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FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS
DOUTORADO EM GEOGRAFIA
BRUNO DE SOUZA LIMA
ÍCONES DE PAISAGEM DE MATO GROSSO DO SUL: ANÁLISE
FUNCIONAL E DE QUALIDADE VISUAL PARA O TURISMO DE
NATUREZA
Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação – Doutorado em Geografia,
da Faculdade de Ciências Humanas, da Universidade Federal da Grande
Dourados como requisito para a obtenção do título de Doutor em Geografia.
Orientador: Prof°. Dr. Charlei Aparecido da Silva
DOURADOS/MS
2021
ÍCONES DE PAISAGEM DE MATO GROSSO DO SUL: ANÁLISE
FUNCIONAL E DE QUALIDADE VISUAL PARA O TURISMO DE
NATUREZA
Banca examinadora
____________________________________________________
Prof. Dr. Charlei Aparecido da Silva
(Programa de Pós-Graduação em Geografia – Universidade Federal da Grande
Dourados/UFGD)
Presidente e Orientador
Prof. Dr. António Avelino Batista Vieira
(Universidade do Minho)
_____________________________________________________
Profa. Dra. Edvania Gomes de Assis Silva
(Universidade Federal do Delta do Parnaíba /UFDPar)
_____________________________________________________
Prof. Dr. Valdir Adilson Steinke
(Universidade de Brasília/UNB)
________________________________________________________
Prof. Dr. Edvaldo César Moretti
(Programa de Pós-Graduação em Geografia – Universidade Federal da Grande
Dourados/UFGD)
Dedico aos meus familiares, amigos, professores e
alunos que me acompanharam ao longo de todo esse
processo de doutoramento.
AGRADECIMENTOS
Lançar-se ao desafio de elaborar uma tese requer a capacidade do pesquisador em
equilibrar suas condições emocionais, pessoais, financeiras e profissionais durante o
processo de desenvolvimento da pesquisa. Nesta jornada, é necessário ressaltar que para
atingir tal equilíbrio, foi necessário amparar-se no suporte de diferentes indivíduos e
instituições para que ao final fosse possível chegar ao resultado pretendido. Durante os
quatro anos de desenvolvimento da tese, o indivíduo Bruno de Souza Lima passou por
uma série de desafios e obstáculos que, por certas vezes, estimulavam a desistência do
término da tese. Porém, em função deste apoio de algumas pessoas e de algumas
instituições, foi possível findar mais essa etapa de minha formação profissional.
Destarte, as próximas linhas buscam exprimir uma singela homenagem a todos que
tiveram uma cota de participação em minha conquista. Por mais que seja uma
demonstração simples, gostaria de ressaltar que todos vocês foram fundamentais para que
esta pesquisa fosse desenvolvida, e que sem vocês talvez não estaria agora escrevendo
esses agradecimentos. Assim sendo, agradeço:
• A minha família, meus pais Francisco Clarindo de Lima e Neuza Maria de Souza
Lima, que sempre prezaram por minha educação e de meu irmão, sempre
oferecendo suporte para que conseguíssemos alcançar nossos sonhos e objetivos.
Ao meu irmão Michel e minha cunhada Anelize, que sempre apoiaram minhas
decisões e me proporcionaram momentos de “escape” nas horas de pressão, seja
por meio de uma conversa, de uma tarde de tereré ou de um churrasquinho no fim
de semana. E um agradecimento especial a minhas sobrinhas Alice e Ana Luiza,
que recarregavam minha energia simplesmente com um sorriso e um abraço
quando eu precisava.
• Ao meu orientador Prof. Dr. Charlei Aparecido da Silva. Na verdade, fugindo das
formalidades, não gostaria de chamar de orientador, mas sim de AMIGO. Talvez
eu nunca tenha conhecido um ser humano com tamanha sensibilidade. Apenas de
nos primórdios de nossa amizade ele desconfiar que eu seria um “terrorista
acadêmico”, eu tenho certeza que eu nunca teria me tornado o que me tornei sem
a ajuda dele. E não falo apenas no sentido do título de mestre e doutor, falo no
sentido que eu não teria me constituído a pessoa que me vejo hoje. Você tem sido
muito importante na minha vida! Um agradecimento especial também a Giuliana,
sua esposa, e ao Raphael, seu filho, que sempre me receberam muito bem nas
manhãs, tardes e noites que busquei orientação com o Charlei.
• A todos meus amigos do meu círculo de convivência que compartilharam
importantes momentos comigo ao longo desses últimos quatro anos. Não vou
ousar citar todos aqui para não cometer nenhuma injustiça, mas sintam-se
homenageados nessas humildes e gratas palavras.
• Aos colegas de LGF, que estiveram presentes ao longo dessa caminhada,
participando de diversos momentos durante as atividades, eventos, aulas, reuniões
e confraternizações. Agradecimento especial a minha amiga, parceira de pesquisa
e “chefa” Patrícia Cristina Statella Martins, que sempre buscou me ajudar em
tudo, mesmo quando ela não tinha a menor obrigação, me dando suporte em
muitos momentos em que a tristeza e desanimo bateram, me ajudando a nunca
desistir e me inserindo e diversas empreitadas para me ajudar na minha formação
profissional. Agradeço também ao meu grande amigo Fábio Orlando Eichenberg,
que conheci enquanto ainda meu professor, e que me indicou a pós-graduação.
Foram bons momentos de trabalhos de campo, atividades, churrascos e uma boa
cerveja gelada. Muito obrigado meu irmão! Patrícia Silva Ferreira também é uma
grande amiga que a pós-graduação me deu. Para além da paciência que sempre
teve em me ajudar com dados da pesquisa, sempre foi uma parceira de eventos,
de viagens e de bons momentos de amizade. Por fim, gostaria de fazer também
um agradecimento especial a Nathália Karoline Soares. Talvez minha trajetória
com a Nathália tenha sido a mais aleatória de todas, pouco falávamos sobre
pesquisa, nosso foco era a “zoeira”. Mas mal sabe ela o quanto essas brincadeiras
e momentos de descontração foram importantes para mim.
• A UFGD por me propiciar ensino público e de qualidade. Em um momento
político tão conturbado no que tange a educação (não apenas a educação), sou a
prova viva da importância das instituições públicas na formação cidadã,
mostrando que o caminho para um país melhor é sim a educação.
• A todos os funcionários da UFGD, bem como aos professores e técnicos do
Programa de Pós-Graduação em Geografia, que constroem um ambiente propício
para que os acadêmicos desenvolvam suas pesquisas com relevante padrão de
qualidade. Especial agradecimento a secretária do PPGG, Erika Santos Gutierrez,
que sempre auxiliou nos processos de formação de doutorado durante toda a
caminhada.
• A instituições UNEMAT e UEMS em que tive a oportunidade de trabalhar como
docente no curso de turismo. Foram momentos de muito aprendizado e
crescimento profissional. Agradeço a todos os colegas de trabalho que tive durante
esse período e que me ajudaram a me construir enquanto professor.
Agradecimento especial a todos meus alunos que passaram por meus cuidados
durante esse tempo, tenho um carinho especial por cada um de vocês, e saibam
que aprendi muito com vocês também.
• Algumas instituições que tornaram a pesquisa possível, como o Instituto Homem
Pantaneiro em Corumbá-MS, a Prefeitura de Naviraí (representada pela Kátia V.
Chrestani Borges e Adriano Chaves de França), a UFMS-Aquidauana e a
Fundação Netrópica do Brasil (representada pela mestranda do PPGG Fernanda
Cano de Andrade Marques). Ambos contribuíram com hospedagem, transporte,
alimentação e informações durante a execução dos trabalhos de campo realizados
na pesquisa. Sem a ajuda destes atores seria impossível desenvolver esta pesquisa.
• A banca de qualificação pela gentileza, paciência, sensibilidade e competência
nos pertinentes apontamentos realizados durante essa etapa. Agradeço aos
professores Dr. António Avelino Batista Vieira, Dra. Edvania Gomes de Assis
Silva e Dr. Edvaldo César Moretti.
• A banca de defesa também pela gentileza, paciência, sensibilidade e competência
ao realizar a avaliação final da pesquisa, participando desse momento tão especial
na vida de um doutorando, referendando resultados e os aspectos
teóricos/metodológicos desenvolvidos durante a tese. Agradecimento aos
professores Dr. Charlei Aparecido da Silva, Dr. António Avelino Batista Vieira,
Dra. Edvania Gomes de Assis Silva, Dr. Valdir Adilson Steinke e Dr. Edvaldo
César Moretti. Agradeço também a disponibilidade dos membros suplentes da
banca, os professores Dr. Roberto Verdum e Dr. João Osvaldo Rodrigues Nunes.
Com muito carinho, meu muito obrigado a todos!
ÍCONES DE PAISAGEM DE MATO GROSSO DO SUL: ANÁLISE
FUNCIONAL E DE QUALIDADE VISUAL PARA O TURISMO DE
NATUREZA
RESUMO: O estado de Mato Grosso do Sul, sexto maior em extensão no Brasil, conta
com um território de relevantes paisagens, algumas delas inclusive reconhecidas
internacionalmente, como a Serra da Bodoquena e o Pantanal. Entretanto, além dos
conjuntos supracitados, a condição física do território sul-mato-grossense pressupõe uma
amplitude maior de relevantes paisagens passíveis de serem contempladas no Estado.
Para tal, a identificação dos diferentes elementos que compõem as paisagens e suas inter-
relações permite aferir as diferentes formas de paisagem em Mato Grosso do Sul. Neste
contexto, a pesquisa visa oferecer uma nova percepção acerca dos conjuntos
paisagísticos: o ícone de paisagem. O termo pode ser considerado como um táxon de
maior definição/delimitação de um determinado conjunto paisagístico, conceito o qual
pode atrelar-se a diferentes fins, como por exemplo, a valorização turística. Assim sendo,
buscou-se delimitar os diferentes conjuntos paisagísticos no território sul-mato-
grossense, buscando evidenciar sua condição funcional e sua qualidade visual para o
desenvolvimento de atividades ligadas ao segmento do Turismo de Natureza. Além da
construção teórica acerca dos temas pertinentes, a pesquisa teve como bases o
geoprocessamento e a execução de trabalhos de campo nas áreas de estudo. Na
espacialização cartográfica, foram elaborados mapas temáticos e de síntese que
permitiram compreender a complexidade dos ícones de paisagem elencados. Quanto aos
trabalhos de campo, estes primaram pela coleta de informações in loco nos ícones,
procedimentos amparados pela técnica fotográfica, mapeamento de drone, anotações de
informações em fichas de campo e coleta de pontos de GPS. Destarte, foram identificados
ao longo da pesquisa cinco ícones de paisagem: Serra do Amolar; Maciço do Urucum;
Serra da Bodoquena; Serra de Maracaju; e APA Ilhas e Várzeas do rio Paraná. A partir
das análises realizadas, foi possível evidenciar relevantes características físicas em tais
conjuntos, as quais justificam seu tratamento enquanto paisagem icônica em Mato Grosso
do Sul. Neste âmbito, os mapas sínteses apresentam a espacialização de diferentes pontos
destes ícones, os quais são atrelados a diferentes possibilidades de desenvolvimento de
atividades ligadas ao Turismo de Natureza. Assim sendo, a pesquisa apresenta resultados
passíveis subsidiar as tomadas de decisões de diferentes agentes da atividade turística em
Mato Grosso do Sul, sejam eles públicos e privados, bem como as comunidades locais
que habitam as áreas que abrangem os referidos ícones.
Palavras-chave: Conjuntos paisagísticos. Patrimônio natural. Atividade turística.
Planejamento territorial. Geoprocessamento.
LANDSCAPE ICONS FROM MATO GROSSO DO SUL: A
FUNCTIONAL AND VISUAL QUALITY ANALYSIS FOR NATURE
TOURISM
ABSTRACT: The estate of Mato Grosso do Sul, the sixth bigger in area in Brazil, has a
territory of significant landscapes, some of which are internationally recognized, like
Serra da Bodoquena and Pantanal. However, aside from those, the physical condition of
the state’s territory offers a bigger amplitude of relevant landscapes to be contemplated.
In order to assess the different forms of landscape in Mato Grosso do Sul, we identified
elements that compose these landscapes and their interrelation. In this context, this
research aims to offer a new perception regarding landscape groupings: landscape icons.
This term can be considered a taxon of bigger definition/delimitation in a certain
landscape grouping, a concept which can be used towards different means, for instance,
tourism appreciation. For this purpose, we delimited landscape groupings in Mato Grosso
do Sul, with the aim of highlighting their functional and visual quality conditions
regarding the development of activities for Nature Tourism. Besides the construction of
theory for relevant themes, this research had as its base geoprocessing and the execution
of field work in areas of interest. For the cartographical spatialization, we elaborated
thematic maps and summary maps, which offered an understanding into the complexity
of landscape icons. As for the field work, the focus was on collecting information in loco,
using photography, drone mapping, field notes and GPS points. Throughout the research,
we identified five landscape icons: Serra do Amolar; Maciço do Urucum; Serra da
Bodoquena; Serra de Maracaju; and APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná. From analyses,
it was possible to highlight relevant physical characteristics, which justify their treatment
as iconic landscapes in Mato Grosso do Sul. In the same vein, the summary maps show
the spatialization of different points in these icons, which are connected to different
development possibilities for activities in Nature Tourism. In resume, this research offers
results which would allow the process of decision making from varied agents of touristic
activities in Mato Grosso do Sul, be them public or private, as well as local communities
inhabiting areas in and surrounding the landscape icons.
Keywords: Landscape icons. Natural patrimony. Touristic activity. Territorial planning.
Geoprocessing.
ICONOS DEL PAISAJE DE MATO GROSSO DO SUL: ANÁLISIS
FUNCIONAL Y DE CALIDAD VISUAL PARA EL TURISMO DE
NATURALEZA
RESUMEN: El estado de Mato Grosso do Sul, sexto en superficie de Brasil, cuenta con
un territorio de paisajes relevantes, algunos de ellos reconocidos internacionalmente,
como la Serra da Bodoquena y el Pantanal. Sin embargo, además de los conjuntos
mencionados, la condición física de su territorio presupone una gama más amplia de
paisajes relevantes que pueden ser contemplados. Por lo tanto, la identificación de los
diferentes elementos que componen los paisajes y sus interrelaciones nos permite evaluar
las diferentes formas de paisaje en el estado. En este contexto, la investigación pretende
ofrecer una nueva percepción sobre los conjuntos de paisajes: el icono del paisaje. El
término puede ser considerado como un taxón de mayor definición/delimitación de un
determinado conjunto paisajístico, concepto que puede estar vinculado a diferentes fines,
como, por ejemplo, la valorización turística. Así, se buscó definir los diferentes conjuntos
paisajísticos en el territorio de Mato Grosso do Sul, buscando destacar su condición
funcional y calidad visual para el desarrollo de actividades relacionadas con el segmento
de Turismo de Naturaleza. Además de la construcción teórica sobre los temas relevantes,
la investigación se basó en el geoprocesamiento y la realización de trabajos de campo en
las zonas de estudio. En la espacialización cartográfica se elaboraron mapas temáticos y
de síntesis que permitieron comprender la complejidad de los iconos del paisaje
enumerados. En cuanto a los trabajos de campo, consistió en recoger información in situ
en los iconos, procedimientos apoyados por la técnica fotográfica, la cartografía con
drones, las anotaciones de información en fichas de campo y la recogida de puntos GPS.
Así, a lo largo de la investigación se identificaron cinco iconos paisajísticos: Serra do
Amolar; Maciço do Urucum; Serra da Bodoquena; Serra de Maracaju; y APA Ilhas e
Várzeas do Rio Paraná. A partir de los análisis realizados, fue posible destacar
características físicas relevantes en dichos grupos, que justifican su tratamiento como
paisajes icónicos en Mato Grosso do Sul. En este contexto, los mapas de síntesis presentan
la espacialización de diferentes puntos de estos iconos, que están vinculados a diferentes
posibilidades de desarrollo de actividades relacionadas con el Turismo de Naturaleza. Por
lo tanto, la investigación presenta resultados que pueden subsidiar la toma de decisiones
de diferentes agentes de la actividad turística en Mato Grosso do Sul, sean públicos o
privados, así como de las comunidades locales que habitan las áreas que abarcan estos
iconos.
Palabras clave: Conjuntos paisajísticos. Patrimonio natural. Actividad turística.
Ordenación del territorio. Geoprocesamiento.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Mapa de Regionalização do Turismo 2019. .................................................. 33
Figura 2 - Localização dos Ícones de Paisagem em Mato Grosso do Sul. ..................... 36
Figura 3 - Estrutura teórico-metodológica de desenvolvimento da tese. ....................... 38
Figura 4 - Diversidade de paisagens sul-mato-grossenses. ............................................ 44
Figura 5 - Integração das principais escolas de paisagem .............................................. 48
Figura 6 - Paisagem na face sul da Serra de Maracaju. .................................................. 51
Figura 7 - Entardecer na Serra do Amolar, em Corumbá-MS ........................................ 60
Figura 8 - Estrada cortando a paisagem da Serra de Maracaju, Piraputanga-MS .......... 67
Figura 9 - Rio Aquidauana cortando a Serra de Maracaju em Piraputanga-MS ............ 69
Figura 10 - Atividade de mineração na paisagem do ícone Maciço do Urucum, Corumbá-
MS ................................................................................................................................ 109
Figura 11 - Além da condição do relevo e hidrografia, a vegetação também apresenta-se
relevante na Serra do Amolar, em Corumbá-MS ......................................................... 119
Figura 12 - Modelo de análise integrada da paisagem funcional e de qualidade visual o
mapeamento dos diferentes níveis de Turismo de Natureza. ....................................... 121
Figura 13 - APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná .......................................................... 130
Figura 14 - Porção central do Ícone de paisagem Serra de Maracaju .......................... 133
Figura 15 - Comunidade indígena Kaiowa Ñande Ru Marangatu na porção sul da Serra
de Maracaju. ................................................................................................................. 137
Figura 16 - Elementos paisagísticos como motivadores da produção de souvenires ... 148
Figura 17 - Ferramenta de navegação 3D no Monte Everest. ...................................... 149
Figura 18 - Simbologias utilizadas no marketing turístico de Mato Grosso do Sul ..... 150
Figura 19 - Espacialização das unidades de paisagem e dos ícones de paisagem de Mato
Grosso do Sul. .............................................................................................................. 155
Figura 20 - Delimitação do Ícone de paisagem Serra do Amolar (Corumbá-MS) ....... 157
Figura 21 - Delimitação do Ícone de paisagem Serra do Amolar (Corumbá-MS) ....... 158
Figura 22 - Localização ícone de paisagem Maciço do Urucum ................................. 160
Figura 23 - Paisagem do ícone Maciço do Urucum. .................................................... 161
Figura 24 - Contraste entre a paisagem do Maciço do Urucum e a atividade de mineração
no seu entorno, em Corumbá-MS. ................................................................................ 162
Figura 25 - Localização ícone de paisagem Serra do Amolar ...................................... 164
Figura 26 - Contraste hídrico, de relevo e vegetação na Serra do Amolar. .................. 167
Figura 27 - Localização ícone de paisagem Serra de Maracaju ................................... 170
Figura 28 - Faixa contínua de morrarias da Serra de Maracaju, em Aquidauana-MS. 171
Figura 29 - Serra de Maracaju formada por conjuntos de relevos testemunho, em Antônio
João-MS. ....................................................................................................................... 171
Figura 30 - Pegadas de Dinossauros impressas nos arenitos da Formação Botucatu -
Proximidades de Nioaque. ............................................................................................ 173
Figura 31 - Localização ícone de paisagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná ....... 176
Figura 32 - Paisagem da APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná estruturada nas planícies,
vegetações nativas, variedade hídrica e formação de ilhas fluviais. ............................ 177
Figura 33 - Delimitação das Unidades de Conservação inseridas nos limites da APA Ilhas
e Várzeas do Rio Paraná. .............................................................................................. 178
Figura 34 - Localização ícone de paisagem Serra da Bodoquena. ............................... 181
Figura 35 - Paisagem da Serra da Bodoquena. Destaque para o conjunto contínuo de
relevo que constituí a paisagem. ................................................................................... 183
Figura 36 - Delimitação do Geoparque Bodoquena Pantanal em Mato Grosso do Sul.
...................................................................................................................................... 185
Figura 37 - Estágios de desenvolvimento metodológico da pesquisa. ......................... 195
Figura 38 - Singularidade dos elementos da paisagem, correlações para a escolha dos
ícones. ........................................................................................................................... 199
Figura 39 - Exemplo de matriz de correlação de pesos atribuídos na reclassificação dos
dados de relevo e de vegetação/usos da terra do ícone de paisagem Serra do Amolar. 205
Figura 40 - Verificação in loco de dados secundários do ícone de paisagem APA Ilhas e
Várzeas do rio Paraná. .................................................................................................. 209
Figura 41 - Perímetro, área de abrangência do ícone de paisagem, Maciço do Urucum.
...................................................................................................................................... 211
Figura 42 - Mapeamento aéreo na aldeia Limão Verde, em Aquidauana-MS. ............ 214
Figura 43 - Mapeamento aéreo para ícones de paisagem com altura superior a 500 metros.
...................................................................................................................................... 215
Figura 44 - Mapeamento 1 aéreo para ícones de paisagem com altura inferior a 500
metros. .......................................................................................................................... 215
Figura 45 - Mapeamento 2 aéreo para ícones de paisagem com altura inferior a 500
metros. .......................................................................................................................... 216
Figura 46 - Registros fotográficos no ícone de paisagem APA Ilhas e Várzeas do rio
Paraná. .......................................................................................................................... 219
Figura 47 - Coleta de dados no ícone de paisagem Serra do Amolar por meio de ficha de
campo. .......................................................................................................................... 220
Figura 48 - Exemplo de aplicação do esquema de olhar da paisagem na análise do ícone
Maciço do Urucum. ...................................................................................................... 224
Figura 49 - Pontos de GPS amostrados durante a execução dos trabalhos de campo. . 225
Figura 50 - Paisagem do Maciço do Urucum na BR-262............................................. 228
Figura 51 - Contraste da paisagem do ícone Maciço do Urucum entre relevos com maiores
índices de aplainamento e relevos com maiores altitudes. ........................................... 229
Figura 52 - Apontamento dos diferentes conjuntos de relevos associados ao complexo
geomorfológico do Maciço do Urucum. ...................................................................... 230
Figura 53 - Paisagem associada ao complexo I de paisagens do ícone Maciço do Urucum.
...................................................................................................................................... 231
Figura 54 - Paisagem associada ao complexo II de paisagens do ícone Maciço do Urucum.
...................................................................................................................................... 231
Figura 55 - Paisagem associada ao complexo III de paisagens do ícone Maciço do
Urucum. ........................................................................................................................ 232
Figura 56 - Paisagem associada ao complexo IV de paisagens do ícone Maciço do
Urucum. ........................................................................................................................ 232
Figura 57 - Relevo do Maciço do Urucum ................................................................... 234
Figura 58 - Área de pastagem no ícone de paisagem Maciço do Urucum. .................. 235
Figura 59 - Exploração da atividade de mineração no ícone de paisagem Maciço do
Urucum. ........................................................................................................................ 236
Figura 60 - Predomínio das florestas estacionais semi-deciduais no ícone Maciço do
Urucum. ........................................................................................................................ 237
Figura 61 - Vegetação/usos das terras do Maciço do Urucum ..................................... 238
Figura 62 - Rede de Drenagem Maciço do Urucum ..................................................... 240
Figura 63 - Registro da placa de identificação na entrada da RPPN Engenheiro Eliezer
Batista. .......................................................................................................................... 242
Figura 64 - Sede de apoio da RPPN Acurizal. ............................................................. 242
Figura 65 - Acesso às trilhas na RPPN Engenheiro Eliezer Batista. ............................ 243
Figura 66 - Vista do ponto mais alto da trilha do Amolar na RPPN Engenheiro Eliezer
Batista. .......................................................................................................................... 243
Figura 67 - Trilha de bicicleta na RPPN Acurizal. ....................................................... 244
Figura 68 - Inscrições rupestres na Serra do Amolar. .................................................. 245
Figura 69 - Feições das morrarias do Amolar no ícone de paisagem. .......................... 246
Figura 70 - Áreas alagadas do pantanal do Uberaba-Mandioré no ícone de paisagem. 247
Figura 71 - As bordas da Serra, estruturadas em relevos mais planos propiciam o
estabelecimento de estruturas e comunidades. ............................................................. 247
Figura 72 - Relevo da Serra do Amolar ........................................................................ 248
Figura 73 - Faixa de floresta estacional semi-decidual nas proximidades do rio Paraguai
- ícone de paisagem Serra do Amolar. .......................................................................... 249
Figura 74 - A densidade das vegetações nativas de savanas contemplando quase a
totalidade da cobertura vegetal do ícone de paisagem Serra do Amolar. ..................... 250
Figura 75 - Vegetação/Usos das terras da Serra do Amolar ......................................... 251
Figura 76 - O rio Paraguai, considerado o principal canal fluvial nas imediações do ícone
de paisagem Serra do Amolar. ...................................................................................... 252
Figura 77 - Rede de drenagem da Serra do Amolar ..................................................... 253
Figura 78 - Visão aérea da comunidade indígena Limão Verde, em Aquidauana-MS. 254
Figura 79 - Imageamento aéreo realizado nas imediações de Piraputanga-MS. .......... 255
Figura 80 - Superfícies aplainadas e/ou moderadamente onduladas na faixa central do
ícone Serra de Maracaju. .............................................................................................. 257
Figura 81 - Planícies alagadas ligadas ao bioma pantaneiro, a noroeste de Aquidauana-
MS, na porção central da Serra de Maracaju. ............................................................... 257
Figura 82 - Morros e escarpas da Serra de Maracaju nas imediações da aldeia Limão
Verde, em Aquidauana-MS. ......................................................................................... 258
Figura 83 - Relevo da Serra de Maracaju – porção central .......................................... 259
Figura 84 - Vegetação nativa do tipo savana nas morrarias do distrito de Camisão-MS.
...................................................................................................................................... 260
Figura 85 - Floresta estacional nas bordas do rio Aquidauana, no trecho entre
Aquidauana-MS e o distrito de Camisão-MS. .............................................................. 261
Figura 86 - Contraste das áreas de pastagem e das morrarias, em Aquidauana-MS. ... 262
Figura 87 - Vegetação/Usos das terras da Serra de Maracaju – porção central ........... 263
Figura 88 - Meandros do rio Aquidauana em meio as morrarias presentes nas imediações
do distrito de Piraputanga-MS. ..................................................................................... 264
Figura 89 - Rede de drenagem da Serra de Maracaju – porção central ........................ 265
Figura 90 - Marco histórico de referência ao episódio da Retirada da Laguna nas
imediações do município de Bela Vista-MS. ............................................................... 267
Figura 91 - Superfícies aplainadas na faixa sul do ícone Serra de Maracaju – município
de Antônio João-MS. .................................................................................................... 269
Figura 92 - Ondulação dos relevos na faixa sul do ícone Serra de Maracaju – trecho entre
os municípios de Antônio João-MS e Bela Vista-MS. ................................................. 269
Figura 93 - Formação de relevos testemunho na faixa sul do ícone Serra de Maracaju –
município de Antônio João-MS. ................................................................................... 270
Figura 94 - Relevo da Serra de Maracaju – porção sul ................................................ 271
Figura 95 - Intensa concentração áreas de pastagem na faixa sul do ícone Serra de
Maracaju – município de Bela Vista-MS. .................................................................... 272
Figura 96 - Fragmentos remanescentes de vegetação nativa do tipo savana evidenciados
no trecho entre os municípios de Antônio João-MS e Bela Vista-MS. ........................ 273
Figura 97 - Florestas estacionais semi-deciduais na faixa sul do ícone Serra de Maracaju
– município de Bela Vista-MS. .................................................................................... 274
Figura 98 - Vegetação/usos das terras da Serra de Maracaju – porção sul. ................. 275
Figura 99 - O rio Apa apresenta-se como um dos principais cursos hídricos presentes na
face sul do ícone Serra de Maracaju. ............................................................................ 276
Figura 100 - Rede de drenagem da Serra de Maracaju – porção sul ............................ 277
Figura 101 - Sede da Gerência de Meio Ambiente (GEMA) – Naviraí-MS. ............... 279
Figura 102 - Portal, localizado no município de Naviraí-MS, um dos pontos de apoio que
integram a área compreendida pela APA Ilhas e Várzeas do rio Paraná. .................... 279
Figura 103 - O apoio terrestre/fluvial prestado pela Gerência de Meio Ambiente (GEMA)
e da Gerência de obras de Naviraí (GEROB) da prefeitura Naviraí-MS. .................... 280
Figura 104 - Paisagem observada no Portal do Parque Estadual Várzeas do rio Ivinhema,
localizado na área que divide as feições dos relevos ligados aos planaltos das áreas de
planícies. ....................................................................................................................... 282
Figura 105 - Observação aérea das planícies do rio Paraná. ........................................ 283
Figura 106 - Relevo da APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná. ...................................... 284
Figura 107 - Exemplares de vegetação do tipo savana encontradas na faixa central do
ícone de paisagem. ........................................................................................................ 285
Figura 108 - Predominância das florestas estacionais nas faixas ligadas aos cursos
hídricos do ícone de paisagem APA Várzeas e ilhas do Rio Paraná. ........................... 286
Figura 109 - Identificação de área de pastagem no perímetro do ícone. Proporcionalmente
ao perímetro do ícone, está é a dinâmica territorial que predomina nessas áreas. ....... 287
Figura 110 - Áreas dedicadas a agricultura, no território de Naviraí-MS, ainda no
perímetro do ícone de paisagem ................................................................................... 288
Figura 111 - Vegetação/usos das terras da APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná ......... 289
Figura 112 - Percepção aérea do padrão anostomosado associado ao curso do rio Paraná
no perímetro do ícone de paisagem. ............................................................................. 290
Figura 113 - Ponto de encontro do rio Amambaí com o rio Paraná. ............................ 291
Figura 114 - Rede de drenagem da APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná. .................... 292
Figura 115 - Procedimentos de campo no ícone Serra da Bodoquena ......................... 294
Figura 116 - Procedimentos de campo realizados durante período chuvoso na Serra da
Bodoquena .................................................................................................................... 294
Figura 117 - Planaltos da Bodoquena, porção central do ícone de paisagem .............. 297
Figura 118 - Depressões sul-mato-grossenses na faixa norte da Serra da Bodoquena 297
Figura 119 - Enquadramento do relevo ligado às serras e morrarias do baixo Paraguai
...................................................................................................................................... 298
Figura 120 - Relevo da Serra da Bodoquena ................................................................ 299
Figura 121 - Florestas estacionais, predominantes na cobertura da Serra da Bodoquena
...................................................................................................................................... 300
Figura 122 - Percentuais de savana florestadas na faixa oeste da Serra da Bodoquena 301
Figura 123 - Campos de pastagem na porção central da Serra da Bodoquena ............. 302
Figura 124 - Cultivo de aveia entre os fragmentos da Serra da Bodoquena ................ 302
Figura 125 - Vegetação/usos das terras da Serra da Bodoquena .................................. 303
Figura 126 - Vista aérea do rio Salobra ........................................................................ 306
Figura 127 - Trecho do córrego Três Morros ............................................................... 306
Figura 128 - Rede de drenagem da Serra da Bodoquena ............................................. 307
Figura 129 - Paisagem relacionada com o nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Maciço do Urucum. ...................................................................................... 311
Figura 130 - Paisagem relacionada com o nível 3 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Maciço do Urucum. Destaque para áreas de pastagens. ............................... 312
Figura 131 - Paisagem relacionada com o nível 3 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Maciço do Urucum. Destaque para áreas de mineração............................... 312
Figura 132 - Níveis de turismo de natureza no Maciço do Urucum ............................. 314
Figura 133 - Paisagem relacionada com o nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Serra do Amolar. .......................................................................................... 316
Figura 134 - Paisagem relacionada com o nível 2 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Serra do Amolar. .......................................................................................... 317
Figura 135 - Paisagem relacionada com o nível 3 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Serra do Amolar. .......................................................................................... 318
Figura 136 - Níveis de Turismo de Natureza na Serra do Amolar. .............................. 319
Figura 137 - Paisagem relacionada com o nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Serra de Maracaju – porção sul. ................................................................... 321
Figura 138 - Paisagem relacionada com o nível 2 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Serra de Maracaju – porção sul. ................................................................... 322
Figura 139 - Paisagem relacionada com o nível 3 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Serra de Maracaju – porção sul. ................................................................... 323
Figura 140 - Níveis de Turismo de Natureza na Serra de Maracaju – porção sul ........ 324
Figura 141 - Paisagem relacionada com o nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Serra de Maracaju – porção central. ............................................................. 326
Figura 142 - Paisagem relacionada com o nível 2 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Serra de Maracaju – porção central. ............................................................. 327
Figura 143 - Níveis de Turismo de Natureza na Serra de Maracaju – porção central. . 329
Figura 144 - Paisagem relacionada com o nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná. ............................................................ 331
Figura 145 - Paisagem relacionada com o nível 2 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná. ............................................................ 332
Figura 146 - Paisagem relacionada com o nível 3 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná. ............................................................ 333
Figura 147 - Níveis de Turismo de Natureza na APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná . 334
Figura 148 - Paisagem relacionada com o nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Serra da Bodoquena. ..................................................................................... 336
Figura 149 - Paisagem relacionada com o nível 2 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Serra da Bodoquena. ..................................................................................... 337
Figura 150 - Níveis de Turismo de Natureza na Serra da Bodoquena. ........................ 338
Figura 151 - Queimadas na região de Naviraí-MS ....................................................... 341
Figura 152 - Assoreamento no canal do Mirim, na APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná
...................................................................................................................................... 341
Figura 153 - Alteração na paisagem da Serra do Amolar em função de incêndios ...... 342
Figura 154 - Banhado do rio da Prata - Serra da Bodoquena ....................................... 343
Figura 155 - Turvamento da água no rio Formosinho, na Serra da Bodoquena........... 343
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Atribuição de significados para a palavra ícone nos dicionários...............142
Quadro 2 – Dados secundários utilizados na pesquisa..................................................200
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABAP Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
APA Área de Proteção Ambiental
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
ECOA Ecologia e Ação
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
FUNDTUR Fundação de Turismo
GPS Global Posittioning System
GTP Geossistema-Território-Paisagem
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
IHP Instituto do Homem Pantaneiro
IFLA Internacional de Arquitetos Paisagistas
IMASUL Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul
INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
IUCN União Internacional para a Conservação da Natureza
LGF Laboratório de Geografia Física
MTUR Ministério do Turismo
ONG Organização Não Governamental
PPGG Programa de Pós-Graduação em Geografia
RPCSA Rede de Proteção e Conservação da Serra do Amolar
RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural
SIG Sistema de Informação Geográfica
SIRGAS Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas
SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação
TERRASUL Instituto de Terras e Cartografia de Mato Grosso do Sul
TGS Teoria Geral dos Sistemas
TN Turismo de Natureza
UC Unidade de Conservação
UEMS Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
UFGD Universidade Federal da Grande Dourados
UICN Unión Internacional Para La Conservación De La Naturaleza Y De
Los Recursos Naturales
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura
USGS United States Geological Survey
UTM Universal Transversa de Mercator
VANT Veículo Aéreo Não Tripulado
ZEE Zoneamento Ecológico Econômico
23
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................... 24
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 29
1. CAPÍTULO I - PAISAGEM: SUAS ABORDAGENS E IMPLICAÇÕES NA
INVESTIGAÇÃO ESTRUTURAL E VISUAL PAISAGÍSTICA ................................ 42
1.1 O conceito de paisagem e seu uso no planejamento dos territórios ......................... 42
1.2 Concepções acerca de beleza cênica e qualidade visual das paisagens .................... 58
1.3 A análise física e visual das paisagens e sua importância na atividade turística ...... 72
2. CAPÍTULO II - O TURISMO DE NATUREZA ENQUANTO ATIVIDADE EM
MATO GROSSO DO SUL ............................................................................................ 87
2.1 A natureza da “natureza”: concepções acerca da apropriação da natureza pelo homem
........................................................................................................................................ 87
2.2 Turismo de natureza: que natureza é essa? ............................................................... 99
2.3 Patrimônio Natural no contexto do Turismo de Natureza ...................................... 122
3. CAPÍTULO III - ÍCONES DE PAISAGEM: O CONCEITO E SUAS
POSSIBILIDADES ...................................................................................................... 141
3.1 Ícones de paisagem como relevantes representações ............................................. 141
3.2 Os ícones de paisagem em Mato Grosso do Sul ..................................................... 159
4. CAPÍTULO IV - O EMPIRISMO, A ANÁLISE E A COMPREENSÃO DOS ÍCONES
DE PAISAGENS .......................................................................................................... 189
4.1 O empirismo como instrumento da investigação científica.................................... 191
4.2 A construção cartográfica: bases, ferramentas e procedimentos ............................ 196
4.3 Pesquisas de campo: preparação, execução e aquisição de dados primários ......... 206
4.4 Avaliação estrutural das paisagens de Mato Grosso do Sul ................................... 223
CAPÍTULO 5 – ANÁLISE DOS ÍCONES DE PAISAGEM DO MS ........................ 309
5.1 Níveis de Turismo de Natureza nos ícones de paisagem de Mato Grosso do Sul .. 309
5.1.1 Maciço do Urucum .............................................................................................. 309
5.1.2 Serra do Amolar .................................................................................................. 315
5.1.3 Serra de Maracaju – porção sul ........................................................................... 320
5.1.4 Serra de Maracaju – porção central ..................................................................... 325
5.1.5 APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná .................................................................... 330
5.1.6 Serra da Bodoquena ............................................................................................. 335
5.2 As alterações nas paisagens e seus impactos na constituição dos ícones ............... 339
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 346
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 354
APÊNDICES ................................................................................................................ 378
24
APRESENTAÇÃO
“[...] Anuncio aos leitores
Um segredinho aqui:
Recebi informações
Impulsivamente, escrevi.
Nesse Brasil tão imenso
Esse estado eu escolhi,
Indico-o para viver
Dizendo com muito prazer:
Esse estado eu escolhi.”
(ALENCAR, 2014, p. 41).
Em um país como o Brasil, em que os problemas sociais sempre imperaram na vida
da grande maioria dos brasileiros, me considero agraciado por sempre ter tido acesso à
educação, saúde e emprego, elementos básicos que tanto fazem falta a muitas pessoas e,
consequentemente, limita muito suas oportunidades de melhoria de vida.
Sempre tive na tutela de meus pais o reconhecimento da importância da educação
e qualificação profissional. Lembro de meus pais sempre falarem para mim e meu irmão:
“Não temos bens para deixar de herança para vocês, mas vamos nos esforçar para dar
educação para que possam buscar seus objetivos”. Tal “herança” sempre me fez levar a
sério os estudos, uma vez que, por mais que tenha cumprido todas minhas formações no
ensino público, busquei fazer jus aos impostos pagos por meus pais.
Em minha vida, tive apenas um emprego para além da docência. Trabalhei desde
os quinze anos em uma empresa do ramo imobiliário, onde permaneci por quase dez anos.
Apesar de ser grato ao período em que trabalhei na referida empresa, senti a necessidade
de buscar uma graduação acadêmica e pleitear novos desafios, assim como a grande
maioria dos adolescentes que buscam planejar um futuro.
Honestamente assumo que nunca passou pela minha cabeça o desejo de cursar
Turismo, muito menos partir para uma pós-graduação em Geografia. Porém felizmente
os caminhos da vida me direcionou a me tornar bacharel em Turismo e mestre e doutor
em Geografia. Chego a este momento com a certeza de estar no caminho certo, sem
arrependimentos por ter escolhido trilhar o caminho acadêmico em que me encontro hoje.
25
Lembro de uma fala de meu pai que, sofreu um infarto em meados de março de
2020. No hospital, em uma das visitas que lhe fiz enquanto estava sob cuidados médicos,
ele me apresentou ao seu colega de quarto: “Este é meu filho mais novo, ele é professor,
mas não é qualquer professor, é um professor de faculdade!”. Não que eu creia que
professores universitários sejam superiores/melhores que professores de ensino básico,
mas a fala de meu pai refletiu o orgulho que o mesmo sentira de mim, fato que me
comoveu e motivou ainda mais a tratar minha profissão com a devida importância e
competência.
Na graduação, fui instigado iniciar o caminho da pesquisa pela minha orientadora
de trabalho de conclusão de curso (TCC), a professora Dra. Dores Cristina Grechi, a qual
serei eternamente grato por me proporcionar uma tutoria de excelência em minha
iniciação enquanto pesquisador. Na ocasião, desenvolvemos uma pesquisa relacionada ao
uso de tecnologias/redes sociais na rede hoteleira de Dourados-MS. Ao finalizar o projeto
de iniciação científica, a pesquisa desenvolvida foi aclamada e aprovada com nota
máxima na defesa do título de bacharel em Turismo, na Universidade Estadual de Mato
Grosso do Sul (UEMS).
Depois dessa experiência, acreditava que seguiria a mesma linha de pesquisa, ou
pelo menos algo semelhante. Porém, tive a grata surpresa de conhecer o professor Dr.
Charlei Aparecido da Silva, que hoje carinhosamente o considero um amigo, para além
de sua incumbia de orientador. Ainda durante a graduação, meu professor (e hoje meu
amigo) Dr. Fábio Orlando Eichenberg, se ofereceu para intermediar uma possível relação
com o professor Charlei para uma orientação de mestrado. Na ocasião, lembro
perfeitamente a frase do Charlei: “Escreva um bom projeto, se inscreva no processo
seletivo e, se for aprovado, te oriento”. Confesso que, naquele momento a falta de
experiência me desanimava quanto as chances de ser aprovado para cursar o mestrado em
Geografia na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).
