Literacia para a e-Saúde: o Portal do Utente

24
LITERACIA PARA A eSAÚDE - O Portal do Utente Rita Varandas, nº 64160 Unidade Curricular: Literacia dos Novos Media Docente: Professor Tiago Lapa Mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação Ramo de Internet e Comunicação em Rede Junho, 2014

Transcript of Literacia para a e-Saúde: o Portal do Utente

LITERACIA PARA A eSAÚDE

- O Portal do Utente

Rita Varandas, nº 64160

Unidade Curricular: Literacia dos Novos Media

Docente: Professor Tiago Lapa

Mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação

Ramo de Internet e Comunicação em Rede

Junho, 2014

SUMÁRIO

O conceito de literacia está longe de ser consensual, sobretudo com o advento

das novas tecnologias de informação e comunicação (TIC) e renovados media.

As potencialidades e a maior variedade de dispositivos mediáticos disponíveis

na sociedade em rede - caracterizada por uma comunicação em rede com a

interligação de vários modelos comunicacionais - transformou de certa forma o

tradicional conceito de literacias, tornado-o plural e, em certa media, mais incerto

e complexo.

O Livro Verde para a Sociedade de Informação em Portugal, que já conta com

cerca de 17 anos, começa precisamente por admitir que as manifestações da

sociedade de informação “rodeiam o nosso quotidiano, afetam o comportamento

das organizações e influenciam o pensamento estratégico das Nações” (1997:5)

e destaca a necessidade de “adequar o país às profundas alterações daí

resultantes” (1997:5).

A importância da adoção de uma estratégia que permita adaptar o país e colocá-

lo a par dos restantes membros da União Europeia, é de vital importância. Aliás,

como é enunciado no documento, “os responsáveis políticos têm, neste

momento, plena consicência de que o futuro das Nações será condicionado pela

forma como as novas tecnologias de informação e comunicação forem

assimiladas e do êxito e da rapidez desta absorção” (1997:6).

Está preemente a necessidade de aproveitar as oportunidades, sob pena de abrir

portas a desigualdades e a novas formas de exclusão do conhecimento, a info-

exclusão. (1997:6).

As políticas públicas de saúde incluem cada vez mais a utilização das TIC pelos

utentes, na gestão da doença e na manutenção da saúde. A procura de

informação na internet sobre a temática é cada vez mais expressiva, no contexto

português e além-fronteiras. Dados do projeto SER (A Saúde em Rede),

evidenciam que o total de pessoas que já procurou ou pediu a um terceiro para

procurar informaçãoes sobre saúde, situou-se nos 25,7% em Dezembro de

2010. (Espanha, 2013).

Contudo e como sublinha Espanha,“independentemente da fonte de informação

– internet, rádio, revistas, televisão ou outras – parece clara a necessidade de

uma aposta na formação da população sobre as informações a que acedem”

(2013:19). Significa que não é suficiente pôr ao dispor das pessoas os recursos

sem um investimrento nas suas aprendizagens e formas de lidar criticamente

com esses recursos”.

A informação que circula online necessita, em primeira instância de ser

convenientemente acedida mediante a panóplia de novos media aos dispor dos

cidadãos. Decidir que informação consumir online sobre saúde, saber avaliar e

julgar os conteúdos disponibilizadados, a credebilidade e a fiabilidade fazem

parte de competências inerentes ao conceito de literacias dos media e novos

media.

Para Tornero (2006), o termo literacia dos media é usado para descrever as

capacidades e competências necessárias para um desenvolvimento consciente,

independente no novo ambiente da comunicação – digital, global e multimédia -

da sociedade da informação.

Tornero considera que “a literacia dos media não pode ser vista como uma

capacidade isolada. Pelo contrário, envolve outros tipos de literacia: da leitura e

da escrita, audiovisual e digital e informacional” (2006:105). Tornero tem uma

visão abrangente da literacia, no entanto, não é consensual a adoção universal

de um só conceito, conforme será exposto no decorrer deste trabalho.

Assim, propõe-se neste trabalho analisar as literacias dos novos media no

contexto da saúde, com base na estratégia descrita no Livro Verde e evidenciada

na prática, com medidas várias do Ministério da Saúde no plano tecnológico,

como é o exemplo da Plataforma de Dados de Saúde - Portal do Utente (PDS-

PU).

Este portal, disponível há cerca de dois anos, disponibliza dois tipo de serviços:

serviços informativos (cujo acesso é público) e serviços eletrónicos “disponíveis

na área ‘A minha saúde’, cujo acesso exige a autenticação do utente com o

Cartão de Cidadão e PIN o número de utente SNS e senha”. O portal permite

aos utentes, entre outras atividades, a marcação de consultas e exames online,

a solicitação de isenção das taxas moderadoras, a requisição eletrónica de

receitas, etc. A tecnologia está disponível, mas como sublinha Espanha, “não é

suficiente pôr ao dispor das pessoas os recursos sem um investimento nas suas

aprendizagens e formas de lidar criticamente com esses recursos” (2013: 19).

Tendo presente a crescente dependência tencológica na área da saúde, revela-

se importante, analisar as literacia dos media neste contexto, equacionando os

efeitos da inclusão das TIC na relação do utente com a própria saúde e tendo

presente “os seus efeitos na exclusão de uma franja alargada de pessoas que,

além de não terem acesso a estes recursos, têm níveis muito baixos de literacia”

(Espanha, 2013: 20). Autores internacionais relacionaram, inclusive, as baixas

literacias com resultados pobres na saúde do próprio utente (Logan, 2000).

Segundo Barreiros, Cardoso e Oliveira as Tecnologias de Informação e

Comunicação (TICs) “vieram aumentar de modo quase ilimitado a capacidade

humana (...) para informar e ser informado, para conhecer e saber”, mas

obviamente é preciso levar em conta o nível de literacia de quem acessa a

informação (2004: 75).

