Memórias: cineclube e ditadura em Belém do Pará

25
Memórias: cineclube e ditadura em Belém do Pará Líria Natasha Sena do Vale ([email protected] ) Universidade Federal do Pará (UFPa) Marcelo da Costa Tavares ([email protected] ) Universidade Federal do Pará (UFPa) Resumo: Este trabalho apresenta a trajetória da atividade cineclubista em Belém do Pará durante o período da ditadura militar no Brasil (1964 – 85). Dentro desse período a Associação Paraense de Críticos Cinematográficos (APCC) criou o seu próprio cineclube (1967) que foi, por muito tempo, durante a ditadura o mais longevo espaço de exibição e debate de filmes da capital do estado. Através do levantamento da memória dos seus sócios e frequentadores, o estudo demonstra o caráter de resistência intelectual e cultural desse cineclube, que configurava um espaço de formação da visão crítica dos envolvidos para além da realidade de opressão do regime. Palavras-chave: Memória. Ditadura. Resistência. Abstract: This paper presents the trajectory of the film club activity in Belem during the military dictatorship in Brazil (1964- ANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PA Seminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do Pará Dessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014

Transcript of Memórias: cineclube e ditadura em Belém do Pará

Memórias: cineclube e ditadura em Belém do Pará

Líria Natasha Sena do Vale ([email protected])

Universidade Federal do Pará (UFPa)

Marcelo da Costa Tavares ([email protected])

Universidade Federal do Pará (UFPa)

Resumo:

Este trabalho apresenta a trajetória da atividade

cineclubista em Belém do Pará durante o período da ditadura

militar no Brasil (1964 – 85). Dentro desse período a

Associação Paraense de Críticos Cinematográficos (APCC) criou

o seu próprio cineclube (1967) que foi, por muito tempo,

durante a ditadura o mais longevo espaço de exibição e debate

de filmes da capital do estado. Através do levantamento da

memória dos seus sócios e frequentadores, o estudo demonstra

o caráter de resistência intelectual e cultural desse

cineclube, que configurava um espaço de formação da visão

crítica dos envolvidos para além da realidade de opressão do

regime.

Palavras-chave: Memória. Ditadura. Resistência.

Abstract:

This paper presents the trajectory of the film club activity

in Belem during the military dictatorship in Brazil (1964-

ANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PASeminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do ParáDessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014

85). Within this period the Para Association of Film Critics

(APCC) has created its own film club (1967) which was, for a

long time, and throughout the dictatorship the longest-lived

place of exhibition and discussion of films from the state

capital. By surveying the memory of its members and goers,

the study shows the character of intellectual and cultural

resistance of this film club, which configured a place for

the formation of critical vision of those involved beyond the

oppression reality of the regime.

Key words: Memory. Dictatorship. Resistance.

Introdução

Nosso foco de estudo encontra paralelo no trabalho de

Rose Clair Matela que em seu livro Cineclubismo: Memórias dos

anos de chumbo, coleta memórias de integrantes de cineclubes

dos anos 1970, período no qual afirma haver emergido “junto

com outros movimentos de resistências – o movimento

cineclubista nas principais capitais brasileiras” (2008, p.

19). Tais movimentos segundo a autora emergiam da realidade,

questionando a política econômica do governo militar e foram

marcados por seu caráter de iniciativa popular (movimentos de

bairro, trabalhadores da construção civil, donas de casa,

moradores de favela e etc.), autonomia e até certa unidade

política (2008, p. 64).

ANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PASeminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do ParáDessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014

Essa capacidade do cineclube de mobilização para uma

“educação crítica do olhar” no Pará se evidenciou formalmente

em 1955 com o Cineclube “Os Espectadores”. Esse meio cinéfilo

congregou alguns dos maiores nomes das artes do estado tais

como Benedito Nunes, Maria Sylvia Nunes, Mário Faustino e Max

Martins, entre outros, buscando formar um público que

apreciasse o cinema como arte, e além, “posto que a

satisfação estética deveria juntar-se a ‘consciência do

público esclarecido’”, contudo, assim como muitos clubes de

cinema do período, os espectadores fracassaram na sua missão,

já que o público em geral não conseguia acompanhar o nível de

erudição dos debates (CARNEIRO, 2012).

Mesmo não tendo durado tanto tempo, o vanguardismo dos

Espectadores fez herdeiros. Uma nova geração de intelectuais,

literatos e músicos fizeram crescer e seguir para outros

rumos a crítica cinematográfica em Belém. Nomes como Pedro

Veriano, Luzia Miranda Álvares, Vicente Franz Cecim, João de

Jesus Paes Loureiro, Januário Guedes foram alguns destes

aficionados por cinema que mantiveram as atividades

cineclubistas na cidade justamente no tenebroso momento

político da ditadura militar e, podemos afirmar que o momento

mais rico para o cineclube no Pará se desenvolveu nesse

período.

ANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PASeminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do ParáDessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014

Levando em consideração o desejo de expor a história do

cineclubismo no Pará e mais especificamente, em Belém nos

tempos da ditadura militar (1964-1985), intentamos adentrar

neste meio fecundo de conhecimento que foi o cineclube da

APCC (1967-1985) a fim de explorar as experiências de seus

organizadores e frequentadores neste período tenebroso, porém

culturalmente rico da história do Brasil.

Ao buscarmos fontes impressas (certificados de censura

concedidos aos próprios exibidores do cineclube, listas de

associados, bilhetes de exibição, cartazes etc.) esbarramos

numa incrível ausência delas, como que por herança desta

tenebrosidade. Tínhamos, porém, à disposição da

historiografia que desejávamos construir, bom número dos

grandes nomes deste cineclube (tanto organizadores quanto

frequentadores), o que nos levou a consultar as

possibilidades do uso da memória como fonte para nossa

pesquisa.

Rose Clair Matela utilizou a memória como principal

fonte em sua pesquisa de doutorado e teorizou sobre sua

utilização ressaltando a descentralização de conhecimento

como uma das potencialidades da narrativa.“Proporciona ainda o surgimento de históriasinterditadas, de interpretações e leituras demundo diverso do instituído, que fraturaconhecimentos hegemônicos e ultrapassa o discursooficial, contribuindo para a ampliação do

ANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PASeminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do ParáDessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014

conceito de verdade científica.” (MATELA, 2008,p. 23).

Esse conhecimento jamais seria visitado fora do diminuto

círculo em que foi desenvolvido sem o uso do recurso da

memória, pois embora houvesse uma releitura dos documentos

oficiais a fim de criar a história do cineclube no período

ditatorial brasileiro, perderíamos a significação dada pelos

sujeitos dessa história. Estaríamos perdendo o benefício de

discutir história contemporânea, isto é, entrar em contato

com os processos interessantes para nós por meio de quem os

vivenciou.

A partir do uso da fonte oral, com entrevistas

temáticas, nossa metodologia foi, portanto qualitativa,

aquela que “situa-se no terreno da contrageneralização e

contribui para relativizar conceitos e pressupostos que

tendem a universalizar e a generalizar as experiências

humanas.” (DELGADO, 2010, p. 18).

Perfil dos entrevistados

Valorizar a experiência humana como fonte histórica é

percorrer um caminho polêmico, historiograficamente falando,

porém a fertilidade desses relatos pode ser recompensadora

quando ela nos revela visões diferenciadas sobre um dado

período. Como afirma Matela “O uso das narrativas possibilita

a valorização dos saberes oriundos da vida cotidiana dos

ANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PASeminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do ParáDessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014

diferentes sujeitos sociais” (2008, p. 23). Nesse sentido

buscamos coletar parte das experiências de vida desses

agentes e reconstruir a história sob nova perspectiva. Cabe

então, portanto, tratar da trajetória profissional e da

relação com o cinema que cada um dos entrevistados teve, além

da descrição de como as entrevistas ocorreram. Pedro

Veriano é médico por profissão, e um aficionado por cinema.

Exibia filmes na garagem de sua casa desde 1950 – era o

chamado Cine Bandeirante (VERIANO, 1999). A relevância das

experiências de Veriano está na sua relação íntima com o

cinema e com a atividade cineclubista em Belém. Sua história

de vida se confunde com parte da própria história do cinema

na capital Paraense.

Entrevistamos Veriano no seu apartamento após termos

marcado uma visita com sua esposa Prof.ª Luzia Miranda, com

quem já tínhamos contato na universidade. A conversa

aconteceu na manhã quente do dia 16 de julho de 2014. Na

ocasião fomos gentilmente recebidos por Luzia e Veriano, que

infelizmente, por conta da saúde frágil, não poderia ficar

horas a nos contar suas histórias sobre cinema.

Veriano tornou-se grande nome da crítica cinematográfica

em Belém. Foi colunista do jornal A Província do Pará e do O

Liberal, além do O Jornalista (jornal do Sindicato dos

Jornalistas profissionais do Pará). Foi também fundador do

ANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PASeminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do ParáDessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014

cineclube da APCC (espaço foco da nossa pesquisa, daí a

importância das memórias de Pedro Veriano) e da firma Cinema

de Arte do Pará Ltda. De 1951 a 1970 produziu alguns curtas-

metragens, além de ser autor de livros sobre cinema e

cineclube em Belém (VERIANO, 1983). Atualmente, a produção de

Veriano sobre o cinema no Pará é a principal referência sobre

o tema, sendo amplamente consultado para fins acadêmicos.

