Turismo em Área Protegida: o caso de Biosphere Responsible Tourism (Relatório Intercalar)

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D EPARTAMENTO DE T URISMO, U NIVERSIDADE L USÓFONA DE HUMANIDADES E T ECNOLOGIAS TURISMO EM ÁREA PROTEGIDA: O CASO DE BIOSPHERE RESPONSIBLE TOURISM 9/23/2013 Dados preliminares Brígida Rocha Brito As Reservas da Biosfera reunem um conjunto alargado de particularidades sócio- ambientais, entre as quais: a variedade de ecossistemas; a diversidade de vida biológica; a relação equilibrada que as comunidades humanas residentes estabelecem com os espaços e os recursos naturais disponíveis, que sustentam a vida e que localmente asseguram a aquisição de rendimento. Face a um contexto ambiental preservado e dotado de fauna e flora, incluindo endémica, bem como de culturas ancestrais que caracterizam as comunidades residentes, as Reservas da Biosfera têm sido definidas como espaços potenciais para o desenvolvimento da actividade turística e de lazer, desde que orientada por princípios de respeito e responsabilização que viabilizem tanto a optimização das potencialidades locais como a integração de todos os actores.

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DEPARTAMENTO DE TURISMO, UNIVERSIDADE LUSÓFONA DE HUMANIDADES E TECNOLOGIAS

TURISMO EM ÁREA PROTEGIDA: O CASO DE BIOSPHERE RESPONSIBLE TOURISM

9/23/2013 Dados preliminares Brígida Rocha Brito

As Reservas da Biosfera reunem um conjunto alargado de particularidades sócio-ambientais, entre as quais: a variedade de ecossistemas; a diversidade de vida biológica; a relação equilibrada que as comunidades humanas residentes estabelecem com os espaços e os recursos naturais disponíveis, que sustentam a vida e que localmente asseguram a aquisição de rendimento. Face a um contexto ambiental preservado e dotado de fauna e flora, incluindo endémica, bem como de culturas ancestrais que caracterizam as comunidades residentes, as Reservas da Biosfera têm sido definidas como espaços potenciais para o desenvolvimento da actividade turística e de lazer, desde que orientada por princípios de respeito e responsabilização que viabilizem tanto a optimização das potencialidades locais como a integração de todos os actores.

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Turismo em área protegida: o caso de Biosphere Responsible Tourism D A D O S P R E L I M I N A R E S

1. ALGUMAS REFERÊNCIAS SOBRE AS RESERVAS DA BIOSFERA

A atribuição de distinção a algumas áreas protegidas pela UNESCO1

De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza - IUCN (

com classificação de Reserva da Biosfera (RdB) data da década de 70 do século XX, altura em que a preocupação com o ambiente ganhou importância no contexto internacional.

http://www.iucn.org acedido em 12/05/2013), uma área protegida é "uma superfície de terra e/ou mar especialmente consagrada à protecção e manutenção da diversidade biológica, assim como dos recursos naturais e património cultural associados, gerida através de meios legais, ou outros eficazes”. Esta classificação evidencia o reconhecimento mundial da importância sócio-ambiental de uma determinada região, do valor patrimonial dos ecossistemas e espécies, e da importância dos modelos sócio-culturais de vida sobretudo no que respeita à relação que as comunidades humanas estabelecem com a Natureza.

As Reservas da Biosfera (RdB) são locais distinguidos pela UNESCO através do Programa Man and the Biosphere com o objectivo de promover o desenvolvimento sustentável a partir da complementaridade entre os esforços envidados pelas comunidades residentes e a valorização do conhecimento científico (http://www.unesco.org acedido em 05/03/2013). Ao se procurar a conciliação entre as acções conservacionistas do ponto de vista ambiental e a prossecução do desenvolvimento sócio-económico tendo em consideração o conceito de bem-estar2

A filosofia subjacente ao conceito de RdB centra-se em três funções diferentes mas que são complementares: a) a função da conservação que viabiliza a protecção de recursos genéticos, espécies, ecossistemas e paisagens; b) a função do desenvolvimento no sentido económico e humano; c) a função de apoio logístico que estimula e viabiliza a prossecução de actividades educativas ou de investigação que promovem o aprofundamento do conhecimento.

