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O ASSOCIATIVISMO E A DIVERSIDADE DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA NO ASSENTAMENTO RURAL DE CÓRREGO RICO –...
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O ASSOCIATIVISMO E A DIVERSIDADE DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA NOASSENTAMENTO RURAL DE CÓRREGO RICO – JABOTICABAL (SP)
QUATORZE ANOS APÓS A CONQUISTA
Fernando Veronezzi (Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Maringá)
RESUMO
Inúmeras são as dificuldades enfrentadas por pequenosagricultores familiares assentados. Essas dificuldades tendem ase minimizar com a organização coletiva dos sujeitos sob ainstituição de Associações de Produtores. Dessa forma, oAssentamento de Córrego Rico é considerado um modelo dentre osdemais do interior paulista já que, desde o ano de 2001, aAssociação de Produtores de Agricultura Familiar de Córrego Rico“A Terra Rica”, está consolidada e tem como objetivopotencializar a produção agrícola, bem como atuar na defesa dasatividades econômicas, sociais, ambientais e culturais de seusassociados, conforme observado no Estatuto Social da mesma.Dessa maneira, apresentamos algumas considerações acerca doassociativismo no Assentamento Rural de Córrego Rico, localizadoem Jaboticabal, região nordeste do estado de São Paulo.
Palavras-Chaves: Assentamento Córrego Rico. Associação “A Terra Rica”, Diversidade agrícola, Projetos.
Introdução: Uma história de luta dos sujeitos do Córrego
Rico
Este trabalho tem como objetivo apresentar uma discussão
acerca da questão que envolve a dinâmica de produção e do
associativismo praticado pelos assentados, ex-trabalhadores
rurais assalariados, do Assentamento de Córrego Rico,
localizado no município de Jaboticabal, região nordeste do
Estado de São Paulo.
Cabe ressaltar que, esse texto é uma reflexão que surgiu
por meio dos trabalhos de campo realizados no Assentamento.
Os resultados preliminares aqui discutidos fazem parte de
uma pesquisa de Mestrado na área de Geografia Agrária (em
andamento) e, outras informações em relação à temática
poderão ser encontradas na versão completa da dissertação.
As entrevistas apresentadas foram realizadas com os
assentados associados no ano de 2012, e transcritas da
forma como o entrevistado se referiu a determinado assunto,
sem nenhuma alteração. Dados da produção dos assentados
foram obtidos por meio dos relatórios de campo dos técnicos
da Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo
(ITESP), que gentilmente cederam as informações a fim de
contribuírem para com o entendimento da dinâmica do
Assentamento Córrego Rico.
Sendo assim, é importante destacar que, a luta por parte
dos trabalhadores rurais, antigos assalariados da cultura
canavieira, nada mais é do que “a reivindicação por um
pedaço de terra para plantar [e] pode ser entendida como
decorrentes das dificuldades no processo de ajustamento à
condição de proletário” (GRAZIANO DA SILVA, 1982, p.31).
A terra é observada pelos trabalhadores como o terreno de
liberdade. Para Ferrarante e Silva (1987), os trabalhadores
rurais que lutam por terra a vislumbram como,
[...] a garantia de um trabalho constante comalimentação e moradia garantidas. ‘Ter terra ecasa’, ‘não continuar enchendo a barriga dousineiro’, ‘viver menos obrigado, menossujeito’, ‘não ter patrão’, ‘não ter fiscal
atrás’, ‘evitar o desemprego’, são algumas dasrepresentações que podem dar conta de comovivenciaram as novas condições de existência(SILVA E FERRARANTE, 1987, p. 36).
Grande parte dos trabalhadores que lutaram por terra no
contexto regional tinham como objetivos, além da conquista
de um pedaço de chão, fugir do assalariamento e das mazelas
que os assolavam nas periferias das cidades dormitórios
onde eram obrigados a se instalarem. Essas inquietações
emergem a partir do ciclo de greves nas lavouras paulistas
de cana e de laranja de meados dos anos 80i (FERRARANTE,
2007).
