Livro de Mato Grosso432012111246
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SUMÁRIO
Parte I: Colônia............................................2
Capitulo 1: As bandeiras e o início da colonização de Mato Grosso
..........................................................3
Capitulo 2: Administração das Minas.......................7
Capítulo 3: O abastecimento das Minas....................10
Capítulo 4: Fronteira no Século XVIII....................11
Capítulo 5: Sociedade da Mineração.......................16
Capítulo 6: Transferência da Capital de Vila Bela para Cuiabá 22
Atividades.................................................25
Parte II: Império..........................................34
Capitulo 7: Rusga........................................35
Capitulo 8: Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870).......38
Capítulo 9: A cidade de Cuiabá na segunda metade do século XIX
.........................................................43
Capitulo 10: Quadro econômico de Mato Grosso (1870/1930). 45
Capitulo 11: Transição do Trabalho Escravo para o Trabalho Livre em
Mato Grosso..............................................54
Atividades.................................................59
Parte III: República.......................................67
Capitulo 12: A República em Mato Grosso..................67
Capítulo 13: Movimentos sociais que marcaram o período republicano
em Mato Grosso...........................................72
Capítulo 14: A Coluna Prestes em Mato Grosso.............78
Capítulo 15:Nos trilhos da Modernidade...................79
A Construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. . . .801
Estrada de Ferro Madeira – Mamoré......................81
Trabalhadores da Estrada de Ferro Madeira - Mamoré.....84
Capítulo 16: Comissão Rondon: Construção das Linhas Telegráficas
.........................................................85
Serviço de Proteção ao índio...........................87
A Política do Índio na República.......................88
Expedição Roosevelt- Rondon............................89
Capitulo 17: Era Vargas em Mato Grosso...................90
Governo Provisório de Vargas (1930-1934)...............91
Tanque Novo............................................93
Estado Novo (1937-1945)................................94
A Administração de Julio Müller em Mato Grosso.........96
Marcha para o Oeste....................................96
Expedição Roncador-Xingu...............................98
Capítulo 18: República Populista em Mato Grosso..........99
Capitulo 19: Mato Grosso durante a Ditadura Militar (1964-1985)
........................................................102
Colonização do Norte de Mato Grosso...................102
A Divisão de Mato Grosso..............................105
Capítulo 20: A Nova República em Mato Grosso............107
Atividades................................................113
Referências Bibliográficas................................122
Parte I: Colônia
2
Capitulo 1: As bandeiras e o início da colonização de Mato Grosso
Para abordamos a fase inicial da colonização do Mato Grosso, é
preciso mencionar o processo de colonização do Brasil.
A colonização do Brasil foi um empreendimento da Coroa
Portuguesa e se deu no início do século XVI e esteve inserida nos
moldes do mercantilismo.
A política mercantilista caracterizou o Estado Moderno e teve como
objetivo o fortalecimento do Estado e o enriquecimento da burguesia.
Para alcançar os seus objetivos, a política mercantilista seguiu
alguns princípios básicos:
a base da riqueza de um país era medida pelo acúmulo de metais
preciosos.
cabia ao Estado manter uma balança comercial favorável, isto é, as
exportações deveriam ser maior que as importações.
o protecionismo aos produtos nacionais evitando desta maneira que
mercadorias semelhantes ou iguais entrassem no país.
o estabelecimento de colônias para a produção de matérias-primas
baratas, assim como a exploração das riquezas minerais ajudariam a
suprir as necessidades básicas das metrópoles.
o pacto colonial que estabeleceu que as colônias somente podiam
comercializar com as suas metrópoles e a criação de Companhias de
Comércio que garantiam o monopólio do sistema colonial.
Assim os estados europeus, que adotaram o mercantilismo tinha
como preocupação resguardar às suas colônias dos demais países, e
por isso se empenharam em cuidar diretamente da administração,
impondo a colônia uma pesada cobrança de impostos. Entretanto a3
medula do sistema colonial, residia no pacto colonial. È no pacto
colonial que está a exploração mercantil, que a colonização
incorporou da expansão comercial, da qual foi um desdobramento.1
Nos primeiros trinta anos do “descobrimento”, Portugal não se
empenhou em implantar um sistema administrativo no Brasil, uma vez
que o seu interesse maior era o comércio das especiarias no
Oriente. Nos primeiros anos da “descoberta”, o governo português
preocupava-se somente em enviar expedições de reconhecimento e
explorar o pau-brasil existente na Mata Atlântica.
A política portuguesa com relação ao Brasil mudou somente a
partir de 1530, quando inicia-se de forma efetiva a colonização.
Essa mudança de postura ocorreu devido aos ataques de
contrabandistas franceses no litoral brasileiro e pelo
enfraquecimento do comércio de especiarias.
Assim seguindo as determinações de Dom João III, rei de
Portugal, a expedição de Martim Afonso de Sousa chegou ao Brasil
em 1530. Essa expedição visava expulsar os franceses do litoral,
observar as características geográficas da nova terra e fundar
povoamentos.
Para iniciar a colonização foi implantando na colônia o sistema
de Capitanias Hereditárias, isto é, o governo português dividiu as
terras e resolveu doá-las para elementos da nobreza. Desta forma,
o governo português estava transferindo o custo da colonização aos
particulares.
1 Novaes, Fernando. O Brasil nos moldes do Antigo sistema colonial. In:Brasil em Perspectiva, p19.
4
Concomitantemente a implantação das Capitanias Hereditárias, a
metrópole decidiu escolher a cana-de-açúcar como produto econômico
para promover o projeto colonizador.
A opção pela cana-de-açúcar explica-se pela experiência de
Portugal no cultivo deste produto, nas suas colônias africanas,
isto é, Açores, Cabo Verde e Madeira. Outro fator importante foi a
vastidão de terras, as condições climáticas e geográficas (solo
massapé), assim como a existência de um mercado consumidor na
Europa.
O plantio da cana-de-açúcar e a produção de seus derivados se
deu inicialmente em São Vicente, e posteriormente na região
nordeste, porém a Capitania do Pernambuco foi a principal
produtora.
A produção do açúcar ocorreu através do sistema de plantation:
produção agrícola baseada no latifúndio (grande propriedade de
terra), monocultura ( somente produção de açúcar), com mão-de-obra
escrava e voltada para atender o mercado externo.
O sucesso deste empreendimento econômico se deu também pela
participação dos holandeses, que financiavam a produção. A
maquinaria para os engenhos, instrumentos de trabalho e aquisição
de escravos africanos eram financiados pelos holandeses, que em
troca receberam o monopólio do refino e da distribuição do açúcar
no mercado europeu.
Enquanto o açúcar representava a riqueza das capitanias do
nordeste, a Capitania de São Vicente não obteve com este produto o
mesmo sucesso, pois a sua produção não podia concorrer com a
capitania do Pernambuco e da Bahia, pois a capitania de São
Vicente era distante dos mercados europeus e o solo dessa região5
era imprópria para a agricultura. Portanto, esses fatores
acarretaram na decadência do açúcar em São Vicente.
Com a decadência açucareira, São Vicente tentou ainda
desenvolver uma agricultura de subsistência cultivando arroz,
feijão e milho.
A população de São Vicente diante da pobreza resolveu investir
em outros empreendimentos para superar a crise econômica,
entretanto, tudo foi em vão. Assim diante destas circunstâncias, o
homem do planalto vicentino buscou nas bandeiras a saída para a
sua crise.
Na tentativa de superar a crise econômica que abatia a
capitania, as bandeirantes enfrentaram os perigos, as incertezas
do sertão para aprisionar índios, que eram conduzidos para o
planalto paulista para serem usados como mão-de-obra. Assim muitos
jovens da Capitania partiam para o interior da colônia em busca de
cativos e para montar as suas expedições recebiam ajuda financeira
dos pais ou do sogro, que financiam as expedições pensando em
aumentar os seus lucros. Essas expedições contavam com a presença
de sertanistas, que conduziam os jovens na viagem. Portanto, nem
todos os paulistas eram bandeirantes por vocação.2
As bandeiras consistiam em grupos de homens que saiam
organizados em expedições particulares com o objetivo de penetrar
pelos sertões a procura de, índios para o cativeiro, de negros
foragidos da escravidão e posteriormente à procura de metais
preciosos.
2 Monteiro, John Manuel. Negros da Terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo, p.86-87.
6
As bandeiras eram organizadas militarmente, sendo compostas de
centenas de homens. Além dos paulistas, muitas bandeiras eram
compostas de estrangeiros, desertores e fugitivos da justiça.
Para adentrarem no sertão, os bandeirantes usavam principalmente
os caminhos fluviais. Ao atravessarem os rios, enfrentavam vários
obstáculos como cachoeiras, corredeiras e saltos. Para sanar essas
dificuldades, optavam muitas vezes em continuar a viagem à pé. Por
isso era comum, os bandeirantes transportar barcos e canoas por
terra.3
Os bandeirantes, logo perceberam que para superar as
dificuldades precisavam domar a natureza, e para isso buscaram o
saber indígena. Aliás, a presença de índios nas expedições foi
fundamental, pois eram utilizados como guias, batedores, coletores
de alimentos ou guarda-costa da expedição.4
Cabia aos índios guiarem os paulistas pelos rios, carregar as
mercadorias, procurar nas matas os frutos silvestres, as raízes,
lagartos e cobras para saciar a fome dos bandeirantes. Nas viagens
mais longas, os bandeirantes estabeleciam pequenos arraias e roças
para abastecer os sertanistas. Nestas expedições, “as vezes, alguns
índios eram despachados com antecedência para plantar os alimentos que serviriam
para sustentar o corpo principal da expedição e os cativos na viagem de regresso.5
Muitas destas roças acabaram dando origem a povoações no interior
do Brasil, a exemplo disso temos em Mato Grosso; o Arraial de São
Gonçalo.
3 Chiavenato, Julio. Bandeirismo: Dominação e Violência, p.76.4 Priore, Mary. O Livro de Ouro da Historia do Brasil, p.87.5 Monteiro, John Manuel, Negros da Terra: índios e bandeirantes na origem de São Paulo, p.90
7
No decorrer da viagem ao ficarem doentes, os bandeirantes
buscavam principalmente na medicina indígena o tratamento adequado
para curar os seus males. Não estamos afirmando com isso que
desprezavam a sua medicina, pois traziam também em sua bagagens
maletas com poções e bisturis para a prática da sangria.
Para o confronto com os índios que resistiam a sua dominação, os
paulistas utilizavam arcos e as flechas, lanças, facões, machados,
mas não dispensavam o uso das armas de fogo como a espingarda e a
carabina.
Desta maneira, podemos verificar que para alcançar os seus
objetivos e enfrentar as dificuldades impostas pelo cotidiano, os
bandeirantes dominaram os índios, destruíram aldeias inteiras e
ainda se apropriaram do seu conhecimento.
As bandeiras e a conquista do sertão mato-grossense
Em 1674, a bandeira de Fernão Dias Falcão encontrou em Minas
Gerais uma pequena quantidade de ouro, e em 1694, Bartolomeu Bueno
da Silva descobriu jazidas de auríferas na Serra de Itaberaba. A
descobertas destas minas correram pela colônia, chegou a Portugal,
atraindo muitos aventureiros a região.
A chegada desses aventureiros causou um descontentamento nos
paulistas, que passaram a chamar pejorativamente os forasteiros de
“emboabas”. Tal atitude e a ganância pelo ouro acabou provocando
um conflito entre os paulistas e os portugueses que vieram em
busca do ouro em Minas Gerais; a Guerra dos Emboabas.
Nesse embate, os portugueses foram vitoriosos e após o
conflito, o governo português passou a controlar as minas. Os8
paulistas diante da derrota resolveram continuar as suas incursões
pelo interior.
Foi nesse contexto histórico que se deu a chegada dos paulistas
ao atual Estado de Mato Grosso.
Inicialmente, os paulistas chegaram a essa região com a intenção
de buscar índios para a escravidão. Apesar da legislação
portuguesa combater à escravização do índio, o comércio de negros
da terra (índios) era bastante freqüente.
Os paulistas ao entrarem em Mato Grosso, logo perceberam que na
região habitavam muitas tribos índigenas, como os Coxiponé,
Beripoconé, Bororo, Paresi , Caiapó, Guicuru, Paiaguá e muito
outros grupos.
Assim muitos paulistas penetraram por estes sertões interessados
na captura destes índios. No entanto, foi com a bandeira de
Pascoal Moreira Cabral, que os interesses dos paulistas e de
Portugal cresceriam por esse território.
Em 1718, o bandeirante Antônio Pires de Campos chegou a região
do Coxipó-Mirim para aprisionar o índio Coxiponé para levá-lo para
São Paulo. No ano seguinte, a bandeira de Pascoal Moreira Cabral
avançou pó essa região à procura do índio coxiponé, e acabou
encontrando ouro. Segundo o cronista Barbosa de Sá, os homens da
bandeira ao lavarem os seus pratos no rio Coxipó acabaram
encontrando o ouro por acaso.
A presença da bandeira de Pascoal Moreira Cabral naquele local
incomodou os indios aripoconé, que acabaram atacando os paulistas.
A sorte destes bandeirantes foi que neste instante, a bandeira dos
Irmãos Antunes chegou e prestou socorro a Pascoal Moreira Cabral e
os seus homens..9
Após o combate com os índigenas, os bandeirantes fundaram o
Arraial da Forquilha, que recebeu esse nome por estar localizado
na confluência dos rios Coxipó, Peixe e Mutuca. Assim a expedição
de Pascoal Moreira Cabral deu início a colonização da região.
Em 1722, o paulista Miguel Sutil chegou a região com o propósito
de fazer uma visita a sua roça. O bandeirante pediu aos dois
índios que estavam em sua companhia que fossem buscar mel. Aliás,
como já mencionamos anteriormente, o mel, as frutas silvestres e
as raízes eram usados na alimentação dos bandeirantes, e encontrá-
las era uma das tarefas dos sílvicolas.
Os índios de Miguel Sutil retornaram somente ao anoitecer e ao
serem admoestados pelo bandeirante, “o mais ladino respondeu-lhe:
vos viestes buscar ouro ou a buscar mel”.6 A seguir, os índios
colocaram na mão de Miguel Sutil o ouro encontrado.
Na madrugada, o paulista colocou os gentios para mostrar o lugar
no qual haviam encontrado o ouro. Este achado estava nas
proximidades do córrego da Prainha, e passou a ser denominado de
“Lavras do Sutil”. Havia tanto ouro nessas minas, que as Lavras do
Sutil foram consideradas como “a maior mancha que teria se
encontrado no Brasil”.7
A notícia da descoberta chegou ao Arraial da Forquilha, levando
muitas pessoas a migrarem para as “Lavras do Sutil”. Assim teria
início o povoamento às margens do córrego da Prainha dando origem
a atual cidade de Cuiabá.
6 Correa Filho, Virgílio.História de Mato Grosso, p.206.7 Idem, p.207.
10
Capitulo 2: Administração das Minas
Nas narrativas dos primeiros portugueses que aportaram no Brasil
é bastante evidente o sonho de encontrar metais preciosos.
Assim a notícia do descobrimento de ouro e prata pelos espanhóis
no Potosí, aguçou mais ainda o desejo do governo metropolitano em
descobrir ouro e prata na sua colônia. Com isso, Portugal preparou
expedições para penetrar em direção ao interior.
Essas expedições deveriam reconhecer as potencialidades
econômicas da terra brasileira, e ainda verificar se havia no
interior a existência de minerais.
Naquele período o desejo pelas riquezas minerais povoou o
imaginário dos europeus, que acreditavam na existência no interior
da América de “uma montanha de Prata” de um “reino branco” em um
país mítico denominado de Paitati. Ainda acreditavam na existência
de uma serra resplandecente de prata e esmeraldas que ficava nas
cabeceiras do rio São Francisco.8
Apesar de todo o interesse na busca dos metais preciosos, as
expedições oficiais fracassaram e foi somente ao final do século
XVII, que apareceram as primeiras notícias de um descobrimento de
ouro significativo na região das Gerais.
A descoberta destas minas acarretou em um intenso fluxo
migratório para aquela região. Segundo as estimativas do período,
“em 1776, a população de Minas Gerais, excluindo os índios, superava a 300 mil almas
o que representava 20% da população total da América Portuguesa e o maior
aglomerado da colônia.” 9
8 Vilela, Jovam.. O Antemural de todo o interior do Brasil:a fronteira possível. In: Territórios e Fronteiras. P.79.9 Maxwell, Kenneth, Silva, Maria Beatriz. O Império luso-brasileiro, p.16.
11
Além desse processo migratório para o interior da colônia, o
governo português criou um aparato administrativo que visava
fiscalizar as minas evitando o contrabando.
Em 1707, para garantir o recolhimento dos impostos, o governo
metropolitano promulgou o Regimento das Minas. Esse regimento foi
responsável pela criação de uma instituição fiscalizadora, a
Intendência das Minas.
A Intendência das Minas deveria julgar todas as questões
surgidas entre os mineradores, assim como fazer a distribuição das
datas (lotes para o minerador explorar).
A legislação portuguesa estabeleceu também que a quinta parte
(20%) do ouro extraído nas minas pertencia a Portugal. Entretanto
a sede pelo ouro e a ganância de Portugal levou a metrópole a
implantar nas minas outros impostos, como por exemplo, a capitação
e a derrama.
Em Mato Grosso, veremos que a história não seria diferente...
Com a descoberta do ouro no rio Coxipó-Mirim formou-se neste
local um núcleo populacional; o Arraial da Forquilha.
A população do arraial era composta pelos integrantes da
bandeira dos irmãos Antunes e da bandeira de Pascoal Moreira
Cabral, que após vencerem a resistência dos índios fundaram o
arraial celebrando uma missa em oferenda a Nossa Senhora da Penha
de França e lavraram a Ata de Fundação,
Aos oito dias do mês de abril da era de mil setecentos e dezenove anos, neste arraial
de Cuiabá, fez junta o Capitão-Mor Pascoal Moreira Cabral com seus companheiros e ele
requereu a eles este termo de certidão para a notícia do descobrimento novo que
achamos no ribeirão do Coxipó, invocação de Nossa Senhora da Penha de França, depois12
que foi enviado, o Capitão Antônio Antunes com as amostras do ouro que levou do ouro
aos Senhor General. Com a petição do dito Capitão-Mor, fez a primeira entrada aonde
assistiu um dia e achou pinta de vintém e de dois e de quatro vinténs a meia pataca, e a
mesma pinta fez na segunda entrada em que assistiu, sete dias, ele e todos os seus
companheiros às suas custas com grandes perdas e riscos em serviço de Sua Real
Majestade. E como de feito tem perdido oito homens brancos, negros e que para que a
todo tempo vá isto a notícia de sua Real Majestade e seus governos para não perderem
seus direitos e, por assim, por ser verdade, nós assinamos todos neste termo o qual eu
passei e fielmente a fé do meu ofício como escrivão deste arraial. Pascoal Moreira Cabral,
Simão Rodrigues Moreira, Manoel dos Santos Coimbra, Manoel Garcia Velho, Baltazar
Ribeiro Navarro, Manoel Pedroso Louzano, João de Anhaia Lemos, Francisco de Sequeira,
Asenço Fernandes, Diogo Domingues, Manoel Ferreira, Antonio Ribeiro, Alberto Velho
Moreira, João Moreira, Manoel Ferreira Mendonça, Antonio Garcia Velho, Pedro de
Godois, José Fernandes,Antônio Moreira, José Paes Silva. 10
Coube aos irmãos Antunes levar a notícia da descoberta do ouro à
Capitania de São Paulo informando ao governador, Pedro de Almeida
Portugal sobre o ocorrido.
Nesse ínterim, a população do arraial da Forquilha elegeu
Pascoal Moreira Cabral como Guarda-Mor Regente. Um dos atributos
de Pascoal Moreira Cabral seria a de defender o arraial de
invasões. Entretanto a eleição deste bandeirante contrariava o
pacto colonial, uma vez que este estabelecia que a colônia estava
subordinada a metrópole. Assim competia a metrópole tomar as
decisões administrativas.
Desta forma, o governo português não confirmou a nomeação de
Pascoal Moreira Cabral, e em 1724, nomeou como Capitão-Mor Fernão10 Sá, Barboza, p.18
13
Dias Falcão e para o cargo de Superintendente Geral das Minas,
João Antunes Maciel.
Pascoal Moreira Cabral ficou extremamente insatisfeito com a
decisão do governo metropolitano, e por isso solicitou novamente
ao rei a confirmação da sua função administrativa. Em
correspondência enviada a Portugal, o bandeirante alegou “por seis
anos nestes sertões, ocupado no serviço real serviço de Vossa Majestade, trazendo em
minha companhia 56 homens brancos, fora escravos e servos, sustentando-os a minha
custa” e ainda acrescentou que “perdera um filho e quinze homens brancos e
alguns escravos e achava-se destituídos de cabedais e com família de mulher e duas
filhas e filho, peço a Vossa Majestade ponha os olhos os neste seu leal vassalo como for
servido”. 11 Apesar de todas as considerações tecidas pelo bandeirante
paulista, o governo metropolitano confirmou a nomeação de Fernão
Dias Falcão.
A nomeação de Fernão Dias Falcão e de João Antunes Maciel
diminuiu o poder local, criando condições para que o governador de
São Paulo, Rodrigo César de Menezes, desenvolvesse nas minas de
Cuiabá, uma rígida tributação e fiscalização evitando o
contrabando do ouro.
Entretanto, Rodrigo César de Menezes sabia da forte influência
dos Irmãos Lemes nas minas. Assim com o propósito de combater o
poder dos Lemes, Rodrigo César de Menezes ofereceu a estes um
importante cargo administrativo. Os Lemes rejeitaram o cargo e o
governador de São Paulo encontrou como saída, o confronto armado.
As tropas do governador preparam uma emboscada para os Lemes, e
estes foram executados. Concomitantemente a morte dos Lemes,
falecia em Cuiabá Pascoal Moreira Cabral. Desta forma, Rodrigo11 Correa Filho, Virgilio, Historia de Mato Grosso, p.208.
14
César de Menezes aniquilou definitivamente o poder local e tomou a
decisão mudar para Cuiabá (1726).
A mudança de Rodrigo César de Menezes consistia na verdade em
uma das suas estratégias proceder a fiscalização e a tributação
das minas.
Em 1727, o Governador elevou o arraial de Cuiabá a categoria de
Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá. Com essa decisão, o
governador anunciou:
(...) se faça uma povoação grande na melhor parte que houver (...) aonde haja água e
lenha (...): e o melhor meio de se adiantar na dita povoação o numero de moradores é
estes que fazem as suas casas (...). E como (...) nas ditas Minas há telha e barro capaz
para ela, deve animar e persuadir aos mineiros e mais pessoas que fizerem as suas casas,
as façam logo de telha, porque al~em de serem mais graves, são também mais limpas e
tem melhor duração (...).12
Assim a pequena vila começou a crescer, seguindo às margens do
córrego da Prainha, subindo e descendo morros e encostas. Seguindo
as jazidas, principalmente à margem esquerda do córrego, iniciava-
se as construções de moradias e também nas proximidades desta
margem, localizava-se uma esplanada na qual foi edificada a Igreja
da Matriz. Em 1730, o Ouvidor Geral e Corregedor deu início as
obras da cadeia.13
12 Registro do Regimento que levou para as novas minas do Cuiabá o Mestre de Campo Regente, São Paulo, 26-10-1723. Apud:Rosa, Carlos, Jesus, Nauk, A Terra da Conquista, p.15.13 Freire, Julio Delamônica. Por uma poética popular da arquitetura, p. 39-40.
15
Inserir imagem da Igreja da Matriz
Com a elevação de Cuiabá a categoria de “vila” foi criado o
Senado da Câmara ( Câmara Municipal). Foram eleitos os primeiros
vereadores, escolhidos entre os elementos da elite local, isto é,
proprietários de terras de minas e de escravos.
Também foi implantado um sistema rigoroso de cobrança dos
impostos, destacando dentre eles o quinto.
A taxação exagerada de impostos associada as técnicas
rudimentares da extração do ouro levaram a exaustão das minas, e
conseqüentemente a migração da população para outras regiões, e a
descoberta de novas minas. Foi neste período, que em 1734, os
Irmãos Paes de Barros descobriram ouro na região do Guaporé.
Com a decadência aurífera muitos prefeririam retornar a São
Paulo, outros partiram para Goiás, pois em 1725, Bartolomeu Bueno
(Anhanguera), descobriu ouro às margens do rio Vermelho em Goiás.
Capítulo 3: O abastecimento das Minas
O interesse pelo ouro atraiu muitas pessoas as minas de Cuiabá e
também levou o governo metropolitano a criar mecanismo de controle e
exploração das minas.
O abastecimento das Minas se deu principalmente através das
Monções.
As monções eram expedições que partiam da Capitania de São
Paulo trazendo as Minas de Cuiabá vários produtos como, alimentos,
remédios, produtos de luxo, ferramentas de trabalho, escravos, dentre16
outros. Traziam também as autoridades governamentais, aventureiros e
elementos do clero.
As monções para chegar a Cuiabá seguiam os caminhos fluviais,
partiam do rio Tietê até chegar ao Porto Geral (Cuiabá). A viagem
durava aproximadamente seis meses e ao atingir a região do Pantanal
podiam enfrentar sérios problemas, isto é, o ataque dos espanhóis ou
dos índios que habitavam aquela região. As canoas utilizadas para o
trajeto eram esculpidas no interior de um tronco de árvore e eram
guiadas por pilotos que possuíam muita prática.
Inicialmente as primeiras monções adotaram como itinerário a
seguinte rota: rio Tietê, rio Grande, rio Anhanduí, rio Pardo,
travessia por terra nos campos das vacarias, e continuavam a viagem
pelos rios, seguindo pelo rio Meteteu, rio Paraguai e o rio Cuiabá.14
Esse trajeto posteriormente foi abandonado devido as suas
dificuldades, pois ao atravessar o campo das vacarias, os homens da
expedição tinham que carregar as mercadorias, as canoas e ainda
corriam o risco de enfrentar os espanhóis, que estavam nas
proximidades explorando a prata da região.
Logo os monçoeiros adotaram uma nova rota, então a viagem
tornou-se totalmente fluvial, entretanto novas dificuldades surgiram
como o ataque dos índios caiapós, guaicurus e paiaguás.
Os caiápos nas proximidades de Camaquã atacavam as expedições
“com seus temidos porretes, atacavam mortalmente os passageiros das monções”.15 Por
outro lado, os indios paiaguás e os guaicurus chegaram a se aliar
para atacar as monções que vinham para Cuiabá. Entretanto, os mais
temíveis eram os paiaguás.
14 Siqueira, Elizabeth Madureira. O Processo Histórico de Mato Grosso, p. 13. 15 Costa, Maria de Fátima, História de um país inexistente, p.182.
17
O medo de um ataque dos índios paiaguá não era infundado, pois
em 1730, estes índios atacaram a “expedição do ouvidor Antônio Alves Lanhas, na
qual morreu cento e oito pessoas entre elas o ouvidor.”16 Segundo Rolim de Moura,
ao relatar a sua viagem à Mato Grosso, os índios paiaguás tinham como
armas arco, flecha e também lanças pequenas com pontas de ferro. Seus
ataques aconteciam nos rios, em canoas e eram muitos cautelosos para
atacar. Primeiramente observavam as vítimas e somente depois
efetuavam o ataque.17
Em decorrência a todas essas dificuldades, os produtos
comercializados pelos monçoeiros eram vendidos em Cuiabá a um preço
exorbitante, o que acabou gerando um processo inflacionário nas
minas.
Além das monções fluviais havia as monções terrestres, que
abasteciam a região de gado. Desde os meados do 1730, os caminhos
terrestres que ligavam Cuiabá as minas de Goiás já eram usados. Era
através deste caminho, que Mato Grosso recebia o gado.
Embora Cuiabá fosse margeado pelos rios Cuiabá e Coxipó,
abundantes em peixes, cronistas como Barbosa de Sá, narraram que os
habitantes da vila tinham muito apreço pela carne.
Assim durante o período colonial tivemos em Mato Grosso o
desenvolvimento de uma pecuária voltada para o abastecimento interno,
de baixa produtividade, na qual o gado era criado solto pelo pasto.
No século XVIII, a fazenda que mais se destacou na criação do gado
foi a Fazenda Jacobina, em Cáceres.
Além das monções, o abastecimento das minas se deu também
através do desenvolvimento de uma agricultura de subsistência.
16 Idem, p.184.17 Ibidem, p.195.
18
O cultivo da terra não foi uma tarefa fácil para o colonizador,
pois teve que enfrentar muitas dificuldades como o aparecimento de
uma terrível praga de ratos que devoraram as plantações e os paios
aonde havia grãos armazenados.18
A agricultura de subsistência visava abastecer as minas e se
desenvolveu em núcleos populacionais situados nas proximidades de
Cuiabá, como por exemplo, Serra Acima (Chapada) e Rio Abaixo (Santo
Antônio do Leverger ).
Nessas localidades eram produzidos arroz, feijão, milho,
mandioca, entretanto, a cana- de- açúcar foi o produto mais
significativo para a população.
O governo metropolitano tinha como atrativo somente o ouro, e
por isso proibiu a instalação de engenhos na região. Porém a
determinação não foi obedecida, pois a cana-de-açúcar dava aos
habitantes o açúcar, que produz energia para o trabalho, o melado que
combate a anemia, que vitimava a população, e a cachaça que era usada
como uma maneira de mitigar o sofrimento da vida dura no sertão.
Assim às margens do rio Cuiabá e em Serra Acima surgiram os nossos
primeiros engenhos.
Capítulo 4: Fronteira no Século XVIII
A partir do século XVII, o governo português teve o seu
território ampliado na América. Portugal tinha a pretensão de
estender os seus domínios até a Cordilheira dos Andes.19
18 Correa Filho, Históoria de Mato Grosso, p.210.
19 Vilela, Jovam da Silva, O Antemural de todo o interior do Brasil:- A fronteira possivel, p.//??
19
A conquista do território se deu através da pecuária, das
missões jesuíticas e das bandeiras.
A pecuária impulsionou a ocupação do sertão nordestino, pois
muitas fazendas voltadas para a criação do gado surgiram ao longo
do rio São Francisco.
No tocante aos jesuítas, estes chegaram a colônia com o objetivo
de expandir a fé católica e para isso assumiram a missão de cuidar
da catequese do índio e da educação. Interessados na conversão do
índio adentraram para o interior instalando as suas missões ou
reduções no Vale Amazônico e na região sul.
No vale amazônico, os jesuítas através do trabalho do índio
coletavam drogas do sertão, isto é, cravo, canela, cacau, guaraná
e as ervas medicinais. Esses produtos eram comercializados no
mercado europeu por preços elevadíssimos, pois eram considerados
como especiarias.
As missões ao sul da colônia foram idealizadas por Anchieta, que
encaminhou aquela região vários inacianos com a intenção de encontrar
nativos e território para instalar as aldeias. Mais ao sul, perto da
foz do Piquiri, no Paraná, e na margem do rio Ivai com Villa-Rica-
del-Guairá, os jesuítas espanhóis também fundaram as suas missões em
1544.20
Além da pecuária e das missões, as bandeiras foram fundamentais
para ampliação do território português.
As razias dos bandeirantes se deram principalmente no período da
União Ibérica(1580-1640). Os bandeirantes penetraram para o interior
a procura dos gentios, para a escravidão.
20 Idem, p.82.
20
Em 1632, uma bandeira paulista invadiu as missões espanholas em
São José, Angeles, São Pedro e São Paulo. Assim a escravidão indígena
era o motivo do atrito entre os bandeirantes e os jesuítas. Os
bandeirantes a procura do silvícola ultrapassarem a linha
demarcatória estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas, adentrando no
território espanhol..
Como já mencionamos anteriormente, os bandeirantes ao entrarem
pelos “sertões” acabaram encontrando o ouro. O ouro acabou atraiu ao
interior da colônia muitas pessoas que sonhavam em enriquecer. Essa
onda migratória acabou provocando o surgimento de arraias e vilas no
interior do país.
Foi nesse quadro, que se deu a ocupação de Mato Grosso.
Entretanto, apesar da descoberta de ricas jazidas auríferas, as minas
de Cuiabá entraram em decadência na primeira metade do século XVIII.
Com a exaustão das minas de Cuiabá, a população começou a migrar
para outras regiões da colônia. A noticia desta migração preocupou o
governo português, pois a fixação da população era fundamental para
garantir a posse do território, que de acordo com as disposições do
Tratado de Tordesilhas pertencia aos espanhóis. Assim pensando em
garantir a posse do interior da Colônia, Portugal passou a
desenvolver uma política voltada para a proteção da fronteira.
Uma das primeiras decisões do governo português para assegurar a
posse deste vasto território foi o desmembramento de Mato Grosso da
Capitania de São Paulo. Desta maneira, em 1748, D.João V decidiu
criar a Capitania de Mato Grosso e para governá-la, o rei nomeou como
seu primeiro Capitão-General Antônio Rolim de Moura.
21
Em 1750, as disputas territoriais entre os portugueses e
espanhóis, foram decididas pelo Tratado de Madri.
A defesa dos interesses portugueses ficou a cargo de Alexandre
de Gusmão, que através do “uti possedetis” garantiu a Portugal o domínio
da Bacia Amazônica e da região oeste do Brasil. O princípio do“uti
possedetis” afirmava que a terra pertencia a quem a coloniza.
Portanto, Alexandre de Gusmão usando deste aparato jurídico,
argumentou que o território em disputa pertencia a Coroa portuguesa,
pois foram os portugueses que fundaram as vilas e arraiais, e
conseqüentemente povoaram o interior do Brasil.
Ainda segundo o Tratado de Madri, os portugueses concordaram, em troca
do reconhecimento pela Espanha das fronteiras fluviais ocidentais do Brasil, em renunciar ao
controle da Colônia de Sacramento e das terras imediatamente ao norte, no estuário do
Prata, um objetivo que os espanhóis havia muito aspiravam alcançar pela força. (...) O
tratado determinava a evacuação dos jesuítas e dos índios convertidos das missões
uruguaias e exigia uma inspeção apurada no local da linha de demarcação entre as
Américas espanhola e portuguesa por duas comissões associadas.”21
Com o Tratado de Madri, Gusmão garantiu a posse do território
para Portugal e deu ao Brasil praticamente a sua configuração atual.
Após as decisões tomadas pelo Tratado de Madri, o governo
metropolitano se empenhou em efetivar o uti possedetis, e resolveu
construir na região do Guaporé, a primeira capital de Mato Grosso
Vila Bela da Santíssima Trindade.
Através da construção e povoamento da capital, Portugal visava
assegurar a posse de todo o interior de sua colônia. Esses medida
relacionava-se aos imperativos da política colonial espanhola, que21 Maxwell, Kenneth, Marques de Pombal: Paradoxo do Iluminismo, p.53.
22
pretendia estender os seus domínios a leste e se possível dominar
Cuiabá e Mato Grosso.22
Vila Bela da Santíssima Trindade
Antonio Rolim de Moura, capitão-general da Capitania de Mato
Grosso, recebeu a instrução do governo português de edificar a
capital de Mato Grosso. Segundo a determinação real, a capital seria
construída na região oeste, ás margens do Guaporé e em um lugar
saudável.
Lembremos que região do Guaporé foi ocupada desde 1732, quando
os irmãos Paes de Barros trilharam a região a procura de índios para
o aprisionamento. E foi em busca dos índios pareci, que esses
bandeirantes descobriram as minas de Mato Grosso.23
A descoberta do ouro promoveu o surgimento na região de
povoações como São Francisco Xavier e Santana, mas havia também
moradores ás margens do rio Jauru, do rio Galera e do Guaporé.
Logo, construir a capital nesta região era extremamente
interessante para Portugal, uma vez que, Vila Bela da Santíssima
Trindade seria a base do domínio português e além disso consistia em
uma nova jazida aurífera.24
Rolim de Moura procurou seguir as diretrizes do governo
metropolitano, entretanto, cometeu um erro construiu a capital em
22 Volpato, Luiza Rios Ricci, A Conquista da Terra no universo da pobreza, p.38.23 Esse região recebeu esse nome, pois os irmãos Paes de Barros encontraram dificuldade para penetrá-la, devido a presença de densas florestas, com arvores corpulentas e galhos muito altos. Tal fato levou a região ser denominada de Mato Grosso. 24 Bandeira, Maria de Lourdes, Território Negro em espaço Branco, p. 82.
23
terras baixas e paludosas, sujeitas a freqüentes imundações; uma
região marcada pela insalubridade.
A população de Vila Bela seria constantemente acometida por
várias enfermidades. Essa característica acabou influenciando o
imaginário do colonizador, que passou a ter a visão de Mato Grosso
como um grande hospital. Desta maneira, Mato Grosso passou a ser
apontado pelas autoridades médicas, pelos viajantes e cronistas como
um lugar nocivo a saúde.25
Para a construção da capital vieram da Capitania de São Paulo
artífices, ferreiros e oficiais, contudo foram os negros os maiores
responsáveis pela sua edificação.
Ainda com relação a construção da capital, o médico-viajante
Alexandre Rodrigues Ferreira, à serviço da metrópole, em viagem
científica, visitou Vila Bela entre 1789-1791. Na sua narrativa, o
viajante afirmou que a capital possuía um traçado irregular, tinha
ruas retas e estreitas, sem calçamento, onde podia se ver os porcos
prazerosamente chafurdarem na lama. Com relação, as casas mencionou
que térreas, as paredes de adobe, aterradas ou com ladrilhos de
tijolo, que eram escuras e tristes.26
Rolim de Moura se empenhou também em desenvolver uma política de
povoamento e militarização da região. Para alcançar os seus
objetivos, o capitão-general estabeleceu:
isenção de imposto e perdão temporários das dívidas.
criou a Companhia dos Dragões visando a militarização da
fronteira e a disciplinarização da população.
25 Cavalcante, Else, O quadro saniáario da Província de Mato Grosso, p.49.26 Oliveira,Edevamilton, A Povoação Regular de Casalvasco e a Fronteira Oeste do Brasil Colonial: 1783-1802, p.116.
24
fixou um marco divisor na barra do rio Jauru. ( Marco do
Jauru)
fundou a Aldeia jesuítica de Santa Anna (1751).
Abastecimento de Vila Bela da Santíssima Trindade
Com a finalidade de abastecer a capital, o governo português
criou em 1755, a Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão. Essa
companhia tinha o monopólio do comércio em Vila Bela. A Companhia de
Comercio foi criada pelo Marques de Pombal, ministro do rei D.José I.
De acordo com o ministro, a Companhia de Comércio do Grão Pará e
Maranhão “era o único modo de retirar o comércio de toda a América portuguesa das mãos
dos estrangeiros27”.
Para atingir vila Bela da Santíssima Trindade,, as embarcações
da Companhia de Comercio do Grão- Pará e Maranhão usavam o Porto de
Belém. Ao partirem de Belém, as embarcações da companhia navegavam
pelas águas dos rios amazonas, Madeira e Mamoré. Traziam produtos de
luxo, ferramentas de trabalho e alimentos. A empresa era importadora
de produtos oriundos do mar do Norte, do Báltico e do Mediterrâneo.28
Porém a principal mercadoria comercializada pela empresa eram os
escravos. Ao regressarem ao porto de Belém, a empresa levava o ouro
produzido em Vila Bela.
Com a decadência das minas de ouro do Guaporé, a Companhia de
Comércio do Grão- Pará e Maranhão parou de abastecer o Mato Grosso.
Além das mercadorias comercializadas pela Companhia de Comércio,
o abastecimento de Vila Bela da Santíssima Trindade se dava também
27 Maxwell, Kenneth, Marquês de Pombal: O Paradoxo do iluminismo, p.61.28 Volpato, Luiza Rios Ricci, A conquista da Terra no universo da pobreza, p. 59.
25
através de uma agricultura de subsistência, na qual eram cultivados
como produtos agrícolas o milho e o feijão. Porém, as atividades
agrícolas não foram capazes de atendem as necessidades básicas da
população.
A escassez de alimentos era provocada pelas pragas, insetos ou
mesmo pelo excesso das chuvas ou das cheias dos rios que acabaram
provocando a fome e a subnutrição, tornando o corpo da população
suscetível às moléstias.
Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres: “O consolidador das
fronteiras”
Ao final do século XVIII, o governo português interessado em
fortificar e povoar as fronteiras das colônia, como também povoar o
território, tomou novas medidas.
Pensando em solucionar as disputas territoriais, Portugal e a
Espanha assinaram o Tratado de Santo Ildefonso (1777), que reafirmou
a hegemonia de Portugal sobre a bacia Amazônica, bem como das vias de
comunicação entre Mato Grosso e outras regiões da América.29.
Nesse período, governava a Capitania de Mato Grosso, Luiz de
Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres (1772- 1789).
Para garantir a posse de Portugal, o referido capitão-general
criou importantes povoados em posições estratégicas, como por
exemplo, Albuquerque ( Corumbá), Vila Maria de Cáceres (Cáceres),
Casalvasco, São Pedro D’El Rey (Poconé) e Cocais (Livramento).
29 Cavalcante, Else. A sífilis em Cuiabá, p. 49.
26
Em Casalvasco, o governador seguiu os princípios de construção
adotados em Portugal, isto é, ruas direitas, retas, praças e
edifícios que expressavam a imagem de uma povoação “civilizada”. Para
povoar a vila, foi enviado muitos índios, oriundos da Província de
Moxos. Aliás a mesma tática de povoamento foi utilizada em Vila Maria
de Cáceres, ou seja, o capitão-general para povoá-la enviou índios da
Província de Chiquitos. Ainda o governo ofereceu sementes e
ferramentas da fazenda real às pessoas, para que pudessem iniciar as
sua plantações.30 Na verdade, o governo português para garantir a
posse do território, recrutou índios e chegou a conferir indulto aos
criminosos.
Além disso, Luiz de Albuquerque construiu o Forte de Coimbra
(Sul) às margens do rio Paraguai e na margem direita do rio Guaporé,
o Forte Príncipe da Beira.
Capítulo 5: Sociedade da Mineração
No século XVIII, a descoberta de ricas jazidas auríferas no
interior da colônia atraiu milhares de pessoas, que vinham com o
intuito de enriquecer. O ouro promoveu o surgimento de vilas e
povoações em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, dando origem a uma
sociedade marcada pela instabilidade.
