A ocupaçäo paleoíndia do sudestebrasileiro: Lagoa Santa e além
Astolfo G. M. Araujo e Walter Alves Neves
lntrodução
Qrando chegou a Lagoa Santa em 1835, o naturalista dinamarquêsPeter W Lund inaugurou, sem imaginar, um longo curso de pesquisas edebates centrados nesse pequeno rincão do Brasil. Suas pesquisas levaramà descoberta de ossos de várias espécies de mamíferos extintos, preserva-dos nas grutas da região. Num inverno especialmente seco de 1842, Lundaproveitou o baixíssimo nível da Lagoa do Sumidouro e entrou em umagruta adjacente que ficava sempre inundada, a Gruta do Sumidouro.Lâo pesquisador encontrou restos humanos de pelo menos 30 indivíduospretensamente associados a ossos de animais extintos. Isso acendeu umdebate científico considerável, e tais descobertas chegaram até mesmo a
ser citadas por Darwin, que mantinha correspondência com Lund. Após a
morte de Lund, períodos de esmorecimento nas pesquisas foram pontua-dos por anos de alta atividade. Pesquisadores de várias procedências, tantoamadores como associados a instituições oficiais, realizaram intervençõesna região, estudaram materiais de lá retirados, escreveram artigos e relató-rios. Do ponto de vista arqueológico, o tema era o mesmo: qual a relaçãoentre os esqueletos humanos que Lund achou na Gruta do Sumidourocom as espécies de mamíferos extintasì Qral era a idade desses esque-
letos? Seriam eles representantes dos primeiros humanos a chegaram à
América?Durante os anos 1940 e 1950 o arqueólogo amador Harold Walter esca-
vou várias grutas na região. Em uma delas, denominada Gruta de Confins,
ele retomou uma escavaçáo realizada em 7929 por Padberg-Drenkpol, do
Museu Nacional do Rio de Janeiro, e literalmente esvaziou-a. No fundo da
gruta, teria encontrado um esqueleto humano associado a ossos de masto-
donte e de uma espécie de cavalo extinto (Mendonça de Souza et aI.2006).
Tal crânio foi denominado "Homem de Confins", e a polêmica continuou
acesa. Porém, tais questões sempre esbarravam no mesmo problema: a im-possibilidade de atestar a contemporaneidade entre humanos e animais ex-
tintos, seja pela maneira com que as escavações foram feitas, ou pela impos-
sibilidade de estimar de maneira confiável a idade dos esqueletos humanos
do chamado "Homem de Lagoa Santa".
O desenvolvimento do método de datação por radiocarbono, nos anos 1950,
inaugurou uma nova era em termos de pesquisas arqueológicas, e Lagoa Santa
voltou a ser foco de interesse. Duas missões científicas internacionais se di-
rigiram à região: uma delas, chefiada pelo arqueólogo norte-americano Wes-
ley Hurt, escavou em meados dos anos 1950 várias grutas no maciço de Cerca
Grande e aLapa das Boleiras. A segunda missão foi chefiada pela arqueóloga
francesa Anette Laming-Emperaire, que também escavou vririos sítios abriga-
dos na década de7970.Os trabalhos de Hurt e Laming-Emperaire forneceram
idades radiocarbônicas que colocavam os sítios arqueológicos da região em uma
faixa cronológica bastante recuada, por volta de 10.000 anos atrás, no limite en-
tre o Pleistoceno e o Holoceno. Entretanto, após a morte de Laming-Emperai-
re emt976,a região deixou de ser foco de pesquisas arqueológicas acadêmicas.
Foi apenas eff2000 que trabalhos de arqueologia foram retomados, no âmbito
do projeto "Origens e Microevolução do Homem na América"l. O projeto teve
duração de oito anos e permitiu a elucidação de algumas questões importantes a
respeito da cronologia, da subsistência e da tecnologia dos povos que habitaram
a região no início do Holoceno, denominados Paleoíndios. No entanto, esses
1. Projeto Têmático coordenado por Walter Ncves entre 2000 e 2009 e financiado pela
FAPESR procs. Nos. 99/00670-7 e 04/01321-6. Auxilio à Pesquisa outorgado PeloCNPq a Astolfo Araujo, proc. no. 472535/2007-2 e Bolsa de Produtividade proc. no.
300339/08-9.
dados extrapolam a região deLzgoa Santa e ajudam a compor um cenário maisamplo das ocupações paleoíndias,onde se descortinam algumas possibilidades e
hipóteses que deverão nortear pesquisas futuras.
Aspectos Físicos da Região de Lagoa Santa
A região comurnente denominada na literatura arqueológica como "L4goa
Santa" abrange na verdade diversos municþios situados aproximadamente 50 km a
oeste de Belo Horizonte, como Pedro Leopoldo, Matozinhos, Prudente de Morais,Vespasianq Lagoa Santa, Funilândia e Confins (Figura 1 - Região de Lagoa Santa,
MG). A geologia local é composta predominantemente por calcários bastante pu-ros,depositados originalmente em ambiente oceânico,relacionados ao Grupo Bam-buí (IBAMA/CPRM 1998),deidade Neoproterozóica (entre 600 e 1.800 milhõesde anos). A dissolução desses calcários foi responsável pela formação de numerosas
cavernas e abrþs rodrosos, que serviram de local de refigio, moradia ou ocupação
nípida tanto a humanos como a outros animaisrvivos e ortintos.
os solos da região são majoritariamente latossolos vermelho-amarelose litólicos (Piló 1998), relativamente pobres em nutrientes, que em conjuntocom o clima atual, fortemente estacional (com estação seca de três a quatromeses), acabam por manter uma vegetação de Cerrado. Em locais específi-cos são observadas outras fisionomias vegetais, como a mata semidecidual, a
ATLANTICOCEAN
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Brazil
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Ilooom
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As lntervençöes do Projeto "Origens
Sítios Abrigados
mata ciliar nos fundos de vale, e a mata, seca no topo dos maciços rochosos
(Freire 2011).Tiata-se, portanto, de uma ârea de confluência de biomas, ou
de tensão ecológica, mosaico extremamente rico do ponto de vista florístico.
