MON JOSÉ ESCRAVOS BOQ - ENTRE ENGENHOS E FAZENDAS

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1 JOSÉ DE JESUS SANTOS ENTRE ENGENHOS E FAZENDAS: A FORMAÇÃO DA FAMÍLIA ESCRAVA NA VILA LAGOA VERMELHA DO BOQUIM (1866 – 1873) Trabalho de conclusão de curso apresentado como pré-requisito parcial para obtenção do grau de Licença em Historia na Faculdade José Augusto Vieira. ORIENTADOR: FERNANDO JOSÉ FERREIRA AGUIAR LAGARTO/SE 2009

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JOSÉ DE JESUS SANTOS

ENTRE ENGENHOS E FAZENDAS:

A FORMAÇÃO DA FAMÍLIA ESCRAVA NA VILA LAGOA

VERMELHA DO BOQUIM (1866 – 1873)

Trabalho de conclusão de curso apresentado como pré-requisito parcial para obtenção do grau de Licença em Historia na Faculdade José Augusto Vieira.

ORIENTADOR:

FERNANDO JOSÉ FERREIRA AGUIAR

LAGARTO/SE

2009

1

ÍNDICE

RESUMO

1 INTRODUÇÃO

1.1 Um rápido olhar na historiografia da escravatura ....................11

2 CAPITULO I

2.1 Das sesmarias aos engenhos às vilas sergipanas...................23

3 CAPITULO II

3.1 A formação demográfica da família escrava na vila da lagoa

vermelha (1866-1873)....................................................................................29

4 CAPITULO III

4.1 O processo matrimonial e formação familiar.........................................................................................................40

4.2 O Batismo..................................................................................................46

4.3 Crescimento das famílias: desenvolvimento e renda dos planteis................................................................................................56

5 RÁPIDAS CONSIDERAÇÕES ................................................................................................61

6 REFERÊNCIAL BIBLIOGRÁFICO.........................................64

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ENTRE ENGENHOS E FAZENDAS: A FORMAÇÃO DA FAMÍLIA

ESCRAVA NA VILA LAGOA VERMELHA DO BOQUIM (1866 – 1873)

JOSÉ DE JESUS SANTOS

DATA 19/06/2009

PROFº MSC. FERNANDO JOSE FERREIRA AGUIAR

ORIENTADOR

PROFº MSC. JOSÉ VLADIMIR DANTAS

PROFESSOR CONVIDADO

PROFº MSC. ALBERTO SOUZA GARCIA

COORDENADOR DO CURSO

RESUMO

1

O presente trabalho tem por ganância maior iniciar levantamentos de fontes e produções literárias sobre a formação da família escrava na antiga vila da Lagoa Vermelha. As relações de compadrio, mães solteiras e os casais como família e elementos do plantel escravista dos proprietários desta povoação. Este foi o tema escolhido devido a necessidade de retirar o véu do anonimato e colocar nos anais da historiografia brasileira e sergipana a formação da família escrava na região da vila da Lagoa Vermelha, lugar onde nascera a povoação da cidade de Boquim/Se, alem de trazer novas fontes a mesa de pesquisa sobre o atual município. Sendo um desafio excitante por só se ter registros sobre este município datados do início primeiros metade do século XIX.

Palavras chaves: Família – escravos- batismo- plantel – Lagoa Vermelha

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RESUMEN

Este trabajo tiene la mayor ambición de inicio traer fuentes y estudios y crear producciones literarias bajo a la formación de família esclava en la antigua ciudad de Lagoa Vermelha. La relación de compadrio, las madres solteras y las parejas como familia y los elementos de la plantilla propietarios de esclavos en esta aldea. Este fue el tema elegido debido a la necesidad de eliminar el velo de anonimato y poner el lugar en los anales de la Sergipe Brasil historiografía y la formación de familia en esclava región de la ciudad de Lagoa Vermelha, donde la poblacion de la ciudad de Boquim/SE nació. Además traer nuevas fuentes de la investigación sobre la ciudad. Como un reto apasionante a sólo tienen registros de este munnicipio de fecha del inicio de la primera mitad del siglo XIX. Palabras clave: Familia –Esclavo – bautismo – plantel – Lagoa Vermelha

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A Leandro de Jesus Santos (in memória), pais e irmãos

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1. INTRODUÇÃO

O trabalho de pesquisa apresentado tem como pretensão estudar e analisar

os aspectos sociais, culturais e econômicos que contribuíram para a formação da

família escrava oitocentista (1866 – 1873). Tais aspectos vêm conjugados com as

questões culturais e sociais, pois na maioria dos casos os valores atribuídos ou

conjugados com a constante necessidade de afirma-se ou defender a dinâmica

interpessoal da sociedade escravista da época na região que se tornara a cidade

atual de Boquim, localizada em Sergipe são fatores articuladores dinâmicos do

processo de desenvolvimento da historiografia da temática a ser abordada.

Todavia deve-se ressaltar a existência de tímidos trabalhos de pesquisa sobre

a cidade de Boquim – principalmente sobre o século XIX, e sobre a história

escravista na região centro-sul sergipana (hoje os Territórios Sul e Sul Sergipano) e

acreditamos, igualmente, que o presente trabalho venha contribuir como ensaio na

construção da temática nos anais acadêmicos. O nosso objeto de estudo são as

famílias escravas formadas no período de 1866 a 1873 analisando e cruzando

dados quantitativos paralelos a literaturas e outras fontes como os Relatórios dos

Governos da Província de Sergipe D’El Rey. A problemática que norteia o presente

trabalho de pesquisa é a formação da família escrava no período oitocentista. Onde

o cenário patriarcal dominava as relações de poder local além de rasgar o véu do

anonimato dos negros na construção da sociedade sergipana em especial na Villa

da Lagoa Vermelha pertencente à Comarca de Lagarto do século XIX.

Visto que na formação social escravista brasileira e em especial a sergipana

sempre predominou as relações coercitivas entre homens livres, senhores e

escravos marginalizando estes últimos do processo econômico, político e social

resumindo-os em sombras anônimas. As relações entre as escravas que

registravam seus filhos para que estes, se filhos do seu senhor, pudessem ser livres,

e o medo de ser represada pela sinhá se descobrisse a traição do senhor ou ainda

servindo de mera reprodutora para multiplicar os bens móveis [escravos] do dono do

engenho.

8

Assim partiremos para uma pesquisa histórica, na qual usaremos como fontes

o livro de batismo relatórios dos Governos Provinciais que revelam o contexto social,

cultural e econômico do período estudado identificando indivíduos dentro do

processo social.

Transversalmente à referida pesquisa esperamos contribuir para o

entendimento da formação da família negra escrava, do comportamento e da vida

social da comunidade da Vila de Sant’Anna da Lagoa Vermelha, uma vez que a

localidade vivia suas primeiras décadas de independência da Freguesia de Nossa

Senhora da Piedade do Lagarto.

O trabalho consiste em entender como as relações sociais, culturais,

econômicas influenciaram na vida do negro escravo e sua constituição familiar,

como, quando e por que casaram e o porquê de muitas mães solteiras aparecerem

na lista de batismo.

Em relação ao processo escravista no país influenciado pelo mercado

ultramarino da época faremos rápida memória aos aspectos do escravismo como

fonte de lucro para as potências oitocentista, partindo daí para o nosso recorte

geográfico da pequena vila sertaneja do Lagarto – assim chamada por seu ilustre

filho Silvio Romero, para então ocuparmos temporalmente a Vila da Lagoa Vermelha

apesar de existirem poucas fontes conhecidas que remontem o cenário do lugar o

que exigirá maior aprofundamento a posterior.

A nossa temática é bastante interessante por ser enriquecida por diversas

áreas do conhecimento, como as áreas da Antropologia, História Social, História das

Mentalidades e da História Cultural. Neste sentido pretendemos contribuir com a

historiografia da formação da família escrava bem como a constituição da sociedade

patriarcal sergipana na região.

Todavia, é imprescindível ter que se buscarem outras fontes eclesiásticas

como de casamentos uma vez que Sergipe só teve sua autonomia clerical em 1910,

8

onde antes tais assuntos entre outros estavam subordinados a Arquidiocese da

Bahia1.

Preciosidades sobre a história social de Sergipe colonial e imperial continuam praticamente “virgens” no Arquivo da Cúria de Salvador, à espera de pesquisadores que se disponham a decifrar e divulgar milhares de manuscritos que abordam diferentes aspectos do dia a dia e da vida privada dos moradores desta pequenina Comarca e Vigaria que somente se emancipou do Arcebispado da Bahia em 1910, com a criação da Diocese de Aracaju.

Ainda se podem considerar recentes os trabalhos aqui no Brasil sobre a

formação da família escrava utilizando-se de registros da Igreja Católica – que na

época respondia civilmente também para formação dos censos demográficos das

províncias. Livros de casamentos, óbitos e batismos foram e ainda são peças

importantes para tecer a historiografia da vida dos cativos quando comparadas e

basiladas pela bibliografia referente à temática.

O recorte temporal e espacial para este trabalho inicial fora propositadamente

escolhido devido a necessidade de retirar o véu do anonimato e colocar nos anais

da historiografia brasileira e sergipana a formação da família escrava na região da

vila da Lagoa Vermelha, lugar onde nascera a povoação da cidade de Boquim/Se,

alem de trazer novas fontes a mesa de pesquisa sobre o atual município. Sendo um

desafio excitante por só se ter registros sobre este município datados do início da

primeira metade do século XIX.

Pesquisar os livros de batismo nos permite observar vários aspectos na

conjuntura demográfica da “Região do Agreste-Sertão Sul de Lagarto” que nos

apresenta etnias diferentes e tratamentos diferenciados na escolha dos padrinhos

para as crianças filhas de escravos. Ainda lindaremos a origem da escravidão

conforme a analise de MEILLASSOUX (1995), alem da abordagem rápida do tema

na historiografia brasileira com PINSKY (2006) e a forma de como foi tratada a

historiografia da família escrava no Brasil. No capítulo I abordaremos rapidamente

as sesmarias como forma de gerenciamento e partilhas de terras para a colonização

do Brasil serviu para as gêneses dos povoados, que posteriormente passaram por

1Cf. MOTT, Luiz, Sergipe Colonial e Imperial: Religião, Família, Escravidão e Sociedade, 2008 p.59

8

freguesias e logo depois vilas e cidades. Em Sergipe principalmente na “Região do

Agreste-Sertão Sul de Lagarto” a economia de subsistência e o uso da lavoura

foram atividades que geraram a economia de várias vilas como a então Lagoa

Vermelha independente da Freguesia de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto no

inicio da segunda metade do século XIX2. No segundo capitulo abordaremos a

formação demográfica com informes da leitura do livro de Batismo da Matriz de

Sant’Anna da Lagoa Vermelha, apresentando seu percentual étnico e número de

famílias e onde as mães eram solteiras e os casais escravos através do livro de

Batismo da Paróquia de Sant’Anna da Lagoa Vermelha.

O processo matrimonial, como a Igreja se posicionava em frente aos

casamentos provinciais e o levantamento do numero escravos casados e solteiros

que batizaram seus filhos nos dará um breve panorama da etnia, relação de

compadrio e desenvolvimento dos planteis e do crescimento dessas famílias

escravas no capitulo III. Chegaremos a conclusão que o trabalho potencializará

novas abordagens mais precisas e comparativas com outros documentos a serem

averiguados, uma vez encontrados, para enriquecer o acervo historiográfico da

cidade atual de Boquim e da região Centro-Sul Sergipana – Território Sul Sergipano.

2 Cf. IBGE, 1956 disponível em < http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/sergipe/boquim.pdf > acessado em 05.03.2009

8

1.1 UM RÁPIDO OLHAR NA HISTORIOGRAFIA DA ESCRAVATURA

Falar sobre a escravidão é ateasse a economia da época bem como seus

conceitos e virtudes adotadas de forma padrão adotado por uma sociedade

patriarcal e assim não se abismar com os testemunhos bibliográficos que tentam

fotografar em palavras a vida escrava e dos donos das terra de do poder.

A escravidão é um período da história universal que afetou todos os continentes, simultaneamente às vezes, ou sucessivamente. Sua gênese é a soma de tudo o que adveio durante um tempo indeterminado, em vários lugares. 3

Na historiografia antropológica da escravidão do homem pelo seu

semelhante, o estigma do dominado e do dominante se arrasta pelas estradas da

história da vida humana pela Terra e seu processo muito amplo e polêmico ao

reescrever sua passagem nos diversos países que adotaram o sistema escravocrata

como lembra QUEIROZ.4

(...) Essa visão daria margem à grande polemica historiográfica sobre a caracterização do sistema escravista, até hoje não resolvida, pois condicionada às influencias ideológicas e, consequentemente, ao enfoque teórico de cada autor. Justamente por isso, também são polêmicos os inúmeros aspectos abrangidos pelo tema e pela bibliografia, que é vasta, em função da importância assumida pela escravidão nos países onde foi implantada.

3 Cf. MEILLASSOUX,Claude. Antropologia da escravidão: o ventre de ferro e dinheiro. trad.Lucy Magalhães .Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,1995 p.17 4 Cf. QUEIRÓZ, Suely Robles Reis, Escravidão Negra em Debate. in Marcos Cezar de Freita, Historiografia Brasileira em Perspectiva. São Paulo: Contexto, 2005. pp. 103-117. 4Cf. MEILLASSOUX. Op.cit p. 19 - 24

8

Ser livre ou escravo sempre distanciou um homem pelo outro apenas por

questão de posses e poder. Claude Meillassoux levanta de E. Benveniste5 o

conceito de que os homens livres são aqueles que “nasceram e se desenvolveram

conjuntamente” sendo assim aqueles que nasceram e se desenvolveram fora de sua

comunidade ficariam na definição de estranhos - estrangeiros. Este estranho tem

como legado ter seu trabalho explorado nas sociedades domésticas.

