A RELIGIOSIDADE DOS INDÍGENAS TABAJARA DA PARAÍBA
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A RELIGIOSIDADE DOS INDÍGENAS TABAJARA DA PARAÍBA
Eliane Farias1 SEDEC-PMJPLusival Barcellos2 UFPB
RESUMO
O povo Tabajara vivencia o processo de reivindicação de seutradicional território e reelaboração de suas tradições. A maiorparte dos indígenas desse grupo são adeptos do pentecostalismo e oritual Toré tem causado convergências e divergências entre eles. Háum consenso de que o Toré é um legado cultural valoroso deixadopelos seus antepassados. Entretanto, nos últimos 150 ano, devido apresença atuante da igreja pentecostal no cotidiano de suas vidas,resultou numa adesão da maioria ao cristianismo. Desse contextonasceu a problemática desse estudo: Quais estratégias serão adotadaspelos Tabajara para superar o impasse entre os pentecostais que seassumem como indígenas, mas que não praticam o Toré? Haverá respeitopela opção religiosa de cada um? A pesquisa revela que as histórias derupturas, das descontinuidades vividas por eles na diáspora, asformas de vida no passado colhida através da memória dos troncos velhos,foram fundamentais para o processo de emergência étnica que seiniciou nos últimos oito anos e que cada vez mais vai sefortalecendo e tendo visibilidade na sociedade paraibana.
Palavras-chave: Indígenas Tabajara. Direitos. Toré. Religiosidade
GT 8 DIREITOS HUMANOS DIVERSIDADE CULTURAL RELIGIOSA
RELIGIOSIDADE TABAJARA
O presente artigo é uma adaptação do terceiro capítulo da
dissertação de Mestrado: Memória Tabajara - manifestação de fé e identidade étnica
(FARIAS; BARCELLOS 2012). Nos estudos da História, da Antropologia,
da Sociologia e de outras ciências sociais, há registro de algum
tipo de crença ou manifestação religiosa. Isso porque, desde os
1 Mestra em Ciências das Religiões pela Universidade Federal da Paraíba(UFPB); E-mail: [email protected] Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte(UFRN); Professor do PPGCR/UFPB; Grupo de Pesquisa: Videlicet. E-mail:[email protected]
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tempos imemoriais, o ser humano de acordo com suas carências e
necessidades, sentiu a necessidade de modificar ou adapta-se ao meio
onde está inserido. (BERGER, 1985; ALVES, 1981).
Com o passar do tempo, percebe-se que os sistemas de
comunicação foram interligando-se, surgindo à globalização em todas
as áreas, inclusive na cultura. A busca pela inserção no mercado
mundial e a velocidade das informações contribuíram para modificar
as identidades culturais no tempo e no espaço (VILHENA, 2005).
Assim, a historiografia relata que a partir das grandes
navegações houve uma imposição das culturas europeias, sobre as
culturas aborígenes da América (BARCELLOS, 2012), provocando uma
forte miscigenação. Neste sentido, percebe-se que o direito natural3
que tem como pontos principais em sua doutrina a ideia de que existe
um direito comum a todos os homens e que o mesmo é universal, a
identidade cultural dos indígenas foi violentamente desrespeitada. A
chegada dos africanos contribui ainda mais, para uma profunda
aculturação na nossa sociedade.
Nesse contexto, no Brasil a religião, a partir da colonização,
apresenta uma diversidade de matriz indígena, africana e europeia,
com predomínio hegemônico do cristianismo, sobretudo da religião
católica. Almeida Filho (2004, p. 42-43) define religião como: [...] sistema de crenças, ritos, de formas deorganização e de normas éticas, por meio das quais osmembros de uma sociedade tratam de comunica-se com seusdivinos ou seus intermediários e encontrar um sentidoúltimo e transcendente para existência.
Assim sendo, o ser humano vivência a religião através do
sentir, da crença, do mito, do rito e da história. Como escrito
acima, os nativos sofreram invasão cultural e religiosa nos últimos3 Segundo Bobbio (2005), suas principais características são auniversalidade, a imutabilidade e o seu conhecimento através da própriarazão do homem.
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cinco séculos, deixando de exerce sua crença, prevalecendo à
dominação, a exploração e o extermínio do povo indígena. (WRIGHT,
2004). A dissertação da Eliane Farias (FARIAS; BARCELLOS, 2012),
trata do povo indígena Tabajara, descendentes do tronco Tupi, que
residem no litoral Sul da Paraíba. Segundo Mura (2010), a população
atual é de 755 indígenas, cuja maioria vive nas periferias das
cidades paraibanas de João Pessoa, Pitimbu e Alhandra e em duas
aldeias no município do Conde: Gramame e Vitória. Depois de mais de
150 anos tido com extinto pela sociedade, o povo Tabajara, em junho
de 2006, inicia o seu processo de emergência étnica e, após uma
incansável luta, consegue hoje ser reconhecido, nacional e
internacionalmente, como o segundo povo indígena da Paraíba.
