Cristianismo

23
Cristianismo Introdução O cristianismo se iniciou como uma seita (ritual) judaica e, como tal, da mesma maneira que o próprio judaísmo ou o islamismo, é classificada como uma religião abraâmica. Após se originar no Mediterrâneo Oriental, rapidamente se expandiu em abrangência e influência, ao longo de poucas décadas; no século IV já havia se tornado a religião dominante no Império Romano. Durante a Idade Média a maior parte da Europa foi cristianizada, e os cristãos também seguiram sendo uma significante minoria religiosa no Oriente Médio, Norte da África e em partes da Índia. 12 Depois da Era das Descobertas, através de trabalho missionário e da colonização, o cristianismo se espalhou para as Américas e pelo resto do mundo. O cristianismo desempenhou um papel de destaque na formação da civilização ocidental pelo menos desde o século IV. No início do século XXI o cristianismo conta com entre 2,3 bilhões de fiéis, representando cerca de um quarto a um terço da população mundial, e é uma das maiores religiões do mundo. O cristianismo também é a religião de Estado de diversos países. Definição Cristianismo é uma religião abraâmica monoteísta centrada na vida e nos ensinamentos de Jesus de Nazaré, tais como são apresentados no Novo Testamento. A cristã acredita essencialmente em Jesus como o Cristo, Filho de Deus, Salvador e Senhor. A religião cristã tem três vertentes principais: o Catolicismo Romano (subordinado ao bispo romano), a Ortodoxia Oriental (se dividiu de Roma em 1054 após o Grande Cisma) e o protestantismo (que surgiu durante a Reforma do século XVI). O protestantismo é dividido em grupos menores chamados de denominações. Os cristãos acreditam que Jesus Cristo é o Filho de Deus que se tornou homem e o Salvador da humanidade, morrendo pelos pecados do mundo. Geralmente, os cristãos se referem a Jesus como o Cristo ou o Messias. Os seguidores do cristianismo, conhecidos como cristãos, acreditam que Jesus seja o Messias profetizado na Bíblia Hebraica. A teologia cristã ortodoxa (rigorosa, rígida) alega que Jesus teria sofrido, morrido e ressuscitado para abrir o caminho para o céu aos humanos; Os cristãos acreditam que Jesus teria ascendido aos céus, e a maior parte das denominações ensina que Jesus irá retornar para julgar todos os seres humanos, vivos e mortos, e conceder a imortalidade aos seus seguidores. Jesus também é considerado para os cristãos como modelo de uma vida virtuosa, e tanto como o revelador quanto a 1

Transcript of Cristianismo

Cristianismo

Introdução

O cristianismo se iniciou como uma seita (ritual) judaica e, comotal, da mesma maneira que o próprio judaísmo ou o islamismo, éclassificada como uma religião abraâmica. Após se originar noMediterrâneo Oriental, rapidamente se expandiu em abrangência einfluência, ao longo de poucas décadas; no século IV já havia setornado a religião dominante no Império Romano. Durante a IdadeMédia a maior parte da Europa foi cristianizada, e os cristãostambém seguiram sendo uma significante minoria religiosa no OrienteMédio, Norte da África e em partes da Índia.12 Depois da Era dasDescobertas, através de trabalho missionário e da colonização, ocristianismo se espalhou para as Américas e pelo resto do mundo.

O cristianismo desempenhou um papel de destaque na formação dacivilização ocidental pelo menos desde o século IV. No início doséculo XXI o cristianismo conta com entre 2,3 bilhões de fiéis,representando cerca de um quarto a um terço da população mundial, eé uma das maiores religiões do mundo. O cristianismo também é areligião de Estado de diversos países.

Definição

Cristianismo é uma religião abraâmica monoteísta centrada na vida enos ensinamentos de Jesus de Nazaré, tais como são apresentados noNovo Testamento. A fé cristã acredita essencialmente em Jesus como oCristo, Filho de Deus, Salvador e Senhor. A religião cristã tem trêsvertentes principais: o Catolicismo Romano (subordinado ao bisporomano), a Ortodoxia Oriental (se dividiu de Roma em 1054 após oGrande Cisma) e o protestantismo (que surgiu durante a Reforma doséculo XVI). O protestantismo é dividido em grupos menores chamadosde denominações. Os cristãos acreditam que Jesus Cristo é o Filho deDeus que se tornou homem e o Salvador da humanidade, morrendo pelospecados do mundo. Geralmente, os cristãos se referem a Jesus como oCristo ou o Messias.

Os seguidores do cristianismo, conhecidos como cristãos, acreditamque Jesus seja o Messias profetizado na Bíblia Hebraica. A teologiacristã ortodoxa (rigorosa, rígida) alega que Jesus teria sofrido,morrido e ressuscitado para abrir o caminho para o céu aos humanos;Os cristãos acreditam que Jesus teria ascendido aos céus, e a maiorparte das denominações ensina que Jesus irá retornar para julgartodos os seres humanos, vivos e mortos, e conceder a imortalidadeaos seus seguidores. Jesus também é considerado para os cristãoscomo modelo de uma vida virtuosa, e tanto como o revelador quanto a

1

encarnação de Deus. Os cristãos chamam a mensagem de Jesus Cristo deEvangelho ("Boas Novas"), e por isto referem-se aos primeiros relatosde seu ministério como evangelhos.

Principais crenças

Embora existam diferenças entre os cristãos sobre a forma comointerpretam certos aspectos da sua religião, é também possívelapresentar um conjunto de crenças que são partilhadas pela maioriadeles.

Monoteísmo

Existência de um único Deus, criador do universo, acredita-se queEle é onipotente, a onipresente, onisciente e amoroso, Deus amatodas as pessoas e essas podem estabelecer uma relação pessoal comEle através da oração.

A Santíssima Trindade, isto é, que Deus é um ser eterno que existecomo três pessoas eternas, distintas e indivisíveis: o Pai, o Filhoe o Espírito Santo.

Jesus

O cristianismo reconhece Jesus como o Filho de Deus que veio à Terralibertar e salvar os seres humanos do pecado através da sua morte nacruz e da sua ressurreição,

os cristãos reconhecem a importância dos ensinamentos morais deJesus, entre os quais salientam o amor a Deus e ao próximo, econsideram a sua vida como um exemplo a seguir.

A salvação

O cristianismo acredita que a fé em Jesus Cristo proporciona aosseres humanos a salvação e a vida eterna. «Pois Deus amou ao mundo de talmaneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenhaa vida eterna.»

A vida depois da morte

As visões sobre o que acontece após a morte dentro do Cristianismovariam entre as denominações. A Igreja Católica considera aexistência do céu, para onde vão os justos, do inferno, para ondevão os pecadores que não se arrependeram, e do purgatório, que é umestágio de purificação, mas não um terceiro lugar, para os pecadores

2

que morreram em estado de Graça, ou seja, já estão salvos eesperando um tempo indeterminado para ir para o céu.

As igrejas orientais, bem como algumas igrejas protestantes,consideram a existência apenas do céu e do inferno. Dentro doProtestantismo, a maior parte das denominações acredita que osmortos serão ressuscitados no Juízo Final, quando então serãojulgados, sendo que os pecadores serão definitivamente mortos e osjustos viverão junto a Cristo na imortalidade.

Já as denominações do Cristianismo Esotérico (oculto ou misterioso)são reencarnacionistas e ponderam que nenhum homem é totalmente bomnem totalmente mau, e após a morte sofrerão as consequências do beme do mal que tenham praticado em vida, atingindo a perfeição com assucessivas encarnações.

