O Setor e a Sociedade: uma caracterização do APL de Gemas e Artefatos de Pedra de Teófilo Otoni

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O Setor e a Sociedade: uma caracterização do APL de Gemas e Artefatos de Pedra de Teófilo Otoni The sector and the society: a characterization of the APL of Gems and Stone Products of Teófilo Otoni BENTO, Bruno Dias; Cientista Social e Especialista em Gestão Cultural; Universidade do Estado de Minas Gerais. [email protected] COSTA, Victor Gonçalves; Economista; Universidade do Estado de Minas Gerais [email protected] PRETA, Vanusa Senna Catta; Bacharel em Direito; Universidade do Estado de Minas Gerais [email protected] palavras chaves: APL; gemas; joias; desenvolvimento. A região que abrange municípios do Norte de Minas, dos vales do Rio Doce, Jequitinhonha, São Mateus e Mucuri, tendo por referência as cidades de Teófilo Otoni e Governador Valadares configura uma das principais regiões produtoras de gemas do planeta, tanto em variedade, como em qualidade e quantidade de suas ocorrências. O APL de Gemas e Artefatos de Pedra de Teófilo Otoni abrange 21 municípios nas microrregiões de Teófilo Otoni e Araçuaí, ambas pertencentes à região de planejamento Jequitinhonha/Mucuri. Existem alguns estudos e diagnósticos do setor, que são referência para projetos, ações de apoio, pesquisa e desenvolvimento em diferentes segmentos do APL de Gemas e Artefatos de Pedra de Teófilo Otoni. Estes estudos são bases de estudos obrigatórias para o desenvolvimento de pesquisa sobre o setor. keywords: APL; gems; jewelery; development The region that covers counties in the northern of Minas Gerais, the valleys of the Rio Doce, Jequitinhonha, São Mateus and Mucuri, having as referral the cities of Governador Valadares and Teófilo Otoni stands as one of the major producing regions of gems all over the planet, both in variety as quality and quantity of their occurrences. The APL of Gems and Stone Products in Teófilo Otoni covers 21 counties in the regions of Teófilo Otoni and Araçuaí, both belonging to the planning region Jequitinhonha / Mucuri. There are some studies and sector’s diagnosis, which are reference for projects, supporting actions, research and development in a variety segments of the APL of Gems and Stone products in Teófilo Otoni. Those studies are the basis structures studies required for the development of the researches on the sector.

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O Setor e a Sociedade: uma caracterização do APL de Gemas eArtefatos de Pedra de Teófilo OtoniThe sector and the society: a characterization of the APL of Gems and Stone Products of Teófilo Otoni

BENTO, Bruno Dias; Cientista Social e Especialista em Gestão Cultural; Universidade do Estado de Minas [email protected]

COSTA, Victor Gonçalves; Economista; Universidade do Estado de Minas [email protected]

PRETA, Vanusa Senna Catta; Bacharel em Direito; Universidade do Estado de Minas [email protected]

palavras chaves: APL; gemas; joias; desenvolvimento.

A região que abrange municípios do Norte de Minas, dos vales do Rio Doce, Jequitinhonha, São Mateus e Mucuri, tendo por referência as cidades de TeófiloOtoni e Governador Valadares configura uma das principais regiões produtoras de gemas do planeta, tanto em variedade, como em qualidade e quantidade de suas ocorrências. O APL de Gemas e Artefatos de Pedra de Teófilo Otoni abrange21 municípios nas microrregiões de Teófilo Otoni e Araçuaí, ambas pertencentesà região de planejamento Jequitinhonha/Mucuri. Existem alguns estudos e diagnósticos do setor, que são referência para projetos, ações de apoio, pesquisa e desenvolvimento em diferentes segmentos do APL de Gemas e Artefatosde Pedra de Teófilo Otoni. Estes estudos são bases de estudos obrigatórias para o desenvolvimento de pesquisa sobre o setor.

keywords: APL; gems; jewelery; development

The region that covers counties in the northern of Minas Gerais, the valleys of the Rio Doce, Jequitinhonha, São Mateus and Mucuri, having as referral the cities of Governador Valadares and Teófilo Otoni stands as one of the major producing regions of gems all over the planet, both in variety as quality and quantity of their occurrences. The APL of Gems and Stone Products in Teófilo Otoni covers 21 counties in the regions of Teófilo Otoni and Araçuaí, both belonging to the planning region Jequitinhonha / Mucuri. There are some studies and sector’s diagnosis, which are reference for projects, supporting actions, research and development in a variety segments of the APL of Gems andStone products in Teófilo Otoni. Those studies are the basis structures studies required for the development of the researches on the sector.

Aspectos Históricos e SocioeconômicosAs microrregiões de Teófilo Otoni e Araçuaí onde se localiza o APL

têm processos históricos diversos, apesar de várias intercessões. Araçuaí e os demais municípios de sua microrregião estão localizados na região conhecida como Médio Jequitinhonha, qual o processo de origem é anterior ao vale do Mucuri.

As gemas estão entre os motivos das tentativas de ocupação do Vale do Mucuri e do Médio Jequitinhonha, quer direta ou indiretamente. Desde as primeiras bandeiras já citadas na unidade anterior, até a ocupação propriamente a partir no decorrer do século XIX.

A expansão capitaneada pela atividade mineradora foi rápida e o processo de ocupação dela derivado foi intenso. Várias foram as vilas criadas imediatamente após a descoberta de áreas de mineração, inclusive Minas Novas, transformada em “Vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso das Minas Novasdo Araçuaí” ou “Vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso das Minas do Fanado”, em 1730, apenas três anos após Sebastião Leme do Prado ter encontrado grandequantidade de ouro nas margens do ribeirão Bom Sucesso, próximo à sua confluência com o rio Araçuaí. Foi nessa mesma época que vários pontos de mineração começaram a ser explorados em localidades que se tornariam as cidades de Chapada do Norte, Berilo e Virgem da Lapa. Minas Novas é o centrohistórico de toda a região norte-nordeste de Minas Gerais, de onde se desmembraram 142 municípios até 1995 (MESOVALES, 1995).

