FACULDADE UNIDA DE SUZANO -UNISUZ A RESPONSABILIDADE DAS ENTIDADES DESPORTIVAS SOBRE OS CRIMES...

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FACULDADE UNIDA DE SUZANO - UNISUZ Curso de Direito Edson Bartolomeu da Silva - RGM: 3750 A RESPONSABILIDADE DAS ENTIDADES DESPORTIVAS SOBRE OS CRIMES PRATICADOS PELO TORCEDOR I

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FACULDADE UNIDA DE SUZANO - UNISUZCurso de Direito

Edson Bartolomeu da Silva - RGM: 3750

A RESPONSABILIDADE DAS ENTIDADES DESPORTIVAS

SOBRE OS CRIMES PRATICADOS PELO TORCEDOR

I

Suzano / 2014

FACULDADE UNIDA DE SUZANO - UNISUZCurso de Direito

Edson Bartolomeu da Silva - RGM: 3750

A RESPONSABILIDADE DAS ENTIDADES DESPORTIVAS

SOBRE OS CRIMES PRATICADOS PELO TORCEDOR

II

Monografia Jurídica apresentada a

Banca Examinadora, como requisito

parcial para a obtenção do título

de Bacharel em Direito da

Faculdade Unida de Suzano –

UNISUZ sob a orientação do Prof.

Fabrício Ciconi Tsutsui,

Suzano / 2014

A RESPONSABILIDADE DAS ENTIDADES DESPORTIVAS

SOBRE OS CRIMES PRATICADOS PELO TORCEDOR

Suzano, ___/___/___

Banca Examinadora:

III

_______________________________________

___

Orientador:

_________________________________

Titulação:

__________________________________

_______________________________________

___

Examinador 2:

______________________________

Titulação:

__________________________________

_______________________________________

___

Examinador 2:

______________________________

IV

Titulação:

__________________________________

V

O seu amor reluz que nem

riqueza, asa do meu destino,

clareza do tino, pétala quanto mais

desejo um beijo um beijo seu;muito

mais eu vejo gosto em viver

VI

Dedico esse trabalho à minha família,

pois, cada um destes entes sabe o aquilo que

desempenha ao meu redor;

VII

Mas, em especial, ofereço àquela pessoa

qual me honrou, persistindo na minha

formação e caráter...Minha Mãe

VIII

AGRADECIMENTOS

Agradeço à meus mestres pelo tesouro a mim concedido, ele é

algo que jamais poderá ser alienado e muito menos subtraído...

O Conhecimento!

Creio que, para nós estarmos aqui, finalizando esta

árdua e sublime caminhada, o nosso Ser Superior assim o

determinou e, junto com Ele, todas as forças do universo

conspiraram, sim, cada pessoa, foi escolhida, e apontada à

dedo...

Agradeço a Deus por me emprestar os dons inteligência

e sabedoria e àquela pessoa cujo companheirismo nesta

finalização de Caminho representa a passagem de um anjo...

IX

RESUMO

O presente trabalho de pesquisa vem fazer abordagem sobre a

temática da responsabilidade legalmente imposta sobre as

entidades desportivas em virtude do ato antijurídico praticado

pelo torcedor panorama o qual provoca a pergunta se a entidade

de prática desportiva pode ser penalizada em razão deste fato

contanto este quadro ostenta ofensa a Constituição Federal por

seu princípio da personalidade da pena expresso em seu artigo

5º inciso XLV a Constituição Federal concede a liberdade e a

autonomia ao desporto conforme está expresso em seu artigo 217

para tanto serão consultadas as Leis 12.299/10 Estatuto Do

Torcedor Lei Pelé nº 9.615 Código Brasileiro De Justiça

Desportiva e Constituição Federal

Palavras-Chave:entidade futebol justiça desporto jurídico lei

X

SumárioINTRODUÇÃO...................................................1

CAPÍTULO I – A EVOLUÇÃO DO FUTEBOL E LEGISLAÇÃO DESPORTIVA, NA

NOSSA SOCIEDADE..............................................2

1.1. Abreviada Abordagem Histórica Do Futebol Como Desporto

No Mundo....................................................2

1.2 - A Entrada Do Futebol No Brasil e a Sua Popularização..4

CAPÍTULO II – AS ENTIDADES DO DESPORTO FUTEBOL, AS TORCIDAS

ORGANIZADAS E SUAS RELAÇÕES.................................18

2.1. O Estado, Suas Atribuições Sobre o Desporto...........18

2.1.1. Os Clubes De Futebol, Suas Responsabilidades Em

Relação Aos Eventos e ao Torcedor..........................19

2.1.2. Torcida Organizada, Quanto à sua Corresponsabilidade E

Vínculo, Sobre Os Eventos E Clubes.........................19

2.2. O Torcedor Infrator E O Torcedor Delinquente, definição.

...........................................................20

2.3. A Responsabilidade Legal Imposta Ao Clube, Sobre O Crime

Que O Torcedor Pratica.....................................22

CAPÍTULO III – AS LEIS ESPECÍFICAS AO DESPORTO..............24

3.1. A Aplicação Da Lei Sobre o Torcedor Delinquente.......24

3.2. O Estado Como Fomentador Do Desporto, E Juiz..........25

CAPÍTULO IV – A POSSIBILIDADE DE PUNIÇÃO DA ENTIDADE

DESPORTIVA SOBRE O CRIME QUE O TORCEDOR PRATICA.............27

4.1. A Visão Constitucional Sobre A Punição Estendida Para

Além da Pessoa Do Infrator.................................27

4.2. A Aplicabilidade Justificada Da Lei Específica, Sobre A

Punição Estendida, Do Torcedor Infrator Até A Entidade

Desportiva.................................................31

XI

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................35

REFERÊNCIAS.................................................36

APENDICE....................................................37

FICHA DE ACOMPANHAMENTO DO TCC 2............................38

ANEXO.......................................................39

XII

1

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa, busca no seu conteúdo, resposta ao

questionamento da possibilidade de punição na forma da lei as

entidades de prática desportiva em virtude do ato antijurídico

que o torcedor venha a praticar em razão do fanatismo que

demonstra pelo seu clube.

Considerando que nas três últimas décadas, um fenômeno de

violência, atos adversos e crimes tem se arrastado de maneira

evolutiva, entranhando-se através de torcedores nas rotinas

dos eventos e frustrando o espetáculo do futebol em seu todo e

em diversas partes do mundo.

Para que se interprete a atual situação que vem salientada

no tema, é necessário fazer uma breve incursão na história do

futebol, saber sua origem e combinar uma busca da sua evolução

juntamente com as leis e o estabelecimento jurídico

desportivo, parte que toca a esta monografia.

Com o intuito de inteiração na realidade atual, o conteúdo

desta monografia, na medida do alcance possível, será abordado

um caso de conflito, ou mais de um, e, sobretudo, respeitando,

a imagem e identidade de todas as pessoas que figuram o caso,

limitando-se a escrita e não divulgando nomes de pessoas.

Para que se compreenda também o papel de pessoas,

instituições, órgãos e leis pertinentes ao desporto, será

compensador neste trabalho de pesquisa, fazer leve busca em

leitura e escritas de textos e leis, permitindo-se assim,

identificar e transparecer a afinidade de cada um componente

da sistemática jurídico desportiva.

Para que esta monografia venha a se formar, será

necessário aproveitar em leitura e recapitulação dos pontos de

leis e normas pertinentes, que regem juridicamente aos

torcedores e as instituições, definindo o evento desportivo,

para além de espetáculo, como ambiente de dever e direito

jurídico.

Naturalmente terá que cursar esta procura em uma

bibliografia diversificada em códigos de leis e doutrinas;

E também no sentido de sinalizar resposta à pergunta que

questiona a punição estendida as entidades de práticas

desportivas, será procurado na nossa Constituição Federal

esclarecimento através de compreensão de parte do seu texto

(artigo 5º, inciso XLV), pois, este modo de punir carrega

caráter de afronta ao Princípio da Pessoalidade da Pena.

Como se faz ainda necessário, será buscada a opção de

trazer ao conteúdo, citações sobre doutrina do direito

desportivo para proveito e reforço do presente trabalho de

pesquisa.

E por situar-se o Desporto futebol em um complexo

jurisdicional amplo e internacionalmente universalizado, será

também oportuno fazer procura no Estatuto da Federação

Internacional De Futebol (FIFA).

Além das obras em livros, é compensador acessar em

endereços eletrônicos de assuntos desportivos, modo

alternativo que se permitirá atualizações a respeito.

2

3

CAPÍTULO I – A EVOLUÇÃO DO FUTEBOL E LEGISLAÇÃO

DESPORTIVA, NA NOSSA SOCIEDADE.

1.1. Abreviada Abordagem Histórica Do Futebol Como Desporto No

Mundo

Os ingleses criaram sim, o futebol em sua forma e regras

definidas, distinguindo-se dos demais esportes e, como tal,

expandindo-se a remotas e inúmeras regiões do mundo. Porém, no

Japão e na China já se praticava um esporte similar, com o uso

de uma bola e dos pés, isto, há mais de dois mil anos antes de

ser regrado e regulamentado como tal. Exatamente, como nos

mostram as origens na sua história, o futebol veio praticado

desde o Oriente, Grécia antiga e Roma na época de sua expansão

imperial, vindo no decorrer deste contexto, a ser aperfeiçoado

e aprimorado no século XIX, na Inglaterra.

O futebol é considerado um esporte derivado de antigos

jogos olímpicos e comparado em complexidade, em jogos

realizados tanto no Oriente, mais localizado no Japão e na

China no período de 4.500 a.C..

O esporte mais remoto que possa ter dado origem ao

futebol, pode ter sido o“Tsu Chu”, praticado na China, no

terceiro século antes da era Cristã. Era um tipo de atividade

contida nos treinamentos militares, que, desde tal época, já

fascinava e fazia cativas muitas pessoas.

No Tsu Chu, os jogadores utilizavam uma bola confeccionada

em couro e cheia de pelos de animais, o objetivo era chutar no

4

gol dos adversários, uma trave de bambu que media de 30 ou 40

centímetros de largura por 9 metros de altura, como regra, não

se usava as mãos e o atacante tinha de vencer a defesa

adversária e atingir a meta com a bola levada pelos pés.

Como registrado na Dinastia Han, do Império Chinês, certa

vez o imperador Wudi, em meados do ano 156 antes de Cristo ao

ano -87 antes de Cristo deu ordem para se transferir todos os

melhores jogadores para a Capital do Império na época, para

que se proporcionasse ao governante supremo uma visão de

treinamento e jogos de melhor qualidade e alto nível,

comprovando a audiência e atratividade do futebol.

