O Currículo do Curso de Engenharia de Computação da UEFS: Flexibilização e Integracão...

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O Currículo do Curso de Engenharia de Computação da UEFS: Flexibilização e Integração Curricular Roberto Almeida Bittencourt 1 , Orlando de Andrade Figueiredo 2 1 Departamento de Ciências Exatas – Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) Km 03, BR-116 Campus Universitário – 44.031-460 – Feira de Santana – BA – Brasil 2 Instituto Superior de Ensino e Pesquisa de Ituiutaba – Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) – Av. Ver. Geraldo M. da Silva, s/n, 38302-004– Ituiutaba – MG [email protected], [email protected] Abstract. This paper describes curricular innovations in the Computer Engineering program of the State University of Feira de Santana – UEFS. In this curriculum, it was tried to strengthen the student’s freedom of choice, although still assuring a solid technical and scientific basis. Curriculum flexibility is achieved through temporal reorganization of the body of knowledge, a broad range of elective curricular units of technical, humanistic and complementary subject matter, besides complementary curricular activities. An integrated curriculum is devised through multidisciplinary thematic studies and year-long projects on a theme involving novice and experienced students as well. Resumo. Este artigo descreve as inovações curriculares do curso de Engenharia de Computação da Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS. Procurou-se, neste currículo, fortalecer a liberdade de escolha do aluno, ao mesmo tempo em que é garantida uma sólida base técnico-científica em computação. A flexibilização curricular ocorre através da reorganização temporal do corpo de conhecimentos, de uma vasta gama de componentes optativos de formação técnica, humanística e complementar e de atividades curriculares complementares. A integração entre disciplinas se faz através de estudos temáticos multidisciplinares e de projetos temáticos anuais envolvendo alunos de vários períodos do curso. Keywords. integrated curriculum, flexible curriculum, computer engineering. Palavras-chave. currículo integrado, flexibilização curricular, engenharia de computação.

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O Currículo do Curso de Engenharia de Computação daUEFS: Flexibilização e Integração Curricular

Roberto Almeida Bittencourt1, Orlando de Andrade Figueiredo2

1Departamento de Ciências Exatas – Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)Km 03, BR-116 Campus Universitário – 44.031-460 – Feira de Santana – BA – Brasil

2Instituto Superior de Ensino e Pesquisa de Ituiutaba – Universidade do Estado deMinas Gerais (UEMG) – Av. Ver. Geraldo M. da Silva, s/n, 38302-004– Ituiutaba –

[email protected], [email protected]

Abstract. This paper describes curricular innovations in the ComputerEngineering program of the State University of Feira de Santana – UEFS. Inthis curriculum, it was tried to strengthen the student’s freedom of choice,although still assuring a solid technical and scientific basis. Curriculumflexibility is achieved through temporal reorganization of the body ofknowledge, a broad range of elective curricular units of technical, humanisticand complementary subject matter, besides complementary curricularactivities. An integrated curriculum is devised through multidisciplinarythematic studies and year-long projects on a theme involving novice andexperienced students as well.

Resumo. Este artigo descreve as inovações curriculares do curso deEngenharia de Computação da Universidade Estadual de Feira de Santana –UEFS. Procurou-se, neste currículo, fortalecer a liberdade de escolha doaluno, ao mesmo tempo em que é garantida uma sólida base técnico-científicaem computação. A flexibilização curricular ocorre através da reorganizaçãotemporal do corpo de conhecimentos, de uma vasta gama de componentesoptativos de formação técnica, humanística e complementar e de atividadescurriculares complementares. A integração entre disciplinas se faz através deestudos temáticos multidisciplinares e de projetos temáticos anuaisenvolvendo alunos de vários períodos do curso.

Keywords. integrated curriculum, flexible curriculum, computer engineering.

Palavras-chave. currículo integrado, flexibilização curricular, engenharia decomputação.

1. IntroduçãoQual é a influência que a estrutura curricular de um curso de graduação pode ter sobre aformação de um profissional? Será que biblioteca e laboratórios bem equipados eprofessores com ótima qualificação podem compensar um currículo mal estruturado?Será que a seleção de conteúdos, a sua disposição em disciplinas, a seqüência deapresentação das disciplinas, a forma como essas disciplinas se relacionam têm papelpreponderante sobre o resultado final do processo educativo?