O Médio Jequitinhonha e o Mucuri são visitados desde o século XIV, mesmo em que o Brasil torna-se colônia portuguesa. O motivo para a maior parte de tais visitas foram histórias de grandes jazidas, de grande riqueza, tal como a Serra das Esmeraldas e a lagoa de Vupabussú, muitas vezes contadas por indígenas. Tais como a Expedição Martim Carvalho em 1550 buscava a Serra das Esmeraldas; a Expedição Tourinho, 1573, descobriu “uma pedreira de esmeraldas e outra de safiras”; a Bandeira de Fernão Dias Paes em 1673 chegou até a Vupabussú, a Lagoa Preta em Itambacuri, antigo distrito de Teófilo Otoni; e a bandeira de João Silva que permaneceu nas matas do Mucuri entre as décadas de 1730 e 1750.

Muitas destas expedições não encontraram o que buscavam, ao invés deesmeraldas, encontraram turmalinas, além dos chamados Botocudos, 1 da vegetação densa típica de mata atlântica impunham obstáculos quase intransponíveis aos desbravadores. Apesar disso, estas pedras preciosas são noticiadas em diversas oportunidades, como pelos bávarosSpix e Martius (Apud PORTO, 1931) que disseram ter encontrado topázios brancos e azuis, granadas, crisoberilos, cristais de rocha, ametista, quartzos vermelhos e turmalinas verdes, extraídas por “pobres mulatos e negros, sempre com risco de um assalto de índios inimigos”; e “logo eram elas vendidas aosjoalheiros nas Vilas”, tendo as levado até lapidários de Chapada – atual Chapada do Norte e antigo distrito de Minas Novas. Segundo eles,

1 Antes da década de 1840 o Mucuri era inteiramente povoado por indígenas.Haviam os Maxakalis e os Borun, estes chamados genérica e pejorativamentepelos portugueses de botocudos em sem número de nações, dentre Pojichás,Nacknenucks, Giporoks. Deles, sobreviveram os Mocuriñ, atualmente emCampanário.

Manuel Rodrigues Fróis em 1808 “abriu no mato” caminho até estas pedras, logo abandonado por causa do temor que os Borun causavam.

A região do APL ainda carece de estudos e pesquisas com viés histórico-cultural, e o setor de gemas e joias ainda mais. Não há levantamentos específicos, as pedras são sempre tratadas como curiosidade, por conseguinte, continua-se a supor sua origem, uns com maior ou menor grau de detalhamento. Desde o início da década de 2000 há diversos trabalhos sobre o setor em nível local e regional, trazendo algumas questões interessantes.

Pode-se dizer a partir destes estudos e de fontes históricas, que a exploração de gemas é anterior à formação do Mucuri tal como o percebemos hoje, e ocorreu desde o século XVII em quase todo o Jequitinhonha. Com relação ao beneficiamento, as informações são mais escassas e desencontradas.

Figura 1 - Hugo Ziemer com garimpeiros 2

Figura 2 - Ponciano Souto serrando a Marta Rocha, observado por José Alves – 1955 3

2 Fonte: Acervo Carl Hugo Ziemer, gentilmente cedida. Data: provavelmente a década de 1950.3 Fonte: Acervo Patrimônio Cultural de Teófilo Otoni. Procedência: João Cannizza. Acervo Associação Mucury Cultural.A legendária água-marinha, Marta Rocha. Esta pedra foi encontrada a 9 de janeiro de 1955, quase à flor da terrapelos garimpeiros Tibúrcio e Zé Baiano, na fazenda Praia Alegre, de propriedade de Olavo Costa Galvão, no distrito de Topázio. Originariamente elapesava 24,8 Kg.

Figura 3 - Garimpo de Águas Marinhas 4

Figura 4 - Hugo Ziemer com Água Marinha 5

O Médio Jequitinhonha

4 Fonte: Acervo Carl Hugo Ziemer, gentilmente cedida. Data: 1970. 5 Idem. Data: provavelmente a década de 1970.

A região conhecida por Médio Jequitinhonha tem seu processo ocupaçãonão índia iniciado em meados do século XIX a partir da expansão da pecuária praticada no Norte de Minas e da expansão da atividade mineratória de Minas Novas. Esta região situada na confluência dos rios Araçuaí e Jequitinhonha torna-se um entreposto comercial entre o norte mineiro e a Bahia, destacando-se na extração de gemas e ouro, emdiversos níveis de organização e exploração.

Analisando o estabelecimento da rede de cidades do Vale do Jequitinhonha, VELLOSO (1998) destaca a atividade mineratória como fenômeno criador, aglutinante e urbanizador desta região:

Na primeira metade do século XIX, a expansão da rede de lugares urbanos, associa-se primordialmente à consolidação de pequenos núcleos garimpeiros que começaram a surgir ainda no século XVIII. As proibições do Regimento Diamantino eram severas e a perseguição aos garimpeiros dentro das áreas da “Demarcação” imprimia à atividade grandes riscos. Some-se as estes fatores, a relativa carência de ouro e diamantes, que começou a se esboçar na segundametade do século e que tornou ainda mais penoso e ingrato o trabalho nas lavras. A procura de outras áreas, distantes dos lugares mais fiscalizados ou mesmo fora da área demarcada, resultou num movimento de parte da população, concentrada no alto Vale do Jequitinhonha, em direção a outras áreas, notadamente aquelas localizadas nas proximidades de Minas Novas e ao longo do médio Jequitinhonha (VELLOSO, MATOS, 1998).