A sociedade da Minas era bastante diversificada, pois além de
ser constituída de mineradores, era composta também pelos
30 Oliveira, Edevamilton de Lima, A Povoação Regular de Casalvasco e a Fronteira Oeste do Brasil Colonial: 1783-1802, p.33
27
negociantes, advogados, padres, proprietários de terras, artesãos,
burocratas, militares, índios aculturados, e escravos negros.
Na base da sociedade estavam os escravos, que trabalhavam
duramente na extração do ouro. Muitas vezes, devido as péssimas
condições de trabalho, os escravos acabavam padecendo vítimas de
enfermidades como a desinteria, a malária, ou até mesmo em acidentes
de trabalho. A curta estimativa de vida levava os brancos a
adquirirem com freqüência novos escravos.
Assim as estimativas apontam que nas Minas havia uma
concentração de negros e mulatos. A presença maciça dos mulatos está
relacionada a uma característica da sociedade colonial brasileira,
isto é, a mestiçagem.
Será que a sociedade da mineração era rica???
Muitos pesquisadores tem demonstrado em seus trabalhos
acadêmicos, que a riqueza ficou nas mãos de poucas pessoas, e que
parcela significativa da população livre tinha um baixo poder
aquisitivo. Logo, a sociedade da mineração em seu conjunto foi
extremamente pobre.
Embora a sociedade mato-grossense apresentasse as
características relatadas acima, ela possuía as suas especificidades.
Por exemplo, a Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, contava
com uma população pequena, mas bastante diversificada.
A sua composição social era formada por brancos, provenientes de
Portugal e de outras capitanias, de índios como o guató, o guaná, o
bororo e o pareci, de africanos e seus descendentes, de negros
forros.31
31 Rosa, Carlos Alberto, O Urbano colonial na terra da conquista, In: A Terra da Conquista, p.23-25.
28
As sociedades Indígenas no processo de colonização
No início do século XVI, os portugueses ao chegarem ao Brasil,
logo descobriram que grande parte do litoral brasileiro era habitado
por nativos. Desde o primeiro contato, os portugueses avaliaram os
costumes indígenas através de uma visão eurocêntrica. A exemplo,
Gabriel Soares de Souza em sua obra “Tratado descritivo do Brasil” afirmou
que os índios eram atrasados e que “é gente de pouco trabalho, muito molar,
não usam entre si a lavoura, vivem da caça que matam e peixe que tomam a dos rios.”32 Uma
leitura mais acurada da citação deixa evidente, que para o narrador a
caça e a pesca prática pelos índios não era encarada como um
trabalho.
Inicialmente, os índios foram usados na extração do pau-brasil e
em troca recebiam dos brancos europeus pelo seu trabalho bugigangas
como espelho, bota, canivete, dentre outros.
A partir de 1530, com a implantação da colonização, as relações
entre brancos e índios começam a se alterar, pois os portugueses
interessados no cultivo da cana-de-açúcar passam a levar os gentios à
escravidão.
Entretanto com a colonização, os jesuítas chegaram a Colônia com
o objetivo de propagar o catolicismo e conseqüentemente estavam
imbuídos em cuidar da catequese dos nativos e da educação dos
brancos. Através da catequese e da educação, a Igreja estava
assegurando o catolicismo nas terras “descobertas” por Portugal .
Para executar os seus objetivos, os inacianos esbarraram no interesse
32 Sousa,Gabriel Soares. Tratado discritivo, p.115.
29
dos colonos que defendiam que o desenvolvimento da colônia somente se
daria com a dominação do índio.
O governo portugues diante destas circunstâncias resolveu criar
a lei de 20 de março de 1570, na qual estabeleceu a regulamentação do
cativeiro indígena. Com a aprovação dessa lei, o governo
metropolitano deu início a uma política indígena na Colônia. Através
desta legislação ficou determinada a “guerra justa”, isto é, os
silvícolas que resistissem a dominação seriam reduzidos ao cativeiro.
Os jesuítas formaram então missões ou reduções na colônia.
Utilizando da catequese, os jesuítas proibiram, a poligamia,
combateram os ritos religiosos dos nativos, introduziram rituais
cristãos e inculcaram uma nova concepção de tempo e de trabalho, isto
é, os índios foram aculturados.
Paralelamente, os paulistas devido a necessidade crônica de mão-
de-obra organizaram expedições de apresamento para o interior. Em
1637, um padre jesuíta afirmou que os paulistas haviam nos dez anos
anteriores capturado de 70 a 80 mil índios. Muitos destes índios não
resistiam as longas viagens, morrendo a caminho da Capitania de são
Paulo.33.
Além do cativeiro, os povos indígenas foram exterminados através
de doenças epidêmicas como a varíola, o sarampo e a sífilis. Desta
forma, muitas sociedades indígenas foram sucumbidas em conseqüência
da guerra de dominação, da escravidão e das enfermidades.
No século XVIII, as bandeiras paulistas penetraram no território
mato-grossense à procura de índios para a escravidão, e a medida que
33 Monteiro, John Manuel, Negros da Terra:Índios e bandeirantes na origem de São Paulo, p. 68.
30
avançavam pelo território, constataram que a região era repleta de
povos indígenas.
As sociedades indígenas que aqui viviam a semelhança dos índios
do litoral, não eram um grupo homogêneo, mas caracterizados pela
diversidade cultural. Viviam da caça, da pesca, da coleta de raízes,
furtas silvestres e do mel. Praticavam a agricultura, criavam
animais, teciam os fios das suas vestimentas e faziam cerâmica.
Nas sociedades indígenas não existia a propriedade privada da
terra, pois a terra era um bem coletivo. A produção era voltada para
subsistência e quando ocorria a produção de excedente, este era
dividido.
Desde o primeiro contato com os paulistas, os gentios mostraram
resistência a dominação, no entanto, muitos foram aprisionados e
levados para o cativeiro no planalto paulista.
Com a descoberta das minas de ouro, os índios foram usados como
mão-de-obra escrava na mineração.
Em 1748, com a criação da Capitania de Mato Grosso, novas
Instruções Régias foram estabelecidas no tocante ao índio. A
preocupação com os silvícolas relacionava-se aos interesses
geopolíticos de Portugal, que tinham como meta desenvolver uma
política de expansão e posse do território.
Desde a fase inicial da colonização, a metrópole através dos
relatos de cronistas, como Barbosa de Sá, tinha informações a
respeito da variedade da população nativa. Assim tornou-se
fundamental para Portugal na ocupação da Bacia amazônica e do Oeste
31
do Brasil, que o índio fosse inserido na colonização. Cabia aos
índios serem “as muralhas do sertão”.34
Em 1772, Luiz de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres recebeu
nas Instruções Régias, que os índios Bororos deveriam compor um terço
das milícias, pois eram considerados pelo governo metropolitano como
fundamentais na defesa da Capitania. Observa-se, portanto, que a
política indígenista portuguesa no Brasil procurou usar os nativos
convertidos na proteção do território contra os ataques estrangeiros
e como mão-de-obra na lavoura dos brancos.35
Desta maneira, seguindo as diretrizes do governo metropolitano,
Luiz de Albuquerque visando garantir a posse do território formou
aldeias e vilas, nas quais a população era predominantemente composta
por nativos.
Para cooptar os índios para o projeto colonizador, o governo
luso-brsileiro através do Diretório dos Índios estabeleceu casamentos
interétnicos, a obrigatoriedade do estudo da língua portuguesa e
determinou que os colonos deviam garantir aos nativos igualdade de
condições.36 Portanto, a política indígenista portuguesa no século
XVIII visava transformar o índio em súdito de Portugal.
Escravidão
34 Em 20 de dezembro de 1695, o Conselho Ultramarino mencionou os índios como os “guardiões da fronteira”, as “muralhas do sertão”.35 Vilela, Jovam. O antemural de todo o interior do Brasil: A fronteira possível, p. 95.36 Idem, p.97-101.
32
A colonização da América Portuguesa foi baseada na escravidão
negra. Os negros eram adquiridos na África, nos entrepostos
comerciais ou feitorias estabelecidas no litoral.
Os chefes políticos e religiosos negociavam com os europeus os
seus prisioneiros de guerra, recebendo em troca tabaco, aguardente e
outras mercadorias.
Os africanos eram levados pelos traficantes em embarcações com
péssimas condições higiênicas, muitos não resistiam a viagem e por
isso esses navios, eram chamados de navios tumbeiros. Os traficantes
para amenizar o sofrimentos dos negros distribuíam maconha. Assim
privados da liberdade, separados da sua família, da sua terra natal,
os africanos foram obrigados a conviver com a escravidão.
Os principais grupos de africanos que aportaram no Brasil foram
os bantos provenientes de Angola, Moçambique, Congo e Guiné, e os
sudaneses originários da Nigéria e da Costa do Marfim.
Os escravos recém chegados da África eram denominados de
“boçais” e os aculturados, que já falavam a língua portuguesa eram
denominados de “ladinos”. Os escravos nascidos na colônia eram
chamados de “crioulos”. Geralmente aos crioulos e aos mestiços eram
reservados os trabalhos mais amenos como as tarefas domésticas,
enquanto aos africanos cabia o trabalho pesado.37
Os escravos eram vistos como mercadoria, o seu trabalho e corpo
pertencia ao seu proprietário. Como mercadoria eram vendidos,
alugados ou mesmo emprestados. Além disso, quando tomavam atitudes
que desagradavam o seu proprietário eram punidos com castigos
físicos. Um Alvará de 1741 estabeleceu que o negro que fugisse do
37 Priore, Mary, O Liviro de Ouro da História do Brasil, p.63.
33
cativeiro teria o seu corpo marcado à brasa e se ato repetisse a sua
orelha deveria ser cortada.38
Diante de tanto desprezo e sofrimento, os negros resistiram,
lutaram contra a escravidão. Resistiram desde que partiram da África
fazendo rebeliões a bordo dos navios, cometiam suicídio,
infanticídio, aborto, assassinavam os feitores e proprietários.
Entretanto, a resistência mais praticada era as fugas. Ao abandonarem
os engenhos, as minas, as casas dos senhores, os negros se refugiaram
nas matas formando comunidades denominadas de quilombos.
Desta maneira, os quilombos eram comunidades formadas
principalmente pelos negros que fugiam da escravidão. Nos quilombos,
os negros plantavam e criavam animais para a sua subsistência.
Os quilombolas viviam em constantes guerra com os senhores e as
autoridades, pois representavam uma ameaça a ordem colonial. O
quilombo mais importante do período colonial foi o de Palmares,
localizado na Serra da Barriga, no atual Estado do Alagoas.
Em Mato Grosso tivemos também muitos quilombos, entretanto,
alguns ganharam destaque devido ao seu tamanho, as características da
sua população ou mesmo pela sua prolongada existência.
Quilombo do Piolho ou Quariterê- século XVIII
O quilombo do Piolho localizava-se na região do Guaporé, nas
imediações de Vila Bela da Santíssima Trindade. A sua população era
composta por negros, índios cabixis e pelos caburés (mestiços).
A formação deste quilombo estava relacionada a Companhia de
Comércio do Grão-Pará e Maranhão, que abastecia a capital de38 Carril, Lourdes, De escravos a quilombolas, p.37.
34
escravos. Desde o inicio da ocupação de Vila Bela, os negros
resistiam a dominação dos seus proprietários, fugiram e acabaram
formando o quilombo.
O quilombo do Piolho era governado pela rainha Teresa de
Benguela, que era assessorada por um gabinete formado por homens.
Produziam a sua sobrevivência, através de uma agricultura e pecuária
de subsistência. No tocante ao religioso, havia um sincretismo, isto
é, a religiosidade apresentava elementos do catolicismo e da religião
afro.
Em 1778, com a falência da Companhia de Comércio do Grão- Pará e
Maranhão, os proprietários de terras se viram sem mão-de-obra, e com
isso empreenderam esforços para a captura e a destruição do quilombo.
Apoiados pelo capitão-general, Luís de Albuquerque de Melo
Pereira e Cáceres, os proprietários de terras em Vila Bela se
organizaram para a invasão ao Piolho. O quilombo foi destruído, a
rainha Teresa ao presenciar o ataque da bandeira cometeu o suicídio
negando a voltar à escravidão, e os negros que sobreviveram ao embate
foram conduzidos à Vila Bela, aonde foram identificados pelos seus
antigos donos e aqueles que não foram reconhecidos foram enviados a
Cadeia Pública.
Em 1791, João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres recebeu
dos proprietários de escravos uma solicitação, que forças legais
fossem conduzidas novamente a região do Guaporé para a destruição e
captura de escravos fugitivos. Sob ordem do capitão-general, o
quilombo do Piolho desta vez foi totalmente abatido.
Aldeia da Carlota
35
A Aldeia da Carlota foi fundada pelo Capitão-General João de
Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres. A comunidade localizava-se no
território do antigo quilombo do Piolho, portanto na região do
Guaporé.
O capitão-general para formar essa comunidade resolveu alforriar
os negros idosos da Capitania. O interesse de João de Albuquerque
era povoar e vigiar a fronteira contra um possível ataque dos
espanhóis.
Assim os negros que receberam a sua carta de alforria deveriam
em troca proteger a fronteira para Portugal.
O governador tomou importantes medidas para concretizar os seus
objetivos, como por exemplo, foram entregues sementes, ferramentas e
animais de criação para os moradores da Aldeia da Carlota. A atitude
do capitão-general mostra que ainda ao final do século XVIII, o
governo português continuava interessado em efetivar o uti possedetis.
Quilombo do Rio do Manso ou Cansanção:-século XIX
O quilombo do Rio do Manso representou uma ameaça aos
proprietários de terras e de escravos de Mato Grosso, na segunda
metade do século XIX, mais precisamente, no contexto da Guerra da
Tríplice Aliança (1865-1870).
Esse quilombo localizava-se em Chapada dos Guimarães, e a sua
população era formada por negros, desertores da Guerra do Paraguai e
por criminosos que buscavam segurança e refúgio. A população
masculina era predominante, o que levava os negros a investirem em
ataques a sítios e fazendas para capturarem mulheres.
36
A notícia deste quilombo trouxe a população da província muita
insegurança, pois apesar das reclamações, atitudes mais efetivas não
podiam ser tomadas, pois faltavam forças policiais. Nesse período, a
guerra exigia constantemente que milícias fossem conduzidas para a
guerra, portanto, não havia na Província, soldados suficientes para
destruir o quilombo do Rio do Manso.
Foi somente ao término da guerra, que o governo provincial
conduziu forças policiais para aniquilar o quilombo.
O documento abaixo deixa evidente os problemas causados pela
população do quilombo, bem como, a preocupação das autoridades
provinciais em combatê-lo.
Em 1867, o chefe de Polícia de Cuiabá, Firmo José de Matos,
enviou ao Presidente da Província de Mato Grosso, Couto de Magalhães,
o seguinte ofício
“Sendo reconhecido que nas cabeceiras do Rio do Manso existe um grande quilombo,
para onde continuadamente vão os escravos fugidos desta capital (Cuiabá) e dos mais
distritos vizinhos e bem mais desertores do Exército e criminosos, e, segundo comunicação
que acabo de receber do Subdelegado de Polícia do Rosário, constatando que os mesmos
negros e desertores tem de costume irem a essa vila, de onde conduzem mulheres para o
quilombo; julgo de necessidade tomar-se providências no sentido de combatê-lo a fim de que
não se tenha de lamentar fato de maior gravidade. Entretanto, sendo inconveniente na
presente situação distrair-se forças do serviço de guerra, proponho a V.Exª o aumento do
destacamento do Rosário.(Ofício do chefe de Polícia Firmo José de Matos, Cuiabá, 1867.)
Além desses quilombos a historiografia regional tem destacado a
existência de outros, a saber, o Mutuca em Chapada dos Guimarães e do
Pindaituba, nas proximidades de Chapada dos Guimarães, e o quilombo
de Mata Cavalos, localizado em Livramento.37
Atualmente os remanescentes dos quilombolas de Mata Cavalo, no
município de Nossa Senhora do Livramento reivindicaram na Justiça a
posse definitiva das terras dos seus antepassados. Em 2002, a
INTERMAT (Instituto de Terras de Mato Grosso) outorgou o título
definitivo da área à Fundação Cultural Palmares, do governo Federal.
A seguir, o presidente Lula assinou um decreto, no qual reconheceu
que o INCRA teria a função de identificar, reconhecer, delimitar,
demarcar e titular as terras dos descendentes dos quilombolas. Apesar
dessas iniciativas do governo federal, os conflitos entre os
remanescentes dos quilombolas, os fazendeiros e grileiros persistem.
No quadro abaixo, a reportagem do jornal Diário de Cuiabá aborda
a importância da posse do território para a população de Mata Cavalo.
O reconhecimento de propriedade que tarda há 110 para os
remanescentes de escravos das comunidades de Mata Cavalos -
localizadas no município de Nossa Senhora do Livramento, a 50
quilômetros de Cuiabá - chegou para netos, bisnetos e
tataranetos daqueles que conheceram o castigo do tronco. No
mês passado a Fundação Cultural Palmares, órgão do Ministério
da Cultura que há cinco anos mapea, registra histórias e
concede título a quilombolas no Brasil, emitiu um documento
de posse único, aos negros do local
Foram oficialmente reconhecidos como pertencentes aos
remanescentes de escravos de Livramento, 11,7 mil hectares de
terra às margens da MT-060, onde hoje vivem acampadas mais de
300 famílias disputando a terra com cerca de 42 pequenos e
grandes fazendeiros.
38
A mesma publicação, no Diário Oficial da União do dia 18 de
julho, emitiu a titulação de terras a outras 17 comunidades
de remanescentes em todo país. São descendentes de famílias
que iniciaram a luta há mais de século, para permanecer nas
terras onde enraizaram seus costumes, tiveram seus filhos,
enterraram seus mortos, mas da qual foram expulsos
sucessivamente a partir de1930.(sic)
Acampadas há cinco anos na área, as famílias se organizaram
em seis comunidades com lideranças próprias cada uma. Mas
para que um único título fosse concedido, uma associação mãe
foi criada, e quem responde hoje por ela são os netos de ex-
escravos, Tereza Conceição de Arruda, de 63 anos, que se
orgulha em contar que sua família foi uma das seis que
resistiram e permaneceram no lugar por gerações. E Germano
Ferreira de Jesus, 46 anos, também descendente de uma dessas
seis famílias.
Ambos explicam que o reconhecimento da posse da terra à
comunidade será o fim da alcunha de grileiros, da incerteza
quanto à possibilidade de produzir no local e a abertura para
criação e implantação de projetos. “Já sofremos muito aqui
com ameaças de fazendeiros, pistoleiros e a própria polícia
que sempre tentaram nos tirar da terra. Com o título,
poderemos conseguir escolas, luz, água e as comodidades que a
cidade oferece”, diz Tereza. Fonte:Diário de Cuiabá,13/08/2000
39
Capítulo 6: Transferência da Capital de Vila Bela para Cuiabá
No início do século XIX, as guerras napoleônicas alteraram
significativamente as relações entre a colônia e a metrópole
(Portugal). A origem dessas guerras estava relacionada a expansão do
capitalismo francês, que em busca de mercado consumidor entrou em
confronto com a Inglaterra, que naquele período era a grande potência
econômica da Europa. Foi neste contexto que Napoleão Bonaparte
decretou o Bloqueio Continental, estabelecendo que os países europeus
estavam proibidos de comercializar com a Inglaterra.
Portugal não aderiu ao Bloqueio Continental, e por isso o seu
Príncipe-regente D. João VI, temendo a invasão napoleônica, fugiu
para a colônia.
Em 1808, protegido por uma escolta inglesa, a família real
aportou no Brasil e D João decretou como uma de suas primeiras
medidas a Abertura dos Portos às Nações Amigas, rompendo com isso o
pacto colonial, e conseqüentemente dando início ao processo de
independência do Brasil.
Foi durante o processo de independência do Brasil, que se deu a
transferência da capital de Vila Bela para Cuiabá. Entretanto, a
idéia de transferir a capital não era nova, pois já tinha sido
apregoada pelo Capitão-general Manuel Carlos de Abreu em 1804.
Para abordarmos este assunto é preciso analisar primeiramente o
governo dos últimos capitães- generais de Mato Grosso.
Em 1808, governava Mato Grosso, João Carlos Oeynhausen de
Gravenberg, que ao assumir o governo se deparou com uma forte crise
econômica, originada da decadência aurífera. Com o intuito de40
escamotear os problemas sociais decorrentes da miséria da população,
este governante promoveu inúmeras festas. Essas festas contavam com a
presença de ricos e os pobres, favorecendo com isso para que a
população tivesse a sensação que havia na Província, uma democracia
social.
Paralelamente, João Carlos Oeynhausen desenvolveu uma política
voltada para a saúde. A preocupação em combater as doenças estava
relacionada a chegada da Corte portuguesa ao Brasil, pois D.João VI
tomou muitas medidas para erradicar as enfermidades que assolavam
principalmente o Rio de Janeiro. Além de fundar a Faculdade de
Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro, o príncipe-regente com o
intuito de institucionalizar a pratica da medicina criou a Sociedade
Real de Medicina.
Para valorizar a medicina cientifica, o governo joanino combateu
as práticas de cura popular e para a concretização deste projeto.
Governo se associou aos médicos para combater as moléstias, uma vez
que elas representavam uma ameaça ao desenvolvimento do capitalismo.
Foi nesse contexto, que em Mato Grosso, João Carlos Oeynhausen
também com o objetivo de combater as doenças promoveu em Vila Bela
uma aula de anatomia. Entretanto, o grande destaque do seu governo
foi a criação do Hospital Militar de Cuiabá, da Santa Casa de
Misericórdia e do hospital São João dos Lázaros, que foi construído
para abrigar as vítimas da lepra.
No tocante a economia, pensando em superar a debilidade
econômica, este governante estimulou a produção do algodão e a
produção aurífera. Entretanto, as sua medidas não foram capazes de
superar a crise financeira. Posteriormente, João Carlos Oeynhausen
41
foi agraciado pelo governo pelas suas realizações políticas, com o
título de Marquês de Aracati.
Em seu lugar tomou posse o militar de carreira, Franscisco de
Paula Magessi, ultimo capitão-general de Mato Grosso. Ao assumir o
governo, Francisco Magessi temendo a insalubridade de Vila Bela,
solicitou a D. João VI a transferência de órgãos públicos para
Cuiabá, como por exemplo, a Junta da Fazenda e a Casa de Fundição.
O governo de Francisco Magessi foi marcado pela impopularidade,
pois adotou uma política de austeridade e de corrupção. Eliminou as
festas e atrasou os salários até mesmo dos soldados.
Foi neste período, que a elite cuiabana almejando a superação da
crise econômica que abalava os cofres públicos da Província, deu
início a luta pela transferência da capital para Cuiabá.
Para atingir os seus propósitos, a elite cuiabana apresentou
como argumentos, que Cuiabá possuía uma população superior a de Vila
Bela, tinha uma melhor localização geográfica, pois era banhada pela
bacia Platina, e através da navegação fluvial podia ter contato com
as demais províncias brasileiras e até mesmo com os paises platinos.
Alegou ainda que a cidade era saudável e que a sua população podia
contar com hospitais ao ficar doente.
Retornando a Magessi, foi nesse momento, que o capitão-general
depois de dezoito meses de governo, resolveu partir para Vila Bela
atendendo aos desejos da população local, que reivindicava a presença
do capitão-general.
Com a partida de Francisco Magessi para Vila Bela, a elite
cuiabana se organizou, buscando o apoio de segmentos do clero e dos
militares, para depor o capitão-general. A seguir instalaram uma
42
Junta de Governo em Cuiabá e enviaram a Magessi a seguinte
comunicação:
Ilmo, Senhor.
Havendo concorrido aos Paços do Conselho, no dia 20 do corrente a Tropa da
Primeira e Segunda Linha, o clero, a nobreza e povo desta cidade de Cuiabá, deliberaram e
resolveram a ereção de uma Junta Governada Provisório e efetivamente elegeram nove
deputados para comporem a dita justa, que se acha instalada, em conseqüentemente de tais
acontecimento, V.Exa, se suspenderá do exercício de suas funções que antes competiam a V.
Exa, em razão do lugar que ocupava. Assim o participar a V.Exa, os deputados da junta
Governativa Provisória. Deus guarde a V.Exa. Cuiabá, 21 de agosto de1821.39
A Junta de Governo instalada em Cuiabá contava com a
participação de elementos do clero como D. Luís de Castro Pereira,
bispo de Cuiabá, de militares, como o capitão Luís D’Allincourt e da
elite local, como André Gaudie Ley, proprietário de terras e de
escravos.
Em Vila Bela, a população ao receber a notícia da deposição de
Magesssi e da formação de uma Junta de governo em Cuiabá, se sentiu
bastante ameaçada, e resistindo a possibilidade de perder o status de
capital resolveu proceder da mesma maneira.
Assim também em Vila Bela, Magessi foi deposto e uma Junta de
Governo foi instalada com a participação dos membros da elite, do
clero e dos militares. Porém, a Junta de Governo de Vila Bela pensado
em ter o apoio as camadas populares e ao mesmo tempo ameaçar os
39 Apud, Póvoas, Lenine. História Geral de Mato Grosso, p.176.
43
interesses elite cuiabana, e talvez afetar os seus padrões morais
tomou as seguintes medidas:
Abolição da escravidão
Estabeleceu o fim fidelidade conjugal
Decretou o fim da castidade para as mulheres solteiras.
O fim da escravidão com certeza agradava ao povo, pois muitos
eram descendentes de escravos ou mesmo amigos, com os quais
freqüentavam batuques, bebiam cachaça, rezavam e trabalhavam para os
grandes proprietários.
Apesar de buscar a adesão do população, a Junta de Governo de
Vila bela não conseguiu se manter no poder, pois a elite cuiabana com
o apoio de D.Pedro I saiu vitoriosa, tendo a sua Junta de Governo
reconhecida.
No entanto, foi somente em 1835, que Cuiabá recebeu
oficialmente o reconhecimento de capital da Província de Mato Grosso,
conforme a seguinte lei:
1835 Nº19 Antônio Pedro de Alencastro, Presidente da Província de Mato Grosso.
Faço saber a todos os habitantes, que a Assembléia Legislativa Provincial decretou, e
eu sanciono a seguinte lei.
Artigo 1 fica declarada capital da Província de Mato Grosso a cidade de Cuiabá.40
Capitães- Generais que governaram a Capitania de Mato Grosso
1748-1751:Gomes Freire de Andrade40 Mendonça, Estevão, Datas Mato-Grossenses, p.115.
44
1751-1765: Antonio Rolim de Moura (Conde de Azambuja)1765-1769: João Pedro da Câmara1769-1772: Luiz Pinto de Souza Coutinho.1772-1789: Luiz de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres.1789-1796: João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres.1796: Junta Governativa:Antonio da Silva do Amaral, Ricardo
Franco de Almeida, Marcelino Ribeiro.1796-1803: Caetano Pinto de Miranda Montenegro.1803-1804: 2ªJunta Governativa: Manoel Joaquim Ribeiro
Freire, Antonio Felipe da Cunha Ponte, José da Costa Lima.
Este ultimo foi substituído por Manuel Leite de Moraes.1804-1805: Manoel Carlos de Abreu e Menezes.1805-1807: 3ª Junta Governativa: Sebastião Pita de Castro,
substituído por Gaspar Pereira da Silva, Antonio Felipe da
Cunha Ponte , substituído por Antonio Felipe da Cunha Ponte,
substituído por Ricardo Franco de Almeida Serra, José da
Costa Lima, substituído por Marcelino Ribeiro e Francisco
Sales Brito.1807-1819: João Carlos Augusto D’Oeynhausen e Gravemberg
(Marquês de Aracati) 1819-1821:Francisco de Paula Magessi Tavares de Carvalho.
(Barão de vila Bela.)1821-1822: 1ªJunta governativa Provisória de Cuiabá: Dom
Luis de castro Pereira-Presidente da Junta e posteriormente
foi substituído por Jerônimo Joaquim Nunes.1821-1822: 1ª Junta Governativa de vila Bela: Jose Antonio
Assunção Batista, presidente da Junta.
45
1822-1823: 2ª Junta Governativa Provisória de Cuiabá: Antonio
José de Carvalho Chaves1822-1823: 2ª Junta Governativa Provisória de Vila Bela:
Manoel Alves da Cunha.1823-1825: Governo Provisório: Manoel Alves da Cunha.
Atividades
1-(Concurso da Secretaria de Justiça) O que são as monções?
a)um movimento armado, organizado pelos comerciantes com o
objetivo de proclamar a Independência de Mato Grosso, pois
tinham interesses em controlar o comercio das minas de Cuiabá.
b) São expedições que partiam de São Paulo com destino a Mato
Grosso, com o objetivo de abastecer as minas da região de
mantimentos e víveres, especialmente as minas de Cuiabá.
c)um movimento popular pró construções de mansões, que ficou
conhecido como “monções” porque os portugueses não sabiam
pronunciar corretamente a palavra “mansões”.
d) São expedições que tem como escopo manter a correspondência
em dias, entre os brasileiros e os moradores do Império
Espanhol.
e) São expedições que trazem ouro em pó para as fundições de
Cuiabá, e levam de volta ouro em barra para São Paulo.
2) (UEMS) A respeito da nova realidade criada pela exploração
aurífera em Minas Gerais, Goiás e Cuiabá, a partir de fins do
século XVII, assinale a alternativa correta.
46
I-Embora fosse altamente lucrativa, atividade mineira não chegou
a atrair grande numero grande numero de pessoas, de modo que a
população da colônia não apresentou crescimento significativo
durante o século XVIII.
II- Por ser uma atividade altamente especializada, a mineração
estimulou o desenvolvimento de outras ramos da economia
colonial, como a produção de gêneros alimentícios.
III- Nessa economia mineradora era pouco utilizado o trabalho
escravo, sendo mais importante a utilização de trabalhadores
assalariados livres.
a)Apenas a I está correta.
b)Apenas a II está correta.
c)Estão corretas a I e II.
d)Estão corretas a II e III.
e) Estão corretas a I e III.
3) (UFMS) A historiadora Luiza Volpato, no livro “Entradas e
Bandeiras”ao referir-se à imagem produzida pelos livros
didáticos sobre o bandeirante, assim se expressa:” Nos capítulos
referentes a expansão territorial, o bandeirante é apresentado
na grande maioria das vezes como o herói responsável pelas
dimensões territoriais do país. (...) No texto é passada a visão
heróica do bravo que, vencendo dificuldades sem fim , conquistou
áreas imensas para a colônia e descobriu riquezas no interior do
Brasil.
A partir do texto, julgue as assertivas, verdadeiras ou falsas.
47
( ) Essa é uma visão mítica elaborada pela historiografia que
permeia praticamente toda a produção a respeito, dificultando
uma interpretação crítica sobre o fenômeno bandeirantista.
( ) A capitania de São Vicente, desde o inicio da colonização,
despontou como uma região privilegiada para o plantio da cana-
de-açúcar, portanto de exportação de açúcar e importação de mão-
de-obra escrava.
( )A expansão territorial e o sacrifício de centenas de
milhares de índios são resultado da transformação da luta
cotidiana dos bandeirantes pela sobrevivência em campanhas de
conquista.
( ) A ação bandeirante sobre as áreas espanholas foi
despovoadora pois causou a destruição de agrupamentos indígenas
e espanhóis.
( ) Contrariando a imagem do texto citado é possível visualizar
o fenômeno bandeirantista como gerado pelas condições sociais de
vida do Planalto de Piratininga e o bandeirante como um homem do
seu tempo.
4) (UEMS) A política econômica mercantilista se caracterizou por
três elemento essenciais:
a)balança comercial favorável, protecionismo e monopólio.
b)sistema colonial, liberalismo e monopólio.
c)Manufatura, metalismo e liberalismo.
d)Monopólio, liberalismo e bullionismo.
e)Liberalismo, monopólio e protecionismo.
48
5) (UFMS) A historia de Mato Grosso do Sul não pode ser
apreendida na sua riqueza temática e, sobretudo, na sua
diversidade étnica e cultural, se a ela não incorporarmos a
historia dos povos indígenas. Sobre a presença constante dos
povos indígenas na história do Mato Grosso do Sul, é correto
afirmar que:
01.a presença indígena no território do atual Mato Grosso do Sul
data de até três mil anos; para o Pantanal essa presença é de
até mil anos.
02.mesmo depois da chegada de elementos europeus na região,
foram intensas as relações dos povos indígenas entre si. Às
vezes conflituosas, ás vezes complementares, são conhecidas,
dentre outras, as relações entre os grupos guaná, guaicuru e
Guarani.
04.nas disputas entre os portugueses e espanhóis pela fixação
dos limites territoriais de suas colônias americanas, foram
visíveis as preocupações de ambos em atrair para si o apoio dos
povos indígenas que ocupavam a região;
08.apesar da brutalidade do processo de conquista e da
conseqüente ocupação de seus territórios, a existência atual de
vários povos indígenas em Mato Grosso do Sul indica que suas
diferentes formas de resistência garantiram pelo menos a sua
sobrevivência;
16.co mais de cinqüenta mil índios, Mato Grosso do Sul é
atualmente o segundo estado do Brasil em população indígena.
Dê a soma das corretas.
49
6) (UFMT) Em Mato Grosso, a relação entre os índios e
colonizadores foi geralmente conflituosa e marcada pela
violência. A respeito, julgue as afirmativas, colocando V ou F:
( ) Os índios Paiaguá foram os primeiros a atacar as monções e
o faziam quando as embarcações estavam transitando nos rios.
( ) Governos da Capitania de Mato Grosso utilizaram índios,
capturados na defesa da fronteira, na construção de fortes,
fortalezas e em outras atividades militares.
( ) Algumas nações indígenas, como Guaicuru e caiapó, habitavam
a periferia da capitania e estabeleceram relações de escambo com
o colonizador português.
( )Por meio de Cartas régias, a Coroa Portuguesa permitia, em
casos específicos, a “guerra justa” ao índio.
7) (UFMT) Ao referir-se ao abastecimento da região mineira de
Cuiabá, nos primeiros tempos da colonização, a historiadora
Elizabeth M. Siqueira assim se expressa:
As duas regiões mais próximas das Lavras do Sutil e responsáveis
pelo abastecimento mais imediato foram: Rio Abaixo ( hoje Santo
Antonio do Leverger) e Serra Acima (hoje chapada dos Guimarães)
(...) Dessa forma nem só de alimentos vivia a
população...Revivendo Mato Grosso. Cuiabá, SEDUC, 1977, p.14-16.
A respeito desse contexto histórico, julgue as características,
colocando V ou F:
( ) O primeiro trajeto fluvial percorrido pelos sertanistas
para abastecer Cuiabá transformou o Rio Abaixo em importante
entreposto comercial.
50
( ) De Rio Abaixo, a produção açucareira era trazida pelo rio
Cuiabá até a região aurífera.
( ) Vestimentas, instrumentos de trabalho e escravos vinham de
outras províncias por meio de tropas ou das monções.
( )Os primeiros engenhos surgidos na região foram responsáveis
pelo fabrico não somente do açúcar, mas também da rapadura e da
aguardente.
8) c
9) (Simulado- CSSG) “O Pantanal mato-grossense estende-se pelos
estados do Mato Grosso do Sul e pelo Mato Grosso, num total de
aproximadamente 220 mil quilômetros quadrados. Sendo uma planície, as
altitudes são baixas, mas as terras ao redor são mais altas, razão
pela qual uma grande quantidade de rios corre para a
região.”(Moreira, Igor. Espaço Geográfico, p.418)
A respeito do Pantanal mato-grossense, assinale a alternativa
incorreta:
(a) No século XVIII, os paiaguás e guaicurus habitavam o Pantanal e
representaram um empecilho à colonização portuguesa, pois esses
silvícolas atacavam com freqüência as monções de abastecimento.
(b) No período colonial. o Pantanal era denominado de Lago dos
Xarayés.
(c) O Pantanal mato-grossense é uma planície, ou seja, uma área onde
o processo de sedimentação se sobrepõe ao processo de erosão.
(d) O ecossistema do Pantanal é bastante complexo, possuindo áreas de
florestas, cerrados e campos, além da grande quantidade de plantas
aquáticas, principalmente aguapés.51
(e) A maior parte das terras do Pantanal encontra-se nos limites
territoriais do Estado do Mato Grosso.
10) (Simulado-CSSG) “A maior Mina da região estava plantada na colina
do Rosário e deu início à formação da cidade. A colina onde se
localizou a igreja do Rosário, ergue-se à margem esquerda do rio
Prainha. Em torno das jazidas, principalmente à margem direita do
córrego, inicia-se o povoamento. Próximo também a essa margem
localiza-se uma esplanada, escolhida para construção da Igreja da
Matriz. Ruas e ruelas serpenteiam pelo terreno, ajustando-se a ele,
ao longo do curso d’agua. O pelourinho, a igreja do Rosário assentam
os primeiros pontos de tensão em torno dos quais a vila se estrutura
e se organiza.”(Freire, Julio De Lamônica. Pior uma poética popular
da arquitetura, p.40-42.)
O texto acima descreve o espaço urbano de Cuiabá no período colonial.
A partir da leitura
do texto acima e de seus conhecimentos, assinale a alternativa
correta.
I- A área central da Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá era
composta pela Câmara Municipal, cadeia e a Igreja da Matriz.
II- Se fôssemos desenhar uma carta geográfica da área central da
Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, usaríamos como melhor escala
1: 1000. 000.
III- Foi Rodrigo César de Menezes, governador de São Paulo, que
elevou Cuiabá à categoria de vila. Durante a sua administração,
Rodrigo César de Menezes deu atenção especial à fiscalização das
minas e à tributação.
(a) I, II e III são corretas.52
(b) I e II são corretas.
(c) II e III são corretas.
(d) I e III são corretas
(e) Somente a II é correta
11) ( Simulado-CSSG)“..a produção de ouro na Capitania de Mato
Grosso, em meio século de atividade estonteante, de 1719 a 1770,
teria montado a 4.000 arrobas ou 60.000 quilogramas, a razão de
oitenta arrobas por ano.”( Correa Filho, Virgilio. Historia de Mato
Grosso, p.49).
Sobre a mineração em Mato Grosso é valido afirmar que:
(a)Provocou o surgimento de vários núcleos populacionais, que se
dedicavam
exclusivamente à mineração como por exemplo, Rio Abaixo, Serra Acima
e Vila Maria de Cáceres.
(b) Ao final do século XVIII, as minas de Cuiabá começaram a entrar
em decadência, devido às técnicas rudimentares de extração e à
cobrança exagerada de impostos.
(c) A ocorrência de minerais metálicos em Mato Grosso está associada
a sua estrutura geológica, isto é, a presença de escudos cristalinos.
(d) A produção de ouro contribuiu para a prosperidade de Mato Grosso
e também de Portugal, pois através de uma rígida fiscalização o
governo metropolitano foi capaz de conter o contrabando.
(e) A produção exorbitante do ouro provocou ao longo do século XVIII
o surgimento de conflitos na fronteira oeste entre os portugueses e
espanhóis.
53
12) ( Simulado CSSG) “Vila Bela da Santíssima Trindade é, atualmente,
a cidade mato-grossense que possui a maior concentração de negros do
Estado. Os negros de Vila Bela da Santíssima Trindade preservam
traços fisionômicos semelhantes aos seus ascendentes africanos
(Angola e Guiné) e sua tradição cultural é manifestada através do
folclore representado pela Dança do Congo e do chorado. (Piaia,
Ivane. Geografia de Mato Grosso, p.16.)
A partir da leitura acima e dos seus conhecimentos, é correto afirmar
que:
I- A presença dos negros em Vila Bela mostra um dos traços do sistema
colonial brasileiro, a escravidão. A adoção da escravidão durante a
colonização proporcionou a Portugal uma acumulação de capital.
II-Os negros em Vila Bela como também em outras regiões da colônia
eram utilizados como mão-de-obra na agricultura de subsistência e na
mineração.
III-A escravidão no Brasil colonial se assemelha a escravidão na
Grécia e em Roma, pois os escravos no sistema colonial brasileiro
eram também provenientes das conquistas territoriais empreendidas por
Portugal.
IV-A existência de uma maior concentração de negros em Vila Bela se
justifica pela insalubridade da região. No início do século XIX, com
o fim das disputas territoriais na fronteira e com a decadência do
ouro, os brancos começaram a partir de Vila Bela.
(a) Todas são corretas.
(b) I,II e III são corretas.
(c) II e IV são corretas.
(d) I, II e IV são corretas.
(e) I e II são corretas. 54
13) (Concurso da Secretaria de Segurança) Como resultado do movimento
de resistência à escravidão, às constantes humilhações e aos
maltratos praticados pelos senhores de escravos, os africanos de Mato
Grosso se utilizaram de vários recursos para sobreviverem, dentre
estes, assassinatos de feitores, as constantes fugas e constituição
de quilombos, que se espalham pelo vasto território mato-grossense.
Assinale a opção que corresponde aos dois mais importantes e maiores
quilombos de Mato Grosso.
a)Mundéu e Cansanção.
b)Piolho ou Quariterê e Cansanção.
c)Piolho ou Quariterê e kundiru.
d)Kalunga e Cansanção.
e) Mkulelê e Cansanção.
14) Em 1748, o governo metropolitano criou a Capitania de Mato
Grosso. A respeito deste contexto histórico, assinale as alternativas
abaixo com V ou F:
( ) Criada através de uma carta régia, a Capitania de Mato Grosso
surgiu da necessidade de povoamento de uma região que de acordo com o
tratado vigente ainda pertencia aos espanhóis.
( ) tratava-se de povoar uma região que pudesse servir como escudo
protetor a possíveis invasões espanholas.
( ) Foi criada por determinação do rei D. José I.
( ) A Capitania de Mato Grosso foi criada após o desmembramento da
administração da Capitania de Goiás.
55
15) Sobre a administração de Rodrigo César de Menezes, avalie os
itens abaixo:
( ) Os impostos cobrados, nos períodos de 1723 até 1727 eram
cobrados pelos sistema de capitação, a partir de 1728, foi implantado
o quinto.
( ) Para facilitar a fiscalização das minas e conseqüentemente
evitar o contrabando, Rodrigo César de Menezes criou em Cuiabá a Casa
de Fundição.
