A representação dos cenários que orientam o processo de projeto.

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A representação dos cenários que orientam o processo de projeto. Design orienting scenarios representation. Hartmann, Patricia; Mestranda; Universidade do Vale do Rio dos Sinos [email protected] Franzato, Carlo; PhD; Universidade do Vale do Rio dos Sinos. [email protected] Scaletsky, Celso Carnos; PhD; Universidade do Vale do Rio dos Sinos. [email protected] Reyes, Paulo; PhD; Universidade do Vale do Rio dos Sinos. [email protected] Resumo A construção de cenários é uma metodologia projetual para suportar a tomada de decisões, permitindo o diálogo e o compartilhamento de conhecimento entre os diversos atores envolvidos nos processos de design estratégico. O objetivo deste artigo é explorar como se representam os cenários que orientam o processo de projeto. Para tanto, estudou-se um processo de projeto que visou a prospecção de novas estratégias de distribuição e venda para uma empresa de termo-moldados plásticos. Palavras Chave: design estratégico; design; cenários; representação. Abstract Scenario building is a methodology to support decision-making, allowing dialogue and knowledge sharing between different actors involved in strategic design. The aim of this paper is to explore how to represent the scenarios that orient the design process. For this purpose, we have studied a project process to prospect new strategies for sales and distribution in a company of thermoformed plastics. Keywords: strategic design; design; scenarios; representation.

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A representação dos cenários que orientam o

processo de projeto. Design orienting scenarios representation. Hartmann, Patricia; Mestranda; Universidade do Vale do Rio dos Sinos [email protected] Franzato, Carlo; PhD; Universidade do Vale do Rio dos Sinos. [email protected] Scaletsky, Celso Carnos; PhD; Universidade do Vale do Rio dos Sinos. [email protected] Reyes, Paulo; PhD; Universidade do Vale do Rio dos Sinos. [email protected] Resumo A construção de cenários é uma metodologia projetual para suportar a tomada de decisões, permitindo o diálogo e o compartilhamento de conhecimento entre os diversos atores envolvidos nos processos de design estratégico. O objetivo deste artigo é explorar como se representam os cenários que orientam o processo de projeto. Para tanto, estudou-se um processo de projeto que visou a prospecção de novas estratégias de distribuição e venda para uma empresa de termo-moldados plásticos. Palavras Chave: design estratégico; design; cenários; representação. Abstract Scenario building is a methodology to support decision-making, allowing dialogue and knowledge sharing between different actors involved in strategic design. The aim of this paper is to explore how to represent the scenarios that orient the design process. For this purpose, we have studied a project process to prospect new strategies for sales and distribution in a company of thermoformed plastics. Keywords: strategic design; design; scenarios; representation.

Introdução Na visão de Cross (2011), o processo de projeto não pode ser explicado como uma

simples busca de soluções ideais ao problema dado, ele deve ser compreendido como um processo explanatório. Dessa forma, os projetistas interpretam o problema de projeto não como uma solicitação para uma determinada solução, mas como um ponto de partida para uma exploração do problema, das suas características e implicações, e das diferentes possibilidades para enfrentá-lo. Através de simulações abrangentes da situação que está sendo desenvolvida, os projetistas encontram um momento de negociação que permite a participação, a tomada de decisões estratégicas e o compartilhamento de conhecimentos em direção à inovação.

Essa tomada de decisão é feita a partir de diferentes perspectivas, nomeadas como cenários plausíveis. Assim, os cenários atuam na mediação entre as pesquisas e o projeto, buscando representar visualmente uma teia de interações que constrói o próprio território do projeto. Projetar através de cenários significa construir proposições ou conjecturas sobre possibilidades futuras que configuram a própria a metodologia projetual, promovendo ações concretas no presente que poderão controlar e orientar aquilo que será o futuro efetivo (MANZINI; JÉGOU, 1998). Na literatura encontramos os fundamentos teóricos, metodológicos e epistemológicos para a construção de cenários que orientam o processo projetual (MANZINI; JÉGOU, 2003; MANZIN, 2004; CAUTELA, 2007; DESERTI, 2007; REYES, 2011; JÉGOU et. al, 2012).

Este artigo é resultado de reflexões sobre processo de projeto oriundas de um grupo de pesquisa da [omitido para revisão cega] e explora o tema da contribuição dos cenários no processo de projeto. O objetivo do artigo é explorar como se representam os cenários que orientam os processos de projeto. Para tanto, apresentaremos um processo de projeto para a prospecção de novas estratégias de distribuição e venda para uma empresa de termo-moldados plásticos. Este processo foi concebido como uma atividade de projeto por cenários, atribuindo uma importância especial à sua representação. Assim, apresentam-se os fundamentos teóricos relacionados aos cenários que orientam o processo de projeto, a metodologia e caso utilizados assim como sua respectiva análise.