A consolidação do setor de gemas e joias ainda no século XIX é corroborada por Spix & Martius que em viagem à região relatam lapidários no município de Chapada do Norte – talvez seja daí a origemda lapidação na região de Teófilo Otoni. Desde então a região fornece ouro, em menor escala, e junto ao Mucuri esta região torna-se grande fornecedora de gemas.

O MucuriNos diagnósticos e trabalhos referidos, há um ponto passivo, de que

a origem da lapidação de gemas no Mucuri, especialmente em Teófilo Otoni, tem início com a chegada de imigrantes alemães, todavia sem maior detalhamento:

Teófilo Benedito Otoni através da Companhia do Mucuri, trouxe por volta de1840, imigrantes europeus para colonizarem o Vale do Mucuri e aqui edificarem a Nova Filadélfia, posteriormente denominada Teófilo Otoni. Dentre estes imigrantes havia um grupo de alemães oriundos de Idar-Oberstein, uma região alemã produtora de Ágata, sendo que estes imigrantes conheciam as técnicas de lapidação. Chegando à região de Teófilo Otoni encontraram as pedras preciosas, introduziram as técnicas de lapidação e iniciaram o comércio com o continente europeu (BAMBERG, 2005).

De acordo com Igor Sorel (Sorel, 2013), arquiteto e pesquisador, pode-se apontar que no século XIX este processo migratório não contou com germânicos da região de Idar-Oberstein, uma vez que as empresas responsáveis pela seleção e recrutamento dos colonos no Mucuri atuaramprincipalmente na região de Leipzig, além do que lapidação e joalherianão constavam nas profissões declaradas pelos colonos imigrantes. Todavia, como ainda não há nenhuma pesquisa histórica que tenha por

objetivo mapear a origem da atividade na região, pode-se contar com indícios ou informações colhidas junto ao setor.

Há ademais, outra questão a ser levantada. Reinaldo Ottoni (Ottoni, 1931, apud Spix & Martius) relata em uma nota que os bávaros Spix e Martius levaram amostras de pedras preciosas do Mucuri a lapidários deChapada. Interessante informação, uma vez que pelos caminhos antigos –à época da CCNM –, Chapada do Norte dista cerca de 250 quilômetros de Teófilo Otoni, enquanto Idar-Oberstein, em linha reta, fica quase 7 (sete) mil quilômetros de distância. Lembrando ainda que assim como a cidade alemã é famosa pelos diamantes, o Jequitinhonha contava com o antigo Distrito Diamantino, região que já foi a maior produtora de diamantes do mundo. Pois bem, esta informação pode indicar ou uma novaorigem para o beneficiamento das gemas no Mucuri ou uma mais uma a somar-se com a tradicionalmente atribuída pelo próprio setor – versão de Idar-Oberstein –, entretanto, somente uma pesquisa poderá apontar aorigem mais plausível, que também pode não ser única.

Ainda segundo Sorel, o Zé Turco, libanês e negociante, já na década de 1920 comercializava gemas em bruto “lá fora”, no alto Jequitinhonha, passando pela estrada de Alto dos Bois – atual Angelândia. É razoável imaginar que um destes empreendedores mucurianos possa ter importado um profissional para facilitar seu trabalho e aumentar seus ganhos agregando mais valor ao seu produto.

A versão tradicional, porém é reiterada por Carl Ziemer, ex-empresário do setor, afirmando que fora seu pai, Hugo Ziemer, quem trouxera a lapidação à Teófilo Otoni. Ziemer, o pai, lapidário e empresário, chegou ao Brasil na década de 1920 onde constituiu famíliae entre o final desta década e início dos anos 30, atuava na mineraçãoe estabeleceu a primeira lapidação de Teófilo Otoni.

Finalmente, as joalherias são outra questão ainda mais nebulosa. O município de Teófilo Otoni, conhecido pelo beneficiamento e comercialização das gemas não é representativo no setor joalheiro, limitando-se ao atendimento da demanda local/regional. A história e a memória deste segmento do setor são ainda menos lembradas e conhecidas.

Demonstra-se, então, a necessidade de pesquisas históricas para localizar a origem ou origens do beneficiamento de gemas em Teófilo Otoni e no Vale do Mucuri, bem como o desenvolvimento do setor, técnicas e a memória de seus agentes, garimpeiros, lapidários, joalheiros e lapidários.

Aceito realmente é o fato de que a origem do Vale do Mucuri está intimamente ligada ao setor de gemas e joias, sendo necessário que pesquisadores de diversas áreas debrucem-se sobre os diversos processos e aspectos que compõem esta realidade.

Os municípios que compõem o APL, segundo o IBGE, em sua maioria estão situados no Vale do Mucuri (13) somados têm área 21.568 km², corresponde a cerca de 4% do território mineiro, com população em 2010de 423.069 habitantes, 2% da população de Minas Gerais. Estes

municípios são bastante diversos do ponto de vista cultural, mas com grandes semelhanças, desde questões referentes à origem e desenvolvimento histórico, o que fora razoavelmente discutido na primeira unidade. A desigualdade social, má distribuição de renda e outros problemas são também comum à toda porção nordeste do estado. Este região abrangida pela região de planejamento Jequitinhonha/Mucurié conhecida amplamente por sua pobreza material em contraste com as riquezas mineral e cultural, todavia nos últimos 20 anos há um processo de avanço significativo nos índices socioeconômicos e consequente uma melhora sensível e significativa das condições de vidada sua população.

