Norbert Trenkle, Ernst Lohoff - Crise mundial e limites do capital (entrevista com Richard Jellen)

19

Transcript of Norbert Trenkle, Ernst Lohoff - Crise mundial e limites do capital (entrevista com Richard Jellen)

[-] Sumário # 9

EDITORIAL 5

ENTREVISTA CRISE MUNDIAL E LIMITES DO CAPITAL 9 Com Ernst Lohoff e Norbert Trenkle

ARTIGOS ENTRE RUÍNA E DESESPERO 24 Negação e constituição do sujeito em Robert Kurz e Slavoj Žižek Cláudio R. Duarte e Raphael F. Alvarenga

O EXÉRCITO NAS RUAS 60 Da Operação Rio à ocupação do Complexo do Alemão. Notas para uma reconstituição da exceção urbana Marcos Barreira e Maurilio Lima Botelho CIDADE OLÍMPICA 75 Sobre o nexo entre reestruturação urbana e violência na cidade do Rio de Janeiro Marcos Barreira A TODO VAPOR RUMO À CATÁSTROFE? 109 O capital e a dinâmica do aquecimento global Daniel Cunha AS SUTILEZAS METAFÍSICAS DO 134 NEGACIONISMO CLIMÁTICO Como a esquerda tradicional adere à ideologia negacionista Daniel Cunha LUKÁCS – A ONTOLOGIA DA MISÉRIA 155 E A MISÉRIA DA ONTOLOGIA Cláudio R. Duarte

[-] www.sinaldemenos.org Ano 5, n°9, 2013

O DINHEIRO DO ESPÍRITO E O DEUS DAS MERCADORIAS 187 A abstracção real segundo Sohn-Rethel Nuno Miguel Cardoso Machado TESES SOBRE A COMUNA DE PARIS 225 Guy Debord, Attila Kotànyi e Raoul Vaneigem CRÍTICA SOCIAL OU NIILISMO? 230 O “trabalho do negativo”: de Hegel e Leopardi até o presente Anselm Jappe

TERÃO OS SITUACIONISTAS SIDO A ÚLTIMA VANGUARDA? 247 Anselm Jappe EXTRATOS DE POLLOCK 261

ou, Pintura e trabalho abstrato Cláudio R. Duarte TÍMIDA SIM, MAS UM TANTINHO DESRECALCADA 288 Ainda um exercício em torno da matéria de Naves e de Guignard Eraldo Santos RODRIGO NAVES E AS DIFICULDADES DA FORMAÇÃO 298 Naves, Guignard, Machado e a crítica das formas modernas Cláudio R. Duarte ADESÃO E DESBUNDE 319 Os êxtases sórdidos de um Brecht às avessas Raphael F. Alvarenga e Natasha B. Palmeira

IDEOLOGIA, COMUNICAÇÃO E VISUALIDADE 336

O sistema artístico detectado

Marcelo Mari

OS DEVOTOS DO SANTO ANÔNIMO 342

Sobre “as visitas que hoje estamos”

Cláudio R. Duarte

[-] www.sinaldemenos.org Ano 5, n°9, 2013

TRÊS FRAGMENTOS 351

“a hora certa”, “a lição” e “com espírito”

Antonio Geraldo Figueiredo Ferreira

EXPEDIENTE 366

[-] www.sinaldemenos.org Ano 5, n°9, 2013

9

Crise mundial e limites do capital

Entrevista com Ernst Lohoff e Norbert Trenkle

>>Richard Jellen: Como Marx nos ajuda a entender a crise atual melhor do que

outros teóricos?

Ernst Lohoff: Para responder isso, primeiro temos que atentar para o debate sobre a

crise atual, que se caracteriza por uma enorme discrepância. De um lado, está bem

estabelecido que esta crise é de “proporções históricas”, e a cada duas semanas tem-se

uma nova reunião que termina com os mais importantes chefes de Estado anunciando

que acabaram de salvar a economia global da destruição. Por outro lado, as explicações

que são oferecidas para esse desenvolvimento dramático são extremamente

insuficientes. O discurso oficial em torno da crise está sendo conduzido no nível do

encanador amador, que conserta um cano aqui e outro acolá enquanto o porão é

inundado. Todo tipo de manobra técnico-financeira está sendo discutida, mas ninguém

sabe o que resultará delas, porque não existe uma boa análise teórica do processo de

crise em curso.

Enquanto isso, os representantes mais reflexivos da teoria econômica estão admitindo

abertamente a falência de sua disciplina. O professor de Harvard e ex-economista-chefe

do FMI, por exemplo, disse recentemente ao jornal de negócios Handelsblatt que os

modelos econômicos altamente elegantes que dominaram a academia por décadas

foram, na prática, “muito, muito mal-sucedidos. Quando o grande choque chegou, eles

se revelaram inúteis”.

>>RJ: O que causou esse total fracasso?

