DESIGUALDADES NO ESPAÇO URBANO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS – O EXEMPLO DO...

21
I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 5556 DESIGUALDADES NO ESPAÇO URBANO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS – O EXEMPLO DO BAIRRO DE CAMPO GRANDE - RJ Vânia Regina Jorge da SILVA Mestre pela PUC – Rio [email protected] Resumo O presente artigo se desenvolve através da reflexão teórico-conceitual tendo por objetivo examinar processos aparentemente díspares como: segregação sócio-espacial e centralização/descentralização das atividades comerciais e de serviços que são gerados no mesmo contexto, no processo de acumulação do capital que, através de várias estratégias engendradas por agentes e classes sociais, com os seus interesses econômicos e políticos, são espacializadas na forma de diferenciações, ou melhor, desigualdades. Não só propõe a mesma origem para estes processos mencionados como também a possibilidade de trabalhar com eles de forma dialética a fim de promover o entendimento de recortes espaciais, tendo como exemplo Campo Grande, na cidade do Rio de Janeiro, bairro que se encontra segregado e, ao mesmo tempo, figura como um dos importantes subcentros da cidade carioca. Para tal utiliza o arcabouço teórico conceitual ligado à idéia de produção social do espaço ao ressaltar o espaço relacional como um resultado da dialética das diversas dimensões, aspectos, escalas de interações redundando numa produção impregnada de intencionalidades, conflitos, interesses, contradições e política. Palavras-chave: Segregação, descentralização, espaço, desenvolvimento geográfico desigual, Campo Grande – Rio de Janeiro. Abstract INEQUALITIES IN URBAN SPACE: SOME THEORETICAL- METHODOLOGICAL CONSIDERATIONS - THE EXAMPLE OF THE NEIGHBORHOOD CAMPO GRANDE - RJ The present article is developed through theoretical-concepcional reflections, aiming to examine apparently disparate processes such as: social-spatial segregation and centralization/decentralization of commercial activities and services, generated in the same context, namely: in the process of capital accumulation that, by divers engendered strategies by agents and social classes with their economical and political interests, are spaciously divided by differentiations or better by inequalities. The aim of this study is not only to demonstrate the same origin of the above-mentioned processes, but to show the possibility to work with them in a dialectic form, promoting the understanding of spatial outlines as it is the example of the neighborhood Campo Grande in Rio de Janeiro, the part of the city which finds itself segregated and at the same time is figuring as one of the important Sub-centers of the carioca city. For this, it uses the theoretical and conceptual framework of social space production emphasizing the related space as a dialectical result of divers dimension, aspects, and interaction scales, resulting in a

Transcript of DESIGUALDADES NO ESPAÇO URBANO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS – O EXEMPLO DO...

I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e

X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP

5556

DESIGUALDADES NO ESPAÇO URBANO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS – O EXEMPLO DO BAIRRO DE CAMPO

GRANDE - RJ

Vânia Regina Jorge da SILVA Mestre pela PUC – Rio

[email protected] Resumo

O presente artigo se desenvolve através da reflexão teórico-conceitual tendo por objetivo examinar processos aparentemente díspares como: segregação sócio-espacial e centralização/descentralização das atividades comerciais e de serviços que são gerados no mesmo contexto, no processo de acumulação do capital que, através de várias estratégias engendradas por agentes e classes sociais, com os seus interesses econômicos e políticos, são espacializadas na forma de diferenciações, ou melhor, desigualdades. Não só propõe a mesma origem para estes processos mencionados como também a possibilidade de trabalhar com eles de forma dialética a fim de promover o entendimento de recortes espaciais, tendo como exemplo Campo Grande, na cidade do Rio de Janeiro, bairro que se encontra segregado e, ao mesmo tempo, figura como um dos importantes subcentros da cidade carioca. Para tal utiliza o arcabouço teórico conceitual ligado à idéia de produção social do espaço ao ressaltar o espaço relacional como um resultado da dialética das diversas dimensões, aspectos, escalas de interações redundando numa produção impregnada de intencionalidades, conflitos, interesses, contradições e política. Palavras-chave: Segregação, descentralização, espaço, desenvolvimento geográfico desigual, Campo Grande – Rio de Janeiro. Abstract

INEQUALITIES IN URBAN SPACE: SOME THEORETICAL-METHODOLOGICAL CONSIDERATIONS - THE EXAMPLE OF THE

NEIGHBORHOOD CAMPO GRANDE - RJ

The present article is developed through theoretical-concepcional reflections, aiming to examine apparently disparate processes such as: social-spatial segregation and centralization/decentralization of commercial activities and services, generated in the same context, namely: in the process of capital accumulation that, by divers engendered strategies by agents and social classes with their economical and political interests, are spaciously divided by differentiations or better by inequalities. The aim of this study is not only to demonstrate the same origin of the above-mentioned processes, but to show the possibility to work with them in a dialectic form, promoting the understanding of spatial outlines as it is the example of the neighborhood Campo Grande in Rio de Janeiro, the part of the city which finds itself segregated and at the same time is figuring as one of the important Sub-centers of the carioca city. For this, it uses the theoretical and conceptual framework of social space production emphasizing the related space as a dialectical result of divers dimension, aspects, and interaction scales, resulting in a

I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e

X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP

5557

production deeply influenced by intentionally acting, conflicts, interests, contradictions and politics. Keywords: Social-spatial segregation, decentralization, space, uneven geographical development, Campo Grande-Rio Janeiro.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente artigo representa uma busca por embasamento teórico e

metodológico no qual seja possível trabalhar os processos de segregação sócio-espacial

e descentralização de comércio e serviços tendo como exemplo Campo Grande – RJ. A

relevância deste ocorre ao se trabalhar estes dois processos aparentemente díspares de

uma forma dialética.

A empiria que foi trabalhada ocorreu pela observação e coleta de dados a

respeito deste proeminente bairro localizado na Zona Oeste do município do Rio de

Janeiro. Embora se trabalhe com o bairro, existe a necessidade, de considerar a relação

deste com a cidade carioca e a Região Metropolitana do Rio de Janeiro visto que estão

sendo avaliados os processos mencionados. O recorte temporal ocorre desde a década

de 1990 até a presente data (2010) visto que, aborda alguns movimentos que foram

espacializados, percebidos como condicionantes e participantes de sucessivas dinâmicas

até a presente consideração.