Nossa segunda entrevistada Prof.ª Luzia Miranda Álvares,

constitui parte importantíssima da história do movimento

cineclubista em Belém, pois sua formação como crítica de

cinema e cientista política lhe proporcionou uma mentalidade

crítica para além do regime político ditatorial. É professora

doutora aposentada da UFPA da Faculdade de Ciência Política,

feminista e coordenadora do Grupo de Estudo e Pesquisa Eneida

de Moraes (GEPEM-UFPA), que discute questões de gênero.

Assina a coluna Panorama, no Jornal O Liberal, há 41 anos.

Organizou mostras de cinema amador, que levaram alguns

cineastas de Belém ao profissionalismo. Foi Representante

Regional da EMBRAFILME (Empresa Brasileira de Filmes S A.) de

1977-81. Foi, por vezes, representante do cineclube da APCC

em reuniões nacionais (VERIANO, 1983).

Conversamos com a Prof.ª Luzia numa sala de aula no

IFCH-UFPA (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas-UFPA) na

tarde do dia 20 de outubro de 2014, durante uma pausa de uma

ANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PASeminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do ParáDessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014

reunião no GEPEM – logo após a entrevista ela retomou seu

trabalho junto ao grupo. Registrar a memória da Prof.ª foi

parte relevante da pesquisa, pois além da sua experiência

profunda com o cinema e com a atividade cineclubista em

Belém, este artigo só foi possível através dos seus

encaminhamentos e orientações. Suas memórias confirmam o

valor educacional das experiências com os clubes de cinema e

com a formação de uma mentalidade crítica através da prática

cineclubista.

Vicente Franz Cecim – como prefere ser chamado – foi

nosso último entrevistado. Marcamos nossa conversa para

acontecer em 30 de novembro de 2014, no espaço turístico Ver-

o-rio, em Belém, ás 17hs. A entrevista ocorreu amigavelmente

até às 23hs, pois ele – com tantas experiências e reflexões

profundas – muito tem a nos falar sobre literatura, cinema e

o universo.

Vicente é escritor e recebeu o Prêmio Revelação de Autor

da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) pelo livro

Os animais da terra (ed. Semec, Belém, 1980). A noite do Curau,

versão resumida do terceiro livro de Andara, recebeu Menção

Especial no Prêmio Internacional Plural, no México, em 1981.

Em 1988, pelo conjunto da obra, recebeu o Grande Prêmio de

Crítica da APCA. Publicou em 2001, Ó Serdespanto (ed. Íman,

Lisboa), com dois novos livros, em Portugal, apontado pelo

ANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PASeminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do ParáDessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014

jornal O Público (Lisboa) como um dos melhores do ano. E

ainda Continua escrevendo, seu último livro foi publicado em

dezembro do ano passado.

Seu percurso cinéfilo/cineclubista justamente no recorte

de tempo que queremos destacar inclui a criação da Associação

de Críticos Amadores (ACA), na década de 1960, e também a

produção de uma série de cinco filmes em Super 8, de 1975 a

1979 (VERIANO, 1983). Foi, além disso, colunista de cinema do

jornal O Estado do Pará, em 1977.

Primeiras experiências com cinema

Na segunda década do século XX, Belém já contava com

doze cinemas espalhados pela cidade, incluindo o fino Olympia

(abril de 1912). No final da década de 1930 somente a mesma

empresa possuía, além do Olympia, mais sete cinemas. É fácil

presumir que o profundo contato de nossos entrevistados com o

cinema ocorreu por causa deste movimento intenso da sétima

arte registrado pela historiografia local. Luzia: “em Abaetetuba primeiro veio o Cine Natan,do Sr. Crispim Ferreira, e depois o CineImperador, do Sr. Abel Guimarães, eles exibiamfilmes do Carlitos, dos irmãos Marx (...) entãofoi assim que deu inicio esse meu gostar decinema. Também quando nós íamos, a famíliainteira ia. Então era uma atividade cultural dedivertimento, que integrava a família, era muitointeressante.” (informação verbal)1

1 Entrevista concedida por ÁLVARES, Luzia Miranda. Entrevista 1. [out.2014]. Entrevistadores: Líria Natasha Sena do Vale e Marcelo da CostaTavares. Belém, 2014;ANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PASeminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do ParáDessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014

Luzia contou-nos que em Abaetetuba ia a sessões ver

comédias de Charles Chaplin e dos irmãos Marx2 além de

assistir filmes educativos no SESP3. Desde o início de seu

relato, sua trajetória a levava a ser quem é. Se esperamos da

narrativa pessoal (ou de qualquer narrativa considerada

humana) um caráter de relato imparcial do fato ocorrido não

devemos recorrer à história para legitimá-la como tal. “A

memória torna as experiências inteligíveis, conferindo-lhes

significado. Ao trazer o passado até o presente, recria o

passado, ao mesmo tempo em que o projeta no futuro.” (AMADO,

1995, p. 131-132). Como qualquer fonte histórica a memória

está presa às interpretações do presente sobre os

acontecimentos do passado (CARR, 1976).

