Dependência Tecnológica e Capital Humano na Sociedade do Conhecimento: Caracterização da...

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U NIVERSIDADE P ONTIFÍCIA DE S ALAMANCA C AMPUS DE M ADRID FACULDADE DE I NFORMÁTICA PROJECTO DE INVESTIGAÇÃO TUTELADO P ROGRAMA DE D OUTORAMENTO EM S OCIEDADE DA I NFORMAÇÃO E DO C ONHECIMENTO D EPENDÊNCIA T ECNOLÓGICA E C APITAL H UMANO NA S OCIEDADE DO C ONHECIMENTO : C ARACTERIZAÇÃO DA M UDANÇA DO PADRÃO DE D ESENVOLVIMENTO DA E CONOMIA P ORTUGUESA Licenciado João de Deus Frajado Sequeira Lisboa, 26 de Maio de 2010

Transcript of Dependência Tecnológica e Capital Humano na Sociedade do Conhecimento: Caracterização da...

UN IV E R S ID A D E PO NT IF ÍC IA D E SAL A M A N CA

CAM P U S DE M ADR ID

FA C UL D AD E D E INF O RM ÁT ICA

PROJECTO DE INVESTIGAÇÃO TUTELADO

PR OG R AM A DE DOU TO R AM E NTO E M S O C IE D AD E D A INF O R M A Ç Ã O E

D O CO NH E C IM E NTO

DEP EN D ÊN CI A TEC NO LÓ G I C A E CAP I TA L HUM A NO N A SO CI E D A D E

D O CO NH EC I M E NTO :

CA RA CT E R IZ A Ç ÃO DA MU DA N ÇA DO PAD R ÃO D E DE S E NV OLV IM E NTO

D A EC O NOM IA PORT U G U E S A

Licenciado

João de Deus Frajado Sequeira

Lisboa, 26 de Maio de 2010

PROJECTO DE INVESTIGAÇÃO TUTELADO

Doutoramento em Engenharia Informática

Programa em Sociedade da Informação e do Conhecimento

Submetido por

João de Deus Frajado Sequeira

Patrono

Prof. Dra. Maria João Rodrigues

ISCTE e Universidade Livre de Bruxelas

Orientador do Doutoramento

Prof. Dr. D. Luís Joyannes Aguilar

UPSAM

Maio 2010

v

Resumo

…”A tecnologia é um mecanismo de adaptação e evolução. Não é exclusiva dos humanos, pois

são muitos os seres vivos que a desenvolvem. No entanto, é a nossa espécie que a tem levado

mais longe”.

Leonel Moura

Livro do desassossego tecnológico

Ao longo do relatório deste projecto são abordados do ponto de vista da sua evolução histórica e

teórica os principais contributos e modelos de desenvolvimento das economias, centrados no

paradigma da sua evolução para um modelo económico e social, característicos da Sociedade do

Conhecimento.

Do ponto de vista teórico são abordados os modelos clássicos de crescimento, explicitados pelo

Modelo neoclássico de Solow e as mais recentes abordagens que visam superar o paradoxo

decorrente desse modelo, vulgarmente conhecido como Resíduo de Solow ou mais

genericamente Progresso Tecnológico.

São igualmente apresentados os principais condicionamentos de transformação das economias

nesse processo, nomeadamente a apresentação dos modelos de explicitação das Ondas de

Inovação e Progresso tecnológico conhecidas como Ondas Longas de Kondratiev e a sua

explicitação decorrente das teorias económicas evolucionistas dos sistemas e Tecnoestrutura.

As limitações ao Progresso Tecnológico são discutidos na base de uma melhor compreensão dos

mecanismos de inovação e difusão do conhecimento e formação do Capital Humano e sua

contribuição para o Progresso Tecnológico, por virtude dos processos de transferência de

Tecnologia. È particularmente discutido o Modelo de incorporação e internalização do

Conhecimento através da evolução do modelo de Input-Output de Leontiev, por incorporação de

I&D no produto (modelo de Papaconstantinou, Sakurai e Wyckoff).

Finalmente são discutidos os factores de criação de dependência “path-dependence” tecnológica

que condicionam as opções futuras duma economia a partir de opções do passado.

Com vista a caracterizar estes aspectos teóricos a partir da realidade da economia portuguesa, é

feita uma descrição retrospectiva (cerca de um século) da convergência portuguesa para a

sociedade do conhecimento, num percurso suportado por uma explicitação inovadora na

literatura económica portuguesa, da aplicação do modelo de Solow ao estudo da Economia

Portuguesa realizado pelo Prof. Abel Mateus em 2005.

Finalmente todos estes aspectos são equacionados de forma a balizar o meu estudo futuro

objecto da Tese de Doutoramento: partindo dos modelos estudados, caracterizar o grau de

desenvolvimento do Progresso Tecnológico português e da sua componente de valorização do

Capital Humano e medir o grau de dependência/autonomia do modelo de desenvolvimento

português na sua convergência para os níveis médios da União Europeia, de acordo com os

critérios e características da Sociedade do Conhecimento.

vii

Resumen

... "La tecnologia es un mecanismo de adaptación y evolución. No es exclusiva de los humanos

debido a que son muchos los seres vivos que la desarrollan. Sim embargo, es nuestra especie

que ha llevado más lejos. "

Leonel Moura

Libro del desasosiego tecnológica

En todo el informe de este proyecto se discuten desde el punto de vista de su desarrollo histórico

y las principales contribuciones teóricas y los modelos de las economías en desarrollo,

centrándose en el paradigma de su evolución a un modelo económico y social, característica de

la Sociedad del Conocimiento.

Desde el punto de vista teórico de los acuerdos con los modelos clásicos de crecimiento,

explicado por el modelo neoclásico de Solow y los últimos enfoques para superar la paradoja que

surgen del modelo, comúnmente conocido como el residual de Solow o, en general los avances

tecnológicos.

También se presentan las principales limitaciones para transformar las economías en el proceso,

incluida la presentación de los modelos para explicar las olas de la innovación y los avances

tecnológicos se conoce como ondas largas de Kondratiev y su explicación derivadas de las

teorías económicas de tecnoestructura evolutiva y sistémica.

Limitaciones de progreso tecnológico se discute sobre la base de una mejor comprensión de los

mecanismos de innovación y difusión de los conocimientos y la formación de capital humano y

su contribución al progreso tecnológico, en virtud del proceso de transferencia de tecnología. Es

particularmente discutido el modelo de incorporación e internalización de los conocimientos

mediante el desarrollo de modelo de Leontiev de Input-Output, mediante la incorporación de

I&D en el producto (modelo de Papaconstantinou, Sakurai y Wyckoff).

Finalmente se discuten los factores que crean dependencia "path-dependency" de la tecnología

que limitan las opciones de futuro de una economía a partir de las opciones del pasado.

Con el fin de caracterizar estos aspectos teóricos de la realidad de la economía portuguesa, hay

una descripción retrospectiva (alrededor de un siglo) de la economia portuguesesa de

convergencia para la sociedad del conocimiento, un curso con el apoyo de una explicación

innovadora en la literatura, la aplicación de modelo de Solow para estudiar la economía

portuguesa realizada por el Prof. Mateus, Abel en 2005.

Por último, todas estas características se equiparan con el fin de delimitar el objeto de estudio

futuro de mi tesis doctoral: la construcción del modelo, caracterizar el grado de desarrollo del

progreso tecnológico y portuguesa su parte la valorizacion del capital humano y medir el grado

de la dependencia / autonomía del modelo portugués de desarrollo en su proceso de convergencia

con los niveles medios de la Union Europea, de acuerdo con los criterios y las características de

a Sociedad del Conocimiento.

ix

Sumário

Resumo _____________________________________________________________________ v

Resumen ___________________________________________________________________ vii

Capítulo 1 Introdução_______________________________________________________ 1

1.1 Razões para a investigação ___________________________________________________ 1

1.1.1 Objectivos da investigação _________________________________________________________ 2

1.1.2 Interesse da Investigação e do seu tema _______________________________________________ 2

1.2 Definição do problema de investigação _________________________________________ 3

1.3 Indicação da estrutura geral do relatório _______________________________________ 3

Capítulo 2 Revisão da Literatura ______________________________________________ 5

2.1 Introdução e enquadramento teórico da complexidade económica na sociedade do

conhecimento _____________________________________________________________________ 5

2.2 Tecnologia e Crescimento Económico __________________________________________ 6

2.2.1 Modelo Clássico ________________________________________________________________ 12

2.2.2 Modelo neoclássico de Solow ______________________________________________________ 12

2.2.3 Modelos de crescimento endógeno __________________________________________________ 15

2.2.4 Processos de Inovação incremental versus radical e reestruturação económica ________________ 19

2.2.5 Evolução da estrutura do mercado, Ciclo de vida do produto e custo/benefício do esforço de inovação

20

2.3 “Locking- in” e “Path-Dependence” __________________________________________ 27

2.4 Ciclos longos de Kondratiev, Sistema Mundial e Tecnoestrutura ___________________ 29

2.4.1 O Modelo de Modelski-Thompson e a Economia Evolucionista de Nelsom e Winter ___________ 32

x SUMÁRIO

2.5 Difusão de Tecnologia e Modelos empíricos de incorporação do conhecimento _______ 33

2.5.1 Transferência de Tecnologia (TT): Um quadro conceptual para a Absorção de Tecnologia pelos

indivíduos e organizações ________________________________________________________________ 34

2.5.2 Capital Humano embebido e os modelos matriciais de medição do conhecimento incorporado ___ 36

Capítulo 3 Gestão do Conhecimento: Capital Humano e Activos Intangíveis _________ 46

3.1 Enquadramento teórico _____________________________________________________ 46

3.2 Evolução do Capital Humano na economia portuguesa ___________________________ 49

Capítulo 4 O desenvolvimento tecnológico da economia portuguesa ________________ 53

4.1 Introdução _______________________________________________________________ 53

4.2 Fases de Crescimento da Economia Portuguesa _________________________________ 58

4.3 Factores de crescimento e convergência com a UE _______________________________ 59

4.4 A situação de dependência tecnológica da economia portuguesa ___________________ 62

4.4.1 Portugal no Contexto dos Países Desenvolvidos ________________________________________ 65

4.4.2 Desafios e estrangulamentos do sistema de inovação e seus impactos na dependência tecnológica da

economia Portuguesa ____________________________________________________________________ 73

Capítulo 5 Conclusões _____________________________________________________ 90

Capítulo 6 Apêndices e Anexos ______________________________________________ 95

6.1 Estrutura do Modelo (I-O) Input-Output de Leontief ____________________________ 96

6.2 A Tabela de Transacções ____________________________________________________ 96

6.3 Tabela de Coeficientes Técnicos ou Matriz Estrutural ___________________________ 99

6.4 Matriz de Coeficientes Interdependentes _____________________________________ 100

xi

Lista de Figuras/Gráficos

Figura -1: Evolução Comparativa do Crescimento do PIB (1976-2009) __________________________________ 7

Figura - 2: Desenvolvimento Humano na Europa - Índice Gini (1997-2008) ______________________________ 8

Figura - 3 - Ciclo de vida do produto. Fonte: Narayan (IST,Lisboa:2000) _______________________________ 17

Figura - 4 - Funil da Inovação. Fonte: Gassman & Henkel ___________________________________________ 18

Figura 5 - Processo de “de-coupling the locus of innovation process”. Fonte: Gassmann & Henkel _________ 21

Figura - 6 Performance da inovação na EU. Fonte: Portugal. OCT,1999 _______________________________ 22

Figura 7- Representação esquemática de uma Onda K de Kondratiev com duração aproximada de 50 anos. Fonte:

Rodriges & Devezas, 2009 ____________________________________________________________________ 30

Figura 8 - Ondas K desde a Revolução Industrial Fonte: Rodrigues & Devezas (2009) _____________________ 31

Figura 9 - Interacção ente as actividades de I&D e Transferência de Tecnologia num contexto de inovação - Fonte:

Conceição, Heitor & Oliveira (Tecnovation, 1998) _________________________________________________ 34

Figura 10- Modelo Simplificado de Papaconstantinou, Sakurai e Wyckoff _______________________________ 41

Figura 11 – Intensidades Tecnológicas Totais. Fonte: OCDE _________________________________________ 44

Figura 12 - Composição das Intensidades Tecnológicas para Alemanha e França . Fonte: OCDE ____________ 45

Figura 13- índice de capital Humano à Mincer ____________________________________________________ 47

Figura 14– Evolução do Índice Capital Humano à Mincer ___________________________________________ 50

Figura 15 – Portugal variação das taxas de escolarização ___________________________________________ 51

Figura 16- Evolução do PIB em valores absolutos (1910-1975) Fonte: Mateus (2005) _____________________ 54

Figura 17- Evolução do PIB real e potencial em escala logarítmica (1910-2003)Fonte: Mateus (2005) ________ 54

Figura 18 - Evolução dos factores de Crescimento (1910-2003) Fonte: Mateus (2005) _____________________ 56

Figura 19- Impactos comparativos da 2ª Guerra Mundial: Fonte: Mateus (2005) _________________________ 57

Figura 20- Quadro comparativo das taxas de analfabetismo (1860-1960) Fonte: Mateus (2005) _____________ 57

Figura 21- Evolução da estrutura do PIB por sector de actividade (1910-1994) Fonte: Mateus 2005 __________ 58

Figura 22- Evolução do VAB por sector de actividade (1910-1994) Fonte: Mateus 2005 ___________________ 59

Figura 23- Impacto dos fundos estruturais em % do PIB e em valor (1990-2013 prev.) Fonte: Mateus 2005 ____ 60

Figura 24- Evolução das taxas de crescimento dos factores produtivos (1910-2003) Fonte: Mateus 2005 ______ 61

Figura 25- Evolução comparativa do PIB per capita e convergência com EU (1970-1998) Fonte: OCDE______ 61

Figura 26- Evolução da estrutura do PIB Portugal vs UE (1986-2006) Fonte: Mateus 2005 _________________ 62

Figura 27- Evolução do IDE em Portugal (1986-2004) Fonte: Banco de Portugal ________________________ 63

Figura 28- Estrutura e evolução do IDE em Portugal por sector de actividade (1986-2004) _________________ 63

Figura 29- Estrutura e evolução do IDE e IPE em Portugal (1986-2003) ________________________________ 64

Figura 30- Evolução do IPE por destino (1996-2005) _______________________________________________ 64

Figura 31– Indicadores de boa governação Mateus (2005) ___________________________________________ 69

Figura 32 - Repartição da Despesa em Inovação nos Serviços e Indústria _______________________________ 71

xii LISTA DE FIGURAS/GRÁFICOS

Figura 33– Evolução do Valor Acrescentado no “cluster” das Indústrias e Serviços baseadas no Conhecimento 72

Figura 34 Comparação das Balanças de Pagamento Tecnológicas na OCDE Source: OECD, TBP database, May

1999 _____________________________________________________________________________________ 73

Figura 35 - Saldo da Balança Tecnológica (1996-2009) Fonte: Banco de Portugal ________________________ 75

Figura 36 - Balança Tecnológica por Sector de Actividade (1996-2009) Fonte: Banco de Portugal ___________ 75

Figura 37 - Saldo da Balança Tecnológica Sectores de Actividade (1996-2009) Fonte: Banco de Portugal _____ 76

Figura 38 – Comparação das Dotações Orçamentais para I&D/PIB (1986-2002) Fonte: OCT 2002 __________ 77

Figura 39 – Evolução da Despesa I&D (1986-2002) Fonte: IPCT 2007 _________________________________ 78

Figura 40 – Evolução da Despesa I&D por origem (1982-2007) Fonte: IPCT 2007 _______________________ 79

Figura 41 – Evolução do Pessoal em I&D (1982-2007) Fonte: IPCT 2007 ______________________________ 79

Figura 42- Taxa de dependência (patentes não residentes/residentes) __________________________________ 81

Figura 43-Comparação da Intensidade da I&D vs especialização alta-média-alta tecnologia Fonte:OCDE ____ 82

Figura 44-Comparação da Estrutura do Índice de Esforço em Novas Tecnologias OCDE___________________ 83

Figura 45-Abertura ao Exterior dos Sectores de Alta Tecnologia (adapt. Mateus) Fonte: INE _______________ 83

Figura 46– Tabela Portuguesa de Transacções (1995). 106 PTE. Cálculo: Sequeira & Boto (2005) ___________ 87

Figura 47– Tabela de Coeficientes Técnicos Portugueses (1995) Cálculo: Sequeira & Boto (2005) ___________ 88

Figura 48– Matriz portuguesa de Coeficientes Interdependentes (1995).Cálculo Sequeira & Boto (2005) ______ 89

Figura 49- Inovação e Intensidade Tecnológica por Sector IndustrialFonte: OCT Jan.2000. 2º Inquérito

Comunitário às Actividades de Inovação. _________________________________________________________ 92

xiii

Lista de Tabelas

Tabela 1- Teorias do Crescimento Económico _____________________________________________________ 11

Tabela 2 – Factores de Crescimento da Economia Portuguesa nas variáveis de Solow - Fonte: Mateus (2005) __ 55

Tabela 3 Evolução da Balança Tecnológica Portuguesa (1996-2009) Fonte: Banco de Portugal _____________ 74

Tabela 4- Patentes registadas por residentes. Fonte: Principais Indicadores de Ciência e Tecnologia, OCDE, 1999

_________________________________________________________________________________________ 80

Tabela 5- Patentes de não residentes. Fonte: Principais Indicadores de Ciência e Tecnologia, OCDE, 1999 ____ 80

Tabela 6 Índice de dependência Tecnológica por sectores mais relevantes (1996-1998) Fonte: Banco de Portugal 85

Tabela 7- Inovação em Portugal, 1995-1997 Fonte: OCT Jan.2000. ___________________________________ 92

Tabela 8 B-1 – Input-Output Tabela de Transacções Fonte: U.S. Department of Commerce, Bureau of Economic

Analysis ___________________________________________________________________________________ 97

Tabela 9 B-2 – Sistema Input-Ouput Fonte: OCDE ________________________________________________ 97

xiv LISTA DE TABELAS

1

O processo de dependência tecnológica aliado a um baixo grau de internalização de

conhecimento pelo Capital Humano de uma determinada economia, é um factor crítico

condicionante do seu desenvolvimento e de acordo com os estudos recentes um factor criador de

“dependência do caminho” que no limite poderá conduzir essa economia a um processo de

exclusão do progresso económico e social.

No actual paradigma de desenvolvimento assente no Conhecimento, a compreensão objectiva do

grau de dependência da economia portuguesa e dos seus factores condicionantes, é naturalmente

um processo decisivo para a construção de alternativas de política económica que possam

inverter a prazo essa situação.

O conhecimento existente dos factores de dependência são de natureza empírica e muito

incipientes, pelo que quais quer estudos que clarifiquem o problema são naturalmente muito

úteis para os agentes económicos e decisores.

Capítulo 1 Introdução

1.1 Razões para a investigação

2 Introdução

A investigação desenvolvida tem como principal objectivo caracterizar o grau de suficiência do

conhecimento incorporado no Capital Físico e Humano em stock na economia portuguesa. Sendo

naturalmente um objectivo demasiado vasto para o âmbito mesmo duma Tese de Doutoramento

e naturalmente deste trabalho, é minha convicção que é possível avaliar de forma empírica

alguns modelos econométricos teóricos descritos e adaptá-los à realidade da economia

portuguesa, na continuidade de alguns trabalhos já existentes.

Objectivamente pretendo:

Caracterizar a capacidade actual e a incorporação de capital humano subjacente ao actual

estádio de desenvolvimento.

Verificar o grau de independência da economia face às economias directamente

concorrentes e caso exista, o seu grau de especialização

Perceber os mecanismos de convergência para o nível de desenvolvimento europeu, em

termos de evolução para a economia do conhecimento.

Se possível chegar a cenários de evolução e convergência que facilitem esse processo

A questão abordada pela presente investigação, bem como as conclusões que da mesma

resultam, são relevantes:

· Em termos académicos, designadamente porque:

Constitui um contributo para as ciências económicas e sociais;

Representam um avanço no domínio da gestão do conhecimento e, em particular,

da tecnologia e do conhecimento tecnológico;

Poderá abrir o caminho para a realização de estudos futuros, tanto em termos de

análises sectoriais mais finas, como de trabalhos contemplando amostras mais

alargadas, e ainda no desenho de metodologias para a avaliação de activos

intangíveis duma determinada economia

1.1.1 Objectivos da investigação

1.1.2 Interesse da Investigação e do seu tema

Parece pois pacífico aceitar que a questão-chave dos mecanismos propiciadores da inovação são

em grande medida um problema de Gestão do Conhecimento característico do actual estádio de

desenvolvimento das economias na Sociedade do Conhecimento.

Há assim que caracterizar o padrão de desenvolvimento tecnológico português em termos de:

Grau de independência/dependência tecnológica do actual modelo de

desenvolvimento

Nível de desenvolvimento e capacidade de absorção do conhecimento do capital

humano

Caracterização do padrão de desenvolvimento da economia portuguesa e nível de

dependência da estrutura económica do passado.

Questões que são equacionadas neste trabalho e que serão investigadas no futuro no âmbito da

Teses de Doutoramento.

O Trabalho desenvolve-se em 3 capítulos estruturantes: O 1ª discute os modelos teóricos do

crescimento económico e a questão dos mecanismos que condicionam esse desenvolvimento; O

2ª discute os modelos teóricos de compreensão e quantificação do Capital Humano nas

Economias, a partir dos modelos neoclássicos até hoje, ajuda ndo ainda a compreender a

realidade da valorização e importãncia do capital Humano no progresso tecnológico da economia

portuguesa; O 3º faz uma descrição histórica do processo de crescimento da Economia

Portuguesa desde 1910 até aos nossos dias e uma caracterização recente dos seus principais

factores de competitividade e de dependência no actual paradigma de desenvolvimento das

Sociedades Desenvolvidas. Finalmente perspectivam-se conclusões e linhas de investigação a

abordar futuramente na Tese de Doutoramento no sentido de obter os objectivos anteriormente

descritos.

1.2 Definição do problema de investigação

1.3 Indicação da estrutura geral do relatório

4 Introdução

5

2.1 Introdução e enquadramento teórico da complexidade económica na

sociedade do conhecimento

A realidade actual das economias desenvolvidas parece confirmar que a capacidade de inovar

tanto no produto, como nos processos, tirando partido do potencial económico da aplicação das

novas tecnologias, é uma forma fundamental para conseguir o crescimento sustentado em

qualquer economia.