A necessidade de trabalhar com estes dois processos já mencionados veio diante

da constatação de contradições ao examinar o recorte espacial suscitando as seguintes

questões: como trabalhar, no mesmo contexto, a percepção da segregação sócio-espacial

e a existência de um importante subcentro comercial neste bairro? E, como estes

interagem promovendo a realidade espacial observada? Que padrões de segregação

podem ser destacados? O que nos revela o processo de descentralização com respeito à

cidade carioca?

Para exemplificar os processos de segregação e descentralização foi considerado

o serviço de transporte público como um dos elementos estruturadores do espaço

urbano. Assim, o artigo acha-se organizado da seguinte forma: na primeira parte, sob o

título: “A busca teórica metodológica e conceitual”, se faz um embasamento com o qual

o trabalho foi construído destacando o conceito de espaço. Na segunda parte, são feitas

considerações sobre segregação sócio-espacial e descentralização exemplificadas em

Campo Grande tendo o transporte público como um elemento estruturador que ressalta

os processos. As considerações finais têm por objetivo justamente demonstrar a

I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e

X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP

5558

pesquisa como algo em aberto porque considera processos dinâmicos que, com novos

movimentos requerem novas investigações.

A BUSCA TEÓRICA METODOLÓGICA E CONCEITUAL

Quanto ao embasamento teórico conceitual, foi trabalhado com o espaço

geográfico desde a perspectiva do espaço absoluto, destacando as de espaço relativo e

espaço relacional nas considerações de Harvey (2006). Ainda de acordo com o mesmo

autor (1980, p.5) é através das práticas sociais que se pode apreender “a natureza do

espaço e as relações entre processo social e formas espaciais”, entre estas práticas

sociais, podemos citar a seletividade. Na atualidade, esta se acha “governada pela lógica

de mercado, (...) cada vez mais especializada e fragmentária do espaço (...)”, existindo

em função de uma divisão territorial do trabalho (MOREIRA, 2007, p. 86). Ao passo

que a cidade do Rio de Janeiro se inseriu na lógica capitalista, houve vários momentos

de seletividade de acordo com os interesses dos diversos agentes sociais do espaço, em

especial, dos especuladores imobiliários, configurando no decorrer do tempo, um

espaço segregado e fragmentado. Isto pode ser observado tanto na escala da cidade

como ao examinar o espaço interno de Campo Grande.

Na busca por uma teoria social crítica que desse conta da totalidade do espaço,

ou seja, que relacionasse sua parte física, social e mental, Lefebvre (1994) destaca o

espaço como uma produção social. Sendo assim, este contém as relações sociais:

produção, reprodução e reprodução das relações de produção, estes três aspectos

estando imbricados. As relações sociais de produção referem-se às necessidades

materiais sendo satisfeitas através do trabalho social. As relações de reprodução, de

acordo com o autor, correspondem à reprodução biológica que dá continuidade a

sociedade. E, no caso da sociedade capitalista, as relações de reprodução da produção

referem-se a toda reprodução de materialidades e simbolismos que possam dar

continuidade a esta sociedade enquanto uma sociedade de classes. Nosso interesse é

demonstrar esta reprodução da produção em classes espacializadas de forma desigual,

ao mesmo tempo segregada e homogeneizada e com suas contradições e conflitos.

Na produção social do espaço, há uma influência mútua num processo contínuo

e dialético entre sociedade e espaço através das relações sociais. Corroborando este

pensamento, nota-se que o espaço é ativo e condicionante das ações, conforme Gomes

acrescenta: “O espaço geográfico é simultaneamente, o terreno onde as práticas sociais

I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e

X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP

5559

se exercem, a condição necessária para que elas existam e o quadro que as delimita e

lhes dá sentido” (2002, p 172). Ainda, Santos (1997) aborda sobre o espaço como co-

produtor, isto é, interfere no devir. Não que este seja um ser autônomo, mas, através da

prática social, com suas intencionalidades, simbolismo, políticas que o espaço interfere

na sua produção. Um espaço segregado, como será exemplificado com a cidade do Rio

de Janeiro em especial, o bairro de Campo Grande, condiciona a sociedade na

reprodução desta realidade e de outras, como as centralidades. Este texto propõe a

apreensão das contradições e conflitos que emergem no espaço como reflexão para se

galgar mudanças.

Através das práticas sociais que percebemos a produção do espaço, sendo assim,

podemos considerar o espaço urbano, neste encontram-se atores que através de suas

ações (ou práticas) promovem processos sócio-espaciais que o remodelam. Corrêa

(2001, 146) identificou estes como “(...) agentes que produzem e consomem (o) espaço

urbano: proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes industriais,

proprietários fundiários, promotores imobiliários, Estado e grupos sociais excluídos”. A

inter-relação destes agentes resulta para o espaço em aspectos como os apresentados a

seguir: o espaço urbano é fragmentado e articulado, reflexo e condição social, campo

simbólico e de lutas (op. cit. p. 145). Como o autor salienta, a cidade capitalista se

apresenta como um “mosaico urbano” exemplificado pelas partes funcionais de uma

dada área metropolitana. Porém, estes fragmentos estão articulados através de fluxos

como deslocamentos de consumidores, jornada de trabalho, interações interindustriais

etc. (p. 148), campo de interesse do planejamento urbano, visto que, estes

deslocamentos demandam oferta de transporte que viabilize estas interrelações1.

Ainda, justificando trabalhar com o transporte público relacionado aos processos

de segregação sócio-espacial e descentralização do comércio e de serviços, Harvey

(1994, 202) considera a “fricção da distância” como barreira a interações impondo

custos nas transações do sistema de produção e reprodução. Visto que o sistema de

transporte é um requisito para a mobilidade espacial e acessibilidade este elemento

torna-se relevante ao estudarmos o desenvolvimento desigual do espaço. Percebemos

então, no caso da cidade do Rio de Janeiro que, dentro do processo de acumulação

capitalista, novos investimentos em transportes públicos tendem a se concentrar onde já

1 São feitas considerações extensas quanto à importância do transporte público e do planejamento urbano deste elemento estruturador do espaço urbano em Silva (2009).

I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e

X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP

5560

existem infra-estruturas, formando assim, uma concentração destas e de capitais,

reproduzindo a diferenciação espacial.

Ressaltando a influência desta infra-estrutura e sua relação com a produção e

reprodução de uma espacialidade segregada bem como de centralidades, Lago (2007a,

p. 286) considera que a intensidade de circulação diária

“(...) resulta da articulação entre a hierarquia espacial de centros e subcentros econômicos, as condições de transportes coletivos (os itinerários, a periodicidade e as tarifas) e a dinâmica imobiliária, responsável pela localização dos diferentes setores sociais no território.”