Cerca de cinco a seis séculos mais tarde, houve no Japão

o esporte “Kemari”e o jogo era praticado em um campo redondo e

sem gols. O objetivo da prática era superar a marca do tempo

com a bola no ar usando os pés e outras partes do corpo, menos

as mãos. No campo, chamado de Kikutsubbo era usada uma bola

confeccionada em couro de veado e cheia de grãos de cereais.

Em certo interin deste contexto, por indícios, a história

aponta que uma equipe de praticantes deste esporte foi à China

para uma partida, podendo ser considerado o primeiro jogo

internacional.

Pelo lado ocidental, partindo da Grécia, por volta do ano

de 776 a.C a 800 a.C houve também a prática do “Episkiros”,

neste esporte podia se usar as mãos além dos pés o campo e as

equipes eram mais similares ao nosso futebol contemporâneo,

pois, o campo era retangular, as equipes de doze pessoas

contra outras doze e a bola era um saco de couro com vinte

5

centímetros de diâmetro e cheia de serragem de madeira. Em

meados do ano 146 a.C, tempos em que os romanos invadiram a

Grécia, aprenderam a jogar, e assim adaptaram novas regras,

surgindo o “Harpastum”, mais assemelhado ao futebol americano,

mas pode ter inspirado tanto ao surgimento do Rúgbi quanto do

futebol.

Está registrada uma passagem mais recente de abordagem

localizada na Europa, tendo sido praticados jogos com uso dos

pés e de uma bola, pelo coletivo de dezenas de pessoas a

partir do século XVI na Itália, estando também difundido na

Inglaterra, a partir do ano de 1820, teve suas regras

definidas e universalizadas por associações fundadas sob a

patente de universidades, onde foi praticado inicialmente.

1.2 - A Entrada Do Futebol No Brasil e a Sua

Popularização

Na sequencia deste contexto histórico, graças á Charles

Miller, um jovem brasileiro filho de ingleses, sendo estudante

em uma escola inglesa (Banister Court School), vivenciou o

futebol e consequentemente o trouxe para o Brasil ainda no

século XIX, que, de início, aqui foi praticado em clubes e

empresas.

Como pode-se notar, o distinto esporte teve seu inicio na

elite,excluindo de início os pobres e negros,havendo permitido

no começo do futebol no Brasil o acesso apenas dos mais

próximos e influentes na camada da alta sociedade, depois

6

tendo sido popularizado e aceito nas camadas sociais menos

favorecidas.

Torcedor

Além das condições e requisitos naturais para ser um fã e

interagir com os clubes de futebol, houve como início de

torcida em seu público, as famílias dos acionistas dos clubes,

dos seus atletas e amigos próximos, enfim, pessoas que faziam

parte de um círculo burguês. Pode-se ainda reparar nesta

passagem que boa parte do público de fãs do futebol eram

mulheres e principalmente moças.

No Brasil a origem do termo de tratamento “torcedor”

originou-se das crônicas de Coelho Neto, escritor e dirigente

do clube de futebol Fluminense. Pois, observava ele o

comportamento das moças que iam assistir aos jogos de futebol

na época, portando seus lencinhos de renda, que ao sentirem a

tensão do jogo compartilhada aos seus jogadores preferidos,

torciam seus lenços. “Daí derivou-se o termo de tratamento

dispensado para todas as pessoas que segundo uma das crônicas

de Coelho Neto, menciona-se que os fãs do futebol torcem se

contorcem e distorcem tudo”. Enfim, a denominação “torcedor”

vem da origem figurada “torcedora” de lencinhos.

Na Itália, originou-e do termo “Tiffosi”. Ao Pé da Letra

significa a pessoa em estado febril, esquentada, adoecida

literalmente pelo seu time, como se contraísse a enfermidade

tifo.

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Na Argentina, Espanha e em outros países de língua

espanhola, tem a denominação de “hinchada” para a torcida.

Sinônimo e adjetivo que significa que as pessoas estão

doentes, alteradas pelo futebol ou outro desporto.

Torcidas Organizadas

O surgimento das torcidas organizadas no Brasil deu-se por

volta das décadas de 1940 e 1950, com uma simpatia e aspectos

similares aos eventos populares de rua, como por exemplo, o

carnaval. A este exemplo, as torcidas se inspiravam nos

eventos futebolísticos nos estádios e se organizavam

externamente, nas ruas, representando suas distintas

bandeiras.

No nosso país, as torcidas organizadas tiveram seu

pioneirismo originado e localizado na cidade de São Paulo,

pela torcida do São Paulo futebol clube, com Laudo Natel,

governador do Estado. No Rio de Janeiro os grupos de

torcedores organizados vieram a partir da Charanga Rubro–

Negra, do Flamengo, no começo da década de 1940. As torcidas

organizadas, na atualidade estão vinculadas às federações

estaduais e confederações nacionais destes grupos, frisando

aqui que, independente de personalidade jurídica ou bandeira,

estas instituições se inclinam a colaborar no combate á

violência nos ambientes relacionados ao desporto, em especial

no futebol.

Já aos meados da década de 1970, já estavam surgindo

alguns conflitos entre torcidas ao contrário das décadas

8

anteriores que na maioria deles curiosamente eram realizados

encontros sociais, por etiqueta era uma forma dos grupos

interagirem e de diminuir suas diferenças. Nos ensejos, as

torcidas dos times derrotados sempre pagavam um jantar para

seus adversários, porém também segundo ele, quando as pessoas

se dividem á grupos de vencidos e vencedores já é uma forma de

se iniciar um conflito, pois as pessoas pensam e se comportam

em diferença, o que passou a aumentar a dissidência e com o

tempo reações violentas. Extinguindo-se aos poucos os

encontros que foram considerados tradicionais e éticos, passou

a prevalecer no lugar grupos insurgentes organizados e

violentos, que, por estarem vivenciando politicamente um

pleno sistema militar ditador no país, foram influenciados,

associando seus perfis à, força com reafirmação máscula,

hierarquia e organização interna em cada grupo que veio se

formando, arrastando-se assim, por sucessão e aumento de

episódios, ocupação de páginas e capas na mídia, por crimes e

ocorrências policiais.

Como realmente se confere na história, entre o final da

década de 1960 e início da década de 1970, em um andamento de

plena ditadura militar, após o Ato Institucional nº 5,

situação política da época, foram iniciados os transtornos nas

aglomerações de torcedores, o fenômeno de violência e crimes,

tendo-se decorrido de dez a quinze anos, para se reconhecer os

atuantes grupos de delinquentes como ameaçadores para os

eventos de futebol, entidades desportivas e da sociedade como

um todo.

9

A partir do ano de 2005, no Brasil, o contexto de

violência e crimes por parte de torcedores teve seu ápice,

pois, além dos confrontos consumados entre os fãs de bandeiras

distintas houve vias de fato dentro de uma mesma torcida, algo

que vem a reforçar o motivo de preocupação da sociedade e das

autoridades, isto no que diz respeito à ordem e segurança

relacionados às praças desportivas, seguidores e

frequentadores dos eventos futebolísticos.

Também como passagem no contexto violento, na noite do dia

02 de maio de 2014, durante a partida entre as equipes do

Santa Cruz e Paraná Clube, válida pelo campeonato brasileiro,

houve uma briga entre os torcedores destas equipes, ocorrendo

que em meio ao caos da via de fato, das dependências do

estádio Arruda, do ponto mais alto das arquibancadas, foi

lançado um vaso sanitário, objeto este que atingiu e vitimou

para a morte um torcedor do Sport Cube ( Paulo...) que estava

do lado de fora da praça desportiva, sendo que até o presente,

não há respaldo nas investigações e inquérito policial.

Segundo dados do ministério da justiça, embora as práticas

de violência e crimes nas torcidas organizadas vieram

crescentes até 2010, apesar da quantidade ainda são muito

inferiores às outras modalidades de violência em geral no

nosso país.

De acordo com uma pesquisa realizada no ano de 2010, pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, pode-se

através disto conferir que assim como o cinema, o futebol é

uma das preferências nacionais no que diz respeito à busca de

10

diversão fora de casa. No entanto, na última década, uma

grande parte dos torcedores de clubes de futebol tem se

afastado dos estádios, fenômeno este que, segundo estudos

sociológicos realizados em 2009, pela Universidade Estadual do

Rio de Janeiro neste setor, conforme 68% dos torcedores

ouvidos. O motivo que representa a evasão é a violência em

primeiro lugar, seguido pelos preços de ingressos e

alimentação, transporte e o conforto oferecido aos usuários.

Hoje, o futebol no Brasil é o esporte e a diversão

preferidos para quase todas as pessoas, não se considerando

para isto, seus padrões sócio econômicos, culturais e

regionais, enfim, o futebol tem o ensejo de aproximação,

espetáculo, confraternização, neste modo, ultrapassa as

barreiras da diferença entre as pessoas.

O futebol é considerado o esporte mais popular do mundo,

pois, é cultivado em diversos pontos geográficos do planeta,

por povos e comunidades de diferentes costumes e cultura,

sendo ele referência de peso para a aproximação e

relacionamento entre diferentes pessoas, povos e nações, é ele

incondicionalmente célebre.

No tocante as torcidas tanto existem uma minoria agressiva

e violenta, como proporcionalmente há uma maioria pacífica.

Tanto no Brasil quanto em outros países, o grupo de fãs

pacíficos prevalece por maioria, e em seu comportamento

natural tendem a combater ao vandalismo, violência dos demais,

colaborando assim com as forças de segurança responsáveis pela

estabilidade do bem estar nos ambientes relacionados á

11

práticas desportivas. Estes torcedores que voluntariamente se

prontificam para o combate como tais sociáveis contribuintes,

porém, correm consideráveis riscos á sua segurança, pois, de

fato, se expõem publicamente para as consequências de

desfechos violentos incidentes nos eventos e nas torcidas em

geral.

No Brasil, América, Estados Unidos e Europa.

Já na Europa, Estados Unidos e Argentina o problema da

violência nas torcidas organizadas está relativamente ligado à

existência e atuação de grupos e associações politizados em

extrema direita, muitos deles, com inclinações neonazistas ou

neofacistas, com tendências xenofóbicas e ou homofóbicas,

pois, muitos desses agrupamentos estão em constante formação e

expansão, esboçam seus comportamentos e manifestam suas

ideologias em vários países, distorcendo assim a imagem

prática do ambiente futebolístico.Temos como exemplo de países

com maior cogitação de torcidas organizadas além do Brasil,

Itália, Espanha, França, Alemanha, Inglaterra, México e alguns

outros Países da América Latina.