Diferente da sociedade de classes, as relações de produtividade nas

sociedades domesticas se dão entre produtivos (adultos aptos para o trabalho) e

improdutivos (crianças, mulheres, idosos e incapacitados) , é pelo parentesco que se

posiciona o sujeito no status social . A fertilidade feminina e masculina fatorizam a

existência dessas sociedades – os homens como produtores ligados

matrimonialmente legais. A mulher é a produtora da progenitura vista como rainha

mágica da vida. Sendo preocupante a filiação entre o estranho (quase sempre objeto

de captura) e uma mulher da comunidade, pois sua cria estará mais inclinada aos

maus tratos e descriminações por não ter uma linhagem pura, seus privilégios serão

escassos. A guerra sempre gerou os subprodutos (cativos e escravos) que são

adquiridos por saldo ou compra, estes garantiriam a produção para a sobrevivência

da comunidade6.

O indivíduo ao se tornar “pai de família” durante toda sua existência de

produção volta suas atividades para o crescimento da família que por sua vez

constitui o tecido social da comunidade e se o individuo não garantir a alta de

natalidade gerará um ponto negativo no produto. Neste caso o estranho é concebido

pela sociedade para sanar o déficit através dos matrimônios, o homem e a mulher

como reprodutores naturais. Se estes não forem introduzidos no ciclo de reprodução

e somente no de produção não serão ressocializados, pois não estabelecem

parentescos.

5 Cf. MEILLASSOUX, op. cit. p. 19 - 24 6 Cf. Idem

8

MEILLASSOUX7 ainda afirma que “não é possível aqui reconstituir a história

do aparecimento da escravidão no mundo”. Segundo ele

só há escravidão, como modo de exploração, se constituir uma classe distinta de indivíduos, com um mesmo estado social e renovando-se de forma contínua e institucional, (...) as relações de exploração e a classe exploradora que delas se beneficia também se reconstituem regular e continuamente. (...)

Havendo ai as mesmas primícias do tratamento das forças de produção que

envolve as relações entre o homem produtor e os donos das produções e das áreas

destas produções (a terra ou oficinas) que marcam as civilizações antigas,

medievais, modernas e contemporâneas.

O encontro dos povos na jornada humana pela sobrevivência e da sua

conjuntura organizacional para delimitar suas posses na garantia de seus

descendentes possibilitou o desenvolvimento da historia da escravidão que se

desenrolou tanto na África como nos demais lugares do velho e novo mundo. O

trafico de escravos era um mecanismo mercantil que garantia a formação de

exércitos militares ou de trabalhadores com potencial de mão-de-obra que

favoreceria a sobrevivência das sociedades que se utilizavam da escravatura. A

captura foi uma medida usada por muitos grupos étnicos e reinos que se

deslocavam e expandiam seus territórios após entraves de guerras. O somatório de

guerras desenvolveu exércitos cada vez mais táticos, tanto para defender suas

aldeias quanto a atacar e capturar os “inimigos”, alem de estimular a entrada cada

vez mais para o interior do continente em expedições ainda mais demoradas e

longas. A exemplo muitas capturas realizadas na região saheliana eram para

sustentar a demanda das cortes, os escravos trabalhavam para o rei. “A guerra

modelava a organização social e os modos de dominações aristocráticas” – que se

interessavam na compra de bens de uso – “assim como a natureza da escravidão

que se constituía em torno dela.” Essas mobilizações tiveram sempre a participação

de mercadores islamizados. A aristocracia africana transformava o individuo livre

pela captura em mercadoria e os comerciantes se encarregavam do produto. Há 7 Cf. Id Ibidem

8

exploração do individuo tanto pela classe escravocrata (para seu uso) e a comercial

(como produto de venda) principalmente com os portugueses que instalaram-se em

Arguim8.

Em poucos anos as expedições ocasionais daria lugar a uma organização mais sofisticada. Um forte português constituído na Ilha de Arguim, a oitenta quilometro ao Sul de Cabo Branco, dá origem a uma feitoria, por meio da qual os negociantes lusitanos compravam negros cativos (...)

Para explorar ao máximo a força de produção escrava o setor escravagista

extrai deste seu subproduto, reduzindo sua capacidade de reprodução na sociedade

adquirindo energia canalizada para sua produção e conservava seu subproduto por

toda a vida sem dividi-lo com esposa e filhos – muitas das vezes retirados dele, ou

nunca lhe deram o direito a consumações matrimoniais deixando-o sempre na

posição de estranho e sem parentesco. Tal comportamento não se via na servidão

que é um processo distinto da escravidão, nela o individuo tem direito a prole,

limitado num território que lhe daria o necessário para a sua sustentabilidade e de

sua família. Deveria sempre pagar a mesma cota independente de sua força de

produção alem de viver sempre dependente do senhor financeiramente, não era

uma mercadoria, mas junto a sua família era um patrimônio do seu senhor.

O processo de escravização passava por diversos passos: a dessocialização

após ser retirado por captura do seu meio social rebaixando-se ao estado de

estranho, seguida da despersonalização perdendo sua faculdade, passando pela

dessexualização privando-o da capacidade de reprodução reduzindo à sorte a

sexualidade do homem e da mulher terminando na descivilização sendo sua relação

social minimizada a ele e o seu senhor, dependendo da vontade deste que no seu

“direito” constituído poderia castigá-lo até a morte.

Como já vimos da guerra advieram os mecanismos da escravatura. Outro

fator que contribuiu com esse processo foi o que Claud MEILLASSOUX chamou de

banditismo – fenômeno provocado pela insegurança entre membros de uma mesma

8 PINSKY, op. cit. pag. 14

8

comunidade, onde crianças poderiam ser raptadas para serem vendidas aos

mercadores9

Ninguém estava a salvo dos mesmos indivíduos que deveriam ser os produtores da comunidade. A irmã é ameaçada pelo irmão, a esposa pelo esposo, o filho pelo pai e o pai pelo tio. Assim citado por A – C. Niaré, Missão, 1964. (...) O banditismo parece ter tido dois efeitos, segundo o caso, sobre o poder político: ou os clãs se organizavam para resistir a ele, com o Mande no século XIII; ou os guerreiros faziam dele a base do seu poder (...).

Neste contexto historiográfico vista como instrumento de afirmação de poder

a guerra tinha apoio dos mercadores e soberanos que afirmavam como forma de

salvar os prisioneiros capturados. O comércio atlântico dava preferência aos homens

adultos a mulheres e adolescentes capturados. Ao passar dos anos o uso da mão

de obra escrava por diversos países e principalmente Portugal nas suas colônias de

exploração cresceu minimizando a condição humana do negro africano. Tal

“ferramenta” bem aplicada nas colônias africanas pertencentes a Portugal10 fora

também experimentado com mais intensidade na colônia do Novo Mundo.

(...) os negociantes lusitanos compravam negros cativos que os intermediários do negocio, por serem inimigos ou por simples interesse comercial iam buscar no interior da África. A moeda de troca eram tecidos, trigo, sal e cavalos; cada um destes chegava a valer vinte bons futuros escravos.

No Brasil o sistema escravista durou por mais de 300 anos proporcionando

pelas mãos e pés desses povos o desenvolvimento econômico da colônia,

principalmente nas regiões Nordeste, Sudeste e Minas nas atividades canavieiras,

cafeeiras e minerais respectivamente. Para Furtado (2004) a escravidão serviu muito

9 Cf. MEILLASSOUX, op. cit. 1995, p.113 10 Cf. PINSKY op. cit. p. 14, 2006

8

mais de “base de um sistema regional de poder que como forma de organização de

produção”.

É interessante ainda observar no recorte espacial os fatos que ocorrem no

Brasil regencial já apresentado em varias bibliografias onde as mentalidades

intelectuais já discutiam como tratar da passagem lenta, gradual e “sensata” do

trabalho servil para o trabalho livre, medidas das quais dependeriam o futuro do

país. Contudo a própria Lei Rio Branco, de 28 de setembro de 1871 – a lei do Ventre

livre veio apenas amenizar o problema dando ao proprietário a posse do recém

nascido até seus 21 anos caso se não tivesse sido indenizado pelo Estado com

600$000 pela liberdade da criança aos seus oitos anos.11

Declara de condição livre os filhos de mulher escrava que nascerem desde a data desta lei, libertos os escravos da Nação e outros, e providencia sobre a criação e tratamento daqueles filhos menores e sobre a libertação anual de escravos.

A princesa imperial regente, em nome de Sua Majestade o imperador o senhor d. Pedro II, faz saber a todos os súditos do Império que a Assembléia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte:

Art. 1o: Os filhos da mulher escrava que nascerem no Império desde a data desta lei, serão considerados de condição livre.

§1o: Os ditos filhos menores ficarão em poder e sob a autoridade dos senhores de suas mães, os quais terão obrigação de criá-los e tratá-los até a idade de oito anos completos. Chegando o filho da escrava a esta idade, o senhor da mãe terá a opção, ou de receber do Estado a indenização de 600$000, ou de utilizar-se dos serviços do menor até a idade de 21 anos completos. No primeiro caso o governo receberá o menor, e lhe dará destino, em conformidade da presente lei. A indenização pecuniária acima fixada será paga em títulos de renda com o juro anual de 6%, os quais se considerarão extintos no fim de trinta anos. A declaração do senhor deverá ser feita dentro de trinta dias, a contar daquele em que o menor chegar à idade de oito anos e, se a não fizer então, ficará entendido que opta pelo arbítrio de utilizar-se dos serviços do mesmo menor.

§2o: Qualquer desses menores poderá remir-se do ônus de servir, mediante prévia indenização pecuniária, que por si ou por outrem ofereça ao senhor de sua mãe, procedendo-se à avaliação dos serviços pelo tempo que lhe restar a preencher, se não houver acordo sobre o quantum da mesma indenização.

11 Cf. Brasil. Lei de 28 de setembro de 1871. - fragmentos

8

§3o: Cabe também aos senhores criar e tratar os filhos que as filhas de suas escravas possam ter quando aquelas estiverem prestando serviço. Tal obrigação, porém, cessará logo que findar a prestação dos serviços das mães.

(...)

Iraci Del Nero da Costa12atenta a discussão de como fora tratada a união

entre os negros levando até a afirmarem que não existia relação conjugal e sim

“ninhadas” – como cita Ribeyrolles e até mesmo Saint-Hilarie ao apontar que

durante a campanha abolicionista ouve uma medida do Governo ordenado aos

próprios o enlace entre os cativos. Apesar da negação da existência da família

escrava por estes dois autores citados geralmente ela era formada por um para de

filhos, os cativos casados tinham uma cabana separada daqueles solteiros que

viviam na senzala. Em algumas regiões ao derredor da casa grande podiam ter dois

alojamentos separando homens e mulheres.

Mas como se dava o enlace matrimonial? Como os senhores aceitavam essa

situação? E a Igreja como se posicionava no caso? Segundo Tschudi eram raras as

celebrações religiosas, bastando o desejo do senhor dos escravos sem lhe respeitar

a liberdade para que houvesse o enlace. Nas casas dos mais ricos havia

casamentos entre os escravos domésticos de forma livre, já que assim evitar-se-ia

futuros aborrecimentos de separação – garantindo um controle social entre os

cativos como alude Debret.

Esta forma não cristã de família como cita COSTA é fruto do desejo dos

proprietários que preferem o amancebamento ao ato religioso onde o próprio senhor

dizia quando e com quem os seus cativos se “casariam” podendo daí por diante

conversar como marido e mulher. Outro fato que levaria os donos dos escravos a

evitar o matrimonio seria como diz citado neste mesmo artigo era que: “os

casamentos legítimos entre escravos não são tolerados pelos senhores, dado que

não poderiam ser desfeitos mais tarde e assim prejudicariam a venda em separado”.

No meio rural os colonos facilitam os casamentos como forma de prender os

12 Cf. COSTA,Iraci Del Nero.Os viajantes Estrangeiros e a Família Escrava no Brasil. Disponível em < http://members.tripod.com/~Historia_Demografica/iddcosta/pdfs-ira/ar42.pdf.> acessado em 04.03.2009

8

escravos na fazenda e exigir sua boa conduta, alem disso Rugendas afirma que

ainda que “nas fazendas do clero ou dos conventos [...] As mulheres casam-se com

quatorze anos, os homens com dezessete a dezoito [...] As jovens mulheres

participam dos trabalhos do campo e aos recém casados se dá um pedaço de terra

para construir sua cabana e plantar, por conta própria, em certos dias”.

A formação da família escrava fora atacada por conceitos preconceituosos

para a legitimização de poder de um ser a outro, do branco sobre o negro onde se

relatariam que o escravo negro teria costumes imorais e desregrados ferindo a moral

e valores religiosos dos dominantes e, por conseguinte não poderiam constituir uma

família.

Podemos ainda usar da iconografia e fotografia oitocentistas para analisar a

presença da família escrava seja só a mãe e o filho como diversas telas e fotografias 13do século XIX.

FG 01 – “Engenho de mandioca”, Modesto Brocos y Gomes, 1892

Fonte : www.overmundo.com.br 13 Durante muito tempo desenhistas e pintores retrataram o cotidiano do mundo onde passavam ou viviam, através de litografias que expressavam seu tempo e a sua época. No período do Brasil colonial o francês Jean-Baptiste Debret e o alemão Johann Moritz Rugendas registraram o cenário social brasileiro da primeira metade do século XIX e litografias de Victor Frond e Brocos y Gomes fizeram seus registros na segunda metade do mesmo século aqui no Brasil. As lentes do fotografo luso Christiano Junior que nos deixa diversos cenários da vida do cativo no Rio de Janeiro.

