Análise Preliminar de Riscos no uso de teto de caminhão furgão como plataforma para trabalho em...

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Análise Preliminar de Riscos no uso de teto de caminhão furgão como plataforma para trabalho em altura Juan Alberto Mongelós (UTFPR) – [email protected] Rodrigo Eduardo Catai (UTFPR) – [email protected] ISSN - ANAIS DO EVENTO 1983-0629 Neste artigo analisou-se a utilização de caminhões de medio porte, modelo furgão, como equipamento para trabalho em altura. Especificamente, os tetos de caminhões furgão estão sendo modificados parcialmete, adaptados, aparentemente sem nenhum acompanhamento técnico que considere as condições de trabalho com segurança e alinhados com os requisitos que atendam as normas regulamentadoras para trabalho em altura. O objetivo do trabalho é verificar a aplicabilidade das Normas Regulamentadoras 18 e 35, utilizar a técnica da Análise Preliminar de Riscos para levantar as condições e riscos de trabalho em altura com este veículo “equipamento” e finalmente propor sugestões para que os trabalhos se desenvolvam de forma segura e conforme as normativas aplicáveis a esta situação. Para a análise, foi realizado levantamento de dados, fazendo uma seleção das normas relacionadas, entrevistando uma equipe de trabalho em campo e posteriormente, a elaboração da APR. Conclui-se que pelas condições e riscos de trabalho resulta importante e viável aplicar a regulamentação da NR 35 e adequar a estrutura física do veículo “equipamento” conforme alguns itens da NR 18. Baseado nisto, foi elaborada uma sugestão de procedimento de trabalho que atenda a este caso específico. Palavras-chave: Análise preliminar de riscos; Trabalho em altura; Gerência de riscos. 1. Introdução Editada no ano de 2012 pelo Ministério do Trabalho e Emprego, a NR 35 – Segurança e Saúde no Trabalho em Altura vem suprir a necessidade de contar com uma normativa específica e abrangente que proteja uma atividade muito comum nos serviços de carga e descarga de caminhões, instalações de equipamentos e principalmente nos trabalhos da construção civil. Segundo dados do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), em 2005 aconteceram 28.987 acidentes envolvendo 1

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Análise Preliminar de Riscos no uso de teto decaminhão furgão como plataforma para trabalho em

altura

Juan Alberto Mongelós (UTFPR) – [email protected] Eduardo Catai (UTFPR) – [email protected]

ISSN - ANAIS DO EVENTO1983-0629

Neste artigo analisou-se a utilização de caminhões de medio porte, modelo furgão,como equipamento para trabalho em altura. Especificamente, os tetos de caminhõesfurgão estão sendo modificados parcialmete, adaptados, aparentemente semnenhum acompanhamento técnico que considere as condições de trabalho comsegurança e alinhados com os requisitos que atendam as normas regulamentadoraspara trabalho em altura. O objetivo do trabalho é verificar a aplicabilidade dasNormas Regulamentadoras 18 e 35, utilizar a técnica da Análise Preliminar de Riscospara levantar as condições e riscos de trabalho em altura com este veículo“equipamento” e finalmente propor sugestões para que os trabalhos se desenvolvamde forma segura e conforme as normativas aplicáveis a esta situação. Para aanálise, foi realizado levantamento de dados, fazendo uma seleção das normasrelacionadas, entrevistando uma equipe de trabalho em campo e posteriormente, aelaboração da APR. Conclui-se que pelas condições e riscos de trabalho resultaimportante e viável aplicar a regulamentação da NR 35 e adequar a estrutura físicado veículo “equipamento” conforme alguns itens da NR 18. Baseado nisto, foielaborada uma sugestão de procedimento de trabalho que atenda a este casoespecífico.Palavras-chave: Análise preliminar de riscos; Trabalho em altura; Gerência de riscos.

1. IntroduçãoEditada no ano de 2012 pelo Ministério do Trabalho e

Emprego, a NR 35 – Segurança e Saúde no Trabalho em Alturavem suprir a necessidade de contar com uma normativaespecífica e abrangente que proteja uma atividade muito comumnos serviços de carga e descarga de caminhões, instalações deequipamentos e principalmente nos trabalhos da construçãocivil. Segundo dados do Instituto Nacional de SeguridadeSocial (INSS), em 2005 aconteceram 28.987 acidentes envolvendo

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trabalhadores do setor da construção, onde 37,70% destesacidentes estavam relacionados com queda de altura. (SILVEIRAet al., 2005).