Temos, como se pode fazer notar, inúmeros grupos de

torcedores organizados, e, começando pelo Brasil, destacamos

alguns entre tantos.

Brasil

12

Na Região Norte do país, são conhecidos os Rebeldes, Tufão

Choop; no Nordeste temos o Mancha Azul do CSA e Torcida

Organizada Furacão do sertão, entre outras; no Centro-Oeste

temos a Fúria Jovem, Ira Jovem e Fúria Pantaneira; já no lado

Sudeste temos a Facção Capa Preta, Guerreiro do Almirante,

Mancha Alviverde, Guerreiro da tribo, Febre Amarela,

Tricoloko, Gaviões da Fiel, Mancha Verde, Independente,

Dragões da Real, Rubro Negra, Força Jovem, entre muitas

outras; completando, temos na região sul do país os Garra

Tricolor, Leões do Vale, Mancha Verde do Coritiba,

Barrigueira, Coxa Metal Club, Camisa 12 e Nação Independente

Comando Vermelho.

Apesar de haver uma mostra significativa que permita

listar uma infinidade de grupos de torcedores organizados

violentos ou não dentro do contingente geral das torcidas de

futebol, ainda não se pode precisar quantos são os organizados

ou os adeptos a subgrupos violentos, pois, há constantes

instabilidades nas suas formações.

De frente ao crescente número de incidentes violentos e

crimes praticados por torcedores; está a preocupação da

segurança pública, sociedade em geral, autoridades e das

pessoas que lidam no mundo do desporto futebol.

A Legislação Brasileira Relacionada ao desporto, sua evolução.

Em relação à legislação desportiva do nosso país, devido

aos conflitos inerentes ao desporto, sempre houve a

necessidade de se estabelecer legislação regente e específica

13

sobre o desporto nacional incluindo o futebol, porém, nos

meados da década de 1940, em plena passagem de um Estado

ditador este setor sofreu não só a influência política como

também a sua regulamentação atribuída da parte governamental.

Para este modelo foi criado o Conselho Nacional de Desportos

(CND),que, com base em seu artigo terceiro já determinava a

condição da disciplina sobre o nosso desporto, conforme o

decreto nº 3199 de 04/04/1941.

Nesta mesma época também houve a criação da Confederação

Brasileira de Desportos (CBD), administrando juridicamente o

desporto brasileiro em geral, desde então, até o ano de 1985,

início da transição política do Estado novo para o Estado

Democrático de Direito. Durante este período, ainda que o

Estado exercesse controle legal sobre o âmbito desportivo, no

ano de 1985 já se iniciava uma reforma legislativa para a

modernização e democratização do desporto nacional através da

lei nº 6.251/1975, pelo decreto nº 8.228/1977, criando-se o

Sistema Desportivo Nacional (SDN). No ano de 1985 foi iniciada

a real democratização do desporto no Brasil, sendo criada a

Comissão de Reformulação do Esporte Brasileiro, determinando-

se assim nova estrutura para os esportes em diversos aspectos,

político, social, jurídico, financeiro e etc.

A partir do ano de 1988, a Constituição nacional ao ser

renovada, incluiu, atribuindo para o Estado o dever de prover

o desporto e ao povo o direito de cultivá-lo. Obedecendo o

legado e a recomenda de acordo com o artigo 217 da nossa

Constituição Federal veio o labor e a vigência da Lei Zico nº

14

8.672/1993, portando ela os princípios para o desenvolvimento

do desporto nacional e a sucessão e o complemento pela Lei

Pelé nº 9.615/1998,mantendo a patente da Lei Zico e dando

liberdade e regulamentação ao passe dos atletas

profissionais.No entanto, o conjunto de leis especificamente

desportivas se direcionavam ao torcedor em pontos esparsos,

não exercendo sobre ele uma regência ampla e eficaz em seus

aspectos jurídicos como pessoa de consumidor,responsável penal

e ou civil, e, conforme veio o decorrente contexto de

violência e crimes praticados por torcedores até os atuais

dias, em meio aos embates jurídicos, e por extrema necessidade

de resoluções foi elaborado o Estatuto do Torcedor, Lei

12.299/10, complementando a Lei nº 10.671/03.

Como já é sabido, o ano de 1988 representa o marco de

mudança do Estado ditatorial brasileiro, instituído pelo

militarismo nacional, para o Estado Democrático De Direito,

forma na qual vieram para serem inauguradas as novas

atribuições e prerrogativas legais, sejam elas tanto para o

Estado como para os cidadãos. Entre inúmeras e novas

inclusões, pode-se notar a adoção do desporto para com a

Constituição da República Federativa Do Brasil deste ano,

destacando-se aqui o seu Artigo 217.

(...) “Artigo 217 - É dever do Estado fomentar práticas desportivasformais e não- formais, como direito de cada um, observados:

I- a autonomia das entidades desportivas, dirigentes e associações, quanto

a sua organização e funcionamento;

15

II- a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do

desporto educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto

rendimento.

III- o tratamento diferenciado para o desporto profissional e para o não

profissional;

IV- a proteção e o incentivo para as manifestações desportivas de criação

nacional;

§ 1º - o poder judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às

competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça

desportiva, regulada em lei.

§ 2º - a justiça desportiva terá o prazo máximo de sessenta dias, contados

da instauração do processo, para proferir decisão final.

§ 3º - o poder público incentivará o lazer, como forma de promoção social.

(...)1

América

Na América Latina, localizados na Argentina, tem os Barra

Bravas, Generalizados seguidos pelas La Guardia Imperial, Los

Borrachos, La doce e Los Canallas.Nos Estados Unidos da

América, a Portland Timbers,um grupo entre poucos, novo, mas

que representa a imagem e cogitação no futebol daquele país.

Europa

Também na Europa estão formadas as torcidas Hajduk na

Croácia, esta a de fundação mais antiga, do Barcelona e Real

Madri na Espanha, com maiores contingentes; PSG na França,

Juventus, Napoli, Internazionale, Inter de Milão entre outras,

na Itália; Bayer e Borússia na Alemanha; na Inglaterra entre1 Constituição Da República Federativa Do Brasil. Imprensa Oficial Do Estado

De São Paulo Março de 2001 – Seção III, Do Desporto.

16

as torcidas do Chelsea, Manchester City e outras destacaram-se

os Hooligans, seguidores do Liverpool com incidência de maior

violência, pois o mais notado de seus feitos violentos deu no

ano de 1985 em uma partida entre as equipes do Liverpool da

Inglaterra e Juventus da Itália de decisão do Campeonato entre

os clubes campeões da Europa. Durante este evento houve uma

via de fato entre estas duas torcidas, de forma que o

distúrbio coletivo fez 38 vítimas mortas e outras inúmeras

feridas, tendo sido aí impostas responsabilidades aos

Hooligans, sobre os atos adversos.

O Relatório Taylor

Em meio às já fundadas preocupações sobre a violência nas

torcidas de futebol, o Relatório Taylor foi antecedido pelo

Conselho Europeu Sobre a Violência dos Torcedores do Desporto

e Futebol.

Na mesma linha de controle sobre a violência entre

torcedores, este Conselho Europeu cumpriu o papel no sentido

de fazer-se instituir legislações mais severas e impor mais

força de aplicação de leis sobre os casos e agentes

transgressores incidentes nas previsões legais, e, sob esta

visão e dinâmica, as autoridades inglesas, em seu labor,

traçaram o elo para o importante ”Relatório”.

17

Entre outros, a partir de mais este contexto violento,

surgiu a motivação para a confecção do Relatório Taylor, no

sentido de permitir que as autoridades competentes viessem

coibir a violência e administrar o bem estar nos eventos

futebolísticos ingleses e europeus, observando-se que o modelo

de controle e solução deste problema inspirou-se dentro dele

mesmo, não extinguindo ou anulando torcidas, mas investindo em

seus comportamentos através da reeducação e imposição de

normas e leis específicas, propondo neste modo a adequação da

conduta legal e jurídica dos torcedores e dos clubes

relacionados aos eventos do desporto futebol.

Na Inglaterra, no ano de 1985, durante vários eventos

desportivos do futebol, houve inúmeras vias de fato,

englobando em um complexo de violência, o coletivo do torcedor

e acidentes em uma série, que, só veio a ser vista e

considerada como ameaçadora a ponto de comprometer a segurança

da sociedade em meados do final dos anos de 1980 e início da

década de 1990.

Como exemplos, houve neste contexto violento no futebol,

em uma partida realizada entre os Clubes Liverpool da

Inglaterra e Juventus da Itália Estádio Heysel em Bruxelas,

pela Copa dos clubes campeões da Europa, o acesso

descontrolado de torcedores do Liverpool, ao espaço

insuficiente e incompatível com a demanda, fato que causou a

morte de trinta e nove torcedores do clube italiano, pois

foram tragicamente pisoteados e esmagados pela massa

transtornada.

18

Em face de tais ocorridos, todos os clubes de futebol

ingleses foram punidos, sendo suspensos de competições na

Europa pelo período de cinco anos, observando que o peso maior

recaiu sobre o Clube Liverpool, com maior incidente em

violências, pois, cumpriu seis anos de penitência. Quanto a

torcida deste último clube de futebol mencionado, havia nesta

circunstância de acontecimentos, o estereótipo do

hooliganismo, generalizando e atribuindo a violência aos

torcedores do Clube Liverpool.

Em virtude desta situação e com foco nos Hooligans

(supostos torcedores do clube Liverpool), as autoridades

governamentais e agentes competentes relacionados ao desporto

e segurança pública, elaboraram o Relatório Poppwell.

Com bases e medidas preventivas a serem tomadas,

consideradas superficiais, menos severas e menos aprofundadas

na resolução do problema, na reforma do setor desportivo

futebolístico inglês as autoridades ainda não tinham adquirido

uma visão abrangente e globalizada para além da violência dos

Hooligans, considerando a violência no ambiente com um todo,

isto, é, um grupo de fatores e itens reais básicos para prover

o bem estar em relação às coisas e pessoas que venham a

perfazer o evento desportivo, tais como, os locais em suas

instalações gerais, o mecanismo geral e comercial do evento,

logística, publicidade, informação, o ajuste de conduta e

adequação dos torcedores e dos clubes, e enfim o fundamental

investimento na segurança pública e interna ao evento para

guardar o torcedor e a sociedade.

