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Cátedra Unesco de Comunicação e Desenvolvimento/Universidade Metodista de São Paulo VIII Conferência Brasileira de Comunicação Eclesial, São Bernardo do Campo, SP, 22/8/2012
A comunicação dos mitos de morte nas religiões: Uma perspectiva no
Judaísmo, Cristianismo e Islamismo segundo uma análise de Mircea Eliade1.
Fernando RIPOLI2
RESUMO:
Uma análise da comunicação dos mitos de morte nas religiões nos proporcionará
uma visão de como os participantes das três maiores religiões do mundo (Judaísmo,
Cristianismo e Islamismo), apresentam e vivenciam as questões da comunicação da
morte na sua cultura e no seu cotidiano. Portanto, cultura está que já está presente na
humanidade a mais de um milênio, iremos neste trabalho apresentar uma visão
condensada destas práticas, ritos e mitos, utilizados há milênios por adeptos religiosos
que creem piamente que tais coisas acontecem no presente e no porvir. O mito está
entrelaçado com a história da humanidade, e não podemos deixar de fazer tais análises,
nas quais, nos proporcionara uma visão mais próxima do que realmente os adeptos de
tais religiões vivenciam no seu cotidiano.
PALAVRAS-CHAVE: Comunicação; Mito e Rito; História antiga; Cultura religiosa;
Religião e Religiosidade.
1 Trabalho apresentado na VII Conferência Brasileira de Comunicação Eclesical (Eclesiocom), realizada em São Bernardo do Campo, SP, 22/8/2012. 2 Teólogo e Cientista social, Mestrando em Ciências da Religião – Faculdades de Humanidades e Direito – Universidade Metodista de São Paulo/UMESP – Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião (Stricto-senso). Bolsista CAPES/ Lattes: http://lattes.cnpq.br/5951403420648430 E-mail: fernandoripoli.historia@gmail.com
Cátedra Unesco de Comunicação e Desenvolvimento/Universidade Metodista de São Paulo VIII Conferência Brasileira de Comunicação Eclesial, São Bernardo do Campo, SP, 22/8/2012
Introdução:
Quando falamos de mito podemos verificar várias indagações sobre o tema, e
logo nos vem à mente que o mito não é algo que ocorreu apenas entre os povos
primitivos nos primórdios da nossa civilização, nem apenas entre os gregos da
Antiguidade; o mito não é resultado de um delírio, nem uma mentira simplesmente,
porém, queremos mostrar que o mito ainda faz parte de nossa vida cotidiana (sem qual
for a sua fase), como uma das formas do existir humano3.
No entanto, outra vertente é no desenvolvimento da cultura humana, quando
falamos de mito e religião, é claro, não podemos fixar um ponto onde termina o mito e
onde a religião começa.
Em todo curso de sua história, a religião permanece indissoluvelmente ligada a
elementos místicos e repassada deles4. A Comunicação, o mito e razão se
complementam mutuamente.
No entanto, o mito, recuperado no cotidiano do homem contemporâneo, não se
apresenta com a abrangência que se fazia sentir no homem primitivo. O nascimento da
reflexão permite a rejeição dos mitos prejudiciais ao homem, o mito propõe, mas cabe à
consciência dispor. Portanto, sendo assim em outras palavras; o mito não é em si
mesmo uma garantia de bondade, nem de moral, a sua função é revelar modelos e
fornecer, assim, uma justificação do mundo e da existência humana. Por isso, o seu
papel na constituição do homem é tão importante5.
Os mitos expressam (se comunicam) com aquilo que é inquestionavelmente
dogmático. Em um grupo ou sociedade, quando falamos na transformação histórica do
mito podemos dizer que o mito é introduzido na história e historicamente transformado,
e principalmente no futuro mítico na atividade de Jesus, isto é, o mito esclarece que o
sobrenatural esta entretecido na história de Jesus6. O mito é a veste em forma de
3 Cf. Filosofando. Introdução à filosofia. São Paulo: Ed. Moderna. 1993, p. 21. 4 Cf. Filosofando. Introdução à filosofia. São Paulo: Ed. Moderna. 1993, p. 25.