As intervençóes arqueológicas realizadas no âmbito do Projeto "Ori-gens" foram inicialmente focadas nos abrigos e entradas de caverna, seguin-
do a prática adotada por todos os pesquisadores que estiveram na região
desde Lund. O motivo dessa escolha se relaciona a um dos objetivos pri-mordiais do projeto, a saber, o aumento da coleção de remanescentes ósseos
humanos relacionada ao Período Paleoíndio. Qrando se leva em conta que
a preservação de esqueletos humanos antigos só se dá em situações especí-
ficas, e uma delas é a oferecida pela proteção química e fisica dos ambien-tes cársticos, a escolha dessas áreas como foco de atuação torna-se óbvia.
Inicialmente, foram revisitados vários sítios "clássicos" da região. As grutas
escavadas, visitadas ou apenas mencionadas por Lund, Harold Walter, Hurt,Laming-Emperaire e outros foram inspecionadas e avaliadas em termos de
seu potencial informativo e grau de preservação. Levantamentos em grutas
não mencionadas em trabalhos anteriores foram também realizados, e após
essas etapas escolhemos três grutas para serem escavadas: a Lapa das Bo-leiras, que já havia sido sondada por Wesley Hurt e Oldemar Blasi em 1956
(Hurt 1960;Hurt e Blasi 7969),tendo sido encontrados dois sepultamentos
humanos; Lapa de Cerca Grande VI, também escavada por Hurt e Blasi na
mesma épocu, onde foram encontrados 11 sepultamentos humanos (Hurt e
Blasi 1969; Neves et aL.2004), e Lapa do Santo, um abrigo de grandes di-mensões que, para nossa surpresa, nunca havia sido visitado ou mencionado
na literatura, e se encontrava absolutamente intacto. Após o término dos
trabalhos em Cerca Grande VI, iniciamos a escavação de outros dois abri-gos: Lapa do Porco Preto e Lapa Grande de Thquaraçu. Foram, portanto,escavados pelo Projeto "Origens" cinco abrigos na região, todos em rocha
calcária, sendo os dados obtidos apresentados de forma resumida a seguir.
Lapa das Boleiras
ALapadas Boleiras é um abrigo com 43 m de extensão por72m de largura
mfu<rma, e ârea abrigada total de 280 m2 (Figura 2 - Sítio Lapa das Boleiras).
O abrigo está alinhado aproximadamente na direção N-S, com a aberhrra vol-
¡;rda para oeste. O piso atual tem uma ligeira inclinação (6") para norte. Um
cone de acumulação de colúvio proveniente do topo do maciço é observado na
porçáo sul do abrigo, contribuindo ativamente para a sedimentação. O sítio foi
inicialmente escavado por arqueólogos amadores no início do Século )O(, e pos-
reriormente sondado por Hurt e Blasi emI956 (Hurt e Blasi 19ó9). Entre 2001
e 2003 nossa equipe €scavou urr.ia ârea de 21 m2, detectando uma estratigrafia
bem preservada, contendo sepultamentos humanos desarticulados, e abundân-
cia de material lítico lascado, artefatos ósseos e restos vegetais. A estratigrafia,
cronologia e processos de formação deste sítio foram publicados em detalhe em
Araujo et al. (2008) e Araujo e Neves (2010), mas um dos aspectos mais impor-
tantes do sítio foi a descoberta de que grande parte dos sedimentos, formados
por material pulverulento de coloração cinza-esbranquiçada, eram devidos à
acumulação de cinzas de fogueira, sendo, portanto, de origem antropogênica. A
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Figura 2 - Sítio Lapa das Boleiras
ocupação paleoíndia foi datada por radiocarbono, com 32 idades entre 10.150 t130 (12.380 a11.240 cal A.P.) e7.5601 110 (8560 a 8160 calA.P.).
Cerca GrandeVl
Este abrigo, também de grandes dimensões, tem sua abertura voltada para
norte, apresentando uma ârea abrigada de 30 m de largura por 35 m de pro-
fundidade.Também foi escavado por Hurt e Blasi emI956,e naquela época jâ
se apresentava parcialmente destruído por atividades de mineração (Hurt 1960:
579). Aqueles pesquisadores encontrafam uma grande quantidade de esqueletos,
a maioria em estado fragmentário, mas puderam distinguir no mínimo 11 se-
pultamentos. Os mesmos publicaram duas idades radiocarbônicas para o sítio,
ambas em carvão: 9.028 x 120 (10.500 a9.700 calA.P.) e9.720 t 128 (11.500 a
10,650 calA.P.; Hurt e Blasi 1969:31). Posteriormente, enviamos pafa datação
amostras de ossos de dois dos esqueletos coletados por Hurt e Blasi, que fornece-
ram idades de 8.230 r50 (9.400 a9.340calA.P.e 9.320 a9030 calA.P.) e8.240 t40 (9.400 a9.360 cal A.P. e 9.310 a 9.050 cal A.P.; ver tambem Neves et aJ..2004).
