Norbert Trenkle, Ernst Lohoff - Crise mundial e limites do capital (entrevista com Richard Jellen)
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[-] Sumário # 9
EDITORIAL 5
ENTREVISTA CRISE MUNDIAL E LIMITES DO CAPITAL 9 Com Ernst Lohoff e Norbert Trenkle
ARTIGOS ENTRE RUÍNA E DESESPERO 24 Negação e constituição do sujeito em Robert Kurz e Slavoj Žižek Cláudio R. Duarte e Raphael F. Alvarenga
O EXÉRCITO NAS RUAS 60 Da Operação Rio à ocupação do Complexo do Alemão. Notas para uma reconstituição da exceção urbana Marcos Barreira e Maurilio Lima Botelho CIDADE OLÍMPICA 75 Sobre o nexo entre reestruturação urbana e violência na cidade do Rio de Janeiro Marcos Barreira A TODO VAPOR RUMO À CATÁSTROFE? 109 O capital e a dinâmica do aquecimento global Daniel Cunha AS SUTILEZAS METAFÍSICAS DO 134 NEGACIONISMO CLIMÁTICO Como a esquerda tradicional adere à ideologia negacionista Daniel Cunha LUKÁCS – A ONTOLOGIA DA MISÉRIA 155 E A MISÉRIA DA ONTOLOGIA Cláudio R. Duarte
[-] www.sinaldemenos.org Ano 5, n°9, 2013
O DINHEIRO DO ESPÍRITO E O DEUS DAS MERCADORIAS 187 A abstracção real segundo Sohn-Rethel Nuno Miguel Cardoso Machado TESES SOBRE A COMUNA DE PARIS 225 Guy Debord, Attila Kotànyi e Raoul Vaneigem CRÍTICA SOCIAL OU NIILISMO? 230 O “trabalho do negativo”: de Hegel e Leopardi até o presente Anselm Jappe
TERÃO OS SITUACIONISTAS SIDO A ÚLTIMA VANGUARDA? 247 Anselm Jappe EXTRATOS DE POLLOCK 261
ou, Pintura e trabalho abstrato Cláudio R. Duarte TÍMIDA SIM, MAS UM TANTINHO DESRECALCADA 288 Ainda um exercício em torno da matéria de Naves e de Guignard Eraldo Santos RODRIGO NAVES E AS DIFICULDADES DA FORMAÇÃO 298 Naves, Guignard, Machado e a crítica das formas modernas Cláudio R. Duarte ADESÃO E DESBUNDE 319 Os êxtases sórdidos de um Brecht às avessas Raphael F. Alvarenga e Natasha B. Palmeira
IDEOLOGIA, COMUNICAÇÃO E VISUALIDADE 336
O sistema artístico detectado
Marcelo Mari
OS DEVOTOS DO SANTO ANÔNIMO 342
Sobre “as visitas que hoje estamos”
Cláudio R. Duarte
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TRÊS FRAGMENTOS 351
“a hora certa”, “a lição” e “com espírito”
Antonio Geraldo Figueiredo Ferreira
EXPEDIENTE 366
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9
Crise mundial e limites do capital
Entrevista com Ernst Lohoff e Norbert Trenkle
>>Richard Jellen: Como Marx nos ajuda a entender a crise atual melhor do que
outros teóricos?
Ernst Lohoff: Para responder isso, primeiro temos que atentar para o debate sobre a
crise atual, que se caracteriza por uma enorme discrepância. De um lado, está bem
estabelecido que esta crise é de “proporções históricas”, e a cada duas semanas tem-se
uma nova reunião que termina com os mais importantes chefes de Estado anunciando
que acabaram de salvar a economia global da destruição. Por outro lado, as explicações
que são oferecidas para esse desenvolvimento dramático são extremamente
insuficientes. O discurso oficial em torno da crise está sendo conduzido no nível do
encanador amador, que conserta um cano aqui e outro acolá enquanto o porão é
inundado. Todo tipo de manobra técnico-financeira está sendo discutida, mas ninguém
sabe o que resultará delas, porque não existe uma boa análise teórica do processo de
crise em curso.
Enquanto isso, os representantes mais reflexivos da teoria econômica estão admitindo
abertamente a falência de sua disciplina. O professor de Harvard e ex-economista-chefe
do FMI, por exemplo, disse recentemente ao jornal de negócios Handelsblatt que os
modelos econômicos altamente elegantes que dominaram a academia por décadas
foram, na prática, “muito, muito mal-sucedidos. Quando o grande choque chegou, eles
se revelaram inúteis”.
>>RJ: O que causou esse total fracasso?