Em normativa referente a este setor, alguns tôpicos queenvolvem riscos de acidentes por trabalho em altura sãoabordados. Desta forma, a NR 18 – Condições e Meio Ambiente deTrabalho na Indústria da Construção, regulamenta sobre o usode escadas, rampas, passarelas, proteção contra quedas,serviços sobre telhados, assim como os equipamentos utilizadosem altura conforme as características do trabalho. Inclui,desde o uso de cadeira suspensa, especificações dos tipos deandaimes, gruas, e no seu anexo IV, esta norma descreveinclusive os requisitos para uso de plataforma elevatóriamóvel autopropelida.

No contexto, enquanto a economia avança e se expande,algumas empresas diferenciadas do setor, como as prestadorasde serviços de pequenas obras de instalação ou empresas demanutenção predial, estão a procura de novas tecnologias,métodos e soluções que possibilitem a otimização de recursos.Neste ponto, um caso específico chama a atenção e passa a serobjeto de observação: veículos de transporte de cargas nomodelo caminhão furgão (caminhão baú), de pequeno porte, estãosendo utilizados por empresas de manutenção externa comoequipamentos de trabalho, utilizando-se do teto da carroceriacomo plataforma para trabalho em altura.

Não é novidade a utilização de veículos parcialmentemodificados para certas atividades de engenharia, comerciaisou de lazer. No entanto, neste caso a utilização deste meioapresenta-se de uma forma muito particular visto que paraserviços de manutenção externa, predial, pequenos reparos,limpeza de fachadas e demais serviços similares, conta-se comum veículo “equipamento” que, além de permitir a elevação emaltura para o trabalho, serve para transportar ostrabalhadores, os materiais e insumos de reposição assim como,conforme a necessidade, outros equipamentos de trabalho comoandaimes e ferramentas de mão. Tudo a um custo visivelmentemais baixo pela praticidade, se comparados com outrosequipamentos que atendam a mesma função. Sobre as implicaçõeslegais por tratar-se de veículo automotor, no âmbito do Códigode Trânsito Brasileiro – CTB, partindo do pressuposto de queos equipamentos de proteção coletiva sobre a plataforma teto

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do furgão sejam montados no local de trabalho e depois determinado os serviços, desmontados, pode-se concluir que acirculação deste veículo por via terrestre não estáinfringindo nenhuma legislação. Ainda, mesmo realizada algumaadaptação estrutural no teto, a legislação prevê, em Resoluçãodo Conselho Nacional de Trânsito – CONTRAN, a possibilidade desolicitar e registrar modificações no veículo.

Em breve levantamento realizado para estimar a quantidadede fornecedores que atendem o mercado, no final de 2013, foiencontrado a existência de aproximadamente vinte empresasatuando em 12 estados brasileiros. Cada empresa, com pelomenos duas unidades do veículo de trabalho, caminhão furgão, amaioria delas atendendo serviços de limpeza de fachadascomerciais, toldos, comunicação visual corporativa e namanutenção de postos de combustíveis. Para a coberturanormativa em segurança e saúde com a utilização de caminhãofurgão como equipamento de trabalho em altura, a NR 18 e a NR35 não fazem menção dos requisitos específicos para este casomas estabelecem fundamentos que podem ser aplicados a estasituação. Por meio de uma técnica de Análise de Riscos pode-seiniciar uma abordagem ao assunto. O objetivo deste trabalho érealizar uma Análise Preliminar do Riscos (APR) eposteriormente propor sugestões para implementar umprocedimento de trabalho conforme itens aplicaveis das NormasRegulamentadoras (NRs) 18 e 35 para uma situação de trabalhoem altura utilizando o teto de caminhão furgão.2. Revisão bibliográfica

Segundo De Cicco e Fantazzini (2003) a Análise Preliminarde Riscos (APR) consiste no estudo, durante a fase deconcepção ou desenvolvimento prematuro de um novo sistema, como fim de se determinar os riscos que poderão estar presentesna fase operacional do mesmo.

Os autores ainda definem que,

“Trata-se de um procedimento que possuiespecial importância nos casos em que o sistemaa ser analisado possui pouca similaridade comquaisquer outros existentes, seja pela suacaracterística de inovação ou pioneirismo, oque vale dizer, quando a experiência em riscosno seu uso é carente ou deficiente”.

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Com a APR, conta-se com uma ferramenta para identificar ospotencias riscos na segurança do trabalhador durante aoperação deste “novo” equipamento uma vez que de fato o tetode um caminhão furgão, apesar de ter sido observada aresistência suficiente ao peso dos trabalhadores, não tenhasido projetado para a finalidade apresentada. Desta forma, énecessária a realização um procedimento sistemático onde sejamlevantados todos os perigos operacionais e os riscosidentificados adequadamente. Sabendo-se que não será possíveleliminar todos os perigos existentes nos ambientes detrabalho, pois não existe risco zero, a forma de seestabelecer um trabalho é convivendo com o perigo por meio deum gerenciamento de riscos que busque reduzir e minimizar osriscos ou até mesmo eliminar os perigos existentes (BRAUERapud BENITE, 2004).

