Livro de Mato Grosso432012111246

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SUMÁRIO Parte I: Colônia............................................2 Capitulo 1: As bandeiras e o início da colonização de Mato Grosso .......................................................... 3 Capitulo 2: Administração das Minas.......................7 Capítulo 3: O abastecimento das Minas....................10 Capítulo 4: Fronteira no Século XVIII....................11 Capítulo 5: Sociedade da Mineração.......................16 Capítulo 6: Transferência da Capital de Vila Bela para Cuiabá 22 Atividades.................................................25 Parte II: Império..........................................34 Capitulo 7: Rusga........................................ 35 Capitulo 8: Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870).......38 Capítulo 9: A cidade de Cuiabá na segunda metade do século XIX ......................................................... 43 Capitulo 10: Quadro econômico de Mato Grosso (1870/1930). 45 Capitulo 11: Transição do Trabalho Escravo para o Trabalho Livre em Mato Grosso.............................................. 54 Atividades.................................................59 Parte III: República.......................................67 Capitulo 12: A República em Mato Grosso..................67 Capítulo 13: Movimentos sociais que marcaram o período republicano em Mato Grosso........................................... 72 Capítulo 14: A Coluna Prestes em Mato Grosso.............78 Capítulo 15:Nos trilhos da Modernidade...................79 A Construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil....80 1

Transcript of Livro de Mato Grosso432012111246

SUMÁRIO

Parte I: Colônia............................................2

Capitulo 1: As bandeiras e o início da colonização de Mato Grosso

..........................................................3

Capitulo 2: Administração das Minas.......................7

Capítulo 3: O abastecimento das Minas....................10

Capítulo 4: Fronteira no Século XVIII....................11

Capítulo 5: Sociedade da Mineração.......................16

Capítulo 6: Transferência da Capital de Vila Bela para Cuiabá 22

Atividades.................................................25

Parte II: Império..........................................34

Capitulo 7: Rusga........................................35

Capitulo 8: Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870).......38

Capítulo 9: A cidade de Cuiabá na segunda metade do século XIX

.........................................................43

Capitulo 10: Quadro econômico de Mato Grosso (1870/1930). 45

Capitulo 11: Transição do Trabalho Escravo para o Trabalho Livre em

Mato Grosso..............................................54

Atividades.................................................59

Parte III: República.......................................67

Capitulo 12: A República em Mato Grosso..................67

Capítulo 13: Movimentos sociais que marcaram o período republicano

em Mato Grosso...........................................72

Capítulo 14: A Coluna Prestes em Mato Grosso.............78

Capítulo 15:Nos trilhos da Modernidade...................79

A Construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. . . .801

Estrada de Ferro Madeira – Mamoré......................81

Trabalhadores da Estrada de Ferro Madeira - Mamoré.....84

Capítulo 16: Comissão Rondon: Construção das Linhas Telegráficas

.........................................................85

Serviço de Proteção ao índio...........................87

A Política do Índio na República.......................88

Expedição Roosevelt- Rondon............................89

Capitulo 17: Era Vargas em Mato Grosso...................90

Governo Provisório de Vargas (1930-1934)...............91

Tanque Novo............................................93

Estado Novo (1937-1945)................................94

A Administração de Julio Müller em Mato Grosso.........96

Marcha para o Oeste....................................96

Expedição Roncador-Xingu...............................98

Capítulo 18: República Populista em Mato Grosso..........99

Capitulo 19: Mato Grosso durante a Ditadura Militar (1964-1985)

........................................................102

Colonização do Norte de Mato Grosso...................102

A Divisão de Mato Grosso..............................105

Capítulo 20: A Nova República em Mato Grosso............107

Atividades................................................113

Referências Bibliográficas................................122

Parte I: Colônia

2

Capitulo 1: As bandeiras e o início da colonização de Mato Grosso

Para abordamos a fase inicial da colonização do Mato Grosso, é

preciso mencionar o processo de colonização do Brasil.

A colonização do Brasil foi um empreendimento da Coroa

Portuguesa e se deu no início do século XVI e esteve inserida nos

moldes do mercantilismo.

A política mercantilista caracterizou o Estado Moderno e teve como

objetivo o fortalecimento do Estado e o enriquecimento da burguesia.

Para alcançar os seus objetivos, a política mercantilista seguiu

alguns princípios básicos:

a base da riqueza de um país era medida pelo acúmulo de metais

preciosos.

cabia ao Estado manter uma balança comercial favorável, isto é, as

exportações deveriam ser maior que as importações.

o protecionismo aos produtos nacionais evitando desta maneira que

mercadorias semelhantes ou iguais entrassem no país.

o estabelecimento de colônias para a produção de matérias-primas

baratas, assim como a exploração das riquezas minerais ajudariam a

suprir as necessidades básicas das metrópoles.

o pacto colonial que estabeleceu que as colônias somente podiam

comercializar com as suas metrópoles e a criação de Companhias de

Comércio que garantiam o monopólio do sistema colonial.

Assim os estados europeus, que adotaram o mercantilismo tinha

como preocupação resguardar às suas colônias dos demais países, e

por isso se empenharam em cuidar diretamente da administração,

impondo a colônia uma pesada cobrança de impostos. Entretanto a3

medula do sistema colonial, residia no pacto colonial. È no pacto

colonial que está a exploração mercantil, que a colonização

incorporou da expansão comercial, da qual foi um desdobramento.1

Nos primeiros trinta anos do “descobrimento”, Portugal não se

empenhou em implantar um sistema administrativo no Brasil, uma vez

que o seu interesse maior era o comércio das especiarias no

Oriente. Nos primeiros anos da “descoberta”, o governo português

preocupava-se somente em enviar expedições de reconhecimento e

explorar o pau-brasil existente na Mata Atlântica.

A política portuguesa com relação ao Brasil mudou somente a

partir de 1530, quando inicia-se de forma efetiva a colonização.

Essa mudança de postura ocorreu devido aos ataques de

contrabandistas franceses no litoral brasileiro e pelo

enfraquecimento do comércio de especiarias.

Assim seguindo as determinações de Dom João III, rei de

Portugal, a expedição de Martim Afonso de Sousa chegou ao Brasil

em 1530. Essa expedição visava expulsar os franceses do litoral,

observar as características geográficas da nova terra e fundar

povoamentos.

Para iniciar a colonização foi implantando na colônia o sistema

de Capitanias Hereditárias, isto é, o governo português dividiu as

terras e resolveu doá-las para elementos da nobreza. Desta forma,

o governo português estava transferindo o custo da colonização aos

particulares.

1 Novaes, Fernando. O Brasil nos moldes do Antigo sistema colonial. In:Brasil em Perspectiva, p19.

4

Concomitantemente a implantação das Capitanias Hereditárias, a

metrópole decidiu escolher a cana-de-açúcar como produto econômico

para promover o projeto colonizador.

A opção pela cana-de-açúcar explica-se pela experiência de

Portugal no cultivo deste produto, nas suas colônias africanas,

isto é, Açores, Cabo Verde e Madeira. Outro fator importante foi a

vastidão de terras, as condições climáticas e geográficas (solo

massapé), assim como a existência de um mercado consumidor na

Europa.

O plantio da cana-de-açúcar e a produção de seus derivados se

deu inicialmente em São Vicente, e posteriormente na região

nordeste, porém a Capitania do Pernambuco foi a principal

produtora.

A produção do açúcar ocorreu através do sistema de plantation:

produção agrícola baseada no latifúndio (grande propriedade de

terra), monocultura ( somente produção de açúcar), com mão-de-obra

escrava e voltada para atender o mercado externo.

O sucesso deste empreendimento econômico se deu também pela

participação dos holandeses, que financiavam a produção. A

maquinaria para os engenhos, instrumentos de trabalho e aquisição

de escravos africanos eram financiados pelos holandeses, que em

troca receberam o monopólio do refino e da distribuição do açúcar

no mercado europeu.

Enquanto o açúcar representava a riqueza das capitanias do

nordeste, a Capitania de São Vicente não obteve com este produto o

mesmo sucesso, pois a sua produção não podia concorrer com a

capitania do Pernambuco e da Bahia, pois a capitania de São

Vicente era distante dos mercados europeus e o solo dessa região5

era imprópria para a agricultura. Portanto, esses fatores

acarretaram na decadência do açúcar em São Vicente.

Com a decadência açucareira, São Vicente tentou ainda

desenvolver uma agricultura de subsistência cultivando arroz,

feijão e milho.

A população de São Vicente diante da pobreza resolveu investir

em outros empreendimentos para superar a crise econômica,

entretanto, tudo foi em vão. Assim diante destas circunstâncias, o

homem do planalto vicentino buscou nas bandeiras a saída para a

sua crise.

Na tentativa de superar a crise econômica que abatia a

capitania, as bandeirantes enfrentaram os perigos, as incertezas

do sertão para aprisionar índios, que eram conduzidos para o

planalto paulista para serem usados como mão-de-obra. Assim muitos

jovens da Capitania partiam para o interior da colônia em busca de

cativos e para montar as suas expedições recebiam ajuda financeira

dos pais ou do sogro, que financiam as expedições pensando em

aumentar os seus lucros. Essas expedições contavam com a presença

de sertanistas, que conduziam os jovens na viagem. Portanto, nem

todos os paulistas eram bandeirantes por vocação.2

As bandeiras consistiam em grupos de homens que saiam

organizados em expedições particulares com o objetivo de penetrar

pelos sertões a procura de, índios para o cativeiro, de negros

foragidos da escravidão e posteriormente à procura de metais

preciosos.

2 Monteiro, John Manuel. Negros da Terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo, p.86-87.

6

As bandeiras eram organizadas militarmente, sendo compostas de

centenas de homens. Além dos paulistas, muitas bandeiras eram

compostas de estrangeiros, desertores e fugitivos da justiça.

Para adentrarem no sertão, os bandeirantes usavam principalmente

os caminhos fluviais. Ao atravessarem os rios, enfrentavam vários

obstáculos como cachoeiras, corredeiras e saltos. Para sanar essas

dificuldades, optavam muitas vezes em continuar a viagem à pé. Por

isso era comum, os bandeirantes transportar barcos e canoas por

terra.3

Os bandeirantes, logo perceberam que para superar as

dificuldades precisavam domar a natureza, e para isso buscaram o

saber indígena. Aliás, a presença de índios nas expedições foi

fundamental, pois eram utilizados como guias, batedores, coletores

de alimentos ou guarda-costa da expedição.4

Cabia aos índios guiarem os paulistas pelos rios, carregar as

mercadorias, procurar nas matas os frutos silvestres, as raízes,

lagartos e cobras para saciar a fome dos bandeirantes. Nas viagens

mais longas, os bandeirantes estabeleciam pequenos arraias e roças

para abastecer os sertanistas. Nestas expedições, “as vezes, alguns

índios eram despachados com antecedência para plantar os alimentos que serviriam

para sustentar o corpo principal da expedição e os cativos na viagem de regresso.5

Muitas destas roças acabaram dando origem a povoações no interior

do Brasil, a exemplo disso temos em Mato Grosso; o Arraial de São

Gonçalo.

3 Chiavenato, Julio. Bandeirismo: Dominação e Violência, p.76.4 Priore, Mary. O Livro de Ouro da Historia do Brasil, p.87.5 Monteiro, John Manuel, Negros da Terra: índios e bandeirantes na origem de São Paulo, p.90

7

No decorrer da viagem ao ficarem doentes, os bandeirantes

buscavam principalmente na medicina indígena o tratamento adequado

para curar os seus males. Não estamos afirmando com isso que

desprezavam a sua medicina, pois traziam também em sua bagagens

maletas com poções e bisturis para a prática da sangria.

Para o confronto com os índios que resistiam a sua dominação, os

paulistas utilizavam arcos e as flechas, lanças, facões, machados,

mas não dispensavam o uso das armas de fogo como a espingarda e a

carabina.

Desta maneira, podemos verificar que para alcançar os seus

objetivos e enfrentar as dificuldades impostas pelo cotidiano, os

bandeirantes dominaram os índios, destruíram aldeias inteiras e

ainda se apropriaram do seu conhecimento.

As bandeiras e a conquista do sertão mato-grossense

Em 1674, a bandeira de Fernão Dias Falcão encontrou em Minas

Gerais uma pequena quantidade de ouro, e em 1694, Bartolomeu Bueno

da Silva descobriu jazidas de auríferas na Serra de Itaberaba. A

descobertas destas minas correram pela colônia, chegou a Portugal,

atraindo muitos aventureiros a região.

A chegada desses aventureiros causou um descontentamento nos

paulistas, que passaram a chamar pejorativamente os forasteiros de

“emboabas”. Tal atitude e a ganância pelo ouro acabou provocando

um conflito entre os paulistas e os portugueses que vieram em

busca do ouro em Minas Gerais; a Guerra dos Emboabas.

Nesse embate, os portugueses foram vitoriosos e após o

conflito, o governo português passou a controlar as minas. Os8

paulistas diante da derrota resolveram continuar as suas incursões

pelo interior.

Foi nesse contexto histórico que se deu a chegada dos paulistas

ao atual Estado de Mato Grosso.

Inicialmente, os paulistas chegaram a essa região com a intenção

de buscar índios para a escravidão. Apesar da legislação

portuguesa combater à escravização do índio, o comércio de negros

da terra (índios) era bastante freqüente.

Os paulistas ao entrarem em Mato Grosso, logo perceberam que na

região habitavam muitas tribos índigenas, como os Coxiponé,

Beripoconé, Bororo, Paresi , Caiapó, Guicuru, Paiaguá e muito

outros grupos.

Assim muitos paulistas penetraram por estes sertões interessados

na captura destes índios. No entanto, foi com a bandeira de

Pascoal Moreira Cabral, que os interesses dos paulistas e de

Portugal cresceriam por esse território.

Em 1718, o bandeirante Antônio Pires de Campos chegou a região

do Coxipó-Mirim para aprisionar o índio Coxiponé para levá-lo para

São Paulo. No ano seguinte, a bandeira de Pascoal Moreira Cabral

avançou pó essa região à procura do índio coxiponé, e acabou

encontrando ouro. Segundo o cronista Barbosa de Sá, os homens da

bandeira ao lavarem os seus pratos no rio Coxipó acabaram

encontrando o ouro por acaso.

A presença da bandeira de Pascoal Moreira Cabral naquele local

incomodou os indios aripoconé, que acabaram atacando os paulistas.

A sorte destes bandeirantes foi que neste instante, a bandeira dos

Irmãos Antunes chegou e prestou socorro a Pascoal Moreira Cabral e

os seus homens..9

Após o combate com os índigenas, os bandeirantes fundaram o

Arraial da Forquilha, que recebeu esse nome por estar localizado

na confluência dos rios Coxipó, Peixe e Mutuca. Assim a expedição

de Pascoal Moreira Cabral deu início a colonização da região.

Em 1722, o paulista Miguel Sutil chegou a região com o propósito

de fazer uma visita a sua roça. O bandeirante pediu aos dois

índios que estavam em sua companhia que fossem buscar mel. Aliás,

como já mencionamos anteriormente, o mel, as frutas silvestres e

as raízes eram usados na alimentação dos bandeirantes, e encontrá-

las era uma das tarefas dos sílvicolas.

Os índios de Miguel Sutil retornaram somente ao anoitecer e ao

serem admoestados pelo bandeirante, “o mais ladino respondeu-lhe:

vos viestes buscar ouro ou a buscar mel”.6 A seguir, os índios

colocaram na mão de Miguel Sutil o ouro encontrado.

Na madrugada, o paulista colocou os gentios para mostrar o lugar

no qual haviam encontrado o ouro. Este achado estava nas

proximidades do córrego da Prainha, e passou a ser denominado de

“Lavras do Sutil”. Havia tanto ouro nessas minas, que as Lavras do

Sutil foram consideradas como “a maior mancha que teria se

encontrado no Brasil”.7

A notícia da descoberta chegou ao Arraial da Forquilha, levando

muitas pessoas a migrarem para as “Lavras do Sutil”. Assim teria

início o povoamento às margens do córrego da Prainha dando origem

a atual cidade de Cuiabá.

6 Correa Filho, Virgílio.História de Mato Grosso, p.206.7 Idem, p.207.

10

Capitulo 2: Administração das Minas

Nas narrativas dos primeiros portugueses que aportaram no Brasil

é bastante evidente o sonho de encontrar metais preciosos.

Assim a notícia do descobrimento de ouro e prata pelos espanhóis

no Potosí, aguçou mais ainda o desejo do governo metropolitano em

descobrir ouro e prata na sua colônia. Com isso, Portugal preparou

expedições para penetrar em direção ao interior.

Essas expedições deveriam reconhecer as potencialidades

econômicas da terra brasileira, e ainda verificar se havia no

interior a existência de minerais.

Naquele período o desejo pelas riquezas minerais povoou o

imaginário dos europeus, que acreditavam na existência no interior

da América de “uma montanha de Prata” de um “reino branco” em um

país mítico denominado de Paitati. Ainda acreditavam na existência

de uma serra resplandecente de prata e esmeraldas que ficava nas

cabeceiras do rio São Francisco.8

Apesar de todo o interesse na busca dos metais preciosos, as

expedições oficiais fracassaram e foi somente ao final do século

XVII, que apareceram as primeiras notícias de um descobrimento de

ouro significativo na região das Gerais.

A descoberta destas minas acarretou em um intenso fluxo

migratório para aquela região. Segundo as estimativas do período,

“em 1776, a população de Minas Gerais, excluindo os índios, superava a 300 mil almas

o que representava 20% da população total da América Portuguesa e o maior

aglomerado da colônia.” 9

8 Vilela, Jovam.. O Antemural de todo o interior do Brasil:a fronteira possível. In: Territórios e Fronteiras. P.79.9 Maxwell, Kenneth, Silva, Maria Beatriz. O Império luso-brasileiro, p.16.

11

Além desse processo migratório para o interior da colônia, o

governo português criou um aparato administrativo que visava

fiscalizar as minas evitando o contrabando.

Em 1707, para garantir o recolhimento dos impostos, o governo

metropolitano promulgou o Regimento das Minas. Esse regimento foi

responsável pela criação de uma instituição fiscalizadora, a

Intendência das Minas.

A Intendência das Minas deveria julgar todas as questões

surgidas entre os mineradores, assim como fazer a distribuição das

datas (lotes para o minerador explorar).

A legislação portuguesa estabeleceu também que a quinta parte

(20%) do ouro extraído nas minas pertencia a Portugal. Entretanto

a sede pelo ouro e a ganância de Portugal levou a metrópole a

implantar nas minas outros impostos, como por exemplo, a capitação

e a derrama.

Em Mato Grosso, veremos que a história não seria diferente...

Com a descoberta do ouro no rio Coxipó-Mirim formou-se neste

local um núcleo populacional; o Arraial da Forquilha.

A população do arraial era composta pelos integrantes da

bandeira dos irmãos Antunes e da bandeira de Pascoal Moreira

Cabral, que após vencerem a resistência dos índios fundaram o

arraial celebrando uma missa em oferenda a Nossa Senhora da Penha

de França e lavraram a Ata de Fundação,

Aos oito dias do mês de abril da era de mil setecentos e dezenove anos, neste arraial

de Cuiabá, fez junta o Capitão-Mor Pascoal Moreira Cabral com seus companheiros e ele

requereu a eles este termo de certidão para a notícia do descobrimento novo que

achamos no ribeirão do Coxipó, invocação de Nossa Senhora da Penha de França, depois12

que foi enviado, o Capitão Antônio Antunes com as amostras do ouro que levou do ouro

aos Senhor General. Com a petição do dito Capitão-Mor, fez a primeira entrada aonde

assistiu um dia e achou pinta de vintém e de dois e de quatro vinténs a meia pataca, e a

mesma pinta fez na segunda entrada em que assistiu, sete dias, ele e todos os seus

companheiros às suas custas com grandes perdas e riscos em serviço de Sua Real

Majestade. E como de feito tem perdido oito homens brancos, negros e que para que a

todo tempo vá isto a notícia de sua Real Majestade e seus governos para não perderem

seus direitos e, por assim, por ser verdade, nós assinamos todos neste termo o qual eu

passei e fielmente a fé do meu ofício como escrivão deste arraial. Pascoal Moreira Cabral,

Simão Rodrigues Moreira, Manoel dos Santos Coimbra, Manoel Garcia Velho, Baltazar

Ribeiro Navarro, Manoel Pedroso Louzano, João de Anhaia Lemos, Francisco de Sequeira,

Asenço Fernandes, Diogo Domingues, Manoel Ferreira, Antonio Ribeiro, Alberto Velho

Moreira, João Moreira, Manoel Ferreira Mendonça, Antonio Garcia Velho, Pedro de

Godois, José Fernandes,Antônio Moreira, José Paes Silva. 10

Coube aos irmãos Antunes levar a notícia da descoberta do ouro à

Capitania de São Paulo informando ao governador, Pedro de Almeida

Portugal sobre o ocorrido.

Nesse ínterim, a população do arraial da Forquilha elegeu

Pascoal Moreira Cabral como Guarda-Mor Regente. Um dos atributos

de Pascoal Moreira Cabral seria a de defender o arraial de

invasões. Entretanto a eleição deste bandeirante contrariava o

pacto colonial, uma vez que este estabelecia que a colônia estava

subordinada a metrópole. Assim competia a metrópole tomar as

decisões administrativas.

Desta forma, o governo português não confirmou a nomeação de

Pascoal Moreira Cabral, e em 1724, nomeou como Capitão-Mor Fernão10 Sá, Barboza, p.18

13

Dias Falcão e para o cargo de Superintendente Geral das Minas,

João Antunes Maciel.

Pascoal Moreira Cabral ficou extremamente insatisfeito com a

decisão do governo metropolitano, e por isso solicitou novamente

ao rei a confirmação da sua função administrativa. Em

correspondência enviada a Portugal, o bandeirante alegou “por seis

anos nestes sertões, ocupado no serviço real serviço de Vossa Majestade, trazendo em

minha companhia 56 homens brancos, fora escravos e servos, sustentando-os a minha

custa” e ainda acrescentou que “perdera um filho e quinze homens brancos e

alguns escravos e achava-se destituídos de cabedais e com família de mulher e duas

filhas e filho, peço a Vossa Majestade ponha os olhos os neste seu leal vassalo como for

servido”. 11 Apesar de todas as considerações tecidas pelo bandeirante

paulista, o governo metropolitano confirmou a nomeação de Fernão

Dias Falcão.

A nomeação de Fernão Dias Falcão e de João Antunes Maciel

diminuiu o poder local, criando condições para que o governador de

São Paulo, Rodrigo César de Menezes, desenvolvesse nas minas de

Cuiabá, uma rígida tributação e fiscalização evitando o

contrabando do ouro.

Entretanto, Rodrigo César de Menezes sabia da forte influência

dos Irmãos Lemes nas minas. Assim com o propósito de combater o

poder dos Lemes, Rodrigo César de Menezes ofereceu a estes um

importante cargo administrativo. Os Lemes rejeitaram o cargo e o

governador de São Paulo encontrou como saída, o confronto armado.

As tropas do governador preparam uma emboscada para os Lemes, e

estes foram executados. Concomitantemente a morte dos Lemes,

falecia em Cuiabá Pascoal Moreira Cabral. Desta forma, Rodrigo11 Correa Filho, Virgilio, Historia de Mato Grosso, p.208.

14

César de Menezes aniquilou definitivamente o poder local e tomou a

decisão mudar para Cuiabá (1726).

A mudança de Rodrigo César de Menezes consistia na verdade em

uma das suas estratégias proceder a fiscalização e a tributação

das minas.

Em 1727, o Governador elevou o arraial de Cuiabá a categoria de

Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá. Com essa decisão, o

governador anunciou:

(...) se faça uma povoação grande na melhor parte que houver (...) aonde haja água e

lenha (...): e o melhor meio de se adiantar na dita povoação o numero de moradores é

estes que fazem as suas casas (...). E como (...) nas ditas Minas há telha e barro capaz

para ela, deve animar e persuadir aos mineiros e mais pessoas que fizerem as suas casas,

as façam logo de telha, porque al~em de serem mais graves, são também mais limpas e

tem melhor duração (...).12

Assim a pequena vila começou a crescer, seguindo às margens do

córrego da Prainha, subindo e descendo morros e encostas. Seguindo

as jazidas, principalmente à margem esquerda do córrego, iniciava-

se as construções de moradias e também nas proximidades desta

margem, localizava-se uma esplanada na qual foi edificada a Igreja

da Matriz. Em 1730, o Ouvidor Geral e Corregedor deu início as

obras da cadeia.13

12 Registro do Regimento que levou para as novas minas do Cuiabá o Mestre de Campo Regente, São Paulo, 26-10-1723. Apud:Rosa, Carlos, Jesus, Nauk, A Terra da Conquista, p.15.13 Freire, Julio Delamônica. Por uma poética popular da arquitetura, p. 39-40.

15

Inserir imagem da Igreja da Matriz

Com a elevação de Cuiabá a categoria de “vila” foi criado o

Senado da Câmara ( Câmara Municipal). Foram eleitos os primeiros

vereadores, escolhidos entre os elementos da elite local, isto é,

proprietários de terras de minas e de escravos.

Também foi implantado um sistema rigoroso de cobrança dos

impostos, destacando dentre eles o quinto.

A taxação exagerada de impostos associada as técnicas

rudimentares da extração do ouro levaram a exaustão das minas, e

conseqüentemente a migração da população para outras regiões, e a

descoberta de novas minas. Foi neste período, que em 1734, os

Irmãos Paes de Barros descobriram ouro na região do Guaporé.

Com a decadência aurífera muitos prefeririam retornar a São

Paulo, outros partiram para Goiás, pois em 1725, Bartolomeu Bueno

(Anhanguera), descobriu ouro às margens do rio Vermelho em Goiás.

Capítulo 3: O abastecimento das Minas

O interesse pelo ouro atraiu muitas pessoas as minas de Cuiabá e

também levou o governo metropolitano a criar mecanismo de controle e

exploração das minas.

O abastecimento das Minas se deu principalmente através das

Monções.

As monções eram expedições que partiam da Capitania de São

Paulo trazendo as Minas de Cuiabá vários produtos como, alimentos,

remédios, produtos de luxo, ferramentas de trabalho, escravos, dentre16

outros. Traziam também as autoridades governamentais, aventureiros e

elementos do clero.

As monções para chegar a Cuiabá seguiam os caminhos fluviais,

partiam do rio Tietê até chegar ao Porto Geral (Cuiabá). A viagem

durava aproximadamente seis meses e ao atingir a região do Pantanal

podiam enfrentar sérios problemas, isto é, o ataque dos espanhóis ou

dos índios que habitavam aquela região. As canoas utilizadas para o

trajeto eram esculpidas no interior de um tronco de árvore e eram

guiadas por pilotos que possuíam muita prática.

Inicialmente as primeiras monções adotaram como itinerário a

seguinte rota: rio Tietê, rio Grande, rio Anhanduí, rio Pardo,

travessia por terra nos campos das vacarias, e continuavam a viagem

pelos rios, seguindo pelo rio Meteteu, rio Paraguai e o rio Cuiabá.14

Esse trajeto posteriormente foi abandonado devido as suas

dificuldades, pois ao atravessar o campo das vacarias, os homens da

expedição tinham que carregar as mercadorias, as canoas e ainda

corriam o risco de enfrentar os espanhóis, que estavam nas

proximidades explorando a prata da região.

Logo os monçoeiros adotaram uma nova rota, então a viagem

tornou-se totalmente fluvial, entretanto novas dificuldades surgiram

como o ataque dos índios caiapós, guaicurus e paiaguás.

Os caiápos nas proximidades de Camaquã atacavam as expedições

“com seus temidos porretes, atacavam mortalmente os passageiros das monções”.15 Por

outro lado, os indios paiaguás e os guaicurus chegaram a se aliar

para atacar as monções que vinham para Cuiabá. Entretanto, os mais

temíveis eram os paiaguás.

14 Siqueira, Elizabeth Madureira. O Processo Histórico de Mato Grosso, p. 13. 15 Costa, Maria de Fátima, História de um país inexistente, p.182.

17

O medo de um ataque dos índios paiaguá não era infundado, pois

em 1730, estes índios atacaram a “expedição do ouvidor Antônio Alves Lanhas, na

qual morreu cento e oito pessoas entre elas o ouvidor.”16 Segundo Rolim de Moura,

ao relatar a sua viagem à Mato Grosso, os índios paiaguás tinham como

armas arco, flecha e também lanças pequenas com pontas de ferro. Seus

ataques aconteciam nos rios, em canoas e eram muitos cautelosos para

atacar. Primeiramente observavam as vítimas e somente depois

efetuavam o ataque.17

Em decorrência a todas essas dificuldades, os produtos

comercializados pelos monçoeiros eram vendidos em Cuiabá a um preço

exorbitante, o que acabou gerando um processo inflacionário nas

minas.

Além das monções fluviais havia as monções terrestres, que

abasteciam a região de gado. Desde os meados do 1730, os caminhos

terrestres que ligavam Cuiabá as minas de Goiás já eram usados. Era

através deste caminho, que Mato Grosso recebia o gado.

Embora Cuiabá fosse margeado pelos rios Cuiabá e Coxipó,

abundantes em peixes, cronistas como Barbosa de Sá, narraram que os

habitantes da vila tinham muito apreço pela carne.

Assim durante o período colonial tivemos em Mato Grosso o

desenvolvimento de uma pecuária voltada para o abastecimento interno,

de baixa produtividade, na qual o gado era criado solto pelo pasto.

No século XVIII, a fazenda que mais se destacou na criação do gado

foi a Fazenda Jacobina, em Cáceres.

Além das monções, o abastecimento das minas se deu também

através do desenvolvimento de uma agricultura de subsistência.

16 Idem, p.184.17 Ibidem, p.195.

18

O cultivo da terra não foi uma tarefa fácil para o colonizador,

pois teve que enfrentar muitas dificuldades como o aparecimento de

uma terrível praga de ratos que devoraram as plantações e os paios

aonde havia grãos armazenados.18

A agricultura de subsistência visava abastecer as minas e se

desenvolveu em núcleos populacionais situados nas proximidades de

Cuiabá, como por exemplo, Serra Acima (Chapada) e Rio Abaixo (Santo

Antônio do Leverger ).

Nessas localidades eram produzidos arroz, feijão, milho,

mandioca, entretanto, a cana- de- açúcar foi o produto mais

significativo para a população.

O governo metropolitano tinha como atrativo somente o ouro, e

por isso proibiu a instalação de engenhos na região. Porém a

determinação não foi obedecida, pois a cana-de-açúcar dava aos

habitantes o açúcar, que produz energia para o trabalho, o melado que

combate a anemia, que vitimava a população, e a cachaça que era usada

como uma maneira de mitigar o sofrimento da vida dura no sertão.

Assim às margens do rio Cuiabá e em Serra Acima surgiram os nossos

primeiros engenhos.

Capítulo 4: Fronteira no Século XVIII

A partir do século XVII, o governo português teve o seu

território ampliado na América. Portugal tinha a pretensão de

estender os seus domínios até a Cordilheira dos Andes.19

18 Correa Filho, Históoria de Mato Grosso, p.210.

19 Vilela, Jovam da Silva, O Antemural de todo o interior do Brasil:- A fronteira possivel, p.//??

19

A conquista do território se deu através da pecuária, das

missões jesuíticas e das bandeiras.

A pecuária impulsionou a ocupação do sertão nordestino, pois

muitas fazendas voltadas para a criação do gado surgiram ao longo

do rio São Francisco.

No tocante aos jesuítas, estes chegaram a colônia com o objetivo

de expandir a fé católica e para isso assumiram a missão de cuidar

da catequese do índio e da educação. Interessados na conversão do

índio adentraram para o interior instalando as suas missões ou

reduções no Vale Amazônico e na região sul.

No vale amazônico, os jesuítas através do trabalho do índio

coletavam drogas do sertão, isto é, cravo, canela, cacau, guaraná

e as ervas medicinais. Esses produtos eram comercializados no

mercado europeu por preços elevadíssimos, pois eram considerados

como especiarias.

As missões ao sul da colônia foram idealizadas por Anchieta, que

encaminhou aquela região vários inacianos com a intenção de encontrar

nativos e território para instalar as aldeias. Mais ao sul, perto da

foz do Piquiri, no Paraná, e na margem do rio Ivai com Villa-Rica-

del-Guairá, os jesuítas espanhóis também fundaram as suas missões em

1544.20

Além da pecuária e das missões, as bandeiras foram fundamentais

para ampliação do território português.

As razias dos bandeirantes se deram principalmente no período da

União Ibérica(1580-1640). Os bandeirantes penetraram para o interior

a procura dos gentios, para a escravidão.

20 Idem, p.82.

20

Em 1632, uma bandeira paulista invadiu as missões espanholas em

São José, Angeles, São Pedro e São Paulo. Assim a escravidão indígena

era o motivo do atrito entre os bandeirantes e os jesuítas. Os

bandeirantes a procura do silvícola ultrapassarem a linha

demarcatória estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas, adentrando no

território espanhol..

Como já mencionamos anteriormente, os bandeirantes ao entrarem

pelos “sertões” acabaram encontrando o ouro. O ouro acabou atraiu ao

interior da colônia muitas pessoas que sonhavam em enriquecer. Essa

onda migratória acabou provocando o surgimento de arraias e vilas no

interior do país.

Foi nesse quadro, que se deu a ocupação de Mato Grosso.

Entretanto, apesar da descoberta de ricas jazidas auríferas, as minas

de Cuiabá entraram em decadência na primeira metade do século XVIII.

Com a exaustão das minas de Cuiabá, a população começou a migrar

para outras regiões da colônia. A noticia desta migração preocupou o

governo português, pois a fixação da população era fundamental para

garantir a posse do território, que de acordo com as disposições do

Tratado de Tordesilhas pertencia aos espanhóis. Assim pensando em

garantir a posse do interior da Colônia, Portugal passou a

desenvolver uma política voltada para a proteção da fronteira.

Uma das primeiras decisões do governo português para assegurar a

posse deste vasto território foi o desmembramento de Mato Grosso da

Capitania de São Paulo. Desta maneira, em 1748, D.João V decidiu

criar a Capitania de Mato Grosso e para governá-la, o rei nomeou como

seu primeiro Capitão-General Antônio Rolim de Moura.

21

Em 1750, as disputas territoriais entre os portugueses e

espanhóis, foram decididas pelo Tratado de Madri.

A defesa dos interesses portugueses ficou a cargo de Alexandre

de Gusmão, que através do “uti possedetis” garantiu a Portugal o domínio

da Bacia Amazônica e da região oeste do Brasil. O princípio do“uti

possedetis” afirmava que a terra pertencia a quem a coloniza.

Portanto, Alexandre de Gusmão usando deste aparato jurídico,

argumentou que o território em disputa pertencia a Coroa portuguesa,

pois foram os portugueses que fundaram as vilas e arraiais, e

conseqüentemente povoaram o interior do Brasil.

Ainda segundo o Tratado de Madri, os portugueses concordaram, em troca

do reconhecimento pela Espanha das fronteiras fluviais ocidentais do Brasil, em renunciar ao

controle da Colônia de Sacramento e das terras imediatamente ao norte, no estuário do

Prata, um objetivo que os espanhóis havia muito aspiravam alcançar pela força. (...) O

tratado determinava a evacuação dos jesuítas e dos índios convertidos das missões

uruguaias e exigia uma inspeção apurada no local da linha de demarcação entre as

Américas espanhola e portuguesa por duas comissões associadas.”21

Com o Tratado de Madri, Gusmão garantiu a posse do território

para Portugal e deu ao Brasil praticamente a sua configuração atual.

Após as decisões tomadas pelo Tratado de Madri, o governo

metropolitano se empenhou em efetivar o uti possedetis, e resolveu

construir na região do Guaporé, a primeira capital de Mato Grosso

Vila Bela da Santíssima Trindade.

Através da construção e povoamento da capital, Portugal visava

assegurar a posse de todo o interior de sua colônia. Esses medida

relacionava-se aos imperativos da política colonial espanhola, que21 Maxwell, Kenneth, Marques de Pombal: Paradoxo do Iluminismo, p.53.

22

pretendia estender os seus domínios a leste e se possível dominar

Cuiabá e Mato Grosso.22

Vila Bela da Santíssima Trindade

Antonio Rolim de Moura, capitão-general da Capitania de Mato

Grosso, recebeu a instrução do governo português de edificar a

capital de Mato Grosso. Segundo a determinação real, a capital seria

construída na região oeste, ás margens do Guaporé e em um lugar

saudável.

Lembremos que região do Guaporé foi ocupada desde 1732, quando

os irmãos Paes de Barros trilharam a região a procura de índios para

o aprisionamento. E foi em busca dos índios pareci, que esses

bandeirantes descobriram as minas de Mato Grosso.23

A descoberta do ouro promoveu o surgimento na região de

povoações como São Francisco Xavier e Santana, mas havia também

moradores ás margens do rio Jauru, do rio Galera e do Guaporé.

Logo, construir a capital nesta região era extremamente

interessante para Portugal, uma vez que, Vila Bela da Santíssima

Trindade seria a base do domínio português e além disso consistia em

uma nova jazida aurífera.24

Rolim de Moura procurou seguir as diretrizes do governo

metropolitano, entretanto, cometeu um erro construiu a capital em

22 Volpato, Luiza Rios Ricci, A Conquista da Terra no universo da pobreza, p.38.23 Esse região recebeu esse nome, pois os irmãos Paes de Barros encontraram dificuldade para penetrá-la, devido a presença de densas florestas, com arvores corpulentas e galhos muito altos. Tal fato levou a região ser denominada de Mato Grosso. 24 Bandeira, Maria de Lourdes, Território Negro em espaço Branco, p. 82.

23

terras baixas e paludosas, sujeitas a freqüentes imundações; uma

região marcada pela insalubridade.

A população de Vila Bela seria constantemente acometida por

várias enfermidades. Essa característica acabou influenciando o

imaginário do colonizador, que passou a ter a visão de Mato Grosso

como um grande hospital. Desta maneira, Mato Grosso passou a ser

apontado pelas autoridades médicas, pelos viajantes e cronistas como

um lugar nocivo a saúde.25

Para a construção da capital vieram da Capitania de São Paulo

artífices, ferreiros e oficiais, contudo foram os negros os maiores

responsáveis pela sua edificação.

Ainda com relação a construção da capital, o médico-viajante

Alexandre Rodrigues Ferreira, à serviço da metrópole, em viagem

científica, visitou Vila Bela entre 1789-1791. Na sua narrativa, o

viajante afirmou que a capital possuía um traçado irregular, tinha

ruas retas e estreitas, sem calçamento, onde podia se ver os porcos

prazerosamente chafurdarem na lama. Com relação, as casas mencionou

que térreas, as paredes de adobe, aterradas ou com ladrilhos de

tijolo, que eram escuras e tristes.26

Rolim de Moura se empenhou também em desenvolver uma política de

povoamento e militarização da região. Para alcançar os seus

objetivos, o capitão-general estabeleceu:

isenção de imposto e perdão temporários das dívidas.

criou a Companhia dos Dragões visando a militarização da

fronteira e a disciplinarização da população.

25 Cavalcante, Else, O quadro saniáario da Província de Mato Grosso, p.49.26 Oliveira,Edevamilton, A Povoação Regular de Casalvasco e a Fronteira Oeste do Brasil Colonial: 1783-1802, p.116.

24

fixou um marco divisor na barra do rio Jauru. ( Marco do

Jauru)

fundou a Aldeia jesuítica de Santa Anna (1751).

Abastecimento de Vila Bela da Santíssima Trindade

Com a finalidade de abastecer a capital, o governo português

criou em 1755, a Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão. Essa

companhia tinha o monopólio do comércio em Vila Bela. A Companhia de

Comercio foi criada pelo Marques de Pombal, ministro do rei D.José I.

De acordo com o ministro, a Companhia de Comércio do Grão Pará e

Maranhão “era o único modo de retirar o comércio de toda a América portuguesa das mãos

dos estrangeiros27”.

Para atingir vila Bela da Santíssima Trindade,, as embarcações

da Companhia de Comercio do Grão- Pará e Maranhão usavam o Porto de

Belém. Ao partirem de Belém, as embarcações da companhia navegavam

pelas águas dos rios amazonas, Madeira e Mamoré. Traziam produtos de

luxo, ferramentas de trabalho e alimentos. A empresa era importadora

de produtos oriundos do mar do Norte, do Báltico e do Mediterrâneo.28

Porém a principal mercadoria comercializada pela empresa eram os

escravos. Ao regressarem ao porto de Belém, a empresa levava o ouro

produzido em Vila Bela.

Com a decadência das minas de ouro do Guaporé, a Companhia de

Comércio do Grão- Pará e Maranhão parou de abastecer o Mato Grosso.

Além das mercadorias comercializadas pela Companhia de Comércio,

o abastecimento de Vila Bela da Santíssima Trindade se dava também

27 Maxwell, Kenneth, Marquês de Pombal: O Paradoxo do iluminismo, p.61.28 Volpato, Luiza Rios Ricci, A conquista da Terra no universo da pobreza, p. 59.

25

através de uma agricultura de subsistência, na qual eram cultivados

como produtos agrícolas o milho e o feijão. Porém, as atividades

agrícolas não foram capazes de atendem as necessidades básicas da

população.

A escassez de alimentos era provocada pelas pragas, insetos ou

mesmo pelo excesso das chuvas ou das cheias dos rios que acabaram

provocando a fome e a subnutrição, tornando o corpo da população

suscetível às moléstias.

Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres: “O consolidador das

fronteiras”

Ao final do século XVIII, o governo português interessado em

fortificar e povoar as fronteiras das colônia, como também povoar o

território, tomou novas medidas.

Pensando em solucionar as disputas territoriais, Portugal e a

Espanha assinaram o Tratado de Santo Ildefonso (1777), que reafirmou

a hegemonia de Portugal sobre a bacia Amazônica, bem como das vias de

comunicação entre Mato Grosso e outras regiões da América.29.

Nesse período, governava a Capitania de Mato Grosso, Luiz de

Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres (1772- 1789).

Para garantir a posse de Portugal, o referido capitão-general

criou importantes povoados em posições estratégicas, como por

exemplo, Albuquerque ( Corumbá), Vila Maria de Cáceres (Cáceres),

Casalvasco, São Pedro D’El Rey (Poconé) e Cocais (Livramento).

