catarinense O - Asbraer

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o Vol. 23, n 1, mar. 2010 - R$ 10,00 ISSN 0103-0779 catarinense O Epagri Epagri Aquecimento global ameaça agricultura Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural Nova cultivar de arroz irrigado Variedades locais de milho no Oeste Catarinense Ensacamento do cacho e inseticidas em trips da banana Plantas daninhas resistentes a herbicida Nova cultivar de arroz irrigado Variedades locais de milho no Oeste Catarinense Ensacamento do cacho e inseticidas em trips da banana Plantas daninhas resistentes a herbicida

Transcript of catarinense O - Asbraer

oVol. 23, n 1, mar. 2010 - R$ 10,00 ISSN 0103-0779

catarinenseOEpagriEpagri

Aquecimento globalameaça agricultura

Secretaria deEstado daAgricultura eDesenvolvimentoRural

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· Nova cultivar de arroz irrigado

· Variedades locais de milho no Oeste Catarinense

· Ensacamento do cacho e inseticidas em trips da banana

· Plantas daninhas resistentes a herbicida

· Nova cultivar de arroz irrigado

· Variedades locais de milho no Oeste Catarinense

· Ensacamento do cacho e inseticidas em trips da banana

· Plantas daninhas resistentes a herbicida

1Agropecuária Catarinense, v.22, n.2, jul. 2009

2 Agropecuária Catarinense, v.22, n.2, jul. 2009

Sumário* Editorial ........................................................... 3* Lançamentos editoriais .................................... 4

* Cursos alavancam piscicultura continental noEstado ............................................................. 5

* Plantas que curam também geram renda ......... 6* Agricultura familiar produz mais em menor

área ................................................................. 6* Estado distribui sementes de hortaliças

orgânicas ......................................................... 7* Pesquisa vai ampliar produção de mexilhões ... 8* Primeiro “icewine” brasileiro é de Santa

Catarina ........................................................... 8* Agricultores resgatam produção de sementes

crioulas ............................................................ 9* Santa Catarina lança primeiro vinho orgânico

registrado ........................................................10* Lei de Ater é aprovada pelo presidente Lula .... 11* Site divulga situação do ICMS ecológico no

Brasil .............................................................. 11* Voluntários instalam pomar e horta orgânicos

em hospital...................................................... 12

* Profissionalização digital: breve roteiro paraatualização de processos de transferência detecnologia....................................................... 13

* Desenvolvimento territorial no Planalto NorteCatarinense como resultado de uma políticapública.............................................................15

* Controle do borrachudo: questão ambiental......18* Mata ciliar: garantia da vida nos rios................ 19

* Previsão de mudanças no campo.................... 20* Beleza que dá lucro......................................... 26* Garantia de qualidade para o que vem do

mar..................................................................31

* Pão de ora-pro-nóbis – um novo conceito dealimentação funcional...................................... 35

* Avaliação de cultivares de aipim através depesquisa participativa no sul do Estado deSanta Catarina................................................ 39

* A cana-de-açúcar na alimentação animal......... 43* Manejo de plantas daninhas resistentes ao

glyphosate....................................................... 46

* Curvatura da base do caule do tomateiroafetada por métodos de tutoramento e suarelação com a produtividade de frutos..............49

* Resistência de cultivares de milho (Zeamays L.) à antracnose foliar no estádio deplântula............................................................53

* A diversidade de variedades locais de milho emAnchieta, Santa Catarina......................................58

* Época e intensidade de ocorrência da necrosefloral em gemas de pereira japonesa cultivarHousui durante o inverno................................. 64

* Puberdade em novilhas da raça CrioulaLageana...........................................................70

* Análise da variação somaclonal em mudasmicropropagadas de Musa acuminata cultivarGrande Naine por meio de marcadores RAPD..76

* SCS116 Satoru: nova cultivar de arroz irrigadoda Epagri......................................................... 81

* Efeito de fosfitos de potássio e de manganêssobre o míldio da cebola.................................. 84

* Efeito do ensacamento do cacho da bananeirae de inseticidas no controle do trips-da-erupção--do-fruto Frankliniella brevicaulis (Thysanoptera:Thripidae)........................................................ 88

* Espécies oleaginosas em cultivo de inverno noPlanalto Norte Catarinense...............................91

* Normas para publicação na revista AgropecuáriaCatarinense......................................................95

Opinião

Vida rural

Plantas bioativas

Reportagem

Conjuntura

Artigo científico

Informativo técnico

Nota científica

Normas para publicação

Registro

Germoplasma

3Agropecuária Catarinense, v.22, n.2, jul. 20093 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

FICHA CATALOGRÁFICA

Agropecuária Catarinense – v.1 (1988) –Florianópolis: Empresa Catarinense de PesquisaAgropecuária 1988 - 1991)

Editada pela Epagri (1991 – )TrimestralA partir de março/2000 a periodicidade passou a

ser quadrimestral.1. Agropecuária – Brasil – SC – Periódicos. I.

Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária,Florianópolis, SC. II. Empresa de PesquisaAgropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina,Florianópolis, SC.

CDD 630.5

Tiragem: 2.500 exemplaresImpressão: Floriprint Ind. Gráficae Etiquetas Ltda.

ISSN 0103-0779

INDEXAÇÃO: Agrobase e CAB International.

AGROPECUÁRIA CATARINENSE é uma publicaçãoda Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Ruralde Santa Catarina (Epagri), Rodovia Admar Gonzaga,1.347, Itacorubi, Caixa Postal 502, 88034-901Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, fone: (48) 3239-5500, fax: (48) 3239-5597, internet: www.epagri.sc.gov.br,e-mail: [email protected]

EDITORAÇÃO:Editor-chefe: Roger Delmar FleschEditor técnico: Paulo Sergio Tagliari

JORNALISTA: Cinthia Andruchak Freitas (MTb SC02337)

ARTE: Vilton Jorge de Souza

DIAGRAMAÇÃO E ARTE-FINAL: Victor Berretta

PADRONIZAÇÃO: Daniel Pereira e Maria TeresinhaAndrade da Silva

REVISÃO DE PORTUGUÊS: João Batista LeonelGhizoni e Laertes Rebelo

REVISÃO DE INGLÊS: João Batista Leonel Ghizoni

CAPA: Vilton Jorge de Souza

REVISÃO TIPOGRÁFICA: Daniel Pereira

DOCUMENTAÇÃO: Ivete Teresinha Veit

ASSINATURA/EXPEDIÇÃO: Ivete Ana de Oliveira eZulma Maria Vasco Amorim – GMC/Epagri, C.P. 502,88034-901 Florianópolis, SC, fones: (48) 3239-5595 e3239-5535, fax: (48) 3239-5597 ou 3239-5628, e-mail:[email protected] anual (3 edições): R$ 22,00 à vista

PUBLICIDADE: GMC/Epagri – fone: (48) 3239-5682,fax: (48) 3239-5597

REVISTA QUADRIMESTRAL

15 DE MARÇO DE 2010

As normas para publicação na Revista Agropecuária Catarinense estão disponíveis no site www.epagri.sc.gov.br.

Esta edição foi financiada pela Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (Fapesc)

Aintensificação da ocor-rência de catástrofesnaturais ao redor do

planeta pôs as mudançasclimáticas em destaque na pautade governantes, do setorprodutivo e dos cidadãos. E apreocupação não se restringe àscidades. No campo, agricultoresamargam perdas decorrentes deenchentes, estiagens e outroseventos extremos que tendem a setornar mais frequentes por contados efeitos do aquecimento global.Embora não se possa afirmar queas catástrofes sejam desen-cadeadas unicamente peloaquecimento, especialistasconcordam que há participação dofenômeno nesses episódios.

Santa Catarina já sente essesefeitos e o serviço de meteorologiaregistra alterações como oaumento da temperatura média

do ar, da frequência e intensidadede secas e de eventos extremos deprecipitação pluviométrica. Aprevisão é de que nos próximosanos as mudanças afetarãodiretamente as atividades nocampo. Na reportagem de capadesta edição, a RAC aponta quaisserão essas mudanças, o que vemsendo feito para adaptar aagropecuária catarinense a essanova realidade e de que forma osetor pode reduzir os impactosnegativos sobre o meio ambiente.

Outras reportagens destacam aprodução de flores, que tem setornado uma alternativa de rendaimportante no meio rural, e umprojeto criado para garantir aqualidade dos moluscos bivalvesproduzidos no Estado. Na seçãoGermoplasma, a RAC apresentaa SCS116 Satoru, nova cultivar dearroz irrigado da Epagri adequadaao sistema pré-germinado e comprodutividade superior às

principais sementes usadas pelosrizicultores.

Os artigos científicos trazemresultados de experimentos comresistência de cultivares de milhoà antracnose, puberdade emnovilhas da raça Crioula Lageana,necrose floral em gemas depereira japonesa cultivar Housui,além de outros trabalhos queapresentam o esforço da área depesquisa. Entre os informativostécnicos, a avaliação de cultivaresde aipim através de pesquisaparticipativa no sul do Estado e ouso da cana-de-açúcar naalimentação animal são algunsdos destaques. O trabalho sobreespécies oleaginosas em cultivo deinverno no Planalto NorteCatarinense e o artigo que tratado ensacamento do cacho dabananeira e de inseticidas nocontrole do trips-da-erupção-do--fruto são outras leiturasinteressantes da seção Notacientífica.

4 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Pragas da videira e seu controle no Estado de SantaCatarina – 2ª edição. 2010, 139p. BT 77, R$ 12,00.

O Boletim orienta produtores e técnicos sobre o controle das principaispragas que atacam as videiras em Santa Catarina. Com o objetivo deconciliar produtividade e qualidade com preservação ambiental, apublicação apresenta uma série de técnicas utilizadas em sistemas deprodução integrada e cultivo orgânico. Nessas modalidades, o controlede pragas tem como base o manejo integrado, levando em consideraçãoa preservação do ambiente natural e a sustentabilidade da agricultura.Para facilitar a identificação dos problemas que acometem as videiras, omaterial é ilustrado com detalhes das características das pragas queafetam a cultura.

Contato: [email protected].

Espécies com potencial ornamental de ocorrência noplanalto sul catarinense. 2009, 31p. BT 148, R$ 8,00.

O estudo de plantas nativas com potencial para uso ornamental é umaimportante forma de conservação da biodiversidade, além de valorizar

e caracterizar a floricultura regional. Desenvolvido na Epagri/EstaçãoExperimental de São Joaquim, este Boletim é parte do projeto depesquisa “Flores na Serra Catarinense”. A publicação descreve oito

espécies potenciais estudadas no planalto sul catarinense que podemser usadas sem causar danos ao meio ambiente.

Contato: [email protected].

Fisiopatologia do sistema reprodutor do macho bovino.2010, 54p. BT 149, R$12,00.

Conhecer a morfologia e a fisiologia do macho bovino é fundamental paraa seleção dos melhores animais para reprodução. No entanto, diversasdoenças infecciosas, de origem bacteriana, viral ou parasitária,

comprometem o aparelho reprodutivo dos animais. Esta publicação auxiliana determinação do diagnóstico dos principais distúrbios reprodutivosque acometem os touros. O trabalho destaca causas, sinais clínicos,

diagnóstico, tratamento e profilaxia.

Contato: [email protected].

5Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Éseguindo o pensamento “nãodamos o peixe; ensinamos acultivar” que a Epagri, em

parceria com outras entidades, temimpulsionado a piscicultura de água--doce no Estado. A base do trabalhoestá em cursos profissionalizantesoferecidos a produtores e técnicos.“Nos últimos 25 anos, a produçãocatarinense cresceu 260 vezes. Issose deve à excelência do produtor, àpesquisa e à extensão rural, comações de assistência técnica e cursosprofissionalizantes”, destaca Fer-nando Silveira, técnico empiscicultura da Epagri/Centro deDesenvolvimento em Aquicultura ePesca (Cedap).

Embora essa capacitação tenhasofrido descontinuidade por falta derecursos financeiros, a união deforças entre a Secretaria de Estadoda Agricultura e DesenvolvimentoRural (SAR) e o Ministério da Pescae Aquicultura (MPA) possibilitou odesenvolvimento de um projetovoltado para cursos específicos naárea. O projeto recebeu R$640.290,00 para a realização de dezcursos para produtores rurais e doispara técnicos (da Casa e externos) aolongo de 2009 e 2010. A Epagri foicontratada para a execução dotrabalho.

Cursos alavancam piscicultura continental no EstadoCursos alavancam piscicultura continental no EstadoCursos alavancam piscicultura continental no EstadoCursos alavancam piscicultura continental no EstadoCursos alavancam piscicultura continental no EstadoOs cursos são realizados nos

Centros de Treinamento e, atémeados de 2010, devem beneficiarcerca de 250 pessoas. Nas aulas, osprodutores aprendem a tecnologia decultivo, passando pela construção deviveiros e a gestão da atividade. “Emuma semana, o produtor descobre sea atividade é adequada para apropriedade dele”, explica Fernando.Dependendo da região, o cursoministrado é sobre peixes de águasmornas (carpas e tilápias) ou sobrepeixes de águas frias (trutas).

O objetivo da Epagri é ampliar aprodução e a produtividade etransformar cada vez mais pro-dutores coloniais em profissionais.“Colonial é aquele que não temprodução regular e geralmentetrabalha com açudes, sem controle deentrada e saída de água. Já oprofissional trabalha com viveiros,que têm controle de entrada e saídade água, o que ajuda a proteger o meioambiente”, explica Fernando.

Os interessados nos cursos devemprocurar o escritório da Epagri maispróximo. Mais informações comFernando Silveira, pelo telefone (48)3239-8044 ou pelo [email protected].

Objetivo é ampliar a produção e criar cultivos profissionais

Multiplicação dospeixes

Entre 1988 e 2008 a produçãoanual de peixes de água-doce noEstado saltou de 500 para 26 miltoneladas, colocando SantaCatarina entre os principaisprodutores nacionais. A atividadeé praticada em pequenaspropriedades familiares eexercida como fonte com-plementar de renda pela maioriadelas. São 22.930 produtores, dosquais 20.585 da pisciculturacolonial e 2.345 da pisciculturaprofissional.

As principais regiõesprodutoras são Oeste, Alto,Médio e Baixo Vale do Itajaí,Litoral Norte e Litoral Sul. Hoje,15% da produção se destinam àindústria, 35% ficam no mercadolocal (feiras, supermercados e napropriedade) e 50% são vendidosem locais conhecidos comopesque-e-pague.

Até há pouco tempo, as carpaseram as principais espéciesproduzidas. Hoje, são apro-ximadamente 20 espécies e astilápias ocupam a preferência domercado, com 50% do total. Ascarpas respondem por 36% daprodução e, em seguida, apa-recem o bagre (5%), a truta (2%)e o jundiá (2%).

A produtividade tambémcresceu. “Há 20 anos, a média erade 1.500kg/ha/ano nos cultivosprofissionais e hoje gira em tornode 5 a 10t/ha/ano, dependendo daintensificação do cultivo. Algunsprodutores tiram até 17t/ha/ano”,revela Fernando Silveira. Aorganização de associações depiscicultores também temcontribuído para elevar essesíndices.

6 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

O cultivo de plantas bioativastransformou-se em uma novafonte de renda para

produtores de Canoinhas, noPlanalto Norte Catarinense. “Tudocomeçou quando a agricultora AltairPadilha pediu ajuda da Epagri paraformar um grupo de famílias com oobjetivo de resgatar o uso dessasplantas em tratamentos de saúde eintroduzir o cultivo delas naspropriedades”, conta Daniel Uba,extensionista da Epagri/EscritórioMunicipal de Canoinhas.

Hoje, seis famílias do municípiocultivam, cada uma, cerca de 3 milmetros quadrados de espécies comocalêndula, melissa e camomila. Osagricultores também produzemespinheira-santa, capim-limão,cavalinha e hortelã em menor

Plantas que curam também geram rendaPlantas que curam também geram rendaPlantas que curam também geram rendaPlantas que curam também geram rendaPlantas que curam também geram rendaquantidade. As plantas sãodesidratadas em secadores evendidas para empresas de SãoBento do Sul, Gravatal, Palhoça eCanoinhas. O grupo é certificadopara a produção agroecológica pelaRede Ecovida.

Por meio da Epagri e do ProjetoMicrobacias 2 os agricultoresparticiparam de cursos e excursões ereceberam equipamentos e mudas. AEpagri também acompanha asatividades, presta assistência técnicae dá suporte nos contatos com omercado.

A atividade favorece o convívio ea organização dos produtores. Desde2005, as famílias se reúnemmensalmente para planejar e avaliaro trabalho. A participação em eventos

ajuda a divulgar a experiência e fazernovos contatos.

O sucesso do projeto desperta ointeresse de outras famílias. Por isso,a Epagri pretende ampliar o númerode espécies produzidas e estimular aformação de novos grupos paraconstruir uma rede, organizando acadeia produtiva na região.

Pela primeira vez a agriculturafamiliar foi retratada naspesquisas do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE). O Censo Agropecuário 2006identificou 4.367.902 estabeleci-mentos familiares, que representam84,4% do total, mas ocupam apenas24,3% da área de propriedadesagropecuárias no País.

Embora ocupe apenas um quartoda área, a agricultura familiarresponde por 38% do valor total daprodução (R$ 54,4 bilhões). “Issomostra a representatividade do setorpara a formação da nossa economiae da produção primária no País. Comisso, a agricultura familiardemonstra capacidade em gerarrenda, aproveitar bem o espaço físicoe contribuir para a produção agrícolabrasileira”, afirma Daniel Maia,ministro interino do De-senvolvimento Agrário, após a

Agricultura familiar produz mais em menor áreaAgricultura familiar produz mais em menor áreaAgricultura familiar produz mais em menor áreaAgricultura familiar produz mais em menor áreaAgricultura familiar produz mais em menor área

divulgação dos resultados.Os dados do IBGE apontam que,

em 2006, a agricultura familiar foiresponsável por 87% da produçãonacional de mandioca, 70% daprodução de feijão, 46% do milho,38% do café, 34% do arroz, 58% doleite, 59% do plantel de suínos, 50%das aves, 30% dos bovinos e 21% dotrigo.

Embora os homens sejam maioriano campo, o número de mulheres éexpressivo: 4,1 milhões detrabalhadoras estão na agriculturafamiliar e cerca de 600 milestabelecimentos são dirigidos porelas. O Censo revela ainda que 12,3milhões de trabalhadores do campoatuam na agricultura familiar (74,4%do total) e que o setor emprega umamédia de 15,3 pessoas em cada 100hectares.

Mais informações: www.mda.gov.br.

Agricultura familiar responde por38% do valor total da produçãobrasileira

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7Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Os agricultores agroecológicosde Santa Catarina receberamum incentivo a mais para

permanecer na atividade. Pelaprimeira vez o programa dedistribuição de sementes daSecretaria de Estado da Agriculturae do Desenvolvimento Rural (SAR)contemplou os catarinenses com adistribuição de sementes oriundas desistemas de produção orgânicos. Acoordenação do projeto está a cargoda Comissão de Agricultura Orgânica(CAO) da Secretaria. A Epagri e aCompanhia Integrada de De-senvolvimento Agrícola de SantaCatarina (Cidasc) são as executoras.

A proposta é que os agricultoresse sintam apoiados pelo Estado.“Esse projeto é uma forma deincentivar os produtores orgânicospara que eles permaneçam naatividade”, justifica Ari GeraldoNeumann, diretor de Desen-volvimento Rural da SAR.

Nesta primeira safra, cerca de 2mil agricultores receberam envelopescom sementes de dez tipos dehortaliças: alface, rabanete, ervilha,couve, salsa, cenoura, repolho,rúcula, mostarda, e abóbora-menina.“O objetivo do projeto é fornecersementes de origem reconhecida,visando qualificar a produção daagricultura orgânica”, explica oengenheiro-agrônomo NelsonJacomel Junior, coordenador da

Estado distribui sementes de hortaliças orgânicasEstado distribui sementes de hortaliças orgânicasEstado distribui sementes de hortaliças orgânicasEstado distribui sementes de hortaliças orgânicasEstado distribui sementes de hortaliças orgânicas

Comissão de Agricultura Orgânica daSecretaria de Agricultura.

A distribuição é destinada aosprodutores que já cultivam alimentosno sistema agroecológico e tambémàqueles que estão em fase detransição. Eles procuram osescritórios da Epagri e da Cidasc,assinam uma lista que os identifica etêm direito a receber um conjunto deenvelopes de sementes. “Um dosfatores de produção que têm melhorretorno do investimento na

agricultura é a semente. Essetrabalho está promovendo aagricultura”, ressalta Jacomel.

As sementes distribuídas foramcompradas da Bionatur, umacooperativa do Rio Grande do Sul quereúne agricultores familiares eassentados pela Reforma Agrária. Ameta da CAO é manter ou até mesmoampliar a ação nos próximos anos,dependendo do interesse e dademanda dos produtores.

Renda para assentados catarinenses

A produção de sementes de hortaliças orgânicas tornou-se uma atividade rentável para agricultoresassentados de Santa Catarina. A experiência é uma iniciativa da cooperativa Bionatur que vem sendodesenvolvida nos três Estados do Sul e em Minas Gerais. Em Santa Catarina, 40 famílias de Abelardo Luz,Passos Maia, Calmon, Matos Costa, Campos Novos e Fraiburgo participam do projeto.

“O retorno financeiro para o produtor é muito bom, pois existe uma agregação de valor grande e os preçospraticados pela cooperativa garantem uma alternativa de renda interessante para o assentado”, ressaltaRodrigo Dutra, técnico do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e responsável peloprojeto em Santa Catarina.

Em 2009 foram colhidas cerca de duas toneladas de sementes nos assentamentos catarinenses. O materialtem certificação de produto orgânico que permite à Bionatur exportar o produto com esse selo. As sementesjá são vendidas para Venezuela, Haiti e Cuba.

Fonte: www.mda.gov.br.

Cerca de 2 mil agricultores receberam envelopes com sementes de dezespécies de hortaliças

8 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

AEpagri está implantando noEstado o sistema contínuo deprodução de mexilhões. No

lugar de cordas de cultivo in-dividuais, com cerca de 1,5m decomprimento, penduradas em “longlines”, o sistema usa cordas de maisde 200m, presas em zigue-zague ouparalelas. A principal vantagem é amecanização do trabalho: a linha decultivo é conectada a uma máquinaque desagrega, limpa e classifica osmexilhões. Enquanto isso, umamáquina semeadora planta osmexilhões pequenos. Os equi-pamentos são montados sobreembarcações, o que permite que otrabalho seja feito no mar.

O sistema está sendo testado emunidades demonstrativas emBombinhas e Florianópolis. Asmáquinas, importadas, serãoadaptadas às condições dos ma-

PPPPPesquisa vai ampliar produção de meesquisa vai ampliar produção de meesquisa vai ampliar produção de meesquisa vai ampliar produção de meesquisa vai ampliar produção de mexilhõesxilhõesxilhõesxilhõesxilhõesricultores catarinenses. “O ideal éque, no futuro, cada município tenhauma embarcação mecanizada paraser usada pelos produtores locais”,comentam os técnicos André Tortato

Mecanização facilita o trabalho e evita lesões nosmaricultores

Novaes e Alex Alvesdos Santos, daEpagri/Centro deDesenvolvimento emAquicultura e Pesca(Cedap). A tecnologiavai facilitar o tra-balho dos mariculto-res que sofrem comlesões por conta dasobrecarga de esforçofísico exigida nomanejo da cultura.

O projeto deveimpulsionar a ofertade mexilhões. “Vamosviver, na próximadécada, uma explo-

são de produção, comercialização econsumo”, aponta Alex. SantaCatarina responde por 95% daprodução nacional de moluscoscultivados.

Este ano, o mercado nacionalvai conhecer o primeiro“icewine” (vinho do gelo)

produzido no Brasil. Isso só serápossível porque, em junho do anopassado, a equipe da vinícola Pericó,de São Joaquim, SC, registrou emseus vinhedos o fenômeno maisesperado da época: o gelo. As tem-

PPPPPrimeiro “icewine” brasileiro é de Santa Catarinarimeiro “icewine” brasileiro é de Santa Catarinarimeiro “icewine” brasileiro é de Santa Catarinarimeiro “icewine” brasileiro é de Santa Catarinarimeiro “icewine” brasileiro é de Santa Catarinaperaturas caíram bem abaixo de zeroe os termômetros marcaram –7,5°C.Essas condições possibilitaram fazera colheita das uvas congeladas pelofrio da serra catarinense a 1,3 milmetros de altitude.

O “icewine” é um vinho licorosonatural, com elevada quantidade deaçúcar residual da própria uva. O

processo de elaboração consiste emcolher as uvas perfeitamentemaduras e com temperatura inferiora –6°C. Nessa condição, a água quese encontra no interior das bagascongela e o gelo é separado do suco,rico em açúcar, pelo processo deprensagem, ficando o suco retidodentro da prensa pneumáticajuntamente com a casca, as sementese o engaço.

O mosto de uva, rico em açúcares,é então fermentado a 10ºC por 60dias. Depois, é estabilizado e colocadoem barricas novas de carvalho-francês. Após a vinificação, oconsumidor poderá degustar oprimeiro “icewine” brasileiro, assimcomo acontece em países frios, comoa Áustria, a Alemanha, a Itália e oCanadá. As três toneladas de uvasCabernet Sauvignon colhidas no anopassado resultarão em pouco mais de2 mil garrafas. A previsão delançamento é para o mês de outubro.As uvas foram colhidas depois de ser congeladas pela natureza

9Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Produtores rurais de Irineópolis,no Planalto Norte catarinense,em parceria com a Epagri e

entidades locais, estão resgatandouma atividade intimamente ligada àagricultura familiar: a produção desementes crioulas. “Desde o início dacolonização na região, os imigrantescultivavam lavouras com as própriassementes. Mas com a ação depolíticas de incentivo ao uso desementes híbridas, esse material foise perdendo, assim como a identidadecampesina”, relata o engenheiro-agrônomo Danilo Sagaz, da Epagri/Escritório Municipal de Irineópolis.

O trabalho no município foireiniciado há mais de 10 anos pelaONG Assessoria e Serviços a Projetosem Agricultura Alternativa (AS--PTA). Em 2006, a Epagri iniciou umprojeto em parceria com a ONG paravalorizar a história dos agricultorese minimizar problemas, como oelevado custo de produção e os riscosà saúde e ao meio ambienteprovocados pelo uso indiscriminadode agrotóxicos. “Vimos que aprodução de sementes crioulaspoderia dar resposta a boa partedessas dificuldades”, lembra Danilo.

Agricultores resgatam produção de sementes crioulasAgricultores resgatam produção de sementes crioulasAgricultores resgatam produção de sementes crioulasAgricultores resgatam produção de sementes crioulasAgricultores resgatam produção de sementes crioulasA maior atenção do projeto está

na produção de sementes de milho efeijão. Também são produzidas, empequenas quantidades, sementes dearroz sequeiro, plantas de cobertura,amendoim, hortaliças e ramas deaipim. “A agroecologia é a matriz quereferendamos para propor essastecnologias de baixo impactoambiental e que sejam adaptadas àrealidade dos pequenos agricultores.A maioria deles prefere migrar aospoucos do sistema convencional parao agroecológico”, conta o agrônomo.

O trabalho envolve a identificaçãodas famílias que trabalham comsementes crioulas e o resgate deconhecimento junto aos agricultores.A organização das comunidades éoutro item importante. Essa açãoinclui reuniões para definir a melhorépoca, o local e a tecnologia paratrabalhar com as sementes. “No casodo milho, as lavouras devem estarisoladas das híbridas para que nãohaja contaminação pela polinização.Por isso, os vizinhos precisam definircomo fazer esse isolamento”,exemplifica Danilo.

O melhoramento da qualidade dasculturas também faz parte do projeto.No caso do milho, foi feita uma seleçãobuscando diminuir o porte das plantaspara que elas tivessem maiorresistência ao acamamento provocadopelo vento.

Ganhos econômicos

Usando sementes crioulas, oagricultor reduz o custo de im-plantação da lavoura sem com-prometer os ganhos com pro-dutividade. Em Irineópolis, em um anosem problemas climáticos, o custo deprodução de milho híbrido por alqueireequivale a 300 sacos e a produtividademédia é de 400 sacos, resultando emganho aproximado de 100 sacos. Nomilho agroecológico produzido deacordo com a tecnologia adotada naregião, o custo de produção para amesma área, nas mesmas condições,equivale a 50 sacos. A produtividademédia é de 200 sacos, com ganho de 150sacos por alqueire.

Em épocas de estiagem, os milhoscrioulos têm demonstrado capacidadede prolongar o período de floração,mantendo um padrão regular deprodutividade na média dos anos. Aslavouras conduzidas no sistemaagroecológico também não apresentamsintomas de doenças e são poucoatacadas por pragas como a lagarta--do-cartucho.

Segundo Danilo, a procura porvariedades locais tem aumentado emuitos produtores já não pensam emadquirir sementes do mercado. Nomunicípio, mais de 50 famíliascultivam lavouras com sementescrioulas, incluindo agricultores doAssentamento de TrabalhadoresRurais Sem Terra Manoel AlvesRibeiro. A meta é aumentar o númerode famílias envolvidas e o volume desementes produzidas. Além da AS--PTA, são parceiros do projeto aEstação Experimental de Canoinhas,o Sindicato dos Trabalhadores naAgricultura Familiar e a PrefeituraMunicipal.Produtores de Irineópolis trabalham na seleção das espigas de milho

10 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Éde Rio do Sul a primeiraunidade produtora catari-nense de vinho e suco de uva

orgânica a obter registro junto aoMinistério da Agricultura, Pecuáriae Abastecimento (Mapa). A novidadevem da Agroindústria e VinícolaValiati, inaugurada em dezembro doano passado, quando os produtostambém receberam certificação doInstituto Biodinâmico de São Paulo(IBD) – a primeira do Sul e a segundado País concedida a uma vinícola.

Vili Valiati começou a produziruva no sistema convencional em1994. Quatro anos depois, com apoiodo engenheiro-agrônomo JoãoFavorito Debarba, pesquisadoraposentado da Epagri, passou acultivar uvas no sistemaagroecológico. “Hoje, já estamos

Santa Catarina lança primeiro vinho orgânico registradoSanta Catarina lança primeiro vinho orgânico registradoSanta Catarina lança primeiro vinho orgânico registradoSanta Catarina lança primeiro vinho orgânico registradoSanta Catarina lança primeiro vinho orgânico registrado

migrando para o sistema bio-dinâmico”, revela Vili.

A propriedade tem 15 hectares,três dos quais foram cultivados comuvas Bordô e Niágara na safra de2009, resultando em 7 mil litros devinho e 6,5 mil litros de suco. Osprodutos são destinados princi-palmente a supermercados e lojasespecializadas do Brasil. De olho emum mercado que cresce entre 25% e30% ao ano, Vili já planeja ampliar aprodução. “Nossa estimativa para asafra de 2010 é produzir 20 mil litrosde vinho e outros 20 mil litros de suco.Há uma grande demanda porprodutos orgânicos e nossaexpectativa com relação à comer-cialização é a melhor possível”, conta.

O processo de certificação, queiniciou em 2008, envolveu critérios deavaliação rigorosos, pois foram

analisados itens como escolha etécnica de plantio da uva, forma deprodução da bebida, condições dehigiene e a infraestrutura do local.“A certificação de produto orgânicoagrega valor aos produtos. Alémdisso, o IBD é uma instituiçãoreconhecida internacionalmente, oque nos ajuda a ganhar novosmercados”, destaca o produtor.

Portas abertas

Ilói Antunes dos Santos,secretário da Agricultura domunicípio e engenheiro-agrônomolicenciado da Epagri, destaca que,com o registro, a agroindústria sai dainformalidade e está apta paracomercializar com qualquer mercado.“O registro do primeiro vinhoorgânico de Santa Catarina permiteà vinícola expandir a atividade e abreas portas para outros produtores doEstado também requerer o registroe entrar nesse mercado”, afirma osecretário. Segundo ele, na mesmacomunidade de Rio do Sul outros doisprodutores de vinho orgânico já estãobuscando registro junto ao Mapa.

A Secretaria de Agricultura de Riodo Sul e a Epagri são parceiras doprojeto desde o início e tambémacompanharam todo o processo decertificação. “Foi um trabalhorealizado com orientação técnicaespecializada e processos de seleçãopara que o vinho tivesse a qualidadeexigida pelo Mapa e pelo mercado”,conta Antunes. A agroindústriatambém produz conservas e geleiasorgânicas certificadas pelo IBD.

Mais informações sobre o projeto como produtor Vili Valiati, no telefone(47) 3525-3630.

Com o registro, a agroindústria está apta para comercializar com qualquermercado

11Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

A “Lei Geral” de AssistênciaTécnica e Extensão Rural(Ater) foi sancionada pelo

presidente Luiz Inácio Lula da Silvano início do ano. A nova lei dispensalicitação para a contratação deinstituições públicas e privadas, comou sem fins lucrativos, para aprestação de serviços de Ater. Aaprovação institui também a PolíticaNacional de Assistência Técnica eExtensão Rural para a AgriculturaFamiliar e a Reforma Agrária(Pnater).

A forma a ser usada peloMinistério do DesenvolvimentoAgrário (MDA) para contratação é achamada pública, com definição derequisitos, tais como: quantidade depúblico a ser atendido, prazo paraexecução do serviço, valores docontrato e qualificação da equipetécnica.

Pela proposta, o MDA im-plementará o Programa Nacional deAssistência Técnica e Extensão Rural

Lei de Ater é aprovada pelo presidente LulaLei de Ater é aprovada pelo presidente LulaLei de Ater é aprovada pelo presidente LulaLei de Ater é aprovada pelo presidente LulaLei de Ater é aprovada pelo presidente Lulana Agricultura Familiar e naReforma Agrária (Pronater) emconjunto com os Conselhos Estaduaisde Desenvolvimento Sustentável, quefarão o credenciamento dasinstituições encarregadas deexecutar a assistência técnica. Parase cadastrar, a ins-tituição deverá atuarno Estado em quesolicitar o credencia-mento, ter pessoalcapacitado e estarlegalmente constituídahá mais de 5 anos, casonão seja entidadepública.

Para o presi-denteda Associação Brasi-leira das Enti-dadesEstaduais de Assistên-cia Técnica e ExtensãoRural (Asbraer), JoséSilva, a lei facilita orepasse de recursos.“Os repasses por meio

de convênios são muito burocráticose não permitem que os recursoscheguem na hora certa para que oagricultor tenha assistência técnicano momento adequado”, argumenta.

Fonte: www.asbraer.org.br.

Lei facilita repasse de recursos para entidades deAter

Foto de Aires Carmem Mariga

Já está no ar o sitewww.icmsecologico.org.br, quedisponibiliza informações sobre

a situação do ICMS Ecológico emcada Estado brasileiro, as normas, osvalores repassados aos municípios,

Site divulga situação do ICMS ecológico no BrasilSite divulga situação do ICMS ecológico no BrasilSite divulga situação do ICMS ecológico no BrasilSite divulga situação do ICMS ecológico no BrasilSite divulga situação do ICMS ecológico no Brasilcasos de sucesso, estatísticas, entreoutros dados. O site foi lançado pelaThe Nature Conservancy (TNC),organização internacional deconservação ambiental, com apoio daConservação Internacional e do SOS

Objetivo é estimular municípios a valorizar asáreas verdes economicamente

Mata Atlântica erecursos da TinkerFoundation.

De acordo com aConstituição Fe-deral,o ICMS ar-recadadopelos Esta-dos deveser dividido naproporção de 75%para o Estado e 25%aos municípios que ogeraram. Para adistribuição dos 25%,o Estado pode legislarcriando critérios pró-prios até o montante

de um quarto desse valor, a exemplode educação, saúde, meio ambiente,patrimônio histórico, entre outros. Oscritérios ambientais inseridos nesseum quarto são chamados de ICMSEcológico. “Ele estimula municípiosa encarar as áreas verdes comoativos, valorizando-as não só ambien-talmente, mas também econo-micamente”, comenta GiovanaBaggio, coordenadora de conservaçãoem terras privadas da TNC.

Desenvolvido pioneiramente noParaná em 1991, o ICMS Ecológico érealidade em mais de uma dezena deEstados brasileiros e envolve orepasse de aproxi-madamente R$600 milhões por ano para osmunicípios que abrigam Unidades deConservação ou se beneficiam pormeio de outros critérios ambientais.

12 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Uma iniciativa social queenvolve cuidados com asaúde e o meio ambiente e

ainda traz economia está servindo deexemplo para a população deUrussanga, no sul de Santa Catarina.No Hospital Nossa Senhora daConceição uma horta e um pomarcultivados no sistema orgânicofornecem hortaliças e frutas para ospacientes e funcionários dainstituição, que atende váriosmunicípios vizinhos.

A horta e o pomar forammontados com apoio da Epagri/Estação Experimental de Urussanga,da Prefeitura Municipal, devoluntários do hospital e de umaclínica de alcoolismo, entre outroscolaboradores. “Além de melhorar aqualidade da alimentação, a horta eo pomar representam grandeeconomia para a instituição, semriscos para os produtores, osconsumidores e o meio ambiente”,destaca Antonio Carlos Ferreira da

VVVVVoluntários instalam pomar e horta orgânicos em hospitaloluntários instalam pomar e horta orgânicos em hospitaloluntários instalam pomar e horta orgânicos em hospitaloluntários instalam pomar e horta orgânicos em hospitaloluntários instalam pomar e horta orgânicos em hospital

Silva, pesquisadoraposentado da Epagri ecoordenador do projeto.

O trabalho começouem julho de 2007. Oterreno, uma área demeio hectare anexa àinstituição que antesacumulava lixo, mato eanimais peçonhentos,agora serve para ocultivo das plantas. Aprodução atende, apro-ximadamente, 70% dasnecessidades de frutase hortaliças do hospital,mas a meta é suprir100% da demanda dainstituição.

No espaço, sãoproduzidas mais de 20espécies de hortaliças –entre elas alface,repolho, couve-flor,brócolis, cenoura,beterraba, cebola,

tomate, chuchu, ervilha, milho-verde,moranga, aipim e pimentão – e 9espécies de frutíferas: banana,abacate, mamão, maracujá, limão,acerola, laranja-lima, tangerinasponcã e montenegrina. “Os pacientesque chegam ao hospital com a saúdedebilitada têm a oportunidade deconsumir frutas e hortaliçasdiversificadas, mais saudáveis,saborosas e nutritivas”, destaca ocoordenador do projeto.

Manejo ecológico

De acordo com Ferreira, o solo étratado como um organismo vivo. Eleexplica que os insetos, as pragas edoenças, quando ocorrem, sãomanejados com produtos naturais,como extratos de plantas medicinais,e os inços são considerados amigosdas plantas cultivadas. Buscando aestabilidade do agroecossistema, ofornecimento ordenado de nutrientespara as plantas, o uso equilibrado do

Produção atende 70% das necessidades de frutas e hortaliças da instituição

solo e a manutenção da fertilidade,também são adotadas práticas comoplantio direto, cultivo mínimo,adubação orgânica e verde, coberturamorta, rotação e consorciação deculturas e uso de cultivaresresistentes a pragas e doenças.

Participando do projeto, osvoluntários aprendem na práticadiversas técnicas de cultivo orgânicoe levam o conhecimento para casa.“Os pacientes da clínica de alcoolismofazem planos para, assim quereceberem alta, implantar oumelhorar as próprias hortas”, contaFerreira. Segundo ele, o cultivo deuma horta ou pomar funciona comouma terapia ocupacional. “Quando ovoluntário assume a respon-sabilidade de cuidar de uma planta,ele se sente bem porque vê osresultados. O fato de preparar o solo,semear, observar o crescimento,colher e consumir hortaliças e frutassaudáveis melhora a autoestima e aqualidade de vida”, revela.

13Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

AEducação a Distância (EAD) não é um tema novo, mas provoca discussões acalora-

das nas instituições que atuam emdiversas áreas do conhecimento. Seo público vive nas áreas rurais, oassunto torna-se ainda mais polêmicoe nem sempre é levado a sério.

Para compreender a comunicaçãorural no Brasil é preciso fazer umretrospecto sobre o uso dastecnologias da informação e asexperiências no âmbito da educaçãoa distância – seus avanços, limites edesafios pedagógicos.

No Brasil, as fronteiras entre oespaço urbano e o meio rural sãohistoricamente delimitadas porprojetos de desenvolvimento. Desdeo século XIX, o projeto de construçãode uma identidade nacional querealça o contraste campo/cidade podeser flagrado no discurso de autoresconsagrados da literatura nacional.O objetivo era pôr em evidênciaaspectos regionais e ao mesmo tempoestabelecer uma unidade territorial.Nesse período, o uso do correio já secaracterizava como uma forma deeducação a distância dirigida àquelesque não tinham condições defrequentar a escola regular.

No século 20, as estratégias dessetipo multiplicaram-se, especialmentedepois do surgimento do rádio e datelevisão. Os projetos foramconstruídos com base em processosde comunicação voltados para odesenvolvimento e dirigidos a

Profissionalização digital: breveroteiro para atualização de processos

de transferência de tecnologiaLaertes Rebelo1

1 Bacharel em Letras, Epagri/Sede, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone (48) 3239-5682, e-mail: [email protected].

populações com determinado perfil.As tecnologias foram sendo adotadasgradualmente em regiões comcaracterísticas adequadas para aintrodução do modelo proposto.

Pedagogicamente, o uso de meiosde comunicação de massa tem sidoinsuficiente para atender àsnecessidades da população rural. Osconteúdos jornalísticos retratambasicamente aspectos técnicos davida no campo e mostram exemplosde iniciativas bem-sucedidas, masdeixam de lado questões abordadaspor meio do contato entre oextensionista e os agricultores(Callou, 2002).

Neste cenário, nota-se a presençade vários temas emergentes: novasformas de sociabilidade estimuladaspelo acesso a tecnologias; a ideia deum sujeito mais flexível, visualizadoparticularmente entre os jovensrurais que mesclam desejos deinserção na “cultura urbana”,tecnológica, mais individualizada,sem perder, necessariamente, os

vínculos com a cultura local; aaceleração da vida cotidianapromovida particularmente pelatelevisão e por atividades agrícolas enão agrícolas.

Pelo seu potencial educativo, asnovas tecnologias são consideradasuma inovação capaz de integrariniciativas e redefinir o papel dossujeitos envolvidos nas atividades.Nos debates sobre a educação adistância, as contradições entre odiscurso tecnocrático e a realidadedos sistemas de ensino ganhamdestaque. Apesar dos diferentespontos de vista, há um consenso: ofoco não deve ser a tecnologia em si,mas a atividade realizada por meioda tecnologia, caracterizada pordiversidade, contínua evolução esentido de localidade num contextoem que aspectos socioculturais,afetivos, cognitivos e técnicoscoevoluem (Belloni, 2002).

