REVISTA BRASILEIRA DE ANESTESIOLOGIA Tradução e adaptação transcultural da Pain Quality...

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Como citar este artigo: Carvalho AB, et al. Traduc ¸ão e adaptac ¸ão transcultural da Pain Quality Assessment Scale (PQAS) para a versão brasileira. Rev Bras Anestesiol. 2014. http://dx.doi.org/10.1016/j.bjan.2013.10.016 ARTICLE IN PRESS +Model BJAN-254; No. of Pages 11 Rev Bras Anestesiol. 2014;xxx(xx):xxx---xxx REVISTA BRASILEIRA DE ANESTESIOLOGIA Publicação Oficial da Sociedade Brasileira de Anestesiologia www.sba.com.br ARTIGO DIVERSO Traduc ¸ão e adaptac ¸ão transcultural da Pain Quality Assessment Scale (PQAS) para a versão brasileira Anamada Barros Carvalho a,b,c,, João Batista Santos Garcia a,b,d , Thayanne Kelly Muniz Silva b e João Victor Fonseca Ribeiro b a Ambulatório de Dor Crônica, Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão (HU-UFMA), São Luís, MA, Brasil b Liga Acadêmica de Dor Maranhão, São Luís, MA, Brasil c Ciências da Saúde, Universidade Federal do Maranhão (UFMA), São Luís, MA, Brasil d Disciplina de Anestesiologia, Dor e Cuidados Paliativos, Universidade Federal do Maranhão (UFMA), São Luís, MA, Brasil Recebido em 9 de agosto de 2013; aceito em 30 de outubro de 2013 PALAVRAS-CHAVE Neuropatia; Quimioterapia; Instrumentos de auto-relato; Traduc ¸ão; Adaptac ¸ão transcultural Resumo Introduc ¸ão: a maioria dos pacientes com câncer são tratados com quimioterápicos e a neuro- patia periférica é um problema clínico sério e comum que afeta os pacientes em tratamento oncológico. Entretanto, tais sintomas são subjetivos sendo subdiagnosticado pelos profissionais de saúde. Assim, torna-se necessário o desenvolvimento de instrumentos de autorrelato para superar essa limitac ¸ão e melhorar a percepc ¸ão do paciente sobre o seu tratamento ou condic ¸ão clínica. Objetivo: traduzir e adaptar transculturalmente a versão brasileira do Pain Quality Assessment Scale (PQAS), constituindo em um instrumento útil de avaliac ¸ão da qualidade da dor neuropática em pacientes com câncer. Método: o procedimento seguiu as etapas de traduc ¸ão, retrotraduc ¸ão, análise das versões por- tuguês e inglês por um comitê de juízes e pré-teste. O pré-teste foi realizado em 30 pacientes com câncer em tratamento quimioterápico seguindo normas internacionalmente recomenda- das, sendo as versões finais comparadas e avaliadas por comitê de pesquisadores brasileiros e da MAPI Research Trust, originadores da escala. Resultados: as versões um e dois apresentaram 100% de equivalência semântica com a ver- são original. Na retrotraduc ¸ão houve diferenc ¸as na traduc ¸ão linguística com a versão original. Após a avaliac ¸ão do Comitê de Juízes, foi encontrada uma falha na equivalência empírica e na equivalência idiomática. No pré-teste, duas pessoas não entenderam o item 12 da escala, sem interferir na elaborac ¸ão final da mesma. Instituto Maranhense de Oncologia Aldenora Bello. Autor para correspondência. E-mail: [email protected] (A.B. Carvalho). http://dx.doi.org/10.1016/j.bjan.2013.10.016 0034-7094/© 2014 Sociedade Brasileira de Anestesiologia. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.