8

FG 02 - Escravas pilando (Litografia de Victor Frond/S.Sisson)

Fonte : www.overmundo.com.br

FG 03 - Vendedora de frutas, em 1865 (Christiano Junior, fotógrafo português)

Fonte : www.overmundo.com.br

8

FG 04 – Senzala 1859 (Foto-Litografia de Victor Frond/S.Sisson)

Fonte : www.overmundo.com.br

FG 05 . Habitações de Negros – Johann Moritz Rugendas – Da obra “Voyage Pittoresque au Brésil”.

Fonte : www.overmundo.com.br

“As pretas possuem, em geral, filhos de dois ou três homens diferentes” 14,

essa afirmação vinda de pensadores que expuseram dificuldades na existência da

família escrava. Em mais de 20 anos os inúmeros trabalhos sobre a formação da

família escrava levam as diversas interpretações não sobre sua existência, mas sim

14 Cf. QUEIRÓZ, p 115 - 116

8

sua inserção no mundo escravista como afirma a historiadora. Queiróz15 levanta

ainda alguns pontos que apontam o singelo sentido dado a essa temática muito rica

na formação da sociedade brasileira.

São estes os seguintes contextos:

A predominância de escravos do sexo masculino, provocando um desequilíbrio entre os sexos que dificultou as uniões.

A baixa taxa de fecundidade das cativas, em função de vários fatores, entre os quais aqueles relacionados à própria escravidão: o desalento em gerar um filho já privado da liberdade ao nascer, o receio de vê-lo sofrer castigos ou ter de separar-se dele; até mesmo o temor do parto, que assustava as sinhazinhas e seria muito mais terrível ante a condição da escravizada.

O repudio ao cativeiro, ampliando por práticas senhoriais arbitrarias e prepotentes. Os proprietários exerciam direitos sem limitações, engravidando as escravas, fossem casadas ou não, interferindo na escolha dos cônjuges, não poupando as mães que amamentavam...

A falta de privacidade, materializada nas senzalas coletivas e separadas por sexo, que constituíam grande obstáculo à organização da vida familiar.

A partir da década de 1970, foram feitos no Brasil trabalhos de grandes

relevâncias na historiografia da família do cativo. De inicio foram feitos

levantamentos demográficos, baseadas em listas nominativas dos censos antigos,

copias de listas de matriculas anexadas aos inventários e os registros paroquiais de

casamento e batismo de escravos realizados na Igreja Católica. Outros trabalhos

realizados em décadas anteriores, segundo relatos de Rocha16, estavam mais

centrados a enfatizar o caráter violento e opressor da escravidão no Brasil, que, por

sua vez teve destruindo todas as normas e referencias de comportamento social e

familiar dos escravos, impedindo a existência de qualquer tipo de solidariedade

duradoura entre eles [escravos]. 15, op. cit. 2005. p. 111. 16 Cf. ROCHA, Cristiany Miranda. A morte do senhor e o destino das famílias escravas nas partilhas: Campinas, século XIX. Rev. Bras. Hist. [online]. 2006, vol.26, n.52, pp. 175-192. ISSN 0102-0188. doi: 10.1590/S0102-01882006000200008 Disponível no sitio < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01882006000200008 > acessado em 03.04.2009

8

O casamento entre os escravos buscou ainda como já citado para amenizar

os conflitos provocados pelas diferenças entre os cativos de etnicamente diferentes,

pois,

Dessa forma, a construção de laços de parentesco serviria para amenizar as “dessemelhanças” entre os escravos, contribuindo com as “singularidades” que os uniriam e, assim, reiterariam as tensões étnicas resultantes do trafico e dos casamentos endógamos. A formação de famílias escravas permitiria a socialização dos africanos nas senzalas e colaboraria na estabilidade do plantel, ainda que acentuasse as diferenças e a conseqüente ampliação da riqueza dos senhores, beneficiada pela reprodução das escravarias. (FILHO, 2007)

Sobre a formação dessas famílias em Sergipe oitocentista, e principalmente

na região Agreste-Sertão Sul da qual a vila Lagoa Vermelha pertencia ainda não

foram desenvolvidos muitos trabalhos, mas potencialmente é um rico campo a ser

explorado pelos historiadores que desejarem resgatar a memória demográfica,

social e histórica da cidade de Boquim no período provincial sergipano no cenário

acadêmico. Como foram formadas e desestruturadas essas células familiares

cativas é um desafio muito excitante devido às fontes primarias – mesmo sendo

relatadas como vagas – como inventários e livros de óbitos da então ainda estarem

a espera do incansável olhar aguçado do historiador.

8

2 CAPITULO I

2.1 DAS SESMARIAS AOS ENGENHOS ÀS VILAS SERGIPANAS

Na tentativa de povoação e estratégia para defender a nova terra Portugal

resolvera dividir a recém terra descoberta entre seus súditos mais abastados

equacionando-as em lotes para aqueles que pudessem mantê-la em produção – em

especial o açúcar, através das Sesmarias.

Esta tão lucrativa atividade agroindustrial fora desenvolvida nos engenhos

que de certa forma contribuíram no desenvolvimento sócio econômico da região

Norte. Bahia e Pernambuco principais capitanias da época seiscentista tiveram

grande influência para o desenvolvimento de Sergipe que no período servil de fonte

de abastecimento para estas, mesmo quando o território ainda se sustentava na

atividade pecuária. Como assim afirma Orlando Vieira Dantas os vastos campos

interioranos atraiam novos colonos que iam se instalando no sertão com engenhos-

bolandeiras (...). O sul de Sergipe fora estimulado economicamente pela Bahia, onde

Estância se tornara o centro econômico da região devido entre outros fatores a

confluência entre os rios Piauí e Piautinga e com o rio Real a escoar a produção

açucareira para o mercado europeu ao tempo em que a entrada das embarcações

se dava pelo Vaza Barris17.

As sesmarias se instalaram na zona da Cotinguiba, que reúne os rios Vaza-

Barris, Sergipe, Jacarecida, Cotinguiba, Japaratuba, Siriri e Ganhemoroba de terras

massapê e matas abundantes. As terras devido ao aumento natural demográfico, a

ocupação das terras e as demandas de seus ocupantes foram divididas em

propriedades de áreas variantes de 400 a 700 tarefas apresentando condições

favoráveis na produção de cana de açúcar. A região do Cotinguiba teve algumas

centenas de engenhos de açúcar instalados das mais variantes formas, das

bolandeiras de água, a cavalos e a bois à maquina a vapor. Famílias lusas via Bahia

17 Cf. DANTAS, A vida Patriarcal de Sergipe. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980 p.17-18

8

e Pernambuco ficaram por terras sergipanas onde constituíram o tronco das

principais famílias provincianas como traz assim listadas por Dantas18.

Egas Muniz Barreto e Rosa Maria de Sá plantaram o seu ninho no engenho Dranga, na Vila de Itabaiana, enquanto Estácio Muniz Barreto e Francisca Xavier de San José instalaram-se no engenho Porteira, na Vila de Santo Amaro das Brotas, (...).

Estes dois troncos importantes espalharam-se na região do Cotinguiba dando

ramificações com os Muniz Barreto, os Teles Barreto, os Cardoso, Corrêa Dantas,

Vieiras Dantas, os Vieiras de Melo, Vieiras de Andrade, os Gomes de Melo, os

Prados Barretos, Prados Pimentel, os Azevedo de Sá, os Aciolys, os Meneses

Barretos, os Meneses, Meneses Sobral e os Prados Trindades. Ainda podemos

trazer as raízes dos engenhos o Barão de Propriá, descendente de um Prado

Trindade do Engenho Várzea Grande (Capela), o Barão de Aracaju – descendente

dos Meneses Prado do Engenho Capimpubo (Divina Pastora), os Dias Coelho e

Melo (Itaporanga) no Engenho Colégio. Da vila de Estância aparecem os Silveiras e

de Lagarto os Martins Fontes.

Não só os lusitanos tiveram a oportunidade de construir troncos familiares nas

terras dos Sertões do Rio Real, do Engenho Camandaroba surgiram os Freitas

Garcez, de origem espanhola e de descendência holandesa a família Rollembergue,

do desertor do Exército do general Sigismundo Von Schkoppe o militar Emanuel

Rollembergue, que se instalou em Japaratuba como senhor de Engenho. Outros de

origem batava foram os Rezendes e os Feitosas. O aumento das famílias e os

casamentos eram fatores que aumentariam o poderio econômico dos senhores de

engenho. Até as viúvas ricas eram bastante disputadas pelos poderosos da região a

exemplo do Comendador Botto que casara duas vezes, com duas irmãs viúvas,

filhas do Barão de Itaporanga Dias Melo19.

18 Cf. Idem, p.30 19 Cf. Id. Ibidem, p.29-33

8

Seguindo estas linhas genealógicas percebesse que o fluxo do comércio do

açúcar e outros produtos para a subsistência da população sergipana as vilas foram

surgindo no perímetro dos engenhos e fazendas de cria como Simão Dias, Campos

e a Vila do Lagarto que aparecera para a criação de animais no reforço do

abastecimento da Capitania baiana.

Ponto de passagem de mercadorias, boiadas, viajantes, tropeiros e

comerciantes a Vila de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto teve seus engenhos

instalados provavelmente no final do século XVII e com eles os primeiros negros

escravos africanos importados da Bahia, no entanto sua principal atividade

econômica era muitas vezes a pecuária.

Apesar da economia colonial sergipana tenha iniciado para sua subsistência

no século XVII os primeiros engenhos vieram a surgir para sustentar a economia

local. O negro, segundo Thetis Nunes20,

“foi absorvido pelos engenhos à medida que os canaviais ocupavam as várzeas da Cotinguiba, do Vaza-Barris, do Piauí. A povoação da Estância tornou-se o mais importante receptor de escravos”.

Ainda Thetis Nunes21 coloca que em 1724 os engenhos sergipanos são 25;

mas nos fins do século já chegam a 140, crescendo assim o afluxo de escravos para

atender à demanda de mão de obra exigida. A classe dominante passou a dispor de

melhores meios de defesa a partir da comarca de Sergipe em 1696 e das vilas de

nossa Senhora da Piedade do Lagarto, Santo Antonio e Almas de Itabaiana, Santo

Amaro das Brotas e Santa Luzia do Rio Real, com o aparato político-administrativo

exigido.

20 NUNES, Maria Thetis. Sergipe Colonial I. 2ª ed. São Cristóvão: Editora UFS; Aracaju: Fundação Oviêdo Teixeira, 2006. p 227 21 Idem.

8

Tabela 01

NÚMERO DE ENGENHOS EM SERGIPE POR MUNICÍPIOS - SÉCULO XIX

MUNICIPIO I8O8 1838 1856 1875 1881 1900

ESTÂNCIA - 44 65 - 55 19

ITABAIANINHA - 27 56 50 62 54

ARAUÁ - - - 40 16 50

LAGARTO 12 12 34 5 41 9

BOQUIM - - - 22 - 24

FONTE: ALMEIDA, Maria Da Gloria Santana: Atividades Produtivas. In:Textos Para A Historia de

Sergipe. p. 80-81

Num total de 24 engenhos, até final do século XIX a região de Boquim foi

impulsionada pelas mãos de trabalhadores escravos e livres. O que descava a

interrogação de onde e como se encontram os vestígios destes engenhos e o que

provocou seu declínio? Mais ainda, o que aconteceu com esses escravos de onde

vieram e para onde foram? Quantas famílias foram constituídas e destruídas no

período escravocrata na antiga Vila da Lagoa Vermelha?

Fazendo breve comparação percebemos que quanto maior o numero de

engenhos o numero de escravos aumenta proporcionalmente ao analisarmos a lista

abaixo com o Censo Populacional de 1855 sobre a população escrava em Sergipe.

O negro escravo chegou ao território sergipano com seus primeiros colonizadores,

vindos da Bahia, a partir da conquista de Sergipe no sangrento episódio de 1590.

Tratado como bem móvel consumido até seu subproduto fora privado da mais

singular dignidade da condição humana após perder seu nome e identidade – o

direito de constituir a família. Em muitas vezes quem decidiu como, quando e com

quem deveria se acoitar foi seu proprietário.

8

Tabela 02

COMPARAÇÃO DE ESCRAVOS ENTRE VILAS/185522

Vilas Número de escravos

Lagoa Vermelha (Boquim)* 443

Itabaianinha 976

Lagarto 1375

Estância 2140

FONTE: DANTAS, Orlando Vieira. A vida Patriarcal de Sergipe, p.114

Ainda lendo ambas as tabelas podemos notar que passados os cinco

primeiros anos na condição de cidade, Boquim possuía 22 engenhos o que nos dá a

idéia que a população escrava crescera, mas como se nota nos registros de batismo

da Matriz Senhora Santana do Buquim um número grande de crianças do sexo

feminino o que fora constatado em nível nacional o mesmo efeito após a proibição

de trafico escravo no país como afirma Jaime Pinsky.

Somente quando cessou o trafico oficial é que a proporção de mulheres iria crescer, quando o contingente de nascidos aqui [BRASIL] se tornou preponderante. 23

Essas mulheres escravas muitas vezes eram separadas de seus maridos no

embarque ou desembarque nos portos de vendas e colocadas junto a quatro ou

mais homens na senzala como mecanismo de interrompimento de qualquer tentativa

de construção de uma família, muitas das vezes servia de objeto sexual de seu dono

22 *DANTAS, Orlando Vieira. A vida Patriarcal de Sergipe, p.114 - O autor equivocou em escrever Lagoa Vermelha como se fosse Salgado onde seria Boquim – onde corrigimos no quadro. 23 PINSKY, opt.cit. p. 62

8

que por formação religiosa não podia despertar os desejos da carne de sua senhora

que fora educada a educar seus filhos. Neste cenário se desenvolveram as vilas que

orbitaram os engenhos, cresceram e geraram as cidades sergipanas.