Apesar dos medos e insegurança, fui aprovado no mestrado em Geografia da UFGD
em 2015, onde por dois anos e sob tutela do professor Charlei, desenvolvemos uma
pesquisa voltada a categoria analítica da paisagem, relacionando as paisagens de Mato
Grosso do Sul ao segmento Turismo de Natureza. A dissertação foi defendida no 1º
semestre de 2017, sendo muito elogiada pelos membros da banca, e sendo desdobrada em
artigos e capítulos de livros ao longo dos últimos anos.
Acredito o período de formação no mestrado foi um divisor de águas em minha
vida, seja no aspecto pessoal, comportamental, profissional e, principalmente, humano. E
26
devo muito disso ao meu orientador Charlei e meus colegas de Laboratório de Geografia
Física (LGF/UFGD). Tal processo foi tão marcante que senti o desejo de prosseguir e, no
final de 2017, decidi participar do processo seletivo de doutorado em Geografia da
UFGD. Mesmo com uma certa “experiência” enquanto pesquisador, o “frio na barriga”
foi o mesmo durante a seleção. Felizmente novamente fui agraciado com um desfecho
positivo, iniciando o doutorado no início do ano de 2018. Seguindo uma linha de pesquisa
semelhante ao mestrado, decidimos aprofundar o estudo da paisagem e sua relação com
o Turismo de Natureza, porém dessa vez trazendo um novo conceito: ícones de paisagem
em Mato Grosso do Sul.
Em tempos de crise sanitária e contexto político conturbado no Brasil e no mundo,
confesso que não foi fácil centrar esforços para o desenvolvimento de uma tese de
doutorado. Porém, em nenhum momento tais aflições foram utilizadas como muleta para
oferecer uma pesquisa acadêmica de menor qualidade, pelo contrário, a tese serviu como
um “escape”, uma forma de tentar me alienar de uma tensa realidade posta nos âmbitos
familiar, acadêmico, econômico e profissional.
Ao longo dessas mais de trezentas páginas materializa-se não apenas frases
metricamente encaixadas em um contexto semântico, mas sim a concretização do
empenho pessoal, profissional, psicológico e afetivo de um pesquisador que buscou
empregar suas melhores habilidades para construir uma pesquisa de excelência.
Para alcançar o título de doutor em Geografia, a presente tese visa concretizar
quatro anos de pesquisa, a qual foi permeada por um caminho de dificuldades e desafios,
mas que possibilitou um crescimento profissional, intelectual e pessoal ao longo dos
processos desenvolvidos. Neste âmbito, a tese está estruturada em cinco capítulos.
O capítulo 1 conta como uma reflexão acerca da categoria analítica da paisagem.
Considerada o alicerce da presente investigação, buscou-se discutir a importância do
estudo da paisagem enquanto suporte para o planejamento territorial, podendo atribuir
diferentes tipos de usos das terras, inclusive, o direcionamento para atividades turísticas.
Além disso, o capítulo traz também uma discussão sobre os termos “beleza cênica” e
“qualidade visual da paisagem”, questão a qual permite importantes considerações aos
métodos e parâmetros aplicados na avaliação visual das paisagens. Por fim, o capítulo
apresenta diferentes métodos de aferições físicas e de qualidade visual das paisagens,
permitindo embasar os processos metodológicos aplicados na referida tese.
Quanto ao capítulo 2, possui a premissa de debater acerca do segmento Turismo de
Natureza. Conceito que vem sendo debatido sob diferentes perspectivas por
27
pesquisadores do mundo todo, busca-se inicialmente neste capítulo trazer à baila uma
reflexão acerca das históricas relações da humanidade com os demais elementos da
natureza, buscando compreender alguns dos diferentes significados que a natureza
adquiriu ao longo dos anos. A partir desta primeira aproximação, foi possível relacionar
tais significações com os princípios que norteiam o Turismo de Natureza. Na parte final,
buscou-se estabelecer um elo deste segmento turístico com o conceito de Patrimônio
Natural, que se apresenta como uma definição conceitual intimamente ligada com
ambientes potenciais ao desenvolvimento de práticas de Turismo de Natureza.
No capítulo 3, concentra-se o elemento central da tese: a discussão acerca dos
ícones de paisagem. Buscou-se então uma construção teórica, a qual valida e embasa a
perspectiva de tratar a delimitação de ícones de paisagem como uma unidade taxonômica
de maior detalhamento de uma unidade de paisagem, permitindo assim privilegiar a
valorização de relevantes conjuntos paisagísticos para atividades turísticas, neste caso,
em especial ao Turismo de Natureza. Após a discussão teórica acerca do conceito, o
capítulo é complementado com a descrição dos ícones de paisagem elencados no território
sul-mato-grossense.
Inicialmente, o capítulo 4 discorre sobre os processos metodológicos utilizados para
o desenvolvimento da tese. Neste âmbito, são apresentados os procedimentos teóricos, de
campo e técnicas cartográficas. Na parte final do capítulo, são apresentadas as análises
estruturais das paisagens de cada um dos ícones de paisagem elencados pela pesquisa.
Por fim, o capítulo 5 fecha a tese com a apresentação dos mapas sínteses de cada
um dos ícones de paisagem de Mato Grosso do Sul, permitindo visualizar os diferentes
níveis de Turismo de Natureza em cada um dos conjuntos paisagísticos. Com base nas
análises realizadas, o capítulo conta ainda com apontamentos/sugestões acerca do
direcionamento das referidas paisagens para o desenvolvimento de atividades ligadas ao
Turismo de Natureza.
A partir dos resultados alcançados ao final da pesquisa, espera-se que esta sirva
como inspiração para novos pesquisadores seguirem as investigações acerca da referida
temática, seja em Mato Grosso do Sul, em outros estados do Brasil, ou até mesmo em
outros países. Acredita-se que a construção de uma tese não deva servir apenas para a
obtenção de um título de doutor, mas sim que esta possa trazer benefícios para todos os
atores que estejam direta ou indiretamente envolvidos com o desenvolvimento da
atividade turística em um determinado território, seja o poder público, a comunidade
local, o trade turístico ou os turistas propriamente ditos.
28
Espera-se que o leitor consiga, por meio desta tese, “viajar” pelos ícones de
paisagem de Mato Grosso do Sul, e tenha possibilidade de descobrir conjuntos
paisagísticos que talvez não sejam de grande conhecimento do público geral e, quem sabe,
instigar o leitor a visitar e a conhecer algumas das paisagens aqui retratadas. Boa leitura!
29
INTRODUÇÃO
“[...] Amando a natureza
Unicamente do Brasil,
Rica e diferenciada,
Incluindo faunas mil
Nenhum país do mundo
Encontra céu azul anil,
Inclusive o MS:
Dentro dele permanece,
Engana quem diz ser vil.”
(ALENCAR, 2014, p. 15).
Construir uma tese de doutoramento apresenta-se como um desafio para qualquer
pesquisador que trilha o caminho de qualificação acadêmica, seja qual for a área científica
desejada. Nestes meandros que permeiam tal desafio, perguntas como “o que é uma
tese?”, “qual a abrangência de uma tese?”, “o que faz de minha pesquisa uma tese?”,
dentre outras dúvidas, surgem com dúvidas recorrentes durante o caminhar de formação
de um doutorando.
De fato, elaborar uma tese é uma construção proporcionalmente tão desafiadora
quanto complexa, uma vez que, exige do pesquisador a apresentação de discussões mais
aprofundadas acerca de uma determinada temática. Formalmente, a ABNT (2011, p. 3)
conceitua uma tese de doutorado como:
Documento que representa o resultado de um trabalho experimental ou
exposição de um estudo científico de tema único e bem delimitado. Deve ser
elaborado com base em investigação original, constituindo-se em real
contribuição para a especialidade em questão. É feito sob a coordenação de um
orientador (doutor) e visa a obtenção do título de doutor, ou similar.
Considerando a complexidade e importância de desenvolver uma tese, Eco (2008)
descreve alguns itens fundamentais a serem observados durante seu processo de
elaboração: a definição do tema; construção de bases documentais acerca do tema;
ordenar tais documentos; elaborar uma análise crítica dos documentos angariados;
estruturar de maneira orgânica as reflexões elaboradas; e por fim, buscar oferecer uma
leitura de fácil compreensão para o leitor, de maneira a possibilitar que o mesmo
compreenda o que se quis dizer a partir da elaboração da tese.
30
Para Eco (2008), uma tese não deve se findar após a banca de defesa. Para o autor,
a pesquisa defendida deve ser um ponto de partida para ampliar a discussão da temática
proposta, podendo ser explorada por outros pesquisadores nos próximos anos. Destarte,
a tese de doutoramento pode ser considerada uma forma de propor avanços científicos
nas mais diversas áreas, uma vez que, a proposta deve ser pautada em originalidade na
abordagem sobre o referido tema. Segundo o autor op. cit. (p. 5):
Fazer uma tese significa, pois, aprender a pôr ordem nas próprias ideias e
ordenar os dados: é uma experiência de trabalho metódico; quer dizer,
construir um "objeto" que, como princípio, possa também servir aos outros.
Assim, não importa tanto o tema da tese quanto a experiência de trabalho que
ela comporta.
Considerando tais premissas que compreendem a elaboração de uma pesquisa de
doutoramento, a tese aqui apresentada, consiste no desenvolvimento de uma articulação
analítica a partir da estruturação do conceito de ícone de paisagem, o qual apresenta-se
como uma unidade taxonômica engendrada na categoria analítica da paisagem e que, tem
em suas bases de sua fundamentação, discussões inerentes ao patrimônio natural. A partir
de tal articulação, a tese supracitada permite analisar essa vertente paisagística em Mato
Grosso do Sul.
A Geografia, enquanto ciência, permite evidenciar o estudo de diferentes
fenômenos, de maneira que, por meio das diferentes categorias analíticas que possui
(dentre algumas delas, o espaço, território, lugar, região e paisagem), possibilita
desenvolver análises e compreender diferentes problemáticas que permeiam os diferentes
pontos globo terrestre. Aqui buscar-se-á um aprofundamento das paisagens de Mato
Grosso do Sul, o qual dispõe de uma relevante diversidade paisagística ao longo de sua
extensão.
Até 11 de outubro de 1977, o estado ainda fazia parte do território de Mato Grosso,
sendo desmembrado a partir desta data pelo então presidente Ernesto Geisel, o qual
assinou a lei de criação de Mato Grosso do Sul. Dentre as justificativas para tal
desmembramento, foram apontadas a dificuldade de administração de um grande
território por apenas uma máquina administrativa e o risco de manter um grande e rico
estado próximo a áreas de fronteira. A instalação oficial de Mato Grosso do Sul se deu
em 1º de janeiro de 1979, assumindo como primeiro governador do estado Harry Amorim
Costa, indicado pelo presidente Ernesto Geisel. Desde seu início, Mato Grosso do Sul
teve a pecuária, a extração vegetal e mineral e a agricultura como principais fatores de
desenvolvimento do estado (BRASIL, 2017).
31
Dentre as 27 unidades federativas, Mato Grosso do Sul é considerado o 6º maior
estado em extensão, ocupando aproximadamente uma área de 358.159 km² (área que
corresponde ao território da Alemanha), o que corresponde ao próximo de 4,2% do
território brasileiro. Localizado na região centro-oeste, o estado faz limites com Goiás a
nordeste, Mato Grosso ao norte, Minas Gerais a leste, São Paulo a sudeste e Paraná ao
sul. Mato Grosso do Sul conta ainda com fronteiras internacionais com o Paraguai e a
Bolívia na faixa oeste/sul (FIALHO, 2014).
Conforme apontando por Brasil (2017), o estado de Mato Grosso do Sul conta com
uma população de aproximadamente 2.682.386 habitantes (até o ano de 2016), da qual
Ferraz, Nunes e Alonso Junior (2011) ressaltam uma parcela de aproximadamente 31.069
indígenas, divididos em 38 grupos e espalhados em 27 municípios de Mato Grosso do
Sul. Ainda de acordo com Brasil (2017), o estado tem como capital Campo Grande, e
conta com outros municípios importantes como Dourados, Três Lagoas, Corumbá,
Aquidauana, Nova Andradina, Naviraí e Ponta Porã.
Quanto a condição natural de Mato Grosso do Sul, a qual é subsidiada pelos biomas
do Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica, Fialho (2014) ressalta que o estado conta com
biomas considerados como os mais abundantes em biodiversidade no Brasil, fato que faz
do Mato Grosso do Sul mundialmente conhecido, principalmente em função do
Complexo do Pantanal e do Parque Nacional da Serra da Bodoquena. Ainda sobre as
condições naturais do estado, a autora op. cit. (p. 9) cita que:
O território estadual é drenado a leste pelos sistemas dos rios Paraná e a oeste
é drenado pelo Paraguai. Pelo Rio Paraguai escoam as águas da planície do
Pantanal e terrenos periféricos. Na baixada, produzem-se anualmente
inundações de longa duração. Na planície do Pantanal, no oeste do estado,
durante o período de cheias do Rio Paraguai, a região vira a maior região
alagadiça do planeta, lá se combinam vegetações de todo o Brasil (até mesmo
da Caatinga e da Floresta Amazônica).
No que tange a economia sul-mato-grossense, Fagundes et. al. (2017) e Fialho
(2014) chamam a atenção para o seu destaque nacional e internacional em função do
agronegócio. Dentre os produtos desenvolvidos, destaca-se a soja, milho, cana de açúcar,
algodão e a criação de bovinos, produções as quais possibilitam o dinamismo econômico
de Mato Grosso do Sul e alavanca a competitividade do estado. Além do agronegócio,
cita-se ainda o eixo de desenvolvimento ligado às indústrias, instaurado principalmente
em Corumbá, Campo Grande e Três Lagoas.
32
Entretanto, além das indústrias e do agronegócio, Mato Grosso do Sul também é
lócus do desenvolvimento do Turismo. De acordo com Fialho (2014), o estado tem como
principais cidades turísticas Bonito, Jardim e Bodoquena (municípios ligados ao Parque
Nacional da Serra da Bodoquena); o municípios de Corumbá, Aquidauana, Anastácio e
Porto Murtinho (relacionadas com o Complexo do Pantanal); Ponta Porã e Bela Vista
(cidades relacionadas com a faixa de fronteira com o Paraguai); e ainda os municípios de
Costa Rica, Rio Verde e Fátima do Sul. Dentre os municípios citados, a autora op. cit.
(2014, p. 127) destaca os destinos prioritários em Mato Grosso do Sul:
O estado possui três destinos prioritários: Campo Grande, Bonito e Corumbá.
Campo Grande foi selecionado por ser capital, enquanto Bonito e Corumbá
pelas belezas, encantos cênicos e natureza única, além do fato de já possuírem
um considerável fluxo de turistas. O MTur, atualmente, prioriza a distribuição
de recursos federais para estes três destinos indutores, uma vez que estes
podem dar e ter maior retorno em relação ao capital investido.
Ainda no que tange as políticas públicas de turismo em Mato Grosso do Sul, Fialho
(2014) chama a atenção para a gestão compartilhada e descentralizada proposta pelo
Ministério do Turismo, a qual no estado sul-mato-grossense possibilitou a delimitação de
8 regiões turísticas: Pantanal, Caminho dos Ipês, Bonito-Serra da Bodoquena, Grande
Dourados, Cerrado-Pantanal, Integra Costa Leste – Vale do Aporé, Vale das Águas e
Caminhos da Natureza – Cone Sul (figura 1).
33
Figura 1 - Mapa de Regionalização do Turismo 2019.
Fonte: Adaptado de MATO GROSSO DO SUL (2019)
Elaboração: LIMA, 2021
Diante das informações supracitadas até aqui, infere-se que a variabilidade das
paisagens advindas dos biomas sul-mato-grossense, a qual apresenta-se como
possibilidade de desenvolvimento turístico no estado, principalmente aqueles segmentos
que possuem na Natureza a base de suas atividades, como no caso do Turismo de
Natureza.
De acordo com o FUNDTUR (2020), a movimentação de passageiros no aeroporto
internacional de Campo Grande teve uma média de 773.589 desembarques em 2019.
Quanto ao desembarque terrestre na capital, o fluxo girou em torno de 614.387
passageiros no mesmo ano. Tendo como principal emissor nacional o estado de São
Paulo, e os Estados Unidos como principal emissor internacional, Mato Grosso do Sul
conta com um relevante fluxo turístico, o qual tem como principais motivações o turismo
de negócios, visita a familiares/amigos e práticas de ecoturismo.
Entretanto, apesar dos números apresentados em referência ao ano de 2019, espera-
se uma queda relevante nos números relativos ao ano de 2020, uma vez que, neste período
diversas atividades, inclusive o Turismo, sofreram com as normas restritivas impostas em
34
função da pandemia de Covid-191. Neste âmbito, o planejamento e gestão do território
sul-mato-grossense apresenta-se como condição sine qua non para a retomada da
atividade turística nos próximos anos.
A justificativa do projeto teve como premissa o fato de que, em Mato Grosso do
Sul, quanto ao desenvolvimento de pesquisas relacionadas a temática do turismo,
percebe-se que os objetos e áreas de estudo geralmente tratados restringem-se
basicamente as áreas da Serra de Bodoquena e Pantanal. Apesar da aptidão agropecuária
do Estado apresentada por Mato Grosso do Sul (2009), acredita-se que o Turismo também
possui potencial para enquadrar-se ainda mais enquanto relevante atividade econômica
no estado, uma vez que, a amplitude paisagística do estado permita tal expansão.
No cenário atual, dentre as paisagens que se destacam em Mato Grosso do Sul
citamos a Serra de Bodoquena, reconhecida pelo seu expressivo relevo, com áreas de
vegetação nativa conservada, conjunto de córregos, rios e cachoeiras. Destaca-se também
o município de Bonito – MS, considerado um destino turístico consolidado
internacionalmente.
Outro conjunto paisagístico com grande relevância no estado é o Pantanal, que é a
maior planície alagável do mundo. A dinâmica relacionada a cheia e a seca (pulsos de
inundação) é a responsável por paisagens singularidades, grande diversidade de fauna e
flora que, consequentemente, apresentam relevantes cenários paisagísticos para o
turismo.
Entretanto, apesar da existência destas paisagens reconhecidamente ligadas ao
Turismo no estado, surge a seguinte inquietação: existiriam em Mato Grosso do Sul outras
paisagens com relevância estrutural e com relevante qualidade visual para o
desenvolvimento de atividades do Turismo de Natureza para além da Serra da Bodoquena
e o Pantanal sul-mato-grossense? Tal questionamento instigou o desenvolvimento da
pesquisa, a qual visou investigar quais outras paisagens poderiam integrar esse grande
mosaico de paisagens relevantes para o Turismo de Natureza em Mato Grosso do Sul.
Além destas premissas, nota-se que, o Estado, notavelmente inclinado as dinâmicas
produtivas da agricultura e pecuária, conforme indicado por Mato Grosso do Sul (2009),
1 A Organização Pan-Americana de Saúde - entidade associada à Organização Mundial de Saúde (OMS) -
declarou, em 30 de janeiro de 2020, que o surto da doença causada pelo Covid-19 constitui uma Emergência
de Saúde Pública de Importância Internacional, o mais alto nível de alerta da Organização, conforme
previsto no Regulamento Sanitário Internacional. Em 11 de março de 2020, a Covid-19 foi caracterizada
pela OMS como uma pandemia (TASSO; MOESCH; NÓBREGA, 2021, p. 2).
35
vem perdendo a qualidade natural de seus ambientes, seja pelo desmatamento, seja pela
compactação do solo, seja pela poluição e contaminações diversas. Diante disso, apesar
de reconhecer o turismo também como uma atividade econômica, acredita-se que, por
meio de planejamento e gestão adequados, seja possível oferecer dinâmicas menos
agressivas as paisagens que compõem Mato Grosso do Sul (LIMA, SILVA, MARTINS,
2016).
Neste contexto, apresenta-se na tese a proposição do enquadramento teórico-
conceitual de uma nova perspectiva de análise da paisagem para fins turísticos: o “ícone
de paisagem”. A partir das discussões ora tratadas, apresenta-se subsídios a fim de
qualificar tal conceito como mais uma possibilidade de aferição paisagística e,
consequentemente, facilitar os processos de planejamento turísticos nos territórios.
Destarte, a tese objetivou caracterizar e identificar os diferentes ícones de paisagem
encontrados em Mato Grosso do Sul. Neste âmbito, buscou-se analisar a estrutura das
paisagens dos ícones de Mato Grosso do Sul, bem como mapear seus diferentes níveis de
Turismo de Natureza a partir de um modelo de análise integrada, evidenciando sua
funcionalidade e qualidade visual para o desenvolvimento de atividades turísticas ligadas
a esse segmento. Para que tais análises fossem possíveis, foi necessário elaborar um
modelo de aferição de indicadores de qualidade visual das paisagens para o Turismo de
Natureza.
Inicialmente, buscou-se elencar, por meio de referenciais teóricos e dados
secundários, as paisagens singulares existentes em Mato Grosso do Sul, de maneira que,
fosse possível identificar os conjuntos paisagísticos relevantes no estado. Neste contexto,
após esta aferição, estabeleceu-se sete ícones de paisagem: Serra do Amolar; Maciço do
Urucum; Serra da Bodoquena; Serra de Maracaju; e APA Ilhas e Várzeas do rio Paraná
(figura 2).
Ressalta-se que, os critérios que levaram a definição a priori dos referidos ícones
buscaram considerar principalmente a estruturação de conjuntos paisagísticos relevantes,
principalmente no que tange aspectos ligados aos tipos de relevo, vegetação e relevância
hídrica. Outro fato que auxiliou na determinação foi na chancela enquanto unidades de
conservação2 atribuídas a determinadas paisagens, designando assim um nível ainda
maior de relevância de tais conjuntos paisagísticos.
2 As unidades de conservação (UC) são espaços territoriais, incluindo seus recursos ambientais, com
características naturais relevantes, que têm a função de assegurar a representatividade de amostras
significativas e ecologicamente viáveis das diferentes populações, habitats e ecossistemas do território
36
Figura 2 - Localização dos Ícones de Paisagem em Mato Grosso do Sul.
Elaboração: LIMA, 2020.
nacional e das águas jurisdicionais, preservando o patrimônio biológico existente. Estas áreas asseguram
às populações tradicionais o uso sustentável dos recursos naturais de forma racional e ainda propiciam às
comunidades do entorno o desenvolvimento de atividades econômicas sustentáveis. Estas áreas estão
sujeitas a normas e regras especiais. São legalmente criadas pelos governos federal, estaduais e municipais,
após a realização de estudos técnicos dos espaços propostos e consulta à população (OLIVEIRA;
BARBOSA, 2010, p. 7).
37
Portanto, a investigação versará na tentativa de ampliar o conhecimento acerca das
diferentes paisagens dispostas ao longo do território sul-mato-grossense, as quais, em
função de seu caráter natural, privilegiam o desenvolvimento de atividades ligadas ao
Turismo de Natureza.
Neste âmbito, ressalta-se que o uso das geotecnologias foi um recurso essencial a
fim de se espacializar os dados referentes a composição estrutural e da qualidade cênica
das referidas paisagens. Considerando que, Mato Grosso do Sul é um estado dotado de
diversidades paisagísticas em função de seus componentes bióticos e abióticos, propõe-
se aqui um mapeamento de tais paisagens que propiciem o desenvolvimento de atividades
ligadas ao Turismo de Natureza, ampliando a gama de opções turísticas em Mato Grosso
do Sul, ou seja, apresentando possibilidades para além do Pantanal e a Serra de
Bodoquena, os quais apresentam-se enquanto destinos turísticos consolidados no Estado.
Em síntese, a figura 3 discorre sobre a estrutura teórico-metodológica adotada para o
desenvolvimento da tese.
38
Figura 3 - Estrutura teórico-metodológica de desenvolvimento da tese.
Fonte: Adaptado de LIMA, 2017
39
A figura 3 apresenta os caminhos tomados para o desenvolvimento da tese em
questão. Na primeira etapa, buscou-se estabelecer as bases da tese, de maneira a organizar
e estabelecer o objeto a ser estudado, a tese que norteia a pesquisa, bem como a
justificativa para execução da pesquisa e os objetivos a serem alcançados. No segundo
momento, foram privilegiados os aspectos conceituais, os quais permitiram reflexões
sobre as principais temáticas que norteiam a tese, tais quais: paisagem, natureza, Turismo
de Natureza, Patrimônio Natural e Ícone de Paisagem. Na sequência, inicia-se a aplicação
metodológica, a qual, dentre os processos utilizados, amparou-se na realização de
trabalhos de campo, na cartografia temática desenvolvida por meio de SIG’s, uso de
drones, GPS e técnicas de fotografia. A etapa três relaciona-se com os procedimentos
empíricos de investigação da estrutura da paisagem, os quais permitiram a compreensão
dos elementos que compõem as paisagens e suas relações enquanto conjuntos
paisagísticos de Mato Grosso do Sul. Na etapa quatro, as paisagens passaram por um
processo analítico quanto sua qualidade visual, permitindo uma aferição quanto sua
forma/estrutura. Por fim, a etapa cinco compreende a síntese da pesquisa, a qual busca
estabelecer as relações dos conjuntos paisagísticos aferidos nas etapas anteriores com o
segmento do Turismo de Natureza.
Espera-se apresentar efetivamente um mapeamento que possibilite o
desenvolvimento de produtos turísticos, uma vez que, por meio das análises e discussões
desenvolvidas acerca dos conjuntos paisagísticos pesquisados, seja possível perceber as
variadas possibilidades de inserção de diferentes atividades turísticas nas áreas em
questão. Ressalta-se ainda que, o esquema integrado de análise funcional e de qualidade
visual da paisagem possa ser utilizada em outros estudos de caso, possibilitando o
progresso científico no que tange a investigação dos territórios a partir do uso da categoria
analítica da paisagem. Por fim, espera-se que as análises, discussões e produtos que
venham a ser gerados a partir dos desdobramentos desta pesquisa sejam tomados pelo
poder público, mesmo que não em sua totalidade, mas que a investigação possa oferecer
em alguma medida uma contrapartida de melhorias para a população sul-mato-grossense,
bem como ampliar as discussões da comunidade científica.
Com o auxílio do Laboratório de Geografia Física da Universidade Federal da
Grande Dourados (LGF/UFGD), a investigação possui a premissa de colaborar com a
expansão turística em todo o Estado, estabelecendo novos direcionamentos na
investigação das diversas paisagens existentes no território sul-mato-grossense,
proporcionando a ampliação de pesquisas voltadas à temática do turismo para todo o
40
Estado, uma vez que, considera-se que os ícones de paisagem indicados possuam aspectos
de relevante qualidade visual e estrutural, seja em função das formas de relevo, da
litologia, das áreas remanescentes de vegetação nativa, ou até mesmo pela proteção
direcionada por aspectos legais.
42
1. CAPÍTULO I - PAISAGEM: SUAS ABORDAGENS E IMPLICAÇÕES NA
INVESTIGAÇÃO ESTRUTURAL E VISUAL PAISAGÍSTICA
Importante categoria analítica da Geografia, a paisagem apresenta-se como uma
relevante ferramenta de compreensão das complexidades das mais diferentes porções
terrestres, permitindo a elucidação de inquietações que permeiam diferentes áreas do
conhecimento. Nesta concepção, ao longo da história, diferentes
pensadores/pesquisadores se debruçaram em suas investigações na tentativa estabelecer
conceitos, teorias e modelos metodológicos acerca da paisagem, fato que obviamente
gerou uma ampla gama de possibilidades de aferição das paisagens.
Assim sendo, o capítulo em questão vislumbra apresentar uma reflexão acerca dos
conceitos de paisagem e suas aplicações no planejamento territorial. Em um segundo
momento, visando estabelecer uma relação com a iconização das paisagens, é trazido à
baila a discussão sobre a diferenciação conceitual entre os termos “beleza cênica” e
“qualidade visual”. Por fim, o capítulo aborda as possibilidades de aferições estrutural e
visual das paisagens, permitindo vislumbrar sua aplicação à atividade turística.
1.1 O conceito de paisagem e seu uso no planejamento dos territórios
Enquanto categoria analítica da ciência geográfica, a paisagem ganhou diversos
contornos ao longo da história, recebendo diversas abordagens, inúmeros enfoques e
sendo aplicada em diferentes contextos. Assim sendo, um relevante número autores, de
diferentes escolas da paisagem, buscaram compreender e conceituar este termo que, ao
mesmo tempo parece representar de maneira simples um determinado espaço geográfico,
dispõe de uma relativa complexidade na compreensão dos processos que envolvem a
instituição de tal categoria.
Ao abordar a categoria analítica da paisagem, Vieira e Verdum (2019) lembram
que, do ponto de vista do senso comum, a paisagem é frequentemente associada a aquilo
que a visão alcança. Entretanto, os autores op. cit. destacam o fato de que a paisagem
esconde por trás de sua estrutura uma série de características que não podem ser
contempladas pelo simples lance de vista. Diante de tal fato, a se considerar os diferentes
autores que estudam a paisagem, observa-se amplas e diferentes abordagens acerca da
mesma, seja como espaço físico, como reverencia a um cenário virtual ou como
identidade cultural. Tais pesquisas têm sido desenvolvidas no âmbito de projetos,
43
contemplação, qualidade de vida e bem-estar, planejamento territorial, como bem cultural
e até como instrumento no auxílio na gestão de normas e medidas de proteção
estabelecidas pelo poder público.
Para Coelho (2011), apesar da paisagem nos parecer um conceito de significado
unificado, a compreensão das paisagens entre artistas, geógrafos, arquitetos,
turismólogos, ecologistas e planejadores podem não recobrir a mesma realidade para
ambos os profissionais, de maneira que, apesar da materialidade ser a mesma, as
apreensões atribuídas por cada um deles são diferentes. Concebe-se então que, no
decorrer da história, a paisagem passou a assumir vários significados, sendo relacionada
a diversas conotações. Corroborando com tais afirmativas, Mendes (2010) atenta para a
complexidade do conceito de paisagem, de maneira que, em meio a um grande
contingente de definições e aproximações em função do emprego de diferentes
abordagens e especialidades daquele que às utilizam, torna-se difícil uma definição
completa e conceitual acerca de sua conceituação.
Para Gomes (2001), o estudo da paisagem perpassa pela sensibilidade artística, pela
variedade de interesses econômicos e políticos, pelo interesse empírico humano e busca
do conhecimento científico, ou seja, um amplo arcabouço de elementos que ampliam as
representações das relações entre a natureza e humanidade.
Sobre tal amplitude do conceito de paisagem, Aguiló Alonso et. al. (2004) indicam
que, as dificuldades de estabelecer uma definição clara sobre o termo, incidiu e tem
incidido no desenvolvimento tardio de metodologias de análises paisagísticas. Entretanto,
conforme apontado pelos autores op. cit., não se trata de ditar formas exatas de estudos
acerca da paisagem, mas sim que sejam exploradas as mais variadas possibilidades
possíveis, de maneira a criar um arcabouço metodológico que vise abarcar uma ampla
realidade de estudos paisagísticos.
Do ponto de vista do senso comum, Rodriguez (1984), Vieira (2014) e Vieira et. al.
(2018) indicam que a paisagem é percebida como um espaço alcançado em um lance de
vista, tomado como um simples olhar através de uma janela, ou seja, atrelada fortemente
a concepção estética da paisagem. Por outro lado, a paisagem também associada como
sinônimo de “área”, “território”, ou ainda “região”, sem nenhum conteúdo cientifico ou
hierarquização taxonômica.
Entretanto, a paisagem, denota um relativo grau de complexidade, a qual não pode
ser compreendida pelo simples olhar ou pela imaginação do observador. Neste âmbito, a
paisagem engloba uma série de inter-relações, as quais podem imbricar as condições
44
físicas dos elementos das paisagens, bem como as atribuições culturais atreladas a tais
conjuntos.
Ainda de acordo com Vieira et. al. (2018), a paisagem configura-se como uma
marca da sociedade, a qual é impressa no espaço geográfico. Inicialmente, a criação da
paisagem é estabelecida de duas maneiras: uma por meio dos artistas e naturalistas, os
quais durante suas viagens a partir do século XV, tiveram a chance de contemplar diversas
paisagens e, posteriormente, puderam desenhá-las e concretiza-las em quadros, poemas e
narrativas; e a outra maneira diz respeito a apropriação do espaço físico para diversas
atividades desenvolvidas pelo homem, como a agricultura e pecuária. A figura 4
exemplifica as diferentes paisagens materializadas nas dinâmicas territoriais de Mato
Grosso do Sul. A) Campos de cultivos de cana de açúcar na região da Serra de Maracaju;
B) Contraste no Maciço do Urucum entre a condição do relevo, áreas de pastagem e
sinalização protetiva/ambiental – Geopark Bodoquena Pantanal; C) Comunidade
indígena Limão Verde integrada nos fragmentos da Serra de Maracaju, em Aquidauana-
MS; D) Área com relevante cobertura vegetal nativa nas imediações das Várzeas do Rio
Ivinhema.
Figura 4 - Diversidade de paisagens sul-mato-grossenses.
Autor: LIMA, 2019
45
Ao discorrer sobre o papel da Geografia, Maciel (2009) lembra que, esta é detentora
de ferramentas que permitem analisar o mundo por meio das descrições das formas
operadas pela natureza e pelo homem, bem como estabelecer suas relações. Dentro do
contexto da paisagem, essa busca se dá na descoberta, inventariação e diferenciação do
espaço terrestres a partir, principalmente, dos elementos visíveis. Acerca do papel do
geógrafo na investigação da paisagem, o autor op. cit. (p. 2) lembra que:
Para compreender as formas que são reveladas através da observação, o
geógrafo deve reunir, comparar e decifrar os padrões espaciais constatados,
buscando analisar a localização dos elementos, a teia de relações que os unem
e os processos que os ensejam e alteram. Desta maneira, os elementos da
paisagem não são vistos como formas separadas, mas em íntimo e dinâmico
inter-relacionamento. A controvérsia central neste caso é se/como a descrição
detalhada, ordenada e sistemática da morfologia da paisagem conduziria
concomitantemente a algum tipo de reflexão sobre a conexão entre os
fenômenos e aquilo que lhes está subjacente, quer sejam processos simbólicos
ou relações de causa e efeito.
É por meio destas ferramentas disponibilizadas pela Geografia que, outras ciências
como o Turismo buscam a compreensão das complexidades que envolvem seus objetos
de estudo. No caso da atividade turística, a categoria analítica da paisagem, permite uma
série de análises que possibilitam uma melhor aferição dos fenômenos imbricados no
Turismo.
Na visão de Schama (1996), o aspecto cultural possui papel fundamental no
constructo da natureza, uma vez que, esta se estabelece a partir do imaginário projetado
em elementos da natureza. Para exemplificar essa relação cultural da paisagem, Schama
(1996) em sua obra indica diversos momentos históricos e lugares do ocidente em que,
estes três elementos constitutivos das paisagens agrestes – as árvores, a água e as rochas
– destacam-se enquanto fundamentais no ideário de paisagem de diversas culturas e em
diferentes momentos da história. Tais reflexões revelam que, enquanto constituintes da
paisagem, alguns elementos se mantêm inalterados de uma época para outra, enquanto
outros desaparecem, concepção a qual mantém relação direta com a instituição cultural
da paisagem.
Sobre a categoria de análise da paisagem, Haesbaert (2017) lembra que este é um
dos conceitos mais tradicionais empregados na leitura do espaço geográfico e que, tem
suas origens atreladas a diversas tradições, como por exemplo, a oriental (especialmente
na China e Japão, na relação da percepção e idealização de paisagens) ou na europeia
46
oriental (ligadas principalmente ao romantismo do século XIX). Sobre a origem do termo,
Haesbaert (op. cit., p. 295) cita que:
Trata-se de uma palavra originada dos termos latinos “pagus” (país, em francês
“pays” – pequena região) e “pagensis” (campestre, rural; em francês “paysan”
significa camponês), que por sua vez deram origem a “paesagio” (italiano),
“paysage” (francês) e “paisaje” (espanhol).
Para Zacharias (2008), ao longo da história, as diferentes concepções e abordagens
acerca da paisagem fizeram com que, se estabelecesse um escopo teórico para os estudos
paisagísticos, o qual foi desenvolvido em função dos estudos de diferentes escolas, de
maneira que, inicialmente, destacam-se como bases dessa condição teórica, as escolas de
Humboldt (paisagem em seu aspecto natural) e de Carl Sauer (concepção da relação tríade
entre natureza, sociedade e cultura). No bojo dessas discussões, Alexander Von
Humboldt, Immanuel Kant e Karl Ritter, a partir de suas reflexões acerca da natureza e
sociedade, são apontados como alguns dos principais precursores das discussões sobre as
paisagens, conforme indicam Rodriguez e Silva (2002, p. 96):
A ideia de ter uma visão totalizadora das interações da Natureza com a
Sociedade no mundo acadêmico começou no final do século XVIII e princípio
do século XIX, com os trabalhos de Kant, Humboldt e Ritter. Realmente, a
análise das interações da Natureza com a Sociedade foram empreendidas
dentro do contexto da Geografia e tiveram como consequência o surgimento
de duas formas de analisar a configuração do planeta Terra: uma visão voltada
para a Natureza (com as concepções principalmente de Humboldt, e
posteriormente do sábio russo Dokuchaev), firmando as bases para a Geografia
física e a ecológica biológica, e uma visão centrada no Homem e na Sociedade,
que foi a concepção da Geografia humana ou a antropogeografia de Karl Ritter.
Conforme apontado por Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2007), Humboldt,
juntamente com Dokuchaev, foram aqueles que ofereceram os primeiros subsídios dos
estudos paisagísticos, os quais culminaram na base teórica das escolas alemãs e russos-
soviéticas, estas que, primavam pelo reconhecimento da paisagem enquanto complexo
natural integral. Em outra vertente, as escolas francesas, anglo-saxónicas e euro-
ocidentais se estabeleceram enquanto escolas pautadas na compreensão da paisagem
enquanto espaço social, ou seja, considerando os aspectos socioculturais nos estudos
paisagísticos.
Haesbaert (2017) discorre que, na França, Paul Vidal de la Blache fora aquele que
mais influenciou os estudos da paisagem, fazendo uma relação intima entre região e
paisagem (ou “região paisagem”), de maneira a observa-la enquanto síntese integrada dos
elementos naturais e humanos ao longo de uma dada paisagem. Já na Alemanha, houve
47
também uma forte tradição da “Landschaftgeographie” ou Geografia da Paisagem, a qual
ganhou repercussão nos Estados Unidos, estimulada pelo trabalho desenvolvido por Carl
Sauer, reconhecido amplamente por seu clássico texto “A morfologia da paisagem”.
Percebe-se então que, a linha histórica trouxe uma série de pensadores que
atribuíram suas reflexões a partir de um dado contexto, o qual liga-se com as
complexidades encontradas em seu respectivo recorte temporal. Neste âmbito, faz-se
importante reconhecer tal construção histórica acerca da discussão da paisagem, porém é
importante tomar tais reflexões para a progressão contínua do conhecimento, sendo
possível estabelecer análises e compressões de cenários contemporâneos.
De acordo com Zacharias (2008), a analogia da diferenciação da abordagem em
cada uma das escolas que estudam a paisagem ao longo dos tempos, pode ser relacionada
em grande parte com as naturezas epistemológicas, teóricas e metodológicas adotadas e
defendidas pelos diferentes estudiosos da área. Outra condição relevante a ser observada
ainda é que, a aplicação dos referidos estudos e análises, mantinham (e continuam a
manter) uma intrínseca relação com os territórios e suas dinâmicas, de maneira que,
determinadas abordagens se mostram mais adequadas para algumas situações específicas
do que outras.
Em sua investigação, Eichenberg (2018) elaborou uma síntese sobre a integração
dos principais autores e escolas que debateram sobre paisagem ao longo da história,
contemplando tanto aquelas que permeiam a concepção naturalista, quanto as que versam
pela perspectiva humanista, conforme apresentado na figura 5.
48
Figura 5 - Integração das principais escolas de paisagem
Fonte: EICHENBERG, 2017, p. 59
Modificado por: LIMA (2021)
49
Entretanto, apesar de reconhecer a importância da construção histórica acerca das
diferentes escolas que estudaram a paisagem ao longo dos anos, a presente reflexão não
tem como por objetivo central a retomada dos debates que caracterizam e diferenciam
cada uma dessas vertentes paisagísticas. Acerca de tal concepção, autores como Lima
(2017), Eichenberg (2018) e Martins (2018) apresentam em suas reflexões, consideráveis
discussões sobre as diferentes correntes ideológicas que abordaram (e ainda abordam) os
estudos sobre a paisagem, as quais podem ser retomadas para melhor compreensão da
temática.
Portanto, em meio as diferentes abordagens, a conceituação da paisagem perpassa
por densa discussão teórica, a qual busca revelar o real conceito desta categoria analítica.
Dentre tais conceituações, Fidalgo (2014) ressalta a importância de reconhecer os
elementos que compõem a paisagem, os quais destacam-se os componentes: antrópicos,
bióticos, abióticos e cósmicos. Ao referir-se sobre a paisagem e os elementos que a
compõe, Haesbaert (2017, p. 295) debate sobre as relações entre natureza e sociedade nas
abordagens acerca dos estudos paisagísticos:
A relação com a natureza sempre foi muito destacada no debate sobre
paisagem, muitas vezes diferenciada entre paisagem natural e paisagem
cultural ou humanizada. Até os dias atuais, trata-se de um conceito central em
estudos de Ecologia e dos geossistemas, onde é enfatizada sua dimensão
material-objetiva. Na Geografia em sentido mais amplo podemos distinguir
duas grandes abordagens teóricas: uma corrente, mais tradicional, que enfatiza
as dimensões materiais ou “morfologia” e funcionalidade da paisagem,
difundida principalmente por aqueles que não se restringem ao seu papel
analítico mas também propõem políticas de intervenção a fim de proteger
paisagens materiais (o que resulta em processos de patrimonialização da
paisagem, por exemplo) e outra corrente, de domínio mais recente, que destaca
a dimensão imaterial ou simbólica do espaço ao trabalha-lo sob a ótica da
paisagem enfatizando-a como percepção e/ou representação. Uma outra
posição, de matriz fenomenológica, defende ainda a paisagem como espaço
experimentado, vivido.