( ) Apesar do aparato fiscalizador estabelecido nas minas, neste
período Cuiabá passou por um considerável crescimento populacional e
pelo enriquecimento da maioria da população.
( ) Rodrigo César de Menezes, governador de São Paulo, elevou o
arraial de Cuiabá, a categoria de Vila Real do Senhor Bom Jesus de
Cuiabá.
16) Sobre a criação e povoamento de Vila Bela da Santíssima Trindade,
assinale os itens corretos:
( ) D.Rolim de Moura, Conde de Azambuja, recebeu instruções reais
para governar a Capitania de Mato Grosso e fundar a sua primeira
capital às margens do rio Guaporé.
( ) O governo português almejava com Vila Bela evitar o avanço dos
espanhóis, uma vez que estes estavam muito próximo, ou seja na região
do Potosí.
( ) Os comerciantes de Vila Bela obtiveram muitos lucros devido ao
preço exorbitantes dos produtos alimentícios.
( ) Com o propósito de conter o avanço dos espanhóis, o governo
português construiu fortes, aliciou índios e atraiu a região até
mesmo criminosos.56
17) Em 1821, Francisco de Paula Magessi foi deposto do governo. A
respeito deste contexto histórico, assinale a alternativa correta.
a) a deposição Francisco Magessi foi articulada pelas camadas
populares, que estavam extremamente insatisfeitas em conseqüência da
debilidade econômica de Mato Grosso.
b)a derrocada do capitão-general se deu devido a união do clero, dos
militares e da elite cuiabana.
c) foi neste momento que Vila Bela da Santíssima Trindade se
reafirmou como capital da Província de Mato Grosso.
d) a Junta de Governo de Vila Bela contava com mais prestígio junto a
Corte que a Câmara Municipal de Cuiabá.
e)o governo de Magessi se deu durante o Primeiro Reinado.
18) A bandeira de Pascoal Moreira de Cabral descobriu ouro ás margens
do rio Coxipó dando origem ao povoamento da região. Neste período, o
governador da Capitania da São Paulo era:
a)Pedro de Almeida Portugal.
b) Luis de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres.
c) Rodrigo César de Menezes.
d) Antonio Rolim de Moura.
e) Augusto Leverger.
19) Assinale a alternativa correta a respeito do trabalho escravo em
Mato Grosso durante o período colonial:
a)A Aldeia da Carlota representou a maior resistência dos negro a
escravidão em Mato Grosso.
b)O escravo trabalhava exclusivamente na mineração.57
c) O quilombo do Piolho foi governado pela rainha Teresa de Benguela.
d) Tanto a população da Aldeia da Carlota como a do Piolho era
composta principalmente pelos desertores.
20) (UNIC) “E preciso não ter sentimento do justo e do honesto, para
não parar, cheio de respeito, diante de um velho marco, solitário na
vastidão dos campos, ou à beira da estrada publica ou no velho ermo
do mato virgem, guarda fiel da propriedade, testemunha sincera de um
direito...”. A frase de Macedo Soares corresponde a um símbolo,
concebido a 231 anos, denominado Marco do Jauru, hoje localizado na
cidade de Cáceres, na praça publica ( Barão do Rio Branco). Assinale
a alternativa correta que corresponde a esse momento histórico.
a)Serviu como marco definidor do limite extremo sul do país.
b)Serviu como marco de fixação definitiva dos limites entre a
Capitania do Cabo do Norte e a Guiana Francesa.
c)Representação simbólica do poder imperial português.
d)Serviu como demarcador das fronteiras entre Brasil e Espanha por
ocasião do Tratado de Madri.
e)Serviu como marco da fundação da capital de Mato Grosso, vila Bela
da Santíssima Trindade.
21) A respeito dos Capitães- generais que governaram a Capitania de
Mato Grosso, julgue os itens abaixo:
( ) Luís de Albuquerque de Melo e Cáceres fundou cidades em
posições estratégicas, como Vila Maria de Cáceres e Albuquerque.
( ) Manoel de Carlos Abreu Menezes foi oprimeiro a sugerir que a
capital de Mato Grosso deveria ser Cuiabá.
58
( )João Carlos Oeyuhausen criou as primeiras instituições
hospitalares da Capitania; a Santa Casa de Misericórdia e o São João
dos Lázaros.
( )Francisco Magessi transformou Cuiabá em Capital da Província
no ano de 1821.
22) O arraial de Cuiabá foi transformado em vila, em 1 de janeiro de
1727, recebendo o nome de:
a)Arraial de São Gonçalo.
b)Vila de Santa Cruz
c) Lavras do Sutil.
d) São Pedro D’El Rey.
e) Vila Real do Senhor bom Jesus de Cuiabá.
23) Tratado assinado em 1750, que dividiu entre Portugal e a Espanha
as terras a oeste de Tordesilhas:
a)Madri
b)Santo Ildefonso
c)Portugal
d) Badajós.
e)Roma.
24) Em 1778, foi fundado por Luis de Albuquerque ás margens do rio
Paraguai; Vila Maria. Atualmente este vila é conhecida pelo nome de:
a)Cáceres.
b)Dourados.
c) Nioac.
d) Poconé.59
e) Livramento.
25). Relacione:
(A)S.Pedro D’El Rey
(B) Cocais
(C) Serra Acima.
(D) Rio Acima
(E) Rio Abaixo
( ) Livramento
( ) Poconé
( ) Chapada dos Guimarães.
( )Rosário Oeste
( ) Santo Antonio do Leverger.
A seqüência correta é:
a)B,A,C,D, E.
b)B,A,D,E,C.
c)A,B,D,E,C.
d)A,D,B,C,E.
e)D,A,C,E,B.
Gabarito:
1-B
2-B60
3-V,F,V,V,V.
4-A
5- 30 (F,V,V,V, V).
6- V, V,F,V.
7-F,V,V,V.
8-V,V,F,V.
9- E
10-A
11-B
12-D
13-A
14-V,V,F,F.
15- V,V,F,V.
16-V,V,F,V.
17-B
18-A
19- C
20-D
21-V,V,V,F.
22- E
23-A
24-A
25-A
Parte II: Império
Capitulo 7: Rusga
61
No início do século XIX, a Corte Portuguesa chegou ao Brasil
fugindo das tropas de Napoleão Bonaparte. Ao aportar na colônia, D.
João decretou a Abertura dos Portos às Nações Amigas. Com essa
medida, o Príncipe Regente, rompeu o pacto colonial favorecendo o
processo de independência do Brasil.
A independência se deu através de um arranjo político entre a
elite brasileira e D.Pedro I, e foi fortemente influenciada pelas
idéias liberais. Contudo, o liberalismo da elite brasileira era
bastante limitado, uma vez que as camadas populares foram
marginalizadas do processo de independência. Após a independência, o
Brasil continuou a manter as estruturas sociais e econômicas
existentes no período colonial. Na verdade, o interesse da elite
brasileira era promover a independência, mas tendo sob o seu controle
o poder político, e a manutenção dos seus interesses, ou seja, o
latifúndio e a escravidão.
Assim em 1822, D.Pedro I foi aclamado imperador do Brasil.
No entanto, o Primeiro Reinado seria muito breve breve, pois o
governo de D.Pedro I foi marcado por uma profunda crise política, que
culminou na sua abdicação.
A crise do Primeiro Reinado estava relacionada a alguns fatores,
como por exemplo, a dissolução da Assembléia Constituinte em 1823. Os
constituintes brasileiros tinham como objetivo limitar o poder do
imperador. Porém, D. Pedro I contrariado com atitude da elite
brasileira resolveu fechar a Assembléia.
A crise aumentou gerando mais insatisfações com relação a
D.Pedro I, quando o imperador outorgou a Constituição de 1824. A
Constituição do Império estabeleceu o voto censitário, isto é, para
votar era necessário comprovar uma renda mínima anual. Desta forma, o62
voto censitário acabou marginalizando as camadas populares do
processo político. Tal decisão provocando muito descontentamento
entre os segmentos populares.
A constituição de 1824 estabeleceu também que a monarquia era
hereditária e a existência de quatro poderes, sendo o poder moderador
de uso exclusivo do imperador. Através do poder moderador, o
imperador tinha o direito de dissolver a Câmara dos Deputados,bem
como o de nomear e demitir o Conselho de Ministros. Na realidade, o
poder moderador agia nos momentos de desentendimento político entre o
Legislativo e o Executivo. Assim devido ao poder moderador, o Império
brasileiro foi caracterizado por uma excessiva centralização do poder
nas mãos do imperador.
Outro fator que desgastou o governo de D.Pedro I foi a crise
econômica que assolava o país. A crise em parte era resultante da
dívida externa, contraída com a Inglaterra no momento do rompimento
dos laços coloniais com Portugal. A divida externa contribuiu para
que o Brasil se tornasse dependente da Inglaterra. Em virtude da
dependência econômica, D. Pedro I renovou com este país os Tratados
de 1810, por mais quinze anos. Os Tratados de 1810 concedeu
privilégios alfandegários aos produtos ingleses e acabou impedindo a
industrialização do país.
Para agravar mais ainda a situação, o imperador recorria a
empréstimos para aparelhar o Exército e contratar mercenários
ingleses, para sufocar revoltas, como a Confederação do Equador, e a
Guerra da Cisplatina.
Diante da crise que abatia o governo imperial, D. Pedro I
pressionado pela elite e pelo povo brasileiro resolveu abdicarem 7 de
abril de 1831. Logo depois, o imperador regressou a Portugal.63
A Constituição de 1824 previa em seu texto, que seu filho Pedro
de Alcântara seria o seu sucessor de D.Pedro, porém como herdeiro do
trono tinha somente cinco anos em 1831, a legislação determinava que
o país seria governado pelos regentes até que príncipe-herdeiro
atingisse a maioridade. Desta forma, o período regencial consistiu em
um momento de transição entre o Primeiro e Segundo Reinado.
Com a implantação das regências, a elite brasileira subiu ao
poder, representando de fato a concretização independência.
O período regencial foi caracterizado pelo surgimento dos
partidos políticos, destacando-se os restauradores, que pregavam a
volta de D.Pedro I, os moderados, que defendiam a centralização e os
exaltados, encarados como os mais radicais, pois apregoavam a
descentralização.
Em 1834, esses partidos entram em uma nova fase. A partir deste
período, a política brasileira seria articulada pelo Partido Liberal
ou Progressista (descentralização) e o Partido Conservador ou
Regressista (Centralização).
A seguir apresentamos um gráfico referente a evolução dos
partidos políticos durante o Império:
Primeiro
Reinado(1822-
1831)
Período
Regencial
(1831-1834)
Período
Regencial
(1834-1840)
Segundo
Reinado
(1840-1889)Partido
Português
Restauradores Conservador ou
Regressista
Conservador
Partido
Brasileiro
Moderados Liberal ou
Progressista
Liberal:
moderados e
64
radicaisExaltados 1870: fundação
do Partido
Republicano.
Esses partidos políticos eram compostos principalmente pelos
membros da elite brasileira, uma vez que a constituição em exercício
era a mesma, e lembremos que esta determinou que o voto era
censitário. Assim apesar das alterações políticas advindas com o
período regencial, as camadas populares continuaram marginalizadas do
poder político.
A crise econômica não foi superada durante as regências, o
latifúndio continuou a dominar a estrutura fundiária do país, e a
elite continuou a defender a manutenção da escravidão. Esses fatores
contribuíram para a eclosão de rebeliões, pois estas eram sintomas do
desajustamento social e político que o país passava desde o início do
século XIX. Assim, o período regencial foi caracterizado pela
intranqüilidade política, uma vez que as rebeliões ameaçavam os
interesses da elite.
Durante a década de 30, havia uma guerra civil no país. Muitas
províncias brasileiras foram palco de levantes armados, nas quais
fazendeiros, tropas, pequenos proprietários, índios, homens livres
pobres e escravos lutaram contra a centralização do poder ou contra à
pobreza e a escravidão. A exemplo temos a Cabanagem , no Pará, a
Balaiada, no Maranhão, a Sabinada, a Revolta dos Malês e a
65
Cemiterada, na Bahia, a Farroupilha no Rio Grande do Sul e a Rusga,
em Mato Grosso.
Assustados com as rebeliões, o governo regencial criou a Guarda
Nacional. A Guarda Nacional era uma milícia composta por cidadãos em
armas, isto é, os senhores de escravos auxiliados pelos seus
capangas, teriam a responsabilidade de conter as revoltas, cabia a
eles a manutenção da ordem.41
Foi neste contexto histórico, que aconteceu a Rusga.
Esse movimento social ocorrido em Mato Grosso, em 1834 , teve a
sua origem na disputa pelo poder entre os liberais e os
conservadores. Os conservadores possuíam entre os seus membros muitos
portugueses, defendiam a centralização e se reuniam na Sociedade
Filantrópica. No inicio do ano de 1834, a província de Mato Grosso
tinha na sua presidência, o conservador, Antônio Maria Correa.
Os liberais por sua vez, pregavam a descentralização e
participavam da Sociedade dos Zelosos da Independência. Havia no
partido duas facções; os moderados que desejavam afastar os
portugueses dos cargos públicos e os exaltados, que apoiavam os
moderados no tocante aos portugueses, mas as suas reivindicações iam
mais além, ou seja, não aceitavam que os Presidentes de Província
fossem nomeados pela Regência, e em diversas ocasiões chegaram a
contestar a figura de D.Pedro e o sistema monárquico.
Os liberais almejavam o poder e sabiam que a população estava
bastante insatisfeita, pois viviam em extrema miséria e além disso,
culpavam os conservadores pela sua péssima condição social. As
camadas populares tinham também muita aversão aos portugueses, pois
41 Priore, Mary Del., O Livro de Ouro da História do Brasil, p. 235.
66
estes eram proprietários de estabelecimentos comerciais e vendiam os
seus produtos a preços exorbitantes à população.
Na verdade, segundo o Visconde de Taunay em sua obra “A cidade
do ouro e das ruínas”, a aversão aos portugueses já existia em Mato
Grosso desde o período da independência. Na Província havia muitos
portugueses, e estes tornaram-se alvos da malquerença, pois dominavam
o comércio local, e de acordo com a Constituição de 1824 possuíam
direito a cidadania, e muitos tinham influência política.42
Assim os liberais, tendo a frente João Poupino Caldas inflamaram
mais ainda o povo contra os portugueses, que eram chamados pela
população de “brasileiros adotivos” ou de “bicudos” . Habitualmente
se ouvia pelas ruas de Cuiabá, a população gritando “embarca bicudo,
embarca, embarca, canalha vil, que os brasileiros não querem bicudos no seu Brasil.”
Entretanto esse sentimento não era específico aos portugueses,
na verdade havia na Província uma aversão aos estrangeiros.
Com o objetivo de derrubar os conservadores do poder e usando
esse sentimento de xenofobia, o liberal João Poupino Caldas buscou a
apoio das camadas populares para a causa do Partido Liberal. Para o
povo, os liberais representavam a solução para a crise econômica e
social.
Diante da forte crise política, Antonio Correa da Costa foi
afastado das suas funções pelo Conselho da Província, que indicou em
28 de maio de 1834, João Poupino Caldas, como Presidente da Província
de Mato Grosso.
A posse de João Poupino Caldas não trouxe as mudanças esperadas
ocorrendo com isso uma cisão no partido liberal. O povo por sua vez
ficou extremamente descontente e via em Poupino Caldas um traidor.42 Povoas, Lenine, História Geral de Mato Grosso, p. 202.
67
Assim os liberais exaltados contando com o apoio das camadas
populares saíram às ruas na noite do dia 30 de maio de 1834. Os
liberais exaltados, o povo e até mesmo alguns soldados da Guarda
Nacional se reuniu no Campo do Ourique (antiga Assembléia Legislativa
do Estado de Mato Grosso) iniciando a Rusga.
João Poupino Caldas ao receber a notícia da revolta pediu ao
bispo de Cuiabá, D. José Reis, que tentasse conter a fúria popular. O
bispo atendendo ao pedido do governante foi ao Campo do Ourique
portando um crucifixo com a intenção de exorcizar o povo. Tal atitude
mostrou que o religioso não via que a revolta da população tinha as
suas raízes nas estruturas sociais e econômicas existentes na
Província. Apesar de todos os esforços, e do seu prestígio social e
religioso, D. José não foi capaz de conter a fúria popular.
A população então partiu sobre o comando do liberal Antonio
Patrício da Silva Manso, tomaram o Quartel dos Municipais,
apoderando-se das armas e munições, e por volta meia noite gritavam
pelas ruas de Cuiabá, “morte aos bicudos”.
A medida que os rebeldes avançavam, muitos portugueses e
brasileiros abastados foram assassinados. Depois de tomar Cuiabá, os
rebeldes avançam em direção a Chapada dos Guimarães, Poconé e Santo
Antonio do Rio Abaixo.
O movimento durou de maio a setembro de 1834, e somente foi
controlado com a posse de Antonio Pedro de Alencastro, na presidência
da Província..
68
Em 1837, Poupino Caldas foi assassinado, entretanto, o seu
processo crime foi arquivado, pois o chefe de policia não encontrou
os responsáveis pelo crime.
Segundo Madureira Siqueira, a repressão ao movimento demorou e a
justiça somente veio tomar conhecimento depois de três meses. Essa
omissão se deu porque João Poupino Caldas, um dos revoltosos e
insufladores do povo assumiu a direção da Província e pertencia ao
partido liberal. Para a justiça, a rusga foi motivada por um grupo de
subversivos, de inimigos da Pátria e da ordem pública.43
Capitulo 8: Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870)
Durante o Segundo Reinado, a política externa brasileira esteve
direcionada para garantir a paz interna nos países do Prata, onde
tínhamos interesses econômicos a defender, e em assegurar a livre
navegação da bacia Platina, o acesso mais rápido e seguro para chegar
a Província de Mato Grosso.
Buscando atender os seus objetivos, o governo brasileiro
promoveu intervenções armadas na Argentina e no Uruguai, e ainda
levou o Brasil a uma guerra contra a República do Paraguai.
A Guerra do Paraguai provocou a morte aproximadamente de 130 mil
pessoas, aumentou consideravelmente a dívida externa brasileira, pois
o Brasil gastou nos campos de batalha 614 mil réis, o equivalente a
onze vezes o orçamento do governo imperial.
43 Siqueira, Elizabeth Madureira. A Rusga em Mato Grosso:edição critica de documentos históricos, v.1, p.15.
69
Os historiadores até hoje não chegaram a um consenso sobre a
Guerra do Paraguai. Há aqueles que defendem que a guerra foi motivada
pelos interesses do capitalismo inglês, que usou o Brasil, a
Argentina e o Uruguai para destruir o Paraguai.
Na década de 80, do século XX, os trabalhos acadêmicos revelavam
que a guerra estava associada ao processo de construção e
consolidação dos Estados Nacionais do Rio do Prata, e descartavam a
participação da Inglaterra no aniquilamento do Paraguai.
Entretanto, ao analisarmos os últimos vestibulares e provas de
concursos públicos constatamos, que as questões são formuladas
baseadas na primeira vertente historiográfica, isto é, aquela que
relaciona o conflito bélico ao imperialismo inglês. Desta forma,
abordaremos a Guerra do Paraguai seguindo este modelo
historiográfico.
Paraguai: Desenvolvimento Autônomo.
Em 1814, o Paraguai ficou independente e ao contrário do Brasil
que adotou a monarquia, fez a sua opção pela República.
O governo republicano no Paraguai foi consolidado através de
ditaduras, que trouxeram desenvolvimento e modernização ao país.
Inicialmente, o Paraguai foi governado por José Gaspar de Francia,
que extinguiu a escravidão, conferiu liberdade religiosa e
diversificou a agricultura. Durante o seu governo, as terras
improdutivas da elite e do clero foram confiscadas para a reforma
agrária.
70
Carlos Lopes, deu continuidade a política de desenvolvimento
empreendida na gestão anterior, com isso construiu estradas de ferro,
linhas telegráficas e estaleiros. Aboliu as restrições à navegação
internacional nos rios que cruzavam o território paraguaio. Desta
maneira, em 1857, o governo paraguaio permitiu que navios brasileiros
chegassem a Província de Mato Grosso através da navegação do rio
Paraguai (livre navegação da Bacia Platina).
Após Carlos Lopes, o seu filho, Francisco Solano Lopes assumiu o
governo do Paraguai. Solano Lopes deu continuidade a uma política
econômica voltada para o desenvolvimento autônomo do país. Para isso
dinamizou a lavoura de algodão, concedeu isenção de impostos
alfandegários para máquinas e equipamentos importados. Logo podemos
assegurar que o Paraguai se despontava como uma nação auto-
suficiente.
Esse modelo de desenvolvimento entrava em choque com os
interesses econômicos da Inglaterra. Assim tornou-se estratégico para
o capitalismo inglês, a destruição do Paraguai.
A Guerra
Em 1850, Brasil e Paraguai afirmaram um tratado, no qual
estabeleceram o compromisso de defender a independência do Uruguai.
Porém, em agosto de 1864, o Brasil ameaçou de invadir o Uruguai para
derrubar o governo de Aguirre.
Ao saber da intenção do governo brasileiro, Solano Lopes,
presidente do Paraguai, informou ao governo imperial, que a invasão
colocava em risco o equilíbrio político do Prata.71
O governo brasileiro ignorou o posicionamento de Solano Lopes, e
em setembro de 1864, o Brasil invadiu o Uruguai.
Diante desta situação, o Paraguai reagiu, e em novembro deste
mesmo ano, Solano Lopes aprisionou a navio brasileiro “Marquês de
Olinda”, que trazia a bordo o novo presidente da Província de Mato
Grosso, Frederico Carneiro de Campos. A seguir, o governo paraguaio
declarou guerra ao Brasil.
No mês seguinte ao aprisionamento do navio brasileiro em
Assunção, Solano Lopes ordenou a invasão da Província de Mato Grosso.
O ditador paraguaio tinha informações que a província militarmente
estava indefesa e que as forças militares brasileiras eram precárias.
Contando com a participação de 9.000 soldados, as forças
paraguaias tomaram Corumbá, o Forte de Coimbra, Dourados. Miranda e
Nioaque.
Repercussões da Guerra na Província de Mato Grosso
Segundo a historiadora, Luiza Volpato em sua obra Cativos do Sertão,
a Guerra da Tríplice Aliança alterou substancialmente o cotidiano da
Província ao provocar na população o medo, a fome e uma violenta
epidemia de Varíola.
Ao tomar conhecimento da tomada de Corumbá pelas tropas de
Solano Lopes, a população da província teve muito medo, pois os
paraguaios eram vistos pelos mato-grossenses como bárbaros.
Assim acreditando na possibilidade de uma invasão paraguaia a
Cuiabá, Augusto Leverger, o Barão de Melgaço, organizou uma expedição
de homens denominada de “Voluntários Cuiabanos”. Essa expedição se72
dirigiu a Colina de Melgaço para aguardar os paraguaios, entretanto,
estes não vieram. Ao retornar a Cuiabá, os voluntários foram
recebidos como heróis pela população.
A guerra trouxe também muita insegurança com relação aos
escravos, pois em conseqüência da falta de soldados, os brancos
temiam uma rebelião. Além disso, as autoridades policiais eram
alertadas sobre os ataques dos negros do quilombo do Rio do Manso, em
Chapada dos Guimarães. Os negros deste quilombo habitualmente
assaltavam sítios e fazendas nas imediações de Cuiabá e de Chapada
para roubar mulheres.
O quilombo do Rio do Manso tornou-se também bastante temido
devido a presença de desertores da guerra. Esses desertores eram
soldados que fugiam do acampamento militar, eram procurados pela
justiça e por segurança refugiavam-se no quilombo do Rio do Manso.
Outra situação difícil para a população foi o aumento
exorbitante do preço dos alimentos. Com a tomada de Corumbá e
conseqüentemente com o bloqueio da Bacia Platina, a província ficou
isolada não recebendo mais mercadorias. A população se viu então
privada de muitos produtos, como por exemplo, o sal.
Em conseqüência do seu alto preço, os comerciantes agindo com
esperteza passaram a vender salitre no lugar do sal, com a intenção
de esperar que o produto encarecesse mais para obter mais lucro. O
governo provincial ao tomar conhecimento deste fato, resolveu
confiscar o sal que estava em posse dos negociantes.
Para agravar mais ainda a fome da população, em janeiro de 1865,
as águas do rio Cuiabá transbordaram destruindo as roças de
subsistência localizadas nas proximidades das margens do rio. A
situação somente foi contornada, quando a Bolívia assumiu junto ao73
governo brasileiro a responsabilidade de abastecer de alimentos a
Província. Essa notícia foi muito bem recebida, pois a população
mato-grossense temia que a Bolívia apoiasse o governo paraguaio.
Em 1867, as forças brasileiras retomaram Corumbá, entretanto,
foi durante este acontecimento que soldados do Exército brasileiro
foram conduzidos a Cuiabá por estarem demasiadamente doentes.
Ao chegar a Cuiabá, os soldados foram enviados à Santa Casa de
Misericórdia. O médico atendente não conseguiu pelos sintomas
diagnosticar a moléstia, e somente após o falecimento dos doentes,
que os médicos constaram que tratava-se da varíola. Porém era tarde
demais, a enfermidade se propagou pela cidade afetando os seus
moradores.
Infelizmente, o poder público não teve tempo de organizar
cordões sanitários, e uma das alternativas encontradas para conter o
surto epidêmico foi construir um cemitério para abrigar as vítimas da
bexiga, o Cemitério de Nossa Senhora do Carmo, chamado pelos
populares de Cae-Cae. A seguir, o texto abaixo nos demonstra os
efeitos que a doença provocou no comportamento dos cuiabanos.
Com a propagação rápida da doença, a população teve o seu cotidiano alterado de
maneira trágica e violenta, justificou todo o seu sofrimento e tanta desgraça como castigo de
Deus. O bispo de Cuiabá, D. José Reis preparou os fiéis para uma procissão que percorreu
todas as casas onde havia um doente. A doença não escolhia sexo, a condição social do
individuo e quanto menos a idade, afetando portanto crianças, jovens e idosos. Famílias
inteiras faleceram vitimas da bexiga, fazendo com que a policia arrombasse as portas de
diversas casas e encontrassem no seu interior todos os seus membros mortos e os corpos em
estado adiantado de putrefação. 44
44 Cavalcante, Else Dias de Araújo, Imagens de uma epidemia, p.38
74
A varíola dizimou uma parcela significativa da população mato-
grossense, contudo a documentação do período não revela com exatidão
o número de vitimas. De Acordo com Joaquim Moutinho, cronista que
viveu e sentiu na pele a dor provocada pela doença45, o quadro
estatístico apresentado pela polícia não era preciso, pois era
fundamental para as autoridades governamentais da Província esconder
do governo central a realidade, pois a revelação do número exato dos
mortos denunciava a inoperância destas autoridades.
O desfecho e as conseqüências do pós-guerra
Em 1867, o comando das forças aliadas estava com Caxias. Foi
neste momento, que um surto de cólera, impediu o avanço das forças
aliadas sobre o Paraguai. Um pequeno destacamento de soldados tentou
invadir o Paraguai através do Mato Grosso, atingindo Laguna. Porém as
dificuldades encontradas como a falta de abastecimento e o medo da
cólera fizeram a tropa recuar. Perseguida pelos paraguaios, a coluna
em fuga perdeu muitos homens vítimas da cólera.
A partir de 1868, os ataques do exército brasileiro e da marinha
se intensificaram, e em 1869 já era evidente a perda do Paraguai. No
ano seguinte, Caxias pediu afastamento do conflito e foi substituído
pelo Conde D’Eu, que conduziu os soldados brasileiros até ao final do
combate.
Em 1870, as tropas brasileiras tomaram a acampamento de Solano
Lopes em Cerro Cora. Esse embate ocasionou na morte do ditador
paraguaio e conseqüentemente encerrou o conflito bélico.45 Moutinho perdeu uma filha durante a epidemia.
75
Como resultado do fim da guerra, a Província de Mato Grosso
passou por muitas transformações, pois a reabertura da bacia Platina
permitiu que a Província participasse do capitalismo internacional
através da exportação de produtos do extrativismo vegetal e da
pecuária, e da importação de produtos industrializados. Segundo a
historiadora Edil Pedro so em sua obra “O cotidiano dos viajantes nos caminhos
fluviais de Mato Grosso (1870-1930), nesse período o trânsito de embarcações
brasileiras e estrangeiras pelo rio Paraguai tornaram-se
corriqueiras, pois a navegação da bacia Platina passou a ser o
principal caminho por todos aqueles que queriam chegar e sair da
Província de Mato Grosso.
A rota fluvial que atendia Mato Grosso tinha nos rios Cuiabá e
Paraguai, os seus principais percursos. Os navios ao saírem de
Cuiabá, atingiam o São Lourenço e a seguir o Paraguai, o Paraná, e
daí o Oceano Atlântico. Ao sair de Cáceres, a viagem era feita pelo
rio Paraguai e a seguir o Paraná, e depois através do Oceano chegavam
a Corte. As embarcações que seguiam esses caminhos eram grandes,
enquanto as que navegavam do Prata a Corumbá eram médias, contudo
confortáveis, e as embarcações que iam para o interior da Província
de Mato Grosso eram vapores menores.46
A navegação do Prata promoveu o surgimento de uma burguesia
comercial, proprietária de Casas de Comércio, que surgiram
principalmente nas cidades portuárias como Cuiabá, Cáceres, Corumbá,
Porto Murtinho, Bela vista e Ponta Porã.
46 Silva, Edil Pedroso, O Cotdiano dos viajantes nos caminhos fluviais de Mato Grosso (1870-1950)
76
As casas de comércio negociavam diversos artigos importados como
tecidos, móveis e brinquedos, e ao mesmo tempo comercializavam os
produtos mato-grossenses.
Assim a livre navegação da bacia Platina representou para a Mato
Grosso uma alternativa de superar a debilidade econômica. Além disso
juntamente com as mercadorias, idéias vindas de outros centros eram
consumidas. Por exemplo, os cuiabanos passaram a confeccionar os seus
trajes e a decorar as suas residências seguindo os padrões de Buenos
Aires e Montividéo.47
Outra mudança provocada pela guerra foi o aumento territorial da
Província, pois ao término da guerra, a Argentina e o Brasil tomaram
posse de áreas territoriais do Paraguai, para ser mais preciso, o
Paraguai perdeu 150 000 Km² de seu território.
A guerra exterminou a população guarani, ao iniciar o conflito
armado o país contava aproximadamente com 800 000 habitantes, quando
terminou, restavam 200 000.
A sua economia que anteriormente era próspera estava agora
totalmente debilitada, o seu parque industrial foi totalmente
destruído, as riquezas do extrativismo vegetal foram cedidas a
empresas estrangeiras, as terras públicas usadas pelos camponeses
foram vendidas a ingleses, holandeses e aos norte-americanos. Diante
da terrível conjuntura, muitos paraguaios migraram para a Província
de Mato Grosso em busca de esperança, de uma vida melhor.
Em Mato Grosso, muitos desses paraguaios foram tratados pela
população e até mesmo pelas autoridades governamentais como a escória
da sociedade. Para os agentes da imigração, as paraguaias eram
47 Volpato, Luiza.,Cativos do Sertão, p.44.
77
mulheres perdidas, de baixa espécie, consideradas as fezes da
sociedade mato-grossense.48
Apesar da reabertura da bacia Platina, a modernização da
Província aconteceu lentamente, pois além da resistência ao novo, não
podemos esquecer das precariedades econômicas de uma província pobre
e dependente do governo imperial. Na verdade, “o que se pode assistir foi um
processo onde as desigualdades sociais iam ficando cada vez mais explícitos, mais
contrastantes senhores que podiam ostentar sobrados bem decorados em contraposição a
uma maioria de livres pobres, libertos e escravos que habitavam casas rústicas, de paredes
de adobe e destituídos dos mais elementares princípios de civilidade.”49
Capítulo 9: A cidade de Cuiabá na segunda metade do século XIX
Cuiabá, por volta de 1870, crescia de forma desordenada. Esse
crescimento era resultado das migrações internas e de paraguaios, que
entravam na Província a procura de emprego, de uma nova oportunidade.
A população pobre da cidade construía as suas casas á margem
direita do Córrego da Prainha. Já a esquerda, no alto da Colina do
Rosário, as residências eram mais espaçadas. Mais tarde surgiram
novas ruas e caminhos ligando Cuiabá ao Coxipó da Ponte e a freguesia
de Santo Antonio do Leverger.
Na área central da cidade, surgiram sobrados de ricos senhores e
prédios públicos onde funcionava a Câmara Municipal, a Tesouraria
Provincial, o Correio, o Comando das Armas, a Repartição da Polícia e
o Palácio Presidencial.
48 Siqueira, Elizabeth, Luzes e Sombras, p.66.49 Machado, Oswaldo, Ilegalismos e Jogo de Poder, p. 36-37.
78
As ruas centrais possuíam nomes ligados aos heróis, as datas
comemorativas, porém os moradores da cidade continuavam a denominá-
las, como no período colonial, isto é, rua de Cima. Rua de Baixo, rua
do Meio, dentre outros.
As residências mais elegantes estavam localizadas na rua Bela do
Juiz (hoje, 13 de Junho). Essa rua começava no largo da Matriz e se
prolongava em direção ao distrito de São Gonçalo de D. Pedro II.
Com a expansão populacional, novos bairros surgiram nas
imediações da área central da cidade, como por exemplo, a Mandioca, o
Baú, o Lavapés e o Mundéu.
Na década de 70, Cuiabá já possuía distritos afastados, mas que
faziam parte de sua jurisdição judiciária e policial, como o Barbado,
o Coxipó e o São Gonçalo Velho. As vilas ou freguesias rurais também
faziam parte do Termo de Cuiabá Nossa Senhora do Rosário, Nossa
Senhora de Brotas, Nossa Senhora da Guia, Santo Antonio do Rio
Abaixo, Santana da Chapada dos Guimarães e Nossas Senhora do
Livramento.
Paralelamente ao crescimento populacional, os relatórios da
autoridades governamentais e dos chefes de Polícia apontavam o
crescimento da violência e da criminalidade. O aumento da
criminalidade relacionava-se a falta de empregos, a crise do sistema
escravista, ao retorno de batalhões inteiros com o fim da guerra, e a
entrada de imigrantes pobres, principalmente do Paraguai.50
Com relação a sua organização social, a elite local era composta
de comerciantes que se dedicavam ao comércio da importação e
exportação, como também, de grandes proprietários de terras e de
50 Idem, op.cit, p.12.
79
escravos. Os altos funcionários públicos civis e as altas patentes
militares também pertenciam a este segmento social.
No estrato intermediário da sociedade, havia os oficiais
militares em inicio de carreira, os médicos, que aliás eram poucos,
os dentistas, os advogados, os magistrados, os chefes de Policia,
promotores e membros do clero.
Mais abaixo, tínhamos os pequenos comerciantes, os taverneiros e
os pequenos sitiantes. No entanto, havia aqueles que estavam mais
abaixo ainda, como os livres pobres e os escravos.
A livre navegação beneficiou as camadas sociais mais
favorecidas, pois passaram com freqüência a viajar para o Rio de
Janeiro, de onde voltavam trazendo inúmeras novidades, modificando a
sua maneira de vestir e seus hábitos. Assim a elite cuiabana passou a
nortear a sua vida segundo os valores difundidos na Corte.
A influência da Corte podia ser sentida até mesmo nos momentos
de lazer, pois para se divertir a elite cuiabana passou a organizar
saraus, nos quais se tocavam piano, recitavam poesias, de preferência
as de poetas francesas e dançavam valsas.
Outra forma de diversão encontrada foi o teatro. Em 1877 foi
inaugurada em Cuiabá, a sociedade Dramática “Amor e Arte”. Era uma
sociedade particular que contava com 62 sócios de camarotes e 98
sócios de platéia. As peças eram encenadas com a participação de
integrantes da elite.
Mesmo com todas as mudanças ocorridas após a Guerra do Paraguai,
“as autoridades governamentais e os viajantes estrangeiros que chegavam a Província,
mostravam-se bastante perplexos com Cuiabá ao constatarem que a cidade ainda não
dispunha de uma infra-estrutura digna das metrópoles mais civilizadas, como o calçamento
de ruas e passeios, matadouro público, saneamento e limpeza de ruas e córregos,80
iluminação nos bairros pobres e distritos mais afastados,água potável encanada e uma
moderna cadeia publica”51
Ainda no tocante a população cuiabana, vale ressaltar, que
segundo Moutinho, cronista português que viveu em Cuiabá nesse
período, as mulheres da elite ao saírem de casa trajavam vestidos de
seda, adquiridos a preços exorbitantes nas Casas de Comércio. Essas
mulheres tinham o seu cotidiano dividido entre as tarefas domesticas,
o cuidado com o marido e a educação das crianças. Iam a bailes, as
festas de casamento e a Igreja.
Já as mulheres livres pobres e as escravas freqüentavam as
tavernas, envolviam-se em brigas pelas ruas e becos sendo muitas
vezes detidas pelo chefe de Polícia. Eram presas também por estarem
embriagadas ou por dançarem o batuque, que era visto pelas
autoridades e pela elite local, como uma dança imoral. As mulheres
livres circulavam livremente pelas ruas e ocupavam as mais variadas
atividades para manter a sua sobrevivência.52
Concluindo esse capitulo, apresentaremos as principais
características da população da Província de Mato Grosso após a
guerra e com a reabertura da bacia Platina: 1. Predomínio da
população mestiça e negra sobre a população cabocla e branca; 2.
Presença mínima de estrangeiros; 3. Predomínio da população de
solteiros sobre os casados; 4. Equilíbrio entre a população masculina
e a feminina, embora em 1890, essa situação tenha se alterado, a
população feminina tornou-se mais numerosa.53
51 Ibidem, p.17.52 Cavalcante, A sífilis em Cuiabá, p.133.53 Peraro, Maria Adenir, Bastardos do Império, p.94.
81
Capitulo 10: Quadro econômico de Mato Grosso (1870/1930)
A reabertura da bacia Platina possibilitou a integração do Mato
Grosso ao capitalismo internacional. Através da navegação fluvial, a
Província exportava produtos da pecuária e do extrativismo vegetal, e
também recebia produtos industrializados. Na visão da elite mato-
grossense, a navegação da bacia Platina representava a oportunidade
para a Província superar a crise econômica.
Além da liberdade da navegação, havia outros fatores que
favoreciam o desenvolvimento econômico da Província, como por
exemplo, o crescimento populacional ocorrido a partir de 1870, a
riqueza do extrativismo vegetal e a existência de terras férteis.
Assim o território de Mato Grosso se tornava um atrativo para muitos
investidores.
No entanto, para estes empresários e para segmentos da elite
local, o atraso da província era justificado em função da falta de
iniciativa da sua população.54Portanto, na visão destes segmentos
sociais a solução era a importação de mão-de-obra.
A elite mato-grossense não estava solitária diante deste
posicionamento, pois estas idéias circularam também nas províncias da
região sudeste. Essa postura relacionava-se a crise do escravismo,
uma vez que em conseqüência da expansão do capitalismo, o governo
imperial era cada vez mais pressionado para acabar com a escravidão.
Na segunda metade do século XIX, a sociedade brasileira se
dividiu com relação a escravidão. Havia três correntes que se
destacavam: os emancipacionistas, defensores de uma extinção lenta e
gradual da escravidão; os abolicionistas que propunham uma libertação54 Volpato, Luiza, Cativos do Sertão, p.24.
82
imediata e os escravistas, que defendiam o sistema escravista. Os
abolicionistas pregavam a baixa produtividade do trabalho escravo, e
ainda utilizavam argumentos baseados nos direitos naturais, isto é,
de que toda pessoas tem direito à liberdade
Desta maneira, podemos assegurar que no decorrer da segunda
metade do século XIX, a escravidão centralizou os debates políticos,.
e a partir de 1850, que a idéia de que o trabalho escravo era a única
forma de trabalho possível, começou a entrar em declínio.
Para muitos fazendeiros da região sudeste, a saída para a
superação desta crise era a importação de mão-de-obra. Essa
experiência foi feita inicialmente, na década de 40, pelo senador
Vergueiro, que introduziu trabalhadores europeus em suas fazendas de
café. Mas foi somente em 1884, que o governo imperial aprovou a
“imigração subsidiada”, isto e´, o governo passou a financiar a vinda
de imigrantes europeus. Anteriormente, as passagens, o gastos de
viagem eram pagas pelos fazendeiros, portanto, tornavam os imigrantes
dependentes dos proprietários de terras, o que favorecia o surgimento
de conflitos.
Em Mato Grosso, a imigração foi defendida primeiramente pelo
presidente da Província, Francisco José Cardoso Junior, que em
correspondência ao Ministério do Império, argumentou que a debilidade
econômica da província era resultante do desânimo da população de
Mato Grosso, e opinou que a melhor saída era a vinda de colonos.55
Entretanto, a organização da imigração em Mato Grosso, se deu de
forma mais ativa, a partir da aprovação da Lei do Ventre Livre em
55 APMT-Oficio do Presidente da Província de Mato Grosso, Francisco José Cardoso Júnior ao Ministro e Secretario de Estado dos Negócios do Império. Cuiabá, 12 de Agosto de 1871.
83
1871. Assim, na década de 80, período em que se aprofunda a crise da
escravidão, se acentuou a transição do trabalho escravo para o
trabalho livre.
Em Mato Grosso a intensificação da imigração ocorreu ao final da
década de 80, com “a penetração de empresas colonizadoras privadas. Esforços
imigratórios, rumo ao Mato Grosso, tinham como alvo as populações que habitavam as
repúblicas vizinhas à província, especialmente os paraguaios.” 56
Logo, foi durante esse processo de transição do trabalho escravo
para o trabalho livre, que a província passou a exportar produtos do
extrativismo vegetal e da pecuária. A seguir, abordaremos os
principais produtos da economia mato-grossense.
1. Cana -de- Açúcar
Desde o início da colonização de Mato Grosso, a cana-de-açúcar
já se despontava como um dos produtos mais importantes para a
sobrevivência da população, que se dedicava a extração do ouro.
Cultivada em engenhos às margens do rio Cuiabá, em Serra Acima e em
Rio Abaixo, a produção dos engenhos visava o abastecimento de um
mercado interno.