Também é preciso considerar osimpactos das novas tecnologias dacomunicação e a viabilidade de seuuso no meio rural. Sabe-se que oacesso a esse tipo de tecnologia é cadavez maior entre os agricultores epecuaristas do Rio Grande do Sul,onde a Emater oferecia aosagricultores cursos a distância.Segundo os técnicos, mais de 70% dosalunos faziam os cursos em casa eacessavam pela Internet o conteúdodisponibilizado pela Emater/RS. Peloformato dos materiais utilizados noscursos, observa-se uma preocupaçãopedagógica. Além do acompa-nhamento contínuo, foram criadasnarrativas, ilustrações e personagensespecialmente para facilitar o acessoe a compreensão das informações.Infelizmente, o programa da Emater/RS foi abandonado devido aos custosdos serviços de terceiros.

Outro exemplo bem-sucedido é oProjeto Navega Pantanal(www.navegapantanal.fmb.org.br),no qual assuntos como práticasagropecuárias, inclusão digital,empreendedorismo, administração emelhoria da qualidade de vida sãotrabalhados por meio de aulasinterativas. As capacitações sãopresenciais ou a distância e contam

É precisoconsiderar os

impactos das novastecnologias da

comunicação e aviabilidade de seu uso

no meio rural.

14 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

com módulos didáticos apresentadosem tempo real. Implantado peloMinistério da Agricultura, Pecuáriae Abastecimento (Mapa) em 2007, oprojeto já beneficiou cerca de 6 milpessoas que vivem na região doPantanal.

O cenário estadual

Em Santa Catarina, poucos são osestudos sobre o acesso da populaçãorural às redes telemáticas. Umexemplo é o trabalho publicado pelaEpagri/Cepa em 2004, que procuraavaliar o impacto do uso da tecnologiada informação na agriculturafamiliar. No levantamento realizadojunto a associações de produtoresrurais, apenas 26% declararam teracesso a computadores. Segundo otexto, na época os investimentosnesse tipo de recurso mostravam-semuito tímidos. Embora a Internet jáfosse considerada o meio maispoderoso de acessar e disseminarinformações, não havia plane-jamento e nenhuma políticaconsistente dirigida ao público rural.

A esse cenário em evoluçãopodem-se acrescentar as inovações

introduzidas nosúltimos anos pelapesquisa agrope-cuária e pela ex-tensão rural: osíndices de inte-ligência e conhe-cimento, o desen-volvimento de novasmetodologias, a am-pliação da oferta, aredução da sazo-nalidade, a par-ticipação dos produ-tores e outras ini-ciativas que trans-formaram as prá-ticas no campo eampliaram os be-nefícios da agri-cultura.

Em Santa Cata-rina, porém, osnúmeros não sãomuito animadores.Embora o Programade Inclusão DigitalBeija-flor e o Pro-grama Nacional de

Telecomunicações Rurais sejaminiciativas promissoras, segundo olevantamento, 21% dos domicíliospossuem computador. Apenas 14,5%têm acesso à Internet e a maioriautiliza conexão por meio de linhatelefônica. E os números são aindamais críticos quando analisados emrelação às vantagens proporcionadaspelas novas tecnologias no levan-tamento realizado pela Epagri/Cepa.

Como instrumento auxiliar parao processo de tomada de decisão e oplanejamento das atividades, ogerenciamento de dados einformações é indispensável para onegócio agrícola. Embora astecnologias da informação sejamdeterminantes para o sucesso demuitas atividades, a maioria dosagricultores catarinenses não estásendo orientada sobre os benefíciosde sua aplicação. Muitos técnicospossuem uma visão cética em relaçãoao papel da Internet no de-senvolvimento rural. Mesmo que apostura crítica seja recomendável,não se pode ignorar o potencial e osavanços que a tecnologia dainformação pode proporcionar aoprodutor rural.

No caso da Epagri, é importantesaber como as novas tecnologias irãocontribuir para dinamizar osprocessos. Obviamente, não bastaque as unidades sejam equipadascom computadores de última geraçãopara que se mudem os paradigmas eas concepções relativas à pesquisa eà extensão rural. É necessáriocompreender até que ponto as novastecnologias podem de fato levarconhecimento, estimular a interaçãoe ajudar o agricultor a encontrar ainformação que precisa, na hora certae no formato adequado.

Para tanto, inúmeras iniciativasestão despontando em todo o País. OMinistério do DesenvolvimentoAgrário (MDA) reestruturou osserviços de Ater por meio de RedesTemáticas a fim de fortalecer aagricultura familiar. Também lançou,em 2008, o Portal Comunidades daAgricultura Familiar, comferramentas de comunicação para arealização de fóruns, salas dereuniões, webconferências, publi-cação de conteúdos, materiaisgráficos, vídeo e áudio.

A profissionalização digital é umaestratégia para ampliar a formaçãode redes sociais para o de-senvolvimento e o intercâmbio doconhecimento. Mais que um desafiopedagógico, trata-se, portanto, deuma oportunidade para fortalecer acooperação técnica entre asinstituições e os agricultores.

Referências bibliográficas

1. BELLONI, M.L. Ensaio sobre educaçãoa distância no Brasil. Comunicação &Sociedade, São Bernardo do Campo,n.17, 1991.

2. CALLOU, A.B.F. Comunicação Rural eEducação na Era das Tecnologias doVirtual: proposição para um debate. In:Cimadevilla, G. (Org.). Comunicación,Tecnología y Desarrollo. Río Cuarto:Universidad Nacional de Río Cuarto,2002. p.283-293.

3. FELICIANO, A.M. et al. Impacto datecnologia da informação sobre oprocesso decisório da agricultorfamiliar. Florianópolis: Instituto Cepa/SC, 2004. 108p.

Participantes acompanham aulas, enviam recados,leem notícias e baixam arquivos sobre os temasabordados

15Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Para entender o processo dedesenvolvimento territorialque ocorre no Planalto Norte

Catarinense (PNC), que em 2009passou a ser um dos “Territórios daCidadania” de SC, há necessidade deuma breve retrospectiva histórica.Na década de 90 ocorreu na Regiãodo Contestado uma série deinovações no campo organizativo eprodutivo da Agricultura Familiar(AF). No entorno dos municípios deCanoinhas, Porto União e Caçadorforam surgindo organizações deagricultores familiares ligados aosmovimentos sociais com apoioespecial da ONG Centro de As-sessoria e Apoio aos TrabalhadoresRurais (Cepagri), que atuava naformação de agricultores e liderançascom enfoque agroecológico. A partirdesses processos surgiramexperiências concretas nos camposprodutivo e organizativo como aAssociação de Produtores Agro-ecológicos de Porto União (Afruta), aAssociação de Grupos de PequenosAgricultores de Canoinhas e Região(Agrupar), a Associação de PequenosAgricultores Ecologistas (Apaeco),grupos de mulheres, pastorais dejovens rurais e, pouco mais tarde, oSindicato Regional dos Traba-lhadores da Agricultura Familiar(Sintraf) do PNC. Concomitan-temente com processos organizativos,os anos 90 foram importantes para odebate da Agroecologia, inclusivedentro do aparato governamental,com muitas ações da Epagri.

Na região de Mafra, grupos deagricultores com apoio gover-namental e do Sindicato dos

Desenvolvimento territorial no Planalto NorteDesenvolvimento territorial no Planalto NorteDesenvolvimento territorial no Planalto NorteDesenvolvimento territorial no Planalto NorteDesenvolvimento territorial no Planalto NorteCatarinense como resultado de uma política públicaCatarinense como resultado de uma política públicaCatarinense como resultado de uma política públicaCatarinense como resultado de uma política públicaCatarinense como resultado de uma política pública

Ana Lúcia Hanisch1, José Alfredo da Fonseca1 e Francielle C. Gaertener2

Trabalhadores Rurais (STR) seorganizaram em prol dacomercialização e assistência técnicae criaram a Associação Central dePequenos Agricultores de Mafra(Acepam). No campo das entidadespúblicas, em 1999 foi criado o Fórumde Desenvolvimento RegionalIntegrado do Planalto Norte e aAgência de DesenvolvimentoRegional (ADR-Plan). Todas essasentidades, juntamente com o apoio dealgumas Prefeituras Municipais,especialmente de Porto União,Canoinhas e São Bento do Sul, foramimportantes para a concretização doPrograma de DesenvolvimentoTerritorial a partir de 2004.

Os ciclos de ação para aefetivação do Territóriodo Planalto NorteCatarinense

As primeiras ações iniciaram emsetembro de 2004, por iniciativa daEpagri/Escritório Regional deCanoinhas, que fez contato com aSecretaria de DesenvolvimentoTerritorial (SDT) do Ministério doDesenvolvimento Agrário (MDA). Noprimeiro evento a SDT apresentou oPrograma de DesenvolvimentoTerritorial e a conformação territorialdeliberada pelo Conselho Estadual doPronaf, que contemplava 27

Figura 1. II Oficina para elaboração do Plano Territorial deDesenvolvimento Rural Sustentável do Planalto Norte (PTDRS), 2006

1 Eng.-agr, M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, C.P. 216, 89460-000 Canoinhas, SC, fone: (47) 3624-1144, e-mail:[email protected] Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas. Assessora ADR-PLAN. E-mail: [email protected].

16 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

municípios pertencentes às Regiõesdo Planalto Norte e Meio-OesteCatarinense. Apesar dos ques-tionamentos, não havia estratégiaspara mudar essa conformação. Apartir de então, puderam-se dividiras ações que ocorreram para aconcretização do Programa em trêsgrandes ciclos.

No primeiro ciclo o destaque sedeu para a criação de estruturasoperacionais que efetivassem aexistência do Território. O primeirotrabalho conjunto entre as entidadesaconteceu em outubro de 2004, coma criação da Comissão de Elaboraçãoe Articulação (Epagri/Grca, ADR--Plan, Sintraf, Embrapa, Agrupar).Sua função foi a elaboração dosprimeiros projetos de infraestruturae custeio, aprovados pelas entidadesparticipantes do I EncontroTerritorial, em Porto União. Esseencontro foi a primeira experiênciaterritorial de construção de acordosem prol do desenvolvimento comum.Foi um marco histórico, quandodiferentes entidades, com diferentesideologias, demonstraram que anecessidade de um espírito coletivoera o mais importante para o sucessoda AF do Território.

A partir do início de 2005, aComissão contribuiu para adivulgação do Programa entre asentidades. Naquele ano, foramrealizadas três oficinas de trabalho,duas das quais tinham o objetivo dedivulgar e consolidar a existência do

Programa no Território e de criar, deforma participativa, as regras paraque ele acontecesse. Na primeiraoficina, em março de 2005, em PortoUnião, a Comissão de Elaboração eArticulação foi substituída por doisinstrumentos mais complexos: oNúcleo Diretivo (ND) e o NúcleoTécnico (NT), além da definição deoutra estrutura operacional, aPlenária, que seria composta portodas as entidades com direito a votoe uma entidade articuladora. O NDfoi composto por entidades de açãoregional, considerando-se, para isso,que sua atuação ocorresse em maisde dois municípios. Sua função seriaa divulgação, o fortalecimento e aarticulação das ações do Programa.O NT foi eleito com oito organizações,sendo 50% da sociedade civil e 50%governamentais e tinha um papeloperacional na elaboração deprojetos.

Na II Oficina Territorial, em julhode 2005, em Campo Alegre, foiaprovado o Regimento Interno ecriados os primeiros critérios eorientação para os projetos. Aindahoje a definição dos critérios se dá apartir da soma dos critériosobrigatórios propostos pelo MDA aoscritérios que são propostos pelo NDde acordo com a realidade de cadaano para o Território3. A partir daOficina de Campo Alegre o Territóriodo Planalto Norte passou a ter maisidentidade e segurança para trilhar

um novo caminhopara as orga-nizações da AF,iniciando um no-vo ciclo de ações. Concomitan-temente aos a-vanços da estru-turação do Pro-grama, entre ou-tubro de 2005 efevereiro de 2006,foi realizado umdiagnóstico inti-tulado “Estudodas experiênciasc o m u n i t á r i a sexistentes noTerritório do Pla-

nalto Norte e Meio-Oeste de SC”,através de uma parceria en-tre aEpagri/Es-critório Regional deCanoinhas, a Estação Experimental,ADR-Plan e Sintraf. Foramrealizados diagnósticos participativosnos 27 municípios. Os resultadosindicaram que mais de 50% dasexperiências organizativas que jáhaviam ocorrido no Território haviamfracassado. Essas informaçõescontribuíram para a conscientizaçãona busca de soluções conjuntas.

O segundo ciclo de ações iniciouapós a Oficina de Campo Alegre eteve como marco a construção doPlano Territorial de DesenvolvimentoRural Sustentável (PTDRS) durantetodo o ano de 2006. O processo de suaconstrução contribuiu definitivamen-te para a necessidade da separaçãodas regiões que formavam oTerritório do Planalto Norte. Assim,a construção do PTDRS já foirealizada a partir das demandas esonhos das entidades pertencentes aum novo Território do Planalto Norteformado pelos 14 municípios daregião do PNC.

Recursos impulsionammetas

Durante os trabalhos iniciais deestruturação do Programa, noperíodo compreendido entre outubrode 2004 e dezembro de 2006, foiaportado para as entidadesorganizadas do Território R$1.185.360,00 provenientes do MDA.Somam-se a esses recursos outrasfontes provenientes de editais decapacitação, Ater, emendasparlamentares e recursos municipaise verifica-se que, nunca na históriadesta região, pequenas organizaçõesda AF, como associações, grupos epequenas cooperativas tiveramacesso a recursos e políticas públicasneste nível, dirigidas diretamentepara atender suas demandas.Importante destacar, também, queapesar de haver um recursoproveniente do MDA para custeio,grande parte dos trabalhos foirealizada pelo esforço de pessoas eorganizações – governamentais e não

3 Entre outras, é obrigatório que as propostas se adequem aos eixos prioritários do PTDRS e aos princípios de desenvolvimento territorial(fortalecer redes, parcerias e projetos comuns).

Figura 2. Intercâmbio do Núcleo Diretivo paraavaliação do investimento em agroindústria familiar defrango diferenciado, Irineópolis, 2007

17Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

governamentais –, inclusive comdespesas financeiras e de apoiologístico.

O ano de 2007 marcou o início doterceiro ciclo de ações do Território.Com um Plano, as ações convergiamagora no sentido de alcançar asmetas propostas. O PTDRS foiidealizado a partir de quatro grandeseixos de ação: formação, produção,organização e meio ambiente e paraum período de 5 anos.

Neste ciclo ocorreram muitasações importantes não ligadasdiretamente aos processos oficiais doPrograma de DesenvolvimentoTerritorial. As organizações jáexistentes foram tornando-se maiscomplexas para se adequar àsexigências e oportunidades daspolíticas públicas. Surgiram novascooperativas e entidades em rede,como a Comsol (Comercialização) aPomaris (Frutas) e a RedeMandaçaia (Mel).

Em 2007, foi realizado umintercâmbio territorial, com visitasaos investimentos dos projetosaprovados desde 2004. A partir daí,as discussões na Plenária e nasreuniões do ND e NT orientarampara a criação de GTs (Grupos deTrabalho), que teriam a função deaprofundar os debates e encaminharos projetos de acordo com osprincipais eixos do PTDRS. Ainda em2007 surgiram os GTs do Mel e do

Leite e em 2008 os GTs daFruticultura e da Agroecologia. Umponto muito positivo da novadinâmica dos GTs é a convergênciadas ações. Até pouco tempo atrás eracomum ocorrer eventos simultâneospara o mesmo público, sobre o mesmotema, promovidos por entidadesdiferentes. Isso já quase não ocorre.É um exemplo da construção deacordos para o bem comum doTerritório.

Nos últimos 4 anos ocorreramganhos muito significativos para aAgricultura Familiar no Território doPlanalto Norte. Entre eles, podem sercitados: 1) Formação de um gruporesponsável pela coordenação eencaminhamento de todas as açõesrelacionadas ao Programa do MDA;2) Definição de critérios e regras paraa realização dos trabalhos de formaorganizada, seja para a aprovação deprojetos de infraestrutura ecapacitação através dos recursos doMDA, seja para o própriofuncionamento do Território; 3)Construção da metodologia dosGrupos de Trabalho; 4) Avançoinquestionável na organização dosagricultores familiares do Território:em apenas 4 anos foram formadasmais de dez entidades regionais einúmeras iniciativas de organizaçãolocal; 5) A organização promovidapelo Território permitiu não só oacesso a políticas públicas e recursos,

como também diminuiu consi-deravelmente o medo e o preconceitoque existiam nas pequenas entidadesem relação a eles; 6) Formação de umquadro de técnicos e liderançashabilitados para planejar e elaborarprojetos de acesso a recursos epolíticas públicas.

Nesse período relativamentecurto ocorreu um processo deenriquecimento das ações coletivasentre as entidades da AgriculturaFamiliar. Além disso, foramestruturadas diversas experiênciasque já existiam e criadas outrasformas de organização paracomercialização e processamento deprodutos da Agricultura Familiar.Foram investidos recursos emampliação de obras, melhoria deequipamentos, caminhões e veículosutilitários que permitiram adequaras pequenas organizações paraparticiparem de programas comoPAA, merenda escolar, feirasorgânicas e mercados maiores. Aotodo, nesses 4 anos, foram aportadosmais de 2 milhões de reais embenefício da agricultura familiarorganizada no Planalto NorteCatarinense. Isso tudo tem sido umprocesso muito promissor, emespecial para essa região, que teve,historicamente, como uma de suascaracterísticas, a dificuldade defortalecimento de suas organizações.Com políticas públicas democráticasé possível mudar essa realidade.

Literatura consultada

1. ARL, V.; HANSJÖRG, R. Livro verde 2 -agroecologia. 3.ed. Caçador, SC: Cepagri;Terra Nova, 2001. 72p.

2. BRASIL. Ministério do Desen-volvimentoAgrário. Referências para uma estratégiade desenvolvimento rural sustentável noBrasil . Brasília: MDA/SDT, 2005.Disponível em: <http://www.mda.gov.br/sdt/arquivos/SDT_Doc1.pdf> Acesso em:8 out. 2009.

3. BRASIL. Ministério do Desen-volvimentoAgrário. Plano Territorial deDesenvolvimento Rural Sustentável: guiapara o planejamento - Documento deapoio 2. Brasília: MDA/SDT, 2005.Disponível em: <http://www.mda.gov.br/sdt/arquivos/0749311385.pdf> Acesso em8 out. 2009.

Figura 3. Visita para troca de experiências em organização da cadeia leiteno Estado do PR, pelo GT do Leite do Território, junho, 2009

18 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Embora seja pequeno, oborrachudo é capaz deestragar muitos programas

ao ar livre, sem falar dos incômodospara quem vive no meio rural. Nacriação animal, ele também podecausar perdas, principalmente naprodução leiteira. “Esse insetosempre existiu na natureza, mas ohomem favoreceu a dispersão delecom a criação de animais domésticos,a instalação de áreas agrícolaspróximas de rios e a retirada da mataciliar, que atua como barreira físicacontra os borrachudos adultos”, contao entomólogo Renato ArcângeloPegoraro, pesquisador aposentado daEpagri.

O borrachudo é encontrado ondehá rios e córregos, pois precisa deágua corrente para procriar esobreviver. O esterco e o esgoto quevazam para os rios propiciamalimento para os filhotes. “Em SantaCatarina, em locais próximos aserras, como Joinville, a situação écrítica. No oeste, o problema é gravepor conta da descarga indevida dedejetos suínos em riachos. Já houvecasos de colonos que venderam aspropriedades e deixaram a atividadeagrícola por causa desse problema”,conta Renato.

Controle do borrachudo: questão ambientalControle do borrachudo: questão ambientalControle do borrachudo: questão ambientalControle do borrachudo: questão ambientalControle do borrachudo: questão ambientalCiclo de vida

Em Santa Catarina há 35espécies de borrachudos catalogadas,mas somente duas ou três sealimentam de sangue humano(apenas as fêmeas necessitam desangue, para a maturação dos ovos).A época de maior ocorrência dosborrachudos é nos meses maisquentes, mas no litoral o inseto estápresente o ano todo.

A principal espécie encontrada noEstado é a Simulium (C.) pertinax,que tem metamorfose completa: são4 dias de incubação dos ovos, 21 diasde período larval e 3 dias como pupa.O ciclo de vida completo variaconforme as temperaturas da água edo ambiente; a 25°C ele é de 35 dias,em média.

A fêmea pode realizar até trêsposturas durante o ciclo de vida.Cada fêmea põe, em média, 237 ovos,mas esse número pode chegar a 500.A postura geralmente é feita emfolhas suspensas e parcialmentecobertas por uma fina lâmina de águacorrente ou sobre pedras úmidas. Alarva se alimenta de bactérias, fito ezooplâncton, minerais e partículas dematéria orgânica que podem terorigem em detritos como esterco,dejetos humanos, restos de cozinhae vegetais. A pupa permaneceembaixo d’água até se tornar adultae emergir.

Como evitar aproliferação

- Não jogar lixo na água.- Limpar córregos e rios, retirando

entulhos, folhas e galhos onde aslarvas se abrigam.

- Evitar o lançamento de dejetosorgânicos nos córregos e manteras áreas de criação de animaislonge desses locais.

- Preservar e recuperar a mataciliar para evitar dispersão dosinsetos para outras áreas egarantir a preservação depássaros e insetos que sealimentam dos borrachudos.

- Manter a água dos córregospovoada com cascudos. Essepeixe atua no controle biológicodos borrachudos.

Proteja-se

- Para evitar picadas, o ideal éusar roupas compridas e, nasestações mais quentes,recomenda-se usar repelentes oucremes perfumados nas partesdescobertas do corpo, comomãos, pernas e pés.

- O plantio de capim citronelapróximo às residências e o usode repelentes à base da plantasão alternativas para afastar oinseto.

As larvas se desenvolvem na águacorrente

Borrachudos picando braço de umapessoa adulta

Tirar o lixo dos rios é fundamentalpara evitar a proliferação das larvas

19Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Amata ciliar, aquela queprotege as margens de rios,córregos, lagos e nascentes, é

uma das vegetações maisimportantes para a preservação davida. Ela pode formar corredoresecológicos que fornecem abrigo ealimento para diversas espécies deanimais e auxilia no equilíbrio danatureza, protegendo a água e o solo.

Durante o crescimento, as plantasabsorvem e fixam o dióxido decarbono, um dos principais gasesresponsáveis pelas mudanças

Mata ciliar: garantia da vida nos riosMata ciliar: garantia da vida nos riosMata ciliar: garantia da vida nos riosMata ciliar: garantia da vida nos riosMata ciliar: garantia da vida nos rios

Preservação no meio rural

As famílias que vivem no campo têm papel fundamental para garantir a manutenção e a recuperação dessariqueza. “A ação mais simples é fazer uma cerca que evite a passagem de pessoas e animais, permitindo que avegetação dessas áreas se regenere sozinha”, esclarece Cícero. O processo de recuperação também pode seracelerado com o plantio de mudas de árvores nativas.

A Epagri, por meio do Projeto Microbacias 2, tem promovido uma série de ações de recuperação e preservaçãoda mata ciliar no Estado. Exemplo disso é o trabalho realizado no município de Águas Mornas. “Os agricultoresviram que podiam tirar as pastagens da beira dos rios e, com um bom manejo, manter a produtividade e aqualidade do pasto em outras áreas”, conta o engenheiro-agrônomo.

Roberto Hinkel, que sobrevive da pecuária leiteira no município, é testemunha de como a preservação ambientalpode ser conciliada com a produção agropecuária. Depois de ver as margens do rio que passa pela propriedadedesbarrancar e as águas invadir as terras por conta do acesso dos animais e da falta de vegetação, ele decidiudestinar uma área para a mata ciliar.

Hoje, Roberto preserva uma faixa ao longo de aproximadamente 500 metros do rio. “Agora, a água nãoavança mais na propriedade. Além disso, a mata atrai passarinhos que catam o carrapato nos animais e comema mosca que traz o berne”, conta o produtor.

climáticas. Além disso, atemperatura da água protegida pelamata ciliar é mais amena,contribuindo para a sobrevivência depeixes e outros animais.

A mata ciliar também é umagrande aliada contra secas eenchentes. Quando chove, avegetação absorve o excesso de águae segura a terra nas margens dosrios, evitando que o solo e outrosmateriais se depositem no leito eprovoquem assoreamento.

A preservação dessas áreas trazuma série de benefícios para aagricultura. “A mata ajuda nocontrole de pragas que atacamlavouras, pois preserva os predadoresnaturais de muitas delas. Ela agecomo uma barreira natural contra adisseminação de pragas e doenças etambém funciona como um filtro paraque agrotóxicos e outros agentespoluentes não cheguem à água”,explica Cícero Luís Brasil,engenheiro-agrônomo e extensionistada Epagri.

Recuperação pode ser acelerada como plantio de mudas de árvores nativas

Vegetação ciliar garante o equilíbrio da natureza, protegendo a água e o solo

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PPPPPrevisão derevisão derevisão derevisão derevisão demudanças no campomudanças no campomudanças no campomudanças no campomudanças no campoPPPPPrevisão derevisão derevisão derevisão derevisão demudanças no campomudanças no campomudanças no campomudanças no campomudanças no campo

Efeitos do aquecimento globalsobre a agricultura desafiam osetor a se adaptar e produzir deforma ambientalmente responsável

Cinthia Andruchak Freitas1

1 Bacharel em jornalismo, Epagri/Sede, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5682, e-mail:[email protected].

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Mudanças climáticas pro-vocadas pelo aquecimen-to global vêm sendo

registradas no mundo todo, colocandopopulações em alerta. Em SantaCatarina não é diferente. Nos últimos50 anos, a média das temperaturasmínimas do Estado subiu cerca de3°C, de acordo com estudo realizadopela Epagri/Centro de Informaçõesde Recursos Ambientais e deHidrometeorologia de SantaCatarina (Ciram). E o fenômeno nãopoupa nem as regiões mais frias. NaEstação Experimental de SãoJoaquim, por exemplo, o acréscimofoi de 3,2°C entre 1955 e 2006.

Ao mesmo tempo, a média dastemperaturas máximas do Estadodiminuiu quase 1°C, o que indicaredução da amplitude térmica. “Noentanto, a temperatura média do artende a aumentar ao longo dos anosnas diferentes regiões”, aponta HugoJosé Braga, engenheiro-agrônomopesquisador de agrometeorologia doCiram. Na Estação Experimental deCampos Novos a temperatura médiasubiu 1,3°C entre 1961 e 2006.

Esse aquecimento provoca umasérie de impactos ao redor do planeta.Especialistas alertam que enx-urradas, estiagens prolongadas,noites quentes e ondas de calorintensas no inverno alternadas poreventos extremos de frio podemtornar-se mais frequentes por contadas mudanças climáticas. Apesardisso, Braga pondera que, embora aocorrência de catástrofes naturaisesteja aumentando mundialmente,não se pode afirmar que elas sejamdesencadeadas unicamente peloaquecimento global. “Mas, semdúvida, há participação doaquecimento no aumento dessesfenômenos”, esclarece.

Estudos já apontam umaocorrência maior de eventosextremos de precipitação plu-viométrica. Em Santa Catarina, nosúltimos anos, houve acréscimo novolume total anual de chuvas, mas onúmero de dias com o fenômenodiminuiu. “As precipitações totaisdiárias acima de 100mm vêmocorrendo com mais frequência,porém o período entre um evento eoutro tem sido mais espaçado”,

detalha a meteorologista CláudiaCamargo.

Além disso, as frentes têmpassado deslocadas pelo Estado,provocando mais eventos que causamchuva no leste do que no oeste econtribuindo para um aumento nafrequência de estiagens no interior.Nos últimos 9 anos Santa Catarinaregistrou oito secas comconsequências importantes naagricultura. Ao mesmo tempo,moradores do litoral ainda sofremcom as perdas provocadas pelaenxurrada que atingiu o Estado emnovembro de 2008.

Essas incertezas no com-portamento térmico e hídrico afetamdiretamente o setor agropecuário,aumentando os riscos e impactos doclima sobre o trabalho do homem docampo. Há alguns anos pes-quisadores da Epagri se debruçamsobre estudos que possam apontar,com certa antecedência, os efeitos dasmudanças climáticas na agriculturacatarinense. De acordo compesquisas que simulam cenários deaumento das temperaturas, osprodutores rurais podem esperargrandes mudanças daqui para afrente.

Fruteiras

Um estudo realizado pela Epagriapontou que o impacto das mudançasclimáticas tem diminuído o total dehoras de frio e a frequência com queelas ocorrem em Santa Catarina.Essa redução das horas abaixo de7,2°C afeta diretamente a produçãode maçã, cuja produtividade equalidade são prejudicadas quandosubmetida a quantidades menores debaixas temperaturas.

Outra pesquisa, que simulouaumento de 2°C nas temperaturasmédia, máxima e mínima nospróximos 50 anos, apontou reduçãosignificativa da área apta ao plantiode maçã no Estado. “Quanto maior aexigência de frio da cultivar, maior éa redução da área”, detalha AngeloMassignam, engenheiro-agrônomopesquisador de agrometeorologia doCiram. Por conta disso, regiões hojepropícias ao cultivo de maçã com altaexigência de frio passariam a ser

indicadas para o plantio de espéciescom baixa exigência.

Outras fruteiras de climatemperado, como pessegueiro,videira e pereira, também serãoafetadas. Isso porque, para quebrara dormência das gemas vegetativase florais na primavera, essas plantasprecisam ser expostas a certo períodode baixas temperaturas que éespecífico para cada espécie ecultivar.

Mas nem todas as fruteiras serãoprejudicadas. As de clima tropical,como a banana, cujo cultivo hoje serestringe às regiões próximas aolitoral, terão as áreas aptas ao plantioexpandidas. Na mesma projeção deaumento de temperatura, a áreaadequada para o plantio de bananano Estado aumenta cerca de 300%,representando um acréscimo de2,627 milhões de hectares. Nessecenário, o número de municípios quepodem produzir o fruto sobe de 78para 150.

Grãos

Com o aumento das tem-peraturas, o feijão terá o crescimento,desenvolvimento e rendimentoafetados pela redução do ciclo dacultura. Um estudo com a mesmasimulação de aumento linear de 2°Cnas temperaturas média, máxima emínima do ar em Santa Catarina nospróximos 50 anos indicou quemunicípios do Extremo Oeste e doVale do Itajaí terão o cultivo nãorecomendado ou bastante restritocom relação ao período desemeadura.

Como o feijão não resiste atemperaturas extremas durante afloração, a época recomendada parasemeadura vai ser reduzida nasregiões mais quentes, mas osprodutores dessas áreas poderãocomeçar a semear mais cedo.“Regiões frias, que têm período desemeadura recomendado mais curto,terão esse tempo estendido, já que orisco de geada passará a ser menor”,explica Massignam.

Os estudos com a cultura de arrozainda estão em andamento, masresultados preliminares apontam quea área apta para plantio no Estadoserá ampliada. Porém, não

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Eventos extremos tendem a ser mais frequentes porconta das mudanças climáticas

Aquecimento global aumenta os riscos sobre otrabalho do homem do campo

Volume total anual de chuvas tem aumentado noEstado, provocando destruição

Enxurrada de 2008 provocou grandes deslizamentosno Vale do Itajaí

necessariamente haverá expansão de área plantada, jáque a cultura depende também de fatores como solo,terreno plano e disponibilidade de água. “O aumento detemperatura permitirá o cultivo em áreas hoje nãorecomendadas e a variabilidade do clima provocaráimpactos imediatos na incidência de plantas daninhas,pragas e doenças, que tendem a aumentar os custos eriscos de produção”, afirma Massignam.

As pragas e doenças, aliás, devem ser umapreocupação maior, já que o aumento da temperaturafavorece o surgimento desses problemas. Os insetos, demodo geral, terão o ciclo biológico encurtado e poderãoproduzir um maior número de gerações por ciclo dacultura. “Em regiões onde a geada elimina insetos ealgumas plantas daninhas, a redução desse fenômenopode prejudicar as lavouras”, acrescenta o pesquisador.

Nova geografia

Além das fronteiras catarinenses, o aquecimentoglobal poderá provocar mudanças no mapa daagricultura brasileira, com redução de áreas produtorase prejuízos de cerca de R$ 7,4 bilhões já em 2020. É oque aponta a pesquisa Aquecimento Global e a NovaGeografia de Produção, realizada pela Embrapa. Oestudo avalia que, se nada for feito para mitigar os efeitosdas mudanças climáticas ou adaptar as culturas à novasituação, plantas deverão migrar para outras regiõesem busca de condições favoráveis.

A soja, principal produto agrícola exportado pelo País,poderá sofrer perda de R$ 4 bilhões em 2020, resultadode uma redução de quase 24% da área apta para plantio.Esses efeitos devem ser mais significativos no Sul. Parao mesmo ano, o arroz poderá ter uma redução da áreaapta para o plantio de 8,5%, enquanto a área paraprodução de milho será 12% menor. No feijão, a perdadeverá ser de R$ 155 milhões, em decorrência de umaredução de 4,3% na área. O café terá redução de quase10% na área em 12 anos, tornando inviável asobrevivência da cultura no Sudeste, enquanto amandioca pode desaparecer do semiárido.

De acordo com a pesquisa, a área plantada com cana-de-açúcar pode se expandir pelo País nas próximasdécadas, passando dos atuais 6 milhões para 17 milhõesde hectares em 2020. Com a redução das geadas, aRegião Sul será uma das beneficiadas, tornando-sepropícia também ao plantio de mandioca e até de café.

Desafios

Diante de tantas transformações, o primeiro desafioda Epagri é estudar a complexidade dos fatores queenvolvem as mudanças do clima para traçar estratégiasde adaptação para a agricultura. Além disso, é precisoinvestir em pesquisas em melhoramento genético,controle de pragas e manejo agrícola e selecionarespécies adaptadas à nova realidade climática. “Na áreade melhoramento genético, é preciso buscar espéciesresistentes a doenças, pragas, oscilações de temperaturae variabilidade no regime de chuvas”, aponta Hugo José

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Total de horas de frio e frequência com que elasocorrem têm diminuído em Santa Catarina

Aumento das temperaturas deve reduzir área apta aoplantio de maçã no Estado

Áreas de Santa Catarina adequadas à produção debanana podem aumentar 307% em 50 anos

Feijão terá o crescimento, desenvolvimento erendimento afetados pela redução do ciclo da cultura

Braga. Também é importante identificar práticas quenão favoreçam o ataque de doenças, como o controleda circulação do ar entre as plantas para reduzir atemperatura e o período de molhamento foliar.

Com a previsão de adversidades climáticas numfuturo próximo, a meteorologia terá papel ainda maisestratégico para que os agricultores se preparem paraesses fenômenos. De acordo com Cláudia Camargo, odesafio é prever os eventos extremos cada vez maiscedo. Hoje, o Ciram consegue detectar alguns sinaiscom 15 dias de antecedência, como aconteceu com aschuvas de novembro de 2008. De 3 a 7 dias antes, ossinais são previstos com mais precisão. “Um avançonos modelos de previsão, tanto de tempo como declima, irá contribuir muito, principalmente para osfatores agrícolas”, comenta.

Embora o desafio seja grande, garantir aviabilidade técnica e econômica da agricultura em facedessas mudanças não é suficiente. Estima-se que asatividades agrícolas contribuam com apro-ximadamente 25% do efeito estufa por meio dafermentação entérica dos animais, do manejo dedejetos, do uso do solo, das queimadas e de outrosresíduos. “No Brasil, 70% das emissões de dióxido decarbono são decorrentes das queimadas e o restanteé proveniente da queima de derivados do petróleo edas atividades agrícolas”, afirma Braga.

Segundo ele, o revolvimento do solo contribui parao fenômeno. “A camada superior tem alta concentraçãode carbono sequestrado. Quando se revolve a terra,há oxidação dos compostos orgânicos, que setransformam em metano e dióxido de carbono”,explica. A adubação química é outra vilã, já que onitrogênio presente nos fertilizantes se transforma,com a decomposição, em óxido nitroso, um gás 300vezes mais poluente que o dióxido de carbono. Alémdisso, o metano liberado pelos animais durante oprocesso digestivo é 21 vezes mais poluente que o CO2.Métodos alternativos podem diminuir essas emissões.Algumas recomendações são: reduzir as queimadas eo desmatamento, adotar práticas agrícolas eficientesno sequestro de carbono, como o plantio direto e aintegração lavoura-pecuária, e diminuir o uso dedefensivos derivados de petróleo e a mecanização dasatividades agrícolas. Com relação aos dejetos dosanimais, recomenda-se desenvolver tecnologias detratamento e buscar alternativas, como a construçãode biodigestores, ou, ainda, desenvolver estudos paragerar energia elétrica a partir dos resíduos.

Em ação

A Epagri está envolvida em uma série de projetose pesquisas sobre o aquecimento global. Um deles é aSimulação de Cenários Agrícolas Futuros (Scaf) apartir de projeções de mudanças climáticasregionalizadas, desenvolvidos pela Embrapa, emparceria com outras 25 instituições. No total, 226pesquisadores trabalham para prever os impactosdessas mudanças na agricultura brasileira. A Epagri

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Estudo aponta que a área adequada para plantio de arroz no Estado seráampliada

Temperaturas mais altas favorecem o surgimento de pragas e doenças na agricultura

atua na análise das tendênciasclimáticas atuais e no levantamentodos cenários agrícolas futuros parafruteiras temperadas (maçã e uva) eculturas de grãos (arroz, feijão, trigoe soja).

Outro projeto com participação daEmpresa é o Climasul, cuja propostaé formar uma rede de pesquisa emagrometeorologia e recursos hídricospara elaborar cenários climáticosagrícolas de culturas importantespara o sul do Brasil. O projeto écoordenado pela UniversidadeRegional de Blumenau comparticipação das univer-sidades federais de SantaMaria, RS, de Santa Catarinae do Paraná, da EmbrapaTrigo, do Instituto Agro-nômico do Paraná (Iapar) e doInstituto Nacional dePesquisas Espaciais (Inpe).

A Epagri integra, ainda, oGrupo Técnico Científico(GTC), uma equipemultidisciplinar criada peloGoverno do Estado após asenchentes de 2008, que contacom a participação deuniversidades, órgãos einstituições estaduais enacionais. A missão do GTCé adotar medidas preventivasàs catástrofes naturais emSanta Catarina. O grupo, deação permanente, concentraações em pesquisas nas áreasde geotécnica e solos,

meteorologia e clima, hidrologia,geoprocessamento, urbanismo,monitoramento e educaçãoambiental, gestão florestal etecnologia da informação.

Em 2009, a Epagri e aOrganização das Cooperativas doEstado de Santa Catarina (Ocesc)assinaram um protocolo decooperação técnico-científica paradesenvolver pesquisas e outras açõescom o objetivo de adaptar aagricultura às mudanças climáticase reduzir as emissões de gases deefeito estufa. O acordo abrange a

produção de grãos, fruticultura declima temperado e tropical,forrageiras, essências florestais,suínos, aves e gado leiteiro.

O protocolo de intençõesestabelece dez metas conjuntas, entreelas o desenvolvimento de estudossobre variedades e tecnologiasapropriadas, tendo em vista asprováveis mudanças climáticas eseus efeitos na área de fruticulturade clima temperado e tropical.Também é objetivo das instituiçõescriar tecnologias para apro-veitamento da água das chuvas,ampliar os serviços de previsãometeorológica voltados às atividadesagropecuárias catarinenses epromover a capacitação do corpotécnico das cooperativas. “Algunstemas já são objetos de pesquisa naEpagri, restando apenas adequar osestudos às necessidades específicasda Ocesc, como no caso dos impactosdas mudanças climáticas em algunssetores da agricultura e no doarmazenamento de água da chuva”,explica o chefe do Ciram, SergioZampieri.

Outra ação que prometealavancar os estudos na área é aarticulação da Empresa com aUniversidade Federal de SantaCatarina (UFSC) e o InstitutoFederal de Santa Catarina (IF-SC)para a criação da Rede Meteorológica

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do Estado, que já tem recursosgarantidos pelo Governo Federal. Aproposta é que as instituiçõestrabalhem com troca de co-nhecimentos sem a criação de umaestrutura física.

Futuro

É consenso que as mudançasclimáticas ocorrerão, mas ainda nãoé possível prever os reflexos que elasterão sobre a agricultura ca-tarinense. De acordo com osespecialistas, o Estado tem umagrande variabilidade geográfica, detempo e clima e os impactoseconômicos, sociais e ambientaispoderão ser positivos, negativos ouneutros.

Para o chefe do Ciram, prever amagnitude desse impacto é o grandedesafio das pesquisas. “Não podemospredizer o futuro. O que se tem sãosinais de que poderá havermudanças. É importante promoverestudos que antecipem a novarealidade climática para quepossamos desenvolver tecnologiaspara adaptar as culturas do Estado”,aponta. Segundo ele, embora nãosejam definitivas, essas projeções sãofundamentais para que a agriculturapossa se precaver. “O sentido daciência é o planejamento. Sedeixarmos para a última hora,poderá ser tarde demais”, afirma.

Alerta mundial

De acordo com relatório publicado pela Oxfam International, grupoque reúne organizações não governamentais que lutam contra a pobreza,os ganhos obtidos pelos países mais pobres nos últimos 50 anos podemser perdidos por conta das alterações climáticas. O maior impacto será oaumento da fome. Na zona tropical, culturas como as de milho e arrozestarão em risco. O acesso à água será outro problema.

O relatório, feito com base em conclusões de cientistas e estudos dasagências da ONU, aponta medidas para aumentar os estoques de alimentono planeta. “O potencial agrícola do mundo é menos que 60% explorado:ainda há terra suficiente para alimentar todos, até com a populaçãoaproximada de 9,2 bilhões, prevista pelas Nações Unidas para 2050”,informa o relatório, que destaca que métodos modernos para irrigação efertilização poderiam aumentar a produção.

De olho no termômetro

O efeito estufa é um fenômeno natural e sem ele a vida na Terra nãoseria possível. “Mas o aumento da concentração de gases na atmosferacria uma barreira e prejudica o retorno da radiação solar para o espaçodepois de ser refletida pela Terra, intensificando o efeito estufa eprovocando o aquecimento global”, explica Hugo José Braga, do Ciram.O principal vilão da história é o dióxido de carbono liberado na queimade combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás – sua presençaequivale a 70% da concentração dos gases de efeito estufa. Ozônio, metano,óxido nitroso e vapor d’água na atmosfera também contribuem para ofenômeno.