Corroborando da importância dos elementos que compõem a paisagem, Almeida
(2006) e Cavalcanti (2014) lembram que, a paisagem é o resultado das relações exercidas
nos diferentes espaços. Estas relações podem possuir tanto origem natural, como também
podem advir de interferências humanas. Para Forman e Godron (1986, p. 11), a paisagem
como deve ser entendida como “uma porção de território heterogéneo composto por
conjuntos de ecossistemas em interacção que se repetem de forma similar”.
Além das condições das relações que formam as diversas paisagens distribuídas nos
espaços, Ab’Saber (2003) e Emídio (2006) discorrem sobre outra importante variável ao
50
se considerar análises paisagísticas: o tempo. Para os autores, o estudo das paisagens deve
levar em consideração o momento histórico da análise, uma vez que, a paisagem pode ser
considerada enquanto herança das modificações históricas causadas pelas dinâmicas
naturais e antrópicas exercidas com o passar do tempo.
A investigação das paisagens e suas representações designadas por meio de
diferentes linguagens (sejam poesias, relatos, iconografia, etc...), apresentam-se como
uma fonte de registro acerca dos diferentes olhares empreendidos a natureza/paisagem
em diferentes recortes históricos (GOMES, 2001).
Ainda sobre a condição temporal da paisagem, Sanz e Alonso (1996) lembram que,
a dinâmica da paisagem corresponde, em curto e médio prazo, as ações que o homem
exerce no meio que habita, de maneira que, tais atuações, em maior ou menor medida,
afetam o aspecto visível da paisagem, bem como podem afetar outros aspectos do meio
ambiente. Para a UICN (2011), a paisagem pode ser considerada o resultado de como as
sociedades se organizam e utilizam os sistemas naturais para sua subsistência.
Assim sendo, as condições passadas da paisagem mantêm relação direta com sua
configuração atual, conforme indicam Olivencia e Rodriguez (2008). Para os autores, tal
evolução configura-se enquanto valiosa informação para compreender a estrutura e
dinâmica atual dos conjuntos paisagísticos. A estrutura, porque é possível compreender
os diferentes tipos de vegetação, das mudanças de cultivo, dos tipos de terrenos. Já do
ponto de vista da dinâmica, as paisagens podem ser interpretadas em função de sua
progressão, regressão ou estabilidade, partindo de um ponto de vista pré-definido, ou seja,
por meio da compreensão das mudanças das paisagens a partir de um dado período,
possibilitando observar a sequência evolutiva das mesmas. Sobre a condição dinâmica
da paisagem, Olivencia e Rodriguez (2008, p. 152) indicam que:
La condición dinámica de los paisajes es algo ampliamente reconocido por la
ciencia del paisaje ya que forma parte de los fundamentos teóricos de la misma
desde sus primeras formulaciones. El concepto de paisaje participa
decididamente de la visión holística de los conjuntos o unidades de la
superficie terrestre y se reconoce como un complejo de elementos naturales y
humanos interconectados por relaciones causales de carácter recíproco. Es
precisamente la interacción permanente de los múltiples constituyentes del
paisaje lo que impulsa distintos procesos dinámicos que hacen evolucionar a
los sistemas ecoantrópicos, geosistemas o unidades de paisaje que se
reconocen en cada lugar o porción del territorio.
Destarte, percebe-se uma intrínseca relação da estrutura das paisagens com os
processos passados, de maneira que, a dinâmica da paisagem pode ser considerada uma
51
importante vertente a ser considerada em estudos paisagísticos. A face sul da Serra de
Maracaju (entre os municípios de Ponta Porã e Antônio João) é exemplo da relação entre
a condição estrutural/temporal da paisagem e seus usos nas dinâmicas territoriais.
Percebe-se exaustão territorial em função da exploração das áreas para cultivos em
contraste de áreas onde o relevo limita tais avanços (figura 6).
Figura 6 - Paisagem na face sul da Serra de Maracaju.
Autor: LIMA, 2019
A respeito dos estudos sobre a paisagem, os autores Olivencia e Rodriguez (2008)
citam ainda duas dificuldades ao exercer pesquisas dessa magnitude: a dualidade entre os
elementos naturais e culturais, e os diferentes ritmos de desenvolvimento dos elementos
que compõem a paisagem. O primeiro ponto relaciona-se com a dificuldade de integração
na análise da paisagem a partir da relação dos elementos naturais e culturais, visto a
problemática de relacionar as variáveis que compreendem ambos os elementos. Quanto
ao segundo ponto, as diferentes escalas de comportamentos dos elementos físicos,
biológicos e antrópicos, dificultam o estabelecimento de uma escala homogênea de
análise, considerando por exemplo, a diferença das mudanças climáticas, o tempo
geológico, a sucessão vegetal, a morfogênese dos solos, assim como as dinâmicas
territoriais impostas pelo homem.
Dentro de tais concepções apresentadas até aqui, parece consenso entre muitos
estudiosos que, o conceito de paisagem está atrelado a concepção sistêmica, ou seja, de
52
que esta deva ser compreendia em função da contextualização de sua totalidade,
evidenciada pela interação dos diferentes elementos que a compõem e,
consequentemente, propiciam o estabelecimento das diferentes paisagens.
Esta condição sistêmica possui suas bases no biólogo Ludwig Von Bertalanffy, o
qual, a partir da Teoria Geral dos Sistemas (TGS) criada no início dos anos cinquenta,
subsidiou a abordagem sistêmica em diversas áreas, inclusive na Geografia e que,
consequentemente, possibilitou sua aplicação nos diversos estudos aos quais amparam-
se na paisagem enquanto categoria analítica. Para Mauro e Valadão (2018), essa teoria se
espalhou por diversos campos do conhecimento, uma vez que, o modo mecânico e
compartimentalizado do conhecimento passou a mostrar-se cada vez mais impotentes e
insuficientes na tentativa de explicar a realidade. Neste sentido, no bojo da Geografia
Física, foram desenvolvidos diferentes modelos conceituais, metodológicos e de
classificação da paisagem, tomando como base os princípios da Teoria Geral dos
Sistemas. Dentre os principais precursores dos geossistemas, os autores op. cit. destacam
Sotchava e Bertrand, uma vez que, ambos desenvolveram relevantes propostas teórico-
metodológicas, as quais buscavam representar as principais características das paisagens
alvo de seus estudos: as extensas planícies da Rússia no caso de Sotchava, e a região
entrecortada da França no estudo de Bertrand.
Rodriguez e Silva (2002) e Saraiva (2005) lembram que, Sotchava é considerado o
criador do conceito de geossistema, o qual embasado pela Teoria Geral dos Sistemas e
pelo arcabouço teórico da escola russa de paisagem, passou a realizar estudos
paisagísticos a partir de cinco parâmetros sistêmicos fundamentais: estrutura,
funcionamento, dinâmica, evolução e informação. Neste sentido, o geossistema é
considerado por Sotchava como um complexo territorial natural, formado pela integração
dos diferentes componentes dos sistemas naturais. Entretanto, Sotchava (1977) lembra
que, apesar de considerar-se os geossistemas enquanto fenômenos naturais, fatores
econômicos e sociais também exercem influência sobre a estrutura destes.
Posteriormente, o francês Georges Bertrand buscou aprofundar a concepção acerca
do geossistema. Em sua abordagem, Bertrand (2004) buscou atrelar sua conceituação de
geossistema a condição taxonômica do relevo. Uma das abordagens sugeridas pelo autor
foi o GTP (Geossistema-Território-Paisagem). Conforme indica Ferreira (2010),
Bertrand considerava o geossistema enquanto uma porção territorial dotada de certa
homogeneidade fisionômica. No bojo desta discussão, Bertrand (2004, p. 146) define que:
53
O geossistema situa-se entre a 4ª e a 5ª grandeza temporo-espacial. Trata-se,
portanto, de uma unidade dimensional compreendida entre alguns quilômetros
quadrados e algumas centenas de quilômetros quadrados. É nesta escala que se
situa a maior parte dos fenômenos de interferência entre os elementos da
paisagem e que evoluem as combinações dialéticas mais interessantes para o
geógrafo. Nos níveis superiores a ele só o relevo e o clima importam e,
acessoriamente, as grandes massas vegetais. Nos níveis inferiores, os
elementos biogeográficos são capazes de mascarar as combinações de
conjunto. Enfim, o geossistema constitui uma boa base para os estudos de
organização do espaço porque ele é compatível com a escala humana.
Sobre a influência do paradigma geossistêmico no estudo da paisagem, Zacharias
(2008, p. 35) relata que:
O Paradigma Geossistêmico proposto por Sotchava (1960) e, posteriormente
por Bertrand (1977), que baseados nos princípios da TSG, trouxeram a
necessidade de se analisar a paisagem, de forma indissociável, pelas escalas
taxonômicas - ordem de grandeza em que se manifesta o fenômeno -, e escala
– espacial e temporal –, para a partir daí chegar à sua representação,
denominada como “Cartografia das Paisagens”.
Conforme apresentado, a paisagem denota um caráter sistêmico, a qual apresenta-
se enquanto resultado da interação dos diferentes elementos que a compõe. Do ponto de
vista reflexivo, é possível inferir que, diferentes dinâmicas territoriais também incidam
modificações (positivas ou negativas) na dinâmica de diferentes conjuntos paisagísticos,
como por exemplo, a atividade turística.
Na visão de Macedo (2002), a paisagem deve ser então considerada enquanto
produto e como um sistema. A ligação enquanto produto deve-se em função de
configurar-se enquanto resultado de um processo social de ocupação e gestão de território.
Já a paisagem enquanto sistema possui relação com a interligação dos elementos que a
compõe. Dentro desta concepção, o autor atribui a paisagem a três tipos de qualidade: a
ambiental, a funcional e a estética.
Sobre a evolução do estudo da paisagem na Geografia, Zacharias (2008) ressalta a
importância da Geografia Física, principalmente com ligação a Geomorfologia e a
Biogeografia, as quais suscitaram avanços nos estudos paisagísticos. Além disso, a
Geografia Física possibilitou ainda as primeiras representações cartográficas na tentativa
de análise das relações dos elementos que compõem as paisagens, buscando descreve-las
por meio de cenários gráficos.
Considerando a exploração das análises que podem ser realizadas a partir da
compreensão da paisagem, tais estudos ganham exponencial importância no
planejamento dos territórios. Entender a estrutura, relações e disposições da paisagem
apresenta-se como procedimento fundamental para compreender as potencialidades e/ou
54
limitações de tais conjuntos paisagísticos no desenvolvimento de diversos tipos de uso da
terra.
Corroborando desta ideia, Lacerda (2014) lembra que, a paisagem deve ser
considerada um elemento fundamental na abordagem dos territórios, uma vez que, a
paisagem dispõe de um arcabouço de informações que, aos poucos, traduz-se em políticas
territoriais, de maneira que, represente avanços significativos no diálogo entre gestores
territoriais e as comunidades locais.
Neste âmbito, conforme sugere a UICN (2011), para que haja um manejo e gestão
eficaz do território, é necessário atentar-se para parâmetros como: quantidade e qualidade
de água disponível; características dos solos; condições climáticas; densidade e condições
de usos da terra; limites exploratórios de fauna e flora no território em questão; dentre
outras variações dos elementos que compõem a paisagem. A partir do conhecimento
destas variáveis, é possível estabelecer uma significativa rentabilidade dos elementos em
questão, tanto do ponto de vista ecológico como econômico. Como exemplo de reflexão
acerca dos referidos parâmetros, UICN (2011, p. 21) aponta que:
Los porcentajes de espacios verdes o de carácter paisajístico suelen
expresarse en cantidad de vegetación disponible por habitante o en árboles
por ciudadano, y son uno de los principales indicadores de calidad de vida en
una ciudad. Por esta razón, el objetivo del manejo del paisaje no debe consistir
solamente en generar espacios agradables, sino también en cubrir una serie
de carencias ambientales.
Neste sentido, o planejamento norteado pela paisagem apresenta-se enquanto
instrumento eficaz na mediação das interações entre sociedade e geossistemas. Essa
orientação preconiza a determinação das condições ecológicas da paisagem,
possibilitando assim a diferenciação de sua gestão e, consequentemente, auxiliando na
organização territorial, tendo por base a interação entre a população local, representantes
econômicos e poder público (SEMENOV, 2017).
Pode-se considerar que, os estudos embasados na paisagem, podem auxiliar na
compressão das potencialidades e/ou fragilidades de um determinado território, dispondo
assim de argumentos e parâmetros que validem ou refutem as diversas dinâmicas
territoriais, sejam elas práticas de subsistência local, expansão urbana, inserção de
atividades agropecuárias, desenvolvimento turístico, dentre outras possibilidades. Assim
sendo, cabe ressaltar que o planejamento pode ter como foco diferentes vertentes, seja
para beneficiar os aspectos econômicos, a população local, aspectos ambientes, etc.,
cabendo assim um claro delineamento da finalidade de tal planejamento.
55
Nogué e Sala (2008) e Carré e Metailié (2007) acreditam que, os estudos sobre
paisagem estão se tornando cada vez mais um assunto de interesse geral, uma vez que,
auxilia em variadas políticas de ordenamento territorial, bem como em políticas setoriais
de caráter social, cultural e econômico, possibilitando assim oferecer a população local
um entorno atrativo, harmônico e com melhor qualidade de vida e sensação de bem estar.
Para Vieira (2014), a paisagem que, ora é referenciada como um cenário virtual, e
em outros momentos como identidade cultural, abarca uma grande diversidade de
significações a partir do enfoque empregado pelo pesquisador. Entretanto, ressalta-se que,
os estudos e projetos acerca da temática da paisagem têm sido desenvolvidos em função
do caráter contemplativo, na qualidade de vida e bem-estar humano, no planejamento
territorial e em função de normas e medidas de proteção estipuladas pelo poder público.
Neste sentido, considerando a importância da paisagem no planejamento territorial, a
autora op. cit. (p. 16) discorre que:
No planejamento do território a paisagem é importante porque, ao analisá-la,
constrói-se a evolução da história natural e cultural de um determinado
território, aspecto fundamental na percepção da especificidade de cada espaço
ao longo do tempo, com vistas ao seu desenvolvimento sustentado. A sua
compreensão implica no conhecimento de inúmeros fatores como a litologia,
o relevo, a hidrografia, o clima, os solos, a flora, a fauna, a estrutura ecológica,
o uso do solo e todas as expressões históricas e culturais da sociedade.
Ainda sobre a relação do território com a paisagem, Sanz e Alonso (1996, p.116)
indicam que:
El paisaje integra un conjunto de fenómenos naturales y culturales que se dan
en uma extensión de terreno. Por un lado, la estructura de las rocas y su
revestimiento vegetal y animal y, por otro, la aportación del elemento humano
y cultural constituyen los componentes esenciales del mismo. El paisaje es
considerado como un conjunto indisociable de todos esos elementos unidos a
um territorio. Dicho conjunto posee una estructura ordenada no reductible a
la suma de sus partes, sino que constituye un sistema de relaciones en el que
los procesos se encadenan; su aprehensión se realiza como un todo
(integración). Sus elementos constituyentes se interrelacionan,
condicionándose recíprocamente, de tal forma que su función sólo se concibe
dentro de un esquema dinámico integrado.
A importância dos componentes da paisagem e suas relações é compartilhada por
Rodriguez (1984), o qual indica que, os conhecimentos das ciências naturais no que
concerne a investigação de aspectos bióticos e abióticos que com estruturam a paisagem,
é fundamental na organização e apresentação de uma proposta de uso racional e proteção
dos territórios. Do ponto de vista da escala taxonômica, o autor op. cit. indica que, a
paisagem, de acordo com o nível de complexidade requerido na abordagem, pode ser
56
investigada em três níveis: planetário (conformado pela superfície geográfica como o
complexo territorial natural maior, como um todo), regional (se compõe de partes
complexas dos continentes e oceanos: países físico-geográficos, distritos, províncias e
regiões, os quais tem um caráter basicamente individual) e topológico ou local (unidades
elementares de caráter simples que compreende a “morfologia das paisagens”).
Desta maneira, ao proceder estudos acerca da categoria da paisagem, é necessário
estabelecer um nível escalar de abordagem, de maneira que, o nível de detalhamento seja
condizente com os resultados que vislumbram ser alcançados por meio das análises. A
concepção de níveis taxonômicos é abordada por diferentes estudiosos, tomando por
vezes diferentes parâmetros, fato que suscita que, cada pesquisador adote a vertente que
contemple de melhor modo seu objeto de estudo.
Sobre tal concepção, Rodríguez (1984), ao desenvolver estudos acerca da paisagem,
lembra que, a paisagem pode ser compreendida enquanto complexo geográfico natural,
denominação a qual possui aspecto sinônimo com termos como complexo físico-
geográfico, complexo natural territorial, complexo natural, geocomplexo ou complexo de
paisagem. Ambas denominações mantém relação com unidades territoriais naturais,
mantendo relação com seu tamanho e complexidade. Entretanto, o autor op. cit. chama a
atenção que, apesar de caracterizar-se como conjunto dotado de certa homogeneidade,
esses complexos podem sofrem com a influência de fatores externos, afetando assim no
auto desenvolvimento das paisagens, modificando e constituindo novas propriedades nos
complexos naturais, bem como possibilitando a perda de alguns traços característicos da
paisagem. Neste sentido, conceitos como desenvolvimento, dinâmica, funcionamento e
modificação, estão diretamente atrelados a transformação das paisagens enquanto
resultado da interação da sociedade e a natureza.
Assim sendo, percebe-se a importância da compreensão da paisagem com seus
respectivos usos, uma vez que, em função das possíveis dinâmicas territoriais impostas a
uma determinada paisagem, é possível que haja significativas alterações em sua estrutura.
Sobre tal assertiva, Rodríguez (1984) ressalta que, qualquer atividade propagada em um
determinado complexo natural (ou seja, um determinado conjunto paisagístico), sugere
uma cadeia de mudanças, isso deve-se a sua integridade e estreitas inter-relações dos
componentes que o forma. Tais alterações dependem em grande parte a fatores como o
tipo de atividade, sua continuidade e regime, suas propriedades e também as próprias
estruturas das paisagens envolvidas.
57
No tocante a possível modificação das paisagens, Rodríguez (1984) aponta três
diferentes elementos na formação das paisagens: relíquia, conservadores e progressistas.
Os elementos relíquia são aqueles que se mantém deste épocas passadas, apresentando-
se como herança das paisagens ao longo de seu desenvolvimento. Os elementos
conservadores que mais relacionam-se com as condições atuais da paisagem, definindo
sua estrutura. E por fim, os elementos progressistas ressaltam a dinâmica da paisagem,
sugerindo tendências para a continuidade do desenvolvimento das paisagens.
Prova da relevância dos estudos da paisagem no ordenamento territorial e gestão,
conservação e proteção dos diversos ambientes, Vieira (2014) lembra que, algumas
normativas foram desenvolvidas visando subsidiar tais prerrogativas, dentre elas, a
criação dos Doze Princípios da Carta Brasileira da Paisagem, no ano de 2010, por meio
da aprovação da portaria nº 127, de 30 de abril de 2009, de elaboração do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), medida a qual estabelece a chancela
das paisagens culturais brasileiras, atribuindo ativa participação dos membros da
Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP), organização a qual possui
filiação a Internacional de Arquitetos Paisagistas (IFLA). Além disso, conforme apontado
pela autora op. cit., outras normas e medidas de proteção do poder público brasileiro,
como a Lei 9.985/00, intitulada como Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza, denotam a importância da paisagem ao longo dos territórios, de maneira a
apresentar suporte na proteção das paisagens naturais, com poucas alterações e com
notáveis índices de beleza cênica.
Na Europa, uma importante medida a respeito da paisagem foi tomada no ano de
2000, na cidade de Florença, na Itália, onde foi deliberada a Convenção Europeia da
Paisagem. Na ocasião, preocupados com o uso, exploração e acelerado processo de
transformação das europeias, o conselho europeu propôs políticas de gestão da paisagem
na Europa, de maneira que, a partir de diretrizes propostas no documento, os países que
aderissem as normativas, passaria a ter legislações especificas para o trato da paisagem,
auxiliando assim na gestão e ordenamento de suas paisagens (PINTO-CORREIA;
D’ABREU; OLIVEIRA, 2001)
No ato de sua atribuição, o Conselho da Europa (2000) atribui a Convenção
Europeia da Paisagem enquanto um instrumento de definições acerca da paisagem,
políticas da paisagem, qualidade paisagística, proteção, gestão e ordenamento da
paisagem, seja em paisagens naturais, urbanas, rurais e periurbanas, terrestres ou
aquáticas, cotidianas ou de caráter excepcional. Além disso, a convenção tem medidas
58
como a sensibilização do uso da paisagem, formação e educação, identificação e
avaliação paisagística, dentre outras medidas de proteção para as paisagens europeias.
Dito isto, nota-se que, apesar da legislação brasileira dispor de mecanismos que
visem a gestão e proteção dos diversos ambientes no Brasil, ainda não há um instrumento
específico no trato das paisagens, necessitando assim que, cada vez mais pesquisas
venham a ser desenvolvidas neste âmbito, de maneira que, facilite e sirva de base para a
compreensão destas paisagens e, consequentemente, auxiliando na gestão e uso dos
territórios.
Diante das perspectivas elencadas acerca das abordagens que perpassam a temática
da paisagem, Souza (2019) ressalta que, independentemente de tais variações, faz-se de
suma importância a compreensão desta categoria como um conceito operativo na
Geografia, seja por parte de professores, pesquisadores ou planejadores envolvidos nessa
área de conhecimento. Sob tal assertiva, o autor op. cit. (p. 9) cita que “É muito difícil
que uma problemática estudada pela Geografia não se manifeste no espaço através de
alguma paisagem, ou seja, alguma expressão visual/estética dos eventos constituídos na
interface sociedade-natureza”.
Nesta concepção, os aspectos que se destacam e norteiam as bases das investigações
das paisagens sul-mato-grossenses são os diferentes arranjos litológicos das paisagens, os
quais, consequentemente, influenciam nas formas de relevo, nos tipos de vegetação
nativas e nos diferentes usos da terra dispostos ao longo do território de Mato Grosso do
Sul.
1.2 Concepções acerca de beleza cênica e qualidade visual das paisagens
Conforme apresentado até o momento, a paisagem enquanto categoria analítica,
pode ser designada a compreender diferentes aspectos, podendo ser relacionada com
diferentes fenômenos. Dentre tais possibilidades, uma das características que mais se
destaca nos estudos paisagísticos é sua aparência visível, ou seja, a configuração final que
está posta como resultado das relações dos diferentes elementos que as compõem.
De fato, não se deve ignorar os processos e relações que são estabelecidos e que
acarretam na configuração final das paisagens, entretanto, a “simples” configuração
visual destas paisagens podem ser determinantes no desenvolvimento de diversas
atividades, como por exemplo, o turismo. Assim sendo, alguns estudos privilegiam a
59
investigação da qualidade visual das paisagens, de maneira que, por meio de
metodologias específicas, seja possível desenvolver tais aferições das diferentes
paisagens.
Nesta concepção, Vieira (2008) destaca a categoria analítica da paisagem do ponto
de vista perceptivo e enquanto elemento cênico. Assim sendo, o autor aponta a paisagem
enquanto conjunto a ser contemplado, ou seja, como uma unidade panorâmica capaz de
despertar o desejo de seu usufruto e, consequentemente, sendo passível a ser utilizada
como objeto de consumo, como por exemplo, pelo turismo. Para Silveira (2014), a
paisagem apresenta-se como o primeiro contato do turista com o lugar turístico, de
maneira que, a atratividade do local se dá em função da visão empreendida a uma
determinada paisagem.
No que tange a percepção e valorização da paisagem pela atividade turística,
Silveira (2014, p. 65, 66) indica que estas podem levar em consideração sua capacidade
enquanto espaço-suporte das práticas turísticas, sua relevância enquanto espaço visível e
ainda como espaço de representação simbólica:
A paisagem pode ser percebida e valorizada como espaço-suporte das práticas
turísticas quando os turistas se apropriam dos lugares de notável beleza cênica,
como espaços naturais (parques e áreas naturais em geral, protegidas ou não),
lugares míticos e/ou históricos (rotas e caminhos religiosos, sítios
arqueológicos e outros).
A paisagem pode ser percebida e valorizada como espaço visível – a vista de
um lugar, um ambiente para descanso e relaxamento ou de encantamento para
o turista. Uma paisagem notável (na praia, na cidade ou no campo) provoca
aumento no valor de uso de um lugar (estético e econômico) – por exemplo,
quando o quarto do hotel está voltado para uma bela vista.
A paisagem pode ser percebida e valorizada como espaço de representação
quando apresenta um caráter exclusivamente simbólico e pode representar um
elemento cultural ou outro aspecto que identifica o lugar; dito de outra forma,
a paisagem pode ser vista como uma marca do lugar. Nesse caso, ela é uma
porção do espaço turístico consumida como um “produto” e, ao mesmo tempo,
percebida como um objeto que revela a identidade cultural do lugar, como
produtos industriais (cristais, cosméticos, automóveis etc.) gastronomia típica
e produtos agrícolas com valor altamente simbólico (vinho, queijo etc.).
Assim sendo, Guedes (1999) ressalta a importância do estudo crítico do turismo
acerca da valorização da paisagem, a percepção da qualidade paisagística, a maneira
como o homem interage paisagem, as transformações do espaço, a postura ambiental
enquanto produto cultural e a construção da imagem do lugar. Todos estes nuances que
compreendem as paisagens são utilizados pelo marketing turístico na produção de
imagens que seduzam os potenciais turistas, como exemplificado na figura 7, a qual
demonstra a valorização imagética a partir de elementos como ângulo, horário e escala
60
de captura fotográfica podem valorizar paisagens como instrumentos de comercialização
turística, como neste registro do pôr-do-sol na Serra do Amolar, Corumbá-MS. Estas
imagens as quais criam o ideário de lugares distantes e exóticos, que congregam a
materialização dos desejos dos diferentes indivíduos.
Figura 7 - Entardecer na Serra do Amolar, em Corumbá-MS
Autor: LIMA, 2019
Entretanto, em muitos casos, principalmente na atividade turística, a qualidade
visual é vista como sinônimo de beleza cênica, fato o qual, apresenta-se de maneira
conflitante no que tange ao rigor científico na avaliação desta qualidade visual das
paisagens, visto que, a expressão “beleza cênica” denota uma relativa carga de
subjetividade e que, consequentemente, implica na consideração de juízo de valores,
descaracterizando a proposta de uma metodologia aplicável a diferentes casos de maneira
igualitária. Diante desta consideração, discorre-se a seguir sobre as terminologias “beleza
cênica” e “qualidade visual”, visando assim, estabelecer um comparativo destas
expressões e, justificar o uso do termo “qualidade visual da paisagem” ao longo da
pesquisa.
Do ponto de vista da contemplação, a paisagem geralmente é relacionada como um
local dotado de relevante beleza cênica, abarcada pela memória enquanto cenário de
61
alguma experiência aprazente. Neste contexto, a relação da paisagem com uma imagem
ou recordação é praticamente indissociável. No Brasil, os locais dotados de grande beleza
cênica se estabelecem enquanto patrimônio turístico nacional, atraindo diversos turistas
que buscam “admirar suas belezas”. Além da sensação de admiração ao belo, a raridade
da paisagem também se apresenta enquanto fator decisivo na atração de turistas,
possibilitando a valorização local, a geração de rendas diretas e indiretas (VIEIRA, 2014).
Sobre tal importância na relação da beleza cênica com determinados territórios,
Vieira e Verdum (2019) ressaltam esta condição diretamente relacionada com o
planejamento e gestão ambiental de tais locais, de maneira que, a beleza cênica passa a
ser utilizada como um dos parâmetros validadores das medidas de proteção e preservação
de certas paisagens, principalmente no âmbito da biodiversidade, dos hábitats e
ecossistemas. Ainda de acordo com os autores, tais medidas podem fomentar para além
da conservação, preservação e restauração do patrimônio natural/cultura, trazer
benefícios também nos âmbitos econômico e cultural. Os autores op. cit. (p. 15) citam
que “A beleza cênica foi um dos fatores determinantes para a criação de áreas territoriais,
especialmente protegidas e parâmetros de indicação para a criação de um patrimônio
cultural, e ainda permanece”.
É importante ressaltar que, conforme indica Vieira (2014), discorrer sobre o termo
belo perpassa pelo levantamento teórico de duas vertentes: o belo natural e o belo
artístico. Esse dualismo mantém relação intrínseca, uma vez que, a paisagem pode ser
considerada como uma simbiose entre natureza e sociedade humana, a qual deve ser
resguardada não apenas por suas características culturais e física, mas também por sua
condição estética.
Para Vieira (2014) a terminologia do belo foi aplicada nas paisagens europeias,
onde, teve intrínseca relação com a criação de jardins. A sublimidade das paisagens era
explicada por meio das manifestações da natureza e sua relação/enquadramento enquanto
pinturas. Essa contemplação pitoresca é recorrente do século XVIII, e permanece até os
dias atuais, considerando que, a venda de folhetos, fotos de calendários e cartões postais
nas lojas de souvenir e empresas turísticas representam a afeição das pessoas as paisagens
dispostas nestas gravuras.
Sobre a compreensão da beleza cênica das paisagens, Vieira (2014) discorre que:
“Reconhecer a beleza cênica de um lugar significa identificar e respeitar as suas
propriedades estéticas formais e estruturais marcadas pela harmonia e pela sua
historicidade”. Na concepção de Vieira et. al. (2018), a beleza cênica da paisagem insere-
62
se no contexto de propiciar sentimentos ou sensações agradáveis ao seu observado, tais
como o prazer, deleite, satisfação, tranquilidade, paz de espírito, dentre outras variações.
A respeito dessa concepção, os autores op. cit. (p. 17) lembram que:
A beleza cênica da paisagem é a identidade estética quando o espaço se
transforma em lugar, devendo ser lida nas suas concepções ontológica
(essência e qualidade), estética (modo de apreciação e valoração) e ética
(possibilidades e limites do agir e de conservar no seu conjunto paisagístico).
Reconhecer a beleza cênica de um lugar significa identificar e respeitar as suas
propriedades estéticas formais e estruturais marcadas pela harmonia e pela sua
historicidade. É o espaço cênico de observação da paisagem. Caracteriza-se
por ser o local central do olhar do observador ao fazer a leitura de uma
paisagem, ou seja, é o cenário com propriedades estéticas formais e estruturais
marcadas pela harmonia, proporção, luminosidade e equilíbrio.
Pode se dizer assim que, a beleza cênica, mantém uma relação íntima entre
sensações despertadas em seu observador a partir das relações estabelecidas com a
paisagem em questão, de maneira que, estas sensações podem variar ao comparar a
percepção obtida por outro sujeito. Neste sentido, é possível compreender que,
estabelecer o sentido daquilo que possui ou não uma beleza cênica, é passível de uma
análise com alto grau de subjetividade, ou seja, que depende da percepção de seu
observador, não sendo estabelecida como um padrão para todos.
Outro fato destacado por Tuan (1980) são os diferentes olhares empreendidos a
paisagem por visitantes e nativos. Enquanto o visitante possui um olhar mais superficial,
criando uma espécie de quadros individualizados de visão pautados na individualização
de aspectos visíveis da paisagem, o nativo, por sua vez, empreende uma visão mais
complexa, subsidiada por suas relações mais próximas com a totalidade de seu meio
ambiente em que vive. Em suma, pode-se dizer que a visão do visitante é
substancialmente estética, julgando as paisagens visitadas por sua aparência, atribuindo
seu juízo de valor a partir de algum critério de beleza. Neste âmbito, para que o visitante
ultrapasse a avaliação puramente estética, lhe é exigido um esforço adicional, a fim de
estimular uma compreensão mais aguçada acerca da complexidade que envolve uma
determinada paisagem. Em suas reflexões, o autor op. cit. (p. 107) discute tais relações
do observador e paisagem a partir do conceito de topofilia:
A palavra "topofilia" é um neologismo, útil quando pode ser definida em
sentido amplo, incluindo todos os laços afetivos dos seres humanos com o meio
ambiente material. Estes diferem profundamente em intensidade, sutileza e
modo de expressão. A resposta ao meio ambiente pode ser basicamente
estética: em seguida, pode variar do efêmero prazer que se tem de uma vista,
até a sensação de beleza, igualmente fugaz, mas muito mais intensa, que é
subitamente revelada. A resposta pode ser tátil: o deleite ao sentir o ar, água,
63
terra. Mais permanentes e mais difíceis de expressar, são os sentimentos que
temos para com um lugar, por ser o lar, o lócus de reminiscências e o meio de
se ganhar a vida.
As formas como as pessoas percebem e avaliam uma determinada paisagem podem
ser variadas. Um mesmo conjunto paisagístico pode apresentar realidades totalmente
diferentes quando observado por duas pessoas. Mesmo a partir da delimitação de dois
grupos sociais homogêneos seria diferente encontrar um consenso de todos os seus
participantes. Da mesma forma, a própria visão científica liga-se a alguma linha cultural
de pensamento, a qual está inserida em um grande leque de outras linhas de pensamento,
ou seja, também é influenciada por algum viés interpretativo (TUAN, 1980).
Tal afirmação converge com as ideias de Gomes (2001, p. 56), a qual indica que, a
representação da paisagem é fruto do olhar empreendido pelo indivíduo observador, este
que, por sua vez, é influenciado por condições fisiológicas, psicológicas, socioculturais e
econômicas. Neste sentido, cada indivíduo é capaz de organizar seu próprio mosaico de
paisagens dotados de seus respectivos significados particulares a sua percepção:
Esses mosaicos, como puzzles, são representações do existente ou do ansiado
para determinado espaço, apreendidos segundo determinada perspectiva. É
sabido que o espaço comporta coexistências que nem sempre são capturadas
ou valorizadas no recorte da paisagem efetuado, dependente desses filtros bem
como dos interesses que regem as representações.
Sobre tal assertiva, Cauquelin (2007) relaciona a percepção da beleza cênica dada
por um observador com uma contemplação de um quadro, o qual teria nos limites de sua
moldura as restrições culturais deste indivíduo, limitações as quais induzem o sujeito a
determinar aquilo que é feio ou belo em uma determinada paisagem, ou seja, ao avaliar a
beleza cênica de uma paisagem não tratamos de um olhar inocente, mas sim de um olhar
imbricado de valores culturais. Ainda de acordo com a autora op. cit. (p. 32) “[...]a
paisagem já está ligada a muitas emoções, a muitas infâncias, a muitos gestos e, parece,
sempre realizados”.
Se vamos ao campo, ao mar ou à montanha esperamos “desfrutar” a paisagem.
Estamos na expectativa de uma satisfação, mas não sabemos exatamente se
essa expectativa será preenchida e, o que é mais determinante, não sabemos
nem mesmo com o que ela poderia ser preenchida. Designamos isso,
vagamente, de “amor”: amamos, não amamos, preferimos, detestamos esse ou
aquele pedaço de natureza... por amor à natureza em geral. Porque estamos
felizes, pacificados, confiantes, embevecidos ou decepcionados diante do
espetáculo de uma paisagem. Claro que podemos invocar nossos humores,
nossos gostos, nossos caprichos: “Amo o mar, detesto montanha, o campo me
entedia, é muito vasto, muito sombrio, muito...”. Podemos também evocar
nossa infância, o apego a certas paisagens, o rio, as colinas, as lembranças
64
felizes-infelizes, para explicar a nós mesmos nossos sentimentos
(CAUQUELIN, 2007, p. 116).
Ainda sobre a variabilidade da percepção do indivíduo observador da paisagem
indica-se que:
O que causa ou impede a satisfação bem pode ser, à primeira vista, da ordem
de um estado de humor, de matiz psíquico: “Não tem condições de ver
monumentalidades, desejo ver algo de repousante, quero ir para o meio do
mato...”. A “intenção” de repousar, de se mexer e de desfrutar paisagens tem
múltiplas causas na vida social e individual. Poderíamos procura-las sem a
certeza de chegar a encontrar a resposta (CAUQUELIN, 2007, p. 117).
Conforme Tuan (1980) discorre, a percepção do ser humano com relação a
natureza/paisagem pode variar em função de diferentes aspectos. Seja por sua concepção
cultural, seja por sua diferença de sensibilidade dos sentidos, seja em função de variação
de idade, ou até mesmo pelas diferenças físico/biológicas entre homens e mulheres. Neste
sentido, não se pretende aqui estabelecer um modelo engessado e único que uniformize
todas as formas de percepção da paisagem, mas sim que, seja possível estabelecer alguns
parâmetros que facilitem as percepções que permeiam os diferentes aspectos/variáveis
apontadas pelo autor.
Também é importante ressaltar que o objetivo não é desprezar os valores atribuídos
pelo observador a paisagem em questão, mas sim que, seja possível estabelecer um
modelo de observação paisagística que permita aferir variáveis comuns, como por
exemplo, os níveis de alterações antrópicas, a variedade de elementos da paisagem, a
singularidade dos elementos encontrados no conjunto paisagísticos, etc.
Reconhecer as preferencias ambientais de um indivíduo perpassaria, portanto, pela
análise de sua herança biológica, criação, educação, trabalho e entorno físico. No que
tange as atitudes e preferencias sociais, seria necessário conhecer sua história cultural e
suas relações em grupo no âmbito de seu ambiente físico. Ainda assim, dificilmente seria
possível determinar nitidamente os estímulos que propiciaram uma determinada
avaliação acerca de um conjunto paisagístico (TUAN, 1980).
O processo de percepção da beleza cênica da paisagem enquanto bela ou feia
perpassaria então por três etapas: procedimento (tentativa de exercer uma percepção
estética), representação subjetiva (etapa a qual corresponde a expressão de sentimentos
expressos pela paisagem) e representação objetiva dos sentimentos (ou seja, corresponde
de fato as sensações absorvidas e expressas pelo observador). Essa condição do
observador em avaliar um determinado objeto ou cenário de maneira positiva ou negativa
65
é influenciada por diversos aspectos como: conhecimento adquirido e acumulado, as
experiências vividas e registradas pela memória humana, as percepções desenvolvidas,
bem como em função das construções de imagens mentais. Desta maneira, a definição de
beleza configura-se enquanto uma percepção estética estimulada por um conjunto de
propriedades estéticas de um objeto, a qual estabelece uma experiência agradável ou não
para seu observador, compreendidas por meio dos sentidos humanos, estimulados por
propriedades formais e estruturais como: harmonia, proporção, ordem, claridade, textura,
cor e integridade (VIEIRA et. al., 2018).
Percebe-se então que, a construção individual daquilo que é belo ou não leva em
consideração as experiências acumuladas ao longo da história do observador, de modo
que, uma relação mais próxima ou mais distante deste para com as características de
diferentes objetos, permite uma construção particularizada na avaliação positiva ou
negativa de uma paisagem, dificultando assim o estabelecimento de uma uniformidade
no juízo de valor a respeito da beleza cênica das diferentes paisagens as quais podem ser
observadas.
Acerca de tal fato, Souza (2019) destaca as experiências do observador como fato
determinante na associação daquilo que é relacionado com o belo ou não, uma vez que,
uma experiência que tenha sido agradável passa a ser alvo de repetição, enquanto fatos
desagradáveis evitam-se vivenciar novamente, fato que permite julgamentos como: o
bom, o mau; o belo, o feio; o prazer, o suplício; o vulgar, o sublime.
Ainda sobre a importância do observador na interpretação da beleza das paisagens,
Souza (2009, p. 57) ressalta a relevância deste indivíduo para tal ação, uma vez que “não
há espetáculo vazio de público”. Neste sentido, desde que não haja risco eminente, o
observador pode ter uma reação de contemplação e admiração de um determinado
fenômeno natural em detrimento a sentimentos como medo e repulsa. Neste sentido, o
autor op. cit. (p.57) cita que:
[...] Enquanto parte do público, o observador da dinâmica aterradora do
vulcão, da tempestade ou do mar turbulento, sem correr o risco de ser tragado
por esses fenômenos, por certo será marcado muito mais pela
admiração boquiaberta e não pelo temor desesperado.
Assim sendo, a paisagem é tomada como a expressão estética da natureza, a qual
pode ser associada a uma condição prazerosa ou não. A paisagem assim, a depender do
estado de equilíbrio ou desequilíbrio de seus elementos, pode suscitar o juízo de valor do
66
indivíduo observador acerca de sua bela ou sublimidade daquilo que se considera natural
(SOUZA, 2009).
Ao discorrer sobre o belo, Nohl (2001) indica que este termo estético fica
gradativamente mais no passado, considerando que, cada vez mais, a motivação de um
observador para aquilo que é belo ou não, está imbricada em uma vasta possibilidade de
categorias estéticas, as quais, certamente mantém uma íntima relação com as orientações
de valores predominantes em um determinado momento e em uma determinada
sociedade, ou seja, há uma variação considerável do que é belo ou não e, em que momento
é belo ou não. Em acordo ao exposto, o relato de Vieira e Verdum (2019, p. 15) confirma
tal assertiva:
As belezas cênicas das paisagens possuem importância em nível social,
cultural, histórico, econômico e ecologicamente. Muitas delas, ao lembrar o
passado, fortalecem o sentimento identitário; conectam as pessoas à natureza
e ao universo; produzem qualidade de vida e bem-estar social, relaxamento,
paz interior e elevação espiritual; por serem reais, são independentes de
qualquer convenção, possuem valor intrínseco, seja financeiro, seja utilitário;
apresentam atributos raros, elementos singulares da natureza; são permeadas
de cultura, contribuindo na reprodução social e no modo de vida das
comunidades.
