“OFFSHORES” Amnistia fiscal emPortugal longe doconsenso ·...

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4| Jornal de Negócios | Quarta-Feira, 21 de Outubro de 2009 . Primeira Linha NosEUA,75milcontribuintescon- fessaramasemanapassadatercon- tas ilegais espalhadas por mais de 70 países paraobteremumperdão fiscal. No Reino Unido, os infracto- res estão aserconvidados adenun- ciarem-se, em troco do arquiva- mento do processo criminal. Em Itália, Berlusconi promete amnis- tiar os crimes económicos em tro- ca do pagamento de uma módica taxade 5% sobre os capitais ilegais. As amnistias fiscais podem ser um valioso aliado de um ministro das Finanças em tempos de crise, mas em Portugal uma medida análoga para o Orçamento do Estado para 2010 estaria longe de ser pacífica. Ricardo Salgado, presidente do BES, foi o primeiro alançaro tema paraaagendainterna, dizendo que a solução para o problema dos “offshores”, contraquemos países desenvolvidos começaramaadop- tarumdiscurso musculado, temde passar, previamente, por umaam- nistia fiscal. Tem a seu lado Jaime Esteves, sócio da Pricewaterhour- seCoopers e fiscalistas como Salda- nha Sanches. Emdeclarações ao Negócios , Jai- me Esteves garante que muitos contribuintes “estão desejosos de proceder ao que denominam por “onshorização” do património lo- calizado fora do País, mas carece- riamde umquadro legal adequado parao efeito”. Além dareceitae do alargamento dabase tributávelque daí adviriam, o consultor destaca aindaaimportantealteraçãodepa- radigma que Portugal poderia aprender com os EUA e o Reino Unido:“Acooperaçãoemvezdafis- calização do confronto”. Saldanha Sanches alinhapelo mesmo diapa- são: “Agora que se sabe que não há praças fortes inexpugnáveis há mais pressão sobre quem tem di- nheiro lá fora”, quando se compa- ra com a última amnistia de 2005, defende o fiscalista. SaldanhaSan- ches está convencido de que um perdão fiscal no actual contexto permitiria trazer para o sistema muito mais do que os 41milhões de euros de 2005: “Em 2005 os con- tribuintes não tinhamperigo de se- rem apanhados. Para contornar a Directiva da Poupança, bastava transferir o dinheiro para Macau. AprópriaCaixaGeralde Depósitos aconselhou os seus clientes a pas- sar para lá as poupanças”, recorda o fiscalista. FMI diz “não” a perdões em tempos de crise Mas, mesmo aceitando que arecei- ta poderia ser bem vinda numa al- turaemque as despesas estão adis- parar(verpágina40), e que amedi- da até poderia ser mais bem-suce- dida do que no passado, já que os países estão a celebrar acordos de trocade informações comparaísos fiscais que queremlivrar-se damá- fama, háquem arejeite perempto- riamente. É o caso do Xavierde Basto, que “OFFSHORES” Amnistia fiscal em Portugal longe do consenso A semana passada, 75 mil abastados cidadãos dos EUA denunciaram-se aos serviços fiscais, dizendo que tinham poupanças ilegais em “offshores”. E em Portugal, justifica-se dar uma outra oportunidade aos evasores, agora que o cerco aos paraísos fiscais começa a apertar-se? A questão está longe de ser pacífica. ELISABETE MIRANDA* [email protected]

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4 | Jornal de Negócios | Quarta-Feira, 21 de Outubro de 2009.

Primeira Linha

NosEUA,75milcontribuintescon-fessaramasemanapassadatercon-tas ilegais espalhadas por mais de70paísesparaobteremumperdãofiscal.NoReinoUnido,osinfracto-resestãoaserconvidadosadenun-ciarem-se, em troco do arquiva-mento do processo criminal. EmItália, Berlusconi promete amnis-tiar os crimes económicos em tro-ca do pagamento de uma módicataxade5%sobreoscapitaisilegais.As amnistias fiscais podem serumvalioso aliado de um ministro dasFinanças em tempos de crise, masem Portugal uma medida análogapara o Orçamento do Estado para2010 estarialonge de serpacífica.