Contudo, a partir da segunda metade do século XIX, a cana-de-
açúcar se tornou um dos principais produtos da economia mato-
grossense. A importância da produção açucareira estava associada a
abertura da bacia Platina, uma vez que com a livre navegação, os
proprietários de terras passaram a importar máquinas e equipamentos
para a instalação de usinas.
56 Siqueira, Elizabeth Madureira, Luzes e Sombras, p.65.
84
As usinas estavam localizadas nas margens dos rio Cuiabá e do
rio Paraguai. Entretanto foi principalmente às margens do rio Cuiabá
que se encontrava as mais importantes. Tal fato estava relacionado, a
facilidade do transporte do produto, bem como, as vantagens ofertadas
pela natureza, pois as inundações provocadas pelas águas do rio, no
período das chuvas, contribuíam para a fertilidade do solo na região
ribeirinha.
O plantio da cana-de-açúcar acontecia no mês de outubro, em
terras baixas e úmidas, pois as chuvas eram ainda escassas. Em
janeiro e março, período em que as chuvas eram abundantes, o cultivo
era feito nas terras mais altas.
As principais usinas de Mato Grosso(1870-1930) foram a de São
Gonçalo, da Conceição, Aricá, Flexas, Itaici, Maravilha, São Miguel,
São Sebastião, Tamandaré, localizadas às margens do rio Cuiabá, e da
Ressaca, às margens do rio Paraguai. Essas usinas contavam com
modernos equipamentos para o fabrico do açúcar, alambiques
aperfeiçoados para a destilação do álcool e da aguardente.
A produção média diária destas usinas era de 2000 a 5000 KG de
açúcar. Com essa produção, as usinas produziam para atender a demanda
interna e o mercado externo, comercializando com as demais províncias
brasileiras e com os países platinos.
Para manter o produtividade, além dos técnicos para o fabrico do
açúcar, era necessário a contração de trabalhadores para o cultivo da
cana. Assim a alternativa encontrada pelos usineiros foi adotar o
trabalho assalariado baseado na produção. A seguir, abordaremos as
principais usinas.
A Usina da Ressaca85
A usina era de propriedade de Joaquim Augusto Costa Marques,
governador de Mato Grosso, no período da república oligárquica.
Estava situada em Cáceres, e a 3 Km do rio Paraguai.
Em 1912, a sua produção chegou a 180.000 Kl de açúcar e de 90.
000 de aguardente. Para atingir essa produção, a usina contava com um
gerador de vapor composto por duas caldeiras. Neste período, tanto a
usina como as suas dependências eram iluminadas com luz elétrica.57
Nas margens do rio Paraguai, a usina possuía um porto de
embarque e desembarque, com deposito para produtos e mercadorias.
Havia na propriedade uma boa casa, que hospedava o seu
proprietário e convidados, grandes depósitos, casas para os
trabalhadores, oficinas de carpinteiro, de ferreiro e uma pequena
fundição de bronze.
Além da cana-de-açúcar, o proprietário plantava milho, feijão,
arroz, mandioca, banana e legumes. Criava também gado e fabricava
farinha de milho e de mandioca.
Usina de Itaici
Fundada em 1897, a usina estava localizada a margem direita do
rio Cuiabá, em Santo Antonio do Leverger, e pertencia a Antonio Paes
de Barros. No início do século XX, a propriedade foi adquirida pela
Almeida & Comp, cujos sócios eram o Coronel João Batista de Almeida
Filho, Amarilio de Almeida, dr. Alberto Novis, Antonio Augusto de
Azambuja e João Botocudo de Almeida.
57 Álbum Gráfico, p.273.
86
A usina possuía maquinas modernas e poderosas, que chegavam a
produzir 225 toneladas de açúcar.58 A semelhança das demais usinas,
Itaici produzia aguardente e tinha a sua produção enviada pela via
fluvial ate Cuiabá e Corumbá, de onde eram enviadas para o mercado
externo.
Havia na propriedade 45 habitações para os trabalhadores, uma
serraria e até uma farmácia, que atendia os seus moradores. Possuía
uma escola, que oferecia educação primaria. Também cultivavam cereais
para atender o consumo interno.
Usina da Conceição
Fundada por Joaquim Paes de Barros, ao final do século XIX, foi
a primeira usina de açúcar e de aguardente instalada em Mato Grosso.
Situada a margem direita do rio Cuiabá, um pouco acima de Santo
Antonio do Leverger, a propriedade contava com matas ricas em madeira
de lei, cortada por córregos e baias.
As máquinas da usina eram originarias da Inglaterra, tinha a
capacidade de produzir até 2400 litros de álcool e 200 arrobas de
açúcar em 12 horas.
Cultivavam o arroz, milho e feijão e criavam eqüinos e gado
bovino.
A propriedade contava com uma serraria, com depósitos para
armazenar a produção, com casa para os trabalhadores e uma casa
grande que abrigava os seus moradores.
Para transportar a cana-de-açúcar, havia carroças e embarcações.
58 idem,p.280
87
A produção era enviada para Cuiabá e Corumbá, e através da
navegação fluvial abastecia o mercado externo.
O trabalho nas Usinas
As usinas foram instaladas ao longo do rio Cuiabá, ao final do
século XIX, no momento em que a escravidão chegava ao fim. Assim
havia na região, mão-de-obra disponível para as usinas. Entretanto,
os usineiros reclamavam da disponibilidade de trabalhadores, alegando
que a escassez de mão-de-obra causava danos a produção.
Essa falta de braços para o trabalho estava relacionada a
vastidão de terras e a possibilidade da caça e da pesca para
sobrevivência. No entanto, a partir da segunda metade do século XX,
os homens pobres foram compelidos ao trabalho assalariado, pois a
ocupação das terras para o cultivo do açúcar e para a pecuária,
expulsou a população mais pobre das áreas próximas aos centros
urbanos, e além disso, surgiram proibições legais sobre a pesca no
rio Cuiabá, nas proximidades da cidade.59
As usinas dispunham de mão-de-obra fixa, mas no período de
safra, o usineiro contratava mais trabalhadores temporários.
Os camaradas (trabalhadores das usinas) residiam nas usinas e
cuidavam desde do cultivo da cana-de-açúcar até a produção do açúcar.
Estes trabalhadores eram demasiadamente explorados, tinha uma jornada
de trabalho extenuante, que se iniciava à meia noite e ia até as seis
da tarde.
Além disso, o trabalhador era espoliado pelo usineiro através do
“sistema de caderneta”. Os empregados eram obrigados a consumir os59 Aleixo, Lucia Helena Gaeta, Vozes no silêncio, p. 181.
88
produtos comercializados na venda da usina, que eram vendidos a
preços exorbitantes. Os produtos comprados eram anotados na
caderneta, porém o empregado não conseguia saldar as dívidas e desta
maneira, estava endividado e preso ao usineiro.
Os trabalhadores eram tratados como escravos, e quando resistiam
a dominação, desobedeciam os capatazes ou tentavam fugir eram
severamente castigados no tronco e a seguir trancados em solitárias.
O depoimento abaixo de um camarada da Usina de Aricá, demonstra
a dor, o sofrimento e a impotência dos trabalhadores com relação aos
mal-tratos dos patrões;
“A usina deu trabalho, deu vida pro pobre que não tinha comida.
Aí o homem virava bicho, só fazia geme e chora, para come tinha que inté suá sangue.
Tinha coroné que ajudava a gente, aguns era mardito, ruim, mandava bate e mata tudo
aqueles que não queria fica na usina pra trabalha. Nós pobre, sem nada pra vive, calava
com as morte, trabalhava, não tinha voz naquele silenço que defendesse nós. Delegado de
policia nem pensa, era afilhado ou coroné e nós trabalhava quieto, comia quieto, morria
quieto.”60
Desta foram, para controlar e disciplinar os trabalhadores, os
usineiros contavam com tropas de homens armados. Durante o período
republicano, a autoridade e o poder do usineiro ia além da sua
propriedade. Os usineiros eram detentores de força política, chegando
inclusive a nomear os delegados de polícia, que contribuíam para a
preservação do poder destes coronéis. Desta forma, os trabalhadores
60 Apud, Aleixo, Lucia, Vozes do Silencio, p164, 165.
89
sentiam vigiados e submetidos as ordens e aos desmandos dos
usineiros.
O poder dos usineiros (coronéis) começou a dar sinais de
declínio a partir de 1930, com a ascensão de Vargas à presidência da
República. Getulio Vargas deu inicio a uma política de combate ao
coronelismo, através da ação dos interventores federais. Para Mato
Grosso, o governo Vargas nomeou Mena Gonçalves, que combateu o regime
de escravidão existente nas usinas.
No entanto em Mato Grosso, esse poder iria se estender pelas
décadas seguintes e daria evidências de sua decadência somente quando
os segmentos sociais conseguiram se organizar em sindicatos,
associações ou federações, lutando pelos seus direitos e contra o
jugo dos coronéis.61
2. Poaia, Ipeca ou Ipecacuanha
A poaia, conhecida cientificamente como Cephaeles Ipecacuanha, é
um arvoredo encontrado no oeste de Mato Grosso, mais precisamente nas
bacias do rio Paraguai e Guaporé, cuja raiz é utilizada para fins
medicinais.
A raiz da poaia é rica em emetina, uma substância capaz de
tratar de algumas enfermidades do aparelho digestivo e do aparelho
respiratório.
Desde o século XVIII, os europeus já demonstravam o seu
interesse pela poaia, entretanto, foi somente a partir da segunda
metade do século XIX, devido a expansão industrial na Europa e
61 Madureira, Elizabeth Siqueira, O Processo Histórico de Mato Grosso, p.38.
90
conseqüentemente o aparecimento da industria farmacêutica, que a
poaia passou a ser extraída em larga escala.
No século XX, na década de 40, período em que o governo Vargas
patrocinou o desenvolvimento industrial do país, a poaia passou
também a atender a demanda interna.
A exploração da poaia era feita em matas fechadas, que eram
arrendadas a empresas de capital nacional e até mesmo a empresas de
capital estrangeiro.
No meio da área arrendada, era construída barracões para serem
guardados os mantimentos, como as ferramentas de trabalho. Havia
também ranchos, edificados para abrigar os trabalhadores.
Os trabalhadores eram contratados para fazerem a extração da
poaia. O contrato de trabalho era temporário, e ganhavam o seu
salário baseado na produtividade.
Trabalhavam somente no período das chuvas, e quando chegava a
seca, o trabalhador tinha que buscar outra alternativa de
subsistência. A saída de muitos deles era ir para Cáceres se empregar
nas fazendas de gado.
A labuta era muito cansativa, pois o ritmo de trabalho era de 10
a 12 horas diárias. Acordavam bem cedo, antes dos primeiros raios de
sol, faziam a primeira refeição e entravam na mata. Voltavam ao
rancho somente ao final da tarde carregando em uma mochila de couro,
a poaia extraída durante o dia.
Ao regressar secavam a poaia, e preparavam o seu alimento para o
jantar e a refeição para o dia seguinte.
Depois de extraída e em sacada, a poaia era transportada, em
lombos de animais até os rios, e através da navegação pela bacia
91
Platina, a ipeca ia abastecer o mercado externo, e posteriormente
(século XX), o mercado interno.
3. Erva- Mate
A erva mate (Ilex Paraguaiensis) tornou-se em um dos produtos
mais importante para a economia de Mato Grosso, ao final do século
XIX.
Os ervais eram encontrados ao sul de Mato Grosso, nas áreas
limitadas pelos rios Sete Voltas, Onças, Brilhante, Ivinhena, Paraná,
Serras do Maracaju e Amambahy.
Em 1878, Thomas Laranjeira arrendou terras ricas em ervais para
extrair a erva-mate. O interesse e a procura pela erva-mate cresceu
neste período, uma vez que os médicos em seus congressos defendiam
que a erva-mate era um excelente digestivo e poderoso como
afrodisíaco. Assim Thomas Laranjeira ao ganhar a concessão das terras
ao sul do Estado, fundou a Companhia Mate Laranjeira.
Thomas Laranjeira para fundar essa empresa contou com a
participação do Banco Rio e Mato Grosso. Além disso, Thomas
Laranjeira tinha como acionista, Joaquim Murtinho.
Joaquim Murtinho era um médico renomado, político de grande
expressão nacional, e durante a republica oligárquica chegou a ocupar
o ministério da Fazenda, do Governo de Campos Sales. Durante a sua
gestão, Joaquim Murtinho tomou medidas para desenvolver um rigoroso
programa deflacionário. Essas medidas tornaram a balança comercial
positiva, o câmbio elevou-se e a balança de pagamentos alcançou o seu
superávit, entretanto, as conseqüências sociais e econômicas internas
foram negativas, pois a quantidade de dinheiro em circulação foi92
drasticamente reduzida, gerando a carestia, o desemprego e a elevação
dos produtos de primeira necessidade. A deflação arrasou o comércio e
o credito bancário e as falências sucederam. Foi neste momento que
ocorreu a falência do Banco Rio e Mato Grosso, a maior acionista da
Mate Laranjeira.
Com a falência em 1902, o Banco Rio e Mato Grosso colocou a
venda as suas ações, que foram adquiridas por Thomas Laranjeira e
pelo empresário argentino Francisco Mendes. Desta maneira, a empresa
mudou a sua razão social passando a se denominar, Laranjeira, Mendes&
Companhia.
Thomas Laranjeira ficou encarregado de cuidar da extração do
mate no sul de Mato Grosso, enquanto Francisco Mendes da sua
industrialização em Buenos Aires. Na Argentina o mate era
beneficiado, isto é, as folhas e galhos eram reduzidos a pó e a
seguir enviadas para o mercado consumidor.
A Laranjeira e Mendes tornou-se uma grande empresa chegando a
ter uma renda seis vezes mais que o Estado de Mato Grosso.62 A empresa
tinha a seu serviço em media três mil trabalhadores, sendo a maioria
deles de paraguaios. Contava com o patrimônio de 500 carretas, 30
chatas, lanchas a vapor, muares, estradas de rodagem, pontes, 2
linhas Decauville com mais de 70 quilômetros de extensão.63
A empresa controlava a extração e a produção do mate,
monopolizando as terras no sul de Mato Grosso. No entanto, na década
de 30, do século XX, ocorreu a falência da Laranjeira, Mendes &
Companhia..
62 Siqueira, Elizabeth Madureira, O Processo Histórico, p.48.63 Álbum Gráfico, p 255.
93
A sua derrocada estava relacionada às diretrizes tomadas pelo
governo de Vargas. O governo federal estimulou a industrialização da
erva-mate, em Santa Catarina e no Paraná, e para isso beneficiou a
extração feita pelos pequenos produtores. E para estimular mais ainda
a produção do mate na região sul, o governo federal criou em 1938, o
Instituto Nacional do Mate.
Para piorar mais ainda a situação da Laranjeira e Mendes, o seu
maior comprador, a Argentina, passou a produzir o mate nas
províncias de Missiones e Corrientes.
O Trabalho e a produção do Mate
Como já foi mencionado, para a extração do mate, Thomas
Laranjeira preferia para trabalhar nos ervais da empresa os
paraguaios. Essa preferência estava associada, ao fim da Guerra do
Paraguai, pois uma das seqüelas deste conflito armado foi à migração
dos paraguaios para o Mato Grosso. Com a economia debilitada, muitos
paraguaios vinham buscar a sua sobrevivência em Mato Grosso,
sujeitando-se a trabalhar por um mísero salário.
Esses paraguaios empregados na extração do mate eram chamados de
mineros. Recebiam seus salários de acordo com a sua produção.
Entretanto ao receber os seus salários viam-se em dívida com a
empresa, pois os seus alimentos, vestimentas eram compradas no
armazém da empresa. Esse situação provocava descontentamentos e para
evitar a resistência dos trabalhadores, a empresa contava como uma
força paramilitar denominada de comitiveros.
O trabalho consistia na poda de um pequeno arvoredo que
raramente excede a 1,50 metros de altura. Os galhos eram cortados e94
transportados pelos trabalhadores aos ranchos do acampamento, aonde
eram torrados em fogo brando. A seguir eram ensacados e transportados
em navios a vapor até Buenos Aires. Anteriormente o transporte era
feito em chalanas (pequenas embarcações), em carretas puxadas por
bois através de uma via férrea de 25 km de extensão ligando Porto
Murtinho à Serra de São Roque.
A extração do mate acontecia nos meses de janeiro a agosto, no
restante do ano eram para a florescência das árvores.
4. Borracha
A borracha é o produto extraído de árvores como a mangabeira, a
maniçoba, a castilloa, a funtumia, a fícus e a Hevea.
Os espanhóis foram os primeiros europeus a entrar em contato com
a borracha. Ao chegarem na América, constaram que os nativos das
Antilhas e do México a utilizavam. Porém o primeiro registro deste
produto do extrativismo vegetal foi feito por Gonzalo Fernandes
d’Oviedo y Valdas, em sua obra Historia Geral das Indias . Nesta obra, o
espanhol registrou que os índios utilizavam a borracha para fazer uma
bola para jogar um jogo chamado por eles de Batey.64
Em 1731, a Academia de Paris organizou duas expedições
comandadas pó Lacondamine e Bougier, que se seguiu para o Equador. Ao
chegar em Quito, os viajantes colheram algumas mostras do látex e
enviaram para a França. Informaram também a existência da borracha no
rio Amazonas, e que os índios Mainas a usavam para confeccionar as
suas botas.
64 Álbum Gráfico, p. 248.
95
O interesse pela borracha, contudo, se daria a partir de 1840,
quando Goodyear descobriu como fazer a vulcanização da borracha.
Assim deu inicio a corrida pelo látex, encontrado nos rios da bacia
Amazônica e em Mato Grosso, nos rios que compõem a bacia Platina.
Em Mato Grosso, a extração da borracha aconteceu após a Guerra
do Paraguai, era extraído principalmente das mangabeiras, e foi
iniciada pelo Major José Vieira Coqueiro.
A industria extrativista trabalhava na sua extração nos
municípios de Santo Antonio do Rio Madeira, nos rios Machado, Jamary,
Jacy-Paraná, Mutum-Paraná, Paca Nova e Guaporé e seus afluentes, no
rio Madeira, até quase todo o município de Diamantino.65
A borracha extraída de Mato Grosso abastecia o mercado interno e
o mercado externo, e para isso o escoamento era realizado através da
bacia Platina.. No início do século XX, o governo brasileiro investiu
na construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré, para escoar a
borracha até o porto de Manaus, entretanto, devido as dificuldades
encontradas para a construção da ferrovia, o projeto não foi
finalizado.
O interesse pela borracha ao final do século XIX, provocou uma
intensa migração para Mato Grosso e Amazônia. Os migrantes vinham em
busca de trabalho, eram provenientes principalmente do nordeste, que
naquele período era assolado por uma terrível seca.
Esses migrantes geralmente saíam do nordeste contratados pelos
seringueiros. Tinham a sua passagem financiada pelos produtores de
borracha, com isso chegavam devendo e subordinados ao seringueiro.
65 Idem, p. 248.
96
Ao chegarem ao local de trabalho recebiam do seringalista
dinheiro para a aquisição de ferramentas de trabalho e de alimentos,
aumentando mais ainda a sua dependência ao patrão.
Ao chegarem a zona de extração do látex, os trabalhadores abriam
caminhos dentro da mata, recebiam as árvores, dando a seguir início a
extração. Para obter o látex faziam um corte no tronco da árvore,
colocavam uma caneca amarrada a árvore. Depois de executar essa
atividade, o trabalhador retornava recolhendo todo o látex. A próxima
etapa da produção era a coagulação do látex. Para realizá-la, era
usado o alumen, um produto químico que provoca o aquecimento do
produto permitindo a confecção de bolas. Essas bolas eram enviadas
para o mercado externo.
A extração do látex acontecia somente no período das secas, pois
as chuvas tornavam difícil o processo de coagulação. No período das
chuvas, o trabalhador não podia sair das áreas de extração, ficando
aguardando a seca, consumindo os produtos do armazém do patrão e se
endividando mais ainda.
O trabalhador recebia de acordo com a sua produção, assim ao
final do dia ao regressar ao acampamento, a sua produção era anotada
em uma caderneta, e ao final do mês recebia o seu salário. Ao acertar
o salário, o trabalhador praticamente nada tinha a receber, pois
tinha que pagar ao patrão as despesas feitas em seu armazém. Muitos
destes trabalhadores inconformados com essa exploração fugiam, porém
eram perseguidos pelos capangas dos seringalistas.
5. Pecuária
97
A pecuária contribuiu para o processo de colonização de Mato
Grosso. Inicialmente essa atividade econômica se desenvolveu como uma
economia complementar à mineração.
As primeiras fazendas de criação de gado surgiram em Chapada dos
Guimarães (Serra Acima) e abasteciam as minas de Cuiabá.
Posteriormente a criação de gado se estendeu a outras regiões da
Capitania de Mato Grosso, como o Pantanal, a São Pedro d’El Rey
(Poconé) e a Vila Maria de Cáceres (Cáceres).
A criação do gado era extensiva, isto é, solto nos pastos e
destinados para o corte. Nas fazendas, o gado era cuidado por homens
livres pobres, que recebiam salário. Os escravos ficavam incumbidos
de cuidar das tarefas domésticas na casa grande e nas roças de
subsistência.
Na segunda metade do século XIX, com a abertura da Bacia
Platina, a pecuária foi beneficiada, pois através da navegação
fluvial, a Província exportava para os países platinos e para as
demais províncias brasileiras o charque, o caldo de carne, o couro, a
crina e o sebo.
A produção do charque atendia também ao mercado interno, pois a
carne consistia em um dos produtos mais apreciados pela população de
Mato Grosso. Contudo, os médicos e as autoridades governamentais viam
com desconfiança essa preferência, pois a inexistência de um
matadouro ameaçava a saúde da população, pois o gado era abatido em
péssimas condições de higiene. As autoridades alertavam para a
prática de trancar o gado nos currais, pois sem água e sem pasto,
eram enviados ao abate sem nenhuma inspeção sanitária.66 Assim
66 Cavalcante, Else Dias de Araújo, A sífilis em Cuiabá, p.70.
98
alertados sobre o perigo do consumo da carne, a saída da população
era o consumo da charque.
No entanto foi somente no início do século XX, com a construção
da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, que a atividade da pecuária
passou a ser significativa para a economia mato-grossense. A estrada
de ferro ligava o sul de Mato Grosso a cidade de Bauru, no Estado de
São Paulo. Através dela, o gado era transportado para engorda em São
Paulo, aonde era abatido e beneficiado. A estrada de ferro acabou
ainda estimulando a pecuária no sul do Estado.
A criação do gado favoreceu o desenvolvimento da indústria do
charque. Umas das mais significativas foi Descalvado instalada as
margens do rio Paraguai, em Cáceres. A charqueada foi construída com
capital estrangeiro, e pertencia ao argentino Rafael Del Sar, que
mais tarde a vendeu para uma companhia belga. Posteriormente,
Descalvado foi comprada pela Brazil Land& Castle Packing Co,
associada ao Sindicato Facquhr, da Alemanha.
Além deste saleiro, Mato Grosso contou com o Saladeiro Miranda,
de propriedade da empresa de Montevidéu Deambrosio, Legrand & Cia, do
Saladeiro Tereré, nas proximidades de Porto Murtinho e o Saladeiro do
Barranco Branco, também perto de Porto Murtinho.67
O quadro abaixo apresenta os principais saladeiros de Mato
Grosso:
Bagoari, Corumbá e Rebojo Corumbá67 Álbum Gráfico, p.293.
99
Barranco Branco, Mato Grosso Porto MurtinhoAlegre CoximSão João PoconéCuiabá CuiabáPedra Branca Miranda Aquidauna AquidauanaCampo Grande, Rio Pardo e
Esperança
Campo Grande
Serrinha Três LagoasFonte: Borges(2001) Apud: Siqueira, Elizabeth, Historia de Mato
Grosso, p. 119.
Capitulo 11: Transição do Trabalho Escravo para o Trabalho Livre em
Mato Grosso
Na segunda metade do século XIX, a economia cafeeira estava em
franca expansão, favorecendo a industrialização, que acarretou o
crescimento desorganizado de cidades como São Paulo e o Rio de
Janeiro.
Neste período, muitos imigrantes europeus chegaram ao Brasil
atraídos pelo sonho de enriquecimento, de fazer a América. Vieram
trabalhar nas fazendas de café, aonde eram extremamente explorados e
logo perceberam que o sonho de enriquecimento estava bastante
distante, pois o acesso a terra tornou-se mais difícil com a
promulgação da Lei de Terras(1850), que estabeleceu que as terras
100
devolutas deviam ir a leilão. Assim a propriedade da terra tornou-se
inacessível ao homem pobre do campo.
Cansados da exploração dos fazendeiros, muitos imigrantes foram
para São Paulo trabalhar nas fábricas engrossando as fileiras dos
moradores dos cortiços. Essas moradias abrigavam os setores sociais
marginalizados, que viviam amontoados em péssimas condições de
higiene.
As transformações econômicas e sociais exigiam mudanças nas
relações de produção, provocando uma crise do sistema escravista.
Desta maneira, o governo imperial preocupou-se em atender os
diferentes posicionamentos sobre a extinção da escravidão.
Havia aqueles que eram partidários de um fim de escravidão
lenta e gradual, outros advogavam a libertação imediata e ainda havia
aqueles que defendiam a sua manutenção.
Além disso, a Inglaterra interessada na expansão do mercado
consumidor, pressionava o governo imperial para finalizar o tráfico
de escravos intercontinental.
Diante destas pressões, o governo imperial interessado em
atender aos diferentes interesses, iniciou a promulgação das leis
abolicionistas. Em 1850, foi aprovada a Lei Eusébio de Queiroz, que
estabeleceu o fim do tráfico de escravos, contudo foi somente em
1888, com a assinatura da Lei Áúrea que a escravidão chegou ao fim.
Essas alterações ocorridas na região sudeste acabaram repercutindo na
Província de Mato Grosso.
Em Mato Grosso, a aprovação da lei Eusébio de Queiroz não trouxe
transformações sensíveis, uma vez que o número de escravos existente
na província era suficiente. Além disso, a economia extrativista da
poaia, da erva-mate e da borracha, devido as suas particularidades,101
optou pelo trabalho do homem livre. Assim os escravos existentes eram
absorvidos na economia açucareira.
Para garantir o suprimento de mão-de-obra para os produtores de
açúcar foi necessário apelar para o trafico interprovincial de
escravos. O surgimento do tráfico interno de escravos estava
relacionado a proibição do tráfico intercontinental, pois com o fim
do abastecimento de escravos, as províncias do nordeste passaram a
abastecer as demais províncias brasileiras, solucionado o problema da
falta de mão-de-obra.
Em Mato Grosso, o governo para assegurar a mão-de-obra escrava
aos produtores de açucar chegou a estabelecer uma taxa de 30% sobre
cada escravo que fosse vendido a outra província.68
A Lei Eusébio de Queiroz favoreceu para que muitos escravos
utilizados no serviço doméstico em Cuiabá fosse transferido para a
lavoura canavieira. Desta forma, em 1868-1869, ocorreu a diminuição
do número de escravos urbanos em Cuiabá. A diminuição da quantidade
de escravos na capital da Província foi ocasionada pela epidemia de
varíola ( 1867), que dizimou muitos escravos, pela Guerra do
Paraguai, uma vez que muitos escravos foram enviados aos campos de
batalha, pelo deslocamento de escravos domésticos para a economia
açucareiro em expansão, pela abolição do trafico negreiro e
posteriormente as demais leis abolicionistas acabaram dificultando
mais ainda a aquisição de escravos.69
No tocante as atividades urbanas, os escravos além de
trabalharem nos serviços domésticos, eram encontrados trabalhando
como carpinteiros, oleiros, sapateiros, dentre outras funções. Pelas
68 ALEIXO, Lúcia Helena, Mato Grosso-Trabalho escravo e trablho livre, p.48.69 Idem, p.50.
102
ruas de Cuiabá, os escravos podiam ser vistos no comércio ambulante,
negociando mercadorias que eram vendidas para manter a sua
sobrevivência ou adquirir a sua carta de alforria.
Com a abolição do trafico, o preço do escravo aumentou e as
fugas tornaram-se mais freqüentes. Os jornais que circulavam na
província noticiavam as fugas, dando detalhes físicos do escravo
fujão e prometendo recompensa e prêmios. A exemplo, temos o anúncio
abaixo:
Gritada-se com a quantia de 150 $ 000 a quem capturar os escravos Modesto e
Zeferino, pertencentes ao senhor Urbano José de Arruda... 70
Em 1871 com a aprovação da Lei do Ventre Livre, o governo
imperial determinou a liberdade para as crianças nascidas na
escravidão. Porém essa lei foi pouco cumprida, pois os proprietários
de escravos alteravam as datas de nascimento e evitavam batizar as
crianças, para impedir a execução da lei.
Em 1885, a Lei Saraiva Cotegipe ou dos Sexagenários, que
concedeu a liberdade aos negros idosos, não promoveu também muitas
alterações, uma vez que muitos escravos faleciam antes de conseguir
usufruir dos seus direitos. De acordo com o Relatório da Agricultura,
em 1888, na Província de Mato Grosso havia somente 20 sexagenários
libertos.71
Entretanto, é importante salientar, que os idosos alforriados
preferiam continuar a viver nas fazendas dos seus antigos donos, pois
70 APMT-Provincia de Mato Grosso, 18/09/1881.71 ALEIXO, Lucia Helena, p.85.
103
não possuíam terra no campo e nem uma profissão qualificada para irem
para a cidade.
Paralelamente as leis abolicionistas, ocorreu em Mato Grosso, o
surgimento de Sociedades de Emancipação. Essas sociedades sobreviviam
com muitas dificuldades financeiras, pouco podendo fazer pelo fim da
escravidão. Porém, os escravos libertados pelas sociedades de
emancipação continuavam sob a tutela de seus antigos proprietários.
Durante a crise do escravismo, as cartas de alforria tornaram-se
bastante corriqueiras, entretanto favoreciam principalmente as
mulheres e as crianças, pois os escravos do sexo masculino eram
imprescindíveis nas atividades econômicas. A seguir apresentamos
abaixo um exemplo de carta de alforria
Por esta que vai por mim feita e assinada concebo liberdade a minha escrava Isabel
pelos bons serviços que prestou-me durante pouco tempo que esta em meu poder, pois
quando a comprei foi mesmo para fazer-lhe este ato caritativo. Espero que como prometo
não seria desconhecida a este beneficio e continuara a morarem minha casa e servir-me
sito que não tenho quem me sirva sem constrangimento. Cuiabá, 19 de marco de 1880.72
Concluindo podemos afirmar que o abolicionismo atingiu a
Província de Mato Grosso, entretanto, nesse período a economia da
Província já estava sustentada na mão-de-obra livre, logo a crise do
escravismo não abalou a economia mato-grossense.
Presidentes da Província de Mato Grosso
72 Ministerio da Cultura- Como se de ventre livre nascido fosse, p.33.
104
Período Nome
1825-1828: José Saturnino da Costa Pereira.1828-1830:Jerônimo Joaquim Nunes.1830-1831: André Gaudie Ley.1831-1833: Antonio Correa da Costa.1833: André Gaudie Ley1833:1834: Antonio Correa da Costa.1834:José de Melo Vasconcelos1834: Joao Poupino Caldas1834-1836: Antonio Pedro de Alencastro1836: Antonio Correa da Costa.1836:Antonio José da Silva 1836-1838: José Antonio Pimenta Bueno.1838:José da Silva Guimarães.1838-1840: Estevão Ribeiro de Resende.1840: Antonio Correa da Costa.1840-1842: José da Silva Guimarães. 1842-1843: Antonio Correa da Costa.1843: José da Silva Guimarães.1843: Manuel Alves Ribeiro.1843: José Mariano de Campos.1843-1844: Zeferino Pimentel Moreira Freire.1844-1847: Ricardo José Gomes Jardim1847-1848:João Crispiano Soares.1848: Manuel Alves Ribeiro1848: Antonio Nunes da Cunha.1848-1849: Joaquim José de Oliveira.
105
1849-1851: João José da Costa Pimentel.1851-1857: Augusto Leverger.1857-1858: Albano de Souza Osório.1858-1859: Joaquim Raimundo Delamare.1859-1862: Antonio Pedro de Alencastro.1862-1863:Herculano Ferreira Pena.1863: Augusto Leverger.1863-1865: Alexandre Manuel Albino de Carvalho.1865-1866: Augusto Leverger.1866-1867: Albano de Souza Osório.1867-1868: José Vieira Couto de Magalhães.1868: João Batista de Olivieria.1868: Albano de Souza Osório.1868-1869: José Antonio Murtinho.1869-1870: Augusto Leverger.1870: Luís da Silva Prado.1870: Antonio de Cerqueira Caldas.1870-1871: Francisco Antonio Raposo.1871: Antonio de Cerqueira Caldas.1871-1872: Francisco José Cardoso Júnior.1872-1874: José de Miranda Reis.1874-1875: Antonio de Cerqueira Caldas.1875-1878: Hermes Ernesto da Fonseca.1878: João Batista de Oliveira.1878-1879: João José Pedrosa.1879-1881: Rufino Enéas Gustavo Falcão. 1881: José Leite Galvão.1881-1883: José Maria de Alencastro.
106
1883: José Leite Falcão.1883-1884:Manuel de Almeida Gama Lobo D’Eça.1884-1885: Floriano Peixoto.1885: José Joaquim Ramos Ferreira.1885-1886: Joaquim Galdino Pimentel.1886: Antonio Augusto Ramiro de Carvalho. 1886-1887: Álvaro Rodovalho Marcondes dos Reis.1887: Antonio augusto Ramiro de Carvalho.1887: José Joaquim Ramos Ferreira.1887-1889: Francisco Rafael de Melo Rego.1889: Antonio Herculano de Souza Bandeira.1889: Manuel José Murtinho.1889: Ernesto Augusto Cunha Matos.
Atividades
1)(UFMT) Em relação a Mato Grosso, no contexto da independência do
Brasil, julgue os itens:
( ) Ocorria mudança do eixo econômico, Vila Bela para Cuiabá, em
função da decadência da mineração e da incrementação das atividades
agropecuárias e comerciais.
( ) A população distribuia-se de forma heterogênea com maior
concentração na região central, onde se localizava Cuiabá, principal
centro urbano, embora em 1822, não fosse a capital.
( ) A disputa pela localização da capital, envolvendo Cuiabá e
Vila Bela da Santíssima Trindade, na realidade colocava em campos
opostos a oligarquia do norte cujo poder centrava-se em mãos doas
107
altos funcionários, burocratas, e a oligarquia do sul com base nos
latifundiários pantaneiros.
( ) As dificuldades financeiras vivenciadas na Capitania que,
além de periférica, passava pela diminuição da produção aurífera,
foram agravadas pelos gastos excessivos de Capitães-generais com
festas e ostentações que lhes garantiam popularidade entre a elite.
2)(UFMT) Em relação à extinção do trafico negreiro, aprovada pelo
império Brasileiro em 1850, julgue os ítens:
( ) O fim do trafico não comprometeu o sistema compulsório de mão-
de-obra porque a taxa positiva de crescimento vegetativo da população
escrava satisfez em grande parte a demanda.
( ) A utilização da mão-de-obra livre nacional e a aquisição de
escravos do Centro-Oeste decadente foram soluções adotadas pela
política imperial para a falta de braços na lavoura cafeeira.
( ) A lei de Terras, aprovada em 1850, determinou que as terras
públicas passassem a ser vendidas e foi um mecanismo para dificultar
o acesso `a propriedade de terras por parte de futuros imigrantes.
( ) A reorientação de capitais antes utilizados na importação de
escravos dinamizou a economia brasileira, dando origem a bancos,
industrias e empresas de navegação.
3) (UFMT) Considerando o contexto de euforia vivido na Província de
Mato Grosso após o termino da guerra contra o Paraguai em 1870,
julgue os itens:
108
( ) A abertura da navegação pelo rio Paraguai estimulou as
atividades produtivas e as Casas Comerciais passaram a acumular
lucros com a importação e a exportação de mercadorias.
( ) A existência de inúmeros engenhos em Mato Grosso,
especialmente ao longo do rio Cuiabá e em Chapada dos Guimarães,
propiciou a montagem de usinas de açúcar, evidenciando o desejo de
modernização da produção.
( ) A extração da erva mate, que tinha por base a mão-de-obra
escrava representou uma exceção nesse contexto, pois entrou em
decadência devido à concorrência européia que, graças à produtividade
da mão-de-obra assalariada oferecia melhores preços no mercado
internacional.
( ) A poaia ou ipecacuanha, planta nativa das matas localizadas
entre Cáceres e Chapada dos Guimarães, era utilizada pelos índios
para cura de várias doenças e teve um significativo papel nas
exportações para a Europa, onde foi pesquisada e utilizada na
fabricação de remédios.
4) (UFMT) A rusga foi um movimento social ocorrido em Mato Grosso no
ano de 1834, que contou com a participação de diferentes camadas da
sociedade mato-grossense.( Elizabeth Madureira Siqueira. O processo
histórico de Mato Grosso. Cuiabá, 1990, p. 107)
Os itens desta questão têm relação com o contexto citado. Julgue-os
colocando V ou F.
( ) A luta entre os dois grupos dominantes, um liberal e outro
conservador, tinha como razão a disputa pelo poder político.
( ) A decadência da produção do ouro e o sistema de cobrança do
quinto, devido à Coroa, contribui para a eclosão do movimento.109
( ) A exigência de maior autonomia regional, em relação ao governo
central, foi uma das características desta revolta.
( ) A expulsão dos portugueses e outros estrangeiros, fazia parte
dos programas dos revoltosos.
5)( UFMT) Em Mato Grosso, no final do século XIX, as usinas de açúcar
proliferaram principalmente ao lado do rio Cuiabá, na região de Santo
Antonio do Leverger. A este respeito julgue os itens abaixo:
( ) A mais famosa usina foi do Itaici, de propriedade do político
mato-grossense Antonio Paes de Barros, vulgo Totó Paes.
( ) A importância das usinas estava ligada ao fato de que os
proprietários, intitulados “coronéis” controlavam o voto dos
trabalhadores e formavam redutos eleitorais.
( ) A produção açucareira das usinas de Mato Grosso alcançou
índices elevados e teve um papel significativo na exportação
regional.
( ) Na importação das usinas açucareiras as relações de trabalho
modernizaram-se ao ponto de antecipar os direitos trabalhistas que no
restante do Brasil somente seriam oficializados com a Consolidação
das Leis Trabalhistas( CLT).
6) Em meados do século XIX, finalmente se abriu a navegação pelo rio
Paraguai, fato que facilitou sobremaneira os transportes e a
comunicação para a Província de Mato Grosso. O novo trajeto tinha o
Cuiabá e o Paraguai como os principais rios” (Silva, Edil Pedroso. O
cotidiano dos viajantes nos caminhos fluviais de Mato Grosso, p.23 ).
110
Em 1865 com o inicio da Guerra da Tríplice Aliança, a bacia Platina
se tornou o palco da Guerra. Sobre a Guerra do Paraguai, assinale a
alternativa incorreta.
a)Com a invasão de Corumbá, a população da Província de Mato Grosso
se sentiu bastante insegura.
b)O conflito provocou o aumento exorbitante dos gêneros alimentícios,
e dentre estes o maior aumento recaiu sobre o sal.
c)Essa guerra interessava ao capitalismo inglês, pois o
desenvolvimento independente do Paraguai preocupava a Inglaterra.
d)Há muitas divergências na historiografia brasileira com relação as
reais causas da Guerra.
e)Uma das seqüelas trazidas pela guerra para a Província de Mato
Grosso foi a Cólera, que acabou exterminado parte significativa da
sua população e apesar do cordão sanitário organizado pelo governo
imperial o mal se propagou por Cuiabá.
7) Os conflitos envolvendo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai no
século XIX, tinham como causa principal:
a) disputas pelo controle da bacia do Rio da Prata;
b) a disputa pela indústria paraguaia;
c) as disputas entre liberais e conservadores;
d) a abolição da escravidão;
e)estabelecer os limites territoriais, respeitando o Tratado de
Madri.
8) Sobre a Rusga, julgue os itens abaixo:
111
( ) Ocorrida no 1º reinado, representou uma disputa política local
entre os Conservadores e Liberais.
( ) Os Conservadores eram representados nesse período pela Sociedade
dos Zelosos da independência.
( ) Ocasionou apenas a transferência do poder político das mãos dos
liberais para conservadores que mantiveram a mesma ordem sócio-
econômica na região.
( ) Esteve inserido no contexto dessa revolta social um forte
sentimento de aversão aos estrangeiros (xenofobia), representado
pelas perseguições aos comerciantes portugueses (bicudos).
(...) A Rusga contou com a participação dos soldados da Guarda
Nacional.
9) Em 1834, no momento que eclodiu a Rusga, o presidente da província
de Mato Grosso era:
a)José Jacinto de Carvalho.
b)Pascoal Moreira Cabral.
c)João Poupino Caldas.
d)) Bento Xavier.
e)Caetano Montenegro.
10) O Tratado de Aliança, Comércio, Navegação assinado em 1856, entre
o Brasil e o Paraguai, permitia;
a)o livre comercio entre os paises.
b)a tomada da área parcial do Paraguai.
c)a prisão de Solono Lopez.
d) a navegação pelo rio Paraguai.
112
e) a navegação pelo rio Uruguai.
11) “Em 1 de julho de 1867 chegou a Cuiabá um vapor proveniente de
Corumbá que trazia a bordo um soldado contaminado pela varíola. As
pessoas que estiveram em contato com ele logo caíram doentes. O mal
se espalhou rapidamente pela cidade atingindo do Porto Geral ao
Mundéu”. (Cavalcante, Else. Imagens de uma epidemia, p.11).
A citação acima faz alusão a epidemia de varíola que atingiu a cidade
de Cuiabá, na segunda metade do século XIX. A respeito deste contexto
histórico, é incorreto afirmar que:
a)A epidemia aconteceu no período da Guerra do Paraguai.
b) Para conter o surto epidêmico, o governo provincial construiu o
cemitério de Nossa Senhora do Carmo.
c) A solução mais efetiva tomada pelas autoridades governamentais foi
a aprovação da Lei da Vacinação Obrigatória.
d) A epidemia não ficou restrita a Cuiabá, mas se alastrou por outras
localidades.
e) No decorrer do século XIX, o país foi assolado por diversas
epidemias. Estas se proliferaram em conseqüência da falta de higiene
da população assim como da falta de um saneamento básico nas cidades
brasileiras.
