Considerações sobre o envelhecimento do trabalhador

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Anais Sistemas de Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho 25 a 27 de novembro de 2008 MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO FUNDACENTRO FUNDAÇÃO JORGE DUPRAT FIGUEIREDO DE SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO

Transcript of Considerações sobre o envelhecimento do trabalhador

AnaisSistemas de Gestão em Segurança

e Saúde no Trabalho

25 a 27 de novembro de 2008

M I N I S T É R I ODO TRABALHO E EMPREGO

FUNDACENTROFUNDAÇÃO JORGE DUPRAT FIGUEIREDODE SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO

Anais da VIII Semana da Pesquisa

Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva

Ministro do Trabalho e EmpregoCarlos Lupi

Fundacentro

PresidenteEduardo de Azeredo Costa

Diretor Executivo SubstitutoHilbert Pfaltzgraff Ferreira

Diretor TécnicoJófi lo Moreira Lima Júnior

Diretor de Administração e FinançasHilbert Pfaltzgraff Ferreira

Fundacentro

Anais da VIII Semana

da Pesquisa

Sistemas de Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho

25 a 27 de novembro de 2008

2010

M I N I S T É R I ODO TRABALHO E EMPREGO

FUNDACENTROFUNDAÇÃO JORGE DUPRAT FIGUEIREDODE SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO

São Paulo

Ficha Técnica

Coordenação Editorial: Glaucia FernandesRevisão de textos: Karina Penariol Sanches

Projeto gráfi co e design miolo: Gisele Almeida (estagiária)Design capa: Glaucia Fernandes • Gisele Almeida (estagiária)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Serviço de Documentação e Biblioteca – SDB / Fundacentro

São Paulo – SPErika Alves dos Santos CRB-8/7110

CIS – Classifi cação do “Centre International d’Informations de Sécurité et d’Hygiene du Travail”CDU – Classifi cação Decimal Universal

1234567Semana da Pesquisa da Fundacentro (8. : 2008 : São Paulo).1234567890Anais da VIII semana da pesquisa : sistemas de gestão em 1234567segurança e saúde no trabalho / VIII Semana da Pesquisa da 1234567Fundacentro. – São Paulo : Fundacentro, 2010.1234567890374 p. : il. color. ; 23 cm.

1234567890ISBN 978-85-98117-56-0

12345678901. Segurança e saúde no trabalho - Reuniões de segurança e 1234567saúde. I. Título.

CISA Veq (207)

CDU613.6(81)(063)

Disponível também em: www.fundacentro.gov.brQualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.

Sumário

Apresentação ............................................................................................................................. 9

Comissão organizadora .......................................................................................................... 11

Programação ............................................................................................................................ 13

Tese de doutorado (resumo) ............................................................................................ 17

1. Incentivos governamentais para promoção da segurança e saúde no trabalho ....................... 19

Dissertações de mestrado (resumos) ............................................................................ 27

1. Arquivos abertos e instrumentos de gestão da qualidade como recursos para adisseminação da informação científi ca em segurança e saúde no trabalho .............................. 29

2. A importância da comunicação de risco para as organizações ................................................... 37

3. A gestão da segurança e saúde no trabalho: a experiência do arranjo produtivo local do setor metal-mecânico da região paulista do Grande ABC ........................................... 43

4. Diretrizes para um centro de triagem de materiais recicláveis quanto ao ambiente construído em relação à segurança e saúde no trabalho: um estudo de caso no Guarituba, município de Piraquara – região metropolitana de Curitiba ....................................................... 55

5. Programa de gestão de riscos para tubulações industriais ........................................................... 61

6. Considerações sobre o envelhecimento do trabalhador .............................................................. 69

7. Exposição ocupacional a campos eletromagntéticos em estações rádio-base: análise críticado programa de prevenção de riscos ambientais em uma empresa do setorde telecomunicações ...................................................................................................................................................77

8. Características da poeira resultante do processo de fabricação de materiais cerâmicos para revestimento: estudo no pólo cerâmico de Santa Gertrudes ............................................. 85

Trabalhos apresentados na forma oral (Resumos) .................................................... 93

1. Pesquisa sobre acidentes do trabalho em micro e pequenas empresas industriais nos ramos calçadista, moveleiro e de confecções: resultados fi nais .......................................... 95

2. Abordagens pragmáticas na avaliação qualitativa de riscos químicos ...................................... 103

3. Diagnóstico das condições de trabalho no benefi ciamento do sisal ........................................ 109

4. A previsão do Índice Wind Chill – um serviço operacional voltado aos trabalhadores de áreas externas .............................................................................................................................. 115

5. Projeto de pesquisa e termo de ajustamento da SRTe/PR como instrumento de modifi cação das condições de trabalho de fundições em pólo de metais sanitários ...... 123

6. Prevenção de explosões na fabricação de fogos de artifícios no arranjo produtivo de Santo Antonio do Monte (MG) ............................................................................................... 131

7. Segurança e saúde dos pescadores artesanais no estado do Pará ............................................. 139

8. A produção científi ca sobre o trabalho e a saúde dos enfermeiros: um panorama .............. 147

9. Proteção respiratória contra agentes biológicos e a cartilha para os trabalhadores de saúde ........151

10. Boas práticas no controle da exposição ocupacional ao benzeno ......................................... 159

11. Avaliação do impacto do nexo técnico epidemiológico sobre os benefícios por incapacidade ............................................................................................................................ 165

Trabalhos apresentados na forma de pôster (Resumos) ........................................ 175

1. O potencial uso do Large Eddy Simulation (LES) para pesquisa no tema saúde do trabalhador ....................................................................................................... 177

2. Relação dos afastamentos do trabalho devido às doenças do aparelho respiratório com as condições de tempo mensal ........................................................ 185

3. Estratégias e políticas na eliminação e diminuição da exposição ocupacional ao benzeno ........................................................................................................................ 193

4. Vigilância da exposição ao benzeno no Brasil: a importância da participação ................201

5. Relato de caso: a pior fábrica de benzeno do Brasil .................................................... 205

6. Gestão de SST na indústria da construção: resultados preliminares do estudo piloto no Rio de Janeiro .................................................................................... 209

7. Resgate do papel histórico da Fundacentro .................................................................. 215

8. A educação em segurança e saúde no trabalho e a metodologia sociodramática ............221

9. Os programas de prevenção e controle de riscos nos ambientes de trabalho como instrumentos de gestão em SST: novas abordagens e perspectivas no processo ensino-aprendizagem ................................................................................ 227

10. Podcast informativo Fundacentro .................................................................................. 235

11. Determinação de metais pesados em indústria cimenteira que co-processa resíduos ...........................................................................................239

12. Exposição ocupacional a pesticidas em estufas de fl ores ......................................... 245

13. Determinação de Pb, Al e Ni por ICP-OES no ambiente de trabalho de uma fundição de ligas metálicas de bronze ........................................................................ 251

14. Metodologia dosimétrica para controle da exposição ocupacional às radiações ionizantes e ultravioleta ................................................................................................ 257

15. Developing strategies in Brazil to manage the emerging nanotechnology and its associated risks .................................................................................................. 265

16. Identifi cação de substâncias químicas ......................................................................... 273

17. Barreiras às intervenções relacionadas à saúde do trabalhador do setor saúde na América Latina .............................................................................................. 283

18. Adaptação de metodologia analítica para a determinação de HPA em amostras ocupacionais ................................................................................................................... 287

19. Determinação de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA) em ambiente de trabalho de indústria de cimento que co-processa resíduos ............ 291

20. Avaliação preliminar da presença de HPA no clínquer produzido emcimenteira que co-processa resíduos industriais ...................................................... 295

21. Resíduos sólidos nas indústrias moveleiras do agreste alagoano: impactos ocupacionais e ambientais ............................................................................................. 299

22. Tendências e variações dos acidentes do trabalho na indústria moveleira brasileira segundo o tamanho das empresas .............................................................. 305

23. Condições de trabalho e saúde dos auxiliares de administração escolar da rede privada de ensino do Estado de Minas Gerais: resultados de pesquisa ..........................311

24. Avaliação do impacto dos acidentes de trabalho nas micro e pequenas empresas da indústria brasileira de calçados: gênero e parte do corpo atingida ................................ 319

25. Análise comparativa dos acidentes e doenças do trabalho na indústria têxtil e de confecções brasileira .................................................................................... 325

26. O dialogismo presente em artigos científi cos de SST ............................................... 331

27. Acidente fatal envolvendo explosão de tanques de álcool ....................................... 339

28. O processo avaliativo no ciclo de palestras técnicas sobre segurança e saúde do trabalhador no estado do Pará ..................................................................... 343

29. Educação continuada em segurança e saúde do trabalhador na Fundacentro no estado do Pará ................................................................................... 351

30. Segurança e saúde do trabalho no assentamento rural em Potozi do Cabo de Santo Agostinho ............................................................................................. 359

31. Condições de trabalho no cultivo da mandioca, em Santa Maria da Serra/SP .............367

Apresentação

A Fundacentro – Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho – instituição vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego, tem como missão a produção e a difusão de conhecimentos que contribuam para a promoção da segurança e saúde dos trabalha-dores e das trabalhadoras, visando ao desenvolvimento sustentável, com crescimento econômi-co, equidade social e proteção do meio ambiente.

Uma das ações da Fundacentro, visando ao cumprimento de sua missão, é a realização de um evento bianual com o objetivo de promover o intercâmbio técnico e científi co entre os servido-res da Fundacentro e seus parceiros, divulgar os trabalhos por eles realizados, discutir mecanis-mos institucionais para o desenvolvimento de parcerias e avaliar os resultados alcançados. Esse evento é chamado de Semana da Pesquisa.

A VIII Semana da Pesquisa da Fundacentro foi realizada no período de 25 a 27 de novembro de 2008, no auditório do Centro Técnico Nacional, em São Paulo, e teve como tema “Sistemas de Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho”.

A programação incluiu apresentações orais de tese de doutorado e dissertações de mestrado de-fendidas por servidores da Fundacentro no período de 2006 a 2008, conferência sobre as “Diretrizes da Organização Internacional do Trabalho para a SST”, apresentada por acadêmico da Universidade Técnica de Lisboa, sessões de comunicações técnico-científi cas de trabalhos originais apresentados na forma oral e sessão específi ca de apresentação de trabalhos na forma de pôsteres.

O evento teve como público alvo os profi ssionais que atuam na área de Segurança e Saúde no Trabalho.

Comissão organizadora da VIII Semana da Pesquisa da Fundacentro

José Damásio de Aquino – Coordenador – Diretoria Técnica

Alexandra Rinaldi – Assessoria de Comunicação Social

Ana Maria Tibiriçá Bon – Serviço de Agentes Químicos

Cláudia Cecília Marchiano – Serviço de Eventos

Débora Maria Santos – Assessoria de Comunicação Social

Glaucia de Menezes Fernandes – Serviço de Publicações

Juliana Andrade Oliveira – Serviço de Ergonomia

Luiz Augusto Damasceno Brasil – Centro Regional do Distrito Federal

Maria Cristina Aguiar Campos – Serviço de Agentes Físicos

Maria Inês dos Santos – Serviço de Documentação e Biblioteca

Silvia Helena de Araújo Nicolai – Serviço de Equipamentos de Segurança

Tarsila Baptista Ponce – Serviço de Desenvolvimento de Recursos Humanos

Walter dos Reis Pedreira Filho – Serviço de Agentes Químicos

“Os resumos aqui publicados não passaram por quaisquer re-visões, sejam gramaticais ou de conteúdo técnico, mantendo-se

na íntegra o texto encaminhado por seus autores.”

Programação

Dia 25 de novembro de 2008

08h30 às 10h00Credenciamento

09h15 às 09h30Apresentação do Coral da Fundacentro

09h30 às 10h00Cerimônia de abertura Jurandir Bóia Rocha

Presidente da Fundacentro

Jorge Paulo MagdalenoDiretor Executivo da Fundacentro

Jófi lo Moreira LimaDiretor Técnico da Fundacentro

10h15 às 12h00Conferência Diretrizes da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para

a SST e a sua adoção no mundoProf. Dr. Luis Alves DiasUniversidade Técnica de Lisboa/Portugal

Coordenação José Damásio de AquinoTecnologista da Fundacentro

14h00 às 16h00Painel Propostas da Fundacentro para adoção de medidas de prevenção em

SST nas pequenas e médias empresas

Coordenação Luis Renato Balbão AndradeTecnologista da Fundacentro

Apresentações Pesquisa sobre acidentes do trabalho em micro eorais de pequenas empresas industriais nos ramos calçadista,trabalhos moveleiro e de confecções: resultados fi nais

Celso Amorim Salim Analista de C&T da Fundacentro

Abordagens pragmáticas na avaliação qualitativa de riscos químicos Marcela Gerardo Ribeiro Pesquisadora da Fundacentro

Diagnóstico das condições de trabalho no benefi ciamento do sisal

Rosa Yasuko Yamashita Pesquisadora da Fundacentro

16h15 às 17h15Painel Divulgação de informações científi cas em SST

Coordenação Eduardo Garcia Garcia Pesquisador da Fundacentro

Apresentação RBSO: perspectivas e desafi os para difusão deoral de informações em SSTtrabalho José Marçal Jackson Filho

Pesquisador da Fundacentro

Dia 26 de novembro de 2008

09h00 às 10h40Painel Apresentações de dissertações de mestrado

Coordenação Maria de Fátima Torres Faria Viegas Tecnologista da Fundacentro

Apresentações Arquivos abertos e instrumentos de gestão da qualidadeorais de como recursos para a disseminação da informaçãotrabalhos científi ca em segurança e saúde no trabalho

Erika Alves dos Santos Tecnologista da Fundacentro

A importância da comunicação de risco para as organizaçõesAlexandra RinaldiAssistente de C&T da Fundacentro

A gestão da segurança e saúde no trabalho: a experiência do arranjo produtivo do setor metal-mecânico da região paulista do Grande ABCMaria Carolina Maggiotti CostaAnalista de C&T da Fundacentro

11h00 às 12h00Painel Apresentações de pôsteres

13h30 às 15h10Painel Apresentações de dissertações de mestrado

Coordenação Marcos Alberto Magalhães Nogueira Tecnologista da Fundacentro

Apresentações Diretrizes para um centro de triagem de materiaisorais de recicláveis quanto ao ambiente construído emtrabalho relação à segurança e saúde no trabalho: um estudo de caso no

Guarituba, município de Piraquara – região metropolitana de Curitiba

Evelyn Joice Albizu Tecnologista da Fundacentro

Programa de gestão de riscos para tubulações industriais Flavio Maldonado Bentes Tecnologista da Fundacentro

Considerações acerca do envelhecimento do trabalhadorJuliana Andrade de Oliveira Tecnologista da Fundacentro

15h30 às 17h10Painel Experiências bem-sucedidas em SST

Coordenação Ana Rúbia Wolf Gomes Tecnologista da Fundacentro

Apresentações A previsão do índice Wind Chill – um serviçoorais de operacional voltado aos trabalhadores de áreastrabalho externas Daniel Pires Bitencourt

Pesquisador da Fundacentro

Projeto de pesquisa e termo de ajustamento da SRTe/PR como instrumento de modifi cação das condições de trabalho de fundições em pólo de metais sanitáriosCarlos Sérgio SilvaPesquisador da Fundacentro

Prevenção de explosões na fabricação de fogos de artifícios no arranjo produtivo de Santo Antonio do Monte (MG)Gilmar da Cunha TrivelatoPesquisador da Fundacentro

Segurança e saúde dos pescadores artesanais no estado do Pará Silvio Silva BrasilChefe do Centro Estadual do Pará – Fundacentro

Dia 27 de novembro de 2008

09h00 às 10h40Painel Apresentações de dissertações de mestrado e tese de doutorado

Coordenação José Carlos Pesente Tecnologista da Fundacentro

Apresentações Exposição ocupacional em estações rádio-base:orais de análise crítica do programa de prevenção de riscostrabalho ambientais em uma empresa do setor de telecomunicações

Solange Regina SchafferTecnologista da Fundacentro

Características da poeira resultante do processo de fabricação de materiais cerâmicos para revestimento: estudo no pólo cerâmico de Santa GertrudesMaria Margarida Teixeira Moreira LimaTecnologista da Fundacentro

Incentivos governamentais para promoção da segurança e saúde no trabalhoRogério Galvão da Silva Tecnologista da Fundacentro

10h00 às 12h40Painel Experiências bem-sucedidas em SST

Coordenação Fábio Sperduti Tecnologista da Fundacentro

Apresentações A produção científi ca sobre o trabalho e a saúdeorais de dos enfermeiros: um panoramatrabalho Tereza Luiza Ferreira dos Santos Tecnologista da Fundacentro

Proteção respiratória contra agentes biológicos e a cartilha para os trabalhadores de saúdeSílvia Helena de Araujo NicolaiTecnologista da Fundacentro

Boas práticas no controle da exposição ocupacional ao benzeno Luiza Maria Nunes Cardoso Pesquisadora da Fundacentro

Avaliação do impacto do nexo técnico epidemiológico sobre os benefícios por incapacidadeMaria MaenoPesquisadora da Fundacentro

12h30 às 13h00Encerramento Jófi lo Moreira Lima

Diretor Técnico da Fundacentro

José Damásio de AquinoCoordenador da VIII Semana da Pesquisa da Fundacentro

Tese de Doutorado

(Resumo)

1

Incentivos governamentais para promoção da segurança e saúde no trabalho1

Rogério Galvão da Silva, Fundacentro/CTN/[email protected]

Palavras-chave: saúde do trabalhador; política de saúde do trabalhador; prevenção de acidentes; incentivos.

1 Resumo da tese de doutorado defendida em 29/11/2006 na Faculdade de Saúde Pública – USP cujo original está disponível em: < http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6134/tde-02022007-162308/>. Este resumo foi preparado para a VIII Semana da Pesquisa da Fundacentro, realizada na cidade de São Paulo em 2008.

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Introdução

O progresso tecnológico e as intensas pressões competitivas trazem rápidas mudanças nos processos, condições e organização do trabalho. Os instrumentos tradicionais de

Estado, na forma de regulamentação e fi scalização, são essenciais, mas insufi cientes para tratar estas mudanças ou para abordar os perigos e riscos delas decorrentes. Vários países, incluindo a Austrália, Estados Unidos e a maioria dos países da Comunidade Européia, têm seguido uma tendência de combinação dos instrumentos tradicionais com o uso de incentivos. Em geral, o componente regulador reduz o grau de incerteza, enquanto o componente de incentivo admite a fl exibilidade na resposta às pressões reguladoras.

O uso de alguma recompensa ou punição para obtenção de resultado desejável de um indiví-duo ou coletividade é antigo, e a história da humanidade está repleta de exemplos, principalmen-te em culturas capitalistas. Porém, o uso de incentivos no campo das políticas públicas é muito mais recente e está associado à tentativa de induzir as organizações2 numa conduta que favorece determinados valores que são de interesse público. A lógica no uso de incentivos supõe que a conduta desejada não é a escolha natural entre os atores, sendo necessário a recompensa ou a punição para se alcançar resultado melhor.

Os mecanismos de funcionamento dos incentivos deveriam levar em conta quatro princípios básicos: a) simplicidade, isto é, os mecanismos do incentivo devem ser simples para reduzirem a carga administrativa dos reguladores e para facilitarem a compreensão e aceitação do público-alvo; b) motivação, ou seja, devem gerar motivação adequada para redução do custo ou aumento do de-sempenho. Os mecanismos do incentivo devem estar relacionados com os objetivos da organiza-ção e com elementos sujeitos ao controle gerencial; c) senso de justiça, isto signifi ca que as recom-pensas ou penalidades geradas pelo incentivo devem estar dentro de limites aceitáveis, tanto em nível político como operacional; d) poder de permanência, isto é, o incentivo deve ser percebido pelo público-alvo como uma medida permanente, que merece ser considerada no curto, médio ou longo prazo. Assim, a previsão de vigência do incentivo deve ser claramente estabelecida e comunicada às partes envolvidas (PFEIFENBERGER; TYE, 1995).

Dentre os incentivos governamentais para promoção da segurança e saúde no trabalho (SST), sendo estes compreendidos como iniciativas que exploram as diferenças entre os desempenhos organizacionais em SST para proporcionar vantagem ou desvantagem ao público-alvo com o intuito de estimular a melhoria da SST, pode-se apontar a existência dos seguintes:

a) Flexibilização das alíquotas de contribuição do seguro acidente do trabalho (SAT), por meio da qual procura-se recompensar ou onerar as organizações com descontos ou aumentos nos prêmios do seguro, conforme critérios de desempenho relacionados com as condições de SST, levando-se em conta um determinado período. Há indicativos que este incentivo infl uencia as decisões da alta administração das organizações na melhoria da SST. (KPMG, 2001; WRIGHT; MARSDEN, 2002; WRIGHT et al., 2003).

2 O termo organização é empregado para caracterizar qualquer companhia, corporação, fi rma, empresa, instituição ou associ-ação, ou parte dela, incorporada ou não, de natureza privada, que tem funções e estrutura administrativa próprias.

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b) Reconhecimento público em SST com a premiação das melhores práticas, da implemen-tação efetiva de modelos de sistemas de gestão, de inovações ou iniciativas de destaque relacionadas à SST. A premiação consiste na emissão de certifi cados, criação de logotipos ou outro tipo de publicidade, por meio da qual procura-se estimular e diferenciar o alcance de níveis de excelência. As iniciativas de reconhecimento público em SST são reconheci-das por vários autores como uma ferramenta importante para infl uenciar a conduta das organizações na melhoria da SST. (KPMG, 2001; TAIT; WALKER, 2000).

c) Publicidade negativa em SST com a divulgação dos resultados desfavoráveis às organiza-ções nos inquéritos civis e criminais relativos às ocorrências de acidentes e doenças do trabalho, por meio da qual procura-se constranger aquelas onde ocorreram tais eventos. Este tipo de incentivo pode sensibilizar não só a alta administração das organizações, mas também acionistas e credores que temem a desvalorização da organização, perdas de capital e de credibilidade (GUNNINGHAM, 1999; DAVIS, 2004).

d) Publicidade de dados comparativos do desempenho da SST entre organizações do mes-mo segmento, por meio da qual procura-se enaltecer as organizações que alcançaram os melhores desempenhos em SST e constranger as organizações que apresentam baixos desempenhos. As organizações, principalmente as grandes, podem ser infl uenciadas pela divulgação pública de um índice de medida de desempenho organizacional em SST. Ge-ralmente os dirigentes das organizações são competitivos e preocupados com suas repu-tações, e a comparação deles com seus pares pode infl uenciar suas decisões para melhoria da SST (HOPKINS, 2005).

e) Estabelecimento de requisitos de SST nas licitações públicas, sem se limitar ao atendi-mento das prescrições mínimas legais, por meio do qual procura-se oferecer privilégios na aquisição de contratos com o governo para as organizações que atendem determi-nados requisitos e, ao mesmo tempo, disciplinar as demais interessadas. Muitas organi-zações australianas atingidas pelo incentivo relataram que tal medida foi determinante para a melhoria do desempenho da SST.

f) Flexibilização da ocorrência das fi scalizações programadas3 dos ambientes e condições de trabalho, promovendo a isenção ou priorização das fi scalizações programadas nas organizações, conforme o desempenho em SST delas num determinado período. Este incentivo permite fazer melhor uso dos recursos limitados de fi scalização. Além de de-monstrar à sociedade que há um planejamento lógico na ocorrência delas.

A questão da pesquisa que norteou o desenvolvimento do trabalho foi a seguinte: “quais incentivos governamentais, se implementados, seriam os mais promissores para infl uenciarem a alta administração das organizações na melhoria da segurança e saúde no trabalho?”.

3 Fiscalização programada é uma fi scalização de rotina, que foi planejada segundo as prioridades do órgão de fi scalização, e que não foi gerada por denúncia de irregularidade ou pela ocorrência de acidente grave / fatal.

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Neste contexto, os seguintes objetivos foram defi nidos:

• analisar a infl uência que os incentivos para promoção da SST exerceriam nas decisões de membros da alta administração de organizações de um determinado ramo de ati-vidade econômica.

• identifi car dentre os incentivos analisados aqueles que são apontados pelos membros da alta administração das organizações selecionadas como sendo os mais promissores para promoverem a melhoria do desempenho da SST.

Metodologia

Em busca de respostas para a questão da pesquisa, foi selecionado um grupo de empresas de médio porte, do mesmo ramo de atividade econômica, e que está sujeito às mesmas políticas, legislações e regulamentações do governo federal. Assim, a pesquisa de campo foi dirigida ao segmento de terminais marítimos para granéis líquidos que operam no País, os quais são empre-sas que dispõem de uma variedade de tanques de superfície de pequeno e médio porte, de capa-cidades entre dez e cem mil metros cúbicos, com fl exibilidade para armazenar os mais variados produtos líquidos, incluindo os liquefeitos, seja para uso próprio da companhia ou para terceiros, e com facilidades para operar com navios especializados e caminhões-tanque.

Foram identifi cadas sete companhias para participarem do estudo, as quais possuem um total de quinze terminais marítimos para granéis líquidos operando no País. Dentre essas sete com-panhias, duas delas optaram por não participar do estudo. As cinco companhias participantes possuem onze terminais marítimos para granéis líquidos, os quais estão distribuídos da seguinte forma: cinco na Baixada Santista-SP, um no Rio de Janeiro-RJ, um em Paranaguá-PR, um em Ipojuca-PE, um em Candeias-BA, um em São Luiz-MA e um no Rio Grande-RS.

Os sujeitos da pesquisa foram membros da alta administração com responsabilidade parcial ou total na aprovação de orçamentos e nas decisões fi nais relacionadas com a SST, os quais ocupavam cargos da seguinte natureza: diretor fi nanceiro corporativo, diretor de terminal, ge-rente de terminal, líder de terminal, gerente corporativo do meio ambiente e segurança do tra-balho. Utilizou-se um formulário composto por quarenta e três questões, abertas e fechadas, para auxiliar a realização das entrevistas, o qual foi testado e validado previamente. A coleta de informações ocorreu no período de julho de 2005 a fevereiro de 2006 e atendeu as diretrizes da Resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde, que estabelece a exigência da anuência livre e esclarecida dos participantes na pesquisa.

Resultados

Os resultados da pesquisa revelaram que os incentivos estudados têm potencial para exer-cerem infl uência nas decisões dos membros da alta administração das companhias estudadas, com exceção do incentivo na forma de estabelecimento de requisitos de SST nas licitações pú-blicas, pois as organizações não possuem relações comerciais com o governo. Os incentivos governamentais na forma de fl exibilização das alíquotas de recolhimento do SAT e na forma de

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fl exibilização da freqüência das fi scalizações programadas dos ambientes e condições de trabalho foram avaliados pelos membros da alta administração do segmento estudado como sendo os mais promissores para infl uenciarem suas decisões para melhoria do desempenho da SST.

Esses dois incentivos permitem promover a implementação voluntária de práticas de gestão da SST nas organizações, na medida em que a comprovação da conformidade com tais práticas se constitua num indicador proativo. Tais incentivos provocam conseqüências diretas e imediatas ao público-alvo, tanto na forma de recompensas como de punições, que são objetivas e facil-mente mensuráveis. Os incentivos que exploram a publicidade de informações em SST, como é o caso do uso da publicidade negativa e da comparação dos desempenhos em SST, não têm a mesma diretividade, pois a infl uência que exercem nas decisões sobre SST depende de fatores como o nível da reação ou da pressão das partes interessadas sobre o público-alvo, a importância que a imagem corporativa tem para manter ou expandir os negócios das organizações atingidas, a repercussão e abrangência alcançada pela publicidade governamental.

Quanto às especifi cidades da fl exibilização das alíquotas de contribuição do seguro acidente do trabalho, não se deve perder de vista que esta forma de incentivo não tem potencial para infl uenciar todas as empresas com a mesma intensidade, ou seja, o impacto desta medida varia conforme o tamanho das empresas, ramo de atividade, tecnologia utilizada etc. De forma geral, presume-se que enquanto o impacto nas grandes empresas pode ser signifi cativo, nas micro e pequenas empresas pode ser pouco expressivo. Em ramos de atividade em que o custo com a mão de obra consome boa parte do faturamento, o incentivo terá um impacto maior quando comparado com a situação contrária. De forma análoga, haverá uma diferenciação entre empre-sas quando for considerado o nível de tecnologia empregado, pois esse fator pode determinar um menor ou maior número de atividades automatizadas, e conseqüentemente alterando a relação entre o custo da mão de obra e o faturamento da empresa. Outrossim, há que se consi-derar que provavelmente esse incentivo atua melhor como uma contra-medida, isto é, ele terá um efeito maior nas empresas que terão acréscimo nas alíquotas de recolhimento do SAT do que naquelas que terão redução.

Quanto à fl exibilização da freqüência das fi scalizações programadas com base no desempe-nho da SST e/ou na demonstração de conformidade com práticas voluntárias de gestão da SST, cabe lembrar as experiências americanas com o OSHA´s Maine 200 Program, que consistiu em direcionar a intervenção governamental nas duzentas empresas com as mais altas taxas de bene-fícios decorrentes de acidentes e doenças naquele Estado, e com os Programas Voluntários de Proteção (Voluntary Protection Programs - VPP), que permite a suspensão das fi scalizações progra-madas nas empresas que demonstraram estar em conformidade com tais programas e atenderam determinados critérios de desempenho da segurança.

No entanto, deve-se levar em conta que o potencial deste incentivo será tanto maior na medida em que a ocorrência das fi scalizações seja percebida pelo público-alvo como alta, e que o impacto fi nanceiro das penalidades seja também percebido como alto. Além disto, na medida em que o governo e a mídia dão mais publicidade às autuações impostas na área de SST, haverá um impacto maior nas empresas sensíveis à variação da imagem corporativa. Outrossim, depen-dendo das conseqüências que a alta administração possa sofrer pelas partes interessadas devido às autuações, esse incentivo poderá ter um potencial maior ou menor para infl uenciar o público-

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alvo no alcance do benefício. A possibilidade de suspensão das fi scalizações de SST acabou se revelando como um benefício bem valorizado pelos entrevistados, mesmo numa situação que o custo das autuações é percebido pelos entrevistados como baixo ou médio.

Quanto ao incentivo na forma de reconhecimento público em SST, terceiro na ordem de preferência, cabe salientar que vários governos estrangeiros têm empreendido esforços nesse sentido. Os dados obtidos junto aos entrevistados revelaram que esse incentivo é reconhecido como promissor para infl uenciar a conduta das organizações no desenvolvimento de esforços preventivos. No entanto, deve-se considerar a possibilidade dele atingir principalmente aquelas empresas que já estão num patamar elevado de desempenho. Assim, vislumbra-se que o impac-to desse incentivo será muito menor naquelas com baixo desempenho em SST, ou naquelas em que a SST é pouco valorizada.

Quanto ao incentivo na forma de publicidade negativa, ao tentar identifi car a situação que melhor refl ete a infl uência deste incentivo, a maioria dos entrevistados indicou que a medida somente infl uenciará as decisões deles se provocar a manifestação ou reação adversa de clientes, acionistas ou outra parte interessada; o restante dos entrevistados indicou que haverá infl uência nas suas decisões sobre SST, independente de suas companhias serem alvo de publicidade nega-tiva. É importante considerar que os terminais marítimos para granéis líquidos estão inseridos num mercado competitivo em nível mundial, e a publicidade negativa pode propiciar a perda da confi ança das partes interessadas e, até mesmo, a interrupção das operações e dos negócios. Além disto, a publicidade negativa pode sensibilizar acionistas e credores, que temem a desva-lorização da organização e perdas de capital. Deste modo, pode haver pressão por parte desses atores para resolução dos problemas.

Quanto ao incentivo via publicidade de dados comparativos do desempenho da SST, a maio-ria dos entrevistados acredita que a divulgação de dados comparativos do desempenho da SST pelo governo terá uma infl uência especial nos casos das organizações classifi cadas abaixo da média do setor. Caso estivessem nessa condição, a maioria indicou que seria mais pressionada, ou fi caria mais constrangida, com o público interno (nível hierárquico acima ou subordinados). Os entrevistados estão inseridos em grandes corporações de capital aberto e respondem pelo desempenho dos terminais para níveis hierárquicos superiores, e a indicação de baixo desem-penho compromete suas reputações. Um fator importante na comparação dos desempenhos organizacionais em SST é a divulgação ampla que a iniciativa deve ter. Outro fator é a seleção de indicadores representativos dos desempenhos organizacionais em SST em que se deve avaliar a capacidade do Estado não só em dar conta do processamento dos dados, mas também de garan-tir a atualização e credibilidade dos mesmos.

Conclusões

O uso de incentivos governamentais para promoção da SST oferece a oportunidade de cobrir lacunas deixadas pelos instrumentos tradicionais de Estado, e também a possibilida-de de estimular melhorias tecnológicas e inovações de maneira muito mais fl exível e efi caz que a regulamentação convencional. Além disto, os incentivos podem encorajar o alcance de resultados que vão além do alcance da conformidade legal, e numa condição de melhor custo-benefício para o Estado.

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Ao considerar que determinados incentivos podem ser mais efetivos para organizações de um determinado ramo de atividade econômica do que para outros, que a infl uência dos incenti-vos nos membros da alta administração pode variar de acordo com o tamanho das organizações, que os membros da alta administração não são infl uenciados similarmente pelos diversos tipos de incentivos, é provável que, num levantamento em organizações de outros ramos de atividade e com outras características, se obtenha resultados distintos daqueles obtidos.

É desejável que o planejamento para a implantação de incentivos conte com um aporte de estudos que permitam vislumbrar o alcance de cada incentivo no público-alvo. Cada tipo de in-centivo tem suas vantagens e limitações, e nenhum deles isolodamente é sufi ciente para garantir bons resultados em todo o universo das organizações. Há que se considerar que mesmo quando um estudo aponta que um determinado incentivo é promissor para infl uenciar o público-alvo, isto não é garantia do desencadeamento de ações para promoção da melhoria do desempenho da SST. Somente após o período de implantação e de assimilação pelas partes envolvidas, é que se pode obter dados que permitam inferir sobre a sua real efi cácia.

Referências

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WRIGHT, M. et al. Survey of compliance with employers’ liability compulsory insurance (ELCI) Act 1969. Prepared by Greenstreet Berman Ltd for the Health and Safety Executive. Research Report 188. Suffolk (United Kingdom): HSE Books; 2003.

TAIT, R.; WALKER, D. Motivating the workforce: the value of external health and safety awards. Journal of Safety Research, USA, v. 31, n. 4, p. 243-251, 2000.

GUNNINGHAM, N. CEO and supervisor drivers: review of literature and current practice. Report prepared for the National Occupational Health and Safety Commission. Canberra: NOHSC, 1999.

DAVIS, C. Making companies safe: what works? A report to the Centre for Corporate Account-ability. London: CCA, 2004.

HOPKINS, A. New strategies for safety regulators: beyond compliance monitoring. Working Paper32. Australia, 2005. Disponível em: <http://www.ohs.anu.edu.au>. Acesso em: 10 jan. 2006.

Dissertações de Mestrado

(Resumos)

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Arquivos abertos e instrumentos de gestão da qualidade como recursos para a disseminação da

informação científi ca em segurança e saúde no trabalho

Erika Alves dos Santos, Fundacentro/CTN/MTE

Palavras-chave: gestão da segurança e saúde no trabalho; gestão da qualidade; informação científi ca; arquivos abertos.

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Introdução

A informação científi ca é o insumo que pode culminar em descobertas contribuindo para o avanço da Ciência. Entretanto, o alto custo e a escassez de recursos são

apenas duas barreiras para o acesso a este campo ser explorado. Na área de Segurança e Saú-de no Trabalho (SST) não é diferente. As barreiras encontradas pelos profi ssionais durante o processo de recuperação de informações, sobretudo aquelas oriundas de experimentos científi cos, geram a necessidade da refl exão sobre formas de promoção do giro do capital intelectual entre os profi ssionais da área.

A Internet tem grande contribuição neste sentido, considerando que a comunicação entre os pesquisadores se dá de forma mais fl uida e ágil no espaço virtual. Contudo, a popularização des-te instrumento de pesquisa gerou ruídos no fl uxo científi co, uma vez que a falta de critérios de qualidade e confi abilidade na publicação de trabalhos gerou o “lixo eletrônico” criando barreiras na seleção de informações de real importância, bem como na verifi cação da legitimidade dos dados apresentados, em especial na área de SST, na qual as informações são escassas, em relação às demais áreas do conhecimento humano.

Uma das alternativas para minimizar os impactos destes ruídos no fl uxo informacional é a criação de ambientes virtuais especializados, ou simplesmente arquivos abertos (AA), que pos-sibilitam o direcionamento das informações a um público alvo, promovem a quebra de práticas burocráticas no processo de publicação de documentos, estabelecem a interoperabilidade entre sistemas e a comunicação na comunidade científi ca e promovem o multidimensionamento das formas de acesso aos estudos disponibilizados por tais vias.

Neste sentido, os objetivos principais deste estudo enfocaram a utilização de repositórios digitais de informação sob a fi losofi a de disseminação de informações utilizada na iniciativa de arquivos abertos como uma alternativa para a promoção do giro do capital intelectual e da co-municabilidade científi ca entre os pares, enquanto os objetivos secundários foram a identifi cação da iniciativa em questão como instrumento de apoio à gestão da segurança e saúde no trabalho, aliada a dois instrumentos da gestão da qualidade: o PDCA e o 5S.

A informação científi ca em segurança e saúde no trabalho

As barreiras do acesso à informação são diversas. Por exemplo, a questão dos impedimen-tos lingüísticos, que impossibilitam a consulta a estudos relevantes, publicados em periódicos de grande expressão internacional. Diga-se de passagem, que é sabido que não é grande a porcentagem de profi ssionais que dominam línguas estrangeiras. Este fato fortalece ainda mais a necessidade de promover o intercâmbio técnico-científi co entre os profi ssionais no país, formando uma grande cadeia de troca de experiências, contribuindo para a reversão da atual situação das condições de trabalho degradantes que ainda podem ser encontradas nos mais diversos ramos de atividade.

Informação é crucial para a efi cácia do sistema de gestão da SST, entretanto, em muitas situações, as informações necessárias para as intervenções efetivas não estão disponíveis,

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limitadas, por exemplo, pela contingência temporal. [...] A avaliação do sistema de gestão da SST é um exame sistemático da sua funcionalidade e efi cácia com o objetivo de produzir informações consistentes que possam auxiliar no processo de decisão para a concepção de novas estratégias que promovam a melhoria do desempenho da SST. (BARREIROS, 2002, p. 45-46)

O ideal é que os riscos e oportunidades sejam identifi cados pela organização de forma pró-ativa. Neste contexto o gestor tem os instrumentos necessários para prevenir ou mitigar riscos, aproveitando ao máximo as oportunidades emergentes, ou, até erradicando eventos prejudiciais à organização e/ou ao trabalhador.

Em meio à necessidade de promover o pensamento coletivo em SST e às conveniências proporcionadas pela era dos computadores, que facilitam a geração, armazenamento e trans-missão de informações, surgem as refl exões no sentido de construir e incentivar o uso de novos instrumentos que viabilizem o fl uxo da comunicação científi ca. Neste sentido, a iniciativa de arquivos abertos (AA), originalmente conhecida como Open Archives Iniciative (OAI), aliada aos mecanismos propostos pela gestão da qualidade, que emerge como um meio efi caz no sentido de promover um ambiente de trabalho mais saudável e seguro ao trabalhador superando barreiras geográfi cas e temporais, favorecendo o acesso e disseminação da informação.

Os recursos digitais de acesso à informação sob a fi losofi a de arquivos

abertos

Os arquivos abertos (AA), são vistos por Triska e Café (2001) como um conceito inovador que visam disponibilizar o texto da forma mais rápida possível, favorecendo e democratizando o acesso gratuito das publicações eletrônicas, de modo que haja o enfraquecimento do mono-pólio até então detido pelas editoras sobre toda a publicação científi ca. Os AA estabelecem um conjunto de padrões que permitem a interoperabilidade entre os diversos repositórios digitais, que segundo Viana, Márdero Arellano e Shintaku (2006), são denominados como uma forma de armazenamento de objetos digitais que tem a capacidade de manter e gerenciar material por longos períodos de tempo e prover o acesso adequado. De acordo com Machado (2006, p. 16), os arquivos abertos são “bibliotecas digitais desenvolvidas na Web por cientistas e para cientistas, constituindo-se em fóruns privilegiados para difusão de resultados e debates científi cos”.

Desta forma, os AA podem ser utilizados como um instrumento para agregar valor à gestão da qualidade em SST, no sentido de prover informações e casos de sucesso para adaptações e possivelmente aplicação e assim promover melhores condições de trabalho ao trabalhador.

Os instrumentos de gestão da qualidade: os 5S e PDCA

Concebido por Kaoru Ishikawa em 1950 no Japão (INSTITUTO DE PESOS E MEDIDAS DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2006), o 5S é um método de gestão da qualidade, oriundo do Japão. O método é dividido em cinco fases, cada um representado por um senso, que visam deli-

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near técnicas efi cientes e efi cazes voltadas à redução de custos, otimização de recursos materiais, tecnológicos e humanos, e combate de desperdícios (GOMIERO, 2007). Trata-se de um proces-so educacional, que muitas vezes é introduzido como base para outros instrumentos de gestão. Os objetivos são transformar o ambiente das organizações e a atitude das pessoas, melhorando a qualidade de vida dos funcionários, diminuindo desperdícios, reduzindo custos e aumentando a produtividade das instituições (INSTITUTO DE PESOS E MEDIDAS DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2006). O 5S pode implicar na melhoria de outras funções como produção, quali-dade, recursos humanos, além da higiene, segurança e meio ambiente.

O ciclo PDCA, por sua vez é hoje reconhecido como um processo de melhorias e controle de processos que precisa ser de domínio de todos os funcionários de uma organização para ter efi cácia, segundo Souza e Mekbekian (1993) e o Centro de Tecnologia de Edifi cações (1994). Basicamente, o ciclo PDCA é

[...] um método que visa controlar e conseguir resultados efi cazes e confi áveis nas ativi-dades de uma organização. É um efi ciente modo de apresentar uma melhoria no proc-esso. Padroniza as informações do controle da qualidade, evita erros lógicos nas análises, e torna as informações mais fáceis de se entender. Pode também ser usado para facilitar a transição para o estilo de administração direcionada para melhoria contínua. (PARCE-RIA DO DISTRITO INDUSTRIAL EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS, 2007)

O processo proposto pelo PDCA implica avaliação constante de todo o sistema, de forma a detectar quaisquer possíveis falhas, de forma pró ativa. Sob esta ideologia, é que se faz necessária a condução de rígidas auditorias, em cada uma das etapas do trabalho. Desta forma, sempre são emergentes as novas formas de executar tarefas, de se fazer coisas de uma maneira mais efi ciente e segura. O fato de seguir o ciclo planejar, fazer, checar e agir, é uma forma de promover a me-lhoria contínua e conseqüentemente, o aprimoramento do conhecimento de todos os envolvidos com a atividade em questão. Aliás, o ciclo PDCA é um método de gestão pela qualidade total, incluindo também a prevenção de acidentes e doenças ocupacionais.

A fusão do ciclo PDCA + 5S = Benefícios para a empresa?

Aumentar a qualidade e produtividade ao mesmo tempo em que promove qualidade de vida, aliada à competitividade: eis o grande desafi o do gestor / empreendedor do Século XXI. Quais-quer que sejam os instrumentos utilizados para melhorar a qualidade no processo de trabalho dentro das indústrias, haverá benefícios tangíveis para a gestão da SST.

Os sistemas de informação, igualmente, têm sua importância neste sentido, uma vez que aí são depositados e publicados diversos estudos de caso, que são válidos no sentido de auxiliar na identifi cação de pontos passíveis de melhoras nos processos organizacionais como um todo.

Informação, qualidade, gestão organizacional, SST, retornos fi nanceiros. Embora cada um tenha uma particularidade completamente diferente, a utilização conjunta destes instrumentos converge para o estabelecimento de programas de melhorias organizacionais, que benefi ciam não somente o cliente, mas sobretudo o trabalhador que é justamente o responsável pela exis-

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tência do produto fi nal. O valor de um operário para a organização é incalculável. Cada vez que uma vida se perde, não é somente um trabalhador que deixa de fazer parte do quadro de funcionários daquela instituição, mas também um membro da sociedade, que leva consigo uma gama de conhecimentos, que pode ainda não ter sido disseminada. Neste caso, além do operário, a organização perde também um valioso ativo intangível: o conhecimento.

Dessa maneira, advém a importância de disseminar ao máximo o conhecimento. A proposta é que a gestão da SST e do conhecimento sejam convergentes, de modo a certifi car que a gestão da qualidade como um todo, e não apenas do produto fi nal, possa apresentar pontos positivos no sentido de proporcionar melhores condições de trabalho ao trabalhador, sendo subsidiada pelo provimento de dados técnico-científi cos oriundos tanto do conhecimento tácito, quanto da experiência de outros profi ssionais.

Metodologia

A população deste estudo foi composta por 23 profi ssionais, sendo que destes, 52% foi cons-tituída por técnicos de segurança, ao passo que os engenheiros, responderam por 21% do total da amostra. O perfi l da comunidade selecionada caracterizou-se predominantemente masculina (82,6%), na faixa de idade entre 36 a 50 anos e com mais de 10 anos de atuação na área. Foi ela-borado um questionário composto de 17 perguntas, que foi aplicado aos profi ssionais atuantes em organizações da zona sul da cidade de São Paulo.

Análise dos dados

Constatou-se que o ambiente virtual para pesquisas ainda não é devidamente explorado pelos entrevistados, sendo este um fato que desperta certa preocupação aos gestores em SST, considerando todos os benefícios deste recurso de transferência do conhecimento, aqui apresentados, dentre outros que fogem aos objetivos desta pesquisa.

Em relação ao bem estar do trabalhador, os resultados mostram claramente que o acesso à informação é imprescindível para a melhoria dos anteparos para acidentes ocupacionais. A proteção da saúde física e mental dos trabalhadores depende em grande parte do acesso a que os profi ssionais ocupantes dos cargos superiores têm à informação científi ca de forma geral. Segundo os entrevistados, é importante o cruzamento de informações entre uma e outra empresa, no sentido de aprimorar técnicas, e até auxiliar em processos de tomada de decisão ou resolução de problemas.

A atual situação denuncia a necessidade de promover a prática da gestão da SST den-tro da organização como um instrumento de proteção ao trabalhador, e não como um agente fi scalizador, com poder punitivo aos que descumprirem suas recomendações. O trabalhador precisa ter uma visão diferente da segurança no trabalho, bem como dos pro-fi ssionais atuantes na área. Neste sentido a integração e conscientização dos trabalhadores por meio da informação uma vez mais se mostram efi cazes. A informação, por si só não é a chave para a resolução de todos os problemas, mas pode ser um caminho para o come-ço de tudo. O intercâmbio de dados entre as empresas proporciona o compartilhamento

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de experiências proporcionando o aprimoramento de processos e o auxílio na previsão deocorrências danosas, o acidente propriamente dito.

As premissas iniciais, que se confi rmaram ao término deste estudo, indicaram que a fi losofi a de disseminação de informações científi cas, utilizadas em arquivos abertos é con-siderada pelos profi ssionais questionados, como um instrumento de apoio para a gestão da SST. Quanto à postura desses profi ssionais, a aceitação desta nova forma de disseminação de informações científi cas é plausível, embora a confi abilidade e familiaridade deste público com os instrumentos digitais de pesquisa seja relativamente baixo, gerando a necessidade de promover a cultura do espírito científi co, que instiga a produção e compartilhamento de informações, e sobretudo, a publicação de trabalhos científi cos.

A refl exão salientou que a informação científi ca pode ser vista e utilizada como um ins-trumento de apoio à gestão da SST de forma geral, sendo esta considerada um pilar para a gestão da segurança e saúde no trabalho. Um instrumento de pesquisa na área auxiliaria os profi ssionais, seja em processos de tomada de decisão, seja em aspectos técnicos. Aliado aos mecanismos de gestão da qualidade, os benefícios são potencializados, podendo chegar a trazer benefícios signifi cativos às organizações.

Considerações fi nais

O uso e aplicação efetiva da informação e comunicação científi ca podem ser considerados hoje como um dos maiores desafi os, senão o maior deles, para a Segurança e Saúde no Trabalho. Considerando que este é um ramo do conhecimento que lida com a vida humana, o avanço rumo ao conforto e segurança no trabalho de forma a permitir que a humanização do mesmo se torne uma realidade visível aos olhos da sociedade, com resultados concretos, proporcionando a qualidade de vida no trabalho, sobretudo nas atividades que oferecem maiores riscos laborais, que colocam em jogo a segurança e até mesmo a vida dos trabalhadores.

Por mais necessários que seja os bens materiais, não devemos nos esquecer do seguinte: TUDO ISSO EXISTE PARA O HOMEM. E ele não pode ter sua saúde desprote-gida. O controle dos ambientes de trabalho é obrigatório. Trata-se de uma questão de moralidade. Se o trabalho não contribuir para sua felicidade, será tudo uma imensa e deplorável perda. (SAAD, 2006)

No caso de acidentes de trabalho, é inaceitável qualquer tipo de adaptação. Afi nal de contas, um trabalhador mutilado por acidente de trabalho, muito difi cilmente se adaptará à sociedade e ao ambiente de trabalho de forma a realizar as atividades de sua rotina, a cena do momento do acidente jamais será apagada de sua memória. Não será uma indenização, independente do valor, ou qualquer outro benefício social que irá suprir os traumas psicológicos deste tra-balhador, ou substituir as atividades das quais foi privado em decorrência do acidente. Logo, é inadmissível o uso do termo adaptação quando o assunto é segurança e saúde no trabalho, uma vez que a saúde e a integridade do trabalhador é um direito adquirido, e portanto, deve ser respeitado pelo empregador.

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Cabe aos profi ssionais da área de segurança e saúde do trabalho zelar pela alteração deste cenário, promovendo mudanças efetivas no ambiente de trabalho e que estas, alcancem e vigo-rem em todos os ambientes laborais, de forma que a vida do trabalhador, que representa a força de uma nação, seja respeitada e preservada. A construção de um repositório digital na área de segurança e saúde no trabalho pode ser uma ferramenta auxiliar neste processo.

Referências

BARREIROS, D. Gestão da segurança e saúde no trabalho: estudo de um modelo sistê-mico para as organizações do setor mineral. 2002. 317 f. Tese (Doutorado em Engenharia de Minas e Petróleo)-Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.

CENTRO DE TECNOLOGIA DE EDIFICAÇÕES. Sistema de gestão da qualidade para empresas construtoras. São Paulo: SINDUSCON-SP, 1994.

GOMIERO, F. Os cinco sensos do combate ao desperdício. Disponível em: <http://www.janelanaweb.com/digitais/gomiero24.html>. Acesso em 20 set. 2007.

INSTITUTO DE PESOS E MEDIDAS DO ESTADO DE SÃO PAULO. O programa 5 esses. São Paulo: IPEM, 2006. Disponível em: <http://www.ipem.sp.gov.br/3emp/5esses.asp?vpro=abe>. Acesso em 21 set. 2007

MACHADO, M. Open archives: panorama dos repositórios. Dissertação (Mestrado em Ci-ência da Informação). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006. Disponível em: <http://www.tede.ufsc.br/teses/PCIN0015.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2007.

PARCERIA DO DISTRITO INDUSTRIAL EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS. Ciclo PDCA. Disponível em: <http://www.pdca.org.br/>. Acesso em: 20 set. 2007.

TRISKA, R.; CAFÉ, L. Arquivos abertos: subprojeto da Biblioteca Digital Brasileira. Ciência da Informação, Brasília, v. 30, n. 3, p. 92-96, set./dez. 2001.

SAAD, I. F. S. O adicional de Insalubridade após a nova NR-9. Revista ABHO de higiene ocupacional, v. 5, n. 14, p. 13-14, 2006.

SOUZA, R.; MEKBEKIAN, G. Metodologia de Gestão da qualidade em empresas constru-toras. In: ENTAC93 – ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO: AVANÇOS EM TECNOLOGIA E GESTÃO DA PRODUÇÃO DE EDI-FICAÇÕES, 1993, São Paulo. Anais... São Paulo: EDUSP, 1993. p. 127-131.

VIANA, C. L. M.; MÁRDERO ARELLANO, M. A.; SHINTAKU, M. Repositórios institu-cionais em ciência e tecnologia: uma experiência de customização do Dspace. Disponível em: <http://eprints.rclis.org/archive/00005563/01/viana358.pdf>. Acesso em: 22 Mar. 2007.

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A importância da comunicação de riscos para as organizações

Alexandra Rinaldi, Fundacentro/CTN/MTE

Palavras-chave: risco; comunicação de risco; gestão de risco; percepção de risco.

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Justifi cativa

A comunicação de risco é um tema complexo e abrangente ao envolver situações de risco, sejam eles decorrentes de ações humanas, naturais e industriais. Questões re-

lacionadas aos problemas decorrentes da gestão ambiental, da gestão da segurança e saúde no trabalho, de acidentes tecnológicos e mesmo as questões relacionadas com o risco do negócio da organização podem ser melhores compreendidos pelas partes interessadas a partir da compreen-são da importância da comunicação de risco.

Objetivos

Evidenciar a importância da comunicação de risco para as organizações e ao mesmo tempo apontar para os benefícios e limitações que as corporações encontram ao incorporarem o tema nos seus processos de gestão.

Metodologia

Esta pesquisa é de caráter exploratório analítico, uma vez que tem a intenção, por meio da revisão e análise crítica da literatura, de explorar os contornos sociais, políticos, técnicos e eco-nômicos nos quais a comunicação de risco se insere.

Para a realização do trabalho, buscou-se, principalmente em artigos e referências bibliográfi -cas internacionais e nacionais, levantar o estado da arte sobre o tema comunicação de risco.

Paralelamente, buscou-se explorar também as principais bases de dados, tais como LILACS, Portal de periódicos da CAPES, base de dados ORACLE, BIREME e internet, por meio da seleção de artigos, dissertações e teses. Além dos Portais consultados, outros docu-mentos ofi ciais, tais como da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), do National Research Council (NRC) e da World Health Organization (WHO) serviram como apoio à presente pesquisa.

O período de levantamento da revisão bibliográfi ca, compreendeu a partir do ano de 1969 até 2006, embora se faça citação à uma referência de 1949 sobre teoria da comunicação.

Resultados e conclusões da pesquisa

Em decorrência das difi culdades de compreensão sobre a importância da comunicação de risco em diferentes contextos, muitas organizações enfrentam momentos delicados para justifi car a implementação de projetos, explicar situações de emergências decorrentes de seus processos produtivos como a ocorrência de acidentes que trouxeram impacto sobre pessoas e meio ambiente.

Isso não signifi ca que a comunicação de riscos poderia ter evitado esses acidentes, mas en-fatiza-se que a incorporação do processo de comunicação de risco à gestão de riscos poderia ter ajudado a contribuir para uma melhor compreensão dos eventos ocorridos, e, dessa forma contribuído para que esses eventos se mantivessem dentro da governabilidade organizacional.

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São inúmeros os exemplos no qual uma estratégia inadequada de comunicação de risco pro-vocou desdobramentos que levaram muitas organizações a perder totalmente sua capacidade de agir na liderança sobre o que fazer após a ocorrência de um evento catastrófi co ou ainda, contri-buiu para evidenciar ainda mais uma situação na qual houve a total perda de confi ança das partes interessadas sobre a maneira como a organização lida com seus riscos.

Embora muitas organizações venham se esforçando em incorporar a comunicação de risco em seus programas de gestão, parte delas agem e são conduzidas por meio de requisitos legais que as obrigam a informar a sociedade e as partes interessadas sobre seus riscos, como o direito-de-saber (right-to-know) nos Estados Unidos, a lei sobre política ambiental americana e a comu-nicação em situações de emergência também praticada no Brasil pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental - CETESB.

Por outro lado, cada vez mais as organizações se vêem obrigadas a se engajarem em inicia-tivas voluntárias que exigem delas uma maior adesão a princípios que possam sinalizar para as diferentes partes interessadas de que tem uma atuação com ética e responsabilidade social. O exemplo mais interessante vem das indústrias químicas que desde 1986 vêm incorporando o programa denominado Responsible Care® ou Atuação Responsável, como forma de melhorar a gestão dos perigos e riscos nesse tipo de atividade. A implementação dessa iniciativa pelas in-dústrias químicas vem contribuindo para tornar mais efi cazes seus mecanismos de controle de perigos e riscos e, ao mesmo tempo, melhorar a capacidade de diálogo e a imagem desse tipo de atividade junto às partes interessadas.

Neste mesmo contexto de aplicação voluntária, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, lançou, em 1988, o APELL – Alerta e Preparação de Comuni-dades para Emergências Locais, no qual auxilia as organizações quanto à gestão dos riscos. Ainda em 1988, a Associação Brasileira da Indústria Química – ABIQUIM, incumbiu-se de implantar o APELL no Brasil como um instrumento para elaboração de planos de emergên-cia para aumentar a coordenação no atendimento a acidentes e melhorar o +diálogo entre a indústria e a população.

Amplia-se à gestão do risco corporativo, como por exemplo, o risco fi nanceiro, o risco ope-racional e o risco estratégico, abrindo novos debates quanto à importância da gestão dos riscos organizacionais, a fi m de assegurar e manter a confi ança de investidores e acionistas.

Em Julho de 2002, nos Estados Unidos, foi implantada a lei que se tornou conhecida como Sarbanes-Oxley em homenagem aos seus autores, os senadores Paul Sarbanes e Michael Oxley. Essa lei busca garantir a criação de mecanismos de auditoria e segurança confi áveis nas empresas de maneira a mitigar riscos aos negócios e garantir a transparência na gestão das organizações.

Assim, se o risco está presente em diversas situações e de acordo com o sociólogo alemão Ulrick Beck (1992), vivemos em uma “sociedade de risco” como resultado do acelerado proces-so de modernização, e para Giddens (1991), “a modernidade é uma cultura de risco”, a comuni-cação de risco traz uma nova oportunidade em promover a interação de troca de informações e opiniões entre as diferentes partes interessadas.

Uma das partes interessadas que pode interferir de modo positivo ou negativo no processo de comunicação e de gerenciamento de riscos está a mídia.

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Em detrimento da própria complexidade de se estabelecer a comunicação de risco, bem como identifi car e envolver as diferentes partes interessadas e alinhar suas diferentes percepções, as organizações se vêem confrontadas com fatores políticos que em sua grande parte advém do clima interno ou da sua própria política organizacional. Nesse sentido, Wiedemann (1999), observa que as micro-políticas existentes nas organizações decorrem, em grande parte, das dife-renças de interesses entre essas partes interessadas, disputa de poderes internos e na ausência de transparência em compartilhar de suas ações.

Da mesma maneira que a política interna infl uencia negativamente no resultado das orga-nizações, a política externa revela-se outro ponto de descontentamento entre as organizações. Representados pelo governo e pelas agências reguladoras, estas instituições possuem um papel social importante, pois são elas que devem agir em favor do interesse público. Para as organi-zações, os fatores políticos são vistos como intrusivos na medida em que podem impactar nos resultados das organizações.

Além disso, quando o processo de tomada de decisão no setor público ou privado deixa de envolver as partes interessadas, os desdobramentos com relação às estratégias para a gestão do risco podem fi car comprometidas.

Estas posições antagônicas entre a política interna e externa expõem as organizações a um emaranhado de confl itos culminando em processos judiciais, atrasos na produção, boicotes, conspirações e reação negativa da mídia.

Os modelos de gestão de risco atualmente utilizados no Brasil reforçam a importância do processo da comunicação de risco e oferece uma grande oportunidade e auxílio aos gestores na compreensão de todo o processo de gestão. Contudo, as formas de implementação e de adoção quanto a um único modelo, ainda é fragilizada e incipiente na realidade Brasileira. Em sua maior parte, os modelos de gestão foram propostos por países europeus e países como Canadá, Esta-dos Unidos, Nova Zelândia e Austrália.

Exceto entre as grandes organizações que possuem em seus quadros pessoal especializado capazes de evidenciar a importância do processo de comunicação de risco para as iniciativas de gerenciamento de riscos, a situação ainda se mostra incipiente nas iniciativas do poder público. Por outro lado, na literatura nacional identifi cou-se uma enorme lacuna de pesquisas que pudes-sem auxiliar as organizações a compreender esse processo de comunicação de riscos.

Dada a importância, a complexidade e a interdisciplinaridade do tema, a comunicação de risco deve estar inserida em outras disciplinas. Na engenharia, representada aqui por gestores e especialistas em gestão de riscos. Na psicologia ao abordar os aspectos intuitivos e cognitivos voltados para a compreensão da percepção do risco.

Na comunicação social por meio dos cursos de jornalismo ambiental e jornalismo científi co, e por último, nos cursos de Direito ao auxiliar num arcabouço jurídico em leis e regulamentos voltados à saúde, segurança e meio ambiente. Na pedagogia, a comunicação de risco também poderá dar importante contribuição na medida em que forme cidadãos preparados e conscientes do seu papel na sociedade, especialmente frente aos novos riscos tecnológicos.

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Na prática, uma série de fatores de caráter social, ético, organizacional, educacional, cultural e governamental impedem a comunicação de risco de ser implementada de maneira efetiva e obrigatória nas organizações. Além disso, grande parte dos trabalhos científi cos estão voltados a compreender a comunicação ambiental e a comunicação em saúde, mas não na comunicação do ponto de vista da própria gestão dos riscos. A principal contribuição da comunicação de risco é que o tema, embora venha sendo paulatinamente discutido e incorporado nas grandes organizações, pode auxiliá-las na construção da confi ança e credibilidade, a partir do momento em que incorporem a comunicação de risco como uma atividade com começo, meio e fi m. Uma vez que divulgar informações sobre riscos, envolve uma série de julgamentos científi cos, a comunicação de risco oferece a oportunidade de “traduzir” aquilo que seja de desconhecimento público. E neste processo ela não terá somente uma participação passiva, mas também ativa, na medida em que sua função é estabelecer o diálogo de mão-dupla em informar e receber a opinião das partes interessadas.

A despeito de todas as limitações que movem a comunicação de risco nas organizações, ela pode dar importante contribuição aos processos de gestão e conseqüentemente aos gestores e especialistas. Para tanto, é necessário que as organizações tenham real consciência sobre a impor-tância de informar a sociedade sobre seus riscos, mas, sobretudo, priorizar recursos aos gestores na adoção de políticas organizacionais em comunicação de risco.

Em países democráticos, a adoção do right-to-know e do Freedom of Information Act foram implementados de forma mandatória e não compulsória ou voluntária e podem ser compre-endidos como iniciativas a fi m de atender às expectativas das partes interessadas com relação ao processo de comunicação de risco.

Para isso, o desafi o que se impõe ao governo brasileiro é no sentido de avançar com novas me-didas e mecanismos legais que auxiliem as organizações a informarem seus riscos, como, por exem-plo, a adoção de uma política nacional de gerenciamento e comunicação dos riscos tecnológicos.

Para concluir, ainda que as audiências públicas tenham como fundamento a prática da comu-nicação de riscos e da legitimidade social ao envolver a população nas questões voltadas ao meio ambiente, a discussão acerca dos riscos tecnológicos deve ser ampliada, a fi m de contribuir na formação popular e em uma melhor cultura prevencionista.

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A gestão da segurança e saúde no trabalho: a experiência do arranjo produtivo local do setor

metal-mecânico da região paulista do Grande ABC

Maria Carolina Maggiotti Costa, Fundacentro/CTN/[email protected]

Palavras-chave: micro e pequenas empresas; arranjos produtivos locais; metal-mecânico; Grande ABC (Brasil); Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho.

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Introdução

A tualmente, com a retomada do processo de desenvolvimento, o país necessita aten-tar para o seu maior desafi o, que é o de enraizar a democracia e acabar com a pobre-

za, aliando crescimento econômico à redução da desigualdade. É de fundamental importância que, ao desenvolver novas iniciativas empresariais, tenha-se em conta: o capital humano, que se traduz nos conhecimentos, habilidades e competências da população local, as condições e a qualidade de vida (SEBRAE, 2003); o capital social, que se refere às instituições, relações e normas que ajustam a qualidade e quantidade das interações sociais de uma sociedade. O capital social não é somente a soma de instituições que compõem uma sociedade, mas sim a substância que a mantém unida (WORLD BANK, 2006); a governança, que se refere às re-lações entre empresas e a mecanismos institucionais por intermédio dos quais se consegue a coordenação extra-mercado das atividades dentro de uma cadeia produtiva (HUMPHREY & SCHMITZ, 2002); e o uso sustentável do capital natural (SEBRAE, 2003). Na fundamentação teórica dessa visão, verifi ca-se a convergência de pelo menos duas importantes correntes do pensamento contemporâneo: a que enfatiza a noção de capital social como um conjunto de recursos capazes de promover a melhor utilização dos ativos econômicos pelos indivíduos e pelas empresas; e a que privilegia a dimensão territorial do desenvolvimento insistindo na idéia de que a competitividade é um atributo do ambiente, antes mesmo de ser um trunfo de cada empresa (ABRAMOVAY, 2000; SEBRAE, 2003).

Quando a questão do desenvolvimento nacional é abordada, não se pode deixar de considerar uma importante variável do cenário internacional: a globalização da economia, que se constitui em um fenômeno marcante e irreversível do fi m do século XX e começo do século XXI e tem como elemento catalisador a combinação do crescente movimento de liberalização e desregulamentação dos mercados (sobretudo dos sistemas fi nanceiros e dos mercados de capitais) com o advento do paradigma das tecnologias de informação (CASSIOLATO; LASTRES, 1999).

As micro, pequenas e médias empresas, que têm uma expressiva participação na economia nacional, sofrem impactos ainda mais intensos dos desafi os competitivos contemporâneos. Ava-liações de experiências em vários países, desenvolvidos ou em desenvolvimento, têm evidenciado e comprovado os efeitos positivos de aglomerações econômicas de pequenas e médias empresas em um determinado espaço territorial no processo de desenvolvimento econômico e social das nações. Tais aglomerações de empresas em um determinado território e com atividades similares são defi nidas na literatura internacional como clusters e na literatura brasileira como Arranjos Produtivos Locais (APLs), dentre outras defi nições menos utilizadas.

A constatação de que o processo de adensamento empresarial eleva a competitividade das empresas e impulsiona o desenvolvimento vem se refl etindo nas políticas públicas, o que lhes conferem o papel de propor ações, orientadas para impulsionar o desenvolvimento local tendo como alvo não a empresa individual, mas os vínculos entre as organizações e as demais instituições situadas em um espaço territorial delimitado. Além de todo o exposto, torna-se necessário ressaltar que na maioria dos países, as empresas de pequeno porte apresentam difi culdades para alcançar os padrões estabelecidos nas legislações nacionais que regem a ma-téria em geral e em particular nas legislações sobre saúde e segurança no trabalho (SST) e,

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conseqüentemente, apresentam uma elevada incidência de acidentes de trabalho. No Brasil, onde o setor produtivo está constituído majoritariamente por micro e pequenas empresas, este problema é especialmente preocupante devido ao fato de que um elevado contingente de trabalhadores está presente nestas empresas. A ausência de um tratamento adequado da SST implica, não só em uma tragédia para os trabalhadores e suas famílias, como também em uma grande carga social e econômica para a empresa e para a sociedade, limitando o progresso e o desenvolvimento do setor e do país.