29 Cavalcante, Else. A sífilis em Cuiabá, p. 49.

26

Em Casalvasco, o governador seguiu os princípios de construção

adotados em Portugal, isto é, ruas direitas, retas, praças e

edifícios que expressavam a imagem de uma povoação “civilizada”. Para

povoar a vila, foi enviado muitos índios, oriundos da Província de

Moxos. Aliás a mesma tática de povoamento foi utilizada em Vila Maria

de Cáceres, ou seja, o capitão-general para povoá-la enviou índios da

Província de Chiquitos. Ainda o governo ofereceu sementes e

ferramentas da fazenda real às pessoas, para que pudessem iniciar as

sua plantações.30 Na verdade, o governo português para garantir a

posse do território, recrutou índios e chegou a conferir indulto aos

criminosos.

Além disso, Luiz de Albuquerque construiu o Forte de Coimbra

(Sul) às margens do rio Paraguai e na margem direita do rio Guaporé,

o Forte Príncipe da Beira.

Capítulo 5: Sociedade da Mineração

No século XVIII, a descoberta de ricas jazidas auríferas no

interior da colônia atraiu milhares de pessoas, que vinham com o

intuito de enriquecer. O ouro promoveu o surgimento de vilas e

povoações em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, dando origem a uma

sociedade marcada pela instabilidade.

A sociedade da Minas era bastante diversificada, pois além de

ser constituída de mineradores, era composta também pelos

30 Oliveira, Edevamilton de Lima, A Povoação Regular de Casalvasco e a Fronteira Oeste do Brasil Colonial: 1783-1802, p.33

27

negociantes, advogados, padres, proprietários de terras, artesãos,

burocratas, militares, índios aculturados, e escravos negros.

Na base da sociedade estavam os escravos, que trabalhavam

duramente na extração do ouro. Muitas vezes, devido as péssimas

condições de trabalho, os escravos acabavam padecendo vítimas de

enfermidades como a desinteria, a malária, ou até mesmo em acidentes

de trabalho. A curta estimativa de vida levava os brancos a

adquirirem com freqüência novos escravos.

Assim as estimativas apontam que nas Minas havia uma

concentração de negros e mulatos. A presença maciça dos mulatos está

relacionada a uma característica da sociedade colonial brasileira,

isto é, a mestiçagem.

Será que a sociedade da mineração era rica???

Muitos pesquisadores tem demonstrado em seus trabalhos

acadêmicos, que a riqueza ficou nas mãos de poucas pessoas, e que

parcela significativa da população livre tinha um baixo poder

aquisitivo. Logo, a sociedade da mineração em seu conjunto foi

extremamente pobre.

Embora a sociedade mato-grossense apresentasse as

características relatadas acima, ela possuía as suas especificidades.

Por exemplo, a Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, contava

com uma população pequena, mas bastante diversificada.

A sua composição social era formada por brancos, provenientes de

Portugal e de outras capitanias, de índios como o guató, o guaná, o

bororo e o pareci, de africanos e seus descendentes, de negros

forros.31

31 Rosa, Carlos Alberto, O Urbano colonial na terra da conquista, In: A Terra da Conquista, p.23-25.

28

As sociedades Indígenas no processo de colonização

No início do século XVI, os portugueses ao chegarem ao Brasil,

logo descobriram que grande parte do litoral brasileiro era habitado

por nativos. Desde o primeiro contato, os portugueses avaliaram os

costumes indígenas através de uma visão eurocêntrica. A exemplo,

Gabriel Soares de Souza em sua obra “Tratado descritivo do Brasil” afirmou

que os índios eram atrasados e que “é gente de pouco trabalho, muito molar,

não usam entre si a lavoura, vivem da caça que matam e peixe que tomam a dos rios.”32 Uma

leitura mais acurada da citação deixa evidente, que para o narrador a

caça e a pesca prática pelos índios não era encarada como um

trabalho.

Inicialmente, os índios foram usados na extração do pau-brasil e

em troca recebiam dos brancos europeus pelo seu trabalho bugigangas

como espelho, bota, canivete, dentre outros.

A partir de 1530, com a implantação da colonização, as relações

entre brancos e índios começam a se alterar, pois os portugueses

interessados no cultivo da cana-de-açúcar passam a levar os gentios à

escravidão.

Entretanto com a colonização, os jesuítas chegaram a Colônia com

o objetivo de propagar o catolicismo e conseqüentemente estavam

imbuídos em cuidar da catequese dos nativos e da educação dos

brancos. Através da catequese e da educação, a Igreja estava

assegurando o catolicismo nas terras “descobertas” por Portugal .

Para executar os seus objetivos, os inacianos esbarraram no interesse

32 Sousa,Gabriel Soares. Tratado discritivo, p.115.

29

dos colonos que defendiam que o desenvolvimento da colônia somente se

daria com a dominação do índio.

O governo portugues diante destas circunstâncias resolveu criar

a lei de 20 de março de 1570, na qual estabeleceu a regulamentação do

cativeiro indígena. Com a aprovação dessa lei, o governo

metropolitano deu início a uma política indígena na Colônia. Através

desta legislação ficou determinada a “guerra justa”, isto é, os

silvícolas que resistissem a dominação seriam reduzidos ao cativeiro.

Os jesuítas formaram então missões ou reduções na colônia.

Utilizando da catequese, os jesuítas proibiram, a poligamia,

combateram os ritos religiosos dos nativos, introduziram rituais

cristãos e inculcaram uma nova concepção de tempo e de trabalho, isto

é, os índios foram aculturados.

Paralelamente, os paulistas devido a necessidade crônica de mão-

de-obra organizaram expedições de apresamento para o interior. Em

1637, um padre jesuíta afirmou que os paulistas haviam nos dez anos

anteriores capturado de 70 a 80 mil índios. Muitos destes índios não

resistiam as longas viagens, morrendo a caminho da Capitania de são

Paulo.33.

Além do cativeiro, os povos indígenas foram exterminados através

de doenças epidêmicas como a varíola, o sarampo e a sífilis. Desta

forma, muitas sociedades indígenas foram sucumbidas em conseqüência

da guerra de dominação, da escravidão e das enfermidades.

No século XVIII, as bandeiras paulistas penetraram no território

mato-grossense à procura de índios para a escravidão, e a medida que

33 Monteiro, John Manuel, Negros da Terra:Índios e bandeirantes na origem de São Paulo, p. 68.

30

avançavam pelo território, constataram que a região era repleta de

povos indígenas.

As sociedades indígenas que aqui viviam a semelhança dos índios

do litoral, não eram um grupo homogêneo, mas caracterizados pela

diversidade cultural. Viviam da caça, da pesca, da coleta de raízes,

furtas silvestres e do mel. Praticavam a agricultura, criavam

animais, teciam os fios das suas vestimentas e faziam cerâmica.

Nas sociedades indígenas não existia a propriedade privada da

terra, pois a terra era um bem coletivo. A produção era voltada para

subsistência e quando ocorria a produção de excedente, este era

dividido.

Desde o primeiro contato com os paulistas, os gentios mostraram

resistência a dominação, no entanto, muitos foram aprisionados e

levados para o cativeiro no planalto paulista.

Com a descoberta das minas de ouro, os índios foram usados como

mão-de-obra escrava na mineração.

Em 1748, com a criação da Capitania de Mato Grosso, novas

Instruções Régias foram estabelecidas no tocante ao índio. A

preocupação com os silvícolas relacionava-se aos interesses

geopolíticos de Portugal, que tinham como meta desenvolver uma

política de expansão e posse do território.

Desde a fase inicial da colonização, a metrópole através dos

relatos de cronistas, como Barbosa de Sá, tinha informações a

respeito da variedade da população nativa. Assim tornou-se

fundamental para Portugal na ocupação da Bacia amazônica e do Oeste

31

do Brasil, que o índio fosse inserido na colonização. Cabia aos

índios serem “as muralhas do sertão”.34

Em 1772, Luiz de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres recebeu

nas Instruções Régias, que os índios Bororos deveriam compor um terço

das milícias, pois eram considerados pelo governo metropolitano como

fundamentais na defesa da Capitania. Observa-se, portanto, que a

política indígenista portuguesa no Brasil procurou usar os nativos

convertidos na proteção do território contra os ataques estrangeiros

e como mão-de-obra na lavoura dos brancos.35

Desta maneira, seguindo as diretrizes do governo metropolitano,

Luiz de Albuquerque visando garantir a posse do território formou

aldeias e vilas, nas quais a população era predominantemente composta

por nativos.

Para cooptar os índios para o projeto colonizador, o governo

luso-brsileiro através do Diretório dos Índios estabeleceu casamentos

interétnicos, a obrigatoriedade do estudo da língua portuguesa e

determinou que os colonos deviam garantir aos nativos igualdade de

condições.36 Portanto, a política indígenista portuguesa no século

XVIII visava transformar o índio em súdito de Portugal.

Escravidão

34 Em 20 de dezembro de 1695, o Conselho Ultramarino mencionou os índios como os “guardiões da fronteira”, as “muralhas do sertão”.35 Vilela, Jovam. O antemural de todo o interior do Brasil: A fronteira possível, p. 95.36 Idem, p.97-101.

32

A colonização da América Portuguesa foi baseada na escravidão

negra. Os negros eram adquiridos na África, nos entrepostos

comerciais ou feitorias estabelecidas no litoral.

Os chefes políticos e religiosos negociavam com os europeus os

seus prisioneiros de guerra, recebendo em troca tabaco, aguardente e

outras mercadorias.

Os africanos eram levados pelos traficantes em embarcações com

péssimas condições higiênicas, muitos não resistiam a viagem e por

isso esses navios, eram chamados de navios tumbeiros. Os traficantes

para amenizar o sofrimentos dos negros distribuíam maconha. Assim

privados da liberdade, separados da sua família, da sua terra natal,

os africanos foram obrigados a conviver com a escravidão.

Os principais grupos de africanos que aportaram no Brasil foram

os bantos provenientes de Angola, Moçambique, Congo e Guiné, e os

sudaneses originários da Nigéria e da Costa do Marfim.

Os escravos recém chegados da África eram denominados de

“boçais” e os aculturados, que já falavam a língua portuguesa eram

denominados de “ladinos”. Os escravos nascidos na colônia eram

chamados de “crioulos”. Geralmente aos crioulos e aos mestiços eram

reservados os trabalhos mais amenos como as tarefas domésticas,

enquanto aos africanos cabia o trabalho pesado.37

Os escravos eram vistos como mercadoria, o seu trabalho e corpo

pertencia ao seu proprietário. Como mercadoria eram vendidos,

alugados ou mesmo emprestados. Além disso, quando tomavam atitudes

que desagradavam o seu proprietário eram punidos com castigos

físicos. Um Alvará de 1741 estabeleceu que o negro que fugisse do

37 Priore, Mary, O Liviro de Ouro da História do Brasil, p.63.

33

cativeiro teria o seu corpo marcado à brasa e se ato repetisse a sua

orelha deveria ser cortada.38

Diante de tanto desprezo e sofrimento, os negros resistiram,

lutaram contra a escravidão. Resistiram desde que partiram da África

fazendo rebeliões a bordo dos navios, cometiam suicídio,

infanticídio, aborto, assassinavam os feitores e proprietários.

Entretanto, a resistência mais praticada era as fugas. Ao abandonarem

os engenhos, as minas, as casas dos senhores, os negros se refugiaram

nas matas formando comunidades denominadas de quilombos.

Desta maneira, os quilombos eram comunidades formadas

principalmente pelos negros que fugiam da escravidão. Nos quilombos,

os negros plantavam e criavam animais para a sua subsistência.

Os quilombolas viviam em constantes guerra com os senhores e as

autoridades, pois representavam uma ameaça a ordem colonial. O

quilombo mais importante do período colonial foi o de Palmares,

localizado na Serra da Barriga, no atual Estado do Alagoas.

Em Mato Grosso tivemos também muitos quilombos, entretanto,

alguns ganharam destaque devido ao seu tamanho, as características da

sua população ou mesmo pela sua prolongada existência.

Quilombo do Piolho ou Quariterê- século XVIII

O quilombo do Piolho localizava-se na região do Guaporé, nas

imediações de Vila Bela da Santíssima Trindade. A sua população era

composta por negros, índios cabixis e pelos caburés (mestiços).

A formação deste quilombo estava relacionada a Companhia de

Comércio do Grão-Pará e Maranhão, que abastecia a capital de38 Carril, Lourdes, De escravos a quilombolas, p.37.

34

escravos. Desde o inicio da ocupação de Vila Bela, os negros

resistiam a dominação dos seus proprietários, fugiram e acabaram

formando o quilombo.

O quilombo do Piolho era governado pela rainha Teresa de

Benguela, que era assessorada por um gabinete formado por homens.

Produziam a sua sobrevivência, através de uma agricultura e pecuária

de subsistência. No tocante ao religioso, havia um sincretismo, isto

é, a religiosidade apresentava elementos do catolicismo e da religião

afro.

Em 1778, com a falência da Companhia de Comércio do Grão- Pará e

Maranhão, os proprietários de terras se viram sem mão-de-obra, e com

isso empreenderam esforços para a captura e a destruição do quilombo.

Apoiados pelo capitão-general, Luís de Albuquerque de Melo

Pereira e Cáceres, os proprietários de terras em Vila Bela se

organizaram para a invasão ao Piolho. O quilombo foi destruído, a

rainha Teresa ao presenciar o ataque da bandeira cometeu o suicídio

negando a voltar à escravidão, e os negros que sobreviveram ao embate

foram conduzidos à Vila Bela, aonde foram identificados pelos seus

antigos donos e aqueles que não foram reconhecidos foram enviados a

Cadeia Pública.

Em 1791, João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres recebeu

dos proprietários de escravos uma solicitação, que forças legais

fossem conduzidas novamente a região do Guaporé para a destruição e

captura de escravos fugitivos. Sob ordem do capitão-general, o

quilombo do Piolho desta vez foi totalmente abatido.

Aldeia da Carlota

35

A Aldeia da Carlota foi fundada pelo Capitão-General João de

Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres. A comunidade localizava-se no

território do antigo quilombo do Piolho, portanto na região do

Guaporé.

O capitão-general para formar essa comunidade resolveu alforriar

os negros idosos da Capitania. O interesse de João de Albuquerque

era povoar e vigiar a fronteira contra um possível ataque dos

espanhóis.

Assim os negros que receberam a sua carta de alforria deveriam

em troca proteger a fronteira para Portugal.

O governador tomou importantes medidas para concretizar os seus

objetivos, como por exemplo, foram entregues sementes, ferramentas e

animais de criação para os moradores da Aldeia da Carlota. A atitude

do capitão-general mostra que ainda ao final do século XVIII, o

governo português continuava interessado em efetivar o uti possedetis.

Quilombo do Rio do Manso ou Cansanção:-século XIX

O quilombo do Rio do Manso representou uma ameaça aos

proprietários de terras e de escravos de Mato Grosso, na segunda

metade do século XIX, mais precisamente, no contexto da Guerra da

Tríplice Aliança (1865-1870).

Esse quilombo localizava-se em Chapada dos Guimarães, e a sua

população era formada por negros, desertores da Guerra do Paraguai e

por criminosos que buscavam segurança e refúgio. A população

masculina era predominante, o que levava os negros a investirem em

ataques a sítios e fazendas para capturarem mulheres.

36

A notícia deste quilombo trouxe a população da província muita

insegurança, pois apesar das reclamações, atitudes mais efetivas não

podiam ser tomadas, pois faltavam forças policiais. Nesse período, a

guerra exigia constantemente que milícias fossem conduzidas para a

guerra, portanto, não havia na Província, soldados suficientes para

destruir o quilombo do Rio do Manso.

Foi somente ao término da guerra, que o governo provincial

conduziu forças policiais para aniquilar o quilombo.

O documento abaixo deixa evidente os problemas causados pela

população do quilombo, bem como, a preocupação das autoridades

provinciais em combatê-lo.

Em 1867, o chefe de Polícia de Cuiabá, Firmo José de Matos,

enviou ao Presidente da Província de Mato Grosso, Couto de Magalhães,

o seguinte ofício

“Sendo reconhecido que nas cabeceiras do Rio do Manso existe um grande quilombo,

para onde continuadamente vão os escravos fugidos desta capital (Cuiabá) e dos mais

distritos vizinhos e bem mais desertores do Exército e criminosos, e, segundo comunicação

que acabo de receber do Subdelegado de Polícia do Rosário, constatando que os mesmos

negros e desertores tem de costume irem a essa vila, de onde conduzem mulheres para o

quilombo; julgo de necessidade tomar-se providências no sentido de combatê-lo a fim de que

não se tenha de lamentar fato de maior gravidade. Entretanto, sendo inconveniente na

presente situação distrair-se forças do serviço de guerra, proponho a V.Exª o aumento do

destacamento do Rosário.(Ofício do chefe de Polícia Firmo José de Matos, Cuiabá, 1867.)

Além desses quilombos a historiografia regional tem destacado a

existência de outros, a saber, o Mutuca em Chapada dos Guimarães e do

Pindaituba, nas proximidades de Chapada dos Guimarães, e o quilombo

de Mata Cavalos, localizado em Livramento.37

Atualmente os remanescentes dos quilombolas de Mata Cavalo, no

município de Nossa Senhora do Livramento reivindicaram na Justiça a

posse definitiva das terras dos seus antepassados. Em 2002, a

INTERMAT (Instituto de Terras de Mato Grosso) outorgou o título

definitivo da área à Fundação Cultural Palmares, do governo Federal.

A seguir, o presidente Lula assinou um decreto, no qual reconheceu

que o INCRA teria a função de identificar, reconhecer, delimitar,

demarcar e titular as terras dos descendentes dos quilombolas. Apesar

dessas iniciativas do governo federal, os conflitos entre os

remanescentes dos quilombolas, os fazendeiros e grileiros persistem.

No quadro abaixo, a reportagem do jornal Diário de Cuiabá aborda

a importância da posse do território para a população de Mata Cavalo.

O reconhecimento de propriedade que tarda há 110 para os

remanescentes de escravos das comunidades de Mata Cavalos -

localizadas no município de Nossa Senhora do Livramento, a 50

quilômetros de Cuiabá - chegou para netos, bisnetos e

tataranetos daqueles que conheceram o castigo do tronco. No

mês passado a Fundação Cultural Palmares, órgão do Ministério

da Cultura que há cinco anos mapea, registra histórias e

concede título a quilombolas no Brasil, emitiu um documento

de posse único, aos negros do local

Foram oficialmente reconhecidos como pertencentes aos

remanescentes de escravos de Livramento, 11,7 mil hectares de

terra às margens da MT-060, onde hoje vivem acampadas mais de

300 famílias disputando a terra com cerca de 42 pequenos e

grandes fazendeiros.

38

A mesma publicação, no Diário Oficial da União do dia 18 de

julho, emitiu a titulação de terras a outras 17 comunidades

de remanescentes em todo país. São descendentes de famílias

que iniciaram a luta há mais de século, para permanecer nas

terras onde enraizaram seus costumes, tiveram seus filhos,

enterraram seus mortos, mas da qual foram expulsos

sucessivamente a partir de1930.(sic)

Acampadas há cinco anos na área, as famílias se organizaram

em seis comunidades com lideranças próprias cada uma. Mas

para que um único título fosse concedido, uma associação mãe

foi criada, e quem responde hoje por ela são os netos de ex-

escravos, Tereza Conceição de Arruda, de 63 anos, que se

orgulha em contar que sua família foi uma das seis que

resistiram e permaneceram no lugar por gerações. E Germano

Ferreira de Jesus, 46 anos, também descendente de uma dessas

seis famílias.

Ambos explicam que o reconhecimento da posse da terra à

comunidade será o fim da alcunha de grileiros, da incerteza

quanto à possibilidade de produzir no local e a abertura para

criação e implantação de projetos. “Já sofremos muito aqui

com ameaças de fazendeiros, pistoleiros e a própria polícia

que sempre tentaram nos tirar da terra. Com o título,

poderemos conseguir escolas, luz, água e as comodidades que a

cidade oferece”, diz Tereza. Fonte:Diário de Cuiabá,13/08/2000

39

Capítulo 6: Transferência da Capital de Vila Bela para Cuiabá

No início do século XIX, as guerras napoleônicas alteraram

significativamente as relações entre a colônia e a metrópole

(Portugal). A origem dessas guerras estava relacionada a expansão do

capitalismo francês, que em busca de mercado consumidor entrou em

confronto com a Inglaterra, que naquele período era a grande potência

econômica da Europa. Foi neste contexto que Napoleão Bonaparte

decretou o Bloqueio Continental, estabelecendo que os países europeus

estavam proibidos de comercializar com a Inglaterra.

Portugal não aderiu ao Bloqueio Continental, e por isso o seu

Príncipe-regente D. João VI, temendo a invasão napoleônica, fugiu

para a colônia.

Em 1808, protegido por uma escolta inglesa, a família real

aportou no Brasil e D João decretou como uma de suas primeiras

medidas a Abertura dos Portos às Nações Amigas, rompendo com isso o

pacto colonial, e conseqüentemente dando início ao processo de

independência do Brasil.

Foi durante o processo de independência do Brasil, que se deu a

transferência da capital de Vila Bela para Cuiabá. Entretanto, a

idéia de transferir a capital não era nova, pois já tinha sido

apregoada pelo Capitão-general Manuel Carlos de Abreu em 1804.

Para abordarmos este assunto é preciso analisar primeiramente o

governo dos últimos capitães- generais de Mato Grosso.

Em 1808, governava Mato Grosso, João Carlos Oeynhausen de

Gravenberg, que ao assumir o governo se deparou com uma forte crise

econômica, originada da decadência aurífera. Com o intuito de40

escamotear os problemas sociais decorrentes da miséria da população,

este governante promoveu inúmeras festas. Essas festas contavam com a

presença de ricos e os pobres, favorecendo com isso para que a

população tivesse a sensação que havia na Província, uma democracia

social.

Paralelamente, João Carlos Oeynhausen desenvolveu uma política

voltada para a saúde. A preocupação em combater as doenças estava

relacionada a chegada da Corte portuguesa ao Brasil, pois D.João VI

tomou muitas medidas para erradicar as enfermidades que assolavam

principalmente o Rio de Janeiro. Além de fundar a Faculdade de

Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro, o príncipe-regente com o

intuito de institucionalizar a pratica da medicina criou a Sociedade

Real de Medicina.

Para valorizar a medicina cientifica, o governo joanino combateu

as práticas de cura popular e para a concretização deste projeto.

Governo se associou aos médicos para combater as moléstias, uma vez

que elas representavam uma ameaça ao desenvolvimento do capitalismo.

Foi nesse contexto, que em Mato Grosso, João Carlos Oeynhausen

também com o objetivo de combater as doenças promoveu em Vila Bela

uma aula de anatomia. Entretanto, o grande destaque do seu governo

foi a criação do Hospital Militar de Cuiabá, da Santa Casa de

Misericórdia e do hospital São João dos Lázaros, que foi construído

para abrigar as vítimas da lepra.

No tocante a economia, pensando em superar a debilidade

econômica, este governante estimulou a produção do algodão e a

produção aurífera. Entretanto, as sua medidas não foram capazes de

superar a crise financeira. Posteriormente, João Carlos Oeynhausen

41

foi agraciado pelo governo pelas suas realizações políticas, com o

título de Marquês de Aracati.

Em seu lugar tomou posse o militar de carreira, Franscisco de

Paula Magessi, ultimo capitão-general de Mato Grosso. Ao assumir o

governo, Francisco Magessi temendo a insalubridade de Vila Bela,

solicitou a D. João VI a transferência de órgãos públicos para

Cuiabá, como por exemplo, a Junta da Fazenda e a Casa de Fundição.

O governo de Francisco Magessi foi marcado pela impopularidade,

pois adotou uma política de austeridade e de corrupção. Eliminou as

festas e atrasou os salários até mesmo dos soldados.

Foi neste período, que a elite cuiabana almejando a superação da

crise econômica que abalava os cofres públicos da Província, deu

início a luta pela transferência da capital para Cuiabá.

Para atingir os seus propósitos, a elite cuiabana apresentou

como argumentos, que Cuiabá possuía uma população superior a de Vila

Bela, tinha uma melhor localização geográfica, pois era banhada pela

bacia Platina, e através da navegação fluvial podia ter contato com

as demais províncias brasileiras e até mesmo com os paises platinos.

Alegou ainda que a cidade era saudável e que a sua população podia

contar com hospitais ao ficar doente.

Retornando a Magessi, foi nesse momento, que o capitão-general

depois de dezoito meses de governo, resolveu partir para Vila Bela

atendendo aos desejos da população local, que reivindicava a presença

do capitão-general.

Com a partida de Francisco Magessi para Vila Bela, a elite

cuiabana se organizou, buscando o apoio de segmentos do clero e dos

militares, para depor o capitão-general. A seguir instalaram uma

42

Junta de Governo em Cuiabá e enviaram a Magessi a seguinte

comunicação:

Ilmo, Senhor.

Havendo concorrido aos Paços do Conselho, no dia 20 do corrente a Tropa da

Primeira e Segunda Linha, o clero, a nobreza e povo desta cidade de Cuiabá, deliberaram e

resolveram a ereção de uma Junta Governada Provisório e efetivamente elegeram nove

deputados para comporem a dita justa, que se acha instalada, em conseqüentemente de tais

acontecimento, V.Exa, se suspenderá do exercício de suas funções que antes competiam a V.

Exa, em razão do lugar que ocupava. Assim o participar a V.Exa, os deputados da junta

Governativa Provisória. Deus guarde a V.Exa. Cuiabá, 21 de agosto de1821.39

A Junta de Governo instalada em Cuiabá contava com a

participação de elementos do clero como D. Luís de Castro Pereira,

bispo de Cuiabá, de militares, como o capitão Luís D’Allincourt e da

elite local, como André Gaudie Ley, proprietário de terras e de

escravos.

Em Vila Bela, a população ao receber a notícia da deposição de

Magesssi e da formação de uma Junta de governo em Cuiabá, se sentiu

bastante ameaçada, e resistindo a possibilidade de perder o status de

capital resolveu proceder da mesma maneira.

Assim também em Vila Bela, Magessi foi deposto e uma Junta de

Governo foi instalada com a participação dos membros da elite, do

clero e dos militares. Porém, a Junta de Governo de Vila Bela pensado

em ter o apoio as camadas populares e ao mesmo tempo ameaçar os

39 Apud, Póvoas, Lenine. História Geral de Mato Grosso, p.176.

43

interesses elite cuiabana, e talvez afetar os seus padrões morais

tomou as seguintes medidas:

Abolição da escravidão

Estabeleceu o fim fidelidade conjugal

Decretou o fim da castidade para as mulheres solteiras.

O fim da escravidão com certeza agradava ao povo, pois muitos

eram descendentes de escravos ou mesmo amigos, com os quais

freqüentavam batuques, bebiam cachaça, rezavam e trabalhavam para os

grandes proprietários.

Apesar de buscar a adesão do população, a Junta de Governo de

Vila bela não conseguiu se manter no poder, pois a elite cuiabana com

o apoio de D.Pedro I saiu vitoriosa, tendo a sua Junta de Governo

reconhecida.

No entanto, foi somente em 1835, que Cuiabá recebeu

oficialmente o reconhecimento de capital da Província de Mato Grosso,

conforme a seguinte lei:

1835 Nº19 Antônio Pedro de Alencastro, Presidente da Província de Mato Grosso.

Faço saber a todos os habitantes, que a Assembléia Legislativa Provincial decretou, e

eu sanciono a seguinte lei.

Artigo 1 fica declarada capital da Província de Mato Grosso a cidade de Cuiabá.40

Capitães- Generais que governaram a Capitania de Mato Grosso

1748-1751:Gomes Freire de Andrade40 Mendonça, Estevão, Datas Mato-Grossenses, p.115.

44

1751-1765: Antonio Rolim de Moura (Conde de Azambuja)1765-1769: João Pedro da Câmara1769-1772: Luiz Pinto de Souza Coutinho.1772-1789: Luiz de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres.1789-1796: João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres.1796: Junta Governativa:Antonio da Silva do Amaral, Ricardo

Franco de Almeida, Marcelino Ribeiro.1796-1803: Caetano Pinto de Miranda Montenegro.1803-1804: 2ªJunta Governativa: Manoel Joaquim Ribeiro

Freire, Antonio Felipe da Cunha Ponte, José da Costa Lima.

Este ultimo foi substituído por Manuel Leite de Moraes.1804-1805: Manoel Carlos de Abreu e Menezes.1805-1807: 3ª Junta Governativa: Sebastião Pita de Castro,

substituído por Gaspar Pereira da Silva, Antonio Felipe da

Cunha Ponte , substituído por Antonio Felipe da Cunha Ponte,

substituído por Ricardo Franco de Almeida Serra, José da

Costa Lima, substituído por Marcelino Ribeiro e Francisco

Sales Brito.1807-1819: João Carlos Augusto D’Oeynhausen e Gravemberg

(Marquês de Aracati) 1819-1821:Francisco de Paula Magessi Tavares de Carvalho.

(Barão de vila Bela.)1821-1822: 1ªJunta governativa Provisória de Cuiabá: Dom

Luis de castro Pereira-Presidente da Junta e posteriormente

foi substituído por Jerônimo Joaquim Nunes.1821-1822: 1ª Junta Governativa de vila Bela: Jose Antonio

Assunção Batista, presidente da Junta.

45

1822-1823: 2ª Junta Governativa Provisória de Cuiabá: Antonio

José de Carvalho Chaves1822-1823: 2ª Junta Governativa Provisória de Vila Bela:

Manoel Alves da Cunha.1823-1825: Governo Provisório: Manoel Alves da Cunha.

Atividades

1-(Concurso da Secretaria de Justiça) O que são as monções?

a)um movimento armado, organizado pelos comerciantes com o

objetivo de proclamar a Independência de Mato Grosso, pois

tinham interesses em controlar o comercio das minas de Cuiabá.

b) São expedições que partiam de São Paulo com destino a Mato

Grosso, com o objetivo de abastecer as minas da região de

mantimentos e víveres, especialmente as minas de Cuiabá.

c)um movimento popular pró construções de mansões, que ficou

conhecido como “monções” porque os portugueses não sabiam

pronunciar corretamente a palavra “mansões”.

d) São expedições que tem como escopo manter a correspondência

em dias, entre os brasileiros e os moradores do Império

Espanhol.

e) São expedições que trazem ouro em pó para as fundições de

Cuiabá, e levam de volta ouro em barra para São Paulo.

2) (UEMS) A respeito da nova realidade criada pela exploração

aurífera em Minas Gerais, Goiás e Cuiabá, a partir de fins do

século XVII, assinale a alternativa correta.

46

I-Embora fosse altamente lucrativa, atividade mineira não chegou

a atrair grande numero grande numero de pessoas, de modo que a

população da colônia não apresentou crescimento significativo

durante o século XVIII.

II- Por ser uma atividade altamente especializada, a mineração

estimulou o desenvolvimento de outras ramos da economia

colonial, como a produção de gêneros alimentícios.

III- Nessa economia mineradora era pouco utilizado o trabalho

escravo, sendo mais importante a utilização de trabalhadores

assalariados livres.

a)Apenas a I está correta.

b)Apenas a II está correta.

c)Estão corretas a I e II.

d)Estão corretas a II e III.

e) Estão corretas a I e III.

3) (UFMS) A historiadora Luiza Volpato, no livro “Entradas e

Bandeiras”ao referir-se à imagem produzida pelos livros

didáticos sobre o bandeirante, assim se expressa:” Nos capítulos

referentes a expansão territorial, o bandeirante é apresentado

na grande maioria das vezes como o herói responsável pelas

dimensões territoriais do país. (...) No texto é passada a visão

heróica do bravo que, vencendo dificuldades sem fim , conquistou

áreas imensas para a colônia e descobriu riquezas no interior do

Brasil.

A partir do texto, julgue as assertivas, verdadeiras ou falsas.

47

( ) Essa é uma visão mítica elaborada pela historiografia que

permeia praticamente toda a produção a respeito, dificultando

uma interpretação crítica sobre o fenômeno bandeirantista.

( ) A capitania de São Vicente, desde o inicio da colonização,

despontou como uma região privilegiada para o plantio da cana-

de-açúcar, portanto de exportação de açúcar e importação de mão-

de-obra escrava.

( )A expansão territorial e o sacrifício de centenas de

milhares de índios são resultado da transformação da luta

cotidiana dos bandeirantes pela sobrevivência em campanhas de

conquista.

( ) A ação bandeirante sobre as áreas espanholas foi

despovoadora pois causou a destruição de agrupamentos indígenas

e espanhóis.

( ) Contrariando a imagem do texto citado é possível visualizar

o fenômeno bandeirantista como gerado pelas condições sociais de

vida do Planalto de Piratininga e o bandeirante como um homem do

seu tempo.

4) (UEMS) A política econômica mercantilista se caracterizou por

três elemento essenciais:

a)balança comercial favorável, protecionismo e monopólio.

b)sistema colonial, liberalismo e monopólio.

c)Manufatura, metalismo e liberalismo.

d)Monopólio, liberalismo e bullionismo.

e)Liberalismo, monopólio e protecionismo.

48

5) (UFMS) A historia de Mato Grosso do Sul não pode ser

apreendida na sua riqueza temática e, sobretudo, na sua

diversidade étnica e cultural, se a ela não incorporarmos a

historia dos povos indígenas. Sobre a presença constante dos

povos indígenas na história do Mato Grosso do Sul, é correto

afirmar que:

01.a presença indígena no território do atual Mato Grosso do Sul

data de até três mil anos; para o Pantanal essa presença é de

até mil anos.

02.mesmo depois da chegada de elementos europeus na região,

foram intensas as relações dos povos indígenas entre si. Às

vezes conflituosas, ás vezes complementares, são conhecidas,

dentre outras, as relações entre os grupos guaná, guaicuru e

Guarani.

04.nas disputas entre os portugueses e espanhóis pela fixação

dos limites territoriais de suas colônias americanas, foram

visíveis as preocupações de ambos em atrair para si o apoio dos

povos indígenas que ocupavam a região;

08.apesar da brutalidade do processo de conquista e da

conseqüente ocupação de seus territórios, a existência atual de

vários povos indígenas em Mato Grosso do Sul indica que suas

diferentes formas de resistência garantiram pelo menos a sua

sobrevivência;

16.co mais de cinqüenta mil índios, Mato Grosso do Sul é

atualmente o segundo estado do Brasil em população indígena.

Dê a soma das corretas.

49

6) (UFMT) Em Mato Grosso, a relação entre os índios e

colonizadores foi geralmente conflituosa e marcada pela

violência. A respeito, julgue as afirmativas, colocando V ou F:

( ) Os índios Paiaguá foram os primeiros a atacar as monções e

o faziam quando as embarcações estavam transitando nos rios.

( ) Governos da Capitania de Mato Grosso utilizaram índios,

capturados na defesa da fronteira, na construção de fortes,

fortalezas e em outras atividades militares.

( ) Algumas nações indígenas, como Guaicuru e caiapó, habitavam

a periferia da capitania e estabeleceram relações de escambo com

o colonizador português.

( )Por meio de Cartas régias, a Coroa Portuguesa permitia, em

casos específicos, a “guerra justa” ao índio.

7) (UFMT) Ao referir-se ao abastecimento da região mineira de

Cuiabá, nos primeiros tempos da colonização, a historiadora

Elizabeth M. Siqueira assim se expressa:

As duas regiões mais próximas das Lavras do Sutil e responsáveis

pelo abastecimento mais imediato foram: Rio Abaixo ( hoje Santo

Antonio do Leverger) e Serra Acima (hoje chapada dos Guimarães)

(...) Dessa forma nem só de alimentos vivia a

população...Revivendo Mato Grosso. Cuiabá, SEDUC, 1977, p.14-16.

A respeito desse contexto histórico, julgue as características,

colocando V ou F:

( ) O primeiro trajeto fluvial percorrido pelos sertanistas

para abastecer Cuiabá transformou o Rio Abaixo em importante

entreposto comercial.

50

( ) De Rio Abaixo, a produção açucareira era trazida pelo rio

Cuiabá até a região aurífera.

( ) Vestimentas, instrumentos de trabalho e escravos vinham de

outras províncias por meio de tropas ou das monções.

( )Os primeiros engenhos surgidos na região foram responsáveis

pelo fabrico não somente do açúcar, mas também da rapadura e da

aguardente.

8) c

9) (Simulado- CSSG) “O Pantanal mato-grossense estende-se pelos

estados do Mato Grosso do Sul e pelo Mato Grosso, num total de

aproximadamente 220 mil quilômetros quadrados. Sendo uma planície, as

altitudes são baixas, mas as terras ao redor são mais altas, razão

pela qual uma grande quantidade de rios corre para a

região.”(Moreira, Igor. Espaço Geográfico, p.418)

A respeito do Pantanal mato-grossense, assinale a alternativa

incorreta:

(a) No século XVIII, os paiaguás e guaicurus habitavam o Pantanal e

representaram um empecilho à colonização portuguesa, pois esses

silvícolas atacavam com freqüência as monções de abastecimento.

(b) No período colonial. o Pantanal era denominado de Lago dos

Xarayés.

(c) O Pantanal mato-grossense é uma planície, ou seja, uma área onde

o processo de sedimentação se sobrepõe ao processo de erosão.

(d) O ecossistema do Pantanal é bastante complexo, possuindo áreas de

florestas, cerrados e campos, além da grande quantidade de plantas

aquáticas, principalmente aguapés.51

(e) A maior parte das terras do Pantanal encontra-se nos limites

territoriais do Estado do Mato Grosso.

10) (Simulado-CSSG) “A maior Mina da região estava plantada na colina

do Rosário e deu início à formação da cidade. A colina onde se

localizou a igreja do Rosário, ergue-se à margem esquerda do rio

Prainha. Em torno das jazidas, principalmente à margem direita do

córrego, inicia-se o povoamento. Próximo também a essa margem

localiza-se uma esplanada, escolhida para construção da Igreja da

Matriz. Ruas e ruelas serpenteiam pelo terreno, ajustando-se a ele,

ao longo do curso d’agua. O pelourinho, a igreja do Rosário assentam

os primeiros pontos de tensão em torno dos quais a vila se estrutura

e se organiza.”(Freire, Julio De Lamônica. Pior uma poética popular

da arquitetura, p.40-42.)

O texto acima descreve o espaço urbano de Cuiabá no período colonial.

A partir da leitura

do texto acima e de seus conhecimentos, assinale a alternativa

correta.

I- A área central da Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá era

composta pela Câmara Municipal, cadeia e a Igreja da Matriz.

II- Se fôssemos desenhar uma carta geográfica da área central da

Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, usaríamos como melhor escala

1: 1000. 000.

III- Foi Rodrigo César de Menezes, governador de São Paulo, que

elevou Cuiabá à categoria de vila. Durante a sua administração,

Rodrigo César de Menezes deu atenção especial à fiscalização das

minas e à tributação.

(a) I, II e III são corretas.52

(b) I e II são corretas.

(c) II e III são corretas.

(d) I e III são corretas

(e) Somente a II é correta

11) ( Simulado-CSSG)“..a produção de ouro na Capitania de Mato

Grosso, em meio século de atividade estonteante, de 1719 a 1770,

teria montado a 4.000 arrobas ou 60.000 quilogramas, a razão de

oitenta arrobas por ano.”( Correa Filho, Virgilio. Historia de Mato

Grosso, p.49).

Sobre a mineração em Mato Grosso é valido afirmar que:

(a)Provocou o surgimento de vários núcleos populacionais, que se

dedicavam

exclusivamente à mineração como por exemplo, Rio Abaixo, Serra Acima

e Vila Maria de Cáceres.

(b) Ao final do século XVIII, as minas de Cuiabá começaram a entrar

em decadência, devido às técnicas rudimentares de extração e à

cobrança exagerada de impostos.

(c) A ocorrência de minerais metálicos em Mato Grosso está associada

a sua estrutura geológica, isto é, a presença de escudos cristalinos.

(d) A produção de ouro contribuiu para a prosperidade de Mato Grosso

e também de Portugal, pois através de uma rígida fiscalização o

governo metropolitano foi capaz de conter o contrabando.

(e) A produção exorbitante do ouro provocou ao longo do século XVIII

o surgimento de conflitos na fronteira oeste entre os portugueses e

espanhóis.

53

12) ( Simulado CSSG) “Vila Bela da Santíssima Trindade é, atualmente,

a cidade mato-grossense que possui a maior concentração de negros do

Estado. Os negros de Vila Bela da Santíssima Trindade preservam

traços fisionômicos semelhantes aos seus ascendentes africanos

(Angola e Guiné) e sua tradição cultural é manifestada através do

folclore representado pela Dança do Congo e do chorado. (Piaia,

Ivane. Geografia de Mato Grosso, p.16.)

A partir da leitura acima e dos seus conhecimentos, é correto afirmar

que:

I- A presença dos negros em Vila Bela mostra um dos traços do sistema

colonial brasileiro, a escravidão. A adoção da escravidão durante a

colonização proporcionou a Portugal uma acumulação de capital.

II-Os negros em Vila Bela como também em outras regiões da colônia

eram utilizados como mão-de-obra na agricultura de subsistência e na

mineração.

III-A escravidão no Brasil colonial se assemelha a escravidão na

Grécia e em Roma, pois os escravos no sistema colonial brasileiro

eram também provenientes das conquistas territoriais empreendidas por

Portugal.

IV-A existência de uma maior concentração de negros em Vila Bela se

justifica pela insalubridade da região. No início do século XIX, com

o fim das disputas territoriais na fronteira e com a decadência do

ouro, os brancos começaram a partir de Vila Bela.

(a) Todas são corretas.

(b) I,II e III são corretas.

(c) II e IV são corretas.

(d) I, II e IV são corretas.

(e) I e II são corretas. 54

13) (Concurso da Secretaria de Segurança) Como resultado do movimento

de resistência à escravidão, às constantes humilhações e aos

maltratos praticados pelos senhores de escravos, os africanos de Mato

Grosso se utilizaram de vários recursos para sobreviverem, dentre

estes, assassinatos de feitores, as constantes fugas e constituição

de quilombos, que se espalham pelo vasto território mato-grossense.

Assinale a opção que corresponde aos dois mais importantes e maiores

quilombos de Mato Grosso.

a)Mundéu e Cansanção.

b)Piolho ou Quariterê e Cansanção.

c)Piolho ou Quariterê e kundiru.

d)Kalunga e Cansanção.

e) Mkulelê e Cansanção.