social, são defendidas abordagens inovadoras e implementadas metodologias diversificadas, orientadas para o estabelecimento de parcerias entre diferentes actores, incluindo as comunidades locais. "As Reservas da Biosfera foram concebidas para responder a uma das perguntas essenciais com as quais o mundo de hoje se confronta: como conciliar a conservação da diversidade biológica, a procura pelo desenvolvimento económico e social e a manutenção dos valores culturais associados?" (UNESCO, 1996: 1).

De uma forma global, as RdB são definidas como (http://www.unesco.org acedido em 05/03/2013):

1. "locais de excelência" no que repeita aos modelos de gestão das áreas protegidas, fundamentadas na articulação com as diferentes actividades humanas;

1 A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) atribui a classificação de Reserva da Biosfera,

conceito criado em 1974, a certas áreas protegidas por considerar que são dotadas de valor patrimonial mundial, mas também porque as comunidades residentes mantêm relações equilibradas com os espaços e recursos com um carácter ancestral.

2 A noção de bem-estar é entendida com base em critérios relativos de adaptação aos contextos e às necessidades de cada local.

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2. "ferramentas" metodológicas inovadoras que permitem a adopção e a implementação das directrizes assumidas na Cimeira Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, em particular na Convenção sobre a Diversidade Biológica;

3. "espaços de aprendizagem" concebidos no quadro das Nações Unidas para a promoção do Desenvolvimento Sustentável, representando um importante contributo para a assumpção dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, nomeadamente no que respeita ao sétimo Objectivo: garantir a sustentabilidade ambiental.

Ao longo do tempo, desde a década de 70 até à actualidade, o número de distinções a nível internacional aumentou de forma muito significativa, evidenciando dois aspectos principais:

a) o reconhecimento internacional do valor do património natural, passando a ser definido como recurso da Humanidade em vez de estar apenas referenciado do ponto de vista territorial a uma região ou país. Assim, os ecossistemas e os recursos naturais vivos e inertes passaram a ser concebidos como pertença de todos;

b) a necessidade de adoptar modelos harmónicos na relação sócio-ambiental.

Até 2013, a UNESCO distinguiu 621 áreas protegidas com a denominação de RdB, estando repartidas por 117 países e envolvendo 12 regiões transfronteiriças (cf. Mapa 1).

Mapa 1 - A importância das RdB a nível mundial

Fonte: Adaptado de http://www.unesco.org

As preocupações sócio-ambientais traduzidas no Programa Man and the Biosphere têm vindo a ser reforçadas pela comunidade académica e científica em todo o Mundo, alertando para a dicotoma «valor utilitarista-valor intrínseco» da Natureza (Alarcão, 2010; Amaro, 2009; Caride, 2007, Sauvé, 2005; Pedrini, 2006; UNESCO, 2005). Trata-se de chamadas de atenção para a necessidade de adoptar medidas, projectos e programas de acção de âmbito local, nacional e internacional, que

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estimulem e promovam a sensibilização, a formação e a educação sobre a problemática ambiental, incluindo a identificação dos riscos, das potencialidades, das ameaças e das oportunidades3

, em prol da criação de "sociedades sustentáveis" (Pedrini, 2006; Guimarães, 2003; Sato, 2001).

2. RESERVAS DA BIOSFERA E TURISMO

Pelo estatuto que lhes é associado, as RdB são susceptíveis de valorização e divulgação internacional e as actividades turísticas podem ser concebidas como um meio de alcançar os objectivos sócio-ambientais que lhes são implícitos, desde que enquadradas por princípios de responsabilização4

Tendo presentes os objectivos e preocupações, a definição das RdB é orientada a partir da clarificação de três áreas distintas (UNESCO, 1996: 4 e 5): a zona-núcleo; a zona tampão; e a área de transição (cf. Mapa 2).

