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Consequências do motu proprio "Tra le soIJccitudini" ( 1903) na música sacra madeirense do século XX
Paulo Esteireiro '
Ao longo da última década , o Serviço de Educação Artística e Multimédia da Direção Regional de Educação acolheu uma extensa quantidade de música manuscrita madeirense, principalmente dos séculos XIX e XX l
. No total, este Serviço já acolheu até ii presente data 15 (olcções de música manuscrita, sendo evidente nestas coleçõcs a forte preponderância da música religiosa, principalmente oriunda da primeLra metade do séculoXX
Após li ma primeira rase de exploração bibliográfica e depois de conduída a cataJogação das coleções musicais referidas, foi possível realizar algumas primeiras inferências sobre a musica sacra na Madeira, embora naturalmente cautelosas e fundamentadas nos co nhecimentos atuais e no corpus de obras disponíveis para análise. Assim, curiosamente, ao contrári o do que acontece com a música profana, a música religiosa do séru10 XJX está pouco presente nos cerca de 6000 manuscritos madeirenses examinados. 8ila ausência é tanto mais curiosa quando temos em consideração que cerca de metade dos manuscritos observados é relativa à música sacra, destacando-se particuJannente as seguintes coleçães de música manuscrita: Coleção Domingos Fernandes Damas; Coleção Raúl d'Abreu; Coleção João Hermógenes Barros; e Coleção Ãngelo Álvares Freitas. Tendo em conta que as coleções anteriormente referidas foram pertença de responsáveis pelas atividades musicais em diversas paróquias madeirenses ao longo do século XX, é legítimo deduzir que a pouca presença de músicas do séc.ulo XIX, nestas coleções, signifique que a música oriunda desse período tenha sido abandonada ou pouco executada por estas personaJidades da música &lCra da Madeira. Evidentemente que se reconhece neste artigo que não haverá uma causa exclusiva e única que explique o abandono da música de autores oitocentistas na Madeira, durante o século XX Conhldo, defende-se aqui que um dos principais motivos para este abandono estará relacionado com o motu proprio "Tra le sollecitumni", publicado em 22 de novembro de 1903 pelo papa Pio X. Assim, pane-se da premissa de que este documento emanado do Vaticano teve uma grande influência na música sacra madeirense do século XX, procurando-se aqui demonstrar algumas das suas consequên
cias na atividade musical sacra da diocese do Funchal. De forma a clarificar os inten los desle texto, o problema cenlral e as hipóteses de
solução da presente comunicação poderão ser descritos do seguinte modo: quais as consequências que teve o 11/0tll proprio na produção music..11 religiosa madeirense? Por
I Universidade Nova de Lisboa (' Dircçào de SeI""\'üiOS de Educação Artistica e ~ I ultimédia (~ I adeira).
c~~~ i~a~I~~!;~r~~fó;~o ~~~~,~~~~~r~:~I~,~I~t~ E~j~~ ~~\ ~~~raiLlJ: 1~~~s~~~:,~,lt~I~!e~~ Esludos dc HiSlóri" doAlhintico, 2011,pp.157-266
FIGURA I: Consequências da implemen tação do IIIOIU proprio (1903) na Madeira
Para testar as quatro hipóteses apresentadas, procedeu-se a uma breve revisão da literatura, de modo a enquadrar e a preencher pontualmente algu ns aspctos pontuaIS, realizou-se uma cronologia com acontecimentos musicais religiosos importantes e referentes à innuência do Illotu proprio na Madeira, tendo-se consultado para o efeito os periód icos Diário da Madeira, Diário de Noticias, lomal da Madeira e O Mmlcirel/ se, c examinou-se quatro coleções de música manuscrita: Coleção Do mingos Fernandes Oantas (12\4 documentos, maioritariamente religiosos); Coleção Raúl d 'Abreu (57 \ documen tos, religiosos e profanos); Colcção João Hcrmógenes Barros (966 documentos, maioritaria mente religiosos); c Coleção Ângelo Álva res Freitas (953 documentos, rcligiososeprofanos)
Para apresentar os resultados, estruturou-se o art igo em quatro partes: Motal próprio "Tra le so\lecitudini" (l903), onde se apresenta as pri ncipa is norlllas deste documento; A proibição de repertório teatral, em que se versa sobre os enl ão considerados
lJiocc-scdoFunchõll - A I'rimeirJDiocc~c('jloh;l1
"aspctos neS<ltivos" da música sacra, quc o documento procurava resolver; a criação de Nova repertório o riginal , onde sc aborda sucintamen te o aumento de produção origi nal por partc de autores madeirenses, de acordo com as novas normas; c a Procura de repertório autêntico e a necess idade de fo rmação, cm que se demonstra a nova import:lncia atribuída ao canto gregoriano, como solução idcal para a música sacra em contexto litúrgico , e, finalmcnte, o es forço realizado na formação e na constituição de estratégias para instruir na difícil arte do cantochão.