Figura 5 - O APL de Gemas e Artefatos de Pedra de Teófilo Otoni

Elaborado por Bruno Dias Bento.O setor de gemas e joias, na região aqui estudada, é de grande

importância econômica, social e cultural e por questões intrínsecas deseu desenvolvimento, este setor é marcado pela informalidade e baixa agregação de valor, uma vez que as gemas tendem a sair da região do APL em estado bruto, no máximo lapidadas, e a região ainda não conta com polo joalheiro capaz de reverter esta situação, contudo há projetos e iniciativas com este objetivo. De acordo com o IBGE, em

2010 a região obteve PIB 6– Produto Interno Bruto – de R$2.688.832.000,00 (dois bilhões, seiscentos e oitenta e oito milhões,oitocentos e trinta e dois mil reais), ou seja, este é o valor de todaa produção bruta somada dos 21 municípios, neste número estão os setores de serviços, indústria, agropecuária e todos os impostos, entretanto isto só corresponde a 0,8% do PIB mineiro no mesmo período.

O Índice de Gini 7 mede o grau de desigualdade de um país ou região,quanto mais próximo de “1” (um), maior é a desigualdade. O Estado de Minas Gerais possui 0,61, em 1991 e 0,56 em 2010, significando que há grande concentração de renda, o mesmo ocorrendo em todos os municípiosdo APL.

O IDHM é medido de 0 (zero) – nenhum desenvolvimento humano – a 1 (um) – máximo desenvolvimento humano –, na divulgação do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM 8 de 2013, obtido a partir dos dados do Censo 2010, é possível perceber a evolução positiva de todos os municípios do APL. O município de Teófilo Otoni apresenta 0,701 o maior da região e um pouco abaixo do alcançado por Minas Gerais que é de 0,731, Catuji tem o menor IDHM, 0,540.

Entre os anos 2000 e 2010, o PIB da região cresceu na casa dos 31%, abaixo do crescimento estadual no mesmo período, cerca de 33%. Significa dizer que, mesmo com forte crescimento no PIB, a região não alterou sua posição na participação na economia estadual, mais do que isso, a região continua pobre e a desigualdade entre as principais regiões do estado permanecem inalteradas.

Mensurar a participação do setor de gemas e joias do APL no PIB mineiro é difícil, a complexidade do setor, suas atividades transcendem os setores primário – extração –, secundário – lapidação eprodução de joias – e terciário – comércio e distribuição. A grande informalidade presente é apontada como grande obstáculo à obtenção e análise dos dados e informações, o que torna praticamente impossível descrever a real importância do setor no que se refere ao impacto 6 Aqui se considera o PIB a preços correntes, isto é, a soma de tudo que é produzido considerando os valores do ano em que o produto for produzido e comercializado.7 Mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo arenda domiciliar per capita. Seu valor varia de 0, quando não há desigualdade (a renda domiciliar per capita de todos os indivíduos tem o mesmo valor), a 1,quando a desigualdade é máxima (apenas um indivíduo detém toda a renda).O universo de indivíduos é limitado àqueles que vivem em domicílios particularespermanentes (PNUD).8 O IDHM brasileiro segue as mesmas três dimensões do IDH Global – longevidade,educação e renda, mas vai além: adequa a metodologia global ao contexto brasileiro e à disponibilidade de indicadores nacionais. Embora meçam os mesmos fenômenos, os indicadores levados em conta no IDHM são mais adequados para avaliar o desenvolvimento dos municípios brasileiros. Assim, o IDHM – incluindo seus três componentes, IDHM Longevidade, IDHM Educação e IDHM Renda - conta um pouco da história dos municípios em três importantes dimensões do desenvolvimento humano durante duas décadas da história brasileira. In: ATLAS DE DESENVOLVIMENTO HUMANO, IDHM. 2013. Disponível em < http://atlasbrasil.org.br/2013/o_atlas/idhm > Acesso em 02 set. 13.

econômico de suas atividades à região. Supõe-se que grande parte da extração e beneficiamento das gemas em Minas Gerais e no Brasil são realizados nestes 21 municípios, mas traduzir isto em números e estatísticas ainda é grande desafio.

ProdutosA produção do APL é diversificada, seus produtos são gemas-minerais

em estado bruto, lapidadas, artefatos de pedra, joias e artesanato mineral. A maior parte desta produção destina-se a mercados internacionais – principalmente Estados Unidos, Ásia e Europa – e pelagrande informalidade é bastante difícil estimar seu volume e valor adicionado à economia.

O município de Teófilo Otoni, conforme a Figura 6, é o principal centro de negócios da região, centralizando a produção, sendo a maior parte comercializada, beneficiada e exportada, conforme será demonstrado no item sobre mercado. Os minerais-gemas do APL estão relacionados por município de ocorrência na Tabela 1.

Figura 6 - Caracterização das jazidas na Região de Planejamento Jequitinhonha/Mucuri

Fonte: Aurélien Reys, adaptado por Bruno Dias Bento.

Tabela 1 - Principais ocorrências de minerais-gema na região do APL de Teófilo OtoniMunicípio Minerais

Araçuaí turmalina preta, azul, bicolor e incolor, caulim, feldspato industrial, microclina pertítica branca, creme e rosa, albita, quartzo leitoso e maciço, cristais de quartzo, quartzo rosa, citrino, quartzo enfumaçado, muscovita, mica roxa, berilos, fosfatos, granadas, espodumênios, cassiterita, tantalita-columbita, autunita.Ataléia muscovita, feldspato, quartzo rosa, cristais de quartzo, granada vermelha, cordierita azulada a negra, biotita, topázio azul, água-marinha e crisoberilo.

Caraí microclina, quartzo leitoso e maciço, cristais dequartzo, biotita, muscovita, variedades de berilo, topázio, turmalina, água-marinha, topázios (incolor, amarelo e azul), quartzo (incolor, mórion, enfumaçado e citrino), crisoberilo (olho de gato), alexandrita, mica e Catuji topázio azul, água-marinha e crisoberilo.

Itaipé quartzo, feldspato, granada vermelha e cordierita azulada a negra.Itinga quartzo, feldspato potássio, muscovita, turmalina preta, granadavermelha, biotita, berilo e apatita.