12) Durante o período regencial, Cuiabá e suas imediações foi palco
de um movimento social denominado de Rusga. A respeito deste
movimento social é incorreto afirmar que:
a)Teve como uma de suas causas a luta política entre os liberais e os
conservadores.
113
b) Havia no partido liberal duas facções: os liberais moderados e os
liberais exaltados.
c) Os conservadores ou caramurus eram os representantes da elite
nativa, e tinham uma profunda aversão aos portugueses e aos demais
estrangeiros.
d) Os liberais faziam as suas reuniões na Sociedade Zelosos da
Independência.
e) Um dos lideres do movimento foi João Poupino Caldas e Patrício
Manso.
13) no inicio do ano de 1834, o Partido Conservador estava no poder,
e garantiam os privilégios dos portugueses, principalmente dos ricos
comerciantes. A importância dada a esse grupo social acabou
provocando descontentamentos, que por sua vez acabaram provocando a
Rusga. Em 1834, o Presidente da Província de Mato Grosso afastado em
conseqüência da crise política que se anunciava era o conservador:
a)Antonio Correa da Costa.
b) Antonio Maria Correa.
c) João Poupino Caldas.
d) Antonio Pedro Alencastro.
e)Pascoal Domingues de Miranda.
14) Na segunda metade do século XIX, Mato Grosso se enquadrou no
órbita do capitalismo através da navegação da bacia Platina. Sobre
esse contexto histórico, é válido afirmar que:
a)A navegação da bacia Platina somente foi possível com a assinatura
do Tratado de Aliança, Comércio, Navegação e Extradição entre Brasil
e Bolívia.114
b) Através da navegação fluvial, Mato Grosso exportava matéria-prima
para os países platinos e importava produtos manufaturados das
potências européias.
c) Com a navegação fluvial, a Província conseguiu superar a sua
debilidade econômica.
d) A navegação do Prata somente foi rompida no inicio do século XX,
com a construção da E. F. Noroeste do Brasil.
e) A navegação do Prata atendia aos interesses da elite regional,
assim como da Inglaterra, que em conseqüência da sua produção
industrial precisava da abertura de novos mercados.
15) A respeito da Guerra da Tríplice Aliança, assinale a alternativa
correta:
a)O estopim da guerra foi motivada pelo aprisionamento do navio
brasileiro “ Marques de Olinda”, que trazia a bordo o novo presidente
da Província, Augusto Leverger.
b) A guerra foi marcada pela formação de uma aliança entre o Brasil,
Argentina, Uruguai e Chile, em combate com o Paraguai.
c) Francisco Solano Lopes, presidente do Paraguai atingiu o Império
Brasileiro pelo atual Estado do Mato Grosso do Sul.
d) O primeiro ataque das tropas paraguaias ocorreu em Corumbá.
e) Durante o conflito armado, Corumbá se manteve intacta e a sua
população em segurança.
16) Em 1867, com a retomada de Corumbá, a Província de Mato Grosso
viveu um dos momentos mais desastrosos da sua história, a epidemia de
varíola. Sobre esse período histórico é correto afirmar que:
115
I-A doença dizimou quase a metade da população cuiabana e foi capaz
de alterar até mesmo as relações afetivas.
II- Segundo o cronista Joaquim Ferreira Moutinho, corpos eram
colocados na rua e devorados por cães e corvos. Por toda a cidade
sentia-se o odor dos cadáveres em estado de putrefação.
III-Durante o surto epidêmico da varíola, o Presidente da Província
era Couto de Magalhães.
a)I,II e III são corretas.
b) I e II são corretas.
c) I e III são corretas.
d) II e III são corretas.
e) Não há alternativa correta.
17) A guerra da Tríplice Aliança trouxe muitas transformações para
Mato Grosso. Com relação a essas mudanças, assinale a alternativa
incorreta.
a)Em 1870, com o fim da guerra ocorreu a reabertura da bacia Platina.
b) Os portos de Corumbá, Cáceres e Cuiabá passaram a exportar
produtos do extrativismo vegetal e produtos da pecuária aos países
platinos e as províncias brasileiras.
c) Com a reabertura da bacia Platina, Casas de Comercio surgiram nas
cidades portuárias como Corumbá, Cuiabá e Cáceres.
d) Mato Grosso perdeu parte do seu território ao final do conflito
armado.116
e) Ocorreu uma migração dos paraguaios para Mato Grosso à procura de
uma vida melhor.
18) Com a reabertura da bacia Platina, Mato Grosso tornou-se um
importante produtor e exportador de erva mate. A respeito dessa
economia extrativista, assinale a alternativa correta.
a)A erva mate era nativo da região oeste de Mato Grosso.
b)A mão-de-obra utilizada na extração do mate foi a do africano.
c)O principal comprador de mate era a Bolívia.
d) A Companhia Mate Laranjeira praticamente detinha o monopólio na
extração do mate em Mato Grosso.
e) Aqueles que trabalhavam na extração do mate eram chamados de
“camaradas”.
19) A poaia conhecida cientificamente como Cephalis ipecacuanha foi
um dos principais produtos da economia mato-grossense a partir de
1860. Sobre a poaia é correto afirmar que:
a)O produto atendia a demanda do mercado interno e externo.
b) O produto era extraído no oeste da Província somente no período
das secas.
c)A ipeca era nativa da região de Cáceres, Barra dos Bugres, Vila
Bela e Cuiabá.
d) A poaia era encontrada somente em Mato Grosso.
e) O produto era escoado em chatas, botes, batelões ou lanchas ás
províncias do sudeste visando atender a indústria de remédios.
117
20) Com a abertura da bacia Platina pelo rio Paraguai, muitas
proprietários de terras importar máquinas para a instalação de
usinas. A esse respeito é válido afirmar que:
a)As usinas surgiram principalmente as margens do rio Cuiabá e em
Chapada dos Guimarães.
b) Os trabalhadores das usinas no século XIX era desempenhado pelos
escravos, já no início do século XX por homens livres pobres que
eram denominados de “mineros”
c) Umas das principais usinas foi a da Ressaca construída em Santo
Antônio do Leverger.
d) Na década de 30, do século 20, Vargas conferiu uma série de
benefícios aos usineiros para incentivar a produção açucareira no
Estado.
e) A produção das usinas era escoada principalmente pela bacia
Platina.
21) A respeito da pecuária em Mato Grosso, assinale a alternativa
incorreta:
a)Desde o período colonial, a pecuária consistiu em uma atividade
econômica importante no abastecimento do mercado interno.
b) A E.F. Noroeste da Brasil provocou o desenvolvimento desta
atividade econômica, principalmente na região sul do Estado.
c) A mão-de-obra empregada na criação de gado exigia muitos
trabalhadores, por isso até o final do século XIX, a principal mão-
de-obra utilizada pelos fazendeiros era os escravos.
d) Os produtos da pecuária como a crina, charque, couro e sebo eram
escoados pela bacia Platina.
118
e) Descalvados localizado ás margens do rio Paraguai se destacou como
um dos principais saladeiros da região.
22)Durante a Guerra da Tríplice Aliança, a população da Província
sentiu bastante insegura em conseqüência do ataque paraguaio e devido
ao ataque de quilombolas. Um dos quilombos mais temidos no período da
guerra foi:
a)Piolho.
b) Aldeia da Carlota.
c) Rio do Manso.
d) Rio Sepotuba.
e) Quariterê.
23) A borracha ganhou importância econômica a partir de 1870. A seu
respeito, assinale a alternativa correta:
I-Este produto era extraído somente no período das chuvas.
II- O látex era extraído da seringueira e da mangabeira e eram
encontrados no vale amazônico e as margens dos rios da bacia Platina.
III-O produto abastecia o mercado externo e na década de 40, do
século XX passou a atender o mercado interno.
a)Todas estão corretas.
b)Somente a I e II são corretas.
c) Somente a I e III são corretas.
d) Somente a II e III são corretas.
e) Somente a III é correta.
119
24) O movimento social denominado de Rusga somente foi combatido com
a nomeação do Presidente da Província:
a)Antônio Alencastro.
b) João Poupino Caldas.
c) Manoel de Abreu Menezes.
d) Patrício Manso.
e) Barbosa de Sá.
25) Viajante que percorreu ao final do século XIX, o território mato-
grossense em viagem científica registrando as potencialidades de Mato
Grosso:
a)Franz Van Dionant.
b) Joaquim Moutinho.
c) João Severiano da Fonseca.
d) Sabino Rocha Vieira.
e) D. José Reis.
Gabarito:
1-V,V,F,V.
2-F,F,V,V.
3-V,F,F,V.
4-V,F,V,V.
5-V,V,F,F.
6-E
7-A
8- F,F,F, V,V.
9-C120
10-D
11-C
12-C
13-A
14-E
15-C
16-A
17-D
18-D
19-C
20-E
21-C
22-C
23-D
24-A
25-C
Parte III: República
Capitulo 12: A República em Mato Grosso
Em 15 de novembro de 1889, os militares do Exército brasileiro
proclamaram a República. Entretanto o ideal republicano não era novo
no Brasil, pois desde o século XVIII, movimentos em prol da
independência, como a Inconfidência Mineira e a Conjuração dos
Alfaiates, já idealizavam o regime republicano.
121
Porém foi somente ao final do século XIX, que a República foi
instaurada. Quais foram então os fatores que favoreceram o advento da
Republica?
Com certeza um fator determinante foi a adesão dos fazendeiros
de café. Os cafeicultores do oeste paulista interessados em defender
os seus interesses econômicos, advogavam a favor do regime, uma vez
que a República daria uma maior autonomia aos Estados.
Os fazendeiros do Vale do Paraíba, defensores da Monarquia, em
1888 com a assinatura da Lei Áurea perderam seus escravos e não
receberam do Estado nenhuma indenização. Contrariados, esses
fazendeiros passaram a apoiar a oposição. Desta maneira, a decretação
do fim da escravidão foi um dos fatores que provocaram a queda do
Império.
Outro fator foi o descontentamento dos militares com o governo
imperial. Com o término da Guerra do Paraguai, os militares foram
fortemente influenciados pelo positivismo de Augusto Comte. Sonhavam
com uma república centralizada, uma ditadura republicana. Desejavam
participar ativamente da vida política do país, contudo, apesar das
vitórias na Guerra do Paraguai, o sistema político era monopolizado
pela aristocracia tradicional. Tal situação gerou um profundo
descontentamento entre os militares.
Além da crise com os militares, o governo imperial também teve
que enfrentar uma crise com a Igreja Católica. Essa crise foi
motivada pela prisão dos bispos de Belém e Olinda. A prisão dos
religiosos estava relacionada a Encíclica “Syllabus”, que condenava a
participação de católicos na maçonaria. Entretanto, D.Pedro II
desautorizou a bula papal e permitiu que fieis católicos pudessem
122
freqüentar a maçonaria. O bispo de Belém e de Olinda desobedeceu as
determinações do imperador, e por isso foram condenados a prisão.
Assim em 15 de novembro, apoiados pelos cafeicultores e pelas
classes médias urbanas, o Marechal Deodoro da Fonseca conduziu as
tropas militares na proclamação da República.
A notícia da proclamação da Republica chegou tardiamente em Mato
Grosso, mas foi bem aceita pela população. Os jornais que circulavam
em Mato Grosso noticiaram com entusiasmo a novidade declarando que a
República daria a população “a liberdade plena, a igualdade civil, a fraternidade,
chama ao Serviço da Pátria todos os que na pátria habitem; e acreditamos que podemos em
tempo dizer que jamais tão bela cooperação no Brasil se efetuou. Viva a confederação
Brasileira!” 73
As idéias republicanas circulavam em Mato Grosso desde o final
do século XIX. Os seus partidários chegaram a fundar em 1888, o
Partido Republicano Mato-Grossense e para defender os seus princípios
chegaram a fundar o jornal “A República”. A seguir vejamos o
desenrolar dos primeiros anos da Republica.
Republica da Espada (1889-1894)
Esse período foi marcado pelo governo dos marechais: Deodoro e
Floriano Peixoto.
Deodoro ao proclamar a República se tornou presidente do Governo
Provisório. Nessa fase política foi elaborada a primeira constituição
republicana que estabeleceu:
Presidencialismo
Federalismo73 APEMT: Jornal “A Província”,31 de dezembro de 1889.
123
Sistema Representativo, que foi dominado por São Paulo, Minas
Gerais e o Rio de Janeiro.
Voto Aberto
Voto: 21 anos, sexo masculino e alfabetizados, exceto aos
padres, soldados e mendigos.
Deodoro ainda nomeou governadores para os estados brasileiros.
Para governar Mato Grosso foi escolhido o General Antonio Maria
Coelho, que foi muito bem aceito pela população. O jornal Mato –
Grosso, em 31 de dezembro de 1889 publicou a seguinte saudação ao
Presidente do Estado de Mato Grosso
“Acha-se como governador de Mato Grosso, o Exmo. Senhor General Antonio Maria
Coelho.
Com a nova forma de governo que operou-se em todo o Brasil, no dia 15 de novembro
ultimo, o governo Provisório não podia fazer melhor escolha, porquanto, a nomeação justa
do Exmo. Sr. para governador de Mato Grosso, nos colocou em posição segura de ajudar o
Sr. Exmo,... porque é filho de Mato Grosso, simpático, e ainda mais tendo sido o herói da
retomada de Corumbá.
O general Antonio Maria Coelho há de fazer um bonito governo, por enquanto, todos
os mato-grossenses acham-se satisfeitos com a distinta nomeação.”
Antônio Maria Coelho criou durante a sua gestão, o Partido
Republicano Nacional, reunindo políticos do Partido Republicano e do
Partido Conservador. Porém, Antônio Maria viria surgir contra o seu
governo forças de oposição.
Manuel Jose Murtinho e Generoso Paes de Leme Souza Ponce,
forças opositoras ao governador, pressionam Antônio Maria, que diante
da crise política acabou renunciando. Com a sua renúncia, tomou posse
no governo do Estado, Frederico Sólon Sampaio. 124
No Rio de Janeiro, depois de promulgada a Constituição de 1891,
Deodoro foi eleito indiretamente como previa o texto constitucional
como presidente, e como vice-presidente foi eleito Floriano Peixoto.
Em Mato Grosso, Sólon Sampaio organizou a Assembléia Constituinte
Estadual que elegeu como governador de Mato Grosso, Manuel Jose
Murtinho (Presidente do Estado) e Generoso Paes Leme de Souza Ponce (
Vice- Presidente do Estado).
Governo Constitucional de Deodoro (1891)
O governo de Deodoro foi caracterizado por uma crise política. O
Presidente governava desrespeitando a constituição, demitiu os
governadores dos Estados de Minas Gerais e de São Paulo e ainda
fechou o Congresso Nacional.
As atitudes de Deodoro desagradaram a oligarquia e provocaram
fortes reações. No Rio de Janeiro eclodiu a 1ª Revolta da Armada, que
tinha como líder Custodio de Melo. Os rebeldes reivindicavam a
renúncia de Deodoro. Pressionado pelas forças oposicionistas, Deodoro
renunciou.
Em Mato Grosso, Manuel Jose Murtinho e Generoso Paes Leme de
Souza Ponce, com a renúncia de Deodoro tiveram o seu poder ameaçado,
crescendo contra esse grupo oligárquico uma forte oposição no sul de
Mato Grosso.
Governo de Floriano Peixoto (1891-1894)
Com a renúncia de Deodoro tomou posse Floriano Peixoto.
Entretanto, a constituição de 1891 previa em seu artigo 42, que se o125
presidente renunciasse antes de completar dois anos de governo, o
vice não podia subir ao poder, e as eleições deveriam ser convocadas.
Assim a posse de Floriano Peixoto contrariava a constituição, porém o
marechal de ferro tinha o apoio da oligarquia.
Ao tomar posse viu surgir contra o seu governo, oposicionistas
que afirmavam que o governo de Floriano era inconstitucional, ilegal.
Em Mato Grosso, essa oposição estava no sul, que promoveu um
movimento para derrubar do governo Manuel José´Murtinho. A oligarquia
do sul não reconhecia o governo do Estado, instalaram com isso uma
Junta Governativa que tinha no comando João da Silva Barbosa, que
inclusive tentou instituir no sul o Estado Livre de Mato Grosso ou a
República Transatlântica. Os sulistas chegaram a cogitar em pedir
ajuda a República do Prata ou até mesmo hipotecar o Estado a
Inglaterra para atingir os seus objetivos. Partindo de Corumbá, os
opositores vieram para Cuiabá com a intenção de depôr o governo do
Estado.
Para aniquilar a oposição e se manterem no poder, Generoso
Ponce, a frente de uma força paramilitar denominada “Divisão Floriano
Peixoto” conseguiu vencer os opositores e Manuel Jose Murtinho foi
novamente recolocado na presidência do Estado. A seguir Generoso
Ponce comandando a “Divisão Floriano Peixoto” dirigiu-se ao sul para
aniquilar os últimos focos de oposição.
Essa luta pela poder promovidas pelas oligarquias mato-grossense
marcou o início da república em Mato Grosso. As camadas populares
estiveram à margem destas intrigas políticas, e não puderam
participar efetivamente das decisões políticas, portanto, não podiam
de fato exercer o direito a cidadania. Tal situação nos reporta a
Lima Barreto, que em sua obra “Policarpo Quaresma” demonstrou o126
comportamento político vigente no período republicano ao afirmar que
o “Brasil não tem povo, tem público”. Assim o povo mato-grossense
assistiu o desenrolar dos fatos impotentes e perplexos com as lutas
políticas travadas pelas oligarquias em disputa pelo poder.
Republica Oligárquica (1894-1930)
Depois de vencidas as primeiras dificuldades que caracterizaram
os primeiros anos da República, os republicanos históricos (civis)
passaram a exigir o poder que até aquele momento esteve com os
militares. Com a consolidação da república, as eleições diretas são
realizadas tomando posse na presidência em 1894, Prudente de Morais.
O presidente eleito era civil, paulista e fazendeiro de café,
portanto, o seu governo assinala a subida ao poder da oligarquia
cafeeira.
Contudo a força política da oligarquia cafeeira ocorreu
principalmente na gestão do presidente Campos Sales, que para
sustentar o poder da oligarquia cafeeira construiu importantes
estratégias políticas. Dentre os mecanismos políticos construídos por
Campos Sales, destacou-se a “política dos Estados”, assim denominado
pelos seu idealizador, ou a “política dos governadores”.
A política dos governadores consistia em um acordo entre o
presidente da república e os governadores dos Estados, que durante as
eleições deveriam apoiar a candidato da oligarquia cafeeira à
presidência recebendo em troca favores políticos. Os governadores
também apoiavam os candidatos da oligarquia paulista e mineira nas
eleições para a formação da bancada dos deputados e senadores, que
iriam compor o Congresso Nacional.127
Esse mecanismo político acabou fortalecendo em todo o país os
coronéis, que através das fraudes, da manipulação dos votos
controlavam os votos da sua região. A expressão “coronel’ é
originaria da Guarda nacional criada no período regencial para conter
as rebeliões que ocorriam pelo país, e que ameaçavam os interesses
das elites regionais. Com este titulo, concedido pelo governo
imperial, o poder central autorizava os chefes locais para possuir
“gente armada” a seus serviços. O título era entregue ao chefe
municipal de prestígio e a ele cabia todo o poder decisório ao nível
do município:econômico, político, judicial e policial.74
No período republicano, os coronéis eram geralmente grandes
proprietários de terra, detentores de poder econômico, possuíam
prestigio social e poder político nas suas localidades. Controlavam
os votos da população mais pobre, que viviam sob a sua influência.
Exigiam dos seus agregados, da população fidelidade total. Assim nas
eleições, os coronéis controlavam currais eleitorais, isto é, um
depósito de votos. Muitas vezes para obter os votos, os coronéis
recorriam a violência para obrigar a população a votar em seus
candidatos. Esse voto dirigido e obtido através da violência ficou
conhecido como “voto de cabresto”.
Em Mato Grosso, como já foi mencionado anteriormente, as lutas
políticas entre a oligarquia do norte e a oligarquia do sul eram
freqüentes. Na verdade, o regime republicano veio consolidar uma
situação já existente, ou seja, conflitos pelo poder em nível local e
regional. A violência se intensificou com o regime republicano, e com
o coronelismo, o banditismo local aumentou consideravelmente. Assim a
74 Treveisan, Leonardo, A republica Velha, p.24.
128
região mato-grossense passou a ser conhecida como “terra sem lei”
aonde a única lei obedecida era o calibre 44.75
A seguir a leitura do quadro abaixo nos dá uma dimensão dos
conflitos armados ocorridos em Mato Grosso nos primeiros anos do
governo republicano:
Data /Período Local/ Região Causa/Objetivo Observações1891 Poconé Eleições:
Adeptos do PRNSob o comandodo Cel. AntonioNunes Cunha,Tem. Salomão ªRibeiro eDiógenesBenites, umgrupo armadotendo à frenteuma bandeiravermelha.,ocupa a cidade.
1891 Campo Grande ReaçãoMonarquista
Grupos armadosdispostos aatacar acidade.
1891 Vila deLevergeria:comarca deMiranda
Contra ogoverno deMurtinho
Bando civil emilitar sob ocomando doscoronéis Joãode Moraesribeiro e JoãoRufino.
1892 Corumbá/Outrasregiões
Contra ogovernoestadual
São depostos oselementosligados àadministraçãoestadual,inclusive opresidente doEstado.
1892 Cuiabá A favor dogoverno
O coronelGeneroso Ponce
75 Correa, Valmir, Coronéis e Bandidos em Mato Grosso,p.31.
129
estadual comanda obatalhão“FlorianoPeixoto” commais de milhomens
1892 Miranda A favor dogovernoestadual
Os coronéisAugustoMascarenhas,Manuel Antoniode Barros, JoséAlves Ribeiro,Estevão AlvesCorrea eFrancisco AlvesC armam mais de200 homens paracombater osrevolucionários.
1892 Nioaque A favor dogovernoestadual
Bando de maisde 60paraguaios sobo comando dosirmãosLopes(armadospor coronéis)
1895 Nioaque Crise no PR Invasão dacidade pelocoronel JoãoMascarenhas.
1896 Nioaque O coronel JoãoCaetano Muzzi,João Rodriguesde Sampaio eVicenteAnastácioinvadem acidade com maisde 150 homens.
1896 Nioaque Conflito armadoentre oscoronéis Muzzie Mascarenhas.
130
1896 Nioaque PR Coronel JangoMascarenhasinvade acidade.
1896 Ponta Porã PR Ataque àsfazendas sob ocomando do cel.João CláudioGomes da Silva
Fonte:Correa, Valmir Batista, Coronéis e Bandidos em Mato Grosso, p.33.
Portanto, os oligarcas com seus bandos armados disputavam a
condução política do Estado. Em Mato Grosso, duas grandes oligarquias
disputavam o poder; a do norte composta principalmente pelos
usineiros, e a do sul formadas pelos grandes pecuaristas, pelos
comerciantes, e pelos ervateiros.
Capítulo 13: Movimentos sociais que marcaram o período republicano em
Mato Grosso
Desde o início do regime republicano muitos movimentos sociais
empreendidos pelas camadas populares denunciavam a insatisfação da
população citadina e urbana com o governo republicano.
Em Mato Grosso, os movimentos sociais que aconteceram durante a
vigência da república foram desencadeadas por grupos políticos
regionais em disputa pelo poder. A seguir abordaremos os principais
movimentos sociais que marcaram a história de Mato Grosso.
O Massacre da Baía do Garcez. (1901)
Esse movimento social ocorreu ao final do governo do presidente
Campos Sales (1898-1902), e caracterizou a política dos governadores
em Mato Grosso. Além disso garantiu a ascensão no governo do Estado,
131
do usineiro Antônio Paes de Barros, conhecido em Mato Grosso por Totó
Paes de Barros.
Entretanto, a origem deste conflito foi caracterizado pela
violência e teve as suas raízes nas eleições governamentais de 1898.
Nessas eleições, o coronel Generoso Ponce, pertencente ao Partido
Republicano indicou como candidato ao governo do Estado, João Félix
Peixoto de Azevedo. A indicação acabou suscitando a rivalidade entre
Ponce e os Murtinho, uma vez que Manuel José Murtinho apoiava como
candidato José Maria Metelo.
Vale ressaltar, que neste momento, os Murtinho possuíam projeção
nacional, pois Manuel José Murtinho era ministro do Supremo Tribunal
Federal, enquanto que seu irmão, Joaquim Murtinho era ministro da
Fazenda de Campos Sales. Lembremos ainda, que os Murtinho eram
acionistas da Companhia Mate Laranjeira, que detinha o monopólio da
extração da erva-mate no sul de Mato Grosso e com certeza, a grande
potência econômica do Estado.
Depois dessas importantes reflexões, voltemos ao Massacre da
Baía do Garcez.
Após o rompimento de Ponce e dos Murtinho, as eleições
aconteceram e a vitória coube a João Felix Peixoto de Azevedo.
Manuel José Murtinho inconformado com a vitória do candidato de
Ponce, reagiu a situação, recorrendo ao governo federal e com o apoio
do presidente da República formou uma força paramilitar denominada
“Legião Campos Sales” , que tinha no comando o coronel Totó Paes de
Barros. A “Legião Campos Sales” cercou a Assembléia Legislativa
Estadual, em Cuiabá, para anular as eleições que deram vitória a
Peixoto de Azevedo.
132
Com a anulação, novas eleições foram realizadas, vencendo
Antônio Pedro Alves de Barros, que tinha o apoio dos Murtinho, logo
da oligarquia cafeeira.
O governo de Antônio Pedro Alves de Barros foi bastante
intranqüilo, pois esse governante logo recebeu a notícia da
existência de forças oposicionistas. Para conter os focos de
oposição, Totó Paes de Barros comandou uma tropa de homens armados; a
“Divisão Patriótica”. Logo, Totó Paes de Barros descobriu que a
oposição estava escondida em Santo Antônio do Leverger, na Usina da
Conceição, que aliás era de propriedade de João Paes de Barros, irmão
de Totó Paes.
Em posse desta importante informação, Totó Paes de Barros cercou
a propriedade prendendo os suspeitos. A seguir conduziu os
prisioneiros a Baía do Garcez, localizada entre Santo Antonio do
Leverger e Cuiabá. Neste local, os prisioneiros foram barbaramente
assassinados e seus corpos lançados nas águas da Baía.
No ano seguinte aconteceu o inesperado, as chuvas não vieram no
período previsto, as águas da Baía secaram revelando o crime hediondo
cometido por Totó Paes de Barros. Apesar da revelação, o crime ficou
impune e Totó Paes de Barros, líder do Partido Republicano
Constitucional, venceu as eleições ao governo do Estado tomando posse
em 1902.
2- Revolta de 1906
Totó Paes de Barros ao assumir a presidência do Estado em 1902
manteve-se fiel ao Presidente da República, Rodrigues Alves,
representante da oligarquia cafeeira. Entretanto, Totó Paes de Barros133
parecia não compreender que para se manter no poder não bastava
estabelecer uma aliança política somente com o governo federal, mais
ampliar o pacto político á nível regional. Desta maneira, Totó Paes
de Barros acabou contando apenas com o apoio do seu grupo político, o
que favoreceu o crescimento de um movimento oposicionista ao
governador.
Embora Totó Paes tenha sido eleito com o apoio dos Murtinho, ao
tomar o poder se distanciou destes oligarcas, que conseqüentemente
passaram a fazer oposição ao governador.
O rompimento entre Totó Paes de Barros e os Murtinho levaram
esses oligarcas a se aproximarem do grupo de Generoso Ponce, do qual
anteriormente eram inimigos políticos. A união de Ponce e dos
Murtinho tinha como principal objetivo derrubar do poder Totó Paes de
Barros.
Com relação a Generoso Ponce, este oligarca era oposição a Totó
Paes de Barros desde o período da sua eleição, e contrariado com a
vitória de Totó Paes de Barros nas urnas, Ponce mudou de Mato Grosso
estabelecendo residência no Paraguai.
Neste país, Generoso Ponce fundou o jornal “A Reação”,
especializado em tecer críticas ao governador e a sua administração.
O jornal “A Reação” era feito no Paraguai e circulava
clandestinamente no Estado de Mato Grosso.
O documento abaixo refere-se a uma matéria publicada no jornal
“A Reação”, e emite um visão de uma pessoa que preferiu o anonimato
para expressar a sua posição sobre o comportamento e as atitudes do
governador Antônio Paes de Barros.
Senhores Redatores da “Reação”
134
Completamente alheio às lutas políticas e aos interesses partidários, mas não
indiferente à sorte desgraçada que está reservada a nossa terra, se nela persistir, como
norma, o regime de ódio aí inaugurado pela polícia do Sr. Totó Paes – que como verdadeiro
possesso é hoje a própria encarnação do demônio – pelos males que tem implantado,
perseguindo sem tréguas os seus desafetos, mandando matá-los e confiscando em seu
proveito e no de seus irmãos Henrique e José os bens e a fortuna, tenho longamente refletido
nos males que nos assoberbam, ameaçando o nosso futuro.
Vejo na obsessão do malvado Regulo de Itaicy um caso patológico interessante e
digno de estudo da psiquiatria; não é possível que tal homem, com essa perversão dos
sentimentos morais tantas vezes revelada tenha um cérebro são, funcionando de modo
regular.
(sic) O homem está louco e deve ir ao Hospício.
Vosso patrício, am° cr° ob°
N. N.76
O excessivo poder de Totó Paes de Barros, as perseguições e as
mortes dos seus opositores acabaram provocando o medo e o
descontentamento das camadas populares a sua administração.
Além disso, como já mencionamos anteriormente, provocou a união
de dois inimigos implacáveis, Generoso Ponce e os Murtinho, que se
aliaram a oligarcas da oposição em Corumbá dando origem a Coligação,
que começou a construir estratégias para aniquilar o poder de Totó
Paes de Barros
A Coligação, em 16 de maio de 1906, deu início aos seus planos,
destruiu o comando da polícia, e cortou a comunicação de Cuiabá,
76 NDHIR: Jornal A Reacção , 10 de outubro de1902
135
Cáceres e Corumbá com a capital Federal. A seguir, a Coligação partiu
em direção a Cuiabá.
Anteriormente ao rompimento das comunicações com o Rio de
Janeiro, o governador pediu ao presidente Rodrigues Alves, que
enviasse em seu socorro uma expedição militar, uma vez que o número
de soldados a serviço do Estado não era suficiente para conter a
Coligação. Atendendo ao pedido do governador, Rodrigues Alves enviou
a Mato Grosso, a “Expedição Dantas Barreto”, composta de dois mil
soldados.
A Coligação chegou a Cuiabá pelo rio Coxipó, e entrou na cidade
facilmente. Ao receber a notícia da chegada do grupo oposicionista,
as forças do governo, que eram lideradas por Totó Paes de Barros
tentaram contê-la, no morro do Bom Despacho e na Prainha. Porém a
tentativa foi em vão, pois a Coligação dominou a rua Barão de
Melgaço, atingiu o largo da Mandioca e São Benedito.
Ao perceber o avanço vitorioso da Coligação, Totó Paes resolveu
fugir para as proximidades da Fábrica de Pólvora, no Coxipó.
Porém a Coligação acabou descobrindo o esconderijo de Totó Paes
de Barros, e seguindo para o local, o grupo oposicionista sob o
comando de Generoso Ponce entrou em confronto com o governador, que
acabou atingido por uma bala e faleceu no local.
Logo depois deste episódio, a expedição “Dantas Barreto” chegou
a Cuiabá, mais nada podia fazer, e imediatamente retornou ao Rio de
Janeiro levando a informação ao presidente Rodrigues Alves do
falecimento de Totó Paes de Barros.
Com a morte de Totó Paes de Barros, assumiu o governo de Mato
Grosso, o vice-governador. Pedro Leite Osório.
136
3. Caetanada (1916)
Depois de eliminar Totó Paes de Barros, a antiga força de
oposição; a Coligação se transformou no Partido Republicano
Conservador (PRC), liderado por Generoso Ponce e Pedro Celestino.
Entretanto, a discórdia entre Pedro Celestino e os membros do
seu partido logo se iniciaram, quando a Companhia Mate Laranjeira, a
grande potência econômica do sul, pediu ao governo do Estado um novo
arrendamento de terras.
Pedro Celestino mostrou-se contrário a aprovação deste
arrendamento, pois defendia que essas terras deveriam ser usadas para
promover a colonização de Mato Grosso, que na opinião do oligarca,
era a melhor alternativa para promover o progresso do Estado de Mato
Grosso.
Apesar de todos os argumentos defendidos por Pedro Celestino, a
Companhia mate Laranjeira obteve um novo arrendamento. Não
esqueçamos, que a Companhia Mate Laranjeira tinha como um dos seus
principais acionistas os Murtinho, que possuíam enorme projeção na
política nacional. Assim derrotado no seu posicionamento e
contrariado, Pedro Celestino rompeu com o partido e fundou o Partido
Republicano Mato-Grossense. (PRMG).
Em 1915, a disputa pela condução política do Estado contou com a
participação dos seguintes partidos políticos: Partido Republicano
Conservador, o Partido Liberal e o Partido Republicano Mato–
Grossense. A vitória dessas eleições coube a Caetano de Faria
Albuquerque, do Partido Republicano Conservador.
Ao assumir o governo, Caetano de Albuquerque indicou para o seu
secretariado membros do seu partido, porém resolveu nomear um137
secretário do Partido Republicano Mato-Grossense. Tal nomeação gerou
duras críticas entre os seus partidários, porém agradou o PRMG que
conferiu o apoio ao governador. Caetano de Albuquerque tomou então a
decisão de romper com o PRC e acabou se filiando no PRMG. Essa
situação provocou uma guerra entre grupos armados do PRC e do PRMG.
Para agravar mais ainda a crise política, Caetano de Albuquerque
foi acusado pelo PRC de favorecer os produtores de borracha, no
tocante, a cobrança dos impostos. Desgostoso com o rumo dos
acontecimentos, Caetano de Albuquerque pediu a Assembléia Legislativa
Estadual o seu afastamento da Presidência do Estado tomando posse o
vice-governador Manuel Escolástico do PRC.
Decorridos alguns dias, Caetano de Albuquerque pediu ao Supremo
Tribunal Federal a sua volta ao governo do Estado. Porém, Manuel
Escolástico não aceitou deixar o governo. Esse confronto entre Pedro
Celestino e Manuel Escolástico provocou a formação de um governo
paralelo em Mato Grosso.
Em Cuiabá ficou na direção do governo, Caetano de Albuquerque e
em Corumbá, Manuel Escolástico. Essa atitude acarretou em lutas
armadas entre as oligarquias e tal situação era totalmente
inconstitucional. O governo federal ao tomar conhecimento do ocorrido
resolveu decretar intervenção federal em Mato Grosso em 1917.
O presidente da república em exercício naquele período,
Venceslau Brás indicou como interventou federal Camilo Soares, que
governou o Estado durante três meses, no entanto, no entanto, este
governante não foi capaz de conter as brigas entre as oligarquias e
os seus bandos armados. Desta forma, Venceslau Brás resolveu nomear
outro interventor, escolhendo o bispo de Cuiabá, D. Aquino Correa.
D. Aquino Correa era respeitado no norte e no sul e foi somente com a138
sua posse, que os conflitos entre os coronéis e o banditismo
diminuíram.
Resumidamente podemos considerar que a Caetanada expressou a
luta política entre as oligarquias nortistas e sulistas na condução
política do Estado de Mato Grosso.
No tocante ao Governo de D.Aquino Correa, a sua gestão foi
caracterizada por um período de tranqüilidade, uma vez que as
disputas entre os coronéis foram combatidos. Durante o seu governo
foi comemorado com festividades o bicentenário da fundação de Cuiabá,
ocorreu a inauguração da luz elétrica, foi introduzido o primeiro
automóvel em Cuiabá, foram edificadas edifícios públicos, pontes em
Três lagoas e Cuiabá, foi criado o Instituto Histórico e Geográfico
de Mato Grosso, a Academia Mato-grossense de Letras, instalação do
Observatório Meteorológico e Sismográfico, e D.Aquino ainda conferiu
a Cuiabá, a alcunha de “cidade verde”, devido a presença de árvores
frutíferas como mangueiras, laranjeiras, cajueiros, dentre outras,
nos quintais cuiabanos.77
4. Morbeck e Carvalhinho
Ao iniciar a século XX, a região leste de Mato Grosso recebeu
uma onda migratória de nordestinos que foram atraídos pelas jazidas
de diamantes existentes principalmente nas proximidades dos rios
Cassununga e Garças. A intensa migração deu origem a muitos núcleos
de povoamento, como Alto Araguaia, Guiratinga, Poxoreo, Barra do
Garças, Itiquira, Tesouro, dentre outras.
77 Correa, Virgilio Filho, Historia de Mato Grosso, p.612..
139
Foi neste contexto que chegou ao leste do Estado, José Morbeck,
oriundo da Bahia, que logo se tornou o chefe político local, e que
durante os pleitos eleitorais conquistava os votos dos moradores
daquela região.
Morbeck impunha o seu poder através da violência, para isso
contava com bandos armados e homens de sua total confiança, como por
exemplo, Manuel Balbino de Carvalho, conhecido intimamente pelo
apelido de Carvalhinho.
Em 1926, Pedro Celestino, presidente do Estado de Mato Grosso,
almejando dominar politicamente o leste começou a agir para aniquilar
o poder de Morbeck. A estratégia arquitetada pelo governador para
derrubar Morbeck era aliciar o seu fiel companheiro Carvalhinho.
Em 1925, Pedro Celestino por coincidência do destino, viu a
possibilidades dos seus planos serem atingidos. Neste ano, um grupo
de garimpeiros pediu a José Morbeck permissão para a realização de um
baile na região. Essa região, rica em produção de diamantes era
extremamente violenta. Assim Morbeck, na condição de chefe político
local, apreensivo com a insegurança que reinava na zona de garimpo,
permitiu a realização do Baile “Fecha Nunca”, mas para evitar
problemas durante a festança, Morbeck mandou Carvalhinho cuidar do
baile. Entretanto, Carvalhinho passou essa responsabilidade para
Reginaldo, que possuía um bando armado a serviço de Morbeck. A festa
foi um verdadeiro fracasso ocorrendo muitas mortes. e Reginaldo foi
responsabilizado e delatado pelo moradores do leste como o
responsável pelo ocorrido naquela noite.
Morbeck mandou prender Carvalhinho conduzindo-o a Cuiabá. Porém
ao chegar a capital de Mato Grosso foi libertado, mas acabou
falecendo vitima de um atentado, no Coxipó da Ponte.140
A notícia da sua morte foi recebida no leste, e Carvalhinho
acreditava piamente que Morbeck encomendou a morte do seu amigo.
Neste momento aconteceu o que Pedro Celestino desejava, o assassinato
de Reginaldo provocou uma fragilidade na amizade de Morbeck e
Carvalhinho.
Depois deste incidente, Morbeck e Carvalhinho viajaram ao Rio de
Janeiro. Carvalhinho marcou um encontrou em segredo com Pedro
Celestino, que naquele momento estava também na capital federal.
Neste encontro, Carvalhinho recebeu a informação da sua
nomeação como Delegado de Polícia da região do Araguaia e Garças e
para agente arrecadador dos tributos das Minas de Garimpo. Ao
retornar ao hotel onde estava hospedado com Morbeck revelou ao amigo
o seu encontro com o governador, bem como, a sua nova função.
Inconformado com a traição do amigo, Morbeck retornou imediatamente
para Mato Grosso, com o objetivo de preparar uma emboscada para
receber Carvalhinho.
Carvalhinho, orgulhoso da sua nomeação, ficou no Rio de Janeiro
dando entrevistas aos jornalistas cariocas sobre a sua atuação como
delegado do leste, de como combateria o banditismo e conseqüentemente
a violência nos garimpos.
Ao retornar a Santa Rita do Araguaia, local de sua moradia,,
Carvalhinho foi surpreendido durante a madrugada por Morbeck e seu
bando. Para fugir ao cerco de Morbeck, Carvalhinho se atirou nas
águas do rio Araguaia. Mas a sua fuga, tinha como destino final, a
Bahia, aonde foi arregimentar homens para voltar a Mato Grosso e
acertar as contas com Morbeck. Em Salvador, Carvalhinho entrou em
contato com o governador Pedro Celestino pedindo proteção para o seu
retorno a Mato Grosso.141
Carvalhinho retornou ao leste, e com seu bando conquistou
Lageado, Cassunungsa e Santa Rita do Araguaia. Morbeck diante do
avanço das tropas de Carvalhinho, foi ao Rio de Janeiro pedir ao
governo federal ajuda financeira para a contratação de homens e para
a compra de armas e munições. Para obter o financiamento, Morbeck
alegou ao governo federal, que essa contribuição financeira era
fundamental para combater a Coluna Prestes, que naquele instante
passava por Mato Grosso.
Ao voltar do Rio de Janeiro, Morbeck e Carvalhinho fizeram da
região leste um palco de guerras. A rivalidade entre os seus bandos
somente foi amenizada com a posse do novo governador do Estado, Mario
Correa da Costa.
Para combater os conflitos armados no leste, o governador
recentemente empossado tomou a decisão de nomear como novo delegado
do Araguaia e do Garças, Valdomiro Correa.
Carvalhinho inconformado com essa indicação, cobrou do governo
do Estado uma pesada indenização. Como o governo não deu resposta a
sua exigência, Carvalhinho e seu bando resolveram atacar o quartel.
Logo depois dessa façanha, Carvalhinho fugiu para Goiás. Porém, Mario
Correa da Costa ao ter noticias do paradeiro de Carvalhinho e de seu
bando, enviou um destacamento de soldados para Goiás para prendê-los.
Depois de preso, o governo do Estado obrigou Carvalhinho a desfilar
pelas principais ruas de Cuiabá, numa demonstração de que o “terror”
do leste foi definitivamente combatido.
Em 1930 com a ascensão ao poder de Vargas, Carvalhinho foi
libertado.
