DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · 3 INTRODUÇÃO Para esta introdução serão utilizadas as...
Transcript of DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · 3 INTRODUÇÃO Para esta introdução serão utilizadas as...
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
MIRIAN FERREIRA DE ALMEIDA SANTOS
A LEI 10.639/03 E AS DIFICULDADES PARA IMPLEMENTAÇÃO NA REGIÃO
DOS CAMPOS GERAIS
PONTA GROSSA
2010
MIRIAN FERREIRA DE ALMEIDA SANTOS
A LEI 10.639/03 E AS DIFICULDADES PARA IMPLEMENTAÇÃO NA REGIÃO
DOS CAMPOS GERAIS
Artigo apresentado ao PDE – Área História,
para fins de desenvolvimento e implementação
de um trabalho conjunto com o Colégio
Estadual Dr. Munhoz da Rocha – Ensino
Fundamental e Médio, sob orientação do
Professor Dr. Luis Fernando Cerri da
Universidade Estadual de Ponta Grossa.
PONTA GROSSA
2010
ARTIGO IMPLEMENTAÇÃO PEDAGÓGICA PDE/20101
AUTORA: Mirian Ferreira de Almeida Santos2
A LEI 10.639/03 E AS DIFICULDADES PARA IMPLEMENTAÇÃO NA REGIÃO
DOS CAMPOS GERAIS
RESUMO
O presente artigo faz parte das exigências próprias do Plano de Desenvolvimento Educacional
– PDE/PR, e está relacionado às diversas formas para a sua implementação, portanto este fará
considerações de como chegamos a Lei 10.639/03; sua importância das relações étnico-
raciais; as dificuldades para a implementação e considerações finais. Estes elementos serão
divididos em unidades para que haja uma coerência nos dados que serão apresentados. A
pesquisa em questão tem como objeto uma reflexão sobre a importância de trabalhar o Ensino
de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na rede de Educação Estadual da Região dos
Campos Gerais através de uma pesquisa bibliográfica buscando aporte teórico na lei
10.639/03 e em diversos documentos elaborados que tratam das dificuldades de
implementação da referida Lei. Ao final do trabalho constata-se a necessidade de que todas as
escolas insiram estes conteúdos em seus currículos, promovendo cursos de formação aos
professores para que possam instituir ensino referente à história e cultura afro-brasileira, tendo
como base o princípio de igualdade. Sendo necessário que os professores compreendam a
importância da Lei, e sendo necessário que os professores busquem cursos de
aperfeiçoamento para tratar sobre este assunto de maneira positiva, a fim de minimizar o
preconceito racial existente em nossa sociedade.
PALAVRAS CHAVE: Lei nº 10.639/03; Prática pedagógica; Campos Gerais; Ensino de
História.
ABSTRACT: This article presents a study wiht public schools teachers about the inclusion of
10.639/03 Law in the curriculum. This Law refers to the étnico/racial relationships and
difficulties for the implementation and final considerations. The reasearch hás a reflection
about the importance of teaching History and Afro-brazilian and African Culture and public
schools web in Campos Gerais region.
KEY WORDS: 10.639/03 Law; Teaching Practice; Campos Gerais; History Teaching
1 TEMA: A África, cultura africana e o afro descendente nas aulas de História.
TÍTULO: Qual a África e quais as africanidades que contamos nas salas de aula da Região dos Campos
Gerais? 2 DISCIPLINA: História
PROFESSOR ORIENTADOR: Dr. Luis Fernando Cerri
IES: Universidade Estadual de Ponta Grossa – Ponta Grossa - Paraná
NRE: Núcleo Regional de Ponta Grossa
ESCOLA: Colégio Estadual Dr. Munhoz da Rocha – Ens. Fundamental e Médio
LOCALIZAÇÃO: Rua Barão do Cerro Azul, s/n – Distrito de Guaragi – Ponta Grossa, Paraná –
FONE: (42) 3270-1190
3
INTRODUÇÃO
Para esta introdução serão utilizadas as palavras de Hélio Schwartsman, sobre a
lei 10.639/03:
Se há algo a tornar obrigatório para todo o país e eu pessoalmente tendo a
desconfiar de medidas compulsórias é o ensino do princípio de respeito à diferença,
cabendo a cada comunidade detalhar os conteúdos programáticos que vai valorizar.
Leis e decretos proíbem determinadas condutas e até obrigam a certos atos, mas o
fenômeno do racismo, mais do que em gestos e atitudes, está no modo de pensar de
cada um. E, para o bem e para o mal, ninguém jamais encontrou uma fórmula para
regular pensamento. Isso faz com que seja mais fácil assinar uma lei para acabar
com a escravidão do que baixar uma norma que de fato elimine o racismo3
Com a implantação da Lei 10.639/03, passou-se a obrigatoriedade em incluir nos
currículos o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana; mas, a obrigatoriedade não
leva a acabar com um racismo velado, negado, no Brasil costuma-se dizer que existe uma
grande miscigenação e, portanto, somos todos iguais, essa afirmação é reforçada na sociedade
desenvolvendo-se assim a crença de que não há preconceito ou discriminação racial, pois aqui não
há e nunca houve intolerância, segregacionismo ou discriminação racial de forma ostensiva e
sistemática, mostrando-se uma situação racial muito harmônica da sociedade brasileira. Esta visão
foi construída através do Mito da Democracia Racial e que devido essa perspectiva, pode-se
observar a contradição na percepção dos brasileiros que embora percebam a existência e a
manutenção do racismo, não se percebem ou se reconhecem com atitudes racistas. Se acredita
que todas as etnias convivem de forma harmoniosa, sustentando esta afirmação no Mito da
Democracia Racial, na qual a sociedade conserva o preconceito de ter preconceito.4
Portanto, se faz necessário realizar algumas considerações acerca deste processo de
elaboração da lei, bem como tecer alguns comentários sobre a exclusão racial em nossa
sociedade.
1 ANTES DA LEI ERA O VERBO, E O VERBO SE FEZ LEI?
A lei 10.639 foi sancionada pelo Presidente Luis Inácio Lula da Silva, em 09 de
janeiro de 2003. Mas para que este fato ocorresse alguns caminhos foram percorridos, alguns
encaminhamentos se fizeram primordiais, assim a Lei que não conhece a sua História não
sabe de onde vem, e nem para onde vai, é preciso analisar a Lei como consequência de
pensamentos sociais, econômicos, religiosos e educacionais, interrelacionados com tempo.
Em 1951 a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura), solicitou a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP (UNIVERSIDADE
3 SCHWARTSMAN, Hélio. A escola, o racismo e a "Ilíada”. Artigo online publicado na Folha online em
23/01/2003. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/helioschwartsman/ult510u356317.
sht ml> Acesso em jun 2010. 4 FERNANDES, Florestan. O Negro no Mundo dos Brancos. São Paulo: Difel, 1971, p. 23.
4
DE SÃO PAULO), um estudo sobre a “Democracia Racial”, no Brasil tendo por objetivo
entender como este fato se processava, e usá-lo como exemplo para colocar fim aos conflitos
raciais internacionais. Desse processo surgiu o livro do Professor Florestan Fernandes, “O
negro no mundo dos brancos”, e com essa obra é possível compreender como a discriminação
e os preconceitos se manifestam no Brasil e a demora na integração de negros e mulatos em
nossa sociedade.
Este trabalho enfoca a resistência ao reconhecimento do preconceito da cor e a
inércia frente a esta realidade; pois, é possível identificar que não existe um fenômeno
generalizado e universal do trabalho do escravo, e da relação racial, mas demonstra que a
miscigenação e a visibilidade dos negros e mulatos não se relacionaram com mudanças
estruturais; e, portanto, o mito da “democracia racial” gera outros mitos que fantasiam a
realidade e são aceitos também por negros e mulatos. Sendo assim o negro está apto a tolerar
e aceitar as desigualdades.5.
Tem-se que a discriminação racial dissimulada pode estar relacionada com uma
acomodação dos negros, e dessa forma enquanto houver acomodação, haverá um equilíbrio e
permanecerão as desigualdades, pois o negro ou mulato somente obterão vantagens dentro do
mundo dos brancos.