De acordo com Braga, a queima de combustíveis provocada pelodesenvolvimento industrial tem sido tão grande desde o século passadoque já tornou o aquecimento global irreversível. “Mesmo tomando todasas medidas necessárias, ainda não reverteríamos o problema, tal aquantidade de gases presente na atmosfera. Esses impactos devem seestender por várias décadas”, afirma.

Por conta dessas emissões, a temperatura média global subiu 0,74°Centre 1960 e 2005. De acordo com projeções do Painel Intergovernamentalsobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (IPCC/ONU) feitas em 2007, até 2100 a temperatura média do ar deve sofrerum aquecimento de 1,8 a 4°C. Em cenários mais pessimistas, o aumentopode chegar a 6,4°C.

Desafio dos meteorologistas é prever eventos extremoscada vez mais cedo

No Brasil, 70% das emissões de dióxido de carbono sãodecorrentes de queimadas

Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Fotos de Nilson Otávio Teixeira

Beleza que dá lucroBeleza que dá lucroBeleza que dá lucroBeleza que dá lucroBeleza que dá lucro

Ideal para pequenas propriedades

familiares, a produção de flores e

plantas ornamentais é rentável, mas

exige conhecimento e visão de mercado

Cinthia Andruchak Freitas1

1 Bacharel em jornalismo, Epagri/Sede, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5682, e-mail:[email protected].

Beleza que dá lucroBeleza que dá lucroBeleza que dá lucroBeleza que dá lucroBeleza que dá lucro

27Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Santa Catarina é o terceiromaior produtor de flores eplantas ornamentais do

Brasil. De acordo com umlevantamento da Epagri, cerca de500 produtores de 115 municípiosdestinam uma área de 1,5 milhectares ao cultivo dessas plantas noEstado. A produção rende, por ano,mais de R$ 60 milhões e destina-seprincipalmente ao mercadobrasileiro. A prosperidade dessenegócio é resultado de uma tradiçãotrazida por imigrantes alemães eitalianos somada ao empreende-dorismo de novos produtores e aoesforço da Epagri, que trabalha paraestimular a atividade e capacitaragricultores para apostarem no setor.

As ações da Empresa iniciaramem 1996, quando um grupo deprodutores pediu apoio à área. Otrabalho começou com umdiagnóstico da atividade no Estado,que identificou 112 produtores em 12municípios, localizados predomi-nantemente nas regiões de Joinville,Florianópolis e no Alto Vale do Itajaí.Com base nesses dados, a Epagri, emparceria com a Associação dosProdutores de Plantas Ornamentaisde Santa Catarina (Aproesc) e aAssociação Comercial e Industrial deJoinville (Acij), elaborou um plano deação para a floricultura catarinense.

A primeira medida foi aimplantação de um curso pro-fissionalizante na área que, aindahoje, é um dos poucos oferecidos noPaís. “O primeiro curso foi feito comos produtores mais tradicionais daregião de Joinville. Nessa troca deconhecimentos, eles aprenderam ateoria e nós aprendemos a prática.Isso serviu de base para aperfeiçoaro trabalho de capacitação”, conta oengenheiro-agrônomo da EpagriGilmar Jacobowski, responsável peloprojeto de flores e plantasornamentais na região de Joinville.

Além dos cursos, uma série deações voltadas para o de-senvolvimento da cadeia produtivafoi implantada no Estado, incluindomissões internacionais com aparticipação de técnicos e produtores.Em 2000, um novo levantamento dosetor revelou que o Estado já contavacom 372 produtores, distribuídos em112 municípios. “A floricultura

catarinense cresceu e se especializou.O principal diferencial dos nossosprodutos é a qualidade”, apontaGilmar.

Os cursos promovidos pelaEpagri, hoje configurados em doismódulos, já formaram mais de 1.600pessoas em todo o Estado. Realizadosem Joinville, e com duração de umasemana, eles incluem aulas práticas,visitas aos produtores, além deorientações que vão desde areprodução e o manejo das plantasaté questões de mercado. “Nos cursos,o produtor aprende o que precisapara poder tocar um negócio nessesetor. Depois de formado, ele decideo que vai produzir e conta com aassistência da Epagri”, explica oagrônomo. Para este ano, há cincocursos profissionalizantes pro-gramados.

Rentabilidade

Um dos principais atrativos daprodução de flores e plantasornamentais é a alta densidadeeconômica: em pequenas áreas, épossível obter bons lucros. “A áreamédia dos produtores catarinensesdestinada a essa atividade é de 3,2hectares. Já a renda bruta gira emtorno de R$ 40 mil por hectare aoano, com margem de lucro em tornode 30%, ou seja, são apro-ximadamente R$ 12 mil líquidos”,calcula Gilmar. Outra vantagem é asegurança maior contra perdas emrelação à produção de alimentos,especialmente quando se fala emplantas de jardim. “Essas plantas nãoprecisam ser vendidas ime-diatamente. Se o produtor nãoconsegue vender agora, pode segurarpor um tempo”, explica o engenheiro--agrônomo da Epagri.

Mas o grande segredo para quemquer colher bons resultados é oconhecimento: para prosperar nosetor é preciso ser um profissional daárea. Outro ponto fundamental éavaliar bem o mercado antes decomeçar a produzir. “Não dá para selançar na atividade sem levar isso emconta. O produtor precisa saber paraquem vai vender os produtos. Omercado está em expansão eremunera bem, mas é competitivo;por isso é preciso ter profissionalismo

e uma boa estratégia de co-mercialização”, ressalta Gilmar.Assim, é necessário ter visão demédio e longo prazo, porque muitosprodutos levam anos até ficar prontospara a venda.

Além de observar o mercado,Gilmar aconselha quem teminteresse na atividade que inicie aospoucos. “O produtor deve começarcom um investimento pequeno, deacordo com o que ele pode dar contae com o tamanho do mercado quequer atingir. E, aos poucos, ele podeaumentar a produção e a variedadede produtos”, sugere. Como o manejoé específico para cada espécie, outradica é começar produzindo plantas damesma família, que exigem cuidadossemelhantes. O agrônomo tambémdestaca que a atividade ocupabastante mão de obra e, nessequesito, é semelhante à produção dehortaliças.

Trabalho familiar

Na propriedade de Iara e JairSchinkel, em Barra Velha, aprodução de flores iniciou em 2007 ejá é a principal atividade da família.A experiência foi tão positiva que elesdeixaram de lado o aviário quemantinham para se dedicarintegralmente à beleza das flores.“Eu queria buscar outra fonte derenda porque a avicultura davapouco dinheiro. Aí tive uma ideia.Como sempre gostei de flores, eu emeu marido fizemos cursos da Epagrie entramos na atividade”, conta Iara.

No início, tudo era novidade.“Tivemos medo que não desse certo,até porque tem muito preconceito

Iara e Jair Schinkel trocaram oaviário pela produção de flores

28 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

aqui na região, onde se plantaprincipalmente banana e arroz. E adiferença é que as flores você não sóproduz, mas também vende”, revelaa agricultora. O investimento inicialpara entrar na atividade foi de cercade R$ 30 mil. “Se você for construirum aviário da forma que osfrigoríficos pedem, vai gastar pertode R$ 300 mil”, compara.

A atividade se encaixou bem napequena propriedade de 2,5 hectares.Iara e Jair têm uma estufa de 500metros quadrados com capacidadepara cerca de 9 mil vasos e já estãoconstruindo outra, com 300 metrosquadrados para ampliar a produção.A estufa protege as plantas do sol eda chuva excessiva e conta com umsistema de irrigação por gotejamento.

Hoje o casal trabalha com cercade 15 espécies e vende apro-ximadamente 3,5 mil vasos por mêspara floriculturas e atacadistas deBarra Velha, Piçarras, Penha,Balneário Camboriú, Brusque,Gaspar, Blumenau e Indaial. Iaracuida da produção, Jair faz asentregas e o filho Gabriel ajuda notrabalho.

Iara diz que, como ela gosta daatividade, o trabalho acaba ficandofácil. “Mas é preciso ter co-nhecimento, muita dedicação e ficarsempre de olho na variedade, naprodução e no mercado”, aconselha.Por isso, os produtores contam com oapoio da Epagri, participam de feiras

e eventos do setor e ficam atentos àsnovidades, que podem tanto serespécies diferentes que tenham boaaceitação no mercado como tambémdoenças novas que surgem.

A produção de flores tambémexige planejamento. As mudas sãoencomendadas com seis semanas deantecedência e levam cerca de novesemanas para ficar prontas para avenda. Além disso, para cada épocado ano há espécies que são maisprocuradas. “Temos que pensarsempre no que o mercado vaidemandar lá na frente”, diz Iara.Para a produtora, passar as horasentre plantas como eufórbias,gerânios, gérberas e fúcsias é umaforma de encontrar prazer notrabalho. “Além deaumentarmos arenda da família,melhoramos nossaautoestima, por-que trabalhamoscom o que é nosso.É gostoso produzirflores. Tem o ladonegativo, mas olado positivo émaior. E a genteprecisa trabalharcom amor, comuma atividade quedê prazer”, des-taca.

Visão de mercado

A dificuldade de encontrarmaterial para trabalhar foi amotivação de Dário Bergemann paracomeçar a produzir hemerocale em1992 e, de jardineiro, se transformarno maior produtor da planta noBrasil. “Eu não encontrava materialselecionado para trabalhar porque ascores das flores vinham misturadas.Na época, não tinha produçãocomercial dessa planta no País, entãoresolvi apostar nisso”, conta.

Dário começou a pesquisar oassunto e, em 1995, firmou umconvênio com o Instituto Agronômicode Campinas para o desenvolvimentode pesquisas com a espécie.Aprendeu inglês, foi para o exterior,importou material, fez cursos e seespecializou na produção dehemerocale. Além disso, ele recebeapoio técnico da Epagri.

Hoje, Dário conta com uma áreade 9 hectares em Joinville e vende1,5 milhão de mudas de 60variedades por ano para clientes doSul, Sudeste e Centro-Oeste do País,sem falar em colecionadores do Brasile do exterior que chegam a pagarR$ 350 por muda. Para ele, o maiororgulho é ter criado um mercado novono Brasil, transformando uma florcomum em uma planta nobre parajardins. “Quando comecei a produzir,disseram que eu era louco, que aplanta dava em qualquer lugar. Elaera vendida com cores misturadas e,no atacado, custava centavos. Mas

Atividade tem alta densidade econômica: em pequenas áreas, é possívelobter bons lucros

Dário Bergemann (à direita) apostou nos hemerocale ese tornou o maior produtor da planta no Brasil

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aos poucos, com pesquisas e muito trabalho, fomos rompendo asbarreiras de valores”, conta.

O melhoramento genético por hibridização desenvolvido hámais de 5 anos na propriedade resulta em cultivares de boaqualidade genética e resistentes a pragas e doenças. “O resultadofoi conquistado com investimento em pesquisas e em um sistemade seleção natural no campo, em área especialmente destinadaa testes, sem o uso de agrotóxicos”, conta Dário, que já lançou44 cultivares.

O turismo rural é outro diferencial da propriedade. Além defazer compras, os visitantes podem conhecer o sistema deprodução, visitar campos de cultivo e o Jardim dos Hemerocales.“A proposta é oferecer um espaço de contemplação, mostrandocomo a planta pode ser usada e incentivar as pessoas a construirjardins”, conta Dário. Outra atração é o espaço do colecionador,onde é possível apreciar e adquirir cultivares raras.

Também conhecido como lírio-de-são-josé, lírio-de-um-dia elírio-amarelo, o hemerocale é nativo da China e da Sibéria. Onome, dado por Linnaeus em 1753, tem origem grega (hemero =dia e kallos = beleza) e se refere a uma das características maismarcantes da planta: cada flor dura apenas 1 dia. Hoje, há maisde 54 mil cultivares no mundo.

A espécie, cujo período de floração vai de outubro a fevereiro,é perene, fácil de cultivar e exige pouco cuidado. Em 1 ano amuda está pronta para ser comercializada. Além do baixo custode manutenção, o hemerocale tem boa resistência à maioria daspragas de jardim e se adapta com facilidade a diversas condiçõesclimáticas. Segundo Dário, o segredo para a planta ficar forte emenos suscetível a doenças e pragas é fazer uma boa adubação.Outro cuidado é retirar as folhas velhas para evitar a proliferaçãode fungos e doenças.

De pai para filho

No segmento de plantas ornamentais, que tem a maiorrepresentatividade na produção catarinense, um bom exemploestá em uma propriedade familiar localizada no distrito dePirabeiraba, em Joinville. A história começou em 1987, quandoo fundador José Machado, depois de 20 anos trabalhando emuma empresa que produzia plantas ornamentais, decidiu abriro próprio negócio.

A empresa cresceu e, hoje, é administrada com ajuda dosfilhos. A área de produção, que começou com 0,5 hectare, saltoupara 40 hectares divididos em cinco chácaras. A empresatrabalha com plantas ornamentais para jardim, a maior parteem vaso. São cerca de 80 espécies, entre liríopes, arundinas,dianelas, palmeiras, coníferas e muitas outras. A maioria dasplantas leva, no mínimo, um ano para ficar pronta. A produçãoé vendida para o mercado catarinense, além de Estados comoRio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás,Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Micheli Olívia Machado, que é responsável pela parte deprodução, aprendeu com o pai tudo o que sabe sobre plantasornamentais. Formada em Administração de Empresas, eladecidiu dedicar-se ao negócio da família. “Fiquei, gostei e hojenão saio daqui. Em cerca de 3 anos, o pai deve se aposentar e osfilhos vão tocar o negócio”, conta.

Ela explica que a multiplicação das mudas é feita naschácaras da família e, na produção, o uso de produtos químicosé raro. O controle de pragas e doenças é feito, geralmente, com o

Cerca de 500 agricultores de 115 municípiosproduzem flores e plantas ornamentais noEstado

“É preciso ficar atento ao mercado e se dedicarintegralmente à produção”, aconselha MicheliOlívia Machado

Segmento de plantas ornamentais tem a maiorrepresentatividade na produção catarinense

30 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Valorização da biodiversidade local

Uma pesquisa desenvolvida na Epagri/Estação Experimental de SãoJoaquim está identificando espécies nativas com potencial ornamentalno planalto sul catarinense. “O objetivo é conhecer a diversidade deespécies com esse potencial na região e avaliar a possibilidade de usá-las racionalmente, já que fazem parte de um habitat fragilizado pelaação antrópica e climática”, explica a pesquisadora Marlise Nara Ciotta.

No projeto, iniciado em 2006, os pesquisadores fizeram a coleta, aidentificação taxonômica das espécies, a revisão bibliográfica eacompanharam o crescimento, a fenologia e a adaptação delas emambiente protegido. Foram coletadas cerca de 80 espécies, incluindoplantas como manacá-de-cheiro, brinco-de-princesa-da-mata, gúnera,rainha-do-abismo, tuna, quaresmeira, chuva-de-ouro e capim-dos--pampas. “O potencial das espécies é tanto para cultivo em vasos e usoem arranjos florais como para uso paisagístico e na recuperaçãoambiental”, destaca o pesquisador Eduardo da Costa Nunes.

A partir de agora começam pesquisas mais específicas, comavaliações agronômicas relacionadas a adaptação em ambientes decultivo, formas de multiplicação e aspectos fenológicos de floração ecrescimento. Para os pesquisadores, a comercialização de ornamentaisnativas pode valorizar a biodiversidade local e representar uma fontealternativa de renda para pequenos agricultores, já que a produção noplanalto sul ainda é tímida. “Esse trabalho também pode suprir omercado com novidades e espécies mais bem adaptadas, além de criarum ambiente propício para diversas espécies da fauna”, acrescentaEduardo.

Entre os trabalhos científicos que a pesquisa gerou está o boletimtécnico “Espécies com potencial ornamental de ocorrência no planaltosul catarinense”, publicado recentemente pela Epagri.

Centros produtivos

O cultivo de flores e plantasornamentais no Estado seconcentra em três grandes regiões.O Litoral Norte, com destaquepara o município de Corupá, é omaior polo da floricultura doEstado e o primeiro produtor deplantas ornamentais, flores decorte e plantas em vasos, além deter uma produção expressiva degrama. O Alto Vale do Itajaí,especialmente com os municípiosde Laurentino e Rio do Oeste, sedestaca nos segmentos de plantasornamentais e forrações. Já aregião da Grande Florianópolisdetém o primeiro lugar naprodução de gramas e forrações.“Outro município que seespecializou no cultivo de forraçõesé Balneário Camboriú”, acrescentaGilmar Jacobowski.

descarte das plantas afetadas. Deacordo com o engenheiro-agrônomoGilmar Jacobowski, é isso queacontece na maioria daspropriedades do Estado. “Osambientes são mais controlados e aatividade não é uma monocultura,por isso não prejudica o meioambiente. Os produtores usamprincipalmente adubo e a tendênciaé reduzir cada vez mais o uso deagrotóxicos”, explica.

O mercado de plantas or-namentais acompanha o crescimentoda construção civil e está emexpansão, com incrementos quechegam a 20% ao ano. Mas o preçodos produtos está em queda. “Sempreque isso acontece, temos que buscarmercadorias novas, viajar paradescobrir tendências. É preciso ficarde olho em tudo, até mesmo nasplantas que aparecem nas novelas”,revela Micheli.

Para quem quer dar certo naatividade, a produtora aconselha: épreciso dedicar-se integralmente àprodução. “Se der sol forte em umfinal de semana e você não cuidar dasplantas, pode ter prejuízo”, ressalta.Outro segredo é gostar do que faz. “Agente não ganha muito; é o necessáriopara ser feliz. Mas o trabalho ao arlivre é muito agradável e também fazbem para a saúde”, revela.

Brinco-de-princesa-da-mata, capim-dos-pampas e manacá-de-cheiroforam algumas das espécies selecionadas.

31Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Projeto de controle higiênico esanitário de moluscos bivalves,inédito no Brasil, traz segurançapara quem consome e amplia omercado para quem produz

Garantia deGarantia deGarantia deGarantia deGarantia dequalidade para oqualidade para oqualidade para oqualidade para oqualidade para oque vem do marque vem do marque vem do marque vem do marque vem do marCinthia Andruchak Freitas1

1 Bacharel em jornalismo, Epagri/Sede, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5682, e-mail:[email protected].

Garantia deGarantia deGarantia deGarantia deGarantia dequalidade para oqualidade para oqualidade para oqualidade para oqualidade para oque vem do marque vem do marque vem do marque vem do marque vem do mar

Acada 15 dias o maricultorVilmo Trindade, nativo daPraia do Forte, em

Florianópolis, recebe a visita de umtécnico da Epagri que recolheamostras de água e mariscos paraserem analisadas em laboratório.Vilmo sabe que esse procedimento éimportante e, por isso, ajuda otécnico, fornece os moluscos e atéparticipa das coletas. “Sabemos queo benefício desse trabalho vem paraa gente. É importante para garantira nossa produção e as nossas vendas”,conta ele, que vive do mar desdecriança e produz moluscos há 15anos.

Assim como a fazenda marinha deVilmo, 40 pontos do litoralcatarinense, numa área quecompreende 13 municípios, de SãoFrancisco do Sul até Laguna, sãomonitorados quinzenalmente. A açãofaz parte do projeto ControleHigiênico Sanitário de MoluscosBivalves no Litoral de SantaCatarina, pioneiro no País, que éexecutado pela Epagri com recursosdo Ministério da Pesca e Aquicultura(MPA) e da Secretaria de Estado daAgricultura e DesenvolvimentoRural.

O projeto é parte de um programanacional instituído pelo MPA parafomentar a maricultura brasileira egarantir a qualidade dos bivalves. Oobjetivo é proteger a saúde doconsumidor e criar mecanismosseguros para o comércio nacional einternacional desses produtos. Opiloto, executado em Santa Catarinacom orçamento de aproximadamenteR$ 1 milhão, servirá como ponto departida para estender a experiênciaa outras regiões brasileiras.

A meta no Estado é fazer umagrande investigação sobre a situaçãosanitária da água e dos moluscos nasáreas onde existem cultivos de ostras,mexilhões e vieiras. O trabalho, quepermitirá classificar as áreas em“adequadas” e “inadequadas” para aprodução, contempla aindamonitoramento de florações de algasnocivas e ações de educação sobreboas práticas de manejo nas etapaspós-colheita. “O objetivo é, numfuturo próximo, estruturar umprograma estadual que vai garantir

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a qualidade sanitária de todos osmoluscos produzidos em SantaCatarina”, afirma o médico--veterinário Robson Ventura deSouza, pesquisador da Epagri/Centrode Desenvolvimento em Aquiculturae Pesca (Cedap) e coordenador doprojeto.

A importância desse trabalho estáno fato de os moluscos bivalves seremorganismos filtradores. Elesdependem da qualidade da águaporque se alimentam do material emsuspensão no meio em que sãocultivados. Se a água estiver emcondições adequadas, os moluscosserão de ótima qualidade. Porém, sea água contiver agentes patogênicos,eles podem acumular organismos etoxinas que são transferidos para oconsumidor, causando doençasalimentares e até mesmo a morte. Apresença de agentes patogênicos naágua pode ser ocasionada por umasérie de fatores, entre eles a poluiçãoe as florações de algas tóxicas.

Em laboratório

O projeto prevê análisesmicrobiológicas de água (coliformestermotolerantes), de moluscos(coliformes a 35oC, coliformes a 45oC,estafilococos coagulase positiva eSalmonella spp.) e de metais pesados(chumbo, cobre, cádmio, mercúrio ezinco). Essas análises, realizadas pelolaboratório do Departamento deCiência e Tecnologia de Alimentos daUniversidade Federal de SantaCatarina (Labcal/UFSC), buscamidentificar as regiões afetadas porpoluição. “Complementarmente,estamos analisando, aqui no Cedap,parâmetros físico-químicos da água,como salinidade, turbidez econcentração de clorofila A”, explicaRobson.

Essas informações serãorelacionadas a dados oceanográficose climáticos e as conclusões farãoparte de um grande relatório sobre asituação sanitária das áreas decultivo catarinenses que seráentregue ao Ministério da Pesca.Para alimentar esse relatório, emtodas as coletas a Epagri fazmedições de temperatura, além de

observações sobrevento, momento demaré e clima.

Algas nocivas

O projeto tambéminclui o monitoramentodas florações de algasnocivas e da presençade ficotoxinas nosmoluscos produzidos.Isso é feito por meio decontagens demicroalgas na água(Dinophysis sp.,Gymnodinium sp. ePseudo-nitzchia sp.) eanálises da presença detoxinas produzidas porelas (amnésica, diar-reica e paralisante) nosmoluscos. Esse tra-balho é realizado noLaboratório de Estudossobre Algas Nocivas daUniversidade do Valedo Itajaí (Univali).

Desde março de2009, os resultados domonitoramento dealgas nocivas eficotoxinas são dis-ponibilizados e atuali-zados semanalmenteno site do projeto(www.pecmb.wordpress.com).Lá, consumidores,produtores e outrosinteressados podem teruma indicação daqualidade sanitária dosmoluscos colhidos noslocais monitorados.Quando é detectadoalgum evento defloração de algasnocivas, além dedivulgar os laudos nosite, entramos emcontato com aVigilância Sanitária, oMinistério da Agri-cultura, o Ministério da Pesca, alémde produtores e técnicos das regiõesafetadas”, conta Robson.

Dependendo do resultado doslaudos, o MPA emite portarias queproíbem ou liberam a co-mercialização de moluscos duranteas florações. Esses laudos tambémsão utilizados pelas indústrias

beneficiadoras certificadas peloServiço de Inspeção Federal (SIF)para complementar os programas deAnálises de Perigos e Pontos Críticosde Controle (APPCC) como forma deassegurar a qualidade dos bivalves.

Desde o início do monitoramento,foram registrados dois eventos deflorações da microalga Dinophysis

Resultados do monitoramento de algas nocivas eficotoxinas em 40 pontos do litoral sãodisponibilizados no site do projeto

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acuminata no município de Palhoça,outros dois na localidade de Paulas,em São Francisco do Sul, e um emPraia Alegre, no município de Penha.“Em todos os eventos, a colheita ecomercialização de mexilhõesprovenientes das áreas afetadasforam proibidas pelo MPA por meiode portarias até que as análises nãoapontassem mais a presença detoxinas nos moluscos”, conta ocoordenador do projeto.

Profissionalização

Na frente educacional, a pro-postaé orientar os produtores sobre asáreas adequadas para o cultivo emelhorar o processamento dosalimentos para manter a qualidadee evitar doenças. “Também tra-balhamos para que os maricultoresse adequem às legislações sanitária,trabalhista e ambiental”, contaRobson Ventura. Esse trabalho éimportante porque, embora o produtodas empresas certificadas peloserviço de inspeção seja seguro parao consumidor, os produtores não

Objetivo do projeto é fomentar a maricultura e garantir a qualidade de ostras, mexilhões e vieiras

Maricultor Vilmo Trindade (à direita) ajuda o técnicoda Epagri e participa das coletas

certificados nemsempre tomam osdevidos cuidadossanitários.

As ações tambémsão voltadas paraos consumidores,buscando levarinformações sobresegurança ali-mentar para am-pliar o mercado demoluscos. “Muitagente não consomeesses alimentosporque não sabe deonde eles vêm.Queremos mostrar

que moluscos produzidos em áreaslivres de poluição, onde a qualidadeda água é monitorada e eles sãomanuseados de maneira adequada,são muito seguros para o consumo,além de ser alimento extremamentesaudável”, destaca Robson. Segundoele, os bivalves possuem menoscalorias que a maior parte das carnesconhecidas, incluindo muitos peixes,e são importantes fontes de ácidosgraxos do tipo ômega-3, que ajudamna prevenção de doenças cardio-vasculares.

Mercado

A expectativa é que, além deaumentar o consumo no mercadointerno, a garantia da segurançaalimentar também abra portas paraesses produtos fora do País. “Estamosdando o primeiro passo para adequara cadeia produtiva a níveisinternacionais”, comemora Robson.

Fábio Faria Brognoli, presidenteda Federação das Empresas deAquicultura (Feaq), também acreditanisso. “Ainda há muito preconceitosobre o consumo de moluscos e essetrabalho está gerando confiabilidade,

pois garante que eles sejamproduzidos em locais adequados esejam manejados corretamente. É agarantia de que o consumidorprecisa”, afirma. A entidade, quereúne nove empresas que produzemcom certificação do SIF e vendempara grandes centros de todo o País,já está fazendo contatos com a UniãoEuropeia.

A Associação Catarinense deAquicultura (Acaq), entidade querepresenta aproximadamente 500produtores que colhem cerca de 8 miltoneladas de moluscos por ano,também apoia o projeto. Para opresidente, João dos Passos de Souza,o trabalho é importante para a cadeiaprodutiva porque o monitoramentoajuda a evitar prejuízos e melhora acredibilidade dos produtos,ampliando a produção e o consumo.“Antes desse trabalho, apenas asempresas privadas faziam o controlehigiênico e sanitário, e com altoscustos, o que era inviável para amaioria dos pequenos produtores”,destaca.

João também acredita que oprojeto vai ajudar a combater oprocessamento caseiro, que é ilegale, geralmente, feito em más condiçõeshigiênicas e sanitárias. “A Acaq estáfazendo um trabalho de divulgaçãodo projeto junto aos produtores. Alémdisso, busca conscientizar osmaricultores das normas corretas demanejo”, aponta.

Graças ao monitoramento, osmoluscos que o produtor VilmoTrindade fornece para restaurantes,turistas e consumidores locaischegam à mesa com a garantia de queestão em boas condições para serconsumidos. “Antes, eu não sabiaquando podia colher ou não. Agora,a Epagri coleta material, envia paraanálise e, se tiver algum problema,nos avisa rapidamente e nós paramos

34 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

a colheita. O turista vê esse trabalhoe sabe que pode confiar”, conta omaricultor que produz, em sociedadecom o irmão, 10 mil dúzias de ostrase 7 toneladas de mariscos por ano.“A gente tira o sustento do mar, massempre com consciência”, afirma.

Além dos moluscos, a Epagri coletaamostras de água

Organização damaricultura

Com o objetivo de ordenar eprofissionalizar a atividade, em2009 Santa Catarina foi o primeiroEstado brasileiro a finalizar seusPlanos Locais de Desenvolvimentoda Maricultura (PLDMs). Os planossão ferramentas legais queorganizam a área de produção ondeserão implantados cultivos ma-rinhos regularizados.

O planejamento envolve a readequação legal de áreas existentes e adefinição de novas áreas de produção. “Considerando que a grande maioriados locais delimitados pelos PLDMs será ocupada por cultivos de moluscosfiltradores, um dos fatores que deverão ser considerados na definição deáreas é a condição sanitária da água, daí a importância do projeto decontrole higiênico e sanitário para o planejamento da atividade”, destacaRobson Ventura.

Prosperidade nas fazendas marinhas

Santa Catarina é o maior produtor de moluscos bivalves do Brasil,respondendo por aproximadamente 95% do total nacional, e o segundomaior da América Latina, ficando atrás apenas do Chile. Em 2008, aprodução total de moluscos do Estado (mexilhões, ostras e vieiras) foi de13.107,92 toneladas, representando um aumento de 29,33% em relação a2007. Esse volume de produção proporciona uma movimentação financeirabruta estimada em R$ 29,7 milhões.

O cultivo é praticado em 13 municípios da região litorânea poraproximadamente 640 maricultores que abastecem, além do mercado local,grandes centros do País, como Rio de Janeiro e São Paulo.

Projeto inclui monitoramento das florações de algas nocivas e da presençade ficotoxinas nos moluscos

Projeto vai ampliar o mercado debivalves. Na foto, ostras sãoprocessadas em uma empresa deFlorianópolis

35Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

As pesquisas na área de plantasbioativas são desenvolvidasna Epagri/Estação Expe-

rimental de Itajaí (EEI) há cerca dequinze anos, tendo contempladoinicialmente estudos botânicos eagrológicos. Recentemente, foramincorporadas linhas de pesquisa nasáreas de processamento e fitoquímicaem apoio à área agronômica.

Espécies bioativas compreendemvários grupos de plantas compropriedades terapêuticas, aro-máticas, adaptógenas, nutracêuticase biocidas. Ultimamente, vem-sedestacando a área de alimentosfuncionais, tendo em vista a busca

Pão de ora-proPão de ora-proPão de ora-proPão de ora-proPão de ora-pro-nóbis –-nóbis –-nóbis –-nóbis –-nóbis –um novo conceitoum novo conceitoum novo conceitoum novo conceitoum novo conceitode alimentação funcionalde alimentação funcionalde alimentação funcionalde alimentação funcionalde alimentação funcional

Antonio Amaury da Silva Jr.1, Daniela Guimarães Nunes2, Fabiano Cleber Bertoldi3, Marcio Nunes Palhano4,

Natália Lúcia K. Komiekiewicz5

1 Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5244, e-mail:[email protected] Extensionista Rural, Epagri/Escritório Municipal de Penha/Gerencia Regional de Itajaí, Av. Nereu Ramos, 08, 88385-000 Penha, SC,fone: (47) 3345-2561, e-mail: [email protected]. .3 Químico, Dr., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5244, e-mail:[email protected] Extensionista Rural, Epagri/Escritório Municipal de Porto Belo/Gerência Regional de Itajaí, Rua Irineu José Moreira, 337, 88210-000Porto Belo, SC, fone: (47) 3369-5115, e-mail: [email protected] Extensionista Rural, Epagri/Escritório Municipal de Itajaí/Gerência Regional de Itajaí, Rua Tijucas, 505, 88301-361 Itajaí, SC, fone:(47) 3349-2315, e-mail: [email protected].

crescente pelos produtos naturais,por qualidade e maior expectativa devida e, definitivamente, poralimentos que apresentem açãopreventiva contra doenças eestimulem as funções metabólicas.Neste contexto se inserem espécieshoje denominadas nutracêuticas, quesão espécies vegetais comcaracterísticas de alimentosfuncionais, protetores e compropriedades medicinais atestadasem inúmeros trabalhos científicos oucom base em sua composição fito-química e bromatológica. Nor-malmente, a humanidade consomecerca de 100 espécies de plantas,

entre alimentares e nutracêuticas,mas estima-se em 17 mil o númerode espécies nutracêuticas quepoderiam ser ingeridas.

Em busca de novas alternativasde consumo dessas plantas, iniciou-se o desenvolvimento de técnicas depanificação com algumas espéciescom propriedades promissoras paraa saúde. Os resultados estãodivulgados através de cursosprofissionalizantes de panificação,oferecidos ao público em geral. OCurso de Panificação Nutracêuticaestá sendo realizado desde 2008, noCentro de Treinamento de Itajaí-Cetrei, e até o momento contou com

Pão de ora-proPão de ora-proPão de ora-proPão de ora-proPão de ora-pro-nóbis –-nóbis –-nóbis –-nóbis –-nóbis –um novo conceitoum novo conceitoum novo conceitoum novo conceitoum novo conceitode alimentação funcionalde alimentação funcionalde alimentação funcionalde alimentação funcionalde alimentação funcional

36 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

a participação de 130 treinandos emoito cursos. O perfil dos treinandostem variado de agricultores atéprofissionais da saúde, que buscammelhoria na qualidade daalimentação e na obtenção de novasreceitas para comercialização.

Dentre as 15 receitas trabalhadasdurante os quatro dias de curso,destaca-se uma das mais aceitaspelos treinandos: o pão com ora-pro-nóbis.

O ora-pro-nóbis (Peireskiaaculeata Mill. - Cactaceae), tambémconhecido como carne-de-pobre,espinho-preto, surucucu, cipó-santo,lobolobo, espinho-de-santo-antônio,groselha-da-américa, jumbeba,cereja-de-barbados, lobodó e rosa--madeira, é uma planta originária daAmérica tropical com propriedadesnutracêuticas já consagradas emmuitos países, principalmente devidoà sua riqueza em proteínas (25%) earabinogalactanos. É um valor muitoalto, mesmo se comparado comvegetais mais famosos, como oespinafre, que tem um teor de 2,2%de proteínas. Ora-pro-nóbis é umnome latino cuja versão emportuguês é “roga por nós”. Dizemque seu nome foi criado por pessoasque colhiam a planta no quintal deum padre enquanto ele rezava o seu“rogai por nós”. Na língua guarani aplanta é conhecida como “mori”.

Embora seja exploradopraticamente em âmbito doméstico,o cultivo sistemático e o pro-cessamento industrial do ora-pro--nóbis poderiam representar umarevolução nos recursos alimentíciosda humanidade, podendo integrarplanos de governo na recuperação de

áreas degradadas e no combate àfome.

Fitoquímica

As folhas contêm biopolímeros dotipo arabinogalactanos e proteínas(17% a 25%, base seca, das quais 85%são assimiláveis). Algumasvariedades selecionadas podem teraté 30% de proteínas. Contêm aindaapreciáveis quantidades devitaminas A, B e C, além de cálcio,ferro, lisina, magnésio e fósforo.

As mucilagens, que possuematividade medicinal, são polis-sacarídeos complexos constituídospor unidades de açúcares e ácidourônico. Essas substâncias sãoprodutos do metabolismo primário egeralmente se formam a partir damembrana celular ou se depositamsobre esta, formando camadassucessivas.

Bromatologia

Além do alto teor de proteínas, asfolhas são de alta digestibilidade evalor biológico. Em 100g de proteínadas folhas há aproximadamente:5,15g de arginina, 2,52% de histidina,4,1% de isoleucina, 7,5% de leucina,5,4% de lisina, 1,9% de metionina,5,07% de fenilalanina, 3,31% detreonina e 5,33% de valina.

Cem gramas do fruto atendemcerca de 13% das fibras totaisrecomendadas diariamente. Osfrutos contêm 3.215 UI de vitaminaA (965 UI equivalem ao retinol).Os níveis de proteína, lisina, cálcio,fósforo e magnésio são mais elevados

do que no repolho, na alface e noespinafre.

PropriedadesTerapêuticas

As folhas são emolientes, anti-inflamatórias, laxativas, anti-diarreicas, apoptóticas (carcinoma depeito humano), antitumorais(sarcoma murino, mieloma murino ecarcinoma de Ehrlich),antiparasitárias (Tripanossomacruzi), antidiabéticas, derma-toprotetoras e antianêmicas e osfrutos são expectorantes eantissifilíticos. As folhas abrandaminflamações e tumores, e aliviamqueimaduras e recuperam a pele. Asflores apresentam ação laxante. Osfrutos apresentam forte atividadeantioxidante, uma vez que 1g de frutoapresenta 14 vezes mais atividadeantioxidante do que uma solução a0,08% de BHT (antioxidantesintético).

Por serem de fácil digestão e ricasem proteínas, as folhas podem serconsumidas sob diversas formas: emsaladas, refogados, sopas, tortas,omelete, cozidos, angu e até mesmono arroz com feijão. Uma boaalternativa é triturá-las com água noliquidificador e juntar à massa dopão, macarrão, panquecas, lasanhas,etc., conferindo ao produto final umamelhor composição nutricional e umaatraente cor verde.

O pó das folhas pode ser utilizadocomo suplemento nutracêutico paraenriquecer pães, bolos, biscoitos,tortas e massas em geral. Tambémusado no preparo da farinha múltipla

Detalhes das folhas de P. aculeata Detalhes do fruto de P. aculeata

37Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

é complemento nutricional nocombate à fome.

Os frutos podem ser consumidoscrus, em geleias, xaropes, sucos ouem compota. Podem ser fermentadose conservados com açúcar para aelaboração de bebidas.

Arabinogalactanos podem serempregados como aditivos naindústria alimentícia para modificara viscosidade do produto final. Comonão são absorvidos pelo organismohumano, sua adição a alimentosdietéticos é muito promissora.

Na indústria alimentícia sãoutilizadas na confecção de geleias edoces diversos, e na indústriafarmacêutica, para correção do saborde fármacos e estabilidade deemulsão e pomadas.

Pão com ora-pro-nóbis

Com base nessas propriedades ecomposição, foi desenvolvido um pãofuncional, ou “panicêutico”, elaboradoà base de ora-pro-nóbis. Oprocedimento de preparo desse“panicêutico” é apresentado duranteos cursos de panificação nutracêuticae na descrição a seguir:

Ingredientes da massa:1kg de farinha de trigo branca300ml de leite morno150ml de água de morna100g de folhas verdes de ora-pro-nóbis ou 50g de folhas desidratadase trituradas3 gemas (fora da geladeira)5 colheres (sopa) de manteiga oumargarina1½ colher (sopa) de fermentobiológico seco6 colheres (sopa) de açúcar½ colher (sopa) de salObs.:- Se usar folhas secas, aumentar150ml de líquidos (leite + água)- Para pães salgados, diminuir para1 colher de sopa de açúcar

Modo de Preparar:Misturar os ingredientes secos (asfarinhas, o fermento, o açúcar e o sal)em uma bacia. Triturar as folhas deora-pro-nóbis com os 100ml de águamorna, acrescentando o leite morno,a manteiga e as gemas. Juntar aosingredientes secos e amassar bem até

formar uma massa homogênea.Modelar os pães e deixar crescer.

Pincelar com ovo batido e óleo e levarao forno para assar. Ao retirar doforno, pincelar a superfície do pãocom água doce, para evitar oressecamento da casca.

Resultados analíticos dosprodutos à base deora-pro-nóbis

Os pães elaborados com ora-pro-nóbis estão sendo avaliados peloquímico Fabiano Cleber Bertoldi,doutor em Ciência de Alimentos daEEI. Segundo o Dr. Bertoldi, acrescente procura de consumidorespor alimentos nutritivos e saborososque beneficiem a saúde vemestimulando o estudo daincorporação de ingredientesfuncionais que agreguem valores semafetar as propriedades físicas esensoriais do produto. Oenriquecimento proteico de alimentostem sido uma realidade, sendo o pãoum produto presente na mesa doconsumidor e ocupando a terceiraposição na lista de compras dobrasileiro. O pão é considerado umalimento deficiente em proteínas;assim, a aplicação de tecnologia paraa conversão de ora-pro-nóbis em umafonte proteica é um métodoalternativo para melhoraproveitamento de espécies semvalor comercial, transformando-asem uma nova fonte alimentar econtribuindo para o enriquecimentoproteico de produtos de panificação.

O pesquisa-dor relata que asanálises químicas realizadas no labo-ratório mostraramteores de proteínabruta de aproxi-madamente 14%em amostras depães formuladoscom as folhas deora-pro-nóbis.Bertoldi enfatizaque a aceitação doconsumidor é ocritério último naciência etecnologia dealimentos, e que éde fundamental

importância no processo dedesenvolvimento, melhoramento emanutenção da qualidade deprodutos alimentícios. Considerandoessa preocupação, Bertoldi, com oapoio do técnico de laboratórioAlexandre Corrêa, realizou umaavaliação sensorial do produtoreferente aos atributos deaceitabilidade, sabor e intenção decompra. As respostas dadas nasanálises foram bem superiores aovalor médio da escala utilizada,indicando que as amostras forambem aceitas pelos consumidores.

Literatura consultada

Pão de ora-pro-nóbis preparado em um dos cursos daE. E. Itajaí

1. GARCÍA-DÍAZ, C.L.; ALANIS-GUZMÁN, M.G.; VAZQUEZ-BULNES,D.L. et al. Composición quimica yactividad antioxidante del fruto dePereskia aculeata Mill. y elaboración detres productos. Revista Salud Públicay Nutrición, Ed. Especial n.1, 2004.(Trab. apres. no Congreso Regional enCiencias de los Alimentos, 1., 2003,Monterrey).

2. Sierakowski, M.R. Complexes ofarabinogalactan of Pereskia aculeataand Co2+, Cu2+, Mn2+, and Ni2+.Bioresources Technology, v.76, n.1, p.29-37, 2001.

3. TAKEITI, C.Y.; ANTONIO, G.C.;COLLARES-QUEIROZ, F. Chemicalcomposition and drying kineticparameters of nonconventionalvegetable leafy (Pereskia aculeataMiller). In: INTERNATIONALDRYING SYMPOSIUM, 16., 2008,Mumbai, India. Proceedings… Mumbai,India: WFCFD, 2008. v.B. p.1338-1346.

4. WANG, S.H.; ASCHERI, J.L.R.;ALBUQUERQUE, M.G.P.T. et al.Technological and sensorialcharacteristics of noodles fortified withdifferent levels of ora-pro-nobis(Pereskia aculeata Mill.) leaves flour.Alimentaria, n.276, p.91-96, 1996.