Mesmo num certame de idéias sobre a temática da família escrava, que traz

várias divergências entre os historiadores é vista muitas vezes hoje como uma

realidade da conjuntura estrutural do escravismo da colônia. Os escravos ficariam

alheios apenas ao julgo de seus senhores, até mesmo sobre suas particularidades

afetivas. Faria (1998) retrata que o casamento escravo era comum nas regiões do

sudeste em grande parte por acordos ou acertos de negócios (a Igreja só aceitava o

enlace entre os cativos do mesmo dono), o que nos leva a querer desvendar como

era tratada a questão nos torrões sergipanos já que nos recôncavos baianos o

casamento era de cunho estratégico formulados pelos seus senhores24.

24 FARIA, Sheila de Castro. A colônia em Movimento. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.p 140. pp. 312 - 317

8

3 CAPITULO II

3.1 A FORMAÇÃO DEMOGRÁFICA DA FAMILIA ESCRAVA NA VILA DA LAGOA VERMELHA (1866 – 1873)

Fazendo a leitura de batismo de 1866 a 1873 da Matriz de Sant’Anna da

Lagoa Vermelha, Boquim, percebe-se que sua organização de registros difere e

muito dos livros de batismo dos filhos de escravos da paróquia de Nossa Senhora

da Piedade do Lagarto, o que mostra a independência não só a econômica da vila

bem como nos registros eclesiásticos. As Constituições Primeiras da Bahia em seu

Livro I traz orientações em relação ao batismo e LOOT 25nos traz a seguinte

informação abaixo:

O cuidado com o registro era o ultimo aspecto de destaque sobre o batismo. “Ordena o Sagrado Concilio Tridentino, que em um livro se escrevam seus nomes, e de seus pais, e mães e padrinhos”(Título XX). Apesar da simplicidade do registro padrão, onde obrigatoriamente tinham que constar as informações acima, alem da data, o nome do celebrante e a freguesia de origem dos pais e padrinhos, muitas vezes constavam outras informações como a condição de legitimidade do batizando (legitimo, natural ou exposto) e a condição social deste e dos demais (livre, escravo ou forro). No caso dos pais e/ou padrinhos serem escravos, constava o nome do dono, permitindo estudo sobre a propriedade dos cativos e sobre as relações sociais possibilitadas a partir do parentesco espiritual.

Os registros de batismo da Sant’Anna da Lagoa Vermelha não foram feitos

separadamente para escravos e homens livres, enquanto os da Piedade do Lagarto

25 Cf. LOTT, Miriam Moura. Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. Texto apresentado no VII Simpósio da Associação Brasileira de Historia das Religiões, realizado na Universidade Católica de Minas Gerais. Belo Horizonte – MG. 2005 p. 05. Disponível em < http://br.geocities.com/adarantes/artigos_mirian_lott/CONSTITUI__ES_PRIMEIRAS_DO_ARCEBISPADO_DA_BAHIA.doc > acessado em 05.04.2009

8

existem livros diferenciados para o batismo. Nesta tabela 01 feita a partir do Livro Nº

09 de Batismo da Igreja M. de N. S. da Piedade Lagarto pode-se identificar local de

batismo, nome da criança, sua cor, idade, mãe ou pais quando casados, o padre

que batizou seus proprietários

Tabela 03

Registro de batismos de filhos de escravos da P.N.S.da Piedade do Lagarto (1871-88)

dat:bat. ano local padre ingenua cor idade mãe PROPRIETÁRIO padrinhos vigario Sexo

23/out 1871 I. M. N. S DA P. José Antonio de Vasconsellos Joanna mulata 4 dias Firmina cap. André Ramos Romero Josefa, escra. Do mesmo. João Pacheco da Silveira Neto F

24/out 1871 I. M. N. S DA P. José Antonio de Vasconsellos Domingas parda Benvinda Manuel de Sousa João, e sua mulher. Luciana João Pacheco da Silveira Neto F

25/out 1871 I. M. N. S DA P. José Antonio de Vasconsellos gancitho crioulo Luiza Francisco Basílio dos Santos Maurício José do Nascimento João Pacheco da Silveira Neto M

3/dez 1871 I. M. N. S DA P. José Antonio de Vasconsellos Maria mestiça 21 dias Feliciana cap. Manoel Joaquim de oliveira Campos. José Francisco de A., e Idalina de Almeida M., solt João Pacheco da Silveira Neto F

6/dez 1871 I. M. N. S DA P. José Antonio de Vasconsellos Saturnina mestiça 6 dias Bernanda tem. Cor. Francisco Basílio dos S. Horas. Venceslão Pinheiro da Cunha. João Pacheco da Silveira Neto FFONTE: Livro Nº 09 de Batismo da Igreja M. de N. S. da Piedade - Levantamento cedido gentilmente

por Gildenor de Pádua Santana

O livro de Batismo da Freguesia de Sant’Anna da Lagoa Vermelha resume-se

em nome, idade, cor, mãe ou pais – mas não diz se são casados, proprietário,

padrinhos e raramente aparece nome de outros padres que batizaram algumas

crianças não escravas, o que nos faz pensar que o próprio vigário batizava e

assinava os batismos.

8

Tabela 04

Levantamento de Registro de Batismo da Matriz de Sant’Anna da Lagoa

Vermelha/Boquim (1866-73)

PAG. ANO Data/batismo Local de batismo Vigário Criança/ingenuo Sexo Cor Idade Nat.Bat. Pais (Escravos) Proprietário Pais Padrinhos

70 1871 05.02.1871 Matriz de Sant'Anna do Buquim Vig. Manoel Nogueira Cravo Maria F parda 2 meses leg Clemente e Vicencia João Marques de Sousa _ Noberto

70 1871 05/02/1871 Matriz de Sant'Anna do Buquim Vig. Manoel Nogueira Cravo João M pardo 4 meses nat. _ _ Maria Rufina Jose Martins Freire e Theresa Maria de Jesus

70 1871 05/02/1871 Matriz de Sant'Anna do Buquim Vig. Manoel Nogueira Cravo Joanna F parda 4 meses nat. _ _ Maria Victorina Jose Lourenço da Cruz e Camilla Maria

70 1871 05/02/1871 Matriz de Sant'Anna do Buquim Vig. Manoel Nogueira Cravo Maria F parda 19 meses leg. _ _ Jose João e Romana Maria Antonio Suterio d'Oliveira

70 1871 06/02/1871 Matriz de Sant'Anna do Buquim Vig. Manoel Nogueira Cravo Felisberto M pardo 7 meses leg. _ _ Fileppe Marques e Maria Madalena Antonio Suterio d'Oliveira

70 1871 06/02/1871 Matriz de Sant'Anna do Buquim Vig. Manoel Nogueira Cravo Candido M pardo 4 meses leg. _ _ João dos Santos e Antonia Francisca Jose Mathias dos Santos e Joanna Francisca

LIVRO DE BATISMO DA PAROQUIA DE SANT'ANA DE LAGOA VERMELHA/BOQUIM - 1866/1873

FONTE: Livro de Batismo da Matriz de Sant’Anna da Lagoa Vermelha - século XIX

Foram encontrados na Paróquia da cidade de Boquim apenas dois livros

referentes a batismo do século XIX - um contendo os batismos das décadas finais

do século referido e o outro com os dados de 1866 a 1873, alem destes livros de

batismos e casamentos referentes ao século XX o que nos instiga ainda mais a

buscar mais sobre o assunto nas fontes bibliográficas e nos relatórios provinciais

para se fazer o dialogo comparativo na tentativa de reescrever a História da Lagoa

Vermelha, tivemos que contribuir e continuar contribuindo na organização dos

arquivos da mesma, pois são mais que patrimônios históricos são a identidade

dessa sociedade sergipana.

A origem do Povoado Lagoa Vermelha se deu na primeira metade do século

XIX com povoamento por proprietários de sesmarias que edificaram suas rústicas

habitações para seus familiares e colonos que ali passassem para trabalho, a

localidade tem como um de seus habitantes o Coronel José Baptista. No ano de

8

1868 o “Atlas da Província do Império do Brazil”26 já localiza a Lagoa Vermelha

como podemos acompanhar adiante:

FG – 06 . Mapa da Província de Sergipe século XIX com as comarcas sendo a de Lagarto a

nºVI.

Fonte: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me003016.pdf .

26 Na Comarca de Lagarto encontramos a Vila de Lagoa Vermelha. Neste período a província

sergipana era subdividida em oito comarcas descritas assim no : I da Capital, II de Laranjeiras, III de Itabaiana, IV de Villa Nova,V da Estância, VI de Lagarto,VII de Maroim e VII da Capella. Mapa da província de SergipeAtlas do Império do Brazil de 1868 – XII disponível no sitio < http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me003016.pdf > Acessado em: 04.04.2009

8

Por volta de 1835 por determinação de lei provincial fora construído na região

um Distrito de Paz, e uma sub-delegacia policial e para alunos do sexo masculino

um cadeira de primeiras letras – Como todos os governos provinciais tinham o dever

de anualmente um relatório de suas atividades vemos no Relatório Provincial de

1835 do governo de Dr. Manoel Ribeiro da Silva Lisboa 27 fora informado a

publicação do edital de concurso para professores em alguns distritos da província,

entre eles na “Alagôa Vermelha no Lagarto”, dando prazo para os interessados

procurarem o salão do Palácio do governo:

Todavia, como a maioria das cidades sergipanas oriundas de sesmarias

doadas por Cristóvão de Barros por mérito a seus amigos e soldados a exemplo de

Belchior Velho que recebeu uma em Itabaiana no ano de 1603. Em lotes assim se

desenvolvem crescem as freguesias e vilas como povoado Lagoa Vermelha que se

27 Relatório Provincial de 1835 do governo de Dr. Manoel Ribeiro da Silva Lisboa pp.04 – 05. Disponível no sitio < http://www.crl.edu/content/brazil/serg.htm > acessado em 02.03.2009

8

alarga a ponto de se tornar independente da Freguesia de N. S. da Piedade do

Lagarto como vemos a seguir sua trajetória territorial.

Sob os prescritos da lei de 24 de abril do ano de 1855 foi elevada à freguesia

o então povoado da Lagoa vermelha, com denominação de Freguesia de Senhora

Sant’Ana – sendo elevada dois anos depois à vila no dia 20 de fevereiro com sua

divisão descrita abaixo:28

A freguesia

principiará nas Quebradas grandes, seguindo a estrada de S. Cristóvão para a vila de Lagarto, até o sítio Pau Grande; deste seguirá para o sul pelas divisões do distrito da Lagoa Vermelha até a estrada do Limoeiro, seguirá a direção desta até encontrar o engenho Mutumbo, e daí continuará pela estrada de José Calitende e passando pelo lado de baixo do sitio Pastor irá ter ao engenho Boi, e este ao engenho Moendas, caminhando a norte até onde começou.

Devido às constantes enchentes na região no ano de 1869 – quando ocorreu

a maior enchente na vila os moradores resolveram ocupar o sitio Boquinha da Mata,

que teve suas terras doadas por seu proprietário Antônio Araujo. Somente em 1870

no dia 21 de março a sede da freguesia de Sant’Anna da Lagoa Vermelha passou

paro o povoamento de Boquim.Enquanto as Câmaras municipais faziam seus

pedidos ao regente provincial – a exemplo da Câmara de Lagarto que solicita entre

outras coisas os aperfeiçoamentos da Matriz e do Cemitério, podemos ainda ter o

privilegio de ler a Fala do Presidente da província no seu relatório de 1870 no item

de municipalidade sobre o caso da transferência da sede a pedido da Câmara

Municipal da “Lagôa Vermelha” assim tratado:29

28 FREIRE, Felisbelo, Historia Territorial de Sergipe. Aracaju: Sociedade Editorial de Sergipe. Secretaria de Estado da Cultura. FUNDEPAH, 1995. p.98 29 Relatório Provincial de 1870, p 90 Disponível no sitio < http://www.crl.edu/content/brazil/serg.htm > acessado em 02.03.2009

8

Diante o relatório de 1870 vemos que as principais atividades da localidade

são o açúcar e o algodão que estavam sendo prejudicadas pela adversidade das

estações assim queixadas pela Câmara Municipal alem do pedido da transferência

da sede da freguesia para a “Povoação do Buquim”, e da necessidade de uma casa

de detenção e um cemitério.

8

Sobre o nome Boquim a muitas hipóteses 30– a mais conhecida seria a junção

do nome do sitio povoado após a enchente de 1869, Buquinha da Mata, porém tal

observação é de se contestar com segurança de posse dos registros do livro de

batismo de 1866 – 1873 da Matriz de Sant’Anna da Lagoa Vermelha e logo do

Buquim – onde mostra que a nomenclatura Buquim vinha sendo usada bem antes

da enchente de 1869 que provocou o abandono da região como podemos

transcrever, da FIG 07, abaixo:31

FG 07 – Fragmento da página do livro de batismo com os batismos sob o termo de Matriz de

Santana da Lagoa Vermelha e Matriz de Sant’Anna do Buquim

(...)Aos trinta e hum dias do mes de Maio de 1868 nesta Matriz de S.Anna da Lagoa Vermelha batisei solenemente Maria parda idade um mes natural de Luisa de França sendo padrinhos Antonio Manoel Esteves e Anna Maria. O vgrº: Manoel Nogueira Cravo No primeiro dia do mes de Abril de 1868 nesta Matriz de Sant’Anna do Buquim batisei solenemente a Demetrio, branco, idade quatro meses, legitimo de David Geminiano de Britto e Mariana Leopuldina de Almeida, sendo padrinho Antonio Corrêa de Seabra. (grifos nosso) O vgrº: Manoel Nogueira Cravo. (...)

