Hiperlipidemias e fatores dietéticos: estudo transversal entre nipo-brasileiros
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MARSELLE RODRIGUES BEVILACQUA
Hiperlipidemias e fatores dietéticos: estudo transversal entre
nipo-brasileiros
Tese apresentada à Universidade Federal de
São Paulo – Escola Paulista de Medicina
para obtenção do título de Mestre em
Ciências .
São Paulo 2006
MARSELLE RODRIGUES BEVILACQUA
Hiperlipidemias e fatores dietéticos: estudo transversal entre
nipo-brasileiros
Tese apresentada à Universidade Federal de
São Paulo – Escola Paulista de Medicina
para obtenção do título de Mestre em
Ciências .
Orientadora: Profª Livre-docente Suely Godoy Agostinho Gimeno
São Paulo 2006
Bevilacqua, Marselle Rodrigues
Hiperlipidemias e fatores dietéticos: estudo transversal entre nipo-brasileiros.
Marselle Rodrigues Bevilacqua. São Paulo, 2006.
p.1-94.
Tese (Mestrado) - Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina.
Programa de Pós-graduação em Epidemiologia.
Título em inglês: Hyperlipidemias and dietary patterns: cross-sectional study among
japanese-brazilians.
1. Hiperlipidemias 2. Hábitos alimentares 3. Migrantes japoneses
4. Fatores de risco 5. Hipotireoidismo
DEDICATÓRIA
À meu anjo da guarda, que está comigo em todos os momentos da minha vida e que
me trilhou esse caminho.
À minha mãe, Maria Cecília, pela força, incentivo e otimismo, para que todos os
obstáculos fossem deixados para trás.
À minha avó, Mary Rosa, que sempre orou por mim, acalmando meu espírito em
suas rezas.
À meu irmão, Fabrício, pela amizade e que teve tantas vezes que ceder seu quarto
para a realização deste.
AGRADECIMENTOS
À população nipo-brasileira de Bauru, por permitir a realização desse estudo.
Aos membros do Japanese-Brazilian Diabetes Study, pela amizade e acolhimento
para ser membro dessa maravilhosa equipe.
Às nutricionistas do grupo, Flávia, Daniela, Renata, Fernanda, Rosana, Juliana,
Carla, Eliana, Bárbara e Clarissa, pela amizade e minha ausência nesses últimos dias.
À Dra. Sandra R.G. Ferreira, por toda sabedoria e incentivo passado nessa jornada.
À Dra. Luiza K.Matsumura, por todo auxílio e ajuda com assuntos médicos
referentes a esse trabalho.
À secretária do Programa de Epidemiologia, Adriana, principalmente pela amizade
e pelas ajudas imprescindíveis.
Aos professores do curso de Pós-graduação em Epidemiologia pelo conhecimento
que me proporcionaram.
Aos meus amigos do Programa de Pós-graduação e, em especial ao Roberto e a
Pollyanna, pela companhia e alegria de tê-los como colegas.
À minha amiga Rosângela, por ter me incentivado desde o início à realização desse.
A todos aqueles que, de certa forma direta ou indireta, contribuíram para a
execução deste trabalho.
AGRADECIMENTO ESPECIAL
Á minha querida orientadora, Drª. Suely Godoy Agostinho Gimeno, que “caiu do
céu” e que, mediante toda sabedoria, paciência e imensa dedicação me auxiliou de forma
ímpar a realização deste, sabendo entender todos meus períodos de angústias e
dificuldades. Um dia, Suely, você me disse que eu só podia ser sua “orientanda” (por
motivos esportivos), mas hoje acredito que você realmente apareceu na minha vida, porque
meu anjo da guarda quis. Obrigada por tudo!
SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO DO ESTUDO ....................................................................................... 02
2 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .............................................................................................
04
3 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................................
08
3.1 Hiperlipidemia: definição, fisiopatologia e epidemiologia ........................................... 08
3.2 Fatores de risco para as hiperlipidemias e doença aterosclerótica
coronariana .......................................................................................................................
13
4 OBJETIVOS ..........................................................................................................................
22
4.1 Objetivo geral .................................................................................................................. 22
4.2 Objetivos específicos ....................................................................................................... 22
5 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................
24
6 ARTIGO ................................................................................................................................
31
7 PRINCIPAIS ACHADOS / CONCLUSÃO .........................................................................
58
8 ANEXOS
Anexo 1: Termo de aprovação de projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética da
UNIFESP .................................................................................................................
61
Anexo 2: Termo de aprovação do projeto de pesquisa da 2ª fase do estudo pelo
Comitê de Ética da UNIFESP ...............................................................................
64
Anexo 3: Termo de consentimento livre e esclarecido ....................................................... 66
Anexo 4: Questionários ......................................................................................................... 68
1 APRESENTAÇÃO DO ESTUDO
De acordo com a resolução 01/2003 da Comissão de Pós-graduação da
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP, 2003), este trabalho foi realizado no
formato de artigo científico e submetido ao periódico Arquivos Brasileiros de
Endocrinologia & Metabologia em maio de 2006.
Esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Federal de São Paulo (UNIFESP) sob o protocolo 1075/05 (Anexo 1) e foi fundamentado
nos dados coletados entre 1999 a 2000, pelo Japanese-Brazilians Diabetes Study Group
(JBDS) que conta com pesquisadores das seguintes instituições: Universidade Federal de
São Paulo (Departamento de Medicina Preventiva e Disciplina de Endocrinologia),
Universidade Sagrado Coração de Jesus de Bauru (Departamento de Nutrição) e
Universidade de São Paulo (Faculdade de Saúde Pública, Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto e Faculdade de Odontologia de Bauru), como parte de uma investigação
longitudinal com indivíduos de origem japonesa que começou no início da década de 90.
2 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Estudos epidemiológicos com povos migrantes foram desenvolvidos por
pesquisadores procurando estabelecer o papel de fatores ambientais na etiologia de
algumas doenças crônico-degenerativas, como o diabetes mellitus e doenças
cardiovasculares (Centro de Estudos em Nipo-Brasileiros, 1998).
São inúmeras as publicações na literatura que mostram a importância dos estudos
de migrantes para avaliar o papel dos fatores ambientais para a ocorrência de doenças
crônicas. Dentre os fatores ambientais, destacam-se os hábitos alimentares, o nível de
atividade física, os aspectos psicossociais e culturais (Franco, 1996).
Estudos comparando norte-americanos e europeus com as populações migrantes de
países com baixo risco para doença aterosclerótica coronariana mostraram a relação entre a
doença e o ambiente (Garcia et al, 2002). A doença aterosclerótica coronariana é uma
doença muito freqüente nos países industrializados e tem a hipertensão arterial sistêmica, a
dislipidemia e o diabetes mellitus seus principais fatores de risco (Washio et al, 2001).
A população de ancestrais japoneses é um modelo interessante, pois
originariamente esta população apresentava baixa morbidade por diabetes mellitus e
doenças cardiovasculares. Porém mudanças sócio-culturais, em pouco tempo, modificaram
o perfil de morbi-mortalidade desses indivíduos que passaram a apresentar alto risco para
essas doenças crônico-degenerativas (Fujimoto, 1991).
Atualmente o estilo de vida japonês, incluindo os hábitos dietéticos, tem se
modificado recentemente, aumentando assim a freqüência de doenças cardiovasculares,
como já é observado nos países ocidentais (Washio et al, 2001). Okayama et al (1993)
relataram aumento sérico nas concentrações do colesterol e Ohmura et al (1993) relataram
a crescente freqüência do diabetes mellitus no Japão.
O Estudo NI-HON-SAN comparou as diferenças das doenças ateroscleróticas
coronarianas entre homens japoneses com idades entre 45 a 69 anos residentes no Japão
(Hiroshima e Nagasaki), com grupos de imigrantes japoneses que fixaram residência na
Califórnia e no Havaí. Desses, cerca de 40% vieram de Hiroshima e sudoeste do Japão,
portanto com padrões dietéticos semelhantes para as três coortes. Comparados à coorte
japonesa, os grupos da Califórnia e do Havaí apresentaram maior prevalência dos fatores
de risco para a doença. A mortalidade por doença coronariana também foi maior nos
grupos da Califórnia e Havaí quando comparados com o grupo de japoneses vivendo no
Japão (Curb & Kodama, 1996).
Junto com outros países da América Latina, o Brasil se tornou uma alternativa,
quando a política de desestimulo a imigração japonesa se intensificou nos Estados Unidos.
Em 1908, entraram no Brasil os primeiros imigrantes japoneses pelo porto de Santos para
se tornarem colonos e meeiros nos cafezais de São Paulo. Entre 1925 e 1935, subsidiados
pelo governo japonês, cerca de 2/3 do de todo contingente de imigrantes entrou no Brasil,
instalando-se nas áreas rurais de São Paulo e do norte do Paraná (Woortmann, 1995).
O Brasil apresenta a maior concentração de japoneses vivendo fora do Japão, onde
mais da metade reside no Estado de São Paulo. Essa migração oferece uma oportunidade
ímpar para avaliar a influência dos fatores ambientais frente à ocorrência de doenças
metabólicas (Franco, 1996). Em Bauru, a colonização japonesa iniciou-se em 1914
principalmente na área rural, entretanto somente 11% ainda permanecem nesta área.
Em meio às comemorações dos 80 anos de imigração japonesa no Brasil, em 1987,
foi realizado um estudo em São Paulo sobre a prevalência de diabetes mellitus. Os achados
obtidos confirmaram, tal qual estudo anterior feito nos kaikans, a alta prevalência de
diabetes mellitus auto-referido entre os nipo-brasileiros com porcentagens maiores que da
população brasileira e próximas às da população norte-americana. Posteriormente, em
1990, esses achados foram repetidos em estudo realizado na região metropolitana de São
Paulo.
O estudo com a comunidade nipo-brasileira de Bauru teve início em 1993 por meio
do Japanese-Brazilian Diabetes Study Group (JBDS). Esse município foi selecionado por
abrigar um número significativo de habitantes de origem japonesa e por suas facilidades
operacionais (JBDS, 2004). Em 1993, a prevalência de diabetes mellitus observada entre
esses indivíduos, mediante realização do teste oral de tolerância à glicose, foi de 22,6%
(28,6% entre os homens e 19,9% entre as mulheres) firmando, assim, um maior risco de
diabetes mellitus tipo II entre japoneses que imigram para o Brasil quando comparados
àqueles que viviam no Japão e à própria população brasileira.
A 2ª fase do estudo, em 2000, mostrou o alarmante aumento nos casos de diabetes
mellitus: 36,1%. Nessa fase também se pode analisar os fatores de risco que contribuíram
para o desenvolvimento de diabetes mellitus tipo II após 7 anos e bem como, as altas
prevalências de obesidade abdominal (42%) e dislipidemia (81%).
A imigração japonesa gerou mudanças no padrão alimentar dessa população
influenciando diretamente na saúde da mesma. Há inúmeros estudos que indicam
mudanças nos hábitos alimentares com o crescente aumento da prevalência e incidência de
excesso de peso em imigrantes japoneses residentes em países desenvolvidos ou em
desenvolvimento – como os EUA e o Brasil. As razões mais freqüentes para isso são:
mudanças e perda de horários destinados á alimentação, às preparações mais simplificadas
e com maior valor calórico, isto é, a adoção de um estilo de vida “ocidental” (JBDS, 2004).
3 REVISÃO DA LITERATURA
3.1 Hiperlipidemia: definição, fisiopatologia e epidemiologia
As hiperlipidemias ocorrem quando os níveis dos lípides circulantes estão
aumentados na corrente sanguínea. São classificadas em hipercolesterolemia (níveis de
colesterol estão aumentados), hipertrigliceridemia (níveis de triglicérides estão
aumentados) e hiperlipidemia mista (níveis de colesterol e triglicérides estão aumentados)
(Costa & Silva, 2002).