O currículo do curso de engenharia de computação da UEFS, que entrou emfuncionamento em 2003 com 30 vagas, foi construído com essas questões em vista.Seus autores se apoiaram em anos de reflexão sobre os currículos dos cursos deengenharia, a partir de diferentes perspectivas:

• Em primeiro lugar, sob a angustiante perspectiva dos bancos escolares, em que,como estudantes, puderam assistir à desmotivação e à evasão de uma parcela deseus colegas e observar também a baixa auto-estima de alguns recém-formadosem relação à sua capacitação;

• Depois, como professores responsáveis por disciplinas isoladas e que poucopuderam fazer para enfrentar essas questões de forma definitiva;

• E, por fim, como projetistas de currículo.

Durante todo esse tempo, as notícias de esforços inovadores em termos decurrículos da área tecnológica, no Brasil e no exterior, foram avidamente observadas eanalisadas. Destacam-se o esforço americano para revitalização dos currículos degraduação [Boyer Commission 1998] [Joint Task Force 2001], experiências brasileirasdivulgadas pela SBC [SBC 1999] [Nunes 2001] e pela ABENGE (Associação Brasileirade Ensino de Engenharia) e a flexibilização curricular proposta pela UFMG [UFMG1997].

Os principais aspectos da proposta são apresentados no presente texto. Osmecanismos de flexibilização do currículo, que dão ao aluno mais liberdade nacondução de sua formação, e que também favorecem a atualização constante dosconteúdos, são tratados na Seção 2. A integração entre as disciplinas e suainterdependência são discutidos na Seção 3. Na Seção 4, tudo isso é revisto sob oaspecto formal da estrutura curricular. Um esforço importante nesse trabalho foi tentaruma conciliação entre as diretrizes curriculares de Computação e Informática e asdiretrizes curriculares de Engenharia, como pode ser visto na Seção 5, após a qual estãoas conclusões.

2. Flexibilização CurricularA principal motivação para a flexibilização curricular é velocidade das transformaçõesque ocorrem na sociedade contemporânea e, mais especificamente, na área decomputação. Novas sub-áreas surgem a todo momento dentro da computação. Porexemplo, várias ferramentas e linguagens hoje no auge de popularidade simplesmentenão existiam há alguns anos; C++ teve sua estrutura atual delineada em 1990, WWWsurgiu em 1993 e Java se tornou “relevante” em 1995. Nestas circunstâncias é

impossível manter atualizado um currículo muito rígido, assim como é impossívelquerer expor todos os alunos a todas as sub-áreas da computação.

De acordo com a Pré-Proposta de Câmara de Graduação da UFMG para aFlexibilização Curricular, pode-se entender a idéia de flexibilização curricular como “apossibilidade:a) de desamarrar a estrutura rígida de condução do curso;b) de o aluno poder imprimir ritmo e direção ao seu curso;c) de se utilizar, mais e melhor, os mecanismos que a instituição já oferece em termos

de opções de atividades acadêmicas na estruturação dos currículos.”

A flexibilização do currículo do curso de Engenharia de Computação ocorre devários modos. Antes de explicitá-los, porém, cumpre definir os conceitos de currículo eatvidade acadêmica.

Currículo: “qualquer conjunto de atividades acadêmicas previstas para aintegralização de um curso”.

Atividade acadêmica curricular ou componente curricular: “aquelaconsiderada relevante para que o estudante adquira, durante a integralizaçãocurricular, o saber e as habilidades necessárias à sua formação e quecontemple processos avaliativos”.

2.1. Flexibilização Vertical

É proposta uma flexibilização vertical do currículo, que é a possibilidade deorganização flexível do saber ao longo de semestres e anos. Para tanto, dividimos oconhecimento do curso em núcleo básico (matemática, física, etc.), núcleo profissional(fundamentos e técnicas básicas da computação) e núcleo específico (tecnologia dacomputação e aplicações multidisciplinares).