Para que essas vantagens se efetivem mantém-se a nulidade de negros e mulatos,
neutralizam-se os movimentos sociais voltados para os problemas de raça e oferecem-se
técnicas de compensação, Assim os movimentos raciais surgem de maneira encantada e
poucos sobrevivem, pois como malograr êxito frente à hostilidade dos brancos e a passividade
de negros e mulatos.6
O brasileiro considera a atitude de preconceito racial ultrajante e degradante, mas,
contudo existe uma ambigüidade, pois os valores tradicionais são condenados no plano das
ideias, mas não passam para ações concretas.7
A situação brasileira já foi definida por alguns especialistas como sendo neutra em
relação ao preconceito de raça e discriminação racial. As investigações recentes
indicam que existe um abismo entre as ideologias e utopias raciais dominantes no
Brasil, construídas no passado por elites brancas e escravistas e a realidade racial.8
Nesta situação os negros e mulatos são deixados em uma “confortável amnésia pelos
brancos”9, encontrando-se à margem deste sistema de valores. Todo esse processo só tornou-
se possível devido ao fato de que as estruturas tradicionalistas não foram afetadas pelo fim da
escravidão e pelo trabalho-livre, deixando que esta realidade se modificasse por si mesma,
condenando os negros e mestiços a desigualdade racial, num mundo de brancos para
brancos.10
A ideia de “democracia racial” é fomentada há um longo tempo no Brasil, e tem
relação com uma distorção da realidade no período colonial devido ao processo de inclusão de
mestiços nas famílias, pois no Brasil a miscigenação contribuiu para aumentar a população
escrava, já que na sociedade escravista existiam algumas atividades que dependiam
exclusivamente do homem mestiço e que dessa forma contribui para a manutenção do
equilíbrio. Esse processo de miscigenação não caracterizava a ascensão social, de certa
posição de negros e mulatos e, portanto uma igualdade racial, esse processo tinha por objetivo
manter a sociedade e sua estrutura de dominação. Com a miscigenação se cria a ideia de
5 FERNANDES, op cit, 1971, p. 9-10.
6Idem, p. 22-23
7 Idem, p. 24.
8Idem, p. 45
9Idem, p.24.
10Idem, p. 26.
5
“negro de alma branca”, que é leal ao seu senhor e capaz de absorver os ensinamentos da raça
dominante11
; e, portanto, podia circular livremente.
Essa pretensa mobilidade dentro da sociedade provocou contra-sensos, pois ao
mesmo tempo em que se insere a ideia da igualdade racial, somente alguns podiam desfrutar
do processo, pois eram considerados de “boa índole”, dignos moralmente e, portanto o
domínio de brancos era necessário e “bem vindo.”12
A miscigenação quando ocorreu colocava
limites e mantinha o “Status Quo”, e assim a fim da escravidão, o processo miscigenatório
passou a ser visto como a raiz da democracia racial, e, portanto uma forma de solucionar
problemas decorrentes do fim da escravidão, isto é, uma forma de acomodar negros e mulatos
a uma nova e dura realidade. ”13
Sob o domínio da ideia da democracia racial houve o completo abandono de uma
população que não era capaz de se adaptar ao mundo do trabalho livre e competitivo. O mito
da “democracia racial” promoveu junto às populações negras e mestiças uma crueldade, pois
não houve sequer uma sensibilização de parte da população branca em abrandar as questões
raciais, da renda e do prestigio social. Faz-se necessário, que a sociedade, que supostamente
utiliza o mito da democracia racial, possa através da solidariedade construir uma sociedade
democrática de fato; na qual haja condições iguais para que os negros possam ser integrados e
oportunizando a negros e mestiços a possibilidade de lutar por melhores condições sociais,
políticas e econômicas e assim promover realmente a tão declarada igualdade racial, é preciso
mudar as atitudes em relação à questão racial, incluindo negros e mulatos nos programas de
desenvolvimento econômico e em projetos que permitam a integração nacional.14
Mas, fazendo uso das palavras de Lucimar Rosa Dias em seu artigo “Quantos Passos
Já Foram Dados?”, para que se possa dizer que alcançamos a Igualdade Racial, é importante
saber que a Constituição Federal em seu art. 205, cabe ao Estado garantir a todos os cidadãos
iguais direitos para o desenvolvimento integral, valorizando a diversidade, superando por meio da
educação a desigualdade étnico-racial, E o sucesso dessa premissa depende da escola, identificada
aqui como espaço democrático de produção e divulgação do conhecimento que através de
professores comprometidos com a educação promovam atitudes de respeito, corrigindo posturas
de racismo e discriminação, e bem como o Parecer 003/04 “assinala o dever do Estado de
garantir indistintamente, por meio da educação, iguais direitos para o pleno desenvolvimento
de todos e de cada um, enquanto pessoa, cidadão ou profissional.” (PARECER nº 003/04-
p.3), dessa forma, como os dois documentos afirmam assim cabe a Educação solucionar os
problemas relacionados à discriminação racial.
Faz-se necessário tecer então algumas considerações sobre as leis educacionais
anteriores a implantação da Lei 10.639/03, e como estas se posicionavam em relação aos afro-
descendentes. No início da República em 1890, os intelectuais definiam a miscigenação como
um processo que colocaria em risco a nação brasileira devido à origem racial da população. 15
Cabe aqui destacar as palavras de Gilberto Freyre sobre o processo de
miscigenação da população brasileira e a sua importância para o desenvolvimento da nação:
Afirmava, idealizando as relações raciais que, “a distância social, no Brasil, fôra
resultado de diferenças de classe; como os negros brasileiros desfrutaram da
mobilidade social e de oportunidades de expressão cultural, não desenvolveram uma
consciência de serem negros da mesma forma que seus congêneres norte-
11
Idem, p.27. 12
Idem, p.28. 13
Idem, p. 28-29 14
Idem, p. 34. 15
DIAS, Lucimar Rosa. Quantos passos já foram dados? a questão de raça nas leis educacionais. Da LDB de
1961 a Lei 10.639. Artigo online publicado em 13 de março de 2008 – Revista Educare online. Disponível em:
<http://www.espacoacademico.com.br/038/38cdias. htm>. Acesso em: 02 mai. 2010
6
americanos; no Brasil, qualquer pessoa que não fosse obviamente negra era
considerada branca; os negros estavam desaparecendo no Brasil e incorporando-se
ao grupo branco; foi no processo de miscigenação que os brasileiros haviam
descoberto o caminho para escapar dos problemas raciais que atormentavam os
norte-americanos”. O imaginário da democracia racial seria, portanto, apoiado em
duas ordens de argumentos; 1. Os grupos raciais se confundem com determinadas
classes sociais, não existindo dessa maneira propriamente grupos raciais que, como
tais, possam ser objeto de discriminação; 2. Os preconceitos desfavoráveis aos
negros e seu descendentes se esgotariam no nível verbal e não se manifestam no
comportamento como determinantes da ação. Daí decorreriam as noções de que
“branco” é aquele que tem certos atributos da classe ou grupo social superior; o
ideário também cuidaria sistematicamente da defesa da não existência de problemas
étnicos, sendo os desníveis econômico-sociais atribuídos a uma genérica
“incapacidade” ou “irresponsabilidade” das gentes de cor para o desempenho de
certos papéis sociais.16
No Brasil ao longo da sua história, muitos exemplos explicam o embranquecimento
da população. No período do Estado Novo o país estabeleceu leis que valorizassem um
branqueamento da população, e a imigração branca, isso dentro de um discurso que o Brasil
não era um país racista, mas que gostaria de “ser branco”, nos séculos vindouros.17
Na década de 60, com a aprovação da Lei 4.024/61:
Inspirada no liberalismo trazia a tentativa de conciliar duas posições que dividiam as
discussões de educadores e demais interessados na educação. Se os recursos
públicos iriam ou não sustentar as escolas privadas e confessionais. De forma
secundária, portanto, a lei trata como um de seus fins a condenação a quaisquer
preconceitos de classe e de raça.18
Surgiram alguns avanços relacionados à questão racial e a educação, já que esta
baseava-se nos princípios da liberdade, solidariedade, condenando qualquer tratamento
desigual, respeitando as diferenças religiosas, políticas, filosóficas, de raça ou de classe social.
O respeito às diferenças, foi deixado em segundo plano, o que não minimiza a participação e a
luta dos movimentos sociais em promover a inserção desses grupos na sociedade. O
tratamento dado a questão racial na L. D. B. (Lei de Diretrizes e Base de 1961) está
intimamente relacionado ao processo de construção do mito da democracia racial
No final da década de 60 e na década de 70 a aprovação das Leis 5.540/68 que tratou
do Ensino Superior e 5.692/71, que tratou do primeiro e segundo graus, não demonstrou
melhoria relacionada à questão racial, mas mantiveram-se as características da Lei 4.024/61
condenando o tratamento desigual e o preconceito racial e de classe.
Em 1986, com a IV Conferência para a Educação, ocorre à aprovação da Carta de
Goiânia, em 1987 movimentos em prol da elaboração da nova LDB, que coincide com o
Centenário da Abolição e os 300 anos da morte de Zumbi dos Palmares, esses movimentos
influenciaram a reformulação da lei de racismo, que na constituição de 1988, passa ser tratado
como crime passível de prisão, mas em relação à educação, as preocupações não estavam
voltadas para a questão racial.