Novo Cruzeiro quartzo, feldspato, granada vermelha, cordierita azulada a negra e biotita.

Novo Oriente de Minas

topázio azul, água-marina e crisoberilo.

Município Minerais

Ouro Verde deMinas

quartzo diorito fino.

Padre Paraíso topázio azul, água-marinha, crisoberilo, quartzo, feldspato, granada vermelha, cordierita azulada a negra e biotita.Pavão quartzo, feldspato, granada vermelha, cordierita azulada a negra e biotita.Poté água-marina.

Setubinha crisoberilo e alexandrita.Teófilo Otoni muscovita, titanita, zircão, apatita, granada, quartzo e

epidoto.Fonte: Silva, Lameira, 2009.

Segundo informações do setor, de pesquisas e estudos, grande parte da produção deixa a região do APL estado bruto, outra menor lapidada na própria região e em proporção ainda menor há fabricação de joias, bijuterias e acessórios, porém não há dados com os percentuais de produção e distribuição entre o que é manufaturado e enviado para o mercado interno, e segundo os próprios agentes do setor, mesmo as estatísticas oficiais sobre a exportação são muito diferentes da realidade. As Figuras 7 e 8 mostram alguns dos produtos presentes no APL:Figura 7 - Gemas lapidadas

Elaborado por Bruno Dias Bento.

Figura 8- Produtos de joalheria/bijuteria

Fotos: Klisman Pacheco e Ana Ziemer. Elaborado por Bruno Dias Bento.

Antes de prosseguir, de modo que se compreenda de maneira geral o funcionamento dos processos de produção para obtenção dos produtos deste APL, deve-se definir o conceito de cadeia produtiva: é um conjunto ordenado de ações dependentes entre si que tenham por objetivo produzir, transformar e distribuir determinado produto. A partir daí, pode-se considerar que o setor de gemas e joias possui 3 (três) cadeias produtivas: mineração; lapidação; e joalheria. Ou seja,a cadeia da lapidação abarca a mineração, e a da joalheria abarca as duas, para representar este funcionamento foi elaborada a Figura 9. Assim o produto de uma cadeia torna-se matéria-prima de outra: O produto da mineração pode transformar-se em matéria-prima para a lapidação, para a empresa ou ser comercializado diretamente ao consumidor final (colecionadores, por exemplo); A pedra lapidada pode tornar-se matéria-prima para a joalheria ou também ser destinada diretamente ao consumidor final; E finalmente a joia pode ser comercializada diretamente com o consumidor final ou distribuída de outras formas (como em redes de joalherias, por exemplo). Figura 9 - Fluxograma das cadeias produtivas do setor de gemas e joias

Elaborado por Bruno Dias Bento.

MercadoOs produtos do APL de Gemas e Artefatos de Pedra de Teófilo Otoni

alcançam o mercado doméstico ao internacional. Como apresentado no Fluxograma 1, a mineração, lapidação e joalheria fornecem produtos e /ou matérias-primas para todas as cadeias produtivas.

Com relação ao mercado interno, o APL fornece seus produtos (o que inclui matérias-primas) a centros de beneficiamento e produção

joalheira, notadamente em São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, uma vez que boa tarde da produção de gemas coradas é extraída e beneficiada na região, o mapeamento do volume e dos rendimentos destesmercados é dificultada novamente pela informalidade do setor, influenciada, por exemplo, pela alta carga tributária:

A incidência de altas taxas de ICMS sobre a circulação interna em cada etapa da cadeia produtiva de gemas e joias por um lado desencoraja a formalização de fluxos internos dentro da cadeia, e, por outro, estimula aexportação de gemas em bruto sem agregação de valor (Campos, 2008).

Quanto ao mercado externo, a despeito da informalidade, é possível fazer uma análise mais detalhada dos destinos e rendimentos dos produtos do APL a partir dos dados disponibilizados. O setor de gemas e joias entre os anos de 2003 e 2012 apresentou variação positiva 71%,mesmo com crescimento negativo entre 2011 e 2012 no Figura 10 observa-se a oscilação do valor exportado. Figura 10 - Exportação brasileira do setor de gemas e joias – série histórica 2003-2012 (em US$ mil)

Elabora por Bruno Dias Bento a partir dos dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Os números são favoráveis, segundo o MDIC, houve queda de quase 20% da exportação de pedras em estado bruto enquanto aumentou cerca de 158% o valor das exportações de pedras lapidadas, 56% de joias, 142% folheados de metais preciosos e 134 e folheados de metais comuns.Com relação aos dados oficiais de exportação, o país está exportando mais valor agregado, algo bastante positivo. Em Minas Gerais, nos anos de 2011 e 2012 o setor avançou quase 9% e correspondeu a cerca de 28% dasexportações brasileiras em 2012, conforme a Tabela 2.

Tabela 2 - Exportação mineira do setor de gemas e joias (em US$ mil)Principais Itens 2011 2012 Variação

(%)% em relação ao Brasil

Pedras em Bruto 24.422 21.084 -13,7% 44%

Pedras Lapidadas 53.402 65.876 23,4% 55%Joalheria / Ourivesaria MetaisPreciosos

12.416 11.031 -11,2% 10%

Folheados de Metais Preciosos 16 592 3600,0% 1%

Bijuterias de Metais Comuns 868 576 -33,6% 5%Total 91.124 99.159 8,8% 28%

Fonte: MDIC/SECEX/DECEX Elaboração: IBGM, adaptado por Bruno Dias Bento. (*):Inclui vendas a não residentes no País (antigo DEE)

A exportação da região do APL em 2012 foi composta entre o setor de gemas e joias (86%) e a indústria extrativa mineral (14%), granito como principal produto. Somente 9 (nove) dos 21 munícipios do APL exportaram em 2012, o que correspondeu a 1,4% do total exportado em Minas Gerais. Por sua vez, 4 (quatro) destes municípios foram exportadores de produtos do setor de gemas e joias, o que corresponde a quase 26% do total mineiro do setor, reafirmando sua posição de principal centro regional de negócios do setor, Teófilo Otoni concentrou aproximadamente 99% da exportação do setor no APL – mostrado na Tabela 3 – e 85% de tudo que foi exportado na região.