14) Em 1748, o governo metropolitano criou a Capitania de Mato

Grosso. A respeito deste contexto histórico, assinale as alternativas

abaixo com V ou F:

( ) Criada através de uma carta régia, a Capitania de Mato Grosso

surgiu da necessidade de povoamento de uma região que de acordo com o

tratado vigente ainda pertencia aos espanhóis.

( ) tratava-se de povoar uma região que pudesse servir como escudo

protetor a possíveis invasões espanholas.

( ) Foi criada por determinação do rei D. José I.

( ) A Capitania de Mato Grosso foi criada após o desmembramento da

administração da Capitania de Goiás.

55

15) Sobre a administração de Rodrigo César de Menezes, avalie os

itens abaixo:

( ) Os impostos cobrados, nos períodos de 1723 até 1727 eram

cobrados pelos sistema de capitação, a partir de 1728, foi implantado

o quinto.

( ) Para facilitar a fiscalização das minas e conseqüentemente

evitar o contrabando, Rodrigo César de Menezes criou em Cuiabá a Casa

de Fundição.

( ) Apesar do aparato fiscalizador estabelecido nas minas, neste

período Cuiabá passou por um considerável crescimento populacional e

pelo enriquecimento da maioria da população.

( ) Rodrigo César de Menezes, governador de São Paulo, elevou o

arraial de Cuiabá, a categoria de Vila Real do Senhor Bom Jesus de

Cuiabá.

16) Sobre a criação e povoamento de Vila Bela da Santíssima Trindade,

assinale os itens corretos:

( ) D.Rolim de Moura, Conde de Azambuja, recebeu instruções reais

para governar a Capitania de Mato Grosso e fundar a sua primeira

capital às margens do rio Guaporé.

( ) O governo português almejava com Vila Bela evitar o avanço dos

espanhóis, uma vez que estes estavam muito próximo, ou seja na região

do Potosí.

( ) Os comerciantes de Vila Bela obtiveram muitos lucros devido ao

preço exorbitantes dos produtos alimentícios.

( ) Com o propósito de conter o avanço dos espanhóis, o governo

português construiu fortes, aliciou índios e atraiu a região até

mesmo criminosos.56

17) Em 1821, Francisco de Paula Magessi foi deposto do governo. A

respeito deste contexto histórico, assinale a alternativa correta.

a) a deposição Francisco Magessi foi articulada pelas camadas

populares, que estavam extremamente insatisfeitas em conseqüência da

debilidade econômica de Mato Grosso.

b)a derrocada do capitão-general se deu devido a união do clero, dos

militares e da elite cuiabana.

c) foi neste momento que Vila Bela da Santíssima Trindade se

reafirmou como capital da Província de Mato Grosso.

d) a Junta de Governo de Vila Bela contava com mais prestígio junto a

Corte que a Câmara Municipal de Cuiabá.

e)o governo de Magessi se deu durante o Primeiro Reinado.

18) A bandeira de Pascoal Moreira de Cabral descobriu ouro ás margens

do rio Coxipó dando origem ao povoamento da região. Neste período, o

governador da Capitania da São Paulo era:

a)Pedro de Almeida Portugal.

b) Luis de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres.

c) Rodrigo César de Menezes.

d) Antonio Rolim de Moura.

e) Augusto Leverger.

19) Assinale a alternativa correta a respeito do trabalho escravo em

Mato Grosso durante o período colonial:

a)A Aldeia da Carlota representou a maior resistência dos negro a

escravidão em Mato Grosso.

b)O escravo trabalhava exclusivamente na mineração.57

c) O quilombo do Piolho foi governado pela rainha Teresa de Benguela.

d) Tanto a população da Aldeia da Carlota como a do Piolho era

composta principalmente pelos desertores.

20) (UNIC) “E preciso não ter sentimento do justo e do honesto, para

não parar, cheio de respeito, diante de um velho marco, solitário na

vastidão dos campos, ou à beira da estrada publica ou no velho ermo

do mato virgem, guarda fiel da propriedade, testemunha sincera de um

direito...”. A frase de Macedo Soares corresponde a um símbolo,

concebido a 231 anos, denominado Marco do Jauru, hoje localizado na

cidade de Cáceres, na praça publica ( Barão do Rio Branco). Assinale

a alternativa correta que corresponde a esse momento histórico.

a)Serviu como marco definidor do limite extremo sul do país.

b)Serviu como marco de fixação definitiva dos limites entre a

Capitania do Cabo do Norte e a Guiana Francesa.

c)Representação simbólica do poder imperial português.

d)Serviu como demarcador das fronteiras entre Brasil e Espanha por

ocasião do Tratado de Madri.

e)Serviu como marco da fundação da capital de Mato Grosso, vila Bela

da Santíssima Trindade.

21) A respeito dos Capitães- generais que governaram a Capitania de

Mato Grosso, julgue os itens abaixo:

( ) Luís de Albuquerque de Melo e Cáceres fundou cidades em

posições estratégicas, como Vila Maria de Cáceres e Albuquerque.

( ) Manoel de Carlos Abreu Menezes foi oprimeiro a sugerir que a

capital de Mato Grosso deveria ser Cuiabá.

58

( )João Carlos Oeyuhausen criou as primeiras instituições

hospitalares da Capitania; a Santa Casa de Misericórdia e o São João

dos Lázaros.

( )Francisco Magessi transformou Cuiabá em Capital da Província

no ano de 1821.

22) O arraial de Cuiabá foi transformado em vila, em 1 de janeiro de

1727, recebendo o nome de:

a)Arraial de São Gonçalo.

b)Vila de Santa Cruz

c) Lavras do Sutil.

d) São Pedro D’El Rey.

e) Vila Real do Senhor bom Jesus de Cuiabá.

23) Tratado assinado em 1750, que dividiu entre Portugal e a Espanha

as terras a oeste de Tordesilhas:

a)Madri

b)Santo Ildefonso

c)Portugal

d) Badajós.

e)Roma.

24) Em 1778, foi fundado por Luis de Albuquerque ás margens do rio

Paraguai; Vila Maria. Atualmente este vila é conhecida pelo nome de:

a)Cáceres.

b)Dourados.

c) Nioac.

d) Poconé.59

e) Livramento.

25). Relacione:

(A)S.Pedro D’El Rey

(B) Cocais

(C) Serra Acima.

(D) Rio Acima

(E) Rio Abaixo

( ) Livramento

( ) Poconé

( ) Chapada dos Guimarães.

( )Rosário Oeste

( ) Santo Antonio do Leverger.

A seqüência correta é:

a)B,A,C,D, E.

b)B,A,D,E,C.

c)A,B,D,E,C.

d)A,D,B,C,E.

e)D,A,C,E,B.

Gabarito:

1-B

2-B60

3-V,F,V,V,V.

4-A

5- 30 (F,V,V,V, V).

6- V, V,F,V.

7-F,V,V,V.

8-V,V,F,V.

9- E

10-A

11-B

12-D

13-A

14-V,V,F,F.

15- V,V,F,V.

16-V,V,F,V.

17-B

18-A

19- C

20-D

21-V,V,V,F.

22- E

23-A

24-A

25-A

Parte II: Império

Capitulo 7: Rusga

61

No início do século XIX, a Corte Portuguesa chegou ao Brasil

fugindo das tropas de Napoleão Bonaparte. Ao aportar na colônia, D.

João decretou a Abertura dos Portos às Nações Amigas. Com essa

medida, o Príncipe Regente, rompeu o pacto colonial favorecendo o

processo de independência do Brasil.

A independência se deu através de um arranjo político entre a

elite brasileira e D.Pedro I, e foi fortemente influenciada pelas

idéias liberais. Contudo, o liberalismo da elite brasileira era

bastante limitado, uma vez que as camadas populares foram

marginalizadas do processo de independência. Após a independência, o

Brasil continuou a manter as estruturas sociais e econômicas

existentes no período colonial. Na verdade, o interesse da elite

brasileira era promover a independência, mas tendo sob o seu controle

o poder político, e a manutenção dos seus interesses, ou seja, o

latifúndio e a escravidão.

Assim em 1822, D.Pedro I foi aclamado imperador do Brasil.

No entanto, o Primeiro Reinado seria muito breve breve, pois o

governo de D.Pedro I foi marcado por uma profunda crise política, que

culminou na sua abdicação.

A crise do Primeiro Reinado estava relacionada a alguns fatores,

como por exemplo, a dissolução da Assembléia Constituinte em 1823. Os

constituintes brasileiros tinham como objetivo limitar o poder do

imperador. Porém, D. Pedro I contrariado com atitude da elite

brasileira resolveu fechar a Assembléia.

A crise aumentou gerando mais insatisfações com relação a

D.Pedro I, quando o imperador outorgou a Constituição de 1824. A

Constituição do Império estabeleceu o voto censitário, isto é, para

votar era necessário comprovar uma renda mínima anual. Desta forma, o62

voto censitário acabou marginalizando as camadas populares do

processo político. Tal decisão provocando muito descontentamento

entre os segmentos populares.

A constituição de 1824 estabeleceu também que a monarquia era

hereditária e a existência de quatro poderes, sendo o poder moderador

de uso exclusivo do imperador. Através do poder moderador, o

imperador tinha o direito de dissolver a Câmara dos Deputados,bem

como o de nomear e demitir o Conselho de Ministros. Na realidade, o

poder moderador agia nos momentos de desentendimento político entre o

Legislativo e o Executivo. Assim devido ao poder moderador, o Império

brasileiro foi caracterizado por uma excessiva centralização do poder

nas mãos do imperador.

Outro fator que desgastou o governo de D.Pedro I foi a crise

econômica que assolava o país. A crise em parte era resultante da

dívida externa, contraída com a Inglaterra no momento do rompimento

dos laços coloniais com Portugal. A divida externa contribuiu para

que o Brasil se tornasse dependente da Inglaterra. Em virtude da

dependência econômica, D. Pedro I renovou com este país os Tratados

de 1810, por mais quinze anos. Os Tratados de 1810 concedeu

privilégios alfandegários aos produtos ingleses e acabou impedindo a

industrialização do país.

Para agravar mais ainda a situação, o imperador recorria a

empréstimos para aparelhar o Exército e contratar mercenários

ingleses, para sufocar revoltas, como a Confederação do Equador, e a

Guerra da Cisplatina.

Diante da crise que abatia o governo imperial, D. Pedro I

pressionado pela elite e pelo povo brasileiro resolveu abdicarem 7 de

abril de 1831. Logo depois, o imperador regressou a Portugal.63

A Constituição de 1824 previa em seu texto, que seu filho Pedro

de Alcântara seria o seu sucessor de D.Pedro, porém como herdeiro do

trono tinha somente cinco anos em 1831, a legislação determinava que

o país seria governado pelos regentes até que príncipe-herdeiro

atingisse a maioridade. Desta forma, o período regencial consistiu em

um momento de transição entre o Primeiro e Segundo Reinado.

Com a implantação das regências, a elite brasileira subiu ao

poder, representando de fato a concretização independência.

O período regencial foi caracterizado pelo surgimento dos

partidos políticos, destacando-se os restauradores, que pregavam a

volta de D.Pedro I, os moderados, que defendiam a centralização e os

exaltados, encarados como os mais radicais, pois apregoavam a

descentralização.

Em 1834, esses partidos entram em uma nova fase. A partir deste

período, a política brasileira seria articulada pelo Partido Liberal

ou Progressista (descentralização) e o Partido Conservador ou

Regressista (Centralização).

A seguir apresentamos um gráfico referente a evolução dos

partidos políticos durante o Império:

Primeiro

Reinado(1822-

1831)

Período

Regencial

(1831-1834)

Período

Regencial

(1834-1840)

Segundo

Reinado

(1840-1889)Partido

Português

Restauradores Conservador ou

Regressista

Conservador

Partido

Brasileiro

Moderados Liberal ou

Progressista

Liberal:

moderados e

64

radicaisExaltados 1870: fundação

do Partido

Republicano.

Esses partidos políticos eram compostos principalmente pelos

membros da elite brasileira, uma vez que a constituição em exercício

era a mesma, e lembremos que esta determinou que o voto era

censitário. Assim apesar das alterações políticas advindas com o

período regencial, as camadas populares continuaram marginalizadas do

poder político.

A crise econômica não foi superada durante as regências, o

latifúndio continuou a dominar a estrutura fundiária do país, e a

elite continuou a defender a manutenção da escravidão. Esses fatores

contribuíram para a eclosão de rebeliões, pois estas eram sintomas do

desajustamento social e político que o país passava desde o início do

século XIX. Assim, o período regencial foi caracterizado pela

intranqüilidade política, uma vez que as rebeliões ameaçavam os

interesses da elite.

Durante a década de 30, havia uma guerra civil no país. Muitas

províncias brasileiras foram palco de levantes armados, nas quais

fazendeiros, tropas, pequenos proprietários, índios, homens livres

pobres e escravos lutaram contra a centralização do poder ou contra à

pobreza e a escravidão. A exemplo temos a Cabanagem , no Pará, a

Balaiada, no Maranhão, a Sabinada, a Revolta dos Malês e a

65

Cemiterada, na Bahia, a Farroupilha no Rio Grande do Sul e a Rusga,

em Mato Grosso.

Assustados com as rebeliões, o governo regencial criou a Guarda

Nacional. A Guarda Nacional era uma milícia composta por cidadãos em

armas, isto é, os senhores de escravos auxiliados pelos seus

capangas, teriam a responsabilidade de conter as revoltas, cabia a

eles a manutenção da ordem.41

Foi neste contexto histórico, que aconteceu a Rusga.

Esse movimento social ocorrido em Mato Grosso, em 1834 , teve a

sua origem na disputa pelo poder entre os liberais e os

conservadores. Os conservadores possuíam entre os seus membros muitos

portugueses, defendiam a centralização e se reuniam na Sociedade

Filantrópica. No inicio do ano de 1834, a província de Mato Grosso

tinha na sua presidência, o conservador, Antônio Maria Correa.

Os liberais por sua vez, pregavam a descentralização e

participavam da Sociedade dos Zelosos da Independência. Havia no

partido duas facções; os moderados que desejavam afastar os

portugueses dos cargos públicos e os exaltados, que apoiavam os

moderados no tocante aos portugueses, mas as suas reivindicações iam

mais além, ou seja, não aceitavam que os Presidentes de Província

fossem nomeados pela Regência, e em diversas ocasiões chegaram a

contestar a figura de D.Pedro e o sistema monárquico.

Os liberais almejavam o poder e sabiam que a população estava

bastante insatisfeita, pois viviam em extrema miséria e além disso,

culpavam os conservadores pela sua péssima condição social. As

camadas populares tinham também muita aversão aos portugueses, pois

41 Priore, Mary Del., O Livro de Ouro da História do Brasil, p. 235.

66

estes eram proprietários de estabelecimentos comerciais e vendiam os

seus produtos a preços exorbitantes à população.

Na verdade, segundo o Visconde de Taunay em sua obra “A cidade

do ouro e das ruínas”, a aversão aos portugueses já existia em Mato

Grosso desde o período da independência. Na Província havia muitos

portugueses, e estes tornaram-se alvos da malquerença, pois dominavam

o comércio local, e de acordo com a Constituição de 1824 possuíam

direito a cidadania, e muitos tinham influência política.42

Assim os liberais, tendo a frente João Poupino Caldas inflamaram

mais ainda o povo contra os portugueses, que eram chamados pela

população de “brasileiros adotivos” ou de “bicudos” . Habitualmente

se ouvia pelas ruas de Cuiabá, a população gritando “embarca bicudo,

embarca, embarca, canalha vil, que os brasileiros não querem bicudos no seu Brasil.”

Entretanto esse sentimento não era específico aos portugueses,

na verdade havia na Província uma aversão aos estrangeiros.

Com o objetivo de derrubar os conservadores do poder e usando

esse sentimento de xenofobia, o liberal João Poupino Caldas buscou a

apoio das camadas populares para a causa do Partido Liberal. Para o

povo, os liberais representavam a solução para a crise econômica e

social.

Diante da forte crise política, Antonio Correa da Costa foi

afastado das suas funções pelo Conselho da Província, que indicou em

28 de maio de 1834, João Poupino Caldas, como Presidente da Província

de Mato Grosso.

A posse de João Poupino Caldas não trouxe as mudanças esperadas

ocorrendo com isso uma cisão no partido liberal. O povo por sua vez

ficou extremamente descontente e via em Poupino Caldas um traidor.42 Povoas, Lenine, História Geral de Mato Grosso, p. 202.

67

Assim os liberais exaltados contando com o apoio das camadas

populares saíram às ruas na noite do dia 30 de maio de 1834. Os

liberais exaltados, o povo e até mesmo alguns soldados da Guarda

Nacional se reuniu no Campo do Ourique (antiga Assembléia Legislativa

do Estado de Mato Grosso) iniciando a Rusga.

João Poupino Caldas ao receber a notícia da revolta pediu ao

bispo de Cuiabá, D. José Reis, que tentasse conter a fúria popular. O

bispo atendendo ao pedido do governante foi ao Campo do Ourique

portando um crucifixo com a intenção de exorcizar o povo. Tal atitude

mostrou que o religioso não via que a revolta da população tinha as

suas raízes nas estruturas sociais e econômicas existentes na

Província. Apesar de todos os esforços, e do seu prestígio social e

religioso, D. José não foi capaz de conter a fúria popular.

A população então partiu sobre o comando do liberal Antonio

Patrício da Silva Manso, tomaram o Quartel dos Municipais,

apoderando-se das armas e munições, e por volta meia noite gritavam

pelas ruas de Cuiabá, “morte aos bicudos”.

A medida que os rebeldes avançavam, muitos portugueses e

brasileiros abastados foram assassinados. Depois de tomar Cuiabá, os

rebeldes avançam em direção a Chapada dos Guimarães, Poconé e Santo

Antonio do Rio Abaixo.

O movimento durou de maio a setembro de 1834, e somente foi

controlado com a posse de Antonio Pedro de Alencastro, na presidência

da Província..

68

Em 1837, Poupino Caldas foi assassinado, entretanto, o seu

processo crime foi arquivado, pois o chefe de policia não encontrou

os responsáveis pelo crime.

Segundo Madureira Siqueira, a repressão ao movimento demorou e a

justiça somente veio tomar conhecimento depois de três meses. Essa

omissão se deu porque João Poupino Caldas, um dos revoltosos e

insufladores do povo assumiu a direção da Província e pertencia ao

partido liberal. Para a justiça, a rusga foi motivada por um grupo de

subversivos, de inimigos da Pátria e da ordem pública.43

Capitulo 8: Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870)

Durante o Segundo Reinado, a política externa brasileira esteve

direcionada para garantir a paz interna nos países do Prata, onde

tínhamos interesses econômicos a defender, e em assegurar a livre

navegação da bacia Platina, o acesso mais rápido e seguro para chegar

a Província de Mato Grosso.

Buscando atender os seus objetivos, o governo brasileiro

promoveu intervenções armadas na Argentina e no Uruguai, e ainda

levou o Brasil a uma guerra contra a República do Paraguai.

A Guerra do Paraguai provocou a morte aproximadamente de 130 mil

pessoas, aumentou consideravelmente a dívida externa brasileira, pois

o Brasil gastou nos campos de batalha 614 mil réis, o equivalente a

onze vezes o orçamento do governo imperial.

43 Siqueira, Elizabeth Madureira. A Rusga em Mato Grosso:edição critica de documentos históricos, v.1, p.15.

69

Os historiadores até hoje não chegaram a um consenso sobre a

Guerra do Paraguai. Há aqueles que defendem que a guerra foi motivada

pelos interesses do capitalismo inglês, que usou o Brasil, a

Argentina e o Uruguai para destruir o Paraguai.

Na década de 80, do século XX, os trabalhos acadêmicos revelavam

que a guerra estava associada ao processo de construção e

consolidação dos Estados Nacionais do Rio do Prata, e descartavam a

participação da Inglaterra no aniquilamento do Paraguai.

Entretanto, ao analisarmos os últimos vestibulares e provas de

concursos públicos constatamos, que as questões são formuladas

baseadas na primeira vertente historiográfica, isto é, aquela que

relaciona o conflito bélico ao imperialismo inglês. Desta forma,

abordaremos a Guerra do Paraguai seguindo este modelo

historiográfico.

Paraguai: Desenvolvimento Autônomo.

Em 1814, o Paraguai ficou independente e ao contrário do Brasil

que adotou a monarquia, fez a sua opção pela República.

O governo republicano no Paraguai foi consolidado através de

ditaduras, que trouxeram desenvolvimento e modernização ao país.

Inicialmente, o Paraguai foi governado por José Gaspar de Francia,

que extinguiu a escravidão, conferiu liberdade religiosa e

diversificou a agricultura. Durante o seu governo, as terras

improdutivas da elite e do clero foram confiscadas para a reforma

agrária.

70

Carlos Lopes, deu continuidade a política de desenvolvimento

empreendida na gestão anterior, com isso construiu estradas de ferro,

linhas telegráficas e estaleiros. Aboliu as restrições à navegação

internacional nos rios que cruzavam o território paraguaio. Desta

maneira, em 1857, o governo paraguaio permitiu que navios brasileiros

chegassem a Província de Mato Grosso através da navegação do rio

Paraguai (livre navegação da Bacia Platina).

Após Carlos Lopes, o seu filho, Francisco Solano Lopes assumiu o

governo do Paraguai. Solano Lopes deu continuidade a uma política

econômica voltada para o desenvolvimento autônomo do país. Para isso

dinamizou a lavoura de algodão, concedeu isenção de impostos

alfandegários para máquinas e equipamentos importados. Logo podemos

assegurar que o Paraguai se despontava como uma nação auto-

suficiente.

Esse modelo de desenvolvimento entrava em choque com os

interesses econômicos da Inglaterra. Assim tornou-se estratégico para

o capitalismo inglês, a destruição do Paraguai.

A Guerra

Em 1850, Brasil e Paraguai afirmaram um tratado, no qual

estabeleceram o compromisso de defender a independência do Uruguai.

Porém, em agosto de 1864, o Brasil ameaçou de invadir o Uruguai para

derrubar o governo de Aguirre.

Ao saber da intenção do governo brasileiro, Solano Lopes,

presidente do Paraguai, informou ao governo imperial, que a invasão

colocava em risco o equilíbrio político do Prata.71

O governo brasileiro ignorou o posicionamento de Solano Lopes, e

em setembro de 1864, o Brasil invadiu o Uruguai.

Diante desta situação, o Paraguai reagiu, e em novembro deste

mesmo ano, Solano Lopes aprisionou a navio brasileiro “Marquês de

Olinda”, que trazia a bordo o novo presidente da Província de Mato

Grosso, Frederico Carneiro de Campos. A seguir, o governo paraguaio

declarou guerra ao Brasil.

No mês seguinte ao aprisionamento do navio brasileiro em

Assunção, Solano Lopes ordenou a invasão da Província de Mato Grosso.

O ditador paraguaio tinha informações que a província militarmente

estava indefesa e que as forças militares brasileiras eram precárias.

Contando com a participação de 9.000 soldados, as forças

paraguaias tomaram Corumbá, o Forte de Coimbra, Dourados. Miranda e

Nioaque.

Repercussões da Guerra na Província de Mato Grosso

Segundo a historiadora, Luiza Volpato em sua obra Cativos do Sertão,

a Guerra da Tríplice Aliança alterou substancialmente o cotidiano da

Província ao provocar na população o medo, a fome e uma violenta

epidemia de Varíola.

Ao tomar conhecimento da tomada de Corumbá pelas tropas de

Solano Lopes, a população da província teve muito medo, pois os

paraguaios eram vistos pelos mato-grossenses como bárbaros.

Assim acreditando na possibilidade de uma invasão paraguaia a

Cuiabá, Augusto Leverger, o Barão de Melgaço, organizou uma expedição

de homens denominada de “Voluntários Cuiabanos”. Essa expedição se72

dirigiu a Colina de Melgaço para aguardar os paraguaios, entretanto,

estes não vieram. Ao retornar a Cuiabá, os voluntários foram

recebidos como heróis pela população.

A guerra trouxe também muita insegurança com relação aos

escravos, pois em conseqüência da falta de soldados, os brancos

temiam uma rebelião. Além disso, as autoridades policiais eram

alertadas sobre os ataques dos negros do quilombo do Rio do Manso, em

Chapada dos Guimarães. Os negros deste quilombo habitualmente

assaltavam sítios e fazendas nas imediações de Cuiabá e de Chapada

para roubar mulheres.

O quilombo do Rio do Manso tornou-se também bastante temido

devido a presença de desertores da guerra. Esses desertores eram

soldados que fugiam do acampamento militar, eram procurados pela

justiça e por segurança refugiavam-se no quilombo do Rio do Manso.

Outra situação difícil para a população foi o aumento

exorbitante do preço dos alimentos. Com a tomada de Corumbá e

conseqüentemente com o bloqueio da Bacia Platina, a província ficou

isolada não recebendo mais mercadorias. A população se viu então

privada de muitos produtos, como por exemplo, o sal.

Em conseqüência do seu alto preço, os comerciantes agindo com

esperteza passaram a vender salitre no lugar do sal, com a intenção

de esperar que o produto encarecesse mais para obter mais lucro. O

governo provincial ao tomar conhecimento deste fato, resolveu

confiscar o sal que estava em posse dos negociantes.

Para agravar mais ainda a fome da população, em janeiro de 1865,

as águas do rio Cuiabá transbordaram destruindo as roças de

subsistência localizadas nas proximidades das margens do rio. A

situação somente foi contornada, quando a Bolívia assumiu junto ao73

governo brasileiro a responsabilidade de abastecer de alimentos a

Província. Essa notícia foi muito bem recebida, pois a população

mato-grossense temia que a Bolívia apoiasse o governo paraguaio.

Em 1867, as forças brasileiras retomaram Corumbá, entretanto,

foi durante este acontecimento que soldados do Exército brasileiro

foram conduzidos a Cuiabá por estarem demasiadamente doentes.

Ao chegar a Cuiabá, os soldados foram enviados à Santa Casa de

Misericórdia. O médico atendente não conseguiu pelos sintomas

diagnosticar a moléstia, e somente após o falecimento dos doentes,

que os médicos constaram que tratava-se da varíola. Porém era tarde

demais, a enfermidade se propagou pela cidade afetando os seus

moradores.

Infelizmente, o poder público não teve tempo de organizar

cordões sanitários, e uma das alternativas encontradas para conter o

surto epidêmico foi construir um cemitério para abrigar as vítimas da

bexiga, o Cemitério de Nossa Senhora do Carmo, chamado pelos

populares de Cae-Cae. A seguir, o texto abaixo nos demonstra os

efeitos que a doença provocou no comportamento dos cuiabanos.

Com a propagação rápida da doença, a população teve o seu cotidiano alterado de

maneira trágica e violenta, justificou todo o seu sofrimento e tanta desgraça como castigo de

Deus. O bispo de Cuiabá, D. José Reis preparou os fiéis para uma procissão que percorreu

todas as casas onde havia um doente. A doença não escolhia sexo, a condição social do

individuo e quanto menos a idade, afetando portanto crianças, jovens e idosos. Famílias

inteiras faleceram vitimas da bexiga, fazendo com que a policia arrombasse as portas de

diversas casas e encontrassem no seu interior todos os seus membros mortos e os corpos em

estado adiantado de putrefação. 44

44 Cavalcante, Else Dias de Araújo, Imagens de uma epidemia, p.38

74

A varíola dizimou uma parcela significativa da população mato-

grossense, contudo a documentação do período não revela com exatidão

o número de vitimas. De Acordo com Joaquim Moutinho, cronista que

viveu e sentiu na pele a dor provocada pela doença45, o quadro

estatístico apresentado pela polícia não era preciso, pois era

fundamental para as autoridades governamentais da Província esconder

do governo central a realidade, pois a revelação do número exato dos

mortos denunciava a inoperância destas autoridades.

O desfecho e as conseqüências do pós-guerra

Em 1867, o comando das forças aliadas estava com Caxias. Foi

neste momento, que um surto de cólera, impediu o avanço das forças

aliadas sobre o Paraguai. Um pequeno destacamento de soldados tentou

invadir o Paraguai através do Mato Grosso, atingindo Laguna. Porém as

dificuldades encontradas como a falta de abastecimento e o medo da

cólera fizeram a tropa recuar. Perseguida pelos paraguaios, a coluna

em fuga perdeu muitos homens vítimas da cólera.

A partir de 1868, os ataques do exército brasileiro e da marinha

se intensificaram, e em 1869 já era evidente a perda do Paraguai. No

ano seguinte, Caxias pediu afastamento do conflito e foi substituído

pelo Conde D’Eu, que conduziu os soldados brasileiros até ao final do

combate.

Em 1870, as tropas brasileiras tomaram a acampamento de Solano

Lopes em Cerro Cora. Esse embate ocasionou na morte do ditador

paraguaio e conseqüentemente encerrou o conflito bélico.45 Moutinho perdeu uma filha durante a epidemia.

75

Como resultado do fim da guerra, a Província de Mato Grosso

passou por muitas transformações, pois a reabertura da bacia Platina

permitiu que a Província participasse do capitalismo internacional

através da exportação de produtos do extrativismo vegetal e da

pecuária, e da importação de produtos industrializados. Segundo a

historiadora Edil Pedro so em sua obra “O cotidiano dos viajantes nos caminhos

fluviais de Mato Grosso (1870-1930), nesse período o trânsito de embarcações

brasileiras e estrangeiras pelo rio Paraguai tornaram-se

corriqueiras, pois a navegação da bacia Platina passou a ser o

principal caminho por todos aqueles que queriam chegar e sair da

Província de Mato Grosso.

A rota fluvial que atendia Mato Grosso tinha nos rios Cuiabá e

Paraguai, os seus principais percursos. Os navios ao saírem de

Cuiabá, atingiam o São Lourenço e a seguir o Paraguai, o Paraná, e

daí o Oceano Atlântico. Ao sair de Cáceres, a viagem era feita pelo

rio Paraguai e a seguir o Paraná, e depois através do Oceano chegavam

a Corte. As embarcações que seguiam esses caminhos eram grandes,

enquanto as que navegavam do Prata a Corumbá eram médias, contudo

confortáveis, e as embarcações que iam para o interior da Província

de Mato Grosso eram vapores menores.46

A navegação do Prata promoveu o surgimento de uma burguesia

comercial, proprietária de Casas de Comércio, que surgiram

principalmente nas cidades portuárias como Cuiabá, Cáceres, Corumbá,

Porto Murtinho, Bela vista e Ponta Porã.

46 Silva, Edil Pedroso, O Cotdiano dos viajantes nos caminhos fluviais de Mato Grosso (1870-1950)

76

As casas de comércio negociavam diversos artigos importados como

tecidos, móveis e brinquedos, e ao mesmo tempo comercializavam os

produtos mato-grossenses.

Assim a livre navegação da bacia Platina representou para a Mato

Grosso uma alternativa de superar a debilidade econômica. Além disso

juntamente com as mercadorias, idéias vindas de outros centros eram

consumidas. Por exemplo, os cuiabanos passaram a confeccionar os seus

trajes e a decorar as suas residências seguindo os padrões de Buenos

Aires e Montividéo.47

Outra mudança provocada pela guerra foi o aumento territorial da

Província, pois ao término da guerra, a Argentina e o Brasil tomaram

posse de áreas territoriais do Paraguai, para ser mais preciso, o

Paraguai perdeu 150 000 Km² de seu território.

A guerra exterminou a população guarani, ao iniciar o conflito

armado o país contava aproximadamente com 800 000 habitantes, quando

terminou, restavam 200 000.

A sua economia que anteriormente era próspera estava agora

totalmente debilitada, o seu parque industrial foi totalmente

destruído, as riquezas do extrativismo vegetal foram cedidas a

empresas estrangeiras, as terras públicas usadas pelos camponeses

foram vendidas a ingleses, holandeses e aos norte-americanos. Diante

da terrível conjuntura, muitos paraguaios migraram para a Província

de Mato Grosso em busca de esperança, de uma vida melhor.

Em Mato Grosso, muitos desses paraguaios foram tratados pela

população e até mesmo pelas autoridades governamentais como a escória

da sociedade. Para os agentes da imigração, as paraguaias eram

47 Volpato, Luiza.,Cativos do Sertão, p.44.

77

mulheres perdidas, de baixa espécie, consideradas as fezes da

sociedade mato-grossense.48

Apesar da reabertura da bacia Platina, a modernização da

Província aconteceu lentamente, pois além da resistência ao novo, não

podemos esquecer das precariedades econômicas de uma província pobre

e dependente do governo imperial. Na verdade, “o que se pode assistir foi um

processo onde as desigualdades sociais iam ficando cada vez mais explícitos, mais

contrastantes senhores que podiam ostentar sobrados bem decorados em contraposição a

uma maioria de livres pobres, libertos e escravos que habitavam casas rústicas, de paredes

de adobe e destituídos dos mais elementares princípios de civilidade.”49

Capítulo 9: A cidade de Cuiabá na segunda metade do século XIX

Cuiabá, por volta de 1870, crescia de forma desordenada. Esse

crescimento era resultado das migrações internas e de paraguaios, que

entravam na Província a procura de emprego, de uma nova oportunidade.

A população pobre da cidade construía as suas casas á margem

direita do Córrego da Prainha. Já a esquerda, no alto da Colina do

Rosário, as residências eram mais espaçadas. Mais tarde surgiram

novas ruas e caminhos ligando Cuiabá ao Coxipó da Ponte e a freguesia

de Santo Antonio do Leverger.

Na área central da cidade, surgiram sobrados de ricos senhores e

prédios públicos onde funcionava a Câmara Municipal, a Tesouraria

Provincial, o Correio, o Comando das Armas, a Repartição da Polícia e

o Palácio Presidencial.

48 Siqueira, Elizabeth, Luzes e Sombras, p.66.49 Machado, Oswaldo, Ilegalismos e Jogo de Poder, p. 36-37.

78

As ruas centrais possuíam nomes ligados aos heróis, as datas

comemorativas, porém os moradores da cidade continuavam a denominá-

las, como no período colonial, isto é, rua de Cima. Rua de Baixo, rua

do Meio, dentre outros.

As residências mais elegantes estavam localizadas na rua Bela do

Juiz (hoje, 13 de Junho). Essa rua começava no largo da Matriz e se

prolongava em direção ao distrito de São Gonçalo de D. Pedro II.

Com a expansão populacional, novos bairros surgiram nas

imediações da área central da cidade, como por exemplo, a Mandioca, o

Baú, o Lavapés e o Mundéu.

Na década de 70, Cuiabá já possuía distritos afastados, mas que

faziam parte de sua jurisdição judiciária e policial, como o Barbado,

o Coxipó e o São Gonçalo Velho. As vilas ou freguesias rurais também

faziam parte do Termo de Cuiabá Nossa Senhora do Rosário, Nossa

Senhora de Brotas, Nossa Senhora da Guia, Santo Antonio do Rio

Abaixo, Santana da Chapada dos Guimarães e Nossas Senhora do

Livramento.

Paralelamente ao crescimento populacional, os relatórios da

autoridades governamentais e dos chefes de Polícia apontavam o

crescimento da violência e da criminalidade. O aumento da

criminalidade relacionava-se a falta de empregos, a crise do sistema

escravista, ao retorno de batalhões inteiros com o fim da guerra, e a

entrada de imigrantes pobres, principalmente do Paraguai.50

Com relação a sua organização social, a elite local era composta

de comerciantes que se dedicavam ao comércio da importação e

exportação, como também, de grandes proprietários de terras e de

50 Idem, op.cit, p.12.

79

escravos. Os altos funcionários públicos civis e as altas patentes

militares também pertenciam a este segmento social.

No estrato intermediário da sociedade, havia os oficiais

militares em inicio de carreira, os médicos, que aliás eram poucos,

os dentistas, os advogados, os magistrados, os chefes de Policia,

promotores e membros do clero.

Mais abaixo, tínhamos os pequenos comerciantes, os taverneiros e

os pequenos sitiantes. No entanto, havia aqueles que estavam mais

abaixo ainda, como os livres pobres e os escravos.

A livre navegação beneficiou as camadas sociais mais

favorecidas, pois passaram com freqüência a viajar para o Rio de

Janeiro, de onde voltavam trazendo inúmeras novidades, modificando a

sua maneira de vestir e seus hábitos. Assim a elite cuiabana passou a

nortear a sua vida segundo os valores difundidos na Corte.

A influência da Corte podia ser sentida até mesmo nos momentos

de lazer, pois para se divertir a elite cuiabana passou a organizar

saraus, nos quais se tocavam piano, recitavam poesias, de preferência

as de poetas francesas e dançavam valsas.

Outra forma de diversão encontrada foi o teatro. Em 1877 foi

inaugurada em Cuiabá, a sociedade Dramática “Amor e Arte”. Era uma

sociedade particular que contava com 62 sócios de camarotes e 98

sócios de platéia. As peças eram encenadas com a participação de

integrantes da elite.

Mesmo com todas as mudanças ocorridas após a Guerra do Paraguai,

“as autoridades governamentais e os viajantes estrangeiros que chegavam a Província,

mostravam-se bastante perplexos com Cuiabá ao constatarem que a cidade ainda não

dispunha de uma infra-estrutura digna das metrópoles mais civilizadas, como o calçamento

de ruas e passeios, matadouro público, saneamento e limpeza de ruas e córregos,80

iluminação nos bairros pobres e distritos mais afastados,água potável encanada e uma

moderna cadeia publica”51

Ainda no tocante a população cuiabana, vale ressaltar, que

segundo Moutinho, cronista português que viveu em Cuiabá nesse

período, as mulheres da elite ao saírem de casa trajavam vestidos de

seda, adquiridos a preços exorbitantes nas Casas de Comércio. Essas

mulheres tinham o seu cotidiano dividido entre as tarefas domesticas,

o cuidado com o marido e a educação das crianças. Iam a bailes, as

festas de casamento e a Igreja.

Já as mulheres livres pobres e as escravas freqüentavam as

tavernas, envolviam-se em brigas pelas ruas e becos sendo muitas

vezes detidas pelo chefe de Polícia. Eram presas também por estarem

embriagadas ou por dançarem o batuque, que era visto pelas

autoridades e pela elite local, como uma dança imoral. As mulheres

livres circulavam livremente pelas ruas e ocupavam as mais variadas

atividades para manter a sua sobrevivência.52

Concluindo esse capitulo, apresentaremos as principais

características da população da Província de Mato Grosso após a

guerra e com a reabertura da bacia Platina: 1. Predomínio da

população mestiça e negra sobre a população cabocla e branca; 2.

Presença mínima de estrangeiros; 3. Predomínio da população de

solteiros sobre os casados; 4. Equilíbrio entre a população masculina

e a feminina, embora em 1890, essa situação tenha se alterado, a

população feminina tornou-se mais numerosa.53

51 Ibidem, p.17.52 Cavalcante, A sífilis em Cuiabá, p.133.53 Peraro, Maria Adenir, Bastardos do Império, p.94.

81

Capitulo 10: Quadro econômico de Mato Grosso (1870/1930)

A reabertura da bacia Platina possibilitou a integração do Mato

Grosso ao capitalismo internacional. Através da navegação fluvial, a

Província exportava produtos da pecuária e do extrativismo vegetal, e

também recebia produtos industrializados. Na visão da elite mato-

grossense, a navegação da bacia Platina representava a oportunidade

para a Província superar a crise econômica.

Além da liberdade da navegação, havia outros fatores que

favoreciam o desenvolvimento econômico da Província, como por

exemplo, o crescimento populacional ocorrido a partir de 1870, a

riqueza do extrativismo vegetal e a existência de terras férteis.

Assim o território de Mato Grosso se tornava um atrativo para muitos

investidores.

No entanto, para estes empresários e para segmentos da elite

local, o atraso da província era justificado em função da falta de

iniciativa da sua população.54Portanto, na visão destes segmentos

sociais a solução era a importação de mão-de-obra.

A elite mato-grossense não estava solitária diante deste

posicionamento, pois estas idéias circularam também nas províncias da

região sudeste. Essa postura relacionava-se a crise do escravismo,

uma vez que em conseqüência da expansão do capitalismo, o governo

imperial era cada vez mais pressionado para acabar com a escravidão.

Na segunda metade do século XIX, a sociedade brasileira se

dividiu com relação a escravidão. Havia três correntes que se

destacavam: os emancipacionistas, defensores de uma extinção lenta e

gradual da escravidão; os abolicionistas que propunham uma libertação54 Volpato, Luiza, Cativos do Sertão, p.24.

82

imediata e os escravistas, que defendiam o sistema escravista. Os

abolicionistas pregavam a baixa produtividade do trabalho escravo, e

ainda utilizavam argumentos baseados nos direitos naturais, isto é,

de que toda pessoas tem direito à liberdade

Desta maneira, podemos assegurar que no decorrer da segunda

metade do século XIX, a escravidão centralizou os debates políticos,.

e a partir de 1850, que a idéia de que o trabalho escravo era a única

forma de trabalho possível, começou a entrar em declínio.

Para muitos fazendeiros da região sudeste, a saída para a

superação desta crise era a importação de mão-de-obra. Essa

experiência foi feita inicialmente, na década de 40, pelo senador

Vergueiro, que introduziu trabalhadores europeus em suas fazendas de

café. Mas foi somente em 1884, que o governo imperial aprovou a

“imigração subsidiada”, isto e´, o governo passou a financiar a vinda

de imigrantes europeus. Anteriormente, as passagens, o gastos de

viagem eram pagas pelos fazendeiros, portanto, tornavam os imigrantes

dependentes dos proprietários de terras, o que favorecia o surgimento

de conflitos.

Em Mato Grosso, a imigração foi defendida primeiramente pelo

presidente da Província, Francisco José Cardoso Junior, que em

correspondência ao Ministério do Império, argumentou que a debilidade

econômica da província era resultante do desânimo da população de

Mato Grosso, e opinou que a melhor saída era a vinda de colonos.55

Entretanto, a organização da imigração em Mato Grosso, se deu de

forma mais ativa, a partir da aprovação da Lei do Ventre Livre em

55 APMT-Oficio do Presidente da Província de Mato Grosso, Francisco José Cardoso Júnior ao Ministro e Secretario de Estado dos Negócios do Império. Cuiabá, 12 de Agosto de 1871.

83

1871. Assim, na década de 80, período em que se aprofunda a crise da

escravidão, se acentuou a transição do trabalho escravo para o

trabalho livre.