5 Cf. ELIADE, Mircea. Aspectos do Mito. São Paulo: Edições 70. 1986.123 pg.
6 Cf. THEISSEN, Gerd. A Religião dos primeiros cristãos. São Paulo: Paulinas. 2009. P. 4-45.
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história. Dessas ideias, a cuja realização a toda história visa na comunicação entre o
homem, a história, o mito e as religiões dominantes.
1. UMA PERSPECTIVA DO MITO SEGUNDO MIRCEA ELIADE:
Segundo Eliade, o mito designa, ao contrário uma história verdadeira, e ademais,
extremamente preciosa por seu caráter sagrado, exemplar e significativo, o mito é ou
foi, até recentemente vivo, no sentido de, que fornece os modelos para a conduta
humana, uma das funções do mito é também compreender melhor uma categoria dos
nossos contemporâneos.
Eliade apresenta-nos, que o mito é uma realidade cultural extremamente
complexa, que pode ser abordada e interpretada através de perspectivas múltiplas e
complementares7.
O mito fala apenas do que realmente ocorreu, portanto os mitos revelam sua
atividade criadora e desvendam a sacralidade. Para Eliade, uma definição de mito, pode
ser também como contar por meio da comunicação da história sagrada, na maioria das
vezes descrevem as irrupções do sagrado. Para ele a principal função do mito consiste
em revelar os modelos exemplares de todos os ritos e atividades humanas significativas
e que nas sociedades o mito ainda está vivo.
Efetivamente os mitos narram não apenas a origem do mundo, mas também de
todos os acontecimentos primordiais em consequência dos quais o homem se converteu
no que é hoje.
Todo mito, independente da sua natureza, comunica um acontecimento que teve
lugar in illo tempore e constitui, por isso, um precedente exemplar para todas as ações e
situações, que depois, repetirão este acontecimento e na perspectiva do espírito
moderno. Todavia, com ele todas as outras experiências religiosas anula a história8.
7 Cf. ELIADE, Mircea. Mito e Realidade. São Paulo: Editora Perspectiva, 1972, p, 11.
8 Cf. ELIADE, Mircea. Tratado de História das Religiões. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p, 350-351.
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Por sua vez, o mito é a história do que se passou, isto é, a narração daquilo que
os deuses ou seres divinos fizeram no começo do tempo, um mito é proclamar o que se
passou ab origine. Uma vez dito, quer dizer, revelado, o mito torna-se verdade absoluta9
1.2 O MITO SEGUNDO KAREN ARMSTRONG:
Para Karen Armstrong o mito é uma criação dos seres humanos, portanto desde
épocas muito antigas o ser humano se distingue pela capacidade de ter pensamentos que
transcendem sua experiência cotidiana.
Contudo, somos criaturas em busca de sentido e de uma comunicação e outra
característica peculiar da mente humana é a capacidade de ter ideias e experiências que
não podemos explicar racionalmente, a imaginação é a faculdade que produz a religião e
a mitologia, tanto a mitologia quanto a ciência ampliam os horizontes do ser humano e
nos leva a viver mais intensamente neste mundo, e não nos afastaremos dele.
A mitologia em geral é inseparável do ritual, pois, muitos mitos não fazem
sentidos separados de uma representação litúrgica que lhes dá vida, sendo assim,
portanto incompreensíveis num cenário profano.
Podemos dizer que os mitos mais fortes se relacionam com o extremo; eles nos
forçam a ir além de nossa experiência. Há momentos em que nós todos, de um modo ou
de outro, temos de ir a um lugar aonde nunca fomos e de fazer o que nunca fizemos, o
desconhecido é tratado pelo mito e fala a respeito de algo para o que inicialmente não
temos palavras e contempla o âmago de imenso silêncio, o mito não é uma história que
nos contam por contar, porque ele nos mostra como devemos nos comportar.
A mitologia nos põe na atitude espiritual ou psicológica correta para a ação
adequada, neste mundo ou no outro. Por fim, toda mitologia se comunica de outro plano
9 Cf. ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p, 84.
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que existe paralelamente ao nosso mundo e foi criada para nos auxiliar a lidar com as
dificuldades humanas mais problemáticas, ajudando as pessoas a encontrarem seu lugar
no mundo e sua verdadeira orientação, também elaboramos uma hipótese, damos vida a
ela por meio do ritual, agimos a partir disso, contemplamos seu efeito em nossa vida e
descobrimos que atingimos uma nova compreensão no labirinto perturbador do mundo
em que vivemos.