19

Ao cume do contexto violento, no mês de Abril do ano de

1989, durante uma partida de futebol entre as equipes

Liverpool e Nothingan Forest, válida pelo campeonato inglês,

em virtude da complexidade na falta de instalações seguras e

adequadas e da administração sobre a quantidade de torcedores,

houve um desgovernado acesso de torcida, superlotando de forma

transtornada o estádio Hillsborough, situação trágica que

causou a morte de 96 pessoas, pois, foram pisoteadas e

esmagadas, ainda sendo feridas outras 766 no total.

A esta altura, as autoridades estariam adquirindo uma

visão com mais amplitude sobre os fatos e a realidade no

âmbito desportivo futebolístico, a carência de uma ampla

reforma a ser realizada com buscas e investimentos mais

intensos para prover o futebol como espetáculo e o bem estar

dos fãs e da sociedade. E neste ensejo, embora caracterizado

sob um quadro de fatalidade e tragédias, veio a motivação,

inclinando as autoridades para o labor de um novo Relatório na

busca da eficácia no saneamento e diminuição da violência nas

torcidas de futebol.

Pelo pedido das autoridades, o exemplar Relatório, ao ser

desenvolvido pelo juiz aposentado Lord Taylor de Gosforfh,

trouxe sessenta e quatro recomendações fundamentadas na

realidade. Entre elas as algumas destacadas.

“(...) A precariedade de serviços e de instalações

físicas relativas ao futebol; - A atitude da mídia em

relação aos eventos esportivos;

20

- O, às vezes, comportamento irresponsável dos jogadores

de futebol durante a peleja, o que poderia contribuir

para causar e/ou agravar distúrbios na audiência;

- A comercialização de bebidas alcoólicas em estádios de

futebol;

- A defasagem estrutural arquitetônica dos estádios de

futebol; e

- Os efeitos do vandalismo e segregação na experiência

geral dos espectadores de futebol.

- Ademais, o documento conclamava as entidades de

prática desportiva a adotar as 43 recomendações – já

disponibilizadas em julho de 1989 para a implementação

imediata na temporada 89/90 – a respeito especificamente

do Desastre de Hillsborough, entre elas:

- Revisão da capacidade de público de todos os estádios;

- Novas provisões a respeito de primeiros socorros e

serviços de emergência em todos os campos de futebol;

- Estabelecimento de grupos locais encarregados de

fornecer conselhos sobre a segurança nos estádios;

- Retirada dos alambrados; e

- Monitoramento do público na arena esportiva. (...)” 2

Taylor, nome de tratamento dispensado ao documento com

natural teor e função laboral de estudar e fazer cessar os

fenômenos violentos desencadeados durante os eventos do

futebol nas torcidas dos clubes principalmente ingleses, este

2 LIMA, Luiz César Cunha. Portal Clube Jurídico do Brasil – Artigo/Nov 2007

21

que, independentemente de autoria ou título tornou-se

instrumento de referência para questões de saneamento a

problemáticas que se desenvolvem nos eventos desportivos, em

especial no futebol.

Dada a reforma com significativa e comprovada eficácia no

ambiente futebolístico inglês, notou-se que a renovação ampla

e sistemática deste modelo, difundiu inspiração além das

adjacências europeias, para outras partes do mundo, bem como

para o Brasil, que entre outros países, distinta e

consideravelmente carrega uma tradição ímpar e participativa

neste referido desporto.

A Comissão paz no esporte.

Em nosso país, em face aos fenômenos de violência e crimes

ocorridos e relacionados as torcidas de clubes de futebol nas

três últimas décadas, há o desenvolvimento de preocupações da

parte das autoridades públicas, pessoas que lidam com o

desporto e também da sociedade que assiste as adversidades nas

torcidas e clama por mudanças e pelo controle a ser exercido

estritamente pelos responsáveis para tanto instituídos.

Dentro desta extrema necessidade de manter o bem estar

tocante ao desporto e cidadania, nossas autoridades e

colaboradores encontram-se em permanente mobilização no

sentido de promover uma transição evolutiva através de estudos

e investimentos organizacionais, tanto no setor da segurança

pública quanto no judiciário e legislativo.

22

Com o intuito de que se prevaleça o avanço quanto à

prevenção sobre adversidades nos atos do torcedor ou a

conveniente aplicação da lei específica, a Comissão Paz No

Esporte mantém como objeto fundamental a busca de dados e

fatores globalizados que perfazem a problemática da violência,

isto é, identifica tanto os elementos que formam o quadro

violento no evento desportivo, quanto àqueles os quais advêm

para a resolução. Entre os critérios à isto relacionados pode-

se destacar alguns.

Critérios Que Englobam a Problemática

– A violência

- A impunidade

- O desconforto

- O despreparo do RH

- A insegurança

-O alto risco

- O desrespeito ao Estatuto Do Torcedor

- Os baixos índices de ocupação

- A perda de receitas

- A perda de oportunidades

Critérios assumidos para resolução nos eventos:

23

- A segurança

- O conforto

- O acesso

- O entorno

- A iluminação e sinalização

- A limpeza e higiene

- A alimentação

- As bilheterias

- O cambismo

- As vias e os controles de acesso

- Os meios de transporte

- Os pontos de embarque

- As áreas de estacionamento

- A definição de responsabilidades

- Os procedimentos operacionais

- O comportamento dos atletas

- Os procedimentos de segurança 3 3 Marco Aurélio Klein – Coordenador Executivo – Fase I Relatório Final,

Comissão Paz no Esporte – Ministério do Esporte e Ministério da Justiça,

Brasilia, 2005/2006

24

Assim, caminham as autoridades constituintes da Comissão

Paz No Esporte, em certo tempo representadas pelo Coordenador

Marco Aurélio Klein, qual, além de sua reconhecida destreza,

expressa e transparece nos agradecimentos redigidos no

Relatório Final Fase I, a inspiração ao legado do Relatório

Taylor, para que num futuro próximo, desde agora haja um

similar resultado.

(...) “Finalizo fazendo um registro muito – muito

especial- para a mais importante fonte de conhecimento e

referência deste trabalho, bem como inspiração de forma

e conteúdo deste documento: o Relatório Taylor, do juiz

inglês (falecido em 1996)

Desde que comecei a estudar a modernização de gestão e

das práticas administrativas, financeiras e de marketing

do futebol, cerca de dez anos atrás,observo as

experiências realizadas porque lá aconteceu uma

revolução, profunda, incisiva e de resultados positivos

muito significativa.

O Relatório feito em1989 pelo juiz Taylor _ Responsável

pelo inquérito sobre uma das mais emblemáticas tragédias

da história do futebol The Hillsborough Stadium Disaster

Inquiry Final Report, conhecido mundialmente como Taylor

Report), a mim sempre pareceu o marco divisor do futebol

moderno tratado com espetáculo de entretenimento.Porque

tratando com seriedade da prevenção da violência, da

segurança, e do conforto dos torcedores do futebol, pôde

garantir a qualidade da instalações para garantir o

conforto e a segurança do torcedor. O juiz Taylor

entendeu claramente o quanto era fundamental melhorar o

todo do espetáculo futebol. Isto significando, a

organização, a qualidade da infraestrutura, os processos

25

de segurança, bem como a importância de relacionar as

práticas mais importantes com uma legislação adequada,

que responsabilizasse clubes, entidades de administração

esportiva, autoridades locais, responsáveis pela

segurança e ordem, bem como torcedores. Seu trabalho de

estonteante simplicidade, difícil de imitar, mais do que

a fonte que merece este tributo, é uma lição muito

especial, a mais difícil porque prática, de como

examinar um tema de maneira profunda, nunca permitindo

que isto o afastasse do seu mais nobre objetivo: a

proteção do verdadeiro torcedor.” (...)4

Por esta concepção que assim se mostra renovada através do

comprometimento destes francos colaboradores, convém o justo

voto de confiança e ativismo de todos aqueles que se dedicam e

aspiram pela evolução do espetáculo futebol, seja, os

desportistas em geral e a nossa sociedade.

4 Marco Aurélio Klein – Coordenador Executivo - Fase I Relatório

Final, Comissão Paz No Esporte Ministério Do Esporte e Ministério Da

Justiça. Brasília, 2005/2006

26

CAPÍTULO II – AS ENTIDADES DO DESPORTO FUTEBOL, AS

TORCIDAS ORGANIZADAS E SUAS RELAÇÕES

2.1. O Estado, Suas Atribuições Sobre o Desporto

O esporte brasileiro, na atualidade encontra-se

constitucionalizado. Como já mencionado no capítulo anterior,

e, conforme o que é pautado no artigo 217 da Constituição

Federal; são formadas as determinantes para a subsistência do

Desporto em nosso país. O modelo seguido pelo Estado,

dirigentes do desporto em geral e principalmente pelas

autoridades que representam o povo neste setor, tem o sentido

permanente de contribuir para a sistemática da promoção social

educacional e cultural.

Para que se compreenda e melhor se interprete a

sistemática de gestão e provimento do Desporto em seu aspecto

social e político, importante é observar sempre que, embora

veio a ser adotado pela Constituição Federal de 1988, esta

prática aculturada pelo povo, tratando-se de futebol,

independentemente do manuseio legal do Estado, teve uma

natural adesão e aceitação no seio da nossa sociedade.Isto,

com uma magnitude certa e digna para o reconhecimento ao

costume dos brasileiros desde o início do século XX.

Para Manoel José Gomes Tubino, o esporte é compreendido e

conceituado em sua propriedade, para além das práticas e ações

do Homem.Convém por costume e evidencia salutar manifesto

cultural do povo:

27

“(...) A cultura deve ser entendida como um complexo de

valores, significações e objetos simbólicos que estão

inseridos no processo de formação intelectual do Homem

como um todo e, no sentido objetivo, como um conjunto de

hábitos e ações humanas em todos os seus planos de

atividades,permitindo nessas duas conceituações perceber

que o esporte deve se compreendido como uma manifestação

cultural.” 5

Assim pode ser compreendido pela nossa sociedade e pelos

apreciadores desta prática aculturada em nosso país, que junto

com o Homem ela sofre constantes mudanças sociais e jurídicas.

E para que se sustente esta evolução, o Estado, adotou

constitucionalmente o desporto, se posicionando socialmente

como incentivador e juridicamente como franco preservador da

autonomia, caráter que vem confirmado pela concessão de

legislação e jurisdição distintas e específicas.