Este trabalho apresenta-se dividido em quatro capítulos. No primeiro é realizada

uma resenha sobre o conceito de literacia nos moldes mais tradicionais,

procurando identificar a essência do termo, práticas e representações, tendo em

consideração as várias conceções e abordagens propostas por inúmeros

autores. O segundo capitulo é reservado à análise das literacias dos media e

novos media. No terceiro capitulo pretende-se analisar mais detelhadamente as

literacias dos novos média no panorama da saúde, procurando perceber se a

internet e outras TIC funcionam como fonte de informação e consequentemente

de decisão sobre a própria saúde do utente e que desafios se colocam aos

utentes de uma Sociedade de Informação. No quarto e último capítulo será

analisado o Portal do Utente, procurando cruzar os conceitos previamente

identificados com as competências específicas e necessárias que permitem a

eficaz utilização do website e respetivas informações.

LITERACIA CLÁSSICA

O CONCEITO QUE ANTECEDEU A TECNOLOGIA

O termo literacia é amplo, transversal, evolutivo e é inclusive objeto de inúmeros

mitos (Livingstone, 2002:234). Tradicionalmente, era entendido e definido como

as competências reais de leitura, escrita e cálculo (Benavente et al., 1996: 13).

Assentava, portanto, em três competências básicas e elementares, necessárias

ao quotidiano e à vida em sociedade. Kirsch et al. definem literacia como “a

capacidade de utilizar informação escrita e impressa para responder às

necessidades da vida em sociedade, para alcançar objetivos pessoais e para

desenvolver os conhecimentos e os potenciais próprios” (1993: 2).

No contexto nacional, a popularização do conceito de literacia surgiu pelas mãos

da investigadora Ana Benavente, coordenadora do estudo institulado, A literacia

em Portugal: Resultados de uma Pesquisa Extensiva e Monográfica. Contituiu-

se como o primeiro grande estudo sobre a literacia da população portuguesa.

Neste documento, a literacia surge definida como “a capacidade de

processamento da informação escrita na vida quotidiana (Benavente et al.,

1996:4).

Costa e Ávila esboçam uma definição que parece incluir já a diversidade de

meios comunicacionais das sociedades contemporâneas, ao proporem “um

conceito de literacia enfatizando o processamento de informação escrita na vida

quotidiana contemporânea, com as suas infinitas variantes, mas também com a

crescente transversalidade social de suportes e situações, de práticas de

literacia e de competências necessárias para as desenvolver” (1998: 135).

Está inerente nesta definição, uma ação crítica e consciente do próprio indivíduo,

uma capacidade para seleccionar e processar conteúdos com objetivos

específicos. Neste sentido e mais recentemente, Cardoso assume que um

indivíduo literato é aquele com capacidades para determinar o tipo de informação

que necessita, como pode aceder a ela de forma eficaz e detém a capacidade

de analisar a informação, as fontes mediante sentido crítico (2006:401).

Premissa importante na análise proposta neste trabalho com base na tendência

de pesquisa de informação online sobre saúde.

Iniciou-se este capítulo, fazendo referência à característica evolutiva do conceito

de literacia. Como denota Livingstone, o conceito de literacia está a ser estendido

a partir do tradicional foco nos medias impressoas e audiovisuais para incluir

também a internet e outros media (Livingstone, 2003).

Cardoso et al. referem que, na sua essência, as literacias podem ser de dois

tipos. As centradas no modelo escolástico tradicional: ler, escrever, contar,

interpretar, digitar e pesquisar. Ou seguir o padrão das necessidades de uma

sociedade informacional, isto é, uma sociedade assente na criação de riqueza

através do conhecimento, e já não apenas assente na aprendizagem desse

mesmo conhecimento, sem a sua transformação posterior e aplicação em novos

contextos, produtos e serviços” (2009: 6).

O termo literacia evoluiu no sentido de incluir os conhecimentos e capacidades

necessários para produzir e compreender diversos tipos de comunicação. Vários

autores (Livingstone, 2004, Buckingham, 2005, e Jenkins, 2006) destacam a

importância de alargar o conceito de literacia a vários outros domínios,

nomeadamente no campo dos novos media.

As exigências de literacia mudam de acordo com a própria evolução tecnológica

da sociedade, mas elas também mudam, paralelamente, com o aumento da

disponibilidade de informações no ciberespaço, com o aumento nos índices de

acesso as TICs, com a crescente necessidade de avaliação crítica do conteúdo

que circula nas redes (online e offline) e da capacidade de trabalhar e

disponibilizar conjuntos de dados em novos contextos sócio-tecnológicos.

NOVAS LITERACIAS: CONCEITO(S) E COMPETÊNCIAS

RENOVADA(S)?

O conceito de literacia ampliou-se e atualizou-se perante toda uma cultura

tecnológica. A sociedade do mundo atual parece exigir a co-existência de várias

literacias, uma vez que as informações acedidas, geridas e produzidas pelos

cidadãos estão cada vez mais digitalizadas, característica da Sociedade de

Informação, pelo que é fundamental o desenvolvimento de competências para o

domínio das TIC. No entanto, é difícil o consenso em torno de uma designação

única, apesar de abundância de literatura sobre a matéria.

A especulação sobre as novas formas de literacia incluem conceitos como

“computer literacy, internet literacy, cyber-literacy, and so forth” (Livingstone,

2004). A estas, juntam-se outras como educação para os média, literacia

mediática, educação para a comunicação, literacia digital, alfabetização

mediática, educomunicação, etc. (Cardoso e Paisana, 2013:40). Estes autores

consideram que “estruturar uma discussão implica reconhecer a esfera dos

média como um campo de produção simbólica a uma escala alargada: um

contexto de afetação quase integral dos aspectos da vida social e produção

sócio-simbólica vital (...)” (Cardoso e Paisana, 2013: 40). Também a definição

usada pela UNESCO enfatiza a “complexa interação entre literacia e mudança

social” (2008: 17).