Por outro lado, Vieira (2014) faz menção a “qualidade estética da natureza”, a qual
a autora indica esta como uma condição provisória, podendo ser compreendida
diferentemente em função de seu contexto, a partir de particularidades estabelecidas, uma
vez que, as formas da natureza possibilitem um domínio para o exercício da imaginação.
Assim, ao compreender as qualidades visuais das paisagens, seria possível criar ou
estabelecer funções as mesmas.
Na busca pela interpretação da paisagem, seja no aspecto físico ou visual, é
importante considerar para além de seus aspectos naturais, conforme indica Vieira (2014),
uma vez que, dificilmente é possível encontrar espaços naturais intocados, de maneira
que, de uma forma ou outra, a paisagem sempre estará impregnada pela história e,
consequentemente, se vê imersa em um entorno tecnoindustrial. Conforme ilustrado na
figura 8, ainda que a natureza se apresente como elemento predominante na paisagem,
ainda sim haverá elementos advindos de modificações humanas, seja na dinâmica
territorial (pastos, cultivos, etc.), construção de redes viárias, estrutura de rede elétrica e
de comunicações, dentre outros, fatos que podem ser evidenciados, por exemplo, na Serra
de Maracaju, Piraputanga-MS. Em sua definição, Vieira et. al. (2018, p. 18) indicam que:
67
A qualidade visual é a propriedade de qualificar os elementos visuais e
espaciais da paisagem, pois a combinação desses elementos cria qualidades
estéticas similares, permitindo a identificação de unidades paisagísticas por
parte do observador. Essa qualidade é de grande importância para o
planejamento da gestão dos territórios, para identificação e proteção dos
recursos cênicos, elaboração de planos de desenvolvimento turístico e para a
avaliação de impactos visuais e ambientais gerados pela implantação de
projetos arquitetônicos e outros empreendimentos que venham a intervir nessa
qualidade.
Figura 8 - Estrada cortando a paisagem da Serra de Maracaju, Piraputanga-MS
Autor: LIMA, 2019
A qualidade visual da paisagem é um tema que apresenta um crescente interesse da
sociedade, uma vez que, passou-se a perceber que esta condição está atrelada a qualidade
de vida da população, principalmente em relação a sua saúde e bem estar. Assim sendo,
a consciência da sociedade e dos governantes no quesito qualidade visual da paisagem,
tem estimulado um maior interesse e disponibilidade em fomentar estudos e metodologias
sobre o tema. Passa-se então cada vez mais a incluir e relacionar a qualidade visual das
paisagens nas tratativas acerca da conservação, gestão e planejamentos paisagísticos
(MENDES, 2010).
A qualidade visual seria então, uma ferramenta importante na gestão territorial,
possibilitando a identificação e proteção de recursos cênicos, auxiliando no planejamento
do desenvolvimento turístico, bem como no suporte para a avaliação de impactos visuais
e ambientais advindos da estruturação de projetos arquitetônicos e/ou outros
68
empreendimentos que vislumbrem alterar a qualidade visual destas paisagens (VIEIRA,
2014).
Considerando os estudos de qualidade visual como uma ferramenta de gestão
territorial, estes possibilitariam uma melhor compreensão de processos que, cada vez
mais, interferem positiva ou negativamente a qualidade visual das paisagens, tais como a
agricultura, instalações de engenharia em larga escala, mastros de rádio, usinas eólicas,
estradas, dentre outras intervenções (NOHL, 2001).
Destarte, as análises de qualidade visual das paisagens podem ser tomadas como
relevantes não apenas em estudos ligados ao Turismo, mas sim a diferentes vertentes que
possuam ligação com tais configurações paisagísticas, bem como na perspectiva de
avaliação do bem estar das comunidades locais que convivem diariamente com tais
conjuntos.
Para Vieira et. al. (2018), a forma mais simples de estabelecer uma avaliação da
qualidade de uma paisagem perpassaria por uma concepção daquilo que se considera
bonito/feio, entretanto, outros parâmetros podem ser utilizados para realizar tal aferição,
tais como: ordem, integridade, diversidade, singularidade, a raridade, a irreversibilidade,
a pureza e a representatividade, variáveis as quais, necessitam de técnicas de maior
precisão e que dispendam de maior poder analítico.
Propor uma análise da qualidade de uma paisagem para além da dicotomia entre o
belo e o feio pode auxiliar na redução da carga subjetiva da análise, ou seja, possibilita
evitar que, valores e avaliações exclusivamente pessoais do avaliador incidam juízos de
valores sobre um determinado conjunto paisagístico. É claro que, é quase que impossível
reduzir tal subjetividade a zero, entretanto, esta tentativa busca estabelecer parâmetros
que ofereçam suportes de análises mais objetivas possíveis.
Cabe ressaltar que, em suma, do ponto de vista do turista, há uma grande relação
das paisagens turísticas com a subjetividade, muitas vezes estimuladas por filmes,
propagandas, novelas, dentre outras construções de subjetividades. Entretanto,
considerando esta investigação científica, acredita-se ser importante o estabelecimento de
critérios que permitam uma melhor aferição dos elementos que compõem as paisagens e,
consequentemente.
Acerca dessa tentativa de reduzir a subjetividade da ponderação da qualidade visual
da paisagem, Lothian (1999) indica que, uma das possibilidades utilizadas por
planejadores, geógrafos e outros que buscam esse tipo de avaliação é o desenvolvimento
de mapeamentos e classificações desta qualidade visual assim como o tratamento dado
69
aos componentes que estruturam a paisagem, como os solos, acidentes geográficos ou
vegetação. Nesta tratativa, são elencados elementos que, por critérios previamente
estabelecidos, denotariam maior ou menor qualidade visual (por exemplo, que montanhas
e rios têm alta qualidade de paisagem).
Obviamente, o próprio ato da determinação de classificações e a construção de
mapeamentos carreguem em si uma certa subjetividade, entretanto, tais procedimentos
permitem, não a eliminação total da carga subjetiva, mas sim uma compreensão e
detalhada e ordenada das informações que compreende o objeto estudado, neste caso, das
paisagens.
Tomando como parâmetro conjuntos montanhosos e diversidade hídrica como
elementos determinantes na escala de alta qualidade visual, a faixa da Serra de Maracaju
(em Piraputanga-MS) que é acompanhada pelo rio Aquidauana, pode ser relacionada
enquanto área com relevante grau de qualidade visual, conforme observado na figura 9.
Assim, as paisagens teriam suas classificações qualitativas atreladas a uma escala
numérica ou classificadas enquanto detentoras de alta, média ou baixa qualidade. Em
suma, esse tipo de abordagem pressupõe que a qualidade da paisagem é uma característica
que pode ser avaliada de maneira semelhante suas características físicas. Para tal
avaliação física, Siefert e Dos Santos (2016) indicam que, esta seria realizada em função
do estabelecimento de chaves de interpretação (parâmetros) e, materializada em
mapeamentos, simulações e classificações numéricas.
Figura 9 - Rio Aquidauana cortando a Serra de Maracaju em Piraputanga-MS
Autor: LIMA, 2019
70
Uma abordagem alternativa ao paradigma objetivista ou físico da qualidade visual
da paisagem é o método psicofísico, o qual, utiliza das preferências de uma determinada
comunidade na compreensão do que é tido como qualidade geral da paisagem, medindo
suas preferências sem a influência do pesquisador. Nessa perspectiva, a comunidade em
questão referencia-se a tais paisagens a partir dos significados que estes elementos
paisagísticos representam para este grupo, seja em função de seu uso econômico, seja por
seus usos sociais, por práticas culturais ou ainda por seus ideais conservacionistas.
Nota-se então em paradoxo entre as visões objetivista/físico e
subjetivista/psicofísico da qualidade visual da paisagem indica que, enquanto uma
vertente indica que a qualidade paisagística possui relação com sua estrutura de maneira
objetiva, a outra indica que esse aspecto qualitativo está relacionado com seu espectador
(LOTHIAN, 1999). Sobre o uso de métodos objetivos, Tabacow e Xavier Da Silva (2011)
ressaltam a importância destes, uma vez que, facilitam o apoio a tomada de decisões,
considerando que, dispõem de informações valiosas acerca das paisagens, de maneira
que, particularmente, a visibilidade apresenta-se enquanto uma importante ferramenta de
análise.
Sobre as formas de abordagem acerca da qualidade visual da paisagem, Nohl (2001)
lembra que esta, enquanto objeto caracterizado por sua aparência externa, possibilita que,
diferentes níveis de compreensão sejam imprimidos em sua análise. Na visão do autor op.
cit., existe quatro níveis os quais o observador pode extrair informações ou conhecimento
da paisagem: perceptivo, expressivo, sintomático e simbólico.
O nível perceptivo estaria ligado a obtenção de informações por parte do observador
por meio dos sentidos, tais como a visualização, audição e olfato. Já o nível expressivo
consiste na associação de sentimentos e emoções do observador ao perceber os elementos
e estruturas da paisagem, ampliando assim a concepção subjetiva do indivíduo. O nível
sintomático consiste na compreensão da paisagem de maneira sistêmica, ou seja, na
interligação dos elementos, compreendendo a correspondência entre eles. E por fim, o
nível simbólico, mantém intrínseca relação com imagens utópicas e imaginação da cabeça
do expectador, de maneira que, cada paisagem pode simbolizar diferentes reflexões para
cada observador. De maneira geral, os níveis perceptivo e sintomático conjuntamente
contribuem para uma acepção narrativa da paisagem (informação estética com referência
a paisagem factual), enquanto os níveis expressivo e simbólico mantêm relação com a
71
poética função da paisagem (informação ligada às especificidades do expectador)
(NOHL, 2001).
Considerando os níveis de compreensão da paisagem propostos por Nohl (2001), a
investigação da qualidade visual das paisagens de Mato Grosso do Sul perpassa pelos
níveis perceptivo e sintomático, os quais apresentam uma concepção menos subjetiva
acerca da interpretação da paisagem, de maneira que, por meio da interpretação visual e
da análise da relação dos elementos da paisagem, seja possível qualificar os diferentes
níveis de qualidade encontradas nas paisagens sul-mato-grossenses.
Ainda a respeito da qualidade visual da paisagem, Hehl-Lange (2001) lembra que,
o planejamento e gestão dos elementos que constituem a paisagem constituem estratégias
fundamentais no valor visual e ecológico de uma determinada área, neste sentido, os
planejadores da paisagem possuem ferramentas para melhorar ou manter a qualidade
visual de determinados conjuntos paisagísticos. Considerando tal premissa, a Geografia
enquanto ciência que possibilita análises e reflexões acerca do planejamento do espaço
terrestre, possui fundamental importância na compreensão e gestão da qualidade visual
das paisagens.
Apesar das concepções e contradições entre “beleza cênica” e “qualidade visual da
paisagem”, Vieira (2014) lembra que, são inúmeras as metodologias que possibilitam ler,
descrever e interpretar as paisagens, cabendo ao pesquisador identificar a melhor forma
de abordagem perante os objetivos que lhe são peculiares.
Tendo por base as considerações tecidas até aqui, é possível discorrer que há
diferenças entre avaliar algo como belo/feio e algo com alta ou baixa qualidade.
Exemplificando, pensemos em dois carros: um desenvolvido por uma grande montadora
automobilista, e um segundo carro montado por uma empresa de menores recursos. Ao
analisar a beleza dos carros, é muito possível que se afirme que aquele modelo
desenvolvido pela empresa menos conhecida seja até mais bonito que o outro. Porém ao
analisar a qualidade dos carros, percebe-se que a partir de determinados parâmetros
(durabilidade das peças, conforto, segurança, potência, etc.) o carro da grande montadora
supera em nível qualitativos seu concorrente.
A partir dessa reflexão, é necessário deixar claro que não se pretende eliminar a
subjetividade da análise dos ícones de paisagem, mas sim criar parâmetros objetivos que
permitam identificar as variáveis que compõem um determinado conjunto paisagístico e,
desta maneira, possibilite utilizar tais aferições em processos de planejamentos territórios,
como por exemplo, o desenvolvimento do Turismo.
72
No caso dos ícones de paisagens de Mato Grosso do Sul, a condição cênica de suas
paisagens é tida como condição central nas discussões que envolvem o desenvolvimento
turístico do estado. Destarte, a definição de parâmetros claros de avaliação de qualidade
visual da paisagem apresenta-se como condição sine-qua-non para desenvolver
compreensões das paisagens sul-mato-grossenses para além do olhar estritamente
subjetivo entre o que é “belo ou não”.
1.3 A análise física e visual das paisagens e sua importância na atividade turística
As paisagens, enquanto materialização de um complexo conjunto de elementos que
interagem entre si, se estabelece enquanto diferentes configurações paisagísticas ao longo
dos diversos territórios. Assim sendo, a estrutura destas paisagens permite que, seja
possível elencar possibilidades de diferentes usos ao longo de sua extensão. Dentre tais
usos, dois aspectos podem ser apresentados como determinantes na delimitação de tais
dinâmicas: sua concepção física e visual. Para essa compreensão estrutural da paisagem,
Tabacow e Xavier da Silva (2011, p. 41) indicam que:
O conhecimento físico do território que abrange os ambientes em estudo, com
a reunião e utilização de toda a informação disponível, aí incluídos os eventos
passados naturais ou históricos que influíram nas características atuais, é
condição primordial, o ponto de partida para a compreensão dos fenômenos e
processos que ali estão ocorrendo.
A construção civil, o desenvolvimento turístico, a expansão agrícola/pecuária,
dentre outras atividades, remetem intrínseca relação no planejamento de suas atividades
com a disposição das diferentes paisagens no território, de maneira que, a morfologia
física e visual destas podem ser determinantes enquanto potencializadores ou limitadores
no desenvolvimento de tais dinâmicas.
Nesta perspectiva, Raimundo (2011) indica que, no trato de questões ambientais,
analisar a paisagem possibilita um estudo integrado de componentes ligados ao meio
físico (relevo, rochas, clima, recursos hídricos) e biológicos (fauna e flora). Tal
abordagem sistêmica permite, além do estudo da localidade em questão, também suas
conexões com os demais ambientes de seu entorno. Tal abordagem apresenta-se como
uma eficiente maneira de observar os limites da natureza em suportar determinadas
interferências. Destarte, diferentes níveis de potencialidades para o desenvolvimento de
73
atividades, como o turismo, por exemplo, podem ser elencados nas referidas áreas de
estudo.
Ao definir uma metodologia de investigação da paisagem, Mendes (2010) indica
ser necessário a definição de parâmetros de avaliação, de maneira que, tal percurso seja
condizente com os objetivos e finalidades previstos no estudo em questão. Além disso, é
essencial ainda a compreensão das características que irão ser consideradas,
possibilitando selecionar quais propriedades da paisagem irão garantir uma avaliação com
maiores graus de confiabilidade na pesquisa. Ou seja, em função dos resultados
esperados, alguns elementos que compõem a paisagem podem apresentar maiores ou
menores pesos na avaliação paisagística.
Assim sendo, neste trabalho, tratando mais especificamente da atividade turística,
faz-se importante compreender de que maneira a morfologia física e visual das paisagens
podem ser abordadas de maneira a auxiliar na compreensão da ligação entre tais
configurações paisagísticas com o segmento do Turismo de Natureza no Estado de Mato
Grosso do Sul.
Não obstante, Mendes (2010) ressalta a importância do uso de Sistemas de
Informação Geográfica (SIG) em investigações que envolvam a temática da paisagem,
uma vez que, está se apresenta como uma relevante ferramenta a ser utilizada no
planejamento e gestão da paisagem, bem como em estudos que envolvam modelos de
avaliação de qualidade ambiental. Os produtos gerados pela abordagem aportada pelos
SIG’s podem ser materializados em mapas de qualidade visual e de compreensão
estrutural da paisagem, podendo ser incorporados em estudos de planejamento e gestão.
De maneira geral, diferentes técnicas de investigação e avaliação possibilitam
extrair informações a partir de uma base digital de dados georreferenciados, os quais
podem possuir diferentes fontes, escalas, qualidade de informações, etc., de maneira a
propiciar bases que auxiliem na tomada de decisões e maiores delineamentos acerca do
estudo em questão. O estabelecimento de métodos, ferramentas e suas inúmeras
alternativas de aplicação podem ser resultado da construção de um diagnóstico da
problemática em questão, ou seja, na delimitação dos problemas que interferem nas
relações paisagísticas de uma determinada área (TABACOW; XAVIER DA SILVA,
2011).
Dentro do estabelecimento de critérios mais objetivos na avaliação da qualidade
visual das paisagens, a cartografia pode ser tomada como uma importante ferramenta
nestas aferições, uma vez que, considerando a espacialização dos diferentes elementos
74
que compõem as paisagens, permite-se relacionar tal espacialização com os parâmetros
estabelecidos para o desenvolvimento das análises.
Considerando a atividade turística, as paisagens são consideradas uma das
principais motivações da mobilização de fluxos turísticos, de maneira que, em muitos
casos, as mesmas são degradas em função das práticas insustentáveis praticadas durante
o exercício da atividade. Considerando tal relação entre a paisagem e a atividade turística,
faz-se importante conhecer a qualidade visual das paisagens turísticas, bem como as
relações com as dinâmicas ambientais e sociais do território, possibilitando que, seja
possível auxiliar no processo de planejamento e gestão do território, bem como propiciar
o uso equilibrado das paisagens pela atividade turística (SOARES; MEDEIROS; SALES
FILHO, 2014; PIRES, 1993).
Pires (1993) lembra ainda que, desenvolver investigações acerca da qualidade
visual das paisagens se mostra um importante procedimento na elaboração de
zoneamentos ambientais dos territórios. A partir de um diagnóstico multi e inter-temático,
é possível traçar estratégias eficazes de preservação ou de contenção da deterioração de
recursos naturais.
Para Pires e Soldatelli (2010), a qualidade da paisagem pode variar em função do
estado e disposição dos elementos que compõem os conjuntos paisagísticos. Neste
sentido, esta qualidade pode ser potencializada em função de aspectos como a integridade,
autenticidade ou originalidade de tais paisagens, condições as quais podem estar atreladas
tanto a feições culturais quanto naturais.
Sobre estudos de qualidade visual da paisagem, Mendes (2010) lembra que estes
têm sido alvos de investigação científica desde a década de 1960, passando-se a partir daí
a verificar-se um crescimento de diferentes metodologias e abordagens.
Entretanto, Soares, Medeiros e Sales Filho (2014) lembram que, ao considerar a
paisagem como aquilo que se vê, a investigação da qualidade visual da paisagem fica
exposta a uma avaliação que pode variar em função de seu observador, visto que, a
paisagem pode pressupor diferentes significados para cada pessoa e, consequentemente,
pode passar a ter julgamentos distintos. Para Sanz e Alonso (1996), esta aferição
superficial da paisagem pode ser chamada de percepção visual, uma vez que, o observador
em questão, busca uma análise particular da paisagem, sem levar em conta outras fontes
de conhecimento.
Acerca da condição do indivíduo na compreensão das paisagens, Vilàs (1992, p.
205) indica que:
75
El paisaje, segun una de sus acepciones más generalizadas, es la apreciación
visual de un territorio. Esta definición trata pues de la percepción que tiene
del paisaje un individuo. Es de suma importancia, por consiguiente, tener en
cuenta en los estudios de percepción del paisaje que los individuos se forman
su propia concepción de la realidad, y que ésta no es percibida de manera
objetiva ni abstracta, sino que viene modificada por las características
psico1ógicas que posee el observador.
Neste contexto, Vìlas (1992) destaca algumas variáveis que implicam como fatores
limitantes/facilitadores na investigação das paisagens: refração da luz; distância; posição;
e ângulo visual. Sobre a refração da luz, levando em consideração a curvatura da Terra,
tal condição pode interferir na qualidade da paisagem observada, de maneira que, uma
maior ou menor refração de luz pode interferir na ocultação visual de elementos que
cobrem a área em questão. Quanto à distância, esta interfere na qualidade de visualização
das paisagens, uma vez que, quanto mais próximo do objeto, maior o nível de
detalhamento de seus componentes. No que tange a posição do indivíduo, compreende-
se como o campo de visão disponível para a visualização da paisagem, podendo ou não
sofrer interferências de “obstáculos” visuais. Por fim, o ângulo visual refere-se a
possibilidade de um objeto ser melhor observado por meio de uma visão perpendicular
do observador, permitindo maiores detalhes sobre a paisagem aferida.
Soares, Medeiros e Sales Filho (2014) ressaltam ainda que, outro aspecto que se
apresenta é a temporalidade da paisagem, ou seja, esta é composta pelo conjunto de
elementos naturais ou técnicos que se acumulam em tempos diferentes, possibilitando
assim, o aumento da diversidade e de elementos de uma dada paisagem. Para Sanz e
Alonso (1996), variáveis como a distância, posição do observador, condições
atmosféricas, tempo de duração da observação e iluminação, também interferem no
processo de análise da qualidade visual da paisagem.
Ainda sobre a dificuldade deste tipo de aferição, Vieira (2014) indica que, avaliar a
qualidade cênica de uma paisagem poderia passar por uma simples avaliação do que é
“bonito ou feio”, entretanto, tal análise apresenta-se carregada de subjetividade, fato que
poderia descaracterizar e/ou invalidar o caráter científico da investigação. Diante disso, a
autora apresenta indicadores que permitiriam desenvolver pesquisas acerca da qualidade
cênica da paisagem com um menor grau de subjetividade nas análises, dentre tais
76
indicadores, são apontados: a ordem, a integridade, a diversidade, a singularidade, a
raridade, a irreversibilidade, a pureza e a representatividade da paisagem.
Ao avaliarem as possibilidades de investigação da qualidade paisagística, Zube,
Sell e Taylor (1982) indicam que, de maneira geral, as análises podem ser dar com base
no julgamento de especialistas e de grupos não especialistas. Essas análises podem se
desdobrar em quatro tipos de abordagem que permitem realizar tal avaliação:
a) A abordagem de especialistas: a qual conta com o envolvimento de
profissionais treinados para desenvolver uma análise pericial da qualidade da paisagem,
possibilitando assim o desenvolvimento de métodos de gestão da paisagem;
b) A abordagem psicológica: este tipo de abordagem envolve uma população
ou público selecionado, de maneira que, por meio de aplicação de questionários, propõe-
se uma avaliação da qualidade da paisagem com base na condução de estímulo-resposta
no ato da avaliação do observador;
c) A abordagem cognitiva: mantém relação intrínseca com o significado da
paisagem em sua relação com o observador, de maneira que, atua na junção entre sua
experiência do passado, expectativa do futuro e condição sociocultural no trato com a
referida paisagem;
d) A abordagem experimental: apresenta uma compreensão da paisagem com
base na experiência das relações entre paisagem-homem, considerando que, ambos se
entrelaçam em seus processos de formação.
Percebe-se então que, mediante as possibilidades de abordagem na investigação da
qualidade visual da paisagem, cabe ao interlocutor desta, a determinação da melhor forma
de compreender e analisar a referida paisagem, de maneira que, seja possível alcançar os
objetivos propostos na pesquisa. Apesar de não ser citado pelos autores op. cit., percebe-
se a possibilidade de utilizar duas ou mais abordagens de maneira híbrida, permitindo
uma melhor concepção acerca da qualidade visual da paisagem. No caso da investigação
dos ícones de paisagem, é possível correlacionar as abordagens especialista e cognitiva,
as quais, conjuntamente, permitem uma aferição dos diferentes componentes da paisagem
e suas respectivas especificidades dentro do conjunto paisagísticos, análises as quais
possibilitam uma compreensão da dinâmica das paisagens e projetar condições futuras
quanto a seu uso, inclusive para o desenvolvimento de diferentes atividades, como por
exemplo, o Turismo.
Ainda sobre a delimitação de possíveis indicadores, Fidalgo (2014) indica que a
qualidade visual da paisagem deve compreender a unidade, a diversidade e a sua
77
singularidade. Entretanto, nota-se que, independentemente das variáveis utilizadas para a
avaliação da qualidade visual da paisagem, a metodologia deve ser clara e permitir
alcançar os objetivos propostos pela investigação em questão. Sobre tal fato, Silva et. at.
(2012) e Aguiló Alonso et. al. (2004) apontam três metodologias para a avaliação
paisagística: direta, indireta e mista.
Dentre os métodos apresentados, Pires (1993) e Vieira (2014) indicam que a
observação direta se apresenta como um método que considera o olhar subjetivo das
variáveis, uma vez que, possibilita a investigação por meio da aplicação de procedimentos
que envolvem profissionais da paisagem, público geral e também grupos representativos
da sociedade, aplicando assim certo grau de subjetividade à pesquisa. Tais levantamentos
são realizados por meio de fotografias, vídeos, figuras, slides, desenhos e verificações de
campo. O método direto divide-se ainda em dois procedimentos: o da subjetividade
controlada e da subjetividade aceita.
Entretanto, apesar de reconhecer que a subjetividade se faz presente nas
investigações acerca da qualidade visual das paisagens, Vieira (2014) e Lang e Blaschke
(2009) indicam a possibilidade de realizar tais análises de maneira mais objetiva, ou seja,
reduzir as cargas de subjetividade na investigação visual das paisagens. Dentro desta
concepção, Vieira (2014) aponta o método indireto na investigação da qualidade visual
da paisagem como possível solução com relação a subjetividade das análises.
Segundo Longhi e Teixeira (2010) e Vieira (2014), o método indireto consiste
basicamente na descrição, desagregação e análise posterior acerca das características
físicas, biológicas e sociais que se encontram nas referidas paisagens. Ainda sobre o
método indireto, Aguiló Alonso et. al. (2004, p. 520) citam que:
Los métodos indirectos de valoración a través de componentes deli paisaje,
utilizan para la desagregación características físicas del paisaje como, por
ejemplo, la topografía, los usos del suelo, la presencia de agua, etc. Cada
unidad de paisaje se valora en términos de cada componente agregándose
después los valores parciales para obtener un valor final. Las diferencias entre
los distintos métodos radican en la selección de componentes y en la forma de
valorar cada uno.
Na observação indireta, Pires (1993) pressupõe a necessidade de delimitar critérios
de pontuação e classificação dos elementos que compõem a paisagem. Acerca desta
premissa, o autor op. cit. (p. 70) indica que:
O método indireto de avaliação da qualidade visual da paisagem, a critério do
juízo de valor, possibilita a livre escolha das variáveis e dos critérios de
avaliação para cada um dos componentes básicos com os quais a paisagem
78
deve ser analisada, depois de conhecidas as limitações determinadas pelas
características territoriais e pela disponibilidade e qualidade dos dados a serem
utilizados.
Assim sendo, observa-se no método indireto uma relativa flexibilidade para cada
que cada pesquisador adeque os melhores indicadores em suas avaliações de qualidade
visual da paisagem, de maneira que, estes ofereçam uma melhor compreensão da
realidade que lhe é posta. No caso de Pires (2005), em suas análises, o autor utiliza a
investigação da diversidade, naturalidade, singularidade e detratores contidos na
paisagem, fatores os quais possibilitam realizar um levantamento dos elementos físicos
da paisagem e sua influência qualidade visual no contexto averiguado.
Outra possibilidade de observação indireta da qualidade visual da paisagem é
proposta por Silva, Henke-Oliveira e Saito (2012), os quais apresentam a técnica de
viewshed, a qual possibilita reduzir a subjetividade das análises. Este procedimento
técnico possibilita a livre escolha das variáveis a serem analisadas, após o reconhecimento
das características territoriais e por meio da disponibilidade e qualidade dos dados a serem
utilizados.
Ainda sobre o método indireto, Landovsky, Batista e Araki (2006, p. 189) apontam
que:
O Método Indireto das Componentes da Paisagem é aplicado através da análise
dos componentes físicos (meio abiótico: água, topografia), dos componentes
biológicos (meio biótico: vegetação, fauna) e dos componentes antrópicos (uso
do solo). Tais componentes devem ser valorados através de unidades regulares
(malha reticulada) ou unidades irregulares (em função de um componente
definidor da paisagem, por exemplo). Os métodos de avaliação e/ou valoração
da paisagem diferem entre si em vários aspectos, relacionados à sua aplicação,
finalidade e resultado. Em termos de objetividade, os métodos ditos indiretos,
isto é, aqueles onde a paisagem é avaliada a partir de seus componentes, são
os que menos expressam valores subjetivos, sendo por isso mais fácil e
amplamente aplicados na avaliação paisagística regional.
O método de observação indireta possui aderência àquilo que Roth (2021) descreve
como “Teoria Subjacente”, a qual atrela a atratividade da paisagem suas características
naturais e sua modelação para o uso humano. O método basicamente busca uma aferição
dos elementos que compõem a paisagem, de modo a interpretar aspectos positivos e
negativos no que tange sua atratividade enquanto áreas de desenvolvimento de atividades
recreativas. Pensamento semelhante é apresentado por Aguiló Alonso et. al. (2014, p.
781), o qual denomina sua abordagem como “Método de valoração através de descritores
da paisagem:
79
Estos métodos utilizan para la desagregación características físicas del paisaje
como, por ejemplo, la topografía, los usos del suelo, la presencia de agua, etc.
Cada unidad de paisaje se valora en términos de cada componente agregándose
después los valores parciales para obtener un valor final. Las diferencias entre
los distintos métodos radican en la selección de componentes y en la forma de
valorar cada uno. [...]. Se puede observar una certa constancia en la utilización
de algunos de ellos con los que se pueden formar tres grandes grupos (forma
del terreno, características sobresalientes y usos del suelo) y bastante
dispersión no exenta de contradicciones en el resto.
Conclui-se acerca do método de observação indireta que, este possibilita a menor
incidência de cargas subjetivas na análise, as quais buscam no apoio das geotecnologias
a sua investigação, possibilitando assim, como afirmam Silva, Henke-Oliveira e Saito
(2012), a avaliação da qualidade visual das paisagens investigadas.
Por fim, apresenta-se o método misto de investigação da qualidade visual da
paisagem, o qual, de acordo com Vieira (2014) compreende a investigação direta, a qual
aborda os aspectos subjetivos, e posteriormente, é realizada a abordagem indireta, em
função da desintegração dos componentes da paisagem.
Basicamente, o método misto busca integrar os métodos diretos e indiretos de
investigação de qualidade visual da paisagem, buscando utilizar as vantagens inerentes a
cada um dos modelos e, consequentemente, possibilitando uma aferição mais complexa
acerca dos elementos que instituem a qualidade visual das paisagens (PIRES, 1993).
Diante dos pressupostos teóricos apresentados, ressalta-se que o caminho
metodológico a ser utilizado na investigação dos ícones de paisagem em Mato Grosso do
Sul versa pela perspectiva do método indireto, o qual irá privilegiar a investigação dos
diferentes componentes a fim de aferir os diferentes graus de diversidade, naturalidade,
singularidade e detratores relacionados aos respectivos conjuntos paisagísticos (AGUILÓ
ALONSO et. al. (2004); PIRES, 1993 e 2005; LANDOVSKY; BATISTA; ARAKI
(2006); SILVA; LANG; BLASCHKE (2009); SILVA; HENKE-OLIVEIRA; SAITO
(2012); LONGHI E TEIXEIRA (2010); SILVA et. at. (2012); FIDALGO, 2014; VIEIRA
(2014); ROTH, 2021) Amparada por uma investigação especialista e cognitiva, a
investigação ampara-se na espacialização de dados secundários (desenvolvimento de
mapas temáticos e sínteses) e desenvolvimento de trabalhos de campo, procedimentos os
quais permitem a construção de bases para discutir a qualidade visual das paisagens dos
ícones sul-mato-grossenses (ZUBE; SELL; TAYLOR, 1982). Tal proposta apresenta-se
como um desafio, uma vez que, Sanz e Alonso (1996) ressaltam a dificuldade em, dentre
as diversas possibilidades, adequar a melhor maneira de cartografar a qualidade visual da
paisagem
80
Apesar das diferentes formas de abordagem acerca da qualidade visual da
paisagem, Mendes (2010) indica não haver problema em utilizar diferentes modelos de
aferição, de maneira que, a combinação de metodologias pode possibilitar uma melhor
representação da qualidade visual na área em questão, facilitando assim a tomada de
decisão nas políticas de gestão.
Para além das metodologias de abordagem, Vieira et. al. (2018) indicam fatores que
podem influenciar e alterar a observação da qualidade visual da paisagem: distância,
posição do observador, condições atmosféricas e iluminação. A relatividade da distância
acerca da paisagem observada pode alterar cores, brilho, textura e a granulometria. A
posição mais próxima ou mais distante do observador influencia na apreciação da forma
e tamanho da paisagem observada, dificultando ou facilitando a compreensão dos
elementos que a compõe. As condições atmosféricas incidem modificações nas
propriedades visuais da paisagem, tais como visibilidade, nitidez, alteração das cores,
brilho, luminosidade, textura e geometria das formas. Por fim, aos cuidados com a
iluminação pode propiciar uma observação com ou sem sombras, disponibilizar cores
mais claras e brilhantes, favorecer contrastes de luz, etc.
No que tange os ícones de paisagem de Mato Grosso do Sul propostos na pesquisa,
ressalta-se os fatores limitantes a aproximação de alguns pontos dos referidos conjuntos
paisagísticos (tais como: obstáculos naturais, perímetro de áreas particulares, perímetro
de áreas protegidas, limitação dos transportes utilizados, etc.), fatores os quais em muitos
momentos dificultam uma análise mais aproximada destas paisagens. Neste âmbito,
durante os trabalhos de campo, buscou-se abordar/analisar os ícones dentro de um
perímetro de um buffer de 30 quilômetros, distância a qual foi tomada como limite
máximo para a construção de uma base de dados primários de qualidade satisfatória para
as análises pretendidas.
Tais observações denotam a importância da construção de um aparato de pesquisa
o qual vislumbre os melhores cenários possíveis para a observação e compreensão das
paisagens em questão, de modo que, possibilite angariar dados e informações com o
melhor grau de confiabilidade e, consequentemente, disponibilizando meios para que
sejam realizadas análises que mais se aproximem da realidade observada.
Entretanto, além da investigação de qualidade visual, outra perspectiva é importante
na avaliação funcional: a estrutura da paisagem. Conforme indicam Almeida (2006),
Emídio (2006) e Cavalcanti (2014), a paisagem vai além da concepção visual,
perpassando compreensão da complexidade dos diversos elementos que a forma, seja eles
81
os processos tectônicos, geomorfológios, climáticos, hidrológicos, biogeográficos e
culturais. Portanto, além da importância da observação dos aspectos visuais da paisagem,
reconhecer os processos que a forma se faz de suma importância para o planejamento e
gestão de tais paisagens.
Para Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2007), a estrutura da paisagem representa a sua
forma de organização interior, instituída pelas relações dos componentes que a compõem.
Assim sendo, investigar e compreender a estrutura da paisagem abarca reconhecer sua
essência, de maneira que, a análise estrutural visa explicar a combinação dos
componentes da paisagem na formatação de conjuntos integrais. Além disso, os autores
op. cit. (p. 112) ressaltam ainda a importância da análise estrutural no planejamento
territorial:
Concebe-se ainda, que a estrutura espacial constitui a forma de ordenamento
espacial e que o espaço conceitua-se como reflexo na comunidade
psicofisiológica das formas, determinando assim a importância teórico-
conceitual da análise estrutural dos objetos geográficos. Porém ao mesmo
tempo, o conhecimento pode ser útil para a avaliação quantitativa do grau de
complexidade de estrutura paisagística para o planejamento regional. Os
projetos de construção de estradas, a instalação de obras hidroelétricas, a
avaliação do potencial turístico dos territórios, etc.
Ainda sobre a investigação estrutural, Mauro e Valadão (2018) lembram que, a
estrutura da paisagem está disposta sobre duas formas de organização: a vertical e
horizontal. Do ponto de vista vertical, a compreensão da paisagem se dá em função da
composição e inter-relações dos componentes que a forma no sentido vertical, ou seja, de
que maneira a litologia está ligada ao relevo, que se liga a vegetação, que se liga aos usos
da terra, que possui influência do clima, e assim sucessivamente. Já no aspecto horizontal,
a análise da paisagem permeia a investigação da organização espacial, ou seja, verifica-
se a composição de unidades sistêmicas de diversas classes, as quais propiciam a
formação de um mosaico de unidades de paisagem.
Concomitantemente com o exposto ao parágrafo anterior, Aguiló Alonso et. al.
(2004) relatam que, de maneira geral, pode-se afirmar que as paisagens dos elementos
que compõem sua estrutura, ou seja, a partir da combinação da geomorfologia, clima,
fauna, flora, componentes hídricos e alterações naturais e antrópicas.
Para Bel e Galván (2008), o primeiro passo na investigação estrutural da paisagem
dever ser a identificação dos principais elementos que caracterizam a paisagem, ou seja,
deve-se determinar quais elementos bióticos, abióticos e culturais que compõem a
paisagem. Essa caracterização se faz importante uma vez que, possibilite o
82
desenvolvimento de uma representação cartográfica das partes do território que possuem
características próprias, permite a visualização das características internas da paisagem,
bem como propicia analisar a evolução da paisagem ao longo dos tempos e descrever as
dinâmicas que levaram a estabelecer seu estado atual.
Na avaliação de tais estruturas, Lang e Blaschke (2009) lembram que, a variação
espacial das paisagens geralmente é representada em um mapa temático, de maneira que,
por meio da representação matricial ou raster seja possível espacializar a complexidade
das estruturas que compõem as paisagens, bem como delimitar os limites e transições de
unidades homogêneas.
Sobre a delimitação destas unidades homogêneas, Rodriguez, Silva e Cavalcanti
(2007) e Chaves e Puebla (2013) as denominam como unidades de paisagem, as quais,
por meio da sobreposição e inter-relação dos elementos que compõe as paisagens, formam
áreas com características semelhantes, apresentando conjuntos paisagísticos com feições
específicas, possibilitando sua ordenação em função dos diferentes usos possíveis,
inclusive o turismo. Ao definirem unidade de paisagem, Bel e Galván (2008, p. 54) citam
que:
Se entiende como unidad de paisaje una parte del territorio caracterizada por
uma combinación específica de componentes y de dinámicas claramente
reconocibles, que le confieren una fisonomía y una identidad diferenciada del
resto. La unidad de paisaje debe considerar también las relaciones
particulares (sociales, económicas, culturales) que se han establecido entre
un territorio y sus habitantes y que configuran parte de la identidad de las
personas que lo habitan. Cada unidad de paisaje debe ser única, singular,
diferente a las demás, atendiendo a criterios estructurales, funcionales e
históricos diversos. Esto no implica desconocer, ni menospreciar aquellos
posibles elementos afines entre dos o más unidades de paisaje.
É importante ressaltar que, essas unidades de paisagem se decompõem em
fragmentos cada vez mais detalhados, os quais apresentam diferentes formas de relevo
(montanhas, barrancos, planícies, etc.), variações de altitude (baixa, média e alta). Essas
variações suscitam diferentes tipos de paisagens, cujas características irão influenciar na
adaptação cultural, de maneira a facilitar o estabelecimento de residências, do transporte
e das atividades econômicas (agricultura, industrias, turismo) (BEL; GALVÁN, 2008).
Neste contexto de fragmentação, o estabelecimento de “ícones de paisagens” pode
ser tomada como fragmentos menores das unidades de paisagem, os quais permitiriam
maiores níveis de detalhamento dos conjuntos paisagísticos em questão, assunto que será
melhor abordado no capítulo seguinte.
83
Tal investigação baseia-se na íntima relação do turismo com a paisagem, uma vez
que, conforme indicam Cruz (2002), Pires (2005), Emídio (2006) e Braga (2006), em uma
sociedade cada vez mais influenciada pelo cotidiano urbano, as paisagens, principalmente
aquelas que denotam maior proximidade com os aspectos naturais, apresentam-se como
grande fator motivacional de deslocamentos turísticos. Sobre a importância da paisagem
para o turismo, Yázigi (2002) lembra que, reduzir o turismo a mera questão da paisagem
é falseador, entretanto, é inegável a importância dos aspectos paisagísticos no turismo.
Além disso, Soares, Medeiros e Sales (2013) ressaltam que, muitos destinos
turísticos só existem em função das especificidades de suas paisagens, uma vez que, é na
paisagem que se estabelece o primeiro contato do turista com o destino a ser visitado.
Nicolás (1989) lembra que a paisagem é um dos muitos recursos mobilizados pelas
atividades econômicas do turismo, sendo utilizada enquanto chamariz e impulsionador de
suas atividades. No que tange a importância das paisagens nas atividades turísticas,
Almeida (2006) ressalta a busca de cenários exóticos pelo turismo, estimulando os fluxos
turísticos para tais locais.
Considerando a relação do turismo com a paisagem, Méndez-Méndez et. al. (2018)
indicam que, os projetos ligados a atividade turística possuem intrínseca relação com
áreas rurais, as quais dispõem de recursos naturais e culturais que muitas vezes são
subvalorizados, mas que podem ser explorando enquanto matéria-prima do turismo.
Apesar dessa possibilidade, a atividade requer planejamento, estratégia a qual garantirá
(ou deveria garantir) a longevidade do turismo na área em questão. Para tal avaliação da
qualidade turística dos tipos de paisagem, deve-se atentar para indicadores relacionados
a três critérios principais: aspecto visual (avaliar a qualidade visual da paisagem); aspecto
ambiental (avaliação da estabilidade geomorfológica, estado de conservação dos
componentes bióticos e abióticos, e a produtividade, sustentabilidade, acessibilidade e
instalações associadas aos componentes culturais da paisagem); e o aspecto interpretativo
(relacionado a avaliação das possibilidades da paisagem em dispor de características que
facilitem ações didáticas). Para cada um destes critérios, estabelece-se a qualidade dos
tipos de paisagem por meio de três indicadores: a) diversidade da paisagem (qualidade
visual da paisagem); b) fragmentação espacial (aspecto ambiental); e c)
representatividade/singularidade (aspecto interativo da paisagem).