MOIII proprio "Tra le soJlecitudini" (1903)
Publicado a 22 de novcmbro de 1903, por Pio X, o n/Olll proprio "Tra Ic sol1 ecitudinj" Cril descrito pelo próprio papa como "um código jurídico de Müsica Sacra; c, cm virtude dil plenitude de Nossa Autori dade Apostólica, quercmos que se lhe dê força de lei". O principal objeti vo era "manter e promover o decoro da Casa de Deus, onde se celebram os <luguslos mistérios da religião e o povo cristão se reúne"J.
ser sa~~;;'~,~:~: ,~c~,~,I",P:;~~::';7u~~~s~u~~o~~;~~~~;:,~~,,,~~f~:;;;;:2,~'t~~\~'~::;C~ ;~~:'t;~ gregoriano apJrccc como bitola !,.Ir,l ~oda a mU~lca IItU~glúl c ,como género lllusic,ll sacro de referencia. Quanto m,lis próxllno o género IlllISlC"l estlVt'sse do canto grego-
~t.~r~:~:~~~~~f~:i;~;:~if~~~:r:~~~~~~r~:!f;::~~;i~~~~~~~,~~~~~~~:~~~:}:::~ texto litúrgico deve ser respeitado c não adulterado por questões Illusicais. Assim, é provável que mesmo delltro do calHo gregori:lno fosse privi legiado o canto mais silá bico c o menos orn,lnlcntado possível, de modo .\ não obscurt'cer o texto litúrgico. Aliás, o seguimento fOfm,11 estrito das pUles da missa e do ofíc io foi um :! das preocupações cent rais expressas no 11/011/ proprio. O objetivo era prewni r que formas musicai s habit uais da ópera ou a forma conce rto fosse m abandonadas cm detrimen to da forma do próprio texto litúrgico. Ou seja, a fo rma musical deveria submete r-se à forma do texto sagrado e nunca poderia este ser adulterado por motivos musica is
Uma inquictaçào da época era também a scleçào dos cantores, como ficou demonstrado através da proibiçJ.o da partic ipação das mulheres no canto sacros. O argumento era simples. Tendo em conta que se considerava o canto sac ro um ofício litúrgico, as mulheres não poderiam participar musicalmen te na missa e no ofício. Além das mulheres. considerou-se igualmente oportuno pro ibir de cantar na igreja as pessoas consideradas pouco idóneas, deixando e.s5..1 classificação moral para organi smos a criar para esse efeito.
No plano instrumental, a bitola passou a ser o órgão, sendo os instrumentos populares c profanos - tambores, bombos. pratos, etc. -, bem como as bandas fila rmónicas, agora banidos do interior da igreja. De qualquer modo, mes mo o órgão recebia no motll proprio a advertência de que deveria apenas ser mil izado de fo rma discreta e nunca sobrepondo-se ao ca n to~
rC f~r~ia~~~:~~:~~~~;ar~:;~: ~ i~r::;~ea o:u :~~~~:r;:e~:s~~~:~~::::;;: ii~~~!~:1s~ I~: ~~oo d:;~~ ~ÓS ltO. de superviSIOnar a Implemen tação das novas normas; Se/lOta ca lltorlll1l . pnra
~~~~~~:~~ :of~~~~~~~~e~l~nCt:I~~ :~;s~~~:a~:~;sesco las superiores de música sacra, para
'PioX,op.cil.