EL: Pensamos que isso remete às próprias questões que eles fazem de início. A questão
fundamental da nossa era de crise é na verdade bastante óbvia: por que uma sociedade
com produtividade material absolutamente explosiva, que pode produzir riqueza
material infinitamente, tem de concluir que está aparentemente “vivendo além de suas
possibilidades”? Podemos encontrar a resposta a esta questão em Marx – desde que
façamos uma leitura crítica e não alinhada aos modelos interpretativos do marxismo
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tradicional ou do assim chamado renascimento de Marx que estamos vivenciando agora.
O Capital de Marx não começa contrastando capital e trabalho, mas antes com a “forma
elementar” da sociedade capitalista: a mercadoria. Marx mostra que a contradição
básica que explica a tendência do capitalismo à crise em geral e à crise atual em
particular está imbricada na própria mercadoria. Trata-se da contradição entre duas
formas de riqueza: riqueza material, tal como gerada na produção de bens de uso, e
riqueza abstrata, que é categorialmente representada como valor e reificada na forma do
dinheiro.
Sob as condições da produção moderna de mercadorias, ou seja, em uma sociedade
capitalista, a riqueza material somente é produzida na medida em que ela também possa
ser representada como valor, ou seja, na medida em que contribui para a valorização do
capital. Portanto, a produção de bens é sempre um meio para um fim externo: o fim em
si mesmo de transformar dinheiro em mais dinheiro. Sempre que esse fim não pode ser
atingido porque a valorização do capital foi interrompida, a riqueza material também
pára de ser produzida. Bens são até mesmo destruídos porque não podem ser vendidos,
apesar do fato de que necessidades deixam de ser atendidas, em grande escala. Pessoas
têm de viver em barracas enquanto suas casas estão vazias, por exemplo, simplesmente
porque não podem mais pagar o seu financiamento.
>>RJ: O que caracteriza as crises econômicas na sociedade burguesa em comparação
com outros tempos?
Norbert Trenkle: Basicamente, podemos dizer que as crises no capitalismo não
surgem da escassez, mas da abundância, e em meio à abundância. Essa é uma
insanidade básica que a economia não pode explicar, porque ela naturaliza a produção
de riqueza abstrata: ela apresenta a produção de mercadorias como um tipo de forma
inata da economia humana. Por esta razão, ela não presta nenhuma atenção às
contradições internas entre a produção de riqueza material e abstrata, e ela é cega às
causas mais profundas da crise em curso.
>>RJ: Que tipo de crise econômica é esta que vivemos hoje?
EL: Marx faz uma distinção entre crises gerais e crises específicas, dizendo que “em
crises do mercado mundial, todas as contradições da produção burguesa emergem
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coletivamente; em crises específicas (específicas em seu conteúdo e extensão) as
emergências são mais esporádicas, isoladas e unilaterais”1. Nenhuma crise na história
do capitalismo mereceu tanto ser chamada de crise geral quanto a que se tornou visível
desde 2008. Ela consiste em todo um sistema de crises parciais, que disparam umas às
outras, se sobrepõe e se acumulam mutuamente.
Acima de tudo, duas camadas principais devem ser analisadas separadamente.
Primeiro, há uma crise estrutural de produção de valor real. Ela vem ocorrendo sob a
superfície desde os anos 70, nunca foi superada, e na verdade não pode ser superada,
porque ela se deve ao fato de que a produtividade desde então é alta demais para manter
o processo de valorização do capital funcionando. O capital tem que se reproduzir,
porque do contrário deixa de ser capital, e para isso uma força de trabalho sempre
crescente tem de ser utilizada para produzir mercadorias. Mas, ao mesmo tempo, a
competição acarreta uma incessante corrida pela produtividade, que em seu núcleo leva
à substituição permanente do trabalho por capital imobilizado. Essa é a contradição
interna fundamental no modo de produção capitalista, que ao final tem de se voltar
contra o próprio modo de produção. Especificamente, se a produtividade é tão alta que
grandes massas de força de trabalho se tornam supérfluas, isto coloca em perigo a
própria base da valorização do capital. É precisamente isto o que está no núcleo da crise
estrutural de fundamentos na qual o sistema capitalista global se encontra desde o fim
do boom do pós-guerra.
>>RJ: Qual é o outro componente essencial da crise?
NT: A crise que acabamos de descrever foi abafada por décadas pelo inchaço dos
mercados financeiros. No nível da sociedade como um todo, a acumulação de capital
voltou ao seu curso depois das crises dos anos 70, e a economia global voltou a crescer.
Porém, esse crescimento não se baseava mais na produção real de valor através da
exploração da força de trabalho, mas através do crescimento explosivo de capital na
indústria financeira. Como a indústria financeira colocou cada vez mais títulos de
propriedade em circulação (dívidas, ações, derivativos), ela conseguiu colocar em
prática o truque de transformar valor futuro, isto é, valor que ainda não foi produzido e
1 MARX, Karl. Theories of surplus value, Part II. Prometheus Books, 2000, p. 725.
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talvez nunca seja produzido, em riqueza abstrata.