A Inovação nos processos aumenta a produtividade dos factores, reduzindo os custos

operacionais, enquanto a inovação no produto promove o crescimento do mercado, reduz a

intensidade da dependência tecnológica e cria “capital humano” com conhecimento

“incorporado” que leva à criação de vantagens competitivas, sobre as economias ou empresas em

concorrência no mercado.

A capacidade de inovar depende de uma enorme “panóplia” de factores que vão desde a

“qualificação” da força de trabalho, da capacidade de “aprendizagem” das empresas e até do

ambiente geral na qual a empresa opera - “clusters” tecnológicos, mecanismos de cooperação

inter-empresas e esforço de I&D próprio ou em parceria com as instituições de Investigação.

A verdade é que o processo de inovação não é pacífico, no sentido em que não basta “querer”

para “poder”!

Capítulo 2 Revisão da Literatura

6 Revisão da Literatura

Como refere Soete e Freeman1 : “previous knowledge is needed to absorb new knowledge, skills

must be available to acquire the new skills and a certain level of development is required to

create the agglomeration economies that make development possible.”

E ainda mais adiante referindo-se ago processo de exclusão comumente descrito como de

dependência tecnológica “ … there will also be risks of getting “trapped” in a low wage, low

skill, low growth, development pattern. Technological catching-up will only be achieved through

acquiring the capacity for creating and improving as opposed to the simple ‘use’ of technology.

This means being able at some stages to enter either as imitator or as innovators of new

products or processes”

Parece pois pacífico aceitar que a questão-chave dos mecanismos propiciadores da inovação são

em grande medida um problema de Gestão do Conhecimento característico do actual estádio de

desenvolvimento das economias na Sociedade do Conhecimento.

2.2 Tecnologia e Crescimento Económico

Um dos aspectos mais relevantes da actual realidade dos países e das nações é o enorme

progresso económico que atingiram. O desenvolvimento e progresso económico é desigual e

cíclico, mas o que é inegável é que sobretudo desde a Revolução Industrial o ritmo do

crescimento económico acentuou-se, acentuando-se igualmente as desigualdades entre as nações

e nas nações entre as pessoas.

Como acentua Louçã & Caldas (2010) ”…O mundo é mais desigual no inicio do século XXI do

que era aquando da Revolução Industrial há mais de 200 anos. O crescimento criou divergência

em vez de convergência. Ao longo dos anos mais recentes quanto mais liberalizadas e

desreguladas foram as relações económicas internacionais, mais se acentuou essa divergência.”

A constatação desse fenómeno pode ser analisada pela desigualdade da distribuição do

rendimento entre nações, cuja ilustração pode ser vista executando a animação seguinte:

1 Freeman, Chris; Soete, Luc – The Economics of Industrial Innovation ( 3 th Edition). Pinter: London.1997. p. 352

income_distr_animation_030924.exe

(favor executar esta aplicação)

Comparado o conjunto das economias mundiais com os EUA e alguns países menos

desenvolvidos como a Índia, Brasil e Bangladesh é notória que se acentuou desde esse período a

desigualdade na distribuição do rendimento.

A evolução da população mundial, fruto da melhoria generalizada das condições de vida

contribuiu também para a acentuada desigualdade na distribuição dos rendimentos e para que,

em certas economias, o PIB per capita estagnasse ou não crescesse a ritmos igualmente rápidos.

Ainda assim e como podemos verificar no gráfico abaixo, houve na generalidade dos países da

UE um crescimento sustentado das economias, que se não verificaram por igual em outras

economias com níveis de desenvolvimento médios e baixos.

0,00

10000,00

20000,00

30000,00

40000,00

50000,00

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70000,00

80000,00

90000,00

100000,00

Evolução Comparativa do Crescimento do PIB (1976-2009)

Fonte: Eurostat 2010 em K€(valores a 0 por falta dados)

1976 1981 1986 1991 1996 2001 2006 2009

Figura -1: Evolução Comparativa do Crescimento do PIB (1976-2009)

8 Revisão da Literatura

Ainda assim podem verificar-se para o mesmo período ritmos de crescimento desiguais para, por

exemplo, Luxemburgo, Irlanda e Islândia, contra crescimentos incipientes de Portugal, Espanha,

média da UE e zona Euro, para o mesmo período. Igualmente, analisando a evolução do Índice

de Gini2 na Europa, verifica-se em geral um aumento da desigualdade para o período

referenciado na Figura 2 com excepção da França.

Ainda assim mantendo-se em valores por volta da média europeia (30) própria portanto das

economias com elevados níveis de desenvolvimento e longe dos valores das economias

emergentes e das subdesenvolvidas.

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Ind

íce

de

Gin

i

Desenvolvimento Humano na EuropaEvolução do Indíce de Gini (1997-2008)

Fonte: Eurostat, 2010

Portugal

Finland

Spain

European Union (25 countries)

France

Germany (including ex-GDR from 1991)

Figura - 2: Desenvolvimento Humano na Europa - Índice Gini (1997-2008)

2 Cit. Wikipedia 2010 - O “Coeficiente de Gini'' é uma medida de desigualdade desenvolvida pelo estatístico Corrado Gini, e publicada no documento “Variabilità e mutabilità” “variabilidade e mutabilidade”, em 1912. É comumente utilizada para calcular a desigualdade de distribuição de rendimento mas pode ser usada para qualquer distribuição. Ele consiste num número entre 0 e 1, onde 0 corresponde à completa igualdade de rendimento (onde todos têm a mesma rendimento) e 1 corresponde à completa desigualdade (onde uma pessoa tem toda a rendimento, e as demais nada têm. O índice de Gini é o coeficiente expresso em pontos percentuais (é igual ao coeficiente multiplicado por 100).

Enquanto o coeficiente de Gini é maioritariamente usado para medir a desigualdade de rendimentos, pode ser também usado para medir a desigualdade de riqueza. Esse uso requer que ninguém tenha uma riqueza líquida negativa.

Pode pois perguntar-se o que justifica a existência de ritmos de crescimento económicos tão

diferentes entre países e regiões?

Essa questão é curiosamente recentemente abordada pelos economistas que estudam o

crescimento económico e que o começam a abordar a partir da crítica e superação das limitações

dos modelos clássicos de Adam Smith, Ricardo e Marx, assentes na divisão do trabalho e

acumulação do capital.

Como refere Louçã & Caldas (2010) ... “ Diversos autores, como Adam Smith, Simon Kuznets,

Moses Abramovitz e Nicholas Kaldor, dedicaram-se a caracterizar as evidências empíricas do

crescimento, para poderem formular hipóteses acerca dos principais factores que o explicam.

Os resultados são contraditórios e a contabilidade é difícil. Por isso mesmo, os modelos teóricos

sugeridos para explicar o crescimento são também diferenciados. Os principais modelos são o

de Harrod e Domar, na tradição keynesiana, e o de Solow, na herança da “síntese” entre o

keynesianismo e a economia neoclássica. Os seus pressupostos e as suas conclusões são

diferentes. No modelo de Harrod-Domar, temos uma instabilidade constitutiva do sistema

económico, que dificilmente alcança a taxa de crescimento desejada.

Em contrapartida, no modelo de Solow, pode alcançar-se um equilíbrio, mas essa situação é

indesejável, porque nesse caso cessa o processo de acumulação e de crescimento.

A evidência empírica usada por discípulos de Solow, como Denison, para estimar o modelo,

revelou um dado surpreendente: o “resíduo”, ou seja, a parte do crescimento que não é

explicada pela equação (e que é atribuída ao progresso técnico) é dominante. A teoria fica

fragilizada quando a sua principal descoberta é que não explicou o essencial.

Assim, retomamos a questão do crescimento, apresentando os seus três factores determinantes:

trabalho, acumulação de capital e as mutações tecnológicas.

No entanto, ao reconsiderarmos a questão do desenvolvimento e da qualidade de vida

encontramos os limites dos processos do crescimento.

10 Revisão da Literatura

Os exemplos do fracasso histórico da sociedade da Ilha da Páscoa, ou, no nosso tempo, dos

riscos das sociedades modernas com a poluição provocada pela generalização do uso do

automóvel, demonstram que o conceito de desenvolvimento deve incluir padrões ambientais e

definir assim a sua sustentabilidade. Desenvolvimento não é o mesmo que crescimento médio do

PIB. Além dos bens e serviços produzidos para o mercado, e aí adquiridos para consumo, há

outras dimensões do bem-estar que devem ser tomadas em consideração. O Índice de

Desenvolvimento Humano sugerido pelo trabalho de Amartya Sen procura fazer precisamente

isso. No entanto, há outras dimensões do bem-estar que não são incluídas nesse Índice.

É o caso da dimensão ambiental”.

No quadro adaptado de Amaral e alli. (2007) constante da fig. 3, estão resumidas algumas das

mais significativas Teorias do Crescimento Económico desde os modelos clássicos, aos Modelos

da Teoria do Crescimento Endógenos que tentam superar as limitações do modelo neoclássico de

Solow, nomeadamente as mais recentes teorias do Crescimento endógeno de Romer et all., que

tentam clarificar o papel das variáveis intangíveis , como o Capital Humano e o Conhecimento,

no processo de transformação económico e social actual.

Tabela 1- Teorias do Crescimento Económico

12 Revisão da Literatura

Nos modelos clássicos assume-se que numa economia o que consegue produzir num

determinado período t (ano), depende do equipamento instalado, ou seja, o stock de capital K

existente nessa economia.

O Produto é pois uma função linear sem termo autónomo

Y = F (K)

Este modelo de crescimento ao depender da capacidade de poupança da economia, explica o

circulo vicioso da pobreza. O crescimento depende positivamente da taxa de poupança e

negativamente do coeficiente K/Y (quanto menor for a parcela necessária para repor a

capacidade instalada, maior será a taxa de crescimento da produção).

As limitações do modelo clássico, criticadas por Harrod (1946), exclui outros factores de

produção, ignora o aumento da quantidade de trabalho decorrente do aumento da população e

não ser sensível ao nível dos preços das matérias-primas, levou Solow a formular a primeira

aproximação a uma nova função de produção linear que cresce com o aumento da quantidade de

trabalho e a produtividade introduzida pelo progresso técnico.

A longo prazo, face ao facto da acumulação de capital conduzir a rendimentos decrescentes

desincentivando o Investimento, as duas variáveis exógenas (Crescimento populacional e

Progresso técnico) conduzem a um equilíbrio a longo-prazo gerador de rendimentos crescentes e

constantes.

Em termos formais a função de produção

Y = F (K, L) - Modelo de Solow sem progresso técnico ou Modelo neoclássico

Segundo este modelo, a economia tende para um estado estacionário (“steady-state”), no qual

apresenta um crescimento equilibrado (“balanced growth”), ou seja, no qual cresce de forma

2.2.1 Modelo Clássico

2.2.2 Modelo neoclássico de Solow

homogénea e a uma velocidade constante. Na ausência de progresso técnico, o crescimento do

produto per capita é nulo.

No modelo neoclássico o processo de crescimento pode ser representado da seguinte forma:

- O nível de K depende do output Y ( as duas variáveis estão ligadas pela propensão

marginal á poupança s ). Como a produtividade marginal de K decresce com aumento de K,

quando mais crescer, menor a sua contribuição para o crescimento de Y. A longo prazo a

acumulação de capital torna-me mais difícil tendendo para 0, não explicando portanto o

crescimento efectivo ocorrido a longo prazo nas diferentes economias.

- Igualmente na presença de crescimento populacional (em rigor, aumento da força de

trabalho), para que se mantenha o rácio capital-trabalhador, o investimento deve ser suficiente

não só para compensar as depreciações, mas também para fornecer capital aos trabalhadores

adicionais que

surgem na economia. Quando o stock de capital por trabalhador é inferior (superior) ao nível de

“steady-state” (k*), o investimento é superior às necessidades de formação de capital, de modo

que o stock de capital por trabalhador aumenta (diminui). A economia converge, assim, para a

situação de

equilíbrio. Uma maior taxa de crescimento populacional (da força de trabalho) conduz a um

equilíbrio (estado estacionário) no qual o stock de capital por trabalhador e o produto por

trabalhador são inferiores.

Verificamos que o modelo de Solow sem progresso técnico, não prevê crescimento continuado

nem do produto por trabalhador, nem do stock de capital por trabalhador, nem dos salários.

Sugere, portanto, que a acumulação de capital não é suficiente para gerar crescimento

continuado da economia. Para que o modelo de Solow esteja de acordo com estes factos

estilizados de Kaldor, é necessária a consideração de progresso técnico.3

3 Cit. de Silva (2009) Nicholas Kaldor (1961), identificou um conjunto de regularidades empíricas verificadas a longo prazo,

hoje conhecidas como factos estilizados de Kaldor: 1. Crescimento do produto per capita. 2. Crescimento do rácio capital-

trabalho. 3. Estabilidade do rácio capital-produto. 4. Crescimento dos salários reais. 5. Estabilidade da taxa de lucro. 6.

Estabilidade da proporção entre salários e lucros.

14 Revisão da Literatura

Para explicar o crescimento continuado, podem ser adicionadas variáveis exógenas,

nomeadamente o designado Progresso Técnico (T), ficando a nova função de produção:

Y= f (K, L, T)

O progresso técnico reflecte-se no aumento da produtividade dos factores de produção,

permitindo que se obtenha um maior produto para um mesmo nível de utilização dos factores

produtivos. Existem três formulações elementares, que têm em comum a presença de um

parâmetro de produtividade, A:

Y = f (K, L, T)

O progresso técnico à Hicks faz aumentar a produtividade total dos factores, isto é, afecta de

igual forma a produtividade do capital e do trabalho:

Y = L* f (K, T)

O progresso técnico à Harrod aumenta apenas a produtividade do trabalho:

Y = f (K, LT)

O progresso técnico à Solow proporciona aumentos da produtividade do capital:

Y = f (LT, N)

No modelo de Solow com progresso técnico, a função produção incorpora progresso técnico

à Harrod. Assume-se que o parâmetro de produtividade do factor trabalho cresce a uma taxa

constante, α:

Y = f (K, L,T ) , com L = L0 eαt

.

A verificação empírica deste modelo revelou grandes dificuldades e algum cepticismo. Não é

possível resumir o crescimento de uma economia aos factores que Solow modelizou. Os diversos

estudos mostraram que sobrava sempre um resíduo estatístico não explicado pelo modelo, e que

tinha valores significativos como os comprovado pelos estudos de Cobb-Douglas e Denison

(1962) que explicariam na economia dos EUA cerca de 63,6% da evolução do PIB. O factor

mais significativo que supostamente descreveria o Progresso Técnico era assim o mais

importante factor não explicado pelo próprio modelo. Esse resíduo ficou conhecido como o

Resíduo de Solow.

O efeito do progresso técnico pode ser visto de 2 formas:

1) Gera um aumento directo da produtividade dos outros factores;

2) Induz um retorno crescente de K, levando a investimento adicional e consequente retorno

crescente de mais capital. Acumulação de capital é uma consequência directa da mudança

tecnológica. Como T não é uma variável explicativa nesse modelo, o progresso técnico

permanece como não explicada, sendo uma variável exógena a esse modelo – Chamado

Resíduo de Solow.

Para superar esta fraqueza Kaldor (1957) e Arrow4 (1962) tentaram endogeneizar T através do

efeito de Aprendizagem como fonte de melhorias tecnológicas.

Assim em comparação com o modelo neoclássico de Solow, novos modelos têm surgido para

explicar a mudança tecnológica. Como Amable (1994) sugeriu ...” A number of increasing

sources of growth might indeed exist.”! A primeira foi referida por Romer (1986) através dum

modelo não restringido por retornos constantes, assente em economias de escala que geram

retornos crescentes; uma segunda abordagem, Romer (1990), refere um modelo gerador de

externalidades positivas, como a I&D e outras fontes de conhecimento que induzem a inovação

tecnológica; Lucas (1988) refere a acumulação de Capital Humano como fonte de aumento da

produtividade do trabalho; finalmente, o crescimento pode ser igualmente realizado através de

outras externalidades como “Bens Públicos” e infra-estruturas (redes comunicação, etc.), bem

como boas práticas de governação ( Desburocratização das Administrações Públicas, Combate á

4 Kenneth Joseph Arrow é um economista americano. Recebeu o Prémio Nobel de Ciências Económicas 1972. É considerado um dos fundadores da moderna economia neoclássica. Seus trabalhos mais significativos são suas contribuições à teoria da escolha social, nomeadamente, “Teorema da impossibilidade de Arrow”, e o seu trabalho na análise da Teoria do Equilíbrio Geral.

2.2.3 Modelos de crescimento endógeno

16 Revisão da Literatura

corrupção, incentivos fiscais, estabilidade governativa, justiça acessível e rápida, etc. ) que

facilitam e induzem o investimento e o aumento da produtividade dos factores.

2.2.3.1 Destruição criativa de Schumpeter: Inovação e evolução e ciclos económicos

O pensamento económico de Schumpeter - e, bem assim, o da generalidade dos autores

modernos da Escola Austríaca - funda-se numa visão dinâmica do capitalismo, ou seja, vê na

mudança e no processo evolutivo as principais fontes de criação de valor.

A “destruição criativa” é pois a síntese desta dinâmica, o resultado de todo este processo de

substituição das formas de consumo, da produção industrial, da tecnologia, da organização da

sociedade, da empresa e dos mercados; dinâmica essa que conduz à eliminação das fórmulas

“velhas” por novas soluções. Este processo – que Kirzner classifica de “Inovação” – conduz ao

progresso, a maiores níveis de rendimento e a um contínuo e crescente bem-estar social. As

economias assentes na mera concorrência não destrutiva isto é, que não actuam na constante

renovação dos seus pressupostos – conduzem, na visão de Schumpeter, a uma mera arbitragem

dos preços, e não são por essa via fonte de progresso e de aumento da riqueza, sendo por isso

meramente redistributivos.

Os processos de ajustamento e de mudança acarretam riscos, os quais devem ser adequadamente

medidos, pois nem toda a destruição é criativa (nem toda a destruição é fonte de inovação,

traduzindo-se na criação de valor). Do mesmo modo, os ajustamentos são parcial e

conjunturalmente dolorosos; é pois importante que existam na sociedade forças capazes de

acompanhar as mudanças e as transformações prevalecentes – organizações inovadoras.

O modelo base de inovação assenta pois na “empresa” (inovadora), núcleo base do processo de

crescimento com retornos crescentes! Apesar do embaraço que parece causar à teoria

neoclássica, a chamada “economia de mercado” não é apenas do mercado mas uma economia

das organizações. O mercado é só o ponto de encontro das empresas com os consumidores.

2.2.3.2 Dupla natureza da Inovação: Desenvolvimento de novos produtos versus melhoria

nos processos de fabrico.

È comum definir inovação como a materialização de uma ideia tornada possível por alterações

tecnológicas significativas e/ou pela constatação de uma necessidade.

Nesta perspectiva, inovar é fundamentalmente um processo criativo, dirigido pela tecnologia -

“Technology Push” ou imposto por uma necessidade do mercado - “Demand Pull”.

O processo de inovação, é cada vez menos um processo individual - (embora muitas das ideias

inovadoras resultem ainda da criatividade ou do espírito empreendedor de uma só, ou de um

número restrito de pessoas - Empreendedorismo), resultando antes do esforço organizado de um

conjunto de recursos (conhecimento, saber fazer e capacidade tecnológica) disponíveis numa

organização (normalmente numa empresa) concorrendo num mercado, onde competem outras

empresas com recursos semelhantes e experiências diversificadas.

O processo de inovação existe assim ao longo de todo o ciclo de vida dos produtos, seja na

tentativa de fazer afirmar um novo produto ou serviço, seja na tentativa de o diferenciar para

manter as suas capacidades competitivas, seja ainda nas formas de o produzir pela melhoria da

sua qualidade ou na tentativa de reduzir os custos do seu fabrico.

Narayan

Life Cycle of Project from Concept to Commercialization

Applied R&D

Scale-up

Preliminary

Engineering & Economics

Stage 1

Market Analysis

Business Opportunity

Analysis

Stage 2

Market Development Studies

End-user/Customer Testing & Evaluation

Business Development

Business PlanStage 3

Concept R&D

Proof of Technology Concept

PHASE I - Basic /

Fundamental WorkPHASE II - Technology to Investment Grade

PHASE III - Commercialization

Semi-works/Commercial plant

Sales

Manufacture

Business Plan

Start-up Company

or

Joint Venture

or

Technology Sale / Licensing

Figura - 3 - Ciclo de vida do produto. Fonte: Narayan (IST,Lisboa:2000)

Na generalidade dos casos, na fase inicial de desenvolvimento de uma ideia inovadora, o esforço

das empresas está centrado na Inovação do Produto, i.é. na capacidade de projectar e

18 Revisão da Literatura

desenvolver um produto ou serviço com características inexistentes no mercado, criando uma

nova oportunidade ou respondendo a uma necessidade; sendo que numa fase posterior do seu

ciclo de vida, as empresas centram os seus esforços na Inovação nos Processos, seja para lhe

prolongar a sua vida útil, seja para reduzir os custos da sua produção, e por essa via adquirirem

vantagens competitivas sobre a concorrência e desincentivar novas entradas no mercado.

De acordo com Utterbach & Abernathy, a capacidade de inovação das empresas está menos

dependente da natureza dessa inovação, mas mais da forma como a firma opera no mercado, i.e.,

da sua estratégia competitiva e do seu estádio de desenvolvimento.

Figura - 4 - Funil da Inovação. Fonte: Gassman & Henkel

Em regra o modelo de inovação, e confirmado pelo estudo de Myers and Marquis (1969), refere

3 estádios de desenvolvimento das empresas, determinados pela sua dimensão e idade, indo do –

Estádio 1 - Processos de produção menos coordenados, estratégias centradas na maximização

das características dos produtos, tendentes á sua afirmação nos mercados, até ao Estádio 3 em

que os processos de produção são mais complexos, logo de difícil alteração; As estratégias são

mais adversas ao risco, logo mais centradas na minimização dos custos de produção; e, os

estímulos para a inovação mais reactivos, logo centradas na melhoria dos processos de fabrico e

menos na criação de novos produtos ou serviços.

Esse modelo conceptual, parecem dar uma relativa consistência a uma análise mais centrada nas

diferenças entre as empresas, como factor de avaliação da sua capacidade de inovação, do que na

natureza e características do produto ou serviço em si mesmo.