A provar a multiplicidade de definições encontram-se na literatura referências a

conceitos como “bundle of literacies”, multiliteracias ou “novas literacias" (Selber,

2004, Kist, 2005, Firestone, 2008).

A distinção entre os vários conceitos, na perspetiva dos novos media, parece

assentar nas oportunidades renovadas dos cidadãos mediante uma nova

tecnologia que exige, em simultâneo, novas competências. Como refere Pinto et

Al., “Este alargamento lexical estará ligado às mudanças trazidas pelos meios

digitais e com os desafios que o novo ecossistema vem colocar ao nível da

formação dos cidadãos, nomeadamente, ao nível das competências que

precisam de desenvolver e de adquirir na nova era digital” (2011:21).

Buckingham definiu literacia dos media como “uma forma de literacia crítica que

envolve análise, avaliação e reflexão crítica”, ressalavando que “não é um

conjunto de capacidades cognitivas que os indivíduos adquirem de uma vez por

todas”, mas que requerer um processo de capacitação e desenvolvimento de

competências como a pesquisa, a seleção de informação e respetiva decifração,

tendo como objetivo o desenvolvimento de uma consciência crítica informada

dos media” (2003:38).

Livingstone define literacia dos media como “a capacidade de ter acesso a

mensagens e de as analisar, avaliar e criar numa variedade de contextos”, sendo

que estes quatro componentes do modelo proposto estão presentes nos meios

tradicionais e nos denominados novos media” (2004: 18).

Segundo Livingstone (2004), as capacidades relacionadas com as literacia dos

media podem ser incluídas em quatro áreas de competência: acesso, análise,

avaliação e criação de conteúdos. Estas áreas de competência surgem

interligadas e co-dependentes num processo dinamico de aprendizagem e

impulsionam aspetos do desenvolvimento pessoal, como o pensamento crítico e

as competências necessárias para resolver problemas (Livingstone, 2004).

O acesso diz respeito à capacidade de localizar conteúdos apropriados nos

media, constituindo-se como um processo social dinâmico que requer

atualização. A análise refere-se às competências analíticas e a avaliação ao uso

que se faz da informação, incluindo julgamentos críticos face aos media.

A criação de conteúdos surge posteriormente, sendo definida como a passagem

da leitura de conteúdo à escrita de conteúdo, de consumidores/utilizadores a

produtores de informação vária.

No entanto, Livigstone considera que estas áreas de competência podem estar

presentes nos media tradicionais e nos novos media, como já referido, pelo que

sugere a adoção do conceito no plural, definido através das suas relações com

os diferentes media, em vez de forma independente” (2004: 8).

Jenkins argumenta que as literacias dos novos media incluem as literacias

tradicionais bem como as novas formas de literacia que surgem associadas aos

media digitais, ao defender que “The new literacies almost all involve social skills

developed throught collaboration and networking. These skills build on the

foundation of tradicional literacy, research skills, technical skills, and critical

analysis skills taught in the classroom” (2006: 19).

Jenkins (2006) considera que a literacia dos novos media deve ser tida como

uma competência social, como meio de interagir numa sociedade mais vasta e

não apenas uma competência individual usada apenas para expressão pessoal.

Ao retirar o enfoque da convergência tecnológica, Jenkins defende que a

convergência dos media não ocorre apenas através dos dispositivos que os

suportam, mas na cabeça e no cérebro de cada indivíduo, ao assumir que:

“(...)We will develop new skills for managing information, new structures for

transmitting information across channels, and new creative genres that exploit

the potentials of those emerging information structures” (2001:93). Jenkins

assume que a convergência dos media incentiva uma cultura de participação em

que o cidadão comum detém nas suas mãos os media, o que pode traduzir-se

em resultados criativos ou, pelo contrário, em prejuízo para os envolvidos

(Jenkins, 2006: 17).

Jenkins debruçou-se sobre a temática da educação, que não deixa de ser

revelante nesta discussão, uma vez que o autor alerta para a necessidade de

todos os que estão envolvidos no processo de crescimento dos jovens auxiliarem

na aquisição de competências para a sua participação no digital world. O mesmo

princípio pode estar inerente entre os utilizadores que procuram informação

sobre saúde online e entre os agentes (governamentais e institucionais) que

promovem a inclusão das TIC na gestão da saúde.

Também Cardodo e Paisana consideram a posição do indívido face à tecnologia

numa relação de mútua interação, como ponto central desta discussão, ao

constatarem que “assumir a tecnologia como variável independente mas,

também, potencialmente dependente, é estabelecer o uso enquanto processo

reflexivo, como uma prática social mais do que como padrão de consumo

apenas, razão que justifica também a posição do indivíduo dentro da esfera

mediática” (Cardoso e Paisana, 2013: 40).

Jenkins reconhece que “Changes in the media environment are altering our

understanding of literacy and requiring new habits of mind, new ways of

processing culture and interacting with the world around us. We are just

beginning to identify and assess these emerging sets of social skills and cultural

competencies” (2007: 33).

No mesmo sentido, Ávila defende que as novas tecnologias de informação e

comunicação constituem um novo domínio que requer novas competências, mas

que não dispensam outras como a literacia, uma vez que “a literacia é um dos

factores que condiciona a proficiência dos indivíduos no domínio das tencologias

da informação e da comunicação” (Ávila, 2005:156).

LITERACIA(S)

Enquanto a Literacia dos media tende a centrar-se na expressão cultural e é

marcada por uma dimensão crítica, a literacia da informação está associada às

competências técnicas, tais como a utilização das TIC para pesquisar, encontrar,

reunir e inclusive compreende a distribuição da informação encontrada.