Nos seres humanos, os triglicérides são sintetizados pelo fígado, a partir dos ácidos
graxos, e também provêm da dieta. No trato gastrointestinal, os triglicérides são substrato
para a ação dos sais biliares e das lipases intestinais, liberando ácidos graxos que são
captados pelas células da mucosa intestinal e convertidos em triglicérides novamente.
Juntamente com o colesterol oriundo da dieta, os triglicérides formam agregados que serão
transportados pelas lipoproteínas plasmáticas para os outros tecidos (Grundy, 1998).
O colesterol pode provir da dieta, mas a fonte principal resulta da síntese hepática,
a partir de compostos simples como o acetato. A síntese do colesterol é regulada pela ação
da enzima β-hidroxi- β-metilglutaril-CoA redutase (HMG-CoA), que é modulada pelo pool
de colesterol intracelular. Após a sua formação, o mesmo é esterificado, dando origem aos
ésteres de colesterol, que representam uma forma mais hidrofóbica e mais compacta,
pronta para ser transportada pelas lipoproteínas (Castelli, 1988).
Lípides, como o éster de colesterol, o colesterol, os triglicérides e os fosfolípides,
são insolúveis em água, não podendo, desta forma, serem transportados diretamente no
ambiente aquoso. Eles se movimentam pelos tecidos e compartimentos intravasculares
como parte de estruturas denominadas lipoproteínas (Martinez, 1997). As lipoproteínas são
macromoléculas compostas por apolipoproteínas que formam complexos com os lípides
hidrofóbicos (triglicérides e éster de colesterol) localizados no seu interior, sendo
envolvidas por uma camada de fosfolípides e algumas moléculas de colesterol livre (Rifai
et al, 1997). Diversas combinações de lípides e apolipoproteínas produzem lipoproteínas
com tamanhos e densidades diferentes, bem como funções distintas e, estas, são
classificadas e utilizadas pelo organismo de acordo com sua densidade (Goldberg, 1996).
As lipoproteínas circulantes são em geral divididas em quatro classes maiores:
quilomícrons (QM), lipoproteína de muito baixa densidade (very low density lipoprotein -
VLDL), lipoproteína de baixa densidade (low density lipoprotein -LDL) e lipoproteína de
alta densidade (high density lipoprotein - HDL), e duas menores: lipoproteína de densidade
intermediária (intermediate density lipoprotein - IDL) e lipoproteína (a) (Lp(a)) (Martinez,
1997).
As concentrações de lipoproteínas aumentam com a idade e são normalmente mais
altas nos homens que nas mulheres, mas começam a aumentar nas mulheres após a
menopausa (Martinez, 1997).
Os quilomícrons são lipoproteínas de maior diâmetro e menor densidade e são
formados no epitélio intestinal com a função de transporte dos lípides da dieta,
principalmente de triglicérides e uma pequena quantidade de éster de colesterol. Essas
lipoproteínas, ricas em triglicérides, contêm as apolipoproteínas apo B48, apo E e apo C-II.
Quando alcançam a circulação sistêmica, as lipoproteínas perdem e ganham outras
apolipoproteínas, além da transferência de lípides para outras lipoproteínas. A apo C-II dos
quilomícrons ativa a lipase lipoprotéica, enzima localizada no endotélio dos vasos, nos
capilares do tecido adiposo, no coração e na musculatura esquelética, que hidrolisará os
triglicérides em ácidos graxos livres para serem captados pelos tecidos e armazenados em
triglicérides pelo tecido adiposo ou serem utilizados como fonte energética (Rifai et al,
1997). Os quilomícrons também perdem os triglicérides para as partículas de HDL,
recebendo, em troca, os ésteres de colesterol, reação esta mediada pela enzima proteína
transportadora de éster de colesterol (CETP). Após a hidrólise dos triglicérides e com um
menor diâmetro, os quilomícrons apresentam uma alta quantidade de colesterol e apo B48
e E, sendo denominados de remanescentes de quilomícrons, os quais serão removidos pelo
fígado mediante ligação da apo E com o receptor B/E e com o receptor LRP (proteína de
ligação ao receptor LDL) (Martinez, 1997; Rifai et al, 1997).
Os ácidos graxos circulantes, que não foram utilizados pelos tecidos periféricos,
voltam para o fígado onde serão sintetizados em triglicérides e transportados para a
circulação sangüínea pela lipoproteína de muito baixa densidade ou VLDL. Essa
lipoproteína hepática é rica em triglicérides, menos densa e menor que os quilomícrons e
contém em sua estrutura as apo B100, apo E e apo C-II, entre outras. Na circulação
sangüínea, as partículas de VLDL competem com os quilomícrons pelos mesmos
mecanismos de lipólise, isto é, pela ação da enzima lipase lipoprotéica, liberando os ácidos
graxos para os tecidos periféricos, além da transferência de triglicérides e partículas de
éster de colesterol entre as HDL mediadas pela CETP. Isto resultará na formação dos
remanescentes de VLDL, partículas com um diâmetro menor, ricas em éster de colesterol,
que contém as apo B 100 e E, as quais serão removidas pelo receptor B/E pela apo E
(Martinez, 1997; Goldberg, 1996).
Uma proporção dos remanescentes de VLDL, que não foram removidos pelo
fígado, servem de substrato para a ação da lipase lipoprotéica (hidrólise de triglicérides) e
da lipase hepática (hidrólise de fosfolípides de superfície), dando origem à lipoproteína
LDL, de diâmetro bem menor e mais densa e rica em colesterol, perdendo as apo C e E
para as HDL, permanecendo na sua estrutura apenas a apo B100. Esta lipoproteína é
removida pelo fígado pelo receptor B/E (receptor LDL), principal regulador das
concentrações plasmáticas de LDL. As partículas de LDL transportam colesterol para os
tecidos extra-hepáticos que expressem na membrana celular receptores para a apo B 100.
As LDL que não são removidas por esse receptor podem se ligar a receptores de baixa
afinidade localizados nos macrófagos, o que contribui para a formação da célula espumosa,
precursora da aterogênese (Miller et al, 1996; Gardner et al, 1996).
A lipoproteína de alta densidade ou HDL, sintetizada no fígado e intestino, age na
circulação sanguínea ainda como partículas de pequeno diâmetro e discoidais, contendo
apo A1 e adquirem colesterol livre dos tecidos periféricos mediante receptor ABCA1
(transporte reverso do colesterol). O colesterol livre é então esterificado em éster de
colesterol, reação essa mediada pela enzima lecitina colesterol acil transferase (LCAT),
transformando as HDL discóides em partículas mais esféricas e maduras. Essas
lipoproteínas de alta densidade e ricas em colesterol irão transferir os ésteres de colesterol
para os quilomícrons e VLDL e receber, em troca, os triglicérides, num mecanismo
mediado pela enzima CETP, originando partículas de HDL enriquecidas com triglicérides
com um conteúdo menor de colesterol no seu interior. O colesterol esterificado das HDL
pode também ser transportado para o tecido hepático por meio da ligação das HDL com
receptores denominados SR-B1. Sem ter mais colesterol em sua composição, as
lipoproteínas HDL podem retornar para extraírem mais colesterol dos tecidos extra-
hepáticos ou serem excretadas pelos rins (Fielding & Fielding, 1995; Colvin & Parks,
1999).
A lipoproteína (a) [Lp(a)] é semelhante a LDL, contendo uma glicoproteína
adicional, denominada apolipoproteína (a), acoplada à apo B por pontes de dissulfeto. Essa
glicoproteína inibe a geração da plasmina e a fibrinólise. Aparentemente a Lp (a) não tem
função no transporte de lípides. Diversos estudos, inclusive prospectivos, têm mostrado
que a Lp (a) representa um fator de risco independente para aterosclerose coronariana e de
artérias cerebrais nas raças branca e amarela. Na raça negra, a concentração plasmática
dessa lipoproteína é elevada, sem que haja correlação com a aterosclerose (Santos &
Maranhão, 2000).
A hipertrigliceridemia e a hipercolesterolemia resultam, respectivamente, do
acúmulo de VLDL e LDL no compartimento plasmático. O aumento de VLDL pode ser
devido ao aumento da produção da lipoproteína pelo fígado ou pela diminuição da
catabolização da VLDL, isto é, redução do processo de lipólise da lipoproteína mediado
pela lipase lipoprotéica. Já o acúmulo de LDL pode ocorrer por defeito no gene do receptor
de LDL com conseqüente déficit na expressão ou função dos receptores de LDL,
diminuindo o catabolismo da lipoproteína, especialmente pelo fígado (McIntyre & Harry,
1991; Goldstein et al, 1995).
As concentrações de colesterol e triglicérides são mais elevadas nos indivíduos com
hiperlipidemias hereditárias, também denominadas hiperlipoproteinemias, as quais
interferem nos mecanismos de metabolização e eliminação de gorduras do organismo.
Cada um dos cinco tipos principais de hiperlipoproteinemia produz um perfil diferente de
lípides no sangue e um conjunto diferente de riscos (Martinez, 1997).
A hiperlipoproteinemia do tipo I (hiperquilomicronemia familiar) é um distúrbio
hereditário raro, presente ao nascimento, no qual o organismo é incapaz de eliminar os
quilomícrons do sangue. Os indivíduos apresentam aumento do fígado e do baço e
desenvolvem depósitos cutâneos de gordura de cor rosa-amarelado (xantomas eruptivos).
Os exames de sangue revelam concentrações extremamente elevadas de triglicérides. Os
indivíduos com esse distúrbio devem evitar o consumo de todos os tipos de lípides
(saturados e insaturados) (Martinez, 1997).
A hiperlipoproteinemia do tipo II (hipercolesterolemia familiar) é um distúrbio
hereditário que acarreta aterosclerose acelerada e morte precoce, geralmente por infarto do
miocárdio. Os indivíduos com hiperlipoproteinemia do tipo II apresentam concentrações
elevadas de LDL. Os depósitos de gordura formam proeminências (xantomas) nos tendões
e na pele. Um em cada seis homens com esse distúrbio sofre um infarto do miocárdio em
torno dos 40 anos e dois em cada três sofre um infarto do miocárdio em torno dos 60 anos.
As mulheres com hiperlipoproteinemia do tipo II também apresentam um maior risco, mas
com um começo mais tardio. Aproximadamente uma em cada duas mulheres com esse
distúrbio sofrerá um infarto do miocárdio em torno dos 55 anos. Os indivíduos que
possuem dois genes para esse distúrbio (uma ocorrência rara) podem apresentar
concentrações de colesterol total de 500 a 1.200 mg/dL e, freqüentemente, morrem na
infância devido a uma doença coronariana. O tratamento visa evitar os principais fatores de
risco e reduzir a concentração sérica de colesterol com medicamentos. É instituída uma
dieta pobre em lípides saturados e colesterol dietético e estímulo a prática de atividade
física (Martinez, 1997).
A hiperlipoproteinemia do tipo III é um distúrbio hereditário incomum que acarreta
concentrações altas de VLDL e de triglicérides. Nos homens com hiperlipoproteinemia do
tipo III, surgem acúmulos de gordura na pele no início da vida adulta. Nas mulheres, eles
surgem 10 a 15 anos mais tarde. Em ambos os sexos, os depósitos surgem mais cedo
quando existe sobrepeso. Freqüentemente, a aterosclerose obstrui artérias e reduz o fluxo
de sangue para os membros inferiores em torno da meia-idade. Os indivíduos com
hiperlipoproteinemia do tipo III freqüentemente apresentam diabetes mellitus e
concentrações séricas altas de ácido úrico. O tratamento visa obter e manter um peso
corporal ideal e a menor ingestão de colesterol e gorduras saturadas. Normalmente, os
medicamentos redutores de lípides são necessários. As concentrações séricas de lípides
quase sempre podem ser reduzidas aos valores normais, diminuindo a incidência da
aterosclerose (Martinez, 1997).