O embasamento teórico metodológico da pesquisa ocorre de acordo com a teoria

do desenvolvimento geográfico desigual e suas tendências contraditórias para

diferenciação e equalização, ou igualização (SMITH, 1998). Esta se tornou necessária

em virtude das diferenciações sócio-espaciais observadas no bairro em estudo e na

cidade do Rio de Janeiro engendradas no decorrer do tempo. Concomitante ao processo

de segregação sócio-espacial engendrado principalmente pela especulação imobiliária –

não somente por esta, visto que se requer todo um contexto político e econômico para

tal e a ação dos vários agentes espaciais – houve os processos de centralização e

descentralização do comércio e de serviços por causa dos interesses de acumulação do

capital nos seus diversos setores. Assim, Smith (1998), discorre que existe momento em

que a equalização predomina sobre a diferenciação. Quanto à primeira, existe no bojo

do desenvolvimento do capital a necessidade de expandir constantemente seu mercado,

seus produtos em escalas geográficas cada vez maiores, ou seja, este processo pode ser

observado em várias escalas, inclusive na intra-urbana. Segundo o autor, esta

igualização é na verdade a generalização de determinado modo capitalista. Podemos

afirmar que quando houve a descentralização do comércio e de serviços, processo

observado também na urbe carioca, provocando a emergência do que Kossmann e

Ribeiro (1984) observaram como subcentros, na verdade houve novos momentos de

processos inseridos na acumulação progressiva do capital e consequentemente na

produção social do espaço, criando novas centralidades ou subcentros.

Diante do processo contraditório de centralização e dispersão da produção

capitalista, que compõe o desenvolvimento geográfico desigual no contínuo processo de

acumulação em curso, pode-se destacar não somente a produção de mercadoria terra

enquanto valor de troca, mas também a descentralização do setor terciário percebido em

I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e

X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP

5561

cidades como o Rio de Janeiro, constituindo Campo Grande um dos importantes

subcentros carioca. Portanto, a seguir, é feita uma comparação entre o bairro de Campo

Grande com outros que, configuram também importantes subcentros carioca, com o

intuito de confirmar a importância da sua centralidade e a segregação urbana como um

fato sócio-espacial vigente.

SEGREGAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO: PROCESSOS DÍSPARES?

Os processos de segregação sócio-espacial e o de descentralização das atividades

de comércio e serviço não são desenvolvidos em dinâmicas totalmente independentes.

São na verdade, processos que ocorrem dentro de uma dinâmicas mais abrangente, qual

seja, a acumulação contínua do capital que tende, de acordo com seus intentos, ora

diferenciar, ora, igualizar, e estas dinâmicas são espacializadas, portanto, processos

sociais espacializados.

Ao reconsiderar as postulações de Smith (1998), se nota através da expansão do

espaço urbano carioca e as relações intraurbanas de suas partes funcionais “as

tendências contraditórias para a diferenciação e para igualização que determinam a

produção capitalista do espaço” que surge no “âmago da produção capitalista” e

inscreve-se na paisagem como um “padrão de desenvolvimento desigual” (p.149). Em

suas postulações, o autor abordou quanto a causa da diferenciação espacializada ser a

divisão do trabalho em suas variadas escalas mas também a divisão do capital em seus

diversos setores. Diante disto, podemos apreender sobre as diferenciações produzidas

diante da especulação imobiliária que, com a participação de vários agentes que

interferem na produção do espaço (Estado, especulador imobiliário, proprietário de

terras) foram criando, de acordo com interesses de acumulação do capital, meios para

diferenciar áreas destinadas às camadas sociais de acordo com as suas possibilidades de

aquisição de uma mercadoria chamada terra, seja para especulação ou moradia.

Entendem-se estas áreas diferenciadas como mosaicos (HARVEY, 2004, p.111) que

expressam diferenças geográficas como legados históricos e geográficos reproduzidos,

sustentados e reconfigurados por processos políticos e econômicos.

Com este intento, primeiro cabem algumas considerações de cada processo com

exemplificações e depois, relacioná-los. Ao considerar a segregação em seus variados

aspectos, suas causas e conseqüências, agentes sociais, percebemos diversas postulações

sobre este conceito. Entre estes, destacaremos alguns autores, por exemplo, Villaça

(2001) argumenta que o padrão mais conhecido de segregação metropolitana brasileira é

I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e

X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP

5562

o de centro x periferia. Importante destacar em suas postulações que, estudar a

segregação como um processo é “fundamental para compreender a estrutura espacial

intra-urbana”. Processo este em que as classes sociais tendem a se concentrar cada vez

mais em diferentes regiões gerais ou conjunto de bairros na metrópole [grifo do autor]

(p. 141, 142).

Quanto ao padrão de segregação que a cidade do Rio de Janeiro apresenta, cabe

destacar ainda outras afirmações do referido autor no qual considera que o fato de não

haver a “presença exclusiva de camadas da mais alta renda em nenhuma região geral na

metrópole” não invalida o padrão núcleo – periferia ou, centro-periferia. Villaça (2001,

p. 143) a respeito do assunto postula:

“Nada disso altera a tendência à concentração das camadas de mais alta renda naquelas regiões. (...) O que determina, em uma região a segregação de uma classe é a concentração significativa dessa classe mais do que em qualquer outra região geral da metrópole.”

A importante contribuição das postulações de Villaça (2001) está no fato deste

discorrer da segregação como um processo e tendência, e que esta é necessária “à

dominação social, econômica e política por meio do espaço” (p. 143).

Contrapondo com o autor acima, Lago (2000) apresenta o outro padrão de

segregação urbana apontando este como conseqüência da crise e reestruturação

econômica e estatal que o país perpassa desde a década de 1980. A autora aborda a

localização das classes sociais opondo o padrão desigual integrado centro-periferia ao

novo padrão fragmentado/excludente. Quanto ao primeiro, argumenta que este padrão

imperou até os anos 80 numa configuração espacial em que havia concentração de

emprego e moradia das classes médias e superiores e dos equipamentos urbanos de

serviços nas áreas centrais em detrimento dos espaços periféricos carentes de forma

geral. Nas décadas de 1980 e 1990, se amplia a mesma lógica segregadora ao se

expandir o mercado empresarial e de serviços para a classe média em áreas periféricas,

destacando-se que, primeiro a ação empresarial e depois a ação pública de regulação e

regularização fundiária ia a reboque do capital. Assim, nesta fase já se apresenta uma

configuração espacial que irá se reforçar após a crise, ou seja, a proximidade espacial de

pobres e ricos na periferia dando um novo aspecto ao tema da segregação urbana.