A empresa de pequeno porte, em razão dos escassos recursos fi nanceiros de que dispõe, deve ser cuidadosa na observação e no controle de seus riscos laborais e ambientais, pois a inobservância destes pontos cruciais poderá gerar responsabilidade civil e criminal com sérios danos a sua imagem e patrimônio. Entretanto, deve-se considerar que apesar das abordagens sobre as estratégias sistêmicas serem defendidas por autores, bem como pelas normas interna-cionais, a situação é outra quando se depara com a empresa de pequeno porte, pois este seg-mento empresarial está quase sempre estruturado no âmbito familiar ou entre indivíduos que constituíram um negócio, por experiência no ramo e conhecimento da tecnologia, ou muitas vezes, por espírito empreendedor (GOMES; PACHECO JR, 2002).

Em âmbito mundial, verifi ca-se a existência de inúmeros sistemas de produção regional-mente concentrados demonstrando que a dimensão local vem assumindo uma importância crescente no processo de inovação tecnológica, fator fundamental na competitividade. No caso do Brasil, em virtude de seu vasto território, da heterogeneidade espacial da economia e da grande desigualdade regional, torna-se cada vez mais urgente a implementação de ações indutoras do desenvolvimento local. Portanto, essas ações só farão sentido se forem compar-tilhadas com redes locais empresariais, sociais e institucionais, onde essas condições sejam levadas em conta da mesma forma que a dimensão econômica. Portanto, ações em APLs vêm ganhando maior destaque, na tentativa de transformá-los em objeto prioritário das políticas de desenvolvimento. Entretanto, um dos principais desafi os será certamente o da orquestração política e técnica na sua administração. Além disso, há a necessidade do conhecimento apro-fundado do APL, com vistas à formulação de estratégias de atuação. Este exercício é ainda muito recente no Brasil e, conseqüentemente, esta nova maneira de trabalho integrado e sinér-gico de organizações vem sendo construída paulatinamente.Assim, o objetivo deste trabalho é a elaboração de um diagnóstico das empresas constituintes do APL do setor metal-mecânico, segmento ferramentaria, da região paulista do Grande ABC, que contemple sua gestão admi-nistrativa e fi nanceira, seu processo produtivo, aspectos mercadológicos, assim como as rela-ções entre as empresas constituintes do APL e os fatores e condicionantes fi scais, fi nanceiros e político institucionais. Ênfase especial será dada à segurança e saúde no trabalho (SST), por atuar diretamente sobre a qualidade de vida dos trabalhadores e de suas famílias e ser um dos componentes principais na implementação de sistemas de gestão.

A Região Paulista do Grande ABC e o “Projeto APL do Grande ABC”

A região Paulista do Grande ABC, situada na área metropolitana de São Paulo, abrange uma área de 825 km2 com uma população de 2,5 milhões de habitantes, sendo constituída por sete municípios: Santo André, São Bernardo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra (IBGE, 2005). Segundo a Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande

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ABC (2006), a região apresenta um alto padrão de vida e é responsável por 12% da atividade in-dustrial do Estado de São Paulo. Além da presença de grandes empresas do setor automobilístico, o ABC também se destaca pela força de seu complexo químico-petroquímico e por inúmeras indústrias de autopeças sendo o principal pólo automotivo do país. Sua renda per capita é aproxi-madamente de R$1000/mês, o que torna a região o terceiro mercado consumidor do país.

Em agosto de 2004, a Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC e o Ser-viço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa – SEBRAE iniciaram a implantação de um projeto de desenvolvimento de APL’s para o setor metal-mecânico envolvendo os segmen-tos de autopeças, ferramentaria e plásticos, atividades industriais de grande importância para a economia regional. Para dar início ao projeto, foram destinados R$ 1,8 milhão em recursos, sendo R$ 1,7 milhão provenientes do SEBRAE e R$ 100 mil da Agência. Participam do pro-jeto 63 MPE (com até 99 funcionários cada) desses três segmentos, instaladas nos sete muni-cípios da região, sendo 16 empresas de ferramentaria, 24 de autopeças e 23 de plásticos. Tal projeto visava o fortalecimento da vocação regional nessas três áreas, oferecendo às indústrias participantes meios e conhecimentos para melhoria da capacidade competitiva no mercado interno e no plano internacional. (AGÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO GRANDE ABC, 2006).

Justifi cativa

O cenário econômico atual tem exposto as empresas brasileiras a uma severa concorrência internacional, em que as empresas de pequeno porte são as mais vulneráveis em razão das limita-ções impostas pela elevada burocracia e tributação, difi culdade de acesso a crédito, dentre outros aspectos. É vital para o desenvolvimento do país rever as relações entre as empresas de pequeno porte de um dado setor que tenham uma dinâmica produtiva instalada em uma região bem deli-neada geografi camente (CASSIOLATO; LASTRES, 2001). Assim, real importância está sendo dispensada à questão do adensamento empresarial em territórios nas políticas públicas nacionais por intermédio de uma série de ações conduzidas pelo Ministério da Indústria, Desenvolvimento e do Comércio Exterior – MDIC, pelo Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT e pelo SEBRAE (MDIC 2005; MCT, 2005; SEBRAE 2004).

Classe CNAE Descrição

2834- 7 Metalurgia do pó

2839- 8 Têmpera, cementação e tratamento térmico do aço, serviços de usinagem, galvanotécnica e solda.

2940- 8 Fabricação de máquinas-ferramenta

2961- 0 Fabricação de máquinas para a indústria metalúrgica - exceto máquinas-ferramenta

2969- 6 Fabricação de outras máquinas e equipamentos de uso específi co

Quadro 1 Descrição das atividades econômicas objeto da pesquisa, apresentadas segundo seu código CNAE

Fonte: IBGE/CONCLA/CNAE (2006)

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Existem no país, especialmente no Estado de São Paulo, regiões com essas características. Pode-se citar como exemplo um APL de forte concentração de atividades do setor metal-mecânico localizado na região paulista do Grande ABC. Esse APL contém uma estrutura de produção bem delineada, caracterizando-se pela presença de uma micro-cadeia produtiva local e de algumas inicia-tivas de articulação regional entre empresas e entre agentes locais, como prefeituras, organizações de apoio, associações empresariais, e instituições de ensino e pesquisa.

Na medida em que o APL é constituído majoritariamente por empresas de pequeno porte que respondem por signifi cativa parcela do produto e dos postos de trabalho do setor no país, é rele-vante o conhecimento, dentre outros aspectos, da gestão da SST nesse ambiente. A opção pelo seg-mento de ferramentaria do APL do Grande ABC Paulista como objeto deste trabalho, foi baseada na importância deste segmento no contexto da indústria automotiva e por sugestão do Escritório Regional Grande ABC II do Sebrae no Estado de São Paulo, que é um dos gestores do APL e que facilitará o contato inicial com as empresas constituintes do arranjo.

A gestão da SST é hoje reconhecida por organismos internacionais como a Organização Inter-nacional do Trabalho (OIT) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma variável essen-cial na elaboração de modelos de sistemas de gestão que considerem a produtividade e respeitem o meio ambiente.Portanto, é razoável considerar que a SST está fi rmemente arraigada ao conceito de trabalho decente, pois como expressa a OIT (2005, prefácio) “Trabalho decente é trabalho seguro, e trabalho seguro é também um fator de produtividade e crescimento econômico”.

Nesse cenário, no qual estão imersas as empresas constituintes de um APL, os organismos internacionais e, por conseguinte, o governo brasileiro, recomendam a promoção de programas destinados à redução de mortes por causas ocupacionais, de acidentes de trabalho e de enfermi-dades relacionadas ao trabalho. Infelizmente, um problema emergente e ainda não devidamente dimensionado no âmbito do largo espectro composto pelas MPE.

Metodologia

Para efetuar o levantamento de dados optou-se pelo estudo de caso tendo em vista a exis-tência de vários condicionantes, dentre os quais os de caráter prático como a permissão das em-presas para a execução da pesquisa em suas dependências, a limitação de tempo e a limitação de custos, e outros de caráter metodológico. Segundo Yin (2005, p. 32), “um estudo de caso é uma investigação empírica de um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, es-pecialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente defi nidos”.

Para esse levantamento, utilizou-se a classifi cação CNAE. Para maior detalhamento da meto-dologia consultar a Dissertação de Mestrado da autora.

Resultados da pesquisa

Breve caracterização do arranjo produtivo do Grande ABC paulista

As características do APL do Grande ABC paulista foram pesquisadas com foco nas atividades defi nidas no CNAE descritas no quadro 1 que estão mais diretamente relacionadas com o projeto conduzido pela Agência de Desenvolvimento do Grande ABC conjuntamente com o SEBRAE.

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Levantou-se também o número de empresas existentes em cada município da região nos anos 2003 e 2004 nas fontes do IBGE (2001) e RAIS (2003-2004) para cada uma das atividades econômicas mencionadas. Os resultados obtidos são apresentados a seguir e resumem a distri-buição das empresas segundo porte e atividade em toda a região paulista do Grande ABC nos dois anos investigados: entre os anos de 2003 e 2004 houve um crescimento de 7,7% no número de empresas na região que passou de 637 para 686; este crescimento foi mais acentuado para as empresas de micro e pequeno porte que passaram de 627 para 675; as atividades de têmpera, cementação e tratamento térmico do aço, serviços de usinagem, galvanotécnica e solda (CNAE 2839-8) e fabri-cação de outras máquinas e equipamentos de uso específi co (CNAE 2969-6) são as de maior intensidade, respondendo juntas por mais de 75% do total de empresas da região nos dois anos investigados. Dados sobre a população, pessoal ocupado total e pessoal ocupado nas atividades de interesse, distribuídos pelos municípios da região em 2003 e 2004 também foram levantados e mostra-ram que as atividades envolvidas respondem por cerca de 1,5% do total de empregos da região e o pessoal ocupado diretamente nas atividades está concentrado nos municípios de Diadema (36%), São Bernardo do Campo (33%), Santo André (15%) e Mauá (11%) que juntos respon-dem por cerca de 95% do total de empregos. O nº de desligamentos associados a falecimento ou aposentadoria, resultantes de acidentes no trabalho ou doença profi ssional nos anos 2003 e 2004, nas atividades econômicas pesquisadas na região do Grande ABC, por porte da empresa mostraram que nos dois anos investigados ocorreram 4 desligamentos, sendo 2 por falecimento associado a acidente no trabalho e 2 por aposentadoria por invalidez. É interessante observar que todos esses desligamentos ocorreram em micro empresas. Para o caso das atividades CNAE investigadas a média de desligamento é 2/10.000 por ano, isto é são 2 eventos em uma população média de 8.800 pessoas ocupadas em um ano.

As pequenas indústrias estudadas

Esta seção se dedica ao resumo da discussão dos dados obtidos nas entrevistas realizadas nas seis pequenas empresas por ocasião da realização do estudo de caso, considerando-se princi-palmente as práticas de gestão da SST por elas utilizadas e o seu posicionamento em relação ao APL do qual fazem parte. Verifi cou-se que as condições de trabalho das indústrias estudadas são fortemente infl uenciadas pela incerteza fi nanceira e pelas pressões a que estão sujeitas por parte dos seus clientes. Os contratos de trabalho, em sua grande maioria são formais, existindo um pe-queno número de funcionários terceirizados nos setores de limpeza e vigilância. Os clientes em maioria são grandes empresas nacionais e multinacionais, com predominância da indústria auto-mobilística. Observou-se que a idade dos fundadores varia entre 22 e 30 anos, o que demonstra que são empreendedores jovens e a escolaridade de tais empresários à época da fundação da empresa era o ensino médio técnico. Quanto às difi culdades operacionais foi observado que o custo ou falta de capital de giro, a contratação de mão-de-obra qualifi cada, a alta carga tributária e o pagamento de juros de empréstimos, ou seja, fatores ligados à competitividade do país (in-fra-estrutura, taxa de câmbio, carga tributária, dentre outros) afetam sobremaneira as MPE. Em relação à mão de obra, a maioria possui ensino médio completo indicando que nas atividades de ferramentaria existe a preocupação com a contratação de mão-de-obra com um nível de esco-

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laridade mais alto (máquinas CNC, CAD/CAM). No que diz respeito à certifi cação de confor-midade (qualidade, ambiental e SST): apenas 2 das 6 empresas pesquisadas têm ISO 9000:2000, duas empresas estão em processo de certifi cação e uma empresa havia sido certifi cada somente em um setor que encerrou suas atividades. No que concerne à política e procedimentos de SST observou-se que nenhuma das empresas possui política formal implementada nos termos da OHSAS 18001. As empresas limitam seus procedimentos ao cumprimento da legislação traba-lhista de forma meramente documental, em atendimento às normas regulamentadoras do MTE. Quanto aos indicadores para monitorar a SST, o que se encontrou foi o absenteísmo ocasiona-do por doenças ocupacionais, com exceção de uma única empresa que relatou possuir todos, ou seja, além do controle do absenteísmo, controlam a freqüência e a gravidade dos acidentes laborais. Em relação aos objetivos e metas de SST foi constatado que as empresas possuem uma cultura de trabalhar para o alcance das metas relacionadas aos programas impostos pelas normas regulamentadoras do MTE, mais especifi camente o PPRA e o PCMSO, mas muitas vezes não conseguem cumpri-las. Quanto aos treinamentos em SST verifi cou-se que existem praticamente para situações de emergência (prevenção a incêndios e primeiros socorros), agre-gando-se em algumas das empresas estudadas o treinamento referente à CIPA. A respeito dos acidentes de trabalho, das seis empresas estudadas, cinco informaram que no ano de 2005 não houve afastamento ocasionado por acidentes de trabalho, tampouco acidentes com mutilação ou danos à integridade física com afastamento permanente do cargo ou morte. Somente uma das empresas relatou que em 2005 houve três acidentes considerados “leves”, porém com afastamentos entre 5 e 10 dias. Todas as empresas entrevistadas utilizam serviços prestados por consultorias na área de SST, que se responsabilizam pelos procedimentos legais e pela instrução e treinamento dos funcionários.

Foi observado que os apoios externos de órgãos patronais e de assistência técnica, como CNI/SENAI e SEBRAE, sindicatos patronais e de trabalhadores ou órgãos governamentais diminutos na identifi cação de soluções de SST, o que deixa clara a demanda por apoio ofi cial para o devido enquadramento das MPE às questões de SST. Além disso, notou-se que as instituições de fomento ainda são pouco atuantes e muitas vezes sequer chegam a ser consultadas.

Em relação à infl uência dos clientes foi observado que os mesmos procuram conhecer as condições de SST da empresa, (uso EPI’s, CIPA, atualização da documentação) o que sugere que mesmo aqueles clientes possuidores de sistemas de gestão da SST implementados (médias e gran-des empresas em geral) se contentam com a simples exibição de documentos comprobatórios do atendimento à legislação de SST pelo fornecedor. Quanto aos obstáculos na implementação de ações de SST sobressaiu o alto nível de exigência da legislação e a difi culdade de conscien-tização dos funcionários sobre o uso dos EPI’s e demais procedimentos seguros. A fi scalização por órgãos públicos mostrou-se incipiente e observou-se uma baixa participação dos órgãos sindicais na negociação de ações de SST, embora não se possa afi rmar categoricamente esse fato tendo em vista o tamanho da amostra selecionada. Tendo em vista que todas as empresas sele-cionadas participam da Associação das Ferramentarias do Grande ABC – ASSOFER, criada no âmbito e por iniciativa dos gestores e das empresas participantes do “Projeto APL do Grande ABC”, fi ca patente que o tema SST foi tratado de forma incipiente, tanto nas reuniões para a

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contratação do convênio médico coletivo para seus membros quanto nas reuniões das outras associações das quais aqueles também participam. Ficou constatado que todas as empresas en-trevistadas possuem PCMSO e PPRA, porém somente três possuem CIPA implantada. Quanto à posição das empresas sobre a associação com as demais empresas do APL para contratar uma só entidade que realize os serviços relativos à SST, o posicionamento foi favorável, desde que aquela seja centrada na qualidade dos serviços, possibilitando uma maior segurança tanto para os empregados quanto para a empresa, já que o tratamento atual visa apenas ao cumprimento da legislação e não ao estabelecimento de um sistema de gestão contínuo da SST. Nesse caso, vale ressaltar o que propôs Andrade (2003): a criação de consórcios ou cooperativas com vistas à obtenção de assistência técnica em questões relativas à SST através da proposição de um SESMT coletivo, por segmento econômico ou área geográfi ca, já em discussão na reformulação da NR nº 4 do MTE (MANUAIS DE LEGISLAÇÃO ATLAS, 2003). No que diz respeito à participação das empresas no “Projeto APL do Grande ABC”, pôde-se perceber que todas as seis indústrias estudadas o integraram desde o início – agosto de 2004 – e que dentre as ações conjuntas a mais comum é o compartilhamento de equipamentos de produção e ensaios. Nesse momento, o que foi marcantemente apontado pelas empresas como ação conjunta foi a realização do convênio médico, entendido como uma iniciativa louvável e sem precedentes na região do Grande ABC, muito embora atualmente algumas das entrevistadas não mais o integrem. Dos benefícios ge-rados, o mais importante foi o treinamento em gestão empresarial, seguido da participação em feiras e eventos e acesso à inovação e à tecnologia. Quanto a questão do acesso a mercado, o que se percebeu foi que ainda se trata de uma ação muito incipiente. Finalmente, os entrevistados classifi caram como boa a participação dos parceiros institucionais, embora tenha fi cado claro que os empresários esperam ações mais incisivas e motivadoras da governança do APL, o que certamente também motivará as empresas nos esforços conjuntos pela busca de uma gestão mais participativa e comprometida para o fortalecimento do arranjo.

Considerações fi nais

Na perspectiva de contribuir para uma maior compreensão das questões relativas à SST se-gundo o porte das empresas, este trabalho, englobando um estudo de caso, buscou, sobretudo, aportar novos elementos que, embora remetidos à experiência do APL metal-mecânico da região paulista do Grande ABC, segmento ferramentaria, possam servir de subsídios ou referência na tentativa de balizamentos sobre a questão das alternativas de gestão da SST para as organiza-ções produtivas que compõem o amplo segmento das MPE no País. Os resultados do presente estudo de caso evidenciaram que, em geral, as MPE sequer conseguem responder a contento às necessidades mínimas no que se refere às ações no campo da SST, sendo que, não raramente, descumprem as normas regulamentadoras, situação agravada principalmente pela fragilidade da fi scalização e ações de vigilância em geral. Isso sem desconsiderar a fragilidade das atividades de assessoramento técnico e de consultoria para esse amplo segmento, ainda carecedor de ações mais concretas, no sentido de se buscar maior efetividade em termos de efi ciência e efi cácia. Além disso, foi possível conhecer uma realidade específi ca, o APL do setor metal-mecânico, seg-

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mento ferramentaria da região paulista do Grande ABC, identifi cando as principais característi-cas do APL metal-mecânico; analisando e discutindo ações, incluindo as omissões e suas razões relativas à gestão da SST no âmbito de suas empresas, quando se pôde inclusive verifi car o tipo de infra-estrutura organizacional que as suportam. Com a geração de tais subsídios pretendeu-se fortalecer iniciativas na busca de soluções tópicas, através, registre-se, de possíveis alternativas de gestão da SST no âmbito deste APL. De qualquer modo, é patente a complexidade do tema, uma vez que as MPE, indelevelmente, possuem características multiformes e multifacetadas, in-dicando a grande difi culdade de implementação de um SGSST no seu interior ou até mesmo um Programa de Gerenciamento de Riscos-PGR, sem ao menos a devida mediação de alternativas relacionadas aos diferentes ramos de atividades que, segundo o CNAE, as caracterizam como um todo. Mesmo para um ramo específi co, tal constatação deve ser levada em consideração. Nesse sentido, o presente estudo, ao constatar as especifi cidades das empresas que compõem o APL pesquisado em termos de descontinuidades ou diferenciais quanto às ações em matéria de saúde e segurança no trabalho, corrobora, sem dúvida, tal assertiva. Exatamente por isso, retém--se, aqui, a conclusão maior de que para os APLs, independentemente de sua natureza, estudos específi cos são essenciais na busca de soluções apropriadas no campo da SST. Cabe destacar que os resultados deste estudo confi guraram-se como um instrumento inicial importante para dimensionar e caracterizar, ainda que de forma inédita e em nível exploratório, o quadro da SST no APL do setor metal-mecânico, segmento ferramentaria da região paulista do Grande ABC. Novos aportes ou mesmo a reestruturação ou reorganização deste material poderá resultar em um referencial para uso na defi nição de estratégias de gestão da SST direcionados às MPE cons-tituintes de APLs. No entanto, o presente trabalho, por ser de natureza exploratória, indica que outros estudos serão necessários na busca de ampliação do acervo de conhecimento sobre esse tema, considerada a complexidade do segmento das MPE, seja pelo seu alcance social, seja por se constituir em um dos pilares do desenvolvimento sustentável do Brasil.

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WORLD BANK. What is social capital? Disponível em: <http://www.worldbank.org/po-verty/scapital/whatsc.htm> Acesso em: 22 nov. 2006.

YIN, R.K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.

4

Diretrizes para um centro de triagem de materiais recicláveis quanto ao ambiente construído em relação

à segurança e saúde no trabalho: um estudo de caso no Guarituba, município de Piraquara – região

metropolitana de Curitiba

Evelyn Joice Albizu, Fundacentro/CEPR/MTEDra. Cristina de Araújo Lima, Universidade Federal do Paraná

Palavras-chave: catador de material reciclável; riscos ocupacionais; centros de triagem de material reciclável.

59

Justifi cativa

A busca por diretrizes para um centro de triagem de materiais recicláveis quanto ao am-biente construído em relação à segurança e saúde no trabalho justifi ca-se como uma

contribuição à melhoria da qualidade de vida laboral de uma categoria reconhecida como tra-balhadores em 2002 (Ministério do Trabalho e Emprego, 2007). A população urbana, em níveis mundiais tem apresentado um crescimento acelerado (Nações Unidas, ONU, 2007) a partir da Revolução Industrial, gerando impactos sociais e ambientais (Mendonça, 2004), dentre eles uma preocupação mundial é a quantidade de lixo produzida e o seu destino. Os catadores de material reciclável, também conhecidos por carrinheiros, têm contribuído na gestão dos resíduos sólidos nas cidades com a diminuição do montante a ser tratado pelas municipalidades, constituindo-se em um grupo de destaque tanto em número, apesar da inexistência de dados exatos sobre o contingente no país, como pela sua atuação (Abreu, 2001 e Cruz, 2007). Estes trabalhadores, sem poder aquisitivo e qualifi cação para o trabalho formal, buscam sua sobrevivência na coleta, separação e venda de recicláveis trabalhando na informalidade, expõe-se a riscos ocupacionais, com a agravante de possuírem saúde precária, com habitação inadequada, localizada geralmente em local com infra-estrutura básica precária ou inexistente ou ocupando irregularmente áreas de grande fragilidade ambiental (Lima, 2000). As prefeituras, responsáveis pela gestão do lixo urbano estão inserindo os catadores em seus modelos de coleta seletiva, assim como o setor empresarial brasileiro também encontrou no catador o parceiro ideal para o exercício da parte de sua responsabilidade social e ambiental (CEMPRE, 2008). Entretanto é necessário aliar a produtividade com a segurança e saúde no trabalho.

No Brasil, a população urbana representa 81% da população brasileira conforme o Censo Demográfi co de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística, IBGE. Este processo de urbanização ocorreu concomitantemente ao de industrialização (Lima, 1998) ocasionando um decréscimo na ocupação das áreas rurais e, nas áreas urbanas a ampliação da infra-estru-tura não consegue acompanhar o ritmo de crescimento populacional (Abreu, 2001). Segundo Fernandes (2004), a urbanização tem determinado o aumento da pobreza gerando um au-mento no percentual da população brasileira vivendo ilegalmente nas áreas urbanas. Moretti (2004) cita a precarização do trabalho como um dos fatores mais relevantes, pois as relações comerciais estão estruturadas nos padrões usuais, cidadão com renda regular e vínculo empre-gatício, porém observa-se atualmente maior contingente de pessoas com vínculos informais de trabalho se comparado ao número de trabalhadores registrados com seus comprovantes de renda. O estudo para melhores condições de trabalho, nas questões de segurança e saú-de ocupacionais, contribui na organização da atividade exercida por esta classe laboral e sua sustentabilidade, indo de encontro aos programas da Organização Internacional do Trabalho, OIT, Trabalho Seguro e a política de erradicação da pobreza.

60

Objetivos

Objetivo geral

Defi nir as diretrizes para implantação e operacionalização de um centro de triagem de mate-rial reciclável em relação à segurança e saúde no trabalho e meio ambiente.

Objetivos específi cos

• Identifi car as condições de trabalho e do ambiente construído em relação à segurança e saúde dos trabalhadores em centros de triagem de materiais recicláveis;

• Avaliar quantitativamente o nível de pressão sonora e o iluminamento dos locais de trabalho;

• Verifi car qualitativamente os riscos ambientais à saúde dos trabalhadores.

Metodologia

O método de pesquisa adotado foi o estudo de caso, defi nido por Yin (2005) com o mais adequado para a investigação de fenômenos contemporâneos, sendo preservadas as carac-terísticas holísticas e signifi cativas dos acontecimentos da vida real. O estudo de caso conta com observação direta dos acontecimentos estudados e entrevistas com as pessoas neles envolvidas. Como estratégia de pesquisa optou-se pela pesquisa descritiva, pois tem como ob-jeto primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, o estabelecimento de relações entre variáveis (Gil, 2002). A pesquisa descritiva foi realizada com técnica de coleta de dados por meio de questionário e observação sistemática. A abordagem do problema para análise dos dados foi defi nida a qualitativa.

A pesquisa foi conduzida em dois centros de triagem de materiais recicláveis em dois municípios da Região Metropolitana de Curitiba, RMC, localizados em área de preservação ambiental, sendo um deles, o município de Piraquara responsável pelo suprimento de 50% do abastecimento de água para 3 milhões de habitantes da Região. Dentro do município o Guarituba, que é a maior e mais complexa área de ocupação irregular da RMC e a maior sobre área de proteção ambiental do país (Companhia de Habitação do Paraná, COHAPAR, 2005). Foram analisadas as condições de trabalho, moradia e situação sócio-econômica de 95 trabalhadores de 2 cooperativas por meio de entrevistas e observações e foram realizadas avaliações qualitativas e quantitativas de riscos ocupacionais existentes nos centros de tria-gem de materiais recicláveis.

61

Resultados

As entrevistas revelaram que 84% dos catadores de material reciclável migraram do meio rural para municípios da RMC, sendo que 100% ocuparam irregularmente áreas de preserva-ção; 77% não concluíram o ensino fundamental; 7% analfabetos; 77% sofreram acidentes de trabalho; 53% sofrem de lombalgia e 61% de dores de cabeça; e são do sexo feminino 86% dos trabalhadores nos centros de triagem e 19% dos trabalhadores nas coletas nas ruas.

Os riscos ocupacionais detectados foram riscos físicos (ruído e iluminação), riscos quími-cos, biológicos e riscos ergonômicos. Avaliados quantitativamente os níveis de pressão sonora encontrando-se abaixo do nível de ação, os níveis de iluminamento encontrados requerem adequação do sistema. Os demais riscos foram avaliados qualitativamente pela observação dos trabalhos executados e pesquisa bibliográfi ca.

Baseando-se nos resultados encontrados e na análise resultante das observações sistemáti-cas, foram propostas diretrizes para implantação e operacionalização de um centro de triagem de material reciclável em relação à segurança e saúde no trabalho e meio ambiente, envolven-do desde a questão do projeto de concepção até seu funcionamento.

Conclusão

Os catadores de material reciclável percebem o lixo como uma fonte de renda, mas não consideram os acidentes ocorridos como acidentes de trabalho e desconhecem os riscos ocu-pacionais que expõe sua saúde. Entretanto, estes são identifi cados pelas queixas de saúde apre-sentadas pelos catadores como resultado da aplicação dos questionários em comparação com o existente em estudos científi cos sobre o assunto. Devido às condições socioeconômicas dos catadores e as precárias condições de moradia, o primeiro objetivo destes trabalhadores é garan-tir a sua sobrevivência e a de sua família, ignorando os possíveis riscos ambientais inerentes a sua atividade. A sobrevivência fala mais alto que a indignação de catar no lixo mais um dia de vida e passa despercebida a sua importante participação na vida urbana, banalizados na injustiça social sem requerem o seu direito, o seu espaço de trabalhadores na cadeia produtiva. O número de trabalhadores, envolvidos na catação, seleção e venda de materiais recicláveis, cresce rapidamente face ao crescimento do setor e ao fato da atividade gerar renda imediata: o que se cata num dia, se vende no mesmo dia. Outro fator determinante deste crescimento é a inserção do catador no processo de coleta seletiva das prefeituras e do setor empresarial como seu parceiro no exercício da parte de sua responsabilidade social e ambiental. Este é um importante passo para erradicação da pobreza, mas não basta atribuir a esses trabalhadores a responsabilidade de coletar, separar e classifi car todo o resíduo sólido descartado, e deste retirar o seu sustento. Esta é uma atividade insalubre que está sendo repassada a cargo de uma camada social onde o mais básico que é o hábito de higiene, em face de todas as difi culdades, é quase mera crendice. Para quem pisa no esgoto a céu aberto e vê seus fi lhos brincarem nesta água, bebe água de poço contaminada, não vai usar luva ou máscara para evitar uma doença em seu local de trabalho.

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Faz-se necessária toda uma correção sobre o que vem sendo feito. O repensar de atitudes, o não fechar os olhos das autoridades sobre as ocupações irregulares em áreas de fragilidade ambiental. Quanto ao ambiente de trabalho, o centro de triagem de material reciclável, é neces-sário à implementação imediata de medidas preventivas por meio da aplicação de diretrizes de segurança e saúde no trabalho, sem esquecer do meio ambiente.

Conclui-se com um posicionamento de Vargas (1999):

O conceito de qualidade ambiental urbana, ou de vida urbana, vai além dos conceitos de salubridade, saúde, segurança, bem como das características morfológicas do sítio do desenho urbano. Incorpora, também, os conceitos de funcionamento da cidade fazendo referência ao desempenho das diversas atividades urbanas e às possibilidades de atendi-mento aos anseios dos indivíduos que a procuram.

Referências

ABREU, M. F. Do Lixo à cidadania: Estratégias para a ação. Brasília: Caixa, 2001.

COHAPAR. Companhia de Habitação do Paraná. Programa direito de morar. 2005 Disponí-vel em < http://www.cohapar.pr.gov.br > Acesso em: 10 de outubro de 2007.

CRUZ, J. A. W. A união faz a força: a cooperação como estratégia de sobrevivência organiza-cional. Curitiba: Protexto, 2007.

FERNANDES, E. Impacto socioambiental em áreas urbanas sob a perspectiva jurídica. IN: MENDONÇA, F. (org.); Monteiro, C. A. F.[et al.]. Impactos Socioambientais Urbanos. Curitiba: Editora UFPR, 2004.

GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.

LIMA, C. A. A ocupação de áreas de mananciais na Região Metropolitana de Curitiba: do planejamento à gestão ambiental urbano-metropolitana. 406 p. Tese (Programa de Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2000.

LIMA, R. da S. Expansão Urbana e Acessibilidade – o Caso das Cidades Médias Brasi-leiras. São Carlos – SP, Tese (Mestrado), Universidade de São Paulo, São Carlos, 1998.

MENDONÇA, F. (org.). Impactos Socioambientais Urbanos. Curitiba: Editora UFPR, 2004.

MINISTÉRIO DO TRABALHO e EMPREGO. Classifi cação Brasileira de Ocupações, CBO. Disponível em: < http://www.mte.gov.br/noticias/conteudo/8364.asp>. Acesso em: 28 de agosto de 2007.

NAÇÕES UNIDAS. Programa de Assentamentos Humanos – UN-HABITAT. Disponível em: < http://www.onu-brasil.org.br/documentos.php>: Acesso em: 10 de outubro de 2007.

YIN, R. K. Estudo de Caso Planejamento e Métodos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.

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Programa de gestão de riscos para tubulações industriais

Flavio Maldonado Bentes, Fundacentro/CRDF/MTE

Palavras-chave: tubulações industriais; programa; riscos; gestão de riscos.

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Justifi cativa

T endo em vista a utilização de tubulações industriais em grande escala na indústria, a falta de procedimentos até então padronizados e diante da necessidade de propor medidas para oti-

mização do gerenciamento dos riscos envolvidos e uma aplicação direta das técnicas de gerenciamento de riscos voltados para tubulações industriais, tem-se a justifi cativa da proposição deste trabalho.

Além do fator empreendedor deve-se levar em consideração o fato de que um simples descuido pode acarretar a ocorrência de acidentes ampliados que facilmente podem envolver substâncias noci-vas ao meio ambiente e ao ser humano causando conseqüentemente perdas materiais e/ou humanas.

Quanto ao impacto do fato gerador (acidente) sobre a sociedade, pode-se ter a justifi cativa base, pois ainda que haja uma perda mínima para a empresa os resultados da falha catastrófi ca podem ser irreversíveis.

Objetivo da pesquisa

Objetivo geral

Disponibilizar técnicas modernas de Gerenciamento dos Riscos utilizando uma abordagem didática e focada em Tubulações industriais de forma que este trabalho possa servir de base para aprofundamentos em pesquisa e desenvolvimento.

Elaborar um Programa de Gestão dos Riscos para Tubulações Industriais que tenha por fi nalidade disponibilizar princípios de Gerenciamento de Riscos envolvendo metodologias prevencionistas, reco-mendações para dutos com descontinuidades de fabricação, dutos com mossas, dutos sujeitos ao co-lapso pela pressão externa, dutos sujeitos a falhas pela ação do solo e com suscetibilidade à corrosão.

Abordar metodologias sobre a análise qualitativa e quantitativa dos riscos em uma situação de duto ancorado, modelagem analítica para o cálculo do comprimento de ancoragem e desloca-mento no ponto de afl oramento em uma situação problema, implementação do modelo analítico para valores de projeto, aplicação do método de Monte Carlo, Análise Preliminar de Risco, Estu-dos de Perigos e Operabilidade (HAZOP) e Análise do Modo e Efeito de Falha (FMEA).

Objetivos específi cos

Mostrar os benefícios em se utilizar um Programa de Gestão de Riscos para Tubulações Industriais objetivando uma melhor Gestão dos Riscos envolvidos e conseqüente minimi-zação da probabilidade de eventos adversos aos objetivos dos projetos, ampliando assim as chances de sucesso destes.

Metodologia da pesquisa

No primeiro capítulo do trabalho é feita uma abordagem introdutória mostrando a história da gestão de riscos, a proposta de um Programa de Gestão dos Riscos para Tubulações Industriais (que será tratado especifi camente no capítulo 5) e a importância da malha dutoviária no Brasil.

Já no segundo capítulo é feita uma revisão geral dos principais conceitos de gestão de riscos com uma abordagem didática visando facilitar ao máximo a compreensão do leitor no enten-dimento dos capítulos 5 e 6.

66

O terceiro capítulo versa sobre os referenciais teóricos de tubulações industriais e o quarto trata da metodologia do trabalho.

Para o quinto capítulo é proposto a elaboração de um Programa de Gestão dos Riscos para Tubulações Industriais que tenha por fi nalidade disponibilizar princípios de Gerenciamento de Riscos envolvendo metodologias prevencionistas, recomendações para dutos com descontinui-dades de fabricação, dutos com mossas, dutos sujeitos ao colapso pela pressão externa, dutos sujeitos a falhas pela ação do solo e com suscetibilidade à corrosão.

No penúltimo capítulo do trabalho (sexto) são abordadas metodologias sobre a análise qua-litativa e quantitativa dos riscos em uma situação de duto ancorado, modelagem analítica para o cálculo do comprimento de ancoragem e deslocamento no ponto de afl oramento em uma situa-ção problema, implementação do modelo analítico para valores de projeto, aplicação do método de Monte Carlo, Análise Preliminar de Risco, Estudos de Perigos e Operabilidade (HAZOP) e Análise do Modo e Efeito de Falha (FMEA).

O capítulo sete é a parte conclusiva, que visa mostrar as vantagens de se utilizar as técnicas de gestão de riscos e demais considerações pertinentes ao desenvolvimento do trabalho.

Resultados

Como resultado do trabalho foram desenvolvidos dois produtos. O primeiro foi o Programa de Gestão de Riscos para Tubulações Industriais propriamente dito e o segundo foi um estudo de caso de um duto de 30” (762 mm) de 0,5” (12,7 mm) de espessura com condições de con-torno específi cas. A seguir são observados alguns resultados da modelagem do estudo de caso. O gráfi co que relaciona os diferentes níveis de correlação de dependência entre cada variável do problema e a variação do comprimento de ancoragem é demonstrado na fi gura abaixo.

-60

-40

-20

0

20

40

60

Variável

Corre

lação

de d

epen

dênc

ia (%

)

Correlação de dependência (%)

Correlação dedependência (%)

11,7 -8,3 -34,8 -35,1 -35,4 44,4 -35,2 -51,2

ν P E α ΔT fa t D

500

0

-500

-1x103

2x10 6 3x106 4x106 5x106 6x106 7x10

Figura 1 Correlação de dependência de cada variável em relação a ΔL

500

0

-500

-1x103

-1x10-6 -1x10-5 -1.5x10-5 2x10-5

Di

com (∆L,α) = -0.351

500

0

-500

0.4 0.6 0.8 1 1.2-1x103

Di

com (∆L,D) = -0.512D

i

com (∆L,P) = -0,083

ΔLiΔLi ΔLi

67

O quadro com a Análise Preliminar de Riscos, levando em consideração a modelagem do problema é dado abaixo:

Análise preliminar de riscos

Identifi cação do sistema: duto enterrado (confi namento lateral) com ponto de afl oramentoIdentifi cação do subsistema: Dutoviário responsável: Flavio Maldonado Bentes

Risco Causa Risco CorrelaçãoP/ ΔL < 0 (%) Medidas preventivas

AumentoDiâmetro

Material fora da especifi cação IV -51,2 Inspeções do controle de

qualidade no recebimento

Diminuição no atrito com o solo

Modifi cação da variável solo IV 44,4 Inspeções periódicas no

terreno

Variação de temperatura

Falha no controle da variável temperatura

III -35,4 Controle redundante da variação de temperatura

Variação na espessura

Material fora da especifi cação IV -35,2 Inspeções do controle de

qualidade no recebimento

Coefi ciente de Expanão Térmica

Material fora da especifi cação III -35,1 Inspeções do controle de

qualidade no recebimento

Variação no E Material fora da especifi cação IV -34,8 Inspeções do controle de

qualidade no recebimento

Variação no V Material fora da especifi cação II 11,7 Inspeções do controle de

qualidade no recebimento

Aumento na Pressão interna

Falha no controle da variável pressão

II -8,3 Controle redundante da variável pressão

Quadro 1 Análise preliminar de riscos

Para a determinação dos índices de severidades utilizou-se o estabelecimento do critério da proporcionalidade da correlação da variável com a respectiva severidade. Quanto aos níveis de ocorrência adotou-se o princípio conservativo (ocorrência moderada) para todos os casos. Já para os níveis de detecção foi considerado que existe um sistema de detecção onde a falha provavelmente será detectada (6) para quase todas as variáveis, à exceção das variáveis força de atrito (fa), espessura (t) e módulo de elasticidade (E), que foram classifi cadas com índice de detecção 8, tendo em vista a difi culdade do controle do parâmetro. Vale ressaltar que o índice 8 indica que a falha provavelmente não será detectada. O índice de risco relativo (IRR),desenvolvido também neste trabalho, representa o valor do Índice de risco divido por 1000, ou seja, dividido pela pior condição caso S, O e D fossem 10 cada um. No quadro abaixo é dada a análise utilizando o FMEA:

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Variável S O D IR IRR

D 10 5 6 300 0,30

fa 9 5 8 360 0,36

ΔT 8 5 6 240 0,24

t 8 5 8 320 0,32

α 8 5 6 240 0,24

E 8 5 8 320 0,32

V 5 5 6 150 0,15

P 5 5 6 150 0,15

Quadro 2 Análise utilizando FMEA

Conclusões

Conforme observado, a utilização de métodos de gerenciamento de riscos vem a propor-cionar uma série de vantagens dentre as quais tem-se que além de proporcionar um melhor conhecimento dos possíveis riscos envolvidos na instalação, existe a possibilidade de geren-ciá-los sistematicamente de maneira a evitar que acidentes em proporções danosas venham a acontecer. Um acidente de proporções danosas pode conduzir a perdas irreparáveis, que podem ser perdas materiais e/ou humanas levando os responsáveis técnicos em se tratando de perdas materiais substanciais a serem obrigados a ressarcirem o dano causado e na situação de perdas humanas sendo levados a responderem criminalmente por dano “culposo”.

Na realização do trabalho também foi observado que não é uma tarefa fácil fazer a anteci-pação e implementar medidas adequadas visando atender todos os requisitos e inviabilizando possíveis perdas, no entanto, quando se passa a fazer uso de ferramentas que proporcionam níveis ótimos de gerenciamento, passa-se a ter um sistema em que as perdas são minimizadas, podendo-se dizer que são até mesmo levadas à níveis próximos de zero.

Como foi observado, a metodologia de um programa de gestão de riscos deve ter uma visão prevencionista, o que signifi ca que o gerenciador deve-se colocar numa postura de an-tecipar tudo o que venha a de alguma forma a ser contrário ao que de fato é esperado em uma situação normal de projeto e ao contrário do que os leigos julgam ser ideal pela fra-se muito bem conhecida: “é errando que se aprende”, prefere-se adotar outra mais técnica: “é aprendendo que não se erra”. Além do fato que, como bem percebido ao longo do trabalho, o gerenciamento de risco proporciona um leque e cabedal de informações que enriquecem o pro-jeto de tal forma que a partir de sua implementação pode-se evitar que falhas ocorram e venham ocasionar perdas substanciais.

Viu-se que é de extrema relevância o papel da Gestão de Riscos aplicada em projetos, em nosso caso retratado na formulação de um Programa de Gestão de Riscos para Tubulações

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Industriais, e como este auxilia no planejamento e gerenciamento das ações de resposta aos mais diversos riscos identifi cados em seus variados níveis de prioridade. Dentre os benefícios da Gestão de Riscos tem-se como base a minimização da probabilidade de eventos adversos aos objetivos dos projetos que conseqüentemente vem a ampliar as chances de sucesso destes.

É importante destacar que as ferramentas como a Análise de Modo e Efeito de Falha, Análise de Risco e Operabilidade, Análise Preliminar de Riscos dentre outras, colaboram de modo considerável na antecipação e reconhecimento, avaliação e implementação de medidas de controle e proporcionam condições ótimas de modo a se ter melhores condições de mo-nitoramento e gerenciamento dos riscos e operabilidade em tubulações industriais e, ao passo que se tem um gerenciamento contínuo juntamente com um processo de sistematização, o processo fatalmente convergirá numa tendência de melhoria contínua, o que como muito bem destacado, é o alicerce do PDCA.

Foi observado que a utilização de redundâncias no sistema permite proporcionar ao projeto maiores níveis de confi abilidade, por permitir que ainda que ocorra uma falha em um dado pon-to, esta não venha a proporcionar a parada das atividades, o que por sua vez seria comparado a situação mais crítica em que existem as maiores perdas.

Pode-se afi rmar a importância do engenheiro mecânico, que é peça chave e que deve auxiliar com seu embasamento técnico a não permitir que um risco aparentemente pequeno venha a se propagar e atingir proporções maiores, estando ciente do constante monitoramento e propondo medidas controle efi cazes quando da presença de eventuais desvios.

Cabe salientar que o problema estudado no fi nal do trabalho levou-se em consideração que os modelos utilizados foram conservativos. A análise dos deslocamentos neste tipo de problema de Engenharia é de vital importância para a integridade estrutural da tubulação industrial uma vez que durante o processo de montagem e seu procedimento ao ser enterrado deve haver uma preocupação com as possíveis restrições, devendo-se observar o comprimento de ancoragem calculado ou de projeto. Também é importante destacar que caso haja esta restrição, pode-se gerar tensão não prevista no projeto. Vale ressaltar a importância do trabalho em equipe e a visão gerencial de melhoria contínua, conforme sugerido ao longo do trabalho, pois o gerenciamento dos riscos está intrinsecamente relacionado ao fato de minimização dos riscos, o que de certa forma é um processo dinâmico que envolve o fechamento de uma cadeia e o início de outra objetivando sempre a correção da falha e conseqüente redução do risco.

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Considerações sobre o envelhecimento do trabalhador

Juliana Andrade Oliveira, Fundacentro/CTN/MTE

Palavras-chave: envelhecimento do trabalhador; terceira idade; aposentadoria.

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E ste texto tem por objetivo relacionar velhice e trabalho, recuperando alguns aspec-tos da pesquisa de mestrado realizada pela autora (OLIVEIRA, 2007) com idosos

de Santos-SP, cidade que possui grande proporção de idosos em sua população (são 15,7%, sendo que na população brasileira a população idosa é de 8,5% do total1). Analisando a bi-bliografi a sobre os apectos sociais da velhice e por meio de uma pesquisa de campo, pudemos concluir que o trabalho é uma esfera da vida central para defi nir o bem estar do idoso, ainda que ele esteja aposentado.

A velhice é uma etapa da vida que vem sendo construída social e historicamente. É claro que o ponto de partida dessa idéia é o fato inegável do envelhecimento físico, mas as maneiras da sociedade lidar com esse fato biológico produzem, por sua vez, fatos sociais. A sociali-zação da velhice é um processo contínuo que vem desde a segunda metade do século XIX (LENOIR, 1979). Nesse século em que foram criadas grandes invenções tecnológicas que transformaram a noção de tempo e espaço (como a energia elétrica, a locomotiva a vapor), passou-se a acreditar na ciência como solução dos “recém identifi cados” problemas sociais. Um exemplo é o tratamento dado aos doentes mentais: é no século XIX que proliferam os manicômios como um lugar de afastamento e tratamento, ou seja, a loucura deixa de ser vista como um infortúnio e passa a ser considerada uma questão social. Assim também acontece com a velhice, que vai gradualmente migrando da esfera privada (família) para a esfera pública, passando também a ser tratada como uma questão social. Na segunda metade do século XIX consolida-se a visão – que permanece ainda hoje no senso comum – de que a velhice é uma etapa da vida caracterizada pela decadência física e perda de papéis sociais (LENOIR, 1979).E desde então, por não poderem mais vender a sua força de trabalho, os velhos foram con-siderados inaproveitáveis para a sociedade capitalista, como um fardo a ser sustentado por ela, como bem demonstraram Bosi (1987), Beauvoir (1976), Pacheco (2004), Goldman (2004), Si-mões (2003), entre outros. Contudo, esta mesma condição de incapacidade que os marginalizou, conferiu a eles, o status de um grupo social que deveria ser recompensado e amparado, como assinalou Lenoir (1979) e Debert (1999):

O avanço da idade como processo contínuo de perdas e dependência, dando aos idosos uma identidade de condições, sendo responsável por um conjunto de imagens negativas associadas à velhice, é também um elemento fundamental para a legitimação de direitos sociais, como a universalização da aposentadoria. (DEBERT, 1999, p.14)

O direito à aposentadoria trouxe a legitimação ofi cial do viver sem trabalhar e passa a ser mais um marcador da condição de velho. Por outro lado, trouxe também melhora nas condições econômicas da população idosa, que antes era um dos estratos mais pobres da sociedade. Essas mudanças se refl etiram no modo de tratamento dessa população: de “velhos” passaram a “ido-sos”, uma denominação que, segundo Peixoto (2000), foi empregada para abrandar a carga ne-gativa do termo “velho”, que se referia a pessoas improdutivas e de classes baixas. Ainda assim, a aposentadoria não retira a feição negativa da experiência da velhice, pois “simboliza a perda de um papel social fundamental – o de indivíduo produtivo – passando a ser sintoma social de envelhecimento” (PEIXOTO, 2000, p. 81).

1 Censo Demográfi co de 2000, do IBGE.

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O sociólogo Jaime Pacheco (2004) parece concordar com essa afi rmação, pois para ele o trabalho marca o ciclo de vida nas sociedades ocidentais, que é formado em grande parte pela presença de instituições sociais. Quando velho, o indivíduo não é mais considerado útil para o trabalho, e a velhice passa a ser fonte de sofrimento. A lógica desse processo viria desde a es-cola, com a imposição de hábitos de disciplina e serviço, como uma “reprodução antecipada da empresa”, um treino para o mercado. Os modos de organização do trabalho (taylorista, fordista, pós-fordista e neotaylorista), seriam persuasivos para o trabalhador idoso a dar o seu lugar para outro mais jovem, supostamente mais capacitado, isto é, que é capaz de seguir com mais efi ci-ência as regras e padrões impostos, já que nesses tipos de organização do trabalho há a desapro-priação do ato criativo do trabalhador. Este pensamento de que o indivíduo velho deve se retirar permeia o senso comum e também clássicos estudos sobre o trabalhador idoso e a sociedade industrial, como Cumming e Henry (1961) e Cowgill e Holmes, (1972). Nesse sentido, “a apo-sentadoria, como parte do processo de desengajamento, apresenta aos trabalhadores o tempo livre como recompensa. Mas, também, expõe a contradição do mundo ocidental na valorização do ser humano” (PACHECO, 2004, p. 219).

A terceira idade é a mais recente representação social da velhice. Surge como um discurso das políticas públicas e do mercado para classifi car uma crescente faixa da população francesa de classe média que começava a se aposentar, já a partir dos 45 anos de idade. Com a criação dos fundos de pensão, o mercado começou a dar maior atenção para esses jovens aposentados e foi preciso outra denominação para designar essas pessoas que já estavam no fi m da fase marcada pelo período de trabalhar, mas com plena autonomia fi nanceira e física; diferente dos primeiros aposentados que paravam de trabalhar já no limite de suas forças. A expressão “terceira idade” vem para separá-los “dos pobres velhinhos”, dos velhos senis, “ranzinzas”, de maneira a rede-fi nir o envelhecimento ressaltando-o como uma fase positiva da vida, um período privilegiado para realizações pessoais, na qual o indivíduo não é um fardo a ser sustentado pela família ou pelo Estado, mas sim independente e autônomo, como explica a antropóloga Clarice Peixoto (2000), que aponta as palavras-chave desse novo envelhecimento:

Sinônimo de envelhecimento ativo e independente, a terceira idade converte-se em uma nova etapa da vida (...) a velhice muda de natureza: ‘integração’ e ‘autogestão’ constituem as palavras-chave desta nova defi nição. A criação de uma gama de equipamentos e de serviços declara a sociabilidade como o objetivo principal de representação social da velhice de hoje. (PEIXOTO, 2000, p.57)

Esta autora ressalta ainda que na França, onde essa expressão surgiu, “terceira idade” é a nomenclatura presente nas políticas públicas de promoção do bem estar da população idosa, numa nova tentativa de classifi car os indivíduos e de redefi nir a velhice como uma “arte de bem envelhecer” que cada indivíduo deve buscar, “transformando a velhice bem vivida ou deca-dente num empreendimento privado” (GULLEMARD, 1976, p. 104, apud PEIXOTO, 2000, p. 56). No Brasil, essa idéia chega para promover o mesmo tipo de concepção individualista e otimista de envelhecimento:

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A rubrica da terceira idade é fundamentalmente empregada nas proposições relativas à criação de atividades sociais e esportivas: idoso simboliza sobretudo, as pessoas mais velhas, ’os velhos respeitados’, enquanto terceira idade designa, principalmente os ‘jovens velhos’, os aposentados dinâmicos, como a representação francesa. (PEIXOTO, 2000, p. 81)

Porém, em meio a tantas transformações, Debert (1999) lembra que é preciso ter sempre em vista que “há uma dissolução dos problemas nas representações gratifi cantes da Terceira idade (...) na medida em que a visibilidade conquistada pelas experiências inovadoras e bem sucedidas fecha o espaço para as situações de abandono e dependência”. Como ressaltou Peixoto (2000), o uso da expressão terceira idade, assinala uma transformação na imagem do velho, mas não concretamente nas políticas sociais, que quase não se alteraram com relação à população idosa de idade mais avançada e com doenças crônicas manifestas2.

No material recolhido na nossa pesquisa de campo, vimos que terceira idade já é uma expres-são pejorativa, e agora se usa outras denominações, como “melhor idade”, “idade da experiên-cia”, “idade da maturidade” e outras, sempre fugindo de qualquer lembrança de velhice. A maio-ria dos entrevistados resistem à expressão terceira idade para classifi cá-los num grupo social. Dessa forma, houve uma redefi nição do tratamento dado a essa faixa etária devido às condições sociais específi cas de uma parte da população idosa que conseguiu atingir patamares confortá-veis de sobrevivência, mas de nenhuma maneira para os próprios idosos a expressão “Terceira idade” os designa enquanto grupo social ou etário.

Apesar da não identifi cação com a terceira idade a maior parte dos entrevistados ressaltavam que viviam ativa e saudavelmente, como se estivessem cumprindo seu dever do bem envelhecer, de fazer a sua parte por si mesmo. Entre os idosos que rejeitaram e estigmatizaram as atividades lúdicas da terceira idade e as próprias pracinhas de jogos estão principalmente homens que ainda trabalham e aqueles que tentam afi rmar um papel social dentro da família, do lar.

Na nossa pesquisa de campo, que foi feita com 45 idosos3 entrevistados em espaços públicos da cidade de Santos, pudemos observar como a saída do mundo do trabalho é sentida como a perda de um universo de relações sociais, de uma das instâncias que defi niam a própria iden-tidade pessoal do trabalhador, principalmente no caso dos homens, já que as mulheres idosas participaram menos do mercado de trabalho. A aposentadoria marca essa troca de papel social: de trabalhador a aposentado, porém, a passagem de uma identidade a outra (de trabalhador a aposentado) não é fácil e nem imediata, pois muitos viveram trabalhando desde a infância, e a noção de existência produtiva é a única que conhecem: “quem não vive para servir, não serve para viver”. A aposentadoria tira o compromisso de ir trabalhar todos os dias, mas não o senso de dever, de querer ser útil para sociedade. Muitos dos idosos entrevistados nas pracinhas de

2 Essa lacuna já começa a ser reconhecida com a ofi cialização recente da internação domiciliar pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para pessoas com mais de 60 anos que necessitem de cuidados especiais, conforme a notícia veiculada no portal do Min-istério da Saúde em http://portal.saude.gov.br/portal/aplicacoes/noticias/noticias_detalhe.cfm?co_seq_noticia=28208, aces-sado em 20/11/2006. Mas essa não é a tônica das políticas públicas que se dirigem “à terceira idade”.3 Considera-se idoso nessa pesquisa o indivíduo com mais de 60 anos, assim como no Censo Demográfi co do IBGE.

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Santos, estavam aposentados há mais de vinte anos, mas apenas há cinco, há sete, há três anos que as freqüentavam. Para os aposentados recentemente, e principalmente para aqueles que sempre trabalharam desde cedo, caracterizá-los como “uma pessoa da terceira idade” e propor a eles um envelhecimento lúdico, não faz sentido, e pode até ser ofensivo:

Aloísio (72 anos, morador do Itararé, bairro praiano de São Vicente): Eu não sei bem o que é terceira idade. Por exemplo, eu não tenho paciência com esse pessoal da terceira idade que fi ca jogando dominó, baralho, eu não tenho paciência para isso! Eu fui fi car sem trabalhar e não consegui fi car sem fazer nada. Trabalho desde os dez anos! Sempre! Adoro!

Entre as atividades cotidianas relatadas pela maioria dos entrevistados nessa etapa, a socia-bilidade apareceu como um valor a seu cultivado, embora de diferente maneira entre os sexos. Assim, a atitude de fi car em casa era mal vista. Afi nal, ter “um compromisso” é ter a oportuni-dade de sair do marasmo “de dentro de casa”, do mundo doméstico, domínio feminino entre os idosos. Buscavem, assim preencher o dia com atividades “úteis”. Fazer algo de útil era sempre uma preocupação clara daqueles que ainda trabalhavam, ou dos que se aposentaram recentemen-te. Estes últimos não se sentiam bem se não pudessem ter alguma atividade durante o dia. Por isso, procurava, se ocupar.

A nova geração dos sessenta anos, mais entre aqueles de classe média ou média alta, está cada vez menos entrando no mundo à parte da terceira idade, pois não raro continuam trabalhando, ou têm um projeto defi nido de vida: dedicar-se a algum hobbie, desenvolver trabalhos voluntários, enfi m, realizar algum projeto, com metas e produtos. Novamente, a noção de “utilidade” presente - dessa vez, ligada à de realização pessoal. No entanto, ter um projeto de vida pós trabalho não é algo imediato logo após a aposentadoria. Muitos só pensam nisso depois que sentem o vazio de não ter um compromisso. Para eles, o segredo do bem envelhecer é não parar, enquanto o cotidiano, os eternos afazeres do lar, vão preenchendo o dia:

Carlos (64 anos, morador do bairro do Marapé): Como falei: à tarde faço alguma coisa escrita, porque eu trabalhei em banco antes, vejo o extrato do banco, a noite tomo um banho, faço um lanche, e dou uma caminhada no Gonzaga...

Hugo (74 anos, morador do bairro do Gonzaga): Meu caminho é 5 horas na casa da minha fi lha, meio dia e meia vou para casa, fi co até as 4 horas e venho pra cá [um café dos fi lhos], fi co até às 10 horas [da noite] e depois vou pra casa. (...) [perguto se ele é o dono do café em que conversamos:] Não, eu só ajudo. Eu trabalho porque gosto de trabalhar.

A ocupação que tiveram decide muito do cotidiano do aposentado. O Sr. Júlio, 67 anos, que mora no Jardim Rádio Clube (Zona Noroeste) é um exemplo. Ele vai lá quase todas as manhãs para encontrar seus amigos e parceiros de carteado. Diferente de outros que freqüentam o mes-mo local, o Sr. Júlio trabalhou como ensacador no porto até 1989, quando se aposentou por invalidez devido a problemas de coluna – o que não lhe garantou descanso, pois complementa a renda trabalhando como catador de latinhas de alumínio usadas. Tem três fi lhos casados e um deles ainda mora com ele, junto com a nora, de forma que ele é o chefe de um domicílio de duas famílias. Pelas manhãs é possível encontrar o Sr. Júlio na praia, naqueles quiosques. Pela tarde

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ele está trabalhando. Nas mesmas mesinhas de cimento, num fi m de tarde, conversei com o Sr. Marcelo, 76 anos, que mora a poucas quadras dali, num bairro residencial de classe média alta. Há quinze anos que ele vem se encontrar com seus companheiros para conversar, jogar e passar o tempo. Já o Sr Marcelo, contabilista que trabalhava na Petrobrás, tem um cotidiano diferente daquele do Sr. Júlio. De manhã suas atividades são as seguintes:

Marcelo: Costumo correr na praia. Faço 5km, ida e volta. Daí fi co por aqui e o tempo passa rapidamente. Também leio o jornal, gosto muito de música clássica, faço pesquisa, leio revistas... Não me deixo fi car sem ter o que fazer. Às vezes o tempo passa rápido demais, o tempo fi ca curto realmente!

Alguns idosos entrevistados na mesma faixa de idade do Sr. Marcelo (65 a 70 anos) res-saltaram as dores físicas, a falta de dinheiro, a diminuição progressiva no tempo do valor da remuneração da aposentadoria e alguns nem tinham ouvido falar em terceira idade. Destes entrevistados que reclamaram da velhice devido a doenças crônicas, todos haviam trabalha-do na informalidade, aposentado-se a pouco tempo e por invalidez. É interessante notar que entre nossos 45 entrevistados por toda a cidade, os 4, dos 5 que mencionaram aposentadoria depois de acidente de trabalho residiam em áreas centrais degradadas da cidade: o Sr. Júlio, que foi ensacador no Porto, o Sr. Francisco, que era caminhoneiro, a Sr. Cecília, faxineira e o Sr. Cláudio, portuário.

Entre este grupo de entrevistados, a Terceira Idade não passa de uma fi cção. Pude entrevis-tar o Sr. Francisco em sua casa, um cômodo no Bairro Vila Nova. Além da sua esposa, morava com ele também a família do seu fi lho, e na época, estava para chegar a família da sua fi lha. Todos recém-chegados do Vale do Paraíba onde segundo eles não havia oportunidades de emprego. Com a chegada da fi lha, somariam dez pessoas em um cômodo, como se vivia em Santos há mais de 100 anos atrás. Dos sete que moravam lá na época, somente o Sr. Francisco e seu fi lho tinham saúde e idade para trabalhar. Seu fi lho trabalhava como ajudante de obra com um contrato tem-porário, de forma que a única renda garantida mensalmente era a aposentadoria especial do Sr. Francisco, que não podia mais trabalhar como caminhoneiro por causa de um acidente que o tirou a visão de um olho. Por isso atualmente trabalha como catador de papel.

Dona Cecília trabalhou sem registro como faxineira em casas de família durante muitos anos. Depois, trabalhou numa empresa onde, registrada, se aposentou precocemente por causa de um acidente de trabalho. Mesmo não podendo fi car em pé por muito tempo, ela cuida da casa, do marido, toma conta da neta enquanto sua fi lha trabalha. Dona Cecília está longe de qualquer rotina que tenha a sociabilidade na agenda, e sua vida é no lar familiar. Quando perguntei sobre o que ela achava que era ”terceira idade”, a sua resposta foi como um resumo de suas queixas da velhice que lhe era possível viver:

Cecília (72 anos, Jabaquara): Terceira idade é fogo na roupa! Não é muito bom não. Outro dia desmaiei, lembro que eram três horas da tarde. Sabe que hora fui acordar? No outro dia, na Santa Casa, tomando soro. Aí fi quei perguntando por que eu estava ali, quem tinha me levado, por que estava tomando soro, o que tinha acontecido comigo... eu não estava bem, nada, nada, nada...

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A expressão “terceira idade” recoloca o envelhecimento como assunto público, mas en-cobre o fato de que as diferenças entre as classes sociais se fazem ainda mais marcantes na velhice. A imagem da velhice daquele que fi ca “dentro de casa”, que é combatida e rejeitada pela maioria dos idosos entrevistados e de um nascente senso comum, é - quando não se trata de uma escolha pessoal - a única possível para aqueles que não puderam conservar boa saúde durante nos anos em que trabalharam, que muitas vezes desempenharam atividades insalubres, penosas; que precisam trabalhar na informalidade, sem aposentadoria, portanto; que têm que concorrer ao disputado atendimento do SUS. Nesse sentido, a idéia de que é da responsabi-lidade do idoso manter-se ativo, retardar a sua aposentadoria e ser independente, cuidando desde cedo da sua saúde em nome de autonomia futura deve ser posta em relação à trajetória ocupacional que teve (ou tem) o idoso.

Bibliografi a

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OLIVEIRA, J. A. “Terceira Idade” e cidade: o envelhecimento populacional no espaço intra-ur-bano de Santos. 2007. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Faculdade de Filosofi a Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2007.

PACHECO, J. L. Trabalho e Aposentadoria. In: PY, L. et al (Orgs.). Tempo de Envelhecer: percur-sos e dimensões psicossociais. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2004.

PEIXOTO, C. Envelhecimento e Imagem. Rio de Janeiro: Annablume, 2000.

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Exposição ocupacional a campos eletromagnéticos em estações rádio-base: análise crítica do programa de prevenção de riscos ambientais em uma empresa

do setor de telecomunicações

Solange Regina Schaffer, Fundacentro/CTN/MTE

Palavras-chave: exposição ocupacional; campos eletromagnéticos; Programa de Prevenção de Riscos Ambien-tais; setor de telecomunicações.

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Justifi cativa

A Ofi cina Internacional del Trabajo (OIT) destaca que estudos epidemiológicos sobre tra-balhadores expostos a campos eletromagnéticos (CEMs) na faixa de radiofreqüência

(RF), são escassos e de âmbito limitado.No Brasil, estima-se que até 2007 existiam 40.000 (quarenta mil) Estações Rádio Base (ERBs)

de telefonia celular, compartilhadas ou não. A crescente expansão deste setor implica em riscos aos trabalhadores do setor de telecomunicações, expostos a múltiplas freqüências de CEMs dos sistemas transmissores (antenas e rádio-enlaces) instalados nas ERBs, durante a execução de atividades de instalação, de alinhamento e de manutenção. Essas atividades são realizadas geral-mente com os transmissores ligados e em regiões de campo próximo (a poucos centímetros das faces laterais e costas desses sistemas).

Os debates científi cos atuais centram-se nos possíveis efeitos adversos à saúde associados às exposições prolongadas a níveis baixos de CEMs. Os de níveis de referência mundialmente adotados para exposições ocupacionais são aqueles estabelecidos pela International Commission on Non-Ionizing Radiation Protection (ICNIRP). Esses padrões, referenciados pela World Heal-th Organization (WHO) e adotados no Brasil pela Agencia Nacional de Telecomunicações (ANATEL), consideraram somente os efeitos térmicos decorrentes de exposições de curto prazo a níveis altos de CEMs.

Diante das incertezas científi cas, faz-se necessário a adoção de uma efi caz gestão dos riscos ocupacionais a CEMs emitidos por ERBs. Esta adequada gestão pode ser alcançada se todas as etapas previstas na Norma Regulamentadora nº 09 (NR 09), denominada de Programa de Pre-venção de Riscos Ambientais (PPRA), foram cumpridas. O PPRA determina aos empregadores, a tomada de decisões voltadas ao gerenciamento dos riscos ambientais, agentes químicos, físicos e biológicos, presentes nos locais de trabalho.

As lacunas científi cas existentes motivaram esta tecnologista da Fundacentro a realizar um estudo, para averiguar se uma empresa de telecomunicações, fabricante de equipamentos de telefonia celular, gerencia adequadamente os riscos ocupacionais a CEMs em ERBs, tendo por base seus PPRAs anuais.

Objetivos

O trabalho teve como principal objetivo, analisar o grau de maturidade dos PPRAs anuais elaborados por uma empresa de telecomunicações, quanto à gestão dos riscos ocupacionais as-sociados aos CEMs em ERBs.

