MULHERES NOS CURSOS DE ENGENHARIA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ E UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO...
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MULHERES NOS CURSOS DE ENGENHARIA NA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO PARANÁ E
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
André Luiz Andreola
Orientadora: Profa. Dra. Luciana Rosar Fornazari Klanovicz
Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) Resumo: Esta pesquisa de procura fazer uma análise comparativa da inserção e a formação de mulheres
nos cursos de engenharia da Universidade Federal do Paraná e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, entre 2003 e 2011. Levando em conta que de gênero são construções modernas e históricas passiveis de estudo e crítica, buscou-se observar as relações de gênero e ciência, documentando as tensões e incentivando o debate nesse campo de pesquisa. Para realizar a pesquisa, foi proposta uma leitura quantitativa de dados oriundos das instituições. Conclui-se que a inserção de mulheres nos cursos de engenharia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul vem aumentando nos últimos anos em algumas áreas da engenharia como a de alimentos e que na Universidade Federal do Paraná a presença de mulheres aprovadas ainda é muito baixa e necessita de uma maior atenção histórica. Palavras-chave: História; Gênero; Ciência.
Introdução
O objetivo desse artigo é analisar a inserção e a permanência das mulheres nos
cursos de engenharia na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e na Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) pensando em construir um estudo acerca das
mulheres nas áreas acadêmicas predominantemente masculinas. Para a realização do
trabalho foram coletados e analisados dados resultantes dos vestibulares no período de
2003 a 2011 nessas universidades1.
É necessário enfatizar que esta pesquisa acadêmica está relacionada com o
campo de estudos de gênero que vem se desenvolvendo no Brasil desde os anos 1970.
Na pesquisa houve a tentativa de tecer uma interlocução entre relações de gênero,
ciência e tecnologia e aprofundar o debate sobre esse campo cientifico.
A justificativa está relacionada com a percepção como acadêmico de história, da
baixa presença de mulheres em cursos estereotipados como uma áreas somente
masculinas, como é o caso das engenharias. Cabe a nós historiadores, refletir acerca da
sociedade e como ela reproduz essa divisão homem/mulher e como esta dicotomia está
1 Este Artigo origina-se de uma pesquisa de Iniciação Científica fomentada pelo CNPQ (Conselho Nacional de Conhecimento Científico e Tecnológico). A pesquisa intitula-se Mulheres nos cursos de Engenharia nas universidades públicas do Rio Grande do Sul, realizada no período de 2012 a 2013 com a orientação da professora Dra. Luciana Rosar Fornazari Klanovicz. Essa pesquisa se insere na pesquisa maior da orientadora intitulada Gênero, ciência e tecnologia no sul do Brasil.
presente no universo acadêmico. A problematização dessa dicotomia ajuda a quebrar
essa barreira e essa divisão social presentes em nossa sociedade, rompendo com
preconceitos e divisões não só no campo acadêmico, mas como em um campo geral.
Para discutir o tema, utilizei fontes e informações oriundas dos sites
institucionais das universidades em foco. Encontram-se aí todos os aprovados nos
cursos de engenharia. Optei por considerar os vestibulares de 2003 a 2011. Após a
coleta de dados, foi realizada uma análise e contagem das mulheres que foram
aprovadas em todos os âmbitos de todos os cursos, posteriormente foi construído um
banco de dados quantitativo sobre a inserção, a formação e a produção cientifica de
mulheres nos cursos de engenharia da UFPR no período que compreende de 2003 até o
ano de 2011.
Vale ressaltar que a abordagem utilizada na fonte baseia-se em nomes
comumente “femininos”, para a filtragem e análise, o que pode ocasionar leve distorção
na precisão dos dados, porém, acreditamos que isso não torna a pesquisa menos
cientifica, uma vez que estamos cientes dessa questão e procuramos trabalhar com os
dados de uma maneira a que possamos entender o que esses números representam. Por
isso, essa pesquisa se baseia em dados oriundos da própria instituição, o que pode ser
problematizado como dados oficiais, o que nos remete a questões políticas, sociais e
culturais.