142
Capítulo 14: A Coluna Prestes em Mato Grosso
A Coluna Prestes se enquadra em uma das fases do movimento
tenentista, que marcaram os anos de 1922 a 1927. O tenentismo contou
com a adesão de oficiais do Exército brasileiro, principalmente os
tenentes e alguns capitães. Logo, a alta cúpula militar se manteve
alheia ao movimento..
O tenentismo foi um movimento de rebeldia, no qual jovens
oficiais se colocaram contra o governo oligárquico, portanto
representou o descontentamento de facções das forças armadas, que
tinham como objetivo conquistar o poder e reformar a República.
Dentre as suas reivindicações, os tenentes propunham a
moralização da administração, o fim da corrupção eleitoral, o voto
secreto, defendiam o desenvolvimento de uma economia pautada no
nacionalismo e a reforma da educação pública defendendo o ensino
gratuito e obrigatório a todos os brasileiros
O movimento contou com a simpatia das camadas médias urbanas, de
alguns industrias e de fazendeiros que não apoiavam a oligarquia
cafeeira.
Em 1922, no Rio de Janeiro , os tenentes iniciaram o movimento
com a revolta do Forte de Copacabana. As ofensas feitas ao Exercito e
a repressão contra o Clube Militar levaram os tenentes a se rebelar,
com a intenção de “salvar a honra do Exército.78. Entretanto o
movimento fracassou. Entretanto, dois anos mais tarde, os tenentes
tentaram novamente derrubar o governo oligárquico, representado por
Artur Bernardes; era a Revolução Paulista de 1924.
78 Fausto, Boris, historia do Brasil, p.307
143
O movimento que eclodiu em São Paulo deveria ter tido um caráter
nacional, mas ficou limitado ao Rio grande do Sul, Amazonas e a
cidade de São Paulo. No comando do movimento paulista estava Isidoro
Dias Lopes e Miguel Costa.
Os revoltosos deixaram a capital paulista e se deslocaram pelo
interior do Estado de São Paulo, com objetivo de atingir o Paraná,
pois estavam a espera de tropas vindas do Rio Grande do Sul.
O movimento tenentista no Rio Grande do Sul estourou em outubro
de 1924, estando no seu comando o tenente João Alberto e o Capitão
Luís Carlos Prestes. As tropas gaúchas deixaram o sul em direção ao
Paraná para encontrar as tropas paulistas. Assim em abril de1925,
surgia a Coluna Miguel Costa-Luis Carlos Prestes, que posteriormente
ficou conhecida como Coluna Prestes.
A Coluna Prestes percorreu todo o país propagando a idéia da
necessidade de uma revolução popular para derrubar as oligarquias. Em
1926, Miguel Costa, Siqueira Campos e Luis Carlos Prestes lançaram um
manifesto explicando os motivos da luta contra a oligarquia. Em seu
manifesto afirmaram que “eram contra os impostos exorbitantes, a desonestidade
administrativa, a falta de justiça, a mentira do voto, amordaçamento da imprensa,
perseguições políticas, desrespeito a autonomia dos estados, a falta de legislação social e
reforma da constituição.” 79
Percorrendo os lugares mais ermos do Brasil, a Coluna iniciou
uma longa marcha e ao serem encurralados pelas tropas do governo, o
comando do movimento com a permissão das autoridades se refugiaram
provisoriamente no Paraguai.
A seguir retornaram ao Brasil penetrando por Porto Lindo, nas
proximidades do rio Iguatemi em Mato Grosso. Ao ingressar no Estado,79 Povoas, Lenine. Historia Geral de Mato Grosso, p.311.
144
o general João Nepomuceno Costa deu inicio as perseguições, prendendo
em Campo Grande até mesmo aqueles que se mostravam simpáticos ao
ideário da Coluna. Novamente pressionados pelas tropas legalistas, os
homens da Coluna se retiram para Goiás, daí partiram para o nordeste
e ingressam mais uma vez pelo Mato Grosso.
O Jornal A Razão noticiou a chegada da Coluna Prestes em
Cáceres. Segundo a imprensa, as autoridades policiais de Cáceres
prepararam um plano de ação para conter a Coluna composta naquele
momento por 800 homens, que ameaçavam invadir a cidade.
Para evitar a invasão a Cáceres, os oficiais se reuniu
imediatamente no Quartel General. Acreditavam que podiam conter as
forças rebeldes no Porto do Barranco Alto evitando que atravessassem
o rio Paraguai.
Por outro lado, havia aqueles que duvidam que os soldados seriam
capazes de impedir a invasão. Apesar das incertezas, a oficialidade
de Cáceres conseguiu reprimir o ataque da Coluna. E segundo o artigo
publicado no jornal local, os soldados lutaram bravamente para manter
“a ordem”.80
Perseguidos pelas tropas legalistas e jagunços dos coronéis, A
Coluna Prestes acabou se exilando na Bolívia.
Esse retorno a Mato Grosso ocorreu durante o governo de Mario
Correa da Costa, que representava no Estado os interesses da
oligarquia cafeeira. Segundo o discurso oficial, os homens da Coluna
eram perigosos, sanguinários , e vieram trazer a dor, a intranqüilidade e o sofrimento a
tantos lares, destruindo as nossas propriedades.”81
80 APMT: Jornal A Razão, 30 de julho de 1927.81 APMT: Mensagem de Mario Correa da Costa a Assembléia Legislativa de Mato Grosso em13 de maio de 1927.
145
É importante frisar que essa visão sobre a Coluna Prestes não
foi compartilhada por todos. Em muitos lugares, os homens da Coluna
foram muito bem recebidos, e especialmente Luis Carlos Prestes que
ficou conhecimento como Cavaleiro da Esperança.
Em luta pelos seus objetivos, os homens da Coluna Prestes
enfrentaram durante a sua marcha pelo país inúmeras dificuldades, que
foram relatadas por Jorge Amado, em sua obra literária O Cavaleiro da
Esperança Vida de Luis Carlos Prestes. A seguir, o trecho do
livro de Jorge Amado aborda alguns desses obstáculos
Prestes se encontrou com o impaludismo. Antes, fora a praga das sarnas que batera
sobre a Coluna, os homens barbados e peludos parecendo imenso bando de macacos que se
coçavam. Mas, na travessia do rio Piauí, quando das grandes chuvas, o impaludismo
derrubou quatrocentos homens da Coluna. Prestes marchava com febre. Quase nenhum
oficial escapou. Mas esses homens sentiam a febre. A maleita não os jogavam no chão.
Na Bolívia, Luis Carlos Prestes deixou seus companheiros de luta
e partiu para a Argentina, aderindo ao marxismo, voltando ao Brasil
somente no Governo Vargas.
Capítulo 15:Nos trilhos da Modernidade
A Construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil
146
A proclamação da República promoveu no país um conjunto de
transformações que visavam desenvolver as potencialidades econômicas
do Brasil com o objetivo de tornar o país uma fronteira aberta ao
capitalismo internacional. Dentro deste contexto, Rodrigues Alves,
presidente da Republica em 1906, através do prefeito Capital federal
Pereira Passos remodelou o Rio de Janeiro, construiu avenidas largas,
demoliu os cortiços existentes no centro da capital e iniciou uma
política sanitária, que tinha a frente o médico sanitarista Osvaldo
Cruz, que combateu ás doenças que mais vitimavam a população carioca,
como a varíola, a peste bubônica e a febre amarela. A urbanização e o
saneamento do Rio de Janeiro tinha como um dos seus principais
objetivos atrair investimentos estrangeiros a capital federal.
Paralelamente a modernização da capital do Brasil, a elite
brasileira adotou novas condutas de comportamento, de lazer e de
vestir, que se inspiravam principalmente na França, essa mudança de
hábitos e de comportamentos foi denominada de Belle Époque.
Assim o governo brasileiro pautado nos princípios do positivismo
defendiam a necessidade de promover a modernização do país adequando-
o ao capitalismo internacional. Para que esse projeto de modernidade
fosse realmente concretizado, as autoridades governamentais deviam
patrocinar a integração do território brasileiro. Foi neste contexto,
que em 1904, se iniciou a construção da Estrada de Ferro Noroeste do
Brasil.(NOB)
Deste o fim da guerra do Paraguai (1870), a integração de Mato
Grosso as demais províncias brasileiras se dava através da navegação
pela bacia do Prata. A principal via de comunicação entre São
Paulo,.Rio de Janeiro e Corumbá ou Corumbá- Cuiabá ocorria através do
rio do Prata e do rio Paraguai.147
Na segunda metade do século XIX, os conflitos bélicos entre os
paises platinos mostraram as autoridades governamentais como era
vulnerável a navegação fluvial pelo Prata e não havia uma via interna
rápida que ligasse Mato Grosso ao restante do país.
Foi nesta perspectiva, que o governo republicando idealizou a
construção de uma estrada de ferro para Mato Grosso, uma vez que
através dos seus trilhos teríamos uma comunicação e um transporte de
pessoas, matérias-primas, e produtos industrializados de forma mais
eficiente, e além disso a ferrovia vinha ao encontro dos interesse do
governo federal em integrar as regiões do país, em modernizá-lo.
A construção da ferrovia também era interessante ao governo
federal, pois iria permitir o escoamento da produção boliviana até o
Porto de Santos. Nesse período, o governo federal estava interessado
em estreitar as suas relações diplomáticas com a Bolívia.
Assim partindo de Bauru (São Paulo) em 1905, a construção da
estrada de ferro seguiu em direção ao noroeste, e chegou ao rio
Paraná em 1910, atingiu Porto Esperança, as margens do rio Paraguai,
em 1914, e chegou a Corumbá divisa com a Bolívia somente em 1952,
finalizando assim a sua construção.
Em 1919, o governo federal acampou a Estrada de Ferro de Bauru a
Porto Esperança, passando a ser denominada de “Estrada de Ferro
Noroeste do Brasil”
Para a sua construção, o governo federal teve que disponibilizar
vultosos investimentos. Para isso, o governo federal recorreu ao
capital internacional, que produzia todo o equipamento ferroviário
como as pontes e os trilhos. Assim esse empreendimento interessou o
capital inglês e francês. As grandes empreiteiras do país também se
beneficiaram com a construção da Estrada de Ferro, pois davam suporte148
as obras, através de empréstimos. Desta maneira, a Noroeste do Brasil
atendeu aos interesses dos setores privados nacionais e
internacionais e permitiu que o Estado como agenciador deste projeto
promovesse o desenvolvimento econômico nacional, e especialmente de
Mato Grosso.
A estrada de ferro provocou mudanças para o Estado, como por
exemplo, o crescimento dos índices de migração, pois durante a sua
construção muitas pessoas migraram para o sul de Mato Grosso para
trabalhar na sua edificação e ao final das obras prefeririam
continuar a residir no Estado. Assim surgiram no sul de Mato Grosso
muitas vilas e cidades.
Por outro lado a estrada de ferro acarretou na decadência
econômica de Corumbá, que perdeu a importância econômica que obtivera
no século XIX, sendo substituída por novos pólos econômicos com o
Campo Grande, Porto Esperança e Ponta Porá..
Estrada de Ferro Madeira – Mamoré
Acima de Santo Antonio existe a Cachoeira caldeirão do Inferno. Neville Craig, que
descreveu a tragédia da empresa Collins, conta-nos que os seus homens, ao chegarem a
Santo Antônio a 19 de fevereiro de 1878, um dos poucos habitantes que ali se achavam
dissera-lhes que naquele local o diabo perdera as botas. Aquele mesmo autor, descrevendo
as alucinações do irlandês Manning, nas selvas do Madeira, conta que este dizia que o diabo
estava o lambendo.
A ferrovia passou desde então a ser conhecida popularmente com o nome de “ferrovia
do diabo”. Não só popularmente, mas também em artigos, reportagens, noticias, rádios e
televisões, a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré passou a ser mencionada como “a ferrovia149
do diabo”. A denominação “ferrovia do diabo”fora dada pelos trabalhadores da construção,
entre 1878 e 191282.
A citação acima ilustra o imaginário dos trabalhadores, que
vieram a selva amazônica entre 1878-1912 para a construção de um
fabuloso empreendimento A Estrada de Ferro Madeira- Mamoré.
A construção da Estrada de Ferro Madeira- Mamoré foi uma
verdadeira epopéia, pois para a sua edificação engenheiros e
trabalhadores tiveram que enfrentar as vicissitudes da natureza e a
insalubridades da região.
A idéia de construir uma estrada de ferro ao longo dos rios
Mamoré e Madeira nasceu em 1848, com o engenheiro boliviano José
Augustin Palácios, que assegurou ao governo boliviano, que a
construção de uma estrada de ferro naquela localidade era a melhor
alternativa para o escoamento dos produtos econômicos produzidos pela
Bolívia, uma vez escoá-los através Cordilheira dos Andes era
extremamente difícil.
Em 1851, o engenheiro americano Larcher Gilbbon realizou um
estudo para indicar ao governo americano a alternativa mais viável
para a importação de matérias-primas que eram imprescindíveis a
economia dos Estados Unidos. Para o engenheiro, a saída ideal era
pelo Amazonas. Assim para dar o seu laudo técnico, Larcher desceu o
rio Chaporé, Mamoré, Madeira e o Amazonas. Ao finalizar o trajeto,
concluiu que a construção de uma estrada de ferro margeando as
cachoeiras do rio Madeira podiam ser edificadas aproximadamente em
dois meses. Foi assim que o governo boliviano resolveu adotar o
trajeto de Gilbbon.82 Hardman, Francisco Foot, Trem Fantasma: A modernidade na selva, p.120-121.
150
No Brasil, uma expedição tendo a frente o engenheiro João
Martins da Silva Coutinho foi organizada para navegar pelo rio
Madeira, e dar ao governo imperial um posicionamento. De acordo com o
engenheiro brasileiro, a construção de uma estrada de ferro no rio
madeira era viável e além disso promoveria o nascimento de núcleos de
povoamento e o aumento do fluxo comercial na região.
Assim, o governo boliviano empolgado com a construção da estrada
de ferro enviou o General Quevedo ao México e aos Estados Unidos em
busca de engenheiros para canalizar os trechos encachoeirados do rio
Madeira e construir a ferrovia. O engenheiro escolhido para esse
empreendimento foi George Earl Church, do Exército americano.
Segundo Hardman, o coronel Church tinha um espírito aventureiro, era
oportunista, e possuía uma atração pelas viagens distantes e pelo enriquecimento. Possuía
também uma capacidade ímpar na construção de ferrovias somada a capacidade militar de
expandir as fronteiras e de domesticar índios.83
Church aceitou o desafio de construir a estrada de ferro, porém
impôs uma condição, isto é, que o governo boliviano lhe concedesse a
exploração da navegação dos rios Madeira e Mamoré. Com esse objetivo
foi criado em 1868, a Bolivian Navigation c Company
Para construir a ferrovia, já que muitos dos seus trechos
estavam em território brasileiro, o coronel americano pediu a D.
Pedro II, a concessão de 50 anos, e se preciso a sua prorrogação
para conclusão das obras. Assim o governo brasileiro tornou-se
parceiro de Church, enquanto o governo boliviano era o fiador da
obra.
D. Pedro II, porém exigiu a Church, a mudança do nome da
empreendimento, em vez de Bolivian Navigation Company, que se83 Idem, p.120.
151
adotasse The Madeira and Mamoré Railway Company. Depois de
concretizados os acordos entre o governo brasileiro e o coronel
americano, Church viajou a Londres na tentativa de buscar recursos
financeiros e tecnológicos para iniciar as obras.
Em Londres, Church conseguiu obter os empréstimos entretanto,
foi exigido que a construtora encarregada pela obra deveria ser
inglesa, assim como os materiais empregados na construção, ou seja,
os trilhos e as locomotivas.
Desta forma, a empresa inglesa Public Works assumiu a construção
da ferrovia. Em julho de 1872, a empresa chegou a Santo Antonio do
Rio Madeira (MT) para começar as obras. Logo no início da construção,
os ingleses perceberam que foram ludibriados. Vitimas das doenças
tropicais que grassavam na região, trabalhadores e engenheiros da
empresa faleceram. Assustados com a insalubridade que reinava no
local, os ingleses abandonaram o projeto sem implantar um único
trecho da ferrovia.
A seguir, a Public Works processou o coronel Church pelas suas
perdas. Porém, o coronel recorreu alegando que a empresa desistiu do
projeto, pois ficou atemorizada com a imensidão e os perigos da
floresta.
Em 1873, o coronel Church encarregou a empreiteira americana
Dorsay & Caldwell de continuar a construção da ferrovia Madeira-
Mamoré. No entanto, ao entrarem em contato com a região, a
empreiteira assustada com as mortes causadas pelas doenças tropicais
abandonaram a construção e voltaram para os Estados Unidos.
Church não desistiu dos seus objetivos, desta vez, buscou a
empreiteira inglesa Reed Bros & Co. para a construção. Porém a
empresa não mostrou o mínimo interesse em assumir o empreendimento.152
Desgatado pelas inúmeras tentativas, Church viu a sorte mudar,
quando a empresa P & T Collins aceitou construir a estrada de ferro.
Fecharam o contrato em 1877 e orçamento da obra foi estimado em
1.200.000 libras. Apesar do seu altíssimo custo, Church apostava no
seu sucesso, e acreditava que a ferrovia proporcionaria muitos
lucros, uma vez que a região era riquíssima em seringais. A confiança
do coronel americano estava relacionada ao fato de que neste período,
o látex era um produto bem cotado no mercado internacional.
Para iniciar as obras, a Collins formou uma expedição de 200
homens composta por engenheiros, médicos, operários, pessoal
administrativo e de navegação.
Ao iniciar o mês de fevereiro de 1878, a construtora alcançou a
primeira cachoeira do rio Madeira, no Porto de Santo Antonio. Assim
ao longo deste ano, navios, equipamentos, trabalhadores e uma
locomotiva chegaram a Santo Antônio.
A semelhança das outras empreiteiras que tentaram construir a
estrada de ferro, a Collins também se deparou com o problema da
insalubridade, com as doenças tropicais, mas mesmo enfrentando muitas
dificuldades, a empresa conseguiu inaugurar simbolicamente a ferrovia
em 4 de julho de 1878.
Muitos trabalhadores da P.& T. Collins assustados com as doenças
e com os ataques dos índios fugiam das obras, se emprenhando pela
floresta. Até mesmo, um dos proprietários da empresa, Thomas Collins
teve o seu pulmão perfurado por uma flecha. Assim diante de tantas
intempéries, a empresa Collins acabou falindo.
Por sua vez, Church, idealizador da construção da estrada de
ferro, estava também totalmente falido, e para piorar a sua situação,
153
o governo brasileiro cancelou a concessão para a construção da
estrada de ferro.
No início do século XX, através do Tratado de Petrópolis, o
governo republicano comprou o Acre pelo valor de dois milhões de
libras esterlinas, e assumiu o compromisso de construir a estrada de
ferro Madeira-Mamoré.
A compra do Acre estava relacionada a exploração da borracha e
devido a presença de trabalhadores brasileiros, em especial os
nordestinos, que se dedicavam a extração do látex.
A retomada da construção da Estrada de Ferro Madeira - Mamoré
tinha como objetivo ligar a Bolívia ao Oceano Atlântico, escoar do
Amazonas as riquezas do extrativismo vegetal que interessava ao
comercio internacional.
Para a sua construção, um edital de concorrência restrito a
empresários brasileiros foi publicado. O vencedor da concorrência foi
o engenheiro Joaquim Catrambi, que juntamente com o engenheiro
Percival Farquhar teriam a concessão da ferrovia.
Farquhar foi aos Estados Unidos contratar engenheiros para
conduzir as obras da ferrovia. Desta maneira, em janeiro de 1907,
engenheiros, trabalhadores de varias nacionalidades e técnicos
americanos chegaram a Santo Antonio do Rio Madeira.
Em agosto de 1907, Farquhar comprou a concessão de Catrambi
fundando a Madeira-Mamoré Railway Company.
Com o intuito de controlar as doenças que imperavam na região,
Farquhar contratou uma equipe médica, enfermeiros, farmacêuticos e
construiu o hospital Candelária, em Santo Antonio. Mesmo com essas
medidas, as mortes eram inevitáveis, e por isso o empresário tinha
que constantemente contratar mais mão-de-obra, no exterior.154
Na tentativa de diminuir a incidência das doenças e
conseqüentemente das mortes, o empresário contratou o médico
sanitarista Oswaldo Cruz para estudar o quadro sanitário da região.
Ao chegar em Santo Antonio, o médico instalou-se no hospital
Candelária, e percorreu a linha da ferrovia até o rio Jaci-Paraná.
Ao finalizar o seu estudo sobre a região, Oswaldo Cruz apontou
Santo Antonio como um foco de doenças e listou as enfermidades que
mais afetavam a região: pneumonia, sarampo, ancilostomose, beribéri,
disenteria, hemoglobinúria. Febre-amarela, calazar (leishmaniose
visceral) e a mais temida de todas, a malária.84
Em 1912, apesar das inúmeras dificuldades, a ferrovia foi
finalmente inaugurada, porém, o preço da borracha caiu no mercado
internacional devido a concorrência com o sudeste asiático. Além
disso, o canal do Panamá foi concluído em 1915, tornando os fretes
mais baratos na região. Assim a Estrada de Ferro Madeira - Mamoré não
deu os lucros esperados.
Atualmente a Estrada de Ferro Madeira - Mamoré não pertence mais
ao território de Mato Grosso, pois em 1943, Getulio Vargas fundou o
Território Federal do Guaporé, e com isso anexou Santo Antonio do Rio
Madeira e Guajará-Mirim ao novo território. Posteriormente este
território seria o atual Estado de Rondônia.
Atualmente a Estrada de Ferro Madeira- Mamoré não possui
importância econômica para o Estado de Rondônia, e segundo Hardman, a
memória atual dos habitantes de Porto Velho e demais localidades atravessadas pela linha
da Madeira- Mamoré é evidentemente bastante fragmentária. A exceção de um núcleo
restrito de velhos ferroviários e seus descendentes, que preservam ainda certa tradição oral
84 Ibidem, p.150
155
em torno dos acontecimentos, a grande maioria dos povoadores de Rondônia.(sic)
desconhece quase tudo sobre aquela estranha estrada de ferro desativada desde 1972.85
Trabalhadores da Estrada de Ferro Madeira - Mamoré
O recrutamento de mão-de-obra para a construção da ferrovia foi
extremamente difícil desde o início de sua construção, pois muitos
trabalhadores que chegavam ao vale amazônico vinham contratados para
trabalhar nos seringais. Por isso que a solução encontrada pelas
construtoras que acamparam o projeto de construir a ferrovia foi
contratar mão- de - obra do exterior.
Os trabalhadores contratados para a construção da ferrovia
recebiam um adiantamento para a sua passagem e ao chegarem ao local
de trabalho recebiam mais um adiantamento para a aquisição de gêneros
alimentícios, que eram vendidos pela empresa construtora. Recebiam
também diariamente uma refeição de baixa qualidade nutricional.
Para receber esses trabalhadores a construtora edificou
acampamentos, porém estes acabaram preferindo construir cabanas
cobertas de palhas.
O quadro abaixo revela o número trabalhadores contratados para a
construção da ferrovia pela Brazil Railway Co, no período de 1907 a
1912. :
Ano Homens1907 4461908 24501909 450085 Ibidem, p.180.
156
1910 60241911 56641912 2733Total 21817Fonte: Hardmam, Francisco Foot, Trem Fantasma, p. 140.
Capítulo 16: Comissão Rondon: Construção das Linhas Telegráficas
Na segunda metade do século XIX, os paises europeus passavam por
um acelerado processo de industrialização, e com isso investiam cada
vez mais em descobertas cientificas, com o intuito de promover a
expansão capitalista.
Dentre essas inovações cientificas, é importante ressaltar a
ferrovia e o telégrafo, pois essas descobertas foram capazes de
facilitar as comunicações entre os continentes, integrando as
populações das regiões “atrasadas” na órbita do capitalismo.
Paralelamente um discurso fundamentado no saber cientifico foi
construído nos países capitalistas ricos para justificar a dominação
econômica e cultural sobre as regiões não exploradas pelo capital.
Os ingleses e franceses interessados em investir o seu capital
financiaram várias expedições cientificas, que em viagens
exploratórias na África e na América buscavam conhecer as suas
potencialidades. Para justificar a exploração econômica destes
continentes e da sua população, os europeus baseados nas teorias de
Darwin alegaram que o branco europeu era superior, e que tinham como
157
missão propagar a civilização a esses povos, que ainda viviam no
estagio da barbárie. Assim cabia aos europeus civilizá-los.
Neste período, o capitalismo europeu avançava a todo vapor, as
suas exportações quadruplicaram, a navegação mercantil passou de 10 a
16 milhões de toneladas, a rede ferroviária em 1870 contava, com
pouco mais de 200 mil quilômetros, mas as vésperas da Primeira Guerra
mundial (1914-1918) chegou a 1 milhão de quilômetros.86
Foi nesse contexto, que o telégrafo tornou-se fundamental para o
desenvolvimento do capital, pois permitia a circulação das idéias, os
contatos comerciais entre as regiões mais distantes do Planeta,
derrubando as fronteiras geográficas e políticas, e através da adoção
de um único código de linguagem, o Código Morse, os homens
conseguiram superar as barreiras lingüísticas.
No Brasil, a construção da linha telegráfica esteve sob a
responsabilidade da Repartição Geral do Telégrafo. Em 1852, a
primeira linha foi construída ligando a Quinta imperial ao Quartel
General do Exército. Na visão do governo imperial, o telégrafo seria
responsável pela integração entre as províncias brasileiras. De
acordo com as autoridades governamentais e os parlamentares do
Império, a falta de informação, de comunicação entre as províncias
representava um entrave ao desenvolvimento econômico do país.
Em 15 de novembro de 1889, a república foi proclamada
acarretando mudanças nas instituições políticas brasileiras. Contudo,
o governo republicano inspirado nos princípios do positivismo
considerou vital a retomada da construção das linhas telegráficas.
Para o governo republicano, a instalação do telégrafo não
representava somente facilitar as comunicações entre as regiões86 Hobsbawn, Eric, A Era dos impérios; 1875-1914), p. 95
158
brasileiras. Para os republicanos, construir as linhas telegráficas
significava penetrar, conquistar o território brasileiro, definir as
fronteiras, conhecer os povos que habitavam as regiões mais
longínquas.
Os governantes da Republica e os intelectuais brasileiros, no
inicio do século XX, viam o sertão brasileiro, como a antítese da
civilização. O sertão representava um lugar dominado pela barbárie,
pois era ocupado por povos que viviam em estado “primitivo”, marcado
por uma intensa diversidade cultural. Assim seguindo os pressupostos
do positivismo, os governantes e intelectuais do período almejavam a
‘ pacificação dos índios” e conseqüentemente a homogeneização da
sociedade brasileira, que segundo eles seria obtida com a construção
das linhas telegráficas.
De acordo com a historiadora Laura Antunes em sua obra A nação por
um fio.87, a instalação das linhas telegráficas tinha como missão, como
ideal retirar os povos que habitavam o sertão, do estágio de
“selvageria’ e levá-los a civilização. Na verdade, civilizar possuía
um significado bem mais amplo, isto é, torná-los produtivos
contribuindo para o desenvolvimento da nação.
Para atingir as suas metas, o governo republicano indicou o
mato-grossense, Candido Mariano Rondon para dirigir os trabalhos pelo
sertão. Rondon daria continuidade ao trabalho iniciado no governo
imperial, contudo o objetivo desta etapa era atingir os estados de
Mato Grosso, do Amazonas, do Pará, como também o Acre, o Purus e o
Juruá, vistos naquele momento histórico como uma região extremamente
isolada, perigosa e de difícil penetração.
87 Antunes, Laura, A Nação por um fio, p.69 a 135. Ver também: Hardman, Francisco Foot, Trem Fantasma.
159
A Comissão Rondon era composta de oficiais do Exército,
engenheiros militares, funcionários civis, soldados, especialistas em
botânica, zoologia e geologia. Contou também com a participação de
presos civis e políticos. A Comissão estava subordinada ao Ministério
da Viação e Obras Publicas e ao Ministério da Guerra.
Nos trabalhos empreendidos pela expedição, os oficiais eram
encarregados das tarefas estratégicas, enquanto cabia aos engenheiros
estudar a topografia da região. Os funcionários civis eram compostos
pelos inspetores, telegrafistas, guarda-fios, fotografo e
enfermeiros, que pertenciam a Repartição Geral dos Telégrafos.
Já os soldados, os presos civis e políticos eram encarregados
das tarefas mais pesadas, como por exemplo, a abertura de estradas, a
colocação dos postes e dos fios. Os soldados eram oriundos das
camadas populares e muitas vezes foram enviados aos cuidados de
Rondon, por serem considerados nos quartéis pelos seus superiores
como “desordeiros”. Geralmente os presos enviados para a Comissão
Rondon, eram indivíduos que participaram de rebeliões que afrontaram
os interesses e o poder das oligarquias.
Como exemplo destas rebeliões, podemos citar o movimento
ocorrido em 1910, durante o governo de Hermes da Fonseca. Na capital
federal, os marinheiros se rebelaram exigindo do governo oligárquico
o fim dos castigos corporais. O governo reprimiu violentamente o
movimento, e para punir os presos optou pela deportação a bordo do
navio Satélite. O destino dos 491 presos era a Estrada de Ferro
Madeira -Mamoré e a Comissão Rondon.
O trabalho na Comissão era exaustivo, os trabalhadores
enfrentavam uma jornada diária de 12 horas, e tinham direito ao
descanso somente nos feriados e nas comemorações oficiais. Recebiam160
uma precária alimentação, e eram acometidos pelas doenças que
grassavam na região. Na opinião do médico sanitarista, Oswaldo Cruz,
a região amazônica era a mais insalubre do país.
As moléstias provocavam muitas mortes impedindo o avanço da
construção da linha telegráfica. Para erradicar as doenças, e
conseqüentemente diminuir a incidência da mortalidade, os médicos e
enfermeiros nos acampamentos chegaram a oferecer aguardente quinada
como prêmio para os trabalhadores que seguissem a risco o tratamento.
O prêmio agradou os trabalhadores, uma vez que era proibido nos
acampamentos o uso de bebidas alcoólicas.
Assim condenados pelo governo republicano a tarefas exaustivas,
a enfrentar os perigos do “sertão inóspito”e as doenças tropicais, os
trabalhadores resistiam provocando rebeliões. Para enfrentar a fúria,
a resistência e disciplinar esses homens para o trabalho, Rondon
criou estratégias de estratégias de dominação. Para evitar as
revoltas, os trabalhadores eram constantemente vigiados e ameaçados
com castigos físicos.
Em 1909, após o falecimento do presidente Afonso Pena, surgiu no
governo federal uma forte oposição a construção da linha telegráfica
Mato Grosso – Amazonas. O ministro J. J. Seara defendeu a sua
extinção alegando que a Comissão desviava as verbas públicas e
utilizava de castigos corporais. Além disso, muitos parlamentares e
religiosos se mostravam contrários a “civilização do índio
brasileiro”.
Apesar das duras críticas, a Comissão Rondon deu continuidade a
sua tarefa, entretanto, não conseguiu chegar ao seu destino final
a cidade de Manaus.
161
No quadro abaixo apresentamos resumidamente as etapas da
construção das linhas telegráficas:
Império: Direção da Comissão de construção das linhas Telegráficas:
general Cunha Matos.Nesse período, as linhas telegráficas, saindo de Franca (São
Paulo), passaram por Uberaba atingindo Goiás e Mato Grosso,
até a Cuiabá.República:Direção da Comissão da Construção da Linha Telegráfica:
Candido Mariano Rondon.Foram instaladas 17 estações, uma linha chegou até a
fronteira do Paraguai, ligando Porto Murtinho a Bela Vista e
outra atingiu a fronteira com a Bolívia, atendendo Cáceres,
Coimbra e Corumbá.(1900-1906).1907- 1915: Foram construídas três sessões, uma saindo de
Cáceres a Vila bela, a segunda ligando Cuiabá a Santo Antonio
do Rio Madeira e a terceira teve um caráter exploratório e de
reconhecimento da região Fonte: Cavalcante, Else, Rodrigues, Maurim, Mato Grosso e sua
História, p. 107
Serviço de Proteção ao índio
Em 1910, o governo federal pautado pelo pensamento positivista
tomou a decisão de iniciar uma ação governamental que tinha como
objetivo civilizar o índio brasileiro. Para realizar esse projeto
162
civilizatório, o presidente da Republica, Nilo Peçanha criou o
Serviço de Proteção ao Índio.
O Estado, em seus discursos oficiais, afirmava que a função do
SPI seria proteger o índio, demarcar as terras indígenas. Para
conduzir a política de proteção ao índio, protegê-los do extermínio,
Nilo Peçanha encarregou Candido Rondon, que ficou conhecido em todo o
pais pelo lema “morrer se preciso for, matar nunca.”
O Serviço de Proteção ao Índio (SPI) foi extinto com a ditadura
militar e os seus arquivos demonstraram que seus objetivos não foram
alcançados, uma vez que os índios que participaram da Comissão Rondon
perderam as suas terras, os suas referencias culturais, e ao final da
construção da linha telegráfica foram para as cidades, aonde foram
marginalizados e explorados. De acordo com a OPAN/CIMI, o Serviço de
Proteção ao Índio entrou para a historia como um símbolo de genocídio. Desde a sua
criação, a população indígena do país decresceu em cerca de 1 milhão para menos de 200
mil, sem esquecer que muitas nações indígenas foram extintas.88
A Política do Índio na República
Apesar do governo republicano desenvolver uma política voltada
para o índio, os interesses capitalistas falaram e continuam a falar
mais alto acarretando no massacre de aldeias indígenas ou na fome e
miséria dos índios brasileiros.
Em 1850, com a Lei de Terras, a situação do índio se agravou,
pois a lei impedia a existência da pequena propriedade e afirmou o
predomínio do latifúndio na estrutura fundiária brasileira.
88? Apud: Cavalcante, Else, Rodrigues, Maurim, Mato Grosso e sua História, p.109.
163
Nesse período, a economia brasileira se adequava as exigências
do capitalismo. Assim a produção agrícola era sustentada no
latifúndio e na exigência do mercado externo. Essas características
econômicas acabou favorecendo a extinção dos povos indígenas e na
dilapidação dos seus territórios, pois a medida que o capitalismo
acelerava, os fazendeiros queriam mais terras.
Na segunda metade do século XX, os índios passaram a ser
exterminados através de armas biológicas. Os capitalistas
interessados nas terras indígenas chegaram a doar presentes, como por
exemplo, cobertores contaminados com o vírus de doenças como o
sarampo, a tuberculose e a sífilis. Desta forma, aldeias inteiras
foram eliminadas.
Durante o Estado Novo, o governo através do projeto “A Marcha
para o Oeste”, com a intenção de os “espaços vazios”, no sul de Mato
Grosso, acabou também expropriando territórios indígenas.
E em 1963, a imprensa denunciou o massacre dos índios Cinta
Larga. A chacina foi denominada pela imprensa de Chacina do Paralelo
11. Esta chacina ocorreu no município de Aripuanã, quando dois
fazendeiros interessados em ampliar os seus domínios enviaram a
Aldeia Cinta Larga, dois empregados portando uma metralhadora. Os
empregados dispararam impiedosamente contra os índios.89
Na década de 70, com a colonização do Norte de Mato Grosso e da
Amazônia mais uma vez os índios perderam o seu território e aqueles
que resistiram foram eliminados. O estímulo dado ao governo federal à
produção econômica exportadora, aniquilou as pequenas propriedades,
promoveu o desmatamento que conseqüentemente tornou difícil a caça e
a pesca nos rios.89 Fernandes, Joana, Índio: Esse Desconhecido, p. 36.
164
Ao perderem os seus territórios muitos índios vieram morar nas
cidades, contudo enfrentam muitas dificuldades como a falta de
moradia, de emprego e o preconceito, uma vez que, desde o início da
colonização vários estereótipos foram criados pelo branco denegrindo
a imagem dos índios.
Os interesses capitalistas persistem e continuam a provocar uma
série de conflitos entre posseiros, fazendeiros e índios. A
reportagem do “jornal Diário de Cuiabá” no quadro abaixo revela a
problemática do índio brasileiro.
Brasil abandonou índios, diz Anistia Internacional
Em comunicado emitido ontem à imprensa mundial, a Anistia
Internacional afirmou que o governo e o Judiciário
brasileiros fracassaram na proteção ao direito dos índios à
terra.
A manifestação foi motivada episódios envolvendo indígenas
guaranis-caiuás em Mato Grosso do Sul, na região da fronteira
com o Paraguai. Em 15 de dezembro, cerca de 700 índios foram
retirados, pela Polícia Federal, de uma terra em disputa na
cidade de Antônio João e está acampado à beira da rodovia MS-
384. Nove dias depois, o índio Dorvalino Rocha, 39, foi morto
com um tiro no peito. O autor do crime foi, segundo a Anistia
e membros da Fundação Nacional do Índio, um segurança
contratado por fazendeiros.
"No Brasil, a população indígena continua a sofrer violência
165
e severa situação de pobreza como resultado do fracasso do
governo e do Judiciário em proteger seu direito
constitucional à terra", afirma a nota, intitulada "Brasil:
Governo e Judiciário abandonam povos indígenas mais uma vez".
A Anistia diz que a PF, apoiada por fazendeiros, usou
violência na retirada dos índios de sua "terra ancestral"
(uma mulher teria sofrido aborto) e que os guaranis-caiuás
acampados estão sem comida nem abrigo. Os guaranis-caiuás são
uma das etnias mais afetadas pela miséria no Brasil. Em 2005,
ao menos 15 crianças morreram de desnutriçãoFonte:Diário de Cuiabá, 25/01/2006
Expedição Roosevelt- Rondon
Em 1913, o coronel Theodoro Roosevelt, ex-presidente dos Estados
Unidos chegou a Mato Grosso através da navegação pela foz do rio Apa.
Rooselvelt comandava uma expedição que tinha como objetivo atravessar
o sertão até atingir o rio Madeira.
Candido Rondon recebeu a tarefa de conduzir a expedição pelo
“sertão” mato-grossense. Partindo do Rio de Janeiro, Rondon teve o
seu primeiro contato com Roosevelt em Corumbá surgindo assim a
Expedição Roosevelt - Rondon.
Os expedicionários seguiram em direção a Cáceres, e
posteriormente ao porto de Campo, no rio Sepotuba. Assim a expedição
se dirigia em direção aos sertões dos índios Parecis e dos
Nhambiquaras.
166
Para percorrer essa marcha, Rondon reuniu uma tropa de 110
muares, 70 bois cargueiros e dividiu a expedição em duas colunas; uma
ficou sob o comando do capitão Amílcar Magalhães, que seguiu para
Juruena, o outro grupo foi composto por Roosevelt e Rondon, que
desceu o rio Papagaio, explorando e fazendo o levantamento da região.
Mais tarde, as duas colunas se encontraram e rumaram em direção a
Manaus. Ao chegar em Manaus, a expedição foi para Belém do Pará, e
finalmente a expedição Roosevelt voltou para os Estados Unidos.90
A medida que a expedição avançava sobre o território mato-
grossense amostras de vegetais e minerais eram coletados, animais
caçados e empalhados. Todo este material foi enviando para os Estados
Unidos para ser estudado, pois os americanos queriam conhecer as
potencialidades de Mato Grosso, descobrir o que havia nesse imenso
território para ser explorado.
Capitulo 17: Era Vargas em Mato Grosso
Na década de 20 e 30, a industrialização e a urbanização
passaram a compor o cenário econômico e social do país, que
anteriormente era predominante agrário. Embora, o café continuasse a
ser o principal de exportação, o surto industrial de 1914/1918 trouxe
transformações a sociedade brasileira. Essas mudanças provocaram
também alterações políticas, uma vez que novos setores sociais como
as classes medias urbanas, a burguesia industrial e o operariado
questionavam as estruturas políticas que sustentavam a oligarquia
cafeeira.90 Mendonça, Estevão, Datas Mato-Grossenses, p.310.
167
Apesar dos governos oligárquicos terem enfrentado vários
movimentos sociais, que expressavam o descontentamento das camadas
populares, a oligarquia cafeeira se manteve inabalável. Porém, uma
crise política interna se deu durante o pleito eleitoral de 1909,
quando Rui Barbosa e Hermes da Fonseca disputaram a presidência da
República. Hermes da Fonseca foi eleito, e a oligarquia cafeeira foi
capaz de superar essa fase.
Em 1929, a oligarquia cafeeira foi novamente abalada, com a
crise dos Estados Unidos, que debilitou os países capitalistas. Com a
queda dos preços do café no mercado internacional, o setor cafeeiro
se viu em franca decadência. Paralelamente, na década de 20, a
oligarquia cafeeira enfrentou o movimento tenentista, que tinha como
objetivo derrubá-la do poder.
O Tenentismo ameaçou principalmente o governo de Artur Bernardes
(1922-1926), entretanto, as forças legalistas controlaram o
movimento, e os rebeldes se exilaram na Bolívia. Apesar do insucesso
dos tenentes, o governo oligárquico entrou em decadência, pois o
tenentismo mostrou a insatisfação de setores do Exército ao governo
oligárquico.
Outro desgaste que promoveu a falência da oligarquia foi a
sucessão presidencial. Em 1929, a crise econômica, provocada pela
desvalorização do café levou o presidente Washington Luís a romper
com a Política Café com Leite, isto é, a sucessão presidencial entre
Minas Gerais e São Paulo. Para essas eleições o candidato indicado
pelo presidente foi o paulista Julio Prestes, no entanto, deveria ser
Antonio Carlos de Andrade, chefe do Partido Republicano de Minas
Gerias.
168
O rompimento deste acordo acarretou em insatisfações, e dentro
do Partido Republicano Paulista aconteceu uma cisão, nascendo assim o
Partido Republicano Democrático. Os tenentes reanimaram-se na
tentativa de combater o domínio político dos paulistas, as
oligarquias dissidentes do Rio Grande do Sul e da Paraíba apoiaram o
rompimento de Minas Gerais com São Paulo.