No caso de Veriano temos bastante informação de sua

própria bibliografia. Sua obra Fazendo Fitas se propõe ser um

relato de suas memórias, e é lá que fica clara a sua

realidade: rapaz de classe média alta, morador da capital

paraense. “(...) ganhei minha primeira projetora ‘deverdade’. Uma Movie-Mite de 16mm. O primeiro

2 Os irmão Marx (Chico, Harpo, Groucho, Gummo e Zeppo) eram um grupo deirmãos comediantes no teatro desde os anos 1920, mas depois ingressaramno cinema e na TV americana. Participaram da passagem do cinema americanomudo para o falado.3 Serviço Especial de Saúde Pública (Sesp), posteriormente denominadoFSESP. Esse órgão prestou relevantes serviços à saúde pública do país.Criou diversos hospitais em cidades ribeirinhas da Amazônia, Vale do SãoFrancisco e Rio Doce. (disponível emhttp://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/a-historia-da-sesp);ANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PASeminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do ParáDessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014

filme que exibi foi, por coincidência, o desenhopioneiro com Mickey Mouse, se não me engano,chamado ‘Steamboat Line’ (ele fazia um piloto debarco)” (VERIANO, 2006, p. 86)

Pedro Veriano chegou a afirmar que, em média assistia

mais de um filme por dia no auge de sua atuação no cineclube,

na crítica de cinema e na APCC. Tudo começou muito cedo.

Luzia Miranda contou que ele ajudava o professor de colegial

dela a fazer exibições nas aulas. Maneira essa que também

encontrou de vê-la mais vezes.

Vicente Cecim foi um frequentador inveterado de cinemas

e cineclubes de Belém. Foi através do Cine Bandeirantes, que

teve contato direto, segundo nos relatou na entrevista, com

muitos clássicos do cinema mundial. Suas primeiras

experiências com cinema envolvem a influência inspiradora de

Yara Cecim 4, sua mãe, e do apaixonado por cinema, seu pai,

Miguel Cecim. Vicente: “Eu comecei a me interessar por cinemaporque meu pai – ele adorava cinema – naqueletempo minha família sentava na porta de casa emcadeiras e ele contava os filmes (...) ele eminha mãe viviam no cinema. Ele dizia: vocêsquerem comédia; western; romance; drama? Contavaminuciosamente, imitando até a voz dospersonagens” (informação verbal)5

4 Escritora paraense, nascida no município de Santarém. Sua carreirapública como escritora começou aos sessenta anos a partir da qual seconsagrou como contadora de histórias amazônicas fantásticas. 5 Entrevista concedida por CECIM, Vicente Franz. Entrevista 3. [nov.2014]. Entrevistadores: Líria Natasha Sena do Vale e Marcelo da CostaTavares. Belém, 2014;ANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PASeminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do ParáDessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014

Para ele mesmo a influência de seus pais o empurrou a

pensar como pensa: ouvia filmes de seu pai na porta de casa e

depois histórias fantásticas de sua mão na rede. Nas palavras

de Cecim, “O que eu vou falar pra vocês é a partir do que eu

sou, como eu sou e de como eu percebo aquele tempo, então não

sei até que ponto é real, até que ponto é sonho, até que

ponto é lúdico”6

Formação de um público especial

Os clubes de cinema possuem características especificas

que os tornam especialmente singulares. Destacamos a

experiência educativa e formadora do cineclube da APCC nesta

sessão, pois como ficará evidente, os debates cineclubistas

possuem imenso potencial transformador e comunicacional, já

que a interação inerente e intrincada num determinado

contexto sócio-histórico, segundo Veruska Silva, “desencadeia

processos de significação ao possibilitar aprendizados que

passam a orientar comportamentos, que por sua vez, encontram

permanências” (2009, pag. 146).

No vai e vem dos argumentos se exercita a capacidade de

defender, através da lógica, um pensamento ou ideia. Nas

trocas cineclubistas crescemos a partir do debate. É o que

destaca a Prof.ª Luzia Miranda, ao relatar como começou a

adentrar o universo dos clubes de cinema:

6 Idem.ANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PASeminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do ParáDessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014

Luzia: “Quando nós casamos (Pedro Veriano), eletinha um cineminha, o Cine Bandeirantes (...)Então, eu fui criando uma visão crítica. Eu nãotinha nenhuma teoria, depois é que eu fui estudar(...) a discussão que nós fazíamos em casa, antesdos cineclubes, era uma discussão de altaqualidade. Nós frequentávamos o cineclube ‘OsEspectadores’, qualquer cineclube que fossecriado sempre fomos, não só pra valorizar, mastambém pra assistir.”