Em Mato Grosso a intensificação da imigração ocorreu ao final da

década de 80, com “a penetração de empresas colonizadoras privadas. Esforços

imigratórios, rumo ao Mato Grosso, tinham como alvo as populações que habitavam as

repúblicas vizinhas à província, especialmente os paraguaios.” 56

Logo, foi durante esse processo de transição do trabalho escravo

para o trabalho livre, que a província passou a exportar produtos do

extrativismo vegetal e da pecuária. A seguir, abordaremos os

principais produtos da economia mato-grossense.

1. Cana -de- Açúcar

Desde o início da colonização de Mato Grosso, a cana-de-açúcar

já se despontava como um dos produtos mais importantes para a

sobrevivência da população, que se dedicava a extração do ouro.

Cultivada em engenhos às margens do rio Cuiabá, em Serra Acima e em

Rio Abaixo, a produção dos engenhos visava o abastecimento de um

mercado interno.

Contudo, a partir da segunda metade do século XIX, a cana-de-

açúcar se tornou um dos principais produtos da economia mato-

grossense. A importância da produção açucareira estava associada a

abertura da bacia Platina, uma vez que com a livre navegação, os

proprietários de terras passaram a importar máquinas e equipamentos

para a instalação de usinas.

56 Siqueira, Elizabeth Madureira, Luzes e Sombras, p.65.

84

As usinas estavam localizadas nas margens dos rio Cuiabá e do

rio Paraguai. Entretanto foi principalmente às margens do rio Cuiabá

que se encontrava as mais importantes. Tal fato estava relacionado, a

facilidade do transporte do produto, bem como, as vantagens ofertadas

pela natureza, pois as inundações provocadas pelas águas do rio, no

período das chuvas, contribuíam para a fertilidade do solo na região

ribeirinha.

O plantio da cana-de-açúcar acontecia no mês de outubro, em

terras baixas e úmidas, pois as chuvas eram ainda escassas. Em

janeiro e março, período em que as chuvas eram abundantes, o cultivo

era feito nas terras mais altas.

As principais usinas de Mato Grosso(1870-1930) foram a de São

Gonçalo, da Conceição, Aricá, Flexas, Itaici, Maravilha, São Miguel,

São Sebastião, Tamandaré, localizadas às margens do rio Cuiabá, e da

Ressaca, às margens do rio Paraguai. Essas usinas contavam com

modernos equipamentos para o fabrico do açúcar, alambiques

aperfeiçoados para a destilação do álcool e da aguardente.

A produção média diária destas usinas era de 2000 a 5000 KG de

açúcar. Com essa produção, as usinas produziam para atender a demanda

interna e o mercado externo, comercializando com as demais províncias

brasileiras e com os países platinos.

Para manter o produtividade, além dos técnicos para o fabrico do

açúcar, era necessário a contração de trabalhadores para o cultivo da

cana. Assim a alternativa encontrada pelos usineiros foi adotar o

trabalho assalariado baseado na produção. A seguir, abordaremos as

principais usinas.

A Usina da Ressaca85

A usina era de propriedade de Joaquim Augusto Costa Marques,

governador de Mato Grosso, no período da república oligárquica.

Estava situada em Cáceres, e a 3 Km do rio Paraguai.

Em 1912, a sua produção chegou a 180.000 Kl de açúcar e de 90.

000 de aguardente. Para atingir essa produção, a usina contava com um

gerador de vapor composto por duas caldeiras. Neste período, tanto a

usina como as suas dependências eram iluminadas com luz elétrica.57

Nas margens do rio Paraguai, a usina possuía um porto de

embarque e desembarque, com deposito para produtos e mercadorias.

Havia na propriedade uma boa casa, que hospedava o seu

proprietário e convidados, grandes depósitos, casas para os

trabalhadores, oficinas de carpinteiro, de ferreiro e uma pequena

fundição de bronze.

Além da cana-de-açúcar, o proprietário plantava milho, feijão,

arroz, mandioca, banana e legumes. Criava também gado e fabricava

farinha de milho e de mandioca.

Usina de Itaici

Fundada em 1897, a usina estava localizada a margem direita do

rio Cuiabá, em Santo Antonio do Leverger, e pertencia a Antonio Paes

de Barros. No início do século XX, a propriedade foi adquirida pela

Almeida & Comp, cujos sócios eram o Coronel João Batista de Almeida

Filho, Amarilio de Almeida, dr. Alberto Novis, Antonio Augusto de

Azambuja e João Botocudo de Almeida.

57 Álbum Gráfico, p.273.

86

A usina possuía maquinas modernas e poderosas, que chegavam a

produzir 225 toneladas de açúcar.58 A semelhança das demais usinas,

Itaici produzia aguardente e tinha a sua produção enviada pela via

fluvial ate Cuiabá e Corumbá, de onde eram enviadas para o mercado

externo.

Havia na propriedade 45 habitações para os trabalhadores, uma

serraria e até uma farmácia, que atendia os seus moradores. Possuía

uma escola, que oferecia educação primaria. Também cultivavam cereais

para atender o consumo interno.

Usina da Conceição

Fundada por Joaquim Paes de Barros, ao final do século XIX, foi

a primeira usina de açúcar e de aguardente instalada em Mato Grosso.

Situada a margem direita do rio Cuiabá, um pouco acima de Santo

Antonio do Leverger, a propriedade contava com matas ricas em madeira

de lei, cortada por córregos e baias.

As máquinas da usina eram originarias da Inglaterra, tinha a

capacidade de produzir até 2400 litros de álcool e 200 arrobas de

açúcar em 12 horas.

Cultivavam o arroz, milho e feijão e criavam eqüinos e gado

bovino.

A propriedade contava com uma serraria, com depósitos para

armazenar a produção, com casa para os trabalhadores e uma casa

grande que abrigava os seus moradores.

Para transportar a cana-de-açúcar, havia carroças e embarcações.

58 idem,p.280

87

A produção era enviada para Cuiabá e Corumbá, e através da

navegação fluvial abastecia o mercado externo.

O trabalho nas Usinas

As usinas foram instaladas ao longo do rio Cuiabá, ao final do

século XIX, no momento em que a escravidão chegava ao fim. Assim

havia na região, mão-de-obra disponível para as usinas. Entretanto,

os usineiros reclamavam da disponibilidade de trabalhadores, alegando

que a escassez de mão-de-obra causava danos a produção.

Essa falta de braços para o trabalho estava relacionada a

vastidão de terras e a possibilidade da caça e da pesca para

sobrevivência. No entanto, a partir da segunda metade do século XX,

os homens pobres foram compelidos ao trabalho assalariado, pois a

ocupação das terras para o cultivo do açúcar e para a pecuária,

expulsou a população mais pobre das áreas próximas aos centros

urbanos, e além disso, surgiram proibições legais sobre a pesca no

rio Cuiabá, nas proximidades da cidade.59

As usinas dispunham de mão-de-obra fixa, mas no período de

safra, o usineiro contratava mais trabalhadores temporários.

Os camaradas (trabalhadores das usinas) residiam nas usinas e

cuidavam desde do cultivo da cana-de-açúcar até a produção do açúcar.

Estes trabalhadores eram demasiadamente explorados, tinha uma jornada

de trabalho extenuante, que se iniciava à meia noite e ia até as seis

da tarde.

Além disso, o trabalhador era espoliado pelo usineiro através do

“sistema de caderneta”. Os empregados eram obrigados a consumir os59 Aleixo, Lucia Helena Gaeta, Vozes no silêncio, p. 181.

88

produtos comercializados na venda da usina, que eram vendidos a

preços exorbitantes. Os produtos comprados eram anotados na

caderneta, porém o empregado não conseguia saldar as dívidas e desta

maneira, estava endividado e preso ao usineiro.

Os trabalhadores eram tratados como escravos, e quando resistiam

a dominação, desobedeciam os capatazes ou tentavam fugir eram

severamente castigados no tronco e a seguir trancados em solitárias.

O depoimento abaixo de um camarada da Usina de Aricá, demonstra

a dor, o sofrimento e a impotência dos trabalhadores com relação aos

mal-tratos dos patrões;

“A usina deu trabalho, deu vida pro pobre que não tinha comida.

Aí o homem virava bicho, só fazia geme e chora, para come tinha que inté suá sangue.

Tinha coroné que ajudava a gente, aguns era mardito, ruim, mandava bate e mata tudo

aqueles que não queria fica na usina pra trabalha. Nós pobre, sem nada pra vive, calava

com as morte, trabalhava, não tinha voz naquele silenço que defendesse nós. Delegado de

policia nem pensa, era afilhado ou coroné e nós trabalhava quieto, comia quieto, morria

quieto.”60

Desta foram, para controlar e disciplinar os trabalhadores, os

usineiros contavam com tropas de homens armados. Durante o período

republicano, a autoridade e o poder do usineiro ia além da sua

propriedade. Os usineiros eram detentores de força política, chegando

inclusive a nomear os delegados de polícia, que contribuíam para a

preservação do poder destes coronéis. Desta forma, os trabalhadores

60 Apud, Aleixo, Lucia, Vozes do Silencio, p164, 165.

89

sentiam vigiados e submetidos as ordens e aos desmandos dos

usineiros.

O poder dos usineiros (coronéis) começou a dar sinais de

declínio a partir de 1930, com a ascensão de Vargas à presidência da

República. Getulio Vargas deu inicio a uma política de combate ao

coronelismo, através da ação dos interventores federais. Para Mato

Grosso, o governo Vargas nomeou Mena Gonçalves, que combateu o regime

de escravidão existente nas usinas.

No entanto em Mato Grosso, esse poder iria se estender pelas

décadas seguintes e daria evidências de sua decadência somente quando

os segmentos sociais conseguiram se organizar em sindicatos,

associações ou federações, lutando pelos seus direitos e contra o

jugo dos coronéis.61

2. Poaia, Ipeca ou Ipecacuanha

A poaia, conhecida cientificamente como Cephaeles Ipecacuanha, é

um arvoredo encontrado no oeste de Mato Grosso, mais precisamente nas

bacias do rio Paraguai e Guaporé, cuja raiz é utilizada para fins

medicinais.

A raiz da poaia é rica em emetina, uma substância capaz de

tratar de algumas enfermidades do aparelho digestivo e do aparelho

respiratório.

Desde o século XVIII, os europeus já demonstravam o seu

interesse pela poaia, entretanto, foi somente a partir da segunda

metade do século XIX, devido a expansão industrial na Europa e

61 Madureira, Elizabeth Siqueira, O Processo Histórico de Mato Grosso, p.38.

90

conseqüentemente o aparecimento da industria farmacêutica, que a

poaia passou a ser extraída em larga escala.

No século XX, na década de 40, período em que o governo Vargas

patrocinou o desenvolvimento industrial do país, a poaia passou

também a atender a demanda interna.

A exploração da poaia era feita em matas fechadas, que eram

arrendadas a empresas de capital nacional e até mesmo a empresas de

capital estrangeiro.

No meio da área arrendada, era construída barracões para serem

guardados os mantimentos, como as ferramentas de trabalho. Havia

também ranchos, edificados para abrigar os trabalhadores.

Os trabalhadores eram contratados para fazerem a extração da

poaia. O contrato de trabalho era temporário, e ganhavam o seu

salário baseado na produtividade.

Trabalhavam somente no período das chuvas, e quando chegava a

seca, o trabalhador tinha que buscar outra alternativa de

subsistência. A saída de muitos deles era ir para Cáceres se empregar

nas fazendas de gado.

A labuta era muito cansativa, pois o ritmo de trabalho era de 10

a 12 horas diárias. Acordavam bem cedo, antes dos primeiros raios de

sol, faziam a primeira refeição e entravam na mata. Voltavam ao

rancho somente ao final da tarde carregando em uma mochila de couro,

a poaia extraída durante o dia.

Ao regressar secavam a poaia, e preparavam o seu alimento para o

jantar e a refeição para o dia seguinte.

Depois de extraída e em sacada, a poaia era transportada, em

lombos de animais até os rios, e através da navegação pela bacia

91

Platina, a ipeca ia abastecer o mercado externo, e posteriormente

(século XX), o mercado interno.

3. Erva- Mate

A erva mate (Ilex Paraguaiensis) tornou-se em um dos produtos

mais importante para a economia de Mato Grosso, ao final do século

XIX.

Os ervais eram encontrados ao sul de Mato Grosso, nas áreas

limitadas pelos rios Sete Voltas, Onças, Brilhante, Ivinhena, Paraná,

Serras do Maracaju e Amambahy.

Em 1878, Thomas Laranjeira arrendou terras ricas em ervais para

extrair a erva-mate. O interesse e a procura pela erva-mate cresceu

neste período, uma vez que os médicos em seus congressos defendiam

que a erva-mate era um excelente digestivo e poderoso como

afrodisíaco. Assim Thomas Laranjeira ao ganhar a concessão das terras

ao sul do Estado, fundou a Companhia Mate Laranjeira.

Thomas Laranjeira para fundar essa empresa contou com a

participação do Banco Rio e Mato Grosso. Além disso, Thomas

Laranjeira tinha como acionista, Joaquim Murtinho.

Joaquim Murtinho era um médico renomado, político de grande

expressão nacional, e durante a republica oligárquica chegou a ocupar

o ministério da Fazenda, do Governo de Campos Sales. Durante a sua

gestão, Joaquim Murtinho tomou medidas para desenvolver um rigoroso

programa deflacionário. Essas medidas tornaram a balança comercial

positiva, o câmbio elevou-se e a balança de pagamentos alcançou o seu

superávit, entretanto, as conseqüências sociais e econômicas internas

foram negativas, pois a quantidade de dinheiro em circulação foi92

drasticamente reduzida, gerando a carestia, o desemprego e a elevação

dos produtos de primeira necessidade. A deflação arrasou o comércio e

o credito bancário e as falências sucederam. Foi neste momento que

ocorreu a falência do Banco Rio e Mato Grosso, a maior acionista da

Mate Laranjeira.

Com a falência em 1902, o Banco Rio e Mato Grosso colocou a

venda as suas ações, que foram adquiridas por Thomas Laranjeira e

pelo empresário argentino Francisco Mendes. Desta maneira, a empresa

mudou a sua razão social passando a se denominar, Laranjeira, Mendes&

Companhia.

Thomas Laranjeira ficou encarregado de cuidar da extração do

mate no sul de Mato Grosso, enquanto Francisco Mendes da sua

industrialização em Buenos Aires. Na Argentina o mate era

beneficiado, isto é, as folhas e galhos eram reduzidos a pó e a

seguir enviadas para o mercado consumidor.

A Laranjeira e Mendes tornou-se uma grande empresa chegando a

ter uma renda seis vezes mais que o Estado de Mato Grosso.62 A empresa

tinha a seu serviço em media três mil trabalhadores, sendo a maioria

deles de paraguaios. Contava com o patrimônio de 500 carretas, 30

chatas, lanchas a vapor, muares, estradas de rodagem, pontes, 2

linhas Decauville com mais de 70 quilômetros de extensão.63

A empresa controlava a extração e a produção do mate,

monopolizando as terras no sul de Mato Grosso. No entanto, na década

de 30, do século XX, ocorreu a falência da Laranjeira, Mendes &

Companhia..

62 Siqueira, Elizabeth Madureira, O Processo Histórico, p.48.63 Álbum Gráfico, p 255.

93

A sua derrocada estava relacionada às diretrizes tomadas pelo

governo de Vargas. O governo federal estimulou a industrialização da

erva-mate, em Santa Catarina e no Paraná, e para isso beneficiou a

extração feita pelos pequenos produtores. E para estimular mais ainda

a produção do mate na região sul, o governo federal criou em 1938, o

Instituto Nacional do Mate.

Para piorar mais ainda a situação da Laranjeira e Mendes, o seu

maior comprador, a Argentina, passou a produzir o mate nas

províncias de Missiones e Corrientes.

O Trabalho e a produção do Mate

Como já foi mencionado, para a extração do mate, Thomas

Laranjeira preferia para trabalhar nos ervais da empresa os

paraguaios. Essa preferência estava associada, ao fim da Guerra do

Paraguai, pois uma das seqüelas deste conflito armado foi à migração

dos paraguaios para o Mato Grosso. Com a economia debilitada, muitos

paraguaios vinham buscar a sua sobrevivência em Mato Grosso,

sujeitando-se a trabalhar por um mísero salário.

Esses paraguaios empregados na extração do mate eram chamados de

mineros. Recebiam seus salários de acordo com a sua produção.

Entretanto ao receber os seus salários viam-se em dívida com a

empresa, pois os seus alimentos, vestimentas eram compradas no

armazém da empresa. Esse situação provocava descontentamentos e para

evitar a resistência dos trabalhadores, a empresa contava como uma

força paramilitar denominada de comitiveros.

O trabalho consistia na poda de um pequeno arvoredo que

raramente excede a 1,50 metros de altura. Os galhos eram cortados e94

transportados pelos trabalhadores aos ranchos do acampamento, aonde

eram torrados em fogo brando. A seguir eram ensacados e transportados

em navios a vapor até Buenos Aires. Anteriormente o transporte era

feito em chalanas (pequenas embarcações), em carretas puxadas por

bois através de uma via férrea de 25 km de extensão ligando Porto

Murtinho à Serra de São Roque.

A extração do mate acontecia nos meses de janeiro a agosto, no

restante do ano eram para a florescência das árvores.

4. Borracha

A borracha é o produto extraído de árvores como a mangabeira, a

maniçoba, a castilloa, a funtumia, a fícus e a Hevea.

Os espanhóis foram os primeiros europeus a entrar em contato com

a borracha. Ao chegarem na América, constaram que os nativos das

Antilhas e do México a utilizavam. Porém o primeiro registro deste

produto do extrativismo vegetal foi feito por Gonzalo Fernandes

d’Oviedo y Valdas, em sua obra Historia Geral das Indias . Nesta obra, o

espanhol registrou que os índios utilizavam a borracha para fazer uma

bola para jogar um jogo chamado por eles de Batey.64

Em 1731, a Academia de Paris organizou duas expedições

comandadas pó Lacondamine e Bougier, que se seguiu para o Equador. Ao

chegar em Quito, os viajantes colheram algumas mostras do látex e

enviaram para a França. Informaram também a existência da borracha no

rio Amazonas, e que os índios Mainas a usavam para confeccionar as

suas botas.

64 Álbum Gráfico, p. 248.

95

O interesse pela borracha, contudo, se daria a partir de 1840,

quando Goodyear descobriu como fazer a vulcanização da borracha.

Assim deu inicio a corrida pelo látex, encontrado nos rios da bacia

Amazônica e em Mato Grosso, nos rios que compõem a bacia Platina.

Em Mato Grosso, a extração da borracha aconteceu após a Guerra

do Paraguai, era extraído principalmente das mangabeiras, e foi

iniciada pelo Major José Vieira Coqueiro.

A industria extrativista trabalhava na sua extração nos

municípios de Santo Antonio do Rio Madeira, nos rios Machado, Jamary,

Jacy-Paraná, Mutum-Paraná, Paca Nova e Guaporé e seus afluentes, no

rio Madeira, até quase todo o município de Diamantino.65

A borracha extraída de Mato Grosso abastecia o mercado interno e

o mercado externo, e para isso o escoamento era realizado através da

bacia Platina.. No início do século XX, o governo brasileiro investiu

na construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré, para escoar a

borracha até o porto de Manaus, entretanto, devido as dificuldades

encontradas para a construção da ferrovia, o projeto não foi

finalizado.

O interesse pela borracha ao final do século XIX, provocou uma

intensa migração para Mato Grosso e Amazônia. Os migrantes vinham em

busca de trabalho, eram provenientes principalmente do nordeste, que

naquele período era assolado por uma terrível seca.

Esses migrantes geralmente saíam do nordeste contratados pelos

seringueiros. Tinham a sua passagem financiada pelos produtores de

borracha, com isso chegavam devendo e subordinados ao seringueiro.

65 Idem, p. 248.

96

Ao chegarem ao local de trabalho recebiam do seringalista

dinheiro para a aquisição de ferramentas de trabalho e de alimentos,

aumentando mais ainda a sua dependência ao patrão.

Ao chegarem a zona de extração do látex, os trabalhadores abriam

caminhos dentro da mata, recebiam as árvores, dando a seguir início a

extração. Para obter o látex faziam um corte no tronco da árvore,

colocavam uma caneca amarrada a árvore. Depois de executar essa

atividade, o trabalhador retornava recolhendo todo o látex. A próxima

etapa da produção era a coagulação do látex. Para realizá-la, era

usado o alumen, um produto químico que provoca o aquecimento do

produto permitindo a confecção de bolas. Essas bolas eram enviadas

para o mercado externo.

A extração do látex acontecia somente no período das secas, pois

as chuvas tornavam difícil o processo de coagulação. No período das

chuvas, o trabalhador não podia sair das áreas de extração, ficando

aguardando a seca, consumindo os produtos do armazém do patrão e se

endividando mais ainda.

O trabalhador recebia de acordo com a sua produção, assim ao

final do dia ao regressar ao acampamento, a sua produção era anotada

em uma caderneta, e ao final do mês recebia o seu salário. Ao acertar

o salário, o trabalhador praticamente nada tinha a receber, pois

tinha que pagar ao patrão as despesas feitas em seu armazém. Muitos

destes trabalhadores inconformados com essa exploração fugiam, porém

eram perseguidos pelos capangas dos seringalistas.

5. Pecuária

97

A pecuária contribuiu para o processo de colonização de Mato

Grosso. Inicialmente essa atividade econômica se desenvolveu como uma

economia complementar à mineração.

As primeiras fazendas de criação de gado surgiram em Chapada dos

Guimarães (Serra Acima) e abasteciam as minas de Cuiabá.

Posteriormente a criação de gado se estendeu a outras regiões da

Capitania de Mato Grosso, como o Pantanal, a São Pedro d’El Rey

(Poconé) e a Vila Maria de Cáceres (Cáceres).

A criação do gado era extensiva, isto é, solto nos pastos e

destinados para o corte. Nas fazendas, o gado era cuidado por homens

livres pobres, que recebiam salário. Os escravos ficavam incumbidos

de cuidar das tarefas domésticas na casa grande e nas roças de

subsistência.

Na segunda metade do século XIX, com a abertura da Bacia

Platina, a pecuária foi beneficiada, pois através da navegação

fluvial, a Província exportava para os países platinos e para as

demais províncias brasileiras o charque, o caldo de carne, o couro, a

crina e o sebo.

A produção do charque atendia também ao mercado interno, pois a

carne consistia em um dos produtos mais apreciados pela população de

Mato Grosso. Contudo, os médicos e as autoridades governamentais viam

com desconfiança essa preferência, pois a inexistência de um

matadouro ameaçava a saúde da população, pois o gado era abatido em

péssimas condições de higiene. As autoridades alertavam para a

prática de trancar o gado nos currais, pois sem água e sem pasto,

eram enviados ao abate sem nenhuma inspeção sanitária.66 Assim

66 Cavalcante, Else Dias de Araújo, A sífilis em Cuiabá, p.70.

98

alertados sobre o perigo do consumo da carne, a saída da população

era o consumo da charque.

No entanto foi somente no início do século XX, com a construção

da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, que a atividade da pecuária

passou a ser significativa para a economia mato-grossense. A estrada

de ferro ligava o sul de Mato Grosso a cidade de Bauru, no Estado de

São Paulo. Através dela, o gado era transportado para engorda em São

Paulo, aonde era abatido e beneficiado. A estrada de ferro acabou

ainda estimulando a pecuária no sul do Estado.

A criação do gado favoreceu o desenvolvimento da indústria do

charque. Umas das mais significativas foi Descalvado instalada as

margens do rio Paraguai, em Cáceres. A charqueada foi construída com

capital estrangeiro, e pertencia ao argentino Rafael Del Sar, que

mais tarde a vendeu para uma companhia belga. Posteriormente,

Descalvado foi comprada pela Brazil Land& Castle Packing Co,

associada ao Sindicato Facquhr, da Alemanha.

Além deste saleiro, Mato Grosso contou com o Saladeiro Miranda,

de propriedade da empresa de Montevidéu Deambrosio, Legrand & Cia, do

Saladeiro Tereré, nas proximidades de Porto Murtinho e o Saladeiro do

Barranco Branco, também perto de Porto Murtinho.67

O quadro abaixo apresenta os principais saladeiros de Mato

Grosso:

Bagoari, Corumbá e Rebojo Corumbá67 Álbum Gráfico, p.293.

99

Barranco Branco, Mato Grosso Porto MurtinhoAlegre CoximSão João PoconéCuiabá CuiabáPedra Branca Miranda Aquidauna AquidauanaCampo Grande, Rio Pardo e

Esperança

Campo Grande

Serrinha Três LagoasFonte: Borges(2001) Apud: Siqueira, Elizabeth, Historia de Mato

Grosso, p. 119.

Capitulo 11: Transição do Trabalho Escravo para o Trabalho Livre em

Mato Grosso

Na segunda metade do século XIX, a economia cafeeira estava em

franca expansão, favorecendo a industrialização, que acarretou o

crescimento desorganizado de cidades como São Paulo e o Rio de

Janeiro.

Neste período, muitos imigrantes europeus chegaram ao Brasil

atraídos pelo sonho de enriquecimento, de fazer a América. Vieram

trabalhar nas fazendas de café, aonde eram extremamente explorados e

logo perceberam que o sonho de enriquecimento estava bastante

distante, pois o acesso a terra tornou-se mais difícil com a

promulgação da Lei de Terras(1850), que estabeleceu que as terras

100

devolutas deviam ir a leilão. Assim a propriedade da terra tornou-se

inacessível ao homem pobre do campo.

Cansados da exploração dos fazendeiros, muitos imigrantes foram

para São Paulo trabalhar nas fábricas engrossando as fileiras dos

moradores dos cortiços. Essas moradias abrigavam os setores sociais

marginalizados, que viviam amontoados em péssimas condições de

higiene.

As transformações econômicas e sociais exigiam mudanças nas

relações de produção, provocando uma crise do sistema escravista.

Desta maneira, o governo imperial preocupou-se em atender os

diferentes posicionamentos sobre a extinção da escravidão.

Havia aqueles que eram partidários de um fim de escravidão

lenta e gradual, outros advogavam a libertação imediata e ainda havia

aqueles que defendiam a sua manutenção.

Além disso, a Inglaterra interessada na expansão do mercado

consumidor, pressionava o governo imperial para finalizar o tráfico

de escravos intercontinental.

Diante destas pressões, o governo imperial interessado em

atender aos diferentes interesses, iniciou a promulgação das leis

abolicionistas. Em 1850, foi aprovada a Lei Eusébio de Queiroz, que

estabeleceu o fim do tráfico de escravos, contudo foi somente em

1888, com a assinatura da Lei Áúrea que a escravidão chegou ao fim.

Essas alterações ocorridas na região sudeste acabaram repercutindo na

Província de Mato Grosso.

Em Mato Grosso, a aprovação da lei Eusébio de Queiroz não trouxe

transformações sensíveis, uma vez que o número de escravos existente

na província era suficiente. Além disso, a economia extrativista da

poaia, da erva-mate e da borracha, devido as suas particularidades,101

optou pelo trabalho do homem livre. Assim os escravos existentes eram

absorvidos na economia açucareira.

Para garantir o suprimento de mão-de-obra para os produtores de

açúcar foi necessário apelar para o trafico interprovincial de

escravos. O surgimento do tráfico interno de escravos estava

relacionado a proibição do tráfico intercontinental, pois com o fim

do abastecimento de escravos, as províncias do nordeste passaram a

abastecer as demais províncias brasileiras, solucionado o problema da

falta de mão-de-obra.

Em Mato Grosso, o governo para assegurar a mão-de-obra escrava

aos produtores de açucar chegou a estabelecer uma taxa de 30% sobre

cada escravo que fosse vendido a outra província.68

A Lei Eusébio de Queiroz favoreceu para que muitos escravos

utilizados no serviço doméstico em Cuiabá fosse transferido para a

lavoura canavieira. Desta forma, em 1868-1869, ocorreu a diminuição

do número de escravos urbanos em Cuiabá. A diminuição da quantidade

de escravos na capital da Província foi ocasionada pela epidemia de

varíola ( 1867), que dizimou muitos escravos, pela Guerra do

Paraguai, uma vez que muitos escravos foram enviados aos campos de

batalha, pelo deslocamento de escravos domésticos para a economia

açucareiro em expansão, pela abolição do trafico negreiro e

posteriormente as demais leis abolicionistas acabaram dificultando

mais ainda a aquisição de escravos.69

No tocante as atividades urbanas, os escravos além de

trabalharem nos serviços domésticos, eram encontrados trabalhando

como carpinteiros, oleiros, sapateiros, dentre outras funções. Pelas

68 ALEIXO, Lúcia Helena, Mato Grosso-Trabalho escravo e trablho livre, p.48.69 Idem, p.50.

102

ruas de Cuiabá, os escravos podiam ser vistos no comércio ambulante,

negociando mercadorias que eram vendidas para manter a sua

sobrevivência ou adquirir a sua carta de alforria.

Com a abolição do trafico, o preço do escravo aumentou e as

fugas tornaram-se mais freqüentes. Os jornais que circulavam na

província noticiavam as fugas, dando detalhes físicos do escravo

fujão e prometendo recompensa e prêmios. A exemplo, temos o anúncio

abaixo:

Gritada-se com a quantia de 150 $ 000 a quem capturar os escravos Modesto e

Zeferino, pertencentes ao senhor Urbano José de Arruda... 70

Em 1871 com a aprovação da Lei do Ventre Livre, o governo

imperial determinou a liberdade para as crianças nascidas na

escravidão. Porém essa lei foi pouco cumprida, pois os proprietários

de escravos alteravam as datas de nascimento e evitavam batizar as

crianças, para impedir a execução da lei.

Em 1885, a Lei Saraiva Cotegipe ou dos Sexagenários, que

concedeu a liberdade aos negros idosos, não promoveu também muitas

alterações, uma vez que muitos escravos faleciam antes de conseguir

usufruir dos seus direitos. De acordo com o Relatório da Agricultura,

em 1888, na Província de Mato Grosso havia somente 20 sexagenários

libertos.71

Entretanto, é importante salientar, que os idosos alforriados

preferiam continuar a viver nas fazendas dos seus antigos donos, pois

70 APMT-Provincia de Mato Grosso, 18/09/1881.71 ALEIXO, Lucia Helena, p.85.

103

não possuíam terra no campo e nem uma profissão qualificada para irem

para a cidade.

Paralelamente as leis abolicionistas, ocorreu em Mato Grosso, o

surgimento de Sociedades de Emancipação. Essas sociedades sobreviviam

com muitas dificuldades financeiras, pouco podendo fazer pelo fim da

escravidão. Porém, os escravos libertados pelas sociedades de

emancipação continuavam sob a tutela de seus antigos proprietários.

Durante a crise do escravismo, as cartas de alforria tornaram-se

bastante corriqueiras, entretanto favoreciam principalmente as

mulheres e as crianças, pois os escravos do sexo masculino eram

imprescindíveis nas atividades econômicas. A seguir apresentamos

abaixo um exemplo de carta de alforria

Por esta que vai por mim feita e assinada concebo liberdade a minha escrava Isabel

pelos bons serviços que prestou-me durante pouco tempo que esta em meu poder, pois

quando a comprei foi mesmo para fazer-lhe este ato caritativo. Espero que como prometo

não seria desconhecida a este beneficio e continuara a morarem minha casa e servir-me

sito que não tenho quem me sirva sem constrangimento. Cuiabá, 19 de marco de 1880.72

Concluindo podemos afirmar que o abolicionismo atingiu a

Província de Mato Grosso, entretanto, nesse período a economia da

Província já estava sustentada na mão-de-obra livre, logo a crise do

escravismo não abalou a economia mato-grossense.

Presidentes da Província de Mato Grosso

72 Ministerio da Cultura- Como se de ventre livre nascido fosse, p.33.

104

Período Nome

1825-1828: José Saturnino da Costa Pereira.1828-1830:Jerônimo Joaquim Nunes.1830-1831: André Gaudie Ley.1831-1833: Antonio Correa da Costa.1833: André Gaudie Ley1833:1834: Antonio Correa da Costa.1834:José de Melo Vasconcelos1834: Joao Poupino Caldas1834-1836: Antonio Pedro de Alencastro1836: Antonio Correa da Costa.1836:Antonio José da Silva 1836-1838: José Antonio Pimenta Bueno.1838:José da Silva Guimarães.1838-1840: Estevão Ribeiro de Resende.1840: Antonio Correa da Costa.1840-1842: José da Silva Guimarães. 1842-1843: Antonio Correa da Costa.1843: José da Silva Guimarães.1843: Manuel Alves Ribeiro.1843: José Mariano de Campos.1843-1844: Zeferino Pimentel Moreira Freire.1844-1847: Ricardo José Gomes Jardim1847-1848:João Crispiano Soares.1848: Manuel Alves Ribeiro1848: Antonio Nunes da Cunha.1848-1849: Joaquim José de Oliveira.

105

1849-1851: João José da Costa Pimentel.1851-1857: Augusto Leverger.1857-1858: Albano de Souza Osório.1858-1859: Joaquim Raimundo Delamare.1859-1862: Antonio Pedro de Alencastro.1862-1863:Herculano Ferreira Pena.1863: Augusto Leverger.1863-1865: Alexandre Manuel Albino de Carvalho.1865-1866: Augusto Leverger.1866-1867: Albano de Souza Osório.1867-1868: José Vieira Couto de Magalhães.1868: João Batista de Olivieria.1868: Albano de Souza Osório.1868-1869: José Antonio Murtinho.1869-1870: Augusto Leverger.1870: Luís da Silva Prado.1870: Antonio de Cerqueira Caldas.1870-1871: Francisco Antonio Raposo.1871: Antonio de Cerqueira Caldas.1871-1872: Francisco José Cardoso Júnior.1872-1874: José de Miranda Reis.1874-1875: Antonio de Cerqueira Caldas.1875-1878: Hermes Ernesto da Fonseca.1878: João Batista de Oliveira.1878-1879: João José Pedrosa.1879-1881: Rufino Enéas Gustavo Falcão. 1881: José Leite Galvão.1881-1883: José Maria de Alencastro.

106

1883: José Leite Falcão.1883-1884:Manuel de Almeida Gama Lobo D’Eça.1884-1885: Floriano Peixoto.1885: José Joaquim Ramos Ferreira.1885-1886: Joaquim Galdino Pimentel.1886: Antonio Augusto Ramiro de Carvalho. 1886-1887: Álvaro Rodovalho Marcondes dos Reis.1887: Antonio augusto Ramiro de Carvalho.1887: José Joaquim Ramos Ferreira.1887-1889: Francisco Rafael de Melo Rego.1889: Antonio Herculano de Souza Bandeira.1889: Manuel José Murtinho.1889: Ernesto Augusto Cunha Matos.

Atividades

1)(UFMT) Em relação a Mato Grosso, no contexto da independência do

Brasil, julgue os itens:

( ) Ocorria mudança do eixo econômico, Vila Bela para Cuiabá, em

função da decadência da mineração e da incrementação das atividades

agropecuárias e comerciais.

( ) A população distribuia-se de forma heterogênea com maior

concentração na região central, onde se localizava Cuiabá, principal

centro urbano, embora em 1822, não fosse a capital.

( ) A disputa pela localização da capital, envolvendo Cuiabá e

Vila Bela da Santíssima Trindade, na realidade colocava em campos

opostos a oligarquia do norte cujo poder centrava-se em mãos doas

107

altos funcionários, burocratas, e a oligarquia do sul com base nos

latifundiários pantaneiros.

( ) As dificuldades financeiras vivenciadas na Capitania que,

além de periférica, passava pela diminuição da produção aurífera,

foram agravadas pelos gastos excessivos de Capitães-generais com

festas e ostentações que lhes garantiam popularidade entre a elite.

2)(UFMT) Em relação à extinção do trafico negreiro, aprovada pelo

império Brasileiro em 1850, julgue os ítens:

( ) O fim do trafico não comprometeu o sistema compulsório de mão-

de-obra porque a taxa positiva de crescimento vegetativo da população

escrava satisfez em grande parte a demanda.

( ) A utilização da mão-de-obra livre nacional e a aquisição de

escravos do Centro-Oeste decadente foram soluções adotadas pela

política imperial para a falta de braços na lavoura cafeeira.

( ) A lei de Terras, aprovada em 1850, determinou que as terras

públicas passassem a ser vendidas e foi um mecanismo para dificultar

o acesso `a propriedade de terras por parte de futuros imigrantes.

( ) A reorientação de capitais antes utilizados na importação de

escravos dinamizou a economia brasileira, dando origem a bancos,

industrias e empresas de navegação.

3) (UFMT) Considerando o contexto de euforia vivido na Província de

Mato Grosso após o termino da guerra contra o Paraguai em 1870,

julgue os itens:

108

( ) A abertura da navegação pelo rio Paraguai estimulou as

atividades produtivas e as Casas Comerciais passaram a acumular

lucros com a importação e a exportação de mercadorias.

( ) A existência de inúmeros engenhos em Mato Grosso,

especialmente ao longo do rio Cuiabá e em Chapada dos Guimarães,

propiciou a montagem de usinas de açúcar, evidenciando o desejo de

modernização da produção.

( ) A extração da erva mate, que tinha por base a mão-de-obra

escrava representou uma exceção nesse contexto, pois entrou em

decadência devido à concorrência européia que, graças à produtividade

da mão-de-obra assalariada oferecia melhores preços no mercado

internacional.

( ) A poaia ou ipecacuanha, planta nativa das matas localizadas

entre Cáceres e Chapada dos Guimarães, era utilizada pelos índios

para cura de várias doenças e teve um significativo papel nas

exportações para a Europa, onde foi pesquisada e utilizada na

fabricação de remédios.

4) (UFMT) A rusga foi um movimento social ocorrido em Mato Grosso no

ano de 1834, que contou com a participação de diferentes camadas da

sociedade mato-grossense.( Elizabeth Madureira Siqueira. O processo

histórico de Mato Grosso. Cuiabá, 1990, p. 107)

Os itens desta questão têm relação com o contexto citado. Julgue-os

colocando V ou F.

( ) A luta entre os dois grupos dominantes, um liberal e outro

conservador, tinha como razão a disputa pelo poder político.

( ) A decadência da produção do ouro e o sistema de cobrança do

quinto, devido à Coroa, contribui para a eclosão do movimento.109

( ) A exigência de maior autonomia regional, em relação ao governo

central, foi uma das características desta revolta.

( ) A expulsão dos portugueses e outros estrangeiros, fazia parte

dos programas dos revoltosos.

5)( UFMT) Em Mato Grosso, no final do século XIX, as usinas de açúcar

proliferaram principalmente ao lado do rio Cuiabá, na região de Santo

Antonio do Leverger. A este respeito julgue os itens abaixo:

( ) A mais famosa usina foi do Itaici, de propriedade do político

mato-grossense Antonio Paes de Barros, vulgo Totó Paes.

( ) A importância das usinas estava ligada ao fato de que os

proprietários, intitulados “coronéis” controlavam o voto dos

trabalhadores e formavam redutos eleitorais.

( ) A produção açucareira das usinas de Mato Grosso alcançou

índices elevados e teve um papel significativo na exportação

regional.

( ) Na importação das usinas açucareiras as relações de trabalho

modernizaram-se ao ponto de antecipar os direitos trabalhistas que no

restante do Brasil somente seriam oficializados com a Consolidação

das Leis Trabalhistas( CLT).

6) Em meados do século XIX, finalmente se abriu a navegação pelo rio

Paraguai, fato que facilitou sobremaneira os transportes e a

comunicação para a Província de Mato Grosso. O novo trajeto tinha o

Cuiabá e o Paraguai como os principais rios” (Silva, Edil Pedroso. O

cotidiano dos viajantes nos caminhos fluviais de Mato Grosso, p.23 ).

110

Em 1865 com o inicio da Guerra da Tríplice Aliança, a bacia Platina

se tornou o palco da Guerra. Sobre a Guerra do Paraguai, assinale a

alternativa incorreta.

a)Com a invasão de Corumbá, a população da Província de Mato Grosso

se sentiu bastante insegura.

b)O conflito provocou o aumento exorbitante dos gêneros alimentícios,

e dentre estes o maior aumento recaiu sobre o sal.

c)Essa guerra interessava ao capitalismo inglês, pois o

desenvolvimento independente do Paraguai preocupava a Inglaterra.

d)Há muitas divergências na historiografia brasileira com relação as

reais causas da Guerra.

e)Uma das seqüelas trazidas pela guerra para a Província de Mato

Grosso foi a Cólera, que acabou exterminado parte significativa da

sua população e apesar do cordão sanitário organizado pelo governo

imperial o mal se propagou por Cuiabá.

7) Os conflitos envolvendo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai no

século XIX, tinham como causa principal:

a) disputas pelo controle da bacia do Rio da Prata;

b) a disputa pela indústria paraguaia;

c) as disputas entre liberais e conservadores;

d) a abolição da escravidão;

e)estabelecer os limites territoriais, respeitando o Tratado de

Madri.

8) Sobre a Rusga, julgue os itens abaixo:

111

( ) Ocorrida no 1º reinado, representou uma disputa política local

entre os Conservadores e Liberais.

( ) Os Conservadores eram representados nesse período pela Sociedade

dos Zelosos da independência.

( ) Ocasionou apenas a transferência do poder político das mãos dos

liberais para conservadores que mantiveram a mesma ordem sócio-

econômica na região.

( ) Esteve inserido no contexto dessa revolta social um forte

sentimento de aversão aos estrangeiros (xenofobia), representado

pelas perseguições aos comerciantes portugueses (bicudos).

(...) A Rusga contou com a participação dos soldados da Guarda

Nacional.

9) Em 1834, no momento que eclodiu a Rusga, o presidente da província

de Mato Grosso era:

a)José Jacinto de Carvalho.

b)Pascoal Moreira Cabral.

c)João Poupino Caldas.

d)) Bento Xavier.

e)Caetano Montenegro.

10) O Tratado de Aliança, Comércio, Navegação assinado em 1856, entre

o Brasil e o Paraguai, permitia;

a)o livre comercio entre os paises.

b)a tomada da área parcial do Paraguai.

c)a prisão de Solono Lopez.

d) a navegação pelo rio Paraguai.

112

e) a navegação pelo rio Uruguai.