Ricardo Salgado, presidente doBES, foio primeiro alançaro tema

paraaagendainterna,dizendoquea solução para o problema dos“offshores”,contraquemospaísesdesenvolvidoscomeçaramaadop-tarumdiscursomusculado,temdepassar, previamente, porumaam-nistia fiscal. Tem a seu lado JaimeEsteves, sócio daPricewaterhour-seCoopersefiscalistascomoSalda-nhaSanches.

EmdeclaraçõesaoNegócios,Jai-me Esteves garante que muitoscontribuintes “estão desejosos deproceder ao que denominam por“onshorização” do património lo-calizado fora do País, mas carece-riamdeumquadrolegaladequadoparao efeito”. Alémdareceitae doalargamentodabasetributávelquedaí adviriam, o consultor destaca

aindaaimportantealteraçãodepa-radigma que Portugal poderiaaprender com os EUA e o ReinoUnido:“Acooperaçãoemvezdafis-calização do confronto”. SaldanhaSanchesalinhapelomesmodiapa-são: “Agoraque se sabe que não hápraças fortes inexpugnáveis hámais pressão sobre quem tem di-nheiro lá fora”, quando se compa-ra com a última amnistia de 2005,defendeofiscalista.SaldanhaSan-ches está convencido de que umperdão fiscal no actual contextopermitiria trazer para o sistemamuitomaisdoqueos41milhõesdeeuros de 2005: “Em 2005 os con-tribuintesnãotinhamperigodese-rem apanhados. Para contornar aDirectiva da Poupança, bastava

transferir o dinheiro para Macau.AprópriaCaixaGeraldeDepósitosaconselhou os seus clientes a pas-sar para lá as poupanças”, recordao fiscalista.

FMI diz “não” a perdões emtempos de criseMas,mesmoaceitandoquearecei-ta poderia ser bem vinda numa al-turaemqueasdespesasestãoadis-parar(verpágina40),equeamedi-da até poderia ser mais bem-suce-dida do que no passado, já que ospaíses estão a celebrar acordos detrocadeinformaçõescomparaísosfiscaisquequeremlivrar-sedamá-fama,háquemarejeiteperempto-riamente.

É o caso do Xavierde Basto, que

“OF F SH ORES”

Amnistiafiscalem Portugallongedo consenso

A semana passada, 75 mil abastados cidadãosdos EUA denunciaram-se aos serviços fiscais,dizendo que tinham poupanças ilegais em“offshores”. E em Portugal, justifica-se dar umaoutra oportunidade aos evasores, agora queo cerco aos paraísos fiscais começa a apertar-se?A questão está longe de ser pacífica.ELISABETE MIRANDA* [email protected]

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argumenta que uma amnistia“seria uma imoralidade muitogrande” porque “daria sinais er-radosaosinfractores”.Ofiscalis-ta entende que em Portugal nãohaveriasequer“condiçõespolíti-cas para avançar”, já que a situa-ção de evasão contributiva estálongedaqueseverificanosEsta-dos Unidos, porexemplo.

Maisconvencidosobreaexis-tência de razões políticas masigualmentecontraumaamnistia,está Ricardo Borges, advogado eespecialista em direito fiscal. “Acorrosão que provocano Estadodedireitoenosistemafiscalpro-vavelmente não seria contraba-lançado por um sucesso econó-mico”, diz ao Negócios.

AntónioCarlosdosSantos,ex-secretário de Estado dos Assun-tosFiscaisdeSousaFranco,tam-bémnãoéadeptodaideia.“Achoquenãosejustificaestaraentrarnuma amnistia quando aindanem se sabe quais são as parce-rias com paraísos fiscais que va-mos fechar”, argumenta.

Às resistências internas jun-ta-seumavozdoexterior:oFun-do Monetário Internacional(FMI), paraquem umaamnistiafiscal colocariaemcausaalegiti-midade dacobrançado Estado amédio e longo prazo e que apre-senta soluções alternativas paraarrecadarreceitasemtemposdecrise (verpágina7).

* COM MARIA JOÃO GAGO

CI TAÇÕES

Os benefícios e custosque são ponderados nahora de decidir

Não acredito que haja umasolução para os “offshores”,sem uma amnistia fiscal.RICARDO SALGADOCEO do BES, em entrevista ao Negócios em Abril de 2009.