Mas essa reprodução do capital através da antecipação de valor, que há muito atingiu
proporções astronômicas, entrou ela própria em crise. Ainda que o crescimento
contínuo dos títulos de propriedade, sem os quais o capitalismo não pode mais
sobreviver, esteja operando da mesma forma de sempre e esteja mesmo em aceleração,
isto ocorre apenas porque agora a tarefa está sendo executada por governos, e acima de
tudo por bancos centrais. Os estados aumentam as suas dívidas e os bancos centrais
garantem o excesso de crédito dos bancos privados a juro zero, enquanto
simultaneamente compram títulos do governo que ninguém mais comprará. De fato,
estamos lentamente atingindo os limites desse processo, e a crise do euro é um exemplo
disso.
>>RJ: Como o papel dos bancos centrais mudou no curso da crise financeira?
EL: Acima de tudo, o termo “capital fictício” denota o capital fictício formado por atores
do setor privado; créditos de bancos comerciais junto aos seus tomadores de
empréstimo; e ações e títulos em posse de companhias de seguro, fundos de
investimento ou investidores privados. Mas à medida que as moedas perderam o lastro
do padrão-ouro, há outro ator que se tornou importante na criação de capital financeiro
na indústria financeira: o banco central. A política monetária não é nada sem a
influência dos zeladores da moeda sobre a extensão pela qual o capital-dinheiro fictício
é criado. Isto pode acontecer indiretamente, por exemplo, ao definir o depósito
compulsório que os bancos comerciais são obrigados a reter.
Mas há algo que é muito mais importante. Os próprios bancos centrais estão entrando
nos mercados financeiros e de capitais como participantes do mercado, e acumulando
capital fictício. A assim chamada “criação de dinheiro” consiste em bancos centrais
garantindo o crédito a bancos comerciais, o que significa comprar promessas de
pagamento. Quando os bancos centrais reduzem a taxa de juros sobre esse crédito, ele
abastece a criação de capital fictício. Aumentar a taxa prime tem o efeito inverso. Essa
política de juros foi essencial para superar as crises anteriores na era do capital fictício.
Com ela foi possível até mesmo detonar a acumulação privada de capital fictício durante
a séria crise da nova economia na virada do milênio, com a drástica redução da taxa
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prime.
A bolha imobiliária, que também reascendeu a enfraquecida economia real, foi
alimentada por crédito barato. Mas a crise atual parece diferente. Para evitar o colapso
do sistema financeiro, os bancos centrais têm que adquirir cada vez mais ativos tóxicos e
garantir crédito em grande escala onde ninguém mais iria fazê-lo, além de manter uma
política de juro zero que fornecerá a matéria-prima para novas bolhas. Durante a fase de
crise aguda no outono de 2008 [primavera no Brasil], isso se limitou a substituir o
mercado interbancário paralisado. Normalmente os bancos internacionais emprestam
uns aos outros o dinheiro que não estão usando em um piscar de olhos, mas eles tinham
tão pouca confiança uns nos outros após a quebra do Lehman Brothers que aquela
forma de liquidez secou, e os bancos privados receberam crédito apenas dos bancos
centrais.
O que é ainda mais sério do que esse resgate de curto prazo é o fato de que, enquanto
isso, os bancos centrais têm de comprar títulos do governo em grande escala para evitar
que o mercado desses valores mobiliários entre em colapso, começando uma reação em
cadeia de insolvências governamentais. Mas a crise bancária ainda está latente, e os
bancos centrais estão assumindo esse risco, assim como estão fornecendo crédito de
longo prazo a bancos comerciais em apuros, que obviamente seria perdido em caso de
quebra.
Seja no Fed nos Estados Unidos ou nos bancos centrais europeus, isto está
transformando todos os bancos centrais em bancos podres. Eles estão injetando capital-
dinheiro loucamente no sistema bancário, enquanto a qualidade de suas reservas de
moeda está se deteriorando rapidamente, porque elas são cada vez mais compostas por
ativos tóxicos inegociáveis. De fato, os resgates de emergência dos últimos quatro anos
podem ter evitado o colapso do sistema financeiro, mas eles apenas adiaram a
necessidade de desvalorização e, ao mesmo tempo, a socializaram.
>>RJ: Qual a probabilidade de haver inflação?
