Beda- História dos Anglos

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São Beda, o Venerável História Eclesiástica História Eclesiástica História Eclesiástica História Eclesiástica das Gentes dos Anglos das Gentes dos Anglos das Gentes dos Anglos das Gentes dos Anglos — Livro I  Livro I  Livro I  Livro I —

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São Beda, o Venerável

História EclesiásticaHistória EclesiásticaHistória EclesiásticaHistória Eclesiásticadas Gentes dos Anglosdas Gentes dos Anglosdas Gentes dos Anglosdas Gentes dos Anglos

———— Livro I Livro I Livro I Livro I ————

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IX.IX.IX.IX. Como durante o reinado de Graciano, Maximus,tendo se tornado imperador na Bretanha, retornou à

Gália com um poderoso exército [A.D. 383.].

X.X.X.X. Como, no reino de Arcádio, Pelágio, um bretão,desafiou insolentemente a Graça de Deus.

XI.XI.XI.XI. Como, durante o reinado de Honório, Graciano eConstantino tornaram-se tiranos na Bretanha. A seguir,ocorre o assassinato do primeiro na Bretanha e dosegundo na Gália.

XII.XII.XII.XII. Os bretões, tendo sido arrasados pelos escotos epictos, buscam o socorro dos romanos que, vindo umasegunda vez, constróem uma muralha em torno da ilha.Mas sendo novamente invadidos pelos inimigos jámencionados, os bretões são levados a uma situaçãoainda mais angustiante que antes.

XIII.XIII.XIII.XIII. No reino de Teodósio, o Jovem, Paládio foi enviadoaos escotos que acreditavam em Cristo; os bretões,implorando a assistência de Aécio, o cônsul, não

conseguiram obtê-la [446 d.C.].

XIV.XIV.XIV.XIV. Os bretões, compelidos pela fome, expulsam osbárbaros de seus territórios; logo houve abundância demilho, prazer, peste e a subversão da nação [426447d.C.].

XV.XV.XV.XV. Os anglos, tendo sido convidados para vir àBretanha, a princípio obrigaram o inimigo a se afastar;entretanto, não muito depois, unindo-se em aliança a

eles, mostraram suas armas aos seus confederados [450-456 d.C.].

XVI.XVI.XVI.XVI. Os bretões obtiveram sua primeira vitória sobre osanglos, sob o comando de Ambrósio, um romano.

XVII.XVII.XVII.XVII. Como Germânico, o bispo, chegando de barco àBretanha com Lupus, primeiramente acalmou a

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tempestade do mar, e depois aquela dos pelagianos, porforça divina [429 d.C.].

XVIII.XVIII.XVIII.XVIII. O mesmo homem santo deu visão à filha cega deum tribuno, e então veio até Santo Albano, lá recebendoalgumas de suas relíquias e deixando outras dosabençoados apóstolos e outros mártires.

XIX.XIX.XIX.XIX. Como o mesmo homem santo, estando detido lápor uma indisposição, através de suas preces apagou umincêndio que havia se iniciado entre as casas, e foi elemesmo curado de uma doença por uma visão [429 d.C.].

XX.XX.XX.XX. Como os mesmos bispos pediram a assistência dosCéus aos bretões em uma batalha, e então retornarampara casa [429 d.C.].

XXI.XXI.XXI.XXI. Tendo a heresia pelagiana revivido, Germano,retornando à Bretanha com Severo, inicialmente curouum jovem aleijado, e então, havendo condenado ouconvertido os hereges, restauraram a saúde espiritual aopovo de Deus [447 d.C.].

XXII.XXII.XXII.XXII. Os bretões, estando livres por um tempo dasinvasões estrangeiras, se desgastaram através das guerrascivis, e então se dedicaram a crimes ainda maishediondos.

XXIII.XXIII.XXIII.XXIII. Como o papa Gregório enviou Agostinho comoutros monges para pregar à nação inglesa, e encorajou-os, através de uma carta de exortação, a não cessar o seutrabalho [596 d.C.].

XXIV.XXIV.XXIV.XXIV. Como ele escreveu ao Bispo de Arles paraentretê-los [596 d.C.].

XXV.XXV.XXV.XXV. Agostinho, chegando à Bretanha, primeiro pregouna Ilha de Thanet ao Rei Etelberto, e tendo obtidolicença, entrou no reino de Kent, de modo a pregar lá[597 d.C.].

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XXVI.XXVI.XXVI.XXVI. Santo Agostinho seguiu a doutrina e modos devida da igreja primitiva, e estabeleceu sua sede episcopal

na cidade real [A.D. 597].

XXVII.XXVII.XXVII.XXVII. Santo Agostinho, tendo sido feito bispo, enviamensagem ao papa Gregório para deixá-lo ciente do quefora feito, e recebe sua resposta a respeito das dúvidasque havia proposto a ele [597 d.C.].

XXVIII.XXVIII.XXVIII.XXVIII. O papa Gregório escreve ao bispo de Arles paraque dê assistência a Agostinho no trabalho de Deus [601d.C.].

XXIX.XXIX.XXIX.XXIX. O mesmo papa envia a Agostinho o pálio, umaepístola e diversos ministros da Palavra [601 d.C.].

XXX.XXX.XXX.XXX. Uma cópia da carta que papa Gregório enviou aoabade Mélito, que então ia à Bretanha [601 d.C.].

XXXXXXI.XXI.XXI.XXI. O papa Gregório, por carta, exorta Agostinho anão se glorificar de seus milagres [601 d.C.].

XXXII.XXXII.XXXII.XXXII. O papa Gregório envia cartas e presentes ao reiEtelberto.

XXXIII.XXXIII.XXXIII.XXXIII. Agostinho recupera a igreja de nosso Salvador, econstrói o mosteiro de São Pedro Apóstolo; Pedro é oprimeiro abade do mesmo [602 d.C.].