A literacia da informação (ou informacional) foi um conceito introduzido por Paul

Zurkowski em 1974). Numa visão mais contemporânea, Khan explica que a

literacia da informação “vai do simples saber usar computadores e aceder à

informação, à reflexão crítica sobre a natureza da própria informação, a sua infra-

estrutura técnica e o seu contaxto e impacto social, cultural e filosófico” (2008:

17).

Assim como Jenkins assume a complemetariedade de literacias, Tornero

considera que a literacia dos media não pode ser olhada enquanto uma

capacidade isolada, mas fazendo uso de outros tipos de literacia, como leitura,

escrita, audiovisual e informacional (2006).

A literacia da informaçao (ou informacional) torna o indivíduo mais capaz de

procurar, avaliar, usar e criar informação de forma eficaz de modo a atingir os

seus objetivos pessoais, pessoais e sociais (Khan, 2008).

A Comissão Europeia (2007:8) define literacia da informação relativamente aos

novos sistemas digitais enquanto as capacidades técnicas exigidas pelas novas

modernas ferramentas digitais. Está ausente a dimensão crítica presente na

literacia dos media. Pode entender-se literacia de informação no contexto da

aprendizagem sobre o uso da internet, ensino para um uso responsável,

informações sobre software de filtragem de conteúdos e serviços de segurança.

A literacia da informação procura desenvolver a capacidade para identificar,

localizar, avaliar, organizar e criar, usar e comunicar a informação de maneira

eficaz, para dar resposta a uma questão ou a um problema (US National

Information Literacy Meeting on Experts, 2003).

A literacia dos novos media, pode concluir-se, que envolve mais do que a

habilidade para usar software ou operar um dispositivo digital ao incluir uma

variedade ampla e complexa de competências cognitivas, motoras, sociológicas

e até emocionais que os utilizadores necessitam com o objetivo de funcionarem

de forma adequada no ambiente digital.

É portanto uma complementariedade de competências (e de literacias) exigidas

pela atual revolução digital. Tem em conta o acesso e a capacidade de

manipulação dos novos media e da informação que circula no ciber-espaço.

Como refere Furtado, a definição tradicional de literacia é demasiado estreita

para conseguir capturar a complexidade das práticas reais nas sociedades

contemporâneas” (2007:107).

EDUCAÇÃO PARA OS MEDIA

Revela-se importante, nesta altura, fazer a distinção entre Literacia dos Media e

Educação para os Media, uma vez que são partes integrantes do mesmo

processo de capacitação do indivíduo, mas são conceitos diferenciados.

No estudo sobre Educação Para os Media em Portugal: Experiências, Actores e

Contextos, é referida a multiplicidade de estudos e autores no âmbito da

definição (abrangente) do conceito de Educação para os Media.

A investigação de âmbito nacional optou pela nomenclatura definida pela

Comissão Europeia e expressa na Directiva 2007/65/CE do Parlamento

Europeu, que define Educação para os Media enquanto o processo que:

“visa as competências, os conhecimentos e a compreensão que permitem aos

consumidores utilizarem os meios de comunicação social de forma eficaz e

segura. As pessoas educadas para os media são capazes de fazer escolhas

informadas, compreender a natureza dos conteúdos e serviços e tirar partido de

toda a gama de oportunidades oferecidas pelas novas tecnologias das

comunicações. Estão mais aptas a protegerem‑se e a protegerem as suas

famílias contra material nocivo ou atentatório”.

Neste sentido, os autores consideram Educação para os Media enquanto “o

conjunto de conhecimentos, capacidades e competências (e os processos da

respetiva aquisição) relativas aos acesso, uso esclarecido, pesquisa e análise

crítica dos media, bem como as capacidades de expressão e de comunicação

através desses media.” (Pinto et. Al, 2011).

A educação para os media está, portanto, relacionada com a literacia dos media.

Tornero (2006) considera que a literacia dos media é resultado de um processo

de aprendizagem que ocorre em diferentes contextos, sejam eles sociais,

familiares, mediáticos, ambientes formais ou informais.

Pode considerar-se a educação para os média enquanto uma forma de literacia,

sendo o processo que conduz ao resultado, que são as aprendizagens e as

capacidades que o indivíduo adquire, ou seja, a literacia dos media. Por sua vez,

esta tem como objetivo desenvolver um espírito crítico.

A educação para os media no âmbito da crescente multiplicação da informação

que está disponível, traz inevitavelmente à discussão os novos desafios que se

colocam aos cidadãos e às autoridades de cada país. Como enuncia Pinto el al.,

“a par das competências para ler criticamente e usar judiciosamente os media,

as novas redes, plataformas e ferramentas digitais vieram colocar em evidência

outras necessidades básicas para a alfaberização e formação básica de todos

os cidadãos, de forma a atenuar os riscos crescentes de novas formas de

exlcusão social” (2011:27).

A UNESCO usa o termo “divisão digital”, referindo-se aos problemas de falta de

acesso e uso da informação devido aos obstáculos tecnológicos, mas

considerou haver outros, como o cultural, político, étnico e educacional,

considerando-a uma divisão cognitiva (UNESCO, 2005). Como se refere no Livro

Verde para a Sociedade da Informação em Portugal, “não se ignora a existência

de barreiras de acesso à Sociedade da Informação, de natureza económica,

educacional e cultural, assim como os riscos de que importantes camadas da

população fiquem excluídas dos seus benefícios, em consequência do fenómeno

da infoexclusão” (1997:8).

Por isso, “o acesso à informação e ao conhecimento deve estar assegurado sem

discriminações de origem social” (Livro Verde, 1997:13).

LITERACIA PARA A eSAÚDE

⁻ Internet como ferramenta de diagnóstico

Procurar informações sobre saúde online é das atividades mais comuns na

internet (Fox et al. 2003). Dados da Pew Internet & American Life Report

mostram que 72% dos adultos norte-americanos utilizadores da internet

pesquisaram informações online sobre saúde, em 2012. As pesquisas incluem

infomações relacionadas com doenças graves, informação geral e pesquisas

sobre pequenos problemas de saúde. Mais ainda, um terço (cerca de 35%) dos

utilizadores norte-americanos encontram na internet as respostas para um

problema ou uma condição de saúde que sentem no momento (dados de 2012).

