Diagnóstico socioambiental do município de Atalaia do Norte/AM

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Relatório Técnico Diagnóstico socioambiental do município de Atalaia do Norte / AM Manaus AM Junho, 2011

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Relatório Técnico

Diagnóstico socioambiental do município de Atalaia do Norte / AM

Manaus – AM Junho, 2011

Relatório

Diagnóstico socioambiental do município de Atalaia do Norte / AM

Equipe Técnica:

Maria Inês Gasparetto Higuchi - Coordenadora Geral

Marcelo Gustavo Aguilar Calegare - Responsável Técnico (equipe de campo)

Maria Letícia Simão Graciosa Porto - Auxiliar de Pesquisa

Marian Braga Dias Florêncio Lima - Auxiliar de Pesquisa (equipe de campo)

Rafaela Machado Feitosa - Auxiliar de Pesquisa (equipe de campo)

Manaus – AM

Junho, 2011

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Resumo Executivo

Este relatório apresenta dados socioeconômicos de Atalaia do Norte (ATN), onde

foram instaladas parcelas permanentes do inventário florestal no âmbito do projeto

“Dinâmica do Carbono da Floresta Amazônica (CADAF)”, realizado graças à parceria

entre Brasil e Japão desde 2009. Constituem instituições brasileiras o Instituto Nacional

de Pesquisas da Amazônia (INPA) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE),

órgãos do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT); e instituições Japonesas a Tokyo

University e o Forestry and Forest Products Research Institute (FFPRI). Esse projeto tem

a Japan International Cooperation Agency (JICA) como agência de fomento, e a Empresa

Hdom Engenharia e Projetos Ambientais Ltda. como responsável técnica pela execução

operacional.

ATN é um município do Amazonas, que se localiza à margem direita do rio Javari,

nas seguintes coordenadas (sistema de projeção UTM, datum WGS84): Zona 19M, Norte

9517652, Leste 0367763, no extremo noroeste do Estado. Dista de Manaus 1.139 km em

linha reta e 1.585 km em linha fluvial. ATN faz fronteira ao Norte e a Leste com o Peru. Ao

Sul, Guajará, Ipixuna e o estado do Acre. A Oeste, Benjamin Constant.

Possui 15.153 habitantes, sendo 45,5% na zona urbana e 54,5% na zona rural

(IBGE/2010). A densidade demográfica é de 0,2 hab./km2. Existem 65 comunidades

rurais, com uma população de 5.794 pessoas, sendo 14 comunidades não-indígenas e 51

indígenas. Na cidade vivem também imigrantes peruanos e colombianos.

O município possui 01 área demarcada como Terra Indígena (TIs), a TI Vale do

Javari, que abrange boa parte do território de ATN. Existe ainda a área indígena do

Lameirão, que não foi reconhecida como TI. Na TI Vale do Javari vivem indígenas de 05

etnias: Kanamari, Kulina, Matis, Matsé (Mayoruna), Marubo. Existem ainda etnias de

índios isolados, como os Korubo, já reconhecidos pelos técnicos da FUNAI (Fundação

Nacional do Índio).

No que diz respeito aos sistemas de serviços urbanos, ATN é um município com

muitas dificuldades. A rede de fornecimento de água beneficia apenas 37,9% da

população urbana (IBGE/2000). A captação da água é feita no rio Javari.

Não há rede e nem tratamento de esgoto. O lixo é coletado e despejado em um lixão nas

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proximidades da cidade. Não há coleta seletiva, nem programas de reciclagem.

Boa parte da energia vem do município de Benjamin Constant e chega apenas para

moradores da zona urbana, enquanto na zona rural o fornecimento é por geradores a

diesel em cada comunidade. Na área de comunicação, não existem jornais que circulem

no município. Há apenas a produção de um informativo de alcance local.

Não há rádio local e um acesso precário à internet. Existe telefonia convencional e

apenas uma operadora de celular disponível à população, que recentemente instalou uma

antena local. A população conta apenas com uma agência do Banco Bradesco, uma Casa

Lotérica e um caixa de autoatendimento do Banco do Brasil.

Segundo Ipeadata (2008), o PIB municipal foi de R$ 56.450,42 (48º do Amazonas)

e sua composição foi de 11,9% no setor primário (agropecuária), 9,7% no setor

secundário (indústria) e 76,4% no setor terciário (comércio e serviços), além de 2,0% de

impostos sobre produtos. Pelo Censo Agropecuário/2006 a respeito da estrutura fundiária,

foram encontrados 886 estabelecimentos agropecuários distribuídos em 11.583 hectares.

Mais da metade dos estabelecimentos agropecuários cadastrados possuíam menos de 10

ha (58,19%) e apenas 0,19% acima de 500 ha. Existiam ainda 140 produtores sem área.

De acordo com dados do IBGE (2009) a respeito do setor primário de produção

(agropecuária), da lavoura temporária destaca-se a produção de mandioca (67%) e cana-

de-açúcar (18%), enquanto que da lavoura permanente a banana é o único produto

cultivado. Há criação de vários tipos de rebanho, principalmente aves (galos e galinhas),

bem como os subprodutos dessa criação, mas essa produção é domestica.

O setor industrial conta apenas com pequenas unidades, destacando-se apenas

algumas padarias, marcenarias e a existência de 02 pequenas serrarias. Segundo dados

do IBGE (2009) sobre o setor secundário, na atividade de extrativismo vegetal houve

destaque para a madeira em tora (95,8%), a lenha (3,5%) e o babaçu (0,6%) para

produção de carvão vegetal. Apesar dessa pressão sobre esses recursos florestais, ATN

pode ser considerado ainda um município com grande cobertura florestal nativa. Segundo

dados do INPE (2009), da área total de 80.044 Km2 do município, 88% continua como

área de floresta, não sendo encontrada área onde tenha sido monitorado algum indicio de

desmatamento.

Na presente pesquisa de campo constatou-se a presença de apenas 02 serrarias.

Isso porque as políticas de proteção ao meio ambiente do IBAMA de Tabatinga para a

região não permitem a derrubada de árvores sem licenças. Estas não são concedidas

facilmente e passam por processos burocráticos demorados, o que desestimulou o corte

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legal de madeira. Na pesquisa de campo visitou-se as únicas duas serrarias restantes na

cidade, que executam exatamente o mesmo serviço: beneficiamento de madeira. A

dificuldade encontrada por ambas é a rígida legislação brasileira e os altos gastos para

obtenção de licenças, o que impede o avanço das empresas legais e estimula o corte

ilegal. Pela legislação peruana ser mais ágil, prefere-se comprar a madeira vinda do país

vizinho. Reclama-se que as leis brasileiras são feitas segundo padrões do Sul do país e

que não se aplicam adequadamente ao caso dos municípios do Norte, como Atalaia do

Norte, em que a população fica impedida de poder gerar renda com um recurso natural

abundante na região.

O setor terciário representa 76,4% do PIB (em 2008), sendo encontrados alguns

hotéis, pousadas e estabelecimentos comerciais. Muitos dos produtos comercializados

vêm do Peru e da Colômbia, pois não há controle aduaneiro em ATN, apenas

fiscalizações esporádicas da Polícia Federal. Não há controle municipal para emissão de

nota fiscal, e por essa razão a arrecadação de impostos deste setor é incipiente.

Existem poucas associações da sociedade civil em ATN e não há cadastros formais

de organizações do Terceiro Setor, o que inviabiliza saber quantas ONGs atuam no

município, suas áreas de atuação, movimentação financeira e números de cidadãos

envolvidos. O poder público não tem dados das ONGs que desenvolvem atividades na TI

Vale do Javari.

Como nos demais municípios Amazonenses, o esporte, particularmente o futebol, é

uma atividade de agregação da população. No município há um ginásio poliesportivo e

pelo menos duas quadras públicas. Os jogos esportivos realizados anualmente são

campeonatos de futebol entre times locais de jovens e adultos. O lazer maior ainda se

concentra nessas atividades futebolísticas, pois há poucas opções de turismo na cidade.

Afora o futebol, a população costuma se divertir nos chamados “banhos” de igarapés e as

muitas festas do calendário anual local. Um dos entraves para a realização de grandes

eventos é a falta de uma maior estrutura hoteleira para receber visitantes e turistas, bem

como da longa distância necessária para chegar até a cidade.

A administração do município é feita por uma prefeita em primeiro mandato,

assessorias diretas, a defesa civil e suas 08 secretarias (Administração e Finanças;

Obras; Transportes; Produção e Abastecimento; Ação Social; Educação; Saúde; Assuntos

Indígenas). Há também um batalhão da Polícia Militar, guardas de fiscalização municipal,

uma Delegacia de Polícia Civil, IDAM (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do

Estado do Amazonas), FUNAI, SESAI (Secretaria Especial de Saúde Indígena) e FVS

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(Fundação de Vigilância e Saúde).

Segundo informações dadas pelos assessores, ATN enfrenta o problema de falta

de arrecadação por impostos municipais, restando apenas os recursos repassados pelo

governo federal. O município enfrenta dificuldades de distâncias e logística, pois tudo

chega de barco ou pela rodovia BR-307 e há demora na entrega de produtos, altos custos

de transportes e falta de opções. Pela proximidade com outros países da América do Sul,

o comércio local é abastecido por itens peruanos e colombianos, os quais entram nessa

cadeia de comércio de forma irregular, sem pagar impostos. A falta de fiscalização

aduaneira favorece essa atividade. A mão de obra especializada no município é baixa.

Faltam profissionais de diversas áreas, especialmente da Saúde e Educação. Entre a

população, as comunidades rurais indígenas e não-indígenas são as mais carentes de

incentivo à produção e de acesso a bens e serviços sociais.

Acredita-se que esta situação pode e tem condições de ser transformada sem

grandes custos. Sugere-se ao poder público local a criação de um fórum local de

desenvolvimento sustentável e de uma secretaria voltada às comunidades ribeirinhas.

A realização de um censo das organizações do Terceiro Setor, para conhecimentos das

ONGs e outras entidades atuantes no município, traria maior visibilidade dessas ações,

tanto para controle quanto para parcerias com o poder público. Por sua vez, é importante

que os governantes locais estimulem o associativismo e cooperativismo, a fim de

possibilitar geração de renda, melhoria na qualidade de vida, fortalecimento do Capital

Social e da sociedade civil.

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Sumário

Resumo Executivo ---------------------------------------------------------------------------------------------- 2

Sumário ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 6

Lista de Figuras -------------------------------------------------------------------------------------------------- 8

Lista de Mapas --------------------------------------------------------------------------------------------------- 9

Lista de Gráficos ------------------------------------------------------------------------------------------------ 9

Lista de Tabelas ----------------------------------------------------------------------------------------------- 10

Metodologia ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 11

Localização e características gerais --------------------------------------------------------------------- 14

Histórico do Município --------------------------------------------------------------------------------------- 18

Acesso ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- 20

Rodovias -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 20 Aeroporto ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 22 Hidrovias -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 23

Dados Demográficos ----------------------------------------------------------------------------------------- 24

Etnias Indígenas ----------------------------------------------------------------------------------------------- 31

Terras Indígenas em Atalaia do Norte ------------------------------------------------------------------------- 32 FUNAI – Fundação Nacional do Índio ------------------------------------------------------------------------- 35 CASAI – Casa de Saúde do Índio de Atalaia do Norte ---------------------------------------------------- 36 Associações Indígenas -------------------------------------------------------------------------------------------- 39

Infraestrutura municipal -------------------------------------------------------------------------------------- 42

Saneamento Básico ------------------------------------------------------------------------------------------------ 42 Energia ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 46 Comunicação -------------------------------------------------------------------------------------------------------- 47 Rede Bancária ------------------------------------------------------------------------------------------------------- 49

Economia -------------------------------------------------------------------------------------------------------- 50

Setor primário – Agropecuária ----------------------------------------------------------------------------------- 51 Setor Secundário – Indústrias ----------------------------------------------------------------------------------- 55 Setor Terciário – Comércio e Serviços ------------------------------------------------------------------------ 57

Vida Social ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 58

Desporto -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 58 Turismo e Lazer ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 59 Festas locais --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 61

Associações e Cooperativa -------------------------------------------------------------------------------- 64

Organizações do Terceiro Setor -------------------------------------------------------------------------- 65

Poder Público -------------------------------------------------------------------------------------------------- 66

SEMAF – Secretaria de Administração e Finanças -------------------------------------------------------- 67 SEMOSB – Secretaria Municipal de Obras ------------------------------------------------------------------- 67 SEMT – Secretaria Municipal de Transportes --------------------------------------------------------------- 68 SEMPRO – Secretaria Municipal de Produção e Abastecimento IDAM – Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Estado do Amazonas ------------------------------------------------ 70 SEMAS – Secretaria Municipal de Ação Social ------------------------------------------------------------- 73 COMDEC – Coordenadoria Municipal de Defesa Civil ---------------------------------------------------- 77 SEMED – Secretaria Municipal de Educação ---------------------------------------------------------------- 77 SEMSA – Secretaria de Saúde ---------------------------------------------------------------------------------- 81 SEMAI – Secretaria Municipal de Assuntos Indígenas ---------------------------------------------------- 85

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Segurança Pública ------------------------------------------------------------------------------------------------- 86

Sugestões ao Município ------------------------------------------------------------------------------------- 88

Fórum municipal de Desenvolvimento Sustentável --------------------------------------------------------- 88 Criação de secretaria voltada às comunidades rurais ----------------------------------------------------- 89 Criação de Secretaria Municipal do Meio Ambiente -------------------------------------------------------- 90 Censo das organizações do Terceiro Setor ------------------------------------------------------------------ 90 Do assistencialismo ao protagonismo ------------------------------------------------------------------------- 91 Educação Ambiental para proteção das florestas ----------------------------------------------------------- 92

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Lista de Figuras

Figura 1: Equipe de pesquisadores em campo .................................................................. 12 Figura 2: Vista do porto de Atalaia do Norte ...................................................................... 14 Figura 3: Floresta do tipo Ombrófila Densa com Dossel Emergente ................................. 15 Figura 4: Municípios do Alto Solimões ............................................................................... 16 Figura 5: Fronteira tríplice Brasil - Colômbia – Peru .......................................................... 16

Figura 6: Vila Islândia (Peru) ............................................................................................. 17

Figura 7: Países e Municípios vizinhos a Atalaia do Norte ................................................ 17 Figura 8: Rodovia BR – 307 ............................................................................................... 20

Figura 9: Projeto da Rodovia BR-307 ................................................................................ 21 Figura 10: Associação dos taxistas de ATN ....................................................................... 21 Figura 11: Moto-taxistas ..................................................................................................... 22 Figura 12: Porto fluvial interditado ..................................................................................... 23 Figura 13: Casas de madeira ............................................................................................. 28 Figura 14: Bairro alagado de Atalaia do Norte ................................................................... 29

Figura 15: SESAI – Distrito Sanitário Especial Indígena do Vale do Javari ....................... 37 Figura 16: CASAI de Atalaia do Norte ................................................................................ 38 Figura 17: Sede da UNIVAJA ............................................................................................ 40

Figura 18: Sede da AIMA ................................................................................................... 40 Figura 19: Obra melhoria de serviço de abastecimento de água ....................................... 43

Figura 20: Fossa séptica .................................................................................................... 44 Figura 21: Tipos de lixeiras domésticas ............................................................................. 45

Figura 22: Lixão de Atalaia do Norte .................................................................................. 46 Figura 23: Usina Termelétrica ............................................................................................ 46 Figura 24: Telecentro Comunitário ..................................................................................... 47 Figura 25: Telemar ............................................................................................................. 48

Figura 26: Lotérica ............................................................................................................. 49 Figura 27: Agência e Caixas eletrônicos ............................................................................ 49 Figura 28: Feria Municipal ................................................................................................. 55 Figura 29: Ginásio Átila Lins .............................................................................................. 58 Figura 30: Banho do Tampinha .......................................................................................... 59

Figura 31: Disco Show ....................................................................................................... 60 Figura 32: Hotel de Selva Paumari .................................................................................... 61

Figura 33: Praça Central .................................................................................................... 62 Figura 34: São Sebastião .................................................................................................. 62 Figura 35: Sede Municipal de Atalaia do Norte .................................................................. 66 Figura 36: Secretaria Municipal de Obras .......................................................................... 68 Figura 37: Rua recém inaugurada ..................................................................................... 69

Figura 38: Secretaria de Produção .................................................................................... 70 Figura 39: Ações do IDAM ................................................................................................. 71 Figura 40: Ações do IDAM com indígenas ......................................................................... 72 Figura 41: Secretaria Municipal de Assistência Social ....................................................... 73 Figura 42: CRAS ................................................................................................................ 75 Figura 43: Secretaria Municipal de Educação ................................................................... 78

9

Figura 44: Escola Estadual de Atalaia do Norte ................................................................. 78 Figura 45: Secretaria Municipal de Saúde ......................................................................... 81

Figura 46: Posto de Saúde ................................................................................................ 82 Figura 47: Hospital de Atalaia do Norte ............................................................................. 82 Figura 48: DP de Atalaia do Norte ..................................................................................... 86

Lista de Mapas

Mapa 1: Localização Atalaia do Norte no estado do Amazonas ---------------------------------- 15 Mapa 2: Área urbana de Atalaia do Norte -------------------------------------------------------------- 24 Mapa 3: Terras Indígenas de Atalaia do Norte -------------------------------------------------------- 33 Mapa 4: Localização das tribos indígenas do Vale do Javari ------------------------------------- 34