A hiperlipoproteinemia do tipo IV é um distúrbio comum que afeta freqüentemente
vários membros de uma mesma família e produz concentrações elevadas de triglicérides.
Este distúrbio pode aumentar o risco de aterosclerose. Os indivíduos com
hiperlipoproteinemia do tipo IV freqüentemente apresentam sobrepeso e diabetes mellitus.
A redução do peso, o controle do diabetes mellitus e a abstinência de bebidas alcoólicas
são medidas benéficas. Também pode ser útil o uso de um medicamento redutor de lípides
(Martinez, 1997).
A hiperlipoproteinemia do tipo V é um distúrbio incomum no qual o organismo não
consegue metabolizar e eliminar suficientemente o excesso de triglicérides. Sendo em parte
hereditário, esse distúrbio pode ser provocado pelo uso abusivo de álcool, por diabetes
mellitus mal controlado, pela insuficiência renal ou pela ingestão de alimentos após um
período de inanição. Quando é hereditário, esse distúrbio comumente manifesta-se pela
primeira vez no início da vida adulta. Os indivíduos com hiperlipoproteinemia do tipo V
podem apresentar um grande número de depósitos gordurosos (xantomas) na pele, aumento
do baço e do fígado e dor abdominal. Muitos indivíduos apresentam sobrepeso. A principal
complicação é a pancreatite que é freqüentemente provocada pelo consumo de lípides. O
tratamento consiste em evitar lípides na alimentação, perder peso e não consumir bebidas
alcoólicas.
A relevância da hiperlipidemia como problema de saúde pública está na sua relação
com as doenças cardiovasculares, particularmente a doença aterosclerótica coronariana –
razão importante de morte e incapacidade física em nosso meio, com repercussões
importantes nos custos da assistência médica no Brasil. Estimativas feitas pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) prevêem que as doenças cardiovasculares
continuarão sendo as principais causas de morbi-mortalidade até o ano de 2020,
especialmente nas sociedades afluentes dos países em transição econômica (Botrel et al,
2000).
Não existe razão única para a ocorrência das doenças cardiovasculares, mas sim
vários fatores que aumentam o risco. A etiologia principal desse grupo de doenças é a
aterosclerose, uma enfermidade inflamatória do endotélio que se caracteriza pelo acúmulo
de LDL oxidada, respostas inflamatórias, imunológicas e proliferativas local, além da
redução na biodisponibilidade do óxido nítrico na parede arterial (Botrel et al, 2000). O
comprometimento da função endotelial parece ser um evento comum e precoce no curso
das doenças cardiovasculares. A inflamação na parede arterial é um distúrbio característico
da fase inicial do processo aterosclerótico. Se a resposta inflamatória não consegue
neutralizar eficientemente o agente agressor, este processo pode evoluir para a formação
do ateroma e estenose da artéria (Ross, 1999).
3.2 Fatores de risco para as hiperlipidemias e doença aterosclerótica coronariana
As alterações metabólicas, genéticas e ambientais que predispõem a aterogênese
incluem fatores de risco modificáveis (hipertensão arterial, diabetes, tabagismo,
dislipidemias, acúmulo de gordura visceral e sedentarismo) e não modificáveis (idade,
sexo e história familiar). Quanto maior for o número desses fatores em um mesmo
indivíduo, maior será o risco cardiovascular (III Diretrizes Brasileiras sobre Dislipidemias,
2002).
DIETA HABITUAL
Lípides dietéticos
As hiperlipidemias relacionadas às doenças cardiovasculares, principalmente a
doença aterosclerótica coronariana, são estudadas extensivamente e foi mostrado que
pessoas que consomem grandes quantidades de gordura têm níveis elevados de colesterol
sérico e maior incidência de aterosclerose coronariana e aórtica, quando comparados
àqueles que consomem menos gordura. A influência das gorduras dietética nos lípides
séricos proporcionou investigações sobre o impacto da dieta no desenvolvimento das
dislipidemias (Garcia et al, 2002).
As gorduras são compostas por 98 a 99% de triglicérides e a grande maioria destes
são de cadeias longas e os 1 a 2% restantes são traços de mono e diglicerídeos, ácidos
graxos livres, fosfolípides e material não saponificável que contêm esteróides. Os
triglicérides são formados a partir da junção de átomos de carbono, hidrogênio e de
oxigênio. Os ácidos graxos podem ter de 4 a 30 átomos de carbono e constituem a parte
principal dos triglicérides e podem ser agrupados em saturados, monoinsaturados e
polinsaturados (Leningher, 1995).
Os ácidos graxos são classificados segundo o número de saturações, isto é, o número
de duplas ligações entre os átomos de carbono. Os ácidos graxos saturados não contêm
duplas ligações variando em comprimento de 12 a 18 átomos de carbono. Os ácidos graxos
saturados mais comuns na dieta são o ácido palmítico, o esteárico, o mirístico e o láurico.
Entre os que elevam a concentração plasmática de LDL (efeito mediado tanto pela
expressão diminuída do RNA mensageiro receptor LDL quanto pela fluidez diminuída da
membrana) e que são considerados aterogênicos estão: 1) o ácido láurico, encontrado no
óleo de coco; 2) o ácido mirístico, presente nas gorduras animais, no óleo de coco, no leite
e seus derivados; 3) ácido palmítico, encontrado nas gorduras animais e no azeite-de-dendê
(Costa & Silva, 2002; Schaefer, 2002).
O ácido oléico é o ácido graxo monoinsaturado representante da dieta e contém uma
dupla ligação no carbono 9. Os ácidos graxos monoinsaturados, na dieta, quando
substitutos dos ácidos graxos saturados, têm efeito hipocolesterolêmico. As principais
fontes desses ácidos graxos são o azeite de oliva, o óleo de canola, as oleaginosas
(castanha, amêndoas, nozes), a azeitona e o abacate. Os ácidos graxos monoinsaturados
reduzem os níveis de colesterol total e da LDL, tem função antitrombótica e inibem a
agregação plaquetária (Costa & Silva, 2002; Schaefer, 2002).
Os ácidos graxos monoinsaturados podem também ser produzidos a partir da
hidrogenação de óleos polinsaturados na produção de margarinas e de gordura vegetal
hidrogenada, sob a forma transisométrica. Os ácidos graxos transisométricos interferem no
metabolismo dos ácidos graxos essenciais, possuem propriedades físicas, químicas e
metabólicas semelhantes às dos ácidos graxos saturados. Eles elevam o LDL e reduzem o
HDL. O ácido elaídico é o principal ácido graxo trans da dieta. A maior contribuição dos
ácidos graxos trans na dieta origina-se do consumo de óleos e gorduras hidrogenadas,
margarinas duras, gordura presente em sorvetes, chocolates, pães recheados, molhos para
salada, maionese, cremes para sobremesa e óleos para fritura industrial (Costa & Silva,
2002). Schaefer (2002) e Baylin et al (2003) comentam que as evidências sugerem que o
consumo aumentado desse tipo de ácido graxo, quando comparado ao de ácido graxo
saturado, resulta em maior concentração plasmática de LDL, de triglicérides e menor em
HDL, que sabiamente são os fatores de risco independentes para as doenças
cardiovasculares.
Os ácidos graxos polinsaturados são classificados como ω-3 ou ω-6, indicando, a
partir da extremidade ômega da cadeia, a localização do carbono envolvido na dupla
ligação. O principal ácido graxo polinsaturado da dieta é o ácido α-linoléico (ω-6)
considerado essencial já que não é produzido no organismo e é obtido por meio dos óleos
vegetais (girassol, milho e soja). O precursor do ω-3 é o α-linolênico, considerado também
essencial, pode ser convertido em ácido eicosapentaenóico e decosaexaenóico. O ω-3 é
obtido pela linhaça, soja, peixes de água muito frias e profundas, como o salmão, sardinha,
cavala, arenque. Quando ingeridos em quantidades elevadas, podem reduzir os níveis de
triglicérides plasmáticos por inibição da secreção de VLDL (Costa & Silva, 2002).
Estudos têm mostrado que o colesterol dietético, quando comparado aos ácidos
graxos da dieta, é um regulador menos potente da concentração sérica de colesterol, mas
que pode atuar com estes de forma sinérgica na mediação dessa concentração. Embora a
relação entre o colesterol dietético e o sérico seja complexa, seu consumo deve ser restrito,
assim como os ácidos graxos saturados. As principais fontes de colesterol são o leite
integral e seus derivados, carnes vermelhas gordurosas, peles de aves, bacon, embutidos
(presunto, salame, mortadela), gema de ovo, vísceras (fígado, coração, língua), frutos do
mar (lagosta, camarão, ostra, marisco) (Schaefer, 2002).
A relação entre o teor de lípides da dieta e a doença aterosclerótica coronariana é
bastante investigada e os resultados das diferentes pesquisas mostram associações
consistentes tanto em experimentos com animais quanto em estudos observacionais,
ensaios clínicos e em estudos metabólicos, em diferentes populações (WHO & FAO,
2003).
Em estudos epidemiológicos, tanto o teor total de gorduras da dieta, o consumo
excessivo de ácido graxo saturado e de colesterol quanto à baixa ingestão de ácido graxo
polinsaturado, particularmente os ω-3, estão consistentemente associados com maiores
taxas de morbi-mortalidade por doença cardiovascular (Tell et al, 1994; Morris et al, 1995,
Albert et al, 1998).
Fibras dietéticas
As fibras são carboidratos complexos, não absorvidos no intestino, com ação
reguladora na função gastrointestinal, podendo ser agrupadas em viscosas e não viscosas.
As fibras viscosas (anteriormente denominadas solúveis em água) são representadas pela
pectina (frutas) e pelas gomas (aveia, cevada e leguminosas) reduzindo o tempo de trânsito
intestinal e auxiliam na eliminação do colesterol sanguíneo. As fibras não viscosas
(anteriormente denominadas insolúveis em água) não atuam sobre a colesterolemia e são
representadas pela celulose (trigo), hemicelulose (grãos) e lignina (hortaliças) (DRIs,
2001).
Um dos papéis primários das fibras dietéticas é servir de substrato para a microflora
normalmente presente no intestino grosso e, além disso, modular a velocidade de digestão
e absorção de nutrientes, bem como promover uma laxação normal (Costa e Silva, 2002).
O teor de fibras na dieta deve ser elevado para reduzir os níveis sangüíneos de
colesterol, porém as fibras são também úteis por acelerarem o trânsito gastrointestinal,
auxiliando a eliminação das resinas quelantes de ácidos biliares, isto é, a droga
hipolipemiante que tem ação na redução do colesterol sérico (Costa & Silva, 2002).
A viscosidade é a principal característica da fibra responsável pela diminuição do
colesterol sanguíneo e da LDL. Utilizando dados transversais de um estudo iniciado em
1991, na Suécia, com 28098 indivíduos com idade entre 45 e 73 anos, Wirfalt et al (2001)
observaram associação negativa entre o consumo elevado de fibras e a prevalência de
obesidade central.
Álcool
O álcool, em elevadas concentrações, é um importante fator de risco para a saúde,
porém, se consumido em quantidade moderada, associado ao baixo consumo de ácido
graxo saturado, pode ser benéfico na diminuição do risco às doenças cardiovasculares,
reduzindo os níveis de LDL e aumentado os de HDL (Fuchs et al, 2004; Rumpler et al,
1999). Rimm et al (1991) relataram redução de 26% no risco de doença cardiovascular em
homens que consumiram 5 a 30g de álcool/dia (equivalente a 350mL de cerveja, 30mL de
bebidas destiladas e 100mL de vinho) quando comparados aos abstêmios, após ajuste para
consumo de fibras, ácido graxo saturado e colesterol. Porém, a alta ingestão de álcool é
contra-indicada, uma vez que indivíduos predispostos a dislipidemia, podem ter aumento
nos níveis de triglicérides por meio da estimulação da produção de VLDL pelo fígado.