NT: A estabilidade monetária é ameaçada de dois lados: de uma parte, os bancos
centrais estão injetando mais e mais capital-dinheiro no sistema bancário. Enquanto os
bancos e seus clientes reutilizarem esse capital-dinheiro como capital, ou seja, enquanto
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comprarem títulos de propriedade ou o investirem produtivamente, não há
consequências sérias para a estabilidade monetária. Isto muda, porém, quando ele flui
para mercados de bens, sendo tratado apenas como dinheiro extra contra as
mercadorias que estão sendo comercializadas. Quando isto ocorre em grande escala,
porque há escassez de investimentos de capital, o inchaço na superestrutura financeira
será traduzido em desvalorização da moeda, o que significa inflação. Ao mesmo tempo,
como já indicamos, mais cedo ou mais tarde isso levará a uma desvalorização aberta das
reservas monetárias. Assim, uma oferta superestendida de dinheiro se encontrará com
uma demanda reduzida.
Nesse contexto, a questão não é se haverá inflação, mas quando ela começará e que
caminho tomará. Até aqui, a inflação, ao menos aqui na Alemanha, se limitou a metais
preciosos e terrenos, que funcionam como investimentos seguros no mundo dos bens
materiais. No dia a dia isso já é visível na forma de aluguéis crescentes. Mas dificilmente
isto parará aí.
De certa forma, isto implica um retorno ao estado da economia global de antes da real
decolagem do capital fictício. Nos anos 70, os países capitalistas centrais foram
caracterizados por um fenômeno que os economistas chamaram de “estagflação”: o
crescimento fraco foi acompanhado por uma inflação anual de cerca de 10%. Mas as
coisas ficaram muito maiores em comparação com aquele período. O crescimento fraco
pode levar a uma recessão aberta, e a inflação à hiperinflação. Adiar a crise tem um
preço.
>>RJ: O que causou a crise atual?
NT: Quando olhamos para as causas, temos que distinguir entre as duas camadas da
crise. A crise de base da valorização do valor é, como já dito, o resultado da aceleração
do desenvolvimento da produtividade, que torna o trabalho cada vez mais supérfluo. A
terceira revolução industrial tem um papel crítico nisso. Enquanto também houve fortes
impulsos para a racionalização em fases anteriores do desenvolvimento capitalista, por
exemplo, nos anos 20 e 30, quando os métodos de produção fordista foram
introduzidos, novos setores da produção industrial de massa estavam sendo explorados
concomitantemente, e eles exigiam trabalho adicional em massa. A expansão da
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produção de mercadorias a novos campos compensava os efeitos da racionalização, de
forma que em última instância mais trabalho era utilizado do que anteriormente.
Mas na terceira revolução industrial, esse mecanismo compensatório não está mais
funcionando, porque a reestruturação do processo de produção baseada na tecnologia
da informação implica transferir a força produtiva de uma sociedade para o nível do
conhecimento, ou, mais precisamente, para a aplicação do conhecimento na produção.
Os fundamentos da valorização do capital, em consequência, são colocados em xeque,
porque isso leva ao deslocamento absoluto da força de trabalho em todos os setores da
produção de valor, o que não pode mais ser compensado pelo desenvolvimento de novos
setores.
>>RJ: Então o que é capital fictício, e qual o seu papel na crise atual?
EL: O capital fictício é essencial para o entendimento da segunda camada da crise.
Trata-se de um conceito que Marx introduziu para distingui-lo de capital produtivo. Ele
mostrou que o capital, em seu curso de desenvolvimento, não apenas transforma a
produção de batatas, aço, têxteis, etc. em produção de mercadorias, mas que o próprio
capital-dinheiro também se torna uma mercadoria comercializável.
O que acontece nesse processo é espantoso. O capital inicial subitamente ganha uma
existência dupla, como resultado de sua venda. Por um lado, o capital inicial é agora
possuído por um tomador de empréstimo ou companhia emissora de ações, mas ao
mesmo tempo o emprestador ou acionista possui um espelho do capital inicial, ou um
título de propriedade (título de dívida, ação, etc.), que representa um crédito pecuniário.
Essa duplicação não é uma mera ficção, como o termo “capital fictício” parece sugerir.
Ela não existe apenas na cabeça das pessoas. Ela adquire uma existência social objetiva
na forma de valores mobiliários, enquanto o título de crédito parecer resgatável. Este é
um crédito para um valor futuro e representa a riqueza capitalista, exatamente da
mesma forma que o valor, que é extraído da força de trabalho pelo capital produtivo.
No tempo de Marx, esse tipo de aumento de capital através da capitalização antecipada
de valor futuro era marginal, a ponto de ser irrelevante para o desenvolvimento de longo
prazo da acumulação de capital, mas ao longo dos últimos trinta anos, ela se tornou uma
fonte real de riqueza capitalista. Para manter a produção capitalista apesar do fato de
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que o trabalho se torna cada vez mais supérfluo, devido aos ganhos de produtividade,
porções cada vez maiores de valor futuro, fictício, foram injetadas no presente. Como
resultado, a crise estrutural da valorização foi adiada, por enquanto.