Em março de 1988, na V Conferência sobre Educação, elabora-se uma proposta para
a L. D. B, sendo resultado de inúmeras discussões de educadores progressistas que estiveram
presentes na XI Reunião da ANPED e na V Conferência sobre Educação na qual:
16
SIQUEIRA, José Jorge. A redemocratização de 1945 e a crise do mito democracia Racial. Disponível em:
http://www.uss.br/web/arquivos/arquivos_professores/artigo_jose1.pdf Acesso em: 27/07/2010 p,7-8 17
DIAS, op cit, 2008. 18
Idem, p.4
7
A única referência à questão de raça que aparece na proposta de LDB produzida
pelas instituições representativas dos educadores em nível nacional está no Capítulo
II Da Educação Escolar de 1º Grau, Art.32, parágrafo único. Assegura às
comunidades indígenas a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de
aprendizagem.19
A citação acima está relacionada à proposta original, mas um projeto substitutivo,
organizado por Jorge Hage com as negociações junto à sociedade civil, pode-se observar
algumas alterações, que demonstram avanços significativos sobre a questão racial na
educação: O Capítulo II Dos Fins da Educação, também não trata da questão específica de
raça, mas no Capítulo VII Da Educação Básica no Art.38 inciso III orienta que os
conteúdos curriculares deverão obedecer às seguintes diretrizes: „III - o ensino da
História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas, raças e
etnias para a formação do povo brasileiro‟.20
Na LDB aprovada em 1996, pode-se observar que existe uma questão racial no
Brasil, e que tivera de ser considerada para a elaboração desta, com ampla participação dos
movimentos negros, deixando o texto da seguinte forma: “Art. 26. §4º da lei 9394/96. O
ensino de História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias
para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e
européia”.
Com a ampla participaçao dos movimentos negros, dos intelectuais, houve tambem a
elaboraçao dos PCNs, com um dos seus cadernos dedicados a Pluralidade Cultural, sendo
considerado como um passo para a igualdade racial.
Todo esse processo de elaboração das LDBs, não e um processo isolado está
intimamente ligada a processos políticos e econômicos, que interferem diretamente na
sociedade como um todo principalmente na educação.
As políticas públicas na década de 90, provocam um “novo olhar sobre o mundo”21
,
e portanto um novo papel do Estado, com a adoção de uma Política Neo-Liberal:
“Que visa redefinir o balanço entre as esferas públicas e privadas, via redução da
intervenção do Estado na esfera de bens e serviços de natureza social. À esfera
pública caberia uma ação direcionada para os grupos sociais impossibilitados de
responder às ofertas de mercado para o provimento destes serviços. Em segundo
lugar, a oferta pública deveria assumir a qualificação simplificada e de baixo custo
para assegurar maior abrangência e maior eficácia na relação custo/benefício. Ainda
nessa linha busca-se instituir mecanismos de controle e recuperação de custos,
como, por exemplo, a cobrança de taxas seletivas. Em terceiro, o estímulo à
privatização através de fomento ao mercado de assistência médica voltado para
empresas e assalariados de médias e altas rendas, bem como à privatização da
previdência social”.22
Promovendo assim, uma diminuição da interferência do Estado na economia, bem
como na prestação de serviços sociais, além do estímulo as privatizações e a criação de
mecanismos de controle.23
É parte desse cenário produtivo a solicitação de uma força de trabalho mais
qualificada e apta a "aprender a aprender" as novas qualificações que vão sendo
19
Op cit.2008 20
DIAS, op cit, 2008. 21
BARONE, op cit. 22
Idem, p.4 23
Idem, p. 4.
8
forjadas. Ao mesmo tempo, novas competências são exigidas para a vida em
sociedade. Demanda-se uma força de trabalho com características diversas daquelas
exigidas pelos modelos produtivos de base taylorista/fordista, pois o momento atual
requer um trabalhador que vá além da simples execução de tarefas. De um lado,
solicita-se o cumprimento de funções mais cerebrais – raciocínio lógico, resolução
de questões e problemas que surgem no cotidiano do trabalho, disposição de estar
sempre aprendendo - e, de outro, cobra-se um novo padrão atitudinal – uma força de
trabalho cooperativa, que tenha autonomia, seja comunicativa e, sobretudo, que se
identifique com a empresa. Insere-se nesse contexto o tema da educação.
Insistentemente presente no discurso de amplos e diferentes segmentos da
sociedade, atribui-se, sobretudo à educação básica de caráter geral, o papel
estratégico de promover o desenvolvimento das novas capacidades requeridas do
trabalhador.24
Assim, passa a ser função do Estado promover ações de caráter compensatório e
estruturar as relações entre o público e o privado, com a adoção de financiamentos para os
programas sociais, neste contexto pode-se observar:
A adoção de escolas públicas, uma união entre as empresas e as escolas, já conta
com muitos adeptos e reiteram o pressuposto neoliberal de que o Estado seria
inoperante na gestão escolar. É também neste contexto que se insere a determinação
de um número crescente de empresas de assumir para si a tarefa de promover a
escolarização de seus trabalhadores, levando a escola para o chão de fábrica. Esse
movimento demonstra que a educação contínua e interna ao mundo do trabalho não
é mais uma atividade episódica no cotidiano das empresas, mas, e, sobretudo, é parte
integrante para a elaboração de um planejamento estratégico.25
A educação dentro deste processo neoliberal, passa a ser valorizada dentro dos
organismos internacionais, aliada aos processos economicos mundias, que afirmam ser
necessário:
[…] educar para a competitividade, educar para o mercado, educar para incorporar o
Brasil no contexto da globalização. Tal visão restrita acabou por deixar de lado
muitos dos valores que anteriormente vinham informando o fazer educacional:
educar para a cidadania, educar para a participação política, educar para construir
cultura, educar para a vida em geral.26
Os organismos internacionais como: Banco Mundial, a UNESCO entre outros,
elaboram propostas educacionais centradas em um modelo neoliberal, que promoveria a
integração dos países em desenvolvimento no cenário mundial.
Para o Banco Mundial a educação baseia-se
Na geração de capital humano para o novo desenvolvimento, através de um modelo
educativo destinado a transmitir habilidades formais de alta flexibilidade,
concentrando-se em educação básica, como chave para o aumento sustentável de
taxas de crescimento econômico, para a superação das desigualdades e para a
obtenção de um ambiente político estável. Reiteram a estreita relação entre educação
e desenvolvimento econômico e, mais que isso, estão presentes na própria definição
24
Idem. p. 5. 25
BARONE, op cit, p. 8. 26
Idem. p. 11.
9
de proposições e projetos educacionais gestados nos âmbitos federal e estaduais. São
esses projetos que habilitam os governos ao recebimento dos empréstimos.27
A UNICEF, órgão da ONU, promoveu em 1990, em Jomtien na Tailândia a
Conferência Mundial de Educação para Todos, reitera a importância da Educação Básica,
voltada para as necessidades básicas de aprendizagem, bem como de educação integrada às
políticas sociais, objetivando o desenvolvimento humano.28
“A proposta originada desta Conferência está voltada para a idéia de "satisfação das
necessidades básicas de aprendizagem", cuja realização solicita a integração da
educação às demais políticas sociais. Explicita-se, ao mesmo tempo, uma
preocupação em difundir o conceito de "desenvolvimento humano", procurando dar
ao processo de ajuste econômico, promovido pelos organismos financeiros
internacionais, um "rosto humano”29
Na Conferência Mundial de Educação para Todos, o eixo do debate do terceiro
mundo deixou de ser a alfabetização para ser a universalização da educação básica. Sendo que
a Declaração Mundial de educação para Todos e o Plano de Ação para a Satisfação das
Necessidades Básicas de Aprendizagem promoveram uma série de princípios e compromissos
assumidos pelos países, os quais:
A educação básica refere-se à educação que objetiva satisfazer as necessidades
básicas de aprendizagem; inclui a instrução mínima primária e fundamental, na qual
a aprendizagem subseqüente deve ser baseada; compreende a educação infantil e
primária (elementar), bem como a alfabetização, a cultura geral e as habilidades
essenciais na capacitação de jovens e adultos; em alguns lugares inclui também o
ensino médio.30
Na Conferência Mundial de Educação para Todos, estabeleceu algumas estratégias
que viabilizariam uma melhoria na educação, promovendo o acesso e a permanência de todos,
estas estratégias são:
Satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem de todos – crianças, jovens e
adultos -, o que significa reconhecer que as pessoas tem necessidades e
aprendizagens diferentes, o que por sua vez, exige conteúdos, métodos, modalidades
de ensino e aprendizagens também diferenciadas; dar prioridade a meninas e
mulheres – toda a discriminação no campo educacional deve ser eliminada, assim
como obstáculos que impedem meninas e mulheres de terem acesso a educação; Dar
atenção especial aos grupos desamparados e as pessoas com algum tipo de
deficiencia – o que implica facilitar a sua aprendizagem e eliminar as desigualdades
educativas impostas a esses grupos; concentrar maior atenção na aprendizagem que
em aspectos formais – esta estrategia nos aponta que o número de anos de
escolaridade e os diplomas constituem aspectos formais do ensino, embora não
ofereçam garantias de que todos (crianças, jovens e adultos) possam alcançar e
manter um nível aceitável de aprendizagem. Também alerta para que apliquem
27
Idem. p. 13 28
Idem. p. 14 29
Idem, p. 14 30
HYPOLLITO. A Equidade na Educação Básica: Um desafio na Prática. Disponível em:
<http://www.usjt.br/proex/produtos_academicos/64_28.pdf> Apud: Satisfazendo as Necessidades Básicas
de Educação: Uma Visão para os anos 90 ( PNUD – UNESCO – UNICEF – BANCO MUNDIAL, 1990).