XXXIV.XXXIV.XXXIV.XXXIV. Etelfrid, rei dos nortumbrianos, tendo derrocadoas gentes dos escotos, os expulsa dos territórios dosanglos [603 d.C.]

PrefácioPrefácioPrefácioPrefácio

  Ao gloriosíssimo rei Ceovulp, Beda, servo e sacerdotede Cristo

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Com toda a presteza enviei a História Eclesiástica dasGentes dos Anglos que publiquei recentemente a seu

pedido, rei, com toda a presteza para que o senhor a lessee desse sua aprovação. Agora eu a envio novamente paraser transcrita e examinada mais completamente e comtoda a ponderação. Eu não posso deixar de louvar asinceridade e o zelo com os quais o senhor não apenasdeu ouvidos às palavras da Sagrada Escritura mastambém laboriosamente cuidou de se familiarizar comas ações e os ditos de antigos homens de renome,especialmente de sua própria gente.

Pois se a história relata boas coisas de bons homens, oouvinte atento é animado a imitar aquilo que é bom; ouse menciona atos maus de pessoas malvadas, aindaassim o ouvinte religioso e piedoso, rechaçando aquiloque é doloroso e perverso, fica ainda mais fortementeanimado a fazer aquelas coisas que sabe serem boas edignas de Deus. História que o senhor, também sendoprofundamente sensato, está desejoso que deva sertornada completamente familiar para o senhor e paraaqueles sobre os quais a Divina Providência quis que o

senhor governasse, devido ao seu grande cuidado com obem estar geral destes.

Mas com o intuito de remover toda a ocasião de dúvidada veracidade daquilo que escrevi, tanto para o senhorquanto para outros leitores ou ouvintes desta história,tomarei o cuidado de brevemente citar de quais autores,em grande parte, eu construí a mesma. Minha principalautoridade e auxílio neste pequeno trabalho foi o doutoe reverendo abade Albino, homem instruído em toda a

sorte de conhecimento, educado na Igreja de Canterburypor aqueles veneráveis e cultos homens, arcebispoTeodoro, de abençoada memória, e o abade Adriano, eque transmitiu para mim através de Notelmo, o piedososacerdote da Igreja de Londres, seja por escrito ou atravésda narração feita por este mesmo Notelmo, tudo quepensou ser digno de memória que havia sido feito naprovíncia de Kent ou nas áreas adjacentes pelosdiscípulos do abençoado papa Gregório, da forma que ele

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Foi-nos elucidado quais transações eclesiásticasocorreram na província dos anglos do Oriente em parte

através dos escritos e tradição de nossos ancestrais e emparte através do muito reverendo abade Ésio. Soubemoso que foi feito em prol da divulgação da fé e qual foi asucessão sacerdotal na província de Lindsey através dascartas do muito reverendo prelado Cunebert ou pelorelato oral de outras pessoas de bom crédito. Eu nãorecebi de nenhum autor em particular o que foi feito naIgreja por toda a província dos nortumbrianos, do tempoem que eles receberam a fé de Cristo até o momentopresente, somente através do testemunho fiel de

inúmeras testemunhas, que poderiam saber ou lembrarde algo, além do que já era de meu próprioconhecimento. Aqui deve ser observado tudo que escreviconcernente ao nosso mais santo padre, bispo Cutberto,seja neste volume ou em meu tratado sobre sua vida efeitos, eu parcialmente tirei e fielmente copiei do queencontrei escrito sobre ele pelos irmãos da igreja deLindisfarne.

Ao mesmo tempo tive o cuidado de acrescentar coisas

que eu mesmo tinha conhecimento pelo testemunho fieldaqueles que o conheceram. Eu humildemente peço aoleitor que se ele achar nisto que escrevemos qualquercoisa que não tenha sido contada de acordo com averdade, que não impute a mesma a mim que, comorequer a regra da História, tenho trabalhadosinceramente para colocar por escrito tudo aquilo quepude colher de relato comum, para a instrução daposteridade.

Mais ainda: eu imploro a todos os homens que ouvirãoou lerão esta história de nossa nação, que pelas minhasmuitas enfermidades tanto de corpo quanto de espírito,ofereçam freqüentes súplicas ao Trono da Graça. E eupeço ainda que, em recompensa por este trabalho quetenho registrado, das diversas regiões e cidades cujoseventos eram mais dignos de nota e mais gratos aosouvidos de seus habitantes, eu possa como prêmio ter obenefício de suas piedosas preces.

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Livro ILivro ILivro ILivro I

I - Da situação da Bretanha, da Irlanda e de seusantigos habitantes

A Bretanha, uma ilha no oceano, em outros temposchamada de Albion, está situada entre o norte e oocidente, avistando, apesar fazê-lo de uma consideráveldistância, as costas da Germânia, Gália e Espanha, queformam a maior parte da Europa. Se estende por 800milhas de comprimento em direção norte, e por 200

milhas de largura, exceto onde diversos promontóriosaumentam sua largura, e pelos quais sua extensão setorna de 3675 milhas. Ao sul, pela praia mais próximada Gália belga, a primeira localidade na Bretanha que seabre às vistas é a cidade de Porto Rutubi, nomecorrompido pelos ingleses para Reptacestir. A distânciade lá, através do mar, até Gessoriacum, a mais próximapraia dos morini, é de cinqüenta milhas, ou como algunsescritores dizem, 450 furlongs. Na parte de trás da ilha,onde ela se abre para o oceano infinito, temos as ilhas

chamadas Órcadas.

A Bretanha possui excelentes grãos e árvores e está bemadaptada para a alimentação do gado e das bestas decarga. Ela também produz vinho em alguns lugares epossui muitos pássaros de diversos tipos, do mar e daterra; também pode se destacar pelos rios abundantes depeixes e por suas muitas nascentes. Tem a maiorabundância de salmão e enguias; focas, golfinhos ebaleias são muitas vezes pescadas, além de toda a sorte

de mariscos, como mexilhões, nas quais muitas vezes seencontram excelentes pérolas de todas as cores,vermelhas, roxas, violetas e verdes, mas principalmentebrancas. Há também grande abundância de mariscos-da-pedra, dos quais é feita uma tintura escarlate, uma cormuito bela, que nunca esmaece com o calor do sol oucom a água da chuva, mas quanto mais antigo a tintura,mais bela se torna a cor.