11) “Em 1 de julho de 1867 chegou a Cuiabá um vapor proveniente de

Corumbá que trazia a bordo um soldado contaminado pela varíola. As

pessoas que estiveram em contato com ele logo caíram doentes. O mal

se espalhou rapidamente pela cidade atingindo do Porto Geral ao

Mundéu”. (Cavalcante, Else. Imagens de uma epidemia, p.11).

A citação acima faz alusão a epidemia de varíola que atingiu a cidade

de Cuiabá, na segunda metade do século XIX. A respeito deste contexto

histórico, é incorreto afirmar que:

a)A epidemia aconteceu no período da Guerra do Paraguai.

b) Para conter o surto epidêmico, o governo provincial construiu o

cemitério de Nossa Senhora do Carmo.

c) A solução mais efetiva tomada pelas autoridades governamentais foi

a aprovação da Lei da Vacinação Obrigatória.

d) A epidemia não ficou restrita a Cuiabá, mas se alastrou por outras

localidades.

e) No decorrer do século XIX, o país foi assolado por diversas

epidemias. Estas se proliferaram em conseqüência da falta de higiene

da população assim como da falta de um saneamento básico nas cidades

brasileiras.

12) Durante o período regencial, Cuiabá e suas imediações foi palco

de um movimento social denominado de Rusga. A respeito deste

movimento social é incorreto afirmar que:

a)Teve como uma de suas causas a luta política entre os liberais e os

conservadores.

113

b) Havia no partido liberal duas facções: os liberais moderados e os

liberais exaltados.

c) Os conservadores ou caramurus eram os representantes da elite

nativa, e tinham uma profunda aversão aos portugueses e aos demais

estrangeiros.

d) Os liberais faziam as suas reuniões na Sociedade Zelosos da

Independência.

e) Um dos lideres do movimento foi João Poupino Caldas e Patrício

Manso.

13) no inicio do ano de 1834, o Partido Conservador estava no poder,

e garantiam os privilégios dos portugueses, principalmente dos ricos

comerciantes. A importância dada a esse grupo social acabou

provocando descontentamentos, que por sua vez acabaram provocando a

Rusga. Em 1834, o Presidente da Província de Mato Grosso afastado em

conseqüência da crise política que se anunciava era o conservador:

a)Antonio Correa da Costa.

b) Antonio Maria Correa.

c) João Poupino Caldas.

d) Antonio Pedro Alencastro.

e)Pascoal Domingues de Miranda.

14) Na segunda metade do século XIX, Mato Grosso se enquadrou no

órbita do capitalismo através da navegação da bacia Platina. Sobre

esse contexto histórico, é válido afirmar que:

a)A navegação da bacia Platina somente foi possível com a assinatura

do Tratado de Aliança, Comércio, Navegação e Extradição entre Brasil

e Bolívia.114

b) Através da navegação fluvial, Mato Grosso exportava matéria-prima

para os países platinos e importava produtos manufaturados das

potências européias.

c) Com a navegação fluvial, a Província conseguiu superar a sua

debilidade econômica.

d) A navegação do Prata somente foi rompida no inicio do século XX,

com a construção da E. F. Noroeste do Brasil.

e) A navegação do Prata atendia aos interesses da elite regional,

assim como da Inglaterra, que em conseqüência da sua produção

industrial precisava da abertura de novos mercados.

15) A respeito da Guerra da Tríplice Aliança, assinale a alternativa

correta:

a)O estopim da guerra foi motivada pelo aprisionamento do navio

brasileiro “ Marques de Olinda”, que trazia a bordo o novo presidente

da Província, Augusto Leverger.

b) A guerra foi marcada pela formação de uma aliança entre o Brasil,

Argentina, Uruguai e Chile, em combate com o Paraguai.

c) Francisco Solano Lopes, presidente do Paraguai atingiu o Império

Brasileiro pelo atual Estado do Mato Grosso do Sul.

d) O primeiro ataque das tropas paraguaias ocorreu em Corumbá.

e) Durante o conflito armado, Corumbá se manteve intacta e a sua

população em segurança.

16) Em 1867, com a retomada de Corumbá, a Província de Mato Grosso

viveu um dos momentos mais desastrosos da sua história, a epidemia de

varíola. Sobre esse período histórico é correto afirmar que:

115

I-A doença dizimou quase a metade da população cuiabana e foi capaz

de alterar até mesmo as relações afetivas.

II- Segundo o cronista Joaquim Ferreira Moutinho, corpos eram

colocados na rua e devorados por cães e corvos. Por toda a cidade

sentia-se o odor dos cadáveres em estado de putrefação.

III-Durante o surto epidêmico da varíola, o Presidente da Província

era Couto de Magalhães.

a)I,II e III são corretas.

b) I e II são corretas.

c) I e III são corretas.

d) II e III são corretas.

e) Não há alternativa correta.

17) A guerra da Tríplice Aliança trouxe muitas transformações para

Mato Grosso. Com relação a essas mudanças, assinale a alternativa

incorreta.

a)Em 1870, com o fim da guerra ocorreu a reabertura da bacia Platina.

b) Os portos de Corumbá, Cáceres e Cuiabá passaram a exportar

produtos do extrativismo vegetal e produtos da pecuária aos países

platinos e as províncias brasileiras.

c) Com a reabertura da bacia Platina, Casas de Comercio surgiram nas

cidades portuárias como Corumbá, Cuiabá e Cáceres.

d) Mato Grosso perdeu parte do seu território ao final do conflito

armado.116

e) Ocorreu uma migração dos paraguaios para Mato Grosso à procura de

uma vida melhor.

18) Com a reabertura da bacia Platina, Mato Grosso tornou-se um

importante produtor e exportador de erva mate. A respeito dessa

economia extrativista, assinale a alternativa correta.

a)A erva mate era nativo da região oeste de Mato Grosso.

b)A mão-de-obra utilizada na extração do mate foi a do africano.

c)O principal comprador de mate era a Bolívia.

d) A Companhia Mate Laranjeira praticamente detinha o monopólio na

extração do mate em Mato Grosso.

e) Aqueles que trabalhavam na extração do mate eram chamados de

“camaradas”.

19) A poaia conhecida cientificamente como Cephalis ipecacuanha foi

um dos principais produtos da economia mato-grossense a partir de

1860. Sobre a poaia é correto afirmar que:

a)O produto atendia a demanda do mercado interno e externo.

b) O produto era extraído no oeste da Província somente no período

das secas.

c)A ipeca era nativa da região de Cáceres, Barra dos Bugres, Vila

Bela e Cuiabá.

d) A poaia era encontrada somente em Mato Grosso.

e) O produto era escoado em chatas, botes, batelões ou lanchas ás

províncias do sudeste visando atender a indústria de remédios.

117

20) Com a abertura da bacia Platina pelo rio Paraguai, muitas

proprietários de terras importar máquinas para a instalação de

usinas. A esse respeito é válido afirmar que:

a)As usinas surgiram principalmente as margens do rio Cuiabá e em

Chapada dos Guimarães.

b) Os trabalhadores das usinas no século XIX era desempenhado pelos

escravos, já no início do século XX por homens livres pobres que

eram denominados de “mineros”

c) Umas das principais usinas foi a da Ressaca construída em Santo

Antônio do Leverger.

d) Na década de 30, do século 20, Vargas conferiu uma série de

benefícios aos usineiros para incentivar a produção açucareira no

Estado.

e) A produção das usinas era escoada principalmente pela bacia

Platina.

21) A respeito da pecuária em Mato Grosso, assinale a alternativa

incorreta:

a)Desde o período colonial, a pecuária consistiu em uma atividade

econômica importante no abastecimento do mercado interno.

b) A E.F. Noroeste da Brasil provocou o desenvolvimento desta

atividade econômica, principalmente na região sul do Estado.

c) A mão-de-obra empregada na criação de gado exigia muitos

trabalhadores, por isso até o final do século XIX, a principal mão-

de-obra utilizada pelos fazendeiros era os escravos.

d) Os produtos da pecuária como a crina, charque, couro e sebo eram

escoados pela bacia Platina.

118

e) Descalvados localizado ás margens do rio Paraguai se destacou como

um dos principais saladeiros da região.

22)Durante a Guerra da Tríplice Aliança, a população da Província

sentiu bastante insegura em conseqüência do ataque paraguaio e devido

ao ataque de quilombolas. Um dos quilombos mais temidos no período da

guerra foi:

a)Piolho.

b) Aldeia da Carlota.

c) Rio do Manso.

d) Rio Sepotuba.

e) Quariterê.

23) A borracha ganhou importância econômica a partir de 1870. A seu

respeito, assinale a alternativa correta:

I-Este produto era extraído somente no período das chuvas.

II- O látex era extraído da seringueira e da mangabeira e eram

encontrados no vale amazônico e as margens dos rios da bacia Platina.

III-O produto abastecia o mercado externo e na década de 40, do

século XX passou a atender o mercado interno.

a)Todas estão corretas.

b)Somente a I e II são corretas.

c) Somente a I e III são corretas.

d) Somente a II e III são corretas.

e) Somente a III é correta.

119

24) O movimento social denominado de Rusga somente foi combatido com

a nomeação do Presidente da Província:

a)Antônio Alencastro.

b) João Poupino Caldas.

c) Manoel de Abreu Menezes.

d) Patrício Manso.

e) Barbosa de Sá.

25) Viajante que percorreu ao final do século XIX, o território mato-

grossense em viagem científica registrando as potencialidades de Mato

Grosso:

a)Franz Van Dionant.

b) Joaquim Moutinho.

c) João Severiano da Fonseca.

d) Sabino Rocha Vieira.

e) D. José Reis.

Gabarito:

1-V,V,F,V.

2-F,F,V,V.

3-V,F,F,V.

4-V,F,V,V.

5-V,V,F,F.

6-E

7-A

8- F,F,F, V,V.

9-C120

10-D

11-C

12-C

13-A

14-E

15-C

16-A

17-D

18-D

19-C

20-E

21-C

22-C

23-D

24-A

25-C

Parte III: República

Capitulo 12: A República em Mato Grosso

Em 15 de novembro de 1889, os militares do Exército brasileiro

proclamaram a República. Entretanto o ideal republicano não era novo

no Brasil, pois desde o século XVIII, movimentos em prol da

independência, como a Inconfidência Mineira e a Conjuração dos

Alfaiates, já idealizavam o regime republicano.

121

Porém foi somente ao final do século XIX, que a República foi

instaurada. Quais foram então os fatores que favoreceram o advento da

Republica?

Com certeza um fator determinante foi a adesão dos fazendeiros

de café. Os cafeicultores do oeste paulista interessados em defender

os seus interesses econômicos, advogavam a favor do regime, uma vez

que a República daria uma maior autonomia aos Estados.

Os fazendeiros do Vale do Paraíba, defensores da Monarquia, em

1888 com a assinatura da Lei Áurea perderam seus escravos e não

receberam do Estado nenhuma indenização. Contrariados, esses

fazendeiros passaram a apoiar a oposição. Desta maneira, a decretação

do fim da escravidão foi um dos fatores que provocaram a queda do

Império.

Outro fator foi o descontentamento dos militares com o governo

imperial. Com o término da Guerra do Paraguai, os militares foram

fortemente influenciados pelo positivismo de Augusto Comte. Sonhavam

com uma república centralizada, uma ditadura republicana. Desejavam

participar ativamente da vida política do país, contudo, apesar das

vitórias na Guerra do Paraguai, o sistema político era monopolizado

pela aristocracia tradicional. Tal situação gerou um profundo

descontentamento entre os militares.

Além da crise com os militares, o governo imperial também teve

que enfrentar uma crise com a Igreja Católica. Essa crise foi

motivada pela prisão dos bispos de Belém e Olinda. A prisão dos

religiosos estava relacionada a Encíclica “Syllabus”, que condenava a

participação de católicos na maçonaria. Entretanto, D.Pedro II

desautorizou a bula papal e permitiu que fieis católicos pudessem

122

freqüentar a maçonaria. O bispo de Belém e de Olinda desobedeceu as

determinações do imperador, e por isso foram condenados a prisão.

Assim em 15 de novembro, apoiados pelos cafeicultores e pelas

classes médias urbanas, o Marechal Deodoro da Fonseca conduziu as

tropas militares na proclamação da República.

A notícia da proclamação da Republica chegou tardiamente em Mato

Grosso, mas foi bem aceita pela população. Os jornais que circulavam

em Mato Grosso noticiaram com entusiasmo a novidade declarando que a

República daria a população “a liberdade plena, a igualdade civil, a fraternidade,

chama ao Serviço da Pátria todos os que na pátria habitem; e acreditamos que podemos em

tempo dizer que jamais tão bela cooperação no Brasil se efetuou. Viva a confederação

Brasileira!” 73

As idéias republicanas circulavam em Mato Grosso desde o final

do século XIX. Os seus partidários chegaram a fundar em 1888, o

Partido Republicano Mato-Grossense e para defender os seus princípios

chegaram a fundar o jornal “A República”. A seguir vejamos o

desenrolar dos primeiros anos da Republica.

Republica da Espada (1889-1894)

Esse período foi marcado pelo governo dos marechais: Deodoro e

Floriano Peixoto.

Deodoro ao proclamar a República se tornou presidente do Governo

Provisório. Nessa fase política foi elaborada a primeira constituição

republicana que estabeleceu:

Presidencialismo

Federalismo73 APEMT: Jornal “A Província”,31 de dezembro de 1889.

123

Sistema Representativo, que foi dominado por São Paulo, Minas

Gerais e o Rio de Janeiro.

Voto Aberto

Voto: 21 anos, sexo masculino e alfabetizados, exceto aos

padres, soldados e mendigos.

Deodoro ainda nomeou governadores para os estados brasileiros.

Para governar Mato Grosso foi escolhido o General Antonio Maria

Coelho, que foi muito bem aceito pela população. O jornal Mato –

Grosso, em 31 de dezembro de 1889 publicou a seguinte saudação ao

Presidente do Estado de Mato Grosso

“Acha-se como governador de Mato Grosso, o Exmo. Senhor General Antonio Maria

Coelho.

Com a nova forma de governo que operou-se em todo o Brasil, no dia 15 de novembro

ultimo, o governo Provisório não podia fazer melhor escolha, porquanto, a nomeação justa

do Exmo. Sr. para governador de Mato Grosso, nos colocou em posição segura de ajudar o

Sr. Exmo,... porque é filho de Mato Grosso, simpático, e ainda mais tendo sido o herói da

retomada de Corumbá.

O general Antonio Maria Coelho há de fazer um bonito governo, por enquanto, todos

os mato-grossenses acham-se satisfeitos com a distinta nomeação.”

Antônio Maria Coelho criou durante a sua gestão, o Partido

Republicano Nacional, reunindo políticos do Partido Republicano e do

Partido Conservador. Porém, Antônio Maria viria surgir contra o seu

governo forças de oposição.

Manuel Jose Murtinho e Generoso Paes de Leme Souza Ponce,

forças opositoras ao governador, pressionam Antônio Maria, que diante

da crise política acabou renunciando. Com a sua renúncia, tomou posse

no governo do Estado, Frederico Sólon Sampaio. 124

No Rio de Janeiro, depois de promulgada a Constituição de 1891,

Deodoro foi eleito indiretamente como previa o texto constitucional

como presidente, e como vice-presidente foi eleito Floriano Peixoto.

Em Mato Grosso, Sólon Sampaio organizou a Assembléia Constituinte

Estadual que elegeu como governador de Mato Grosso, Manuel Jose

Murtinho (Presidente do Estado) e Generoso Paes Leme de Souza Ponce (

Vice- Presidente do Estado).

Governo Constitucional de Deodoro (1891)

O governo de Deodoro foi caracterizado por uma crise política. O

Presidente governava desrespeitando a constituição, demitiu os

governadores dos Estados de Minas Gerais e de São Paulo e ainda

fechou o Congresso Nacional.

As atitudes de Deodoro desagradaram a oligarquia e provocaram

fortes reações. No Rio de Janeiro eclodiu a 1ª Revolta da Armada, que

tinha como líder Custodio de Melo. Os rebeldes reivindicavam a

renúncia de Deodoro. Pressionado pelas forças oposicionistas, Deodoro

renunciou.

Em Mato Grosso, Manuel Jose Murtinho e Generoso Paes Leme de

Souza Ponce, com a renúncia de Deodoro tiveram o seu poder ameaçado,

crescendo contra esse grupo oligárquico uma forte oposição no sul de

Mato Grosso.

Governo de Floriano Peixoto (1891-1894)

Com a renúncia de Deodoro tomou posse Floriano Peixoto.

Entretanto, a constituição de 1891 previa em seu artigo 42, que se o125

presidente renunciasse antes de completar dois anos de governo, o

vice não podia subir ao poder, e as eleições deveriam ser convocadas.

Assim a posse de Floriano Peixoto contrariava a constituição, porém o

marechal de ferro tinha o apoio da oligarquia.

Ao tomar posse viu surgir contra o seu governo, oposicionistas

que afirmavam que o governo de Floriano era inconstitucional, ilegal.

Em Mato Grosso, essa oposição estava no sul, que promoveu um

movimento para derrubar do governo Manuel José´Murtinho. A oligarquia

do sul não reconhecia o governo do Estado, instalaram com isso uma

Junta Governativa que tinha no comando João da Silva Barbosa, que

inclusive tentou instituir no sul o Estado Livre de Mato Grosso ou a

República Transatlântica. Os sulistas chegaram a cogitar em pedir

ajuda a República do Prata ou até mesmo hipotecar o Estado a

Inglaterra para atingir os seus objetivos. Partindo de Corumbá, os

opositores vieram para Cuiabá com a intenção de depôr o governo do

Estado.

Para aniquilar a oposição e se manterem no poder, Generoso

Ponce, a frente de uma força paramilitar denominada “Divisão Floriano

Peixoto” conseguiu vencer os opositores e Manuel Jose Murtinho foi

novamente recolocado na presidência do Estado. A seguir Generoso

Ponce comandando a “Divisão Floriano Peixoto” dirigiu-se ao sul para

aniquilar os últimos focos de oposição.

Essa luta pela poder promovidas pelas oligarquias mato-grossense

marcou o início da república em Mato Grosso. As camadas populares

estiveram à margem destas intrigas políticas, e não puderam

participar efetivamente das decisões políticas, portanto, não podiam

de fato exercer o direito a cidadania. Tal situação nos reporta a

Lima Barreto, que em sua obra “Policarpo Quaresma” demonstrou o126

comportamento político vigente no período republicano ao afirmar que

o “Brasil não tem povo, tem público”. Assim o povo mato-grossense

assistiu o desenrolar dos fatos impotentes e perplexos com as lutas

políticas travadas pelas oligarquias em disputa pelo poder.

Republica Oligárquica (1894-1930)

Depois de vencidas as primeiras dificuldades que caracterizaram

os primeiros anos da República, os republicanos históricos (civis)

passaram a exigir o poder que até aquele momento esteve com os

militares. Com a consolidação da república, as eleições diretas são

realizadas tomando posse na presidência em 1894, Prudente de Morais.

O presidente eleito era civil, paulista e fazendeiro de café,

portanto, o seu governo assinala a subida ao poder da oligarquia

cafeeira.

Contudo a força política da oligarquia cafeeira ocorreu

principalmente na gestão do presidente Campos Sales, que para

sustentar o poder da oligarquia cafeeira construiu importantes

estratégias políticas. Dentre os mecanismos políticos construídos por

Campos Sales, destacou-se a “política dos Estados”, assim denominado

pelos seu idealizador, ou a “política dos governadores”.

A política dos governadores consistia em um acordo entre o

presidente da república e os governadores dos Estados, que durante as

eleições deveriam apoiar a candidato da oligarquia cafeeira à

presidência recebendo em troca favores políticos. Os governadores

também apoiavam os candidatos da oligarquia paulista e mineira nas

eleições para a formação da bancada dos deputados e senadores, que

iriam compor o Congresso Nacional.127

Esse mecanismo político acabou fortalecendo em todo o país os

coronéis, que através das fraudes, da manipulação dos votos

controlavam os votos da sua região. A expressão “coronel’ é

originaria da Guarda nacional criada no período regencial para conter

as rebeliões que ocorriam pelo país, e que ameaçavam os interesses

das elites regionais. Com este titulo, concedido pelo governo

imperial, o poder central autorizava os chefes locais para possuir

“gente armada” a seus serviços. O título era entregue ao chefe

municipal de prestígio e a ele cabia todo o poder decisório ao nível

do município:econômico, político, judicial e policial.74

No período republicano, os coronéis eram geralmente grandes

proprietários de terra, detentores de poder econômico, possuíam

prestigio social e poder político nas suas localidades. Controlavam

os votos da população mais pobre, que viviam sob a sua influência.

Exigiam dos seus agregados, da população fidelidade total. Assim nas

eleições, os coronéis controlavam currais eleitorais, isto é, um

depósito de votos. Muitas vezes para obter os votos, os coronéis

recorriam a violência para obrigar a população a votar em seus

candidatos. Esse voto dirigido e obtido através da violência ficou

conhecido como “voto de cabresto”.

Em Mato Grosso, como já foi mencionado anteriormente, as lutas

políticas entre a oligarquia do norte e a oligarquia do sul eram

freqüentes. Na verdade, o regime republicano veio consolidar uma

situação já existente, ou seja, conflitos pelo poder em nível local e

regional. A violência se intensificou com o regime republicano, e com

o coronelismo, o banditismo local aumentou consideravelmente. Assim a

74 Treveisan, Leonardo, A republica Velha, p.24.

128

região mato-grossense passou a ser conhecida como “terra sem lei”

aonde a única lei obedecida era o calibre 44.75

A seguir a leitura do quadro abaixo nos dá uma dimensão dos

conflitos armados ocorridos em Mato Grosso nos primeiros anos do

governo republicano:

Data /Período Local/ Região Causa/Objetivo Observações1891 Poconé Eleições:

Adeptos do PRNSob o comandodo Cel. AntonioNunes Cunha,Tem. Salomão ªRibeiro eDiógenesBenites, umgrupo armadotendo à frenteuma bandeiravermelha.,ocupa a cidade.

1891 Campo Grande ReaçãoMonarquista

Grupos armadosdispostos aatacar acidade.

1891 Vila deLevergeria:comarca deMiranda

Contra ogoverno deMurtinho

Bando civil emilitar sob ocomando doscoronéis Joãode Moraesribeiro e JoãoRufino.

1892 Corumbá/Outrasregiões

Contra ogovernoestadual

São depostos oselementosligados àadministraçãoestadual,inclusive opresidente doEstado.

1892 Cuiabá A favor dogoverno

O coronelGeneroso Ponce

75 Correa, Valmir, Coronéis e Bandidos em Mato Grosso,p.31.

129

estadual comanda obatalhão“FlorianoPeixoto” commais de milhomens

1892 Miranda A favor dogovernoestadual

Os coronéisAugustoMascarenhas,Manuel Antoniode Barros, JoséAlves Ribeiro,Estevão AlvesCorrea eFrancisco AlvesC armam mais de200 homens paracombater osrevolucionários.

1892 Nioaque A favor dogovernoestadual

Bando de maisde 60paraguaios sobo comando dosirmãosLopes(armadospor coronéis)

1895 Nioaque Crise no PR Invasão dacidade pelocoronel JoãoMascarenhas.

1896 Nioaque O coronel JoãoCaetano Muzzi,João Rodriguesde Sampaio eVicenteAnastácioinvadem acidade com maisde 150 homens.

1896 Nioaque Conflito armadoentre oscoronéis Muzzie Mascarenhas.

130

1896 Nioaque PR Coronel JangoMascarenhasinvade acidade.

1896 Ponta Porã PR Ataque àsfazendas sob ocomando do cel.João CláudioGomes da Silva

Fonte:Correa, Valmir Batista, Coronéis e Bandidos em Mato Grosso, p.33.

Portanto, os oligarcas com seus bandos armados disputavam a

condução política do Estado. Em Mato Grosso, duas grandes oligarquias

disputavam o poder; a do norte composta principalmente pelos

usineiros, e a do sul formadas pelos grandes pecuaristas, pelos

comerciantes, e pelos ervateiros.

Capítulo 13: Movimentos sociais que marcaram o período republicano em

Mato Grosso

Desde o início do regime republicano muitos movimentos sociais

empreendidos pelas camadas populares denunciavam a insatisfação da

população citadina e urbana com o governo republicano.

Em Mato Grosso, os movimentos sociais que aconteceram durante a

vigência da república foram desencadeadas por grupos políticos

regionais em disputa pelo poder. A seguir abordaremos os principais

movimentos sociais que marcaram a história de Mato Grosso.

O Massacre da Baía do Garcez. (1901)

Esse movimento social ocorreu ao final do governo do presidente

Campos Sales (1898-1902), e caracterizou a política dos governadores

em Mato Grosso. Além disso garantiu a ascensão no governo do Estado,

131

do usineiro Antônio Paes de Barros, conhecido em Mato Grosso por Totó

Paes de Barros.

Entretanto, a origem deste conflito foi caracterizado pela

violência e teve as suas raízes nas eleições governamentais de 1898.

Nessas eleições, o coronel Generoso Ponce, pertencente ao Partido

Republicano indicou como candidato ao governo do Estado, João Félix

Peixoto de Azevedo. A indicação acabou suscitando a rivalidade entre

Ponce e os Murtinho, uma vez que Manuel José Murtinho apoiava como

candidato José Maria Metelo.

Vale ressaltar, que neste momento, os Murtinho possuíam projeção

nacional, pois Manuel José Murtinho era ministro do Supremo Tribunal

Federal, enquanto que seu irmão, Joaquim Murtinho era ministro da

Fazenda de Campos Sales. Lembremos ainda, que os Murtinho eram

acionistas da Companhia Mate Laranjeira, que detinha o monopólio da

extração da erva-mate no sul de Mato Grosso e com certeza, a grande

potência econômica do Estado.

Depois dessas importantes reflexões, voltemos ao Massacre da

Baía do Garcez.

Após o rompimento de Ponce e dos Murtinho, as eleições

aconteceram e a vitória coube a João Felix Peixoto de Azevedo.

Manuel José Murtinho inconformado com a vitória do candidato de

Ponce, reagiu a situação, recorrendo ao governo federal e com o apoio

do presidente da República formou uma força paramilitar denominada

“Legião Campos Sales” , que tinha no comando o coronel Totó Paes de

Barros. A “Legião Campos Sales” cercou a Assembléia Legislativa

Estadual, em Cuiabá, para anular as eleições que deram vitória a

Peixoto de Azevedo.

132

Com a anulação, novas eleições foram realizadas, vencendo

Antônio Pedro Alves de Barros, que tinha o apoio dos Murtinho, logo

da oligarquia cafeeira.

O governo de Antônio Pedro Alves de Barros foi bastante

intranqüilo, pois esse governante logo recebeu a notícia da

existência de forças oposicionistas. Para conter os focos de

oposição, Totó Paes de Barros comandou uma tropa de homens armados; a

“Divisão Patriótica”. Logo, Totó Paes de Barros descobriu que a

oposição estava escondida em Santo Antônio do Leverger, na Usina da

Conceição, que aliás era de propriedade de João Paes de Barros, irmão

de Totó Paes.

Em posse desta importante informação, Totó Paes de Barros cercou

a propriedade prendendo os suspeitos. A seguir conduziu os

prisioneiros a Baía do Garcez, localizada entre Santo Antonio do

Leverger e Cuiabá. Neste local, os prisioneiros foram barbaramente

assassinados e seus corpos lançados nas águas da Baía.

No ano seguinte aconteceu o inesperado, as chuvas não vieram no

período previsto, as águas da Baía secaram revelando o crime hediondo

cometido por Totó Paes de Barros. Apesar da revelação, o crime ficou

impune e Totó Paes de Barros, líder do Partido Republicano

Constitucional, venceu as eleições ao governo do Estado tomando posse

em 1902.

2- Revolta de 1906

Totó Paes de Barros ao assumir a presidência do Estado em 1902

manteve-se fiel ao Presidente da República, Rodrigues Alves,

representante da oligarquia cafeeira. Entretanto, Totó Paes de Barros133

parecia não compreender que para se manter no poder não bastava

estabelecer uma aliança política somente com o governo federal, mais

ampliar o pacto político á nível regional. Desta maneira, Totó Paes

de Barros acabou contando apenas com o apoio do seu grupo político, o

que favoreceu o crescimento de um movimento oposicionista ao

governador.

Embora Totó Paes tenha sido eleito com o apoio dos Murtinho, ao

tomar o poder se distanciou destes oligarcas, que conseqüentemente

passaram a fazer oposição ao governador.

O rompimento entre Totó Paes de Barros e os Murtinho levaram

esses oligarcas a se aproximarem do grupo de Generoso Ponce, do qual

anteriormente eram inimigos políticos. A união de Ponce e dos

Murtinho tinha como principal objetivo derrubar do poder Totó Paes de

Barros.

Com relação a Generoso Ponce, este oligarca era oposição a Totó

Paes de Barros desde o período da sua eleição, e contrariado com a

vitória de Totó Paes de Barros nas urnas, Ponce mudou de Mato Grosso

estabelecendo residência no Paraguai.

Neste país, Generoso Ponce fundou o jornal “A Reação”,

especializado em tecer críticas ao governador e a sua administração.

O jornal “A Reação” era feito no Paraguai e circulava

clandestinamente no Estado de Mato Grosso.

O documento abaixo refere-se a uma matéria publicada no jornal

“A Reação”, e emite um visão de uma pessoa que preferiu o anonimato

para expressar a sua posição sobre o comportamento e as atitudes do

governador Antônio Paes de Barros.

Senhores Redatores da “Reação”

134

Completamente alheio às lutas políticas e aos interesses partidários, mas não

indiferente à sorte desgraçada que está reservada a nossa terra, se nela persistir, como

norma, o regime de ódio aí inaugurado pela polícia do Sr. Totó Paes – que como verdadeiro

possesso é hoje a própria encarnação do demônio – pelos males que tem implantado,

perseguindo sem tréguas os seus desafetos, mandando matá-los e confiscando em seu

proveito e no de seus irmãos Henrique e José os bens e a fortuna, tenho longamente refletido

nos males que nos assoberbam, ameaçando o nosso futuro.

Vejo na obsessão do malvado Regulo de Itaicy um caso patológico interessante e

digno de estudo da psiquiatria; não é possível que tal homem, com essa perversão dos

sentimentos morais tantas vezes revelada tenha um cérebro são, funcionando de modo

regular.

(sic) O homem está louco e deve ir ao Hospício.

Vosso patrício, am° cr° ob°

N. N.76

O excessivo poder de Totó Paes de Barros, as perseguições e as

mortes dos seus opositores acabaram provocando o medo e o

descontentamento das camadas populares a sua administração.

Além disso, como já mencionamos anteriormente, provocou a união

de dois inimigos implacáveis, Generoso Ponce e os Murtinho, que se

aliaram a oligarcas da oposição em Corumbá dando origem a Coligação,

que começou a construir estratégias para aniquilar o poder de Totó

Paes de Barros

A Coligação, em 16 de maio de 1906, deu início aos seus planos,

destruiu o comando da polícia, e cortou a comunicação de Cuiabá,

76 NDHIR: Jornal A Reacção , 10 de outubro de1902

135

Cáceres e Corumbá com a capital Federal. A seguir, a Coligação partiu

em direção a Cuiabá.

Anteriormente ao rompimento das comunicações com o Rio de

Janeiro, o governador pediu ao presidente Rodrigues Alves, que

enviasse em seu socorro uma expedição militar, uma vez que o número

de soldados a serviço do Estado não era suficiente para conter a

Coligação. Atendendo ao pedido do governador, Rodrigues Alves enviou

a Mato Grosso, a “Expedição Dantas Barreto”, composta de dois mil

soldados.

A Coligação chegou a Cuiabá pelo rio Coxipó, e entrou na cidade

facilmente. Ao receber a notícia da chegada do grupo oposicionista,

as forças do governo, que eram lideradas por Totó Paes de Barros

tentaram contê-la, no morro do Bom Despacho e na Prainha. Porém a

tentativa foi em vão, pois a Coligação dominou a rua Barão de

Melgaço, atingiu o largo da Mandioca e São Benedito.

Ao perceber o avanço vitorioso da Coligação, Totó Paes resolveu

fugir para as proximidades da Fábrica de Pólvora, no Coxipó.

Porém a Coligação acabou descobrindo o esconderijo de Totó Paes

de Barros, e seguindo para o local, o grupo oposicionista sob o

comando de Generoso Ponce entrou em confronto com o governador, que

acabou atingido por uma bala e faleceu no local.

Logo depois deste episódio, a expedição “Dantas Barreto” chegou

a Cuiabá, mais nada podia fazer, e imediatamente retornou ao Rio de

Janeiro levando a informação ao presidente Rodrigues Alves do

falecimento de Totó Paes de Barros.

Com a morte de Totó Paes de Barros, assumiu o governo de Mato

Grosso, o vice-governador. Pedro Leite Osório.

136

3. Caetanada (1916)

Depois de eliminar Totó Paes de Barros, a antiga força de

oposição; a Coligação se transformou no Partido Republicano

Conservador (PRC), liderado por Generoso Ponce e Pedro Celestino.

Entretanto, a discórdia entre Pedro Celestino e os membros do

seu partido logo se iniciaram, quando a Companhia Mate Laranjeira, a

grande potência econômica do sul, pediu ao governo do Estado um novo

arrendamento de terras.

Pedro Celestino mostrou-se contrário a aprovação deste

arrendamento, pois defendia que essas terras deveriam ser usadas para

promover a colonização de Mato Grosso, que na opinião do oligarca,

era a melhor alternativa para promover o progresso do Estado de Mato

Grosso.

Apesar de todos os argumentos defendidos por Pedro Celestino, a

Companhia mate Laranjeira obteve um novo arrendamento. Não

esqueçamos, que a Companhia Mate Laranjeira tinha como um dos seus

principais acionistas os Murtinho, que possuíam enorme projeção na

política nacional. Assim derrotado no seu posicionamento e

contrariado, Pedro Celestino rompeu com o partido e fundou o Partido

Republicano Mato-Grossense. (PRMG).

Em 1915, a disputa pela condução política do Estado contou com a

participação dos seguintes partidos políticos: Partido Republicano

Conservador, o Partido Liberal e o Partido Republicano Mato–

Grossense. A vitória dessas eleições coube a Caetano de Faria

Albuquerque, do Partido Republicano Conservador.

Ao assumir o governo, Caetano de Albuquerque indicou para o seu

secretariado membros do seu partido, porém resolveu nomear um137

secretário do Partido Republicano Mato-Grossense. Tal nomeação gerou

duras críticas entre os seus partidários, porém agradou o PRMG que

conferiu o apoio ao governador. Caetano de Albuquerque tomou então a

decisão de romper com o PRC e acabou se filiando no PRMG. Essa

situação provocou uma guerra entre grupos armados do PRC e do PRMG.

Para agravar mais ainda a crise política, Caetano de Albuquerque

foi acusado pelo PRC de favorecer os produtores de borracha, no

tocante, a cobrança dos impostos. Desgostoso com o rumo dos

acontecimentos, Caetano de Albuquerque pediu a Assembléia Legislativa

Estadual o seu afastamento da Presidência do Estado tomando posse o

vice-governador Manuel Escolástico do PRC.

Decorridos alguns dias, Caetano de Albuquerque pediu ao Supremo

Tribunal Federal a sua volta ao governo do Estado. Porém, Manuel

Escolástico não aceitou deixar o governo. Esse confronto entre Pedro

Celestino e Manuel Escolástico provocou a formação de um governo

paralelo em Mato Grosso.

Em Cuiabá ficou na direção do governo, Caetano de Albuquerque e

em Corumbá, Manuel Escolástico. Essa atitude acarretou em lutas

armadas entre as oligarquias e tal situação era totalmente

inconstitucional. O governo federal ao tomar conhecimento do ocorrido

resolveu decretar intervenção federal em Mato Grosso em 1917.

O presidente da república em exercício naquele período,

Venceslau Brás indicou como interventou federal Camilo Soares, que

governou o Estado durante três meses, no entanto, no entanto, este

governante não foi capaz de conter as brigas entre as oligarquias e

os seus bandos armados. Desta forma, Venceslau Brás resolveu nomear

outro interventor, escolhendo o bispo de Cuiabá, D. Aquino Correa.

D. Aquino Correa era respeitado no norte e no sul e foi somente com a138

sua posse, que os conflitos entre os coronéis e o banditismo

diminuíram.

Resumidamente podemos considerar que a Caetanada expressou a

luta política entre as oligarquias nortistas e sulistas na condução

política do Estado de Mato Grosso.

No tocante ao Governo de D.Aquino Correa, a sua gestão foi

caracterizada por um período de tranqüilidade, uma vez que as

disputas entre os coronéis foram combatidos. Durante o seu governo

foi comemorado com festividades o bicentenário da fundação de Cuiabá,

ocorreu a inauguração da luz elétrica, foi introduzido o primeiro

automóvel em Cuiabá, foram edificadas edifícios públicos, pontes em

Três lagoas e Cuiabá, foi criado o Instituto Histórico e Geográfico

de Mato Grosso, a Academia Mato-grossense de Letras, instalação do

Observatório Meteorológico e Sismográfico, e D.Aquino ainda conferiu

a Cuiabá, a alcunha de “cidade verde”, devido a presença de árvores

frutíferas como mangueiras, laranjeiras, cajueiros, dentre outras,

nos quintais cuiabanos.77

4. Morbeck e Carvalhinho

Ao iniciar a século XX, a região leste de Mato Grosso recebeu

uma onda migratória de nordestinos que foram atraídos pelas jazidas

de diamantes existentes principalmente nas proximidades dos rios

Cassununga e Garças. A intensa migração deu origem a muitos núcleos

de povoamento, como Alto Araguaia, Guiratinga, Poxoreo, Barra do

Garças, Itiquira, Tesouro, dentre outras.

77 Correa, Virgilio Filho, Historia de Mato Grosso, p.612..

139

Foi neste contexto que chegou ao leste do Estado, José Morbeck,

oriundo da Bahia, que logo se tornou o chefe político local, e que

durante os pleitos eleitorais conquistava os votos dos moradores

daquela região.

Morbeck impunha o seu poder através da violência, para isso

contava com bandos armados e homens de sua total confiança, como por

exemplo, Manuel Balbino de Carvalho, conhecido intimamente pelo

apelido de Carvalhinho.

Em 1926, Pedro Celestino, presidente do Estado de Mato Grosso,

almejando dominar politicamente o leste começou a agir para aniquilar

o poder de Morbeck. A estratégia arquitetada pelo governador para

derrubar Morbeck era aliciar o seu fiel companheiro Carvalhinho.

Em 1925, Pedro Celestino por coincidência do destino, viu a

possibilidades dos seus planos serem atingidos. Neste ano, um grupo

de garimpeiros pediu a José Morbeck permissão para a realização de um

baile na região. Essa região, rica em produção de diamantes era

extremamente violenta. Assim Morbeck, na condição de chefe político

local, apreensivo com a insegurança que reinava na zona de garimpo,

permitiu a realização do Baile “Fecha Nunca”, mas para evitar

problemas durante a festança, Morbeck mandou Carvalhinho cuidar do

baile. Entretanto, Carvalhinho passou essa responsabilidade para

Reginaldo, que possuía um bando armado a serviço de Morbeck. A festa

foi um verdadeiro fracasso ocorrendo muitas mortes. e Reginaldo foi

responsabilizado e delatado pelo moradores do leste como o

responsável pelo ocorrido naquela noite.

Morbeck mandou prender Carvalhinho conduzindo-o a Cuiabá. Porém

ao chegar a capital de Mato Grosso foi libertado, mas acabou

falecendo vitima de um atentado, no Coxipó da Ponte.140

A notícia da sua morte foi recebida no leste, e Carvalhinho

acreditava piamente que Morbeck encomendou a morte do seu amigo.

Neste momento aconteceu o que Pedro Celestino desejava, o assassinato

de Reginaldo provocou uma fragilidade na amizade de Morbeck e

Carvalhinho.

Depois deste incidente, Morbeck e Carvalhinho viajaram ao Rio de

Janeiro. Carvalhinho marcou um encontrou em segredo com Pedro

Celestino, que naquele momento estava também na capital federal.

Neste encontro, Carvalhinho recebeu a informação da sua

nomeação como Delegado de Polícia da região do Araguaia e Garças e

para agente arrecadador dos tributos das Minas de Garimpo. Ao

retornar ao hotel onde estava hospedado com Morbeck revelou ao amigo

o seu encontro com o governador, bem como, a sua nova função.

Inconformado com a traição do amigo, Morbeck retornou imediatamente

para Mato Grosso, com o objetivo de preparar uma emboscada para

receber Carvalhinho.

Carvalhinho, orgulhoso da sua nomeação, ficou no Rio de Janeiro

dando entrevistas aos jornalistas cariocas sobre a sua atuação como

delegado do leste, de como combateria o banditismo e conseqüentemente

a violência nos garimpos.

Ao retornar a Santa Rita do Araguaia, local de sua moradia,,

Carvalhinho foi surpreendido durante a madrugada por Morbeck e seu

bando. Para fugir ao cerco de Morbeck, Carvalhinho se atirou nas

águas do rio Araguaia. Mas a sua fuga, tinha como destino final, a

Bahia, aonde foi arregimentar homens para voltar a Mato Grosso e

acertar as contas com Morbeck. Em Salvador, Carvalhinho entrou em

contato com o governador Pedro Celestino pedindo proteção para o seu

retorno a Mato Grosso.141

Carvalhinho retornou ao leste, e com seu bando conquistou

Lageado, Cassunungsa e Santa Rita do Araguaia. Morbeck diante do

avanço das tropas de Carvalhinho, foi ao Rio de Janeiro pedir ao

governo federal ajuda financeira para a contratação de homens e para

a compra de armas e munições. Para obter o financiamento, Morbeck

alegou ao governo federal, que essa contribuição financeira era

fundamental para combater a Coluna Prestes, que naquele instante

passava por Mato Grosso.

Ao voltar do Rio de Janeiro, Morbeck e Carvalhinho fizeram da

região leste um palco de guerras. A rivalidade entre os seus bandos

somente foi amenizada com a posse do novo governador do Estado, Mario

Correa da Costa.

Para combater os conflitos armados no leste, o governador

recentemente empossado tomou a decisão de nomear como novo delegado

do Araguaia e do Garças, Valdomiro Correa.

Carvalhinho inconformado com essa indicação, cobrou do governo

do Estado uma pesada indenização. Como o governo não deu resposta a

sua exigência, Carvalhinho e seu bando resolveram atacar o quartel.