Essa construção que se dá no espaço do cineclube não

ocorre pela simples exposição de uma determinada obra

cinematográfica. As experiências se evidenciam nos discursos

e as trocas de opinião revelam, muitas vezes, aspectos da

obra que não seriam percebidos senão pelo processo de

compartilhamento de críticas. Diante dessas dinâmicas é

permitido aos agentes reagir, participar, simpatizar ou

antipatizar e esse movimento favorece a incorporação de

significados que nortearão a relação dos indivíduos, tanto

com o cinema, quanto entre si e com outros campos da

existência (SILVA, 2009).

Essa formação proporcionada pelo movimento cineclubista

encontra eco nas experiências dos nossos entrevistados, pois

todos tiveram profícuas carreiras na crítica cinematográfica

em Belém. Assim, o cineclube constitui um meio “pedagógico”

que influencia e constitui o individuo humanisticamente, como

nos mostra Milene Gusmão “a ação educativa desses clubes,

ANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PASeminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do ParáDessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014

associada a uma rede de socialização mais ampla, constitui um

cenário de aprendizado não-formal de cinema” (2008, pag. 13).

Vicente Cecim confirma esse aspecto dos clubes de

cinema, “o cineclube pra mim era onde eu tinha acesso ao

cinema de qualidade, assim como a biblioteca era onde eu

tinha acesso a literatura de qualidade”7, assim ocorre a

construção de um espaço de cinema alternativo e autônomo.Vicente: “Em Belém havia um predomínio muitogrande do cinema comercial, era difícil ver umacoisa rara, que tivesse contribuindo para alinguagem do cinema como Intolerância, doGriffith, ou o Encouraçado Potenkin (...) Compreio livro A História do Cinema do Georges Sadoul8

que me mostrou tudo isso (...) gostamos muitodaquilo e com um amigo criamos uma Associação deCríticos Amadores (ACA) escrevíamos e mandávamospros críticos profissionais. Rafael Costa, AcyrCastro (...) Descobrimos um dia que Pedro Verianofazia projeções na garagem da casa dele, e depoisdiscutíamos os filmes. O público era variável,tinha Francisco Paulo Mendes, Benedito Nunes(...) Ali assistimos filmes que não se viam noscinemas comerciais (...) Depois surgiu ocineclube da APCC, que praticamente nasceu dagaragem do Pedro.”

O cineclube da APCC foi extremamente fértil, nesse

sentido, ao longo da sua atuação na cidade, já que durante o

decorrer da ditadura militar brasileira as atividades de

cunho cultural tornaram-se mais escassas, e a censura

7 Entrevista cedida por CECIM, Vicente Franz. 8 Escritor francês, autor da História geral do Cinema, obra que possuiseis tomos cujo último foi publicado em 1954.ANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PASeminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do ParáDessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014

“praticada no Brasil, de 1964 a 1988, não foi apenas

repressão localizada, mas mecanismo essencial para a

estruturação e a sustentação do regime militar” (PINTO, 2006,

pag. 3). Após os primeiros anos de regime, o aumento do rigor

na censura não impediu que muitas obras artísticas fossem

divulgadas. Era a fase em que as metáforas e as alegorias

tornaram-se ponto de resistência (PINTO, 2006). “Os anos do APCC formaram plateia na cidade.Muitos cursos foram administrados, muitas sessõesespeciais foram realizadas, muitos ciclos dediretores, gêneros e países produtores; umuniverso de cinema tratado de forma artesanal: eucomandando os projetores de 16 mm; Luzia, minhamulher, funcionando a bilheteria; e as nossascolunas nos jornais noticiando a programação.”(VERIANO, 2006, p. 76)

No período acima citado, o esquema cineclubista da APCC

não interrompeu suas atividades e formou um público fiel e

sempre presente nos debates.

Cineclube da APCC e a ditadura (1967-85)

A já citada estudiosa de cineclube, Rose Clair Matela,

ao tratar do florescimento do cineclube no contexto do regime

militar, “O cineclubismo foi configurando-se, a meu ver, numa

experiência que sutilmente colaborava para quebrar algumas

amarras e mordaças, concorrendo assim para o estremecimento

do contexto sócio-político que vivíamos” (MATELA, 2008, p.

20). Segundo os relatos de participantes de cineclubes

registrados por ela, essa prática atuou por vezes em conjunto

ANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PASeminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do ParáDessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014

com as necessidades de comunidades, atendendo anseios por

lazer, por exemplo, mas também usando filmes para

conscientizar e organizar tais grupos em torno de demandas

sociais referentes a eles mesmos (2008, p. 65).