Ainda pode promover aumento do peso corporal e da pressão arterial (Grundy, 1990).
HIPOTIREOIDISMO
Segundo especialistas do NCEP (National Cholesterol Education Program – 2001),
as principais causas do aumento do colesterol sanguíneo são os hábitos alimentares e a
presença de doença tireoideana, enfatizando o hipotireoidismo. Nos Estados Unidos,
estima-se que 40% dos americanos apresentam aumento dos níveis de colesterol; situação
semelhante foi relatada por especialistas do Ministério da Saúde no Brasil. Cerca de 90%
dos indivíduos com hipotireoidismo apresentam aumento nos níveis de colesterol e
triglicérides. A média nos níveis de colesterol em indivíduos com hipotireoidismo é de 30
a 50% maior do que entre aqueles sem essa doença.
O hipotireoidismo pode ser da forma clínica ou subclínica. A forma clínica resulta
da diminuição da produção dos hormônios tireoideanos: triiodotironina (T3) e tiroxina (T4)
circulante e a elevada concentração do hormônio tireotrófico (TSH) produzido pela
hipófise. Já a forma subclínica resulta dos níveis normais de T3 e T4 e elevadas
concentração de TSH (Wajchenberg, 1992; Lazarus & Obuobie, 2000; Cesena et al, 2005).
Tanto na forma clínica como subclínica, o hipotireoidismo apresenta alta
prevalência na população geral, aumentando com a idade e ocorrendo principalmente em
mulheres. A prevalência de hipotireoidismo subclínico na população geral varia de 2,5 a
10,0%, dependendo da amostra analisada e dos critérios laboratoriais adotados. Nas faixas
etárias mais elevadas, tal prevalência pode chegar a 15-20%. A evolução para o
hipotireoidismo clínico ocorre em 2 a 5% ao ano (Cesena et al, 2005, Ito et al, 2004).
O hipotireoidismo é considerado causa secundária da hiperlipidemia. Estima-se que
90% dos indivíduos com hipotireoidismo têm aumento nos níveis de colesterol ou de
triglicérides (SBEM-DF, 2004).
O mecanismo primário da hipercolesterolemia nos hipotireoideos se dá pelo
acúmulo de LDL, devido ao decréscimo do número correspondente de receptores hepáticos
para a LDL. A reposição hormonal com tiroxina tem respostas variáveis sobre a
hipercolesterolemia secundária, devido aos diferentes polimorfismos do gene do receptor
de LDL. A redução da atividade da lipase das lipoproteínas, que pode ocorrer no
hipotireoidismo, é a responsável pelo desenvolvimento de hipertrigliceridemia, estando a
velocidade de síntese dos triglicérides normal. As manifestações nos lípides séricos podem
ocorrer tanto no hipotireoidismo, manifesto clinicamente, como na forma subclínica (III
Diretrizes Brasileiras sobre Dislipidemias, 2002).
TABAGISMO
O hábito de fumar é o principal fator de risco para as doenças do coração e dos
vasos sanguíneos, câncer e lesões pulmonares irreversíveis como enfisema e bronquite
crônica. O tabagismo promove disfunção endotelial que se manifesta como alteração da
vasodilatação dependente do endotélio em diferentes leitos vasculares, levando à alteração
da biodisponibilidade de substâncias vasoativas como o óxido nítrico, tromboxano A2,
endotelina e prostaciclinas, assim como gerando radicais livres de oxigênio (Raw et al,
1999).
EXCESSO DE PESO
O ganho ponderal e o excesso de peso apresentam forte correlação com o risco
cardiovascular. O excesso de peso predisporia às doenças cardiovasculares devido a
anormalidades no metabolismo dos lípides, da glicose e da pressão arterial (Calle et al,
1999). Embora indivíduos com excesso de peso possam apresentar níveis de colesterol
mais elevados do que os eutróficos, a principal hiperlipidemia associada ao excesso de
peso é caracterizada por elevações leves a moderadas dos triglicérides (Eckel, 1997).
Atualmente sabe-se que a obesidade central, isto é, localização abdominal da
gordura, está mais associada a distúrbios metabólicos e ao risco cardiovascular. A medida
regional de obesidade utilizada é a circunferência de cintura, capaz de fornecer estimativa
da gordura abdominal, que, por sua vez, está relacionada à quantidade de tecido adiposo
visceral (Egger, 1992). Lerario et al (2002) mostraram que o aumento da adiposidade
abdominal contribuía para deterioração do perfil metabólico.
SEDENTARISMO
Já é conhecida a relação benéfica da prática da atividade física regularmente com a
ausência de coronariopatia. A prática de atividade física regular reduz a pressão arterial,
além de produzir benefícios adicionais, tais como a diminuição do peso corporal e ação
coadjuvante no tratamento das hiperlipidemia, da resistência à insulina, do abandono ao
tabagismo e do controle do estresse. A atividade física, tais como caminhada, ciclismo,
natação e corrida, com duração de 30 a 45 minutos, três a cinco vezes na semana,
melhoram o perfil metabólico e reduzem a pressão arterial em indivíduos hipertensos
(Bennett & Plum, 1997).
DIABETES MELLITUS
O estudo epidemiológico de Framingham evidenciou maior risco de doença
cardiovascular em pacientes diabéticos, sendo essa a principal responsável pela redução da
sobrevida bem como a causa mais freqüente da mortalidade nesses pacientes (Dias et al,
2004).
O diabetes mellitus é uma doença que atinge aproximadamente 5 milhões de
pessoas no Brasil e ocorre em 7% da população na faixa etária de 30 a 69 anos, sendo que
90% são do tipo 2 (Dias et al, 2004; Fernandes et al, 2000).
O modelo mais comum correlacionando hiperlipidemia e pacientes diabéticos tipo 2
é o aumento dos níveis de LDL e triglicérides, com o possível aumento da aterogenicidade
(Fernandes et al, 2000).
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA
A hipertensão arterial é conceituada como síndrome caracterizada pela presença de
níveis tensionais elevados, associados a alterações metabólicas e hormonais e a fenômenos
tróficos (hipertrofias cardíaca e vascular). A prevalência de hipertensão arterial sistêmica é
elevada, estimando-se que cerca de 15% a 20% da população brasileira adulta seja
hipertensa (Botrel et al, 2000).
A hipertensão arterial sistêmica é um fator de risco bem estabelecido para a doença
cardiovascular. A importância dessa associação foi bem definida nos achados de
Framingham e no Multiple Risk Factor Intervention Trial – MRFIT (Gus et al, 2002).
Os mediadores das alterações observadas na disfunção endotelial na hipertensão
arterial sistêmica parecem ser os relacionados à ação do óxido nítrico, da endotelina e da
angiotensina II (Dias et al, 2004).
4 OBJETIVOS
4.1 Objetivo geral
Verificar, entre os nipo-brasileiros, a relação entre hiperlipidemia e fatores
dietéticos.
4.2 Objetivos específicos
- Descrever as prevalências de hiperlipidemia entre nipo-brasileiros segundo sexo e
idade.
- Descrever a prevalência de hipotireoidismo entre indivíduos com e sem hiperlipidemia.
- Descrever o consumo energético total, de proteínas, de carboidratos, de lípides, de
colesterol, de ácido linoléico, de ácido oléico, de ácido graxo saturado, de ácido graxo
trans, de álcool, de fibras totais e de fibras de vegetais, frutas e grãos e cereais entre os
indivíduos com e sem hiperlipidemia.
- Descrever o consumo energético total, de proteínas, de carboidratos, de lípides, de
colesterol, de ácido linoléico, de ácido oléico, de ácido graxo saturado, de ácido graxo
trans, de álcool, de fibras totais e de fibras de vegetais, frutas e grãos e cereais nos
indivíduos com hiperlipidemia e sem hipotireoidismo.
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6 ARTIGO
Hiperlipidemias e fatores dietéticos: estudo transversal entre nipo-brasileiros
Marselle R Bevilacqua1, Suely G A Gimeno1, Luiza K Matsumura2 e Sandra R G Ferreira1
pelo Japanese Brazilians Diabetes Study Group3
1 Departamento de Medicina Preventiva, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP 2 Disciplina de Endocrinologia, Departamento de Medicina, Universidade Federal de São
Paulo, São Paulo, SP 3 Apêndice
Correspondência
Marselle Rodrigues Bevilacqua
Rua Santo Irineu, 571 apto. 113 – Bosque da Saúde – São Paulo, SP, Brasil – 04127-120
Fone: 55 11 2275-0237 / 55 11 8144-2904 E-mail: [email protected]
Titulo resumido: Hiperlipidemia e fatores dietéticos.
Submetido aos Arquivos Brasileiros de
Endocrinologia e Metabologia em maio de
2006 ( MS # 81/06 )
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo avaliar a associação entre hiperlipidemia e a dieta de
nipo-brasileiros com e sem hipotireoidismo de Bauru. Foram avaliados 1330 indivíduos de
primeira e segunda geração com mais de 30 anos entre 1999 a 2000. Foram obtidos, com
questionários previamente testados, dados demográficos e dietéticos. Os exames físicos e
de laboratório incluíram a coleta (ou dosagem) de antropometria, de pressão arterial, de
glicemia de jejum e de 2 horas, de perfil lipídico e de TSH e T4 livre. Utilizaram-se o teste
qui-quadrado e medida de odds ratio para avaliar associação entre as variáveis estudadas e
a presença de hiperlipidemia. A prevalência de hiperlipidemia foi de 81,5% e acometeu,
principalmente, indivíduos tabagistas, com excesso de peso, hipotireoidismo, hipertensão
arterial e intolerância a glicose. Observaram-se, mediante análise bruta, relações entre a
hiperlipidemia com ácido graxo saturado, ácido oléico e fibras de grãos e cereais. Após o
ajuste para as variáveis de controle, observaram-se associações entre a hiperlipidemia e o
consumo de lípides (totais, ácido oléico, saturados e trans), carboidratos, fibras e álcool.
Conclui-se que, nessa população, a hiperlipidemia, além dos fatores de risco clássicos,
também está associada à dieta.
Descritores: hiperlipidemia – fatores de risco – fatores dietéticos – nipo-brasileiros
ABSTRACT
The present study had as objective to evaluate the association between hyperlipidemia and
dietary patterns of Japanese-Brazilians with and without hypothyroidism from Bauru. We
evaluated 1330 first- and second generation subjects of aged 30 years or more in the course
of 1999 and 2000. Demographic and dietary measurement, were gotten through
standardized questionnaires previously tested. Clinical examination and laboratory data
were anthropometry, blood pressure, fasting and 2-h poast glucose load, lipid profile and
TSH and free T4. The chi-square and the odds ratio were used to evaluate associations
between hyperlipidemia with studied variables. The prevalence of hyperlipidemia was
81,5% and it was associated with smorkers, overweight, hypothyroid, hypertensive and
glucose intolerants. We observed, in crude analysis, relationships with the presence of
hyperlipidemia and fat saturated, oleic acid and dietary fiber from grains and cereals. After
adjusting for the control variables, we observed relationships between hyperlipidemia
(hypercholesterolemia and hypertriglyceridemia) with habitual intake of total fat, oleic
acid, saturated fat, trans fat, carbohydrates, dietary fiber and alchool. As a conclusion, in
japanese-brazilians, the hyperlipidemia, beyond classical cardiovascular risk factors, also is
associated with dietary patterns.
Key words: hyperlipidemia – risk factors – dietary patterns – japanese-brazilians
INTRODUÇÃO
As hiperlipidemias são alterações metabólicas que ocorrem quando níveis de lípides
circulantes estão aumentados na corrente sanguínea. Podem ser classificadas em
hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia e hiperlipidemia mista (1).