A Igreja

O cristianismo acredita na Igreja, palavra de origem grega quesignifica "assembleia", entendida como a comunidade de todos oscristãos e como corpo místico de Cristo presente na Terra e suacontinuidade. As principais igrejas ligadas ao cristianismo são: aIgreja Católica Romana, as Igrejas Protestantes e a Igreja Ortodoxa.

O Credo (doutrina) de Niceia

O Credo de Niceia, formulado nos concílios de Niceia eConstantinopla, foi ratificado como credo universal da Cristandadeno Concílio de Éfeso de 431.

As crenças principais declaradas no Credo de Niceia são:

A crença na Trindade; Jesus é simultaneamente divino e humano; A salvação é possível através da pessoa, vida e obra de Jesus; Jesus Cristo foi concebido de forma virginal, foi crucificado,

ressuscitou, ascendeu ao céu e virá de novo à Terra; A remissão dos pecados é possível através do baptismo; Os mortos ressuscitarão.

Escrituras sagradas

A Bíblia é o principal conjunto de escrituras do Cristianismo.Entretanto, há algumas divergências a respeito de determinadasescrituras, chamadas deuterocanónicas, que não são aceitas por todas ascorrentes. Para certas denominações, há algumas outras escriturasque foram divinamente inspiradas. Os membros da Igreja de JesusCristo dos Santos dos Últimos Dias atribuem a três livros a

3

qualidade de terem sido inspirados por Deus; esses livros são oLivro de Mórmon, a Doutrina e Convénios e a Pérola de Grande Valor.

Para os Adventistas do Sétimo Dia os escritos de Ellen G. White sãouma manifestação profética que, contudo, não se encontra ao mesmonível que a Bíblia.

Culto

As formas de culto do cristianismo envolvem oração, leituraalternada de salmos ou de passagens bíblicas tais como as de livrosdo Antigo Testamento, os Evangelhos, as Epístolas e/ou o Apocalipse.Cantam-se hinos a Deus, o Pai, Jesus ou ao Espírito Santo e aosanjos e santos entre católicos romanos, episcopais e ortodoxos. Acerimónia da eucaristia é praticada diariamente ou semanalmente porcatólicos, luteranos, episcopais ou anglicanos e ortodoxos).

Já a equivalente Ceia do Senhor pratica-se mensal, trimensal ouanualmente por diversas igrejas entre os protestantes. Sermões sãopregados pelo sacerdote, pastor, ancião, ministro ou outros líderes.A maioria das denominações cristãs consagra o Domingo como dia deculto. Há denominações que consideram o Sábado dia santo de guarda,entre elas Baptistas do Setimo Dia, Adventistas, Igrejas de Deus(7.o dia) e Judeus Messiânicos.

Igrejas como a Luterana, a Metodista, a Presbiteriana e aEpiscopal/Anglicana que administram batismo a recém-nascidos tambémadotam a confirmação quando a criança tem mais entendimento paraassumirmos a responsabilidade pela sua religiosidade. Batistas,Adventistas, Pentecostais e outros optam por uma dedicação do bebêao Senhor e só batizam quem é maduro o suficiente para decidir porsi mesmo que querem realmente abraçar a fé.

Concepções do cristianismo

Considera-se três períodos que definem a concepção do cristianismo:

- Cristianismo primitivo: caracterizado por uma heterogeneidade deConcepções;- Patriacal: ocorrida no período entre os séculos II e VIII, com atransformação da nova religião em uma Igreja oficial do ImpérioRomano fundada por Constantino e a formação de um cleroinstitucionalizado, e cujo doutrinário expoente foi Santo Agostinho;- Escolástica (modesta): a partir do século VIII e cujo expoente foiSão Tomás de Aquino, que afirmou que fé e razão podem serconciliadas, sendo a razão um meio de entender a fé.

Símbolos

4

- O principal símbolo do cristianismo é a cruz;- O peixe estilizado, sendo também um acrónimo de Jesus Cristo filhode Deus Salvador;- O Alfa e o Ómega (primeira e última letras do alfabeto grego, emreferência a Cristo como princípio e fim de todas as coisas), docristianismo primitivo;- A âncora (representando a salvação da alma que alcançou o bomporto);- O "Bom Pastor", a representação de Cristo como o dedicado pastorde suas ovelhas.

Calendário litúrgico e festividades

Os cristãos atribuem a determinado dia do calendário uma importânciareligiosa. Estes dias estão ligados à vida de Jesus Cristo ou àhistória dos primórdios do movimento cristão.

Advento: período constituído pelas quatro semanas antes doNatal, entendidas como época de preparação para a celebraçãodo nascimento de Jesus Cristo;

Natal: celebração do nascimento de Jesus; Epifania: para os católicos, celebra a adoração de Jesus

Cristo pelos Reis Magos, enquanto para os cristãos ortodoxos oseu baptismo acontece doze dias após o Natal;

Sexta-feira Santa: morte de Jesus; Domingo de Páscoa: ressurreição de Jesus; Ascensão: ascensão de Jesus ao céu. Acontece quarenta dias

após o Domingo de Páscoa; Pentecostes: celebração do aparecimento do Espírito Santo aos

cristãos. Ocorre cinquenta dias após o Domingo de Páscoa.

Alguns dias têm uma data fixa no calendário (como o Natal, celebradoa 25 de Dezembro), enquanto outros se movem ao longo de váriasdatas. O período mais importante do calendário litúrgico é a Páscoa,que é uma festa móvel. Nem todas denominações cristãs concordam emrelação a que datas atribuir importância. Por exemplo, o Dia deTodos-os-Santos é celebrado pela Igreja Católica e pela IgrejaAnglicana a 1 de Novembro, enquanto que para a Igreja Ortodoxa adata é celebrada no primeiro Domingo depois do Pentecostes; outrasdenominações cristãs não celebram sequer este dia. De igual forma,alguns grupos protestantes recusam celebrar o Natal uma vez queconsideram ter origens pagãs.

Cristianismo primitivo

Segundo a religião judaica, o Messias, um descendente do Rei Davi,iria um dia aparecer e restaurar o Reino de Israel. Na Palestina,por volta de 26 d.C., Jesus Cristo, nascido na cidade de Belém naJudeia. Na Galileia começou a pregar, sendo aclamado por alguns como

5

o Messias. Jesus foi rejeitado, tido por apóstata (renegado) pelasautoridades judaicas. Foi condenado por blasfémia (Impiedade) eexecutado pelos romanos como um líder rebelde. Seus seguidoresenfrentaram dura oposição político-religiosa, tendo sido perseguidose martirizados, pelos líderes religiosos judeus, e, mais tarde, peloEstado Romano.

Características

- A fé cristã propõe que a mensagem de Deus destina-se a toda ahumanidade e não apenas ao seu povo escolhido; - A perseguição religiosa empreendida por judeus conservadores, epelo Estado Romano; - O espírito missionário e determinação em divulgar o que Cristohavia.

A narrativa da perseguição religiosa, da dispersão dela decorrente,da expansão do cristianismo entre não-judeus e da subsequenteabolição da obrigatoriedade dos ritos judaicos pode ser lida nolivro de Atos dos Apóstolos. De resto, os cristãos adotam as regrase os princípios do Antigo Testamento, livro sagrado dos Judeus.