30 IBGE(1956) 31 Livro de Batismo da Matriz de Sant’Anna da Lagoa Vermelha/Boquim, sec XIX

8

Como se pode analisar por algum motivo nesta pagina do livro em abril de mil

oitocentos e sessenta e oito fora demudada a nomenclatura da Matriz de Sant’Anna

da Lagoa Vermelha para Matriz de Sant’Anna do Buquim e não o simples fato da

junção do nome da localidade Buquinha da Mata como se tem até hoje registrado

nos anais da historiografia boquinhense – a influencia da Igreja pode sim ter

influenciado e muito nessa decisão uma vez que o registro da maior enchente

sofrida por aquela população fora no ano de 1869 – infelizmente os relatórios sobre

esta enchente não foram possíveis de encontrar. Fazendo a leitura das paginas

sucessoras e as 38 e 39 anteriores detectamos uma pequena desordem cronológica

nos registros de em datas do mês de abril e maio com o termo de Lagoa Vermelha –

contudo das páginas 40 do ano de 1868 em diante termo da Matriz de Sant’Anna do

Buquim é adotada.

Como Vila do Boquim sob a lei de 05 de maio de 1871 a freguesia de

Sant’Ana do Boquim foi repartida com Riachão, Lagarto e Itabaianinha da seguinte

forma:

começará nas Quebradas e seguindo estrada de S.Cristóvão para o Lagarto, irá ao sítio Pau Grande; deste à cabeceira do Riacho dos Mangues; por este abaixo até encontrar a estrada real da Estância para o Lagarto, daí rumo direito ao engenho Palma, que pertencerá ao Boquim, daí pela estrada que vai ao Sipó, de José Francisco Borges, que pertencerá ao Riachão, e deste pela estrada que segue o engenho Limoeiro que ficará pertencendo a Itabaianinha, de onde partirá pela estrada de Pedrinhas até as cabeceiras do riacho Mutumbo, e descendo por este até a estiva Calitende de onde subirá, rumo direito, a casa do finado João Inês, que pertencerá a Boquim descendo a estrada real até o sítio Roxa que ficará pertencendo a freguesia do Boquim, e seguindo a estrada que vai ao riacho das Cobras; seguirá riacho acima ao sitio Cedro,de onde seguirá pela estrada real que vai ao riacho d’Água Boa, sitio Moendas e deste pela estrada que vai à casa do finado Antonio Vieira e daí pela estrada que vai a Quebradas,onde principiou.32

Neste cenário a vida dos seus habitantes como em toda a província sergipana

foi movida pela economia de subsistência para sua maioria enquanto em meio à

fazenda e engenhos a família escrava de uma forma ou de outra se constituía.

32 Cf. FREIRE, op. cit. p. 98

8

Se considerarmos o raciocínio onomástico de Mott33

sugerindo que também em Sergipe, como foi constatado na vizinha Bahia , pessoas de condições socioeconômica inferior, notadamente pardos e pretos,assim como descendentes de índios, adotavam preferencialmente sobrenomes religiosos, enquanto descendentes de famílias mais abastadas, preferiam sobrenomes leigos,algumas portanto dois nomes(...)

Encontraremos muitos nomes da população livre com a exortação aos nomes

de santos como São Pedro, São José e ao Divino Espírito Santo e para os nomes

Fonceca, Doria, Freitas, Freitas, Borges, Barbosa, Seabra... O que nos felicitaria

deduzir alguns dos habitantes pobres da povoação de Lagoa Vermelha e aqueles

melhor sucedidos.

Vejamos alguns nomes de mães “solteiras” com invocação religiosa – fato

que podemos constatar mais adiante que muitas outras casadas também tinham em

seu sobrenome alguns nomes religiosos, deixamos algumas Mulheres com nomes

laicos e eclesiásticos:

Tabela 05:

MULHERES SOLTEIRAS E MÃES SOLTEIRAS

Adriana Maria de Jesus

Agostinha Maria de Jesus

Anna Isabel de Jesus

Josefa de S. Jose

Delfina dos Santos

Joanna Baptista

Joanna Martha da Conceição

Josefa Maria do Espírito Santo

Lusia Maria da Conceição

Maria Francisca da Conceição

Maria Joanna do Espírito Santo

FONTE: Livro de Batismo da Matriz de Sant’Anna da Lagoa Vermelha/Boquim de 1866-73.

33 Cf. Mott, op. cit. p. 93

8

Separando algumas mulheres que aparecem só como proprietárias temos a

seguinte lista, completa na tabela XXX adiante:

Tabela 06

Proprietárias de Escravas na Lagoa Vermelha/Boquim - séc. XIXBernada Maria da Fonceca Doria

Antonia Margarida

Anna de Sousa Freire

João Borges da Rocha

Maria do Espirito Santo

Maria Barbosa Freire

Manoela Seabra Lemos

Josefa Seabra

Anna Rita de Jesus

Órfã Maria

Umbelina Madalena de Macedo

Fonte: Livro de Batismo da Matriz de Senhora Sant’Anna da Lagoa Vermelha de 1866 a 1873

8

4 CAPITULO III

4.1 O PROCESSO MATRIMONIAL E FORMAÇÃO FAMILIAR

Mesmo sem os livros de registros de casamentos na Matriz de Sant’Anna do

Buquim, e mesmo ainda só encontrando no Arquivo do Público do Judiciário de

Sergipe os documentos de batismo do século XX no município de Boquim – o que é

uma rica fonte a ser bebida sobre os costumes daquela sociedade transcrevendo as

facetas das diversas formas de consolidações matrimoniais nas comunidades de

Cabeça Dantas e Pastor que ali podemos ler, mas que ficaram para novos olhares –

podemos levantar os números de casais escravos que se não seguiram os preceitos

da Igreja o fizeram de forma de concubinato.

Mas devem certamente o casal Nicacio e Osmida, escravos do vigário Manoel

Nogueira Cravo terem observados as normas eclesiásticas que o cristão católico

praticante novecentista deveria seguir para se consolidar o casamento.

Como somente no inicio do século XX Sergipe não respondia mais ao

Arcebispado da Bahia as orientações para a consolidação eram as ditadas pelas

Constituições Primeiras do Arcebispo da Bahia de 172034, narradas assim:

(...) Conforme o direito divino, e humano, os escravos, e escravas podem casar com outras pessoas cativas, ou livres, e seus senhores lhe não podem impedir o matrimonio, nem o uso dele em tempo e lugar conveniente, nem por esse respeito os podem tratar pior, nem ser cativo, ou por ter outro justo impedimento o não possa seguir, e fazendo o contrario pecam mortalmente, e tomam sobre suas consciências culpas de seus escravos, que por este temor se deixa muitas vezes estar, e permanecer em estado de condição.” (...)

34 SILVA, Sistema do Casamento no Brasil colonial. São Paulo: T. A. Queiroz: Ed. da Universidade de São Paulo, 1984. pp.139-140

8

Mesmo com uma visão humanista de segurar e proteger a família cativa onde o

senhor não podia intervir na união dos cônjuges e nem separá-los a Igreja não

deixava o casal livre de suas obrigações de escravos, já que na finalização desse

“contrato social” era declarado que mesmo se casando “ficam escravos como antes

eram, e obrigados a todo serviço do seu senhor”.

Numa sociedade patriarcal e escravocrata como era a provincial de Sergipe é

possível que os senhores de engenho e de fazendas tenham se restringido ao

casamento de seus cativos alegando como muitos na época alegando que seria

prejuízo quando se precisasse vender um dos cônjuges – não poderia perder os dois

quando se quisesse vender apenas um. Outra defesa que comumente poderiam

protelar era a natureza do negro não ser – para o senhor – capaz de se contentar

com o casamento monogâmico, mesmo que nas terras sergipanas havia poucos

escravos africanos que tinham cultura poligâmica.

De fato as exigências da Igreja para os casamentos eram as mesmas para

cativos e homens livres, desde as certidões e as denunciações que serviam para

anunciar o casamento e procurar de alguma forma descobrir algum impedimento

legal para o ato em si requisitado. Alem destas requisições havia a necessidade de

observar como levanta Mott os “dirimentes” descritos pelas Constituições Primeiras

do Arcebispado da Bahia no seu parágrafo 285, Título LXVII, com mais detalhes que

Silva e por isso o transcrevemos aqui35:

Os impedimentos dirimentes são os seguintes:

Erro de pessoa: quando o contraente recebeu pessoa diferente que a pessoa certa

Condição: se um dos contraentes é cativo e o outro não sabe

Voto religioso solene ou ordens sacras

Cognação: i. Natural, quando os contraentes são parentes por consangüinidade dentro do quarto grau

35Cf. Mott, op. cit. p. 65-66

8

Espiritual: quando os contraentes são padrinhos ou compadres

Legal: quando os contraentes são adotados ou pais de adotado

5. Crime: quando o contraente maquinou a morte do cônjuge para se casar de novo

6. Disparidade da religião

7. Força ou medo

8. Ordem sacra: subdiaconato, diaconato e presbiterado

9. Ligame: quando um dos contraentes é casado por palavras de presente

10. Pública honestidade: desponsório de futuro com algum parente próximo do outro contraente, mesmo falecido

11. Afinidade: o marido e mulher pelo matrimonio consumado contrai afinidade com todos os consangüíneos do outro cônjuge até o quarto grau, e assim, ficando viúvo, não pode contrair matrimonio com algum consangüíneo do cônjuge falecido até o quarto grau. Também contrai aquele que tiver cópula ilícita imperfeita e natural com alguma mulher com mulher com um varão, e por esta causa não pode contrair matrimonio com parente do outro por consangüinidade dentro do segundo grau

12. Impotência

13. Rapto

14. Ausência do pároco e de duas testemunhas.

Conseguimos identificar alguns casais de escravos e seus filhos por ano além

de relacionar os nomes dos padrinhos na busca de outras informações sobre o

compadrio:

8

Tabela 07

Lista de casais escravos e seus filhos

ANO PAIS CRIANÇAS COR IDADE DATA DO BATISMO

1866 Manuel e Maria Guilherme pardo 5 meses 13.05.18661866 Nicacio e Osmida Maria parda 15 dias 17.06.18661866 José e Maria Germina parda 1 mês 29.08.18661866 Jaciano e Eminelgida Tomasia parda 3 meses 02.12.18661867 Nicacio e Osmida Sufia parda 2 meses 20.09.18671868 Jose e Antonia Manoel pardo 2 meses 03.03.18681868 Theofilo e Theresa Jose p. 10 meses 12.07.18681868 Nicacio e Osmida João pardo 3 semanas 12.09.18681868 João e Mauricia Philomena p. 9 meses 13.09.18681869 Joaquim e Anna Gregório preto 2 meses 18.07.18691869 Teófilo e Theresa Lidia parda 5 meses 15.08.1869

1870 João e Mauricia Luis Pardo 3 meses 05.01.18701870 Joaquim e Victoriana Patrocinia parda 1 mes 15.06.18701870 Paulo e Ermina Lourença parda 2 meses 07.08.18701871 Clemente e Vicencia Maria parda 2 meses 05.02.1871

1871 Raimundo e Teodoria Epifanio pardo 2 meses 17.06.18711871 Manoel e Jeronima Joanna parda 4 meses 18.06.18711871 Teofilo e Theresa Estemia p. 3 dias 02.09.1871

Fonte: Livro de Batismo da Matriz de Senhora Sant’Anna da Lagoa Vermelha de 1866 a 1873.

Recordando o casal de escravo do vigário Cravo observamos que seus filhos,

Maria e João tiveram como padrinhos os escravos Antonio e Lucinda que por não

constarem na lista acima possivelmente não eram casados. O mesmo é notado com

o casal Manuel e Maria pais de Guilherme. Maria filha de Clemente e Vicência teve

apenas o escravo Norberto como padrinho36.

36 Por ser uma sociedade onde a figura masculina é a mais a presença do pai é a base da sociedade patriarcal da época. Ainda seguindo a tabela acima podemos indagar que dentre estes casais de escravos listados alguns proprietários preferiram que seus escravos fossem padrinhos ou os casais escolheram seus compadrinhos? Podemos até discordar da falta da figura paterna como afirmaram os primeiros historiadores que formulariam a concepção híbrida da família escrava – mesmo sendo a minoria diante da informação de varias mães escravas, na lista de batismo analisada nos registro do livro paroquial apresentando famílias simples (sendo casais e mães solteiras com filhos que aparecem no registro do batismo) e as completas com os pais e o batizando.