EL: Pensamos que isso remete às próprias questões que eles fazem de início. A questão

fundamental da nossa era de crise é na verdade bastante óbvia: por que uma sociedade

com produtividade material absolutamente explosiva, que pode produzir riqueza

material infinitamente, tem de concluir que está aparentemente “vivendo além de suas

possibilidades”? Podemos encontrar a resposta a esta questão em Marx – desde que

façamos uma leitura crítica e não alinhada aos modelos interpretativos do marxismo

[-] www.sinaldemenos.org Ano 5, n°9, 2013

10

tradicional ou do assim chamado renascimento de Marx que estamos vivenciando agora.

O Capital de Marx não começa contrastando capital e trabalho, mas antes com a “forma

elementar” da sociedade capitalista: a mercadoria. Marx mostra que a contradição

básica que explica a tendência do capitalismo à crise em geral e à crise atual em

particular está imbricada na própria mercadoria. Trata-se da contradição entre duas

formas de riqueza: riqueza material, tal como gerada na produção de bens de uso, e

riqueza abstrata, que é categorialmente representada como valor e reificada na forma do

dinheiro.

Sob as condições da produção moderna de mercadorias, ou seja, em uma sociedade

capitalista, a riqueza material somente é produzida na medida em que ela também possa

ser representada como valor, ou seja, na medida em que contribui para a valorização do

capital. Portanto, a produção de bens é sempre um meio para um fim externo: o fim em

si mesmo de transformar dinheiro em mais dinheiro. Sempre que esse fim não pode ser

atingido porque a valorização do capital foi interrompida, a riqueza material também

pára de ser produzida. Bens são até mesmo destruídos porque não podem ser vendidos,

apesar do fato de que necessidades deixam de ser atendidas, em grande escala. Pessoas

têm de viver em barracas enquanto suas casas estão vazias, por exemplo, simplesmente

porque não podem mais pagar o seu financiamento.

>>RJ: O que caracteriza as crises econômicas na sociedade burguesa em comparação

com outros tempos?

Norbert Trenkle: Basicamente, podemos dizer que as crises no capitalismo não

surgem da escassez, mas da abundância, e em meio à abundância. Essa é uma

insanidade básica que a economia não pode explicar, porque ela naturaliza a produção

de riqueza abstrata: ela apresenta a produção de mercadorias como um tipo de forma

inata da economia humana. Por esta razão, ela não presta nenhuma atenção às

contradições internas entre a produção de riqueza material e abstrata, e ela é cega às

causas mais profundas da crise em curso.

>>RJ: Que tipo de crise econômica é esta que vivemos hoje?

EL: Marx faz uma distinção entre crises gerais e crises específicas, dizendo que “em

crises do mercado mundial, todas as contradições da produção burguesa emergem

[-] www.sinaldemenos.org Ano 5, n°9, 2013

11

coletivamente; em crises específicas (específicas em seu conteúdo e extensão) as

emergências são mais esporádicas, isoladas e unilaterais”1. Nenhuma crise na história

do capitalismo mereceu tanto ser chamada de crise geral quanto a que se tornou visível

desde 2008. Ela consiste em todo um sistema de crises parciais, que disparam umas às

outras, se sobrepõe e se acumulam mutuamente.

Acima de tudo, duas camadas principais devem ser analisadas separadamente.

Primeiro, há uma crise estrutural de produção de valor real. Ela vem ocorrendo sob a

superfície desde os anos 70, nunca foi superada, e na verdade não pode ser superada,

porque ela se deve ao fato de que a produtividade desde então é alta demais para manter

o processo de valorização do capital funcionando. O capital tem que se reproduzir,

porque do contrário deixa de ser capital, e para isso uma força de trabalho sempre

crescente tem de ser utilizada para produzir mercadorias. Mas, ao mesmo tempo, a

competição acarreta uma incessante corrida pela produtividade, que em seu núcleo leva

à substituição permanente do trabalho por capital imobilizado. Essa é a contradição

interna fundamental no modo de produção capitalista, que ao final tem de se voltar

contra o próprio modo de produção. Especificamente, se a produtividade é tão alta que

grandes massas de força de trabalho se tornam supérfluas, isto coloca em perigo a

própria base da valorização do capital. É precisamente isto o que está no núcleo da crise

estrutural de fundamentos na qual o sistema capitalista global se encontra desde o fim

do boom do pós-guerra.

>>RJ: Qual é o outro componente essencial da crise?

NT: A crise que acabamos de descrever foi abafada por décadas pelo inchaço dos

mercados financeiros. No nível da sociedade como um todo, a acumulação de capital

voltou ao seu curso depois das crises dos anos 70, e a economia global voltou a crescer.