É sobre esse contexto que a pesquisa realizada com os antigos
moradores da sesmaria da Jacoca, hoje município do Conde-PB
(BAUMANN, 1981), revelou uma relação cosmogônica entre os indígenas
e as matas, o mar, os rios, a terra, as águas etc. Os anciãos
relatam que os antepassados acreditavam na Natureza Sagrada, no Pai
do Mangue, na Maria Fulorzinha, nos Espíritos de Luz e nos Espíritos
dos antepassados. (FARIAS; BARCELLOS, 2014).
Assim como eram utilizados pelas gerações antigas os
conhecimentos Tabajara ainda hoje são transmitidos oralmente,
sobretudo pelos mais troncos velhos. (BARCELLOS; SOLER, 2012). Segundo
eles, a praia de Tambaba era lugar sagrado, o cemitério onde
sepultavam seus mortos. “Lá na praia de Tambaba tem uma pedra fina
no meio do mar, aquela tem um diferencial, porque tem um coqueiro
onde os caboclos iam brincar catimbó.” (NEQUINHO, jan. 2011)4. Neste
contexto, relatam as relações dos seus ancestrais com os espíritos
das águas e das matas.
4 Informação Verbal; Tronco velho Tabajara, Aldeia Tabajara Barra de Gramame,jan. 2011.
3
A mata é o lócus de peças chaves da cosmologia indígena,pois nela transitam os donos dos bichos, das águas e daprópria mata, que são os que cuidam dos seres quepertencem e habitam estes domínios. Estes serescontrolam a caça, a pesca e a coleta praticadas peloshumanos através de ‘castigos’ dados aos que extrapolam oque é considerado necessário, ‘abusando’ ou‘desperdiçando’ caça, a pesca e a coleta. (ALBERNAZ,2009, p. 166).
Os troncos velhos (anciãos) revelam histórias extraordinárias
do seu imaginário cosmogônico sobre entidades e espíritos que
habitam a natureza. Segundo eles, para entrar na mata em busca de
caça ou para a coleta de frutos e a retirada de madeira, é
necessário fazer oferendas a Comadre Fulorzinha. “Levava-se sal,
fumo e farinha de roça e depositava-se na entrada da mata para a
entidade abrir os caminhos. Quando as oferendas não eram feitas,
diziam que se perdiam na mata, não acertavam a caça e os cachorros
tomam tremendas surras.” (CACIQUE CARLINHOS, maio 2010)5.
Também acreditam que para ser bem sucedido em algumas
atividades, deve-se respeitar determinado tempo cronológico. Assim,
as relações sociais também têm influência do cosmo. Segundo Cacique
Carlinhos (maio 2010), “[...] o indivíduo quando tem relação sexual
está com o corpo aberto.” E exemplificou:
[...] se vai empreender uma determinada atividade deveter abstinência de três dias sem relação sexual com suamulher e se tratando de adultério ou relação comprostituta à abstenção deve ser de sete dias. É o tempopara fechar o corpo; na segunda-feira é dia dosespíritos da mata e não se deve caça; não devem passarpor baixo de cerca de arame farpado que atrai coisasruins.
5 Informação Verbal; cacique Tabajara, Aldeia Tabajara Barra de Gramame,fev. 2010.
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Nestes termos, acreditam, respeitam e seguem as normas dos
antigos, mas não conhecem como ocorrem estes fenômenos. “[...] é
ciência dos mais velhos, para lidar com os rios, as matas e o mar é
algo muito sigiloso, que não nos foi revelado.” (PAULO MACIEL, dez.
2009)6.
Parte dos Tabajara (os que foram criados e continuam morando
na zona rural) acreditam que os espíritos que habitam a natureza
interferem diretamente nos assuntos humanos e que é necessário estar
em sintonia com essas forças e respeitá-las para que as atividades
humanas aconteçam com fluidez. Porém, os que se converteram ao
protestantismo, não admitem as entidades que habitam a natureza e
afirmam que são “espíritos mal”. Assim, tem toda uma dimensão
antropológica cultural e social de visões diferentes envolvendo suas
crenças, usos, costumes e valores éticos e religiosos.
O povo Tabajara como fiéis pentecostais, vive de acordo com os
preceitos e a doutrina da igreja que congregam. Oram e invocam a
presença de Deus em todos os momentos, nas horas de refeição, nas
conversas, nas reuniões, em momentos de confraternização, enfim em
todos os momentos. constantemente vivenciam fecundamente a
religiosidade cristã.
Esses evangélicos demonstram formar uma grande irmandade em
oração e fé. Mysacke Severo (mar. 2011)7, falou sobre a consagração
como diácono e sobre a importância da religião na sua vida enquanto
indígena Tabajara.