2.1.1. Os Clubes De Futebol, Suas Responsabilidades Em Relação

Aos Eventos e ao Torcedor

É conhecido que na forma da lei e conforme o Estatuto Do

Torcedor,com expressão no seu artigo 14, o mandante do jogo a

ser realizado contrai para si juridicamente as

responsabilidades em relação à garantia dos serviços que serão

prestados ao torcedor no determinado evento.

5 Tubino, Manoel José Gomes. O Estado Brasileiro E AS Práticas Desportivasin Curso Sistêmico De Direito Desportivo. Editora Quartier Do Brasil. São

Paulo, Verão de 2007

28

Como deveres a serem cumpridos pela entidade

desportiva,fornecedora e demais instituições

organizadoras,temos no meio de uma infinidade, os seguintes

itens destacados como principais e essenciais; A segurança ao

evento(antes, durante e depois da sua realização), o acomodo

dos usuários e clientes em geral, a higiene, o transporte e

uma logística que engloba todo o atendimento, bem estar e

integridade das pessoas desde a sua chegada e acesso até a

saída da praça desportiva.

Por fim, importa observar que na falta do respaldo dessas

garantias, da parte do clube, implicará em possível ação

indenizatória a torcedor e punição às entidades responsáveis,

isto numa eventual ocorrência de transtornos danosos, em

violência e crimes envolvendo usuários e torcedores.

Nesta oportunidade, como vem abordada a questão violência

e crimes praticados pelo torcedor, fenômenos relativos à

segurança, convém transcrever o expresso no inciso I e Caput

do artigo 14 do Estatuto Do Torcedor, dirigindo-se às

entidades desportivas:

Artigo14. Sem prejuízo do disposto nos arts. 12 a14 da Lei

nº 8.078, de 11 de Setembro de 1990,a responsabilidade pela

segurança do torcedor em evento esportivo é da entidade de

prática desportiva detentora do mando de jogo e de seus

dirigentes, que deverão:

29

I- solicitar ao poder público competente a presença de

agentes públicos, devidamente identificados, responsáveis pela

segurança dos torcedores dentro e fora dos estádios e demais

locais de realização de eventos desportivos.

Trata-se por este preceito, de uma condição preliminar,

pois, a própria circunstância do ajuntamento de um grande

número de pessoas indica a necessidade de procedimentos

inerentes a segurança. A necessidade de respaldo desta

garantia é tão imperiosa que, seu cumprimento natural por

parte do responsável pode e deve anteceder à imposição da lei

no sentido de que o evento seja bem sucedido.

2.1.2. Torcida Organizada, Quanto à sua

Corresponsabilidade E Vínculo, Sobre Os Eventos E Clubes

A torcida organizada, é pessoa jurídica e ou instituição

existente de fato devendo estar regularizada nas respectivas

federações estaduais ou confederações nacionais, encontra-se

inscrita na previsão de responsabilidade solidária para

questão de ressarcimento de danos causados por qualquer um de

seus membros, isto nos locais dos eventos desportivos bem como

nas imediações e trajetos de ida e volta à estes lugares, em

um raio de cinco mil metros de distância,relacionados ao

evento. Pois, o quadro do dano é algo que pode ser englobado

em um determinado quadro de violência de torcedores em razão

do desporto.

30

Pode-se então observar que o ponto da lei, artigo 39-A e

39-B do Estatuto Do Torcedor, que se refere à torcida

organizada, trata e dirige-se ao torcedor na forma

generalizada, isto é, aponta tanto o coletivo, quanto o

indivíduo.

Portanto, é claro ao entendimento dos fãs desportistas que

o referido instituto, nestes seus pontos, embora denominado

para “Defesa” do torcedor, tem função estrita e objetiva,

pois, ao fazer previsão sobre atos juridicamente adversos do

torcedor, impõe-se sobre todos com o poder de coibir os

torcedores ilícitos e ao mesmo tempo assistir àqueles que se

mantém não passíveis de correções.

2.2. O Torcedor Infrator E O Torcedor Delinquente, definição.

De acordo com a expressão do artigo 39 B do Estatuto De

Defesa Do Torcedor, lei 10671/2003, com respeito à punição,

fazia restrições apenas para a forma civil e aos direitos da

pessoa do agente, porém, por necessidade e eficácia para o

combate aos fenômenos de atos ilícitos, na atualidade jurídica

tem o complemento estabelecido da lei 12.299/2010.

No sentido de preservar a prática desportiva, bem como os

locais a isto destinado e as pessoas em geral, que venham a

participar dos eventos, foi dada vigência à lei de nº

10.671/2010, o Estatuto De Defesa Do Torcedor, que em seus

artigos 1º e 1º- A, aponta para a finalidade, em uma forma

tal, que mostra a sua face incisiva para o combate à violência

e crimes nas torcidas.

31

Para que se recapitule melhor a abertura expressiva das

pautas desta lei, basta observar o caráter de “convocação e

incumbência” de todas as pessoas físicas, jurídicas e

entidades para que previnam à violência, não podendo passar

por despercebido nesta abordagem, nota ao artigo 1º-A do

referido Estatuto;

(...) Artigo 1º -A – A prevenção da violência nos esportes é de

responsabilidade do poder público, das confederações, federações, ligas,

clubes, associações, ou entidades esportivas, entidades recreativas e

associações de torcedores, inclusive de seus respectivos dirigentes, bem

como daqueles que, de qualquer forma, promovem,organizam, coordenam ou

participam dos eventos desportivos. (incluído na lei nº 12.299/2010). (...)6

O Estatuto De Defesa Do Torcedor, em sua vigência

anterior, como lei de nº 10.671/03, teve sua finalidade de

proteção ao desporto e ao torcedor como usuário e consumidor,

e, nos eventuais fenômenos de violência e danos, ele foi

denominado apenas como infrator.

Na sucessão de fenômenos de atos ilícitos e violentos,

frente à um contexto gritante e observado pelo legislador,

este Estatuto sofreu uma ampla reforma, incluindo-lhe a lei de

nº 12.299/2010, perfazendo-se do artigo 41-B ao artigo 41-G,

de modo que veio a criminalizar os atos adversos e violentos

do torcedor.Nota-se então que, à partir de tal tipificação, o

torcedor passou à ser denominado delinquente, seja criminoso.

6 SIMÃO, Calil; Estatuto de Defesa do Torcedor Comentado. Ed. J.H. Mizuno -

2011

32

E com esta mudança veio a previsão da imposição de pena

restritiva, para além de direitos, também da liberdade do

torcedor transgressor desta lei específica, conforme vem

expresso neste seu ponto;

Artigo 41-B. Promover tumulto, praticar ou incitar a

violência, ou invadir local restrito aos competidores em

eventos esportivos: (Incluído pela Lei nº 12.299/2010).

Pena- reclusão de 1 (um) a 2 (dois) anos e multa. (Incluído

pela Lei nº 12.299/2010).

§ 1º Incorrerá nas penas o torcedor que: ( incluído pela Lei

nº 12299/2010).

I- promover tumulto, praticar ou incitar a violência num raio

de 5000 (cinco mil metros) ao redor do local de realização do

evento esportivo, ou durante o trajeto de ida e volta do local

da realização do evento; (Incluído pela Lei nº 12.299/2010).

II – portar, deter ou transportar no interior do estádio, em

suas imediações ou no seu trajeto, em dia de realização de

evento esportivo, quaisquer instrumentos que possam servir

para a prática de violência. (Incluído pela Lei nº

12.299/2010).

§ 2º Na sentença penal condenatória, o juiz deverá converter a

pena a de reclusão em pena impeditiva de comparecimento às

proximidades do estádio, bem como a qualquer local que se

realize evento desportivo, pelo prazo de 3 (três) meses

a(três) anos, de acordo com a gravidade da conduta, na

hipótese de o agente ser primário, ter bons antecedentes e não

33

ter sido punido anteriormente pela prática de condutas

previstas neste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.299/2010).

§ 3º A pena impeditiva de comparecimento às proximidades do

estádio, bem como qualquer local em que se realize evento

esportivo, converter-se-á em privativa de liberdade, quando

ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta.

(Incluído pela Lei nº 12.299/2010).

§ 4º Na conversão de pena prevista no § 2º, a sentença deverá

determinar, ainda, o obrigatoriedade suplementar de o agente

permanecer em estabelecimento indicado pelo juiz, no período

compreendido entre as 2 (duas) horas antecedentes e a 2( duas)

horas posteriores à realização de partidas de entidades de

prática desportiva ou de competição determinada. (Incluído

pela Lei nº 12.299/2010).

§ 5º Na hipótese de o representante do ministério público

propor aplicação de pena restritiva de direito prevista no

art.76 da Lei nº 9099/1995, o juiz aplicará a sanção prevista

no § 2º. (Incluído pela Lei nº 12.299/2010).“

Neste modo, a citada Lei, desde que reformada impõe-se

sobre o torcedor e sua eventual delinqüência, não permitindo

em si, lacunas relativas à conduta penal do apreciador

frequente às práticas desportivas.

2.3. A Responsabilidade Legal Imposta Ao Clube, Sobre O Crime

Praticado Pelo Torcedor.

A ideia inicial da responsabilização imposta às entidades

desportivas e aos clubes de futebol é fundamentada na

34

responsabilidade objetiva, norteamento estabelecido e invocado

pelo legislador no Código De Defesa Do Consumidor, artigo 18,

isto devido à realidade que confere estas instituições

juridicamente como “fornecedores” do evento. Juntamente com as

promotoras e organizadoras perfazem um grupo que contrai

vínculo jurídico para com o torcedor e as demais pessoas

participantes do acontecimento.

Embora haja inúmeros serviços a serem oferecidos com

respaldo da parte daqueles que realizam o evento para com o

torcedor e usuários em geral,nenhum dos itens tais quais,

informações, acomodo adequado às pessoas, logística de

atendimento ligados à integridade e segurança, pelos quais,

seja por omissão ou falhas, as instituições incorrem ao § 2º

do artigo 213 do Código Brasileiro De Justiça Desportiva.

De acordo com o que menciona Calil Simão, usando da mesma

conduta, estas instituições comentadas afrontam o Estatuto De

Defesa Do Torcedor em seus artigos 13 e 19.