Porém, esse crescimento não se baseava mais na produção real de valor através da

exploração da força de trabalho, mas através do crescimento explosivo de capital na

indústria financeira. Como a indústria financeira colocou cada vez mais títulos de

propriedade em circulação (dívidas, ações, derivativos), ela conseguiu colocar em

prática o truque de transformar valor futuro, isto é, valor que ainda não foi produzido e

1 MARX, Karl. Theories of surplus value, Part II. Prometheus Books, 2000, p. 725.

[-] www.sinaldemenos.org Ano 5, n°9, 2013

12

talvez nunca seja produzido, em riqueza abstrata.

Mas essa reprodução do capital através da antecipação de valor, que há muito atingiu

proporções astronômicas, entrou ela própria em crise. Ainda que o crescimento

contínuo dos títulos de propriedade, sem os quais o capitalismo não pode mais

sobreviver, esteja operando da mesma forma de sempre e esteja mesmo em aceleração,

isto ocorre apenas porque agora a tarefa está sendo executada por governos, e acima de

tudo por bancos centrais. Os estados aumentam as suas dívidas e os bancos centrais

garantem o excesso de crédito dos bancos privados a juro zero, enquanto

simultaneamente compram títulos do governo que ninguém mais comprará. De fato,

estamos lentamente atingindo os limites desse processo, e a crise do euro é um exemplo

disso.

>>RJ: Como o papel dos bancos centrais mudou no curso da crise financeira?

EL: Acima de tudo, o termo “capital fictício” denota o capital fictício formado por atores

do setor privado; créditos de bancos comerciais junto aos seus tomadores de

empréstimo; e ações e títulos em posse de companhias de seguro, fundos de

investimento ou investidores privados. Mas à medida que as moedas perderam o lastro

do padrão-ouro, há outro ator que se tornou importante na criação de capital financeiro

na indústria financeira: o banco central. A política monetária não é nada sem a

influência dos zeladores da moeda sobre a extensão pela qual o capital-dinheiro fictício

é criado. Isto pode acontecer indiretamente, por exemplo, ao definir o depósito

compulsório que os bancos comerciais são obrigados a reter.

Mas há algo que é muito mais importante. Os próprios bancos centrais estão entrando

nos mercados financeiros e de capitais como participantes do mercado, e acumulando

capital fictício. A assim chamada “criação de dinheiro” consiste em bancos centrais

garantindo o crédito a bancos comerciais, o que significa comprar promessas de

pagamento. Quando os bancos centrais reduzem a taxa de juros sobre esse crédito, ele

abastece a criação de capital fictício. Aumentar a taxa prime tem o efeito inverso. Essa

política de juros foi essencial para superar as crises anteriores na era do capital fictício.

Com ela foi possível até mesmo detonar a acumulação privada de capital fictício durante

a séria crise da nova economia na virada do milênio, com a drástica redução da taxa

[-] www.sinaldemenos.org Ano 5, n°9, 2013

13

prime.

A bolha imobiliária, que também reascendeu a enfraquecida economia real, foi

alimentada por crédito barato. Mas a crise atual parece diferente. Para evitar o colapso

do sistema financeiro, os bancos centrais têm que adquirir cada vez mais ativos tóxicos e

garantir crédito em grande escala onde ninguém mais iria fazê-lo, além de manter uma

política de juro zero que fornecerá a matéria-prima para novas bolhas. Durante a fase de

crise aguda no outono de 2008 [primavera no Brasil], isso se limitou a substituir o

mercado interbancário paralisado. Normalmente os bancos internacionais emprestam

uns aos outros o dinheiro que não estão usando em um piscar de olhos, mas eles tinham

tão pouca confiança uns nos outros após a quebra do Lehman Brothers que aquela

forma de liquidez secou, e os bancos privados receberam crédito apenas dos bancos

centrais.

O que é ainda mais sério do que esse resgate de curto prazo é o fato de que, enquanto

isso, os bancos centrais têm de comprar títulos do governo em grande escala para evitar

que o mercado desses valores mobiliários entre em colapso, começando uma reação em

cadeia de insolvências governamentais. Mas a crise bancária ainda está latente, e os

bancos centrais estão assumindo esse risco, assim como estão fornecendo crédito de

longo prazo a bancos comerciais em apuros, que obviamente seria perdido em caso de

quebra.

Seja no Fed nos Estados Unidos ou nos bancos centrais europeus, isto está

transformando todos os bancos centrais em bancos podres. Eles estão injetando capital-

dinheiro loucamente no sistema bancário, enquanto a qualidade de suas reservas de

moeda está se deteriorando rapidamente, porque elas são cada vez mais compostas por

ativos tóxicos inegociáveis. De fato, os resgates de emergência dos últimos quatro anos

podem ter evitado o colapso do sistema financeiro, mas eles apenas adiaram a

necessidade de desvalorização e, ao mesmo tempo, a socializaram.

>>RJ: Qual a probabilidade de haver inflação?

