
No item “a” era solicitado o valor do fator de proporcionalidade, para que a
largura fosse ampliar de 3 cm para 6 cm e a altura, de 4 cm para 8 cm, conforme
podemos notar na tela seguinte (Figura 99).
Figura 99: Imagem da tela do primeiro item - atividade 2
Fonte: http://rived.mec.gov.br/atividades/matematica/proporcionalidde/AtividadeMat.html
Ao realizarem o primeiro item, percebemos que elas não apresentaram
dúvidas, pois conforme apresentado na figura anterior, era solicitado que dobrassem
as dimensões da figura e, para que isto ocorresse, o fator de proporcionalidade seria
o número 2.
Aparentemente as participantes haviam compreendido ideias ligadas ao
raciocínio proporcional, principalmente as que envolviam a ideia de dobrar ou triplicar
uma figura (SPINILLO, 1992). Provavelmente tal compreensão se deu pelo fato de
171
elas já terem feito a atividade 1 e terem percebido as mesmas relações entre as duas
atividades, 1 e 2. Além disso, as reflexões, as discussões e a sistematização das
ideias envolvidas na atividade 1 contribuíram nesse processo.
A seguir apresentaremos o item “b”.
5.3.2 O item “b” da atividade 2
Já o item “b” da proposta foi a inserção, na tela do computador, de um valor
correspondente à medida da altura, para que a figura fosse ampliada corretamente.
Figura 100: Imagem da tela do segundo item - atividade 2
Fonte: http://rived.mec.gov.br/atividades/matematica/proporcionalidde/AtividadeMat.html
Identificamos inicialmente dificuldades da maioria das participantes no segundo
item, ao realizarem a leitura e a interpretação dos dados, como foi possível identificar
nos relatos de Margarida e Jú, reproduzidos e registrados nas Figuras 101 e 102.
172
Figura 101: Protocolo da participante Margarida
Fonte: Acervo do pesquisador
Figura 102: Protocolo da participante Jú
Fonte: Acervo do pesquisador
Ao perceber tais dificuldades, discutimos as questões com o grupo e
analisamos coletivamente os conceitos envolvidos. Percebemos dificuldades das
participantes, ao tentarem fazer a ampliação da figura com largura de 3 cm por 4,5 cm
para a respectiva figura ampliada desconhecida, que deveria ter dimensões 4 cm de
altura e largura ainda não conhecida, que seria 6 cm. Elas registram no protocolo suas
dúvidas, como pudemos notar pelo protocolo de Hortência, na Figura 103.
Figura 103: Protocolo da participante Hortência, contendo suas dificuldades
Fonte: Acervo do pesquisador
Percebemos que as participantes, inicialmente, possuíam dificuldades no
tratamento para descobrir o aumento proporcional. Elas encontraram dificuldades em
identificar o fator de proporcionalidade funcional 1,5 cm ou escalar 1,33. Ao final das
discussões, observamos que tais dificuldades eram reconhecidas e, em alguns casos,
até consideradas como sanadas por algumas dessas professoras. Por exemplo a
173
futura professora Hortência, depois de vivenciar a atividade e participar das nossas
discussões, referindo-se a grandezas contínuas, afirmou: “Estudar as frações e
decimais aqui ajudou a gente a estabelecer relação entre as grandezas, nós não
conseguíamos fazer porque tínhamos dificuldades com esses números, discutir aqui
foi fundamental para ajudar a pensar sobre esse tipo de grandeza”.
Notamos que algumas participantes, que já haviam demonstrado possuir
arraigadas as ideias relacionadas a adição nas atividades do questionário preliminar,
ainda mantinham essa ideia. Essas futuras professoras insistiam em somar 1,5 cm
em cada dimensão, como é possível observar no protocolo de Jú, na Figura 104.
Figura 104: Protocolo da participante Jú – ideias relacionadas a soma
Fonte: Acervo do pesquisador
Notamos que a professora Jú, por exemplo, até aquele momento não havia
compreendido a covariação entre as dimensões das figuras, mas, durante a sessão
de formação, essa temática foi discutida e ela mostrou compreender seu equívoco:
“Quando eu resolvi essa questão, eu adicionei em vez de buscar a relação entre as
grandezas, eu foquei na adição e esse fator é multiplicativo, não é?” (Jú).
Ademais, detectamos que algumas participantes resolveram os itens com o
auxílio da regra de três, porém sem entender o que estavam fazendo ao certo, como
no caso de Duda e Groove, que registraram no protocolo reproduzido na Figura 105.
Figura 105: Protocolo da participante Groove – ideias relacionadas a soma
Fonte: Acervo do pesquisador
174
Já havíamos detectado, nas atividades do questionário preliminar, que essas
participantes conheciam tal estratégia e dela faziam uso para a resolução de
problemas dessa natureza. Duda e Groove, de fato, utilizaram-se desse
procedimento, sem entender o que seria a variação proporcional e quais relações
envolviam o raciocínio proporcional. Elas nos informaram: “A gente faz as contas, mas
não entendemos como era o aumento proporcional, agora eu compreendi que é uma
relação”.
Foi possível notar, por meio das discussões e das reflexões realizadas em
grupo, que algumas das participantes, ainda nessa atividade, tentaram recorrer ao
procedimento aprendido na escola e disseram que “nesse, ainda estava fazendo
mecanicamente, eu cheguei ao resultado 6, mas não fazia sentido para mim” (Ju).
Elas informaram que chegaram ao resultado, no caso o 6, mas que não fazia sentido
para elas. Nesse momento retomamos as propriedades envolvidas o produto cruzado.
Percebemos, em algumas participantes, como Groove e Duda, uma forte
convergência da aplicação do produto cruzado. Mas, assim como Lamon (2005),
Lesh, Post e Behr (1988) e Post, Behr e Lesh (1995), entendemos que a mera
aplicação da regra de três não garante o raciocínio proporcional.
A fim de que compreendessem que se tratava de covariação entre medidas e
que para isso teria um valor fixo, “o fator de proporcionalidade”, pedimos que
voltassem ao item anterior, verificassem as relações envolvidas e informassem o que
tinham feito no item anterior. As participantes descreveram seus procedimentos e
disseram que, para obter a figura de João ampliada, tiveram que dobrar as dimensões
da figura. Então perguntamos: “de que forma vocês poderiam chegar neste valor?”, e
elas disseram: “Basta, por exemplo, dividir as alturas e teríamos assim o dois, que
seria o quanto aumentou a segunda figura em relação a primeira”.
Neste momento, quisemos saber: “Então, não dá para usar essa ideia na
situação?”. As participantes clicaram em “avançar”, leram novamente o item e
disseram: “Podemos dividir as medidas 4 e 5 por 3”. Assim o fizeram e obtiveram na
calculadora o valor 1,5.
Posteriormente informaram: “Agora a gente multiplica esse valor por 4 da
altura”; realizaram o cálculo e obtiveram o número 6. Perguntamos se elas
compreenderam o que tinham feito e o que seria esse valor um e meio. As futuras
professoras informaram que a figura aumentou em uma figura e meia e por isso
multiplicariam por 4, para obter o valor solicitado, ou seja, 6 da altura ampliada. Com
175
isso, percebemos que, por meio das discussões realizadas, as participantes
entenderam a proposta. Dessa forma, pedimos para que prosseguissem nos demais
itens.
Em seguida Babich e B nos chamaram e afirmaram estar com dificuldades.
Identificamos de imediato a leitura e a interpretação incorreta do item: inicialmente
elas se confundiram e acharam que era para ampliar em 4,5 cm a largura em relação
à primeira figura. As participantes multiplicaram 4 cm da altura da primeira imagem
por 4,5 cm da altura correspondente à imagem que seria ampliada e obtiveram 18 cm.
A fim de que elas refletissem, provocamos: “Vocês têm certeza do valor? Se estão
certas, insiram o valor”. Ao digitarem o valor 18 na tela do computador e clicarem no
botão ok, perceberam que não era o valor correto. Chamamos a atenção para lerem
novamente o problema, e elas notaram que a dimensão a ser ampliada seria o 3 cm
da largura, e não o 4 cm da altura.
Dessa forma, mesmo com nosso auxílio, entenderam que era para multiplicar
por 4,5 cm. Por exemplo, Babich relatou que teria que multiplicar 3 cm por 4,5 cm.
Informamos que deveriam testar tal valor. Ao inserirem o número 13,5, perceberam
que novamente estavam equivocadas. Então explicamos que “a medida da largura
seria ampliada de 3 cm para 4,5 cm e não em 4,5 cm”. Prosseguimos: “Agora vocês
têm a altura figura inicial de João com 4 cm. Quanto será a altura da outra figura a ser
ampliada para manter a proporção?”. As futuras professoras sorriram e relataram:
“Poxa, entendemos errado o problema, na primeira foto temos 3 cm de largura e foi
ampliada para 4,5 cm, a altura então vai de 4 cm para 5,5 cm”. Inseriram o valor e
perceberam novamente que não era o correto.
Notamos que as participantes utilizaram, nesse item, processos aditivos que
ainda se encontravam arraigados nelas, como já referimos. Pensamos, assim como
Fernández e Llinares (2012), que os alunos, ao resolverem problemas, devem
compreender as relações nele envolvidas usar o pensamento correto para cada
situação apresentada.
Novamente chamamos a atenção para as discussões já realizadas envolvendo
o raciocínio proporcional. Ademais, informamos que, se elas aumentassem em 1,5
cada dimensão da figura, não iriam manter a mesma proporcionalidade e pedimos que
se lembrassem da atividade 1 (ampliação de figuras) e do questionário preliminar e
relacionassem com o que haviam feito para ampliar as figuras. Babich e B refletiram
e Babich comentou: “Peraí! Tenho que aumentar a figura uma vez e meia, se a largura
176
foi de 3 cm para 4 cm, a altura deverá ir de 4 cm para 6 cm”. Colocou o resultado na
tela do computador e clicou em ok. Com isso acertou o resultado.
Pedimos para Babich explicar seu raciocínio, e ela disse: “Professor, eu percebi
que a cada centímetro de aumento da largura em relação à altura da primeira figura
equivalia a uma vez e meia da figura ampliada, então eu coloquei 6 cm que equivale
as quatro de um e meio”. A Figura 106 apresenta a reprodução da imagem contendo
as explicações de Babich.
Figura 106: Imagem da tela do item b - resolução Babich
Fonte: Acervo do pesquisador
Após as explicações de Babich, perguntamos se B concordava com Babich, e
ela ratificou a explicação da colega. Verificamos que haviam compreendido a proposta
e solicitamos que prosseguissem na execução dos demais itens.
Em seguida, Margarida e Pejo nos chamaram, e notamos que, assim como a
dupla anterior, usaram a adição. Solicitamos a elas que se lembrassem do que haviam
feito no item c da atividade 1 e na atividade que envolvia as alturas dos senhores baixo
e alto. As participantes falaram: “Aumentamos duas vezes e meia”. Comentamos: “O
que vocês me relataram agora não condiz com o que estavam fazendo, naquela
atividade o valor de aumento era quanto?”. Pejo disse: “Era dois e meio”.
Questionamos: “E agora quanto é?”. Margarida disse: “Não sei” e sorriu. E insistimos:
“Dá para achar, não dá?”. Margarida informou que achava que dava para fazer.
Novamente as alertamos para o fato de que na atividade 1 feita anteriormente
havia um valor de aumento e agora não tinha, mas que era possível encontrar e
perguntamos: “De que forma poderíamos fazer isso?”. Margarida, então, com o auxílio
177
da calculadora do computador, dividiu 4,5 por 3 e obteve o valor 1,5 e disse que era
aquele o número de aumento. Insistimos: “E agora?”. Elas falaram: “É só multiplicar 4
cm por esse 1,5 que teremos o valor da altura”. Em seguida, fizeram o cálculo,
obtiveram o valor 6 cm, lançaram na tela do computador e clicaram em ok e com isso
acertaram o item.
Visando sistematizar as ideias desse item, relatamos o que seria o aumento
proporcional de 1,5 entre as figuras. As participantes falaram uma vez e mais meia
vez, remetendo-se à estratégia “up down” destacada por Lamon (2005). Referindo-
nos ao fator de proporcionalidade, perguntamos se haviam entendido o que significava
aquele valor, e as futuras participantes relataram que sim. Então orientamos que
continuassem a resolução dos demais itens.
A seguir apresentaremos o item “c”.
5.3.3 O item “c” da atividade 2
Neste item “c” as participantes deveriam reduzir a foto de João, e para isso, foi
apresentada imagem com 3 cm de largura por 4 cm de altura; e a figura a ser obtida
possuía apenas a largura de 1,5 cm e requeria o valor da medida da altura para reduzir
a figura, conforme apresentamos a seguir na Figura 107.
Figura 107: Imagem da tela do item c - atividade 2
Fonte: http://rived.mec.gov.br/atividades/matematica/proporcionalidde/AtividadeMat.html
178
Pelo fato de as participantes já terem realizado a atividade 1 envolvendo uma
redução ao meio e a ideia de metade, elas não tiveram dificuldades nesse item.
Entenderam que, se a largura foi reduzida pela metade, a altura também deveria ser;
e inseriram o valor, como podemos reproduzir na Figura 108.
Figura 108: Reprodução de uma resolução do terceiro item - atividade 2
Fonte: http://rived.mec.gov.br/atividades/matematica/proporcionalidde/AtividadeMat.html
As futuras professoras haviam compreendido as relações propostas nesse item
e, assim como nas pesquisas de Spinillo (1992) e nas indicações contidas na BNCC
(BRASIL, 2017), entendemos que em problemas envolvendo dobro, metade, triplo e
terça parte são relevantes as ideias envolvendo proporcionalidade, principalmente nos
anos iniciais do Ensino Fundamental no qual as participantes atuarão.
A seguir apresentamos o item “d”.
5.3.4 O item “d” da atividade 2
Enfim, no item “d” foi apresentada na tela do computador das participantes uma
imagem de João contendo a largura 3 cm e altura 4 cm e outra medida de 10 cm,
equivalente à altura da figura a ser obtida. Foi requerida a elas a inserção de um valor
desconhecido que seria correspondente à largura da figura ampliada, conforme
podemos observar pela Figura 109.
179
Figura 109: Imagem da tela do item d- atividade 2
Fonte: http://rived.mec.gov.br/atividades/matematica/proporcionalidde/AtividadeMat.html
Percebemos que as futuras professoras detectaram que este item era parecido
com o item 2, conforme relato de Tulipa: “Eu percebi que posso resolver esse item
como o que fiz de ampliar 1,5 cm, professor”. Perguntamos às demais se
concordavam com Tulipa, elas acenaram positivamente. Neste momento pedimos que
fizessem o item e posteriormente notamos que, por já terem resolvido uma situação
parecida, elas conseguiram aplicar as mesmas ideias e finalizar a atividade.
5.3.5 A sistematização da atividade 2
Após a realização da atividade 2, sistematizamos com as participantes o que
foi observado na atividade e notamos convergência entre nossos resultados e o de
pesquisas como as de Fernández e Llinares (2012); Lamon (2005); Lesh, Post e Behr
(1988); Oliveira (2009); Post, Behr e Lesh (1995), por exemplo, as quais serão
descritas ao longo da análise feita.
Nossa intenção nesse momento foi verificar quais conceitos haviam sido
compreendidos e quais ainda precisavam ser mais bem trabalhados. Ademais,
pretendíamos identificar o nível de compreensão das futuras professoras acerca das
relações matemáticas envolvidas no raciocínio proporcional.
Discutimos com as participantes como se deu a realização dos itens, e elas
relataram que suas maiores dificuldades foram em ampliar a figura uma vez e meia.
180
E, como já foi relatado, algumas participantes, como Tulipa, Sempre Viva e Pejo, se
confundiram e aumentaram a figura em 1,5 cm. Nesse momento foi possível
evidenciar o reconhecimento por parte dos participantes acerca do equívoco
cometido, uma vez que eles relataram o uso da adição da medida e não haviam
relacionado com a ampliação e, consequentemente com a multiplicação: “Como eu já
disse, eu errei porque eu aumentei 1,5cm e agora vejo que eu deveria aumentar 1,5
vezes, então, em vez de eu acrescentar 1,5cm a cada lado eu deveria aumentar uma
vez e meia, eu teria que multiplicar” (Tulipa) .
Foi possível perceber que o grupo já estava percebendo que precisava atentar
para o tipo de relação envolvida na situação, se se tratava de relações aditivas ou
multiplicativas. No decorrer da formação foi possível retomar que as dificuldades
apresentadas anteriormente e identificadas nos Protocolos de Margarida e de Jú
foram também observadas nos estudos de Fernández e Llinares (2012) e de Oliveira
(2009).
Discutimos com o grupo sobre o fato de as dificuldades das futuras professoras
residirem, sobretudo na dificuldade que elas tinham em associar o raciocínio
proporcional à covariação entre as dimensões das figuras – na invariância do fator de
proporcionalidade e nas relações de multiplicação e divisão. Pudemos identificar que
tais dificuldades foram observadas por Hortência, conforme registro a seguir, na
Figura 110.
Figura 110: Protocolo da participante Hortência
Fonte: Acervo do pesquisador
No decorrer da atividade observamos que as dificuldades encontradas por Jú,
Mandala e Hortência eram semelhantes às observadas nos estudos de Fernández e
Llinares (2012) e Oliveira (2009), sobretudo no tocante às características que
envolvem o raciocínio proporcional. Até aquela etapa da pesquisa, essas participantes
ainda não haviam tinham incorporado os “conhecimentos do conteúdo” (BALL;
THAMES; PHELPS, 2008) essenciais para desenvolver a competência docente.
181
Todavia, consideramos que elas já estavam vivenciando o “processo” de construção
dos conhecimentos do conteúdo durante nossas discussões.
Nesta etapa notamos a necessidade de retomar com as alunas os conceitos
que emergiam no raciocínio proporcional: questionamos as participantes acerca das
temáticas que havíamos discutido nas atividades anteriores. Nossa intenção era que
elas relacionassem os conceitos envolvidos no raciocínio proporcional presentes nas
atividades introdutórias, na atividade 1 e na atividade 2.
Elas informaram que em suas experiências escolares na Educação Básica não
haviam sido bem-sucedidas e não tinham aprendido formas diversificadas para
resolver um problema envolvendo proporção, por isso suas estratégias foram
limitadas.
Duas duplas: Cami e Carla e Orquídea e Margarida relataram que haviam se
lembrado de regra de três, aprendida por elas na escola. Orquídea disse: “a regra de
três! Olha, professor, usei a regra de três, foram dados dois números e estava faltando
o quarto, mas eu não sabia direito onde colocar cada número [referindo-se ao local
onde registraria cada uma das grandezas envolvidas na situação]”.
Cami completou: “Sabia apenas aplicar a regra de três e que não conhecia
outras maneiras de resolver um problema de proporcionalidade”. Outra dupla, Groove
e Duda, também recorreu à aplicação do produto cruzado.
Discutimos com elas as ideias e as propriedades matemáticas envolvidas,
quando as estudantes se utilizavam de tal procedimento, e a necessidade de
identificar as grandezas envolvidas e a relação do procedimento utilizado para a
resolução com a propriedade de igualdade de razões. Ao final, na sistematização,
destacamos que outros autores, como Lamon (2005); Lesh, Post e Behr (1988); Post,
Behr e Lesh (1995), por exemplo, já afirmavam que a mera aplicação da regra de três
não garante o raciocínio proporcional e discutiu ser fundamental analisar as grandezas
envolvidas.
Em seguida, informamos às participantes que teriam que ter bem claros os
conceitos e as aplicações do raciocínio proporcional nos currículos escolares e
conhecer possíveis limitações encontradas por estudantes quando se utilizam de
raciocínio proporcional na resolução de situações que podem ser resolvidas por meio
da utilização desse tipo de raciocínio (BALL; THAMES; PHELPS, 2008). Elas
afirmaram que já tinham percebido isso. A professora Tarsila, por exemplo, informou:
“Você me fez pensar sobre nossa formação, até então, não tínhamos tido aqui no
182
curso de pedagogia disciplinas que nos levassem a pensar sobre as dificuldades e
esquemas de resolução que possivelmente meus alunos teriam, eu até indiquei isso
no questionário”. Analisando os protocolos das respostas dadas pelas participantes
na questão 3 da atividade 2 (APÊNDICE E), notamos que elas realmente haviam
registrado tal preocupação, como comprovam as respostas de Tarsila e Groove nas
Figuras 111 e 112, respectivamente.