Os objetivos específi cos compreenderam:

a) Avaliar se existem coerências entre as ações descritas nos documentos-base e os dados contidos nas planilhas de execução dos PPRAs, sob os seguintes aspectos: se o traba-lhador é informado sobre os riscos a que está exposto e; se sua percepção de risco é va-

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lorizada; se o mesmo participa da elaboração e da implantação dos programas, e ainda, se existe interface dos PPRAs com outras NRs pertinentes.

b) Identifi car eventuais inconsistências e fragilidades existentes nas planilhas de execução dos PPRAs relativas às fases de reconhecimento, de avaliação e de controle dos riscos ocupacionais associados aos CEMs em ERBs.

c) Sugerir às empresas ligadas ao setor de telecomunicações, ações preventivas de fácil im-plantação que subsidie uma efi caz gestão de riscos ocupacionais aos CEMs em ERBs, resultando em PPRAs mais adequados para este tipo de riscos ocupacionais.

Estratégias das pesquisas

Na realização da pesquisa, foi utilizado o método qualitativo exploratório documental, que contemplou 22 (vinte e dois) documentos pertencentes aos PPRAs anuais, sendo 11 (onze) do-cumentos-base e 11 (onze) planilhas de execução, entre 1995 e 2005.

Para auxiliar a análise dos dados encontrados foram selecionados 16 (dezesseis) itens da NR 09/PPRA. Nos documentos-base, em que estão descritas as tomadas de decisões, utili-zaram-se 09 (nove) itens: Da Estrutura, 9.2.1, 9.2.1.1, 9.2.2, 9.2.2.1 e 9.2.3; Das Responsabi-lidades, 9.4.2; Da Informação, 9.5.1 e 9.5.2, e Das Disposições Finais, 9.6.2. Nas planilhas de execução que compreendem as fases da higiene ocupacional, averiguaram-se 07 (sete) itens: Do objeto e Campo de Aplicação, 9.1.5.1 e Do Desenvolvimento do Programa, 9.3.1, 9.3.2, 9.3.3, 9.3.4, 9.3.5.1 e 9.3.5.6.

Para classifi car o grau de maturidade dos PPRAs anuais analisados, foram criados estágios, julgamentos e critérios próprios, conforme Quadro 1 abaixo.

Estágios Julgamentos Critérios

1 Não atende aos requisitos escolhidos O contexto do item selecionado não é mencionado no PPRA.

2 Atende parcialmente aos requisitos escolhidos

O contexto do item selecionado é mencionado no PPRA, porém não constam nem o planejamento e nem as estratégias de ações.

3 Atende de forma satisfatória aos requisitos escolhidos

O planejamento e as estratégias de ações, quanto ao contexto do item selecionado, estão previstos, porém, não estão devidamente descritos no PPRA.

4 Atende plenamente aos requisitos escolhidos

O planejamento e as estratégias de ações, quanto ao contexto do item selecionado, estão devidamente previstos e descritos no PPRA.

Quadro 1 Estágios, critérios e julgamentos para análise dos PPRAs analisados

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Resultados

O Quadro 2 mostra o grau de maturidade dos PPRAs anuais, quanto à gestão de riscos ocu-pacionais a CEMs em ERBs, de acordo com cada item da NR 09/PPRA selecionado.

Itens da NR 09/PPRA analisados

Estágio de maturidade dos PPRAs da empresa estudada

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

9.1.5.1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2

9.2.1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

9.2.1.1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2

9.2.2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

9.2.2.1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

9.2.3 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

9.3.1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

9.3.2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

9.3.3 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

9.3.4 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

9.3.5.1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2

9.3.5.6 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

9.4.2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2

9.5.1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

9.5.2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

9.6.2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2

Quadro 2 Resultados da análise crítica dos PPRAs anuais

Na análise dos documentos-base, dos 09 (nove) itens utilizados apenas 03 (três), 9.2.1.1, 9.4.2 e 9.6.2, foram mencionados e classifi cados no estágio 2. Os outros 06 (seis) itens averiguados, 9.2.1, 9.2.2, 9.2.2.1, 9.2.3, 9.5.1 e 9.5.2, foram classifi cados no estágio 1.

Para a análise das planilhas de execução, dos 06 (seis) itens escolhidos, 04 (quatro), 9.3.1, 9.3.2, 9.3.3, 9.3.4 e 9.3.5.6 encontram-se no estágio 1. Os 02 (dois) itens restantes, 9.1.5.1 e 9.3.5.1, são apontados no estágio 1 entre os anos de 1995 e 2004, e passaram para a classifi cação 2 em 2005, uma vez que os CEMs foram mencionados.

Na planilha de execução do PPRA de 2005, consta que foram realizadas medições de CEMs e os valores obtidos são muito inferiores aos níveis de referência estabelecidos pela ANATEL, por esse motivo não existem propostas de ações. No entanto, essas medições não identifi cam as

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fontes geradoras de CEMs, a localização dos pontos medidos e a metodologia utilizada, e nem mencionam o tipo de exposição ocupacional contemplada pelas medições.

Portanto, pode-se afi rmar que os 22 (vinte e dois) documentos anexos aos PPRAs anuais analisados mostram incoerências, inconsistências e fragilidades entre as ações descritas nos do-cumentos-base e os dados contidos nas planilhas de execução. Esses indicadores mostram que os PPRAs anuais da empresa estudada apresentam um baixo grau de maturidade, quanto à ges-tão de riscos ocupacionais associados aos CEMs em ERBs.

Verifi ca-se ainda, que a empresa descumpre as exigências mínimas legais estabelecidas na NR 09/PPRA, e que os profi ssionais da área de SST encontram difi culdades para lidarem com questões pertinentes à exposição ocupacional a CEMs em ERBs.

Conclui-se, portanto, que para este tipo de exposição, os CEMs em ERBs não são identifi -cados como um risco ocupacional; não há avaliação qualitativa e quantitativa adequada; não há adoção de medidas de prevenção e de controle; os trabalhadores não são informados sobre os riscos a saúde; a empresa não promove a participação dos trabalhadores na elaboração e implan-tação dos programas, e ainda, não valoriza suas percepções de riscos.

Considerações fi nais

A exposição ocupacional a CEMs em ERBs constitui em um risco social emergente, pouco conhecido e complexo, e por apresentar divergências de caráter econômico, necessita de adequa-das gestões de políticas públicas.

É fundamental que fundos setoriais em telecomunicações fi nanciem estudos epidemiológi-cos sobre os efeitos adversos à saúde dos trabalhadores expostos a CEMs, na tentativa de suprir as lacunas do conhecimento científi co;

O insufi ciente número, de especialistas brasileiros na área de radiações não-ionizantes (RNIs) e de fi scais, contribui para acobertar as exposições ocupacionais a CEMs. Três órgãos executivos possuem atribuições explícitas ou implícitas para fi scalizar esses tipos de exposições: as Delega-cias Regionais do Trabalho/Ministério do Trabalho e Emprego (NR 09/PPRA), a ANATEL/Ministérios das Comunicações (Resolução 303/2002), e o Sistema Único de Saúde/Ministério da Saúde (Lei 8080/1990).

Apesar da NR 09/PPRA possuir estratégias adequadas de gerenciamento de riscos ambien-tais, esta norma não contém recomendações técnicas explícitas voltadas à adoção de medidas preventivas e de controle de riscos gerados por CEMs em ERBs.

Portanto, é de extrema importância que Notas Técnicas complementares a esta norma sejam instituídas pelo Departamento de Segurança e Saúde do Trabalho (DSST)/Ministério do Traba-lho e Emprego, obrigando as empresas ligadas ao setor de telecomunicações a apresentarem uma efi caz gestão dos riscos ocupacionais a CEMs em ERBs.

Diante da ausência de recomendações técnicas pertinentes às exposições ocupacionais a CEMs em ERBs e visando a elaboração de PPRAs mais adequados, a pesquisa desenvolvida propõe a seguir subsídios viáveis de gestão dessas exposições, a serem adotados por empresas setor de telecomunicações.

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A. Fase de reconhecimento do risco

É imprescindível que a exposição ocupacional a CEM em ERBs seja reconhecida no PPRA como um risco a saúde dos trabalhadores.

B. Fase de avaliação do risco

Esta etapa de envolve aspectos qualitativos e quantitativos.

Avaliação Qualitativa: É importante que este tipo de avaliação caracterize detalhadamente as atividades realizadas pelos trabalhadores em ERBs, e considere: a atividade específi ca a ser executada; a distância entre o trabalhador e os sistemas transmissores; a postura corporal do trabalhador; o tempo de exposição para cada tarefa realizada, e se o corpo do trabalhador no momento da realização das medidas está em contato ou não com objetos condutores de correntes elétricas.

Avaliação Quantitativa: Para este tipo de avaliação é fundamental que sejam realizadas medi-ções em regiões de campo próximo nos quais o trabalhador está exposto, de modo a representar o pior caso de exposição ocupacional durante o desenvolvimento das atividades rotineiras.

É recomendável que essas avaliações sejam devidamente documentadas no PPRA, cons-tando: as especifi cações técnicas dos equipamentos utilizados e dos sistemas transmissores de telefonia celular; o detalhamento da localização do ponto avaliado em relação à fonte emissora de CEM; os momentos de início e de fi nalização das medições; o lay-out da ERB (quantidade e as características das antenas transmissoras e o diâmetro da plataforma em caso de ERB tipo torre), bem como, as informações sobre outros tipos de fontes emissoras de CEM instaladas no local.

C. Medidas para o controle dos riscos

A melhor forma de minimizar os riscos ocupacionais a CEMs em ERB é manter os sistemas transmissores completamente desligados durante a permanência do trabalhador no local.

Caso este desligamento seja possível, é importante que este procedimento seja regis-trado em documento apropriado, como por exemplo, na fi cha de trabalho em campo. Essa fi cha deveria conter assinada do responsável e do trabalhador, antes do início das atividades na ERB.

É fundamental que o trabalhador porte um monitor pessoal dotado de alarme sonoro, e que a empresa responsável pela operação da ERB tenha um procedimento documen-tado que instrua e autorize o trabalhador a se afastar do local, caso o alarme do monitor pessoal sinalize intensidades elevadas de CEMs.

É imprescindível que o empregador empenhe esforços para evitar a exposição pro-longada do trabalhador a CEM em ERBs, promovendo um revezamento entre os traba-lhadores da equipe.

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D. Treinamento e informação ao trabalhador

Os trabalhadores têm o direito de serem informados, sobre os efeitos que os CEMs possam provocar à sua saúde durante a realização de suas atividades nas ERBs, e os níveis de CEMs a que estarão expostos. Estas informações deveriam ser registradas em documentos apropriados.

Os trabalhadores também deveriam ser treinados para operar adequadamente o monitor pessoal, bem como, sobre as formas de minimizar suas exposições. É signifi cante que os treinamentos sejam devidamente documentados e que contenham informações sobre: o res-ponsável pelo treinamento, a carga horária ministrada e o conteúdo técnico abordado.

É essencial que os trabalhadores sejam ouvidos pelo responsável da área para que suas percepções de riscos sejam valorizadas, e ainda, que suas observações e sugestões sejam con-sideradas nas etapas de desenvolvimento do PPRA. Essas formas participativas deveriam ser registradas em documentos apropriados.

Referência

SCHAFFER, S. R. Exposição ocupacional a campos eletromagnéticos em estações rádio-base: análise crítica do programa de prevenção de riscos ambientais em uma empresa do setor de teleco-municações. 2007. 94 f. Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário Senac, Campus Santo Amaro, São Paulo, 2007.

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Características da poeira resultante do processo de fabricação de materiais cerâmicos para revestimento:

estudo no pólo de Santa Gertrudes

Maria Margarida Teixeira Moreira Lima, Fundacentro/CTN/MTE

Palavras-chave: revestimentos; sílica; poeira; cerâmica-indústria.

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Introdução

O setor produtivo de cerâmicas tem um papel relevante no contexto socioeconô-mico nacional pelos diversos produtos voltados para a indústria da construção,

em particular para o setor de edifi cações, como a cerâmica estrutural, a cerâmica sanitária e a cerâmica para revestimento.

Em especial, a indústria da cerâmica para revestimento apresentou nos últimos 15 anos um cres-cimento muito acentuado, determinado pela abundância de matérias-primas naturais, pelas fontes alternativas de energia, como o gás-natural, e pelo desenvolvimento de tecnologias próprias.

Na década de 1990 esse crescimento se verifi cou, principalmente, no pólo cerâmico de Santa Gertrudes, no estado de São Paulo. Num período de quatro anos a produção de placas cerâmicas para revestimento de pisos e paredes duplicou na região, passando de 7 milhões de toneladas/mês, em 1995, para 15 milhões de toneladas/mês em 1999 (ZANARDO, 2003). Esse nível de produção transformou o arranjo produtivo local de Santa Gertrudes no maior pólo produtor de cerâmica do país. Atualmente, o pólo reúne 34 indústrias distribuídas nos municípios de Limeira, Cordeiró-polis, Santa Gertrudes, Rio Claro, Ipeúna, Piracicaba e Araras e que são responsáveis por 57 % da produção nacional de placas cerâmicas (ASPACER, 2008). No ano de 2007, as empresas brasileiras do setor produziram 637,1 milhões de metros quadrados (ANFACER, 2008), colocando o Brasil entre os três principais produtores mundiais de revestimentos cerâmicos.

Em número de trabalhadores, a indústria de cerâmica para revestimento concentra no país, aproximadamente, 25.000 postos de trabalho diretos (ANFACER, 2008), com cerca de 7.300 trabalhadores no pólo de Santa Gertrudes (CETESB, 2006).

Com estes indicadores, o segmento de revestimento cerâmico vem merecendo uma atenção especial de diversos setores, inclusive dos que atuam sobre as questões ambientais e de segurança e saúde no trabalho em razão das poucas informações disponíveis sobre os riscos apresentados pelos processos industriais. A introdução de inovações tecnológicas, como a modifi cação do tipo de fornos, do tipo de combustível para os fornos e com a introdução de sistemas de ven-tilação local exaustora nos processos, além da ampliação do número de indústrias, envolvendo um número expressivo de trabalhadores, modifi cou de forma signifi cativa a dimensão dos riscos ambientais e ocupacionais com relação aos antigos processos semi-artesanais de fabricação de revestimentos cerâmicos. Por esse motivo, o setor produtivo tem sido objeto de ações mais diri-gidas para o reconhecimento e o controle desses riscos nos ambientes de trabalho. O estudo aqui apresentado se enquadra dentro dessas ações.

A pesquisa se iniciou no ano de 2005, orientada para contribuir com o Programa Nacional de Eliminação da Silicose (PNES), e contou com o apoio da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho – Fundacentro e de onze empresas de cerâmica situadas no município de Santa Gertrudes. Teve como antecedentes ações de fi scalização que vinham sendo conduzidas na região Centro-Leste do estado de São Paulo, a partir de denúncias do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Cerâmica, Refratários, Construção, Montagem Industrial, Pavimentações, Obras e do Mobiliário de Limeira e Região (SITICECOM-Limeira) e da Fede-ração dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção, do Mobiliário e Montagem Industrial do Estado de São Paulo (FETICOM-SP) sobre a existência de riscos ocupacionais nas empresas de cerâmica para revestimento, em especial do risco de silicose.

90

A insufi ciência das informações disponíveis sobre as características da poeira originada nos processos de fabricação das placas cerâmicas, a partir da argila caulinítica, ou argila vermelha, e o diagnóstico de cinco casos de silicose entre os trabalhadores do pólo de Santa Gertrudes (DE CAPITANI, 2005), foram indicativos da necessidade de estudos mais ampliados para estabelecer a relação entre as condições de exposição a poeiras nos ambientes de trabalho e o comprometi-mento da saúde dos trabalhadores.

O estudo buscou conhecer a composição mineralógica da massa cerâmica processada pelas empresas e as fontes de geração de poeira e, principalmente, os parâmetros de tama-nho das partículas e de composição em sílica cristalina do material particulado disperso no ar dos ambientes de trabalho do processo majoritário de fabricação de placas cerâmicas esmaltadas no Brasil, que se realiza com a preparação da massa cerâmica por via seca. Os resultados são discutidos com base nas informações obtidas no levantamento bibliográfi co e documental sobre o tema e em comparação com o limite de exposição ocupacional utili-zado como referência para o α-quartzo, de forma a orientar as medidas necessárias para o controle da poeira nos locais de trabalho.

Objetivos

Geral

Determinar características da poeira dos ambientes de trabalho do processo de fabricação por via seca de placas cerâmicas esmaltadas.

Específi cos

Reconhecer as fontes de geração de poeira no processo por via seca de fabricação de mate-riais cerâmicos para revestimento.

Estimar, por meio da coleta de amostras do ar e de análise gravimétrica, as concentrações de poeira total e de poeira respirável em diferentes etapas do processo.

Identifi car e quantifi car, por difração de raios-X, a sílica cristalina na fração respirável da poeira e estimar a sua concentração no ar nas diferentes etapas do processo.

Caracterizar a composição mineralógica da massa cerâmica processada.

Metodologia

A metodologia aplicada teve uma fi nalidade exploratória, ao envolver a observação das diversas etapas do processo de fabricação nas indústrias de materiais cerâmicos para reves-timento do pólo de Santa Gertrudes, a análise de amostras da massa cerâmica para produ-ção dos revestimentos cerâmicos e a análise de amostras da poeira presente nos setores de moagem e recepção de massa, de prensagem, de esmaltação e de preparação de esmaltes e engobe das empresas.

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Como primeira etapa do estudo, foi efetuada a seleção de nove indústrias do município de Santa Gertrudes que utilizavam como matéria-prima a argila vermelha da Formação Corumbataí e apresentavam o processo de fabricação por via seca, onde seria realizado o trabalho de campo. Nessas empresas, foi efetuado um reconhecimento preliminar de seus processos, com a observa-ção sistemática das operações realizadas em cada setor produtivo, de forma a identifi car as fontes de geração da poeira nos ambientes industriais.

Em uma segunda etapa, foi realizado o estudo de caráter exploratório e descritivo por meio da coleta de 80 amostras da poeira e da análise da massa cerâmica processada por cada empresa no período da avaliação de campo.

As amostras de poeira foram coletadas e analisadas conforme os procedimentos técnicos e métodos de ensaio recomendados pela Fundacentro (TEIXEIRA et al., 1985; SANTOS, 1989; FUNDACENTRO, 2001, 2002, 2007). As técnicas analíticas utilizadas na análise da poeira fo-ram a gravimetria e a difratometria de raios-X (DRX). As amostras da massa cerâmica foram analisadas por DRX, segundo procedimento do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT/SP (IPT, 1999).

Resultados

Os resultados obtidos na análise da poeira do processo de fabricação de revestimentos ce-râmicos estudado permitem confi rmar a presença da sílica cristalina, como α-quartzo, no material particulado suspenso no ar. Não se encontraram outros polimorfos da sílica cristalina na poeira. As amostras coletadas indicaram a presença no material particulado de partículas com tamanho na fração respirável, conforme defi nição aceita pela Convenção ACGIH®/ISO/CEN.

Pela comparação dos resultados obtidos da coleta de poeira total e da coleta de poeira respi-rável, nos setores de moagem e recepção de massa e de prensas, pôde-se verifi car que a fração respirável das partículas na poeira é relativamente a de menor concentração com relação às demais frações de tamanho juntas (torácica e inalável), em virtude das características de fracio-namento das partículas de argila determinadas pelos equipamentos e procedimentos existentes para o seu processamento nesses setores.

O α-quartzo foi detectado em 72% das amostras de poeira respirável analisadas e sua quanti-dade variou de 4,2% a 18,5%, considerados todos os setores das empresas estudadas.

A concentração média de α-quartzo respirável no ar em cada setor específi co do processo, considerando as nove empresas selecionadas, foi de: 0,06 mg/m³ no setor de moagem e recep-ção de massa, de 0,03 mg/m³ no setor de prensas, de 0,02 mg/m³ na linha de esmaltação e de 0,09 mg/m³ no setor de preparação de esmaltes e engobe.

Das amostras de poeira respirável contendo α-quartzo, 25% indicaram concentrações supe-riores ao limite de tolerância determinado conforme a NR-15 (BRASIL, 1978). Adotando-se o valor limite de exposição (VLE) de 0,04 mg/m³ (ACGIH®, 2005), o percentual de amostras de poeira respirável que apresentaram concentração de α-quartzo acima desse valor foi de 42%.

As análises efetuadas sobre a massa cerâmica puderam confi rmar a presença da sílica cristali-na na forma do α-quartzo, como mineral predominante, e a não ocorrência de outros polimorfos

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do quartzo na matéria-prima dos processos. Além disso, com os resultados analíticos pode-se inferir a possível presença na poeira de partículas de minerais da argila (illita, caulinita e esmec-tita/montmorillonita) que podem alterar a toxicidade e os efeitos das partículas de α-quartzo quando inaladas, conforme apontado no estudo de Love et al. (1999). Essa possibilidade condu-zirá a uma nova abordagem sobre o risco de silicose e de outras doenças associadas à sílica nos processos de fabricação de materiais cerâmicos a partir da argila vermelha. Dessa mesma forma, a identifi cação na massa cerâmica do óxido de ferro, na forma da hematita, veio representar um fator importante para os estudos sobre os agravos à saúde decorrentes da exposição à poeira nes-ses processos, como apontam os trabalhos de Reichel, Bauer e Bruckmann (1977), Castranova et al. (1997), Donaldson e Borm (1998) e Fubini (1998).

Conclusões

As características da poeira dos ambientes de trabalho das nove empresas selecionadas, as condições em que os processos de fabricação por via seca de revestimentos cerâmicos vêm sen-do realizados, a composição mineralógica das massas cerâmicas processadas e as informações do estudo documental e bibliográfi co efetuado, permitem concluir:

- A exposição à poeira no processo de fabricação de revestimentos cerâmicos representa um risco ocupacional.

- A poeira dos processos de fabricação de revestimentos cerâmicos apresenta partículas na fração respirável, conforme defi nição aceita pela Convenção ACGIH®/ISO/CEN, e sílica cristalina na forma do α-quartzo. Não se encontram na poeira respirável das etapas do processo avaliadas outros polimorfos do quartzo.

- A exposição à sílica cristalina respirável nos processos industriais pode levar ao apa-recimento de novos casos de silicose ou de outras doenças respiratórias, além dos casos conhecidos de pneumoconioses apontados pelos trabalhos de Lido (2004) e De Capitani (2005).

- As concentrações de α-quartzo respirável nos atuais processos de fabricação de placas cerâmicas para revestimento podem variar entre 0,01 mg/m³ e 0,16 mg/m³.

- O setor de moagem da argila e o setor de preparação de esmaltes e engobe das em-presas são os setores com poeira com maior risco de silicose para os trabalhadores, se a exposição às concentrações de α-quartzo encontradas for caracterizada ao longo de toda a jornada semanal de trabalho, uma vez que nesses setores se determinaram concentrações superiores ao VLE de 0,04 mg/m³ para o α-quartzo, adotado como referência para jornadas de 44 horas semanais.

- A provável presença na poeira respirável de partículas de argilominerais como a illita, a caulinita e a esmectita, pode modifi car as características toxicológicas das partículas de α-quartzo presentes na poeira, como sugerido por Love e colegas (1999), e diminuir a freqüência da ocorrência de anormalidades nas radiografi as pulmonares dos trabalha-dores, como apontado no estudo realizado por Miller e Soutar (2004).

93

- Os compostos de ferro, na forma de óxido e hidróxido de ferro, presentes na argila da Formação Corumbataí, podem diminuir a fi brogenicidade do quartzo quando inalado. No entanto, os íons de ferro, quando associados às partículas de quartzo, podem po-tencializar o seu efeito citotóxico, como documentado por Castranova e colaboradores (1997) e por Fubini (1998).

Referências

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Agradecimentos

Meu especial reconhecimento à Orientadora e Professora Dra. Gladis Camarini que, com seu saber na área de engenharia civil e sua experiência acadêmica, me introduziu na área da engenharia dos materiais de construção e traçou comigo os caminhos do meu mestrado na Unicamp.

Aos colegas da Coordenação de Higiene do Trabalho e da Coordenação de Saúde no Trabalho da Fundacentro que apoiaram este trabalho de pesquisa.

Aos pesquisadores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo pela dedicação ao que lhes foi solicitado.

Trabalhos apresentados na forma oral(Resumos)

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Pesquisa sobre acidentes do trabalho em micro e pequenas empresas industriais nos ramos calçadista,

moveleiro e de confecções: resultados fi nais

Celso Amorim Salim, Fundacentro/CRMG/MTE

Palavras-chave: acidentes do trabalho; micro e pequenas empresas; indústrias calçadista, moveleira e de confecções.

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Justifi cativa

E ste trabalho apresenta alguns dos resultados da Pesquisa sobre Acidentes do Trabalho em Micro e Pequenas Empresas Industriais nos Ramos Calçadista, Moveleiro e de Confecções

(Proposta SGPA 76.05.054), realizada sob a responsabilidade técnica da Fundacentro e em parceria com o SESI-DN. Pesquisa que também contou com colaboração de duas instituições: o INSS, que autorizou a coleta de dados junto às agências e postos de serviço em vários muni-cípios; a Fundação Seade, de São Paulo, que aportou competente suporte técnico, quando da capacitação da equipe colaboradora e da concepção do banco de dados.

Como justifi cativa para este estudo, constata-se que, não obstante as vicissitudes ineren-tes às estatísticas ofi ciais sobre os acidentes de trabalho, os dados que as suportam ainda não são sufi cientemente explorados para fi ns de gerenciamento de ações em saúde e segurança no trabalho (SST) voltadas à complexa diversidade da estrutura produtiva do País. Em rela-ção ao universo das micro e pequenas empresas (MPE), pela indisponibilidade de informa-ções, esta situação é mais problemática, implicando em desafi os e difi culdades na elaboração de indicadores diversos.

Objetivos

Identifi car, quantifi car e avaliar as ocorrências de acidentes do trabalho nas MPE dos ramos citados, incluindo os casos fatais, através da busca ativa de informações contidas nas Comunicações de Acidentes do Trabalho (CAT) e nos documentos que acompanham seus respectivos processos.

Metodologia

Através da busca ativa, considerou-se o conjunto de todos os casos de acidentes do tra-balho registrados em cada posto ou agência visitada, ocorridos no triênio 2002-2004. Ainda que focando as MPE, este procedimento também possibilitou agregar informações sobre o quadro acidentário relativo às empresas de grande e médio porte. Com a construção de um banco de dados contendo informações detalhadas para os casos identifi cados, foi possível a classifi cação de todos os acidentes por tipo e área geográfi ca, segundo o agente causador, sua gravidade e conseqüência na vida do trabalhador. Daí a produção de estatísticas e indicadores para dimensionar e caracterizar, demográfi ca e epidemiologicamente, os acidentes de trabalho segundo o porte das empresas.

Antes, porém, realizou-se um estudo exploratório para selecionar as localidades com maior concentração de micro e pequenas empresas, através da Relação Anual de Informações Sociais. Foram previamente selecionados 16 municípios em 7 unidades da federação, abrangendo 4 das macro regiões brasileiras: a saber: Região Sudeste (Divinópolis, Nova Serrana e Ubá, em Minas Gerais; Franca e Birigui, em São Paulo); Região Sul (Arapongas e Maringá, no Paraná; Blumenau,

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Brusque, São João Batista e São Bento do Sul, em Santa Catarina; Bento Gonçalves, Novo Hamburgo e Sapiranga, no Rio Grande do Sul); Centro-Oeste (Goiânia, em Goiás); Nordeste (Fortaleza, no Ceará).

As empresas, classifi cadas pelo número de pessoas ocupadas, foram assim redistribuídas: até 19 empregados, microempresa; de 20 a 99 empregados, pequena; de 100 a 499 empregados, média; acima de 500, grande.

Resultados: uma visão geral

Além do Relatório Técnico 4: Resultados Consolidados, tomado como referência para este trabalho, foram ainda produzidos mais três relatórios específi cos, individualmente concebidos para cada um dos três ramos de atividades pesquisados, os quais, por sua vez, incluem informações com-plementares sobre os acidentes em empresas de médio e grande porte.

Em uma visão panorâmica, constata-se que os acidentes de trabalho ocorridos nos três ra-mos industriais pesquisados no período 2002-2004 distribuem-se em um total de 1863 empre-sas, sendo 760 de móveis, 559 de confecções e 544 de calçados. O peso relativo das médias e grandes empresas, especialmente das primeiras, é maior no ramo calçadista, com participação de 30,5%. Em contrapartida, as MPE têm uma participação maior no ramo moveleiro, repre-sentando mais de 4/5 dos estabelecimentos que tiveram algum tipo de acidente do trabalho, ou seja, 81,6% (Tabela 1).

De um total de 7.851 acidentes analisados, a indústria moveleira teve uma maior participação, com 42,8% dos casos. Em seguida, as indústrias têxtil e de confecções, com 32,0%, e a indústria calçadista, com 25,2%. No entanto, quando se considera a distribuição destes acidentes totais por tipo, observa-se que, enquanto a indústria moveleira respondeu por 47,8% dos acidentes típicos, a indústria de calçados liderou os casos de doenças do trabalho, com 57,9% sobre o total. Por sua vez, as indústrias têxtil e de confecções responderam por 42,1% dos casos de acidentes de trajeto. Foi também onde se verifi cou o maior número de casos fatais de acidentes do trabalho, ou seja, sete dentre os doze óbitos registrados para os três ramos de atividade (Tabela 2).

Tamanho do estabelecimento

Ramo de atividadeTotal

Calçados Têxtil e Confecções Móveis

Estab. % Estab. % Estab. % Estab. %

Micro 127 23,3 209 37,4 319 42,0 655 35,2Pequena 251 46,1 221 39,5 301 39,6 773 41,5

Média 137 25,2 88 15,7 125 16,4 350 18,8

Grande 29 5,3 41 7,3 15 2,0 85 4,6 Total 544 100 559 100 760 100 1.863 100

Tabela 1 Distribuição dos estabelecimentos por tamanho e ramo de atividade nas áreas selecionadas - 2002-2004

Fonte: Fundacentro; SESI; INSS.

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Em complemento, a Tabela 3. apresenta uma desagregação das informações consolidadas a partir do conjunto das variáveis relacionadas na Tabela 2.

Em termos de tendências e variações, quando se distribui o conjunto destes acidentes segundo o tamanho ou porte dos estabelecimentos e os ramos de atividade nas áreas selecio-nadas, verifi ca-se que, no geral, as médias e grandes empresas, invariavelmente, responderam pela maioria absoluta e relativa dos mesmos. Neste particular, para as indústrias têxtil e de confecções, esta participação foi de 72,0%; para calçados, 64,4%; para móveis, 57,5%. Aliás, para têxtil e confecções, 48,4% dos acidentes foram registrados na grande empresa.

Na indústria calçadista observa-se que, à exceção da grande empresa, os números dos acidentes tenderam a manter uma correlação positiva com o tamanho do estabelecimento. Aqui, embora se tenha verifi cado uma diminuição ano a ano dos acidentes totais, assim como em todas as suas modalidades ou tipos, o mesmo não ocorreu com os casos fatais. E mais, mesmo com a diminuição dos registros das doenças do trabalho no triênio, verifi cou-se, no geral, que a indústria calçadista manteve liderança nestes eventos, com 57,9% dos casos.

Já a indústria moveleira apresentou um aumento geral progressivo dos acidentes de tra-balho no triênio 2002-2004, basicamente explicado pelo incremento dos acidentes típicos e, em menor escala, pelos acidentes de trajeto. Todavia, no geral, a indústria moveleira manteve, de longe, a liderança em relação aos acidentes típicos, com quase a metade dos casos totais levantados ao longo da pesquisa, ou seja, 47,8%.

Por último, as indústrias têxtil e de confecções, com ligeiro decréscimo nos números fi nais de seus acidentes de trabalho ao longo do triênio, apresentaram, no entanto, crescimento das doenças do trabalho e dos acidentes de trajeto. Quanto aos últimos, sozinhas, responderam por 42,1% dos casos totais levantados. Também foram responsáveis pelo maior número de óbitos decorrentes dos acidentes de trabalho – isto é, sete dentre os doze óbitos registrados para os três ramos de atividade. É importante destacar que nenhum desses casos ocorreu nas MPE, mas, sim, em estabelecimentos de médio e grande porte, sendo dois em função de acidentes típicos e cinco em decorrência de acidentes de trajeto.

Ramo de atividade Total

Tipo de acidenteÓbitos

Típico Doença Trajeto

Calçados 1.978 1.311 212 455 3

Têxtil e Confecções 2.516 1.974 39 503 7

Móveis 3.357 3.006 115 236 2

Total 7.851 6.291 366 1.194 12

Fonte: Fundacentro; SESI; INSS.

Tabela 2 Acidentes do trabalho registrados segundo tipo de acidente e óbito, por ramo de atividade nas áreas selecionadas - 2002-2004

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Mais especifi camente, no âmbito das MPE, chama atenção o peso maior da participação da pequena empresa em relação à micro quanto aos acidentes de trabalho, especialmente para o ramo de calçados, onde, pela razão simples, para cada acidente na micro, constataram-se 3,5 acidentes na pequena. Em seguida, aparece a indústria moveleira, na razão de 1,7 vezes. Para o conjunto das MPE, a razão foi de 2,1 vezes (Tabela 4).

Em relação ao número médio de acidentes para todos os segmentos de estabelecimentos ou empresas (Tabela 4), quando os números médios são bem superiores para a média e grande empre-sa, vale contrapor dois argumentos, para não falar em viés estatístico: por um lado, o número bem superior de pequenas e micro empresas; por outro, a hipótese, sempre aventada pelos profi ssionais de SST, de maior subnotifi cação ou omissão de informações por parte das últimas em relação às médias e grandes empresas. Neste particular, pondera-se que este trabalho apresenta tão-somente

Tamanho doestabelecimento Tipo de acidente

Ramo de atividade

Calçados Têxtil e Confecções Móveis

Eventos % Eventos % Eventos %

Micro Total 155 100 242 100 519 100Típico 109 70,3 159 65,7 466 89,8

Doença 5 3,2 9 3,7 19 3,7Trajeto 41 26,5 74 30,6 34 6,6

Pequena Total 549 100 461 100 907 100Típico 368 67 336 72,9 781 86,1

Doença 48 8,7 6 1,3 45 5Trajeto 133 24,2 119 25,8 81 8,9

Média Total 722 100 594 100 1.351 100Típico 455 63 467 78,6 1.225 90,7

Doença 94 13 5 0,8 30 2,2Trajeto 173 24 122 20,5 96 7,1

Grande Total 552 100 1.219 100 580 100Típico 379 68,7 1.012 83 534 92,1

Doença 65 11,8 19 1,6 21 3,6Trajeto 108 19,6 188 15,4 25 4,3

Geral Total 1.978 100 2.516 100 3.357 100Típico 1311 66,28 1974 78,46 3006 89,54

Doença 212 10,72 39 1,55 115 3,43 Trajeto 455 23,00 503 19,99 236 7,03

Tabela 3 Distribuição dos acidentes do trabalho por tipo de acidente, segundo tamanho do estabelecimento e ramo de atividade nas áreas selecionadas - 2002-2004

Fonte: Fundacentro; SESI; INSS.

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uma análise global e comparativa dos principais resultados obtidos, adotando-se, para isto, uma perspectiva mais descritiva do que explicativa. Dito assim porque análises mais criteriosas, via apli-cação de ferramentas estatísticas apropriadas, encontram-se em curso, o que propiciará a constru-ção de indicadores métricos mais elaborados sobre os agravos à saúde dos trabalhadores, de acordo com as especifi cidades intrínsecas de cada um dos ramos estudados.

Tamanho do estabelecimento

Ramo de atividade

TotalCalçados Têxtil e Confecções Móveis

Micro 1,22 1,16 1,63 1,40Pequena 2,19 2,09 3,01 2,48Média 5,27 6,75 10,81 7,62Grande 19,03 29,73 38,67 27,66

Total 3,64 4,50 4,42 4,21

Tabela 4 Número médio de acidentes registrados segundo tamanho do estabelecimento e ramo de atividade nas áreas selecionadas - 2002-2004

Fonte: Fundacentro; SESI; INSS.

Conclusões

Antes de tudo, há que se considerar a característica inédita deste estudo, por possibilitar in-formações desagregadas com maior abrangência geográfi ca e cobertura temporal, as quais não se encontram disponíveis nas divulgações ofi ciais da Previdência Social. Isso sem desconsiderar a riqueza dos cruzamentos possíveis entre as variáveis, gerando, dentre outras possibilidades, subsídios diferenciados à análise tópica, uma vez que a ausência de informações consistentes tem-se constituído em óbice à incorporação do tema SST nas formas de gestão das empresas em nível local, distanciando-as de uma solução convergente ou consentânea. Daí a pertinência em se buscar uma melhoria das informações a partir dos dados existentes, aprimorando-os, ou mesmo incorporando novos elementos, através de pesquisas focais ou da adoção de métodos e técnicas capazes de melhor qualifi car a SST em relação ao conjunto destas empresas, segundo ramos de atividade econômica, onde os processos e relações de trabalho são plenos em particularidades. Exatamente por isso, os resultados desta pesquisa já se interpõem como contribuição para um melhor conhecimento sobre a citada – porém, desconhecida – realidade dos acidentes de traba-lho nos amplos segmentos produtivos caracterizados tanto pela participação difusa como pelo predomínio de MPE no âmbito de unidades socioespaciais caracterizadas pelos conglomerados produtivos especializados, ou seja, os chamados arranjos produtivos locais, que, em boa medida, melhor qualifi cam algumas área selecionadas como objeto deste estudo. É claro que novos e ulteriores aportes ainda se requerem para melhor explicar particularidades ou mesmo para apro-fundar questões destacadas pela presente pesquisa.

2

Abordagens pragmáticas na avaliação qualitativa de riscos químicos

Marcela G. Ribeiro, Walter R. Pedreira, Elena E. Riederer, Fundacentro/CTN/MTE

Palavras-chave: riscos químicos; avaliação qualitativa; abordagens pragmáticas.

107

M etodologias chamadas de abordagens pragmáticas foram desenvolvidas a fi m de faci-litar a recomendação de ações preventivas, sem esperar por avaliações quantitativas,

muitas vezes complicadas e dispendiosas.O International Chemical Control Toolkit (ICCT) é uma abordagem pragmática que se baseia

no conceito conhecido como control banding, no qual uma faixa de risco (risk band) é formada pela combinação do fator de risco intrínseco a determinado produto químico (hazard band), com a faixa de exposição ao mesmo (exposure band). Cada faixa do risco está associada a uma medida de controle a ser aplicada com o intuito de impedir que as substâncias perigosas cau-sem danos à saúde dos trabalhadores.

De acordo com os princípios do ICCT, as frases R comuns foram utilizadas para separar os produtos químicos em categorias de A a E. As substâncias que apresentam maior potencial de causar danos à saúde (ou seja, de maior toxicidade, ou mais perigosas à saúde) são classifi cadas na categoria E. As substâncias que apresentam menor potencial de causar danos à saúde estão alocadas na categoria A, inclusive aquelas para as quais não há classifi cação de acordo com as fra-ses R. Existe ainda o grupo S, que abrange produtos químicos que podem causar danos quando em contato com a pele ou olhos.

A faixa de exposição é defi nida pela combinação das propriedades físico-químicas da subs-tância e a quantidade utilizada. A determinação da dispersão do agente químico no ambiente é uma etapa do processo de avaliação de riscos; descrita subjetivamente (na realidade, semi-quanti-tativamente) pelo usuário. Para líquidos, defi ni-se a volatilidade, de acordo com o ponto de ebu-lição da substância e a temperatura do processo. Para sólidos, o “empoeiramento” (diretamente relacionado ao tamanho da partícula) é que defi ne a dispersão no ambiente. A dispersão no ambiente é defi nida como pequena, média ou grande, dependendo da volatilidade (para líquidos) ou do “empoeiramento” (para sólidos). A quantidade utilizada da substância também é classi-fi cada como pequena (gramas ou mililitros), média (kilogramas ou litros) ou grande (toneladas ou metros cúbicos). Esses dados são importantes para o processo, pois a probabilidade de uma substância causar danos aos que se expõe a ela é diretamente proporcional à quantidade utilizada e a sua propagação no ambiente.

Combinando os dados acima, é possível defi nir então uma faixa de risco (risk band) que é então associada a uma faixa de controle - técnicas de controle relacionadas a diferentes níveis de ação. No ICCT as quatro principais faixas de controle são: (i) ventilação geral; (ii) controle de engenharia; (iii) enclausuramento; e (iv) suporte especial; nesse caso, o método recomenda a consulta a um especialista para implementação das medidas de controle corretas.

Tanto a Organização Internacional do Trabalho (OIT) como a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceram o potencial desta abordagem de controle e iniciaram um processo para adaptá-la e promovê-la internacionalmente, a fi m de contribuir para o alcance de seus ob-jetivos preventivos em saúde ocupacional. O principal objetivo das organizações internacionais ao promover a implementação do ICCT é motivar e apoiar as empresas a concentrarem a maior parte de seus esforços em prevenir exposição aos fatores de risco, em vez de concentrar seus orçamentos (muitas vezes pequenos) em avaliações quantitativas. Em muitos casos, esta aborda-gem permite agir mesmo que não seja possível quantifi car o risco.

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Em Junho de 2004 a OMS organizou o Control Banding Practical Applications Workshop, onde membros de várias instituições de pesquisa e centros colaboradores da OMS discutiram inten-samente modelos e estratégias para implementação do ICCT em diversos países, priorizando a ação em países em desenvolvimento. A Fundacentro, centro colaborador da OMS no Brasil, assumiu o compromisso de desenvolver um projeto-piloto para elaboração de ferramenta para avaliação e controle de riscos químicos, baseada no control banding, voltada a gráfi cas e fundições de micro, pequeno e médio porte, uma vez que tais empresas, nos países em desenvolvimento, sofrem com a falta de corpo técnico qualifi cado para dar suporte a atividades de controle de exposição ocupacional, e também com a escassez de recursos fi nanceiros para avaliar riscos e garantir proteção adequada aos seus trabalhadores.

As atividades decorrentes desse workshop foram iniciadas em 2005, com o projeto intitulado “Gestão de Riscos de Produtos Químicos: Projeto Piloto para Implementação do ICCT”.

Inicialmente foram visitadas diversas empresas na região da grande São Paulo. Na ocasião o conceito do control banding foi apresentado e discutiu-se a disponibilidade das empresas em participar das etapas posteriores do projeto. Nessa etapa, observou-se que existia uma falta considerável da percepção da exposição ocupacional no ambiente do trabalho, e falhas no programa de gerenciamento dos produtos químicos, relacionadas ao manuseio, transporte e armazenagem dos mesmos.

Em um segundo momento, o material previamente elaborado, com base em informações já validadas, foi apresentado às empresas que aceitaram participar do projeto. Foi lido e discutido conjuntamente (empregados/empregadores), para avaliar a objetividade da orientação proposta. Essa etapa foi importante para assegurar que o manual apresentava um vocabulário usual e retra-tava, sob vários aspectos, a situação de trabalho, da maneira mais próxima possível da realidade. Quando necessário o material foi adaptado, adicionando-se novos termos, eliminado aspectos irrelevantes, adaptando outros ou adicionando novos itens.

Nesta ocasião, foi possível demonstrar às empresas que (i) a impossibilidade de realizar avalia-ções quantitativas periódicas da exposição nunca deve ser um bloqueio à adoção e implementação de medidas de controle obviamente requeridas, (ii) medidas efi cazes podem ser adotadas sem gas-tos elevados com profi ssionais altamente qualifi cados, e que (iii) as atividades desenvolvidas para melhorar o gerenciamento dos produtos químicos e reduzir a exposição, de acordo com o ICCT, fornece subsídios para as empresas cumprirem com suas obrigações legais no que diz respeito a SST e meio ambiente. Consequentemente, a adoção de um sistema alternativo para prevenção e controle à exposição ocupacional (no caso, o ICCT) torna-se bastante atrativo por diversos fatores, dentre os quais, pode-se citar: (i) complementa os métodos tradicionais de controle e avaliação; (ii) simples e fácil de ser aplicado; (iii) baixo custo; (iv) aplicável a diversos setores produtivos; e (v) dispensa a contratação de profi ssionais altamente especializados.

A partir do conjunto de atividades desenvolvidas, pode-se concluir que a ferramenta co-nhecida como ICCT é importante para melhorar a avaliação de riscos nas fundições e gráfi cas. Os manuais elaborados são de fácil leitura e compreensão, além de apresentarem sugestões claras e concisas. Pode ser uma maneira fácil de reduzir e controlar a exposição a agentes quí-micos no local de trabalho.

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É importante ressaltar que o desenvolvimento desse material é o início de um longo processo para implementação de estratégias efetivas que permitem o controle da exposição aos agentes químicos, através de uma metodologia simples de avaliação dos riscos químicos. Essa abordagem deve ser considerada como um instrumento adicional para a prevenção e controle, e utilizada como parte integrante dos programas já adotados pelas empresas. A utilização desse método é bastante atrativa, pois complementa os métodos tradicionais de controle e avaliação, além de ser simples e fácil de ser aplicado.

O desenvolvimento de novas ferramentas é importante, porém não é sufi ciente para melho-rar o controle da exposição aos agentes químicos em micro e pequenas empresas. A promoção e avanço da implementação de mecanismos sistemáticos para controle da exposição e avaliação dos riscos deve ser um objetivo comum, compartilhado por empregadores e empregados. Das reuniões e visitas realizadas, fi cou claro que, para que haja esse comprometimento, ambas as partes precisam estar conscientes dos benefícios advindos da adoção de medidas preventivas. Tal conscientização e comprometimento só podem ser alcançados pela combinação de uma série de fatores; alguns deles encontram-se enumerados a seguir:

1. O acesso à informação é fundamental. Sendo assim, para atingir o maior público possível, as publicações baseadas no ICCT voltadas às Fundições e Gráfi cas encontram-se disponíveis no site da Fundacentro, com acesso e download gratuito no endereço:

http://www.fundacentro.gov.br/CTN/pub_eletronicas.asp?D=CTN2. Desenvolvimento de novas publicações baseadas no conceito do control banding. Foram

iniciados os trabalhos para elaboração de um manual voltado à indústria química em geral. Essa publicação tem como base o Manual ICCT publicado pela OIT. O original em inglês está dis-ponível no site:

http://www.ilo.org/public/english/protection/safework/ctrl_banding/toolkit/main_guide.pdf3. Atividades voltadas à capacitação de profi ssionais que trabalham em SST, de modo que sai-

bam o porquê e como utilizar ferramentas como a proposta nesse projeto. Como conseqüência, criar uma rede de pessoas que darão suporte à implementação de abordagens pragmáticas para o controle da exposição aos agentes químicos. No que diz respeito à capacitação e utilização da metodologia, vale ressaltar que já foram realizados palestras e seminários sobre a metodologia em cursos de pós-graduação e encontros da área de medicina e higiene ocupacional. Além disso, foram realizados dois cursos presenciais com carga horária de 32 horas: um deles na Fundacen-tro (CTN) e outro no CENSOPAS (em Lima, no Peru). Em 2007 e 2008 foram realizados 02 cursos na plataforma de educação à distância da Fundacentro, com carga horária de 40 horas e 52 horas, respectivamente.

3

Diagnóstico das condições de trabalho no benefi ciamento do sisal

Rosa Yasuko Yamashita, Fundacentro/CTN/MTEMina Kato, Fundacentro/CRBA/MTERalph Piva, Fundacentro/CRBA/MTE

Roberto do Valle Giuliano, Fundacentro/CTN/MTEAlcinéia Meigikos dos Santos, Fundacentro/CTN/MTE

Albertinho Barreto de Carvalho, Fundacentro/CRBA/MTE

Palavras-chave: sisal; segurança; agentes de riscos ambientais.

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Justifi cativa

A cultura do sisal, originária do México, foi introduzida no semi-árido brasileiro na década de cinqüenta e ainda apresenta as mesmas características de exploração

até os dias de hoje, num sistema rudimentar de exploração e benefi ciamento da fi bra de si-sal, apesar do incremento da mecanização na maioria atividades agrícolas, no fi nal dos anos sessenta. Os trabalhadores envolvidos nesta cultura sofrem até os dias de hoje dos mesmos problemas de segurança e saúde.

As exigências para se alcançar uma boa produtividade passou a expor o trabalhador a riscos de acidentes provocados pela falta de condições mínimas de segurança no maquiná-rio, assim como, das longas jornadas de trabalho sob sol intenso, característico da região do semi-árido nordestino.

A falta de levantamento e estudo dos impactos provocados pela exposição do trabalhador aos agentes nocivos a sua saúde durante o processo de trabalho no campo, no interior dos gal-pões de benefi ciamento das fi bras de sisal e das fábricas de fi os e tapetes, é que em novembro de 2004, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República de-mandou a Fundacentro a participar do projeto “Ação Integrada de Estudo da Cadeia Produtiva do Sisal”, que vem sendo desenvolvida na região produtora de sisal no semi-árido do Estado da Bahia, maior produtora e exportadora de sisal do Brasil.

Objetivos

Realizar o diagnóstico das condições de trabalho na cadeia produtiva do sisal, elaborar reco-mendações técnicas de melhoria, avaliar a intensidade do ruído e da concentração e tipo de poei-ras presentes no ambiente das batedeiras de sisal. Além disso, avaliar as condições de segurança dos protótipos das máquinas desfi bradoras de sisal que vem sendo desenvolvidos pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT e pela Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira – APAEB.

Metodologia

A avaliação das condições de trabalho foi realizada in loco por meio de registros fotográfi cos e a avaliação preliminar do ambiente por meio de coleta e análise de amostragens de poeiras orgânicas e da mensuração do ruído emitido pelas máquinas, em uma empresa “preparadora” de fi bras. Os técnicos da Fundacentro vêm acompanhando o desenvolvimento dos protótipos das máquinas de desfi brar sisal com sugestões de melhoria.

As amostras de material particulado foram coletadas em fi ltro de éster de celulose de dois micrômetros de poro e de 25 mm de diâmetro, e submetidas à microscopia para avaliação da forma e varredura do tamanho das partículas. As coletas foram realizadas utilizando bombas de amostragem portáteis Aircheck 2000 da SKC, com fl uxo de 2 litros por minuto, por períodos entre 5 a 25 minutos, com amostrador de fração inalável IOM.

114

As 14 amostras foram coletadas durante o período matutino e vespertino em duas em-presas distintas, em local próximo às batedeiras em funcionamento, num dia cujas condições climáticas não propiciaram dispersão de material particulado, pois a matéria prima estava mais úmida e a umidade relativa do ar no local de coleta variando de 73 a 83%. A temperatura variou entre 28 a 32 graus Celsius.

Posteriormente, foi realizada, em outro período em que a umidade do ar era menor e, portanto, havia uma maior dispersão dos particulados. Entretanto, a coleta foi efetuada em apenas uma em-presa, pois devido o período de seca na região, havia pouca disponibilidade de matéria prima.

Os níveis de ruído foram obtidos com o uso de aparelho áudio dosímetro, da marca Quest, modelo Q-400, durante a jornada de trabalho. Os dosímetros foram colocados entre duas bate-deiras em operação, fi xos em um tripé, para se ter uma idéia dos níveis de ruído a que os traba-lhadores estavam expostos.

Figura 1 Batedeira

Figura 2 Batedeira – Avaliação de poeiras

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Resultados e discussão

As avaliações dos ambientes de trabalho na batedeira demonstraram que, as partículas de poeiras respiráveis apresentam características não só de elementos orgânicos, mas como também de minerais. Estes podem ser poeiras de solo trazido do campo, ou cristais de oxalato de cálcio, presentes nas fi bras do sisal e responsável pelos sintomas de irritação de mucosas e pele dos trabalhadores.

Qualquer que seja o resultado dessas amostras, elas não representarão a exposição ocupacio-nal do trabalhador das batedeiras do sisal no dia da coleta. Para tanto, as condições de amostra-gem do material particulado devem ser adequadas para avaliar a jornada e atividades específi cas dos trabalhadores.

Resultados do ruído emitido pelas batedeiras não estavam acima dos limites de tolerância para uma jornada de 8 horas diárias. Entretanto, este resultado pode ser modifi cado se consi-derarmos períodos de maior demanda de trabalho. As avaliações foram realizadas em período de seca na região, em que ocorre a falta de matéria prima e as batedeiras operam em limite inferior à sua capacidade.

Os protótipos apresentam boas condições do ponto de vista dos requisitos de segurança. Entretanto, ainda não atingiram resultados satisfatórios de qualidade de fi bra e produtividade.

Figura 3 Máquina Paraibana

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Conclusões

Quanto a maquina desfi bradora, há necessidade de nova pesquisa para mudança no processo de trabalho, pois os resultados obtidos ao semi-automatizar o sistema tem sido questionáveis com respeito à qualidade de fi bra e produtividade. É preciso ainda, a verifi cação mais criteriosa de outros agentes como a exposição ao ruído intenso, forma de organização da tarefa e a sobre-carga decorrente da repetição dos movimentos na operação da máquina.

Com respeito aos agentes ambientais, há necessidade de maior número de amostragens para uma recomendação mais conclusiva, porém há indicações que para a exposição a poeiras, com uso de apenas uma barreira mecânica é possível reduzir a sua inalação e contato. Melhorias no lay out das batedeiras e um sistema de exaustão adequado poderão reduzir a exposição da maioria dos trabalhadores ao excesso de poeiras.

Referências bibliográfi cas

SILVA, O. R. R. da; BELTRÃO, N. E. de M. O Agronegócio do sisal no Brasil (Org.). Brasília: Em-brapa-SPI; Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1999.

Figura 5 Protótipo desenvolvido pelo IPT

Figura 4 Protótipo desenvolvido pela APAEB

4

A previsão do Índice Wind Chill – um serviço operacional voltado aos trabalhadores

de áreas externas

Daniel Pires Bitencourt; Diogo Tadeu Rubio, Fundacentro/CESC/MTE

Palavras-chave: saúde; frio; temperatura; vento.

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Resumo

E ste artigo apresenta a metodologia de cálculo do Índice Wind Chill, que associa as baixas temperaturas com a velocidade do vento para quantifi car mais adequadamente

a sensação de frio. Utilizando valores de temperatura e vento previstos com antecedência de cinco dias, os resultados deste índice e outras informações relacionadas com a exposição ao frio são disponibilizados no site do CESC/Fundacentro. Os resultados possibilitam a construção de conhecimentos sobre o tema frio X saúde e o fornecimento de subsídios para um planejamento diário e semanal mais otimizado, por parte dos empregadores e trabalhadores.

Introdução

A ocorrência de frio no Centro-Sul do Brasil, que inclui parte das regiões Sudeste e Centro-Oeste e toda a região Sul, é causada pela incursão de sistemas de alta pressão atmosférica. O ar frio atinge a região sub-tropical da América do Sul ao longo do ano com uma periodicidade de 1 a 2 semanas, sendo que durante o inverno o impacto no registro das temperaturas é mais signifi cativo (GARREAUD, 2000). Lupo et al. (2001) analisaram os aspectos climatológicos da entrada de ar frio sobre a América do Sul e verifi caram que 74% dos casos ocorrem no inverno e primavera, entre os meses de junho e novembro.

Os trabalhadores que desenvolvem suas atividades à céu aberto, tais como os trabalhadores dos setores da pesca, aqüicultura, agricultura, indústria da construção, limpeza pública, segurança e agentes de trânsito, precisam de proteção extra nos meses mais frio, principalmente se as ativi-dades laborais são noturnas e expostas ao vento. Estudos científi cos apontam para uma relação das baixas temperaturas com doenças do coração (BAKER-BLOCKER, 1982; BARNETT et al., 2005) e do aparelho respiratório (EBI et al., 2001).

Com intuito de construir conhecimentos a cerca dos perigos do fi o para a saúde e de con-tribuir para um melhor planejamento diário e semanal dos empregadores e trabalhadores, bus-cando minimizar os efeitos negativos do frio, o Centro Estadual de Santa Catarina (CESC) da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO), desde o início do inverno de 2008, vem disponibilizando informações úteis sobre a relação frio X saúde. Faz parte dessas informações o cálculo do chamado Índice Wind Chill, realizado a partir das previsões meteorológicas de temperatura e velocidade do vento. O objetivo desse trabalho é apresentar a metodologia para a construção desse índice e como essas informações são “tradu-zidas” para os trabalhadores com atividades em áreas externas.

Metodologia

Considerando que a sensação de frio percebida pela pele exposta é função tanto da tempera-tura como da velocidade do vento (OSCZEVSKI, 1995), optou-se em fazer uma associação das baixas temperaturas com a ocorrência de vento, objetivando quantifi car mais adequadamente a

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sensação de frio percebida pelos trabalhadores expostos diretamente às condições atmosféricas. Para tanto, utiliza-se a metodologia desenvolvida por Siple e Passel (1945) e adaptada por Oscze-vsski e Bluestein (2005), dada por:

Onde T é a temperatura do ar em ºC e V é a velocidade do vento a 10 metros, em km/h. Essa fórmula corrige automaticamente a velocidade do vento em 10 metros (nível que essa variável é observada e prevista) para a altura do rosto das pessoas, assumindo que se está em um campo aberto. Para cada valor do Índice Wind Chill (Twc) é ainda atribuído um nível de alerta: Baixo, Moderado, Frio, Extremo e Muito Extremo. Quando a Twc ≤ - 27, há risco de congelamento das partes mais frágeis do corpo, como dedos e orelhas. A fórmula não é calculada quando: V < 3 km/h, T < - 50ºC ou T > 20ºC. Detalhes da metodologia de Twc podem ser obtidos em Siple e Passel (1945) e em Osczevsski e Bluestein (2005).

As variáveis T e V utilizadas nesse cálculo são obtidas do modelo de previsão numérica ETA, do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC). Diariamente, por volta das 6 horas, é inicializado automaticamente no servidor do CESC um bloco de rotinas computacio-nais que (i) busca via FTP os dados numéricos previstos (T e V) de uma máquina no CPTEC, localizado no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) de Cachoeira Paulista – SP, (ii) calcula o Twc para toda o domínio do Centro-Sul brasileiro em quatro horários diários e para várias cidades nas 24 horas do dia, (iii) estipula o nível de alerta de acordo com os valores de Twc e (iv) transforma esses dados em informação útil para ser disponibilizado no portal do CESC, através do uso de linguagem de programação PHP.

A previsão do Índice Wind Chill

Juntamente com outros produtos de meteorologia aplicado à segurança e saúde do trabalha-dor1, as previsões do Índice Wind Chill são disponibilizadas diariamente, incluindo feriados e fi nais de semana, de duas formas: através de mapas e através de gráfi cos. As previsões são feitas para os próximos cinco dias e possuem performance que dependem do tipo de sistema meteo-rológico, da antecedência da previsão e da época do ano. Porém, para os sistemas meteorológicos extremos que provocam fortes declínios de temperatura, geralmente os modelos numéricos apre-sentam boa performance.

A previsão da T, V e Twc para o Centro-Sul do Brasil é apresentada para cada dia em qua-tro horários, as 03, 09, 15 e 21 horas, com antecedência de até cinco dias. Conforme mostra o exemplo da fi gura 3.1a, quando há previsão de temperaturas negativas isso é ressaltado com texto à esquerda do mapa. Esse mapa (Figura 3.1a) também apresenta a(s) área(s) com previsão de velocidade do vento superior a 40 km/h. A fi gura 3.1b mostra os alertas de frio, a partir dos resultados do cálculo do Twc, conforme indicado na legenda à esquerda do mapa. Juntamente

1 http://www.fundacentro.sc.gov.br/windchill/index.php

121

com os mapas é apresentado, em forma de texto, a previsão de alerta de frio, assim como os procedimentos que os trabalhadores deverão seguir para minimizar os efeitos negativos do frio à saúde. Esse texto (não mostrado no exemplo da fi gura 3.1) é que, de fato, “traduz” os dados nu-méricos em informação útil para os trabalhadores, pois dependendo do nível de alerta previsto, é apresentado uma determinada lista de procedimentos que devem ser tomados para minimizar os efeitos do frio.

A fi gura 3.2a mostra um exemplo de previsão de uma situação em que as temperaturas não estão baixas e/ou a velocidade do vento não é maior que 3 km/h para o índice ser calculado. Em todo o domínio do mapa as temperaturas são positivas, por isso, não aparecem linhas azuis e o texto indica ausência de valores negativos. Como não há previsão de vento superior a 40 km/h, o texto indica ausência de ventos fortes. Nesses casos, o mapa com Twc (Figura 3.2b) não apresenta valores, apenas indicação de ausência de alerta de frio.

Figura 3.1 Exemplo da previsão de (a) T, V e do (b) Twc para as 03 h de um dia de inverno

Figura 3.2 Mesmo que 3.1, mas (a) sem previsão e T < 0 ºC e V > 40 km/h e (b) sem alerta de frio para as 15 horas de um dia de primavera

122

Para várias cidades do Centro-Sul brasileiro são disponibilizadas previsões horárias de T, V, Twc e outras informações meteorológicas, conforme mostrado na fi gura 3.3.

As previsões por município são apresentadas sempre para os próximos cinco dias. Após o usuário selecionar o estado e cidade, é disponibilizado um texto e três gráfi cos para cada um dos próximos cinco dias. O texto chama a atenção para a existência ou não de alerta e, se for o caso, para o nível de alerta e o número de horas (período) em que os trabalhadores estarão sujeitos às condições de frio. Os gráfi cos mostram, para cada hora do dia, a previsão de temperatura, ve-locidade do vento e respectivo valor do Índice Wind Chill. Quando esse cálculo não é realizado (ausência de alerta), o valor de Twc é substituído por “*” e quando há alerta de frio, o nível de alerta é identifi cado através de cores, conforme legenda na parte superior da fi gura 3.3. Abaixo dos gráfi cos são disponibilizadas outras informações meteorológicas relacionadas às condições de inverno. Trata-se da previsão dos valores mínimos e máximos, juntamente com a hora que esses valores ocorrem, da temperatura, umidade e velocidade do vento.

Figura 3.3 Exemplo da previsão de T, V e Twc para o município de São Joaquim – SC

123

Considerações fi nais

O cálculo do índice Wind Chill possibilita associar duas variáveis meteorológicas (tempera-tura e vento) responsáveis pela sensação de frio percebida pela pele exposta. A obtenção dessas variáveis a partir de modelos numéricos de previsão de tempo e a construção de produtos espe-cífi cos voltados aos trabalhadores com atividades à céu aberto é um serviço operacional inédito no Brasil, que surgiu através da parceria de duas instituições federais de pesquisa, o CESC/FUN-DACENTRO e o CPTEC/INPE.

A divulgação desses produtos no site http://www.fundacentro.sc.gov.br/windchill/index.php possibilita a construção de conhecimentos sobre o tema frio X saúde e o fornecimento de subsídios para um planejamento diário e semanal mais otimizado, por parte dos empregadores e trabalhadores, com intuito de minimizar os efeitos negativos do frio.

Referências bibliográfi cas

BAKER-BLOCKER, A. Winter weather and cardiovascular mortality in Minneapolis-St. Paul. American Journal of Public Health. v. 72, n. 3, p. 261-265, 1982.

BARNETT, A. G.; DOBSON, A. J.; McELDUFF, P.; SALOMAA, V.; KUULASMAAA, K.; SANS, S. Cold periods and coronary events: An analysis of populations worldwide. Journal of Epidemiology and Community Health, v. 59, n. 7, p. 551-557, 2005.

EBI, K. L.; EXUZIDES, A.; LAU, E.; KELSH, M.; BARNSTON, A. Association of normal weather periods and El Niño Events with hospitalization for viral pneumonia in females: Cali-fornia, 1983-1998. American Journal of Public Health, v. 91, n. 8, p. 1200-1208, 2001.

GARREAUD, R. D. Cold Air incursions over subtropical South America: Mean structure and dynamics. Monthly Weather Review, v. 128, n. 7, p. 2544-2559, 2000.

LUPO, A. R.; NOCERA, J. J.; BOSART, L. F.; HOFFMAN, E. G.; KNIGHT, D. J. South American cold surges: Types, composites, and case studies. Monthly Weather Review, v. 129, n. 5, p. 1021-1041, 2001.

OSCZEVSK, R. J. The basis of Wind Chill. Arctic. v. 48, n. 4 p. 372-382, 1995.

OSCZEVSKI, R.; BLUESTEIN, M. The new Wind Chill equivalent temperature chart. Bulle-tin American Meteorology Society, v. 86, p. 1453-1458, 2005.

SIPLE, P. A.; PASSEL, C. F. Measurements of dry atmospheric cooling in subfreezing tem-peratures. Proceedings of the American Philosophical Society, v. 89, n. 1, p.177-199, 1945.

5

Projeto de pesquisa e termo de ajustamento da SRTe/PR como instrumento de modifi cação das condições

de trabalho de fundições em pólo de metais sanitários

Carlos S. Silva, Fundacentro/CTN/MTEJoão A. da Silva, Fundacentro/CTN/MTE

Norma C.Amaral, Fundacentro/CTN/MTEAmarildo A. Pereira, Fundacentro/CTN/MTE

José Possebon, Fundacentro/CTN/MTEGilson L. Rodrigues, Fundacentro/CRPE/MTE

Lenio S. Amaral, Fundacentro/CRMG/MTEClaudia R. Santos, Universidade Federal de Santa Catarina

Inês Mitishita, Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Paraná/MTENoely Martins, Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Paraná/MTE

Paulo José Teixeira, Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São PauloSigne Schuester Grasel, Faculdade de Medicina da Universidade de São PauloEliezia Helena de Lima, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Palavras-chave: fundições; monitoramento biológico; avaliação ambiental; termo de ajustamento.

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Justifi cativa

A Fundacentro por meio do Centro Técnico Nacional/SP, Centro Estadual do Paraná, Centro Regional de Minas Gerais e com parceria da Faculdade de Ciências Farma-

cêuticas e Instituto de Química da Universidade de São Paulo desenvolveu de 2002/2006 um projeto de pesquisa para avaliar as condições de trabalho em 8 fundições de metais sanitários no pólo industrial de Loanda/PR.

Essa demanda originou-se a partir de uma palestra sobre as Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego e os riscos químicos, físicos e como estes afetam a saúde dos trabalhadores do setor de galvânicas. A palestra à convite do Sindicato dos Me-talúrgicos de Maringá (o qual teve participação ativa no trabalho realizado) foi ministrada por técnicos da Fundacentro e auditores fi scais da DRT/PR e dirigida para os trabalhadores do setor de tratamento de superfície das peças de metais sanitários que é a etapa fi nal do processo de fundição desses produtos.

A pesquisa deu suporte técnico a um termo de ajustamento assinado entre empresários, DRT/PR e Ministério Público para modifi cações no ambiente de trabalho das fundições, já que a situação das mesmas em termos de Segurança e Saúde no Trabalho era caótica e lamentável. Propusemo-nos a realizar um extenso trabalho para modifi car essa situação, que sabíamos de antemão que seria árduo e longo.