Assim, a busca constante por melhores condições de vida se
tornaram elementos essenciais na constituição desses
sujeitos. Lutar para conquistar um pedaço de terra foi o
caminho encontrado por eles para a aquisição da liberdade.
Dessa forma, os assentamentos aparecem como territórios de
conquista de um sonho.
Nesse contexto, Oliveira (1999, p. 14) destaca que, “[...]
assentamentos são novas formas de luta de quem já lutou ou
de quem resolveu lutar pelo direito à terra livre e do
trabalho liberto”.
A luta por terra dos assentados do Córrego Rico inicia-se
por meio do contato com lideranças sindicais e com um grupo
de trabalhadores que participaram de diversas ocupações de
terra pós Greve de Guariba de 1984. Esses sujeitos eram
informados a respeito dos momentos mais propícios para a
ocupação de áreas ociosas na região de Ribeirão Preto (no
caso específico do Assentamento Rural de Córrego Rico, o
Horto Florestal da antiga FEPASA- Ferrovias Paulista S/A).
Líderes do grupo que posteriormente viriam a dar origem ao
Assentamento Córrego Rico propõem para algumas famílias,
oriundas principalmente do município de Guariba (localizado
a cerca de 20 km de Jaboticabal) e que haviam lutado
conjuntamente na Greve dos canaviais no ano de 1984, que
ocupassem aquela extensão para fins de reforma agrária.
A partir das entrevistas realizadas com os assentados, os
mesmos narraram que eles se organizaram e, inevitavelmente,
no dia 29 de maio de 1998, acamparam na área do Horto do
Córrego Rico. Cerca de 60 famílias, mantiveram-se acampadas
nas proximidades da rodovia SP-253 (Rodovia Deputado Cunha
Bueno), vivendo em barracos feitos de lonas e sem
infraestrutura sanitária alguma.
Os sujeitos contaram também que, o processo de ocupação,
negociação e transformação da área de acampamento em
assentamento durou cerca de seis meses e, que na época das
negociações não houve confronto com a polícia e ordem de
despejo das famílias. Segundo eles, todo o processo ocorreu
de maneira pacífica e os lotes foram sendo regularizados
pelo poder público pouco tempo depois.
Nas considerações dos assentados, o Assentamento Córrego
Rico levanta a bandeira Feraesp (Federação dos Empregados
Rurais Assalariados do estado de São Paulo) não estando
ligado essencialmente a outro movimento social/sindical.
Por meio de informações obtidas nas entrevistas, os mesmos
informaram que possuem lutas em conjunto com outros
movimentos e/ou organizações, porém, como a conquista do
território onde se situa o Assentamento Córrego Rico
ocorreu devido à atuação basicamente de sindicatos ligados
à Feraesp, os mesmos se denominam como sujeitos que
hasteiam a bandeira da Federação em suas ações.
Vale ressaltar ainda, que mesmo após a conquista de seu
território, os assentados não deixaram de participar das
mobilizações e outras ocupações na região, inclusive
organizando pessoas para a ocupação de terras ociosas e
diversas manifestações em prol de uma reforma agrária mais
efetiva.
Localização Geográfica, Caracterização agrícola e o Associativismo no território do Assentamento Córrego Rico
O Assentamento de Córrego Rico está localizado na Zona
Rural de Jaboticabal (localização do município conforme
Figura 1), situado especificamente nas proximidades do
Distrito de Córrego Rico. É composto por 47 famílias
instaladas em lotes individuais. Além das famílias
beneficiárias, o assentamento conta ainda com 16 agregados,
totalizando 63 famílias, ou ainda, em números absolutos,
255 pessoas. A distância do Assentamento à sede do
município (Jaboticabal) é de 10 km.
Figura 1 - Localização do município de Jaboticabal- SP
Fonte: SEADE, 2012
O assentamento está organizado da seguinte forma:
-Área total: 473,2683 ha (100%); Área dos lotes (47): 353,9
ha (74,7%); Áreas Comunitárias: 1,63 ha (0,3%); Reservas:
108,02 ha (22,8%) e Estradas: 10,07 ha (2,1%).