~~~~~~~~~~~~~§;§]ff:
Dioc(~ do Funthal - A Primcir~ I)ioc~ Glob~1
A proibição de repertório teatral
A implementação da rerorma de Pio X tinha um importante obstácu lo_ As práticas musica is ex istentes estavam de tal modo implantadas que quer a utilização de bandas filarmónicas, quer o uso de instrumentos popula res, quer, principalmente, os géneros influenciados pela música teatral, não eram fac ilmente abandonados peJos interve.
nienles n:lS Cl tividades musicais das paróquias, em fa vor do canto gregoriano ou de uma música mais simples e austera. Aliás, este era um problema nacional, visto que segundo os relalos de visitantes estrangeiros, no século XIX, a música executada dentro da igreja era normalmente semelhante à música tocada em COntexto teatral' .
Tendo em consideraçâo que os músicos que compunham para a Igreja eram nor· malmente os mesmos que compunham para o teatro e para os salões, era comum a música sacra ser influenciada pelos géne ros profanos. Romper com esta situação era um dos objetivos primordiais da refo rm a, que estava bem cla ro no documento, sendo rde· rido no capítulo II - "Géneros de música sacra" - que "entre os vários géneros de música moderna, o que parece menos próprio para acompanha r as funções do culto é o que tem ind icias de es tilo teat ral '"
Nos primei ros anos pÓS-11I0tll proprio, apa rentemente, a maior parte do repe rtório locado nas igrejas madeirenses do sécu lo XIX, com influência do esti lo operático, manteve·se sem alte raçôes, principalmente nos momentos festivos. Um acontecimento que também parece com provar esta situação de desobediência ou inércia é a criação cm 1918, 15 anos depois da publicação do documento, da Comissão Diocesana de Música Sacra para impor as " leis ecles iásticas", por parte do bispo D. António Ribeiro'
D. António Ma nuel Pereira Ribeiro, por mercê de Deus e da San ta Sé Apostólica, Bispo do Funchal, Ilhas da Madeira c Porto Santo. Afim de promovermos a escrupulosa obser· vancia, em toda a Nossa Diocese, das leis eclesiasticas ácerca da musica sacra, havemos por bem tomaras providencias seguintes, que ficarno constitui ndo a lei diocesa na: 1°_ Para formarem a "Comissão encarregada de examinar as musicas que se execu tarem nas igrejas desta Diocese", conforme o prcceitu<ldo por Sua Santida de Pio X' .
Neste contexto, teve especial importância a ati vidade do monsenhor Manuel Joaquim Paiva 'l\ um dos eJemenlOs in tegrantes desta comissão, que tinha como lima das principais competências "examinar as músicas a serem cantadas, o modo de as executar,
M,umcl Crl rlos (te Brito, David Cr,lIllllef, Cró"iClU da Vida Mi/siml PorlUJ:uL'SlI1II1 primára lIIelml.' tio sirulo XIX, Lisboa, Im prensa N3cional-ÚIs,1 d.\ Moeda, 1990
' PioX,op.ôt.