Na história da mitologia vemos que homens e mulheres, sempre que dão um
passo decisivo à frente revisam sua mitologia, e fazem com que ela trate das novas
condições e vários desses mitos criados em sociedades que não poderiam ser mais
diferentes da nossa, contudo, ainda tratam de nossos medos e desejos essenciais, sendo
assim, um mito é verdadeiro por ser eficaz, e não por fornecer dados factuais, ele é
essencialmente um guia e nos diz o que fazer para vivermos de maneira completa10
.
Concluímos dizendo que para Armstrong o mito surge para os
homens quando
adquiriram consciência de sua mortalidade.
1.3 O MITO SEGUNDO JOSEPH CAMPBELL:
Para o estudioso Campbell, quando falamos de mito ou mitologia ele afirma
dizendo que não precisamos dela para viver e ter uma boa vida, onde ter interesse em
algo só porque alguém disse que é importante, mas é claro, ela pode te capturar, te
resgatar, ou melhor, te fazer parte dela e o que ela pode fazer caso seja capturado por
ela, podemos enfatizar dizendo que antigamente em um campus de uma universidade
não podíamos ter acesso a notícias, pois, tudo era muito fechado, onde as notícias se
chocavam com o interior do ser humano quando elas eram impostas.
Mitos são experiências de vida, contudo, o que de fato conta é o valor de estar
vivo, porém, para Campbell conseguimos chegar nessa conclusão lendo mitos e eles nos
10 Cf. Armstrong, Karen. Breve História do Mito. São Paulo. Cia das Letras, 2005.
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ensinam como nos podemos se voltar para dentro (para o seu interior), a mitologia tem
muito a ver com os estágios da vida, isto é, ele queria dizer que o que de fato é mais
simples e claro na vida de um ser humano é o que vemos, portanto é o valor ao
conhecimento atual, o que se aprende agora11
.
Campbell compara a mensagem do mito com a história da criação de Gênesis
referindo-se, todavia, com as histórias de criação no mundo que proporcionam também
visões interessantes sobre os conceitos de Deus, religião e eternidade. Por causa das
constantes mudanças mundiais, a religião pode ser transformada e novas mitologias
devem ser criadas.
Hoje em dia, as pessoas se apegam a mitos que não lhes têm serventia alguma,
discutindo também o papel do sacrifício no mito que simboliza a necessidade do
renascimento, enfatizando a necessidade de cada um encontrar o seu lugar sagrado neste
mundo tecnológico e acelerado.
2. O CONCEITO RELIGIOSO NO RITUAL DE MORTE:
Nota-se que o conceito da morte é pouco falado nos dias atuais encontramos
várias pessoas que professa uma religião, na comunicação entre o ser humano e esta
transição, entre a morte, ela é tão real como a vida.
Todos terão que enfrentar a morte um dia, e isto ilustramos de forma genérica, é
como tomar café pela manhã praticamente, o nosso corpo enquanto sustenta a
temperatura de 36° graus aproximadamente, estamos vivos, passou-se de 20°graus
abaixo de zero estaremos mortos.
Passaremos da vida física ou o existir, para o não mais existir como vida física,
sendo assim, qual é o valor da comunicação deste ritual dentro destas culturas:
Judaísmo, Cristianismo e Islamismo em relação a pós-morte?
A morte é o destino mais comum do homem, e seu lado negativo ocasionalmente
se torna evidente, como quando a morte aparece12
personificada como demônio ou
11
Cf. CAMOBELL, Joseph. O Poder do mito. São Paulo: Palas Athena, 2007. 12
Cf. ELWELL, A. Walter. Enciclopédia Histórica - Teológica da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova, 2009, p, 557.
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monstro do submundo, todos os homens estão sujeitos a ela, assim como a imortalidade
é sorte natural dos deuses muito invejosos.
3. O Mito do ritual de morte no Judaísmo, como é esta comunicação?
O que adianta ser justo se não há uma recompensa?.