Historicamente, tanto a ciência quanto a tecnologia têm sido estereotipadas pela
sociedade ocidental ao longo do tempo como atividades masculinas por excelência
(ROCHA, 2006, p.18). Por isso este trabalho é importante no campo acadêmico da
história para discutir e problematizar através de uma análise histórica quantitativa as
relações socialmente construídas e como são diferentemente tecidas e interpretadas em
diferentes tempos e espaços. Por meio da construção de um banco de dados pudemos
observar a participação das mulheres nas engenharias principalmente nas instituições
públicas de fomento como a Fundação Araucária, CAPES e CNPq. Dados resultantes da
pesquisa poderão ser utilizados para o planejamento de políticas públicas e também
auxiliar as pesquisas futuras sobre esse tema.
Nesse sentido, procuro construir uma interlocução entre relações de gênero,
ciência e tecnologia, trazendo o debate de alguns autores sobre o tema procurando
aprofundar o debate relacionando com dados qualitativos sobre esse campo cientifico.
Este trabalho procura documentar a inserção de mulheres nos cursos de engenharia e
através da análise dos dados observarem as disparidades das relações construídas e
reiteradas nos dados dos vestibulares que é um dos passos fundamentais para a entrada
das mulheres.
Levando em consideração o que já se tem escrito sobre o tema, é importante
considerar o trabalho existente na região Sul do Brasil intitulado História, Gênero e
Ciência: mulheres engenheiras no Sul do Brasil nesse trabalho a autora Luciana
Klanovicz procurou fazer um levantamento quantitativo sobre a presença, a
permanência e a produção cientifica das mulheres na engenharia em instituições
públicas do Paraná e Santa Catarina fazendo uma discussão e comparação entre a
Universidade Estadual de Maringá (UEM) e a Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) (KLANOVICZ, 2011).
Estudos de gênero e ciência nos permitem refletir e discutir sobre as disputas e
conflitos nesse campo de saberes de caráter predominantemente masculino, como a
engenharia. Sabe-se que é recente a inserção de mulheres em diversas áreas, essas por
sofrerem distinção de gênero já foram mal vistas, portanto é ambíguo aceitar mudanças
sem uma analise detalhada.
Para Leta (apud Felipe, 2012) o grande contingente de mulheres com curso
superior ocorreu com a expansão das instituições de ensino superior a partir da década
de oitenta no Brasil. Assim com a expansão das instituições de ensino superior as
mulheres tem a possibilidade de ingressar em cursos que fogem aos “guetos” femininos
como letras, pedagogia, enfermagem e serviço social. (FELIPE, 2012).
Na década de 1960 a partir do movimento feminista várias autoras procuram
discutir a importância de uma categoria de análise para as relações de gênero. Dentre
essas autoras Joan Scott define o termo gênero como núcleo formado por duas
centralidades, “(...) o gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseadas
nas diferenças percebidas entre os sexos e o gênero é uma forma primária de dar
significado às relações de poder.” (SCOTT, 1995, p. 86). 2Assim a constituição de um
2 O movimento Feminista foi essencial para uma nova leitura histórica sobre a categoria gênero, para
Joana Pedro, a partir de 1960 com a explosão do feminismo juntamente com as transformações na historiografia, “(...) tiveram papel decisivo no processo em que as mulheres são alçadas à condição de objeto e sujeito da História, marcando a emergência da História das Mulheres”. (SOIHET; PEDRO, 2007 P. 285)
debate a partir da análise das relações sociais construídas entre homens e mulheres e a
sua problematização é parte constituinte de uma análise histórica das relações de
gênero.
Pensando em outros autores que iniciaram esse trabalho com a temática de
mulheres e engenharia temos a pesquisadora Mani Tebet que é Doutoranda pelo
Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ, no seu estudo Mulheres na engenharia: Transgressão? Procurou mapear alguns tópicos referentes à
questão da entrada de mulheres nos curso de engenharia na Universidade Federal
Fluminense. Ela buscou mapear as diferenças socioeconômicas entre candidatas e
candidatos que buscam ingressar na universidade, qual a configuração de gênero na
aprovação da (o)s candidata (o) como mulheres e homens - que optam por carreiras
alternativas às configurações de gênero no ensino superior a fim de entender quais as
influências, referências e informações que elas recebem para fazer essa “transgressão”
de curso.