Tabela 3 – Percentual municípios do APL exportadores de gemas e joiasMunicípio Setor

Araçuaí 0,93%

Itinga 0,01%Teófilo Otoni 98,91%

Virgem da Lapa 0,15%

Elaborado por Bruno Dias Bento a parti dos dados disponibilizados pelo MDIC/SECEX/DECEX

Mais uma vez, Teófilo Otoni destaca-se como o centro de negócios do APL em relação ao setor de gemas e joias com quase 25 milhões de dólares exportados em 2012 distribuídos em 58 empresas, das quais 56 tinham como principal atividade econômica atividades ligadas ao setor,a Tabela 4 mostra empresas exportadoras classificadas por faixa de valores exportados.

Tabela 4 - Empresas exportadoras por faixa de valor em 2012Faixa Total %

Entre US$ 10 e 50 milhões 1 2%Entre US$ 1 e 10 milhões 1 2%

Até US$ 1 milhão 56 97%TOTAL 58 100%

Elaborado por Bruno Dias Bento a partir de dados das EMPRESAS EXPORTADORAS POR FAIXA DE VALOR (US$) - (JAN-DEZ/2012) (CRITÉRIO - DOMICÍLIO FISCAL) - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior/ Secretaria de Comércio Exterior – SECEX / Departamento de Planejamento e Desenvolvimento de Comércio Exterior - DEPLA

Os 5 (cinco) principais destinos das exportações referentes ao setorde gemas e joias no APL são Hong Kong, Estados Unidos, China, Itália eFrança, nesta ordem, e a distribuição entre as respectivas participações estão na Figura 11.Figura 11 - Participação de países destino das exportações do setor de gemas e joias no APL em 2012

Elaborado por Bruno Dias Bento, a partir dos dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Empreendimentos e mão-de-obraA informalidade do setor, uma de suas maiores fragilidades é

problemática na hora de diagnostica-lo em todos os aspectos, segundo diagnóstico realizado pela GEA e IEL em 2005:

Existem na cidade cerca de 200 empresas do setor gemas e joias, 360 lapidações formais e informais, cerca de 2.000 lapidários, aproximadamente 2.000 corretores e um número desconhecido de garimpeiros (GEA, IEL, 2005).

A metodologia utilizada neste diagnóstico permitiu um mapeamento daslapidações e um levantamento de informações por demais interessantes para o desenvolvimento de outros estudos e de políticas públicas para o desenvolvimento do setor, entretanto, com relação às demais ocupações, ofícios e atividades do setor, notadamente de corretagem depedras (agenciamento) – atividade externa ao estabelecimento das lapidações – e o garimpo, uma vez que os garimpeiros não estão na zonaurbana do município. Outra questão a ser levantada é que estas informações podem já estar defasadas, uma vez que já se passaram quase10 anos desde o levantamento, havendo necessidade de atualização e ampliação.

Com relação à realidade dos estabelecimentos e lapidários, o referido diagnóstico apresenta:

78,03% das lapidações possuem telefone fixo, 52,27% das lapidações telefone celular, 9,09% e-mail, 5,30% aparelho de fax;

92,4% não são formalizadas e 60% das formalizadas há mais de 5 (cinco) anos (em 2005);

O número médio de lapidários era de 3,4 por estabelecimento, sendo que 94,7% possuíam entre 1 (um) e 6 (seis) lapidários;

94% dos lapidários não proprietários não eram funcionários, tendo outras formas de contratação de mão de obra;

78% dos entrevistados declararam que atuam em mais de uma etapa no processo de lapidação, no corte, forma e polimento;

95% eram homens, dos quais 78% possuíam entre 31 e 50 anos de idade, 61% escolaridade correspondente ao ensino fundamental, quanto à experiência na atividade, 44% já atuavam há entre 11 e 20 anos e 36% entre 21 e 40 anos;

87% dos lapidários aprenderam o ofício na prática, 35% frequentaram cursos de lapidação, dos quais 47% duraram entre 3 e 6 meses e 35% foram realizados na APJ e CSU em Teófilo Otoni;9

61% declarou possuir conhecimentos básicos em gemologia dos quais 93% os adquiriu na prática da atividade;

83% dos entrevistados declararam desejo em frequentar cursos de gemologia, joalheria ou lapidação, além de conteúdos relacionados à gestão e inglês;

80% das lapidações funcional em locais com área menor ou igual a20m², em 83% dos casos não dividem o local com outra atividade ou ocupação, destes 63% pertencem ao proprietário da lapidação;

50% dos lapidários revelaram rendimento médio entre R$500 e R$100 reais, 31% abaixo de R$500,00 (em 2005);

Há, portanto, um retrato da fragilidade do setor no que se refere ao estoque de mão de obra, precariedade das oficinas, baixa produtividade, baixo investimento em tecnologia, capacitação profissional e educação formal, além do excesso de informalidade e precarização das relações de trabalho. Apesar da importância do setor para a economia da cidade de Teófilo Otoni e da região do APL, a contrapartida pública para iniciativas de formalização e capacitação mostram-se ainda insuficientes.

No que se refere a dados oficiais sobre estabelecimentos e mão de obra, segundo o Ministério de Trabalho e Emprego, o setor conta com 163 estabelecimentos, o que significa 1,4% do total de estabelecimentos da região do APL, por sua vez equivale a cerca de 5,4% do total de empresas do setor em Minas Gerais conforme demonstrado na Tabela 5.