Os processos de inovação são, pela sua natureza, processos incrementais e cumulativos, tal como

decorre da chamada “teoria da inovação” de Schumpeter.

Na realidade, a inovação não depende apenas do “espírito empreendedor” e das necessidades do

mercado – se assim fosse, sempre que uma necessidade é constatada seria possível satisfazê-la;

mas depende antes de um acumular de conhecimento científico e tecnológico que viabiliza essa

inovação.

Só muito raramente um processo de inovação esteve na origem de transformações radicais da

estrutura económica e social (Revolução Industrial) ou de inversões no conhecimento científico,

e mesmo nesses casos, não se tratou apenas de uma inovação, mas sim de um processo

incremental que viabilizou no tempo essas transformações radicais.

Essa natureza do processo de inovação, implica para as empresas uma necessidade de domínio

do conhecimento e das tecnologias e uma ponderação da sua maturidade, de forma que a

estratégia de entrada do novo produto ou serviço no mercado, seja feito no “timing” apropriado.

“Time to market” ou na concepção de Scherer “Time-cost trade-off”, determinam o tempo

óptimo para que o processo de inovação seja aceite no mercado e conduza a benefícios

económicos para a empresa que possibilitou essa inovação.

É essa explicitação das capacidades de inovação das empresas, centrado no ciclo de vida do

produto, que faz diferir as conclusões do modelo de Klepper a seguir desenvolvido, das do

modelo anteriormente abordado.

2.2.4 Processos de Inovação incremental versus radical e reestruturação económica

20 Revisão da Literatura

O padrão comummente descrito como do Ciclo de Vida do Produto, é explicitado no modelo de

Klepper e algumas das “regularidades” do seu modelo original, são comprovadas através dos

resultados analíticos apresentados e que são sinteticamente os seguintes:

Quando um novo produto ou necessidade é constatada pelo mercado, dá-se um processo

de entrada de um conjunto grande de empresas, concorrendo para satisfazer essa

necessidade ou vender esse produto. A taxa de inovação no produto é elevada e levando a

uma mudança significativa na estrutura de partilha do mercado, com inúmeras empresas a

concorrer através de diversos produtos iguais ou semelhantes.

À medida que uma quantidade reduzida de empresas tende a dominar o mercado

(Tendência para a monopolização ou oligopolização), através da qualidade do produto,

estratégias de marketing mais adequadas ou inovação no design, essas empresas

conseguem atingir economias de escala, que lhes permitem uma actuação ao nível dos

preços. Esse factor leva inevitavelmente à saída de empresas do mercado, por

incapacidade de concorrência.

A aplicação do modelo analítico comprova ainda que, à medida que o mercado cresce, o

número de novas entradas diminui e tendencialmente decrescem para 0 ao longo do

tempo. À medida que um número limitado de empresas partilha o mercado, o incentivo

para tentar adquirir maior quota tende também a diminuir. Tal facto fica a dever-se à

tendência para os ganhos marginais, decorrentes da inovação nos processos, tenderem

para 0 com a maturidade do produto. Por outro lado, o conhecimento pela concorrência

da alteração para baixo nos preços, leva a reacção idêntica desses competidores forçando

as margens a diminuir. Esse facto é limitador dessa tendência, conduzindo à estabilização

do mercado no nível de partilha pré-existente.

A inovação no produto tende também a declinar com o tempo, dado não existirem novas

entradas ameaçadoras no mercado, levando como consequência, à estabilização das

características do produto.

2.2.5 Evolução da estrutura do mercado, Ciclo de vida do produto e custo/benefício do

esforço de inovação

Figura 5 - Processo de “de-coupling the locus of innovation process”. Fonte: Gassmann & Henkel

Um outro aspecto importante tem a ver com o esforço de I&D. Cada empresa que permanece no

mercado, tende a aumentar o esforço de I&D nos processos em detrimento do esforço de

inovação no produto. Como o retorno do investimento em I&D no produto é independente do

tamanho da empresa, enquanto que, o de investimento nos processos não o é: à medida que as

empresas crescem, a natureza desse investimento tende a mudar do produto para o processo.

Finalmente é esperado que cada nova entrada no mercado se faça a partir de empresas mais

inovadoras. Essa é a condição necessária para a sobrevivência no mercado dessas empresas, na

medida em que essa é a sua única vantagem competitiva.

O modelo analítico questiona ainda a natureza do retorno do investimento em I&D em função da

dimensão das empresas. Em princípio quanto maior dimensão tiverem as empresas, maior o

retorno desse investimento. No entanto tal retorno não é proporcional à dimensão desse esforço,

o que conduz à constatação de que a partir de um determinado nível de despesas a sua eficiência

diminui.

22 Revisão da Literatura

Por outro lado a natureza complexa dos efeitos do investimento em I&D e dos resultados a que

conduz, leva a que empresas pequenas mas tecnologicamente mais evoluídas possam tirar mais

partido da investigação feita pelas próprias grandes empresas – “learning by comparing”- ou

através de mecanismos de licenciamento de tecnologia de instituições de I&D públicas ou

privadas.

Figura - 6 Performance da inovação na EU. Fonte: Portugal. OCT,1999

Um aspecto determinante do processo descrito foi abordado por Arrow em 1994 numa

perspectiva crítica dos modelos de crescimento neoclássicos que desenvolveu, conjuntamente

com Solow. No paper, “ Crescem os problemas na aplicação da Teoria Económica Liberal”,

Arrow (1994) depois de listar várias refutações a essa teoria, refere-se ao processo de inovação

desta forma conclusiva, cit. “ A inovação está claramente fora do contexto habitual da teoria do

equilíbrio geral. Está mais próxima da evolução biológica, como a selecção natural das ideias

com sucesso, e essa noção foi apresentada por investigadores da inovação como Richard Nelson

e Sidney Winter”.

Para superar esses condicionalismos e dar resposta às limitações da economia neoclássica,

Nelson e Winter, baseados em autores como Leontief e retomando as origens de autores como

Malthus e Darwin, desenvolvem um conjunto de conceitos económicos relacionados com os

fenómenos biológicos assentes nas correntes darwinistas de selecção natural – Economia

Evolucionista – a abordar posteriormente.

Contrapondo á noção determinista das correntes clássicas, os agentes económicos agem no

mercado sem informação perfeita, de forma não racional, agindo e reagindo ás alterações de

conjuntura em condições de incerteza e de grande complexidade. Sobrevivem as mais fortes

(com capacidade de inovação e conhecimento embebido) superando as vias clássicas de entrada

e saída dos mercados por força de mecanismos de controlo dos preços ou falhas de mercado.

As empresas nesse contexto, não dispõem de função - objectivo bem definida, a informação é

incompleta e imperfeita num ambiente de racionalidade limitada. A empresa age e sobrevive por

mecanismos de aprendizagem e adaptação, com erros e incerteza, num mercado com variações

indeterminadas de procura. Nesse contexto empresas há que sobrevivem por acumulação de

vantagens competitivas e acumulação de capital enquanto outras fracassam e sucumbem.

Os processos de inovação, ao gerarem perturbações aleatórias e ocasionais ou intencionais da

parte das empresas, fez desenvolver este conceito em diversas direcções, abrindo um vasto leque

de domínios para a investigação:

a) Valorizando o Conhecimento Tácito empresarial (saber fazer) e a inovação incremental

(Michael Polyani);

b) Processos de inovação radical com alteração radical de produtos e processos de fabrico

(Chris Freeman);

c) Co-evolução das empresas (Alfred Chandler), etc.

24 Revisão da Literatura

2.2.5.1 Modelo Romer, Parente e Rebelo

A crítica ao modelo neoclássico fez-se também através de uma tentativa de endogeneização do

progresso técnico no modelo neoclássico, como mais uma variável explicada pelo modelo, como

os factores (k) capital e trabalho (L), e não como um resíduo não explicado pelo modelo,

tentando superar o paradoxo de Solow.

Romer e Barro, por influência de Solow, abriram caminho ao aparecimento de modelos de

crescimento em que o aumento do Produto (Y) por virtude do financiamento do investimento

pela poupança e pelo aumento da produtividade do trabalho (Y/L) cresceria de forma ilimitada.

Um dos modelos de Romer e Arrow desenvolvidos pelos economistas portugueses Parente e

Rebelo, reescrevem o modelo neoclássico em termos de Intensidade de variação do produto,

como se este fosse um múltiplo do stock de capital, sendo o crescimento resultado dum processo

endógeno e não dirigido dos exterior por variáveis exógenas ao modelo.

O chamado modelo TK ou AK5 na gíria internacional (A Avanço Tecnológico)

Y= TK, com T > 0

T é uma variável explicativa do modelo representada pela incorporação de capital humano

gerado pelo investimento na educação e na acumulação de conhecimento através de mecanismos

de aprendizagem fazendo (learning-by-doing) e inovando pela prática. È efectivamente

constatado na economia exemplos de inovações de produtos ou processos que geram em

determinados períodos rendimentos crescentes em períodos de expansão, num contexto de

mercado de curva logística em S (crescendo até um período de saturação, seguindo de novo

período de crescimento por força de nova inovação).

5 Explicitação do modelo retirada de Louçã & Caldas – Economia(s), Lisboa: Afrontamento,2010

No modelo de Rebelo a função de produção é do tipo

Y= f ( Kt, bt,Lt)

Em que b é o nível de formação ou conhecimentos embebidos do trabalhador, dado por uma

proporção do capital físico por trabalhador,

bt = C (kt/Lt) com C constante

assim,

Y = f ( Kt, cKt) = g (Kt)

Sendo que g é a função é uma função linear passa pela origem e tem rendimentos constantes à

escala, temos

Yt = g (Kt) = TKt

Se consideramos que a função investimento ΔKt = s Yt- δ Kt (variação de Stock de capital é igual

à Intensidade do Investimento (s – propensão poupança) menos a Depreciação do capital ) temos

que

ΔKt/ Kt = s T – δ

Podendo assim a taxa de crescimento Capital-Trabalho aumentar de forma indefinida.

Ao contrário portanto dos modelos tradicionais cujo crescimento dependia de factores exógenos

ao modelo sobre acumulação de capital e poupança, neste modelo o crescimento poderia ser

sustentado indefinidamente através da incorporação de conhecimento.

26 Revisão da Literatura

Alguns economistas como Brian Arthur, vêm neste modelo explicação para o facto de

determinadas economias que ganham por razões históricas, vantagens comparativas e

consequentemente rendimentos crescentes, através de mecanismos de especialização em

determinados processos ou produtos, ficarem condicionados por esses modelos de especialização

das suas economias e aprisionados a esses modelos (Locked-In) num mecanismo de dependência

tecnológica condicionado pelas opções anteriores e que condicionaria o futuro, um modelo

designado como de “Path-Dependence” (Dependência do caminho anterior) a que voltaremos

para introduzir o conceito de Dependência.

2.2.5.2 Outros modelos

A explicitação do modelo de Romer, tem levado a novos avanços e melhorias no modelo TK, e a

novos desenvolvimentos e explicitações do modelo.

Acemoglu (1997) para explicar o facto do custo do trabalho qualificado não decrescer, pela

introdução de cada vez maior rácio de trabalhadores qualificados/não qualificados nas economias

desenvolvidas.

Easterly et all. (1994) usaram o modelo para desenvolver um modelo básico de adopção de

tecnologia. Parente (1994) et all. ajustaram o modelo aos processos de “learning-by-doing” para

adopção de tecnologia no pressuposto de que tal adopção não ser imediata no tempo,

justificando a razão porque por vezes a adopção de novas tecnologias ou novos processos de

produção levam a decréscimos de produtividade dos factores de produção.

Assiste-se ainda um considerável aumento do esforço de investigação tendente a explicitar o

papel do Capital Humano no processo de produção e no crescimento económico, que levou ao

novo paradigma histórico comummente designado como Sociedade do Conhecimento.

Um dos aspectos interessantes na análise da diferenciação das economias de diferentes países e

regiões, tendo em vista perceber a razão dos seus condicionamentos no longo prazo, ou as razões

do seu desempenho (positivo ou negativo) passa por tentar perceber que tipos de opções terão

ocorrido nos seus modelos de desenvolvimento que condicionaram esses desempenhos no futuro.

A economia clássica explicava o desempenho de cada economia a partir de graus de

especialização dessas economias, decorrentes de vantagens competitivas que obtinham no

mercado por quaisquer razões particulares (localização, recursos dominantes, domínio de

determinada tecnologia, etc.), considerando que essas opções constituíam vantagens de mercado.

Os fundamentos dessas doutrinas retornam como disse aos economistas clássicos,

nomeadamente a Adam Smith e Ricardo, que advogavam que apesar das ineficiências globais de

cada país em termos económicos que os tornem pouco competitivos em termos internacionais,

podem existir ganhos significativos de bem-estar económico para essas economias, na

especialização em produtos ou serviços nos quais tenham as vantagens comparativas

relativamente a outros países e economias.

O exemplo clássico de Ricardo, que no essencial advoga a utilidade do Comércio Internacional

mas não a sua estrita necessidade, advém da chamada Teoria dos Custos Comparados6. “ … A

Inglaterra pode encontra-se em circunstâncias tais que lhe seja necessário para fabricar os

panos, o trabalho de 100 homens por ano, ao passo que, se quisesse fazer vinho, talvez lhe fosse

necessário o trabalho de 120 homens por ano: Seria pois do interesse da Inglaterra fazer panos

e importar vinho. Em Portugal, o fabrico de vinho podia não exigir mais do que o trabalho de

80 homens, ao passo que o fabrico dos panos exigiria o trabalho de 90 homens. Portugal

ganharia assim em exportar vinho em troca de panos. Esta troca poderia ocorrer mesmo no caso

em que se fabricasse em Portugal o bem importado com menores despesas do que em

Inglaterra”

6 Denis, Henri – História do Pensamento Económico. Lisboa: Livros Horizonte, 1974. Pág.346.

2.3 “Locking- in” e “Path-Dependence”

28 Revisão da Literatura

Sendo importante para a teoria económica esta abordagem, não se poderá deduzir dela como fez

Ricardo que a livre troca é sempre vantajosa. Um país sem indústria significativa pelo facto dos

seus custos de produção não serem competitivos, deve proteger-se da importação de bens

industriais estrangeiros, para poder desenvolver a sua indústria e ir progressivamente

aumentando a sua produtividade e competitividade.

Esse foi de certo modo o padrão de desenvolvimento da política industrial do estado novo em

Portugal que procurou através do chamado “Condicionamento Industrial” dos anos 30, favorecer

o crescimento e a especialização industrial da indústria portuguesa. Através da adopção de

barreiras legais à entrada e instalação de empresas estrangeiras e da adopção de protecção

aduaneira aos produtos importados através de pautas aduaneiras adequadas, permitiu a regulação

interna dos mercados e favoreceu o potencial exportador das empresas7 portuguesas.

Ao considerar os sistemas económicos como sistemas dinâmicos, a economia moderna tenta

analisar esses fenómenos na perspectiva de que nem sempre decisões desse tipo terão sido

decisões óptimas e que nalguns casos esses modelos condicionaram a evolução futura dessas

economias, conduzindo-as a fenómenos de “lock-in” ou custosas dependências dessas opções

históricas difíceis de alterar em caso de ineficiência estrutural.

Arthur (1998) analisa esses casos de dependência dos processos dinâmicos às condições iniciais

classificando-as em 3 graus de “path-dependence”. O grau 1 corresponde a decisões que

conduziram o sistema a soluções sub-óptimas, difíceis de alterar por necessidade de custos

adicionais significativos, enquanto o grau 3 a dependência das condições iniciais são

reconhecidas que conduzem a “lock-ins” e consequentemente podem ser evitados.

Conforme refere Arthur (1998) “…The three types of path dependence make progressively

stronger claims. First-degree path dependence is a simple assertion of an inter-temporal

relationship, with no implied claim of inefficiency. Second-degree path dependence stipulates

7 Baptista, Rui – A política Industrial e o Desenvolvimento da Economia Portuguesa desde os anos 60: Breves notas. Lisboa, IST – MEGT 2000.

that inter-temporal effects propagate error. Third-degree path dependence requires not only that

the inter-temporal effects propagate error, but also that the error was avoidable.

The essence of the distinction between third-degree path dependence and the weaker forms is the

availability of feasible, wealth-increasing alternatives to actual allocations, now or at some time

in the past. The paths taken under first- and second-degree path dependence cannot be improved

upon, given the available alternatives and the state of knowledge. Third-degree path dependence,

on the other hand, supposes the feasibility, in principle, of improvements in the path.

Third-degree path dependence is the only form of path dependence that conflicts with the

neoclassical model of relentlessly rational behavior leading to efficient, and therefore

predictable, outcomes. In instances of third-degree path dependence, outcomes cannot be

predicted even with a knowledge of both starting positions and the desirability of alternative

outcomes. In a world where efficiency cannot successfully predict outcomes, some (most?)

outcomes must be inefficient.”

A especial importância da dependência do caminho, estaria assim associada com às alegações de

terceiro grau - ou seja, deficiências herdadas que supostamente são ou foram, remediáveis.

Na análise da situação da economia portuguesa será interessante no objectivo deste trabalho

identificar o grau de “path-dependence” da economia portuguesa e se existem e quais os

fenómenos que a podem conduzir a “lock-ins” em determinados padrões de especialização.

Nicolai Kondratiev (1892-1938) foi um dos mais influentes e talentosos economistas russos do

século XX e um dos mais respeitados economistas do seu tempo. Morto precocemente pelas

purgas estalinistas – preso e destituído dos seus cargos na URSS de Estaline e

internacionalmente ignorado, acabou por ser assassinado no exílio em 1938.

Os seus trabalhos demonstraram empiricamente a que a economia capitalista desde o advento da

era industrial (finais do século XVIII) passara por duas “ondas” e meia de expansão e depressão,

2.4 Ciclos longos de Kondratiev, Sistema Mundial e Tecnoestrutura

30 Revisão da Literatura

com uma duração média de 50 anos e, que a evolução do capitalismo se fazia por mecanismos

cíclicos.

Por razões políticas e ideológicas os seus trabalhos ficaram no esquecimento até que foram

retomados por Joseph Schumpeter que na sua obra editada em 1939, “The Business Cycles” em

que avançou com um modelo económico baseado nos conceitos de Kondratiev.

Esse processo de inovação foi explicado anteriormente – baseava-se numa relação de

causalidade Crise Económica → Inovações de base → Expansão Económica, num processo

económico cíclico com duração de cerca de 50 anos, processo esse dito de destruição criativa e

dirigido por motivações empreendedoras das gerações empresariais. Cada ciclo de

inovação/destruição era acompanhado por “clusters” (enxames) de inovações radicais que

constituíam a base para o próximo ciclo de crescimento de cada nova Onda K (Kondratiev).

Figura 7- Representação esquemática de uma Onda K de Kondratiev com duração aproximada de 50 anos. Fonte:

Rodriges & Devezas, 2009

Em 1992 foi criada uma instituição em homenagem a Kondratiev – Internacional Kondratiev

Foundation - que tem premiado os autores com publicações relevantes no âmbito da sua teoria

dos Ciclos Económicos.

A explicação para a duração de 50 anos e da regularidade das Ondas K foram dadas por Devezas

& Corredine (2001, 2002), autores determinantes na chamada Economia Evolucionista, que

basearam a explicação dessas regularidades nos ciclos biológicos humanos, decorrentes das

sucessões geracionais e tempos médios necessários para aprendizagem e consolidação do

conhecimento. Esses autores introduziram igualmente a noção de Tecnoestrutura (Tecnosfera)

para designar o surgimento e consolidação dum dado cluster de inovações radicais.

Nos quadros seguintes são apresentados um resumo das características das quatro ondas K desde

a Revolução industrial até aos nossos dias, retiradas de Rodrigues & Devezas (2009):

Figura 8 - Ondas K desde a Revolução Industrial Fonte: Rodrigues & Devezas (2009)

32 Revisão da Literatura

De acordo com Devezas & Corredine, o sistema mundial evolucionista é uma Macroestrutura em

evolução por razões sócio-técnicas, tecno-económicas e macro-psicológica, o que no seu

conjunto seria uma macroestrutura de natureza colectiva-cognitiva. O processo evolutivo das

sociedades consistira assim no desgaste e exaustão de uma Tecnoesfera prévia, gradualmente

substituída por uma nova Tecnoesfera. Essa nova tecnosfera conteria um conjunto de inovações

que seriam progressivamente absorvidas pela sociedade, num processo determinado pela

capacidade (taxa) de aprendizagem dessa sociedade.

Essa capacidade humana de aprendizagem coincide naturalmente desde a ancestralidade com o

tempo de amadurecimento físico dos humanos, dado pelo ritmo básico de sequência entre

gerações (cerca de 30 anos) e pela capacidade de aprendizagem de cada geração. Essa taxa

permanece constante sendo por esse facto o parâmetro de controlo da evolução do Sistema

Mundial., i.é., a taxa de aprendizagem seria assim o parâmetro de controlo do timing com que as

inovações vão sendo criadas, absorvidas e utilizadas em cada ciclo K.

Uma Onda média K com durações de 50-60 anos, comportaria assim duas gerações, uma

primeira que cria e vai assimilando um conjunto novo de tecnologias e uma segunda que

consolida e usa (também aprendendo) esse conjunto até á sua saturação.

Em contraposição ao modelo clássico de Wallerstein de sistema mundial, Modelski (1980)

professor de Ciência Política da Universidade de Washington, propõe um modelo evolucionista

na lógica Darwiniana da evolução biológica.

Segundo Modelski, o sistema mundial evoluiria a partir de 4 processos principais de natureza

política, económica, social e cultural, cada uma com características intrínsecas mas submetidas

aos processos básicos da evolução biológica: variação, cooperação, selecção e transmissão de

informação.

Cada um desses processos evoluiríam de forma síncrona e não de forma independente, num

processo de co-evolução, originado a partir da emergência das primeiras civilizações (há cerca de

5000 anos). Para Modelski existiram até agora 3 desses ciclos evolutivos do sistema mundial,

2.4.1 O Modelo de Modelski-Thompson e a Economia Evolucionista de Nelsom e Winter

com 2000 anos cada: Era antiga – 3000 AC a 1000 AC, Era Clássica – 1000 AC a 1000 DC e a

actual Era Moderna ainda a decorrer a partir de 1000 DC.