Lista de Gráficos

Gráfico 1: Percentual de habitantes em Atalaia do Norte e Manaus por situação (urbana/rural) - 2000-2010 ---------------------------------------------------------------------------------- 25

Gráfico 2: Habitantes homens e mulheres do Município de Atalaia do Norte ----------------- 25 Gráfico 3: População residente por faixa etária ------------------------------------------------------- 26

Gráfico 4: Número e Área dos Estabelecimentos Agropecuários -------------------------------- 53 Gráfico 5: Percentual do Valor da Produção na Extração Vegetal ------------------------------- 56

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Lista de Tabelas

Tabela 1: Equipe de Pesquisadores .................................................................................. 12 Tabela 2: Coordenadas GPS Benjamin Constant .............................................................. 14

Tabela 3: Distância entre Atalaia do Norte e Manaus ........................................................ 20 Tabela 4: Transporte terrestre rodoviário entre Atalaia do Norte e Benjamin Constant...... 22 Tabela 5: Dados demográficos de Atalaia do Norte ........................................................... 24 Tabela 6: IDH e esperança de vida – 2000 ........................................................................ 26 Tabela 7: Situação do Domicílio – 2010 ............................................................................. 27

Tabela 8: Domicílios Particulares Ocupados por Situação – 2010 ..................................... 27 Tabela 9: Número de comunidades rurais (indígenas e não-indígenas) ............................ 29 Tabela 10: Comunidades rurais por rio, nº de famílias e população .................................. 30

Tabela 11: Dados da TI Vale do Javari ............................................................................... 33 Tabela 12: Etnias existentes no Município de Atalaia do Norte .......................................... 35 Tabela 13: Localização dos pólos base ............................................................................. 39 Tabela 14: Quadro de funcionários por polo base ............................................................. 39

Tabela 15: Associações indígenas de Atalaia do Norte...................................................... 40 Tabela 16: Forma de abastecimento de água .................................................................... 42

Tabela 17: Tipo de esgotamento sanitário ......................................................................... 43 Tabela 18: Destino do Lixo ................................................................................................. 44 Tabela 19: Composição do PIB por setor de atividade - R$ - (valor adicionado - preços básicos) ............................................................................................................................. 50

Tabela 20: Classificação das Atividades Econômicas (CNAE) .......................................... 51 Tabela 21: Número e Área de Estabelecimentos Agropecuários por Condição legal das terras.................................................................................................................................. 51

Tabela 22: Número dos estabelecimentos agropecuários por grupos de área total........... 52 Tabela 23: Valor da Produção da Lavoura temporária ....................................................... 53

Tabela 24: Produção de Origem Animal – 2009 ................................................................. 54 Tabela 25: Nº de cabeças por rebanho – 2009 .................................................................. 54

Tabela 26: Percentual de Área Desflorestada – 2009 ........................................................ 57 Tabela 27: Nome das escolas, com endereço, da zona urbana. ....................................... 78 Tabela 28: Nome das escolas, com endereço, da zona rural. ........................................... 79 Tabela 29: Índice Parasitário de Malária ............................................................................ 83 Tabela 30: Nº de pessoas atendidas pelo PSF - Dez/2010 ............................................... 84

Tabela 31: Programas Preventivos da SEMSA .................................................................. 84

Tabela 32: Nº de escolas indígenas, professores indígenas formados e em formação ..... 86

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Metodologia

Este diagnóstico socioambiental faz parte do projeto “Dinâmica do Carbono da

Floresta Amazônica (CADAF)”, realizado graças à parceria entre Brasil e Japão desde

2009. Constituem instituições brasileiras o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia

(INPA) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), órgãos do Ministério da

Ciência e Tecnologia (MCT); e instituições Japonesas a Tokyo University e o Forestry and

Forest Products Research Institute (FFPRI). Esse projeto tem a Japan International

Cooperation Agency (JICA) como agência de fomento, e a Empresa Hdom Engenharia e

Projetos Ambientais Ltda. como responsável técnica pela execução operacional.

O objetivo do projeto CADAF é realizar levantamento dos estoques de carbono em

distintas áreas estratégicas do estado do Amazonas, para mapeamento de sua dinâmica

na floresta e sistematização de informações que venham favorecer futuros acordos para o

REDD Plus – Redução de Emissões pelo Desmatamento e Degradação Florestal em

países em desenvolvimento envolvendo os povos e comunidades tradicionais.

Por outro lado, o objetivo deste diagnóstico socioambiental é trazer informações gerais a

respeito do município visitado, para servir de base a futuras ações, intervenções e

projetos visando melhorias no âmbito psicossocial e ambiental às pessoas que nele

vivem.

Para a realização deste diagnóstico foi adotado referencial da Pesquisa Social

(Minayo, 2007)1, dentro do qual se fez um estudo exploratório por meio dos seguintes

formas: análise documental, visitas institucionais, registro fotográfico e entrevistas

semiestruturadas (perguntas abertas e fechadas).

A equipe de pesquisadores do INPA, responsável pela condução deste diagnóstico

socioambiental, contou com cinco participantes (Tabela 1), sendo três deles envolvidos

diretamente nas pesquisas de campo (Figura 1).

1 MINAYO, M. C. S. (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 26ª Ed. Petrópolis: Vozes, 2007.

12

Tabela 1: Equipe de Pesquisadores Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

Figura 1: Equipe de pesquisadores em campo Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

O procedimento da pesquisa seguiu as seguintes etapas:

1) Preparação preliminar. Nesta fase foi realizado o planejamento da viagem, as

reuniões temáticas com a equipe de pesquisadores, as análises de documentos, as

pesquisas bibliográficas e por internet, os contatos com a prefeitura e órgãos

competentes, a elaboração dos instrumentos de pesquisa e o treinamento técnico da

equipe.

Equipe de Pesquisadores

Maria Inês Gasparetto Higuchi, Dra, Pesquisadora.

Marcelo Gustavo Aguilar Calegare, Dr, Pesquisador (equipe de campo).

Maria Letícia Simão Graciosa Porto, Auxiliar de Pesquisa.

Marian Braga Dias Florêncio Lima, Auxiliar de Pesquisa (equipe de campo).

Rafaela Machado Feitosa, Auxiliar de Pesquisa (equipe de campo).

13

2) Ida a campo. O período de visita a Benjamin Constant foi entre os dias 04 e 23

de Maio de 2011. O primeiro passo foi estabelecer contato com a pessoa responsável na

sede municipal. Feita a rememoração dos objetivos da pesquisa e apresentação do plano

de trabalho, procedeu-se o levantamento das secretarias municipais, órgãos federais e

estaduais presentes em Benjamin Constant, bem como de documentos disponíveis para

consulta. O segundo passo foi as visitas a esses locais, onde se aplicou o formulário

semi-estruturados aos respectivos responsáveis, coletaram-se documentos e procedeu-se

registro fotográfico. O terceiro passo foi as visitas a duas comunidades rurais não-

indígenas, localizadas no rio Itacoaí, onde se realizou levantamento da infraestrutura

comunitárias e coletaram-se alguns dados socioambientais. Por fim, encerrou-se a

pesquisa em campo em reunião de agradecimento com os responsáveis do poder público

municipal.

3) Análise dos dados. As informações obtidas pelos instrumentos de pesquisa

foram reunidas em um banco de dados e sistematizadas, analisadas e redigidas em

relatório técnico para a agencia de fomento e respectivos interessados, inclusive órgãos

governamentais de Atalaia do Norte.

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Localização e características gerais

Atalaia do Norte (Figura 2) está situada à margem direita do rio Javari e, conforme

dados de GPS (sistema de projeção UTM, datum WGS84), suas coordenadas são as

descritas na Tabela 2

Zona 19 M

Norte 9517652

Leste 0367763

Tabela 2: Coordenadas GPS Benjamin Constant

Figura 2: Vista do porto de Atalaia do Norte Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

15

Localiza-se a 76m do nível do mar, em relevo plano com suaves ondulações.

Ocupa um território de 76.532 km2, o que corresponde a 4,87% da área total do estado do

Amazonas (Mapa 1).

Mapa 1: Localização Atalaia do Norte no estado do Amazonas Fonte: Carlos Celes – SIGLAB / INPA - 2011

O solo é argiloso, arenoso, sumoso e com regiões aluviais. Na região da bacia do

Alto Solimões, cujos rios de município de Atalaia do Norte fazem parte, o bioma é

composto por florestas dos tipos Ombrófilas Densas com Dossel Emergente (Figura 3),

abrigando terras baixas e aluviares, sinalizando fertilidade e vocação natural para o uso

agroflorestal e da biodiversidade dessas áreas.

Figura 3: Floresta do tipo Ombrófila Densa com Dossel Emergente

Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

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O município faz parte da Mesorregião do Sudoeste Amazonense e da Microrregião

do Alto Solimões. Os municípios que compõem essa microrregião são: Amaturá, Atalaia

do Norte, Benjamin Constant, Fonte Boa, Jutaí, Santo Antônio do Içá, São Paulo de

Olivença, Tabatinga e Tonantins (Figura 4).

Figura 4: Municípios do Alto Solimões Fonte: Carlos Celes – SIGLAB / INPA - 2011

Atalaia do Norte faz fronteira direta com o Peru e está nas proximidades dos limites

nacionais com a Colômbia (Figura 5).

Figura 5: Fronteira tríplice Brasil - Colômbia – Peru Fonte: Carlos Celes – SIGLAB / INPA - 2011

17

Diante do porto fluvial da cidade é possível observar algumas casas em território

peruano, apesar de não haverem cidades próximas (Figura 6).

Os municípios e países vizinhos que fazem fronteira a ATN são: ao Norte e Leste

está o Peru. Ao Sul, os municípios de Guajará e Ipixuna, além do estado do Acre. A

Oeste, o município de Benjamin Constant (Figura 7).

Figura 6: Vila Islândia (Peru) Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

Figura 7: Países e Municípios vizinhos a Atalaia do Norte Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

Acre / Guajará / Ipixuna

Peru Benjamin Constant

Peru

S

L

N

O

18

Histórico do Município2

O município de Atalaia do Norte era habitado pelos índios Mangeronas, Tikunas,

Marubos e Maias. Atualmente ainda há remanescentes dos Marubos e Maias vivendo

naquela área. Os Maias conservam-se ainda arredios à civilização. A região do Javari foi

das últimas a ser explorada, por ser esta área habitada pelos Korubos, tidos como

arredios e selvagens pela população atalaiense, e também devido às doenças endêmicas

que ali se alastravam como a malária, dengue, leishmaniose, entre outras.

Entre os anos 1864 e 1874, ocorreram confrontos na região entre os silvícolas e o

pessoal das comissões mistas brasileiras-peruanas, encarregadas das demarcações de

fronteiras. O município é proveniente de uma cabana à beira do Rio Itacoai, quando um

pequeno povoado recebe o nome de Remate de Males. O mais antigo núcleo de

povoamento Remate de Males, que, aliás, foi durante vários anos, de 1898 a 1901 e de

1904 a 1928, sede do município de Benjamim Constant. Não se sabem precisamente a

data de sua fundação.

Entretanto, Anísio Jobim, em “Panoramas Amazônicos”, informa que o povoado se

originou de uma cabana à margem de Itacoai, onde habitava o filho de um oficial superior

brasileiro, e que a denominação de Remate de Males foi dada em 1890, pelo maranhense

Alfredo Raimundo de Oliveira Bastos, que encontrou neste local relativo bem-estar,

resolvendo fixar-se como um remate aos seus males. Assentou então na fachada de seu

barracão o letreiro “Remate de Males”, cuja designação se estendeu a todo lugar.

A 01 de Dezembro de 1.938, pela Lei Estadual nº 176, é criado o distrito de Remate

de Males, cujo território é o mesmo do município de Atalaia do Norte. Em 1943, é fundado

no seringal Cametá o povoado de Atalaia do Norte, cujo ato contou com a presença do

interventor federal no Estado, o Dr. Álvaro Maia.

A Lei Estadual nº 96, de 19 de dezembro de 1955, criou o município de Atalaia do

Norte, desmembrado de Benjamim Constant e constituído pelo distrito do mesmo nome

(antigo distrito de Remate de Males), elevado então à categoria de cidade com a

denominação de Atalaia do Norte. A 23 de Fevereiro de 1.956, ocorreu a instalação do

2 http://www.ferias.tur.br/informacoes/198/atalaia-do-norte-am.html

19

município, sendo seu primeiro prefeito nomeado pelo governador do estado, o senhor

Theóphilo Casimiro Brasil. A 04 de Junho de 1.968, pela Lei Federal nº 5.449, o município

é enquadrado como “Área de Segurança Nacional”.

A denominação de Atalaia justifica-se por ser a localidade em apreço “o mais

extremo núcleo do Oeste, a guarita da marcha para o Oeste”, no dizer de Álvaro Maia, em

discurso proferido em Remate de Males em 1943.

20

Acesso

Conforme dados coletados por GPS, as distâncias de Atalaia do Norte em relação

a Manaus encontram-se na Tabela 3. Para chegar-se à cidade, há algumas alternativas

possíveis de acesso: rodovia e hidrovia.

Distância de Atalaia do Norte - Manaus

Linha reta 1.139 km

Linha fluvial 1.585 km

Tabela 3: Distância entre Atalaia do Norte e Manaus

Rodovias

A rodovia BR-307 que liga Atalaia do Norte e Benjamin Constant, com extensão de

26 km foi asfaltada há menos de 4 anos (Figura 8).

Figura 8: Rodovia BR – 307 Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

21

Inicialmente tal rodovia fazia parte de um projeto de ligação rodoviária entre o

estado do Acre e do Amazonas, passando pelas cidades de Marechal Taumaturgo,

Cruzeiro do Sul, Atalaia do Norte, Benjamin Constant, São Gabriel da Cachoeira e Cucuí,

mas foi abandonado e apenas esse trecho asfaltado (Figura 9).

Figura 9: Projeto da Rodovia BR-307 Fonte: Ministério dos Transportes – 2011

Os transportes terrestres disponíveis à população para locomoção se dão

unicamente até Benjamin Constant. Os meios utilizados são a “Kombi” (lotação de van), o

taxi (Figura 10) e o moto-taxi (Figura 11) pertencente às respectivas associações, ou por

veículos próprios.

Figura 10: Associação dos taxistas de ATN Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

22

A frequência, preço e números de passageiros estão discriminados na Tabela 4. A

duração da viagem varia entre 20-30 minutos, dependendo das condições climáticas. A

prefeitura municipal possui uma secretaria de transportes, que disponibiliza condução

gratuita aos universitários que estudam em Benjamin Constant. No entanto, no momento

da pesquisa os veículos estavam com problemas e não trafegavam.

Transporte rodoviário de Atalaia do Norte

Tipo Frequência Preço (R$) Nº passageiros

Kombi Diariamente R$ 10,00/pessoa No mínimo 5 passageiros

Taxi Diariamente R$ 15,00/pessoa No mínimo 3 passageiros

Moto-taxi Diariamente R$ 15,00/pessoa 1 passageiro

Tabela 4: Transporte terrestre rodoviário entre Atalaia do Norte e Benjamin Constant Fonte: Prefeitura Municipal de Atalaia do Norte – 2011

Aeroporto

Disponível em Tabatinga, apenas para voos domésticos, pela companhia TRIP.

De Tabatinga toma-se taxi-fluvial até Benjamin Constant (por R$ 15,00) e de lá taxi ou

Kombi pelos preços da Tabela 4, para percorrer os 26 km da rodovia BR-307.

Figura 11: Moto-taxistas Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

23

Hidrovias

Desde que foi construída a rodovia BR-307, o transporte hidroviário pela calha do

rio Javari e Solimões entre Atalaia do Norte e Benjamin Constant deixou de ser utilizado

pelos recreios. Os passageiros que desejam viajar a outras localidades devem deslocar-

se por terra até o município vizinho e, de lá, viajarem de recreio, voadeira ou lancha.

Em função disso, o terminal fluvial da cidade (Figura 12) foi interditado por falta de

manutenção e por não apresentar condições adequadas a qualquer embarque ou

desembarque.

As mercadorias que vêm à cidade por hidrovia chegam apenas por 2 (dois) recreios

(barcos de linha) que ainda continuam a percorrer o percurso Atalaia do Norte – Benjamin

Constant, unicamente com a finalidade de comércio. O Voyage III traz mercadorias

encomendadas pelos comerciantes todos os dias 15 de cada mês, enquanto o Voyage IV

chega todos os dias 30.

Figura 12: Porto fluvial interditado Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

24

Dados Demográficos

O município de Atalaia do Norte situa-se à margem direita do rio Javari, como se

observa no Mapa 2. Nota-se que a cidade é pequena e possui poucas ruas, sendo

apenas algumas asfaltadas.

Mapa 2: Área urbana de Atalaia do Norte Fonte: Carlos Celes – SIGLAB / INPA

Segundo dados do Censo Demográfico de 2010, Atalaia do Norte possui 15.153

habitantes e uma densidade demográfica de 0,2 hab./km2. A maior parte da população

vive na zona rural, representando 54,51% do total (Tabela 5).