Na oportunidade, sobre a questão levantada, englobando

violência e crimes nas torcidas e por serem relativas

especificamente à segurança, carece observar os artigos 13 e

19 do Estatuto De Defesa Do Torcedor;

(...) Art. 13 – O torcedor tem direito a segurança nos locais onde são

realizados os eventos esportivos antes, durante e após a realização das

partidas. (vigência)

Art. 19 – As entidades responsáveis pela organização da competição, bem

como seus dirigentes respondem solidariamente com as entidades de que trata

o art. 15 e seus dirigentes, independentemente da existência de culpa,

35

pelos prejuízos causados ao torcedor que decorram de falhas de segurança

nos estádios ou inobservância do disposto neste capítulo. (...)7

Não pode se esquecer que, estes dispositivos estão para

ser aplicados diante dos casos em que os preceitos não são

cumpridos pelas entidades consideradas como fornecedores e

responsáveis solidários.Esta previsão legal tem o fundamento

da teoria da Responsabilidade Objetiva, obrigando o clube ao

respaldo das garantias do compromisso, isto, não dependendo de

culpabilidade para ambos, torcedor e ou as entidades

incumbidas ao espetáculo.

7 SIMÃO, Calil; Estatuto de Defesa do Torcedor Comentado. Ed. J.H. Mizuno -

2011

36

CAPÍTULO III – AS LEIS ESPECÍFICAS AO DESPORTO

3.1. A Aplicação Da Lei Sobre o Torcedor Delinquente

Conforme nos ilumina a Constituição Federal por seu artigo

217, em seu inciso I e § 1º do inciso IV, é concedida a

autonomia ao Desporto, no sentido de auto sustentar a sua

subsistência. De forma associada a este modelo incentivado

pela nossa corte magna, encontram-se também o Direito e a

Justiça Desportiva.

Atualmente, nossa sociedade dispõe além dos Tribunais da

Justiça Desportiva, Estaduais e Federais, de Juizados

Especiais do Torcedor, em esfera cível, criminal e juizado de

menores de 18 anos.

São juizados, com competência criminal e cível, compostos,

por um juiz de Direito, autoridade representativa do

ministério público e defensoria, operadores do Direito

(advogados), e das policias militar e civil. Esta forma de

composição de juizados conveniada por estas instituições, OAB,

Ministério Público e as citadas forças policiais, tem o

sentido e finalidade do exercício da autonomia e celeridade do

uso e aplicação da lei em face dos fenômenos que venham a se

manifestar nas torcidas, em razão do evento. Isto se confere

como precedentes e necessidade de instituição, em 2005 após a

partida de futebol entre os clubes São Paulo e Palmeiras,

seguida de uma matéria criminal, se faz instituída para esta

37

atualidade os Juízos Especiais Cível, Criminal e juízo de

menores.

Este juízo, órgão do judiciário, embora o seja, lida com

as especificidades reguladas pelo Estatuto do Torcedor

atribuindo-se processar, julgar e executar, com respeito a

fatos que ocorrem dentro ou fora das praças esportivas e estão

relacionadas aos eventos.

Com relação à parte criminal, interessante ao

questionamento aqui desenvolvido. Cabe ao Juízo Especial

Criminal do Torcedor, lidar com as infrações penais de menor

potencial ofensivo, isto é, as contravenções e crimes que a

lei imponha pena máxima de 2 (dois) anos, com multa ou não.

A este Tribunal Especial compete movimentar os processos

de ações por causas menos complexas com a entrada e saída do

torcedor no local do evento, ameaças, agressões físicas com

resultantes em lesões corporais leves e também injurias.

“(...) no Estado de São Paulo, instalação de juizado

Especial em eventos desportivos iniciou em matéria

criminal nos estádios de futebol em agosto de 2005, no

Morumbi, durante uma partida entre São Paulo e

Palmeiras. Hoje, os Jeteps pacifistas abrangem além da

área criminal, á área cível e o juizado de menores.” 8

3.2. O Estado Como Juiz E Fomentador Do Desporto.

8 Simão, Calil. Estatuto de Defesa do Torcedor Comentado pg. 112 a 113.

Ed. JH Mizuno, 2011.

38

A partir da transição da nossa Constituição Federal em

1988, tivemos a formalização da prática desportiva incluída

como um direito de cada cidadão e o reconhecimento de que o

Estado deve investir de modo a prover a subsistência, assim

como, os demais itens como a educação, cultura, arte, lazer,

saúde, trabalho, moradia, entre outros.

Independente do que a legislação determina ou não,

antecede o reconhecimento da necessidade popular por parte do

Estado. Segundo a visão Constitucional de José Afonso da

Silva, as leis e os princípios promulgados na Carta Magna, no

final da década de 1980, refletem as necessidades e os anseios

populares, salientando o desporto como incluso na laboral

reforma.

(...) No que se refere ao esporte, a Constituição

Federal estabelece textualmente que é dever do Estado

fomentar práticas formais e não formais, como direito de

cada um. Ademais, O Estado deverá incentivar o lazer

como forma de promoção social. (...)9

Assim, o esporte e o lazer, são colocados à disposição de

cada brasileiro, com ampla possibilidade de repercutir no

processo de desenvolvimento humano e no pleno exercício da

cidadania; criando condições para auxiliar na sustentação do

Estado Democrático de Direito.

9 DA SILVA, José Afonso. Regime Jurídico e Princípios do Direito Desportivo

39

No que se diz respeito à competência do Estado como juiz

para as lides no âmbito do desporto, por seus órgãos e

institutos legais e jurídicos, alcança, processa, julga e

executa especificamente o torcedor em matéria de direitos.

Na complexidade de atribuições no Direito Desportivo, o

Estado, por seu poder judiciário, tem sua legitimidade para

acolher ou não o conflito em matéria de “direitos”, seja

inerente a pessoa do torcedor pelo seu respectivo Estado, ou

da entidade de prática desportiva; para esta ultima existe a

condição de esgotar as instâncias da Justiça Desportiva.

Entende-se então que, as instituições que venham a

digladiar na Justiça Desportiva, instituída como autônoma,

terão que primeiro passar por toda a pirâmide estrutural. Isto

é, carregar o seu pleito da Justiça Desportiva Estadual.

Cursar nos Tribunais Superiores e TAS, que tem o

reconhecimento pleno da FIFA. Assim, se não respaldada a lide,

a ação terá o acolhimento na Justiça comum.

40

CAPÍTULO IV – A POSSIBILIDADE DE PUNIÇÃO DA

ENTIDADE DESPORTIVA SOBRE O CRIME PRATICADO PELO

TORCEDOR

4.1. A Visão Constitucional Sobre A Punição Estendida Para

Além da Pessoa Do Infrator.

Em face aos atos adversos em violência e crimes praticados

por torcedores ( em destaque no futebol), num contexto que tem

se arrastado por décadas e persiste em nossos dias atuais, a

nossa sociedade encontra-se empenhada em combater este

fenômeno, seja pela prevenção ou repressão, quando necessárias

e cabíveis.

Embora o Desporto encontre-se adotado pela nossa

Constituição, tem ele uma sistemática preservada como um setor

à parte, justificando deste modo a autonomia recomendada pela

nossa Carta Magna, e, por necessidade, o Direito vem associado

nesta linha como Direito Desportivo para a espécie.

Como modelo e diretriz estrutural, está a Lei nº 9.615

(Lei Pelé) que situa-se em posição imediatamente subordinada

em hierarquia ao artigo constitucional 217, pois, ocupa lugar

de importância fundamental e ímpar no quesito de definições e

determinantes legais, para a administração, existência e

juridicidade do desporto que dos dias remotos aos

contemporâneos, representa prática atrelada à evolução do

Homem.

41

Na sistemática jurídico desportiva do Brasil, em verdade

encontra-se a propriedade infraconstitucional, sendo definido

como ordenamento jurídico desportivo, inaugurado segundo

determinações da Carta Magna, porém estabelecido como um ramo

do Direito, distinto e específico.

Devido à sua autonomia associada ao Desporto, justifica o

afastamento de intervenção da parte do Estado, por seu Poder

Judiciário, saindo-se então como estrutura responsável e

inerente ao assunto esporte e torcedor.

E ao mesmo modo, a legislação e os institutos inerentes a

este setor, vem estabelecidos em uma ordem e estrutura que em

seu mecanismo e dinâmica cumpre o, papel e a finalidade de

administrar juridicamente a tudo o que é vinculado ao desporto

formal ( de rendimento).

Seguinte à Lei nº 9.615/98 está o Código Brasileiro De

Justiça Desportiva (CBJD), reformado em partes pelo Conselho

Nacional De Esportes, de acordo com a resolução Nº 11 de 2006,

a qual diferencia e define o tratamento para o desporto

profissional e não profissional em seus aspectos jurídicos,

quanto a aplicação das leis e normas.

O Estatuto De Defesa Do Torcedor, vigente a partir de 15

de Maio de 2003 e atualmente complementado pela Lei nº 12.299

de 2010, juntamente com o Código anteriormente referido forma

o grupo de institutos legais específicos aplicáveis aos

quesitos jurídicos, seja para as instituições que tangem ao

42

desporto como também ao torcedor e usuário relacionado à

prática desportiva.

Os Dispositivos Legais de ambos os Institutos formam um

conjunto complexo para suas aplicações frente aos embates

judesportivos, pois, funcionam como alternativos para que o

efeito da lei cabível venha a atingir ao torcedor ou

instituição desportiva judicante.

Constituindo esta estrutura e sistemática estão as

instituições que congregam e regulamentam as entidades

desportivas referindo especialmente ao futebol, se referindo

ao esporte de rendimento, existem para a adequação Jurídica

dos Clubes, as Ligas Estaduais, Federações Estaduais e a

Confederação Nacional de Futebol, que junto as demais, são

adequadas a FIFA, vinculando-se juridicamente ao seu Estatuto

Internacional.

Associadamente a estas instituições desde a esfera

estadual até a internacional existem respectivamente os órgãos

Judiciários Desportivos, considerados dentro de uma estrutura

hierárquica, para competências como entes de administração

Jurídico Desportiva. Sendo estes, constituídos por, Tribunal

Superior de Justiça Desportiva, Tribunais Estaduais de Justiça

Desportiva e Conselho Nacional de Justiça Desportiva.

Nos Tribunais Desportivos, onde figura como ré, uma

determinada instituição de desporto, passível e incidente à

punição, se em meio a utilização de leis do ordenamento

nacional forem esgotadas as alternativas, no sentido de surtir

43

efeito sobre o réu, ao julgador é atribuído que invoque a

Legislação da FIFA (Federação Internacional De Futebol,

conforme o doutrinador Carlos Miguel Castex Aidar que, de

acordo com o parágrafo à seguir se inclina à aplicação

punitiva da lei.