Um dado importante nas pesquisas online prende-se com o facto de que 77%

das pesquisas sobre informação de saúde ou médica “seekers say they began

at a search engine such as Google, Bing or Yahoo”. Apenas 13% admite

consultar um website ou página institucional.

Em Portugal é notório o crescimento do recurso às TIC por parte dos cidadãos

para pesquisar assuntos relacionados com a saúde. De acordo com Espanha,

“A pesquisa de informação sobre saúde em Portugal aparece em 6.º lugar nas

actividades semanais na Internet, depois dos downloads de música e filmes,

jogos, Wikipedia, blogues e sítios humorísticos” (2013:11).

A qualidade da informação disponível online e sobretudo quando os conteúdos

são acedidos através de motores de pesquisa tem sido debatida por vários

autores.

Eysenbach acrescenta que apesar dos cidadãos saberem onde podem

pesquisar online notícias, informações sobre a meteorologia, críticas

cinematográficas ou informações sobre negócios, os indivíduos não têm

presentes referências quanto a websites ou marcas de referência em relação a

assuntos de saúde quando iniciam a pesquisa online (2008:124). Eysencach

refere a este propósito que “while trusted commercial health portals exist, people

with specific health problems or questions mostly enter a health-related search

term directly into a search engine, not necessarily going through a portal site”

(2008:124).

No panorama português, dados do projecto SER (2010) evidenciam que nas

pesquisas sobre saúde, em primeiro lugar, surgem os sites generalistas sobre

saúde (Espanha, Mendes, Fonseca e Correia, 2011). Portanto, a tendência

verificada entre os utilizadores norte-americanos e a população portuguesa

segue no mesmo sentido, apesar das diferenças notórias em termos da

percentagem de utilizadores da internet.

Apesar desta propensão, não há ainda substituição da internet considerando os

restantes recursos, sobretudo por motivos de Falta de confiança, ausência de

controlo na informação disponibilizada e a existência de informações

contraditórias disponibilizadas na internet. Neste sentido, Espanha considera

que “Independentemente da fonte de informação – Internet, rádio, revistas,

televisão ou outras – parece clara a necessidade de uma aposta na formação da

população sobre as informações a que acedem” (2013:19).

A atenção das autoridades dos vários países da União Europeia, onde Portugal

se inclui, têm revelado particular atenção ao desenvolvimento das TIC na área

da saúde. O eHealth Action Plan 2012 – 2020 – Innovative heatlhcare for the

21st century, assume que as TIC quando aplicadas à saúde e aos sistemas de

saúde podem aumentar e potenciar a sua eficiência, melhorar a qualidade de

vida e desboquear a inovação nos mercados de saúde. No entanto, o Presidente

da Estónia, Toomas Hendrik Ilves, que lidera esta força de trabalho, reconhece

que, ao nível dos cuidados de saúde estão pelo menos 10 anos atrasados na

implementação de soluções baseadas nas tecnologias de informação e

comunicação, relativamente a outras áreas (Maio, 2012). Em 2011, foi

implementada e estandardizada a rede eSaúde (eHeath Network) com o objetivo

de dar um passo em frente na cooperação formal entre os Estados Membros da

União Europeia, com o objectivo de maximizar os beneficios sociais e

económicos através da interoperabilidade e implementação dos sistemas de e-

Health.

Este plano de ação para os próximos anos, dá especial atenção às habilidades

e literacias digitais em saúde, referindo no ponto 6.3 que o empowerment do

doente e referidas literacias são essenciais no desenvolvimento da rede eSaúde.

Uma das principais conclusões de uma consulta pública lançada a 31 de Março

de 2011, cujos dados apoiaram a definição das políticas aplicadas à eSaúde,

prende-se com a temática em análise neste trabalho, na medida em que 20%

dos indivíduos que responderam ao questionário apontaram o maior

investimento em programas educativos e performativos como impulsionador de

uma maior utilização dos sistemas tencológicos inerente à rede eSaúde. Ou seja,

há um reconhecimento por parte dos próprios cidadãos que é necessário

promover as literacias dos novos media. Assim, a Comissão Europeia definiu:

“from 2013, starting with the Competitiveness and Innovation Programme and

continuing under Horizon 2020, the Commission will support activities aiming at

increasing citizens’ digital health literacy” (2012:13).

Desde finais dos anos 60 e início dos anos 70, verificou-se uma mudança e

descentralização no processo de promoção e manutenção da saúde. Os

cidadãos foram encorajados a assumir reponsabilidade no seu estado de saúde

e incentivados a procurar informação médica e clínica pelos próprios meios. Esta

mudança resultou num aumento exponencial de conteúdos produzidos pelos

próprios cidadãos utilizadores e é relevante, uma vez que a informação é um

componente essencial na mudança de comportamentos relativos à saúde. Está

inerente a cultura participativa de Henry Jenkins, na medida em que a atual

cenário de convergência dos media representa uma mudança cultural que segue

neste mesmo sentido, ou seja, os consumidores de conteúdos estão a ser

encorajados a procurar novas informações e a estabelecer conexões entre

conteudos disponibilizados através de media dispersos.

Logan (2000) refere que a internet e as ferramentas associadas representam

uma nova forma de linguagem e que, portanto, necessita de uma nova forma de

literacia. O autor exemplifica como a procura de informação online sobre um

tema de saúde, como uma constipação, pode revelar-se complicada e difícil de

entender pelos utilizadores menos literados. Os websites, refere o autor,

apresentam informação diversa, textual e gráfica, com informações secundárias

pouco relevantes, anúncios publicitários a medicamentos que não respeitam à

doença alvo de pesquisa, entre outras contrariedades e barreiras.