Município Total Urbana Rural

2000 2010 2000 2010 2000 2010

Atalaia do Norte 10.049 15.153 4.175 6.893 5.874 8.260

Manaus 1.405.835 1.802.014 1.396.768 1.792.881 9.067 9.133

Tabela 5: Dados demográficos de Atalaia do Norte Fonte: IBGE - Censo Demográfico – 2010

25

Observa-se também que em Atalaia do Norte houve um aumento da população

rural no decênio 2000-2010, que alcançou 28,9%, diferentemente do que ocorreu em

Manaus, onde o numero de habitantes na área rural não apresentou alterações

significativas neste mesmo período (Tabela 5).

Com relação à população urbana, em Manaus houve um crescimento de 396.113

habitantes, em numero absoluto, em relação a 2000, enquanto em Atalaia do Norte houve

um acréscimo de 2.718 habitantes, passando a representar 45,5% da população total do

município (Gráfico 1).

Gráfico 1: Percentual de habitantes em Atalaia do Norte e Manaus por situação (urbana/rural) - 2000-2010 Fonte: IBGE – Censo Demográfico – 2010

De maioria masculina, a população de Atalaia do Norte era composta por 7.851

homens e 7.298 mulheres, de acordo com o Censo Demográfico do ano 2010 (Gráfico 2).

Gráfico 2: Habitantes homens e mulheres do Município de Atalaia do Norte Fonte: IBGE, 2010

Com dados disponíveis apenas do ano 2000, a população do município poderia ser

26

considerada de estrutura jovem, com sua maior parte concentrada na faixa de menos 01

ano a 19 anos (59,5%). A população com mais de 65 anos correspondia a 3,35%

(Gráfico 3).

Gráfico 3: População residente por faixa etária Fonte: IBGE, 2000

De acordo com a classificação do Atlas de Desenvolvimento Humano, no ano 2000

o município de Atalaia do Norte possuía IDH de 0.559. Por esta razão, foi considerado

como de “médio desenvolvimento humano” 3, e sua esperança de vida, medida em anos,

alcançou 64,91 anos (Tabela 6).

Índice de Desenvolvimento Humano e Esperança de Vida ao Nascer - 2000

Município Índice de Desenvolvimento

Humano (IDH) Esperança de vida ao

nascer

Atalaia do Norte 0.559 64,91

Tabela 6: IDH e esperança de vida – 2000 Fonte: IPEADATA

Conforme os dados do Censo Demográfico 2010, Atalaia do Norte possuía 3.051

3 O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) varia entre 0 e 1 e classifica países, estados e municípios segundo três níveis de desenvolvimento humano: baixo desenvolvimento humano (IDH até 0,5); médio desenvolvimento humano (IDH entre 0,5 e 0,8) e alto desenvolvimento humano (IDH acima de 0,8).

27

domicílios - 2.988 domicílios particulares e 63 domicílios coletivos (Tabela 7). Dentre os

domicílios particulares, 59 foram classificados como não ocupados de uso ocasional e 37

como não ocupados vagos. Dos domicílios coletivos, 19 possuíam morador e em 44 não

havia morador.

Situação do domicílio No

Total 3.051

Particular 2.988

Particular não-ocupado de uso ocasional 59

Particular não-ocupado vago 37

Coletivo 63

Coletivo com morador 19

Coletivo sem morador 44

Tabela 7: Situação do Domicílio – 2010 Fonte: IBGE - Censo Demográfico

Dos domicílios particulares, 1.256 (43,4%) encontravam-se na área urbana (cidade

ou vila), 1.489 (51,5%) na área rural e 147 (5,1%) em povoado (rural-aglomerado) (Tabela

8).

Domicílios Particulares Ocupados por Situação Nº %

Urbana - cidade ou vila - área urbanizada 1.256 43,43

Rural - área rural (exceto aglomerado) 1.489 51,49

Rural - aglomerado - povoado 147 5,08

Total 2.892 100,0

Tabela 8: Domicílios Particulares Ocupados por Situação – 2010 Fonte: IBGE - Censo Demográfico – 2010

A cidade possui a grande maioria das casas construídas de madeira, devido à

abundância de recursos naturais da região e aos altos custos para edificar moradias de

alvenaria. Os tetos de tais casas são de zinco (Figura 13).

28

Algumas casas possuem o piso e parte da fachada de alvenaria e outras

construídas completamente com tal material. No entanto, o preço de tijolos, cimento e

outros materiais de acabamento são caros na cidade, pois todos são provenientes de

Manaus e para trazê-los há os custos de frete pelos recreios ou pela rodovia BR-307. Por

esse motivo, a população em geral prefere pagar um marceneiro para construir suas

moradias. Já os que se diferenciam por seu poder aquisitivo, edificam construções de

alvenaria.

As casas que ficam próximas da beira do rio Javari costumam ficar alagadas

durante a cheia (Figura 14), causando até o deslocamento de algumas famílias para

casas de parentes onde não acontecem as alagações. Na região, o período de enchente

vai de Dezembro a Junho, tendo seu auge em Abril. A vazante vai de Junho a Novembro,

sendo Setembro o mês de auge da estiagem.

Os níveis do rio diminuem de modo significativo e a sua beira torna-se distante

muitos metros. Isso causa o isolamento da grande maioria das comunidades rurais,

indígenas e não-indígenas. Nesse período há problemas de abastecimento na cidade,

pois os produtos provenientes dos agricultores da zona rural e dos produtos vindos de

Benjamin Constant também encontram dificuldades logísticas de transporte.

Figura 13: Casas de madeira Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

29

Pela proximidade com o Peru, há muitos imigrantes peruanos vivendo na cidade.

Não há controle governamental do trânsito dessas pessoas, que trazem mercadorias e

produtos agrícolas para venda no comércio e feira municipal.

A zona rural de Atalaia do Norte se caracteriza por ter boa parte de sua área

demarcada pela TI Vale do Javari. No entanto, há algumas comunidades rurais não-

indígenas, conforme explicita a

Tabela 9.

Comunidades rurais

Indígenas 51

Não-indígenas 14

TOTAL 65

Tabela 9: Número de comunidades rurais (indígenas e não-indígenas) Fonte: Prefeitura Municipal de Atalaia do Norte – 2011

As comunidades rurais estão todas localizadas nos seguintes rios: Javari, Curuça,

Itacoaí e Ituí. A defesa civil e a secretaria de assistência social possuem a lista de 2010

das comunidades rurais, com número de família e total da população (Tabela 10).

Tal informação não conta com as estimativas das tribos indígenas isoladas.

Figura 14: Bairro alagado de Atalaia do Norte Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

30

Comunidade Famílias População

Rio Javari

01 São João 17 102

2 São Pedro do Norte 12 72

03 Paumari 32 160

04 São Joaquim 05 40

05 Pirapitinga 22 108

06 Jaburu 15 73

07 Açaizal 14 88

08 Campinas 08 53

09 Irari 13 84

10 Três José 23 118

11 Socomaia (*) 05 27

12 Santo Euzébio (*) 05 22

13 São Luiz 21 107

14 Caixias (*) 15 203

15 4º PEF Estirão do Equador 84 504

16 1º PEF Palmeira do Javari 73 438

17 Cruzeirinho 16 92

18 Soles 08 61

19 Trinta e um (31) 41 280

20 Lobo 30 278

TOTAL 459 2.514

Rio Curuça

21 Flores 16 82

22 Maia 09 54

23 Pedro Lopes 08 45

24 Fruta Pão 12 73

25 Terrinha 06 35

26 Nova Esperança 34 184

27 São Salvador 07 29

28 Volta Grande 14 84

29 São Sebastião 22 101

30 Morada Nova 06 28

31 Mate Keyawaya 07 38

32 Maronal 48 232

33 Jaburu 09 32

34 Cachoeira 10 29

35 Vicente 08 48

TOTAL 216 1.094

Comunidade Famílias População

Rio Itacoai

36 Santa Cruz 17 70

37 Cachoeira 14 84

38 São Gabriel 15 96

39 São Rafael 17 102

40 Ladário 11 66

41 Bananeira 26 114

42 Remancinho 29 122

43 Estiãro do Pedra 10 60

44 Siberinho 04 13

45 Arara 12 72

46 Panema 14 84

47 Maçapé 32 148

48 Alzira 09 54

49 Estirão do Cumaru 13 78

TOTAL 236 1.163

Rio Ituí

50 Beija-flor 35 141

51 Aurélio 31 171

52 Rio Novo 13 61

53 Boa Vista 13 81

54 Pentiaquinho 13 54

55 Márcio Lima 03 13

56 Alegria 17 87

57 Praia 08 27

58 Vida Nova 16 84

59 Carneiro 07 25

60 Liberdade 10 35

61 Nazaré 05 17

62 Maloca do Paulinho 11 42

63 Paraná 25 132

64 Água Branca 07 30

65 Capivanaua 07 23

TOTAL 221 1.023

TOTAL GERAL 1.132 5.794

Legenda

Kulina

Kanamari

Marubo

Matis

Matsé (Mayoruna)

(*) Comunidades indígenas não identificadas neste estudo

Tabela 10: Comunidades rurais por rio, nº de famílias e população Fonte: Prefeitura Municipal de Atalaia do Norte – 2010

31

Etnias Indígenas

No início do século XVI, momento da conquista do atual território brasileiro pelos

portugueses, a população indígena era estimada em cerca de 5 (cinco) milhões de

pessoas. Esse número era comparável ao de habitantes da Europa na mesma época. Os

povos indígenas foram sendo dizimados pela imposição da colonização portuguesa e

cristianização, que trouxeram escravidão, trabalho forçado, maus tratos, confinamento e

sedentarismo compulsórios em aldeamentos e internatos. Além disso, as epidemias de

doenças infecciosas foram as grandes responsáveis pela dizimação dos povos

originários. Como consequência dessas ações, assistiu-se à perda da autoestima,

desestruturação social, econômica e dos valores coletivos, tal qual o uso da própria

língua, cujo uso chegava a ser punido com a morte (RIBEIRO, 1995)4.

Até hoje há situações regionais de conflito, em que se expõe toda a trama de

interesses econômicos e sociais que configuram as relações entre os povos indígenas e

demais segmentos da sociedade nacional. O conflito principal refere-se à posse da terra,

exploração de recursos naturais e implantação de grandes projetos de desenvolvimento,

que nem sempre são interesses convergentes.

Cada um destes povos tem sua própria maneira de entender e se organizar diante

do mundo, que se manifesta nas suas diferentes formas de organização social, política,

econômica e de relação com o meio ambiente e ocupação de seu território. Por isso são

consideradas como nações indígenas e atualmente busca-se preservar esse patrimônio

de diversidade sociocultural.

As distintas etnias diferem entre si também no que diz respeito à antiguidade e

experiência histórica na relação com as frentes de colonização e expansão da sociedade

nacional. Existem grupos com mais de três séculos de contato intermitente ou

permanente, principalmente nas regiões litorâneas e do Baixo Amazonas, até grupos com

menos de dez anos de contato, como é o caso dos povos que habitam dentro dos limites

4 RIBEIRO, D. O Povo Brasileiro: evolução e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

32

municipais de Atalaia do Norte. Segundo dados da FUNAI (2011)5, há 77 referências de

grupos indígenas não-contatados no Brasil, das quais 30 foram confirmadas, e que esse

órgão governamental vem desenvolvendo algum tipo de trabalho de reconhecimento e

regularização fundiária.

Os povos indígenas estão presentes em todos os estados brasileiros, exceto no

Piauí e Rio Grande do Norte. Segundo dados do Censo 2010, atualmente vivem no Brasil

mais de 800 mil índios, cerca de 0,4% da população brasileira. Eles estão distribuídos

entre 683 Terras Indígenas e algumas áreas urbanas (FUNAI, 2011). Existem ainda

grupos que estão requerendo o reconhecimento de sua condição indígena junto ao órgão

federal indigenista.

Uma parcela dos indígenas vive em áreas urbanas, geralmente em periferias. Em

relação à morbidade, verifica-se uma alta incidência de infecções respiratórias e

gastrointestinais agudas, malária, tuberculose, doenças sexualmente transmissíveis,

desnutrição e doenças prevenidas por vacinas. Essa situação evidencia um quadro

sanitário caracterizado pela alta ocorrência de agravos, que poderiam ser

significativamente reduzidas com o estabelecimento de ações sistemáticas e continuadas

de atenção básica à saúde no interior das áreas indígenas.

Em algumas regiões, onde a população indígena tem um relacionamento mais

estreito com a população regional, nota-se o aparecimento de novos problemas de saúde

relacionados às mudanças introduzidas no seu modo de vida e, especialmente, na

alimentação: a hipertensão arterial, o diabetes, o câncer, o alcoolismo, a depressão e o

suicídio são problemas cada vez mais frequentes em diversas comunidades.

Terras Indígenas em Atalaia do Norte

A área municipal de Atalaia do Norte conta com a presença de 1(uma) Terra

Indígena (TI), a TI Vale do Javari, que ocupa boa parte do seu território (Mapa 3). Também

está presente a área indígena do Lameirão, que até o momento ainda não estava

reconhecida como TI por decreto governamental.

5 http://www.funai.gov.br/

33

Mapa 3: Terras Indígenas de Atalaia do Norte Fonte: Carlos Celes – SIGLAB / INPA – 2011

De acordo com o ISA (2011)6, na TI Vale do Javari existem 07 etnias

predominantes. O nome de cada uma delas, a situação jurídica da terra com data de

publicação, população e outros dados estão descritos na Tabela 11.

TI Vale do Javari

Etnias Matis, Matsé (Mayoruna), Kanamarí, Korubo (*), Kulina, Marubo, Isolados do Alto Jutaí, Isolados do Jandiatuba, Isolados do Quixito, Isolados do São José.

Categoria TI

Situação Jurídica Atual HOMOLOGADA. REG CRI E SPU. (30/04/2001)

Documento Decreto s/n

Data de publicação 02/05/2001

Administração regional da Funai Vale do Juruá e Javari (AC)

DSEI - Funasa Vale do Javari (AM)

Extensão da área (ha) 8.544.480

População 3.759 (2009). Fonte: CONDISI Javari

Localiza-se na faixa de fronteira? Sim

Presença de isolados? Sim

Municípios Atalaia do Norte, Jutaí, Benjamin Constant, São Paulo de Olivença

(*) Índios Isolados

Tabela 11: Dados da TI Vale do Javari Fonte: Instituto Sócio Ambiental – 2011

6 http://pib.institutosocioambiental.org

34

Na TI do Vale do Javari há regiões onde ainda encontram-se índios isolados. Uma

das etnias é a dos Korubo, conhecidos na região como os índios “caceteiros”. Essa

denominação é decorrente do contato de um grupo dissidente (com 27 indivíduos) dessa

sociedade com os brancos, que não foi amistoso. Relata-se que tais indígenas usavam

um cacete para matar aqueles indivíduos que porventura se opunham a seus pedidos.

Por essa razão, são temidos por toda a população atalaiense, que conta histórias de

assassinatos e terror. O grupo maior, que continua isolado, está sob a tutela da FUNAI e

não há contato com eles. Há outros grupos que mantém a plena autonomia da cidade e

até mesmo dos técnicos da FUNAI e, por isso, não se conhece o nome de suas etnias.

Estima-se que a população total de todos os índios isolados seja entre 1.500 e 4.000

indivíduos.

A localização das tribos indígenas da TI Vale do Javari por rios, com as respectivas

etnias e distâncias, pode ser vista no Mapa 4, fornecido pela FUNAI de Atalaia do Norte,

elaborado em 2007.

Mapa 4: Localização das tribos indígenas do Vale do Javari Fonte: FUNAI – Atalaia do Norte – 2007

35

FUNAI – Fundação Nacional do Índio

Responsável: Heródoto Jean Sales

Contato: (97) 3417-1185

Ações. Há um prédio da FUNAI em Atalaia do Norte, que possui especialistas e monitores

com ampla e reconhecida experiência de proteção ao território dos povos indígenas

contatados e isolados. Tais técnicos vêm realizando trabalho com as 06 principais etnias

presentes no município, com vista à preservação dos hábitos e costumes indígenas. O

número estimado de indivíduos de cada etnia pode ser observado na Tabela 12.

Etnia Número de índios (*) Contatos com a FUNAI

Kanamarí 992 Sim

Kulina 134 Sim

Matis 394 Sim

Matsé (Mayoruna) - Sim

Marubo 1.684 Sim

Korubo 27 Sim

(*) Apenas os que entram em contato com a FUNAI

Tabela 12: Etnias existentes no Município de Atalaia do Norte Fonte: FUNAI – Atalaia do Norte – 2007

Existem 02 aldeias de índios Marubo localizadas na estrada BR-307. Uma das

ações da FUNAI é zelar para que as aldeias não sejam abertas para visitação,

acreditando-se desta forma que seja um meio eficaz de se preservar os valores e

costumes das 14 famílias que nelas vivem. Nas aldeias localizadas na zona rural, um

membro de cada etnia (e de cada comunidade) foi capacitado para informar tudo o que se

passa nessas localidades.

Pelo fato dos membros das distintas aldeias produzirem artesanatos, está em

andamento projeto de construção de uma feira em que cada etnia colocará seus produtos

para a exposição e venda. Tal iniciativa está sendo viabilizada graças a uma parceria com

a Secretaria Municipal de Produção.

Outra ação do órgão indigenista federal é cuidar para que os jovens indígenas, que

vêm residir na cidade e que não querem voltar às aldeias, possam ter sua documentação

expedida e, com isso, se matricular nas escolas indígenas, tendo como objetivo incentivar

a educação e oferecer novas possibilidades para o futuro dos mesmos.