Objetivos

1. estudar o ambiente de trabalho das fundições de metais não ferrosos por meio das avalia-ções ambientais, biológicas e otorrinolaringológicas;

2. propor modifi cações no ambiente de trabalho em função dos resultados encontrados;3. dar suporte técnico e acompanhar o cumprimento do Termo de Ajustamento assinado

pelos empresários com a DRT/PR e Ministério Público do Paraná;4. capacitar em termos de SST, os técnicos, trabalhadores e empresários do setor de fun-

dições;

Metodologia

O processo produtivo

Primeiramente, estudamos o processo de fundição, que é constituído das seguintes etapas: macharia – a partir de um molde metálico constituído de duas partes e presos por garra metálica, despeja-se no orifício do mesmo, uma mistura de areia com resina fenólica. O molde metálico é aquecido com maçarico produzindo o macho; fusão/vazamento – setor que funde a liga que posteriormente é vazada nos machos produzidos; desmoldagem – retira as peças do molde; po-licorte – elimina excesso de metais das peças e canais formados; afi nação e polimento – setor em que as peças são lixadas e polidas; usinagem – acabamento das peças; tratamento de superfície – setor onde as peças são cromadas.

128

Amostragem

No processo de amostragem, foram incluídas oito indústrias da cidade de Loanda – PR, mas somente nas três maiores procedeu-se uma avaliação completa com avaliações em diferentes períodos, sendo que nas demais se realizou apenas avaliação exploratória.

Foram avaliadas amostras do ar do setor de fusão/vazamento (fumos metálicos, HPAs - hidrocarbonetos policíclicos aromáticos), polimento e poli corte (poeiras metálicas), macharia, fundição e afi nação (sílica). As coletas foram feitas de forma estática e individual. Os agentes químicos analisados foram os de maior importância toxicológica.

Foram avaliadas amostras de sangue e urina de 273 trabalhadores, destinadas à determinação de chumbo sanguíneo, e cádmio, manganês e níquel urinário. Avaliaram-se trabalhadores expos-tos a fumos metálicos do setor de fusão e vazamento (n = 178) e trabalhadores não expostos (do setor administrativo ou ainda de setores separados do setor de fusão/vazamento das mesmas indústrias) que constituíram o grupo controle (n= 95). Consideraram-se trabalhadores expostos àqueles que executavam atividades no setor de fusão/vazamento, incluindo atividades diferentes, porém, realizadas no mesmo espaço físico em função da infra-estrutura.

As avaliações ambientais e biológicas não foram feitas simultaneamente e, portanto não se buscava uma relação e/ou correlação entre as mesmas, se bem que pela análise dos resultados pode-se chegar a resultados esclarecedores, ou seja, os resultados de uma avaliação serviram para reforçar ou corroborar o que a outra avaliação nos dava de informação. Esse esclarecimento é necessário porque a monitorização biológica iniciou-se antes da avaliação ambiental.

As avaliações biológicas ocorreram em junho de 2002, outubro de 2002 e maio de 2003.

Os trabalhadores, tanto expostos quanto controle, responderam um questionário para obten-ção de dados como identifi cação, condições de trabalho, hábitos pessoais, presença de doenças e uso de medicamentos. Também assinou um Termo de Consentimento Pós-Informação de par-ticipação no trabalho. O protocolo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo.

A carga horária dos trabalhadores envolvidos no estudo era de oito horas diárias, cinco dias por semana, totalizando 40 horas semanais.

Monitorização biológica

Coleta e tratamento do material biológico

As coletas de sangue e urina foram realizadas no fi nal da jornada do penúltimo dia de tra-balho da semana, em ambiente isento de contaminação por fumos metálicos. Após a coleta as amostras coletadas foram armazenadas em geladeira até o momento da análise, recebendo os tratamentos químicos estabelecidos nos métodos analíticos.

As amostras do grupo controle, tanto sangue quanto urina, recebeu o mesmo tratamento e foram avaliadas de forma semelhante àquelas do grupo exposto.

129

Metodologia para determinação de chumbo sanguíneo (Pb-S), cádmio urinário (Cd-U), manganês

urinário (Mn-U) e níquel urinário (Ni-U)

As amostras de sangue e urina dos trabalhadores expostos a fumos metálicos, bem como aquelas do grupo controle, foram analisadas por espectrometria de absorção atômica com forno de grafi te, conforme os procedimentos específi cos para determinação de cada um dos metais em questão (Pb-S, Cd-U, Mn-U, Ni-U). Todos os métodos foram otimizados e vali-dados. A concentração de Pb-S foi expressa em μg/dL e as concentrações de Cd-U, Ni-U e Mn-U em μg/g de creatinina.

A determinação de creatinina foi realizada por método colorimétrico padrão, utilizando Kit da “LabTest”.

Avaliação ambiental de fumos metálicos

Coleta e tratamento da amostra

As coletas foram realizadas utilizando-se bombas amostradoras com vazão de 2 l/min com tempo de amostragem de 5 a 7 horas, fi ltros de éster de celulose de 0,8 μm em cassetes triplos. As amostras foram tratadas com ácido nítrico a 5% e digeridas em forno de micro-onda.

Metodologia para determinação de chumbo, cádmio, manganês e níquel no ar

As amostras foram analisadas por ICP espectrometria de emissão de plasma, conforme os procedimentos específi cos do método analítico.Todos os métodos foram otimizados e validados.

Avaliação ambiental de sílica

As coletas foram realizadas utilizando-se bombas amostradoras com vazão de 1,7 l/min com tempo de amostragem de 5 a 6 horas em 3 dias consecutivos, fi ltros de PVC de 5,0 μm, diâmetro 45 mm em cassetes triplos de poliestireno utilizando-se ciclones separadores de par-tículas acoplados aos dispositivos de coleta. A coleta das amostras foi realizada utilizando-se a norma NHT-02 A/E: “Avaliação da exposição ocupacional a aerodispersóides” (FUNDACEN-TRO/1985).

Avaliação ambiental de HPAs – hidrocarbonetos policíclicos aromáticos

Realizou-se a coleta do ar com o auxílio de bombas portáteis de baixa vazão previamente cali-bradas com vazão ajustada em 2 litros/minuto (± 3%), em conjunto de coleta em série contendo o fi ltro de membrana de tefl on e o tubo XAD-2. O porta-fi ltro, bem como os tubos XAD-2 foram envolvidos com papel alumínio antes da coleta para evitar a degradação dos HPAs pela luz.

Avaliação ambiental de ruído

Os níveis de pressão sonora e as doses de ruído foram determinados utilizando integra-dores e dosímetros, da marca QUEST, modelos Q300 e Q400, posicionados na zona auditiva dos trabalhadores. Para uma jornada de trabalho de oito horas os níveis acima de 85 dB são considerados excedentes.

130

Resultados

Biológico

Na Tabela 1 podem-se observar as concentrações dos metais em questão, antes e após, bem como os respectivos desvios padrão e nível de signifi cância (p).

Determinação Antes ± DP Após ± DP p Limite ACGIH

Pb-S1 42,7 ± 15,4 26,5 ± 10,4 <0,001 30

Cd-U2 0,27 ± 0,55 0,015 ± 0,045 0,020 5

Mn-U2 1,94 ± 3,32 0,446 ± 0,666 0,024 n.a.

Ni-U2 1,82 ± 1,48 0,702 ± 0,720 0,001 n.a.

1 μg/dL 2 μg/g creatinina

Tabela 1 Concentração de Pb-S, Cd-U, Mn-U e Ni-U, antes e após modifi cações realizadas no ambiente de trabalho (n=29)

Dados ambientais

Fumos metálicos

Os valores apresentados são médias de avaliações por três dias consecutivos, expressos em (μg/m3). Após as modifi cações em Segurança e Saúde, comparando 2002 com 2003, os valores dos outros metais avaliados reduziram de: Cd 7,8 μg/m3 para 2,57 μg/m3 – limite de 10,0 μg/m3; Mn de 3,45 μg/m3 para 0,48 μg/m3 – limite de 200 μg/m3; Ni de 10,93 μg/m3 para 1,13 μg/m3 – limite de 100 μg/m3.

Período da coleta Metais Ind. A Ind. B Ind. C Limites ACGIH, 2003

Out/2002 Pb1 199,6 110,87 --

50Maio/2003 Pb2 73,17 81,15 43,30

Set/2003 Pb3 56,92 46,51 51,83

Tabela 2 Dados ambientais das indústrias avaliadas (FÉLIX, 2004)

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Sílica

Coleta 2002 Coleta 2002 Coleta2002

Coleta2002 Coleta 2004 Coleta

2004Coleta2004

Coleta2004

Empresa LocalMassa amostra

(mg)

Sílica(mg)

Sílica(%)

Conc (mg/m3)

Massa amostra

(mg)

Sílica (mg)

Sílica (%)

Conc (mg/m3)

AMacharia 0,69 ND ND 0,85 0,72 <ND - 1,09Afi nação 1,20 0,01 0,80 1,38 - - - -

B

Macharia 0,65 0,01 1,50 0,95 0,52 <ND - 0,74Afi nação 1,30 0,01 0,80 1,77 - - - -Serviços gerais

- - - - 2,13 0,35 16,4 7,07

CMacharia - - - - 0,21 0,01 4,80 0,32Fundição - - - - 0,47 0,02 4,20 0,73

Tabela 3 Valores máximos de sílica por empresa e setores avaliados

HPAs – hidrocarbonetos policíclicos aromáticos

Nas três fundições avaliadas as concentrações de HPAs totais fi cou entre 0,19 – 6,52 μg/m3, e foram detectados HPAs considerados carcinogênicos para humanos nas amostras analisadas.

A avaliação quantitativa de HPAs não dimensiona sufi cientemente a exposição dos traba-lhadores à uma atmosfera com mistura complexa de compostos químicos. Os HPAs represen-tam um grupo de compostos com vários carcinógenos genotóxicos, e por isto a exposição deve ser mantida tão baixo o quanto possível tecnicamente. Foi possível verifi car uma boa correlação entre a concentração de pireno no ar e a concentração do 1-OH-Pir urinário, nas amostras pro-venientes da fundição 1; já nas fundições 2 e 3 a correlação foi regular.

Ruído

Considerando todos os dados aqui não apresentados foram raros os valores que a dose de ruído esteve abaixo do 100%.

Tabela 4 Valores máximos encontrados em avaliações realizadas em 2004

Indústria A Indústria B Indústria C

Setor Atividade NPS-dB Dose (%) NPS-dB Dose (%) NPS-dB Dose (%)

Macharia Macheiro 88,5 161,4 85,0 100,1 87,7 146,3

FundiçãoCoquilheiro 89,5 187,3 86,5 122,3 - -Concheiro 88,5 161,4 88,3 158,7 91,8 511,4

Rebarbação Rebarbador 93,3 318,1 90,1 204,0 98,2 624,7Policorte Cortador 100,8 888,8 103,1 1235,7 91,4 243,5Afi nação Afi nador 96,0 303,6 92,3 276,8 90,0 199,8Usinagem Torneiro 94,0 350,6 90,6 218,3 94,5 374,0

Legenda: NPS – nível de pressão sonora

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Avaliações otorrinolaringológicas

Foram avaliados 172 trabalhadores sendo 95 do grupo exposto e 77 do grupo controle e os resultados otorrinolaringológicos de relevância clinica do grupo exposto foram: ardor nos olhos; manchas na boca; prurido na pele; queimaduras na pele; hiperemia de septo nasal; septo nasal es-branquiçado; secreção na oro e hipofaringe e granulação na hipofaringe. Em relação aos do grupo não exposto os resultados mais relevantes encontrados foram rinite familiar e asma pessoal.

Conclusões da pesquisa

Foram lavrados 177 Autos de Infração pelas auditoras fi scais da SRTE/PR no acompanha-mento do termo de ajustamento pelo não cumprimento dos prazos das modifi cações estabeleci-das no mesmo. A atuação conjunta da fi scalização e a pesquisa desenvolvida foram fundamentais nas mudanças das condições de trabalho que inicialmente eram precárias com descumprimento aos aspectos básicos das Normas Regulamentadoras, tais como: uniforme para os trabalhadores; higiene e limpeza nos sanitários e banheiros; refeitórios adequados.

Em relação a Segurança e Saúde dos trabalhadores referente aos agentes químicos e físicos presentes, os resultados encontrados no início da pesquisa serviu de referencial nas exigências de modifi cações nos processos produtivos e na prevenção e, como vimos houve diminuição signifi cativa na concentração dos agentes químicos. O trabalho conjunto provocou alterações signifi cativas no PPRA e PCMSO elaborados, com contratações de novos profi ssionais con-tratados pelas empresas.

Houve um investimento enorme em algumas empresas, modifi cando-se em alguns casos, total-mente o lay out, o processo produtivo e melhorando signifi cativamente as condições de trabalho.

Durante o desenvolvimento da pesquisa, realizaram-se palestras, separadamente para tra-balhadores e para os técnicos e empresários sobre: os riscos químicos e físicos nas fundições, normas regulamentadoras e sobre os resultados das avaliações realizadas.

Foram realizadas fi lmagens nas empresas, antes, durante e após o processo de modifi cação no ambiente e nas condições de trabalho previsto no termo de ajustamento. O material foi utili-zado na produção de DVD sobre o setor de fundição – o processo produtivo, os riscos químicos e físicos e os danos à saúde causados pelos mesmos.

Além de todos os resultados obtidos, foram realizados um doutorado em monitorização biológica e um mestrado em avaliação ambiental.

6

Prevenção de explosões na fabricação de fogos de artifício no arranjo produtivo de Santo Antonio do

Monte (MG)

Gilmar da Cunha Trivelato, Fundacentro/CRMG/MTE

Júnia Maria de Almeida Barreto, Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho/MTE

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Justifi cativa

O s fogos de artifício são artefatos perigosos e a explosão é o principal perigo inerente à fabricação ou uso de fogos de artifícios. Mas culturalmente eles são

aceitos em nossa sociedade e o consumo desses produtos é crescente. Entretanto, observa-se uma tendência recente de se exigir maior segurança tanto no processo de produção como no transporte, armazenamento e consumo fi nal. Para que a prevenção seja bem sucedida as ações dos diferentes atores sociais precisam ser bem articuladas, em outras palavras, é neces-sária uma boa “governança”.

A produção de fogos de artifício no Brasil teve seu início na primeira metade do século XIX, mas o desenvolvimento de uma indústria pirotécnica moderna é recente e ocorreu na se-gunda metade do século XX. No seu primeiro momento ela foi construída em bases empíricas e os fabricantes começaram a se organizar em empreendimentos de pequeno e médio porte localizados em uma mesma área ou região.

Em Santo Antonio do Monte, município localizado no Centro-Oeste de Minas Gerais e cerca de 180 km da capital, e também nos municípios vizinhos, foram instaladas aproximada-mente sessenta indústrias de pequeno e médio porte, que constituem o maior arranjo produ-tivo local de fabricação de fogos de artifício do Brasil e o segundo pólo mundial. A indústria pirotécnica é a principal atividade econômica dessa região. Mas a história da produção de fogos de artifício nesse arranjo produtivo local é constituída de muitas tragédias.

O elevado número de acidentes com mortes levou o Ministério do Trabalho e Emprego a intervir no setor. No ano 2000, o MTE, em parceria com outras organizações governamentais e não governamentais, iniciou um processo de intervenção nesse arranjo produtivo, ainda em andamento, com o objetivo principal de prevenir explosões e fatalidades delas decorrentes, além de promover a melhoria das condições de trabalho de uma forma geral e contribuir para que esse processo produtivo seja sustentável.

No contexto deste processo de intervenção o termo produção sustentável é entendido como a criação de bens e serviços usando processos e sistemas que são: não poluentes; conservadores de energia e recursos naturais; economicamente viáveis; seguros e saudáveis para trabalhadores, comunidades e consumidores; e criativa e socialmente compensador para todos os trabalhadores. E governança é o exercício da autoridade política e o uso de recursos institucionais para a gestão de problemas e negócios da sociedade visando alcan-çar um bem comum.

Objetivos

Caracterizar a evolução do arranjo produtivo de Santo Antonio do Monte na prevenção de explosões e mostrar um exemplo de ação bem sucedida do Estado na promoção da produção sus-tentável, onde uma boa governança contribuiu signifi cativamente para alcançar esse resultado.

136

Metodologia

O objeto deste estudo foi o arranjo produtivo local existente na região de Santo Antonio do Monte e a intervenção realizada para prevenir explosões na fabricação de fogos de artifício. Foi um estudo qualitativo com uma abordagem histórico-crítica, tipo pesquisa-ação, onde os autores desempenharam papel importante nas ações estudadas. O estudo cobriu o período do fi nal da década de 1970 até o ano de 2007.

Os dados foram coletados durante o processo de intervenção e os procedimentos usados in-cluíram observações diretas nos ambientes de trabalho; memória fotográfi ca; registros em diário de campo; análise documental; entrevistas com diferentes atores sociais e obtenção e análise de dados dos acidentes ocorridos no período estudado.

O tratamento dos dados incluiu a caracterização do arranjo produtivo local e a identifi ca-ção dos principais estágios de desenvolvimento desse arranjo, com descrição das principais atividades, atores envolvidos e resultados alcançados. A forma narrativa foi escolhida para a apresentação dos resultados.

Resultados

1. Caracterização do arranjo produtivo e atores sociais relevantesAs principais características do arranjo produtivo estudado são:

• cerca de sessenta fabricas (ex. 62 em 2002), localizadas numa área que inclui o mu-nicípio de Santo Antonio do Monte e cinco outros municípios vizinhos, com uma população total de duzentos mil habitantes;

• uma fábrica típica está localizada em área rural próxima à zona urbana, constituída de várias pequenas edifi cações separadas por uma certa distância;

• aproximadamente cinco mil trabalhadores estão diretamente empregados no pro-cesso de fabricação;

• o volume de produção é de aproximadamente oito mil toneladas por ano de dife-rentes categorias de fogos de artifício.

Os principais atores sociais são os proprietários e trabalhadores das diversas fábricas e as seguintes organizações governamentais ou não governamentais:

• Sindicato da Indústria de Explosivos do Estado de Minas Gerais (SINDIEMG) e a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), representando a maioria das empresas;

• Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Explosivos, com sede em Santo Antonio do Monte;

137

• Divisão de Segurança e Saúde no Trabalho, da Delegacia Regional do Trabalho de Minas Gerais (DRT-MG), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE);

• Centro Regional de Minas Gerais da Fundacentro (CRMG);

• Exército Brasileiro, Ministério da Defesa;

• Ministério Público do Trabalho em Minas Gerais (MPT-MG);

• Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM).

2. Estágios de desenvolvimento do arranjo produtivo local de fogos de artifício

A evolução do arranjo produtivo de fogos de artifício de Santo Antonio do Monte, com foco nas tecnologias produtivas, explosões e ações preventivas, pode ser descrita em termos de três estágios subseqüentes.

Primeiro estágio – a era dos fogos de barulho: do fi nal da década 1970 até 1990.

Nesse período as fábricas produziam principalmente fogos de artifício usando pólvora bran-ca e negra. A maioria das explosões ocorria no processo de produção da pólvora. No ano de 1979 registrou-se a maior explosão que resultou em 24 vítimas, sendo 13 fatais. Com o passar dos anos as fábricas foram aprendendo empiricamente a controlar, em alguma extensão, os fato-res responsáveis pelas explosões. Mas explosões envolvendo pólvora continuaram a ocorrer.

O Exército Brasileiro foi a organização governamental mais ativa nesse período na investi-gação e prevenção de explosões. Era responsável por autorizar as fábricas de fogos de artifício a operar. Realizava inspeções nas fábricas, principalmente nas instalações de armazenamento, e controlavam a comercialização dos principais materiais perigosos usados no processo produtivo. As ações do Ministério do Trabalho e de outras organizações eram limitadas nesse período. As empresas não haviam ainda constituído um sindicato do setor.

Segundo estágio – a introdução de fogos de artifício de cor – início dos anos 1990 até 2000.

Em 1991 o SINDIEMG for organizado e, presentemente, conta com 41 empresas associa-das. Foi nesse estágio que muitas fábricas iniciaram a produção de fogos de artifício de cor, num processo empírico de ensaio e erro. Conseqüentemente, várias explosões, mais severas, come-çaram a ocorrer envolvendo principalmente misturas intermediárias usadas na preparação desse fogos, sem que as causas pudessem ser compreendidas pelos fabricantes.

Em 1998 a DRT-MG começou a realizar inspeções em algumas fábricas utilizando abor-dagem tradicional para verifi car a conformidade com a legislação vigente na época. Devido à lacuna de padrões legais específi cos para a prevenção de incêndios e explosões na fabricação de fogos de artifício, aos limitados recursos humanos e inexperiência da equipe, essas inspe-ções não foram sufi cientes para promover a redução dos acidentes. Entretanto, um estudo exploratório foi realizado e mostrou que:

138

• os empregadores não viam os custos com segurança e saúde como um investimento;

• os profi ssionais pirotécnicos desconheciam as características perigosas das misturas intermediárias e produtos fi nais que manuseavam e, portanto, não sabiam como pre-venir explosões;

• inexistiam programas de controle de qualidade e gestão de riscos implementados;

• havia aceitação social dos riscos e ocorrência de explosões como fato “normal” ou ‘inerente ao processo” por todos os membros da comunidade.

A partir desses resultados, e frente ao elevado número de fatalidades registrado, a DRT-MG decidiu dar início a um processo de intervenção sistemático, em parceria com outras organiza-ções, em particular com a Fundacentro-CRMG e o MPT-MG.

Terceiro estágio – Fase da intervenção – 2001 a 2008.

Neste estágio foi desencadeado o processo de intervenção que incluiu as seguintes ações:

2001 – Proposição pelo MTP-MG, assessorado pela DRT-MG e Fundacentro-MG, de um termo de ajuste de conduta a ser assinado pelas empresas visando a implementação de medidas preventivas.Maio a Novembro de 2001 – Realização de uma série de atividades de orientação técnica e formação para promover a conscientização dos empreendedores e construção de com-petências locais na prevenção de explosões, desenvolvidas pela DRT-MG, Fundacentro-MG, SINDIEMG e Sindicato dos Trabalhadores, que incluiu:

• Seminários para empregadores.

• Curso de capacitação para profi ssionais de segurança e saúde no trabalho.

• Ofi cina com representantes dos trabalhadores.

• Festival com atividades culturais, artísticas e de lazer para todos os membros da comunidade, com foco na produção e uso seguro de fogos de artifícios.

• Curso de capacitação na prevenção de explosões para os profi ssionais responsáveis pela organização da produção e desenvolvimento de novos artefatos pirotécnicos.

Setembro/Outubro 2001 – Cooperação internacional: os membros da equipe técnica da Fundacentro-MG e DRT-MG participaram do 5a Conferência Internacional de Inspe-tores Chefes de Explosivos e visita técnica no Laboratório Canadense de Pesquisa em Explosivos em Ottawa, Canadá.2001/2001 – Algumas fábricas assinaram o termo de ajuste de conduta com MPT-MG cujo objetivo era implementar medidas de prevenção de explosões e melhoria das condições de trabalho.

139

Agosto 2001 – Foi assinado acordo de cooperação técnica entre FEAM, SINDIEMG, FIEMG e Fundacentro-MG para apoiar as fábricas de fogos de artifício a promover ações de prevenção da poluição e obter licença ambiental corretiva, requisito necessário para obtenção de empréstimos junto às agencias de fomento para o custeio das ações preventivas.2002 até o presente – As indústrias implementaram o programa de gestão de riscos para a prevenção de explosões, num processo cooperativo. Maio 2006 – Foi inaugurado o Centro Tecnológico Oscar José do Nascimento, unidade do SENAI, que possui laboratório de ensaios e testes físico-químicos de insumos e produtos acabados das indústrias da região.2006/2007 – Elaboração e publicação de normas legais relativas à indústria de fogos de artifício.

• Regulamentação sobre a Classifi cação, Importação e Avaliação Técnica de Fogos de Artifício e dispositivos pirotécnicos, pelo Exército Brasileiro, também aplicável aos fogos de artifício importados.

• Regulamentação dos aspectos de Segurança e Saúde na indústria e comércio de fogos de artifício e dispositivos pirotécnicos, com participação de representantes do governo, fabricantes e trabalhadores (Anexo 1 da NR 19)

Resultados da intervenção

O gráfi co da Figura 1 mostra o número absoluto de fatalidades resultantes das explosões ocorridas no processo de fabricação de fogos de artifício durante o período de intervenção. A Tabela 1 mostra os mesmos resultados em termos da taxa anual de fatalidades - número de mortes por mil trabalhadores empregados. É importante destacar que desde 2006 até o presente não foram registrados acidentes fatais.

Figura 1 Número absoluto de mortes causadas por explosões na indústria de fogos de artifício de Santo Antonio do Monte e região no período de 1999 a 2007

Fonte: Exércido Brasileiro/ SINDIEMG

Núm

ero

de m

orte

spo

r exp

losã

o

Ano

140

Conclusões

A combinação da fraca governança (ações isoladas) com a falta de conhecimento e experiên-cia em gestão de riscos por todas as partes envolvidas e o fato de que as lesões e possíveis mor-tes eram aceitas por toda a comunidade como normais, explica o elevado número de acidentes registrado no início do período estudado. O grande número de fatalidades foi o que chamou a atenção das autoridades por não ser aceitável. A limitação das abordagens tradicionais de inspe-ção desencadeou o processo de intervenção usando uma abordagem cooperativa.

Os dados disponíveis para acidentes fatais mostraram claramente que a intervenção realizada foi bem sucedida na prevenção de explosões com conseqüências fatais. As principais caracterís-ticas dessa intervenção que contribuíram para esse sucesso foram:

• conscientização dos empreendedores e comunidade;

• cooperação envolvendo todos os atores sociais;

• construção de capacidade e competências locais em gestão de riscos, particularmente na prevenção de explosões;

• transformação das experiências práticas em normas legais;

• restrições na importação de fogos de artifício não seguros, difi cultando a concor-rência desleal.

Os resultados mostraram claramente que o objetivo de prevenir mortes por explosões foi alcançado. Em conseqüência disto povo de Santo Antonio do Monte tem feito demonstrações de agradecimento a todos aqueles que cooperaram nesse empreendimento.

Tabela 1 Taxa anual de fatalidades devido a explosões na indústria de fogos de artifício de Santo Antonio do Monte

AnoTaxa de fatalidade

(número de mortes em explosões por 1000 trabalhadores empregados por ano)

1999 1,02000 1,62001 1,42002 1,42003 0,82004 0,22005 0,22006 0,02007 0,0

Fonte: Exércido Brasileiro/ SINDIEMG

7

Segurança e saúde dos pescadores artesanais no estado do Pará

Edimax Gomes Gonçalves, Fundacentro/CEPA/MTELaura Soares Martins Nogueira, Fundacentro/CEPA/MTE

Silvio Silva Brasil, Fundacentro/CEPA/MTE

Palavras-chave: trabalho; segurança; saúde do trabalhador; pesca artesanal.

143

Introdução

O reconhecimento de que o trabalho sob condições inadequadas pode ser fator impor-tante na determinação das condições de saúde e adoecimento dos trabalhadores é re-

fl exão necessária e oportuna, evidenciando a importância do trabalho em nossa sociedade e o papel central que ele ocupa na estruturação e conformação das relações que os homens estabelecem no processo de produção material da vida. Nessa perspectiva, o trabalho pode tanto ser fator de construção de identidade, realização e prazer, quanto gerador de sofrimento, adoecimento ou, nas palavras de Marx (2006), fator de “desrealização do ser social”.

A Organização Internacional do Trabalho – OIT refere-se à pesca como uma das mais desgas-tantes e perigosas atividades desenvolvidas pelo homem.

Variados estudos sobre aspectos relacionados à segurança e saúde do trabalhador do se-tor da pesca têm sido desenvolvidos no Brasil, dos quais destacamos os de Tomanik e Bercini (2001); Bezerra (2002); Barbosa (2004); Dall’oca (2004) e Garrone Neto, Cordeiro e Haddad Jr. (2005), bem como, as pesquisas desenvolvidas em diversos Estados do país por pesquisadores da Fundacentro através do Programa Acqua Fórum1.

A Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República – SEAP/PR divulgou em Dezembro de 2006 o cadastramento dos pescadores artesanais. O recadastramento nos mostra ser de 390.761 o número de pescadores registrados no país. O Pará tem a maior população de pescadores artesanais, estando cadastrados ofi cialmente junto à SEAP 77.133 (setenta e sete mil, cento e trinta e três) pescadores2, o que representa quase 20% do total de pescadores brasileiros, os quais em grande parte, apesar da condição de segurados especiais da previdência, são colocados à margem - em grande medida pela própria desinformação quanto aos seus direitos – da maioria dos benefícios (auxílio acidente, auxílio doença, auxílio maternidade, aposentadoria etc.) a que fazem jus, aumentando ainda mais o nível de exclusão social da categoria (BRASIL, 2007).

O Estado do Pará contribui de modo expressivo para a produção nacional de pescado. Os últi-mos dados ofi ciais da produção de pescado no Brasil, divulgados em 2005, são do IBAMA e apon-tam o Estado de Santa Catarina como o maior produtor de pescado do país, com 151.677 toneladas. O Estado do Pará vem em seguida, com uma produção de 146.895,5 toneladas. Sobressai, no entan-to, o fato de que o perfi l da produção é inverso nos dois Estados. Enquanto 70,7% da produção do pescado de Santa Catarina advêm da pesca industrial, somente 6,1% de sua produção é artesanal. No Estado do Pará, a pesca artesanal responde por 87,5% de toda a produção, ressaltando o papel que a categoria dos pescadores artesanais desempenha na produção pesqueira do estado.

Apesar da importância econômica do setor e do grande contingente de trabalhadores, poucos são os dados sobre suas condições de segurança e saúde nesse Estado. A pesquisa desenvolvida3 objetiva conhecer as condições de vida, trabalho, saúde e segurança dos pescadores artesanais no Pará e gerar conhecimentos que contribuam para a sua melhoria.

1 Programa Acqua Forum – de caráter nacional e desenvolvido pela Fundacentro, realiza ações voltadas para a segurança, saúde e meio ambiente de trabalho nas atividades de pesca e mergulho profi ssionais.2 Dados de Agosto de 2008 demonstram que existem 121.499 pescadores cadastrados no Estado do Pará. Fonte: SEAP/PR-PA.3 Vinculada ao Programa Nacional Acqua Forum.

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Metodologia

Situamos o presente trabalho no campo da Saúde do Trabalhador, que se confi gura um novo paradigma de análise sobre a relação trabalho e saúde/doença. Parte do princípio de que a forma de inserção dos indivíduos nos espaços de trabalho contribui decisivamente para formas específi cas de adoecer e morrer. Nenhuma disciplina isolada consegue contemplar a abrangência da relação processo trabalho-saúde/doença em suas múltiplas e imbricadas dimensões: desde as razões sócio-históricas que lhe dão origem, à forma como se concretiza nos espaços de tra-balho, no caso dos pescadores, sua relação com o próprio meio ambiente. Em consonância a essa compreensão, em nosso estudo somam-se os referenciais da sociologia, da psicologia, das engenharias de pesca e da segurança no trabalho, que possibilitam-nos o necessário enfoque in-terdisciplinar que os estudos no campo da Saúde do Trabalhador aduzem (MINAYO-GOMES & THEDIM COSTA, 1997; DIAS, 1994; LACAZ, 1994).

A pesquisa tem caráter qualitativo e utiliza variados instrumentos de coleta de dados: entre-vistas, grupo focal e observação participante. A escolha pela pesquisa qualitativa nos aproxima da dimensão dos signifi cados através dos quais o homem compreende o mundo, permitindo-nos privilegiar a fala dos trabalhadores, premissa fundamental do campo da Saúde do Trabalhador.

O Estado do Pará, por sua localização na região amazônica, dispõe de uma diversidade de ecossistemas aquáticos apresentando ambientes de águas continentais, estuarinas e marítimas nos quais a pesca artesanal se desenvolve com diversas adaptações e particularidades. Essas adaptações envolvem petrechos e técnicas de pesca diversifi cadas para cada tipo de ecos-sistema e prática de captura. Abrangendo seis municípios do Estado do Pará - Abaetetuba, Igarapé-Miri, Mocajuba, Bragança, Salinópolis e São Caetano de Odivelas, a pesquisa permite observar essas distintas realidades.

Para a consecução do trabalho de campo, inicialmente foi estabelecido contato com os dirigen-tes das Colônias de Pescadores nos municípios em questão. Momento em que se agendava reunião com o coletivo dos trabalhadores para apresentação institucional da Fundacentro e apresentação do projeto de pesquisa. Vale salientar, que nesse momento, a Fundacentro ofereceria a possibili-dade de realização do curso: Segurança e Saúde dos Trabalhadores da Pesca Artesanal, com carga horária de 20 h, abarcando temáticas referentes à educação previdenciária; segurança e saúde do trabalhador da pesca, bem como temas relacionados à produção, conforme as necessidades es-pecífi cas do local. Este curso, para além dos seus objetivos específi cos, confi gurou-se como uma estratégia de entrada em campo, permitindo a vinculação com a Colônia, parceira fundamental no sentido de garantir posteriormente a inserção junto aos trabalhadores e oportunizando guia e embarcação para o deslocamento aos locais de pesca. Seis cursos foram realizados, posto que todas as Colônias dos municípios estudados optaram por sua realização.

No terceiro momento deu-se o trabalho de campo propriamente dito, implicando obser-vação participante, com visitas às comunidades e aos locais de pesca com maior facilidade de acesso e aplicação dos instrumentos de coleta de dados. O tempo de permanência em cada município variou de três a quatro dias.

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Resultados

Em Abaetetuba, Igarapé-Mirí e Mocajuba, localizados às margens do rio Tocantins, à jusante da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, tem-se a utilização de zagaia, arpão, tarrafa, linhas, redes de arrasto, matapi, rede de espera (malhadeiras), espinhéis, predominando os três últimos; a maioria dos pescadores trabalha por conta própria ou em sociedade, e são, em sua maioria, os proprietá-rios das embarcações; o tempo demandado para a atividade é curto, infl uenciado pela proximi-dade dos locais de pesca. As embarcações motorizadas e barcos de pequeno porte são poucos, predominando o desenvolvimento das atividades em canoas ou montarias, movidas à remo ou à vela. Diversamente, em Bragança, Salinópolis e São Caetano de Odivelas vemos o predomínio de embarcações motorizadas de pequeno e médio porte, com tempos de atividade superiores a um dia de trabalho e maior quantidade de pessoal envolvido nas capturas, predominando as pescarias com redes de arrasto, espinhéis e currais. Resultados preliminares apontam para as condições precárias de vida e trabalho enfrentadas pelos pescadores artesanais no Pará.

Considerando a moradia, pode-se observar casas sem luz elétrica, água encanada e esgoto, como em algumas localidades nos municípios de Mocajuba e Igarapé-Miri. Realidade que começa a mudar em localidades como a Vila de Pescadores de Ajuruteua (município de Bragança) ou mes-mo nas ilhas no entorno de Abaetetuba, onde já se constata luz elétrica e água encanada advindas de projetos de assentamento na várzea desenvolvidos pelo INCRA. No relato dos pescadores ar-tesanais, a baixa escolaridade é atribuída à difi culdade de acesso à educação formal mais avançada na própria localidade, bem como, a necessidade de cedo trabalhar, ajudando os pais.

(...) Olhe quando eu era criança não tive a oportunidade de estudar, a minha escola era muito longe e às vezes a gente ia com fome e quando chegava de noite meu pai dizia pra gente ir mariscar. (Pescador 1, Mocajuba)

A baixa escolaridade, por conseqüência, coloca a atividade da pesca não como uma opção, mas como única alternativa de trabalho capaz de garantir a sobrevivência, como referido a seguir:

(...) olha meu pai antes de começar a pescar, ele já ia amarrado pela perna no banco da canoa, porque ele não sabia nadar, meu avô amarrava ele, desde pequenino. Assim ele nos criou. Meu irmão mais velho não sabe nem ler por causa disso, ele começou desde pequenino a pescar com meu pai, aí nós fomos vivendo assim, todos nós só estudamos até a quarta série, aí todos foram para a pesca, mas gosto da minha atividade. (Pescadora 2, Abaetetuba)

O baixo nível de escolaridade encontrado nos pescadores artesanais no Estado do Pará difi culta o emprego de políticas de informação e esclarecimento que não contemplem tal particularidade. Necessitamos assim, de posse das análises sobre o tema proposto, também pensar em mecanismos adequados de difusão dos resultados do trabalho que levem em conta esse dado, e que permitam aos pescadores se apropriarem e instrumentalizarem, em seu be-nefício, dos resultados obtidos.

Do mesmo modo, evidenciamos a difi culdade de acesso à saúde. Ausência de ACSs – agentes comunitários de saúde nas localidades e algumas vezes de médicos nas sedes dos municípios, obrigando a deslocamentos maiores em busca de atendimento, muitas das vezes só concretizado na capital do Estado, como se observa nas seguintes falas:

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A gente vai no posto de Pererú (localidade de São Caetano de Odivelas), mas aqui mes-mo na comunidade não tem. Ao ser indagado sobre o Programa Saúde da Família, responde: Tem, mas tem vezes que eles (ACSs) nem passam aqui na casa, às vezes eles passam meses sem vir. (Pescador 3, catador de caranguejo, São Caetano de Odivelas)

A saúde parece ser um dos nós críticos da realidade da população ribeirinha em todos os municípios alvo da pesquisa. Tal realidade se coaduna de maneira evidente às observações de Scherer (2004), quando esta discute a vulnerabilidade social da população ribeirinha da Amazô-nia cuja história, a autora nos mostra, está alicerçada no esquecimento dessas populações durante gerações pelo poder público.

Observando-se os processos de trabalho nos quais estão inseridos os pescadores artesanais do estudo e seus relatos é possível identifi car uma série de riscos. Exposição à radiação solar, às intempéries, à maresia, à baixa luminosidade devido ao trabalho noturno, acidentes com animais que podem provocar lesões (ferrada de arraia, picada de cobra etc.), ruído do motor, entre outros. Ainda, precárias condições de trabalho que se refl etem na higiene pessoal, pois as embarcações não possuem sanitários, no modo como realizam as refeições e locais de descanso, tanto mais difíceis quanto maior o período de tempo embarcado. Situações vivenciadas como naturais que se expres-sam nos relatos que afi rmam “o pescador se acostuma” ou “o pescador está acostumado”.

Quanto aos adoecimentos e acidentes relacionados ao trabalho, os pescadores apontam o reumatismo, lombalgias e problemas de visão como as doenças mais comuns que os acometem:

O que eu acho que prejudica no futuro, devido a pessoa tá em contato e vivendo todo tempo molhado, aí ele tem problema de reumatismo, é um dos maiores problemas que o pescador enfrenta é o problema de reumatismo, ele tem problemas com coluna, dores na coluna devido ele se abaixar pra puxar a rede, até porque no levante da rede, a pessoa fi ca até 4 horas agachado na mesma posição, aí tem problemas de dores de cabeça às vezes de estar no sol, porque às vezes o sol tá quente, pega um pouco de chuva. (Pescador 4, Abaetetuba)

Ferimentos provocados por animais, tais como, ferradas de arraia e bagre, assim como fe-rimentos provocados pelos instrumentos de trabalho como anzóis, são acidentes mais comuns levando ao afastamento do trabalhador de sua atividade por dias ou mesmo meses. Quadro se-melhante foi encontrado por Garrone Neto, Cordeiro e Haddad jr. (2005) na região do médio Araguaia (Tocantins). Menos freqüentes, mas ainda assim existentes, são os relatos sobre acidentes envolvendo quedas dentro e fora das embarcações ou mesmo afogamentos: “O mais freqüente acidente com o pescador é com ferrada de arraia” (Pescador 1, São Caetano de Odivelas).

Em que pese a saúde mental e sua relação com o trabalho não ter sido contemplada no es-copo inicial da pesquisa, cabe-nos salientar a percepção do sofrimento psíquico, como compre-endido por Dejours, Dessors, e Desriaux (1993). Este aparece vinculado à baixa produtividade, afastamento da família e pirataria4, remetendo-nos à refl exão sobre suas condições de trabalho e organização do trabalho determinadas em grande medida pelos ciclos da natureza (horário das marés, localização de cardumes, tempo etc.), diminuição dos recursos pesqueiros e na atualidade, à violência que chega às populações ribeirinhas.

4 Situações de violência relacionadas ao roubo de material de trabalho e da própria produção.

147

Considerações fi nais

Observamos assim, que frente às suas precárias condições de vida e trabalho a questão da sobrevivência para os pescadores artesanais se antepõe aos cuidados com sua saúde e segu-rança. Nesse sentido, suas condições materiais de vida e trabalho tendem a ser naturalizadas e relegadas a um plano secundário, fazendo com que o pescador associe prioritariamente seu estado de saúde à sua capacidade de trabalhar: “Saúde é tar andando normal, tar disposto para fazer alguma coisa e tar doente é tar ali parado, tar quieto, tar deitado (...) Saúde é poder trabalhar” (Pescador 1, Igarapé Miri).

Pra mim tar doente é meio ruim (...) porque se eu adoecer a mulher não vai poder me as-sustentar. Aí fi ca meio complicado pra mim, eu não gosto nem de pensar nessa palavra: eu adoecer. Tem gente que depende de mim. (Pescador 2, Abaetetuba)

As análises até aqui desenvolvidas mostram-se ainda inconclusas, frente ao vasto corolário de situações e relatos que as atividades de campo nos oferecem nessa pesquisa. Reconhece-mos, portanto, a existência de um longo caminho a ser trilhado, até que possamos deslindar de forma mais precisa o contexto da segurança e saúde dos pescadores artesanais, frente às relações materiais de vida e trabalho que lhes determinam, e que caracterizam o universo da pesca artesanal no Estado do Pará.

O desafi o que se coloca às instituições que desenvolvem políticas públicas para o setor da pesca artesanal é a atuação conjunta com a organização dos pescadores, construindo es-tratégias que lhes permitam refl etir sobre as condições materiais de reprodução da sua vida, visando transformá-la, possibilitando assim que, para além da estrita lógica da sobrevivência, as questões relativas à sua saúde e segurança se afi rmem como um valor e, portanto, sejam merecedoras de atenção e cuidados.

Referências bibliográfi cas

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DALL’OCA, A. V. Aspectos sócio-econômicos, de trabalho e de saúde de pescadores do Mato Grasso do Sul. 2004. Dissertação. Curso de Mestrado em Saúde Coletiva da Universida-de Federal de Mato Grosso do Sul. 2004.

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DEJOURS, C.; DESSORS, D.; DESRIAUX, F. Por um trabalho, fator de equilíbrio. Revista de Administração de Empresas. São Paulo, v. 33, n. 3, p. 98-104, mai/jun.1993.

DIAS, E. C. A atenção à saúde dos trabalhadores no setor saúde (SUS), no Brasil: reali-dade, fantasia ou utopia. 1994. Tese (Doutorado) - Faculdade de Ciências Médicas, Unicamp, Campinas, 1994.

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LACAZ, F. A. C. Cenário e estratégias em saúde dos trabalhadores de 1986 a 1994. II Conferência Nacional de Saúde dos Trabalhadores. Brasília, 1994.

MARX, Karl. Manuscritos Econômico-Filosófi cos. São Paulo: Martin Claret, 2006.

MINAYO-GOMES, C.; THEDIM-COSTA, S. A construção do campo da saúde do trabalha-dor: percurso e dilemas. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, 1997.

SCHERER, E. Mosaico Terra-Àgua: a vulnerabilidade social ribeirinha na Amazônia – Brasil. VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais. Coimbra, 2004. Disponível em: http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034- 96902008000100001&Ing=pt&nrm=is. Acesso em: 02/10/2008.

SEAP-PR. Estatística de Aqüicultura e Pesca no Brasil - ano 2005. Disponível em: http://200.198.202.145/seap/Dados_estatisticos/boletim2005a(tabela).pdf. Acesso em: 13/10/08.

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A produção científi ca sobre o trabalho e a saúde dos enfermeiros: um panorama

Tereza Luiza Ferreira dos Santos, Fundacentro/CTN/MTE

Palavras-chave: enfermeiros, produção científi ca, saúde.

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Em meados de 2007, o Sindicato dos Enfermeiros do Estado de São Paulo, solicitou a Fundacentro a realização de um estudo sobre a subjetividade e o trabalho dos enfermeiros ten-do em vista obter subsídios para o estabelecimento de políticas de saúde no trabalho efi cazes. Levando em consideração as queixas da categoria representadas pelo sindicato, considerando a ausência de um perfi l da categoria profi ssional enfermeiros, optei em um primeiro momento pela realização de levantamento bibliográfi co exaustivo e extenso sobre o tema enfermeiros, sua saúde e trabalho.

Portanto, os objetivos do levantamento bibliográfi co foi verifi car a existência de estudos sobre enfermeiros para subsidiar uma proposta de pesquisa; verifi car o que já existe e apontar tendências para novas pesquisas e sistematizar os conhecimentos já produzidos e estabelecer um perfi l desta produção científi ca.

Optamos metodologicamente, por um levantamento bibliográfi co exaustivo na internet, utili-zando os seguintes descritores para a busca – enfermeiros, enfermagem, saúde dos enfermeiros, trabalho dos enfermeiros, saúde mental dos enfermeiros, stress entre enfermeiros, condições de trabalho dos enfermeiros para artigos e teses prioritariamente elaboradas em São Paulo, mas não apenas. Foram pesquisadas bases de dados:

• Banco de Dados Bibliográfi cos da Fundacentro

• IBICT

• LILACS

• BIREME

• BDENF - Banco de Dados em Enfermagem

• Banco de Dados da USP/SIBI

• TEDE - PUC

• ADOLEC

• Banco de Teses da CAPES

• CEPEM

Os sítios pesquisados foram:

• http://www.fundacentro.gov.br

• http://www.ibict.br

• http://www.teses.usp.br

• http://www.usp.br

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• http://www.bireme.br

• http://www.unicamp.br

• http://www.scielo.br

• http://www.capes.gov.br

• http://www.ufmg.br

• http://www.capes.gov.br

• http://www.pucsp.br

• http://www.oit.br

• http://www.mte.gov.br

• http://www.fi ocruz.br

• http://www.divinopolis.uemg.br/enfermagem/aben/catalogo/idcgeral.html

A pesquisa propriamente dita foi realizada no período de julho a agosto/2007. Após, proce-demos a uma sistematização dos dados.

Resultados

A produção pesquisada abrangeu 312 estudos/publicações realizados no total no período de 1976 a agosto de 2007, sendo 141 o número de artigos publicados em periódicos, 3 teses de livre docência, 50 teses de doutorado, 118 dissertações de mestrado. Abaixo temos os quadros que mostram a distribuição da produção por ano e por década.

Distribuição da produção científica por ano.

1970

1980

1990

2000

2010

2020

-10 0 10 20 30 40

Número de trabalhos

An

o

Seqüência1

152

As dissertações de mestrado foram mais defendidas na Escola de Enfermagem da USP. Em se tratando de periódicos, a Revista Latino Americana de Enfermagem é o periódico que mais

publica artigos científi cos sobre a temática. Todo o material foi agrupado por temas, perfazendo um total de 42, sendo acidentes do

trabalho, estresse e o trabalho os mais discutidos pelos autores.

Conclusão

Os estudos realizados são publicados em periódicos da área de enfermagem, não havendo divulgação em periódicos sobre saúde e segurança do trabalhador. A maior parte da produção está voltada para o trabalho do enfermeiro hospitalar. Outros temas como violência no trabalho, abandono da profi ssão e assédio moral devem ser enfocados em outros estudos.

Distribuição da produção científica por década.

4

18

101

172

1965

1970

1975

1980

1985

1990

1995

2000

2005

0 1 2 3 4 5

Número de trabalhos

cad

a

Seqüência1

9

Proteção respiratória contra agentes biológicos e a cartilha para os trabalhadores de saúde

Sílvia Helena de Araujo Nicolai, Fundacentro/CTN/MTEAntonio Vladimir Vieira, Fundacentro/CTN/MTE

Palavras-chave: agentes biológicos, proteção respiratória, cartilha.

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Introdução e objetivos

A utilização de equipamentos de proteção respiratória (EPRs) por profi ssionais que atuam em Serviços de Saúde é uma importante estratégia para a prevenção de doen-

ças cuja principal via de transmissão é a aérea, como, por exemplo, a tuberculose. Esta medida, entretanto, não deve ser considerada prioritária em relação às medidas de controle de ordem administrativas, tais como a elaboração de protocolos para identifi cação rápida, isolamento e tratamento de pessoas portadoras de patologias infecciosas, e as medidas de controle de enge-nharia, como o controle da qualidade de ar dos ambientes contaminados.

No Brasil, não existe regulamentação específi ca sobre o uso de proteção respiratória contra agentes biológicos por Trabalhadores de Saúde no âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego.

Os Centers for Disease Control and Prevention (CDC), órgão vinculado ao Department of Health and Human Services, dos EUA, recomendam a utilização de respiradores descartáveis N95 aprovados pelo National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH), como respiradores com o nível de proteção respiratória mínimo para proteção contra agentes biológicos, tais como o bacilo de Koch1 (bacilo da tuberculose) e o vírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS)2.

Com base nestas recomendações, existe uma grande procura pelas máscaras descartáveis N95 nos Serviços de Saúde aqui, no Brasil. Como os produtos para a área hospitalar para serem uti-lizados nos Estabelecimentos de Saúde precisam ter registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)/Ministério da Saúde (MS)3 e, na área da Saúde, muitas vezes, não existe uma diferenciação clara sobre a indicação de uso dos respiradores (máscaras) descartáveis e das más-caras cirúrgicas, até o ano de 2005, fabricantes de máscaras cirúrgicas e de máscaras descartáveis obtinham registro na Anvisa/MS destas máscaras como máscaras N95 e comercializavam-nas como o respirador recomendado pelos CDC. Devido à propagação de informações sobre pro-teção respiratória contra agentes biológicos transmitidas em cursos e palestras da Fundacentro e à diferença de preço entre as máscaras descartáveis N95 importadas e as nacionais, ambas com registro na Anvisa/MS como máscaras N95, consultas a Fundacentro começaram a ocorrer, solicitando esclarecimentos sobre a máscara N95 e sobre qual a proteção respiratória a ser usada contra a inalação do bacilo da tuberculose. Esta demanda fez com que a Fundacentro entrasse em contato com a Anvisa para informá-la sobre estas consultas. Após esclarecimentos por parte da Fundacentro de que: a) a máscara N95 é um EPR e não uma máscara cirúrgica; b) no Brasil, os EPRs equivalentes a esta máscara são a máscara descartável tipo PFF2 (peça semifacial fi ltrante) ou o respirador purifi cador de ar com peça semifacial e com fi ltro P2 e c) todo EPR, por ser um equipamento de proteção individual (EPI), deve possuir Certifi cado de Aprovação (CA) emitido pelo Ministério do Trabalho e Emprego para ser comercializado e/ou utilizado4, a Anvisa passou a exigir o CA para registrar as máscaras descartáveis e uma representante da Anvisa passou a participar das reuniões da Comissão de Estudo de Equipamentos de Proteção Respiratória do CB-32/ABNT. Posteriormente, em março de 2005, foi marcada uma reunião com representan-tes do Ministério da Saúde, da Anvisa, do Ministério do Trabalho e Emprego, da Fundacentro e da Comissão de Estudos de Equipamentos de Proteção Respiratória do CB-32/ABNT, onde foi proposta a elaboração de uma cartilha com a fi nalidade de fornecer informações aos Trabalha-dores de Saúde sobre em que situações ele deve usar um EPR e quando deve usar uma máscara

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cirúrgica e sobre especifi cação, uso correto, limitações, guarda manutenção e descarte de EPRs utilizados para proteção contra a inalação de agentes biológicos. Esta cartilha, intitulada Cartilha de Proteção Respiratória contra Agentes Biológicos para Trabalhadores da Saúde5 foi elaborada em conjunto pela Fundacentro, Anvisa e pela Comissão de Estudos de Equipamentos de Prote-ção Respiratória do CB-32/ABNT e se encontra disponibilizada em forma eletrônica no sitio da Anvisa (www.anvisa.gov.br) desde o fi nal de abril de 2008.

A apresentação deste trabalho na Semana da Pesquisa visa uma maior divulgação das boas práticas de proteção respiratória contra agentes biológicos e, também, da Cartilha de Proteção Respiratória contra Agentes Biológicos para Trabalhadores da Saúde.

Transmissão de agentes biológicos por via aérea

A exposição a agentes biológicos dispersos por via aérea pode ocorrer quando o doente ou portador fala, tosse ou espirra, ao se entrar em ambiente contaminado, ou quando o Trabalhador de Saúde realiza procedimentos em pacientes com doenças ou condições clínicas que gerem gotículas ou aerossóis que contenham patógenos.

A transmissão por via aérea dos agentes biológicos pode se dar por dois mecanismos dife-rentes: por gotículas ou por aerossóis6.

As gotículas têm tamanho maior do que 5 μm e se depositam a uma distância relativamente curta da fonte que as gerou. A proteção respiratória recomendada para doenças de transmissão por gotículas (como por exemplo, a caxumba, a coqueluche, a rubéola e a difteria faríngea) é a máscara cirúrgica, que deve ser usada pelo Trabalhador de Saúde sempre que a sua proximidade com o paciente for menor ou igual a 1 metro. Para defi nição de rotina, recomenda-se o uso de máscara cirúrgica sempre que o Trabalhador de Saúde entrar em contato com o paciente.

Os aerossóis são constituídos por partículas com tamanho menor ou igual a 5 μm. A prote-ção respiratória para as doenças de transmissão aérea por aerossol (como por exemplo, a tuber-culose pulmonar e laríngea, sarampo, varicela, SARS e gripe aviária) é obtida através da seleção e uso dos EPRs adequados. Como as partículas que constituem os aerossóis são muito pequenas, elas permanecem em suspensão por longos períodos de tempo, podendo se dispersar por longas distâncias. Assim, o EPR deve ser utilizado durante todo o período em que o Trabalhador de Saúde estiver em contato com o paciente ou sempre que ele entrar em um ambiente contamina-do pelo agente biológico transmitido via aerossol. Neste caso, o Trabalhador de Saúde não deve usar uma máscara cirúrgica, pois, independente da capacidade de fi ltração, a vedação no rosto é precária neste tipo de máscara, permitindo, assim, a penetração do aerossol. A máscara cirúrgica, entretanto, deve ser utilizada no paciente com patologias de transmissão respiratória por aeros-sóis, quando em condições de transporte.

Convém ressaltar que os EPRs, por serem EPIs, devem possuir CA para serem utilizados e/ou comercializados4. Assim, para a sua aquisição por um Serviço de Saúde, ele deve possuir CA e registro na Anvisa/MS3. Situação diferente das máscaras cirúrgicas que, por não serem EPIs, não possuem CA e, portanto, devem possuir apenas o registro na Anvisa/MS3.

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EPRs no Brasil equivalentes à máscara N95

Segundo os CDC, o fi ltro de menor efi ciência que pode ser usado para a proteção contra a inalação de agentes biológicos é o fi ltro N95.

A classifi cação N95 é estabelecida na norma americana 42 Code of Federal Regulation (CFR) 847 e se refere ao tipo de fi ltros para partículas utilizado em respiradores purifi cadores de ar, que podem ser uma máscara descartável (peça semifacial fi ltrante) ou um fi ltro de uma peça facial. Esses respiradores são aprovados pela NIOSH para utilização na área industrial. Para um fi ltro ser classifi cado como N95, a penetração máxima de partículas sólidas de cloreto de sódio, com tamanho médio de 0,3 μm, durante o carregamento do fi ltro com 200 mg do aerossol sob um fl uxo de ar de 85 L/min, não pode ser superior a 5%, isto é, efi ciência mínima de 95%.

No Brasil, a classifi cação dos fi ltros para partículas e da peça semifacial fi ltrante (PFF) é feita segundo outros critérios, conforme estabelecido, respectivamente, nas normas NBR 13697/19968 e 13698/19969. Os fi ltros e as PFFs são classifi cados como P2 e PFF2, respectivamente, quando a penetração inicial de partículas sólidas de cloreto de sódio, com tamanho médio de 0,6 μm, sob um fl uxo de ar de 95 L/min, não ultrapassar 6%.

Comparando-se as condições de ensaios para estes fi ltros e para as peças semifaciais fi ltrantes no Brasil e nos EUA, verifi ca-se que: a) o tamanho médio das partículas utilizadas em ambos os ensaios é muito próxima à de penetração máxima nos fi ltros; b) a vazão, nos dois casos, simula uma condição de trabalho pesado, sendo mais crítica nos ensaios brasileiros, uma vez que a pene-tração aumenta com a velocidade de passagem de ar na camada fi ltrante; c) os ensaios nos EUA medem a penetração após o carregamento do fi ltro com 200 mg de aerossol, a fi m de verifi car se a penetração aumenta com a massa das partículas depositadas, o que pode infl uir em um dos mecanismos de captura de partículas no fi ltro, principalmente na presença de partículas oleosas. Nos Serviços de Saúde, entretanto, a concentração de particulados no ar é relativamente pequena e a chance de presença de partículas oleosas provenientes dos procedimentos é reduzida.

Diante do exposto, pode-se afi rmar ser aceitável considerar os fi ltros N95 como equivalentes aos fi ltros P2 e as peças semifacias fi ltrantes PFF2.

Por esta razão, pode-se afi rmar que, no Brasil, os EPRs equivalentes ao respirador (máscara) descartável N95 são as peças semifaciais fi ltrantes PFF2 ou o respirador do tipo peça semifacial com fi ltro P2, pois ambos apresentam o mesmo nível de proteção apresentado pela máscara N95.

Indicação de uso: máscara cirúrgica X peça semifacial fi ltrante

A máscara cirúrgica é uma barreira de uso individual que cobre a boca e o nariz do usuário. È indicada para proteção do Trabalhador de Saúde das patologias de transmissão aérea por gotículas e da projeção de sangue e outros fl uídos corpóreos que possam atingir as suas vias respiratórias. É indicada, também, para minimizar a contaminação do ambiente com secreções respiratórias geradas pelo próprio Trabalhador de Saúde ou pelo paciente em condições de transporte1.

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A peça semifacial fi ltrante (PFF) é um equipamento de proteção individual que cobre a boca e o nariz do usuário, proporciona uma vedação adequada sobre a sua face e possui fi ltro efi ciente para a retenção de contaminantes presentes na atmosfera sob a forma de aerossóis. De acordo com o valor de penetração inicial de cloreto de sódio, a PFF é classifi cada como PFF1, PFF2 e PFF3, sendo as penetrações máximas que podem ser atingidas para estas peças, respectivamente, 20%, 6% e 3%10. Em Serviços de Saúde, para proteção contra a inalação de agentes biológicos, a PFF deve ter uma aprovação mínima como PFF2. As PFFs classifi cadas como PFF2 são usa-das, também, para a proteção contra a inalação de outros materiais particulados, como poeiras, névoas e fumos, encontrados nos ambientes de trabalho das áreas industrial e agrícola. As PFFs, por serem EPIs, devem possuir Certifi cado de Aprovação emitido pelo Ministério do Trabalho e Emprego para serem comercializadas e/ou utilizadas.

As PFFs devem ser usadas durante todo o período em que o Trabalhador de Saúde estiver no ambiente contaminado com agentes biológicos transmitidos por aerossóis, inclusive na as-sistência ou transporte dos pacientes com doenças transmissíveis por aerossol. Retêm gotículas, algumas são resistentes a fl uídos corpóreos e podem estar disponíveis em diversos formatos e tamanhos, possibilitando a escolha da PFF com formato e tamanho mais adequados ao rosto do usuário. Não devem ser usadas por pessoas com barba ou pelos faciais na zona de selagem com a face do usuário, pois a presença destes pelos permitem a penetração de patógenos pela zona de selagem, reduzindo drasticamente sua capacidade de proteção.

Os modelos de PFF com válvula de exalação são considerados mais confortáveis, pois a maior parte do ar expirado, quente e úmido, sai pela válvula de exalação, não aquecendo e ume-decendo a camada fi ltrante. Não devem ser usadas, entretanto, para trabalhos em campo estéril, como por exemplo, em centros cirúrgicos1.

Quando existe necessidade proteção adicional contra a projeção de sangue ou outros fl uídos corpóreos que possam atingir o rosto do Trabalhador de Saúde, deve ser utilizado um anteparo do tipo protetor facial sobre a PFF ou óculos de segurança e PFF resistente à projeção de fl uídos corpóreos.

Em procedimentos com alto risco de exposição para o Trabalhador de Saúde, como procedi-mentos indutores de tosse ou geradores de aerossol, onde uma grande concentração de aerossol é gerada, deve-se utilizar um EPR com nível de proteção respiratória maior do que o atribuído as PFFs. Alguns exemplos destes EPRs, são os respiradores purifi cadores de ar com peça facial inteira e os respiradores de adução de ar de pressão positiva com peça semifacial ou facial inteira.

Como a proteção oferecida pelo respirador só será efetiva se o respirador for usado corre-tamente, é muito importante a realização de ensaios de vedação e treinamento dos usuários dos respiradores no uso, manutenção e cuidados dos mesmos10.

Ensaio de vedação e verifi cação de vedação10,11

Para a escolha do tamanho e do formato de respiradores adequados ao rosto do usuário, deve-se realizar um ensaio de vedação.

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O ensaio de vedação qualitativo pode ser efetuado para as PFFs e os respiradores com peça semifacial. Neste ensaio, emprega-se um agente de teste com sabor característico (sacarina, com gosto doce, ou bitrex, com gosto amargo) para verifi car se o usuário percebe a sua presença no interior do EPR, enquanto realiza exercícios padronizados. O ensaio de vedação deve ser repeti-do anualmente e refeito cada vez que houver alteração de condição que interfere na selagem da peça no rosto do usuário, como variação de 10% ou mais de peso ou aparecimento de cicatriz na área de vedação, ou quando houver alteração de modelo ou tamanho do respirador.

A verifi cação de vedação é um teste rápido, que deve ser realizado pelo próprio usuário para verifi car se o respirador foi colocado na posição correta no rosto, antes dele de entrar na área contaminada ou efetuar o ensaio de vedação. Essa verifi cação deve ser feita de acordo com as instruções de uso fornecidas pelo fabricante, que acompanham o respirador.

Programa de Proteção Respiratória

O Programa de Proteção Respiratória (PPR) é um conjunto de medidas práticas e administra-tivas que visam garantir aos usuários de EPRs uma proteção respiratória efetiva. Deve ser adotado também nos Serviços de Saúde onde houver a necessidade do uso de EPRs, conforme estabelecido pela Instrução Normativa no 1, de 11/04/94 do Ministério do Trabalho e Emprego11.

A fi m de se constituir em um recurso efi ciente de controle de exposição, o PPR deve contem-plar, no mínimo, os seguintes itens: a) política da Instituição sobre o uso de EPRs; b) indicação do administrador do programa; c) seleção de EPR adequado para os diferentes procedimentos e atividades desenvolvidas; d) treinamento em proteção respiratória do usuário; e) realização de ensaio de vedação prévio/anual ; f) política da Instituição sobre o uso de barba; g) manutenção, inspeção, higienização e guarda/descarte dos EPRs; h) monitoramento do uso do EPR; i) EPRs para emergência e resgate; j) realização de exame médico prévio/ anual, de forma a comprovar que o usuário apresenta condições de saúde física e psicológicas apropriadas para o uso do EPR e k) Avaliação periódica do programa.

Conclusões

Através deste trabalho, procurou-se: a) apresentar os principais itens abordados na Cartilha de Proteção Respiratória contra Agentes Biológicos para Trabalhadores da Saúde; b) demonstrar a intervenção da Fundacentro para a resolução de uma demanda que chegou até ela e c) realizar a divulgação da Cartilha, fruto de uma parceria entre a Fundacentro, Anvisa e Comissão de Estudos de Equipamentos de Proteção Respiratória do CB-32/ABNT.

Referências bibliográfi cas

1 - CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. NIOSH. Protect Your-self Against Tuberculosis – A Respiratory Protection Guide for Health Care Workers. Atlanta: Centers for Disease Control and Prevention, 1995, Publication n. 96-102.

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2 - ______. NIOSH. Interim Domestic Guidance on the Use of Respirators to Prevent Transmission of SARS. May 6, 2003. Atlanta: Centers for Disease Control and Prevention. Disponível em www.cdc.gov/ncidod/sars/respirators.htm.

3 - BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC n.º 185, de 22 de outubro de 2001. Aprova o Regulamento Técnico que consta no anexo desta Resolução, que trata do registro, alteração, revalidação e cancelamento do registro de produtos médicos na Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Diário Ofi cial da União; Poder Executivo, de 24 de outubro de 2001.

4 – ______. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora no 6 – Equipamen-to de Proteção Individual. Brasília: Ministério do Trabalho e Emprego, 2002. Disponível em www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras/nr_06_.pdf.

5 – ______. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Cartilha de Proteção Respiratória contra Agentes Biológicos para Trabalhadores da Saúde, 2008. Disponível em www.anvi-sa.gov.br/divulga/public/cartilha_mascara.pdf.

6 - CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Guidelines for Prevent-ing the Transmission of Mycobacterium tuberculosis in Health Care Facilities. Morbidity and Mortality. Weekly Report (MMWR), v. 43, n. RR-13, 1994.

7 – ESTADOS UNIDOS. Code of Federal Regulation. Departament of Health and Hu-man Services. Public Health Service. 42 CFR Part 84 – Approval of respiratory protective devices. Estados Unidos, 1995. Disponível em http://www.access.gpo.gov/nara/cfr/waisi-dx_04/42cfr84_04.html.

8 - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Norma Brasileira 13697 – Equipamento de Proteção Respiratória – Filtros mecânicos. Rio de Janeiro: ABNT, 1996.

9 - ______. Norma Brasileira 13698 – Equipamento de Proteção Respiratória – Peça semifacial fi ltrante para partículas - Especifi cação. Rio de Janeiro: ABNT, 1996.

10 - TORLONI, M. e VIEIRA, A.V. Manual de Proteção Respiratória. São Paulo: ABHO, 2003.

11 - BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. FUNDACENTRO. Programa de Proteção Respiratória. Recomendações, Seleção e Uso de Respiradores. Brasília: Ministério do Trabalho e Emprego, 2002. Disponível em www.fundacentro.gov.br/ARQUIVOS/PUBLICA-CAO/l/programadeprotecaorespiratoria.pdf.

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Boas práticas no controle da exposição ocupacional ao benzeno

Arline Sydneia Abel Arcuri, Fundacentro/CTN/MTEDanilo Fernandes Costa, Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo/MTE

Jorge Mesquita Huet Machado, FiocruzLuiza Maria Nunes Cardoso, Fundacentro/CTN/MTE

Palavras-chave: benzeno; boas práticas; controle da exposição.