Em suma, percebe-se a relevância da condição visual e estrutural da paisagem na
atividade turística, de maneira que, a compreensão de tais variáveis nos mais diferentes
conjuntos paisagísticos permite evidenciar diferentes perspectivas de desenvolvimento do
84
Turismo nestas localidades, auxiliando assim no processo de planejamento dos
usos/ocupações dos territórios.
A paisagem no turismo estaria ligada então ao seu aspecto estrutural, enquanto
locus de configurações físicas as quais permitem o desenvolvimento de atividades
(suporte funcional da paisagem), e ao seu aspecto cênico (suporte de qualidade visual),
considerando a sua capacidade de atratividade enquanto conjunto de belezas naturais e
culturais que despertam o interesse dos indivíduos em um determinado complexo
paisagístico. Diante do exposto, estas condições permitiriam o desenvolvimento de
práticas de diversos segmentos turísticos, inclusive do Turismo de Natureza.
Para Soares, Medeiros e Sales Filho (2013), para além da paisagem, é possível
pensar em uma “paisagem turística”, a qual representa a atribuição de um valor turístico
a uma dada paisagem, ou seja, uma espécie de mercantilização da paisagem para a
atividade turística. Na paisagem turística, soma-se as particularidades estruturais e visuais
da paisagem com os demais equipamentos turísticos (hospedagem, restaurantes,
transportes, etc.), bem como ao segmento turístico que está no momento atual em
evidência, configurando-se assim como uma paisagem dotada de valor turístico.
Considerando a qualidade visual em áreas turísticas, Siefert e Dos Santos (2016)
chamam a atenção para a importância das potencialidades naturais das paisagens, as quais
devem apresentar-se proeminentes nas mesmas com relação a elementos artificiais que
foram inseridos posteriormente nestas áreas. Ou seja, para o turismo, quão menor for o
grau de intervenção antrópica nas destinações turísticas, maior têm-se a qualidade visual
paisagística. Tal condição não pressupõe a exclusão total de estruturas artificiais, uma vez
que, a construção de pontes, passarelas, dentre outros, em muitos casos apresentam-se
como essenciais para a atividade turística.
Neste âmbito, ressalta-se que, as intervenções são inerentes aos locais voltados a
atividade turística, ou seja, podemos dizer que é impossível desenvolver o Turismo em
um determinado local sem que haja alterações antrópicas nestes destinos. Porém, no caso
do Turismo de Natureza, em função das características do segmento, quão menor forem
tais intervenções, mais atrativas serão as paisagens desta localidade.
Ponderando que, nos últimos anos há uma relativa crescente no corpo
epistemológico acerca paisagem que tem auxiliado na gestão dos recursos naturais e,
consequentemente, no planejamento e gestão dos territórios, Picher Fernández, Gómez
Jiménez e Montero Serrano (2006) ressaltam a importância de não apenas descrever e
85
caracterizar a paisagem, mas sim que se faça diagnósticos dos potenciais paisagísticos
para as diversas atividades, inclusive o turismo.
Considerando as diferentes formas de análises da paisagem, é necessário optar pelos
modelos que melhor se adequem ao objeto/problemática que se objetiva investigar. Neste
caso, optou-se por adotar uma análise integrada, tomando como base tanto a condição
estrutural/funcional, quanto de qualidade visual das paisagens.
87
2. CAPÍTULO II - O TURISMO DE NATUREZA ENQUANTO ATIVIDADE EM
MATO GROSSO DO SUL
Um termo relativamente novo e alvo de diversas concepções conceituais, o Turismo
de Natureza apresenta-se como um segmento cada vez mais debatido no contexto da
atividade turísticas. Vezes confundido com o Ecoturismo, o Turismo de Natureza
pressupõe uma intrínseca relação com os ambientes naturais e, consequentemente,
inserido em uma linha tênue de impactos positivos e negativos sobre esses espaços.
Considerando tais premissas, inicialmente o capítulo propicia uma melhor
compreensão das relações do ser humano com a natureza. Outra perspectiva abordada é
das interações deste segmento turístico com a natureza, buscando clarear de que maneira
tais ambientes naturais são apropriados pelo Turismo de Natureza. Por fim, o capítulo
aborda a influência do conceito de Patrimônio Natural na acepção do Turismo de
natureza, discussão a qual embasa a premissa dos ícones de paisagem, tratado no capítulo
3.
2.1 A natureza da “natureza”: concepções acerca da apropriação da natureza pelo
homem
O que é natureza? Onde podemos encontrá-la? Quais os limites das relações do
homem com a natureza? Essas e outras perguntas sempre permearam e continuam a
permear o imaginário daqueles que tentam compreender de que maneira aquilo que é
chamado de “natural” é posto na realidade do homem, ou seria melhor “de que maneira
o homem se insere na natureza?”. As diferentes visões explanadas ao longo da história
demonstram a pluralidade de visões acerca da temática, passando daqueles que se
apresentam mais como naturalistas, até aqueles em que acreditam na natureza apenas
enquanto recurso para a sobrevivência humana.
Nestes nuances da investigação da natureza e suas relações, Vitte (2016) ressalta a
importância da Geografia Física, ciência a qual tem o papel de descrever os espaços e
paisagens, visando demonstrar as variações da natureza e suas relações espaciais. De
acordo com o autor op. cit. (p. 297) “O importante a ressaltar também é que a descrição,
associada à razão, permite reconstruir a história da natureza e as transformações do
espaço”.
88
Obviamente o não se pretende aqui abordar toda a história da relação entre o homem
e a natureza, uma vez que, como diria Thomas (1989, p. 19) “Infelizmente, o tema é tão
vasto e o material disponível tão abundante que nenhum autor isolado pode almejar
abarca-lo, muito menos em um livro relativamente reduzido”. A intencionalidade do trato
desta relação neste tópico tem por finalidade apresentar bases de discussão acerca da
maneira como o homem observa, se relaciona e utiliza a natureza, base a qual
fundamentará a abordagem sobre o Turismo de Natureza, discutido no subitem
apresentado posteriormente.
Para Leví (2012), antes da escrita, não se encontravam elementos concretos que
permitiam descrever objetivamente as interações do homem e natureza, tal fato talvez
esteja atrelado a indissociação entre ambos. Entretanto, desde a origem dos seres humanos
(australopitecos) até o estabelecimento do homem atual (homo sapiens), a espécie
humana é dependente da natureza para sobreviver. Muito em função disso, com o passar
dos anos, cada vez mais a ciência busca respostas na compreensão das relações existentes
entre o meio natural e o homem.
Uma conceituação objetiva da natureza é apontada por Whitehead, (1994, p. 7), o
qual designa que a natureza seria “aquilo que observamos pela percepção obtida através
dos sentidos”. Entretanto, apesar da objetividade aparente da definição, a abordagem
teórico-conceitual da natureza perpassa por um vasto campo reflexivo. Ao relacionar o
homem e natureza, Porto-Gonçalves (1989) cita as comunidades indígenas e orientais
como aquelas que, via de regra, são relacionadas como os modelos de maior relação
harmônica com a natureza. Para o autor op. cit. (p. 23) “Toda sociedade, toda cultura cria,
inventa, institui uma determinada ideia do que seja a natureza. Nesse sentido, o conceito
de natureza não é natural, sendo na verdade criado e instituído pelos homens. Constitui
um dos pilares através do qual os homens erguem as suas relações sociais, sua produção
material e espiritual, enfim, a sua cultura”. Esta condição expressa por Porto-Gonçalves
(1989) suscita a necessidade de reflexão e análise acerca de como foi e como é concebia
a ideia de natureza em nossa sociedade, uma vez que, esta tem servido como fonte de
nossa produção e vivência e, consequentemente, que têm causado uma série efeitos
indesejáveis no âmbito ecológico.
Considerando tal amplitude da temática, Thomas (1989) por exemplo, em seu livro
“O homem e o mundo natural: mudanças de atitude em relação às plantas e aos animais
(1500-1800)”, buscou realizar um recorte histórico nos limites da Inglaterra, com algumas
aproximações de países do Reino Unido, da Europa e até mesmo com a América do Norte.
89
Em sua aproximação, Thomas (1989) trata das relações do homem com os animais e
natureza nos séculos XVI, XVII e XVIII. Apesar do recorte temporal, espacial, cultural,
ambiental e socioeconômico em que Thomas desenvolve sua análise, sua investigação
pode ser considerada um importante marco na discussão da apropriação da natureza pelo
homem, uma vez que, o autor busca retratar um período onde o predomínio do homem
sobre a natureza apresentou-se como uma característica marcante no contexto tratado.
Tal reflexão faz-se importante uma vez que, além de Thomas, inúmeros artistas,
pensadores, escritores, filósofos, dentre outros, buscaram contribuir com a discussões
acerca da busca pela compreensão das relações entre o homem e a natureza, condição a
qual certamente e naturalmente perpassou (e continua a trilhar) diversas vertentes,
concepções e intencionalidades ao longo de toda a história.
Sobre as diferentes condições que permearam as relações entre homem e natureza
ao longo da história, Porto-Gonçalves (1989) lembra que, cada cultura impõe seus valores
a tal relação, ou seja, toda cultura ao ser observada de fora ou pela ótica de indivíduos
com outros valores pode ser tomada como irracional. Entretanto, podemos considerar que
toda cultura pode ser considerada um sem sentido que faz sentido para aqueles que nela
estejam envolvidos. De maneira geral, nenhuma cultura pode ser considerada
universalmente racional, entretanto ao mesmo tempo todas são racionais ao
considerarmos seus valores próprios. Acerca desta concepção, o autor op. cit. (1989, p.
97) indica que “em nossa sociedade, por exemplo, a natureza é vista como algo passível
de ser dominado e submetido ao Homem todo-poderoso... E só não vê quem não quer a
íntima relação dessa ideia com os propósitos de dominação e submissão de um homem
por outro homem”.
Tais valores empreendidos por cada cultura em suas relações com a natureza,
estariam atrelados aos modelos de produção e consumo de tais grupos culturais, bem seus
estilos de vida, organização social, sistema econômico, articulação política e tomada de
decisões, variáveis as quais podem propiciar diferentes consequências sobre o meio que
são instituídas. Neste âmbito, estilos de vida pautados na priorização do crescimento
econômico e acúmulo de bens por vezes podem causar efeitos completamente opostos no
que tange o uso de recursos e regeneração ambiental quando comparados a estilos
estabelecidos sob a lógica de satisfação de necessidades básicas, exploração racional e
preservação dos ambientes naturais, por exemplo (CASASOLA, 2003).
Corroborando com a ideia supracitada, Bezerra (2018) destaca que a valorização da
natureza está diretamente ligada aos diferentes momentos vivenciados pela humanidade,
90
bem como suas atitudes ao perpassar pois tais fatos. Neste âmbito a autora op. cit. (p. 55)
cita que:
A essência da relação entre o homem e a natureza pode ser revelada pela
história humana inscrita sobre a superfície terrestre. Os valores são elementos
mediadores e definidores das relações que ocorrem entre a entidade humana e
os objetos que o rodeiam. Os valores atribuídos pelo homem à natureza trazem
em si a essência de suas ações e atitudes em relação aos processos naturais e
ao meio onde vive. Observando por esse prisma, pode-se afirmar que há uma
conexão entre a racionalidade das ações humanas e a questão ética perante a
dimensão natural da Terra. Assim, a valorização dos recursos naturais pode
incluir variáveis que vão além das dimensões sociais e econômicas, fortemente
impostas no mundo moderno e contemporâneo, trazendo para o debate os
fundamentos da postura antropocêntrica, a ética e o comportamento do homem
frente à natureza.
A respeito do predomínio humano sobre a natureza, Thomas (1989) indica que, na
Inglaterra durante o período moderno, tal concepção era relacionada com as concepções
de filósofos e com a Bíblia. Nesta concepção, o pensamento da época, fortemente
influenciado pelos princípios da religião cristã, apontava para uma natureza voltada ao
propósito de subsídio para o homem, tido como espécie superior as demais. Este princípio
partiria desde a ideia do “Jardim do Éden”, o qual teria sido criado para abrigar ao homem
como seu paraíso. Uma vez tendo infringido as leis de Deus (materializado na forma de
Adão) o homem teria perdido a sua condição de fácil domínio da natureza e, assim, a
natureza teria sofrido alterações a fim de causar maiores dificuldades ao homem, como a
aparição de pragas, mosquitos, espinhos, a selvageria de várias espécies de animais, a
aparição de solos pedregosos, dentre outros. Entretanto, mesmo com essa mutação da
natureza, a ideia de domínio do homem continuaria a permanecer ao longo dos anos, de
modo que, enquanto ser dominante, o homem teria autoridade sobre as demais espécies,
domando-os, tomando-os como alimentos, distração (animais domésticos), estética ou
para outras finalidades.
Thomas (1989) lembra ainda que, no início do período moderno inglês, as
interações do homem com a natureza perpassavam ainda pela discussão dos “seres
humanos inferiores”. Essa ideia é relacionada com o fato de que, aqueles que não
pertencessem a grupos exclusivos e/ou famílias tradicionais, eram tratados como seres
inferiores e, igualmente relacionados como “animais”, ou seja, aqueles que fugiam dos
costumes, regras e tradições dos povos estabelecidos, eram tradados então como animais,
como por exemplo, os índios americanos ou os negros africanos. Entretanto, como indica
o autor op. cit., essa forma de pensamento não pode ser elencada de maneira generalizada,
uma vez que, nem todas pessoas da Inglaterra achavam que o mundo existia
91
exclusivamente para o homem. Assim, tais atitudes causavam muitas vezes a essas
pessoas os sentimentos de culpa, desconforto e vergonha.
Tal uso de elementos da natureza enquanto metáforas da vida cotidiana é
relacionada aos dias atuais por Porto-Gonçalves (1989, p. 25):
Sem que nos apercebamos, usamos em nosso dia a dia uma série de expressões
que trazem em seu bojo a concepção de natureza que predomina em nossa
sociedade. Chama-se de burro ao aluno ou a pessoa que não entende o que se
fala ou ensina; de cachorro ao mau-caráter; de cavalo ao indivíduo mal-
educado; de vaca, piranha e veado àquele ou àquela que não fez a opção sexual
que se considera correta, etc... Juntemos os termos: burro, cachorro, cavalo,
vaca, piranha e veado são todos nomes de animais, de seres da natureza
tomados – em todos os casos – em sentido negativo de oposição a
comportamentos considerados cultos, civilizados e bons.
Entretanto, independente da corrente defendida, faz-se importante uma reflexão de
maior amplitude, visando uma abordagem que contemple um equilíbrio entre a
estabilidade do ambiente e a satisfação das necessidades do homem. Para tal
compreensão, é importante desdobrar de que maneira as relações entre homem e natureza
se desdobram em meio a suas interações.
De acordo com Rodríguez (1984), os problemas encontrados na interação entre
sociedade e natureza, bem como as questões imbricadas no uso racional, proteção e
transformação dos recursos naturais, encontram-se cada vez mais uma realidade
particular, ou seja, são permeadas por novas realidades complexas, as quais necessitam
de análises das interações e interdependência dos componentes que compõem os
territórios naturais. Para o autor op. cit., esses tipos de análises fazem-se necessárias, uma
vez que, o desconhecimento das leis da natureza, de seu comportamento e de suas inter-
relações e interações dos diferentes componentes geralmente finda no desenvolvimento
de processos negativos na natureza e, consequentemente, acarreta em impactos
indesejáveis para a sociedade.
Do ponto de vista das relações do homem com os animais, na Inglaterra, percebe-
se uma evolução histórica permeada pela relação entre os benefícios aos quais os animais
poderiam oferecer ao homem, passando por suas funcionalidades enquanto alimento,
transporte, segurança, eliminadores de espécies menores indesejáveis. Neste contexto, os
primeiros animais a serem tomados por uma relação mais próxima do homem foram os
cavalos, cães e gatos, onde, em um primeiro momento sendo tidos por conta de alguma
funcionalidade, passaram ao longo dos tempos a manter uma relação de maior afetividade
com os homens. Quanto as árvores, inicialmente valorizadas enquanto aspecto econômico
no século XIII, e protegidas em função de seu uso enquanto matéria-prima (madeira) e
92
como lócus de espécies de caça, a partir dos séculos XVI e XVII tomou novas
significações, as quais inclui seu adorno estético e condições ligadas a nobreza e
valorização social (THOMAS, 1989).
Para Garnier (2008), durante sua histórica conquista de terras, o homem aprendeu
e cada vez mais aprimorou técnicas para domar e controlar muitos dos elementos naturais,
tais como pedra, fogo, plantas, animais, ferro, carvão, óleo, dentre outros.
Consequentemente, a apropriação e acúmulo dos elementos da natureza acabou por
designar valores de mais valia para os mesmos, estimulando trocas e comércio.
Neste âmbito, percebe-se que o homem ao longo de sua história passou a se
apropriar de diferentes elementos encontrados na natureza, de maneira que, tais processos
passaram a trazer melhores condições de vida para as diferentes sociedades em questão.
Assim sendo, o ideário de “natureza intocada” pode ser tomado como utopia, uma vez
que, apesar de uma necessária reflexão sobre os modelos atuais de exploração dos
recursos, dificilmente seria possível pensar na extinção destes processos.
Nas visões de Souza e Elesbão (2017), a relação entre homem e natureza passou
por mudanças ao longo da história, sendo alterada principalmente em função da crescente
utilização dos recursos naturais disponíveis. Tais usos foram influenciados pela revolução
tecnológica, a qual propiciou mudanças nas relações entre a economia e natureza. O cada
vez mais intensivo uso dos recursos naturais acarretou no aumento da degradação
ambiental ao longo dos tempos e, consequentemente, posteriormente desdobrou novas
discussões acerca da necessidade da preservação do meio ambiente. Neste contexto, a
natureza passou a ser entendido como um tipo de capital, um “capital natural”, instituído
em função do meio ambiente e seus atributos.
Lenoble (1990) lembra que, determinar o que é natureza para o homem apresenta-
se como um desafio, uma vez que, a pesar o período averiguado, o homem viveu
“diferentes naturezas”. Tal condição permite avaliar que, cada época e civilização
vivenciou diferentes representações de natureza, as quais certamente influenciaram e
continuam a influenciar sábios e artistas, entre eles, pintores, músicos e poetas, de maneira
que, dentre tais personalidades, o autor chama a atenção para seu contemporâneo
Aristóteles, considerado um dos gênios que buscou esmiuçar as complexidades da
natureza e suas regras impostas ao homem. Sobre as definições do termo natureza,
Lenoble (1990, p. 183) descreve que:
Como todas as palavras que designam uma ideia muito geral, a palavra
Natureza parece clara quando a empregamos mas, quando sobre ela refletimos,
93
parece-nos complexa e talvez mesmo obscura. Também os dicionários
comuns, enciclopédias das ciências comuns, não se comprometem. Definem a
Natureza deste modo: “O conjunto das coisas que existem naturalmente” e se,
para obter mais esclarecimentos, procuramos uma explicação no adverbio
“naturalmente”, encontramos: “Naturalmente: pelas forças da natureza, de
modo natural”.
Em suma, conforme sugere Hernández (2009), as interações do homem com
natureza possuem diferentes critérios ao relacionar o contexto histórico-cultural em
questão. Exemplificando tal fato, podemos citar a diferença no trato com a natureza dos
povos originais andinos em comparação as sociedades urbanas pós-modernistas, de
maneira que, cada um conjunto mantém relações diferentes com a natureza em função de
seus hábitos, objetivos e linhas de pensamento. Com relação aos povos originários de
todos os continentes, seus vínculos com a natureza atrelam-se a uma condição de
espiritualidade, forças naturais (divindades), culto aos elementos naturais. Em
contrapartida, nas sociedades urbanizadas, as quais então envoltas em ambientes de
natureza fortemente transformadas, aspectos como o consumo em massa, distanciamento
de ambientes naturais, alto índice de exploração natural, dentre outros, marcam as
relações estabelecidas por essas sociedades com a natureza.
Em suma, podemos afirmar que, mesmo com o passar dos séculos, as características
físicas da natureza é a mesma, mas a valorização é diferente de acordo com o momento
histórico da humanidade, períodos os quais designam diferentes funcionalidades e valores
a natureza por cada um desses grupos.
Neste contexto, uma importante concepção abordada por Porto-Gonçalves (2013)
é a condição polissêmica da natureza, a qual pode ser interpelada de maneiras distinta de
acordo com a cultura em questão. Tal concepção é cada vez mais clara, uma vez que, cada
vez mais a espécie humana empreende um domínio cultural e político da natureza.
Principalmente na latente vertente capitalista contemporânea, percebe-se um movimento
de dissociação do homem e a natureza. Esse pensamento atrela-se as ideias de Whitehead
(1994), o qual relata ser possível compreender a natureza de maneira homogênea, a qual
é considerada independente do pensamento a ela atribuída (ligada a percepção sensível),
ou heterogênea, a qual atrela-se as relações entre ela e o pensamento sobre ela. Neste
sentido, seria possível pensar em uma visão integral e global da natureza, em
contrapartida, percebe-se atribuições de múltiplos olhares para com a natureza em função
das possíveis diversas intencionalidades.
Deste modo, percebe-se a complexidade da compreensão acerca de uma
conceituação objetiva da natureza, de maneira que, a mesma estaria atrelada a diferentes
94
visões, as quais podem inclusive se oporem em função das diferentes finalidades com as
quais a natureza é tratada nas relações com o homem. A natureza em um viés econômico
possivelmente terá uma vertente totalmente diferente de uma visão naturalista de mundo.
Tais oposições se fazem presentes ao longo de toda história da humanidade, em diferentes
contextos e com divergentes finalidades de interação.
As relações do homem com a natureza se estabeleceram desde os primórdios da
humanidade na terra, uma vez que, este dependia completamente da natureza para sua
sobrevivência, estabelecendo assim uma relação conectiva entre o ser humano e natureza.
Entretanto, nos dias atuais, percebe-se cada vez mais a dependência e influência das
indústrias e tecnologias no cotidiano do homem, fato ampliado após a revolução
industrial. Em função desta dependência industrial e tecnológica, o homem passou a
distanciar-se da natureza pura, de maneira que, frente a tal condição, os campos da
psicologia, filosofia, ciências ambientais, literatura, dentre outras, passaram a estimular
tentativas de reconexão entre o ser humano e a natureza (MOGHADAM; SINGH;
YAHYA, 2015).
Acerca da inserção do homem no contexto industrial, Leví (2012, p. 24) ressalta
que:
O conflito Homem-natureza surge em resultado desses processos industriais,
responsáveis não só pelo desenvolvimento económico, criação de emprego,
melhoria da qualidade de vida mas também pela destruição da sua própria fonte
de sobrevivência. Após várias décadas de utilização irracional dos recursos, o
homem começa a ter consciência dos danos que tem vindo a causar ao meio
ambiente e como resultado vários movimentos foram surgindo no sentido de
despertar as nações para uma consciência ambiental que tenha como base a
gestão racional dos recursos naturais. Nos últimos anos tem-se assistido a uma
crescente preocupação do homem com o meio ambiente, levando-o a redefinir
as suas prioridades e a adoptar uma nova filosofia de actuação “fazer mais com
menos recursos”. Contudo, no início a preocupação era meramente económica,
ou seja, as sociedades possuíam um modelo desenvolvimento onde não havia
lugar para um equilíbrio entre o homem e a natureza, mas sim para a produção
em massa e criação de riqueza.
Para Macedo e Diniz (2007), após a expansão das cidades, a sociedade passa a
apresentar uma necessidade de reaproximação do chamado “natural”. Paisagens como
pastos e campos de cultivos, por mais que se apresentem como áreas transformadas,
passaram a ser transformados em signos de natureza real. Para Moghadam, Singh e Yahya
(2015), a agricultura, a domesticação de plantas e animais selvagens permitiram o homem
estabelecer suas civilizações, passando de uma sociedade caçadora-coletora para uma
condição e civilizatória.
95
Nas visões de Moghadam, Singh e Yahya (2015), a revolução industrial agiu como
uma válvula propulsora na transformação das áreas naturais em urbanas, de maneira a
transformar tudo em função do atendimento das necessidades humanas: construção de
edifícios, estradas, estradas de ferro, carros, etc. transformações as quais distanciavam (e
continuam a distanciar) cada vez mais o homem da natureza. A tecnologia e a indústria
passaram a estabelecer novas relações sociais (invenções do aparelho televisor, telefone,
celular, computador, internet), colocando as relações com a natureza em um segundo
plano. Para Hernandez (2009), a revolução industrial derrubou as últimas barreiras
técnicas que impediam o uso indiscriminado dos recursos naturais, acarretando na busca
implacável da humanidade na exploração desordenada e devastadora da natureza em prol
do chamado idealizado “progresso”.
A partir do século XIX, o pragmatismo passa a tomar as bases do pensamento, uma
vez que, a ciência e a técnica passam a assumir um significado central na vida do homem.
Neste contexto, a natureza transforma-se cada vez mais em um objeto a ser possuído e
dominado, sendo subdividida através dos ramos da Física, Química e Biologia, enquanto
o homem é associado a partir da Economia, Sociologia, Antropologia, História,
Psicologia, etc. Considerando tal concepção, torna-se cada vez mais difícil desenvolver
um pensamento orgânico e integrado entre homem e natureza (PORTO-GONÇALVES,
1989). Sobre tal ruptura, Porto-Gonçalves (1989, p. 35) relata que:
A ideia de uma natureza objetiva e exterior ao homem, o que pressupõe uma
ideia de homem não natural e fora da natureza, cristaliza-se com a civilização
industrial inaugurada pelo capitalismo. As ciências da natureza se separam das
ciências dos homens; cria-se um abismo colossal entre uma e outra e, como
veremos mais adiante, tudo isso não é só uma questão de concepção do mundo.
A ecologia enquanto saber e, sobretudo, o movimento ecológico tentam
denunciar as consequências dessas concepções, embora o façam, muitas vezes,
permeados pelos princípios e valores dos seus detratores...
Conforme sugere Porto-Gonçalves (2013) o ideário que permeia os últimos séculos
é o da dominação da natureza como condição necessária para o desenvolvimento. O autor
op. cit. ressalta que, o vocábulo “desenvolver” significa “des-envolver”, ou seja,
desarticular a autonomia/envolvimento que o povo tem para com seu espaço. Nesta
concepção, a técnica surge como ferramenta perfeita para aumentar a produtividade
capitalista, auxiliando no supracitado desenvolvimento.
Acerca da mercantilização da natureza pelo homem, Hernández (2009, p. 107)
explica que:
96
El hombre no siempre ha desarrollado actividades compatibles con los tempos
naturales, a medida que se avanzó en el proceso de internacionalización del
capital, instrumentalizado por las revoluciones científico-tecnológicas, los
tiempos de producción que el hombre “exige” a la Naturaleza son cada vez
más distantes de lo que deberían ser. El hombre compite por los recursos
naturales, siendo esta característica muy evidente en las guerras creadas para
el dominio de tal o cual recurso estratégico.
Em contrapartida as cidades e campos rurais, as paisagens/ecossistemas naturais
protegidas por grupos preservacionistas tomaram novos significados, passando a serem
mercantilizadas, sendo tidas como símbolos de paz, conforto e harmonia, estando a
disposição das elites que, dentro de um protocolo de sujeito “conscientizado” atuam como
guardiões da natureza. Em um processo inverso e contraditório, as paisagens tidas como
naturais passam a exercer uma condição de status para aqueles mais abastados e,
consequentemente, propiciando situações de segregação espacial (MACEDO; DINIZ,
2007).
Acerca da apropriação da natureza pelo homem na sociedade pós-revolução
industrial, Porto-Gonçalves (1989, p. 25) indica que:
A natureza se define, em nossa sociedade, por aquilo que se opõe à cultura. A
cultura é tomada como algo superior e que conseguiu controlar e dominar a
natureza. Daí se tomar a revolução neolítica, a agriCULTURA, um marco da
história, posto que com ela o homem passou da coleta daquilo que a natureza
naturalmente dá para a coleta daquilo que se planta, que se cultiva.
Ainda sobre tais mudanças homem/natureza, Schama (1996, p. 23) ressalta que:
Diz-se, portanto, que a agricultura intensiva possibilitou todo tipo de males
modernos. Rasgou a terra para alimentar populações cujas demandas (por
necessidade ou por luxo) provocaram mais inovações tecnológicas, que, por
sua vez, ao exaurir os recursos naturais, impulsionaram mais e mais o ciclo
exasperado de exploração ao longo de toda a história do Ocidente.
Para Moghadam, Singh e Yahya, (2015, p. 93), apesar da dependência do homem
com relação às indústrias, sua relação com a natureza ainda permanece:
To put it all together, it can be said that human have a deep connection to
nature, and although this connection has been weakened by human’s gradual
dependence on industry, human’s physical and psychological essential need to
nature has not been weakened at all. Nature has been the source of
psychological well-being and physical health for human from the beginning of
his existence on the planet Earth. Hence there had been a strong and deep
relationship between human and nature. But the industrialization and
urbanization has gradually kept human away from his main home and caused
a big gap in human’s relationship with nature. Thus, human has been alienated
from nature, and such an alienation can be called the main reason of all his
physical and especially psychological disorders. But in recent years as this
alienation and separation has been felt threatening both for human and nature,
the attempts has been started for reconciliation between human and nature, a
97
reconciliation which can bring a psychological well-being for human in these
years of human degradation.
Entretanto, apesar da relevante interferência do período industrial na natureza,
Schama (1996) enfatiza que este fato histórico por si só não pode ser levado em
consideração como o único e determinante acontecimento que interferiu nas interações
com a natureza. Para o autor, os ecossistemas sustentam a vida no planeta independente
da interferência humana, uma vez que, são atuantes antes mesmo da ascendência do Homo
sapies. Entretanto, é difícil acreditar que exista um único sistema natural que não tenha
sido afetado positivamente ou negativamente pela cultura humana. Nesta concepção, tais
alterações não devem ser atribuídas apenas nos séculos industriais, mas sim que, estas
vem acontecendo deste a antiga mesopotâmia, abarcando mudanças desde as calotas
polares até as florestas equatoriais, ou seja, toda natureza que nos permeia.
Tal condição é confirmada por Garnier (2008), que indica o fato de que as
sociedades humanas historicamente modificaram seus habitats, seja para facilitar a vida,
para aumentar suas produções ou simplesmente para atender aquilo que tais sociedades
tinham como visão ideal de mundo. Essas modificações acarretaram ao longo dos tempos
modificações radicais na biodiversidade. Dentre tais modificações, destaca-se o final do
século 20, em que o homem passa a um nível superior de domínio da natureza: a
manipulação de genes. Os avanços cada vez mais rápidos do conhecimento propiciaram
ao homem a revelação de inúmeras espécies, bem como possibilitou altera-las e “melhorá-
las” em prol de benefícios ao homem, principalmente com relação a alimentação
(aproximadamente 15 tipos de plantas atualmente são utilizados para alimentar a maioria
da humanidade).
Essa manipulação do homem sobre a natureza estabelece uma relação quase que de
“Deus criador”, representando uma realidade em que a humanidade tem a possibilidade
de realizar alterações na natureza que antes eram impensáveis. Entretanto, essa busca
pelas satisfações humanas tem cobrado certos preços. Cada vez mais nota-se a ocorrência
de alterações nos sistemas naturais, os quais desencadeiam desastres que acarretam
grandes consequências em áreas naturais.
De fato, parece razoável pensar que, muitas das alterações e apropriações da
natureza pelo homem trouxeram uma ampla gama de benefícios, os quais propiciaram
seu gradativo bem estar ao longo dos séculos. A problemática em questão é a intensidade
de tais explorações, as quais ocasionaram as supracitados alterações, trazendo alterações
no fluxo sistêmico dos diferentes sistemas naturais encontrados no globo terrestres. Neste
98
sentido, tais modificações acarretam cada vez mais impactos negativos, como por
exemplo, o chamado efeito estufa que, contraditoriamente é tratado por muitos como um
“problema contornável” em função dos avanços e soluções da ciência. Portanto, a noção
de que o homem possui passe livre para incidir mudanças na natureza tem sido cada vez
mais colocada à prova, uma vez que, não há certezas de que a ciência sempre conseguirá
contornar a problemática em questão.
Mudanças drásticas na natureza, ou seja, a excessiva exploração de seus recursos
em função das mais diversas dinâmicas territoriais, podem pressupor alterações em níveis
global e local. Dentre as alterações globais, as climáticas aparecem como um elemento
que incide relevantes transtornos na biodiversidade que, apesar de sua escala global, pode
ser mitigada a partir de esforços em nível local, atuando para limitar tais mudanças e
auxiliar na conservação da biodiversidade (GARNIER, 2008).
Além da questão climática, outras alterações podem ser elencadas a partir das
alterações provocadas nos sistemas naturais, tais como a diminuição da diversidade de
fauna e flora, poluição de cursos hídricos, perda de qualidade dos solos, diminuição da
qualidade do ar, dentre outras consequências.
Considerando os desdobramentos negativos da intensa industrialização e,
consequentemente, nas mudanças ocasionadas a natureza, passou-se a perceber reflexos
destes aspectos negativos no ambiente e na qualidade de vida do homem. Frente a isso,
despertou-se novas reflexões acerca do modelo de desenvolvimento posto, ou seja,
tornou-se necessário pensar no equilíbrio entre a manutenção dos sistemas naturais e a
satisfação das necessidades humanas, carecendo assim a adoção de práticas menos
depredativas para com a natureza. Tal concepção surge no final dos anos 60 e início dos
anos 70 do século XX, sendo tratada em diversas conferências internacionais na tentativa
de criar diretrizes para a implementação daquilo que é tratado como “desenvolvimento
sustentável” (LEVÍ, 2012).
Esta preocupação com a preservação da natureza e acesso restrito a mesma mantém
uma intrínseca relação com o turismo. Atividades como o ecoturismo apresentam cada
vez mais uma seletividade de seus praticantes, principalmente em função do poder
econômico apresentado pelos mesmos, deixando de lado assim aqueles que não possuem
a mesma condição monetária. Tal discussão apresenta-se como fundamental na visão de
Vitte (2012, p. 8) pois:
“[...] as relações econômicas de possessão, que se realizam em muitas
dimensões do humano, reduz o outro, toma-o indiferente, exclui e segrega
99
espacialmente, toma o outro mercadoria. No caso da natureza, uma mercadoria
rara, cara e cujas paisagens são desfrutadas por poucos, por aqueles que
possuem dinheiro para pagar por um momento de lazer e prazer cênico”.
Ao ressaltar a importância da natureza na atividade turística, Silva (2006, p. 76) cita
que:
Como um produto qualquer, a natureza, na atividade turística, passa a ter maior
significado ou demanda em grupos sociais sem possibilidade, em seu
cotidiano, de manter relações diretas com áreas pouco antropizadas,
equilibradas devido à baixa alteração dos processos naturais. Assim, os
grandes consumidores de natureza, mais particularmente, do Turismo de
Natureza, serão indivíduos, em sua maioria, urbanos-industriais, que buscam
nessa prática, incorporar ou difundir a concepção de natureza que permeia a
sociedade atual que tem ligações intrínsecas com os movimentos filosóficos
anteriormente comentados (o Naturalismo e o Romantismo) e com aspectos
ambientais incorporados nas últimas quatro décadas, pela política, cultura,
economia, educação e lazer.
Assim sendo, faz-se necessário que, dentro das possibilidades de inserção da
atividade turística na tentativa de conservação/preservação da natureza, sejam
desenvolvidas estratégias possibilitem que o acesso a tais áreas, de maneira a permitir que
a sociedade passe a dispor de condições de interação e contemplação destes ambientes
com menores níveis de intervenção antrópica. Neste contexto, a criação de áreas
protegidas apresenta-se como uma dessas estratégias, a qual denota um caráter de
conservação, bem como propicia o uso/interação responsável com seus visitantes.
Tomando como premissa as discussões apresentadas, acredita-se que o Turismo de
Natureza pode ser apontado como uma das opções na promoção da interação da sociedade
com a natureza e, mediante o desenvolvimento de um planejamento turístico, propiciar o
estimulo a conservação/preservação de tais áreas. Mediante tal premissa, o próximo item
visa desdobrar a relação deste segmento turístico com a natureza, de maneira a
compreender em que medida as áreas naturais atuais podem ser englobadas dentro de
propostas de desenvolvimento de atividades ligadas ao Turismo de Natureza.
2.2 Turismo de natureza: que natureza é essa?
O turismo, atividade econômica em crescente expansão pós período industrial, é
caracterizada como um ramo que envolve o deslocamento dos indivíduos em diversos
pontos do globo terrestre (e até mesmo fora dele, quando consideramos os primeiros
ensaios do turismo espacial), movimentações as quais possuem suas motivações pautadas
em diferentes variáveis que permeiam o imaginário de cada turista.
100
A cultura, o conhecimento científico, a saúde, o lazer, o descanso, dentre outras
possibilidades, são algumas das variáveis que podem incentivar e despertar o desejo de
viajar de diferentes turistas. Cada vez mais, uma importante vertente ganha destaque e
apelo na busca por destinos turísticos: a natureza. Para Silva (2006, p. 77):
Os segmentos do Turismo que mais incorporarão práticas turísticas ligadas ao
Turismo de Natureza serão, portanto, aqueles que excluem o convívio direto
com ambientes urbanos, os quais, muitas vezes, irão servir somente de aporte
por meio do oferecimento de serviços de hospedagem, alimentação ou
agenciamento, necessários para o seu desenvolvimento. A oferta turística
original, bem como, a potencialidade turística, resultam diretamente do
ambiente natural.
Neste contexto, a paisagem se apresenta como uma importante categoria analítica,
uma vez que, considerando nossa capacidade de percepção e entendimento de diferentes
espaços, esta se concretiza como uma ferramenta que permite promover, praticar ou
vivenciar viagens. Em suma, do ponto de vista mercadológico, a paisagem se torna um
importante recurso de venda de roteiros turísticos. Tal premissa se ampara do fato que a
paisagem é considera por alguns como a principal motivação dos fluxos turísticos,
considerando que as pessoas se deslocam para ver, escutar, cheirar (sentir ou perceber)
outras paisagens, bem como se relacionar com outras pessoas diferentes de seu cotidiano
(RAIMUNDO, 2011).
Assim sendo, o segmento do Turismo de Natureza passa a ser uma modalidade de
turismo que possibilita o “reencontro” do homem com a natureza, permitindo um
distanciamento, mesmo que durante um curto período de tempo, dos conglomerados
urbanos caracterizados por apresentar um cenário oposto à calmaria e simplicidade
geralmente encontradas em ambientes de maior naturalidade.
Para Teles (2011), o fluxo de deslocamentos para áreas naturais tem crescido cada
vez mais em todo o mundo. Neste sentido, a frenética busca por tais ambientes acabou
por simplificar o segmento Turismo de Natureza, acarretando em uma certa
homogeneização da oferta turística relacionada ao uso de recursos naturais para
atividades turísticas. Esta homogeneização acaba por estimular confusões conceituais
acerca do tema, necessitando assim de maiores esclarecimentos específicos sobre este
segmento.
Destarte, o Turismo de Natureza revela um papel social importante, na tentativa de
reaproximação para com a natureza, de maneira a oferecer atividades que privilegie o
contato direto com a mesma. Entretanto, qual é a natureza do Turismo de Natureza?
Considerando as reflexões expostas no item anterior, a natureza adquiriu, adquire e pode
101
ver a adquirir diferentes significados para os sujeitos e, portanto, faz-se necessário aqui
estabelecer qual natureza é entendida pela conceituação do segmento Turismo de
Natureza.
Na concepção de Leví (2012, p. 62) “O Turismo de Natureza é um conceito
complexo, uma vez que abrange diversos fatores e como tal vários autores procuram
abordar o conceito de acordo com a sua visão”. Em sua conceituação, Martins e Silva
(2018, p. 499) definem o Turismo de Natureza como:
[...] todo o turismo realizado em ambientes que tem na paisagem seu principal
atrativo. Acontece independente da existência de estruturas formais e é movido
basicamente pelos interesses do mercado, ainda que não necessariamente
exista uma preocupação ambiental e social. Nessa perspectiva, motiva-se pelos
lócus da natureza (risco, descanso, lazer ou retorno às raízes) e não ocorre
necessariamente em áreas protegidas. A característica do ambiente é um dos
elementos centrais, considerando a importância da paisagem, suas formas e
funções que se materializam na beleza cênica ou no geossistema.
Cabe ressaltar a amplitude conceitual que permeia a expressão Turismo de
Natureza, de maneira que, distintos autores apresentam suas definições com base em
diferentes perspectivas, sejam relacionadas aos princípios preservacionistas, sejam em
função da vertente econômica, ou ainda pelo simples desenvolvimento de atividades que
propiciem um contato mais aproximado para com a natureza.
Nesta abordagem, o Turismo de Natureza será embasado a partir do conceito
estabelecido por Lima, Silva e Boin (2018, p. 13), os quais definem o segmento como:
O Turismo de Natureza deve ser considerado, então, como a atividade turística
na qual a natureza se apresenta como elemento principal, de modo que esta
sirva como base para o desenvolvimento da atividade, seja pelo seu aspecto
visual/cênico, seja por seu aspecto funcional, podendo haver variação dos
interesses, ou seja, pode primar pela aventura/radicalidade, descanso,
recreação ou a simples busca pela “volta às origens”, não havendo
necessariamente a preocupação ambiental, tanto por parte dos turistas, quanto
pelos promotores da atividade.
É importante frisar que, a abordagem aqui tomada como base conceitual diferencia-
se daquilo que se define como Ecoturismo, uma vez que se entende que este pode ser
tomado como segmento turístico diferente do Turismo de Natureza, ou seja, os princípios,
premissas, estruturas, atuações, dentre outras variáveis, diferenciam-se entre os referidos
segmentos3.