A definição dos pré-requisitos do ponto de vista estrito, sem permitir o uso depré-requisitos administrativos, permite que esses três núcleos possam ser estudadosconcomitantemente, diminuindo as distorções geradas pela separação entre ciclo básicoe ciclo profissional. A oferta de disciplinas profissionalizantes já no início do cursotambém contribui para esta flexibilização vertical.

O núcleo específico, que envolve tecnologias e conhecimentos muito específicose/ou voláteis é contemplado através de um elenco de componentes curricularesoptativos. Tais componentes podem ser cursados isoladamente ou em conjunto(formando blocos coerentes, tornando o aluno elegível a receber um Certificado deEstudos numa área específica). O oferecimento de disciplinas de tópicos, seminários eprojetos completa a flexibilização proposta, permitindo o acompanhamento detendências e a atualização curricular. Deve ser cumprida uma carga horária mínima doscomponentes curriculares optativos, a qual deve ser suficiente para permitir ao alunoadquirir razoável abrangência de conhecimentos e/ou se aprofundar em uma áreaespecífica.

2.2. Flexibilização Horizontal

Conforme a lei federal nº. 9394/96 e o parecer nº. 776/97 da CES/CNE, os cursos degraduação devem destinar de 5 a 10% da carga horária total do seu currículo para

atividades complementares. Estas atividades complementares caracterizam um tipo deflexibilização curricular chamado de flexibilização horizontal, que consiste em ampliaro conceito de currículo, possibilitando o aproveitamento de várias atividadesacadêmicas, além das disciplinas, para integralização curricular. No curso deEngenharia de Computação da UEFS, estas atividades correspondem a 5% da cargahorária total do currículo. Cada universidade deve regulamentar as atividadescomplementares da maneira que considerar mais adequada. Entretanto, as atividadesabaixo usualmente são contempladas como passíveis de aproveitamento:a) Seminários;b) Participação em eventos;c) Discussões temáticas;d) Atividade acadêmica à distância;e) Iniciação à pesquisa, docência e extensão;f) Vivência profissional complementar;g) Cursos extra-curriculares.

São condições para aproveitamento para integralização das atividadescomplementares:a) que tenha autorização do Colegiado;b) que passe por um processo de avaliação institucional.

2.3. Flexibilização através de Certificados de Estudos

Na composição do perfil do egresso e, consequentemente, da estrutura curricular docurso de Engenharia de Computação da UEFS, procurou-se fortalecer a base científica eos conceitos e habilidades mais duradouros, de modo a permitir uma suave transiçãodos profissionais já formados quando do surgimento de novas tecnologias. Por outrolado, este perfil é por demais genérico para refletir as demandas da sociedade,localizadas temporal e espacialmente. As inovações tecnológicas se processam de modocada vez mais rápido em nossa sociedade. Há que se garantir, portanto, certaflexibilidade na composição do perfil profissional, de modo que as mudanças impostaspelas novas tecnologias sejam rapidamente incorporadas ao currículo do curso.

Para implementar a flexibilidade descrita acima, a proposta curricular do cursopossibilita a obtenção de ênfases extra-diploma através de Certificados de Estudosemitidos pelo Colegiado do Curso de Engenharia de Computação, permitindo adefinição de perfis específicos em sub-áreas da Engenharia de Computação. Existem,inclusive, argumentações no meio acadêmico a favor de que estes perfis específicos nãoestejam ligados à principal área de estudo do curso. De todo modo, tais certificadospodem ser modificados ou extintos e novos certificados podem ser criados de acordocom as demandas da sociedade e do mercado de trabalho. Eles descrevem sucintamenteo perfil específico do profissional formado, com as atribuições do mesmo no mercadode trabalho. Não substituem o diploma em hipótese alguma, mas podem servir comouma espécie de certificado de “especialização” a ser utilizado quando o egresso acharnecessário e para o seu melhor proveito.

Os requisitos necessários para a obtenção de um Certificado de Estudosespecífico são definidos mediante resolução do Colegiado do Curso e exigem ocumprimento de um bloco específico de componentes curriculares pertinentes à área do

certificado. Logicamente, a estrutura curricular deve permitir a escolha destes percursosalternativos através de uma carga horária razoável de componentes optativos.