Ao tempo de nossa intervenção, em 2001, o sedimento do abrigo jâhaua
sido totalmente removido pela mineração. Sobraram Pequenas porções de sedi-
mento antropogênico nos cantos do abrigo, bastante perturbados, sem potencial
informativo. A única evidência digna de nota foi o achado de uma peça com
lascamento unifacial (artefato plano-convexo) na entrada do abrigo.
Lapa do Santo
Lapa do Santo é um abrigo superlativo em todos os aspectos. Trata-
-se de vma trea abrigada na entrada de uma caverna, com 70 m de largura e
20 m de profundidade, compreendendo uma á¡ea abrigada total de 1.300 m2
(Figura 3 - croqui sítio Lapa do santo). o sítio é extremamente bem pre-
servado, tendo escapado da ação de arqueólogos amadores, caçadores de te-
souro e curiosos. Qrando visitamos o sítio pela primeira vez' ellcontramos
ossos humanos e artefatos líticos aflorando, além da Presença de petroglifos
com figuras filiformes de humanos e animais. uma dessas figuras apresen-
tou idade mínima de 10.500 anos AP, podendo ser considerado o exem-
plar de arte rupestre seguramente datado mais antigo das Américas
(Neves et al.2012)
Figura 3 - Croqui Sítio Lapa do Santo
Figura 4 - Graltra antropomorfa feita sobre um matacão de calcário, encontrada na base daestratigrafia daLapa do Santo, com idade mínima de 10.500 anos AP
SÍTIO LAPA DO SANTO
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53
Lapa do Porco Preto
O sítio começou a ser escavado em 2001, e a ultima intervenção se deu
em 2009,tendo sido abertas quadras que totalizaram uma ârea' de 44 rn2. O
sítio apresentou uma estratigrafia profunda, com mais de 4m de sedimento
em alguns locais, de origem predominantemente antropogênica (novamen-
te, cinzas de fogueira). Foram obtidas 62 idades radiocarbônicas e quatro
idades de luminesc ência para o sítio, colocando a ocupação paleoíndia den-
tro do intervalo entre 10.490 !50 (12.680 at2.350 calA.P. e12.320 a72.240
cal A.P.) e7.890 x 40 (8.970 a 8.910 cal 4.P., 8.870 a 8.830 cal 4.P., e 8.790
to 8.590 cal A.P.).
A,Lapa do Porco Preto, localizada no Maciço de Poções e não muito
distante daLapa das Boleiras, é também um abrigo amplo, com dimen-
sões máximas de 35 m por 12 m, piso plano e abertura voltada para leste.
Há uma grande laje com petroglifos nesse abrigo, à semelhança do que
foi observado na Lapa do Santo, o que sugeria uma ocupação humana
intensa.Foram abertas três sondagens de 1 metro quadrado, que infelizmente
mostraram que o conteúdo arqueológico do abrigo havia sido quase to-talmente removido por atividades de mineração (extração de salitre) e de
pecuária (utilizaçio do abrigo como curral). O pacote sedimentar que se
assentava sobre o estéril é composto por um solo castanho escuro' onde al-
gum material arqueológico remanescente (lascas de quartzo) se misturava
a peças do período histórico (vidro, botões, louça). Em uma das quadras
foi observado um nível orgânico, dentro do sedimento avermelhado, que
poderia ser po.tencialmente relacionado às primeiras ocupações humanas
na gruta. Esse nível foi datado, resultando em uma idade de 7.770 x 50
AP (8.429 a8.631, cal A.P.), contrariando as expectativas iniciais. Foram
realizadas várias tradagens de 10 cm de diâmetro com o intuito de veri-
ficar se a ausência do pacote arqueológico era generalizada. Percebeu-se
que próxima a uma das paredes do abrigo, na porção sul do mesmo, havia
uma camada de cinza de fogueira ainda intacta' e nesse local foi aberta
uma quadra, Que forneceu material arqueológico e carvão em abundância.
Porém, dada a pequena área preservada, optamos por não investir mais
esforços nesse sítio.
Lapa Gra nde de Taquaraçu
ALapa Grande de Taquaraçu está localizada em um ambiente distintodos demais sítios, uma vez qrre o abrigo, com 30 m de extensão e 9 m de
profundidade máxima, se situa fora da área de ocorrência principal do relevo
cárstico, em um afloramento de calcário isolado, e na margem esquerda de
um rio perene (rio Taquaraçu).4 existência deste abrigo foi-nos informadapor espeleólogos, e inicialmente acreditamos que nunca havia sido sujeitoa pesquisas arqueológicas. A superfície do sítio, composta por sedimentoacinzentado e juncada de mateiral arqueológico, jâ revelava seu alto poten-cinlpara pesquisas. Batizamos o sítio e iniciamos os trabalhos de escavação
em 2003, mas posteriormente fomos informados que o mesmo havia sidosondado e cadastrado anos antes pela equipe do Museu de Historia Naturalda UFMG como "Lapa do Niactor"(Alenice Baeta, com. pess.). Porém, essa
intervenção previa não resultou em publicações científicas.A ârea abrrgada compreende 255m2, e nossas escavações foram feitas
em7 m2.Os sedimentos apresentaram o mesmo padrão observado naLapadas Boleiras e Lapa do Santo, sendo de origem antropogênica, com 1 mde espessura mríxima. F'oram recuperados dois sepultamentos humanos, umjuvenil e um neonato, além de grande quantidade de material lítico lascado,restos faunísticos, artefatos ósseos e carvão. Obtivemos 13 idades radiocar-bônicas para o sítio, que colocam a ocupação paleoíndia entre os intervalosde9.990 x60 (11.750 a17.250 calA.P.) e 8.080 r 40 (9.050 a8.990 calA.P.).