10
melhores sistemas de avaliação; valorizar o ambiente para aprendizagem – criar
condições materiais, físicas e emocionais essenciais para aprender, incluindo
nutrição, atenção à saúde e apoio em outros âmbitos indispensáveis que são
responsabilidade e tarefa de cada sociedade; fortalecer a articulação de ações –
refere-se não apenas a obrigação que tem os Estados e as autoridades educacionais
de proporcionar Educação Básica para toda a população, mas também insiste no
envolvimento de toda a sociedade: organismos governamentais e não-
governamentais, setor privado, comunidades locais, grupos religiosos e famílias.
Enfatiza principalmente a urgente necessidade de melhorar as condições de
formação, trabalho e remuneração do magistério; ampliar o alcance de todos a
Educação Básica – o que equivale a incorporar um visão ampliada de Educação
Básica.31
Para cumprir as estratégias da Conferência Mundial de Educação para Todos o
Brasil elaborou o Plano Decenal de Educação de 1993-2003 com 12 metas globais:
Incrementar, em cerca de 50%, os atuais níveis de aprendizagem nas matérias do
núcleo comum, tomando como referência os novos padrões de conteúdos mínimos
nacionais e de competências básicas a serem nacionalmente determinadas com a
participação dos sistemas de ensino; Elevar a, no mínimo, 94% a cobertura da
população em idade escolar; Assegurar a melhoria do fluxo escolar, reduzindo as
repetências, sobretudo na 1ª e 5ª. séries, de modo a que 80% das gerações escolares,
no final do período, possam concluir a escola fundamental com bom
aproveitamento, cumprindo uma trajetória escolar regular; Criar oportunidades de
educação infantil para cerca de 3,2 milhões de crianças do segmento social mais
pobre; Proporcionar atenção integral a crianças e adolescentes, sendo que 1,2 milhão
através do Programa Nacional de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente
(PRONAICA), em áreas urbanas periféricas: Ampliar o atendimento de jovens e
adultos de modo a oferecer oportunidades de educação básica equivalente ao ensino
fundamental para 3,7 milhões de analfabetos e 4,6 milhões de sub-escolarizados;
Ampliar progressivamente a participação percentual do gasto público em educação
no PIB brasileiro, de modo a atingir o índice de 5,5%; Implantar novos esquemas de
gestão nas escolas públicas, concedendo-lhes autonomia financeira, administrativa e
pedagógica; Promover a revisão crítica dos cursos de licenciatura e da escola normal
de forma a assegurar às instituições formadoras um novo padrão de qualidade,
compatível com os requerimentos atuais da política de educação para todos: Dotar
todas as escolas de ensino fundamental, urbanas e rurais, estaduais e municipais, de
condições básicas de funcionamento; Aumentar progressivamente a remuneração do
magistério público, através de plano de carreira que assegure seu compromisso com
a produtividade do sistema, ganhos reais de salários e a recuperação de sua
dignidade profissional e do reconhecimento público de sua função social;
Descentralizar progressivamente os programas de livro didático e de merenda
escolar.32
Assim sendo, o Brasil ao assinar a Declaração e o Programa estabelecido pela
Conferência de Jomtien, bem como outras conferências educacionais, levou o país a buscar o
31
SÁ, Márcia Souto Maior Mourão. Rumo a uma política para a Educação Inclusiva. Disponível em
<http://www2.videolivraria.com.br/pdfs/13269.pdf> Acesso: 02 Mai. 2010, p. 13-14. 32
GADOTTI, Moacir. OS COMPROMISSOS DE JOMTIEN Estado e Sociedade Civil. Texto-roteiro
preparado para uma exposição oral no I Seminário Nacional sobre Educação para Todos – Avaliação EFA-
2000, realizado em Brasília, nos dias 10 e 11 de junho de 1999. Disponível em:
<http://www.paulofreire.org/pubInstitu/SubInstitucional1203023491It003Ps 002/Os_compromissos_2000.pdf
Acesso em 02 mai. 2010, p. 6.
11
pleno atendimento do direito a educação, sendo esta vista como política de Estado, revelando
empenho e, portanto, ganhos para a sociedade como um todo.
Para a implantação da Lei 10.639, a Conferência de Durban contra o racismo, foi
primordial, pois os efeitos foram essenciais para que o Brasil assumisse compromissos e
elaborasse uma política voltada para o direito dos afro-descendentes e buscasse por fim às
desigualdades raciais, como explica Nilma Lino Gomes em seu artigo Limites e
Possibilidades Da Implementação da Lei 10.639/03 no contexto Das Políticas Públicas em
Educação:
O Brasil, assim como os demais países presentes na Conferência, é signatário da
Declaração e Programa de Ação de Durban que explicitam o acordo e compromisso
do Estado em combater o racismo, a xenofobia e formas correlatas de discriminação
e o papel importante da educação nesse processo. A educação, incluindo ações
afirmativas como medidas de reparação e promoção da igualdade racial, ocupa lugar
importante no Plano. Pode-se dizer que a aprovação da Lei 10.639/03, das diretrizes
curriculares nacionais e da resolução CNE/CP 01 de 2004 se articulam com vários
pontos do documento, portanto, os limites e avanços da implementação desta
legislação, no Brasil, estão relacionados aos desafios colocados para o Estado no
cumprimento das recomendações do referido Plano.33
Assim, a promulgação da Lei 10.639/03 vem de encontro a uma ressignificação da
disciplina de História; já que a mesma foi relegada a um segundo plano a qual a estrutura
curricular estava voltada para as ciências exatas, isto é, deixou a organização curricular
humanitária à margem, impossibilitando os alunos de interagirem com a sociedade,
participando como cidadãos conscientes e procurou construir uma “linha de montagem”. Com
a Lei tornou-se possível diminuir os abismos existentes entre as várias instâncias do saber, e
assim construir uma estrutura curricular menos “tradicional e fossilizada”34
, pautada na
Pedagogia da compreensão do diferente.35
2- HISTÓRIA E CULTURA - RELAÇÕES ETNORACIAIS
Para este capítulo devemos fazer algumas indagações tais como: O que ensinar? De
que forma inserir estes conhecimentos? Como tratar a Cultura Afro-Brasileira e Africana, sem
expor o educando a uma visão racista ou eurocêntrica da História?
Nos últimos 40 anos a História passou por transformações significativas, com o
aumento de objetos, problemas, novas abordagens, essa transformação modificou também a
forma como ensinar História, mas em sala de aula permanece uma forma tradicional.36
A disciplina de História passou por um processo de renovação teórico-metodológica,
pois o conteúdo possuía uma visão monocultural e eurocêntrica de nosso passado.
33
GOMES, Nilma Lino. Limites e possibilidades da implementação da lei 10.639/03 no contexto das
políticas públicas em educação. Apud. Caminhos convergentes estado e sociedade na superação das
desigualdades raciais no Brasil. O r g a n i z a d o r a s Marilene de Paula & Rosana Heringer. Disponível
em: <http://www.boelllatinoamerica.org/downloads/caminhos_convergentes_02_nilma.pdehttp://www.boell-
latino america.org/downloads/ca minh os_conver gentes_00_introducao.pdf> Acesso em: 07 Mai 2010, p. 13. 34
CAMPOS, Paulo Fernando de Souza. O Ensino, a História e a Lei 10.639. Revista História & Ensino,
Londrina, v.10, p. 41-52, out 2004 p.48 35
Idem. p, 47-48 36
LIMA, Maria. As Diferentes Concepções de Ensino e aprendizagem no Ensino de História. Fronteiras,
Dourados, MS, v. 11, n. 20, p.43-57, jul./dez 2009, p. 44.
12
Começando a partir da chegada dos portugueses, deixando de lado o indígena e os africanos,
quando se refere à cultura destes povos faz de maneira folclórica. Sendo esta disciplina muitas
vezes omissa na valorização das culturas das minorias étnicas.37
Devem-se tecer algumas considerações como a importância de se estudar a História
da África, pois a mesma está muito próxima da História do Brasil, como já dito no capítulo
anterior a disciplina de História passa por um período de resignificação, buscando a
importância desta disciplina na vida pratica dos alunos. Portanto, “(...) nesse sentido, o ensino
de História hoje está colocado diante do desafio de trabalhar identidades para além de seu
objetivo inicial, que era a formação da cidadania. (...)”38
O educador, tendo em vista a história deve selecionar, sistematizar, analisar e
contextualizar, junto com seus alunos e a comunidade escolar, o fato histórico, importante
para o processo histórico. Deve buscar outro caminho que aponte em outras direções.