2.4 Flexibilização da Formação Humanística e Complementar

Pretende-se, no currículo proposto, uma formação ampla do engenheiro de computação,abordando outros aspectos que não somente a formação técnica. Tais aspectosenvolvem conhecimentos humanos que permitem ao estudante compreender melhor arealidade que o cerca, perceber os aspectos morais, éticos e filosóficos envolvidos naconvivência em sociedade e ganhar uma formação cultural mais ampla, compreendendoo papel do ser humano enquanto produtor e disseminador de conhecimento e cultura.Chamaremos a estes aspectos de formação humanística. Por outro lado, existemaspectos outros, que não estão diretamente ligados às tecnologias da computação, masque permitem ao profissional se integrar melhor nas organizações e na sociedade,instrumentalizando mais facilmente o seu dia-a-dia no trabalho. Exemplos destesúltimos seriam a capacidade de trabalho em equipe, desenvoltura na comunicaçãoverbal e escrita, capacidade de administração de órgãos e organizações, etc.Chamaremos a estes aspectos de formação complementar.

Olhando por outro ângulo, não se pode ignorar o fato de que os componentes deformação humanística e complementar são comumente relegados a segundo plano peloscursos de ciências exatas, pelo corpo docente da instituição e pelos próprios estudantes,o que tem repercussões negativas nas futuras carreiras dos egressos. Nos dias de hoje, asorganizações exigem cada vez mais pessoas com ampla visão da sociedade e melhorcompreensão do ser humano, especialmente quando se reflete que a maioria dostrabalhos é feita em equipes multidisciplinares. Esta visão é também essencial para oindivíduo compreender melhor o seu papel no meio em que vive e as transformaçõesque se processam na sociedade. O que se propõe é que estes componentes sejamcontextualizados na realidade em que vivem os estudantes e profissionais decomputação. Além disso, tais componentes devem refletir também os interessesindividuais dos alunos, permitindo uma livre escolha dentre componentes optativos.Definiu-se então duas categorias específicas de componentes optativos, que devem serintegralizados com uma carga horária mínima definida nas componentes curriculares docurso:• componentes optativos de formação humanística;• componentes optativos de formação complementar.

Procurou-se trazer aos alunos uma oferta ampla e variada de formaçãohumanística e complementar a partir de disciplinas já existentes na universidade eofertadas a outros cursos, evitando a desnecessária criação de novas disciplinas, além depermitir a livre escolha preconizada pela flexibilização curricular.

Exigências compulsórias de formação humanística e complementar encontradasnas diretrizes curriculares são atendidas na forma de duas disciplinas especiais –Tópicos Especiais de Formação Humanística e Tópicos Especiais de FormaçãoComplementar – que servem tanto como uma introdução superficial a algumas áreas deestudo ou como uma antevisão de possibilidades a serem escolhidas através dosreferidos componentes optativos.

3. Integração CurricularA integração das disciplinas em um currículo tem sido debatida na comunidadeacadêmica. O que normalmente se discute a respeito de integração curricular é que oscortes disciplinares nem sempre são eficazes para a formação de competências maisamplas e que o trabalho de um profissional de nível superior normalmente envolvevárias disciplinas ao mesmo tempo. Além disso, o mercado de trabalho tem demandadoprofissionais com formação holística, capazes de lidar com problemas complexos einterdisciplinares. Parte dos egressos consegue fazer a ligação entre disciplinasaprendidas separadamente, mas o tratamento deliberado integrador de disciplinas temmostrado sucesso na formação destes elos durante a formação do profissional. Aintegração curricular pode ocorrer na forma horizontal, dentro de um mesmo períodoletivo, ou na forma vertical, ao longo de vários períodos letivo. No presente currículo,adotamos as duas possibilidades, ainda que a ênfase maior seja na integração horizontal.