A política de proteção das etnias isoladas do município de Atalaia do Norte fica por

conta da FUNAI local, que além de descobrir quais os povos que vivem isolados,

36

permanecem atentos à fiscalização de invasores não-indígenas, tais como madeireiros,

caçadores, pescadores e garimpeiros. Apenas em 2000 houve a preocupação de ser feita

na região a reorganização das áreas indígenas.

Para controle e fiscalização do trânsito de pessoas, a FUNAI possui bases

estrategicamente construídas em alguns locais ao longo dos rios que cortam a TI Vale do

Javari, como se observa no Mapa 4.

Dificuldades. A FUNAI vem enfrentando dificuldades com o constante fluxo de indígenas

das várias etnias que vêm até o município sacar o benefício financeiro do Bolsa Família.

Observa-se em Atalaia do Norte canoas cobertas por palha atracadas na orla, onde

inúmeras famílias decidem permanecer por dias na cidade, morando em condições

precárias de saúde, higiene e alimentação.

Muitos desses indígenas optam por não retornarem às aldeias para poderem

usufruir de alguns serviços urbanos disponíveis na sede municipal. Além das doenças

contraídas e da falta de alimentos, alguns indivíduos envolvem-se com bebidas alcoólicas,

o que tem causado dificuldades para as famílias e para os gestores da FUNAI.

Essa oferta de benefícios sociais pelo Governo Federal vem contribuir com o

aumento da renda dessas famílias indígenas. No entanto, como elas devem se deslocar

até a cidade para sacar o dinheiro, isso vem modificando a rotina da vida nas aldeias e,

consequentemente, trazendo mudanças culturais que se tornaram um grande desafio às

autoridades locais.

Outra séria dificuldade é o difícil acesso às aldeias, chegando a levar até seis dias

de viagem em um motor 15 HP do município até algumas das localidades. As longas

distâncias e altos custos de transporte impedem, muitas vezes, o controle ostensivo sobre

as áreas indígenas.

CASAI – Casa de Saúde do Índio de Atalaia do Norte

Responsável: Antony Castridio

Assistente Social: Jucélia Graça

Contato: (97) 3417-1537

Breve histórico: Os povos indígenas, apesar de terem sofrido com os processos descritos

historicamente, receberam atenção governamental diferenciada desde o início do século

XX, regime militar, Constituição de 1988 e governo atual, com destaque para alguns

marcos: em 1910, cria-se o Serviço de Proteção aos Índios e Localização de

37

Trabalhadores Nacionais. Em 1918, institui-se o Serviço de Proteção aos Índios (SPI),

conduzido inicialmente pelo Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. Em 1967, o SPI

dá lugar à Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Em 1988, a Constituição reconhece as

especificidades étnicas, culturais e direitos territoriais dos indígenas.

A Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas integra a Política

Nacional de Saúde, compatibilizando as determinações das Leis Orgânicas da Saúde

com as da Constituição Federal, que reconhecem aos povos indígenas suas

especificidades étnicas e culturais e seus direitos territoriais.

Recentemente a FUNASA foi transformada em SESAI – Secretaria Especial de

Saúde Indígena, sob responsabilidade do Ministério da Saúde. Em Atalaia do Norte

encontra-se o Distrito Sanitário Especial Indígena do Vale do Javari (Figura 15), que

representa as ações da SESAI na TI do município.

Para melhor atenção à saúde indígena, foi criada a CASAI (Casa de Saúde do

Índio), que tem como objetivo diversas ações tratadas a seguir.

Ações da CASAI. A Casa de Saúde do Índio recebe pacientes que carecem de

tratamento, exame e casos em que estes tenham que ficar no município por um longo

período de tratamento. A CASAI possui uma estrutura para hospedar por tempo

indeterminado os índios de acordo com sua etnia, com um total de 05 malocas destinadas

Figura 15: SESAI – Distrito Sanitário Especial Indígena do Vale do Javari Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

38

às etnias Kanamarí, Kulina, Matis, Matsé (Mayoruna) e Marubo, tendo cada uma delas

capacidade para 05 pessoas (Figura 16).

Figura 16: CASAI de Atalaia do Norte Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

A CASAI realiza testes rápidos de HIV e sífilis. Caso sejam identificadas tais

doenças, a medicação e tratamento podem ser realizados nessa unidade. Além disso, as

crianças atendidas recebem suplementação de ferro na alimentação, uma vez que muitas

delas chegam em situação de desnutrição. São altos os índices de casos de Meningite,

que afeta principalmente as crianças, devido à precariedade alimentar nas tribos

indígenas da região.

Atualmente está havendo campanha de vacinação dos povos indígenas da TI Vale

do Javari, para diminuir o índice de doenças entre crianças e adultos e,

consequentemente, a mortalidade dos mesmos.

Dentro da TI Vale do Javari, existem algumas aldeias indígenas que possuem

postos de atendimento de saúde destinados à atenção dos indivíduos das localidades

adjacentes. Há polos base que agregam as ações dos postos e onde os indígenas podem

procurar atendimento, antes de se destinarem à cidade para tratamento mais prolongado.

A Tabela 13 descreve o nome e a localização desses polos base.

39

Tabela 13: Localização dos pólos base

Fonte: FUNAI – Atalaia do Norte – 2007

Em cada um desses polos base existem profissionais da saúde que atendem

especialmente os indígenas que procuram por atendimento. Na Tabela 14 encontra-se o

quadro de funcionários atuantes nessas bases.

Cada etnia possui seu tradutor, na qual cabe a ele informar tudo o que acontece na

aldeia e avisar o número de índios doentes, índice de mortalidade e de natalidade.

Dificuldades. O hospital municipal de Atalaia do Norte recebe os indígenas doentes, cujo

atendimento nos polos base não foi suficiente para melhoria da saúde. No entanto, o

hospital não tem médicos suficientes para atender tantos índios. No período de chuva e

de seca o índice de doenças aumenta entres os povos da floresta. As doenças mais

comuns entre eles é a malária, diarreia, hepatite, pneumonia, IRA e desnutrição.

Atualmente a CASAI está passando por reforma para melhor atender os indígenas

que necessitam permanecer no município para tratamento. No entanto, há muitas famílias

que abandonam os filhos, em função de questões culturais. O poder público municipal

não sabe o que fazer com essas crianças abandonadas.

Associações Indígenas

Existem algumas entidades representativas dos interesses das etnias indígenas

presentes em Atalaia do Norte. Na Tabela 15 estão discriminadas as respectivas

associações.

Pólo Base Localização

São Sebastião Rio Curuça/Pardo

Aurélio Rio Ituí

Massapê Rio Itacoaí

Funcionários por base

Médico 02

Técnico de Enfermagem 14

Nutricionista 01

Assistente Social 01

Técnico de Laboratório 01

Tabela 14: Quadro de funcionários por polo base Fonte: FUNAI – Atalaia do Norte – 2007

40

No município encontram-se as sedes da UNIJAVA (Figura 17) e a AIMA (Figura 18).

Esta última foi a única que se encontrava aberta durante o período de visita ao município.

Associações Indígenas de ATN

ASDEC Associação de Desenvolvimento Comunitário do Povo Indígena Marubo do Rio Curuçá

AMAS Associação Marubo de São Sebastião

AKAVAJA Associação dos Kanamarí do Vale do Javari

AIMA Associação Indígena Matis

UNIVAJA União dos Povos Indígenas do Vale do Javari

Tabela 15: Associações indígenas de Atalaia do Norte Fonte: LAPSEA / INPA – 2011

Figura 17: Sede da UNIVAJA Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

Figura 18: Sede da AIMA Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

41

É possível encontrar membros da etnia Matis na associação, disponíveis para

fornecer esclarecimentos de sua cultura e das atividades desenvolvidas. Também se

encontram itens de artesanato produzidos nas aldeias Matis do Vale do Javari,

disponíveis para venda ao público.

42

Infraestrutura municipal

Saneamento Básico

Água. Em Atalaia do Norte o percentual de domicílios atendidos por rede geral de

abastecimento de água, no ano de 2000, chegava a 37,9%, enquanto apenas 1,5% dos

domicílios eram abastecidos por poço ou nascente (Tabela 16). Por outro lado, observa-se

o alto percentual de domicílios abastecidos de água por “outra forma”, correspondendo a

60,6%, em sua maioria localizados na área rural (46,9%).

Situação do Domicílio / Abastecimento de

Água por tipo

Urbana Rural Total

No

% No

% No

%

Rede geral 479 28,2 164 9,7 643 37,9

Poço ou nascente (na propriedade)

7 0,4 18 1,1 25 1,5

Outra forma 233 13,7 795 46,9 1.028 60,6

Total 719 42,4 977 57,6 1.696 100,0

Tabela 16: Forma de abastecimento de água Fonte: IBGE - Censo Demográfico/2000

Já em 2010, a pesquisa de campo detectou que o abastecimento de água à

população do perímetro urbano está sob a responsabilidade da Águas do Amazonas –

COSAMA, e a maioria das casas são atendidas pela rede geral. A captação de água é

feita no rio Javari. Há projeto em andamento (Figura 19) de estação de tratamento da

água, financiado por verbas estaduais (PRODERAM) e que beneficiará toda população

urbana.

43

Esgoto. No ano 2000, a situação do esgotamento sanitário em Atalaia do Norte era

bastante precária, pois o número de domicílios com rede geral de esgoto ou pluvial

representava apenas 2,1% (Tabela 17). É importante notar que uma parte substancial dos

domicílios na área rural não tinha banheiro ou sanitário (43,1%). Os domicílios com fossa

séptica e fossa rudimentar estavam localizados principalmente na área urbana: 11,4% e

20,8%, respectivamente.

Situação do domicilio / Esgotamento Sanitário por tipo

Urbana Rural Total

No

% No

% No

%

Rede geral de esgoto ou pluvial 11 0,7 24 1,42 35 2,1

Fossa séptica 194 11,4 30 1,8 224 13,2

Fossa rudimentar 353 20,8 42 2,5 395 23,3

Vala 100 5,9 11 0,7 111 6,5

Rio, lago ou mar 3 0,2 52 3,1 55 3,2

Outro escoadouro 8 0,5 87 5,1 95 5,6

Não tinham banheiro nem sanitário 50 3,0 731 43,1 781 46,1

Total 719 42,4 977 57,6 1.696 100,0

Tabela 17: Tipo de esgotamento sanitário Fonte: IBGE - Censo Demográfico / 2000

Figura 19: Obra melhoria de serviço de abastecimento de água Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

44

De 2000 a 2011, época dessa pesquisa de campo pouca coisa mudou. Continua a

não ter tratamento de esgoto na cidade, nem empresa responsável para tal tarefa. Em

algumas casas há fossas sépticas (Figura 20). Nas casas que não há fossas sépticas ou

rudimentares, o esgoto corre diretamente aos igarapés e ao rio Javari. Por conta da

captação de água e escoamento do esgoto, o município enfrenta problemas de saúdes

relacionados a esse contexto.

Coleta de lixo. Segundo censo demográfico de 2000, apenas 18,3% do lixo produzido na

cidade é coletado pelo poder público municipal. Nota-se, pela Tabela 18 que 26,5% dos

cidadãos têm o costume de queimar o lixo e 42,4% o jogam em terreno baldio ou qualquer

outro logradouro.

Situação do Domicilio / Destino do lixo Urbana Rural Total

No

% No

% No

%

Coletado 310 18,3 88 5,19 398 23,5

Queimado (na propriedade) 273 16,1 177 10,4 450 26,5

Enterrado (na propriedade) 4 0,2 13 0,8 17 1,0

Jogado em terreno baldio ou logradouro 113 6,7 606 35,7 719 42,4

Jogado em rio, lago ou mar 16 0,9 56 3,3 72 4,3

Outro destino 3 0,2 37 2,2 40 2,4

Total 719 42,4 977 57,6 1.696 100,0

Tabela 18: Destino do Lixo

Fonte: IBGE - Censo Demográfico / 2000

Figura 20: Fossa séptica Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

45

Atualmente encontram-se espalhados pela cidade cestos de lixo feitos de madeira,

destinados ao depósito de dejetos pela população (Figura 21). Cabe aos cidadãos

despejar o lixo em sacolas plásticas, mas nem sempre isso é cumprido.

O lixo da cidade é recolhido pelo caminhão da prefeitura e despejado em um lixão

ao longo da rodovia BR-307, próximo à entrada do município. Perto desse local está uma

comunidade de índios da etnia Matis e relata-se que alguns de seus habitantes rebuscam

objetos usados nesse lixão. O lixo não apenas é depositado nesse lugar, como também é

queimado (Figura 22).

Não há nenhum programa de reciclagem no município, nem de coleta seletiva.

Figura 21: Tipos de lixeiras domésticas Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

46

Energia

Atalaia do Norte depende da energia elétrica do município de Benjamin Constant

que é de responsabilidade da empresa Manaus Energia, e atende toda a rede urbana. Há

também uma usina termelétrica, que fornece uma parte da energia para toda a cidade

(Figura 23). No entanto, há carência de fornecimento de energia elétrica no município e

muitas vezes algumas das casas ficam o dia todo sem energia.

Figura 22: Lixão de Atalaia do Norte Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

Figura 23: Usina Termelétrica Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

47

Nas comunidades rurais ribeirinhas os moradores utilizam energia elétrica

provindas de geradores a diesel na própria comunidade. O programa Luz Para Todos já

está atendendo as poucas comunidades que ficam entre o Município de Benjamin

Constant e Atalaia do Norte, mas nenhuma das comunidades rurais ribeirinhas indígenas

e não-indígenas foi atendida.

Comunicação

Jornais. Não existem jornais que circulam no município. Entretanto, a prefeitura de

Atalaia do Norte paga mensalmente um informativo publicado no jornal “O Solimões”,

editado em Tabatinga, com tiragem mensal e vendido a R$ 1,80. Suas edições são

disponibilizadas à população Atalaiense gratuitamente. Há também um folheto anônimo

que circula sem periodicidade estabelecida, cujo conteúdo é de críticas e ofensas à

administração pública.

Rádios. As frequências de rádios que chegam a Atalaia do Norte vêm de Benjamin

Constant (estação Encanto do Rio) e de Tabatinga, pois no município ainda não existe

uma rádio local.

Internet. O acesso à internet chega por ondas via rádio à cidade. É redistribuída

por alguns cyber-cafés (02) e está disponível ao poder público. Além disso, há o programa

federal de inclusão digital Telecentro Comunitário (Figura 24), que disponibiliza acesso

gratuito a toda população.

Figura 24: Telecentro Comunitário Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

48

O horário de atendimento é das 8:00h às 12:00h e das 14:00h às 18:00h, para

utilização de usuários em geral, mas especialmente aos alunos da rede pública de ensino.

Já no período noturno, o público alvo são os alunos de cursos de informática organizados

pelos gestores da unidade.

Alguns órgãos municipais e algumas associações possuem blogs na internet,

disponibilizando informações a respeito da vida em Atalaia do Norte para qualquer

internauta. Os mais importantes são:

- http://www.rematedemales.blogspot.com/: blog da prefeitura municipal, com links e

informações sobre o município, contendo notícias, eventos, textos, etc., a respeito das

ações governamentais.

- http://blogvaledojavari.blogspot.com/: blog elaborado pelos povos que habitam a TI

Vale do Javari, cujos relatos contam sobre as lutas políticas, hábitos dos povos indígenas,

pesquisas, denúncias, etc.

Telefonia celular. Há apenas uma companhia de celular com sinal disponível na

cidade. Trata-se da empresa Vivo (sinal bom), que chegou recentemente e possui antena

própria instalada na cidade.

Telefonia convencional. Com prefixo (97), está disponível à população acesso via

Telemar (Figura 25). Existem alguns orelhões na cidade, alguns em péssimo estado de

conservação e em mau funcionamento. Com a chegada da telefonia celular, alguns

moradores optaram por cancelar suas assinaturas da telefonia convencional.

Figura 25: Telemar Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

49

Televisão. Há recepção de canal de televisão aberta, a Globo e a RBN. Já os

demais canais, a única maneira de captar sinal é por meio de antena parabólica, um

aparelho indispensável ao lazer e vida noturna doméstica dos habitantes, seja aqueles da

zona urbana quanto rural.

Rede Bancária

No município existe uma Lotérica “São Sebastião” (Figura 26) e uma pequena

agência do Banco Bradesco com um caixa eletrônico disponível.

Há também um caixa eletrônico do Banco do Brasil, em que são possíveis apenas

operações de autoatendimento (Figura 27).

Figura 26: Lotérica Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

Figura 27: Agência e Caixas eletrônicos Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

50

Economia

O modelo clássico de categorização das formas de produção da economia

capitalista está dividido em três setores:

1) setor primário, relativo à produção agropecuária;

2) setor secundário, relativo à produção industrial;

3) setor terciário, relativo ao comércio e serviços.

Os dados sobre as formas de economia do município não estão atualizados para a

composição de cada um desses setores de produção para o ano de 2010. De acordo com

dado Ipeadata de 2008, Atalaia do Norte gerou um PIB, a preço básico, de R$ 26.486

(Tabela 19) ocupando desta forma, o 48o lugar em relação ao PIB do Estado do

Amazonas. As atividades no setor de serviços foram as que mais se destacaram,

representando 76,4% do PIB, seguidos pela Agropecuária (11,9%) e a Indústria (9,7%).