Ser diácono é sinônimo de ser servo. Quando você épromovido, se você servia. Você vai servi duas vezesmais ou até além. Servi sempre com alegria aos nossosirmãos. Servi primeiramente a Deus. A gente como diácono
6 Informação Verbal, Liderança Tabajara e Ministro da Assembleia de Deus,João Pessoa, dez. 2009.7 Informação verbal; Liderança Tabajara e Diácono da Assembleia de Deus,João Pessoa, mar. 2011.
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assume toda coordenação dos pormenores da igreja,passamos a ser o suporte do pastor, vai auxiliar ondeele precisa. Dirigimos culto, auxiliamos na Santa Ceia eaté servi um copo d’água, devemos fazer com alegria.Toco violão e acordeom para louvar ao senhor, também souprofessor da escola bíblica de adolescentes, preparamosa base, o alicerce dos jovens no fortalecimentoespiritual. Isso é a força que mim conduz.
O pentecostalismo valoriza e forma os adeptos que têm o dom de
evangelizar e de trabalhar como liderança religiosa. Segundo Fabossi
(2010, p. 43),
Liderança é a habilidade de influenciar e inspirarpessoas, servindo-as com amor, caráter e integridade,para que vivam com equilíbrio e trabalhem com entusiasmoem direção a objetivos e resultados legítimos,priorizando a formação de novos líderes e a construçãode um futuro melhor.
Quando Mysacke fala que uma das funções do diácono é servir com
alegria, está falando em servir com amor. O amor propagado por
Jesus, um amor que se traduz em atitudes e escolhas sempre pensando
no bem-estar dos fiéis. É o amor ágape8. Nesse sentido, as igrejas e
seus pastores surgem no meio das populações carentes oferecendo
alegria, amor, diálogo, autoestima como uma alternativa aos
problemas vivenciados na atualidade da vida terrena. Os discursos
pastorais orientam os fiéis a se dedicarem às práticas da igreja
para a salvação. Assim, acreditam que ascenderão ao céu junto a
Jesus, no dia do juízo final. Mysacke (mar. 2011) também expressou
seu ponto de vista sobre a conversão ao pentecostalismo. Ele afirma
que,
[...] aparentemente, na ótica humana, a gente tem umavisão. Na questão espiritual há um agir de Deus por trásde toda a história, a influência dos pais que aderiram a
8 Ágape é o amor incondicional, compreensivo e espontâneo que nada espera emtroca. (FABOSSI, 2010, p. 44).
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essa religião e foram passando de pai para filho. Umaceitou, outro posteriormente aceitou e desta formaforam criados no Evangelho que é uma verdade absoluta. Apalavra de Deus diz: aquele que conhece a verdade, averdade vos libertará. Não é nós que dominamos apalavra, mas é a palavra que nos domina, que nos motivaa agir diferente.
Ser crente para um Tabajara como Mysacke significa ser alguém
dentro de uma comunidade, onde o fiel é reconhecido e tem seu papel
na sociedade. Mais uma vez, a religião dá prova do respeito e
valorização da pessoa indígena como cidadão. Na busca por amenizar
as dificuldades e preencher o vazio existencial as populações
recebem as práticas pentecostais como salvação para todas as mazelas
contemporâneas. (FARIAS; BARCELLOS, 2012).
Foram diversos os rituais, dentre eles, alguns de peregrinação,
que foram presenciados durante a pesquisa. Um deles foi a vigília
realizada na aldeia Barra de Gramame, em novembro de 2010. Segundo
Turner (2008, p. 161), “[...] um ‘peregrino’, para The Oxford
English Dicitionary, é aquele que viaja para um lugar sagrado num
ato de devoção religiosa, enquanto ‘peregrinação’ é a viajem de um
peregrino.” Os pentecostais Tabajara junto aos não indígenas, nessa
vigília, fizeram todo um trajeto de peregrinação. Viajaram da cidade
de Cabedelo-PB, passando pela cidade de João Pessoa, nos bairros de
Varadouro, Grotão, Colinas do Sul e Geisel até chegarem à aldeia
Barra de Gramame, no Município do Conde-PB, para realizarem a
vigília.
A oca, espaço de realização dos eventos do povo Tabajara, não é
aceita como espaço para realização das atividades evangélicas, pois
o ritual do Toré invoca outros espíritos segundo alguns Tabajara. Um
grupo9 de quatro pessoas durante a celebração da vigília ficou
afastado, embaixo de uma mangueira fazendo suas orações. Foi
9 O grupo era composto por Mysacke Severo e esposa mais um casal amigo.
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interessante perceber que essas pessoas, estando no mesmo espaço e
sendo pentecostais, não comungam do ritual da celebração. “Todas as
pessoas têm direito à liberdade de pensamento, de consciência e de
religião; [...], assim como a liberdade de manifestar a sua religião
ou credo, sozinho ou em comunidade com outros, [...]”. (Art. 18º
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM, 1948). Entre os
pentecostais existe uma diversidade de ritos que tem na sua base o
cristianismo, mas cada um segue sua religiosidade de maneira
particular.