1. Os cenários que orientam o processo de projeto Os projetistas reconhecem que o problema (o que é requerido) e sua solução estão

interligados, todavia nem sempre essa ligação constitui-se de uma resposta direta ao problema. Isso porque a forma de trabalhar do projetista abrange uma perspectiva mais ampla do sistema em questão, e ocorre através do desenvolvimento de modelos temporários da situação que está sendo projetada (CROSS, 2011).

Uma abordagem metodológica para sustentar e orientar o processo de projeto é o esquema processual da atividade metaprojetual (DESERTI, 2007). Essa abordagem está organizada em uma fase de pesquisa (interpretação dos dados coletados, geração de meta-tendências e construção de trajetórias de inovação) e uma fase de construção de cenários (cruzamento dos dados da pesquisa com algumas constantes do comportamento das pessoas e dos grupos sociais). De acordo com esta proposta, os cenários são um produto heterogêneo constituídos por duas dimensões: uma dimensão estratégica construída a partir de uma série de “mapas de inovação”; e uma dimensão iconográfica, feita de referências materiais e formais.

Para tanto, os projetistas utilizam técnicas de representação tais como o desenho, a modelação e a prototipagem. De fato, podemos interpretar a construção dos cenários como uma metodologia de elaboração das pesquisas preparatórias ao projeto cujo resultado é a

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visualização de contextos alternativos ao presente ou futuro, onde é possível ambientar virtualmente os novos produtos e serviços em desenvolvimento (FRANZATO, 2011). De Moraes (2010) considera que esse espaço de reflexão e de elaboração dos conteúdos da pesquisa projetual, o metaprojeto, está em constante mutação. Esses procedimentos permitem que o projetista possa simular e averiguar possíveis situações de uso futuro, abrindo um leque de indicações estratégicas para o projeto.

A partir das técnicas de construção de cenários qualquer ator envolvido no projeto pode descrever as propostas e as motivações de modo comunicável e compreensível, alinhando assim os esforços da equipe na mesma direção (MANZINI, 2004). Historicamente, o planejamento por cenários auxiliou a preparação de estratégias de guerra. Depois desenvolveu-se no âmbito corporativo para dirigir as políticas das organizações a partir dos anos cinquenta (HEIDJEN, 2000; SCHWARTZ, 2000), tendo a experiência da Shell em 1972 como um caso emblemático (MOREIRA, 2005; SHELL, 2005). Quando aplicados em microescala, os cenários destinam-se a orientar o processo projetual e se apresentam como um conjunto de métodos em constante evolução (MANZINI; JÉGOU, 1998).

Assim, a construção de cenários assume uma posição importante entre os processos que consideram uma abordagem estratégica do design ativando a conversação entre muitos atores com conhecimentos distintos e específicos em uma equipe transdisciplinar. Os cenários utilizados nos processos de projeto foram denominados de Design Orienting Scenarios conforme a abordagem de Manzini e Jégou (2003).

Sobre a arquitetura dessa tipologia de cenários, Manzini e Jégou (2003) consideram três elementos indispensáveis: uma imagem hipotética do futuro (visão), os objetivos gerais/específicos que significam e legitimam a existência do cenário (motivação) e um sistema de produtos e serviços necessários para implementar essa visão (proposta).

Trata-se de uma atividade que objetiva explorar o campo das possibilidades, referindo-se a um ou mais atores específicos (os projetistas) e que enfatiza o confronto e a discussão a partir do momento em que promove a convergência de um conjunto de atores para construir uma visão compartilhada juntamente com escolhas projetuais coerentes (MANZINI, 2004). Na visão de Cautela (2007), um cenário é também uma representação sintética de um conjunto de informações e ideias pré-adquiridas sobre um tema específico que serve como uma linha guia para o projeto. Os cenários que orientam os processos de projeto utilizam a expressão visual para fomentar o diálogo entre os atores envolvidos. A representação visual dos cenários permite que os projetistas possam ler com clareza, simplicidade e precisão a complexidade do próprio sistema projetual. Para Giulio Ceppi (2010), o pensamento por cenários é uma forma de organizar o processo de projeto.