O novo padrão de segregação urbana, conhecido como fragmentado/excludente,

reduz a escala e aproxima ricos e pobres, ao passo que diminui as interações dos grupos

sociais distintos motivados e “justificados” pelo medo da violência. Esta nova

I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e

X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP

5563

configuração se viabiliza por causa do aumento das desigualdades de renda e exclusão

social diante das reestruturações econômicas e políticas. Lago (2007a) aborda que o

primeiro modelo, centro-periferia, se pautava na dimensão espacial das desigualdades

de acesso ao trabalho e a moradia, e a bens e serviços urbanos. Enquanto no outro

modelo, fragmentado/excludente, houve o foco no efeito das novas configurações

espaciais (condôminos, favelas etc.) sobre as formas de interação entre os diferentes.

Relacionando local de moradia e trabalho bem como a composição sócio-espacial da

metrópole do Rio de Janeiro, utiliza o mapa 1 a seguir mostrando uma exemplificação

do segundo padrão de segregação2. Porém, com todo o respeito às considerações da

autora, até que ponto percebemos nos processos espaciais que são dinâmicos,

continuidades e rupturas? Ou seja, até que ponto se pode observar tanto o modelo

centro-periferia como o fragmentado/excludente? Ainda se percebe, analisando esta

figura, a permanência do modelo dual? Não estariam as pautas dos dois padrões em

recorrência?

MAPA 1 – TIPOLOGIA SOCIOESPACIAL POR AED – 2000

Fonte: Observatório das Metrópoles (2000).

2 Explicitando as tipologias socioespacial utilizadas no mapa 1, Lago (2007, p. 9) observa que foram desenvolvidas baseadas em dados censitários de 1980-2000 através de uma análise fatorial entre as categorias sócio-ocupacionais pelas áreas desmembradas da metrópole do Rio de Janeiro chegando a oito tipos socioespaciais: superior, superior médio, médio, médio inferior, operário, popular operário, popular e popular agrícola. Na figura citada, a autora trabalha com quatro englobando estes oito com o objetivo de relacionar a composição sócio-ocupacional de cada área com o todo da metrópole. Ainda, estas categorias envolvem tipos de ocupação envolvendo desde grandes empresários até agricultores.

I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e

X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP

5564

FIGURA 1 – MODELO NÚCLEO-PERIFERIA NA METROPOL. DO RIO DE JANEIRO

Fonte: Abreu (2006).

Considerando ainda o mapa 1, podemos notar, no caso da cidade do Rio de

Janeiro, hoje existe: a predominância da tipologia de nível superior na Zona Sul, Barra

da Tijuca e Recreio, e algumas áreas na Zona Norte; a tipologia média em amplas áreas

da Zona Norte carioca e no centro de Campo Grande; e a tipologia popular e operária se

espraiando pelo restante da Zona Oeste que abrangem as áreas desde Deodoro até Santa

Cruz e Guaratiba, incluindo a maior parte do bairro de Campo Grande. Nota-se que os

dois modelos podem ser trabalhados de acordo com o foco do trabalho, ou ainda, em

concomitância. Reafirmando as palavras de Villaça (2001), em Campo Grande, de

acordo com a tipologia exemplificada pela autora supracitada, predomina a classe

popular e operária, evidenciando assim o modelo dual explorado nesta pesquisa,

enquanto que, observa-se também a situação do outro modelo analítico através da

composição diversificada do bairro.

Conforme figura 1, Abreu (2006) trabalhou com círculos evidenciando o núcleo

e os diferentes tipos de periferia na metrópole do Rio de Janeiro de acordo com a sua

composição social: o primeiro círculo, o núcleo (ou centro) formado pela área comercial

e financeira central (o antigo core histórico da cidade) e suas expansões pela orla da

I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e

X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP

5565

zona sul. O segundo círculo, a periferia imediata, composta pelos subúrbios mais

antigos da urbe carioca que se formaram ao longo das estradas de ferro e a zona norte de

Niterói. Inclui a faixa da Barra da Tijuca e Jacarepaguá, que no ano em que foi feito os

estudos pelo autor, apresentava um caráter periférico, porém, com uma ocupação

insipiente na época de classes de alta renda, indicando que esta área comporia também,

futuramente o núcleo metropolitano (p.18). O terceiro círculo, a periferia intermediária

constituída pelos municípios conurbados adjacentes à cidade do Rio de Janeiro e o

restante da Zona Oeste deste município, da qual Campo Grande faz parte. Finalmente o

quarto círculo, a periferia distante, a área mais afastada e contiguamente urbanizada da

metrópole carioca.

Avaliando o mapa 1 e a figura 1, podemos inferir que a segregação sócio-

espacial sendo um processo dinâmico, no decorrer do tempo, apresenta rupturas e

continuidades. Entre as rupturas podemos mencionar a necessidade de observar o

padrão fragmentado/excludente por este contemplar novas dinâmicas sócio-espaciais

como a proximidade espacial concomitante ao distanciamento social observado em

muitas cidades brasileiras exemplificada entre as áreas de ocupação popular ao lado de

condomínios de luxo. Quanto às continuidades, o padrão dual permanece tendo a Área

Central da cidade do Rio de Janeiro, com algumas modificações porque hoje podemos

incluir Barra da Tijuca e Recreio, além do centro e Zona Sul. Em relação com o restante

da cidade, esta expressa concentrações que ratificam o padrão centro - periferia.

Após estas últimas considerações torna-se claro que a segregação sócio-espacial

é um produto que se efetiva amplamente no espaço urbano e é consolidado através do

tempo por causa de diversos ditames sociais, político, econômico e cultural, tendo como

agentes efetivos o Estado e as diversas subdivisões do capital, em especial o imobiliário

e no caso da segregação residencial, é a expressão mais evidente da segregação sócio-

espacial. Neste contexto, ainda pode-se afirmar que os dois padrões de segregação

abordados, o padrão desigual integrado centro-periferia e o novo padrão

fragmentado/excludente são visões de segregação que não se excluem uma vez que

podem ser trabalhados simultaneamente de acordo com a escala. Neste momento da

pesquisa tem a pretensão de observar o bairro de Campo Grande principalmente com

respeito ao padrão centro-periferia pelo fato de se trabalhar com a relação entre o

recorte em estudo e a cidade do Rio de Janeiro, e a distribuição desigual de infra-

estrutura de transporte público.