Os assentados apontaram uma das primeiras decisões
importantes a ser tomada pelos integrantes após a
instalação do Assentamento: a decisão de manter todos os
que haviam participado da ocupação inicial era uma das
principais exigências. O Estado apresentava um número de
famílias menor do que àquelas que haviam participado da
ocupação e, os assentados negavam a proposta do Governo.
Sobre a dificuldade da tomada de tal decisão, evidencia-se
o relato da Assentada 2:
[...] uma decisão importante que a genteteve que tomá que eu lembro, é que aqui,pelo módulo né, pelo módulo fiscal,precisaria ficar 32 famílias só, por que osórgãos do governo né, o Itesp já veio efalou olha, aqui só cabe 32. Então a gentefez uma assembleia, conversamo tudo epreferimo ficá com um módulo menor, mas quecoubesse todo mundo, que ninguém fosseembora. E o que aconteceu? Ai foi uma luta,foi por que a gente queria que todo mundoficasse. E fomo fazendo assembleia e fomofalando que desse jeito não, que se fordesse jeito a gente não quer, e acabouacontecendo isso, né, colocou todo mundo(ASSENTADA 2).
A diversidade agrícola do assentamento se destaca noterritório regional da cana e em relação aos dados daprodução, o território do assentamento pode sercompreendido como um território da diversidade produtiva. Aprodução dos assentados é a mais variada possível: milho,mandioca, abóbora, goiaba e manga estão entre as principaisculturas no Assentamento. Porém, ainda há a presença delaranja, quiabo, café, limão, laranja, maxixe, dentreoutros (Gráfico 1). Há que se considerar ainda a criação de
iOs assentados do Córrego Rico, em sua grande maioria,participaram efetivamente da Manifestação de Guariba de 1984.Oliveira (1999) explica os principais motivos que levaram ostrabalhadores a se rebelarem nesse período. Para ele, aManifestação em Guariba nada mais foi do que um basta dostrabalhadores às imposições de extrema exploração às quais eramsujeitos. Também considerara a questão do Estado, que segundoele, inerte perante a situação, praticava a cobrança de impostosaltíssimos nas contas de água e energia, o que culminou narevolta dos trabalhadores, que recebiam míseros salários. Assimo autor considera que a manifestação foi uma sublevação contraos abusos por eles sofridos cotidianamente tanto por parte dosempresários da cana quanto pelo Estado.
animais de pequeno porte dos quais suínos e aves possuemmaior expressividade.
Gráfico 1 – Principais culturas produzidas no AssentamentoCórrego Rico no ano de 2010
Fonte: ITESP, Fundação. Dados de campo, 2011.Org: VERONEZZI, F. 2012.
Por ser considerado um produto de fácil execução e por ter
apresentado um preço alto no ano de 2010, a produção da
mandioca esteve aquecida no assentamento e, a tendência de
crescimento da produção é ainda maior. O produto é vendido
principalmente para a Ceasa (Central de Abastecimento de
Alimentos) e supermercados locais. Segundo as informações
obtidas pelas narrativas, os assentados destacam que a
produção no assentamento se dissemina de maneira ordenada,
evitando assim, uma superprodução, o que poderia prejudicar
a comercialização do produto.
Como os lotes são pequenas, cerca de 4 alqueires cada uma
deles, diversificar as culturas produzidas em cada
propriedade se faz mais que necessário. Dessa maneira, o
consórcio e a alternação de culturas são as alternativas
encontradas para lidar com essa questão do tamanho dos
lotes.
O consórcio e a alternação de culturas são práticas
utilizadas com frequência no assentamento. Nessa realidade,
o assentado varia sua produção, intercalando uma cultura
com outra de gênero distinto, por exemplo: mandioca e
feijão, ou ainda milho e feijão. No caso da alternação,
após a colheita de uma determinada cultura, espera-se um
tempo para que a terra “descanse” e posteriormente, planta-
se outra cultura daquela época.