. Face aos elementos que caracterizam as RdB - espaços naturais preservados e com especial estatuto de protecção - alguns segmentos de turismo, entre os quais de natureza, ecológico e científico, parecem enquadrar-se de forma perfeita.

Mapa 2 - Representação das três áreas das RdB: zona-núcleo, zona tampão e área de transição

Fonte: ht tp://www.unesco.org

1. a Zona-Núcleo - é a que beneficia de estatuto de protecção a longo prazo estando centrada no estudo e monitorização dos ecossistemas, na conservação da diversidade biológica e em actividades de investigação que resultam de forma pouco perturbadora para o Ambiente.

3 Critérios vulgarizados pela Análise SWOT ("Strengths", "Weaknesses", "Opportunities", "Threats"), que permite uma sistematização de

elementos de caracterização e de estratégias de intervenção. 4 No que respeita ao conceito de responsabilização, consideram-se os princípios defendidos por exemplo pelo Código Ético Mundial

para o Turismo (OMT, 1999), pelo Biosphere Responsible Tourism (http://www.biospheretourism.com/), pelo Sustainable Travel International (http://sustainabletravel.org) e pelo Ethical Traveler (http://www.ethicaltraveler.org/)

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2. a Zona Tampão - é a que circunda a zona-núcleo sendo permitido o desenvolvimento de actividades compatíveis com as preocupações conservacionistas, nomeadamente acções de educação ambiental, recreação e turismo, desde que enquadradas do ponto de vista ambiental (caminhadas, observação de espécies, fotografia, contemplação de paisagens) - e investigação aplicada.

3. a Área de Transição - é uma zona de transição flexível na qual é permitido o desenvolvimento de actividades diversificadas, incluindo as que se relacionam com a sobrevivência e a manutenção familiares, entre as quais agrícolas, de transformação e comércio, de fixação para povoamento, mas também de turismo.

A literatura de referência (Almeida, 2012; Tribe, 2003; Hazebroucq, 2003) identifica alguns elementos como importantes factores de atracção para a prática turística, podendo destacar-se, entre outros, os espaços naturais protegidos, a diversidade de vida biológica e o endemismo. Estes aspectos podem representar estímulos motivacionais significativos contribuindo para o desenvolvimento de actividades em contexto de lazer, já que potenciam o despertar dos sentidos propiciado pelo contacto com a natureza, pela contemplação de paisagens e pela observação directa de espécies em habitat natural. Para o viajante, os espaços naturais preservados e a diversidade de vida biológica são catalizadores de experiências excepcionais que resultam em vivências únicas, permitindo a ruptura com a rotina quotidiana e a diferenciação dos tempos com valorização dos que são vocacionados e dedicados ao lazer. O apelo aos sentidos define o turismo em contexto ambiental já que as actividades estão orientadas para a apreciação das cores, das formas e dos movimentos, dos cheiros e dos sons que, por característica, transformam estes momentos em consumo de paisagens e de espaços, facilitando a ideia do bem-estar físico, psíquico e emocional. Em RdB, estes aspectos são percebidos como exponenciais por serem facilitadores de vivências e experiências sentidas na primeira pessoa, idealizadas como únicas e extraordinárias (Almeida, 2012). Por outro lado, a ancestralidade dos elementos culturais representa uma mais valia já que o contacto com práticas tradicionais e com elementos simbólicos facilita a aprendizagem e a valorização pessoal.

Para as comunidades residentes as actividades directa ou indirectamente relacionadas com o turismo representam novas oportunidades. Conseguindo manter as fontes de rendimento tradicionais, as profissões orientadas para a prestação de serviços turísticos são definidas como alternativas e complementares, traduzindo-se num acréscimo de recursos, bem como no reforço da valorização pessoal. Independentemente dos contextos, as actividades turísticas são perspectivadas como potenciadoras de articulações positivas na relação que ancestralmente as populações locais estabelecem com a Natureza.

As RdB são definidas como "lugares excepcionais para a investigação, a observação de longo prazo, a formação, a educação e a sensibilização do público permitindo ao mesmo tempo que as comunidades locais participem

plenamente na conservação e uso sustentável de recursos" (UNESCO, 1996: 2). Estes são espaços orientados por princípios metodológicos integradores e inclusivos onde "se ensaia, afina, aplica e divulga" (UNESCO, 1996: 2).