NT: A estabilidade monetária é ameaçada de dois lados: de uma parte, os bancos

centrais estão injetando mais e mais capital-dinheiro no sistema bancário. Enquanto os

bancos e seus clientes reutilizarem esse capital-dinheiro como capital, ou seja, enquanto

[-] www.sinaldemenos.org Ano 5, n°9, 2013

14

comprarem títulos de propriedade ou o investirem produtivamente, não há

consequências sérias para a estabilidade monetária. Isto muda, porém, quando ele flui

para mercados de bens, sendo tratado apenas como dinheiro extra contra as

mercadorias que estão sendo comercializadas. Quando isto ocorre em grande escala,

porque há escassez de investimentos de capital, o inchaço na superestrutura financeira

será traduzido em desvalorização da moeda, o que significa inflação. Ao mesmo tempo,

como já indicamos, mais cedo ou mais tarde isso levará a uma desvalorização aberta das

reservas monetárias. Assim, uma oferta superestendida de dinheiro se encontrará com

uma demanda reduzida.

Nesse contexto, a questão não é se haverá inflação, mas quando ela começará e que

caminho tomará. Até aqui, a inflação, ao menos aqui na Alemanha, se limitou a metais

preciosos e terrenos, que funcionam como investimentos seguros no mundo dos bens

materiais. No dia a dia isso já é visível na forma de aluguéis crescentes. Mas dificilmente

isto parará aí.

De certa forma, isto implica um retorno ao estado da economia global de antes da real

decolagem do capital fictício. Nos anos 70, os países capitalistas centrais foram

caracterizados por um fenômeno que os economistas chamaram de “estagflação”: o

crescimento fraco foi acompanhado por uma inflação anual de cerca de 10%. Mas as

coisas ficaram muito maiores em comparação com aquele período. O crescimento fraco

pode levar a uma recessão aberta, e a inflação à hiperinflação. Adiar a crise tem um

preço.

>>RJ: O que causou a crise atual?

NT: Quando olhamos para as causas, temos que distinguir entre as duas camadas da

crise. A crise de base da valorização do valor é, como já dito, o resultado da aceleração

do desenvolvimento da produtividade, que torna o trabalho cada vez mais supérfluo. A

terceira revolução industrial tem um papel crítico nisso. Enquanto também houve fortes

impulsos para a racionalização em fases anteriores do desenvolvimento capitalista, por

exemplo, nos anos 20 e 30, quando os métodos de produção fordista foram

introduzidos, novos setores da produção industrial de massa estavam sendo explorados

concomitantemente, e eles exigiam trabalho adicional em massa. A expansão da

[-] www.sinaldemenos.org Ano 5, n°9, 2013

15

produção de mercadorias a novos campos compensava os efeitos da racionalização, de

forma que em última instância mais trabalho era utilizado do que anteriormente.

Mas na terceira revolução industrial, esse mecanismo compensatório não está mais

funcionando, porque a reestruturação do processo de produção baseada na tecnologia

da informação implica transferir a força produtiva de uma sociedade para o nível do

conhecimento, ou, mais precisamente, para a aplicação do conhecimento na produção.

Os fundamentos da valorização do capital, em consequência, são colocados em xeque,

porque isso leva ao deslocamento absoluto da força de trabalho em todos os setores da

produção de valor, o que não pode mais ser compensado pelo desenvolvimento de novos

setores.

>>RJ: Então o que é capital fictício, e qual o seu papel na crise atual?

EL: O capital fictício é essencial para o entendimento da segunda camada da crise.

Trata-se de um conceito que Marx introduziu para distingui-lo de capital produtivo. Ele

mostrou que o capital, em seu curso de desenvolvimento, não apenas transforma a

produção de batatas, aço, têxteis, etc. em produção de mercadorias, mas que o próprio

capital-dinheiro também se torna uma mercadoria comercializável.

O que acontece nesse processo é espantoso. O capital inicial subitamente ganha uma

existência dupla, como resultado de sua venda. Por um lado, o capital inicial é agora

possuído por um tomador de empréstimo ou companhia emissora de ações, mas ao

mesmo tempo o emprestador ou acionista possui um espelho do capital inicial, ou um

título de propriedade (título de dívida, ação, etc.), que representa um crédito pecuniário.

Essa duplicação não é uma mera ficção, como o termo “capital fictício” parece sugerir.

Ela não existe apenas na cabeça das pessoas. Ela adquire uma existência social objetiva

na forma de valores mobiliários, enquanto o título de crédito parecer resgatável. Este é

um crédito para um valor futuro e representa a riqueza capitalista, exatamente da

mesma forma que o valor, que é extraído da força de trabalho pelo capital produtivo.

No tempo de Marx, esse tipo de aumento de capital através da capitalização antecipada

de valor futuro era marginal, a ponto de ser irrelevante para o desenvolvimento de longo

prazo da acumulação de capital, mas ao longo dos últimos trinta anos, ela se tornou uma

fonte real de riqueza capitalista. Para manter a produção capitalista apesar do fato de

[-] www.sinaldemenos.org Ano 5, n°9, 2013

16

que o trabalho se torna cada vez mais supérfluo, devido aos ganhos de produtividade,

porções cada vez maiores de valor futuro, fictício, foram injetadas no presente. Como

resultado, a crise estrutural da valorização foi adiada, por enquanto.