Logo depois dessa façanha, Carvalhinho fugiu para Goiás. Porém, Mario

Correa da Costa ao ter noticias do paradeiro de Carvalhinho e de seu

bando, enviou um destacamento de soldados para Goiás para prendê-los.

Depois de preso, o governo do Estado obrigou Carvalhinho a desfilar

pelas principais ruas de Cuiabá, numa demonstração de que o “terror”

do leste foi definitivamente combatido.

Em 1930 com a ascensão ao poder de Vargas, Carvalhinho foi

libertado.

142

Capítulo 14: A Coluna Prestes em Mato Grosso

A Coluna Prestes se enquadra em uma das fases do movimento

tenentista, que marcaram os anos de 1922 a 1927. O tenentismo contou

com a adesão de oficiais do Exército brasileiro, principalmente os

tenentes e alguns capitães. Logo, a alta cúpula militar se manteve

alheia ao movimento..

O tenentismo foi um movimento de rebeldia, no qual jovens

oficiais se colocaram contra o governo oligárquico, portanto

representou o descontentamento de facções das forças armadas, que

tinham como objetivo conquistar o poder e reformar a República.

Dentre as suas reivindicações, os tenentes propunham a

moralização da administração, o fim da corrupção eleitoral, o voto

secreto, defendiam o desenvolvimento de uma economia pautada no

nacionalismo e a reforma da educação pública defendendo o ensino

gratuito e obrigatório a todos os brasileiros

O movimento contou com a simpatia das camadas médias urbanas, de

alguns industrias e de fazendeiros que não apoiavam a oligarquia

cafeeira.

Em 1922, no Rio de Janeiro , os tenentes iniciaram o movimento

com a revolta do Forte de Copacabana. As ofensas feitas ao Exercito e

a repressão contra o Clube Militar levaram os tenentes a se rebelar,

com a intenção de “salvar a honra do Exército.78. Entretanto o

movimento fracassou. Entretanto, dois anos mais tarde, os tenentes

tentaram novamente derrubar o governo oligárquico, representado por

Artur Bernardes; era a Revolução Paulista de 1924.

78 Fausto, Boris, historia do Brasil, p.307

143

O movimento que eclodiu em São Paulo deveria ter tido um caráter

nacional, mas ficou limitado ao Rio grande do Sul, Amazonas e a

cidade de São Paulo. No comando do movimento paulista estava Isidoro

Dias Lopes e Miguel Costa.

Os revoltosos deixaram a capital paulista e se deslocaram pelo

interior do Estado de São Paulo, com objetivo de atingir o Paraná,

pois estavam a espera de tropas vindas do Rio Grande do Sul.

O movimento tenentista no Rio Grande do Sul estourou em outubro

de 1924, estando no seu comando o tenente João Alberto e o Capitão

Luís Carlos Prestes. As tropas gaúchas deixaram o sul em direção ao

Paraná para encontrar as tropas paulistas. Assim em abril de1925,

surgia a Coluna Miguel Costa-Luis Carlos Prestes, que posteriormente

ficou conhecida como Coluna Prestes.

A Coluna Prestes percorreu todo o país propagando a idéia da

necessidade de uma revolução popular para derrubar as oligarquias. Em

1926, Miguel Costa, Siqueira Campos e Luis Carlos Prestes lançaram um

manifesto explicando os motivos da luta contra a oligarquia. Em seu

manifesto afirmaram que “eram contra os impostos exorbitantes, a desonestidade

administrativa, a falta de justiça, a mentira do voto, amordaçamento da imprensa,

perseguições políticas, desrespeito a autonomia dos estados, a falta de legislação social e

reforma da constituição.” 79

Percorrendo os lugares mais ermos do Brasil, a Coluna iniciou

uma longa marcha e ao serem encurralados pelas tropas do governo, o

comando do movimento com a permissão das autoridades se refugiaram

provisoriamente no Paraguai.

A seguir retornaram ao Brasil penetrando por Porto Lindo, nas

proximidades do rio Iguatemi em Mato Grosso. Ao ingressar no Estado,79 Povoas, Lenine. Historia Geral de Mato Grosso, p.311.

144

o general João Nepomuceno Costa deu inicio as perseguições, prendendo

em Campo Grande até mesmo aqueles que se mostravam simpáticos ao

ideário da Coluna. Novamente pressionados pelas tropas legalistas, os

homens da Coluna se retiram para Goiás, daí partiram para o nordeste

e ingressam mais uma vez pelo Mato Grosso.

O Jornal A Razão noticiou a chegada da Coluna Prestes em

Cáceres. Segundo a imprensa, as autoridades policiais de Cáceres

prepararam um plano de ação para conter a Coluna composta naquele

momento por 800 homens, que ameaçavam invadir a cidade.

Para evitar a invasão a Cáceres, os oficiais se reuniu

imediatamente no Quartel General. Acreditavam que podiam conter as

forças rebeldes no Porto do Barranco Alto evitando que atravessassem

o rio Paraguai.

Por outro lado, havia aqueles que duvidam que os soldados seriam

capazes de impedir a invasão. Apesar das incertezas, a oficialidade

de Cáceres conseguiu reprimir o ataque da Coluna. E segundo o artigo

publicado no jornal local, os soldados lutaram bravamente para manter

“a ordem”.80

Perseguidos pelas tropas legalistas e jagunços dos coronéis, A

Coluna Prestes acabou se exilando na Bolívia.

Esse retorno a Mato Grosso ocorreu durante o governo de Mario

Correa da Costa, que representava no Estado os interesses da

oligarquia cafeeira. Segundo o discurso oficial, os homens da Coluna

eram perigosos, sanguinários , e vieram trazer a dor, a intranqüilidade e o sofrimento a

tantos lares, destruindo as nossas propriedades.”81

80 APMT: Jornal A Razão, 30 de julho de 1927.81 APMT: Mensagem de Mario Correa da Costa a Assembléia Legislativa de Mato Grosso em13 de maio de 1927.

145

É importante frisar que essa visão sobre a Coluna Prestes não

foi compartilhada por todos. Em muitos lugares, os homens da Coluna

foram muito bem recebidos, e especialmente Luis Carlos Prestes que

ficou conhecimento como Cavaleiro da Esperança.

Em luta pelos seus objetivos, os homens da Coluna Prestes

enfrentaram durante a sua marcha pelo país inúmeras dificuldades, que

foram relatadas por Jorge Amado, em sua obra literária O Cavaleiro da

Esperança Vida de Luis Carlos Prestes. A seguir, o trecho do

livro de Jorge Amado aborda alguns desses obstáculos

Prestes se encontrou com o impaludismo. Antes, fora a praga das sarnas que batera

sobre a Coluna, os homens barbados e peludos parecendo imenso bando de macacos que se

coçavam. Mas, na travessia do rio Piauí, quando das grandes chuvas, o impaludismo

derrubou quatrocentos homens da Coluna. Prestes marchava com febre. Quase nenhum

oficial escapou. Mas esses homens sentiam a febre. A maleita não os jogavam no chão.

Na Bolívia, Luis Carlos Prestes deixou seus companheiros de luta

e partiu para a Argentina, aderindo ao marxismo, voltando ao Brasil

somente no Governo Vargas.

Capítulo 15:Nos trilhos da Modernidade

A Construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil

146

A proclamação da República promoveu no país um conjunto de

transformações que visavam desenvolver as potencialidades econômicas

do Brasil com o objetivo de tornar o país uma fronteira aberta ao

capitalismo internacional. Dentro deste contexto, Rodrigues Alves,

presidente da Republica em 1906, através do prefeito Capital federal

Pereira Passos remodelou o Rio de Janeiro, construiu avenidas largas,

demoliu os cortiços existentes no centro da capital e iniciou uma

política sanitária, que tinha a frente o médico sanitarista Osvaldo

Cruz, que combateu ás doenças que mais vitimavam a população carioca,

como a varíola, a peste bubônica e a febre amarela. A urbanização e o

saneamento do Rio de Janeiro tinha como um dos seus principais

objetivos atrair investimentos estrangeiros a capital federal.

Paralelamente a modernização da capital do Brasil, a elite

brasileira adotou novas condutas de comportamento, de lazer e de

vestir, que se inspiravam principalmente na França, essa mudança de

hábitos e de comportamentos foi denominada de Belle Époque.

Assim o governo brasileiro pautado nos princípios do positivismo

defendiam a necessidade de promover a modernização do país adequando-

o ao capitalismo internacional. Para que esse projeto de modernidade

fosse realmente concretizado, as autoridades governamentais deviam

patrocinar a integração do território brasileiro. Foi neste contexto,

que em 1904, se iniciou a construção da Estrada de Ferro Noroeste do

Brasil.(NOB)

Deste o fim da guerra do Paraguai (1870), a integração de Mato

Grosso as demais províncias brasileiras se dava através da navegação

pela bacia do Prata. A principal via de comunicação entre São

Paulo,.Rio de Janeiro e Corumbá ou Corumbá- Cuiabá ocorria através do

rio do Prata e do rio Paraguai.147

Na segunda metade do século XIX, os conflitos bélicos entre os

paises platinos mostraram as autoridades governamentais como era

vulnerável a navegação fluvial pelo Prata e não havia uma via interna

rápida que ligasse Mato Grosso ao restante do país.

Foi nesta perspectiva, que o governo republicando idealizou a

construção de uma estrada de ferro para Mato Grosso, uma vez que

através dos seus trilhos teríamos uma comunicação e um transporte de

pessoas, matérias-primas, e produtos industrializados de forma mais

eficiente, e além disso a ferrovia vinha ao encontro dos interesse do

governo federal em integrar as regiões do país, em modernizá-lo.

A construção da ferrovia também era interessante ao governo

federal, pois iria permitir o escoamento da produção boliviana até o

Porto de Santos. Nesse período, o governo federal estava interessado

em estreitar as suas relações diplomáticas com a Bolívia.

Assim partindo de Bauru (São Paulo) em 1905, a construção da

estrada de ferro seguiu em direção ao noroeste, e chegou ao rio

Paraná em 1910, atingiu Porto Esperança, as margens do rio Paraguai,

em 1914, e chegou a Corumbá divisa com a Bolívia somente em 1952,

finalizando assim a sua construção.

Em 1919, o governo federal acampou a Estrada de Ferro de Bauru a

Porto Esperança, passando a ser denominada de “Estrada de Ferro

Noroeste do Brasil”

Para a sua construção, o governo federal teve que disponibilizar

vultosos investimentos. Para isso, o governo federal recorreu ao

capital internacional, que produzia todo o equipamento ferroviário

como as pontes e os trilhos. Assim esse empreendimento interessou o

capital inglês e francês. As grandes empreiteiras do país também se

beneficiaram com a construção da Estrada de Ferro, pois davam suporte148

as obras, através de empréstimos. Desta maneira, a Noroeste do Brasil

atendeu aos interesses dos setores privados nacionais e

internacionais e permitiu que o Estado como agenciador deste projeto

promovesse o desenvolvimento econômico nacional, e especialmente de

Mato Grosso.

A estrada de ferro provocou mudanças para o Estado, como por

exemplo, o crescimento dos índices de migração, pois durante a sua

construção muitas pessoas migraram para o sul de Mato Grosso para

trabalhar na sua edificação e ao final das obras prefeririam

continuar a residir no Estado. Assim surgiram no sul de Mato Grosso

muitas vilas e cidades.

Por outro lado a estrada de ferro acarretou na decadência

econômica de Corumbá, que perdeu a importância econômica que obtivera

no século XIX, sendo substituída por novos pólos econômicos com o

Campo Grande, Porto Esperança e Ponta Porá..

Estrada de Ferro Madeira – Mamoré

Acima de Santo Antonio existe a Cachoeira caldeirão do Inferno. Neville Craig, que

descreveu a tragédia da empresa Collins, conta-nos que os seus homens, ao chegarem a

Santo Antônio a 19 de fevereiro de 1878, um dos poucos habitantes que ali se achavam

dissera-lhes que naquele local o diabo perdera as botas. Aquele mesmo autor, descrevendo

as alucinações do irlandês Manning, nas selvas do Madeira, conta que este dizia que o diabo

estava o lambendo.

A ferrovia passou desde então a ser conhecida popularmente com o nome de “ferrovia

do diabo”. Não só popularmente, mas também em artigos, reportagens, noticias, rádios e

televisões, a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré passou a ser mencionada como “a ferrovia149

do diabo”. A denominação “ferrovia do diabo”fora dada pelos trabalhadores da construção,

entre 1878 e 191282.

A citação acima ilustra o imaginário dos trabalhadores, que

vieram a selva amazônica entre 1878-1912 para a construção de um

fabuloso empreendimento A Estrada de Ferro Madeira- Mamoré.

A construção da Estrada de Ferro Madeira- Mamoré foi uma

verdadeira epopéia, pois para a sua edificação engenheiros e

trabalhadores tiveram que enfrentar as vicissitudes da natureza e a

insalubridades da região.

A idéia de construir uma estrada de ferro ao longo dos rios

Mamoré e Madeira nasceu em 1848, com o engenheiro boliviano José

Augustin Palácios, que assegurou ao governo boliviano, que a

construção de uma estrada de ferro naquela localidade era a melhor

alternativa para o escoamento dos produtos econômicos produzidos pela

Bolívia, uma vez escoá-los através Cordilheira dos Andes era

extremamente difícil.

Em 1851, o engenheiro americano Larcher Gilbbon realizou um

estudo para indicar ao governo americano a alternativa mais viável

para a importação de matérias-primas que eram imprescindíveis a

economia dos Estados Unidos. Para o engenheiro, a saída ideal era

pelo Amazonas. Assim para dar o seu laudo técnico, Larcher desceu o

rio Chaporé, Mamoré, Madeira e o Amazonas. Ao finalizar o trajeto,

concluiu que a construção de uma estrada de ferro margeando as

cachoeiras do rio Madeira podiam ser edificadas aproximadamente em

dois meses. Foi assim que o governo boliviano resolveu adotar o

trajeto de Gilbbon.82 Hardman, Francisco Foot, Trem Fantasma: A modernidade na selva, p.120-121.

150

No Brasil, uma expedição tendo a frente o engenheiro João

Martins da Silva Coutinho foi organizada para navegar pelo rio

Madeira, e dar ao governo imperial um posicionamento. De acordo com o

engenheiro brasileiro, a construção de uma estrada de ferro no rio

madeira era viável e além disso promoveria o nascimento de núcleos de

povoamento e o aumento do fluxo comercial na região.

Assim, o governo boliviano empolgado com a construção da estrada

de ferro enviou o General Quevedo ao México e aos Estados Unidos em

busca de engenheiros para canalizar os trechos encachoeirados do rio

Madeira e construir a ferrovia. O engenheiro escolhido para esse

empreendimento foi George Earl Church, do Exército americano.

Segundo Hardman, o coronel Church tinha um espírito aventureiro, era

oportunista, e possuía uma atração pelas viagens distantes e pelo enriquecimento. Possuía

também uma capacidade ímpar na construção de ferrovias somada a capacidade militar de

expandir as fronteiras e de domesticar índios.83

Church aceitou o desafio de construir a estrada de ferro, porém

impôs uma condição, isto é, que o governo boliviano lhe concedesse a

exploração da navegação dos rios Madeira e Mamoré. Com esse objetivo

foi criado em 1868, a Bolivian Navigation c Company

Para construir a ferrovia, já que muitos dos seus trechos

estavam em território brasileiro, o coronel americano pediu a D.

Pedro II, a concessão de 50 anos, e se preciso a sua prorrogação

para conclusão das obras. Assim o governo brasileiro tornou-se

parceiro de Church, enquanto o governo boliviano era o fiador da

obra.

D. Pedro II, porém exigiu a Church, a mudança do nome da

empreendimento, em vez de Bolivian Navigation Company, que se83 Idem, p.120.

151

adotasse The Madeira and Mamoré Railway Company. Depois de

concretizados os acordos entre o governo brasileiro e o coronel

americano, Church viajou a Londres na tentativa de buscar recursos

financeiros e tecnológicos para iniciar as obras.

Em Londres, Church conseguiu obter os empréstimos entretanto,

foi exigido que a construtora encarregada pela obra deveria ser

inglesa, assim como os materiais empregados na construção, ou seja,

os trilhos e as locomotivas.

Desta forma, a empresa inglesa Public Works assumiu a construção

da ferrovia. Em julho de 1872, a empresa chegou a Santo Antonio do

Rio Madeira (MT) para começar as obras. Logo no início da construção,

os ingleses perceberam que foram ludibriados. Vitimas das doenças

tropicais que grassavam na região, trabalhadores e engenheiros da

empresa faleceram. Assustados com a insalubridade que reinava no

local, os ingleses abandonaram o projeto sem implantar um único

trecho da ferrovia.

A seguir, a Public Works processou o coronel Church pelas suas

perdas. Porém, o coronel recorreu alegando que a empresa desistiu do

projeto, pois ficou atemorizada com a imensidão e os perigos da

floresta.

Em 1873, o coronel Church encarregou a empreiteira americana

Dorsay & Caldwell de continuar a construção da ferrovia Madeira-

Mamoré. No entanto, ao entrarem em contato com a região, a

empreiteira assustada com as mortes causadas pelas doenças tropicais

abandonaram a construção e voltaram para os Estados Unidos.

Church não desistiu dos seus objetivos, desta vez, buscou a

empreiteira inglesa Reed Bros & Co. para a construção. Porém a

empresa não mostrou o mínimo interesse em assumir o empreendimento.152

Desgatado pelas inúmeras tentativas, Church viu a sorte mudar,

quando a empresa P & T Collins aceitou construir a estrada de ferro.

Fecharam o contrato em 1877 e orçamento da obra foi estimado em

1.200.000 libras. Apesar do seu altíssimo custo, Church apostava no

seu sucesso, e acreditava que a ferrovia proporcionaria muitos

lucros, uma vez que a região era riquíssima em seringais. A confiança

do coronel americano estava relacionada ao fato de que neste período,

o látex era um produto bem cotado no mercado internacional.

Para iniciar as obras, a Collins formou uma expedição de 200

homens composta por engenheiros, médicos, operários, pessoal

administrativo e de navegação.

Ao iniciar o mês de fevereiro de 1878, a construtora alcançou a

primeira cachoeira do rio Madeira, no Porto de Santo Antonio. Assim

ao longo deste ano, navios, equipamentos, trabalhadores e uma

locomotiva chegaram a Santo Antônio.

A semelhança das outras empreiteiras que tentaram construir a

estrada de ferro, a Collins também se deparou com o problema da

insalubridade, com as doenças tropicais, mas mesmo enfrentando muitas

dificuldades, a empresa conseguiu inaugurar simbolicamente a ferrovia

em 4 de julho de 1878.

Muitos trabalhadores da P.& T. Collins assustados com as doenças

e com os ataques dos índios fugiam das obras, se emprenhando pela

floresta. Até mesmo, um dos proprietários da empresa, Thomas Collins

teve o seu pulmão perfurado por uma flecha. Assim diante de tantas

intempéries, a empresa Collins acabou falindo.

Por sua vez, Church, idealizador da construção da estrada de

ferro, estava também totalmente falido, e para piorar a sua situação,

153

o governo brasileiro cancelou a concessão para a construção da

estrada de ferro.

No início do século XX, através do Tratado de Petrópolis, o

governo republicano comprou o Acre pelo valor de dois milhões de

libras esterlinas, e assumiu o compromisso de construir a estrada de

ferro Madeira-Mamoré.

A compra do Acre estava relacionada a exploração da borracha e

devido a presença de trabalhadores brasileiros, em especial os

nordestinos, que se dedicavam a extração do látex.

A retomada da construção da Estrada de Ferro Madeira - Mamoré

tinha como objetivo ligar a Bolívia ao Oceano Atlântico, escoar do

Amazonas as riquezas do extrativismo vegetal que interessava ao

comercio internacional.

Para a sua construção, um edital de concorrência restrito a

empresários brasileiros foi publicado. O vencedor da concorrência foi

o engenheiro Joaquim Catrambi, que juntamente com o engenheiro

Percival Farquhar teriam a concessão da ferrovia.

Farquhar foi aos Estados Unidos contratar engenheiros para

conduzir as obras da ferrovia. Desta maneira, em janeiro de 1907,

engenheiros, trabalhadores de varias nacionalidades e técnicos

americanos chegaram a Santo Antonio do Rio Madeira.

Em agosto de 1907, Farquhar comprou a concessão de Catrambi

fundando a Madeira-Mamoré Railway Company.

Com o intuito de controlar as doenças que imperavam na região,

Farquhar contratou uma equipe médica, enfermeiros, farmacêuticos e

construiu o hospital Candelária, em Santo Antonio. Mesmo com essas

medidas, as mortes eram inevitáveis, e por isso o empresário tinha

que constantemente contratar mais mão-de-obra, no exterior.154

Na tentativa de diminuir a incidência das doenças e

conseqüentemente das mortes, o empresário contratou o médico

sanitarista Oswaldo Cruz para estudar o quadro sanitário da região.

Ao chegar em Santo Antonio, o médico instalou-se no hospital

Candelária, e percorreu a linha da ferrovia até o rio Jaci-Paraná.

Ao finalizar o seu estudo sobre a região, Oswaldo Cruz apontou

Santo Antonio como um foco de doenças e listou as enfermidades que

mais afetavam a região: pneumonia, sarampo, ancilostomose, beribéri,

disenteria, hemoglobinúria. Febre-amarela, calazar (leishmaniose

visceral) e a mais temida de todas, a malária.84

Em 1912, apesar das inúmeras dificuldades, a ferrovia foi

finalmente inaugurada, porém, o preço da borracha caiu no mercado

internacional devido a concorrência com o sudeste asiático. Além

disso, o canal do Panamá foi concluído em 1915, tornando os fretes

mais baratos na região. Assim a Estrada de Ferro Madeira - Mamoré não

deu os lucros esperados.

Atualmente a Estrada de Ferro Madeira - Mamoré não pertence mais

ao território de Mato Grosso, pois em 1943, Getulio Vargas fundou o

Território Federal do Guaporé, e com isso anexou Santo Antonio do Rio

Madeira e Guajará-Mirim ao novo território. Posteriormente este

território seria o atual Estado de Rondônia.

Atualmente a Estrada de Ferro Madeira- Mamoré não possui

importância econômica para o Estado de Rondônia, e segundo Hardman, a

memória atual dos habitantes de Porto Velho e demais localidades atravessadas pela linha

da Madeira- Mamoré é evidentemente bastante fragmentária. A exceção de um núcleo

restrito de velhos ferroviários e seus descendentes, que preservam ainda certa tradição oral

84 Ibidem, p.150

155

em torno dos acontecimentos, a grande maioria dos povoadores de Rondônia.(sic)

desconhece quase tudo sobre aquela estranha estrada de ferro desativada desde 1972.85

Trabalhadores da Estrada de Ferro Madeira - Mamoré

O recrutamento de mão-de-obra para a construção da ferrovia foi

extremamente difícil desde o início de sua construção, pois muitos

trabalhadores que chegavam ao vale amazônico vinham contratados para

trabalhar nos seringais. Por isso que a solução encontrada pelas

construtoras que acamparam o projeto de construir a ferrovia foi

contratar mão- de - obra do exterior.

Os trabalhadores contratados para a construção da ferrovia

recebiam um adiantamento para a sua passagem e ao chegarem ao local

de trabalho recebiam mais um adiantamento para a aquisição de gêneros

alimentícios, que eram vendidos pela empresa construtora. Recebiam

também diariamente uma refeição de baixa qualidade nutricional.

Para receber esses trabalhadores a construtora edificou

acampamentos, porém estes acabaram preferindo construir cabanas

cobertas de palhas.

O quadro abaixo revela o número trabalhadores contratados para a

construção da ferrovia pela Brazil Railway Co, no período de 1907 a

1912. :

Ano Homens1907 4461908 24501909 450085 Ibidem, p.180.

156

1910 60241911 56641912 2733Total 21817Fonte: Hardmam, Francisco Foot, Trem Fantasma, p. 140.

Capítulo 16: Comissão Rondon: Construção das Linhas Telegráficas

Na segunda metade do século XIX, os paises europeus passavam por

um acelerado processo de industrialização, e com isso investiam cada

vez mais em descobertas cientificas, com o intuito de promover a

expansão capitalista.

Dentre essas inovações cientificas, é importante ressaltar a

ferrovia e o telégrafo, pois essas descobertas foram capazes de

facilitar as comunicações entre os continentes, integrando as

populações das regiões “atrasadas” na órbita do capitalismo.

Paralelamente um discurso fundamentado no saber cientifico foi

construído nos países capitalistas ricos para justificar a dominação

econômica e cultural sobre as regiões não exploradas pelo capital.

Os ingleses e franceses interessados em investir o seu capital

financiaram várias expedições cientificas, que em viagens

exploratórias na África e na América buscavam conhecer as suas

potencialidades. Para justificar a exploração econômica destes

continentes e da sua população, os europeus baseados nas teorias de

Darwin alegaram que o branco europeu era superior, e que tinham como

157

missão propagar a civilização a esses povos, que ainda viviam no

estagio da barbárie. Assim cabia aos europeus civilizá-los.

Neste período, o capitalismo europeu avançava a todo vapor, as

suas exportações quadruplicaram, a navegação mercantil passou de 10 a

16 milhões de toneladas, a rede ferroviária em 1870 contava, com

pouco mais de 200 mil quilômetros, mas as vésperas da Primeira Guerra

mundial (1914-1918) chegou a 1 milhão de quilômetros.86

Foi nesse contexto, que o telégrafo tornou-se fundamental para o

desenvolvimento do capital, pois permitia a circulação das idéias, os

contatos comerciais entre as regiões mais distantes do Planeta,

derrubando as fronteiras geográficas e políticas, e através da adoção

de um único código de linguagem, o Código Morse, os homens

conseguiram superar as barreiras lingüísticas.

No Brasil, a construção da linha telegráfica esteve sob a

responsabilidade da Repartição Geral do Telégrafo. Em 1852, a

primeira linha foi construída ligando a Quinta imperial ao Quartel

General do Exército. Na visão do governo imperial, o telégrafo seria

responsável pela integração entre as províncias brasileiras. De

acordo com as autoridades governamentais e os parlamentares do

Império, a falta de informação, de comunicação entre as províncias

representava um entrave ao desenvolvimento econômico do país.

Em 15 de novembro de 1889, a república foi proclamada

acarretando mudanças nas instituições políticas brasileiras. Contudo,

o governo republicano inspirado nos princípios do positivismo

considerou vital a retomada da construção das linhas telegráficas.

Para o governo republicano, a instalação do telégrafo não

representava somente facilitar as comunicações entre as regiões86 Hobsbawn, Eric, A Era dos impérios; 1875-1914), p. 95

158

brasileiras. Para os republicanos, construir as linhas telegráficas

significava penetrar, conquistar o território brasileiro, definir as

fronteiras, conhecer os povos que habitavam as regiões mais

longínquas.

Os governantes da Republica e os intelectuais brasileiros, no

inicio do século XX, viam o sertão brasileiro, como a antítese da

civilização. O sertão representava um lugar dominado pela barbárie,

pois era ocupado por povos que viviam em estado “primitivo”, marcado

por uma intensa diversidade cultural. Assim seguindo os pressupostos

do positivismo, os governantes e intelectuais do período almejavam a

‘ pacificação dos índios” e conseqüentemente a homogeneização da

sociedade brasileira, que segundo eles seria obtida com a construção

das linhas telegráficas.

De acordo com a historiadora Laura Antunes em sua obra A nação por

um fio.87, a instalação das linhas telegráficas tinha como missão, como

ideal retirar os povos que habitavam o sertão, do estágio de

“selvageria’ e levá-los a civilização. Na verdade, civilizar possuía

um significado bem mais amplo, isto é, torná-los produtivos

contribuindo para o desenvolvimento da nação.

Para atingir as suas metas, o governo republicano indicou o

mato-grossense, Candido Mariano Rondon para dirigir os trabalhos pelo

sertão. Rondon daria continuidade ao trabalho iniciado no governo

imperial, contudo o objetivo desta etapa era atingir os estados de

Mato Grosso, do Amazonas, do Pará, como também o Acre, o Purus e o

Juruá, vistos naquele momento histórico como uma região extremamente

isolada, perigosa e de difícil penetração.

87 Antunes, Laura, A Nação por um fio, p.69 a 135. Ver também: Hardman, Francisco Foot, Trem Fantasma.

159

A Comissão Rondon era composta de oficiais do Exército,

engenheiros militares, funcionários civis, soldados, especialistas em

botânica, zoologia e geologia. Contou também com a participação de

presos civis e políticos. A Comissão estava subordinada ao Ministério

da Viação e Obras Publicas e ao Ministério da Guerra.

Nos trabalhos empreendidos pela expedição, os oficiais eram

encarregados das tarefas estratégicas, enquanto cabia aos engenheiros

estudar a topografia da região. Os funcionários civis eram compostos

pelos inspetores, telegrafistas, guarda-fios, fotografo e

enfermeiros, que pertenciam a Repartição Geral dos Telégrafos.

Já os soldados, os presos civis e políticos eram encarregados

das tarefas mais pesadas, como por exemplo, a abertura de estradas, a

colocação dos postes e dos fios. Os soldados eram oriundos das

camadas populares e muitas vezes foram enviados aos cuidados de

Rondon, por serem considerados nos quartéis pelos seus superiores

como “desordeiros”. Geralmente os presos enviados para a Comissão

Rondon, eram indivíduos que participaram de rebeliões que afrontaram

os interesses e o poder das oligarquias.

Como exemplo destas rebeliões, podemos citar o movimento

ocorrido em 1910, durante o governo de Hermes da Fonseca. Na capital

federal, os marinheiros se rebelaram exigindo do governo oligárquico

o fim dos castigos corporais. O governo reprimiu violentamente o

movimento, e para punir os presos optou pela deportação a bordo do

navio Satélite. O destino dos 491 presos era a Estrada de Ferro

Madeira -Mamoré e a Comissão Rondon.

O trabalho na Comissão era exaustivo, os trabalhadores

enfrentavam uma jornada diária de 12 horas, e tinham direito ao

descanso somente nos feriados e nas comemorações oficiais. Recebiam160

uma precária alimentação, e eram acometidos pelas doenças que

grassavam na região. Na opinião do médico sanitarista, Oswaldo Cruz,

a região amazônica era a mais insalubre do país.

As moléstias provocavam muitas mortes impedindo o avanço da

construção da linha telegráfica. Para erradicar as doenças, e

conseqüentemente diminuir a incidência da mortalidade, os médicos e

enfermeiros nos acampamentos chegaram a oferecer aguardente quinada

como prêmio para os trabalhadores que seguissem a risco o tratamento.

O prêmio agradou os trabalhadores, uma vez que era proibido nos

acampamentos o uso de bebidas alcoólicas.

Assim condenados pelo governo republicano a tarefas exaustivas,

a enfrentar os perigos do “sertão inóspito”e as doenças tropicais, os

trabalhadores resistiam provocando rebeliões. Para enfrentar a fúria,

a resistência e disciplinar esses homens para o trabalho, Rondon

criou estratégias de estratégias de dominação. Para evitar as

revoltas, os trabalhadores eram constantemente vigiados e ameaçados

com castigos físicos.

Em 1909, após o falecimento do presidente Afonso Pena, surgiu no

governo federal uma forte oposição a construção da linha telegráfica

Mato Grosso – Amazonas. O ministro J. J. Seara defendeu a sua

extinção alegando que a Comissão desviava as verbas públicas e

utilizava de castigos corporais. Além disso, muitos parlamentares e

religiosos se mostravam contrários a “civilização do índio

brasileiro”.

Apesar das duras críticas, a Comissão Rondon deu continuidade a

sua tarefa, entretanto, não conseguiu chegar ao seu destino final

a cidade de Manaus.

161

No quadro abaixo apresentamos resumidamente as etapas da

construção das linhas telegráficas:

Império: Direção da Comissão de construção das linhas Telegráficas:

general Cunha Matos.Nesse período, as linhas telegráficas, saindo de Franca (São

Paulo), passaram por Uberaba atingindo Goiás e Mato Grosso,

até a Cuiabá.República:Direção da Comissão da Construção da Linha Telegráfica:

Candido Mariano Rondon.Foram instaladas 17 estações, uma linha chegou até a

fronteira do Paraguai, ligando Porto Murtinho a Bela Vista e

outra atingiu a fronteira com a Bolívia, atendendo Cáceres,

Coimbra e Corumbá.(1900-1906).1907- 1915: Foram construídas três sessões, uma saindo de

Cáceres a Vila bela, a segunda ligando Cuiabá a Santo Antonio

do Rio Madeira e a terceira teve um caráter exploratório e de

reconhecimento da região Fonte: Cavalcante, Else, Rodrigues, Maurim, Mato Grosso e sua

História, p. 107

Serviço de Proteção ao índio

Em 1910, o governo federal pautado pelo pensamento positivista

tomou a decisão de iniciar uma ação governamental que tinha como

objetivo civilizar o índio brasileiro. Para realizar esse projeto

162

civilizatório, o presidente da Republica, Nilo Peçanha criou o

Serviço de Proteção ao Índio.

O Estado, em seus discursos oficiais, afirmava que a função do

SPI seria proteger o índio, demarcar as terras indígenas. Para

conduzir a política de proteção ao índio, protegê-los do extermínio,

Nilo Peçanha encarregou Candido Rondon, que ficou conhecido em todo o

pais pelo lema “morrer se preciso for, matar nunca.”

O Serviço de Proteção ao Índio (SPI) foi extinto com a ditadura

militar e os seus arquivos demonstraram que seus objetivos não foram

alcançados, uma vez que os índios que participaram da Comissão Rondon

perderam as suas terras, os suas referencias culturais, e ao final da

construção da linha telegráfica foram para as cidades, aonde foram

marginalizados e explorados. De acordo com a OPAN/CIMI, o Serviço de

Proteção ao Índio entrou para a historia como um símbolo de genocídio. Desde a sua

criação, a população indígena do país decresceu em cerca de 1 milhão para menos de 200

mil, sem esquecer que muitas nações indígenas foram extintas.88

A Política do Índio na República

Apesar do governo republicano desenvolver uma política voltada

para o índio, os interesses capitalistas falaram e continuam a falar

mais alto acarretando no massacre de aldeias indígenas ou na fome e

miséria dos índios brasileiros.

Em 1850, com a Lei de Terras, a situação do índio se agravou,

pois a lei impedia a existência da pequena propriedade e afirmou o

predomínio do latifúndio na estrutura fundiária brasileira.

88? Apud: Cavalcante, Else, Rodrigues, Maurim, Mato Grosso e sua História, p.109.

163

Nesse período, a economia brasileira se adequava as exigências

do capitalismo. Assim a produção agrícola era sustentada no

latifúndio e na exigência do mercado externo. Essas características

econômicas acabou favorecendo a extinção dos povos indígenas e na

dilapidação dos seus territórios, pois a medida que o capitalismo

acelerava, os fazendeiros queriam mais terras.

Na segunda metade do século XX, os índios passaram a ser

exterminados através de armas biológicas. Os capitalistas

interessados nas terras indígenas chegaram a doar presentes, como por

exemplo, cobertores contaminados com o vírus de doenças como o

sarampo, a tuberculose e a sífilis. Desta forma, aldeias inteiras

foram eliminadas.

Durante o Estado Novo, o governo através do projeto “A Marcha

para o Oeste”, com a intenção de os “espaços vazios”, no sul de Mato

Grosso, acabou também expropriando territórios indígenas.

E em 1963, a imprensa denunciou o massacre dos índios Cinta

Larga. A chacina foi denominada pela imprensa de Chacina do Paralelo

11. Esta chacina ocorreu no município de Aripuanã, quando dois

fazendeiros interessados em ampliar os seus domínios enviaram a

Aldeia Cinta Larga, dois empregados portando uma metralhadora. Os

empregados dispararam impiedosamente contra os índios.89

Na década de 70, com a colonização do Norte de Mato Grosso e da

Amazônia mais uma vez os índios perderam o seu território e aqueles

que resistiram foram eliminados. O estímulo dado ao governo federal à

produção econômica exportadora, aniquilou as pequenas propriedades,

promoveu o desmatamento que conseqüentemente tornou difícil a caça e

a pesca nos rios.89 Fernandes, Joana, Índio: Esse Desconhecido, p. 36.

164

Ao perderem os seus territórios muitos índios vieram morar nas

cidades, contudo enfrentam muitas dificuldades como a falta de

moradia, de emprego e o preconceito, uma vez que, desde o início da

colonização vários estereótipos foram criados pelo branco denegrindo

a imagem dos índios.

Os interesses capitalistas persistem e continuam a provocar uma

série de conflitos entre posseiros, fazendeiros e índios. A

reportagem do “jornal Diário de Cuiabá” no quadro abaixo revela a

problemática do índio brasileiro.

Brasil abandonou índios, diz Anistia Internacional

Em comunicado emitido ontem à imprensa mundial, a Anistia

Internacional afirmou que o governo e o Judiciário

brasileiros fracassaram na proteção ao direito dos índios à

terra.

A manifestação foi motivada episódios envolvendo indígenas

guaranis-caiuás em Mato Grosso do Sul, na região da fronteira

com o Paraguai. Em 15 de dezembro, cerca de 700 índios foram

retirados, pela Polícia Federal, de uma terra em disputa na

cidade de Antônio João e está acampado à beira da rodovia MS-

384. Nove dias depois, o índio Dorvalino Rocha, 39, foi morto

com um tiro no peito. O autor do crime foi, segundo a Anistia

e membros da Fundação Nacional do Índio, um segurança

contratado por fazendeiros.

"No Brasil, a população indígena continua a sofrer violência

165

e severa situação de pobreza como resultado do fracasso do

governo e do Judiciário em proteger seu direito

constitucional à terra", afirma a nota, intitulada "Brasil:

Governo e Judiciário abandonam povos indígenas mais uma vez".

A Anistia diz que a PF, apoiada por fazendeiros, usou

violência na retirada dos índios de sua "terra ancestral"

(uma mulher teria sofrido aborto) e que os guaranis-caiuás

acampados estão sem comida nem abrigo. Os guaranis-caiuás são

uma das etnias mais afetadas pela miséria no Brasil. Em 2005,

ao menos 15 crianças morreram de desnutriçãoFonte:Diário de Cuiabá, 25/01/2006

Expedição Roosevelt- Rondon

Em 1913, o coronel Theodoro Roosevelt, ex-presidente dos Estados

Unidos chegou a Mato Grosso através da navegação pela foz do rio Apa.

Rooselvelt comandava uma expedição que tinha como objetivo atravessar

o sertão até atingir o rio Madeira.

Candido Rondon recebeu a tarefa de conduzir a expedição pelo

“sertão” mato-grossense. Partindo do Rio de Janeiro, Rondon teve o

seu primeiro contato com Roosevelt em Corumbá surgindo assim a

Expedição Roosevelt - Rondon.

Os expedicionários seguiram em direção a Cáceres, e

posteriormente ao porto de Campo, no rio Sepotuba. Assim a expedição

se dirigia em direção aos sertões dos índios Parecis e dos

Nhambiquaras.

166

Para percorrer essa marcha, Rondon reuniu uma tropa de 110

muares, 70 bois cargueiros e dividiu a expedição em duas colunas; uma

ficou sob o comando do capitão Amílcar Magalhães, que seguiu para

Juruena, o outro grupo foi composto por Roosevelt e Rondon, que

desceu o rio Papagaio, explorando e fazendo o levantamento da região.

Mais tarde, as duas colunas se encontraram e rumaram em direção a

Manaus. Ao chegar em Manaus, a expedição foi para Belém do Pará, e

finalmente a expedição Roosevelt voltou para os Estados Unidos.90

A medida que a expedição avançava sobre o território mato-

grossense amostras de vegetais e minerais eram coletados, animais

caçados e empalhados. Todo este material foi enviando para os Estados

Unidos para ser estudado, pois os americanos queriam conhecer as

potencialidades de Mato Grosso, descobrir o que havia nesse imenso

território para ser explorado.

Capitulo 17: Era Vargas em Mato Grosso

Na década de 20 e 30, a industrialização e a urbanização

passaram a compor o cenário econômico e social do país, que

anteriormente era predominante agrário. Embora, o café continuasse a

ser o principal de exportação, o surto industrial de 1914/1918 trouxe

transformações a sociedade brasileira. Essas mudanças provocaram

também alterações políticas, uma vez que novos setores sociais como

as classes medias urbanas, a burguesia industrial e o operariado

questionavam as estruturas políticas que sustentavam a oligarquia

cafeeira.90 Mendonça, Estevão, Datas Mato-Grossenses, p.310.

167

Apesar dos governos oligárquicos terem enfrentado vários

movimentos sociais, que expressavam o descontentamento das camadas

populares, a oligarquia cafeeira se manteve inabalável. Porém, uma

crise política interna se deu durante o pleito eleitoral de 1909,

quando Rui Barbosa e Hermes da Fonseca disputaram a presidência da

República. Hermes da Fonseca foi eleito, e a oligarquia cafeeira foi

capaz de superar essa fase.

Em 1929, a oligarquia cafeeira foi novamente abalada, com a

crise dos Estados Unidos, que debilitou os países capitalistas. Com a

queda dos preços do café no mercado internacional, o setor cafeeiro

se viu em franca decadência. Paralelamente, na década de 20, a

oligarquia cafeeira enfrentou o movimento tenentista, que tinha como

objetivo derrubá-la do poder.

O Tenentismo ameaçou principalmente o governo de Artur Bernardes

(1922-1926), entretanto, as forças legalistas controlaram o

movimento, e os rebeldes se exilaram na Bolívia. Apesar do insucesso

dos tenentes, o governo oligárquico entrou em decadência, pois o

tenentismo mostrou a insatisfação de setores do Exército ao governo

oligárquico.

Outro desgaste que promoveu a falência da oligarquia foi a

sucessão presidencial. Em 1929, a crise econômica, provocada pela

desvalorização do café levou o presidente Washington Luís a romper

com a Política Café com Leite, isto é, a sucessão presidencial entre

Minas Gerais e São Paulo. Para essas eleições o candidato indicado

pelo presidente foi o paulista Julio Prestes, no entanto, deveria ser

Antonio Carlos de Andrade, chefe do Partido Republicano de Minas

Gerias.

168

O rompimento deste acordo acarretou em insatisfações, e dentro

do Partido Republicano Paulista aconteceu uma cisão, nascendo assim o

Partido Republicano Democrático. Os tenentes reanimaram-se na

tentativa de combater o domínio político dos paulistas, as

oligarquias dissidentes do Rio Grande do Sul e da Paraíba apoiaram o

rompimento de Minas Gerais com São Paulo.