Elas utilizaram dados oriundos do questionário socioeconômico e cultural
aplicado às candidatas ao vestibular da UFF no ano de 2007. Elas utilizaram uma
metodologia baseada em 14 entrevistas divididas igualmente por sexo.
Nos resultados da pesquisa apresentam que as entrevistadas embora tenham
contato direto com profissionais engenheiros, procuram afastam qualquer influência
externa baseando-se apenas na escolha pessoal, “Portanto, trata- se aqui da importância
que as jovens atribuem ao exercício da liberdade de “escolher” uma carreira e a noção
de autonomia de “escolha” em relação à vontade familiar.” (TEBET, 2008, p. 3)
A autora levanta à hipótese que talvez essa negação esteja ligada a vontade de
negar que elas estejam em uma profissão masculina por causa de um parente, ou alguém
do sexo oposto. Porém, entre os meninos essa constatação se apresenta de maneira
diferente, “(...) pelo contrário, quando existe um expert no âmbito familiar tende a haver
uma agregação de valor, de status e até mesmo uma ideia de tradição da profissão que
transcorre durante anos, sendo passada de geração em geração.” (TEBET,2008, p. 3-4)
Em relação ao estágio a autora afirma que “Quando o sexo do contratante difere
da maioria dos profissionais da área, a tendência seria contratar aquele de seu mesmo
sexo como uma saída estratégica para diminuir a desigualdade de gênero na profissão.” (TEBET, 2008, p.4)
Por fim ela apresenta alguns pontos similares entre homens e mulheres, para ela
todos entrevistados apontam para a importância de mulheres na engenharia; todos
discordam de que o homem deveria ganhar mais; e todos concordam com a frase
“Homens e mulheres devem contribuir igualmente no cuidado dos filhos e da casa”
(2008, p.8). Contudo podemos concluir que há uma aparente incorporação de valores
democráticos em relação às mulheres nos cursos de engenharia.
Outros autores já vem trabalhando com a perspectiva de perceber a produção
cientifica das mulheres no âmbito acadêmico, tal raciocínio nos remete ao trabalho de
Hildete Pereira de Melo e André Barbosa Oliveira (MELO; OLIVEIRA. 2006), o
trabalho dos autores é essencial principalmente pela análise da produção científica de
mulheres, concluem que a participação das mulheres vem aumento nos últimos anos no
campo cientifico e tecnológico.
Como as mulheres foram vistas quando adentraram nos cursos de ciências da
computação? Curso que atualmente possui mais homens do que mulheres. Essa dúvida
nos remete ao trabalho já realizado, o artigo Gender Gap in Computer Science Does
Not Exist in One Former Soviet Republic: Results of a Study das autoras Hasmik
Gharibyan da California Polytechnic State University e Stephan Gunsaulus do Public
Information and Marketing Department. Nesse trabalho, as autoras analisaram a entrada
de mulheres nos cursos da Ciência da Computação em duas sociedades diferentes, os
EUA e a União Soviética, e apresentam melhor compreensão das influências e
percepções sociais da baixa participação das mulheres em ciência da computação nos
EUA.
A metodologia de trabalho utilizada foi o uso de questionários e entrevistas.
Foram desenvolvidos três diferentes tipos de questionário, com 23 perguntas cada. As
entrevistas foram feitas para profissionais da área (ciência da Computação), professores,
funcionários, representantes de empresas relacionadas com Ciência da Computação,
pais dos alunos e jornalistas, totalizando 85 entrevistas. Para elas a Ciência da
Computação é um campo dominado por homens; meninas são intimidadas pelo número
de homens e sentem que estão isoladas, (GUNSAULUS; GHARIBYAN, 2009. P.225)
Em suas conclusões se rementem a alguns pontos de sua pesquisa, entre eles que a
Ciência da Computação é um campo dominado por homens; meninas são intimidadas
pelo número de homens e sentem que estão isoladas. Também acreditam que as
mulheres em Ciência da Computação não recebem o mesmo respeito que os homens,
não têm as mesmas oportunidades que os homens, e não podem alcançar o mesmo
sucesso que eles.