Sítios a Céu Aberto
Desde os trabalhos de Lund, todos os sítios arqueológicos do períodoPaleoíndio na região de Lagoa Santa haviam sido encontrados em cavernasou abrigos rochosos. Com a formulação de algumas hipóteses a respeitodos padrões de ocupação humana na regiio,que buscaram explicar a quasetotal ausência de sítios datados do Holoceno Médio, ou "Hiato do Arcaico"(Araujo et aL.2005,2006), tornou-se necessário investir recursos na buscade sítios arqueológicos a céu aberto, seja para refutar essa ideia de hiato, sejapara fornecer dados a respeito de eventuais diferenças tecnológicas com omaterial lítico dos abrigos, que teoricamente poderiam refletir apenas mo-dalidades específicas de atividade humana. Para tanto, em 2003 foram reali-
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Sítio Lund
Sítio Sumidouro
zadas prospecções de superficie e tradagens nas margens daLagoado Sumi-
douro, em busca de sítios líticos. A escolha dessa lagoa como área prioritária
de prospecção se deu por várias razöes: a existência de um abrigo com arte
rupestre nas imediações (Lapa do Sumidouro); a localizaçáo príxîma da
Gruta do Sumidouro, escavada por Lund e de onde saíram os ossos dos 30
indivíduos supostamente associados a fauna extinta; e o fato de a lagoa ser
uma das maiores da região. Os resultados das prospecções foram frutíferos,
na medida em que foram detectados três sítios líticos: Sítio Lund, SítioSumidouro e Sítio Coqueirinho.
Este sítio a céu aberto apresentou material lítico lascado nas laterais de
uma trincheira escavada por motivos ignorados, nas proximidades da Grutado Sumidouro. Dada a proximidade da Gruta do Sumidouro, famosa pelas
descobertas de Lund em meados do século XIX, considerou-se que sua es-
cavação poderia fornecer dados inéditos a respeito de ocupações humanas
paleoíndias fora de áreas abrigadas. As intervenções no sítio envolveram
coleta sistemática de superfïcie do material deslocado pela escavação da
trincheira preexistente, e escavação de duas quadras de 1 metro quadrado.
Uma das sondagens foi realizada no fundo da trincheira, com o objetivo de
detectar a profundidade máxima do sítio. A segunda sondagem foirealizadaem ârea não perturbada, e tinha por objetivo observar a estratigrafia intacta.
Ambas sondagens mostraram que o sítio é relativamente raso, chegando
a um metro de profundidade, com material lítico aparecendo ao longo de
toda a estratigrafia. Os níveis mais rasos mostraram cerâmica neo-brasileirae Aratu. Fomm coletadas amostras de carvão na porção mais profunda do
sítio para datação, que para nossa surpresa redundaram em idades recentes:
2.220 x 40 AP (2.146 a 2.336 cal A.P.) e 2.160 t 40 AP (2.041 a 2.311 cal
A.P.). Isto sugere uma ocupação de caçadores-coletores recente pare- ^
re-gião, anterior à chegada dos grupos ceramistas Aratu e Tüpiguarani.
O Sítio Sumidouro estâ localnado na extremidade SE da lagoa, e dista
80 m do Sítio Lund. Situa-se na porção baixa de uma extensa vertente vol-
øda para N, com declividade média de 20o/o, aproximadamente 10 m acima
do nível atual da lâmina d'água. Este sítio foi originalmente detectado porProus et al. (1998), e cadastrado como sítio cerâmico. O material cerâmico
em superffcie era relativamente abundante quando visitamos o sítio em 2001,
rnas nos anos subsequentes a quantidade de vestígios superficiais diminuiusensivelmente. Em 2003, dentro do citado programa de prospecção sistemá-
tica, foram reaJizadas sondagens com trado motorizado na arez do sítio, com
o intuito de verificar a existência de eventuais níveis arqueológicos soterrados.
Tâis tradagens se mostrâram frutíferas, tendo sido detectados materiais ar-
queológicos enterados a mais de 1,70 m de profundidade. Nos anos seguintes
o sítio foi sujeito à escavação de várias quadras de7 m2,perfzzendo dez unida-des de escavação. Assim, foram identificados pelo menos três níveis discretos
de material arqueológico, ocorrendo em profundidades entre 30 cm e 210 cm.O nível superior apresentou fragmentos de cerâmica, incluindo um vasilhame
Tupiguarani quase completo. Para os níveis mais profundos, a idade radio-carbônica mais antiga alcançou 8.310 t 40 AP (9.240 a9.450 AP) anos AP,e as idades de luminescência ficaram entre 10.100 e 12.500 anos AP (Araujoe Feathers 2008). Tais idades se coadunam com o material lítico encontrado,composto por lascas de silexito e qu rtzo hialino, bastante semelhantes ao en-contrado nos horizontes paleoíndios em contextos abrigados (Lapa do Santo,
Lapa das Boleiras, Lapa Grande de Täquaraçu).