' OMm/eireme,01IOS/ 1918
gf~~~~i~~'ª~~.fE~~~g~J,]:
FIGURA 3: Monsenhor Manuel Joaquim Paiva (Clode. 1983)
A ideia da comissão não ('ra original e já estava prevista inclusivamen te no próprio documen to de Pio X, onde se propunha que se criasse nas dioceses "uma com issão especial de pessoas verdadeiramente competentes na música sacra, à qual confiarão o cargo de vigiar as músicas que se vão executando em suas igrejas p ara que seja m conformes com estas delerminações"u. Seria errado. no entanlo, concluir que o Mottl proprio foi completamente ignorado antes da constituição da Comissão Diocesana de Música Sacra. Há referências nos periódicos madeirenses à execução de repertório especi fi co que eslava de acordo com esta reforma, como comprova a seguinte notícia (sublinhildo nosso) sobre umas novenas celebradas em Càmara de Lobos'
As novenas de S. Sebastião. que se estão celebrando na igreja de Camara de Lobos, também I ~m sido feitas com empenho, tocando ao órgão o sr. Joa<\ui m B. de Freit as
;E~:~~~~0~~;:~~~~ ~~~s:~a~~~C~~I~i:~~~d~Si~~~~~~:Oo d;U~~~~ls:r~:~iaas ;~~::~~~sd~o:~r~~ · PioX,op.cit
DiocC'St'do l' ullchal -A PrimC'iraDiocts('(;lobal
~li~ed~o~i~;l~~~:~~Cll;~,~I~~~ ~~~~~~~~e~I~~ill~I!S~i;~~~ ~r~~~~~nj;I::!;r:;%~;4c=~J~-De qUidqucr modo, a constituição da comissão fez desaparecer defi nitivamen te a
maior parte do repertó rio do século XIX tocado nas igrejas madeirenses, embora cm muitos l~lOll1e.ntos fes~ i vos a innuéncia da música teatral e, em certos casos, o próprio repcrtófl.o de .lI1n uê l~Cla opcrática se tenham mantido. Por exemplo, abcrtura5 de óper:ls Oll sinfonias religiosas com innuências operáticas mantiveram-se at é ao final do sécul o XX em miss:1s fcsti V:1S, cm que eram con tratados grupos de músicos para atuar·.
Novo repertório origi nal
Cu riosamente, esta atitude censória de banir a música tealral. por parte da Igreja, aca DOU por tcr a lgumas consequências posi tivas na música sacra madeirense, visto que incentivou a cri;lção de novas compos ições musicais por parte dos padres. Impedidos de utilizar as músicas que haviam dom inado a liturgia durante o século XIX, muitos ecles iás ti cos acabaram por compor vá rias obras musicais origina is de acordo com os
preceitos do 11/011/ proprio. Apesar de se ter mantido inOuencias pontuais da música de ópe ra, na Madeira,
como acima se refe riu , a general idade da nova música pós-motli proprio foi marcada pela orientação do monsenhor Manuel Joaquim Paiva, que esteve à cabeça desta mudança. Além de ter sido membro da Comissão Diocesana de Mlls ica Sacra, elll 1908, foi a personal idade rel igiosa que orientou a edição de lima nova coleção de cânt icos intitu lada Melodias sacras, orga nizada de aco rdo com as características estabelecidas pelo 11101 11 proprio de 1 9031~ . Na equipa que realizou esta co lcção sob a sua orientação encontravam-se alguns seminaristas que vieram a ser figuras de destaque da música sacra madeirense ao longo da primeira metade do século XX: o padre José Bebiano da Paixão, o cónego Fernando Meneses Vaz, o padre Sebastião Antero Gonça lves e o padre
Anto nino César Gouve ia Valentel6
•
Prova dc que os sem inari stas c padres da época sentiram a necessidade de um novo repertório é o Facto de muitos deles terem composto UIll conjunto significa tivo de compos ições origi nais. C0l110 se pode ver no quadro I, chegou até aos nossos dias um conjunto relativamente elevado de composições de padres madeirenses da época, sendo plausível que o número rea l seja muito maior do que aquele que aqui se apresent a. Merece cspecial rC;ltce o cónego Fernando Vaz ( 1884-195'1), um dos maiores intelectua is madeirenses de e l1t;10 e que na :irea da músic;l também dei.xa um legado impor
tall te (ver lista delalhada no ap('ndicc I).
QU,\I)IU1 1 Número dl'obr\\ !,'lh':OfltfJ(L15 por pJdr!,'- (O nlpo~itll r
P.' José Bibianoda PJixáo ( J886-1925 l
P.' AntónioAl\'Jro,C.t>. I. ( IS83-?)