9 APJ – Associação Aprender Produzir Juntos, entidade do Terceiro Setor que atua na assistência social, e capacitação profissional.CSU – Centro Social Urbano, aparelho público extinto no final da década de 1990, era destinado à educação, atividades poliesportivas, recreativas e de capacitação profissional.

Tabela 5 - Estabelecimentos do setor de gemas e joiasClasse de Atividade Econômica, segundo Classificação CNAE- Versão2.0.

Estabelecimentos

% do APL

% em relação à RegiãoJequitinhonha/Mucuri

% em relação aMinas Gerais

Extração de Gemas (Pedras Preciosas e Semipreciosas)

0,21% 92,31% 15,58%

Lapidação de Gemas e Fabricação deArtefatos de Ourivesaria e Joalheria

0,77% 98,88% 23,85%

Fabricação de Bijuterias e Artefatos Semelhantes

0,01% 100,00% 0,56%

Comércio Varejista de Joias e Relógios

0,40% 75,00% 2,67%

Aluguel de Objetos do Vestuário, Joias e Acessórios

0,04% 71,43% 0,81%

Total 1,43% 89,07% 5,42%

Elaborado por Bruno Dias Bento a partir de dados do Ministério do Trabalho e Emprego.

Com relação aos trabalhadores, o setor de gemas e joias ocupa cerca de 210 trabalhadores formalmente – Tabela 6 –, representando 0,5% dos trabalhadores formais da região do APL na comparação com o setor em nível estadual estes trabalhadores correspondem a pouco mais de 3% vinculados oficialmente – celetistas ou estatutários. A informalidade novamente demonstra a fragilidade do setor que apesar de forte expressão cultural, social e econômica, não consegue demonstrar sua força nos números oficiais, estes são por sua vez indicadores para políticas públicas de incentivo e desenvolvimento. O advento do Micro Empreendedor Individual, iniciativa do governo federal pode amenizar este quadro junto a outras ações como ensino profissional com o Centrode Educação Profissional Paulo Viana, da Secretaria do Estado de Educação em parceria com a Unit Gemas e Joias de Teófilo Otoni vinculada à Escola de Design da UEMG para transferência de tecnologia e ensino técnico-profissionalizante e incubação tecnológica.

Tabela 6 – Trabalhadores formais do setor de gemas e joiasClasse de Atividade Econômica, segundo Classificação CNAE- Versão2.0.

Trabalhadores

% do APL

% em relação à RegiãoJequitinhonha/Mucuri

% em relação aMinas Gerais

Extração de Gemas (Pedras Preciosas e Semipreciosas)

0,01% 100,00% 1,14%

Lapidação de Gemas e Fabricação deArtefatos de Ourivesaria e Joalheria

0,29% 99,17% 8,97%

Fabricação de Bijuterias e Artefatos Semelhantes

0,01% 100,00% 0,79%

Comércio Varejista de Joias e 0,18% 83,91% 2,50%

Relógios

Aluguel de Objetos do Vestuário, Joias e Acessórios

0,02% 63,64% 0,53%

Total 0,51% 91,70% 3,10%

Elaborado por Bruno Dias Bento a partir de dados do Ministério do Trabalho e Emprego.

Estes dados comparados aos números apresentados pelo diagnóstico da GEA e IEL em 2005 além de demonstrar grandes desafios, o faz, igualmente, com o potencial para projetos, programas e ações dos agentes do setor públicos e privados que devem ser planejados e efetivados o quanto antes.

Governança, representatividade e associativismoO setor de gemas e joias no APL sofre com a ausência de governança,

ou seja, não há procedimentos instalados definidos e claros que direcione as ações do setor, eis uma definição deste conceito tão importante ao desenvolvimento setorial:

[...] parte da ideia geral do estabelecimento de práticas democráticas locais por meio da intervenção e participação de diferentes categorias de atores - Estado, em seus diferentes níveis, empresas privadas locais, cidadãos e trabalhadores, organizações não-governamentais etc. — nos processos de decisão locais. Porém, tal visão não pode ignorar o fato de que grandes empresas localizadas fora do arranjo de fato coordenam as relações técnicas e econômicas ao longo da cadeia produtiva condicionando significativamente os processos decisórios locais (Cassiolato, Szapiro, 2003).

Em 2008 o CETEC-MG produziu um estudo que traçou o perfil e caracterizou o APL de Gemas e Artefatos de Pedra de Teófilo Otoni, que ao analisar esta questão de governança corrobora com Bamberg, um dos principais articuladores e conhecedores do setor e da região, afirmando ser frágil a interação entre agentes que compõem a as cadeias produtivas do setor e mais:

Ele [Bamberg] afirma que nos últimos 20 anos diversos agentes dos governos municipais, estaduais, federais, da iniciativa privada, instituições de ensino e pesquisa, sindicatos e cooperativas trabalharam naárea do APL, e, de uma maneira geral, encontraram a mesma dificuldade em suas ações (2008 apud Campos; Bamberg, 2008).

O setor conta com lideranças e entidades de representação e apoio, porém ainda não conta com instrumentos que possibilitem o exercício esta governança necessária para a articulação e proposições que viabilizem maior desenvolvimento para o setor na região do APL. Segundo CAMPOS (2008), APL de Teófilo Otoni é sede de 3 (três) entidades setoriais de classe, GEA, ACCOMPEDRAS e SNG, a região tambémconta com ações do IBGM, localizado em Brasília, com a AJOMIG e o SINDIJÓIAS-GEMAS-MG, sediados em Belo Horizonte, há ainda a COOLAP, não sendo uma entidade de classe, tem como área de atuação a viabilização e organização da produção na cadeia da lapidação.

Portanto, há representatividade do setor na região de todas as cadeiasprodutivas, variando a intensidade e a efetividade de cada uma em sua respectiva área de atuação.