39Agropecuária Catarinense, v.22, n.2, jul. 2009

Seção técnico-científicacatarinense

OEpagriEpagri

* Avaliação de cultivares de aipim através de pesquisa participativa no sul do Estado de SantaCatarina .................................................................................................................................................. 39

Augusto Carlos Pola e Mauro Luiz Lavina

* A cana-de-açúcar na alimentação animal .............................................................................................. 43Mario Miranda, Carlos Alberto Lajús e Vagner Miranda Portes

* Manejo de plantas daninhas resistentes ao glyphosate ...................................................................... 46Alvadi Antonio Balbinot Junior e Michelangelo Muzell Trezzi

* Curvatura da base do caule do tomateiro afetada por métodos de tutoramento e sua relaçãocom a produtividade de frutos .................................................................................................. 49

Anderson Fernando Wamser e Siegfried Mueller

* Resistência de cultivares de milho (Zea mays L.) à antracnose foliar no estádio de plântula ........... 53João Américo Wordell Filho

* A diversidade de variedades locais de milho em Anchieta, Santa Catarina ................................................. 58Gilcimar Adriano Vogt, Antonio Carlos Alves e Adriano Canci

* Época e intensidade de ocorrência da necrose floral em gemas de pereira japonesa cultivarHousui durante o inverno ...................................................................................................................... 64

Anderson Carlos Marafon, Fernando José Hawerroth e Flavio Gilberto Herter

* Puberdade em novilhas da raça Crioula Lageana ............................................................................... 70Karyna Giacomini, Vera Maria Villamil Martins, Edison Martins, Cristina Perito Cardoso, Suenon Rosa Lisboa e Guenter Kluge

* Análise da variação somaclonal em mudas micropropagadas de Musa acuminata cultivarGrande Naine por meio de marcadores RAPD ...................................................................................... 76

Gilmar Roberto Zaffari, Gilberto Barbante Kerbauy

* SCS116 Satoru: nova cultivar de arroz irrigado da Epagri ................................................................... 81Moacir Antonio Schiocchet, Richard Elias Bacha, Rubens Marschalek, Juliana Vieira, Takazi Ishiy, Dario Alfonso Morel

* Efeito de fosfitos de potássio e de manganês sobre o míldio da cebola ............................................ 84João Américo Wordell Filho e Marciel João Stadnik

* Efeito do ensacamento do cacho da bananeira e de inseticidas no controle do trips-da-erupção-do--fruto Frankliniella brevicaulis (Thysanoptera:Thripidae).................................................................... 88

José Maria Milanez, Luiz Alberto Lichtemberg, Luiz Felipe da Costa, Alexandre Mees e Robert Harri Hinz

* Espécies oleaginosas em cultivo de inverno no Planalto Norte Catarinense ..................................... 91Alvadi Antonio Balbinot Junior, Adriano Martinho de Souza, Rogério Luiz Backes,

Élcio Hirano, Gilcimar Adriano Vogt e Rosiane Berenice Nicoloso Denardin

Informativo técnico

Nota científica

Germoplasma

Artigo científico

39Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Oaipim é também conhecidocomo macaxeira, mandioca--mansa, mandioca doce e

mandioca de mesa. O aipim difere damandioca-brava (industrial) porpossuir menor quantidade deglicosídeos cianogênicos nas raízes. Aclassificação das cultivares embravas e mansas é baseada no teordessas substâncias nas plantas, queé determinado através de análiseslaboratoriais específicas. Enquantoalguns autores consideram o limitede 50mg/kg de ácido cianídrico (HCN)na polpa crua das raízes para serconsiderado aipim, outros sugerem ovalor de 100mg/kg (Lorenzi, 1994).

A pesquisa participativa ca-racteriza-se, principalmente, pelaparticipação direta dos agricultoresnas avaliações que se realizam empropriedades juntamente compesquisadores e extensionistas (Ciat,1993; Marschalek et al., 2000). Apesquisa participativa pode serutilizada tanto como ferramenta nodesenvolvimento de novas tecno-logias como para a validação oudifusão de resultados experimentais.Possibilita um intercâmbio deconhecimentos entre produtores etécnicos, bem como um maiorconhecimento do sistema de produçãoe das peculiaridades culturais daregião.

O presente trabalho objetivouavaliar cultivares de aipim em trêsdiferentes municípios do sul doEstado de Santa Catarina, uti-lizando-se para este fim a me-todologia de pesquisa participativa.Essas cultivares atualmente sãomantidas em coleções da Epagri,

Avaliação de cultivares de aipim através de pesquisaAvaliação de cultivares de aipim através de pesquisaAvaliação de cultivares de aipim através de pesquisaAvaliação de cultivares de aipim através de pesquisaAvaliação de cultivares de aipim através de pesquisaparticipativa no sul do Estado de Santa Catarinaparticipativa no sul do Estado de Santa Catarinaparticipativa no sul do Estado de Santa Catarinaparticipativa no sul do Estado de Santa Catarinaparticipativa no sul do Estado de Santa Catarina

Augusto Carlos Pola1 e Mauro Luiz Lavina2

Aceito para publicação em 10/2/10.1 Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, C.P. 49, 88840-000 Urussanga, SC, fone/fax: (48) 3465-1209, e-mail:[email protected] Eng.-agr., pesquisador aposentado da Epagri/Estação Experimental de Urussanga, e-mail: [email protected].

sendo algumas tradicionalmenteplantadas em regiões do sul doEstado.

Três unidades de pesquisaparticipativa foram instaladas emsolos arenosos (Neossolos Quartza-rênicos), nos municípios de Ja-guaruna (1995/96 e 1996/97) eAraranguá (1996/97), e uma unidadeem solo argiloso (Argissolo), nomunicípio de Rio Fortuna (1996/1997). Em cada local foram avaliadasnove cultivares (Tabelas 1, 2 e 3). Atestemunha foi a cultivar AipimAmarelo, por ser aquela tra-dicionalmente plantada pelosagricultores nessas propriedades.

Foram utilizadas 30 plantas decada cultivar por parcela, semrepetição, avaliando-se apenas a áreaútil composta por 12 plantas. Oespaçamento e os tratos culturaisforam aqueles normalmenteutilizados pelo produtor.

Com a participação direta decinco a dez agricultores da região,foram determinadas e avaliadasvariáveis como produtividade total ecomercial (seleção das raízescomerciais efetuada pelosavaliadores), número de raízes, teorde amido nas raízes, arquitetura daparte aérea, ocorrência de bacteriose(Xanthomonas campestris pv.manihotis), tempo de cozimento,facilidade de descasque, facilidade decolheita, características morfológicasdas raízes (presença de cintas e defiapos, diâmetro, comprimento, corda película, cor da polpa, cor docórtex, etc.). No final da avaliação emcampo os agricultores, em conjunto,classificaram as raízes em três níveis

(boa, regular ou ruim), considerandoas características morfológicas dasraízes. Também selecionaram ascultivares de acordo com a sua ordemde preferência, considerando fatorescomo produtividades total ecomercial e características das raízese das ramas. O teor de amido nasraízes foi determinado pelo métododa balança hidrostática (Grosmann& Freitas, 1950). A incidência debacteriose foi avaliada utilizando-sea escala proposta por Fukuda et al.(1984). O tempo de cozimento dasraízes foi de acordo com metodologiaproposta por Pereira et al. (1985).

Os resultados obtidos mostramuma variação, em termos decomportamento de uma mesmacultivar, nos diferentes anos e locais(Tabelas 1, 2 e 3). Esse fato pode serexplicado pela influência de fatorescomo o tipo de solo, clima, qualidadedas ramas, espaçamento, tratosculturais, etc. Cardoso et al. (2004)encontraram uma interação al-tamente significativa entre genótipoe ambiente, e estimaram a es-tabilidade e adaptabilidade dorendimento de raízes de 14 genótiposde mandioca em cinco ambientes noEstado do Rio Grande do Sul. Comrelação à adaptabilidade eestabilidade, apenas três dosgenótipos responderam linearmenteà melhoria do ambiente, apre-sentando comportamento altamenteprevisível quanto ao rendimento deraízes nos ambientes avaliados. Osautores concluíram que os genótiposavaliados apresentam pequenaestabilidade, possuindo poucaprevisibilidade quanto ao rendimento

44 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

de raízes em função da troca deambiente. Tan & Mak (1995)estudaram a influência relativa dogenótipo, ambiente e interação entregenótipo e ambiente, utilizando 15cultivares em 12 ambientes na

Malásia. Esses autores observaramque o ambiente foi a principal fontede variação para a produção total enúmero de raízes comerciais, e queos efeitos da interação entre genótipoe ambiente foram significativos para

o teor de amido nas raízes, teor deHCN, produção de raízes e númerode raízes comerciais.

A mandioca, portanto, apresentauma grande variabilidade em seucomportamento devido ao fator

Tabela 2. Resultados da pesquisa participativa com agricultores sobre aipim em Neossolo Quartzarênico (Araranguá,SC, 1996/97)

Peso Altura Classifi- Ordemmédio Amido Cocção das Bacteriose(1) cação de pre-raízes plantas das ferência

comercial raízest/ha t/ha kg % min m

1. IAC 14 -18 10,6 6,4 0,27 31,74 23 1,25 0 Ruim 82. IAC 289-70 14,8 8,4 0,21 30,18 22 1,12 0 Regular 63. Amarelo I 13,5 10,3 0,21 29,71 25 1,53 0 Regular 54. Catarina 10,8 9,5 0,33 31,40 31 1,07 0 Boa 15. Pioneira 12,0 9,4 0,22 32,53 18 1,58 0 Regular 76. Mato Grosso 22,4 17,6 0,26 31,63 33 1,49 0 Regular 37. Pêssego(2) - - - - - - - -8. Taquari 17,9 12,5 0,26 31,06 37 1,66 0 Regular 49. Aipim Amarelo 23,1 19,8 0,27 32,19 30 1,27 0 Boa 2

(1) Bacteriose: notas de 0 (sem sintomas) a 5 (lesões necróticas extensas nas ramas, intenso desfolhamento, morte parcial ou total daplanta).(2) Eliminada devido à mistura de plantas na parcela.

(1) Bacteriose: notas de 0 (sem sintomas) a 5 (lesões necróticas extensas nas ramas, intenso desfolhamento, morte parcial ou total daplanta).(2) Eliminada devido à mistura de plantas na parcela.

Pesomédio Altura Bacte- Classifica- Ordem

Cultivar raízes Amido Cocção das riose(1) ção das de pre-comer- plantas raízes ferênciaciais

1995/96 t/ha t/ha kg % min m1. IAC 14 -18 19,6 15,1 0,30 30,50 16 1,90 2 Boa 42. IAC 289-70 17,0 10,2 0,27 29,40 10 1,40 2 Regular 33. Amarelo I 24,0 19,4 0,27 30,50 15 1,90 1 Regular 74. Catarina 23,0 19,1 0,38 32,76 17 1,30 1 Boa 15. Pioneira 22,0 16,5 0,26 32,87 16 1,85 1 Regular 26. Vassourinha Amarela 16,4 9,4 0,28 32,08 15 1,70 1 Ruim 87. Mantiqueira 15,5 10,8 0,25 32,76 10 1,90 1 Ruim 98. Taquari 16,7 12,7 0,29 32,53 17 2,30 2 Boa 69. Aipim Amarelo 20,3 14,3 0,30 33,55 15 - 2 Regular 5

1996/971. IAC 14 -18 30,2 26,0 0,36 29,82 13 1,87 1 Regular 32. IAC 289-70 35,2 24,4 0,29 27,46 17 1,24 1 Regular 73. Amarelo I 28,8 23,6 0,49 27,46 32 1,85 5 Ruim 84. Catarina 34,7 24,1 0,42 29,94 18 1,15 1 Regular 65. Pioneira 33,7 29,2 0,29 31,52 28 1,99 1 Regular 46. Mato Grosso 35,7 31,7 0,38 29,71 14 1,62 4 Boa 17. Pêssego(2) - - - - - - - - -8. Taquari 33,0 26,9 0,27 32,19 18 2,37 1 Boa 29. Aipim Amarelo 41,2 35,5 0,43 32,19 27 1,35 1 Regular 5

Tabela 1. Resultados da pesquisa participativa com agricultores sobre aipim em Neossolo Quartzarênico em Jaguaruna,SC, nos ciclos 1995/96 e 1996/97

Produtividade

Total Comercial

Produtividade

Total Comercial

Cultivar

41Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

ambiental, e a interação entregenótipo e ambiente pode dificultaros processos de identificação e deindicação de cultivares. Entretanto,a variação que se observa na ordemde preferência e classificação das

cultivares pelos agricultores nopresente trabalho (Tabelas 1 a 3) nãoé devida somente a essa variabilidadeambiental e interação entre genótipoe ambiente. O fator cultural doagricultor é importante na seleção de

uma cultivar, pois considera outrosaspectos além da produtividade, taiscomo cor da polpa, tamanho eformato da raiz, facilidade dearranque das plantas ou destaquedas raízes, formato da planta e valor

Figura 1. Colheita em unidade de pesquisa participativa em conjunto com agricultores no sul do Estado

Tabela 3. Resultados da pesquisa participativa com agricultores sobre aipim em Argissolo em Rio Fortuna, SC,1996/97

Pesomédio Altura Bacte- Classifica- Ordem

Cultivar raízes Amido Cocção das riose(1) ção das de prefe-comer- plantas raízes rênciaciais

t/ha t/ha kg % min m1. IAC 14 -18 20,1 13,0 0,37 30,18 18 1,40 1 Regular 52. IAC 289-70 13,2 8,5 0,23 31,74 15 1,60 3 Ruim 93. Amarelo I 18,2 11,8 0,31 30,75 17 1,59 3 Regular 64. Catarina 13,3 10,3 0,34 31,40 21 1,70 1 Ruim 85. Pioneira 28,1 23,2 0,29 32,53 21 1,10 1 Boa 26. Mato Grosso 23,0 14,2 0,35 32,31 17 1,88 5 Boa 37. Pêssego 21,3 13,3 0,25 32,42 15 1,28 1 Ruim 78. Taquari 29,2 22,8 0,28 31,97 21 1,74 1 Regular 49. Aipim Amarelo 20,3 17,2 0,45 29,94 23 1,96 5 Boa 1

(1)Bacteriose: notas de 0 (sem sintomas) a 5 (lesões necróticas extensas nas ramas, intenso desfolhamento, morte parcial ou total daplanta).

Produtividade

Total Comercial

42 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

comercial regional. Por exemplo, umacultivar de polpa brancatradicionalmente cultivada com bonsresultados em uma determinadaregião pode não ter nenhum valorcomercial em outra, que preferepolpa amarela.

As principais cultivares se-lecionadas pelos agricultores (ordemde preferência 1 e 2) nas quatrounidades de pesquisa participativa(Tabelas 1 a 3) foram as seguintes:Catarina – Cultivar de polpaamarela e porte relativamente baixo.Foi considerado o melhor aipim emduas das quatro unidades instaladas.Em todos os locais apresentouresistência à bacteriose, além defacilidade na despenca, bomengrossamento e uniformidade dasraízes; Pioneira – Cultivar de polpacreme que adquire coloração amarelaapós o cozimento. É conhecida pelassuas boas qualidades culinárias. Emduas unidades de pesquisaparticipativa foi a segunda cultivarde acordo com a preferência dosavaliadores. Apresentou resistênciaà bacteriose; Mato Grosso – Aipim

de polpa branca. Apresentoususceptibilidade à bacteriose,devendo, por esse motivo, serutilizada para cultivo em locais ondenão ocorre essa doença. Em uma dasunidades de pesquisa foi a preferidapelos produtores, em razão,principalmente, de sua produtividadee tamanho médio de raízes; AipimAmarelo – De polpa amarela, é acultivar plantada tradicionalmentepelos agricultores responsáveis pelasunidades experimentais. Apresentouprodutividade relativamente elevadaem todos os locais, com raízes grossase uniformes. Em ordem depreferência, foi a primeira em RioFortuna e a segunda em Araranguá,e apresentou susceptibilidade àbacteriose; Taquari – Com polpabranca e resistente à bacteriose, foia segunda em ordem de preferênciaem Jaguaruna (1996/97).

Em razão da variabilidade nocomportamento de variedades demandioca em diferentes locais, e davariabilidade das opiniões e critériosdos agricultores, ocasionandopreferências diferenciadas na seleção

de variedades de mandioca, sugere-se instalar o maior número possívelde unidades de pesquisaparticipativa em Santa Catarina(Figuras 1 e 2) e efetuar estudos dedistribuição de frequência da ordemde preferência das variedades(considerando todas as unidades).

Literatura citada

1. CARDOSO, E.T.; SILVA, P.R.F;ARGENTA, G. et al. Estabilidade eadaptabilidade de rendimento de raízesde genótipos de mandioca em duasregiões do Rio Grande do Sul. Revistade Ciências Agroveterinárias, Lages, v.3,n.1, p.25-30, 2004.

2. CIAT. Evaluación de nuevas variedadesde yuca con la participation deagricultores. Cali: Ciat, 1993. 85p. (Ciat.Documento de Trabajo, n.130)

3. FUKUDA, C.; ROMEIRO, R.S.;FUKUDA, W.M. Avaliação deresistência de cultivares de mandioca aXanthomonas campestris patovarmanihotis. Revista Brasileira deMandioca, Cruz das Almas, v.3, n.1, p.7-12, 1984.

4. GROSMANN, J.; FREITAS, A.G.Determinação do teor de matéria secapelo peso específico em raízes demandioca. Revista Agronômica, PortoAlegre, v.14, p.75-80, 1950.

5. LORENZI, O.L. Variação na qualidadeculinária das raízes de mandioca.Bragantia, Campinas, v.53, n.2, p.237-245, 1994.

6. MARSCHALEK, R.; LAVINA, M.L.;TERNES, M. Investigaciónparticipativa en el mejoramiento de layuca em la Provincia de Santa Catarina,Brasil. In: SIMPOSIO INTER-NACIONAL Y TALLERES SOBREFITOMEJORAMIENTO PARTI-CIPATIVO EN AMERICA LATINA YEL CARIBE: UN INTERCAMBIO DEEXPERIENCIAS, 1999, Quito, Ecuador.Memorias...Cali, Colombia: Ciat, 2000.p.1-6.

7. PEREIRA, A.S.; LORENZI, J.O.;VALLE, T.L. Avaliação do tempo decozimento e padrão de massa cozida emmandiocas de mesa. Revista Brasileirade Mandioca, Cruz das Almas, v.4, n.1,p.27-32, 1985.

8. TAN, S.L.; MAK, C. Genotype xenvironment influence on cassavaperformance. Field Crops Research,Amsterdam, v.42, n.2-3, p.111-123,1995.

Figura 2. Colheita de raízes de aipim em unidade de pesquisa participativano sul do Estado

43Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Em 1993, foi implantado noCentro de Pesquisa para aAgricultura Familiar (Cepaf)

em Chapecó, SC, o primeiro ensaiocom a cultura da cana-de-açúcar(Saccharum officinarum L.), o qualfoi avaliado durante três anos. Oobjetivo desse trabalho foi selecionarcultivares mais produtivas eadaptadas à Região OesteCatarinense, cujo produto seriautilizado como volumoso pararuminantes. Essa cultura, quandobem estabelecida e manejada, chegaa produtividades superiores a 180toneladas de massa verde porhectare/ano (França et al., 2006;Rocha et al., 1998). A cana-de-açúcar,entre as gramíneas tropicaisutilizadas como forragem parabovinos de corte ou leite, destaca-sepor possuir um dos maiorespotenciais de produção de massa secae energia por unidade de área. Umhectare de cana-de-açúcar ésuficiente para alimentar cerca de 20bovinos por ano (Leng & Preston,1976). Sabe-se que a melhor cana-de--açúcar para ser utilizada naalimentação animal é aquela maisadequada à indústria, ou seja,variedades que sejam produtivas,com alto teor de sacarose e queapresentem boa sanidade.

Apesar de a cana-de-açúcar serum alimento rico em energia,apresenta teores de macromineraismuito baixos quando consideradas asexigências nutricionais de bovinos decorte e leite, indicando a necessidade

A cana-A cana-A cana-A cana-A cana-dedededede-açúcar na alimentação animal-açúcar na alimentação animal-açúcar na alimentação animal-açúcar na alimentação animal-açúcar na alimentação animal

Mario Miranda1, Carlos Alberto Lajús2 e Vagner Miranda Portes3

Aceito para publicação em 29/1/10.1 Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89901-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0600,e-mail: [email protected] Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Cepaf, e-mail: [email protected] Méd.-vet., M.Sc., Epagri/Cepaf, e-mail: [email protected].

de suplementação mineral nas dietas(Rodrigues et al., 2007). Quanto àproteína bruta, Soest (1994) salientaque os bovinos necessitam na suadieta de um teor de 6% a 8% (baseseca), porém a cana-de-açúcarapresenta teores médios em torno de1,5% a 5%. O baixo teor de proteínae o alto teor de açúcar podemprovocar distúrbios metabólicos.Segundo Van Soest (1994),independentemente do nível deenergia, um nível de 1% de nitrogênio(6% a 7% de proteína bruta) énecessário para melhorar adigestibilidade e o consumo. Destaca--se, ainda, que o teor de proteínabruta de 7% na dieta é o mínimo paraque não haja prejuízos para osmicrorganismos do rúmen e, porconsequência, queda na diges-tibilidade da forragem.

Ureia e sulfato de amôniona dieta

Quando a dieta não fornecer onível mínimo de 7% de proteína brutana matéria seca, a ciclagem da ureianão é suficiente para atender ademanda de nitrogênio pelosmicrorganismos do rúmen, e oresultado final é a queda no consumoe na digestibilidade da forragem.Como os suplementos proteicosgeralmente possuem custo elevado,a ureia pode ser empregada paracorrigir a carência proteica comvantagens econômicas (Embrapa/Cnpgl, 1986; Moreira, 1983; Moreira& Mello, 1986; Rocha, 1987).

Salienta-se que o uso da ureiaimplica a necessidade de adição deenxofre na dieta. Para isso,frequentemente é utilizado sulfato deamônio, outro fertilizantenitrogenado. Assim, a recomendaçãoé que a relação entre as fontes denitrogênio e enxofre, isto é, ureia +sulfato de amônio, seja de 9:1,respectivamente. Na prática, tem-seorientado os produtores a efetuar amistura ureia + sulfato de amônio(9:1) na proporção de 0,5% a 1% emrelação ao peso da cana picada, ouseja, para cada 100kg de cana picadaadiciona-se de 0,5 a 1kg da mistura.

Essa mistura, para ser aplicadana cana-de-açúcar, deve ser diluídaem água a fim de permitir melhorhomogeneização da ureia com osulfato de amônio e desta com omaterial picado. Utilizam-seaproximadamente de 3 a 4L de águapara cada 100kg de cana-de-açúcarpicada. O produto deve ser revolvidoduas a três vezes com o objetivo depromover a homogeneização damistura. Adotando-se esse pro-cedimento, praticamente se eliminao problema do baixo teor de proteína.

Além do uso da cana-de-açúcarcom as fontes de N citadasanteriormente, várias outrastecnologias foram pesquisadas eestão sendo utilizadas para o melhoraproveitamento dessa espécie naalimentação de bovinos. Dentre elas,destacam-se o bagaço submetido aotratamento de pressão e vapor e ahidrólise com óxido de cálcio, além de

44 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

sua associação com o uso de ureiascom sulfato de amônio. Essas duasultimas técnicas foram bastantedifundidas pela extensão rural naRegião Oeste Catarinense nosúltimos anos.

Como resultado desse primeirotrabalho, iniciado em 1993, foramindicadas três cultivares,destacando-se a RB72454 e aRB806043 em produtividade, e aRB765418 em teor de açúcar (Rochaet al., 1998). Após a conclusão desseensaio, foram instalados váriosviveiros de mudas em diversosmunicípios da Região OesteCatarinense.

Seleção de cultivares

Em virtude da grande demandapor essa espécie no programa deagroindústria familiar desenvolvidopela Epagri, houve necessidade debusca de novos genótipos e decomparação com os que estavamsendo recomendados. Procurou-secom isso, também, melhorar oconhecimento técnico de exten-sionistas e de produtores sobre essacultura.

Com o objetivo de atender a essademanda, em 2002 a Epagri/Cepaffez uma parceria com a UniversidadeFederal do Paraná (UFPR), por meiodo seu Departamento de Fitotecniae Fitossanitarismo, e com a RedeInteruniversitária para oDesenvolvimento Sucroalcooleiro(Ridesa), composta por algumasuniversidades federais. Nesse mesmoano, na área experimental da Epagri/Cepaf, foi instalado um experimentocom 72 genótipos de cana-de-açúcarde ciclos precoce, médio e tardio.Desses, 62 foram disponibilizadospela Estação Experimental deParanavaí, PR, vinculada à UFPR, eos outros 10 materiais eram regionaise oriundos da primeira avaliaçãoiniciada em 1993. Nesse trabalho, ospesquisadores do Cepaf nãoexecutaram todas as fases domelhoramento genético; entraram nafase intermediária, aquela em que osmateriais com adequado desempenhonas fases anteriores foramnovamente avaliados. Nessa fase,quanto maior o número de locais,melhor será a seleção, pois se

consegue avaliar melhor o efeito dainteração entre genótipo e ambiente.A seleção ocorre na soca (segundo anode produção), avaliando-se asprincipais características agronô-micas, como a incidência de doenças(mosaico da cana, carvão e ferrugem),o teor de sacarose e o rendimento demassa verde.

Dos 72 genótipos implantados em2002, apenas 10 foram selecionados(Tabela 1), sendo cinco de cicloprecoce e cinco de ciclo médio/tardio.Além desses, foram indicadas ascultivares RB925268 (Figura 1) eRB945961 de ciclos médio/tardio eprecoce, respectivamente, por

apresentarem boa sanidade, bomperfilhamento e despalhamento.

Nos anos agrícolas 2004/05 e2005/06 prosseguiu-se com oprograma de distribuição de mudas,sendo distribuídas 8,5 e 5t,respectivamente. Essas mudas foramentregues preferencialmente àssecretarias municipais daagricultura dos municípios, aosextensionistas locais da Epagri e aprodutores já ligados a alguma

agroindústria. Em função dessaparceria, foram formados mais de 90viveiros de mudas. Desde o início dostrabalhos com cana-de-açúcardesenvolvidos no Cepaf (1993) atéjulho 2006 foram distribuídas maisde 196t de mudas. A maior partedessas mudas foi distribuída para osmunicípios do oeste e extremo oestede Santa Catarina e uma menorquantidade para outros Estados,como Paraná e Rio Grande do Sul.Os produtores foram orientados alevar cultivares de cana-de-açúcartanto de ciclo precoce como de médio/tardio, pois assim garantem ummaior período de utilização e

industrialização, ganhando emcompetitividade.

Dentre as 12 cultivares de cana--de-açúcar que estão sendo dis-tribuídas aos agricultores (Figura 2),algumas produziram próximo a 200tde massa verde por hectare. Osmaiores teores de brix estão em tornode 20° e os menores em torno de 16°(Tabela 1). Os principais produtosderivados da cana-de-açúcarproduzidos pelas agroindústrias da

Genótipo Ciclo Prod. média(1) Brix médio(2)

RB925211 Precoce 160-170 20,3

RB925345 Precoce 160-170 19,9

RB855156 Precoce 160-170 20,3

RB946903 Precoce 130-150 18,9

RB765418 Precoce 140-155 19,1

RB935744 Médio/Tardio 180-190 16,6

RB936109 Médio/Tardio 180-190 19,8

RB935621 Médio/Tardio 150-170 20,5

RB867515 Médio/Tardio 130-150 17,2

RB72454 Médio/Tardio 160-180(3) 15,8

Tabela 1. Principais características de cultivares de cana-de-açúcar(Saccharum officinarum) avaliadas em Chapecó, SC, nos anos agrícolas 2003,2004 e 2005

(1) Produtividade (tonelada de colmos por hectare) média de 3 anos de avaliações (2003,2004 e 2005).(2) Brix médio de duas avaliações realizadas em 2003 e 2005.(3) Produtividade (tonelada de planta inteira por hectare) média de 3 anos de avaliações(2003, 2004 e 2005).Fonte: Epagri, 2007.

44

45Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

região são a cachaça, o melado, arapadura e o açúcar mascavo.

Trabalho semelhante ao que sedesenvolve em Chapecó, a partir doano de 2005, também está sendoexecutado na Epagri/EstaçãoExperimental de Urussanga, porém,com maior ênfase no processo dafabricação de cachaça. A Epagri,através do seu centro de treinamentoem São Miguel do Oeste (Cetresmo)e Estação Experimental deUrussanga, anualmente, realizadiversos cursos com essa cultura,durante os quais são repassadastodas as técnicas, desde o plantio atéo processamento dos diversosderivados.

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Figura 2. Vista parcial da área de mudas de cana-de-açúcar no Cepaf, emChapecó, SC

Figura 1. Cultivar RB925268, naqual pode ser observado o bomdespalhamento e perfilhamento

Schumacher) na produção de leite devacas mestiças Holandês x Zebu,suplementadas com diferentes fontesalimentares, no período da seca. 1987.Tese (Mestrado em Zootecnia) - Escolade Veterinária, Universidade Federal deMinas Gerais, Belo Horizonte, MG.

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.

46 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

O glyphosate é o herbicida maisutilizado no mundo, pois podeser empregado em diversos

sistemas de produção para controlede plantas daninhas anuais e perenes(Blackshaw & Harker, 2002). É umherbicida de ação total, altamentesistêmico, cujo mecanismo de ação serefere à inibição da enzima EPSPS,responsável pela biossíntese deaminoácidos aromáticos (triptofano,tirosina e fenilalanina) (Moreira etal., 2007). Nas duas últimas décadas,houve aumento expressivo do usodessa molécula devido à expansão dosistema de plantio direto, queaumentou a necessidade dedessecação da vegetação, e ao uso deculturas transgênicas tolerantes aoglyphosate.

Embora o aparecimento deplantas daninhas resistentes aoglyphosate seja algo pouco comum,nos últimos anos, identificaram-sebiótipos resistentes em diversospaíses. Esse fato despertou apreocupação de agricultores queutilizam o herbicida e dos setoresindustrial e comercial envolvidos nafabricação e comercialização desseproduto. No caso do sistema plantiodireto, a resistência de plantasdaninhas ao glyphosate podedificultar e encarecer a prática dedessecação na fase de pré-semeadurade culturas, o que poderá inviabilizaresse sistema. Além disso, o uso deculturas tolerantes ao glyphosate

Manejo de plantas daninhas resistentes ao glyphosateManejo de plantas daninhas resistentes ao glyphosateManejo de plantas daninhas resistentes ao glyphosateManejo de plantas daninhas resistentes ao glyphosateManejo de plantas daninhas resistentes ao glyphosate

Alvadi Antonio Balbinot Junior1 e Michelangelo Muzell Trezzi2

Aceito para publicação em 24/8/09.1Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, BR-280, km 219,5, C.P. 216, 89460-000 Canoinhas, SC, fone: (47) 3624-1144,e-mail: [email protected]., Dr., Universidade Tecnológica Federal do Paraná/Campus Pato Branco, Via do Conhecimento, km 1, 85503-390 Pato Branco,PR, fone: (46) 3220-2511, fax: (46) 3220-2500, e-mail: [email protected].

pode tornar-se inviável emdecorrência da infestação de plantasdaninhas resistentes a essa molécula.Esta situação de alerta ganha maiorforça em função de já terem sidodetectados, no Brasil e no mundo,biótipos de plantas daninhas comresistência múltipla, ou seja, aoglyphosate e a outros mecanismos deação, simultaneamente. Nestesentido, os objetivos deste trabalhosão: discutir os principais aspectosrelacionados à resistência de plantasdaninhas ao glyphosate e expor asprincipais práticas alternativas paraprevenção e controle dessas plantas.

Casos de plantasdaninhas resistentes aoglyphosate

Apesar de o glyphosate serutilizado há várias décadas, somenteem 1996 foi registrada a primeiraplanta daninha resistente a essamolécula, fato ocorrido na Austráliaem um biótipo de azevém-perene(Lolium rigidum) (Ferreira et al.,2008). A dificuldade de seleção deplantas daninhas resistentes aoglyphosate decorre dos seguintesfatores: baixa frequência inicial degenes de resistência; baixo efeitoresidual desse herbicida no ambiente;reduzida habilidade competitiva dosbiótipos resistentes (Ferreira et al.,2008); e modalidade de uso, em quemuitas vezes, logo após a aplicação

de glyphosate, há aplicação de outrosherbicidas que matam possíveisbiótipos resistentes ao glyphosate,impedindo a propagação.

Todavia, em decorrência do usofrequente desse herbicida, já foramidentificadas cinco espécies deplantas daninhas resistentes aoglyphosate no Brasil: azevém (Loliummultiflorum) (Christoffoleti & López--Ovejero, 2003) (Figura 1), buva(Conyza canadensis e C. bonariensis)(Vargas et al., 2007) (Figura 2),leiteiro (Euphorbia heterophylla) e,mais recentemente, capim-amargoso(Digitaria insularis) (Heap, 2008).Devido à utilização crescente deculturas tolerantes ao glyphosate,como, por exemplo, a soja, houveaumento do uso desse princípio ativoe redução do uso de outros herbicidasnessas culturas. Previsivelmente,esse aumento na pressão de seleçãoacarretará aparecimento de maisbiótipos resistentes a esse herbicida,bem como aumento da população deespécies daninhas que sãoconsideradas tolerantes aoglyphosate por possuírem,naturalmente, baixo nível decontrole, como a corda-de-viola(Ipomoea spp.), a poaia (Richardiabrasiliensis) e a trapoeraba(Commelina spp.).

O azevém é uma gramínea anualde inverno muito utilizada no sul doBrasil como forrageira e paracobertura do solo. No entanto,

47Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

quando cresce com outras culturas setorna uma planta daninha. Essaespécie é muito utilizada em sistemade integração lavoura-pecuáriaformando pastagem de inverno eprimavera. Plantas de azevémresistentes ao glyphosate re-manescem da dessecação efetuadacom esse herbicida prejudicando asculturas semeadas em sucessão,como trigo, soja, milho e feijão. Além

disso, em cultivo de culturastolerantes ao glyphosate, plantas deazevém resistentes não serãocontroladas em pós-emergência dacultura com esse herbicida, re-sultando em interferência negativa.

A buva é uma espécie anual,pertencente à família Asteraceae,cuja reprodução ocorre por meio desementes, as quais germinam naRegião Sul do Brasil no outono e no

inverno, com encerramento do ciclono verão (Vargas et al., 2007). Assim,essa espécie infesta tanto lavouras deinverno como lavouras de verão. Damesma forma que o azevém, a buvaresistente ao glyphosate podesobreviver à dessecação efetuada poressa molécula, bem como sobreviverà aplicação desse herbicida nasculturas que o toleram. A com-petitividade da buva com espécies deinverno, como o trigo, é baixa(Buzzello et al., 2008). Porém, emcondição de pousio no inverno ou emlavouras de milho da safrinha, a buvaencontra ambiente apropriado parase desenvolver, com pouca in-terferência de outras espécies.

O capim-amargoso é perene e oleiteiro é anual. Ambos crescem nosul do Brasil na época mais quentedo ano, infestando lavouras de verão.O capim-amargoso é mais comum emáreas de plantio direto que passampor períodos de pousio. O leiteiro é,talvez, a espécie daninha que causamaiores prejuízos aos agricultores noBrasil, pois está amplamentedisseminado em áreas agrícolas.Além disso, é a espécie em que foiidentificado o maior número de casosde resistência no Brasil. Até omomento, há poucos dados depesquisa a respeito dos mecanismosde resistência dessas duas espéciesao glyphosate, bem como sobrepossíveis alternativas de controle.

Mecanismos deresistência

Ainda é incipiente o conhecimentosobre mecanismos morfofisiológicosenvolvidos na resistência de plantasdaninhas ao glyphosate. No entanto,alguns trabalhos apontam osseguintes mecanismos: aumento dasíntese da enzima EPSPS apósaplicação de glyphosate (Baerson etal., 2002); mudança da estruturadessa enzima (Christoffoleti & López--Ovejero, 2003), o que reduz a ligaçãoherbicida-enzima; e redução daabsorção e translocação do herbicidana planta em decorrência dealterações morfofisiológicas (Ferreiraet al., 2006). O conhecimento domecanismo de resistência é

Figura 1. Planta de azevém (Lolium multiflorum) resistente ao glyphosate,após a dessecação da vegetação

Figura 2. Plantas de buva (Conyza spp.) resistentes ao glyphosate,infestando lavoura de soja

48 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

importante para determinar quaisações de manejo químico sãoestrategicamente mais indicadas.

Prevenção e controle deplantas daninhasresistentes ao glyphosate

A prevenção de aparecimento deplantas daninhas resistentes aoglyphosate é a forma mais inteligentepara evitar problemas com essasplantas. Algumas práticaspreventivas importantes são citadasa seguir:

Práticas culturais, como arotação planejada de culturas e amanutenção do solo coberto, sãoaltamente eficazes para reduzir apopulação de plantas daninhas e ouso de herbicidas.

Práticas mecânicas, como aroçada em pomares e o uso de rolo-faca para manejo de coberturasvegetais, são importantes parareduzir o número de aplicações deglyphosate e, em consequência, apressão de seleção.

O cultivo não sucessivo, namesma área, de culturastransgênicas tolerantes aoglyphosate. Essa prática visa reduziro uso continuado de glyphosate epossibilitar o uso de outros herbicidasque podem eliminar plantasresistentes antes que produzamdescendentes. O uso de sojatransgênica sem rotação, além deaumentar a pressão de seleção deplantas resistentes, ainda aumentaa incidência de doenças e pragas ereduz a qualidade do solo ao longodo tempo.

Uso de glyphosate somentequando necessário e na doserecomendada.

Aplicação de glyphosate comequipamento adequado e sobcondições ambientais favoráveis aofuncionamento do herbicida a fim deevitar reaplicações e uso em dosesabaixo das recomendadas.

É importante a eliminação deplantas daninhas resistentes aoglyphosate que já estão presentes naárea cultivada antes que produzamdescendentes. Essa eliminação pode

ocorrer por meio de práticasmecânicas ou através da aplicação deoutros herbicidas que controlem taisespécies.

Em áreas onde a infestação estágeneralizada, é importante usarpráticas mecânicas alternativas,como roçada e trabalho com rolo-faca,no caso de manejo de coberturavegetal em pomares, ou antes dasemeadura de culturas em plantiodireto.

Para dessecação de azevém ebuvas resistentes podem ser usadosoutros herbicidas não seletivos, comoo glufosinato e o paraquat (Vargas etal., 2004; Vargas et al., 2007). Paracontrole de azevém resistente aoglyphosate também podem serusados herbicidas graminicidas,como clethodim, diclofop, fenoxaprop,fluazifop, haloxifop e sethoxydim nasdoses recomendadas (Vargas et al.,2004). Para controle de buvasresistentes ao glyphosate tambémpodem ser usados herbicidaslatifolicidas, como 2,4-D,chlorimuron-ethyl, diuron emetsulfuron-methyl (Moreira et al.,2007; Vargas et al., 2007).

Enfatiza-se que aplicações emaltas doses e sequências deglyphosate são ineficazes no controlede plantas resistentes a esseherbicida. Adicionalmente, nãoexistem muitas informações sobrepossíveis alternativas de controlepara capim-amargoso e leiteiroresistentes ao glyphosate.

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49Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Introdução

O método de tutoramento dotomateiro tradicionalmente usado naRegião do Alto Vale do Rio do Peixe éo cruzado ou “V” invertido, utilizandobambus como tutores. Usualmente,o método de condução é de duashastes por planta. Entretanto, devidoa melhorias na fitossanidade (Santoset al., 1999) e na produtividade(Wamser et al., 2007) com o uso do

Curvatura da base do caule do tomateiro afetada porCurvatura da base do caule do tomateiro afetada porCurvatura da base do caule do tomateiro afetada porCurvatura da base do caule do tomateiro afetada porCurvatura da base do caule do tomateiro afetada pormétodos de tutoramento e sua relação com amétodos de tutoramento e sua relação com amétodos de tutoramento e sua relação com amétodos de tutoramento e sua relação com amétodos de tutoramento e sua relação com a

produtividade de frutosprodutividade de frutosprodutividade de frutosprodutividade de frutosprodutividade de frutosAnderson Fernando Wamser1 e Siegfried Mueller2

Resumo – O objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito de diferentes sistemas de condução de plantas sobre acurvatura da base do caule do tomateiro e o efeito do grau dessa curvatura sobre a produtividade de frutos. No anoagrícola 2004/05 foi avaliada a curvatura da base do caule em duas cultivares de tomate (Carmen e Débora Max) emquatro métodos de tutoramento (cruzado, vertical com bambu, vertical com fitilho e mexicano) e em dois métodos decondução (uma e duas hastes por planta). No ano agrícola 2005/06 foi avaliada a produtividade de frutos em plantassubmetidas a 5º de curvatura da base do caule (zero, 22, 45, 68 e 90o). Os métodos de tutoramento utilizando bambuscomo tutores (cruzado e vertical com bambu) apresentaram menor curvatura da base do caule em relação aos métodosutilizando fitilhos como tutores (vertical com fitilho e mexicano). A produtividade do tomate diminui com o aumentoda curvatura da base do caule.

Termos para indexação: Solanum lycopersicum L., tutoramento com fitilho, tutoramento com bambu.

Bending of the tomato stem base and its relation with fruit yield

Abstract – The aim of this study was to evaluate the effect of different training systems on the bending of thetomato stem base and the effect of the bending of the stem base on tomato yield. In 2004/05 the bending of the stembase was evaluated in two cultivars (Carmen and Débora Max), four staking methods (crossed fence, vertical stakingwith bamboo, vertical staking with polypropylene cord and Mexican) and two training methods (one and two stemsper plant). In 2005/06 the yield of fruits was evaluated in five bending degrees of the stem base (0, 22, 45, 68 and 90o).The staking methods with bamboos (crossed fence and vertical staking with bamboo) have shown lesser bending ofthe stem base in relation to the staking methods with polypropylene cord (vertical staking with polypropylene cordand Mexican). The yield of tomatoes was reduced with the increase of the stem base bending degree.

Index terms: Solanum lycopersicum L., staking with polypropylene cord, staking with bamboo.

Aceito para publicação em 1º/7/09.1 Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, 89500-000 Caçador, SC, fone: (49) 3561-2035, e-mail:[email protected] Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Caçador, e-mail: [email protected].

tutoramento vertical das plantas,muitos produtores dessa região estãoadotando o tutoramento vertical.Adicionalmente, observa-se asubstituição de tutores de bambu porfitilho.