Com o intuito de derrubar a oligarquia paulista, as oligarquias

dissidentes formaram a Aliança Liberal, formada por Minas Gerais,

Paraíba e o Rio Grande do Sul. As oligarquias dissidentes não

apresentavam propostas revolucionárias, porém propunham mudanças que

atendiam o anseio das camadas populares, como o voto secreto e o voto

feminino, o estabelecimento de uma jornada de trabalho de oito horas.

A Aliança Liberal lançou como candidato a presidência Getulio Vargas,

representante da oligarquia gaúcha e como vice-presidente, João

Pessoa representante da Paraíba.

As eleições aconteceram em 1930, a máquina da corrupção política

paulista funcionou (voto de cabresto, fraudes, violência, dentre

outras) novamente e Julio Prestes, candidato paulista venceu as

eleições. Vargas obteve aproximadamente oitocentos mil votos, e o

candidato oficial foi eleito com um milhão de votos.91

Diante destes resultados, a oligarquia dissidente com o apoio

dos tenentes iniciaram o preparativos para um movimento armado. O

estopim usado para começar uma luta para derrubar a oligarquia

paulista foi o assassinato de João Pessoa, que fora candidato a vice

– presidente pela Aliança Liberal.

Assim em 3 de outubro de 1930 iniciou-se a “revolução”, e já no

dia 24 de outubro Washington Luis foi deposto. Com a derrubada da91 Tota, Antonio, O Estado Novo, p.11.

169

oligarquia, os rebeldes apoiaram a subida de Vargas ao poder., em 3

de novembro de 1930. Terminava desta forma a dominação da oligarquia

cafeeira, mas as relações sociais continuavam as mesmas. Podemos

considerar que a Revolução de 30 foi feita pelas oligarquias

dissidentes para acabar com a política café com leite.

Governo Provisório de Vargas (1930-1934)

Ao subir ao poder, Getulio Vargas procurou combater as

estruturas de sustentação

criadas pela política-café-com leite, e para isso desenvolveu uma

série de mecanismos que visavam reorganizar o Estado. Nessa fase

política, foi fechado o Congresso Nacional, as Assembléias

Legislativas Estaduais e as Câmaras Municipais.

Para governar os estados, Getulio interveio derrubando do poder

os antigos governadores (oligarcas), exceto em Minas Gerais, e nomeou

para governar os estados, os interventores federais, que geralmente

eram tenentes.

Aos interventores federais cabia exercer o poder Executivo e o

Legislativo, podiam deliberar posturas e atos municipais, e teriam

nos estados governados por eles, os mesmos poderes que cabiam ao

governo Provisório.92

Em Mato Grosso, Getulio destituiu do cargo de governador Aníbal

de Toledo e indicou como interventor federal Antônio Mena Gonçalves,

que tomou medidas que visavam minar o poder dos oligarcas, que

anteriormente tinham o seu poder e interesses sustentados pela92 Carone, Edgar, Segunda Republica, p.18

170

oligarquia cafeeira. Em Mato Grosso, a política de Mena Gonçalves

afetou principalmente os usineiros, que eram coronéis que detinham o

poder na região, pois apoiavam a oligarquia paulista.

Mena Gonçalves não foi o único interventor federal em Mato

Grosso, posteriormente o presidente indicou como interventores

federais para Mato Grosso, Artur Antunes Maciel e Leônidas de Matos.

A troca de interventores cabia ao Presidente da Republica e a lei

estabelecia que o interventor seria exonerado a critério do Governo

Provisório.93

A mudança dos interventores demonstrava o interesse do governo

Provisório pelo Estado de Mato Grosso. Esse cuidado estava

relacionado as insatisfações dos oligarcas com as decisões do governo

Vargas. Mena Gonçalves enfrentou uma forte reação das oligarquias,

que não aceitaram as mediadas impostas pelo interventor, e este por

sua vez chegou a decretar a prisão de alguns coronéis. Assim, os

coronéis em protesto, reclamaram ao governo federal e Mena Gonçalves

foi destituído.94

Em 1932, Getulio nomeou como interventor federal Artur Antunes

Maciel, que recebeu a incumbência de conquistar a população mato-

grossense ao governo getulista. Este ano foi bastante intranqüilo

para o governo getulista, pois as elites gaúchas e mineira romperam

com o presidente, acusando-o de ditador. A situação se agravou mais

ainda, quando em 9 de julho de 1932, os paulistas iniciaram a

Revolução Constitucionalista.

Os rebeldes paulistas desejavam na verdade recuperar o poder

perdido com a “Revolução de 1930”, embora afirmassem à população

93 Idem, p.20.94 Madureira, Elizabeth, historia de Mato Grosso, p.198.

171

paulista, que o movimento era necessário, pois Vargas governava o

país inconstitucionalmente. Assim a bandeira levantada pela elite

paulista, para conseguir a adesão do setores populares era que a

revolução tinha como objetivo dar ao Brasil uma constituição.

São Paulo rompeu o movimento esperando a adesão das elites

mineiras e gaúchas, mas estas acabaram se reconciliando com o

presidente. Na realidade, São Paulo somente contou com a participação

de um pequeno destacamento, proveniente do sul de Mato Grosso e

comandado pelo general Bertoldo Klinger.

O apoio do sul de Mato Grosso a causa paulista estava associado

ao anseio do sul de Mato Grosso pela divisão do Estado. No decorrer

da Revolução Constitucionalista, o sul de Mato grosso se separou

criando o Estado do Maracaju, que foi governado pelo médico,

Vespasiano Martins.

A Revolução Constitucionalista durou três meses, Getúlio

levantou a suspeita do separatismo paulista e com isso conseguiu

manter os outros estados a seu lado. Sem armas, e isolados, os

paulistas não resistiram muito tempo. Após ter controlado o movimento

em São Paulo, Vargas combateu o movimento separatista no sul de Mato

Grosso e convocou eleições para formação de uma assembléia

constituinte para elaborar uma constituição para o Brasil.

Vargas pretendia garantir o domínio política na assembléia

constituinte, pois essa instituição seria a responsável pela eleição

do presidente, e lógico Vargas pretendia se candidatar. Assim a

participação de Mato Grosso no movimento constitucionalista levou

Vargas a dar mais atenção aos acontecimentos políticos que ocorriam

em Mato Grosso. Foi neste momento, que aconteceu a repressão ao

Tanque Novo, em Poconé. 172

Tanque Novo

O Tanque Novo localiza-se nas imediações de Poconé e na década

de 30, durante o governo provisório de Vargas, os moradores deste

vilarejo foram alvos de uma intensa repressão política promovida

pelo governo. Esse movimento social ocorreu, em 1933, no momento em

que Getulio Vargas convocava as eleições para a formação de uma

Assembléia Constituinte para elaborar uma Constituição para o país.

Foi nesse reduto próximo a Poconé, que residia Laurinda Lacerda

Cintra, uma dona de casa, que vivia modestamente cercada pelos seus

filhos. Em Poconé, essa mulher era conhecida pelos moradores da

região como Doninha.

Doninha ficou conhecida, pois segundo os habitantes de Poconé,

era sensitiva. Tinha visões da santa “Jesus Maria José”, curava as

enfermidades e fazia previsões sobre o futuro.

A notícia das curas de Doninha acabou conduzindo a essa

localidade inúmeras pessoas, que vinham em busca de uma solução para

os seus males. Depois de curados muitos preferiram se estabelecer

naquele lugar, surgindo assim uma comunidade fortemente influenciada

pela Doninha, e que tinha o seu cotidiano voltado para as práticas

religiosas. Aos seus moradores era proibido o uso de bebidas

alcoólicas e jogos de azar.

Os coronéis de Poconé durante a república oligarquia, logo

enxergaram que poderiam obter votos na região através do apoio

político de Doninha. Para isso, os coronéis ajudavam a Doninha e a

sua gente com donativos.

173

Foi usando desta artimanha, que os coronéis nas eleições de

1930, conseguiram que a população de Poconé votasse no candidato da

oligarquia paulista, Júlio Prestes. Assim, a vitória de Julio Prestes

demonstrou que os coronéis e a população da região era oposição a

Aliança Liberal.

Após a sua derrota nas urnas, a Aliança Liberal articulou um

levante armado a Revolução de 1930. Através deste golpe, as

oligarquias dissidentes contaram com a colaboração dos tenentes,

aniquilando definitivamente a oligarquia paulista. A seguir, Getulio

Vargas apoiado pelos rebeldes tomou posse na Presidência.

Ao subir ao poder, Vargas empreendeu uma política administrativa

voltada para combater em cada estado da Federação, as forças

políticas que sustentaram o governo oligárquico. Desta forma,

destituiu os antigos governadores, e nomeou para governar os estados,

os interventores federais.

Como mencionamos anteriormente, Mena Gonçalves foi indicado como

o primeiro interventor federal do governo Vargas em Mato Grosso. Este

interventor federal empreendeu medidas que visavam combater o poder

dos coronéis, em especial dos usineiros da região de Santo Antônio do

Leverger. Contudo, essas medidas provocaram insatisfações e como

Vargas não pretendiam hostilizar a população mato-grossense e as

forças políticas regionais, mais sim conquistar a sua simpatia e

apoio, o presidente resolveu nomear para Mato Grosso outro

interventor federal; Artur Antunes Maciel.

Ao iniciar a sua gestão, Artur Antunes seguindo a legislação que

conferia aos interventores o direito de escolher os prefeitos do

município, nomeou para a Prefeitura de Poconé, Manuel Nunes Rondon.

174

Para conquistar a população de Poconé e do Tanque Novo, Artur

Antunes e o prefeito auxiliavam financeiramente a população carente

da região e para abrigar os doentes que chegavam a procura uma benção

de Doninha, edificaram um barracão. Essa prática política, assim como

a relação entre a população do Tanque Novo e as autoridades

governamentais revelam que a comunidade de Doninha ainda não

representava uma ameaça política mais efetiva ao governo getulista.

Porém, os rumos dessa relação começaram a se alterar a partir de

1932. Neste ano ocorreu em São Paulo a Revolução Constitucionalista,

através da qual a oligarquia paulista queria retomar o poder, mas

alegava para a população que o movimento lutava por uma constituição.

Os paulistas contaram somente com o apoio do sul de Mato Grosso,

que enviou tropas lideradas por Bertoldo klinger.

Depois de três meses de luta armada, o governo Vargas combateu

as forças oposicionistas e abriu as eleições para a escolha dos

representantes que iriam compor a Assembléia Constituinte. Para a

realização dessas eleições, o governo permitiu a formação de partidos

políticos.

Em Mato Grosso surgiu o Partido Liberal Matogrossense, que

representava as forças situacionistas; o Partido Constitucionalista

de Mato Grosso, formada pela oposição e o Partido da Liga Eleitoral

Católica.

O domínio de Vargas na Assembléia Constituinte era crucial para

o seu continuísmo político, pois além de elaborar a constituição, os

constituintes iriam eleger o presidente da republica. Desta maneira,

o governo Vargas deu início a perseguições para garantir a vitória

dos candidatos da situação.

175

Com relação a Mato Grosso, o governo nomeou outro interventor

federal para Mato Grosso; Leônidas Antero de Matos. Observa-se nesse

instante uma mudança de conduta governamental para o Estado.

Leônidas de Matos recebeu a incumbência de afastar a oposição a

Vargas, e para isso indicou como novo prefeito para Poconé, Antonio

Correa da Costa. O novo prefeito começou a sua perseguição aos

opositores de Getulio enviando para o Tanque Novo uma força policial

para prender Doninha e os seus seguidores. Foram presos sob a

acusação de serem baderneiros e de assaltarem fazendas nas

proximidades de Poconé.

Não havia nenhuma veracidade nas acusações, na verdade as

perseguições estavam relacionadas às eleições para a composição da

Assembléia Constituinte, pois Doninha e a população da região

declararam que apoiavam para essas eleições, a oposição, isto é, o

Partido Constitucionalista.

Assim para escapar da prisão, muitos dos seus seguidores fugiram

do cerco da polícia adentrando pelo Pantanal. Porém, Doninha foi

detida e somente foi liberada, quando Vargas garantiu a vitória do

seu candidato nas eleições.

Ao sair da prisão, Doninha preferiu mudar com a sua família para

Cáceres, e viveu nesta cidade tendo visões e fazendo curas até o fim

dos seus dias.

Estado Novo (1937-1945)

Em 1934, a Assembléia Constituinte elegeu Getulio Vargas à

Presidência da República. Nessa fase política, o governo Vargas

enfrentou conflitos entre os grupos políticos que disputavam o poder176

e eram fortemente influenciados pelas ideologias radicais que

cresciam nos países europeus, e culminariam na Segunda Guerra

Mundial.

Em 1934, Luis Carlos Prestes que participou do movimento

tenentista na década de 20 retornou do exílio em Moscou como membro

do PCB. Outros líderes do movimento tenentista, também filiaram-se ao

partido. Verifica-se portanto, o surgimento no interior do PCB, de

uma esquerda de origem militar.95

Os comunistas brasileiros fundaram uma agremiação política a

Aliança Libertadora Nacional (ANL), que além dos comunistas

congregava socialistas. A ANL reunia operários, parcelas da classe

média e a setores da baixa oficialidade do Exército brasileiro.

Pregavam o nacionalismo, o antiimperialismo e a reforma agrária.

Em oposição aos ideais da Aliança Nacional Libertadora, havia a

Ação Integralista Brasileira (AIB) fundada por Plínio Salgado, que

atraiu segmentos da burguesia brasileira, da Igreja e do Exército.

Inspirados no fascismo europeu, os integralistas ou camisas verdes,

combatiam os princípios democráticos, defendiam a propriedade privada

e a instalação de um governo autoritário no país. Os princípios

políticos pregados pelos integralistas atraíram a simpatia de Vargas

a AIB, mas o crescimento da ANL, que chegou a ter 1.600 sedes,

preocupava Getulio Vargas e os setores conservadores do Exército.96

Em 1935, o presidente conseguiu do Congresso a aprovação da Lei

de Segurança Nacional. A lei visava conter o movimento operário e o

comunismo, e baseando-se nela o Congresso determinou o fechamento da

Aliança Nacional Libertadora.

95 Priore, Mary Del. O Livro de Ouro da Historia do Brasil, p.314.96 Tota, Antônio, O Estado Novo, p.15

177

Os comunistas em represália, liderados por Luís Carlos Prestes,

organizaram uma tentativa frustrada de uma revolução social. O

levante fracassado dos partidários da ANL ficou conhecido como

Intentona Comunista. Logo após a derrota do movimento, Vargas e os

aliados começaram a preparar a instalação de um Estado Autoritário.

Em seus discurso a população, o presidente argumentava que o país

estava ameaçado pelo avanço do comunismo.

Em 22 de setembro de 1937, a imprensa noticiou a descoberta de

um plano comunista para a tomada do poder. Era o Plano Cohen, na

verdade um plano forjado pelo capitão Olimpio Mourão Filho, membro da

AIB.

O Congresso Nacional e a população brasileira aterrorizados pela

possibilidade de uma nova rebelião comunista apoiaram a implantação

de uma ditadura o Estado Novo.

O Estado Novo foi um período marcado pela suspensão dos direitos

e das liberdades democráticas. Os opositores ao regime eram presos

pela Polícia Secreta, que era dirigida em todo o território nacional

pelo mato-grossense Filinto Müller.

Para construir a população uma imagem positiva da ditadura, o

governo criou o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), através

do qual incentivou a música popular brasileira, impôs a censura e

estimulou o culto à personalidade de Vargas.

Paralelamente interferiu na economia, com a intenção de

modernizar a economia brasileira. Vargas acreditava em um

desenvolvimento autônomo e independente do capital estrangeiro. Na

sua visão era preciso investir na industrialização cabendo ao Estado

garantir a infra-estrutura necessária ao desenvolvimento do país.

178

No tocante, a administração Getúlio Vargas indicou para governar

os estados brasileiros, os interventores federais. Os interventores

eram oligarcas que defendiam os interesses do presidente em sua

região. Para Mato Grosso, o presidente nomeou como interventor

federal Julio Muller, irmão de Filinto Muller, que como mencionamos

anteriormente era o chefe da Policia Política da ditadura getulista.

A Administração de Julio Müller em Mato Grosso

Julio Muller foi interventor federal de Vargas em Mato Grosso

durante o governo ditatorial. O seu governo foi caracterizado pela

construção de obras, que visavam modernizar a capital de Mato Grosso.

Era importante modernizar Cuiabá, uma vez que o sul reivindicava

junto ao governo federal a transferência da capital para a cidade de

Campo Grande.

Para concretizar os seus objetivos, o interventor buscou

recursos financeiros junto ao governo federal. Ainda para atingir os

seus propósitos, escolheu para dirigir as obras a construtora Coimbra

Bueno, e o engenheiro Cássio Veiga de Sá era o engenheiro responsável

pelas obras em Cuiabá. A escolha de Julio Muller não foi aleatória,

pois a empresa construtora escolhida para modernizar Cuiabá foi a

responsável pela construção de Goiânia.

Dentre as principais obras construídas na gestão de Julio Muller

apontamos:

A residência dos governadores.

179

Grande Hotel, construído na Avenida Getulio Vargas, e que

atualmente é a sede da Secretaria de Cultura do governo de Mato

Grosso.

A ponte “Julio Müller sobre o rio Cuiabá.

A abertura da Avenida Getulio Vargas.

A instalação da Estação de Tratamento de Água, na rua

Presidente Marques.

A fundação do Liceu Cuiabano na Avenida Getulio Vargas.

A fundação do Cine-Teatro localizado na Avenida Getulio Vargas.

Em 1941, chegou a Cuiabá as 10 horas da manhã, um bimotor

“Locked” conduzindo o presidente Getulio Vargas, que veio para

participar das festividades de inauguração das obras edificadas pelo

seu interventor federal. 97

Marcha para o Oeste

Ao final do ano de 1937, Getúlio Vargas anunciou à nação o

projeto de colonização e interiorização do país denominado de “Marcha

para o Oeste”. Segundo o discurso do presidente, a ocupação da região

Amazônica e do oeste brasileiro era uma necessidade urgente e

necessária. Na fala proferida por Vargas, este afirmou

Temos de enfrentar corajosamente, sérios problemas de melhoria das nossas

populações, para que o conforto, a educação e a higiene não sejam privilégios de regiões ou

de zonas. Os benefícios que conquistastes devem ser ampliados aos operários rurais, aos que

insulados nos sertões, vivem distantes das vantagens da civilização. Mesmo porque, se não o

fizermos, corremos o risco de assistir ao êxodo dos campos e superpovoamento das cidades97 Mendonça, Estevão, Datas Mato-grossenses, p.80.

180

– desequilíbrio de conseqüências imprevisíveis, capaz de enfraquecer ou anular os efeitos da

campanha de valorização integral do homem brasileiro, para dotá-lo de vigor econômico,

saúde física e energia produtiva.

Não é possível mantermos a anomalia tão perigosa como a de existirem camponeses

sem gleba própria, num país onde os vales férteis como a Amazônia permanecem incultos e

despovoados de rebanhos, extensas pastagens, como as de Goiás e as de Mato Grosso98.

O discurso acima deixa evidente as propostas e as preocupações

do governo estadonovista.

Em um momento marcado por uma intensa repressão, a propaganda da

“Marcha para o Oeste” divulgada pelos meios de comunicação consistia

em uma estratégia que visava sensibilizar a sociedade brasileira,

criar um estado de comoção social. Por isso, o discurso oficial se

referiu a esse projeto de colonização como o verdadeiro sentido de

brasilidade, isto é, os brasileiros marchando juntos, conduzidos por

um único chefe (Vargas) para que se consumasse a conquista e

exploração de novos territórios.99

A colonização proposta na “Marcha para o Oeste” aconteceria

baseada na pequena propriedade. Para Vargas e mesmo para intelectuais

como Cassiano Ricardo, a pequena propriedade amenizaria os conflitos

sociais no sudeste, no campo e promoveria o desenvolvimento

industrial do país.

Deste 1933, Vargas já defendia o retorno do homem ao campo como

solução para superar as crises sociais que se agravavam em

decorrência da intensificação da urbanização na região sudeste. Por

98 A Nova Política do Brasil, p. 261.99 Lenharo. Alcir, colonização e Trabalho no Brasil: Amazônia, Nordeste e Centro-Oeste, p.14.

181

isso, no programa da “Marcha para o Oeste”, defendeu que a aquisição

de terras deveria ser facilitada e os pagamentos parcelados.

Vargas ainda argumentou sobre a necessidade de obter capitais

nacionais para serem empregados na conquistas das regiões

“atrasadas”.

Para atingir as suas metas, o governo anunciou a desapropriação

de latifúndios improdutivos. Essa medida contrariou os interesses dos

latifundiários, que afirmaram que a Igreja através da Encíclica Rerum

Novarum, do papa Leão XIII, condenava a erradicação completa da

propriedade privada, mas não a sua divisão e indenização feita pelo

Estado. Outros alegavam que somente a produção agrícola em larga

escala era capaz de atender a demanda da industrialização.100

Apesar de todo esse combate, o Estado Novo continuou a defender

a necessidade de efetivar a colonização do oeste do Brasil. Assim o

governo, deixou de arrendar terras devolutas, pois segundo o projeto

cabia ao Estado adquirir terras, lotear e ceder aos trabalhadores

rurais. Foi dentro desta conjuntura que o governo se negou a fazer um

novo arrendamento de terras no sul de Mato Grosso para a Companhia

Mate-Laranjeira.

Desta maneira, o Estado deveria criar uma infra-estrutura

necessária para atender a colonização e combater a especulação da

terra.

Ainda no contexto da “Marcha para o Oeste”, o governo estimulou

a criação de Colônias Agrícolas. Essas colônias agrícolas estavam

subordinadas ao Ministério da Agricultura, eram formadas em pequenas

propriedades, e deviam cultivar produtos agrícolas de largo consumo.

100 Idem, p. 25

182

A exemplo, o governo federal criou em Mato Grosso, a colônia de

Dourados.

O governo Vargas fundou também as colônias militares e de

fronteiras, pois não esqueçamos, que na Europa ocorria a Segunda

Guerra mundial, suscitando no governo brasileiro a preocupação em

defender os territórios de fronteira. Para criar essas colônias, o

governo expropriou as terras da Brasil Railway, que estavam

concentradas nas fronteiras de Mato Grosso e Santa Catarina com a

Bolívia, Paraguai e Argentina. Além dessa empresa, a política de

Vargas atingiu a “Brasil Land”, que possuía terras em Corumbá e

Cáceres, Fomento Argentino que acumulava terras em Porto Murtinho.101

Apesar de todos os esforços em defesa de uma colonização pautada

na pequena propriedade, as propostas não avançaram em conseqüência

das dificuldades materiais e do preparo dos colonos. Com o fim da

ditadura de Vargas (1945), as terras destinadas a colonização foram

redistribuídas ficando em posse de poucas pessoas.

Expedição Roncador-Xingu

Em 1943, com a Segunda Guerra Mundial, o governo brasileiro

acreditava na possibilidade de uma imigração européia em direção ao

interior do Brasil. Além disso, as autoridades governamentais viam a

região do Araguaia, entre Goiás e o Mato Grosso, como o Brasil

desconhecido, pronto a ser explorado, e conseqüentemente integrado ao

território nacional.

101 Ibidem, p.49

183

Porém essa região desconhecida pelo homem branco era habitado

por dezenas de nações indígenas, que possuíam uma atividade econômica

voltada para suprir as necessidades do cotidiano.

Esse imenso território, cercado pelas florestas, pelos rios

abundantes, era rico em produtos do extrativismo vegetal e mineral, e

por isso acabou despertando o interesse de garimpeiros, capitalistas,

do governo federal e dos militares.

Assim motivado pela defesa do território e pelos interesses do

capital, Getulio Vargas em 1943, depois de sobrevoar a região do

Araguaia e constatar a sua imensidão e o seu potencial econômico

anunciou a nação a criação da Expedição Roncador- Xingu.

A expedição estava sob a coordenação do ministro da Coordenação

de Mobilização Econômica, João Alberto, que declarou a imprensa

carioca que,

A expedição tem objetivos não apenas desbravadores, mas principalmente

colonizadores. Não pode ter a marcha rápida de um meteoro, colhendo aqui e ali

informações geográficas e cientificas. Nem tem simplesmente o desígnio de chegar a um

determinado lugar sem deixar pelo trajeto nenhum marco de sua passagem. Os lugares

atingidos serão lugares conquistados para a civilização, integrados na economia nacional. 102

Para o Getulio Vargas e o ministro João Alberto, a Expedição

Roncador -Xingu seria responsável pela integração da região oeste ao

país.

A expedição inicialmente foi comandada pelo Coronel Flaviano

Vanique, e era composta por sertanejos recrutados na região Centro-

Oeste. Em 1943, os expedicionários começam uma longa marcha para a102 O Estado de São Paulo, 19 de agosto de 1943.

184

região do Araguaia. Adentraram pelo território considerado como

desconhecido, enfrentando os animais ferozes, e mantiveram o primeiro

contato com os povos indígenas. Logo, o governo federal certificou

que precisava arregimentar mais homens.

Essa viagem fantástica foi noticiada pela imprensa brasileira e

acabou atraindo a expedição os irmãos Villas Boas (Orlando, Cláudio e

Leonardo), que embora não fossem sertanejos, acabaram sendo aceitos

pelo governo.

Ao entrarem no Araguaia, a expedição se deparou com os índios

Xavantes. Este foi o primeiro contato do povo xavante com o homem

branco. Os xavantes se dedicavam principalmente a caça, e nesse

primeiro contato ficaram bastante assustados fugindo para as matas.

Com a posse na presidência da Republica de Eurico Garpar Dutra,

os irmãos Villas Boas assumiram a chefia da Expedição Roncador –

Xingu. Sob a liderando dos Villas- Boas, a expedição entrou em

contato com os diversos povos indígenas que habitavam aquela região.

A expedição percorreu aproximadamente 1.500 quilômetros, e em

decorrência dos seus trabalhos vilas e cidades foram surgindo, campos

de aviação foram construídos e mantiveram contato com 5 mil índios,

das mais variadas etnias.

Para atingir os seus objetivos de forma mais efetiva, a

expedição se dividiu em dois grupos; um avançava pela selva, e o

outro montava os acampamentos que posteriormente deram origem as

primeiras vilas da região. A exemplo, podemos citar, Aragarças em

Goiás e Barra do Garças em Mato Grosso.O governo federal para

promover o povoamento dessas cidades estimou a imigração.

Os irmãos Villas Boas a medida que mantinham contatos com os

povos indígenas, conhecendo a sua diversidade cultural passaram a185

idealizar a criação do Parque Indígena do Xingu. A criação dessa

reserva indígena somente foi criada oficialmente em 19 de abril de

1961, durante a presidência de Jânio Quadros quando o Congresso

Nacional aprovou o Decreto nº 50.455, que estabeleceu as suas

fronteiras legais.

Os irmãos acreditavam que a criação de reservas e parques

indígenas seriam uma proteção para os índios. Defendiam que a

integração do índio a sociedade brasileiro deveria ser lenta, para a

garantir a sobrevivência do índio, as identidades étnicas e culturais

desses povos.

Os irmãos Villas Boas estiveram a frente na direção do Parque e

durante a sua administração organizaram programa medico de

assistência aos índios, promovendo vacinações para combater as

epidemias que grassavam entre os índios, especialmente o sarampo.

Entretanto, o contato com os brancos provocou mudanças no

interior das sociedades indígenas, como o decréscimo da produção

artesanal.. Outra mudança significativa foi a perda da autoridade dos

chefes indígenas, pois o poder dos funcionários do Parque eram bem

maiores. Apesar desses pontos negativos a política de Saúde Publica

desenvolvida na administração dos irmãos Villas Boas garantiram a

vida de muitos índios.

Capítulo 18: República Populista em Mato Grosso

A participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado dos

aliados acarretou na crise política do Estado Novo, pois as forças

brasileiras combatiam na Itália a ditadura fascista de Benito186

Mussolini, no entanto, Getulio Vargas mantinha no Brasil um regime

ditatorial de feições fascista.

Em 1943, manifestações contra a ditadura estadonovista começaram

a surgir no país, como o Manifesto dos Mineiros, documento redigido

por intelectuais brasileiros pedindo o fim da ditadura e a

redemocratização do país.

Pressionado pelo crescimento da oposição à ditadura, Getulio

Vargas resolveu então conduzir o processo democrático. Concedeu

anistia aos presos políticos e decretou uma emenda constitucional

regulamentando a criação de partidos políticos e estabeleceu a

realização das eleições para o final de 1945.

Na verdade, Getulio Vargas ao perceber que não havia mais como

manter a ditadura preferiu conduzir o processo democrático e com

certeza almejava continuar no poder.

Assim como resultado da democratização, Vargas organizou dois

partidos políticos; o PSD, Partido Social Democrata, composto por

interventores federais nos estados e pela burocracia estatal do

Estado Novo; e o PTB, Partido Trabalhista Brasileiro, criado a partir

dos sindicatos controlados por Vargas.

Paralelamente surgiram os partidos de oposição: UDN, União

Democrática Nacional, de caráter liberal, e voltou a legalidade o

PCB, Partido Comunista Brasileiro, liderado por Luís Carlos Prestes.

Com a redemocratização, o povo manipulado pelo PTB, saiu às ruas

em comícios pedindo “Queremos Getulio”. Este movimento ficou por isso

conhecido como “queremismo”.

Contudo a adesão ao “Queremismo” acabou contando com a

participação do Partido Comunista, que ao lado do PTB defendia o

continuísmo de Vargas. E importante frisar, que o apoio do PCB à187

candidatura de Vargas seguia as orientações de Moscou no combate ao

regime fascista.

A aliança entre Vargas e o PCB gerou uma desconfiança entre os

militares do Exército brasileiro, que acreditavam que Vargas estava

armando mais um golpe para continuar no poder. Com isso, em outubro

de 1945, os comandantes do Exército, Góis Monteiro e Dutra derrubaram

o presidente e garantiram às eleições. Era o fim do Estado Novo e o

inicio de uma nova fase política no país.

Essa novo período da república brasileira foi caracterizado pelo

“populismo”. O populismo foi um fenômeno político presente nos paises

latino americanos a partir da década de 30, e era típico de uma

sociedade em transição do rural para o urbano, o industrial. Através

do populismo, os governantes e as elites burguesas manipulavam as

massas operárias e os setores mais pobres da classe média.103

No Brasil, a industrialização promovida por Vargas acarretou em

uma intensa urbanização principalmente na região sudeste, e também

medidas como o voto feminino acabaram aumentando o colégio eleitoral

nos grandes centros. Desta maneira, os candidatos a cargos eletivos

tinham consciência que para vencer as eleições era preciso cativar as

massas populares urbanas.

Embora a economia de Mato Grosso continuasse a ser

essencialmente agrária, a estrutura política do estado foi fortemente

influenciada pela conjuntura nacional que marcou o país após 1945.

Neste período, Cuiabá como capital do estado congregava todo o

funcionalismo público estadual e atraía migrantes das áreas rurais.

Estes fatores acabaram contribuindo para o crescimento urbano da

capital.103 Ianni, Otavio. A formação do Estado Populista no Brasil, p. 8-12.

188

No entanto, apesar das mudanças, observava-se ainda a manutenção

de formas arcaicas políticas. Logo, a estrutura política estadual era

caracterizada pela coexistência do coronelismo e clientelismo, como

também pela ascensão urbana na composição dos grupos dirigentes e uma

maior participação do sul no poder.

Percebe-se que mesmo com as alterações ocorridas com o fim do

Estado Novo, em Mato Grosso, as oligarquias tradicionais continuavam

a ocupar os espaços políticos. e através do clientelismo, os caciques

políticos regionais continuavam a ser a base dos partidos políticos

durante a vigência da republica populista.

A semelhança de outras regiões do país, os partidos que mais se

destacaram na política estadual foram o PSD, o PTB e a UDN.

Segundo Novis Neves em sua obra “Leões e Raposas na Política de

Mato Grosso”, o PSD, como partido do governo foi beneficiado pela

estrutura do poder estadonovista. A criação do partido tinha como

meta garantir para Vargas as suas bases eleitorais nos estados. Seus

aliados em Mato Grosso eram os representantes do Estado Novo, como os

“Müller”. Portanto, o partido garantia assim a sobrevivência da

máquina burocrática do Estado Novo em um regime democrático.

O PTB, partido criado por Vargas para conquistar a massa

operária teve em Mato Grosso as suas especificidades. Foi formado por

Julio Muller e acabou absorvendo parte das oligarquias rurais.

O partido se destacou pela sua aliança com o PSD e teve como

reduto as cidades de Corumbá, Campo Grande e as zonas de migração

gaúcha.

A UDN, representou a oposição a Vargas e ao Estado Novo. Era

composta por oligarcas que tiveram seu poder aniquilado por Vargas e

por aqueles que foram marginalizados pelo Estado Novo e189

conseqüentemente pelos “Müller”. O partido teve como principais

expoentes Vespasiano Martins, que possuía forte influência política

no sul devido a sua participação no movimento separatista e pelo o

Dr. Agrícola Paes de Barros, médico idolatrada pela população

cuiabana.

O PCB, não encontrou espaço político para atuar em Mato Grosso.

O Estado praticamente não contava como uma massa operária a exemplo

da região sudeste. Na verdade, o foco do partido ficou restrito a

Campo Grande com a adesão dos ferroviários e em Corumbá.

Ainda vale ressaltar, que apesar das disputas partidárias, os

adversários políticos mantinham relações de compadrio, de amizade e

muitas vezes se relacionavam devido aos laços familiares.

Durante a republica populista, os governantes que estiveram à

frente da administração do Estado preocuparam-se principalmente em

criar uma infra-estrutura visando o desenvolvimento de Mato Grosso.

Aliás, essa política foi empregada no governo de Dutra através do

Plano SALTE, como também no governo de JK.

Assim durante essa fase republicana, o governo do estado mais

precisamente durante a gestão de Arnaldo de Figueiredo (1947-1950)

estimulou a construção de estradas, e para atingir as suas metas

criou a Comissão Estadual de Estradas de Rodagem, que mais tarde se

transformou no Departamento de Estradas de Rodagem ─ DERMAT..

No período de 1951 a 1956, governou Mato Grosso, Fernando Correa

da Costa. Em seu governo foi criado a Secretaria de Educação e Saúde

de Mato Grosso, e continuou a promover o desenvolvimento rodoviário

do Estado. Iniciou também a construção da Usina de Casca II e a de

Mimoso.

190

Em 1951 a 1961, governou o estado, João Ponce de Arruda, que

abriu novas estradas como São Vicente- Jaciara e Rondonópolis e

estimou a colonização do Vale do São Lourenço. Concluiu a construção

da Usina de Casca e do Mimoso, e investiu na edificação de obras

públicas, como por exemplo, o Palácio Alencastro em Cuiabá.

Capitulo 19: Mato Grosso durante a Ditadura Militar (1964-1985)

Em 1964, o presidente João Goulart foi deposto do poder através

de um golpe militar. Os militares contaram com o apoio de segmentos

civis da sociedade brasileira, pois se viam ameaçados pelas propostas

da Reforma de Base. Estes grupos sociais conservadores alegavam que o

comunismo tomava o país, colocando em risco à propriedade privada, a

religião, a liberdade e a família brasileira. Além disso, os

militares contaram também com o apoio do capital estrangeiro que viam

na política nacionalista do governo Goulart um entrave aos seus

interesses econômicos.

O novo regime instalado estendeu-se por vinte e um anos e teve

como presidentes os seguintes militares: Humberto Castello Branco,

Artur Costa e Silva, Emilio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João

Batista Figueiredo.

Foi um período de intensa repressão, no qual o governo

ditatorial criou medidas para frear os opositores, como a censura e

os Atos Institucionais. Líderes de esquerda, sindicalistas,

intelectuais e muitos políticos oposicionistas foram banidos do país.

Economicamente, pregavam a retomada do desenvolvimento, e para

isso favoreceram a entrada do capital estrangeiro e promoveram uma191

política salarial baseada no arrocho. Na década de 70, mais

precisamente durante o governo de Médici, a econômica brasileira

atingiu altos índices de crescimento, e por isso foi denominado de

“milagre”brasileiro.

O “milagre” brasileiro se deu devido ao ingresso maciço do

capital estrangeiro. O Brasil era bastante interessante aos

investidores estrangeiros, pois possuía um amplo mercado consumidor

favorecendo a obtenção de lucros. O combate às esquerdas e a

estabilidade econômica do governo de Castelo Branco contribuíram

para tornar o país atrativo ao capital estrangeiro.

No entanto, a política econômica adotada pelo governo provocou a

dependência do país ao capital estrangeiro gerando um crescimento

alarmante da dívida externa brasileira.

Foi nesse contexto, que o governo Médici lançou o Programa de

Integração Nacional (PIN), que visava integrar a região amazônica ao

capitalismo, promovendo com isso a “ocupação” de regiões rotuladas

pelo discurso oficial como “distantes”, “espaços vazios”. A

colonização do norte de Mato Grosso está inserido neste período

histórico.

Colonização do Norte de Mato Grosso

A intenção de promover a colonização de Mato Grosso não era uma

novidade. Desde o século XIX, as elites regionais e os viajantes ao

percorreram este vasto território defenderam que o progresso da

Província somente seria alcançado através da colonização particular.

192

Segundo, os viajantes, Mato Grosso era “o limite entre a barbárie e a

civilização, área geográfica vista como reservatório de recursos econômicos e vazio

populacional, sendo imperativo conquistar, povoar, explorar, colonizar.” 104

Embora a colonização particular não tenha se concretizado até o

final do século XIX, observamos que o imaginário de Mato Grosso, como

um território repleto de riquezas a serem exploradas pelo capital,

isolado, de baixa densidade demográfica continuou presente nos

discursos do governo republicano durante o século XX

Nos anos 70 e 80, o governo ditatorial retomou o discurso de

integrar a região Amazônica, ou seja, o Mato Grosso, Rondônia, o Acre

ao capitalismo.

Para isso, o governo federal através de uma ação interventora

criou empresas estatais, facilitou financiamentos nos Bancos federais

como o BASA (Banco da Amazônia), importou tecnologias e investiu em

obras de infra-estrutura para patrocinar a colonização dessas

regiões, que ainda não tinham sido atingidas freneticamente pelo

capitalismo.105

A colonização também visava resolver os problemas sociais

existentes na região nordeste motivada pela estagnação econômica e da

região sul, uma vez que a modernização da agricultura acarretou em

uma supervalorização da terra, que gerou a concentração de terras.

Desta forma, muitas pessoas desprovidas da propriedade de terras e

sem trabalho foram expulsas do campo e partiram em direção a região

Amazônica.

104 Galetti, Lylia. O Poder das Imagens: O lugar de Mato Grosso no Mapa da Civilização, p.22.105 Neto, Wenceslau Gonçalves, Mudança no Estado e na Política Agrícola Brasileira, p.224.

193

Para atingir os seus objetivos, o governo federal através dos

meios de comunicação de massa, apresentaram a Amazônia como uma nova

Canaã, a terra da promessa, a terra fértil, rica, onde todos podiam

ter acesso. Entretanto, esse projeto de colonização pretendia atender

aos interesses da elite nacional e do capital estrangeiro. Assim

caberia a eles conduzir a colonização. Nesta perspectiva, a

colonização empreendida pelos militares teria como parceiro a

iniciativa privada, que através das colonizadoras particulares

levariam o desenvolvimento econômico a região e controlariam as

tensões sociais no campo. 106

Assim o governo federal em 1972, fundou o Incra, através do qual

vendeu terras devolutas da Amazônia para as colonizadoras

particulares, que pretendiam instalar projetos voltados para a

agropecuária, agroindustriais e de exploração mineral. Criou também a

SUDAM e a SUDECO. E para ter acesso a região, o governo federal

construiu rodovias como Cuiabá-Santarém e a Cuiabá- Porto Velho.

Paralelamente, o governo de Mato Grosso seguindo as diretrizes

do governo federal, permitiu a licitação de terras devolutas no

Estado para as colonizadoras particulares. E para estimular os

projetos de colonização, o governo estadual criou a CODEMAT(Companhia

de Desenvolvimento do Estado de Mato Grosso), que tinha a função de

criar infra-estrutura em áreas de fronteiras e promover o

desenvolvimento da economia e a integração do territorial do Estado.

A política de colonização empreendida pelo governo federal

atraiu para o norte Estado de Mato Grosso, muitos colonizadores e

colonos, que vieram principalmente da região sul, sonhando com vida

melhor, mais próspera.106 Neto, Regina Beatriz. A Lenda do ouro Verde, p.84 e 85

194

Os colonizadores confiando na ação governamental, venderam as

suas terras no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, e

com a venda puderam adquirir terras bem mais baratas em Mato Grosso.

Muitos destes desbravadores em poucos anos ampliaram a suas posses, a

sua propriedade, entretanto, para muitos o sonho virou pesadelo, pois

se endividaram e tiveram que vender a preço baixo a sua propriedade.

Muitos empresários, ao adquirem terras ao norte investiram na

construção de cidades. Desta maneira, observamos na década de 70 e

80, o surgimento de uma rede urbana que se desenvolveu principalmente

ao longo das rodovias.

As cidades construídas pelas colonizadoras particulares, ao

Norte de Mato Grosso, foram edificadas no meio das matas, apresentam

um traçado moderno, com vias largas, quarteirões definidos, bairros

planejados e hierarquizados.

Com o objetivo de atrair moradores para às cidades, essas

cidades eram apresentadas pela mídia a sociedade brasileira, como

lugares de ascensão social e de enriquecimento. As novas cidades

possuíam campo de aviação, cinemas, mercados, escolas, hospitais,

dentre outros.

Anexar o mapa do livro da Ivane Piaia, p. 33

De acordo com as estimativas do IBGE, no período de 1960 a 1985,

em decorrência da política colonizadora promovida pelo governo

federal, a população do Norte de Mato Grosso aumentou em 6,7 vezes, e

em 1985 contava com o total de 423.528 habitantes.107

107 Piaia, Ivane, Geografia de Mato Grosso, p.30.

195

Apesar da colonização patrocinada pelo governo federal e pelas

colonizadoras particulares terem atraídos muitas pessoas a Mato

Grosso, e do discurso oficial apresentar a “ocupação “ do território

como solução para o desenvolvimento econômico do Estado, os projetos

de colonização trouxeram seqüelas, como conflitos com os índios, a

depredação da natureza e a expulsão da terra dos seringueiros e dos

pequenos agricultores. Na realidade, ocorreu a concentração da terra,

o predomínio do latifúndio, agravando mais ainda os conflitos sociais

no campo.