Como já dissemos o cineclube da APCC nunca possuiu um

caráter de frontal combate ao regime ditatorial, mas quebrou

amarras exibindo muitos filmes proibidos ou com certificados

de censura vencidos, e mordaças sendo um espaço onde o limite

para o debate estético e político não era ditado pelos

militares. “O Cine Grajará”, conta Pedro empolgado, “que mais

vai interessar vocês: um cineclube na base naval em pleno

governo militar”9. Seu depoimento segue relatando a

necessidade que havia de se apresentar o programa do

cineclube toda semana à Polícia Federal, além de sempre ter

em mãos o certificado de censura atualizado de cada filme, o

qual continha a classificação indicativa e os devidos cortes

que a película deveria ter para ser exibida. Ocorre que não

havia embargo algum ao cineclube quando se exibia um filme

proibido pela censura: “Macuaníma, por exemplo, tinha mais de

treze cortes”, mas no Guajará “esse passava sem certificado”,

ou seja, completo.

Ele estava muito certo em pensar que a experiência no

Cine Guajará nos interessaria. Interessou-nos desde nossa9 Entrevista concedida por VERIANO, Pedro. Entrevista 1. [jul. 2014].Entrevistadores: Líria Natasha Sena do Vale e Marcelo da Costa Tavares.Belém, 2014;ANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PASeminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do ParáDessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014

leitura de Cinema no Tucupi, quando ele diz, no capítulo

sobre cineclubes, ser aquele um cinema frequentado por

esquerdistas e onde a exibição era acima de tudo cinema de

arte (VERIANO, 1999, p. 44). “O comandante da base só dizia

pra mim o seguinte: 'passa tudo menos o Encouraçado

Potenkin’, e eu passei. Passei até um festival de filmes

soviéticos”10 relata, Veriano.

É manifesto a todos os conhecedores da crítica

cinematográfica paraense que Pedro Veriano e Luzia Álvares

nunca assumiram posicionamento ideológico a favor ou contra o

socialismo, entretanto na entrevista Luzia falou largamente,

quando nos explicava porque decidiu graduar-se em Ciências

Sociais, de seu contato e amizade com pessoas politicamente

assumidas de esquerda durante a ditadura.Luzia: “eu gostava muito das discussões em casaporque esse pessoal de esquerda eram muito nossosamigos. Isidoro (Alves), João de Jesus PaesLoureiro, além do Roberto Cortez e RonaldoBarata, (...) Todos eles tinham uma visãoextremamente crítica da sociedade”

Vicente Cecim relata também a liberdade dos debates e a

proximidade com os nomes da esquerda paraense. Após narrar

animadamente o filme “Invasores de Corpos” (Philip Kaufman,

1978), ele contou:Vicente: “Gostava demais desse filme. (…) umdebate começou e eu falei muito sobre o filme,

10 Idem.ANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PASeminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do ParáDessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014

que denunciava a alienação, a opressão total. E oFrancisco Paulo Mendes (...) se levantou e disse:'Nada disso! É uma clara propaganda americanacontra os comunistas, com uma propostaideológica', depois se levantou e foi embora”

Depois disso, segundo ele, a discussão se prolongou

entre os que ficaram e mais tarde ele falou com Francisco

Mendes e explicou melhor seu posicionamento, “era comum a

gente se contrariar, porque o cineclube era sobretudo um

espaço de despertar, de tomada de consciência”.

Destacamos a experiência de Luzia Miranda, no entanto,

para reforçar o papel educacional e formador do cineclube,

dando frutos neste momento de liberdade cerceada que foi a

ditadura no Brasil.

A partir destes relatos escolhemos compreender o grupo

que se reunia no espaço do cineclube como pessoas que

compartilhavam experiências comuns e que apesar de terem se

posicionado de diferentes formas, não eram indivíduos

antagônicos entre si.“Outra característica da memória que a aproximamuito da história é sua capacidade de associarvivências individuais e grupais com vivências nãoexperimentadas diretamente pelos indivíduos (…):são vivências dos outros das quais nosapropriamos tornando-as nossas também (…). Nossasmemórias são formadas de episódios e sensaçõesque vivemos e que outros viveram.” (AMADO, 1995,p. 132)

ANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PASeminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do ParáDessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014

É claro que o regime restringiu mais a liberdade de

opinião e expressão do que a liberdade intelectual, mas

nenhum destes elementos costuma se afastar demais um do

outro. Não é atoa que foram os estudantes do ensino superior

os maiores envolvidos nas cidades com guerrilhas e movimentos

de combate direto à ditadura (D'ARAÚJO, 1994). Como disse

acima Janaína Amado, compartilhar confunde as experiências

dos indivíduos porque as memórias sempre são sociais (AMADO,

1995).