A proeminência da hiperlipidemia como problema de saúde pública está na sua
relação com as doenças cardiovasculares, particularmente a doença aterosclerótica
coronariana – razão importante de morte e incapacidade física em nosso meio, com
repercussões importantes nos custos da assistência médica no Brasil. (2).
As alterações metabólicas, genéticas e ambientais que predispõem a aterogênese
incluem fatores de risco modificáveis (hipertensão arterial, diabetes, tabagismo,
dislipidemias, acúmulo de gordura visceral e sedentarismo) e não modificáveis (idade,
sexo e história familiar). Quanto maior for o número desses fatores em um mesmo
indivíduo, maior será o risco cardiovascular (3).
Segundo especialistas do NCEP (4), a causa primária do aumento do colesterol e
triglicérides sanguíneos é o hábito alimentar e a secundária seria a presença do
hipotireoidismo. Dados da Sociedade Brasileira de Endocrinologia & Metabologia do
Distrito Federal, em 2004, estimam que 90% dos indivíduos com hipotireoidismo têm
aumento nos níveis de colesterol ou de triglicérides (5).
O mecanismo primário da hipercolesterolemia nos hipotireoideos se dá pelo
acúmulo de LDL, devido ao decréscimo do número correspondente de receptores hepáticos
para a LDL. A reposição hormonal com tiroxina tem respostas variáveis sobre a
hipercolesterolemia secundária, devido aos diferentes polimorfismos do gene do receptor
de LDL. A redução da atividade da lipase das lipoproteínas, que pode ocorrer no
hipotireoidismo, é a responsável pelo desenvolvimento de hipertrigliceridemia (3).
Sabe-se que para uma melhor qualidade de vida, a dieta é um fator relevante.
Indubitavelmente, não existe nenhuma prática ou hábito que possa influenciar tanto a
saúde do indivíduo, como as decisões que são tomadas com vistas ao tipo e quantidade de
alimentos consumidos. A obtenção de nutrientes essenciais ao organismo depende da
adequada seleção de alimentos, garantindo, assim, o seu funcionamento (6).
A dieta tradicional japonesa constitui um exemplo de padrão alimentar
caracterizado pelo baixo consumo de açúcares simples, gordura e proteína animal, e rica
em açúcares complexos. Com a emigração japonesa, as modificações na dieta têm
despertado grande interesse em se avaliar a importância do fator ambiental no papel da
obesidade e doenças associadas (7-9).
Hoje está bem estabelecido na literatura que mudanças no estilo de vida indivíduos
são decisivas na conduta de tratamento ou prevenção da hiperlipidemia; essas mudanças
incluem, entre outros fatores, a mudança no comportamento alimentar. O presente estudo
teve como objetivo de analisar a possível relação entre hiperlipidemia e os componentes da
dieta de nipo-brasileiros com e sem hipotireoidismo que vivem em Bauru, SP, Brasil.
MATERIAL E MÉTODOS
Neste estudo, aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de São Paulo
– UNIFESP, utilizou-se dados de investigação epidemiológica do tipo transversal
referentes à segunda fase de pesquisa realizada pelo Japanese-Brazilians Diabetes Study
com a comunidade nipo-brasileira de Bauru no período de 1999 a 2000. Detalhes sobre as
características, critérios de seleção e recrutamento dos nipo-brasileiros foram descritos
anteriormente (9-12). Resumidamente, após censo da comunidade nipo-brasileira residente
em Bauru, foram identificados e convidados a participar do estudo 1751 indivíduos de
primeira (nascidos no Japão) e segunda (nascidos no Brasil e filhos de indivíduos de
primeira geração) geração com idade ≥ 30 anos. O convite foi aceito por 1330 (76%)
indivíduos. Os motivos para a não participação foram: óbito (antes ou durante o trabalho
de campo, n=94; 22,3%), mudança de endereço (n=57; 13,5%) e recusa (n=270; 64,2%).
Entre aqueles que não participaram do estudo, observou-se maior proporção de indivíduos
do sexo masculino e com idade ≤ 60 anos quando comparados aos participantes.
Após concordância em participar do estudo, formalizada mediante assinatura em
termo de consentimento livre e esclarecido, os participantes foram entrevistados por
pessoas treinadas utilizando questionários padronizados e previamente testados a fim de
obter informações relativas aos aspectos de identificação, características sócio-
demográficas [sexo, idade, geração, tabagismo (nunca fumou, fuma atualmente ou já
fumou alguma vez), prática de atividade física no lazer e no trabalho, histórico pessoal e
familiar de doenças (hipertensão arterial sistêmica e intolerância à glicose)].
A atividade física foi avaliada por um questionário elaborado com o objetivo de
colher informações sobre o tipo de atividade física executada tanto de lazer quanto no
trabalho. No presente trabalho foram consideradas duas categorias de atividade física: leve
e outros.
O consumo alimentar foi avaliado mediante a utilização de um questionário de
freqüência do consumo alimentar, previamente validado para nipo-brasileiros (13). Os
participantes foram questionados sobre o consumo habitual de alimentos e grupo de
alimentos (122 itens) durante o ano anterior. Estes relataram a freqüência habitual de
consumo de cada item, a unidade de tempo respectiva (se diário, semanal, mensal ou
anual) e o tamanho da parcela habitual (se pequeno, médio, grande ou extra-grande com
relação à parcela de referência para cada item do questionário). Utilizou-se o programa
“Dietsys” 4.01 para o cálculo dos nutrientes da dieta (14). As bases de dados de nutrientes
utilizadas foram as do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América, além
de uma tabela de composição de alimentos do Brasil (15) e do Japão (16). Com o objetivo
de estudar a relação entre hiperlipidemia e variáveis dietéticas e a influência em indivíduos
com e sem hipotireoidismo, foram analisados dados referentes ao consumo energético
total, carboidratos, proteínas, lípides totais, ácido graxo linoléico, ácido graxo oléico, ácido
graxo saturado, ácido graxo trans e colesterol, álcool, fibras totais e fibras em vegetais,
grãos e cereais e frutas. Todos os nutrientes foram ajustados às calorias totais pelo método
do resíduo (17) e agrupados em tercis de consumo.
Os exames físicos e laboratoriais foram realizados no Hospital de Reabilitação de
Anomalias do Crânio-faciais em Bauru/SP. O peso corporal foi avaliado, em quilogramas,
em balança antropométrica (Filizola®) do tipo plataforma com capacidade de 200 Kg e
precisão 100g, colocada sob superfície plana e calibrada a cada pesagem. O indivíduo
usava o mínimo de roupa possível e estava sem sapatos. A estatura foi tomada com o uso
do estadiômetro manual, preso a parede com capacidade de dois metros e precisão de 1 cm,
estando o indivíduo descalço, com glúteos, tronco e cabeça de encontro à parede, sem
rodapé e em superfície plana e lisa e com os braços pendentes ao longo do corpo. O índice
de massa corporal (IMC) foi calculado com o peso, em quilogramas, dividido pela estatura
ao quadrado, em metros. Utilizou-se às recomendações da WHO (18) para a classificação
dos indivíduos quanto ao estado nutricional. Foram considerados eutróficos aqueles com
IMC entre 18,5 a 24,9 kg/m2, com sobrepeso os com IMC entre 25 a 29,9 kg/m2 e os
obesos os que apresentarem IMC ≥ 30 kg/m2.
A circunferência de cintura foi medida com fita métrica inextensível, na altura da
cicatriz umbilical, com aproximação em 0,1cm. Esta medida foi realizada com o indivíduo
ereto, abdômen relaxado, braços ao lado do corpo e os pés juntos. A presença de obesidade
central (ou abdominal) foi caracterizada por valores de circunferência de cintura ≥80 e 90
cm para o sexo feminino e masculino, respectivamente (19).
As medidas de pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) foram realizadas
por médicos treinados, utilizando-se aparelhos digitais automáticos com adequação do
manguito à circunferência braquial, modelo HEM712C do fabricante Omron®, após 10
minutos de repouso na posição sentada. Três medidas foram realizadas e o valor final
considerado foi aquele que representou a média aritmética das duas últimas e foi expresso
em milímetros de mercúrio (mmHg). O critério para diagnóstico de hipertensão arterial foi
baseado no sétimo relatório do comitê Norte-Americano de detecção, avaliação e
tratamento de hipertensão arterial (20). Foram considerados hipertensos àqueles indivíduos
que apresentaram valor de PAS ≥ 140mmHg e PAD ≥ 90mmHg ou em uso regular de
medicação anti-hipertensiva.
Amostras de sangue foram coletadas após jejum de no mínimo 10 horas e após duas
horas de ingestão de 75 gramas de glicose. Estas foram utilizadas para várias
determinações incluindo o perfil lipídico, de glicose, de insulina e de função tireoideana. A
sobrecarga com glicose foi feita para os indivíduos que não referiram diagnóstico anterior
de DM e para aqueles que sabiam ser diabéticos, porém com glicemia de jejum capilar <
200mg/dL, medida por meio de glicosímetro (Glucostix/Glucometer System ®). A
classificação dos indivíduos quanto ao grau de intolerância à glicose foi realizada segundo
recomendação da WHO (21). Foram considerados normais os indivíduos com glicemia de
jejum e de 2 horas < 110mg/dL e 140mg/dL, respectivamente, com glicemia de jejum
alterada (GJA) os indivíduos com glicemia de jejum <110mg/dL e glicemia de 2 horas
entre 140-199 mg/dL, e com diabetes aqueles glicemia de jejum ≥ 126mg/dL ou glicemia
de jejum ≥ 200mg/dL ou em uso de medicação antidiabéticas. A glicose plasmática foi
determinada pelo método da glicose-oxidase.
Os lípides séricos foram medidos utilizando métodos enzimáticos. Os critérios de
classificação obedeceram às normas do NCEP (4) onde foi classificado como
hipertrigliceridemia o indivíduo com valor de triglicérides > 150mg/dL e com
hipercolesterolemia aquele com colesterol total > 200mg/dL.
A dosagem dos hormônios tireoideanos (TSH e T4l) foi feita por meio de ensaio
imunofluorimétrico ultra-sensível. Os valores considerados normais de referência para
TSH e T4l foram, respectivamente, de 0,3-4,5 mU/L e 0,6-1,5 ng/dL (Wallac – Delphia,
Finland). Foram considerados com hipotireoidismo clínico aqueles com TSH > 4,5 um/L e
T4L < 0,6ng/dL e hipotireoidismo subclínico aqueles com TSH entre 0,3 a 4,5 um/L e T4L
< 0,6ng/dL. Neste estudo, ambos os grupos (clínico e subclínico) foram considerados como
com hipotireoidismo.
Análise dos dados
As comparações das freqüências de indivíduos com ou sem hiperlipidemia segundo
variáveis de saúde, sócio-demográficas e antropométricas foram feitas mediante a
utilização do teste qui-quadrado. Utilizou-se, como medida de associação, o odds ratio
(OR) por ponto e por intervalo com 95% de confiança (IC95%).
De forma a descrever os dados, os valores das variáveis dietéticas foram agrupados
em tercis de consumo e, para cada tercil, foram obtidos os valores médios e do desvio
padrão do consumo do nutriente, o número de casos de hiperlipidemia e os valores dos OR.