Composição do PIB por setor de atividade – 2008 (valor adicionado - preços básicos)

Município PIB municipal Agropecuária % Indústria % Serviços % Impostos

Sobre Produtos

%

Atalaia do Norte

26.486 3.142 11,9 2.568 9,7 20.245 76,4 530 2,0

Tabela 19: Composição do PIB por setor de atividade - R$ - (valor adicionado - preços básicos) Fonte: Ipeadata- 2008

Conforme dados do IBGE, em 2006 foram registradas 25 empresas em Atalaia do

Norte (Tabela 20). De acordo com o Cadastro Central de Empresas, que as divide

segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas, encontram-se em ATN as

seguintes atividades econômicas: silvicultura, exploração florestal e serviços relacionados

(1); fabricação de produtos alimentícios e bebidas (1); eletricidade e gás (1); comércio

varejista (9); alojamento e alimentação (2); correios e telecomunicações (1); administração

pública (2); atividades associativas (4) e serviços pessoais (4).

51

Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) Número de

unidades locais (Unidades)

1. Silvicultura, exploração florestal e serviços relacionados 1

2. Fabricação de produtos alimentícios e bebidas 1

3. Eletricidade, gás e água quente 1

4. Comércio varejista e reparação de objetos pessoais e domésticos 9

5. Alojamento e alimentação 2

6. Correio e telecomunicações 1

7. Administração pública, defesa e seguridade social 2

8. Atividades associativas 4

9. Serviços pessoais 4

Total 25

Tabela 20: Classificação das Atividades Econômicas (CNAE) Fonte: IBGE - Cadastro Central de Empresas – 2006

Setor primário – Agropecuária

Segundo dados do Censo Agropecuário para a estrutura fundiária, no ano de 2006

existiam 886 estabelecimentos agropecuários em Atalaia do Norte, distribuídos em 11.583

hectares (Tabela 21). A condição legal de posse das terras enquadrava-se da seguinte

forma: 80% (710) delas eram próprias; 19% (166) posse em parceria; 0,7% (7) ocupadas;

0,2% (2) arrendadas e apenas 0,1% (1) concedida por órgão fundiário sem titulação

definitiva.

Número e área / Condição legal das terras

Número de estabelecimentos

agropecuários (Unidades)

Área de estabelecimentos agropecuários (Hectares)

Próprias 710 11.057

Terras concedidas por órgão fundiário ainda sem titulação definitiva

1 -

Arrendadas 2 -

Em parceria 166 274

Ocupadas 7 252

Total 886 11.583

Tabela 21: Número e Área de Estabelecimentos Agropecuários por Condição legal das terras Fonte: IBGE - Censo Agropecuário – 2006

Mais da metade dos estabelecimentos agropecuários cadastrados em 2006

52

possuíam menos de 10 ha (58,19%), ou seja, eram pequenas propriedades; de 10 ha a

menos de 500h havia 27,96%; com mais de 500 ha havia 0,18% e sem área terra 13,65%.

(Tabela 22).

Número dos estabelecimentos agropecuários por grupos de área total – 2006

Total Menos de 10

ha (%)

De 10 ha a

menos de 50

ha

(%)

De 50 ha a

menos de 100

ha

(%)

De 100 ha a

menos de 500

ha

(%)

De mais

de 500 ha

% Produtor sem

área (%)

1026 597 58,19 243 23,68 30 2,92 14 1,36 2 0,19 140 13,65

Tabela 22: Número dos estabelecimentos agropecuários por grupos de área total

Fonte: IBGE - Censo Agropecuário - 2006

Com relação ao uso do solo, em Atalaia do Norte destacavam-se 486

estabelecimentos e áreas destinadas às lavouras temporárias, numa área de 6.028ha. Em

seguida, 95 estabelecimentos destinados à lavoura permanente, em área de 1.848ha. Os

estabelecimentos destinados à horticultura e floricultura somavam 217, em uma área de

632 ha. A produção florestal – florestas nativas – encontrava-se em 166 estabelecimentos

distribuídos em 1.166 ha, e a pecuária estava em 55 estabelecimentos, somando 1.588

ha. A aquicultura estava presente em 06 estabelecimentos, ocupando 374 ha.

A aquicultura ainda não se constitui como atividade produtiva que gere renda

significativa aos membros da associação de piscicultores. Também não há produção de

pescado expressiva e nem dados oficiais da geração de renda, quantidade produzida

anualmente e número de envolvidos na atividade (Gráfico 4).

53

486 217 95 0 55 1 166 0 6

6.028

632

1.848

0

1.588

0

1.166

0374

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

Número e Área dos estabelecimentos agropecuários por utilização da terra

Número de estabelecimentos agropecuários (Unidades)

Área dos estabelecimentos agropecuários (Hectares)

Gráfico 4: Número e Área dos Estabelecimentos Agropecuários Fonte: IBGE - Censo Agropecuário

Dos produtos da lavoura temporária, a mandioca correspondeu a aproximadamente

66,96% do valor total da produção, enquanto a cana-de-açúcar somou 18,36%; os demais

produtos (feijão, arroz, abacaxi e milho) somaram 14,69% (Tabela 23). Segundo a

Secretaria de Produção, a cana-de-açúcar poderia ser beneficiada e transformada em

açúcar e vendida à indústria da Coca-Cola em Leticia (Colômbia), mas os produtores

locais não conseguem produzir o suficiente para atender à demanda.

Valor/ Produto Valor da produção

(Mil Reais) Valor da produção

(Percentual)

Abacaxi 13 1,91

Arroz (em casca) 20 2,94

Cana-de-açúcar 125 18,36

Feijão (em grão) 36 5,29

Mandioca 456 66,96

Milho (em grão) 31 4,55

Tabela 23: Valor da Produção da Lavoura temporária

Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal – 2009

Segundo dados referentes à produção agrícola municipal do IBGE para 2009, da

lavoura permanente o único produto cultivado é a banana, cujo valor da produção chegou

a R$ 66 mil, em 2009.

54

Já no que se refere à produção de origem animal, registrou-se apenas os ovos de

galinha (83,9%), com valor total de R$ 26.000,00, e de leite (16,1%), cujo valor foi de R$

5.000,00 para o ano de 2009 (Tabela 24).

Valor / Produto Valor da produção

(Mil Reais) Valor da produção

(Percentual)

Leite 5 16,1

Ovos de galinha 26 83,9

Total 31 100

Tabela 24: Produção de Origem Animal – 2009 Fonte: IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal

Ainda segundo o IBGE, em 2009 houve a criação de vários tipos de rebanho em

Atalaia do Norte (Tabela 25), principalmente o de galos, galinhas e suínos,

respectivamente.

Tipo de rebanho (cabeças) - 2009

Bovino Suíno Caprino Ovino Galos, frangas,

frangos e pintos Galinhas

93 1.704 140 182 4.660 4.587

Tabela 25: Nº de cabeças por rebanho – 2009

Fonte: IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal

Uma parte da produção agrícola local é vendida na feira municipal de Atalaia do

Norte (Figura 28), localizada na orla da cidade. Os itens são provenientes tanto dos

pequenos produtores locais quanto dos produtores peruanos, especialmente os “israelitas

peruanos”, que vivem em comunidades no país vizinho. Eles trazem a produção de

banana e os derivados de mandioca e macaxeira, bem como frutas e outros artigos

vindos de outras regiões do Peru.

55

Com a pavimentação da rodovia BR-307, uma parte dos produtos transportados

pelos recreios deixou de chegar até a cidade. Com isso, os feirantes sofreram perdas e

boa parte deles fecharam suas barraquinhas. Os que continuam as vendas são

justamente os que conseguem obter os produtos peruanos. Cobra-se R$ 2,00 / dia para

se manter uma barraquinha dentro da feira municipal.

Setor Secundário – Indústrias

Não existem grandes ou médias indústrias no município. Não foi possível obter

dados ou listas a respeito dos pequenos empreendimentos de produção de pães ou

alimentos, marcenarias ou pequenos negócios de beneficiamento de algum produto.

Na atividade de extrativismo vegetal, o produto que mais se destacou no município

em 2009 foi a madeira em tora, que representou aproximadamente 95,84% do total da

produção na extração vegetal. Os outros produtos que, apesar de não serem muito

significativos, também ocorreram foram a extração de lenha (3,56%) e a de babaçu

(0,6%) (Gráfico 5).

Figura 28: Feria Municipal Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

56

Gráfico 5: Percentual do Valor da Produção na Extração Vegetal Fonte: IBGE - 2009

Serrarias. Na presente pesquisa de campo constatou-se a presença de apenas 02

serrarias. Isso porque as políticas de proteção ao meio ambiente do IBAMA de Tabatinga

para a região não permitem a derrubada de árvores sem licenças. Estas não são

concedidas facilmente e passam por processos burocráticos demorados, o que

desestimulou o corte legal de madeira. Na pesquisa de campo visitaram-se as únicas

duas serrarias restantes na cidade, que executam exatamente o mesmo serviço:

beneficiamento de madeira.

Em ambas a madeira é proveniente da terra firme e já chega em pranchões, em

medida de 4m e 2x2” (polegadas). O corte da madeira é feita pelos peruanos em seu

país, que vendem os pranchões em solo brasileiro a R$ 60,00 a dúzia. Depois de

beneficiarem esses pranchões as serrarias cobram R$ 90,00 por dúzia de tábuas

produzidas. Estas são vendidas na cidade, em Benjamin Constant (casas do INCRA) e

Tabatinga (casas de projetos governamentais). A produção mensal é de 150 dúzias e

utilizam-se a plaina e serra fiadeira. As dificuldades que os donos de serrarias dizem

enfrentar é a rígida legislação brasileira e os altos gastos para obtenção de licenças, o

que impede o avanço das empresas legais e estimula o corte ilegal. Pela legislação

peruana ser mais ágil, há uma preferência em comprar a madeira vinda do país vizinho.

Reclama-se que as leis brasileiras são feitas segundo padrões do Sul do país em

detrimento dos municípios do Norte, como Atalaia do Norte, prejudicando a população de

poder gerar renda com um recurso natural abundante na região.

57

Desflorestamento. Conforme dados do INPE7 para 2009, em Atalaia do Norte o

desmatamento foi bem pouco significativo em relação ao seu território (Tabela 26). Isto é,

observa-se que a área de floresta até 2009 chegou a 88% do território do município em

estudo.

Percentual de Área Desflorestada - 2009

Área (km2)

Desflorestamento até 2009 (%)

Incremento 2008/2009 (%)

Floresta até 2009 (%)

Não Floresta em 2009 (%)

Hidrografia em 2009 (%)

Atalaia do Norte

80.044 230.9 (0%) 1.2 (0%) 70742.7 (88%) 16.8 (0%) 402.2 (1%)

Tabela 26: Percentual de Área Desflorestada – 2009 Fonte: INPE/PRODES

Setor Terciário – Comércio e Serviços

O setor terciário representa 76,4% do PIB de Atalaia do Norte em 2008. Embora

não tenha sido possível obter lista dos estabelecimentos de comércio e prestadores de

serviços junto ao poder público, constatou-se que os principais comércios da cidade são:

Casa Pires (materiais de construção), 7 irmãos (supermercado e comércio geral) e Casa

Leonai e Leonara (supermercado e material de construção).

As lojas que vendem roupas e pequenas mercearias obtêm boa parte de seus

produtos do mercado peruano. Não há nenhum tipo de controle aduaneiro na cidade. Por

esse motivo a venda desses itens é feita por preços mais em conta que aqueles

brasileiros. Esporadicamente agentes da Polícia Federal aparecem na cidade para

fiscalização geral e apreendem mercadorias estrangeiras, como as motos vindas do Peru

e Colômbia. No entanto, quando a população toma ciência de tais visitas, escondem os

produtos estrangeiros e, assim, evitam apreensões.

Todos esses estabelecimentos possuem alvará de funcionamento, mas não há

controle municipal para emissão de nota fiscal. Por essa razão, o poder público não

arrecada quantia significativa proveniente do setor terciário.

7 Através de dados gerados pelo INPE, é possível monitorar o desmatamento na Amazônia, através da metodologia denominada PRODES (Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia), que, desde 1988, estima a taxa anual de desmatamento por corte raso, isto é, quando ocorre a retirada total da cobertura florestal, sendo considerado como o estágio extremo do desmatamento, por representar a retirada completa da vegetação original. Com o sistema PRODES é possível mapear desmatamentos em áreas superiores a 6,25ha através de imagens dos sensores TM, DMC e CCD, cobrindo a Amazônia com baixa freqüência temporal e com resolução de 30 e 20 metros, respectivamente.

58

Vida Social

Desporto

Em Atalaia do Norte há apenas um ginásio poliesportivo, o “Ginásio Átila Lins”

(Figura 29), onde acontecem torneios de futsal de times locais. Está disponível para

utilização da população e, especialmente, para os estudantes da rede pública. Há

também uma quadra aberta pública e um campo de futebol society, disponíveis para as

atividades esportivas dos atalaienses.

Existe um calendário anual de jogos esportivos que agita a cidade e os jovens

estudantes de ensino fundamental e médio. O principal evento é o JEAS – Jogos

Estudantis do Alto Solimões, que acontece no mês de setembro e envolve adolescentes

de todos os municípios do Alto Solimões. Além disso, são organizados campeonatos

locais entre os times de etnias indígenas entre si e deste com a população não-indígena.

Outro evento importante é o “Três Fronteiras”, um acontecimento esportivo que

envolve equipes dos municípios do Alto Solimões e das cidades peruanas e colombianas

Figura 29: Ginásio Átila Lins Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

59

próximas da fronteira, em várias modalidades esportivas. Tal acontecimento ocorre entre

os dias 23 e 28 de Fevereiro de cada ano.

Parte dos habitantes indígenas também participa das olimpíadas e jogos dos povos

indígenas do Alto Solimões e de todo o Brasil. Há modalidades como arco e flecha, tiro de

zarabatana, corrida, entre outras. Os que se destacam acabam disputando em outras

regiões do país em eventos indígenas multiétnico existentes no Brasil.

Turismo e Lazer

As opções de lazer na cidade são relativamente abundantes, porém pouco

diversificadas. A preferência está na recreação em balneários nas margens de igarapés

que banham Atalaia do Norte. O principal deles é o balneário Recanto da Cidade, mais

conhecido como “banho do tampinha” (Figura 30). Aos domingos costuma haver shows

musicais, com bandas locais ou de cidades vizinhas e, não raro tendo atrações

internacionais peruanas e colombianas. Outros dois recintos menos badalados atraem os

habitantes: o “banho do bilela” e o “banho alma de gato”.

Figura 30: Banho do Tampinha Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

60

As opções de entretenimento noturno da cidade, no momento, se resumem à casa

noturna Disco Show (Figura 31), que não cobra entrada e cujas músicas mais tocadas

são o forró, brega, reggaeton (latina) e eletrônica.

Na zona rural do município, mais precisamente da área da comunidade ribeirinha

não-indígena Paumari, a aproximadamente 1h de distância de bote motor 15HP da sede,

encontra-se o Hotel Selva Reserva Natural Paumari (Figura 32), administrado por um

estrangeiro. O proprietário do empreendimento entrou em acordo com os comunitários

para a compra do lote de terra e concessão de seu uso para o hotel. Os hospedes vêm,

em geral, por meio de agências localizadas em Leticia, Colômbia.

Figura 31: Disco Show Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

61

O hotel oferece passeios pelos igarapés e floresta, observação de animais e

atividades relacionadas ao ecoturismo. Para tanto, o proprietário contrata alguns

comunitários por R$25,00/passeio para servirem de guias aos hóspedes. Além dessa

contrapartida, ele paga uma quantia mensal à comunidade, para que seja revertida em

melhorias de infraestrutura.

Festas locais

As festas tradicionais da cidade são o carnaval (com blocos), dia das mães, dos

pais e das crianças, réveillon, além de outros feriados do calendário nacional. Nessas

ocasiões a prefeitura organiza shows na praça central (Figura 33), onde há apresentações

musicais e distribuição de prêmios e brindes a toda população. Para organização dessas

festas, a secretaria de assistência social distribui senhas para as famílias conforme rua

em que moram, de maneira que cada morador receba uma prenda.

Figura 32: Hotel de Selva Paumari Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

62

O festejo mais importante acontece em comemoração ao dia do santo padroeiro da

cidade, São Sebastião (Figura 34), entre os dias 11 a 20 de Janeiro. Nessa ocasião são

dispostas barraquinhas com comidas típicas preparadas pelos moradores e há visita dos

habitantes da zona rural, sejam indígenas ou não, bem como de pessoas dos municípios

e países vizinhos. A prefeitura organiza shows e há distribuição de prêmios. As casas

noturnas e os “banhos” da cidade ficam cheios, o que movimenta também a rede de

hotéis e hospedarias.

Figura 33: Praça Central Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

Figura 34: São Sebastião Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

63

Outra festa típica é a FECAN, o Festival Folclórico do Boi-bumbá, que ocorre no

final do mês de Junho junto com as festas juninas. Os dois currais da cidade são o Boi

Estrela de Fogo e o Boi Javari. Não há bumbódromo na cidade.

Por fim, há também a festa comemorativa do dia do índio, 19 de Abril. Os indígenas

das distintas etnias presentes no município vêm até a cidade para realizar atividades

artísticas típicas, como danças (na quadra ou praça), pinturas no corpo, venda de

artesanatos e comidas.

64

Associações e Cooperativa

Há poucas associações na cidade. Além das associações de taxistas e moto-

taxistas, que oferecem serviços de transporte à população da zona urbana, encontra-se a

recém criada Associação dos Piscicultores de Atalaia do Norte, que conta com

aproximadamente 40 sócios e ainda está em processo de formalização. No município a

criação de peixes é feita mais em barragens de igarapés do que em construção de

campos escavados. Ainda não há dados de produção por esta ser ainda pouco

expressiva.