A história tem registrado muitas lutas entre indígenas,
brancos, portugueses, franceses e holandeses, que guerreavam entre
si pela posse da costa nordestina brasileira. Nesse contexto, o povo
indígena Tabajara é um segmento social que está incluído (excluído)
como minoria da sociedade paraibana que vem vivenciando estes
conflitos. A etnia Tabajara da Paraíba, por causa de uma violente
opressão, foram expulsos do seu território tradicional, o Sítio dos
Caboclos, localizado na antiga Sesmaria da Jacoca e Aratagui, no
Litoral Sul Paraibano.
Por décadas estiveram dispersos nos municípios litorâneos do
Sul da Paraíba e, a partir de 2006, constituem-se como grupo étnico
assumindo a indianidade. (FARIAS; BARCELLOS, 2012). Nas narrativas
dos troncos velhos percebemos as marcas da feroz violência sofrida por
estes. “Para mim índio era uma coisa e caboclo outra.” (PEDRO
SEVERO, dez. 2010)10. Relatam que não sabiam que eram indígenas, mais
sim caboclos, que haviam sofrido a injustiça da usurpação de suas
terras, que se sentiam acuados com receio de buscar seus direitos,
pois o poderio dos grandes proprietários era maior. “Todos os seres
humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos” (Art. 1º
- DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, 1948).
10 Informação verbal; Tronco velho Tabajara, João Pessoa, dez. 2010.
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Essa é uma das bases fundamentais dos direitos humanos. É o
princípio que discriminação e perseguição com base na raça
ou etnia são violações desse princípio. A discriminação racial já
fez muitas vítimas, grupos sofreram atrocidades, como - o genocídio
e a apartheid, até as formas mais ocultas por meio das quais,
determinados grupos raciais e étnicos são impedidos de se
beneficiarem dos mesmos direitos civis, políticos, econômicos,
sociais e culturais comuns a todos os cidadãos.
Por causa dessa discriminação e perseguição, o grupo indígena
Tabajara luta até os dias atuais, de forma árdua para sobreviver;
grande parte de seus membros habitam em comunidades nas periferias
urbanas em condições muito precárias de sobrevivência.
Nesse contexto, a religião surge em suas vidas oferecendo-lhes
uma identidade diferenciada, proporcionando-lhes esperança de dias
melhores, pela força das bênçãos divinas e pela própria ajuda como
convertidos. “Eu comecei a estudar a noite, tinha vontade de
melhorar minha leitura, mas os compromissos da igreja foram
maiores.” (MANOEL RODRIGUES, jan. 2011)11. Esse acolhimento da igreja
faz com que o fiel desenvolva seus potenciais em prol de uma vida
mais digna. Portanto, “Todos os seres humanos nascem livres e iguais
em dignidade e em direitos.” (Art. 1º. DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO
HOMEM E DO CIDADÃO, 1789);
Todo o homem tem direito à liberdade de pensamento, e deconsciência e religião; este direito inclui a liberdadede mudar de religião ou crença e a liberdade demanifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pelaprática, pelo culto e pela observância, isolada oucoletivamente, em público ou em particular. (Art. 8º -DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, 1948);
Nos Estados em que existam minorias étnicas, religiosasou linguísticas, as pessoas pertencentes a essas
11 Informação verbal; indígena Tabajara Diácono da Assembleia de Deus, JoãoPessoa, jan. 2011.
9
minorias não devem ser privadas do direito de ter, emcomum com os outros membros do seu grupo, a sua própriavida cultural, de professor, de praticar a sua própriareligião ou de utilizar da sua própria língua. (Art. 25º– PACTO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS CIVIS EPOLÍTICOS, 1966);
A Declaração das Nações Unidas sobre Direitos dos Povos
Indígenas (2007), a Constituição 1988 (art. 231), Estatuto dos Povos
Indígenas (2009), todas essas publicações mostram amplamente a
proteção e promoção do cidadão e das minorias, garantindo o direito
à identidade étnica, religiosa, linguística e o direito a preservar
as características (sinais diacríticos) e tradições ancestrais que
pretendem manter e desenvolver.
O Toré frente ao pentecostalismo Tabajara
As manifestações religiosas estão presentes no cotidiano das
pessoas, e dentro destas, estão os rituais. O rito refere-se à ordem
do cosmo e à relação dos humanos com as divindades e entre si. De
acordo com Vilhena (2005, p. 22), “[...] conforme as circunstâncias
a as necessidades sociais, novos ritos podem ser criados, ou
recriados ou ressignificados, e outros ainda podem desaparecer
quando não tiverem mais sentido para uma comunidade ou para a
sociedade no geral.”