Os efeitos das variáveis de principal interesse – calorias totais, carboidratos, lípides,
proteínas, ácido graxo saturado, ácido oléico, ácido linoléico, ácido graxo trans, álcool,
fibras totais, fibras de vegetais, fibras de cereais, fibras de frutas – sobre a hiperlipidemia
foram ajustados para variáveis de controle (sexo, idade, hábito de fumar, estado
nutricional, obesidade central, diabetes mellitus, hipertensão arterial) com a utilização do
modelo de regressão logística. Essas variáveis foram selecionadas por apresentarem, na
análise bruta, valor de p<0,20. Dado a importância da relação entre as hiperlipidemias e o
hipotireoidismo e, uma vez que o número de indivíduos com essa doença tireoideana
(n=121) não permitiu a análise entre aqueles com e sem essa condição, optou-se por fazê-
lo apenas entre os sem hipotireoidismo, retirando-se como conseqüência, essa variável do
modelo de regressão logística. Esses procedimentos foram repetidos considerando, como
variável resposta, tanto a hipercolesterolemia quanto a hipertrigliceridemia, isoladamente.
Os dados foram analisados com a utilização do programa estatístico STATA
(versão 8.2 para Windows) para microcomputador (22).
RESULTADOS
Entre os 1330 indivíduos que participaram desse estudo, 81,5% (n=1084)
apresentaram algum tipo de hiperlipidemia, sendo que a maior proporção foi encontrada
nos homens (83,7% vs. 79,6%) e indivíduos com mais de 60 anos (84,8% vs. 79,2%),
quando comparados, respectivamente, as mulheres e aqueles com idade < 60 anos. As
porcentagens de indivíduos com hipertrigliceridemia ou hipercolesterolemia isoladas
foram, respectivamente, 65,6% e 62%.
Na Tabela 1 apresentam-se as características demográficas, antropométricas e de
saúde dos nipo-brasileiros segundo a presença ou ausência de hiperlipidemia. Observa-se
que, indivíduos hiperlipidêmicos quando comparados aos normais, são, em geral, mais
velhos (OR=1,47; IC95%: 1,10-1,97), tabagistas (OR=1,77; IC95%: 1,27-2,45),
apresentam mais freqüentemente obesidade abdominal (OR=3,24; IC95%: 2,34-4,49),
sobrepeso (OR=3,07; IC95%: 2,18-4,33), obesidade (OR=3,07; IC95%: 1,69-5,57),
hipertensão (OR=2,45; IC95%: 1,80-3,32), intolerância à glicose (glicose de jejum alterada
OR=2,13, IC95%: 1,26-3,58; tolerância à glicose diminuída OR=3,97, IC95%: 2,25-7,01 e
diabetes OR=6,39, IC95%: 3,64-11,21). Ainda na Tabela 1, observa-se maior prevalência
de hiperlipidemia entre os indivíduos com hipotireoidismo (OR=1,98; IC95%: 1,09-3,59)
quando comparados aos sem essa condição. Destaca-se que ao considerar, separadamente,
as relações entre hipotireoidismo e hipercolesterolemia (OR: 1,15; IC 95%: 0,77-1,76) ou
hipertrigliceridemia (OR: 1,53; IC 95%: 0,99-2,42) não foram estatisticamente
significantes.
Na Tabela 2 estão apresentados, para cada tercil de consumo dos diferentes
nutrientes, os valores médios das variáveis dietéticas, a prevalência de hiperlipidemia e os
valores de OR. Observou-se menor prevalência de hiperlipidemia entre os indivíduos com
maior consumo de ácido oléico quando comparados aos com menor ingestão habitual desse
nutriente (3º vs. 1º tercil: OR: 0,66; IC 95%: 0,46-0,94; 2º vs. 1º tercil: OR: 0,59; IC 95%:
0,41-0,84). Situação semelhante foi também observada entre aqueles com maior consumo
de fibras provenientes de cereais (3º vs. 1º tercil: OR: 0,70; IC 95%: 0,50-0,99).
Diferentemente do esperado, observou-se que entre aqueles com maior consumo de ácidos
graxos saturados, a prevalência de hiperlipidemia foi menor que a observada entre os que
relataram menor consumo habitual desse nutriente (3º vs. 1º tercil: OR: 0,53; IC 95%:
0,37-0,76).
Os resultados obtidos com a utilização do modelo de regressão logística indicaram
existência de associação entre hiperlipidemia e o consumo habitual de lípides totais, ácidos
graxos saturados e ácidos graxos trans (Tabela 3), independentemente do sexo, idade,
hábito de fumar, estado nutricional, obesidade central, diabetes mellitus, hipertensão
arterial e hipotireoidismo (lípides totais: 3º vs. 1º tercil: OR: 2,40; IC 95%: 1,11-5,23;
ácidos graxos saturados: 3º vs. 1º tercil: OR: 0,49; IC 95%: 0,26-0,91; ácidos graxos trans:
3º vs. 1º tercil OR: 1,65; IC 95%: 1,10-2,47). Quando excluídos desse modelo os
indivíduos com hipotireoidismo, além das associações anteriormente encontradas, o
consumo de carboidratos também foi significante (3º vs. 1º tercil: OR: 1,92; IC 95%: 1,02-
3,63).
Na Tabela 4 apresentam-se os valores dos OR ajustados, considerando,
separadamente, como variável resposta a presença ou ausência de hipercolesterolemia ou
hipertrigliceridemia. Observa-se que a presença de hipercolesterolemia associou-se,
independentemente do sexo, idade, hábito de fumar, estado nutricional, obesidade central,
diabetes mellitus, hipertensão arterial e hipotireoidismo, a ingestão habitual de lípides
totais (3º vs. 1º tercil: OR: 1,87; IC 95%: 1,07-3,27), de fibras totais (2º vs. 1º tercil: OR:
1,49; IC 95%: 1,05-2,12) e de ácidos graxos trans (3º vs. 1º tercil: OR: 1,39; IC 95%: 1,03-
1,88). Quando excluídos do modelo os indivíduos com hipotireoidismo, apenas a
associação para lípides totais perde a significância.
Ainda na Tabela 4, observam-se associações entre a presença de
hipertrigliceridemia com o consumo de álcool (3º vs. 1º tercil: OR: 1,48; IC 95%:1,03-
2,13) e de ácido oléico (2º vs. 1º tercil: OR: 0,70; IC 95%: 0,50-0,98), independentemente
das variáveis de controle. Quando excluídos do modelo os indivíduos com hipotireoidismo,
além de persistir a associação entre ácido oléico, o consumo de carboidrato associou-se a
presença de hipertrigliceridemia (3º vs. 1º tercil: OR: 1,91; IC 95%: 1,12-3,25).
DISCUSSÃO
Os principais achados deste estudo transversal foram: 1) a elevada prevalência de
hiperlipidemia entre os nipo-brasileiros (81,5%), sendo que parcela semelhante de
indivíduos apresentaram, isoladamente, hipercolesterolemia ou hipertrigliceridemia (62% e
65,6%, respectivamente), 2) a confirmação da associação já bem estabelecida na literatura
entre hiperlipidemia e o hipotireoidismo e 3) as relações entre a presença de hiperlipidemia
e o consumo habitual de lípides (totais, ácido oléico, saturados e trans), carboidratos, fibras
e álcool.
A comparação direta do valor da prevalência de hiperlipidemia observada nesta
investigação com os de outros pesquisadores é prejudicada principalmente em função das
diferenças no delineamento do estudo, na população investigada e nos critérios utilizados
para o diagnóstico das hiperlipidemias, contudo pode-se constatar na literatura grande
variabilidade na ocorrência dessas alterações. No Brasil, dados recentes de um estudo
transversal realizado no Município de São Paulo com uma amostra aleatória de 2103
indivíduos de 15 a 59 anos mostraram que 8,1% e 14,4% dos indivíduos adultos
apresentaram, respectivamente, níveis elevados de colesterol ou de triglicérides. Esses
níveis se elevavam com o aumento da idade (23). Já em Campos dos Goytacazes, no Rio
de Janeiro, com a população local acima de 18 anos, Souza et al (24) observaram que 4,2%
dos indivíduos apresentavam hipercolesterolemia, 17,1% hipertrigliceridemia e 24,2%
dislipidemia (hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia ou níveis baixos de HDL). Washio
et al (25), no Japão, mostraram que 23,6% dos japoneses acima de 30 anos que se
submetiam a angiografia pela primeira vez, apresentavam hipercolesterolemia e 34,7%
apresentavam hipertrigliceridemia. Já López (26), em seu estudo realizado com uma
amostra de mulheres de diferentes regiões da Espanha obtida por um censo demográfico e
seguindo o mesmo critério de classificação usado no estudo com os nipo-brasileiros,
encontrou resultados muito semelhantes: 63,1% das mulheres espanholas apresentavam
hipercolesterolemia. Nos norte-americanos esses níveis também são elevados, onde 48 a
53% dos americanos apresentavam colesterol elevado (27).
Neste estudo, apesar da prevalência de hiperlipidemia observada entre os nipo-
brasileiros ter sido elevada, esse achado não foi uma surpresa. Dados publicados
anteriormente pelo Grupo de Estudo do Diabetes (JBDS) nessa comunidade mostraram que
esses indivíduos apresentam alto risco para as doenças que compõem a síndrome
metabólica, particularmente a intolerância à glicose e a hipertensão arterial, provavelmente
em função de associações entre fatores genéticos e ambientais (9-12, 28-31).
Sabe-se que são fatores de risco para a hiperlipidemia a idade, o sexo, o tabagismo,
o sedentarismo, a hipertensão arterial sistêmica, a obesidade central, valores elevados de
IMC e a intolerância a glicose (3, 20, 23, 26, 33-37). No presente estudo, apenas para o
sedentarismo não se observou associação estatisticamente significante com a presença de
hiperlipidemia.
A relação entre as presenças de hipotireoidismo e hiperlipidemias já foi relatada por
diversos pesquisadores (38-46). No presente estudo observou-se que do total de indivíduos
com hipotireoidismo (n=121), 89,3% apresentavam, simultaneamente, hiperlipidemia. Em
nosso meio, Castro et al (47), em estudo realizado com uma amostra de indivíduos
atendidos em ambulatório da clínica-escola de Botucatu (São Paulo), reportaram que de 40
a 60% dos indivíduos com hipotireoidismo apresentavam algum distúrbio no metabolismo
de lípides.
O papel da dieta no desenvolvimento de diversas doenças crônicas tem merecido
grande atenção de pesquisadores em diferentes partes do mundo. Estudos com populações
migrantes, geneticamente homogêneas, oferecem uma oportunidade ímpar para a
realização de investigações com o objetivo de estabelecer o papel dos fatores ambientais na
etiologia de doenças crônico-degenerativas (48).
A população de ancestrais japoneses é um modelo interessante, pois
originariamente esta população apresentava baixa morbidade por diabetes mellitus e
doenças cardiovasculares. Porém mudanças sócio-culturais, em pouco tempo, modificaram
o perfil de morbi-mortalidade desses indivíduos que passaram a apresentar alto risco para
essas doenças crônico-degenerativas (49).
A dieta oriental resulta de uma cultura milenar e caracteriza-se por aspectos
relacionados ao paladar e à disponibilidade de alimentos no Japão. Este inclui, entre outras
características, cuidados com a saúde e a arte culinária. O estado nutricional já era fator de
preocupação nos séculos passados onde a alimentação japonesa constituía-se de arroz que
podia ser ou não misturado à cevada e ao centeio; verduras cozidas com shoyu, conservas
de nabo, vegetais folhosos (tsukemono), sopa de missô e de pescados, mariscos e algas
marinhas (50). A emigração proporcionou alterações no perfil nutricional e de saúde dos
japoneses e as modificações nos hábitos alimentares contribuíram para o aumento do peso
corporal observado em imigrantes que vivem nos Estados Unidos e no Brasil.
Costa et al (51), utilizando dados da primeira fase do estudo com nipo-brasileiros,
observaram que a dieta dos nipo-brasileiros da cidade de Bauru era composta por 54% de
carboidratos, 13,5% de proteínas e 32,5% de lípides. Esses dados estão mais próximos a
migrantes japoneses que vivem em Seattle, nos Estados Unidos (carboidratos: 48,5%,
proteínas 16,5% e lípides 32,4%) do que japoneses no Japão (carboidratos: 61,1%,
proteínas: 14,8% e lípides: 16,7% de lípides). Posteriormente, Freire et al (12), nesta
mesma população, confirmaram esses valores e estratificados para sexo e geração.