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A ilha possui tanto sal quanto nascentes de águasquentes, e destas fluem rios que abastecem os banhos,

próprios para todas as idades e sexos, e organizados deacordo. Pois a água, como diz São Basil, recebe aqualidade do calor quando passa por certos metais, e setorna não apenas quente, mas fervente. A Bretanhatambém possui muitos veios de metal precioso, como ocobre, o ferro, o chumbo e a prata, tem abundância deexcelente azeviche, que é preto brilhante e faiscantediante o fogo, e quando aquecido espanta as serpentes;ao ser aquecido através de fricção, segura firmementeaquilo que é aplicado a ele, como o âmbar. A ilha foi

anteriormente embelezada com vinte e oito nobrescidades, além de inumeráveis castelos, que foram todosfortemente cercados com muralhas, torres, portões etrancas.

Por estar situada quase que abaixo do Pólo Norte, asnoites são claras no verão, tanto que, à meia-noite, osque as contemplam muitas vezes ficam em dúvida se olusco-fusco do entardecer continua ou se é aquele doamanhecer que chega; pois o sol, à noite, retorna para

debaixo da terra, pelo caminho das regiões do norte quenão ficam a grandes distâncias dele. Por esta razão, osdias são de longa duração durante o verão, e, emoposição, as noites o são no inverno, pois o sol nestaépoca se refugia nas regiões do sul, e, portanto, as noitestêm a duração de 18 horas. Desta forma, as noites sãoextraordinariamente curtas no verão, e os dias noinverno, de apenas seis horas equinociais. Enquantoisso, na Armênia, Macedônia, Itália e outros países damesma latitude, o dia ou noite mais longos se estendem

apenas por quinze horas, e os mais curtos por nove.

Esta ilha no presente, seguindo o número de livros nosquais a Lei Divina foi escrita, contém cinco nações, osanglos, os bretões, os escotos, os pictos e os latinos, cadaum em seu dialeto peculiar cultivando o estudo sublimeda Verdade Divina. O idioma latino se tornou, devido aoestudo das Escrituras, comum a todos os povos.

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Esta ilha inicialmente não possuía outros habitantesalém dos bretões, de quem deriva seu nome, e estes,

adentrando a Bretanha vindos da Armórica, como já foirelatado, tomaram posse das áreas situadas ao sul damesma. Tendo iniciado pelo sul, eles se tornarammestres da maior parte da ilha, quando então a naçãodos pictos, da Cítia, como se relatou, tomou o caminhodo mar em alguns poucos grandes barcos, levados pelosventos para além das praias da Bretanha. Chegaramentão à costa norte da Irlanda, onde, encontrando anação dos escotos, imploraram permissão para seestabelecer junto destes, sem conseguir sucesso em seu

pedido. A Irlanda é a maior ilha próxima à Bretanha, efica a leste dela; mas, na medida que é menos extensaque a Bretanha para o norte, por outro lado, se estendemuito mais ao sul, em oposição à parte norte daEspanha, apesar de um mar espaçoso se colocar entreelas.

Os pictos, como foi dito, chegando a esta ilha por mar,desejavam ter uma parte dela doada a eles para que lápudessem se estabelecer. Os escotos responderam que a

ilha não poderia conter a ambos, mas disseram eles:“Podemos oferecer bom conselho sobre o que fazer.Sabemos que existe um outra ilha, não distante danossa, na direção do oriente, que muitas vezesvislumbramos na distância, quando os dias estão claros.Se vocês forem até lá, conseguirão se estabelecer; ou, sesofrerem oposição, terão a nossa ajuda.”

Desta forma, navegando até a Bretanha, os pictoscomeçaram a habitar a parte norte da mesma, pois os

bretões tinham a posse da parte sul. Ora, os pictos nãotinham esposas. Assim as pediram aos escotos, que nãoconsentiriam cedê-las em quaisquer outros termos, anão ser que, quando surgisse alguma dificuldade, elesdeveriam escolher um rei da linhagem das mulheres aoinvés da dos homens. Este costume, como é bem sabido,tem sido observado entre os pictos até o dia de hoje.

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No prosseguimento do tempo, além dos bretões e pictos,a Bretanha recebeu uma terceira nação, os escotos:

Migrando da Irlanda sob o seu líder, Reuda, seja pormeios justos, seja por força de armas, asseguraram parasi aqueles povoados entre os pictos que ainda hojepossuem. Do nome do seu comandante, eles são até hojechamados de Dalreudins, pois em sua língua, Dalsignifica “uma parte”.

A Irlanda, em tamanho, pela qualidade e serenidade deseu clima, em muito ultrapassa a Bretanha, pois quasenunca a neve se acumula por mais de três dias; nenhum

homem faz feno durante o verão para a provisão doinverno, ou constrói estábulos para suas bestas de carga.Não se encontram répteis naquele lugar, e nenhumaserpente pode viver lá. Apesar de muitas vezestransportadas até lá da Bretanha, assim que o navio seaproxima da praia e o odor do ar chega até elas, elasmorrem. Ao contrário, quase tudo na ilha é bom contraveneno. Em suma, soubemos que quando pessoas erammordidas por serpentes, raspas de folhas trazidas daIrlanda eram colocadas em água e dadas para beber a

estas pessoas.

Imediatamente expulsavam o veneno que se espalhava,acalmando o inchaço. A ilha é plena de leite e mel e nãohá falta de vinhas, peixe ou pássaros, sendo incrível paragamos e cabras. Em propriedade é o país dos escotos que,migrando de lá, como já foi dito, adicionaram umaterceira nação à Bretanha, junto com os bretões e ospictos.