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Tabela 08

Lista de pais escravos e padrinhos de batismo

PAIS (Escravos) NOME DOS PADRINHOSManuel e Maria Teófilo e Maria

Nicacio e Osmida Antonio e Lucinda

José e Maria João José da Guia e Valentina Maria de Jesus

Jaciano e Eminelgida Martinho e Maria,escravos

Domingos e Maria Estevão Jose da Rocha e Anna Joaquina

Jose e Maria Pascoal e Manoela

Caetano e Margarida David Geminiano de Britto e Mariana Leopoldina d’Almeida

Nicacio e Osmida João Januario d’Araujo e Nossa Senhora

Jose e Antonia Rumão e Nossa Senhora

Theofilo e Theresa João Dantas dos Reis e Jumira Mariana Dantas

Nicacio e Osmida Antonio e Lucinda

João e Mauricia Francisco Xavier de Sousa Cunha e N. Senhora

Joaquim e Anna Domingos e Gonçala

Teófilo e Theresa Antonio Martins d’Araujo e Rufina da Sagrada Familha

João e Mauricia Manoel Luis e Luisa Maria

Joaquim e Victoriana Salustiano José de Figueredo

Paulo e Ermina Joaquim Manoel das Neves e Maria de Jesus

Clemente e Vicencia Noberto

Raimundo e Teodoria Teburcio Ferreira e Theresa Maria de Jesus

Manoel e Jeronima Galdino Paulo Fernande e Ignes

Teofilo e Theresa Barnabe Guilherme e Ricarda Maria

Joaquim e Anna Estacio e Goncalla

Juse e Marculina José Ramos e Anna Maria

Felippe e Noberta Jose Joaquim de Santanna e Nossa Senhora

Felippe e Noberta Jose Joaquim de Santanna e Nossa Senhora

Joaquim e Victorina Antonio Manoel da Fraga e Nossa Senhora

José e Theodora Manoel Ignacio e Nossa Senhora

Fonte: Livro de Batismo da Matriz de Senhora Sant’Anna da Lagoa Vermelha de 1866 a 1873

A proteçao da criança ou a chance de poder fazer com que seus filhos ou o

simples aumento e segurança do plantel por parte do proprietario no registro de

batismo ainda merece atençao neste fenomeno social na relaçao de compadrio seja

com escravos livres ou com pessoas proximas as familias dos proprietarios que

daremos atençao adiante sobre batismo e as Constituiçoes Primeiras do

Arcebispado da Bahia.

8

GRÁFICO 01- Número e porcentagem de escravos que batizaram seus filhos

FONTE: Livro de Batismo da Ma. Sant’na da Lagoa Vermelha ; sec XIX

Baseando-se no nosso recorte temporal (1866 -1873) o quantitativo de mães

solteiras e casadas percebemos que oficialmente existem 20 casais (somando ai 40

cativos), de 222 escravas/mães solteiras cativas e 01 que não foi possível identificar.

Se acrescentarmos a estes números as 20 mulheres casadas teremos ai 222 cativas

que em média teriam um pouco mais de 1 criança para cada uma delas. Nestes

dados não estamos incluindo os escravos que por algum motivo foram padrinhos

que somadas as 19 madrinhas passaríamos para 261escravas.

8

4.2 O BATISMO

A Constituições do Arcebispado da Bahia 37dividiu suas observações sobre a

fé e a vida colonial e provincial brasileira até os fins do século XIX em cinco livros

onde o Primeiro trata dos assuntos referentes a fé católica como a doutrina e os

sacramentos, o Segundo dos ritos , do dizimo e outras obrigações, o Terceiro

aborda os assuntos de comportamentos e atitudes do clero, dos livros de registros

das paróquias, dos funcionários eclesiásticos, o Quarto dos privilégios e punições

para o clérigos, dos aterros e da sepulturas e o Quinto sobre as heresias,sacrilégios,

feitiçarias e suas respectivas sanções como a excomunhão, e a prisão.

A doutrina Católica deveria ser observada por todos os cristãos e ensinada

aos filhos, discípulos, criados e especialmente aos cativos por seus senhores, amos,

pais e mestres. Para os escravos era limitado apenas o básico das orações do

Padre Nosso e Ave Maria para que pudessem receber os sacramentos com

dignidade. Como vemos aqui o texto retirado da Economia Cristã dos Senhores no

Governo dos Escravos no Discurso II sobre a obrigação dos senhores para com os

servos 38– obra que inspirou boa parte da literatura das Constituições do

Arcebispado baiano sobre a educação dos escravos negros, percebemos ainda que

tais teorias influenciaram na consolidação e validação do processo escravista no

Brasil:

60. Como os servos são criaturas racionais, que constam de corpo e alma, não só deve o senhor dar lhes o sustento corporal para que não pereçam seus corpos, m s também o espiritual para que não desfaleçam suas almas, panis, ne succumbat. Debaixo deste nome Pão, na frase hebreia, não só se compreende o alimento corporal, mas ainda o espiritual, como notou A Lápide, comentando aquelas palavras com que pedimos a Deus o sustento de cada dia, panem

37 Cf. CASSIMIRO,Ana Palmira Bittencout Santos. Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia: Educação, Lei, Ordem e Justiça no Brasil Colonial. Disponível em <. http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/artigos_pdf/Ana_Palmira_Casimiro1_artigo.pdf > acessado em 30.05.2009 38Cf. BENCI, Jorge Economia Cristã dos Senhores no Governo dos Escravos (livro brasileiro de 1700) (Estudo preliminar) Pedro de Alcântara Figueira; Claudinei M.M. Mendes. São Paulo: Grijalbo,1977.p. 33 Disponível em < .http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/fontes_escritas/1_Jesuitico/artigo_001.html > acessado em 08.06.2009

8

nostrum quotidianum; e alega por si a S. Agostinho, a S. João Crisóstomo, a S. Cipriano e outros (i).

61. E se me perguntam em que consiste o alimento espiritual? Digo que em três coisas, que correspondem ás três vezes que mandou Cristo a S. Pedro que apascentasse as suas Ovelhas: pasce agnos meos; Pasce agnos meos; pasce oves meas (1). Mas que três coisas são estas? 0 Concílio Tridentino as declara, e diz que são a Doutrina Cristã, uso dos Sacramentos, e o bom exemplo da vida (m). E, suposto que neste lugar fala o Concílio particularmente com os Párocos e Pastores de Almas, não deixa contudo de falar também com os senhores, pois também de algum modo são Curas das almas de seus servos. Comecemos pela doutrina.

Se o senhor do escravo negasse o ensino lhe seria feita uma advertência

espiritual, o mesmo poderia deixar para o pároco ensinar as leis eclesiásticas e seus

ritos como descrimina o parágrafo I sobre a Doutrina Cristã que os senhores são

obrigados a ensinar a seus servos:

62. Devem primeiramente os senhores alimentar as almas de seus servos com a Doutrina Cristã, para que saibam os mistérios da Fé, que devem crer, e os preceitos da Lei de Deus, que hão-de guardar: Verbi divini prcedi catione pascere. Bem sabeis que a maior parte dos servos deste Brasil vem da Gentilidade de Guiné [e] mais partes da África, tão rudes nos mistérios de nossa Santa Fé, e tão ignorantes nos Mandamentos da Lei de Deus, que de Cristãos não têm mais que o Baptismo, sendo que até este falta a muitos. Pergunto pois: a quem pertence instruí-los nos mistérios da Fé e ensinar-lhes o caminho do céu? Vós direis que aos Párocos, Curas e mais Pastores de suas Almas. Assim é; mas não só a eles pertence ensinar os escravos, senão também a vós. A vós, torno a dizer, porque sois seus senhores; a vós, porque os tendes mais à mão; e a vós, porque assim, como, tendes obrigação de lhes dar o pão para o corpo, atendes também de lho dar para a alma: panis, ne succumbat.

O batismo como um dos sacramentos da Igreja tratado nas Constituições traz

uma observação interessante com nos mostra LOTT (2005)39:

O batismo é o primeiro sacramento. É a porta por onde se entrava na Cristandade. Somente após ter recebido o batismo o crente podia

39 Cf. LOTT, op. cit. 2005 pp. 02-04

8

receber os demais sacramentos. A matéria era a água “natural” e sua forma definia-se pelas palavras instituídas pelo próprio Jesus, como acontecia com os demais sacramentos. Todos tinham como base doutrinaria palavras e ações do Cristo, através da Bíblia. O batismo era tão importante que na falta do pároco, ou em casos extremos, qualquer pessoa “ainda que seja mulher ou infiel” podia validamente administrá-lo.

A importância do sacramento é observada com tamanha grandeza que o

quanto antes fosse batizada a criança a salvação lhe seria antecipadamente

concedida40:

Com o batismo, todos os pecados pregressos eram perdoados. Ele era essencial para se alcançar a salvação. Por isso, era orientado aos pais que proporcionassem a seus filhos o acesso a tal sacramento o mais cedo possível (até 8 dias após nascidos).

Como eram realisados os sacramento havia diferencial entre as naturezas do

nascimento das crianças de acordo com o relacionamento de seus genitores41:

O rito do batismo se dava por imersão, ou por efusão e aspersão em casos especiais alem de serem registrados em livros específicos aos cuidados da Matriz. Os batismos de filhos de “clérigos de ordens sacra ou beneficiados” não seriam realizados na pia batismal da Igreja onde seus pais exercessem a função de “Vigários, Coadjutores, Curas, Capelães ou fregueses”, podendo ser batizados na freguesia mais próxima, sem pompa e somente com a presença dos padrinhos resguardando assim a salvação de sua alma (LOTT, 2005).

Não fora encontrado registros de escravos adultos sendo batizados no

período analisado, mas para estes terem direito a salvação da sua alma deveriam

saber ao menos o Credo, o Pai Nosso, a Ave Maria e os Mandamentos da Lei de

Deus alem da forma correta de se confessar.

O compadrio entre os batizandos tem uma analise interessante por perceber

que a escolha do mesmo sempre esteve baseada no interesse de conseguir um

protetor para a criança – quando os pais não escolhem outro cativo, como também

40 Cf. LOTT, op. cit. 2005 pp.03 41 Idem.

8

ao escolher alguém da família do seu senhor pode ai querer ter um relacionamento

mais estreito para facilitar seu cotidiano. Porem o senhor poderia ainda querer

garantir a propriedade nos laços da família convidando um parente ou seus filhos

para serem padrinhos de seus escravos. Schwartz citado por Rocha afirma que o

compadrio tinha muito alem da função social.42

(...) quaisquer que fossem as funções sociais do compadrio, sua essência era espiritual e representava a liberdade do pecado, a humanidade e a igualdade como cristão. Dessa forma, como poderia um senhor castigar ou vender um compadre ou afilhado escravo? (...)

O dia a dia dessas famílias pode ser deduzido pela característica da região no

tocante a sua economia, uma vez que sua atividade era a de subsistência

possivelmente muitos trabalharam em engenhos ou casas de farinha alem do

trabalho domestico. Boquim tinha uma economia açucareira e produzia cereais para

a província e principalmente para a Estancia. Se o senhor ainda conseguisse batizar

os seus escravos com os parentes dos cativos ele teria mais vantagens no controle

escravista. É possível ainda que por serem propriedades significativas na extensão e

de produtividade como é possível analisar a ausência de casamentos de escravos

por provável numero pequeno de adultos do sexo o que provocaria os cônjuges

dentro dessas propriedades a exemplo de Campinas no século XIX descrito por

Novais43

Nas pequenas posses de Campinas, ao longo do século XIX, a proporção de escravos adultos casados (na Igreja) ou viúvos era baixa, refletindo o restrito pool de possíveis cônjuges dentro dessas propriedades e virtual proibição, por parte dos senhores, de casamentos entre escravos de donos diferentes.

Em Sergipe o numero de cativos na segunda metade do século XIX diminuiu

muito forçando ainda mais o trafico interprovincial de escravos lembrado por 42 Cf. ROCHA, Cristiany Miranda. Histórias de Famílias Escravas: Campinas,SP: Editora da UNICAMP,2004. (p. 46-47) 43 Cf. NOVAIS, opt. cit, 2006. p.274

8

PASSOS (2000). O censo de 1872 e as matriculas do ano posterior apontados

comprovam um declino de modo geral – o mesmo pede cautela em seus textos

analíticos pela potencialidade de imprecisão dos cálculos apresentados, no censo de

1872 havia 22.623 escravos e em 1873 segundo dados da atualização da matricula

havia 32.974, outros fatores como mortes, alforrias e os saldos migratórios fatorou

um saldo negativo de 10.192 escravos num decênio de 73 a 86 oitocentista44.

Segundo o relatório do Vice-presidente da província do Ex.SNR. DR.

Sipriciano de Almeida Sebrão à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe no dia

1º de março de 1873 45 sobre o recenseamento – onde podemos ai depois analisar a

diferença dos cativos ainda no mesmo ano fora um recenseamento difícil e sobre

eles explicou:

Não estão concluídos ainda os trabalhos do recenseamento, apesar dos esforços empregados. Objecto inteiramente novo, e mal visto pelo povo, desconfiado sempre quando se trata d’aquillo que não compreende, tal a rasao porque o serviço do recenseaneto tem encontrado sérios tropeços.Alem d’estas, outras rasões se deram. O número de listas e boletins recebidos pela presidência, e que deviam ser distribuídos às Commissões Parochiaes, foi por demais insuficiente. As diversas commissões reclamaram, mas não poderam ser attendidas em tempo, porque só muito tarde chegaram mais listas e boletins ainda em numero insuficiente, em conseqüência de repetidas reclamações do Governo d’esta Província. (...)

Com essa dificuldade dezoito paróquias não mandaram a tempo o censo,

sendo prestados alem das de Boquim e Lagarto as de: Arauá, Campos do Rio Real,

Divina Pastora, Estância, Ilha do Ouro, Itaporanga, Laranjeiras, Maruim, Riachão,

São Cristóvão, a Capital – Aracaju

Os relatórios dos governos provinciais ajudam ao historiador e ao leitor

curioso a viver um cenário bastante curioso ao se analisar os dados de alguns fatos

passam por despercebidos ate na época ou ate preocupa aqueles que são

44 Cf. PASSOS SUBRINHO, Josué Modesto dos. Reordenamento do Trabalho escravo e trabalho livre no Nordeste açucareiro. Sergipe 1850 – 1930. Aracaju: Funcaju, 2000 pp.107-110 45 Cf. Relatório do Vice-presidente da província do Ex.SNR. DR. Sipriciano de Almeida Sebrão à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe no dia 1º de março de 1873 pp.31 – 32.