3.1. Integração através de Estudos Temáticos

Disciplinas de um mesmo período letivo podem ser trabalhadas em conjunto,compartilhando trabalhos, desafios e oportunidades de aprendizado. Para o bomfuncionamento deste modelo, é necessário reagrupar o corpo de conhecimentos aolongo dos anos de aprendizado, de modo que disciplinas que já possuam elosnormalmente estejam agrupadas num mesmo período letivo. Assim, pode-se, porexemplo, agrupar a disciplina de linguagens formais e autômatos com a disciplina decompiladores, já que as linguagens formais dão subsídios para a construção doscompiladores. O aprendizado das linguagens formais torna-se muito mais significativo,pois o aprendiz usa as linguagens formais para resolver um problema real de software.O mesmo vale para as estruturas matemáticas discretas, quando trabalhadas emconjunto com os algoritmos e estruturas de dados. Uma vez reagrupado o corpo deconhecimentos ao longo dos anos, pode-se agrupar, em torno de um tema e num mesmoperíodo, disciplinas tradicionais que compartilham elos, criando-se o que definimos porestudo temático, uma nova forma de componente curricular. O estudo temático é umaforma muito mais abrangente de componente curricular, casando muito bem com aaprendizagem baseada em problemas e projetos e o ciclo de aprendizagem situação-fundamentação-realização, metodologias de ensino-aprendizagem proposta para estecurso. Um problema real de sistemas de informação, por exemplo, pode ser apresentadoaos alunos, exigindo que os mesmos aprendam novos modelos de organização de dados(Bancos de Dados) e novas técnicas de produção de software (Engenharia de Software),para resolver o problema proposto. O projeto integrador é a realização do engenheiro decomputação, é a solução do problema proposto, e o mesmo demandou a compreensãode um novo corpo teórico (do ponto de vista do aluno) para fundamentar a realização dasolução do problema, no qual o aluno situou-se anteriormente.

Para operacionalizar, de forma clara, a organização curricular proposta, faz-senecessário algumas definições na implantação dos estudos tematicos, pois trata-se denovo componente curricular a ser inserido na estrutura acadêmica da graduação.

Definição 1: Estudo temático

Componente curricular de objetivo integrador que gira ao redor um certo tema,organizado em módulos. Durante o estudo temático, o estudante é apresentado a umcerto tema ou problema abrangente e, para compreender o tema ou resolver o problema,torna-se necessário adquirir novos conhecimentos. Estes novos conhecimentos estãoagrupados em módulos, conforme a definição 2.

Definição 2: Módulo

Recorte em determinados campos do conhecimento, organizados de formaarticulada, auto-contida e coesa para acontecer o processo ensino/aprendizagem. Osmódulos de cada estudo temático estarão, ao longo do curso, oportunizando aaprendizagem interdisciplinar, referenciados pelos componentes curriculares quecompartilham do período acadêmico.

3.2. Integração através de Projetos Temáticos Anuais

Procurou-se, ainda, integrar vários campos do conhecimento na formação doprofissional através da realização de projetos temáticos anuais de engenharia decomputação.

Sabe-se que a prática ocorre normalmente em equipes heterogêneas coordenadaspor membros mais experientes. Mas a maioria dos cursos privilegia comumente ostrabalhos individuais, inclusive as provas teóricas. Mesmo quando existem trabalhos emgrupo, estes normalmente não correspondem à realidade encontrada nas organizações,hierarquizadas e complexas. Por outro lado, uma unidade dentro de uma disciplina nãoé, normalmente, tempo suficiente para a realização de projetos de longo prazo, tãocomuns no dia-a-dia das organizações. Além do mais, o espaço de uma disciplina nãopermite normalmente a integração dos conhecimentos com outras disciplinas. Seja istoum defeito inerente ou não à segmentação do conhecimentos em unidades menores comcréditos e carga horária definidas, não deve impedir a integração de um corpo deconhecimentos de uma área profissional.