Muitos contribuintes estãodesejosos de proceder à“onshorização” do patrimóniolocalizado fora do País,mas careceriam de um quadrolegal adequado.JAIME ESTEVES, partner da PricewaterhouseCoopers

Agora que se sabe que não hápraças fortes inexpugnáveis,há mais pressão sobre quemtem dinheiro lá fora. Vale apena fazer um acordo.SALDANHA SANCHES,fiscalista

A corrosão que provocaria noEstado de direito e no sistemafiscal provavelmente não seriacontrabalançado pelosucesso económico.RICARDO BORGES, fiscalista

Uma amnistia daria um sinalerrado aos infractores. E nemvejo que haja condiçõespolíticas para o fazer.XAVIER DE BASTOfiscalista

U M PAU DEDOI S BI COS

VAN TAG EN S

AUMENTO DE RECEITA FISCALSão uma fonte adicional dereceita, especialmente valiosaem tempos de crise, em que adespesa publica tende aaumentar.

ALARGAMENTO DA BASENo médio prazo, uma amnistiabem sucedida pode aumentara base tributável e assegurarreceita futura, já que maisrendimento é trazido para osistema.

REEQUILÍBRIO DA BALANÇADE PAGAMENTOSSe estiver em causa orepatriamento de fundos, podeajudar a melhorar a balança depagamentos e potenciar oinvestimento interno.

DESVAN TAG EN S

CUSTOS DIRECTOS ELEVADOSOs custos directos da amnistiafiscal (como a publicidade ecustos administrativos) e asreceitas que são perdoadas,(como as coimas e juroscompensatórios) podem sersuperiores ao encaixefinanceiro.

REDUZ CUMPRIMENTONo médio e longo prazo, oefeito mais importante poderáser a redução do cumprimentovoluntário. Se os cidadãosesperam por outra amnistia, orisco percebido de umaevasão fiscal diminui.

RECONHECIMENTODA IMPOTÊNCIAUma amnistia é tambémo reconhecimento, por parteda administração fiscal,da sua incapacidade de actuar,logo, os custos de infracçãopodem compensaro risco/probabilidadede ser apanhado.

Portugalteve umdos perdõesmenosrentáveis

Entre 2000 e 2006, váriospaíses concederam amnistiasfiscais aos capitaisilegalmente colocados noexterior ou nos respectivosEstados. Os resultados sãomuito diferentes, mas, entreeles, Portugal (que quisaproveitar a entrada em vigorda Directiva da Poupança em2005) destaca-se por ter tidoum dos resultados maismodestos.

G RÉ CI AFoi ainda amenos rentável quea portuguesa. Em 2004/2005,a receita ficou-se pelos 4milhões de euros.

ALEM AN H AO processo de regularizaçãolevado a cabo em 2005superou os 900 milhões deeuros.

I TÁLI AFez duas amnistias, querenderam ao Estado 1,48 milmilhões e 617 milhões deeuros, respectivamente.

I RLAN DAAs autoridades fizeram umpré-aviso de que iriam serinvestigadas contas “offshore”,e foram levadas a sério: maisde 15 mil contas renderam 1,14mil milhões de euros.

ÁF RI CA DO SU LFoi apontado como um“case-study” pelo Banco dePagamentos Internacional.Lançada entre 2003 e 2004,rendeu 7,8 mil milhões deeuros, segundo a OCDE.

BÉLG I CAEm 2004, cobrando uma taxade 9% sobre o capitaldeclarado, encaixou 496milhões de euros.

REI N O U N I DOEncaixou 400 milhões de librascom a regularização de 60 milcontas “offshore” na últimaamnistia.

EU AEm 2003, encaixou 150milhões de dólares comimpostos, multas e juros decontas “offshore”.

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“Offshores”

EUA, Reino e Itália foramos primeiros a avançar

A amnistia italiana é, de todas, a mais generosa. Itália fechaos olhos à lavagem de dinheiro e às fraudes contabilísticase apenas cobra 5% sobre o capital ilegal.