>>RJ: E qual é o cerne da questão?
EL: Infelizmente, um sistema baseado na antecipação de produção de valor futuro só
pode funcionar como um esquema de pirâmide, e como tal ele é pressionado de dois
lados: de uma parte, quanto mais tempo essa forma insana de capitalismo continua
reprocessando a si mesma, mais rápido os ativos tóxicos de um futuro capitalista que já
foi consumido serão empilhados até o céu. As dívidas do passado não podem
desaparecer sem consequências. Ou elas são refinanciadas, ou o capital social será
destruído pela nulificação do capital fictício.
Por outro lado, a maré crescente dos títulos de propriedade só pode encontrar mercado
se de alguma forma parecer plausível que a promessa de pagamento e a perspectiva de
lucros de parte dos tomadores de empréstimo e de outros vendedores de títulos de
propriedade possam ser cumpridas. Quando isso não pode mais ser garantido, a bolha
estoura e parece haver uma “crise financeira”, quando na realidade a única coisa que
fracassou é o mecanismo que tornou possível que a crise estrutural da valorização fosse
adiada por décadas. Se você entende issso, você sabe que a crise atual é muito mais
dramática do que geralmente se percebe. Trata-se de uma crise sistêmica no sentido
mais estrito do termo: uma crise que genuinamente coloca em questão o sistema
capitalista de produção de riqueza.
>>RJ: Quais serão as consequências das políticas de austeridade que estão sendo
executadas pelas classes política e financeira como solução para a crise?
NT: Duas coisas têm de ser mantidas separadas quando falamos sobre medidas de
austeridade. Austeridade no sentido de estabelecer metas oficiais, especificamente como
um caminho para o equilíbrio orçamentário, é uma Fada Morgana. Assim, novas dívidas
têm de ser geradas, porque os estados ficaram sem escolha, a não ser injetar
continuamente muitos bilhões no sistema bancário e financeiro para adiar o seu colapso
o mais que puderem. Eles fazem isso porque haverá consequências catastróficas caso
não o façam. Mas esses bilhões não podem vir da criação de valor real. Eles só podem
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sair da repetida antecipação de valor futuro.
Então os estados têm de fazer tudo o que está ao seu alcance para assegurar a sua
credibilidade, e para fazê-lo como se o seu interesse fosse o de equilibrar os seus
orçamentos no longo prazo. E é exatamente isto o que eles estão demonstrando, através
de políticas brutais de austeridade em relação a toda esfera social que seja considerada
puro estorvo da perspectiva do capital fictício: sistemas de bem-estar social, serviços
públicos, educação, etc. A versão oficial desse relato se revela bastante bem nas
distinções que eles fazem entre setores que são “sistemicamente relevantes” e
“sistemicamente irrelevantes”. Não é necessário explicar que as consequências para a
maior parte da população e para a produção de riqueza material são devastadoras. Basta
olhar para a Grécia e a Espanha, onde o que está sendo executado é exatamente o que
mais cedo ou mais tarde ameaçará os países que ainda não foram tão seriamente
afetados pelas consequências da crise.
>>RJ: Por que eles estão optando por essa política de empobrecimento?
NT: Eles não estão fazendo isso, por exemplo, para criar uma sociedade “sustentável”,
ou para evitar deixar dívidas excessivas para “nossos filhos”, como coloca o jargão
político hipócrita, pateticamente falso. Eles o fazem apenas para continuar a
acumulação de capital fictício. O preço disso continua aumentando, entretanto, porque
não se trata mais de uma questão de manter funcionando a máquina de produção de
riqueza abstrata sugando valor futuro, mesmo quando a máquina é paralisada pela alta
produtividade. Acima de tudo, ao contrário, o que deve ser evitado é o colapso das
montanhas de promessas de pagamento irresgatáveis. Por isso, a maior parte do capital
fictício recém criado flui diretamente de volta para o setor financeiro, e cada vez menos
entra em circulação na economia real.
Como consequência, fica claro que a política de austeridade está atingindo um ponto
onde ela está se tornando contraprodutiva mesmo para o objetivo estreito de acumular
capital fictício. Onde ela é levada ao extremo, como agora na Grécia e na Espanha, ela
está conduzindo diretamente à depressão econômica – e isto também afeta o sistema
bancário e financeiro. Lentamente, isto está ficando claro até mesmo entre os linha-dura
da austeridade alemã e europeia. Por isto, e, é claro, por causa dos protestos de massa,
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novos programas de crescimento e estímulo estão sendo discutidos, mas resta saber se
esses programas serão executados a tempo, antes do começo da derrocada. Espera-se
que eles percebam que podem pelo menos desacelerar a corrida para o
empobrecimento.