Existe um grande golfo de mar que anteriormentedividia a nação dos pictos da dos bretões. Tal golfo,vindo do ocidente, invade profundamente a terra ondeaté os dias de hoje fica Aicluith, forte cidade dos bretões.Os escotos se estabeleceram lá chegando pelo lado nortedesta baía.

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II - Caio Júlio César, o primeiro romano que veio até aBretanha

A Bretanha jamais havia sido visitada pelos romanos,sendo totalmente desconhecida por eles antes do tempode Caio Júlio César, que, no ano 693 após a construçãode Roma, sexagésimo ano antes da incarnação de NossoSenhor, era cônsul, juntamente com Lucius Bibulus, eapós esse tempo, enquanto fazia guerra contra germanose gauleses, que eram separados apenas pelo rio Reno,entrou na província dos morini, onde se encontra a maispróxima e curta passagem para a Bretanha. Ali, tendo

providenciado cerca de oitenta navios de carga e navioscom remos, navegou até a Bretanha, onde, sendoprimeiramente tratado com dureza em batalha eencontrando uma violenta tempestade, perdeu umaparte considerável de sua frota, um não menor númerode soldados e quase todos os seus cavalos.

Retornando à Gália, ele colocou suas legiões em abrigosde inverno e deu ordens para a construção de seiscentosbarcos dos dois tipos. Com estes, ele novamente fez a

passagem para a Bretanha no início da primavera, mas,enquanto marchava com um grande exército aoencontro do inimigo, os navios, estando ancorados,foram jogados uns contra os outros ou jogados emdireção da areia e naufragados por uma tempestade.Quarenta deles sucumbiram e o resto foi, com muitadificuldade, consertado.

No primeiro ataque, a cavalaria de César foi derrotadapelos bretões. Labienus, o tribuno, foi morto. Num

segundo encontro, com grande dano para seus homens,ele fez com que os bretões batessem em retirada. De láprosseguiu para o rio Tâmisa, onde uma imensaquantidade dos inimigos se posicionara na margem maisdistante do rio, sob o comando de Cassibelaun, efizeram paliçada na margem e em quase todo o passodebaixo d’água com estacas pontiagudas. Restos dessasestacas podem ser vistos até o dia de hoje, tendoaparentemente a grossura da coxa de um homem.

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Recobertas com chumbo, elas permanecem fixas eimóveis no fundo do rio. Esta barragem foi evitada pelos

romanos, e como os bárbaros foram incapazes deenfrentar o choque com as legiões, esconderam-se nafloresta, de onde atormentavam dolorosamente osromanos com repetidos ataques. Entrementes, a fortecidade de Trinovantum, com seu comandanteAndrogeus, se rendeu a César, dando a ele quarentareféns. Muitas outras cidades, seguindo seu exemplo,fizeram tratados com os romanos.

Com a assistência dessas cidades, e com muita

dificuldade, César finalmente tomou a cidade deCassibelaun, situada entre dois pântanos, fortificadapelas florestas adjacentes e plenamente fornecida detudo o que era necessário. Depois disso, César retornouà Gália, mas mal havia colocado suas legiões em abrigosde inverno quando foi repentinamente assediado eperturbado com guerras e tumultos levantados contraele por todos os lados.

III - Cláudio, o segundo dos romanos que vieram até a

Bretanha, tornou as ilhas Órcadas sujeitas ao ImpérioRomano. Vespasiano, enviado por ele, colocou a ilha deWight sob seu domínio

No ano de Roma de 798, Cláudio, quarto imperadordesde Augusto, tinha o desejo de provar-se como umbenéfico príncipe para a República, e energicamente seinclinou para a guerra e a conquista, organizando umaexpedição para a Bretanha, que parecia estar excitada aponto de uma rebelião pela recusa dos romanos de

entregar certos desertores. Ele foi o único, antes oudepois de Júlio César, que havia ousado colocar os pés nailha. Entretanto, dentro de poucos dias, sem nenhumaluta ou derramamento de sangue, a maior parte da ilharendeu-se em suas mãos. Ele também adicionou aoimpério romano as ilhas Órcadas, que estão no oceanoalém da Bretanha. Então, retornando a Roma no sextomês após sua partida, ele deu a seu filho o título deBritânico. Ele concluiu essa guerra no quarto ano de seu

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império, que é o quadragésimo sexto da Encarnação deNosso Senhor. Nesse ano ocorreu uma severíssima

escassez de comida na Síria, que nos Atos dos Apóstolosé relatada como tendo sido prevista pelo profeta Agabus.

Vespasiano, imperador após Nero, tendo sido enviadopelo mesmo Cláudio até a Bretanha, anexou ao domínioromano a Ilha de Wight, que é próxima à Bretanha ao sule tem aproximadamente trinta milhas de comprimentodo oriente ao ocidente, doze de norte a sul, estando aseis milhas de distância da costa sul da Bretanha na suaextremidade oriente, e apenas três milhas na

extremidade ocidente. Nero, sucedendo Cláudio noImpério, não tentou coisa alguma em assuntos marciais.Portanto, entre outros inúmeros detrimentos trazidos aoestado romano, ele quase perdeu a Bretanha, pois sobseu governo duas muito nobres cidades foram tomadas edestruídas.

IV - Lucius, rei da Bretanha, escreve ao papa Eleutério,

desejando se tornar cristão

No ano 156 da encarnação de Nosso Senhor, MarcoAntônio Vero, décimo quarto desde Augusto, tornou-seimperador junto com seu irmão, Aurélio Cômodo. Notempo destes, Eleutério, um homem santo, presidia aigreja romana e Lucius, rei dos bretões, enviou umacarta a ele, pedindo que pudesse se tornar um cristão porseu comando. Ele logo obteve seu piedoso pedido, e osbretões mantiveram sua fé, que haviam recebido

incorrupta e na sua totalidade, em paz e tranqüilidade,até a época do imperador Diocleciano.