Em Junho do ano 66 inicia-se a revolta judaica. Em Setembro do mesmoano a comunidade cristã de Jerusalém decide separar-se dos judeusinsurrectos, seguindo a advertência dada por Jesus de que quandoJerusalém fosse cercada por exércitos a desolação dela estariapróxima, e exila-se em Pela, na Transjordânia, o que representa osegundo momento de ruptura com o judaísmo.

Após a derrota dos judeus em 70, cristãos e outros grupos judeustrilham caminhos cada vez mais separados. Para o cristianismo operíodo que se abre em 70 e que segue até aproximadamente 135caracteriza-se pela definição da moral e fé cristã, bem como deorganização da hierarquia e da liturgia. No Oriente, estabelece-se oepiscopado monárquico: a comunidade é chefiada por um bispo, rodeadopelo seu presbitério e assistido por diáconos.

Gradualmente, o sucesso do cristianismo junto das elites romanas fezdeste um rival da religião estabelecida. Embora desde 64, quandoNero mandou supliciar (matar, crucificar) os cristãos de Roma, setivessem verificado perseguições ao cristianismo, estas eramirregulares. As perseguições organizadas contra os cristãos surgem apartir do século II: em 112 Trajano fixa o procedimento contra oscristãos. Para além de Trajano, as principais perseguições foramordenadas pelos imperadores Marco Aurélio, Décio, Valeriano eDiocleciano. Os cristãos eram acusados de superstição e de ódio aogénero humano. Se fossem cidadãos romanos eram decapitados; se não,podiam ser atirados às feras ou enviados para trabalhar nas minas.her

6

Durante a segunda metade do século II assiste-se também aodesenvolvimento das primeiras heresias (é a doutrina ou linha depensamento contrária ou diferente de um credo ou sistema de um oumais credos religiosos). Tatiano, um cristão de origem síriaconvertido em Roma, cria uma seita gnóstica que reprova o casamentoe que celebrava a eucaristia com água em vez de vinho. Marciãorejeitava o Antigo Testamento, opondo o Deus vingador dos judeus, aoDeus bondoso do Novo Testamento, apresentado por Cristo; eleelaborou um Livro Sagrado, o Evangelho de Marcião, feito a partir depassagens retiradas do Evangelho de Lucas e das epístolas paulinas.À medida que o cristianismo criava raízes mais fortes na parteocidental do Império Romano, o latim passa a ser usado como línguasagrada (nas comunidades do Oriente usava-se o grego).

Durante o século III, com o relaxamento da intolerância aoscristãos, a Igreja havia conseguido muitos donativos e bens 24 .Porém com o fortalecimento da perseguição pelo imperadorDiocleciano, esses bens foram confiscados.24 Posteriormente com aderrota de Diocleciano e a ascensão do imperador romano Constantino,o cristianismo foi legalizado pelo Édito de Milão de 313, e os bensda Igreja devolvidos.24

A questão da conversão de Constantino ao Cristianismo é uma tema deprofundo debate entre os historiadores, mas em geral aceita-se que asua conversão ocorreu gradualmente. Como maneira de fazer penitência24 25 , Constantino ordenou a construção de diversas basílicas eoutros templos e as doou à Igreja 24 . Dentre elas, uma basílica emRoma no local onde, segundo a Tradição, o apóstolo Pedro estavasepultado e, influenciado pela sua mãe, a imperatriz Helena, ordenaa construção em Jerusalém da Basílica do Santo Sepulcro e daBasílica da Natividade em Belém.

Para evitar mais divisões na Igreja, Constantino convocou o PrimeiroConcílio de Niceia em 325, onde se definiu o Credo Niceno, umamanifestação mínima da crença partilhada pelos bispos cristãos.24

Mais tarde, nos anos de 391 e 392, o imperador Teodósio I combate opaganismo, proibindo o seu culto e proclamando o cristianismoreligião oficial do Império Romano.

Idade média

O lado ocidental do Império cairia em 476, ano da deposição doúltimo imperador romano pelo "bárbaro" germânico Odoacro, mas ocristianismo permaneceria triunfante em grande parte da Europa, atéporque alguns bárbaros já estavam convertidos ao cristianismo ou

7

viriam a converter-se nas décadas seguintes. O Império Romano tevedesta forma um papel instrumental na expansão do cristianismo.

Do mesmo modo, o cristianismo teve um papel proeminente namanutenção da civilização europeia. A Igreja, única organização quenão se desintegrou no processo de dissolução da parte ocidental doimpério, começou lentamente a tomar o lugar das instituições romanasocidentais, chegando mesmo a negociar a segurança de Roma durante asinvasões do século V. A Igreja também manteve o que restou de forçaintelectual, especialmente através da vida monástica.

Embora fosse unida linguisticamente, a parte ocidental do ImpérioRomano jamais obtivera a mesma coesão da parte oriental (grega).Havia nele um grande número de culturas diferentes que haviam sidoassimiladas apenas de maneira incompleta pela cultura romana. Masenquanto os bárbaros invadiam, muitos passaram a comungar da fécristã. Por volta dos séculos IV e X, todo o território que antespertencera ao ocidente romano havia se convertido ao cristianismo eera liderado pelo Papa. Missionários cristãos avançaram ainda maisao norte da Europa, chegando a terras jamais conquistadas por Roma,obtendo a integração definitiva dos povos germânicos e eslavos.

Em 1095, sob o pontificado de Urbano II, as Cruzadas foramlançadas.26 Estas foram uma série de campanhas militares na TerraSanta e em outros lugares, iniciadas em resposta aos apelos doimperador bizantino Aleixo I Comneno contra a expansão turca. AsCruzadas acabaram fracassando em abafar a agressão islâmica e atémesmo contribuiu para a inimizade cristã com o saque deConstantinopla durante a Quarta Cruzada.27

Durante um período que se estende do século VII ao XIII, a igrejacristã passou por uma alienação gradual, resultando em um cisma quedividiu o cristianismo em um ramo chamado latino ou ocidental, aIgreja Católica Romana,28 e um ramo oriental, em grande parte grego,a Igreja Ortodoxa. Estas duas igrejas discordam sobre uma série deprocessos e questões administrativas, litúrgicas e doutrinais,principalmente a primazia da jurisdição papal.29 30 O Segundo Concíliode Lyon (1274) e o Concílio de Florença (1439) tentaram reunir asigrejas, mas em ambos os casos, os ortodoxos orientais se recusarama implementar as decisões e as duas principais igrejas permanecem emcisma até os dias atuais. No entanto, a Igreja Católica Romana temalcançado união com várias pequenas igrejas orientais.

Começando por volta de 1184, após a cruzada contra a heresia doscátaros,31 várias instituições, amplamente referidas como aInquisição, foram estabelecidas com o objetivo de suprimir a heresiae assegurar a unidade religiosa e doutrinária dentro do cristianismoatravés da conversão e repressão.32

8

Reforma Protestante e Contrarreforma (Transformação do cristianismo)

O Renascimento do século XV trouxe um renovado interesse em estudosantigos e clássicos. Outra grande cisma, a Reforma, resultou nadivisão da cristandade ocidental em várias denominações cristãs.33 Em1517, Martinho Lutero protestou contra a venda de indulgências elogo passou a negar vários pontos-chave da doutrina católica romana.Outros, como Zwingli e Calvino ainda criticaram o ensino católicoromano e adoração. Estes desafios desenvolveram no movimento chamadode protestantismo, que repudiou o primado do papa, o papel daTradição, os sete sacramentos e outras doutrinas e práticas34 (ver:Cinco solas). A Reforma na Inglaterra começou em 1534, quando o ReiHenrique VIII tinha se declarado chefe da Igreja da Inglaterra. Noinício em 1536, os mosteiros por toda a Inglaterra, País de Gales eIrlanda foram dissolvidos.35

Em parte como resposta à Reforma Protestante, a Igreja CatólicaRomana engajou-se em um processo significativo de reforma erenovação, conhecido como Contrarreforma ou Reforma Católica.36 OConcílio de Trento reafirmou e clarificou a doutrina católicaromana. Durante os séculos seguintes, a concorrência entre ocatolicismo romano e o protestantismo tornou-se profundamenteenvolvida com as lutas políticas entre os Estados europeus.37

Enquanto isso, a descoberta da América por Cristóvão Colombo em 1492provocou uma nova onda de atividade missionária. Em parte de zelomissionário, mas sob o impulso da expansão colonial pelas potênciaseuropeias, o cristianismo se espalhou para as Américas, Oceania,Ásia Oriental e África Subsaariana.