A Colônia de Pescadores Z-47 possui associados da zona urbana e,

especialmente, da zona rural. A mensalidade é de R$ 15,00 e só é possível ao casal

responsável pelas unidades domésticas se associarem. Os benefícios sociais dos sócios

são relativos à Previdência Social (aposentadoria, auxílio-doença, salário maternidade e

seguro-desemprego). O defeso, como é chamado o seguro-desemprego, é um benefício

concedido aos pescadores artesanais no valor de R$ 2.180,00, para que não pesquem no

período de desova dos peixes, entre Dezembro e Março de cada ano. Por esse motivo, o

número de sócios vem crescendo nos últimos anos.

A Associação dos Produtores Rurais de Atalaia do Norte também agrega sócios da

zona urbana e rural. A mensalidade é de R$5,00 e todos os membros de uma unidade

doméstica maiores de idade podem se associar. Por isso há mais sócios nesta

associação do que na de pescadores, apesar de muitos ribeirinhos terem maior vocação

pesqueira.

Há também uma cooperativa de crédito, a Solicrédito, que possui serviços

semelhantes a um banco, mas sua organização é baseada no cooperativismo.

65

Organizações do Terceiro Setor

Não existe no poder público local lista das organizações do Terceiro Setor atuantes

em Atalaia do Norte. Segundo Calegare (2009)8, tais entidades são aquelas não

pertencentes nem ao governo, nem ao mercado, e que podem ser caracterizadas como:

organizações, sem fins lucrativos, institucionalmente separadas do governo, autogeridas e

não-compulsórias (comportam voluntários). Seriam elas Organizações Não-

Governamentais (ONG), associações, fundações e entidades religiosas de cunho

beneficente.

As associações podem ser reconhecidas como pertencentes ao Terceiro Setor,

desde que obedeçam aos critérios acima. Isso significa que as associações descritas no

item anterior não necessariamente representam entidades desta categoria organizacional.

Para a classificação e qualificação enquanto pertencentes ao Terceiro Setor, é necessário

que o poder público realize o censo de todas as organizações atuantes no município.

Não se sabe quantas ONGs (ambientalistas, de defesa de direitos dos povos

indígenas e outros segmentos sociais, de promoção de saúde, entre outras) existem no

município. Igualmente não se sabe quantas pessoas são empregadas por tais entidades,

quantos cidadãos estão envolvidos, qual a movimentação financeira e o que esta

representa do PIB, quais áreas de atuação e que tipo de parcerias são estabelecidas com

outros agentes sociais.

A falta de informações a respeito dessas organizações tem causado incômodo ao

poder público local, pois não se sabe quantas delas estão atuando nas aldeias indígenas,

nem o tipo de atividades desenvolvidas. Segundo representantes do governo local,

poderia haver integração entre o trabalho das secretarias e aquele desenvolvido pelas

ONGs.

8 CALEGARE, M. G. A. & SILVA JUNIOR, N. A “construção” do terceiro setor no Brasil: da questão social à

organizacional. Revista Psicologia Política, vol. 09, nº 17, p.129-148, 2009.

66

Poder Público

A Prefeitura Municipal (Figura 35) de Atalaia do Norte está sob o comando da

Sra. Anete Perez Castro Pinto, ainda em primeiro mandato, tendo como vice o

Sr. Gumercindo Vieira Gonçalves. Para a administração pública, o poder público local

conta com uma estrutura organizacional composta por 08 secretarias, defesa civil, além

das instituições responsáveis pela segurança pública. Além disso, está presente no

município a FVS (Fundação de Vigilância em Saúde), a FUNAI (Fundação Nacional do

Índio) e a SESAI (Secretaria Especial de Saúde Indígena).

Figura 35: Sede Municipal de Atalaia do Norte Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

As descrições das ações de cada um dos órgãos municipais e federais, juntamente

com as dificuldades enfrentadas, estão descritas a seguir. Dessa maneira, objetiva-se

apresentar a abrangência do poder público local e a atenção dispensada aos cidadãos.

67

SEMAF – Secretaria de Administração e Finanças

Responsável: Lucila Quirino Garcia

Contato: http://governoatn.blogspot.com

Ações. A secretaria é responsável por toda parte administrativa e gerencial do poder

público local. Além disso, parte de suas atribuições é a realização dos pagamentos e

demandas de despesas das demais secretarias.

No que se refere à gestão, cabe a esta secretaria gerenciar recursos humanos,

formalizar licitações, realizar compras e contratos, organizar tributos arrecadados e

administrar os prédios públicos, como o mercado, quadras, ginásio, hospital, postos de

saúde, etc. Já do ponto de vista financeiro, a atribuição desta instância é realizar

pagamentos dos servidores, elaborar o Plano Plurianual (PP) de acordo com a Lei de

Diretrizes Orçamentárias (LDO) e apresentar o Balanço Anual ao final de cada ano.

Dificuldades. A única fonte de recursos do poder público municipal é a do repasse

federal. Não há fonte alternativa de recolhimento, como por exemplo tributos municipais

de ISS (Imposto Sobre Serviços). Além disso, há pouca mão-de-obra especializada e

pessoas com formação universitária voltadas à administração pública, o que torna mais

difícil uma série de tarefas e ações pelo poder público.

Pela distância de Manaus e de outros centros urbanos, poucos profissionais com

nível superior vêm trabalhar no município, apesar da oferta de bons salários.

Mesmo com a abertura de cursos pela UFAM em Benjamin Constant, ainda não há mão-

de-obra qualificada suficiente para atender à grande demanda de Atalaia do Norte, nas

distintas áreas.

SEMOSB – Secretaria Municipal de Obras

Secretario: José de Almeida Lima

Ações. A secretaria localiza-se ao lado da Praça São Sebastião (Figura 36).

As atribuições desta secretaria é proceder à pavimentação das ruas do município,

fornecer contrapartida a empresas terceirizadas com obras na cidade e a construção e

doação de casas, em parceria com a secretaria de ação social.

68

O poder público municipal vem investindo na pavimentação das ruas da cidade,

utilizando-se de concreto ao invés de asfalto, devido aos altos custos para obtenção de

matéria prima para este tipo de pavimento. Já são duas ruas novas construídas com essa

alternativa de material.

Além disso, a secretaria dá apoio à Coordenadoria Municipal de Defesa Civil, por

meio de realização de mutirões nos períodos mais críticos da estiagem e das cheias dos

rios.

Dificuldades. Há falta de material e o período de espera para sua obtenção é muito

longo. As compras são realizadas na capital (Manaus) e os custos de transporte são

elevados. Desta forma, não é possível manter continuidade nos trabalhos e agenda de

obras de construção e manutenção da infraestrutura da cidade.

SEMT – Secretaria Municipal de Transportes

Responsável: Rubeney de Castro Alves

Contato: (97) 9151-5912

Ações. Esta secretaria é responsável pela oferta das condições logísticas necessárias à

realização de obras e construções na cidade, em parceria com as demais secretarias.

Por exemplo, na recente pavimentação de uma das ruas de Atalaia do Norte (Figura 37) a

instância foi responsável pelo transporte dos equipamentos dessa pavimentação (as

máquinas para fazer a terraplanagem).

Figura 36: Secretaria Municipal de Obras Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

69

Outra ação desta secretaria é dar apoio ao transporte escolar às crianças nas

escolas públicas da cidade e aos estudantes universitários até Benjamin Constant, onde

se encontra um campus da UFAM. Ao fim das aulas, buscam-se os estudantes na

universidade e, em seguida, as crianças nas escolas.

A secretaria também é responsável por oferecer ambulância fluvial (150 HP) e

motorista para os habitantes indígenas das várias comunidades da TI Vale do Javari,

buscando-os nas aldeias e trazendo-os até o município. A Secretaria Especial de Saúde

Indígena (SESAI) oferece a contrapartida do combustível desse transporte.

Dificuldades. O ônibus que transporta os alunos é muito precário e quando quebra, a

demora para realização da manutenção é muito longa, pois as peças vêm de Manaus ou

de São Paulo. Isso prejudica os estudantes, que devem usar de outros recursos (muitas

vezes particular) para poderem chegar ao município vizinho.

Diversas entidades (igrejas, pescadores, jogadores de futebol, escoteiros) que

precisam ir para Benjamin Constant solicitam transporte, geralmente aos finais de

semana. Devido ao alto número de solicitações dos cidadãos, há falta de veículos

disponíveis para transportá-los.

O município de Atalaia do Norte não possui linhas de embarcações.

Quando se quer seguir viagem para a capital ou outros municípios, o passageiro precisa

se deslocar pela rodovia BR-307, cujo percurso de 26 Km demora em média 30 minutos

de carro.

Figura 37: Rua recém inaugurada Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

70

SEMPRO – Secretaria Municipal de Produção e Abastecimento

IDAM – Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Estado

do Amazonas

Responsável: Julio Jucelino de Souza Mesquita

Contato: (97) 9162-1442, [email protected]

A Secretaria de Produção e o IDAM possuem poucos funcionários que fazem muita

coisa ao mesmo tempo, executando funções conjuntas e trabalhando num mesmo prédio,

cedido pela prefeitura (Figura 38). O responsável por ambas é a mesma pessoa,

exercendo as funções dos cargos desde 1993.

Figura 38: Secretaria de Produção Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

Existem 07 técnicos trabalhando no local: 03 provenientes da Secretaria de

Produção, por intermédio de cooperação técnica; 02 contratados pelo IA (Instituto

Amazonas), que é uma empresa terceirizada; e mais 02 pelo IDAM, com nível superior

em ciências agrárias.

Ações. Não obstante essa equipe trabalhe sobre os mesmos temas, a responsabilidade

maior da secretaria é de fomento, enquanto o IDAM cuida da parte de assistência técnica.

O fomento diz respeito à doação de sementes, oferta de logística para transporte

de produção, estímulo à criação de associações e distribuição de equipamentos (motores

para cevar mandioca, por exemplo). Além disso, a secretaria dá apoio à produção

agrícola, por meio da construção de casas de farinha, granjas, etc. Nas viagens

71

organizadas para visitas às comunidades rurais, são doados todos esses itens descritos,

especialmente na época da política.

Há um projeto de desenvolvimento agroindustrial em andamento na sede da

secretaria e IDAM, visando o beneficiamento da cana-de-açúcar. A indústria da Coca-

Cola em Leticia (Colômbia) ofereceu comprar toda produção de açúcar mascavo, caso

esta seja expressiva e de acordo com as exigências da companhia. No entanto, ainda não

há volume de produção suficiente para fornecer à empresa, nem organização por parte

dos produtores.

No que diz respeito à assistência técnica, esta é oferecida ao mini-produtor sob a

forma de métodos diferenciados de plantio, controle de pragas, técnicas de

beneficiamento da produção e cursos de capacitação (cooperativismo, associativismo,

gestão de associações, gerenciamento de projetos, melhoramento da farinha, criação de

aves caipiras, ração alternativa e derivados da cana-de-açúcar) (Figura 39).

Figura 39: Ações do IDAM Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

O procedimento adotado para verificação das potencialidades de cada comunidade

e posterior implementação de projetos é o Diagnóstico Rápido Participativo, tanto nas

comunidades rurais não-indígenas, quanto em algumas indígenas (Figura 40) e nos

assentamentos do INCRA. Nas comunidades não-indígenas de São Rafael e São Gabriel

72

estão sendo construídas casas de farinha higiênicas, com verbas do PRODERAM. Em

algumas comunidades indígenas são realizados projetos de agricultura, com vistas à

melhoria da segurança alimentar e geração de renda.

Figura 40: Ações do IDAM com indígenas Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

Ao contrário do município de Benjamin Constant, cuja produção de pescado já é

expressiva, em Atalaia do Norte a associação de pesca ainda está em processo de

fortalecimento. Isso significa que a produção municipal é muito baixa, por falta de

investimento governamental e capacidade empreendedora dos piscicultores.

Dificuldades. Como há distintas instituições trabalhando no mesmo local, há problemas

para prestações de conta e das ações que cada técnico executou.

A infraestrutura do escritório é precária e as condições de manutenção do local não são

adequadas.

O público alvo das ações da secretaria e do IDAM estão imersos em uma cultura

assistencialista que os impede de gerir, por si próprios, os projetos empreendidos por tais

instâncias. Desse modo, a grande dificuldade relatada pelos gestores é a de criar uma

cultura de associativismo, cooperativismo e empreendedorismo na população, em que as

pessoas sejam agentes de mudanças e de propostas inovadoras.

Há falta de recursos disponíveis para manutenção da estrutura e equipamentos da

secretaria e do IDAM. E como para as demais secretarias, o grande entrave do trabalho

está na difícil logística enfrentada pelas autoridades locais, pois o município possui área

territorial muito grande e os custos de transporte são altos. Por exemplo, para a

73

comunidade indígena mais próxima gasta-se 1.000 litros de diesel para ir e voltar, sendo

que a verba anual para transporte é de 4.000 litros. Desse modo, só é possível visitar as

comunidades rurais poucas vezes ao ano.

SEMAS – Secretaria Municipal de Ação Social

Responsável: Zenaide Ferreira Azevedo.

Contato: (97) 3417-1174, [email protected], http://www.semasatn.blogspot.com/

Localiza-se em frente ao poder executivo, em sede própria (Figura 41).

Essa secretaria é responsável pela implementação dos programas assistenciais

municipais e federais, bem como por ações voltadas ao exercício pleno da cidadania. O

desafio desta instância é de trabalhar pela defesa e efetivação dos direitos humanos dos

cidadãos atalaienses. Para execução do trabalho, estão envolvidos 52 funcionários,

sendo 05 acadêmicos de cursos da UFAM em Benjamin Constant, 03 professores

atuantes pela Secretaria de Educação e mais 06 técnicos de nível superior.

Figura 41: Secretaria Municipal de Assistência Social Fonte: LAPSEA / INPA – 2011

Ações. A secretaria realiza ações esporádicas nas comunidades rurais indígenas e não-

indígenas, como cadastros para bolsa-família, Benefício de Prestação Continuada (BCP)

e em outros programas de Assistência Social. Recentemente, foi feito esforço de cadastro

de todas as famílias, para melhor planejamento de ações futuras. Nessas visitas às

comunidades rurais, são oferecidos atendimentos em Saúde, cestas básicas e brindes à

74

população, especialmente em datas comemorativas, como dia das mães e das crianças.

Para as viagens ao interior do município, é indispensável o estabelecimento de parcerias

com outros órgãos do poder público municipal e federal. Pretende-se, em breve, realizar

mutirão no meio rural para expedição de documentos.

Já na zona urbana, a secretaria gerencia o Telecentro de acesso à internet e mais

alguns projetos de melhorias das condições de moradia à população. Um desses projetos

é financiado pela SUSAM (Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas), cujo objetivo é

construir caixas elevadas e banheiros para 174 beneficiados, com vistas à melhora das

condições sanitárias. Outro projeto é o de construção de 28 casas padronizadas, a serem

entregues para beneficiários do Bolsa-família com financiamento do Ministério das

Cidades e Caixa Econômica Federal. Também na área de moradia, há um convênio com

a SEPROR para construção ou reforma de 90 casas, em terrenos de proprietários cujas

moradias estão em más condições.

Nos dias de festividades locais, especialmente nas datas comemorativas, a

secretaria organiza a doação de brinde à população, por meio de senhas distribuídas ao

longo da semana. Além dessas ações, é de responsabilidade desta secretaria gerenciar

os programas federais de atenção a distintos segmentos sociais, tais quais descritos a

seguir.

Programas Federais.

Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e Conselho Tutelar. Conta com 09

funcionários, sendo 01 assistente social e 01 pedagoga (Figura 42). Não conta com

psicólogos. O trabalho desenvolvido pela equipe técnica é executar os programas federais

e dar suporte às famílias por meio de palestras, informativos, atendimentos e orientações.

Não obstante se dê atenção às famílias, atendem-se muitas crianças e adolescentes em

conflito com a lei, usuários de drogas, com problemas escolares e rejeitados pelos pais.

Em função de questões culturais, muitas crianças indígenas são abandonadas na cidade

e o poder público não possui alternativas para elas.

75

Figura 42: CRAS Fonte: LAPSEA / INPA – 2011

Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF). O foco deste programa é

trabalhar a família, por meio de atividades de prevenção, educação sexual, horticultura

familiar, artesanato, bordado, manicure e pedicure. O objetivo central de tais ações é aliar

práticas educativas às possibilidades de geração de renda. São atendidas 280 famílias

em encontros semanais ou mensais, de acordo com as necessidades das mesmas e da

oferta do programa.

Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI). Os 08 profissionais atendem

138 crianças entre 06 e 14 anos, em dois turnos diferentes, por meio de atividades de

reforço escolar, horticultura, artesanato e lazer (esporte e danças regionais).

Busca-se retirar as crianças do trabalho infantil, para que tenham acesso à escola e

recreação. O desafio enfrentado no município é garantir que as crianças filhos de

agricultores e pescadores tenham condições de acesso à educação e lazer, sem perder a

herança cultural transmitida no cotidiano das famílias do meio rural.