Figura 111: Protocolo da participante Tarsila – questão 3 da atividade 2
Fonte: Acervo do pesquisador
Figura 112: Protocolo da participante Groove – questão 3 da atividade 2
Fonte: Acervo do pesquisador
As futuras professoras investigadas, desde o momento em que resolviam a
situação, preocupavam-se com o encaminhamento pedagógico; todavia, elas
consideravam que nem sempre tinham conhecimento desenvolvido para tal. Além
disso, durante a sistematização, as participantes já conseguiam calcular o fator de
proporcionalidade, o que é evidenciado no relato de Margarida: “Peguei o quatro e
meio, dividi por três, e o resultado, que foi um e meio, multipliquei por quatro e cheguei
a seis de altura”. Percebemos que, embora elas tenham calculado e descrito seus
procedimentos com correção, elas ainda não identificavam esse tipo de pensamento.
Entretanto, houve avanços na compreensão dessa temática, uma vez que, nas
atividades anteriores, havíamos identificado que as participantes possuíam
dificuldades no reconhecimento do fator de proporcionalidade; e nesta atividade,
pudemos visualizar, pelos relatos apresentados, indícios de que já o calculavam.
Observamos o avanço da dupla e perguntamos se alguém gostaria de destacar
outra forma de resolução. Como não se manifestaram, destacamos a existência da
183
“estratégia escalar” de resolução e mostramos em que consistia. Além disso,
aproveitamos para discutir a proporcionalidade envolvida nas ampliações e nas
reduções a partir das ideias de dobro, triplo e metade; e, em seguida, associamos o
aumento de 1,5 da figura e o aumento de 2,5 da figura, que seriam, respectivamente,
um aumento de uma figura e meia e duas figuras e meia. Apresentamos no datashow
novamente o quarto item. Perguntamos às participantes sobre como fariam para obter
a figura ampliada. Elas disseram que bastaria multiplicar 3 por 2,5 e chegariam ao
valor 7,5 cm.
Em seguida informamos para as futuras professoras nossa intenção, ao
apresentar esta atividade, bem como a importância dela no Ensino Fundamental, e
propusemos às participantes que verificassem a semelhança entre as duas atividades
– 1 e 2.
Nesse momento, foi possível evidenciar que a maioria das participantes
pareciam reconhecer a semelhança entre as atividades. Tarsila, por exemplo, afirmou:
“As duas atividades envolviam bem a ideia de proporcionalidade quando se trabalha
com ampliação e redução de figuras”. As demais participantes concordaram, mas
Groove avançou a reflexão sobre o ocorrido: “É mesmo, mas no início quando
olhávamos para a fotografia do professor a gente só olhava para a ideia no geral, de
ampliar e deformar ou não”. Nesse momento Tulipa complementou: “Verdade, mas
isso ajudou a gente a pensar nas que precisavam fazer os cálculos matemáticos”.
Nesse momento Orquídea contra-argumentou: “Concordo mais ou menos com
isso, porque acho que ajudou, mas nós tivemos mais dificuldade em entender o que
seria aumentar números quebradinhos vezes [referindo-se aos números racionais na
representação fracionária]”, e Groove complementa: “Houve momentos em que
queríamos acrescentar medida [referindo-se ao fato de pensarem aditivamente para
resolver a situação] e não aumentar tantas vezes”. Ao final do encontro,
sistematizamos as principais ideias envolvidas até aquele momento e parecia
consenso entre as participantes a percepção de que a não compreensão correta do
raciocínio proporcional poderá levá-las a ter dificuldades em ensinar aos seus futuros
alunos.
A seguir apresentamos a atividade com material concreto.
184
5.4 A atividade com material concreto
Mesmo considerando que algumas participantes avançavam na reflexão sobre
a complexidade do trabalho com a temática, percebíamos que alguns conhecimentos
acerca do conteúdo ainda não eram compreendidos em sua plenitude pelas futuras
professoras, mesmo após as atividades e as sistematizações já realizadas. As
participantes identificaram a relevância do assunto e sua importância no currículo
(BALL; THAMES; PHELPS, 2008). No entanto, ainda não estava claro para algumas
das participantes o que era o raciocínio proporcional e quais conceitos e propriedades
o envolviam.
Visando ampliar as discussões sobre a temática, planejamos a vivência da
resolução de uma atividade envolvendo semelhança de figuras com o apoio de
material concreto. Essa atividade foi elaborada com a finalidade de fornecer às
participantes uma nova possibilidade no ensino e na aprendizagem das ideias
relacionadas ao raciocínio proporcional. Já havíamos realizado anteriormente um
diagnóstico (questionário preliminar), uma atividade com papel e lápis (atividade 1),
outra atividade envolvendo o computador (atividade 2). A seguir apresentaremos a
análise de cada item.
5.4.1 O item “a” da atividade com material concreto
O item “a” envolveu a ampliação e a redução de barrinhas de cores diferentes.
Nossa intenção foi consolidar as ideias das atividades anteriores, relacionando,
inicialmente, as concepções de multiplicação ao fator de proporcionalidade (dobro,
triplo, metade e um quarto). Conforme já mencionamos, tais orientações constam na
BNCC (BRASIL, 2017). Na Figura 113 apresentamos o item “a” da atividade.
185
Figura 113: Atividade material concreto – item “a”
Fonte: Acervo do pesquisador
As participantes receberam um protocolo com o item “a” e algumas barrinhas
de duas cores (amarela e vermelha), visando, nos três primeiros itens, à ampliação
em duas vezes, três vezes e duas vezes e meia, respectivamente. Já nos últimos dois
passos desse item a proposta foi a redução em meio e um quarto. A atividade requeria
delas que colassem as barrinhas no protocolo com a quantidade que elas achassem
necessária (APÊNDICE F) e que posteriormente relatassem por escrito como haviam
pensado.
Ao analisar as produções das participantes, notamos que nas duas primeiras
ampliações (duas e três vezes) todas realizaram corretamente. Acreditamos que
tiveram êxito pelo fato de já terem feito atividades envolvendo esses valores, apesar
de aproximadamente 19% das participantes utilizarem adições sucessivas para
justificar suas respostas, como no caso da futura professora Girassol, apresentado na
Figura 114.
Figura 114: Produção de Girassol (ampliação duas e três vezes) – item “a”
Para o aumento de duas vezes mais
Para o aumento de três vezes mais
Fonte: Acervo do pesquisador
186
Conforme já relatamos, as participantes aparentemente compreenderam a
ideia de ampliação envolvendo um número natural no fator de proporcionalidade.
Detectamos que a maioria das futuras professoras, ou seja, aproximadamente 81%,
utilizou o produto para justificar suas conjecturas, como o caso da participante B,
conforme podemos visualizar a seguir, na Figura 115.
Figura 115: Produção de B (ampliação duas e três vezes) – item “a
Fonte: Acervo do pesquisador
Durante o desenvolvimento da proposta, quando solicitamos a ampliação em
2,5 das barrinhas amarela e vermelha, verificamos se as participantes haviam
aplicado o fator de proporcionalidade e se era um número racional. Identificamos que
as futuras professoras já apresentaram anteriormente dificuldades de compreensão
tanto na atividade 1 quanto na atividade 2, quando a proposta envolveu esse valor.
Com as discussões e as reflexões ocorridas no grupo durante as atividades anteriores,
acreditávamos que elas compreenderiam melhor essa questão da ampliação de
figuras, utilizando como fator números racionais (decimais). Tal fato foi confirmado em
nossa análise das resoluções das participantes.
187
Todas as futuras professoras resolveram corretamente a atividade, e
percebemos que aproximadamente 19% delas recorreram à estratégia escalar
(mesma cor) para a resolução da situação. Acreditamos que essa escolha se deu pela
forma com que a atividade foi apresentada (LAMON, 2005; POST; BEHR; LESH,
1995; SILVESTRE; PONTE, 2009), como podemos ver nas produções de Cami e
Duda, respectivamente, nas Figuras 116 e 117.
Figura 116: Produção de Cami (ampliação em 2,5) – item “a”
Fonte: Acervo do pesquisador
Figura 117: Produção de Duda (ampliação em 2,5) – item “a”
Fonte: Acervo do pesquisador
Ao analisar a produção das futuras professoras que usaram esse
procedimento, notamos que elas aplicaram diretamente o produto para chegar aos
valores de 15u para a barrinha amarela e 20u para a barrinha vermelha.
Posteriormente elas realizaram o corte ao meio das barrinhas amarela e vermelha,
respectivamente, para colar as barrinhas no protocolo.
188
Já as outras participantes (81%) utilizaram a estratégia “up down”, ou seja,
pegaram duas barrinhas de cada uma das cores (amarelo e vermelho), depois
cortaram mais uma barrinha amarela e vermelha e em seguida fizeram a colagem e
reproduziram o resultado, como no caso das participantes Carla e Groove,
apresentado nas Figuras 118 e 119.
Figura 118: Produção de Carla (ampliação em 2,5) – item “a”
Fonte: Acervo do pesquisador
Figura 119: Produção de Groove (ampliação em 2,5) – item “a”
Fonte: Acervo do pesquisador
As futuras professoras que optaram por essa resolução, como Carla e Groove,
usaram conceitos multiplicativos (dobro) juntamente com os de soma (mais meia
barrinha) para fazer suas representações.
Já os dois itens seguintes envolviam a redução de figuras semelhantes, e as
participantes deveriam reduzir as figuras em meio e um quarto. Ao analisarmos suas
respostas, detectamos que a maioria resolveu corretamente o item. Diferentemente
189
do ocorrido nas sessões anteriores, quando elas efetuaram as reduções também
resolveram com correção. Tal fato pode ser observado na produção de Tarsila,
exposta na Figura 120.
Figura 120: Produção de Tarsila (redução pela metade) – item “a”
Fonte: Acervo do pesquisador
Ela optou, assim como as demais professoras, por cortar as barrinhas ao meio
para representar as reduções e registrou a divisão por dois para justificar suas
respostas.
Já no item que requeria a redução de um quarto nas barrinhas (amarela e
vermelha), a maior parte das participantes não teve dificuldades na resolução.
Detectamos que quase todas elas – 86,67% do total – acertaram o item, como foi o
caso de Cami, apresentado na Figura 121.
Figura 121: Produção de Cami (redução um quarto) – item “a”
Fonte: Acervo do pesquisador
Cami, assim como suas colegas, teve êxito na situação ao dividir as barrinhas
em quatro para representar um quarto das barrinhas. No entanto, as participantes
190
Binna e Tulipa mostraram que ainda não compreendiam a redução em um quarto da
figura, conforme apresentado nas Figuras 122 e 123.
Figura 122: Produção de Binna (redução um quarto) – item “a”
Fonte: Acervo do pesquisador
Figura 123: Produção de Tulipa (redução um quarto) – item “a”
Fonte: Acervo do pesquisador
Notamos as dificuldades apresentadas pelas participantes e procuramos
intervir, dialogando sobre o significado do conceito de fração e as ideias envolvidas
no presente item. Solicitamos, em seguida, que refletissem sobre o que havia sido
discutido anteriormente e que pegassem as barrinhas para representar um quarto.
Perguntou: “O que significa um quarto?”. Em seguida, ao notar que as participantes
ainda estavam em dúvida, sugerimos que se lembrassem do item “d” da atividade 1 –
o que haviam feito com a casinha. As futuras professoras lembraram que, nas
discussões posteriores à execução das atividades, foi apontado que se tratava de
diminuir a metade da metade.
191
Nesse momento orientamos que pegassem as barrinhas e fizessem o mesmo.
Binna pegou as barrinhas e as dividiu ao meio. Perguntamos: “O que representa o que
você fez?”. Binna e Tulipa: “Dividimos as barrinhas ao meio”. Novamente
questionamos: “E agora o que podem fazer?”. Binna respondeu: “Dividir de novo ao
meio”. E assim o fez. As participantes então perceberam os tamanhos das barrinhas
e reproduziram as respostas.
Nesse contexto, percebemos durante as seções que essas duas participantes
ainda apresentavam dificuldades. No entanto, Tulipa evoluiu na compreensão da
temática, apesar da confusão no momento inicial, quando registrava o ocorrido nas
figuras. Já Binna parecia encontrar mais dificuldades na compreensão do raciocínio
proporcional, especialmente quando envolvia números racionais nas representações
decimal e fracionária. Procuramos, dessa forma, tanto durante a proposição das
atividades como nas sistematizações, minimizar tal fato, esclarecendo as possíveis
dúvidas já identificadas anteriormente.
Avaliamos que uma possível causa poderia ser o fato de a participante ainda
ter limitações nos conhecimentos a respeito dos números racionais. Notamos que
elas, na representação de um quarto de um inteiro, usaram a referencial metade,
assim como apontado no estudo de Spinillo (1992). Em nossa pesquisa, os resultados
para esse item vão ao encontro dos resultados encontrados por essa pesquisa, pois
tais ideias contribuíram de forma eficaz para que elas pudessem compreender como
fazer um quarto da figura.
A seguir apresentamos o item “b”.
5.4.2 O item “b” da atividade com material concreto
No item “b” propusemos uma situação de valor omisso que envolvia a
ampliação de figuras semelhantes e requeríamos que as participantes apresentassem
para a barrinha desconhecida uma figura na cor preta no valor de 15u e registrassem
como haviam pensado. A seguir, na Figura 124, apresentamos o item “b” da atividade
com o uso do material concreto.
192
Figura 124: Atividade material concreto – item “b”
Fonte: Acervo do pesquisador
Ao analisarmos os protocolos das participantes, notamos que quase a maioria
delas – cerca de 92% - utilizou a “estratégia funcional”. Elas optaram por determinar
o fator de proporcionalidade por meio da divisão entre as barrinhas preta 10u e laranja
2u. Ao discutir o ocorrido, Orquídea relatou: “Tenho uma laranja que vale dois, para
chegar na preta de dez posso fazer, dois, quatro, seis oito, dez”. Ela fez com os dedos
a multiplicação, para chegar a dez. Orquídea prosseguiu e disse: “Agora faço o mesmo
com a laranja de três, três, seis, nove, doze e quinze, então ela vai valer quinze, é
isso?”. Depois da confirmação por parte do pesquisador, a participante Orquídea
juntamente com Mandala colaram suas barrinhas, conforme apresentamos na
imagem da Figura 125.
193
Figura 125: Produção de Mandala – item “b”
Fonte: Acervo do pesquisador
Além disso, identificamos, pelos relatos, que algumas alunas usaram a relação
envolvendo a ideia do dobro entre as barrinhas laranja e preta. Por exemplo, Ana
relatou: “Eu pensei assim, tenho uma laranja de dois para uma preta de dez, se for
pensar na proporção, eu teria uma laranja de quatro para uma preta de vinte”. E
prosseguiu, dizendo: “como tenho uma laranja de três que está entre dois e quatro,
terei que ter uma preta de quinze, que está entre dez e vinte”.
Percebemos pelas produções e pelos relatos que as participantes identificaram
o fator de proporcionalidade (cinco) e usaram a estratégia funcional entre barrinhas
(laranja e preta), ou seja, elas conseguiram compreender e realizar esse item da
atividade.
As outras futuras professoras optaram pela resolução com a estratégia escalar.
Elas utilizaram as relações entre barrinhas de mesma cor (laranja). A seguir, a Figura
126 traz a produção de B.
Figura 126: Produção de B – item “b”
Fonte: Acervo do pesquisador
194
Verificamos que elas dividiram 3u da barrinha maior por 2u da barrinha menor
e chegaram ao fator de proporcionalidade 1,5 e, em seguida, o multiplicaram por 10,
encontraram o valor correspondente à quarta barrinha preta no valor 15u e colaram
as barrinhas correspondentes ao valor registrado. A seguir apresentamos o item “c”
da atividade com material concreto.
5.4.3 O item “c” da atividade com material concreto
No item “c” apresentamos um problema de valor omisso que requeria das
futuras professoras a obtenção da segunda barrinha desconhecida de cor azul no
valor 12u. A seguir apresentamos o item “c”.
Figura 127: Atividade material concreto – item “c”
Fonte: Acervo do pesquisador
Verificamos que a maioria – 75% das participantes – resolveu corretamente
este item e para isso optou pela estratégia escalar: elas dividiram o valor da barrinha
azul (8u) pelo valor da outra barrinha azul (4u). Por exemplo, Angel relatou: “barrinha
azul menor é um quarto da barrinha azul maior, para saber a proporcionalidade
multiplico a barrinha verde (3u) por 4 e chego a 12”. Solicitamos à aluna colar sua
barrinha. O mesmo ocorreu com as 75% das futuras professoras que optaram por tal
estratégia. Nas Figuras 128 e 129, as produções de Angel e de Cami,
respectivamente, ilustraram tais ideias.
195
Figura 128: Produção de Angel – item “c”
Fonte: Acervo do pesquisador
Figura 129: Produção de Cami – item “c”
Fonte: Acervo do pesquisador
Tanto Cami e Angel como as demais participantes utilizaram procedimentos
parecidos para resolver este item. No entanto, pelas produções, poderíamos
conjecturar que elas se apropriaram de processos aditivos para representá-lo. Mas,
ao solicitar que relatassem como fizeram, Angel e Cami verbalmente explicaram suas
formas de resolução. Cami disse: “Nós pegamos a barrinha azul maior e dividimos
pela menor, com isso encontramos o número 4. Esse número será o aumento da
verde, então pegamos a verde de 3 e multiplicamos por 4 e assim chegamos a 12”.
Angel completou: “Eu multipliquei o valor da barra azul que vale 2 por 4 e cheguei à
barra azul maior 8, então eu fiz o mesmo com o 3, multipliquei ele por 4 e achei 12
como resposta”.
As participantes restantes fizeram confusão entre as cores e os valores das
barrinhas, elas pensaram na igualdade entre os tamanhos das barrinhas. Por
exemplo, Sempre Viva relatou que as barrinhas deveriam ter tamanhos iguais.
196
Alertamos a participante acerca do que era proporcionalidade, relacionamos com as
atividades anteriores, como a atividade introdutória, e pedimos para ela repensasse
sobre sua produção. A participante verificou que não estava conjecturando
corretamente; no entanto, ao reproduzir, apresentou a Figura 130.
Figura 130: Produção de Sempre Viva – item “c”
Fonte: Acervo do pesquisador
Percebemos que tanto Sempre Viva quanto as outras futuras professoras que
acharam que o fator de proporcionalidade fosse o número dois apenas realizaram os
cálculos de forma mecânica (OLIVEIRA, 2009) e não se ativeram ao raciocínio
proporcional para resolver a situação. As futuras professoras não identificaram a
proporção envolvida, bem como as relações entre os tamanhos das figuras e,
portanto, durante a resolução não o fizeram com correção, mesmo após a nossa
intervenção.
A seguir apresentaremos o item “d”.
5.4.4 O item “d” da atividade material concreto
E, por fim, o item, “d” também solicitava a obtenção de um valor omisso, a
terceira barrinha de cor rosa no valor de 9u, conforme apresentamos na Figura 131.
197
Figura 131: Atividade material concreto – item “d”
Fonte: Acervo do pesquisador
Esse item “d” possuía seus valores idênticos aos da questão 3 do questionário
preliminar (APÊNDICE C). Nossa intenção, ao propor esse item, foi verificar se as
participantes em outro contexto compreenderiam as relações proporcionais entre os
valores e quais estratégias apresentariam.
Ao analisar as produções das futuras professoras, pudemos identificar
evoluções, pois todas as participantes responderam corretamente a tarefa
(conhecimento comum do conteúdo).