John Bower
A morte tem preocupado o pensamento cristão durante séculos, quer em seus
aspectos físicos, como a interrupção da vida13
, no corpo e como devemos nos preparar-
nos para ela, querem em seus aspectos espirituais como a separação de Deus e como ela
pode ser vencida? Estas perspectivas desenvolvem-se de uma variedade de elementos na
literatura Judaica.
A morte no judaísmo é normalmente vista como parte natural da existência
humana, Adão não era visto como imortal por criação, o alvo era viver uma vida longa e
ativa e morrer em paz.
3.1 A Literatura Rabínica e a sua comunicação de mito
Notamos que a literatura rabínica descreve este mundo como se tratando de um
mundo que está para vir, é o dever do ser humano estar pronto para entrar na sala do
porvir, vemos que o judaísmo14
pouco diz sobre a morte e o além, eles se concentram na
13
Cf. HOLM, Jean; Bowker, John. Ritos de passagem. Europa: Estudos Religiosos, 1994, p, 154. 14 Cf. Ibid., 1994., p, 155-156
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vida, a prova disto é que sempre que tem tempo no seu cotidiano os judeus se ajuntam
para beber, é o celebrar da vida no judaísmo é uma prática semanal (shabat shalom).
3.2 A comunicação dos mitos rituais de morte na cultura Judaica:
Observamos que no judaísmo a morte tem os seus rituais que são relacionados
na própria cultura judaica, em primeiro lugar; antes da morte15
a pessoa teria que
confessar os seus pecados que cometeu ao longo da sua vida, e sempre que isso fosse
possível teria que abandonar este mundo com as palavras do shema em seus lábios:
“Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor” (dx'(a, Ÿhw"ïhy> WnyheÞl{a/ hw"ïhy>
lae_r"f.yI [m;Þv.).
Portanto, o ato da morte no judaísmo é particularmente louvável, é inteiramente
proibido apressar a morte de qualquer pessoa na comunidade judaica, os judeus
consideram como abominável a prática da eutanásia.
A morte é definida quando o individuo para de respirar, ou pode ser testado
como uma pena ou um espelho, mas recentemente alguns rabinos nos Estados Unidos
da América no Norte, aceitam a morte se for morte cerebral, muito embora não seja
aceito pelos judeus ortodoxos este tipo de morte, já que os órgãos da pessoa em óbito
possam ser usados para transplantes.
Os mortos devem ser enterrados de preferência no dia do óbito, deixar um
cadáver sem enterrar é considerado profanação, sendo normais no judaísmo, eles prática
a sua (shevra-kaddista; é uma irmandade sagrada), são uns grupos que se comunicam
com seus voluntários de ambos os sexos para que se encarregarem de lavar e envolver
os corpos em sudários antes de colocá-los no caixão.
Após lavar o corpo da pessoa é colocado um pouco de terra de Israel no catre
(caixão), com o morto, significando simbolicamente que todos os judeus possam ser
enterrados em terra santa.
15 Cf. BOWKER, John. Os sentidos da morte. São Paulo: Paulus, 1995, p, 66-67.
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Vemos que a cerimônia fúnebre há uma comunicação mítica ritualística, enterrar
em lugar e território sagrado. A ortodoxia judaica não permite a cremação dos corpos,
eles entendem que estão negando a ressurreição do corpo no porvir, está é praticamente
a visão escatológica no judaísmo. Todavia, e antes do inicio do enterro as pessoas
rasgam as suas roupas ou invés de se comunicarem verbalmente se comunicam em sua
expressão e logo em seguida se é iniciado sua benção. “Abençoado sejas, Senhor nosso
Deus, Rei do universo, o verdadeiro juiz., (Barukh dayan há-emet)”, está frase é usada
por todos os judeus por saberem da morte de alguém, os parentes mais chegados são os
primeiros a lançar terra no caixão, após o funeral à família volta para casa para fazer a
refeição de costume, ovos cozidos e grãos de bico.
É muito comum alguém encontrar a família na semana ainda em luto, que é
chamado de (shiva), as pessoas fecham suas casas, usam roupas rasgadas dentro de casa,
se sentam em bancos baixos e os sapatos que calção é feitos de peles, eles se recusam a
tomar banho, fazer a barba, e tapam os espelhos com panos, são acesas velas, e após
várias cerimônias em memória do defunto, recebendo os parentes para os confortarem,
assim que termina o shiva.