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Rev Bras Anestesiol. 2014;xxx(xx):xxx---xxx

REVISTABRASILEIRA DEANESTESIOLOGIA Publicação Oficial da Sociedade Brasileira de Anestesiologia

www.sba.com.br

ARTIGO DIVERSO

Traducão e adaptacão transcultural da Pain QualityAssessment Scale (PQAS) para a versão brasileira�

Anamada Barros Carvalhoa,b,c,∗, João Batista Santos Garciaa,b,d,Thayanne Kelly Muniz Silvab e João Victor Fonseca Ribeirob

a Ambulatório de Dor Crônica, Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão (HU-UFMA), São Luís, MA, Brasilb Liga Acadêmica de Dor Maranhão, São Luís, MA, Brasilc Ciências da Saúde, Universidade Federal do Maranhão (UFMA), São Luís, MA, Brasild Disciplina de Anestesiologia, Dor e Cuidados Paliativos, Universidade Federal do Maranhão (UFMA), São Luís, MA, Brasil

Recebido em 9 de agosto de 2013; aceito em 30 de outubro de 2013

PALAVRAS-CHAVENeuropatia;Quimioterapia;Instrumentosde auto-relato;Traducão;Adaptacãotranscultural

ResumoIntroducão: a maioria dos pacientes com câncer são tratados com quimioterápicos e a neuro-patia periférica é um problema clínico sério e comum que afeta os pacientes em tratamentooncológico. Entretanto, tais sintomas são subjetivos sendo subdiagnosticado pelos profissionaisde saúde. Assim, torna-se necessário o desenvolvimento de instrumentos de autorrelato parasuperar essa limitacão e melhorar a percepcão do paciente sobre o seu tratamento ou condicãoclínica.Objetivo: traduzir e adaptar transculturalmente a versão brasileira do Pain Quality AssessmentScale (PQAS), constituindo em um instrumento útil de avaliacão da qualidade da dor neuropáticaem pacientes com câncer.Método: o procedimento seguiu as etapas de traducão, retrotraducão, análise das versões por-tuguês e inglês por um comitê de juízes e pré-teste. O pré-teste foi realizado em 30 pacientescom câncer em tratamento quimioterápico seguindo normas internacionalmente recomenda-das, sendo as versões finais comparadas e avaliadas por comitê de pesquisadores brasileiros eda MAPI Research Trust, originadores da escala.Resultados: as versões um e dois apresentaram 100% de equivalência semântica com a ver-

Como citar este artigo: Carvalho AB, et al. Traducão e adaptacão transcultural da Pain Quality Assessment Scale (PQAS)para a versão brasileira. Rev Bras Anestesiol. 2014. http://dx.doi.org/10.1016/j.bjan.2013.10.016

são original. Na retrotraducão houve diferencas na traducão linguística com a versão original.Após a avaliacão do Comitê de Juízes, foi encontrada uma falha na equivalência empírica e naequivalência idiomática. No pré-teste, duas pessoas não entenderam o item 12 da escala, seminterferir na elaboracão final da mesma.

� Instituto Maranhense de Oncologia Aldenora Bello.∗ Autor para correspondência.

E-mail: [email protected] (A.B. Carvalho).

http://dx.doi.org/10.1016/j.bjan.2013.10.0160034-7094/© 2014 Sociedade Brasileira de Anestesiologia. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.

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2 A.B. Carvalho et al.

Conclusão: o instrumento agora traduzido e adaptado transculturalmente é apresentado nessapublicacão e, atualmente, encontra-se em processo de validacão clínica no Brasil.© 2014 Sociedade Brasileira de Anestesiologia. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos osdireitos reservados.

KEYWORDSNeuropathy;Chemotherapy;Self-reportinstruments;Translation;Cross-culturaladaptation

Translation and transcultural adaptation of Pain Quality Assessment Scale (PQAS)to Brazilian version

AbstractIntroduction: most cancer patients are treated with chemotherapy, and peripheral neuropathyis a serious and common clinical problem affecting patients undergoing cancer treatment.However, the symptoms are subjective and underdiagnosed by health professionals. Thus, itbecomes necessary to develop self-report instruments to overcome this limitation and improvethe patient’s perception about his medical condition or treatment.Objective: translate and culturally adapt the Brazilian version of the Pain Quality AssessmentScale (PQAs), constituting a useful tool for assessing the quality of neuropathic pain in cancerpatients.Method: the procedure followed the steps of translation, back translation, analysis of Portu-guese and English versions by a committee of judges, and pretest. Pretest was conducted with30 cancer patients undergoing chemotherapy following internationally recommended standards,and the final versions were compared and evaluated by a committee of researchers from Braziland MAPI Research Trust, the scale’s creators.Results: versions one and two showed 100% semantic equivalence with the original version.Back-translation showed difference between the linguistic translation and the originalversion. After evaluation by the committee of judges, a flaw was found in the empirical equi-valence and idiomatic equivalence. In pretest, two people did not understand the item 12 ofthe scale, without interfering in the final elaboration.Conclusion: the translated and culturally adapted instrument is now presented in this publica-tion, and currently it is in the process of clinical validation in Brazil.© 2014 Sociedade Brasileira de Anestesiologia. Published by Elsevier Editora Ltda. All rightsreserved.