CADA CAB E ÇA S U A S E N TE N ÇA

Foi menos concorrida que oesperado a amnistia nos EUA. Aotodo, denunciaram-se 7.500americanos com contas ilegais emmais de 70 países espalhados porseis continentes, adiantou aBloombergno final da semanapassada.O montante regularizado não foidivulgado, mas o IRS (autoridadefiscal dos EUA) diz que há casos decontas que vão desde os 10 mil atéaos 100 milhões de euros. Oprocesso de regularização começouem Março, logo após o UBS terentregue os nomes de alguns doscontribuintes americanos quetinham poupanças no exteriorsemas declarar, e no qual se estimavamestarem causa 780 milhões dedólares. Em meados de Setembro,altura em que se decidiu prorrogaro prazo, os consultores fiscais nãotinham mãos para tantassolicitações e pedidos deesclarecimento. As condições deregularização não eram particular-mente generosas, mas os EUAcontavam com argumentos fortes:porum lado, têm na sua possenomes de titulares de fortunas comcontas no UBS, que entretanto obanco já denunciou; poroutro, aassinatura de acordos de trocas deinformações que está a serimpulsionado com vários“offshores”. Outro aliciante era ofacto de as autoridades fiscaisterem sugerido que poderiam evitaruma acusação criminal contra osevasores, exigindo-lhes apenas osimpostos em atraso, acrescidos deuma pequena multa. EM

EUA: Denunciadascontas ilegais em70 países

Ainda não sesabe quantorenderá aamnistia para oscofres geridospor TimothyGeithner.

Recordista em amnistias fiscais, ocaso italiano desafia todas as regrasde boas práticas sobre esta matéria.Já vai no terceiro perdão em apenasoito anos, com custos praticamentenulos para quem aderiraoprograma de regularização e com agarantirde passaruma esponjasobre todos os crimes,branqueamento de capitais incluído.Aúltima amnistia foi aprovada noinício de Outubro, com grandecontestação da oposiçãoparlamentar, que acusa SílvioBerlusconi de concederum“patrocínio estatal à lavagem dedinheiro” e de estara “ajudare ainstigarbandos de criminosos”. Asacusações percebem-se: quemrepatriaro dinheiro vai pagarumataxa de imposto muito modesta: 5%sobre o capitais, não havendoobrigação de reportaro nome dosclientes bancários suspeitos delavagem de dinheiro; não haverápenalizações porfalsacontabilidade; e as autoridadesfecharão os olhos se houveraccionistas de empresasestrangeiras envolvidos nosesquemas fraudulentos.

Estimativas oficiais apontam paraaexistênciade 300 mil milhões deeuros detidos no estrangeiro,

em especial naSuíçaeLuxemburgo, mas Berlusconi dar-se-iapormuito satisfeito se encaixassecinco mil milhões de euros. OGoverno tem aseu lado aconfederação daindústria, que

concede que se tratade umprocesso “pouco ético” mas que

considera“necessário”. EM

Itália: “Processopouco éticomas necessário”

Berlusconi éacusado pelaoposição dede estar apatrocinar alavagem dedinheiro.

Tal como a amnistia dos EUA, oregime britânico não éparticularmente generoso doponto de vista de taxas deimposto, mas é-o ao nível criminal,com as autoridades a admitiremfechar os olhos à sanção penal.Os contribuintes que se auto-denunciarem entre 1 de Setembro e12 de Março de 2010, pagarão a taxade imposto que está prevista na lei,à qual acresce ainda umapenalização de 10%. Aqueles queforem apanhados em delito,arriscam uma multa de 30% e umaacusação criminal, uma pena que asautoridades fiscais britânicasesperam que seja um trunfo a favorda regularização voluntária.O HMRC (administração fiscalbritânica) espera que esta operaçãorenda aproximadamente o mesmoque a de 2007: cerca de 450milhões de libras(aproximadamente 493 milhões deeuros) pagas por45 milcontribuintes. Mas na altura oespectro foi bastante mais reduzido:a amnistia dirigiu-se a clientes deapenas cinco bancos com contas em“offshores”. Desta vez,estão “convidados”todos oscontribuintes quenão tenham pago osimpostos devidos porcontas-poupança ouactivos detidos em “offshores”,espalhados pormais de 250bancos (entre os quais o LGT doLiechtenstein, onde também sedescobriram contas de cidadãosbritânicos, além de alemães). EM

Reino Unido: Cofrescontam com 500milhões de euros

Gordon Brownconta que adescoberta decontas ilegaisno Liechtensteindê umempurrãozinho.