Em vários episódios relatados pelos entrevistados fica

clara a consciência dos militares sobre o grupo que

frequentava o cineclube e o teor de algumas discussões feitas

ali. Pedro Veriano contou em tom de galhofa que constrangeu

algumas vezes representantes da Polícia Federal e

supostamente infiltrados no meio da plateia. Vicente Cecim

também demonstrou subestimar os militares dizendo que “eles

nem sabiam nada sobre cinema”. Felizmente, nada de grave

ocorreu nesses episódios, ninguém foi preso ou foi obrigado a

deixar o país, contudo os relatos sobre a presença de agentes

da polícia confirmam a “ameaça” representada pelo cineclube

da APCC.Luzia: “Eles mandavam sempre alguém para assistiros filmes e a gente sabia, a gente não conheciaquem era (...) numa mostra nós descobrimos umapessoa, que era inclusive namorado de uma amigaminha. Um dia Pedro foi até a Polícia Federal e o

ANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PASeminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do ParáDessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014

encontrou lá (...) tínhamos uma suspeita de que onamoro foi um meio de se aproximar e observarmelhor.”.

A Prof.ª Luzia Miranda nos relatou um caso de

perseguição, que mostra claramente o posicionamento e atuação

do governo militar contra atividade cineclubista da APCC (que

envolvia também os trabalhos de crítica cinematográfica nos

jornais), quando da publicação de uma entrevista com o

presidente do sindicato dos jornalistas (SINJOR) à época,

sobre cinema político. Na ocasião, segundo Luzia, os

policiais montaram um esquema para que ela não pudesse estar

acompanhada sequer de um advogado durante seu depoimento.

Luzia: “em 1974 eu fiz uma entrevista sobrecinema político com o Presidente do sindicato dosJornalistas, João Batista Figueira Marques (eleera de extrema esquerda) e foi publicada. 15 diasdepois fui intimada a comparecer a PolíciaFederal para responder algumas perguntas. Ocoronel responsável disse que a entrevista estavaincurso nas leis de segurança nacional (...) euestava com medo, não me lembro das perguntas.(...) fiquei com medo pois sabia que váriosamigos haviam sido presos. Pensei em deixar ojornal pois passei vários dias sem conseguirescrever.”

Após esses acontecimentos, Luzia não desistiu de seus

trabalhos no cineclube, nem na crítica, completando este ano

42 anos de publicações sobre cinema nos jornais locais. Sua

atuação representa muito bem o caráter da resistência

ANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PASeminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do ParáDessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014

exercida pelos membros do cineclube da APCC. Um movimento com

características crítico-intelectuais que defendia a liberdade

de acesso a qualquer tipo de conhecimento, no caso aqui o

cinematográfico, e totalmente contra qualquer forma de

alienação do contexto sócio-político, como concluiu Vicente

Cecim durante sua entrevista.

Vicente: “O cineclube era um espaço de ver filme, dediscutir filme, sem interferência da ditadura (...)entre a ditadura e a indústria Hollywoodiana, qual apior? Resistíamos passando filmes que eram proibidos(...) exibir cinema de arte, que abre a consciência, aimaginação, a criatividade da pessoa, era umaresistência a alienação, por que houve uma baixa naprodução cultural do país (...) mantínhamos assim umacoisa viva, como se não tivesse uma ditadura.”

A construção dessa resistência se deu de uma maneira

sutil e contribuiu sobremaneira para que os entraves

político, culturais e sociais desse período, de alguma forma,

não se sobressaíssem à capacidade das pessoas de reagirem a

atitudes desumanas, como as praticadas pelos militares

durante a ditadura brasileira. Tudo através do espaço

cineclubista, que reforça a maior das qualidades do homem, a

razão.

Conclusão

Esta pesquisa constitui uma pequena contribuição a pouca

literatura produzida sobre a história do cinema no Pará, com

o objetivo de trazer à tona as histórias de vida desses

personagens importantes da nossa história, através de suasANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PASeminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do ParáDessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014

memórias sobre o período. Esta fonte que é a memória deles

agora se abre a fim lançar luz sobre mais um ponto que o

regime militar obscureceu.

Não lançamos concepções novas sobre clubes de cinema. Só

deduzimos os frutos óbvios da reunião de um grupo interessado

por arte e cultura, que construiu seu nome em meio a um

período onde a cultura e a arte se viram profundamente

censuradas.

Tratamos então do cineclube como espaço de contínua

formação intelectual e social: a linguagem cinematográfica no

centro e a liberdade de debater todas as possíveis questões

levantadas pelo filme. Uma trajetória marcada por esta

experiência alavanca o indivíduo a um nível de crítica sobre

todos os aspectos do mundo ao redor, e mesmo na dimensão

íntima. Não imaginamos alguém que viveu tudo isso fazendo

colocações sem ter a capacidade de sustentá-las, e pensamos

assim após o contato com estes três personagens.