LITERACIAS PARA A eSAÚDE

As ferramentas eletrónicas na área da saúde, bem como em outros setores da

sociedade, de pouco servem se os potenciais beneficiários não as souberem

usar e potenciar. Na literatura foram encontradas cerca de 51 definições do

termo eHealth. Neste trabalho, optou-se por decidir pela definição de Norman

and Skinner (2006) por serem autores de referência na área e inclusive dos mais

citados em inúmeros trabalhos académicos. Acrescenta-se que a definição

proposta vai ao encontro do tema analisado neste trabalho.

Os autores definem eHealth como “the ability to seek, find, understand, and

appraise health information from electronic sources and apply the knowledge

gained to addressing or solving a health problem” (2006:3)

Revelou-se fundamental neste trabalho expor a evolução e pluralidade do

conceito de literacia e literacias dos novos média precisamente porque o modelo

apresentado por Norman and Skinner (2006:4) é composto por múltiplas

literacias. É desginado “The Lily Model2 e evidenciado na figura 1.

Figura 1 - Lily model - ehealth literacy

Os autores referem que “at its heart are six core skills (or literacies): traditional

literacy, health literacy, information literacy, scientific literacy, media literacy and

computer literacy” (2006:4) Usando a metáfora do lílio, os autores pretenderam

evidenciar que as pétalas (literacias) alimentam o pistilo (literacia para a eSaúde)

e ainda que o pistilo sobrepõe as pétalas, unindo-as. De acordo com este

modelo, as seis literacias estão organizadas em dois tipos centais: analíticas

(tradicional, media, informacional) e context-specific (computador, científica e

saúde). Norman and Skinner (2006) consideram que a literacia para a eSaúde é

influenciada pelo estado de saúde presente no momento do encontro com a

eSaúde, pela educação, pela motivação na procura de informação e pelas

tecnologias que são utilizadas. Tal como as restantes literacias, também a

literacia para a eSaúde é evolutiva no sentido em que é uma habilidade orientada

para o processo que evoliu no tempo à medida que são introduzidas novas

tencologias e o contexto ambiental e sócio-cultural do indivído muda (Norman

and Skinner, 2006). Parece consensual a adopção de múltiplas literacias e

correspondentes competências na análise da eSaúde. Esta definição é

consistente com o argumento de Logan (2000) de que a utilização da internet e

das TIC relacionadas constituem uma nova forma de linguagem e requere um

novo ou renovado conjunto de ferramentas de forma a comprender a informação

na totalidade e de forma eficaz.

O modelo de eSaúde apresentado por Norman and Skinner é considerado o

primeiro passo para entender e identificar as competências necessárias e como

se relacionam com a utilização das TIC enquanto uma ferramentas para a

promoção da saúde.

Neste sentido, importa ter presente na análise que se segue o conceito de

literacia dos novos media com as suas componentes.

eSAÚDE – O PORTAL DO UTENTE

A literacia para a eSaúde está a assumir cada vez mais importância.

Ferramentas eletrónicas direccionadas para os consumidores estão a

transformar a forma como os consumidores recebem a informação, para o bem

e para o mal (Hernandez, 2009:14). Também Jenkis refere que a convergência

dos media e o potencial para criar conteúdos pode trazer benefícos ou

constragimentos, dependendo da sua utilização.

O Portal do Utente comemorou em 31 de Maio de 2014 dois anos de existência.

Está inserido na Plataforma Dados de Saúde (PDS) e é gerido pelo Ministério da

Saúde “com o objetivo de melhorar o acesso à informação e à realização de

serviços pelos utentes”.

O portal disponibliza dois tipo de serviços: serviços informativos (cujo acesso é

público) e serviços eletrónicos “disponíveis na área ‘A minha saúde’, cujo acesso

exige a autenticação do utente com o Cartão de Cidadão e PIN o número de

utente SNS e senha”. O portal permite aos utentes, entre outras atividades, a

marcação de consultas e exames online, a solicitação de isenção das taxas

moderadoras, a requisição eletrónica de receitas, etc.

Para aceder a este portal, os utentes necessitam de saber, primeiro, usar um

computador, saber aceder à internet e mais especificamente, digitar o nome do

portal num motor de pesquisa, inseri-lo na barra de endereço ou digitar o URL.

De forma detalhada, está presente a literacia tradicional no sentido em que são

requeridas “literacy skills such as the ability to read text and understand written

passages” (Norman and Skinner, 2006) e a literacia computacional, relacionada

com computadores e tecnologia associada à sua utilização, como teclado, rato

ou impressora, tendo presente que “computer literacy involves more than simply

acess to this type of technology; it is also about relative acess and the comfort

with which one acesses computers” (Skinner et al., 2003).

Usufruir das potencialidades de um computador pode parecer uma atividade

banal na sociedade contemporânea, mas nem todos apresentam os mesmos

níveis de literacia neste domínio. Como refere Hernandez (2009:11), “a person

with minimal eHealth skills may be confused about what to do, and wonder why

it is that a piece of software must be downloaded to the computer in order to read

the page information. Such actions can be frightening for those unfamiliar with

health information or working with computers”.

Estão também patentes a literacia da saúde e a dos media e em certa medida a

literacia científica enquanto o entendimento da natureza, propósito, aplicações,

limitações e políticas envolvidas na criação de conhecimento de uma forma

sistemática. (Laugksch, 2000).

Para navegar na arena da eSaúde é necessário dominar um conjunto de

competências, sobretudo num momento em que a pluralidade de novos media,

produção e disseminação de conteúdos (enquanto dimensão das literacias),

coloca no ciberespaço – e a um ritmo cada vez mais acelerado - uma quantidade

quase inesgotável de informação, incluindo conteúdos de saúde e médicos.