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Introdução

O benzeno teve a sua toxicidade reconhecida desde 1897 através de trabalhos indican-do efeitos em longo prazo, principalmente no sistema formador de sangue. Hoje

ele é reconhecido por todo mundo como uma substância cancerígena, e como tal é prioridade em políticas de saúde do trabalhador e de meio ambiente. Existem centenas de trabalhos sobre o benzeno, escritos nos mais diferentes paises do mundo. No Brasil o destaque com relação ao benzeno se deu principalmente a partir da mobilização e pressão dos sindicatos dos trabalha-dores metalúrgicos e da construção civil da Baixada Santista, no início da década de 80, após a identifi cação de vários casos de benzenismo em uma siderúrgica local. Essa pressão gerou a necessidade de criação de espaços permanentes de discussão e negociação, que culminou com o acordo e a legislação do benzeno, de 1995 e com a criação da Comissão Nacional Permanente do Benzeno. A partir de 2003, uma das prioridades escolhidas para discussão no âmbito da Comis-são Nacional foi uma proposta da bancada de governo sobre as melhores práticas no controle da exposição ocupacional a este agente.

Objetivos

Divulgar as melhores práticas identifi cadas pela bancada do governo para o controle da ex-posição ocupacional ao benzeno.

Método

A partir das visitas realizadas em várias empresas nacionais e na Alemanha, e de algumas ofi cinas de trabalho sobre o tema forem escolhidas as melhores práticas para o controle da ex-posição ao benzeno a ser utilizados pelas empresas.

Resultados

As propostas da bancada de governo foram consolidadas por ramo industrial e por vigilância ambiental e da saúde, como pode ser visto a seguir.

Apesar da bancada patronal não fi rmar acordo com relação as boas práticas, os conceitos de não exposição do trabalhador ao benzeno e as melhorias principalmente tecnológicas tem sido introduzidas nas empresas e nas novas que estão se implantando, principalmente no ramo petroquímico.

O setor siderúrgico continua a ser o mais resistente na discussão da proposta de bancada de governo, por outro lado, estão em ampla expansão.

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Siderúrgico - Gás de coqueria

Eliminação do gás de coqueria como fonte de energia, por toda a siderúrgica

Coquerias

Redução das emissões do gás de coqueria, na coqueriaUsar o critério de avaliação visual da emissão para as portas, com metas de reduçãoEstabelecer critério de avaliação visual de emissão para os topos, com metas de reduçãoRe-

dução do número coquerias no país.

Carboquímico

Critério similar às refi narias e petroquímicasPetroquímico e de refi narias. Bombas herméticas e magnéticas, e quando não possível, utilizar

duplo seloDiminuição de pontos de coleta de amostra com a utilização de cromatográfi cos de linha ou

coletas de amostra com sistema fechado e com reciclo dos vaporesSistema de drenagem fechado, para esgoto também fechadoSeparador água-oleo com redução de área de emissão por evaporação e implantação de sis-

tema de fechamento de superfícieFlanges e válvulas com tecnologia de menor emissãoBotton loading para carregamento, com sistema de recuperação de gasesTeto fl utuante com selo de nitrogênio, com captação das emissões, para o armazenamentoMedição lateral, sistema de radar ou outras técnicas que eliminem a emissão, para a leitura

dos níveis dos tanques Vents e válvulas de alívio, com sistema de coleta de vapores emitidosTodos os procedimentos de analise, descarte, lavagem de material e manipulação em geral de

amostras devem ser efetuados sob exaustão, no laboratório Controle periódico da efi ciência dos sistemas de exaustãoLavagem de gases do sistema de exaustãoEmpresas de armazenamento e terminais; Botton loading para carregamento de caminhões, com

sistema de recuperação de gasesTeto fl utuante com selo de nitrogênio, com captação das emissões, para o armazenamentoMedição lateral, sistema de radar ou outras técnicas que eliminem a emissão, para a leitura

dos níveis dos tanquesCarga e descarga de navios com sistema de captação de emissões para recuperaçãoEliminação de sistema de tratamento água-oleo ou adequação conforme petroquímicaInstalação de novas empresas e ampliação de novos setores. Devem comprovar que iniciem

suas atividades com tecnologia de benchmark

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Avaliação ambiental e de saúde. Monitoramento do ar continuo, em linha, com alarme na área e na sala de controle, para as áreas industriais;

Obedecer a instrução normativa n.1 enfatizando as avaliações de curta duração em tarefas de maior exposição e de emergência para liberação de áreas

Seguir também as propostas de avaliação que surgirem na ofi cina de outubroImplantar avaliação de saúde segundo a norma de vigilânciaFornecer as informações para o SIMPEAQ Participação da representação dos trabalhadores, sindicatos e associações, para validação das

áreas bem como das atividades para o retorno

Conclusão

Apesar de ainda haver muito que avançar, dez anos após a assinatura do acordo do benzeno é possível identifi car várias melhorias em algumas empresas, que vem servindo de parâmetro para outras do mesmo setor econômico, além de avanços na própria organização do governo no controle dos trabalhadores expostos como é o caso da implantação do SIMPEAQ – sistema de monitoramento de pessoas expostas a agentes químicos, para este agente cancerígeno.

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Avaliação do impacto do nexo técnico epidemiológico sobre os benefícios por incapacidade

Maria Maeno, Fundacentro/CTN/MTE

Palavras-chave: nexo técnico epidemiológico; aspectos legais; impacto; Previdência Social.

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Introdução

A associação entre um agravo à saúde e condições de trabalho tem implicações de ordem sanitária, trabalhista e previdenciária, que interferem em vários aspectos

da vida do acidentado ou adoecido.

No âmbito da Saúde Pública, a identifi cação dos possíveis fatores que contribuem para a ocorrência de acidentes e doenças, dentre eles o trabalho, tem como objetivo principal defi nir as ações de vigilância em saúde do trabalhador, que abrangem a coleta de dados dos ambientes de trabalho e dos agravos, a análise e eleição de intervenções nos ambientes e processos de trabalho, o planejamento de serviços adequados à assistência e reabilitação física e psicosso-cial. A abrangência da população do setor Saúde é universal1 e os níveis de intervenção são os da prevenção e da assistência.

Já no âmbito do setor Trabalho, os espaços laborais e as condições de trabalho dos tra-balhadores empregados sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), os “cele-tistas”, são objeto da atuação da auditoria fi scal, que também são responsáveis pela atenção sobre as relações trabalhistas e suas possíveis distorções, irregularidades e ilegalidades. O nível da intervenção é a prevenção.

A Previdência Social protege a sua população segurada, provendo-a de “cobertura dos even-tos de doença, invalidez, morte e idade avançada”, maternidade, situação de desemprego invo-luntário, salário-família e auxílio-reclusão para os segurados de baixa renda, pensão por morte do segurado, ao cônjuge ou companheiro e dependentes1. Os benefícios concedidos pela Previ-dência Social aos segurados acidentados ou adoecidos pelo trabalho são custeados pelo Seguro Acidente do Trabalho (SAT) e têm direito a eles apenas uma parcela dos “celetistas”.

Do ponto de vista legal, a doença ocupacional e o acidente do trabalho se equivalem, isto é, ensejam, igualmente, a concessão de benefícios de espécie acidentária (B91) aos segurados considerados incapacitados temporariamente para o trabalho pela perícia do Instituto Nacio-nal de Seguro Social (INSS). A percepção de B91 dá ao segurado, o direito à estabilidade por 12 meses, após a sua cessação e, além disso, a empresa com a qual ele tem o vínculo emprega-tício deve continuar a recolher o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) durante o período de incapacidade laboral.

Pela legislação vigente,2,3,4,5 os benefícios de espécie acidentária são concedidos aos segurados incapacitados para o trabalho por um acidente tipo, de trajeto ou por uma doença ocupacional, cujo nexo causal pode ser estabelecido de quatro maneiras. A primeira delas, diretamente, com o agente etiológico defi nido, pois a doença é adquirida por fator de risco peculiar a determinada atividade de trabalho. É a chamada doença profi ssional, que de regra só pode ser adquirida em ambientes de trabalho e tem como exemplos, a silicose, a asbestose e a intoxicação por chumbo. A segunda maneira de se estabelecer o nexo causal entre uma doença e o trabalho, é por meio da análise das condições especiais nas quais a atividade de trabalho é realizada pelo segurado e das possíveis conseqüências sobre sua saúde. Esta forma contempla os adoecimentos multifa-

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toriais, desencadeados ou agravados pelo trabalho. Exemplos são as sinovites e tenossinovites, que podem ocorrer sem causa ocupacional, mas são associadas entre os trabalhadores que traba-lham em posições forçadas, executando gestos repetitivos, em ritmo de trabalho penoso. Outros exemplos são a depressão nos casos de exposição a tolueno, tricloroetileno, entre outras substân-cias químicas, e hipertensão arterial nos casos de exposição a chumbo. O anexo II do Decreto 3.048/993 traz as listas A e B, exemplifi cativas de aproximadamente 200 situações de trabalho com as formas de adoecimento que podem ser a elas relacionados, como desencadeadoras ou como agravantes. A terceira maneira de se estabelecer nexo causal e a conseqüente concessão de benefício de espécie acidentária é, em casos excepcionais, identifi car um adoecimento que tenha decorrido de condições especiais de trabalho, mas não conste nas listas referidas. E fi nalmente, a partir de abril de 20074,5, doenças com maior prevalência em determinados ramos econômicos em relação a outros, devem ser também consideradas presumivelmente ocupacionais. O rol de doenças com associação estatística signifi cativa com determinados ramos econômicos foi obti-do por meio de análise do banco de dados sobre benefícios previdenciários por incapacidade, concedidos em determinado período pela Previdência Social5. É o método de estabelecimento de nexo causal denominado nexo técnico epidemiológico (NTEp), isto é, a Previdência presume que determinada doença de um segurado, que trabalhe em uma empresa de ramo econômico no qual essa doença é altamente prevalente, seja decorrente do trabalho. Baseado nessa presunção lhe concede o benefício de espécie acidentária, a não ser que o médico perito, na análise do caso em questão, tenha elementos fortes para descaracterizar a doença ocupacional.

Esse recente critério de estabelecimento de nexo causal de uma doença com o trabalho para fi ns de concessão de benefício de espécie acidentária, baseado na epidemiologia, largamente uti-lizada pela Saúde Pública, foi fortemente apoiado por diversos setores da sociedade, como uma forma de combater a crônica subnotifi cação de agravos relacionados ao trabalho, tendo sido incluído na portaria interministerial6 que instituiu a minuta da Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador e objeto de discussão e deliberação da III Conferência Nacional de Segu-rança e Saúde do Trabalhador.

Para acompanhar a implementação do NTEp foi nomeada, em junho de 2007, uma comissão de representantes dos Ministérios da Saúde, do Trabalho e Emprego, sendo um da Fundacentro e da Previdência Social, do INSS e da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social do Ministério da Previdência Social - Dataprev7. Em abril de 2008, essa comissão foi re-nomeada8, tendo sua composição ligeiramente modifi cada, com a participação de membros da comunidade acadêmica e com a exclusão dos representantes da Dataprev.

Passados pouco mais de 18 meses desde a vigência do NTEp, faz-se necessária uma avaliação do seu processo de implementação e de seu impacto sobre os benefícios previdenciários por incapacidade de espécie acidentária.

Por meio de análise dos dispositivos legais, dos dados sobre benefícios por incapacidade concedidos pelo INSS de janeiro a junho de 2008 e de reuniões com dirigentes sindicais e traba-lhadores segurados, foram eleitos alguns pontos para discussão.

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Resultados e discussão

A legislação que instituiu o NTEp4,5 contém pelo menos dois elementos que têm causado confusões quanto à sua implementação nos aspectos operacionais. Abriu possibilidade da em-presa interpor requerimento da não aplicação do NTEp, na primeira instância de apreciação do caso por parte do INSS, e ainda sem apontar em que circunstâncias um argumento poderia ser forte o sufi ciente para descaracterizar uma associação causal presumida a partir do estudo do banco de todos os benefícios por incapacidade da Previdência Social concedidos durante perío-do de 5 anos. A relação entre segurado e seguro social passou a sofrer interferência da empresa nessa primeira instância, a de entrada de requerimentos de benefícios, nas agências da Previdên-cia Social. Outro elemento de confusão é a explicitação de que a não emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) por parte da empresa, nos casos de NTEp, deixou de ser objeto de multa no descumprimento4. Ora, se a emissão de CAT continua sendo obrigatória pela legis-lação2, deveria ser prevista a punição pelo seu não cumprimento. Neste caso, a própria lei isenta a empresa que não a cumpre.

A instrução normativa do INSS, inicialmente publicada8 para operacionalizar a implemen-tação do NTEp (IN 16), explicitava que a inexistência da associação causal presumida pelo critério da signifi cância estatística de determinada doença em determinado ramo econômico, não descartava a existência de nexo causal, que poderia ser estabelecido pelos outros critérios já existentes desde 19912. Essa explicitação tinha o objetivo de esclarecer uma dúvida freqüente entre os peritos do INSS e entre vários atores sociais. Para muitos, o nexo causal passava a ser sinônimo de NTEp e os outros critérios de estabelecimento de relação causal entre uma doença e o trabalho não deveriam mais ser utilizados.

Em seu parágrafo 7º, a IN 16 explicitava que o segurado poderia “requerer, após recebimento do resultado da decisão quanto ao benefício, cópia da conclusão pericial e de sua justifi cativa, em caso de não aplicação do NTEp pela perícia médica.” Esse dispositivo aparentemente simples e desnecessário pelo fato de existir uma lei anterior que regula o acesso a informações de caráter público9 , mostrou-se necessário. Mesmo com todas as letras da lei9 e da IN 16, o segurado que apresenta um adoecimento pelo trabalho pelo critério epidemiológico e tem o enquadramento como doença ocupacional descaracterizado pela perícia, não tem tido sucesso na obtenção de uma cópia da justifi cativa do indeferimento.

Um outro elemento, grave e negativo para o cumprimento da legislação, foi a forma prevista no parágrafo 5º da IN 16 para a descaracterização do NTEp pela perícia médica, que era a soli-citação de “demonstrações ambientais da empresa, efetuar pesquisa ou realizar vistoria do local de trabalho ou solicitar o Perfi l Profi ssiográfi co Previdenciário – PPP, diretamente ao emprega-dor.” Os que conhecem o cotidiano real dos peritos médicos do INSS sabem que a realização de pesquisa ou de vistoria do local de trabalho é excepcionalmente feita, restando apenas os documentos auto-declaratórios das empresas a serem apreciados, quais sejam, as demonstrações ambientais e o PPP, elaborados por profi ssionais por elas solicitados e pagos. Há um vício de origem, pois a empresa, responsável pela saúde dos trabalhadores por ela contratados é quem declara que o ambiente de trabalho a eles oferecido é saudável, mesmo com inúmeros casos de

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adoecidos de uma mesma maneira, detectados pelo órgão segurador. Um documento auto-de-claratório de inexistência de risco por parte da empresa deveria ser insufi ciente para contrapor evidências epidemiológicas obtidas de um estudo de um banco de alguns milhões de dados.

Adicionalmente, não há qualquer menção à forma pela qual seria descaracterizada uma doença decorrente de aspectos organizacionais do trabalho, cujas características não são anali-sadas em qualquer documento legalmente exigido pela legislação trabalhista. Exemplos dessas doenças são as Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou transtornos psíquicos, que no es-tudo realizado pela Previdência Social, tiveram associação causal presumida com centenas de ramos econômicos5. Como seria o processo de descaracterização de um caso de LER de uma trabalhadora de uma linha de montagem de componentes eletrônicos ou de uma linha de em-balagem ou de um banco? Inúmeros estudos já demonstram a alta prevalência de LER nessas atividades e o fato novo na legislação previdenciária4,5 é apenas a decisão, justa, de conceder o benefício de espécie acidentária.

Aos elementos de confusão discutidos, outros ingredientes foram adicionados com a re-vogação da IN 16 pela IN 31, instrução normativa do INSS, publicada em 11 de setembro de 200810, que já motivou uma manifestação do Ministério Público do Trabalho por meio de uma Notifi cação Recomendatória11 ao INSS, para que o órgão proceda, em um prazo de 60 dias, a revisão da IN 31, de modo a resgatar normas legais e conceitos jurídicos já consagrados. A fundamentação da Notifi cação Recomendatória esclarece que a IN 31 substituiu o termo “nexo causal”, inscrito em legislação, por “nexo técnico”, traduzindo a interpretação equivocada do que realmente encontra-se no Decreto 3048/993: “o acidente do trabalho será caracterizado tecnicamente pela perícia médica do INSS, mediante a identifi cação do nexo entre o trabalho e o agravo.”11 Criou-se o termo “nexo técnico previdenciário de natureza não causal”, inexistente na legislação. Tampouco a IN 31 o conceitua. Essa nova instrução normativa disciplina possi-bilidade de recurso por parte da empresa, nos casos de doenças profi ssionais, inequivocamente associadas a atividades de trabalho, “de presunção de natureza absoluta” 11. Supondo-se um caso, seria a possibilidade de contestação por parte da empresa de um diagnóstico de silicose, doença profi ssional consagrada em literatura. Recursos por parte da empresa demonstrando a não-ma-nipulação de sílica em seu ambiente de trabalho, no presente e no passado, e a exposição do tra-balhador à sílica em outra empresa, de vínculo anterior, poderiam isentá-la da responsabilidade pelo adoecimento, mas jamais retirar o direito de benefício de natureza acidentária ao segurado. Assim, esse tema não deveria ser tratado em instrução normativa sobre NTEp, como foi feito pelo INSS. E fi nalmente, na IN 31 foi suprimida a explicitação de que o segurado tem direito à cópia de justifi cativa pela não caracterização do NTEp por parte da perícia médica, que cons-tava na IN 16, o que pode ser melhor percebido numa situação exemplifi cativa de trabalhador bancário com transtorno depressivo, considerado presumivelemente ocupacional pelo NTEp5, ao requerer um benefi cio por incapacidade laboral, ter seu caso descaracterizado pela perícia do INSS, sem acesso à justifi cativa dos motivos da descaracterização. É o que vem ocorrendo até o presente e é o que pode continuar a ocorrer.

Quanto ao efeito do NTEp sobre os benefícios por incapacidade concedidos pelo INSS, verifi ca-se aumento dos benefícios de natureza acidentária, desde a vigência do NTEp pelos

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dados gerais fornecidos pela Previdência Social12. A análise comparativa entre grupos de doen-ças e espécies de benefícios concedidos é precária, pois as bases de dados da Previdência Social não são fornecidas e as formas de apresentação são heterogêneas, antes e depois, do início de vigência do NTEp, conforme pode ser verifi cado no sítio eletrônico da Previdência Social12. A título de exemplo desse aumento, tome-se o total de doenças ocupacionais registradas pela Previdência Social em 2006, que foi 26.645, incluídos todos os diagnósticos. Por outro lado, de janeiro a abril de 2008, só do grupo de transtornos dos tecidos moles, de códigos M60 a M79, da Classifi cação Internacional de Doenças13 (M60 a M79) houve registro de 24.509 benefícios. Esse grupo de doenças é o mais numeroso dentre os agravos que têm sido objeto de concessão de benefícios de espécie acidentária. Esse resultado é alvissareiro, pois foi obtido, apesar das várias difi culdades operacionais verifi cadas e particularmente da falta de adaptação efetiva do sistema informatizado utilizado pela perícia médica, como inicialmente planejado pela direção do INSS, para facilitar a compreensão e a aplicação do NTEp por parte dos peritos. A Previdência Social tem divulgado, de forma atualizada, os benefícios por incapacidade concedidos mês a mês no ano de 200812, classifi cados por espécie acidentária e não-acidentária e pelo código da Classifi -cação Internacional de Doenças (CID – 10). No entanto, infelizmente ainda não é possível se avaliar a efetividade e real dimensão da aplicação do NTEp pela sociedade, pois para que isso fosse possível, seria imprescindível a análise do montante dos benefícios requeridos e daqueles concedidos, bem como dos que, pelo critério epidemiológico deveriam ter sido enquadrados como doença ocupacional e não o foram. Também a análise das justifi cativas utilizadas para a descaracterização dessas doenças seria de fundamental importância para o aprimoramento do processo de implementação do NTEp. Sequer a Comissão7,8 nomeada para o acompanhamento de sua implementação tem tido acesso a esses dados.

Conclusões

A decisão do Ministério da Previdência Social em introduzir mais um critério para o esta-belecimento do nexo causal entre um agravo e determinadas condições de trabalho, baseada em preceitos da epidemiologia (NTEp), mostrou-se acertada, contribuindo efetivamente para a diminuição da subnotifi cação crônica de agravos ocupacionais, com grande repercussão sobre os direitos dos trabalhadores segurados.

Para que esse processo se amplie, é necessário que as normas operacionais sejam baseadas na legislação vigente, construídas e acompanhadas cuidadosamente de forma que não haja distorções na sua aplicação.

A construção de um sistema de gestão, que permita analisar a efetividade da implementação do NTEp, a identifi cação dos pontos críticos e a intervenção pronta para desativá-los é urgente.

E fi nalmente, a abertura da estrutura cronicamente hermética do INSS e do Ministério da Previdência Social, bem como a publicidade de suas normas e ordens de serviço são decisivas para que os direitos determinados em lei sejam efetivamente respeitados, em mais um passo para o fortalecimento do exercício da cidadania.

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Referências bibliográfi cas

1. BRASIL. Constituição Federal. Diário Ofi cial da União de 05/10/88.

2. BRASIL. Lei 8213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Pre-vidência Social e dá outras providências. Diário Ofi cial da União; Brasília, de 25 de julho de 1991. Alterada pela Lei n. 9032, de 28 de abril de 1995. Diário Ofi cial da União; Brasília, de 29 de abril de 1995. Alterada pela Lei n. 11430, de 26 de dezembro de 2007. Diário Ofi cial da União; Brasília, de 27 de dezembro de 2007.

3. BRASIL. Presidência da República. Decreto n. 3048, de 6 de maio de 1999. Aprova o Regu-lamento da Previdência Social e dá outras providências. Diário Ofi cial da União; Brasília, de 7 de maio de 1999, republicado em 12 de maio de 1999. Alterado pelo Decreto 3265/99. Diário Ofi cial da União; Brasília, de 30 de novembro de 1999.

4. BRASIL. Presidência da República. Lei n. 11.430, de 26 de dezembro de 2006. Altera as Leis n. 8.213, de 24 de julho de 1991 e 9.796, de 5 de maio de 1999, aumenta o valor dos benefícios da previdência social; e revoga a Medida Provisória n. 316, de 11 de agosto de 2006; dispositi-vos das Leis n. 8.213, de 24 de julho de 1991, 8.444, de 20 de julho de 1992 e da Medida Pro-visória n. 2.187-13, de 24 de agosto de 2001; e a Lei n. 10.699, de 9 de julho de 2003. Diário Ofi cial da União; Brasília, de 27 de dezembro de 2007.

5. BRASIL. Decreto n. 6.042, de 12 de fevereiro de 2007. Altera o Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto n. 3.48, de 6 de maio de 1999, disciplina a aplicação, acompa-nhamento e avaliação do Fator Acidentário de Prevenção – FAP e do Nexo Técnico Epide-miológico, e dá outras providências. Diário Ofi cial da União; Brasília, de 12 de fevereiro de 2007.

6. MPS [Ministério da Previdência Social]. Portaria Interministerial n. 800, de 3 de maio de 2005. Diário Ofi cial da União; Brasília, de 5 de maio de 2005.

7. MPS-INSS [Ministério da Previdência Social]. Portaria do MPS n. 238, de 11 de junho de 2007. Diário Ofi cial da União; Brasília, de 13 de junho de 2007.

8. MPS-INSS [Instituto Nacional de Seguro Social]. Instrução normativa INSS/PRES n. 16, de 27 de março de 2007. Dispõe sobre procedimentos e rotinas referente ao Nexo Técnico Epidemiológico – NTEP, e dá outras providências. Diário Ofi cial da União; Brasília, de 28 de março de 2007.

9. BRASIL. Lei n. 9.507, de 12 de novembro de 1997. Regula o direito de acesso a informa-ções e disciplina o rito processual do hábeas data. Diário Ofi cial da União; Brasília, de 12 de novembro de 1997.

10. MPS-INSS [Instituto Nacional de Seguro Social]. Instrução normativa INSS/PRES n. 31, de 10 de setembro de 2008. Dispõe sobre procedimentos e rotinas referentes ao Nexo Técnico Previdenciário, e dá outras providências. Diário Ofi cial da União; Brasília, de 11 de setembro de 2008.

175

11. MPT [Ministério Público do Trabalho - PRT 12ª Região – Ofício de Chapecó] Notifi cação Recomendatória n. 09, de 3 de outubro de 2008.

12. http://www.previdenciasocial.gov.br/AgPREV/agprev_mostraNoticia.asp?Id=31730&ATVD=1&xBotao=2

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14. http://www.previdenciasocial.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_13.asp

Trabalhos apresentados na forma de pôster(Resumos)

1

O potencial uso do Large Eddy Simulation (LES) para pesquisa no tema saúde do trabalhador

Daniel Pires Bitencourt, Fundacentro/CESC/MTEOtávio Costa Acevedo, Universidade Federal de Santa Maria

Palavras-chave: saúde; poluição; modelagem numérica.

181

Resumo

E ste trabalho descreve sucintamente o modelo numérico de simulação atmosférica Large Eddy Simulation (LES), focando o módulo de dispersão de poluentes. Esse

modelo, que em suas simulações resolve a estrutura dos grandes turbilhões, é um modelo muito utilizado para simular as propriedades de fl uxos turbulentos específi cos e fornecer detalhes do escoamento. Os resultados de dispersão e concentração de poluentes podem ter grande aplicabi-lidade para pesquisas voltadas à saúde dos trabalhadores de áreas externas.

Introdução

Muitos são os trabalhadores que desenvolvem suas atividades à céu aberto, tais como os trabalhadores dos setores da pesca, aqüicultura, agricultura, indústria da construção, limpeza pública, segurança, agentes de trânsito, etc. Cada um desses trabalhadores possuem condições de trabalho específi cas, as quais podem submetê-los a diferentes níveis de risco para ocorrên-cia de acidentes e doenças ocupacionais. Entretanto, é comum a todos esses trabalhadores a vulnerabilidade às condições atmosféricas, as quais também modifi cam o nível de risco tanto de acidentes como de doenças. Um exemplo disso é a forte relação da ocorrência de doenças respiratórias com a época do ano (BART e BOURQUE, 1995). As condições atmosféricas mo-difi cam-se substancialmente no decorrer do dia, além de apresentarem grandes variabilidades de um dia para outro (escala de tempo) ou de uma época para outra (escala de clima). Tais variações eventualmente são responsáveis por mudanças bruscas de temperatura, ocorrência de ventos intensos, períodos prolongados com baixa umidade, entre outros, que trazem sérios riscos para a Segurança e Saúde dos Trabalhadores (SST) de áreas externas.

Neste contexto, a poluição do ar também apresenta-se como uma importante causadora de doenças, tais como as doenças do aparelho respiratório (POPE et al., 1995) e infarto do miocár-dio (VERMYLEN et al., 2005). A composição das partículas em suspensão, tratadas aqui como poluentes, depende de processos muito complexos e é altamente infl uenciada pelas características das fontes de emissão. Trabalhadores em áreas rurais, por exemplo, são vulneráveis às fumaças produzidas pela combustão de biomassa (lenha, folhas, esterco, etc), além dos pesticidas. Nas grandes cidades, as fontes emissoras são ainda mais numerosas e complexas. Em áreas urbanas os trabalhadores podem ter sérios problemas de saúde devido à grande concentração de poluentes no ar causadas pelos automóveis (fontes móveis) e processos industriais (fontes fi xas).

Em se tratando de poluentes suspensos no ar, a dinâmica das partículas são função das condições atmosféricas, que por sua vez estão fortemente relacionadas com a topografi a e o tipo de solo. As condições meteorológicas são particularmente importantes, pois os movimentos turbulentos da baixa atmosfera (Camada Limite Planetária - CLP) são respon-sáveis pela dispersão dos poluentes. Assim, as pesquisas sobre concentração/dispersão de poluentes no ar requerem o envolvimento de dados observados (atmosféricos e dos poluen-tes) e investigações que tratem da turbulência atmosférica, quando comumente utilizam-se modelos numéricos de simulação dos movimentos atmosféricos. Ao contrário dos modelos

182

numéricos de previsão de tempo e clima, os modelos do tipo Large Eddy Simulation (LES) resolvem matematicamente boa parte dos processos físicos envolvidos com a turbulência. Além disso, os modelos do tipo LES, principalmente quando utilizados para fi ns de pesqui-sa, possibilitam a realização dos cálculos com resoluções espacial e temporal sufi cientemen-te refi nadas para identifi cações mais reais da topografi a e solo.

Este trabalho tem como objetivo apresentar o potencial uso do modelo LES (SMOLARKIEWICZ e MARGOLIN, 1997), através do módulo de dispersão de poluentes, para pesquisas científi cas com aplicações à SST de áreas externas. A seção 2 desse trabalho apresenta detalhes do método para simulação da CLP, na seção 3 mostra-se alguns exemplos das aplicações do LES e, fi nalmente, na seção 4 são apresentadas as considerações fi nais.

Metodologia

Descrição do modelo LES

O LES é baseado em um sistema de equações diferenciais que representam as leis de conser-vação de momentum e massa e a primeira lei da termodinâmica (SORBJAN, 1996).

As equações de momentum, continuidade e da termodinâmica são dadas por

onde é o vetor velocidade, π é a perturbação da pressão, θ é a temperatura potencial, θ0 é a temperatura potencial de referência e é a densidade média do ar.

As parametrizações de sub-grade do LES denotadas aqui por D são descritas em detalhes por Sorbjan (1996). Os processos de transferência em superfície são parametrizados através do método sugerido por McNider et al. (1995) e aplicado no trabalho de Acevedo e Fitzjrrald (2001), cujos resultados apontaram para fortes implicações na previsibilidade da CLP estável. O uso do sistema de duas camadas, acoplado ao modelo LES, mostra-se bastante conveniente para o entendimento dos processos físicos originado pelos diferentes tipos de superfície, tais como água, solo e relevo.

A variação temporal da temperatura potencial em superfície (dθg/dt) é representada nas simu-lações através do balanço local de energia:

onde assumimos que a radiação de onda curta refl etida (K↑) é uma fração constante da ra-diação de onda curta incidente (K↓). O índice zero nos termos de fl uxos turbulentos de calor sensível e latente, H0 e LE0, respectivamente, referem-se ao nível intermediário entre a super

183

fície e o nível 1 do modelo. O índice g nos termos de temperatura potencial (θg) e capacidade térmica (Cg) se refere ao solo. L↓ é a radiação de onda longa que retorna da atmosfera e L↑ é a radiação de onda longa perdida para o espaço.

Os fl uxos turbulentos de calor sensível e latente e o fl uxo de calor no solo são dados respec-tivamente por

onde é a velocidade horizontal do vento no nível 1, os coefi cientes CH = Cq são constantes, Km é o coefi ciente de difusão molecular e q é a umidade específi ca.

As equações do modelo são integradas no tempo usando o esquema Adams-Bashforth, no qual o termo de advecção é determinado por aproximação de diferenças fi nitas Euleriana (SMOLARKIEWICZ e MARGOLIN, 1997).

A dispersão de poluentes com o LES

Marques Filho (2004) descreveu o transporte turbulento de um poluente inerte e passivo, emitido continuamente por uma fonte do tipo área localizada na superfície, através da expressão de conservação de concentração de poluente:

onde c é a concentração de poluente, expressa como a massa do poluente dividida pela massa total de ar por unidade de volume de ar em partes por milhão (ppm). F0 é o termo fonte e os termos τcj são os termos representantes dos fl uxos turbulentos de c na escala de subgrade.

Aplicação do LES para o tema SST

Qualquer estudo científi co sobre saúde do trabalhador com atuação em áreas externas, que considere como causa da doença ocupacional a existência de poeira, fumaça, umidade, etc, poderá ter incluso como uma das linhas de pesquisa os movimentos turbulentos da CLP, utili-zando modelagem numérica. As simulações numéricas são amplamente utilizadas para a pesqui-sa dos movimentos atmosféricos nas mais variadas situações físicas, escalas temporais e espaciais e características de solo e relevo. Para o caso da estrutura da turbulência da CLP, um dos princi-pais modelos utilizados são os modelos de média de volume, também conhecidos como modelo

184

LES (MARQUES FILHO, 2004). Esse modelo, que em suas simulações resolve a estrutura dos grandes turbilhões e parametriza os processos de pequena escala, é um modelo muito utilizado para simular as propriedades de fl uxos turbulentos específi cos e fornecer detalhes do escoamento, os quais podem ser usados como dados para testar e refi nar outros modelos de fechamento da turbulência.

A fi gura 3.1 mostra um exemplo de forte concentração de poluentes próximo a superfície na cidade de São Paulo. Em dias com condições favoráveis à dispersão dos poluentes, é possí-vel ver a região da Avenida Paulista, que não aparece na fotografi a da fi gura 3.1. Nesse caso, as fontes dos poluentes são várias (principalmente automóveis) e a condição de pouca dispersão do poluente é determinada pelo momento do dia (manhã) e época do ano (inverno), que mantém uma condição de grande estabilidade atmosférica, impedindo a dispersão dos poluentes. Este tipo de situação pode ser simulado pelo LES para outras escalas espaciais e diferentes condições atmosféricas de vento, temperatura, etc.

Figura 3.1 Poluição na zona Oeste de São Paulo - Manhã do dia 02/08/2007

Figura 3.21 Poluição gerada por fonte fi xa em área industrial

Investigações sobre poluição gerada por uma fonte (Figura 3.2), que atinjam trabalhadores numa área industrial, por exemplo, também podem fazer uso de simulações através do modelo LES.

185

Considerações Finais

A simulação da atmosfera através do LES é importante para entender os processos físicos envolvidos na dispersão de poluentes, assim como visualizar a concentração e dispersão do po-luente no espaço tridimensional estudado, podendo dessa forma, quantifi car mais precisamente os riscos à que são submetidos trabalhadores de áreas externas em determinados ambientes e sob condições atmosféricas específi cas.

Referências Bibliográfi cas

ACEVEDO, O. C.; FITZJARRALD, D. R. The Early Evening Surface-Layer Transition: Tem-poral and Spatial Variability. Journal of the Atmospheric Sciences, v. 58, n. 17, p. 2650-2667, 2001.

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2

Relação dos afastamentos do trabalho devido às doenças do aparelho respiratório com as condições

de tempo mensal

Daniel Pires Bitencourt, Fundacentro/CESC/MTEMárcia Vetromilla Fuentes, Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina

Marisa Domingues da Luz Poletto, Empresa Brasileira de Correios e TelégrafosRose Aylce Oliveira Leite, Fundacentro/CESC/MTEMário Sérgio dos Santos, Fundacentro/CESC/MTE

Palavras-chave: afastamento do trabalho; temperatura; umidade.

189

Resumo

A taxa de afastamento mensal de um grupo de trabalhadores devido as doenças do apa-relho respiratório é comparada com valores médios mensais de temperatura e umi-

dade. Os gráfi cos de dispersão mostram uma tendência de aumento no número de afastamento conforme diminuem os valores de temperatura e umidade relativa do ar. Porém, o coefi ciente de determinação mostra que a temperatura e umidade não podem ser considerados como predito-ras da taxa de afastamento, pelo menos utilizando valores médios mensais.

Introdução

Há muitos artigos científi cos que abordam as doenças respiratórias ocupacionais causadas por motivos inerentes ao ambiente de trabalho e as atividades dos trabalhadores (BECKETT, 2000; MEREDITH et al., 1991; KOGEVINAS et al., 1999; MENDONÇA et al., 2003), mas sem fazerem referência às condições de tempo e clima como parte das causas dos problemas respiratórios nos trabalhadores. Porém, as doenças do aparelho respiratório (DAR) aparecem como uma das principais causas de afastamento do trabalho. Costa e Germano (2008) identifi -caram que 15,98% dos casos de afastamento são devido as DAR. Em estudo similar, Gasparini et al. (2005) computaram que as DAR são a segunda maior causa de afastamento de professores de Belo Horizonte - MG, com 12% dos casos. Além disso, resultados de várias pesquisas de-monstram que reações adversas sobre a saúde são provocadas pelas condições de tempo e clima (DERRICK, 1965; BART e BOURQUE, 1995; GONÇALVES et al., 2005). Contudo, pelo menos na literatura consultada, percebemos ausência de estudos sobre a ocorrência de DAR em um grupo específi co de trabalhadores como uma função das condições meteorológicas.

Nesse estudo, avalia-se a relação de parâmetros atmosféricos, na escala de tempo mensal, com a taxa de afastamento do trabalho devido as DAR, utilizando dados de cerca de 3.285 fun-cionários de uma empresa que têm atuação em toda Santa Catarina (SC), onde uma parte dos funcionários desenvolve suas atividades em ambientes fechados e outra parte trabalham em am-biente externo. Além disso, lembramos o fato de SC ser caracterizado por apresentar as quatro estações do ano bem defi nidas, ou seja, ao longo do ano os catarinenses são sujeitos à períodos intercalados com situação de calor e frio, tempo úmido e tempo seco, etc. O objetivo desse artigo é primeiramente identifi car se a taxa de afastamento mensal apresenta resposta em função da temperatura e umidade média do mês. Esse artigo limita-se em buscar sinais de associação entre as variáveis meteorológicas e as ocorrências de afastamento devido a doenças respiratórias, na hipótese de que estas doenças foram causadas, pelo menos na maioria dos casos, pelas condições atmosféricas médias de SC.

Dados e Metodologia

Os dados de afastamento temporário (igual ou inferior a 5 dias) das atividades laborais são referentes à trabalhadores locados em todas as cidades de SC. A série de dados abrange o perí-odo de abril de 2000 até dezembro de 2007, correspondente apenas aos afastamentos ocorridos

190

,

devido às DAR dos sub-grupos G1 (Infecções agudas das vias aéreas superiores) e G2 (Infl uen-za (Gripe) e Pneumonia). Como o número de funcionários (NF) se alterou muito ao longo do período estudado, utilizou-se no lugar do número de afastamento (NA) por mês, a taxa de afastamento por mês [Taf = (NA x 1000)/NF], ou seja, a Taf (‰) é o número de afastamentos a cada 1000 funcionários.

Os dados meteorológicos foram obtidos da reanálise do “National Center for Environmen-tal Prediction / National Center for Atmospheric Research” (NCEP/NCAR). Esses dados são organizados em pontos de grade, igualmente espaçados a cada 2,5º de latitude e longitude. As informações cobrem toda a área da terra e são disponibilizados a cada quatro horários diários, as 00, 06, 12 e 18 TMG (horário sinótico internacional equivalente aos horários de Brasília das 21, 03, 09 e 15 horas, respectivamente), para vários níveis isobáricos na vertical. Nesse estudo, utilizou-se as médias mensais da temperatura (T) e da umidade relativa (UR) do ar no nível isobárico mais próximo da superfície (1000 hPa). Consideramos os valores médios entre dois pontos de grade representativos de todo o Estado de SC, obtendo-se dessa forma uma média dos parâmetros atmosféricos de todas as localidades que atuam os trabalhadores considerados nesse estudo. Em termos meteorológicos, a variação ao longo do tempo desses parâmetros atmosféricos seria provocada pelos chamados sistemas atmosféricos de escala sinótica, os quais são capazes de causar mudanças na temperatura e umidade de um dia para outro de forma gene-ralizada em todo o estado. A consideração somente dos parâmetros atmosféricos que sofreram variações generalizadas em todo o estado, ou seja, a não consideração das condições de tempo localizadas, é importante porque esses parâmetros serão comparados com dados de afastamento de trabalhadores que atuam em todos os municípios de SC.

A metodologia adotada consiste em comparar os dados meteorológicos (T e UR) com a Taf devido as DAR dos sub-grupos G1 e G2, utilizando técnicas estatísticas simples. As compara-ções da Taf com a T e com a UR são realizadas através de gráfi cos de dispersão e pelo cálculo do coefi ciente de correlação de Pearson, dado pela expressão:

onde n = 93 é o número de meses da série, Taf i é a taxa de afastamento mensal (i = 1, 2, 3, ..., n), é a taxa de afastamento média da série, vi é a variável meteorológica (T ou UR) média mensal e é a variável meteorológica média da série. A proporção de variação da Taf que é ex-plicada pela equação de regressão ajustada, utilizando T e UR, é quantifi cada através do cálculo do coefi ciente de determinação (r2).

191

Resultados e Discussões

O Estado de SC possui localização geográfi ca que possibilita eventualmente apresentar períodos com temperaturas relativamente mais altas nos meses de inverso ou dias e noites com condições de tempo relativamente mais frio e seco nas estações de outono e primavera. Por vezes, até mesmo nos meses de verão podem ocorrer noites relativamente frias nas cidades do planalto serrano. Diante dis-so, torna-se importante a quantifi cação da ocorrência de afastamento diretamente devido às variáveis meteorológicas, independentemente do mês que os valores ocorrem. Para tanto, avalia-se a relação entre a Taf, separadamente para as patologias dos sub-grupos G1 e G2, e os valores médios mensais de T e UR. Nessa análise, mostrada através da fi gura 3.1, percebe-se que há elevada dispersão dos dados. O gráfi co da fi gura 3.1a mostra que conforme diminuem os valores de temperatura do ar, ocorre uma tendência de aumento de ocorrência de afastamento devido às doenças dos sub-grupos G1 e G2. A dispersão dos dados é bastante grande e parece ser maior para as temperaturas mais baixas. Portanto, durante o período estudado houve meses que apresentaram temperatura média parecidas, mas com número de casos de afastamento bem distintos. Por outro lado, meses com diferentes valores médio de T resultaram numa quantidade aproximada de afastamentos. Para o caso da umidade (fi gura 3.1b), percebe-se uma nítida maior concentração das ocorrências de afastamento entre aproximadamente os valores de 88 e 95% de umidade. Mas em geral, apesar da tendência da Taf aumentar conforme diminui os valores de UR, há também grande dispersão dos dados, tendendo a ser maior ainda nos casos dos meses que, em média, apresentaram atmosfera mais seca.

Embora os gráfi cos de dispersão, relacionados as Taf devido a G1 e G2, apresentem uma linha de tendência, é bastante evidente que há alta dispersão dos dados, comportamento confi rmado através dos valores de r (painel superior na fi gura 3.1). O coefi ciente de determinação (r2) para uma regressão linear simples utilizando a T como variável independente foi de 0,2685 para o caso dos afastamentos devido as doenças do sub-grupo G1 e de 0,3175 para afastamentos devido as doen-ças do sub-grupo G2. Utilizando a UR como variável independente, a análise de regressão linear simples mostrou r2 = 0,1624 para afastamento devido as doenças do sub-grupo G1 e r2 = 0,1718 para afastamentos devido as doenças do sub-grupo G2. Diante disso, torna-se inviável qualquer análise de regressão e, portanto, as variáveis independentes T e UR não podem ser consideradas como preditoras da Taf, pelo menos quando consideradas em termos de média mensal.

Figura 3.1 Gráfi co de dispersão e ajuste linear da Taf (‰) em função da (a) T e da (b) UR. A doença registrada como motivo do afastamento e o r relacionado são indicados no topo de cada gráfi co

192

A análise descrita acima sugere que outros fatores, além da T e UR média mensal, são res-ponsáveis pela ocorrência das DAR nesse grupo de trabalhadores. Esses outros fatores podem estar relacionados com a idade, condição física, hábitos alimentares, uso de cigarros e/ou bebi-das alcoólicas, além da consideração do local onde a atividade laboral é exercida, se em ambiente aberto ou em ambientes fechados. Mas a alta dispersão desses dados também pode estar relacio-nada com o fato de se utilizar médias mensais para T e UR. A avaliação da média mensal desses parâmetros podem ocultar variabilidades na escala de dias ou semanas. Dois meses distintos com aproximadamente os mesmos valores médios mensais de T, podem ter tido comportamentos diários da T bem diferentes. Apesar da média ter sido a mesma, o mês que teve temperaturas mínimas mais acentuadas ou declínios mais bruscos de temperatura pode ter sido mais favo-rável para a ocorrência de DAR nesse grupo de trabalhadores. A mesma avaliação serve para a UR. Além disso, um determinado mês pode ter sido considerado, em média, frio e seco por causa do avanço de uma única massa de ar frio intensa nos últimos dias do mês, acarretando em ocorrência de afastamento devido as DAR somente no mês seguinte, visto que o tempo de resposta das DAR em função de queda de temperatura pode ser de muitos dias (DONAL-DSON e KEATINGE, 1997).

Considerações Finais

Os resultados plotados nos gráfi cos de dispersão indicam tendência de aumento da Taf con-forme diminuem os valores de T e UR. No entanto, as baixas correlações de Taf × T e Taf × UR, assim como a baixa proporção da variável dependente Taf que é explicada pelas variáveis inde-pendentes T e UR, impossibilitam qualquer análise de regressão. Uma das possibilidades para isso é o fato das DAR atingirem com maior freqüência os idosos e crianças, os quais não fazem parte da população considerada nesse estudo. Outra hipótese para a grande dispersão dos dados diz respeito à utilização de valores médios mensais de T e UR, os quais podem não representar exatamente as condições extremas de frio/calor ou de tempo seco/úmido ocorridas no mês.

É importante a elaboração de estudos que relacionem a Taf mensal com parâmetros me-teorológicos que tenham variabilidade intra-mês, buscando encontrar diferenças na conduta diária da T e UR entre meses que apresentem as variáveis meteorológicas com valores médios similares. Também é importante a busca de dados de afastamento do trabalho que identifi que a localidade ou mesorregião que o trabalhador atua, assim como a data exata (dia, mês e ano) que o afastamento foi solicitado. Dados de afastamento com esse refi namento poderão ser comparados com dados meteorológicos observados nas mesmas localidades e datas, podendo indicar resultados mais robustos em termos de ocorrência de afastamento devido as DAR como uma resposta das condições de tempo.

Referências Bibliográfi cas

BART, J. L. & BOURQUE, D. A. Acknowledging the weather-health link. Canada´s Leading Medical Journal, v. 153, n. 7, p. 941-944, 1995.

193

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3

Estratégias e políticas na eliminação e diminuição da exposição ocupacional ao benzeno

Arline Sydneia Abel Arcuri, Fundacentro/CTN/MTELuiza Maria Nunes Cardoso, Fundacentro/CTN/MTE

Danilo Fernandes Costa, Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em São Paulo/MTEJorge Mesquita Huet Machado, Fiocruz

Palavras-chave: benzeno; eliminação; diminuição da exposição.

197

Introdução

A toxicidade crônica do benzeno é reconhecida desde 1897. Estima-se que existam 1.111.088 trabalhadores expostos ao benzeno na comunidade européia e em outros quatro países da Euro-pa, ou seja em torno de 2,6% do total de trabalhadores. Os setores que tem um número maior de trabalhadores expostos são: produção e refi no de gás e petróleo; industria básica de ferro e aço; manufatura de produtos plásticos e borracha; manufatura de produtos químicos; transportes; institutos de pesquisa, entre outros(http://www.iarc.fr/).

O benzeno é a 5ª prioridade entre a lista de produtos considerados tóxicos pela EPA, agência ambiental americana, indicando que ele representa inclusive um risco ambiental importante.

Pelo método da estimativa de risco da Organização Mundial da Saúde é possível calcular que se um grupo de mil trabalhadores estiver exposto a 1 ppm de benzeno durante sua vida de trabalho, 3 deles desenvolverão leucemia (Freitas e col., 1997). Pelo cálculo de Infante (1987) os trabalhadores que estiverem expostos a 1 ppm de benzeno durante 40 anos terão uma probabi-lidade de 13 para cada 1000 de desenvolverem câncer.

Histórico do benzeno no Brasil

Durante principalmente a década de 80 e início da década de noventa muitas ações em relação ao benzeno foram realizadas. Estas ações estavam diretamente relacionadas a pressões de movimentos sindicais. Este movimento se iniciou através de denúncia do Sindicato de Metalúrgicos ligados a trabalhadores de Siderúrgica, na cidade de Cubatão, São Paulo, Brasil, sobre um grande número de trabalhadores doentes devido à exposição a benzeno. Estes mo-vimentos sindicais se espalharam pelo Brasil todo, principalmente pelas cidades aonde existem siderúrgicas (Cubatão-SP; Volta Redonda-RJ; Ipatinga e Ouro Branco-MG, Serra ES) e pólos petroquímicos (Cubatão e Grande ABC–SP; Camaçari-Ba; Triunfo-RS).Sobre pressões sociais os serviços públicos tiveram que responder através de normatizações, inspeções, pesquisas e informação. Nesta época foram afastados mais de 3000 trabalhadores com benzenismo. No fi nal da década de oitenta e início da década de noventa houve um enfraquecimento das ações sindicais e do governo, que propiciaram em alguns setores uma paralisação e algumas vezes retrocesso do trabalho realizado durante a década de oitenta. A legislação do benzeno estava arcaica e era necessária a reativação das mobilizações para a melhoria das condições de traba-lho. Em 1993 o Ministério do Trabalho criou um de Grupo de Trabalho Técnico para propor uma nova legislação. Este grupo elaborou um documento “Benzeno - Subsídios Técnicos à Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho - SSST/MTb” que levanta vários dados sobre a situação brasileira e propõe medidas de controle.

Em 1994 foi promulgada uma nova regulamentação para o benzeno (Portaria n° 3 MTE - Ministério do Trabalho e Emprego de 10/3/94). Os pontos principais desta regulamentação foi o reconhecimento do benzeno como substância cancerígena e que nenhuma exposição é permitida e por isso só pode ser utilizado em sistema hermético.

198

Esta regulamentação mobilizou os setores empresariais siderúrgico e petroquímicos que con-seguiram o adiamento dos prazos de adequação e a constituição de grupo técnico tripartite. Em seguida os setores sindicais e de técnicos se mobilizaram para alteração do grupo,pois não conside-ravam a bancada tripartite, já que alguns técnicos do governo tinham fortes infl uências patronais.

Um novo grupo foi constituído com assessorias técnicas.Em 1995 a comissão tripartite elabora 4 documentos (Acordo, legislação, instrução norma-

tiva de avaliação ambiental e de vigilância a saúde do trabalhador)

O Acordo tem como principais pontos:

- o estabelecimento de competências dos orgãos envolvidos (Ministério do Trabalho, Fundacentro, Ministério da Saúde), empresas e trabalhadores.

- a criação da CNPBz (Comissão Nacional Permanente do Benzeno) , órgão tripartite de discussão, negociação e acompanhamento do acordo que tem como principais atribuições entre outras : complementar o acordo nas questões dos trabalhadores com alterações de saúde, propor e acompanhar estudos, pesquisas, eventos científi -cos, inclusões de alterações nos dispositivos legais.

- a criação do GTB (Grupo de Representação dos Trabalhadores do Benzeno) nas empresas, no mínimo de dois, eleitos que receberão treinamento especial e que de-verão acompanhar todas as ações na empresa referentes à prevenção da exposição ocupacional ao benzeno.

A legislação

- regulamenta ações, atribuições e procedimentos de prevenção da exposição ocupa-cional ao benzeno

- aplica-se às empresas que produzem, transportam, armazenam, utilizam ou manipu-lam benzeno e suas misturas líquidas contendo 1% ou mais de volume e aquelas por elas contratadas, no que couber

- proíbe a utilização de benzeno, a partir de 1/1/97, exceto nas industrias ou labora-tórios que:

• produzem

• utilizem em processos de síntese química

• empreguem em combustíveis derivados de petróleo

• empreguem em trabalhos de análise ou investigação em laboratórios, quando não for possível a sua substituição

• empreguem como azeótropo da obtenção de álcool anidro, até a data a ser defi -nida para a sua substituição (proposta de substituição até 31/12/96)

199

- estabelece a obrigatoriedade de cadastramento das empresas abrangidas pelo anexo

- estabelece prazo de 180 dias após a publicação para a apresentação de “Programa de Prevenção da Exposição Ocupacional ao Benzeno”

- estabelece o conteúdo desse programa

- estabelece o conceito de VRT (Valor de Referência Tecnológico)

• concentração de benzeno no ar considerada exeqüível do ponto de vista téc-nico, defi nido em processo de negociação tripartite. Deve ser considerado como referência para os programas de melhoria contínua das condições dos ambientes de trabalho, O cumprimento do VRT é obrigatório e não exclui

risco à saúde.

- defi ne o VRT-MTP

• concentração média ponderada pelo tempo, para uma jornada de 8 horas, obtida na zona respiratória

- estabelece os valores de VRT-MTP

• 2,5 ppm para as indústrias siderúrgicas

• 1,0 ppm para as outras empresas abrangidas pelo acordo

- estabelece sinalização, indicações de rotulagem

- estabelece requisitos para situações de emergência

A partir da assinatura do acordo e legislação do benzeno em dezembro de 1995, com a formação da CNPBz, A bancada de governo e de trabalhadores considerou a necessidade de formação de comissões regionais para a implementação do acordo.

Hoje existem comissões regionais tripartites nos principais pólos petroquímicos/produção de combustíveis de petróleo e siderúrgicos do país (Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul)

As principais ações de implementação do acordo e legislação do benzeno em nível regional são: capacitação dos técnicos envolvidos (principalmente Saúde e Trabalho), capacitação dos trabalha-dores do GTB, de sindicalistas e técnicos das empresas e inspeções para verifi cação do cumprimen-to do acordo e legislação, além de ações regionais de negociação de impasses surgidos.

Enquanto a CNPBz tem trabalhado na formulação da ampliação do acordo, de políticas regulamentadoras e de divulgação desses acordos e políticas.

Após o acordo em dezembro de 1995, a CNPBz já realização e negociou:

200

• a proibição do uso do benzeno na produção de álcool anidro o que evitou a exposição de milhares de trabalhadores a este agente, assim como a circulação de centenas de caminhões transportadores pelas estradas.

• O estabelecimento de indicador biológico de exposição ao benzeno

• A formulação de nota técnica explicitando abrangência do acordo e legislação do ben-zeno sobre as plataformas e terminais de petróleo.

• A Portaria estabelecendo um cronograma para diminuição da porcentagem de benzeno em produtos acabados

• A Norma do Ministério da Saúde para a vigilância da saúde dos trabalhadores.

• O SIMPEAQ – sistema de monitoramento de populações expostas a agentes quími-cos (iniciada a partir do benzeno, MS)

• A visita pela CNPBz a todas as cinco siderúrgicas onde existem coquerias

• A visita pela CNPBz as quatro empresas produtoras de benzeno

• A organização de diversos cursos, palestras, seminários inclusive um internacional.

• A apresentação de trabalhos em congressos e publicações em revistas nacionais e in-ternacionais.

• A elaboração de material didático para capacitação de GTBs.

• A organização de comissões regionais do benzeno

• A organização do encontro nacional de comissões regionais do benzeno

• A organização do encontro de GTBs.

• A organização de ofi cina para discussão das condições de trabalho das siderúrgicas e estabelecimento de propostas.

• A organização de ofi cina para discussão das condições de trabalho das petroquímicas e estabelecimento e propostas

• A recomendação de a criação de núcleos de diagnóstico de benzenismo, com a parti-cipação dos Ministérios do Trabalho, da Saúde e da Previdência Social bem como das Centros Hematológicos.

• O estabelecimento de critérios de retorno para os trabalhadores que se afastaram por benzenismo com alta médica.

201

• O estímulo a investimentos das empresas petroquímicas em controles coletivos.

• O estímulo a investimentos das empresas siderúrgicas em controle de vazamentos, porém com menos efi ciência do que as petroquímicas

• A realização de CD-ROM “ Repertório brasileiro do benzeno” – 1ª ed. Em 2001 e 2ª ed. Em 2002

• A Infl uência na portaria da ANP (Agência nacional do petróleo) sobre teor de benzeno em gasolinas (no Brasil, gasolina comum 1,0% de benzeno, e gasolina especial 1,5%)

Objetivos

• Eliminar, reduzir e controlar o risco da exposição dos trabalhadores ao benzeno

• Capacitar, informar e sensibilizar, trabalhadores e técnicos na área de segurança e saúde do trabalhador sobre os riscos do benzeno.

Metodologia

Discussão na Comissão Nacional Permanente do Benzeno de políticas de eliminação, redução, controle e informação/divulgação dos riscos e implementação destas políticas através de Comissões Regionais.

Resultados

Eliminação do risco: Proibição do uso do benzeno com exceção das empresas que o produzem utilizam em sínteses químicas, siderúrgicas e laboratórios onde ele não possa ser substituído;Proibição do uso do benzeno na produção de álcool anidro.

Redução: Cronograma para diminuição gradativa da porcentagem de benzeno em produto acabado até o ano 2007 (de 1% para 0,1%); Infl uência na portaria da ANP sobre o teor de ben-zeno na gasolinas.

Controle: utilização de processos em sistemas fechados com baixa ou nenhuma emissão, como controles em petroquímicas, refi narias e carboquímicos; Norma do Ministério da Saúde para acompanhamento e diagnóstico; SIMPEAQ – sistema de monitoramento de populações expostas a agentes químicos etc.;

informação e divulgação: Seminários, cursos, ofi cinas de trabalho; palestras, trabalhos em congressos científi cos e fi lmes e produção de material didático para o GTB (Grupo de Trabalha-dores do Benzeno), Gibis e panfl etos de sensibilização.

202

Conclusão

A eliminação da exposição ocupacional ao benzeno de milhares de trabalhadores nas usina de álcool anidro,

Proibição do uso do benzeno com exceção das empresas que o produzem utilizam em sínte-ses químicas, siderúrgicas e laboratórios onde ele não possa ser substituído; Proibição do uso do benzeno na produção de álcool anidro.

Risco de exposição dos trabalhadores ao benzeno: Cronograma para diminuição gra-dativa da porcentagem de benzeno em produto acabado até o ano 2007 (de 1% para 0,1%); Infl uência na portaria da ANP sobre o teor de benzeno na gasolinas

O do risco de exposição dos trabalhadores ao benzeno: utilização de processos em sistemas fechados com baixa ou nenhuma emissão, como controles em petroquímicas, refi narias e carboquí-micos; Norma do Ministério da Saúde para acompanhamento e diagnóstico; SIMPEAQ – sistema de monitoramento de populações expostas a agentes químicos;etc;

A informação e divulgação: Seminários,cursos, ofi cinas de trabalho; palestras,trabalhos em congressos científi cos e fi lmes e produção de material didático para o GTB (Grupo de Traba-lhadores do Benzeno),gibis e panfl etos de sensibilização.

4

Vigilância da exposição ao benzeno no Brasil: a importância da participação

Danilo Costa, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo/Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo/MTE

Luiza Maria Nunes Cardoso, Fundacentro/CTN/MTEJorge Machado, Fiocruz-RJ

Arline Sydneia Abel Arcuri, Fundacentro/CTN/MTENancy Yasuda, Secretaria Municipal de Saúde de Santo André

Nanci Pinto, Secretaria Municipal de Saúde de CuritibaJune Resende, Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Paraná/MTE

Palavras-chave: benzeno; participação; vigilância.

205

A vigilância do benzeno nestes últimos anos têm sido feita com base na legislação de 1995 e seus desdobramentos, sendo referência para inúmeras ações desde então. Seus

principais pontos são o seu reconhecimento ofi cial como cancerígeno, o aumento da restrição de seu uso e estratégias e formas de vigilância em que a participação é fundamental.

Objetivo

Avaliar a formação e participação de técnicos e trabalhadores no processo de vigilância da exposição ao benzeno.

Metodologia

Do Repertório Brasileiro do Benzeno, que compila a experiência de luta contra a contami-nação por benzeno no Brasil e serve como apoio para a discussão e difusão deste movimento, foram retirados elementos para analisar os principais avanços e desafi os atuais.

Discussão

Esta experiência tem se concentrado na discussão e intervenção nas atividades industriais em que a presença de benzeno é substantiva. Nestes setores (siderurgia, refi no de petróleo e petro-química/química), vem se desenvolvendo atuação com caráter multidisciplinar, interinstitucional e marcadamente participativo, privilegiando a articulação dos trabalhadores com os serviços públicos e estabelecendo mecanismos de interlocução com as empresas.Inúmeras atividades de formação envolvendo trabalhadores, técnicos do serviço público e mesmo representantes das empresas tem ocorrido. Aonde elas têm tido maior repercussão são identifi cadas intervenções para modifi cação nas empresas e disputas pelo diagnóstico e reconhecimento de doenças rela-cionadas ao benzeno. Ao mesmo tempo, e em boa parte em conseqüência destas atividades de formação e discussão, vem se ampliando a criação de instâncias de acompanhamento da im-plantação do acordo e da legislação a nível nacional, estadual e regional que, também de forma heterogênea, tem contado com participação expressiva de trabalhadores e técnicos do serviço público, que vêm privilegiando, não sem contradições, a organização de redes horizontais para troca de informações e experiências e viabilização de suas articulações e ações.

Conclusões

A experiência brasileira de luta contra a exposição ao benzeno é um exemplo bem-sucedido de vigilância em que as estratégias de articulação entre trabalhadores e serviço público, prioriza-ção das atividades de formação e a opção por formas participativas de atuação ajudam a entender e enfrentar os desafi os da saúde do trabalhador no Brasil.

5

Relato de caso: a pior fábrica de benzeno do Brasil

Danilo Costa, Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo/MTERui Magrini, Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo/MTE

Luiza Maria Nunes Cardoso, Fundacentro/CTN/MTE

Palavras-chave: benzeno; refi naria de petróleo; RPBC.

209

Introdução

A Refi naria Presidente Bernardes-Cubatão (RPBC) é uma das mais antigas e complexas industrias de refi no de petróleo e petroquímica do país. Inaugurada em 1956 produz uma ampla gama de produtos dentre os quais o benzeno. Localizada no município de Cubatão está entre as prioridades de vigilância da saúde dos trabalhadores para o poder público que tem tido como foco principal, nos últimos 10 anos, a discussão das atividades industriais onde a presença de benzeno é notória e substantiva. Devido a problemas de contaminação ambiental e adoecimento de trabalhadores esta empresa foi denunciada inúmeras vezes pelo Sindicato dos Petroleiros, representantes da comunidade e diversos órgãos públicos. Em resposta a solicitação do Ministério Público do Trabalho foi iniciada investigação sobre a saúde de um grupo de trabalhadores com alterações hematológicas e restrição à exposição a benzeno mas sem reconhecimento de seu quadro como doença profi ssional e conseqüente emissão de Co-municação de Acidente de Trabalho (CAT). O trabalho foi desenvolvido conjuntamente pela DRT-SP, a Fundacentro e o Sindicato dos Petroleiros.

Objetivo

Apresentar a intervenção na RPBC como exemplo de ação emblemática da experiência bra-sileira de luta contra a exposição ao benzeno.

Metodologia

Foi feito levantamento com verifi cação de documentos produzidos pela empresa; entrevistas individuais com trabalhadores; discussões coletivas com os trabalhadores e o sindicato e verifi -cações conjuntas “in loco” na empresa, com interdição de áreas críticas. No período da inves-tigação um trabalhador, Roberto Krappa, adoeceu e morreu com Leucemia Mielóide Aguda. A empresa não reconheceu a doença ocupacional e a CAT foi emitida pela equipe responsável pelo levantamento. Foi feito relatório com proposições encaminhado ao MPT que deu base à discussão entre as partes envolvidas.

Discussão

Foi evidenciada a precariedade da empresa, caracterizada como a pior fábrica de benzeno do Brasil: situações de risco de exposição ao benzeno em todas as áreas da empresa; não cum-primento sistemático da legislação; fontes de emanação de benzeno a céu aberto; tecnologias dos anos 50 e 60 em setores onde circula o benzeno; equipamentos inadequados e métodos de avaliação incompetentes; recusa por parte da empresa a reconhecer o risco. Foram feitas proposições discutidas e incorporadas a um programa de trabalho que deveria constituir um Termo de Ajustamento de Conduta que a empresa, após quase um ano de negociações, recu-

210

sou-se a assinar. Finalmente a RPBC e o Sindicato transformaram este programa de trabalho em compromisso assinado entre estas duas partes, onde se destacam: reavaliação dos trabalha-dores doentes e das séries históricas dos hemogramas de todos os trabalhadores da empresa (em curso); programa e cronograma de mudança de máquinas, equipamentos e metodologias de controle e avaliação ambiental (em curso); curso de formação sobre os riscos do benzeno para os dirigentes da empresa (programado).

Conclusões

A atuação conjunta do poder público e dos trabalhadores (diretamente e através de suas re-presentações) constitui método de trabalho efi ciente e capaz de provocar melhoras importantes devendo compor processo de vigilância combinado com a atuação autônoma, mesmo quando conjunta, de órgãos públicos, sindicatos e outras instâncias do movimento social.

6

Gestão de SST na indústria da construção: resultados preliminares do estudo piloto no Rio de Janeiro

Jófi lo Moreira Lima Jr., Fundacentro/CTN/MTEMaria Christina Félix, Fundacentro/CERJ/MTE

Artur Carlos da Silva Moreira, Fundacentro/CESC/MTESonia Maria José Bombardi, Fundacentro/CTN/MTE

Palavras-chave: sistemas, gestão, risco, norma regulamentadora.

213

Objetivo

Estudar e analisar os sistemas de gestão de SST aplicados na indústria da construção.

Justifi cativa

A Pesquisa Anual da Indústria da Construção de 2006 , divulgada em 2008, mostra que o crescimento do PIB do setor foi de 6,7% e que o desempenho estimado para 2007 é de 8%, podendo chegar a 10% em 2008. A pesquisa mostra que 109.000 empresas formais da constru-ção realizaram obras e serviços no valor de 107,7 bilhões de reais, sendo que o valor das obras de infra-estrutura cresceu 20,5% e as obras contratadas pelo setor público cresceram 19,3%. A indústria da construção empregou, em 2008, 2,063 milhões de trabalhadores.

Sabe-se ainda que o ritmo de criação de empregos formais na construção civil dirigidas a obras de infra-estrutura superou o da contratação de trabalhadores para edifi cações residenciais e comerciais. Há grande demanda para qualifi cação de mão-de-obra destinada a infra-estrutura, em especial com relação às áreas de hidrelétricas e petróleo.

Além da importância estratégica para o país,a indústria da construção também se caracteriza por ser uma atividade de alto risco, tendo em vista a dinâmica de seu processo produtivo, a falta de uniformidade no tamanho das empresas, máquinas e equipamentos e nas técnicas construtivas.

Estima-se que em 2006 a taxa de mortalidade (número de óbitos por 100.000 vínculos) para a indústria de construção seja de 21,39 para área de edifi cação, 35,03 para obras viárias, de 99,53 para construção de estações e redes de distribuição de energia elétrica e de 26 para obras de outros tipos. A indústria da construção, em 2006, foi responsável pela ocorrência de aproxima-damente 12% do número total de óbitos.

Dada a evolução da aplicação da NR 18 e do PCMAT, as implicações das possíveis interações com os quesitos impostos por outras normas e regulamentos, a imprescindível participação dos trabalhadores e o essencial comprometimento dos empresários, dentre outros quesitos, impõe-se a importância de analisar os sistemas de gestão de SST que estão sendo implementados pelo setor.