Sítio Coqueirinho
O Sítio Coqueirinho apresenta material lítico lascado e foi detectadoem 2001, durante prospecção de superfície. Situa-se na margem sul da lagoa,
em um patamar de vertente bastante plano, voltado para NE, com declivi-dade inferior al0o/o. No entanto, tal patamar é ladeado por uma quebra de
relevo abrupta, ocasionada pela erosão decorrente da fatxa de depleção da
lagoa. Assim, o material lítico aflorante é fruto da erosão da vertente, mas
há uma porção considerável do sítio com a estratigrafia preservada. A es-
pessura do pacote arqueológico do Sítio Coqueirinho é bem mais rasa doque a observada no Sítio Sumidouro. O material arqueológico é encontrado,no máximo, a 90 cm de profundidade. Tal fator não se deve a uma idadesupostamente mais recente para o sítio, uma vez que foi obtida uma idaderadiocarbônica de70.460 t 60 AP (12.090 a12.690 cal AP) a 80 cm de pro-
fundidade em uma das sondagens. Esta dataçio coloca o Sítio Coqueirinhocomo a mais antiga manifestação da presença humana na região de Lagoa
Santa fora dos abrigos.
Com relação à distribuição vertical dos vestígios, o conjunto de inter-venções realizadas aponta p^r^a. existência de um nível de concentração de
material lítico. Apesar de algumas variações entre âs sondagens, de forma
geral todas elas apresentam uma maior concentração de vestígios entre 40
e 50cm de profundidade. Não há em nenhuma delas a indicação de dois ou
mais níveis de concentração intercalados por uma diminuição na quantida-de de vestígios, a exemplo do que ocorre no Sítio Sumidouro. Essa distribui-
ção pode apontar para duas possibilidades:
a) sincronicidade no processo de formação do registro entre as diferentes
sondagens, indicando uma distribuição unimodal dos vestígios, com
baixa intensidade de movimentação vertical das peças por processos
pós-deposicionais.
b) palimpsesto arqueológico, com diferentes ocupações humanas sen-
do concentradas em um intervalo vertical restrito, dada uma menor
taxa de coluvionamento, ao menos quando comparada à observada
no Sítio Sumidouro.
Uma Visão Geral da Cultura Material, Práticas Funerárias eSubsistência dos Paleoíndios de Lagoa Santa
Todos os sítios paleoíndios apresentaram um indústria lítica similar, e no
caso dos abrigos essa similaridade se manifesta também nas práticas mor-tuárias, artefatos ósseos e animais consumidos. As únicas instâncias onde a
comparação torna-se dificil são os abrigos Cerca Grande W e Porco Preto,
devido à sua destruição. No caso de Cerca Grande VI, os dados publicados
por W. Hurt (Hurt 1960; Hurt e Blasi 1969) confirmam esse padrão. A se-
guir apresentaremos com maior detalhe cada um desses aspectos.
Ártefatos Líticos e Osseos
A indústria lítica da região de Lagoa Santa é visivelmente distinta das
indústrias presentes em outras regiões do Brasil Central durante o Holoceno
inicial. Os únicos estudos relativamente aprofundados sobre a indústria lítica
deLagoa Santa são as análises apresentadas por Beltrão (1975), Hurt e Blasi
(1969) e, mais recentemente, por Pugliese (2007) e Araujo e Pugliese (2010).
A indústria lítica apresenta uma característic a organ\zacional eminentemente
generalizada (segundo Teltser, 1991), com poucas peças retocadas e quase ne-
nhuma formal\zaçáo. A maioria das peças pode ser caracterizada como lascas
de quartzo pequenas (tamanho médio de 22mm), não retocadas. O quartzo
em suas várias formas (hialiiro, transparence e leitoso) representa 91%o das pe-
ças na Lapa das Boleiras e 860/o das peças naLapa do Santo (Pugliese 200n.Os níveis mais antigos de todos os abrigos escavados apresentam maiores fre-
quencias de silexito de boa qualidade, entre5o/o eT/o,muttas vezes com trata-
rnento térmico, que vão diminuindo até desaparecem nos niveis mais recentes,
por volta de 8.000 anos AP. Menos deTo/o das peças apresentavam-se reto-cadas, e menos de 50/o apresentaram sinais de uso macroscópicos. A indústria
lítica presente nos sítios paleoindios a ceu aberto (Sumidouro e Coqueirinho)é muito semelhante à encontrada nos abrigos. A análise desse material ainda
está sendo rcalizada (Lucas Bueno, com.pess,).
Pontas bifaciais ('þontas de projétil") são relativamente raras em Lagoa
Santa. Harold Walter (1948:Fig.2,7958: Fig.9), que trabalhou na região pordécadas, publicou fotografias de apenas seis pré-formas em quârtzo, e outrâs
seis pontas terminadas. A maior parte dessas pontas vem de três sítios, a
Lapa do Eucalipto, aLapa da Limeira e aLapa de Carrancas. Hurt e Blasi(1969:42) encontraram sete pontas bifaciais nos abrigos do maciço de Cerca
Grande, que foram por eles divididas em quatro tipos. Porém, durante os
oito anos de pesquisas na área, só encontramos uma única ponta bifacialfragmentada nos niveis mais profundos do Sítio Coqueirinho, além de umartefato plano-convexo nos niveis mais profundos da Lapa Grande de Ta-quaraçu. Isto sugere que artefatos formais são bastante raros e, provavel-
mente, relacionados a incursões de grupos mais antigos na irearanteriores à
ocupação paleoíndia principal, que se deu após 12.000 anos AP.