Levando em consideração um conceito de ser humano que constrói sua história a partir de
relações vivenciadas pelas comunidades. Neste sentido é preciso reconhecer a igualdade entre
a cultura africana e afro descendente e uma branca, eurocêntrica, ocidental.39
Seguindo este mesmo raciocínio da importância da História é necessário destacar que
a mesma não somente contribui para o conhecimento da realidade e para a construção da
identidade, a História torna-se responsável por ensinar o convívio entre sociedades
multiculturais, de múltiplas etnias, dessa forma a implantação da Lei 10.639/03, vem de
encontro a uma sociedade mais justa e menos excludente.
Dessa forma, os educadores tiveram a sua formação com uma visão
homogeneizadora e linear. Essa formação fez com que valores pluriétnicos da sociedade
fossem deixados de lado. Valorizou-se um currículo eurocêntrico, com uma cultura que
menosprezou outras culturas no cotidiano escolar.40
Um currículo eurocêntrico caracteriza-se como um fenômeno etnocêntrico, que
poderia ser entendido como uma ideologia, paradigma e/ ou discurso, sendo que estes termos
referem-se a uma interpretação, mas ao qual é a expressão da dominação objetiva dos povos
europeus ocidentais no mundo, na crença da superioridade do modo de vida e do
desenvolvimento europeu-ocidental.41
Assim, os currículos e livros didáticos são omissos sobre a condição de sujeitos
históricos: às populações negras e ameríndias, o que contribuí para o aumento nos índices de
evasão e repetência de crianças oriundas de camadas sociais inferiores, pois as mesmas não se
37
FERNANDES, José Ricardo Oriá. Ensino de história e diversidade cultural: Desafios e possibilidades. Cad.
Cedes, Campinas, vol. 25, n. 67, p. 378-388, set./dez.2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ccedes/
v25n67/a09v2567.pdf Acesso em 07 Mai 2010. 38
CERRI, Luis Fernando. A função da História: Orientação Temporal e o Ensino Escolar da História.
2004. p. 129-133. SEED - SECRETARIA de Educação do Paraná – Diretrizes curriculares da educação básica
História- Paraná – Versão Preliminar. 39
MEC - Ministério da Educação / Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade.
Orientações e Ações para Educação das Relações Étnico-Raciais Brasília: SECAD, 2006. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/orientacoes _etnicoraciais.pdf> Acesso em: 07 Mai. 2010, p. 62. 40
GONÇALVES, Luciane Ribeiro Dias. Educação das relações étnico- raciais: o desafio da formação docente.
GT: Afro-brasileiros e Educação/ n. 21 Ano 2006 Disponível em:
<http://www.anped.org.br/reunioes/29ra/trabalhos/ trabalho/GT21-2372--Int.pdf> Acesso em: 02 Mai. 2010,
p. 6. 41
BARBOSA, Muryatan Santana. Eurocentrismo, História e História da África. Revista de História da África, nº
1. Jun. 2008 p. 46- 62 SANKOFA - Revista de História da África e de Estudos da Diáspora Africana/São
Paulo, Núcleo de Estudos de África, Colonialidade e Cultura Política – Número I, Ano I, Junho de 2008. São
Paulo, NEACP, 2008. Disponível em: http://www.mulheresnegras.org/doc/SANKOFA1.pdf Acesso em: 10
out. 2009, p. 46-47.
13
identificam com uma escola de conteúdos eurocêntricos, que não valorizam a diversidade
étnico-cultural da nossa sociedade.42
Ocorre assim, uma valorização da cultura européia, abandonando outras etnias, como
indígena e a africana, nos currículos escolares, relegando estas culturas a inferioridade, ao
abandono e a exclusão. Ao relegar a cultura de um povo tira-se a sua representação e deixa-o
sem alma, causando danos a sua auto-estima. Assim:
Essas narrativas celebram os mitos da origem nacional, confirmam o privilégio das
identidades dominantes e tratam as identidades dominadas como exóticas ou
folclóricas. Em termos de representação racial, o texto curricular conserva, de forma
evidente as marcas da herança colonial. O currículo é, sem dúvida, entre outras
coisas, um texto racial.43
Dessa forma qual a imagem da África e do negro nos currículos escolares? No Brasil
o colonialismo português transformou os negros em mercadorias e bens, com dominação
sexual, religiosa e lingüística. Primordial é que se adotem medidas que visem o
desenvolvimento do senso crítico do educador e que promovam à re-elaboração do seu saber
eurocêntrico, que não contempla a realidade da escola pública.
O currículo escolar deve considerar a identidade dos negros, respeitando seu modo
de ser e de pensar, evidenciando a influência da cultura africana sobre a sociedade brasileira.
Assim se colocaria em prática a construção de um currículo baseado no respeito promovendo
a igualdade étnica, cultural e racial.44
Como considera o MEC, no texto Orientações e Ações para a Educação das Relações
Étnico-racias sobre o currículo:
Que contemple a efetivação de uma pedagogia que respeite as diferenças. Tratar a
questão racial como conteúdo inter e multidisciplinar durante todo o ano letivo,
estabelecendo um diálogo permanente entre o tema étnico-racial e os demais
conteúdos trabalhados na escola. 45
A partir da implantação da Lei 10.639/03, surgiram alguns questionamentos aos
educadores sobre como ensinar se os cursos de licenciatura, a sociedade e os livros didáticos
continuam a moldar as mentalidades na qual o negro é considerado indolente, sinônimo de ser
inferior. Mas é elemento crucial para a manutenção do mito da “Democracia Racial”.
“No sistema educacional brasileiro, as redes de ensino segregam estudantes segundo
as classes sociais, estabelecendo as bases para discriminações e tornando desiguais
as oportunidades. Isso acontece em um sistema que formalmente assume a igualdade
como um valor, mas que realimenta os processos de exclusão. Muitas vezes
silencioso, o racismo é a forma mais marcante de exclusão social nas escolas, tendo
nesta um enorme sustentáculo”46
42
FERNANDES, op cit, 2005, p. 3-9. 43
SILVA, Delydia Cristina Cosme e. A inserção da cultura afro-brasilira nos currículos escolares. Disponível
em: <http://www.fsd.edu.br/revistaeletronica/artigos/artigo19.pdf> Acesso: 07 Mai. 2010, p. 102. 44
SILVA, op cit, 2010, p. 3. 45
MEC, op cit¸ 2006, p. 69. 46
ALVES, Joeslei Santos & SANTANA, José Valdir Jesus. Tensões e desafios para a implantação da lei
10.639/03 no município de Itapetinga – BA. Revista África e Africanidades - Ano 2 - n. 8, fev. 2010
Disponível em: http://www.africaeafricanidades.com/documentos/Tensoes_desafios_Itapetinga.pdf Acesso em:
27/07/2010
14
A Lei 10.639/03 trouxe novas perspectivas para a História, pois até o momento da
promulgação da Lei, o saber pedagógico era tido como capaz de manter as estruturas sócio-
econômicas vigentes durante o século XX, a escola pública com seus saberes teóricos,
abstratos e elitizados excluíam e marginalizavam “negros, pobres e analfabetos”. Dessa forma
a Lei 10.639 tem grande repercussão, pois através dela se é capaz de identificar e combater o
racismo e a intolerância na sociedade em sala de aula 47
É necessário, assim, refletir sobre o assunto levando em consideração que o sistema
educacional deve deixar de lado o aspecto hierarquizado e limitador, re-significando o
qualitativo ao invés do quantitativo, valorizando as experiências do educando, deixando de ser
unilateral ou de cima para baixo (imposição).
A lei é um marco de mudança, pois propicia o conhecimento das culturas africanas,
permitindo que a questão da desigualdade educacional possa ser reavaliada, para que o campo
educacional cumpra seu papel de influenciar e dar perspectivas de uma vida cidadã, a todos os
brasileiros. Assim a escola pública deve ser local de inclusão e de superação das
desigualdades.