Ao avaliar a segregação segundo o padrão centro-periferia fez-se uma

comparação da renda e o grau de instrução predominante entre o bairro de Campo

I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e

X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP

5566

Grande, com outros bairros da urbe carioca, a saber: Centro, Copacabana, Tijuca, Méier,

Madureira, Jacarepaguá e Barra da Tijuca. O motivo de escolha destes é por estarem

espalhados por todas as zonas da cidade do Rio de Janeiro, tornando-se assim,

representantes para exemplificar a segregação sócio-espacial vigente no Rio de Janeiro.

De modo que, no que se refere à renda, o modelo centro-periferia se apresenta,

incluindo Campo Grande e Santa Cruz nesta periferia com as menores rendas per capita

dos bairros considerados. Observa-se nas tabelas 1 a seguir que, as maiores rendas per

capita ficam respectivamente com Barra da Tijuca, Copacabana e Tijuca, enquanto que,

as menores estão em Campo Grande e Santa Cruz. Corroborando a visão da segregação

espacial centro-periferia.

TABELA1 – Rendimento domiciliar per capita por bairros do Município

do Rio de Janeiro – em Reais (R$) do ano de 2000. Bairros Rendimento per capita 2000 Barra da Tijuca 2.722,13 Copacabana 1.887,34 Tijuca 1.438,51 Méier 1.091,88 Centro 734,78 Jacarepaguá 493,37 Madureira 468,53 Campo Grande 392,49 Santa Cruz 234,36

Fonte: Armazém de Dados da Pref. do Rio de Janeiro (2009).

A pesquisa de dados por grau de instrução foi feita através da média de anos de

estudo por bairros, o padrão demonstrado é o mesmo, onde a maior média de anos de

estudo se apresenta nos bairros da Área Central da cidade do Rio de Janeiro e das áreas

mais próximas a esta. Os bairros mais afastados apresentam médias inferiores à do

município que é de 8,3 anos de estudo, conforme estão indicados na tabela 2 abaixo.

TABELA 2 – Média de anos de estudo por bairros do

Município do Rio de Janeiro – 2000. Bairros Média de anos de

estudo Barra da Tijuca 13,25 Copacabana 11,76 Tijuca 11,28 Méier 11,07 Centro 8,96 Jacarepaguá 8,33 Madureira 7,92 Campo Grande 7,63 Santa Cruz 6,15

Fonte: Armazém de Dados da Pref. do Rio de Janeiro (2009)

I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e

X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP

5567

Conforme evidenciado, através da renda e grau de instrução, a segregação no

padrão centro-periferia se apresenta na cidade do Rio de Janeiro, embora, como

mencionado, este processo possui tendências de maneira que, temos expressivas

concentrações de faixas de renda mais altas e maior grau de instrução em áreas como

Copacabana e Barra da Tijuca. No Centro, Jacarepaguá, Tijuca, Méier e Madureira,

temos uma situação intermediária. Ao passo que, nas áreas mais afastadas da Área

Central, ocorre a concentração maciça de renda na faixa mais baixa com menor grau de

instrução, como é o caso de Santa Cruz e Campo Grande.

Tendo por objetivo relacionar os processos de segregação sócio-espacial com o

de descentralização das atividades econômicas, percebe-se a necessidade de se ater um

pouco aos conceitos de centro, centralidade e nos processos de centralização e

descentralização no bojo do desenvolvimento da acumulação capitalista.

Kossmann e Ribeiro (1984) comentam que, no caso do Rio de Janeiro, na década

de 1930 e mais intensamente na década de 1940, o quadro de centralização começa

mudar na cidade carioca, passando para progressiva descentralização, tomando após a

década de 1950 a forma de subcentros. Alguns bairros que atraiam significativas

parcelas de estabelecimentos comerciais e de serviços que, até então, estavam limitados

ao centro da cidade. Esta segunda maneira de expressar os conceitos de centro e

centralidade ocorre a partir da noção de estruturação urbana. Este, mais dinâmico e

expressando um processo, compreende a importância dos fluxos que se encontram em

movimento no território. Considera a centralidade a partir dos fluxos que gera, seja de

pessoas, de automóveis, de capitais, de decisões, de informações e mercadorias.

Nesta conformação espacial com o processo de descentralização e dispersão,

observou-se também o espraiamento urbano. De acordo com Tourinho (2007), o centro

perdeu centralidade para novas áreas, porém, não perdeu a sua centralidade, continua

sendo Centro não apenas em sentido operativo e funcional, mas também por aspectos

simbólicos e formais, além de funcionais. Ainda, o centro, e as demais áreas

polarizadoras constituem o mesmo sistema por causa do crescimento da cidade de forma

contínua e interligada, portanto, são complementares. Neste contexto, centralidade

identifica um espaço urbano que pode conter em si condições necessárias para

existência de concentração de fluxos diversos (riquezas, decisões, pessoas, bens).

Da mesma forma, em uma pesquisa abordando a (re)produção do espaço urbano

carioca, Ferreira (2007) disserta quanto as recentes modificações no que diz respeito à

flexibilização da produção, do produto e das relações de trabalho participando na

I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e

X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP

5568

reestruturação da cidade do Rio de Janeiro. O autor percebe as mudanças em andamento

entre as centralidades. Desta feita, observa que o bairro do Centro manteve a gestão

pública e do setor de serviços, também, toda forma de comércio, permanecendo o centro

financeiro e gestão da cidade. Em suas palavras: “O Centro do Rio de Janeiro perde

empresas, mas adquire novas funções” (p. 225, 227).

Novamente Kossmann e Ribeiro (1984) ao ressaltar que os bairros que se

tornaram subcentros na cidade carioca não se encontram nivelados e sim, são

hierarquizados ou especializados, observando ainda que no centro da cidade permanece

a sua hegemonia por concentrar atividades financeiras e de gestão, dos serviços públicos

etc. Sendo assim, “o centro da cidade ainda detém uma quantidade expressiva de

empresas e filiais, além dos seus escritórios centrais e administração, exercendo a

função de controle e decisão” (p. 200). Porém, exerce atualmente novas funções, como

educacional e de lazer, em virtude do processo de refuncionalização de muitos prédios

que antes se localizavam escritórios e sedes empresariais, como foi explanado

anteriormente.