Metodologia

Consistiu em observar fenômenos reais ocorridos nos canteiros de obras, com a fi nalidade de interpretá-los criticamente. As técnicas de coleta de dados utilizadas foram a análise documental, entrevistas com gestores de obras e aplicação de questionário previamente desenvolvido,avaliado e modifi cado por meio de aplicação em 2 empresas de grande porte do RJ. Na pesquisa piloto o questionário modifi cado foi então aplicado a 12 empresas do RJ.

214

Resultados

Verifi cou-se que 75% das empresas contratam profi ssionais da Segurança e Saúde conforme determinado pela legislação. Nas outras empresas esse serviço não é executado ou é executado por um técnico da empresa. Parte das empresas, 55% acreditam que a NR-18, contribui para a diminuição dos acidentes de trabalho mas poucos percebem a relação com a diminuição do ab-senteísmo, com maior motivação dos funcionários, ou com o aumento da produtividade.

Consideram ainda que a aplicação da norma é complexa, devido à dinâmica da obra e à gestão das pessoas.

Em geral as empresas implementaram a norma por exigência legal (56%), ou por acreditar que traz vantagem competitiva (12%) ou para satisfação dos trabalhadores (25%).

56%25%

13%6%

Exigência legal

Satisfação dostrabalhadoresVantagem competitiva

Obtenção de certificação

Contribui para aumento da produtividade

Contribui para diminuição do absentismo

Contribui para diminuição deacidentes de trabalho

Contribui para maior motiva-ção dos trabalhadores

Análise sobre o cumpriento de norma - Citação em %

A maioria das empresas informa haver política de segurança de segurança e saúde, sen-do que o empregador manifesta responsabilidade global pela proteção da saúde e segurança dos trabalhadores.

Motivos para o cumprimento da norma - Citação em %

215

67%

33%

SimNão

11%

11%

67%

11%

OSHAS 18001Não temNão informadoSGI

A maioria, porém, não explicar qual o sistema da gestão implementado e se é integrado ao sistema de gestão da qualidade e com o sistema de gestão ambiental.

Em 80% das obras a implementação das ações de prevenção são desenvolvidas pelos pró-prios profi ssionais de segurança e saúde, mas em apenas 16% ocorre a participação dos traba-lhadores em todas as fases.

Políticas de Gestão - Citação em %

Sistema de Gestão Implementado - Citação em %

Participação na Implementação de Sistemas de Gestão - Citação em %

216

A participação porém, na maioria dos casos fi ca restrita ao pessoal da CIPA ou aos respon-sáveis pela crise de segurança embora seja alegado que qualquer trabalhador pode dar suges-tões para a melhoria dos ambientes da trabalho, o que sugere que a atuação dos trabalhadores seja passiva e não pró-ativa.

Com relação aos treinamentos, a maioria das empresas informa realizá-los especialmente sobre normas de Segurança, conduta pessoal, higiene pessoal, direção defensiva, sensibiliza-ção, análise preliminar de riscos, equipamentos de proteção coletiva e individual. As empresas informaram não possuir indicadores de resultados desses treinamentos com relação à dimi-nuição de acidentes e doenças.

Conclusões

A implementação da NR 18 é avaliada como uma grande contribuição para a diminuição dos acidentes de trabalho, mas ainda é uma ferramenta utilizada isoladamente, não fazendo parte da gestão total da obra.Os profi ssionais da área de SST precisam ser melhor esclarecidos sobre os conceitos de gestão e sistemas de gestão e sua integração com os demais sistemas de gestão da qualidade e de gestão ambiental. A participação dos trabalhadores ainda é insipiente. A pequena parte das empresas que implementa ações pró-ativas ou inovadoras indica que as ações corretivas ainda são mais implementadas, o que sugere que há um campo muito vasto, ainda, de discussões tripartites, de aprendizagem, de reivindicações e de intervenções a ser percorrido pelas partes interessadas.

7

Resgate histórico do papel da Fundacentro

Francisco Kulcsar Neto, Fundacentro/CTN/MTELeordino Gomes Novaes, Fundacentro/CTN/MTE

Maria Aparecida Buzzini Moura, Fundacentro/CTN/MTEMaria Aparecida Giovanelli, Fundacentro/CTN/MTE

Maria José de Andrade Loureiro, Fundacentro/CTN/MTEMaria Margarida Teixeira Moreira Lima, Fundacentro/CTN/MTETeresa Cristina Nathan Outeiro Pinto, Fundacentro/CTN/MTE

Palavras-chave: resgate histórico; Fundacentro.

219

Introdução

D esde 1960, o Governo do Brasil mostrou-se interessado na vinda de um técnico da Organização Internacional do Trabalho (OIT), para estudar as condições de segu-

rança e higiene do trabalho no país. Isso ocorreu e, em 1962, foi recomendada pela OIT a criação de um centro de investigação em Segurança e Saúde no Trabalho, que resultou no projeto de ide-alização da Fundacentro, anunciado em 1966, durante o V Congresso Nacional de Prevenção de Acidentes [1]. E pela Lei nº 5161 [2], de 21 de outubro desse mesmo ano era criada a Fundação Centro Nacional de Segurança, Higiene e Medicina do Trabalho.

Desde então, a Instituição vem desenvolvendo estudos e pesquisas na área de saúde e se-gurança no trabalho, inclusive vindo a tornar-se Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde (OMS) e a realizar parceria nas ações da OIT. A partir de 1972 foi estabelecida uma dessas parcerias, quando a Fundacentro, por meio da Biblioteca Eduardo Gabriel Saad, passou a atuar como um dos Centros Nacionais do Centro Internacional de Informações em Segurança e Saúde do Trabalho da Organização Internacional do Trabalho (CIS/OIT).

Com a fi nalidade de resgatar sua história e demonstrar a importância do seu papel, foi criado, no âmbito da Fundacentro e vinculado diretamente à Diretoria Técnica, o Grupo de Resgate Histórico (GRH), instituído pela Portaria n. 132/2008 [3] de 14 de maio de 2008. O GRH tem ainda a missão de elaborar um plano de pesquisa, a partir do seu acervo histórico e técnico e de depoimentos de profi ssionais da área de segurança e saúde ocupacional, que acompanharam a trajetória da Instituição desde a sua criação. E criar, também, formas de registro, de arquivo e de publicidade das ações desenvolvidas pela Fundacentro ao longo dos anos.

Objetivos

• Resgatar o acervo histórico e técnico das ações da Fundacentro;

• Preservar e manter o acervo referente à história e à atuação da Fundacentro;• Criar produtos institucionais que permitam registrar e dar publicidade ao papel da

Fundacentro.

Metodologia

O trabalho do GRH será inicialmente desenvolvido por meio de pesquisa documental e de memória oral, que consistirá em entrevistas com servidores e outros colaboradores externos, para a recuperação de documentos e para a coleta de depoimentos sobre trabalhos já realizados que tiveram uma contribuição histórica para o papel da Fundacentro.

A partir desse trabalho, serão propostos mecanismos para atualização, preservação e divulga-ção do conjunto de registros históricos sobre a Fundacentro.

220

O GRH procurará contribuir na criação de produtos institucionais que caracterizem as ações da Instituição e que demonstrem seu papel como órgão de governo, bem como será colaborador das iniciativas que visem à criação de marcos institucionais (selos, bandeiras, logomarca, prêmios, etc).

O desenvolvimento do trabalho do grupo terá como base reuniões mensais, com a atribuição de responsabilidades específi cas aos seus membros, em função dos produtos a serem elaborados, e a proposição de um projeto para ser executado no âmbito da Diretoria Técnica, com os recur-sos técnicos, materiais e fi nanceiros necessários para se atingirem as metas desejadas até, pelo menos, o cinqüentenário de criação da Fundacentro.

Resultados esperados

• Retomada do Projeto Museu/Espaço Memória [4];

• Recuperação e organização do Acervo Técnico Histórico;

• Painéis fotográfi cos sobre a história e sobre atividades de pesquisa da Instituição;

• Selo fi latélico comemorativo dos 50 anos da Fundacentro;

• Livro sobre os 50 anos da Fundacentro;

• Registro do papel da Fundacentro na elaboração da Portaria nº 3214, de 8 de junho de 1978, do Ministério do Trabalho.

• Organização do Arquivo Fotográfi co da Fundacentro e de Homenagens Recebidas.

• Bandeira e Logomarca Fundacentro: história, signifi cado e atualização.

Referências

1- BOLETIM INFORMATIVO DA FUNDAÇÃO CENTRO NACIONAL DE SEGURAN-ÇA, HIGIENE E MEDICINA DO TRABALHO, v. 1, n. 1, nov. 1969.

2- BRASIL. Lei nº 5161 de 21 de outubro de 1966. Lex: legislação federal e marginália, São Paulo, v. 30, p. 1466-1467, out./dez. 1966.

3- FUNDACÃO JORGE DUPRAT FIGUEIREDO DE SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO. Portaria nº 132/2008, de 14 de maio de 2008. Constitui grupo de trabalho para o resgate histórico do papel da Fundacentro. São Paulo: 2008.

4- ______. Processo nº 264001.0011069/20333-84. Dispõe sobre solicitação de compra, re-ferência 12069 de 02 de março de 2003, sobre contratação de empresa especializada em realizar serviço de resgate histórico e institucional. São Paulo: Fundacentro. Divisão de Documentação e Biblioteca, 2003.

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Bibliografi a

AZEVEDO, Maria Luiza de. Projeto nº 55.01.004: espaço memorial e cultural da Fundacentro. São Paulo: 2008.

FUNDAÇÃO JORGE DUPRAT FIGUEIREDO DE SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO. Fundacentro: trabalhando pela saúde de quem trabalha. São Paulo, 2008. Folder institucional.

8

A educação em segurança e saúde no trabalho e a metodologia sociodramática

Maria José de Andrade Loureiro, Fundacentro/CTN/MTEMaria Luiza Gava Schmidt, Universidade Estadual Paulista

Palavras-chave: saúde do trabalhador; educação; metodologia sociodramática.

225

Justifi cativa

C om a perspectiva de lançar um olhar nas relações humanas no mundo do trabalho introduzimos como ação da Coordenação de Educação cursos e eventos para disse-

minar a metodologia sociodramática como uma nova metodologia de trabalho, a ser utilizada na área de saúde do trabalhador. É uma metodologia qualitativa e inovadora. Quando apresenta-mos esta proposta relembramos que outros colegas, três na ativa e outros dois, um aposentado e outro se demitiu da Instituição, utilizaram esta metodologia sociodramática em projetos, dos quais citamos: Navegando o espaço das contradições: a (re) construção do vínculo trabalho saúde por trabalha-dores da construção civil, dissertação de mestrado de Amarílis Araújo Pinto, na Pontifícia Universi-dade Católica de São Paulo – PUC, ano de 1996, pós-graduação em psicologia social.

Na proposta pensamos integrar a psicologia e a educação e quantos outros profi ssionais, por exemplo, da física, da química, da matemática, da pedagogia, da fi losofi a ou outras áreas que tivessem interesse pelos aspectos das relações humanas no mundo do trabalho. O aspecto humano é sempre alijado no mundo do trabalho.

Dejours (1987) em A Loucura do Trabalho afi rma que “a organização do trabalho é cada vez mais autoritária, rígida e automática” para ele, através da organização do trabalho a vida mental é neutralizada previamente em favor da exploração do corpo e “a submissão dos corpos só será possível por meio de ação específi ca sobre os processos psíquicos...”

Batista (2008) ao citar Moreno (Jacob Levy Moreno - idealizador da metodologia) diz:

Moreno sempre se aproximou das pessoas para ouvi-las e entendê-las, e não para ditar regras. Em suas primeiras experiências descobre a importância do grupo e a efi cácia da atuação de cada um de seus membros em relação ao conjunto, e não apenas da atividade do que formalmente assume o cargo de coordenador.

A metodologia sociodramática, segundo Alves (2008)

...se apresenta, em suas diversas possibilidades, como pesquisa qualitativa, como peda-gogia de desempenho de papéis, como possibilitador de mudanças sociométricas e soci-odinâmicas, como libertador da espontaneidade-criatividade.

Dejours compreende por relação de trabalho “todos os laços humanos criados pela or-ganização do trabalho: relações com a hierarquia, com as chefi as, com a supervisão, com os outros trabalhadores”.

Estas atividades educativas desenvolvidas pela Coordenação de Educação criam condições para que o trabalhador, adquirindo novos conhecimentos, passe a ter consciência da importância de resguardar plenamente a sua saúde física e psíquica.

Destacar estes autores, dentre tantos outros que vêm estudando os aspectos humanos nas relações de trabalho, tem sua importância pela perspectiva de despertar interesses para se apre-sentar novas metodologias de trabalhado em Saúde do Trabalhador.

226

Objetivos

Refl etir sobre o processo saúde-doença no trabalho tomando como referência a abordagem teórica metodológica sociodramática descrita por Jacob Levy Moreno.

Criar espaço para estudos, refl exões e discussões sobre o contexto de trabalho e as infl uências deste na saúde e bem-estar da população trabalhadora tomando como referência a metodologia sociodramática;

Problematizar questões do contexto laboral e as implicações à saúde dos trabalhadores;Refl etir sobre a possibilidade da conexão entre sociodrama e promoção da saúde no trabalho.

Metodologia

Desenvolvimento de dois cursos, o primeiro em 2007, no período de maio a outubro e o segundo em 2008, no período de maio a agosto, fechado para alunos remanescentes do primeiro e com o formato de grupo de estudos. E dois seminários, o primeiro em vinte e sete de novem-bro de 2007 e o segundo nos dias onze e doze de setembro de 2008. O primeiro com atividades e palestras no auditório e o segundo com atividades e palestras no auditório acrescido de ativi-dades de atos sociodramáticos em três salas de aula. Estas atividades foram desenvolvidas em subgrupos e cada um deles dirigido por uma psicodramatista e três “egos auxiliares”.

Os dois cursos foram desenvolvidos na linha de atuação “Capacitação e Atualização em SST” do Programa Nacional de Educação em Saúde do Trabalhador – Proeduc que tem como proposta didático-metodológica favorecer a atualização do conhecimento e o aperfeiçoamento dos profi ssionais em SST de modo a contribuir para o bom desempenho de suas atribuições relacionadas a Segurança e Saúde no Trabalho.

Os dois seminários foram desenvolvidos contando com palestrantes colaboradores, todos trabalharam sem nenhum custo fi nanceiro para a Fundacentro. Para quem não participou os trabalhos poderão ser conferidos no próximo ano por meio de futura edição, que faremos, dos fi lmes gravados por profi ssionais do Setor de Recursos Instrucionais.

Estas atividades tiveram a coordenação técnica de docente da Unesp – Campus de Assis.A divulgação ocorreu por meio do sítio, da mala direta e em salas de aula da Fundacen-

tro; por meio de divulgação em universidades e na mala direta do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador.

Resultados

Criação do Bosque Jacob Levy Moreno, em abril de 2007, dentro da área do Pomar Urbano, na marginal do Rio Pinheiros situado na Avenida Guido Caloi, 551 – Jardim São Luiz – Capital – CEP 05802-140, São Paulo.

Colocar em análise a implementação de um protocolo de intenções entre Fundacentro e FEBRAP - Federação Brasileira de Psicodrama, representada por alguma escola federada, para

227

desenvolver um programa de cooperação técnica para formar psicodramatistas. Esta proposta tem também como base as observações realizadas durante o desenvolvimento do I e II Seminá-rios de Sociodrama e Saúde no Trabalho da Fundacentro;

Criar ações compartilhadas, ou grupos de estudos, na vertente sociodramática, entre Funda-centro e profi ssionais, alunos deste curso, que há muito trabalham na área de vigilância sanitária em saúde do trabalhador na esfera municipal e estadual, com reuniões dirigidas por psicodramatista;

Estabelecer um protocolo de intenções com a Unesp – Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” para novos projetos de cursos, eventos, projetos de pesquisas e ou ações técnicas compartilhadas.

Recebimento da manifestação do interesse da Febrap – Federação Brasileira de Psicodrama, diretamente da sua atual presidente Marlene Magnabosco Marra, em participar da organização dos seminários para os próximos anos.

Conclusões

Da experiência adquirida com a professora doutora Maria Luiza Gava Schmidt, do Depar-tamento de Psicologia Experimental e do Trabalho, da Unesp – Campus de Assis, ação possi-bilitada com a parceria técnica, realizada por meio de ofícios entre nossas diretorias técnicas, sugerimos buscar com mais freqüência novas parcerias técnicas com a Universidade Pública por meio dos seus programas de extensão universitária.

Nesse percurso soubemos que um colega da Regional da Bahia está em processo de estudos para formação de psicodramatista e já vem propondo atividades com esta metodologia.

A Coordenação de Educação, por meio dessas ações, despertou novo olhar em alguns alunos profi ssionais que atuam há anos em segurança e saúde no trabalho. Possibilitou conhecerem esta metodologia que abre espaço para manifestação da espontaneidade e criatividade e o reconheci-mento, como diz Maria Luiza, “da beleza da relação EU–TU”.

Segundo Ramazzini o homem:

...por causa do excessivo exercício, enlanguesce e entorpece a alma para as funções da mente, quando se esforça com demasiada tensão em sua ânsia de sabedoria, sendo necessário que enfraqueça o corpo, consumidos os espíritos, instrumento comum para levar devidamente a cabo as operações materiais e espirituais.

Bibliografi a

5- ALVES, Luís Falivene R., - 2008. A identifi cação do Agente Protagônico nos Grupos Socioeducaticos.[pp.76 –91]. In: Marra, Marlene M. & Fleury, Heloisa J.(orgs) Grupos – Inter-venção Socioeducativa e Método Sociopsicodramático. São Paulo: Ágora, 2008.

6- BATISTA, Márcia A., - 2008. Psicodrama e Educação.[pp. 35 - 44]. In: Marra, Marlene M. & Fleury, Heloisa J.(orgs) Grupos – Intervenção Socioeducativa e Método Sociopsicodramático. São Paulo: Ágora, 2008.

228

7- DEJOURS, C. A Loucura do Trabalho. Estudo da Psicopatologia do Trabalho. São Paulo, Oboré. 1987.

8- RAMAZZINI, Bernardo. As Doenças dos Trabalhadores – 2ª edição, São Paulo: 1999.

9- ROGERS, Carl. Tornar-se Pessoa - 5ª edição - 3ª tiragem, São Paulo: 2001.

9

Os programas de prevenção e controle de riscos nos ambientes de trabalho como instrumentos de gestão

em SST: novas abordagens e perspectivas no processo ensino-aprendizagem

Sonia Maria José Bombardi, Fundacentro/CTN/MTEMaria Inês Franco Motti, Fundacentro/CTN/MTE

Palavras-chave: sistema de gestão; educação; gestão de risco.

231

Justifi cativa

A área da Educação da Fundacentro tem como um de seus desafi os promover ações que busquem contribuir cada vez mais para o desenvolvimento das competências dos profi ssionais da área de SST, instrumentalizando-os para melhor desempenho de suas funções relacionadas à prevenção, promoção e preservação da saúde dos trabalhadores.

Com este propósito e visando apresentar uma nova abordagem que mostrasse a relação entre os Programas de prevenção e controle dos riscos ambientais nos ambientes de trabalho (PPRA, PCMSO, Mapa de riscos e outros) e o Sistema de Gestão, associando com uma nova metodologia que buscasse a aplicação do conteúdo técnico no dia-a-dia dos participantes, foi realizada uma pro-posta de trabalho composta por ações educativas que tiveram como objetivo apresentar e discutir conceitos básicos sobre sistema de gestão, gestão de riscos e programas de prevenção e controle de riscos nos ambientes de trabalho, promovendo refl exões sobre possíveis intervenções e elaboração de projeto de trabalho que contribuam para melhoria de condições de trabalho.

Objetivo

O objetivo do curso foi apresentar e discutir conceitos básicos sobre sistemas de gestão, gestão de riscos e programas de prevenção e controle de riscos nos ambientes de trabalho, propiciando aos participantes refl exões sobre possíveis intervenções, por meio da elaboração de projeto de trabalho que contribuam para melhoria de condições de trabalho.

Metodologia

Este trabalho teve sua proposta metodológica norteada pela “Pedagogia dos Projetos de Trabalho” que tem como pressuposto demonstrar a capacidade transformadora da educação, en-fatizando o comprometimento dos alunos na resolução de problemas no seu dia-a-dia laboral.

Os cursos tiveram como princípio a priorização do diálogo, da experimentação e da ação refl exiva do aluno, considerando-o como sujeito ativo, dinâmico e co-participante de seu aprendizado e foi por meio desse processo que buscou despertar formas de ação do aluno sobre sua realidade, dando-lhe a oportunidade de agir, fazer comparações e explorar as situ-ações de seu cotidiano profi ssional.

Para isso, os cursos foram realizados em 2 módulos, sendo que no 1º módulo foram abordados os temas:

• Aspectos históricos, fi losófi cos e sociais do processo de produção-trabalho e seus efei-tos sobre a saúde do trabalhador

• Conceitos básicos de Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho

• Sistemas de Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho e Diretrizes da OIT

232

• Gestão de Riscos nos Ambientes de Trabalho

• Os Programas de Prevenção e Controle de Riscos e a participação dos trabalhadores

o Objetivos

o Organização

o Responsabilidades

o Planejamento e Implementação

o Acompanhamento/Avaliação

• Responsabilidade Social das empresas e a Segurança e Saúde no Trabalho

• Orientações para elaboração do Projeto de Trabalho

• Avaliação do 1º módulo do cursoNeste 1º módulo, que contou com 32 horas foram ministradas aulas expositivas dialogadas e

realizadas, pelos alunos, diversas atividades em grupo, com o intuito de provocar maior refl exão sobre os assuntos, troca de experiências, experimentação do que estava sendo abordado.

No período entre o 1º e 2º módulos os alunos elaboraram, em grupos, projeto de trabalho baseando-se nos conteúdos abordados e na sua experiência profi ssional. Esta atividade contou com o apoio técnico das docentes que disponibilizaram 8 horas para orientação quer por meio de telefonemas, fax, e-mails e outros.

No 2º módulo foi realizado Seminário, com carga horária de 8 horas, onde foram apre-sentados, analisados e discutidos os trabalhos elaborados pelos alunos e feita a avaliação fi nal do processo educativo.

A seguir relacionamos títulos de alguns dos trabalhos elaborados pelos alunos:

- Integração dos Sistemas de Gestão de Segurança, Saúde no Trabalho e Meio Ambien-te em uma Empresa de Limpeza Urbana de Florianópolis.

- Organização de um sistema de gestão em SST em uma construtora, baseado nas diretrizes da OIT.

- Abordagem do sistema de gestão em segurança e saúde no trabalho para o segmento metal-mecânico de pequeno e médio porte.

- Planejamento e implantação das diretrizes da OIT sobre sistemas de gestão em segu-rança e saúde no trabalho em um indústria de mármore e granito.

- Proposta para criação de um instrumento de avaliação do sistema de gestão em segu-rança e saúde no trabalho.

233

- Diagnóstico para implantação do sistema de gestão em segurança e saúde no trabalho rural em uma fazenda.

Para o recebimento do certifi cado, os alunos deveriam obtivessem elaborar e apresentar e discutir projeto de trabalho sobre o tema do curso aos demais alunos e aos docentes no Seminá-rio (2º módulo), bem como obter no mínimo 80% de freqüência.

Os indicadores selecionados para este estudo foram: índice de participação dos alunos no 2º módulo do curso, número de trabalhos apresentados por curso, nível de aprofundamento e qualidade técnica dos trabalhos e estimativa de possibilidade de aplicabilidade dos projetos no dia-a-dia dos participantes.

Resultados

No período de 2006 a 2008 foram realizados 6 cursos nos Estados do ES, MS, SC e SP, para 185 participantes com diversas formações, conforme mostra o Gráfi co I.

Gráfico IFormação dos Participantes

A65%B

18%

G6%

F3%

E2%

D2%

C4%

A maior participação ocorreu entre os Técnicos de Segurança do Trabalho que se ressen-tem pela escassez de cursos na área de Segurança e Saúde no Trabalho, em especial em outras localidades que não São Paulo. Os Técnicos de Segurança apontam ainda a precariedade de suas formação frente às exigências da ocupação e do mercado de trabalho.

A comparação entre a participação dos alunos no 1º e 2º módulos de cada curso pode ser observado no Gráfi co II:

O índice de retorno por curso parece revelar que os alunos se sentem interessados não só pelo conteúdo abordado como também pela própria metodologia, seja pela possibilidade de discussão de questões específi cas do seu dia-a-dia, com os demais profi ssionais e docentes, seja para avaliar o seu próprio desempenho e evolução na aplicação dos conteúdos como também pela possibilidade de refl etir sobre possíveis medidas de intervenção com vistas à melhoria das condições de trabalho.

234

0

10

20

30

40

A B C D E F

Gráfico II Distribuição do nº de alunos nos

módulos, por curso

1º mód2º mód

Foram apresentados, nos 6 cursos, total de 30 trabalhos abordando a questão de Sistemas de Gestão em diversos ramos de atividade, como mostra o Gráfi co III.

Verifi ca-se que ainda é a indústria que apresenta mais profi ssionais buscando aperfeiçoamento nesse tema, em especial os setores Siderúrgico, Elétrico, Têxtil, Metal-mecânico, Plástico e Cerâmico.

Cabe ressaltar que o Ramo de Serviços também mostra uma tendência a procura signifi ca-tiva com relação ao tema.

Distribuição dos Ramos de Atividades Contemplados nos

Trabalhos

A20%

B30%C

7%D

10%

E10%

F7%

G16%

Conclusões

A avaliação geral do processo de aprendizagem realizada com alunos, coordenadores e do-centes, demonstrou que a quase totalidade dos alunos dos 6 cursos considerou tanto o conteúdo abordado, como o material didático entregue e a metodologia adotada como os pontos funda-mentais para o pleno alcance dos objetivos, uma vez que houve a oportunidade de aprendizado na prática e interagindo com outros profi ssionais.

235

Os indicadores selecionados para estudo, quais sejam: índice de participação dos alunos no 2º módulo do curso, número de trabalhos apresentados por curso, nível de aprofundamento e qualidade técnica dos trabalhos e estimativa de possibilidade de aplicabilidade dos projetos no dia-a-dia dos participantes, demonstrou o grande envolvimento dos participantes com a propos-ta metodológica apresentada, bem como o êxito da atividade desenvolvida quanto ao alcance dos objetivos propostos, qual seja propiciar refl exões sobre possíveis intervenções que contribuam para a melhoria das condições de trabalho.

Pode-se concluir pelo número de alunos que participaram no 2º módulo apresentando traba-lhos, pelo nível de aprofundamento e qualidade técnica apresentada e pela estimativa de possibi-lidade de aplicabilidade destes projetos no dia-a-dia dos participantes, a demonstração do grande envolvimento dos mesmos com a proposta apresentada e o pleno êxito da atividade em questão.

Nos próximos anos, novos cursos serão realizados com esta metodologia, buscando um acompanhamento a médio e longo prazo, da aplicabilidade dos projetos de trabalho, com crité-rios pré-estabelecidos decorrentes do presente estudo.

10

Podcast informativo Fundacentro

Leordino Gomes de Novaes, Fundacentro/CTN/MTEClodoaldo Caetité de Novaes, Fundacentro/CTN/MTE

Edson Luiz dos Anjos, Fundacentro/CTN/MTEMarcelo Ramos, Fundacentro/CTN/MTEVanessa Biscaro, Fundacentro/CTN/MTE

Alex Pires de Oliveira, Fundacentro/CTN/MTEJuliana Venâncio Mina Ribeiro, Fundacentro/CTN/MTE

Cynthia Mey Richard

239

Justifi cativa

L evar ao conhecimento da sociedade os estudos, pesquisas e iniciativas da Fundacentro na área de prevenção de acidentes e doenças do trabalho.

Objetivos

• Ampliar a projeção da imagem da Fundacentro;

• Criar canais multiplicadores das informações da instituição;

• Divulgar notícias de interesse de seus diversos públicos;

• Mostrar a importante contribuição da Fundacentro na prevenção de acidentes e do-enças do trabalho;

• Destacar a expertise dos profi ssionais e especialistas que atuam na instituição.

Metodologia

Divulgação das pesquisas, estudos, ações e recomendações da Fundacentro para prevenção de acidentes e doenças do trabalho, utilizando para isso os recursos das novas tecnologias da informação, no caso o podcast - programa de rádio em MP3, veiculado no ambiente web.

Fenômeno de mídia recente, o podcast é considerado pelos especialistas como responsável pela maior revolução do veículo rádio das últimas décadas.

Com a adoção dessa mídia inovadora, no formato de programetes semanais, em torno de 4 minutos de duração cada, a entidade oferece aos seus públicos-alvo conteúdos customiza-dos, informação on demand, adaptando-se ao horário de conveniência da audiência ( ou seja, opção de ouvir quando e quantas vezes quiser), o que coloca a Fundacentro na linha de frente da comunicação institucional.

Como mídia da internet, onde não existe limite de alcance, o podcast permite multiplicar as informações da Fundacentro por meio do envio de um simples e-mail, bem como que institui-ções, sindicatos e outras entidades interessadas possam também reproduzir os programas para seus respectivos universos de audiência.

Resultados

A implantação do projeto ainda é recente, mas a iniciativa tem tido repercussão na imprensa, reconhecimento da sua importância por parte da audiência, por meio do volume crescente de acessos, além de solicitações e comentários enviados pela página web do podcast.

11

Determinação de metais pesados em indústria cimenteira que co-processa resíduos

Tiago L. Garcia, Fundacentro/CTN/MTEWalter dos Reis Pedreira Filho, Fundacentro/CTN/MTE

Marcela Gerardo Ribeiro, Fundacentro/CTN/MTELuíza Maria Nunes Cardoso, Fundacentro/CTN/MTE

Palavras-chave: co-processamento; metais pesados; ICP-OES.

243

Introdução

O co-processamento de resíduos industriais nos fornos de produção da indústria cimenteira surge como uma alternativa ao combustível convencional e à matéria

prima. Esse processo apresenta vantagens, uma vez que os resíduos são combustíveis com alto poder calorífi co e baixo custo. Além disso, a alta temperatura do forno assegura a des-truição dos compostos orgânicos e a incorporação dos íons metálicos à estrutura do clín-quer. O grande volume de resíduos co-processados no Brasil, associada as diversas origens destes, despertaram o interesse de avaliar os possíveis riscos aos trabalhadores, da industria de cimento. O controle sobre este processo deve ser rígido, uma vez que durante a clinqueri-zação pode ocorrer a formação e liberação para o ambiente, por exemplo de HPAs e metais pesados. Este trabalho visa realizar uma avaliação preliminar da presença de metais pesados neste ambiente ocupacional.

Metodologia

Foram realizadas avaliações individuais da exposição a metais pesados nos trabalhadores, através de amostradores ativos, e amostradores passivos ao longo da linha de produção.

Os pontos de amostragem passivos foram escolhidos de acordo com a maior probabilida-de de emissões e maior contato do trabalhador com o resíduo, sendo eles: ponto1, arredores do forno de clínquer; ponto 2, moagem do clínquer e ponto 3, área de ensacamento de ci-mentos. Para coleta das amostras foram utilizadas bombas amostradoras com vazão média de 1L.min-1 e fi ltros de membrana de éster de celulose. Os fi ltros foram digeridos em solução ácida por aquecimento em microondas. Para a quantifi cação química dos metais presentes no ambiente de trabalho foi utilizada a técnica de espectroscopia de emissão atômica com plas-ma indutivamente acoplado (ICP-OES). Para a validação, foram realizados testes de limite de detecção e quantifi cação e linearidade bem como estudo de recuperação após adição de padrão em varias faixas de concentração para cada material analisado.

Resultados e discussão

Na tabela 1 são apresentados valores de concentração de metais (μg.m3) para os fi ltros coletados em pontos distintos da industria de cimento localizada no interior do estado de São Paulo.

Na tabela 2 são apresentados valores de concentração (μg.g-1) para cimento, clinquer e escória.

O desenvolvimento da metodologia apresentou precisão na faixa de 2-3% nos testes de de-terminação de padrão, além de uma boa resposta na recuperação na faixa de 80-90%.

Os limites de detecção encontrados foram de até 0,0003 ppb para o Cd, o que permitiu também um baixo limite de quantifi cação (0,001 e 0,006ppb) para a maioria dos elementos. A concentração encontrada nas amostras coletadas nos fi ltros variou entre 0,06μg.m-3 (Cd) e 1336μg.m-3 (Fe).

244

Os resultados obtidos foram comparados com o nível de exposição máximo recomendado pela ACGIH – American Conference of Governmental Industrial Hygienist1. Foi possível constatar assim que, dentre os metais analisados, apenas o ferro encontra-se em níveis de concentração acima dos indicados. Esse resultado não surpreende, uma vez que óxidos de ferro são abun-dantes na composição do cimento.

As Cr Fe Mn Ni Pb

Ponto 01

11/jul 0,18±0,05 1,56±0,51 20,2±1,1 18,97±0,50 0,61±0,09 36,69±0,90

12/jul 0,16±0,05 1,40±0,58 16,3±0,8 19,06±0,22 0,38±0,05 72,23±0,85

Ponto 02

11/jul 1,75±0,10 2,83±0,11 123,9±0,9 39,06±0,80 2,83±0,09 0,76±0,07

12/j ul 1,38±0,11 3,68±0,25 122,9±1,4 39,60±0,51 6,09±0,11 0,68±0,08

Ponto 03

11/jul 0,22±0,04 2,98±0,31 109,8±1,0 20,59±0,39 3,00±0,13 3,64±0,11

12/jul 0,32±0,04 3,15±0,10 106,9±1,0 17,21±0,22 3,17±0,18 3,55±0,10

Tabela 1 Resultados das amostras de emissões na primeira visita (11/07/2006)

Cimento Clínquer Escória

Julho Setembro Julho Setembro Setembro

As 5,9 ± 1,0 12,9±3,3 ND 13,2±3,6 ND

Cd 2,1 ± 0,2 1,9±0,1 2,5±0,3 2,04±0,2 3,2±0,1

Co 6,9 ± 0,3 7,1±0,3 7,6±0,3 4,1±0,2 4,1±0,3

Cr 37,3 ± 0,8 50,4±1,2 45,9±0,6 65,6±3,4 7,1±0,4

Cu 14,6 ± 0,6 21,1±1,9 20,0±0,5 24,5±0,8 ND

Fe 1067 ± 80 9959±102 12931±149 13387±142 8162±3

Mn 251 ± 1 297±2 274±2 301±4 5147±3

Ni 41,5±0,5 14,2±2,0 41,8±0,9 30,4±1,6 3,8±0,1

Pb 20,7±2,1 53,2±6,9 18,9±3,4 24,2±9,0 36,9±5,5

Tabela 2 Resultados das amostras de cimento, clínquer e escória

245

Conclusão

O método desenvolvido pode ser facilmente aplicado, uma vez que foi demonstrada boa sensibilidade, confi abilidade e reprodutibilidade do mesmo. Porém, para melhor avaliação da exposição ocupacional é necessário coletar um número maior de amostras.

Referência Bibliográfi ca

1. ACGIH. American Conference of Governmental Industrial Hygienist - www.acgih.org, acessada em 06/08/2008.

12

Exposição ocupacional a pesticidas em estufas de fl ores

Fernanda F. Ventura, Fundacentro/CTN/MTEJorge O. Junior, Fundacentro/CTN/MTE

Camilla G. Colasso, Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo

Walter dos Reis Pedreira Filho, Fundacentro/CTN/MTEMarcela Gerardo Ribeiro, Fundacentro/CTN/MTE

Palavras-chave: estufas de fl ores; pesticidas; exposição ocupacional.

249

O estado de São Paulo é responsável por 60% da produção nacional de fl ores e plan-tas ornamentais. Esses cultivos ocupam 4.000 hectares; 56% da área, cultivada em

estufas. Para atender à demanda crescente do mercado, o número de estufas tem aumentado 15% ao ano, nos últimos 5 anos.

As estufas são microcosmos planejados para propiciar as condições ambientais adequadas ao crescimento de plantas. Qualquer infestação é controlada usando pesticidas que, devido ao enclausuramento e ajustes das condições climáticas, podem prolongar e intensifi car a ex-posição ocupacional aos mesmos. Alguns estudos sugerem que os trabalhadores de estufas de fl ores e plantas ornamentais estão expostos a níveis mais elevados de praguicidas durante o carregamento, mistura e aplicação dos praguicidas, bem como pelo contato contínuo com as fl ores e plantas ornamentais, quando comparados a outros trabalhadores que entram em contato com essa classe de compostos.

Fatores tais como misturar e aplicar os praguicidas, reentrada no campo, atividades executa-das, locais da aplicação (indoor ou ao ar livre), características do clima, uso dos EPI, práticas do trabalho relacionadas à higiene, disponibilidade da água para banho e água para beber, condições de armazenamento e derramamentos dos resíduos, além das atitudes frente ao risco, infl uenciam o grau de exposição aos praguicidas.

As razões para as elevadas taxas da exposição aos praguicidas em países em desenvolvimento são muitas, incluindo a falta de um sistema de leis efi caz, poucas informações nos rótulos dos recipientes que contêm praguicidas, más condições de armazenamento dos mesmos, falta de orientação e insufi ciente conhecimento dos fatores de risco inerentes aos praguicidas, além dos custos elevados dos EPI. Este projeto destina-se a avaliar as condições de Segurança e Saúde do Trabalho (SST) e localizar possíveis fontes de exposição ocupacional a pesticidas em estufas de fl ores, em alguns pólos de produção do estado de São Paulo.

Foi aplicado um questionário para levantamento de dados em dezoito estufas localizadas nas regiões de Arujá (compreendendo as cidades de Itapeti; Cereja; Guarulhos; Mogi das Cruzes e Taubaté). Os produtores visitados foram questionados sobre as práticas e condições de trabalho; tipos de cultivo e de defensivos (incluindo a armazenagem e o descarte das embalagens), bem como procedimentos de manuseio e descarte dos EPIs utilizados pelos funcionários. Os resulta-dos encontram-se descritos nos parágrafos a seguir.

O cultivo de orquídeas, hortênsias, crisântemo, ciclamens, lisiantos e campânulas são as mais comuns nas estufas visitadas. As áreas cultivadas abrangem uma faixa de 3.000 m2 a 35.000 m2. O número de funcionários varia de 2 a 20. Cerca de 62% destes cumprem uma carga horária de 44 horas semanais e 77% desempenham atividades que inclui também a aplicação dos pesticidas.

Os pesticidas mais utilizados são os organofosforados e ditiocarbamatos. São aplicados em in-tervalos de tempo que variam de 2 dias a 2 meses, com duração média de aplicação de 44 minutos. Constatou-se ainda que 39% das aplicações são realizadas mensalmente, 11% quinzenalmente e 39% semanalmente. Em 67% das estufas, as pulverizações são feitas no fi m da tarde, havendo a reentrada na estufa somente no dia seguinte. São utilizados tanto aplicadores costais como bom-bas de aplicação. As classes de pesticidas mais utilizadas são apresentadas na Figura 1.

250

O percentual de estufas que apresenta áreas apropriadas para alimentação, descanso e higiene é apresentado na Figura 2.

Figura 1 Classes de pesticidas mais utilizadas

Figura 2 Áreas para alimentação, descanso e higiene

33%

22%

39%33%

39%

78%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

Áreas para alimentação, descanso e higiene

%

refeitórios

area de descanso

bebedouros

vestiarios

armários

vasos sanitarios,chuveiros

Na maioria das estufas, os EPIs não são utilizados corretamente pelos trabalhadores, con-forme recomendado pela Norma Regulamentadora 31 (NR 31). Entre as partes constituintes do conjunto de EPIs preconizados pela NR 31 para aplicação dos pesticidas, as mais utilizadas são luvas, botas e máscaras. As menos usadas são viseiras, óculos de proteção e touca árabe, conforme indicado na Figura 3.

A lavagem dos EPIs é feita de acordo com os procedimentos adequados (com água corrente e sabão neutro) por 72% das estufas visitadas. O descarte apropriado (enviando o EPI usado para uma empresa responsável pelo descarte após 30 aplicações) é feito por 6% dos entrevistados.

As embalagens de pesticidas são armazenadas, de modo geral, em quartos e armários sem ventilação e sem controle de acesso. Os frascos vazios são levados a postos de coleta (para serem descartados apropriadamente) por 50% dos produtores visitados.

251

Figura 3 Utilização do EPI

89% 89%

22%

44%

83% 83%

94%

55%

66%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

EPI

%

luvas

botas

viseira

óculos

calça

blusa

máscara

toca árabe

avental

O cenário descrito acima sugere que, apesar da regulamentação do uso de praguicidas (pelo Ministério da Agricultura e também pelo Ministério do Trabalho e Emprego), tanto a demanda crescente por parte do mercado internacional, como o desenvolvimento tecnológico para o crescimento sustentável das culturas, não implicam necessariamente em melhores práticas de Segurança e Saúde do Trabalho (SST) em estufas. Sendo assim, muitas perguntas permanecem sem respostas: como o controle de pragas e doenças vem sendo planejado? Como os praguici-das vêm sendo transportados, manipulados e armazenados? Como os praguicidas vêm sendo preparados e aplicados? Quais os níveis de concentração dos organofosforados nas estufas de fl ores? A exposição dérmica vem ocorrendo nesses locais de trabalho? Em outras palavras, como o aumento da demanda (produção) está alterando as boas práticas em SST nas estufas de fl ores? As informações aqui apresentadas são preliminares e servirão de base para o aprimoramento da avaliação qualitativa e quantitativa de modo que, posteriormente, seja possível compreender como o aumento da demanda está alterando as boas práticas em SST nas estufas de fl ores.

13

Determinação de PB, AL e NI por ICP-OES no ambiente de trabalho de uma fundição de ligas metálicas de bronze

Tiago Severo Peixe, Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo.Elizabeth de S. Nascimento, Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo.

Walter dos Reis Pedreira Filho, Fundacentro/CTN/MTECarlos Sérgio Silva, Fundacentro/CTN/MTE

Palavras-chave: fundições; metais; ICP/OES; ar; bronze.

255

Introdução

As fundições de ligas de bronze utilizam metais não ferrosos, basicamente lingotes de latão (Cobre (Cu) – Zinco (Zn), nos quais os níveis de Cu variam de 68% a 98%, os de Zn de 2% a 32%, Pb de 4% a 6% e Al de 0,005% a 11,5%.1

Os metais, Pb e Al são adicionados para obter características, tais como condutividade, dureza e capacidade calorífera. Além dos componentes primários da liga, aproximadamente 5% da formulação contém outros metais, dentre eles: cádmio, arsênio, estanho, ferro, fósfo-ro, manganês e níquel.1

As concentrações dos metais Pb, Al e Ni, em material coletado no ar do ambiente de tra-balho, foram determinadas por ICP/OES e, posteriormente, comparadas com os limites de exposição considerados seguros para a saúde do trabalhador.2, 3

Material e métodos

A coleta do ar foi realizada com bombas individuais e calibradas para vazão de 2,0 L/min. Foram usados fi ltros de éster-metil-celulose Millipore® com diâmetro de 37 mm e porosidade de 0,8 μm, montados em porta-fi ltros Millipore® e isolados com fi ta Tefl on®. Quatro bombas foram dispostas, duas em pontos estáticos - forno e área de vazamento (Figura 1), e outras de modo individual - coleta respiratória (Figura 2).

O período de coleta correspondeu a 70% da jornada de trabalho. Após, os fi ltros foram digeri-dos em forno de microondas fechado CEM Mars, adicionando-se 2,0 mL de ácido nítrico 65%, 1,0 mL de peróxido de hidrogênio e 4,0 mL de H2O Mili-Q® (18,2 MΩ.cm). A solução resultante foi transferida a tubo de poliestireno avolumando-se para 25,0 mL com água Mili-Q® (18,2 MΩ.cm).

A determinação de Pb, Al e Ni foi realizada utilizando-se o espectrômetro de emissão atômi-ca CIROSCCD (Spectro Analytical Instruments). A tocha estava com disposição axial e as leituras operaram de modo simultâneo. Os parâmetros instrumentais empregados foram potência 1450 W, freqüência 27,12 MHz, fl uxo de Ar refrigerante 12L/min, fl uxo de gás de Ar auxiliar de 1,0L/min, fl uxo de gás de Ar de arraste de 0,95mL/min, introdução de amostra 1,5 mL e comprimen-tos de onda (nm): Pb 261,48; Al 257,50 e Ni 227,02.

As determinações foram realizadas a partir de soluções de referência preparadas nas concen-trações de 0,04 – 20,0 mg/L [Pb e Al] e 0,02 – 10,0 mg/L [Ni].

256

Resultados

Figura 2 Coleta individual

Tabela 1 Valores médios em μg/m3 para os metais nos fi ltros coletados

Figura 1 Coleta ponto estático

Metal L. D. L. Q. C (μg/m3) Limite

P 1E# P 2E# P 3IΔ P 4IΔ ACGIH!!

Pb 0,4 1,3 12,5 ± 4,1 10,8 ± 7,6 2,6 ± 1,4 36,4 ± 6,3 50,0

Al 1,9 6,4 211,4 ± 64,7 47,1 ± 1,0 125,1 ± 6,7 235,1 ± 6,3 5000,0

Ni 3,8 12,7 N.D. N.D. N.D. N.D. 50,0Ω

* Valor médio em triplicata. C. V. <2,0%; # estático; Δ individual; Ω Cd e Ni – os valores correspondem às frações inaláveis. N. D. – Inferior ao Limite de Quantifi cação; !! Valor TLV-TWA (Thresshold Limit Volue - Time Weighted Average / Média Ponderada pelo Tempo) Limete de exposição para um dia normal de trabalho (8 horas) ou semana (40 horas)

257

Conclusões

O método proposto apresentou-se adequado, para a análise de Pb, Al e Ni em amostras do ar do ambiente de trabalho. As concentrações inferiores ao preconizado pela ACGIH (Associação Governamental de Higienistas Industriais Americanos), nos pontos coletados: a) estático – forno da fundição; b) individual - trabalhador da área de fusão e vazamento podem refl etir a efi cácia do sistema de exaustão, a dinâmica de trabalho e/ou a composição das ligas metálicas, que se diferem entre si.

Referências

[1] ACGIH, American Conference of Governmental Industrial Hygienists, TLVs®, Cincinnati, ACGIH, 2007.

[2] ABIFA, Associação Brasileira de Fundição, Índices de Mercado: Produção de Fundidos: março de 2006, São Paulo, Available from: http://www.abifa.org.br/mercado/mercado_prod_fun.asp. Access in: 01/05/08.

[3] Apostoli, P., Elements in environmental and occupational medicine. J. Chromatogr. B. 778 (2002) 63 – 97.

[4] Felix, F. S.; Lichtig, J; Santos, L. B. O; Masini, J. C. J.Braz.Chem. Soc. 2005, 16, n. 4, 801.

[5] Gomes, A. M.; Trassy, C.; Almi, A.; Seddiki, F.; Hassaine, S. High Temp .Mat. Proc. 1997, 4, 461.

14

Metodologia dosimétrica para controle da exposição ocupacional às radiações ionizantes e ultravioletas

Sonia G. Pereira Cecatti, Fundacentro/CTN/MTEClaudia Carla Gronchi, Fundacentro/CTN/MTE

Teresa Cristina Nathan Pinto, Fundacentro/CTN/MTE

Palavras-chave: radiação ionizante; radiação ultravioleta; exposição ocupacional; dosimetria das radiações.

261

Introdução

O uso comprovadamente crescente e diversifi cado das radiações nas áreas de medici-na, indústria, agricultura, pesquisa, e nas atividades relativas à produção de energia

não pode, de modo algum, ser dissociado de preocupações igualmente crescentes de segurança radiológica traduzida em radioproteção [1], uma vez que as atividades citadas envolvem tra-balhadores ocupacionalmente expostos às radiações, cuja saúde deve ser protegida dos efeitos adversos causados pela radiação. Em todo mundo há uma preocupação no sentido de se com-preender, quantifi car e evitar danos à saúde, associados ao uso das radiações, mantendo-as dentro de limites aceitáveis ou controláveis. Dessa forma, as instituições governamentais, de pesquisas e as que operam com radiações devem focalizar seus estudos para a implementação de novas tecnologias de controle da exposição às radiações de forma a buscar um maior be-nefício efetivo ao trabalhador.

A International Commission on Radiation Protection (ICRP) [2], em seus relatórios, recomenda que os princípios fundamentais de proteção radiológica sejam seguidos de maneira efi ciente e respei-tosa para que nenhum dano seja causado ao trabalhador exposto às radiações.

A legislação brasileira exige que a monitoração individual dos trabalhadores ocupacional-mente expostos às radiações seja realizada por serviços de monitoração externa que dispõem de técnicas dosimétricas para medir doses de radiações X e gama [3]. Apenas a dosimetria das radiações X e gama já estão bem estabelecidas no país.

Entretanto, no Brasil, é grande o número de trabalhadores expostos tanto à radiação ultra-violeta como à radiação beta, cuja monitoração rotineira não é realizada. Nos dois casos, a moni-toração caracteriza-se como medida de controle para prevenção de doenças ocupacionais.

Este projeto teve início em 2005, em 2006 passou a integrar o Grupo de Pesquisa RADION, da Fundacentro junto ao CNPq, e sua realização, ao longo desses anos, só foi possível em função da parceria obtida por suas pesquisadoras junto ao Instituto de Pesquisas Energéticas e Nuclea-res, da Comissão Nacional de Energia Nuclear (IPEN/CNEN).

Objetivos

Estabelecer novas metodologias dosimétricas para controle da exposição ocupacional às ra-diações beta e ultravioleta, utilizando-se dosímetros termoluminescentes e as técnicas de ter-moluminescência (TL) e a de luminescência opticamente estimulada (OSL). O estabelecimento dessas metodologias dosimétricas visa à monitoração individual de trabalhadores expostos à radiação beta e à radiação ultravioleta.

Metodologia

O estudo da exposição ocupacional às radiações ionizantes (beta) e ultravioleta (UV) consistiu inicialmente da caracterização dosimétrica de diferentes materiais termoluminescentes, em feixes de radiação gama, beta e ultravioleta, utilizando as técnicas TL e OSL. Esses materiais foram amplamen-

262

te testados para os diferentes tipos de radiação, o que permitiu a determinação de sua repetitibilidade, da reprodutibilidade, das curvas de emissão, das curvas de dose-resposta, da determinação dos limites mínimos e máximos de detecção, da dependência energética e da dependência angular.

Todas as medições foram realizadas com os recursos disponíveis no Laboratório de Calibração de Instrumentos, do Centro de Metrologia das Radiações, do IPEN, como sistemas de radiação (X, beta, gama e UV), sistemas de referência (sistemas padrão secundários ou terciários, para deter-minação das características dos campos de radiação, com rastreabilidade aos laboratórios padrões primários da Inglaterra, Alemanha, França e Estados Unidos), sistemas de medidas (da Harshaw, da Landauer e da Delta Ohm), sistemas de tratamento térmico e óptico, além de outros acessórios.

Foram utilizados neste projeto os seguintes materiais termoluminescentes: LiF: Mg Ti (TLD-100), Ca F2: Dy (TLD-200), Ca F2: Mn (TLD-400), Li2 B4 O7: Mn (TLD-800). Ca SO4: Dy (TLD-900) e Al2 O3: C.

Resultados

Os resultados parciais obtidos no decorrer das pesquisas já permitiram a elaboração de quin-ze trabalhos técnico-científi cos, que foram apresentados em eventos nacionais e internacionais, sendo que cinco já estão publicados em revistas indexadas (Quadros 1 e 2).

Título Autores Revista

Preliminary dosimetric characterization of thermoluminescent materials for beta radiation monitoring at nuclear medicine services

Sonia G. P. CecattiLinda V. E. Caldas

Radiation Protection Dosimetry 120: 307-301, 2006

Dependência energética e angular de materiais termoluminescentes para monitoração beta

Sonia G. P. CecattiLinda V. E. Caldas

Radiologia Brasileira 39(6): 447-448, 2006

Controle da Exposição Ocupacional às Radiações Ionizantes nos Serviços de Hemodinâmica segundo a Portaria 453 e American College of Cardiology

Claudia C. GronchiSonia G. P. Cecatti

Laura FurnariLetícia L. Campos

Associação Brasileira de Física Médica, 2006

Application of the Al2O3:C technique for beta dosimetry

Teresa C. N. O. PintoSonia G. P. CecattiClaudia C. GronchiLinda V. E. Caldas

Radiation Measurements 43: 332-334, 2008

Optical decay of OSL signal of Al2O3:C detectors exposed to different lights sources

Claudia C. GronchiSonia G. P. Cecatti

Teresa C. N. O. PintoLinda V. E. Caldas

Nuclear Instruments and Methods in Physics Research B

226: 2914-2916, 2008

Quadro 1 Relação dos artigos publicados em revistas indexadas, eventos no período de 2005 a 2008

263

Título Autores Proceeding

Dependência angular de um dosímetro específi co para monitoração em Serviços de Medicina Nuclear

Sonia G. P. CecattiClaudia C. GronchiLinda V. E. Caldas

X Congresso Brasileiro de Física Médica (ABFM-2005)

Determinação de Fatores de Transmissão de diferentes Polímeros para Dosimetria Beta em Medicina Nuclear

Sonia G. P. CecattiClaudia C. GronchiLinda V. E. Caldas

Simpósio de Metrologia na Área de Saúde (METRO-2005)

Dependência angular de detectores termoluminescentes para radiação gama e beta em Medicina Nuclear

Sonia G. P. CecattiClaudia C. GronchiLinda V. E. Caldas

Congresso Brasileiro de Proteção Radiológica (RADIO-2005)

Performance of TL dosemeters for gamma radiopharmaceuticals (99mTc and 123I)

Sonia G. P. CecattiClaudia C. GronchiMarina F. KoskinasLinda V. E. Caldas

Second European Congress on Radiation Protection

(IRPA-2006)

Beta radiation occupational exposure in Nuclear Medicine

Sonia G. P. CecattiLinda V. E. CaldasMaria C. C. Aguiar

28TH International Congress on Occupational Health

(ICOH-2006)

Gamma dosimetric characterization of Al2O3: C detectors using the optically stimulated luminescence technique

Sonia G. P. CecattiClaudia C. Gronchi

Teresa C. N. O. PintoLinda V. E. Caldas

15th International Conference on Solid State Dosimetry

(SSD-15 / 2007)

Application of the OSL technique for beta dosimetry

Teresa C. N. O. PintoSonia G. P. CecattiClaudia C. GronchiLinda V. E. Caldas

Light induced fading of the OSL response of Al2O3: C detectors

Claudia C. GronchiSonia G. P. Cecatti

Teresa C. N. O. PintoLinda V. E. Caldas

International Nuclear Atlantic Conference (INAC-2007)

Characterization of an optically stimulated luminescence reader for occupational monitoring

Teresa C N. O. PintoSonia G. P. CecattiClaudia C. GronchiLinda V. E. Caldas

Quadro 2 Relação dos artigos publicados em proceedings de eventos, no período de 2005 a 2008

264

Conclusões

Os materiais dosimétricos em estado sólido estudados até o presente momento apresentaram características adequadas para utilização em dosimetria das radiações ionizantes e ultravioleta.

Mesmo não sendo objetivo deste projeto, dois doutorados e um pós-doutorado estão em andamento com base nas pesquisas realizadas.

Este projeto tem como característica a realização de pesquisas técnica-científi ca e os seus resultados são predominantemente acadêmicos atendendo à solicitação da Diretoria Técnica, quando nos convidou a criar o Grupo de Pesquisa RADION – Radiações Ionizantes, da Funda-centro junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científi co e Tecnológico (CNPq).

Agradecimentos

As autoras agradecem à Dra. Linda V. E. Caldas, pela utilização dos equipamentos e fontes de radiação do Laboratório de Calibração de Instrumentos, da Coordenação de Metrologia das Radiações, IPEN/CNEN; e a Thermo Electron Corporation e REM Indústria e Comércio Ltda.pela doação dos materiais termoluminescentes.

Referências

1 MENDES, L. C. G.; FONSECA, L. M. B.; CARVALHO, A. C. P. Proposta de um método de inspeção de radioproteção aplicada em instalações de medicina nuclear. Radiol. Bras., v. 37, n. 2, p. 115-123, 2004.

Quadro 2 Relação dos artigos publicados em proceedings de eventos, no período de 2005 a 2008

Optical decay of OSL signal of Al2O3:C detectors exposed to different light sources

Claudia C. GronchiSonia G. P. Cecatti

Teresa C. N. O. PintoLinda V. E. Caldas

14th International Conference on Radiation Effects in Insulators

(REI-2007)

Uso da luminescência opticamente estimulada em proteção radiológica: desempenho dos detectores de Al2O3:C em feixes de raios X

Sonia G. P. CecattiTeresa C. N. O. PintoClaudia C. GronchiLinda V. E. Caldas

37ª Jornada Paulista de Radiologia(JPR-2007)

The OSL response of commercial dosimeters of Al2O3:C for ultraviolet radiation detection

Claudia C. GronchiSonia G. P. CecattiLinda V. E. Caldas

7th International Topical Meeting on Industrial Radiation and Radioisotope Measurement Application (IRRMA-2008)

265

2 ICRP 60 – INTERNATIONAL COMMISSION ON RADIOLOGICAL PROTECTION. 1990 Recommendations of the International Commission on Radiological Protection. Oxford Pergamon Press, England, 1991 (ICRP Publication 60).

3 COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR. Diretrizes básicas de proteção radiológica. CNEN-NN-3.01, 2005.

15

Developing strategies in Brazil to manage the emerging nanotechnology and its associated risks

Arline Sydneia Abel Arcuri, Fundacentro/CTN/MTEMaria Gricia Lourdes Grossi, Fundacentro/CTN/MTEValéria Ramos Soares Pinto, Fundacentro/CTN/MTE

Paulo Alves Maia, Fundacentro/CTN/MTEAlexandra Rinaldi, Fundacentro/CTN/MTE

Alexandre Custódio Pinto, Intercâmbio, Informações, Estudos e PesquisasPaulo Roberto Martins, Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo

Keywords: nanotechnology; risk analysis; management; impacts on worker’s health.

269

Justifi cation

M ost of Fundacentro´s activities were developed right after the risks identifi cation, accidents and occupational illnesses. From that point on, researches have been de-

veloped and disseminated in order to avoid these accidents.

Nanotechnologies still can be considered emerging technologies. Although the existent available products in the market, there are a lot to be introduced, produced and distributed to the fi nal consumption.

The production of these materials can represent risks, even unknown ones, to society and mainly to workers. They can be over a product’s full life cycle from product development, pro-duction, or use through to eventual disposal or destruction.

Due to these particular circumstances, Fundacentro has the possibility, not only to intervene in places where there are workers potentially exposed nanomanufactured products already exist, but also, to implement an effective prevention action.

It has already started a research that focuses on risks identifi cation from new ways of pro-duction and new products recently launched, that could cause damage to workers.

From these preliminary knowledge Fundacentro already develop risk communication and information dissemination, that are typical actions of risk management.

Fundacentro´s researchers understand that, despite few knowledge on nanotechnology, pre-caution actions must be taken in order to help society and workers for better understanding.

Objective

This text intends to show some of the actions developing in Brazil, by Fundacentro and its stakeholders, to try to manage the possible associated risks from these technologies.

Methodology

A classic methodology model for risk management begins from hazard identifi cation. NIOSH (2006) presents a fi gure with steps to protect workers involved with nanotechnology. This fi gure shows hazard identifi cation as a fi rst step; hazard characterization as the second; exposure assessment as the third; risk characterization as the fourth up to risk management.

When the topic is nanotechnology it is diffi cult to follow these steps. There are many unknown with regards to fi rst step that is to the hazard identifi cation of nanoestructured materials.

Many references show this misunderstanding. It represents one of the diffi culties in the risk management (NIOSH,2006a; ASCC, 2006; Maynard, 2006; USEPA, 2007; Schulte et al., 2007; ACC, 2006; Conti et al., 2008; Helland et al., 2008; ICON, 2006a; ICON, 2006b; Lindberg and Quinn, 2007; ORC-Worldwide; Schmid and Riediker, 2008).

270

There are a lot of others references about potential health concerns relative to nanoparticles, specially (Borm et al., 2004; NEL et al., 2006; Drobne, 2007; BAFU/BAG, 2007; Donaldson et al., 2006; Lam, 2007; Oberdörster G, et al., 2005; Oberdörster G, et al., 2007).

Recent information of nanoparticles and their potential effects was stated by NIOSH in 2006b.

As we can see, engineered nanomaterials pose many new questions on risk assessment that are not yet completely answered.

The methodology of this study was tried to show what is doing in Brazil on nanotechnology risk management, through the signifi cant events, especially those with the objective of public engagement on this issue.

Results: Risk management in Brazil

New technologies, especially in nano fi eld, are becoming instruments of life style change in society. Therefore, before and after its acceptance, nanomaterials have been released through the media, in Brazil in addition to many other countries. The media is describing nanotechnology as a science that will to improve human life and society at large, in the event of amplifi cation of its

Figure Steps to protect workers involved with nanotechnology - Adapted from NIOSH (2006)

Steps to protect workers involved with nanotechnology

Hazard identifi cation - “Is there reason to believe this could be harmful?”

Hazard characterization - “How and under what”

Exposure assessment - “Will there be exposoure in”

Risk characterization - “Is substance hazardous”

Risk management - “Develop precedures to minimize exposures?”

271

utilities or by the improvement of existent products and materials qualities. Media would be an important role while disseminating the impacts of nanotechnology. Wealth creation possibility is other resounding defence of these news technologies.

On the other side, many research centres and universities do researches based on new tech-nologies, only based on positives potentials of products leaving the researches about risks for a second time. Some times after the products are on markets.

That is the case of many nano sensors researches for industrial aims and medical ones deve-loped in Brazil and founded by CNPq (Brazilian National Council for the Scientifi c and Techno-logical Development), that will be develop by Microelectronic Laboratory of Polytechnic School of USP (University of San Paolo).

The Laboratory of nanotechnology integrated to Synchrotron Light, located in Campinas (South Brazil) is developing research about nanomaterials properties and characterization. This purpose distinguish its from the others labs that are dedicate to produce nanomaterials.

If these actions have the merit to promote the technological development of the country, by the other side they excluding society in the debates about economic and social implications and potential risks and to particular demands for social development.

Therefore, the Multidisciplinar Centre for the Ceramic Material, which gathers researchers from Federal University of San Carlos (UFSCar) and from Paulista State University (Unesp), developed a game which allows players to get to know the nanoscopic world by joining pieces at a minimum possible time forming scientifi c images.

The national program “Nanotechnology and Nanoscience Development” by the Ministry of Science and Technology, among its priority actions, has politics on ethical and social impact subjects. Nevertheless, little resource has been addressed in behalf of such objective. Budget released by Institutions that support research sponsor nearly 100% for industrial growth.

Despite the diffi culties, researchers and NGO’s and social representatives decided to dis-cuss the problems with the society and especially with workers. This initiative is considered as a beginning of a risk management process in Brazil, due to diffi culties to follow classics steps for this kind of action.

One of the fi rst Brazilian activities to do so happened during the workshop: “Nanotechnology, Environment and Society for a Possible New World”, which took place at the 5th World Social Forum, in Porto Alegre, 25th, January, 2004. Still in the same year, there was the creation of Rena-nosoma (a research Brazilian network in nanotechnology, society and environment), aimed to study and rise up the social, economical, environmental and ethical impacts of nanotechnology.

This network was also responsible for four international seminars related to the theme and coordinates a project about “Public Engagement in nanotechnology”, founded by the federal system. Through this project, 3 chats (http://www.meebo.com/room/nanotecnologia/) have been weekly scheduled via Internet. In there, debates involving a main speaker (a previous in-vited researcher), researchers from all over the country, a social scientist and interested public, work on different views and aspects of nanotechnology´s implementation and impacts.

272

But it was since 2006 that many others organizations joined the network to deepen the issue, such as IIEP (Information Exchange, Studies and Research), focused on studies and reality analysis experienced by most of the Brazilian workers. There are also Diesat (Inter Union De-partment of Studies and Research on Health and Workplace), Dieese (Inter Union Department of Statistics and Socio-Economical Studies) and Fundacentro (Foundation on Occupational Safety and Health Researches and Studies).

From 2006 on, Fundacentro has studied the impacts of nanotechnology over workers and the environment as well as informing them and other institutions linked to unions. Though signifi cative, such efforts are too little to make the Brazilian population more aware of the problems and possible risks from nanotechnology. The lack of the knowledge may drive on, if persistent, to a scenario of unrepairable damages and losses to the environment and human health and especially to workers´ one.

A survey about the means areas where nanoparticles are being used was took place. It made a fi rst estimate of the industries that already use nanomanufacture or which are still to be implan-tation. The laboratories and research network in this thematic was also estimated.

As part of this project, nanotechnologies divulgation activities were developed. The seminar “Nanotechnology, workers health, foods and social and environmental impacts” besides a lot of lectures, distribution of pressed material and release these materials in the site: http://blog.iiep.org.br/nanotecnologia/ were also accomplished.

We intend to prepare fi eld research in new products development laboratories and enterpri-ses. The target is assessment of workplace conditions. We are continuing the knowledge disse-mination activities about this theme.

Others activities include to prepare some events, to produce educational material es-pecially to workers, videos and a website about nanotechnology. This will be hosted in the Fundacentro website.

Conclusion

There are many problems in following all steps on risk management in the developed coun-tries because they don’t know all the information about hazards of nanomaterials. It is even more diffi cult in developing countries.

We can conclude that there are not enough agents in Brazil to provide the society knowledge on possible impacts from these new technologies. Renanosoma projects, alongside with “Public Engagement on Nanotechnology” and “Fundacentro” have been exceptions.

References

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273

ASCC – Australian safety and Compensation Council, 2006, “A review of the Potential Occu-pational Health and safety Implications of Nanotechnology for the Department of Employ-ment and Workplace Relations” Final Report, July, 2006 (April, 9, 2008); http://www.ascc.gov.au/ascc/AboutUs/Publications/ResearchReports/AReviewofthePotentialOccupationalHeal-thandSafetyImplicationsofNanotechnology.htm

BAFU/BAG – Bundes für Umwelt/Bundesamt für Gesundheit, 2007, “Synthetische Nano-materialien. Risikobeurteilung und Risikomanagement. Grundlagenbericht zum Aktionsplan”, available at http://www.bafu.admin.ch/publikationen/index.html?lang=en&action=show_publ&id_thema=30&series=UW&nr_publ=0721

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Oberdörster G, Oberdorster, E. and Oberdorster, J., 2005, “Nanotoxicology: an emerging discipli-ne evolving from studies of ultrafi ne particles”, Environ Health Perspect 2005; 113(7): 823–837

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ORC - Worldwide. “Nanotechnology Consensus Workplace Safety Guidelines”, available at http://www.orc-dc.com/Nano.Guidelines.Matrix.htm

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16

Identifi cação de substâncias químicas

José Possebon, Fundacentro/CTN/MTE

Palavras-chave: identifi cação; risco; classifi cação; substâncias.