Notamos que aproximadamente 75% das participantes optaram pela estratégia
funcional, como foram os casos de Girassol e de Mandala, apresentados nas duas
próximas imagens: as Figuras 132 e 133, respectivamente.
Figura 132: Produção de Girassol – item “d”
Fonte: Acervo do pesquisador
198
Figura 133: Produção de Mandala – item “d”
Fonte: Acervo do pesquisador
Detectamos que tanto Girassol quanto Mandala e as demais que escolheram
esse procedimento relacionaram as barrinhas (marrom 6u e rosa 4u). Elas dividiram
6u por 4u e perceberam que o fator de proporcionalidade entre esses valores era de
1,5. Com esse valor obtido, as futuras professoras o multiplicaram pelo valor da
barrinha maior de cor rosa no valor de 6u e chegaram ao valor 9u, equivalente à
barrinha desconhecida marrom.
Já as alunas dos 22,22% restantes, que também usaram essa estratégia,
obtiveram o fator de proporcionalidade 1,5 pelo método “up down”. Por exemplo: Pejo
relatou: “Eu peguei a barrinha marrom de tamanho 6u, mais meia barrinha marrom de
tamanho 3u e concluí que daria 9u, correspondente à barrinha desconhecida de cor
marrom”, como podemos visualizar na Figura 134.
Figura 134: Produção de Pejo – item “d”
Fonte: Acervo do pesquisador
199
Já 25% das participantes analisaram as relações entre barrinhas de mesma cor
(rosa 4u e rosa 6u, marrom 6u e marrom desconhecido), utilizando a estratégia
escalar, como fizeram Cami e Sempre Viva, que apresentamos, respectivamente, nas
Figuras 135 e 136.
Figura 135: Produção de Cami – item “d”
Fonte: Acervo do pesquisador
Figura 136: Produção de Sempre Viva – item “d”
Fonte: Acervo do pesquisador
Cami primeiro recorreu à ideia de dobrar o tamanho da barrinha menor de cor
rosa, para encontrar o fator de proporcionalidade. No momento em que realizou a
atividade, a participante notou que não daria certo, pois daria 8u, e não 6u, na barrinha
rosa maior. A futura professora então resolveu multiplicar 4u (barrinha rosa menor)
por 1,5 e chegou a 6u (barrinha rosa maior). Cami percebeu que havia encontrado o
fator de proporcionalidade e, em seguida, fez o mesmo com as barrinhas de cor
200
marrom, ou seja, para encontrar a barrinha desconhecida de cor marrom no valor de
9u, ela multiplicou 6u (barrinha marrom menor) pelo fator escalar 1,5. Já Sempre Viva
também aplicou a estratégia escalar e, para isso, utilizou-se de traços para fazer seu
registro, como visto na Figura 136.
Nesse item “d” Sempre Viva avançou no raciocínio proporcional, pois no item
anterior “c” ela apresentou dificuldades e, mesmo depois de discutir no grupo, ela não
havia realizado a tarefa corretamente. No entanto, nesse item ela compreendeu a
proposta e a realizou corretamente. A seguir apresentamos a sistematização realizada
com as futuras professoras ao final da seção.
5.4.5 A sistematização da atividade com material concreto
Ao discutirmos e sistematizarmos as respostas dadas e essa atividade
percebemos que a maioria das alunas aparentava uma evolução na aprendizagem da
temática, bem como em relação a sua formação como docente. Tais evidências
constatamos ao verificar suas respostas e também durante as discussões em grupo.
Ao expormos as respostas, procuramos instigá-las a reproduzir como pensaram e
solicitamos que ampliassem sua reflexão sobre o ensino da temática. Por exemplo,
Tarsila, ao realizar as ampliações, relatou que foi importante essa atividade, pois na
atividade 1 (realizada anteriormente) ela havia utilizado a ampliação de forma
incorreta. A participante relatou:
Na ampliação 2,5 eu não havia me ligado que era para usar a imagem original como referência. Eu peguei 4 quadradinhos e coloquei mais quatro e mais quatro 8 e metade de quatro da figura com quatro ampliada. Eu não levei em consideração a figura inicial. Nesse que você colocou aumentar 3 vezes é que eu me toquei.
Neste momento alertamos as participantes: “Vocês percebem que na atuação
profissional é importante detectarem quais erros são comuns de os alunos
cometerem”.
Em seguida completamos: “Isso faz parte da competência profissional que
vocês precisam adquirir para desenvolverem um bom trabalho em sala de aula. Não
só em situações de proporcionalidade, mas com as mais variadas situações que irão
deparam em aula”.
Ademais, detectamos que as futuras professoras refletiram acerca da
atividade. Outra evidência pode ser vista no relato de Ana: “Concordo com o que o
201
senhor disse, sobre resultados dessas pesquisas [referindo-se aos estudos de
Llinares e de Ball, Thames e Phelps] é importante conhecermos [...] como os alunos
resolvem os problemas de matemática”. Carla complementou, dizendo: “na aula pode
aparecer alunos que resolvam problemas de maneira diferente e, como vimos nesse
curso, devemos estar preparadas para enfrentar essas situações”.
Groove concordou e disse: “Isso mesmo, com isso teremos mais elementos
para auxiliar as crianças”. Ana novamente tomou a palavra: “Eu demorava muito mais
tempo para pensar e resolver um problema de multiplicação, pois eu tentava sempre
somar os números, agora eu entendi de fato o que é multiplicar e para que serve”.
Cami em seguida relatou: “Geralmente percebo que os alunos iniciam a aprendizagem
pelo processo aditivo, além disso, também vi nas atividades da escola do meu filho e
que ele resolve sempre por soma”. Ressaltamos que isso é um processo, e as
crianças podem apoiar-se inicialmente na adição, mas é importante que os
professores favoreçam vivências que permitam a elas experimentar outras estratégias
mais econômicas. Groove, em seguida, relatou: “No estágio notei que os alunos
resolviam problemas envolvendo proporcionalidade exclusivamente por soma, poxa
eu poderia ter visto isso antes [referindo-se ao curso de formação]”.
Ana mais uma vez tomou a palavra e disse: “Percebi que em a atividade que
envolve proporcionalidade envolve multiplicação e divisão e as dimensões aumentam
ou diminuem na mesma proporção”. Pejo completou o relato:
Eu percebi que não é a ideia de soma, eu fazia soma e não batia o resultado porque eu não compreendia que eu preciso aumentar tantas ‘vezes’ mais e não aumentar tal medida a mais. Agora entendi que posso usar as ideias de metade e dobro de forma proporcional e assim comecei a aprofundar para os demais itens.
Perguntamos qual foi o processo de construção que as participantes utilizaram,
se foi pela utilização de cores iguais ou cores diferentes. Em seguida, fizemos
referência aos termos matemáticos, chamando a atenção para a percepção das
diferentes estratégias utilizadas: escalar e funcional e/ou outras. As participantes
chegaram à conclusão de que a maioria optou pela estratégia escalar quando se
utilizaram de cores iguais; outras alunas relataram que usaram o processo mental de
cores diferentes e estabeleceram as relações proporcionais para descobrir os valores
solicitados. Ana mostra que já estava relacionando as estratégias: “Eu fiz pelo escalar,
mas agora vejo que era possível pensar de outras formas, como pela estratégia
funcional”. As participantes B, Pejo e Ana mexeram na figura e, posteriormente,
202
testaram os valores e, pensaram acerca desses valores. Hortência destacou que a
importância não estava nas cores, mas nas relações proporcionais. A participante
relatou na sistematização que as cores eram apenas de um recurso e que nas
atividades 1 e 2 não havia cores para relacionarem. Para tanto, ela percebeu que tinha
que se ater aos números e às relações sobre eles.
Ao verificarmos os relatos apresentados na sistematização, identificamos a
predominância do uso de determinadas estratégias em detrimento de outras.
Detectamos que tais escolhas se deram pela maneira pela qual decidimos apresentar
as atividades e pelos números apresentados (LAMON, 2005; POST; BEHR; LESH,
1995; SILVESTRE; PONTE, 2009).
Ademais, nas discussões percebemos evoluções apresentadas tanto no
conhecimento do conteúdo como no conteúdo dos alunos e do currículo (BALL;
THAMES; PHEPS, 2008). Uma evidência pode ser vista no relato de Carla: “Os
problemas eram diferentes e eu teria que pensar cada um de forma diferente. As
barras que eu teria que encontrar em cada problema estava em um local diferente.
Para resolver esses problemas tive que pensar e usar estratégias diferentes”.
Percebemos a ampliação dos conhecimentos das participantes em relação às
seções anteriores, pois apresentaram de forma mais consciente suas argumentações,
como podemos ver quando Cami relatou: ”Temos que ter bem claro os objetivos que
vamos ao ensinar aos alunos seja ele matemática ou em outras matérias, devemos
estar preparadas para as mais variadas situações”. Identificamos indícios de avanços
na maioria das participantes, apesar de Tulipa e Binna apresentarem limitações.
Relatamos às participantes a importância de elas detectarem potencialidades
e limitações relativas à compreensão de seus alunos, para ter mais elementos para
agir de forma eficiente. Destacamos para as futuras professoras que, num curso de
formação, é importante que saibam e estudem em outros trabalhos acerca do assunto
que estarão ensinando. Destacamos para elas que pesquisas como as de Gitirana et
al. (2004); Lamon (2005); Post, Behr e Lesh (1995); e Silvestre e Ponte (2009) relatam
que a opção pelos números, a forma de apresentação dos problemas e o contexto
influenciam na escolha da forma de resolução de uma situação. E aproveitamos para
retomar as situações discutidas durante as sessões e mostrar suas características.
Ao apresentar a atividade envolvendo material concreto, pelas evidências
apontadas, acreditamos ter feito uma boa escolha, pois teríamos de propor uma
atividade de valor omisso, visando minimizar as dificuldades apresentadas nas seções
203
anteriores e propor reflexões acerca do ensino e da aprendizagem do raciocínio
proporcional. Portanto, concluímos que as situações de ensino e de aprendizagem
apresentadas, aliadas às discussões promovidas na sistematização, provocaram
reflexões e avanços na base de conhecimentos para o ensino das futuras professoras.
A seguir veremos a atividade 4.
5.5 A atividade 4
A atividade 4 (APÊNDICE G) foi proposta por ser muito utilizada no cotidiano
das participantes, conforme nossa discussão na primeira sessão de formação.
Expusemos ao grupo o seguinte enunciado: “Uma receita de muffins de morango para
16 pessoas é a seguinte: 8 xícaras de farinha, 2 xícaras de morangos, 8 colheres de
manteiga, 1 xícara de açúcar e ½ xícara de manteiga”.
A partir da receita, as participantes teriam que, na primeira situação, alterar os
ingredientes da receita para cozinhar para 32 e 8 pessoas, respectivamente. Ao
analisarmos as produções das participantes, notamos que todas acertaram a primeira
situação. Apresentamos como exemplos os protocolos das participantes Tulipa e
Angel nas Figuras 137 e 138, respectivamente.
Figura 137: Resolução de Tulipa – Primeira situação da atividade 4
Fonte: Acervo do pesquisador
204
Figura 138: Resolução de Angel – Primeira situação da atividade 4
Fonte: Acervo do pesquisador
Para a segunda situação proposta, detectamos que a maioria delas, 92,86% do
total, resolveu corretamente a atividade; elas compreenderam que a receita fornecida
era para 16 pessoas e que a quantidade requerida era para 8.
Esperávamos que elas já tivessem avançado e provavelmente conseguissem
resolver a atividade, porém talvez apresentassem dificuldades na quantidade (½
xícara de manteiga). Isso de fato aconteceu: a maioria resolveu corretamente e não
apresentou dificuldades. No entanto, uma das participantes (Nilma) solicitou auxílio
acerca do que significava reduzir o último ingrediente ao meio. Retomamos a
atividade, promovendo discussões dos itens anteriores que envolviam redução de
medidas. A participante foi instigada a fazer a mesma redução com as barrinhas.
Nilma pegou uma barrinha e a dividiu ao meio para representar ½ e novamente a
dividiu para representar ¼. Perguntamos: “O que você fez?”. Nilma relatou: “Eu usei
a metade da metade”, e pedimos para ela lhe mostrar qual seria o pedaço referido por
ela. A participante, com a figura na mão, mostrou, e novamente lançamos a ela uma
pergunta: “Quantos pedaços você pegou?”, e ela afirmou: “Um”. Quisemos saber: “Um
de quanto?”. E Nilma: “Um de quatro”. Questionamos mais: “Por quê?”, e ela afirmou:
“Metade da metade – um de quatro por se tratar de uma fração”. E representou
corretamente o valor.
Percorremos a sala para saber se havia alguma dúvida. Como não houve
manifestação, pedimos para seguir com as atividades. A Figura 139 revela a produção
da participante Tulipa.
205
Figura 139: Resolução de Tulipa - Segunda situação da atividade 4
Fonte: Acervo do pesquisador
A participante se utilizou de figuras para pensar em sua resposta. Tulipa
recorreu ao desenho e, provavelmente, deve ter usado tal estratégia, por já termos
discutido a respeito em sistematizações anteriores. Primeiro a futura professora usou
a representação equivalente a meio (1/2) e, a partir dessa representação, chegou a
um quarto (1/4), para representar a quantidade de manteiga a ser inserida na receita
para 8 pessoas. Apenas 7,14% não tiveram êxito na resolução dessa segunda
situação. Foi o caso da participante B, apresentado na Figura 140.
Figura 140: Resolução de B - Segunda situação da atividade 4
Fonte: Acervo do pesquisador
Em contato posterior à entrega dos protocolos com a futura professora B, ela
nos relatou que teve dificuldades para reconhecer quanto seria a metade da medida
de ½ colher de manteiga e afirmou: “Eu sabia que seria a metade de meio, mas não
sabia que número era esse”. Além disso, percebemos incorreção na redução de
206
colheres de manteiga, mas a participante relatou que escreveu errado o número 8,
que era para ser 4, mas para a fração [referindo-se a ½] realmente ela teve
dificuldades.
As produções das futuras professoras nos levaram a conjecturar que a maioria
delas avançou na compreensão da representação fracionária e das ideias que
envolvem o raciocínio proporcional incluindo a ideia de dobro e metade.
A seguir expomos a sistematização dessa atividade realizada na formação.
5.5.1 A sistematização da atividade 4
Ao realizarmos a sistematização da atividade 4, notamos que as futuras
professoras demonstraram compreensão, apesar de reconhecerem que o maior grau
de dificuldade estava nos ingredientes que foram representados por números
racionais na forma de fração.
Durante as discussões e as reflexões no momento da plenária, denominada
aqui sistematização procuramos dar um caráter mais analítico à apresentação dos
resultados. Buscamos refletir acerca das concepções sobre o conteúdo, o ensino e o
currículo e procuramos, ao mesmo tempo, tratar do ensino e da aprendizagem do
raciocínio proporcional. Isso nos ajudou a propor alguns exemplos complementares,
visando sistematizar a compreensão das alunas acerca da multiplicação e da divisão
envolvendo frações e as convidamos para que participassem. Assim como na
atividade 1, as futuras professoras pareciam compreender os aspectos relacionados
aos números racionais presentes na situação, porém, ao expormos a atividade 5,
novamente percebemos dúvidas.
A seguir apresentaremos a atividade 5.
5.6 A atividade 5
A atividade 5 (APÊNDICE H) tinha o mesmo enunciado da atividade 4, no
entanto, nesta situação a quantidade requerida agora era para 12 pessoas. Ela
envolvia a mobilização de estratégias já utilizadas anteriormente, no entanto seria
necessário expandir as ideias ligadas ao raciocínio proporcional e ao tratamento com
os números racionais, visto que algumas participantes ainda focavam suas estratégias
somente no uso do dobro e da metade.
207
As futuras professoras, ao realizar a atividade, refletiram acerca dos valores a
serem inseridos, ou seja, sobre o quanto de cada ingrediente teriam que colocar. Carla
disse: “Se eu dividir 16 em quatro partes de 4, depois junto 3 grupos de 4 dará 12,
portanto, a receita será ¾ da receita inicial”. E complementou, apresentando a ideia
de operador: “Estou dividindo por 4 e multiplicando por 3”.
Conferimos se todas haviam entendido e se concordavam com Carla, elas
afirmaram positivamente e disseram: “Vamos fazer ¾ da receita”. Neste momento
orientamos para que continuassem a atividade. As futuras professoras realizaram
ricas discussões acerca de cada valor dos ingredientes para a confecção da receita
requerida na atividade. Com base no fator de proporcionalidade obtido pelas
participantes nas discussões, concluímos que, ao realizarem esta atividade,
aproximadamente 28,57% optaram por utilizar a estratégia da taxa unitária, ou seja,
conforme já mencionamos, elas dividiram cada ingrediente por 16 pessoas e, em
seguida, multiplicaram o resultado por 12 pessoas.
Embora tivessem obtido os resultados referentes aos ingredientes, nenhuma
delas conseguiu representar corretamente a medida correspondente a 1/2 xícara de
manteiga. Tal fato se deu pela dificuldade recorrente no trabalho com os números
racionais na representação fracionária. Tiveram dificuldades ao dividir 16 por ½ e
representaram de forma incorreta 1/8 como resultado para a xícara de manteiga. A
seguir apresentamos, nas Figuras 141 e 142, as produções de Orquídea e Margarida,
respectivamente, que indicam tal escolha.
Figura 141: Resolução de Orquídea - atividade 5
Fonte: Acervo do pesquisador
208
Figura 142: Resolução de Margarida - atividade 5
Fonte: Acervo do pesquisador
Foi possível notar que ambas realizaram a atividade e inseriram 1/8 como
resposta. As demais futuras professoras optaram pela estratégia escalar, ou seja,
estabeleceram a relação entre 16 e 12 pessoas. Porém apenas 30% destas
conseguiram associar corretamente o último ingrediente (1/2 xícara de manteiga), e
as restantes também inseriram 1/8 como resposta para esse ingrediente.
O que nos chamou a atenção nesta atividade foi a desenvoltura das futuras
professoras na forma de representação que utilizaram para resolver a atividade.
Detectamos que, das que optaram pela estratégia escalar, 60% usaram o fator de
proporcionalidade ¾ para obter a proporção requerida, como apresentamos na Figura
143, seguida pelo protocolo da participante Carla.
Figura 143: Resolução de Carla - atividade 5
Fonte: Acervo do pesquisador
209
Ademais, 20% dentre elas, Cami e Duda, que também optaram pela estratégia
escalar, fizeram os cálculos utilizando outras representações, como, por exemplo, a
representação 75% (fator de proporcionalidade) para cada ingrediente, em vez de
usar ¾. Todavia, não podemos dizer que essas participantes conheciam amplamente
os pressupostos e as relações envolvidas nas diferentes representações dos números
racionais, uma vez que elas se equivocaram ao calcular a medida do último
ingrediente (1/2 xícara de manteiga). Foi o caso de Tulipa, que usou tal registro, como
aponta seu protocolo na Figura 144.
Figura 144: Resolução de Tulipa – atividade 5
Fonte: Acervo do pesquisador
Tulipa chamou-nos disse: “A receita será 75% da receita original, mas ainda
preciso entender melhor a ideia de fração”. Nesse momento, ela pegou uma folha e
tentou representar, conforme demonstra a Figura 145.
Figura 145: Produção de Tulipa – segunda situação da atividade 5
Fonte: Acervo do pesquisador
210
A participante desenhou um círculo e disse: “A metade é 50%”, e pintou a
metade do lado esquerdo da figura. Continuou: “Como tenho que ter 75%, ainda falta
25% que é a metade da metade”. Ela então pintou uma parte do lado direito e disse:
“3/4”. As demais professoras que recorreram a tal estratégia usaram o complemento
do fator 3/4 para resolver a atividade, ou seja, dividiram o valor de cada ingrediente
por ¼. Com isso, encontraram o complemento de cada um, em seguida subtraíram do
valor do ingrediente e chegaram ao resultado, como apresentado pelas participantes
Cami e Pejo nas Figuras 146 e 147, respectivamente.