Passados dois anos da disponibilização do Portal do Utente, contabiliza-se cerca

de um milhão de pessoas registadas, de acordo com dados dos Serviços

Partilhados do Ministério da Saúde. Cerca de 900 mil utentes já beneficiaram

dos serviços disponibilizados online, contudo, os números ficam aquém das

expectativas da tutela. Os Serviços Partilhados justificam a baixa adesão com a

incompreensão dos utentes referindo “algum alheamento da população em geral

sobre as vantagens a retirar destes serviços disponíveis online”.

Contudo, considerando o quadro conceptual analisado neste trabalho, a falta de

literacias poderá estar a contribuir para afastar ao invés de aproximar os utentes

desta plataforma.

Espanha (2013:20) observa, a propósito dos serviços médicos online utilizados

(dados referentes a 2011), que há ainda uma fraca adesão dos potenciais

beneficiários, ao constatar que estes “estes serviços não são considerados como

necessários ou importantes em relação àquilo que sempre foram as práticas

rotinizadas pelas pessoas”.

Os serviços analisados no estudo SER (Saúde em Rede) incluem os analisados

neste trabalho: marcação de consultas e exames de diagnóstico online, pedido

de receitas médicas online, esclarecimento de dúvidas online e outros serviços

médicos online.

Espanha (2013:20) acrescenta que “se é verdade que a utilização destes

serviços é mais cómoda e rápida do que a deslocação física aos serviços de

saúde, por outro lado também é verdade que não é pela sua simples existência

que as pessoas vão percepcionar tal como um ganho para a sua vida

quotidiana”.

A necessidade efetiva de programas de sensibilização e promoção destas

soluções é apontada como solução para a falta de confiança e o

desconhecimento sobre a existência dos serviços.

Acrescentar-se-ia que os problemas devem contemplar a promoção de literacia

para os novos media, como destaca Espanha, “os cuidados de saúde são cada

vez mais focados no doente e individualizados, e o doente torna‑se um sujeito

activo em vez de apenas receptor passivo de cuidados de saúde. O que nos

remete, necessariamente, para uma valorização crescente da autonomia do

sujeito, o que implica maiores literacias funcionais, tanto no campo da saúde

como no campo da tecnologia” (2012:60).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Marshall McLuhan (1969) disse: “o meio é a mensagem”. Uma formulação que

pretendeu evidenciar a importância do meio enquanto elemento determinante na

comunicação. Segundo o autor, o meio determina o próprio conteúdo da

comunicação.

Em certa medida esta noção pode aplicar-se na discussão da literacia dos novos

media, uma vez que as competências envolvidas no processo de literacia estão

relacionadas com o meio em que são aplicadas. Estas competências são

susceptíveis de aprendizagem, mas requerem constante atualização e correção.

Como refere Hernandez, “eHealth literacy is not just a static, objective

assessment of whether or not an individual is literate. It is something that will

change as technology changes. It is a process of learning, not just an outcome,

so eHealth literacy levels will constantly be in flux as technology changes”

(2009:15).

À medida que vários setores da sociedade, incluindo a saúde, migram para o

online e incluem as TIC e a Internet nos seus modelos de fucnionamento, revela-

se importante “aumentar as literacias da população tanto no campo da saúde

como no da tecnologia (Espanha, 2013:73).

Os vários dipositivos mediáticos ao dispor das sociedades convidaram à própria

problematização do conceito de “literacia” tornando-o mais incerto ou pelo

menos mais complexo.

Potter (2001:4) considera que a literacia dos media é uma perspetiva que os

indivíduos utilizam/adoptam ativamente quando expostos perante os media com

o objetivo de interpretar o significado das mensagem que encontram. As

perspetivas controem-se com base em estruturas de conhecimento que, por seu

turno, são construídas com base em ferramentas e matéria-prima. Potter

considera que a matéria-prima é a informação disponibilizada pelos media e

obtida no mundo real e que as ferramentas são as capacidades ou competências

dos indivíduos. Uma utilização ativa significa que o indivíduo está consciente das

mensagens e conscientemente a interagir com elas.

Falar de literacias dos novos media implica uma visão abrangente com um olhar

no futuro, no sentido em que as competências expressas pelos cidadãos ou a

sua ausência, modelam as políticas públicas, nomeadamente na área da saúde.

No campo da saúde, aceder, saber ler a informação, filtrá-la, confirmar a fonte e

seleccionar os conteúdos fidedignos e revelantes assume especial importância,

uma vez que, segundo Logan (2000), os conteúdos que consultam online têm

implicações importantes na vida offline.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Ávila, Patrícia (2005), A Literacia dos Adultos. Competências-chave na

Sociedade do Conhecimento, ISCTE, Departamento de Sociologia (tese de

doutoramento).

Benavente, A. e outros (1996), A Literacia em Portugal: Resultados de uma

Pesquisa Extensiva e Monográfica, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian.

Barreiros, José Jorge; Cardoso, Gustavo e Oliveira, José Manuel Paquete de

(2004) A Internet na construção de uma cidadania participativa. In:

Comunicação, cultura e tecnologias da informação. Lisboa: Quimera, pp. 75-105.

Buckingham, D. (2003), Media Education: Literacy, Learning and Contemporary

Culture, Cambridge, Polity Press.

Buckingham, D., (2003). New Media New Sites of Learning, University of London,

UK.

Buckingham, D., (2003). Media Education, Literacy, Learning and Contemporary

Culture, Polity.

Buckingham, D., (2004). The media Literacy of Children and Young People.

Youth and Media. Institute of Education. University of London

Buckingham, D., Livingstone, S., Banaji, S., Burn, A., Carr, D.,Cranmer, S.,

(2005). The Media Literacy of Children and Young People. Centre for the Study

of Children and Media Institute of Education: London.

Cardoso, G. (2006). Os Media na Sociedade em Rede, Lisboa: Fundação

Calouste Gulbenkian.