As RdB são áreas privilegiadas para o desenvolvimento de actividades em contexto de lazer, nomeadamente enquadradas por uma prática turística responsável e respeitadora das paisagens, dos ecossistemas, das espécies e

recursos, das culturas e das pessoas.

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O sector das viagens e do turismo é habitualmente considerado como um veículo gerador de uma multiplicidade de elos que ligam diferentes tipos de actores estimulando a adopção de comportamentos conservacionistas e favoráveis à preservação ambiental, associando a valorização da aquisição de rendimentos para as populações locais através de actividades que requerem conhecimento, aumento da qualificação e diversificação da formação sócio-profissional.

O turismo em RdB assim é considerado como integrador de uma multiplicidade de factores e dimensões porque potenciador de benefícios: em primeiro lugar, para o viajante que retira prazer da viagem, adquire conhecimento através do contacto direto e usufrui de experiências vividas na primeira pessoa; em segundo lugar, para as comunidades residentes, ao contribuir para a minimização dos riscos de segregação, assimilação ou aculturação, fomenta a identificação de alternativas; em terceiro lugar, porque se trata de uma actividade que, ao ser enquadrada de forma sócio-ambiental permite recriar e reinventar as relações entre as pessoas e a natureza potenciando os factores de harmonia e corrigindo os pontos que podem, por algum motivo, resultar negativamente em desarticulações.

A sustentabilidade na óptica do turismo (McIntosh, 2002: 360) centra-se no reconhecimento e no reforço de identidades sócio-culturais, em acções orientadas para a preservação de espaços, conservação de espécies e promoção da rentabilidade económica. Apesar do controle, no que respeita às práticas permitidas, necessárias para assegurar a manutenção dos ecossistemas, das paisagens e a conservação de espécies, incluindo as que têm estatuto de ameaçadas ou em risco5

, os princípios da sustentabilidade (nas diferentes dimensões actualmente consideradas) estão previstos e integrados neste entendimento do turismo. Estes espaços são concebidos como microcosmos ou laboratórios de vida cuja sustentabilidade é possível garantir mediante acções reguladas de interação.

3. APRESENTAÇÃO DE ALGUNS DADOS PRELIMINARES

No âmbito do estudo intitulado "Turismo em área protegida: o caso de Biosphere Responsible Tourism", tem sido seguida metodologia mista. Por um lado, e como forma de aprofundamento temático, tem havido preocupação em proceder a uma leitura revisionista do tema, tanto por via da literatura de referência como através da recolha documental. Por outro lado, e como forma de melhor compreender a importância das Reservas da Biosfera para o turismo, foi aplicado um inquérito por questionário a visitantes destas áreas protegidas~distinguidas com estatuto de diferenciação.

Os questionários foram aplicados online com o objectivo de alcançar um número significativo de viajantes que visitaram pelo menos uma vez RdB. Dado que se procurou definir, de forma geral, as tendências no que respeita à relação entre o turismo e as RdB, sem particularizações, podendo vir a desenvolver-se esta vertente no futuro, não foi efectuada, nesta altura, pesquisa no terreno.

A fase de recolha de dados decorreu durante dois meses, tendo havido a preocupação de proceder a uma divulgação alargada através de Grupos temáticos, privilegiando os que têm actividade em plataformas online. Assim, foram preparados dois guiões, um em português e outro em inglês, tendo o tratamento de dados resultado da conjugação dos dois instrumentos de recolha.

5 Os riscos ambientais e as ameaças a espécies endémicas e vulneráveis são largamente apresentados pela comunidade científica com

base em resultados de investigações realizadas por equipas interdisciplinares e fundamentados nos dados apresentados anualmente pela União Internacional para a Conservação da Natureza - UICN (cf. http://www.iucn.org/, acedido em 18/12/2012) através da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas (cf. http://www.iucnredlist.org/, acedido em 18/12/2012).