Figura 146: Resolução de Cami – atividade 5
Fonte: Acervo do pesquisador
Figura 147: Resolução de Pejo – atividade 5
Fonte: Acervo do pesquisador
211
Com a proposição dessa atividade, notamos que as participantes escolheram
formas diferentes de resolver a questão, e para nós representou um ganho, pois, ao
usarmos o fator de proporcionalidade como um número não natural, nós as instigamos
a desenvolver formas diferentes para a temática (LAMON, 2005, p. 100). A seguir
exporemos a sistematização.
5.6.1 A sistematização da atividade 5
Na sistematização da atividade 5, apesar das dificuldades no último
ingrediente, houve ampliação nas formas de pensamento com relação ao raciocínio
proporcional (LAMON, 2005, p. 100). As evidências foram notadas já nas discussões
iniciais promovidas pelas participantes, ao tentar encontrar o quanto seria necessário
para fazer a receita.
Diferentemente dos resultados apresentados nos estudos de Oliveira (2009),
em nossa pesquisa elas conseguiram identificar os fatores de proporcionalidade e
apresentaram representações diferentes (frações e porcentagens). Dessa forma,
pudemos detectar avanços nas participantes quanto ao raciocínio proporcional, e
mesmo aquelas que apresentavam maiores dificuldades conseguiram compreender e
resolver a questão.
Ademais, nessas últimas atividades envolvendo receitas culinárias as futuras
professoras já não mais se recorriam ao pensamento aditivo para solucionar as
situações. E também se utilizaram estratégias corretas para chegar à proporção
requerida, mesmo com as dificuldades apresentadas no trabalho com frações no
último ingrediente. Elas relataram que tal atividade fazia parte da vida delas e,
portanto, acharam mais fácil de compreendê-la.
Procuramos na sistematização apresentar as formas pelas quais as
participantes pensaram e que escolheram para resolver a atividade “conhecimentos e
competências requeridas do futuro professor” (BALL; THAMES; PHELPS, 2008;
FERNANDEZ; LLINARES, 2012; LLINARES, 2015a; LLINARES, 2015b).
Expusemos às futuras professoras os resultados de acertos delas na presente
atividade e pedimos para cada dupla explicar para as colegas como fez. Cada
estudante expôs sua resolução e, ao final, completamos a explicação.
Posteriormente realizamos explicações na lousa acerca do ensino de frações e
seus significados, demos alguns exemplos com o uso das barrinhas e pedimos que
212
informassem os resultados e as respectivas formas de pensamento que as levaram
às conjecturas feitas. Tivemos boa participação das futuras professoras na
sistematização e percebemos os avanços já relatados.
Além disso, discutimos com elas acerca de nossa escolha dos valores para
aumentar os ingredientes, relatamos que havia resultados de pesquisas que tratam
da mesma temática e que propunham atividades envolvendo receitas culinárias.
Também conversamos sobre resultados de estudos (LAMON, 2005; SPINILLO, 1992)
que indicam a inserção da temática com o uso das ideias de dobro e metade, e
apresentamos resultados (FERNÁNDEZ; LLINARES, 2012; OLIVEIRA, 2009) que
apontam ser fundamental expandir o fator de proporcionalidade para um número não
natural.
A finalidade dessa sistematização foi ampliar a visão das participantes acerca
de proporcionalidade e o desenvolvimento do raciocínio proporcional. A seguir
apresentaremos a atividade 6.
5.7 A atividade 6
A atividade 6 traz o seguinte problema de valor omisso: “Jim tem que imprimir
o jornal da escola, mas ele só pode fazê-lo no tempo do intervalo. Ele leva 15 minutos
para imprimir 12 jornais. Quantos jornais ele pode imprimir durante os 35 minutos de
intervalo?” (APÊNDICE I).
Assim como nas duas atividades anteriores, as participantes iniciaram a
discussão em dupla sobre a atividade. Detectamos avanços tanto nos relatos
promovidos em sala quanto ao analisar os protocolos, uma vez que todas as futuras
professoras presentes, 100% delas, obtiveram como reposta 28 jornais.
Acerca desta tarefa, é importante ressaltar, não foi necessária nossa
intervenção para fornecer informações. Buscamos pela sala indícios do olhar
profissional (LLINARES, 2015a; LLINARES, 2015b) das participantes e dos conteúdos
apontados por Ball, Thames e Phelps (2008). Identificamos nas produções o uso de
diferentes estratégias (regra de três, funcional, escalar e taxa unitária) de resolução
das futuras professoras. Ademais, algumas preocupavam-se em tentar usar duas
estratégias (na atividade não foi solicitado que o fizessem).
Nos protocolos identificamos que aproximadamente 35,71% das participantes
realizaram a atividade de duas formas diferentes e, dessas, 40% utilizaram as
213
estratégias: taxa unitária e regra de três. Procuramos questionar o motivo pelo qual
decidiram utilizar diferentes estratégias e Cami relatou: “Enquanto professora, é
importante que eu conheça variadas formas de resolução de um problema e também
por que queria confirmar o resultado”. B relatou: “Eu fiz para ter certeza que sei
resolver de outra maneira e praticar o que estamos apreendendo no curso”.
Constatamos que elas evoluíram quanto ao raciocínio proporcional. A seguir, nas
Figuras 148 e 149, trazemos duas produções (Cami e B) que refletem o uso de tais
estratégias.
Figura 148: Resolução de Cami – atividade 6
Fonte: Acervo do pesquisador
214
Figura 149: Resolução de B – atividade 6
Fonte: Acervo do pesquisador
Outras 20% usaram as estratégias (funcional e regra de três), como permite
visualizar o protocolo da participante Margarida na Figura 150.
Figura 150: Resolução de Margarida – atividade 6
Fonte: Acervo do pesquisador
215
Ademais, 20% usaram as estratégias (“up down” e regra de três), como na
produção de Groove na Figura 151.
Figura 151: Resolução de Groove – atividade 6
Fonte: Acervo do pesquisador
Groove recorreu ao desenho de um relógio para apresentar sua resposta por
meio da estratégia “up down”, e para confirmar seu raciocínio usou também os
procedimentos de cálculo da quarta proporcional – regra de três. Ao questionar
Groove sobre o que a levou a usar duas estratégias, relatou:
Eu usava muito a regra de três, mas no ensino para crianças como já discutimos aqui no curso não vamos usá-la como procedimento, posso até olhar para o fator de proporcionalidade, mas olhando para as medidas [referindo-se às grandezas envolvidas]. Então preciso ter o conhecimento do que está por trás das contas que faço na regra de três e conhecer outras estratégias e tentei buscar outra maneira de resolver.
As 20% restantes utilizaram as estratégias funcional e escalar como resposta,
como no exemplo na Figura 152.
216
Figura 152: Resolução de Girassol – atividade 6
Fonte: Acervo do pesquisador
Girassol teve relato semelhante ao das colegas, ou seja, ela também pensou
em usar duas estratégias de resolução. E relatou: “Eu decidi fazer dessa forma para
que conhecesse e praticasse outras formas de resolver o problema, a escalar e
funcional”.
Em nossa avaliação tais reproduções são evidências do avanço das
participantes nos conhecimentos (BALL; THAMES; PHELPS, 2008) e na competência
(LLINARES, 2015a, 2015b) requeridos delas. Procuraram aplicar formas
diversificadas de resolução e, ainda, justificaram o modo como pensaram para fazer
a atividade.
Além dessas participantes que utilizaram duas formas para resolver a
atividades, as 64,29% restantes fizeram a atividade usando uma estratégia. Dessas,
a grande maioria usou a escalar com o apoio do método “up down”. Duas dessas
produções (Angel e Duda) estão nas Figuras 153 e 154.
217
Figura 153: Resolução de Angel – atividade 6
Fonte: Acervo do pesquisador
Figura 154: Resolução de Duda – atividade 6
Fonte: Acervo do pesquisador
Aquelas que optaram por tal método recorreram ao uso das ideias de dobro
das atividades anteriores e a adicionaram ao tempo restante (5 minutos para 4 jornais)
para chegar ao valor de 28 jornais. Relacionaram conhecimentos prévios já
incorporados na execução de atividades anteriores, nas discussões promovidas
durante as seções e na sistematização. Dentre as 64,29% que realizaram a atividade
218
com apenas um método 11% delas empregaram a estratégia funcional, como Ana,
que faz parte da Figura 155.
Figura 155: Resolução de Ana – atividade 6
Fonte: Acervo do pesquisador
As participantes que optaram por essa estratégia relacionaram minutos e
jornais e obtiveram 1,25 como fator de proporcionalidade, dividiram 35 minutos por
esse fator e chegaram ao valor 28 jornais. Recorreram a uma estratégia pouco usada
nas atividades anteriores. Empregar diferentes formas de resolução aponta evolução,
e nos auxiliou na sistematização realizada posteriormente e exposta na próxima
seção.
E, por fim, as participantes restantes escolheram aplicar o produto cruzado, ou
seja, a regra de três, como foi o caso de Orquídea, cuja resolução está na Figura 156.
Figura 156: Resolução de Orquídea – atividade 6
Fonte: Acervo do pesquisador
219
As futuras professoras que utilizaram os procedimentos de cálculo ligados à
regra de três relataram que optaram por esse método por se lembrar de já ter feito na
escola e achar mais fácil para elas. Visando evitar a mecanização pela mera aplicação
de regras (POST; BEHR; LESH, 1995), quisemos saber das participantes quais ideias
estavam presentes nesse procedimento; perguntamos inicialmente quais as
grandezas envolvidas, e a professora Orquídea respondeu: tempo e jornais. Em
seguida, confirmamos se o restante da sala confirmava a resposta, e Mariza Letícia
respondeu: “Concordo, e como o senhor disse é a partir daí que eu posso olhar para
aqueles dois fatores [referindo-se a fator escalar e funcional]”. Dando continuidade,
questionamos se elas se lembravam de outras formas de resolver, e elas conseguiram
explicar a resolução pelo método “up down”.
A seguir apresentaremos a sistematização da atividade 6.
5.7.1 A sistematização da atividade 6
A sistematização da atividade 6 foi apresentada no questionário preliminar e,
ao analisarmos as respostas, detectamos avanços nas respostas dadas. Pudemos
identificar que não tiveram dificuldades em resolver a situação apresentada de valor
omisso e que se preocupavam em compreender e registrar suas respostas, e algumas
buscavam mostrar diferentes formas de resolução. Elas se utilizaram estratégias
corretas para chegar à proporção requerida, mesmo quando apresentavam
dificuldades.
Procuramos na sistematização apresentar as formas que as participantes
escolheram para solucionar a atividade “conhecimentos e competências requeridas
do futuro professor” (BALL; THAMES; PHELPS, 2008; FERNÁNDEZ; LLINARES,
2012; LLINARES, 2015a, 2015b). Assim como na atividade anterior, pedimos que
cada grupo de participantes que usou estratégias diferentes explicasse como haviam
feito e como pensaram para fazer a atividade.
Em seguida, no quadro negro complementamos e apresentamos a
nomenclatura correta para cada estratégia utilizada. As participantes interagiram
durante a sistematização e com isso puderam compreender diferentes estratégias
para um problema de valor omisso.
Na sistematização destacamos a necessidade que nos fez discutir com elas
outras situações como essa, com dados semelhantes e diferentes, para estimular e
220
refletir acerca da realização desta e de outras estratégias de resolução, e também
visando avançar para as atividades profissionais. Além disso, procuramos apresentar
resultados de pesquisas sobre situações desta natureza. Relatamos as pesquisas de
Greer e Mangan (1984) e de Vergnaud (1983, 2009). Por exemplo, Vergnaud (2009,
p. 212) aponta que: “os números grandes ocasionam mais dificuldades que os
números pequenos, os números decimais, mais dificuldades que os números inteiros”.
E acrescenta ainda: “[...] certos números impedem a utilização de certos
procedimentos porque eles não se prestam a cálculos muito simples” (p. 212).
Ainda a esse respeito, complementamos, afirmando que Greer e Mangan
(1984) nos mostram que situações como essa, que utilizam números naturais, são
consideradas “mais fáceis” do que as que envolvem números decimais maiores que
1; e essas últimas, mais bem-sucedidas que as que contêm decimais menores que 1.
Assim, ao discutir sobre tais evidências, entendemos que é importante que as
futuras professoras observem, além da classe de situações – no nosso caso, situação
envolvendo valor omisso – também o grau de complexidade das situações,
especialmente, a respeito da distinção nos procedimentos de cálculo observados no
interior de uma mesma categoria. É também fundamental que as estudantes tenham
a compreensão da complexidade dos cálculos envolvidos no raciocínio proporcional.
Como já mencionamos, as participantes aumentavam suas concepções acerca
da temática. Dessa forma, entendíamos que já era possível naquele momento partir
para as atividades profissionais.
E assim as apresentaremos nas próximas seções.
5.8 A atividade 7
Ao elaborarmos a atividade 7, levamos em consideração o que Llinares (2015a,
p. 7) discute: o processo de formação inicial para a docência pressupõe preparar os
alunos para obter a “competência docente” para o ensino e para promover a
aprendizagem da matemática.
Dessa forma, utilizamos uma atividade profissional64 em que as futuras
professoras deveriam analisar as produções de quatro alunas fictícias – nomeadas no
64 Em uma caixa há 5 bombons de caramelo e 13 de chocolate. Uma outra caixa tem 100 bombons de caramelo. Quantos bombons de chocolate devemos colocar para que se tenha a mesma proporção da primeira?
221
próximo quadro – e, em seguida, responder a quatro questionamentos sobre as
estratégias apresentadas. Optamos pela resolução individual, para ser possível maior
aproximação entre professor e alunas em situação de sala de aula. Eis a atividade.
Quadro 6: Atividade 7
Aluna Resolução Aline
Bianca
Cássia
Daiane
Fonte: Elaborado pelo pesquisador
Esta situação foi acompanhada pelos questionamentos:
a) qual (is) resposta (s) você acredita esteja (am) correta (s)?
b) identifique e analise as estratégias utilizadas pelas alunas.
c) em sua opinião, quais conhecimentos o professor precisa dominar em sala
de aula para lecionar esse tema?
d) Se tiver alguma resolução incorreta, identifique o erro e como você auxiliaria
seu aluno a compreender esse conteúdo matemático.
A atividade apresentava quatro itens, “a, b, c e d”, em que solicitava a
identificação e a análise das estratégias utilizadas por alunos fictícios.
Segue a análise desses itens.
222
5.8.1 O item “a” da atividade 7
Detectamos que a maioria – 86,67% das participantes – acertou o item “a”,
descrevendo corretamente as resoluções apresentadas. As duas próximas figuras –
Figuras 157 e 158, respectivamente – trazem as soluções de Tulipa e Mandala, que
evidenciam tais afirmações.
Figura 157: Resposta de Tulipa – item “a” da atividade 7
Fonte: Acervo do pesquisador
Figura 158: Resposta de Mandala – item “a” da atividade 7
Fonte: Acervo do pesquisador
Na formação tínhamos como premissa que o conhecimento comum do
conteúdo era primordial para que o futuro professor analise as produções de seus
alunos, para uma competência docente mais apurada. Os índices apresentados
indicam que algumas participantes já haviam transcendido o Nível 1 proposto por
Llinares (2015a), ou seja, já discriminavam o problema. No entanto, outras
pareciam ter dificuldades com o problema e erraram esse item, como podemos
visualizar nas Figuras 159 e 160.
Figura 159: Resposta de Nilma – item “a” da atividade 7
Fonte: Acervo do pesquisador
223
Figura 160: Resposta de Angel – item “a” da atividade 7
Fonte: Acervo do pesquisador
Essas participantes, assim como as outras que se equivocaram ao responder
a esse item, como Angel, por exemplo, calcularam a diferença entre as grandezas nos
dois momentos. Analisando o ocorrido, é possível perceber que elas aparentam estar
no nível 1, conforme Llinares (2015a), e não apresentaram nessa atividade
conhecimentos referentes ao conteúdo (BALL; THAMES; PHELPS, 2008).
O item “b” será descrito agora.
5.8.2 O item “b” da atividade 7
Ao verificar o item “a” entendemos que, se elas não conseguiram apontar
corretamente estratégias de resolução, igualmente teriam dificuldades em identificar
e analisar estratégias. Isso de fato se confirmou neste item “b”, pois o conhecimento
especializado requer das participantes o conhecimento comum do conteúdo. Na
Figura 161 está a produção de Nilma, na qual foi possível verificar que ela demonstrou
não conhecer as estratégias propostas no item “b".
Figura 161: Resposta de Nilma – item “b” da atividade 7
Fonte: Acervo do pesquisador
224
Nilma focou seu olhar na operação que resolvia a situação. As demais
participantes que resolveram esse item “b” voltaram sua análise para a descrição das
estratégias discutidas e as ideias envolvidas, como revelam, respectivamente, as
produções de Cami e Sempre Viva nas Figuras 162 e 163.
Figura 162: Resposta de Cami – item “b” da atividade 7
Fonte: Acervo do pesquisador
Figura 163: Resposta de Sempre Viva – item “b” da atividade 7
Fonte: Acervo do pesquisador
Apesar de, nem sempre, elas citarem os nomes referentes às estratégias (já
apresentados em sistematizações anteriores), essas futuras professoras analisaram
diversas estratégias utilizadas por alunos fictícios. Isso realça a importância do
conhecimento especializado do conteúdo no olhar profissional para a resolução de
alunos.
A seguir o item “c” será exposto.
225
5.8.3 O item “c” da atividade 7
No item “c” notamos que a maioria das participantes – 73,33% – indicou algum
aspecto relacionado ao raciocínio proporcional, como: reconhecimento dos
procedimentos de cálculo da regra de três, de multiplicação, divisão e frações, além
da proporcionalidade. No entanto, 26,67% indicaram apenas aspectos pedagógicos,
como, por exemplo, Orquídea, que discutiu questões ligadas ao perfil esperado do
professor, sobretudo relacionado aos conhecimentos pedagógicos necessários para
o ensino abordados durante o curso: “O professor precisa ser pesquisador e
compreender que cada aluno pensa de maneira diferente e também o professor
precisa dominar a disciplina e saber resolver de várias formas a mesma conta”.
Todavia, não citou quais seriam os conhecimentos específicos sobre o raciocínio
proporcional em jogo neste item.
Para desenvolver o que Llinares (2015a) denomina competência docente, é
necessário dominar e estabelecer relações entre as diferentes categorias de
conhecimentos profissionais descritas por Ball, Thames e Phelps (2008). É, portanto,
fundamental promover, durante a formação inicial, vivências que favoreçam às futuras
professoras discutir e refletir sobre a necessidade de articular diferentes estratégias
de resolução nos processos de ensino e de aprendizagem de problemas de valor
omisso.
Exporemos o item “d”.
5.8.4 O item “d” da atividade 7
E, finalizando, nossa análise revelou que 60% das futuras professoras
apontaram a resolução de Cássia como incorreta para o item “d” – “Se tiver alguma
resolução incorreta, identifique o erro e como você auxiliaria seu aluno a compreender
esse conteúdo matemático”.
Essas participantes registraram de forma genérica que ajudariam a aluna
fictícia a não utilizar a soma, mas a usar ideias de multiplicação, divisão, proporção e
fração. As Figuras 164 e 165 apresentam alguns desses registros.
226
Figura 164: Resposta de Mandala – item “d” da atividade 7
Fonte: Acervo do pesquisador
Figura 165: Resposta de Cami – item “d” da atividade 7
Fonte: Acervo do pesquisador
As 40% restantes apontaram a resolução de Cássia como incorreta, mas não
propuseram sugestões metodológicas para auxiliá-la, como podemos visualizar nas
Figuras 166 e 167, nos protocolos das participantes Carla e Tulipa, respectivamente.
Figura 166: Resposta de Carla – item “d” da atividade 7
Fonte: Acervo do pesquisador
227
Figura 167: Resposta de Tulipa – item “d” da atividade 7
Fonte: Acervo do pesquisador
Já havíamos detectado limitações do conhecimento comum do conteúdo no
item “a” 13,33%, e elas estão incluídas neste item “d”, o que dificultou sua análise.