A falta de transporte é uma questão que preocupa os
assentados. Por não possuírem nenhum veículo que
possibilite escoar o que é produzido, os mesmos geralmente
alugam caminhões para fretar a produção ou ainda, combinam
com o próprio comprador de se responsabilizar em buscar a
compra e o valor do frete é descontado no preço final da
venda. Para solucionar esse problema, buscam parcerias com
órgãos públicos via projetos desenvolvidos coletivamente e
nesse caso, por meio da Associação de Produtores de
Agricultura Familiar de Córrego Rico “A Terra Rica”.
A Associação de Produtores de Agricultura Familiar de Córrego Rico “ A TERRA RICA”
A Fundação da Associação se deu no dia 24 de junho de 2011
e contou com 39 sócios fundadores, o que representava 82%
dos assentados. Na renovação do Estatuto Social no ano de
2011, o número de associados era de 46, representando mais
de 97% das famílias assentadas no Córrego Rico.
A Terra Rica é, portanto, uma associação civil sem fins
lucrativos e tem como sede um barracão no Lote 43 do
Assentamento, conforme apresentado na figura (Figura 2).
Segundo o estatuto social, os objetivos da associação são:
a prestação de serviços que possam contribuir com o fomento
e racionalização das atividades agropecuárias e a defesa
das atividades econômicas, sociais, ambientais e culturais
de seus associados (A TERRA RICA, 2011).
Figura 2 – Associação “A terra Rica” – Parte externa e Interna
Fonte: VERONEZZI, F. 2012. Trabalhos de Campo.
Ao referirem-se à Associação, alguns assentaram indicaram
que, “[...] ela tem um grande poder de mobilizar, de buscar
recursos, por que a medida que os anos foi passando ela,
você vê que a associação se abre muito, ela vai abrindo
mais condições pra fazê projetos, pra várias coisas”
(ASSENTADA 3, 2012).
O assentado 1 ainda complementa “[...] a Associação, ela
foi criada no intuito de desenvolve projetos, procurá
recursos, e organizá a produção do Assentamento” (ASSENTADO
1, 2012).
A Associação “A Terra Rica” possui um papel importante para
os Assentados. É a partir dela que ocorrem discussões,
reuniões e assembleias, elaboração de planos e projetos
coletivos, além de cursos que envolvem questões pertinentes
à realidade do Assentamento.
A partir da mesma, discussões fundamentais foram praticadas
a fim de unir o grupo e reforçar a identidade dos mesmos.
Pontuaremos a seguir, alguns dos principais projetos
realizados pelos Assentados do Córrego Rico nos 14 anos de
território conquistado:
- Produção de ervas medicinais em conjunto com uma renomada
fundação de saúde de nível nacional (2002);
- Produção de jambu (erva típica da região Amazônica) para
uma empresa de cosméticos (2005);
- Produção e exportação de pimenta e quiabo para países da
Europa (2005);
- Instalação de rede de água, energia elétrica e fossas
sépticas biodigestoras (2002, 2003 e 2011, respectivamente)
em todos os lotes do Assentamento (Figura 3);
- Comercialização da produção em feiras-livres regionais;
- Conquista de equipamentos do governo estadual – por meio
do projeto Micro Bacias;
- Participação de projetos do governo federal como é o caso
do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), do PRONAF
Mulher (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar), dentre outros.
Cabe ressaltar também que, alguns projetos foram realizados
com êxito e prosseguem atualmente e outros, devidos a
diversos problemas não tiveram continuidade. Um projeto que
se destacou tanto no contexto regional quanto nacional, foi
a instalação das fossas sépticas biodigestoras no
Assentamento Córrego Rico.
Figura 3 – Fosssas sépticas biodigestoras em um dos lotesdo Assentamento
FONTE: VERONEZZI, F. 2012. Trabalhos de Campo.