Nesse sentido, os ritos são praticados como elo de celebração,
memória, reavivamento, reelaboração e tradição. (ELIADE, 2002). Como
elemento de reelaboração e tradição entre os povos indígenas do
Nordeste, temos o ritual do Toré que, com os movimentos de
ressurgimento iniciados na década de trinta, foi levado pelo órgão
indigenista, o Serviço Proteção ao Índio (SPI), a caracterizar-se
como sinal diacrítico exigido para reconhecimento dos grupos
indígenas.
10
[...] o Toré assumia (e ainda assume) um caráter detraço cultural fragmentado, de valor estético folclóricoe documental, uma dança que comprova a permanência domínimo de tradição necessária ao reconhecimento deresquícios de sua ancestralidade indígena, ela passou afigurar como expressão obrigatória da indianidade.(ARRUTI, 1995, p. 82).
Nesse sentido, os povos indígenas adotaram o Toré como
expressão mais forte da indianidade nos diversos momentos do
cotidiano como ritual religioso, cultural, social e político nas
lutas de reivindicação pelos seus direitos. Conforme Grünewald
(2005, p. 17), “[...] o Toré, como sinal diacrítico maior da
indianidade na região, tem também histórias descontínuas, difusas,
esquecidas e lembradas, recontadas, reinterpretadas, construídas,
imaginadas e, obviamente, vividas.” O ritual Toré pode ser uma
dança, uma brincadeira, expressão simbólica, mas, sobretudo, um
ritual religioso cultural. (BARCELLOS, 2012). Para os Tabajara
constitui-se como um traço cultural que está sendo reelaborado em
função do processo de ressignificação de seu povo. O Toré é uma
expressão lúdica e organizadora, íntima e emblemática, definida
pelos indígenas como ‘tradição’, ‘união’ e ‘brincadeira’, que é
atualmente uma prática conhecida e presente na maioria das
coletividades que se reivindicam como indígenas. (OLIVEIRA FILHO,
2004).
Entre os povos indígenas do Nordeste o ritual é constituído por
um conjunto de elementos: música (diversas), coreografia,
instrumentos musicais, vestimentas (saiote de palha de embira, colar
de sementes, bracelete de palha e penas, cocar de pena ou palha),
corpo pintado. Geralmente, a ritualística tradicional do Toré
obedece a uma ordem, porém o estilo pode variar de um grupo indígena
para outro. O ritual envolve adultos, anciãos (cacique, lideranças),
mulheres, jovens e crianças. Coletivamente, em círculo, dançam ao
11
som de tambores, gaitas e maracás, batendo forte com os pés na terra
para receber sua energia. Dependendo da ocasião, do local e do
motivo pelo qual o ritual está sendo realizado, muda à sistemática
das apresentações. De acordo com Arruti (1995, p. 82-83), “[...]
podendo-se realizá-lo, a princípio, em muitas e distintas situações
e lugares, com diferentes objetivos: festas religiosas ou profanas,
dentro da aldeia ou em cidades, em locais reservados, como
terreiros, ou em locais públicos, [...]”. Em todas essas situações o
ritual se reveste de natureza cultural, política e religiosa.
A maior parte o grupo Tabajara contemporaneamente são
pentecostais e vivenciam certo desconforto no campo religioso, ao
confrontar a reelaboração de suas tradições com a religião que
professa. As normas estabelecidas pela igreja Assembleia de Deus,
Madureira e as Missões vão de encontro com o ritual do Toré.
Existem famílias mais aguerridas que se apegavam às tradições
indígenas, como o cacique geral Ednaldo, o cacique Carlinhos e
outros. Estes promovem e propagam o ritual do Toré e todos os sinais
diacríticos de seus antepassados. Esse processo de resignificação
surgiu com o mito da profecia12. (FARIAS; BARCELLOS, 2014).
Por outro lado, tem as famílias protestantes pentecostais que
conheceram o Evangelho através da transmissão de pai para filhos
(estão na terceira geração de pentecostais). Entre as famílias, há
conversão a denominações evangélicas diferentes, sendo a família da
linhagem dos Severo com maior em número de adeptos.
A saída do sítio e o estabelecimento nas periferias urbanas de
João Pessoa, o afastamento total de seus parentes e da cultura
tradicional são fatores que propiciam e sugerem a ‘aceitação de
Jesus’. Estes formam o grupo religioso pentecostal mais arraigado,
12 Relato contado pelo tronco velho Tabajara, Antonio Piaba “[...] dia virá emque um jovem forte, capacitado e destemido assumirá nossa história, nossagente e a retomada de nossa terra.”
12
onde é encontrada resistência na prática do ritual indígena do Toré.
Durante os seis primeiros anos poucos dançavam, depois deixaram de
dançar, como é citado em alguns depoimentos. (FARIAS; BARCELLOS,
2012).