Contudo, até que se completem trinta dias, a família se alivia do luto, mas a
família não participa de festa aonde existe música, e os filhos dão continuidade durante
doze meses.
Neste período Deus era louvado apesar da morte da pessoa, todos faziam uma
oração que deveria permanecer durante16
onze meses, e a sua finalidade é a de ajudar a
alma do falecido para abandonar o purgatório e a elevar-se aos céus.
Com isso, analisamos que a morte no judaísmo está relacionada com o período
bíblico no Antigo Testamento (Tanah), a compreensão da comunicação religiosa
judaica a respeito da morte está ligada inseparavelmente ao contexto em que se formou
a autocompreensão de Israel, vemos que os judeus, em geral, continuavam a clamar a
Deus, mesmo não sendo possível levá-los para uma vida com Deus depois da morte.
16
Cf. ELMELL, A. Walter. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova, 2009, p, 558.
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Para os judeus, dado que a vida provém de Deus e está à disposição dele, nada
menos que o derramamento de sangue realizará a reconciliação e a reparação, quando as coisas estiverem erradas ou quando forem cometidos pecados que
mereçam o mesmo castigo de morte que recebeu a desobediência de Adão.
4. O Cristianismo e a sua comunicação do ritual de morte.
A Vida é uma probabilidade no porvir..
Platão
Podemos analisar no cristianismo que os cristãos passam primeiro pela
experiência da morte em Cristo, mas agora está separado, não de Deus, mas do mundo e
do pecado que estão mortos. No cristianismo primitivo17
a morte para eles era uma
grande alegria, porque sabiam que estariam com Cristo no paraíso, eles viviam
consciente tanto da tragédia quanto da mortalidade da existência física humana, bem
como a vitória sobre a morte, da qual os cristãos participavam a morte para eles era a
porta da eternidade, isto é, a comunicação entre a vida, a morte, e Deus, todavia, um
grande passo da estrada entre a alienação no pecado e a vida em Deus.
4.1 A morte dos Mártires, comunicação até os dias atuais?
Podemos notar claramente que as mortes dos mártires eram celebradas e a morte
dos fiéis também, mesmo sendo melancólicos demais para toda a comunidade, quando
morria alguém, eles comunicavam a todos a morte da pessoa com alegria, a morte não
era negada, nem se suprimia a tristeza, mas a morte era vista como algo esperançoso,
17 Cf. Ibid., 2009., p, 559.
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um evento com Cristo, para o qual as pessoas poderiam se preparar18
, esta ideia
produziu uma literatura sobre o jeito santo de morrer, e existem várias descrições de
pessoas nos seus pormenores antes de morrer estavam felizes porque sabia que após
fecharem os olhos neste mundo, abririam na eternidade os olhos com o Senhor Jesus
Cristo. Para os cristãos primitivos a morte não era um problema, mais sim, uma grande
vitória e triunfo diante dos seus inimigos.
4.2 Os rituais de morte no cristianismo ocidental e a sua forma de comunicar-se:
O cristianismo no ocidente criou-se em volta do mistério da morte entre duas
atitudes diferentes, em primeiro lugar, é a que torna a morte um drama único e uma
tragédia impar, podemos notar que a morte é o fim do homem.
A concepção da morte do cristianismo no ocidente é bem diferente dos cristãos
do inicio do cristianismo, enquanto os cristãos na igreja primitiva tinham prazer de
morrer em amor a Cristo.
Os cristãos da atualidade não querem nem mesmo falar sobre a morte, ao
contrário, aproveitar a vida e desfrutar das bênçãos de Deus na modernidade, a realidade
é diferente, mas ainda acreditamos que existem muitos cristãos na atualidade que se
passar por um período de perseguição como passou os mártires no principio, terão
prazer de morrerem por amor ao Cristo que ressuscitou ao terceiro dia para dar-les a
vida eterna.