Aqui temos uma evidência de que a limitação do conhecimento do conteúdo pode
interferir igualmente na obtenção da competência docente, ao analisar estratégias de
alunos.
A seguir está a sistematização da atividade.
5.8.5 A sistematização da atividade 7
Nosso propósito com este estudo foi verificar se as participantes seriam
capazes de identificar as estratégias utilizadas por alunos fictícios, ao resolver uma
situação de valor omisso.
Após a realização da atividade, ao discutirmos com as futuras professoras,
destacamos a importância de elas conhecerem o conteúdo (comum, especializado),
dos alunos e do ensino (BALL; THAMES; PHELPS, 2008) e pontuamos que a maior
parte delas foi capaz de argumentar, discriminar e analisar as respostas dos alunos.
Analisando as produções das participantes sob o ponto de vista desses
autores, notamos que elas relacionaram o pensamento matemático e o cognitivo.
Mesmo que algumas ainda tivessem revelado dificuldades, a maioria se enquadrou
no nível 3, ou seja, conseguiu discriminar o problema e o justificou (LLINARES,
2015a).
Um indício de tais evidências pode ser visto na discussão entre as participantes
Carla e Mariza Letícia, que resolveram novamente o problema e discutiram acerca do
que seria a proporção envolvida e qual seria o fator de proporcionalidade. Na
sistematização, as futuras professoras Carla e Mariza Letícia relataram a dificuldade
da opção pela estratégia funcional. Elas afirmaram que os alunos poderiam apresentar
228
problemas quanto ao valor do fator de proporcionalidade obtido na divisão 13 por 5.
O valor decimal resultante no caso 2,6 poderia levá-los a dificuldades e abortar tal
estratégia. Informamos novamente para as participantes que pesquisas apontam que
a forma de apresentação dos problemas e os números influenciariam na opção por
determinada maneira de resolver (LAMON, 2005; OLIVEIRA, 2009; SILVESTRE;
PONTE, 2009).
Entretanto, apesar de possuírem dificuldades quanto à nomenclatura das
estratégias, elas conseguiram identificá-las e tiveram maior facilidade na análise das
produções de Aline e Bianca, pois já compreendiam melhor tais estratégias.
Na sistematização recorremos às resoluções apresentadas pelas participantes
e procuramos discuti-las com elas, a fim de que evoluíssem acerca da competência
docente (LLINARES, 2013) de olhar com sentido para a atividade realizada por
estudantes. Pedimos que algumas delas apresentassem às colegas suas respostas
e, em seguida, fizemos com elas a sistematização das principais ideias.
Relatamos que é importante que incentivem seus futuros alunos para o
desenvolvimento do raciocínio proporcional e, para isso, se apropriem de diferentes
estratégias, pois vivenciarão situações similares às que encontraram em sala.
A seção seguinte trará a atividade 8.
5.9 A atividade 8
A atividade 8 (APÊNDICE K) consistiu em uma atividade profissional que
apresentava o seguinte enunciado: “Na figura a seguir podemos observar o Senhor
Baixo, cuja altura mede seis clipes. Se fôssemos medi-lo com palitos de fósforo,
seriam necessários quatro palitos. Ele tem um amigo, o Senhor Alto, que mede seis
palitos. Quantos clipes utilizaríamos para medir o Senhor Alto?”. E a propusemos
expondo a Figura 168.
Figura 168: Figura proposta na atividade 8
Fonte: Adaptado de Silvestre (2012, p. 127)
229
Escolhemos a essa atividade pelo fato de já haver estudos realizados sobre
ela, como os de Karplus e Karplus (1972) e Silvestre (2012), que poderiam subsidiar
nossas discussões. No entanto, infelizmente, como já dissemos aqui, esse tipo de
situação não é muito usado por professores que lecionam matemática para os anos
iniciais, como apontam os estudos de Santos (2012) e Souza (2015). Porém,
consideramos que seria importante discutir e refletir com as futuras professoras sobre
esse tipo de situação e seu ensino.
Essa atividade65 já havia sido proposta na questão 3, para que pudéssemos
identificar quais estratégias as futuras professoras utilizavam para resolver situações
que envolvem a ideia de proporcionalidade, conforme relatam Cramer e Post (1993).
No entanto, dessa vez, nosso propósito foi investigar o conhecimento profissional
docente, sobretudo a respeito do conteúdo e do ensino (BALL; THAMES; PHELPS,
2008), ou seja, procuramos descobrir se, depois de vivenciarem outras experiências,
discussões e reflexões acerca da temática, as futuras professoras seriam capazes de
identificar e analisar diferentes estratégias de resolução de alunos fictícios.
Nosso propósito com essa atividade era oferecer uma experiência de ensino
próxima à que encontrariam em suas salas. Além disso, acreditávamos que,
analisando o ocorrido nesta sessão, poderíamos, eventualmente, encontrar
evidências acerca do desenvolvimento de habilidades de resolução e interpretação de
atividades envolvendo o raciocínio proporcional pelas participantes.
A análise dos quatro itens será exposta aqui:
5.9.1 O item “a” da atividade 8
Ao analisar as respostas dadas pelas participantes ao item “a”, pretendíamos
confirmar evidências de avanços na compreensão do raciocínio proporcional,
conforme Ball, Thames e Phelps (2008). No item “a” elas teriam que identificar quais
soluções apresentadas na Figura 169 eram corretas.
65 Para garantir que a leitura da atividade 8 não interferisse no resultado da questão 3 do questionário preliminar, apresentamos uma questão de cada vez, ou seja, só depois de recolher a atividade anterior a aluna receberia a próxima atividade.
230
Figura 169: Atividade profissional de valor omisso
PRISCILA
ELIOTE
ALESSANDRA
FERNANDA
Fonte: Elaborada pelo autor
231
As futuras professoras relataram adequadamente que a solução de Priscila não
estava correta. Já havíamos percebido evoluções das participantes no conhecimento
comum do conteúdo (BALL; THAMES; PHELPS, 2008), e tal evidência pode ser
confirmada, se compararmos com o índice apresentado na resolução da questão 3 do
questionário preliminar, no qual tratamos da mesma atividade: elas teriam apenas que
resolvê-la, mas os resultados indicaram 80% de erros. Já na presente atividade
detectamos que resolveram corretamente. Corroborando esse resultado, destacamos
mais evidências nas discussões entre Carla e Mariza Letícia, conforme a imagem na
Figura 170.
Figura 170: Discussões entre Carla e Mariza Letícia
Fonte: Acervo do pesquisador
Ao nos aproximarmos das participantes, pudemos notar que elas encontraram,
por meio das estratégias escalar (Carla) e funcional (Mariza Letícia), o valor “um e
meio”, que representa o aumento entre as figuras. Seguem aqui alguns trechos da
discussão. Carla relatou: “Para encontrar a proporcionalidade, preciso dividir as
alturas com fósforos dos senhores alto e baixo, 9 dividido por 6, achei 1,5. Esse é o
tanto que aumentará de um para o outro, agora multiplico esse valor para 6 clipes e
tenho o resultado de 9 clipes”. Prosseguiu, dizendo: “Professor, esse aumento
proporcional é um e meio, os alunos, geralmente confundem e acham que é dois e
acabam errando o problema”. Mariza Leticia completou: “Mas posso fazer também
usando o senhor baixo como referência, divido sua altura em clipes 6 por 4 fósforos,
terei fator de aumento, no caso, 1,5. Pego esse valor e multiplico por 6 fósforos do
senhor alto e também chego a 9 como resposta”.
232
Este episódio exemplar permite ver avanços dessas participantes: ao se
depararem com uma situação de valor omisso, elas descreveram e discutiram sobre
duas estratégias de resolução e, ainda, reconheceram o fator de proporcionalidade,
relevante na aquisição do raciocínio proporcional.
Já nos demais itens, nossa intenção foi identificar quais categorias (BALL;
THAMES; PHELPS, 2008) haviam sido compreendidas pelas futuras professoras e o
quanto haviam avançado no olhar profissional (FERNÁNDEZ; LLINARES, 2012;
LLINARES, 2015a).
Segue aqui a apresentação do item “b”.
5.9.2 O item “b” da atividade 8
No item “b” as futuras professoras deveriam descrever e analisar as estratégias
utilizadas pelas alunas. A maioria delas procurou descrever os procedimentos usados
na atividade. Um bom exemplo dessas evidências está no protocolo de Mandala na
Figura 171.
Figura 171: Resposta de Mandala – item “b” da atividade 8
Fonte: Acervo do pesquisador
Notamos que 23% das futuras professoras registraram de forma mais genérica
os procedimentos de resolução, baseando-se nos cálculos, como foi o caso da
participante Babich apresentado na Figura 172.
Figura 172: Resposta de Babich – item “b” da atividade 8
Fonte: Acervo do pesquisador
233
Elas identificaram e descreveram os procedimentos de resolução das alunas.
É importante ressaltar indícios de que as alunas avançaram, pois o grau de
compreensão e capacidade de resolução aumentou, se compararmos com as
atividades iniciais de valor omisso. Além dos argumentos apresentados, outro ponto
a destacar é o reconhecimento, por parte de algumas, de estratégias de resolução,
como foi o caso de Orquídea, que apontou a estratégia escalar usada por Fernanda,
o que vemos na Figura 173.
Figura 173: Resposta de Orquídea– item “b” da atividade 8
Fonte: Acervo do pesquisador
Algumas participantes já usavam os termos matemáticos aos quais nos
referimos, quando apresentávamos as sistematizações nos últimos encontros; no
entanto, essa terminologia não apareceu em muitos registros ainda.
Vejamos o item “c”.
5.9.3 O item “c” da atividade 8
No item “c” as participantes deveriam mencionar os conhecimentos necessários
que o professor precisa dominar, e 75% delas associaram conhecimentos
matemáticos que vivenciaram no curso e registraram termos como: proporcionalidade,
raciocínio proporcional, regra de três, produto cruzado, multiplicação e divisão. Alguns
desses termos estão nos protocolos de Carla e Angel nas Figuras 174 e 175,
respectivamente.
Figura 174: Resposta de Carla – item “c” da atividade 8
Fonte: Acervo do pesquisador
234
Figura 175: Resposta de Angel – item “c” da atividade 8
Fonte: Acervo do pesquisador
As 25% restantes registraram aspectos pedagógicos, como Orquídea e
Margarida nas Figuras 176 e 177, respectivamente:
Figura 176: Resposta de Orquídea– item “c” da atividade 8
Fonte: Acervo do pesquisador
Figura 177: Resposta de Margarida – item “c” da atividade 8
Fonte: Acervo do pesquisador
Notamos que pelas produções apresentadas que essas participantes optaram
por registrar aspectos ligados ao ensino.
O item “d” está explicitado aqui:
5.9.4 O item “d” da atividade 8
E, por fim, no item “d”, as participantes teriam que indicar o erro da solução e a
forma como auxiliariam a aluna a compreender a situação. As produções revelam que
as participantes enxergavam as situações de maneira particular. Elas possuíam
conhecimentos ligados ao ensino que evidenciam melhoria do seu “olhar” para as
atividades profissionais de valor omisso, como prevê Llinares (2015a, 2015b) e
reconheceram a natureza dos erros, como podemos identificar na produção de
Orquídea na Figura 178.
235
Figura 178: Resposta de Orquídea– item “d” da atividade 8
Fonte: Acervo do pesquisador
A participante destacou a forma de compreensão incorreta de
proporcionalidade e apontou ideias que envolvem o raciocínio proporcional. Além de
Orquídea, a maioria das futuras professoras reconheceu a relevância de saber o que
é raciocínio proporcional e, ainda, identificar o fator de proporcionalidade e ter ideia
acerca de estratégias de resolução para ensinar a temática. Nas duas próximas
imagens – Figuras 179 e 180 – destacamos, respectivamente, os registros de Groove
e Mandala.
Figura 179: Resposta de Groove – item “d” da atividade 8
Fonte: Acervo do pesquisador
236
Figura 180: Resposta de Margarida – item “d” da atividade 8
Fonte: Acervo do pesquisador
Cabe ressaltar que até o aquele momento não tínhamos discutido com as
participantes o fato de tal problema já ter sido aplicado no questionário preliminar.
A sistematização está exposta a seguir.
5.9.5 A sistematização da atividade 8
Na sistematização procuramos discutir e refletir com as participantes
características que permeiam o raciocínio proporcional e questões relacionadas à
competência profissional de olhar com sentido para as resoluções de alunos em
situações de valor omisso.
Para conduzir as discussões, procuramos mapear o nível (LLINARES, 2015a)
do desenvolvimento do raciocínio proporcional que elas demonstravam e notamos
que, apesar de algumas terem dificuldades, como no caso de Tulipa, a maioria se
enquadrou no nível 3, uma vez que, de nosso ponto de vista, conseguiram discriminar
e justificar o problema.
Em nossas discussões sobre essa questão, refletimos com as participantes
quais seriam as atribuições do professor, apontamos a importância de verificar as
resoluções dos alunos, fazer intervenções e identificar os caminhos trilhados por eles
para resolver uma situação.
Posteriormente, destacamos a importância de conhecer as diversas maneiras
e estratégias de resolução e, ainda, como pensam os alunos: “Considero importante
que o professor saiba resolver o problema, mas é essencial que ele conheça diversas
formas de resolver, até para que ele compreenda como seus alunos estão pensando
e consiga propor caminhos para o ensino” (TULIPA).
237
Dando continuidade, Tulipa relatou para as demais que elas já haviam resolvido
tal problema na questão 3 do questionário preliminar e algumas, como Groove,
disseram que lembraram da atividade. Groove relatou a importância do curso e das
discussões promovidas: “Eu fazia tudo pela regra de três, mas não entendia direito,
percebia que tinha que aprender de fato proporção, pois teria que ensinar aos meus
alunos”. Prosseguiu, dizendo: “Nós aprendemos no curso que era importante que o
professor soubesse os procedimentos e estratégias de resolução para poder ajudar
os alunos, e que apenas a aplicação da regra não bastava, eu compreendi o que
estava fazendo”.
Neste momento Cami completou:
Eu só lembrava da regra de três, pois aprendi na escola e a aplicava sempre para obter o valor desconhecido, mas nos anos iniciais, conforme discutido aqui no curso, os documentos não indicam o uso dessa forma de resolver, podemos até organizar por grandeza e calcular os coeficientes de proporcionalidade.
Continuou e disse: “Me preocupei em aprender outras formas de resolver um
problema desse tipo e acho que melhorei” (CAMI).
Novamente tomamos a palavra e perguntamos se as demais participantes
concordavam com Groove e Cami. Tulipa revelou: “Eu tenho diversas dificuldades
com tudo relacionado a matemática, mas entendi que na minha profissão tenho que
ser matematicamente e pedagogicamente capaz para ajudar meus alunos, se eu não
aprender como vou ensinar?”. E prosseguiu: “Eu não sabia nada de
proporcionalidade, voltei a fazer supletivo depois de adulta e não aprendi direito na
escola. Com o curso percebi o quanto era importante conhecer mais profundamente
os assuntos e formas de ensinar aos alunos”.
Percebemos, com os relatos, que as futuras professoras haviam compreendido
a relevância dos conhecimentos relacionados ao conteúdo (BALL; THAMES;
PHELPS, 2008) e sua ligação com as demais categorias de conhecimento. Além
disso, destacaram a importância de compreender aspectos associados à
aprendizagem do raciocínio proporcional (BEHR; LESH; POST, 1988) e da obtenção
da competência docente de olhar com sentido para as resoluções dos estudantes
(LLINARES, 2011).
Em seguida, expusemos as resoluções contidas na atividade, e as participantes
comentaram cada uma delas. Neste momento ressaltamos a necessidade de
identificar as estratégias e as nomenclaturas corretas para cada uma.
238
Os resultados até aqui indicaram que a maioria das participantes conseguiu,
nessa atividade 8, identificar e compreender erros, e isso favoreceu a exposição de
eventuais intervenções. Mesmo entendendo que ainda precisam avançar na
proposição de encaminhamentos pedagógicos que auxiliem alunos a resolver a
atividade, elas tiveram êxito na análise das produções e também produziram registros
interessantes, que indicam avanços, como ocorreu com Tulipa e Orquídea.
Da mesma forma que na atividade 8, a 9 tratava de uma situação já resolvida
pelas participantes, e esperávamos, com ela, favorecer a discussão sobre o ocorrido
nas sessões de formação e, especialmente, ampliar as reflexões sobre o raciocínio
proporcional e seu ensino. Eis a atividade 9.
5.10 A atividade 9
A atividade 9 (APÊNDICE L) apresentava o seguinte enunciado: “No último
sábado à tarde, a família Smith foi para o teatro Starr e todos os 6 integrantes entraram
no cinema, pagando $ 10. A família West foi ver um filme no Odyssey e todos os 4
entraram no cinema, pagando $ 7. Que teatro tem melhores preços na matinê de
sábado?
Na Figura 181 apresentamos as estratégias das alunas.
239
Figura 181: Atividade profissional de comparação entre dois pares de grandezas
Cristiane
Lizzie
Debora
Mariana
Fonte: Acervo do pesquisador
240
Esta atividade já havia sido proposta na questão 4 do questionário preliminar e
envolvia a ideia de comparação entre duas grandezas. Porém, desta vez, visou à
análise de respostas de quatro alunas, nos itens: a, b, c e d. Pretendíamos com isso,
assim como na atividade anterior, analisar a competência profissional de olhar com
sentido para as resoluções de alunos em situações de comparação.
5.10.1 O item “a” da atividade 9
No item “a”, em que as participantes deveriam apontar as resoluções corretas,
todas apontaram a resolução de Lizzie como correta. Também nos chamou a atenção
que, embora tenham citado as resoluções como corretas, somente Tulipa, como
demonstra a Figura 182, identificou e descreveu o equívoco das alunas Mariana e
Débora.
Figura 182: Resposta de Tulipa – item “a” da atividade 9
Fonte: Acervo do pesquisador
Tulipa notou que as alunas fictícias Débora e Mariana inverteram os valores
que representavam o dividendo e o divisor, todavia não fez menção ao fato de que
Débora pode ter se equivocado somente no momento de registrar a operação, pois
apresentou o quociente correto. Já ao analisar os procedimentos da aluna fictícia
Mariana, Tulipa observou que ela registrou a operação com equívoco e apresentou o
valor correto da divisão em questão. Além disso, ao final, quando Tulipa afirma que
“as duas acharam o resultado de qual teatro tem melhor preço”, ela parece perceber
que as duas alunas fictícias reconheciam a ordem de grandeza dos quocientes
envolvidos. Para ratificar nossas hipóteses, questionamos Tulipa, que confirmou
nossas conjecturas.
Quanto à falta de justificativas para os equívocos das alunas fictícias, um dos
fatores dificultadores foi o fato de as grandezas estarem representadas na forma
decimal. Tais dificuldades já haviam sido identificadas nas pesquisas de Lamon (2005)
241
e de Stacey et al. (2001).
No estudo de Lamon (2005) já havia sido apresentada a mesma situação –
comparação entre preços de dois teatros –, e a pesquisadora destacou as possíveis
dificuldades de alunos em situações que envolviam números racionais com essa
representação. Isso também pode ter ocorrido em nossa investigação. Analisando as
respostas apresentadas pelas participantes nesta atividade, na perspectiva de
Llinares (2015a), entendemos que a maioria das participantes tem o Nível 266.
A seguir apresentamos o item “b”.
5.10.2 O item “b” da atividade 9
Diferentemente do ocorrido na questão 4, em que, ao sistematizarmos,
percebíamos que as participantes tinham dificuldades em descrever estratégias em
situações de comparações, elas avançaram nesta atividade no presente item, pois
todas descreveram os procedimentos usados pelas quatro alunas e, ainda, 80% delas
tiveram êxito ao discriminar o problema e justificá-lo (Nível 3), como podemos notar,
por exemplo, pelo protocolo da participante Margarida na Figura 183.