Em toda a Europa, as divisões causadas pela Reforma levou a surtosde violência religiosa e o estabelecimento de igrejas separadas doEstado na Europa Ocidental: o luteranismo em partes da Alemanha e naEscandinávia e o anglicanismo na Inglaterra em 1534. Em últimainstância, essas diferenças levaram à eclosão de conflitos em que areligião desempenhou um papel chave. A Guerra dos Trinta Anos, aGuerra Civil Inglesa e as Guerras religiosas na França são exemplosproeminentes. Estes eventos intensificaram o debate sobre aperseguição cristã e tolerância religiosa.38

Pós-iluminismo

Na era conhecida como a Grande Divergência, quando no ocidente oIluminismo e a revolução científica trouxeram grandes mudançassociais, o cristianismo foi confrontado com várias formas deceticismo e com certas ideologias políticas modernas, como asversões do socialismo e do liberalismo.39 Nessa época, eventos quevariaram do mero anticlericalismo à explosões de violência contra ocristianismo, como a descristianização durante a Revolução

9

Francesa,40 a Guerra Civil Espanhola, e a hostilidade geral dosmovimentos marxistas, especialmente da Revolução Russa de 1917 (ver:Ateísmo Marxista-leninista).

Especialmente premente na Europa foi a formação dos Estados-naçãoapós a era napoleônica. Em todos os países europeus, diferentesdenominações cristãs encontraram-se em competição, em maior ou menorgrau, umas com as outras e com o Estado. Variáveis são os tamanhosrelativos das denominações e da orientação religiosa, política eideológica do Estado. Urs Altermatt da Universidade de Friburgo,olhando especificamente para o catolicismo na Europa, identificaquatro modelos para as nações europeias. Em países tradicionalmentecatólicos, como Bélgica, Espanha, e até certo ponto a Áustria,comunidades religiosas e nacionais são mais ou menos idênticas. Asimbiose cultural e a separação são encontradas na Polônia, Irlandae Suíça, todos os países com denominações concorrentes. A competiçãoé encontrada na Alemanha, nos Países Baixos e novamente na Suíça,todos os países com populações minoritárias católicas que, em maiorou menor grau, se identificam com a nação. Finalmente, a separaçãoentre a religião (mais uma vez, especificamente o catolicismo) e doEstado é encontrada em grande parte na França e Itália, países ondeo Estado se opôs-se à autoridade da Igreja Católica.41 Os fatorescombinados da formação de Estados-nação e do ultramontanismo,especialmente na Alemanha e nos Países Baixos, mas também naInglaterra (em uma escala muito menor42 ), muitas vezes forçou asigrejas católicas, organizações, e crentes a escolher entre asdemandas nacionais do Estado e da autoridade da Igreja,especificamente o papado. Este conflito veio à tona no ConcílioVaticano I e na Alemanha levaria diretamente ao Kulturkampf, onde osliberais e os protestantes sob a liderança de Bismarck conseguiramrestringir severamente expressão e organização católica.

O compromisso cristão na Europa caiu com a modernidade e osecularismo entrou na na Europa Ocidental, embora os compromissosreligiosos na América têm sido geralmente altos em comparação com aEuropa Ocidental. O final do século XX demonstrou a mudança deaderência cristã para os países subdesenvolvidos e emdesenvolvimento e do hemisfério sul em geral, sendo a civilizaçãoocidental não mais a portadora do padrão do cristianismo.

Alguns europeus (incluindo a diáspora), os povos indígenas dasAméricas e os nativos de outros continentes, reavivaram as suasrespectivas religiões folclóricas do seus povos (ver: Neopaganismo).Cerca de 7,1 a 10% dos árabes são cristãos,43 sendo mais prevalentesno Egito, Síria e Líbano.

.

Demografia( comunidade)10

Nações que têm o cristianismo como religião estatal (os países emverde são islâmicos):   Igreja Ortodoxa  Protestantismo e Anglicanismo  Igreja Católica

Com cerca de 2,3 bilhões de adeptos,14 15 16 dividida em três ramosprincipais de católicos, protestantes e ortodoxos, o cristianismo éa maior religião do mundo.44 A parte cristã da população mundialrepresenta cerca de 33% da humanidade nos últimos cem anos, o quesignifica que uma em cada três pessoas no mundo são cristãs. Issomascara uma grande mudança na demografia do cristianismo; grandesaumentos no mundo em desenvolvimento (cerca de 23.000 por dia) têmsido acompanhados por reduções substanciais no mundo desenvolvido,principalmente na Europa e América do Norte (cerca de 7.600 pordia)..45 O cristianismo ainda é a religião predominante na Europa,Américas e África Austral. Na Ásia, é a religião dominante naGeórgia, Armênia, Timor-Leste e Filipinas.46 No entanto, ele está emdeclínio em muitas áreas, incluindo o norte e o oeste dos EstadosUnidos,47 Oceania (Austrália e Nova Zelândia), no norte da Europa(incluindo o Reino Unido,48 Escandinávia e outros lugares), França,Alemanha, as províncias canadenses de Ontário, Colúmbia Britânica eQuebec, e partes da Ásia (especialmente no Oriente Médio,49 50 51

Coreia do Sul,52 Taiwan,53 e Macau54 ). A população cristã não estádiminuindo no Brasil, no sul dos Estados Unidos55 e na província deAlberta, no Canadá,56 mas o percentual está diminuindo. Em paísescomo a Austrália57 e a Nova Zelândia,58 a população cristã está emdeclínio tanto em números quanto em percentual.