As fossas sépticas biodigestoras foram conquistadas por
meio de projetos com o governo estadual e promoveram uma
melhora essencial na saúde dos assentados. Uma das
assentadas conta que, antes da implantação desse sistema,
quando ainda eram utilizadas as fossas negras, era
frequente as crianças ficarem doentes, pois os dejetos eram
despejados de qualquer maneira no solo (ASSENTADA 2, 2012).
Ainda segundo a assentada, com a implantação das
biodigestoras, além de melhorar a saúde das famílias, é
possível utilizar os efluentes do processo para adubar
culturas (não indicado apenas para culturas de consumo
direto como as hortaliças).
É importante salientar também que, os assentados não se
acomodaram após a conquista do território do Assentamento.
Inúmeros sujeitos participam de outras organizações a
entidades, que dentre elas podemos citar a Omaquesp
(Organização de Mulheres Assentadas e Quilombolas do Estado
de São Paulo), a Feraesp (Federação dos Empregados Rurais
Assalaariados do estado de São Paulo), o STR (Sindicato dos
Trabalhadores Rurais) de Jaboticabal e inclusive, possuem
lutas em conjunto com o MST (Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra).
Assim sendo, em relação aos quatorze anos de conquista, um
dos assentados (que liderou o grupo para a ocupação)
referindo-se aos comentários das pessoas que hoje estão
assentadas em relação à sua atitude destaca que,
Que bom que nóis viemo pra cá! Se nóistivesse na cidade...quando nóis viemo pracá, com 40 ano não arrumava serviço mais. Eu
não trocaria meu lugarzinho aqui por umemprego bom na cidade, eu não quero. Euquero minha independência, mostrá pra essamolecada que é aqui que temo que ficá...sermenos dominado [...]. O que que cê táfazendo lá nesse lugar rapaiz? [refere-se aindignação de um amigo] Ó, eu fui lá pravocê melhora minha qualidade de vida, minhaindependência, graças a Deus ela tá boa, enão devo nada explicação nenhuma praninguém, mais [...].Foi positiva 100% tantopra mim quanto pros vizinho que tão aqui(ASSENTADO 1, 2012).
Em relação as considerações pontuadas pelo mesmo assentado
a respeito das lutas pretéritas e as travadas pela melhora
das condições de vida dos assentados, destaca-se o seguinte
trecho do relato:
Se você vê o que eu consegui aqui duranteesses 14 ano, trabaiando na cidade não iacompra nada de terra, eu não conseguiria,não me arrependo de ter vindo. Se eu nãotivesse vindo e tivesse uma possibilidade devim eu viria hoje, o que eu conheci aumentomeu conhecimento, minha liberdade. Temtrabalho que foi realizado aqui com a gentee que foi pro mundo inteiro. Então, se eununca tivesse participado disso, eu nãoconheceria lutar contra as injustiças, euquero me defende delas. Eu na cidade, nãodormia direito, pensano no amanha, onde éque eu ia trabaia, o que é que eu ia faze.Hoje é ao contrario, hoje eu durmo pensanono que eu vo faze com certeza, por queninguém manda em mim. A minha independênciaé 100% aqui no assentamento. (ASSENTADO 1,2012).
Sendo assim, pode-se considerar que, para os assentados, ex
trabalhadores rurais assalariados, o acesso à terra
significa “[...] um misto de esperanças, sonhos, lutas e
investimento no futuro” (FERRARANTE, 1994, p. 102), fator
frequentemente mencionado nos relatos dos assentados do
Córrego Rico. Sonhos e Esperanças que os sujeitos do
Assentamento estão buscando incessantemente e, a partir dos
dados obtidos em campo, percebe-se que, aos poucos estão
alcançando.
Para finalizar, o relato da assentada 3, é essencial para
verificar as diversas lutas e as modificações que
aconteceram desde o inicio da chegada dos sujeitos no
assentamento até os dias atuais. Considera que entre os
anos de 2000 e 2011, o assentamento passou por diversos
processos de transformação e todos eles voltados ao
desenvolvimento econômico e social das famílias, associando
esses ganhos à preservação ambiental. Ainda segundo a
assentada, muitos jovens já voltaram para os lotes dos pais
no Assentamento, já que não se adaptaram aos serviços nas
cidades, e ela pondera ainda que o número dos jovens que
retornarão crescerá cada vez mais, haja vista a qualidade e
o estilo de vida que possuem os assentados (ASSENTADA 3,
2012) do Córrego Rico.