Na Figura 12, observa-se a visão do empresariado quanto à atuação destas entidades, em 2004 segundo o levantamento realizado por MATOS, maior destaque para a organização de eventos técnicos e comerciais, como a Feira Internacional de Pedras Preciosas de Teófilo Otoni – FIPP, o evento mais importante do setor no APL. O desempenho destas entidades é insatisfatório em outros aspectos importantes ao desenvolvimento do setor, como financiamento, tecnologia e associativismo, principalmente.

O grau de associativismo do setor é baixo, não existem ainda iniciativas robustas de aquisição coletiva de insumo ou de transferência de tecnologia, empresários trabalham ainda de forma bastante individualizada, como demonstra o estudo de MATOS e é apresentando em boa parte dos estudos e diagnósticos referentes à região e ao setor. O associativismo ainda um desafio geral ao empresariado na região, não unicamente do setor de gemas e joias. Ações e iniciativas de agentes como SEBRAE-MG, UNIT/UEMG, CETEC-MG, Rede APL Mineral e outros vêm contribuindo para a superação deste paradigma que já apresenta mudanças, tal como a UNIT Gemas e Joias, concebida e instalada a partir da articulação de várias entidades, empresários e instâncias do poder público.Figura 12 - Visão do empresariado quanto à contribuição de entidades do setor

Elaborado por Bruno Dias Bento a partir de informações de MATOS (2004).

Desafios e avanços do setorBuscando compreender este setor muito importante e estratégico para

a região, para Minas Gerais e o país, na última década iniciou-se uma série de estudos, pesquisas e diagnósticos, servindo como base para este material e para as diversas ações em andamento. Estes estudos também revelaram uma série de desafios dos quais de suas soluções viráo desenvolvimento e fortalecimento do setor no APL e propõem soluções a serem construídas.

Em estudo recente para levantamento de informações e mobilização do setor para o reconhecimento do APL pelo MDIC, a UNIT Gemas e Joias/UEMG e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico de Teófilo Otoni, foram levantados os principais desafios do setor, a partir das informações disponíveis nestes trabalhos, são eles:

Falta de informações e dados sobre o setor e sua disponibilização;

Defasagem tecnológica; Legislação inadequada; Falta de crédito; Informalidade; Falta de associativismo e governança; Infraestrutura defasada;Algumas propostas presentes nestes estudos já estão em andamento,

como ações de capacitação pelo SENAI-MG, CEP Paulo Viana, UNIT Gemas eJoias/UEMG, na Tabela 7 encontram-se os eixos gerais das propostas e os principais agentes envolvidos.

Tabela 7 - Propostas e agentes do setorPropostas UNIT Gemas

e Joias/UEMG- CEP Paulo Viana

SENAI-MG

SMDTO SEBRAE-MG

CETEC-MG

Entidades do Setor (GEA, ACOMPEDRAS,SNG)

Atualização e acesso a informações referentes ao setor;

X X X X

Acesso, promoção, desenvolvimento e transferência de tecnologia, fomento e incentivo à inovação;

X X X X X

Ampliação de acesso à capacitação profissional a

X X X X X X

Propostas UNIT Gemase Joias/UEMG- CEP Paulo Viana

SENAI-MG

SMDTO SEBRAE-MG

CETEC-MG

Entidades do Setor (GEA, ACOMPEDRAS,SNG)

partir de cursosregulares, atualizações, workshops, capacitações e outros;Incentivo à formalização do setor em todas as cadeias produtivas,

X X X X X

Ampliação e adequação da infraestrutura elogística;

X X

Acesso ao crédito;

X X X X

Melhoria, ampliação e efetividade das relações institucionais edesenvolvimento de associativismo egovernança.

X X X X X

Elaborado por Bruno Dias Bento.

Referências

Artigos em revistas acadêmicas/capítulos de livrosSILVA, E. C.; LAMEIRAS, F. S. Utilização dos resíduos da extração de

gemas no APL de gemas, joias e artefatos de pedra de Teófilo Otoni. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CERÂMICA, 53, Guarujá. Congresso. Belo Horizonte: Associação Brasileira de Cerâmica, 2009, pp. 5.

VELLOSO, André; MATOS, Ralfo. A rede de cidades do Vale do Jequitinhonha nos séculos XVIII E XIX. GEONOMOS, Belo Horizonte, Vol. 6, n. 2, p. 73-87, 1998, pp. 82. Disponível em <http://www.igc.ufmg.br/geonomos/PDFs/6_2_73_87_Velloso.pdf>. Acessoem 08 set. 2013.

LASTRES, Helena M.M.; CASSIOLATO, José E. Uma caracterização de arranjos produtivos locais de micro e pequenas empresas. In:

LASTRES, Helena M.M.; CASSIOLATO, José E.; MACIEL, Maria Lúcia (Org). Pequena empresa: cooperação e desenvolvimento local. Rio de Janeiro: Relume Dumará Editora, 2003, pp. 6. Disponível em <http://www.ie.ufrj.br/redesist/P3/NTF2/Cassiolato%20e%20Lastres.pdf>. Acesso em 11 set. 2013.

Livros, e material não publicadosATLAS DE DESENVOLVIMENTO HUMANO, Desenvolvimento Humano. 2013.

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BAMBERG, Guilherme. A FIPP: Feira Internacional de Pedras Preciosas deTeófilo Otoni. Ouro Preto. UFOP, 2005, pp. 1.

CAMPOS, Vânia Maria Correa de. Arranjo Produtivo Local Gemas e Artefatos de Pedra de Teófilo Otoni Perfil e Caracterização. Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC-MG), 2008, pp. 25.

GEA; IEL. Diagnóstico Setorial de Lapidações. Teófilo Otoni: GEA/IEL, 2005, pp. 13.

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