Vale ressaltar que outras linhas de pesquisa vêm trabalhando na perspectiva de
mulheres engenheiras e trabalho, como é o caso da dissertação de mestrado de Benedito
Guilherme Falcão Faria apresentado na Universidade Tecnológica do Paraná, intitulada Gênero no mercado de trabalho: mulheres engenheiras, nessa dissertação o autor
procurou fazer uma análise sobre o mercado de trabalho para engenheiras formadas nos
cursos de engenharia, como elas se sobressaem sobre seus concorrentes. E analisou
como era a recepção das empresas perante essas mulheres, principalmente as dirigidas
por homens. Nessa mesma perspectiva a tese de doutorado da Cristina Tavares da Costa
Rocha, Gênero em ação: Rompendo o Teto de Vidro? (Novos Contextos da
Tecnociência) de 2006.
As pesquisas utilizando como base teórico-metodológica as relações de gênero
no âmbito das engenharias se constituiu como um campo interdisciplinar acadêmico,
assim, a pesquisa apresentada se difere aa apresentar uma perspectiva histórica e
utilizando dados de vestibulares para a fomentação da pesquisa.
São poucas mas existem: mulheres na engenharia da UFPR
A Universidade Federal do Paraná é uma instituição pública e gratuita que é
mantida pelo Governo Federal sendo a mesma criada em 1912 sendo umas das
primeiras universidades públicas do Brasil. Atualmente a Universidade detém 10 cursos
de engenharia, sendo eles: Engenharia Ambiental, Engenharia Cartográfica, Engenharia
Civil, Engenharia De Bioprocessos e Biotecnologia, Engenharia d e Produção,
Engenharia Elétrica, Engenharia Florestal, Engenharia Industrial Madeireira,
Engenharia Mecânica.
Apesar do curso de Engenharia Civil ter surgido em Curitiba-PR em 1912, foi
somente em 1945 que ocorreu à Formatura da primeira mulher engenheira do Paraná:
Enedina Alves Marques, a pioneira. (FARIAS, 2007)
Dentre os dados analisados na UFPR, os cursos de engenharia Mecânica e
Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia tem despertado atenção, o primeiro por
demostrar um nível significativamente baixo de inserção de mulheres e o segundo por
demostrar um número relativamente mais alto. Entendemos que a comparação de uma
entrada significativamente baixa de mulheres, pensando que atualmente a proporção de
homens e mulheres no Brasil é igualmente proporcional, assim, quando nos referimos a
essa baixa inserção de mulheres, temos como bases para a comparação, os dados de
homens e mulheres no país, e que se apresentam na pesquisa com números
diversificados.
O curso de engenharia mecânica foi criado no mês de outubro de 1958 e a partir
dessa data tem realizado diversas atividades de ensino, pesquisa e extensão. Na
atualidade o departamento de engenharia oferta o curso de graduação em Engenharia
Mecânica, em regime diurno e a partir de 2009 também em regime noturno.
Em nível de Pós-Graduação os professores do Departamento participam do
curso de Engenharia Mecânica e do curso de Engenharia e Ciências dos Materiais,
principalmente, em nível de Mestrado e Doutorado. O curso de engenharia mecânica é
um dos mais „tradicionais‟ do campo das engenharias, sendo constituído na UFPR em
1958; porém, como podemos observar existe uma grande disparidade entre a entrada de
mulheres e homens aprovados nos concursos.
Na tabela1, sobre o vestibular de 2003 teve apenas duas mulheres em relação a
oitenta homens aprovados no vestibular. Nesse ano as mulheres representaram apenas
2,30% dos aprovados (a). A porcentagem foi calculada levando em conta que o número
de vagas era de 44 por semestre totalizando 88 por ano. No ano seguinte de 2005 as
mulheres representaram apenas 11% no primeiro semestre caindo para 4,50% no
segundo semestre.
Tabela 1: Aprovados (a) no Curso de Engenharia Mecânica entre 2003 e 2011.