I

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s experiências dolorosas não são iguais. As pessoas utilizam palavra ‘‘dor’’ para descrever uma grande variedade deensacões e experiências decorrentes de diversas etiologias.mbora a intensidade ou a magnitude da dor seja a caracte-ística mais avaliada na experiência clínica e em pesquisasientíficas, atualmente já temos conhecimento que as pes-oas podem apresentar a mesma intensidade da dor, masom qualidades diferentes.1

A maioria dos pacientes com câncer são tratados comuimioterápicos. A supressão medular e a toxicidade renal

neurológica são os efeitos adversos mais frequentementebservados após a utilizacão dos agentes quimioterápicos noratamento de doencas oncológicas, constituindo os princi-ais motivos para a suspensão do tratamento antineoplásicou para a mudanca do regime de tratamento. A neurotoxici-ade, que envolve tanto o sistema nervoso periférico quanto

central, tende a ocorrer no início e a persistir mesmo com aiminuicão ou a suspensão do tratamento quimioterápico.2---7

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Atualmente, aumentou o interesse na percepcão sub-etiva dos pacientes sobre a intensidade e os efeitos daeuropatia Periférica Induzida por Quimioterápico (NPIQ)

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vários instrumentos de auto-relato estão sendo desen-olvidos para avaliar a percepcão do paciente sobre o seuratamento ou condicão clínica.4,6---11

Dentre os instrumentos de auto-relato utilizados na prá-ica clínica existe a Pain Quality Assessment Scale (PQAS)fig. 1) ou Escala de Avaliacão da Qualidade da Dor (EAQD)anexo). A EAQD não é específica para NPIQ, mas derivae uma escala denominada Neurophatic Pain Scale (NPS)u Escala de Dor Neuropática (EDN). A EDN foi desenvol-ida para quantificar uma breve medida da dor neuropática,endo o primeiro instrumento desenhado especificamenteara tal fim.12 A escala inclui dois itens que avaliam asimensões globais de intensidade e de dor intolerável,lém de oito itens onde são descritas qualidades especí-cas da dor neuropática como: ‘‘facada’’, ‘‘queimacão’’,‘mal localizada’’, ‘‘congelando’’, ‘‘sensível como carneiva’’, em ‘‘coceira’’, ‘‘superficial’’ e ‘‘profunda’’.12 Pos-eriormente, foi observada a necessidade de adicionar 10escritores relacionados à qualidade da dor (‘‘sensível como

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‘irradiando’’, ‘‘latejante’’, ‘‘como uma dor de dente’’,‘fisgada’’, ‘‘como uma cólica’’ e tipo ‘‘peso’’) aumentando

validade de conteúdo da EDN e 3 itens relacionados à

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Traducão e adaptacão transcultural da Pain Quality Assessment Scale (PQAS) para a versão brasileira 3

Seleção de instrumento

Umretrotradutor

Dois tradutoresindependentes

Compatibilizaçãodas traduçães

pela pesquisadora

Compatibilizaçãodas traduçães

pela pesquisadora

Retrotradução

Primeira versã o tra duzida doinstrumento (V4)

Revisã o por comitê dejuízes

Equivalênciaempírica e conceitual

Versão final(V5)

Pré-teste(Técnica da provaem 30 pacientes)

Tradução inicial(V1 + V2 = V3)

Equivalênciasemântica e idiomática

tacã

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dOrvaumrqt

Figura 1 Fluxograma mostrando as etapas da traducão e adapem um hospital de referência em câncer no Brasil.

temporalidade da dor (‘‘constante com aumentos intermi-tentes’’, ‘‘intermitente’’ ou ‘‘constante com flutuacão’’)sendo útil, assim, para avaliar tanto a dor neuropáticaquanto a dor não --- neuropática,1,13---16 surgindo, dessa forma,a EAQD. Essa escala, embora útil, ainda não foi validada parao Brasil.

Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi reali-zar a traducão e adaptacão transcultural do Pain QualityAssessment Scale (PQAS) para o português do Brasil, visandodisponibilizar para clínicos e pesquisadores um instrumentode avaliacão da qualidade da dor neuropática em pacien-tes que realizam tratamento quimioterápico em um hospitalpúblico de referência em câncer.

Material e método

O PQAS contém 20 itens que avaliam a intensidade glo-bal da dor e seus inconvenientes, dois aspectos espacialda dor e 16 diferentes qualidades da dor. Apesar dos itensapresentarem características semelhantes com mais de umamedida, sua melhor habilidade é capturar as qualidadesou domínios afetados pelo tratamento da dor. Cada item

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utiliza a escala numérica verbal, onde 0 = ‘‘sem dor’’ ou‘‘nenhuma sensacão’’ e 10 = ‘‘a maior sensacão de dorimaginável’’. Como mencionado anteriormente, a dor é ava-liada através de dois domínios globais (intensidade da dor

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o transcultural da escala Pain Quality Assessment Scale (PQAS)

desconforto provocado por ela), dois domínios espaci-is (profundo ou superficial) e 16 domínios de qualidadepontada, queimacão, mal localizada, fria, sensível, comoma ferida, como uma ‘‘picada de mosquito’’, fisgada, dor-ência, em choque, formigamento, em cólica, irradiando,

atejante, como uma ‘‘dor de dente’’ e em peso). Ademais, PQAS também contém um item que avalia o padrão tem-oral da dor (‘‘intermitente com ausência de dor em outrosomentos’’, ‘‘mínimo de dor o tempo todo com períodose exacerbacão’’ e ‘‘dor constante que não muda muito dem momento para outro’’).1,13---16

A traducão e adaptacão do PQAS foram realiza-as seguindo normas internacionalmente recomendadas.17

PQAS foi traduzido para o português por dois brasilei-os com fluência em inglês e português, sendo geradas duasersões independentes (V1 e V2). Essas duas versões foramvaliadas pelos pesquisadores brasileiros que elaboraramma terceira versão (V3). A terceira versão foi então sub-etida a retrotraducão para o inglês (back-translation),

ealizada por um médico com fluência em português e inglês,ue desconhecia o instrumento original e o objetivo daraducão, sendo produzida uma versão em inglês (V4).17,18

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A equivalência de cada item da versão original emnglês, da versão em inglês resultante da retrotraducãoV4) e da terceira versão em português (V1 + V2 = V3) foramulgadas por um comitê de juízes formado por uma equipe

IN PRESS+ModelB

4 A.B. Carvalho et al.

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Tabela 1 Tabela evidenciando Retrotraducão da PQAS

Escala Original Escala Retrotraduzida

4/Dull. Difficult was to locate yourpain.

7/Like a bruise. Like a wound.8/Like poison ivy. Like a tingle.9/Zapping. Hooked.13/Tight. Gripping.15/Pounding. Pulsatile.19/How intense is your

surface pain?How intense is your shallowpain?

20/I have variable pain(background pain all thetime, but also momentsof more pain or even

I have variable pain or evenwith moments of suddenlysevere pain or differentlevels of intensity of pain.

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ultidisciplinar (médico, enfermeiro, psicólogo, fisiotera-euta) conhecedora do tema pesquisado e da finalidade donstrumento e dos conceitos a serem analisados. O traba-ho dos juízes consistiu em detectar possíveis divergênciasas traducões, cabendo-lhes comparar os termos e palavrasntre si, verificando se os itens da escala referiam-se ou nãoos conceitos mensurados no instrumento original. Foramonsiderados como tendo traducão adequada, os descrito-es aceitos por pelo menos, 80% dos especialistas. A partiros pareceres dos juízes, foi elaborada a versão final donstrumento (V5).17,18

As decisões foram feitas por este comitê realizando aquivalência entre a fonte e a versão alvo em quatro aspec-os:

a) Equivalência Semântica: saber se as palavras traduzidassignificavam a mesma coisa; se os múltiplos significadossão de um dado item e se existiram dificuldades grama-ticais na traducão.