O tutoramento vertical com o usode fitilho pode ocorrer de duasformas: o vertical com fitilhosdispostos verticalmente em torno dashastes do tomateiro e presos a umarame fixado a aproximadamente

1,9m de altura; e o mexicano, em queas plantas não são amarradas emtutores, mas conduzidas verti-calmente entre fitilhos, que sãodispostos horizontalmente nos doislados das plantas. Paralelamente aométodo de tutoramento vertical épreconizada a redução doespaçamento entre plantas e acondução de uma haste por plantacom o objetivo de aumentar aprodutividade de frutos, como

50 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Ano Agrícola pH(H2O) P K MO Al3+ Ca2+ Mg2+ V

....mg/dm3.... % ......cmolc/dm3...... %

2004/05 5,8 12,8 166 3,5 0,0 6,8 3,6 69

2005/06 5,9 19,2 72 4,9 0,0 8,5 4,7 75

Tabela 1. Atributos químicos dos solos das áreas experimentais antes dainstalação dos experimentos

Nota: MO = matéria orgânica; V = saturação por bases.

observado por Carvalho & TessarioliNeto (2005) e Marin et al. (2005).Entretanto, Wamser et al. (2007)observaram que entre os métodos detutoramento vertical de plantas, osque utilizam fitilhos são menosprodutivos que o método que utilizabambus como tutores. Uma dasdiferenças observadas visualmenteentre esses métodos é a maiorcurvatura da base do caule com autilização de fitilhos como tutores.Essa maior curvatura podeinfluenciar a produtividade de frutos.Gartner (1994) e Coutand et al.(2000) observaram que a curvaturada base do caule influencia ocrescimento vegetativo da parteaérea do tomateiro. Entretanto, nãoforam encontrados trabalhos naliteratura avaliando o efeito dacurvatura da base do caule dotomateiro sobre a produção de frutos.

Desta forma, o objetivo destetrabalho foi avaliar o efeito dediferentes sistemas de condução deplantas sobre a curvatura da base docaule do tomateiro e o efeito do graudessa curvatura sobre a pro-dutividade de frutos.

Material e métodos

Dois ensaios foram realizadosdurante os anos agrícolas de 2004/05e 2005/06 na Epagri/EstaçãoExperimental de Caçador, localizadano município de Caçador, SC, RegiãoFisiográfica do Alto Vale do Rio doPeixe. Os solos nos locais dosexperimentos foram identificadoscomo Latossolo Bruno distróficotípico (Embrapa, 1999). Algunsatributos do solo em cada safra estãoapresentados na Tabela 1.

Os tratamentos no ano agrícola2004/05 consistiram na combinaçãode duas cultivares (Carmen e DéboraMax), quatro métodos detutoramento de plantas (cruzado,mexicano, vertical com bambu evertical com fitilho) e dois métodosde condução de plantas (uma e duashastes por planta, mantendo omesmo número de hastes por área,por meio dos espaçamentos entreplantas de 30 e 60cm, respec-tivamente). O método de tutoramentocruzado consistiu na amarração dasplantas em tutores dispostos

obliquamente ao solo formando um“V” invertido entre duas filasconsecutivas de plantas. Nos métodosde tutoramento vertical com bambusou fitilhos como tutores as hastesforam amarradas nos tutoresdispostos verticalmente, e no métododenominado de mexicano as plantasforam conduzidas verticalmenteentre fitilhos dispostos hori-zontalmente nos dois lados dasplantas à medida que as hastescresciam. O delineamento utilizadofoi o de blocos completos ao acaso,com quatro repetições, e ostratamentos foram dispostos emparcelas subdivididas, alocando-se ofator cultivar na parcela, o fatormétodo de tutoramento nasubparcela e o fator método decondução no derivado dessasubparcela. Os derivados dassubparcelas possuíam, nos métodosde tutoramento vertical, uma fila deplantas com 9m de comprimento eespaçamento entre fileiras de 1,5m.No método de tutoramento cruzadoesses derivados possuíam duasfileiras de plantas com 9m decomprimento, com espaçamentoentre as fileiras que formam o “V”invertido de 1m e espaçamento queformam as linhas do corredor de1,5m. Foi avaliada a variação no graude curvatura da base do caule em trêsplantas escolhidas ao acaso porparcela, atribuindo-se os valores dezero, 22, 45, 68 e 90o de curvatura(escala visual), em que zero graucorrespondeu à condução da base docaule do tomateiro de forma ereta e90o correspondeu à condução deforma prostrada.

Os tratamentos no ano agrícola2005/06 consistiram em cincocurvaturas da base do caule dotomateiro em relação ao eixo

perpendicular ao solo (zero, 22, 45,68 e 90o), utilizando o delineamentoem blocos completos ao acaso. Destaforma, o grau zero de curvaturacorrespondeu à condução da base docaule do tomateiro de forma ereta e90o correspondeu à condução da basedo caule de forma prostrada. Nesteexperimento a área experimentalpossuiu sete filas com 15 plantas cadauma no espaçamento de 0,6m entreplantas e 1,5m entre filas. Ostratamentos foram aplicados aoacaso na 4a, 6a, 8a, 10a e 12a plantadas cinco filas centrais e cada fila foiconsiderada um bloco e cada plantauma unidade experimental,totalizando cinco repetições portratamento. Os diferentes graus decurvatura foram obtidos através dasustentação adicional das plantas porfitilhos amarrados na base do caulee fixados no arame superior dosistema de tutoramento vertical combambu, com duas hastes por planta.Foi utilizada a cultivar Avansus. Asvariáveis analisadas foramprodutividade, número de frutos porplanta e peso médio de fruto total.

Em todos os experimentos foiutilizado o sistema de plantio diretosobre a cultura da aveia-preta, semaplicação de herbicida. Nos anosagrícolas 2004/05 e 2005/06, aadubação de base foi feita no sulcoutilizando 60kg/ha de N, 600kg/ha deP2O5 e 300kg/ha de K2O na fórmula03-30-15, 10t/ha de esterco de aves,2,7kg/ha de B como bórax e 8kg/hade Zn como sulfato de zinco, de acordocom a análise do solo erecomendações de adubação para otomateiro (Sociedade Brasileira deCiência do Solo, 2004).

O plantio das mudas foi realizadonos dias 30/11/2004 e 7/11/2005 e oreplantio foi realizado, quando

51Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Método de tutoramento Cultivar(1) (CV = 20,6%)

(CV = 20,9%) Carmen Débora Max

Cruzado (T1) 39,9 A 45,6 A

Mexicano (T2) 71,4 A 74,8 A

Vertical com bambu (T3) 40,5 B 66,4 A

Vertical com fitilho (T4) 50,1 B 70,9 A

Média 50,5 64,4

Contraste 1: T1+T3-(T2+T4) -20,5(*) -16,9(*)

Contraste 2: T1-T3 -0,6ns -20,8(*)

Contraste 3: T2-T4 21,4(*) 3,9ns

Tabela 2. Médias do grau de curvatura da base do caule do tomateiro emfunção da cultivar e do método de tutoramento de plantas. Caçador (SC),ano agrícola 2004/05

(1) Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha não diferem pelo teste F a 5% deprobabilidade de erro.*Contraste ortogonal significativo pelo teste F a 5% de probabilidade de erro.ns = Contraste ortogonal não significativo pelo teste F (P > 0,05).Nota: CV = coeficiente de variação, em percentual.

necessário, na primeira semana apóso plantio. Foram realizadas desbrotassemanais e, aos 120 dias após oplantio (DAP), a desponta em todosos tratamentos a partir da terceirafolha acima do último cacho de cadahaste, deixando nove ou dez cachospor haste. As adubações de coberturaforam realizadas semanalmente apartir dos 20 DAP totalizando 450kg/ha de N e 450kg/ha de K2O nos anosagrícolas 2004/05 e 2005/06. Outraspráticas culturais foram realizadasde acordo com as “Normas técnicaspara o tomate tutorado na Região doAlto Vale do Rio do Peixe” (Epagri,1997).

As variáveis estudadas foramsubmetidas à análise de variância eao teste F a 5% de probabilidade deerro. Para os dados obtidos no anoagrícola 2004/05 as médias dos níveisdo fator métodos de tutoramentoforam comparadas pelos seguintescontrastes ortogonais: C1) métodoscom tutores de fitilhos x métodos comtutores de bambus; C2) cruzado xvertical com bambu; C3) vertical comfitilho x mexicano. No ano agrícola2005/06 se procedeu à análise deregressão. As análises estatísticasforam realizadas utilizando-se oprograma Sisvar 5.0 (Ferreira, 2000).

Resultados e discussão

Não houve efeito dos métodos decondução de plantas com uma e duashastes por planta sobre o grau decurvatura da base do caule dotomateiro no ano agrícola 2004/05.Entretanto, houve interaçãosignificativa entre os métodos detutoramento de plantas e ascultivares (Tabela 2). A cultivarDébora Max apresentou maior graude curvatura da base do caule nosmétodos de tutoramento vertical comfitilho (T4) e vertical com bambu (T3)em relação à Carmen.

Em ambas as cultivares, osmétodos de tutoramento cruzado (T1)e vertical com bambu (T3) pro-porcionaram menor grau decurvatura da base do caule emrelação aos métodos mexicano (T2) evertical com fitilho (T4) (contraste 1)(Tabela 2). A maior curvatura da basedo caule nos métodos com fitilhos sedeve ao fato de que os fitilhos, no

mexicano, e o arame superior defixação dos fitilhos, no vertical comfitilho, não suportam o peso conjuntodas plantas na mesma firmeza queos bambus nos métodos cruzado evertical com bambu (Wamser et al.,2007).

Comparando os métodos queutilizam bambus como tutores(contraste 2), somente na cultivarDébora Max houve diferençassignificativas. O método detutoramento cruzado (T1) pro-porcionou menor grau de curvaturada base do caule em relação aovertical com bambu (T3) (Tabela 2).É possível que, devido à posiçãooblíqua dos tutores no métodocruzado, a força resultante do pesodas plantas sobre a base do caule sejamenor do que a proporcionada pelotutoramento vertical. Na cultivarCarmen isso não ocorreu devido aoseu menor crescimento vegetativo e,consequentemente, à sua menorsusceptibilidade ao curvamento dabase do caule.

Na comparação dos métodos detutoramento com fitilho (contraste 3)houve diferença significativa so-mente na cultivar Carmen. Otutoramento vertical com fitilhoproporcionou menor grau decurvatura da base do caule emrelação ao mexicano, pois neste as

plantas se apoiam nos fitilhosestendidos horizontalmente e umasnas outras, ou seja, elas não sãofixadas nos tutores como ocorre nosdemais métodos, ficando maispredispostas a curvarem a base docaule com o peso das plantas. Nacultivar Débora Max, devido ao seumaior crescimento vegetativo e maiorárea foliar em relação à cultivarCarmen (Sakata Seed Sudamerica,2007), o maior peso da planta fez comque o arame superior do vertical comfitilho cedesse na mesma magnitudeque os fitilhos no mexicano.

Para o experimento do anoagrícola 2005/06 o peso médio dofruto não foi influenciado pelo graude curvatura da base do caule (médiade 158g). Houve diferença sig-nificativa somente para número eprodutividade de frutos por planta.Tanto o número quanto a pro-dutividade de frutos decresceramlinearmente com o aumento do graude curvatura da base do caule (Figura1). Esses resultados confirmam ahipótese de que a maior curvatura dabase do caule reduz a produtividadede frutos. Desta forma, as menoresprodutividades observadas nosmétodos de tutoramento vertical comfitilho, em relação ao com bambu, noexperimento realizado no anoagrícola 2004/05 (Wamser et al.,

52 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Figura 1. Produtividade e número total de frutos por planta em função dograu de curvatura da base do caule do tomateiro cultivar Avansus.Caçador (SC), ano agrícola 2005/06

2007), podem estar relacionadas àmaior ocorrência desse com-portamento morfológico.

Coutand et al. (2000), em trabalhoavaliando o efeito do curvamento dabase do caule do tomateiro sobre ocrescimento das hastes, observaramque a elongação das hastes cessouapós a curvatura da base do caule,voltando a se alongarem após umcerto período, porém numa taxamenor que a das plantas crescendototalmente eretas. Esses mesmosautores observaram que não houvedistúrbios nos tecidos internos docaule, evidenciando que o menordesenvolvimento das hastes estárelacionado à sinalização hormonalatravés do xilema. Em outrotrabalho, Gartner (1994) observouque os curvamentos nas hastes dotomateiro promoveram menorcrescimento delas, aumentaram odiâmetro do caule e a razão raiz/parteaérea, porém não houve diferençapara biomassa total acumulada eárea foliar.

Conclusões

Métodos de tutoramento uti-lizando bambus como tutores, comoo cruzado e o vertical com bambu,permitem menor grau de curvaturada base do caule em relação aosmétodos que utilizam fitilhos comotutores, como o vertical com fitilho eo mexicano.

A produtividade do tomatediminui com o aumento do grau decurvatura da base do caule.

Literatura citada

1. CARVALHO, L.A.; TESSARIOLINETO, J. Produtividade de tomateem ambiente protegido, em função doespaçamento e número de ramos porplanta. Horticultura Brasileira,Brasília, v.23, n.4, p.986-989, 2005.

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5. FERREIRA, D.F. Análises esta-tísticas por meio do Sisvar paraWindows versão 4.0. In: REUNIÃOANUAL DA REGIÃO BRASILEIRADA SOCIEDADE INTERNACIONALDE BIOMETRIA, 45., 2000, SãoCarlos, SP. Anais... São Carlos:UFSCar; RBSIB, 2000. p.255-258.

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tomateiro visando produção de frutospara consumo in natura.Horticultura Brasileira, Brasília,v.23, n.4, p.951-955, 2005.

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11. WAMSER, A.F.; MUELLER, S.;BECKER, W.F. et al. Produção dotomate em função dos sistemas decondução de plantas. HorticulturaBrasileira, Brasília, v.25, n.2, p.238-243, 2007.

53Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Introdução

O milho (Zea mays L.) é uma dasprincipais culturas agrícolasbrasileiras e mundiais, ocupando, noBrasil, uma área agrícola deaproximadamente 52 milhões dehectares, representando 26% da áreacolhida e 42% dos grãos produzidosno País. Na comparação com outrospaíses, o Brasil é o terceiro maiorprodutor, atrás dos EUA e da China.A produtividade brasileira, noentanto, é de 3.650kg/ha, sendomuito baixa quando comparada àmédia dos dois principais paísesprodutores, EUA e China, que éaproximadamente 8.903kg/ha, o que

RRRRResistência de cultivares de milho (esistência de cultivares de milho (esistência de cultivares de milho (esistência de cultivares de milho (esistência de cultivares de milho (Zea maysZea maysZea maysZea maysZea mays L L L L L.) à.) à.) à.) à.) àantracnose foliar no estádio de plântulaantracnose foliar no estádio de plântulaantracnose foliar no estádio de plântulaantracnose foliar no estádio de plântulaantracnose foliar no estádio de plântula

João Américo Wordell Filho1

Resumo – A antracnose foliar, doença causada pelo fungo Colletotrichum graminicola (Ces.), é considerada deimportância nas regiões produtoras de milho, sendo seu controle realizado unicamente por meio da resistência etratos culturais. Com o objetivo de avaliar a resistência de genótipos de milho à antracnose foliar foram testadas 72cultivares em estádio de plântula, considerando-se a severidade e o período de incubação em câmaras climatizadase em casa de vegetação. Para determinar a severidade da doença, baseou-se na percentagem visual de área foliarnecrosada (zero a 100%). As cultivares testadas apresentaram diferenças quanto à severidade da doença sem quenenhuma pudesse ser considerada resistente. O período de incubação não permitiu diferenciar as cultivares avaliadasquanto à resistência à mancha foliar de antracnose.

Termos para indexação: Severidade, período de incubação, Colletotrichum graminicola.

Resistance of corn cultivars to anthracnose in the seedling stage

Abstract – Anthracnose leaf blight, a disease in maize caused by Colletotrichum graminicola (Ces.), is consideredvery important in production areas whose control is achieved only through resistance and cultural practices. Thisstudy was carried out with the objective of evaluating the resistance of 72 corn cultivars, in seedling age, to leafanthracnose, considering the severity and incubation period both in an acclimatized chamber and in a greenhouse.The severity of the disease was determined based on the visual percentage of necrotic leaf area (zero to 100%). Thecultivars differed in the degree of severity of the disease although none could be considered resistant. The incubationperiod did not permit differentiating the cultivars in relation to resistance to leaf spot of anthracnose.

Index terms: Severity, incubation period, Colletotrichum graminicola.

Aceito para publicação em 29/1/10.1 Eng.-agr. D.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf ), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0600,e-mail: [email protected].

tem como causas algumasadversidades climáticas, princi-palmente a restrição hídrica e aincidência de doenças, tais como asferrugens, helmintosporiose,cercosporiose e antracnose(Brugnago Neto, 2007). Dentre elas,a antracnose, causada pelo fungoColletotrichum graminicola (Ces),pode manifestar-se em qualquerparte da planta, principalmente emfolha (Figura 1) e colmo. No Brasil, oC. graminicola está amplamentedistribuído nas regiões produtoras demilho (Cruz et al., 1996). A doençaocorre em todas as principais regiõesprodutoras do Brasil e em qualquerépoca de semeadura do milho

(Fernandes & Balmer, 1990). Deacordo com Bergstrom & Nicholson(1999), lesões foliares servem de fontede inóculo para infecções no colmo,que podem causar tombamento daplanta, comprometendo a pro-dutividade na ordem de 18% (Carson& Hooker, 1981b) a 40% (Smith,1976; Perkins & Hooker, 1979; Whiteet al., 1979; Callaway et al., 1992).

Devido às grandes extensões deáreas plantadas, à utilização dasucessão em vez da rotação e ao usode cultivares com base genéticaestreita, tem aumentado a ocorrênciado C. graminicola nas regiõesprodutoras de milho (Barbosa, 2001;Cruz et al., 1996).

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O controle da antracnose consisteno desenvolvimento de híbridos/variedades resistentes. O controlequímico aumenta o custo de produçãoe apresenta riscos de contaminaçãodo ambiente. Além disso, a eficiênciadesses produtos depende do momentoda aplicação e das condiçõesambientais. Portanto, a resistênciagenética aliada a práticas culturaisé a medida que dá sustentabilidadeà cultura do milho. Diante dapotencialidade da doença, sobretudoem sua forma foliar devido à maiorfacilidade de disseminação dosesporos, o emprego de genótiposresistentes surge como medidapromissora de controle (Silva, 1983).

A seleção para resistência exigeprecisão nos testes fenotípicos,principalmente naqueles relativos àescolha de cultivares para uso emcruzamentos visando à resistência àantracnose foliar. O objetivo destetrabalho foi avaliar em plântula ograu de resistência do milho àantracnose foliar.

Material e métodos

O experimento foi realizado noLaboratório de Fitopatologia e emcasa de vegetação da Epagri/Centrode Pesquisa para Agricultura

Familiar (Cepaf), em Chapecó, SC, noano de 2008. Foram avaliadas 72cultivares de milho oriundas dediversos programas demelhoramento (Tabela 1) quanto àseveridade foliar causada por C.graminicola e quanto ao período deincubação.

Obtenção do isolado deColletotrichumgraminicola

O isolamento de C. graminicolafoi realizado a partir de acérvulosretirados de folhas de milhoprovenientes de campos de produção

em Chapecó, SC, (isolado SC-01).Para manutenção da patogenicidade,o isolado foi inoculado a cada doismeses em plântulas de milho comquatro a cinco folhas e reisoladosapós cada inoculação.

Semeadura dosgenótipos, preparo doinóculo e inoculação

Os genótipos de milho foramsemeados em vasos plásticos comaproximadamente 400g de substrato(marca Tecnomax), semeando quatrosementes por vaso. A irrigação foi

realizada fornecendo cerca de 10mlde água/vaso a cada 2 dias. Asplantas permaneceram em casa devegetação, adotando temperaturamédia de 25°C. O delineamentoexperimental foi inteiramentecasualizado, com quatro repetições,sendo cada unidade experimental umvaso contendo quatro plantas.

Para obtenção do inóculo, oisolado monospórico SC-01 de C.graminicola foi cultivado em placasde Petri por um período de 20 diasem meio de aveia-ágar (40g aveia,17g ágar, 1L água), sob regime dealternância luminosa (12/12h) comlâmpadas fluorescentes de 20W a22°C. A suspensão do inóculo foiobtida pela adição de 20ml de águadestilada a cada placa e raspagem dacolônia com auxílio de espátula. Osobrenadante foi filtrado com duascamadas de gaze para eliminar osfragmentos de micélio, e após esseperíodo foram visualizadas sobmicroscópio estereoscópico paradeterminar a viabilidade dosconídios, com a leitura 100 esporos/placa de forma aleatória.Consideraram-se viáveis os esporosnos quais o tubo germinativo eramaior do que o maior diâmetro doconídio. Conhecendo a viabilidade doinóculo foi possível corrigir umapossível discrepância quanto àgerminação.

Após a calibragem daconcentração da suspensão para 5,0x 105 conídios viáveis/ml, foiadicionado 0,01% do surfactanteTween 80®. As inoculações foramfeitas mediante pulverização dasfolhas em plantas com 15 dias deidade (estádio V2) (Ritchie &Hanway, 1982). A pulverização foirealizada com um atomizador(modelo SGA 570 DeVilbiss Co.Somerset, PA) acoplado a uma bombade ar aplicando aproximadamente2ml de suspensão de conídios porrepetição. As plantas inoculadasforam mantidas em câmara úmida(98% UR, fotoperíodo de 12h, 25 ±1°C) e após 24h foram transferidaspara casa de vegetação (25 ± 2°C),onde permaneceram até a avaliação.A avaliação da severidade dossintomas foi feita 10 dias após ainoculação, baseando-se napercentagem visual de área foliar

Figura 1. Sintoma da infecção do fungo Colletotrichum graminicola em

55Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

necrosada (zero a 100%). Paraavaliação do período de incubação, foiutilizada uma lupa de mão de 40x deaumento, iniciando-se 24 horas apósa inoculação e finalizando noaparecimento das primeiras lesõesnas plantas. As avaliações foramrealizadas periodicamente de 12 em12 horas.

O experimento foi realizado duasvezes de forma independente. Foramrealizadas análises conjuntas dos

experimentos, uma vez que osquadrados médios residuais nãoultrapassaram a relação aproximadade 2:1, conforme Banzatto & Kronka(1989).

Os valores de severidadedeterminados em cada cultivar foramreunidos em três grupos, peloprocedimento “FASTCLUS”, uti-lizando o método do “nearestcentroid”, tendo como medida dedissimilaridade a distância eu-

clidiana, não efetuando a eliminaçãode nenhum “outlier”, aplicadoconjuntamente aos dois expe-rimentos. O grupo 1 consistiu deunidades amostrais com valores deseveridade mais baixos, o grupo 2com valores intermediários e o grupo3 com valores elevados. A análise deagrupamento, também conhecida poranálise “cluster”, tem como finalidadereunir, por algum critério declassificação, as unidades amostrais

Cultivar Tipo(1) Ciclo(2) Textura do grão Cultivar Tipo(1) Ciclo(2) Textura do grãoDKB 789 HD P Semiduro SHS 4050 HD SP DuroDKB 2040 S/I S/I S/I SHS 4060 HD P SemiduroDKB 234 HS SP Dentado SHS 4070 HD N DentadoDKB 747 HD P Duro SHS 4080 HD P SemiduroDKB 566 HT P Semidentado SHS 5050 HT SP SemiduroDKB 330 HS SP Semidentado SHS 5070 HT SP DuroDKB 979 HD P Semiduro SHS 5080 HT P SemiduroAG 6018 HT SP Duro SHS 3035 S/I S/I S/IAG 8021 HS P Semidentado AS 1533 S/I S/I S/IAG 9020 HS SP Dentado AS 1535 HS m P SemiduroAG 2020 HD P Semiduro AS 1540 HSm P SemiduroAG 6020 HD SP Duro AS 1548 HSm P SemiduroAG 122 HD P Semidentado AS 1570 HS P SemiduroAG 2040 HD P Semiduro AS 1575 HS P SemiduroAG 2060 HD P Semiduro AS 3430 HT P DuroAG 5011 HT P Dentado AS 3466 HT P SemiduroAG 8011 HT P Dentado AS 3477 S/I S/I S/ISCS154 Fortuna V P Duro AS 1567 HS S/I SemiduroSCS155 Catarina V P Duro AS 1545 HS P SemiduroDOW 2B707 HS P Semiduro AS 1560 HS P SemiduroDOW 2B587 HS P Semidentado AS 32 HP P SemiduroDOW 2B688 HT P Semidentado AS 1565 HS P SemiduroBM 1115 HS P Semiduro PRE 3601 S/I S/I S/IBM 2202 HD P Semidentado BX 1382 HS P SemiduroBM 810 HS P Semiduro BX 1149 HS P SemiduroBM 620 HT SP Semiduro BR 205 HD P SemidentadoPL 6882 HT P Semidentado BR 206 HD P SemidentadoP 30F53 HS SP Semiduro BRS 1035 HS P SemidentadoP 30F36 HS P Semiduro BRS 2020 HD P SemiduroP 30P34 HT P Semiduro SG 6418 HT P DuroP 30R50 HS P Semiduro XGN 5303 S/I S/I S/IP 32R48 HS SP S/I XGN 6211 S/I S/I S/ISHS 5090 HT P Semiduro XGN 6302 S/I S/I S/ISHS 7070 HS P Duro XGN 6311 S/I S/I S/ISHS 7080 HS P Semiduro XGN 7321 S/I S/I S/ISHS 3031 V P Semiduro XGN 7326 S/I S/I S/I

Tabela 1. Características agronômicas das cultivares de milho submetidas à avaliação de resistência à antracnosefoliar

(1) HS = híbrido simples; HD = híbrido duplo; HT = híbrido triplo; V = variedade de polinização aberta.(2) SP = Super precoce; P = precoce; HSm = híbrido simples modificado; N = normal. S/I = Sem informação.Fonte: Embrapa, 2008.

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Moderadamente suscetível (MS) DKB-789; DKB 2040; DKB 234; DKB 747; SCS155 Catarina;

(Grupo 1) Severidade baixa DOW 2870; SCS154 Fortuna; DOW 2B587; DOW 2B688; PL 6882;

70,99 ± 3,34 desvio padrão P 30F53; P32R48; SHS5090; SHS 7070; SHS 7080; AG 2020;

AG 6020; AS 1548; AS 3430; AS 3477; SHS 3031; SHS 4050;

SHS 4060; SHS 4070; SHS 4080; SHS 5050; SHS 5070; SHS 5080;

PRE 3601; BX 1382; AS 32; BM 810; SHS 3035; AS 1565; BM 620;

BR 206; BRS 1035; BRS 2020; SG 6418; AG 122; AG 2040; AG 2060;

AG 5011; DBK 330; DKB 979; XGN 5303; XGN 6211; XGN 6302;

XGN 6311; XGN 7321 e XGN 7326.

Suscetível (S) AG 6018; AG 8021; AG 9020; BM 1115; P30F36; P30P34; P30R50;

(Grupo 2) Severidade média AS 1533; AS 1535; AS 1540; AS 1570; AS 1575; AS 3466; AS 1545;

84,00 ± 2,25 desvio padrão AS 1560; BX 1149; BR 205 e AG 8011.

Altamente suscetível (AS) DKB 566; AS 1567 e BM 2202

(Grupo 3) Severidade alta

97,74 ± 2,26 desvio padrão .

Tabela 2. Agrupamento de 72 genótipos de milho em relação à severidade manifestada ao isolado SC-01 deC. graminicola sob condições controladas. Chapecó, SC, 2008(1)

(1) Média de dois experimentos independentes.

em grupos de tal forma que existahomogeneidade dentro do grupo eheterogeneidade entre grupos(Liberato et al., 1995).

Resultados e discussão

O uso da análise de agrupamento(FASTCLUS) para separar cultivaresde milho quanto à resistência(severidade) foi apropriado. A análisede agrupamento por valor deseveridade foi efetuada, dandoorigem a três grupos distintos. Ascultivares enquadradas no grupo 1foram consideradas como mode-radamente suscetíveis à antracnosefoliar (MS), as do grupo 2 comosuscetíveis (S) e as do grupo 3 comoaltamente suscetíveis (AS) (Tabela 2).

As cultivares de milho no estádiode plântula diferiram quanto àseveridade de antracnose foliarcausada por C. graminicola (Tabela1). Badu-Apraku et al. (1987), Carson& Hooker (1981a e b), Zuber et al.(1981) e Keller & Bergstrom (1988)também constataram diferenças nograu de suscetibilidade de cultivarese linhagens de milho quanto à reaçãoà antracnose. Esses estudos indicamque a resistência à antracnose foliaré controlada por poucos (um a quatro)

genes dominantes. Pouco se sabesobre os mecanismos de expressãodesses genes de resistência.Entretanto, respostas bioquímicas efisiológicas à infecção fúngica emmilho são conhecidas. Geralmente areação de resistência em folhasenvolve estímulos à biossíntese decompostos fenólicos, especialmentefenilpropanoides (Bergstrom &Nicholson, 1999).

A antracnose foliar pode ser tãosevera em genótipos suscetíveis aponto de restringir seu crescimentonormal, podendo resultar na mortede plântulas (Bergstrom &Nicholson, 1999), sendo maisevidente em plântulas e em plantasadultas após a antese (Badu-Aprakuet al., 1987).

A resistência manifestada nascultivares de milho avaliadas foi dotipo parcial (moderadamentesuscetível) ao isolado testado. Ascultivares DKB 566, AS 1567 e BM2202 formaram o grupo 3. Elasapresentaram os maiores valores deseveridade da doença, variando de93,47% a 100% para o isoladotestado, sendo consideradasaltamente suscetíveis à manchafoliar de antracnose. Os genótipos AG6018, AG 8021, AG 9020, BM 1115;

P 30F36, P 30P34, P 30R50, AS 1533,AS 1535, AS 1540, AS 1570, AS 1575,AS 3466, AS 1545, AS 1560, BX 1149,BR 205 e AG 8011 apresentaramvalores de severidade da doençavariando de 81,75% a 86,25% eformaram o grupo 2 para o isoladotestado. Estas foram consideradassuscetíveis à mancha foliar deantracnose. As demais cultivares,grupo 1, apresentaram valores deseveridade variando de 67,65% a74,33%, sendo consideradasmoderadamente suscetíveis àmancha foliar de antracnose,totalizando 70,42% das cultivarestestadas. Não foi encontrado entre ascultivares estudadas, materialresistente à mancha foliar deantracnose. Todas as cultivaresapresentaram resistência parcial àdoença. Resultados semelhantesforam obtidos por Badu-Apraku et al.(1987), Carson & Hooker (1981a e b),Zuber et al. (1981) e Keller &Bergstrom (1988). Eles tambémconstataram diferenças no grau desuscetibilidade de cultivares elinhagens de milho à mancha foliarde antracnose.

Não houve diferença significativaquanto ao período de incubação (PI)entre as cultivares avaliadas neste

57Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

experimento, mesmo considerandoaquelas que apresentaram diferentesníveis de resistência. Os genótiposapresentaram média de 80,48 horasde PI, variando de 76,36 a 84,6 horas,diferindo do trabalho de Morello(2000), que constatou período deincubação de cerca de 10 dias, emensaios realizados in vitro.

Várias cultivares foram avaliadasneste trabalho na busca de identificaraquelas com resistência em plantasjovens. Nenhuma das cultivarestestadas se destacou como resistente,porém muitas apresentaramresultados promissores que podemser utilizadas em futuros estudos eem programas de melhoramento demilho, buscando minimizar o efeitodanoso da mancha foliar deantracnose.

Na busca do controle da manchafoliar de antracnose por meio daresistência genética é importante oacúmulo de informações quanto afontes e tipos de resistência. Dessaforma, são importantes os trabalhospara identificar novas cultivares comdiferentes níveis de resistência.Sugere-se o monitoramento davariabilidade do patógeno e daresistência de cultivares de milhovisando evitar a quebra desta.

Conclusões

Apesar da variabilidade quanto àresistência à antracnose foliar domilho, há predomínio de materiaismoderadamente suscetíveis àantracnose foliar.

O período de incubação não servecomo indicador de resistência deplântulas de milho à antracnosefoliar.

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58 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Introdução

Nos últimos anos vem sendoretomada a discussão sobre aconservação e utilização sustentáveldos recursos genéticos para aagricultura. Esse debate intensificou--se a partir da Convenção daDiversidade Biológica, realizada no Riode Janeiro em 1992, e da elaboraçãodo Plano de Ação Global, aprovado em1996, durante a IV ConferênciaInternacional de Leipzig, na Alemanha(Vallois, 1998; Goedert et al., 2001;

A diversidade de variedades locais de milhoA diversidade de variedades locais de milhoA diversidade de variedades locais de milhoA diversidade de variedades locais de milhoA diversidade de variedades locais de milhoem Anchieta, Santa Catarinaem Anchieta, Santa Catarinaem Anchieta, Santa Catarinaem Anchieta, Santa Catarinaem Anchieta, Santa Catarina11111

Gilcimar Adriano Vogt2, Antonio Carlos Alves3 e Adriano Canci4

Resumo – O presente trabalho teve como objetivo diagnosticar a diversidade fenotípica aparente de variedades locais demilho no município de Anchieta, SC. Para a análise da diversidade foram utilizadas práticas como a aplicação dequestionários semiestruturados, observação direta e entrevistas com informantes-chaves. O cultivo de variedades locaisde milho é frequente entre os agricultores (43%), apresentando diversidade fenotípica aparente (mais de 22 variedadeslocais) e cada uma das variedades apresenta características peculiares, tendo denominações próprias dos agricultores.

Termos para indexação: Zea mays, agricultura familiar, variabilidade, conservação na propriedade.

The diversity of local varieties of maize in Anchieta, SC, Brazil

Abstract – The present study had as an objective to diagnose the phenotypic diversity of local varieties of maize inAnchieta, Santa Catarina, Southern Brazil. For analysis of the phenotypic diversity practical complementary diagnosiswas used, such as the application of semi-structuralized questionnaires, direct observation and interviews with majorparticipants. The cultivation of local varieties of maize with great phenotypic variability (over 22 local varieties) is frequentamong the farmers (43%). Each variety presents peculiar characteristics and has denominations given by the farmersthemselves.Index terms: Zea mays, small farm agriculture, variability, on farm conservation.

Aceito para publicação em 31/8/09.1 Este trabalho é parte da dissertação de mestrado em Recursos Genéticos Vegetais (UFSC/PGRGV) do primeiro autor.2 Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, C.P. 216, 89460-000 Canoinhas, SC, fone: (47) 3624-1144, e-mail:[email protected] Eng.-agr., D.Sc., UFSC/Centro de Ciências Agrárias, C.P. 476, 88040-900 Florianópolis, SC, fone: (48) 3721-5323, e-mail: [email protected] Técn. agríc., Epagri/Escritório Municipal de Guaraciaba/Projeto Microbacias 2, Rua Ademar de Barros, 249, 89920-000 Guaraciaba,SC, fone/fax: (49) 3645-0249, e-mail: [email protected].

Maxted et al., 2002).Neste contexto, as variedades

locais, tradicionalmente cultivadaspelos agricultores familiares, sãoconsideradas uma valiosa fonte devariabilidade e diversidade genética,apresentando-se como elementosfundamentais para a segurançaalimentar da humanidade econstituindo-se em materiaisessenciais para o desenvolvimento denovas cultivares, especialmente natransferência de caracteresqualitativos e tolerância/resistência a

fatores bióticos e abióticos (Wood &Lenné, 1997; Abatie et al., 2000;Faraldo et al., 2000; Nass & Araújo,2002).

Movimentos sociais e organizaçõesnão governamentais têm fomentadoestratégias alternativas para reduçãode custos produtivos e busca desegurança alimentar dos agricultoresfamiliares, promovendo, para isso, ouso sustentável da agrobiodiversidadelocal e o incentivo ao intercâmbio dosrecursos genéticos vegetais entrecomunidades.

59Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

No Brasil, as mobilizaçõesiniciaram-se nos anos 80, motivadas,principalmente, pela crescentedescapitalização, exclusão social eacentuado êxodo rural provocadospelos altos custos dos insumosagrícolas, baixa produtividade dasculturas, baixos preços de mercado epelo esgotamento dos recursosnaturais (Soares et al., 1998).

As manifestações culminaram,então, com o início do Movimento daAgricultura Alternativa, criando-se achamada Rede de Sementes,articulada na Rede de TecnologiasAlternativas (Rede PTA) e focada notrabalho de produção e pesquisa sobrevariedades locais de milho em todo oBrasil (Soares et al., 1998).

Em Santa Catarina, a Associaçãode Pequenos Agricultores do Oeste deSanta Catarina (Apaco), de Chapecó,e o Centro Vianei de Educação Popular,de Lages, incorporaram-se a essemovimento nacional em 1990 e têmcontribuído significativamente para aautonomia na produção de sementes epara que a agroecologia se difundisseem todo o Estado (Canci, 2002).

Na Mesorregião do OesteCatarinense esse trabalho vem sendodesenvolvido por organizações nãogovernamentais e pelo Sindicato dosTrabalhadores na AgriculturaFamiliar (Sintraf), através do incentivodo uso, resgate e conservação devariedades locais de várias espécies,especialmente milho.

Em Anchieta, as estratégias deorganização comunitária, mobilizaçãoe sensibilização adotadas pelo Sintrafmostraram-se eficientes, sendocultivadas variedades locais namaioria das comunidades e em grandeparte dos estabelecimentos agrícolasdo município. Para dirigentes etécnicos do sindicato, o termo “milhocrioulo” apresenta-se com denotaçãopolítica de busca da soberaniaalimentar e autonomia na produção desementes, sendo utilizada comobandeira e instrumento de luta emobilização social.

O objetivo deste trabalho foiconhecer a diversidade fenotípicaaparente, a dinâmica de uso e manejoe a distribuição geográfica dasvariedades locais de milho presentesno município de Anchieta, SC.

Material e métodos

No período de agosto a novembrode 2003 foram caracterizados, atravésda aplicação de questionáriossemiestruturados, 223 estabele-cimentos agrícolas em Anchieta,distribuídos em 28 comunidades. Essequestionário foi aplicado durantevisitas aos agricultores e eraconstituído de questões contendo aidentificação e localização da unidadede produção agrícola e indicadoressocioculturais, técnicos e agronômicos.A amostra foi calculada pela fórmulade amostragem aleatória simplesproposta por Barbetta (2001).

A escolha dos estabelecimentos tevecomo estratégia a distribuição deentrevistadores nas diferentescomunidades a fim de se obter umaamostra representativa de todos osestabelecimentos do município. Foramentrevistados os agricultores queestavam no estabelecimento nomomento da trajetória do entre-vistador. A guia de entrevista foiadaptada e melhorada do trabalho deAlves et al. (2004), tendo em vista queestava devidamente avaliada evalidada em entrevistas preliminaresno Oeste Catarinense.

A análise consistiu em um misto depesquisa qualitativa e quantitativa,pois além da aplicação do questionáriosemiestruturado, foram utilizadasmetodologias qualitativas comple-mentares, como observação direta eentrevistas abertas com informantes--chaves, lideranças e agricultores. Comisso, podem-se conhecer as diferentesopiniões e fatos entre os grupos eauxiliar na leitura e interpretação dasinformações quantitativas coletadasnos questionários.

A sistematização dos dados foirealizada por meio de planilhaseletrônicas, enquanto a análiseexploratória de dados foi realizadaatravés de avaliações estatísticasdescritivas. As questões abertas estãoexpressas na forma original de relatodos agricultores. Nas avaliações dosdados referentes ao manejo, uso emanutenção de germoplasma localforam pós-selecionados 96 ques-tionários, entre os quais foi relatado ocultivo de variedades locais de milho.Para fins de seleção dessesquestionários, foram consideradas

variedades locais as populaçõescultivadas, denominadas, selecionadase mantidas pelos agricultoresfamiliares.

Resultados e discussão

Entre os 223 estabelecimentos/agricultores entrevistados, 43% (96)cultivavam uma ou mais variedadeslocais de milho. O erro amostral (E0)foi de 6%, tendo como tamanho dapopulação (N) do município deAnchieta 976 estabelecimentosagropecuários e tamanho da amostra(n) 223 estabelecimentos.

Comparativamente ao ano de 1996,quando do início das atividades defomento à autonomia de produção desementes, houve um incremento donúmero de estabelecimentos com esseperfil, cuja percentagem era de apenas5%, conforme destacado por Canci(2002). Além disso, em 2003 asvariedades locais estavam distribuídasem pelo menos 21 comunidades domunicípio, porquanto em 1997 ostrabalhos com produção própria desementes de milho atingiam apenas 13comunidades. Esses avanços ocor-reram principalmente nas co-munidades São Roque e São Paulo, asquais não foram pioneiras noPrograma de Produção Própria deSementes (Canci, 2002). O trabalho deorganização, mobilização e sensi-bilização comunitária, conduzido apartir de 1996 pelo Sintraf, certamentecontribuiu para esse incremento.

Em relação ao ano de 2001, no qual49% cultivavam variedades locais demilho (Canci, 2002), houve uma ligeiradiminuição das unidades produtivasque cultivavam tais variedades. Essaredução foi impulsionada pelacrescente “erosão genética” e pelaperda das sementes, acarretadas peloabandono do cultivo e pela substituiçãodas variedades locais pelas cultivareshíbridas melhoradas, conformerelatado por Jaramillo & Baena (2000)e por Ferrer & Clausen (2001).

A estratégia de organizaçãocomunitária para a produção desementes adotadas pelo Sintrafvisando à disseminação e ao fomentoà produção e ao resgate de sementestem se mostrado efetiva por propiciara disseminação da prática do cultivodas variedades locais em praticamente

60 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

todas as comunidades rurais deAnchieta (Figura 1).

A maioria dos agricultores quecultivavam variedades locais de milhotinha como fonte inicial de sementes oSintraf (46%), que adota comoestratégia de fomento de uso e cultivoa redistribuição de sementes entre seussócios (Figura 2). Alguns agricultoresiniciaram seu cultivo com sementesoriundas do intercâmbio entrevizinhos, amigos, parentes e de outrosmunicípios, mostrando-se umaeficiente estratégia para disseminar egarantir a conservação das variedadeslocais. Essas trocas de sementes sãorealizadas frequentemente pelamaioria dos agricultores (46%), sendopoucos (27%) aqueles que não tinhamo hábito de efetuar intercâmbio.Alguns agricultores adquiriam assementes em cooperativas e nocomércio local, reafirmando quealgumas variedades podem terderivado de híbridos ou de variedadescomerciais, fato este revelado pelapresença das variedades BRS 106,BRS 4150 e Fundacep 35. Cerca de 5%dos agricultores adquiriam assementes durante a realização dasfestas e feiras municipais.