Os cenários devem ser plausíveis e discutíveis, atuando como uma plataforma de interações onde os atores envolvidos possam esclarecer as suas próprias motivações e articular propostas que permitam compreender e validar os respectivos pressupostos e implicações. Os cenários são, portanto, uma plataforma construída e negociada coletivamente que serve como um mapa de navegação durante os processos de projeto.

Os cenários assumem a forma de histórias que narram futuros possíveis, mas o fazem preferencialmente através do próprio projeto (DESERTI, 2007). De acordo com a organização Strategic Design Scenarios (JÉGOU et. al., 2011; 2012) liderada por François Jégou em Bruxelas, as diferentes formas de representação dos cenários podem ser discutidas a partir do ponto de vista do observador, no caso da rede de projetistas. Esses cenários podem ser representados através de uma única imagem, de mapas de sistema ou de pequenas histórias e vídeos.

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2. Metodologia Com o objetivo de avançar nesta reflexão realizou-se um estudo de caso sobre uma

atividade de projeto fundada na construção de cenários que assumiu a representação como característica relevante. Esta situação foi encontrada na [omitido para revisão cega], que busca desenvolver parcerias com empresas e outras organizações, explorando o potencial das atividades didáticas ao mesmo tempo em que proporciona ideias e projetos. As experiências desenvolvidas por essa rede de colaboração utilizam a abordagem metodológica do metaprojeto (CELASCHI, DESERTI, 2007; DE MORAES, 2010) que visa prospectar trajetórias de inovação para as organizações através do design.

Entre as diversas parcerias articuladas pela [omitido para revisão cega], este artigo realizou um estudo de caso sobre uma pesquisa aplicada para uma empresa, que atua no desenvolvimento e na produção de produtos termo-moldados a partir do EVA, do PU e de materiais reciclados. Foram analisados os documentos produzidos pelas equipes de projeto juntamente com a observação do modo de apresentação dos trabalhos.

Acredita-se que o caso escolhido seja relevante para essa exploração, pois foi desenvolvido por redes de projeto transdisciplinares que tiveram os seus projetos orientados pela construção de cenários devido à abordagem metaprojetual utilizada nessa experiência. A investigação foi guiada pelas categorias de análise abordadas anteriormente: a arquitetura indicada por Manzini e Jégou (2003) e a forma de representação dos cenários (JÉGOU et. al., 2011; 2012) conforme a Tabela 1.

Tabela 1 Critérios Descrição

Arquitetura

Visão Imagem hipotética do futuro (como será o mundo se?).

Motivação Objetivos gerais/específicos que significam e legitimam a existência do cenário (porque este cenário é significativo?).

Proposta Sistema de produtos e serviços necessários para implementar essa visão (como se articula concretamente esse sistema?).

Representação

Vista Frontal

Tentativa de visualizar a solução em uma única imagem, com a escolha de uma interação emblemática ou através da captação de um ângulo específico.

Vista Superior

Visualização dos relacionamentos entre as estruturas que compõem o projeto de uma forma abrangente através de mapas de sistema.

Linha do Tempo

Forma narrativa dos cenários representando os principais momentos de interação através de pequenas histórias e vídeos

3. O processo de projeto desenvolvido para a empresa

A empresa, com unidades fabris localizadas no Brasil (Novo Hamburgo, RS), na Alemanha e na Romênia, foca atualmente em três unidades de negócios: palmilhas para o setor calçadista, embalagens e gadgets promocionais.  

Um dos principais objetivos estratégicos da organização é explorar novos mercados. A empresa esta prospectando uma passagem do mercado B2B (Business to Business) onde hoje atua, para o mercado B2C (Business to Consumer), focando especialmente nos setores das utilidades domésticas e dos acessórios para o escritório e o profissional.

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Para explorar as suas possibilidades nestes novos setores, a empresa estabeleceu uma parceria com a Universidade, mais especificadamente por meio de atividades de pesquisa e projeto desenvolvidas dentro do programa de pós-graduação em Design.

Foram organizados dois workshops voltados ao desenvolvimento das estratégias de venda e distribuição para novas unidades de negócio prospectadas no ciclo anterior sob o ponto de vista estratégico do Design. O modelo processual usado nestas atividades seguiu os princípios da abordagem metaprojetual (CELASCHI, DESERTI, 2007; DE MORAES, 2010).