A indústria óssea tambem está presente nos abrigos, e pode ser classificada
em três categorias principais: anzóis,artefatos com ponta aplainada ("espátu-
las") e artefatos com ponta afrlada ("furadores" - Kipnis et aI.2010). Nenhumartefato em osso parece ter sido utilizado como ponta de projétil. Os artefatos
em osso que Evans (1950:352) e Hurt (1960:583) chamam de 'þontas" são
provavelmente espátulas e furadores, a julgar pelas figuras apresentadas.
Práticos Funerórios
Subsistência
Por razóes desconhecidas,a prâtica de inumação dos paleoindios só se
voltou para as âreas zbrigadas após 9.500 anos AP (aprox. 8.500 14C AP).
Como o início da ocupação humana remonta 12.000 anos AP, é prová-
vel que os sepultamentos fossem realîzzdos a ceú aberto. Os raros casos de
esqueletos humanos anteriores a essa idade, como é o caso de Luzia, com
idade mínima de 11.000 anos AP, parecem ter sido jogados em fissuras, ou
resultado de mortes acidentais.
Informações a respeito das práticas de sepultamento posteriores a 9.500
anos AP estão disponiveis desde o início do seculo )O(. Naturalistas, ama-
dores, arqueólogos e paleontólogos profissionais que trabalharam na região
recuperaram pelo menos 300 esqueletos humanos nas cavernas e abrigos.
Qrase todos os sítios arqueológicos em áreas abrigadas apresentam restos
humanos, a maior parte em bom estado de conservação. Este material abun-
dante mostra uma grande diversidade de práticas de sepultamento, porémalgumas características podem ser enfatizadas: alta frequencia de sepulta-
mentos secundários; sepultamentos primários com corpos extremamente
fletidos; pequenos blocos de rocha sobre os sepultamentos; covas rasas; per-turbação frequente de sepultamentos mais antigos para acomodar outros
mais recentes; uso intenso de ocre; remoção intencional das epífises (e, às
vezes,diáfises) dos ossos longos por motivos desconhecidos; queima parcial
dos ossos, raramente com cremação completa; e a virtual ausência de objetos
de uso pessoal ou oferendas funerárias nas covas (vide Strauss 2010 para
uma análise aprofundada das práticas mortuárias naLapa do Snato). Outraprática comum durante a ocupação paleoindia tardia de Lagoa Santa era a
de enterrar 06 mortos ao redor de grandes blocos ou matacões desprendidos
do teto das cavernas (Prous 7997).Paraobservações sobre um caso de sepul-
tamento secundário altamente elaborado, vide Neves et al. (2002).
Análises zooarqueológicas recentes realizadas em sitios paleoindiosno leste da América do Sul tendem a mostrar o mesmo padrão de fortedependência de caça de pequeno porte, como cervídeos, porcos do mato,tatus, tartarugas, lagartos, roedores, pássaros, peixes, anfíbios e gastrópo-
des terrestres (Jacobus 2004; Kipnis 2002,2009; Rosa 2004). Em La-goa Santa, o mesmo padrão foi observado. As espécies mais abundantes
achadas na Lapa das Boleiras e nâ Lapa do Santo foram animais de
pequeno porte (Cavia øperea, Agouti paca, e Kerodon rupestris), anfibios,répteis (principalmente o Tupinømbis sp., ou teiú) e tatus. Entre os ma-míferos de maior porte, os cervídeos (Mazama sp.) foram os mais abun-dantes, seguidos pelos porcos do mato (Tøyassu sp.).É importante notara virtual ausência do maior mamífero da América do Sul, a
^nta (Thpirus
terrestris) no registro arqueológico paleoindio de Lagoa Santa (Bissaro
Jr. 2008) . A anta estava pre sente na rcgião desde, pelo menos, a transiçãoPleistoceno / Holoceno (Hubbe 2008), sendo muito maior do que ocervídeo Mazama sp. (o peso médio de T terrestris ê, de750 kg, enquantoo peso médio de Møzama sp. é 26 kg), sendo sua carne muito apreciadapelos indígenas atuais (p. .". Souza-Mazurek et al. 2000). Isto sugere
que os paleoindios de Lagoa Santa estavam evitando deliberadamentepresas de grande porte.
A subsistência desses grupos era também fortemente dependente de
vegetais. As espécies de plantas mais ubíquas no registro arqueológico são
árvores frutíferas, como o jatobá (Hymenøeø sp.), pequi (Cøryocør brasilien-se), araticum (Annona crassforøMart.), e coquinhos ($agrus sp.; Nakamuraet al.2010). O grande conteúdo de carboidratos dessas frutas pode explicara alta frequência de cáries nos dentes desses Paleoindios (vide "BiologiaEsqueletal", abaixo).
Biologia Esqueletol
Os primeiros esqueletos humanos de Lagoa Santa foram encontradospor Peter Lund dentro da Gruta do Sumidouro, em meados do século XIX(Lund 1844). Lund acreditava que esses esqueletos eram bastante antigos,uma vez que estariam associados a restos fossilizados de megafauna extinta.Seus achados e interpretações geraram intensa discussão (Mello e Alvim eta1.7977; Neves e Atui 2004), e estão fora do escopo deste capítulo. A ideiade que a ocupação humana era antiga foi provada mais de um século depois,por Hurt e Blasi (1969).Por outro lado, a hipótese de coexistência entre hu-manos e magafatrna só foi inequivocamente comprovada mais recentemente(Piló e Neves 2003).