Figura 183: Resposta de Margarida – item “b” da atividade 9
Fonte: Acervo do pesquisador
Margarida identificou e descreveu os equívocos apresentados nas resoluções
de Cristiane e Débora e afirmou ter dificuldades para interpretar o equívoco de
Mariana. Procuramos, por meio da proposição dessa atividade, favorecer que as
66 Conforme já mencionamos na página 95, Llinares (2015a) afirma que, para o desenvolvimento do raciocínio proporcional no nível 2, os estudantes para professor discriminam o problema, porém não o justificam.
242
futuras professoras se deparassem com situações que lhes permitissem olhar
profissionalmente, para distinguir soluções de alunos fictícios. Para isso, dispunham
do conhecimento acerca das características do raciocínio proporcional e do
conhecimento especializado do conteúdo. O item “c”, apresentado a seguir, pretendia
levar os participantes a identificar quais conhecimentos o professor precisa dominar
em sala de aula para lecionar esse tema.
5.10.3 O item “c” da atividade 9
No item “c” todas participantes informaram os conhecimentos que o professor
precisa dominar ao lecionar o tema. Das respostas apresentadas, 60% apontaram
exclusivamente conhecimentos específicos de conteúdos matemáticos (como revela
o protocolo de Groove – Figura 184) e 30% indicaram conhecimentos pedagógicos
(como nos mostra o protocolo de Girassol – Figura 185).
Figura 184: Resposta de Groove – item “c” da atividade 9
Fonte: Acervo do pesquisador
Figura 185: Resposta de Girassol – item “c” da atividade 9
Fonte: Acervo do pesquisador
Já as 10% restantes das participantes indicaram tanto conhecimentos
pedagógicos quanto conhecimentos relacionados ao tema. O protocolo de Orquídea
na Figura 186 indica tal produção.
243
Figura 186: Resposta de Orquídea – item “c” da atividade 9
Fonte: Acervo do pesquisador
As respostas do grupo de futuros professores para esse item, assim como a
exposta por Orquídea, indicaram que, no geral, elas conseguiram citar alguns
aspectos importantes dos conhecimentos necessários para o ensino desse conteúdo
específico, como, por exemplo, a relevância de reconhecer, para, posteriormente
apresentar diferentes formas de resolução desse problema. Nesse contexto, assim
como para Orquídea, parecia ser consenso entre as participantes a necessidade de
conhecer uma maior diversidade de estratégias, que já parecia fazer parte do conjunto
de conhecimentos necessários para o desenvolvimento do ensino dessa temática. A
partir dessa constatação, inferimos que tal fato parece ter favorecido também o
reconhecimento da necessidade de conhecimentos pedagógicos desse conteúdo
para o ensino.
5.10.4 O item “d” da atividade 9
E, para finalizar a análise, o item “d” previa a identificação das respostas
incorretas e a forma de auxílio para compreender o presente conteúdo. Ao
verificarmos as produções, detectamos que 80% das futuras professoras
apresentaram maneiras de auxiliar a aluna Cristiane, como apontam os protocolos de
Nilma e Angel, nas Figuras 187 e 188, respectivamente.
244
Figura 187: Resposta de Nilma – item “d” da atividade 9
Fonte: Acervo do pesquisador
Figura 188: Resposta de Angel – item “d” da atividade 9
Fonte: Acervo do pesquisador
As demais professoras, da mesma forma que Nilma e Angel, demonstraram
preocupar-se em registrar quais conhecimentos matemáticos deveriam desenvolver
com os alunos – conceito da divisão –, mas ainda não expuseram exemplos e
contraexemplos detalhados que pudessem favorecer a compreensão da situação.
Quanto ao conhecimento pedagógico do conteúdo, as participantes que o citaram
preocuparam-se com o fato de o professor considerar o protagonismo do estudante.
Angel, por exemplo, preocupa-se com a postura mediadora do professor.
As respostas das futuras professoras indicaram que nem todas conseguem
analisar corretamente a situação de comparação entre dois fatores de
proporcionalidade. O resultado pode ser considerado, de certa forma, satisfatório –
afinal, as participantes haviam tido pouco contato com atividades de comparação.
Além disso, entendíamos que os números escolhidos poderiam ter influenciado esse
índice de acertos (GREER; MANGAN, 1984; VERGNAUD, 2009), como foi detectado
245
nos estudos de Lamon (2005), ao apresentar tal problema. Pensamos em analisar os
conhecimentos profissionais das futuras professoras em situações de comparação de
grandezas, visando à obtenção do raciocínio proporcional.
A seguir exporemos a sistematização da atividade 9, em que buscamos
aprofundar um pouco mais as discussões sobre o ensino desse tipo de situação.
5.10.5 A sistematização da atividade 9
Nossa intenção nesta atividade foi verificar se as participantes analisavam
corretamente estratégias utilizadas por alunas ao resolver uma situação de
comparação entre duas grandezas. Fizemos as discussões com as participantes
acerca das produções das alunas e refletimos com elas a necessidade do
conhecimento comum e especializado de problemas de comparação (BALL;
THAMES; PHELPS, 2008).
Na presente sistematização, procuramos avançar na compreensão da
competência docente proposta por Fernández e Llinares (2012) e Llinares (2015a,
2015b). Expusemos as resoluções de cada aluna e, em seguida, solicitamos às
participantes que identificassem ou não eventuais equívocos. Já havíamos notado que
as participantes estavam mais familiarizadas com o tema e com as colegas de curso.
Elas se sentiam mais preparadas para as discussões, como pudemos verificar em
Tulipa, que de imediato relatou como pensou: “Gente, Cristiane multiplicou os valores
e não tem nada a ver com os preços dos ingressos” e continuou: “Debora e Mariana
inverteram a divisão, mas Debora acertou os resultados, ela deve ter feito certo, mas
escrito errado e Lizzie acertou o problema”.
Algumas participantes complementaram, como foi o caso de Orquídea, que
também apresentou as estratégias de resolução e suas conjecturas. Neste momento
sugerimos que as futuras professoras que possuíam dificuldades se apropriassem das
respostas corretas das colegas e verificassem seus erros, como no caso de Babich,
que pediu para Orquídea lhe explicar como havia procedido. A imagem de tal
explicação está na Figura 189.
246
Figura 189: Orquídea explicando sua produção
Fonte: Acervo do pesquisador
Os resultados mostram que as participantes sabem resolver tais atividades,
apesar de algumas terem dificuldades em distinguir todas as respostas apresentadas
no item “a”. Elas analisaram as produções e ainda produziram registros interessantes,
que indicam avanços, como, por exemplo, as futuras professoras Tulipa e Orquídea.
Por exemplo, discutiram com Angel:
Tulipa: Eu não tinha pensado que Mariana poderia ter realizado uma estratégia correta ou incorreta. Orquídea: É verdade, se ela pensou em utilizar o valor unitário, ela realizou o cálculo errado, pois ela deveria dividir os 10 dólares pelos 6 componentes da família Smith e 7 dólares pelos 4 integrantes da família West. Angel: Esse valor unitário é aquele que quase todo mundo usa quando sai da escola, mas ela está certa, não é? Tulipa: Está sim, esse é um jeito mecânico de pensar naquele esquema que vimos com grandezas diferentes [referindo-se ao fator funcional analisado na quarta proporcional], mas se eu pensar na mesma grandeza [fator escalar], eu uso o raciocínio proporcional, não é? (Orquídea: Verdade, eu acho que Mariana pode até ter feito certo, se ela procurou calcular o coeficiente funcional do preço pago pelas duas famílias e chegou à conclusão que o preço pago pela Odyssey foi maior.
Durante essa sessão as indicações acerca das possíveis intervenções ainda
estavam focadas a “explicar” aos estudantes a ideia envolvida. À medida que as
reflexões sobre o conteúdo foram ampliadas, outras sugestões para proceder ao
ensino também foram surgindo, como, por exemplo, pedir para os alunos investigarem
247
nas calculadoras os valores encontrados, utilizar tabelas, acerca dos teatros para
representar a situação.
As respostas do grupo indicaram que à medida que alguns aspectos
importantes desse conteúdo específico, como, por exemplo, a compreensão do
significado do fator escalar e funcional, foram sendo discutidos, foi possível identificar
que as indicações de procedimentos pedagógicos também foram ampliadas.
A atividade 10 será apresentada em seguida.
5.11 A atividade 10
A atividade 10 envolveu a não proporcionalidade. Pensamos em tal situação,
por ser uma das características requeridas para o raciocínio proporcional. Além disso,
surgiram dificuldades para distinguir situações proporcionais de não proporcionais e
estudos apresentados na revisão de literatura indicam a relevância de problemas
dessa natureza (CRAMER; POST, 1993; FERNÁNDEZ; LLINARES, 2012; NUNES;
COSTA, 2016; OLIVEIRA, 2009; POST; BEHR; LESH, 1995; SILVESTRE; PONTE,
2009, entre outros).
O problema em questão já havia sido proposto nos estudos de Fernández e
Llinares (2012) e continha o seguinte enunciado: “Raquel e Juan estão plantando
flores, plantam na mesma velocidade, mas Juan começou antes. Quando Raquel
havia plantado 4 flores, Juan já havia plantado 12 flores. Se Raquel plantou 20 flores,
quantas plantou Juan?”.
Uma situação envolvendo a ideia de não proporcionalidade já havia sido
apresentada na questão 6 no questionário preliminar, porém, nesta atividade
profissional as participantes teriam que identificar a não proporcionalidade e analisar
as respostas de dois alunos (João e Marcos). Estes são os itens e suas respectivas
análises:
5.11.1 O item “a” da atividade 10
A análise das produções das participantes deixa ver que no item “a” apenas
20% delas reconheceram que a situação apresentada não envolve proporção, como
foi o caso da participante Nilma, apresentado na Figura 190:
248
Figura 190: Resposta de Nilma – item “a” da atividade 9
Fonte: Acervo do pesquisador
Nilma reconheceu que Raquel e Juan plantavam na mesma velocidade, mas
não na mesma proporção. Perguntamos para a Nilma por que ela achava isso. Ela
respondeu: “Eles plantam na mesma velocidade, mas o que me levou a responder
‘Não’ é que Juan começou antes”. Enquanto o grupo estava resolvendo a atividade,
percebemos que a participante havia entendido o motivo de a situação não ser
proporcional e pediu para prosseguir e responder aos demais itens. As outras futuras
professoras não conseguiram acertar esse item “a”, como revelam os protocolos de
Groove e Sempre Viva, respectivamente, nas Figuras 191 e 192.
Figura 191: Resposta de Groove – item “a” da atividade 9
Fonte: Acervo do pesquisador
249
Figura 192: Resposta de Sempre Viva – item “a” da atividade 9
Fonte: Acervo do pesquisador
Essas participantes, assim como as outras que erraram o problema, podem ter
sido levadas ao equívoco por terem feito atividades anteriores como
proporcionalidade. Dessa forma, de acordo com Llinares (2015a, p. 102), a maioria
delas se enquadra no nível 1 do desenvolvimento do raciocínio proporcional, ou seja,
não foram capazes de discriminar o problema que envolvia uma situação de não
proporcionalidade.
Ademais, as participantes, antes de ensinar tais conceitos, precisam ter clara a
distinção entre situações proporcionais e não proporcionais (POST; BEHR; LESH,
1995). Por essa razão propusemos essa atividade. Detectamos, ao analisar os
protocolos, que, apesar de apresentarem dificuldades em distinguir tais situações, as
participantes melhoraram a capacidade de distinguir situações não proporcionais. Tal
afirmação pode ser confirmada, se compararmos com o item “b” da questão 6 do
questionário preliminar, em que nenhuma futura professora havia reconhecido que o
problema não envolve proporcionalidade.
A seguir o item “b” será abordado.
250
5.11.2 O item “b” da atividade 10
O item “b” previa a descrição das estratégias de João e Marcos, e, na Figura
193, apresentamos as estratégias usadas por eles.
Figura 193: Atividade profissional de não proporcionalidade
Resolução de João
Resolução de Marcos
Fonte: Acervo do pesquisador
Os resultados indicaram que as futuras professoras avançaram os
conhecimentos acerca do conteúdo (BALL; THAMES; PHELPS, 2008). Embora a
maioria das participantes tenha revelado dificuldades em discriminar o problema, 80%
delas descreveram estratégias e procedimentos usados pelos alunos. Neste item, ao
fazer tais descrições, demonstraram certo domínio do conteúdo especializado, como
foi o caso de B e Tulipa, apresentado nas Figuras 194 e 195, respectivamente.
Figura 194: Resposta de B – item “b” da atividade 10
Fonte: Acervo do pesquisador
251
Figura 195: Resposta de Tulipa – item “b” da atividade 10
Fonte: Acervo do pesquisador
Tanto Tulipa e B como as outras participantes descreveram estratégias
multiplicativas e aditivas. Algumas delas focavam mais na descrição das operações e
outras já se utilizavam da terminologia matemática para as estratégias. No geral, as
participantes evoluíram em relação às atividades iniciais, em que revelaram
dificuldades na compreensão, na resolução e no reconhecimento dos problemas.
Nesta atividade, embora ainda hesitassem para reconhecer a não
proporcionalidade, elas apresentaram certa maturidade acerca do olhar profissional
essencial para o avanço do raciocínio proporcional.
A seguir a análise do item “c” será apresentada.
5.11.3 O item “c” da atividade 10
No item “c” as participantes teriam que apontar qual dos alunos, João ou
Marcos, acertou a questão. Além de identificar a proporcionalidade na situação
proposta anteriormente, as futuras professoras deveriam verificar a resolução correta,
tendo em vista que faz parte do conhecimento comum do conteúdo (BALL; THAMES;
PHELPS, 2008) requerido delas para os anos iniciais.
Pelos resultados, 80% delas conseguiram apontar a resolução de João como
correta e, dentre as 20% restantes, algumas se apropriaram de estratégias aditivas.
Um exemplo foi Sempre Viva, que, no item “a”, classificou a resposta de Marcos como
certa e usou estratégia aditiva para justificar sua resposta, como revela a Figura 191.
A seguir apresentamos a análise do item “d”.
252
5.11.4 O item “d” da atividade 10
Enfim, no item “d”, as participantes deveriam relatar sua forma de intervenção
para as respostas de João e Marcos. Elas registraram genericamente as formas de
intervenção. O protocolo de Angel na Figura 196 demonstra esse registro.
Figura 196: Resposta de Angel – item “d” da atividade 10
Fonte: Acervo do pesquisador
Notamos que 50% das participantes, incluindo Angel, não especificaram como
interviriam e como auxiliariam os alunos a compreender esse item. Já os 50%
restantes incluíram soluções referentes à ideia de proporcionalidade, o que já
prevíamos pelos resultados apresentados no item “a”, como aponta o protocolo de
Groove na Figuras 197.
Figura 197: Resposta de Groove – item “d” da atividade 10
Fonte: Acervo do pesquisador
253
Ao analisar o protocolo de Groove e das outras participantes desse índice,
pudemos notar que elas avançaram nas estratégias de resolução relacionadas ao
raciocínio proporcional, apesar de a situação não envolver proporcionalidade.
Faremos, a seguir, a sistematização da atividade 10.
5.11.5 A sistematização da atividade 10
Nesta atividade procuramos verificar se as participantes eram capazes de
diferenciar situações proporcionais e não proporcionais, tendo em vista que os
documentos oficiais destacam a importância de “abordar problemas de vários pontos
de vista e também identificar situações em que o que está em jogo é a não-
proporcionalidade” (BRASIL, 1997, p.38).
Além disso, procuramos identificar o grau de competência docente das
participantes, ao apresentar suas formas de intervenção para as resoluções de João
e Marcos. Ademais, verificamos os conhecimentos adquiridos pelas futuras
professoras, ao apontarem as resoluções corretas e descreverem estratégias de
resolução.
Na sistematização, discutimos com as participantes acerca dos conhecimentos
do conteúdo incorporados por elas. E apresentamos a elas os índices da questão 6
do questionário preliminar e os resultados do item “a” da atividade 10.
Devido aos resultados, procuramos refletir com as participantes o que
diferencia uma situação de proporcionalidade de uma situação de não
proporcionalidade. Apresentamos no quadro alguns exemplos de problemas com
proporcionalidade e, em seguida, problemas não proporcionais; e apontamos quais
características cada um possui. Elas relataram que, por terem feito atividades de
proporcionalidade, fixaram seu pensamento nesse aspecto. Tulipa relatou: “Eu achei
estranho mesmo; esse enunciado começou antes, fiquei meio na dúvida, mas, como
estamos estudando proporcionalidade, coloquei que era proporcionalidade”. Sua
expressão está revelada na Figura 198.
254
Figura 198: Tulipa em seu relato
Fonte: Acervo do pesquisador
Em seguida, Angel completou e relatou: “Eu tive a mesma impressão professor,
achei estranha a resolução de Marcos”. Prosseguiu e disse: “Eu também tive
dificuldade para saber se influenciaria no problema o fato de Raquel ter começado
antes”.
Relatamos que as participantes precisam saber identificar as características de
problemas matemáticos, pois é fundamental que elas, em atuação profissional,
apresentem uma competência docente apurada, ao ensinar aos alunos. Para tal,
necessitam de um olhar profissional agudo, e, além disso, precisam conhecer, de
forma especializada, o conteúdo e saber quais são as potencialidade e dificuldades
de cada situação e dos alunos. Os resultados indicaram que as participantes precisam
ainda melhorar no reconhecimento de situações não proporcionais e avançar mais
nas maneiras de intervenção.
A seguir apresentamos o memorial reflexivo.
255
5.12 O memorial reflexivo
O memorial reflexivo foi uma atividade em que as futuras professoras
registraram suas impressões sobre o curso, ou seja, as participantes puderam refletir
sobre suas trajetórias ao longo das seções e sobre o que incorporaram em sua
formação.
Esse memorial apresentou a seguinte proposta: “Agora você fará um memorial
sobre nosso curso, ou seja, relatará o que aprendeu, em que tem dúvida, o que até o
presente momento contribuiu para sua aprendizagem e o que será relevante para
desenvolver seu trabalho com seus alunos futuramente” (APÊNDICE N).
Os protocolos demonstraram que o curso de formação foi importante para todas
as integrantes do grupo de futuras professoras investigadas. Algumas alegam que sua
participação contribuiu para o seu desenvolvimento profissional, como é o caso de
Nilma (ANEXO A), quando relata: “Este curso terá uma grande importância para o
meu futuro profissional”. Corroborando, Angel (ANEXO B) registrou: “O curso
contribuiu de forma significativa e positiva para minha formação como docente”.
Outras destacaram a importância para o esclarecimento de dúvidas quanto ao
conteúdo matemático, como Tulipa (ANEXO C), por exemplo, quando afirma: “O curso
está sendo uma grande oportunidade para mim! Tanto para o esclarecimento de
algumas dúvidas e superar algumas dificuldades que tenho (em frações)”. Outro
exemplo de relevância de aspectos ligados aos conteúdos foi o da participante
Girassol (ANEXO D), ao descrever: ”Compreendi mais sobre adição, fração também
regra de três”.
Ademais, algumas participantes, como Orquídea (ANEXO E), destacaram a
relevância do raciocínio proporcional e sua presença no cotidiano: ”Quando comecei
o curso eu não tinha noção de proporcionalidade. E ao longo do curso pude perceber
que a proporcionalidade está ligada a tudo ao nosso redor, e que usamos diariamente
em diversas situações”. Complementando, Duda (ANEXO F) também ressaltou a
proporcionalidade no dia a dia: ”Percebi que a proporção está presente no nosso
cotidiano e que na maior parte do tempo trabalho proporcionalmente”.
Dessa forma, detectamos que as participantes haviam relacionado o raciocínio
proporcional a situações rotineiras debatidas em discussões, e isso foi fruto das ações
realizadas durante a formação. Naquele momento, elas pareciam ter entendido a
256
importância de dar sentido às atividades nos anos iniciais e de desenvolver reflexões
e debates em sala.