Modelski & Thompson (1996) fazem uma análise do processo evolutivo da Era Moderna,

contestando os Modelos de Crescimento clássicos e neo-clássicos atrás referidos, originados por

conceitos da física newtoniana e da termodinâmica e afirmando a validade dos conceitos

Darwinianos e da física dos sistemas não-lineares (Teoria do Caos e dos Sistemas Complexos).

Fundado na visão de Schumpeter, e no conceito de inovações radicais que perturbam o equilíbrio

do sistema mundial a economia evolucionista propõe como motor a existência de sectores líderes

que evoluíram para produções em massa e posteriormente à escala global a partir de processos de

inovação de rotina (mudança incremental) e inovações de base (ou radicais ) que aparecem como

vimos em “clusters” em períodos de declínio das Ondas K.

Do ponto de vista da teoria económica, os economistas Richard Nelson e Sidney Winter criam

um modelo de crescimento assente num comportamento evolucionista das empresas no mercado:

As empresas agem no mercado sem uma função - objectivo bem definida, procurando aumentar

os seus lucros num ambiente de informação incompleta e sem racionalidade perfeita, que como

refere Herbert Simon tem racionalidade limitada ( exige aprendizagem e adaptação, com erros e

incertezas) e operam num mercado de natureza Keynesiana – com efeitos multiplicadores e

aceleradores – num processo de adaptação e de selecção em que umas fracassam e outras

acumulam vantagens competitivas e sobrevivem.

Os mecanismos de transferência de tecnologia externa às organizações, são hoje em dia

questionados com base no pressuposto de que este processo precisa ser reanalisado em termos de

um novo quadro conceptual, que questione a tradicional forma de pensar o processo de TT

(Transferência de Tecnologia).

2.5 Difusão de Tecnologia e Modelos empíricos de incorporação do

conhecimento

34 Revisão da Literatura

2.5.1 Transferência de Tecnologia (TT): Um quadro conceptual para a Absorção de

Tecnologia pelos indivíduos e organizações

Como refere Trott (1995) sobre as empresas com longos períodos de sucesso de inovação através

da "acumulação tecnológica", sugere que "... é a organização, ao invés de indivíduos que passam

por ela, que é responsável pela acumulação e retenção de competências técnicas".

A capacidade das organizações em reter e acumular conhecimento, a aprendizagem é, no que diz

respeito à TT (doravante Transferência de Tecnologia), designado como receptividade ou

capacidade de absorção.

Sendo considerado, como sugerido, que o que é realmente importante é reforçar a capacidade de

absorção das organizações, que nos leva à necessidade de uma melhor compreensão dos factores

organizacionais envolvidos no processo interno de transferência de tecnologia, ao invés de se

concentrar apenas nos indivíduos e suas capacidades na dentro da organização.

O modelo Trott baseia-se no pressuposto de que, os centros do processo não estão apenas na

capacidade duma organização na aquisição de conhecimentos, mas principalmente na sua

capacidade de assimilação e aplicação de ideias e conhecimentos de forma eficaz.

Figura 9 - Interacção ente as actividades de I&D e Transferência de Tecnologia num contexto de inovação - Fonte:

Conceição, Heitor & Oliveira (Tecnovation, 1998)

TT é, neste modelo, não um modelo linear, mas um processo complexo que exige uma

organização e indivíduos no seu interior, capazes de:

- Pesquisa e digitalização de informações pertinentes (consciência);

- Reconhecer os potenciais benefícios dessa informação para a organização de produtos e

processos;

- Assimilá-los dentro da organização através da divulgação e comunicação;

- E, finalmente, aplicá-los por forma a aumentar as vantagens competitivas no mercado.

Procura de informação, é um processo fundamental que inclui métodos formais e informais de

busca de informação.

Desde o final dos anos 70, que estruturas como Centros de Documentação e serviços como

Disseminação Selectiva da Informação, são utilizados para difusão de tecnologia, normas ou

patentes, para substituir competências individuais nesta tarefa. Actualmente, a Serviços baseados

em Tecnologias da Informação, permitem de forma mais rápida e mais eficaz a localização e

divulgação de informações, e estão progressivamente a substituir os tradicionais centros de

Documentação ou Bibliotecas.

A segunda fase do processo envolve a identificação de tecnologia e sua combinação com as

necessidades do mercado para a produção de oportunidades potenciais de negócio. Segundo

Tushman e Scanlan, "...não há nenhuma evidência que as informações obtidas de fontes

externas, são sempre divulgadas dentro de uma organização". Mas a tecnologia só é eficaz se for

plenamente integrada às actividades da organização.

Este processo de reconhecimento do potencial de uma tecnologia para criar um produto inovador

ou mudar um processo de produção é uma questão fundamental no processo de TT. Apenas

alguns indivíduos que combinam conhecimentos técnicos e competências científicas específicas,

têm "capacidade organizacional" podendo atingir bons resultados e evitar soluções inadequadas,

que normalmente consomem grande quantidade de recursos sem benefícios reais para a

organização.

Inward TT (TT interna à organização), também precisa ser "adoptada" pela organização.

Conhecimentos básicos de uma organização não são simplesmente uma soma de recursos do

conhecimento individual. Um KB ( base de Conhecimento) é, na realidade, tal como referido

36 Revisão da Literatura

por Trott "... a acumulação da Kbs de todos os indivíduos dentro da organização, juntamente

com o conhecimento social incorporado nas relações entre os indivíduos". Trott refere esse

conhecimento como uma forma de "cimento da organização".

As organizações, incluindo as fortemente dependentes da tecnologia ou grandes consumidoras de

produtos tecnológicos, não podem transferir “know-how” apenas recorrendo ao uso da

tecnologia, ou seja, através da experiência e do “aprender fazendo” (learning-by-doing);

Precisam de ser capazes de compreender o processo de transferência de tecnologia e de a

internalizar para poder diminuir a sua dependência tecnológica. As organizações precisam

reforçar o seu cimento "organizacional" de forma a permitir TT dentro da organização e

potenciar uma "cultura de inovação organizacional" aberta à criatividade e à inovação.

De qualquer modo o processo de Transferência de Tecnologia não é naturalmente só um processo

“interno”. Uma das formas mais correntes da sua TT é a do conhecimento embebido nos

equipamentos e a sua transferência assegurada pelo seu uso no dia-a-dia.

2.5.2 Capital Humano embebido e os modelos matriciais de medição do conhecimento

incorporado

2.5.2.1 Análise Input-Output

Modelos de análise Input – Ouput (I-O) representam uma forma de simulação com uma história

relativamente longa, conceptualmente iniciada nos meados do 1700 em França, onde terão sido

iniciados os primeiros conceitos econométricos. Os modelos de I-O são no fundamental uma

formalização dos conceitos estabelecidos pelo economista francês François Quesnay, na sua obra

“Tableaux Economiques” (1758).

Este quadro de análise só foi reconhecido como válido depois do trabalho de investigação

desenvolvido por Wassily Leontief nos anos 30 do século passado, trabalho esse que lhe valeu o

Prémio Nobel da Economia em 1973.

De acordo com Leontief, a análise I-O é um método de quantificação sistemática das inter-

relações entre os vários sectores dum sistema económico complexo. Em termos práticos tal

método de análise pode ser aplicado a uma única empresa ou região, a um país ou mesmo à

economia global.

Em todas estas instâncias a aproximação tende a ser semelhante. A estrutura de cada sector

produtivo é representada por um vector de coeficientes estruturais, que descrevem

quantitativamente as relações entre os inputs que necessita para produzir um determinado output.

A interdependência entre os vários sectores duma dada economia é assim descrita como um

conjunto de equações lineares que expressam o balanço entre o input total e o output agregado de

cada actividade e serviço produzido na economia durante um determinado período de tempo I-O

estabelece uma técnica analítica robusta e relativamente fácil de entender e avaliar as

interdependências económicas e financeiras que caracterizam as economias modernas.

Tal Como referia Leontief (1986):

“…In fact, the great virtue of input-output analysis is that it surfaces the indirect internal

transactions of an economic system and brings them into the reckoning of economic theory.

Within each sector there is a relatively invariable connection between the inputs it draws

from other sectors and its contribution to the total output of the economy “.

Tal facto tornou a análise I-O numa ferramenta compreensiva e consistente usada em todas as

economias para planeamento e decisão macro-económicas. As principais potencialidades do

modelo são no essencial as seguinte:

Cada economia é analisada como um sistema fortemente ligado de sectores que afectam e

são afectados directa e indirectamente uns pelos outros, permitindo seguir as mudanças

estruturais retrospectivamente através dessas relações. Ao analisar as reacções da

economia a uma mudança estrutural do mercado ou da procura final, esta análise permite

verificar os efeitos indirectos na totalidade da economia induzidos por essa mudança. Em

suma é um bom ambiente para medir os efeitos económicos indirectos.

Identificar as origens da mudança bem como a sua direcção e magnitude. As mudanças

no output da economia podem ser relacionados com as mudanças induzidas em factores

como as exportações, importações, procura final, bem como na tecnologia. Esta

metodologia permite uma estimativa consistente da importância relativa de cada um

38 Revisão da Literatura

desses factores no produto, emprego, etc. Em suma permite projecções económicas e

previsões por forma a prever as mudanças no output industrial resultantes de mudanças

da procura.

Quantificação dos recursos necessários. Determinar por exemplo a quantidade de energia,

água, terra, recursos naturais e mesmo recursos intangíveis decorrentes de mudanças da

procura dum certo produto ou serviço.

Impactos ambientais. Determinar por exemplo as mudanças esperadas nos níveis de

poluição do ar ou da água, consumos de energia, e outros factores determinados pelas

modificações do output

No entanto o referido modelo tem obviamente algumas limitações e implicações que sendo

fastidiosas e pouco relevantes para o objectivo deste artigo, me limito a referenciar. Essas

limitações estão descritas de forma sistemática no documento da OECD, “Structural Change and

Industrial Performance” (1998).

2.5.2.2 Metodologias usadas para o estudo dos mecanismos de difusão da tecnologia

Os estudos conhecidos neste âmbito, são obviamente de natureza empírica dada a dificuldade de

contabilização de impactos de variáveis intangíveis, para as quais não existem dados objectivos

nem medidas rigorosas.

A literatura refere fundamentalmente dois métodos:

Estudos baseados em patentes

Inquéritos à inovação.

Trata-se de metodologias falíveis que dão quanto muito indicação de tendências dificilmente

quantificáveis e que sobretudo medem os fluxos de tecnologia através de dados das patentes

constantes das Balanças de Pagamento Tecnológico, como portadoras de esforço de I&D.

Um método alternativo foi recentemente desenvolvido para medir fluxos de tecnologia inter-

sectores industriais, baseados em matrizes de “input-output” combinadas com despesas de I&D

retiradas da Contabilidade nacional de cada economia, neste paper referido como

Análise de I-O de Papaconstantinou, Sakurai e Wyckoff.

No caso português, tais estudos ou não foram ainda efectuados ou estão em fase final de

preparação. O primeiro Inquérito à inovação foi feito recentemente em Portugal8. Esses dados

foram recentemente divulgados num estudo comparativo da União Europeia, no 3º Inquérito

Comunitário à Inovação.

Importa assim analisar a situação da economia portuguesa, na intenção de procurar caracterizá-lo

e tentar perceber os factores que condicionam o seu aparente estádio de dependência, o seu

potencial de mudança e o impacto das políticas em curso que podem vir a modificar esse estado.

Para esse efeito e no próximo capítulo , decidi socorrer-me de dois documentos importantes para

essa compreensão, que nalguns aspectos apresentam a meu ver visões algo contraditórias e

desconcertantes:

O estudo de diagnóstico mais pessimista de Amado da Silva e de Francisco Palma9 e o já

citado Inquérito á Inovação10

.

E o estudo de evolução da Economia Portuguesa11

do Prof. Abel Mateus, António

Antunes e estudos posteriores.

8 Heitor, M., Conceição, P et alli - Engineering and Technology for Innovation in Portugal: a study on the dynamics of localized technological change Preliminary Report and Work Plan. Available for discussion at: http://in3.dem.ist.utl.pt/et2000/

9 Silva, J. M. Amado da ; Palma, Francisco Mendes - Dinâmicas Empresariais e Política Industrial: papel futuro da Engenharia

- Relatório Preliminar. Lisboa: ET 2000

10 Heitor, M., Conceição, P et alli - Engineering and Technology for Innovation in Portugal: a study on the dynamics of localized technological change Preliminary Report and Work Plan. Available for discussion at: http://in3.dem.ist.utl.pt/et2000/ ou

Observatório das Ciências e das Tecnologias. Execução e resultados do 2º Inquérito às actividades de Inovação em Portugal. Versão Preliminar oara Discussão. Lisboa: MCT, Janeiro 2000.

11 Mateus, Abel; Antunes, António - O Desenvolvimento Tecnológico Português." Lisboa: IST, Projecto ET 2000.

40 Revisão da Literatura

2.5.2.3 Modelo de estimação da difusão de tecnologia de Papaconstantinou, Sakurai e

Wyckoff

2.5.2.3.1 Indicadores de I&D incorporados no output

Partindo duma base macroeconómica assente numa análise input-ouput, os referidos autores

procuraram definir uma metodologia para a construção de indicadores de difusão de tecnologia

incorporada no produto, a partir da principal fonte de internalização do conhecimento capaz de

ser medida a partir de valores tangíveis:

A despesa das empresas em I&D incorporada no seu produto final.

Essa metodologia tinha tido origem nos trabalhos de Terleckyj (1974) e outros investigadores

donde se destacam Scherer (1982), Davis (1988), Suzuki (1989), Griliches e Lichtenberg (1983)

que utilizaram a análise input-ouput para medir os impactos intersectoriais dos fluxos

tecnológicos no crescimento económico.

O valor acrescentado deste modelo assenta no facto dele permitir medir o valor de I&D

incorporado nos produtos comprados e vendidos pela indústria (bens intermédios e de

investimento) sendo esses fluxos uma das principais fontes de transferência de tecnologia entre

os diversos sectores industriais e de serviços.

O modelo simplificado constante da figura 10 simula o modelo dos fluxos de I&D embebidos a

partir dum determinado output da empresa i adquirido pelas empresas k e j. Os mesmos fluxos

existem em sentidos inversos ( da empresa j para i e k bem como da empresa k para i e j ) uma

vez que o modelo procura sistematizar a totalidade dos fluxos intersectoriais numa economia

aberta (produtor/consumidor de bens intermédios e de investimento) . Numa análise de input-

ouput o modelo estende-se aos fluxos intersectoriais de economias diversas através dos

mecanismos de exportação e importação desses bens, reflectindo os valores incorporados nas

economias dos gastos em I&D próprios e das quotas-partes dos gastos em I&D externos,

incorporados nos bens importados.

Figura 10- Modelo Simplificado de Papaconstantinou, Sakurai e Wyckoff

2.5.2.3.2 Detalhe do Modelo

Assim,

1. Para uma dada economia, a equação de equilíbrio do produto num modelo input-

ouput estático pode ser escrito como:

EFXAX dd (A-1)

Onde X é o vector do output bruto, Ad

a matriz interna dos coeficientes input-ouput, Fd o vector

da procura interna total e E o vector das exportações ( para simplificação os sufixos para os

diversos países foram omitidos). Para clarificação ver detalhe do modelo de Leontief em anexo

2.

Indústria i

Vendas=400

I&D=100

Indústria j

Vendas=X

I&D=Y

Indústria K

Vendas=Z

I&D=W

I&D = X

Embodied

Technology

300/400= 75

Output = 300

Output = 100

Output = X I&D = 100

Embodied Technology 100/400= 25

I&D = W

42 Revisão da Literatura

Resolvendo a equação em ordem a X, obtêm-se a equação de equilíbrio da produção que satisfaz

uma dada procura final.

EFAIX dd 1)( (A-2)

Ao mesmo tempo um indicador comummente aceite como medida da sofisticação tecnológica

duma dada economia, consiste na Intensidade de I&D medido como a razão entre os gastos

totais em I&D e a produção bruta para a indústria I:

),...2,1( niX

Rr

i

ii (A-3)

Combinando (A-2) com (A-3) o vector de I&D incorporada , Td , pode ser encontrado pré-

multiplicando a matriz diagonalizada dos coeficientes de I&D sectoriais (A-3) com a equação

(A-2), obtendo-se:

EFAIrT ddd 1)( (A-4)

Onde r corresponde à matriz diagonal com os elementos do vector correspondente.

A equação (A-4) liga a intensidade de I&D interna da economia com os componentes da procura

final (procura interna e exportações). O valor total de I&D interna incorporada por unidade da

procura final para a indústria j , pode ser definido como a soma da jª coluna da matriz de

coeficientes de I&D, de forma que:

),....,2,1(1

njbrrfn

i

ijij

(A-5)

Onde bij são os elementos da matriz inversa B = (I-Ad)-1

. Como a soma da ja coluna da matriz

inversa de Leontiev, B, mede o impacto total (directo e indirecto) na produção interna quando a

procura para o sector j muda em uma unidade, a equação (A-5) dá-nos o valor total de I&D por

unidade da procura final para do sector j.

Numa economia aberta, as importações são igualmente uma fonte importante de tecnologia.

Como foi anteriormente referido, as empresas internalizam conhecimento tecnológico não

apenas a partir do seu esforço de investigação, mas também da I&D efectuada nos seus

fornecedores do exterior. Adicionalmente, dado que para exportar é induzida indirectamente

procura de produtos importados, a I&D induzida a partir do exterior, tem igualmente de ser tida

em conta.

A formalização desses elementos importados pode ser expressa na equação de equilíbrio num

modelo de input-output como:

BEAFBFAFXAM mmdmmm (A-6)

Onde, Am

é a matriz de coeficientes input-ouput para as importações e Fm

a parte da procura

interna final das importações. Os primeiros dois termos da equação (A-6) são importações

induzidas pela procura interna e o último os induzidos pela exportações.

Se for possível aplicar quotas de importação por país ou região de origem das importações para

os diferentes sectores, a parte importada de I&D na procura final e nas exportações pode ser

estimada através da equação seguinte:

BEArFBFArT m

K

l

K

K

mmm

K

l

K

K

m

11

(A-7)

Onde rk corresponde às intensidades de I&D para o pais/região k ( k=1,2,...,n) e k corresponde

às quotas sectoriais das importações por país/região de origem. Para clarificação a intensidade de

I&D total incorporada na procura interna e nas exportações é simplesmente a soma da I&D total

incorporada na procura interna Td com a incorporada nas importações T

i.

Usando as equações (A-6) e (A-7) bem como as quotas de exportação por país/região de origem,

k, I&D exportada a partir desse país ou região pode ser definido como:

)(1

BEArBErT m

K

l

K

Kkke

(A-8)

Sendo que k é o vector da quota-parte de produção exportada da produção i para o país região

k.

44 Revisão da Literatura

2.5.2.3.3 Aplicação do método

A aplicação do método descrito permite desagregar o indicador de intensidade tecnológico para

cada país/região nas suas diferentes componentes nomeadamente na directamente induzida em

cada sector pela I&D interna e pela adquirida através das exportações. Permite ainda desagregar

a intensidade tecnológica de cada economia na induzida pela I&D interna, produção de bens

intermédios internos e de bens de investimento e pelas importações ( bens intermédios e de

investimento ).

Os referidos indicadores estão exemplificados nas figuras seguintes para um conjunto de países

da OCDE calculados a partir da base de dados STAN Input-output database. A possibilidade de o

vir a fazer para uma economia como a portuguesa e o conjunto dos seus principais fornecedores

de tecnologia é uma possibilidade para um futuro trabalho de investigação.

Alguns resultados estão evidenciados nas figuras seguintes:

Figura 11 – Intensidades Tecnológicas Totais. Fonte: OCDE

Figura 12 - Composição das Intensidades Tecnológicas para Alemanha e França . Fonte: OCDE

46 Gestão do Conhecimento: Capital Humano e Activos Intangíveis

O conceito de capital humano começou a ser abordado nos anos 60 como variável diferenciável

relativamente ao conceito clássico de trabalho, para se referir ao investimento individual de cada

pessoa no sentido de valorizar a sua capacidade de trabalho (Schultz, 1961). Becker e Mincer

introduziram propriamente o conceito de Capital Humano centrando-o no valor diferenciador

inicialmente da educação e posteriormente da experiência profissional para explicar a razão pela

qual o mercado diferenciava e valorizava o factor trabalho

Capítulo 3 Gestão do Conhecimento:

Capital Humano e Activos Intangíveis

3.1 Enquadramento teórico

A partir desses estudos, a noção de capital humano não representa unicamente uma ruptura com

o pressuposto neoclássico da homogeneidade do trabalho representado no modelo de Solow, mas

representa igualmente uma nova forma de considerar o factor trabalho.

Em 1998 a OCDE releva a noção de capital humano, colocando em evidência a importância do

factor humano numa economia baseada no conhecimento e nas competências individuais,

relevando assim os estudos de Becker e Mincer relativamente à heterogenidade das diferentes

capacidades individuais adquiridas por um processo de valorização das suas competências.

Para Mincer em “Human Capital” este é adquirido através dum bem semi-público – a educação –

que corresponde assim a um investimento individual que permite a aquisição de novas

competências que o mercado de trabalho discrimina positivamente. Para Mincer, o modelo de

escolaridade de Becker constitui uma configuração primitiva da função de salário da teoria do

capital humano. Mincer introduz a ideia de investimentos pós-escolares, nomeadamente o

investimento em experiência profissional.

0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

70.000

80.000

90.000

100.000

Portugal: Indíce Capital humano a la Mincer

Figura 13- índice de capital Humano à Mincer

48 Gestão do Conhecimento: Capital Humano e Activos Intangíveis

Para Mincer, esses investimentos não são no entanto directamente tangíveis. Assim esses bens

intangíveis são valorizados pela introdução do conceito de experiência, conceito esse que

aumenta linearmente com a idade.

O conceito operacional de experiência de Mincer refere-se assim a uma experiência potencial,

medida pelos anos de vida profissional, o que abriu caminho a uma contestação teórica do

conceito, assente na obsolescência das capacidades adquiridas a partir de determinados níveis de

variabilidade do meio - a variação da actividade profissional representa um papel essencial no

processo de construção de competências Cart &Toutin, (1998) – e, da complexidade do meio

envolvente.