Cabe ressaltar que, embora haja uma diversidade das abordagens do tema

Centralidade, neste trabalho optamos nos fundamentar na visão dialética espaço-

sociedade em que enfatiza tanto o sujeito (sujeito/atores sociais da produção do espaço)

quanto o objeto (o espaço como condição para a vida). Em conformidade com Lefebvre

(2008), o espaço é político porque envolto de estratégias e interesses das camadas

sociais, portanto, impregnados de contradições e conflitos, sendo assim, na

descentralização, o que houve foi a descentralização das produções e serviços, não da

gestão, conforme acima indicado, as camadas e classes sociais muitas vezes não

apresentam ou não lhe é permitido gerir as suas localizações ou ter o poder político para

ações de acordo com os próprios interesses. Ou seja, no caso de Campo Grande, até que

ponto a distância, a população local e adjacente, a infra-estrutura de transporte

contribuíram para, e perpetuam a sua condição de subcentro de relevância na cidade

carioca?

Em Campo Grande, devido à distância e às dificuldades de mobilidade, ao

adensamento populacional e à proximidade com uma área adjacente povoada,

motivaram a emergência de um subcentro. Após isto, houve uma diversificação social

através de uma especulação imobiliária de cunho formal atrelada à maior regulação do

uso do solo pelo poder público e sistema financeiro de habitação contribuindo para uma

maior ocupação da classe média. Se por um lado, no decorrer do tempo, a área em

estudo se encontra segregada espacialmente, por outro lado a expansão da própria

I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e

X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP

5569

cidade, a quantidade populacional, a acessibilidade conferida por sua rodoviária e

estação ferroviária, e a proximidade com outras áreas habitadas, possibilitaram ao bairro

condições para a localização de um importante centro comercial e de serviços que,

pode-se buscar sua área de influência através dos fluxos de transporte diário. Isto posto,

podemos perceber o espaço urbano como produto de diferentes e desiguais apropriações

feitas pelas classes e camadas sociais no contexto da apropriação privada e no decorrer

do tempo, expressando assim diversas temporalidades.

Uma primeira apreensão que podemos fazer da centralidade do bairro em estudo

é começar compará-lo com outros na cidade do Rio de Janeiro retomando as

consecuções quanto ao espaço relacional que existe enquanto em relação com outros e

expressa intencionalidades inclusive políticas. Serão novamente comparados a Campo

Grande os seguintes bairros: Barra da Tijuca, Centro, Copacabana, Jacarepaguá,

Madureira, Méier, Santa Cruz e Tijuca. A primeira comparação a ser feita é com

respeito ao número total de habitantes em cada bairro em relação ao município,

conforme tabela 3. O que podemos depreender é que entre os bairros relacionados,

Campo Grande apresenta a maior população absoluta com um percentual de 5,08%.

Esta informação é pertinente para outras comparações que serão feitas adiante.

TABELA 3 – Percentual de população por bairro em relação ao município

do Rio de Janeiro (Censo 2000) Bairros População total Percentual em relação ao

Rio de Janeiro (%) Campo Grande 297.494 5,08 Santa Cruz 191.836 3,27 Tijuca 163.636 2,79 Copacabana 147.021 2,51 Jacarepaguá 100.822 1,7 Barra da Tijuca 92.233 1,58 Méier 51.344 0,88 Madureira 49.546 0,85 Centro 39.135 0,67 Rio de Janeiro 5.857.904 100

Fonte: Armazém de Dados da Pref. do Rio de Janeiro (2009). A partir do exposto, podemos considerar alguns aspectos que nos auxiliam

perceber a centralidade que o bairro exerce através das atividades de comércio e

serviços. Por exemplo, no setor de educação: entre as instituições de nível superior nesta

localidade temos: a Universidade Moacyr Sreder Bastos que atua na Zona Oeste desde

1969, a FEUC - Faculdades Integradas Campo-Grandenses há mais de quarenta e cinco

anos dedica-se à formação de professores em diversas áreas também com cursos de

I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e

X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP

5570

graduação e pós-graduação; ainda, um campus da Estácio de Sá e da

UNIVERCIDADE.; além destas instituições privadas, há a Universidade Estadual da

Zona Oeste (UEZO) com cursos superiores de formação tecnológica e cursos à

distância. Este quadro nos remete a algumas considerações: 1º) A cidade do Rio de

Janeiro possuindo três unidades de universidade pública, duas se encontram na Zona

Norte carioca e uma na Zona Sul, demandando deslocamento de outras áreas da cidade,

como é o caso de Campo Grande – Zona Oeste; 2º) Os cursos oferecidos na UEZO

limitam as escolhas e possibilidades de muitas pessoas visto que não são oferecidos

muitos cursos e não abrangem as diversas áreas do conhecimento; 3º) A maior parte das

instituições e cursos é da rede privada, assim como no restante da cidade, porém, numa

formação continuada, os cursos de pós-graduação sem custo para o estudante e que lhe

possibilite uma inserção melhor nas atividades acadêmicas de pesquisa, são oferecidos

nas instituições públicas, ou então, em universidades privadas distantes. Todo este

quadro compromete a possibilidade de mudanças sociais internas ao bairro e demandam

transportes públicos.

As pesquisas em catálogo telefônico3 evidenciam que existe nos bairros

comparados a hierarquia e hegemonia de centralidades entre eles. Em termos totais, o

bairro de Campo Grande apresenta o maior número de unidades de educação4 , 358, o

que corresponde à 6,06% do total de unidades examinadas para a cidade do Rio de

Janeiro. Ainda, Campo Grande possui o maior número de escolas públicas, 133.

Enquanto que, o maior número de escolas particulares encontra-se em Jacarepaguá e a

maior quantidade de faculdades e universidades está no Centro do Rio de Janeiro, 41.

Porém, se relativizarmos com o total de habitantes por bairro, Campo Grande encontra-

se em sétimo lugar dentre os nove bairros analisados com um percentual de 12 unidades

a cada cem habitantes (12/100), superando apenas Copacabana e Santa Cruz no que diz

respeito à educação, respectivamente com 10/100 e 8/100. Estas informações são

pertinentes para denotar a hierarquia e hegemonia de centralidades entre os bairros,

permanecendo hegemônico o Centro do Rio de Janeiro com um percentual de 89

unidades para cada cem habitantes, seguido pelos seguintes bairros em ordem

decrescente: Jacarepaguá, Méier, Barra da Tijuca, Madureira e Tijuca conforme o

gráfico 1.

3 Foi utilizado o catálogo telefônico eletrônico: www.telelistas. net (2009). 4 Como unidades de educação foram escolhidas nos anúncios de catálogo telefônico as seguintes categorias: escolas e cursos de idiomas, creches, cursos de pós-graduação, cursos pré-vestibulares, cursos supletivos, escolas de educação infantil, escolas particulares, escolas públicas, escolas técnicas profissionalizantes, faculdades e universidades, cursos de informática.