Notamos ainda que muitas delas valorizaram toda a experiência vivida e
consideraram que as levarão para as suas salas de aula. A estudante Groove (ANEXO
G), por exemplo, deu muito valor às nossas vivências, em que discutíamos as diversas
estratégias dos alunos. Assim afirmou: “Com certeza vou levar essa base para sala
de aula e tentar ensinar várias formas de chegar a um resultado com os alunos
levando em consideração o conhecimento e a experiência de cada um”. Além disso,
Groove apresentava a mecanização como ponto forte para as situações de
proporcionalidade. Durante a formação, por meio das atividades, das discussões e
das reflexões, ela incorporou outras características a sua formação. A participante
percebeu, ao longo do curso, que apenas a regra do produto cruzado não era
suficiente. Ela compreendeu que, como professora dos anos iniciais, teria que
aprender diferentes formas de resolução problemas de proporcionalidade. Inclusive,
assim como suas colegas de curso, precisará, ao longo da atuação profissional,
analisar atividades profissionais, pois serão situações que enfrentarão no exercício de
suas funções como professoras.
Os registros, os relatos, as sistematizações e, ainda, o memorial reflexivo
destacaram o valor dado pelas participantes para as vivências, as discussões e as
reflexões sobre o raciocínio proporcional. Foram unânimes em apontar a importância
do curso.
As considerações finais desta investigação virão no próximo segmento.
257
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta seção fazemos as considerações finais de nosso estudo, descrevendo,
de forma sucinta, as etapas percorridas. Procuramos sistematizar as ideias e
responder às questões de pesquisa explicitadas na introdução da tese, por meio da
análise do ocorrido na formação; buscamos ainda apresentar uma síntese das
dificuldades e das evoluções vividas pelas futuras professoras. Reportamo-nos,
portanto à introdução, ao objetivo e às questões de pesquisa.
Síntese da introdução e do objetivo e questões de pesquisa
Neste estudo, pela experiência obtida ao longo da carreira como professor,
observamos dificuldades na compreensão de situações que envolvem o raciocínio
proporcional, tanto em alunos da Educação Básica como em estudantes do Ensino
Superior.
A partir de algumas reflexões e leituras, entendíamos que uma formação inicial
envolvendo ideias ligadas ao raciocínio proporcional poderia contribuir para a atuação
profissional das futuras professoras, estudantes de um curso de Pedagogia de uma
universidade particular da Grande São Paulo.
Visando compreender os processos de ensino e de aprendizagem da
matemática para os anos iniciais e a formação inicial do professor que lecionará
matemática nesta fase escolar, projetamos a formação. Partimos da hipótese de que
uma investigação inicial em um processo formativo poderia auxiliar as participantes a
compreenderem melhor a importância do ensino da matemática nos anos iniciais.
Convidamos estudantes do curso de Pedagogia de semestres distintos para
um curso com duração de 20 horas que seria realizado fora do seu período de aula.
Para aquelas que aceitaram o convite, propusemos, já no protocolo de inscrição, que
respondessem a algumas questões (ANEXO A) sobre o seu perfil e sobre as
experiências vivenciadas com o tema a ser tratado no curso. Pelas respostas
apresentadas, as participantes aparentemente apresentavam dificuldades com o tema
e, tomando esses resultados como ponto de partida, desenhamos um processo
formativo que seria o cenário desta investigação. Para desenvolver este estudo
buscamos atingir o seguinte objetivo: Analisar a competência docente e os
conhecimentos profissionais desenvolvidos pelas participantes de um curso de
258
formação docente para o ensino do raciocínio proporcional. Para chegar ao
objetivo, procuramos responder às duas questões de pesquisa:
a) Quais competências relativas ao olhar profissional do pensamento
matemático de alunos são evidenciadas por futuras professoras durante
sua participação em um curso de formação inicial?
b) Quais conhecimentos profissionais são revelados por um grupo de
estudantes de pedagogia a respeito de situações envolvendo raciocínio
proporcional durante a participação de um curso?
Após a elaboração das questões e do objetivo para desenvolver a presente
pesquisa, propusemos dois estudos: o primeiro, de natureza analítico-descritiva, no
qual buscamos traçar um perfil profissional das futuras professoras, por meio das
respostas dadas por elas a um questionário preliminar. No segundo estudo, de caráter
intervencionista, desenvolvemos e analisamos uma formação inicial com as
participantes.
Procuramos identificar conhecimentos profissionais e competências relativas
ao olhar profissional do seu pensamento matemático e seus conhecimentos sobre o
raciocínio proporcional na formação.
A seguir explicitamos as etapas da pesquisa.
Síntese das etapas da pesquisa
Para desenvolver e delinear a pesquisa, conforme apontado no Quadro 3,
optamos por dividi-la em três etapas, que descrevemos aqui de forma resumida.
A primeira etapa consistiu na revisão de literatura. Apontamos a relevância do
tema e organizamos a revisão de forma temática: raciocínio proporcional, pensamento
proporcional e proporcionalidade; raciocínio proporcional: alguns pressupostos;
proporção e raciocínio proporcional em crianças; formação de professores e raciocínio
proporcional; o que propõem os documentos acerca do uso de diferentes tecnologias
no ensino.
Para contemplar os temas escolhidos para a revisão, inserimos uma bibliografia
que correspondesse às nossas expectativas. Os estudos contidos na revisão são
muito referenciados por outros pesquisadores, dentre os quais destacamos: Lesh,
Post e Behr; Lamon; Post, Behr e Lesh; Silvestre e Ponte.
259
Corroborando a revisão e visando fortalecer nossa pesquisa, inserimos os
documentos mais utilizados no Brasil: os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL,
1997, 1998) e a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017), que contêm
orientações pertinentes à temática e a questões ligadas ao ensino, o que muito nos
ajudou na elaboração, bem como na investigação, na formação e na análise.
Para fechar os conceitos teóricos, escolhemos os estudos de Llinares (2015a,
2015b) e de Llinares e Fernández (2012), a respeito do olhar profissional e da
competência docente; e de Ball, Thames e Phelps (2008), sobre os conhecimentos
necessários ao ensino.
Após estudar e verificar as convergências, identificar lacunas existentes,
localizar a pesquisa e consolidar nossa posição em relação aos trabalhos
investigados, apresentamos aqui a segunda fase desta investigação, destinada à
pesquisa de campo, na qual planejamos um processo formativo.
Para a condução da pesquisa, decidimos utilizar uma metodologia qualitativa
que nos permitisse um modelo próprio, que considerasse o progresso do aluno em
uma comunicação mais próxima à de uma sala aula. Dessa forma, pudemos analisar
e redesenhar constantemente a formação, à medida que detectávamos essa
necessidade.
Realizamos um estudo, de caráter qualitativo, com 30 participantes, com as
quais promovemos reflexões compartilhadas sobre práticas docentes para o ensino e
a aprendizagem do raciocínio proporcional e do olhar profissional sobre seu ensino.
Ao longo das 10 seções de duas horas cada (20 horas), foi possível analisar, discutir,
refletir e promover um processo de aprendizagem, uma vez que a forma de pensar
das participantes exerceu uma função importante, ou seja, se constituiu em um
instrumento que favoreceu a reflexão, deu indicações para que realizássemos a
intervenção ou, até, procurássemos um novo ponto a discutir, no decorrer do trajeto
da pesquisa. O processo formativo foi desenvolvido no segundo semestre letivo de
2016, no qual observamos algumas ausências dentre as participantes em algumas
das sessões. Em contato com as futuras professoras, elas afirmaram que se
encontravam em período de provas e trabalhos finais, o que dificultou sua participação
em todos os encontros.
E, enfim, a terceira etapa foi concebida para a análise dos dados, que teve
como objetivo: Analisar a competência docente e os conhecimentos profissionais
desenvolvidos pelas participantes de um curso de formação docente para o
260
ensino do raciocínio proporcional.
Nessa etapa, aplicamos situações de cunho diagnóstico (questionário
preliminar), atividades de resolução (1 a 6) e atividades profissionais (7 a 10) e, ao
final, propusemos a elaboração de um memorial reflexivo.
A seguir faremos uma síntese das atividades.
Síntese do questionário preliminar
As participantes responderam um questionário preliminar que possuía seis
questões, e a análise das produções e as discussões apresentadas nas gravações
nos levou a concluir que a maioria das futuras professoras apresentou dificuldades
em resolver problemas envolvendo a ideia de proporcionalidade. Apesar das
dificuldades, a maioria conseguiu identificar a proporcionalidade em questões
objetivas.
Detectamos, por meio da análise do relato das participantes durante o
preenchimento do protocolo de inscrição, que tais dificuldades se deram pelo fato de
elas não lembrarem do conteúdo ou por não terem aprendido na escola. Outra
explicação para as dificuldades encontradas, confirmada durante a formação foi o uso
do produto cruzado sem a devida compreensão.
Ademais, detectamos ainda que a maioria delas revelou dificuldades para
diferenciar problemas de proporcionalidade daqueles de não proporcionalidade.
Resultados como os nossos também foram encontrados nos estudos de Nunes e
Costa (2016). Em nossa pesquisa, no item “b” da questão 6 do questionário, não
houve nenhum acerto. Solicitamos que, após a resolução do problema, as
participantes respondessem se a situação envolvia a ideia de proporcionalidade, e o
porquê. No entanto, quando a questão solicitou apenas a distinção, numa proposta
objetiva (itens “b”, “c” e “e” da questão 5 – questionário preliminar), a maioria teve
sucesso.
Após o questionário preliminar, pensamos em ampliar a compreensão das
futuras professoras sobre o conteúdo e a competência docente de olhar
profissionalmente para atividades matemáticas e, para isso, apresentamos uma
atividade introdutória e seis atividades de resolução, com o propósito de identificar
competências relativas ao olhar profissional das futuras professoras e aos seus
conhecimentos profissionais a respeito do raciocínio proporcional.
261
A seguir apresentamos a síntese das atividades de resolução.
Síntese das atividades de resolução
Na atividade introdutória, a intenção foi proporcionar que as participantes
tivessem contato com o raciocínio proporcional por meio de situações de ampliação e
redução de figuras planas. Pretendíamos que compreendessem as relações
proporcionais existentes e explorassem algumas ideias do raciocínio proporcional.
Projetamos uma imagem no datashow e, conforme alterávamos as dimensões
(largura e altura) da figura com o mouse, as futuras professoras informavam o que
ocorria e se a figura era ou não proporcional. Essa situação revelou que as
participantes aparentemente entenderam quais ideias eram requeridas delas ali e, a
partir dos resultados, aplicamos as seis atividades de resolução.
A atividade 1 continha quatro itens e envolvia a ampliação e a redução de uma
figura (casinha) numa malha quadriculada. Pudemos detectar que, apesar das
dificuldades, elas a relacionaram com a atividade "Alterando o rosto do professor".
Nos itens “a” e “b” a maioria das participantes compreendeu a ideia que envolve a
covariação das grandezas, apesar das dificuldades iniciais na interpretação do
problema. No entanto, nos itens “c” e “d” a situação pedia delas que reconhecessem
e usassem um número racional para o fator de proporcionalidade. A maioria
apresentou dificuldades.
Identificamos lacunas no trabalho com os números racionais tanto na atividade
anterior como no questionário preliminar, e inserimos a atividade 2, que teve como
apoio um recurso tecnológico (computador) e um objeto de aprendizagem
denominado "Proporcionalidade e semelhança". A atividade 2 continha situações
introdutórias de reconhecimento do recurso, visando à compreensão do objeto de
aprendizagem, atividades envolvendo a ampliação e a redução de uma imagem (foto
de João) e a exploração do fator de proporcionalidade nas dimensões largura e altura.
Detectamos que, nos itens que solicitavam as ideias de dobro e metade, “a” e “c”, elas
tiveram êxito tanto para dobrar as dimensões da imagem de João quanto para reduzir
ao meio. Tais resultados já haviam sido aflorados na atividade anterior. Isso nos levou
a concluir que, em situações que envolvem dobrar ou reduzir figuras planas, a maioria
das participantes resolve problemas de proporcionalidade.
Já em situações que envolviam números racionais a maioria, assim como na
262
atividade 1, ainda tinha dificuldades. Entretanto, houve avanços, pois no item “d” elas
perceberam a semelhança dele com o item “b”. Por já terem resolvido uma situação
parecida, elas conseguiram solucionar o que lhes era requerido neste último item da
atividade.
A maior parte das participantes apresentou conhecimentos acerca do
conteúdo. Elas resolveram situações envolvendo estratégias de resolução: relação
escalar e funcional. Ademais, a maioria das futuras professoras compreendeu,
reconheceu e utilizou o fator de proporcionalidade corretamente, embora algumas,
como Tulipa, ainda apresentassem dificuldades ao relacionar o raciocínio proporcional
às relações multiplicativas e não aditivas.
Tais constatações nos permitem evidenciar certas competências referentes ao
olhar profissional do pensamento matemático das participantes nesses primeiros itens
de situações de covariância ligadas às ideias de dobro e metade. Essas ideias vão ao
encontro das indicações contidas nos PCN (BRASIL, 1997), na BNCC (BRASIL, 2017)
e nos estudos de Lamon (2005) e Spinillo (1992), que indicam a inserção de dobro e
metade em problemas de proporcionalidade. No entanto, por concordarmos com
Fernández e Llinares (2012) e Oliveira (2009), entendíamos que as futuras
professoras ainda precisavam evoluir em situações de proporcionalidade em que o
fator de proporcionalidade é um número não natural.
Visando ampliar os conhecimentos profissionais e avançar a respeito do
conteúdo, inserimos uma situação envolvendo ampliação e redução de figuras planas
com o apoio do material concreto (barrinhas coloridas), pois ainda naquele momento
algumas ideias precisavam ser compreendidas com mais clareza pelas participantes.
Nessa atividade, a maioria das futuras professoras revelou certa compreensão da
covariação com diferentes números, ampliando assim as ideias iniciais de dobro e
metade, embora Binna e Tulipa ainda apresentassem dificuldades quando a atividade
requeria o uso de números racionais (frações e decimais). A maior parte conseguiu
resolver corretamente todos itens da situação, independentemente dos números
usados para a elaboração da atividade, demonstrando avanços nos conhecimentos
do conteúdo (BALL; THAMES; PHELPS, 2008). Elas utilizaram estratégias distintas
para resolver os itens dessa atividade. Por exemplo, no item “a”, 81% delas utilizaram
a estratégia “up down”. Já no item “b” cerca de 92% utilizaram a “estratégia funcional”.
No item “c” a maioria – 75% das participantes – optou pela estratégia escalar. E, por
fim, no item “d”, 75% delas usaram a estratégia funcional.
263
Ademais, a escolha, pelas participantes, de certas estratégias em detrimento
de outras se deu pela maneira como propusemos a atividade e pelos números
utilizados por nós. Nossos resultados se assemelharam aos de Post, Behr e Lesh
(1995); Lamon (2005); Gitirana et al. (2004); Silvestre e Ponte (2009).
Para ampliar as reflexões das participantes, exploramos situações de
proporcionalidade voltadas para o cotidiano delas, associadas às ideias de dobro e
metade. Dessa forma, aplicamos a atividade 4, que requeria delas o aumento e a
diminuição proporcional dos ingredientes de uma receita de bolo. Os resultados
apontaram que a maioria resolveu corretamente, embora as dificuldades de algumas
participantes, como Tulipa e Binna, residissem nos ingredientes com o valor
fracionário.
Já a atividade 5 teve o mesmo enunciado da situação anterior, porém envolvia
a mobilização de estratégias para expandir apenas as ideias vinculadas a dobro e
metade, tendo em vista que o fator de proporcionalidade envolveu um número não
inteiro. As participantes utilizaram estratégias distintas: umas optaram pela estratégia
da taxa unitária, outras pela estratégia escalar, até mesmo Tulipa e Binna
conseguiram resolver o item que trazia uma fração. As participantes usaram e
relacionaram a porcentagem de 75% da receita original. Dessa forma, concluímos
que, apesar das dificuldades de algumas participantes com o último ingrediente, por
se tratar de uma fração, houve ampliação de competências relativas ao olhar do
raciocínio proporcional (LAMON, 2005).
Na última atividade a ser resolvida (atividade 6), propusemos uma situação de
valor omisso, cujo propósito foi verificar a forma de resolução das participantes e quais
estratégias afloravam. Como já mencionamos aqui, situações de valor omisso são
muito citadas nos programas curriculares (BRASIL, 1998; BRASIL, 2017). No entanto,
não são pouco usadas nos anos iniciais (SANTOS, 2012; Souza, 2015), e esse foi um
dos motivos que nos levou a utilizá-las em nossa pesquisa.
Houve avanços no tocante aos conhecimentos profissionais das futuras
professoras, pois todas resolveram corretamente a situação. As participantes
apontaram, em suas produções, diferentes estratégias (regra de três, funcional,
escalar e taxa unitária) de resolução. Uma evidência disso, foi que 35,71% delas
resolveram a atividade de duas formas diferentes, mesmo sem ter a atividade
solicitado duas resoluções.
A seguir faremos a síntese das atividades profissionais.
264
Síntese das atividades profissionais
Após a inserção e a análise das atividades de resolução, foram aplicadas três
atividades profissionais (7, 8 e 9), cuja finalidade foi verificar quais conhecimentos
profissionais haviam sido construídos (BALL; THAMES; PHELPS, 2008). Além disso,
verificamos se as futuras professoras desenvolviam a competência docente
(FERNÁNDEZ; LLINARES, 2012; LLINARES, 2015a, 2015b).
A atividade 7 (situação de valor omisso) apresentava quatro itens, “a, b, c e d”,
na qual eram solicitadas a identificação e a análise das estratégias utilizadas por
alunos fictícios. No item “a”, a maioria – 86,67% das participantes – apontou
corretamente as resoluções das alunas. Já no item “b” as participantes descreveram
de maneira correta as estratégias utilizadas por alunos fictícios, embora tivessem
apontado a nomenclatura da estratégia usada. No item “c” a maioria das participantes
em seus registros descreveu: procedimentos de cálculo associados à regra de três, à
multiplicação, à divisão, a frações e à proporcionalidade. Já algumas delas indicaram
apenas aspectos pedagógicos, E, por fim, no item “d”, 60% das futuras professoras
apontaram a resolução de Cássia como incorreta.
A atividade 8 (valor omisso) já havia sido proposta na questão 3 do questionário
preliminar, e há estudos realizados sobre ela, como os de Karplus e Karplus (1972) e
Silvestre (2012). Nossa intenção foi ampliar a análise numa situação de valor omisso
já desenvolvida pelas futuras professoras e identificar se avançariam na competência
docente relativa ao seu olhar profissional, ao analisar uma atividade profissional. Para
a presente atividade foi solicitado que as participantes respondessem a quatro itens.
No item “a” detectamos avanços nos conhecimentos: comum do conteúdo e do
currículo. Elas descreveram e discutiram sobre estratégias de resolução e
reconheceram o fator de proporcionalidade. Já no item “b” a maioria delas descreveu
os procedimentos utilizados por elas na atividade.
Conforme apontamos anteriormente, tivemos indícios de que as participantes
avançaram, pois o grau de compreensão e a capacidade de resolução aumentaram,
se compararmos com as atividades iniciais de valor omisso. Além disso, algumas
futuras professoras reconheceram as estratégias de resolução usadas pelos alunos
na atividade. Algumas já procuravam usar as nomenclaturas referentes à estratégia,
e mesmo aquelas que não utilizaram o nome correto descreveram os procedimentos
de modo que favorecesse a inserção da nomenclatura. No item “c”, 75% das futuras
265
professoras descreveram conhecimentos matemáticos e registraram termos como:
proporcionalidade, raciocínio proporcional, regra de três, multiplicação e divisão, e as
25% restantes registraram aspectos pedagógicos. E, no item “d”, as repostas
apresentadas apontaram avanços nos conhecimentos referentes ao ensino, e que
contribuem para o desenvolvimento de suas competências docentes.
A atividade 9 envolveu a comparação entre dois pares de grandezas.