A elaboração dos cenários durante o processo projetual começou a partir da análise de situações passadas e presentes, acompanhando as principais linhas de uma possível/provável evolução futura. Para desenvolver a construção de cenários, a elaboração de um gráfico de polaridades foi a técnica escolhida para articular os pensamentos que estruturam os cenários. O gráfico de polaridades busca o tensionamento e permite a gradação entre polos no sentido de visualizar uma pluralidade de hipóteses. A Tabela 2 apresenta as polaridades escolhidas pelas quatro equipes de projeto que participaram desse workshop. Essas polaridades não devem ser interpretadas como quatro possibilidades alternadas para a construção de cenários e sim como um mecanismo facilitador do pensamento que, ao ter extremidades fixas, auxilia a mobilidade de estratégias projetuais dentro desse sistema.

Tabela 2

Grupo 6x Grupo Nosotros

Grupo Le Parkour Grupo Os Ausentes

De acordo com essas polaridades, cada equipe de projeto desenvolveu um cenário para

cada quadrante dos gráficos apresentados acima. Como a representação dos quatro cenários dentro de cada equipe projetual seguiu o mesmo padrão, serão apresentados a seguir somente um cenário de cada equipe (a forma de representação de cada cenário escolhido corresponde exatamente aos outros três cenários de cada equipe de projeto).

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Conforme a Figura 1, o grupo 6x representou o cenário através de uma imagem-síntese juntamente com o nome do cenário (Smart). Além disso incluiu um texto que descreve a visão pretendida pelos projetistas para a empresa e como ela pode ser alcançada (através de uma loja virtual e de uma forte parceria com transportadoras e correios), sem referências específicas de porque esse modelo seria interessante nesse contexto. Também buscou representar a atmosfera deste cenário através de um painel de imagens (mood board).

Figura 1: Grupo 6x - Cenário Funcional x Online.

A Figura 2, apresenta o modo de representação dos cenários do grupo Nosotros. Esse

formato constitui-se de um texto que descreve porque este cenário seria significativo neste contexto, mas não faz referência explicita à empresa. A atmosfera deste cenário pode ser entendida através de um painel de imagens (mood board). O público-alvo aparece em destaque com a descrição detalhada de uma usuária específica deste universo (persona).

Figura 2: Grupo Nosotros - Cenário Emocional x Offline.

De acordo com Figura 3, o grupo Le Parkour representou o cenário através do seu nome

(Estúdio Classe) com um texto que justifica a existência do cenário, mas descreve parcialmente como os novos produtos da empresa podem ser encontrados e adquiridos. Também buscou representar a atmosfera deste cenário através de um painel de imagens (mood board). O público-alvo aparece para nortear o entendimento do contexto (persona)

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juntamente com outras imagens do ambiente e dos acessórios que completam esse universo. Este cenário foi associado a uma das tendências pesquisadas pela equipe de projeto durante a etapa metaprojetual (mobilidade virtual).

Figura 3: Grupo Le Parkour - Cenário Estático x Sério.

O grupo Os Ausentes representou o cenário através de uma colagem de vídeos que

buscaram mostrar a atmosfera pretendida. Algumas das cenas apresentadas neste cenário foram reunidas na Figura 4. Em relação aos cenários apresentados anteriormente, não foram apresentados textos com a visão ou com as propostas de projeto e também não foi associado um personagem específico neste universo. Contudo, neste cenário a coleção de vídeos apresenta os robôs como os principais protagonistas desta história. Nesse caso não houve referência direta à empresa em questão.

Figura 4: Grupo Os Ausentes - Cenário Artificial x Físico.

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Os cenários desenvolvidos pelas quatro equipes de projeto foram apresentados para todos os envolvidos no workshop (mestrandos e professores) como forma de construir uma decisão projetual que ainda não está definida. A seguir serão discutidas as formas de representação desses cenários como sendo um momento de síntese e de tomada de decisões estratégicas e projetuais.

4. Discussão

A pluralidade de hipóteses projetuais é fundamental para que a tomada de decisões seja fundamentada de modo estratégico. Sob esse ponto de vista a representação dos cenários pelas equipes de projeto considerou quatro possibilidades alternadas sendo que cada uma delas seguiu o mesmo padrão de representação entre as equipes. Para discutir a abordagem teórica sobre os cenários em relação aos casos apresentados foi elaborado um cruzamento com essas informações (Tabela 3). Entre os aspectos considerados destacamos a técnica utilizada para representar o cenário (JÉGOU et. al., 2011; 2012) e se a arquitetura indicada por Manzini e Jégou (2003) foi percebida através da respectiva forma de representação. A forma de utilização das imagens e dos textos também foi um item analisado, juntamente com características específicas dos cenários desenvolvidos neste workshop como a utilização de personas e da criação de um nome para o cenário.