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Quadro 1 - Local de residência dos inquiridos EU 71,7%

Portugal 72,8% Espanha 13,6%

França 1,6% Reino Unido 4,3%

Itália 2,5% Outro Europa 5,2%

AMÉRICA 11,6%

EUA 57,8% Brasil 26,7% Outro América do Sul 15,5%

ÁFRICA 13,7% Angola 9,0% Cabo Verde 9,0% Guiné-Bissau 13,4% Moçambique 4,4% São Tomé e Príncipe 55,2% Outro África 9,0%

ÁSIA 3,0% Timor-Leste 40,0% Outro Ásia 60,0%

No total foram obtidas 946 respostas validadas de visitantes residentes na União Europeia (71,7%), em África (13,7%), no continente Americano (11,6%) e no continente Asiático (3%). De destacar que, dos viajantes europeus que já visitaram RdB, a maioria reside em Portugal ou em Espanha; dos visitantes oriundos do continente americano, 57,8% reside nos EUA e 26,7% no Brasil; e os residentes em África, a maioria está referenciada a São Tomé e Príncipe (55,2%) ou à Guiná-Bissau (13,4%).

De acordo com o Gráfico 1, as RdB mais visitadas localizam-se no continente africano (39%) seguido da Europa (30%), da América (22%) e por fim da Ásia (6%) e Oceania (3%).

As motivações mais referidas são o contacto com a natureza (33,1%) pela possibilidade de desenvolver actividades de contemplação de paisagens e observação de espécies em espaço natural

EUROPA 30%

ÁFRICA 39%

AMÉRICA 22%

ÁSIA 6%

OCEANIA 3%

Gráfico 1 - Localização das Reservas da Biosfera visitadas

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preservado. De forma associada são referidas a possibilidade de fazer fotografia e pequenos filmes (6,8%), bem como de realizar caminhadas em meio natural (6,3%), o que, no conjunto, indicia uma preocupação acrescida com o estado do ambiente.

Por outro lado, as férias (24,7%) e o descanso (6,8%) apresentam também relevância no que respeita aos factores motivacionais. Mais ainda se a estas preocipações combinarmos as actividades anteriormente referidas no que respeita ao contacto com espaços e recursos ambientais (77,7% no total).

De uma forma global, os visitantes das RdB avaliam de forma satisfatória as condições ambientais, em particular a tranquilidade do lugar, a diversidade de espécies encontradas e observadas, o estado de preservação ambiental, as acções em curso para a conservação, o clima, a limpeza dos

24,7%

12,9%

6,3%

33,1%

6,8%

4,0%

6,8%

4,4% 1,0%

Férias Trabalho ou estudo Possibilidade de realizar caminhadas

em meios preservados

Contacto com a natureza

Descanso Contacto intercultural

Fotografia ou filme Colaborar em acções de

conservação

Outra

Gráfico 2 - Principais motivações para a visita a Reservas da Biosfera

96,1%

78,7% 87,8%

72,7% 68,9% 67,7%

50,3%

1,4%

9,4%

8,8%

16,3% 29,1% 17,3%

42,8%

2,5%

11,9%

3,4%

11,0% 2,0%

15,0% 6,9%

Tranquilidade do local

Preservação ambiental

Diversidade de espécies

Acções de conservação

Clima Limpeza dos espaços comuns

Riscos físicos e ambientais

Gráfico 3 - Ponderação das condições ambientais + = -

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espaços comuns e, por fim, os riscos físicos e de origem ambiental. Na verdade, este é o factor que parece importar menos aquando da decisão de viajar para uma RdB.

No que respeita às infraestruturas e serviços de apoio disponíveis na RdB visitada, os factores mais bem avaliados são os pontos de observação, a limpeza dos alojamentos, a alimentação, o conforto dos quartos, o artesanato e, por fim, a distância e o tempo de viagem. Parece relevante que, no que respeita a esta avaliação, os critérios apresentam uma margem média de indiferença de 30%.