Seguidamente, resulta importante fazer menção àsdefinições de “perigo” e “risco”.

Conforme De Cicco e Fantazzini (2003),

“Perigo é uma ou mais condições de uma variávelcom o potencial necessário para causar danos.Esses danos podem ser entendidos como lesões apessoas, danos a equipamentos ou estruturas,perda de material em processo ou redução dacapacidade de desempenho de uma função pré-determinada. Havendo um perigo, persistem aspossibilidades de efeitos adversos”.“Risco expressa uma probabilidade de possíveisdanos dentro de um período específico de tempoou número de ciclos operacionais. Pode serindicado pela probabilidade de um acidentemultiplicada pelo dano em cruzeiros, vidas ouunidades operacionais”.

No procedimento para elaboração da APR, Benite (2004)indica que a técnica parte da formação de grupos de trabalhoque utilizam um formulário específico. Posteriormente se fazlevantamento e identificação dos perigos existentes, em quesituações ocorrem e quais danos podem gerar. Seguidamente, serealiza uma avaliação dos riscos.

No quadro 1 apresenta-se um modelo do formulário

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específico para levantamento inicial de informações de riscosda APR adaptado por Faria (2011).

Seguindo a Benite (2004), a elaboração da APR é realizadapor meio de um processo indutivo baseado em predições com basea dados observáveis. Na observação deve-se tomar o cuidado denão utilizar a intuição e pressentimentos subjetivos. Devemser identificadas as informações mais pertinentes às origensem estudo visto que, no processo indutivo, a qualidade dosresultados depende da qualidade das informações iniciaisdisponíveis. Para a avaliação dos riscos, deve ser realizadauma estimativa subjetiva com base a escalas padronizadas derisco.

Os quadros 2 e 3 apresentam escalas em graus de frequênciaou probabilidade e severidade de acidentes propostas por Faria(2011) utilizadas na elaboração da APR.

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Finalmente, se faz o produto frequência-severidade obtendoassim a escala de avaliação. Um modelo, conforme Faria (2011)apresenta-se no quadro 4.

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3. Metodologia Em breve levantamento realizado na região sul do País foi

constatado a existência de empresas de serviços de manutençãoque efetivamente se enquadram dentro do objeto de estudo. Parauma primeira análise, se faz um levantamento fotográfico devários destes veículos “equipamentos” sendo utilizados,registrando as diversas situações de trabalho e verificandoquais itens das normas NRs 18 e 35 poderiam ser aplicáveispara este caso e que atendam a legislação vigente no trabalhoem altura. Uma listagem foi elaborada.

Em um segundo momento, se inicia a elaboração epreenchimento do formulário específico da APR por meio de umlevantamento em campo onde uma equipe de trabalho composto dedois funcionários utilizando o veículo em questão, foramobservados durante suas atividades e entrevistados paracolaborar na identificação das situações de riscos, suascausas, e possíveis consequências. Posteriormente é realizadaa avaliação utilizando-se as informações do modelo dos quadros2 e 3.

Finalmente, em base aos dados obtidos, se elaborasugestões para programar um procedimento de trabalho e seespecifica os requisitos de segurança que o veículo caminhãofurgão deve adotar para adequar-se às normas de segurança dotrabalho.

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4. Resultados 4.1 Levantamento da normativa aplicável conforme NRs

Para o levantamento dos itens normativos compossibilidade de adequação e aplicáveis no uso do veículo“equipamento”, foram analisadas as situações registradas nasfotografias da figura 1 e listadas no quadro 5.

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4.2 A Análise Preliminar de Riscos para uso de teto de caminhão furgão

Os quadros 6 e 7 representam registros da APR realizada emcampo.

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4.3 Sugestões para elaboração de procedimento de trabalho seguro

Com o levantamento e a análise realizada na APR, hácondições de estabelecer considerações para a elaboração de umProcedimento de Trabalho (PT) visando manter os cuidados com asegurança e saúde dos trabalhadores e no ambiente de trabalho.

Inicialmente, pelas características do serviço demanutenção externa descrita, a realização de uma Analise deRisco sempre será necessária no começo de um novo pedido deserviçõs considerando que cada local de trabalho a seratendido apresenta uma situação nova em relação àscaracteristicas da edificação e seu entorno. Também resultaimportante implementar um sistema de autorização para execuçãode serviços por meio de Permisão de Trabalho em Altura. Noentanto, desde que seja mantido os mesmos integrantes daequipe de trabalho, o veículo, os equipamentos e asferramentas, pode ser util na dinâmica do trabalho, a extensãodo prazo de validade desta autorização, abarcando váriosserviços, mesmo em locais diferentes, para um determinadoperiódo de tempo.