>>RJ: E qual é o cerne da questão?

EL: Infelizmente, um sistema baseado na antecipação de produção de valor futuro só

pode funcionar como um esquema de pirâmide, e como tal ele é pressionado de dois

lados: de uma parte, quanto mais tempo essa forma insana de capitalismo continua

reprocessando a si mesma, mais rápido os ativos tóxicos de um futuro capitalista que já

foi consumido serão empilhados até o céu. As dívidas do passado não podem

desaparecer sem consequências. Ou elas são refinanciadas, ou o capital social será

destruído pela nulificação do capital fictício.

Por outro lado, a maré crescente dos títulos de propriedade só pode encontrar mercado

se de alguma forma parecer plausível que a promessa de pagamento e a perspectiva de

lucros de parte dos tomadores de empréstimo e de outros vendedores de títulos de

propriedade possam ser cumpridas. Quando isso não pode mais ser garantido, a bolha

estoura e parece haver uma “crise financeira”, quando na realidade a única coisa que

fracassou é o mecanismo que tornou possível que a crise estrutural da valorização fosse

adiada por décadas. Se você entende issso, você sabe que a crise atual é muito mais

dramática do que geralmente se percebe. Trata-se de uma crise sistêmica no sentido

mais estrito do termo: uma crise que genuinamente coloca em questão o sistema

capitalista de produção de riqueza.

>>RJ: Quais serão as consequências das políticas de austeridade que estão sendo

executadas pelas classes política e financeira como solução para a crise?

NT: Duas coisas têm de ser mantidas separadas quando falamos sobre medidas de

austeridade. Austeridade no sentido de estabelecer metas oficiais, especificamente como

um caminho para o equilíbrio orçamentário, é uma Fada Morgana. Assim, novas dívidas

têm de ser geradas, porque os estados ficaram sem escolha, a não ser injetar

continuamente muitos bilhões no sistema bancário e financeiro para adiar o seu colapso

o mais que puderem. Eles fazem isso porque haverá consequências catastróficas caso

não o façam. Mas esses bilhões não podem vir da criação de valor real. Eles só podem

[-] www.sinaldemenos.org Ano 5, n°9, 2013

17

sair da repetida antecipação de valor futuro.

Então os estados têm de fazer tudo o que está ao seu alcance para assegurar a sua

credibilidade, e para fazê-lo como se o seu interesse fosse o de equilibrar os seus

orçamentos no longo prazo. E é exatamente isto o que eles estão demonstrando, através

de políticas brutais de austeridade em relação a toda esfera social que seja considerada

puro estorvo da perspectiva do capital fictício: sistemas de bem-estar social, serviços

públicos, educação, etc. A versão oficial desse relato se revela bastante bem nas

distinções que eles fazem entre setores que são “sistemicamente relevantes” e

“sistemicamente irrelevantes”. Não é necessário explicar que as consequências para a

maior parte da população e para a produção de riqueza material são devastadoras. Basta

olhar para a Grécia e a Espanha, onde o que está sendo executado é exatamente o que

mais cedo ou mais tarde ameaçará os países que ainda não foram tão seriamente

afetados pelas consequências da crise.

>>RJ: Por que eles estão optando por essa política de empobrecimento?

NT: Eles não estão fazendo isso, por exemplo, para criar uma sociedade “sustentável”,

ou para evitar deixar dívidas excessivas para “nossos filhos”, como coloca o jargão

político hipócrita, pateticamente falso. Eles o fazem apenas para continuar a

acumulação de capital fictício. O preço disso continua aumentando, entretanto, porque

não se trata mais de uma questão de manter funcionando a máquina de produção de

riqueza abstrata sugando valor futuro, mesmo quando a máquina é paralisada pela alta

produtividade. Acima de tudo, ao contrário, o que deve ser evitado é o colapso das

montanhas de promessas de pagamento irresgatáveis. Por isso, a maior parte do capital

fictício recém criado flui diretamente de volta para o setor financeiro, e cada vez menos

entra em circulação na economia real.

Como consequência, fica claro que a política de austeridade está atingindo um ponto

onde ela está se tornando contraprodutiva mesmo para o objetivo estreito de acumular

capital fictício. Onde ela é levada ao extremo, como agora na Grécia e na Espanha, ela

está conduzindo diretamente à depressão econômica – e isto também afeta o sistema

bancário e financeiro. Lentamente, isto está ficando claro até mesmo entre os linha-dura

da austeridade alemã e europeia. Por isto, e, é claro, por causa dos protestos de massa,

[-] www.sinaldemenos.org Ano 5, n°9, 2013

18

novos programas de crescimento e estímulo estão sendo discutidos, mas resta saber se

esses programas serão executados a tempo, antes do começo da derrocada. Espera-se

que eles percebam que podem pelo menos desacelerar a corrida para o

empobrecimento.