A diversidade fenotípica é aparente

nas variedades locais de milhocultivadas em Anchieta. Essecomportamento é revelado pelasdiferentes denominações dadas pelosagricultores e pela variabilidade decoloração do grão entre as populações(Tabela 1 e Figura 3), mesmo quediferenças marcantes entre coloraçãode grãos sejam devidas a poucos genes,não se tendo certeza de variabilidadegenética da população como um todo.

Houve predominância do cultivo devariedades com coloração amarela nosgrãos, porém algumas variedadesapresentaram grãos de coloraçãobranca, roxa, vermelha e rajada(Tabela 1). As variedades Asteca,Caiano, Cateto, MPA1, Palha Roxa ePixurum 06 apresentaram variaçãoquanto à coloração dos grãos.

Em Anchieta, estavam sendocultivadas mais de 20 variedades locaisde milho, dentre as quais Pixurum 05,Amarelão, Mato Grosso, Palha-Roxa eBranco, presentes em 71% dosestabelecimentos (Tabela 2).

A variedade Pixurum 05 foi a queteve maior representatividade, sendocultivada em 32% das unidades deprodução. As variedades do grupoPixurum, desenvolvidas pelo CentroVianei de Educação Popular, foramintroduzidas no ano agrícola 1998/99pelo Sintraf nas áreas de produçãocomunitária de sementes parasubstituir as cultivares híbridas(Canci, 2002) e por apresentarem umaboa adaptação ao sistema produtivolocal, especialmente Pixurum 05, quepassou a ser a variedade local maiscultivada na Região do Extremo OesteCatarinense (22%) (Alves et al., 2004).

As variedades locais denominadasAmarelão, Mato Grosso, Palha-Roxa eBranco estavam sendo cultivadas em10%, 10%, 9% e 9% dosestabelecimentos, respectivamente. Asdemais variedades estavam presentesem 29% dos estabelecimentos, e dezagricultores (7%) relataram que não

Figura 1. Distribuição geográfica das variedades locais de milho no municípiode Anchieta, SC. Florianópolis, UFSC, 2005

Figura 2. Instalações do Sintraf/Anchieta e o armazenamento das sementesque serão distribuídas aos sócios do Sintraf

61Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Variedade local Cor dos grãos Aptidão de usoAmarelão Amarelo Grãos, forragem, farinha, silagem e canjicaAsteca Diversas cores Grãos, farinha e canjicaBranco Branco Grãos, forragem, farinha, canjica e milho-verdeBranco 8 carreiras Branco Grãos e farinhaBRS 106 Amarelo Grãos e forragemBRS 4150 Amarelo Grãos, forragem, farinha e canjicaCaiano Diversas cores GrãosCateto Diversas cores -Cunha Amarelo Grãos e farinhaFundacep 35 -Gurvena Amarelo Grãos e forragemMato Grosso Amarelo Grãos, forragem, farinha, canjica, milho verdee silagemMPA 1 Diversas cores GrãosMPA 13 Branco Grãos, canjica e farinhaPalha-Roxa Amarelo/roxo Grãos, forragem, farinha, canjica e silagemPixurum 01 Amarelo -Pixurum 04 - -Pixurum 05 Amarelo Grãos, forragem, farinha, canjica e silagemPixurum 06 Amarelo/vermelho -Rosado Rajado SilagemRoxo Roxo Grãos, forragem, farinha e canjicaSabugo Fino Amarelo Grãos e forragem

Tabela 1. Características estimadas pelos agricultores como cor de grãos e aptidão de uso das variedadeslocais de milho cultivadas nos estabelecimentos agrícolas do município de Anchieta, SC. Florianópolis,UFSC, 2005

Figura 3. Diversidade de coloração e tamanho dos grãos das variedadeslocais de milho cultivadas no município de Anchieta, SC. Florianópolis,UFSC, 2005

sabiam o nome da variedade queestavam cultivando.

As variedades locais com de-nominação desconhecida muitas vezessão derivadas de híbridos ouvariedades comerciais melhoradas,que são reproduzidas pelos própriosagricultores ao longo dos anos e, com opassar do tempo, recebem umadenominação particular que, em geral,está associada a uma característicapeculiar e de preferência do agricultormantenedor. Segundo Jarvis et al.(1998), é usual que os agricultoresutilizem diferentes caracteresfenotípicos para identificar, distinguire selecionar variedades locais eassociarem-nas a atributos vi-sualmente distinguíveis.

Quanto ao tempo de cultivo, amaioria das variedades locaiscultivadas em Anchieta pode serclassificada como exógena, carac-terizando-se como introduções recentesde sementes de variedades locaisoriundas de outras regiões ou devariedades comerciais (Tabela 2).

62 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Variedade local Estabelecimentos Tempo em cultivo (anos)

Nº % média moda(1) máx. mín.

Pixurum 05 44 32,4 3,2 1,2 e 5 10 1Amarelão 14 10,3 5,3 5 17 1Mato Grosso 14 10,3 2,9 3 6 1Palha-Roxa 12 8,8 11,1 3 e 5 30 3Branco 12 8,8 4,6 2 14 1Cunha 4 2,9 6,0 6 6 6Cateto 4 2,9 3,3 3 4 3Roxo 4 2,9 11,7 2,3 e 30 30 2Pixurum 04 2 1,5 5 5 5 5Caiano 2 1,5 9 5 e 13 13 5Branco 8 carreiras 2 1,5 9 3 e 15 15 3Asteca 2 1,5 35 - - -MPA 13 1 0,7 - - - -Sabugo Fino 1 0,7 2 - - -Fundacep 35 1 0,7 2 - - -Pixurum 01 1 0,7 5 - - -Pixurum 06 1 0,7 5 - - -BRS 106 1 0,7 3 - - -Rosado 1 0,7 42 - - -BRS 4150 1 0,7 3 - - -MPA 1 1 0,7 3 - - -Gurvena 1 0,7 11 - - -(Não sabe o nome) 10 7,4 2,4 1 6 1

Total 136 100,0 5,1 3 42 1

Tabela 2. Variedades locais de milho cultivadas nos estabelecimentos agrícolasdo município de Anchieta, SC. Florianópolis, UFSC, 2005

Neste último caso, muitas vezes o nomecomercial é mantido (BR 106,Fundacep 35, BRS 4150), ainda que assementes sejam reproduzidas pelospróprios agricultores de formatradicional.

As variedades Rosado, Asteca,Roxo, Palha-Roxa e Gurvena vinhamsendo cultivadas pelos mesmosagricultores por um tempo médiosuperior a 10 anos, ou seja, por 42, 35,12, 11 e 11 anos, respectivamente(Tabela 2). Entretanto, variedadescomumente utilizadas pelacomunidade, tais como Sabugo Fino,Pixurum 05, Pixurum 04, BR 106, BRS4150, Mato Grosso e MPA 1, estavamsendo cultivadas havia pouco tempopelo mesmo agricultor. Apesar de avariedade Gurvena estar sendocultivada pela comunidade havia 11anos, ainda não tinha sido relatada emdiagnósticos anteriores, como, porexemplo, o realizado por Alves et al.

(2004).O fator “tempo de cultivo” evidencia

que em Anchieta apenas as variedadeslocais Rosado (42 anos), Asteca (35anos), Palha-Roxa (30 anos) e Roxo (30anos) poderiam ser consideradasvariedades autóctones, segundo aconcepção de Louette et al. (1997) e ade Brush (1999), que consideram queuma variedade é autóctone quando asemente tenha sido plantada na regiãopor, pelo menos, uma geração deagricultores, ou seja, por pelo menos30 anos.

Dentre as variedades amostradas,Gurvena, MPA 13, Roxo, Palha-Roxae Asteca estavam sendo mantidas,principalmente, por razões culturais,ou seja, por gosto, tradição ou beleza.A maioria delas vinha sendo cultivadaem decorrência da redução dos custosde produção, pela adaptação àscondições de manejo e edafoclimáticasou pelas características preferenciais

de uso na alimentação humana ouanimal, como também relatado porPelwing et al. (2008).

A produtividade, a presença degrãos duros e a adaptabilidade foramos principais atributos levados emconta para a escolha das variedades.Entretanto, Jarvis et al. (1998) relatamque existe uma grande diversidade decaracteres que são preferenciais a cadaagricultor e que podem variar segundoo gênero, idade, grupo étnico e socialdos agricultores.

A aptidão de uso foi variável devariedade para variedade e entre asvariedades de mesma denominação,sendo utilizadas para alimentaçãoanimal na forma de grãos, forragem esilagem e, para consumo humano, naforma de canjica, farinha e milho verde(Tabela 1).

Tendo em vista que houvepredominância de cultivo comvariedades com coloração amarela nosgrãos, as diferenças observadas entreas variedades são reveladasprincipalmente pelas diferentesdenominações, em geral, associadas aalguma característica peculiar, como éo caso das variedades Palha-Roxa,Cunha, Branco 8 carreiras e do SabugoFino.

É arriscado associar a diversidadedas variedades locais às suasrespectivas denominações, pois,embora tenham a mesma de-nominação, podem ser muitodiferentes entre si. Esse com-portamento foi observado em trabalhoconduzido por Ogliari et al. (2004) apartir da análise da diversidadeefetuada com base em caracteresmorfológicos de 23 variedades locaisprocedentes de Anchieta, no qual trêsvariedades manejadas por diferentesagricultores e cuja denominação eracomum (Amarelão) foram maisdistintas entre si do que uma delas emrelação à variedade Bico-de-Papagaio,de um quarto agricultor. Carvalho etal. (2004) também detectaram, pormeio de marcadores RAPD, gruposdistintos de Amarelão em variedadesprocedentes de um mesmo município.

Algumas diferenças tambémpodem ocorrer devido à diversidade de

(1) Valor mais frequente.

63Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

sistemas de produção e manejo, tendoem vista que a expressão fenotípica dascaracterísticas pode ser resultado daação dos fatores de manejo natural/humano do agroecossistema, demanejo e seleção da diversidadegenética cultivada e da estrutura dapopulação e métodos de melhoramentoempregados (Jarvis et al., 1998).

Conclusões

Os agricultores de Anchietacultivam uma grande diversidade devariedades locais de milho, porémmuitas dessas são variedades exóticase estão há pouco tempo junto aosagricultores, a exemplo da variedadePixurum 05.

Apenas as variedades locais demilho Rosado, Asteca, Palha-Roxa eRoxo estavam sendo cultivadas haviamais de 30 anos em Anchieta pelomesmo agricultor, podendo serconsideradas autóctones.

Os agricultores de Anchietacultivam uma grande diversidadefenotípica aparente de variedadeslocais de milho, apresentando-se essemunicípio como sítio potencial paraprojetos de conservação “on farm”,estando as variedades dispersas namaioria das comunidades agrícolas domunicípio.

Literatura citada

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64 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Época e intensidade de ocorrência da necrose floral emÉpoca e intensidade de ocorrência da necrose floral emÉpoca e intensidade de ocorrência da necrose floral emÉpoca e intensidade de ocorrência da necrose floral emÉpoca e intensidade de ocorrência da necrose floral emgemas de pereira japonesa cultivar Housui durante ogemas de pereira japonesa cultivar Housui durante ogemas de pereira japonesa cultivar Housui durante ogemas de pereira japonesa cultivar Housui durante ogemas de pereira japonesa cultivar Housui durante o

invernoinvernoinvernoinvernoinverno11111

Anderson Carlos Marafon2, Fernando José Hawerroth3 e Flavio Gilberto Herter4

Resumo – A exploração comercial da cultura da pereira tem pequena expressão no Brasil, sendo o consumo internoprovido por meio de importações. A falta de adaptação edafoclimática das cultivares de interesse comercial e oabortamento floral são os principais problemas para o desenvolvimento dessa cultura. O objetivo deste trabalho foiavaliar a época e a intensidade de ocorrência da necrose floral em gemas de pereira japonesa cultivar Housui (Pyruspyrifolia) durante o inverno. O experimento foi realizado em 2007, utilizando-se plantas pertencentes à coleçãoinstalada na Embrapa Clima Temperado em Pelotas, RS. Foram coletadas gemas em cinco épocas (24/5, 20/6, 19/7,21/8 e 18/9), as quais foram fixadas em solução de formol, ácido acético e álcool (FAA) e dissecadas sob um microscópioestereoscópico. Foram avaliadas as percentagens de gemas sadias e com necrose leve e severa. A maioria das gemasnão apresentou sintomas de necrose até a metade do inverno. A severidade da necrose se intensificou a partir dametade do inverno, atingindo praticamente todas as gemas no final do período de inverno.

Termos para indexação: Pyrus pyrifolia, frio, dormência, abortamento floral.

Occurrence and intensity of floral bud necrosis on Japanese pear cv. Housuiduring the winter period

Abstract – The commercial exploration of the pear culture in Brazil has little expression, being the internalconsumption supplied by imports. The lack of edafoclimatic adaptation of the commercial cultivars of interest andthe flower bud abortion are the main problems for the development of this crop. The aim of this study was toevaluate the occurrence time and the intensity of the flower bud necrosis in pear trees cv. Housui (Pyrus pyrifolia)during the winter period. The experiment was conducted in 2007, using plants belonging to the orchard of EmbrapaClima Temperado, in Pelotas, RS, Brazil. The buds were collected at five different moments (May 24th, June 20th,July 19th, August 21st, and September 18th), fixed in a solution of formalin, acetic acid and alcohol and dissectedunder a stereoscopic microscope. The parameters evaluated were the percentages of healthy buds and buds withmoderate and severe necrosis. At the beginning of the winter the symptoms were not present in practically any buds.The buds were seriously affected in the final period of dormancy, when the symptoms began rising from a negligiblelevel to a sharp peak toward the end of the winter.

Index terms: Pyrus pyrifolia, chilling, dormancy, floral bud abortion.

Aceito para publicação em 15/1/10.1 Parte da tese do primeiro autor apresentada ao Programa de Pós-graduação em Fisiologia Vegetal, Universidade Federal de Pelotas,Pelotas, RS.2 Eng.-agr., Dr., Laboratório de Agrometeorologia, Centro de Pesquisa Agropecuária de Clima Temperado (Embrapa/CPACT), C.P. 403,96001-970 Pelotas, RS, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Programa de Pós-graduação em Agronomia, Concentração em Fruticultura de Clima Temperado, Universidade Federal dePelotas, C.P. 354, 96010-900 Pelotas, RS, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dr., Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, Departamento de Fitotecnia, Universidade Federal de Pelotas, C.P. 354, 96010-900Pelotas, RS, e-mail: [email protected].

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Introdução

O Brasil importa quase atotalidade da pera consumida no País(90%) devido, principalmente, à faltade cultivares adaptadas às nossascondições edafoclimáticas. Ascultivares de pereira utilizadas noBrasil foram selecionadas devido àalta qualidade de frutos, porém estassão originárias de regiões com maiorocorrência de frio durante o períodohibernal, apresentando problemasadaptativos quando cultivadas nascondições sul-brasileiras. As plantastambém apresentam um longoperíodo juvenil, que prejudica odesenvolvimento da cultura, devidoà demora para a entrada emprodução, geralmente de 5 a 6 anosapós o plantio.

O desenvolvimento da cultura dapereira na Região Sul do Brasil temsido limitado devido à irregularidadena produção e à baixa produtividadedos pomares. As condições climáticasde inverno na Região Sul do Brasilsão muito variáveis de ano para ano,com ocorrência de flutuações detemperatura também durante o ano,prejudicando a indução e a superaçãoda dormência. Os principaisproblemas limitantes ao desen-volvimento da cultura são aindefinição de porta-enxertos, a baixataxa de diferenciação floral, o altoíndice de abortamento de gemasflorais (variável de acordo com acultivar, o local e o ano) e a baixa taxade frutificação efetiva (Nakasu et al.,1995; Petri, 2008).

As gemas floríferas das plantasfrutíferas de clima temperado sãoformadas durante o verão eparcialmente diferenciadas durantea estação de crescimento, antes doperíodo de queda das folhas. Asgemas floríferas da pereira podemser formadas terminalmente sobreesporões ou ramos, ou lateralmentesobre ramos. As flores da pereira sãohermafroditas e se desenvolvem nosentido acrópeto, dispostas emrácimo tipo corimbo, formado porcinco a 11 flores e número similar defolhas (Nakasu & Faoro, 2003). Osprimórdios florais encontram-sedispostos em sequência espiral, emdiferentes níveis de desenvolvimentoe o seu tamanho diminui em direção

ao ápice, mesmo que o primórdioterminal atinja o mesmo tamanhodos primórdios basais (Westwood,1993). Durante a dormência nãoocorrem alterações visíveis quanto aotamanho ou à diferenciação dosprimórdios, visto que as gemasatravessam o período de repouso comesses primórdios em estadoembrionário, os quais só sedesenvolvem na estação decrescimento seguinte, uma vezsatisfeito o requerimento em frio e ascondições ambientais sejamfavoráveis à brotação. A fase dodesenvolvimento floral é carac-terizada pelo crescimento dosprimórdios florais e pela maturaçãodas células reprodutivas, culminandocom a antese (Jackson, 2003).

O abortamento se manifestadurante a dormência e se intensificapróximo à fase de floração, quandoocorre o dessecamento dos pri-mórdios das gemas florais. As gemasafetadas apresentam um de-senvolvimento no início do inverno,quando, no período que antecede abrotação, as gemas secam e sedesintegram ao serem tocadas oumesmo pela ação do vento(Montesinos & Vilardell, 1996).

O abortamento de gemas floraisem pereira também tem ocorrido emdiversos países, como Espanha(Montesinos & Vilardell, 1996), Itália(Selli et al., 1985) e Nova Zelândia(Kingston et al., 1990; Klinac &Geddes, 1995). No Brasil, oabortamento vem sendo observadodesde o ano de 1968, nas regiões dePelotas, RS e Videira e Fraiburgo, SC(Herter et al., 1994). O abortamentode gemas ocorre praticamente emtodos os pomares de pereira, commaior ou menor intensidade,dependendo da cultivar, do local e doano. Diversos trabalhos já foramdesenvolvidos no Sul do Brasilprocurando quantificar a intensidadedesse distúrbio e identificar suascausas (Herter et al., 1994; Arruda& Camelato, 1999; Petri et al., 2002).

A satisfação do requerimento emfrio durante o inverno é fundamentalpara garantir o desenvolvimentonormal das gemas floríferas dasplantas frutíferas de climatemperado. O abortamento floral empereira é uma desordem fisiológica

que se manifesta em regiões deinverno pouco rigoroso e estariadiretamente relacionada com ascondições climáticas anuais e com ashoras de frio acumuladas durante afase de endodormência durante oinverno (Herter et al., 1994).

O objetivo deste trabalho foicaracterizar a época e a intensidadeda ocorrência da necrose floral emgemas de pereira japonesa cultivarHousui durante o inverno.

Material e métodos

Este estudo foi desenvolvido noperíodo de inverno do ano de 2007, apartir da coleta de gemas florais depereiras japonesas (Pyrus pyrifolia(Burm) Nak.) cultivar Housui, emplantas com 14 anos de idade,pertencentes à coleção instalada naEstação Experimental da Cascata, daEmbrapa Clima Temperado dePelotas, RS. Segundo a classificaçãoclimática de Köppen, a região dePelotas apresenta clima tipo ‘Cfa’,subtropical úmido, com médiasanuais de 1.582mm de precipitaçãopluviométrica, 18,4°C detemperatura, 78% de umidaderelativa e acúmulo de 550 horas defrio (HF < 7,2ºC) durante o inverno.O delineamento experimentalutilizado foi inteiramente ca-sualizado, com cinco repetições, emesquema fatorial (5 x 3), com cinconíveis do fator época de coleta (24/5,20/6, 19/7, 21/8 e 18/9) e três níveisdo fator tipo de gema (esporão,terminal ou axilar). Cada repetiçãofoi composta por uma amostra de 15gemas.

As gemas florais foram coletadase imediatamente armazenadas emfrascos contendo solução de FAA(10% de formaldeído a 40%, 5% deácido acético glacial e 85% de álcooletílico a 70%) para posteriormenteser avaliadas sob microscópioestereoscópico (Zeiss Stemi SV11). Adissecação das gemas envolveu aretirada de escamas, brácteas eprimórdios foliares com auxílio depinças para observação dosprimórdios florais. Foram contados onúmero total de primórdios e onúmero de primórdios com necrosepara determinar a percentagem degemas sadias, com necrose leve

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(menos de 50% dos primórdios floraisafetados) e com necrose severa (maisde 50% dos primórdios floraisafetados).

Resultados e discussão

Ocorreu diferença significativaentre épocas quanto ao grau deseveridade da necrose. Enquanto nastrês primeiras coletas (24/05, 20/06e 19/07) houve predomínio de gemassadias, na quarta época (21/08)predominaram as gemas com necroseleve e na última época (18/09), asgemas com necrose severa (Tabela 1).

Na Figura 1 são apresentados osdados médios diários para astemperaturas mínimas e máximasocorridas durante a execução do ex-perimento em 2007, quando foram a-cumuladas 578 horas de frio (<7,2°C).

Nas três primeiras coletas nãoforam verificados sintomas denecrose nos primórdios da maioriadas gemas, com índices de necroseinferiores a 5%. Entretanto, nas duasúltimas coletas, as gemas passarama manifestar sintomas de necrose, osquais se intensificaram grada-tivamente e atingiram níveis críticosmuito elevados no final do período dedormência. Embora os primeirossintomas de necrose tenham sidoverificados já na segunda coleta (20/6), eles (necrose dos primórdios)

somente se intensificaram a partir daquarta coleta (21/8), no períodopróximo à floração, associados com oaumento gradativo da temperaturano final do inverno. Enquanto naquarta coleta (21/8) 30% das gemasapresentavam sintomas de necroseleve e 15% de necrose severa, naúltima (18/9) a necrose atingiu maisde 95% dos primórdios florais, 80%dos quais com sintoma severo (Figura2).

Marodin et al. (2008) constataramque a necrose dos primórdios floraisem gemas de pereira cultivar

Packham’s Triumph se manifesta jáno final do outono, mas somente seintensifica no final do invernodurante a fase de desenvolvimentodas anteras e do pistilo. Armas-Reyeset al. (2006) afirmaram que as altastaxas de abortamento floral emdamasqueiro foram ocasionadaspelas altas temperaturas durante oinverno, que interferiram nodesenvolvimento das anteras e dopistilo, resultando no desevolvimentoirregular das gemas no período depré-antese, com flores contendoovários pequenos, pistilos defor-mados ou sésseis.

A falta de frio, associada com aocorrência de flutuações térmicasdurante o inverno, se constitui naprincipal causa do abortamento degemas florais em pereira devido aoefeito negativo das altastemperaturas na satisfação dorequerimento em frio e na atividademetabólica dos tecidos das gemas(Herter et al., 1994; Klinac & Geddes,1995; Rakngan et al., 1996; Do Oh &Klinac, 2003).

Petri et al. (2002) afirmaram queo problema é menor nas regiões maisfrias do que nas regiões menos frias.Estes autores avaliaram oabortamento de gemas florais nascultivares Housui, Kousui e Nijisseikicultivadas em dois locais comdiferentes condições climáticas,situados no planalto catarinense:Caçador (550 HF) com altitude médiade 1.000m e São Joaquim (750 HF)

Fonte de variação Quadrado médio

PGSN(1) PGNL(1) PGNS(1)

Época (E) 3,447(**) 0,400(**) 2,483(**)

Tipo de gema (G) 0,117(*) 0,15(*) 0,001ns

E x G 0,057ns 0,052ns 0,002ns

Resíduo 0,032 0,033 0,039

CV (%) 16,36 84,66 63,66

Média 69,78 10,67 19,56

Tabela 1. Resumo da análise de variância para a variável percentagem degemas sem necrose (GSN), gemas com necrose leve (GNL) e com necrosesevera (GNS). Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, 2007

(1) Dados transformados pela equação arc.sen (x/100)1/2.ns = não significativo pelo teste F a 5% de probabilidade de erro.(**), (*) significativo pelo teste F a 1% e a 5% de probabilidade de erro, respectivamente.Nota: CV = coeficiente de variação.

Figura 1. Temperaturas mínimas e máximas diárias (°C) durante o invernode 2007. Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, 2007

67Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

com altitude média de 1.300m. Elesverificaram que na região de menoraltitude houve maior percentagem degemas abortadas em relação à regiãomais alta.

A ocorrência de flutuaçõestérmicas no período hibernalinfluencia diretamente a atividaderespiratória das gemas, aumentandoo consumo local de carboidratos e aseveridade de necrose dos primórdiosflorais. A falta de frio aumenta aexpressão do abortamento,ocasionando atraso na brotação dasgemas laterais, maior dominânciaapical, forte crescimento de ramosterminais, baixa emissão de ramos eesporões laterais, floraçãodesuniforme, menor enfolhamento eredução das reservas e, con-sequentemente, menor produ-tividade (Hauagge & Cummins,2000).

Dentre os diferentes tipos degemas, as dos esporões foram as maisafetadas pela necrose leve em relaçãoàs demais. Isso pode ser explicadopelo fato de que, nestas gemas, oprocesso de diferenciação ocorreantes do que nas gemas terminais eaxilares dos ramos, que sedesenvolvem mais tardiamente(Figura 3). A falta de frio hibernalassociada com a ocorrência deflutuação térmica induziria ocrescimento contínuo dos primórdios,que estariam exercendo uma forçamecânica que afastaria as brácteas,expondo os primórdios aos danosocasionados pelo frio ou àdesidratação causada pelas altastemperaturas (Faoro, 2004).

A intensidade da necrose floralpode estar sendo influenciada pelafalta de frio hibernal, pois a altapercentagem de gemas sadias noinício do inverno indica que os fatoresenvolvidos com o abortamentoestariam relacionados com ascondições térmicas durante o períodode repouso. Nossos resultadosconcordam com a abordagem deFaoro (2001) e Petri et al. (2002), quetambém afirmam que o problema émaior nos anos e nas regiões commenor acúmulo de frio. Além disso,Honjo et al. (2002) tambémverificaram a existência de umacorrelação inversa entre o acúmulode frio hibernal e a taxa de

Figura 2. Época e intensidade de ocorrência de necrose floral em gemas depereiras cultivar Housui durante o inverno. Embrapa Clima Temperado,Pelotas, RS, 2007

abortamento floral em pereirajaponesa.

No início do inverno a maior partedas gemas não apresentava sintomasde necrose (Figuras 4 A, B, C e D).Somente a partir da metade doinverno as gemas manifestaramsintomas de necrose leve (Figura 4E, F, G e H), que se intensificaram apartir do mês de julho. Aintensificação da necrose dosprimórdios florais ocorre no final doperíodo hibernal, associada aoaumento progressivo da temperaturano início da primavera, havendo umcolapso no crescimento das gemas,possivelmente devido ao esgotamento

das reservas de carboidratos, queconduz à desidratação e à necrosesevera dos primórdios florais dasgemas (Figura 4 I, J, K e L).

A satisfação do requerimento emfrio antecipa a floração das gemas eaumenta o número de flores abertas.A formação de um grande número degemas florais nas cultivares depereira japonesa aumenta acompetição por nutrientes eassimilados. A insuficiência de friohibernal seria uma das principaiscausas do abortamento floral em

pereira japonesa, principalmentedevido ao efeito negativo das altastemperaturas sobre a dormência. Oabortamento mostrou relação com aquantidade de frio, já que ramossubmetidos ao frio no período dedormência obtiveram reduzidapercentagem de abortamento (Petriet al., 2002).

No presente estudo foi possívelidentificar um grande número degemas com duplicação deinflorescências (Figuras 4 C e D),contendo um elevado número deprimórdios florais por gema. Essaduplicação pode ter aumentado acompetição por nutrientes dentro da

gema ou entre as gemas florais,conduzindo a um desequilíbrionutricional que provocaria amanifestação dos sintomas denecrose dos primórdios. A duplicaçãode inflorescências tem início aindadurante o verão, durante a fase dediferenciação floral. Assim, o maiornúmero de primórdios florais podeter aumentado a competição pornutrientes e assimilados e aincidência do abortamento floral.

Nota: médias seguidas de mesma letra maiúscula de um mesmo nível de necrosenão diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidadede erro.

68 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Conclusões

Até a metade do período deinverno a maioria das gemas nãoapresenta sintomas de necrose dosprimórdios florais; entretanto, apartir desse período, a necrose dosprimórdios se torna gradativamentemais intensa, até atingirpraticamente a totalidade das gemasno final do período hibernal.

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Figura 3. Percentagem média de gemas sadias e com necrose leve e severaem pereiras ‘Housui’ durante o inverno. Embrapa Clima Temperado,Pelotas, RS, 2007

Figura 4. Primórdios florais de gemas de pereira japonesa (Pyrus pyrifolia)cultivar Housui sadios (A, B, C e D), com necrose leve (E, F, G e H) e comnecrose severa I, J, K e L) durante o período hibernal. Embrapa ClimaTemperado, Pelotas, RS, 2007

Nota: Médias seguidas de mesma letra maiúscula de um mesmo nível denecrose não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% deprobabilidade de erro.

69Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

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70 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Introdução

O gado crioulo do Brasil (Bostaurus taurus) foi introduzido logoapós o descobrimento e sua exposiçãoao processo de seleção naturaldurante várias gerações fez com queos animais se adaptassem às

PPPPPuberdade em novilhas da raça Crioula Lageanauberdade em novilhas da raça Crioula Lageanauberdade em novilhas da raça Crioula Lageanauberdade em novilhas da raça Crioula Lageanauberdade em novilhas da raça Crioula LageanaKaryna Giacomini1, Vera Maria Villamil Martins2, Edison Martins3, Cristina Perito Cardoso4,

Suenon Rosa Lisboa2 e Guenter Kluge2

Resumo – Foi avaliada a idade à puberdade de novilhas da Raça Crioula Lageana submetidas a dois sistemas dealimentação após o desmame na região do planalto catarinense. O estudo foi composto por: Tratamento I, em queforam avaliadas nove novilhas mantidas em pastagens cultivadas durante o período de inverno, e Tratamento II, noqual nove novilhas permaneceram durante todo o período em pastagem natural, tendo ambos os tratamentos recebidosuplementação mineral. Observações diárias de comportamento de estro foram realizadas. Todas as novilhas foramsubmetidas a palpação transretal, exame ultrassonográfico, colheitas de amostras sanguíneas semanais e pesagensmensais. A puberdade foi caracterizada pelo primeiro estro ovulado, acompanhado ou não de sinais externos,confirmado pela formação de corpo lúteo e concentrações plasmáticas de progesterona acima de 1ng/ml, em duascolheitas consecutivas. A alimentação com pastagem cultivada de inverno antecipou a puberdade. Os resultadospermitem concluir que novilhas da raça Crioula Lageana com 15 meses de idade e aproximadamente 300kg de pesovivo estão aptas à reprodução.

Termos para indexação: Reprodução, bovinos, progesterona.

Puberty in Crioula Lageana breed heifers

Abstract – Age of puberty was evaluated in heifers (Crioula Lageana Breed) submitted to two post-weaning feedingsystems, in the Santa Catarina Plateaus, Brazil. This study was composed of: Treatment I, in which nine animalswere maintained in cultivated pasture during the winter, and Treatment II, in which nine animals were maintainedin natural pastures during the whole period of the experiment. In both treatments, animals received mineralsupplementation. Daily observations of estrus behavior were made. All animals were submitted to rectal palpationand ultrasound exam; blood samples were taken weekly and all the animals were weighed monthly. Puberty wascharacterized by the first estrus, with or without oestrus behavior, confirmed by the formation of the corpus luteumand plasmatic concentrations of progesterone by radioimmunoassay (RIA) over 1ng/ml, in two consecutive samples.Using cultivated pastures for Crioula Lageana heifers after weaning, in the winter, advanced their age of puberty.The results showed that 15-month-old animals weighing approximately 300kg are ready for reproduction.

Index terms: Reproduction, bovine, progesterone.

Aceito para publicação em 15/1/10.1 Méd.-vet., M.Sc. Prefeitura Municipal de Pouso Redondo.2 Méd.-vet., D.Sc., CAV / Udesc, Av. Luiz de Camões, 2090, 88520-100 Lages, SC, e-mail: [email protected] Méd.-vet., D.Sc., Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Crioula Lageana (ABCCL), Lages, SC. Rua Correia Pinto, 22-sobreloja, e-mail: [email protected] Méd.-vet., M.Sc., FMVZ/Unesp, Botucatu, SP, Rua Cirilo Vieira Ramos, 300, 88503-200 Lages, SC, fone: (49) 9965-8657, e-mail:[email protected].

adversidades ambientais. Por longotempo, os bovinos crioulos foram asustentação da bovinocultura naregião do Planalto Serrano Cata-rinense.

No sistema de criação con-vencional da região os bovinos sãomantidos em campos naturais

durante o ano inteiro, sendosubmetidos à escassez alimentardurante o inverno. Porém, acapacidade de adaptação dos animaispermitiu que mantivessem odesempenho produtivo e reprodutivomesmo tendo que passar por esseestresse ao longo dos anos, como

71Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

também o desenvolvimento daresistência às enfermidades e alongevidade (Spritze et al., 2003).

As novilhas da raça CrioulaLageana empiricamente sãoconhecidas por apresentar ma-turidade sexual tardia, sendocolocadas em reprodução somente apartir dos 3 anos de idade. SegundoMarson et al. (2004), o início dapuberdade é um evento reprodutivoimportante e representa umparâmetro confiável para avaliar afertilidade das fêmeas, pois temrelação com a eficiência reprodutivado rebanho e, consequentemente,com o retorno financeiro nos sistemasde produção. Na literatura há muitosrelatos que tratam da idade do inícioda puberdade em fêmeas taurinas ezebuínas, porém ainda não existeminformações específicas com relaçãoà raça Crioula Lageana.

Considerando que os bovinos daraça Crioula Lageana fazem parte dalista mundial de animais em risco deextinção, editada pela Scherf (1995)e a importância da conservação depopulações de raças naturalizadas,faz-se necessário o conhecimento deparâmetros reprodutivos que possamser utilizados como instrumentospara aumentar a produtividade nosNúcleos de Preservação in situexistentes no Planalto SerranoCatarinense.

Uma vez que o início dapuberdade pode ser influenciadopelos diferentes sistemas deprodução, este estudo teve porobjetivo avaliar as diferenças deidade do início da puberdade denovilhas Crioulas Lageanas criadasno sistema de criação convencional emantidas em pastagens cultivadasdurante o inverno.

Material e métodos

O experimento foi conduzidodurante 18 meses em um Núcleo dePreservação in situ de bovinos daraça Crioula Lageana, situado nomunicípio de Ponte Alta, no PlanaltoSerrano Catarinense. Foramagrupadas aleatoriamente 18novilhas com idade média de 12meses. Os animais foram distribuídosao acaso em dois grupos de novenovilhas (Tratamentos I e II). No

início do experimento as novilhas doT I apresentaram em média 148,2kgde peso vivo e escore de condiçãocorporal de 2,50. Os animais do T IIpesaram 177,89kg de peso vivo eescore de condição corporal de 2,25.

Os animais do T I permaneceram,durante o inverno, em pastagemanual de inverno formada por trevo,azevém, aveia e centeio, comsuplementação mineral. No verão osanimais foram colocados em camponatural com suplementação mineral.Os animais do T II foram mantidos,durante todo o período experimental,em campo natural (tipo palha grossa)com predominância de capim-caninha (Andropogon lateralis)

(Cordova et al., 2004) e também comsuplementação mineral.

A cada 28 dias se realizou ocontrole parasitológico e os animaisque apresentaram contagem superioraos 400 OPG (ovos por grama defezes) foram tratados com sulfato delevamizole na dose de 6,2mg/kg depeso vivo. Nesse mesmo intervalo detempo os animais foram pesados paraverificação do ganho de peso médiodiário e determinou-se o escore dacondição corporal por avaliaçãovisual associada à palpação dascostelas, do dorso, do lombo einserção da cauda, mediante escalade 1 a 5, segundo os critériosutilizados por Beretta et al. (1996),em que o valor 1 foi atribuído a um

Figura 1. Exemplares de novilhas da raça Crioula Lageana de pelagemafricana vermelha, com idades de (A) 12 e (B) 18 meses

(A)

(B)

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animal muito magro e o valor 5correspondeu a um animal obeso.

Para a determinação dapuberdade, as novilhas (Figura 1)foram observadas diariamente, pelamanhã e ao anoitecer, quanto aocomportamento de estro. A cada 7dias foi realizada a avaliaçãoginecológica mediante palpaçãotransretal para verificar odesenvolvimento ovariano, presençade folículos e corpos lúteos,acompanhada por ultrassonografiacom aparelho da marca Aloka SSD--500 e transdutor de 5MHz.

O acompanhamento da dinâmicade progesterona sérica (P4) foirealizado semanalmente, emamostras sanguíneas de 10mlcolhidas por venipuntura da jugular,na fase pré-puberal e durante os doisciclos estrais consecutivos. Asamostras de sangue foramcentrifugadas a 1.612 x g por 15minutos, separando-se o sorosanguíneo que, após o acon-dicionamento em eppendorfs, foiestocado a –200C para posteriordeterminação das concentraçõesséricas de P4 pelo método deradioimunoensaio (RIA). Apuberdade foi caracterizada peloprimeiro estro ovulado, acom-panhado ou não de sinais externos decomportamento de estro, confirmadapela formação de corpo lúteo econcentrações séricas de pro-gesterona acima de 1ng/ml, em duascolheitas consecutivas.

A idade e o peso do início dapuberdade (medidos em meses e emquilogramas, respectivamente) foramavaliados estatisticamente poranálise de variância e as médiasobtidas entre os tratamentos foramcomparadas entre si pelo teste t deStudent, ao nível de significânciaP < 0,05 (Snedecor & Cochran, 1994).

Resultados e discussão

Os dados da idade de início dapuberdade entre os gruposexperimentais encontram-se naTabela 1, onde se verifica que asnovilhas do T I atingiram apuberdade com idade signifi-cativamente menor do que aquelas doT II (Figura 2). Observa-se que osanimais mantidos em pastagens

Tratamento Idade à puberdade (meses)

I 15,31a ± 1,19

II 23,44b ± 4,39

Tabela 1. Idade à puberdade (meses) de novilhas da raça Crioula Lageanamantidas em pastagens cultivadas (T I) e em campo natural (T II)

Nota: Médias seguidas de letras diferentes na coluna diferem entre si pelo teste t deStudent (P < 0,01).

Figura 2. Idade à puberdade (meses) de novilhas da raça Crioula Lageanamantidas em pastagens cultivadas (T I) e em campos naturais (T II)

cultivadas durante o invernopoderiam ter seu tempo de vidaprodutiva aumentado, uma vez quea diferença entre T I e T II foi deaproximadamente 9 meses.

As médias de peso vivo no inícioda puberdade podem ser observadasna Tabela 2, e não houve diferençaentre os tratamentos (P > 0,05). Oescore da condição corporal dasnovilhas mantidas em campo naturalfoi inferior ao daquelas mantidas empastagens cultivadas de inverno(Tabela 3). Os sinais compor-tamentais de estro incluindoinquietação, edema e hiperemiavulvar com presença de muco hialinoe o ato de montar e aceitar a montaforam observados nas novilhas emestudo de ambos os tratamentos porocasião da puberdade, com exceçãode uma novilha que foi descartada do

experimento por não apresentardesenvolvimento folicular durantetodo o período de estudo.

Durante a palpação transretal noperíodo peripuberal foi percebida apresença de folículos ovarianos emdesenvolvimento, com ováriosmedindo entre 1 e 4cm, com apresença de corpos lúteos etonicidade dos cornos uterinos, o quereflete a característica dinâmica dasestruturas ovarianas responsáveispelas funções gametogênica eesteroidogênica da gônada.

Pelo exame ultrassonográficoforam observados, ao longo doexperimento, folículos ovarianosidentificados como estruturas nãoecogênicas de tamanhos variáveis,com clara linha de limitação entre aparede do folículo e o antro. Os corposlúteos apresentavam aparência

73Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Tratamento Peso à puberdade (kg)

I 297,48a ± 29,53

II 308,53a ± 28,91

Tabela 2. Peso à puberdade (meses) de novilhas da raça Crioula Lageanamantidas em pastagens cultivadas (T I) e em campo natural (T II)

Nota: Médias seguidas de letras iguais na coluna não diferem entre si pelo teste t deStudent (P < 0,05).

Tratamento ECC

I 3.9a ± 0.25

II 2.9b ± 0.3

Tabela 3. Escore de condição corporal (ECC) de novilhas da raça CrioulaLageana mantidas em pastagens cultivadas (T I) e em campo natural (T II)

Nota: Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna diferem entre si pelo testet de Student (P < 0,01).

menos ecogênica do que o estromaovariano, com presença de umalacuna preenchida de fluido, nãoecogênica, localizada no centro daestrutura (Figura 3). O tipopredominante de corpo lúteo foi oprotruso, o que facilitou suaidentificação pela palpaçãotransretal. As concentrações séricasde P4 detectadas por RIA estiveramacima de 1ng/ml nas novilhas compresença de corpo lúteo.

Quanto à influência da nutriçãosobre a puberdade, neste estudo deveser considerado que a principal fontede alimentação para a pecuária naregião do Planalto SerranoCatarinense é o campo natural, queapresenta deficiência anual naprodução de forragem durante aestação fria. Em consequência disso,observou-se início tardio dapuberdade nas novilhas doTratamento II (23,44 ± 4,39 meses).Esse atraso do início da puberdade,embora muitas vezes não sejapercebido, determina prejuízoseconômicos nos Núcleos dePreservação in situ da raça CrioulaLageana nos estabelecimentospecuários da região. Além das perdaseconômicas, a puberdade tardiaredunda em um tempo maior para arecuperação do número de animais

no rebanho, que se encontraameaçado de extinção.

Segundo Cachapuz (1995), aelevada idade de acasalamentoimplica baixo índice de repetição decrias e altas taxas de mortalidade debezerros. Para prevenir essestranstornos e as perdas econômicas,a utilização de pastagens cultivadasde estação fria é uma excelentealternativa para amenizar o vazioforrageiro que ocorre nas estações deoutono e inverno no Planalto Serrano

Figura 3. Ovário de novilha da raça Crioula Lageana apresentandofolículos (seta grossa) e corpo lúteo protruso (seta fina)

Catarinense. As pastagens maisutilizadas para pastejo, segundoRestle et al. (1999; 2000), são a aveiae o azevém, que apresentam elevadopotencial tanto na produção deforragem quanto na produçãoanimal. Neste estudo, a pastagemformada pelo consórcio de trevo,aveia, azevém e centeio foi eficienteem antecipar a idade à puberdade.