Os indígenas dançam o Toré a caráter. Usam saiotes, feita de
fibra da jangada, uma planta nativa facilmente encontrada na região;
se pintam, normalmente, com sumo do jenipapo verde e com urucum; se
ornamentam com cocares, colares, brincos, tornozeleiras, e outros
artefatos que compõe os trajes próprios para o ritual. O ritmo do
Toré é acompanhado pelo bombo, gaita (uma espécie de flauta) e por
maracás. Já as vestes utilizadas durante as celebrações religiosas
pentecostais são as mesmas utilizadas pelos não indígenas.
Assim, de um lado existe a problemática da fidelidade
religiosa cristã, e do outro, a manutenção da antiga tradição
cultural e religiosa do ritual Toré para ser praticado pelo grupo.
Para os mais jovens, não há incômodo em praticar o ritual Toré e ir
para os ritos pentecostais. Depoimentos mostram que conheceram o
evangelho muito cedo:
Quando eu nasci minha mãe já era alcançada peloevangelho do Senhor Jesus Cristo. Meu tio Pedro, minhatia Maria Severo e minha mãe criou todos os filhos nareligião evangélica, então fomos instruídos nessecaminho. No entanto, na adolescência, mim afastei um bomtempo desse caminho. Mas segundo as orações de minha mãee da igreja, Jesus trouxe-me de volta ao caminho. Abíblia diz: Jo, cap. 3. ‘Esse é o caminho, andai nele’ emuito diz, não queremos. Vivo nas escrituras sagradas,estou feliz, porque sirvo a um Deus poderoso e estoualegre porque tenho esperança não somente espiritual,mas também material. Nossa fé nos garante que faço parteda etnia dos índios Tabajara. Daqui em diante é sóaguardar com a fé que nós temos em Deus e a união detodos que retomaremos nossa terra dessa família que étão grande. (MANOEL RODRIGUES, 2010)13.
13 Informação verbal; Indígena Tabajara, Diácono da Assembleia de Deus, JoãoPessoa, jan. 2010.
13
Essa declaração sugere que não chegaram a conhecer suas
tradições religiosas indígenas e há um afastamento da cosmologia
indígena levando-os a ter maior crença no pentecostalismo. “Eu
dentro de mim não vou com o pensamento de invocar. Vou com o
pensamento de resgatar uma tradição. Eu gosto das músicas, do ato de
dançar, tiro o pé, sinto, fico a vontade, mas a questão de ter outro
sentido mais profundo, de tá chamando espírito não é intenção
minha.” (JACYARA MACIEL, maio 2011)14. Percebe-se que os fiéis
pentecostais participam do ritual como tradição cultural e política
pelo processo de reelaboração dos sinais de indianidade da etnia.
Para gente o Toré é uma tradição indígena, só que nãoestava muito bem adequado a nossa realidade. A questãodo ritual, ainda é muito diferente, uma coisa nova paraimpor para gente. Eu fui criada no evangelho, meu pai,meus avós por parte de mãe e por parte de pai. Quandocomeça a dizer que tá invocando o espírito de umantepassado que morreu, isso para mim soa muitodiferente. Dentro de mim eu não aceito, confesso que eudigo: sangue de Cristo tem poder. (JACYARA MACIEL, maio2011).
A declaração demonstra que a doutrina do pentecostalismo é
muito forte na vida desses indígenas, quase não deixando espaço para
aceitação de suas tradições. Nesse sentido, Sebastiana Severo
(2010)15 afirma: “A dança do Toré é coisa do demônio. Maria Severo
antes de falecer, vivia falando que se fosse preciso, pela causa
dançaria. E Deus antes de vê-la praticar esse ato, a chamou. Tá
vendo, Deus cobra dos deles.” A polarização do mal e do bem na
sociedade pentecostal permite simplificar as explicações para os
acontecimentos atuais dos adeptos.
14 Informação verbal, Universitária do Curso de Antropologia da UFPB, JoãoPessoa, maio 2011.15 Sebastiana Severo, indígena Potiguara casada com o Pedro Severo; JoãoPessoa, maio 2010.
14
Os familiares de Maria Severo e demais indígenas pentecostais
têm uma visão diferente quanto ao Deus que professam. Acreditam que
quando há um pecado contra Deus, um escândalo ou palavra, Deus trata
cada um individualmente, onde se pode cometer o mesmo pecado e ser
corrigido de forma diferente. A neta de Maria Severo se posiciona
dizendo:
Não acredito que seja uma punição. Pela idade e o que jápassava aos 78 anos de idade. Ela tinha tido váriasparadas cardíacas e médico já tinha nos orientado. Achoque se tudo é permissão de Deus e se ele não quisesse,não permitisse, não teria deixado o coração de ela seraquebrantado para causa. Era um desejo dela que nósresgatássemos a terra, mas acima de tudo, professava afé dela que estava em primeiro lugar. Dançou o Toré,comprou os trajes dela do Toré, mesmo sendo evangélicaprofessando a fé dela. Tanto é que ela dançou e não foisó uma vez. Foi algumas vezes a reunião. Quem falousobre toda essa história foi minha própria avó. Minhaavó passou para meu pai e também para mim. Ointeressante era que minha avó dizia: ’ Será que Deusvai permitir eu ver essas terras ganha? Porque eu seique vai ganhar’. Ela queria, era desejo dela, acreditavademais que ia ganhar, tinha uma convicção, uma certezatão grande. Foi isso que passou para nós e carregou comela. (JACYARA MACIEL, maio 2011).