V - Como o imperador Severo dividiu e separou aquela parte da Bretanha de todo o resto com uma fortificação

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No ano da Graça de 189, Severo, um africano, nascidoem Leptis, província de Trípoli, recebeu o púrpura

imperial. Ele foi o décimo sexto desde Augusto, e reinoudezessete anos. Sendo naturalmente rígido e tendo seengajado em muitas guerras, ele governou o estado comvigor, mas com bastante discórdia. Tendo saídovitorioso das terríveis guerras civis que ocorreram emseu tempo, ele foi chamado à Bretanha pela revolta dequase todas as tribos confederadas.

Após muitas e perigosas batalhas, ele achou por bemdividir aquela parte da ilha que ele havia recuperado dos

outros povos não conquistados, não com uma muralha,como imaginam alguns, mas com uma fortificação. Poisuma muralha é feita de pedras, mas uma fortificação,com a qual os campos são fortificados para repelir osassaltos dos inimigos, é feita de tijolos de leiva, cortadosda terra, e levantados acima do chão por toda a voltacomo uma parede, tendo à sua frente um fosso de ondeos tijolos de leiva foram retirados com fortes varas demadeira tendo sido fixadas no seu topo.

Dessa forma, Severo construiu um grande fosso e umapoderosa fortificação, engrandecida com diversas torres,do mar ao mar. Logo depois caiu doente e morreu emYork, deixando dois filhos, Bassiano e Geta. Getamorreu, julgado inimigo público, mas Bassiano obteve oimpério, tendo tomado o nome de Antonino.

VI - O reino de Diocleciano e como ele perseguiu os

cristãos

No Ano da Encarnação de Nosso Senhor de 286,Diocleciano, trigésimo terceiro desde Augusto eescolhido imperador pelo exército, reinou vinte anos, etornou Maximiano, chamado de Herculius, seu colegano império. Em seu tempo, certo Carausius, de muitobaixa origem, mas um soldado habilidoso e capaz, tendosido indicado para guardar os litorais, naquele tempo

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infestados pelos francos e saxões, agiu mais para oprejuízo que para a vantagem do estado. Pelo fato de não

ter devolvido aos seus donos a pilhagem recuperada dosladrões, mantendo-a toda para si, suspeitou-se que forapor negligência intencional que deixara o inimigoinfestar as fronteiras. Sabendo, portanto, que uma ordemhavia sido enviada por Maximiano para que fosseexecutado, ele tomou para si os mantos imperiais e aposse da Bretanha, e depois de ter com galhardiamantido sua posse pelo espaço de sete anos, foifinalmente executado através da traição de um associadoseu, Alectus. O usurpador, tendo desta forma tomado a

ilha de Carausius, manteve a posse dela por três anos, efoi então exterminado por Asclepiodotus, capitão daguarda pretoriana, que feito isso, ao fim de dez anos,restaurou a Bretanha ao Império Romano.

Entrementes, Diocleciano no Oriente e MaximianoHerculius no Ocidente ordenaram que as igrejas fossemdestruídas e que os cristãos fossem assassinados. Estaperseguição era a décima desde o reinado de Nero, e foimais duradoura e sangrenta que todas as que a

precederam, pois deu-se ininterruptamente por umperíodo de dez anos, com a queima de igrejas, amarginalização de pessoas inocentes e o abate dosmártires. Após certo tempo, ela alcançou também aBretanha, e muitas pessoas, com a constância dosmártires, morreram por professar sua fé.

VII - A paixão de Santo Albano e seus companheiros,

que naquele tempo derramaram seu sangue por NossoSenhor [305 d. C.]

Naquele tempo sofreu santo Albano, de quem o padreFortunato, em seu “Louvor às Virgens”, onde mencionaos abençoados mártires que chegaram ao Senhor detodas as partes do mundo, diz: “Na ilha da Bretanhanasceu o santificado Albano. Este Albano, sendo aindapagão, no tempo em que as crueldades de príncipes

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malvados assolavam os cristãos, ofereceu hospitalidadeem sua casa a um certo homem do clero, que fugia de

seus perseguidores. Ele observou que este homem estavaem estado de prece contínua, em vigília noite e dia.Então, repentinamente, a Graça Divina brilhou sobreele, que pôs-se a imitar o exemplo de fé e pia atitude quehavia sido posta à sua frente.

Assim, sendo gradualmente instruído pelas salutaresadmoestações deste padre, ele lançou longe a escuridãoda idolatria e tornou-se cristão, com toda a sinceridadede seu coração. Estando o já mencionado padre

hospedado por alguns dias com ele, chegou aos ouvidosdo malvado príncipe que este santo confessor de Cristo,cuja hora do martírio ainda não havia chegado, estavaescondido na casa de Albano. E foi então que ele envioualguns soldados para fazer uma severa busca. Quandochegaram à casa do mártir, santo Albano imediatamentese apresentou aos soldados, ao invés do seu convidado emestre, no hábito ou comprido casaco que aquele usava,e foi levado amarrado perante o juiz.

Aconteceu que este juiz, na hora em que Albano foitrazido à sua frente, estava em pé em frente ao altar,oferecendo sacrifício aos demônios. Quando viu Albano,enraivecendo-se muito pelo fato de que ele haviadaquela forma, de vontade própria, colocado a si mesmonas mãos dos soldados e incorrido em tamanho perigono lugar do seu convidado, ele comandou que este fossearrastado até as imagens dos demônios, diante das quaisele estava, dizendo, “Por teres escolhido esconder umapessoa rebelde e sacrílega ao invés de entregá-lo aos

soldados, para que seu desprezo pelos deusesencontrasse o castigo merecido por tal blasfêmia, tusofrerás toda a punição reservada a ele se nãoabandonares a crença da tua religião.”