I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e

X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP

5571

GRÁFICO 1 - Percentual de unidades de educação por bairro em relação ao número total da população local (Censo 2000)

Barra da Tijuca;

0,23% Campo Grande;

0,12%

Centro; 0,89%

Copacabana;

0,10%

Jacarepaguá;

0,33%

Madureira;

0,20%

Méier; 0,31%

Santa Cruz;

0,08%

Tijuca; 0,17%

Fontes: Armazém de Dados da Pref. do Rio de Janeiro e www.telelistas.net (2009).

Outro tipo de serviço que existe no bairro e que gera fluxo demandando o

transporte público é o serviço de saúde. Campo Grande encontra-se em sétimo lugar

entre os bairros considerados, no que diz respeito ao número total de unidades de saúde5

perfazendo 3,10% do total da urbe carioca.

Em termos totais, Copacabana apresenta o maior número de unidades de saúde

percebendo 13,30 % do total da cidade do Rio de Janeiro, seguido por: Tijuca (10,48%),

Centro (9,45%), Barra da Tijuca (6,59%), Méier (4, 37%), Jacarepaguá (3,51%). Por

último, estão Madureira e Santa Cruz com, respectivamente, 2,11% e 0,58%.

Relativizando com o valor total de habitantes por bairro, conforme o gráfico 2 a seguir,

podemos perceber que, o bairro em estudo encontra-se em oitavo lugar, com 0,25%,

precedido pelos bairros comentados acima e seguido por Santa Cruz com 0,07%.

Porém, de acordo com esta proporcionalidade, o Centro demonstra o maior percentual

(5,87%) seguido por: Copacabana (2,15%), Méier (2,07%), Barra da Tijuca (1,74%),

Tijuca (1,55%), Madureira (1,03%) e Jacarepaguá (0,84%).

5 Como unidades de saúde examinadas no catálogo telefônico e que compõe a pesquisa são: clínicas de diversas especialidades, assistência médica e odontológica, dentistas de especialidades diversas, farmácias, centros e postos de saúde, hospitais particulares, hospitais públicos, laboratórios de análises clínicas, médicos de diversas especialidades.

I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e

X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP

5572

GRÁFICO 2 - Percentual de unidades de saúde por bairro em relação ao número total da população local (Censo 2000)

Barra da

Tijuca; 1,74%

Campo

Grande;

0,25%

Centro; 5,87%

Copacabana;

2,15%

Jacarepaguá;

0,84%

Madureira;

1,03%

Méier; 2,07%

Santa

Cruz;

0,07%Tijuca; 1,55%

Fonte: Armazém de Dados da Pref. do Rio de Janeiro e www.telelistas.net (2009).

Com intuito de percebermos as atividades comerciais e industriais em Campo

Grande, foi utilizado o relatório de Hasenclever e Lopes (2006). Considerando a XVIII

RA de Campo Grande, em 2006, segundo a RAIS, esta área possui 3.612

estabelecimentos formais de diversos setores industriais, serviços, comércio e

construção civil, destes, 3.107 no bairro de Campo Grande. Sendo que, a atividade que

ocupa a primeira posição com um percentual de 47,8% do total é de comércio varejista.

Somado ao fato de que, das 173.437 pessoas que compõem a população

economicamente ativa na XVIII RA de Campo Grande, há a grande necessidade de

dirigir-se a outras áreas visto que, conforme demonstrado, nesta região existe 45.630

empregos formais, ou seja, 2,3% do total no Município do Rio de Janeiro, dos quais,

37.457 no bairro de Campo Grande, o que equivale a 1,9% do total para a cidade. Estas

considerações reforçam a demanda de transporte denotando saída de pessoas.

Percebemos ainda o jogo de centralidade entre os bairros comparados e a pujança da

centralidade em Campo Grande. Todas estas informações demonstram interações

espaciais, fluxos e a necessidade de transporte público.

Neste momento percebe-se que a produção e reprodução do espaço ocorrem

mediante conflito de interesses, sendo que, os usuários são demandantes, necessitam do

transporte público a um preço acessível tanto para a sua reprodução como para a

reprodução dos meios de produção no contexto capitalista, visto que este é tanto

trabalhador, ou seja, se encontra inserido no contexto da força de produção necessário

ao capital, como é consumidor do próprio transporte, do comércio e dos serviços

I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e

X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP

5573

disponíveis tanto em Campo Grande como no restante da cidade do Rio de Janeiro. O

Estado deveria ser o fornecedor deste meio necessário a acumulação do capital e um

serviço público à população em geral, porém, através de leis, apresenta-se como

concessor deste ao investimento do capital privado e regulador incentivando a

concorrência. Por fim, o empresário do transporte público lida com as demais forças no

sentido de cumprir as legislações, fornecer um transporte de qualidade e regular, a um

preço acessível mesmo diante das maiores distâncias. Percebe-se novamente a “fricção

da distância” impondo custos à produção e à reprodução dos meios de produção

(HARVEY, 1994).

Sendo assim, percebemos Campo Grande como um espaço muito complexo

resultante de momentos pretéritos, ao mesmo tempo segregado em relação a outras

áreas da cidade, articulado, participando das interações municipais, intermunicipais e

interestaduais, com um importante centro de comércio e serviços demonstrando força

em alguns setores no jogo político das iterações, necessitando de novas averiguações

que dêem suporte a investigação quanto ao modo diferenciado de disponibilidade de

transporte público pela cidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Retomando algumas considerações, ao buscar um quadro teórico-metodológico

com o qual pudesse ler o espaço geográfico de Campo Grande em suas interações foi

satisfatório perceber que os processos aparentemente díspares, como segregação sócio-

espacial e centralização/descentralização, ocorrem no bojo de um processo mais

abrangente, qual seja o de acumulação do capital. Conforme observado pela teoria do

desenvolvimento geográfico desigual, é através de processos sociais que se

espacializam que as áreas da cidade capitalista de acordo com estratégias de

apropriação, consumo e especulação são diferenciadas quando não, equalizadas ao

passo que se tem a necessidade de ampliar as formas de produção (SMITH, 1998).

Percebeu-se com respeito ao bairro de Campo Grande que, em relação à cidade do Rio

de Janeiro, este se encontra espacialmente segregado, fato observado através dos dados

quanto à renda e grau de instrução. De modo que, as distribuições de equipamentos de

infra-estrutura de transporte são recorrentes a este quadro. Porém, esta realidade não

impossibilitou, ao invés disso, de acordo com momentos de ampliação da acumulação

do capital através da descentralização, houve a emergência de Campo Grande como

importante subcentro carioca ainda que diferenciado, hierarquizado e hegemonizado em

I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e

X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP

5574

relação aos demais que foram comparados, como se tentou demonstrar através dos

dados quanto ao comércio e serviços na cidade carioca.