No entanto, há muitos movimentos carismáticos que se tornaram bemestabelecidos em grandes partes do mundo, especialmente na África,América Latina e Ásia.59 60 61 62 63 O líder muçulmano da ArábiaSaudita, Sheikh Ahmad al Qatanni, informou para a Aljazeera quetodos os dias 16.000 muçulmanos africanos se convertem aocristianismo. Ele alegou que o islã estava perdendo 6 milhões demuçulmanos africanos que tornam-se cristãos por ano,64 65 66 67 68

incluindo os muçulmanos na Argélia,69 França,69 Índia,69 Marrocos,69

Rússia69 e na Turquia.69 70 Também é relatado que o cristianismo épopular entre pessoas de diferentes origens na Índia (hindusprincipalmente),71 Malásia,72 Mongólia,73 Nigéria,74 Coreia do Norte eVietnã.75

Na maioria dos países desenvolvidos a frequência à igreja do mundoentre as pessoas que continuam a identificar-se como cristãs vemcaindo ao longo das últimas décadas.76 Algumas fontes visualizam istosimplesmente como parte de um distanciamento dos membros das

11

instituições tradicionais,77 enquanto outros apontam para sinais deum declínio na crença e na importância da religião em geral.78

O cristianismo, de uma forma ou de outra, é a única religião estataldas nações seguintes: Costa Rica (católica romana),79 Dinamarca(luterana evangélica),80 El Salvador (Católica Romana),81 Inglaterra(anglicana),82 Finlândia (Evangélica Luterana e Ortodoxa),83 84

Georgia (Igreja Ortodoxa da Geórgia),85 Grécia (Igreja OrtodoxaGrega),81 Islândia (Luterana Evangélica),86 Liechtenstein (CatólicaRomana),87 Malta (Católica Romana),88 Mônaco (Católica Romana),89

Noruega (Luterana Evangélica),90 e Vaticano (católica romana).91

Existem inúmeros outros países, como o Chipre, que apesar de não teruma igreja estabelecida, continuam a dar reconhecimento oficial auma denominação cristã específica.92

Denominações

As três divisões principais do cristianismo são o catolicismo, aortodoxia e o protestantismo:93 :1494 Existem outros grupos cristãosque não se encaixam perfeitamente em uma destas categoriasprimárias.95 O Credo Niceno é "aceito como autorizado pela IgrejaCatólica Romana, Ortodoxa, Anglicana e as principais igrejasprotestantes."96 Há uma diversidade de doutrinas e práticas entre osgrupos que se autodenominam cristãos. Estes grupos são por vezesclassificados sob denominações, embora por razões teológicas muitosgrupos rejeitam este sistema de classificação.97 Outra distinção queàs vezes é traçada é entre o cristianismo oriental e o cristianismoocidental.

Os mais importantes Ramos do Cristianismo ver • editarRestauracionismoAnabaptistasProtestantismoAnglicanismo(Rito latino)Igreja Católica Romana(Ritos orientais)Igreja Católica OrtodoxaIgrejas não-calcedonianasNestorianismo(Inclui a Igreja Assíria do Oriente e Antiga Igreja do Oriente)Reforma Protestante(século XVI)Cisma do Oriente(século XI)

12

Concílio de Éfeso 431Concílio de Calcedónia 451Cristianismo Primitivo"União"

Catolicismo

A Igreja Católica compreende as igrejas particulares, liderada porbispos, em comunhão com o Papa, o Bispo de Roma, como sua mais altaautoridade em matéria de moral, fé e governança da Igreja.98 99 Como aIgreja Ortodoxa, o Igreja Católica Romana, através da sucessãoapostólica, traça suas origens à comunidade cristã fundada por JesusCristo.100 101 Os católicos defendem que o "una, santa, católica eapostólica" fundada por Jesus subsiste plenamente na Igreja CatólicaRomana, mas também reconhece outras igrejas e comunidades cristãs102

103 e trabalha no sentido da reconciliação entre todos os cristãos.102

A fé católica é detalhada no catecismo da Igreja Católica.104 105

As 2 782 sé episcopais106 são agrupadas em 23 ritos particulares,sendo o maior do rito latino, cada um com tradições distintas emrelação à liturgia e à administração dos sacramentos.107 Com mais de1,1 bilhão de membros batizados, a Igreja Católica é a maior igrejacristã, representando mais da metade de todos os cristãos e um sextoda população mundial.108 109 110

Várias comunidades menores, como o Velha Igreja Católica e asIgrejas Católicas Independentes, incluem a palavra católica em seutítulo e têm muito em comum com o catolicismo romano, mas já nãoestão em comunhão com a Sé de Roma. A Igreja Católica Velha está emcomunhão com a Comunhão Anglicana.111 112

Ortodoxia

A Ortodoxia Oriental compreende as igrejas em comunhão com a SéPatriarcal do Oriente, como o Patriarcado Ecumênico deConstantinopla.113 Como a Igreja Católica Romana, a Igreja OrtodoxaOriental também tem sua herança à fundação do cristianismo atravésda sucessão apostólica e tem uma estrutura episcopal, embora aautonomia do indivíduo, principalmente nas igrejas nacionais, sejaenfatizada. Uma série de conflitos com o cristianismo ocidentalsobre questões de doutrina e autoridade culminou com o Grande Cisma.A Ortodoxia Oriental é a segunda maior denominação única noCristianismo, com mais de 200 milhões de adeptos.108

As Igrejas Ortodoxas Orientais (também chamado de Igrejas OrientaisVelhas) são aquelas igrejas orientais que reconhecem os trêsprimeiros concílios ecumênicos - Niceia, Constantinopla e Éfeso -mas rejeitam a definições dogmáticas do Concílio de Calcedônia edefendem uma cristologia miafisista. A comunhão das Igrejas

13

Ortodoxas Orientais é composta por seis grupos: a Igreja OrtodoxaSíria, Igreja Ortodoxa Copta, Igreja Ortodoxa Etíope, IgrejaOrtodoxa da Eritréia, Igreja Ortodoxa Malankara (Índia) e a IgrejaApostólica Armênia.114 Estas seis igrejas, enquanto estão em comunhãoumas com as outras são completamente independenteshierarquicamente.115 Essas igrejas geralmente não estão em comunhãocom as Igrejas Ortodoxas Orientais com quem elas estão em diálogopara um retorno à unidade.116

Protestantismo

No século XVI, Martinho Lutero, Ulrico Zuínglio e João Calvinoinauguraram o que veio a ser chamado de protestantismo. Os herdeirosteológicos primários de Lutero são conhecidos como luteranos. Osherdeiros de Zwingli e Calvino são muito mais amplas denominalmentee são amplamente referidos como a Tradição Reformada.117 A maioriadas tradições protestantes se ramificam a partir da TradiçãoReformada, de alguma forma. Além dos ramos luteranos e reformados daReforma, há o anglicanismo após a Reforma Inglesa. A tradiçãoanabatista foi amplamente condenada ao ostracismo por parte dosoutros protestantes na época, mas conseguiu uma medida de afirmaçãona história mais recente. Alguns, mas não a maioria dos batistaspreferem não ser chamados de protestantes, alegando uma linha diretaancestral que remonta aos apóstolos, no século I.118

Os mais antigos grupos protestantes se separaram da Igreja Católicano século XVI durante a Reforma Protestante, seguido em muitoscasos, por novas divisões.117 Por exemplo, a Igreja Metodista surgiudo ministro anglicano John Wesley e do movimento evangélico derenovação na Igreja Anglicana.119 120 Várias igrejas pentecostais enão-denominacionais, que enfatizam o poder purificador do EspíritoSanto, por sua vez, cresceram a partir da Igreja Metodista.120 121

Devido ao fato de que metodistas, pentecostais, evangélicos e outrosenfatizarem que "aceitam Jesus como seu Senhor e Salvadorpessoal",122 o que vem da ênfase de John Wesley no Novo Nascimento,123

muitas vezes eles se referem a si mesmos como pessoas nascidas denovo.124 125

As estimativas do número total de protestantes são muito incertas,em parte devido à dificuldade em determinar quais as denominaçõesdevem ser colocadas nesta categoria, mas parece claro que oprotestantismo é o segundo maior grande grupo de cristãos após ocatolicismo em número de seguidores (embora o Igreja Ortodoxa émaior do que qualquer denominação protestante única).108

Um grupo especial são as igrejas anglicanas descendentes da Igrejada Inglaterra e que organizaram na Comunhão Anglicana. Algumasigrejas anglicanas se consideram tanto protestantes quantocatólicas.126 Alguns anglicanos consideram sua igreja um ramo da