) Equivalência Idiomática: foram formuladas expressõesequivalentes na versão alvo, evitando dificuldades natraducão de coloquialismos e expressões idiomáticas.

c) Equivalência Empírica: foram substituídos termos noquestionário por outros semelhantes e que são utilizadosem nossa cultura de origem, buscando capturar experi-ências da vida diária.

) Equivalência Conceitual: foram observadas se as palavrasapresentavam diferentes significados entre as culturas,substituindo os termos inadequados.17---19

O consenso foi alcancado em todos os itens, com aresenca de todos os tradutores no comitê, proporcionandom bom entendimento imediatamente.17,18

Após ser escolhida a versão final (V5) foi realizado oré-teste onde 30 pacientes submetidos ao tratamento qui-ioterápico em um hospital de referência para Oncologia

o Brasil completaram o questionário e foram entrevistadosobre o que pensaram a respeito de cada item e escolheram

melhor resposta, após assinarem o Termo de Consenti-ento Livre e Esclarecido.17,18

A avaliacão da equivalência semântica foi realizada soboordenacão dos pesquisadores na MAPI Research Trust,yon, France que elaboraram o PQAS original com aarticipacão da pesquisadora principal.

esultados

partir da retrotraducão e da avaliacão dos juízes, resul-ou a versão brasileira final da PQAS, a qual está sendoubmetida à avaliacão das suas propriedades psicométricasm estudo em andamento pela equipe de Dor do Hospitalniversitário de referência no Brasil.

Durante a elaboracão das versões V1 e V2 observamos00% de concordância semântica entre os tradutores. O item

onde perguntamos how dull your pain? a palavra dull foiraduzida como ‘‘indefinida’’ nessas duas versões, o que nãoersistiu após o julgamento dos juízes.

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Ao ser realizado a retrotraducão observamos diferencasa traducão linguística com a versão original. Naetrotraducão no item 1 onde lemos na escala original‘intense’’ foi retrotraduzido por ‘‘severe’’. No item 2 like

A

td

severe breakthrough painor varying types of pain.

spike foi substituído por like a needle e the most sharpor the most prickling. Todos os outros itens são resumidosa tabela 1.

Durante a avaliacão do Comitê de Juízes, não houveiferencas quanto à equivalência semântica e conceitual.as versões 1 e 2, item 4 a palavra dull foi traduzida como‘indefinida’’ como citado anteriormente. Entretanto, talxpressão foi julgada como pouco elucidativa da caracterís-ica dolorosa do paciente em nossa linguagem nativa, sendodentificada uma falha na equivalência empírica. Dessaorma, foi substituída pelo termo ‘‘mal localizada’’ exem-lificando melhor tal qualidade de dor em nossa populacãoegional.

Os juízes também identificaram coloquialismos e expres-ões idiomáticas que poderiam interferir na descricãoorreta da qualidade da dor em nossa populacão como, porxemplo, no item 1 onde lê-se ‘‘nenhuma dor’’ na V1 e ‘‘semor’’ na V2 foi escolhido o termo ‘‘sem dor’’ na versão final.al fato decorre em uma alteracão na equivalência idiomá-ica. Após conclusão dessa fase foi gerada a versão 5 donstrumento. Os demais termos estão nas tabelas 2 e 3.

Durante o pré-teste, onde os pacientes são questio-ados sobre a escolha entre os termos, apenas no item2 duas pessoas não marcaram porque não compreenderam

sentido da escala. Nos demais termos 100% dos pacienteselataram entendimento dos itens escolhidos sem nenhumaificuldade.