O baixo desenvolvimentoapresentado pelas novilhas do T IIprovavelmente ocorreu comoconsequência da escassez deforragens durante o inverno, uma vezque houve perda de peso nessaestação, o que também foi observadopor Moojen & Maraschin (1988) aorelatarem valores semelhantes deperda de peso de bovinos mantidosem pastagem nativa durante ooutono e o inverno.

Gasser et al. (2006) demons-traram que em novilhas de cortedesmamadas entre os 3 e os 4 mesesde idade e alimentadas com elevadoteor de concentrado é possível induzira puberdade precoce antes dos 300dias de idade, com manutenção daatividade ovariana cíclica dessesanimais.

Em um estudo relativo aos efeitosda alimentação sobre a idade àpuberdade, em bovinos de corte purose mestiços, Wiltbank et al. (1966)concluíram que o peso é apenas umdos fatores limitantes à puberdade,uma vez que em animais submetidosa alimentação deficiente, pequenas

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diferenças no ganho de peso tiveramefeito importante sobre o início dapuberdade, enquanto com ali-mentação adequada essas diferençasnão influenciaram na manifestaçãoda puberdade.

Segundo Gregory et al. (1991),para manifestar a puberdade énecessário que a fêmea atinja umdeterminado grau de desen-volvimento e a idade à puberdade éconsequência da velocidade de ganhode peso, que, por sua vez, estácondicionada ao meio ambiente.Schillo et al. (1992) descreveram quea puberdade inicia quando asnovilhas atingem entre 40% e 50% doseu peso corporal adulto, ao passoque Spire (1997) observou o início dapuberdade em novilhas que pesavamentre 60% e 65% do seu peso corporaladulto, o que também foi verificadoneste estudo, considerando que asfêmeas adultas da raça CrioulaLageana pesam aproximadamente500kg.

Um parâmetro importante queexerce influência direta sobre a épocada puberdade em novilhas de corte éo crescimento pré-desmame quandocomparado àquele pós-desmame(Petterson et al., 1992). Embora essasituação não tenha sido avaliadaneste estudo, verificou-se que aalimentação pós-desmame contribuiupara a antecipação da idade e ganhode peso à puberdade em novilhasCrioulas Lageanas. As observaçõesde Petterson et al. (1992) sugerem aavaliação dessas condições na raçaem estudo. Segundo Beretta et al.(1996), se após a desmama ascondições ambientais foremadversas, um manejo nutricionaldiferenciado, privilegiando asnovilhas em piores condições poderáser estratégico quando o objetivo éatingir o peso ideal à puberdade.Essas observações também foramevidenciadas no presente estudo,quando as novilhas do T I, que noinício do experimento apresentaramuma diferença de peso corporalmédio de aproximadamente 30kg amenos do que aquelas do T II, foramintroduzidas na pastagem de invernoe atingiram o peso adequado para oinício da puberdade maisprecocemente do que os animaismantidos em campo natural. Os

ganhos de peso subsequentes àpuberdade deverão ser mantidos,uma vez que se torna necessáriogarantir que as novilhas púberescontinuem a ter seus ciclosnormalmente (Bagley, 1993).

Quando as exigências nutricionaispós-desmama são atendidas, amaioria das novilhas reduz a idade àpuberdade e ao primeiro serviço(Lobato, 1999), o que, segundo Restleet al. (1999), é imprescindível emregime de produção extensiva. Naexperiência desses autores, para queo primeiro período reprodutivo ocorraentre os 12 e 15 meses de idade, asnovilhas devem estar com pesoadequado e tendo seus ciclos a cada20 ou 21 dias, situação similar àquelaobservada nas novilhas CrioulasLageanas alimentadas durante oinverno em pastagem cultivada.

O escore de condição corporalpara a puberdade apresentoudiferença significativa entre os doistratamentos (P < 0,01), e as novilhasque atingiram a puberdade mais cedoe com menos peso quandocomparadas àquelas mais tardiasapresentaram melhor condiçãocorporal (Tabela 3). A condição eescore corporal entre 3 e 4 (escala de1 a 5) é considerada desejável paranovilhas em reposição, no períodocompreendido entre os 3 meses deidade e o acasalamento (Noller,1997).

Durante o inverno, o deficit noganho de peso foi acompanhado pelaperda da condição corporal dosanimais alimentados em camponatural, provavelmente pelo balançoenergético negativo. Segundo Marsonet al. (2001), o desequilíbrio entre aingestão de nutrientes e o gasto deenergia para as funções fisiológicasvem acompanhado pela perda depeso e condição corporal. Bartle et al.(1984), durante a condução deexperimentos com alimentação deinverno, observaram que a condiçãocorporal decresce proporcionalmentemais do que o peso vivo, com maiorperda de energia em relação ao peso,o que pode, neste estudo, tercomprometido o início da puberdadenas novilhas.

Quanto à detecção do estroressalta-se que, neste trabalho, aobservação cuidadosa das ca-

racterísticas do comportamentoreprodutivo foi um instrumentovalioso no auxílio à detecção doprimeiro estro. Marson et al. (2004)descreveram que na prática sãopoucos os sistemas de produção quesubmetem as novilhas a observaçãopara a detecção do primeiro estro eque as fêmeas começam a serobservadas somente a partir do inícioda estação reprodutiva e, nestemomento, muitas delas podem já tertido algum ciclo.

A avaliação ultrassonográfica foirealizada para verificar a dinâmicaovariana, uma vez que a palpaçãotransretal pode apresentar umamargem relativamente elevada deerro, especialmente quando hácorpos lúteos internalizados ou semprojeção à superfície do ovário(Ribadu et al., 1994; Viana et al.,1999). Segundo Rodrigues et al.(2002), a idade apresentada pelafêmea no dia em que um corpo lúteofoi primeiramente detectado porultrassonografia transretal e suafuncionalidade confirmada pelasconcentrações séricas de P4 acima de1ng/ml, com intervalo de 3 a 4 dias,caracteriza a puberdade.

Segundo Pinho et al. (1997), aselevações transitórias de P4anteriores ao estro podem estarpresentes e aparentemente sãonecessárias para a competência dafunção luteal após a primeiraovulação. Neste estudo, os valores deP4 oscilaram entre 0,5 e 0,8ng/ml nasnovilhas pré-púberes e entre 2 e18ng/ml nas púberes. Esses valoresdiferiram daqueles citados naliteratura, em que as concentraçõesséricas de progesterona durante odiestro de ciclos estrais normaisvariaram entre 1 e 16ng/ml (DíazGonzáles, 1991; Badinga et al., 1994),podendo estar relacionados com araça em estudo.

Considerando que Spire (1997),ao trabalhar com novilhas entre aépoca da desmama e o períodoreprodutivo, observou que o início dapuberdade ocorreu quando osanimais pesavam entre 60% e 65%do seu peso corporal adulto, os dadosobtidos neste estudo demonstram queas novilhas da raça Crioula Lageanaapresentam comportamento similarquanto ao início da puberdade.

75Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Conclusão

Nas condições em que foirealizado o experimento, osresultados permitem concluir que ouso de pastagem cultivada de invernoapós a desmama antecipa a idade àpuberdade em novilhas da raçaCrioula Lageana.

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Análise da variação somaclonal em mudasAnálise da variação somaclonal em mudasAnálise da variação somaclonal em mudasAnálise da variação somaclonal em mudasAnálise da variação somaclonal em mudasmicropropagadas de micropropagadas de micropropagadas de micropropagadas de micropropagadas de Musa acuminataMusa acuminataMusa acuminataMusa acuminataMusa acuminata cultivar Grande cultivar Grande cultivar Grande cultivar Grande cultivar Grande

Naine por meio de marcadores RAPDNaine por meio de marcadores RAPDNaine por meio de marcadores RAPDNaine por meio de marcadores RAPDNaine por meio de marcadores RAPDGilmar Roberto Zaffari1, Gilberto Barbante Kerbauy2

Resumo – Plantas de banana foram regeneradas através da cultura de tecidos a partir de gemas apicais de bananeiraCavendish, cultivar Grande Naine, e mantidas por dez subcultivos em diferentes meios de cultura. O DNA genômicofoi extraído a partir de rizomas das plantas matrizes originais, das plantas mutantes anãs e variegadas oriundas docultivo in vitro e das plantas provindas de cinco e dez subcultivos. A análise, Random Amplified Polymorphic DNA(RAPD) foi realizada utilizando-se 20 “primers” (iniciadores – sequência conhecida de nucleotídeos3), dois dos quais(10%) revelaram polimorfismo entre as plantas anãs e variegadas em relação às plantas normais. Com a utilizaçãodo “primer” OPJ-04, foram amplificados, nas plantas normais, dois fragmentos de aproximadamente 1,5 e 2,0kb(quilobase, mil pares de bases) os quais estavam ausentes nas plantas anãs. Já o “primer” OPH-09 apresentou aamplificação de uma banda de aproximadamente 1,7kb presente tanto nas plantas anãs quanto nas variegadas, masausente nas plantas normais. Neste estudo, mostrou-se que através do uso de marcador molecular RAPD é possíveldetectar variação somaclonal surgida durante o processo de micropropagação nos mutantes.

Termos para indexação: banana, cultura de tecidos, mutação, marcador molecular.

Somaclonal variation analysis in micropropagated plants of Musa acuminatacultivar Grande Naine using RAPD marker

Abstract – Banana plants were regenerated using tissue culture of top buds from Cavendish plants, cultivar GrandeNaine, maintained under ten successive cultivations in different culture media. The genomic DNA was extractedfrom the original matrix plant rhizoms, also from the dwarf mutant ones, variegated plants and from the plantsoriginated from the five and ten successive in vitro cultivations. The Random Amplified Polymorphic DNA (RAPD)analysis was carried out using 20 primers, having two of them (10%) shown polymorphism among the dwarf andvariegated plants in relation to the normal plants. The OPJ-04 primer has amplified two fragments of approximately1.5 and 2.0kb present in the normal plants, but absent in the dwarf ones. The OPH-09 primer, however, presentedan amplification of approximately 1.7kb fragment, present in both dwarf and in the variegated plants, but absent inthe normal ones. This study shows that using the RAPD molecular marker makes it is possible to detect inducedsomaclonal variation through micropropagation in banana plants.

Index terms: banana plants, tissue culture, mutation, molecular marker.

Aceito para publicação em 25/5/09.1 Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5244, e-mail:[email protected] Biólogo, Dr., USP/Instituto de Biociências, C.P. 11.461, 05422-970 São Paulo, SP, e-mail: [email protected] Nucleotídeos são os pares de bases (adenina, citosina, guanina e timina) que formam os genes.

Introdução

A cultura da bananeira ocupacerca de 9 milhões de hectares emmais de 120 países e destaca-se porser a fruta mais consumida no mundo(FAO, 2006). As principais cultivaresde bananeira de importância

econômica pertencem ao gêneroMusa, espécie acuminata ou híbridosentre acuminata e balbisiana.

A propagação vegetativa dabananeira é a forma utilizada para aobtenção de mudas geneticamenteidênticas à planta matriz, pre-servando-se as características da

cultivar. Atualmente, a produção demudas de bananeira é realizada emlaboratórios de cultura de tecidos deplantas. Entretanto, a micro-propagação de bananeira, a partir deápices meristemáticos e gemasisoladas, tem resultado em níveisrelativamente elevados de variação

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somaclonal, com frequênciasvariando de 3% a 25% (Hwang & Ko,1987). Os principais tipos dealterações genéticas observadas nosubgrupo Cavendish têm sido aocorrência de alterações na altura daplanta e na morfologia foliar. Onanismo representa cerca de 75% dosmutantes, enquanto 24% destesapresentam alterações nas folhas,sendo a variegação a forma maiscomum (Reuveni, 1990).

A detecção precoce das variaçõesgenéticas durante o cultivo in vitrotem sido efetuada pela análise visual(Israeli et al., 1991), pela aplicaçãode ácido giberélico (Reuveni, 1990) epor meio da análise do conteúdo deproteína total (Reuveni et al., 1986).Alguns métodos têm sido utilizadospara a detecção da variaçãosomaclonal em plantas através deanálise do DNA por marcadoresmoleculares. Dentre os marcadoresmoleculares, a detecção por RandomAmplified Polymorphic DNA (RAPD)tem sido usada por se tratar de ummétodo simples, rápido e menosdispendioso (Heinze & Schmidt,1995; Ngezahayo et al., 2006; Arrudaet al., 2006), porém não é tãoconfiável devido à baixareprodutibilidade dos resultados(Borém & Caixeta, 2006).

O estudo teve como objetivoverificar a possibilidade de uso demarcadores RAPD na detecção dediferenças moleculares em plantasmatrizes de bananeira, plantas invitro normais, após um períodoprolongado de cultura, e em plantasanãs e variegadas obtidas pelamicropropagação.

Material e métodos

A micropropagação de bananeirado subgrupo Cavendish (AAA),cultivar Grande Naine, foiestabelecida a partir de gemasapicais isoladas de plantas matrizesobtidas do banco de germoplasma debananeira da Epagri/EstaçãoExperimental de Itajaí, de março de1996 a fevereiro de 1997. Osexplantes foram mantidos durantedez subcultivos (465 dias) em meioMurashige & Skoog (1962) (MS),adicionado de benzilaminopurina(BAP), thidiazuron (TDZ) e ácido tri-

-iodado benzoico (TIBA). As amostrasutilizadas para extração de DNAforam constituídas pelos seguintesmateriais: (1) rizomas provenientesdo campo (planta matriz); (2) rizomascom 240 dias in vitro (5 subcultivos)em meio MS; (3) rizomas com 240dias in vitro em meio MS + 2,5mg/LBAP; (4) rizomas com 240 dias invitro em meio MS + 7,5mg/L BAP; (5)rizomas com 240 dias in vitro emmeio MS + 0,1mg/L TDZ; (6) rizomascom 465 dias in vitro (10 subcultivos)em meio MS; (7) rizomas com 465dias in vitro em meio MS + 2,5mg/LBAP; (8) rizomas com 465 dias invitro em meio MS + 7,5mg/L BAP; (9)rizomas com 465 dias in vitro emmeio MS + 0,1mg/L TDZ; (10) rizomascom 465 dias in vitro em meio MS +0,01mg/L TIBA; (11) rizoma deplantas anãs cultivadas em casa devegetação e (12) rizoma de plantasvariegadas cultivadas em casa devegetação. As amostras 11 e 12representam variantes somaclonaisformadas in vitro e mantidas em casade vegetação.

O DNA foi extraído de 1g de tecidode rizoma fresco, segundo o métodode Dellaporta et al. (1983). Aconcentração do DNA genômico foiestimada através da espec-trofotometria, sendo sua qualidadeavaliada por eletroforese em gel deagarose 0,7% e tampão TBE 0,5 X.As amostras de DNA foramarmazenadas a –200C até a suautilização.

As reações de amplificação foramrealizadas em um termocicladorutilizando vinte “primers” (10-mer)(Operon Technologies). As reações deamplificação basearam-se no métodode Williams et al. (1990), compequenas modificações (Carneiro,1997). Os ciclos de reação (94oC/15min; 35oC/30min; 72oC/60min)foram repetidos 39 vezes após umciclo inicial de 94oC/60min; 35oC/30min; 72oC/60min. Cinco microlitrosdo produto da reação da PCR foramfracionados por eletroforese a 100volts, em gel de agarose 2% e tampãoTBE 10X (90mM Tris borato + 2 mMEDTA). A coloração do DNA foi feitacom brometo de etídio (5mg/ml)(Sambrook et al., 1989), e avisualização dos fragmentosamplificados se deu através de luz

ultravioleta (302nm) com posteriorfotodocumentação. As reações dePCR foram repetidas 3 vezes paraconfirmar os padrões obtidos comcada um dos “primers” testados.

Primeiramente, foi elaboradauma matriz binária pela presença ouausência de loci polimórficos. Paratanto, para cada material foramconsiderados apenas os fragmentosnítidos e desconsideraram-se osmuito fracos e os de difícil ouduvidosa resolução. A partir damatriz binária, fez-se a análise desimilaridade genética pelo coeficientede Jaccard e análise de agrupamentopelo algoritmo UPGMA peloprograma computacional NTSYS(Rohlf, 2000).

Resultados e discussão

A análise com os marcadoresmoleculares RAPD produziu um totalde 131 fragmentos, e cada “primer”gerou de dois a 15 fragmentosamplificados, distintos e repro-duzíveis. Esses fragmentos variaramem tamanho de 3 a 3,5kb (Tabela 1).

No dendograma se observa aformação de dois grandes grupos com93% de similaridade entre si (Figura1). O primeiro grupo é formado pelosindivíduos 1 e 2 que, por sua vez,possuem 95,5% de similaridade entresi. O segundo grupo é formado pelosindivíduos 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11 e12 com 100% de similaridade entresi. Não se observou variabilidadegenética entre os indivíduos 3 a 12.No entanto, pode-se sugerir aexistência de mutação nos indivíduos1 e 2, o que torna estes geneticamentediferente dos demais.

As plantas regeneradas napresença de BAP (2,5 e 7,5mg/L),TDZ (0,1mg/L) e TIBA (0,01mg/L)formaram-se a partir do de-senvolvimento de gemas lateraispredeterminadas ou não. A análiseRAPD não revelou nenhum tipo depolimorfismo no material analisadocom cinco e dez subcultivos,contrariando a ocorrência esperadade variação somaclonal entre asplantas cultivadas por prolongadosperíodos de tempo. Visualmente,apenas uma planta anã foi detectadaao longo da cultura, porém não fezparte das amostras. Em função de a

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“Primer” Sequência Número Número Faixa dototal de de fragmentos tamanho dos

fragmentos polimórficos franmentos

kbOPJ04 CCGAACACG 11 2 600 a 3.054OPH01 GGTCGGAGA 7 0 300 a 1.200OPH02 TCGGACGTA 5 0 700 a 1.100OPH03 AGACGTCCAC 2 0 1.000 a 1.100OPH04 GGAAGTCGC 6 0 700 a 1.500OPH05 AGTCGTCCCC 7 0 700 a 2.036OPH06 ACGCATCGCA 3 0 600 a 1.100OPH07 CTGCATCGTG 6 0 800 a 3.200OPH08 GAAACACCCC 10 0 550 a 3.050OPH09 TGTAGCTGGG 15 1 570 a 2.800OPH11 CTTCCGCAGT 7 0 800 a 3.100OPH12 ACGCGCATGT 7 0 750 a 2.036OPH13 GACGCCACC 6 0 700 a 3.000OPH14 ACCAGGTTG 7 0 400 a 3.500OPH15 AATGGCGCG 4 0 850 a 3.054OPH16 TCTCAGCTGG 3 0 800 a 1.500OPH17 CACTCTCCTC 3 0 750 a 1.800OPH18 GAATCGGCA 3 0 370 a 900OPH19 CTGACCAGCC 13 0 390 a 2.300OPH20 GGGAGACAC 6 0 750 a 1.450

Tabela 1. Oligonucleotídeos utilizados como “primers” na análise RAPD em Musa acuminata (AAA) cultivarGrande Naine

Figura 1. Dendograma obtido pelo método UPGMA para o coeficiente deJaccard, para as 21 bandas amplificadas geradas pelo RAPD para os“primers” OPJ-04 e OPH-09.

Nota: Material 1 - mutante anão; Material 2 - mutante variegado; Material 3 - plantamatriz do campo; Materiais 4, 5, 6 e 7 - material com 5 subcultivos (MS; MS + 2,5mg/L BAP; MS + 7,5mg/L BAP; MS + 0,1mg/L TDZ; respectivamente); Materiais 8, 9, 10,11 e 12 - material com 10 subcultivos (MS; MS + 2,5mg/L BAP; MS + 7,5mg/L BAP;MS + 0,1mg/L TDZ; MS + 0,01mg/L TIBA; respectivamente).

análise ter sido realizada a partir dedez rizomas de plantas escolhidasaleatoriamente, de um total deaproximadamente 100 plantas,possivelmente as alterações ge-néticas, se presentes no experimento,não foram contempladas naamostragem ou não foram detectadaspela análise RAPD. Aplicações demarcadores moleculares do tipoRAPD e ISSR têm mostrado aexistência de algumas alterações noDNA de plantas de bananeira obtidaspor meio da cultura de tecidos (Rayet al., 2006). Esses autoresobservaram a presença de trêsvariantes somaclonais, nas quais aporcentagem de loci polimórficosobtidos por RAPD e ISSR foi de 1,75e 5,08 na cultivar Robusta e de 0,83e 5,0 na cultivar Giant Governor,respectivamente. De maneira clara,Oh et al. (2007) verificaram quealgumas regiões do genoma dabananeira apresentam altas taxas demutação e rearranjos quando as

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Nota: Linhas 1 e 14 – marcador de peso molecular(1kb DNA ladder); Linha 2 – mutante anão; Linha3 – mutante variegado; Linha 4 – plantasmatrizes do campo; Linhas 5, 6, 7 e 8 – materialcom cinco subcultivos (MS; MS + 2,5mg/L BAP;MS + 7,5mg/L BAP; MS + 0,1mg/L TDZ,respectivamente); Linhas 9, 10, 11, 12 e 13 –material com dez subcultivos (MS; MS + 2,5mg/LBAP; MS + 7,5mg/L BAP; MS + 0,1mg/L TDZ; MS+ 0,01mg/L TIBA, respectivamente).

Figura 2. Produtos de amplificação obtidos com o“primer” OPJ04 a partir de indivíduos originadosde micropropagação da cultivar Grande Naine

Nota: Linhas 1 e 15 – marcador de peso molecular(1kb DNA ladder); Linha 2 – mutante anão; Linha 3– mutante variegado; Linha 4 – plantas matrizes docampo; Linhas 5, 6, 7 e 8 – material com cincosubcultivos (MS; MS + 2,5mg/L BAP; MS + 7,5mg/LBAP; MS + 0,1mg/L TDZ, respectivamente); Linhas9, 10, 11, 12 e 13 – material com dez subcultivos (MS;MS + 2,5mg/L BAP; MS + 7,5mg/L BAP; MS + 0,1mg/L TDZ; MS + 0,01mg/L TIBA; respectivamente);Linha 14 – controle negativo (sem DNA).

Figura 3. Produtos de amplificação obtidos com o“primer” OPH09 a partir de indivíduos originados demicropropagação da cultivar Grande Naine

plantas são submetidas a estressesdurante a micropropagação. Erig &Schuch (2003) e Rocha et al. (2004),verificaram que, apesar de a análiseRAPD caracterizar diferentescultivares de Pyrus communis, atécnica não foi suficientementesensível para detectar pequenasalterações genéticas. Assim, tambémse admite que, no presente estudo,possivelmente o número de “primers”usados, e, consequentemente, onúmero de fragmentos analisados,ainda é insuficiente para seassegurar a plena saturação dogenoma.

Dois dos 20 “primers” utilizadosrevelaram padrões distintos entre asplantas anãs e variegadas em relaçãoàs plantas normais. Os fragmentospolimórficos amplificados com a

utilização do “primer” OPJ-O4,presentes nas plantas normais,porém ausentes nas plantas anãs,apresentaram tamanho de 1,5kb e de2,0kb (Figura 2). O número deprodutos amplificados pelo “primer”OPJ-04 variou de dez a 11 nasplantas normais e nove nas plantasanãs. Damasco et al. (1996),trabalhando com plantas normais eanãs do subgrupo Cavendish,cultivar New Guinea Cavendish eWilliams, verificaram que com autilização do “primer” OPJ-04 foiobservado um fragmento deaproximadamente 1,5kb, o qualestava presente em todas as plantasnormais, mas ausente nas plantasanãs de ambas as cultivares. Emboraexistam diferentes intensidades denanismo, como anão, superanão,

semianão (Reuveni et al., 1986), éinteressante notar que, por meio domesmo “primer”, se detectou em duascultivares distintas o mesmofragmento polimórfico associado aofenótipo anão.

Por outro lado, o “primer” OPH-09 apresentou a amplificação defragmentos de aproximadamente1,7kb presentes nas plantas anãs evariegadas, mas ausentes nasplantas normais (Figura 3). Onúmero de produtos amplificadoscom este “primer” variou de oito a deznas plantas normais e de dez a 11 nasplantas anãs e variegadas.

Dois tipos de polimorfismo foramdetectados neste estudo,representados pela ausência epresença de fragmentos. A presençade um mesmo padrão obtido nos dois

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genótipos, anão e variegado, sugereum alto nível de homologia nasequência do DNA naquela posição(Williams et al., 1990). Por outro lado,a presença do fragmento apenas nogenótipo anão e sua ausência no outrogenótipo indica a existência dediferenças na sequência de DNA. Afalta de amplificação nos doisgenótipos pode ser atribuída àmudança de uma única base comuma ambos os genótipos ou a duassequências completamente diferentes(Vierling & Nguyen, 1992), podendotambém ser devida a deleçõescromossômicas, translocações ouativação de elementos transponíveis(Phillips et al., 1990).

Conclusões

A análise de RAPD pode serutilizada para detectar a variaçãogenética induzida pelo processo demicropropagação em bananeirasapesar do baixo número de “primers”utilizado no estudo.

O uso de marcadores mo-leculares do tipo RAPD pode ser degrande valia para analisar aocorrência de instabilidades genéticasno material de bananeira mantido invitro, bem como para detectarprecocemente a presença de mutantesanões e variegados durante o processode micropropagação.

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81Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Introdução

O arroz (Oryza sativa L.) é umadas espécies agrícolas de maiorimportância econômica para o Estadode Santa Catarina. O cultivo do arrozirrigado através do sistemaconhecido como pré-germinado semostra altamente rentável naspropriedades familiares da regiãolitorânea e Vale do Itajaí (Epagri,2005). O sucesso do sistema se deve,principalmente, ao desenvolvimentode tecnologia adequada que foitransferida ao produtor pelo serviçode pesquisa e extensão rural daEpagri. Neste sentido, foramdeterminantes para a oriziculturacatarinense as atividades de

SCS116 Satoru: nova cultivar de arroz irrigado da EpagriSCS116 Satoru: nova cultivar de arroz irrigado da EpagriSCS116 Satoru: nova cultivar de arroz irrigado da EpagriSCS116 Satoru: nova cultivar de arroz irrigado da EpagriSCS116 Satoru: nova cultivar de arroz irrigado da Epagri

Resumo – O melhoramento genético de arroz irrigado na Epagri tem por objetivo o constante desenvolvimento denovas cultivares mais produtivas, de melhor qualidade de grãos, com alto rendimento industrial e com tolerâncias aestresses abióticos. A mais recente cultivar de arroz irrigado lançada pela Epagri é a SCS116 Satoru. É umacultivar de porte moderno, com características agronômicas superiores à testemunha Epagri 108 e, portanto, érecomendada para o cultivo em Santa Catarina e considerada adequada aos processos de beneficiamento para arrozbranco e parboilizado.

Termos para indexação: Melhoramento genético, variabilidade, produtividade.

SCS116 Satoru: the newest rice cultivar for Santa Catarina

Abstract – Epagri’s flooded rice breeding program has as the main objective the development of cultivars with highgrain yield, good grain quality, high milling yield and adequate tolerance to abiotic stress. The most recent cultivarreleased by Epagri is SCS 116 Satoru. This new cultivar has superior agronomic performance to the control Epagri108, therefore it is recommended for growing in Santa Catarina State, Brazil. It is also considered suitable for themilling processes of white rice and parboiling as well.

Index terms: Genetic breeding, grain quality, yield.

1 Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone (47) 3341-5214, e-mail: [email protected] Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí. Aposentado.3 Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected] Bióloga, M.Sc., Doutoranda em Recursos Genéticos Vegetais/UFSC.5 Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Itajaí. Aposentado.6 Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Urussanga. Rodovia SC-446, km 19, C.P. 49, 88840-000 Urussanga, SC. Aposentado.

Moacir Antonio Schiocchet1, Richard Elias Bacha2, Rubens Marschalek3, Juliana Vieira4, Takazi Ishiy5 eDario Alfonso Morel6

melhoramento genético iniciadaspelo Instituto de Pesquisas eExperimentação Agropecuárias doSul (Ipeas) – Urussanga, pelaEmpresa de Pesquisa Agropecuáriade Santa Catarina (Empasc) – Itajaíe continuadas pela Epagri(Marschalek et al., 2008).

Os resultados da pesquisaorizícola catarinense sãoevidenciados pela produtividade degrãos obtida no Estado. Em 1970, aprodutividade era de 2t/ha, e hoje éde 7,1t/ha (Conab, 2009), sendocomum em algumas regiões do AltoVale do Rio Itajaí (Agronômica) cifrasde até 14t/ha (Figura 1).

Esse resultado, em grande parte,é atribuído às cultivaresdesenvolvidas pela Epagri por meiodo programa de melhoramentogenético. São 15 cultivares jálançadas, as quais são plantadas emcerca de 97% da área de arrozirrigado do Estado, tendo seu cultivodisperso também por todas as regiõesorizícolas do País, alcançandoinclusive outros países, comoParaguai, Argentina, Bolívia eVenezuela (Marschalek et al., 2008).A mais recente cultivar desenvolvidapela Epagri, denominada SCS116Satoru, será lançada em 2010. Onome da cultivar é uma homenagemao engenheiro-agrônomo Dr. SatoruYokoyama (in memoriam), me-

82 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Figura 1. Produtividade de arroz nos Estados de Santa Catarina e RioGrande do Sul, e no Brasil, de 1970 até 2008

lhorista do projeto arroz irrigado daEpagri, o qual realizou o cruzamentoque deu origem à linhagem SC 421,agora denominada SCS116 Satoru. Oobjetivo deste trabalho é apresentaras principais características dareferida cultivar.

Origem da cultivarSCS116 Satoru

A cultivar SCS116 Satoru éoriunda de cruzamento triplo entreEpagri 108, Multiespigueta e RCN--B-93-83 realizado em 1999 naEpagri/Estação Experimental deItajaí. A cultivar Epagri 108 foiselecionada como genitora por suaqualidade e produtividade de grãos,o acesso multiespigueta foiselecionado por apresentar de três aseis espiguetas agrupadas no mesmonó da ráquis, representando muitosgrãos por panícula, e o acesso RCN-B-93-83 agrega a característica decolmos espessos, o que garantetolerância ao acamamento. Acaracterística multiespigueta foiobservada e relatada pela primeiravez no Brasil pelo Dr. SatoruYokoyama.

Metodologia de avaliação

A pesquisa foi realizada naEpagri/Estação Experimental deItajaí (EEI), Santa Catarina, Brasil,situada a 26º54’ latitude sul e 48º49’longitude oeste, com clima do tipo Cfa– subtropical úmido, e altitude médiade 5m.

O trabalho iniciou com ahibridação controlada entre os trêsgenitores, que deu origem à primeira

geração de melhoramento, F1. Apartir desta geração, seguiu-se coma seleção de plantas em populaçõessegregantes durante 4 anos (F1 a F4),através do método genealógico.

Na geração F5 uma planta foiselecionada em uma famíliaestabilizada geneticamente e recebeua denominação de SC 421. Essalinhagem foi avaliada em ensaios deavaliação avançada (F6) nos quais severificou, em sistema pré-germinado,produtividade, rendimento indus-trial, tolerância à toxidez por ferro eresistência ao acamamento e àbrusone.

Após a avaliação avançada, alinhagem seguiu para o ensaioregional, no qual foi avaliada durantetrês safras agrícolas, em cinco locaisrepresentativos das áreas produtorasde arroz irrigado em Santa Catarina(Figura 2).

Ao final das avaliaçõesagronômicas, esta linhagem foisubmetida à avaliação de de-sempenho industrial e culinário, como apoio do Sindicato da Indústria doArroz no Estado de Santa Catarina(Sindarroz-SC), por meio de testesprocedidos na Urbano AgroindustrialLtda. e Cooperativa Juriti, indicadaspelo sindicato. Também foram feitasavaliações sensoriais junto arepresentantes do público con-sumidor de arroz parboilizado ebranco.

Figura 2. Produtividade de grãos da cultivar SCS116 Satoru em ensaiosregionais, média de 3 anos (2006/07, 2007/08 e 2008/09)

83Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Principais características

Os dados de produtividade obtidaem campo nos cinco locais dos ensaiosregionais, durante os três anos deavaliação, estão expostos na Figura2. Os resultados das avaliações dedesempenho da linhagem SC 421atenderam os pré-requisitos para olançamento desta linhagem comonova cultivar de arroz irrigado parao Estado de Santa Catarina.

As principais característicasagronômicas da cultivar SCS116Satoru são apresentadas na Tabela1. A cultivar possui boa estatura deplanta (95cm), excelente perfi-lhamento, moderada resistência àtoxidez por ferro, moderadasuscetibilidade à brusone e re-sistência ao acamamento.

O seu rendimento industrial é de70% de grãos descascados e polidos,apresentando excelente desempenhoquanto à fração de grãos inteiros paraarroz branco (Tabela 2).

Observa-se que os grãos destacultivar são de excelente qualidadeindustrial e culinária, com adequadoteor de amilose e temperatura degelatinização, o que confere à SCS116Satoru um bom desempenho noprocesso de cocção (Tabela 3).

Na avaliação sensorial, tanto paraarroz branco como para parboilizado,esta cultivar apresentou desempenhosatisfatório quanto à adesividade,

aparência do grão cozido, volumeapós cocção, aroma e maciez.

A semente básica desta cultivarestá disponível aos produtores desementes filiados à AssociaçãoCatarinense dos Produtores deSementes de Arroz Irrigado (Acapsa),

Produtividade média (t/ha)(1) 9,4Estatura de planta (cm) 95Perfilhamento ExcelenteCiclo biológico(2) Longo (144 dias)Reação à toxidez por ferro - Indireta (“alaranjamento”) Moderadamente

resistenteReação à brusone Moderadamente

suscetívelReação quanto à germinação em baixa temperatura SuscetívelDegranamento IntermediárioÂngulo da folha bandeira EretoExerção da panícula CompletaPilosidade da folha PresenteAcamamento Resistente

Tabela 1. Características agronômicas da cultivar de arroz irrigadoSCS116 Satoru

(1) Em condições experimentais.(2) Emergência até a maturação.

Rendimento industrial – arroz branco polido- Renda do benefício (%) 70- Grãos inteiros (%) 59,8- Grãos quebrados (%) 10,2Aroma NormalProcesso de parboilização AdequadoAparência do grão polido VítreaAparência do grão parboilizado Vítrea

Tabela 2. Características industriais e culinárias da cultivar de arrozirrigado SCS116 Satoru

Classe Longo finoArista AusenteMicroarista AusentePeso de 1000 grãos com casca (g) 30,5Pilosidade PresenteCor das glumas PalhaComprimento do grão polido (mm) 7,3Largura do grão polido (mm) 2,1Espessura do grão polido (mm) 1,7Relação comprimento/largura 3,41Forma do grão AlongadaTeor de amilose (%)(1) 32Temperatura de gelatinização IntermediáriaCentro branco (0 a 5)(2) 2

Tabela 3. Características do grão da cultivar de arroz irrigado SCS116Satoru

(1) Análise realizada pelo Instituto Rio-Grandense do Arroz e pela Embrapa-CNPAF.(2) Centro branco: zero = completamente vítreo; 5 = totalmente opaco (gessado).

e a semente certificada (C1) estarádisponível aos produtores de grãospara o ano agrícola 2010/11.

Recomendação

A cultivar de arroz irrigadoSCS116 Satoru foi considerada aptapara o sistema pré-germinado, sendorecomendada para o cultivo emSanta Catarina e consideradaadequada aos processos debeneficiamento para arroz branco eparboilizado.

Literatura citada

1. CONAB. Acompanhamento de safrabrasileira: grãos, nono levantamento -Junho/2009. Brasília: Conab, 2009. 39p.

2. EPAGRI. Sistema de produção de arrozirrigado em Santa Catarina. 2.ed.Florianópolis, 2005. 87p. (Epagri.Sistema de Produção, 32).

3. MARSCHALEK, R.; VIEIRA, J.; ISHIY,T. et al. Melhoramento genético de arrozirrigado em Santa Catarina.Agropecuária Catarinense, Florianó-polis, v.21, n.3, p.54-57, 2008.

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A cebola (Allium cepa L.), entreas hortaliças cultivadas, ocupa aterceira posição em importânciaeconômica no Brasil. Em SantaCatarina, ela se destaca em áreaplantada e volume de produção,assumindo grande importânciasocioeconômica, com produção de 437mil toneladas e produtividade médiade 20,79t/ha (Epagri-Cepa, 2008),aquém do potencial produtivo da

Efeito de fosfitos de potássio e de manganêsEfeito de fosfitos de potássio e de manganêsEfeito de fosfitos de potássio e de manganêsEfeito de fosfitos de potássio e de manganêsEfeito de fosfitos de potássio e de manganêssobre o míldio da cebolasobre o míldio da cebolasobre o míldio da cebolasobre o míldio da cebolasobre o míldio da cebola

João Américo Wordell Filho1 e Marciel João Stadnik2

Resumo – O presente trabalho teve por objetivo comparar os efeitos do fosfito de potássio e de manganês na severidadedo míldio na cultura da cebola. Para tanto, realizou-se um experimento na Epagri/Estação Experimental de Ituporanga,SC, de agosto a dezembro de 2006. Em delineamento experimental em blocos casualizados com quatro repetições,testaram-se 14 tratamentos com diferentes combinações entre fungicidas e fosfitos de potássio e de manganês. Todosos tratamentos contendo fungicidas reduziram a severidade do míldio. A pulverização de fosfito de potássio reduziua doença de modo semelhante ao clorotalonil e apresentou a tendência de ser mais eficiente que o fosfito de manganês.Nenhum dos tratamentos afetou os conteúdos de clorofilas e carotenoides nas folhas no estádio H. Apesar da reduçãodo míldio, nenhum dos tratamentos alterou significativamente a produção da cebola ou o conteúdo de açúcares dosbulbos, sugerindo a atuação de um sistema de compensação que tolera níveis intermediários de doença.

Termos para indexação: Allium cepa L., Peronospora destructor, indução de resistência.

Effect of potassium phosphite and manganese phosphite on downymildew of the onion

Abstract – This study aimed to evaluate the effects of potassium and manganese phosphites on the mildew severityas well as the yield of onion. For that, one experiment was carried out at Epagri/EEItu, in Ituporanga, SC, Brazil,from August to December 2006. In a randomized block design with four replications, 14 treatments were tested withdifferent combinations of fungicides and potassium and manganese phosphites. All treatments containing fungicidesreduced the downy mildew severity. The foliar spray of potassium phosphite reduced the development of downymildew to an extent similar to chlorotalonil and tended to be more efficient than the manganese phosphite. Theeffect of potassium phosphite was similar to that of cholototalonil. None of the treatments affected the chlorophyll orthe carotenoid contents at the H-growth stage. Despite the disease reduction, none of the treatments significantlyaltered the yield or sugar content of onion bulbs, suggesting a compensation system that tolerates intermediatedisease levels.

Index terms: Allium cepa L., Peronospora destructor, resistance induction.

Aceito para publicação em 27/1/10.1 Eng.-agr., Dr., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiari (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0600, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Ph.D., UFSC/Centro de Ciências Agrárias (CCA), C.P. 476, 88040-900 Florianópolis, SC, e-mail: [email protected].

planta (Epagri, 2000). Isso se deve,em grande parte, à incidência dedoenças foliares, principalmente demíldio. O míldio, causado porPeronospora destructor (Berk.), éuma doença importante devido àvelocidade com que se desenvolve nacultura, ocasionando perdas naprodução. Atualmente, não hácultivares comerciais resistentes aomíldio e, por isso, a doença vem sendo

controlada por meio de pulverizaçõesfrequentes de fungicidas. Naagricultura atual buscam-setecnologias de produção menosagressivas ao homem e ao ambiente,caso do uso de alguns fertilizantesfoliares que têm a capacidade deaumentar a resistência de plantas apatógenos. Dentro desse contexto, osfosfitos de potássio e de manganêsvêm sendo usados no cultivo da

85Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

cebola em Santa Catarina sem haverqualquer comprovação sobre aspossíveis vantagens relacionadas aoseu emprego. Por outro lado, aaplicação de fungicidas e fosfitos,dependendo de sua composição, podealterar positivamente o metabolismodas plantas. O manganês, porexemplo, participa ativamente nafotossíntese doando elétrons eatuando na síntese da clorofila. Suaabsorção está também relacionada aoaumento no conteúdo dessespigmentos (Lichtenthaler, 1987).Assim, este trabalho teve por objetivoavaliar os efeitos dos fosfitos depotássio e dos fosfitos de manganêsna severidade do míldio, no conteúdode pigmentos foliares e norendimento de bulbos de cebola.