Sendo que a escola não poderá se eximir da sua função primordial de construir uma
prática pedagógica que inclui e que seja representante das inquietudes dos alunos,
independente de seus recursos tecnológicos de estar ou não preparada para os alunos que
possam ou não ter acesso aos meios de formação; pois não são esses que melhoram a
qualidade do ensino e sim práticas singulares de uma pedagogia cidadã, além de educadores
compreensivos e atuantes para recuperar as deformações culturais e desigualdades sociais
impostas pela própria escola, que vêm na criança negra como se refere Irene de Souza: “São
filhos de pais bêbados e desempregados” reafirmando o racismo.48
Para que esta realidade do racismo em nossas escolas possa ser alterada se faz
necessário uma reformulação curricular, a qual a História da África não fosse apenas à
inserção de mais conteúdos; mas que promovesse o alargamento das fronteiras espaciais, com
uma reformulação que levasse em conta concepções atuais de currículo, com novas maneiras
de aprender e ensinar, criando oportunidades para rever paradigmas na formação universitária
e na educação básica. Na qual a História da África seja parte integrante da História da
Humanidade, propondo novas maneiras de aprender e ensinar, não fazendo a troca de agentes
históricos por outros, utilizando-se de uma história tradicional. Dessa forma, “A História do
Brasil deveria ser mais negra em sua alma, ou seja, mais próxima do que há da presença
africana em todos nós”49
3- DIFICULDADES EM TRABALHAR COM A LEI 10.639/03
Após a sanção da Lei 10.639/03, lei está oriunda de um projeto dos Deputados Ester
Grossi e Ben-Hur Ferreira, que gerou algumas inquietações e questionamentos, pois para que
a Lei fosse realmente cumprida algumas alterações deveriam se feitas no currículo tais como a
preocupação com a formação dos professores, mudanças na prática escolar, que conteúdos
oferecer aos alunos e ainda, como encaixar esse tema em outros tantos já existentes?50
47
CAMPOS, op cit, 2004, p. 45. 48
Idem, p. 46-47. 49
ROCHA, Helenice & et al. A Escrita da História Escolar. Memória e Historiografia. Rio de Janeiro.
Editora FGV, 2009, p. 161-163. 50
MEDEIROS, Angela Cordeiro. História e Cultura Afro-brasileira: Possibilidades e Impossibilidades na
Aplicação da Lei 10.639/2003. Revista Ágora, Vitória, n. 5, 2007, p. 1-12. Disponível em: <http://www.ufes.
br/ppghis/agora/Documentos/revista_5_PDFs/Angela%20Cordeiro%20Medeiros%20-%20PDF%5B1%5D.pd
f> Acesso: 10 Out. 2009, p. 3.
15
Percebe-se em um primeiro momento que o governo sancionou a Lei em
conformidade com os compromissos assumidos junto à população negra e aos compromissos
internacionais, não levando em consideração a realidade, deixando esta questão para que os
professores fizessem valer o que a mesma determinava.51
Assim, é possível perceber uma das dificuldades dos Professores como o despreparo
dos mesmos junto ao conteúdo História da África e Cultura Afro-brasileira.
O/a professor/a enfrenta cotidianamente as mais diversas situações de conflitos que
ocorrem entre alunos/as. Por que então, segundo depoimentos dos próprios
professores/as, é tão difícil encaminhar as situações de cunho racista? Quase sempre
a solução por eles/elas encontrada é a de não tomar conhecimento, achando que é
melhor “deixar quieto”. Depoimentos de professores/as afro-descendentes afirmam
dificuldade em lidar com a situação discriminatória porque temem que seus colegas,
professores, alunos/as ou pais e mães envolvidos/as no conflito, venham a atribuir a
sua condição de afro-descendente o fato de ter encaminhado uma situação que “não
parecia ser tão grave assim”. Outros/as, pois se sentem remetidos a experiências
pessoais que lhes dificulta uma atitude isenta ou os/as deixa impotentes frente ao
acontecimento. Alguns/mas professores/as brancos/as dizem que não sabem o que
fazer e por isso é melhor deixar quieto para não despertar “mais coisa ainda”,
embora sejam contra qualquer tipo de preconceito e tenham atitudes propositivas em
relação aos outros tipos de conflitos.52
A partir da fala de Onasayo, é possível perceber as inquietudes que a Lei
provocou no âmbito dos profissionais, inquietudes essas que podem ser percebidas também
em relação a sua formação inicial, nas práticas pedagógicas e nos currículos, nos materiais
didáticos e projetos políticos pedagógicos, além de um cotidiano no qual o preconceito e o
racismo são muitas vezes vistos como algo inexistente.
Nas escolas é possível detectar problemas de diversas ordens relacionadas às
questões raciais como apelidos e xingamentos, atitudes de omissão por parte dos professores
frente à discriminação racial.
A implementação da Lei representou avanços na Educação e Cultura e assim
promoveu transformações na sociedade e o reconhecimento dos negros como formadores do
Brasil. Mas, para a real aplicação da Lei se faz necessário o conhecimento metodológico e a
implantação de uma escola anti-racista, pois essas práticas podem contribuir para melhorar o
ensino-aprendizagem ajudando para que alunos negros não se evadam da escola e participem
de forma ativa do processo.
A escola tornou-se responsável por reforçar as desigualdades sociais quando
transmite valores nos materiais didáticos de forma parcial ou reforçando pensamentos na
educação de sujeitos que freqüentam as escolas brasileiras.
O racismo na educação é vivenciado pelas crianças no início da vida escolar e as
marcam para o resto de suas vidas. Este racismo acontece de forma velada como em todos os
setores da sociedade sendo mascaradas e ditas como inexistentes.
O professor deve estar comprometido em combater o racismo, realizando análises
críticas dos materiais didáticos deixando de lado o silêncio frente às atitudes de preconceito
que são presenciadas em sala de aula, refletindo e, portanto efetivando a igualdade racial. Pois
51
MEDEIROS, op cit, 2003, p. 4. 52
ONASAYO, Claudemir Figueiredo Pessoa. Fatores Obstacularizadores na Implementação da Lei 10.639/03 de
História e Cultura Afrobrasileira e Africana na Perspectiva dos/as Professores/as das Escolas Públicas
Estaduais do Município de Almirante Tamandaré-PR. Curitiba, 2008. Disponível em: <http://www.ppge.ufpr.
br/teses/M08_ onasayo.pdf> Acesso em: 10 Out.2009, p. 21.
16
estas ações concretas podem diminuir o prejuízo de alunos negros em relação ao racismo e
possibilitando a aprendizagem.53
Assim aqui cabe destacar:
È possível afirmar que a prática docente é determinada por elementos contextuais
(desde as próprias instituições até a ideia da escola como espaço cultural e produto
histórico em sentido mais amplo) e pelas tradições que se impõem nesses espaços.
Nas últimas décadas, tanto no Brasil, quanto em outros países do mundo, esses
afazeres têm sido compreendidos também como uma ação complexa e como
resultado da conjunção de saberes provenientes de diferentes fontes, tais como a
própria biografia dos professores, sua experiência no exercício do ofício, suas
perspectivas e sua memória.54
Portanto, sabe-se que o Ensino de História da África, da cultura Africana e Afro
brasileira e a efetiva implantação da Lei 10.639/03 em nossa sociedade sofrem dificuldades
oriundas de uma formação inicial do professor que não priorizou o conhecimento da História
da África, e também com todo um aspecto intrínseco do caminhar de cada docente. Cabe aqui
destacarmos o papel do currículo, que não deve ser apenas um elencar de conteúdos e
objetivos, mas deveria priorizar o afeto, aqui entendido como: “deixar-se e fazer-se conquistar
pelo tema do trabalho e pesquisa, de abrir-se para compreender a relevância do tema para um
melhor entendimento não somente da realidade, mas de si próprio dentro dela”.55
Outra dificuldade encontrada para a implementação da Lei é a falta de material
didático e uma bibliografia adequada para auxiliar o docente em sua prática diária, a própria
resistência em se trabalhar com o tema.
Todos esses aspectos devem ser levados em consideração para que realmente
ocorra uma efetiva implementação da Lei em nossa sociedade. Além, devemos buscar
caminhos que levem a uma melhoria na qualidade de ensino, e assim promover a existência
de uma sociedade que vise construir a cidadania, excluindo o racismo e o preconceito.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Dificilmente induziremos os Negros a acreditar que se seus estômagos estiverem
cheios, pouca importância terão seus cérebros” (...) Du Bois.56
No Brasil o conjunto de políticas públicas e privadas voltadas para a
concretização do princípio de igualdade material e dos efeitos discriminatórios de qualquer
forma, passou pela criação da SECAD (A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização
e Diversidade), órgão do Ministério da Educação e Cultura (MEC), que tem por objetivos
planejar, orientar e acompanhar a implementação da Lei 10.639/03 que tornou obrigatório o
ensino da História e Cultura da África e afro brasileira. A SECAD atua no plano político e
53
PACÍFICO, Tânia Mara. A Implantação da Lei 10.639/03 em uma Escola da Rede Pública Estadual no Ensino
Fundamental na Cidade de Curitiba-PR. 2008. Disponível em: <http://www.pucpr.br/eventos/educere/
educere2008/ anais/pdf/259_680.pdf > Acesso em: 24 Set.2009, p. 6. 54
LIMA, Maria. As Diferentes Concepções de Ensino e aprendizagem no Ensino de História. Fronteiras,
Dourados, MS, v 11, n. 20, p.43-57, jul./dez 2009, p. 47. 55
ROCHA, Helenice & et al. A Escrita da História Escolar. Memória e Historiografia. Rio de Janeiro. Editora
FGV, 2009, p. 155. 56
SANTOS, Ademir Valdir dos. A Lei Federal 10.639/03 e seus Impactos na Escola: Mais uma Lei que “Não
Pegou?”. 2007. p.1-14 Disponível em: <http://www.utp.br/Cadernos_de _Pesquisa/pdfs/cad_pesq4/11_a_lei_
federal_cp4.pdf> Acesso: 09 Set. 2009, p. 1.