Ballot & Piatecki (1996) interrogam-se sobre a validade perpétua da experiência profissional

adquirida, recusando a ideia de que a experiência profissional é por si um indicador das

qualidades da mão-de-obra. Os autores destacam dois argumentos: primeiro, as mutações nas

actividades profissionais contribuem para a desvalorização da experiência; em segundo lugar,

num contexto de evolução tecnológica, a formação e a experiência tornam-se progressivamente

obsoletas, permitindo que as gerações recentemente formadas adquiram pelo domínio das novas

tecnologias de vantagens competitivas sobre as gerações anteriores – Novas competências!

De qualquer forma o conceito de Capital Humano e do seu papel no novo modelo económico

decorrente do processo de globalização das economias e do progresso técnico, é hoje uma

variável fundamental para a facilitação dos processos de crescimento económico e de

desenvolvimento, sendo uma variável explicativa com peso significativo em todos esses

processos e, naturalmente, no processo de crescimento português como veremos adiante.

Por outro lado e, conforme argumentado na literatura comercial moderna e teorias da integração

económica, o comércio internacional de tecnologia é como referi já, um dos meios determinantes

do progresso das nações. Neste contexto, as economias importadoras de produtos

a partir doutros países com maior nível tecnológico, importam por sua vez o progresso

tecnológico (Rivera-Batiz e Xie, 1993) que incorporam no seu próprio produto.

Na mesma linha de raciocínio, Coe e Helpman (1995), Coe et al. (1997) e Keller (1998)

consideram o comércio externo como um portador de conhecimentos, ao relevar a importância

das importações na introdução da tecnologia estrangeira para a produção nacional total e como

factor estimulante do aumento da produtividade dos factores.

Os argumentos tradicionais sobre o papel do capital humano voltam a Lucas (1988) que vê

o capital humano - no sentido do conhecimento incorporado - como um factor central de

produção que permite um crescimento sustentado, pelo facto de gerar retornos crescentes.

Mankiw et al. (1992) estendem o modelo de crescimento neoclássico com capital humano como

um factor adicional e acumulável, concluindo que as alterações positivas no capital humano

traduzem-se em alterações significativas das taxas de crescimento.

Outros mecanismos permitem ao capital humano influenciar a taxa de crescimento das

economias. Primeiro, o capital humano é um requisito essencial para a actividade de inovação,

tal como estabelecido em Romer (1990a). Em segundo lugar, capital humano influencia a

capacidade de adaptar os avanços tecnológicos do exterior - o hipótese de absorção tecnológica

(Nelson e Phelps, 1966). Acemoglu (2002) considera, por exemplo, que a mudança tecnológica

tem sido positivamente enviesada pelo crescimento do nível de

educação das populações, tendo tido um impacto crucial sobre o crescimento da PTF

Produtividade Total dos factores, determinando a capacidade

duma economia para realizar inovação tecnológica (Romer, 1990a) e, mais importante

para os países em desenvolvimento, o adoptar e implementar de forma eficiente a tecnologia

importada do exterior (Nelson e Phelps, 1966).

Vários estudos - Aguiar & Figueiredo (1999), Silva Lopes (2002), Mateus (2005)

documentam que a convergência do produto per capita português em relação à maioria

dos países europeus desenvolvidos, é um facto inegável do nosso crescimento económico no

século XX.

3.2 Evolução do Capital Humano na economia portuguesa

50 Gestão do Conhecimento: Capital Humano e Activos Intangíveis

Esta dinâmica pode ser explicada, pelo menos em parte, pela inter-relação entre comércio,

capital humano e crescimento económico.

Visto a partir do estudo de Mateus (2005) o progresso do capital humano português no século

XX foi notável. Como mostra a Figura 14, a taxa de analfabetismo foi praticamente erradicada,

descendo dos 70 % da mão-de-obra em 1910 para valores perto de 2 % em 2010.

Ao mesmo tempo, o ensino secundário completo generalizou-se e atinge hoje cerca de 40 % da

população activa, sendo que o analfabetismo foi combatido com o 1º ciclo de escolaridade até

aos anos 60 do século passado, que acumulado com o 1º e 2º ciclos atingiram actualmente

valores da ordem dos 40%. Os restantes 20 % correspondem ao ensino universitário que sofreu

um incremento brutal com o advento do regime democrático e a chamada democratização do

ensino mas que, ainda assim, é uma área que nos coloca na cauda dos países desenvolvidos.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

Axi

s Ti

tle

Portugal: Evolução Estrutura do Capital Humanoà la Mincer

Ciclo 1-4

Ciclo 5-8

Sec Sup

Univ

Analf

Figura 14– Evolução do Índice Capital Humano à Mincer

Portugal continua no entanto, na cauda dos países da OCDE em termos de Capital Humano. Em

2002 de acordo com a OCDE, Portugal tinha apenas 8 anos de escolarização da sua mão-de-obra,

contra os 14 anos dos países desenvolvidos. 80% da sua mão-de-obra 9 anos ou menos de

escolaridade, sendo certo que para efeitos de desenvolvimento empresarial é necessário pelo

menos o 12º ano de escolaridade (apenas 18% da mão-de-obra o tem).

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

100,0

1960-61 1963-64 1966-67 1969-70 1972-73 1975-76 1978-79 1981-82 1984-85 1987-88 1990-91 1993-94

Grupo etário

Taxas de Escolarização

Eb-2ºciclo Eb-3ºciclo ESecundário ESuperior

Figura 15 – Portugal variação das taxas de escolarização

O progresso referido não invalida que muito embora sejam claros os progressos efectuados, o

progresso quantitativo trouxe problemas adicionais de qualidade relativa desse ensino. Uma das

críticas mais discutidas na sociedade portuguesa é o do falhanço generalizado dos modelos

educativos que muito embora tenham trazido para a escola a generalidade da população jovem,

conduziu-a a um nível de “iliteracia” inimaginável no modelo de ensino anterior à democracia.

O rápido crescimento da procura das escolas, aliado a modelos educativos permissivos e

facilitadores, assentes modelos centrados nos interesses corporativos da comunidade educativa e

não nos alunos, terá conduzido as novas gerações a um nível mais elevado de “skills” mas ao

mesmo tempo a um lamentável estado de “iliteracia” científica e de humanidades.

Essa situação tem-se acentuado com um aumento cada vez mais elevado de recursos financeiros

na educação, tornando o sistema dos mais ineficientes da União Europeia, quando comparados

os resultados obtidos com os recursos usados.

52 Gestão do Conhecimento: Capital Humano e Activos Intangíveis

Aos diversos níveis o ensino em Portugal necessita de uma reforma que tem sido difícil de

implementar.

1) Reforma ao nível do ensino pré-escolar e primário, com o aumento da oferta de vagas no

pré-escolar e a eliminação de escolas no interior do país com médias de alunos inferiores

a 5 alunos.

2) Reforma ao nível dos primeiros ciclos do ensino secundário público, com o combate ao

abandono escolar acentuado, às más condições das escolas e deficiências de meios

técnicos (computadores e acesso à net e novas tecnologias) e ao excesso de mobilidade

dos professores, com corpos docentes contratados a nível central e com elevada rotação

de locais de ensino

3) Reforma ao nível da requailificação do ensino técnico-profissional, praticamente

abandonado desde a reforma Veiga Simão ainda na fase final do Estado Novo.

4) Reforma ao nível do aumento dos anos de escolarização obrigatória dos 9 para os 12

anos.

5) Reforma ao nível do ensino superior público e privado, com a requalificação e

diminuição do nº de cursos, aumento do ensino pós-graduado, melhoria do sistema de

avaliação das universidades e do seu financiamento, bem como da melhoria da eficiência

da I&D feito nas Universidades e nos laboratórios de investigação do estado.

No âmbito da futura tese de Doutoramento um dos aspectos a analisar de forma empírica é os

modelos de avaliação do impacto da educação na formação do capital humano, passando

necessariamente pela avaliação de factores complementares de qualificação da mão-de-obra, pós

educação obrigatória e/ou adicional, com impacto na valorização do capital humano, como as

políticas de formação e formação “on-the-job”, bem como o modelo de formação ao longo da

vida, bem como a contribuição de outros factores intangíveis como os processos de reificação do

conhecimento nas organizações, redes de conhecimento, métodos de gestão, capacidade de

inovação, etc., processos esses cada vez mais fundamentais no processo de internalização do

conhecimento técnico e tecnológico nas empresas e organizações.

53

4.1 Introdução

No último século, como decorre do trabalho de Mateus (2005) 12

, a economia portuguesa deu um

salto qualitativo e quantitativo significativo que a levou de um País tradicionalmente

subdesenvolvido, a um país desenvolvido pelos critérios das economias europeias onde se integrou,

a partir dos anos 90 do século passado.

O crescimento português pode ser avaliado pelos gráficos seguintes com base na evolução do PIB e

do PIB per capita em escala logarítmica, que evidencia uma convergência duma economia

subdesenvolvida (em 1910 com um rendimento per capita de cerca de cerca de 1.000€, para cerca

de 12 vezes mais, 13.100€ em 2005).

O crescimento e os factores de crescimento da economia portuguesa foram explicitados, nas

variáveis de Solow, pelo Prof. Abel Mateus - ver Tabela 2 seguinte. Nesse quadro, o PIB português

cresceu no período a uma taxa média de 3,3% / ano, com crescimentos mais débeis no inicio do

12 Este capítulo tenta caracterizar a evolução económica portuguesa no período de um século (1910-2010) graças aos dados estatísticos e análises econométricas efectuadas pelo Professor Abel Mateus na sua obra Economia Portuguesa, 3ª edição, Editorial Verbo, principalmente pelos dados brutos e tratados disponibilizados no CD anexo à publicação. Nalguns casos, esses dados e análises foram actualizados por dados posteriores a 2005, nomeadamente os que respeitam à evolução da balança tecnológica que tiveram entre 2007 e 2009 uma significativa inversão. Sem esse trabalho e disponibilização pública dos dados originais para utilização pública, esta análise não teria sido possível.

Capítulo 4 O desenvolvimento

tecnológico da economia portuguesa

54 O desenvolvimento tecnológico da economia portuguesa

século – 1915 a 1930 a uma taxa de 2,04 % e de 1930-1940 1,8%, enquanto que no período entre

1955 e 1975 e entre 1980-1990 cresceu a taxas médias de 5,24% e 4,21%.

PORTUGAL; 115.356

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

140000

1910 1918 1926 1934 1942 1950 1958 1966 1974 1982 1990

Milh

ões

de

US$

Portugal: Evolução do PIBFonte: Mateus (2005)

Figura 16- Evolução do PIB em valores absolutos (1910-1995) Fonte: Mateus (2005)

5,0000

5,5000

6,0000

6,5000

7,0000

7,5000

8,0000

8,5000

9,0000

9,5000

log

de

milh

ões

de €

a p

reço

s d

e 19

77

Portugal : Evolução do PIBReal e Potencial

Fonte: Mateus (2005)

LOG_PIB01

LPIB_TREND

Figura 17- Evolução do PIB real e potencial em escala logarítmica (1910-2003)Fonte: Mateus (2005)

Factores de Crescimento da Economia Portuguesa Factores de Crescimento da Economia Portuguesa Taxas de crescimento dos factores produtivos

Médias quinquenais Percentagem explicação total médias quinquenais

Trabalho Capital Capital Resíduo PIB Trabalho Capital Capital Resíduo Trabalho Capital Capital

humano físico humano físico humano físico

1910-15 0,19 0,73 0,07 -1,00 -0,02 -933,09 -3626,10 -334,71 4993,89 0,57 2,20 0,20

1915-20 0,11 0,56 -0,06 -1,68 -0,64 -17,10 -86,51 8,94 261,66 0,33 1,69 -0,17

1920-25 0,46 0,76 0,20 3,25 4,92 9,43 15,50 4,10 66,17 1,40 2,31 0,61

1925-30 0,43 0,83 0,29 2,51 3,90 11,13 21,42 7,53 64,38 1,31 2,53 0,89

1930-35 0,59 0,60 0,20 0,86 2,84 20,63 21,00 7,10 30,13 1,77 1,81 0,61

1935-40 0,40 0,76 0,50 -1,76 0,76 52,19 99,64 65,86 -230,49 1,21 2,31 1,53

1940-45 0,42 0,17 0,46 -0,13 2,56 16,42 6,58 18,18 -5,25 1,27 0,51 1,41

1945-50 0,50 -0,02 2,78 0,15 4,68 10,73 -0,46 59,46 3,23 1,52 -0,06 8,43

1950-55 0,15 1,24 2,79 -1,38 2,29 6,38 54,18 121,98 -60,14 0,44 3,76 8,45

1955-60 0,25 1,05 3,49 -0,43 4,61 5,41 22,71 75,71 -9,33 0,76 3,17 10,58

1960-65 0,37 -0,14 2,82 3,31 6,68 5,54 -2,07 42,24 49,58 1,12 -0,42 8,55

1965-70 0,15 0,98 2,63 1,92 4,94 3,06 19,90 53,19 38,95 0,46 2,98 7,96

1970-75 -0,60 1,76 3,06 1,13 4,72 -12,77 37,20 64,90 23,92 -1,83 5,32 9,29

1975-80 0,02 1,63 1,99 0,14 5,56 0,42 29,31 35,80 2,52 0,07 4,94 6,03

1980-85 -0,16 1,16 1,62 -0,19 1,90 -8,19 61,27 85,38 -10,08 -0,47 3,53 4,92

1985-90 0,21 1,42 1,47 2,69 6,51 3,20 21,81 22,61 41,31 0,63 4,30 4,46

1990-95 -0,01 1,92 1,48 -0,17 2,22 -0,45 86,38 66,63 -7,73 -0,03 5,82 4,49

1995-00 0,34 0,81 1,44 0,73 3,50 9,70 23,21 41,04 20,81 1,03 2,46 4,35

2000-05 0,21 0,59 1,23 -0,90 0,76 27,42 77,77 162,43 -118,51 0,63 1,79 3,74

Média 1915-50 0,39 0,55 0,56 0,27 2,37 16,33 23,10 23,47 37,11 1,17 1,66 1,69

Média 1950-60 0,20 1,14 3,14 -0,90 3,45 5,73 33,14 91,05 -29,92 0,60 3,46 9,52

Média 1960-70 0,26 0,42 2,72 2,62 5,81 4,49 7,26 46,89 41,36 0,79 1,28 8,26

Média 1970-80 -0,29 1,69 2,53 0,63 5,14 -5,64 32,93 49,17 23,54 -0,88 5,13 7,66

Média 1980-90 0,03 1,29 1,55 1,25 4,21 0,63 30,73 36,79 31,85 0,08 3,92 4,69

Média 1990-00 0,16 1,37 1,46 0,28 2,86 5,76 47,76 50,98 -4,50 0,50 4,14 4,42

Média 1950-05 0,08 1,13 2,18 0,62 3,97 2,12 28,44 55,00 14,44 0,26 3,42 6,62

Média 1975-05 0,10 1,26 1,54 0,38 3,41 3,00 36,86 45,16 14,98 0,31 3,81 4,67

Média 1985-05 0,19 1,19 1,41 0,59 3,25 5,74 36,51 43,28 14,46 0,57 3,60 4,26

Média 1990-05 0,18 1,11 1,38 -0,11 2,16 8,30 51,28 64,04 -23,62 0,54 3,36 4,19

Média 1995-05 0,27 0,70 1,34 -0,09 2,13 12,86 32,95 62,70 -8,51 0,83 2,13 4,05

Média 1910-05 0,21 0,88 1,50 0,70 3,30 6,43 26,82 45,45 21,30 0,64 2,68 4,54

Factores de Crescimento da Economia PortuguesaMédias quinquenais

Trabalho Capital Capital Resíduo PIB Trabalho Capital Capital Resíduo PIB

humano físico humano físico

1915-30 0,30 0,72 0,13 0,77 2,04 14,66 35,35 6,19 43,80

1930-40 0,49 0,68 0,35 -0,45 1,80 27,32 37,69 19,57 15,42

1940-50 0,46 0,07 1,62 0,01 3,62 12,74 2,03 44,87 40,36

1955-75 0,04 0,91 3,00 1,48 5,24 0,80 17,41 57,29 24,50

1980-90 0,03 1,29 1,55 1,25 4,21 0,63 30,73 36,79 31,85

1990-05 0,18 1,11 1,38 -0,11 2,16 8,30 51,28 64,04 -23,62

Média 1915-05 0,21 0,88 1,50 0,48 3,30 6,43 26,82 45,45 21,30

Fonte: Cálculos do Prof Abel Mateus

Tabela 2 – Factores de Crescimento da Economia Portuguesa nas variáveis de Solow - Fonte: Mateus (2005)

Visto em termos da composição dos factores (Tabela 2), o crescimento é explicado em média em

45,45% pelo Capital Físico, em 26,2 % pelo Capital Humano, em 6 % pelo Trabalho e em 21,3 %

pelo Resíduo de Solow ou Progresso Tecnológico.

Comparativamente com os países de nível de desenvolvimento significativo, o Progresso Técnico

discriminado do Capital Humano atinge valores da ordem dos 33% a 40%, ressaltando que, no caso

português, o factor surpreendente de que o processo predominante é o Investimento medido em

stock de Capital Físico e não o Progresso Tecnológico ou a evolução humana, como no caso das

economias mais desenvolvidas!

Visto no entanto ao longo da história nota-se que a predominância do Capital humano no modelo de

desenvolvimento cresceu no período entre guerras (1916-1930 – 35,35% e 1930-1940 37,69%) e

mais recentemente desde a década de 80 até à actualidade (30,73% e 51,28% na última década).

56 O desenvolvimento tecnológico da economia portuguesa

-3,00

-2,00

-1,00

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

1910-15 1915-20 1920-25 1925-30 1930-35 1935-40 1940-45 1945-50 1950-55 1955-60 1960-65 1965-70 1970-75 1975-80 1980-85 1985-90 1990-95 1995-00 2000-05

Factores crescimentoModelo Solow

Trabalho Capital humano Capital fisico Residuo

Figura 18 - Evolução dos factores de Crescimento (1910-2003) Fonte: Mateus (2005)

Esse factor parece ter atingido valores significativos a partir dos anos 90 até 2005 com o Capital

Físico a atingir valores recorde de 64,04%, o capital Humano 51,28%, tendo o Resíduo de Solow

decrescido de -23,62%, facto explicado pelos enormes investimentos Infra-estruturas e

Equipamentos decorrentes dos Quadros - Comunitários de Apoio e das políticas voluntaristas de

apoio ao investimento.

Ainda assim o Progresso técnico é notório nos picos do gráfico anterior nos períodos a seguir à 1ª

grande guerra (1920-1925), nos anos 60 (1960-1965) e nos anos 1995-2000 com elevadas taxas de

crescimento quinquenais

0,0

50,0

100,0

150,0

200,0

250,0

1936 1937 1938 1939 1940 1941 1942 1943 1944 1945 1946 1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953

Ano

Impacto da II GG e recuperação(Mil Milhões $USD)

Alemanha

França

RU

Itália

EUA

Japão

Japão

Espanha

Portugal

Figura 19- Impactos comparativos da 2ª Guerra Mundial: Fonte: Mateus (2005)

No início do século XX Portugal era uma das economias europeias mais atrasadas da Europa em

termos económicos e sociais. Com um PIB per capita da ordem dos 1513 US$ em 1910 e uma taxa

de analfabetismo de 70 a 75 % Portugal era efectivamente um dos países da cauda da Europa,

mesmo comparado com países igualmente atrasados como a Espanha e a Itália.

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

100,0

1840 1860 1880 1900 1920 1940 1960 1980

Ano

Taxas analfabetismo

Portugal

Espanha

Itália

Figura 20- Quadro comparativo das taxas de analfabetismo (1860-1960) Fonte: Mateus (2005)

58 O desenvolvimento tecnológico da economia portuguesa

Portugal esteve em último lugar entre as economias Europeias até 1950, ano em que ultrapassou a

Grécia, tendo-se mantido nessa posição relativa até aos nossos dias.

Ainda de acordo com Mateus (2005), o processo de desenvolvimento da Economia Portiguesa é

acompanhado por uma alteração significativa da estrutura produtiva, nomeadamente patente na

significativa redução do valor da mão-de-obra e do peso do PIB no sector primário, processo esse

de transferência por efeito de migração para as zonas urbanas e a sua inclusão na indústria e

serviços.

Mateus caracteriza assim as 3 fases de crescimento:

1) Fase de economia subdesenvolvida: desde o inicio do século até 1950 com forte participação

do sector agricola no PIB e menor na indústria e serviços.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

1910-1994

Agric., silv. e pescas Ind extractivas Alimentares, bebidas e tabaco Texteis, vest. Calçado

Madeira e cortiça Papel, tipografia e publicações Quimicas, borracha e der. Petróleo Cimento

Ferro e aço Produtos metálicos e equipamentos Outros Construção

Electric., gás e água Serv. Comerciais Transportes e comunicações Sector publico

Outros serviços

Figura 21- Evolução da estrutura do PIB por sector de actividade (1910-1994) Fonte: Mateus 2005

Fase 2 – Arranque para o desenvolvimento – de 1950 até à revolução de 25 de Abril de 1974

com uma redução da agricultura e aumento da indústria e serviços.

4.2 Fases de Crescimento da Economia Portuguesa

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Agric., silv., pesca Industria Construção Electric., gas, agua Serviços privados Serviços publicos

Figura 22- Evolução do VAB por sector de actividade (1910-1994) Fonte: Mateus 2005

Fase 3 – Passagem a uma economia desenvolvida – Com os serviços a crescer até 56 % e a

fase de desindustrialização com a indústria transformadora a descer de 35 % para 29% do

PIB e os serviços a atingirem os 70%.

4.3 Factores de crescimento e convergência com a UE

Um dos aspectos mais relevantes do progresso da economia portuguesa é a da forma como o

progresso tecnológico contribuiu para o processo de convergência com a UE. Nesse processo foi

igualmente relevante a contribuição do Capital Físico (importação de máquinas e equipamentos e

infra-estruturas ) em valores superiores ao de outras economias desenvolvidas.

Tanto o Capital Humano como o Progresso técnico – Resíduo ( o progresso técnico desincorporado

cresceu a uma taxa média de 1% de 1910-2000 contribuindo com 27 % em média para o

crescimento do PIB) . Esse factor está sobretudo patente no gráfico abaixo com o impacto dos

fundos estruturais na economia durante o processo de integração europeia de Portugal.