3 Sobre a diferenciação entre os segmentos Turismo de Natureza e Ecoturismo, ver Silva (2006), Lima
(2017), Eichenberg (2018) e Martins (2018).
102
Teles (2011) lembra que na década de 1970 houve uma expansão de produtos
turísticos desenvolvidos em função do uso de recursos naturais, os quais muitos deles
eram equivocadamente designados como ecoturismo. Além disso, outra ideia errônea
difundida neste mesmo período foi tratar este segmento enquanto sinônimo de turismo
sustentável, desconsiderando que este é um conceito amplo e que permeia todas as formas
de turismo, e não exclusivamente ao ecoturismo.
Além do Ecoturismo, o Turismo de Natureza é frequentemente tratado de forma
similar ou até mesmo como sinônimo de termos como “Turismo Responsável”, “Turismo
Ecológico”, “Turismo Baseado na Natureza”, dentre outras nomenclaturas, amplitude de
conceitos os quais, de acordo com Rodrigues (2018) nos desafia a estabelecer limites
claros acerca da amplitude da terminologia Turismo de Natureza, bem como as tipologias
que este compreende.
Nas visões de Martins e Silva (2018), o Turismo de Natureza congrega práticas
turísticas as quais não privilegiam prioritariamente a conservação e consciência
ambiental, fato que pressupõe a necessidade de sua dissociação do ecoturismo. Para os
autores op. cit., o Turismo de Natureza caracteriza-se como um segmento orientado pelo
mercado, o qual atua na indução e formatação de produtos a serem comercializados. Ao
definir o termo Turismo de Natureza, Silva (2006, p. 86) discorre sobre as essências que
permeiam o segmento:
Pouco utilizado o termo não nega a existência de impactos ambientais e
concebe que a base da motivação turística e o deslocamento dos fluxos
turísticos das áreas emissoras para as receptoras ocorrem, predominantemente,
a partir de aspectos da natureza. Os aspectos socioculturais e os arranjos
turísticos das áreas receptoras servem de complemento, facilitando sua prática
e desenvolvimento. Esse segmento turístico congrega tipologias turísticas que
se utilizam, direta ou indiretamente, da natureza consumindo-a como um
produto de mercado. Explora os valores ambientais que permeiam a sociedade
atual, potencializando os aspectos do Romantismo e do Naturalismo presentes
no movimento ambientalista, abordados no item anterior.
Ao relacionar a atividade turística com a natureza, é importante pensar que, o
ideário de “natureza” construído ao longo da história adquiriu diferentes significados em
cada temporalidade. Nesta concepção, a cultura pode ser considerada como fator
preponderante no contexto destas mudanças, uma vez que, ela orienta as diversas
maneiras como os indivíduos podem se apropriar da natureza, tendo como ideologias e
diferentes formas de ver o mundo. Assim sendo, considerando um contexto atual, as
políticas públicas ligadas ao turismo, bem como ações que visam a conservação da
natureza e cultura, também estão pautadas em interesses e prioridades estabelecidos pelos
103
governos nacionais e internacionais, interferindo assim diretamente na forma de observar
e tratar aquilo que se considera como “natureza” (RODRIGUES, 2016).
Em muitos casos, a natureza e, consequentemente, as atividades que possui relação
intrínseca com a mesma (como no caso do Turismo de Natureza), podem atrelar-se com
a condição de saúde do ser humano. Destacando a importância da Natureza para o ser
humano, Moghadam, Singh e Yahya (2015, p. 92) citam que “So nature can bring a
“tranquility and rest to the mind” to think about our place and our self in this world”.
Para Souza (2019), cada vez mais o ideário de paisagem passa a ser tomado quase
como sinônimo de reencontro com a natureza, condição a qual não se atrela apenas
discussões científicas ou construções filosóficas, mas também nas relações cotidianas
comuns a todos indivíduos, seja no trabalho, nos momentos de férias e feriados, durante
o tempo de descanso e até mesmo nas frações de natureza representada em quadros ou
esculturas das casas. Conforme a reflexão do autor op. cit., os indivíduos buscam cada
vez mais, seja em menor ou maior escala, relacionar-se/aproximar-se de elementos que
remontam a aspectos naturais. É importante ressaltar que, o ideário de “Natureza”
almejado pelo visitante/turista, nem sempre remete a “Natureza intocada”, mas sim que,
muitas vezes relaciona-se com a ideia de natureza alterada, como por exemplo, praias,
balneários, animais domesticados, etc.
A natureza, materializada na paisagem, não se apresenta como um simples elemento
em sua constituição. Esta é vista como um ideal a ser buscado, uma vez que,
contraditoriamente, a própria modernidade buscou se afastar. Assim sendo, o retorno a
natureza (mesmo que uma natureza imbricada de elementos artificiais) possibilitaria
retomar uma visão perdida nos últimos tempos, a qual foi sendo esquecida em função dos
processos de artificialização do cotidiano humano, ligados principalmente aos centros
urbanos (SOUZA, 2019).
Considerando tal assertiva, o Turismo de Natureza pode ser indicado como uma
atividade que possibilita tal aproximação do ser humano com os ambientes de maior
naturalidade, propiciando assim experiências que causem bem estar aos praticantes, além
de estimular a manutenção e conservação dos ambientes onde tais práticas são
desenvolvidas.
Lopes e Santos (2014) lembram que, na atividade turística, os recursos naturais são
considerados relevantes elementos com capacidade de atração e, consequentemente, de
desenvolvimento turístico em diferentes regiões do país. Fauna, flora e recursos hídricos
são exemplos das importantes variantes que atuam para atrair a atenção dos turistas.
104
Acerca da importância dos recursos naturais e sua relação com a atividade turística, as
autoras op. cit. (p. 57) ressaltam que:
Uma área com potencial turístico e bem preservada, com paisagens cênicas,
vegetação altamente preservação, recursos hídricos em abundância com
ausência de poluição, torna o turismo uma importante via econômica. A grande
dificuldade encontra-se exatamente em dinamizar o uso e estabelecer um
balanço positivo no uso destes recursos a favor da atividade turística. A
vegetação brasileira apresenta alto índice de diversidade e apresenta-se
essencial em diversos locais, transformando a paisagem local, regional e
global. Além de ser útil a nidificação para a fauna em geral, é responsável
também pela manutenção dos corpos hídricos existentes. Da mesma forma a
fauna apresenta relevante destaque para atrair o turismo, pois associado a uma
vegetação preservada, a fauna torna-se abundante e exuberante. A avifauna
torna-se tão abundante a ponto dos turistas se beneficiarem de belos voos,
cantos e presença. [...] Corpos hídricos bem preservados, longe de
contaminação por esgotos e ineficiente saneamento básico, possuem
excelentes condições para a prática de atividades na água. Neste sentido, rios,
cachoeiras, praias e balneários, são importantes aspectos naturais para compor
o turismo nestas áreas.
Na visão de Hernández (2009), dentre as atividades econômicas, o turismo pode ser
considerado aquela que mais tem aproximado suas relações com a natureza. Tal
aproximação possui uma relação direta com o desenvolvimento tecnológico dos meios de
comunicação e transporte, os quais possibilitam novos vínculos da “sociedade turística”
com aspectos naturais e culturais valorizados principalmente em função de seu apelo
cênico. Ainda de acordo com o autor op. cit., essas relações com os ambienteis naturais
baseiam-se principalmente no ócio e lazer, fato que em muitos casos mascaram estudos
mais profundos do turismo em tais áreas, acerca principalmente dos impactos causados
nas paisagens naturais e culturais. Sobre a importância de tais paisagens, Hernández
(2009, p. 112) relata que:
En el turismo la “materia prima” son los paisajes naturales y culturales, que
antes de ser puestos en “producción” son ambientes con niveles mínimos de
transformación. Cuando estos son utilizados, sociabilizados e incorporados a
la lógica de mercado para ponerlos em producción por sus cualidades
escénicas, pierden las características por las cuales fueron valorizados. Algo
similar sucede con el turismo cultural, se suele presionar los bienes culturales
mediante el sobreuso o sobreexposición, degradándolos y poniendo en riesgo
su conservación. Las infraestructuras creadas para la explotación turística
constituyen um dualismo en el espacio urbano-turístico: el rostro visible de la
ciudad turística, la que se debe vender y comercializar, y el rostro oculto, la
pobreza cotidiana, los barrios sin servicios básicos alejados de los atractivos
turísticos.
Nesta concepção, percebe-se então uma linha ténue entre o “retorno” do ser humano
às áreas naturais e a conservação e manutenção de tais ambientes. Esse fato acarreta em
uma visão muito comum acerca da atividade turística, taxada muitas vezes como uma
105
prática que destrói os diversos ambientes em que é inserida. De fato, o desenvolvimento
indiscriminado e sem planejamento do turismo pode acarretar em consequências
desastrosas em diversos ambientes, entretanto, o estabelecimento da atividade de maneira
estruturada e planejada pode sim ser utilizada como uma estratégia de promover o bem
estar do ser humano e auxiliar na preservação de áreas com maiores índices de
naturalidade.
Tal planejamento deve equalizar o máximo possível as quatro vertentes que
envolvem a atividade turística: social, cultural, ambiental e econômica. Do ponto de vista
social, o Turismo enquanto prática que envolve relações entre sociais, deve buscar sempre
promover a integração e o bem estar entre os visitantes e visitados. No que tange a cultura,
a atividade turística pode ser tomada como um estímulo a valorização cultural dos
destinos turísticos. Na perspectiva ambiental, a atividade pode possibilitar a valorização
de aspectos e naturais e, consequentemente, estimular a educação ambiental no trato de
tais paisagens. E por fim, enquanto atividade econômica, o Turismo propicia a geração
de divisas, tanto para comunidade local, quanto para investidores do setor turístico. Ou
seja, as bases do planejamento não devem privilegiar apenas uma vertente, como
geralmente é comum observar uma sobreposição econômica em detrimento às demais,
mas sim deve propiciar o equilíbrio entre as variáveis que envolvem o Turismo. No que
tange a complexidade da atividade turística e sua importância para o planejamento, Teles
(2011, p. 16) cita que:
Sem dúvida, para que se proponham ações de baixo impacto e se maximize os
efeitos positivos do Turismo, a primeira tarefa para o profissional é entender a
atividade e o segmento em toda sua complexidade. É fundamental
compreender as conexões existentes entre o Turismo de Natureza e as
diferentes formas de organização da sociedade e, assim, visualizar possíveis
caminhos que serão perseguidos para implantação de projetos. No caso do
Turismo, não podemos entender o espaço como se fosse um tabuleiro de xadrez
pronto para receber qualquer empreendimento sem considerar os impactos que
poderão surgir a partir dessas ações. No que tange ao Turismo de Natureza, o
leitor pôde perceber a complexidade que envolve a palavra “natureza” e a
necessidade de estar conectado a este universo.
De acordo com Luchiari (1999), o turismo desenvolve-se na linha tênue e
contraditória entre o crescimento econômico e a desencadeamento de processos de
degradação ambiental. Neste “embate”, o turismo muitas vezes se coloca como única
opção de desenvolvimento econômica de muitas localidades, acarretando assim em
processos de subordinação cultura das comunidades locais em função das demandas
106
externas dos agentes do turismo. Acerca desta interferência externa no processo de
planejamento e desenvolvimento turístico, a autora op. cit. (p. 130) destaca que:
A organização territorial dos lugares turísticos não responde somente à lógica
do lugar, do meio, e da população local. Ela reproduz atributos valorizados nos
centros urbanos emissores, sintetizando, na materialidade das cidades que se
expandem, as novas representações sociais imprimidas ao uso do território. Por
isto, os lugares não permanecerão “provincianos”. “selvagens” ou
“autênticos”, porque estes atributos não representam mais a sociedade.
Ainda sobre o processo de planejamento no turismo, Ribeiro (2017) lembra que,
para o desenvolvimento de atividades turísticas ligadas a ambientes naturais são
necessárias “adequações” na estruturação dos atrativos e de sua região. Neste sentido,
devem haver cuidados em tais ações, uma vez que, alterações abruptas nestes ambientes
podem ocasionar a descaracterização e/ou artificialização das paisagens.
Ao relacionar a importância dos espaços naturais com o turismo, Miranda (2013)
indica que estes locais possuem características físicas atrativas ao desenvolvimento de
atividades ligadas às práticas recreativas ligadas ao turismo, proporcionando a
reaproximação da natureza e gerando novas sensações a seus praticantes. Nesta
concepção, Gorni e Dreher (2010) destacam o Turismo de Natureza como segmento que
se destaca na relação com ambientes naturais, propiciando a convivência com aspectos
da fauna e flora de ambientes que se diferenciam dos grandes centros urbanos. Na visão
de Luzar et. al. (1995), o turismo desenvolvido em ambientes de maior naturalidade, além
de promover a conservação ecológica das áreas, pode propiciar a valorização cultural e
social com os atores que mantém relação direta e indireta com tais locais. Esta condição
é confirmada por Ballesteros Pelegrín (2014, p. 49) ao indicar que “El turismo de
naturaleza está generando efectos positivos, como es el acercamiento al medio natural y
aumento de la conciencia ambiental entre la población, así como la creación de nuevos
mercados para las economías locales y nacionales”.
Deste modo, aliando o fato de que, na contemporaneidade estabelece-se a
reaproximação do ser humano com ambientes de maior naturalidade e/ou menor grau de
antropização, a atividade turística surge como um meio para alcançar tal aproximação,
mesmo considerando que para realizar suas práticas o turismo venha requerer a
construção de infraestruturas de apoio no atendimento de seus turistas e,
consequentemente, diminuindo tal “naturalidade” do ambiente.
Tal fato é confirmado por Aguiar (2005), que indica que apesar de ser possível o
desenvolvimento do turismo sem que haja necessariamente a modificação dos espaços
107
em que a atividade se estabelece, as modificações materiais são inevitáveis, ou seja, a
estruturação dos chamados equipamentos turísticos é necessária para que o fluxo da
atividade e atendimento a seus praticantes aconteça. Dentre tais estruturas, exemplifica-
se dentre os mais comuns: hotéis, pousadas, campings, restaurantes, bares e lanchonetes,
etc. Para o autor op. cit. (p. 31):
Na grande maioria dos casos, os espaços naturais são re-apropriados pela
atividade turística, desprendendo os recursos naturais da lógica do lugar que
atribuiu a eles o valor de uso. Uma nova relação é construída sob urna lógica
que é determinada pelos sujeitos promotores da atividade turística, que
determinam a instalação dos equipamentos, as regras, as políticas e o
marketing turístico, o que inclui os turistas e moradores das localidades
turísticas. Esta relação entre turismo de massa, que se dá a partir da década de
1950, e a apropriação dos espaços naturais para a prática desta atividade, que
se dá a partir das preocupações futuras geradas com os movimentos
ambientalistas na década de 1970 é o que podemos chamar de ecoturismo.
Dentro deste contexto, Aguiar (2005) reflete que a fetichização e espetacularização
da natureza faz com que cada vez mais os espaços naturais passem a ser ocupados por
agentes turísticos, atuando nos mais diversos segmentos que busquem na natureza a sua
matéria prima.
Para Luchiari (1999) essa fetichização e espetacularização da natureza estimula
cada vez mais o turismo de massa, ampliando a busca por destinos em que tais cenários
se apresentam atrativos para práticas turísticas. Tal lógica estimula cada vez mais a
apropriação de novas paisagens, uma vez que, a democratização do turismo acaba por
“vulgarizar” paisagens antes exclusivas das elites, estas que por sua vez buscam novos
destinos mais aprazíveis aos seus desejos de exclusividade.
Conforme sugere Luchiari (1999), esta recorrente busca por “novas paisagens” faz
parte da dinâmica do turismo, uma vez que, nesta atividade não há o desaparecimento de
uma paisagem, mas sim uma substituição de um conjunto paisagístico por outro. Assim
sendo, por mais perverso que possa parecer, o esgotamento de recursos naturais não
significa a morte da paisagem, mais sim uma nova configuração a ser explorada pelo
turismo.
Para Silveira (2014), a estruturação de espaços turísticos segue a dinâmica ditada
pelos atores envolvidos na atividade. Assim como outras atividades econômicas, o
turismo é desenvolvido tanto a partir da transformação de lugares já existentes, quanto na
criação de novos locais turísticos. Neste sentido, a atividade turística sempre buscará
estabelecer-se em paisagens que permitam o desenvolvimento de espaços que motivem
108
fluxos turísticos pelos mais diversos interesses, inclusive a busca por ambientes com
menores graus de intervenções antrópicas.
Com base nessas considerações, podemos dizer que os espaços turísticos surgem e
evoluem em função da dinâmica alimentada pela ação de determinados atores. Nesse
sentido, o turismo, do mesmo modo que qualquer outra atividade – como a indústria, por
exemplo -, é um elemento atuante tanto na transformação de lugares já existentes quanto
na criação de novos (SILVEIRA, 2014, p. 26).
No contexto brasileiro, Moretti e Lobo (2009) destacam que as políticas públicas
sempre estiveram alinhadas a tentativa de ligar as belezas naturais do país enquanto pano
de fundo para um cenário de paraíso tropical, de sensualidade, de receptividade e ao
prazer. Neste âmbito, ao longo dos anos, a natureza se estabeleceu como elemento
fundamental na consolidação da imagem turística brasileira.
Entretanto, ao utilizar a natureza como matéria prima, o turismo, ou mais
especificamente, o Turismo de Natureza, pode buscar nesses ambientes de maior
naturalidade objetivos distintos. Fossgard (2019) indica que, a busca de práticas turísticas
em ambientes naturais atrela-se a diferentes objetivos, tais como o interesse na vida
selvagem de uma determinada região, a beleza cênica das paisagens, a necessidade de
encontrar-se em ambientes silenciosos, dentre outras possibilidades, variações as quais
apresentam-se de suma importância para que os agentes turísticos possam preparar os
produtos desejados por seus turistas.
Fossgard (2019) chama a atenção para outro fato: os recursos naturais a serem
utilizados na atividade turística, em muitos casos, também servem como base de outras
atividades paralelas, como nas operações de extração (por exemplo, silvicultura,
agricultura, mineração, pesca) (Figura 10), produção de energia (por exemplo, moinhos
de vento, energia hidrelétrica), interesses na proteção da natureza (por exemplo, reservas
naturais, parques nacionais) e na subsistência de comunidades locais. Tais conflitos
podem influenciar positiva ou negativamente na proposta de inserção do Turismo de
Natureza em uma determinada localidade.
109
Figura 10 - Atividade de mineração na paisagem do ícone Maciço do Urucum,
Corumbá-MS
Autor: LIMA, 2019
Acerca das relações entre o ser humano e a natureza, Diegues (2000) atenta para “o
mito moderno da natureza intocada”, o qual suscita (principalmente pela vertente
naturalista) a necessidade do isolamento da natureza em referência às interações com o
ser humano, de maneira a utiliza-la estritamente sob o ponto de vista da admiração e
reverenciamento e, consequentemente, protegendo o paraíso perdido, desejado e
procurado desde a “expulsão do jardim do Éden”.
Para Lopes e Santos (2014), considerando a relação entre o turismo e os recursos
naturais, ressalta-se a necessidade de cada vez mais ampliar-se o debate acerca desta
combinação, uma vez que, os recursos naturais auxiliam na realização do turismo, assim
como o turismo possibilita o desenvolvimento de uma determinada área,
desenvolvimento que, dependendo da maneira em que é estimulado, pode incidir aspectos
negativos nos referidos recursos e, consequentemente, atrapalhar o processo de
retroalimentação das relações supracitadas.
Tendo em vista tais assertivas, ressalta-se que, talvez seja impossível manter áreas
naturais primitivas, ou seja, sem quaisquer tipos de interação entre ser humano e natureza.
Neste caso, o Turismo de Natureza, enquanto atividade pautada em um planejamento
estruturado, pode atuar como uma atividade relativamente passível de integralizar o ser
humano com a natureza, admitindo menores níveis de deterioração ambiental.
110
Neste contexto, ao pressupor a inserção do Turismo de Natureza, é necessário
atentar-se para os anseios dos turistas a serem buscados na atividade, qual o grau de
naturalidade das paisagens em questão e quais os impactos de outras atividades que estão
inseridas no raio de atuação das práticas do segmento turístico. Este fato expõe que,
apesar de que, a princípio o Turismo de Natureza necessita “apenas” da natureza para que
ele ocorra, percebe-se que outras variáveis influenciam direta e indiretamente na
conformação de sua prática.
Considerando as questões abordadas e, a fim de justificar os subtítulo proposto
nessa seção, a natureza na abordagem aqui tomada do Turismo de Natureza, pressupõe o
usufruto da mesma enquanto lócus da atividade turística, desde áreas com maiores graus
de naturalidade até aquelas que possuem intervenções humanas (tais como estruturas
turísticas de apoio ou estruturas ligadas a produção de propriedades rurais), de maneira
que, dentro do contexto buscado pelo segmento, seja possível desenvolver atividades
turísticas em que a natureza impõe-se como um elemento central em tais práticas,
independente das tipologias4 dos segmento do Turismo de Natureza que venham a ser
desenvolvidas.
É importante ressaltar que, as discussões teóricas apresentadas na referida pesquisa
nem sempre poderão primar pelas melhores práticas de planejamento e execução de
atividades ligadas ao Turismo de Natureza. Entretanto, acredita-se que, tais reflexões
permitam um olhar mais aguçado, dotado de maior criticidade frente aos desafios na
gestão de áreas naturais e sua relação com distintas atividades econômicas (neste caso, o
turismo).
Apesar do estabelecimento do Turismo de Natureza enquanto um segmento
conceitual e amparado por uma definição, faz-se importante um maior aprofundamento
acerca dos elementos que estruturam e procuram solidificar seu conceito. Considerando
Turismo de Natureza e sua intrínseca relação com áreas naturais, é possível indicar que,
mediante as diferentes configurações da natureza, esta pode impor aos praticantes deste
segmento uma ampla variedade de experiências. Sobre tal assertiva, Souza (2019, p. 83)
cita que:
Quando se está cercado de paisagens que demonstram a imposição da natureza,
o sentimento do sublime aflora e desconcerta a razão: surge o medo, o
desconforto, a admiração ou o respeito amedrontado. A natureza pode
demonstrar seu poder e força através de diferentes configurações
geomorfológicas, climáticas ou hídricas. Por exemplo, imaginar a solidão
4 Para saber mais sobre o termo “tipologia” e suas diferenciações com o termo “segmento”, ver Silva (2006)
111
dentro de um bote em alto mar, calmo ou revolto, é sempre angustiante. Da
mesma forma, aparece a sensação de desprazer com a imaginação de estar
perdido no deserto ou isolado no cume da montanha.
Ao relacionar o uso da natureza em atividade turísticas, Donaire (2002) indica
quatro possibilidades de interações:
- Natureza como cenário: onde o turista se contenta com a contemplação dos
elementos naturais;
- Natureza como objeto a ser estudado: o turista busca a compreensão dos diferentes
componentes naturais;
- Natureza como variável de aventura: a estrutura da natureza permite ao turista
praticar atividades que envolva riscos e emoção;
- Natureza modificada/artificializada: áreas em que os elementos estão presentes,
mas passou por alterações para chegar ao estágio atual, mas que o cenário natural seja
indispensável (por exemplo, campos de golf, áreas rurais, etc.).
Acerca das diferentes possibilidades de uso da natureza em atividades turísticas,
Ribeiro (2017) ressalta que, as diferentes motivações do turista suscitam a busca de
diferentes locais para satisfaze-las, uma vez que, por exemplo, em caso da necessidade
de relaxamento, o indivíduo poderá optar por passar um período em uma praia, assim
como em caso da necessidade da busca por adrenalina, o turista buscará satisfazer-se em
ambientes mais extremos, onde a natureza lhe imponha desafios. No que tange as
variáveis que estimulam a realização de viagens que objetivam práticas turísticas, Moretti
et. al. (2019, p. 132) citam que:
En estos viajes aparece con nitidez un factor de incentivo común para el
viajero: la búsqueda de lo diferente, la necesidad, el interés o el deseo de ir ai
encuentro de lo singular, observar y, en alguna medida, vivir esta que resulta
nuevo. En esa novedad juegan un papel fundamental los paisajes, es decir, el
conjunto de elementos visuales, sensoriales y ecosistémicos que caracterizan
a los destinos y los hacen atractivos al visitante.
Considerando tais assertivas, Figurelli e Porto (2008) lembram que, o turismo,
desde seu surgimento, mantém relação direta com a fuga da vida cotidiana, buscando fora
da habitualidade, locais que possibilitem a desconexão com a realidade rotineira e a
“reconexão” com a natureza. Sobre as possíveis variáveis que estimulam os indivíduos a
buscarem a natureza como esses ambientes de fuga, Almeida (2019) relata que:
Vários são os estímulos para uma busca contínua: os recursos naturais como
vegetação fora do comum, vida selvagem para ser observada e fotografada,
áreas marítimas de arrecifes para observações e para prática de mergulho,
112
cavernas, montanhas, cachoeiras e cursos d'água para diversas práticas
desportivas, além da contemplação.
Enquanto cenário, a natureza disponibiliza a atividade turística uma série de
possibilidades frente a seu desenvolvimento. Para Sandeville Júnior e Suguimoto (2008)
e Ruschmann (2008), a própria relação da natureza com o turismo é dada muito mais em
função da demanda do que da oferta. Nas visões de Sandeville Júnior e Suguimoto (2008),
o crescente fascínio pela prática do turismo em ambientes naturais advém da necessidade
de compensar e “fugir” das pressões estabelecidas nos grandes centros urbanos, de
maneira que, o encontro com paisagens tidas como naturais satisfaça tais anseios, ainda
que, haja uma precariedade na consciência de preservação e conservação destas áreas.
Neste contexto, tanto Ruschmann (2008) quanto Sandeville Júnior e Suguimoto
(2008) alertam para a necessidade de atrelar a busca pelo contato com a natureza ao
interesse do reconhecimento dos destinos visitados, buscando compreender das relações
socioculturais ali imbricadas, da condição e estruturação ambiental das referidas áreas,
dentre outras informações. Exemplificando esse cenário, Sandeville Júnior e Suguimoto
(2008, p. 3) menciona que:
Os resorts definem muito bem esse cenário. Geralmente eles estão situados em
locais de natureza exuberante, com praias, vegetação e paisagens muito
agradáveis. No entanto, o turista que se hospeda em um resort possui ao seu
dispor toda infra-estrutura que faz com que ele não necessite sair de dentro do
complexo, pois em muitos casos, esses empreendimentos se encontram
isolados de qualquer outro tipo de infra-estrutura (restaurantes, bancos, lojas,
etc). Isso faz com que o local onde estão inseridos fique em segundo plano,
como se servissem apenas de pano de fundo, de cenário, que muitas vezes nem
é percebido.
Para Beni (2001), a paisagem apresenta-se como um dos principais alvos do
desenvolvimento turístico em diversas localidades, de maneira que, os aspectos cênicos,
conformados pela combinação das características geográficas, ecológicas e mesológicas,
fundamentam a capacidade de atração desses destinos turísticos. Essa capacidade de
atração é fortemente utilizada como estratégia de marketing dos destinos turísticos,
conforme indicam Sandeville Júnior e Suguimoto (2008), fato que, transforma a
paisagem/natureza como um quadro ou fotografia, ou seja, simplificando o significado
desta, limitando a vivência e as possíveis experiência com os conjuntos paisagísticos
naturais.
Frente a esse contexto, os Sandeville Júnior e Suguimoto (2008, p. 8) mencionam
que “é importante atentar-se ao fato de que é necessária especial atenção à paisagem
113
quando ela se insere no contexto turístico, justamente para que não a encare como cenário,
mas que seja ela a experiência vivida nos lugares”.
Considerando tal importância no cuidado do desenvolvimento do turismo em
ambientes naturais, Ruschmann (2008) destaca a relevância do planejamento, o qual se
apresenta como fundamental e indispensável, visando oferecer o máximo de equilíbrio e
harmonia entre a atividade, os recursos físicos e socioculturais das áreas com potencial
turístico. Dentro deste contexto de importância do planejamento no desenvolvimento da
atividade turística, Moretti et. al. (2019, p. 137) chamam a atenção para os diferentes
graus de intervenções que o turismo pode ocasionar nas paisagens onde se insere:
El uso del paisaje por el turismo y para muchos la creación de los llamados
paisajes turísticos se puede hacer de varias maneras que van desde la
intervención más suave a la total transformación del paisaje, pasando según
se señala en la literatura de una subordinación de la actividad turística a la
función principal del espacio como ocorre en un área natural, a la creación
de un paisaje nuevo que transforma el paisaje existente, como sucede en las
llamadas ciudades turísticas, los resorts de playa o los parques temáticos,
produciendo paisajes totalmente alejados de la realidad que los rodea.
Como objeto a ser estudado, a relação da natureza com atividade turística está
cada vez mais interligada com as concepções conservacionistas e preservacionistas.
Considerando tal premissa, Lopes e Santos (2014) indicam que esse fato tem ligação
direta com as crescentes discussões acerca da perda de biodiversidade nos mais diferentes
ambientes. Neste sentido, os recursos naturais ainda existentes ganham grande valor de
atração, muitas vezes ligados a áreas protegidas, as quais, são utilizadas em atividades
turísticas quando o modelo de gestão permite.
Ainda de acordo com Lopes e Santos (2014), além de incentivar praticas turísticas
com bases preservacionistas e conservacionistas, tais áreas permitem o desenvolvimento
de pesquisas, bem como possibilita melhorias no desenvolvimento regional, comunidades
autóctones e vizinhas, propiciando um maior conhecimento da cultura popular e gerando
divisas para essas comunidades.
Figurelli e Porto (2008) lembram que, é cada vez mais crescente o turismo voltado
a apreciação e compreensão da natureza, de maneira que, este tipo de atividade vem
demonstrando ser um dos mais promissores nas últimas décadas, propiciando os recuos
de pacotes tradicionais de turismo, os quais geralmente atrelam-se ao modelo denominado
“turismo de massa”.
É importante ressaltar que, de maneira geral, todas atividades humanas causam
impactos, sejam eles negativos ou positivos, em maior ou em menor escalar. Neste
114
sentido, o desenvolvimento do turismo de maneira planejada, pode incentivar a pratica de
uma atividade pautada na educação ambiental e turística, de maneira que, possibilite o
fornecimento de informações a seus praticantes e, consequentemente, propicie o
reconhecimento da importância dos referidos ambientes e a manutenção da atividade
turística nestes locais (SILVA; MARACAJÁ, 2012).
Para Silva e Maracajá (2012), a educação ambiental está ligada a compreensão
acerca da importância da conservação ambiental e dos recursos naturais, enquanto a
educação turística refere-se ao reconhecimento da importância da atividade turística no
desenvolvimento local, seja no ponto de vista econômico, seja social. De acordo com os
autores op. cit. (p. 277) “[...] observa-se que ambas as educações são necessárias para a
utilização do meio ambiente com parcimônia, seja pela comunidade, seja pelo turista, bem
como para o desenvolvimento sustentável do turismo”.
Nas acepções de Figurelli e Porto (2008, p. 447) “[...] reafirma-se a concreta
possibilidade de o turismo ser um meio de educar ambientalmente a população podendo,
ao mesmo tempo, fazer uso das ferramentas da Educação Ambiental para benefício
próprio”. Assim, é possível inferir que, além de cenário, a natureza pode ser utilizada na
atividade turística de maneira pedagógica, permitindo compreender a importância de sua
manutenção enquanto elemento essencial na qualidade de vida.
Em suma, o uso da natureza enquanto objeto a ser estudado geralmente associa-se
a práticas voltadas ao segmento do ecoturismo5 e suas variantes, atividades as quais
privilegiam o desenvolvimento de práticas turísticas sustentáveis. Considerando tal
afirmação, Bueno e Pires (2006) lembram que o incentivo a práticas ecoturísticas
privilegia o incentivo a novos comportamentos e atitudes por parte dos indivíduos que
praticam tais atividades, de maneira a estimular experiências que primem pelo fomento
do conhecimento e informações dos ambientes onde o turismo está inserido. Neste
sentido, Brasil (2010a, p 17) cita que:
Ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza, de forma
sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca
a formação de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do
ambiente, promovendo o bem-estar das populações.
Dessa forma, considerando a possibilidade de uso da natureza em atividades
turísticas com a finalidade de aprendizado, estimula-se a vivência e usufruto de paisagens
5 Sobre a conceituação do segmento Ecoturismo, ver Silva (2006), Lima (2017), Eichenberg (2018) e
Martins (2018).
115
rurais/naturais, florestas, regiões litorâneas, bem como outros ecossistemas, fomentando
a discussão acerca de novas maneiras de como os turistas podem utilizar tais espaços.
Neste contexto, a visitação a áreas protegidas ganha espaço e está cada vez mais
popularizada, ainda que, em um primeiro momento, tais visitações tenham um caráter
mais científico (BRASIL, 2010a).
Enquanto variável de aventura, a natureza pode ser considerada um importante
elemento a ser considerado, uma vez que, as diferentes configurações e estruturas das
paisagens podem pressupor desafios e, consequentemente, obstáculos a serem superados
pelos indivíduos que praticam diferentes atividades turísticas que findam na necessidade
aventureira.
Na visão de Marinho (2007), as novas relações com as questões ambientais têm
suscitado a ampliação de atividades em ambientes naturais, dentre elas, atividades de
aventura na natureza. Tais práticas não são novidades, entretanto, nota-se um crescente
interesse de práticas esportivas relacionadas com a natureza. Acerca do crescimento de
tais práticas a autora op. cit., (p. 5) comenta que:
De fato, é importante enfatizar o quadro contraditório em que as atividades de
aventura na natureza emergem: por um lado, as pessoas procuram, de várias
formas, estar sempre em segurança (em inúmeras situações cotidianas, no
trabalho, com a família, etc.) e, por outro, buscam se expor a riscos (ainda que
fictícios, imaginários e controlados) em atividades de aventura na natureza.
No contexto das práticas turísticas de aventura, Brasil (2010b) ressalta que tais
atividades estão relacionadas com determinado esforço e riscos assumidos6, os quais
variam sua intensidade de acordo com a especificidade de cada atividade, bem como a
capacidade física e psicológica do indivíduo, neste caso, o turista.
Frente ao exposto, a natureza apresenta-se como elemento fundamental nestas
práticas turísticas, de maneira que, os diferentes locais naturais (seja terra, água ou ar),
determinem e/ou sejam fundamentais para o desenvolvimento de atividades ligados a
distintas práticas esportivas, condições as quais podem estar ligadas a: possibilidade da
prática, objetivos das atividades, motivações e meios utilizados para seu
desenvolvimento, e ainda a necessidade de equipamentos inovadores/tecnológicos para a
fluidez dos praticantes para com o ambiente, conforme indica Marinho (2007). Tendo em
vista tais especificidades, Viana e Nascimento (2009, p. 85) indicam que:
6 “Riscos assumidos” significam que ambas as partes têm conhecimento e co-responsabilidade sobre os
riscos envolvidos (BRASIL, 2010b, p. 16).
116
A diversidade de práticas de aventura que materializam este segmento varia
sob diferentes aspectos, em função dos territórios em que são operadas, dos
equipamentos, habilidades e técnicas exigidas em relação aos riscos que podem
envolver e da contínua inovação tecnológica. A seguir, há uma lista (não
completa) com as mais conhecidas práticas do mercado do turismo de
aventura. Ela está agrupada em terra, água e ar, com base em normas
reconhecidas internacionalmente.
As práticas de aventura na natureza em geral são realizadas em grupos, essas
atividades em certa medida são elitizadas. Essa condição está associada muito em função
dos altos custos de equipamentos específicos, os quais são indispensáveis no
desenvolvimento de algumas modalidades, causando assim o acesso desigual a diferentes
públicos (MARINHO, 2007).
Considerando o uso da natureza enquanto variável de aventura, Brasil (2010b)
lembra que, tais atividades podem ser somadas à oferta turísticas dos destinos que
possuam em outro segmento como atividade principal, de maneira que possibilite assim
agregar valor aos produtos turísticos oferecidos. Considerando ainda as observações do
autor op. cit, no Brasil, a diversidade natural de suas paisagens apresenta-se como uma
relevante propulsão no desenvolvimento de atividades de aventura em ambientes naturais.
No que tange as diferentes nomenclaturas que são associadas as práticas de aventura
em ambientes naturais, López-Richard e Chináglia (2004) relatam o uso das expressões
“esportes de aventura” e “esportes radicais”. Explanando sobre os aspectos diferenciais
que fundamentam as duas expressões os autores op. cit. (p. 203) explicam que:
Os esportes de aventura nascem a partir da reprodução total ou parcial de
experiências e técnicas expedicionárias em constante evolução: montanhismo,
deslocamento por cordas fixas, canoagem, viagens de bicicleta etc. Em todas
elas, os fatores naturais adicionam um importante elemento de incerteza, e o
participante está intrinsecamente motivado pela sensação de desbravar,
conhecer e encarar obstáculos imprevistos. Já os chamados esportes radicais
englobam um grande número de atividades nas quais o desafio consiste em
executar manobras de alta complexidade e vencer obstáculos – muitas vezes
conhecidos de antemão – a partir de habilidades técnicas em modalidades
esportivas nas quais fatores naturais imprevisíveis podem ou não influir no
resultado.
Por fim, relaciona-se o turismo ao uso da natureza enquanto espaço modificado,
de maneira que, apesar da desconfiguração destes espaços enquanto “natureza intocada”,
ainda sim serve como lócus de atividades turísticas. De acordo com Sandeville Júnior e
Suguimoto (2008), em suma, os lugares turísticos utiliza-se de paisagens que os
qualifiquem como tal, mesmo que estas paisagens sejam artificiais, como no caso de
destinos turísticos planejados.
117
É cada vez mais comum a surgimento de centros turísticos artificiais, os quais visam
atender o anseio da fuga cotidiana dos turistas, os quais buscam o anonimato, descanso,
realizam compras de souvenirs, assistem diferentes espetáculos culturais artificiais, fazem
registros fotográficos, gravam vídeos das diversas paisagens encontradas e, por fim,
retornam aos seus locais de origem (FRATUCCI, 2000).
Com relação a modificação da natureza pelo ser humano, Coriolano e Silva (2005)
indicam que essa premissa se liga ao resultado do processo de adaptação humana à
natureza, constituindo assim ao longo dos anos o chamado patrimônio cultural, este que
revele as singularidades das cidades, chácaras, fazendas e demais locais apropriados pelo
ser humano.
Neste contexto, o turismo apresenta-se como uma atividade passível de apropriar-
se de tais cenários, de maneira a utilizar essas diferentes particularidades enquanto fatores
de atração nos espaços artificializados, centros urbanos, seja áreas onde as atividades
rurais são predominantes.
Ao comentar sobre os diferentes espaços apropriados pelo turismo, Beni (2001, p.
56) chama a atenção para o chamado espaço natural adaptado, o qual descreve como:
[...] partes da crosta terrestre em que predominam as espécies dos reinos
vegetal, animal e mineral sob as condições que o homem lhes fixou. Também
chamado de “espaço rural” para assinalar as atividades produtivas que nele se
realizam ao se arar e semear a terra fértil, construir canais de irrigação, cortar
as matas originais, plantar novas árvores, criar gado ou explorar jazidas
minerais. No espaço natural adaptado, ou rural, as árvores e os cereais crescem
de acordo com as forças da natureza, mas é o homem quem decide onde devem
nascer e quanto hão de viver, inclusive determinando como devem crescer ao
plantá-los segundo uma ordem geométrica e acelerando o ritmo natural de
desenvolvimento com fertilizantes, ou mudando até sua forma natural, como
faz com as árvores frutíferas que são podadas para aumentar a produção.
Conforme indica Souza (2019), é comum associar o espaço rural com a natureza,
muito em função da premissa de que as paisagens de maior naturalidade são encontradas
justamente na oposição das cidades, ou seja, no campo. Além da concentração de
pequenas, médias ou grandes áreas conservadas, por mais que se considere atividades
modificadoras da natureza, associa-se também outros aspectos rurais como possibilidade
de maior aproximação de áreas naturais, tais como os campos de pastagem, cultivos, os
cursos hídricos não poluídos, o “ar puro”, pomares, dentre outros elementos.
Frente ao exposto, percebe-se diferentes possibilidades de uso da natureza na
atividade turística as quais podem variar em função dos objetivos pretendidos ao se
praticar a atividade turística. Neste sentido, os diferentes usos da natureza podem suscitar
118
o desenvolvimento de variados segmentos turísticos. Considerando o Turismo de
Natureza e as possibilidades do uso da natureza, a única associação que se distancia das
premissas deste segmento é a abordagem da natureza enquanto objeto a ser estudado,
possibilidade a qual possui maior correlação com as bases conceituais do segmento do
ecoturismo, o qual, como já foi citado trechos anteriores do capítulo, não é o foco da
referida pesquisa.
Essas diferentes interações do turismo com o ambiente natural podem ser
exemplificadas pela fala de Neves (2013), uma vez que, o autor ressalta que o Turismo
de Aventura, por exemplo, frequentemente é associado ao Turismo de Natureza, de
maneira que se percebe uma predominância do ambiente natural no desenvolvimento de
suas atividades, mesmo considerando que o fator principal da atividade seja a aventura.
Segundo o autor op. cit. (p. 162) “Mesmo admitindo a forte relação do turismo de
aventura com o turismo natureza, destaca-se que um não se limita ao outro, pois lançar-
se na natureza representa apenas um dos enfoques da aventura, igualmente desafiadores”.
Esta variação indicada por Donaire (2002) permite inferir que seja possível
determinar diferentes níveis de atividades e ambientes possíveis de serem associados ao
Turismo de Natureza, facilitando assim na delimitação e mapeamento de áreas passíveis
de serem associadas a tal semento turístico.