É claro que mesmo no melhor dos casos isto serviria apenas para ganhar tempo, porque
esses programas são subsidiados pelo mesmo capital fictício. Isto implica, então, que os
seus apoiadores, como o presidente francês Hollande, não estão de maneira nenhuma
desafiando a austeridade em si. Eles apenas querem dar-lhe uma forma ligeiramente
diferente. Eles também estão perseguindo a ilusão de um orçamento equilibrado, e em
último caso estão dispostos a demandar que a população faça todo o sacrifício possível
por essa ficção. A partir dessa perspectiva, podemos esperar uma alta carga de
crueldade de uma possível coalizão verde-vermelha na Alemanha no próximo ano.
>>RJ: Em seu novo livro2, vocês dizem que “Mais cedo ou mais tarde deve chegar o
ponto no qual o nível das forças produtivas não é mais compatível com a forma
capitalista da riqueza”. Mas não há sempre tendências que compensam a crise
enquanto ela se desenvolve, ou depois?
EL: A teoria marxiana da crise une dois elementos. Por um lado, Marx sustenta a teoria
de que o capital vai em direção a um limite histórico insuperável, devido ao
desenvolvimento das forças produtivas. Por outro lado, ele também examinou o curso
das crises periódicas, que repetidamente interrompem a progressão da acumulação de
capital. Em sua teoria da crise, ambos os elementos estão unidos, pois o problema
básico do capitalismo, a subordinação da produção de riqueza material ao objetivo sem
sentido da valorização do valor, sempre surge durante essas crises periódicas.
Ainda mais do que em outras esferas da sociedade, a discussão na esquerda é dominada
por uma forte tendência a subestimar a crise atual. Consequentemente, o problema das
crises periódicas é visto de forma isolada, e a possibilidade de um limite histórico é
simplesmente ignorada. O resultado é uma maneira budista de entender as crises,
segundo a qual as crises são apenas “crises autocorretivas”. Elas vêm e vão eternamente,
2 LOHOFF, Ermst. & TRENKLE, Nobert. Die große Entwertung: Warum Spekulation und
Staatsverschuldung nicht die Ursache der Krise sind [A grande desvalorização: por que a especulação e o endividamento estatal não são as causas da crise]. Münster: Unrast-Verlag, 2010.
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e em última instância apenas fortalecem o capital. Isto também surge em Marx – onde
ele tem algo completamente diferente a dizer sobre as crises periódicas. “As crises são
sempre apenas soluções momentâneas e forçosas para as contradições existentes. Elas
são erupções violentas, que por um tempo restauram o equilíbrio perturbado”3. Para ele,
o essencial é a constante intensificação e acumulação de novas contradições.
O nosso argumento no livro toma diretamente a ideia marxiana de um limite histórico, e
o localiza na terceira revolução industrial. O fato de que a destruição de capital em
tempos de crise restaura a lucratividade do capital remanescente, e portanto pode
tornar-se o ponto de partida para um impulso renovado de acumulação, não é uma
resposta ao problema do limite histórico, mas estritamente para as crises periódicas. Ele
assume que um novo impulso sustentado de valorização de capital pode começar depois
que a supercapacidade for corrigida. Mas isso é exatamente o que é fundamentalmente
descartado sob as condições da terceira revolução industrial.
>>RJ: Vocês afirmam que as respectivas vitórias do keynesianismo e do
neoliberalismo correspondem a diferentes fases da dinâmica da valorização
econômica no capitalismo. Vocês podem explicar isso?
NT: O relativo sucesso do keynesianismo durante o boom do pós-guerra estava ligado a
condições estruturais específicas que estavam fora do seu controle, o que significa que
ele não as criou, e não poderia criá-las. As políticas de regulação e de redistribuição
eram inteiramente funcionais, à medida que o emprego industrial massivo se expandiu e
atuou como o motor de um boom autossustentado de valorização de capital. A expansão
de sistemas de bem-estar social e o aumento real dos salários não apenas contribuíram
para a pacificação social, mas também estabilizaram a escalada econômica, porque
fortaleceram o consumo de massa. A expansão da infraestrutura pública teve
importância no mínimo equivalente. Sem isso, a industrialização total e a
mercantilização de tudo na sociedade não poderiam funcionar. Não se poderia dirigir
automóveis sem uma densa rede de estradas, a eletrificação das casas exigia o
fornecimento de energia, e um sistema educacional amplo e de boa qualidade se fazia
necessário para educar uma força de trabalho qualificada.