Mas santo Albano, tendo-se voluntariamente declaradoum cristão aos perseguidores da fé, não estava sequeramedrontado pelas ameaças do príncipe, pelo contrário,vestindo a armadura da guerra espiritual, publicamente

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declarou que não obedeceria aquela ordem. Então disse ojuiz, “De que família ou raça tu és?” Respondeu Albano:

“- No que isto concerne a ti, de onde fui gerado? Se vocêdeseja saber a verdade de minha religião, que seja dado aconhecer a você que eu sou agora um cristão, e presopelas obrigações cristãs.” “ Eu pergunto o seu nome,”disse o juiz, “diga-o imediatamente.” Ele replicou: “- Eusou chamado de Albano por meus pais, e venero e adoroo verdadeiro Deus vivo, que criou todas as coisas.”Então o juiz, inflamado por sua ira, disse: “- Se vocêdeseja usufruir da felicidade da vida eterna, não hesiteem oferecer sacrifício aos grandes deuses.” Albano

retrucou: “- De nada adiantam estes sacrifícios que vocêoferece aos demônios; eles não podem atender ospedidos e desejos daqueles que enviam as suas súplicas.Pelo contrário, aquele que oferecer sacrifício a estasimagens receberá as infinitas dores do inferno comorecompensa.”

Ao ouvir estas palavras, e irado ao extremo, o juizordenou que este santo confessor de Deus fossechicoteado pelos algozes, acreditando que pelas tiras do

chicote poderia abalar a constância daquele coração,sobre o qual palavras não prevaleceram. Este, sendomuito cruelmente torturado, suportou a torturapacientemente, ou mesmo alegremente, por NossoSenhor. Quando o juiz percebeu que ele não seriaconquistado por torturas ou afastado do exercício dareligião cristã, ordenou que fosse morto. Sendo levadoaté sua execução, ele chegou a um rio, que corria entre amuralha da cidade e a arena onde seria executado comuma correnteza bastante forte.

Neste lugar ele viu uma multidão de pessoas de ambosos sexos e de diversas idades e condições sociais, queindubitavelmente estavam ali congregadas por instintodivino para assistir o abençoado confessor e mártir, etinham de tal forma tomado a ponte sobre o rio que elenão podia passar para o outro lado naquela noite. Emsuma, quase todos tinham saído, de forma que o juizpermaneceu na cidade sem acompanhantes. Santo

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Albano, portanto, tomado por um ardente e devotodesejo de chegar rapidamente ao martírio, aproximou-se

do riacho, e ao levantar seus olhos para o céu, o canalimediatamente secou, e ele percebeu que a água haviapartido e feito um caminho para que ele passasse. Entreos outros, o executor que devia causar sua morteobservou isto e, movido por inspiração divina, correu aoencontro dele no seu local de execução e, lançando longea espada que já carregava desembainhada, caiu a seuspés, rogando sofrer com o mártir que ele havia recebidoordem de executar, ou, se possível, no lugar deste.

Enquanto este, de perseguidor se tornava companheirode fé, e os outros algozes hesitavam tomar a espada queestava caída no chão, o reverendo confessor,acompanhado pela multidão, subiu uma colina, aaproximadamente 500 passos do lugar e adornada, oumelhor, vestida com todos os tipos de flores, tendo seuslados nem perpendiculares, nem em forma de penhasco,mas possuidores de uma suave inclinação que terminavaem uma muito bela planície, merecedora pela sua belaaparência de ser o cenário dos sofrimentos de um mártir.

No topo desta colina, santo Albano orou para que Deuslhe desse água, e imediatamente uma fonte viva brotoudiante de seus pés, com seu curso confinado, para quetodos os homens percebessem que o rio também haviasecado em consequência da presença do mártir. Nem eraprovável que o mártir, que não havia deixado quepermanecesse água no rio, quisesse alguma no topo dacolina, a não ser que achasse tal coisa apropriada àocasião.

O rio, tendo executado seu sagrado serviço, retornou aoseu curso natural, deixando um testemunho de suaobediência. Neste lugar, portanto, a cabeça do tãocorajoso mártir foi cortada, e ali ele recebeu a coroa davida, que Deus prometeu àqueles que O amam. Masaquele que deu o golpe maldoso não foi permitidoregozijar a morte do falecido, pois seus olhos caíram aochão junto com a cabeça do abençoado mártir.

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Naquele mesmo instante o soldado que através daadmoestação divina recusou dar o golpe mortal no santo

confessor foi decapitado. Está claro que apesar de não tersido regenerado pelo batismo ele foi limpo belo banhoem seu próprio sangue, e tornou-se merecedor de entrarno reino dos céus. Então o juiz, assombrado com a novade tantos milagres do céu, ordenou que cessasseimediatamente a perseguição, começando a honrar amorte dos santos, através da qual ele antes achara queestes pudessem ser afastados da fé cristã. O abençoadoAlbano sofreu a morte no vigésimo segundo dia dejunho, próximo à cidade de Verulano, hoje chamada

pelas gentes dos anglos de Verlamacestir, ouVarlingacestir, onde depois, quando foram restauradosos tempos de paz cristã, uma igreja de maravilhosoartesanato e apropriada ao seu martírio foi erigida. Nestelugar não cessa até hoje a cura de pessoas doentes, e afreqüente sucessão de maravilhas.

Ao mesmo tempo sofreram Aarão e Júlio, cidadãos deChester, e muitos outros de ambos os sexos em diversaslocalidades, que, após terem suportado tormentos vários,

e terem seus membros arrancados de uma maneiranunca antes vista, entregaram suas almas para o alto,para gozar na cidade celeste a recompensa dossofrimentos pelos quais tinham passado.

VIII - As perseguições cessam e a Igreja na Bretanha goza de paz até o tempo da heresia ariana [307337 d.C.]