A mudança no hábito dietético da migração japonesa é um fator a ser levado em
consideração quando se fala em prevalência de hiperlipidemia. Porém, estabelecer relação
entre doença-nutriente é complexo, requerendo cautela na análise dos dados. No presente
trabalho observou-se associação entre alto consumo de ácido oléico e fibras provenientes
de cereais e menores prevalências de hiperlipidemia, achados estes que concordam com a
literatura.
O ácido oléico é considerado um ácido graxo monoinsaturado e muitas vezes
classificado como ômega-9. É amplamente conhecido por sua ação anti-trombótica, por
inibir a agregação plaquetária e reduzir os níveis de colesterol total e da fração LDL, sem
alterar a fração da HDL (1, 3, 52). Populações de alguns países mediterrâneos com
consumo de dietas com elevadas porcentagens de gordura total (mais de 40% do total de
calorias) derivadas principalmente de ácidos graxos monoinsaturados apresentam taxas
baixas de doenças coronarianas (53)
O mecanismo responsável pela redução dos níveis sanguíneos de colesterol por
meio do consumo de fibras dietéticas está relacionado à sua solubilidade e viscosidade,
uma vez que esta tem a capacidade de se ligar ao ácido biliar e inibir a síntese de
colesterol, provavelmente após fermentação no cólon intestinal (54,55). Anderson et al
(56), em seu estudo utilizando dieta enriquecida com farelo de aveia e feijão, observaram
redução de 26% do colesterol sérico total em um período de 24 semanas de
acompanhamento.
Diferentemente do esperado, observou-se que um maior teor de ácido graxo
saturado na dieta associou-se a menor prevalência de hiperlipidemia e que, o maior
consumo de fibras associou-se a maior prevalência de hipercolesterolemia. Estes achados
não encontram respaldado na literatura e, muito provavelmente, são decorrentes do acaso.
Estudos anteriores já reportavam que dietas ricas em ácido graxo saturado
aumentavam os níveis de colesterol sérico e aumentavam a incidência de doenças
cardiovasculares, em especial a aterogênese (53, 57-61).
Bassett et al (62) compararam a dieta de japoneses e havaianos, uma vez que a
prevalência de doenças cardiovasculares entre esses dois grupos era bastante distinta.
Como os fatores ambientais eram semelhantes, procuraram estabelecer as relações com a
dieta. Foi notado que os havaianos consumiam menos fibras e mais ácidos graxos saturados
quando comprados aos japoneses.
Em estudos epidemiológicos, tanto o teor total de lípides da dieta, o consumo
excessivo de ácido graxo saturado e de colesterol quanto à baixa ingestão de ácido
polinsaturado, estão consistentemente associados com maiores taxas de morbi-mortalidade
por doenças cardiovasculares (63-65). O Seven Countries Study realizado por Keys et al
(66) na Finlândia, Grécia, Holanda, Iugoslávia, Estados Unidos, Itália e Japão investigaram
o papel da dieta nas doenças cardiovasculares e confirmaram q associação a maior
prevalência de doenças cardiovasculares e o consumo elevado de ácidos graxos saturados.
Atualmente, sabe-se que não apenas a quantidade total dos lípides da dieta é
importante, mas é relevante estudar também a qualidade dos lípides. Estudos metabólicos
publicados em meados da década de 60 já apontavam para o fato de que é o tipo de gordura
da dieta, e não o seu teor total, que prediz os níveis de colesterol sérico. Na mesma linha
desses estudos, os resultados de pesquisas epidemiológicas corroboraram com a hipótese
de que o tipo de gordura é mais importante determinante do risco cardiovascular que a sua
quantidade total. Ensaios clínicos também mostraram que a substituição de ácido graxo
saturado e gorduras trans da dieta por ácido graxo polinsaturado é mais efetiva na redução
dos níveis séricos de colesterol e da morbi-mortalidade por doenças cardiovasculares que a
simples redução do teor total de lípides da dieta (65, 67-75). A recomendação atual é a de
estimular o consumo de óleos vegetais (especialmente os de oliva e canola), de peixes e
frutas oleaginosas e reduzir o de alimentos ricos em gorduras saturadas e trans. Neste
estudo, os resultados encontrados são concordantes com aqueles observados em outras
pesquisas, sugerindo que o consumo reduzido de lípides totais e aumentado de ácido oléico
podem ser benéficos para a redução do risco cardiovascular.
A composição dos ácidos graxos da dieta pode provocar mudanças nas
concentrações plasmáticas de colesterol (76). Estudos epidemiológicos anteriores sugerem
associação positiva entre consumo de ácidos graxos trans e a ocorrência de doenças
cardiovasculares. Esse tipo de ácido graxo reduz os níveis de HDL e aumenta o de LDL e
já há evidências que estes aumentam as concentrações plasmáticas de triglicérides (77-80).
O estudo prospectivo Nurse´s Health Study mostrou que mulheres que consumiam mais
que 3% das calorias totais diárias de ácidos graxos trans apresentavam 50% mais chances
de desenvolver alguma doença cardíaca quando comparadas àquelas que consumiam a
quantidade recomendada desse tipo de gordura (até 1% das calorias totais diárias) (81).
Sabe-se que o consumo de carboidratos está associado com os teores de
triglicérides séricos (82). O indivíduo hipertrigliceridêmico deve reduzir o consumo de
carboidratos simples e controlar o de carboidratos complexos (61,83). É recomendado o
uso de hortaliças, leguminosas, grãos integrais e frutas. Embora dietas com baixo índice
glicêmico possam reduzir o perfil lipídico, a capacidade dos indivíduos para manter estas
dietas em longo prazo não está bem estabelecida. Não são encontradas evidências
suficientes para recomendar o uso de alimentos de baixo índice glicêmico como estratégia
primária no plano alimentar (84). Neste estudo, essa relação foi confirmada entre aqueles
com hipertrigliceridemia, mas sem hipotireoidismo. Situação semelhante foi também
observada para o consumo de álcool. No estudo de Framingham teve-se evidências de que
o consumo moderado de álcool está relacionado com menores taxas de mortalidade por
doença coronariana (85). Esse efeito foi atribuído a sua capacidade de elevar a
concentração da HDL e na redução do fibrinogênio (86, 87) enquanto que altas quantidades
estão relacionadas a inúmeros efeitos adversos relacionados às doenças cardiovasculares
(82,88).
Uma limitação deste estudo é a sua característica transversal o que impede o
estabelecimento de inferência causal. A possibilidade de erro de classificação dos
indivíduos quanto à presença de hiperlipidemia, não pode ser descartada, mas acredita-se
que esse efeito possivelmente foi minimizado pela adoção de técnicas padronizadas tanto
na coleta como nos procedimentos laboratoriais. Não se pode ignorar que as associações
encontradas podem refletir mudanças nos hábitos alimentares decorrentes do diagnóstico
prévio de doenças. O QFCA utilizado nesse estudo foi testado e validado com a própria
população do estudo o que provavelmente minimizou a ocorrência de outros vícios de
informação. Segundo Pereira & Koifman (89), esse tipo de questionário é capaz de
produzir uma classificação relativa dos indivíduos investigados com um nível aceitável de
validade, sendo, portanto, de grande utilidade em estudos sobre o papel da dieta na
etiologia das doenças crônicas.
Assim, com base nos resultados encontrados, pode-se concluir que, nessa
população, além dos fatores de risco clássicos para a hiperlipidemia, os fatores dietéticos
também estão associados a essa condição, independentemente da presença do
hipotireoidismo.
APÊNDICE
Alcides Hirai, MD; Amélia T Hirai, MD; Helena Harima, MD; Katsumi Osiro MD; Mário
Kikuchi PhD; Sandra RG Ferreira, MD, PhD; Suely GA Gimeno, PhD (Preventive
Medicine Dpt., Federal University of São Paulo, Brazil); Vania D’ Almeida, PhD
(Pedriatrics Dpt., Genetics Laboratory, Federal University of São Paulo, Brazil); Laércio J
Franco, MD, PhD (Social and Preventive Medicine Dpt., Medical School of Ribeirão
Preto, São Paulo University, Brazil); Luiza Matsumura, MD, PhD; Regina S Moisés, MD,
PhD (Internal Medicine Dpt., Federal University of São Paulo, Brazil); Marly A Cardoso,
PhD (Nutrition Dpt., Faculty of Public Health, São Paulo University, Brazil); Newton de
Barros Jr., MD, PhD (Surgery Dpt., Federal University of São Paulo, Brazil); Nilce
Tomita, PhD (Faculty of Odontology of Bauru, São Paulo University, Brazil); Katsunori
Wakisaka (Japanese-Brazilians Study Center, Brazil); and Rita Chaim (Nutrition Dpt.,
Sagrado Coração de Jesus University, Bauru, Brazil).
AGRADECIMENTOS
À todos os pesquisadores do Japanese-Brazilian Diabetes Study, à Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP pelo financiamento da 2ª fase do
estudo e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, pela
bolsa de estudo concedida.