3 MARX, Karl. Capital. New York: International Publishers, 1967, vol. III, p. 249.
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Então, o Estado exerceu um papel central, e isto alimentou a ideia de que ele também
estava na posição de manter o desenvolvimento econômico, guiá-lo, e estabilizá-lo no
longo prazo. Mas quando o boom fordista do pós-guerra chegou ao fim, isto se mostrou
uma ilusão, porque, à medida que a valorização do capital foi paralisada, quando cada
vez mais trabalhadores foram demitidos devido ao rápido aumento da produtividade,
não foram apenas as fontes financeiras que secaram. Ainda mais sério foi o fato de que
ele não conseguiria iniciar um novo surto sustentado de valorização de capital, apesar
do massivo estímulo dos financiamentos e pacotes de crescimento.
Da nossa perspectiva, não há nada de notável nisso, porque, se o Estado pode intervir
nos mecanismos de mercado até certo ponto, ele não tem acesso ao processo
fundamental que é determinado pela contradição interna do capitalismo. Para colocar
de outra forma, o keynesianismo tornou-se inútil frente à racionalização geral que se
seguiu à terceira revolução industrial, que em última instância erodiu os fundamentos
da valorização do capital. Toda tentativa de tirar a economia real da estagflação
fracassou miseravelmente.
Esta foi a razão mais profunda da vitória do neoliberalismo. Se tampouco tinha um
plano para ressuscitar a valorização do capital, ele estabeleceu as bases para que a
dinâmica econômica se transferisse para a “indústria financeira”, e consequentemente
para adiar a crise pelas três décadas seguintes. Os fatores críticos aqui foram, de um
lado, a liberalização consistente dos mercados financeiros e, de outro, o aumento da
dívida pública do governo Reagan, que de certa forma serviu como financiamento inicial
para a acumulação de capital fictício em enorme escala. A destruição de estruturas
fordistas através da desestruturação de sindicatos, etc. fez o resto, porque ao mesmo
tempo a privatização do setor público abriu novos campos para o investimento
financeiro, por exemplo a privatização de sistemas de previdência.
>>RJ: Qual o papel da revolução da tecnologia da informação nisso tudo?
NT: Da mesma maneira que o keynesianismo apoiou a expansão da produção industrial
em massa, o neoliberalismo se tornou o padrinho da “indústria financeira”. É uma
ironia da história que, como resultado, isto simultaneamente tenha ajudado no
desabrochar da terceira revolução industrial. Por si mesma, ela teria se sufocado em sua
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própria produtividade. Mas a acumulação de capital fictício criou o cenário necessário
para a ampla instalação da tecnologia da informação. Tornou-se possível suplantar
temporariamente os poderosos efeitos da racionalização, que levaram a um massivo
deslocamento do trabalho vivo de setores do núcleo da valorização, tomando valor
futuro. O resultado, porém, é a progressiva erosão da produção de valor que só agora
começa a ser perceptível em toda a sua extensão, na crise do capital fictício.
>>RJ: Em seu livro, vocês comparam a economia a uma “escola de arte que prescreve
a borracha como a única ferramenta para a confecção de retratos”. O que isso
significa?
EL: Isto nos leva de volta à questão do início da entrevista. A economia, não importa a
escola, não pode entender a crise, porque ela oblitera a distinção básica entre as duas
formas de riqueza: riqueza material e riqueza abstrata. Os capítulos iniciais dos livros de
teoria econômica sempre dizem que o objetivo da economia é a satisfação das
necessidades e a ótima provisão de bens para as pessoas, e que somente a economia de
mercado sob condições avançadas de divisão do trabalho pode atingir esse objetivo.
Então, o funcionamento da economia de mercado é descrito de acordo com o princípio
da troca simples de mercadorias, da mesma maneira que o mercado na praça central de
uma vila idealizada, onde sapatos são trocados por porcos e ovos por novelos de lã. Isto
sistematicamente exclui o que é totalmente óbvio, ou seja, que sob as condições
capitalistas, produz-se apenas o que transformará dinheiro em mais dinheiro, e que o
objetivo da produção é a reprodução de riqueza abstrata, e a mercadoria é simplesmente
um meio para manter esse sistema autorreferente em operação. Para colocar em outros
termos: a economia usa a borracha logo no nível de suas premissas básicas, e apaga o
que é específico sobre o modo capitalista de produção. Não surpreende, portanto, que
seja incapaz de reconhecer as causas da crise.
>>RJ: Vocês consideram a crítica personificada dos especuladores e banqueiros como
mecanismos antissemitas e racistas. Por quê? A crítica dirigida a banqueiros desde
2008 não foi construída sobre chavões antissemitas, ao contrário dos anos 20, quando
caricaturas eram ilustradas com imagens antissemitas. Ou algo me escapa?
Para começar, nos distanciamos fundamentalmente de toda crítica personificada, que
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atualmente está fora de controle de todas as formas possíveis. A crise do capital fictício é
também uma crise do euro. E como ela vem sendo considerada? Ela é causada pelos
“gregos preguiçosos”, que teriam desperdiçado o nosso dinheiro “suado”. Essa
personificação não apenas ignora de maneira insana o fato de que uma sociedade foi
empobrecida em meio à abundância, simplesmente porque toda riqueza tem de passar
pelo buraco de agulha da produção de mercadorias. O que é pior é que a raiva em
relação a essa situação miserável é projetada sobre sujeitos coletivos específicos,
construídos, de forma que agora se abriu uma temporada de caça.