Apesar dessa pequena diferenca, os originadores dascala decidiram que houve concordância semântica entres duas traducões, podendo ser iniciado o processo dealidacão.

iscussão

principal objetivo desse estudo foi alcancado com araducão e adaptacão transcultural realizada com êxitoo instrumento Pain Quality Assessment Scale (Escala de

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valiacão da Qualidade da Dor) para a Língua Portuguesa.Entre os vários eventos adversos decorrentes do tra-

amento quimioterápico, a NPIQ permanece com seuiagnóstico em fases mais tardias da doenca apresentando

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Traducão e adaptacão transcultural da Pain Quality Assessment

Tabela 2 Termos escolhidos na Versão V1 após julgamentodos juízes

Item na escala V1 Julgamento dos Juízes

2 Dor mais aguda imaginável3 Sem queimacão5 Sem sensacão de frio/sensacão mais fria

imaginável‘‘congelando’’

6 Não sensível/do modo mais sensívelpossível (‘‘em carne viva’’)

7 Não sensível/do modo mais sensívelpossível (‘‘como uma ferida’’)

8 Sem coceira10 Sem dormência/A maior sensacão

de dormência imaginável11 Sem choques/A maior sensacão

de choques imaginável.13 Sem sensacão de cólica/A maior

sensacão de cólica imaginável14 Sem irradiacão

tsodU5Tnfejgramceretti

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16 Sem dolorimento/maior sensacãode dolorimento imaginável

sintomas de neuropatia sensitiva e/ou motora de grau mode-rado a severo, quando já ocorreu o comprometimento daqualidade de vida desses indivíduos, tanto física quantoemocionalmente. Dessa maneira, escolhemos para validacãoda EAQD em tal populacão de pacientes, que relatamcom frequência formigamento, ardência ou queimacão,dormência, ‘‘picadas e agulhadas’’, sensacões tipo cho-que bilateralmente em mãos e pés, quando acometidospor sintomas decorrentes da NPIQ em fases ainda preco-

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ces da doenca. Ademais, a inexistência de um instrumentopadrão-ouro para identificar tal doenca dificulta aindamais qualquer possibilidade de prevencão e tratamentoadequado.10

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Tabela 3 Termos escolhidos na Versão V2 após Julgamento dos J

Item naEscala V2

Julgamento dos Juízes ItE

1 A mais intensa dor que você já teve 14

2 Nenhuma dor em pontada/A maiorsensacão de dor em pontada já sentida(como uma faca)

15

3 A maior dor em queimacão já sentida(queimando)

17

4 Nenhuma dor/A maior sensacão de dor‘‘mal localizada’’ imaginável

18

8 A maior sensacão de coceira imaginável(como uma picada de mosquito)

19

9 Nenhuma dor em fisgada/a maior dorem fisgada já sentida

20

12 Nenhum formigamento/A maiorsensacão de formigamento imaginável

PRESSScale (PQAS) para a versão brasileira 5

Outros estudos comparando os efeitos dos diferentesratamentos da dor em pacientes com qualidades de doremelhantes, algumas vezes mostram efeitos similares eutras vezes diferenciais em determinadas qualidades,ependendo do tratamento e da populacão estudada.1

m estudo comparou os efeitos do patch de lidocaína a% com a injecão isolada de corticoide na Síndrome doúnel do Carpo (STC). Os resultados mostraram diminuicãoo formigamento, dormência, sensacão desagradável, pro-undo, elétrico, intenso, superficial, pontada, queimacãom ambos os tratamentos, com efeitos maiores no late-amento e na dormência com o patch de lidocaína.9 Norupo de pacientes com dor neuropática que incluíam neu-algia pós-herpética (NPH) e neuropatia diabética (NPD),

combinacão de pregabalina e oxicodona demonstrouelhora significante na dor tipo congelante, embora a

ombinacão de pregabalina e placebo tenha melhorado a dorm queimacão e facada.1 Os resultados desses estudos suge-em a eficácia dos diferentes tratamentos farmacológicosm certas qualidades de dor em pacientes com diagnós-icos específicos. Dessa maneira, a traducão e adaptacãoranscultural da EAQD e sua posterior validacão será umnstrumento útil para tal fim em nossa populacão.