Conforme mencionado anteriormente' quase todos os sítios abrigados
ðe Lagoa Santa apresentam esqueletos humanos potencialmente antigos.
Sendo assim, Lagoa Santa é uma das poucas áreas das Américas onde os
estudos a respeito de quem eram e como viviam os Paleoindios pode ser
feito de um ponto de vista verdadeiramente populacional (seria interessante
lembrar que em toda a América do Norte existem apenas meia dúzia de
esqueletos humanos com idades superiores a 8.000 anos 14C AP).
Infelizmente, até fins dos anos 1980 a literatura acumulada relacionada
aos esqueletos de Lagoa Santa era eminentemente descritiva. Em sua maior
parte, os trabalhos eram baseados em antigas tipologias morfológicas cra-
nianas (p. .*., Messias e Mello e Alvim 1962;Mello e Alvim 797/;Melloe Alvim 1992/93) e publicados em português, em periódicos de circulação
restrita. Duas questões principais eram abordadas durante esse período: se
os indígenas do Brasil Central historicamente conhecidos por Botocudos
poderiam ser considerados como relacionados à população de Lagoa Santa;
e se os construtores de sambaquis da costa, datados do Holoceno Médio e
Final, teriam alguma relação biológica com as populações do interior do
continente. Durante esse período, os esqueletos humanos encontrados em
Lagoz Santa foram muito mal explorados do ponto de vista de quem foram
os primeiros americanos, ou o que sua biologia esqueletal poderia informarem termos de adaptação local, padrões de subsistência, estilo de vida e qua-
lidade de vida biológica.
Desde fins dos anos 1980, porem, foi se estabelecendo uma crescente
literatura a respeito das afinidades biológicas intra e extra-continentais das
populações antigas deLagoa Santa, baseadas em tratamentos quantitativos
apropriados (p..*., Neves e Pucciarelli7989,199l). Os resultados mostram
que a morfol6gia craniana dessas populações tem uma notável semelhança
com a morfologia de populações australianas e africanas modernas, e ao
mesmo tempo nenhuma semelhança com populações ameríndias e asiáticas
modernas (vide Neves e Hubbe 2005 para uma análise craniana abrangen-
te). Estas afinidades morfológicas inesperadas levaram Neves e colaborado-
res a proporem que as Américas foram ocupadas por duas populações hu-manas distintas, vindas do nordeste asiático: uma caracterizada por um pa-
drão craniano generalizado, relacionado aos primeiros humanos modernos
que deixaram u Aftirupor volta de 50.000 anos atrás, e outro caracterizado
por uma morfologia craniana derivada, observada atualmente entre asiáticos
orientais e ameríndios, denominada na literatura clássica como Mongolóide(mas veja Powell 2005 e Gonzalez-José et al. 2008 paru uma interpretaçãoalternativa).
Uma boa cronologia foi também gerzda nos últimos 15 anos para os es-
queletos Paleoindios de Lagoa Santa. Mais de 130 amostras de ossos huma-nos para datação radiocarbônica por espectrometria de massa foram envia-das pelo projeto "Origens". Dessas, apenas 40 continham colágeno suficien-te. Com exceção de Luzia, a maioria das amostras está entre 8.500 e 7.500
anos raC AP. Duas amostras geraram idades por volta de 9.500 laC anos AP:um osso humano isolado encontrado por Lund em um sítio paleontológico(Lapa do Bnga) e um esqueleto humano encontrado naLapadas Boleiras(Sepultamento 3; Araujo et aI.2008; Araujo e Neves 2010).
Com relação ao estilo de vida e à qualidade de vida biológica, poucas
informações têm sido recuperadas em Lagoa Santa, devido ao fato de que a
maioria dos crânios foi encontrada em escavações não sistemáticas e acabou
separada do restante do esqueleto. Mendonça de Souza (1992/93) realizou o
primeiro estudo paleopatológico a respeito dos esqueletos recuperados porProus nos anos 1970 (1991; Prous etal.799l) em Santana do Riacho, a nor-deste de Lagoa Santa. Neves e Cornero (7997; Cornero 2005) publicarammais recentemente uma frequencia de caries da ordem de 9o/o para esquele-
tos do mesmo sitio, o que é um valor bastante alto para caçadores-coletores(ver também Neves e Kipnis 2004 para conclusões similares baseadas em
esqueletos de Lagoa Santa). Como explicação para essa alta incidência de
caries, os autores sugerem um padrão de subsistência baseado na coleta de
frutas, sementes e tubérculos, hipótese recentemente confirmada por Her-menegildo (2009),baseando-se em análises isotópicas dos ossos.
As escavações de três dos abrigos pelo projeto "Origens" nos últimosnove anos (Lapa das Boleiras ,Lapa do Santo eLapa Grande de Taquaraçu)foram responsáveis pela descoberta de 30 novos esqueletos humanos.
Discussão
A cronologia obtida para os sítios de Lagoa Santa mostra um cenário bemdefinido: apesar de evidências tênues de populações mais antigas visitando a
região, a ocupação maciça se deu, de maneira um tanto abrupta, por volta de
12.000 anos AP (10.000 anos laC). Um fator que poderia ser invocado para
explicar esse fato seriam as mudanças climáticas que marcam o início do Holo-
ceno no Brasil Central.(Cruz et øJ.2006;Ledru et al.2005) trazendo condições
mais favoráveis de umidade e temperafirra ao assentamento humano. De ma-
neira conjugada, o aumento rápido do nível do mar pode ter causado pressão
considerável pressão populacional (At*jo 2004).Ao mesmo tempo, é possível
que processos geomorfológicos, associados a mudanças climáticas rápidas (Tho-
mas 2001,2008) possam ter introduzido um forte viés nesse cená¡io, destruindo
ou soterrando profundamente sítios arqueológicos a céu aberto mais antigos.