Em decorrência da política de colonização, a cidade de Cuiabá

passou também por inúmeras transformações, pois no mesmo período,

muitas pessoas chegaram a Cuiabá. Houve inicialmente um choque

cultural, os cuiabanos rotularam os migrantes de “pau-rodados”, e

estes por sua vez, ao virem de regiões nas quais o capitalismo estava

em um estagio avançado, consideraram os hábitos da gente dessa terra

muito estranho, como fazer a sesta depois do almoço ou colocar as

cadeiras nas calçadas em noites de calor para conversar com os

vizinhos.

Cuiabá teve o seu espaço urbano alterado, a cidade colonial

ganhou novas feições, casarões antigos que marcavam a memória

coletiva foram derrubados na área central para o surgimento de

prédios com traçados modernos, foram construídas avenidas largas e

arborizadas.

A cidade passou a contar com novos bairros, e hoje ao

transitarmos pelas principais vias da cidade, praças e becos se

estivermos atentos podemos perceber o quanto este espaço geográfico

está repleto de história.

196

No tocante, a conjuntura política, Mato Grosso foi governado

durante esse período político pelos seguintes governantes:

1966-1971: Pedro Pedrossian. Durante a sua gestão criou o

Instituto de Ciências e Letras de Cuiabá e o Instituto de Ciências

Biológicas de Campo Grande. Em 1970, sobre a presidência de Médici,

foi criado a Universidade Feral de Mato Grosso.

Inserir imagem da UFMT

1971-1975; José Fontanilha Fragelli. A sua administração foi

marcada pela criação de rodovias vicinais, como a Cuiabá- Santo

Antonio do Leverger, Paranaíba-Cassilândia e a Itaporã- Dourados.

Ocorreu também a construção da linha de transmissão de Cachoeira

Dourada a Cuiabá. No setor educacional patrocinou a construção da

Escola Presidente Médici em Cuiabá e iniciou a edificação do Centro

Político Administrativo (CPA) e do Estádio Verdão.

1976-1979: José Garcia Neto. Promoveu a fundação da Promoção

Social (PROSOL), asfaltou a estrada Cuiabá- Chapada dos Guimarães,

Nossa Senhora do Livramento- Poconé, iniciou o Terminal Rodoviário de

Cuiabá, e criou a Fundação Cultural de Mato Grosso. Foi durante a sua

administração, que o Presidente Geisel aprovou a Lei Complementar Nº

31, dividindo o Estado de Mato Grosso.

José Garcia Neto não terminou o seu mandato, pois renunciou para

se candidatar ao senado. Com a sua renuncia foi substituído pelo

vice-governador, Cássio Leite de Barros. E foi na gestão de Cássio

Leite de Barros que se efetivou a divisão do estado.

197

1979-1983: Frederico Carlos Soares de Campos. Durante a sua

administração foram criados novos municípios em Mato Grosso;

Araputanga, Jauru, Rio Branco, Pontes e Lacerda, dentre outros. Para

estimular a colonização de Mato Grosso, o governador patrocinou a

construção de estradas, a extensão da rede elétrica, a expansão do

sistema de abastecimento de água, construiu moradias populares,

ampliou o números de escolas, uma vez que a população mato-grossense

estava em expansão em conseqüência da migração.

Os migrantes ao chegarem eram conduzidos ao Centro de Triagem e

Encaminhamento de Migrantes (CETREMIs), aonde eram cadastrados e

encaminhados as áreas de migração.108

1983-1987: Julio José de Campos. Foi o primeiro governador

eleito pelo voto direto vencendo o candidato Pe. Pombo (PMDB). No seu

governo deu prioridade a construção de estradas e ao setor energético

implantando usinas termoelétricas em Sinop, Sorriso e Alta Floresta e

de Usinas hidrelétricas em Apiacás, Primavera, Juína e Aripuanã. Além

disso, Julio Campos deu continuidade a política de colonização do

norte de Mato Grosso.

Em 1986, o governador deixou o governo para se candidatar a

deputado federal, tomando posse então o vice-governdor, Wilmar Peres.

A Divisão de Mato Grosso

Em 31 de outubro de 1977, durante a gestão do presidente Ernesto

Geisel foi promulgada a Lei Complementar nº31, que estabeleceu a

108 Siqueira, Madureira, Historia de Mato Grosso; Da ancestralidade aos dias atuais,p.213.

198

divisão do Estado de Mato Grosso. Foi criado então o Estado do Mato

Grosso do Sul e se manteve o Estado do Mato Grosso. O movimento

separatista teve a frente os sulistas, que em luta pela divisão do

Estado argumentaram que a cisão era fundamental, pois

1.O poder político era exercido principalmente pelos cuiabanos.

2.A receita pública estadual era maior no sul, no entanto, os

benefícios ficavam principalmente em Cuiabá.

3.Os empregos públicos eram ocupados pelos cuiabanos.

4. Havia diferenças históricas e culturais entre o norte e o

sul.

Assim sustentados por esses argumentos e devido aos interesses

econômicos e

políticos do governo ditatorial, os sulistas viram os seus anseios

concretizados em 1977.

Contudo para abordarmos a divisão do Estado, é importante

lembrar que essa aspiração se deu desde o final do século XIX.

Na década de 70, do século XIX, com o término da Guerra da

Tríplice Aliança, o Paraguai perdeu parte do seu território para a

Província de Mato Grosso. O aumento territorial da Província trouxe

muitas preocupações às autoridades governamentais, pois apontavam que

a dimensão do território representava um entrave para o

desenvolvimento da Província. Assim nascia a discussão sobre a

divisão de Mato Grosso.

No entanto, os primeiros sintomas do separatismo ocorreu em

1892, durante crise política que abateu o governo republicano com a

renuncia de Deodoro. Como já foi mencionado anteriormente, a crise

também se abateu sobre o Mato Grosso com a deposição do governador

Manoel Murtinho e a subida ao poder de Benedito Pereira Leite. Foi199

neste momento que em Corumbá, no sul de Mato Grosso, o coronel João

da Silva Barbosa, instituiu o Estado Livre de Mato Grosso ou

República Transatlântica. Apesar de todos os esforços, Murtinho

buscando o apoio do governo federal conseguiu combater esse movimento

separatista.

Ao retornar a presidência do Estado, Manoel Murtinho anulou as

decisões políticas tomadas pelo coronel Barbosa e decretou o fim da

Republica Transatlântica.

Apesar do combate as idéias separatistas empreendida pela

oligarquia do norte, em 1900, o coronel João (Jango) Mascarenhas e o

coronel João Barros Cassal lideraram um movimento no sul em prol da

divisão do Estado. As forças separatistas chegaram até Coxim, mas

foram combatidas por Generoso Ponce que tinha sobre o seu comando

três mil homens.

Em 1907, Generoso Ponce tomou posse no governo do Estado e de

imediato teve que enfrentar novamente uma onda de movimentos

separatistas no sul de Mato Grosso. Desta vez estava no comando o

coronel Bento Xavier. Esses movimentos separatistas contavam agora

com o apoio da Mate Laranjeira.

A empresa ervamateira teve o seu pedido de arrendamento de

ervais no sul negado pelo governo estadual, e em represália a decisão

governamental passou a apoiar os movimentos oposicionistas no sul.

Apesar do apoio recebido pela Mate Laranjeira, a luta foi em vão,

pois a oligarquia do norte conseguiu abafar os movimentos

separatistas.

Em 1932, o presidente Getulio Vargas enfrentou os paulistas na

Revolução Constitucionalista. Os rebeldes paulistas alegavam que

200

lutavam pela constitucionalização do país. A notícia da revolução

dividiu a opinião pública em todo o país.

Em Mato Grosso, o norte se manteve fiel ao governo getulista,

enquanto que o sul preferiu apoiar os paulistas na luta contra

Vargas. Para isso, o sul enviou a São Paulo um pequeno destacamento

militar liderado por Bertholdo Klinger. Além disso decretaram no sul

a criação do Estado do Maracaju.

O Estado do Maracaju tinha como sede do governo Campo Grande, e

como governador, o médico Vespasiano Barbosa Martins. Teve uma curta

duração, somente três meses, pois assim que Vargas aniquilou a

Revolução Constitucionalista, tropas foram enviadas ao sul de Mato

Grosso para conter os movimentos separatistas.

O movimento de 1932 foi abafado, porém deixou mais evidente as

diferenças entre o norte e o sul e mesmo derrotados, os sulistas

continuaram a sonhar com o separatismo.

Em 1934, Vespasiano Martins retomou a luta pelo divisão fundando

a Liga Sul-Mato-grossense, e através de manifestos ao Congresso

Nacional Constituinte, os sulistas pediam ao governo federal a

criação “de um território federal ou Estado Autônomo, na região sul de Mato Grosso

abrangendo os municípios de Sant’Ana, três Lagoas, Coxim, Campo Grande, Aquidauna,

Miranda, Porto Murtinho, Bela Vista, Nioac, Entre-Rios, Maracaju e Ponta Porá.”109

Mesmo com todos os argumentos apresentados pela Liga Sul Mato-

grossense, o governo federal não mostrou interesse em dividir o Mato

Grosso.

Ao final da ditadura de Vargas, o movimento no sul favorável a

divisão se reacendeu. Vespasiano Martins foi eleito em 1945 pelo sul

109 Silva, Jovam Vilela. A Divisão do Estado de Mato Grosso: Uma visão Histórica, p.155.

201

ao senado. Desta forma, os sulistas retomavam a luta pela divisão.

Observava-se no Congresso Nacional uma cisão no tocante a essa

problemática; os políticos sulistas defendiam a separação enquanto

que os políticos que representavam Cuiabá tentavam abafar o

separatismo.

Ao final dos anos 50, no sul de Mato Grosso, uma caravana

percorreu toda região buscando a apoio de mais pessoas a causa

separatista. Este movimento tinha como sigla MDM ( Movimento

Divisionista de Mato Grosso) e possuía como lema “Dividir para

multiplicar”. Este movimento foi revelado a todo o país através dos

meios de comunicação ganhando repercussão nacional, mas mesmo assim a

divisão não aconteceu.110

No início da década de 60, Jânio Quadros tomou posse na

presidência da República. O novo presidente era natural de Corumbá e

com isso os sulistas tentaram mais uma vez a divisão do Estado,

contudo viram o seu pedido negado. Entretanto não desistiram, e em

1963, na cidade de Corumbá reuniram-se no III Congresso dos

Municípios de Mato Grosso. Durante a realização do Congresso, os

sulistas elaboraram um documento pedindo a criação do Estado do Mato

Grosso do Sul, mas novamente o pedido foi recusado.

Em 1964, com a implantação da Ditadura Militar, os separatistas

tiveram as suas vozes silenciadas. Porém, no inicio da década de 70,

com o interesse dos militares em integrar a região Amazônica ao

capitalismo, os sulistas encontraram espaço político para defender a

divisão.

Em 1977, o governo Geisel interessado na integração nacional e

no crescimento econômico do país, determinou a divisão do Mato110 Idem, p.179.

202

Grosso. Ficou estabelecido que o novo Estado criado ao sul receberia

o nome de Campo Grande. Essa decisão, no entanto acabou provocando

protestos no sul do Estado. Assim o governo federal decidiu então

denominá-lo de Mato Grosso do Sul, e escolheu como capital a cidade

de Campo Grande.

Em 1977, governava o Mato Grosso, José Garcia Neto (PDS). Após a

divisão o governo do Estado foi exercido por Cássio Leite de Barros.

No entanto é importante frisar que a divisão do Estado somente foi

efetivada em 1979, sendo eleito como governador Frederico Carlos

Soares Campos.

Capítulo 20: A Nova República em Mato Grosso

Em 1985 com a posse de José Sarney na Presidência da República,

chegava ao fim os “anos de chumbo”. A economia brasileira enfrentava

uma profunda crise, na qual a inflação chegou a atingir 223% em 1984.

No entanto, a população brasileira acreditava que a existência de um

governo civil e democrático seria capaz de superar as mazelas

deixadas pelo governo ditatorial.

O governo de Sarney não conseguiu solucionar os problemas

brasileiros, a crise se agravou mais ainda, pois teve que enfrentar

os desafios de uma economia globalizada.

A economia brasileira dos anos 60 a 80 recebeu investimos

estrangeiros e muitas empresas internacionais instalaram seus

negócios no Brasil. Porém, o governo brasileiro reservava algumas

áreas, ditas como estratégicas, as empresas nacionais ou estatais. Na

203

década de 80 e 90, a economia brasileira tomou novos rumos com o

projeto neoliberal.

Essa etapa do capitalismo exigia uma crescente ampliação de

mercados e das barreiras protecionistas, como também, estimulou as

associações de livre comércio e a formação de blocos econômicos como

o NAFTA, a União Européia (EU) e o Mercosul.

No neoliberalismo, o Estado deveria deixar de ser

intervencionista e protecionista subordinando-se a economia de

mercado e atraindo ao país investimentos estrangeiros. Assim a era da

globalização exigia a integração da produção nacional ao modelo

internacional, ao projeto neoliberal.

Os pontos elementares do projeto neoliberal foram sistematizados

no Consenso de Washington, através do qual representantes do governo dos

Estados Unidos e dos paises latino-americano se reuniram para

estabelecer uma série de medidas que tinham como objetivo controlar a

inflação e modernizar o Estado. Dentre essas medidas foi determinado:

·Ajuste Fiscal: Cabe ao Estado eliminar o déficit público.

·A limitação do Estado na economia, enxugamento da máquina

pública

·Privatização das estatais.

·Redução de alíquotas de importação e estimulo ao intercâmbio

comercial entre as regiões, países para favorecer a globalização.

·Fim das restrições ao capital estrangeiro e permissão para a

instalação de instituições financeiras internacionais.

·Redução das regras do governo, no tocante a economia.

· Reforma no Sistema Previdenciário.

·Fiscalização dos gastos públicos.

204

Essas medidas não mudaram a realidade social. A sociedade

brasileira continuou caracterizada pelo apartheid social, na qual

milhares de brasileiros continuaram a viver em extrema pobreza, sem

direito a um prato de comida, a moradia e sem emprego.

Com a redemocratização e a entrada do país em uma nova fase

política, governaram Mato Grosso:

1987-1990: Carlos Gomes Bezerra (PMDB). Concedeu terra a

pequenos produtores, investiu na construção de estradas e de casas

populares, e no saneamento de bairros populares. Com a expansão do

capitalismo, e conseqüentemente a derrubada da mata, bem como a

destruição do cerrado, o governador desenvolveu uma política voltada

para o meio ambiente criando em sua gestão, a Secretaria de Estado do

Meio Ambiente.

Visando estimular o setor industrial foi criado o PRODEI

(Programa de Desenvolvimento Industrial), através do qual o governo

estadual concedeu incentivo fiscal aos empresários interessados em

investir no Estado.

Para dinamizar a economia criou a ZPE (Zona de Processamento de

Exportação) em Cáceres e propôs a construção da hidrovia Paraná-

Paraguai. A hidrovia era fundamental para a inserção de Mato Grosso

no Mercosul, pois através da navegação fluvial o estado manteria um

intercâmbio comercial com os países que compunham o Mercosul. Embora,

o a construção da hidrovia representasse para Mato Grosso uma

alternativa de circulação de mercadorias, a construção da hidrovia

provocou muitos embates e a obra acabou. No quadro abaixo, a

reportagem apresenta os motivos da paralisação da construção da

hidrovia Paraná-Paraguai.205

Hidrovia depende do Congresso

Nenhuma obra ou estudo referente à implantação da hidrovia

Paraguai-Paraná poderá ser feito sem a aprovação do Congresso

Nacional. A decisão partiu dos desembargadores do Tribunal

Regional Federal (TRF) da 1ª Região, em Brasília, e foi uma

resposta à apelação interposta pelo Ministério Público

Federal (MPF) em uma ação civil pública que tratava do

assunto. Conforme a decisão, em questões que afetam

diretamente comunidades indígenas e o meio-ambiente, é

preciso haver aprovação legal.

A obra é alvo de uma discussão que se arrasta há cinco anos.

Trata-se do escoamento de grãos por meio de barcaças que

atravessariam 3,4 mil quilômetros dos rios Paraguai e Paraná

entre Cáceres (oeste do Estado) e Nueva Palmira, no Uruguai.

O MPF alega que estão sendo realizadas pequenas obras nos

rios Paraguai e Paraná e em portos da região. Isto

caracterizaria, no entendimento dos procuradores, a lenta

implantação de um projeto maior para dar suporte à construção

da hidrovia Paraguai-Paraná sem, contudo, a autorização

legal.

206

Em defesa, a União afirmou que estudos de impacto ambiental

estão sendo realizados. As pequenas intervenções seriam obras

que não envolvem mudanças no curso dos rios ou drenagens

profundas. A respeito da questão indígena, a União alega que

os dois rios não estão dentro de terra indígena e os índios

seriam chamados a se manifestar a respeito da hidrovia,

depois de concluído o estudo de impacto ambiental, e se

houvesse necessidade.

O projeto para construção da hidrovia Paraguai-Paraná surgiu

de um acordo assinado em 1992 entre os cinco países que

compõem a Bacia do Prata: Brasil, Paraguai, Uruguai, Bolívia

e Argentina. Para implantação do projeto, foi criado um

comitê que atuaria em três frentes: operação da hidrovia,

melhoramento da infra-estrutura física e melhoramento da

infra-estrutura portuária.

Em setembro do ano passado, uma decisão judicial suspendeu o

licenciamento ambiental para novos empreendimentos na

hidrovia entre Cáceres e a Foz do Rio Apa (MS), na divisa do

Brasil com o Paraguai. Ambientalistas cobram a realização de

um Estudo de Impacto Ambiental (EIA/Rima) para toda a área,

ao contrário do que começou a ser feito no início, com

estudos pontuais.

Fonte: Diário de Cuiabá, 12/ 07/2003.

Retornando as realizações do governador Carlos Gomes Bezerra,

foi durante a sua gestão que ocorreu a proposta da construção da

Ferronorte. A Ferronorte foi inicialmente defendida por Vicente207

Vuolo, que argumentava em seus discursos e em entrevistas aos meios

de comunicação, que a construção da estrada de ferro facilitaria o

escoamento da produção agrícola do Estado.

Inserir imagem da ferrovia

Carlos Bezerra não chegou a cumprir o seu mandato, e em 1990 foi

substituído pelo vice-governador Edison de Freitas (1990-1992).

1991-1995: Jayme Veríssimo de Campos ( PFL). Para promover a

integração entre os municípios do Estado, o governo deu prioridade a

construção de estradas e pontes. Preocupou-se também com o escoamento

dos produtos mato-grossenses defendendo a circulação de mercadorias

pelo Oceano Pacífico.

1995-2002: Dante Martins de Oliveira (PSDB) . Foi eleito através

da coligação política formada pelo PDT, PMDB, PSDB, PC do B, PT, PV,

PSC, PMN, PSB e PPS. A sua administração foi marcada pelo Plano

Metas. Este plano tinha como objetivo a integração do estado de Mato

Grosso na conjuntura nacional e internacional. Para efetivá-lo, o

governo estadual deu prioridade a construção de rodovias, hidrovias e

ao setor de comunicação.

Durante a sua gestão muitos empresários nacionais e estrangeiros

investiram em Mato Grosso favorecendo o crescimento da produção na

agropecuária e agroindustrial.

208

Seguindo as diretrizes do projeto neoliberal, o governo estadual

extinguiu empresas estatais como a CEMAT, CODEMAT, CASEMAT, BEMAT e

COHAB.

Pensando em superar a crise energética e acelerar o

desenvolvimento econômico de Mato Grosso, o governo estadual concedeu

mais atenção ao setor energético. Foi construída a Usina do Manso e

um ramal de gasoduto Brasil- Bolívia.

Imagem da Usina do Manso

2002-2003: José Rogério Salles. Era vice-governador do Estado e

tomou posse, pois Dante de Oliveira se afastou antes de completar o

seu mandato para concorrer ao Senado Federal.

Na sua gestão ocorreu as eleições para o governo do Estado.

Nessas eleições, os candidatos que se destacaram foram Antero Paes de

Barros (PSDB) e Blairo Maggi (PPS), sendo vitorioso nas urnas Maggi.

209

Governadores do Estado de Mato Grosso

1889-1891: Antonio Maria Coelho.1891: Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro.1891: José Da silva Rondon.1891:João Nepomuceno de Medeiros Mallet.1891-1892: Manoel José Murtinho.1892: Junta Governativa1892: Luiz Benedito Pereira Leite.1892: Junta Governativa.1892:Luiz Benedito Pereira Leite.1892: André Virgilio Pereira de Albuqueruqe. 1892: José marques Fontes.1892: Generoso Ponce Leme de Souza Ponce.1892-1895: Manoel José Murtinho.1895-1897: Antonio Correa da Costa. 1897: Antonio Cesário de Figueiredo1897-1898: Antonio Correa da Costa.1898-1899: Antonio Cesário de Figueiredo.1899: Antonio Leite de Figueiredo.1899-1900: Antonio Pedro Alves de Barros.1900:João Paes de Barros.1900-1903: Antonio Pedro Alves de Barros.1903-1906: Antonio Paes de Barros.

210

1906-1907: Pedro Leite Osório.1907-1908: Generoso Paes leme de Souza Ponce.1908-1911: Pedro Celestino Correa da Costa.1911-1915:Joaquim Augusto da Costa Marques.1915-1917: Caetano Manoel de Faria Albuquerque.1917: Camilo Soares de Moura.1917: Cipriano da Costa Ferreira.1917-1918: Camilo Soares de Moura.1918-1922: Dom Francisco de Aquino Correa.1922-1924: Pedro Celestino Correa da Costa.1924-1926: Estevão Alves Correa.1926-1930: Mario Correa da Costa.1930: Aníbal de Toledo.1930: Sebastião Rabelo Leite.1930-1931: Antonio Mena Gonçalves.1931-1932: Artur Antunes Maciel.1932-1934: Leônidas Antero de Mattos.1934-1935: César de Mesquita Serva.1935: Fenelon Muller.1935: Newton Cavalcanti.1935-1937: Mario Correa da Costa.1937: Manuel Ari da Silva Pires. 1937-1945: Julio Strubing Müller.1945-1946: Olegário Moreira de Barros1946: Wladislau Garcia Gomes.1946-1947: José Marcelo Moreira.1947-1950: Arnaldo Estevão de Figueiredo.1950-1951: Jary Gomes.

211

1951-1956:Fernando Correa da Costa.1956-1961: João Ponce de Arruda.1961-1966: Fernando Correa da Costa. 1966- 1971: Pedro Pedrossian.1971-1975: José Manoel Fontonilhas Fragelli.1975-1978: José Garcia Neto.1978-1979: Cássio Leite de Barros1979-1983: Frederico Sólon Sampaio.1983-1986: Julio José de Campos.1986-1987: Wilmar Peres de Faria.1987-1990: Carlos Gomes Bezerra.1990-1991: Edison de Freitas.1991:Móises Feltrin. 1991- 1995: Jayme Veríssimo de Campos.1995-1999: Dante de Oliveira1999-2002:Dante de Oliveira.2002-2003: José Rogério Salles.

2003: Blairo Maggi

212

Atividades

1)(UNIC) A História de Mato Grosso registra movimentos sociais e

disputas políticas de grande relevância. Analise as afirmações:

I-Tanque Novo- movimento ocorrido em 1933 no município de que

resultou em perseguições por questões políticas e no julgamento de

Doninha.

II-Rusga- rebelião ocorrida em Cuiabá durante a Regência,

objetivando a retirada do poder político das mãos dos conservadores

para cede-los aos liberais.

III-Caetanada- luta política travada por dois chefes políticos

locais das zonas de garimpo no oeste mato-grossense.

a)se somente a I estiver correta.

b)se somente a II estiver correta.

c)se somente a III estiver correta.

d)se somente a I e II estiverem corretas.213

e)se somente a II e a III estiverem corretas.

2)(UFMT)Em Mato Grosso, a partir de 1970, o governo federal

coordenou projetos oficiais ao lado de outros da iniciativa privada

estimulando um fluxo migratório aberto pelas possibilidades daquele

momento. Sobre o assunto, assinale a afirmativa incorreta.

a)Foi construída a rodovia BR-364 (Cuiabá- Porto Velho), ao

longo da qual surgiram vários núcleos populacionais.

b)POLOCENTRO e POLONOROESTE são exemplos de programas federais

de colonização implementados à época.

c)A ocupação da nova fronteira agrícola no estado de Mato Grosso

foi predominantemente feita por migrantes das regiões sul e sudeste.

d)A lógica geopolítica do regime militar respaldou a decisão

federal de promover a ocupação da região norte de Mato Grosso.

e)Para a exportação da produção agrícola, foi propiciada a

abertura da navegação do rio Paraguai.

3)(UFMT) A respeito do regime republicano implantado no Brasil

em 1889, julgue os itens:

( )Do ponto de vista político, o novo regime não significou uma

profunda transformação, especial mente na perspectiva da população

rural.

( )A primeira constituição republicana (1891), ao garantir o

federalismo, liberou as elites regionais das limitações impostas pela

centralização monárquica, nesse sentido a “política dos governadores”

de Campos Sales consagrou o princípio da independência das

oligarquias frente ao poder central.214

( )Os mato-grossenses, a exemplo do que aconteceu com a

maioria dos brasileiros, ficaram surpresos com a proclamação da

Republica, embora as idéias republicanas já fossem veiculadas, no

mínimo, desde a Rusga, em 1834.

4)(UFMT) Entre os projetos propostos por Getulio Vargas durante

a sua administração, de 1930 a 1945, encontra-se a Marcha para o

Oeste. Em relação a este projeto, julgue os itens.

( ) A ocupação e a colonização da Amazônia Legal por meio da

reforma agrária eram propostas desse projeto.

( ) Um importante objetivo era transformar o território

brasileiro em um bloco homogêneo.

( ) Pretendia garantir a modernização do país com um

agressivo plano de estímulo à industrialização nos estados mais

distantes da capital federal.

( ) A expedição Roosevelt, financiada com capital

multinacional, demonstrou a ambigüidade do projeto.

5)(UFMT) Ao ocorrer o movimento de março de 1964, o governo de

Mato Grosso era exercido por:

a)Fernando Correa da Costa.

b)José Manuel Fragelli.

c)José Pedrossian.

d)João Ponce de Arruda.

e)José Marcelo Moreira.

215

6)(UFMT) Em relação ao predomínio político das oligarquias no

Brasil durante a Primeira Republica (1889-1930) e à ação dos chamados

coronéis, julgue os itens :

( ) Em Mato Grosso a disputa política ocorria entre a

oligarquia do norte composta pelos senhores de engenho, depois

usineiros e a oligarquia do sul composta por grandes pecuaristas e

comerciantes.

( ) O coronelismo entendido enquanto um sistema de troca

eleitoral, proteção e favores de um lado, e voto de outro, possuí um

caráter sempre pacífico.

( ) O coronelismo tinha base familiar e rural; o coronel era

ao mesmo tempo um grande latifundiário e chefe patriarcal.

7)(UNIC) São representadas citações que caracterizam

determinadas lutas políticas armadas em Mato Grosso. Analise-as:

I-“Em 1916, Caetano de Albuquerque, governador do Estado, eleito

pelo Partido Republicano Conservador, recusou-se a submeter as

injunções da política dos chefes dos partidos. A partir de então,

passou a sofrer ferrenha oposição dos partidários do coronel Azevedo

(chefe maior da agremiação). Isso levou o governador a ingressar no

Partido Republicano Mato –Grosssense. Iniciou-se assim a luta

armada.” (Alves, Louremberg. Qualquer semelhança não é mera

coincidência. Diário de Cuiabá, 7 de janeiro, 1977, A5)

II- “Paralelamente á luta armada, ocorreu o embate jurídico. È

que os deputados estaduais oposicionista...decretaram a cassação do

mandato de Caetano de Albuquerque e ao mesmo tempo, empossaram Manuel

Escolástico Virgínio no cargo de governador. A partir de então, Mato216

Grosso passou a contar com dois governadores.”(Alves, Louremberg.

Qualquer semelhança é mera coincidência. Diário de Cuiabá, 7 de

janeiro, 1977, A5.)

III-“Frente a este clima de convulsão a que passava o Estado,

vítima da fortíssima oposição desencadeada pelos membros do Partido

Republicano, o governador Antonio Pedro criou a “Divisão Patriótica”

com a finalidade de que a mesma pudesse garantir a tranqüilidade de

Mato Grosso, e conseqüentemente, o sucesso das medidas previstas no

novo programa do governo de Campos Sales. Coube a Totó Paes comandar

essa divisão que principiou seus trabalhos com a perseguição às

forças oposicionistas.”(Madureira, Elizabeth, Processo Histórico de

Mato Grosso).

Assinale a alternativa que faz referencia a Caetanada:

a)Somente a I

b)somente a III.

c)Somente as citações I e II.

d)somente as citações I e III.

e)Todas as citações se referem a Caetanada.

8)(UFMT) Na década de 70, o norte de Mato Grosso se constituía

no “paraíso privado” das empresas colonizadoras do país. Avalie os

itens abaixo:

a)O processo de ocupação do norte de Mato Grosso foi dirigido

pela colonização particular e acentuou milhares de colonos conhecidos

como “sem terra”.

217

b) A construção da Rodovia Cuiabá-Santarém estimulou a ocupação

do norte de Mato Grosso, e recebeu um enorme contingente de colonos

vindos do sul do país.

c)A colonização dirigida, sob o controle do INCRA, recebeu o

total apoio político e econômico do governo militar, sendo por isso

considerada como bem sucedida.

d)A ocupação da Amazônia, e em especial a do norte do Mato

Grosso, foi estimulada por discussões governamentais que

privilegiaram os interesses dos pequenos proprietários rurais.

e)Os incentivos fiscais e créditos oficiais para os projetos

agropecuários da Amazônia não beneficiaram os empresários que

investiram na região norte de Mato Grosso.

9)(UFMT) Os itens referem-se ao Mato Grosso republicano,julgue-

os:

( )A política de colonização empreendida por Getulio Vargas,

conhecida como “Marcha para o Oeste”promoveu, inclusive, a montagem

de Colônias Agrícolas, entre elas a de Dourados, hoje no Mato Grosso

do Sul.

( ) Desde o final do século XIX, o conceito de modernidade

assimilado pela elite brasileira incorporava a idéia de que entre as

nações não deveria existir diferenças nem barreiras. Com esse

objetivo, Candido Rondon Assumiu a tarefa da construção das linhas

telegráficas.

10) (UFMT) Sobre a colonização de Mato Grosso no século XX,

assinale a alternativa incorreta:

218

a)Getulio Vargas implantou a “Marcha para o Oeste”, que visava

instalar em Mato Grosso os sulistas.

b)A Colônia De Dourados foi um projeto de colonização que

instalou os sulistas em Mato Grosso.

c)Na década de sessenta ocorreu um crescimento populacional em

Mato Grosso, em função da colonização particular.

d)SUDAM e SUDECO foram projetos governamentais que instalaram o

pequeno produtor em Mato Grosso.

e) Em Mato Grosso, a colonização dirigida pelas empresas

particulares fez surgir várias cidades no Estado.

11)(Concurso da Secretaria de Segurança Pública) O governo

federal não resistindo ao secular anseio divisionista da população e

das lideranças políticas do sul, através da Lei Complementar Nº31 de

11 de outubro de 1977, divide o território mato-grossense e criou o

Estado de Mato Grosso do sul. Assinale a opção que apresenta o

presidente da Republica que assinou a lei e o governador de Mato

Grosso no momento da divisão e o primeiro governador de Mato Grosso

após a divisão.

a)General João Batista Figueiredo, José Garcia Neto e José

Fontanilhas Fragelli.

b)General Ernesto Geisel, José Garcia Neto, José Fontanilhas

Fragelli.

c)General João Batista Figueiredo, Frederico Carlos soares de

Campos e José Garcia Neto.

d)General João Batista Figueiredo, José Garcia Neto e Frederico

Soares de Campos.

219

e)General Ernesto Geisel, José Garcia Neto e Frederico Carlos

Soares de Campos.

12) (Simulado Gazeta) Em 1937, através de um golpe de Estado,

Getúlio Vargas implantou uma ditadura no país. Com a intenção de

reforçar o poder de Vargas, a ditadura estadonovista investiu na

propaganda propiciando para que o mito Vargas chegasse ao seu

apogeu.

Em 1954, o suicídio de Vargas parou o país, imobilizou os seus

inimigos e reforçou mais ainda Getulio como um grande mito

político.

Decorridos cinqüenta anos de sua morte, observamos que esse

acontecimento continua a ser relembrado e reforçado pelos

inúmeros mecanismos da memória.

Baseado em seus conhecimentos sobre o período getulista,

assinale a alternativa correta.

I- Getulio Vargas inaugurou no Brasil um novo tipo de

dominação política, isto é, o populismo, que consistiu no

aliciamento e manipulação das massas populares.

II- O Estado Novo para se legitimar perante a opinião publica

criou o DIP, que ficou encarregado de cuidar da propaganda

do governo, da censura e de organizar comemorações

oficiais.

III- Durante a ditadura, Vargas nomeou para governar os Estados,

os interventores federais. Para Mato Grosso indicou Julio

Muller, que promoveu na sua administração transformações no

espaço urbano de Cuiabá criando a Casa dos Governadores, o

220

Liceu Cuiabano, a Academia Mato Grossense de Letras e a

Avenida Getulio Vargas.

IV- Na década de 50, demonstrando uma de suas principais

características, o nacionalismo, Vargas criou a Petrobrás

garantindo ao governo brasileiro a pesquisa e exploração do

petróleo.

a) I,II,III,IV são corretas.

b) I,II e III são corretas.

c) I, II e IV são corretas.

d) I e II são corretas.

e) II e IV são corretas.

13) (Simulado- Gazeta) “Quem vive ao longo da linha Rondon

facilmente se julgaria na Lua. Imagine-se um território do

tamanho da França, três quartos inexplorados; percorrido somente

por pequenos bandos de nômades e atravessado de ponta a ponta

por uma linha de telegráfica.”(Lévi-Strauss, Claude. Tristes

Trópicos.)

A citação acima faz alusão as linhas telegráficas construídas

durante a Primeira República e que teve a frente de sua direção

Candido Mariano Rondon. Sobre a Comissão Rondon e as linhas

telegráficas, podemos considerar como incorreta a alternativa:

a)No inicio do século XX, o Mato Grosso e o Amazonas ainda eram

vistos como regiões atrasadas e vazias.

b)Para o governo republicano, a construção das linhas

telegráficas representava a ocupação e integração do oeste

brasileiro.

c) As idéias positivistas marcaram a ação da Comissão Rondon.221

d)Foi nesse contexto, que o governo republicano deu inicio a uma

política voltada para o índio, criando o Serviço de Proteção ao

Índio(SPI).

e)O trabalho na Comissão Rondon foi desempenhado exclusivamente

pelos índios, sob o comando de Rondon.

14) ) (UNIVAG) Na década de 70 e 80, o governo ditatorial

iniciou uma política de expansão agrícola, que tinham como um

dos seus objetivos a retomada do desenvolvimento da região

Centro-Oeste e Norte. A respeito deste contexto histórico é

incorreto afirmar que:

a)os projetos de colonização estavam inseridos no Plano de

Integração Nacional.

b)Para a expansão da fronteira agrícola, o governo federal criou

linhas de credito nas instituições financeiras federais.

c)Os colonizados eram provenientes principalmente da região sul

do país.

d)A construção de rodovias na região centro-oeste e norte eram

vitais para o sucesso dos projetos de colonização.

e)A colonização do norte de Mato Grosso amenizou os conflitos

sociais no campo, uma vez que esses projetos favoreciam a

distribuição de pequenos lotes de terra.

15) (UNIVAG) Ao final do século XIX, a dimensão territorial de

Mato Grosso já representava um empecilho aos seus

administradores. Ao entrarmos no século XX, o anseio pela

divisão do Estado cresceu no sul de Mato Grosso. No período222

Vargas, durante a Revolução Constitucionalista, o sul de Mato

Grosso chegou a se separar adotando o nome de Estado do

Maracaju, entretanto a vitória das forças getulistas abafou os

ideais de separação, que voltariam intensamente no governo

ditatorial. Assim a divisão do Estado de Mato Grosso foi

concretizada pelo presidente:

a)Figueiredo

b)Castelo Branco.

c)Médici.

d) José Sarney.

e)Ernesto Geisel.

16) A respeito do período republicano em mato Grosso, é valido

afirmar que:

I- O Partido Republicano foi fundado oficialmente em Mato

Grosso em agosto de 1888. Seus partidários chegaram a

fundar o jornal A República que teve uma curta duração.

II- Antonio Maria Coelho foi nomeado como o primeiro governador

do Estado de Mato Grosso.

III- Os primeiros anos da republica em Mato Grosso foi marcado

pela tranqüilidade política. Na verdade, a oposição

política iria surgir somente a partir da década de 20.

a)Somente a I está correta.

b)Somente a I e II estão corretas.

c)Somente a II e III estão corretas.

d)Somente a I e III estão corretas.223

e)Somente a II é correta.

17) Em 1891 foi promulgada a primeira Constituição de Mato

Grosso. A seguir, a Assembléia Constituinte elegeu para conduzir

o governo do Estado:

a)Antonio Correa da Costa.

b)Generoso Paes Leme de Souza.

c)Manuel José Murtinho.

d)Pedro Celestino.

e)Delfino Augusto de Figueiredo.

18) No inicio do governo oligárquico ocorreu um movimento social

que expressa claramente a disputa política entre os coronéis da

região e que representou a “política dos governadores” em Mato

Grosso. Estamos nos referindo a que movimento social?

a)Massacre da Baía do Garcez.

b)Caetanada.

c)Morbeck e Carvalhino.

d)Tanque Novo.

e)revolta de 1892.

19) Assinale a alternativa incorreta a respeito do governo de

Totó Paes de Barros:

a)Foi responsável por levar os produtos mato-grossenses a

Exposição Internacional de Saint-Louis.

b) Tinha como base de sustentação política Joaquim Murtinho.

c) Editou a revista O Archivo na qual há a reconstituição

histórica de Mato Grosso.224

d) Estimulou o comercio dos produtos do extrativismo vegetal

produzidos no Estado, como a erva-mate, a poaia e a borracha.

e)A sua decadência política aconteceu na Revolta de 1906.

20) A respeito da Comissão Rondon, assinale al alternativa

correta:

I-A Comissão Rondon tinha como objetivo interligar o território

brasileiro através da construção das linhas telegráficas.

II- O Sistema adotado pela Comissão era do telegrafo a fio,

transmitido através do Código Morse.

III-Para realizar a construção do telegrafo, a expedição Rondon

contou com a participação de botânicos, médicos, engenheiros,

sanitaristas, fotógrafos, presos civis e índios.

a)Todas as afirmações são corretas.

b) Somente a II está correta.

c)Somente a I e III estão corretas.

d)Somente a II e a III estão corretas.

e)Somente a III está correta.

21) Nos primeiros anos da década de 30 aconteceu em Poconé, o

movimento social chamado de Tanque Novo. A respeito deste

movimento social, é errado afirmar que:

a)Teve a frente Laurinda Lacerda Cintra que era conhecida em

toda a região por Doninha.

b) Doninha e sua gente foi perseguida pelo interventor federal

Antonio Mena Gonçalves.225

c) Foi um movimento político e estava relacionado as eleições

para a Assembléia Constituinte em 1933.

d) Esteve intimamente associado a Vargas.

e)Doninha fazia oposição a Vargas em Poconé.

22) Em 1945 com a deposição de Vargas chegava ao fim o Estado

Novo. Ao mesmo tempo, a democracia retornava ao país. Sobre esse

contexto histórico, assinale a alternativa correta:

a)A UDN representação os anseios da burocracia estadonovista e

tinha no Dr. Agrícola Paes de Barros um dos seus principais

representantes.

b)O PTB foi fundado em Mato Grosso por Vespasiano Martins e

contou com a adesão maciça da massa operaria.

c) O PCB se destacou em Cuiabá ao receber o apoio dos grêmios

estudantis.

d) Nesse período observa-se o crescimento político do sul do

Estado.

e)A entrada em um regime democrático foi favorecido pelo fim do

poder das oligarquias.

23) Com o fim da ditadura tomou posse no governo do Estado o

desembargador Olegário Moreira de Barros que conduziu as

eleições. Para o governo do Estado foi eleito Arnaldo Estevão de

Figueiredo. A respeito da sua administração, todas as afirmações

estão corretas, exceto:

a)Foi eleito pela coligação partidária PSD/PTB.

b)No seu governo foi estimulada a colonização de Mato Grosso.

226

c)Patrocinou a construção de varias estradas criando a Comissão

Estadual de Estradas de Rodagem (CER).

d) Estimulou a construção no sul do estado da Ferrovia Noroeste

do Brasil.

24) O primeiro governador de Mato Grosso eleito pelo voto direto

ao final do governo militar foi:

a)Frederico Campos.

b)Julio José de Campos.

c)José Garcia Neto.

d) Dante de Oliveira.

e)Fernando Correa da Costa.

25)Avalie os itens abaixo:

( )O rasqueado é uma dança de origem africana e é dançada com

freqüência nas regiões de cultivo de cana-de-açúcar como Santo

Antonio do rio Abaixo.

( ) Em Vila Bela, a Dança do Congo ou Dança do Chorado é uma

oferenda aos santos negros.

( )As touradas eram realizadas no Campo do Ourique, na cidade

de Cuiabá e consistia em uma homenagem ao Divino Espírito

Santo.

( )Nas Cavalhadas seus participantes representam a luta

travada entre os cristãos e os mouros na Península Ibérica. São

apresentadas em Cáceres e Poconé.

Gabarito:227

1-D

2-E

3-V,F,V.

4-F,V,F,V.

5-A

6-V,F,V.

7-C

8-B

9-V,V.

10-D

11-E

12-C

13-E

14-E

15-E

16-B

17-C

18-A

19-B

20-A

21-B

22-D

23-D

24-B

25-V,V,V,V.

228

229

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