O experimento foi realizado naEpagri/Estação experimental deItuporanga, SC, de agosto adezembro de 2006. O delineamentoexperimental foi em blocoscasualizados, com quatro repetições.A adubação foi realizada de acordocom a análise de solo e a necessidadeda cultura da cebola. Na adubaçãode base foram utilizados 500g/parcelada fórmula 5-20-10 (N-P-K)distribuídos manualmente sob asuperfície do solo e incorporadautilizando um “encanteirador”. O solodas parcelas foi preparado comauxílio de uma enxada rotativa.Mudas de cebola da cultivar CrioulaAlto Vale foram transplantadas nodia 29/8/2006 e foi adotada adensidade de 250 mil plantas porhectare, decorrente do espaçamentode 40cm entre linhas e 10cm entreplantas. Aos 30 e aos 45 dias após otransplante foi realizada adubaçãode cobertura com ureia, utilizando--se 72g por parcela. Foram avaliados14 tratamentos: 1) testemunha; 2)250ml de fosfito de manganês/100Lde água (00-30-00 – Mn 09) (FM); 3)FM; 4) 250ml de fosfito de potássio/100L de água (00-30-20) (FP); 5) 625gde clorotalonil/100L de água (Fu); 6)Fu + FP; 7) 50% de Fu + FP; 8) 50%de Fu + FM; 9) Fu; 10) FP; 11) Fualternado com FP; 12) Fu + FM; 13)625g de clorotalonil/100L de água(Fu) alternados com 37,5g demetalaxyl–M + 500g de clorotalonil/100L de água (Fungicida); 14) Fualternado com FM. Os tratamentos

3, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13 e 14 foramcom pulverizações semanais e ostratamentos 2, 4 e 5 com pul-verizações a cada 14 dias. Aspulverizações foram iniciadas aos 33dias após o transplante das mudas efinalizadas 20 dias antes da colheita.Os tratamentos foram realizados compulverizador costal pressurizado comCO2, ajustado para um volume decalda de 400L/ha. A severidade domíldio foi estimada a partir doestádio de plântula até o de pré--colheita. Foram realizadas seteavaliações semanais em dez plantaspor parcela, segundo metodologia deWordell et al. (2007). Com os dadosobtidos, calculou-se a área abaixo dacurva de progresso da doença(AACPD). Após a colheita, os bulbosforam pesados e separados em quatroclasses, de acordo com Epagri (2000).Os rendimentos foram estimados porhectare. O peso médio de bulbos foicalculado dividindo-se o peso total debulbos pelo número de bulbos porparcela. Foram retirados de formaaleatória quatro bulbos de cebola porrepetição de cada um dos 14tratamentos e encaminhadas para oLaboratório de Fitopatologia da

UFSC para determinar o pH e o teorde açúcares solúveis dos bulbos. Paratanto, foram eliminadas as escamase os catafilos externos, a região dopescoço e o disco basal dos bulbos. Osbulbos foram então homogeneizadosem liquidificador e uma porção de50ml da amostra foi retirada edeixada em repouso por 90 segundos,quando foi medido o pH.Paralelamente, uso-se 0,4ml paradeterminar o teor de açúcaressolúveis com um refratômetro(Thermo Haake B3®, Alemanha). Osvalores dos açúcares solúveis foramexpressos em porcentagem deaçúcares na solução (oBrix). Ospigmentos foliares foram de-terminados no Laboratório deFitopatologia da UFSC, Flo-rianópolis, SC, a partir de amostrasde folhas de cebola no estádio H,coletadas 61 dias após o transplante(Gandin et al., 2002), utilizando asequações de Lichtenthaler (1987). Asvariáveis estudadas foramsubmetidas à análise de variânciapelo teste F. Tendo havidosignificância estatística (P < 0,05), asmédias foram comparadas pelo testede Tukey.

Tratamento(1) Intervalo entre AACPD(2) AFN(3)

aplicações

Dias %Testemunha - 201,3 a 18,75 aFM 14 162,8 a b 15,00 a bFM 7 145,3 a b 15,00 a bFP 14 142,6 a b 15,00 a bFu 14 134,8 b 11,25 bFu + FP 7 132,1 b 12,50 a b50 % Fu + FP 7 131,3 b 13,75 a b50 % Fu + FM 7 126,0 b 12,50 a bFu 7 21,6 b 11,25 bFP 7 119,9 b 12,50 a bFu alternado FP 7 116,4 b 10,00 bFu + FM 7 114,6 b 11,25 bFungicida 7 114,6 b 11,25 bFu alternado FM 7 111,1 b 10,00 b

CV(%) 18,5 20,17

Tabela 1. Área abaixo da curva de progresso de doença (AACPD) e áreafoliar necrosada (AFN) por míldio da cebola (Peronospora destructor),cultivar Crioula Alto Vale, sob condições de campo. Ituporanga, SC, 2006

(1) Tratamentos: Testemunha; FM = 250ml de fosfito de manganês/100L de água (00-30-00– Mn 09); FP = 250ml de fosfito de potássio/100L de água (00-30-20); Fu = 625g declorotalonil/100L de água; Fungicida = 625g de clorotalonil/100L de água alternado 37,5gde metalaxyl–M + 500g de clorotalonil/100L de água.(2) Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey (P < 0,05).Nota: CV = coeficiente de variação

86 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Intervalo entreTratamento aplicações RT RC(1) PMB Açúcares pH Clorofila a Clorofila b Carotenoides

Dias t/ha(1) t/ha(2) g(3) oBrix .......................mg/g...........................Testemunha(4) 19,38ns 14,48ns 76,5ns 4,7ns 5,8ns 126,0ns 123,3ns 1,5ns

FP 7 18,00 12,34 74,7 5,0 5,8 127,8 110,3 8,5FP 14 18,77 12,80 77,2 4,8 5,8 150,5 128,8 8,3FM 7 18,76 13,28 75,9 4,8 5,7 128,3 131,0 1,0FM 14 17,16 11,49 69,2 4,5 5,7 144,8 116,3 8,5Fu 7 16,22 14,15 64,4 4,8 5,9 146,5 128,8 6,5Fu 14 19,95 14,70 83,0 5,0 5,7 145,8 111,5 2,3Fu + FP 7 16,56 10,37 69,1 4,6 5,8 122,0 113,5 2,350%Fu + FP 7 17,77 11,49 73,0 5,1 5,9 127,8 110,3 8,5Fu + FM 7 17,39 11,52 68,8 4,9 5,8 123,8 140,3 3,050% Fu + FM 7 17,66 11,37 101,8 4,7 5,8 141,3 123,5 7,0Fu alternado FP 7 17,33 11,96 72,5 4,8 5,8 125,5 146,0 2,5Fu alternado FM 7 17,36 11,32 74,9 5,0 5,8 125,3 146,0 7,3Fungicida 7 18,10 11,28 68,4 4,6 5,8 141,8 138,0 1,5

CV(%) 11,48 20,06 21,78 6,94 2,31 11,9 21,2 62,8

Tabela 2. Rendimento total (RT), rendimento comercial (RC), peso médio de bulbos (PMB), conteúdo de clorofila ae b e carotenoides, em plantas de cebola, (cultivar Crioula Alto Vale) sob condições de campo. Ituporanga, SC,2006

(1) Rendimento total de bulbos, englobando as classes de 1 a 5.(2) Rendimento baseado nas classes 3, 4 e 5.(3) Peso médio de bulbos.(4) Tratamentos: Testemunha; Fungicida = 625g de clorotalonil/100L de água alternado 37,5g de metalaxyl–M + 500g de clorotalonil/100L de água; FP = 250ml de fosfito de potássio/100L de água (00-30-20); FM = 250ml de fosfito de manganês/100L de água (00-30-00– Mn 09); Fu = 625g de clorotalonil/100L de água. Para análise estatística dados foram transformados para raiz(x).Notas: ns = não há diferença entre os tratamentos (P < 0,05). CV = coeficiente de variação.

Sintomas de míldio foramdetectados nas plantas 47 dias apóso transplante, apresentando umaseveridade média de 0,12% de áreafoliar infectada (testemunha). Ascondições ambientais favoreceram oprogresso da doença, que, nas plantastestemunhas, alcançou 18,75% deárea foliar necrosada 20 dias antesda colheita. A AACPD em plantastestemunhas foi de 201,3 (Tabela 1).Para essa severidade de míldio, aAACPD foi reduzida significa-tivamente pelas aplicações foliaressemanais e intercalares dosfungicidas clorotalonil e metalaxil +clorotalonil. Com a aplicação dessesfungicidas, a AACPD e a área foliarnecrosada por míldio, 20 dias antesda colheita, foram reduzidas em43,1% e 40,0%, respectivamente.Esse sistema de intercalação declorotalonil (fungicida protetor) commetalaxyl (sistêmico) visa reduzir orisco de surgimento de linhagensresistentes. As principais causas daaceleração da resistência sãorelacionadas ao uso intensivo defungicida sistêmico para o controle dadoença, às condições extremamentefavoráveis para a ocorrência de

epidemias e à utilização do produtocomo curativo (Ghini & Kimati,2000). A pulverização do fungicidaclorotalonil, em intervalos de 7 ou 14dias, resultou em reduçãosemelhante na severidade do míldio,não diferindo do tratamento com osfungicidas alternados ou emcombinação com fungicida e fosfitos.

O fosfito de manganês, aplicadosemanalmente ou a cada 14 dias, nãoafetou o desenvolvimento do míldio.Por outro lado, a aplicação foliarsemanal de fosfito de potássioreduziu a AACPD em 40,4% emrelação à testemunha não tratada, demodo semelhante ao clorotalonil. Osfosfitos são fertilizantes foliares quetêm efeito antifúngico, podendo atuardiretamente ou por indução deresistência (Guest & Grant, 1991;Araújo et al., 2008).

Em estudos realizados no planaltocatarinense, Katsurayama & Boneti(2002) verificaram que a aplicaçãosemanal de fosfito de potássio (1,4L/ha) reduziu a severidade do míldioda cebola a níveis semelhantesàqueles encontrados com apulverização dos fungicidasmancozeb e metalaxyl. Wordell Filho

et al. (2007), em condições deseveridade de míldio superiores àdeste experimento na cultura dacebola, encontraram uma menoreficiência do fosfito quandocomparada a aplicações semanais declorotalonil e metalaxyl.

O conteúdo de clorofila a, clorofilab e carotenoides em folhas no estádioH foi de 126 a 123,3 de clorofila (a eb) e 1,5mg/g de carotenoide no tecidofresco das plantas testemunhas(Tabela 2). Nenhum dos tratamentosavaliados mostrou diferença noconteúdo de pigmentos foliares.Entre as características físico-químicas utilizadas para avaliar aqualidade da cebola destacam-se oteor de açúcares e o pH dos bulbos(Chagas et al., 2004). No presentetrabalho, os tratamentos nãoprovocaram mudanças significativasno teor de açúcares nem no valor dopH dos bulbos.

A análise da produção de bulbosde cebola mostrou diferença média de45% entre o rendimento total (RT) erendimento comercial (RC) (Tabela2). Em trabalho semelhante, WordellFilho et al. (2007) observaramdiferenças de 10% entre esses

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rendimentos. A causa de umadiferença maior entre o RT e o RC,bem como da baixa produtividadenesta safra de cebola, foi devida àcolheita de bulbos menores. Nestasafra preponderaram condições deseca durante o cultivo, especialmentena época da formação dos bulbos, oque impediu o desenvolvimento plenodas plantas. Nenhum tratamentoalterou significativamente o RT e oRC dos bulbos nem o peso médiodeles, apesar de alguns tratamentosterem reduzido a severidade domíldio.

Segundo Develash & Sugha(1997), severidade de até 25% poderesultar em perda de produção de até35% e essas perdas são tanto maioresquanto mais cedo ocorrer a infecção.Contudo, existem poucos estudos quemostram claramente a relação entrea área foliar infectada pelo míldio eas perdas de rendimento da cebola.Estudos realizados em Ituporanga,SC, mostraram que redução de até60% da área foliar necrosada pormíldio não altera significativamenteo rendimento total de bulbos (WordellFilho et al., 2007), indicando que

existe uma compensação metabólicaao ataque fúngico.

Literatura Citada

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Os trips-da-erupção-do-frutoFrankliniella brevicaulis (Thysa-noptera: Thripidae) adultosgeralmente são encontrados nasinflorescências da bananeira (Musaspp.) (Figura 1). As fêmeas colocamos ovos na epiderme dos frutos emformação, e as ninfas, ao eclodir,provocam pequenas erupções nosfrutos em desenvolvimento, que maistarde aparecem como pontos escurosna casca do fruto maduro devido à

Efeito do ensacamento do cacho da bananeira e deEfeito do ensacamento do cacho da bananeira e deEfeito do ensacamento do cacho da bananeira e deEfeito do ensacamento do cacho da bananeira e deEfeito do ensacamento do cacho da bananeira e deinseticidas no controle do tripsinseticidas no controle do tripsinseticidas no controle do tripsinseticidas no controle do tripsinseticidas no controle do trips-----da-da-da-da-da-erupçãoerupçãoerupçãoerupçãoerupção-----dododododo-fruto-fruto-fruto-fruto-frutoFFFFFrankliniella brevicaulisrankliniella brevicaulisrankliniella brevicaulisrankliniella brevicaulisrankliniella brevicaulis (Thysanoptera: Thripidae) (Thysanoptera: Thripidae) (Thysanoptera: Thripidae) (Thysanoptera: Thripidae) (Thysanoptera: Thripidae)

Resumo – Avaliou-se o efeito do ensacamento precoce do cacho de bananeira tratado e não tratado com inseticidasno controle do trips-da-erupção-do-fruto Frankliniella brevicaulis. O trabalho foi realizado num bananal localizadono município de Corupá, SC. O delineamento foi o inteiramente casualizado, com seis tratamentos e cinco repetições.Os tratamentos foram: 1) Testemunha (cachos sem ensacamento e sem proteção de inseticida); 2) Ensacamento docacho com saco de polietileno; 3) Ensacamento do cacho com saco de polietileno + aplicação de óleo de Nim a 1%; 4)Ensacamento do cacho com saco de polietileno + aplicação de solução de alho e pimenta a 0,6%; 5) Ensacamento docacho com saco de polietileno + aplicação do inseticida imidacloprid a 0,6% e 6) Ensacamento do cacho com saco detecido não tecido branco (TNT). Os cachos, protegidos precocemente com sacos de polietileno, com aplicação doinseticida imidacloprid e do óleo de Nim foram os mais eficazes no controle de trips, enquanto os sacos de polipropileno(TNT de cor branca) não ofereceram proteção no controle da praga.

Palavras chave: Musa spp., Insecta, Thysanoptera, proteção de frutos.

Effect of banana bunch cover and inseticides in the control of cork scab thripsFrankliniella brevicaulis (Thysanoptera: Thripidae)

Abstract - This study evaluated the effect of banana bunch cover with and without the protection of insecticides inthe control of the corky scab thrips Frankliniella brevicaulis. The experiment was carried out at a banana crop inCorupá, Santa Catarina State, Brazil. The experimental design used was completely randomized with six treatmentsand five repetitions. The treatments were: 1) control test (without bag cover or insecticide protection); 2) polyethylenebag cover; 3) polyethylene bag cover with protection of neem oil 1%; 4) polyethylene bag cover with the protection ofgarlic and pepper solution 0.6%; 5) polyethylene bag cover with the protection of insecticide imidacloprid; and 6)polypropylene bag cover. The polyethylene banana bunch cover with the protection of insecticides imidacloprid andneem oil were more efficient in the control of thrips, while the treatment with polypropylene bag was not efficientagainst the pest.

Index terms: Musa spp., Insecta, Thysanoptera, protection of fruits.

Aceito para publicação em 26/1/10.1 Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, e-mail: [email protected] Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected] Técnico Agrícola, Associação dos Produtores de Banana de Corupá, SC, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Associação dos Produtores de Banana de Corupá, SC, e-mail: [email protected] Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected].

colonização por fungos,desvalorizando o produto comercial-mente (Figura 2) (Lichtemberg,2006).

O ensacamento de cachos debananeira com sacos de polietileno éuma prática comum na bana-nicultura e tem a finalidade demelhorar a qualidade dos frutos,prevenindo da ação do vento, granizo,atritos com as folhas e o ataque depragas e doenças, além de propiciar

o aumento do peso dos cachos, cujosfrutos apresentam tonalidade maisclara, com comprimento e diâmetromaiores (Moreira, 1987; Lichtemberg1996; Costa & Scarpare Filho, 1998).

Johnson (1975) observou que oensacamento de cachos de bananacom sacos de polietileno impregnadoscom clorpirifós foi eficiente nocontrole de pulgões, trips, lagartas ebesouros. Por outro lado, o empregode sacos de polietileno, também

José Maria Milanez1, Luiz Alberto Lichtemberg2, Luiz Felipe da Costa3, Alexandre Mess4 e Robert Harri Hinz5

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Figura 1. Adulto do trips-da-erupçãoFrankliniella brevicaulis

Figura 2. Fruto maduro com pintaspretas, resultado do ataque deFrankliniella brevicaulis, seguidoda colonização por fungos

impregnados com o inseticidaclorpirifós 1%, mas colocadostardiamente, ou seja, com o cacho jáformado, foi ineficaz no controle datraça-da-bananeira Opogonasacchari (Lepidoptera: Tineidae)Pigatti et al. (1979).

Hinz et al. (1998) relataram queo ensacamento precoce dos cachoscom sacos plásticos tratados com oinseticida clorpirifós foi eficiente nocontrole do trips-da-erupção-do--fruto. Arias et al. (2000) verificaramque sacos de polietileno impregnadoscom o inseticida fipronil a 0,5% e 1%protegeram os frutos de bananacontra o ataque do trips-da-flor-da-bananeira Frankliniella parvulaHood (Thysanoptera: Thripidae).Segundo Gomes & Romero (2002),sacos de polietileno impregnados como inseticida bifentrina 1%protegeram cachos de banana contrao ataque de pragas. Lichtemberg etal. (2006) comprovaram que oensacamento precoce dasinflorescências da bananeira comsacos impregnados com os inseticidasbifentrina 0,1% e clorpirifós 1%foram os tratamentos mais eficientesno controle do trips-da-erupção-do-fruto quando comparado com otratamento realizado comensacamento tardio seguido daaplicação de inseticidas.

O objetivo deste trabalho foiestudar o efeito do ensacamentoprecoce do cacho da bananeira com esem aplicação de inseticidas nocontrole do trips-da-erupção-do- frutoF. brevicaulis.

O experimento foi realizado nomunicípio de Corupá, na localidadede Santa Isabel (26°26’26" latitudesul, 49°16’55" longitude oeste, 103mde altitude), no litoral norte de SantaCatarina, de fevereiro a agosto de

2008, em um bananal da cultivarNanicão. O delineamento foi ointeiramente casualizado, com seistratamentos e cinco repetições. Ostratamentos foram: 1) testemunha(cachos sem ensacamento e semproteção de inseticida); 2)ensacamento de cachos com saco depolietileno; 3) ensacamento de cachoscom saco de polietileno + aplicaçãode óleo de nim (Rot Neem® a 1%); 4)ensacamento de cachos com saco depolietileno + aplicação de solução dealho e pimenta a 0,6%; 5)ensacamento de cachos com saco depolietileno + aplicação do inseticidaimidacloprid (Provado® a 0,6%); e 6)Ensacamento de cachos com saco detecido não tecido (TNT) branco. Notratamento 4 utilizaram-se 400g depimenta e 100g de alho moído emliquidificador com 350ml de água. Asolução foi deixada para curtir por 72horas. A avaliação do ataque do trips-da-erupção-do-fruto seguiu ametodologia proposta porLichtemberg & Stuker (2006), naqual foi contado o número de lesões/2,85cm2 em parte delimitada dacasca da banana, na superfície demaior concentração de erupções(Figura 3), nas pencas dos terçossuperior, médio e inferior. Para efeitode análise estatística os dados foramtransformados em raiz quadrada de(x + 0,5), com as médias comparadaspelo teste de Tukey a 5% deprobabilidade.

Os tratamentos de cachosensacados precocemente, ou seja,antes da abertura das brácteas(Figura 4) e pulverizados com osinseticidas imidacloprid e óleo de nimforam os mais eficientes,considerando os resultados dasanálises dos dados de lesõespresentes nos terços superior, médioe inferior do cacho da bananeira. Omesmo pôde ser observado quando sefez a análise conjunta, ou seja,considerando a média das lesões dosfrutos nas diferentes porções docacho. Ainda merece destaque otratamento em que os cachos foramprotegidos com sacos de polietileno epulverizados com a solução de alho +pimenta, que, na análise conjuntadas médias das lesões, ocupou umaposição intermediária (Tabela 1). Osresultados estão coerentes comaqueles apresentados por e Hinz etal. (1998) e Lichtemberg (2006),confirmando que a prática de seproteger o cacho precocemente com

saco impregnado por inseticida ouseguido de pulverização pode serconsiderada eficaz no controle deadultos do trips-da-erupção-do-fruto,enquanto o ensacamento tardio, apósa abertura da bráctea, mesmoseguido de pulverização deinseticidas, não teve a proteçãoesperada.

O saco de tecido não tecido de corbranca não ofereceu proteção contrao ataque da praga, mesmo quandocolocado precocemente, talvez pelofato de ser vulnerável à passagem dosadultos do trips, além de a cor brancaser sabidamente umas das maisatrativas a essa espécie de trips(Delattre & Torregrossa, 1978).

Concluiu-se que os cachosprotegidos precocemente com sacosde polietileno e pulverizados com osinseticidas imidacloprid a 0,6% e óleode nim a 1% ofereceram uma melhorproteção contra o ataque de trips,enquanto os sacos de tecido nãotecido de cor branca foram ineficazes.

Literatura citada

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Número de lesões/2,85cm2

Tratamento Dose Superior Médio Inferior Média(10L de água)

Testemunha - 16,8 c 15,8 c 16,8 c 16,4 cImidacloprid 8ml 5,0 a 4,6 a 4,6 a 5,1 a

Óleo de nim 60ml 4,2 a 3,8 a 5,6 a 5,4 aAlho + pimenta 60ml 6,8 b 6,2 b 7,4 b 7,2 b

Saco de polietileno - 7,2 b 9,4 bc 9,6 bc 8,7 bcSaco TNT - 15,6 c 12,4 c 12,6 c 13,5 c

CV % 24,34 31,28 27,00 26,80

Tabela 1. Número médio de lesões/2,85cm2 observado nos terços superior,médio, inferior dos cachos e na média do total de frutos de banana atacadospelo trips-da-erupção-do-fruto, Frankliniella brevicaulis, Corupá, SC

Notas: Médias seguidas das mesmas letras, nas colunas, não diferiram estatisticamentepelo teste de Tukey (p < 0,05). CV = Coeficiente de Variação

Figura 3. (A) Fruto de banana com área demarcada para avaliação dotrips-da-erupção Frankliniella brevicaulis e (B) aparato para avaliação doataque

Figura 4. Ensacamento precoce do cacho (A) e cacho de bananadesenvolvido e protegido por saco de polietileno (B)

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A

B

91Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Atualmente a matriz energéticase baseia no petróleo e há, no mínimo,duas justificativas para o estudo denovas alternativas para produção decombustíveis: o petróleo é um recursofinito e a sua queima implica,necessariamente, transferência decarbono do subsolo para a atmosfera,aumentando o efeito estufa pelaemissão de gases, principalmenteCO2.

Uma alternativa para substituiro óleo diesel proveniente de petróleoé a extração de óleos vegetais paratransformação em biodiesel, que éum combustível biodegradávelderivado de fontes renováveis, comoóleos vegetais e gorduras animais(Silva & Freitas, 2008). No entanto,

Espécies oleaginosas em cultivo de inverno no PlanaltoEspécies oleaginosas em cultivo de inverno no PlanaltoEspécies oleaginosas em cultivo de inverno no PlanaltoEspécies oleaginosas em cultivo de inverno no PlanaltoEspécies oleaginosas em cultivo de inverno no PlanaltoNorte CatarinenseNorte CatarinenseNorte CatarinenseNorte CatarinenseNorte Catarinense

Alvadi Antonio Balbinot Junior1, Adriano Martinho de Souza2, Rogério Luiz Backes3, Élcio Hirano4, Gilcimar

Adriano Vogt2 e Rosiane Berenice Nicoloso Denardin5

nos últimos anos, tem havidodificuldade para garantir o mínimode produção de óleo vegetal parafabricação de biodiesel, tendo emvista o atendimento das metasestabelecidas no Programa Nacionalde Biodiesel – adição de 2% de bio-diesel puro ao diesel comercializadono Brasil (Souza et al., 2009). Issodecorre, especialmente, da falta deinformações sobre culturas e práticasde manejo que possibilitem produçãode óleo vegetal com rentabilidadeeconômica, seja para produção debiodiesel, seja para utilização naindústria química e na de alimentos.

Na Região Sul do Brasil hácarência de alternativas eco-nomicamente viáveis de cultivos

Resumo – Na Região do Planalto Norte Catarinense há carência de alternativas de uso da terra no inverno e, aomesmo tempo, há poucas informações sobre o desempenho agronômico de espécies invernais para produção de óleo,que podem ser usadas na obtenção de biodiesel. O objetivo desta pesquisa foi avaliar o desempenho produtivo eoutras características agronômicas de canola, crambe, nabo-forrageiro e linho. A cultura que apresentou maiorprodutividade de grãos e de óleo foi a canola e a menor foi observada no nabo-forrageiro.

Termos para indexação: Adaptação, produtividade de grãos e de óleo, teor de óleo.

Winter oil crops in the north plateau of Santa Catarina state, Brazil

Abstract – There is a lack of land use alternatives in winter in the northern plateau of Santa Catarina State (Brazil)and, at same time, there is insufficient information about winter species performance to produce vegetal oil that canbe use in biodiesel production. The objective of this research was to evaluate the yield and other agronomic traits ofcanola (Brassica napus), crambe (Crambe abyssinica), oil seed radish (Raphanus sativus) and flax (Linumusitatissimum) to produce oil. Canola showed the highest grain and oil yield and oil seed radish showed the lowest.

Index terms: Adaptation, grain and oil yield, oil rate.

Aceito para publicação em 5/2/10.1 Eng.-agr., Dr., Pesquisador da Epagri/Estação Experimental de Canoinhas. BR-280, km 219,5, C.P. 216, 89460-000 Canoinhas, SC,e-mail: [email protected] Eng.-agr., M.Sc., Pesquisador da Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, e-mail: [email protected], [email protected] Eng.-agr., Dr., Pesquisador da Epagri/Centro de Pesquisa para a Agricultura Familiar (Cepaf), e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dr., Pesquisador da Embrapa, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dr., Professora da Unochapecó, e-mail: [email protected].

agrícolas de inverno (Balbinot Jr. etal., 2008). No ano agrícola 2006/07,a área cultivada com as principaisculturas de verão na Região Sulsuperou em aproximadamente 11,8milhões de hectares a área cultivadacom trigo, principal cultura deinverno/primavera, como pode serobservado nos dados estatísticos deprodução (Síntese..., 2007). Issodemonstra a elevada disponibilidadede área para cultivo de espécies paraprodução de biodiesel nessa época. Acanola – colza com baixos teores deglucosinolatos e ácido erúcico(Santos, 1995) –, a crambe, o nabo-forrageiro e o linho são espéciesoleaginosas invernais, sendo as trêsprimeiras da família das brássicas e

92 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

o linho da família das lináceas, asquais podem ser cultivadas na épocaem que vastas áreas sãosubutilizadas.

O objetivo desta pesquisa foiavaliar a produção de grãos e de óleo,bem como de outras característicasagronômicas em espécies oleaginosasinvernais sob as condiçõesedafoclimáticas do Planalto NorteCatarinense.

O trabalho foi conduzido naEpagri/Campo Experimental SaltoCanoinhas, município de Papanduva,SC (50o16’37’’ longitude oeste,26o22’15’’ latitude sul e altitude de800m). O delineamento experimentalutilizado foi o de blocos completoscasualizados, com quatro repetições.Foram avaliadas as seguintesespécies: canola (Brassica napus),cultivar Hyola 61 – Pacific Seeds Pty.Ltd. (6kg/ha de sementes); crambe(Crambe abyssinica), cultivarBrilhante (15kg/ha de sementes);nabo-forrageiro (Raphanus sativus),cultivar IPR 116 e crioulo (10kg/hade sementes); e linho (Linumusitatissimum) (40kg/ha desementes). Cada parcela apresentouárea total de 24m2 (4m x 6m), com

área útil de 4m2. Uma vista doexperimento é mostrada na Figura 1.

O solo onde foi implantado oexperimento possuía os seguintesatributos físicos e químicos: 487g/kgde argila; 263g/kg de silte; 250g/kgde areia; pHágua=5,9; ISMP=5,6; 59g/dm3 de matéria orgânica; 15,7mg/dm3

de P; 156mg/dm3 de K; 3,5cmolc/dm3

de Ca; e 3,2cmolc/dm3 de Mg.A adubação de base foi de 150kg/

ha de fertilizante fórmula 5-20-20(N-P-K). A semeadura foi realizadaa lanço no dia 3/6/2008 em restevade milho, sendo as sementesincorporadas ao solo com enxada,simulando uma gradagem super-ficial.

Durante o ciclo das culturas,colheita e pós-colheita, foramavaliadas as seguintes variáveis:

densidade de plantas, de-terminada pela contagem de plantasem 1m2 por parcela;

cobertura do solo promovidapelas plantas aos 65 dias após asemeadura (DAS), estimada comauxílio de um barbante com 50pontos pintados e espaçados 10cmum do outro. Esse barbante foialocado em forma de x nas parcelas

quando foram contabilizados ospontos que estavam sobrepostos àsplantas. Os dados são expressos emporcentagem;

massa seca da parte aérea aos58 e 95 DAS, estimada pela coleta dasplantas contidas em 1m2, sendo asamostras secas a 65oC em estufa comcirculação forçada de ar eposteriormente determinada amassa;

produtividade de grãosestimada pela colheita das plantascontidas na área útil (4m2 porparcela), as quais foram trilhadas.Depois, retiraram-se as impurezas,os grãos foram secos em estufaregulada a 45oC por 2 dias edeterminada sua massa;

massa de mil grãos secos emestufa;

teor de óleo nos grãos,determinado em duas subamostraspor genótipo avaliado, pelo métodoSoxhlet, com extração convencionalpor período de oito horas de refluxodo solvente hexano, seguindometodologia oficial da American OilChemists’ Society (AOCS, 1996);

palha remanescente no dia 1/12/2008, estimada pela coleta da palha

Figura 1. Experimento conduzido com espécies oleaginosas de inverno. Canoinhas, Epagri, 2008

93Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Coberturas Massa MassaGenótipo Densidade do solo aos seca aos seca aos Ciclo(2)

65 DAS(1) 58 DAS 95 DASPlantas/m2 % ...........kg/ha......... Dias

Canola 61 34,2 a(3) 200 bc 4.300 a 169Crambe 13 6,0 b 55 c 1.304 b 145

Nabo crioulo 57 51,5 a 750 a 5.002 a 177Nabo IPR 116 50 44,3 a 415 b 5.108 a 177

Linho 153 34,7 a 335 b 2.132 b 177CV (%) - 24,6 32,9 24,8 -

Tabela 1. Densidade de plantas, cobertura do solo, massa seca da parteaérea e ciclo de desenvolvimento em diferentes genótipos de inverno paraprodução de biodiesel. Canoinhas, Epagri, 2008

(1) Dias após a semeadura.(2) Dias entre a semeadura e a colheita.(3) Médias seguidas das mesmas letras nas colunas não diferem entre si pelo teste deTukey a 5%.Nota: CV = coeficiente de variação.

presente em 1m2 por parcela, a qualfoi seca a 65oC até atingir massaconstante, quando foi determinada amassa.

Os dados coletados foramanalisados estatisticamente por meiode análise de variância e teste F.Quando comprovada existência dediferença significativa entretratamentos, as médias foramcomparadas pelo teste Tukey. Emambas as análises se adotou o nívelde 5% de probabilidade de erro.

Devido às geadas intensas queocorreram no mês de junho do anoem que foi realizado o experimento,aproximadamente 20 dias após asemeadura, houve morte de plantasde crambe, restando baixa densidadede plantas (Tabela 1), o que ocasionoureduzida habilidade dessa espécie emcobrir o solo, bem como para produzirmassa vegetal (Tabela 1). Isso indicaque a crambe não tolera as geadasintensas que normalmente ocorremna região do Planalto NorteCatarinense nos meses de junho ejulho, apresentando restrição decultivo para essa região. Aos 65 DASnão houve diferenças entre os demaisgenótipos quanto à cobertura do solo.Aos 58 DAS a maior massa vegetalfoi observada no nabo-forrageirocrioulo, enquanto aos 95 DAS estenão diferiu do nabo-forrageiro IPR116 e da canola Hyola 61. Essesgenótipos demonstraram habilidadeem cobrir o solo rapidamente, o quepode refletir-se em redução da erosãohídrica, além de produzirem massavegetal de forma acelerada.

A crambe foi a espécie queapresentou o menor ciclo dedesenvolvimento, com apenas 145dias entre a semeadura e a colheita(Tabela 1). Essa característica éinteressante para possibilitar ocultivo de espécies estivais emsucessão, sem atraso na semeaduraem relação às épocas recomendadas.As demais espécies apresentaramciclo semelhante, entre 169 e 177dias, com colheita no início dedezembro, praticamenteimpossibilitando o cultivo de milhopara produção de grãos em sucessão.

A espécie avaliada que apresentoua maior produtividade de grãos foi acanola, enquanto o nabo-forrageirocrioulo apresentou a menor

Figura 2. Plantas de crambe com sintomas de Sclerotinia spp. Canoinhas,Epagri, 2008

94 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Massa Teor de

Genótipo Produtividade de mil óleo nos Produção Palha

de grãos grãos grãos de óleo

kg/ha g % .............kg/ha.............

Canola 1.816 a(1) 3,48 e 31,2 567 3596 b

Crambe 1.239 b 8,49 c 26,0 322 1775 c

Nabo crioulo 724 c 10,21 b 33,3 241 5119 ab

Nabo IPR 116 1.134 bc 23,28 a 33,7 382 5193 ab

Linho 1.067 bc 6,03 d 29,5 315 5337 a

CV (%) 18,1 7,5 - - 17,3

Tabela 2. Produtividade de grãos, massa de mil grãos, teor de óleo,produção de óleo e palha remanescente em diferentes genótipos de invernopara produção de biodiesel. Canoinhas, Epagri, 2008

(1) Médias seguidas das mesmas letras nas colunas não diferem entre si pelo teste deTukey a 5%.Nota: coeficiente de variação.

produtividade (Tabela 2). Aprodutividade de grãos de crambe foireduzida pela incidência deSclerotinia spp. (Figura 2) e pelaqueda natural de grãos, fatores quepraticamente inviabilizam o cultivodessa espécie nas condiçõesavaliadas, assim como a excessivasuscetibilidade a geadas. Aprodutividade de canola verificadanessa pesquisa foi maior do que aobtida em ensaio conduzido noEstado do Paraná, onde foi obtida aprodutividade máxima de 740kg/hade grãos (Ávila et al., 2004), poréminferior à produtividade obtida porJohnson & Hanson (2003), os quaisobservaram produtividade de2.370kg/ha em genótipo híbrido nosEUA. Adicionalmente, a canolaapresentou a menor massa de milgrãos, enquanto o nabo IPR 116apresentou a maior massa de grãos.

O teor de óleo nos grãos variou de26% a 33,7% nas culturas de crambee nabo IPR 116, respectivamente(Tabela 2). A canola apresentou teorde óleo inferior ao relatado naliteratura, entre 40% e 48% (Silva &Freitas, 2008), embora seja deconhecimento que os dados deliteratura sobre teores de óleo emgrãos de várias oleaginosas sãobastante discrepantes.

A canola foi a espécie queapresentou a maior produção de óleopor unidade de área, o que demonstra

seu potencial para utilização noPlanalto Norte Catarinense. Nesseestudo, a produção de óleo pelacanola (567kg/ha) foi maior do que aprodução usualmente obtida pelasoja (200 a 400kg/ha) (Silva &Freitas, 2008). Além disso, háindicações tecnológicas para cultivoda canola na Região Sul do Brasil(Tomm, 2007) e o óleo dessa espéciepode ser destinado ao consumohumano, o que pode estimular ocultivo dessa oleaginosa em escalacomercial.

No tocante à palha remanescentepara implantação das culturassucessoras em sistema plantio direto,os genótipos que proporcionarammaior quantidade de palha foram olinho e o nabo-forrageiro. Aquantidade residual de palha denabo-forrageiro foi similar àobservada por Balbinot Jr. et al.(2004) em trabalho tambémdesenvolvido no Planalto NorteCatarinense. A canola e, principal-mente, a crambe, apresentarambaixa quantidade de palha residualpara o cultivo estival subsequente.

Diante dos resultados obtidos,constata-se que a canola é a espécietestada que apresenta maiorpotencial para cultivo no invernopara fins de produção de óleo vegetalno Planalto Norte Catarinense, oqual pode ser usado na fabricação debiodiesel ou para outros fins.

Literatura citada

1. AMERICAN OIL CHEMISTS’SOCIETY - AOCS. Official methods andrecommended practices of the AmericanOil Chemists’ Society. 3.ed. Champaign:AOCS Press. 1996.

2. ÁVILA, M.R.; BRACCINI, A.L.;SCAPIM, C.A. et al. Adubação potássicaem canola e seu efeito no rendimento ena qualidade fisiológica e sanitária desementes. Acta Scientiarum, Maringá,v.26, n.4, p.475-481, 2004.

3. BALBINOT JR., A.A.; BACKES, R.L.;TÔRRES, A.N.L. Desempenho deplantas invernais na produção de massae cobertura do solo sob cultivos isoladose em consórcios. Revista de CiênciasAgroveterinárias, Lages, v.3, n.1, p.38-42, 2004.

4. BALBINOT JR., A.A.; MORAES, A. de;PELISSARI, A. et al. Formas de uso dosolo no inverno e sua relação com ainfestação de plantas daninhas emmilho (Zea mays) cultivado em sucessão.Planta Daninha, Viçosa, v.26, n.3, p.569-576, 2008.

5. JOHNSON, B.L.; HANSON, B.K. Row--spacing interactions on spring canolaperformance in the Northern GreatPlains. Agronomy Journal, Madison,v.95, n.3, p.703-708, 2003.

6. SANTOS, L.W. dos. Canola – que colzaantiga. Agropecuária Catarinense,Florianópolis, v.8, n.3, p.4-5, 1995.

7. SILVA, P.R.F. da; FREITAS, T.F.S. de.Biodiesel: o ônus e o bônus de produzircombustível. Ciência Rural, SantaMaria, v.38, n.3, p.843-851, 2008.

8. SÍNTESE ANUAL DA AGRICULTURADE SANTA CATARINA – 2006-2007.Florianópolis: Epagri/Cepa, 2007.282p.

9. SOUZA, A.M. de; BALBINOT JR., A.A.;BACKES, R.L. et al. Matérias-primaspara biodiesel: desafios para o PlanaltoNorte Catarinense e SudesteParanaense. Agropecuária Catarinense,Florianópolis, v.22, n.2, p.14-16, 2009.

10. TOMM, G.O. Indicativos tecnológicospara produção de canola no Rio Grandedo Sul. Passo Fundo, RS: EmbrapaTrigo, 2007. 68p. (Embrapa Trigo.Sistemas de Produção 3).

95Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Normas para publicação na revistaNormas para publicação na revistaNormas para publicação na revistaNormas para publicação na revistaNormas para publicação na revistaAgropecuária Catarinense (RAC)Agropecuária Catarinense (RAC)Agropecuária Catarinense (RAC)Agropecuária Catarinense (RAC)Agropecuária Catarinense (RAC)

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5. Devem constar no rodapé daprimeira página: formaçãoprofissional do autor e do(s)coautor(es), título de graduaçãoe pós-graduação (Especialização,M.Sc., Dr., Ph.D.), nome eendereço da instituição em quetrabalha, telefone para contatoe endereço eletrônico.

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9.3 Conjuntura – matérias queenfocam fatos atuais com baseem análise econômica, social oupolítica, cuja divulgação é

96 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

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11. Literatura citada. As referênciasbibliográficas devem estarrestritas à Literatura citada notexto, de acordo com a ABNT eem ordem alfabética. Não sãoaceitas citações de dados nãopublicados e de publicações noprelo. Quando houver mais detrês autores, citam-se apenas ostrês primeiros, seguidos de “etal.” .

Exemplos de citação:

Eventos:DANERS, G. Flora de importânciamelífera no Uruguai. In:CONGRESSO IBERO-LATINO--AMERICANO DE APICULTURA,5., 1996, Mercedes. Anais...Mercedes, 1996. p.20.

Periódicos no todo:ANUÁRIO ESTATÍSTICO DOBRASIL-1999. Rio de Janeiro: IBGE,v.59, 2000. 275 p.

Artigo de periódico:STUKER, H.; BOFF, P. Tamanho daamostra na avaliação da queimaacinzentada em canteiros de cebola.Horticultura Brasileira, Brasília,v.16, n.1, p.10-13, maio 1998.

Artigo de periódico em meioeletrônico:SILVA, S.J. O melhor caminho paraatualização. PC world, São Paulo,n.75, set. 1998. Disponível em:

<www.idg.com.br/abre.htm>. Acessoem: 10 set. 1998.

Livro no todo:SOCIEDADE BRASILEIRA DECIÊNCIA DO SOLO. Recomendaçãode adubação e de calagem para osestados do Rio Grande do Sul e deSanta Catarina. 3.ed. Passo Fundo,RS: SBCS/Núcleo Regional Sul;Comissão de Fertilidade do Solo –RS/SC, 1994. 224p.

SOCIEDADE BRASILEIRA DECIÊNCIA DO SOLO. Manual deadubação e calagem para os Estadosdo Rio Grande do Sul e de SantaCatarina. 10.ed. Porto Alegre, RS:SBCS/ Núcleo Regional Sul;Comissão de Química e Fertilidadedo Solo – RS/SC, 2004. 400p.

Capítulo de livro:SCHNATHORST, W.C. Verticilliumwilt. In: WATKINS, G.M. (Ed.)Compendium of cotton diseases.St.Paul: The AmericanPhytopathological Society, 1981.p.41-44.

Teses e dissertações:CAVICHIOLLI, J.C. Efeitos dailuminação artificial sobre o cultivodo maracujazeiro amarelo (Passifloraedulis Sims f. flavicarpa Deg.), 1998.134f. Dissertação (Mestrado emProdução Vegetal), Faculdade deCiências Agrárias e Veterinárias,Universidade Estadual Paulista,Jaboticabal, SP, 1998.

68.72447.38745.03767.93648.31359.50593.037

64.316

64.129 -

113 d122 cd131 abc134 ab122 cd128 abc138 a

125 bc

133 ab

4,80,0002(**)

96,0110,7114,3112,3103,3109,0119,0

108,4

112,3

6,4

80 d100 ab 91 bc 94 bc 88 cd 92 bc104 a

94 abc

95 abc

6,1

95 d110 bc121 a109 bc100 cd107 bc115 ab

106 bc

109 bc

6,40,011(**)

.............................. g ............................... kg/ha

1993 1994 1995 Média

Tabela 1. Peso médio dos frutos no período de 1993 a 1995 e produção média desses trêsanos, em plantas de macieira, cultivar Gala, tratadas com diferentes volumes de calda deraleantes químicos(1)

TestemunhaRaleio manual16L/ha300L/ha430L/ha950L/ha1.300L/ha1.900L/hac/ pulverizadormanual1.900L/hac/ turboatomizador

CV (%)

Probabilidade > F

Peso médio dos frutos ProduçãomédiaTratamento

(1)Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5% de probalidade.(**) Teste F significativo a 1% de probabilidade.Nota: CV = coeficiente de variação.Fonte: Camilo & Palladini. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.35, n.11, nov. 2000.

Errata

Em relação ao artigo “Avaliação de um sistema de previsão para a

mancha bacteriana (Xanthomonas spp.) do tomateiro”, publicado na

seção técnico-científica da última revista (v.22, n.3, nov. 2009, p.89),

na Tabela 1, na coluna que diz “Frutos Comerciais”, t/ha vale para

“Produção” e na coluna “Com sintomas de mancha bacteriana” deve

ser escrito “%”.

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98 Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010