14

"Santa Igreja Católica" ao lado da Igreja Católica Romana e dasIgrejas Ortodoxas Orientais, um conceito rejeitado pela IgrejaCatólica Romana e algumas Ortodoxas Orientais.127 128

Alguns grupos de indivíduos que possuem princípios básicosprotestantes se identificam simplesmente como "cristãos" ou"cristãos renascidos". Eles normalmente se distanciam daconfessionalismo de outras comunidades cristãs,129 chamando a simesmos de "não-confessionais". Muitas vezes fundada por pastoresindividuais, eles têm pouca afiliação com denominações históricas.130

Antitrinitarismo

O antitrinitarismo inclui todos os sistemas de crença cristã de querejeitam, total ou parcialmente, a doutrina da Trindade, isto é, oensinamento de que Deus é três hipóstases distintas e aindacoeternamente iguais e que estão indissoluvelmente unidas em umaessência.131 132 Na antiguidade, esporadicamente, na Idade Média, enovamente após a Reforma e até hoje, existiram pontos de vistadiferentes sobre a divindade dos da Trindade e da cristologiatradicionais. Embora diversas, essas visões podem ser geralmenteclassificadas nos que mantêm Cristo apenas divino e não diferindo-odo Pai, aqueles que detêm Cristo como um Deus menor do que o Pai; emoutras formas de ser completamente humano e um mensageiro como ohumano criado perfeito.133 134

Outros

O cristianismo esotérico é um termo que se refere a um conjunto decorrentes espirituais que consideram o cristianismo como umareligião de mistério,136 137 e professam a existência e a posse decertas doutrinas esotéricas ou práticas,138 139 escondidos do públicomas acessível apenas a um círculo restrito de "iluminados","iniciados", ou pessoas altamente educadas.140 141 Uma característicacomum em especial estas denominações místicas é a crença nareencarnação. Alguns dos cristãos esotéricos instituições incluem aFraternidade Rosacruz, a Sociedade Antroposófica e o Martinismo.

O Segundo Grande Despertar, um período de renascimento religioso queocorreu nos Estados Unidos durante o início dos anos 1800, viu odesenvolvimento de um número de igrejas independentes. Elasgeralmente se viam como a restauração da igreja original de JesusCristo, em vez de reformar uma das igrejas existentes.142 A crençaordinária detida pelos restauradores era que as outras divisões docristianismo tinha introduzido defeitos doutrinários nocristianismo, que era conhecido como a Grande Apostasia143 144 (ver:Constantinismo e Reviravolta de Constantino)

15

Algumas das igrejas que tiveram origem durante este período sãohistoricamente ligadas à reuniões em acampamento no centro-oeste enorte de Nova York no início de século XIX. O milenarismo e oadventismo estadunidenses, que surgiu do protestantismo evangélico,influenciou o movimento das Testemunhas de Jeová (com 7 milhões demembros),145 e, como uma reação especificamente para William Miller,os Adventistas do Sétimo Dia. Outros, incluindo os Discípulos deCristo146 e as Igrejas de Cristo, têm suas raízes no Movimento daRestauração contemporânea de Stone-Campbell, que foi centrada emKentucky e no Tennessee. Outros grupos originários deste períodoincluem o cristadelfianos e A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dosÚltimos Dias, a maior denominação do movimento Santo dos ÚltimosDias, com mais de 15 milhões de membros.147 148 149 150 151 Enquanto asigrejas originários do Segunda Grande Despertar têm algumassemelhanças superficiais, sua doutrina e as práticas variamsignificativamente.

Bibliografia

CAIRNS Earle E., O Cristianismo através dos séculos: Umahistória da Igreja Cristã, Edições Vida Nova, São Paulo, ISBN8527503853

GONZALES Justo L., Uma História ilustrada do Cristianismo,coleção em 10 volumes, Edições Vida Nova, São Paulo - ISBN8527500395 (Volume 1)

LEBRUN, François (dir.), As Grandes Datas do Cristianismo.Lisboa: Editorial Notícias, 1990.

O'Collins, Gerald. Interpreting Jesus. "Introducing Catholictheology". London: G. Chapman; Ramsey, NJ: Paulist Press,1983. ISBN 978-0-8091-2572-2

As origens do cristianismo segundo o marxismo

Como evidencia a celebração do nascimento de Jesus nestes dias – eque motiva a publicação desta nota – o dogma conseguiu se sobrepor àhistória, ainda que não sem crises e a aparição de outrasinterpretações.

No caso do marxismo, o tema das origens do cristianismo foidesenvolvido em alguns trabalhos do fim do século XIX e início doXX. Na década de 1880 e na primeira metade do decênio seguinte,Friederich Engels escreveu uma sequência de artigos: “Bruno Bauer eo cristianismo primitivo” (1882), “O livro do Apocalipse” (1883) e“Sobre as origens do cristianismo” (1894). Naquela época também foipublicado “Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã”(1886) e “Do socialismo utópico ao socialismo científico”(1880/1892), nos quais Engels voltou a se referir à crítica dareligião.

16

O primeiro destes artigos, “Bruno Bauer e o cristianismo primitivo”,foi escrito para o jornal socialista Der Sozialdemocrat após a mortedo filósofo alemão. Bruno Bauer foi parte da escola hegeliana e comoLudwig Feuerbach – outro discípulo de Hegel – teve uma importanteparticipação no debate sobre religião que se desenvolveu nos anosanteriores à revolução de 1848 em um contexto de reação absolutistae censura política. Diferente de Feuerbach, que atacou os aspectosideológicos da religiosidade demonstrando que a religião é umproduto da humanidade, Bauer se interessou pelos primeiros escritosreligiosos e as origens do cristianismo. Contra a crítica vulgar queconsiderava o cristianismo uma enganação por parte um grupo dehomens inescrupulosos, Bauer chegou ao conhecimento de suas origenshistóricas, especialmente acerca de sua expressão no Ocidente,demonstrando que os textos evangélicos combinavam concepções dojudaísmo e da filosofia greco-romana vulgar, especialmente doestoicismo.

Engels retomou algumas de suas ideias incorporando-as a sua própriainterpretação. Em seu enfoque, o cristianismo primitivo foi ummovimento religioso dos oprimidos, semelhante nesse aspecto aomovimento moderno da classe operária. Um punhado de latifundiários,usurários e grandes comerciantes haviam convertido o mundo em umlugar opressivo e angustiante para a maioria da população. Diantedessa situação, setores de camponeses arruinados pelas enormescargas de impostos, escravos foragidos, libertos e livresempobrecidos de territórios não-itálicos, incorporados ao impériocom obrigações e numerosos impedimentos materiais, encontraram nocristianismo uma saída espiritual, a do “reino dos céus”. Ao mesmotempo, assinalava que nos primeiros escritos religiosos – entre eleso livro do Apocalipse, a respeito do qual realiza uma interpretação– não havia rastros das concepções dogmáticas estabelecidas pelaIgreja, como a ideia da religião universal que acompanhou suaconsolidação no século IV. Em seu início havia sido um movimentojudaico de pobres e oprimidos. Com a vitória do cristianismo frentea outras seitas esse aspecto ficou relegado, cumprindo um papelcentral a formação do dogma e a luta contra a heresia.