Uma primeira solução para tais problemas são os projetos temáticos anuais. Sãorealizados em equipe, sob a coordenação dos estudantes dos últimos períodos, mas coma participação de todos os alunos do curso, em níveis de atuação diferentes. Diferentestemas são escolhidos ano a ano, de modo que haja pluralidade de opções, de acordo comas áreas específicas dentro do curso, bem como a participação de cada estudante emalguns destes projetos, desempenhando funções em ordem crescente de complexidade,desde uma iniciação ao trabalho na engenharia de computação, o desenvolvimento desuas habilidades, a consolidação das mesmas através de trabalhos de maiorcomplexidade e, finalmente, a coordenação e gerência de um projeto de grande porte.Nesta última fase, o estudante terá a oportunidade de escrever o seu trabalho deconclusão de curso, envolvendo o tema do projeto que o mesmo coordenou. Taisprojetos possuem um alcance maior que disciplinas comuns pois possuem um prazomais longo (um ano) e integram os conhecimentos de várias áreas.

4. Estrutura CurricularEntendemos que vale a pena, antes de analisar a estrutura curricular detalhada, conheceros eixos principais que norteiam a organização curricular (veja figura 1). Talvez estaestrutura seja mais importante em si do que o conjunto de componentes dispostostemporalmente, conforme a figura 2.

4.1. Eixos Principais do Currículo

Dois dos eixos principais do currículo são os estudos temáticos e os projetos anuais,onde se pretende realizar a aprendizagem integrada de competências essenciais aoengenheiro de computação. As disciplinas obrigatórias fazem parte do currículo, querpela conveniente e parcial manutenção de uma estrutura consagrada pelo “status quo”,quer pelas exigências específicas das diretrizes curriculares. Os componentes optativospermitirão a formação de competências e habilidades específicas de interesse do aluno.

Figura 1. Eixos Principais do Currículo

4.3. Fluxograma do Curso de Engenharia de Computação

O fluxograma do curso de Engenharia de Computação a seguir é apenas uma sugestãode integralização. Serve de base para os alunos trilharem um caminho sem percalços nacomposição de seus currículos, bem como para mostrar a exeqüibilidade de umaestrutura curricular flexível ao longo dos semestres letivos.

Figura 2. Fluxograma do Curso de Engenharia de Computação

4.2. Componentes Curriculares

A tabela 1 ilustra a composição horária do currículo em termos da natureza doscomponentes curriculares. Os requisitos em relação aos componentes optativos são emtermos de carga horária mínima, havendo plena liberdade para composição desta cargahorária da forma mais adequada para o aluno e de acordo com a oferta disponível.

Tabela 1. Componentes Curriculares do Curso de Engenharia de Computação

NATUREZA CARGAHORÁRIA

Estudos Temáticos Obrigatórios (ET) 1440 h

Disciplinas Obrigatórias (OB) 1095 h

Componentes Optativos (OP) 660 h

Componentes Optativos de Formação Humanística (OH) 120 h

Componentes Optativos de Formação Complementar (OC) 120 h

Projetos Anuais (PI) 420 h

Estágio Supervisonado (ES) 300 h

Atividades Complementares (AC) 220 h

TOTAL 4375 h

A tabela 2 descreve os estudos temáticos integradores obrigatórios para osalunos do curso de Engenharia de Computação, bem como os seus móduloscomponentes de ensino-aprendizagem.

Tabela 2. Estudos Temáticos

ESTUDO TEMÁTICO MÓDULO C.H.