A resistência que parte do grupo pentecostal apresenta em
relação à dança do Toré não foi o que a anciã Maria Severo deixou
como exemplo, pois de acordo com o depoimento de sua neta e seu
filho, ela mostrou que perdeu uma vez seus parentes, território e
cultura, mas que agora é o momento de ser forte, corajoso,
persistente e resistente na luta por seus direitos.
Analisando as posições tomadas pelos indígenas dentro do
processo de luta, Maria Severo dá, mostra que entre todos os
indígenas a maior prova de manifestação de fé e identidade étnica.
Mesmo com todas as normas da igreja, ela participou do ritual no
15
movimento de luta pela recuperação da terra. A anciã acreditava que
o Deus em que professava não iria puni-la por tal ato.
Segundo sua neta, “Deus aquebrantou seu coração para causa e
ele como justo que, é jamais vai puni os que batalham de forma
digna.” (JACYARA MACIEL, maio 2011). "Eu dançava o Toré e ficava
junto com o grupo até quando oravam. Agora ele (Cacique Ednaldo
Santos) está acendendo o cachimbo e invocando os espíritos, os
ancestrais. Então eu mim afastei, eu dançava, não danço mais. Porque
vai de confronto com o que professo.” (PAULO MACIEL, maio 2011).
Mesmo com esse desconforto há uma liberdade religiosa, quando
oram de forma pentecostal e dançam ao modo da tradição indígena. O
Tabajara João Boinho (2010)16 declarou que o “Toré é dança de índio e
a mãe dele Josefa Bispo dos Santos trabalhava com mesa branca e
cantava aquelas músicas do Toré.” Só que ele não concorda quando no
Toré se invoca outros espíritos e o Deus Tupã e afirma:
Eu não sou contra o pessoal que dança, só não façodançar. Maria Severo morreu porque foi chamada mesmo.Assim, muitos católicos já teriam morrido por fazercoisas que não é do agrado de Deus. O povo que ébatizado com o Espírito Santo de Deus, eles tem essasabedoria, eu não tenho porque não sou batizado com odivino Espírito Santo. A gente vivi aqui na terra, mas onome está no livro e quando chega a hora é chamado. Eunão participo porque minha religião não aceita, apesarde que pastor não tem nada a ver com minha vida. Estouna igreja porque Deus me tocou o coração, tem feitomuitas maravilhas na minha vida, mas não discrimino quemdança, quem se pinta, quem fuma cachimbo e canta aquelasmúsicas de espírito, só não faço. Antes de ser crentenão acreditava negócio de espírito. Quando o divinoEspírito Santo se coloca na pessoa aquilo que estáescondido ele descobre. Sou índio, mim identifico, masnão danço porque vai de encontro com minha religião.
O grupo se identifica como indígenas e são reconhecidos pela
FUNAI, mas têm conhecimentos de que os ancestrais tinham essa16 Informação verbal; tronco velho Tabajara, Aldeia Vitória, maio 2011.
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prática do ritual, mas não tiveram esse costume de praticá-lo e não
são obrigados a dançar o Toré. Diante dessa realidade, afirmam que
não precisam deixar os costumes e a religião que professam porque
são indígenas.
A gente não precisa deixar de ser crente para vim ummissionário e evangelizar a gente novamente. A gente sepinta, faz apresentação, tem um grupo que acata, dança oToré sem nenhum constrangimento. É independente, cada umfaz segundo, seu pensamento. Não é obrigado, não éforçado. Em uma fala o Ednaldo diz o seguinte: quem nãodança o Toré, não tem alma. Isso bateu de frente, fiqueipensando. Acho que está se referindo a nós como povodele. Quando nos encontramos, nos unimos pela causa, ele“aceitou Jesus”, se converteu. Isso mim incentivou a darmais força, porém se ele diz que vai praticar dessaforma e se não podemos escolher, ele fica só. Porquepara eu não importa terra, nada disso não importa. Nem onome Tabajara se preciso for pode até cortar meu nome,para mim o mais importante é o meu Deus. Eu luto porquemeus pais disseram que eram e eu sei que somos. (PAULOSEVERO, maio 2011).