8

designados a gerir a política e a economia local – fatorando no final de cada período

resultados interessantes que possibilitam perceber o cenário vivido pela população

censeada como veremos agora:

(p.33)

Com os seus 1.080 fogos com 5.335 almas percebemos nesta relação que as

famílias eram pequenas, temos aí menos de 04 pessoas por fogo existente. Outro

ponto a analisar é que 76,41% população era analfabeta. Em Lagarto segundo ainda

8

o relatório acima 95% das almas não sabiam ler revelando ai que apesar das

Cadeiras de Primeiras Letras existentes nem todos tinham acesso a educação

institucional. Convém lembrar que a maioria da população no período é mestiça,

assim também é na Vila da Lagoa Vermelha/Boquim como é comprovado com o

índice de nascidos pardos escravos – o mesmo ocorre se fizermos com a população

livre – o termo livre utilizado nesse trabalho não tem o mesmo sentido censitário,

consentimos como livre os não cativos - como veremos adiante. O vocábulo pardo

foi por um período sinônimo de certa “condição-social”, porém em meados do século

XIX restringiu apenas a condição da cor do cativo, como vemos aqui citado por

Faria46:

O termo “pardo” representava uma espécie de condição social. Paulatinamente, no decorrer da segunda metade do século XIX, passou a indicar uma cor, resultado de mestiçagem. Entre os escravos do século XVIII, “pardo” era a terceira geração de africanos. Pais “pretos”, indicativo de origem africana, tinham filhos “crioulos”, que se tornavam, por sua vez, pais de “pardos”. Quando libertos, africanos, designados “pretos forros”, tinham filhos (nascidos livres) indicados já como “pardos”, muitas vezes seguido de “forro”, apesar de nunca terem sido escravos.

Com as informações do livro de batismo podemos perceber que a população

escrava era de maioria parda como mostra o gráfico 02 e 03 abaixo, como também

comprova a realidade racial sergipana do censo 187247 que descrimina haver 91.024

negros pardos e 32.354 negros pretos.

46 FARIA, op. cit p. 305 47 NOVAIS, Fernando A.; Historia da vida privada no Brasil: Império. São Paulo: Companhia das letras, 2006.p.474-479

8

GRÁFICO 02 – Cor das crianças escravas batizadas no período de 1866-73.

FONTE: Livro de Batismo da Matriz de Sant’Anna da Lagoa Vermelha/Boquim de 1866-73.

Somando os 88 referentes as meninas e os 80 aos meninos teremos a cor

parda predominante com 66,44% do total, as pretas com 23,32%,e as com p. 9,09%

e as demais juntas 1,19% . Vendo junto às demais etnias apresentadas percebe-se

que na Vila do Boquim o crescimento feminino é relativamente inferior ao masculino

– nasceram mais meninos nesse período mostrado no gráfico a seguir.

GRÁFICO 03 – Porcentagem entre sexo das crianças escravas batizadas.

FONTE: Livro de Batismo da Matriz de Sant’Anna da Lagoa Vermelha/Boquim do Século XIX

8

Ainda observando a formação étnica do nosso território sergipano é notória a

miscigenação que sofrera a população colonial e provincial de Sergipe. Entre os

pioneiros da discussão da mestiçagem nos efeitos sociais como escravo, fora o

Lagartense Silvio Romero que junto a Manoel Bonfim que contestaram a

passividade do negro – procurou responder a origem da mestiçagem brasileira48.

É antes a historia da formação de um tipo novo pela ação de cinco fatores, formação sextiaria em que predomina a mestiçagem. Todo brasileiro é um mestiço,quando não no sangue, nas idéias. Os operários deste fato inicial tem sido: o português, o negro, o índio, o meio físico e a imigração estrangeira.

Alem de procurar mostrar que o cativo era vez passível uma vez que era este

protegido por seu dono – o que traz a duvida do por que das varias fugas dos

escravos até mesmo na região nordeste considerada uma região onde os negros

eram mais bem tratados seu pensamento conservador fora preservado. A obra de

Freyre ainda recebeu reforço de pensadores como Frank Tannembaum e Stanley

Elkins.

Bezerra49 nos dar uma linha muito extensa ao explicar a origem do negro em

Sergipe lembrando que o grande mercado de Salvador durante todo o século XVII

até a abolição da escravatura negros sudaneses e bantos foram vendidos para os

senhores patriarcais da Província sergipana50. No encontro de tantas etnias,

derivações surgem e na região da Lagoa Vermelha baseando nos dados do livro de

batismo descobrimos que ser escravo ali não seria necessariamente preto. Assim

como a maioria da população livre que habitavam a região os escravos eram pardos,

as crianças que nasceram foram registradas indicam uma predominância parda, e

48Cf. ROMERO, Silvio. Historia da Literatura Brasileira. pág. 02 : Disponível em www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000117.pdf acessado em dia 15.05.2009 49 O autor faz um resgate antropológico partindo da passagem do elemento africano vindo como peça de mercado por serem estes bons para o trabalho – principalmente as “peças de Guiné”, lembrando que os que foram trazidos para Sergipe sejam sudanês, alem da presença de pretos bantus. Ainda descreve que os “negros sudaneses, de que deve descender a maioria do homo afer local, eram especialmente altos, principalmente os gêge, os malê haussá.” Finaliza o paragrafo lembrando que os bantu meridionais eram de alta estatura. BEZERRA, Feltre. Etnias Sergipanas: contribuição ao seu estudo. 1ªreedição. Aracaju: Gráfica e Editora J.Andrade, 1984. pp. 103 e 105 50 BEZERRA, op. cit. p.104

8

alguns caboclos, pretos, índios e brancos como indica nosso próximo gráfico num

recorte espacial de 1866-1872:

GRAFICO 04 - Relação parcial étnica da População livre

FONTE: LIVRO DE BATISMO DA FREGUESIA DE SANT’ANNA, SEC. XIX

8

4.3 CRESCIMENTO DAS FAMILIAS: DESENVOLVIMENTO E RENDA DOS PLANTEIS

Apesar da rica fonte primária de nossos estudos ainda se é possível trazer um

tema novo aos anais da historia dessa freguesia tão rica em fatos ainda a serem

explorados a exemplo de que se cruzarmos os dados de batismos e procuramos

descobrir a data de nascimento do ingênuo, uma vez que a idade que ele tinha

quando ungido fica fácil achar ano, mês e dia que ele nasceu. Fazendo esse

exercício descobrimos as seguintes datas com as respectivas idades após o

nascimento do ultimo irmão do escravo aqui selecionado:

Tabela 09

Diferença das Datas de Nascimento/Idade de Batismo

ESCRAVO NASCIDO EM BATIZADO EM IDADE PÓS NASC. DO IRMÃO NASCIMENTOPaulo 08.11.1865 08.04.1866 6 meses 2 anos e 2 meses NATURALVitoria 22.10.1867 22.12.1867 2 meses 1 ano e 3 meses NATURALFelisberto 24.04.1867 24.06.1867 2 meses 1 ano e 9 meses NATURALGregório 18.05.1869 18.07.1869 2 meses 2 anos aprox. LEGÍTIMOMaria 02.06.1866 17.06.1866 15 dias 1 ano e 3 m LEGÍTIMAMaria 02.06.1866 17.06.1866 15 dias 1 ano e 3 m LEGÍTIMA

FONTE: Livro de Batismo da Matriz de Sant’Anna da Lagoa Vermelha/Boquim de 1866-73.

Filtrando ainda mais os dados do livro de batismo da Freguesia da Lagoa

Vermelha podemos fazer um comparativo das mães casadas e solteiras

percebemos que suas famílias cresceram seja por motivo de consolidação de um

âmbito familiar ou por simples fato de crescimento do plantel de seu senhor como

mostra a tabela de mães solteiras em ordem alfabética.

8

Tabela 10

Relação de Mães escravas solteiras/filhos e proprietários

ANO INGÊNUO COR IDADE ESCRAVA PROPRIETÁRIO DAT/BAT SEXO CONDIÇÃO Nº DE FILHOS

1867 Luiz preto 2 m. Antonia Jose Francisco Borges 25.12.1867 M NAT.

1872 Bevenuta preta 2 m Antonia Jose Francisco Borges 14.07.1872 F NAT.

1866 Paulo preto 6 m. Antonia Maria Barbosa Freire 08.04.1866 M NAT.

1867 Joanna preta 3 m. Antonia Maria Barbosa Freire 25.09.1867 F NAT.

1871 Luis pardo 2 m Antonia Venacio da Fonceca Doria 15.10.1871 M NAT.

1869 Maximiniano pardo 2 m Antonia Venancio da Fonceca Doria 21.03.1869 M NAT.

1867 Vitoria parda 2 m Antonia Venancio da Fonseca Doria 22.12.1867 F NAT.

1868 Noberto preto 3 m Benta Thome da Fraga Pimentel 28.07.1868 F NAT.

1868 Amancio preto 2 m Benta Thomé do Fraga Pimentel 16.07.1868 M NAT.

1871 Arquimedes (gêmio) pardo 4 m Brizide Francisco José 22.10.1871 M NAT.

1871 Zoroastro (gêmio) pardo 4 m Brizide Francisco José 22.10.1871 M NAT.

1872 Candida parda 2 m Cipriana Manoel da Cruz Fonceca Doria 30.06.1872 F NAT.

1868 Pedro preto 13 m Cipriana Manuel da Cruz da Fonseca Doria 1º.05.1868 M NAT.

1870 José 3 m Cipriana Manoel da Cruz Fonseca Doria M NAT.

1872 Domingos (gêmio) pardo 3 m Delfina Orphan Maria Joaquina e Can? 02.04.1872 M NAT.

1872 Leonardo (gêmio) pardo 3 m Delfina Orphan Maria Joaquina e Can? 02.04.1872 M NAT.

1871 secundino pardo 3 m Dominga José Calasans Marques 17.06.1871 M NAT.

1872 João pardo 3 m Domingas José Calasans Marques 25.12.1872 M NAT.

1868 Olímpia parda 2 m Florencias Thomé da Fraga Pimentel ? F NAT.

1867 Maria parda 2 m Florencias Thome da Fraga Pimentel 17.03,1867 F NAT.

1867 Felippe preto 2 m Guilhermina Jose Rodrigues 28.04.1867 M NAT.

1867 Fillipe Pardo 2 m Guilhermina Jose Rodrigues Coelho 01.05.1867 M NAT.

1867 Cirila preta 3 m Ignez Barnabé Martins Fontes da Fraga 13.01.1867 F NAT.

1872 Filippe pardo 1 m Ignez Bernabe Martins Fontes 27.06.1872 M NAT.

1867 Felisberto pardo 2 m Joanna João Pereira de Carvalho 24.06.1867 M NAT.

1871 Silveria parda 5 m Joanna João Pereira de Carvalho 05.06.1871 F NAT.

1869 Juliana p. 10 d Joanna João Pereira de Carvalho (riachao!) 19.01.1869 F NAT.

1869 Francisca parda 2 m Joaquina Joao Paulo de Mattos Freire 26.09 F NAT.

1871 Josefa parda 2 m Joaquina Joao Paulo de Mattos Freire 29.08.1871 F NAT.

1867 João pardo 8 m Joaquina Vicente Jose Freire 27.01.1867 M NAT.

1869 Maria parda 2 m Joaquina Vicenti Jose Fonceca 18.07.1869 F NAT.

1872 Arabela parda 3 m Josefa Anna Ursula 28. 04.1872 F NAT.

1872 Arabela parda 3 m Josefa Anna Ursula 28. 04.1872 F NAT.

1871 Marcos pardo 5 m Josefa Luis de França Freire 25.06.1871 M NAT.

1866 Victorino pardo 2 m Josefa Luiz de França Freire 24.12.1866 M NAT.

1871 Matildes preta 3 m Josefa Manoel Antonio Dias 29.05.1871 F NAT.

1872 Quinto pardo 6 m Josefa Manoel Antonio Dias 17.08.1872 M NAT.

1868 Galo p. 5 m Josefa Manoel Seabra Lemos 23.10.1868 M NAT.

1870 Gertudes parda 5 m Josefa Manuel de seabra Lemos 15.05.1870 F NAT.

1868 Luiz p. 5 m Justina Jose Alves de Freitas 20.12.1868 M NAT.

1871 Josefa parda 4 m Justina José Alves de Freitas 18.06.1871 F NAT.

1872 Firmo pardo 9 m Justina José Alves de Freitas 09.06.1872 M NAT.

1873 Maria parda 1 m Justina José Francisco Borge 03.08.1873 F NAT.

1869 Joaquinna parda 15 d Justina Jose Francisco Borges 11.10.1869 F NAT.

1868 Cantiria preta 5 m Justiniana Jose Alves de Freitas 04.01.1868 M NAT.

1870 Antonia Parda 4 m Justiniana Jose Alves de Freitas 18.09.1870 F NAT.2

2

2

3

2

2

3

2

2

2

2

2

3

2

2

2

2

2

2

3

2

FONTE: Livro de Batismo da Matriz de Sant’Anna da Lagoa Vermelha/Boquim de 1866-73.