O tema da origem do cristianismo foi retomado no início do século XXpor Karl Kautsky e Rosa Luxemburgo, dois importantes dirigentes dasocialdemocracia alemã, que posteriormente se enfrentaram quando oprimeiro deu um giro para o reformismo. Em 1908 Kautsky publicou“Origens e fundamentos do cristianismo”, um extenso trabalho,resultado de uma investigação de vários anos sobre a aparição docristianismo e a figura de Jesus. Nele, analisou a sociedade romanae suas bases econômicas, assim como o Estado, as correntes de ideiasa tendência à religião e o monoteísmo. Um aspecto central do livro ésua análise da história do povo hebreu e sua relação conflitiva coma estrutura de autoridade do Império romano. Para Kautsky, ocristianismo foi em seu início um movimento rebelde e violento dos

17

setores mais pobres e oprimidos do povo judeu. Com o tempo, adquiriuaspectos igualitaristas e comunistas sobre a repartição de consumo ede toda a produção.Três anos antes havia sido publicado um trabalho de Rosa Luxemburgo,“O socialismo e as igrejas”, difundido inicialmente na Polônia paradesmascarar o papel reacionário da instituição eclesiástica. ParaLuxemburgo, a religião cristã constituía um tema fundamental devidoà influência que exercia no povo polaco. No “O socialismo e asigrejas” constratava as raízes igualitárias e rebeldes docristianismo com as doutrinas reacionárias estabelecidas pelaIgreja. O cristianismo primitivo havia difundido a ideia deigualdade, condenando a avareza e o egoísmo dos ricos; a separaçãoentre laicos e sacerdotes avançou contra essas ideias, justificandoa opressão e a exploração dos setores que originalmente haviaenfrentado. O clero era um dos principais porta-vozes dosexploradores da classe operária.

Ainda que, segundo os estudos históricos, o cristianismo tenha sidoatualizado ao longo do século XX, os núcleos fundamentais da obradestes autores marxistas continuam vigentes, e motivaram a produçãode novos trabalho. Nestes textos pioneiros não se buscava ressaltaros aspectos positivos do cristianismo primitivo. Diferente dos quesustentam que o cristianismo e a revolução podem andar de mãosdadas, os marxistas demonstraram que os movimentos populares deoposição e resistência com aspectos religiosos e místicos sãopróprios da época pré-capitalista; a classe operária, pelocontrário, tem a possibilidade de se desfazer dessas formas, lutandopelo paraíso na terra.

O conhecimento das origens do cristianismo é, desse modo, parte dacrítica marxista da religião. Demonstra que a religiosidade é umproduto social e não pode ser superada por decreto ou através de umprocesso de conscientização anti-religiosa. Tampouco se trataunicamente de uma batalha da ciência contra a ignorância. Sob ocapitalismo, o conhecimento científico – ainda que seja central – éinsuficiente. Como assinalaram Marx e Engels, a superação dareligião e de todas as suas manifestações particulares ocorreráquando as condições de reprodução materiais da vida apresentemrelações transparentes entre os humanos, e entre estes e a natureza.O capitalismo, pelo contrário, incorporou o fetichismo da mercadoriaque oculta as relações de exploração de alienação.

Estes fetiches – religioso e econômico – se combinam no Natal emquestão; o nascimento de Jesus – com sua história transformada – ePapai Noel – um personagem da Idade Média que a Coca Cola converteuem um fomentador do consumismo – aparecem como símbolos decelebração religiosa e consumismo, unidos pelo sistema capitalista.

As Características Filosóficas do Cristianismo18

Não há propriamente uma história da filosofia cristã, assim como háuma história da filosofia grega ou da filosofia moderna, pois nopensamento cristão, o máximo valor, o interesse central, não é afilosofia, e sim a religião. Entretanto, se o cristianismo não seapresenta, de fato, como uma filosofia, uma doutrina, mas como umareligião, uma sabedoria, pressupõe uma específica concepção do mundoe da vida, pressupõe uma precisa solução do problema filosófico. É oteísmo e o cristianismo. O cristianismo fornece ainda uma -imprescindível - integração à filosofia, no tocante à solução doproblema do mal, mediante os dogmas do pecado original e da redençãopela cruz. E, enfim, além de uma justificação histórica e doutrinalda revelação judaico-cristã em geral, o cristianismo implica umadeterminação, elucidação, sistematização racional do próprioconteúdo sobrenatural da Revelação, mediante uma disciplinaespecífica, que será a teologia dogmática.

Pelo que diz respeito ao teísmo , salientamos que o cristianismo odeve, historicamente, a Israel. Mas entre os hebreus o teísmo nãotem uma justificação, uma demonstração racional, como, por exemplo,em Aristóteles, de sorte que, em definitivo, o pensamento cristãotomará na grande tradição especulativa grega esta justificação e afilosofia em geral. Isto se realizará graças especialmente àEscolástica e, sobretudo, a Tomás de Aquino. Pelo que diz respeito àsolução do problema do mal, solução que constitui a integraçãofilosófica proporcionada pelo cristianismo ao pensamento antigo -que sentiu profundamente, dramaticamente, este problema sem o podersolucionar - frisamos que essa representa a grande originalidadeteórica e prática, filosófica e moral, do cristianismo. Solucionaeste o problema do mal precisamente mediante os dogmas fundamentaisdo pecado original e da redenção da cruz. Finalmente, a justificaçãoda Revelação em geral, e a determinação, dilucidação, sistematizaçãoracional do conteúdo da mesma, têm uma importância indireta comrespeito à filosofia, porquanto implicam sempre numa intervenção darazão. Foi esta, especialmente, a obra da Patrística e, sobretudo,de Agostinho.

Esta parte, dedicada à história do pensamento cristão, será,portanto, dividida do seguinte modo: o Cristianismo, isto é, opensamento do Novo Testamento, enquanto soluciona o problemafilosófico do mal; a Patrística, a saber, o pensamento cristão desdeo II ao VIII século, a que é devida particularmente a construção dateologia, da dogmática católica; a Escolástica, a saber, opensamento cristão desde o século IX até o século XV, criadora dafilosofia cristã verdadeira e própria.

Características Gerais do Pensamento Cristão

19

Foi conquistada a cidade que conquistou o universo. Assim definiuSão Jerônimo o momento que marcaria a virada de uma época. Era ainvasão de Roma pelos germanos e a queda do Império Romano.

A avalancha dos bárbaros arrasou também grande parte das conquistasculturais do mundo antigo.

A Idade Média inicia-se com a desorganização da vida política,econômica e social do Ocidente, agora transformado num mosaico dereinos bárbaros. Depois vieram as guerras, a fome e as grandesepidemias. O cristianismo propaga-se por diversos povos. Adiminuição da atividade cultural transforma o homem comum num serdominado por crenças e superstições.

O período medieval não foi, porém, a "Idade das Trevas", como seacreditava. A filosofia clássica sobrevive, confinada nos mosteirosreligiosos. O aristotelismo dissemina-se pelo Oriente bizantino,fazendo florescer os estudos filosóficos e as realizaçõescientíficas. No Ocidente, fundam-se as primeiras universidades,ocorre a fusão de elementos culturais greco-romanos, cristãos egermânicos, e as obras de Aristóteles são traduzidas para o latim.

Sob a influência da Igreja, as especulações se concentram emquestões filosófico-teológicas, tentando conciliar a fé e a razão. Eé nesse esforço que Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino trazem àluz reflexões fundamentais para a história do pensamento cristão.