17
pedagógico e oferece aos professores conhecimentos estratégicos para a compreensão e
combate ao preconceito e a discriminação racial nas escolas.57
Para realizar uma reflexão sobre as relações raciais se faz necessário discutir e
analisar o motivo pelo qual nos calamos diante da discriminação e racismo dentro das
instituições escolares, sabendo-se que estas atitudes promovem junto aos indivíduos negros a
baixa auto-estima, o fracasso escolar, isolamento e evasão. Assim sendo:
No jornal A folha de São Paulo de 18/05/2003, alguns pesquisadores da PUC – RJ
(Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), Ângela Albernaz, Francisco
Ferreira e Creso Franco, utilizando os dados do Saeb (Sistema de Avaliação do
Ensino Básico), exame do Ministério da Educação, que mesura a qualidade da
Educação Brasileira, concluíram que os alunos negros tinham seu desempenho 9,3
pontos menor que alunos brancos, comparados com os alunos da mesma escola e de
mesmo nível social. Para esses pesquisadores esse resultado comprava que possa
estar havendo preconceito na escola, podendo os professores, estarem tratando de
maneira diferenciada alunos brancos e alunos negros dentro de sala de aula58
.
Assim refletir sobre as práticas escolares após a Lei 10.639 é perceber que posições
tomaram professores e alunos e aqueles que dizem não perceberem a existência de conflitos e
preconceitos no meio social a escola.
Assim a escola não consegue cumprir o seu papel de organizadora da multicultura,
pois para que isso ocorra é necessário buscar a formação de professores. Ainda é necessário
realizar muita coisa, pois se encontra ainda incipiente.59
Após a implantação da Lei que institui o dia 20 de novembro como dia da
Consciência Negra, houve avanços, celebrações e homenagens com resquícios de
folclorização da cultura afro brasileira, mas também houve intencionalidade promovendo uma
consciência política e histórica da diversidade. Porém ocorreu a contestação por parte de
gestores públicos e privados do feriado, exigindo assim mais uma jornada de trabalho.
Dessa forma até mesmo a implementação da Lei passa por conflitos gerados por
interesses econômicos, e para que estas questões conflituosas possam deixar de existir é de
fundamental importância a elaboração de um Projeto Político Pedagógico (PPP), que esteja
voltado para as determinações da Lei 10.639/03, e que permitam objetivos formativos do
cotidiano de sala de aula.60
Para a existência de objetivos formadores os professores devem receber formação
específica no processo ensino-aprendizagem e nos conteúdos, podendo assim agir de forma
consciente e critica para a alteração do currículo.
Portanto, é no Projeto Político Pedagógico que se configura o perfil e as posições da
comunidade escolar, que dessa forma este deve estar voltado a valorizar a pluralidade cultural
e questionar o racismo.
A Lei vem se posicionar como divisor de águas entre a realidade e a superação da
realidade. Para se objetivar a implantação da Lei é necessário o esforço dos educadores, onde
a escola possa ser o ambiente onde as atitudes democráticas, de igualdade e aceitação das
diferenças realmente se efetivem.61
57
Idem, p. 3 58
PRAXEDES, Walter. A questão racial e a superação do eurocentrismo na educação escolar. Revista espaço
Acadêmico nº 89 de outubro de 2008. Disponível em: <http://www.espaco academico.com.br/089/89praxedes.
htm> Acesso em 15 out 2009, p. 2. 59
SANTOS, op. Cit, 2007, p.6 60
SANTOS, op cit, 2007, p. 10. 61
SANTOS, op cit¸ 2007, p. 12-14.
18
Deve-se facilitar ativamente o acesso à educação superior dos membros de alguns
grupos específicos, como os povos indígenas, os membros de minorias culturais e
lingüísticas, de grupos menos favorecidos, de povos que vivem em situação de
dominação estrangeira e pessoas portadoras de deficiências; pois, estes grupos
podem possuir experiências e talentos, tanto individualmente como coletivamente,
que são de grande valor para o desenvolvimento das sociedades e nações.62
62
UNESCO. A Declaração Mundial sobre a Educação Superior no Século XXI: Visão e ação. UNESCO
(Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura). Paris, 9 out. 1998. Disponível em:
,http://interlegis.gov.br/processo_legislativo,. Acesso em 07 Mai. 2010, p. 19-20.
19
ANEXOS
5 ANEXO Nº1
Questão para a entrevista preliminar:
1- Quais as objeções que você faria em relação ao ensino da África, Cultura Africana e o
afro descendente, nas suas aulas?
2- Quais as dificuldades que você vê em colocar esses conteúdos na sua prática em sala
de aula?
3- Você vê dificuldade para a implementaçâo desses conteúdos no seu ambiente escolar?
20
6 ANEXO Nº 2
QUESTIONÁRIO PARA ENTREVISTA COM 30 PROFESSORES DE HISTÓRIA DA
REDE PÚBLICA ESTADUAL DA REGIÃO DOS CAMPOS GERAIS
1- Seu nome completo______________________________________Idade________
2- Sexo: (F) (M)
3- Como você se considera:
( ) Branco(a) ( ) Pardo(a) ( ) Afro-descendente (a) ( ) Asiático(a) ( )
Indígena
4- Qual seu nível de escolaridade?
5- Qual a sua situação trabalhista?
( ) QPM ( ) PSS ( ) FUNDÃO
6- Há quanto tempo você leciona?_______ Em quantas escolas?______ Qual a sua carga
horária semanal?________
7- Há quanto tempo você leciona na escola.......................?
8- Você participou de atividades de formação continuada, nos últimos 6 anos? Quais?
_____________________________________________________________________
___________________________________________________________________
9- Estas atividades ajudaram a melhorar a sua prática em sala de aula? De que maneira?
_____________________________________________________________________
___________________________________________________________________
10- Quantos alunos afro-descendentes você possui nesta escola, e em que séries?
__________________________________________________________________
11- Em janeiro de 2003 foi assinada a Lei 10.639, que torna obrigatório o ensino de
história da África e cultura afro-brasileira em todos os níveis da educação básica. Para
você qual a relevância da implantação desta lei?
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
12- A trajetória histórica do negro é estudada: A- No Dia da Abolição da Escravatura, em agosto, mês do folclore, e no Dia da
Consciência Negra.
B- Como conteúdo, nas várias áreas que possibilitam tratar o assunto.
C- Não é estudada.
1.1 De que maneira e quais atividades são realizadas:
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
________________________________________________________________
13- Acredita-se que o racismo deve ser tratado: A- Pedagogicamente pela escola.
B- Pelos movimentos sociais.
C- Quando acontecer algum caso evidente na escola.
21
14- A cultura negra é estudada: A- Como parte do rico folclore do Brasil.
B- Como um instrumento da prática pedagógica.
C- Quando é assunto da mídia.
15- O currículo: A- Baseia-se nas contribuições das culturas européias representadas nos livros
didáticos.
B- Constrói-se baseado em metodologia que trata positivamente a diversidade racial,
visualizando e estudando as verdadeiras contribuições de todos os povos.
C- Procura apresentar aos alunos informações sobre os indígenas e negros brasileiros.
4.1 Que sugestões você daria para modificar o currículo e implementar a Lei
10.639/03?
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
16- O professor:
A- Posiciona-se de forma neutra quanto às questões sociais. É o transmissor de
conteúdos dos livros didáticos e manuais pedagógicos.
B- Reavalia sua prática refletindo sobre valores e conceitos que traz introjetados sobre
o povo negro e sua cultura, repensando suas ações cotidianas.
C- Tem procurado investir em sua formação quanto às questões raciais.
17- O trato das questões raciais:
A- É feito de forma generalizada, pois a escola não tem possibilidade de incidir muito
sobre ele.
B- É contextualizado na realidade do aluno, levando-o a fazer uma análise crítica
dessa realidade, a fim de conhecê-la melhor e comprometendo-se com sua
transformação.
C- Não é considerado assunto para a escola.
18- As diferenças entre grupos etnoculturais:
A- Não são tratadas, pois podem levar a conflitos.
B- Servem como reflexão para rever posturas etnocêntricas e comparações
hierarquizantes.
C- São mostradas como diversidade cultural brasileira.
19- As situações de desigualdade e discriminação presentes na sociedade são: A- Pontos para reflexão para todos os alunos.
B- Pontos para reflexão para os alunos discriminados.
C- Instrumentos pedagógicos para a conscientização dos alunos quanto à luta contra
todas as formas de injustiça social.
20- Acredita-se que, para fortalecer o relacionamento, a aceitação da diversidade
étnica e o respeito, a escola deve: A- Promover o orgulho ao pertencimento racial de seus alunos.
B- Procurar não dar atenção para as visões estereotipadas sobre o negro nos livros, nas
produções e nos textos do material didático.