Seja como for, tendo em vista os dados disponíveis, podemos resumiros principais aspectos relativos à cultura material, subsistência, biologia e
cronologia dessas populações paleoindias da seguinte forma:
Cronologiø e Cultura Møterial. Ao mesmo tempo em que Lagoa San-
ta começou a ser densamente ocupada, outras regiões do Brasil também o
eram. Porém, muitos desses sítios apresentam industrias líticas totalmentediferentes. Em direção norte, as industrias denominadas "tadição Itapari-ca" são carzcteÅzadas por lascamento unifacial e apenas um tipo de artefato
formal, de forma plano-convexa. Em direção sul, há a presença de sítios
associados à "Tiadição lJmbu", organizada em torno de lascamento bifacial,com presença de diversos artefatos formais, sendo as pontas bifaciais bas-
tante características (vide Araujo e Pugliese 2009). Esta informação sugere
uma forte diferenciação cultural no leste da América do Sul, já estabelecida
desde o início do Holoceno, u m fato jâ apontado por diversos autores (p. .*.,Dillehay 2000; Roosevelt et aL.7996).
Biologia Humana. Adespeito das claras diferenças tecnológicas, do pon-to de vista biológico as populações humanas Paleoindias, com base nos es-
queletos disponíveis, são notavelmente distintas das populações ameríndias
modernas (l'hves e Hubbe 2005), tendendo a se agregar com morfologiasaustralo-melanésicas e africanas. Isto sugere fortemente que ao menos duas
populações humanas distintas cruz Íam o Estreito de Behring e entraram
nas Américas; alternativamente, um evento micro-evolutivo in situ extremo
pode ter ocorrido e sido responsável por esse padráo.
Os esqueletos humanos de Lagoa Santa são também notáveis no tocan-te à frequência de caries, em torno de 10%0, mais alta do que a encontrada
normalmente em sociedades de caçadores-coletores.
Humanos e¡{nirnais Extintos. O início da ocupação humana em Lagoa
Santa é provavelmente contemporânea a vários representantes da mega-
fauna extinta. Além da idade radiocarbônica de 9.580 t 200 anos para umcarv-ao estratigraficamente associado a um espécim e de Catonix cuoieri (pre-guiça gigante) em Lapa Vermelha IV (Prous 7986),na Gruta Cuvieri obti-vemos idades radiocarbônicas de 9.990 x 40 (11.570 a17.250 cal AP) para
outro espécime de C. cuvieri e10.790 x 60 (12.880 a12.720 cal AP) paraum Smilodon populator (tigre dente de sabre - Piló e Neves 2003). Porém,
assim como todos os outros pesquisadores que trabalharam na região, não
encontramos nenhuma evidência de que a população paleoíndia estivesse
caçando ou mesmo trazendo pârtes desses animais para dentro dos abrigos.Conforme notado anteriormente, toda a subsistência era baseada em ani-mais existentes hoje, e de pequeno porte.
Conclusöes e lmplicaçöes para o Povoamento das Américas
Os dados obtidos paraLagoa Santa,juntamente com os existentes paravárias outras regiões do leste da América do Sul, sugerem fortemente umaparecimento abrupto e simultâneo de Paleoindios em ambientes continen-tais a aproximadamente 11.700 anos cal AP, dentro de um polígono cujas
dimensões (mínimas) compreendem aproximadamente 2.300 km de nortea sul e 800 km de leste a oeste, e apresentando culturas materiais totalmentediferenciadas, pelo menos no tocante ao material lítico.
Não acreditamos que tais diferenças na industria lítica possam ser ex-plicadas apenas com base na disponibilidade de matéria prima, ou em es-
tratégias de mobilidade e subsistência. Antes, tal variabilidade parece se de-ver a três maneiras diferentes de otganização tecnológica, suficientes para
satisfazer as necessidades diárias desses grupos, por sua vez baseadas em
uma variação cultural que deve ter se desenvolvido muito antes (Araujo e
Pugliese 2009). Dados zooarqueológicos provenientes de sítios paleoindiosem porções do Brasil central e meridional indicam conteúdos faunísticosmuito similares para sítios da Tiadição Umbu e Itaparica (Jacobus 2004;Kipnis 2002; Schmitz et al.1996; Schmitz et aL.2004), o mesmo podendoser dito paraLagoa Santa. Dessa maneira, explanações da variabilidade lí-tica embasadas na subsistência não são convincentes. Do mesmo modo, é
extremamente improvável que tais diferenças se relacionem a variações re-gionais, derivadas de um mesmo grupo humano separado não muito tempoantes de caçadores Clovis norte-americanos, e cujas industrias líticas teriam
sido modificadas em um curto intervalo de tempo, devido a estratégias de
mobilidade e/ou disponibilidade de matéria-prima. Ao contrário, propomos
que tais indústrias diferem tão significativamente umas das outras por conta
de mecanismos de deriva cultural (Neiman 1995:9), operando ao longo de
um intervalo de tempo estendido.
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