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Tabela 11

Relação de Mães escravas solteiras/filhos e proprietários

ANO INGÊNUO COR IDADE ESCRAVA PROPRIETÁRIO DAT/BAT SEXO CONDIÇÃO Nº DE FILHOS

1866 Leoncio pardo 4 m Liandra Serafim Alves da Silva 15.09.1866 M NAT.

1869 Estevão pardo 2 m Liandra Serafin Alves da Silva 18.02 M NAT.

1871 Eva parda 2 m Libania Francisco Jose d'Amoreia 24.09.1871 F NAT.

1872 Antonio pardo 2 m Libania Francisco José de Amorim 21.12.1872 M NAT.

1867 Mariana preta 2 m Luisa Jose Rodrigues dos Santos ? M NAT.

1866 Thomaz pardo 3 m Luisa José Rodrigues dos Santos 10.05.1866 M NAT.

1867 Adão pardo 7 d Luisa Manoel de Seabra Lemos 23.05.1867 M NAT.

1869 Jernil pardo 2 m Luisa Manoel Seabra Lemos 25.12 M NAT.

1871 Rufesia parda 2 m Luisa Venacio da Fonceca Doria 17.09.1871 F NAT.

1869 Quintina parda 4 m Luisa Venancio da Donceca Doria ?.03. F NAT.

1867 Ritta parda 6 m Luisa Venancio da Fonseca Doria 22.12.1867 F NAT.

1868 Martinho preto 2 m Marcelina José Rodrigues dos Santos 11.10.1868 M NAT.

1867 Alexandrina parda 6 m Marcolina Jose Rodrigues dos Santos ? F NAT.

1866 Martiliano preto 8 m Margarida Fermino da Fonseca Mascaunhas 15.07.1866 M NAT.

1871 Liandra parda 2 m Margarida Firmino da Fonceca Mascarenhas 02.09.1871 F NAT.

1868 Manoel preto 6 m Margarida Antonio de Correia Seabra 17.03.1868 M NAT.

1870 Filicia preta 2 m Maria Antonio Manoel de Silqueira 17.07.1870 F NAT.

1871 Jose pardo 2 m Maria Antonio Suterio de Oliveira 16.10.1871 M NAT.

1869 Mariana (gêmia) parda 3 m Maria Geronimo Telles 25.03.1869 F NAT.

1867 Luisa parda 2 m Maria Geronimo Telles d’Almeida 1º.12.1867 F NAT.

1872 José n infom 1 m Maria Manoel da Cruz Fonceca Doria 14.07.1872 M NAT.

1871 Luis pardo 1 m Maria Manuel da Cruz da Fonseca Doria 11.06.1871 M NAT.

1870 Maria ( gêmia) Parda 1 m Martinha João Paulo de Mattos Freire 11.09.1870 F NAT.

1870 Luisa (gêmia) parda 1 m Martinha João Paulo de Mattos Freire 11.09.1870 F NAT.

1868 Jose p. 2 m Paula Francisco Jose da Fonceca Doria 14.04.1868 M NAT.

1872 Justino preto 2 m Paulina Francisco José da Fonceca Doria 09.06.1872 M NAT.

1868 Feliciano pardo 3 m Ritta Orpham João 1º.01.1868 M NAT.

1869 patricia preta 4 m Ritta Orphan João Dias 29.06 F NAT.

1872 Francisco preto 2 m Salestiana Antonio Correia de Seabra 15.10.1872 M NAT.

1871 Nelia p. 1 m Salustiana Antonio siabra 19.03.1871 F NAT.

1869 maria parda 2 m theresa João da Luz da Fonceca Doria ?.03. F NAT.

1867 Pedro pardo 2 m Theresa João Luiz da Fonceca Doria 14.12.1867 F NAT.

1872 Liandro pardo 2 m theresa João Luiz da Fonceca Doria 14.05.1872 M NAT.

1872 Eulaio pardo 2 m theresa Thome da Fraga Pimentel Neto 12.05.1872 M NAT.

1873 Caciana preta 2 m theresa Thome de Fraga Pimentel Neto 10.09.1873 F NAT.

1868 Maria p. 8 m Thomasia Gregorio Jose da Rocha 25.12.1868 M NAT.

1868 Francisco pardo 4 m thomasia Gregório Jose da Rocha 03.03.1868 M NAT.

1869 Francisco pardo 2 m Thomasia Gregorio Jose da Rocha 26.09.1869 M NAT.

1872 Manoel preto 24 d Umbelina Domingos Dias 28.07.1872 M NAT.

1871 Ipolito preto 9 m Umbelina Domingos Dias Dantas e Mello 18.06.1871 M NAT.

2

3

2

3

2

2

2

2

2

3

2

2

2

2

2

3

2

2

FONTE: Livro de Batismo da Matriz de Sant’Anna da Lagoa Vermelha/Boquim de 1866-73.

A lista a seguir nos permite uma rápida visão do crescimento das famílias com pais

casados:

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Tabela 12

Crescimento da família escrava (casal)/aumento do plantel do senhor

FONTE: Livro de Batismo da Matriz de Sant’Anna da Lagoa Vermelha/Boquim de 1866-73.

As atividades da região eram movidas por essas mãos e pés de seus

senhores ao tempo que a vila em ascensão tinha indústria açucareira alem de

cultivar o algodão e cereais para ser exportado para Estância e para a Bahia51 e com

isso para alguns senhores foi preciso garantir o lucro ao passar dos anos para que

seus cativos dessem conta do recado a longo prazo, principalmente após a Lei do

Rio Branco que garantiu ainda – mesmo com as perdas daqueles que nasceram do

dia 28 de setembro de 1871 – os que já haviam sido nascidos anteriormente como

mão-de-obra compensando as migrações interprovinciais forçadas pelas diversas

leis abolicionistas que influenciaram o aumento dos impostos e encareceram a mão-

de-obra escrava. PASSOS SUBRINHO 52 lembra que:

(...) Com a Lei do Ventre Livre, a fecundidade das escravas não teria mais efeitos sobre o montante da população escrava que se verificou entre 1850 e 1871, no Nordeste, iria transformando-se em aumento da proporção dos escravos em idade produtiva, enquanto que no Sudeste, deixando nas regiões exportadoras de escravos, principalmente os escravos velhos, doentes e mulheres, como afirmou Conrad.

Ao longo desses seis anos a pequena vila da Lagoa Vermelha se

desenvolveu e se elevara a categoria de cidade em 21 de março de 1870, período

em que o vigário Manoel Nogueira Cravo é o sétimo da lista a compor o 2º Distrito

51 Cf. Relatório da Presidência da Província de 1870, p. 186-187, VI 52 Cf. PASSOS SUBRINHO, op. cit. p 107

ANO INGENUO COR IDADE PAIS Nº DE FILHOS NO PERIODO

1868 Philomena p. 9 meses João e Mauricia1870 Luis Pardo 3 meses João e Mauricia1869 Gregório preto 2 meses Joaquim e Anna1871 Clara parda n infom Joaquim e Anna1867 Sufia parda 2 meses Nicacio e Osmida1866 Maria parda 15 dias Nicacio e Osmida1868 João pardo 3 semanas Nicacio e Osmida

3

2

2

8

para a Assembléia Provincial53 – a atribuição da assembléia composta por vinte

membros era criar leis de interesse provincial com a sanção do presidente. O

período provincial nas terras da Lagoa Vermelha ao Boquim tem muito a ser

explorado como também ainda mais o processo escravista na sua povoação que

este ensaio veio trazer como ponto de reflexão nos anais da historiografia sergipana.

É necessário ousar na reconstrução da memória oitocentista sergipana e em

especial da região que compreende os atuais territórios Sul e Sul Sergipano que

comporam o Agreste, Agreste-Sertão Sul do Lagarto provincial.

53 Cf. Revista do Instituto histórico e Geográfico de Sergipe, ano IV, Vol. IV p.40 -41. 78 – 79. Aracaju: Imprensa Official, 1919

8

5. RÁPIDAS CONSIDERAÇÕES

À medida que caminha a humanidade entre suas cosmovisões de mundo e

suas relações de poder o tema escravidão ocupa seu lugar no palco da existência

de qualquer sociedade desde a origem da humanidade até a consolidação do

capitalismo. É fato que não se trata apenas de uma situação vivida por um povo, ou

de uma região geograficamente separada. Mas da concretização da razão humana

de se organizar se perpetuar em comunidade. Sua origem – a escravidão – vem da

longa trajetória do homem sobre a terra e sobre seus semelhantes. A Filosofia da

dominação, suas raízes eurocêntricas figuram nossos dias contemporâneos e tão

modernos. Falar de um tema tão complexo de importância na historiografia brasileira

e principalmente sergipana na pequena vila da Lagoa Vermelha é um desafio

instigante.

Estes estrangeiros também ajudaram na construção da existência da família

escrava- mesmo aqueles que teciam sempre contra a célula mesmo desestruturada

desde sua origem afro ou nacional. Os registros de sua passagem tiveram maior

apoio ao se observar os documentos eclesiásticos responsáveis pela administração

e colonização do território. Próximo às margens dos Rios Cotinguiba, Piauí, Vaza-

Barris a exemplo surgiram os engenhos e as fazendas que produziam em suas

lavouras, algodão, milho e principalmente mandioca. O tráfego dessas mercadorias

fez com que em várias localidades se transformassem em povoados, freguesias,

vilas e município. O negro como já foi citado, foi abarcado pelo sistema colonial

canavieiro e minerador. A Vila do Lagarto nos meados do século XIX foi perdendo

partes significativas de seu território formando as villas do Boquim (Lagoa

Vermelha), Campos (Tobias Barreto), Simão Dias e Poço Verde.

Da condição de freguesia a vila com matriz própria e com Câmara Municipal

Boquim estabelece um conjunto de negociações para legitimar-se. Mesmo com o

pedido da construção e conclusão da Igreja de Divina Pastora54, é Sant’Anna a

54 Diante dos relatórios do Governo da Província de Francisco José Cardoso Junior encontramos em suas laudas sua observação no culto público dirigido nas trintas paróquias da província, e entre os pedidos dos vigários está o pedido de conclusão da igreja de Divina Pastora, assim podemos observar que na povoação havia outras devoções, que podemos ver em alguns nomes de padrinhos

8

padroeira escolhida para abençoar a vila. Sendo a Igreja o centro das operações

econômicas e sociais do período e nossa fonte primaria é o livro de batismo do

século XIX, ente os anos 1866 – 1873. O cruzamento com outras fontes e

fomentadas com a vasta bibliografia do tema leva-nos a tentar redesenhar os

cenários da sociedade provincial, patriarcal e a família escrava na Vila Lagoa

Vermelha.

As leis abolicionistas do período reduziram ainda mais o coeficiente cativo na

província, assim atestado com os dados do censo de 1872 e as matriculas de 1883

e as falas do relatório da presidência da província do período que resumem as

dificuldades e proezas do governante em cada ano exigido.

Apesar dos argumentos de que a taxa masculina era predominante – nos

registros de batismo ficou provado que a maioria dos cativos nascidos eram do sexo

masculino - a existência de baixa taxa de fecundidade das cativas, a falta de

privacidade nas senzalas coletivas e separadas por sexo serem apresentados como

fatores que desestimulariam um crescente arquivo historiográfico, ainda é cedo

reconstruirmos tais levantamentos em Boquim, porém muitos trabalhos vem sendo

feitos resistindo e abrindo novos olhares para a composição da historia da

escravatura não só no Brasil como na Província de Sergipe. Os estudos da

demografia histórica brasileira permitiram uma maior luminosidade sobre o tema

podendo ser destacados os nomes entre tantos os de Iraci Del Neto, Robert Slenes

que em seus estudos apontaram uma freqüente existência da família escrava no

Brasil. Mas devemos levantar o fato de que a historiografia nunca negou a

existências dos filhos de escravos, dos casais ou da vida familiar no período

escravista, o que diferencia é como sempre o olhar do historiador que naturalmente

faz seu recorte temporal e espacial do objeto que lhe interessa conforme seu tempo.

O conceito de família na sociedade modera e contemporânea pode dar ainda novos

significados uma vez que na época colonial o conceito para família é totalmente

diferenciado e apoiado no poder de mando e senhor – família patriarcal.

constarem nomes de santos e santas - Relatório com que o exm. snr. tenente-coronel Francisco José Cardoso Junior abrio a 1.a sessão da 19.a legislatura da Assembléa Provincial de Sergipe no dia 4 de março de 1870. [Aracajú] Typ. do Jornal do Aracajú [n.d.]

8

Neste período fora possível levantar 184 de famílias sem a presença do pai,

onde as mães solteiras em sua maioria tiveram apenas um filho. Deste quantitativo

39 escravas tiveram mais de um durante o período aumentando ai sua família e em

conseqüência o plantel de seu senhor a exemplo das escravas. Somadas a estas

famílias temos 20 completas de pai e mãe que tiveram entre um e a três filhos.

A formação da célula familiar escrava na Lagoa Vermelha, Boquim, é um

tema a ser ainda aprofundado a medida que os cenários forem revelados – talvez

estejamos dando o primeiro passo na reconstrução oitocentista , e de fundamental

importância. Podemos sugerir a indagação do que viviam esta família? Os casais

tinham privilegio? E o que levaria pessoas livres aceitarem escravos como

padrinhos? Qual real motivo do crescimento dos planteis? Como os senhores

encaravam a Igreja e as leis abolicionistas? Perguntas e mais perguntas podem ser

ao menos inspiradoras para trabalhos futuros a completar esse ensaio sobre a

formação da Família escrava em Boquim o que nos inspira para complementá-lo

sobre o município no século XIX ainda timidamente explorado.

8

FONTES PRIMÁRIAS:

Livro de Batismo da Matriz de Sant’Anna da Lagoa Vermelha (1866-1873). Arquivo

da Paróquia Senhora Sant’Ana. Boquim/SE

Relatórios do Presidente da Província de SE, 1854-1873. Disponível no sitio

http://www.crl.edu/content/brazil/serg.htm

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