Cónego Fernando Carlos 1\'lenl'zes V,I7 ( 1884- 1954)
P.' Sebastião Antcro Gonçellves (1886-1957)
P: Joaquim Roque Fernandes Dantas (1905-1996l
Cónego An tónio Damasceno de Sousa ( 1922)
João Arnaldo RulinodaSilvJ ( I929 )
N,· DE OBRAS
ENCONTRADAS
(LISTANAO
EXAUSTIVA)
IS
13
21
23
o novo repertório é caracterizado por uma procur.\ de simplicidade c au steridade musical, numa nítida fuga a virtuosismos, quer no canto, quer no acompan hamento:
• Melodias simples e sem brilhant ismos de conceno;
• Canto normalmente silábico (uma sílaba pam "Ida nota musical e sem os mclismas operáticos);
• Acompanhamentos de órgão sim ples e com prelúdios muito breves.
A procura de repertório aUlêntico e a necess idade de formação
Além da composição de obras o riginais, uma das principais conseq uências da reforma de Pio X (ai a recuperação e difusão do canto gregoria no, que emergiu de um esqueci
mento de sécu los e se tornou a bitola par.! a seleçfio da música litúrgica adequada:
Uma composição religiosa será tanto mais sacra c litúrgica quanto mais se aproxima no andamento, inspiração e sabor da melodia gregoriana 1 ... 1. O can to gregoriano deverá,pOis, restabelecer-se "mpl"mcnte nas funçôesdo clllto"
Na Madei ra , é possível encontrar-se algumas rcCerências à promoção do canto gregoriano na primeira metade do século XX. Por exe mplo, entre 1912 e 1915. é referido que um padre beneditino terá realizado um Curso de Ca nto Gregoriano no Funchal; em jornais religiosos da Madeira, são apresentados os princípios elementares do
" PioX,op. cit
Dioce5<'d(lFullchdl - APrimC'irolVioceseGlobal
c;ll110 grego ri.lIlo e música sacr.1 " ; cm 1918, numa rcuniào dos sacerdotes da União t\postólica, dc:corre lima confer~ncia c ensaio sobre a lll11sica sac ra, sendo facu ltada a cnlr.\(IJ para os trabalhos a todos os o rgan istas da igreja c cantores, que r eclesiásticos,
qucr scculares , a fim (~C se ,!niciarcm nos múltiplos segredos da arte de cantJr e acomp:lIlhar o canto grego ri ano ; cm 1929, no convent o de Santa Cla ra, há relatos que referem que as Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria praticavam música religiosa, com oricnt,lçJO da madre Mac ie!. sendo o seu repertório constituíd o por can to grego riano e polifonia clássica; finalmente, o canto gregoriano recebcu um forte impulso cm 1956. quando se realizou no Seminário Diocesano a J, Il Sellla/UI Gregoria1/a, orientada pela Prof .. ' JÚl iadeAlmcnd ra l1l.
A mudança proposta por Pio X, de recuperar o canto grego ri ano do esquec imento de séculos, era evide nt emen te complexa e obrigou à realização de cursos e fo rmações, C0 l11 0 foi exemplifi cado anteriormente. Além destas atividades formati vas, lima das propostas de Pio X para a promoção da "boa música li túrgica", leia-se canto gregori,mo, era a fundação de lima 5ello/a ClllltOruf1l, sempre que nas dioceses houvesse condições, como refer ia no documento da reforma: "onde fo r possível , promova-se entre os clérigos a fundação de uma Sc1IO/a Ollltorum para a execução da sagrada pol ifonia e da boa música litúrgica"!) . Com efeito, compreende-se que nesta altura renha sido igl13lmente criada uma Scho/(l C(//Itorl/ll/ no Funchal12, muitas vezes designada nos periódicos de "Escola Cantorum", que teve como regentes o cónego Manuel Mendes Teixeira e o já referido monsenhor Manuel Joaquim Paiva-
[ ... 1 as mcsmas novenas realizam-se 1M igreja do Colegio, de tarde, cantadas pela "Escola Cantofum,,!J;
[ ... 1 a musica do côro ser.í executada a grande instrumental, sendo a. parte vocal desempenhada pela "Scala Cantorum", da regência do sr. Cónego Tei.."I:eir.f';
[, .. ) estão se ndo celcbm(b s, CO/11 Illuito empenho, as novenas em 10llvor a NOSS<l Senhora
~;,~UI~~~~II::~~~~:I ~::I:~a:):~r~· ~~:'~~~~~;~;I~n~:n;~:I~~-sc n Se/lO/a Q""O(//III da
Em 1958, a formação em canto gregoriano em ainda 111l1<1 preoc upa ç.J.o central, C0/110 exemplific<l bem o caso do padre João Arnaldo Rufino Silva. Neste contc.xto de
" JO,'O Arnaldo Rufi no da Silva,op. cit 'O Mlldcirt'"St'. 2!6/ 1918.