Com o intuito de derrubar a oligarquia paulista, as oligarquias
dissidentes formaram a Aliança Liberal, formada por Minas Gerais,
Paraíba e o Rio Grande do Sul. As oligarquias dissidentes não
apresentavam propostas revolucionárias, porém propunham mudanças que
atendiam o anseio das camadas populares, como o voto secreto e o voto
feminino, o estabelecimento de uma jornada de trabalho de oito horas.
A Aliança Liberal lançou como candidato a presidência Getulio Vargas,
representante da oligarquia gaúcha e como vice-presidente, João
Pessoa representante da Paraíba.
As eleições aconteceram em 1930, a máquina da corrupção política
paulista funcionou (voto de cabresto, fraudes, violência, dentre
outras) novamente e Julio Prestes, candidato paulista venceu as
eleições. Vargas obteve aproximadamente oitocentos mil votos, e o
candidato oficial foi eleito com um milhão de votos.91
Diante destes resultados, a oligarquia dissidente com o apoio
dos tenentes iniciaram o preparativos para um movimento armado. O
estopim usado para começar uma luta para derrubar a oligarquia
paulista foi o assassinato de João Pessoa, que fora candidato a vice
– presidente pela Aliança Liberal.
Assim em 3 de outubro de 1930 iniciou-se a “revolução”, e já no
dia 24 de outubro Washington Luis foi deposto. Com a derrubada da91 Tota, Antonio, O Estado Novo, p.11.
169
oligarquia, os rebeldes apoiaram a subida de Vargas ao poder., em 3
de novembro de 1930. Terminava desta forma a dominação da oligarquia
cafeeira, mas as relações sociais continuavam as mesmas. Podemos
considerar que a Revolução de 30 foi feita pelas oligarquias
dissidentes para acabar com a política café com leite.
Governo Provisório de Vargas (1930-1934)
Ao subir ao poder, Getulio Vargas procurou combater as
estruturas de sustentação
criadas pela política-café-com leite, e para isso desenvolveu uma
série de mecanismos que visavam reorganizar o Estado. Nessa fase
política, foi fechado o Congresso Nacional, as Assembléias
Legislativas Estaduais e as Câmaras Municipais.
Para governar os estados, Getulio interveio derrubando do poder
os antigos governadores (oligarcas), exceto em Minas Gerais, e nomeou
para governar os estados, os interventores federais, que geralmente
eram tenentes.
Aos interventores federais cabia exercer o poder Executivo e o
Legislativo, podiam deliberar posturas e atos municipais, e teriam
nos estados governados por eles, os mesmos poderes que cabiam ao
governo Provisório.92
Em Mato Grosso, Getulio destituiu do cargo de governador Aníbal
de Toledo e indicou como interventor federal Antônio Mena Gonçalves,
que tomou medidas que visavam minar o poder dos oligarcas, que
anteriormente tinham o seu poder e interesses sustentados pela92 Carone, Edgar, Segunda Republica, p.18
170
oligarquia cafeeira. Em Mato Grosso, a política de Mena Gonçalves
afetou principalmente os usineiros, que eram coronéis que detinham o
poder na região, pois apoiavam a oligarquia paulista.
Mena Gonçalves não foi o único interventor federal em Mato
Grosso, posteriormente o presidente indicou como interventores
federais para Mato Grosso, Artur Antunes Maciel e Leônidas de Matos.
A troca de interventores cabia ao Presidente da Republica e a lei
estabelecia que o interventor seria exonerado a critério do Governo
Provisório.93
A mudança dos interventores demonstrava o interesse do governo
Provisório pelo Estado de Mato Grosso. Esse cuidado estava
relacionado as insatisfações dos oligarcas com as decisões do governo
Vargas. Mena Gonçalves enfrentou uma forte reação das oligarquias,
que não aceitaram as mediadas impostas pelo interventor, e este por
sua vez chegou a decretar a prisão de alguns coronéis. Assim, os
coronéis em protesto, reclamaram ao governo federal e Mena Gonçalves
foi destituído.94
Em 1932, Getulio nomeou como interventor federal Artur Antunes
Maciel, que recebeu a incumbência de conquistar a população mato-
grossense ao governo getulista. Este ano foi bastante intranqüilo
para o governo getulista, pois as elites gaúchas e mineira romperam
com o presidente, acusando-o de ditador. A situação se agravou mais
ainda, quando em 9 de julho de 1932, os paulistas iniciaram a
Revolução Constitucionalista.
Os rebeldes paulistas desejavam na verdade recuperar o poder
perdido com a “Revolução de 1930”, embora afirmassem à população
93 Idem, p.20.94 Madureira, Elizabeth, historia de Mato Grosso, p.198.
171
paulista, que o movimento era necessário, pois Vargas governava o
país inconstitucionalmente. Assim a bandeira levantada pela elite
paulista, para conseguir a adesão do setores populares era que a
revolução tinha como objetivo dar ao Brasil uma constituição.
São Paulo rompeu o movimento esperando a adesão das elites
mineiras e gaúchas, mas estas acabaram se reconciliando com o
presidente. Na realidade, São Paulo somente contou com a participação
de um pequeno destacamento, proveniente do sul de Mato Grosso e
comandado pelo general Bertoldo Klinger.
O apoio do sul de Mato Grosso a causa paulista estava associado
ao anseio do sul de Mato Grosso pela divisão do Estado. No decorrer
da Revolução Constitucionalista, o sul de Mato grosso se separou
criando o Estado do Maracaju, que foi governado pelo médico,
Vespasiano Martins.
A Revolução Constitucionalista durou três meses, Getúlio
levantou a suspeita do separatismo paulista e com isso conseguiu
manter os outros estados a seu lado. Sem armas, e isolados, os
paulistas não resistiram muito tempo. Após ter controlado o movimento
em São Paulo, Vargas combateu o movimento separatista no sul de Mato
Grosso e convocou eleições para formação de uma assembléia
constituinte para elaborar uma constituição para o Brasil.
Vargas pretendia garantir o domínio política na assembléia
constituinte, pois essa instituição seria a responsável pela eleição
do presidente, e lógico Vargas pretendia se candidatar. Assim a
participação de Mato Grosso no movimento constitucionalista levou
Vargas a dar mais atenção aos acontecimentos políticos que ocorriam
em Mato Grosso. Foi neste momento, que aconteceu a repressão ao
Tanque Novo, em Poconé. 172
Tanque Novo
O Tanque Novo localiza-se nas imediações de Poconé e na década
de 30, durante o governo provisório de Vargas, os moradores deste
vilarejo foram alvos de uma intensa repressão política promovida
pelo governo. Esse movimento social ocorreu, em 1933, no momento em
que Getulio Vargas convocava as eleições para a formação de uma
Assembléia Constituinte para elaborar uma Constituição para o país.
Foi nesse reduto próximo a Poconé, que residia Laurinda Lacerda
Cintra, uma dona de casa, que vivia modestamente cercada pelos seus
filhos. Em Poconé, essa mulher era conhecida pelos moradores da
região como Doninha.
Doninha ficou conhecida, pois segundo os habitantes de Poconé,
era sensitiva. Tinha visões da santa “Jesus Maria José”, curava as
enfermidades e fazia previsões sobre o futuro.
A notícia das curas de Doninha acabou conduzindo a essa
localidade inúmeras pessoas, que vinham em busca de uma solução para
os seus males. Depois de curados muitos preferiram se estabelecer
naquele lugar, surgindo assim uma comunidade fortemente influenciada
pela Doninha, e que tinha o seu cotidiano voltado para as práticas
religiosas. Aos seus moradores era proibido o uso de bebidas
alcoólicas e jogos de azar.
Os coronéis de Poconé durante a república oligarquia, logo
enxergaram que poderiam obter votos na região através do apoio
político de Doninha. Para isso, os coronéis ajudavam a Doninha e a
sua gente com donativos.
173
Foi usando desta artimanha, que os coronéis nas eleições de
1930, conseguiram que a população de Poconé votasse no candidato da
oligarquia paulista, Júlio Prestes. Assim, a vitória de Julio Prestes
demonstrou que os coronéis e a população da região era oposição a
Aliança Liberal.
Após a sua derrota nas urnas, a Aliança Liberal articulou um
levante armado a Revolução de 1930. Através deste golpe, as
oligarquias dissidentes contaram com a colaboração dos tenentes,
aniquilando definitivamente a oligarquia paulista. A seguir, Getulio
Vargas apoiado pelos rebeldes tomou posse na Presidência.
Ao subir ao poder, Vargas empreendeu uma política administrativa
voltada para combater em cada estado da Federação, as forças
políticas que sustentaram o governo oligárquico. Desta forma,
destituiu os antigos governadores, e nomeou para governar os estados,
os interventores federais.
Como mencionamos anteriormente, Mena Gonçalves foi indicado como
o primeiro interventor federal do governo Vargas em Mato Grosso. Este
interventor federal empreendeu medidas que visavam combater o poder
dos coronéis, em especial dos usineiros da região de Santo Antônio do
Leverger. Contudo, essas medidas provocaram insatisfações e como
Vargas não pretendiam hostilizar a população mato-grossense e as
forças políticas regionais, mais sim conquistar a sua simpatia e
apoio, o presidente resolveu nomear para Mato Grosso outro
interventor federal; Artur Antunes Maciel.
Ao iniciar a sua gestão, Artur Antunes seguindo a legislação que
conferia aos interventores o direito de escolher os prefeitos do
município, nomeou para a Prefeitura de Poconé, Manuel Nunes Rondon.
174
Para conquistar a população de Poconé e do Tanque Novo, Artur
Antunes e o prefeito auxiliavam financeiramente a população carente
da região e para abrigar os doentes que chegavam a procura uma benção
de Doninha, edificaram um barracão. Essa prática política, assim como
a relação entre a população do Tanque Novo e as autoridades
governamentais revelam que a comunidade de Doninha ainda não
representava uma ameaça política mais efetiva ao governo getulista.
Porém, os rumos dessa relação começaram a se alterar a partir de
1932. Neste ano ocorreu em São Paulo a Revolução Constitucionalista,
através da qual a oligarquia paulista queria retomar o poder, mas
alegava para a população que o movimento lutava por uma constituição.
Os paulistas contaram somente com o apoio do sul de Mato Grosso,
que enviou tropas lideradas por Bertoldo klinger.
Depois de três meses de luta armada, o governo Vargas combateu
as forças oposicionistas e abriu as eleições para a escolha dos
representantes que iriam compor a Assembléia Constituinte. Para a
realização dessas eleições, o governo permitiu a formação de partidos
políticos.
Em Mato Grosso surgiu o Partido Liberal Matogrossense, que
representava as forças situacionistas; o Partido Constitucionalista
de Mato Grosso, formada pela oposição e o Partido da Liga Eleitoral
Católica.
O domínio de Vargas na Assembléia Constituinte era crucial para
o seu continuísmo político, pois além de elaborar a constituição, os
constituintes iriam eleger o presidente da republica. Desta maneira,
o governo Vargas deu início a perseguições para garantir a vitória
dos candidatos da situação.
175
Com relação a Mato Grosso, o governo nomeou outro interventor
federal para Mato Grosso; Leônidas Antero de Matos. Observa-se nesse
instante uma mudança de conduta governamental para o Estado.
Leônidas de Matos recebeu a incumbência de afastar a oposição a
Vargas, e para isso indicou como novo prefeito para Poconé, Antonio
Correa da Costa. O novo prefeito começou a sua perseguição aos
opositores de Getulio enviando para o Tanque Novo uma força policial
para prender Doninha e os seus seguidores. Foram presos sob a
acusação de serem baderneiros e de assaltarem fazendas nas
proximidades de Poconé.
Não havia nenhuma veracidade nas acusações, na verdade as
perseguições estavam relacionadas às eleições para a composição da
Assembléia Constituinte, pois Doninha e a população da região
declararam que apoiavam para essas eleições, a oposição, isto é, o
Partido Constitucionalista.
Assim para escapar da prisão, muitos dos seus seguidores fugiram
do cerco da polícia adentrando pelo Pantanal. Porém, Doninha foi
detida e somente foi liberada, quando Vargas garantiu a vitória do
seu candidato nas eleições.
Ao sair da prisão, Doninha preferiu mudar com a sua família para
Cáceres, e viveu nesta cidade tendo visões e fazendo curas até o fim
dos seus dias.
Estado Novo (1937-1945)
Em 1934, a Assembléia Constituinte elegeu Getulio Vargas à
Presidência da República. Nessa fase política, o governo Vargas
enfrentou conflitos entre os grupos políticos que disputavam o poder176
e eram fortemente influenciados pelas ideologias radicais que
cresciam nos países europeus, e culminariam na Segunda Guerra
Mundial.
Em 1934, Luis Carlos Prestes que participou do movimento
tenentista na década de 20 retornou do exílio em Moscou como membro
do PCB. Outros líderes do movimento tenentista, também filiaram-se ao
partido. Verifica-se portanto, o surgimento no interior do PCB, de
uma esquerda de origem militar.95
Os comunistas brasileiros fundaram uma agremiação política a
Aliança Libertadora Nacional (ANL), que além dos comunistas
congregava socialistas. A ANL reunia operários, parcelas da classe
média e a setores da baixa oficialidade do Exército brasileiro.
Pregavam o nacionalismo, o antiimperialismo e a reforma agrária.
Em oposição aos ideais da Aliança Nacional Libertadora, havia a
Ação Integralista Brasileira (AIB) fundada por Plínio Salgado, que
atraiu segmentos da burguesia brasileira, da Igreja e do Exército.
Inspirados no fascismo europeu, os integralistas ou camisas verdes,
combatiam os princípios democráticos, defendiam a propriedade privada
e a instalação de um governo autoritário no país. Os princípios
políticos pregados pelos integralistas atraíram a simpatia de Vargas
a AIB, mas o crescimento da ANL, que chegou a ter 1.600 sedes,
preocupava Getulio Vargas e os setores conservadores do Exército.96
Em 1935, o presidente conseguiu do Congresso a aprovação da Lei
de Segurança Nacional. A lei visava conter o movimento operário e o
comunismo, e baseando-se nela o Congresso determinou o fechamento da
Aliança Nacional Libertadora.
95 Priore, Mary Del. O Livro de Ouro da Historia do Brasil, p.314.96 Tota, Antônio, O Estado Novo, p.15
177
Os comunistas em represália, liderados por Luís Carlos Prestes,
organizaram uma tentativa frustrada de uma revolução social. O
levante fracassado dos partidários da ANL ficou conhecido como
Intentona Comunista. Logo após a derrota do movimento, Vargas e os
aliados começaram a preparar a instalação de um Estado Autoritário.
Em seus discurso a população, o presidente argumentava que o país
estava ameaçado pelo avanço do comunismo.
Em 22 de setembro de 1937, a imprensa noticiou a descoberta de
um plano comunista para a tomada do poder. Era o Plano Cohen, na
verdade um plano forjado pelo capitão Olimpio Mourão Filho, membro da
AIB.
O Congresso Nacional e a população brasileira aterrorizados pela
possibilidade de uma nova rebelião comunista apoiaram a implantação
de uma ditadura o Estado Novo.
O Estado Novo foi um período marcado pela suspensão dos direitos
e das liberdades democráticas. Os opositores ao regime eram presos
pela Polícia Secreta, que era dirigida em todo o território nacional
pelo mato-grossense Filinto Müller.
Para construir a população uma imagem positiva da ditadura, o
governo criou o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), através
do qual incentivou a música popular brasileira, impôs a censura e
estimulou o culto à personalidade de Vargas.
Paralelamente interferiu na economia, com a intenção de
modernizar a economia brasileira. Vargas acreditava em um
desenvolvimento autônomo e independente do capital estrangeiro. Na
sua visão era preciso investir na industrialização cabendo ao Estado
garantir a infra-estrutura necessária ao desenvolvimento do país.
178
No tocante, a administração Getúlio Vargas indicou para governar
os estados brasileiros, os interventores federais. Os interventores
eram oligarcas que defendiam os interesses do presidente em sua
região. Para Mato Grosso, o presidente nomeou como interventor
federal Julio Muller, irmão de Filinto Muller, que como mencionamos
anteriormente era o chefe da Policia Política da ditadura getulista.
A Administração de Julio Müller em Mato Grosso
Julio Muller foi interventor federal de Vargas em Mato Grosso
durante o governo ditatorial. O seu governo foi caracterizado pela
construção de obras, que visavam modernizar a capital de Mato Grosso.
Era importante modernizar Cuiabá, uma vez que o sul reivindicava
junto ao governo federal a transferência da capital para a cidade de
Campo Grande.
Para concretizar os seus objetivos, o interventor buscou
recursos financeiros junto ao governo federal. Ainda para atingir os
seus propósitos, escolheu para dirigir as obras a construtora Coimbra
Bueno, e o engenheiro Cássio Veiga de Sá era o engenheiro responsável
pelas obras em Cuiabá. A escolha de Julio Muller não foi aleatória,
pois a empresa construtora escolhida para modernizar Cuiabá foi a
responsável pela construção de Goiânia.
Dentre as principais obras construídas na gestão de Julio Muller
apontamos:
A residência dos governadores.
179
Grande Hotel, construído na Avenida Getulio Vargas, e que
atualmente é a sede da Secretaria de Cultura do governo de Mato
Grosso.
A ponte “Julio Müller sobre o rio Cuiabá.
A abertura da Avenida Getulio Vargas.
A instalação da Estação de Tratamento de Água, na rua
Presidente Marques.
A fundação do Liceu Cuiabano na Avenida Getulio Vargas.
A fundação do Cine-Teatro localizado na Avenida Getulio Vargas.
Em 1941, chegou a Cuiabá as 10 horas da manhã, um bimotor
“Locked” conduzindo o presidente Getulio Vargas, que veio para
participar das festividades de inauguração das obras edificadas pelo
seu interventor federal. 97
Marcha para o Oeste
Ao final do ano de 1937, Getúlio Vargas anunciou à nação o
projeto de colonização e interiorização do país denominado de “Marcha
para o Oeste”. Segundo o discurso do presidente, a ocupação da região
Amazônica e do oeste brasileiro era uma necessidade urgente e
necessária. Na fala proferida por Vargas, este afirmou
Temos de enfrentar corajosamente, sérios problemas de melhoria das nossas
populações, para que o conforto, a educação e a higiene não sejam privilégios de regiões ou
de zonas. Os benefícios que conquistastes devem ser ampliados aos operários rurais, aos que
insulados nos sertões, vivem distantes das vantagens da civilização. Mesmo porque, se não o
fizermos, corremos o risco de assistir ao êxodo dos campos e superpovoamento das cidades97 Mendonça, Estevão, Datas Mato-grossenses, p.80.
180
– desequilíbrio de conseqüências imprevisíveis, capaz de enfraquecer ou anular os efeitos da
campanha de valorização integral do homem brasileiro, para dotá-lo de vigor econômico,
saúde física e energia produtiva.
Não é possível mantermos a anomalia tão perigosa como a de existirem camponeses
sem gleba própria, num país onde os vales férteis como a Amazônia permanecem incultos e
despovoados de rebanhos, extensas pastagens, como as de Goiás e as de Mato Grosso98.
O discurso acima deixa evidente as propostas e as preocupações
do governo estadonovista.
Em um momento marcado por uma intensa repressão, a propaganda da
“Marcha para o Oeste” divulgada pelos meios de comunicação consistia
em uma estratégia que visava sensibilizar a sociedade brasileira,
criar um estado de comoção social. Por isso, o discurso oficial se
referiu a esse projeto de colonização como o verdadeiro sentido de
brasilidade, isto é, os brasileiros marchando juntos, conduzidos por
um único chefe (Vargas) para que se consumasse a conquista e
exploração de novos territórios.99
A colonização proposta na “Marcha para o Oeste” aconteceria
baseada na pequena propriedade. Para Vargas e mesmo para intelectuais
como Cassiano Ricardo, a pequena propriedade amenizaria os conflitos
sociais no sudeste, no campo e promoveria o desenvolvimento
industrial do país.
Deste 1933, Vargas já defendia o retorno do homem ao campo como
solução para superar as crises sociais que se agravavam em
decorrência da intensificação da urbanização na região sudeste. Por
98 A Nova Política do Brasil, p. 261.99 Lenharo. Alcir, colonização e Trabalho no Brasil: Amazônia, Nordeste e Centro-Oeste, p.14.
181
isso, no programa da “Marcha para o Oeste”, defendeu que a aquisição
de terras deveria ser facilitada e os pagamentos parcelados.
Vargas ainda argumentou sobre a necessidade de obter capitais
nacionais para serem empregados na conquistas das regiões
“atrasadas”.
Para atingir as suas metas, o governo anunciou a desapropriação
de latifúndios improdutivos. Essa medida contrariou os interesses dos
latifundiários, que afirmaram que a Igreja através da Encíclica Rerum
Novarum, do papa Leão XIII, condenava a erradicação completa da
propriedade privada, mas não a sua divisão e indenização feita pelo
Estado. Outros alegavam que somente a produção agrícola em larga
escala era capaz de atender a demanda da industrialização.100
Apesar de todo esse combate, o Estado Novo continuou a defender
a necessidade de efetivar a colonização do oeste do Brasil. Assim o
governo, deixou de arrendar terras devolutas, pois segundo o projeto
cabia ao Estado adquirir terras, lotear e ceder aos trabalhadores
rurais. Foi dentro desta conjuntura que o governo se negou a fazer um
novo arrendamento de terras no sul de Mato Grosso para a Companhia
Mate-Laranjeira.
Desta maneira, o Estado deveria criar uma infra-estrutura
necessária para atender a colonização e combater a especulação da
terra.
Ainda no contexto da “Marcha para o Oeste”, o governo estimulou
a criação de Colônias Agrícolas. Essas colônias agrícolas estavam
subordinadas ao Ministério da Agricultura, eram formadas em pequenas
propriedades, e deviam cultivar produtos agrícolas de largo consumo.
100 Idem, p. 25
182
A exemplo, o governo federal criou em Mato Grosso, a colônia de
Dourados.
O governo Vargas fundou também as colônias militares e de
fronteiras, pois não esqueçamos, que na Europa ocorria a Segunda
Guerra mundial, suscitando no governo brasileiro a preocupação em
defender os territórios de fronteira. Para criar essas colônias, o
governo expropriou as terras da Brasil Railway, que estavam
concentradas nas fronteiras de Mato Grosso e Santa Catarina com a
Bolívia, Paraguai e Argentina. Além dessa empresa, a política de
Vargas atingiu a “Brasil Land”, que possuía terras em Corumbá e
Cáceres, Fomento Argentino que acumulava terras em Porto Murtinho.101
Apesar de todos os esforços em defesa de uma colonização pautada
na pequena propriedade, as propostas não avançaram em conseqüência
das dificuldades materiais e do preparo dos colonos. Com o fim da
ditadura de Vargas (1945), as terras destinadas a colonização foram
redistribuídas ficando em posse de poucas pessoas.
Expedição Roncador-Xingu
Em 1943, com a Segunda Guerra Mundial, o governo brasileiro
acreditava na possibilidade de uma imigração européia em direção ao
interior do Brasil. Além disso, as autoridades governamentais viam a
região do Araguaia, entre Goiás e o Mato Grosso, como o Brasil
desconhecido, pronto a ser explorado, e conseqüentemente integrado ao
território nacional.
101 Ibidem, p.49
183
Porém essa região desconhecida pelo homem branco era habitado
por dezenas de nações indígenas, que possuíam uma atividade econômica
voltada para suprir as necessidades do cotidiano.
Esse imenso território, cercado pelas florestas, pelos rios
abundantes, era rico em produtos do extrativismo vegetal e mineral, e
por isso acabou despertando o interesse de garimpeiros, capitalistas,
do governo federal e dos militares.
Assim motivado pela defesa do território e pelos interesses do
capital, Getulio Vargas em 1943, depois de sobrevoar a região do
Araguaia e constatar a sua imensidão e o seu potencial econômico
anunciou a nação a criação da Expedição Roncador- Xingu.
A expedição estava sob a coordenação do ministro da Coordenação
de Mobilização Econômica, João Alberto, que declarou a imprensa
carioca que,
A expedição tem objetivos não apenas desbravadores, mas principalmente
colonizadores. Não pode ter a marcha rápida de um meteoro, colhendo aqui e ali
informações geográficas e cientificas. Nem tem simplesmente o desígnio de chegar a um
determinado lugar sem deixar pelo trajeto nenhum marco de sua passagem. Os lugares
atingidos serão lugares conquistados para a civilização, integrados na economia nacional. 102
Para o Getulio Vargas e o ministro João Alberto, a Expedição
Roncador -Xingu seria responsável pela integração da região oeste ao
país.
A expedição inicialmente foi comandada pelo Coronel Flaviano
Vanique, e era composta por sertanejos recrutados na região Centro-
Oeste. Em 1943, os expedicionários começam uma longa marcha para a102 O Estado de São Paulo, 19 de agosto de 1943.
184
região do Araguaia. Adentraram pelo território considerado como
desconhecido, enfrentando os animais ferozes, e mantiveram o primeiro
contato com os povos indígenas. Logo, o governo federal certificou
que precisava arregimentar mais homens.
Essa viagem fantástica foi noticiada pela imprensa brasileira e
acabou atraindo a expedição os irmãos Villas Boas (Orlando, Cláudio e
Leonardo), que embora não fossem sertanejos, acabaram sendo aceitos
pelo governo.
Ao entrarem no Araguaia, a expedição se deparou com os índios
Xavantes. Este foi o primeiro contato do povo xavante com o homem
branco. Os xavantes se dedicavam principalmente a caça, e nesse
primeiro contato ficaram bastante assustados fugindo para as matas.
Com a posse na presidência da Republica de Eurico Garpar Dutra,
os irmãos Villas Boas assumiram a chefia da Expedição Roncador –
Xingu. Sob a liderando dos Villas- Boas, a expedição entrou em
contato com os diversos povos indígenas que habitavam aquela região.
A expedição percorreu aproximadamente 1.500 quilômetros, e em
decorrência dos seus trabalhos vilas e cidades foram surgindo, campos
de aviação foram construídos e mantiveram contato com 5 mil índios,
das mais variadas etnias.
Para atingir os seus objetivos de forma mais efetiva, a
expedição se dividiu em dois grupos; um avançava pela selva, e o
outro montava os acampamentos que posteriormente deram origem as
primeiras vilas da região. A exemplo, podemos citar, Aragarças em
Goiás e Barra do Garças em Mato Grosso.O governo federal para
promover o povoamento dessas cidades estimou a imigração.
Os irmãos Villas Boas a medida que mantinham contatos com os
povos indígenas, conhecendo a sua diversidade cultural passaram a185
idealizar a criação do Parque Indígena do Xingu. A criação dessa
reserva indígena somente foi criada oficialmente em 19 de abril de
1961, durante a presidência de Jânio Quadros quando o Congresso
Nacional aprovou o Decreto nº 50.455, que estabeleceu as suas
fronteiras legais.
Os irmãos acreditavam que a criação de reservas e parques
indígenas seriam uma proteção para os índios. Defendiam que a
integração do índio a sociedade brasileiro deveria ser lenta, para a
garantir a sobrevivência do índio, as identidades étnicas e culturais
desses povos.
Os irmãos Villas Boas estiveram a frente na direção do Parque e
durante a sua administração organizaram programa medico de
assistência aos índios, promovendo vacinações para combater as
epidemias que grassavam entre os índios, especialmente o sarampo.
Entretanto, o contato com os brancos provocou mudanças no
interior das sociedades indígenas, como o decréscimo da produção
artesanal.. Outra mudança significativa foi a perda da autoridade dos
chefes indígenas, pois o poder dos funcionários do Parque eram bem
maiores. Apesar desses pontos negativos a política de Saúde Publica
desenvolvida na administração dos irmãos Villas Boas garantiram a
vida de muitos índios.
Capítulo 18: República Populista em Mato Grosso
A participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado dos
aliados acarretou na crise política do Estado Novo, pois as forças
brasileiras combatiam na Itália a ditadura fascista de Benito186
Mussolini, no entanto, Getulio Vargas mantinha no Brasil um regime
ditatorial de feições fascista.
Em 1943, manifestações contra a ditadura estadonovista começaram
a surgir no país, como o Manifesto dos Mineiros, documento redigido
por intelectuais brasileiros pedindo o fim da ditadura e a
redemocratização do país.
Pressionado pelo crescimento da oposição à ditadura, Getulio
Vargas resolveu então conduzir o processo democrático. Concedeu
anistia aos presos políticos e decretou uma emenda constitucional
regulamentando a criação de partidos políticos e estabeleceu a
realização das eleições para o final de 1945.
Na verdade, Getulio Vargas ao perceber que não havia mais como
manter a ditadura preferiu conduzir o processo democrático e com
certeza almejava continuar no poder.
Assim como resultado da democratização, Vargas organizou dois
partidos políticos; o PSD, Partido Social Democrata, composto por
interventores federais nos estados e pela burocracia estatal do
Estado Novo; e o PTB, Partido Trabalhista Brasileiro, criado a partir
dos sindicatos controlados por Vargas.
Paralelamente surgiram os partidos de oposição: UDN, União
Democrática Nacional, de caráter liberal, e voltou a legalidade o
PCB, Partido Comunista Brasileiro, liderado por Luís Carlos Prestes.
Com a redemocratização, o povo manipulado pelo PTB, saiu às ruas
em comícios pedindo “Queremos Getulio”. Este movimento ficou por isso
conhecido como “queremismo”.
Contudo a adesão ao “Queremismo” acabou contando com a
participação do Partido Comunista, que ao lado do PTB defendia o
continuísmo de Vargas. E importante frisar, que o apoio do PCB à187
candidatura de Vargas seguia as orientações de Moscou no combate ao
regime fascista.
A aliança entre Vargas e o PCB gerou uma desconfiança entre os
militares do Exército brasileiro, que acreditavam que Vargas estava
armando mais um golpe para continuar no poder. Com isso, em outubro
de 1945, os comandantes do Exército, Góis Monteiro e Dutra derrubaram
o presidente e garantiram às eleições. Era o fim do Estado Novo e o
inicio de uma nova fase política no país.
Essa novo período da república brasileira foi caracterizado pelo
“populismo”. O populismo foi um fenômeno político presente nos paises
latino americanos a partir da década de 30, e era típico de uma
sociedade em transição do rural para o urbano, o industrial. Através
do populismo, os governantes e as elites burguesas manipulavam as
massas operárias e os setores mais pobres da classe média.103
No Brasil, a industrialização promovida por Vargas acarretou em
uma intensa urbanização principalmente na região sudeste, e também
medidas como o voto feminino acabaram aumentando o colégio eleitoral
nos grandes centros. Desta maneira, os candidatos a cargos eletivos
tinham consciência que para vencer as eleições era preciso cativar as
massas populares urbanas.
Embora a economia de Mato Grosso continuasse a ser
essencialmente agrária, a estrutura política do estado foi fortemente
influenciada pela conjuntura nacional que marcou o país após 1945.
Neste período, Cuiabá como capital do estado congregava todo o
funcionalismo público estadual e atraía migrantes das áreas rurais.
Estes fatores acabaram contribuindo para o crescimento urbano da
capital.103 Ianni, Otavio. A formação do Estado Populista no Brasil, p. 8-12.
188
No entanto, apesar das mudanças, observava-se ainda a manutenção
de formas arcaicas políticas. Logo, a estrutura política estadual era
caracterizada pela coexistência do coronelismo e clientelismo, como
também pela ascensão urbana na composição dos grupos dirigentes e uma
maior participação do sul no poder.
Percebe-se que mesmo com as alterações ocorridas com o fim do
Estado Novo, em Mato Grosso, as oligarquias tradicionais continuavam
a ocupar os espaços políticos. e através do clientelismo, os caciques
políticos regionais continuavam a ser a base dos partidos políticos
durante a vigência da republica populista.
A semelhança de outras regiões do país, os partidos que mais se
destacaram na política estadual foram o PSD, o PTB e a UDN.
Segundo Novis Neves em sua obra “Leões e Raposas na Política de
Mato Grosso”, o PSD, como partido do governo foi beneficiado pela
estrutura do poder estadonovista. A criação do partido tinha como
meta garantir para Vargas as suas bases eleitorais nos estados. Seus
aliados em Mato Grosso eram os representantes do Estado Novo, como os
“Müller”. Portanto, o partido garantia assim a sobrevivência da
máquina burocrática do Estado Novo em um regime democrático.
O PTB, partido criado por Vargas para conquistar a massa
operária teve em Mato Grosso as suas especificidades. Foi formado por
Julio Muller e acabou absorvendo parte das oligarquias rurais.
O partido se destacou pela sua aliança com o PSD e teve como
reduto as cidades de Corumbá, Campo Grande e as zonas de migração
gaúcha.
A UDN, representou a oposição a Vargas e ao Estado Novo. Era
composta por oligarcas que tiveram seu poder aniquilado por Vargas e
por aqueles que foram marginalizados pelo Estado Novo e189
conseqüentemente pelos “Müller”. O partido teve como principais
expoentes Vespasiano Martins, que possuía forte influência política
no sul devido a sua participação no movimento separatista e pelo o
Dr. Agrícola Paes de Barros, médico idolatrada pela população
cuiabana.
O PCB, não encontrou espaço político para atuar em Mato Grosso.
O Estado praticamente não contava como uma massa operária a exemplo
da região sudeste. Na verdade, o foco do partido ficou restrito a
Campo Grande com a adesão dos ferroviários e em Corumbá.
Ainda vale ressaltar, que apesar das disputas partidárias, os
adversários políticos mantinham relações de compadrio, de amizade e
muitas vezes se relacionavam devido aos laços familiares.
Durante a republica populista, os governantes que estiveram à
frente da administração do Estado preocuparam-se principalmente em
criar uma infra-estrutura visando o desenvolvimento de Mato Grosso.
Aliás, essa política foi empregada no governo de Dutra através do
Plano SALTE, como também no governo de JK.
Assim durante essa fase republicana, o governo do estado mais
precisamente durante a gestão de Arnaldo de Figueiredo (1947-1950)
estimulou a construção de estradas, e para atingir as suas metas
criou a Comissão Estadual de Estradas de Rodagem, que mais tarde se
transformou no Departamento de Estradas de Rodagem ─ DERMAT..
No período de 1951 a 1956, governou Mato Grosso, Fernando Correa
da Costa. Em seu governo foi criado a Secretaria de Educação e Saúde
de Mato Grosso, e continuou a promover o desenvolvimento rodoviário
do Estado. Iniciou também a construção da Usina de Casca II e a de
Mimoso.
190
Em 1951 a 1961, governou o estado, João Ponce de Arruda, que
abriu novas estradas como São Vicente- Jaciara e Rondonópolis e
estimou a colonização do Vale do São Lourenço. Concluiu a construção
da Usina de Casca e do Mimoso, e investiu na edificação de obras
públicas, como por exemplo, o Palácio Alencastro em Cuiabá.
Capitulo 19: Mato Grosso durante a Ditadura Militar (1964-1985)
Em 1964, o presidente João Goulart foi deposto do poder através
de um golpe militar. Os militares contaram com o apoio de segmentos
civis da sociedade brasileira, pois se viam ameaçados pelas propostas
da Reforma de Base. Estes grupos sociais conservadores alegavam que o
comunismo tomava o país, colocando em risco à propriedade privada, a
religião, a liberdade e a família brasileira. Além disso, os
militares contaram também com o apoio do capital estrangeiro que viam
na política nacionalista do governo Goulart um entrave aos seus
interesses econômicos.
O novo regime instalado estendeu-se por vinte e um anos e teve
como presidentes os seguintes militares: Humberto Castello Branco,
Artur Costa e Silva, Emilio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João
Batista Figueiredo.
Foi um período de intensa repressão, no qual o governo
ditatorial criou medidas para frear os opositores, como a censura e
os Atos Institucionais. Líderes de esquerda, sindicalistas,
intelectuais e muitos políticos oposicionistas foram banidos do país.
Economicamente, pregavam a retomada do desenvolvimento, e para
isso favoreceram a entrada do capital estrangeiro e promoveram uma191
política salarial baseada no arrocho. Na década de 70, mais
precisamente durante o governo de Médici, a econômica brasileira
atingiu altos índices de crescimento, e por isso foi denominado de
“milagre”brasileiro.
O “milagre” brasileiro se deu devido ao ingresso maciço do
capital estrangeiro. O Brasil era bastante interessante aos
investidores estrangeiros, pois possuía um amplo mercado consumidor
favorecendo a obtenção de lucros. O combate às esquerdas e a
estabilidade econômica do governo de Castelo Branco contribuíram
para tornar o país atrativo ao capital estrangeiro.
No entanto, a política econômica adotada pelo governo provocou a
dependência do país ao capital estrangeiro gerando um crescimento
alarmante da dívida externa brasileira.
Foi nesse contexto, que o governo Médici lançou o Programa de
Integração Nacional (PIN), que visava integrar a região amazônica ao
capitalismo, promovendo com isso a “ocupação” de regiões rotuladas
pelo discurso oficial como “distantes”, “espaços vazios”. A
colonização do norte de Mato Grosso está inserido neste período
histórico.
Colonização do Norte de Mato Grosso
A intenção de promover a colonização de Mato Grosso não era uma
novidade. Desde o século XIX, as elites regionais e os viajantes ao
percorreram este vasto território defenderam que o progresso da
Província somente seria alcançado através da colonização particular.
192
Segundo, os viajantes, Mato Grosso era “o limite entre a barbárie e a
civilização, área geográfica vista como reservatório de recursos econômicos e vazio
populacional, sendo imperativo conquistar, povoar, explorar, colonizar.” 104
Embora a colonização particular não tenha se concretizado até o
final do século XIX, observamos que o imaginário de Mato Grosso, como
um território repleto de riquezas a serem exploradas pelo capital,
isolado, de baixa densidade demográfica continuou presente nos
discursos do governo republicano durante o século XX
Nos anos 70 e 80, o governo ditatorial retomou o discurso de
integrar a região Amazônica, ou seja, o Mato Grosso, Rondônia, o Acre
ao capitalismo.
Para isso, o governo federal através de uma ação interventora
criou empresas estatais, facilitou financiamentos nos Bancos federais
como o BASA (Banco da Amazônia), importou tecnologias e investiu em
obras de infra-estrutura para patrocinar a colonização dessas
regiões, que ainda não tinham sido atingidas freneticamente pelo
capitalismo.105
A colonização também visava resolver os problemas sociais
existentes na região nordeste motivada pela estagnação econômica e da
região sul, uma vez que a modernização da agricultura acarretou em
uma supervalorização da terra, que gerou a concentração de terras.
Desta forma, muitas pessoas desprovidas da propriedade de terras e
sem trabalho foram expulsas do campo e partiram em direção a região
Amazônica.
104 Galetti, Lylia. O Poder das Imagens: O lugar de Mato Grosso no Mapa da Civilização, p.22.105 Neto, Wenceslau Gonçalves, Mudança no Estado e na Política Agrícola Brasileira, p.224.
193
Para atingir os seus objetivos, o governo federal através dos
meios de comunicação de massa, apresentaram a Amazônia como uma nova
Canaã, a terra da promessa, a terra fértil, rica, onde todos podiam
ter acesso. Entretanto, esse projeto de colonização pretendia atender
aos interesses da elite nacional e do capital estrangeiro. Assim
caberia a eles conduzir a colonização. Nesta perspectiva, a
colonização empreendida pelos militares teria como parceiro a
iniciativa privada, que através das colonizadoras particulares
levariam o desenvolvimento econômico a região e controlariam as
tensões sociais no campo. 106
Assim o governo federal em 1972, fundou o Incra, através do qual
vendeu terras devolutas da Amazônia para as colonizadoras
particulares, que pretendiam instalar projetos voltados para a
agropecuária, agroindustriais e de exploração mineral. Criou também a
SUDAM e a SUDECO. E para ter acesso a região, o governo federal
construiu rodovias como Cuiabá-Santarém e a Cuiabá- Porto Velho.
Paralelamente, o governo de Mato Grosso seguindo as diretrizes
do governo federal, permitiu a licitação de terras devolutas no
Estado para as colonizadoras particulares. E para estimular os
projetos de colonização, o governo estadual criou a CODEMAT(Companhia
de Desenvolvimento do Estado de Mato Grosso), que tinha a função de
criar infra-estrutura em áreas de fronteiras e promover o
desenvolvimento da economia e a integração do territorial do Estado.
A política de colonização empreendida pelo governo federal
atraiu para o norte Estado de Mato Grosso, muitos colonizadores e
colonos, que vieram principalmente da região sul, sonhando com vida
melhor, mais próspera.106 Neto, Regina Beatriz. A Lenda do ouro Verde, p.84 e 85
194
Os colonizadores confiando na ação governamental, venderam as
suas terras no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, e
com a venda puderam adquirir terras bem mais baratas em Mato Grosso.
Muitos destes desbravadores em poucos anos ampliaram a suas posses, a
sua propriedade, entretanto, para muitos o sonho virou pesadelo, pois
se endividaram e tiveram que vender a preço baixo a sua propriedade.
Muitos empresários, ao adquirem terras ao norte investiram na
construção de cidades. Desta maneira, observamos na década de 70 e
80, o surgimento de uma rede urbana que se desenvolveu principalmente
ao longo das rodovias.
As cidades construídas pelas colonizadoras particulares, ao
Norte de Mato Grosso, foram edificadas no meio das matas, apresentam
um traçado moderno, com vias largas, quarteirões definidos, bairros
planejados e hierarquizados.
Com o objetivo de atrair moradores para às cidades, essas
cidades eram apresentadas pela mídia a sociedade brasileira, como
lugares de ascensão social e de enriquecimento. As novas cidades
possuíam campo de aviação, cinemas, mercados, escolas, hospitais,
dentre outros.
Anexar o mapa do livro da Ivane Piaia, p. 33
De acordo com as estimativas do IBGE, no período de 1960 a 1985,
em decorrência da política colonizadora promovida pelo governo
federal, a população do Norte de Mato Grosso aumentou em 6,7 vezes, e
em 1985 contava com o total de 423.528 habitantes.107
107 Piaia, Ivane, Geografia de Mato Grosso, p.30.
195
Apesar da colonização patrocinada pelo governo federal e pelas
colonizadoras particulares terem atraídos muitas pessoas a Mato
Grosso, e do discurso oficial apresentar a “ocupação “ do território
como solução para o desenvolvimento econômico do Estado, os projetos
de colonização trouxeram seqüelas, como conflitos com os índios, a
depredação da natureza e a expulsão da terra dos seringueiros e dos
pequenos agricultores. Na realidade, ocorreu a concentração da terra,
o predomínio do latifúndio, agravando mais ainda os conflitos sociais
no campo.