Em relação à técnica de representação, três equipes de projeto utilizaram o formato de pôster com imagens e textos. Entretanto em nenhum dos casos pode ser verificada a simulação do produto ou do serviço em seu contexto de mercado, sendo anunciado em diversos meios de comunicação, como anúncios publicitários por exemplo. A utilização de conceitos de projeto (concepts) também não foi utilizada. Esses cenários apresentam claramente uma visão, mas a maioria não consegue se posicionar e indicar como deve ser o sistema de produtos e serviços necessários para implementar essa visão. Da mesma forma, a equipe que trabalhou com apenas uma justaposição de cenas sem a interferência dos projetistas na construção de uma narrativa (com os objetivos gerais/específicos que significam e legitimam a existência do cenário) não conseguiu expressar com clareza quais são as intenções projetuais da equipe.

Tabela 3

Grupo Nome do Cenário

Arquitetura Representação

Visão Motivação Proposta Vista Frontal

Vista Superior

Linha do Tempo

6x Smart Sim Sim Sim Pôster - - Nosotros - Sim Não Não Pôster - -

Le Parkour Estúdio Classe Sim Sim Não Pôster - -

Os Ausentes - Sim Não Não - - Vídeo Outro ponto a ser considerado nessa análise é a importância dada às personas em dois

destes cenários (Grupo Nosotros e Grupo Le Parkour). Conforme Manzini e Jégou (2000), os cenários podem ser baseados em um ator particular (instituição ou organização e seu ambiente estratégico) ou na função (ambiente de um determinado ator), onde os cenários buscam mostrar como mudanças consistentes no comportamento dos atores podem afetar a evolução do sistema. Em ambos os casos descritos por Manzini e Jégou (2000), o foco não é somente

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um ator individual, mas sim a rede de relacionamentos que articula produtos e serviços, ou seja, os atores e o ambiente são indissociáveis.

Se consideramos que os cenários são uma plataforma de interações, poucos relacionamentos puderam ser vistos através das representações de cenários elaboradas pelas equipes de projeto participantes do workshop. Possivelmente essas articulações podem estar sob o domínio de um ou mais integrantes de cada equipe, entretanto se esse conhecimento não é expresso visualmente, a tomada de decisões estratégicas não ocorre sobre um mapa plenamente entendido e compartilhado.

Outro aspecto importante é que todos os trabalhos foram pensados para apresentações orais, isto é para o diálogo. Por esse motivo, certas características e intenções projetuais foram transmitidas verbalmente. Sob esse ponto de vista os cenários podem ter atuado como ponto de partida das discussões entre os participantes, mas se não foram plenamente representados será mais difícil retomar essas interações em um momento posterior do processo projetual.

Considerações finais

Sendo o design uma forma estratégica de tomada de decisões que buscam a inovação, a representação consistente desses cenários pode configurar-se em um grande valor competitivo para as organizações no contexto contemporâneo.

Neste contexto, a produção de cenários tende a se consolidar e a se difundir, precisamente porque, por sua natureza, esse método torna possível o desenvolvimento de visões articuladas e fundamentadas. Se devidamente construídos e promovidos, os cenários podem representar aquele futuro compartilhado que as empresas, as agências governamentais e a sociedade devem buscar (MANZINI, 2004).

Os cenários apresentados no estudo de caso nem sempre contemplam plenamente a visão, a motivação e a proposta de cada equipe de projeto. Esta é uma confirmação da necessidade de estudar os cenários não somente de um ponto de vista teórico e metodológico, mas também de um ponto de vista operacional. Quais são as técnicas de representação mais adequadas para a construção de cenários eficazes? Quais devem ser os elementos constituintes de cenários que consigam expressar visualmente as intenções projetuais para os envolvidos em uma rede de projeto?

Eis um tema de pesquisa cujo valor aumenta com a complexidade do contexto, do sistema em que opera e com o aumento do número de atores sociais envolvidos no processo. Dessa forma, os cenários passam a constituir o espaço onde se criam as condições para que determinadas estratégias se cumpram. Nesse espaço, quanto maior for o número de atores que participem desse processo de negociação e decisão, mais complexo é o sistema e o contexto de referência e mais difícil será construir essa arena ou plataforma de interação (MANZINI, 2004).

Para que os projetistas possam atuar em níveis estratégicos dentro das próprias organizações é preciso aprimorar cada vez mais a conversação sob o ponto de vista do design. Construir modelos e simulações temporárias da situação que está sendo projetada de modo significativo e com o auxílio das novas formas de representação e construção de conhecimentos pode ser uma grande oportunidade para os projetistas que buscam a inovação.  Referências

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