A maioria dos visitantes opta por alojamentos de cidade (48%), sendo contudo de destacar que 26% já se alojou em resort ou lodge da Reserva, ou prefere alojar-se em casas da comunidade mais próxima da Reserva (17%).

57,3% 65,6% 59,9% 64,4%

81,9%

59,4%

31,8%

32,4% 37,6% 34,6%

10,2%

33,6%

10,9%

2,0% 2,5% 1,0% 7,9% 7,0%

Distância e tempo de viagem

Limpeza dos alojamentos

Conforto dos quartos Qualidade da alimentação

Pontos de observação Artesanato disponível

Gráfico 4 - Ponderação das infraestruturas e serviços de apoio + = -

Resort ou lodge da Reserva

26%

Hotel de cidade 48%

Quarto em casa de comunidade

próxima da Reserva 17%

Tenda 7%

Outro 2%

Gráfico 5 - Alojamento no decurso da visita à Reserva da Biosfera

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A viagem é definida como uma oportunidade satisfatória de valorização pessoal (82,4% em média), destacando-se a sensação de proximidade com a essência da vida e a possibilidade de aprender pelo contacto directo e com a experiência.

A possibilidade de, no decurso da visita, estabelecer contactos interpessoais e de ordem cultural parece também ser relevante quando combinada com os factores anteriormente referidos. Assim, a simpatia das pessoas com as quais o visitante se cruza é bem avaliada (81,2%), seguida da diversidade cultural encontrada (70,8%), a sensação de segurança interpessoal (66,4) e o contacto com as comunidades locais (65%).

83,2% 81,6%

10,9% 16,9%

5,9% 1,5%

Sensação de proximidade com a essência da vida

Aprendizagem por contacto directo

Gráfico 6 - Ponderação dos factores de valorização pessoal + = -

65,0%

81,2% 70,8% 66,4%

26,6%

18,3% 29,2% 31,6%

8,4% 0,5% 0,0% 2,0%

Contacto com comunidades Simpatia das pessoas Diversidade cultural Segurança interpessoal

Gráfico 7 - Ponderação das relações interpessoais e culturais + = -

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No que respeita aos factores organizativos, são tendendicalmente os menos bem avaliados, sobretudo no que respeita à diversidade de actividades sugeridas e oferecidas, à relação qualidade-preço dos serviços, ao conhecimento e profissionalismo dos guias no acompanhamento e nas actividades de animação dos grupos. O factor mais bem avaliado é o conjunto de actividades realizadas.

Por fim, as representações sócio-culturais dos visitantes em relação às RdB centram-se na classificação atribuída pela UNESCO como distinção de áreas protegidas de interesse mundial. São ainda referidos como locais ricos em diversidade paisagística, de ecossistemas e de biodiversidade, onde se vive de forma harmoniosa com a Natureza, sendo locais dotados de riqueza patrimonial de excepção.

56,4%

74,7% 61,8% 59,8%

28,2%

19,3% 30,3% 33,2%

15,4% 6,0% 7,9% 7,0%

Actividades oferecidas Actividades realizadas Profissionalismo dos guias Relação qualidade-preço

Gráfico 8 - Ponderação dos factores relacionados com a organização + = -

40,0%

14,0%

10,1%

34,3%

1,8%

5,1%

1,7%

3,0%

Classificação da UNESCO para áreas protegidas

Áreas de equilíbrio entre o Homem e a Natureza

Local dotado de riqueza patrimonial de excepção

Diversidade paisagística, riqueza de ecossistemas e biodiversidade

Laboratórios vivos usados para fins científicos

Destinos turísticos únicos

Denominação de Marketing

Outro factor não especificado

Gráfico 9 - Representação de Reserva da Biosfera

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4. NOTA CONCLUSIVA

O presente Relatório traduz apenas uma interpretação preliminar dos dados analisados, bem como uma síntese muito abreviada das referências bibliográficas consultadas. Ao longo do período em que o projecto de investigação tem decorrido, têm sido realizados estudos de caso com maior profundidade, cujos resultados têm sido apresentados em Encontros científicos, estando a ser preparada uma publicação final.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E DOCUMENTAIS CONSULTADAS

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