REFERÊNCIAS
1. Costa RP, Silva CC. Doenças cardiovasculares. Em: Cuppari L. Nutrição clínica
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Tabela 1 – Número e porcentagem de nipo-brasileiros segundo presença de hiperlipidemia e variáveis demográficas, antropométricas e de saúde. Hiperlipidemia Sim Não Total Variável N % N % N % χ
2 (p) OR IC95% Sexo Masculino 514 83,7 100 16,3 614 100 3,69 (0,06) 1,32 0,99-1,74 Feminino 570 79,6 146 20,4 716 100 Geração Segunda 868 81,1 203 18,9 1071 100 0,77 (0,38) 0,85 0,59-1,22 Primeira 216 83,4 43 16,6 259 100 Idade > 60 anos 459 84,8 82 15,2 541 100 6,74 (0,009) 1,47 1,10-1,97 ≤ 60 anos 625 79,2 164 20,8 789 100 Atividade física Leve 265 79,1 70 20,9 335 100 0,002 (0,96) 1,01 0,69-1,47 no trabalho Outros 248 79,0 66 21,0 314 100 Atividade física Leve 723 81,2 167 18,8 890 100 0,07 (0,79) 1,04 0,77-1,40 no lazer Outros 347 81,8 77 18,2 424 100 Tabagismo Sim1 359 86,9 54 13,1 413 100 11,79
(0,001) 1,77 1,27-2,45
Não 719 79,0 191 21,0 910 100 Obesidade Sim2 510 90,6 53 9,4 563 100 53,58
(0,000) 3,24 2,34-4,49
Central Não 573 74,8 193 25,2 766 100 Estado Normal 538 74,4 185 25,6 723 100 56,66
(0,000) 1
nutricional3 Sobrepeso 429 89,9 48 10,1 477 100 3,07 2,18-4,33 Obeso 116 89,9 13 10,1 129 100 3,07 1,69-5,57 Hipotireoidismo Sim 108 89,3 13 10,7 121 100 5,24 (0,02) 1,98 1,09-3,59 Não 864 80,7 206 19,3 1070 100 Hipertensão Sim 518 88,6 67 11,4 585 100 34,5 (0,000) 2,45 1,80-3,32 Arterial Não 565 75,9 179 24,1 744 100 Tolerância Normal 40 58,0 29 42,0 69 100 64,39
(0,000) 1
a glicose4 GJA 349 74,6 119 25,4 468 100 2,13 1,26-3,58 TGD 263 84,6 48 15,4 311 100 3,97 2,25-7,01 DM 432 89,8 49 10,2 481 100 6,39 3,64-11,21
1 Hábito de fumar (sim: atual/passado e não: nunca) 2 Circunferência de cintura (sim: homens≥90cm e mulheres≥80cm e não: homens <90cm e mulheres <80cm) 3 IMC: Normal<24,99Kg/m2; Sobrepeso: 25,0 a 29,99kg/m2 e Obesidade: >30kg/m2 4 GJA – Glicemia de jejum alterada; TGD – Tolerância à glicose diminuída; DM – Diabetes mellitus
Tabela 2 – Média (desvio padrão) e número (porcentagem) de nipo-brasileiros com hiperlipidemia e valores dos odds ratios segundo tercil das variáveis dietéticas. Tercis de nutriente Variável 1o. tercil 2o. tercil 3o. tercil Calorias totais (kcal) Média (dp) 1379,2 (224,7) 1918,0 (139,1) 2670,8 (518,8) N o. (%) casos 343 (80,3) 348 (81,3) 353 (82,5) OR (IC95%) 1 1,07 (0,76-1,50) 1,15 (0,82-1,62) Carboidratos (g) Média (dp) 226,0 (103,5) 263,2 (74,0) 306,1 (65,9) N o. (%) casos 332 (80,2) 351 (80,0) 361 (84,2) OR (IC95%)1 1 0,97 (0,70-1,36) 1,31 (0,92-1,87) Proteínas (g) Média (dp) 54,6 (23,4) 67,8 (20,7) 81,8 (22,4) N o. (%) casos 355 (82,6) 340 (82,1) 349 (79,5) OR (IC95%)1 1 0,97 (0,68-1,38) 0,82 (0,58-1,15) Lípides totais (g) Média (dp) 58,8 (28,7) 72,3 (26,2) 85,7 (20,7) N o. (%) casos 365 (83,9) 336 (79,8) 343 (80,3) OR (IC95%)1 1 0,76 (0,53-1,08) 0,78 (0,55-1,11) Colesterol (mg) Média (dp) 118,9 (70,8) 180,2 (66,8) 267,7 (113,5) N o. (%) casos 360 (83,7) 343 (82,1) 341 (78,4) OR (IC95%)1 1 0,89 (0,62-1,27) 0,70 (0,50-1,00) Ácido graxo Média (dp) 12,7 (7,0) 17,3 (6,9) 21,8 (6,2) saturado (g) N o. (%) casos 372 (85,9) 348 (81,7) 324 (76,4) OR (IC95%)1 1 0,73 (0,51-1,05) 0,53 (0,37-0,76) Ácido linoléico (g) Média (dp) 8,7 (4,3) 11,2 (3,2) 14,9 (4,9) N o. (%) casos 355 (83,3) 348 (81,9) 341 (78,9) OR (IC95%)1 1 0,90 (0,63-1,29) 0,75 (0,53-1,06) Ácido oléico (g) Média (dp) 26,0 (12,7) 27,2 (9,4) 28,3 (9,8) N o. (%) casos 371 (85,9) 325 (78,1) 348 (80,0) OR (IC95%)1 1 0,59 (0,41-0,84) 0,66 (0,46-0,94) Ácido graxo trans (g) Média (dp) 6,3 (1,8) 11,0 (1,5) 21,7 (12,2) N o. (%) casos 325 (78,5) 341 (83,2) 345 (83,3) OR (IC95%)1 1 1,36 (0,95-1,92) 1,37 (0,97-1,94) Álcool (g) Média (dp) 0,007 (0,02) 0,01 (0,05) 15,2 (23,6) N o. (%) casos 341 (80,8) 328 (77,4) 375 (85,8) OR (IC95%)1 1 0,81 (0,58-1,13) 1,4 (1,00-2,06) Fibras totais (g) Média (dp) 22,8 (8,1) 11,9 (5,4) 16,8 (6,3) N o. (%) casos 382 (83,0) 280 (81,9) 382 (79,4) OR (IC95%)1 1 0,92 (0,64-1,33) 0,79 (0,57-1,09) Fibras de cereais (g) Média (dp) 2,1 (1,0) 3,2 (1,0) 4,8 (1,8) N o. (%) casos 351 (83,8) 356 (82,0) 337 (78,4) OR (IC95%)1 1 0,88 (0,62-1,26) 0,70 (0,50-0,99) Fibras de vegetais (g) Média (dp) 0,05 (0,4) 0,2 (0,7) 0,6 (0,9) N o. (%) casos 345 (83,1) 316 (78,2) 336 (81,8) OR (IC95%)1 1 0,73 (0,51-1,03) 0,91 (0,64-1,30) Fibras das frutas (g) Média (dp) 4,8 (2,2) 8,8 (2,6) 15,1 (6,0) N o. (%) casos 344 (80,9) 348 (80,7) 352 (82,4) OR (IC95%)1 1 0,99 (0,70-1,38) 1,11 (0,78-1,56)
1 Valores ajustados às calorias totais
Tabela 3: Valores dos odds ratios ajustados (intervalo com 95% de confiança) obtidos para a presença de hiperlipidemia e tercis dos nutrientes. Nutriente Variável 1
1o. tercil OR (IC95%)2
2o. tercil OR (IC95%)2
3o. tercil OR (IC95%)2
Calorias totais (kcal) 1 0,99 (0,58-1,67) 1,01 (0,56-1,81) Carboidratos (g) 1 1,17 (0,74-1,86) 1,65 (0,90-3,04) Proteínas (g) 1 1,22 (0,77-1,93) 1,19 (0,71-1,89) Lípides totais (g) 1 1,23 (0,70-2,14) 2,41 (1,11-5,23) Colesterol (mg) 1 0,92 (0,57-1,50) 0,86 (0,50-1,49) Ácido graxo saturado (g) 1 0,68(0,41-1,11) 0,49 (0,26-0,91) Ácido linoléico (g) 1 1,03 (0,64-1,67) 0,79 (0,43-1,45) Ácido oléico (g) 1 0,68 (0,44-1,06) 0,82 (0,51-1,34) Ácido graxo trans (g) 1 1,46 (0,97-2,19) 1,65 (1,10-2,47) Álcool (g) 1 0,90 (0,53-1,54) 1,53 (0,96-2,44) Fibras totais (g) 1 1,36 (0,84-2,21) 0,87 (0,58-1,30) Fibras de cereais (g) 1 0,98 (0,63-1,52) 0,82 (0,52-1,30) Fibras de vegetais (g) 1 0,74 (0,48-1,13) 1,00 (0,64-1,56) Fibras das frutas (g) 1 1,17 (0,72-1,91) 0,85 (0,47-1,55)
1 Valores ajustados às calorias totais menos para calorias totais da dieta
2 Modelo ajustado para sexo (masculino vs. feminino), idade (anos), hábito de fumar (atual/passado vs. nunca), índice de massa corporal (kg/m2), obesidade central (sim vs. não), hipertensão arterial (sim vs. não), diabetes mellitus (sim vs. não) e hipotireoidismo (sim vs. não)
Tabela 4: Valores dos odds ratios ajustados (intervalo com 95% de confiança) obtidos para a presença de hipercolesterolemia ou hipertrigliceridemia e tercis dos nutrientes. Nutriente Variável1 1o. tercil
OR (IC95%)2 2o. tercil
OR (IC95%)2 3o. tercil
OR (IC95%)2
Variável resposta: hipercolesterolemia Calorias totais (kcal) 1 0,92 (0,64-1,35) 0,86 (0,57-1,29) Carboidratos (g) 1 0,99 (0,71-1,39) 1,45 (0,93-2,26) Proteínas (g) 1 0,88 (0,63-1,22) 1,01 (0,69-1,48) Lípides totais (g) 1 1,18 (0,79-1,77) 1,87 (1,07-3,27) Colesterol (mg) 1 0,93 (0,66-1,32) 0,80 (0,53-1,19) Ácido graxo saturado (g) 1 0,86 (0,60-1,23) 0,64 (0,40-1,01) Ácido linoléico (g) 1 0,79 (0,56-1,12) 0,73 (0,47-1,14) Ácido oléico (g) 1 1,15 (0,84-1,58) 1,03 (0,73-1,44) Ácido graxo trans (g) 1 1,19 (0,88-1,60) 1,39 (1,03-1,88) Álcool (g) 1 0,89 (0,60-1,32) 1,18 (0,84-1,64) Fibras totais (g) 1 1,49 (1,05-2,12) 1,16 (0,86-1,56) Fibras de cereais (g) 1 1,10 (0,80-1,50) 1,19 (0,86-1,65) Fibras de vegetais (g) 1 0,88 (0,64-1,19) 0,95 (0,70-1,30) Fibras das frutas (g) 1 0,78 (0,55-1,10) 0,83 (0,54-1,26)
Variável resposta: hipertrigliceridemia
Calorias totais (kcal) 1 0,86 (0,58-1,29) 0,89 (0,57-1,38) Carboidratos (g) 1 1,02 (0,71-1,47) 1,40 (0,87-2,27) Proteínas (g) 1 1,20 (0,84-1,70) 1,10 (0,74-1,63) Lípides totais (g) 1 1,08 (0,70-1,66) 1,55 (0,85-2,82) Colesterol (mg) 1 0,92 (0,64-1,33) 0,74 (0,48-1,13) Ácido graxo saturado (g) 1 0,87 (0,60-1,27) 0,97 (0,60-1,59) Ácido linoléico (g) 1 1,01 (0,70-1,48) 0,77 (0,48-1,23) Ácido oléico (g) 1 0,70 (0,50-0,98) 0,90 (0,62-1,31) Ácido graxo trans (g) 1 1,26 (0,91-1,74) 1,09 (0,80-1,49) Álcool (g) 1 0,78 (0,51-1,17) 1,48 (1,03-2,13) Fibras totais (g) 1 0,81 (0,51-1,29) 0,72 (0,51-1,03) Fibras de cereais (g) 1 0,92 (0,65-1,28) 0,89 (0,63-1,27) Fibras de vegetais (g) 1 0,72 (0,52-1,00) 1,10 (0,79-1,55) Fibras das frutas (g) 1 1,00 (0,69-1,45) 0,73 (0,46-1,16)
1 Valores ajustados às calorias totais menos para calorias totais da dieta 2 Modelo ajustado para sexo (masculino vs. feminino), idade (anos), hábito de fumar (atual/passado vs. nunca), índice de massa corporal (kg/m2), obesidade central (sim vs. não), hipertensão arterial (sim vs. não), diabetes mellitus (sim vs. não). hipotireoidismo (sim vs. não)
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Principais achados / Conclusão
7 Principais achados / Conclusão
A hiperlipidemia foi um achado freqüente na população nipo-brasileira, mostrando
a presença de muito dos fatores de risco cardiovasculares clássicos nessa população. Essa
alta prevalência era um dado esperado uma vez que a população nipo-brasileira, como já
relatado em outros estudo, é de alto risco para a síndrome metabólica.
Foi possível confirmar a associação entre a presença de hiperlipidemia e a presença
de hipotireoidismo.
O hábito alimentar é um dos fatores ambientais que contribuiu para a piora do perfil
lipídico da população nipo-brasileira. Na primeira análise, a hiperlipidemia esteve
associada negativamente com o ácido oléico, ácido graxo saturados e fibras provenientes
de grãos e cereais, contradizendo a vasta literatura que relata os efeitos deletérios do alto
consumo de ácido graxo saturado nas doenças cardiovasculares e para a hiperlipidemia
Na análise de regressão logística, após ajuste para as variáveis de controle,
puderam-se evidenciar 1) o efeito deletério do consumo de lípides totais, ácidos graxos
trans e carboidratos sobre a hiperlipidemia e 2) o efeito protetor do consumo de ácido
graxo saturado.
Ao analisar as presenças de hiperlipidemia ou hipertrigliceridemia isoladamente, foi
possível verificar os fatores de risco dietéticos específicos para cada condição. Apenas o
efeito deletério do consumo de fibras para a hipercolesterolemia não pode ser explicado.