A Filosofia Medieval e o Cristianismo

Ao longo do século V d.C., o Império Romano do Ocidente sofreuataques constantes dos povos bárbaros. Do confronto desses povosinvasores com a civilização romana decadente desenvolveu-se uma novaestruturação européia de vida social, política e econômica, quecorresponde ao período medieval.

Em meio ao esfacelamento do Império Romano, decorrente, em grandeparte, das invasões germânicas, a Igreja católica conseguiu manter-se como instituição social mais organizada. Ela consolidou suaestrutura religiosa e difundiu o cristianismo entre os povos bárbaros,preservando muitos elementos da cultura pagã greco-romana.

Apoiada em sua crescente influência religiosa, a Igreja passou aexercer importante papel político na sociedade medieval.Desempenhou, por exemplo, a função de órgão supranacional,conciliador das elites dominantes, contornando os problemas dafragmentação política e das rivalidades internas da nobreza feudal.Conquistou, também, vasta riqueza material: tornou-se dona deaproximadamente um terço das áreas cultiváveis da Europa ocidental,numa época em que a terra era a principal base de riqueza. Assim,

20

pôde estender seu manto de poder "universalista" sobre diferentesregiões européias.

Conflitos e Conciliação entre a Fé e Saber

No plano cultural, a Igreja exerceu amplo domínio, trançando umquadro intelectual em que a fé cristã era o pressuposto fundamental detoda sabedoria humana.

Em que consistia essa fé?

Consistia na crença irrestrita ou na adesão incondicional às verdadesreveladas por Deus aos homens. Verdades expressas nas Sagradas Escrituras(Bíblia) e devidamente interpretadas segundo a autoridade da Igreja.

"A Bíblia era tão preciosa que recebia as mais ricas encadernações" .

De acordo com a doutrina católica, a fé representava a fonte maiselevada das verdades reveladas - especialmente aquelas verdadesessenciais ao homem e que dizem respeito à sua salvação. Nestesentido, afirmava Santo Ambrósio (340-397, aproximadamente): Todaverdade, dita por quem quer que seja, é do Espírito Santo .

Assim, toda investigação filosófica ou científica não poderia, demodo algum, contrariar as verdades estabelecidas pela fé católica.Segundo essa orientação, os filósofos não precisavam se dedicar àbusca da verdade, pois ela já havia sido revelada por Deus aoshomens. Restava-lhes, apenas, demonstrar racionalmente as verdadesda fé.

Não foram poucos, porém, aqueles que dispensaram até mesmo essacomprovação racional da fé. Eram os religiosos que desprezavam afilosofia grega, sobretudo porque viam nessa forma pagã depensamento uma porta aberta para o pecado, a dúvida, o descaminho ea heresia (doutrina contrária ao estabelecido pela Igreja, em termosde fé).

Por outro lado, surgiram pensadores cristãos que defendiam oconhecimento da filosofia grega, na medida em que sentiam apossibilidade de utilizá-la como instrumento a serviço docristianismo. Conciliado com a fé cristã, o estudo da filosofiagrega permitiria à Igreja enfrentar os descrentes e demolir oshereges com as armas racionais da argumentação lógica. O objetivoera convencer os descrentes, tento quanto possível, pela razão, paradepois fazê-los aceitar a imensidão dos mistérios divinos, somenteacessíveis à fé.

21

Entre os grandes nomes da filosofia católica medieval destacam-seAgostinho e Tomás de Aquino. Eles foram os responsáveis pelo resgatecristão das filosofias de Platão e de Aristóteles, respectivamente.

"Tomai cuidado para que ninguém vos escravize por vãs e enganadoras especulações da"filosofia", segundo a tradição dos homens, segundo os elementos do mundo, e nãosegundo Cristo." (São Paulo).

Patrística

"A fé em busca de argumentos racionais a partir de uma matriz platônica"

Desde que surgiu o cristianismo, tornou-se necessário explicar seusensinamentos às autoridades romanas e ao povo em geral. Mesmo com oestabelecimento e a consolidação da doutrina cristã, a Igrejacatólica sabia que esses preceitos não podiam simplesmente serimpostos pela força. Eles tinham de ser apresentados de maneiraconvincente, mediante um trabalho de conquista espiritual.

Foi assim que os primeiros Padres da Igreja se empenharam naelaboração de inúmeros textos sobre a fé e a revelação cristãs. Oconjunto desses textos ficou conhecido como patrística por terem sidoescritos principalmente pelos grandes Padres da Igreja.

Uma das principais correntes da filosofia patrística, inspirada nafilosofia greco-romana, tentou munir a fé de argumentos racionais.Esse projeto de conciliação entre o cristianismo e o pensamentopagão teve como principal expoente o Padre Agostinho.

"Compreender para crer, crer para compreender". (Santo Agostinho)

Escolástica

"Os caminhos de inspiração aristotélica levam até Deus".

No século VIII, Carlos Magno resolveu organizar o ensino por todo oseu império e fundar escolas ligadas às instituições católicas. Acultura greco-romana, guardada nos mosteiros até então, voltou a serdivulgada, passando a Ter uma influência mais marcante nas reflexõesda época. Era a renascença carolíngia.

Tendo a educação romana como modelo, começaram a ser ensinadas asseguintes matérias: gramática, retórica e dialética (o trivium ) egeometria, aritmética, astronomia e música (o quadrivium ). Todas elasestavam, no entanto, submetidas à teologia.

A fundação dessas escolas e das primeiras universidades do século XIfez surgir uma produção filosófico-teológica denominada escolástica (deescola).

22

A partir do século XIII, o aristotelismo penetrou de forma profundano pensamento escolástico, marcando-o definitivamente. Isso se deveuà descoberta de muitas obras de Aristóteles, descobertas até então,e à tradução para o latim de algumas delas, diretamente do grego.

A busca da harmonização entre a fé cristã e a razão manteve-se, noentanto, como problema básico de especulação filosófica. Nessesentido, o período escolástico pode ser dividido em três fases:

Primeira fase - (do século IX ao fim do século XII): caracterizadapela confiança na perfeita harmonia entre fé e razão.

Segunda fase - (do século XIII ao princípio do século XIV):caracterizada pela elaboração de grandes sistemas filosóficos,merecendo destaques nas obras de Tomás de Aquino. Nesta fase,considera-se que a harmonização entre fé e razão pôde serparcialmente obtida.

Terceira fase - (do século XIV até o século XVI): decadência daescolástica, caracterizada pela afirmação das diferençasfundamentais entre fé e razão.

A Questão dos Universais:

O que há entre as palavras e as coisas

O método escolástico de investigação, segundo o historiador francêsJacques Le Goff, privilegiava o estudo da linguagem (o trivium ) paradepois passar para o exame das coisas (o quadrivium ). Desse modosurgiu a seguinte pergunta: qual a relação entre as palavras e as coisas?

Rosa, por exemplo, é o nome de uma flor. Quando a flor morre, apalavra rosa continua existindo. Nesse caso, a palavra fala de umacoisa inexistente, de uma idéia geral. Mas como isso acontece? Ogrande inspirador da questão foi o inspirador neoplatônico Porfírio,em sua obra Isagoge : "Não tentarei enunciar se os gêneros e asespécies existem por si mesmos ou na pura inteligência, nem, no casode subsistirem, se são corpóreos ou incorpóreos, nem se existemseparados dos objetos sensíveis ou nestes objetos, formando partedos mesmos".

Esse problema filosófico gerou muitas disputas. Era a grandediscussão sobre a existência ou não das idéias gerais , isto é, oschamados universais de Aristóteles.

23