Os convertidos discordam sobre o Toré, porém afirmam que cada
um é livre para praticar a religião que mais lhe convier e que a
igreja Assembleia de Deus das Missões onde congregam, têm grupos de
missionários que vão até as aldeias indígenas evangelizar.
O cacique geral Tabajara, Ednaldo Santos da Silva, não concorda
e não acredita que Deus tenha punido Maria Severo por ter dançado o
Toré. O Deus que acredita que existe, não é punitivo e a emoção da
anciã foi muito grande ao reencontrar seus parentes.
O filho dela Paulo falou várias vezes para mim: Ednaldoa alegria da minha mãe foi tanta que o coração dela nãoresistiu. Ela sentiu uma alegria muito grande dentrodela de saber que era sozinha no mundo e ter encontradovocês todos. Ela não tinha mais cultura, não tinha maisum nome. Um nome tão importante que é os Tabajara. Elajá vinha enfrentando vários problemas. Quando vocêinvoca da maneira que nós não é querendo que o caboclodesça. A gente quer dançar, manifestar uma alegria de um
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para o outro na forma de contribuição de canto, dedança. Essa é a intenção que tenho. Outra coisa: afamília da gente nenhum trabalha com magia negra. Játrabalhamos? Já, mas no movimento de hoje não existeisso. Acreditamos num Deus que nos colocou nessa causa.Se Deus não tivesse colocado, ele mesmo mim puniria damesma forma porque estaria usando o nome dele em vão.Foi Deus que mim escolheu que mim buscou em Maceió paravim para cá e fez com que renegasse minha história,deixando minha carreira. Existem pessoas no nosso meioque não tem nenhum conhecimento dessa religião, da causaindígena, então agem dessa maneira. Como o próprioPaulo, Manoel também fala: a minha mãe mim criou nessacultura, foi a cultura que fui criado, foi a culturaimposta por eles. Só que por ser imposta não obriga avocê dizer: Sou índio, vou colocar minha saia e voudançar o Toré. A memória está se apagando, os pais, oavô, já vêm se apagando por causa de todo o massacre.Mas continua a raiz, a rama, estamos buscando esseresgate. (CACIQUE EDNALDO SANTOS, maio 2011)17.
A declaração de dona Sebastiana é de uma pessoa de
religiosidade extremamente tradicional e fundamentalista,
acreditando que se as regras da igreja não forem cumpridas, Deus
castiga com a morte. Diante das afirmações, observamos que a maioria
do grupo não comunga com este pensamento.
Quando ocorre a conversão, quando o homem passa a ser crente,
atravessa atos simbólicos para renascer para uma nova vida. Então,
se faz necessário passar por transformações a exemplo: reforma
moral, política e do cotidiano (andar sempre com a Bíblia na mão,
vestindo-se mais formalmente e recusando vícios e imoralidades que
destroem a sociedade onde vive). “Nós da Assembleia de Deus não
usamos calça comprida (mulheres), não se pinta, não vai a festas,
mas tem crentes que faz várias coisas e Deus não cobra dele.” (PAULO
TABAJARA, maio 2011). Nesta declaração fala das regras morais da
religião relacionando com a punição de Deus a cada um. É entendido
17 Informação verbal; cacique geral Tabajara, Aldeia Vitória, maio2011.
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que existem formas diversas de pecado, punição e respeito de Deus
com o seu povo.
Diante das assertivas pode-se dizer que os adeptos pentecostais
têm conhecimento que o ritual do Toré não é só uma cerimônia
cultural e política, mas também de cunho religioso e podem ser
punidos quando praticarem. A conversão ao pentecostalismo exige
renúncia, não sendo possível uma convivência harmônica entre os
ritos da igreja cristã pentecostal e o Toré.
O encontro de diferentes sistemas cosmológicos e formasde viver dos indígenas Tabajara (uns vivem na zonaurbana e outros na zona rural) vão implicar,inegavelmente, num reordenamento do modo de vida dosmesmos, uma vez que, para conquistarem seus objetivos, énecessário haver a reelaboração de seus costumes, dosseus valores e das suas crenças. Poderia dizer que estãovivenciando um momento de transição com elementosreligiosos tradicionais e pentecostais, essencialmentedíspares e que, devido da conjuntura vão continuar ounão, dependendo da reelaboração entre eles.
Os pentecostais apoiam a causa política de afirmação étnica, do
etnônimo Tabajara, da retomada do território, mas a prática do
ritual causa um desconforto entre os anciãos. A liberdade de
religião entre os indígenas mesmo que esteja relacionada com
a Tolerância religiosa, deve ser praticada na forma de laica. Diante
disso fica a questão: Quais estratégias serão adotadas pelos
Tabajara para superar o impasse entre os pentecostais que se assumem
indígenas, mas que não praticam o Toré? Haverá entre eles o respeito
pela opção religiosa de cada um? Só com o tempo dará resposta para
essa problemática.
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