60 O desenvolvimento tecnológico da economia portuguesa

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

3.500

4.000

4.500

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Pre

ços

con

stan

tes

20

04

Em percentagem PIB Fundos recebidos milhões euros

Figura 23- Impacto dos fundos estruturais em % do PIB e em valor (1990-2013 prev.) Fonte: Mateus 2005

Mateus (2005) verifica econometricamente que entre os factores de convergência e de crescimento,

o Capital humano terá tido em Portugal uma importância maior que outros países enquanto que ao

contrário o capital físico terá tido uma rentabilidade inferior a outros países sendo embora muito

significativa a sua contribuição para o crescimento da nossa economia.

Um aspecto desconcertante já revelado parece ser o contributo relativo do Progresso técnico que em

Portugal terá tido um impacto menos significativo, estando abaixo dos 0,5 característicos dos países

desenvolvidos,

Como e de esperar a maior parte da evolução tecnológica portuguesa resulta de transferência de

tecnologia do exterior em vez de produzida internamente, facto verificável pelos constantes défices

estruturais da Balança Tecnológica. Essa evidência será feita mais à frente pela explicitação dessa

realidade através da difusão de tecnologia na economia (Investimento em capital físico,

Investimento directo estrangeiros e abertura ao comércio e à economia ao exterior).

-4,00

-2,00

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

1915-20 1920-25 1925-30 1930-35 1935-40 1940-45 1945-50 1950-55 1955-60 1960-65 1965-70 1970-75 1975-80 1980-85 1985-90 1990-95 1995-00

Taxas crescimento factores produtivos

Trabalho Capital humano Capital físico

Figura 24- Evolução das taxas de crescimento dos factores produtivos (1910-2003) Fonte: Mateus 2005

Os gráficos abaixo confirmam no entanto a consequência da integração económica portuguesa na

UE que permitiu uma convergência efectiva de Portugal para a média europeia, com crescimentos

médios do PIB superiores à media europeia, só estagnados na última década em que foi evidente o

processo de estagnação com Portugal a crescer residualmente.

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

8,0

1970-80 1980-90 1990-98 Média

Figura 25- Evolução comparativa do PIB per capita e convergência com EU (1970-1998) Fonte: OCDE

62 O desenvolvimento tecnológico da economia portuguesa

3,3

7,6

5,3

6,6

7,9

3,4

6,2

3,1

-0,7

1,5

2,9

1,7

3,2

3,7 3,8

3,4 3,5

3,0

1,8

0,4

-1,2

1,3

0,2 0,3

0,8

2,9 2,9

4,2

3,5

3,0

1,6

3,0

1,1

-0,5

2,9

2,4

1,51,8

2,52,8

2,62,4

3,8

1,9

1,1 1,1

2,3

1,5

2,02,2

Taxa crescimento PIB

Portugal UE

Figura 26- Evolução da estrutura do PIB Portugal vs UE (1986-2006) Fonte: Mateus 2005

4.4 A situação de dependência tecnológica da economia portuguesa

Muito embora esteja patente na análise anterior o grau de evolução e desenvolvimento da Economia

Portuguesa no último século, a verdade é que Portugal é em termos do paradigma actual da Nova

Economia um dos países desenvolvidos da Europa com menor performance, não apresentando

nenhuma região considerada de nível médio/alto em termos de nível médio de acumulação de

conhecimento. Portugal estava em 1998 em 7º lugar entre os países da OCDE no chamado índice de

Esforço em novas Tecnologias.

O maior contributo para o desenvolvimento tecnológico em Portugal resultou, não do saldo positivo

da balança tecnológica, mas do resultado do Investimento Directo Estrangeiro que teve uma forte

evolução e contributo para p crescimento nos anos 1990 e sobretudo 2000, mas cujos valores têm

vindo a diminuir nos últimos anos.

0

1.000.000

2.000.000

3.000.000

4.000.000

5.000.000

6.000.000

7.000.000

8.000.000

1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Saldo IDE

Figura 27- Evolução do IDE em Portugal (1986-2004) Fonte: Banco de Portugal

Se nos ativermos à composição do IDE por sectores verifica-se que o essencial desse Investimento

tem ocorrido nos Serviços (Comércio e Banca), Energia e Transportes, e menos na indústria

transformadora. Ainda assim esse Investimento tem sido maioritariamente sido feito em sectores de

forte intensidade tecnológica, como na Indústria automóvel, Telecomunicações, Energia, Banca e

Comércio.

-6.000.000

-4.000.000

-2.000.000

0

2.000.000

4.000.000

6.000.000

8.000.000

10.000.000

1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

IDE em Portugal

Agricultura Extractivas Manufacturadoras Electric,gas,água Construção Comercio Transportes Bancos Outras act fin Imobiliario Outras

Figura 28- Estrutura e evolução do IDE em Portugal por sector de actividade (1986-2004)

Fonte Banco de Portugal (2004)

64 O desenvolvimento tecnológico da economia portuguesa

Factor de desenvolvimento a longo prazo que contribui já e contribuirá no futuro para a inversão da

Balança tecnológica portuguesa está na internacionalização das empresas portuguesas cuja

componente de investimento português no exterior se modificou a partir dos anos 90 com valores de

IPE já significativos.

1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

IDE 124.91 256.37 496.52 1.337. 2.199. 2.537. 2.265. 2.344. 1.718. 519.84 1.018. 1.838. 1.396. 915.10 6.986. 3.212. 1.686. -70.70 1.197. 1.300.

IPE 12.500 23.000 48.000 53.000 119.71 339.18 458.89 119.71 234.33 356.11 516.75 1.502. 2.887. 3.989. 5.984. 2.992. 2.022. 24.553 2.240. 1.420.

-1.000.000

0

1.000.000

2.000.000

3.000.000

4.000.000

5.000.000

6.000.000

7.000.000

8.000.000

Axi

s Ti

tle

Investimento Directo Estrangeiro vs. Investimento de Portugal no Exterior

Figura 29- Estrutura e evolução do IDE e IPE em Portugal (1986-2003)

Fonte Banco de Portugal

-4.000.000

-3.000.000

-2.000.000

-1.000.000

0

1.000.000

2.000.000

3.000.000

4.000.000

5.000.000

6.000.000

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Mil

ha

res

eu

ros

Palops Espanha Brasil

Figura 30- Evolução do IPE por destino (1996-2005)

Fonte Banco de Portugal

O esforço do IPE centra-se naturalmente nos países com os quais Portugal tem maior proximidade

económica (Espanha) e cultural e histórica (Angola, PALOPS e Brasil), sendo que dada a natureza

do ainda baixo nível de internacionalização económica é provável um aumento tanto do valor como

da diversidade desse investimento, acompanhando o esforço importante de internacionalização das

nossas empresas para a Europa, EUA, América do Sul e Países do Leste Europeu.

Portugal desenvolveu em 1994 uma iniciativa “ Relatório Porter” tendente a avaliar o grau de

competitividade da Economia Portuguesa. Outras iniciativas e estudos se multiplicaram desde essa

data no meio universitário e no seio da UE, com vista a avaliar o resultado das políticas

voluntaristas de promoção da Inovação.

No que respeita às áreas tecnológicas e de inovação, como refere A. da Silva e Palma (2000), o

relatório Porter deixa as seguintes constatações:

(…)Assim, o baixo nível de qualificação técnica e reduzida aplicação tecnológica no processo

produtivo são duas características apresentadas pelo Relatório Porter na avaliação à

“performance” de alguns sectores (“clusters”) da economia portuguesa.

A avaliação preliminar, e também os objectivos que no fim do Relatório são apresentados, fazem

notar a falta do dinamismo que a inovação - enquanto combinação do uso de novas formas de

tecnologia associada à investigação - poderia proporcionar à actividade económica.

De facto, a reduzida cooperação com instituições de I&D e a falta de sensibilidade e incentivos

para que os investigadores, e as próprias instituições, direccionem as suas pesquisas para o

encontro com as necessidades da indústria (cluster Vinho); a deficiente e limitada formação técnica

de quem influencia a performance (cluster Turismo, Vinho, Calçado e Têxtil), com existência de

confrontos com técnicos mais novos; e a falta de oportunidade (escala óptima mínima) de

desenvolver aptidões técnicas especializadas (cluster Automóvel); são um conjunto de elementos,

entre outros, que mostraram a importância e necessidade em incrementar o factor tecnologia na

actividade do conjunto dos factores produtivos, de modo a ser possível alargar o espectro da

inovação, tudo com o objectivo de criar bases para o aumento da produtividade e da

competitividade.

4.4.1 Portugal no Contexto dos Países Desenvolvidos

66 O desenvolvimento tecnológico da economia portuguesa

Em resumo, podemos apontar como diagnósticos de pontos fracos a precisarem de urgente

superação:

- A fragilidade da maioria dos “clusters”, sendo o ponto fraco comum a quase inexistência

da produção doméstica de equipamentos relevantes, pondo em causa a “home base”.

- Baixo nível de especialização e baixa incorporação tecnológica na generalidade dos

produtos portugueses.

- Baixo nível de inovação e deficiente cooperação tecnológica entre investigadores e

empresários

Daqui decorre a necessidade de aumentar o peso da incorporação de tecnologia e de “know-how”

na produção para alcançar maiores produtividades e estimular a competitividade.

Seguidamente referindo-se às características actuais da indústria portuguesa, nomeadamente os

efeitos das políticas públicas de apoio, realça as “ (…) Fracas ligações entre as infra-estruturas

tecnológicas e as empresas industriais.

4.4.1.1 As políticas de governação de apoio á inovação

Todos os governos de todos os países industrializados do mundo, independentemente das suas

convicções económicas (mais ou menos liberais), definem e praticam políticas de intervenção que

garantam a persistência e melhoria da sua base industrial, na competição com outros países ou

outras economias.

Essa intervenção varia consoante as suas convicções político-ideológicas, entre os extremos de um

quase abstencionismo neo-liberal, a uma intervenção forte e planeada (como foi no caso extremo, o

exemplo das economias de planeamento central). O nível de intervenção pode ser obviamente

doseado consoante o nível de desenvolvimento, os objectivos de modernização ou de supremacia

industrial, ou a situação dos mercados mas sempre na intenção de defender ou reforçar as

capacidades competitivas ou os níveis de especialização, das suas estruturas industriais (Veja-se o

recente relatório Porter para a Indústria Portuguesa).

Na generalidade das políticas industriais modernas o Estado reserva-se um papel regulador,

intervindo indirectamente e raramente de forma directa … o conceito muito British de “Legal

abstentionism” – que intervêm definindo o quadro legal de funcionamento dos interventores no

mercado, agindo com diferentes intensidades consoante as necessidades pontuais, na generalidade

dos casos como moderador ou ainda praticando políticas “voluntaristas” proactivas, quando os seus

objectivos são postos em causa pela prevalência de atitudes “individualistas” dos actores

económicos.

Para além dessa presença reguladora, os países mantêm normalmente uma intervenção activa em

sectores industriais críticos, para colmatar falhas de mercado ou influenciar a sua estrutura, para

regular as condições da oferta e da procura nos mercados (anti-trust, etc.), para modificar

comportamentos das empresas, ou mesmo operando como actor presente em actividades críticas,

como a defesa, os transportes, serviços de saúde e assistência, I&D, etc.,etc.

4.4.1.1.1 O “voluntarismo” nas Políticas Industriais em Portugal

Em Portugal, o instrumento típico de intervenção na estrutura industrial desde a integração

Europeia, é o chamado PEDIP (I e II) e mais recentemente o POE, e o QREN . Em todos os

programas, e em parte por força da análise das experiências Europeias nesses tipos de políticas, o

Estado incluiu desde o inicio do PEDIP I uma “vertente voluntarista”13

na tentativa de por essa

forma poder ser mais activo na prossecução de objectivos de modernização da estrutura industrial,

que no caso português aquando da adesão à União Europeia, se sabia à partida, ter de passar por

uma profunda reestruturação. Reestruturação essa, que levaria necessariamente a uma acentuada

“desindustrialização” tendo em vista a situação de atraso e de falta de competitividade num

mercado aberto após anos de políticas proteccionistas, mas que se procurava conter dentro de

limites sociais e económicos comportáveis numa tentativa de manter uma base industrial importante

no conjunto da economia.

13 Essa vertente “voluntarista” pode ser sintetizada como uma atitude do Estado enquanto agente dinamizador de iniciativas e projectos transversais às indústrias e sectores industriais, que se não centrem na resolução de problemas específicos dessas indústrias ou sectores, mas de carácter multi-disciplinar e em áreas com impacto na sua modernização, condições de competitividade ou de minimização das externalidades negativas ( impactos ambientais negativos, etc.)

68 O desenvolvimento tecnológico da economia portuguesa

Infelizmente a meu ver, a extensão do processo de desindustrialização acabou por se revelar

enorme, em grande parte por incapacidade própria dos nossos industriais em competirem e de se

modernizarem, mesmo em sectores tradicionais onde era suposto termos vantagens competitivas

acentuadas e um grau de especialização importante, como é o caso dos Têxteis e Calçado, Vidro e

Cristalaria, Pescas e Conservas de Peixe, para não falar nas chamadas indústrias Pesadas (Aço,

Construção e Reparação Navais) resultantes do expansionismo económico dos anos 70 e mesmo nas

Indústrias extractivas e que fazem agora parte da nossa Arqueologia Industrial.

4.4.1.1.2 O PEDIP II o POE e O PAV - Plano de Acções Voluntaristas - 97/99

Infelizmente e em virtude fundamentalmente dos problemas decorrentes da reconversão industrial,

da necessidade de modernização centrada nessa primeira fase no investimento em bens de

equipamento e na modernização das infra-estruturas, bem como pela competição “individualista”

dos empresários que competiam pelos apoios, sendo que as concertações estratégicas foram sendo

adiadas nas lógicas de curto prazo, o potencial dessas políticas decorrentes da aplicação das

medidas constantes do PEDIP I ficou aquém das expectativas iniciais que o Estado tinha posto

nessas políticas.

Durante a execução do PEDIP II tentou reforçar-se a componente voluntarista do Programa, tendo

para esse efeito já no fim da sua primeira fase sido elaborado um Plano específico, com medidas e

dotações próprias, o chamado PAV14

97/99. O PAV elencou um conjunto de princípios orientadores

(selectividade, integração, cooperação e parceria, e eficiência), um conjunto de prioridades e ideias-

força e um plano detalhado de acções transversais, de natureza sectorial e específica que iam desde

apoio ao design e à qualidade, internacionalização, parcerias estratégicas, engenharia financeira,

energética, formação e qualificação profissionais, cooperação inter-indústrias, centros e infra-

estruturas tecnológicas, etc. etc.

14 PAV – Plano de Acções Voluntaristas

A avaliação dos impactos do PAV parece ter sido interessante do ponto de vista dos seus resultados

práticos, na medida em que o Governo continua com a essa vertente no POE15

e referindo-as com

um grande relevo, tanto nos seus objectivos como nas declarações oficiais dos responsáveis

governamentais.

Tendo em conta o nível de desempenho da nossa Administração Pública no passado e a sua

tradicional ineficiência, é talvez um pouco ambicioso pretender que ela faça o que os nossos

empresários não foram capazes de fazer por eles próprios, nomeadamente através das suas

associações de interesses, tanto a nível nacional como sectorial e regional.

Também por virtude desse facto, os resultados da aplicação das medidas voluntaristas, serviram

também para fomentar a modernização da Administração Pública, nomeadamente na sua

componente técnico-operacional e melhorar o processo de políticas tendentes a reformar o estado e

a administração pública com os resultados da figura 32, que colocam Portugal hoje em dia a meio

da tabela dos Indicadores de Boa Governação no ranking dos Países desenvolvidos.

0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00

Grécia

Itália

Portugal

Irlanda

Suiça

França

Espanha

Austria

Belgica

Holanda

Japão

Dinamarca

Finlandia

Noruega

Canada

Alemanha

Suecia

Australia

Estados Unidos

Nova Zelandia

Reino Unido

Indicadores Boa Governação

Voice

Estabilidade política

Eficiência Estado

Qualidade regulatória

Rule of law

Controlo corrupção

Figura 31– Indicadores de boa governação Mateus (2005)

15 POE – Plano Operacional da Economia

70 O desenvolvimento tecnológico da economia portuguesa

Muito embora a Política Industrial Portuguesa, a ver pelos resultados da aplicação do PEDIP16

,

tenha tido algumas outras falhas ou menores resultados para além dos resultantes das políticas

voluntaristas, como na promoção de “start-ups” e “venture capital”, na ligação das infra-estruturas

tecnológicas às empresas, nos mecanismos de reconversão por fusões ou aquisições, na qualificação

dos recurso humanos, o papel do Estado é ainda assim, cada vez mais crítico para a modernização

da Indústria Portuguesa, tendo em vista o reforço da globalização, da necessidade de uma maior

desregularão e pela abertura das economias, nomeadamente da economia europeia em face dos

acordos do GATT, sob pena do processo de desindustrialização se tornar irreversível e a nossa

indústria não conseguir adaptar-se às novas condições de concorrência decorrentes da liberalização

dos mercados.

Em síntese e no que diz respeito aos impactos das Políticas Industriais em Portugal nos últimos anos

para apoio à difusão de tecnologia, eles podem avaliar-se fundamentalmente através da análise dos

apoios no âmbito do PEDIP I e II, POE17

e actualmente o QREN18

Grande parte das medidas de apoio e do esforço financeiro do Estado centrou-se fundamentalmente

nas comparticipações em Investimento, numa estratégia de reforço da competitividade das empresas

pela modernização dos equipamentos e tecnologias produtivas com reforço da “ embodied

technology”.

Esta situação está bem documentada no quadro-síntese seguinte sobre a situação comparativa

portuguesa relativamente a outras economias europeias (Figuras 32 e 33), relativa à Despesa em

Actividades de Inovação na Indústria e nos Serviços no período do Inquérito já referido (1995-

1997), que referem valores de despesa investimento em equipamentos e tecnologia nesse período,

de 80% da despesa total em Inovação nos Serviços e 77 % na Indústria.

16 Silva, Amado da – Transparências de apoio às aulas de Políticas Industriais. Lisboa: IST - MEGT 2000.

17 POE – Programa Operacional da Economia

18 QREN – Quadro de referência estratégica nacional

6%

2%

35%

45%

5%

4%3%

Despesa em I&D na Empresa

Despesa em Aquisição de I&D

Despesa em Aquisição de Maquinaria

Despesa em Aquisição de Tecnologia

Despesa em Preparação para a Introdução

Despesa em Formação

Despesa em Marketing

7%

4%

69%

8%

9%

2% 1%

Despesa em I&D na Empresa

Despesa em Aquisição de I&D

Despesa em Aquisição de Maquinaria

Despesa em Aquisição de Tecnologia

Despesa em Projecto Industrial

Despesa em Formação

Despesa em Marketing

Figura 32 - Repartição da Despesa em Inovação nos Serviços e Indústria

Fonte: OCT Jan.2000. 2º Inquérito Comunitário às Actividades de Inovação

Os impactos da forte política de investimento em equipamentos, bem como uma significativa

despesa em aquisição de tecnologia terá tido no entanto, impactos muito positivos na dinâmica

inovadora da economia, nomeadamente nas indústrias e serviços fortemente dependentes do Capital

Humano e da Tecnologia, como é o caso do “cluster” das chamadas “Knowledge-Based Industries

and Serviços” (Comunicações, Sector Financeiro, Segurador, Imobiliário bem como Serviços à

Comunidade, Pessoais e às Empresas).

72 O desenvolvimento tecnológico da economia portuguesa

Essa situação está bem ilustrada na Figura 34, com a comparação dos “shares” e do crescimento do

valor acrescentado na economia, nos “cluster KB industries & Serviços” e no conjunto dos

sectores, nos principais países da OCDE, em que Portugal aparece com taxas reais de crescimento

muito significativas na década de 85-95, que indiciam uma mudança relativa muito acentuada.

Figura 33– Evolução do Valor Acrescentado no “cluster” das Indústrias e Serviços baseadas no Conhecimento

Fonte: OECD, STAN database and Main Industrial Indicators, 1999.

Muito embora a situação de dependência tenha sofrido alterações significativas na última década

como se depreende dos dados anteriores e da evolução positiva da Balança Tecnológica nos últimos

4 anos, a verdade é que persistem um conjunto de estrangulamentos limitadores de uma alteração

positiva dessa situação.

Não existindo estudos objectivos sobre a dinâmica da dependência tecnológica em Portugal, esta

acentuou-se desde a adesão de Portugal à UE, por virtude dos efeitos decorrentes do investimento

em tecnologia e em equipamentos, na maioria importados. Essa situação está bem ilustrada na

persistência dos deficits elevados, tanto da Balança Comercial, como da Balança Tecnológica em

Portugal, ilustrada seguidamente.

Figura 34 Comparação das Balanças de Pagamento Tecnológicas na OCDE Source: OECD, TBP database, May 1999

4.4.2 Desafios e estrangulamentos do sistema de inovação e seus impactos na dependência

tecnológica da economia Portuguesa

74 O desenvolvimento tecnológico da economia portuguesa

4.4.2.1 Evolução da balança tecnológica em Portugal

A difusão da tecnologia medida através dos fluxos comerciais de equipamentos e conhecimento, é

de acordo com a literatura uma forma de medir a capacidade de independência/ dependência dum

país e naturalmente uma forma de medir o seu grau de desenvolvimento e desempenho na Nova

Economia.