Foi oportuno apreender, diante de informações coletadas no Armazém de Dados

da Prefeitura do Rio de Janeiro, bem como em trabalhos acadêmicos como o de Macedo

(2002) uma estrutura da urbe carioca e do recorte espacial trabalhado no qual se percebe

a segregação sócio-espacial vigente tanto de acordo como o padrão centro-periferia

como com o padrão fragmentado/excludente. Esta segregação interfere na maneira

como são espacializadas as centralidades no Rio de Janeiro e condicionam as atuais

mudanças percebidas internas e externas ao bairro em estudo de acordo com o

incremento da construção civil visando à habitação. Sendo assim, novos estudos são

suscitados no sentido de como esta estrutura pretérita tanto de segregação como de

descentralização das atividades de comércio e serviços denotadas no município do Rio

de Janeiro e internas ao bairro de Campo Grande influenciam na reestruturação da

cidade e do referido recorte.

Sendo assim, a presente pesquisa respondeu aos questionamentos feitos

inicialmente tendo a necessidade de focar nos processos sócio-espaciais que são

dinâmicos e, portanto, já apresentam necessidade de novas averiguações, demandando

novas buscas. Entre estas podemos mencionar os projetos em andamento de construção

do Arco Rodoviário do Rio de Janeiro, remodelação do porto de Itaguaí e a construção

da Companhia Siderúrgica do Atlântico S/A.

Este quadro é mencionado finalizando o trabalho porque existem novas

perspectivas e desdobramentos a partir destes momentos que irão reconfigurar todo o

jogo político espacial dos processos de segregação e centralidades conforme

desenvolvidos nesta pesquisa, necessitando assim, de novas averiguações de suas

espacialidades e a continuidade pela busca de embasamentos teóricos e metodológicos.

Assim, o presente finda com as seguintes indagações: como este conjunto de

obras de estruturação visando à ampliação da acumulação do capital e fortalecimento do

Estado do Rio de Janeiro frente a demandas globais, já começam a influenciar os

processos estudados em relação a Campo Grande, a cidade e o estado do Rio de

Janeiro? Quais as configurações que podemos perceber no bairro indicativas de um

impacto destas novas dinâmicas? Com certeza, o próximo censo nos dará importantes

indícios.

I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e

X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP

5575

REFERÊNCIAS ABREU, Maurício de Almeida. Evolução urbana do Rio de Janeiro. 4.ed. Rio de Janeiro: IPP, 2006. 156p. CORRÊA, Roberto Lobato. Trajetórias geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. p.121-179. __________. Região e organização espacial. 7.ed. São Paulo: Ática, 2002. 84p. FERREIRA, Álvaro Henrique de S. A (re)produção do espaço urbano: confrontos e conflitos a partir da construção do espaço social na cidade do Rio de Janeiro. In: RUA, João (org). Paisagem, espaço e sustentabilidade: uma perspectiva multidimensional da geografia. Rio de Janeiro: Ed. PUC - Rio, 2007. p. 195 – 236. GOMES, Paulo César da Costa. A condição Urbana: ensaios de geopolítica da cidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. p. 129-191. HARVEY, David. A justiça social e a cidade. São Paulo: Hucitec, 1980. 290 p. __________. Condição Pós-Moderna. São Paulo, Brasil: Edições Loyola, 1994. p. 195-218. __________. Espaços da Esperança. São Paulo: Edições Loyola, 2004. p. 105-131. __________. Spaces of global capitalism. Towards theory of uneven geographical development. London: New York, 2006. p. 117 – 148. HASENCLEVER, Lia e LOPES, Rodrigo. Análise dos dados de estabelecimento e emprego segundo as Regiões Administrativas (RA) e bairros da Zona Oeste – Campo Grande. Mimeo, 2006. KOSSMANN, Hortense & RIBEIRO, Miguel Ângelo. Análise espacial das cadeias de lojas do comércio varejista no Rio de Janeiro. In: Revista brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, 46(1): 197-219-8, jan./mar. 1984. LAGO, Luciana Corrêa do. Desigualdades e segregação na metrópole: o Rio de Janeiro em tempo de crise. Rio de Janeiro: Revan: Fase, 2000. 240 p. __________. Repensando a “periferia” metropolitana à luz da mobilidade casa-trabalho. Trabalho apresentado no XXXI Encontro Anual da ANPOCS, Caxambu, MG. 2007. __________. Trabalho, moradia e (i)mobilidade espacial na metrópole do Rio de Janeiro. Cadernos Metrópole nº 18. P 275-293, 2º semestre, 2007a. LEFEBVRE, Henri. The Production of Space. Oxford, UK: Blackwell, 1994. p. 1-67. __________. Espaço e política. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008. 192 p.

I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e

X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP

5576

MENEZES, Vânia Regina da Silva. A segregação espacial pela ótica do transporte urbano: o exemplo do bairro de Campo Grande – RJ. 2006. 81 p. Monografia (Especialização em Políticas Territoriais no Estado do Rio de Janeiro) – UERJ, Rio de Janeiro, 2006. MOREIRA, Ruy. Pensar e ser em Geografia: ensaios de história, epistemologia e ontologia do espaço geográfico. São Paulo: Contexto, 2007. 188p. SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. 5.ed. São Paulo, Hucitec 1997. 116. SMITH, Neil. Desenvolvimento desigual, natureza, capital e produção do espaço. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. SILVA, Vânia Regina Jorge da. Examinando os processos de segregação e descentralização através do transporte público na cidade do Rio de Janeiro – o exemplo de Campo Grande – RJ, 1990-2009. 133 p. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009. TOURINHO, Andreia de Oliveira. Do centro às novas centralidades: uma trajetória de permanências terminológicas e rupturas conceituais. In: GITAHY, Maria Lúcia Caira; LIRA, José Tavares Correia de (Orgs.). Cidade: impasses e perspectivas. Arquiteses vol. 2. São Paulo, FAUUSP/FUPAM/Annablume, 2007. p.11 – 28. VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Estúdio Nobel: FAPESP: Lincoln Institute, 2001. 373 p. <http://armazemdedados.rio.rj.gov.br> <http: //portalgeo.rio.rj.gov.br/sabren/index.htm> <HTTP://telelistas.net>