Quando cessou a tempestade de perseguições, os fiéiscristãos que durante o tempo do perigo haviam seescondido em florestas, desertos e cavernas secretas,apareceram em público, reconstruíram as igrejas quehaviam sido lançadas ao chão, fundaram, erigiram eterminaram os templos dos santos mártires. Destaforma, demonstraram suas insígnias de vitória em todosos lugares. Eles ainda organizaram festivais e celebraram

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seus ritos sagrados com corações e bocas limpas. Estapaz teve continuidade nas igrejas da Bretanha até o

tempo da fúria ariana, a qual tendo corrompido todo oresto do mundo com o veneno de suas flechas, infectoutambém esta ilha, apesar de estar tão removida docompasso do mundo. Quando a peste foi desta formatrazida do outro lado do mar, abriram-se as comportas, etoda a sorte de veneno e heresia imediatamente correupara a ilha, e ali foram recebidos por seus habitantes,sempre amigos de algo novo, e nunca se agarrandofirmemente a coisa alguma.

Neste tempo, Constâncio, que, enquanto Dioclecianoera vivo governou a Gália e a Espanha, um homem deextraordinária mansidão e cortesia, morreu na Bretanha.Este homem deixou um filho de nome Constantino,nascido de sua concubina Helena, como imperador dosgaleses. Eutrópio escreve que Constantino, tendo setornado imperador na Bretanha, sucedeu seu pai notrono. No seu tempo a heresia ariana se iniciou, e apesarde ter sido detectada e condenada no Concílio de Nicéia,ainda assim infectou não somente todas as igrejas do

continente, mas mesmo aquelas das ilhas, comdoutrinas pestilentas e fatais.

IX - Como durante o reinado de Graciano, Maximus,tendo se tornado imperador na Bretanha, retornou àGália com um poderoso exército [383 d. C.]

No ano 377 da Encarnação de Nosso Senhor Jesus

Cristo, Graciano, quadragésimo desde Augusto, teve ocontrole do império após a morte de Valente, apesar deter reinado desde muito antes com seu tio Valente e seuirmão Valentiniano. Considerando o estado do Império,constantemente atormentado e quase à ruína, eleprocurou por alguém com habilidades que pudessemremediar os males existentes. Sua escolha caiu emTeodósio, um espanhol. A este ele revestiu com opúrpura dos mantos reais em Sirmium, e o fez

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imperador da Trácia e das províncias do Oriente. Nestetempo, Maximus, um homem de valor e probidade e

merecedor das honras de Augusto se não tivesse atravésda usurpação e da tirania quebrado o juramento defidelidade que havia feito, foi declarado imperador peloexército e passou para a Gália.

De lá, através de traição, matou o Imperador Graciano,que estava consternado por esta repentina invasão etentava escapar para a Itália. Seu irmão, Valentiniano,expulso da Itália, fugiu para o Oriente, onde foi recebidopor Teodósio com afeição paterna, logo restaurando o

Império. Maximus o tirano, sitiado em Aquiléia, foineste lugar preso e executado.

  X - Como, no reino de Arcádio, Pelágio, um bretão,desafiou insolentemente a Graça de Deus

No ano do Senhor de 394, Arcádio, filho de Teodósio,quadragésimo terceiro desde Augusto, assumindo o

Império com seu irmão Honório, teve o controle destepor treze anos. Em seu tempo, Pelágio, um bretão,espalhou por todos os cantos a infecção de sua pérfidadoutrina contra a assistência da Graça Divina, sendoauxiliado nisto pelo seu comparsa Juliano, da Campânia,cuja ira havia sido despertada pela perda de seuepiscopado, do qual ele havia sido privado por santoAgostinho. Os outros patriarcas ortodoxos, tendo citadomuitos milhares de autoridades católicas contra eles,ainda assim não corrigiram sua loucura, ao contrário,

sua insensatez foi assaz aumentada pela contradição, eeles se recusaram abraçar a verdade, fato que Próspero, oRetórico, expressou belamente neste verso heróico:

“Um escriba vil, cheio de infernal veneno mesquinho,Ousou escrever contra o grande Agostinho;Serpente presunçosa! Vindo de qual ninho noturnoOusas arrastar-te pela terra e observar um ser humano?Tu fostes alimentado pelas planícies bretãs cercadas de

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mar,Ou então, em teu seio, o enxofre Vesuviano está a

reinar.”

 XI - Como, durante o reinado de Honório, Graciano eConstantino tornaram-se tiranos na Bretanha. A seguir,ocorre o assassinato do primeiro na Bretanha e dosegundo na Gália

No ano de 407, Honório, filho mais jovem de Teodósio e

quadragésimo quarto imperador desde Augusto, doisanos antes da invasão de Roma por Alarico, rei dosGodos – quando as nações dos Alanos, Suevos, Vândalos,e muitas outras com essas arrasaram toda a Gália,atravessando o Reno – fez com que Graciano Municipalfosse marcado como um tirano e morto. Em seu lugar foiescolhido Constantino como imperador, um dossoldados mais cruéis, apenas pelo seu nome e semnenhum valor que o recomendasse. Assim que tomoupara si o comando, atravessou a fronteira da França. Ali,

sendo muitas vezes incomodado por bárbaros com seustratados falsos, causou muito dano ao Império. Então, oconde Constâncio, pelo comando de Honório, marchouatravés da Gália com um exército, cercou Constantino eo matou na cidade de Arles. Seu filho Constante, quecriou César com um monge, foi também executado porGerôncio, seu próprio conde, em Vienne.

Roma foi tomada pelos Godos no ano de 1164, desde suafundação. Então os romanos cessaram de reinar na

Bretanha, quase 470 anos após Caio Júlio César terdesembarcado na ilha. Eles residiam dentro dafortificação que, como mencionamos, Severo construiu,dividindo a ilha na sua parte sul, como dão testemunhoaté hoje as cidades, templos, pontes e estradaspavimentadas construídas lá; mas eles tinham o direitode domínio em todas as partes da Bretanha, e tambémsobre as ilhas além dela.