Contudo, em segundo lugar, o cristianismo ocidental ou o homem moderno
assume diante da morte uma atitude de recusa, ninguém quer falar sobre o assunto, que
é tão real para todos cristãos, judeus, mulçumanos, hindus e etc., a morte é tão real
como a vida, a vida se finda, e a morte19
começa a reinar, o reinado da morte só começa
quando a vida se finda, muitos não querem aceitar a morte, ela fica sempre no fim da
18 Cf. TERRIM, Natale Aldo. Introdução ao estudo comparado das religiões. São Paulo: Paulinas, 2003, p, 185-187. 19
Cf. PEARLMAN,Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida,2009, p, 365-378.
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fila de espera para qualquer conversar a dois, mas quando ela chega não pede licença,
somente diz: eu sou a morte.
No cristianismo a morte é a separação da alma do corpo, e por meio dela o
homem é introduzido no mundo invisível, (João 11,11; Dt 31,16), a morte é a primeira
manifestação visível do pecado, os justos ao morrer são destinados a presença de Deus,
o cristão enquanto está em vida terrena, ele desfruta da fé em Deus, após a morte vai ao
encontro do Senhor no paraíso, o paraíso é descrito como: casa de meu pai, descanso,
conforto, comunhão do lar celeste, o país celestial, a Canaã prometida e muito mais.
Os cristãos ficavam felizes se soubessem que iriam morrer por amor a Cristo, e
podemos ver isto claramente na História da Igreja Antiga quando os imperadores
perseguiam os cristãos e os matavam de forma cruel na frente da sociedade romana de
sua época, os cristãos eram massacrados, torturados por amor ao seu criador, e sabemos
que para eles o morrer é ganho na presença do seu Cristo que ressuscitou ao terceiro dia
e vive para todo o sempre, está é basicamente algumas argumentações do cristianismo
primitivo sobre a morte.
5. O ritual de morte e a comunicação ritualística no Islamismo
É possível encontrar estados sem muralhas, sem leis, sem
moeda, sem escrita, mas um povo sem deus, sem credo, sem práticas nem sacrifícios religiosos, eis algo que homem algum
jamais viu.(Plutarco, filósofo grego).
No século VII, a península arábica era habitada por povos que levavam uma vida
nômade, divididos em tribos, incapazes de constituir uma federação mais ampla e
estável. Ao sul da península, no Iêmen, havia formas de sociedades mais desenvolvidas
e um importante porto, por ali passava todo o comércio vindo do Oriente, que ganhava o
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interior da península através de caravanas de cameleiros que iam até à Síria. Persas e
etíopes disputavam a posse de pontos essenciais.
Os sassânidas (persas) tinham o monopólio20
comercial do oceano Índico e
queria impedir a concorrência de Bizâncio que, pelo Egito, tentava infiltrar-se na região,
em decorrência.
Meca tornara-se um centro comercial importantíssimo, era rota de passagem
entre o Iêmen e a Síria e o atual Iraque. Portanto, os árabes não viviam confinado como
podemos imaginar, porém nas fronteiras das duas grandes civilizações existentes,
portanto, eram politeístas e a religião absorvia essa realidade, posto que sua fé refletisse
um pouco de todas as crenças populares do Oriente.
Em Medina, já não só existia a pregação de uma fé. Muhammad organiza uma
comunidade dentro dos princípios islâmicos, cuja lei não está dissociada da fé, posto
que sua origem é divina. Ao morrer, em 632 d.C, ele tinha deixado uma religião
consciente de sua especificidade, esboçada em um regime social externo e superior à
organização social e unificada na Arábia, coisa então inconcebível. Toda a Arábia havia
se tornada muçulmana e os árabes já não mais estavam divididos entre a lealdade ao Islã
ou às tribos, porque todos eram muçulmanos.
Podemos observar que o islamismo cresceu assustadoramente por todos os
quatro cantos da terra, nos cinco continentes existe pessoas21
que professam fazer parte
do Islã, mas qual é a sua concepção da morte? Com plena certeza tem uma concepção
concreta em relação à morte, porque em primeiro lugar, eles são muito bem organizados
em relação daquilo que eles creem e praticam em sua prática religiosa.
Todavia, concluímos dizendo que o propósito da morte no Islã, é por um limite
em um período de adiantamento, no qual os indivíduos estão livres para direcionar as
suas vidas para o sirat ulmustagin., que é a trilha reta que faz retornar a Deus.