Colocar a culpa em banqueiros e especuladores em si mesmo é “apenas” mais uma
forma dessa personificação. Mas nisso há algo mais que ressoa, que muitas vezes
permanece inconsciente. Essa personificação particular é em grande medida congruente
com um modelo básico de antissemitismo, que constrói uma oposição entre capital
“produtivo” e capital “acumulador de dinheiro” – e o último é identificado com os
judeus. Podemos ver novamente esse modelo hoje na ideia generalizada de que a
economia real foi destruída por alguns especuladores gananciosos, e de que o
importante é que lhes sejam impostos limites.
Isso não significa que todos os que atacam banqueiros e especuladores sejam
antissemitas. O que isto significa é que esse modelo projetivo de processar a crise é
totalmente compatível com a mania antissemita. Não é coincidência, portanto, que a
linguagem metafórica deslize repetidamente nessa direção, por exemplo no notório
termo “gafanhoto”, que o político social-democrata alemão Franz Müntefering
popularizou, colocando-se como um crítico do capitalismo. A frase “eles nos atacam
como gafanhotos” vem do filme de propaganda nazista Jud Süß, e não é necessário
explicar que os gafanhotos eram animais gananciosos. Outras imagens também são
recorrentes, como a popular representação do capital financeiro como um polvo com o
mundo em seus tentáculos. Ela também aparece de forma quase idêntica na propaganda
antissemita dos nazistas. Temos que ser muito cuidadosos com isso. Ainda há um tabu
na Alemanha contra adentrar a agitação antissemita aberta, mas a tendência é que isto
se torne perceptível, e isto é muito perigoso.
>>RJ: Que tipo de práxis política e social emerge, concretamente, de seu modelo
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teórico?
NT: Bem, antes de qualquer coisa uma rejeição enfática e fundamental da política de
austeridade. É completamente insano afirmar que vivemos além de nossas
possibilidades e que temos que apertar os cintos, frente aos níveis de produtividade
altíssimos. O contrário é verdadeiro. Se fizéssemos uso integral das possibilidades das
forças produtivas modernas, toda pessoa do mundo poderia ter uma boa vida, e teria de
gastar apenas uma fração de seu tempo de vida produzindo bens materiais.
A única razão pela qual isso não ocorre é porque a empresa capitalista, obviamente,
obedece a sua compulsão para criar riqueza abstrata, porque ela adere à lógica de que a
riqueza material só é reconhecida quando representa “valor”. E isso não é simplesmente
algum tipo de oportunidade perdida ou uma possibilidade que passou despercebida. A
aderência à lógica da produção de valor no estado atual da produtividade é
simplesmente catastrófica, porque leva à exclusão de um enorme número de pessoas
“supérfluas”, que são sacrificadas no altar do imperativo sistêmico de manter o fluxo de
capital fictício do futuro para o presente.
Mas se nos livrarmos da ideia aparentemente óbvia de que os bens materiais só podem
ser produzidos como mercadorias, então se abrem perspectivas totalmente novas.
Especificamente, poderíamos perguntar como e em que forma o potencial existente
poderia ser usado de maneira racional em favor da riqueza geral, sem ter de pensar
sobre viabilidade financeira, viabilidade de mercado ou lucratividade. Ao contrário,
teríamos que reivindicar a perspectiva da riqueza material e das necessidades concretas.
Isso já acontece nas práticas dos movimentos sociais, por exemplo quando ações de
despejo são evitadas porque as pessoas não vêem por quê alguém teria de viver na rua
ou em uma barraca simplesmente porque não pode mais pagar a sua prestação ou
aluguel, ou quando as pessoas simplesmente dizem não à privatização de instituições
públicas na esfera social e cultural. São passos iniciais que apontam na direção correta.
Quando eles estão ligados a uma crítica radical da forma abstrata da riqueza, abrem-se
perspectivas totalmente novas de emancipação social.
[Publicado originalmente em Telepolis, em três partes, em 1o, 2 e 6 de agosto de 2012. Traduzido por Daniel Cunha a partir da versão inglesa traduzida por Joe Keady (www.krisis.org). O original alemão foi consultado como referência. Títulos originais: “Alle Zentralbanken sind dabei, sich in Bad Banks zu verwandeln” (parte 1); “Die Wirtschaftskrise und das fiktive Kapital” (parte 2) e “Der Neoliberalismus wurde zum Paten der Finanzindustrie” (parte 3).]