C- Promover maior conhecimento sobre as heranças culturais brasileiras.
21- Quanto à expressão verbal:
22
A- Acredita-se que a linguagem usada no cotidiano escolar tem o poder de influir nas
questões de racismo e discriminação.
B- Usa-se eufemismos para se referir a etnia dos alunos, para não ofendê-los.
C- A linguagem não tem influência direta nas questões raciais.
22- Quanto ao trabalho escolar: A- Alguns professores falam da questão racial em determinadas etapas do ano letivo.
B- Existe resistência dos professores para tratar a questão racial com relação à luta
contra todas as formas de injustiça social.
C- Existe um trabalho coletivo sobre a questão racial com a participação de todos,
inclusive da direção e dos funcionários.
22.1 Que sugestões você daria para melhorar o trabalho escolar na sua disciplina,
e como um todo? _____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
___________________________________________________________________
23- Quanto à biblioteca: A- Existem muitos livros sobre a questão racial que contemplam alunos e professores.
B- Existem alguns tipos de livros (dois ou três) que contemplam a questão racial.
C- Não existem livros sobre o tema.
24- Quanto à capacitação dos professores sobre a questão racial: A- Algumas vezes no ano fazemos cursos ou grupos de estudo sobre a questão racial.
B- Ainda não tivemos a oportunidade de estudar a questão.
C- Procuramos incorporar o assunto nas discussões de reuniões pedagógicas, grupos
de estudo e momentos de formação.
23
REFERÊNCIAS
ALVES, Joeslei Santos & SANTANA, José Valdir Jesus. Tensões e desafios para a
implantação da lei 10.639/03 no município de Itapetinga – BA. Revista África e
Africanidades - Ano 2 - n. 8, fev. 2010 Disponível em:
http://www.africaeafricanidades.com/documentos/Tensoes_desafios_Itapetinga.pdf Acesso
em: 27/07/2010
BARBOSA, Muryatan Santana. Eurocentrismo, História e História da África. Revista de
História da África, nº 1. Jun. 2008 p. 46- 62 SANKOFA - Revista de História da África e de
Estudos da Diáspora Africana/São Paulo, Núcleo de Estudos de África, Colonialidade e
Cultura Política – Número I, Ano I, Junho de 2008. São Paulo, NEACP, 2008. Disponível em:
http://www.mulheresnegras.org/doc/SANKOFA1.pdf Acesso em: 10 out 2009.
BARONE, Rosa Elisa M. Educação e políticas públicas: questões para o debate.
Disponível em http://www.senac.br/BTS/263/boltec263a.htm Acesso em 02 mai 2010.
BRASIL. Parecer nº 003/2004 10/03/2004. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.
Brasília-DF Relatora: Conselheira Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/003.pdf Acesso em: 10 out 2009.
CAMPOS, Paulo Fernando de Souza. O Ensino, a História e a Lei 10.639. Revista História
& Ensino, Londrina, v.10, p. 41-52, out 2004.
CERRI, Luis Fernando. A função da História: Orientação Temporal e o Ensino Escolar
da História. 2004. p. 129-133. In: SEED - SECRETARIA de Educação do Paraná –
Diretrizes curriculares da educação básica História- Paraná – Versão Preliminar.
DIAS, Lucimar Rosa. Quantos passos já foram dados?A questão de raça nas leis
educacionais. Da LDB de 1961 a Lei 10.639. Artigo online publicado em 13 de março de
2008 Educare online. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br/038/38cdias.
htm>. Acesso em: 02 mai 2010
FERNANDES, Florestan. O Negro no Mundo dos Brancos. São Paulo: Difel, 1971.
FERNANDES, José Ricardo Oriá. Ensino de história e diversidade cultural: Desafios e
possibilidades. Cad. Cedes, Campinas, vol. 25, n. 67, p. 378-388, set./dez.2005. Disponível
em: http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v25n67/a09v2567.pdf Acesso em 07 mai 2010.
GADOTTI, Moacir. OS COMPROMISSOS DE JOMTIEN Estado e Sociedade Civil.
Texto-roteiro preparado para uma exposição oral no I Seminário Nacional sobre Educação
para Todos – Avaliação EFA-2000, realizado em Brasília, nos dias 10 e 11 de junho de 1999.
Disponível em: <http://www.paulofreire.org/pub/Institu/SubInstitucional1203023491It003Ps
002/Os_compromissos_2000.pdf Acesso em 02 mai 2010
24
GOMES, Nilma Lino. Limites e possibilidades da implementação da lei 10.639/03 no
contexto das políticas públicas em educação. Apud. Caminhos convergentes, estado e
sociedade na superação das desigualdades raciais no Brasil. O r g a n i z a d o r a s Marilene de
Paula & Rosana Heringer. Disponível em: <http://www.boelllatinoamerica.org/downloads /
caminhos_convergentes_02_nilma.pdehttp://www.boell-latinoamerica.org/downloads/caminh
os_conver gentes_00_introducao.pdf> Acesso em: 07 mai 2010.
GONÇALVES, Luciane Ribeiro Dias. Educação das relações étnico-raciais: o desafio da
formação docente. GT: Afro-brasileiros e Educação/ n. 21 Disponível em:
http://www.anped.org.br/reunioes/29ra/trabalhos/trabalho/GT21-2372--Int.pdf Acesso em: 02
mai 2010
HYPOLLITO, Dinéia. A Equidade na Educação Básica: Um desafio na Prática.
Disponível em: http://www.usjt.br/proex/produtos_academicos/64_28.pdf Fev. 2002 Acesso
em: 02 mai 2010
LIMA, Maria. As Diferentes Concepções de Ensino e aprendizagem no Ensino de
História. Fronteiras, Dourados, MS, v 11, n. 20, p.43-57, jul/dez 2009.
MEC - Ministério da Educação / Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade. Orientações e Ações para Educação das Relações Étnico-Raciais Brasília:
SECAD, 2006. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/orientacoes
_etnicoraciais.pdf> Acesso em: 07 mai 2010.
MEDEIROS, Angela Cordeiro. História e Cultura Afro-brasileira: Possibilidades e
Impossibilidades na Aplicação da Lei 10.639/2003. Revista Ágora, Vitória, n. 5, 2007, p. 1-
12. Disponível em: http://www.ufes.br/ppghis/agora/Documentos/revista_5_PDFs/Angela
%20Cordeiro%20Medeiros%20-%20PDF%5B1%5D.pdf> Acesso: 10 out 2009.
ONASAYO, Claudemir Figueiredo Pessoa. Fatores Obstacularizadores na Implementação
da Lei 10.639/03 de História e Cultura Afrobrasileira e Africana na Perspectiva dos/as
Professores/as das Escolas Públicas Estaduais do Município de Almirante Tamandaré-
PR. Curitiba, 2008. Disponível em: http://www.ppge.ufpr.br/teses/M08_onasayo.pdf Acesso
em: 10 out 2009.
PACÍFICO, Tânia Mara. A Implantação da Lei 10.639/03 em uma Escola da Rede Pública
Estadual no Ensino Fundamental na Cidade de Curitiba-PR. 2008. Disponível em:
http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/259_680.pdf Acesso em: 24 set
2009.
PRAXEDES, Walter. A questão racial e a superação do eurocentrismo na educação escolar.
Revista espaço Acadêmico nº 89 de outubro de 2008. Disponível em: <http://www.espaco
academico.com.br/089/89praxedes.htm> Acesso em 15 out 2009.
ROCHA, Helenice & et al. A Escrita da História Escolar. Memória e Historiografia. Rio
de Janeiro. Editora FGV, 2009.
25
SCHWARTSMAN, Hélio. A escola, o racismo e a "Ilíada”. Artigo online publicado na
Folha online em 23/01/2003. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/
helioschwartsman/ult510u356317. sht ml> Acesso em jun 2010.
SÁ, Márcia Souto Maior Mourão. Rumo a uma política para a Educação Inclusiva.
Disponível em <http://www2.videolivraria.com.br/pdfs/13269.pdf> Acesso: 02 mai 2010.
SANTOS, Ademir Valdir dos. A Lei Federal 10.639/03 e seus Impactos na Escola: Mais uma
Lei que “Não Pegou?”. 2007. p.1-14 Disponível em: <http://www.utp.br/Cadernos_de
_Pesquisa/pdfs/cad_pesq4/11_a_lei_federal_cp4.pdf> Acesso: 09 set 2009.
SILVA, Delydia Cristina Cosme e. A inserção da cultura afro-brasileira nos currículos
escolares. Disponível em: <http://www.fsd.edu.br/revistaeletronica/artigos/artigo19.pdf>
Acesso: 07 mai 2010.
UNESCO. A Declaração Mundial sobre a Educação Superior no Século XXI: Visão e
ação. UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura). Paris,
9 out. 1998. Disponível em: ,http://interlegis.gov.br/processo_legislativo,. Acesso em 07 mai
2010.