Em todos os anos podemos observar uma disparidade muito grande entre a
entrada de homens e mulheres, isso se mantem da mesma maneira a partir de 2008,
mesmo com o aumento de número de vagas. Mesmo com a necessidade de mais vagas p
a r a o curso, a porcentagem é de 9,30% de aprovadas no primeiro semestre, e 16% no
segundo semestre, esse número representa que apenas 14 mulheres foram aprovadas no
ano, isso perante as 108 vagas ofertadas, sendo 94 homens aprovados, com base nos
dados retirados do gráfico.
Gráfico 1 Porcentagem da Inserção de mulheres nos cursos de engenharia mecânica
A média das mulheres aprovadas nos cursos de engenharia mecânica foi
relativamente baixa em todos os anos entre 2003 e 2011, segundo o Gráfico1, a inserção
de aprovadas varia entre 2,30% em 2004, chegando ao seu maior número de 18, 50%
dos aprovados no primeiro semestre de 2010.
Assim podemos observar que mesmo com uma entrada constante de mulheres no
curso de engenharia mecânica, esse número continua relativamente baixo até 2011,
sendo a porcentagem de 16,30% no segundo semestre de 2011. Assim vê-se necessária
observação e maior atenção sobre a necessidade de mais políticas de incentivo para
procurar aumentar o número de inserção de mulheres nesse curso.
Outros cursos também chamam a atenção por sua grande disparidade entre
aprovados e aprovadas, Exemplo é o curso de Engenharia elétrica, que tem demostrado
um baixo percentual de mulheres aprovadas nos vestibulares dos dados da pesquisa.
O vestibular do curso de engenharia elétrica ofereceu 44 vagas por semestre
entre 2004 e 2010, já em 2011 passou a ofertar 40 vagas por semestre para o período
matutino. O s dados analisados demostram que no vestibular de 2003-2004, das 44
vagas somente 4 foram preenchidas por mulheres, isso representa apenas 9% do total de
aprovados (a). No segundo semestre do mesmo ano o número de aprovadas foi de 11% .
A média da entrada de mulheres no curso de engenharia elétrica varia entre 2% no
primeiro semestre de 2005 e 23%, no primeiro semestre de 2008, sendo esse 23% 10
mulheres aprovadas.
Os cursos de Bioprocessos e Biotecnologia e Engenharia Ambiental chamam a
atenção por demostrar uma grande disparidade inversa de dados sobre a inserção de
mulheres principalmente nos últimos anos, o curso de Bioprocessos e Biotecnologia é
um dos mais novos cursos ofertados pela UFPR.
Ainda de acordo com dados do site da instituição, o curso foi denominado
Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia e procura propiciar ao futuro profissional
uma formação sólida em ciências biológicas e também em disciplinas tecnológicas de
engenharia e processos indústrias. O curso foi estruturado com base na massa crítica de
professores e laboratórios dos setores de Tecnologia e Ciências Biológicas da UFPR.
O curso disponibiliza 30 vagas anuais para o concurso vestibular, de acordo com
dados entre 2003-2004 e 2010-2011 foi instituído o gráfico abaixo, esse gráfico 2
aponta que no vestibular de 2010 para entrada em 2011 o porcentagem de inserção foi
de 78% em relação ao total de vagas.
Gráfico 2 - Porcentagem da Inserção de mulheres nos cursos de Bioprocessos e
Biotecnologia
Esse é um dos cursos com maior entrada de mulheres nas engenharias da UFPR,
sendo que nos anos de 2004, 2005 e 2006 a entrada foi igualmente, ou seja, teve 50% de
homens e 50 % de mulheres. Apenas em 2007 e 2008 que houve uma baixa de
mulheres, porém esses números ainda estão equilibrados.
Outro curso que chama a atenção por sua grande aprovação e inserção de
mulheres é o curso de Engenharia Florestal, o curso é o que aprova mais
equilibradamente homens e mulheres, ficando os mesmo entre 50% em vários anos,
como 2004, 2007 e 2009.