180 h

M1.1 - Algoritmos e Programação I 60 h

M1.2 - Lógica para Computação 60 hET1 - Introdução à

Computação

M1.3 - Introdução aos Sistemas de Computação 60 h

180 h

M2.1 - Circuitos Digitais 60 h

M2.2 - Arquitetura de Computadores 60 h

ET2 - Arquitetura eOrganização deComputadores

M2.3 - Arquitetura de Computadores Avançada 60 h

120 h

M3.1 - Circuitos Elétricos 60 hET3 – CircuitosEletrônicos

M3.2 - Eletrônica Geral 60 h

180 h

M4.1 - Algoritmos e Programação II 60 h

M4.2 - Estruturas de Dados 60 hET4 – Programação

M4.3 - Estruturas Discretas 60 h

180 h

M5.1 - Engenharia de Software 60 h

M5.2 - Bancos de Dados 60 hET5 - Engenharia de

Software

M5.3 - Análise e Projeto de Sistemas 60 h

120 h

M6.1 - Sistemas Operacionais 60 hET6 – Concorrência eConectividade

M6.2 - Redes de Computadores 60 h

180 h

M7.1 - Análise e Projeto de Algoritmos 60 h

M7.2 - Métodos Numéricos 60 hET7 - Algoritmos e

Complexidade

M7.3 - Análise e Projeto de Algoritmos Avançados 60 h

120 h

M8.1 - Eletrônica Digital 60 hET8 - Sinais e SistemasDigitais e Analógicos

M8.2 - Sinais e Sistemas 60 h

180 h

M9.1 - Teoria da Computação 30 h

M9.2 - Linguagens Formais e Autômatos 30 h

M9.3 – Compiladores 60 h

ET9 – Computação

M9.4 - Conceitos de Linguagens de Programação 60 h

5. Cumprimento das Diretrizes CurricularesO currículo proposto atende às diretrizes curriculares de Engenharia [MEC 2003b] bemcomo à proposta de diretrizes curriculares de Computação e Informática [MEC 2003a],aprovada pela Comissão de Especialistas de Ensino de Computação e Informática daSESu/MEC. Para que não houvesse excessiva carga horária no curso por seguir ambasas diretrizes, algumas decisões foram tomadas:• conhecimentos acessórios porém requiridos nas diretrizes de Engenharia como

Fenômenos de Transporte e Resistência dos Materiais tiveram sua carga horáriareduzida a um mínimo;

• conhecimentos como comunicação e expressão, metodologia científica etecnológica e expressão gráfica são temas transversais tratados durante todo ocurso, não sendo necessárias disciplinas específicas;

• As áreas de formação tecnológica constantes da proposta de diretrizes deComputação e Informática são atendidas em abrangência na forma de componentesobrigatórios e em profundidade na forma de componentes optativos. Achamos,entretanto, diante da volatilidade das tecnologias e da criação de novas áreas, que acomunidade acadêmica deva repensar a necessidade de todas as área de formaçãotecnológica estarem contempladas na forma de componentes obrigatórios de umcurrículo;

• As áreas de formação humanística e complementar são contemplados na forma deduas disciplinas de tópicos (obrigatórias) e através de componentes optativos.

6. ConclusõesA ousadia das propostas contidas no projeto curricular do Curso de Engenharia deComputação da Universidade Estadual de Feira de Santana é fruto da ânsia porencontrar soluções para problemas tradicionais de currículos da área de tecnologia. Noentanto, há um risco de que essas idéias não venham a ser eficazes na solução dessesproblemas. Em um prazo máximo de cinco anos, quando a primeira turma deve terminaro curso, a experiência obtida no exercício dessas propostas poderá ser melhor avaliada.

ReferênciasBRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares de Cursos das Áreas de

Computação e Informática.http://www.mec.gov.br/sesu/ftp/curdiretriz/computacao/co_diretriz.rtf. 15 jan.2003a.

BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares para os Cursos deEngenharia. http://www.mec.gov.br/sesu/ftp/resolucao/1102Engenharia.doc. 15 jan.2003b.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE COMPUTAÇÃO. Currículo de Referência da SBCpara Cursos de Graduação em Computação – versão 1999.http://www.sbc.org.br/educacao/cr99.pdf. 16 set. 1999.

THE BOYER COMMISSION ON EDUCATING UNDERGRADUATES IN THERESEARCH UNIVERSITY. Reinventing Undergraduate Education: A Blueprint forAmerica's Research Universities. Stony Brook, NY, 1998.

THE JOINT TASK FORCE ON COMPUTING CURRICULA. IEEE Computer Society& Association for Computing Machinery. Computing Curricula 2001: ComputerScience. http://www.computer.org/education/cc2001/final/index.htm. 13 fev. 2001.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. CÂMARA DE GRADUAÇÃO.Flexibilização Curricular : Pré-Proposta da Câmara de Graduação. Belo Horizonte,1997. 20p.

NUNES, D. J. (editor). Anais do III Curso de Qualidade de Cursos de Graduação daÁrea de Computação e Informática. Fortaleza : SBC, 2001, 480 p. il.