Os modelos teóricas de difusão tecnológica como os de Krugman (1979) Grossman & Helpman

(1991) e Barro (1995), apontam para o impacto nas economias dos processos de difusão de

tecnologia sobretudo no já falado IDE, nos retornos dos mecanismos de protecção da propriedade

(patentes, licenciamento, registo de marcas, etc.), na “cópia” legal ou ilegal da tecnologia

incorporada nos produtos/equipamentos ( learning-by-imitation) e na prestação de serviços de

assistência técnica e formação.

unidade: milhares de EUROS1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Total - Saldo -322.311 -360.882 -491.725 -480.193 -415.226 -333.084 -353.371 -302.209 -275.968 -285.908 -169.502 125.711 65.606 65.508

Direitos de utilização e Propriedade industrial -164.978 -166.288 -203.073 -248.842 -224.144 -229.923 -289.733 -217.920 -251.244 -212.687 -234.461 -122.614 -185.442 -201.357

Serviços de assistência técnica -85.147 -132.684 -207.584 -118.674 -110.279 -39.340 332 -30.709 -29.196 -32.081 16.544 152.032 173.183 228.182

Serviços de investigação e desenvolvimento -5.610 -1.677 4.497 -3.159 180 6.041 21.428 3.144 10.038 5.275 21.307 13.541 10.360 16.252

Outros serviços de natureza técnica -66.576 -60.233 -85.565 -109.518 -80.983 -69.862 -85.398 -56.724 -5.566 -46.415 27.108 82.752 67.505 22.431

Total - Crédito (1) 163.622 233.984 256.242 291.188 319.557 287.456 367.684 355.250 434.278 461.673 776.767 1.063.673 1.227.551 1.253.062

Direitos de utilização e Propriedade industrial 16.604 74.965 81.682 61.566 90.365 33.115 33.401 41.332 43.940 52.169 120.320 196.791 178.463 180020

Serviços de assistência técnica 84.142 72.123 80.703 112.016 105.942 127.914 183.728 136.750 172051 197287 300878 420722 543793 549144

Serviços de investigação e desenvolvimento 13.413 13.462 23.042 16.618 14.879 16.230 30.739 24744 23323 28969 40966 41602 39382 44270

Outros serviços de natureza técnica 49.463 73.434 70.815 100.988 108.371 110.197 119.816 152.424 194.964 183.248 314.603 404.558 465.913 479628

Total - Débito (2) 485.933 594.866 747.967 771.381 734.783 620.540 721.055 657.459 710.246 747.581 946.269 937.962 1.161.945 1.187.554

Direitos de utilização e Propriedade industrial 181.582 241.253 284.755 310.408 314.509 263.038 323.134 259.252 295.184 264.856 354.781 319.405 363.905 381377

Serviços de assistência técnica 169.289 204.807 288.287 230.690 216.221 167.254 183.396 167.459 201.247 229368 284334 268690 370610 320962

Serviços de investigação e desenvolvimento 19.023 15.139 18.545 19.777 14.699 10.189 9.311 21600 13285 23694 19659 28061 29022 28018

Outros serviços de natureza técnica 116.039 133.667 156.380 210.506 189.354 180.059 205.214 209.148 200.530 229663 287495 321806 398408 457197

PORTUGAL - BALANÇA DE PAGAMENTOS TECNOLÓGICA

FONTE: Banco de Portugal, de acordo com a metodologia da OCDE (a Balança Tecnológica incorpora rubricas da Balança

Corrente e da Balança de Capital)

(1) Crédito - entrada de capitais (Recebimentos)

(2) Débito - saída de capitais (Pagamentos)

Tabela 3 Evolução da Balança Tecnológica Portuguesa (1996-2009) Fonte: Banco de Portugal

Só recentemente Portugal começou a incorporar nos suas estatísticas oficiais a contabilização deste

importante factor de avaliação do desempenho da economia, razão porque os estudos apontam para

dados empíricos que no essencial confirma neste século a persistente dependência externa e

consequente saldo negativo da balança Tecnológica. As estatísticas da BT disponíveis vêm apenas

desde 1996 e constam do quadro acima.

Como se referiu a tendência da evolução da balança tecnológica inverteu-se nos últimos 4 anos, no

que parece vir a ser uma tendência que se consolidou e que, se espera venha a reflectir uma mutação

histórica no padrão de desenvolvimento económico português deste último século.

-322.311-360.882

-491.725-480.193

-415.226

-333.084-353.371-302.209

-275.968-285.908

-169.502

125.71165.606 65.508

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

10^€

Total - Saldo

Figura 35 - Saldo da Balança Tecnológica (1996-2009) Fonte: Banco de Portugal

-600.000

-400.000

-200.000

0

200.000

400.000

600.000

800.000

1.000.000

1.200.000

1.400.000

1999 2001 2003 2005 2007 2009 2000 2002 2004 2006 2008 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2000 2002 2004 2006 2008 1999 2001 2003 2005 2007 2009

Total Indústrias transformadoras Comércio, reparações, alojamento e restauração

Serviços prestados às empresas Outros sectores

Balança Tecnológica por Sector de Actividade(1999-2009 K€)

TOTAL Crédito TOTAL Débito TOTAL Saldo

Figura 36 - Balança Tecnológica por Sector de Actividade (1996-2009) Fonte: Banco de Portugal

76 O desenvolvimento tecnológico da economia portuguesa

A análise sumária dessa tendência aponta desde logo para a interrogação que representam ainda

esses dados. O saldo dos últimos 3 anos, muito embora positivo tem vindo a diminuir. Ainda assim

tanto os débitos como os créditos têm aumentado em valor o que parece indicar um aumento de

actividade e sofisticação tecnológica da economia portuguesa que exporta tecnologia e

conhecimento mas com um baixo nível de auto-suficiência.

-600.000 -500.000 -400.000 -300.000 -200.000 -100.000 0 100.000 200.000 300.000

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

1996-2009 (10^€)

Outros serviços de natureza técnica Serviços de investigação e desenvolvimento Serviços de assistência técnica

Direitos de utilização e Propriedade industrial Total - Saldo

Figura 37 - Saldo da Balança Tecnológica Sectores de Actividade (1996-2009) Fonte: Banco de Portugal

Enquanto que os Débitos se têm mantido relativamente estáveis inter-sectores ao longo dos anos os

Créditos têm tido uma maior variação (incremento) no sector dos serviços, por importação de

conhecimento nessas áreas (formação e assistência Técnica).

A estrutura da BT aponta ainda para um factor estrutural de extrema importância que denota o

carácter dependente do conhecimento da economia portuguesa, a saber, a persistência de saldos

negativos nos Direitos de Propriedade Industrial, contra todos os outros sectores que têm tido saldos

positivos. Essa situação caracteriza portanto um aspecto fundamental na nossa estrutura económica

que é a incipiente eficiência dos esforços de I&D na criação de conhecimento e na inovação das

empresas portuguesas, bem como do insuficiente nível de internacionalização.

Ainda assim essa é uma das áreas em que o esforço do Estado na promoção e ajuda à investigação e

inovação tem vindo a convergir para os níveis médios da UE, num esforço delineado a partir a

Estratégia de Lisboa para a Sociedade do Conhecimento.

4.4.2.2 Eficiência dos Esforços de I&D e reforço dos mecanismos de inovação

Como se referiu outro dos tradicionais constrangimentos da economia portuguesa diz respeito à

eficiência dos esforços de I&D. De uma forma persistente, Portugal é dos países da generalidade

dos países da OCDE com menor despesa bruta em I&D, situação que se agrava quando medida em

termos do PIB tendo apenas abaixo a Irlanda e Grécia, sendo que o valor de referência da

comunidade é 3 vezes superior em média, conforme se constata no quadro e figuras abaixo.

0

0,002

0,004

0,006

0,008

0,01

0,012

0,014

0,016

1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002

Fonte: OECD, MSTI database (STI, EAS Division), November 2001. Para Portugal 2002, fonte: OCT

Austria Bélgica Dinamarca Finlândia França

Alemanha Grécia Irlanda Itália Noruega

Países Baixos Portugal Espanha Suécia Reino Unido

Figura 38 – Comparação das Dotações Orçamentais para I&D/PIB (1986-2002) Fonte: OCT 2002

Ainda assim, os valores comparativos do indicador I&D/ PIB em Portugal tem tido uma evolução

significativa e impressiva situando-se em 1986 em 0,2 % do PIB para 0,6% em 2002 e

78 O desenvolvimento tecnológico da economia portuguesa

aproximando-se actualmente de 1 % com um valor de crescimento a preços correntes que em 2007

da ordem dos 2 mK€, contra valores incipientes nos anos 80.

0,0

500 000,0

1000 000,0

1500 000,0

2000 000,0

2500 000,0

1982 1984 1986 1988 1990 1992 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007

Despesa em I&D a preços correntes(1982 a 2007)fONTE:IPCTN07 / GPEARI / MCTES – Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional 2007 /

Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações

Total

Figura 39 – Evolução da Despesa I&D (1986-2002) Fonte: IPCT 2007

Os valores apresentados são ainda em termos empresariais piores do que parece. Com efeito, é o

Estado, onde não estão consideradas as empresas públicas, que continua a ser responsável pela

maior fatia do financiamento da despesa interna bruta em I & D em Portugal, 68,3% em 1997, bem

diferentemente do que acontece para o conjunto dos países da OCDE e UE, 31,4% (1997) e 38,3%

(1996) respectivamente.

Ainda assim os valores em volume têm aumentado significativamente incluindo o sector empresas,

que já é em 2007, semelhante ao esforço do Estado no seu conjunto. Esse valor é naturalmente

conjuntural não tendo dados de como se tem comportado o sector Empresarial em período de forte

recessão económica como o que actualmente vivemos.

0,0

500 000,0

1000 000,0

1500 000,0

2000 000,0

2500 000,0

1982 1984 1986 1988 1990 1992 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007

Despesa em I&D a preços correntes: total e por sector de execução (1982 a 2007)

Total Empresas Estado Ensino Superior IPSFL b)

Figura 40 – Evolução da Despesa I&D por origem (1982-2007) Fonte: IPCT 2007

Esta posição é muito idêntica à da Grécia, sendo de ao contrário da Irlanda, onde são as empresas as

grandes responsáveis pelo financiamento da despesa em I&D. Por exemplo, em 1997, a sua parte no

investimento em I&D era de 68% valores atingidos por Portugal em 2010.

Em termos da distribuição do pessoal afecto a actividades de I&D, muito embora tenha existido um

aumento significativo de quadros de I&D nas empresas em valor global, estes diminuíram entre

1992/1995 relativamente aos anos 80, voltando a crescer posteriormente. Continuam a ter uma

expressão minoritária, quando comparados com os existentes nas instituições do Estado e do Ensino

Superior.

1982 1984 1986 1988 1990 1992 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007

Total 8 552, 9 267, 10 570 10 883 12 042 13 448 15 465 18 034 20 805 22 969 25 529 25 727 35 333

Empresas 1 891, 1 564, 2 015, 2 041, 1 996, 1 881, 1 916, 1 980, 3 260, 3 874 6 123 6 133 12 78

Estado 4 053, 4 543, 4 354, 4 114, 4 229, 3 955, 4 715, 5 229, 5 901, 5 970, 4 917, 4 533, 4 523,

Ensino Superior 2 329, 2 799, 3 799, 4 182, 4 840, 6 248, 6 484, 8 441, 9 186, 10 17 11 14 11 68 14 02

IPSFL c) 277,9 361,0 401,4 545,0 976,0 1 362, 2 348, 2 382, 2 456, 2 951, 3 341, 3 380, 3 998,

0,0

5 000,0

10 000,0

15 000,0

20 000,0

25 000,0

30 000,0

35 000,0

40 000,0

Inve

stig

ado

res/

ETI

Pessoal total em I&D (ETI)a), por sector de execução (1982 a 2007)Fonte: IPCTN07 / GPEARI / MCTES

Figura 41 – Evolução do Pessoal em I&D (1982-2007) Fonte: IPCT 2007

80 O desenvolvimento tecnológico da economia portuguesa

Finalmente a produtividade dos esforços de I&D é muito baixa, tendo em vista não só os resultados

constantes das rubricas da Balança de Pagamentos Tecnológica (venda ou licenciamento de direitos

de propriedade intelectual ou licenciamento de tecnologia) como ainda dos indicadores relativos ao

registo de patentes por residentes versus não-residentes, acentuados pela sua utilidade/inutilidade

efectiva, analisada em termos de vida útil (um grande número de patentes caduca por não

pagamento das taxas de manutenção) o que demonstra o desinteresse do sector produtivo na sua

utilização.

A maioria das patentes registadas advém de não-residentes, o que acentua a nossa dependência

tecnológica também em termos de “disembodied technology” (Tabelas 4 e 5).

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996

Portugal 101 102 72 93 105 82 87

Espanha 2260 2188 2101 2192 2171 2078 2308

Grécia 389 366 366 431 410

Irlanda 734 786 754 795 820 853 805

Japão 332952 335620 337577 331 840 319344 333770 339045

Islândia 17 34 28 34 22 19 16

EUA 93192 90366 96121 104438 110570 127115 110118

UE 78494 79123 88376 89979 91976 85180 97661

Países Nórdicos 7464 7403 7642 8214 8699 8457 9040

Tabela 4- Patentes registadas por residentes. Fonte: Principais Indicadores de Ciência e Tecnologia, OCDE, 1999

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996

Portugal 3541 3453 13218 36915 41669 45269 53060

Espanha 44557 43480 46799 47812 51965 55617 62891

Grécia 18376 32221 35571 36515 40988 44697 52371

Irlanda 4 001 3794 13893 35906 40787 44660 52407

EUA 84690 88364 93274 89155 99710 107964 111536

Turquia 1090 1057 1063 1057 1216 1506 19668

EUA/Canadá 99310 102663 111678 108512 116877 133523 143066

UE 293482 291121 333865 367549 404681 421059 543978

Países Nórdicos 93067 92136 101242 102867 118444 138279 206617

Tabela 5- Patentes de não residentes. Fonte: Principais Indicadores de Ciência e Tecnologia, OCDE, 1999

A análise da taxa de dependência de “disembodied technology” (calculada com base no rácio

patentes não residentes / residentes ), dum trabalho de mestrado de Vitorino Sousa19

, apresentado na

Figura 42, dá uma dramática visão dessa dependência, só ultrapassada pela da Islândia e cerca de 6

vezes superior à da Grécia e ainda mais da Espanha e da Irlanda.

Figura 42- Taxa de dependência (patentes não residentes/residentes)

Fonte: Principais Indicadores de Ciência e Tecnologia, OCDE, 1999

4.4.2.3 Intensidade Tecnológica da Economia Portuguesa

Conforme foi já referido, o Progresso Técnico representou em Portugal um papel mais reduzido que

na maioria dos Países desenvolvidos. Como seria pois de esperar a maioria da evolução tecnológica

resulta de Transferência de Tecnologia dos países mais desenvolvidos, mediante:

a) aquisição de tecnologia directamente embebida nos equipamentos, mas também de contratos

de transferência de tecnologia,

b) Transferência de tecnologias, know-how , capacidade de gestão e formação do Capital

humano por via do IDE Investimento directo estrangeiro.

c) Transferência de Conhecimento resultante de contratação de serviços de manutenção e

conservação,

d) Participação em consórcios de I&D empresarial com instituições internacionais e empresas

19 Cit. no paper de A. da Silva e F. Palma já referido.

0,00100,00200,00300,00400,00500,00600,00700,00800,00900,00

1 000,001 100,001 200,001 300,00

Po

rtug

al

Esp

an

ha

Gré

cia

Irla

nd

a

Islâ

nd

ia

Jap

ão

OC

DE

Am

éri

ca N

ort

e

U.E

.

País

es N

órd

ico

s

%

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

82 O desenvolvimento tecnológico da economia portuguesa

e) Transferência de Politicas económicas e capacitação industrial resultante de mecanismos de

integração económica ( OCDE, EFTA e UE )

e muito menos por produção interna de Tecnologia.

Em termos de exportação de tecnologia Portugal é pois um país com relativamente fraca

Intensidade tecnológica, à semelhança aliás da maioria dos países da OCDE, como pode ver-se

nas figuras 44 e 45.

Figura 43-Comparação da Intensidade da I&D vs especialização alta-média-alta tecnologia Fonte:OCDE

Portugal apesar de ter um baixíssimo valor de intensidade de I&D e, tem maior especialização em

produtos de alta tecnologia do que países com uma Intensidade de I&D consideravelmente maior,

como sejam a Islândia, Irlanda, Bélgica, Nova Zelândia, a República Checa, Áustria, a Grécia, a

Turquia e curiosamente até do Japão.

Figura 44-Comparação da Estrutura do Índice de Esforço em Novas Tecnologias OCDE

Relativamente ao nosso grau de abertura ao exterior dos sectores de alta tecnologia a constatação

decorrente da Figura 45 é de que em toda a economia e também nos sectores de Alta Tecnologia, a

abertura e dependência do Exterior é grande. Os fabricantes de componentes electrónicos fornecem-

se quase exclusivamente no exterior, e exportam quase toda a produção, havendo um ligeiro

excedente. Embora em menor grau, o mesmo acontece com o fabrico e reparação de aeronaves e o

fabrico de receptores de telecomunicações. Os restantes sectores são altamente deficitários, sendo

que o do equipamento de escritório e de TI é muito deficitário e exibe grande grau de abertura.

Figura 45-Abertura ao Exterior dos Sectores de Alta Tecnologia (adapt. Mateus) Fonte: INE

84 O desenvolvimento tecnológico da economia portuguesa

A tabela 6 representa o contributo de cada um dos sectores mais representativos da Balança

Tecnológica nos anos 1996-1997 em termos de dependência externa e de tipo de Intensidade

Tecnológica ( Alta a MB Média Baixa). A tabela está ordenada por ordem crescente do Índice de

Dependência do Exterior medido em termos dos saldos da Balança Tecnológica.

Tabela 6 Índice de dependência Tecnológica por sectores mais relevantes (1996-1998) Fonte: Banco de Portugal

Apenas em três sectores da indústria transformadora Portugal é exportador líquido de tecnologia

não embebida nos equipamentos. Acresce que dois desses sectores são de tecnologia média-baixa.

Ao invés, doze dos sectores mais relevantes que são deficitários, incluindo alguns de Alta e Média

Tecnologia. Estes factos dão-nos a noção de quão frágil é a economia portuguesa no que diz

respeito às trocas de conhecimento tecnológico com o exterior.

86 O desenvolvimento tecnológico da economia portuguesa

O sector das actividades de arquitectura, de engenharia e técnicas afins é um forte exportador

líquido de tecnologia. Como os créditos deste sector são obtidos à custa da assistência técnica, isto

sugere que existe algum conhecimento tecnológico transferido para o exterior que não é utilizado

pelo tecido produtivo do país. Uma outra hipótese é o facto de este sector poder estar a beneficiar da

I&D que é feita nas universidades, que em Portugal são responsáveis por uma grande parte dela.

Um outro caso interessante é o da fabricação de aeronaves e de veículos espaciais, um sector em

que claramente Portugal aparece como exportador tecnológico, devido à OGMA, serviços de

manutenção da TAP e outras pequenas actividades. O mesmo acontece, aliás, com o sector da

fabricação de componentes eléctricos, que também é exportador líquido de tecnologia.

Para terminar, refira-se que muitos dos créditos da Balança Tecnológica obtidos por Portugal dizem

respeito a transacções com países mais atrasados tecnologicamente (sobretudo para África, Brasil e

alguns países do leste Europeu) indicando que os países com tecnologias em desenvolvimento,

como o nosso, podem desde logo explorar nichos no mercado internacional permitindo consolidar

os conhecimentos adquiridos e, sobretudo, financiar parcialmente os gastos na aquisição de

tecnologia.

4.4.2.3.1 Intensidade Tecnológica dos Sectores com recurso ao Modelo Input-Output.

Com recurso ás tabelas Input-Output da Economia Portuguesa é possível avaliar o nível de

Intensidade Tecnológica para o conjunto dos anos da série longa disponibilizada pelo INE (1977-

1995), como no futuro no âmbito da tese de doutoramento avaliar a mutação dessa intensidade.

Dos valores para de 1995 feita por M. Silva (2001) e o autor, Sequeira (2005) e Boto (2005)

podemos retirar analisando a diagonal principal da figura 47, que em média a maior contribuição

para o output de cada para cada sector é dada pelo próprio sector. Isto é para produzir para a procura

total cada sector usa maioritariamente a sua própria produção.

Série1

Série8

Série15

Série22

Série29

Série36

Série43

0

100000

200000

300000

400000

500000

600000

01 03 05 07 09 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49

500000-600000

400000-500000

300000-400000

200000-300000

100000-200000

0-100000

Figura 46– Tabela Portuguesa de Transacções (1995). 106 PTE. Cálculo: Sequeira & Boto (2005)

Da Tabela de Transacções foi calculado um indicador de Intensidade Tecnológica. A tabela de

coeficientes tecnológicos gera a função de produção que quantifica os inputs de cada um dos

diferentes sectores que cada um dos outros sectores necessita para produzir uma unidade do seu

próprio output. Por exemplo: Agricultura e caça (sector 1) necessita para produzir 1 PTE de output

de 0,235 PTE dele próprio (sector 1), 0,1 PTE do sector 5 ( Petróleo e Energia ), 0,35 do sector 22

(Outros produtos alimentares) o restante 0,3 dos outros restantes sectores.

88 O desenvolvimento tecnológico da economia portuguesa

Series1

Series8

Series15

Series22

Series29

Series36

Series43

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49

0,9-1

0,8-0,9

0,7-0,8

0,6-0,7

0,5-0,6

0,4-0,5

0,3-0,4

0,2-0,3

0,1-0,2

0-0,1

Figura 47– Tabela de Coeficientes Técnicos Portugueses (1995) Cálculo: Sequeira & Boto (2005)

A matriz de coeficientes Interdependentes, ou matriz Inversa de Leontief (I-A)-1

– mede os níveis de

impacto directo e indirecto de cada sector da economia necessários para satisfazer um determinado

nível de procura. Observando a representação dessa matriz para Portugal pode verificar-se, como

aliás era esperado, que os sectores de petróleo e electricidade (sectores 5 e 6) contribuem

enormemente para os inputs de todos os outros sectores. De facto, o crescimento económico desse

ano tal como no referido período é dirigido pelo consumo de energia, uma vez que a economia

depende fortemente dos consumos energéticos.

Outros como a Agricultura (sector 1) tem impactos significativos nos sectores (17 carnes,18

lacticínios e 20 Óleos alimentares). O sector 42 Serviços às empresas recebe impactos de

praticamente todos os outros sectores com relevância nesse ano para o sector 36 Transportes

Marítimos e Aéreos.

Séri

e1

Séri

e3

Séri

e5

Séri

e7

Séri

e9

Séri

e11

Séri

e13

Séri

e15

Séri

e17

Séri

e19

Séri

e21

Séri

e23

Séri

e25

Séri

e27

Séri

e29

Séri

e31

Séri

e33

Séri

e3

5

Séri

e37

Séri

e3

9

Séri

e41

Séri

e43

Séri

e45

Séri

e47

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

1,6

1

7

13

19

25

31

37

43

49

Série1

Série2

Série3

Série4

Série5

Série6

Série7

Série8

Série9

Série10

Série11

Série12

Série13

Série14

Série15

Série16

Série17

Série18

Série19

Série20

Série21

Série22

Série23

Figura 48– Matriz portuguesa de Coeficientes Interdependentes (1995).Cálculo Sequeira & Boto (2005)

Independentemente destes dados anuais, o objectivo futuro é o de analisar a variação destes

coeficientes na série, por forma a poder verificar se as mutações ocorridas ao longo dos anos na

Intensidade Tecnológicas dos diversos sectores foram significativas e medir o nível de

transformação tecnológica efectivamente ocorrida.