Propusemos tais situações de comparação por serem muito referenciadas em
programas curriculares e, além disso, já terem sido apresentadas nos estudos de
Lamon (2005). A situação previu a análise de quatro itens. No item “a” detectamos
que, no geral, as participantes apontaram as resoluções de Lizzie e de Mariana como
corretas. Entretanto, a maioria delas apresentou dificuldades com as respostas de
Debora, como já havíamos identificado na revisão de literatura, pelos estudos de
Stacey et al. (2001). No item “b” apontamos evoluções das futuras professoras, pois
na questão 4 havíamos percebido que a maioria das participantes apresentou
dificuldades em descrever estratégias em situações de comparações entre dois pares
de grandezas. Já na presente atividade, conseguiram identificar as soluções corretas
e descreveram os procedimentos usados pelas quatro alunas. No item “c”, 40% das
participantes apontaram conhecimentos matemáticos, e os 60% restantes,
conhecimentos pedagógicos. E, no item “d”, a maioria propôs maneiras de auxiliar a
aluna Cristiane e algumas delas descreveram maneiras de auxiliar Cristiane e Debora.
A atividade 10 foi um problema proposto por Fernández e Llinares (2012), com
o qual pretendíamos verificar a capacidade de distinção entre situações proporcionais
e não proporcionais (CRAMER; POST, 1993; FERNÁNDEZ; LLINARES, 2012;
NUNES; COSTA, 2016; OLIVEIRA, 2009; POST; BEHR; LESH, 1995; SILVESTRE;
PONTE, 2009, entre outros). Além disso, observamos se as participantes
identificavam procedimentos de resolução em uma situação não proporcional. A
atividade continha quatro itens: no item “a” apenas 20% delas reconheceram que a
atividade não envolvia a ideia de proporcionalidade. Embora a maioria das
participantes se enquadre no nível 1 do desenvolvimento do raciocínio proporcional,
elas evoluíram. Tal evidência se deu, por compararmos a presente situação com a
atividade 6, na qual nenhuma delas havia identificado que a questão envolvia a não
proporcionalidade. Houve um avanço de 20%.
Identificamos lacunas no item “a”, pois as participantes, antes de ensinarem
tais conceitos, precisam ter clara a distinção entre situações proporcionais e não
266
proporcionais (POST; BEHR; LESH, 1995) e, pelos resultados, percebemos a
necessidade de mais estudos. No item “b” as participantes avançaram a respeito dos
conhecimentos acerca do conteúdo (BALL; THAMES; PHELPS, 2008). Apesar de
80% apresentarem dificuldades no reconhecimento da situação, elas descreveram
estratégias acerca do olhar profissional essencial para o avanço do raciocínio
proporcional. Já no item “c”, a maioria das futuras professoras apontou a resolução de
João como correta, E, no item “d”, elas inseriram em seus protocolos respostas
genéricas, contendo as formas pelas quais poderiam intervir para auxiliar Marcos.
Pudemos também perceber avanços quanto ao grau de competência docente das
participantes, ao apontarem as resoluções corretas e descreverem estratégias de
resolução.
Após as discussões e as reflexões, apresentaremos a síntese do memorial
reflexivo.
Síntese do memorial reflexivo
No memorial reflexivo solicitamos às participantes que escrevessem a respeito
de suas impressões sobre o curso. Os protocolos indicaram a satisfação das futuras
professoras com o curso. Além disso, conforme já vimos neste estudo, por já ter tido
contato com as futuras professoras na graduação, percebemos que aquelas que
terminaram o curso avançaram, umas em maior escala, outras em menor. Elas
desenvolveram competências docentes relativas ao olhar profissional e obtiveram
conhecimentos profissionais acerca do conteúdo, ao se deparar com atividades de
resolução e atividades profissionais.
A seguir traremos a conclusão deste estudo e as perspectivas futuras.
Conclusão do estudo: Respostas às questões de pesquisa e perspectivas
futuras
Para finalizar, é importante ressaltar que os resultados aqui destacados
retratam o domínio desse grupo investigado sobre situações envolvendo o raciocínio
proporcional com futuras professoras. Procuramos desenvolver um curso que
priorizasse as reflexões compartilhadas sobre diferentes categorias de situações que
envolvem o raciocínio proporcional, por meio de diferentes abordagens
267
metodológicas, por acreditar que, assim, esse grupo poderia (re)significar seus
conhecimentos e seu olhar profissional para o ensino desse tema.
As reflexões que realizamos acerca dos resultados aqui apresentados serviram
de referência para elaborar respostas às questões de pesquisa expostas
anteriormente: concluímos que as futuras professoras foram capazes de compreender
a função do fator de proporcionalidade e resolver corretamente situações de
proporcionalidade associadas às ideias de dobro e metade nos distintos ambientes
apresentados: papel e lápis, tecnológico e material concreto. Além disso, resolveram
e utilizaram diferentes estratégias em situações de valor omisso e de comparação
entre dois pares de grandezas, embora algumas tenham sentido dificuldades ao se
deparar com números racionais em suas diferentes representações.
Ademais, a maior parte das futuras professoras obteve conhecimentos do
conteúdo em problemas de proporcionalidade. Segundo nossa análise, elas se
classificam, de acordo com Llinares (2015a, p. 102) no Nível 3 (já possuem
habilidades para discriminar e justificar o problema). Mesmo aquelas que
apresentaram dificuldades, se compararmos suas últimas produções com as
produções iniciais e observarmos os relatos e as discussões apresentadas ao longo
da formação, revelam fortes indícios de avanços nesta investigação tanto no
desenvolvimento do raciocínio proporcional como nos conhecimentos do conteúdo,
como foi o caso de Tulipa.
Constatamos que, no início do presente estudo, as futuras professoras haviam
se apropriado do raciocínio aditivo, a partir do curso de formação realizado as
estudantes verificaram que envolviam o raciocínio multiplicativo.
Destacamos ainda, a evolução de algumas participantes como Groove e Cami
que no início do curso relatavam e aplicavam o produto cruzado de forma mecânica.
As participantes puderam refletir a respeito da necessidade da compreensão das
relações envolvidas no raciocínio proporcional e, partir daí, avançaram no
entendimento da temática como poderiam utilizá-la em suas respectivas salas de aula.
Esta investigação revelou, portanto, que um grupo de alunas de Pedagogia,
que apresentava dificuldades com o raciocínio proporcional, ao realizar uma formação
inicial, pôde avançar em aspectos tanto matemáticos quanto pedagógicos.
Corroborando, a formação permitiu que as futuras professoras
compreendessem melhor a respeito da temática e sua relevância no ensino, as
discussões e reflexões promovidas potencializaram nas participantes a tomada de
268
consciência que a aprendizagem do tema seria fundamental para seu futuro ensino.
Os resultados apresentados demonstram que a maioria das participantes mesmo que
ainda não terem vivência de sala de aula (quadro 2) puderam desenvolver a
competência docente de olhar com sentido. As ações e reflexões promovidas durante
a formação contribuíram para a ampliação dos conhecimentos do conteúdo, do ensino
e do currículo das futuras professoras.
Por outro lado, entendemos que é necessário mais tempo para o
desenvolvimento dessa competência docente de olhar com sentido e ainda, a
necessidade de mais sessões visando a construção de todas as categorias
destacadas por Ball, Thames e Phelps e até quem sabe, envolvendo outros tipos de
situações em que o raciocínio proporcional. É importante a realização de estudos a
respeito do tema, de modo a promover o reconhecimento e a diferenciação entre
situações proporcionais e não proporcionais.
Os resultados aqui encontrados nos permitem afirmar que situações com essa
finalidade devem ser mais exploradas em cursos de formação para professores.
Nossa afirmação se pauta nos resultados obtidos e, além disso, “a pessoa precisa ser
capaz de distinguir entre situações proporcionais e não proporcionais. Isso tem
implicação direta no ensino” (POST; BEHR; LESH, 1995, p. 91).
Vale ressaltar a importância de estudos com alunos de Pedagogia voltados
para a questão do raciocínio proporcional. Ao realizarmos a revisão de literatura,
sentimos falta de pesquisa que enfatize a temática com alunos de Pedagogia, pois
detectamos que grande parte dos estudos a respeito do assunto envolvendo
professores está concentrada nos anos finais do Ensino Fundamental. Em nossa
pesquisa, nenhuma participante atingiu o nível 467 proposto por Llinares (2015a), pois
as respostas e os relatos apresentados apontam a falta de identificação de perfis dos
estudantes. Provavelmente, uma formação com maior duração, com situações que
explorem a identificação de perfis e ações em sala de aula que aflorem tais
características possibilitem que estudantes cheguem ao nível 4.
Além disso, como perspectivas futuras identificamos a importância de
pesquisas que tenham como finalidade:
- analisar acerca de quais adaptações as futuras professoras poderiam fazer
ao aplicarem as atividades propostas nesse estudo em suas respectivas salas de aula;
67 Neste nível os futuros professores discriminam o problema, justificando e identificando os perfis.
269
- investigar como alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental se
comportam ao se deparem com as situações apresentadas nesse estudo;
- compreender as ideias envolvem o raciocínio proporcional;
- diferenciar relações aditivas de relações multiplicativas.
Acreditamos que a forma pela qual abordamos o assunto, bem como os
teóricos tanto da revisão como da formação, nos ofereceram um importante aporte
para a realização desta pesquisa. A junção desses elementos nos auxiliou a
responder às questões apresentadas na fase inicial da pesquisa e, principalmente,
possibilitou chegar aos objetivos traçados na introdução do estudo.
270
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279
APÊNDICE B – CONHECENDO MELHOR MEU COLEGA
Você recebeu um formulário para entrevistar seu colega de curso. Registre
todas as informações que entender serem pertinentes na apresentação.
QUESTÃO 1 – Qual é o seu nome, tem algum apelido? Em caso afirmativo, qual?
QUESTÃO 2 – Qual o motivo que o fez participar desse curso e o que espera dele?
QUESTÃO 3 – O que gosta de fazer nas horas vagas?
QUESTÃO 4 – Para preservar sua imagem, iremos chamá-lo (a) por um pseudônimo. Como gostaria de ser chamado (a)?
Resposta
Resposta
Resposta
Resolução
280
APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO PRELIMINAR
Caro aluno, sua participação é muito importante para nós. Queremos
compreender como desenvolve o conhecimento de futuros professores, e para
isso precisamos que você apresente suas respostas de forma detalhada.
Obrigado desde já por sua ajuda.
QUESTÕES ABERTAS
QUESTÃO 1 – O raciocínio proporcional e a proporcionalidade estão presentes no
nosso dia a dia. Você poderia exemplificar situações da vida cotidiana em que
utilizamos o raciocínio proporcional e/ou a proporcionalidade?
QUESTÃO 2 – Ao lecionar matemática, você tratará da temática raciocínio
proporcional e proporcionalidade. Você se lembra de conteúdo matemático em que
esse tipo de raciocínio é utilizado para resolvê-lo? Se se lembrar, dê um exemplo de
uma situação.
Resolução
Resolução
281
QUESTÃO 3 - Na figura seguinte, podemos observar o Senhor Baixo, cuja altura mede
seis clips. Se fôssemos medi-lo com palitos de fósforo, seriam necessários quatro
palitos. Ele tem um amigo, o Senhor Alto, que mede seis palitos.
Quantos clipes utilizaríamos para medir o Senhor Alto?
QUESTÃO 4 - “No último sábado à tarde, a família Smith foi para o teatro Starr e todos
os 6 integrantes entraram no cinema, pagando $ 10. A família West foi ver um filme
no Odyssey e todos os 4 entraram no cinema, pagando $ 7. Que teatro tem melhores
preços na matinê de sábado?
Resolução
Resolução
282
QUESTÃO 5 - Como já dissemos, a proporcionalidade e o raciocínio proporcional
estão presentes no nosso dia a dia. Escolhemos algumas situações para que você
pense e nos diga se nelas há a variação das duas grandezas envolvidas. Se houver,
essas relações de dependência podem ser diretamente proporcionais (DP) ou não
proporcionais (NP). Leia cada situação e decida onde classificá-la.
Dependência - Diretamente proporcionais (DP) ou Não Proporcional (NP). DP NP
a) A quantidade de pães comprados e o preço pago por eles.
b) A idade de uma pessoa e o número de calça que ela veste.
c) A idade de uma pessoa e seu peso.
d) O salário de um vendedor e a quantidade de sapatos que ele vendeu.
e) A quantidade de ovos para uma receita de bolo e a quantidade de ovos para cinco receitas do mesmo bolo.
f) O salário de um trabalhador e o número de irmãos que esse trabalhador tem.
g) O salário de um professor e o número de aulas que ele leciona.
h) A nota de uma avaliação na qual todas as questões têm o mesmo valor e a quantidade de questões certas.
QUESTÃO 6 - Seu Manuel é vendedor de uma lojinha de conveniência e recebe
mensalmente R$ 850,00. Além de seu salário fixo, seu Manuel recebe também 10%
por cada venda feita. Responda:
a) Quanto o vendedor deverá receber, se vender R$10000,00?
b) Essa é uma situação de proporcionalidade, por quê?
Resolução
Resposta e justificativa
283
APÊNDICE D - FORMAÇÃO: ATIVIDADE 1
Em uma aula, a senhora Julia, professora da escola em que Maria estuda, solicitou a
seus alunos que fizessem um desenho de sua casa. Maria, antes de realizar sua
produção, fez uma malha quadriculada, para ficar mais fácil o desenho, e
apresentou à professora a seguinte figura:
Dona Julia, após esta etapa, solicitou aos alunos que:
a) dobrassem o tamanho do desenho;
b) reduzissem pela metade o tamanho do desenho;
c) aumentassem 2,5 o tamanho da casa;
d) reduzissem 1/4 o tamanho do desenho da casa.
Reproduza as possíveis figuras que Maria fez para sua professora.
a) Dobrar o tamanho do desenho
284
b) Reduzir pela metade o desenho
c) Aumentar 2,5 o tamanho da casa
d) Reduzir 1/4 o tamanho da casa
285
APÊNDICE E - FORMAÇÃO: ATIVIDADE 2
Queremos compreender como se desenvolve o conhecimento de futuros
professores sobre uma atividade a ser realizada no computador, chamada
"Proporcionalidade e semelhança", e, para isso, precisamos que você apresente
suas respostas de forma detalhada. Obrigado desde já por sua ajuda.
QUESTÕES ABERTAS
QUESTÃO 1 – Na atividade "Proporcionalidade e semelhança", quais dificuldades
você encontrou?
QUESTÃO 2 – Quais relações você pode identificar na atividade?
QUESTÃO 3 - Na sua opinião, seria possível trabalhar com os alunos dos anos
iniciais? Em caso afirmativo, explique.
Resposta
Resolução
290
APÊNDICE G - FORMAÇÃO: ATIVIDADE 4
Uma receita de muffins de morango para 16 pessoas é a seguinte: 8 xícaras de farinha,
2 xícaras de morangos, 8 colheres de manteiga, 1 xícara de açúcar e ½ xícara de
manteiga. Você vai cozinhar para 32 pessoas. Quanto de cada um desses
ingredientes você precisa usar?
Agora você vai cozinhar para 8 pessoas. Quanto de cada um desses ingredientes você
precisa usar?
291
APÊNDICE H - ATIVIDADE 5
Uma receita de muffins de morango para 16 pessoas é a seguinte: 8 xícaras de
farinha, 2 xícaras de morangos, 8 colheres de manteiga, 1 xícara de açúcar e ½ xícara
de manteiga. Você vai cozinhar para 12 pessoas. Quanto de cada um desses
ingredientes você precisa usar?
Kk;lkl
292
APÊNDICE I - FORMAÇÃO: ATIVIDADE 6
Jim tem que imprimir o jornal da escola, mas ele só pode fazê-lo no tempo do intervalo.
Ele leva 15 minutos para imprimir 12 jornais. Quantos jornais ele pode imprimir durante
os 35 minutos de intervalo?
Resolução
293
APÊNDICE J - FORMAÇÃO: ATIVIDADES PROFISSIONAIS - ATIVIDADE 7
Nas próximas atividades temos a intenção de saber como vocês lidam com atividades
profissionais nas quais terão que analisar resoluções de alunos. Para isso
apresentamos alguns problemas:
Em uma caixa há 5 bombons de caramelo e 13 de chocolate. Uma outra caixa tem
100 bombons de caramelo. Quantos bombons de chocolate devemos colocar para
que se tenha a mesma proporção da primeira?
Aluna Resolução Aline
Bianca
Cássia
Daiane
a) Qual (is) resposta (s) você acredita que está (ão) correta (s)?
Justificativa
294
b) Identifique e analise as estratégias utilizadas pelas alunas.
c) Quais conhecimentos o professor precisa dominar em sala de aula para lecionar
esse tema?
d) Se tiver alguma resolução incorreta, identifique o erro e explique como você
auxiliaria seu aluno a compreender esse conteúdo matemático.
Justificativa
Justificativa
Justificativa
295
APÊNDICE K - FORMAÇÃO: ATIVIDADES PROFISSIONAIS - ATIVIDADE 8
Na figura a seguir podemos observar o Senhor Baixo, cuja altura mede seis clipes.
Se fôssemos medi-lo com palitos de fósforo, seriam necessários quatro palitos. Ele
tem um amigo, o Senhor Alto, que mede seis palitos.
Quantos clipes utilizaríamos para medir o Senhor Alto?
Figura 1 - Imagem do senhor baixo construída pelo aluno do 4.° ano Karol
Fonte: Adaptado de Silvestre (2012, p. 127)
Essa questão foi aplicada em um curso de Pedagogia na disciplina Metodologia do
Ensino da Matemática. Selecionamos a resolução de quatro alunas.
PRISCILA
ELIOTE
296
ALESSANDRA
FERNANDA
Com base nas produções apresentadas, responda:
a) Qual (is) resposta (s) você acredita que está (ão) correta (s)?
b) Descreva e analise as estratégias utilizadas pelas alunas.
Justificativa
Justificativa
297
c) Quais conhecimentos o professor precisa dominar em sala de aula para lecionar
esse tema?
d) Você acredita que há algumas resoluções incorretas? Em caso afirmativo,
identifique o erro e explique como você auxiliaria seu aluno a compreender o
exercício.
Justificativa
Justificativa
298
APÊNDICE L - FORMAÇÃO: ATIVIDADES PROFISSIONAIS - ATIVIDADE 9
No último sábado à tarde, a família Smith foi para o teatro Starr e todos os 6
integrantes entraram no cinema, pagando $ 10. A família West foi ver um filme no
Odyssey e todos os 4 entraram no cinema, pagando $ 7. Que teatro tem melhores
preços na matinê de sábado?
Para o problema anterior, quatro alunos forneceram as seguintes respostas:
Cristiane
Lizzie
Debora
Mariana
Como professora dos anos iniciais:
299
a) qual (is) resposta (s) você acredita que está (ão) correta (s)?
b) Identifique e analise as estratégias utilizadas pelas alunas.
c) Quais conhecimentos o professor precisa dominar em sala de aula para lecionar
esse tema?
Justificativa
Justificativa
Justificativa
300
d) Se tiver alguma resolução incorreta, identifique o erro e explique como você
auxiliaria seu aluno a compreender esse conteúdo matemático.
Justificativa
301
APÊNDICE M - FORMAÇÃO: ATIVIDADES PROFISSIONAIS - ATIVIDADE 10
Raquel e Juan estão plantando flores e plantam na mesma velocidade, mas Juan
começou antes. Quando Raquel havia plantado 4 flores, Juan já havia plantado 12
flores. Se Raquel plantou 20 flores, quantas plantou Juan?
João
Marcos
a) O problema descrito envolve a ideia de proporcionalidade? Justifique.
302
b) Descreva detalhadamente as estratégicas de resolução que cada um dos alunos utilizou. c) Qual deles acertou a questão?
d) Se você fosse o professor desse aluno, para as duas respostas, o que você faria e por quê?
303
APÊNDICE N - FORMAÇÃO: MEMORIAL
Agora você fará um memorial sobre nosso curso, ou seja, relatará o que
aprendeu, em que tem dúvida, o que até o presente momento contribuiu para
sua aprendizagem e o que será relevante para desenvolver seu trabalho com
seus alunos futuramente.
Registro