' DillriodcNo/lcifl5,27/06119 16
DitlriodIlMlltlcim,2 1103/ 1916
Considerações finais
0/110111 proprio de Pio X começou ,I ser implementado de forma tí mida na Madeira, e apenas a partir de 1918, (001 a criaçJo d,} Comiss:'io Dioct'!o,m3 de M úsica Sacra, os seus
pri ncípios foram sistenldticamen tc implementados. Apt'sar da resistencia inic ial na
Madeira ao docu mento proposto por Pio X pa ra a músicJ sacra, na década de 1950. a reform.1 de Pio X estava implementada. pelo menos no Funchal. Prova d isso mesmo,
n3S missas solenes , o coro do st'minári o , constit uído pdo~ alunos de Teologia e quc
tinha ii sua responsabilidade o ,Kompanhamenlo music,d da missa dom ini ca l na sé do Funchal, can tava d3 miss3, sendo ,\ ou tra parte rea li z...l da em
dominicais asSllstidas pele bispo eram interpretadas inte
gralmentecom canto gregori.mo
~ssim, o repertó~i~ de ca~iz ~eJtral do século XIX roi praticame nte todo ba nido da liturgia, tendo sobreVIvido pnnClpalmcnt e cm momentos festi vos, nas abe rturas das
mi~sas, 3hma cm qu e se tocava m trech o~ de óperas co nhecidas, co mo por exemplo O
((/ IiF' de B~gdtUl de François-Adrien Iloú;'ldieu, que se ma nteve quase até ao final do ~c ulo XX . O mes mo aconteceu com as ba ndas filarm ónicas c co m a utilização dos Instrumentos populares, que eram banidos da litllrgia no docum ento de Pio X. As batl-
lJioc('sedoFunchaJ -A PrimeiraOioccseGlobal
das fila.n~lónicas ~ c;I. ram no ex terior da igreja, mas continuaram a integrar as festi vida
d(' ~ rehglos:I~, .pflIlClpalmente no fi n~l das m issas; e os inst rumemos da reli giosidade
::~~:~:::rr('~':;:a~~:~~l:II~~~~~~:I~ampal nh as c pratos, mant ive ram -se em algumas ceri-
HG URA 'I: Co ro do Seminário Diocesano. Colcção Particular de João Arna ldo Rufino da Silva
No plano cln análise musica l, o motli proprio teve um impncto importa nte ao nível do respeit o peta texto litúrgico, passa ndo as partes do canto a ser nmis sim ples para
clarificar a mensagem. Consequentemente, no plano musical, as composições originais dos pad res madeirenses perde ram o virtuosismo vocal típico da mllsica teatral e as
pa rtes inslrurnent;.is foram reduzidas ao mínimo, n<lS co mposições observadas. De qua lquer modo, compamndo com a atua lidade, a p reoc upação da época com a melho
ria da formação musical dos padres c o gra nde aumento de co mposições por parte dos
clérigos 1l1;ldeirenses tornam es te período pós-mofll proprio rico no plano musica l. O final do curt o reinado do ca nto gregorian o. que terminou co m o Co ncílio Va tica no II ,
talvez seja ullla das explicações parciais para o fac to de a fo rmaç:i.o m usical dos padres ter deixado de se r nova men te lima preocup:lç.1o 1.10 cent ml.
Infelizme llte, na alua lidade, a música sacr.I madei rense C:lfece da f.llta de ca nlO res C organistas profissiona is ou, pclo menos, se miprofiss ionais. O conjunto de órgãos recuperados rece nt emen te pela Direç;10 Regional dos Assu ntos Cult umis merecia lima
apos ta maior no e ngrandecimento das ati vidades musicais s aCfilS.