Amnistias não. Estratégiaespecial pÉ o facto de permitir aosgovernos encaixar receita fiscaltresmalhada em pouco tempoque torna as amnistias fiscais

tão populares. Mas essa euforiapode dificultar uma avaliaçãodos seus custos a médio prazo. OFMI, liderado por Strauss-Kahn,

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FMI prefere a criação de umaequipa de alto nível anticrise

Os governos devem resistir às amnistias fiscais em temposde crise. Mas devem adoptar medidas especiais para evitara fuga e evasão fiscal e ajudar os contribuintes em apuros.

P O RTU G AL N ÃO CU M PRE A M AI O RI A

RUI PERES JORGE [email protected]

Incumprimentosvoluntários,falên-cias, evasão fiscal, menores receitastributáveisnasempresas,desempre-gonasfamílias.Esteéum“mix”mor-tífero paraas receitas fiscais que ascrises infligem aos cofres dos Esta-dos. Portugalnãoéexcepção.

Nos primeiros nove meses doano,areceitafiscalregistouumaque-dade quase 14% face ao mesmo pe-ríodode2008(verpágina40).E,ape-sardeosnúmerosteremmelhoradonos últimos meses, as estimativasmais optimistas – as do Governo –apontamparaumaquedade 9% nototal do ano, ou seja, menos 3,3 milmilhõesdeeuros(cercadedoispon-tosdePIB). Estenãoéumproblemaexclusivonacional.E,faceàconjun-turaadversa,oquepodemosgover-nos fazer? John Brondolo, econo-mistadoFundoMonetárioInterna-cional(FMI),publicouemJulhoumartigo onde procura respostas emepisódios recessivos do passado emváriospaísesdomundo.

Emsíntese,oeconomistadefen-dequeasamnistiasfiscaissão“con-traprodutivasedevemserevitadas”,aconselhandoacriaçãodeum“gru-po de alto nível” dentro do Ministé-riodasFinançasparagerirumaam-plaestratégiaanticrise, aqual deveassentaremdoisobjectivos: “conteroincumprimentoeajudaroscontri-buintesaresistiràcrise”.

Essaequipadeverágerirumvas-to conjunto de medidas (vertextosao lado) que se inserem em quatrogruposquevisamaumentaraassis-tênciaaos contribuintes, refocar ocombateàevasãoeincumprimentonos sectores que contribuemcomamaiorpartedareceita,introduziral-terações legislativas que facilitem avida à administração fiscal, porexemplo do ponto de vistade nego-ciaçãocomasempresasefamíliasemdificuldades, e, finalmente, aumen-tar a comunicação com os contri-buintes.

Dadaaexigênciaeaimportânciadamissão,oeconomistalembraque“é mais importante do que nuncaqueogovernoapoieaadministraçãofiscalduranteacrise”.

EQUIPA DE ALTO NÍVEL PARAGERIR IMPACTOS DA CRISE

O Ministério das Finançasdeve criar uma equipa dealto nível para gerir a cri-

se, a qual deve apostar em comba-tero incumprimentoeemapoiaroscontribuintes em dificuldades. EmPortugal,nãoseconheceestratégiaa este nível.

AJUSTAR OS PAGAMENTOSANTECIPADOS PARA REDUZIRPRESSÕES DE “CASH-FLOW”

Em tempos de crise, o pa-gamento antecipado deimpostos, como o paga-

mento por conta (IRC), pode pres-sionar muito a liquidez das empre-sas. Este tipo de pagamentos deveserflexibilizado.Porcá,opagamen-to por conta apenas foi ajustado àdescida da taxa do IRC, em 2009.

ACELERAR O PAGAMENTODE REEMBOLSOS

Como em tempos de crisea liquidez é essencial paraas famílias e empresas, o

Estadodeveter,pelomínimotempopossível,dinheirodoseuladoqueváreembolsar. Em Portugal, este ano,fizeram-seavançosassinaláveisnosprazosdereembolsodo IRSedoIVA.