Neste contexto, Oliveira (2013) ressalta a importância das paisagens no Turismo de
Natureza. De acordo com a autora op. cit., a variedade de paisagens privilegia uma
relevante diversidade de ambientes naturais, os quais possibilitam o desenvolvimento de
diferentes atividades turísticas que tenham suas práticas recreativas amparadas pela
natureza.
Sendo assim, as paisagens e os diferentes elementos que as compõem, podem ser
relacionadas com diferentes tipos de práticas, desde a simples contemplação, até
atividades em que as funções motoras humanas sejam mais exigidas, como em situações
de aventuras. Sobre essa possibilidade, Souza (2019) indaga que, é comum verificar o
encantamento dos indivíduos em função de paisagens que se destacam em função de
diferentes elementos, sejam eles: a vegetação, os tipos de relevo, as rochas, a composição
hidrográfica, aspectos climáticos, etc. Esse fato é perceptível até mesmo nos catálogos de
agências de turismo, as quais exploram tais elementos paisagísticos na aproximação de
seu cliente aos ambientes que exprimem uma oposição ao turbulento cotidiano dos
grandes centros urbanos.
119
Considerando as indicações do autor op. cit., é comum observar a exploração
comercial das paisagens na atração dos turistas, atração esta que, geralmente liga-se a
aspectos de destaque da paisagem, como por exemplo, no caso da Serra do Amolar em
Corumbá-MS, em que o relevo e a hidrografia apresentam uma condição singular para
aqueles que visualizam suas paisagens (Figura 11).
Figura 11 - Além da condição do relevo e hidrografia, a vegetação também apresenta-se
relevante na Serra do Amolar, em Corumbá-MS
Autor: LIMA, 2019
Levando em consideração as discussões propostas até aqui e, para fins de
desenvolver as análises no decorrer da pesquisa, propõe-se estabelecer diferentes níveis
de abordagem do Turismo da Natureza e sua relação com as diferentes paisagens de Mato
Grosso do Sul. Para tal concepção, buscou-se estabelecer parâmetros a partir de autores
como Vieira et. al. (2018), Lothian (1999), Nohl, (2001), Siefert e Dos Santos (2016),
Tabacow e Xavier Da Silva (2011), Fidalgo (2014), Sousa (2014) e Pires (2005).
No modelo proposto, buscou-se estabelecer três níveis de relação do Turismo de
Natureza com as paisagens (figura 12). No primeiro nível, a natureza apresenta-se como
fundamental no desenvolvimento do Turismo de Natureza, de maneira que, as
características estruturais e/ou visuais são utilizadas de maneira direta. Nesse nível, do
ponto de vista da qualidade visual, inserem-se paisagens: com maiores níveis de
naturalidade; que contemplem maiores números de elementos com relevante grau de
naturalidade; e que comportem elementos de maior singularidade. Quanto a condição
120
estrutural das paisagens, contemplam-se: paisagens que possibilitem suporte direto nas
atividades turísticas a serem desenvolvidas bem como a variedade de elementos que
permitam tal suporte. Neste nível, indica-se a possibilidade do desenvolvimento de
tipologias do Turismo de Natureza como: contemplação de paisagens litológicas,
geomorfológicas, fauna ou flora (caminhadas, safaris, etc.); realização de trilhas; e
atividades aquáticas (mergulhos, canoagem, etc.).
No segundo nível, as atividades do Turismo de Natureza também possuem ligação
com as características estruturais e de qualidade visual das paisagens, entretanto, neste
nível, a natureza apresenta-se como elemento complementar no desenvolvimento de tais
atividades. Na relação da qualidade visual das paisagens, estas englobam conjuntos
paisagísticos com níveis médios de naturalidade e singularidade, abrangendo
principalmente a transição de áreas com maiores e menores índices de naturalidade. A
estrutura dessas paisagens atua como suporte indireto das diferentes tipologias do
Turismo de Natureza, por exemplo: no caso do turismo de aventura, a paisagem natural
apresenta-se como importante elemento, entretanto assume um segundo plano, uma vez
que, o foco da atividade é a busca pela a adrenalina. Dentre as possibilidades de
desenvolvimento turístico, indica-se atividades aéreas (asa delta, parapente, balonismo,
paraquedismo, bungee jumping, etc.), de aventura (Ciclismo, montanhismo, trekking,
rapel, rafting, windsurfe, bodyboard), pesca, recreação em balneários, acampamentos e
sol e praia.
Considerando o terceiro nível, o Turismo de Natureza é relacionado com o uma
interação superficial com a paisagem natural, de maneira que, esta se apresenta
basicamente como lócus das atividades desenvolvidas. As paisagens que marcam esse
nível caracterizam-se com baixos níveis de naturalidade, com maiores níveis de
intervenções antrópicas e elementos com pouca ou nenhuma singularidade. Considerando
a estrutura, basicamente apresentam-se como cenário para satisfazer uma ou mais
intencionalidades que não possuem ligação direta com a natureza, geralmente associadas
a paisagens com maiores intervenções humanas, como no caso de áreas afetadas por
maiores índices de desmatamento, pastagens e cultivos diversos. Neste sentido, atividades
como vivências de costumes rurais (passeios a cavalo, vivência do plantio de culturas,
vivência na criação de animais, etc.), convivência em comunidades tradicionais, estâncias
de saúde, são exemplos desse nível de Turismo de Natureza.
121
Figura 12 - Modelo de análise integrada da paisagem funcional e de qualidade visual o mapeamento dos diferentes níveis de Turismo de
Natureza.
Organização: LIMA, 2020
122
Acerca da “naturalidade” estabelecida como parâmetro, convém ressaltar que esta
relaciona-se com os ambientes com menores índices de intervenções humanas, ou seja,
os quais pressupõe o estabelecimento de paisagens em que as dinâmicas naturais dos
elementos que compõem os referidos conjuntos paisagísticos sejam preservadas o
máximo.
Na figura 12, é possível observar em síntese a organização dos diferentes níveis de
turismo de natureza e sua relação com as paisagens: descrição conceitual, parâmetros
relacionados com a identificação da qualidade visual paisagística, parâmetros
relacionados com a identificação da análise funcional da paisagem e associação das
tipologias do Turismo de Natureza com os diferentes níveis. Destarte, acredita-se que o
modelo ora apresentado possibilite aferir as diferentes configurações paisagísticas de
Mato Grosso do Sul, de maneira a permitir compreender a complexidade dos elementos
que se inter-relacionam na conformação das referidas paisagens.
2.3 Patrimônio Natural no contexto do Turismo de Natureza
Ao lançar-se ao desafio de uma discussão conceitual acerca de uma determinada
temática, é possível e provável deparar-se com diversas vertentes e conceitos os quais
podem dificultar o clareamento da proposta final de síntese. No trato do Turismo de
Natureza, conceito relativamente novo, esta máxima não é diferente.
Conforme já discutido por autores como Silva (2006), Lima (2017), Eichenberg
(2018) e Martins (2018), a polissemia de termos e conceitos dificultam o estabelecimento
e fortalecimento conceitual do segmento do Turismo de Natureza, fato que os referidos
autores buscaram contribuir por meio de suas reflexões e análises. Visando auxiliar nesse
desvelar do Turismo de Natureza, a seguir, buscar-se-á explanar acerca de um termo que
será de fundamental importância na determinação do conceito de ícone de paisagem nos
próximos capítulos: patrimônio natural.
Levando em consideração as reflexões desenvolvidas por Silva, Martins e Lima
(2018), é importante ressaltar que, toma-se como base o conceito de patrimônio natural
para o embasamento desta investigação, uma vez que, este representa a valorização de
elementos bióticos e abióticos que conformam a paisagem. A referida definição parece
mais acertada quando comparados a outros conceitos, como por exemplo geopatrimônio,
123
o qual restringe-se a valorização de elementos abióticos (geologia e geomorfologia),
deixando de lado ou atribuindo pouca relevância aos aspectos bióticos da paisagem.
Neste âmbito, para Bezerra (2018), o patrimônio natural engloba a valorização tanto
da geodiversidade, quanto da biodiversidade:
A biodiversidade é um dos valores fundamentais do patrimônio natural e
significa a diversidade de formas de vida contidas nos processos da natureza,
como as diferentes espécies de vegetal, animal e de micro-organismos, e
também os genes que eles contêm, bem como os ecossistemas que o
conformam (p. 64).
Por sua vez, a geodiversidade diz respeito às formas terrestres, às feições
geológicas, geomorfológicas, paleontológicas, hidrológicas, pedológicas e
atmosféricas, bem como todos os sistemas e processos terrestres (p. 65).
Para Vieira e Cunha (2006, p. 147), a valorização do patrimônio natural tem
intrínseca relação com as preocupações ambientais que foram potencializadas nas últimas
décadas:
A crescente preocupação que as sociedades têm evidenciado em torno dos
problemas ambientais e da preservação da natureza tem proporcionado o
desenvolvimento de estratégias capazes de fomentar o equilíbrio entre a
indispensável exploração dos recursos (nomeadamente os naturais não
renováveis) e a sua preservação, num quadro de desenvolvimento sustentável.
Neste sentido, ao nível do património natural, têm sido desenvolvidos esforços
com vista à valorização dos diversos elementos passíveis de serem preservados
e potenciados, nomeadamente no âmbito da educação ambiental ou das
actividades de recreio, lazer e turismo.
O patrimônio é um conceito construído a partir do discurso da memória, sendo
designado a partir de determinadas práticas espaciais. Entretanto, também é uma prática
política, uma vez que, este é determinado a partir de um recorte/seleção, ao qual busca-
se atribuir importância e direcionar comportamentos para que indivíduos possam o
valorizar. Neste ínterim, algumas perguntas norteadoras são colocas em discussão: quem
possui legitimidade de determinar o que é patrimônio ou não? Para que e para quem são
esses patrimônios? Tais questionamentos tem crescido nas últimas décadas, estimulando
a ampliação dos debates entre os diferentes indivíduos interessados no trato dos referidos
patrimônios. Porém, ao mesmo tempo, diferentes entraves institucionais e burocráticos
têm dificuldade a ampla inserção de todos os agentes envolvidos/interessados (RIBEIRO,
2017).
Nos dias atuais, Bezerra (2011) lembra que o sistema de proteção de áreas
protegidas pode ser considerado um importante instrumento para a conservação do
patrimônio natural em nível global. Institucionalizado pela União Internacional para a
124
Conservação da Natureza (IUCN) desde 1994, a determinação de um conjunto de
unidades forma o sistema mundial de áreas protegidas. Estas unidades estão divididas em
categorias, as quais são classificadas de acordo com os objetivos de gestão de cada uma
delas. No âmbito das diferentes categorias de áreas protegidas, a autora op. cit. (p. 36)
destaca em especial as funcionalidades dos parques nacionais:
Dentre as categorias de áreas protegidas, os parques nacionais destacam-se por
sua importância no processo de conservação ambiental e de desenvolvimento,
tendo em vista os objetivos de proteção e utilização humana. Essas unidades
protegidas são consideradas fundamentais no processo de gestão do patrimônio
natural, visto que foram criados de modo a objetivar a manutenção da
integridade dos ecossistemas, permitindo-se o uso de seus recursos de forma
indireta. O uso dos parques nacionais, segundo seus objetivos de gestão, está
relacionado a pesquisa, educação, recreação e visitação turística. Embora os
usos permitidos sejam indiretos, considera-se um desafio construir
instrumentos eficazes para o processo de gestão, instrumentos que permita um
monitoramento capaz de conservar a integridade desses recursos e, ao mesmo
tempo, possibilitar o desenvolvimento humano.
A instituição de tais áreas protegidas privilegiou o equilíbrio entre a preservação e
seu uso social, uma vez que, conforme sugerem Oliveira e Barbosa (2010),
diferentemente do que comumente é pensado, estes espaços não são intocáveis, pelo
contrário, estes podem desempenhar significativas vantagens para os municípios onde
estão alocados, uma vez que, permitem evitar ou diminuir acidentes naturais como
enchentes e desabamentos; auxiliam na manutenção da qualidade do ar, solo e recursos
hídricos; permitem o desenvolvimento de práticas ligadas ao turismo ecológico; bem
como a geração de empregos e renda.
O marco fundamental na disseminação de áreas protegidas teve bases na instituição
do Parque Nacional de Yellowstone, no Estados Unidos. Entretanto, a preocupação com
a preservação da natureza e a busca por de convívio harmonioso com tais ambientes
naturais datam de períodos mais antigos, uma vez que, culturas antigas, como das nações
orientais, já demonstravam preocupação com tais áreas. Porém, é inegável a importância
do modelo americano de parques nacionais, os quais passaram a ser replicados em
diferentes pontos do globo terrestre, estimulando a criação de diversos sistemas de
parques, os quais objetivaram o uso público recreacional por parte da população, sem que
houvesse um uso direto dos recursos naturais. Tais movimentações possibilitaram que um
relevante número de indivíduos passasse a ter uma maior consciência ambiental e/ou
percepção dos graves problemas físicos-naturais e socioculturais que permeiam a
realidade dos diferentes países do globo, ampliando assim a discussão conceitual acerca
do meio ambiente e patrimônio (BEZERRA, 2011).
125
No que se refere ao trato conceitual da expressão patrimônio natural, Karpinski
(2018) ressalta a dificuldade em encontrar, nas diferentes áreas ligadas as ciências
humanas e sociais, referenciais teóricos que tratam especificamente sobre esse conceito.
Neste sentido, a maioria dos materiais que referenciam em seus títulos os termos
patrimônio cultural e natural acabam por tratar apenas do primeiro. Ainda de acordo com
o autor op. cit., a produção bibliográfica passou a utilizar o termo “Patrimônio
Ambiental”. Neste contexto, o autor op. cit. (p. 315) indica que:
“[...] após a “virada cultural” e os estudos “pós-coloniais”, a utilização da
categoria “natural” atrelada à de Patrimônio passou a ser um problema
conceitual, uma vez que a fronteira entre Natureza e Cultura, constructo da
modernidade europeia, tornou-se tênue e, para alguns, inexistente.
Neste ínterim, conforme indicado por Vieira (2014), o termo “patrimônio” foi alvo
de um alargamento conceitual, o qual possibilitou um maior favorecimento à valorização
do patrimônio natural, o qual contempla a ideia de proteção não apenas de um patrimônio
individualizado, mas sim de se considerar o meio que o envolve, ou seja, sua
materialização na paisagem passa ser a ser vista de maneira integrada em medidas
protetivas e conservacionistas.
Apesar da ampliação da discussão conceitual acerca do termo patrimônio natural,
Scifoni (2006b) destaca que não há apenas uma linha discursiva, ou seja, não se
estabeleceu um consenso de uma visão única sobre o conceito. Porém, segundo a autora
op. cit. (p. 28), a “monumentalidade” e o “cotidiano” apresentam-se como dois princípios
norteadores na definição de patrimônio natural:
Do ponto de vista do patrimônio natural, a monumentalidade reflete uma
natureza espetacular, grandiosa, quase sempre ausente de condição humana,
intocável e disponível apenas para a fruição visual. Já o discurso do cotidiano
prioriza outros valores, como a experiência pessoal e coletiva dos diversos
grupos sociais, constituindo o patrimônio como a representação da diversidade
cultural presente em uma sociedade nacional.
Portanto, as novas concepções conceituais que permeiam a expressão patrimônio
natural advêm de uma longa dinâmica de discussões e reflexões acerca deste objeto que
por vezes foi relegado à um papel secundário na discussão patrimonial. Entretanto, é
incontestável que o as discussões desenvolvidas sobre o patrimônio natural não tenham
caminhado simultaneamente com as evoluções teóricas do conceito puro de patrimônio.
Assim, considerando as discussões acerca das relações entre o ser humano e a natureza,
percebe-se a tendência das diversas produções em associar tais processos relacionais aos
campos da memória, sentimentalismo, mitologias e rituais (KARPINSKI, 2018).
126
Na visão de Jiménez (2016), o estreitamento conceitual entre paisagem e
patrimônio é relativamente recente, permeando pouco mais dos últimos vinte anos. Neste
sentido, ainda é comum ao falar de paisagem, relacionar tal discussão quase que
exclusivamente ao meio dito natural, da mesma forma que, ao discorrer sobre patrimônio,
é comum atrela-lo com a arte, história e monumentos. Tal dicotomia ainda carrega a
dicotomia do mundo ocidental-europeu, que instiga a necessidade de preservação de
legados recebidos pelos povos ancestrais, bem como sua transmissão enquanto herança
para seus descendentes.
De acordo com Raimundo, Sarti e Pacheco (2019), a partir do final do século XVIII
e início do século XIV, o trato para com a natureza sofre mudanças, de maneira que, esta
passa a ser observada a partir de um viés de patrimonialização, ganhando uma nova
conotação na cultura ocidental. Foi de acordo com os autores op. cit. (p. 796) “Nesse
período, há uma significação sobre a natureza dentro do contexto do rápido processo de
urbanização e industrialização que os países centrais enfrentavam”. Assim sendo, o mito
do paraíso perdido é retomado, surgindo como um elemento indicador e de determinação
do equilíbrio dos ambientes naturais. Portanto, é nessa época que o mundo ocidental
aflora de maneira intensa a ideia de conservação e patrimonialização da natureza,
condição a qual acabou levando a delimitação das primeiras áreas protegidas
(RAIMUNDO; SARTI; PACHECO, 2019).
De forma geral, essa mudança histórica no que tange o trato da natureza estimulou
uma série de alterações, tanto com relação a consciência dos indivíduos que vivenciam e
utilizam os diferentes elementos naturais que estruturam a paisagem, bem como
diferentes entidades/atores incentivadores da manutenção dessas áreas, e ainda de
diversos setores econômicos, como por exemplo o turismo, que passa a observar nessa
mudança uma possibilidade de gerar divisas.
De maneira ampla, levando em consideração o conceito de patrimônio tomado nos
países tidos como desenvolvidos, este é associado a ideia de herança coletiva, a qual
carece de medidas preservacionistas, a fim de manter-se para usufruto das gerações
futuras, visando assim manter vestígios direitos e/ou indiretos que contemplem a história
do homem e da sociedade (VIEIRA, 2014).
Patrimônio é destacado por Robalo (2014, p. 23) como “[...] um bem herdado
transmitido de geração em geração, que abrange a componente material e imaterial da
cultura dos territórios, constituindo-se assim como bens públicos, cuja conservação e
proteção estão sob a alçada do Estado dos territórios”. Ainda de acordo com o autor op.
127
cit. (p. 23) “É neste contexto que surgem os termos património natural e cultural que são
fundamentais na nossa visão de perspectiva de paisagem integrada”, conceitos os quais
ganharam uma visão mais consolidada e abrangente a partir da convenção do patrimônio
mundial natural e cultural realizada em Paris no ano de 1972, considerada um marco no
trato da paisagem e suas relações no que tange o patrimônio natural e cultural. Na ocasião,
foram apresentadas definições para os patrimônios cultural e natural, conforme cita
Scifoni (2006b, p. 36):
Segundo a Convenção do Patrimônio Mundial o patrimônio cultural foi
definido como os monumentos, as obras arquitetônicas ou de artes plásticas,
as estruturas arqueológicas, os conjuntos urbanos e lugares notáveis. Já o
patrimônio natural foi estabelecido como as formações físicas, biológicas,
geológicas e fisiográficas, as zonas de habitat de espécies ameaçadas e
novamente os lugares notáveis.
Destarte, percebe-se que, além dos valores atribuídos a natureza em si, a trajetória
humana soma-se a esta valorização patrimonial. Portanto, no âmbito do patrimônio
natural, seus valores ligam-se a elementos como a biodiversidade, geodiversidade, beleza
cênica, assim como também se atrela às expressões culturais materiais e imateriais,
inseridas nos meios naturais (BEZERRA, 2011, p. 27).
Neste âmbito, Scifoni (2006b) ressalta que o patrimônio natural não se resume
apenas a vegetações nativas, ambientes e ecossistemas poucos alterados pela humanidade.
Para a autora, tais paisagens se estabelecem como uma memória social, uma vez que, é
objeto de ações socioculturais ao longo do tempo, as quais permitem a produção e
reprodução da vida humana.
De acordo com Teles e Steinke (2019), o Patrimônio Natural pode ainda ser
subdividido em Natural Abiótico e em Natural Biótico. Nesta concepção, o Patrimônio
Biótico seria aquele submetido a maiores medidas de proteção ambiental, uma vez que,
está ligado diretamente à biodiversidade. Já o Patrimônio Abiótico liga-se aos elementos
que conformam a geodiversidade. Sobre a atenção dada ao patrimônio biótico, Bezerra
(2011, p. 22) cita que:
Em relação à conservação dos processos da natureza, o foco principal é a
proteção do patrimônio vivo, dada a constante ameaça e o acelerado processo
de perdas ou extinção de espécies da flora e da fauna, o que compromete a vida
dos seres vivos no planeta. Os principais motivos que impulsionam a defesa
do patrimônio natural são evitar que se destruam os processos evolutivos
biológicos, construídos durante milhões de anos, os quais mantêm vivas as
espécies, inclusive o homem; promover a manutenção dos ecossistemas pelo
importante papel que desempenham na regulação do equilíbrio dos fenômenos
bioecológicos ocorridos na biosfera e pela disponibilização de recursos e
serviços ofertados ao bem-estar e ao desenvolvimento humano. Soma-se a isso,
128
o princípio básico maior da conservação da natureza, os motivos bioéticos,
entendidos como o dever moral do homem de não eliminar a vida de outros
seres vivos, nem os processos geofísicos que lhe dão sustentação, os quais se
constituem como legado das presentes e futuras gerações.
Em certa medida, o conceito de Patrimônio Natural atrela-se àquilo que Bovet Pla
(1992, p. 106) conceitua como paisagem natural: “El elemento dominante en estos
paisajes nunca sera el antrópico, aunque pueda estar presente. La dominancia
corresponderá a los elementos abióticos, a los bióticos, o a los dos simultáneamente”.
Assim sendo, não se exclui a possível existência de elementos antrópicos no âmbito do
Patrimônio Natural, entretanto, é notória a predominância dos elementos bióticos e
abióticos nesses cenários.
Considerando a ideia de patrimônio, Catão (2013) ressalta que, cresce o interesse
econômico acerca deste, bem como o direcionamento de políticas públicas com vieses
protecionistas. As áreas em que se encontram esses patrimônios são cada vez mais são
visadas por interesses de investimentos privados, os quais buscam uma ressignificação
enquanto valor de mercado para patrimônios, sejam naturais ou culturais, designando
novos usos destes para além de seus valores científicos, documentais, simbólicos e
afetivos. Neste sentido, o turismo pode ser apontado como uma dessas atividades que se
utilizam do valor patrimonial de uma determinada localidade.
Para o turismo, o patrimônio se estabelece enquanto um produto, o qual adquire
valor em função do acumulo histórico de valores em uma determinada localidade,
apresentando-se como um elemento singular e, consequentemente, despertando o
interesse de consumo por parte de diferentes demandas de turistas (CARLOS, 2017).
Acerca da apropriação de patrimônios para a atividade turística, Hintze (2013, p.
373) cita que:
[...] nem só da produção de bens materiais vive o capitalismo contemporâneo,
aliás, ele caminha para uma produção cada vez mais expressiva de signos, de
imagens de consumo e o turismo é estratégia privilegiada para esse
movimento. A apropriação e a produção de novas commodities a partir da ideia
de turismo são frenéticas. Portanto, cabe perguntar: o que qualquer coisa
precisa para ser um atrativo turístico? Praticamente tudo pode virar atrativo
para o turismo, bastando mostrar-se potencialmente como uma nova fonte de
lucros para o capital.
Na concepção de Hintze (2013), dentro deste contexto de associação patrimonial
com a atividade turística, o discurso oficial dos governos ganha protagonismo, uma vez
que, estes atuam na transformação da cultura e da natureza em commodity, aliando o
129
discurso conservacionista/preservacionista com os anseios do capital na conformação de
produtos turísticos.
Apesar da possibilidade de atribuir um caráter positivo na associação do Turismo
com a natureza, ou seja, na valorização de áreas de pouca intervenção humana e,
consequentemente, estimular sua conservação, tais práticas podem causar um efeito
contrário, uma vez que, a excessiva exploração destas áreas imbricada por um viés
puramente (ou prioritariamente) econômico pode acarretar na depreciação destes
patrimônios naturais.
Para Catão (2013), no turismo, o patrimônio é diretamente relacionado com a
criação de atrativos, produtos, roteiros e nos projetos de planejamento de destinos. Mais
especificamente acerca do patrimônio natural, pode-se indicar que este constitua
conjuntos naturais representativos, os quais se destaquem por suas feições visuais ou
científicas, ambos valores que podem ser abordados no desenvolvimento de atividades
ligadas ao Turismo de Natureza. Entretanto, conforme indica Robalo (2014), o valor de
tais patrimônios está interligado à conservação empregada a tais elementos, exigindo
assim cuidados ao incidir pressões de atividades humanas aos mesmos.
Considerando a abordagem teórica, a natureza enquanto patrimônio é tomada como
uma materialidade que toma forma na paisagem, de maneira que, essa materialização
permita aos seus observadores a percepção e compreensão da complexidade que envolve
tais patrimônios naturais. Em muitos casos, a chancela enquanto patrimônio natural é
instituída a partir da criação/delimitação/instituição de áreas protegidas, a qual é
legitimada por estatutos jurídicos, normatizando os territórios em questão e legitimando
a necessidade de conservação/preservação da natureza, a qual é relacionada com a
qualidade de vida e sobrevivência humana (PAES, 2016). APA Ilhas e Várzeas do Rio
Paraná (com uma área de 1.005.188,39 hectares e instituída em 1997) e Parque Estadual
Várzeas do Rio Ivinhema (com 73.345,15 hectares e estabelecida em 1998) na região do
município de Naviraí-MS. Áreas protegidas que denotam relevante composição biótica e
abiótica e, consequentemente, materializando por meio de seu patrimônio natural,
paisagens singulares no estado de Mato Grosso do Sul (figura 13).
130
Figura 13 - APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná
Autor: LIMA, 2020
Neste contexto, o patrimônio natural, no âmbito do Turismo de Natureza, seria a
principal fonte/matéria-prima no desenvolvimento da atividade, de maneira que,
possibilita o movimento de fluxos turísticos que objetivam algum tipo de contato com
este patrimônio natural, seja ele científico, interesse aventureiro, cênico ou ambiente
parcialmente modificado. Considerando ainda o patrimônio natural enquanto matéria-
prima, ressalta-se a importância de sua manutenção a fim de garantir a continuidade da
atividade.
Tal concepção converge com os apontamentos de Figueiró, Vieira e Cunha (2013),
os quais ressaltam que, o patrimônio natural, materializado na paisagem, não deixa de ser
um recurso, considerando que, é justamente o uso milenar e sustentável que em muitos
casos denota a singularidade de diversas paisagens do globo terrestre, justificando a
importância de sua conservação. Considerando tal assertiva, os autores op. cit. (p. 27)
citam que:
131
Estratégias e práticas conservacionistas que tenham por finalidade garantir a
perpetuidade de estruturas e funções paisagísticas relevantes não devem se
opor a qualquer forma de uso, mas regulá-las, direcionando-as para ritmos e
frequências compatíveis com a resiliência natural e cultural deste sistema.
De acordo com Catão (2013) e Scifoni (2006b), embora a nomenclatura
“patrimônio natural” tenha sido estimulada pela Unesco na década de 1970, sua
concepção é muito mais antiga, atrelada à preocupação de salvaguarda de monumentos
que, no início, ligavam-se aos monumentos históricos e artísticos, mas a posteriori
abarcou também a ideia de monumento natural. A convenção da UNESCO em 1972
resultou formatação documento intitulado Convenção do Patrimônio Mundial, Cultural e
Natural. No documento, a Unesco (1972, p. 2) estabeleceu enquanto patrimônio natural:
Os monumentos naturais constituídos por formações físicas e biológicas ou por
grupos de tais formações com valor universal excepcional do ponto de vista
estético ou científico; As formações geológicas e fisiográficas e as zonas
estritamente delimitadas que constituem habitat de espécies animais e vegetais
ameaçadas, com valor universal excepcional do ponto de vista da ciência ou
da conservação; Os locais de interesse naturais ou zonas naturais estritamente
delimitadas, com valor universal excepcional do ponto de vista da ciência,
conservação ou beleza natural.
Considerando a definição proposta pela Unesco, Pereira (2018) relaciona sua
elaboração a partir da ligação do patrimônio natural com a condição estética da paisagem,
valorização cênica, bem como uma visão acerca da complexidade sistêmica que envolve
o funcionamento da natureza, destacando seus valores quanto a qualidade visual, ao
aspecto científico e a conservação.
Acerca desta premissa, Fernández (2011) destaca que, toda paisagem possui um
apelo cênico em maior ou menor grau, porém este não deve ser o único parâmetro a ser
considerado para estabelecer proteger ou não uma determinada paisagem, ou seja, não só
aquelas paisagens extraordinariamente belas são dignas de proteção legal. Neste âmbito,
para que uma paisagem seja elencada como passível de proteção do Estado, esta deve
apresentar alguma relevância no campo histórico, social, cultural, científico, ambiental,
econômico ou, claro, estético, uma vez que, é necessário pensar que a paisagem cumpre
funções na sociedade e, portanto, tais relevâncias devem ser levadas em consideração ao
determinar se essa função será cumprida ao se estabelecer tais medidas protetivas.
Em sua concepção, Bezerra (2018) salienta que a biodiversidade é considerada um
dos pilares que edificam o conceito de patrimônio natural, uma vez que, esta, relaciona-
se com as diversas formas de vida inseridas nos processos da natureza, englobando as
132
diferentes espécies de vegetal, animais e micro-organismos, assim como o conjunto de
ecossistemas estabelecidos.
Percebe-se então uma forte associação da conformação de tais patrimônios ao
conjunto natural dos diferentes elementos materializados nas paisagens, os quais
determinam diferentes aspectos relevantes a serem considerados, seja a diversidade de
fauna e flora, as diferentes formas de relevo, a variedade hídrica, as diferenças climáticas,
as dinâmicas territoriais, dentre outros aspectos.
Com relação a evolução da definição de patrimônio natural no Brasil, Catão (2013,
p. 65) cita que:
No Brasil, é na Constituição Federal de 1937 que aparece pela primeira vez o
termo monumento natural. Em seu artigo 134 está descrito que os atentados
contra os monumentos históricos, artísticos e naturais seriam equiparados aos
cometidos contra o patrimônio nacional. A visão de monumento natural
preponderantemente estética parece ter sido a que inspirou hegemonicamente
a construção das leis de proteção no Brasil. Essa perspectiva se contrapõe a
outra ideia de patrimônio, mais voltada à tradição, aos costumes e às
lembranças coletivas.
Apesar dos esforços desenvolvidos no Brasil na tentativa de estimular as paisagens
quanto patrimônio, é notável a dificuldade do país em promover essa valorização entre
seus cidadãos. Algo que pode ser relacionado com essas dificuldades é a própria
legislação ambiental, a qual se mostra frágil em um país de pouco ou nenhuma
valorização cultural da paisagem, prova disso é a valorização de práticas políticas
econômicas atreladas aos pressupostos de desenvolvimento, as quais privilegiam a
instalação de grandes empreendimentos, os quais muitas vezes, contraditoriamente, são
causadores de variados impactos negativos que alteram as paisagens (SOUZA, 2019).
Scifone (2006a) ressalta outra dificuldade, uma vez que, considera que o processo
de valorização patrimonial no Brasil apresenta-se como um trâmite extremamente
desigual, de maneira que, na maioria das vezes, são privilegiados enquanto patrimônios
apenas aqueles bens considerados de magnitude monumentais ou que denotem a
possibilidade de exploração por parte do mercado turístico. Assim sendo, a possibilidade
de fomento de diferentes patrimônios naturais nos territórios pode estar atrelada a valor
de uso/exploração atribuídos principalmente pelos setores políticos e econômicos. Tal
premissa corrobora com a importância territorial do patrimônio/paisagem, apontada por
Jiménez (2016, p. 368):
“El patrimonio territorial, el paisaje, se convierten así en un recurso al
servicio del desarrollo y se integra en las políticas de ordenación territorial
133
como se ha podido comprobar con las propuestas incluidas en diferentes
planes de ordenación territorial a escala regional [...]l”.
Assim sendo, a partir de suas diferentes interações de fatores naturais e humanos e,
por meio do estabelecimento de políticas territoriais, o patrimônio pode ser entendido
como um importante fator impulsionador de desenvolvimento regional e local. Porém,
conforme alertar Luchiari (2001), é importante atenta-se para a exclusão social que pode
ser reproduzida em função do uso seletivo do território. Para a autora op. cit. (p. 19)
“Hoje, a preservação representa a elitização social na seletividade dos lugares. Apenas os
que puderem pagar pelas paisagens naturais idealizadas no imaginário social
contemporâneo ganharão a hegemonia nessa nova configuração territorial”. Tal premissa
coloca em evidencia os antagonismos entre a preservação da natureza e o
desenvolvimento social.
Exemplo desta lógica são os diferentes direcionamentos do território sul-mato-
grossense, uma vez que, de acordo com as diretrizes Zoneamento Ecológico Econômico
(MATO GROSSO DO SUL, 2009), aponta-se a valorização de áreas como o Pantanal e
a Serra da Bodoquena, em detrimento de áreas como Serra de Maracaju que, apesar
também apresentar relevantes características bióticas e abióticas, é direcionada ao
desenvolvimento de atividades ligadas a agricultura e pecuária, como exemplificado na
porção central do Ícone de paisagem Serra de Maracaju, nas imediações do distrito de
Piraputanga-MS. Na serra, é possível encontrar importantes e relevantes áreas
conservadas, dotadas de elementos singulares e diversidades de elementos no que tange
o relevo, vegetação e recursos hídricos (figura 14).
Figura 14 - Porção central do Ícone de paisagem Serra de Maracaju
134
Autor: LIMA, 2019
Considerando as abordagens a nível mundial e de Brasil, Scifoni (2006a) indica ser
possível compreender duas direções acerca da ideia de patrimônio natural. Na esfera
mundial, o termo se estabelece enquanto expressão ligada a grandiosidade e beleza,
aspectos relacionados com a monumentalidade e com a exaltação estética. Assim, outro
elemento vem à baila: a intocabilidade, considerando a necessidade poupar estes
conjuntos patrimoniais de intervenções humanas. Por outro lado, no Brasil, o patrimônio
natural possui uma maior associação com a sociedade, tendo intrínsecas relações com as
práticas sociais e memórias coletivas. Nesta dualidade de acepções do patrimônio natural
em âmbitos mundial e brasileiro, a autora op. cit. (p. 58) lembra que “Não há um único
discurso, nem consenso. São diferentes concepções de patrimônio que podem ser
compreendidas sob dois princípios: o da “monumentalidade” e o do “cotidiano”.
Há também outro significado que aparece no Brasil a partir de algumas experiências
regionais: o patrimônio natural passou a ser entendido como conquista da sociedade, com
um significado ligado às práticas sociais e à memória coletiva; portanto, um patrimônio
natural que, antes de tudo, faz parte da vida humana e não algo que a ela se opõe
(SCIFONI, 2006a, p. 58).
Considerando este ideário de patrimônio natural, Vieira e Verdum (2019) lembram
que, historicamente, algumas sociedades buscaram organizar-se em seus países tratativas
de proteção de fauna, flora, sítios geológicos, arqueológicos e conjuntos paisagísticos,
135
atuando na criação de reservas, parque nacionais e identificando/valorizando
monumentos naturais.
Após essa primeira etapa local, buscou-se a organização em escala macro, através
da criação de organizações internacionais, realização de encontros mundiais e
estabelecimento de regulações jurídicas nos referidos âmbitos. Ressalta-se que, em
grande parte dos países, a implantação de áreas protegidas ocorreu por imposição de
organismos internacionais.
Assim sendo, os Estados passaram a atuar cada vez mais na participação e
ratificação de convenções internacionais e, posteriormente, aplicar suas diretrizes em
âmbito nacional. Tais aplicações suscitaram a proteção de paisagens, monumentos
naturais, fauna e flora, sendo abordadas não de maneira individual, mas sim dentro do
contexto das legislações e convenções que contemplam a ideia de patrimônio mundial,
instituindo áreas protegidas como parques nacionais (relacionados atualmente a
denominações como unidades de conservação, áreas naturais protegidas ou simplesmente
áreas protegidas) (VIEIRA; VERDUM, 2019).
No que tange a relação do patrimônio natural e sua preservação/conservação, Vieira
e Verdum (2019) assinalam que, a beleza cênica das paisagens estruturadas a partir desses
patrimônios é um importante parâmetro a ser considerado na planificação e gestão
ambiental destes locais, possibilitando garantir a manutenção de determinadas paisagens,
biodiversidade, hábitats e ecossistemas. Além disso, a preservação, conservação e
restauração dos patrimônios também podem trazer vantagens econômicas e sociais.
Conforme aponta Vieira (2008), no âmbito da atividade turística, é possível
compreender que, as paisagens ditas “naturais” possibilitam uma ampla gama de
características a serem apropriadas pelo turismo, como por exemplo: a originalidade e
diversidade morfológica; a presença de relevantes cursos hídricos; qualidade do ar; a
variabilidade e qualidade de vegetação original da área; bem como a presença harmônica
de comunidades tradicionais que ocupam tais paisagens (VIEIRA, 2008). Acerca das
possibilidades de usufruto dos patrimônios naturais para a atividade turística, Vieira
(2008, p. 40) cita que:
[...] a valorização dos factores naturais, inerentes a estes espaços de montanha
e a estas paisagens peculiares, tem constituído uma mais valia na sua promoção
enquanto área de lazer, área privilegiada para a prática de determinados
segmentos específicos de turismo e mesmo para a prática de desportos,
considerados de natureza ou mesmo “radicais”, que encontram aqui condições
excepcionais para a sua prática.
136
A apropriação do patrimônio natural para atividade turística associa-se a um
fenômeno contemporâneo, associado ao relevante crescimento do turismo enquanto
atividade econômica em âmbito global. É cada vez mais comum a exploração de áreas
ditas “naturais” para satisfazer os anseios de turistas e visitantes (SCIFONI, 2006b).
Entretanto, Vieira (2008) ressalta que interesse do geógrafo na valorização do
Patrimônio Natural extrapola a mais-valia dessas paisagens para o uso turístico, podendo
ser relacionada também com outras atividades humanas, como por exemplo, atividades
ligadas a subsistência de populações tradicionais.
Neste âmbito Catão (2013) lembra que, apesar dos discursos protecionistas da
natureza, leis, decretos e políticas públicas, uma outra variável tem sido trazida à baila
nas discussões da temática: o envolvimento de povos indígenas e populações tradicionais.
Comumente, o termo patrimônio está ligado a outras terminologias como legado,
patrimônio natural, recursos naturais, dentre outras, entretanto, percebe-se cada vez mais
que estas variações mantém relações com aqueles que direta ou indiretamente estão
associados a tais ambientes, como por exemplo os povos indígenas e comunidades
tradicionais. Tal premissa deve ser considerada a partir da ideia de biodiversidade, tendo
em vista que, tais grupos possuem importantes conhecimentos acerca de tais ambientes.
Assim, a manutenção e conservação do patrimônio pode ser atrelada a manutenção
cultural destes povos, mesmo que em certa medida os conhecimentos, visões e direitos
dessas populações sejam negados por alguns pesquisadores e cientistas da natureza. Nesta
relação entre conservação/proteção do patrimônio natural e o uso social, a autora op. cit
(p. 69) afirma que:
Da mesma forma, subjacente à ideia de preservação e conservação da natureza,
está a concepção de que os diversos usos sociais dessas áreas, ou seja, as
apropriações desse patrimônio, feitas por diversos grupos sociais, são
consideradas por outros como perdas, destruição ou degradação. A
recuperação e preservação dos bens são, portanto, a outra face da moeda.
Ainda acerca sobre a dicotomia entre a preservação/conservação e o uso social do
patrimônio natural, Paes (2016, p. 26) chama a atenção:
A questão não é negar a validade dos processos de conservação da natureza
trazidos pela questão ambiental contemporânea, mas assumir que existem
várias formas de concepção da natureza que devem ser respeitadas. Claro que
devemos considerar que já caminhamos muito em relação a um primeiro
modelo mais preservacionista e biocentrado; mas ainda teríamos muito a
aprender com o etnoconhecimento das populações tradicionais constituídos na
escala do lugar, e mesmo com o simples fato de reconhecer que também essas
populações são nosso patrimônio histórico e não apenas a sua natureza agora
ironicamente sacralizada por nós.
137
Como se pode ver, é importante atrelar a ideia de patrimônio natural com as
comunidades tradicionais que permeiam as referidas áreas, uma vez que, estes não apenas
fazem parte destas paisagens, mas também possuem importantes conhecimentos acerca
dos elementos bióticos e abióticos que compõem tais conjuntos paisagísticos, podendo
atuarem como importantes atores no desenvolvimento da atividade turística, além de
poderem ser beneficiados enquanto geração de divisas decorrente do turismo.
No território sul-mato-grossense, as relações territoriais com comunidades
tradicionais são muito fortes, como por exemplo a comunidade ribeirinha da Serra do
Amolar e das Varzeas do rio Ivinhema/Ilhas do rio Parana, a aldeia limão verde na porção
central da Serra de Maracaju, da comunidade indígena Kaiowa Ñande Ru Marangatu na
proximidade do município Antônio João, dentre outros exemplos. Exemplificada na
imagem aérea da figura 15, a comunidade indígena Kaiowa Ñande Ru Marangatu na
porção sul da Serra de Maracaju, município de Antônio João-MS. A considerar um
possível desenvolvimento do Turismo de Natureza nesta área, a comunidade local pode
ser inserida no planejamento e execução da referida prática turística, auxiliando no uso
do patrimônio natural associado ao ícone de paisagem Serra de Maracaju.