Com isso, notamos que a morte não é castigo, mas simplesmente ela leva um
estágio particular num processo muito mais longo, que culmina com o julgamento e o
juízo final.
20
Cf. BOWER, John. Os sentidos da morte. São Paulo: Paulus, 1995, p, 122-123. 21 Cf. Ibid., 1995., p, 125-126.
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No cristianismo os cristãos também creem no juízo final, mas não passaram por
lá, agora os islâmicos já acreditam que terão de passar pelo juízo final, o período da
pessoa na sepultura não é discutido no corão, mas sim no Hadith, nele está relatado que
dois anjos chamados (Munkar e Nakir), vêm para interrogar os mortos, e pergunta ao
morto: A QUEM ADORASTES?., E QUEM É O VOSSO PROFETA?, Se o morto
responder Alá e Maomé, então eles descansam até o dia do julgamento, mas os que
tiverem rejeitado Alá e Maomé serão punidos imediatamente pelos anjos, ou
fisicamente, e lhes são mostrado o tormento que os espera depois do julgamento final,
algumas palavras são expressas pelos mulçumanos durante a vida.
Podemos concluir esta parte relatando, que o dia do julgamento, todos receberam
a recompensa exatamente e precisamente de acordo com o registro, esse é um dos mais
insistentes temas do corão, como a breve citação: “Temei o dia em que voltarão para
Alá, então, todos os nafs receberão a recompensa conforme tiveram merecido, e não
serão enganados”, está declaração é bem parecida com o que o apóstolo Paulo escreve
para a igreja que está em Corinto, em sua segunda epistola capítulo. 5,10 . “Porque
importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um
receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo”.
Os mulçumanos acreditam que ao nascerem eles estão nas mãos de Alá, assim
também ao morrer, também estão, existe uma tradição entre os mulçumanos que os
mortos têm que ser enterrados no mesmo dia que morrem, de preferência antes do por
do sol, os crentes islâmicos nunca são cremados, eles tem também um rito muito
importante, que o morto é lavado de três a cinco vezes antes de ser enterrado, este ethós
(costume) é muito parecido com o da cultura judaica, possivelmente tenha sido copiado
esta tradição do judaísmo.
Esse período se torna um período de provação ou julgamento: .Nós não concedemos a nenhum homem, antes de vós, a vida sem fim; assim, se vós
morreis, viverão eles indefinidamente? Toda pessoa viva provará a morte, e nós
vos provaremos pelo mal e pelo bem como um julgamento, e a nós retornareis.. .Certamente nós vos experimentaremos com alguma coisa de medo, de fome, de
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perda de bens, vidas e frutos; mas, daí a boa noticia aos que suportam
pacientemente, que dizem, quando afligidos pela calamidade: Certamente que pertencemos a Deus e seguramente a eles estamos voltando.....
CONSIDERAÇÃOES FINAIS
Podemos observar nesta pesquisa, que a comunicação dos mitos de morte é
reverenciada principalmente pela cultura do judaísmo, cristianismo e islamismo. Em
todas elas as pessoas são cuidadas de uma forma muito especial após a morte, ainda que
a morte não seja uma coisa que as pessoas gostam de conversar ou dialogar, porém, esta
comunicação existe mesmo que não seja em muitas vezes comunicável.
Contudo, se é necessário falar (comunicar-se) sobre está tão importante fase da
vida que todos teremos que passar um dia, a morte é real assim como a vida é real,
todavia, as pessoas não dão a mínima atenção para isto, não se preparam para este dia, o
ser humano se prepara para tudo, para se casar, para ter uma bela profissão, criarem seus
filhos, planejarem viagens para fora do país, e muitas vezes não se prepara para o dia da
morte, ela vem sem ser convidada, num planejamento do humano, que aparentemente
está tudo bem, quando menos se espera a morte chega para entrar em cena na vida do
ser humano e dar continuidade nesta comunicação no porvir, seja ele no sheol, no
paraíso ou no além...
Cátedra Unesco de Comunicação e Desenvolvimento/Universidade Metodista de São Paulo VIII Conferência Brasileira de Comunicação Eclesial, São Bernardo do Campo, SP, 22/8/2012
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