Em decorrência da política de colonização, a cidade de Cuiabá
passou também por inúmeras transformações, pois no mesmo período,
muitas pessoas chegaram a Cuiabá. Houve inicialmente um choque
cultural, os cuiabanos rotularam os migrantes de “pau-rodados”, e
estes por sua vez, ao virem de regiões nas quais o capitalismo estava
em um estagio avançado, consideraram os hábitos da gente dessa terra
muito estranho, como fazer a sesta depois do almoço ou colocar as
cadeiras nas calçadas em noites de calor para conversar com os
vizinhos.
Cuiabá teve o seu espaço urbano alterado, a cidade colonial
ganhou novas feições, casarões antigos que marcavam a memória
coletiva foram derrubados na área central para o surgimento de
prédios com traçados modernos, foram construídas avenidas largas e
arborizadas.
A cidade passou a contar com novos bairros, e hoje ao
transitarmos pelas principais vias da cidade, praças e becos se
estivermos atentos podemos perceber o quanto este espaço geográfico
está repleto de história.
196
No tocante, a conjuntura política, Mato Grosso foi governado
durante esse período político pelos seguintes governantes:
1966-1971: Pedro Pedrossian. Durante a sua gestão criou o
Instituto de Ciências e Letras de Cuiabá e o Instituto de Ciências
Biológicas de Campo Grande. Em 1970, sobre a presidência de Médici,
foi criado a Universidade Feral de Mato Grosso.
Inserir imagem da UFMT
1971-1975; José Fontanilha Fragelli. A sua administração foi
marcada pela criação de rodovias vicinais, como a Cuiabá- Santo
Antonio do Leverger, Paranaíba-Cassilândia e a Itaporã- Dourados.
Ocorreu também a construção da linha de transmissão de Cachoeira
Dourada a Cuiabá. No setor educacional patrocinou a construção da
Escola Presidente Médici em Cuiabá e iniciou a edificação do Centro
Político Administrativo (CPA) e do Estádio Verdão.
1976-1979: José Garcia Neto. Promoveu a fundação da Promoção
Social (PROSOL), asfaltou a estrada Cuiabá- Chapada dos Guimarães,
Nossa Senhora do Livramento- Poconé, iniciou o Terminal Rodoviário de
Cuiabá, e criou a Fundação Cultural de Mato Grosso. Foi durante a sua
administração, que o Presidente Geisel aprovou a Lei Complementar Nº
31, dividindo o Estado de Mato Grosso.
José Garcia Neto não terminou o seu mandato, pois renunciou para
se candidatar ao senado. Com a sua renuncia foi substituído pelo
vice-governador, Cássio Leite de Barros. E foi na gestão de Cássio
Leite de Barros que se efetivou a divisão do estado.
197
1979-1983: Frederico Carlos Soares de Campos. Durante a sua
administração foram criados novos municípios em Mato Grosso;
Araputanga, Jauru, Rio Branco, Pontes e Lacerda, dentre outros. Para
estimular a colonização de Mato Grosso, o governador patrocinou a
construção de estradas, a extensão da rede elétrica, a expansão do
sistema de abastecimento de água, construiu moradias populares,
ampliou o números de escolas, uma vez que a população mato-grossense
estava em expansão em conseqüência da migração.
Os migrantes ao chegarem eram conduzidos ao Centro de Triagem e
Encaminhamento de Migrantes (CETREMIs), aonde eram cadastrados e
encaminhados as áreas de migração.108
1983-1987: Julio José de Campos. Foi o primeiro governador
eleito pelo voto direto vencendo o candidato Pe. Pombo (PMDB). No seu
governo deu prioridade a construção de estradas e ao setor energético
implantando usinas termoelétricas em Sinop, Sorriso e Alta Floresta e
de Usinas hidrelétricas em Apiacás, Primavera, Juína e Aripuanã. Além
disso, Julio Campos deu continuidade a política de colonização do
norte de Mato Grosso.
Em 1986, o governador deixou o governo para se candidatar a
deputado federal, tomando posse então o vice-governdor, Wilmar Peres.
A Divisão de Mato Grosso
Em 31 de outubro de 1977, durante a gestão do presidente Ernesto
Geisel foi promulgada a Lei Complementar nº31, que estabeleceu a
108 Siqueira, Madureira, Historia de Mato Grosso; Da ancestralidade aos dias atuais,p.213.
198
divisão do Estado de Mato Grosso. Foi criado então o Estado do Mato
Grosso do Sul e se manteve o Estado do Mato Grosso. O movimento
separatista teve a frente os sulistas, que em luta pela divisão do
Estado argumentaram que a cisão era fundamental, pois
1.O poder político era exercido principalmente pelos cuiabanos.
2.A receita pública estadual era maior no sul, no entanto, os
benefícios ficavam principalmente em Cuiabá.
3.Os empregos públicos eram ocupados pelos cuiabanos.
4. Havia diferenças históricas e culturais entre o norte e o
sul.
Assim sustentados por esses argumentos e devido aos interesses
econômicos e
políticos do governo ditatorial, os sulistas viram os seus anseios
concretizados em 1977.
Contudo para abordarmos a divisão do Estado, é importante
lembrar que essa aspiração se deu desde o final do século XIX.
Na década de 70, do século XIX, com o término da Guerra da
Tríplice Aliança, o Paraguai perdeu parte do seu território para a
Província de Mato Grosso. O aumento territorial da Província trouxe
muitas preocupações às autoridades governamentais, pois apontavam que
a dimensão do território representava um entrave para o
desenvolvimento da Província. Assim nascia a discussão sobre a
divisão de Mato Grosso.
No entanto, os primeiros sintomas do separatismo ocorreu em
1892, durante crise política que abateu o governo republicano com a
renuncia de Deodoro. Como já foi mencionado anteriormente, a crise
também se abateu sobre o Mato Grosso com a deposição do governador
Manoel Murtinho e a subida ao poder de Benedito Pereira Leite. Foi199
neste momento que em Corumbá, no sul de Mato Grosso, o coronel João
da Silva Barbosa, instituiu o Estado Livre de Mato Grosso ou
República Transatlântica. Apesar de todos os esforços, Murtinho
buscando o apoio do governo federal conseguiu combater esse movimento
separatista.
Ao retornar a presidência do Estado, Manoel Murtinho anulou as
decisões políticas tomadas pelo coronel Barbosa e decretou o fim da
Republica Transatlântica.
Apesar do combate as idéias separatistas empreendida pela
oligarquia do norte, em 1900, o coronel João (Jango) Mascarenhas e o
coronel João Barros Cassal lideraram um movimento no sul em prol da
divisão do Estado. As forças separatistas chegaram até Coxim, mas
foram combatidas por Generoso Ponce que tinha sobre o seu comando
três mil homens.
Em 1907, Generoso Ponce tomou posse no governo do Estado e de
imediato teve que enfrentar novamente uma onda de movimentos
separatistas no sul de Mato Grosso. Desta vez estava no comando o
coronel Bento Xavier. Esses movimentos separatistas contavam agora
com o apoio da Mate Laranjeira.
A empresa ervamateira teve o seu pedido de arrendamento de
ervais no sul negado pelo governo estadual, e em represália a decisão
governamental passou a apoiar os movimentos oposicionistas no sul.
Apesar do apoio recebido pela Mate Laranjeira, a luta foi em vão,
pois a oligarquia do norte conseguiu abafar os movimentos
separatistas.
Em 1932, o presidente Getulio Vargas enfrentou os paulistas na
Revolução Constitucionalista. Os rebeldes paulistas alegavam que
200
lutavam pela constitucionalização do país. A notícia da revolução
dividiu a opinião pública em todo o país.
Em Mato Grosso, o norte se manteve fiel ao governo getulista,
enquanto que o sul preferiu apoiar os paulistas na luta contra
Vargas. Para isso, o sul enviou a São Paulo um pequeno destacamento
militar liderado por Bertholdo Klinger. Além disso decretaram no sul
a criação do Estado do Maracaju.
O Estado do Maracaju tinha como sede do governo Campo Grande, e
como governador, o médico Vespasiano Barbosa Martins. Teve uma curta
duração, somente três meses, pois assim que Vargas aniquilou a
Revolução Constitucionalista, tropas foram enviadas ao sul de Mato
Grosso para conter os movimentos separatistas.
O movimento de 1932 foi abafado, porém deixou mais evidente as
diferenças entre o norte e o sul e mesmo derrotados, os sulistas
continuaram a sonhar com o separatismo.
Em 1934, Vespasiano Martins retomou a luta pelo divisão fundando
a Liga Sul-Mato-grossense, e através de manifestos ao Congresso
Nacional Constituinte, os sulistas pediam ao governo federal a
criação “de um território federal ou Estado Autônomo, na região sul de Mato Grosso
abrangendo os municípios de Sant’Ana, três Lagoas, Coxim, Campo Grande, Aquidauna,
Miranda, Porto Murtinho, Bela Vista, Nioac, Entre-Rios, Maracaju e Ponta Porá.”109
Mesmo com todos os argumentos apresentados pela Liga Sul Mato-
grossense, o governo federal não mostrou interesse em dividir o Mato
Grosso.
Ao final da ditadura de Vargas, o movimento no sul favorável a
divisão se reacendeu. Vespasiano Martins foi eleito em 1945 pelo sul
109 Silva, Jovam Vilela. A Divisão do Estado de Mato Grosso: Uma visão Histórica, p.155.
201
ao senado. Desta forma, os sulistas retomavam a luta pela divisão.
Observava-se no Congresso Nacional uma cisão no tocante a essa
problemática; os políticos sulistas defendiam a separação enquanto
que os políticos que representavam Cuiabá tentavam abafar o
separatismo.
Ao final dos anos 50, no sul de Mato Grosso, uma caravana
percorreu toda região buscando a apoio de mais pessoas a causa
separatista. Este movimento tinha como sigla MDM ( Movimento
Divisionista de Mato Grosso) e possuía como lema “Dividir para
multiplicar”. Este movimento foi revelado a todo o país através dos
meios de comunicação ganhando repercussão nacional, mas mesmo assim a
divisão não aconteceu.110
No início da década de 60, Jânio Quadros tomou posse na
presidência da República. O novo presidente era natural de Corumbá e
com isso os sulistas tentaram mais uma vez a divisão do Estado,
contudo viram o seu pedido negado. Entretanto não desistiram, e em
1963, na cidade de Corumbá reuniram-se no III Congresso dos
Municípios de Mato Grosso. Durante a realização do Congresso, os
sulistas elaboraram um documento pedindo a criação do Estado do Mato
Grosso do Sul, mas novamente o pedido foi recusado.
Em 1964, com a implantação da Ditadura Militar, os separatistas
tiveram as suas vozes silenciadas. Porém, no inicio da década de 70,
com o interesse dos militares em integrar a região Amazônica ao
capitalismo, os sulistas encontraram espaço político para defender a
divisão.
Em 1977, o governo Geisel interessado na integração nacional e
no crescimento econômico do país, determinou a divisão do Mato110 Idem, p.179.
202
Grosso. Ficou estabelecido que o novo Estado criado ao sul receberia
o nome de Campo Grande. Essa decisão, no entanto acabou provocando
protestos no sul do Estado. Assim o governo federal decidiu então
denominá-lo de Mato Grosso do Sul, e escolheu como capital a cidade
de Campo Grande.
Em 1977, governava o Mato Grosso, José Garcia Neto (PDS). Após a
divisão o governo do Estado foi exercido por Cássio Leite de Barros.
No entanto é importante frisar que a divisão do Estado somente foi
efetivada em 1979, sendo eleito como governador Frederico Carlos
Soares Campos.
Capítulo 20: A Nova República em Mato Grosso
Em 1985 com a posse de José Sarney na Presidência da República,
chegava ao fim os “anos de chumbo”. A economia brasileira enfrentava
uma profunda crise, na qual a inflação chegou a atingir 223% em 1984.
No entanto, a população brasileira acreditava que a existência de um
governo civil e democrático seria capaz de superar as mazelas
deixadas pelo governo ditatorial.
O governo de Sarney não conseguiu solucionar os problemas
brasileiros, a crise se agravou mais ainda, pois teve que enfrentar
os desafios de uma economia globalizada.
A economia brasileira dos anos 60 a 80 recebeu investimos
estrangeiros e muitas empresas internacionais instalaram seus
negócios no Brasil. Porém, o governo brasileiro reservava algumas
áreas, ditas como estratégicas, as empresas nacionais ou estatais. Na
203
década de 80 e 90, a economia brasileira tomou novos rumos com o
projeto neoliberal.
Essa etapa do capitalismo exigia uma crescente ampliação de
mercados e das barreiras protecionistas, como também, estimulou as
associações de livre comércio e a formação de blocos econômicos como
o NAFTA, a União Européia (EU) e o Mercosul.
No neoliberalismo, o Estado deveria deixar de ser
intervencionista e protecionista subordinando-se a economia de
mercado e atraindo ao país investimentos estrangeiros. Assim a era da
globalização exigia a integração da produção nacional ao modelo
internacional, ao projeto neoliberal.
Os pontos elementares do projeto neoliberal foram sistematizados
no Consenso de Washington, através do qual representantes do governo dos
Estados Unidos e dos paises latino-americano se reuniram para
estabelecer uma série de medidas que tinham como objetivo controlar a
inflação e modernizar o Estado. Dentre essas medidas foi determinado:
·Ajuste Fiscal: Cabe ao Estado eliminar o déficit público.
·A limitação do Estado na economia, enxugamento da máquina
pública
·Privatização das estatais.
·Redução de alíquotas de importação e estimulo ao intercâmbio
comercial entre as regiões, países para favorecer a globalização.
·Fim das restrições ao capital estrangeiro e permissão para a
instalação de instituições financeiras internacionais.
·Redução das regras do governo, no tocante a economia.
· Reforma no Sistema Previdenciário.
·Fiscalização dos gastos públicos.
204
Essas medidas não mudaram a realidade social. A sociedade
brasileira continuou caracterizada pelo apartheid social, na qual
milhares de brasileiros continuaram a viver em extrema pobreza, sem
direito a um prato de comida, a moradia e sem emprego.
Com a redemocratização e a entrada do país em uma nova fase
política, governaram Mato Grosso:
1987-1990: Carlos Gomes Bezerra (PMDB). Concedeu terra a
pequenos produtores, investiu na construção de estradas e de casas
populares, e no saneamento de bairros populares. Com a expansão do
capitalismo, e conseqüentemente a derrubada da mata, bem como a
destruição do cerrado, o governador desenvolveu uma política voltada
para o meio ambiente criando em sua gestão, a Secretaria de Estado do
Meio Ambiente.
Visando estimular o setor industrial foi criado o PRODEI
(Programa de Desenvolvimento Industrial), através do qual o governo
estadual concedeu incentivo fiscal aos empresários interessados em
investir no Estado.
Para dinamizar a economia criou a ZPE (Zona de Processamento de
Exportação) em Cáceres e propôs a construção da hidrovia Paraná-
Paraguai. A hidrovia era fundamental para a inserção de Mato Grosso
no Mercosul, pois através da navegação fluvial o estado manteria um
intercâmbio comercial com os países que compunham o Mercosul. Embora,
o a construção da hidrovia representasse para Mato Grosso uma
alternativa de circulação de mercadorias, a construção da hidrovia
provocou muitos embates e a obra acabou. No quadro abaixo, a
reportagem apresenta os motivos da paralisação da construção da
hidrovia Paraná-Paraguai.205
Hidrovia depende do Congresso
Nenhuma obra ou estudo referente à implantação da hidrovia
Paraguai-Paraná poderá ser feito sem a aprovação do Congresso
Nacional. A decisão partiu dos desembargadores do Tribunal
Regional Federal (TRF) da 1ª Região, em Brasília, e foi uma
resposta à apelação interposta pelo Ministério Público
Federal (MPF) em uma ação civil pública que tratava do
assunto. Conforme a decisão, em questões que afetam
diretamente comunidades indígenas e o meio-ambiente, é
preciso haver aprovação legal.
A obra é alvo de uma discussão que se arrasta há cinco anos.
Trata-se do escoamento de grãos por meio de barcaças que
atravessariam 3,4 mil quilômetros dos rios Paraguai e Paraná
entre Cáceres (oeste do Estado) e Nueva Palmira, no Uruguai.
O MPF alega que estão sendo realizadas pequenas obras nos
rios Paraguai e Paraná e em portos da região. Isto
caracterizaria, no entendimento dos procuradores, a lenta
implantação de um projeto maior para dar suporte à construção
da hidrovia Paraguai-Paraná sem, contudo, a autorização
legal.
206
Em defesa, a União afirmou que estudos de impacto ambiental
estão sendo realizados. As pequenas intervenções seriam obras
que não envolvem mudanças no curso dos rios ou drenagens
profundas. A respeito da questão indígena, a União alega que
os dois rios não estão dentro de terra indígena e os índios
seriam chamados a se manifestar a respeito da hidrovia,
depois de concluído o estudo de impacto ambiental, e se
houvesse necessidade.
O projeto para construção da hidrovia Paraguai-Paraná surgiu
de um acordo assinado em 1992 entre os cinco países que
compõem a Bacia do Prata: Brasil, Paraguai, Uruguai, Bolívia
e Argentina. Para implantação do projeto, foi criado um
comitê que atuaria em três frentes: operação da hidrovia,
melhoramento da infra-estrutura física e melhoramento da
infra-estrutura portuária.
Em setembro do ano passado, uma decisão judicial suspendeu o
licenciamento ambiental para novos empreendimentos na
hidrovia entre Cáceres e a Foz do Rio Apa (MS), na divisa do
Brasil com o Paraguai. Ambientalistas cobram a realização de
um Estudo de Impacto Ambiental (EIA/Rima) para toda a área,
ao contrário do que começou a ser feito no início, com
estudos pontuais.
Fonte: Diário de Cuiabá, 12/ 07/2003.
Retornando as realizações do governador Carlos Gomes Bezerra,
foi durante a sua gestão que ocorreu a proposta da construção da
Ferronorte. A Ferronorte foi inicialmente defendida por Vicente207
Vuolo, que argumentava em seus discursos e em entrevistas aos meios
de comunicação, que a construção da estrada de ferro facilitaria o
escoamento da produção agrícola do Estado.
Inserir imagem da ferrovia
Carlos Bezerra não chegou a cumprir o seu mandato, e em 1990 foi
substituído pelo vice-governador Edison de Freitas (1990-1992).
1991-1995: Jayme Veríssimo de Campos ( PFL). Para promover a
integração entre os municípios do Estado, o governo deu prioridade a
construção de estradas e pontes. Preocupou-se também com o escoamento
dos produtos mato-grossenses defendendo a circulação de mercadorias
pelo Oceano Pacífico.
1995-2002: Dante Martins de Oliveira (PSDB) . Foi eleito através
da coligação política formada pelo PDT, PMDB, PSDB, PC do B, PT, PV,
PSC, PMN, PSB e PPS. A sua administração foi marcada pelo Plano
Metas. Este plano tinha como objetivo a integração do estado de Mato
Grosso na conjuntura nacional e internacional. Para efetivá-lo, o
governo estadual deu prioridade a construção de rodovias, hidrovias e
ao setor de comunicação.
Durante a sua gestão muitos empresários nacionais e estrangeiros
investiram em Mato Grosso favorecendo o crescimento da produção na
agropecuária e agroindustrial.
208
Seguindo as diretrizes do projeto neoliberal, o governo estadual
extinguiu empresas estatais como a CEMAT, CODEMAT, CASEMAT, BEMAT e
COHAB.
Pensando em superar a crise energética e acelerar o
desenvolvimento econômico de Mato Grosso, o governo estadual concedeu
mais atenção ao setor energético. Foi construída a Usina do Manso e
um ramal de gasoduto Brasil- Bolívia.
Imagem da Usina do Manso
2002-2003: José Rogério Salles. Era vice-governador do Estado e
tomou posse, pois Dante de Oliveira se afastou antes de completar o
seu mandato para concorrer ao Senado Federal.
Na sua gestão ocorreu as eleições para o governo do Estado.
Nessas eleições, os candidatos que se destacaram foram Antero Paes de
Barros (PSDB) e Blairo Maggi (PPS), sendo vitorioso nas urnas Maggi.
209
Governadores do Estado de Mato Grosso
1889-1891: Antonio Maria Coelho.1891: Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro.1891: José Da silva Rondon.1891:João Nepomuceno de Medeiros Mallet.1891-1892: Manoel José Murtinho.1892: Junta Governativa1892: Luiz Benedito Pereira Leite.1892: Junta Governativa.1892:Luiz Benedito Pereira Leite.1892: André Virgilio Pereira de Albuqueruqe. 1892: José marques Fontes.1892: Generoso Ponce Leme de Souza Ponce.1892-1895: Manoel José Murtinho.1895-1897: Antonio Correa da Costa. 1897: Antonio Cesário de Figueiredo1897-1898: Antonio Correa da Costa.1898-1899: Antonio Cesário de Figueiredo.1899: Antonio Leite de Figueiredo.1899-1900: Antonio Pedro Alves de Barros.1900:João Paes de Barros.1900-1903: Antonio Pedro Alves de Barros.1903-1906: Antonio Paes de Barros.
210
1906-1907: Pedro Leite Osório.1907-1908: Generoso Paes leme de Souza Ponce.1908-1911: Pedro Celestino Correa da Costa.1911-1915:Joaquim Augusto da Costa Marques.1915-1917: Caetano Manoel de Faria Albuquerque.1917: Camilo Soares de Moura.1917: Cipriano da Costa Ferreira.1917-1918: Camilo Soares de Moura.1918-1922: Dom Francisco de Aquino Correa.1922-1924: Pedro Celestino Correa da Costa.1924-1926: Estevão Alves Correa.1926-1930: Mario Correa da Costa.1930: Aníbal de Toledo.1930: Sebastião Rabelo Leite.1930-1931: Antonio Mena Gonçalves.1931-1932: Artur Antunes Maciel.1932-1934: Leônidas Antero de Mattos.1934-1935: César de Mesquita Serva.1935: Fenelon Muller.1935: Newton Cavalcanti.1935-1937: Mario Correa da Costa.1937: Manuel Ari da Silva Pires. 1937-1945: Julio Strubing Müller.1945-1946: Olegário Moreira de Barros1946: Wladislau Garcia Gomes.1946-1947: José Marcelo Moreira.1947-1950: Arnaldo Estevão de Figueiredo.1950-1951: Jary Gomes.
211
1951-1956:Fernando Correa da Costa.1956-1961: João Ponce de Arruda.1961-1966: Fernando Correa da Costa. 1966- 1971: Pedro Pedrossian.1971-1975: José Manoel Fontonilhas Fragelli.1975-1978: José Garcia Neto.1978-1979: Cássio Leite de Barros1979-1983: Frederico Sólon Sampaio.1983-1986: Julio José de Campos.1986-1987: Wilmar Peres de Faria.1987-1990: Carlos Gomes Bezerra.1990-1991: Edison de Freitas.1991:Móises Feltrin. 1991- 1995: Jayme Veríssimo de Campos.1995-1999: Dante de Oliveira1999-2002:Dante de Oliveira.2002-2003: José Rogério Salles.
2003: Blairo Maggi
212
Atividades
1)(UNIC) A História de Mato Grosso registra movimentos sociais e
disputas políticas de grande relevância. Analise as afirmações:
I-Tanque Novo- movimento ocorrido em 1933 no município de que
resultou em perseguições por questões políticas e no julgamento de
Doninha.
II-Rusga- rebelião ocorrida em Cuiabá durante a Regência,
objetivando a retirada do poder político das mãos dos conservadores
para cede-los aos liberais.
III-Caetanada- luta política travada por dois chefes políticos
locais das zonas de garimpo no oeste mato-grossense.
a)se somente a I estiver correta.
b)se somente a II estiver correta.
c)se somente a III estiver correta.
d)se somente a I e II estiverem corretas.213
e)se somente a II e a III estiverem corretas.
2)(UFMT)Em Mato Grosso, a partir de 1970, o governo federal
coordenou projetos oficiais ao lado de outros da iniciativa privada
estimulando um fluxo migratório aberto pelas possibilidades daquele
momento. Sobre o assunto, assinale a afirmativa incorreta.
a)Foi construída a rodovia BR-364 (Cuiabá- Porto Velho), ao
longo da qual surgiram vários núcleos populacionais.
b)POLOCENTRO e POLONOROESTE são exemplos de programas federais
de colonização implementados à época.
c)A ocupação da nova fronteira agrícola no estado de Mato Grosso
foi predominantemente feita por migrantes das regiões sul e sudeste.
d)A lógica geopolítica do regime militar respaldou a decisão
federal de promover a ocupação da região norte de Mato Grosso.
e)Para a exportação da produção agrícola, foi propiciada a
abertura da navegação do rio Paraguai.
3)(UFMT) A respeito do regime republicano implantado no Brasil
em 1889, julgue os itens:
( )Do ponto de vista político, o novo regime não significou uma
profunda transformação, especial mente na perspectiva da população
rural.
( )A primeira constituição republicana (1891), ao garantir o
federalismo, liberou as elites regionais das limitações impostas pela
centralização monárquica, nesse sentido a “política dos governadores”
de Campos Sales consagrou o princípio da independência das
oligarquias frente ao poder central.214
( )Os mato-grossenses, a exemplo do que aconteceu com a
maioria dos brasileiros, ficaram surpresos com a proclamação da
Republica, embora as idéias republicanas já fossem veiculadas, no
mínimo, desde a Rusga, em 1834.
4)(UFMT) Entre os projetos propostos por Getulio Vargas durante
a sua administração, de 1930 a 1945, encontra-se a Marcha para o
Oeste. Em relação a este projeto, julgue os itens.
( ) A ocupação e a colonização da Amazônia Legal por meio da
reforma agrária eram propostas desse projeto.
( ) Um importante objetivo era transformar o território
brasileiro em um bloco homogêneo.
( ) Pretendia garantir a modernização do país com um
agressivo plano de estímulo à industrialização nos estados mais
distantes da capital federal.
( ) A expedição Roosevelt, financiada com capital
multinacional, demonstrou a ambigüidade do projeto.
5)(UFMT) Ao ocorrer o movimento de março de 1964, o governo de
Mato Grosso era exercido por:
a)Fernando Correa da Costa.
b)José Manuel Fragelli.
c)José Pedrossian.
d)João Ponce de Arruda.
e)José Marcelo Moreira.
215
6)(UFMT) Em relação ao predomínio político das oligarquias no
Brasil durante a Primeira Republica (1889-1930) e à ação dos chamados
coronéis, julgue os itens :
( ) Em Mato Grosso a disputa política ocorria entre a
oligarquia do norte composta pelos senhores de engenho, depois
usineiros e a oligarquia do sul composta por grandes pecuaristas e
comerciantes.
( ) O coronelismo entendido enquanto um sistema de troca
eleitoral, proteção e favores de um lado, e voto de outro, possuí um
caráter sempre pacífico.
( ) O coronelismo tinha base familiar e rural; o coronel era
ao mesmo tempo um grande latifundiário e chefe patriarcal.
7)(UNIC) São representadas citações que caracterizam
determinadas lutas políticas armadas em Mato Grosso. Analise-as:
I-“Em 1916, Caetano de Albuquerque, governador do Estado, eleito
pelo Partido Republicano Conservador, recusou-se a submeter as
injunções da política dos chefes dos partidos. A partir de então,
passou a sofrer ferrenha oposição dos partidários do coronel Azevedo
(chefe maior da agremiação). Isso levou o governador a ingressar no
Partido Republicano Mato –Grosssense. Iniciou-se assim a luta
armada.” (Alves, Louremberg. Qualquer semelhança não é mera
coincidência. Diário de Cuiabá, 7 de janeiro, 1977, A5)
II- “Paralelamente á luta armada, ocorreu o embate jurídico. È
que os deputados estaduais oposicionista...decretaram a cassação do
mandato de Caetano de Albuquerque e ao mesmo tempo, empossaram Manuel
Escolástico Virgínio no cargo de governador. A partir de então, Mato216
Grosso passou a contar com dois governadores.”(Alves, Louremberg.
Qualquer semelhança é mera coincidência. Diário de Cuiabá, 7 de
janeiro, 1977, A5.)
III-“Frente a este clima de convulsão a que passava o Estado,
vítima da fortíssima oposição desencadeada pelos membros do Partido
Republicano, o governador Antonio Pedro criou a “Divisão Patriótica”
com a finalidade de que a mesma pudesse garantir a tranqüilidade de
Mato Grosso, e conseqüentemente, o sucesso das medidas previstas no
novo programa do governo de Campos Sales. Coube a Totó Paes comandar
essa divisão que principiou seus trabalhos com a perseguição às
forças oposicionistas.”(Madureira, Elizabeth, Processo Histórico de
Mato Grosso).
Assinale a alternativa que faz referencia a Caetanada:
a)Somente a I
b)somente a III.
c)Somente as citações I e II.
d)somente as citações I e III.
e)Todas as citações se referem a Caetanada.
8)(UFMT) Na década de 70, o norte de Mato Grosso se constituía
no “paraíso privado” das empresas colonizadoras do país. Avalie os
itens abaixo:
a)O processo de ocupação do norte de Mato Grosso foi dirigido
pela colonização particular e acentuou milhares de colonos conhecidos
como “sem terra”.
217
b) A construção da Rodovia Cuiabá-Santarém estimulou a ocupação
do norte de Mato Grosso, e recebeu um enorme contingente de colonos
vindos do sul do país.
c)A colonização dirigida, sob o controle do INCRA, recebeu o
total apoio político e econômico do governo militar, sendo por isso
considerada como bem sucedida.
d)A ocupação da Amazônia, e em especial a do norte do Mato
Grosso, foi estimulada por discussões governamentais que
privilegiaram os interesses dos pequenos proprietários rurais.
e)Os incentivos fiscais e créditos oficiais para os projetos
agropecuários da Amazônia não beneficiaram os empresários que
investiram na região norte de Mato Grosso.
9)(UFMT) Os itens referem-se ao Mato Grosso republicano,julgue-
os:
( )A política de colonização empreendida por Getulio Vargas,
conhecida como “Marcha para o Oeste”promoveu, inclusive, a montagem
de Colônias Agrícolas, entre elas a de Dourados, hoje no Mato Grosso
do Sul.
( ) Desde o final do século XIX, o conceito de modernidade
assimilado pela elite brasileira incorporava a idéia de que entre as
nações não deveria existir diferenças nem barreiras. Com esse
objetivo, Candido Rondon Assumiu a tarefa da construção das linhas
telegráficas.
10) (UFMT) Sobre a colonização de Mato Grosso no século XX,
assinale a alternativa incorreta:
218
a)Getulio Vargas implantou a “Marcha para o Oeste”, que visava
instalar em Mato Grosso os sulistas.
b)A Colônia De Dourados foi um projeto de colonização que
instalou os sulistas em Mato Grosso.
c)Na década de sessenta ocorreu um crescimento populacional em
Mato Grosso, em função da colonização particular.
d)SUDAM e SUDECO foram projetos governamentais que instalaram o
pequeno produtor em Mato Grosso.
e) Em Mato Grosso, a colonização dirigida pelas empresas
particulares fez surgir várias cidades no Estado.
11)(Concurso da Secretaria de Segurança Pública) O governo
federal não resistindo ao secular anseio divisionista da população e
das lideranças políticas do sul, através da Lei Complementar Nº31 de
11 de outubro de 1977, divide o território mato-grossense e criou o
Estado de Mato Grosso do sul. Assinale a opção que apresenta o
presidente da Republica que assinou a lei e o governador de Mato
Grosso no momento da divisão e o primeiro governador de Mato Grosso
após a divisão.
a)General João Batista Figueiredo, José Garcia Neto e José
Fontanilhas Fragelli.
b)General Ernesto Geisel, José Garcia Neto, José Fontanilhas
Fragelli.
c)General João Batista Figueiredo, Frederico Carlos soares de
Campos e José Garcia Neto.
d)General João Batista Figueiredo, José Garcia Neto e Frederico
Soares de Campos.
219
e)General Ernesto Geisel, José Garcia Neto e Frederico Carlos
Soares de Campos.
12) (Simulado Gazeta) Em 1937, através de um golpe de Estado,
Getúlio Vargas implantou uma ditadura no país. Com a intenção de
reforçar o poder de Vargas, a ditadura estadonovista investiu na
propaganda propiciando para que o mito Vargas chegasse ao seu
apogeu.
Em 1954, o suicídio de Vargas parou o país, imobilizou os seus
inimigos e reforçou mais ainda Getulio como um grande mito
político.
Decorridos cinqüenta anos de sua morte, observamos que esse
acontecimento continua a ser relembrado e reforçado pelos
inúmeros mecanismos da memória.
Baseado em seus conhecimentos sobre o período getulista,
assinale a alternativa correta.
I- Getulio Vargas inaugurou no Brasil um novo tipo de
dominação política, isto é, o populismo, que consistiu no
aliciamento e manipulação das massas populares.
II- O Estado Novo para se legitimar perante a opinião publica
criou o DIP, que ficou encarregado de cuidar da propaganda
do governo, da censura e de organizar comemorações
oficiais.
III- Durante a ditadura, Vargas nomeou para governar os Estados,
os interventores federais. Para Mato Grosso indicou Julio
Muller, que promoveu na sua administração transformações no
espaço urbano de Cuiabá criando a Casa dos Governadores, o
220
Liceu Cuiabano, a Academia Mato Grossense de Letras e a
Avenida Getulio Vargas.
IV- Na década de 50, demonstrando uma de suas principais
características, o nacionalismo, Vargas criou a Petrobrás
garantindo ao governo brasileiro a pesquisa e exploração do
petróleo.
a) I,II,III,IV são corretas.
b) I,II e III são corretas.
c) I, II e IV são corretas.
d) I e II são corretas.
e) II e IV são corretas.
13) (Simulado- Gazeta) “Quem vive ao longo da linha Rondon
facilmente se julgaria na Lua. Imagine-se um território do
tamanho da França, três quartos inexplorados; percorrido somente
por pequenos bandos de nômades e atravessado de ponta a ponta
por uma linha de telegráfica.”(Lévi-Strauss, Claude. Tristes
Trópicos.)
A citação acima faz alusão as linhas telegráficas construídas
durante a Primeira República e que teve a frente de sua direção
Candido Mariano Rondon. Sobre a Comissão Rondon e as linhas
telegráficas, podemos considerar como incorreta a alternativa:
a)No inicio do século XX, o Mato Grosso e o Amazonas ainda eram
vistos como regiões atrasadas e vazias.
b)Para o governo republicano, a construção das linhas
telegráficas representava a ocupação e integração do oeste
brasileiro.
c) As idéias positivistas marcaram a ação da Comissão Rondon.221
d)Foi nesse contexto, que o governo republicano deu inicio a uma
política voltada para o índio, criando o Serviço de Proteção ao
Índio(SPI).
e)O trabalho na Comissão Rondon foi desempenhado exclusivamente
pelos índios, sob o comando de Rondon.
14) ) (UNIVAG) Na década de 70 e 80, o governo ditatorial
iniciou uma política de expansão agrícola, que tinham como um
dos seus objetivos a retomada do desenvolvimento da região
Centro-Oeste e Norte. A respeito deste contexto histórico é
incorreto afirmar que:
a)os projetos de colonização estavam inseridos no Plano de
Integração Nacional.
b)Para a expansão da fronteira agrícola, o governo federal criou
linhas de credito nas instituições financeiras federais.
c)Os colonizados eram provenientes principalmente da região sul
do país.
d)A construção de rodovias na região centro-oeste e norte eram
vitais para o sucesso dos projetos de colonização.
e)A colonização do norte de Mato Grosso amenizou os conflitos
sociais no campo, uma vez que esses projetos favoreciam a
distribuição de pequenos lotes de terra.
15) (UNIVAG) Ao final do século XIX, a dimensão territorial de
Mato Grosso já representava um empecilho aos seus
administradores. Ao entrarmos no século XX, o anseio pela
divisão do Estado cresceu no sul de Mato Grosso. No período222
Vargas, durante a Revolução Constitucionalista, o sul de Mato
Grosso chegou a se separar adotando o nome de Estado do
Maracaju, entretanto a vitória das forças getulistas abafou os
ideais de separação, que voltariam intensamente no governo
ditatorial. Assim a divisão do Estado de Mato Grosso foi
concretizada pelo presidente:
a)Figueiredo
b)Castelo Branco.
c)Médici.
d) José Sarney.
e)Ernesto Geisel.
16) A respeito do período republicano em mato Grosso, é valido
afirmar que:
I- O Partido Republicano foi fundado oficialmente em Mato
Grosso em agosto de 1888. Seus partidários chegaram a
fundar o jornal A República que teve uma curta duração.
II- Antonio Maria Coelho foi nomeado como o primeiro governador
do Estado de Mato Grosso.
III- Os primeiros anos da republica em Mato Grosso foi marcado
pela tranqüilidade política. Na verdade, a oposição
política iria surgir somente a partir da década de 20.
a)Somente a I está correta.
b)Somente a I e II estão corretas.
c)Somente a II e III estão corretas.
d)Somente a I e III estão corretas.223
e)Somente a II é correta.
17) Em 1891 foi promulgada a primeira Constituição de Mato
Grosso. A seguir, a Assembléia Constituinte elegeu para conduzir
o governo do Estado:
a)Antonio Correa da Costa.
b)Generoso Paes Leme de Souza.
c)Manuel José Murtinho.
d)Pedro Celestino.
e)Delfino Augusto de Figueiredo.
18) No inicio do governo oligárquico ocorreu um movimento social
que expressa claramente a disputa política entre os coronéis da
região e que representou a “política dos governadores” em Mato
Grosso. Estamos nos referindo a que movimento social?
a)Massacre da Baía do Garcez.
b)Caetanada.
c)Morbeck e Carvalhino.
d)Tanque Novo.
e)revolta de 1892.
19) Assinale a alternativa incorreta a respeito do governo de
Totó Paes de Barros:
a)Foi responsável por levar os produtos mato-grossenses a
Exposição Internacional de Saint-Louis.
b) Tinha como base de sustentação política Joaquim Murtinho.
c) Editou a revista O Archivo na qual há a reconstituição
histórica de Mato Grosso.224
d) Estimulou o comercio dos produtos do extrativismo vegetal
produzidos no Estado, como a erva-mate, a poaia e a borracha.
e)A sua decadência política aconteceu na Revolta de 1906.
20) A respeito da Comissão Rondon, assinale al alternativa
correta:
I-A Comissão Rondon tinha como objetivo interligar o território
brasileiro através da construção das linhas telegráficas.
II- O Sistema adotado pela Comissão era do telegrafo a fio,
transmitido através do Código Morse.
III-Para realizar a construção do telegrafo, a expedição Rondon
contou com a participação de botânicos, médicos, engenheiros,
sanitaristas, fotógrafos, presos civis e índios.
a)Todas as afirmações são corretas.
b) Somente a II está correta.
c)Somente a I e III estão corretas.
d)Somente a II e a III estão corretas.
e)Somente a III está correta.
21) Nos primeiros anos da década de 30 aconteceu em Poconé, o
movimento social chamado de Tanque Novo. A respeito deste
movimento social, é errado afirmar que:
a)Teve a frente Laurinda Lacerda Cintra que era conhecida em
toda a região por Doninha.
b) Doninha e sua gente foi perseguida pelo interventor federal
Antonio Mena Gonçalves.225
c) Foi um movimento político e estava relacionado as eleições
para a Assembléia Constituinte em 1933.
d) Esteve intimamente associado a Vargas.
e)Doninha fazia oposição a Vargas em Poconé.
22) Em 1945 com a deposição de Vargas chegava ao fim o Estado
Novo. Ao mesmo tempo, a democracia retornava ao país. Sobre esse
contexto histórico, assinale a alternativa correta:
a)A UDN representação os anseios da burocracia estadonovista e
tinha no Dr. Agrícola Paes de Barros um dos seus principais
representantes.
b)O PTB foi fundado em Mato Grosso por Vespasiano Martins e
contou com a adesão maciça da massa operaria.
c) O PCB se destacou em Cuiabá ao receber o apoio dos grêmios
estudantis.
d) Nesse período observa-se o crescimento político do sul do
Estado.
e)A entrada em um regime democrático foi favorecido pelo fim do
poder das oligarquias.
23) Com o fim da ditadura tomou posse no governo do Estado o
desembargador Olegário Moreira de Barros que conduziu as
eleições. Para o governo do Estado foi eleito Arnaldo Estevão de
Figueiredo. A respeito da sua administração, todas as afirmações
estão corretas, exceto:
a)Foi eleito pela coligação partidária PSD/PTB.
b)No seu governo foi estimulada a colonização de Mato Grosso.
226
c)Patrocinou a construção de varias estradas criando a Comissão
Estadual de Estradas de Rodagem (CER).
d) Estimulou a construção no sul do estado da Ferrovia Noroeste
do Brasil.
24) O primeiro governador de Mato Grosso eleito pelo voto direto
ao final do governo militar foi:
a)Frederico Campos.
b)Julio José de Campos.
c)José Garcia Neto.
d) Dante de Oliveira.
e)Fernando Correa da Costa.
25)Avalie os itens abaixo:
( )O rasqueado é uma dança de origem africana e é dançada com
freqüência nas regiões de cultivo de cana-de-açúcar como Santo
Antonio do rio Abaixo.
( ) Em Vila Bela, a Dança do Congo ou Dança do Chorado é uma
oferenda aos santos negros.
( )As touradas eram realizadas no Campo do Ourique, na cidade
de Cuiabá e consistia em uma homenagem ao Divino Espírito
Santo.
( )Nas Cavalhadas seus participantes representam a luta
travada entre os cristãos e os mouros na Península Ibérica. São
apresentadas em Cáceres e Poconé.
Gabarito:227
1-D
2-E
3-V,F,V.
4-F,V,F,V.
5-A
6-V,F,V.
7-C
8-B
9-V,V.
10-D
11-E
12-C
13-E
14-E
15-E
16-B
17-C
18-A
19-B
20-A
21-B
22-D
23-D
24-B
25-V,V,V,V.
228
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