É claro que mesmo no melhor dos casos isto serviria apenas para ganhar tempo, porque

esses programas são subsidiados pelo mesmo capital fictício. Isto implica, então, que os

seus apoiadores, como o presidente francês Hollande, não estão de maneira nenhuma

desafiando a austeridade em si. Eles apenas querem dar-lhe uma forma ligeiramente

diferente. Eles também estão perseguindo a ilusão de um orçamento equilibrado, e em

último caso estão dispostos a demandar que a população faça todo o sacrifício possível

por essa ficção. A partir dessa perspectiva, podemos esperar uma alta carga de

crueldade de uma possível coalizão verde-vermelha na Alemanha no próximo ano.

>>RJ: Em seu novo livro2, vocês dizem que “Mais cedo ou mais tarde deve chegar o

ponto no qual o nível das forças produtivas não é mais compatível com a forma

capitalista da riqueza”. Mas não há sempre tendências que compensam a crise

enquanto ela se desenvolve, ou depois?

EL: A teoria marxiana da crise une dois elementos. Por um lado, Marx sustenta a teoria

de que o capital vai em direção a um limite histórico insuperável, devido ao

desenvolvimento das forças produtivas. Por outro lado, ele também examinou o curso

das crises periódicas, que repetidamente interrompem a progressão da acumulação de

capital. Em sua teoria da crise, ambos os elementos estão unidos, pois o problema

básico do capitalismo, a subordinação da produção de riqueza material ao objetivo sem

sentido da valorização do valor, sempre surge durante essas crises periódicas.

Ainda mais do que em outras esferas da sociedade, a discussão na esquerda é dominada

por uma forte tendência a subestimar a crise atual. Consequentemente, o problema das

crises periódicas é visto de forma isolada, e a possibilidade de um limite histórico é

simplesmente ignorada. O resultado é uma maneira budista de entender as crises,

segundo a qual as crises são apenas “crises autocorretivas”. Elas vêm e vão eternamente,

2 LOHOFF, Ermst. & TRENKLE, Nobert. Die große Entwertung: Warum Spekulation und

Staatsverschuldung nicht die Ursache der Krise sind [A grande desvalorização: por que a especulação e o endividamento estatal não são as causas da crise]. Münster: Unrast-Verlag, 2010.

[-] www.sinaldemenos.org Ano 5, n°9, 2013

19

e em última instância apenas fortalecem o capital. Isto também surge em Marx – onde

ele tem algo completamente diferente a dizer sobre as crises periódicas. “As crises são

sempre apenas soluções momentâneas e forçosas para as contradições existentes. Elas

são erupções violentas, que por um tempo restauram o equilíbrio perturbado”3. Para ele,

o essencial é a constante intensificação e acumulação de novas contradições.

O nosso argumento no livro toma diretamente a ideia marxiana de um limite histórico, e

o localiza na terceira revolução industrial. O fato de que a destruição de capital em

tempos de crise restaura a lucratividade do capital remanescente, e portanto pode

tornar-se o ponto de partida para um impulso renovado de acumulação, não é uma

resposta ao problema do limite histórico, mas estritamente para as crises periódicas. Ele

assume que um novo impulso sustentado de valorização de capital pode começar depois

que a supercapacidade for corrigida. Mas isso é exatamente o que é fundamentalmente

descartado sob as condições da terceira revolução industrial.

>>RJ: Vocês afirmam que as respectivas vitórias do keynesianismo e do

neoliberalismo correspondem a diferentes fases da dinâmica da valorização

econômica no capitalismo. Vocês podem explicar isso?

NT: O relativo sucesso do keynesianismo durante o boom do pós-guerra estava ligado a

condições estruturais específicas que estavam fora do seu controle, o que significa que

ele não as criou, e não poderia criá-las. As políticas de regulação e de redistribuição

eram inteiramente funcionais, à medida que o emprego industrial massivo se expandiu e

atuou como o motor de um boom autossustentado de valorização de capital. A expansão

de sistemas de bem-estar social e o aumento real dos salários não apenas contribuíram

para a pacificação social, mas também estabilizaram a escalada econômica, porque

fortaleceram o consumo de massa. A expansão da infraestrutura pública teve

importância no mínimo equivalente. Sem isso, a industrialização total e a

mercantilização de tudo na sociedade não poderiam funcionar. Não se poderia dirigir

automóveis sem uma densa rede de estradas, a eletrificação das casas exigia o

fornecimento de energia, e um sistema educacional amplo e de boa qualidade se fazia

necessário para educar uma força de trabalho qualificada.