277

Resumo

E ste artigo mostra de forma simples e objetiva alguns dos parâmetros utilizados na identifi cação de produtos químicos, com o objetivo de auxiliar os técnicos envol-

vidos em Segurança e Saúde no Trabalho nas tarefas de classifi cação, rotulagem, transporte e armazenamento de produtos químicos.

Introdução

O reconhecimento dos produtos químicos tem sido difi cultado devido à falta de informa-ções e pelo fato de grande parte deles serem lançados no mercado com nome fantasia. O nú-mero de sinônimos é grande o que difi culta sobremaneira essa tarefa. No caso de composição a título de segredo industrial o fabricante não revela a composição aproximada do produto. A norma NBR 14725 FISPQ veio para melhorar um pouco esta tarefa através de algumas exigências como composição, propriedades químicas, físicas e toxicológicas bem como infor-mações para situações de emergência.

Metodologia

A tarefa de reconhecimento, classifi cação e manipulação dos produtos químicos com segu-rança exige o conhecimento de alguns parâmetros que foram pesquisados através da bibliografi a nacional e internacional, normas e regulamentos. Este artigo traz algumas recomendações, bi-bliografi a e endereços de sites com informações sobre a toxicologia dos produtos químicos, bem como informações relativas à segurança e ao meio ambiente.

Resultados

Dentre os parâmetros pesquisados tem-se:

1) CAS

O número CAS é um registro formulado pela American Chemical Society(ACS)para caracterizar um determinado produto químico (O CAS-Chemical Abstracts Service) é um departamento da ACS, que se encarrega de registrar as substâncias químicas).

É composto por nove dígitos, dividido em três partes: NNNNNN – NN - N

A primeira composta por até 6 números, a segunda por dois número e a terceira por um número que é o dígito de controle.

Cada registro defi ne uma única substância e não tem correlação com as características químicas.

Temos CAS para substâncias simples como para misturas como as de hidrocarbonetos.

278

1.a) Substâncias simples

Acetato de Etila 141-78-6

Benzeno 71-43-2

Tolueno 108-88-3

Tetrahidrofurano 109-99-9

Água 7732-18-5

1.b) Misturas

Gasolina 86290-81-5

Querosene 8008-20-6

Querosene de aviação 64742-47-8

A sílica tem várias formas tanto amorfa como cristalina e cada uma delas tem o seu CAS

Sílica Amorfa

Terra Diatomácea (não calcinada) 61790-53-2

Sílica precipitada e Sílica Gel 112926-00-8

Sílica Fumos 69012-64-2

Sílica Fundida 60676-86-0

Sílica Cristalina

Cristobalita 14464-46-1

Quartzo 14808-60-7

Trípoli 1317-95-9

1.c) Verifi cação do dígito de controle

Existe uma regra especial para verifi car a validade do dígito de controle, isto é se o CAS foi corretamente digitado.:

1 - Deixando o dígito de controle de fora, numere em ordem crescente da direita para a esquerda todos os dígitos.

2 - Multiplique esse número pelo valor do dígito e faça a somatória, dividindo-a por 10.

3 - O resultado será uma fração, que deve ser transformada em número misto, despre-zando-se a parte inteira.

4 - O numerador dessa fração deverá ser igual ao dígito de controle.

279

Exemplo 1) Tricloroetileno ( 7 9 – 0 1 – 6) 4 3 2 1

4x7 + 3x9 + 2x0 + 1x1 = 56 = 5 e 6/1010 10

Desprezamos a parte inteira (5), portanto o dígito de controle é 6

Exemplo 2) Ácido Fosfórico (7664-38-2)

6543-21====

==== 42 + 30 + 24 + 12 + 6 + 8 = 122/10 = 12 2/10, logo o dígito de controle é 2

2) IUPAC (International Union for Pure Applied Chemistry) é uma organização mundial composta por sociedades químicas de 44 países. A IUPAC é reconhecida como autoridade mundial em nomenclatura química, terminologia, métodos padrões para medições, pesos atômicos e outros dados. O site da IUPAC é: http://www.chem.qmul.ac.uk/iupac/

3) O Diagrama de Hommel é uma forma de simbologia da NFPA (National Fire Protection Association), dos Estados Unidos da América (NFPA 704M). Nesta simbologia, cada losango expressa um tipo de risco em um grau que varia de 0 a 4, em função de 4 cores. Quando utili-zada em produtos químicos, ela é considerada muito útil, pois permite de relance ter uma idéia sobre o risco da substância em situações de emergência As 4 cores utilizadas no diagrama são: vermelha, azul, amarela e branca, que respectivamente, signifi cam: infl amabilidade, riscos à saúde, riscos de reatividade, riscos específi cos e/ou informações especiais. Encontramos esses valores na norma NFPA 49.

280

Produtos:

Benzeno 1114

Tolueno 1294

Acetaldeído 1089

Misturas:

Gasolina 1203

Querosene 1223

GLP 1075

RISCO Saúde Infl amabilidade Reatividade Específi cos

4 Letal PF < 23°C Pode explodir OX – Oxidante

3 Muito perigoso PF < 38°C Pode explodir c/choque mecânico ou calor ACID – Ácido

2 Perigoso PF < 93°C Reação química violenta ALK – Alcalino1 Leve PF > 93°C Instável se aquecido COR – Corrosivo0 Normal Não queima estável W – não misture com água

4) O Número ONU é o número que identifi ca o produto ou misturas de produtos ou diferentes composições.

Como exemplo podemos citar o PercloroetilenoNúmero ONU 1897Número CAS – 127-18-4Número de Risco 6.1Classifi cação NFPA-49 (2 – 0 – 0)Formula molecular: C2Cl4Fórmula estrutural: Cl2 C = C Cl2 Peso molecular 165,8

Sinônimos: Percloroeteno, Tetracloroetileno, 1,1,2,2 Tetracloroetileno, Dicloreto de Carbono, Tetracloroeteno, PER, Percleno, Perk, Percosolve, Persec,Tetralex, Tetravec, Te-tropil, Tetraleno e outros.

No caso do Percloroetileno, o diagrama de Hommel é expresso por: (2 – 0 – 0) isto é risco 2 à saúde, não é infl amável e nem reativo. Apesar do percloroetileno não ser infl amável é extremamente perigoso em caso de incêndio devido à formação de gases tóxicos como as dioxinas e os furanos.

5) Número de identifi cação de riscoO transporte de produtos perigosos deve ser feito com a identifi cação dos produtos através

do Painel de Segurança, que deve ser visível de qualquer posição em que se olhe para o veículo de transporte. O Painel de Segurança deve conter em sua parte superior o número de identifi cação de risco e na parte inferior o número ONU.

281

O número de identifi cação de risco deve ser obtido mediante a NBR-7500 - Simbologia de Risco e Manuseio para o Transporte e Armazenamento de Materiais (NBR-7500-Jan.1994)

Número Signifi cado

2345678

GásLíquido Infl amávelSólido infl amávelSubstância Oxidante ou Peróxido OrgânicoSubstância TóxicaSubstância RadioativaSubstância Corrosiva

Tabela 1 Signifi cado do 1° algarismo

Tabela 2 Signifi cado do 2° e/ou 3° algarismos

Número Signifi cado

0123456789

Ausência de RiscoExplosivoEmana gásInfl amávelFundido OxidanteTóxicoRadioativoCorrosivoPerigo de Reação Violenta,(resultante de decomposição espontânea ou de polimerização)

Nota - Para os produtos não classifi cados pela ONU, deve-se colocar o painel de segurança sem a sua numer-ação e deve-se também colocar o rotulo de risco compatível com o produto.

Exemplos de número ONU e número de identifi cação de risco para alguns produtos químicos

Produto N° da ONU N° de risco

Gasolina 1203 33Cloro 1017 266GLP 1075 23Acido Sulfúrico 1830 88Benzeno 1114 33Xileno 1307 30Etileno 1962 23Butadieno 1010 239Carbeto de Calcio 1402 43

282

6) O GHS(Purple Book) é um sistema globalmente harmonizado de classifi cação e rotu-lação de produtos químicos e consiste em uma abordagem lógica e abrangente para a defi ni-ção dos perigos, criação de processos de classifi cação e comunicação de perigos em rótulos e fi chas de informação de segurança para os produtos químicos ou misturas, criado pela OIT, OECD(Organisation for Economic Co-operation and Development) e UNCETDG (United Nations Com-mittee of Experts on the Transport of Dangerous Goods).

7) Endereços de sites com FISPQ, MSDS e Fichas de Emergência

Dentre os sites pesquisados e que se mostraram adequados às tarefas de identifi car, classifi car e rotular os produtos químicos tem-se:

1) http://www.cetesb.sp.gov.br/Emergencia/produtos/produto_consulta.asp (com 879 FISPQ)

2) http://www.qca.ibilce.unesp.br/prevencao/produtos/msds.html (com 127 Fichas de Emergência)

3) http://hazmap.nlm.nih.gov/cgi-bin/hazmap_list?tbl=TblAgents&alpha=A (UnitedStates Library of Medicine).

4) http://msds.chem.ox.ac.uk/#MSDS

5) http://www.cdc.gov/niosh/npg/search.html (MSDS)

Conclusões

A metodologia e as ferramentas apresentadas neste estudo se utilizadas de forma adequada, facilitará a tarefa de gerenciamento saudável dos produtos químicos, reduzindo a exposição ocu-pacional e a ocorrência de acidentes químicos.

Bibliografi a recomendada para o reconhecimento de riscos químicos

1) JEANNE MAGER STELLMAN Encyclopaedia of occupational health and safety -fourth edition - International Labor Offi ce- Geneva – 1998

2) SAX, N.IRVING Dangerous properties of industrial materials –– Richard J. Lewis – Seventh edition – 1993 - Van Nostrand Reinhold Company.

3) LESTER V. CRALLEY, LESTER V. CRALLEY, LEWIS J. Industrial hygiene aspects of plant operations - - Macmillan Publishing company – 1985

4) Industrial Hazards of Plastics and Syntetic Elastomers. Symposium on Occupational Hazards related to Plastics and Syntetic Elastomers. ESPOO - FINLAND -22 a 27 de novembro de 1982.

5) BURGESS ,WILLIAM A – Identifi cação de possíveis riscos à saúde do trabalhador nos diversos processos industriais. Editora Ergo-1997- BH. 540 pg

283

6) NEIL C. HAWKINS, NEIL C. - SAMUEL K. NORWOOD,SAMUEL K., ROCK C. JAMES - A Strategy for Occupational Exposure Assessment. AIHA –American Industrial Hygienists As-sociation ––AKRON – 1991 –179pg.

7) SHREVE, R. NORRIS; BRINK JR., JOSEPH A – Indústrias de Processos Químicos Edi-tora Guanabara Dois – 1980 – 717 pg

8 )BLAND, WILLIAM F. E DAVIDSON, ROBERT L.- Petroleum Processing Handbook Mc Graw-Hill Book Co. 1967

9) FAZENDA, JORGE M.R. Tintas e vernizes – Ciência e Tecnologia – Editora da ABRAFATI – 2 vol, 1279pg

17

Barreiras às intervenções relacionadas à saúde do trabalhador do setor saúde na América Latina

Érica Lui Reinhardt, Fundacentro/CTN/MTE

Palavras-chave: intervenção; trabalhador do setor saúde; saúde do trabalhador.

287

Justifi cativa

O advento da epidemia de AIDS e as mudanças nas relações de trabalho no setor saúde intensifi caram o debate sobre a questão da saúde dos trabalhadores deste setor. Na

prática, contudo, intervenções abordando essa questão no ambiente de trabalho são impedidas ou prejudicadas por vários fatores.

Objetivo

Teve este estudo o objetivo de identifi car fatores que impedem ou prejudicam ações de pre-venção de acidentes e doenças ou de promoção da saúde de trabalhadores do setor saúde.

Metodologia

Foi realizada revisão da literatura utilizando a base Scielo, complementada por busca na base Pubmed.

Resultados

Alguns fatores identifi cados a partir desta busca são apontados a seguir: programas de inter-venção sem boa base teórica e não integrados à gestão do serviço como um todo; falhas em ava-liar a efi cácia das intervenções; vigilância da saúde desse trabalhador restrita a doenças e agravos específi cos; falta de compromisso da gestão com as intervenções; falhas na comunicação; falta de participação e controle dos trabalhadores sobre o ambiente de trabalho; e basear os programas e intervenções exclusivamente na mudança comportamental dos trabalhadores.

Conclusão

Todos esses fatores são barreiras para a melhoria tanto do estado de saúde desses trabalha-dores quanto de sua capacidade para o trabalho.

18

Adaptação de metodologia analítica para a determinação de HPA em amostras ocupacionais

Renata P. Silva, Instituto de Química da Universidade de São PauloJorge C. Masini, Instituto de Química da Universidade de São Paulo

Luíza Maria Nunes Cardoso, Fundacentro/CTN/MTEMarcela Gerardo Ribeiro, Fundacentro/CTN/MTE

Walter dos Reis Pedreira Filho, Fundacentro/CTN/MTE

Palavras-chave: exposição ocupacional; HPA; HPLC.

291

Introdução

O s Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA) são classifi cados como possí-veis agentes carcinogênicos e mutagênicos, segundo a IARC1. Como são gerados

em vários processos industriais, a exposição ocupacional a esses agentes vem recebendo gran-de atenção da comunidade científi ca. Os métodos de referência para determinação de HPA em ambientes de trabalho são estabelecidos pela NIOSH2 e OSHA, e adotados em diversos países, inclusive o Brasil. O presente trabalho visa adequar os parâmetros cromatográfi cos do método proposto pelo NIOSH para detecção e quantifi cação de HPA no ambiente ocupacio-nal de indústrias cimenteiras.

Metodologia

A técnica utilizada para a quantifi cação de HPA foi a Cromatografi a Líquida de Alta Efi ci-ência (HPLC) com detecção por UV-Vis/Fluorescência. Como fase estacionária utilizou-se uma coluna C18 fase reversa (5μm, 150x4,6mm), a 23°C. Como fase móvel, uma mistura CH3CN/H2O, com gradiente de concentração variando de 50% a 100% de CH3CN e fl uxo de 1mL.min-1. Como padrão, utilizou-se uma solução contendo uma mistura dos 17 HPA propostos pela NIO-SH, com concentrações variando entre 2,5μg.L-1 a 115μg.L-1 e volume de injeção de 25μL. Foram avaliados os melhores comprimentos de onda de excitação e emissão, estabelecendo a melhor relação sinal-ruído, para melhorar a detectabilidade do método.

A coleta de amostras foi realizada por um sistema composto por um fi ltro de tefl on (37mm, 2μm) e um tubo XAD-2 (100mg/50mg) em indústrias cimenteiras que co-processam resíduos no forno de clinquer.

Resultados e Discussão

A Figura 1 apresenta dois cromatogramas obtidos. Foram realizados estudos de linearidade em um intervalo compreendido entre 0,0512 e 64,0μg.L-1 (r2>0,999; 6 níveis de concentração); a faixa de trabalho variou de acordo com o HPA analisado. Os limites de detecção (LD) e de quan-tifi cação (LQ) foram obtidos para os 17 HPAs, baseando-se nos parâmetros da curva analítica.

Os valores de LD variaram de 0,0109μg.L-1 a 0,686μg.L-1 (para Benzo[K]fl uoranteno e Acenaftileno, respectivamente). Os valores de LQ variaram de 0,0331μg.L-1 a 2,08μg/L (para Benzo[K]fl uoranteno e Acenaftileno, respectivamente).

De acordo com os resultados obtidos, observou-se que os vapores dos HPA são adsorvidos no XAD e os HPA na forma de partículas são coletados no fi ltro de tefl on. As melhores taxas

1 IARC - International Agency for Research on Cancer – Disponível em: http://www.iarc.fr/index.html2 NIOSH - NATIONAL INSTITUTE FOR OCCUPATIONAL SAFETY AND HEALTH. Manual of analytical methods: Polynuclear aromatic hydrocarbons by HPLC, method 5506, 4 ed., 1994.

292

de recuperação foram obtidas utilizando a mistura CH2Cl2:MeOH (3:1) em banho de ultrassom por 30 minutos para o fi ltro de tefl on, e CH3CN em banho de ultrassom por 10 minutos para o tubo XAD. Foram obtidos valores de recuperação de 60 a 100% para três níveis de concentração com desvios menores de 20%.

Amostrando-se a área de manipulação de resíduos em dias diferentes e considerando-se o tempo de amostragem de 4h a vazão de 2 L.min-1, os HPA retidos no tefl on, com as respectivas faixas de concentração dadas em ng.m-3, foram: benzo[a]pireno (0,4 - 4,4), benzo[k]fl uoranteno (0,49 - 6,7), benzo[e]pireno (<LQ – 2,6) e benzo[e]acefenantrileno (<LQ – 1,9). Retidos no XAD foram encontrados os seguintes HPA: naftaleno (55-104); acenafteno (2,1-3,6); fl uoreno (6,3-6,8); fenantreno (10-11); antraceno (0,33 a 0,42) e pireno (<LQ –0,35).

Conclusões

Com a adequação proposta, os limites de quantifi cação expressos em ng.m-3, considerando 4h de amostragem a 2 L min-1, variaram de 0,14 para benzo[k]fl uoranteno a 8,7 para o acenaftile-no. Os resultados indicaram a presença de vários HPA no ambiente de trabalho estudado.

Agradecimentos

Fundacentro, IQ-USP e CNPq.

Figura 1 Cromatogramas obtidos com detecção por fl uorescência (verde) e UV/vis (vermelho)

0,175

0,150

0,125

0,100

0,075

0,050

0,025

0,000

7,5 10,0 12,5 15,0 17,5 20,0 22,5 25,0 27,5 30,0 32,5 35,0 37,5 40,0

0,175

0,150

0,125

0,100

0,075

0,050

0,025

0,000

Minutos

Volts

Volts

19

Determinação de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA) em ambiente de trabalho

de indústria de cimento que co-processa resíduos

Renata P. Silva, Instituto de Química da Universidade de São PauloJorge C. Masini, Instituto de Química da Universidade de São Paulo

Marcela Gerardo Ribeiro, Fundacentro, CTN/MTEWalter dos Reis Pedreira Filho, Fundacentro, CTN/MTELuiza Maria Nunes Cardoso, Fundacentro, CTN/MTE

Palavras-chave: co-processamento; HPA; ocupacional.

295

O co-processamento em fornos de cimenteiras é uma alternativa de destinação de resí-duos industriais. Consiste em substituir combustíveis e/ou matéria-prima usados em

fornos de clinquerização por diversos resíduos que apresentem poder calorífi co ou características similares à matéria-prima. Devido à grande variedade de resíduos co-processados, pode haver a formação e liberação de HPA para o meio ambiente, ou adsorção dos mesmos nas partículas de clínquer. Neste trabalho foi realizada uma avaliação preliminar dos níveis de concentração de HPA em uma indústria de cimento que co-processa resíduos.

Os pontos de amostragem foram estabelecidos considerando-se os locais onde havia pos-sibilidade de maior exposição ou contato do trabalhador com os resíduos. As amostras foram analisadas por HPLC com detecção por UV-Vis/Fluorescência, conforme método NIOSH, modifi cado e validado por R. P. da Silva et al. (30ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, 2007, QA-222, p139).

A análise preliminar realizada demonstrou a reprodução dos parâmetros de validação avalia-dos com os padrões analíticos, havendo assim, a constatação da efi cácia do método quando apli-cado a amostras reais. Na área de manipulação e armazenamento de resíduos, foram identifi cados os seguintes HPA (faixas de concentração em ηg.m-3): Naftaleno (54,9 a 563,1), Acenafteno (2,05 a 55,1), Fluoreno (6,34 a 146), Fenantreno (10,1 a 138), Pireno (0,424 a 5,15), Criseno (0,545 a 1,76), Benzo[e]pireno (1,20 a 2,59), Benzo[e]acefenantrileno (0,08 a 2,69), Benzo[k]fl uoranteno (0,081 a 6,7), Benzo[a]pireno (0,176 a 4,43). Os resultados obtidos apresentam uma grande va-riabilidade entre os dias amostrados, fato que evidencia a diversidade de resíduos co-processados e assim a complexidade desse ambiente ocupacional.

20

Avaliação preliminar da presença de HPA no clínquer produzido em cimenteira que co-processa

resíduos industriais

Graziella L. Dias, Fundacentro/CTN/MTEMarcela Gerardo Ribeiro, Fundacentro/CTN/MTE

Renata P. da Silva, Instituto de Química da Universidade de São PauloWalter dos Reis Pedreira Filho, Fundacentro/CTN/MTELuíza Maria Nunes Cardoso, Fundacentro/CTN/MTE

Palavras-chave: co-processamento; HPA; clínquer.

299

Introdução

O co-processamento em fornos de cimenteiras é uma alternativa de destinação de resí-duos industriais, que consiste em substituir combustíveis e/ou matéria-prima usados

em fornos de clinquerização, por diversos resíduos que apresentem poder calorífi co ou caracte-rísticas similares à matéria-prima. Devido à grande variedade de resíduos, durante o co-proces-samento pode haver a formação e liberação de Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA) para o meio ambiente, ou adsorção dos mesmos nas partículas de clínquer.

Os HPA são classifi cados como possíveis agentes carcinogênicos e mutagênicos, segundo a IARC (International Agency for Research on Cancer). Os métodos de referência para determinação de HPA em ambientes de trabalho são estabelecidos pela NIOSH (National Institute for Occupational Safety and Health) e adotados em diversos países, inclusive no Brasil.

Este trabalho consiste em realizar uma avaliação preliminar da presença de HPA em amos-tras de clínquer de uma indústria de cimento que co-processa resíduos, utilizando a meto-dologia adaptada por R.P. da Silva et al (30ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Quí-mica, Águas de Lindóia, 2007, QA-222, p139), para a identifi cação e quantifi cação de HPA em amostras ocupacionais, utilizando a técnica de Cromatografi a Líquida de Alta Efi ciência (HPLC) com detecção por UV-Vis/Fluorescência.

Metodologia

Para se determinar o melhor método para extração dos HPA adsorvidos no clínquer, alíquo-tas de 0,5 a 1g de amostras foram pesadas e submetidas à extração em banho de ultra-som com solventes de diferentes polaridades por aproximadamente 30 minutos. O extrato foi centrifuga-do por 5 minutos em rotação de 1500rpm e fi ltrado com fi ltros Acrodisc CR PTFE 0,45μm. O sobrenadante evaporado com N2 de alta pureza até secura, re-suspendido em 1,5mL de CH3CN e mantido em vial até a análise.

Os extratos foram analisados por Cromatografi a Líquida de Alta Efi ciência (CLAE) com de-tecção por UV-Vis/Fluorescência. Como fase estacionária utilizou-se uma coluna C18 fase rever-sa (5μm, 150x4,6mm), a 23°C. Como fase móvel, uma mistura CH3CN/H2O, com gradiente de concentração variando de 50% a 100% de CH3CN e fl uxo de 1mL.min-1. Como padrão, utilizou-se uma solução contendo uma mistura dos 17 HPA propostos pela NIOSH, com concentrações variando entre 2,5μg.L-1 a 115μg.L-1 e volume de injeção de 25μL. Para quantifi cação dos HPA nas amostras, utilizou-se o método da adição padrão.

Para os testes de recuperação 25μL de uma solução-estoque com os 17 HPA foram adicio-nados à massa de amostra utilizada no procedimento de extração. A mistura permaneceu em repouso por 12 horas para adsorção do material. Após este período procedeu-se com a extração como descrito anteriormente.

300

Resultados e Discussão

Dentre os vários solventes e misturas de solventes foram testados, as melhores taxas de recuperação foram obtidas utilizando 4mL da mistura CH2Cl2:MeOH (3:1), alíquotas de 1g de amostra, 30 minutos em banho de ultra-som, seguido por evaporação em fl uxo de nitrogênio e re-suspensão em CH3CN. Os valores de recuperação obtidos variaram entre 44,90% e 84,69%.

A faixa linear de trabalho fi cou compreendida entre 0,11 e 64,0μg.L-1 (r2>0,999; 5 níveis de concentração), variando de acordo com cada HPA analisado.

Os limites de detecção (LD) e de quantifi cação (LQ) foram obtidos para os 17 HPA, baseando-se nos parâmetros da curva analítica. Os valores de LD variaram de 0,0349μg.L-1 a 0,8739μg.L-1 (para Antraceno e Acenaftileno, respectivamente) e valores de LQ variaram de 0,1059μg.L-1 a 2,6481μg.L-1 (para Antraceno e Acenaftileno, respectivamente). A concentração dos HPA (em ng/g de amostra) é apresentada na tabela abaixo.

Conclusões

Com o procedimento proposto, desde a recuperação até a análise, foi possível detectar e quanti-fi car 9 entre os 17 HPA estudados, em concentrações que variaram de 0,02ng de HPA/g de amos-tra para o Acenafteno a 2,54ng de HPA / g de amostra para o Benzo[e]pireno. Constatou-se que, ao longo da série estudada, fi cam adsorvidos no clínquer os HPA de volatilidade intermediária.

Agradecimentos

Fundacentro.

HPA estudado LG (ng) Taxa de recuperação (%)

HPA (Lote 1)* (ng/g amostra)

HPA (Lote 2)* (ng/g amostra)

Naftaleno 0,060 – – –Acenaftileno 0,066 – – –Acenafteno 0,006 29,53 0,025 ± 0,007 0,020 ± *Fluoreno 0,013 47,40 – –Fenantreno 0,006 44,90 1,850 ± 0,042 1,095 ± 0,049Antraceno 0,003 48,85 0,095 ± 0,007 0,090 ± 0,028Fluoranteno 0,049 73,74 1,415 ± 0,064 1,280 ± 0,042Pireno 0,027 70,54 1,375 ± 0,035 1,220 ± 0,014Benzo[a]antraceno 0,030 46,69 – –Criseno 0,009 84,69 1,260 ± 0,071 0,955 ± 0,120Benzo[e]pireno 0,019 83,44 2,530 ± 0,014 1,875 ± 0,276Benzo[e]acefenantrileno 0,026 78,80 – –Benzo[k]fl uoranteno 0,012 78,92 0,130 ± 0,028 0,150 ± *Benzo[a]pireno 0,006 82,95 0,265 ± 0,049 0,690 ± *Dibenzo[a,h]antraceno 0,030 69,86 – –Benzo[g,h,i]perileno 0,009 74,87 – –Indeno [1,2,3-cd]pireno 0,038 72,85 – –

21

Resíduos sólidos nas indústrias moveleiras do agreste alagoano: impactos ocupacionais e ambientais

Gilson Lucio Rodrigues, Fundacentro/CRPE/MTEGabriel Campana, Sebrae/AL

Luiz Antônio Melo, Fundacentro/CRPE/MTERoberto Dantas, Fundacentro/CRPE/MTE

Palavras-chave: gestão de resíduos; moveleiras.

303

Justifi cativa

E sse trabalho faz parte do Projeto Segurança e Saúde em Indústria Moveleiras no Estado de Alagoas, desenvolvido em parceria com o Sebrae/AL, através do Ar-

ranjo Produtivo Local – APL de móveis/marcenaria da Região do Agreste Alagoano, sendo uma etapa desenvolvida no ano de 2008.

A indústria brasileira de móveis apresenta formalmente um número em torno de 13.500 micro, pequenas e médias empresas de capital nacional, sendo localizadas, em sua maioria, no centro-sul do Brasil. Devido a grande informalidade do setor estima-se em 50.000 indústrias operando no país, gerando 186 mil postos de trabalhos diretos e 500 mil indiretos. No âmbito do universo das micro e pequenas empresas, em especial no Nordeste, o setor de fabricação de móveis ocupa um relativo destaque na economia da região. No agreste alagoano, em especial no município de Arapiraca, temos em torno de 268 micro e pequenas empresas, cujas características são de economia familiar, com mão de obra aproximada de 2.100 trabalhadores.

Na indústria moveleira ocorre uma grande diversidade nos resíduos que podem ser gera-dos, os quais dependem do tipo de móveis fabricados. Tais resíduos são diferenciados pelas suas características, tanto física como química, além do seu nível de toxicidade. Todos os resí-duos sólidos gerados em indústrias de móveis podem estar puros, ou seja, não contaminados entre si, ou misturados: madeira, chapas e painéis, resinas, embalagens de tintas, vernizes e colas, plásticos, metal e óleos.

É comum nas indústrias moveleiras não existirem procedimentos de registro dos resíduos gerados por setor, critérios para movimentação e armazenamento, não sendo, também, reali-zada a segregação dos resíduos.

A ausência desses métodos faz com que os resíduos sólidos gerados nessa atividade acarre-tem impactos ocupacionais e ambientais.

Objetivos

Geral

Efetuar diagnóstico da geração de resíduos sólidos na fabricação de móveis, buscando a disponibilização de critérios quanto à gestão ambiental do problema.

Específi cos

- Analisar o sistema de produção;

- Identifi car os tipos de resíduos gerados;

- Verifi car a interferência desses para o ambiente e trabalho e meio ambiente;

- Propor medidas corretivas para minimizar os impactos detectados.

304

Metodologia

A abordagem colocada em prática foi o método de avaliação qualitativa, caracterizada como descritiva e de campo, partindo da observação direta da situação de estudo. Para tanto foram ana-lisadas as formas de tratamento dadas aos resíduos por parte dos trabalhadores e empresários, os produtos manipulados e as situações de risco. Verifi caram-se os postos de trabalho em cada setor das empresas, com recolhimento de informações sobre os resíduos gerados para cada um deles. Para a coleta de dados utilizou-se um formulário de pesquisa, aplicados nas visitas às empresas. Foram selecionadas 12 empresas que produzem móveis.

Resultados

Com base nas visitas técnicas realizadas, observou-se que não existe um controle quantitati-vo, pelas indústrias, com relação aos resíduos sólidos. Em algumas situações verifi cou-se apenas a separação de tais resíduos para descarte. Os principais resíduos sólidos encontrados foram: pedaços, recortes e aparas de madeira maciça; serragem, cepilho e pó de madeira; retalhos ou aparas de lâminas de madeiras decorativas ou não; materiais de outra natureza – metais (aço, alumínio e latão); plásticos; vidros; tecidos e couros, embalagens de produtos químicos (colas, tintas e vernizes); lixas utilizadas; pregos; parafusos; lâmpadas queimadas; etc.

Os resíduos são armazenados dentro das próprias indústrias, não sendo efetuado o ar-mazenamento de resíduos sólidos perigosos e não perigosos conforme recomendado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas-ABNT. Com isso temos a potencialização das fon-tes de poeiras e riscos de incêndio. É importante que os procedimentos de segregação, co-leta, acondicionamento, armazenamento, transporte e destinação fi nal sejam registrados por meio de documentação específi ca, atendendo todas as recomendações estabelecidas na NBR 10004:2004; NBR 12235; NBR 11174.

Também não há procedimentos para uma correta destinação fi nal. Em alguns casos os resí-duos são encaminhados para lixões. Em outros são vendidos para utilização de terceiros.

A ausência de critérios para o descarte desse material poderá provocar danos ao meio am-biente, através de contaminações do solo, das águas superfi ciais e subterrâneas, além da reutiliza-ção indevida de embalagens por parte da população.

Conclusões

Os resultados obtidos demonstram que não existe preocupação com os aspectos ambientais relativos ao interior das empresas, e nem quanto às questões relativas ao meio ambiente externo. É de fundamental importância o levantamento das quantidades para cada tipo de resíduo gerado pelas indústrias, como base para formulação de modelos de gestão que possibilitem melhores alternativas para aproveitamento dos resíduos gerados e/ou a possibilidade de sua minimização e, quando possível, a não geração de resíduos.

305

Sendo assim deve-se efetuar a implantação de um plano de gerenciamento de resíduos só-lidos, o qual garanta que todos os resíduos sejam gerenciados de forma apropriada e segura, desde a geração até a disposição fi nal, envolvendo as seguintes etapas: Geração; Segregação / Identifi cação; Caracterização / Classifi cação; Quantifi cação / Periodicidade; Manuseio; Acondicionamento; Transporte interno; Armazenamento; Coleta; Transporte externo; Reu-so/Reciclagem; Tratamento; Disposição fi nal. Com uma forma de gestão correta os resíduos passam a ser um subproduto.

Como medidas imediatas sugere-se que os resíduos gerados devam ser recolhidos diaria-mente ao fi nal do expediente de cada jornada de trabalho, e conduzidos para uma Central de Armazenamento de Resíduos Sólidos. Identifi car potenciais compradores dos resíduos sólidos e elaborar contrato defi nindo periodicidade no recolhimento e preço. Efetuar descarte para local adequado. Identifi car formas de reaproveitamento dos resíduos sólidos com forte potencial de retorno ao próprio processo produtivo ou para fabricação de outros produtos, por exemplo, pedaços de madeira para fabricação de artesanato, etc.

Referências

ABIMÓVEL. Manual Panorama do setor moveleiro no Brasil. São Paulo, 2004.

ABIMÒVEL e SEBRAE. Manual de orientação ISO 14000 & produção mais limpa. Setor moveleiro. Porto Alegre, 1998.

ABNT. NBR-12235: Armazenamento de resíduos sólidos perigosos. Rio de janeiro: ABNT,1988.

ABNT. NBR-11174: Armazenamento de resíduos classes II- não inertes e III– inertes.Rio de Janeiro:ABNT, 1990.

ABNT. NBR-10004: Classifi cação de resíduos. Rio de Janeiro: ABNT,2004.

DONAIRE, Dennis. Gestão Ambiental na Empresa. São Paulo, Atlas, 1999.

NITEC, PPGA, UFRGS. Relatório para o arranjo industrial moveleiro. 2000. 83p.

SIMA. Sindicato das indústrias de móveis de Arapongas - PR Disponível em: <http://www.sima.org.br> Acesso em: 30/09/2008.

1 Coordenador do projeto “Pesquisa sobre acidentes do trabalho em micro e pequenas empresas industriais nos ramos calçadista, moveleiro e de confecções” (SGPA 76.05.054), concluído em agosto de 2007.2 Contratado temporariamente pelo SESI-DN, atuou como assistente de pesquisa durante a execução do projeto. É bacharel em Administração pelo Unicentro Newton Paiva.

22

Tendências e variações dos acidentes do trabalho na indústria moveleira brasileira segundo o tamanho

das empresas

Celso Amorim Salim1, Fundacentro/CRMG/MTEElias de Cassio Matos2, SESI

Palavras-chave: micro e pequenas empresas; indústria moveleira; acidentes de trabalho.

309

Justifi cativa

A principal justifi cativa para este estudo prende-se ao fato de que as informações dos registros administrativos federais relativas aos acidentes do trabalho no País

ainda não são devidamente exploradas para fi ns de gerenciamento de ações em saúde e se-gurança no trabalho (SST), especialmente em se considerando o porte e a natureza das em-presas que compõem os diferentes setores de atividade econômica. Em particular, no caso do amplo universo composto pelas micro e pequenas empresas (MPE), este quadro ainda é problemático, sobretudo no que respeita à elaboração de indicadores que possam melhor qualifi car a sua realidade acidentária.

Objetivos

Analisar as tendências e variações dos acidentes de trabalho na indústria moveleira brasileira, considerando o tamanho das empresas e os principais pólos moveleiros no País, a partir dos re-sultados de pesquisa nacional inédita realizada pela Fundacentro e pelo SESI sobre os acidentes de trabalho nas indústrias dos ramos calçadista, moveleiro e de confecção.

Metodologia

A construção do banco de dados, com informações sobre os casos ocorridos no período 2002-2004, possibilitou identifi car, mensurar e caracterizar sociodemografi camente os trabalha-dores acidentados, bem como os principais fatores de riscos presentes. Neste estudo foram des-tacados cruzamentos envolvendo as seguintes variáveis: área geográfi ca, tamanho da empresa, sexo, faixa etária, ocupação, agente causador do acidente, parte do corpo afetada, diagnóstico médico e tempo de afastamento do trabalho. No Brasil, o Ministério do Trabalho e Emprego adota como critério o número de pessoas empregadas para classifi car as empresas por porte, a saber: até 19 empregados, “micro”; de 20 a 99 empregados, “pequena”; de 100 a 499 emprega-dos, “média”; mais de 500 empregados, “grande”.

Resultados

No geral, os acidentes concentram-se espacialmente. No entanto, as MPE responderam por 42,5% dos mesmos, enquanto as empresas de porte médio e grande responderam por 40,24% e 17,3%, respectivamente.

As principais características dos acidentados foram: a) a participação dos trabalhadores do sexo masculino foi majoritária; b) a faixa etária com maior índice de acidentes foi de 20 a 24 anos; c) os operadores de máquinas responderam pelo maior índice de acidentes com lesão dos dedos da mão; d) os traumatismos do punho e da mão tiveram como principal agente causador as máquinas; e) os afastamentos do trabalho por período inferior a 19,3 dias representaram a maioria dos casos.

310

Gráfi co 1: Distribuição dos acidentes do trabalho segundo o gênero e a faixa etária nas áreas selecionadas - 2002-2004

Fonte: FUNDACENTRO; SESI; INSS.

Gráfi co 2 Distribuição dos acidentes de trabalho segundo a ocupação e a parte do corpo afetada nas áreas selecionadas - 2002-2004

Fonte: FUNDACENTRO; SESI; INSS.

Fonte: FUNDACENTRO; SESI; INSS.

Tabela 1 Distribuição dos acidentes do trabalho segundo o tamanho da empresa nas áreas selecionadas - 2002-2004

Pólo IndustrialTamanho da empresa

TotalPME Média Grande

Ubá 247 17,3% 90 6,7% 29 5% 366 10,9%

Maringá 63 4,4% 0 0,0% 0 0% 63 1,9%

Arapongas 67 4,7% 114 8,4% 58 10% 239 7,1%

São Bento do Sul 884 62,0% 1.043 77,2% 493 85% 2.420 72,1

Bento Gonçalves 165 11,6% 104 7,7% 0 0% 269 8,0%

Total 1.426 100 1.351 100 580 100 3.357 100

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30%

16-19

20-24

25-29

30-34

35-39

mais de 40

16-19

20-24

25-29

30-34

35-39

mais de 40

Ma

scu

lin

oF

emin

ino

MPE Média Grande

0% 5% 10% 15% 20% 25%

Mão

Dedo da mão

Mão

Dedo da mão

Mão

Dedo da mão

Alim

en

tador

de

linha

de

pro

dução

Op

era

dor

de

máquin

ana

usin

agem

de

madeira

Marc

ineiro

MPE Média Grande

311

Gráfi co 3 Distribuição dos acidentes de trabalho segundo o diagnóstico médico e o agente causador nas

áreas selecionadas - 2002-2004 Fonte: FUNDACENTRO; SESI; INSS.

0% 20% 40% 60% 80%

abaixo da

média de 19,3

dias

acima da

média de 19,3

dias

MPE MEDIA GRANDE

Gráfi co 4 Distribuição dos acidentes de trabalho segundo o tempo de afastamento do trabalho nas áreas selecionadas - 2002-2004

Fonte: FUNDACENTRO; SESI; INSS.

Conclusões

Embora suportados em registros administrativos do INSS, estes resultados, inéditos no País, além de fornecerem importantes subsídios para a melhoria nos sistemas de gestão em SST, so-bretudo em relação ao amplo e desassistido segmento composto pelas MPE industriais do ramo moveleiro, podem ainda se constituir em importante ponto de partida para ulteriores estudos mais aprofundados sobre a questão, ao possibilitarem novos recortes e mesmo olhares sobre uma perspectiva interdisciplinar. Para isso, há que se considerar a riqueza do banco de dados gerado a partir dos resultados propiciados pela busca ativa dos acidentes de trabalho, no âmbito das agências das áreas selecionadas pela pesquisa.

23

Condições de trabalho e saúde dos auxiliares de administração escolar da rede privada de ensino do

estado de Minas Gerais: resultados de pesquisa

Celso Amorim Salim, Fundacentro/CRMG/MTE

Palavras-chave: trabalhadores do ensino; condições de trabalho; agravos à saúde do trabalhador.

315

Justifi cativa

T rata-se de estudo inédito que busca ampliar conhecimentos sobre as relações entre as condições de trabalho e o quadro de agravos à saúde do trabalhador da rede pri-

vada de ensino em um contexto particular – no caso, de Minas Gerais. Além disso, sua concep-ção e realização se atrelam ao atendimento preliminar de demanda sindical por contribuição focal da Fundacentro relacionada à sua missão institucional, sob a perspectiva de se utilizarem os seus resultados como novos elementos e subsídios às ações preventivas direcionadas a uma realidade ainda carente dessas ações.

Objetivos

Analisar os resultados fi nais do levantamento relativo à categoria profi ssional “auxiliares de administração escolar” em Minas Gerais. Levantamento que constitui parte do projeto “Pesquisa sobre as Condições de Trabalho e Saúde dos Docentes e Auxiliares de Administração Escolar da Rede Privada de Ensino do Estado de Minas Gerais” (SGPA 76.05.093). Objetivos específi cos: a) conhecer o perfi l socioeconômico e demográfi co, o ambiente de trabalho e os agravos à saú-de física e mental dos trabalhadores da rede privada de ensino no Estado; b) gerar subsídios às proposições para futuras campanhas participativas de prevenção.

Metodologia

Pesquisa de natureza descritiva com delineamento em levantamento sistemático de dados, através de amostragem estratifi cada proporcional, onde os estratos são as regiões de Minas Ge-rais. Universo: os 15.548 associados ao Sindicato dos Auxiliares de Administração Escolar do Estado e Minas Gerais (SAAE/MG); amostra: 10%, com erro de ±0,024. O questionário, com-posto por 86 questões abertas e fechadas, foi enviado pelo SAAE/MG às residências dos sindi-calizados e devolvidos pelo correio. Para os testes estatísticos, utilizou-se o SPPS, destacando-se as análises de correspondência e de correlação entre as variáveis relevantes.

Resultados

A partir das respostas contidas em 1582 questionários, construiu-se um banco de dados segmentado em quatro grandes blocos – sociodemográfi co, ambiente de trabalho, condições de trabalho e saúde físico-mental – e produziu-se um amplo conjunto de estatísticas e indicadores, abordando aspectos como: caracterização e distribuição espacial dos trabalhadores, relações de trabalho, funções desempenhadas, renda, escolaridade, grau de satisfação, principais agravos, freqüência dos sintomas, formas de desgaste, absenteísmo e principais agressões e ameaças so-fridas. Através do relatório técnico fi nal, planeja-se publicar um livro para divulgação mais ampla dos principais resultados da pesquisa sob a perspectiva de análises interdisciplinares.

316

Especifi camente, o relatório, além de uma análise mais global dos resultados para o conjunto do Estado de Minas Gerais, a qual inclui um conjunto de 22 tabelas e 9 fi guras sob a forma de diagramas e gráfi cos, apresenta ainda um conjunto de estatísticas desagregadas para cada uma das áreas regionais pesquisadas no Estado – i.e. Grande Belo Horizonte, Norte, Nordeste, Triângulo Mineiro, Sul e Sudeste. Conjunto este consolidado através de 114 tabelas e 48 gráfi cos analíticos.

Como ainda se requer uma análise mais qualitativa destes resultados, bem como um deba-te abrangente sobre os mesmos, através de fóruns especializados já programados, registram-se, por ora, mais destacando a difi culdade de sumarização no espaço disponível, os seguintes aspectos mais gerais:

a) 40,67% dos respondentes com ensino superior têm renda pessoal de até R$760,00;

b) 66,93% dos auxiliares são mulheres;

c) 15,35% dos respondentes são assistentes administrativos;

d) 51,03% daqueles que usam computador para trabalhar disseram não haver regulagem individual para monitor e teclado;

e) 51,18% disseram não haver cadeiras com apoio para os braços e regulagem da altura do encosto e/ou assento;

f) 25,01% das respostas relativas ao desgaste nas relações afi rmam que há desgaste entre os próprios funcionários, seguidas das relações entre funcionário e aluno (16,75%) e funcionário e pais ou responsáveis (6,83%);

g) a principal causa das horas extras são os eventos (datas comemorativas, formaturas, palestras etc.), com 16,19% das respostas;

h) a alta rotatividade no quadro funcional é o motivo que mais torna o ambiente amea-çador (7,36% de respostas “sempre”; 8,76% de respostas “freqüentemente”; 32,87% de respostas “às vezes”; contra 51,02% de respostas “nunca”);

i) em contrapartida, 89, 18% disseram que a “violência” nunca foi motivo para tor-nar o ambiente de trabalho ameaçador, assim como o “assédio moral/sexual”, com 86,47%;

j) orientador(a), monitor(a), tesoureiro(a), supervisor(a) e bibliotecário(a) são as funções em que os trabalhadores mais se sentem satisfeitos no ambiente de trabalho;

k) 48,78% dos trabalhadores do CPD e 42,35% dos auxiliares que trabalham em labora-tórios “freqüentemente” ou “sempre” sentem cansaço físico/mental;

l) 83,47% dos trabalhadores cujo local de trabalho possui ventilação natural nunca ou às vezes têm o nariz entupido;

317

m) os alunos são freqüentemente apontados como os principais agentes de ameaça ou agressão, representando 30,22% das respostas;

n) dor nas pernas, dor de cabeça, cansaço físico/mental e dor nas costas são os sintomas mais freqüentes entre os auxiliares mineiros;

o) aproximadamente 90% dos respondentes que trabalham entre 1 e 2 horas por dia no computador “nunca” ou “às vezes” têm dor nos braços. Situação que se inverte com-pletamente, à medida que se aumenta o tempo de uso desse equipamento.

Na Tabela 1 observa-se que, dentre os problemas de saúde que levaram os trabalhadores a realizar tratamento médico, 53,55% das respostas estão relacionadas às doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (19,80%), doenças do aparelho respiratório (16,28%) e doenças do aparelho circulatório (15,47%).

Já na Tabela 2 foram destacadas as onze doenças com maior freqüência de respostas entre os trabalhadores. No entanto, os três maiores registros são, em ordem decrescente, relativos ao conjunto de doenças do aparelho circulatório, aparelho respiratório e sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo. Os casos de “Hipertensão essencial (primaria)” atingiram o percentual de 9,82% do total, enquanto os registros de “Rinite alérgica não especifi cada” responderam por 9,49% e “Lesão biomecânica não especifi cada”, por 8,84%.

Ao se analisar a freqüência daqueles que “sempre” fazem horas extras, observa-se que, en-quanto apenas 6,35% “nunca” tiveram nenhum problema de ordem nervosa, 30,16% “sempre” manifestaram sintomas nesta direção. Enfi m, uma associação fortemente positiva. Em relação a outros sintomas, observa-se que mais da metade dos respondentes que “sempre” fazem horas extras já tiveram dor ou inchaço nas articulações pelo menos uma vez.

Considerando-se a distribuição de freqüência dos afastamentos do trabalho segundo a função desempenhada, observa-se que foi de 22,73% a participação dos “auxiliares de serviços gerais” entre aqueles que se ausentaram do trabalho devido a doença ocupacional. Na seqüência, apare-cem “auxiliares de secretaria” (11,69%), “assistentes de administração” (11,04%), “secretário(a) escolar” (9,09%), “auxiliar de biblioteca” (5,84%) e “secretário(a) de administração” (5,19%). Apenas estas categorias funcionais responderam por praticamente 2/3 dos afastamentos, ou seja, 65,58%. Entre as categorias que tiveram participações menores – todas com índices inferiores a 1% - registram-se as seguintes: telefonista, orientador(a), motorista, monitor(a), digitador(a), cozinheiro(a)/copeiro(a), auxiliar de tesouraria e auxiliar de creche.

318

Capítulos da CID – 10 Resp. %

Algumas doenças infecciosas e parasitárias 2 0,16Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns transtornos imunitários 2 0,16Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas 10 0,82Transtornos mentais e comportamentais 94 7,69Doenças do sistema nervoso 79 6,46Doenças do olho e anexos 88 7,20Doenças do ouvido e da apófi se mastóide 28 2,29Doenças do aparelho circulatório 189 15,47Doenças do aparelho respiratório 199 16,28Doenças do aparelho digestivo 76 6,22Doenças da pele e do tecido subcutâneo 20 1,64Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo 242 19,80Doenças do aparelho geniturinário 12 0,98Malformações congênitas, deformidades e anomalias cromossômicas 1 0,08Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de laboratório, não classifi cados em outra parte 154 12,60

Lesões, envenenamento e algumas outras conseqüências de causas externas 26 2,13Total 1.222 100

Fonte: FUNDACENTRO; SAAE.

CID – 10 Resp. %

Hipertensão essencial (primária) 120 9,82Rinite alérgica não especifi cada 116 9,49Lesão biomecânica não especifi cada 108 8,84Transtornos do olho e anexos pós-procedimento não classifi cados em outra parte 80 6,55Varizes dos membros inferiores sem úlcera ou infl amação 58 4,75Cefaléia tensional 49 4,01Sinusite crônica não especifi cada 39 3,19Dorsalgia não especifi cada 39 3,19Mal-estar, fadiga 39 3,19Outras doenças especifi cadas do aparelho digestivo 35 2,86Dor de garganta 32 2,62Outros 507 41,49Total 1.222 100

Fonte: FUNDACENTRO; SAAE.

Tabela 1 Distribuição das respostas segundo os problemas de saúde que levaram a trata-mento médico de acordo com os capítulos da CID-10, Minas Gerais, 2007

Tabela 2 Distribuição das respostas segundo os problemas de saúde que levaram a trata-mento médico de acordo com os capítulos da CID-10, Minas Gerais, 2007

319

Conclusões

O quadro apresentado acima, apesar de não refl etir toda a riqueza dos cruzamentos das in-formações armazenadas no banco de dados, é, todavia, indicativo importante para se buscarem explicações para estes dados, preferencialmente sob vários olhares em uma perspectiva interdisci-plinar. Isto sem desconsiderar que os resultados já obtidos também se colocam como referência básica para a extensão desta pesquisa para outras realidades afi ns ou mesmo para outros estudos sobre as relações não lineares entre os diversos ambientes de trabalho, locus de processos e relações de trabalho singulares e diferenciados, e os agravos físicos e mentais à saúde dos trabalhadores e trabalhadoras do ensino – no caso, ocupados na rede privada do Estado de Minas Gerais.

Não menos importante é ponderar o seguinte: como já se tem um levantamento exaustivo, minucioso e sistemático sobre uma categoria profi ssional da rede privada de ensino no plano estadual, seria pertinente estender o presente estudo para a mesma categoria, que, embora não tenha sido objeto desta pesquisa, encontra-se alocada em diferentes ambientes laborais congêne-res da rede pública de ensino no Estado de Minas Gerais. Dessa forma, teria-se um levantamento completo no plano estadual.

24

Avaliação do impacto dos acidentes de trabalho nas micro e pequenas empresas da indústria brasileira de

calçados: gênero e parte do corpo atingida

Celso Amorim Salim1, Fundacentro/CRMG/MTE Luiz Eduardo Silva da Mota2, SESI

Palavras-chaves: micro e pequenas empresas; indústria de calçados; acidente do trabalho.

1 Coordenador do projeto “Pesquisa sobre acidentes do trabalho em micro e pequenas empresas industriais nos ramos calçadista, moveleiro e de confecções” (SGPA 76.05.054), concluído em agosto de 2007.2 Contratado temporariamente pelo SESI-DN, atuou como assistente de pesquisa durante a execução do projeto. É bacharel em Administração pelo Unicentro Newton Paiva.

323

Justifi cativa

E mbora as estatísticas ofi ciais sobre os acidentes do trabalho sejam parciais e não de todo representativas, os dados que as suportam ainda não são sufi cientemente

explorados para fi ns de melhor qualifi cação das ações em saúde e segurança no trabalho (SST), particularmente direcionadas ao amplo e complexo segmento composto pelas chamadas mi-cro e pequenas empresas (MPE). Segmento este que tem grande peso na caracterização do perfi l de grande parte dos ramos de atividade econômica da estrutura produtiva do País.

Exatamente por isso, faz-se necessária uma melhor qualifi cação destes dados, preferen-cialmente através da incorporação de novos recortes analíticos capazes, em particular, de contribuir para uma maior compreensão da natureza dos agravos à saúde do trabalhador no contexto dos ramos de atividade econômica, cujas particularidades dos processos e relações de trabalho não podem ser olvidados. Nesta direção, apresentam-se aqui alguns resultados relativos aos acidentes de trabalho nas MPE da indústria calçadista, cujo foco centra-se nas variáveis gênero e parte do corpo atingida.

Objetivos

Avaliar o impacto dos acidentes de trabalho na indústria brasileira de calçados sob a pers-pectiva de gênero e parte do corpo atingida, a partir dos resultados de pesquisa inédita rea-lizada pela Fundacentro e pelo SESI-DN sobre acidentes do trabalho nas MPE dos ramos calçadista, moveleiro e de confecções, entre os anos 2002 e 2004.

Metodologia

Através dos registros da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), os municípios foram previamente selecionados segundo o peso da participação das MPE calçadistas. Para a classifi cação das empresas segundo o tamanho ou porte, utilizou-se como critério o número de pessoas ocupadas, a saber: até 19, micro; de 20 a 99, pequena; de 100 a 499, média; acima de 500, grande. Os dados foram coletados nas agências locais do Instituto Nacional de Segurança Social (INSS), por meio das Comunicações de Acidente do Trabalho (CAT). Para classifi cação do tipo de acidente foram utilizadas as três categorias desenvolvidas pelo INSS: acidente do trabalho típico, acidente do trabalho de trajeto e doença relacionada ao trabalho. Finalmente, foram realizados cruzamentos entre as variáveis “gênero” e “partes do corpo atingidas” para um total de 598 acidentes de trabalho na indústria calçadista. Aqui foram considerados os registros de acidentes do trabalho que atingiram apenas uma parte do corpo atingida.

Resultados

A proporção de acidentes envolvendo mulheres foi de 36,8% e a de homens, 63,2%. Para ambos os gêneros, 46,0% de todos os acidentes envolveram os dedos da mão. Para os membros inferiores,

324

o montante foi de 13,5%. Dos 468 registros de acidentes envolvendo membro superior, a parte do corpo mais atingida foi o dedo da mão – 275 registros de acidentes, conforme mostram a Tabela 1 e o Gráfi co 1. Dentre estes, 181 envolveram homens e 94 envolveram mulheres, nas MPE.

Tabela 1 Distribuição dos acidentes por gênero e partes do corpo atingidas nas MPE, em áreas selecionadas - 2002-2004

Fonte: FUNDACENTRO; SESI; INSS.

MPEMicro Pequena

Gênero

Partes do corpo atingidas Masculino % Feminino % Masculino % Feminino % Total %

Cabeça sem especifi cação 1 1,06 1 2,94 8 2,82 5 2,69 15 2,51

Boca 0 0 0 0 0 0 1 0,54 1 0,17

Nariz 0 0 0 0 1 0,35 0 0 1 0,17

Olho 1 1,06 0 0 8 2,82 2 1,08 11 1,84

Ouvido 1 1,06 0 0 0 0 0 0 1 0,17

Cabeça 3 3,18 1 2,94 17 5,99 8 4,31 29 4,86

Membro superior sem especifi cação

3 3,19 4 11,76 6 2,11 8 4,3 21 3,51

Braço 6 6,38 5 14,71 29 10,21 28 15,05 68 11,37

Dedo 42 44,68 14 41,18 139 48,94 80 43,01 275 45,99

Mão 19 20,21 4 11,76 44 15,49 12 6,45 79 13,21

Punho 1 1,06 1 2,94 9 3,17 14 7,53 25 4,18

Membro superior 71 75,52 28 82,35 227 79,92 142 76,34 468 78,26

Pé 11 11,7 1 2,94 14 4,93 14 7,53 40 6,69

Pelve 1 1,06 0 0 0 0 2 1,08 3 0,5

Perna 4 4,26 4 11,76 17 5,99 13 6,99 38 6,35

Membro Inferior 16 17,02 5 14,71 31 10,92 29 15,59 81 13,55

Troco 4 4,26 0 0 9 3,17 7 3,76 20 3,34

Total 94 100 34 100 284 100 186 100 598 100

325

Dos 29 registros de acidentes que atingiram apenas a cabeça do trabalhador ou da trabalha-dora, 11 reportaram-se diretamente aos olhos (Gráfi co 2). Todavia, 15 não apresentaram nenhu-ma especifi cação em relação à parte da cabeça atingida. Ademais, este tipo de acidente, em sua maioria, ocorreu mais entre os homens, com 17 registros.

Vale destacar a equiparação dos registros envolvendo o pé, ou seja, 14 para cada gênero. Na categoria perna, a situação foi um pouco diferente, uma vez que 17 registros relacionaram-se a trabalhadores e 13 a trabalhadoras (Gráfi co 3).

Gráfi co 1 Distribuição dos acidentes que atingiram membro superior segundo gênero nas MPE, emáreas selecionadas – 2002-2004

Fonte: FUNDACENTRO; SESI; INSS.

Gráfi co 2 Distribuição dos acidentes que atingiram a cabeça segundo gênero nas MPE, em áreas selecionadas – 2002-2004

Fonte: FUNDACENTRO; SESI; INSS.

0

5

10

15

20

25

30

de

acid

ente

s

MasculinoMicro

FemininoMicro

MasculinoPequena

FemininoPequena

Total MPE

Cabeça sem especificação Boca Nariz Olho Ear

326

Conclusão

Embora enfocando particularidades dos acidentes de trabalho – i.é, parte do corpo atingida e gênero –, este estudo, ao demonstrar a riqueza dos resultados da pesquisa citada, indica ainda a possibilidade de novos recortes analíticos capazes de melhor qualifi car as informações sobre os agravos à saúde do trabalhador, contribuindo, por conseguinte, com subsídios para ações preventivas direcionadas à redução dos acidentes de trabalho.

Gráfi co 3 Distribuição dos acidentes que atingiram membro inferior segundo gênero nas MPE, em áreas selecionadas – 2002-2004

Fonte: FUNDACENTRO; SESI; INSS.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

MasculinoMicro

FemininoMicro

MasculinoPequena

FemininoPequena

Total MPE

de

acid

en

tes

Pé Pelve Perna

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Análise comparativa dos acidentes e doenças do trabalho na indústria têxtil e de confecções brasileira

Celso Amorim Salim1, Fundacentro/CRMG/MTE Danúbia Lacerda Gomes2, Fundacentro/CRMG/MTE

Palavras-chaves: indústria têxtil; indústria de confecções; acidente do trabalho; doença ocupacional.

1 Coordenador do projeto “Pesquisa sobre acidentes do trabalho em micro e pequenas empresas industriais nos ramos calçadista, moveleiro e de confecções” (SGPA 76.05.054).2 Atuou como estagiária durante a execução do projeto. Hoje, bacharel em Estatística pela UFMG.

329

Justifi cativa

E ste trabalho apresenta parte dos resultados de pesquisa inédita realizada pela Funda-ção Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro)

e pelo Serviço Social da Indústria (SESI) sobre acidentes do trabalho ocorridos no período 2002-2004, em micro e pequenas empresas industriais em três ramos de atividade: calçadista, moveleiro, têxtil e de confecções.

Pesquisa cuja principal justifi cativa se reporta à necessidade de se realizar uma maior exploração das informações que dão sustentação às estatísticas ofi ciais sobre os acidentes de trabalho no País, considerando-se, em particular, a ocorrência destes eventos segundo o porte ou tamanho dos estabelecimentos que conformam a heterogênea estrutura produtiva no país, de acordo com ramos específi cos da atividade econômica.

Inicialmente, previa-se realizar o levantamento apenas para as indústrias de confecções – Divisão 18 da CNAE 95. Todavia, face aos casos fronteiriços encontrados em relação às indústrias têxteis – Divisão 17 da CNAE 95 – considerou-se, durante a atividade de coleta, a pertinência de se agregarem informações sobre os acidentes de trabalho relativos às indús-trias têxteis. Fato particularmente importante para aqueles municípios onde se verifi caram imbricações destas duas atividades ou quando da participação signifi cativa dos registros de CAT referentes à indústria têxtil em relação à indústria de confecções, como Blumenau, Brusque, Maringá e Fortaleza.

Objetivo

O objetivo deste trabalho é analisar comparativamente os acidentes de trabalho nas indús-trias têxtil e de confecções no Brasil, aqui tomadas conjuntamente, de acordo com o porte dos estabelecimentos e o tipo de acidente.

Metodologia

Através dos registros da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego, foram selecionados os municípios que participaram do estudo. Os dados foram coletados nas agências do Instituto Nacional de Segurança Social (INSS) por meio das Comunicações de Acidente do Trabalho (CAT). Para a classifi cação do tipo de acidente foram utilizadas as três categorias desenvolvidas pelo INSS: acidente do trabalho típico, acidente do trabalho de trajeto e doença relacionada ao trabalho. As empresas foram classifi cadas pelo número de trabalhadores, sendo, deste modo, redistribuídas em quatro ca-tegorias – i.e., até 19 empregados, microempresa; de 20 a 99 empregados, pequena; de 100 a 499 empregados, média; acima de 500, grande.

330

Resultados

Neste setor, o número de acidentes por gênero variou de acordo com o tamanho da empresa, de forma que quanto maior era a empresa, maior foi o registro de trabalhadores acidentados em relação às trabalhadoras, conforme mostra o Gráfi co 1.

Consideradas em conjunto, embora guardando especifi cidades, as indústrias de confecções e têxteis, com ligeiro decréscimo nos números fi nais de seus acidentes de trabalho ao longo do triênio, apresentaram, no entanto, crescimento das doenças de trabalho e dos acidentes de trajeto. Em relação aos últimos, entre outras alternativas, poder-se-ia , inclusive, aventar a hipótese de que esta situação, ainda que carecendo de maior investigação, seria explicada em razão do fato de estes trabalhadores, por residirem em municípios menores, se deslocarem com mais freqüência para as suas respectivas residências no intervalo de trabalho reservado para o almoço. De qualquer forma, analisando os três anos cobertos pela pesquisa, através do Gráfi co 2, constatou-se um aumento do número de acidentes do trabalho no setor têxtil e de confecções. Os acidentes típicos, em especial, apresentam um aumento considerável entre 2002 e 2003 e uma leve queda entre 2003 e 2004.

0

250

500

750

1000

1250

Micro Pequena Média Grande

Masculino Feminino

Gráfi co 1 Distribuição dos acidentes de trabalho segundo tamanho do estabelecimento e gênero, nas áreas selecionadas, 2002 – 2004

Fonte: FUNDACENTRO; SESI; INSS.

0

200

400

600

800

2002 2003 2004

Típico Doença Trajeto

Gráfi co 2 Evolução dos acidentes do trabalho no setor têxtil por tipo de acidente nas áreas selecionadas, 2002-2004

Fonte: FUNDACENTRO; SESI; INSS.

331

Observou-se ainda que, dentre os 2.516 registros de acidentes levantados pela pesquisa, as grandes empresas são responsáveis por quase metade dos acidentes de trabalho, ao passo que as pequenas empresas representam menos de 10% (Gráfi co 3).

Quanto ao tipo de acidente, nota-se que 83,0% dos registros nas grandes empresas foram acidente típicos (Gráfi co 4). Destaca-se também o grande número de acidentes de trajeto nas micro empresas, com 30,6% das ocorrências.

010

20

30

40

50

%

Micro Pequena Média Grande

Gráfi co 3 Distribuição dos acidentes do trabalho no setor têxtil segundo tamanho do estabelecimento nas áreas selecionadas, 2002-2004

Fonte: FUNDACENTRO; SESI; INSS.

0102030405060708090

%

Micro Pequena Média GrandeTípico Doença Trajeto

Gráfi co 4 Distribuição dos acidentes do trabalho no setor têxtil por tamanho do estabelecimento e tipo de acidente nas áreas selecionadas, 2002-2004

Fonte: FUNDACENTRO; SESI; INSS.

Conclusão

O presente estudo, aportando uma análise mais descritiva, poderia se constituir em pon-to de partida para investigações mais avançadas, observando-se, para isso, pelo menos duas estratégias: uma priorizando o desenho de pesquisas explicativas, orientadas, por exemplo, à verifi cação de hipóteses causais e à identifi cação das determinações dos agravos à saúde do trabalhador, de forma a ampliar os horizontes do conhecimento científi co sobre a questão;

332

outra, em termos de estudo de campo, buscando a compreensão de aspectos mais específi cos, sob uma ótica mais qualitativa e, preferencialmente, voltada à intervenção direta nos ambien-tes de trabalho não apenas para as áreas aqui previamente selecionadas mas também para situações congêneres alhures. Neste sentido, buscar-se-ia uma maior efetividade das chamadas ações preventivas tópicas, onde, por exemplo, os registros ascendentes dos acidentes de trajeto nas micro e pequenas empresas, incluindo suas tendências e variações em distintos contextos espaciais, fossem devidamente considerados.

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O dialogismo presente em artigos científi cos de SST

Karina Penariol Sanches, Fundacentro/CTN/MTE

Palavras-chave: artigo científi co; gêneros do discurso; dialogismo; saúde e segurança do trabalho.

335

1 O termo “manuais” será adotado sempre que se fi zer menção aos manuais e à norma da ABNT.

Introdução

A publicação de artigos científi cos (ACs), conforme aponta Barros (2006), tem apre-sentado elevado crescimento no Brasil e no mundo desde a década de 1990, tanto

em âmbito geral, quanto no caso específi co da Saúde Coletiva em função principalmente da valoração que se passou a dar às produções indexadas em bases internacionais e aos seus ín-dices de impacto. Segundo Amorim (2007), em 2006, o Brasil ultrapassou países como Suécia e Suíça, publicando mais de 16 mil ACs, um aumento de 7% em relação à produção brasileira de 2005 e de 33% em relação a 2004. A autora aponta que, aliado ao crescimento quantitati-vo, está o qualitativo, tendo havido aumento no número de citações: de 14.625 entre 1981 e 1985 para 206.231 entre 2000 e 2005. Para Henz (2003) e Teixeira (2005), esse crescimento se deve à importância que o gênero assumiu dentro da sua esfera de circulação ao longo de sua existência, sendo considerado um dos principais meios para a disseminação da Ciência entre pesquisadores e para se alcançar prestígio entre os pares.

Diante da relevância do gênero, pondera-se fundamental sua compreensão a partir das diversas perspectivas possíveis. Muitos passos nessa direção já foram dados, havendo inúmeros estudos acerca do discurso científi co, todavia poucos abordam o discurso científi co, mais especifi camente o AC, da perspectiva dialógica. Portanto, propõe-se um estudo do AC pautado na teoria dialógica do discurso de Mikhail Bakhtin e seu Círculo, envolvendo os conceitos de gênero do discurso, ele-mentos constitutivos do gênero, forma arquitetônica, interação verbal, interdiscursividade.