90

A principal conclusão a retirar do diagnóstico feito anteriormente parece ser o de que Portugal, à

semelhança de outros países recentemente desenvolvidos (países do sul da Europa), conduziu no

último século um percurso de modernização e de bem estar, que no caso português só tem

paralelo na nossa história, no período de 1500 (e durante cerca de um século), em que Portugal

foi um país “pioneiro da globalização” (Rodrigues & Devezas)20

.

Esse progresso foi significativa em todas as variáveis de Solow, sendo no entanto menor que

outros países desenvolvidos tanto no Capital Humano como no Progresso Tecnológico.

A evolução do Capital Humano foi impressionante desde o inicio do século passado com a

eliminação do analfabetismo (a partir dos anos 50 do século XX) e com a escolarização

generalizada (a partir da Revolução democrática de 25 de Abril de 1974 e da queda da Ditadura).

Ainda assim hoje o problema coloca-se sobretudo ao nível da qualidade do sistema de ensino e

da internalização do conhecimento (técnico e humanístico).

- 20

Rodrigues, Jorge Nascimento; Devezas, Tessaleno – Portugal, o pioneiro da globalização: A herança das descobertas.

Vila Nova Famalicão: Centro Atlântico, 2009. 606 p.

Capítulo 5 Conclusões

Logo:

1) Um dos objectivos futuros da tese de doutoramento deverá ser a da objectivação e

estudo do nível de qualificação e do valor do Capital Humano incorporado na

economia portuguesa no seu actual estádio de desenvolvimento;

2) Estudo mais detalhado da forma de incorporação desse valor no actual modelo

económico e uma avaliação do nível de desenvolvimento actual da Sociedade do

Conhecimento em Portugal.

Ao nível do Progreso Tecnológico, ele terá tido um papel decisivo sobretudo por via da variável

Capital (i.e. pela modernização induzida pelo investimento em tecnologia importada e

conhecimento e métodos de gestão importado via IDE, Investimento Directo Estrangeiro).

Esse facto levou a que o Progresso técnico tenha sido uma variável menos explicativa do

crescimento português sendo no entanto que, sobretudo nos últimos anos, o processo de inovação

tem vindo a ser mais evidente e com maior impacto na mudança de estrutura económica

(decréscimo da indústria e sector primário e crescimento dos serviços).

Mas a esse nível a evolução da balança tecnológica e do capital demosntra empiricamente que

Portugal é um país onde se acentuou a dependência tecnológica do exterior, sendo no entanto que

existem índicios recentes no comportamento da Balança Tecnológica que parecem querer indicar

que essa situação estará ( ou não ) a ser invertida.

Ainda assim a situação de dependência parece não ressaltar, como factor negativo, nos resultados

do Inquérito à Inovação já citado (1995-1997), em que do total de 4000 empresas inquiridas em

todos os sectores da economia, resultam taxas de inovação, tanto na Indústria como nos Serviços,

muito significativas - na ordem dos 25,8 % e 28 % (Tabela 7)

92 Conclusões

Indústria Serviços Nacional

Proporção do Total de Empresas que:

Introduziram Inovação 25.8% 28.0% 26.7%

Inovação de Produto 15.1% - -

Inovação de Processo 22.9% - -

Estiveram Envolvidas em Actividades de Inovação 28.5% 35.6% 31.4%

Abandoram ou não Concluiram Projectos de Inovação 8.3% 11.1% 9.4%

Proporção total de Empresas Envolvidas

em Actividades de Inovação que:

Introduziram Inovação 90.4% 78.7% 85.0%

Inovação de Produto 52.9% - -

Inovação de Processo 80.3% - -

Abandoram ou não Concluiram Projectos de Inovação 29.2% 31.1% 30.1%

Tabela 7- Inovação em Portugal, 1995-1997 Fonte: OCT Jan.2000.

2º Inquérito Comunitário às Actividades de Inovação

Como seria de prever a proporção das empresas inovadoras é maior nos sectores de Alta/ Média-

Alta tecnologia, conforme se depreende da análise da Figura 50.

0,0% 20,0% 40,0% 60,0% 80,0% 100,0%

Têxteis e Vestuário

Madeira, Cortiça e suas Obras

Couro e Produtos de Couro

Ind. Alimentares, das Bebidas e do

Tabaco

Papel, Pasta e Cartão; Edição e

Impressão

Outras Ind. Transformadoras

Ind. Metalúrgicas de Base e Prod.

Metálicos

Minerais não Metálicos

Borracha e Matérias Plásticas

Material de Transporte

Máquinas e Equipamentos

Ind. Química

Equip. Eléctrico e de Óptica

Proporção de Empresas Inovadoras

Sectores de Alta e de

Média-Alta Tecnologia

Sectores de Média-Baixa

Tecnologia

Sectores de Baixa

Tecnologia

Figura 49- Inovação e Intensidade Tecnológica por Sector IndustrialFonte: OCT Jan.2000. 2º Inquérito

Comunitário às Actividades de Inovação.

Em síntese, decorre das implicações observáveis expostas a partir das observações empíricas

relatadas (o que necessita no entanto de ser testado), que:

O processo de Investimento acelarado em tecnologia e bens de equipamento, decorrida

desde a integração Europeia, terá acentuado a dependência tecnológica face ao exterior

da Economia Portuguesa.

Esse padrão, terá naturalmente tendência para se acentuar, existindo o risco dessa

dependência se vir a tornar numa dependência continuada. Essa previsão decorre do facto

de que a economia portuguesa continua a necessitar de investir na modernização da sua

infra-estrutura (equipamentos e tecnologias) e na manutenção da infra-estrutura existente

(equipamentos de substituição, reparação dos existentes, e apoio técnico e manutenção

dos equipamentos instalados, etc.).

a. Ainda assim esse estudo deve clarificar a actual tendência de maior equilíbrio na

Balança Tecnológica que a verificar-se de forma continuada poderá indicar uma

alteração estrutural significativa e que é necessário clarificar.

Persistindo as ineficiências da capacidade de absorção tecnológica das empresas, por

ineficiência do sistema de transferência de tecnologia, “disembodied diffusion” do

conhecimento incorporado nessas tecnologias decorrentes da falha de organização interna

das empresas do processo de internalização do conhecimento, de valorização do seu

capital humano e da ineficiência do Sistema de apoio à I&D e à inovação, não será

possível no curto/médio prazo inverter essa tendência.

O objecto da Tese de Doutoramento poderá ser assim o de procurar contribuir para um melhor

diagnóstico da situação relatada, procurando tipificar quantitativa e qualitativamente qual o

padrão de dependência existente da economia portuguesa, a sua posição relativa face às

economias mais directamente competidoras e às economias parceiras, nomeadamente as

fornecedoras de conhecimento, quer incorporado quer não incorporado, que Portugal utiliza para

o seu processo de modernização.

94 Conclusões

Nessa abordagem é expectável, que:

1) Possa actualizar a partir de 2005 os valores de crescimento do Modelo de Solow

desemvolvido por Abel Mateus (2005) e verificar quais as alteraçoes posteriores.

2) Aprofundar sobretudo ao nível do Capital Humano o valor incorporado no produto por

via do Conhecimento e estudar melhor os factores que têm contribuído e de que forma

para formação desses valores.

3) Estudar o processo de dependência tecnológica numa perspectiva de “lock.in” e “path-

dependence”, nomeadamente verificando se o factor de “lock-in” relativamente ao

modelo económico português existe, ou se foi superado por via das políticas económicas

de integração europeia posteriores à revolução democrática de 1974.

4) Na clarificação do modelo de dependência, tentar desenvolver índices que caracterizem

essa dependência e que não existem - a ver pela literatura sobre o tema!

5) Finalmente testar alguns dos modelos de crescimente apresentados teoricamente mas não

usados na prática, para melhorar o nível de conhecimento das variáveis que explicam o

crescimento português.

95

Ficheiros Excell com:

Matriz IN-OUT Portuguesa para 1995

Matriz-IN-OUT Portuguesa para 1995 reduzida

Matriz de Transacções para 1995

Matriz Coeficientes Técnicos ou Matriz Estrutural para 1995

Matriz Inversa de Leontiev ou Matriz dos Coeficientes Interdependentes 1995

Séries do INE ( Instituto Nacional de estaística) de Matrizes IN-OUT para Portugal disponíveis

em formato electrónico (1986-1995)

CAE 1996 – Classificação das Actividades Económicas 1996

Capítulo 6 Apêndices e Anexos

96 LISTA DE TABELAS

O modelo básico input-ouput de Leontief é construído a partir de dados observados numa zona

geográfica específica (nação, estado, país, etc.), relativo à actividade de grupos de indústrias ou

serviços que ao mesmo tempo que produzem bens ou serviços (outputs), consomem eles próprios

bens e produtos (inputs) – consumos interindústriais.

Os dados necessários para preencher o modelo I-O consiste nos fluxos de produtos de e para

cada um dos sectores produtivos, medidos num período de tempo particular ( geralmente um

ano ) e em valores monetários.

Basicamente, um modelo I-O consiste em 3 tabelas básicas, analisadas seguidamente: A Tabela

de Transacções, a Tabela de Coeficientes Técnicos e a Tabela de Coeficientes Interdependentess.

A informação fundamental deste modelo releva os fluxos de produtos ou serviços de cada sector

industrial ou de serviços considerado com produtor de cada um dos mesmos sectores

considerados como consumidores. A informação básica a partir da qual um modelo I-O pode ser

desenvolvido está contido na tabela de transacções interindústriais – o coração do modelo I-O –

que não é apenas um dispositivo para organização da informação mas sobretudo uma ferramenta

analítica.

Para a construir é necessário compilar a quantidade de output em termos monetários que de cada

sector em particular pode ser comprado por uma unidade monetária a preços constantes durante

o período de tempo a que essa tabela diz respeito (Leontief, 1986). Embora uma medida física

reflectisse melhor os fluxos intersectoriais, o facto de cada sector produzir diferentes bens

resultaria num problema complexo. Na prática esses fluxos medem-se em valor e não em

quantidade.

Muito embora seja de fácil aplicação, a construção da tabela é altamente complexa e laboriosa.

Em primeiro lugar lida com uma quantidade imensa de informação quantitativa. O nível de

6.1 Estrutura do Modelo (I-O) Input-Output de Leontief

6.2 A Tabela de Transacções

97

inquéritos necessários para coligir essa informação exige muito tempo tempo para os executar e

geralmente um atraso significativo na sua preparação e divulgação.

.As entradas da tabela são referidas como xij sendos os is os sectores origem e j os sectores

destino. As linhas da tabela discriminam o total de vendas alocadas a cada sector da economia,

enquanto que as colunas as compras ou inputs de cada sector aos outros sectores. Como cada

valor na horizontal existe igualmente na vertical, o output dum sector é o correspondente input

dos outros sectores. As colunas adicionais, são a Procura Final, FBCF ( Investimento) , Despesas

do Estado e Comércio Externo.

Tabela 8 B-1 – Input-Output Tabela de Transacções Fonte: U.S. Department of Commerce, Bureau of Economic

Analysis

Tabela 9 B-2 – Sistema Input-Ouput Fonte: OCDE

98 LISTA DE TABELAS

Então sendo a economia dividida em n sectores, se nos referirmos como Xi ao Ouput Total

(Produção) dos sectores i e por Yi o Total da Procura dos sectores i’s podemos representar:

Xi = xi1 + xi2 + … + xii + … +xin +Yi (B-1)

Os termos x na parte direita da equação (B-1) , representam as vendas interindústria do sector i,

enquanto que a parte direita a soma de todos os sectores i’s (vendas interindustria) e as suas

vendas para a procura final, representando a distribuição do output i’s.

Para cada um dos n sectores teremos:

X1 = x11 + x12 + … + x1i + … +x1n +Y1

X2 = x21 + x22 + … + x2i + … +x2n +Y2

.

.

.

Xi = xi1 + xi2 + … + xii + … +xin +Yi (B-2)

.

.

.

Xn = xn1 + xn2 + … + xni + … +xnn +Yn

Os elementos x representam as vendas do sector i, significando i’s compras dos produtos dos

vários sectores da economia. Para além das compras interindústria ou inputs para produção, cada

sector paga por outros items, tais como trabalho e capital e usa outros inputs como a Variação de

Produção. Todos esses items determinam o Valor Acrescentado no sector i. Adicionalmente, os

bens importados podem ser igualmente adquiridos pelo sector i.

99

A Tabela de Transacções revela uma muito útil visão global da estrutura duma economia,

mas descrevendo apenas a situação corrente, sendo por isso pouco útil em termos de análise

económica. Para utilizar os dados da tabela em termos de análise analítica, por forma a

evidenciar as variações da produção em resposta a alterações estruturais na infra-estrutura

económica, temos de construir a Tabela de Coeficientes Técnicos.

Essa tabela discrimina os valores adquiridos por todos os sectores económicos por unidade

monetária de output dum sector particular, em outras palavras, o resultado da Função de

Produção para cada sector produtivo da economia. Por exemplo, para um dado sector A, os

coeficientes técnicos representam o valor das compras a fazer pelo sector A, para que possa

produzir uma unidade monetária de output. Os coeficientes técnicos podem ser calculados

dividindo todas as entradas em cada coluna dum sector pelo total desse sector. Se , da Tabela de

Transacções xij , representa o valor da vendas do sector i para o sector j e xj o ouput total do

sector j, os coeficientes técnicos ( descritos como aij) para cada sector pode ser calculado usando

a equação:

X

x a

j

ij

ij (B-3)

O conjunto de todos os coeficientes técnicos duma dada economia formatados numa tabela

rectangular , é chamada de matriz estrutural ou matriz de coeficientes técnicos dessa economia.

Essa tabela é suficiente para determinar quantitativamente a visão num dado momento da

estrutura interna dessa economia. Se pretendermos comparar estruturalmente duas economias

num mesmo período de tempo ou da mesma economia em períodos diferentes, basta comparar os

respectivos coeficientes técnicos. A dificuldade pode advir da forma como tais tabelas foram

organizadas originalmente (Leontief, 1986), razão porque é importante a existência de entidades

supra-nacionais que normalizem essa classificação. Igualmente para a mesma economia, dado

que as tabelas são construídas a preços de mercado, torna-se necessário, para as diferentes séries

temporais, proceder à deflação/inflação dos valores monetários constantes da Tabela de

Transações, isto é, convertê-las para uma qualquer base a preços constantes.

6.3 Tabela de Coeficientes Técnicos ou Matriz Estrutural

100 LISTA DE TABELAS

Com esta tabela, para uma dada economia, é possível calcular a procura secundária do ouput

induzida nos outros sectores e sucessivamente para ouputs sucessivos, até que o efeito na procura

final possa ser evidenciado (Leontief,1986). O efeito dum qualquer evento num determinado

ponto é transmitido ao resto da economia passo a passo através da cadeia de transacções que une

todo o sistema e de forma recursiva.

Esta é a matriz mais importante das 3 matrizes de I-O do ponto de vista da análise económica. Os

seus coeficientes ou elementos medem o output total ( directo e indirecto ) necessário de todos os

sectores, para que cada um em particular possa contribuir uma unidade monetária para a procura

final. Por outras palavras, mede o impacto total da mudança do output dum sector particular, no

output de todos os outros sectores depois de todos os sucessivos aumentos de output terem sido

efectuados. A sua formulação algébrica é a seguinte:

De uma forma geral, o fluxo de produção, toma a seguinte forma:

f f f f f Ax F Ax m x EVIG C (B-4)

Sendo que a parte esquerda, x + m, representa o total da oferta de bens desse sector e a parte

direita o total da Procura desses bens.

Sendo:

x vector-n , Output Total por sector;

m vector-n, Importações por sector;

A matriz n × n, Matriz de Coeficientes Técnicos; o elemento Ij da matriz mostra quanto do

output desse sector é usado como input para o sector j por unidade de output;

F vector-n , Consumo Final do sector;

fC Consumo Privado do sector, incluindo “households” e consumo privado de instituições sem

fins lucrativos;

6.4 Matriz de Coeficientes Interdependentes

101

fG Consumo público;

fI Formação Bruta de Capital Fixo por sector (Investmento);

fV variações da produção (inventário), mais erros estatísticos;

fE Exportações.

A equação anterior permite-nos determinar o total de ouput duma economia dados os níveis da

Procura Final ( Consumo privado e público, exportações, etc).

Tal como foi ditto anteriormente, as interrelações indústriais entre sectores são definidos como

aij = xij/Xj. Esta expressão pode ser reformulada como: xij= aij . Xj, significando que o nível das

vendas do sector i ao sector j depende do nível de ouput no sector j (Xj) e o coeficiente técnico

dos do sector j e do sector i (aij). Sendo, F, o vector final da Procura que contém as variações

monetárias na procura final de cada sector; A, a matriz de coeficientes técnicos e X um vector

representativo das variações globais no output por sector, duma economia com apenas 3

sectores produtivos, por exemplo, as transacções dessses sectores produtivos podem ser escritos

como um conjunto de 3 equações simultâneas:

x11 + x12 + x13 + F1 = X1

x21 + x22 + x23 + F2 = X2 (B-5)

x31 + x32 + x33 + F3 = X3

onde,

xij vendas do sector i ao sector j

Fi vendas do sector i para a procura final

Xi output total do sector i

Substituindo a equação xij= aij . Xj na equação (B-5) e rearranjando as equações para o sector

produtivo (i = 1, …, 3),

a11X1 + a12X2 + a13X3 + F1 = X1

a21X1 + a22X2 + a23X3 + F2 = X2 (B-6)

a31X1 + a32X2 + a33X3 + F3 = X3

102 LISTA DE TABELAS

A equação anterior revela a interdependência de cada sector de todos os outros sectores dado que

mostra que o nível de output em cada sector depende do nível de output dos outros, dos inputs

necessários para cada sector e do nível da sua procura final. Assumindo uma procura final (Fi)

exógena aos sectores produtivos:

X1 – a11X1 – a12X2 – a13X3 = F1

-a12X2 + X2 – a22X2 – a33X3 = F2 (B-7)

-a31X1 + a32X2 + X3 – a33X3 = F3

ou,

(1 – a11)X1 – a12X2 – a13X3 = F1

-a21X1 + (1 – a22)X2 – a23X3 = F2 (B-8)

-a31X1 – a32X2 + (1 – a33)X3 = F3

O sistema pode ser simplificado recorrendo a uma notação matricial,

3

2

1

1

333231

232221

131211

3

2

1

*

1

1

1

F

F

F

aaa

aaa

aaa

X

X

X

ou

(I – A) X = F (B-9)

A solução que expressa o output de cada sector (X) como função da procura final (F) pode ser

encontrada recorrendo a seguinte manipulação:

Pré-multiplicando por (I – A)-1

temos:

X = (I – A)-1

F (B-10)

A equação anterior é a solução para um sistema I-O pensando em que podemos encontrar os

níveis de output de todos os sectores necessários para suportar um nível particular da procura

103

final em todos os sectores. A matriz (I – A)-1

é chamada de Matriz de Leontief ou Matriz de

Coeficientes Interdependentes e os seus elementos medem os níveis de output directos e

indirectos de cada um dos sectores da economia necessários para satisfazer um determinado

nível da procura final.

A matriz de Leontief é igualmente referida como a Matriz de Multiplicadores dado que revela os

requisitos directos e indirectos de input-ouput por unidade da procura final sectorial. Deste ponto

de vista a equação (B-10) pode ser vista como um processo interactivo de ajustamentos

progressivos de output para a procura final dos requesitos de input, significando que pode ser

expandida até uma série infinita de transacções intersectoriais:

X = (I + A + A2 + A

3 + … + A

n-1) F (B-11)

O primeiro componente da parte direita da equação( B-11) dá-nos os outputs directos necessários

para atingir o vector da procura final (F). O segundo elemento dá-nos o output directo necessário

para satisfazer, na segunda volta, o vector da procura intermédia, AF, necessário para a produção

do vector F na volta anterior; O terceiro componente dá-nos o ouput directo necessário para o

vector de consumo intermédio A2F, necessário para a produção do vector AF na volta anterior; e

assim sucessivamente num processo recursivo, até que o processo decaia e a soma da série

convirja para a matriz de multiplicadores (I-A)-1

.

Convém notar que a equação (B-10) dá-nos o output total (X) necessário para satisfazer um

determinado aumento ou decréscimo na Procura Final (F), sendo vantajoso examinar como é que

a produção se modifica em resposta a uma determinada variação na procura final. Se for

necessário determiner o valor do ouput final produzido na economia decorrente do valor real da

procura final e não somente a sua variação, temos de usar a equação (B-4).

O modelo acima é um modelo estático, cruzado no tempo, em que modificações na economia ao

longo de períodos diferentes de tempo têm de ser comparados a partir de situações estáticas em

cada momento.

104 LISTA DE TABELAS

A dinâmica pode ser introduzida tendo em consideração o comportamento do Investimento

explicitando as regras de passagem dum determinado período para o seguinte. A equação (B-10)

torna-se então no caso bem conhecido do Modelo Dinâmico de Leontief:

X(t) = Ax (t) + B (x(t+1) – x(t)) + F*(t) (B-12)

Em que o vector F*(t) representa a procura final depois do investimento em novo capital ter sido

retirado e a matriz B, i(t)=k(t+1)-k(t)=B (x(t+1)-x(t)), é a matriz de coeficientes de capital, que

representa o novo capital necessário por sectores para conseguir uma unidade de mudança no

output do vector final de outputs.

Mas como refere (Leontief, 1986) a propósito dos modelos dinâmicos de I-O:

“…The dynamic models of the economy are much closer to the actual processes of economics,

however it requires for stocks as well as flow of goods, for inventories of goods in process and in

finished form, for capital equipment, for buildings, and for dwellings and household stocks of

durable consumer goods. The dynamic input-output analysis requires more advanced

mathematical methods for instance, instead of ordinary linear equations, it leads to systems of

linear differential equations. Among the questions the dynamic system should make it possible to

answer, one could mention the determination of the changing pattern of outputs and inventories

or investments and capacities that would attend a given pattern of growth in final demand

projected over a five or ten-year period”.

105

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