3 MARX, Karl. Capital. New York: International Publishers, 1967, vol. III, p. 249.

[-] www.sinaldemenos.org Ano 5, n°9, 2013

20

Então, o Estado exerceu um papel central, e isto alimentou a ideia de que ele também

estava na posição de manter o desenvolvimento econômico, guiá-lo, e estabilizá-lo no

longo prazo. Mas quando o boom fordista do pós-guerra chegou ao fim, isto se mostrou

uma ilusão, porque, à medida que a valorização do capital foi paralisada, quando cada

vez mais trabalhadores foram demitidos devido ao rápido aumento da produtividade,

não foram apenas as fontes financeiras que secaram. Ainda mais sério foi o fato de que

ele não conseguiria iniciar um novo surto sustentado de valorização de capital, apesar

do massivo estímulo dos financiamentos e pacotes de crescimento.

Da nossa perspectiva, não há nada de notável nisso, porque, se o Estado pode intervir

nos mecanismos de mercado até certo ponto, ele não tem acesso ao processo

fundamental que é determinado pela contradição interna do capitalismo. Para colocar

de outra forma, o keynesianismo tornou-se inútil frente à racionalização geral que se

seguiu à terceira revolução industrial, que em última instância erodiu os fundamentos

da valorização do capital. Toda tentativa de tirar a economia real da estagflação

fracassou miseravelmente.

Esta foi a razão mais profunda da vitória do neoliberalismo. Se tampouco tinha um

plano para ressuscitar a valorização do capital, ele estabeleceu as bases para que a

dinâmica econômica se transferisse para a “indústria financeira”, e consequentemente

para adiar a crise pelas três décadas seguintes. Os fatores críticos aqui foram, de um

lado, a liberalização consistente dos mercados financeiros e, de outro, o aumento da

dívida pública do governo Reagan, que de certa forma serviu como financiamento inicial

para a acumulação de capital fictício em enorme escala. A destruição de estruturas

fordistas através da desestruturação de sindicatos, etc. fez o resto, porque ao mesmo

tempo a privatização do setor público abriu novos campos para o investimento

financeiro, por exemplo a privatização de sistemas de previdência.

>>RJ: Qual o papel da revolução da tecnologia da informação nisso tudo?

NT: Da mesma maneira que o keynesianismo apoiou a expansão da produção industrial

em massa, o neoliberalismo se tornou o padrinho da “indústria financeira”. É uma

ironia da história que, como resultado, isto simultaneamente tenha ajudado no

desabrochar da terceira revolução industrial. Por si mesma, ela teria se sufocado em sua

[-] www.sinaldemenos.org Ano 5, n°9, 2013

21

própria produtividade. Mas a acumulação de capital fictício criou o cenário necessário

para a ampla instalação da tecnologia da informação. Tornou-se possível suplantar

temporariamente os poderosos efeitos da racionalização, que levaram a um massivo

deslocamento do trabalho vivo de setores do núcleo da valorização, tomando valor

futuro. O resultado, porém, é a progressiva erosão da produção de valor que só agora

começa a ser perceptível em toda a sua extensão, na crise do capital fictício.

>>RJ: Em seu livro, vocês comparam a economia a uma “escola de arte que prescreve

a borracha como a única ferramenta para a confecção de retratos”. O que isso

significa?

EL: Isto nos leva de volta à questão do início da entrevista. A economia, não importa a

escola, não pode entender a crise, porque ela oblitera a distinção básica entre as duas

formas de riqueza: riqueza material e riqueza abstrata. Os capítulos iniciais dos livros de

teoria econômica sempre dizem que o objetivo da economia é a satisfação das

necessidades e a ótima provisão de bens para as pessoas, e que somente a economia de

mercado sob condições avançadas de divisão do trabalho pode atingir esse objetivo.

Então, o funcionamento da economia de mercado é descrito de acordo com o princípio

da troca simples de mercadorias, da mesma maneira que o mercado na praça central de

uma vila idealizada, onde sapatos são trocados por porcos e ovos por novelos de lã. Isto

sistematicamente exclui o que é totalmente óbvio, ou seja, que sob as condições

capitalistas, produz-se apenas o que transformará dinheiro em mais dinheiro, e que o

objetivo da produção é a reprodução de riqueza abstrata, e a mercadoria é simplesmente

um meio para manter esse sistema autorreferente em operação. Para colocar em outros

termos: a economia usa a borracha logo no nível de suas premissas básicas, e apaga o

que é específico sobre o modo capitalista de produção. Não surpreende, portanto, que

seja incapaz de reconhecer as causas da crise.

>>RJ: Vocês consideram a crítica personificada dos especuladores e banqueiros como

mecanismos antissemitas e racistas. Por quê? A crítica dirigida a banqueiros desde

2008 não foi construída sobre chavões antissemitas, ao contrário dos anos 20, quando

caricaturas eram ilustradas com imagens antissemitas. Ou algo me escapa?