Programa Projovem Adolescente. Também conta com 08 profissionais, que

atendem 150 jovens entre 14 e 18 anos em dois turnos. Os jovens que circulam no

programa estão em conflito com a lei, são usuários de drogas, não freqüentam a escola e

têm pouco vínculo com suas famílias. O trabalho inicia-se pelo estabelecimento de vínculo

com os jovens, perguntando-se o que querem fazer, de modo a adequarem suas

necessidades às propostas do programa. Busca-se conscientizar esses adolescentes por

meio de atividades esportivas, artesanato, produção de biojoias, reforço escolar e

horticultura.

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Bolsa Família. O atendimento é realizado no CRAS, por um funcionário contratado

especificamente para o cadastro e acompanhamento das famílias. Em Atalaia do Norte

estão cadastradas 1.751 famílias, sendo atendidas 1.221 famílias em 2011.

Programa Melhor Idade. Através de verbas federais e municipais, este programa

conta com 220 idosos cadastrados e 02 profissionais contratados fixos. Atende-se entre

60 e 80 idosos por atividades, a saber: recreação, palestras de saúde, brincadeiras,

música, dança e produção de biojoias.

Dificuldades. A falta de mão-de-obra especializada é um problema geral às secretarias

municipais. Para a SEMAS, faltam profissionais essenciais, como psicólogos, para

atendimento às famílias e outros segmentos sociais.

Outra dificuldade é a forte presença de drogas no município, que está gerando

problemas de criminalidade e desestruturação familiar. O que agrava essa situação é a

falta de alternativas de geração de renda e empregos para os cidadãos atalaienses.

Apenas o comércio e cargos públicos são fonte de empregos à população. Isso causa

desestímulo a inúmeros jovens que querem entrar no mercado de trabalho.

O abandono de crianças indígenas pelos pais é um caso cuja solução ainda está

longe de ser encontrada pelas autoridades locais. Além disso, enfrentam-se casos de

exploração do trabalho infantil, em que algumas famílias proíbem o acesso dos filhos à

educação e recreação, devido a hábitos culturais e crenças de que os estudos não

servem para nada. Por sua vez, a cidade não conta com locais de lazer para as crianças,

como parques, bosques e praças.

As visitas às comunidades rurais tornam-se esporádicas, por conta dos altos custos

com transporte e longas distâncias a serem percorridas. Para se alcançar algumas

localidades, leva-se dois dias em lancha com motor 200 HP. Esses deslocamentos só são

possíveis graças à parceria com a FUNAI, por exemplo. Entretanto, ainda há forte

burocracia por parte desse órgão para identificação das necessidades sociais na Ti Vale

do Javari, com vista ao acesso a benefícios sociais.

Há também grande dificuldade em tomar conhecimento das ações de ONGs

atuantes nas aldeias indígenas. Não se sabe quantas entidades existem e quais ações

estas realizam com os indígenas das distintas etnias presentes em Atalaia do Norte. Falta

integração de ações com a poder público, bem como de transparência nos projetos

realizados.

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COMDEC – Coordenadoria Municipal de Defesa Civil

Responsável: José Márcio da Costa Mello.

Contato: (97) 3417-1174, [email protected], http://defesacivilatn.blogspot.com/

Ações. Criada a 11 de Março de 2009, a Defesa Civil de Atalaia do Norte funciona no

prédio da SEMAS e conta com 05 funcionários, além de 110 voluntários. O responsável é

o vice-secretário da SEMAS. Trabalha-se em quatro eixos centrais: prevenção,

preparação, atuação e reconstrução. As ações são desenvolvidas tanto na zona urbana

quanto rural, em parceria com a FVS. Realiza-se prevenção nas áreas endêmicas e

auxílio às famílias vítimas das enchentes e estiagens. Em 2009 houve uma grande

enchente na região e em 2010 a estiagem deixou em isolamento 98% das comunidades

rurais.

Dificuldades. A dificuldade enfrentada pela Defesa Civil é a de encontrar formas de

remuneração para os voluntários, que executam suas atividades sem ganhos financeiros,

apesar da grande responsabilidade.

SEMED – Secretaria Municipal de Educação

Secretaria: Maria Francisca de Almeida

Contatos: (97) 3417-1166

Ações. A Secretaria Municipal de Educação de Atalaia do Norte possui sede própria e

localiza-se em rua recém asfaltada pela Prefeitura Municipal (Figura 43). Esta instância é

responsável pelo gerenciamento da oferta de educação, mais especificamente do ensino

infantil e fundamental, contando com um total de 61 escolas cadastradas no município. O

ensino médio é responsabilidade da SEDUC (Secretaria Estadual de Educação).

Segundo dados do INEP (data escola Brasil/2010), 85,2% das escolas cadastradas

eram municipais e 14,8% estaduais (Figura 44). Grande parte das escolas está localizada

na zona rural (88,5%) e a maioria é de escolas indígenas, devido ao fato de boa parte das

comunidades rurais estarem dentro da TI Vale do Javari.

Nas Tabela 28 lista-se as escolas urbanas e rurais e respectivos endereços.

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Tabela 27: Nome das escolas, com endereço, da zona urbana. Fonte: INEP – data escola Brasil/2010

Escolas da zona urbana

Nº Escolas Localização

01 Escola Profª Luciney Mello Carneiro Rua Julio Mauricio De Souza Mesquita

02 Escola Raimunda Galate Rua Augusto Luzeiro Ao Lado Do Hospital

03 Centro De Educação Indígena Comunidade Maronal

04 Centro De Ensino Médio Mediado Por Tecnologia Rural

Palmeiras Do Javari - 1º Pelotão Especial De Fronteira

05 Escola Estadual Marechal Castelo Branco Prim Pelotão Esp Front Palmeiras Do Javari

06 Escola Estadual Tenente Rufino Rua Do Morro - Estirão Do Equador 4º Pel Esp Fron

07 Centro De Educação Tecnológica Do Amazonas – CETAM

Rua Pedro Teixeira

08 Centro De Ensino Médio Mediado Por Tecnologia – Urbana

Rua Raimundo Gimaque Do Nascimento 174

09 Escola Estadual Carmosina Baima De Almeida Rua Costa E Silva

10 Escola Estadual Pio Veiga Rua Raimundo Gimaque Do Nascimento

11 Escola Estadual Tereza Lemos De Oliveira Santos Estrada Pedro Teixeira, 53 Cartório Eleitoral

Figura 43: Secretaria Municipal de Educação Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

Figura 44: Escola Estadual de Atalaia do Norte Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

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Escolas da zona rural

Nº Escolas Comunidade Localização

01 Escola Adalziza Moura Palmeiras Pelotão Rio Javari

02 Escola Aderson de Menezes São João Rio Javari

03 Escola Aldeia Moacir Baima São Pedro Rio Javari

04 Escola Boa Esperança Irari Ii Rio Javari

05 Escola Campinas Campinas Rio Javari

06 Escola Colônia do Bóia Estrada do Bóia Estrada do Bóia

07 Escola Indígena Água Branca Água Branca Rio Alto Ituí

08 Escola Indígena Aldeia Jaburu Jaburu Rio Alto Curuca

09 Escola Indígena Aurélio Aurélio Matis Rio Médio Ituí

10 Escola Indígena Beija Flor Beija Flor Rio Médio Ituí

11 Escola Indígena Caxias Caxias Rio Médio Javari

12 Escola Indígena Cruzerinho Cruzerinho Rio Baixa Jaquirana

13 Escola Indígena Ermínia Maia Sebastião Rio Médio Curuca

14 Escola Indígena Flores Flores Rio Curuca

15 Escola Indígena Fruta Pão Fruta Pão Rio Médio Curuca

16 Escola Indígena José Rodrigues de Almeida Maronal Rio Alto Curuca

17 Escola Indígena Liberdade Liberdade Rio Alto Ituí

18 Escola Indígena Lobo Igarapé. Lobo Rio Jaquirana

19 Escola Indígena Maloca do Paulinho M. Do Paulinho Rio Alto Ituí

20 Escola Indígena Mestre Txano Domingos Mestre Txano Rio Curuca

21 Escola Indígena Missão Vida Nova Vida Nova Rio Alto Ituí

22 Escola Indígena Morada Nova Morada Nova Rio Médio Curuca

23 Escola Indígena Nova Esperança do Irari Lago Do Tambaqui Rio Javari

24 Escola Indígena Nova Esperança Matses Esperança Rio Pardo

25 Escola Indígena Paraná Paraná Rio Médio Ituí

26 Escola Indígena Pedro Lopes Pedro Lopes Rio Curuca

27 Escola Indígena Pentiaguinho Pentiaguinho Rio Médio Ituí

28 Escola Indígena Pin Massapé Massapé Rio Alto Itacoaí

29 Escola Indígena Prainha Boa Vista Rio Alto Ituí

30 Escola Indígena Remancinho do Beija Flor Remancinho Rio Médio Itacoaí

31 Escola Indígena São Francisco Rio Novo Rio Médio Ituí

32 Escola Indígena São Luiz São. Luis Rio Médio Javari

33 Escola Indígena Solis Soles Rio Alto Javari

34 Escola Indígena Terrinha Médio Curuca Rio Pardo

35 Escola Indígena Três Jose Três José Rio Javari

36 Escola Indígena Trinta e Um Aldeia 31 Rio Jaquirana

37 Escola Indígena Vida Nova Vida Nova Rio Alto Ituí

38 Escola Indígena Wani Mashepa Alegria Rio Médio Ituí

39 Escola Jose Marques Unidade Cachoeira Rio Itacoaí

40 Escola Municipal Artur Ramos Ladario Rio Itacoaí

41 Escola Municipal Santiago BR - 307 Atn Bc Estrada Pedro Teixeira

42 Escola Paumari Paumari Rio Javari

43 Escola Pirapitinga Pirapitinga Rio Javari

44 Escola Rural Boa Vista Azaical Rio Javari

45 Escola Santa Cruz Contrabando Rio Itacoaí

46 Escola Santa Luzia São Gabriel Rio Itacoaí

47 Escola São Rafael São Rafael Rio Itacoaí

48 Escola São Raimundo São Raimundo Rio Javari

49 Escola Tenente Coronel Jorge Fernando Estirão Do Equador Rio Javari

Tabela 28: Nome das escolas, com endereço, da zona rural. Fonte: INEP – data escola Brasil/2010

80

Além da oferta de educação para a zona urbana e rural, esta instância oferece

programa de reforço escolar em parceria com a Secretaria de Ação Social. Este não

consiste apenas em atividades complementares de aprendizagem dos alunos, mas

também como uma forma de aproximação dos pais com os filhos, de maneira a resgatar o

emprenho dos jovens e conscientizar os adultos da importância dos estudos. Para

execução desse programa, existem dois professores que circulam pelas salas de aula,

verificando as necessidades dos alunos.

Outro programa desenvolvido pela secretaria é o CTI – Centro de Trabalho

Indígena, que acontece em parceria com a FUNAI e a Secretaria Municipal de Assuntos

Indígenas. Trata-se de uma escola técnica que oferece cursos para alunos indígenas,

com o propósito de formar técnicos de enfermagem para trabalhar nas respectivas

aldeias.

Dificuldades. A maior dificuldade enfrentada pela secretaria é a falta de transporte,

principalmente para o meio rural, onde o acesso às escolas é difícil para os moradores de

algumas comunidades. Muitas vezes é preciso que um morador de alguma aldeia se

desloque até o município, para poder levar o material didático e merenda escolar até as

comunidades. Como essas pessoas não possuem condições financeiras privilegiadas,

nem motores potentes para as canoas, esse deslocamento é feito só de vez em quando.

A viagem para a comunidade mais próxima, por exemplo, leva aproximadamente 72

horas.

Outra séria dificuldade enfrentada é o atraso de até três meses no envio do

material didático e da merenda escolar, o que tem levado à paralisação das aulas em

muitas comunidades rurais.

81

SEMSA – Secretaria de Saúde

Responsável: Clícia Souza

Contato: (97)3417-1146

Ações. Localiza-se em sede própria, em frente ao ginásio municipal (Figura 45). A

Secretaria Municipal de Saúde de Atalaia do Norte é responsável pela atenção à Saúde

da população rural e urbana não-indígena, não obstante possam ser realizados

atendimentos a indígenas nos aparelhos de saúde municipais.

Figura 45: Secretaria Municipal de Saúde Fonte: LAPSEA / INPA - 2011

Aparelhos de Saúde. As informações do DATASUS, referentes a janeiro de 2011,

mostram que no município de Atalaia do Norte existem 02 estabelecimentos voltados para

atenção básica e 01 estabelecimento de media complexidade. Em pesquisa de campo foi

possível verificar a existência de 01 Posto de Saúde (Figura 46) e 01 hospital na cidade.

82

Figura 46: Posto de Saúde Fonte: LAPSEA / INPA – 2011

O hospital de Atalaia do Norte (Figura 47) está passando por reforma e atualmente

conta com um total de 30 leitos (DATASUS / 2011), divididos em: 10 cirúrgicos, 06

obstétricos, 10 para clinicas médicas e 04 de pediatria. Apesar da existência desses dois

aparelhos de saúde para atender à demanda da população, em casos de doenças mais

graves os pacientes são transferidos para Tabatinga ou até mesmo para Manaus. A

prefeitura se responsabiliza pelo transporte desses pacientes, que viajam em recreios

conveniados. Tanto no hospital quanto no posto de saúde os atendimentos são realizados

através do SUS.

Figura 47: Hospital de Atalaia do Norte Fonte: LAPSEA / INPA – 2011

83

Profissionais da Saúde. Não foi possível obter lista completa com o número de

profissionais da área de Saúde atuantes no município, o que inviabiliza saber quantos

Agentes Comunitários de Saúde, técnicos de enfermagem, médicos, enfermeiros,

odontólogos, assistentes sociais, psicólogos, bioquímicos, técnicos em patologia clínica,

técnicos de radiologia e cirurgiões existem.

O que soube é que há poucos profissionais qualificados da área da Saúde

trabalhando no município. Verificou-se a presença de apenas 02 médicos trabalhando nos

aparelhos de saúde. Por falta de enfermeiros, alguns técnicos de enfermagem estão

sendo formados por meio de cursos oferecidos por professores procedentes de Manaus,

contratados esporadicamente e para períodos de no máximo um mês.

Dados Epidemiológicos. Segundo a Secretaria de Saúde, as doenças mais incidentes

no município no meio urbano são a diarréia, cujo número de casos aumenta na época da

cheia (entre 18 e 30 casos por semana), e a Infecção Respiratória Aguda (IRA), cuja

frequência aumenta na época da seca. Também são registrados casos de Doenças

Sexualmente Transmissíveis (DST) e Hepatite, principalmente a do tipo B.

Já no meio rural, há casos registrados de acidentes causados por animais

peçonhentos. A malária é a doença que ocorre ao longo de todo o ano (aproximadamente

1000 casos por ano). De acordo com dados do SIVEP (2007), o Índice Parasitário de

Malária foi bastante elevado, alcançando 320,5 casos / 1.000 hab., com um total de 3.767

exames positivos notificados (Tabela 29).

Exames Positivos e Incidência Parasitária Anual (IPA) de Malaria - 2007

Município Exames

positivos IPA

Atalaia do Norte 3.767 320,5

Tabela 29: Índice Parasitário de Malária Fonte : SIVEP-Malária – 2007

Não foram encontrados dados municipais dos casos de leishmaniose tegumentar

americana e leishmaniose visceral, febre amarela e dengue. No entanto, de acordo com

dados do Ministério da Saúde (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), entre

2007 e 2010 no estado do Amazonas a incidência de casos de leishmaniose tegumentar

americana foi de 60,24 casos/100.000hab, enquanto de leishmaniose visceral foi de 0,03

casos/100.000hab. Segundo a mesma fonte, houve apenas 02 casos notificados de febre

amarela e 12.154 casos de dengue.

84

Programas. O número de pessoas atendidas pelo Programa Saúde da Família (PSF) em

Atalaia do Norte até o mês de dez/2010 foi de 4.086 pessoas, conforme Ministério da

Saúde (Tabela 30).

Nº de pessoas atendidas pelo PSF – Dez / 2010

Município Nº Pessoas

Atalaia do Norte 4.086

Tabela 30: Nº de pessoas atendidas pelo PSF - Dez/2010 Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informação de Atenção Básica - SIAB

A lista completa dos programas preventivos adotados pela Secretaria Municipal de Saúde

encontra-se descrita na (Tabela 31).

Programas Preventivos do SEMSA

SINAN - Sistema de Informação de Agraves Rural e Urbano

SIM - Sistema de Mortalidade

SINASC - Sistema de Nascido Vivo SIAB - Sistema de Atuação Básica

SISPRE NATAL - Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento

HIPERDIA - Prevenção e tratamento da Hipertensão e Diabetes

APEI SISVAM

SENES SISREG – Sistema Nacional de Regulação

Tabela 31: Programas Preventivos da SEMSA Fonte: SEMSA

Um dos programas investigados com maior profundidade, por escolha aleatória, foi

o SISREG – Sistema Nacional de Regulação. Esse programa é um sistema on-line criado

para o gerenciamento de todo complexo regulatório, indo da rede básica à internação

hospitalar, visando à humanização dos serviços, maior controle do fluxo e otimização na

utilização dos recursos. Por meio desse programa, é possível agendar os exames dos

pacientes de Atalaia do Norte para os hospitais de Tabatinga e Manaus.

Nesses casos, o paciente vai para tais municípios realizar exames, consulta e tratamento,

já com a data marcada, facilitando e adiantando o atendimento. Os custos de transporte,

alimentação e hospedagem são bancados pela prefeitura.