APtNDICE
Lista das obras do cónc:go Fernando CMlos lvknc/t:'s Vaz'
I. 3 lnvitató rios 2. Promessa c despedida 3.9 Lada inn'ls
~: ~~'~~~~~:c~ cir~7:~:iO (orqucslr,1 e órg,io) (original autógrafo)
6.0qlwmamabi/is(autógr<lfo)
7. AI'eMtlritl 8. Osalll(aris, Ladai nha, cS(abm/llater 9. Tant wlIergo 10. Vi rgem J\'làc dc Deus I I.LlIIuillsiol/(original all tógrafo) 12. Invitatório ao Sagrado Coração de Jesus 13. \fel/i, Invitatório (2.0) c \lelli (2.0)
14. lnvitatórioaumSanloConfessor
15. lnvitat6rioaN.· Sen nora daConceição 16, lnvitat6rioaN,"Sennora 17. Tota Plllchm es Maria (original autógrafo) 18. AveMariaa2vozes( tcnorcbaixo) 19. Asperges III1! (original autógrafo) 20. Missaa3 vozes, n,O 2,crn Fá Maior, 1938 21. Missaa3vozes,n,oS.cm Dó Maior, 1942 22. Missa a 3 vozes, n.O 6, cm Mi bemol Maior, 1942 23. Rcsponsórios das Mat in as de Natal 24.3 Tafltllmergo 25. Hino a Santa Ana 26. Tal/tlim ergo em Ré menor (autógrafo) 27.Consagração aN." Senhora
28. Hino à Im aculada Conceição (Toda pura nasceste ó Maria) 29 . Prece à Senhora da Paz 30. Salveó Virgem sempre pura 31. I:. suave e mavioso 32.0Virgcrn
33. OSallltari5em Fá menor 34. Eu Vos prometo 35. O Rei Supremo (aulo) 36. Coração tern o 37. Ladainha ao Coração de leslls
- Lista não exaustiva
Dioccsedol;ullchal ·A PrimciraJ)ioccscGlobal
38.1'(11111111/ ergo em Fá mc nor (original autógrafo)
39. CinticoJ Santa Ana
40. T"I/(IIIII ergo (origin al autógrafo)
41. Hi no ,\ D. Teodósio Gouveia (o rigina l aU lógríl fo)
42. Cm /i" plcl/a, sinfonia para orquestra e órgão
43. Violel.l, sin fonia para o rqu esl ra c ó rgão
44. C lIll crnos, louvemos
4S.0Sa(fIlIllCOIIVil'illlll 46. Jaculatória ao S.o Coração de Jesus
47. COllfitémilli Domino e Traelus
48. Lal/dore a 3 vozes (Sábado Santo)
49. Responsórios de Mat inas da Rcssurreição do Senhor 50. Victimaepasc1wlilalldes 51. Miserere 52. Responsó rios de Matinas de Sexta -fe ira Santa 54. PallisflllgeliCl/s 55. Sortie em Si bemol
56. Eccesacerdos 57. Domillelloll SlUl/digllllS 58. Missaclll Ré menorn.o I ( 1936)
59. O sa!IlIaris (solo de tenor)
60. Credo, SflllCIIIS, Ag1/ lIs Dei 61. Hino a Sa nt o Amaro (origina l autógrafo ) 62. Hino a Santa Cecíl ia
63. Christ llsfaCl lIsesl (vozes e órgão) 64. Ofertó rio (orq uestra e órgão)
65. Adoro le,a 3 vozes
66. TcDC'III1/,a3vozes 67. Cre púsculo (sinfonia ) (ó rgão) 68. Hino a S. João de Deus
69. Jesus na C ruz
70. Ó coração benévolo
71. Consagração a N.- Senhora 72. No ite sagrada
73. A Voz do coração
74. Paslorcla- Terra,céus, pasmai
75. Ouço vozes, são pastores. 76. Gloria il/excelsisDeo 77. l-Iojcháfesla