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  XII - Os bretões, tendo sido arrasados pelos escotos e pictos, buscam o socorro dos romanos que, vindo umasegunda vez, constróem uma muralha em torno da ilha.Mas sendo novamente invadidos pelos inimigos jámencionados, os bretões são levados a uma situaçãoainda mais angustiante que antes

Desde aquele tempo, a parte sul da Bretanha, destituídade soldados armados, de armazéns de material de guerrae de toda a sua juventude, que tinha sido levada dali pela

dureza dos tiranos para nunca mais retornar, foitotalmente exposta à rapina, sendo totalmente ignorantea respeito do uso de armas. Dessa forma, eles sofrerammuitos anos sob duas nações estrangeiras bastanteselvagens, os escotos do ocidente e os pictos do norte.Chamamos estas nações de estrangeiras não por estaremsituadas fora da Bretanha, mas porque eram distantesdaquela parte da ilha possuída pelos bretões; dois braçosde mar ficavam entre elas, um dos quais penetraprofundamente por dentro da Bretanha, do oceano

oriental, e o outro do ocidental, apesar de não chegarema tocar um ao outro. O braço oriental tem no meio delea cidade de Giudi. O oriental tem nele, ou melhor, noseu lado direito, a cidade de Alcluith, que em sua línguasignifica “Rocha Cluith”, pois fica próxima ao rio destenome.

Devido ao levante destas nações, os bretões enviarammensageiros a Roma com cartas escritas de formalamentosa, implorando por socorro e prometendo

submissão perpétua, desde que o inimigo iminente fosseafastado. Uma legião armada foi enviada imediatamentee, chegando na ilha e atacando o inimigo, matou umamultidão destes, expulsou o restante dos territórios deseus aliados, e os tendo salvo de seus cruéis opressores,os aconselharam a construir uma muralha entre os doismares, atravessando a ilha, para que esta os protegesse emantivesse o inimigo à distância. Dessa forma, elesretornaram para suas casas em grande triunfo. Os

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habitantes da ilha, ao levantarem a muralha – não depedra, como tinham sido aconselhados, pois possuíam

artesão capaz de tal tarefa, mas de barro – tornaram-nainútil.

Entretanto, eles a estenderam por muitas milhas entreas duas baías ou braços de mar, os quais jámencionamos, a fim de que, onde a defesa por água nãoexistisse, eles pudessem usar a fortificação para defendersuas fronteiras dos levantes inimigos.

Deste trabalho que foi erigido, ou seja, de uma

fortificação de largura e altura extraordinárias, existemtraços evidentes que podem ser vistos até hoje. Ela iniciaa aproximadamente duas milhas de distância domosteiro de Abercurnig, no ocidente, em um lugarchamado no idioma picto de Peanfahel, mas no idiomados anglos de Penneltun, e corre na direção oeste,terminando próxima à cidade de Alcluith.

Mas os antigos inimigos, quando perceberam que ossoldados romanos haviam partido, voltaram

imediatamente por mar, invadiram as fronteiras,pisotearam e percorreram todos os lugares como homensmoendo milho maduro, dominando quem se opunha aeles. Então, mensageiros foram novamente enviados aRoma, implorando ajuda, para que sua desesperadanação não fosse completamente extirpada, e para que onome de uma província romana, por tanto tempovalorizada por eles, fosse derrubado pelas crueldades deestrangeiros bárbaros e se tornasse completamentedesprezível.

Conseqüentemente, uma legião foi novamente enviada,e chegando inesperadamente no outono, causou grandedevastação ao inimigo, fazendo com que todos aquelesque pudessem escapar fugissem para além-mar; ondeantes carregavam prazerosamente seus espólios semoposição alguma. Então os romanos disseram aosbretões que no futuro eles não poderiam levar a cabo tãocustosas expedições por sua causa. Aconselharam-nos,

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ao invés disto, a manejar suas armas como homens, e atomar para si a responsabilidade de enfrentar seus

inimigos, que não eram poderosos demais para eles, anão ser que fossem detidos pela covardia.

Assim, pensando que poderiam ser de alguma ajuda aseus aliados, que estavam sendo forçados a abandonar,eles construíram uma forte muralha de pedra de costa acosta, em uma linha reta entre as cidades que tinhamsido construídas ali por medo do inimigo, não muitodistante da trincheira de Severo. Esta muralha famosa,que ainda pode ser vista, foi construída com esforços

públicos e privados, e os bretões também deram suaajuda. Tem oito pés de largura, doze pés de altura, emuma linha reta de leste a oeste, como as pessoas aindapodem ver.

Tendo terminado esta muralha, deram ao desencantadopovo um bom conselho como exemplo, fornecendo-lhesarmas. Além disso, construíram torres na costa sul, comuma distância apropriada uma da outra, onde estavamseus navios, porque ali também ocorreram levantes

bárbaros, e então se despediram de seus amigos, paranunca mais retornar.

Após sua partida, escotos e pictos, compreendendo queos romanos haviam declarado que não voltariam mais,voltaram rapidamente, e, tornando-se mais confiantesque antes, ocuparam toda a parte norte mais distante dailha, até a muralha. Então, uma trêmula guarda foi postana muralha, onde eles sofriam dia e noite, cobertos demedo. No outro lado, os inimigos os atacavam com

ganchos, através dos quais os covardes defensores eramderrubados da muralha e lançados ao chão.

Finalmente, o bretões, abandonando sua muralha e suascidades, fugiram e se dispersaram. O inimigo osperseguiu, e a matança foi maior que em qualquerocasião anterior, pois os miseráveis nativos foramdespedaçados por seus inimigos como ovelhas sãodespedaçadas por feras. Desta forma, sendo expulsos de

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suas casas e destituídos de suas posses, eles escaparamda morte por inanição, roubando e pilhando uns aos

outros, adicionando seus problemas domésticos àscalamidades causadas pelos estrangeiros até que todo oterritório ficou destituído de comida, com exceçãodaquela que podia ser caçada.

Fonte:  http://www.ricardocosta.com/textos/beda.htmTradução: Profª. Assunção Medeiros