Conforme Análise de Risco realizado, deve-se ter presentea importância de manter os equipamentos e ferramentas emperfeitas condições de uso assim como a ordem no veículo detrabalho. A Organização deve prever procedimentos de limpezadas áreas de trabalho assim como estruturas para armazenagemde materiais. Um programa de manutenção dos equipamentos e

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ferramentas deverá ser estabelecido assim como uma lista deverificação com listagem dos componentes do veículo que devemestar adequados.

O Procedimento de trabalho deve incluir também a definiçãode responsabilidades de cada integrante da equipe. Foiobservado a necessidade de contar com um supervisor detrabalho que esteja atento à movimentação do entorno e dascondições de trabalho. A equipe mínima para serviços em alturacom caminhão furgão deve ser formada por dois trabalhadores. Alocomação do veículo para um novo posicionameto de trabalho, acurta distância e velocidade muito baixa deve ser acompanhadapor um trabalhador supervisor que oriente e vigie o movimento.Da mesma forma, só nestas condições e com o correspondente usode EPI, será permitida a permanencia de trabalhador naplataforma durante um curto deslocamento do veículo.

Em relação ao uso do veículo como equipamento de trabalhoem altura, deve-se ter presente a importância do isolamento daárea de trabalho, à previsão climática antes do inicio dosserviços e principalmente na adequação física deste meioveicular aos requisitos mencionados na NR 18. Desta forma, opiso do teto antiderrapante, a escada de acesso com corrimão ea plataforma protegida com anteparo perimetral e roadapéresultam ser de fundamental importância para o trabalhoseguro.

Finalmente, um programa de treinamento deve ser previstono PT. O programa deve incluir básicamente disciplinas comouso de EPI geral e específico para trabalho em altura, NR 10 -Serviços com eletricidade e NR 35 - Trabalhos em Altura.

Com a elaboração do procedimento de trabalho para serviçoscom caminhão furgão, um dos requisitos da própria NR 35 estarásendo atendida. 5. Conclusão

Conforme foi levantado na elaboração da APR, ao não contarcom uma normativa específica para este meio de trabalho, foiverificado a importância de aplicar a regulamentação emsegurança para trabalhos em altura facilitado pela situação deque as condições de trabalho são similares aos outros meiosutilizados e previstos nas NRs. Especificamente, toda aregualamentação da NR 35 é aplicável e possível deimplementação o que possibilita seguir considerando este

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veículo como meio válido de trabalho.A questão maior da discussão fica por conta da adaptação

da estrutura do veículo furgão às condições similaresprevistas na NR 18 para utilização do teto como plataforma detrabalho em altura. Sendo assim, vários itens desta normamostraram-se compatíveis para uma adequação e desta formagarantir a utilização segura do “equipamento”. Asconsiderações para elaborar um procedimento de trabalhoespecífico, levando em conta dados do levantamento realizadona APR confirmam a necessidade de implementar métodos para umtrabalho seguro. ReferênciasBENITE, A.G. Sistemas de gestão da segurança e saúde no trabalho. São Paulo: O Nome daRosa, 2004.BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. Norma regulamentadora NR-10 –Segurança em instalações e serviços em eletricidade. 2014. Disponível em:http://portal.mte.gov.br/data/files/8A7C816A38CF493C013906EC437E23BF/NR-10%20(atualizada).pdf Acesso em 14 mar. 2014.BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. Norma regulamentadora NR-18 –Condições e meio ambiente de trabalho na indústria da construção. 2014.Disponível em: http://portal.mte.gov.br/legislacao/norma-regulamentadora-n-18-1.htm Acesso em 12 mar. 2014BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. Norma regulamentadora NR-35 –Segurança e saúde no trabalho em altura. 2014. Disponível em:http://portal.mte.gov.br/data/files/8A7C816A3D63C1A0013DAB8EA3975DDA/NR-35%20(Trabalho%20em%20Altura).pdf Acesso em 12 mar. 2014. FARIA, M.T. Gerência de Riscos: Apostila do curso de Especialização em Engenharia de Segurança do trabalho.Curitiba, Paraná, UTFPR, 2011DE CICCO,F.M.L.; FANTAZZINI.Tecnologias consagradas de gestão de riscos. 2. ed. SãoPaulo: Risk Tecnologia, 2003SILVEIRA Cristiane Aparecida et al., Acidentes de trabalho na construção civilidentificados através de prontuários hospitalares. Revista Escola de Minas, Ouro Preto,v 58, p. 39-44, jan-mar. 2005.

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