O histórico do curso de Engenharia Ambiental está ligado à formação da Escola
Nacional de Florestas, primeira do ramo no Brasil, sediada em Viçosa e posteriormente
transferida para Curitiba em 14 de novembro de 1963. De acordo com o site do curso a
Engenharia Ambiental, o curso “representa o manejo de áreas florestais e a produção de
madeiras, atendendo às necessidades econômicas e sociais e os princípios da
sustentabilidade”.
O curso de Engenharia Florestal ofertou 66 vagas em seriado anual até 2010,
período em que passou a ser em regime semestral. Sendo semestral passou a
disponibilizar 35 vagas por semestre em 2010 e 33 vagas no primeiro semestre de 2011
e 34 no segundo semestre.
A análise baseada nos dados oriundos da pesquisa apresentada no gráfico 3
demonstra que no vestibular de 200-2004 o número de mulheres aprovadas foi de 22%,
representando 33% do total de vagas. De lá pra cá, esse número foi aumentando,
passando para 45% em 2004-2005, 44 % em 2005-2006, 52% em 2007, chegando até
seu número mais alto em 2008, 58% das dos aprovados foi mulheres. Sendo assim, das
66 vagas 38 eram mulheres. Esse número começa a cair em 2010 e 2011 chegando a
33% no vestibular do primeiro semestre de 2011. Os dados constam no gráfico abaixo:
Enfim, podemos concluir que apesar de um incremento significativo da entrada
de mulheres em dois cursos específicos de Engenharias, sendo eles o curso de
Bioprocessos e Biotecnologia e o de Engenharia Florestal; Na UFPR, os dados
coletados mostram que há uma majoritária entrada de homens nos demais cursos,
principalmente no curso de Engenharia Mecânica e Elétrica, porém observamos que
existe uma entrada constante de mulheres, mesmo que em um baixo número.
As análises realizadas durante a pesquisa nos proporciona uma visão ampla
sobre a entrada das mulheres nos cursos de engenharia na região sul do Brasil, podemos
perceber que certas áreas da engenharia, principalmente as mais recentes como as
engenharia de Alimentos e de Bio Tecnologia ocorre uma grande participação e
inserção feminina nos vestibulares. Por outro lado às engenharias tidas como
tradicionais, como a engenharia mecânica e a civil a presença das mulheres ainda
necessita de grandes incentivos para uma maior participação feminina nesses cursos.
O caso da UFGRS
A UFRGS é uma instituição pública e gratuita que é mantida pelo Governo
Federal sendo a mesma federal em 1950. Atualmente a Universidade detém 15 cursos
de engenharia, sendo eles: Engenharia ambiental, cartográfica, de alimentos,
computação, controle e automação, e energia, materiais, minas, produção, elétrica,
física, hídrica, engenharia mecânica, engenharia metalúrgica e engenharia química.
A fonte utilizada para esta pesquisa reside no site da instituição da UFRGS, no
site encontram-se todos os aprovados em todos os cursos dividido em ordem alfabética,
de modo que para foi necessário a realizar um filtro para os cursos de engenharias,
porém para trabalhar com esse tipo de fonte serial e de certa maneira oficial legitimada
por uma instituição Federal deve-se fazer algumas considerações. Primeiro, a questão da
aplicação e necessidade de demonstração dos resultados dos vestibulares das
Universidades, e como isso reflete na publicação dos resultados, e também ressalvas a
questão do análise, pois a pesquisa analisa com base em 'nomes femininos' e que tal
análise pode ser problematizada no que concerne a este tópico.
O recorte temporal da pesquisa reside nos vestibulares de 2001 a 2012. Após a
coleta de dados foi realizada uma análise e contagem das mulheres que foram aprovadas
em todos os âmbitos de todos os cursos, posteriormente foi construído construir um
banco de dados qualitativo da inserção, a formação e a produção cientifica de mulheres
nos cursos de engenharia da UFRGS, Através da construção do bancos de dados
podemos observar a participação das mulheres nas engenharias principalmente nas
instituições públicas de fomento como a Fundação Araucária, CAPES e CNPq que
poderão utilizar esses dados para uma planejamento de políticas públicas e também
auxiliar as pesquisas futuras sobre esse tema.