Cardoso, Gustavo; Araújo, Vera e Espanha, Rita (2009) Da comunicação de

massas à comunicação em rede. Porto: Porto Editora.

Cardoso et. Al (2013). A sociedade dos Ecrãs: Sociologia dos Ecrãs, Economia

da Medicação. Tinta da China.

Comissão das Comunidades Europeias (2007), Comunicação da Comissão ao

Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao

Comité das Regiões: uma Abordagem Europeia da Literacia Mediática no

Ambiente Digital.

Costa, A., Ávila, P. (1998), “Problemas da/de literacia”, Ler História, 35, pp. 127-

150.

Espanha, R. (2013), Informação e Saúde. Fundação Francisco Manuel dos

Santos.

Eysenbach, G. (2008), “Credibility of Health Information and Digital Media: New

Perspectives and Implications for Youth.” Digital Media, youth and Credibility.

Firestone, C. (2008), “The responsibilities of citizenship: a bundle of literacies”,

The Huffington Post (13-10-2008).

Fox, S., Duggan, M. (2013), Health Online 2013, Pew Research Center’s Internet

& American Life Project, disponível em

http://pewinternet.org/Reports/2013/Health-online.aspx. Consultado em Maio de

2014.

Fox, S. and Fallows, D. (2003), Internet Health Resources,

http://www.pewinternet.org/pdfs/PIP Health Report July 2003.pdf. Acedido em

Maio de 2014.

European Comission (2012), eHealth Action Plan 2012-2020 - Innovative

healthcare for the 21st century. Disponível em

file:///C:/Users/Rita%20Varandas/Downloads/eHealthActionPlan-%20(1).pdf.

Acedido em Maio de 2014.

Furtado, J. A., Fractura digital e literacia: reequacionar as questões do acesso.

Comunicação & Cultura, nº 3, 2007, pp.97-111. Disponível em

http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/10381/1/03_05_Jose_Afonso_Furta

do.pdf. Acedido em Junho de 2014.

Hernandez, L.M. (2009), Health Literacy, eHealth, and Communication: Putting

the Consumer first: workshop summary. Institute of Medicine (US) Roundtable

on Health Literacy. http://www.nap.edu/catalog/12474.html. Acedido em Maio de

2014.

Jenkins, H. (2001). Convergence? I diverge. Technology Review,

Massachussets, Jun. p.93.

Jenkins, H. (2006), Convergence Culture: Where Old and New Media Collide,

Nova Iorque, New York University Press.

Jenkins, H. et. Al. (2007), Confronting the Challenges of Participatory Culture:

Media Education for the 21st Century, Chicago, MacArthur Foundation.

Laugksch, R. C. (2000), Scientific literacy: A conceptual overview. Sci. Ed.,

84:71–94. Disponível em

http://www.kcvs.ca/martin/EdCI/literature/literacy/Laugksch_Scientific_Literacy.

pdf. Acedido em Junho a 2014.

Livingstone, S. (2004). Media Literacy and the challenge of new information and

communication technologies. The communication review. Copyright Taylor and

Francis Inc.

Livingstone, Sonia (2004) What is media literacy?. In: LSE Research Online,

2004. Disponível em: <http://eprints.lse.ac.uk/1027/>.

Livingstone, Sonia (2003) The changing nature and uses of media literacy. In:

Revista Media@lse, n. 4, 2003. Disponível em:

<http://eprints.lse.ac.uk/13476/1/The_changing_nature_and_uses_of_media_lit

eracy.pdf.

Logan, R. 2000. The sixth language: Learning a living in the internet age. Toronto,

ON: Stoddart Publications.

Missão para a Sociedade de Informação, Ministério da Ciência e Tecnologia

(1997). Livro Verde para a Sociedade da Informação em Portugal. Lisboa: MSI.

http://www.pedroveiga.nome.pt/LivroVerde1997.pdf consultado em Maio de

2014.

Khan, A., (2009) “Media education, a crucial issue in the building of an inclusive

knowledge society” in Mapping Media Education Policies in the World – visions,

programmes and Challenges, Frau Meigs, D. e Torrent, J. (eds) USA.

Kirsch, I., A. Jungeblut, L. Jenkins e A. Kolstad (1993), Adult Literacy in America:

a First Look at the Results of the National Adult Literacy Survey, Washington,

National Center for Education Statistics.

Kist, W. (2005), New Literacies in Action: Teaching and Learning in Multiple

Media. Nova Iorque, Teachers College Press.

MCLUHAN, Marshall – Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem

(Understanding Media).12ª ed. São Paulo: Cultrix, 2002.

Norman, C. Skinner, H. (2006). eHealht Literacy: Essential Skills for Consumer

Health in a Networked World. J Med internet Res. 2006 Abril – junhi; 8(2):e9.

Parlamento Europeu e Conselho da União Europeia (2007), Directiva

2007/65/CE.

Potter, W. J. (2001), Media Literacy. Second Edition. Sage.

Pinto, M., Sara Pereira, Luís Pereira, Tiago Ferreira (2011). Educação para os

Media em Portugal: experiências, actores e contextos. Centro de Estudos de

Comunicação e Sociedade Universidade do Minho.

Selber, S. (2004), Multiliteracies for a Digital Age, Carbondale, Southern Illinois

University Press.

Skinner H., Sherry B., Blake, P., Eudice, G., (2003) How adolescents use

technology for health information: implications for health professionals from focus

group studies. J Med Internet Research. Dec. 18;4(4):e32. Disponível em

http://www.jmir.org/2003/4/e32/. Acedido em Junho de 2014.

Tornero, J. et al (2008). Empowerment through Media Education: an intercultural

dialogue, Göteborg, Nordicom.

Tornero, J. (2008 ). O futuro da Sociedade Digital e os novos valores dos Media.

Universidade de Barcelona. Espanha

UNESCO (2003). US National Information Literacy Meeting of Experts, 2003.

Prague. Set 20-23.