Considerações Finais
Mesmo com inúmeros obstáculos, o Assentamento Córrego Rico
é um diferencial no território da monocultura da cana-de-
açúcar da região de Jaboticabal. O mesmo pode ser observado
a partir da diversidade de produção agrícola. Há a
preocupação em produzir de maneira menos impactante e
preservar tanto o ambiente quanto as manifestações
culturais. Os bons resultados apresentados nos quesitos
produção, tornaram o Assentamento de Córrego Rico, um
território considerado exemplar perante aos demais
assentamentos da região.
Aa atividades coletivas realizadas por meio da Associação
de produtores familiares “A Terra Rica” potencializam a
produção agrícola e, os assentados associados se inserem de
maneira mais fácil em projetos governamentais que facilitam
financiamentos, equipamentos para a produção e o escoamento
do que é produzido em seus lotes. Discussões acerca das
dificuldades do dia-a-dia das propriedades, questões
políticas e culturais, além de reuniões com fins diversos
são realizadas com frequência entre os associados,
reforçando os laços da coletividade entre os sujeitos.
As experiências de lutas vividas pelos sujeitos tanto
enquanto assalariados do campo (Greve de Guariba de 1984),
quanto a participação em diversas ocupações de terras
fizeram com que eles se tornassem sujeitos de lutas. No
território conquistado do Assentamento, a qualidade de vida
está presente de maneira frequente no discurso dos
assentados bem como pode ser observada nas visitas
exploratórias executadas. A busca por melhoras nas
condições de vida desses sujeitos acontece cotidianamente,
mostrando assim que, a luta não acaba no momento da
conquista.
Referências
A TERRA RICA, Associação dos produtores de agriculturafamiliar de Córrego Rico. Estatuto Social. Jaboticabal,2011.
FERRARANTE, Vera Lúcia Silveira Botta. Os herdeiros damodernização: grilhões e lutas dos bóias-frias. São Pauloem Perspectiva, São Paulo, v.8, n. 3, p. 93-104. 1994.
FERRARANTE, Vera Lúcia Silveira Botta. Assentamentos noterritório da cana: controvérsias em cena. Revista NERA,Presidente Prudente, ano 10, n. 11, p. 61-80, jul-dez.2007.
GRAZIANO DA SILVA, José. O "bóia-fria": entre aspas e comos pingos nos is. In: DEPARTAMENTO DE ECONOMIA RURAL/UNESP(org.). Mão-de-obra volante na agricultura. São Paulo:Polis, p. 137-177, 1982.
ITESP. Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo.Dados de campo da safra de 2010. [relatório não publicado].Bebedouro-São Paulo.
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. A Geografia das lutas nocampo. 9 edição. São Paulo: Contexto, 1999.
SILVA, Maria Aparecida de Moraes; FERRARANTE, Vera LúciaSilveira Botta. Roupa Nova para um velho sonho:assentamentos de trabalhadores rurais e reforma agrária.São Paulo em Perspectiva, São Paulo, ano 1, n. 3, p. 32-40,out-dez, 1987.
SÃO PAULO (Estado). Fundação Sistema Estadual de Análise deDados. Servidor de Mapas. Disponível em:<http://www.seade.gov.br/produtos/geo/geralayer.php > Acessoem: 10 de jun. de 2012.
Entrevistas com Assentados
Assentado 1, agricultor e associado. Entrevista concedidaem 03/02/2012.
Assentada 2, agricultora e associada – possuidora de cargorepresentativo na Associação. Entrevista concedida em24/01/2012.
Assentada 3, agricultora e associada – possuidora de cargorepresentativo na Associação. Entrevista concedida em06/02/2012.