Para começar, nos distanciamos fundamentalmente de toda crítica personificada, que

[-] www.sinaldemenos.org Ano 5, n°9, 2013

22

atualmente está fora de controle de todas as formas possíveis. A crise do capital fictício é

também uma crise do euro. E como ela vem sendo considerada? Ela é causada pelos

“gregos preguiçosos”, que teriam desperdiçado o nosso dinheiro “suado”. Essa

personificação não apenas ignora de maneira insana o fato de que uma sociedade foi

empobrecida em meio à abundância, simplesmente porque toda riqueza tem de passar

pelo buraco de agulha da produção de mercadorias. O que é pior é que a raiva em

relação a essa situação miserável é projetada sobre sujeitos coletivos específicos,

construídos, de forma que agora se abriu uma temporada de caça.

Colocar a culpa em banqueiros e especuladores em si mesmo é “apenas” mais uma

forma dessa personificação. Mas nisso há algo mais que ressoa, que muitas vezes

permanece inconsciente. Essa personificação particular é em grande medida congruente

com um modelo básico de antissemitismo, que constrói uma oposição entre capital

“produtivo” e capital “acumulador de dinheiro” – e o último é identificado com os

judeus. Podemos ver novamente esse modelo hoje na ideia generalizada de que a

economia real foi destruída por alguns especuladores gananciosos, e de que o

importante é que lhes sejam impostos limites.

Isso não significa que todos os que atacam banqueiros e especuladores sejam

antissemitas. O que isto significa é que esse modelo projetivo de processar a crise é

totalmente compatível com a mania antissemita. Não é coincidência, portanto, que a

linguagem metafórica deslize repetidamente nessa direção, por exemplo no notório

termo “gafanhoto”, que o político social-democrata alemão Franz Müntefering

popularizou, colocando-se como um crítico do capitalismo. A frase “eles nos atacam

como gafanhotos” vem do filme de propaganda nazista Jud Süß, e não é necessário

explicar que os gafanhotos eram animais gananciosos. Outras imagens também são

recorrentes, como a popular representação do capital financeiro como um polvo com o

mundo em seus tentáculos. Ela também aparece de forma quase idêntica na propaganda

antissemita dos nazistas. Temos que ser muito cuidadosos com isso. Ainda há um tabu

na Alemanha contra adentrar a agitação antissemita aberta, mas a tendência é que isto

se torne perceptível, e isto é muito perigoso.

>>RJ: Que tipo de práxis política e social emerge, concretamente, de seu modelo

[-] www.sinaldemenos.org Ano 5, n°9, 2013

23

teórico?

NT: Bem, antes de qualquer coisa uma rejeição enfática e fundamental da política de

austeridade. É completamente insano afirmar que vivemos além de nossas

possibilidades e que temos que apertar os cintos, frente aos níveis de produtividade

altíssimos. O contrário é verdadeiro. Se fizéssemos uso integral das possibilidades das

forças produtivas modernas, toda pessoa do mundo poderia ter uma boa vida, e teria de

gastar apenas uma fração de seu tempo de vida produzindo bens materiais.

A única razão pela qual isso não ocorre é porque a empresa capitalista, obviamente,

obedece a sua compulsão para criar riqueza abstrata, porque ela adere à lógica de que a

riqueza material só é reconhecida quando representa “valor”. E isso não é simplesmente

algum tipo de oportunidade perdida ou uma possibilidade que passou despercebida. A

aderência à lógica da produção de valor no estado atual da produtividade é

simplesmente catastrófica, porque leva à exclusão de um enorme número de pessoas

“supérfluas”, que são sacrificadas no altar do imperativo sistêmico de manter o fluxo de

capital fictício do futuro para o presente.

Mas se nos livrarmos da ideia aparentemente óbvia de que os bens materiais só podem

ser produzidos como mercadorias, então se abrem perspectivas totalmente novas.

Especificamente, poderíamos perguntar como e em que forma o potencial existente

poderia ser usado de maneira racional em favor da riqueza geral, sem ter de pensar

sobre viabilidade financeira, viabilidade de mercado ou lucratividade. Ao contrário,

teríamos que reivindicar a perspectiva da riqueza material e das necessidades concretas.

Isso já acontece nas práticas dos movimentos sociais, por exemplo quando ações de

despejo são evitadas porque as pessoas não vêem por quê alguém teria de viver na rua

ou em uma barraca simplesmente porque não pode mais pagar a sua prestação ou

aluguel, ou quando as pessoas simplesmente dizem não à privatização de instituições

públicas na esfera social e cultural. São passos iniciais que apontam na direção correta.

Quando eles estão ligados a uma crítica radical da forma abstrata da riqueza, abrem-se

perspectivas totalmente novas de emancipação social.

[Publicado originalmente em Telepolis, em três partes, em 1o, 2 e 6 de agosto de 2012. Traduzido por Daniel Cunha a partir da versão inglesa traduzida por Joe Keady (www.krisis.org). O original alemão foi consultado como referência. Títulos originais: “Alle Zentralbanken sind dabei, sich in Bad Banks zu verwandeln” (parte 1); “Die Wirtschaftskrise und das fiktive Kapital” (parte 2) e “Der Neoliberalismus wurde zum Paten der Finanzindustrie” (parte 3).]