ALARGAR PRAZOSDE PAGAMENTO

Àsempresaseparticularesem dificuldades, deve serconcedida a possibilidade

de verem os seus prazos de paga-mentoaumentadose,até,afraccio-narem pagamentos. A Administra-çãodeve,contudo,terespecialaten-çãoa“falsas”situaçõesdedificulda-de.EmPortugal,osprazosdepaga-mento não foram alterados, mas osespecialistas a quem o Governo en-comendouumestudorecomendamo seu alargamento.

ASSISTÊNCIA PROACTIVA AOSCONTRIBUINTES DE ALTO RISCO

O Fisco deve ter sistemasdealertaedeanáliseparaidentificarrapidamenteos

sectoresecontribuintesquepodemestar em maior risco de incumpri-

mento,devendocontactá-losporini-ciativa própria para os ajudar. EmPortugal, não se conhecem iniciati-vas a este nível.

INCENTIVAR O CUMPRIMENTODOS GRANDES CONTRIBUINTES

Namaioriadospaíses,umpequeno número de con-tribuintespagaumagran-

defatiados impostos(especialmen-te no caso das empresas). O Fiscodeve prestar especial atenção a es-tes casos, tal como é feito cá, ondeumconjuntodeempresassãoaudi-tadas regularmente.

PRESTAR ATENÇÃOÀS RECLAMAÇÕES

As competências legais edeauditoriadoFiscotam-bémserãodesafiadaspela

crise. É natural verificar-se um au-mento do número de reclamaçõespara adiar pagamentos. O Estadodeve reforçar as equipas para darresposta e evitar ser enganado. Porcá, a Administração Fiscal tem vin-do a acelerar o prazo de respostaaos contribuintes.

AUDITAR NEGÓCIOSCOM PREJUÍZOS

Nas crises, é também ha-bitual que aumentem onúmerodeempresasade-

clararemprejuízos. Entreelas,esta-rão algumas que usam contabilida-de criativa. É essencial que o Fiscoaudite com especial empenho e ra-pidezestescasos.Asempresascomprejuízos costumam estar entre asprioritárias para a inspecção.

CRIAR EQUIPAS DEDICADASA SITUAÇÕES DE FALÊNCIA

Assituaçõesdefalênciasãoespecialmentepreocupan-tesparaoFisco,namedida

emqueacobrançadosimpostosficadependente de decisões judiciais. Aadministraçãodevecriarequipases-pecializadas e/ou melhorar a sua re-lação com os tribunais do Comércio.

FOCAR NAS EMPRESAS COMVEÍCULOS EM “OFF-SHORES”A utilização de “off-shores” para

declarar os lucros em paí-ses com regimes fiscaismais favoráveis tem au-

mentado de importância, assimcomo tem aumentado a utilizaçãode planeamentos fiscais usandovárias jurisdições, nomeadamen-te através da manipulação de pre-ços de transferência. Estas práti-cas tendem a aumentar durante ascrises. É essencial que os governosauditem estas situações e apostemna coordenação internacional in-tensificada na reunião do G-20.

COMBATERA ECONOMIA INFORMAL

O aumento da economiainformal é habitual du-rante as crises. Para a

combater, o Fisco deve identificarsectores de alto risco e estudarcomportamentos, encorajar ocumprimento através de aumentode penalizações e sistemas de in-centivo a cumprimento e associar--se a instituições da sociedade ci-vil que possam combater a econo-mia informal. Em Portugal, ela de-verá aumentar de 18,7% do PIB em2008 para 19,5% em 2009, segun-do o relatório Schneider.

MAIS FLEXIBILIDADEE AUTORIDADEÀ ADMINISTRAÇÃO FISCAL

A administração fiscaldeve ter capacidade, fle-xibilidade e autoridade

para auditar e negociar com rapi-dez com os contribuintes. O FMIrecomenda que, se necessário, sefaçam alterações legais para con-seguir esses objectivos. Em Portu-gal, não foram feitas alterações nosentido de agilizar a resolução deconflitos.

COMUNICAR À SOCIEDADEA ESTRATÉGIADE COMBATE À CRISE

É essencial que o Estadoutilize “e-mails”, telefo-nes, “sites” e visitas a

contribuintes para comunicar asua estratégia anti-crise, disponi-bilizando, também, serviços deesclarecimento.

paraacrise, sim.alerta em especial para ofacto de os contribuintesdeixarem de acreditar que alei é para cumprir.

Bloomberg