Também pensamos no cineclube como essa reunião com

grande potencial subversivo, e isso porque a própria

discussão sobre linguagem cinematográfica, indústria

cinematográfica, cinema comercial e de arte desperta uma

postura crítica. Depois as várias experiências que

encontramos enquanto pesquisávamos trabalhos acadêmicos sobre

ANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PASeminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do ParáDessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014

o tema demonstraram como a receita do cineclube não varia

muito de resultado.

Portanto, embora nossa pesquisa precedente sobre

cineclube e cineclube na ditadura já nos sugerisse que

encontraríamos em Belém esse perfil de reunião de cinéfilos,

brotaram dos relatos características peculiares de formação e

subversão. Em Belém o único ponto de conformidade do grupo

era o interesse por cinema, além disso, tudo era

heterogeneidade: Pedro Veriano não insiste em nenhum discurso

político, sempre se envolveu profundamente com o cinema;

enquanto Luzia Miranda de maneira acadêmica possui um

interessante histórico de ativismo feminista; já Vicente

Cecim nem gosta do acadêmico, possui uma sensibilidade

artística amplamente reconhecida.

Espera-se que este estudo contribua para o aumento de

pesquisas na área, e que a historiografia que desbrava os

caminhos menos percorridos ganhe destaque, para que não

cometamos o grave erro de esquecer grandes nomes da nossa

história.

Referências bibliográficas e fonográficas:ÁLVAREZ, Luzia Miranda. Entrevista concedida em 20 de out. De

2014. Entrevistadores: Líria N. Sena do Vale e Marcelo daC. Tavares. Belém, 2014.

ANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PASeminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do ParáDessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014

AMADO, Janaína. O grande mentiroso: Tradição, veracidade eimaginação em história oral. São Paulo: História, 14:125-136, 1995.

CARNEIRO, Eva Dayna Felix. Os espectadores: nostas de umcineclube na amazônia. Revista Estudos Amazônicos, vol.VIII, nº 2 (2012), pp. 211-243.

CARR, Edward Hallet. Que é história? Conferencias GeorgeMacaulay Trevelyan proferidas por E. H. Car naUniversidade de Cambridge, Jan-Mar. 1961; Trad. Lúciaa M.A. Rio de Janeiro, paz e terra, 1976.

CECIM, Vicente. Entrevista concedida em 20 de out. De 2014.Entrevistadores: Líria N. Sena do Vale e Marcelo da C.Tavares. Belém, 2014.

D'ARAUJO, Maria C. SOARES, Glaucio Ary Dillon; CASTRO, Celso.Os Anos de chumbo: a memória militar sobre a repressão.Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.

DELGADO, Lucília de Almeida N. História oral - memória,tempo, identidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2° ed.,2010.

GUSMÃO, Milene Silveira. O desenvolvimento do Cinema: algumasconsiderações sobre o papel dos cineclubes para formaçãocultural. Encontro de Estudos Multidisciplinares emCultura, v. 4, 2008.

MATELA, Rose Clair. Cineclubismo: Memórias dos anos dechumbo. Rio de Janeiro: Luminária Academia, 2008.

PINTO, Leonor E. Souza. Cinema brasileiro e censura durante aditadura militar. Disponível em:<http://www.memoriacinebr.com.br/ >. Acesso em 13 denovembro de 2014.

__________. O Cinema Brasileiro face à censura imposta peloregimemilitar no Brasil – 1964/1988, 2006. Disponívelem :<http://www.memoriacinebr.com.br/ >. Acesso em 13 denovembro de 2014

SILVA, Veruska Anacirema Santos da. Cinema e cineclubismocomo processos designificação social. Domínios da Imagem,Londrina, Ano II, N. 4, p. 137-148, maio 2009.

ANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PASeminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do ParáDessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014

VERIANO, Pedro. Entrevista concedida em 20 de out. De 2014.Entrevistadores: Líria N. Sena do Vale e Marcelo da C.Tavares. Belém, 2014.

VERIANO, Pedro. Cinema no Tucupi. Belém: Secult, 1999.__________. Fazendo Fitas. Belém: EDUFPA, 2006.__________ (coord). Crítica de Cinema em Belém. Belém:

Secretaria de Estado de Cultura, Desportos e Turismo,1983.

__________ e ÁLVAREZ, Luzia M. (coord). Cinema Olympia: 100de história social em Belém. Belém: GEPEM, 2012.

ANAIS IV SELCIR (ISSN – XXXX) Campus Guamá –Belém -PASeminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência Universidade Federal do ParáDessilenciando os Golpes!!! 01 a 05 de dezembro de 2014