O objetivo da pesquisa é verifi car as relações dialógicas que constituem o gênero AC, mais especifi camente as formas de diálogo estabelecidas com enunciados anteriores e com o leitor pre-sumido em função da forma composicional dos artigos. Parte-se da hipótese de que, nesse gênero, essas relações não se resumem apenas aos diálogos mais explícitos, que envolvem as citações sob a forma de discurso direto, indireto, indireto livre, entre outras, ponderando-se a ocorrência de diálogos sob formas mais profundas e complexas. Pondera-se, também, a possibilidade de fl utua-ção, nos ACs do corpus, quanto à forma composicional, uma vez que o periódico do qual foram extraídos é multidisciplinar em função da área do conhecimento a que se dedica (SST).

Percurso metodológico e seleção do material

Para se desenvolver um estudo da perspectiva dialógica, Bakhtin (2003) ressalta a importância de se compreender a natureza do enunciado e a discursividade “de formas de gênero dos enunciados nos diversos campos da atividade humana” (p. 264) a fi m de se evitar erros de classifi cação estilística e análises que caiam em formalismo e abstração exagerada. Desse modo, no que concerne ao AC, a compreensão do gênero passa pela normatização, verifi cada em função do que preconizam manuais de metodologia da pesquisa científi ca e norma da ABNT. Portanto, o corpus desta pesquisa é com-posto por dois grupos de materiais: artigos científi cos e manuais1.

336

Selecionaram-se quinze ACs publicados na Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (RBSO) no período compreendido entre 1973 e 2006, mediante os seguintes critérios: a) fazer parte de nú-mero localizado para consulta; b) pertencer à modalidade artigo, desconsiderando-se relatórios, notas, revisões, material noticioso, resenhas, cartas, opiniões, traduções; c) estar incluído em um dos temas mais abordados na revista a cada biênio.

A seleção dos manuais pauta-se, primeiramente, na relevância de sua contribuição para a normatização dos meios de transmissão do saber científi co na própria comunidade científi ca. Segundo, na existência ou não de discussões acerca de ACs, uma vez que há inúmeros manuais relevantes em metodologia da pesquisa científi ca, mas nem todos abordam o AC. Desse modo, o segundo de materiais é composto pela norma ABNT NBR 6022 (2003), que trata de artigos para publicação em periódico científi co, e por três manuais de metodologia da pesquisa científi ca: a) Planejar e redigir trabalhos científi cos (REY, 1993); b) Manual de normalização de trabalhos técnicos, científi cos e culturais (SÁ et al., 1994); e Como preparar trabalhos para cursos de pós-graduação (ANDRADE, 1995).

A análise do corpus divide-se em quatro etapas: i. identifi cação das prescrições dos manuais acerca dos ACs, sobretudo em relação à forma composicional; ii. verifi cação dos pontos de tensão entre as prescrições e o realizado nos ACs, atentando-se para características responsáveis por sua relativa estabilidade enquanto gênero discursivo; iii. análise das relações dialógicas estabelecidas com o leitor presumido em cada uma das articulações dos artigos do corpus; iv. verifi cação das re-lações dialógicas estabelecidas com outros enunciados em cada uma das articulações dos artigos.

Defi niram-se como categorias de análise a forma composicional, o dialogismo interacional e o dialogismo interdiscursivo.

Categorias de análise

Forma composicional

Nos ACs, a forma composicional é o primeiro dos três elementos constitutivos do gênero que saltam aos olhos antes mesmo de se ler o texto. Por conta desse impacto que causa no primeiro contato com o AC e pela importância que se lhe é dada nas prescrições dos manuais, a forma composicional é tomada nesta pesquisa como uma das categorias de análise. Essa categoria de análise possibilita verifi car as possíveis relações dialógicas entre os manuais e os ACs que estejam ou não associadas à relativa estabilidade do gênero. Embora tido como gênero estável, padroniza-do, há indicações, tanto nos manuais, quanto nos próprios artigos, de que o AC pode sofrer alte-rações em função de conteúdo temático, principalmente por conta das diferentes áreas do saber.

Dialogismo interacional

Esta categoria visa verifi car, nas diferentes articulações do AC, a relação dos enunciados com seus interlocutores presumidos.

O dialogismo interacional é constitutivo do enunciado, pois a interação é um dos pressupos-tos teóricos fundantes da teoria dialógica do círculo de Bakhtin. É em função da interação que os participantes de um discurso constroem o signifi cado, concretizando o processo de compre-ensão ativa e responsiva, considerado por Bakhtin tão importante. O ser humano é socialmente

337

construído e afi rma sua existência social em função de sua relação com o outro. Ninguém existe fora das relações sociais implícitas à interação.

Esse discurso direcionado a interlocutores presumidos sempre deixa marcas no enunciado, ainda que estas não sejam facilmente apreendidas. São essas marcas que se busca identifi car.

Dialogismo interdiscursivo

A terceira categoria de análise, o dialogismo interdiscursivo nas diferentes articulações com-posicionais do gênero, recai sobre a noção do interdiscurso (diálogo entre os diferentes discur-sos). Embora este termo não apareça claramente na obra do círculo, é uma noção delineada ao longo de seus escritos e aproxima-se dos conceitos de heterogeneidade de Authier-Revuz (1990) e de interdiscursividade de Maingueneau (1997).

Esta categoria possibilita verifi car a presença de dois ou mais discursos em um único, seja por meio de análises sintático-lexicais, pela presença de elementos retóricos utilizados pelos autores (conscientemente ou não), ou de polêmicas/anuências ideológicas, desde que possibilite a apre-ensão da constituição do discurso em função do outro.

Outra contribuição importante dessa categoria é a possibilidade de se verifi car que os enuncia-dos se relacionam com a memória discursiva de modo não só a re-signifi cá-la2, mas de proporcio-nar uma abertura para a produção de novos enunciados.

Resultados preliminares

A primeira das quatro etapas da análise está concluída, sendo possível ponderar algumas importantes observações acerca dos manuais no que concerne a sua organização geral e, princi-palmente, quanto às prescrições acerca de artigos científi cos.

Observações gerais quanto aos manuais

De modo geral, os manuais objetivam a normatização estrutural de discursos científi cos, dentre os quais o AC, a fi m de orientar estudantes na elaboração de seus textos. Rey (1993) direciona seu manual a estudantes de graduação e pós-graduação da área médica e biológica, apresentando prescrições um pouco mais específi cas, dentre as quais apenas um modelo de AC. Andrade (1995) também direciona seu manual a estudantes, mas de áreas em geral. Ressalta ter ciência das diferenças entre as áreas do saber e, por isso, optou por “oferecer noções genéricas, baseadas nas normas da ABNT, ISSO, ANSI, que poderão ser adaptadas a cada caso particular” (p. 7). Sá et al. (1994) têm objetivo um pouco mais amplo e ligeiramente diferenciado dos demais. Direcionado a alunos de graduação e pós-graduação, mas principalmente a instituições de ensino superior e especialistas da área de normatização, seu manual visa consolidar um padrão aceito por toda a comunidade envolvida e possibilitar “maior qualidade no registro das observações científi cas, técnicas e culturais” (p. 15). A ABNT (2003), por sua vez, defi ne como objetivo so-mente o estabelecimento de um “sistema para apresentação dos elementos que constituem o ar-tigo em publicação periódica científi ca impressa” (p. 1), sem defi nir o público a que se destina.

2 Termo emprestado de Maingueneau (1997).

338

Conforme verifi cado, Sá et al. (1994) e a ABNT (2003) indicam um modelo de AC, mas re-conhecem a existência de outros e ressaltam a necessidade de adequação da forma em função da área do saber. Andrade (1995) não só reconhece a existência de diferentes modelos de AC, como apresenta cinco deles em suas prescrições, “baseados em três autores de diferentes áreas” (p. 65). Rey (1993) diferencia-se dos demais nesse aspecto, pois seu manual é claramente direcionado a um público muito específi co, não havendo motivos para ressaltar outros modelos de AC.

Diante dessas observações, pondera-se que, em função dos seus objetivos, os manuais não pre-tendem compreender nem discutir questões relativas à formação/concepção do gênero AC, mas o tomam como uma ferramenta para transmissão do saber científi co que necessita uma “regulamenta-ção”, para que seja utilizada corretamente no alcance dos objetivos daqueles que se utilizam dela.

Forte incidência de normatização sobre a forma composicional

Os objetivos dos manuais não só regem sua concepção, como perpassam todas as prescri-ções, fazendo-se visíveis a todo momento. É conseqüência desses objetivos que as prescrições incidem fortemente sobre a forma composicional dos ACs, colocando em segundo plano os demais elementos que constituem o gênero, a saber, estilo e conteúdo temático. Levanta-se como hipótese para este distanciamento o fato desses dois elementos necessitarem de uma abordagem complexa e profunda, o que talvez pudesse distanciar os manuais de seus objetivos didáticos, que se relacionam principalmente à descrição das partes do AC.

Segundo Bakhtin (2003), as formas composicionais são modos específi cos de estruturar a obra externa, dando conta somente da realização do objeto material, parte integrante da obra es-tética na sua totalidade, e são determinadas pela forma arquitetônica. A relação entre as duas for-mas é muito complexa, todavia, podemos compreender a forma arquitetônica como o processo que envolve a concepção da obra como um todo, integrando tempo, espaço, material, conteúdo, forma e organização/articulação de valores éticos/morais atribuídos pelos sujeitos aos signos. É em função desses elementos que a forma arquitetônica “escolhe” a forma composicional. No caso dos ACs, sua forma concisa, enxuta e clara submete-se a um dos valores éticos científi cos, que é transparecer a objetividade que perpassa todo o processo científi co.

Forma composicional do AC prescrita nos manuais

Conforme ressaltado, a forma composicional é priorizada nos manuais, sendo que três deles apresentam basicamente um modelo de AC, embora reconheçam a existência de outros. Andra-de (1995) não só reconhece essa múltipla existência, como apresenta cinco modelos de AC: dois deles são similares entre si e em relação ao que os outros manuais apresentam; outros três são apresentados de forma muito abstrata e confusa, sendo desconsiderados nesta pesquisa.

A ABNT (2003) divide o AC em elementos pré-textuais (título, autoria, resumo, palavras-cha-ve), textuais (introdução, desenvolvimento e conclusão) e pós-textuais (título em língua estran-geira, palavras-chave em língua estrangeira, notas explicativas, referências, glossário, apêndice e anexos). Essa divisão é adotada por Sá et al. (1994) e Andrade (1995), que, embora não utilizem a nomenclatura “Desenvolvimento”, apresentam três articulações que lhe equivalem: “Material e

339

método”, “Resultados” e “Discussão”. Esse modelo é muito similar ao proposto por Rey (1993), que não inclui a articulação “Conclusões”, aproximando-se mais ao modelo IMRD (Introdução, Metodologia, Resultado, Discussão) proposto por Coracini (1991).

A despeito de tais similaridades entre os manuais, algumas diferenças podem ser notadas. Nos elementos pré-textuais, Andrade (1995) e Rey (1993) não mencionam a existência das pa-lavras-chave. No que tange ao resumo, cada manual sugere uma determinada quantidade de palavras considerada ideal para um bom resumo. Apenas a ABNT (2003) coloca o resumo em língua estrangeira como elemento pós-textual.

Nos elementos textuais, Andrade (1995) é a única é indicar a presença dos agradecimentos na Introdução. Para os demais, esta é uma articulação pós-textual. Em “Resultados”, Sá et al. (1994) ponderam fundamental a existência de tabelas, quadros e gráfi cos, ao passo que Rey (1993) suge-re sua utilização eventual nesta articulação, privilegiando sua utilização em “Discussão”. A maior diferença nos elementos textuais é o fato de Rey (1993) não considerar a articulação “Conclu-são”. Segundo o autor, a discussão está inter-relacionada às conclusões, sendo a existência desta última redundante e desnecessária.

Breves conclusões

A priori, o AC poderia ser considerado um gênero estável, sendo incluído dentre os diversos gêneros com grande estabilidade. Todavia, analisando a fundo as prescrições, verifi ca-se que esse gênero está sujeito a algumas quebras em sua forma composicional, revelando que as prescrições não devem ser vistas como uma “camisa de força”, mas como diretrizes básicas não rígidas para a construção de um AC. Os próprios manuais, ao reconhecerem a existência de outros modelos de AC, corroboram tal ponderação.

O AC é uma forma de organizar o saber científi co, desse modo, está sujeito a alterações em função de modifi cações que ocorram no processo científi co. Assim, embora os manuais pudessem constituir-se em grandes colaboradores na perpetuação do gênero AC, favorecendo a manutenção da estabilidade do gênero, reconhece-se a fl exibilidade do AC, deixando a pergunta sobre até que ponto eles infl uem nessa manutenção do gênero AC.

Referências

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Acidente fatal envolvendo explosão de tanques de álcool

Fernando V. Sobrinho, Fundacentro/CTN/MTEJosé Possebon, Fundacentro/CTN/MTE

Palavras-chave: setor alcooleiro; segurança química; acidente fatal.

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Justifi cativa

O uso do etanol como combustível automotivo teve início a partir da segunda me-tade dos anos 70 no Brasil.

Medidas preventivas como o banimento do benzeno e adoção de novas tecnologias têm sido adotadas pelas empresas em comum acordo com autoridades governamentais e entidades sindicais.

Nos últimos cinco anos a produção de álcool cresceu signifi cativamente no Estado de São Paulo, trazendo preocupações quanto aos riscos ocupacionais do setor.

Objetivos

Demonstrar as ações políticas e sociais visando a melhoria da segurança ocupacional no setor;Apresentar os resultados da investigação de um caso real de acidente fatal

Metodologia

Promoção de debate sobre os riscos existentes e projeção desses riscos;Coleta de informações “in loco” sobre acidente e análise dessas informações;Elaboração e encaminhamento de relatórios para os setores competentes com propostas

preventivas e corretivas.

Resultados

Reativação e incrementação de ações normativas como a revisão da Norma Regulamentado-ra n. 20 sobre Líquidos Infl amáveis e a regulamentação da Convenção OIT 174 sobre prevenção de grandes acidentes químicos;

Divulgação de informações sobre investigação de acidente fatal para órgãos de Governo e industrias do setor, incluindo publicação para consulta no site do CB 24 da ABNT.

Proposta de projeto amplifi cado sobre segurança química no setor sucroalcooleiro envolven-do a Fundacentro, indústrias, sindicatos e órgãos de Governo.

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O processo avaliativo no ciclo de palestras técnicas sobre segurança e saúde do trabalhador no estado do Pará

Doracy Moraes Souza, Fundacentro/CEPA/MTEAndreia S. Contente, Fundacentro/CEPA/MTE

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O Centro Estadual da Fundacentro no Pará desenvolve ações educativas em Segurança e Saúde do Trabalhador, entre as quais o Ciclo de Palestras Técnicas sobre Segu-

rança e Saúde do Trabalhador, vinculado ao Proeduc - Programa Nacional de Educação em Se-gurança e Saúde do Trabalhador por meio do Projeto Capacitação e Atualização Profi ssional.

As palestras têm consistido espaço de debate em que profi ssionais e estudantes de cursos técnicos buscam a atualização de seus conhecimentos sobre as temáticas trabalhadas, sendo vi-venciado o intercâmbio de informações, visto que o quadro de palestrantes tem compartilhado estudos e vivências sobre questões relacionadas à Segurança e Saúde dos Trabalhadores.

Para Freire, o sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se confi rma como inquietação e curiosidade, com inconclusão em permanente movimento na história (1999, p. 154). É com este propósito que a participação de profi ssionais de áreas distintas e de nível médio e superior tem sido avaliada como refl exo da ampliação do processo de divulgação dessa ação educativa junto às agências formadoras num movimento de abertura ao mundo dos que demandam da Fundacentross no Pará uma contribuição no seu percurso formativo ou enquanto possibilidade de atualização profi ssional.

Nesse sentido, destacamos a relevância da interdisciplinaridade no processo avaliativo como forma da ampliação do conhecimento e do saber sendo abordada por Martinelli (1995) [...] como postura profi ssional que permite se pôr a transitar o “espaço da diferença” com sentido de busca, de desvelamento da pluralidade de ângulos que um determinado objeto investigado é capaz de proporcionar, que diferentes formas de abordar o real podem trazer. Além disso, temos ainda uma repercussão social das ações educativas pelo próprio alcance junto aos trabalhadores e a possibilidade de articulação e divulgação de instituições de diversas áreas, profi ssionais liberais e entidades sindicais. Nessa perspectiva, o Proeduc conta hoje em suas ações educativas com o apoio constante do Grupo de Trabalho em Saúde dos Trabalhadores da Educação (SEMEC); Núcleo de Atenção à Saúde do Trabalhador (NAST); Programa de Educação Previdenciário do INSS no Pará; Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Pará – SRTE/PA; ProJo-vem Belém; Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDECA/EMAÚS).

Durante o ano são realizados semestralmente dois ciclos de palestras com aproximada-mente 30 palestras anuais são abertas ao público, com duas horas de duração cada palestra e um público variado composto por estudantes de Cursos Técnicos, principalmente do Curso Técnico em Segurança do Trabalho, profi ssionais como Técnicos de Segurança do Trabalho e Engenheiros de Segurança do Trabalho, representantes de entidades sindicais, servidores públicos da área da educação e da saúde, administradores, engenheiros civis, arquiteto, eco-nomista, fonoaudiólogo, gestão de recursos humanos, adolescentes e jovens vinculados ao ProJovem (Programa Nacional de inclusão de Jovens).

De 2005 até junho de 2008 foram realizadas 102 palestras, totalizando 150h e registrada a freqüência de 4.920 pessoas. Sendo que, nesse período 163 pessoas participaram de, no mínimo, cinco palestras técnicas. Ao preencherem a fi cha de avaliação em cada palestra, os participantes apresentam sugestões de temas para outras programações e, a partir de um processo de sistema-tização são identifi cados os temas mais solicitados, conforme evidencia o quadro a seguir:

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Quadro 1 Temas mais solicitados nos Ciclos de Palestras no período de 2005 a 2008

Temas mais solicitados 2005 2006 2007 2008

Acidente em caldeira x

Acidente Hospitalar x

Acidentes de Trabalho x x

Acidentes na Construção Civil x x

Assédio Moral no trabalho x x

Brigadas de Incêndios x x

Comissão Interna de Prevenção de Acidentes x x x

Direitos Trabalhistas x x

Doenças Ocupacionais x x

Doenças relacionadas ao estômago e sua prevenção x

Equipamentos de Proteção Individual x x

Ergonomia x x x

Eliminação do ruído na fonte, risco radioativo, tratamento de efl uentes e abandono de área x

Ética no Trabalho x x

Higiene Ocupacional x

Lesões por Esforços Repetitivos x

Manejo Florestal (animais peçonhentos), manejo com agrotóxico e relações humanas x

Normas Regulamentadoras nº 04, 10, 11, 12, 15, 18, 22, 28, 31, 32, 33 x x x x

Palestras práticas com equipamentos da área de segurança x

Palestras voltadas à gestão de pessoas x

Políticas Públicas em Segurança e Saúde do Trabalhador x

Programa de Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção x x

Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional x

Programa de Prevenção de Riscos Ambientais x x

Proteção de máquinas nas indústrias madeireiras x

Segurança do Trabalhador na segurança privada x

Saúde dos trabalhadores de teleatendimento e marketing x

Segurança nas empresas de pesca x

Segurança no trabalho das aviações x

Segurança, saúde e higiene no trabalho x

Trabalho e Serviço Público no Município de Belém x

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O planejamento das ações educativas refl ete a articulação com a avaliação, pois como diz Vasconcelos (2002), avaliar é localizar necessidades e se comprometer com sua superação. Logo, o planejamento buscando identifi car como estes sujeitos avaliam esta ação educativa, assim destacamos ainda que para Hoffmann (2000) avaliar é dinamizar oportunidades de re-fl exão-ação, portanto é essencial à educação por ser a avaliação concebida como problema-tização, questionamento e refl exão sobre a ação. A agilidade do processo avaliativo tem sido valiosa na escuta dos participantes, como contribuição para a redefi nição ou continuidade das ações educativas pautando-se por um processo dialógico nas programações desenvolvidas no Centro Estadual da Fundacentro no Pará.

A avaliação permite conhecer o resultado de ações didáticas e, por conseguinte possibilita melhorá-las, pois aponta aquilo que deve ser retomado, ser trabalhada novamente e de outra for-ma. No entender de Luckesi: [...]Para não ser autoritária e conservadora, a avaliação tem a tarefa de ser diagnóstica, ou seja, deverá ser o instrumento dialético do avanço terá de ser o instrumen-to da identifi cação de novos rumos (2000, p. 43). É nesta perspectiva que as falas registradas em forma de comentários pelos participantes possibilitam a identifi cação de limites e demandas, e subsidia o processo de planejamento ao evidenciar perspectivas para a continuidade e ou retoma-da de estratégias metodológicas. Devido à variedade de temas trabalhados no Ciclo de Palestras, contamos com diversos olhares avaliativos sobre o desenvolvimento de cada palestra em que os participantes fazem o registro avaliativo de alguns itens para que sejam identifi cadas particulari-dades, visando qualifi car esta ação educativa.

A seguir são destacados alguns comentários registrados pelos participantes nos formulários de avaliação quanto à exposição e atuação dos palestrantes:

É um excelente instrutor, tem uma didática que permite as informações fl uírem de ma-neira bem clara. (Téc. Seg. do Trabalho);

Os pontos foram abordados de maneira clara e crítica, gerando sempre a situação de diálogo. (Estudante do Curso Téc. Seg. do Trabalho);

A palestrante foi integralmente concisa, linguagem de fácil entendimento, mostrou que é essencialmente esclarecedora. (Técnico em Seg. do Trabalho);

Os slides estavam claros e sintéticos, e o palestrante mostrou segurança e conhecimento abrangente sobre o tema. (Estudante de Administração);

A clareza das explicações e a preocupação de nos alertar quanto aos perigos da má es-colha de alimentos. (Estudante do Curso Téc. Seg. do Trabalho).

Outro item comentado pelos participantes no formulário de avaliação é o atendimento às expectativas em relação ao conteúdo das palestras:

A palestra esclareceu fatores que infl uenciaram no desenvolvimento psicopatológico do trabalhador, que vão trazer conseqüências no seu local de trabalho. (Estudante de Fisioterapia);

Mostrou fatos que realmente acontecem nas indústrias madeireiras quanto aos acidentes e à saúde do trabalhador. (Estudante Téc. Florestal);

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Foi acentuada a questão da engenharia mecânica até mesmo pela graduação do pal-estrante, penso que minhas dúvidas serão tiradas durante a palestra sobre RN 32. (Estu-dante do Curso Téc. em Seg. do Trabalho);

A palestrante é excelente, ela esclareceu alguns assuntos relacionados à fonoaudiologia, que nós da SST não tínhamos a mínima idéia no ambiente de trabalho. (Estudante do Curso Téc. em Seg. do Trabalho);

Contribuiu amplamente para aplicabilidade nos trabalhadores de minha empresa e para melhor orientação aos mesmos. (Técnico em Enfermagem do Trabalho).

Podemos enfatizar ainda o item comentado que diz respeito às contribuições da palestra para os participantes:

É de fundamental importância conhecer as medidas que devem ser adotadas para mel-hor segurança no trabalho. (Estudante de Enfermagem);

Ajudou a conhecer as leis do Ministério Público do Trabalho (Estudante do Curso Téc. em Seg. do Trabalho);

Proveitosa de maneira a aplicar no trabalho e na vida pessoal e entendi, fi nalmente, um pouco mais sobre assédio moral. (Estudante de Administração);

Ajudou a ter mais conhecimento na NR-10 e as atribuições no Campo. (Estudante do Curso Téc. em Seg. do Trabalho)

Outro item abordado no formulário pelos participantes refere-se à compreensão das temáticas:

Assunto um pouco difícil de entender. (Técnico em Seg. do Trabalho);

O palestrante por ter pouco tempo falou rápido e não dá tempo para fazermos ano-tações do que ele fala. (Estudante do Curso Téc. em Seg. do Trabalho);

Temáticas atuais e de grande importância para a nossa formação profi ssional. (Estu-dante do Curso Téc. Seg. do Trabalho).

O processo de interlocução com os participantes tem sido incentivado e traduzido mais sis-tematicamente pelo preenchimento de formulário próprio de avaliação em todas as palestras re-alizadas, no entanto não se restringe a este instrumento de registro. O diálogo possibilita que os participantes manifestem seus pensamentos e se percebam como construtores da programação que se volta também ao atendimento de demandas formativas apresentadas. Acreditando-se no potencial dialógico das ações educativas em Segurança e saúde do Trabalhador e na importância do processo avaliativo algumas decisões vem sendo postuladas, cabendo destacar o agrupamento dos participantes por categorias profi ssionais para o estabelecimento de canais de comunicação com a Fundacentro no Pará, possibilitando uma maior interação nas ações educativas, o que tem resultado na constituição de novos palestrantes dentre os participantes do ciclo de palestras.

No processo de atualização profi ssional, o atendimento a demandas tem auxiliado no plane-jamento das ações educativas na perspectiva de constituição de uma política de formação conti-nuada aos profi ssionais que tem a Fundacentro no Pará como uma das referências nas discussões sobre Segurança e Saúde do Trabalhador na Amazônia brasileira.

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Referências

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 11. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.

HOFFMANN, J. Avaliação: mito & desafi o, uma perspectiva construtivista. 29. ed. Porto Alegre: Mediação, 2000.

LUCKESI, C. Avaliação da Aprendizagem escolar. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2000.

MARTINELLI, M. L.; RODRIGUES, M. L.; MUCHAIL, S. T. (Org.). O Uno e o Múltiplo nas Relações entre as Áreas do Saber. São Paulo: Cortez, EDUC, 1995.

VASCONCELOS, C. dos S. Avaliação: concepção dialética-libertadora do processo de avalia-ção escolar. 13. ed. São Paulo: Libertad, 2002.

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Educação continuada em segurança e saúde do trabalhador na Fundacentro no estado do Pará

Doracy Moraes Souza, Fundacentro/CEPA/MTESilvio Silva Brasil, Fundacentro/CEPA/MTE

Andreia S Contente, Fundacentro/CEPA/MTELaura Soares Martins Nogueira, Fundacentro/CEPA/MTE

Hélio Vitor Andrade Filho, Fundacentro/CEPA/MTE

355

Introdução

A Fundacentro no Estado do Pará, desde sua criação em 1994, tem evidenciado o com-promisso com o desenvolvimento de ações educativas tendo em vista constituir-se

como instituição pública que contribui com o processo de formação de profi ssionais da área de Segurança e Saúde do Trabalhador. Diante da complexidade das questões relacionadas à Segurança e Saúde do Trabalhador postula-se o desenvolvimento de ação interdisciplinar e in-tersetorial para ampliar a compreensão de tais questões de forma integral. Neste contexto são apresentados elementos da trajetória do Programa Nacional de Educação em Segurança e Saúde do Trabalhador (Proeduc) na Fundacentro no Pará no período de 2005 a 2008 por meio da pro-posta de Educação Continuada em Segurança e Saúde do Trabalhador.

A perspectiva é de contribuir com a refl exão sobre o processo trabalho-saúde na sociedade brasileira e, particularmente, na região amazônica, dentre outras práticas, através de ações educa-tivas como o Curso Fundamentos em Segurança e Saúde do Trabalhador, tendo em vista a pos-sibilidade de contribuir com o processo de formação acadêmica e atuação profi ssional expres-sando aspectos de uma proposta de educação construída por meio de um conjunto articulado de cursos, ofi cinas e palestras. Estas ações educativas são realizadas visando ao aprofundamento das discussões conceituais e exemplifi cações de situações práticas relacionadas à segurança e saúde dos trabalhadores no contexto paraense, em que a socialização de experiências e o esclarecimen-to de dúvidas a respeito de situações diversas, as quais demandam outros olhares para a melhoria das condições de vida, particularmente das condições de trabalho.

A partir desta orientação metodológica objetiva-se contribuir com a refl exão de questões na área de Segurança e Saúde dos Trabalhadores, partindo dos eixos histórico, técnico e prático a fi m de identifi car e efetivar alternativas para minimizar ou superar as problemáticas elencadas por meio de Projetos de Trabalho.

A Pedagogia dos Projetos de Trabalho: uma experiência em construção

A realização de ações educativas sobre Segurança e Saúde dos Trabalhadores contribui para a implementação de ações educativas voltadas à Segurança e Saúde dos trabalhadores na Região Norte, sendo a Fundacentro/PA um espaço dinamizador nesse sentido. Nas ações educativas realizadas na Fundacentro/PA, os cursos com carga horária de 40 ou 50h têm sido pautados pela orientação meto-dológica da Pedagogia dos Projetos de Trabalho, o que implica considerar que:

• A metodologia possibilita identifi car alternativas para minimizar ou superar as pro-blemáticas elencadas para estudo por meio dos Projetos de Trabalho. Assim, os cur-sos realizados pelo Proeduc no Pará apresentam-se como contribuição para a refl exão sobre importantes questões na área de Segurança e Saúde dos Trabalhadores, partin-do dos eixos histórico, técnico e prático.

• A organização de eixos temáticos no módulo inicial dos cursos propõe uma discussão introdutória sobre questões relacionadas à Segurança e Saúde do Trabalhador no Brasil, particularmente na Amazônia brasileira. Os eixos temáticos priorizados nos cursos tem

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Período Formação acadêmica Vínculo institucional

2005 Eng° de Minas e de Segurança do Trabalho, M.Sc. em Engenharia Fundacentro/SP

2005 Química, MSc. em Engenharia Fundacentro/SP

2005 a 2008 Sociólogo e Psicólogo, Esp. em Saúde do Trabalhador Esp. em Saúde do Trabalhador Fundacentro/PA

2005 a 2008 Psicóloga, M.Sc em Saúde Pública Fundacentro/PA

2005 Psicóloga, Esp. em Saúde do Trabalhador Instituto de Previdência e Assistência do Município de Belém

2005 Economista, Esp. em Saúde do Trabalhador e em Epidemiologia

Diretor de Formação no Sindicato dos Empregados do Comércio do Pará e Amapá

2005 Psicólogo, Dr. em Saúde Pública Professor Universidade Federal do Pará2005 Médica Sanitarista, Dra. em Saúde Coletiva Fundacentro/CRMG2005 Médico do Trabalho, Perito Médico Instituto Nacional do Seguro Social

2007 e 2008 Médico do Trabalho, M.Sc. em Sociologia Centro de Referência em Saúde do Trabalhador/SP

2005 Advogado, Promotor público Ministério Público do Estado do Pará2005 Advogado, M.Sc. em Educação Fundacentro/CRDF

2006 e 2007Engº Mecânico e de Segurança do Trabalho, Engenheiro Mecânico e de Segurança do Trabalho, Dr. em Ciências da Saúde

Assessor Executivo do Ministério da Previdência Social

2005 a 2008 Advogado especializado em Seguridade Social

Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho – DIESAT

Quadro 1 Formação acadêmica dos docentes dos cursos ministrados com a orientação me-todológica da Pedagogia dos Projetos de Trabalho

sido: Evolução histórica da Saúde do Trabalhador; Processo Trabalho-Saúde; Quadro de Saúde do Trabalhador Brasileiro; Política Nacional de Saúde do Trabalhador; Legislação em Segurança e Saúde do Trabalhador; Programa de Prevenção de Riscos Ambientais e O Método da Árvore de Causas na Investigação dos Acidentes de Trabalho.

• A intersetorialidade é um dos princípios pautados no planejamento na realização das ações educativas, daí o envolvimento de instituições vinculadas a setores como: Tra-balho, Previdência, Saúde, Justiça, além de profi ssionais vinculados aos movimentos organizados de trabalhadores, como o Sindicato dos Comerciários.

• A proposta de construção de um trabalho na perspectiva da interdisciplinaridade pode ser identifi cada no quadro a seguir em que se evidencia a formação inicial dos ministrantes como elemento importante na construção de referenciais atualizados e relevantes para a compreensão da dinâmica social em que se inscrevem as demandas para a Segurança e Saúde do Trabalhador.

357

Por meio da realização de ações educativas o diálogo entre estudantes e profi ssionais possi-bilita o intercâmbio de conhecimentos sobre Segurança e Saúde do Trabalhador possibilitando a identifi cação de alternativas para planejar ações que contribuam para a superação das proble-máticas elencadas para estudo por meio dos Projetos de Trabalho. Buscamos profi ssionais que possibilitassem a discussão de forma dialógica com o público e com discussões qualifi cadas sobre os temas de forma contextualizada e com uma linguagem acessível ao público.

Os Projetos de Trabalho no Centro Estadual da Fundacentro no

Estado do Pará

No período de 2005 a 2008 ocorreram 03 cursos alcançando 08 turmas com a orientação me-todológica da Pedagogia dos Projetos de Trabalho culminaram com a apresentação de 34 Projetos de Trabalhos elaborados pelos participantes predominantemente em grupo, dentre os quais:

Curso: o método da árvore de causas na investigação de acidentes de trabalho

Relato de acidente de trabalho num Hospital Público de Belém/PA;Investigação e análise de acidente de trabalho numa empresa do setor elétrico.

Curso: programa de prevenção de riscos ambientais no contexto da segurança e saúde dos trabalhadores

Análise Preliminar de Risco do Laboratório de Química de uma universidade pública;Análise Preliminar de Risco uma empresa do setor madeireiro no Pará.

Curso: fundamentos em segurança e saúde do trabalhador

Mapeamento dos agravos à saúde dos trabalhadores registrados no Pará a partir dos dados registrados na vigilância epidemiológica do Estado no ano 2004;

Mapeamento Produtivo do Pará a partir da Relação Anual de Informações Sociais/2003;Registro de acidentes de Trabalho em Abaetetuba/PA no ano de 2003, identifi cando o sexo,

faixa etária e ramo de atividade produtiva;Ocorrências de acidentes com trabalhadores motociclistas num Hospital Público de Santa-

rém/PA -2004 e 2005;Principais agravos à Saúde do Trabalhador no setor de estivas, público e ruralista de Santa-

rém/PA em 2004.Inspeção na Saúde do Trabalhador e seu fl uxograma no Transporte Fluvial.Perfi l epidemiológico dos trabalhadores de um Hospital Universitário em Belém/PA no ano

de 2006;Acidentes de Trabalho num Hospital Universitário em Belém/PA (outubro de 2005 a setem-

bro de 2006) Assédio Moral no Trabalho.

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Por se tratar de uma proposta de Educação Continuada em Segurança e Saúde do Trabalha-dor são desenvolvidas ações educativas que não seguem a orientação metodológica da Pedagogia dos Projetos de Trabalho, mas que compõem a proposta de educação da Fundacentro no Pará. Assim, cursos, ofi cinas e palestras fazem parte desta programação alcançando um público varia-do composto por adolescentes, servidores públicos da área da educação, trabalhadores do setor do comércio e de hospitais, estudantes de cursos técnicos e profi ssionais de modo geral.

No período de 2005 a 2008, a carga horária total ofertada pela Fundacentro na Pará no Programa de Educação em Segurança e Saúde do Trabalhador equivale a 520h em cursos e ofi -cinas. Da carga horária total, 73% dos cursos foram realizados com a orientação metodológica dos Projetos de Trabalho, o que equivale a 380h no período citado. Além dos cursos e ofi cinas foram ofertados ciclos semestrais de palestras técnicas, sendo que no período de 2005 até o mês de junho de 2008 foram realizadas 102 palestras, totalizando 156h e registrada a freqüência de 4.920 pessoas, cujo público desta ação educativa tem sido composto predominantemente por estudantes de Cursos Técnicos em Segurança do Trabalho.

As avaliações dos participantes são sistematizadas para os relatórios parciais dos cursos e a partir destes registros podem ser percebidos os vários olhares sobre estas ações educativas, redimensionando-as quando necessário. São destacadas algumas avaliações de participantes do Curso Fundamentos em Segurança e Saúde do Trabalhador, realizado em 2008:

i) De grande importância, pois através dos módulos podemos aprimorar nossos conheci-mentos com grandes profi ssionais, tirando dúvidas, compartilhando suas experiências assim como os nossos colegas de cursos através dos seus projetos desenvolvidos;

ii) Bom nível de apresentação, pois nenhum grupo tem experiência de falar em público e de montar apresentação de excelente qualidade;

iii) Contribuiu como grande fonte de conhecimento, além de poder ouvir os comentários de profi ssionais de outras áreas com experiências diferentes havendo um laço de amizade;

iv) A única difi culdade é fazer o curso presencial em uma emana e depois elaborar um projeto com mais de um mês e meio. O contato com os grupos de trabalho fi ca difícil e a qualidade do projeto fi ca baixa.

Considerações

O Programa de Educação tem sido estruturado articulando além dos cursos e ofi cinas, os ciclos semestrais de palestras técnicas. Estes ciclos têm caracterizado uma forma de di-vulgação institucional e de aproximação inicial do público com as ações desenvolvidas pela Fundacentro no Pará, portanto articula-se às ações de maior duração realizadas no Programa de Educação Continuada em Segurança e Saúde do Trabalhador. Importante registrar a ca-racterização do público alcançado, pois é composto por estudantes de Cursos Técnicos, principal-mente do Curso Técnico em Segurança do Trabalho, profi ssionais como Técnicos de Segurança do Trabalho e Engenheiros de Segurança do Trabalho, representantes de entidades sindicais, servidores públicos da área da educação e da saúde, profi ssionais do setor do comércio, adolescentes e jovens vinculados a Programas de Qualifi cação Profi ssional. Esta diversidade na composição do público

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vem possibilitando a articulação com as agências formadoras paraenses, o que tem sido referenda-da pela constante procura pelo material didático dos cursos contendo os textos trabalhados pelos docentes. Estes materiais disponibilizados para consulta passam a subsidiar estudos e pesquisas do público em geral que visita a biblioteca da Fundacentro no Pará.

As principais difi culdades estão relacionadas ao Módulo II(semi-presencial), pois alguns participantes deixam de elaborar os Projetos de Trabalho e, por conseguinte, não concluem o Curso. Em que pese tal situação, a taxa de certifi cação tem sido de 80%, o que pode ser com-preendido como um elemento importante por se tratar de educação não-formal envolvendo profi ssionais e estudantes que chegam até a Fundacentro/PA em momentos diversos deman-dando ações educativas para atualização profi ssional ou atividades para complementação de carga horária junto aos estabelecimentos de ensino. As difi culdades com apoio logístico e a impossibilidade de melhor acompanhamento dos grupos constituídos para a elaboração de projetos de trabalho entendemos que para o desenvolvimento das ações referentes à Peda-gogia de Projetos de Trabalho faz-se necessária o acompanhamento dos grupos, o que fi ca comprometido quando o curso ocorre em outro município.

Acreditando-se no potencial transformador da educação faz-se necessário resgatar a aplicabilida-de dos conhecimentos construídos nestas ações educativas nos locais de atuação profi ssional ou de estudo dos envolvidos diretamente nos cursos, o que demanda acompanhamento dos Projetos de Trabalho. Este é um dos desafi os no desenvolvimento das ações educativas em Segurança e Saúde do Trabalhador, associado a um trabalho específi co com os docentes que vivenciaram esta metodo-logia no sentido superar limites e oportunizar o redimensionamento do trabalho.

A avaliação realizada pelos participantes dos cursos evidencia a tendência para a continuidade da proposta da Pedagogia dos Projetos de Trabalho por possibilitar a articulação de conhecimen-tos trabalhados nas discussões em grupo com o local de trabalho ou de estudo dos participantes para contribuir com a melhoria das condições de vida e de trabalho. Isto posto, o reconhecimento de situações-limites aponta para a descoberta de novas informações e mobiliza para ações conjun-tas, quer por meio da atuação profi ssional, acadêmica ou sindical para a construção de um olhar crítico e propositivo para as ações de Educação em Segurança e Saúde do Trabalhador, tendo a Fundacentro no Pará importante papel neste processo.

Referências bibliográfi cas

BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. Programa Nacional de Educação em Segu-rança e Saúde do Trabalhador. São Paulo: Fundacentro, 2008.

HERNANDEZ, Fernando & VENTURA, Montserrat. A Organização do Currículo por Projetos de Trabalho, São Paulo: ARTMED, 1998.

______. Transgressão e Mudança na Educação: os projetos de Trabalho. São Paulo: Artes Médicas Sul, 2006.

SAMPAIO, Maria do Rosário et al. Qualifi cando a Educação não-formal: a Pedagogia dos Projetos de Trabalho, Minas Gerais: UFMG. In: Anais do Seminário Gramsci e a Educação, 2007.

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Segurança e saúde do trabalho no assentamento rural em Potozi do Cabo de Santo Agostinho

Hersilia M. Cadengue, Universidade Federal de PernambucoMariomar Teixeira, Fundacentro/CRDF/MTE

Palavras-chave: saúde; agricultura; segurança do trabalho; assentamentos.

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Introdução

D esenvolvimento e saúde estão sempre inter-relacionados, seja em decorrência da pobreza ou pelo excesso de consumo. A questão do meio ambiente, tanto em paí-

ses desenvolvidos como em países considerados em desenvolvimento, (AGENDA 21, 2001, p. 61) tem refl exo direto na área de saúde, uma vez que a qualidade de vida, e conseqüentemente a saúde de uma população tanto na área rural quanto urbana.

O urbano não está apenas nas cidades. Quando falou da urbanização do mundo rural Lefe-bvre (1969) quis expressar esse processo que então se via como colonização cultural – ou seja, a extensão do núcleo civilizatório-capitalista industrial que nos séculos XIX e XX formava a totalidade do território social (BRYON-GEHLEN, 2005). Estas autoras argumentam que “as ligações e as interações entre o rural-urbano têm se tornado um componente importante e in-tenso para o sistema de produção e de subsistência em muitas áreas – formando não somente uma ponte como uma complexa teia de conexões em uma paisagem que não é nem urbana, nem rural, mais tem ambas as características”. Por sua vez, Bryon (2005) ao estudar Lefebvre, considera o rural como um modo particular de utilização do espaço e de vida social, no qual as especifi cidades e representações são entendidas, ao mesmo tempo, como espaço físico, o vivi-do; social, o percebido, e mental, o concebido (Lefebvre). Destas relações resultam práticas e representações particulares a respeito do espaço, do tempo, do trabalho, da família. A referên-cia a estas características não pode ser entendida como uma essência, imutável, que poderia ser encontrada em cada sociedade. Ao contrário, esta é uma categoria histórica, que se transforma, cabendo ao pesquisador compreender as formas deste rural nas diversas sociedades passadas e presentes (WANDERLEY, 2001).

Neste contexto, o assentamento rural Potozi, no município do Cabo de Santo Agostinho em Pernambuco, possui muitas peculiaridades. Em outubro de 1993, foi concedido o título de posse e hoje, são assentadas 55 famílias de origem da Zona da Mata (ALMEIDA, 2005). Ressaltamos que ao se considerar a formação do assentamento conforme citado nas leis da Constituição (1988), Capítulo VI – Meio ambiente (MORAES, 2002), percebe-se várias transgressões praticadas, muitas vezes, por técnicos das instituições públicas, até por desinformação, ao gerar ou organizar os assentamentos e seus assentados (GUANZIROLI et al., 2001; REVISTIDÉIAS, 2002; MORAES, 2002).

Os projetos de assentamento rurais devem ser vistos como algo que está sendo construí-do a todo o momento e cada qual possuindo a sua especifi cidade própria. Os assentamentos são, portanto, marcados por uma diversidade de situações e perfi s, no que se referem aos recursos disponíveis, as formas de organização, de produção agrícola, as agendas de proble-mas e de articulações entre eles e os movimentos sociais, e ao nível de consciência político-cultural crítica (CADENGUE, 2006).

Por essa variação populacional e por nem todos os assentados terem sua origem como agricultores, e não tem acesso à tecnologia, muitas vezes, nem a informações técnicas como trabalhar na terra; e ao trabalhar com as suas novas ferramentas ou manipular produtos propa-gados, mas não orientados, como herbicidas, o mau uso afeta muito mais a saúde que os instru-mentos cortantes como a enxada e facão utilizados.

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Para Garcia (2001), a origem do problema está na não observação dos cuidados necessários para o manuseio e aplicação do produto e na não utilização dos equipamentos de proteção individual necessários para o trabalho com os agrotóxicos, por parte do aplicador.

O autor crê que a solução seja através da educação, acentuando um coro de vários au-tores (ALMEIDA, 2005, DEMO, 2OO1; 2003; SEN, 2000), que infelizmente ao assentamento Potozi será algo a médio longo prazo, pois este não contém nem escola para crianças e jovens.

A educação junto com acesso a terra, unido com informações suplementares na área ambiental, tenderá a sustentabilidade favorável a todos.

Material e Métodos

A pesquisa ainda está em andamento e tem por objetivo discutir o impacto sobre a qualidade e as condições de trabalho na cana-de-açúcar e de habitabilidade. O estudo está sendo realizado no assentamento de Potozi e foram aplicados questionários e entrevistas junto a sua população, além de observação e análise em reuniões dos assentados no local.

Para realizar a pesquisa, utilizamos o estudo de caso, entendido como um método de pesqui-sa cientifi camente consagrado, que concentra o foco da análise em uma situação específi ca de um caso típico. O objetivo é a reconstrução, em bases científi cas, dos fenômenos observados, possibilitando o uso de distintas técnicas de coleta de dados (DINIZ, 1994). O estudo de caso é a estratégia preferida quando são abordados o como e o porquê, quando o investigador tem pouco controle sobre os eventos e quando o foco é sobre um fenômeno contemporâneo, dentro do contexto da vida cotidiana (YIN, 1989).

Este é um estudo de natureza mais qualitativa, no qual recorremos aos dados quantitativos, no sentido de fortalecer argumentos e complementar informações sobre os fatos, a exemplo dos dados sócio-demográfi cos, que permitiram traçar uma visão mais completa da situação econô-mica da população da área em termos de idade, composição familiar etc.

A análise esta sendo realizada - tomando como fi o condutor à luz do problema da pesquisa, a confrontação das falas, entre si, com o marco teórico e com as observações do diário de campo.

Resultados e Discussão

A cultura da cana-de-açúcar gerou uma civilização própria, baseada na exploração da grande propriedade e em um sistema de organização patriarcal que funcionava como um mundo em minia-tura, concentrado e resumindo a vida de uma grande parte da população local (PRADO JUNIOR,1986). Mesmo sendo desenvolvida há séculos, a atividade sucroalcooleira sofre oscilações, alter-nando momentos de apogeu e de crise. As mudanças estabelecidas no sistema produtivo, sobre-tudo após a segunda metade do século XX (ANDRADE NETO, 1986; WANDERLEY, 1979) quanto à sofi sticação tecnológica, tem ocasionando importantes mudanças sociais.

A crise, vivenciada, desde no fi nal do século passado, acarretou uma signifi cativa redução do número de usinas em funcionamento no Estado, o que penaliza, de modo cruel, os trabalhado-

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res rurais, tendo em vista que os níveis de desemprego fi caram elevados, proporcionais a esta redução. Podemos argumentar que tal crise colabora com o empobrecimento crônico da região, no emprego sazonal, no desemprego, na migração campo-cidade e na favelização dos centros urbanos mais próximos com a sua miragem da maior oferta de emprego (CONDEPE, 2007).

É exatamente este contexto que fez vir à tona novos anseios pela reforma agrária na região da Zona da Mata (FONTE, 2004). Nesse período, principalmente aproveitando o momento da redemocratização do país, na década de 1980, e garantia o respeito aos princípios do Estado Democrático de Direito, os movimentos sociais de luta pela terra prosperam arregimentando um contingente capaz de impulsionar a reforma agrária na região.

Potozi, o mais antigo assentamento do município do Cabo de Santo Agostinho, tem péssi-mas condições de habitabilidade, caracterizadas pela ausência de equipamentos sociais, como escolas, posto de saúde etc., além da falta de infra-estrutura e de acesso.

A população do assentamento sobrevive, ainda hoje, prioritariamente de atividades vincu-ladas à cana-de-açúcar, seja, desenvolvidas em seus lotes ou como trabalhadores assalariados nas usinas da região. O trabalho na cana é extremamente perigoso, sendo na maioria dos casos, realizados sem os cuidados necessários. Os riscos aos quais os agricultores estão expostos vão desde o manuseio da ferramenta de trabalho – a foice, na época da corte – ao fogo e fumaça no momento da queimada para a limpa. A poluição gerada pelas queimadas, não afetam apenas os que trabalham nela, mas toda a população da área independente de sexo e idade. Como conseqü-ências dessas duas situações descritas, temos na área um numero elevado de pessoas necessitadas de cuidados médicos, e que devido a defi ciência de infra-estrutura, só conseguem atendimento nas sedes dos municípios.

Porém, não é apenas no cultivo da cana que essa população esta vulnerável, o desempenho de atividade agrícola, incluindo a de subsistência, não está imune aos riscos. Por exemplo, con-forme o Anuário da Previdência Social (2007), na distribuição por setor de atividade econômica, o setor agrícola participou com 5,1% do total de acidentes registrados, o setor de indústrias com 49,3% e o setor de serviços com 45,6%, excluídos os dados de atividade “ignorada”.

Tais fatores geram mais desigualdade e exclusão social, como cita a Agenda 21 do Estado de Pernambuco (2003: 114): A pobreza e a desigualdade social são marcas evidentes na sociedade pernambucana. A pobreza atinge mais diretamente as zonas rurais e as crianças que fazem parte de famílias numerosas. Sendo das 21 estratégias colocadas (Agenda 21), além da preocupação com o meio ambiente, destaca-se a 7ª e 21ª estratégia, combate à pobreza e atividades agropecu-árias, respectivamente, para chegar ao desenvolvimento

Conclusão

No Brasil, os acidentes de trabalho com os trabalhadores e agricultores rurais têm um índice extremamente defasado e subestimado, pois as pessoas normalmente trabalham por conta pró-pria e raramente fazem o registro da ocorrência de acidente, prejudicando assim o estudo sobre o perfi l dos acidentes de trabalho (MARQUES, SILVA, 2003).

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Estudiosos alertam (FRANCO, 2002; GUANZIROLI et al., 2001), que é fundamental esti-mular uma consciência de cidadania, não só de direitos como também de deveres, não só indivi-duais como grupais, o que não é tão fácil de ser desenvolvido quando as carências/necessidades não são respeitadas em suas especifi cidades (comer, habitar, vestir etc.). O importante é buscar reduzir ao máximo a diferenciação ou a exclusão: investir na área rural de modo sócio-econômi-co-político e ambiental. O que se pôde perceber nos assentados pesquisados é a difi culdade de sentir-se “dono da terra” e um comportamento subalterno, inibindo a participação democrática com sentimento de descrédito, medo e até por achar que o clientelismo irá prevalecer mais cedo ou mais tarde, ou seja, a desconfi ança do homem/mulher da terra diante do poder público.

E como fazer isso na área rural? Um dos caminhos, que se pode apontar como resultado do trabalho poderiam ser articulação e parcerias com as universidades, as escolas técnicas existentes e as organizações da sociedade civil organizadas. Nesse caminho, o conceito da cidade contra o campo é anacrônico, inútil e reacionário, enquanto essa articulação pode se ocupar da análise e pesquisa da cidade no campo e do campo nas cidades na busca do propalado desenvolvimento sustentável e da fundamental reestruturação produtiva/social.

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Condições de trabalho no cultivo da mandioca, em Santa Maria da Serra/SP

Rosa Yasuko Yamashita, Fundacentro/CTN/MTEIla Maria Corrêa, Instituto Agronômico de CampinasRoberto do Valle Giuliano, Fundacentro/CTN/MTE

Maria Aparecida Buzzini Moura, Fundacentro/CTN/MTEEduardo Figueiredo de Moraes Rego, Centro de Saúde de Santa Maria da Serra

Palavras-chave: colheita de mandioca; segurança; farinha.

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Justifi cativa

O Brasil é o maior produtor de mandioca no continente, (no mundo é o continente africano) e ocupa o segundo lugar no mundo, com produção de 24 milhões de toneladas. O Estado de São Paulo responsável por 984 mil toneladas em 2005 e apesar de estar em 7ª posição no ranking da produção, apresenta maior produtividade em área. A mandioca é uma cultura característica da maioria dos países em desenvolvimento e por isso apresenta uma diversifi cação dos métodos de trabalho conforme a região produtora, indo desde os sistemas mais primitivos à de média tecnologia. Uma das suas vantagens é que ela não apresenta monopólios, sendo característica de pequenos e médios produtores e arrendatários.

O município de Santa Maria da Serra foi eleito para o estudo de caso, apesar de sua produção não ser tão expressiva, para atender uma demanda local e também por representar um menor custo para o desenvolvimento do projeto. Apesar de estar localizada a apenas 170 km da Capital de São Paulo, a aplicação de seus resultados poderá abranger áreas com métodos de produção se-melhantes ou de sugerir a adoção de práticas bem sucedidas em locais de produção diferenciada.

Objetivo

Caracterizar as condições de trabalho no cultivo da mandioca no Município de Santa Maria da Serra, SP, identifi cando e caracterizando os riscos presentes nos diferentes métodos de traba-lho, das máquinas e equipamentos utilizados.

Metodologia

O trabalho foi realizado mediante observação “in loco” incluindo as várias etapas de cultivo como o preparo do solo, plantio, tratos culturais, colheita, carregamento e transporte.

As atividades foram realizadas em parceria com três empresas de produção de farinha de mandioca do Município, que também cultivam mandioca, seja em terras próprias ou em terras arrendadas, ou ainda, por meio de parceria com pequenos produtores.

Dados adicionais foram coletados, com a colaboração do Centro de Saúde do Município, pelos registros de acidentes dos trabalhadores no período de 2006 a 2007.

Resultados

Foram identifi cadas as seguintes etapas na condução do cultivo da mandioca: preparo do solo, plantio, tratos culturais e colheita (ou arranquio). As observações realizadas mostram que o preparo do solo e o plantio são mecanizados, usando-se tratores de porte médio sem dispositivos de proteção. Os trabalhadores usam luvas, calçados e roupas de sua propriedade, que não são adequados às suas tarefas. As formas usuais de tratos culturais são por método químico, manual ou por mecânico com tração animal ou motorizada. A colheita é realizada de forma manual pre-

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cedida de uma operação mecanizada para afofar o solo. O arranquio é feito com uma ferramenta manual e exige bastante esforço do trabalhador, dependendo das características do solo. A seguir é feita a despinicagem, que por ser menos exigente é realizada por mulheres. Após despinicadas as raízes são amontoadas e depois são jogadas manualmente para a caçamba do caminhão, que levam as raízes para a fábrica de farinha.

Preparo do solo

O preparo do solo é realizado de forma mecanizada, com uso de trator de porte médio. As máquinas utilizadas são do dono da fábrica de farinha e os operadores são empregados próprios da empresa. Os tratores utilizados apresentam apenas o toldo de proteção solar, sem cabine ou arco de segurança. A tomada de potência e o eixo cardam não apresentam proteção. O traba-lhador é exposto ao ruído do trator e não utiliza o protetor auricular. Como a topografi a local é suavemente ondulada, não apresenta grande risco de tombamento da máquina, em especial, porque o preparo do solo é feito de forma correta, acompanhando as curvas de nível.

Plantio

A época de plantio recomendada para a região é de setembro a outubro, período das águas, porém o período de melhor controle de invasoras é de julho a agosto. Período no qual escolhemos para o acompanhamento de campo. Vale ressaltar que nos cultivos industriais de mandioca é ne-cessário combinar as épocas de plantio com os ciclos dos cultivares e com as épocas de colheita, visando garantir um fornecimento contínuo de matéria-prima para o processamento industrial.

O plantio da mandioca na região é semi-mecanizado, com uso de trator com o implemento para plantio engatado nos três pontos do trator, mas necessita de dois operadores para alimentar o sistema, além do tratorista. No mercado, há plantadoras com assentos para quatro operadores, abrangendo quatro linhas de plantio.

O sistema faz o sulcamento, o corte das manivas, a sua derrubada sobre o sulco e a cobertura com o movimento de dois discos. O implemento observado é composto por duas caixas de adu-bação, dois tubos por onde desce a maniva e é cortada em três partes, de aproximadamente 20cm cada. O sulco é aberto pelo implemento, a maniva é derrubada sobre o sulco e depois coberto com o movimento de dois discos.

A adubação não é realizada no momento do plantio, somente depois que ocorre o bro-tamento, para evitar o crescimento excessivo de plantas daninhas, conforme informação do técnico que nos acompanhou no campo.

Os dois trabalhadores que alimentam a plantadora seguem sentados, porém há implemento com assento normal e outros adaptados sobre as caixas de adubo, sem encosto. As manivas são empilhadas na lateral de cada operador e à medida que o trator segue a linha, elas são colocadas uma a uma nos tubos que apresentam um sistema para o para corte em três partes. As manivas caem na horizontal, que é a posição mais adequada para que as raízes cresçam mais na superfície, de forma a facilitar a colheita. O alimentador da plantadora deve observar quando é necessário colocar a próxima. O trator trabalha a uma velocidade controlada para o espaçamento necessário

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entre as plantas/h e a quantidade de material sobre a plantadora é mais ou menos o sufi ciente para que a próxima alimentação coincida com o local onde se inicia o trabalho, no início das linhas, onde as manivas estão empilhadas. Posteriormente, os trabalhadores seguem a pé pelas linhas para coletar as manivas que fi caram sobre o solo ou para enterrar melhor, aquelas que fi ca-ram descobertas. Em algumas organizações, há um trabalhador adicional para ir acompanhando as linhas conforme o trabalho é realizado.

O tratorista segue monitorando o trabalho executado pelo conjunto trator-implemento e o tra-balho que está sendo efetuado pelos trabalhadores, girando seu corpo constantemente para trás.

Os dois trabalhadores realizam o trabalho com tranqüilidade, permitindo inclusive conversa entre ambos. Porém, o assento parece não oferecer segurança, caso haja algum solavanco da máquina, apesar dos depoimentos dos trabalhadores não confi rmar esta hipótese.

Numa das empresas, o grupo de plantio era contratado, sendo o tratorista e responsável pela empreitada da mão-de-obra, pois era a pessoa que havia feito o contrato de parceria com a fábrica. O terreno era arrendado pelo dono da fábrica, o trator era de propriedade da fábrica. O parceiro conseguia pagar os custos da contratação da mão-de-obra, pois o dono da fábrica fazia adiantamentos periódicos.

Tratos culturais

Após o plantio, na pré-emergência, dependendo do caso, é feito o controle de invasoras por meio de herbicidas. Posteriormente, com o decorrer de aproximadamente três meses, em que as mudas já possuem já folhas defi nitivas, é feita a primeira capina entre as linhas da plantação para controlar as plantas invasoras. O crescimento vegetativo da mandioca nos primeiros quatro a cinco meses após o plantio é sensível à concorrência de nutrientes e também por tratar-se de um período em que é possível fazer a capina nas entre linhas

O controle químico é feito na pré-emergência, que pode ser com uso de aplicador costal ou mecanizado. Uma das formas observadas foi a mecanizada, em que o trator apresenta ca-bine de proteção na capotagem, mas é aberta, expondo os trabalhadores ao produto. O trator não possui lugar para um segundo trabalhador, sendo o ajudante do operador transportado de forma inadequada e perigosa. Durante o reabastecimento do tanque de herbicida, apesar dos trabalhadores utilizarem máscaras e luvas, no momento de maior exposição, não estão protegidos adequadamente.

Alguns produtores tem optado pelo uso da tração animal, por ser menos agressiva e pro-mover a escarifi cação do solo, aumentando a capacidade de infi ltração de água e benefi ciando as condições de arejamento para o desenvolvimento das raízes tuberosas. O animal arrasta um implemento de capina que contém três facas. O trabalhador também deve ser treinado para con-duzir o animal nas entrelinhas, sem danifi car a cultura.

O passo para acompanhar o animal é acelerado e o trabalhador deve sempre estar atento para que o implemento não saia da linha. Ao mesmo tempo em que as facas cortam as plantas invasoras, o implemento amontoa a terra em direção à base da planta, tarefa necessária para proteger as raízes que virão.

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A jornada inicia-se às 07:00H da manhã e encerra-se às 16:00H. Durante a jornada o trabalha-dor pára alguns momentos para que o animal possa descansar e comer um pouco de capim e beber água. Nesses momentos o trabalhador pára também para tomar sua água, mas nos horários das re-feições – por volta das 10:00H e 13:00H, o trabalhador pega a sua marmita que trouxe consigo pela manhã e come-o frio. As áreas de plantio são pequenas de 10 a 20 ha, não há local para alimentação e nem sanitários. Sentam-se à sombra das árvores, onde descansam e se alimentam.

Alguns trabalhadores são oriundos da colheita da cana, preferem trabalhar na mandioca, por ser menos estafante e o ganho ser melhor. Há trabalhadores de toda idade, desde jovens de dezoito anos a adultos de trinta a sessenta. Na maioria dos casos, são trabalhadores que desde crianças trabalham na roça.

A capina manual é feita por grupo de trabalhadores e trabalhadoras. Em geral, os homens caminham com maior velocidade e em silêncio. Já as mulheres e os trabalhadores mais idosos caminham mais lentos e vão conversando durante o trajeto na linha. A capina não demanda muito esforço físico, pois a terra mais arenosa facilita a tarefa. Mas a operação é realizada sob sol e com curvatura constante da coluna.

Colheita

Antes de iniciar a colheita é feita uma poda na cultura, deixando-se uma altura aproximada de 20cm de rama, para facilitar o processo de colheita. A poda é realizada de forma manual com uso de facão ou mecanizada, dependendo da disponibilidade de máquina e de mão-de-obra, ou mesmo das características da planta, ser mais ou menos velha. Em áreas com plantações mais velhas, em que não houve um controle de invasoras, e que a invasora é um tipo de gramínea que forma uma grande touceira, é realizada a queima, antes de proceder a poda do mandiocal para colheita.

A colheita na região estudada é feita de forma manual, porém há uma etapa anterior, nos casos em que o solo está mais compactado, que é uma espécie de subsolagem, o trator passa um implemento chamado afofador, nas entre linhas da plantação que tem por objetivo afofar a terra para facilitar o arranquio manual. Em seguida, os trabalhadores fazem o arranquio, puxando os galhos para a retirada do conjunto de raízes. Há casos em que o mandiocal é mais velho, utiliza-se um trator com um conjunto de implemento que poda as ramas e afofa a terra para posterior arranquio das raízes.

Quando há necessidade, é utilizada uma ferramenta que contém uma ponta de um lado e de outro uma enxadinha. A parte pontuda é fi ncada no solo por baixo das raízes e puxada para cima para soltar as raízes e puxadas pelos galhos e amontoadas em leiras. Em seguida, um outro trabalhador, vem fazendo a despinicagem.

A despinicagem, por não exigir muita força, normalmente é uma operação realizada por mulheres, porém a postura assumida ao longo da jornada deve comprometer a saúde da traba-lhadora. A média de trabalhadores no campo era de seis a oito, contando inclusive o encarregado da mão-de-obra, que trabalha na colheita. Ao fi nal da tarde, vem o caminhão para levar as raízes para o galpão da fábrica. Os trabalhadores que realizaram a colheita são os mesmos que abaste-cem os caminhões manualmente.

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Relação, jornada, transporte e condições de trabalho

As propriedades visitadas, em sua maioria, eram arrendadas e os trabalhadores eram contra-tados por terceiros, que é considerado o parceiro do produtor de farinha, ou em outro caso, eram contratados pela fábrica. Porém, nenhum deles tinha vínculo formal. Todos recebiam por sema-na, o montante de R$23,00 a R$25,00 por dia. Segundo o depoimento de alguns trabalhadores vindos da colheita de cana, o trabalho na cultura da mandioca é mais leve e remunera melhor, além de permitir parada para as refeições e pausas durante ao longo da jornada. A jornada de trabalho é de oito horas, das sete horas da manhã às dezesseis horas.

A faixa etária dos trabalhadores na colheita variava de 18 a 25 anos, mas havia trabalhado-res de até 75 anos. Os mais jovens, em sua maioria, são habitantes da zona urbana e desenvol-vem seu trabalho na área rural. Vale destacar que a zona urbana é extremamente pequena e o trabalho é essencialmente agrícola, a não ser as pequenas fábricas de farinha que empregam em media 8 a 10 funcionários, e as de serviço, como o pequeno comércio local, o centro de saúde, hospital, escola e prefeitura.

O transporte é feito em peruas tipo Kombi onde são levadas também as ferramentas, água e alimentação. E em algumas situações, também são carregados produtos químicos. Não há lugar para higienização e a alimentação é feita à sombra de árvores ou da própria perua.

Os trabalhadores não recebem equipamentos de proteção individual e nem uniforme para desenvolver o trabalho. Alguns vindos da agroindústria canavieira trabalham equipados com calçados de segurança, com perneira, bonés com aba traseira e luvas de raspa. Outros impro-visam, utilizando luvas de tecido para proteger as mãos e para a proteção da cabeça, utilizam bonés em sua maioria e alguns utilizam chapéu de palha ou couro. As mulheres usam lenço na cabeça sob o chapéu, blusas de mangas compridas e calças compridas sob as saias para melhor proteção dos raios solares.

Conclusões

Em relação a outras culturas de expressão econômica na região, como as culturas de cana-de-açúcar, laranja e refl orestamento de eucalipto, a cultura da mandioca ainda mantém uma característica de trabalho e de relação de trabalho mais tranqüila. A maioria dos contratos de trabalho é de parceria com os donos das fábricas de farinha e outras de contrato formal com as empresas e também de contratos de diaristas. Os trabalhadores não recebem por produção. São assalariados ou diaristas que têm de cumprir uma jornada de 8 horas diárias. Na maioria das vezes o contratante da mão-de-obra (no caso do meeiro) trabalha junto com os emprega-dos na realização das tarefas.

Esta forma de trabalho induz a uma jornada mais tranqüila e com menor chance de ocorrer acidentes do trabalho, apesar do uso de ferramentas manuais e máquinas. Entretanto, é necessá-ria a maior conscientização dos empregadores para oferecer melhores condições de trabalho e ter uma preocupação maior com as doenças que os trabalhadores podem sofrer no futuro, em conseqüência à exposição a agentes nocivos durante a execução de suas tarefas, bem como, em assumir movimentos e posturas inadequadas durante toda a jornada de trabalho.

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Ainda é rara a consciência no meio rural sobre os direitos dos trabalhadores a áreas de vivên-cia para suas refeições e descanso, bem como de locais para higienização e instalações sanitárias. Os trabalhadores envolvidos no cultivo da mandioca necessitam, portanto, de mais apoio dos empregadores para melhorar suas condições de saúde e segurança no trabalho

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Sobre o livro

Composto em Garamond 16/12/10 (título, subtítulo, intertítulo e textos) e Franklin Gothic Book 8 (legendas)

papel supremo 250g (capa) e offset 90g (miolo)formato 16x23 cm

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