(...) O que diz a Lei Pelé? A Lei Pelé consagra doze

princípios que regem o Desporto no Brasil: soberania;

autonomia; democratização; liberdade; direito social;

diferenciação; identidade nacional; educação; qualidade;

descentralização; segurança e eficiência. Conquanto isso

esteja absolutamente consagrado no nosso texto legal, a

autonomia às vezes não é respeitada. Mas é fácil

entender porque temos a lei no Brasil, que rege o

esporte de uma determinada forma, mas nas relações

internacionais é óbvio e evidente que a lei brasileira

não vai se aplicar em outro país,e aí o que entra em

vigor não é a lei brasileira e nem a de outro país, mas

a regulação provinda da entidade internacional de

direção do esporte. Pessoalmente, já sustentei no

passado e revi minha posição de que eram um absurdo, por

exemplo, aquelas famosas ameaças que a FIFA – Federação

Internacional de Futebol – fazia aos clubes que iam à

justiça comum. Ela não aceitava isso, aliás, não aceita

até hoje, e eu sustentava que isso era invasão de

soberania, que era perda de soberania, que o Estado não

podia se curvar, que o Brasil não podia se curvar.

Durante muito tempo sustentei esse ponto de vista, mas

depois o tempo foi me mostrando e acabei convencido em

discussões com outros professores e com outras pessoas e

acabei aceitando que a autonomia é dentro do limite

territorial brasileiro, a lei brasileira é dentro do

limite territorial; em relação à internacional, vai

44

prevalecer sempre a regra da federação internacional da

modalidade em disputa. Isso é fundamental porque senão

viraria um pandemônio, cada um faria a seu modo e nunca

e nunca se teria uma segurança jurídica. (...)10

(...)Sabe-se, contudo, que a FIFA, no seu Estatuto

( art. 62, ns 2 e 3) veda o recurso a tribunais

ordinários, porque ente insubmisso à Constituição

Brasileira e de outros países que garantem às partes o

acesso ao Judiciário, com lastro no postulado de

inafastabilidade do controle jurisdicional . A este

ditame estatutário principiológico da FIFA agrega-se,

cogentemente, o acatamento de suas decisões “como

definitivas” ( art. 63, n.1) aplicável a todos os

membros, pessoas vinculadas e integrantes do mundo do

futebol, o que tem dado azo inúmeras questões. (...)11

10 CASTX ADAIR, Carlos Miguel- Curso Sistêmico De Direito Desportivo – Ed.Quartier Do Brasil – São Paulo,Verão De 2007

11 FILHO, Álvaro Melo – PRATICAS DESPORTIVAS EM FACE DO (NOVO) CÓDIGO

Brasileiro de Justiça Desportiva – Retrospecto e Involução. Curso Sistêmico

de Direito Esportivo.

45

Pois estes chamados, entes de administração da Justiça

Desportiva, na virtude do esgotamento ao uso dos instrumentos

legais de ordem interna dispõe para efeitos de punição, da lei

estatutária da FIFA, desportivos universalizados, sobre o

futebol profissional.

Por exemplo, em um determinado caso de violência e ou

crime praticado pelo torcedor, no evento do seu Clube

idolatrado ou em razão destes, o agente será imputado pelo

ilícito, julgado e submetido aos efeitos punitivos ou não,

como se couber e pelo uso da lei que lhe é especifica, o

Estatuto de Defesa do Torcedor, Lei nº 12.299, 2010.

Esta mesma Lei que em especialidade prevê sobre os atos

antijurídicos do torcedor, também dirige-se às entidades de

prática desportiva com mando de campo, a as demais

organizadoras e promotoras do evento desportivo. Com o mesmo

sentido de punição, caso se incorra nas previsões do utilizado

Estatuto, que para tanto tem fundamento na responsabilidade

objetiva, teoria que certamente norteia e justifica o sentido

do uso desta lei que protege o desporto e coíbe o ato maléfico

e determina a punição do mal feitor quando necessário.

Na oportunidade, para exemplificar o uso destas leis, vem

abordado um caso recente ocorrido no Rio Grande Do Sul, onde,

durante uma partida de futebol realizada no Estádio Olímpico,

válida pela Copa Do Brasil entre os Clubes Grêmio e Santos, no

dia 28 de Agosto de 2014, no qual houve flagrante filmagem de

um torcedor do Grêmio que supostamente ofendeu o goleiro da

46

equipe adversária, chamando-o de “macaco”, em razão dele ser

negro,conduta que esboçou preconceito à sua cor e ou raça.

Conforme previsão do artigo 243-G;§ 1º, do Código

Brasileiro De Justiça Desportiva, este torcedor infrator vem

enquadrado na prática de racismo, entre outras atitudes

discriminatórias pautadas neste ponto da Lei. Além do

enquadramento do praticante definido e incorrido neste

Instituto, para os efeitos da lei, juntamente vem comprometido

o respectivo clube que, de maneira célere está excluído da

Competição, seguindo-se assim normas que zelam pelo andamento

de competições, não permitindo que situações incidentes venham

a embaraçar uma linha de eventos.

4.2. A Aplicabilidade Justificada Da Lei Específica, Sobre A

Punição Estendida, Do Torcedor Infrator Até A Entidade

Desportiva

Sob um complexo de dispositivos legais o julgador

desportivo dispõe e assiste-se.

Para dirimir um determinado conflito e estando sob um

complexo de dispositivos contidos nos conjuntos de leis que

regem sobre a adequação da conduta tanto de torcedor quanto

das instituições, o julgador desportivo pode e deve fazer o

uso de tais aplicações, pois estão como modelos e base para

impor efeitos sobre os transgressores.

47

Sobre todos os conjuntos de leis que dizem respeito ao

desporto profissional, futebol a FIFA exerce soberania e

regência hierárquica, e, devido a esta propriedade e

consistência reconhecida universalmente neste esporte, pelas

instituições, órgãos da Justiça Desportiva, fãs, legisladores,

julgadores e os Clubes, submetem-se a devida regulamentação

legal tornando o assunto desportivo do futebol como algo

restrito a sua própria administração jurídica, seja em

hierarquia, jurisdição ou competência.

Pois, se a nossa Constituição Federal em si concedeu e

recomendou a autonomia para sobrevivência do Desporto, bem

como o esgotamento de uso das instancias jurídicas, em prazo

de 60 dias (sessenta dias) por conflitantes, não é lícito que

as pessoas e entidades adequadas a esta sistemática, se

voltem, senão por matéria de lesão a direitos, para

ordenamento jurídico, regido pela Carta Magna.

Isto pode ser frisado sobre os casos nos quais os Cubes

quando Julgados e punidos em razão de um crime que o seu

respectivo torcedor tenha cometido.

De acordo com as leis nº 12.299,2010 e nº 9.615,1998 e

Estatuto da FIFA, regentes sobre as Federações Estaduais,

Ligas Estaduais e Confederação Nacional do Futebol, as quais,

os clubes estão regularmente adequados, é correta a punição

pecuniária por multas e restrição de direitos, pois os seus

vínculos lhes obrigam a aceitar as imposições legais.

48

(...) Impende enfrentar e rebater, de outra parte as

críticas de alguns juristas ao (novo) CBJD quando

desenvolvem um raciocínio em cores marcadamente

clubísticas, nomeadamente após a anulação dos 11

“contaminados” jogos do Campeonato Brasileiro de 2005,

ou então sempre que clubes mandantes são apenados por

distúrbios causados por sua torcida, arguindo a

inconstitucionalidade da “justiça” desportiva, olvidando

sua previsão e fundamento no artigo 217, §§ 1º e 2º da

Constituição Federal. Insurgem contra o “Código feito

por resolução”, esquecendo que a competência do Conselho

Nacional De Esporte para aprovar o (novo) CBJD decorre

de autorização expressa no art. 11, inciso IV da Lei nº

9.615/98 e imposição de prazo legalmente fixado pelo

art. 42 da Lei nº 10.671/03. (...)12

Pois, a sistemática legal e normativa desportiva é

adstrita à regência da FIFA, reconhecida como ente

internacional que não se submete à Constituição Federal e

possui patente jurídica soberana no desporto do futebol.

Portanto, esta propriedade afasta a possibilidade, das

entidades desportivas do futebol, quando atingidas e

prejudicadas por uma pena à ela estendida, de reclamar, com

fundamentos no artigo 2º princípios da razoabilidade (inciso

XIV), proporcionalidade (inciso XII), ampla defesa (inciso I),

e salientando aqui para correspondência à questão, o princípio

da pessoalidade pena, expresso no inicio XLV do artigo 5º da

Constituição Federal.12 FILHO, Álvaro Melo – PRATICAS DESPORTIVAS EM FACE DO (NOVO) CÓDIGO

Brasileiro de Justiça Desportiva – Retrospecto e Involução. Curso Sistêmico

de Direito Esportivo.

49

O Clube de Futebol ao ser punido na forma da lei, pela

Justiça Desportiva, em virtude do que seu torcedor comete por

violência e crime, prejudica-se em seus direitos, quadro este

no qual a punição é estendida do infrator até a sua pessoa

como entidade.

Pela visão Constitucionalista, este panorama resultante

caracteriza afronta ao Princípio Da Pessoalidade Da Pena

expressa no artigo 5º, inciso XLV da Constituição Federal.

ARTIGO 5º da Constituição Federal Brasileira- Inciso XLV –

Princípio da Pessoalidade da Pena. Nenhuma pena passará da

pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a

decretação do perdimento de bens ser, nos termos de lei,

estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o

limite do valor do patrimônio transferido.

Na linha de doutrina Constitucional, os mestres Gustavo

Junqueira e Patricia Vanzolini, vêm posicionados como

resistentes, com vista sobre a extensão punitiva de uma pessoa

para outra, aceitam apenas a propositura para se aplicar

sanção extrapenal, isto é, a tomada ou sequestro de bens

ilícitos ou produto de crime a perda, incluindo também a

restrição a direitos, conforme este recapitulado trecho de sua

obra ( Manual De Direito Penal):

(...) A pena não pode ultrapassar a pessoa do condenado. Trata-se de

princípio que decorre da proteção à dignidade da pessoa humana, e mesmo da

culpabilidade, pois não teria sentido receber sanção penal por fato de

50

terceiro, resgatando primitiva e injustificável responsabilidade flutuante.

(...)13

Diante disto, levanta-se a pergunta: “A Lei pode

penalizar a entidade desportiva por motivo do ato antijurídico

praticado pelo torcedor?”

De acordo com o nosso Ordenamento Jurídico e Institutos de

Legislação Nacional, que existem como homenageadores da

Constituição Federal, uma questão (lide) é acolhida pela

Justiça comum estritamente no caso do não cumprimento de um

preceito legal, de modo que venha lesionar direitos de alguém.