Dificuldades. Há falta de medicamentos disponíveis à população, sejam os mais comuns,

como a Dipirona, sejam aqueles específicos para doenças mais complexas.

Muitas vezes os medicamentos precisam ser buscados no município vizinho (Benjamin

85

Constant) ou até mesmo em Tabatinga. Em casos extremos são buscados até mesmo no

município colombiano de Leticia.

Outro problema enfrentado pelo município é em relação à estrutura do hospital, que

ainda é precária e faltam leitos, dificultando o atendimento à população.

Também há dificuldade na realização de exames, pois faltam aparelhos e manutenção

daqueles que ali existem.

A falta de profissionais como ginecologista, radiologista e pediatra é a maior

dificuldade encontrada na área de saúde do município. Não obstante se ofereçam altos

salários, há pouca procura das vagas disponíveis, o que torna o atendimento à população

insuficiente.

Por outro lado, os maus costumes da própria população agravam a situação de

saúde do município. Apesar de serem realizados programas preventivos e educativos de

higiene, uso da água, limpeza dos alimentos e práticas saudáveis, os técnicos da

Secretaria de Saúde têm encontrado sérias dificuldades de mudar hábitos arraigados na

cultura local.

SEMAI – Secretaria Municipal de Assuntos Indígenas

Secretário: Manoel Comapa (Marubo)

Contato: (97) 3417-1587

Ações. O objetivo da Secretaria Municipal de Assuntos Indígenas, existente desde 2000,

é desenvolver políticas e diretrizes relativas às questões indígenas, de acordo com os

interesses das comunidades. Também é missão da secretaria prestar assistência

educacional (material didático e merenda escolar) e de Saúde, visando à melhoria de

qualidade de vida, preservação e disseminação da cultura indígena das distintas etnias.

Além disso, tais ações objetivam promover o desenvolvimento sustentável, através do

estímulo à produção nas comunidades indígenas.

Todas essas propostas são realizadas em parceria com as demais secretarias e

órgãos indigenistas presentes no município, tendo em vista à resolução dos anseios dos

povos indígenas locais e atendimento das demandas nas várias comunidades rurais.

Umas das ações é a expedição de documentos para todos os cidadãos indígenas, por

intermédio da SEMAS, que também realiza cadastro para o Bolsa Família e outros

benefícios assistenciais.

Um dos projetos educacionais coordenados pela secretaria é o PIRAYWARA , que

86

tem como finalidade formar professores indígenas e mantê-los nas escolas indígenas.

Atualmente o município possui professores formados e em processo de formação,

conforme descrito na Tabela 32.

Nº escolas e professores indígenas

Escolas Indígenas Professores Formados

Professores em formação

32 10 48

Tabela 32: Nº de escolas indígenas, professores indígenas formados e em formação Fonte: Prefeitura Municipal de Atalaia do Norte – 2011

A prefeitura de Atalaia do Norte é responsável pela aquisição de materiais e mão-

de-obra para a construção das escolas nas aldeias.

Segurança Pública

O município conta com um batalhão da Polícia Militar e uma Delegacia de Polícia

recém inaugurada (Figura 48). O prédio está em boas condições (estrutura nova) e tem

capacidade para atender em média 20 presos. Em casos mais graves, esses são

transferidos para a delegacia de Tabatinga. A delegacia conta com três viaturas, e quatro

motos para a ronda no município.

Figura 48: DP de Atalaia do Norte Fonte: LAPSEA / INPA – 2011

87

Os casos de maior ocorrência são furtos, alcoolismo, brigas e problemas com

drogas, cuja procedência é do Peru e Colômbia. Há também casos registrados de

suicídio. Quando há algum chamado, a Policia Federal em Tabatinga é ativada e

comparece ao município, uma vez que ainda não existe uma base desse órgão federal

em Atalaia do Norte.

Não há corpo de bombeiros e quando há alguma ocorrência mais séria, os

bombeiros de Tabatinga são ativados.

Foi observado um número bastante elevado de motocicletas no município, sem que

haja qualquer fiscalização no trânsito. Os motociclistas ainda trafegam sem capacete de

segurança e muitos dirigem sem habilitação e, mesmo assim, o número de acidentes no

transito é baixo.

88

Sugestões ao Município

Fórum municipal de Desenvolvimento Sustentável

Recomenda-se ao poder público de Atalaia do Norte a criação imediata de um

Fórum Municipal de Desenvolvimento Sustentável. As atuais discussões globais de uma

sociedade mais includente socialmente, sustentável ecologicamente e sustentada

economicamente também devem ser ponderadas em nível local.

A inclusão social se refere à adoção de estratégias de geração de renda e melhoria

da qualidade de vida de toda a população atalaiense, especialmente aquelas das áreas

rurais. Como pudemos detectar, as políticas voltadas às comunidades rurais são pouco

expressivas e estão voltadas unicamente à oferta de Educação, por exigência do governo

federal, e ao fomento e assistência rural, por incentivo de órgãos estaduais.

A intervenção municipal ocorre apenas por ações da defesa civil, nos momentos de cheia

ou estiagem. É importante que o poder público garanta o acesso pleno à cidadania, por

meio de bens e serviços sociais às comunidades rurais.

Ser sustentável ecologicamente não é apenas preservar as árvores da floresta de

pé, apesar de já ser um avanço ao município caso este tivesse controle e aplicasse a

legislação correspondente aos donos de terrenos ao longo da rodovia BR-307, que

desmatam as áreas verdes indiscriminadamente. É importante também que o poder

público local faça estudos técnico-científicos para criação de aterro sanitário, onde não

haja lençóis freáticos ou igarapés. A criação de estação de tratamento de água potável

melhorará e beneficiará muitas pessoas, mas ainda se deve ponderar uma reestruturação

geral da rede de esgoto e seu tratamento. Além disso, o governo local deve estabelecer

parcerias com os órgãos de fiscalização ambiental para agilizar a liberação de

documentação legal ao manejo florestal, pois parte da economia local poderia ser

reavivada.

A economia sustentada deve ser uma das metas municipais. Além de conseguir

equilibrar as contas e ter superávit por meio de parcerias com o governo federal e

estadual, é necessário que o poder público fiscalize e incentive a economia local,

protegendo os produtos brasileiros e controlando os estrangeiros. Por outro lado, deve-se

89

reestruturar a forma de arrecadação de impostos municipais e incentivar a criação de

empreendimentos locais, seja no setor primário, secundário e terciário. Nesse sentido, um

grande passo à economia local sustentada é a integração da produção das comunidades

rurais com as demandas de consumo municipal. Não há nenhuma forma de incentivo ao

pequeno produtor para escoamento da produção ou facilitação das vendas.

Falta, portanto, ações integradas entre os distintos agentes sociais, tendo em

comum uma agenda de desenvolvimento local que respeite o modo de vida da população

urbana e rural, que tenha prudência ecológica e dinamize a economia regional.

Não encontramos, neste estudo, convergência entre os seguintes temas: questões

indígenas, ações ambientalistas, conservação do ambiente, desenvolvimento humano em

comunidades rurais, geração de empregos e planos de progresso econômico. Há ações

realizadas por agentes sociais de modo autônomo e sem diálogos ou interações com

outros parceiros.

O Desenvolvimento Sustentável não é apenas uma agenda ambientalista que

busca ter ações voltadas à conservação do meio ambiente. Trata-se da procura de novas

estratégias para o desenvolvimento humano pensado em âmbito global.

Para que as pessoas tenham plenas possibilidades de desenvolverem seus potenciais, é

preciso que o poder público alie os interesses dos distintos agentes sociais em um fórum

local, com vista à elaboração de agenda em comum. Um importante agente regional é a

UFAM, que pode trazer conhecimentos científicos e mão de obra especializada destinada

à dinamização da economia local, produção de conhecimentos e transformações positivas

da realidade regional.

Criação de secretaria voltada às comunidades rurais

Conforme diagnosticado neste estudo, detectou-se que as ações do poder público

local estão mais voltadas ao âmbito da zona urbana. A presença do governo local nas

comunidades rurais é muito baixa. Isso significa que o acesso aos bens e serviços sociais

pela população rural só acontece em condições excepcionais. Tais pessoas vivem em

condições mínimas de usufruto de saneamento básico, energia, educação e saúde.

As distâncias e os meios de transporte dos comunitários também se tornam um empecilho

para acesso aos bens oferecidos na cidade. A agricultura familiar não recebe estímulos

significativos ou incentivos que consolidem o modo de vida nas comunidades rurais.

Recomendam-se as seguintes linhas de ação:

90

1) Realizar estudos de sistemas integrados de produção, que envolvam desde a

agricultura familiar até os grandes sistemas comerciais, adaptados às condições locais.

2) Criação de logística adequada para produtos agroflorestais, que facilitem o

armazenamento, transporte e processamento dos mesmos.

3) Busca de diferentes sistemas locais de geração de energia, como por exemplo a

energia solar, eólica, etc.

4) Trabalhar pelo fortalecimento e modernização das técnicas de subsistência da

agricultura familiar. Isso significa respeito ao modo de vida das comunidades rurais e, ao

mesmo tempo, melhorias nas técnicas utilizadas, por meio da integração entre os

conhecimentos científicos e tradicionais.

5) Desenvolver novos sistemas de produção, como a piscicultura, domesticação de

animais, etc., a partir de uma pesquisa a respeito do potencial produtivo existente nas

distintas comunidades rurais.

6) Redimensionamento de acesso a bens e serviços sociais apropriados às condições

específicas da Amazônia rural, que envolvem ponderar condições de transporte e acesso

diferenciados.

Criação de Secretaria Municipal do Meio Ambiente

O poder público municipal não possui em sua estrutura administrativa uma

secretaria voltada exclusivamente às questões relacionadas ao meio ambiente. É

importante que se pondere a criação também desta secretaria, pois por meio desta se

poderão elaborar programas de reciclagem de lixo, conscientização e preservação do

ambiente, criação de parques e formação de agentes de educação ambiental. Além disso,

tal secretaria pode intermediar negociações com outros órgãos governamentais, com a

finalidade de desenvolver alternativas sustentáveis de uso de recursos naturais da região.

Censo das organizações do Terceiro Setor

Não há cadastros de qualquer tipo de organização do Terceiro Setor atuante no

município. Sabe-se, no entanto, que existem entidades atuantes em favor de distintos

segmentos sociais, sem ponderar-se quantas pessoas são empregadas, a movimentação

financeira, as parcerias estabelecidas com outros agentes sociais e as ações

empreendidas.

91

É importante que o poder público qualifique e cadastre todas as organizações

passíveis de serem rotuladas enquanto pertencentes ao Terceiro Setor, de modo a

dimensionar a presença dessas entidades no município. Há em Atalaia do Norte

organizações que defendem os interesses das várias etnias. Portanto, deve-se ter

conhecimento do que fazem e demais dados.

Há um esforço nacional para gerar um mapa do Terceiro Setor, que pode ser

encontrado no site www.mapadoterceirosetor.org.br, que contém os manuais necessários

ao cadastro dessas organizações.

Do assistencialismo ao protagonismo

O assistencialismo é uma das barreiras a serem superadas pelos governantes

locais, sentida por eles próprios como um obstáculo que impede o desenvolvimento de

diversas ações. Da mesma forma que em outros municípios do Amazonas, em Atalaia do

Norte constatou-se que os cidadãos estão acostumados a pedir favores aos políticos.

Estes, por sua vez, retribuem com a doação de dinheiro, bens materiais e regalias, com a

finalidade de manterem a fidelidade de seus eleitores. Uma parte das despesas públicas,

não quantificável em prestações de conta, é destinada à manutenção desse esquema

assistencial.

A superação da lógica assistencialista requer uma mudança radical da cultura

política local. Um passo importante é o estímulo e o fortalecimento do associativismo nos

distintos segmentos sociais. Uma iniciativa que vem demonstrando resultados é a

Associação das Mulheres Costureiras, que após um estímulo inicial conseguiu trazer

algumas mulheres ao mercado de trabalho, gerando-lhes renda e inserindo-as na cadeia

produtiva. Além disso, essas mulheres ganham status em suas famílias e se sentem

importantes para a condução da vida familiar e da própria associação que estão inseridas.

Isso reforça a autoestima e o prestígio por quem lhes ofereceu tais oportunidades.

Portanto, o estímulo ao associativismo, cooperativismo e quaisquer outras formas

de reunião de pessoas que lhes dê o sentimento de união e, por sua vez, possibilidades

de geração de renda e melhoria na qualidade de vida, fortalece o capital social e a

sociedade civil, auxiliando nas premissas do desenvolvimento sustentável.

As pessoas passam a se sentir agentes e protagonistas de suas vidas à medida que lhes

são dadas oportunidades sociais, facilidades econômicas para desencadear autonomia,

segurança institucional e garantia de transparência.

92

Pode-se mensurar a mudança do padrão assistencialista ao de protagonista no

momento em que as pessoas se tornam agentes ativos, isto é, agem e ocasionam

mudanças a partir de si mesmas, julgando suas realizações por valores e objetivos

próprios.

Os políticos que tiverem a capacidade de empreender tais mudanças terão

garantido na história regional um lugar de destaque e, com certeza, angariarão votos e

postos mais altos. Serão para sempre recordados pela memória coletiva como aqueles

que propiciaram a emancipação e melhoria da qualidade de vida do povo.

Educação Ambiental para proteção das florestas

O município de ATN, como todos os demais municípios de estado do Amazonas e

do Brasil, tem pela frente grandes desafios. Um deles é sem dúvida trazer benefícios

sociais à população e outro é uma atenção direcionada à gestão e cuidado da floresta.

Não são apenas à esses munícipes que cabe esse compromisso, mas toda a sociedade.

Pelas dificuldades apontadas nesse relatório, ainda há muito que caminhar na conquista

de uma melhor qualidade de vida. Essa qualidade de vida, entretanto vai ter que

considerar como prioridade igual a proteção do patrimônio ambiental amazônico.

Se existe a necessidade de um avanço nas condições de vida da população, esse

aspecto não pode deixar em segundo plano o cuidado com o ambiente e seus recursos.

De modo geral nossa geração tem o desafio de transformar nosso modo de agir e pensar

que muito tem degradado o ambiente natural. Para isso acontecer é necessário um

grande empenho em processos educativos. A Educação Ambiental (EA) é uma dessas

tentativas capazes de termos um mundo mais sustentável e de preservação de nossos

recursos naturais e, sobretudo da manutenção das florestas em pé ou de um uso

sustentável de seus recursos.

A EA tem como responsabilidade contribuir com o processo de construção de uma

sociedade compromissada com a justiça social e a sustentabilidade ambiental. E nesse

contexto as nossas florestas são um mundo a ser cuidado e respeitado, não como uma

paisagem inócua ou como um mundo temido. Ao contrário, a Floresta Amazônica deve

fazer parte do orgulho de todos que vivem nela. Para que isso aconteça é necessário

desenvolver atividades educativas que sensibilizem as pessoas sobre o papel das

florestas, seus valores, suas potencialidades e suas ameaças. É preciso ampliar o

conhecimento, mostrar que a floresta é importante, mas pouco se sabe dela. Estudos

93

científicos já nos dão alguma informação, mas também nos alertam o quanto ainda

precisamos estudar para entender como a floresta funciona e como podemos trata-la de

modo a mantê-la como recurso para nossa geração e as demais que virão. Além da

sensibilização e do conhecimento é necessário estratégias que capacitem as pessoas

para práticas mais sustentáveis, substituindo com empenho práticas de impactos

cumulativos. Juntando esses três pilares com políticas públicas de promoção de melhores

condições sociais e mais oportunidades, acreditamos que a cidadania ambiental será

alcançada.

A principal crítica sobre alguns programas de educação ambiental que são

desenvolvidos nas escolas ou fora delas, é que estes se limitam a dar informações gerais

sobre aspectos biogeoquímicos da natureza e pouco se preocupam em contextualizar as

florestas como um mundo que além de sua dimensão material, também possui uma

dimensão simbólica e sociopolítica.

A floresta é muito mais do que um conjunto de árvores que forma um sistema

propicio para a vida de outras espécies de vida. A floresta faz parte de nossa dimensão

humana, visto que damos a ela significados, usos e valores que fazem de nossa

existência ser o que é. Essa subjetividade deve ser levada em conta quando projetos de

desenvolvimento são desenvolvidos. Muitas vezes essa subjetividade é prejudicial à

proteção dos recursos, por exemplo, em muitos casos a floresta é um obstáculo para o

desenvolvimento. O “mato” como é percebido por alguns deve ser tirado para dar lugar a

criações de cidades e seus aparatos desenvolvimentistas e predatórios.

A educação ambiental tem a responsabilidade de transformar essa forma

insustentável de pensar com estratégias adequadas. Um programa eficaz e eficiente deve

perseguir pelo menos quatro fases: a) sensibilização: olhar de modo diferenciado à

floresta que está sendo ameaçada; b) informação: ampliar o conhecimento do papel da

floresta e como esta funciona para o equilíbrio ecológico do ambiente; c) capacitação:

treinar e introduzir oportunidades e práticas de menor impacto ambiental; d) assumir

responsabilidade e compromisso distintos, mas complementares entre cidadãos,

gestores, instituições, organizações, grupos sociais e governo.

Ao poder público cabe a inserção da sociedade com programas que mobilizem

jovens e famílias, escolas e demais organizações de forma a compartilhar

responsabilidades e ações de cuidado ambiental e crescimento social.