Dentre os resultados obtidos na pesquisa, alguns cursos demonstram uma maior
disparidade tanto quanto em candidatos como também nas aprovações de homens e
mulheres, os cursos com maiores disparidades está o curso de engenharia de alimentos e
engenharia elétrica.
O curso de engenharia de alimentos os resultados obtidos mostram que há uma
grande aprovação de mulheres nos curso de engenharia de alimentos, por exemplo, no
concurso vestibular de 2001, houve 361 inscritos, sendo ofertadas 30 vagas, nesse
concurso a porcentagem de aprovadas foi de 83,3 % dos inscritos, uma grande
participação das mulheres também nos outros vestibulares, em 2002 foram aprovadas
80% das inscritas e 2005 83,3% novamente, esses dados embora apenas quantitativos
possa ser analisados como uma maior participação feminina nos cursos de engenharias.
Por outro lado, o curso de engenharia elétrica apresentado dados bem
diferenciados em relação às outras áreas da engenharia, como podemos ver no gráfico.
Gráfico 4 – Número de mulheres aprovadas nos cursos de engenharia elétrica.
8
7
7
6
5
2001
4 4 4
2005
3
3
2007
2010
2
1
ENGENHARIA ELÉTRICA
Aqui podemos perceber que a partir do ano de 2001, a aprovação das mulheres não
passava dos 3%, visto que o número de vagas para aquele ano foram de 100, e apenas
três mulheres foram aprovadas. Esse número aumento no período de 2001 a 2010,
porém, como vemos ainda não chegaram aos 10% das aprovadas, comparando com os
outros campos da engenharia da UFRG esse campo é um dos que tem menos mulheres
aprovadas nos vestibulares.
A questão da entrada das mulheres na engenharia pode ser observada a partir de
uma perspectiva Nacional, como mostra Carvalho os indicadores de mulheres em cursos
de engenharia no Brasil durante o período de 200 a 2005 não passa dos 20% em relação
aos homens, número relativamente baixo em relação a população brasileira.
Considerações finais
A presente pesquisa procurou problematizar a entrada das mulheres nos cursos
de engenharia na UFPR, porém, muito ainda é preciso romper com os estereótipos de
gênero, e proporcionar uma maior igualdade de gênero não somente, no campo
acadêmico, mas também no social. Essa pesquisa nos guia para a possibilidade de um
trabalho futuro, onde se faz necessária a problematização de que embora poucas
mulheres entram, as que persistem no curso, concluem e muitas vezes se sobressaem no
mercado de trabalho, mostrando com determinação é possível romper a parede de vidro.
Para Maria Clara Saboya (2009) houve um crescimento da participação das
mulheres na engenharias, embora para ela os números ainda sejam relativamente
pequenos, porém são progressivos entre os anos de 2004 a 2005. (SABOYA, 2009)
Uma possibilidade de pesquisa que pode ser abordada em uma pesquisa
posterior é a problematização da dinâmica da homossexualidade nos cursos de
engenharia, pensar até que ponto isso influencia e determina ou não, as formas como as
relações de gênero se constroem no âmbito acadêmico e quais as suas implicações.
Pensando em um parâmetro nacional as Análises de Marilia Gomes de Carvalho
(2008) mostra que a situação das mulheres na educação superior brasileira na área de
C&T (ciência e tecnologia), mas especificamente nas engenharias, os índices mostram
uma significativa minoria, variando em torno de 12% a 20%, ou 30%, dependendo da
especialidade em engenharia. (CARVALHO, 2008)
Carvalho (2008) conclui que para mudar o quando em que as mulheres são
minoria significativa na educação superior brasileira nos cursos da área tecnológica.
Para ela é preciso superar os modelos de gênero dicotômicos que reproduzem padrões
tradicionais e conservadores e que direcionam os homens para as carreiras técnicas e as
mulheres para as letras, ciências humanas ou as profissionais do cuidado. Assim,
embora o número de mulheres em cursos de engenharia esteja aumentando
gradativamente, os indicadores ainda mostram que a equidade de gênero está longe de
ser alcançada e que ainda há muito trabalho pela frente.
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