Para a pessoa (entidade) adequada e legitimada a um ente

não nacional e não submisso a Constituição Brasileira, os seus

conflitos de interesses estão restritos à FIFA, enquanto não

esgotados o prazo e o uso da jurisdição na esfera desportiva.

Pois a sua Legislação regente expressa claramente a condição

de fidelidade na conduta jurídica, na vez em que as

instituições celebram regularidade e vínculo junto à Federação

Internacional De Futebol e demais Entes do desporto

futebolístico.

E, para que se confira tal condição, compensa trazer a

estas pautas o artigo 59 do Estatuto da FIFA:

13 Teoria da Sanção Penal/Princípio da intranscedência, personalidade ou

pessoalidade da pena. JUNQUEIRA, Gustavo & VANZOLINI, Patrícia.

51

“Art. 59 – As associações nacionais, clubes ou membro de clube

nãotem permissão para submeter disputas com a Federação ou

outras associações, clubes ou membros de clube a um tribunal

de justiça, e eles devem concordar ou submeter cada um das

disputas a um tribunal arbitral nomeado com o consentimento de

todos.

A associação nacional deve, a fim de dar efeito ao que foi

mencionado acima, inserir um artigo em seus Estatutos, através

do qual seus clubes e membros não tenham permissão para levar

uma discussão para tribunais de justiça, mas sejam obrigados a

submeter qualquer desavença à jurisdição da associação ou a um

terminal arbitral.

Mesmo se a lei do país permitir que clubes ou membros de

clubes possam contestar num tribunal civil qualquer decisão

pronunciada por um órgão esportivo, os clubes ou membros de

clube devem abster-se de tal ação até que tenham Sido

esgotadas as possibilidades da jurisdição desportiva dentro da

sua associação nacional (ou sob sua responsabilidade).

As associações nacionais devem assegurar, tanto quanto

forem competentes para tal, que seus clubes e membros de clube

cumpram esta obrigação e que estejam cientes da consequência

do desrespeito a essa regra (cf. § 2º e 6º). No caso de

desentendimento entre duas ou mais associações incapazes de

concordar com a composição do tribunal arbitral,o comitê

executivo terá o direito de decisão. Tal decisão será final e

obrigará as associações em questão. As associações nacionais,

clubes ou membros de clube devem aderir estritamente as

decisões tomadas pelos órgãos competentes no que diz respeito

52

a disputas de acordo com os termos do parágrafo anterior.

Qualquer infração das disposições mencionadas acima será

sancionada de acordo com a lista de Medidas Disciplinares da

FIFA (cf. Art. 40). Qualquer clube que transgrida os termos

delineados acima poderá ser sancionado, sendo suspenso de

todas as atividades internacionais (competições oficiais e

jogos amistosos), além de ser proibida a disputa de partidas

internacionais,( envolvendo associações nacionais e clubes) no

seu estádio. Disputa com respeito a transferência e a

qualificação dos jogadores serão decididas de acordo com

procedimento estipulado no Art. 34 deste Estatuto. Art. 59 –

Estatuto Da FIFA – Congresso Da FIFA, 1990.

Portanto, o condicionamento jurídico expresso por este

ente soberano é claro e posicionado com franqueza no que diz

respeito a conflitos que envolvem as entidades desportivas nas

suas jurisdições. A FIFA, Junto à autônoma ordem jurídico

desportiva brasileira, combinadas, vem a conferir a sua

patente de regente legal e administradora. Nesta postura,

consideram estranho e ou precipitada a atitude de uma

instituição que a elas vinculada juridicamente, vá recorrer

injustificadamente à outro ordenamento jurídico, no caso, a

órgão do poder Judiciário.

Nesta linha de compreensão sobre o questionamento da

punibilidade de entidades em virtude de ato antijurídico que

seus torcedores praticam, permite-se interpretar que está

instituída uma estrita atribuição administrativa a todos os

órgãos jurídicos e entes do Desporto, de maneira que o futebol

53

deve se curvar à Lei Específica enquanto vinculado aos Entes

de administração jurídica do Desporto, Federações Estaduais,

Confederação Brasileira De Futebol e Federação Internacional

De Futebol.

Pois, formam um organismo legalmente distinto em relação

ao nosso Ordenamento Jurídico e Constituição Federal, tendo

por base fundamental o Princípio Da Autonomia, que determina

uma separação específica destas Ordens e não permite

intervenções e representações judiciais que contrariam o

vinculo das entidades dentro do Desporto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa voltou-se para a temática de questionamento

a respeito da punição as entidades desportivas, em virtude de

atos antijurídicos que seus torcedores venham a praticar em

razão do fanatismo pelo seu clube e ao evento, tendo aqui

focalizado o futebol.

Por esta busca, na qual se procurou visualizar juridicamente a

aplicação da lei específica e os seus efeitos nas relações e

os conflitos formalmente representados pelo clube e o torcedor

infrator, conclui-se na seguinte maneira:

54

O vínculo jurídico, elemento determinante para relação

entre o torcedor e as instituições que figuram globalmente no

desporto, impõe sobre tudo a adequação de suas condutas, o

alinhamento de restrições na sistemática do setor quando

houver cabimento para um determinado conflito na justiça

desportiva.

É encontrada a referência de que a entidade de prática

desportiva profissional, plena pessoa jurídica e regularizada

de acordo com a administração jurídico desportiva, pertence

restritamente ao círculo do Desporto, no que diz respeito a

representação judicial. O clube contrai para si a obrigação de

resolver seus assuntos relativos a eventos e competições

dentro da esfera competente e específica, ou seja, desportiva.

A “autonomia” constitucionalmente recomendada ao desporto

se faz princípio a ser seguido, dando sentido à sua existência

como um todo fazendo-se assim internos ao seu âmbito todos os

assuntos que a ele pertencem. E, ao mesmo tempo, enquanto se

tratar dos interesses das referidas instituições, é vedada a

intervenção por parte do Judiciário que só admite ações em

matéria de direitos, quando lesionados, conforme expresso na

Carta Magna em seu artigo 5º, inciso XXXV- “a lei não excluirá

da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.”

Assim, esta previsão tem esclarecido quanto a necessidade

de justificar e dar fundamento no caso de instituições que

venham a se voltar em recursos ao Judiciário.

55

Em relação ao posicionamento doutrinário desportivo, vem

clara a resistência aos recursos judiciais de instituições que

reclamam e apelam das punições a elas impostas, fundamentando

em princípios constitucionais. Pois, entendem que a Lei

normativa e específica tal, Lei Pelé (Lei nº 9.615/98), é

instituto que advêm da própria circunferência desportiva,

derivadas do próprio Conselho Nacional Dos Esportes que

juntamente com o Estatuto De Defesa Do Torcedor (Lei nº

9.615), Código Brasileiro De Justiça Desportiva e Estatuto Da

FIFA sabiamente representam a regência sobre seus interesses,

para os direitos, deveres e responsabilidades a cada um

atribuídas.

Alguns doutrinadores desportivos enxergam também que o

aspecto estrutural do Desporto nacional formal tem caráter e

propriedades determinados hierarquia, normatização e

organicidade que, através da continência de todos os seus

órgãos jurídicos, entes federativos e instituições de prática

desportiva ou promotoras e organizadoras de eventos,

constituem um corpo comandado e regido pelos representantes de

patamar superior nacional e internacional, sejam, os Tribunais

Superiores De Justiça Desportiva, Código Brasileiro De Justiça

Desportiva; para o futebol, Confederação Nacional De Futebol a

Federação Internacional De Futebol (FIFA) que figura como ente

hierarquicamente superior no mundo futebolístico.

Nesta composição, é imposto permanentemente o

reconhecimento da soberania jurídica e estatutária do ente

maior desportivo (FIFA) ,sobre todo o conjunto organizado e

56

assuntos internos considerados restritos,não permitindo a

evasão formal e a interferência injustificada de outros

ordenamentos jurídicos.

Cumpre-se então este modelo, um regimento jurídico que,

mantém o funcionamento e as resoluções autônomos, associados a

autonomia recomendada ao Desporto. E, fazendo-se conferir como

um ordenamento jurídico específico e distinto, para admitir o

conflito interno, processar, julgar, absolver e punir pessoas

e entidades regularizadas e vinculadas ao círculo desportivo.

Portanto, a resposta alcançada sobre a questão da

punibilidade da entidade de prática desportiva, que é

legalmente responsabilizada sobre a prática criminosa do

torcedor, é favorável às sanções impostas aos clubes de

futebol. Vem aqui justificada com base no diferencial que a

Lei e Direito Desportivos tem para com o Ordenamento Jurídico

Brasileiro e a Constituição Federal Da República Federativa Do

Brasil. Pois, o Desporto Brasileiro é preservado em um

complexo no qual os seus assuntos judiciais restritos

obrigatoriamente são respaldados de acordo com a sua lei

maior, seja o Estatuto Da FIFA, ente o qual, não se submete ao

nosso Ordenamento Jurídico e Constituição Federal e possui

poder soberano sobre o desporto futebol e, em sua vez a

prática desportiva em si é socialmente resguardada pelo Estado

em sua Lei Maior Regente.

57

58

REFERÊNCIAS

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SP – Obra Aspectos Normativos E Retrospectiva Histórica Da

Legislação Desportiva Infraconstitucional – livro Curso

Sistêmico De Direito Desportivo – Ed. Quartier Do Brasil – São

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Desportivo. Editora Quartier do Brasil – São Paulo. Verão de

2007.

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2013. Disponível em:

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de Direito Desportivo, da Comissão de Estudos Jurídicos

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Desportivo do Conselho Federal OAB. Consultor da ONU na área

de Direito Desportivo- Práticas Desportivas em Face do (novo)

59

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Revolução - Ed. Quartier Do Brasil – São Paulo,Verão De

2007 .

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Desportiva – Regime Jurídico e Princípios do Direito

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60

Defesa do Torcedor Comentado. Ed. J.H. Mizuno - São

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Universidade Livre de Bruxelas. O Estado Brasileiro e as

Práticas Esportivas- Ed. Quartier Do Brasil – São Paulo,Verão

De 2007 .

VANZOLINI, Patrícia; Mestre em Direito pela PUCSP. Advogada,

Diretora acadêmica da Faculdade de Direito Professor Damásio

de Jesus. Manual de Direito Penal. Ed Saraiva. São Paulo,

2013.

APENDICE

61

FICHA DE ACOMPANHAMENTO DO TCC 2

62

ANEXO

63

64