Não houve dificuldades na elaboracão das versões V1 e2. Entretanto, o médico que realizou a retrotraducão refe-iu dificuldade ao finalizar a mesma, visto que apresentaspecialidade diversa do tema pesquisado, além de muitosermos referentes aos quadros dolorosos não serem fáceise expressar exatamente a qualidade da dor que o paci-nte apresenta. Isso gerou mais confiabilidade a essa etapaa pesquisa, já que a versão retrotraduzida foi consideradaompatível pelos originadores da escala.

A realizacão do pré-teste é uma fase necessária para analizacão do processo de traducão e adaptacão transcultu-

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al das escalas. Durante a realizacão desse estudo foi precisoar explicacões mais extensas de alguns termos devido aoaixo nível de escolaridade da populacão pesquisada. Emm estudo realizado no Japão,18 os pacientes relataram

uízes

em nascala V2

Julgamento dos Juízes

A maior irradiacão de dor imaginável (seespalhou)

Nenhuma dor latejante/A maior sensacãode dor latejante imaginável

Nenhuma dor em peso/A maior sensacãode dor em peso (bastante forte)

Não incomoda/A sensacão mais intolerávelde dor imaginável

Nenhuma dor profunda/A dor maisprofunda imaginável; Nenhuma dorna superfície/Grande dor na superfíciedo corpo

Todos os itens da escala foram escolhidos

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roblemas quanto à compreensão dos itens, sendo algunsonsiderados irrelevantes, divergindo desse estudo onde talecurso não foi necessário. Não houve problemas quanto àutorizacão dos originadores da escala para início do pro-esso de traducão, adaptacão transcultural e a validacão daesma.Durante a realizacão da coleta de dados, o questionário

oi respondido por uma entrevista via clínico/pesquisador paciente utilizando apenas lápis e papel. Os pacientesemoraram aproximadamente 15 minutos, em média, paraesponder o questionário pela primeira vez. Outras vezessse tempo era mais extenso. Após ser observado que issooderia ser um fator complicador para aplicacão do ques-ionário na rotina dos consultórios lotados, foi decididoealizar um pequeno treinamento entre os próprios pesqui-adores. Assim, a entrevista era realizada com termos maisimples, de entendimento fácil, já que grande parte dosacientes apresentava um nível educacional mais elemen-ar. Foi conseguido então, encurtar o tempo de realizacãoa entrevista para 8 a 10 minutos, não comprometendo oempo da consulta e atingindo a satisfacão do paciente.ntretanto, sabe-se que os pacientes apresentam dificul-

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ades em expressar os sintomas dolorosos, principalmenteuando estes são associados a NPIQ.10 Isso pode explicar aificuldade encontrada pelos pacientes ao responder o ques-ionário.

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PRESSA.B. Carvalho et al.

Embora não exista um processo da traducão e adaptacãoranscultural padrão-ouro a ser seguido rigorosamenteor todos os pesquisadores, três passos são essenciais:ealizacão da traducão/retrotraducão, revisão por umomitê de juízes e a fase do pré-teste. Todos os passos foramigorosamente seguidos neste estudo.18

Assim, a versão brasileira do PQAS encontra-se agora tra-uzida e adaptada transculturalmente e, após, sua validacãoatualmente em andamento pelo Grupo de Pesquisa em Dorm um Hospital Universitário de referência no Brasil), seráertamente uma ferramenta útil para clínicos e pesquisa-ores na avaliacão dos sinais e sintomas7 decorrentes deiferentes qualidades de dor, seja neuropática ou não, aju-ando na elucidacão do mecanismo doloroso, na avaliacãoa eficácia do tratamento de diferentes doencas e, princi-almente, na deteccão precoce de sintomas sensitivos emacientes com risco de desenvolver graus mais prejudiciaisa NPIQ.

onflitos de interesse

s autores declaram não haver conflitos de interesse.

ão transcultural da Pain Quality Assessment Scale (PQAS)doi.org/10.1016/j.bjan.2013.10.016

nexo. Versão Final em Português da Escalae Avaliacão de Qualidade da Dor --- EAQD

IN+Model

ent Scale (PQAS) para a versão brasileira 7

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Traducão e adaptacão transcultural da Pain Quality Assessm

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ent Scale (PQAS) para a versão brasileira 9

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Traducão e adaptacão transcultural da Pain Quality Assessm

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1 A.B. Carvalho et al.

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0

eferências

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