Figura 15 - Comunidade indígena Kaiowa Ñande Ru Marangatu na porção sul da Serra
de Maracaju.
Autor: LIMA, 2019
138
Considerando a necessidade de reconhecer a complexidade existente na gestão e
uso do patrimônio natural, Paes (2016) avalia que, nos dias atuais, a valorização das
paisagens naturais é tratada cada vez mais de maneira priorizada nas práticas sociais,
políticas e econômicas, exigindo assim em contrapartida cada vez mais um entendimento
para além dos aspectos técnicos e operacionais que envolvem esses patrimônios, visando
contornar conflitos de interesses, adequando a apropriação territorial e respeitando as
representações simbólicas que os envolvem. Já para Bezerra (2018, p. 55), os meios
técnicos-científicos devem ser priorizados:
Os sistemas sociais, econômicos, políticos e institucionais criados pelo homem
passam a incorporar paulatinamente a consciência ambiental e o impulso para
o desenvolvimento de meios técnico-científicos que contribuam para o
processo de gestão da conservação do patrimônio natural.
Para todos os efeitos, é importante ressaltar que, tanto os meios técnico-científicos,
quanto considerar as especificidades das relações territoriais que envolvem os
patrimônios naturais, devem ser considerados como importantes elementos a serem
abordados na gestão e uso dos referidos patrimônios. Se por um lado o conhecimento
científico é importante na condição técnica, as experiências empíricas e a compreensão
da realidade posta são fundamentais no ponto de vista operacional dos usos do patrimônio
natural.
Face ao exposto, tais medidas evitam apropriações indevidas dos patrimônios por
parte da atividade turísticas, as quais Aguiar (2005) indica que, por vezes, o turismo atua
de maneira a esconder as relações desse acervo patrimônio com o lugar onde está
estabelecido, bem como suas relações com quem vivenciam a rotina destas destinações,
ou seja, os indivíduos autóctones. Neste contexto, na maioria dos casos, o turismo
reapropria o patrimônio natural, de maneira a requalificar os recursos naturais, alterando
a lógica original de uso destes no lugar e por seus indivíduos locais. À medida que que o
autor op. cit. tece tais críticas a atividade turística, propõe a necessidade do florescer de
uma nova lógica que oriente o desenvolvimento do turismo, de maneira que, os indivíduos
que promovem a atividade turística e determinam a inserção de equipamentos, elaboram
regras, políticas e planos de marketing turísticos, passem a incluir neste processo de
implementação turística os turistas e os moradores locais dos referidos destinos.
Acerca dos conflitos supracitados nas apropriações de patrimônios pelo turismo,
Scifoni (2006b) destaca que, modalidades ligadas ao turismo de massa têm
desconfigurado o significado destes patrimônios, uma vez que, nestas modalidades, a
139
compreensão da importância destes patrimônios não se apresenta como foco das
atividades desenvolvidas, fato que, acarreta no usufruto de tais conjuntos patrimoniais
como meros objetos de consumo e mercadoria. Sobre tal superficialidade de uso dos
patrimônios no âmbito do turismo de massa, Scifoni (2006b, p. 66) relata que:
O turismo de massa patrocina a visitação aos patrimônios sob o pretexto de
lazer, distração ou até mesmo para demonstrar status cultural e social. Mas à
medida que o patrimônio é incorporado aos roteiros turísticos nessa dimensão,
perde-se aquilo que constitui a maior riqueza no seu contato, ou seja, a sua
função cognitiva, como suporte de conhecimento histórico-cultural ou natural
do lugar.
Dada as relações de apropriação do patrimônio natural pelo turismo, Rodrigues
(2016) explica que, essa posse tomada pela atividade turística é direcionada pelas políticas
públicas de turismo, as quais podem dar diferentes direcionamentos quanto aos seus usos.
Por um lado, ao tomar o patrimônio natural nas práticas turísticas, é possível despertar
sentimentos de pertencimento, uma vez que sejam aplicadas práticas que estimule a
sensibilização e responsabilização do indivíduo com relação a uma mudança de atitude
para com a natureza. Em contrapartida, o patrimônio natural pode ser tomado como um
elemento segregado, ou seja, que pode ser acessado por poucos, de maneira que, os
indivíduos continuem acomodados acerca de suas responsabilidades na gestão e
preservação/conservação da natureza.
No caso deste estudo voltado ao reconhecimento de ícones de paisagem em Mato
Grosso do Sul, os quais são caracterizados em função dos conjuntos de patrimônios
naturais que os moldam, indica-se que, apesar da premissa inicial ser o mapeamento e a
avaliação das possibilidades de uso destas áreas em atividades do segmento de Turismo
de Natureza, espera-se que, tais verificações e análises subsidiem o ordenamento
territorial, principalmente naquilo que tange a atividade turística, possibilitando que as
comunidades e atores locais possam ter subsídios para direcionar os usos das terras,
permitindo valorizar a condição social, cultural/simbólica, ambiental e econômica dos
envolvidos.
É oportuno frisar que, a discussão teórica proposta nos capítulos subsequentes
acerca do termo “ícone de paisagem” fundamenta-se diretamente com a ideia de
patrimônio natural, de maneira que, este ou o conjunto destes patrimônios, em função de
sua singularidade, possam subsidiar a concepção de conjuntos paisagísticos enquanto
ícones de destaque no estado de Mato Grosso do Sul.
141
3. CAPÍTULO III - ÍCONES DE PAISAGEM: O CONCEITO E SUAS
POSSIBILIDADES
O presente item vislumbra a constituição conceitual de um termo que, a priori,
apresenta-se como fundamental nos desdobramentos da pesquisa: ícone de paisagem. Em
suma, essa expressão, até o momento, não é abordada por nenhum arcabouço teórico,
constituindo-se assim em uma discussão inédita. Porém, ao mesmo tempo em que se
destaca o ineditismo do trato deste conceito, ressalta-se o desafio e, consequentemente,
as dificuldades na busca de elaboração e consolidação do termo “ícone de paisagem”.
Assim sendo, espera-se que as discussões tratadas aqui na tentativa de validação do
referido conceito não sejam tomadas como verdade absoluta, mas sim que, estas reflexões
iniciais sirvam como uma experiência embrionária para novas perspectivas,
aprimoramentos e fortalecimento conceitual, de maneira que, seja possível a consolidação
da expressão ícone de paisagem e que esta possibilite e facilite abordagens teóricas da
categoria analítica da paisagem nas diversas áreas do conhecimento, seja na Geografia,
seja em áreas afins como o Turismo.
3.1 Ícones de paisagem como relevantes representações
A atividade turística é reconhecidamente um processo consumidor de paisagens,
sejam urbanas ou rurais, as quais em função das mais variadas motivações, despertam o
desejo do turista em consumi-las. Assim sendo, acredita-se aqui na possibilidade
estabelecer um termo que simbolize o enaltecimento de conjuntos paisagísticos,
facilitando a identificação e mapeamento de relevantes paisagens presentes em diferentes
porções territoriais, permitindo assim maiores possibilidades de orientação de políticas
públicas ligadas principalmente no que tange às dinâmicas territoriais das referidas áreas.
Dentro do processo de enaltecimento das paisagens, podemos citar a reflexão de
Hintze (2013), o qual discute a valorização dos territórios pela atividade turística. Para o
autor, op. cit. (p. 373): “Quanto mais escasso o bem, mais valorado fica. Quanto mais
poluído o ar da cidade de São Paulo, mais caro o ‘ar puro’ das ‘Chapadas do Brasil”.
Nesse contexto, a possibilidade de estabelecer ícones de paisagem em Mato Grosso do
Sul se apresenta como uma ferramenta que valoriza os conjuntos paisagísticos singulares
e escassos do estado.
142
Para iniciar esta discussão, julga-se necessário compreender o significado puro da
palavra ícone e, para isso, sintetiza-se no quadro 1 as acepções designadas por dicionários
para o referido vocábulo. Em dicionários como Ferreira (2001), Fernandes, Luft e
Guimarães (2001) e Houaiss e Villar (2001), é possível encontrar algumas definições para
o termo, tais como: “Símbolo gráfico que representa um objeto pelos seus traços mais
característicos”; “Figura apresentada na tela do computador us. para identificar e/ou
acionar um programa ou um recurso de programa”; “Imagem pintada da Virgem, ou dos
santos, na igreja russa e grega”; “Algo ou alguém que se distingue ou simboliza
determinada época, cultura, área do conhecimento”; “Imagem ou ídolo”; “Signo que
expressa uma relação de semelhança ou analogia com o objeto que designa ou
representa”; dentre outras definições. A partir dessas definições, é possível compreender
as diferentes vertentes que a palavra ícone abrange e, consequentemente, torna-se factível
o estabelecimento de uma nova expressão por meio da junção dessa palavra com outras,
neste caso, ícone + de + paisagem.
Quadro 1 – Atribuição de significados para a palavra ícone nos dicionários
Fontes: FERREIRA (2001, p. 370); FERNANDES, LUFT e GUIMARÃES (2001, p. 290); HOUAISS e
VILLAR (2001, p. 367).
Organização: LIMA (2020)
143
Considerando as definições apresentadas pelos dicionários, é possível inferir o
apontamento de quatro linhas de pensamento. A primeira se relaciona com a ideia de
ícone como representação religiosa, relacionando-se com divindades da vertente
religiosa. O segundo aspecto trata das simbologias ou imagens associadas a informática.
A terceira variação se conecta aos estudos de linguísticas, os quais tratam do ícone como
signo de representação, em semelhança ou analogia a determinados objetos. Por fim, a
quarta abordagem trás o significado que mais se aproxima do ideário de ícone de
paisagem, uma vez que, designa a palavra ícone como sentido figurado, de maneira a
destacar e/ou distinguir algo ou alguém em função de características relevantes dentro de
um universo comum. Sobre os diferentes significados atrelados a palavra ícone, Shibaki
(2010, p. 7) relata que:
A própria palavra ícone, como categoria de análise, é complexa, sobretudo
quando remete a diferentes ramos de estudo e abordagens, como no caso dos
sinais utilizados pela área da Informática e Internet que, por meio de um
pequeno desenho, identificado como ícone, é usado, geralmente, para
representar um atalho para um arquivo ou programa específico, porém, com
significado conceitual muito diferente aos abordados pela Semiótica ou
utilizados indiscriminadamente por setores ligados ao Marketing.
Para Paiva (2014), o termo ícone ainda conserva seu significado nos tempos atuais,
o qual tem origem no grego (eikón), e se relaciona com o ideário de imagem. Associado
historicamente a imagens religiosas na Idade Média, o ícone mantém uma relação direta
como representação, seja em imagem, figura, retrato ou ilustração.
Além disso, Shibaki (2010) e Paiva (2014) lembram ainda que a palavra ícone se
refere a pessoas que se destacam em diferentes contextos sociais (seja em âmbito local
ou global), e ainda a objetos que se destacam tanto no trato de estudos da semiótica, como
também podem estar atrelados a sua exaltação visual. Assim sendo, o autor op. cit. (2010,
p. 18) discorre sobre a variabilidade dos significados atribuídos ao vocábulo, citando o
marketing como importante elemento a ser considerado no uso do termo:
A banalização da palavra ícone está presente em um cenário em que o
marketing predomina, ou seja, além de sua propagação, sobretudo na internet,
com suas funções específicas, tudo o que se deseja expor de forma exacerbada
é nomeado ícone, como, por exemplo, ícone da moda, ícone da modernidade,
ícone da música, cujo significado pode ser a imagem de uma pessoa, um objeto,
uma tendência. Portanto, nem sempre o uso da palavra ícone, nestas ocasiões
citadas, remete ao significado da palavra, que pode ser usada somente de forma
a valorizar a exaltação da pessoa, objeto ou tendência em questão.
Destarte, o vocábulo ícone é recorrentemente utilizado na promoção e valorização
de imagens. Mesmo considerando a proximidade com os estudos voltados a semiótica, a
designação do conceito de ícone atualmente contempla o processo de valorização da
144
cultura visual, o qual baliza o processo das investigações imbricadas nesse contexto
sociocultural (SHIBAKI, 2010; KUDELSKA, 2015).
Nas considerações de Cauquelin (2007), percebe-se a relação do ícone como
elemento de sedução e persuasão, que busca a união, apelo ou convocação de uma
unidade material. Assim sendo, o ícone pode ser reconhecido para além de uma simples
representação imagética, mas também como a proposição de um
reconhecimento/exaltação de uma totalidade.
Essa concepção permite validar a possibilidade de atrelar a ideia de ícone com a
tentativa de valorização e exaltação de conjuntos paisagísticos, de maneira a destacar
características relevantes dos elementos que compõem esses complexos, cujas
particularidades podem qualificar essas paisagens, seja no âmbito funcional, seja de
qualidade visual para o desenvolvimento de atividades ligadas ao Turismo de Natureza.
Nessa perspectiva, Cauquelin (2007, p. 74) procura destacar a imagem-semelhança
estabelecida entre a natureza e a paisagem, de maneira a conectá-las para além de uma
representação imagética e, o ícone, corresponderia a materialização dessa paisagem como
conjunto natural:
Na natureza em que sua apresentação é de ordem icônica, a paisagem
responderá, com efeito, à regra de separação e de substituição dos termos de
uma relação: será ícone da Natureza, e não semelhante a ela; será construída,
artificialmente produzida para convocar a natureza a preencher o vazio que o
traço perigráfico estende ao olhar. Assim é que se tornou possível a relação
paisagem-natureza como a de uma verdade indizível e de seu correspondente
gráfico, de uma voz ausente e do nome pronunciado. Relação de homonímia.
Para auxiliar o fortalecimento da expressão ícone de paisagem, buscou-se angariar
referenciais teóricos que embasem as discussões pretendidas. Entretanto, conforme já
citado em parágrafos anteriores, poucos materiais tratam da relação do termo ícone
diretamente com os ambientes ditos naturais (ou seja, documentos em língua portuguesa
ou estrangerias que discorram objetivamente sobre o termo “´ícone de paisagem” ligada
a vertente da natureza). Todavia, apesar da carência de materiais que relacionam a
natureza a essa vertente, foi possível captar alguns documentos que tratam da perspectiva
de ícone, ainda que a partir de um viés da paisagem urbana.
Nessa medida, busca-se, mesmo em meio as dificuldades de atrelar o ideário de
ícone de paisagem a natureza, extrair concepções do trato de ícones urbanos que possam
ser aplicados a expressão discutida nesta seção, de maneira que, seja possível estabelecer
correspondências no trato da paisagem urbana e natural e, consequentemente, vislumbrar
145
a possibilidade de valorização dos relevantes conjuntos paisagísticos presentes no
território sul-mato-grossense.
No caso das cidades, Fernandes (2009) frisa que, as paisagens são formadas por
ícones que as diferenciam, trazendo singularidades que, inclusive, inserem-nas em
diferentes rotas turísticas. Assim sendo, muitas cidades são identificadas e associadas a
ícones bastante específicos, os quais são utilizados em imagens representativas desses
ambientes urbanos, seja através de diferentes linguagens textuais, seja por meio de
reproduções no cinema, na fotografia, peças publicitárias ou até mesmo simples folhetos
promocionais.
Considerando o Rio de Janeiro, cidade referência no que tange a associação
paisagística com a atividade turística, indica-se como exemplos desses ícones da
paisagem urbana a Floresta da Tijuca, o Jardim Botânico, o Morro do Corcovado e o Pão
de Açúcar, os quais se consolidaram como cartões-postais paisagísticos da cidade carioca.
Assim sendo, esses locais se apresentam como os principais ícones associados ao
cotidiano da paisagem urbana da Cidade Maravilhosa (MALTA, 2018).
Para Cardoso (2016), no caso do Morro do Corcovado soma-se ainda a associação
do Cristo Redentor, atribuindo ainda mais valor ao referido ícone, visto a
representatividade dessa paisagem inclusive em âmbito internacional. Por outro lado, a
autora op. cit. ressalta que, as favelas do Rio de Janeiro também podem ser consideradas
ícones, uma vez que, a partir da modificação da paisagem causada pela ocupação de
encostas e morros tal dinâmica associa a forma de uso e ocupação dessas áreas como um
ícone de manifestação social.
Ao elencar ícones da paisagem urbana internacional, Monnet (2006) se recorda do
letreiro de Hollywood em Los Angeles/EUA, da Torre Eiffel em Paris/França ou do Anjo
(monumento da independência) na cidade do México, considerados elementos icônicos
tanto no campo visual quanto simbólico, nas respectivas cidades. Nesse sentido, o autor
op. cit. ressalta a importância e interdependência entre o simbolismo e o ícone, para que
haja uma eficiente valorização do referido conjunto ou objeto, buscando equalizar sua
referência tanto para autóctones, quanto para os passantes, independente da percepção
simbólica que cada indivíduo atribuí ao ícone.
Destarte, através dos sinais visíveis de apropriação atores sociais, individuais ou
coletivos, fundamentam sua apropriação espacial, bem como são percebidos por outros
indivíduos externos ao contexto em questão. Assim sendo, considerar a gestão do espaço
físico e suas representações perpassa pelo reconhecimento da produção social dos
146
territórios (territorialização), de seus significados (simbolização) e do reconhecimento
de ícones representativos (iconização). Considerar essas três vertentes é importante, uma
vez que, tendo em vista o campo de poder instável, ou seja, de diferentes supremacias
institucionais ou econômicas, a produção/estabelecimento de ícones pode ser alvo de
manipulação de atores dominantes específicos, desconsiderando os demais atores sociais
(MONNET, 2006).
Entretanto, o valor simbólico desses ícones de paisagem depende de uma série de
variáveis, as quais se transformam no tempo e espaço. No século XXI, por exemplo, é
possível inferir que o conceito de ícone de paisagem se alia ao papel de prestação de
serviços ecossistêmicos7. Nessa concepção, percebe-se que a ideia de simbólico não está,
necessária ou diretamente, ligada aos valores empreendidos pelos autóctones.
No caso da atividade turística, a exaltação de ícones de paisagem não deve ser um
instrumento puramente econômico, uma vez que, mesmo que o turismo seja considerado
um fator de movimentação de divisas ele deve estar em consonância com outros interesses
que envolvem a valorização dos conjuntos paisagísticos, perpassando não apenas pela
geração de renda para a população local, mas também primando pela conservação de
áreas naturais, valorizando as relações socioculturais, bem como propiciando a
aproximação de visitantes/turistas da realidade dos territórios onde estão localizados esses
ícones.
Partindo desses pressupostos teóricos, é possível inferir a importância dos ícones
não apenas como conjuntos materiais a serem absolvidos e utilizados pelo turismo na
produção e consumo de suas atividades, mas também como importantes formas de
representação carregadas de simbolismo, aliando-as às imagens contemporâneas dos
locais tidos como turísticos (PAIVA, 2014).
Com referência ao processo de delimitação de ícones urbanos, Shibaki (2010)
debate acerca dos processos que envolvem as imediações do referido ícone, uma vez que
esse é estabelecido como síntese, amparado por uma significação que permite divulgar a
totalidade do entorno que o envolve, neste caso, os demais elementos urbanos que
contextualizam esse ícone. Entretanto, a autora op. cit. (p. 13) cita justamente a
7 Por serviços ecossistêmicos, entenda-se a prestação e disponibilização de recursos, e serviços que são
fornecidos diretamente ou não. Ou seja, todo o arcabouço de funções que a natureza possui que são
indispensáveis para a reprodução da vida no planeta. Para mais informações, acessar:
https://tendenciasemse.com.br/o-que-sao-servicos-ecossistemicos/.
147
problemática da desconsideração, em muitos casos propositalmente, das realidades do
entorno em que os ícones estão inseridos:
Levando em conta que a eleição e o uso de certos ícones, tanto por órgãos
públicos quanto por agentes privados da atividade turística são formas de
seleção e, que, portanto, são excludentes, acabam por não revelar outras facetas
da metrópole, ou seja, tem-se como hipótese o fato de que o que é exaltado e
mostrado é sempre um fragmento previamente selecionado, ou seja, uma forma
de ocultação, de acordo com intencionalidades implícitas que estão, neste caso,
também vinculadas à produção e apropriação do espaço, servindo os ícones
urbanos como elementos legitimadores de uma identificação, tanto por parte
de visitantes como por parte dos moradores, sobretudo em relação à sua
memória coletiva, podendo, inclusive, ser alterado o grau de sua importância,
de acordo com os movimentos socioeconômicos e políticos que são
estabelecidos.
Tendo em vista principalmente o setor ligado ao turismo, a apropriação dos
referidos ícones está associada aos anseios desse mercado, o qual se pauta na reprodução
e divulgação dos ícones como ferramenta de marketing, vislumbrando potencializar a
promoção de destinos turísticos (SHIBAKI, 2010). Sobre a relação dos ícones com a
atividade turística, Paiva (2014, p. 107) afirma que:
Na contemporaneidade, a lógica do consumo reforça a relação entre o turismo,
os ícones urbanos e arquitetônicos e a imagem turística, condicionada pelas
práticas sociais (econômicas, políticas e cultural-ideológicas) da globalização
que têm direcionado sobremaneira o planejamento, a gestão e as intervenções
urbanas em consonância com o processo de espetacularização da arquitetura e
valorização da sua carga simbólica.
Um exemplo dessa interação dos ícones com o turismo é apontado por Paiva (2014),
quando lembra que as experiências que envolvem as viagens do setor de turismo podem
ser “eternizadas” através da aquisição de souvenires, que buscam materializar a
representação de conjuntos paisagísticos relevantes, seja no âmbito urbano, seja no de
ambientes naturais, como réplicas que podem ocorrer por meio da confecção de maquetes,
chaveiros, quadros, artesanatos, dentre outros, como exemplificado na figura 16: A)
Conjunto de diferentes souvenires baseados na representação do Monte Fuji, em
Honshu/Japão; B) Escultura de madeira da Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro/Brasil; C)
Quebra-cabeças 3D da Muralha da China, linha Leste/Oeste da China; D) A Torre Eiffel
em Paris/França talvez seja um dos souvenires mais reconhecidos no mundo, sendo
reproduzida em diferentes formas, como por exemplo, chaveiros.
148
Figura 16 - Elementos paisagísticos como motivadores da produção de souvenires
Organização: LIMA, 2019
Tomando esses exemplos, percebe-se a capacidade dos ícones de paisagem (sejam
eles urbanos, naturais ou mistos) para se tornarem conjuntos paisagísticos de relevante
expressão, a ponto de serem transformados em artefatos representativos na atividade
turística dos referidos territórios.
Além disso, Paiva (2014, p. 113) ressalta ainda a importância da evolução
tecnológica e seu uso, pela atividade turística, na representação de tais paisagens: “A
representação, interpretação e circulação dos ícones na atualidade estão condicionadas
pelos avanços tecnológicos na produção e divulgação de imagens, associadas à lógica do
consumo dos lugares e imagens que caracterizam o turismo contemporâneo”, assim como
demonstrado na figura 17, a qual ilustra o exemplo da ferramenta de navegação 3D no
Monte Everest. A ferramenta possibilita uma experiência de contemplação deste conjunto
de paisagem, o qual pode ser associado como ícone, vista sua singularidade paisagística
e seu apelo como referência de experiência turística. Com tais tecnologias surgem cada
vez mais ferramentas que permitem uma aproximação dos ícones com o indivíduo e que,
149
consequentemente, podem estimular o reconhecimento in loco do ícone de paisagem em
questão.
Figura 17 - Ferramenta de navegação 3D no Monte Everest.
Fonte: REALITYMAPS, 2020.
Organização: LIMA, 2020.
No caso de Mato Grosso do Sul, alguns elementos são utilizados como fatores
estimulantes na valorização das paisagens sul-mato-grossenses, de maneira que, tais
símbolos se atrelam às condições singulares de áreas como o Pantanal e a Serra de
Bodoquena. Essas simbologias são utilizadas intensamente no marketing turístico dessas
regiões, como observado na figura 18: A) A relevante quantidade de cachoeiras presentes
na Serra de Bodoquena, que são utilizadas como um chamariz para o turismo, como no
caso da agência Bonito Way; B) Incluso na delimitação do Geoparque Bodoquena
Pantanal, o município de Nioaque-MS investe na simbologia de esculturas de
dinossauros, em referência ao sítio paleontológico que existe em seu território; C) Em
Mato Grosso do Sul, é possível encontrar grande diversidade de souvenires ligados a
fauna, flora e cultura sul-mato-grossense.
150
Figura 18 - Simbologias utilizadas no marketing turístico de Mato Grosso do Sul
Organização: LIMA, 2020.
Tal concepção está atrelada as ideias de Moretti (2006, p. 74), o qual indica que
“Estes elementos são vendidos pelos empreendedores turísticos, que criam através do
chamado “marketing turístico” o “paraíso na terra””. A apropriação da natureza permite
a consolidação dos destinos turísticos a serem comercializados.
151
Ao considerar o grau de relação entre a paisagem urbana e natural na delimitação
do termo ícone de paisagem, é possível traçar paralelos a partir dos autores já
referenciados no trato dos ícones urbanos de paisagem. Se por um lado conjuntos como
o Morro do Corcovado e a Floresta da Tijuca, aglomerados essencialmente reconhecidos
por suas características essencialmente naturais, são tratados como ícones no contexto da
paisagem urbana, por que não seria possível considerar, da mesma forma, conjuntos de
florestas, relevos e outras variáveis como ícones de paisagem em cenários que não sejam
nas cidades?
Além disso, da mesma forma que os ícones urbanos buscam sintetizar simbolismos
e significações na realidade urbana, os ícones de paisagem em ambientes naturais também
podem estar atrelados a contextos socioculturais das áreas em que esses estiverem
associados e, consequentemente, podem valorizar o conjunto paisagístico do entorno em
os ícones estão inseridos. Para validar tal assertiva, cita-se a referência de Shibaki (2010,
p. 43) acerca da paisagem e sua associação com elementos icônicos:
Há, neste sentido, a geração de uma cadeia de representações, em que a
paisagem, enquanto representação de uma sociedade em um determinado
período histórico se constitui em espaço que contém ícones, que também
evocam significados aos indivíduos que, por sua vez, estão condicionados a
uma visão de mundo pessoal, particular, que possui influências de diversas
esferas.
Considerando tal apontamento, é plausível fazer tal associação com a delimitação
de ícones de paisagens em ambientes naturais. Nesse sentido, diferentes elementos da
natureza, materializados nas paisagens, permitem envolver o(s) seu(s) observado(res) em
função de seu destaque, sua imponência, sua singularidade, diversidade de elementos,
dentre outras variáveis que estimulem a exaltação dos conjuntos paisagísticos, os quais
podem permitir sua funcionalidade no desenvolvimento de diferentes atividades, como
por exemplo, o turismo.
Evocar o contato com a natureza e, consequentemente, envolver-se na sua
imponência, permite o despertar de sentimentos e a saída da zona de conforto,
possibilitando ao sujeito exprimir novas sensações como o medo, desconforto, euforia ou
um misto de respeito com intimidação. Tais sensações podem ser expressas pela natureza
em função de seu poder/força, representada por meio das diferentes feições do relevo, das
variações climáticas, da diversidade hídrica, da variedade de fauna e flora, ou seja, a
imponência de um ou mais elementos da paisagem pode ocasionar a maximização da
valorização em um determinado conjunto paisagístico (SOUZA, 2019).
152
Na visão de Cauquelin (2007), é antiga a noção da natureza constituída de um
conjunto estruturado, compreendida por um grupo de regras próprias de composição e
dotada de simbolismo para aqueles que mantém relações com ela, noção datada por volta
de 1415, que surgiu na Holanda e transitou pela Itália, transbordando ao longo do tempo
por diversas localidades, estabelecendo a paisagem como algo que ultrapassa o papel
decorativo, alcançando plenitude e significação como conjunto de elementos naturais
materializados na paisagem. Ao tratar da atribuição de significação e simbolismo às
paisagens, a autora op. cit. (p.38) destaca o trato paisagístico para além das artes, vertente
defendida por muitos autores que discutem essa categoria analítica:
Pois essa “forma simbólica” estabelecida pela perspectiva não se limita ao
domínio da arte; ela envolve de tal modo o conjunto de nossas construções
mentais que conseguiríamos ver através de seu prisma. Por isso é que ela é
chamada de “simbólica”: liga, num mesmo dispositivo, todas as atividades
humanas, a fala, as sensibilidades, os atos. Parece bem pouco verossímil que
uma simples técnica – é verdade que longamente regulada – possa transformar
uma visão global que temos das coisas: a visão que mantemos da natureza, a
ideia que fazemos das distancias, das proporções, da simetria.
Considerando tal assertiva, podemos pensar que a materialização dos elementos da
natureza em diferentes conjuntos paisagísticos pode ganhar diferentes conotações a
depender do simbolismo que são tomados por seus observadores. Nesse sentido, é
possível inferir que um conjunto paisagístico possa ser exaltado como ícone de paisagem
frente a suas singularidades para o desenvolvimento de atividades turísticas. Por outro
lado, esse mesmo conglomerado pode ser avaliado como um empecilho para o
desenvolvimento de atividades agrícolas, por exemplo.
Uma visão que vai ao encontro do exposto anteriormente é a importância da
compreensão e descrição da natureza para além de sua figura artística, visão defendida
por Gomes (2017). Para o autor, as paisagens não podem ser tomadas apenas como
conjunto estático, mas cujos enquadramentos permitam uma compreensão acerca de suas
estruturas que vislumbre entender a complexidade das diferentes interações imbricadas
em sua composição. Assim, as imagens e visões atribuídas a contemplação de conjuntos
paisagísticos devem auxiliar no julgamento e na construção de conhecimento acerca
desses.
Em suma, Gomes (2017) indica que a constituição de quadros que reproduzem a
natureza (sejam fotografias, obras de artes, mapas etc.) não deve ser tomada de maneira
individual, mas sim que esses se complementem e auxiliem na compreensão da
complexidade do todo que essas reproduções visam amostrar. Como exemplos desses
153
“enquadramentos” poderiam ser citados os diferentes mapas temáticos desenvolvidos
acerca de diferentes territórios, os quais visam apresentar características geológicas,
climáticas, de vegetação, dentre outras; temas que devem ser conectados para que seja
possível uma interpretação das interrelações que findam na materialização das referidas
paisagens. Nessa perspectiva, o autor op. cit. (p. 134) cita a importância da categoria
analítica da paisagem na compreensão da natureza, de maneira que:
Isso significa que, em um determinado lugar e momento da história, o resultado
da ação de reconfigurar a natureza a partir dos instrumentos disponibilizados
pela cultura passou a ser estimado com muita admiração, a tal ponto que se
tornou um objeto estético, tema de pintura. Esse recorte, fragmento de um
ambiente, fixado sobre um suporte, além de um objeto estético, é um
instrumento pedagógico. A ideia de paisagem nos ensina a olhar de outra
forma, nos ensina a ver coisas, conteúdos, valores, onde parecia antes nada
haver de admirável. Desde então, parece que aprendemos a apreciar e que
incorporamos, de modo quase natural na vida cotidiana, os valores, os
conteúdos contidos nesses fragmentos expostos ao olhar.
Tomando esse indicativo, para além de um quadro individualizado, o trato desses
conjuntos como ícones de paisagem permitiria a integração desses diferentes recortes e,
consequentemente, caracterizaria o conjunto paisagístico de maneira ampla, o que
permitiria a compreensão da complexidade das paisagens e possíveis direcionamentos
quanto ao uso dessas áreas.
Destarte, do ponto de vista escalar, o ícone de paisagem pode ser considerado uma
unidade taxonômica maior, que integra aquilo que Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2007)
chamam de “unidade de paisagem”. Assim sendo, o ícone pode ser considerado uma
escala de maior detalhamento na investigação da paisagem, que destaca um conjunto
paisagístico frente sua configuração estrutural. Tal estruturação permite sua associação a
diferentes vertentes, como por exemplo, a aferição funcional e visual das paisagens para
o Turismo de Natureza. Sobre a delimitação taxonômica, Bolós i Capdevila (1992, p. 64)
indica que:
La taxonomía se puede considerar division «vertical» de los objetos, en tanto
que toma en cuenta su jerarquía y su subordinación. Crea posibilidades de
clasificación en muchos niveles: un ejemplo de taxonomía lo tenemos en la
clasificación de los paisajes por su tamaño, en la que los más grandes
superficialmente inc1uyen de forma jerarquizada los de tamaño
inmediatamente inferior. O también en la clasificación por la dominancia de
elementos
Em sua investigação, Eichenberg (2018) mapeou as unidades de paisagem
existentes em Mato Grosso do Sul. Neste sentido, a figura 19 busca sintetizar a ideia
taxonômica dos ícones de paisagem, a qual apresenta-se como uma escala de maior
154
detalhamento das unidades de paisagem, permitindo delimitar conjuntos paisagísticos que
apresentem uma relevância estrutural no que tange as relações e inter-relações dos
elementos que compreendem tais paisagens, seja em função do relevo, da vegetação,
cursos hídricos, etc.
155
Figura 19 - Espacialização das unidades de paisagem e dos ícones de paisagem de Mato
Grosso do Sul.
Fonte: Eichenberg, 2018
Adaptado por: Lima, 2020
156
Neste âmbito, a figura supracitada permite perceber que, uma unidade de paisagem
pode compreender um ou mais ícones de paisagem ao longo de sua extensão, como no
caso por exemplo, da unidade baixo pantanal, que abarca os ícones de paisagem Serra do
Amolar e Maciço do Urucum. Outra possibilidade é que, o ícone de paisagem, em função
de sua extensão, possa compreender mais de uma unidade de paisagem, como no caso da
Serra de Maracaju.
Ao discorrer sobre as possibilidades de identificação de unidades visuais de
paisagem, Aguiló Alonso et. al. (2004) comentam sobre um método que se aproxima
daquilo que se pretende tratar como ícone de paisagem: o método de compartimentos de
paisagem. Segundo os autores op. cit., a paisagem é constituída por uma série de
compartimentos paisagísticos, os quais são caracterizados por suas singularidades, sua
abrangência e o conteúdo visual associado a eles. Ainda nessa vertente, discorrem sobre
a necessidade de agregar nessas abordagens o auxílio de fotografias aéreas e visitas
técnicas de campo, as quais permitem uma melhor delimitação dos referidos
compartimentos de paisagem. Na demarcação desses compartimentos, Aguiló Alonso et.
al. (2004, p. 509) sugerem que:
En zonas montaiíosas con cuencas y divisarias claramente marcadas, la
definición de las unidades puede partir de un fuerte apoyo topográfico. Así,
las divisarias de aguas sirven para definir los límites de cada unidad. La
fijación de sus dimensiones y el cierre de la totalidad de su perímetro se hace
con criterio visual, admitiendo que el área a cubrir por una unidad debe ser
aquella que abarque con la vista un observador situado aproximadamente en
su zona central.
Complementando, fica claro que nem sempre será possível estabelecer uma
compartimentação uniforme. Nesse sentido, outras características menos marcantes como
o relevo podem ser utilizadas para tais demarcações, tais como vegetação, hidrografia etc.
Outra opção é, não havendo uma delimitação clara, considerar uma totalidade maior de
paisagem, por mais que isso comprometa a compactação visual do conjunto.
No caso específico do relevo, Vieira (2008) lembra que ele deve ser entendido como
uma das variantes que compõem o sistema ambiental e que, seja em função de sua
originalidade/raridade, seja em função de sua condição enquanto elemento estruturante,
permite o estabelecimento de paisagens dotadas de características únicas, remetendo a
essas uma identidade própria. Ainda sobre a importância geomorfologia, o autor op. cit.
(p. 36) indica que:
157
Com efeito, os elementos geomorfológicos constituem a base sobre a qual se
desenvolve a paisagem, resultando como factores estruturantes das diversas
paisagens, razão pela qual frequentemente se fala de paisagem de montanha,
paisagem litoral, paisagem granítica, paisagem cársica, etc. A sua importância
revela-se ainda na relação com o solo e a vegetação, servindo-lhes de suporte
físico e, inclusivamente, de factor gerador.
Considerando a delimitação dos ícones de paisagem é possível perceber que,
relevos mais bem definidos (figura 20) permitem uma melhor compactação dos conjuntos
de paisagem, enquanto relevos de maior ondulação (figura 21) dificultam essa
delimitação (AGUILÓ ALONSO et. al., 2004). Na figura 20, a qual ilustra uma paisagem
da Serra do Amolar em Corumbá-MS, nota-se uma maior facilidade na delimitação do
ícone de paisagem, uma vez que a paisagem é estruturada de maneira mais homogênea,
tanto com relação ao relevo, quanto a vegetação e recursos hídricos.
Figura 20 - Delimitação do Ícone de paisagem Serra do Amolar (Corumbá-MS)
Autor: IHP - Instituto Homem Pantaneiro, 2019.
Já na figura 21, mesmo na feição central (Aquidauana-MS), onde os relevos e as
vegetações da Serra de Maracaju mais se destacam, percebe-se a dificuldade de delimitar
um conjunto paisagístico uniforme da Serra, dada a grande concentração de
fragmentações ao longo de sua extensão.
158
Figura 21 - Delimitação do Ícone de paisagem Serra do Amolar (Corumbá-MS)
Autor: LIMA, 2019.
Considerando as discussões elencadas até aqui e com amparo dos debates
embrionários de Lima, Silva e Martins (2019), toma-se como conceituação de ícone de
paisagem a:
Materialidade de conjuntos paisagísticos que destacam-se em função de suas
características, sejam em virtude de sua singularidade, por seu grau de
naturalidade, e/ou pela variabilidade de elementos, condições as quais estarão
atreladas de maneira conjunta ou individual em função principalmente de
elementos alçados ao campo visual, como os tipos de relevos, a variedade de
vegetação, os cursos hídricos ou marcos advindos de alterações humanas.
Ao delinear este ideário de ícone de paisagem, Lima, Silva e Martins (2019)
acreditam ser possível, deste modo, destacar aspectos relevantes das paisagens,
permitindo assim a valorização de seus aspectos estruturais (forma), e designar diferentes
possibilidades de uso (função), as quais devem estar atreladas a condições de manutenção
do referido ícone. Assim sendo, considera-se a priori que, a tese desta pesquisa apoia-se
na eminencia da existência de conjuntos paisagísticos que atendam a essas condições ora
apresentadas, permitindo assim o mapeamento e apresentação de ícones de paisagem em
159
Mato Grosso do Sul passíveis de serem reverenciados enquanto relevantes conjuntos
paisagísticos que possam ser relacionados a diferentes práticas turísticas, neste caso, do
Turismo de Natureza.
A partir das devidas reflexões acerca da proposição do conceito de ícones de
paisagem, o próximo item visa apresentar os conjuntos paisagísticos de Mato Grosso do
Sul que, a priori, estão elencados como ícones de paisagem no Estado e que podem ser
associados ao desenvolvimento de atividades voltadas aos segmentos do Turismo de
Natureza.
3.2 Os ícones de paisagem em Mato Grosso do Sul
A partir das discussões tratadas até o momento, os quais permearam temas como
paisagem e sua relação estrutural, visual e funcional, a natureza e suas acepções no
embasamento do segmento do Turismo de Natureza, e a busca de definição e
consolidação teórica da expressão ícone de paisagem, buscou-se estabelecer um
embasamento teórico que permitisse dar suporte para o trato dos objetos de estudo
propostos nesta investigação: Os ícones de paisagem de Mato Grosso do Sul.
A priori, acredita-se na existência de 5 conjuntos icônicos de paisagem no território
sul-mato-grossense: Serra do Amolar, Maciço do Urucum, Serra da Bodoquena, Serra de
Maracaju e APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná. Destarte, na sequência, apresenta-se
informações acerca dos referidos ícones, de maneira a destacar e contextualizar sua
notoriedade enquanto paisagens a serem elencadas como icônicas em Mato Grosso do
Sul.
3.2.1 Maciço do Urucum
A região de Corumbá-MS, além da imponência do ícone de paisagem Serra do
Amolar, conta ainda com outro conjunto paisagístico icônico: o Maciço do Urucum
(figura 22). Ilustrando as paisagens da BR-262 e da estrada-parque MS-228, o Maciço
impõe-se como conjunto paisagístico de relevante variações de relevo e que conta com
um entorno permeado por significante percentual de vegetação nativa, embora sofra
pressões das dinâmicas territoriais presentes nessas áreas.
160
Figura 22 - Localização ícone de paisagem Maciço do Urucum
Elaboração: LIMA, 2020.
Além da porção territorial de Corumbá-MS, Kashimoto e Martins (2013) lembram
que o ícone de paisagem Maciço do Urucum também ocupa parte do território de Ladário-
MS. De acordo com Freitas (2010) e Martínez Lopez (2017), o Maciço do Urucum está
localizado na faixa oeste de Mato Grosso do Sul, mas especificamente nas coordenadas
19º10’S e 57º35’W. Ao discorrer sobre o Maciço, Martínez Lopez (2017, p. 53) cita que:
161
Na topografia da planície banhada pelo rio Paraguai, a ‘Morraria do Urucum’
eleva-se abruptamente a mais de mil metros de altitude, estendendo-se dos
municípios de Corumbá e Ladário até a fronteira Brasil-Bolívia, conformada
pelas formações Serra do Rabicho, Morro Grande, Serra de Santa Cruz, Morro
de Tromba dos Macacos, Serra do Jacadigo e Morro do Urucum.
Justificando a estruturação da paisagem do Maciço, Kashimoto e Martins (2013)
indicam que, as faixas de densas florestas consolidam-se nas baixas vertentes da morraria
(piemonte), as quais, em função dos solos férteis e por não serem inundáveis, possibilitam
a formação de tais vegetações. É possível perceber uma maior densidade de vegetação
nos taludes que compreendem o entorno do relevo escarpado da morraria (figura 23).
Figura 23 - Paisagem do ícone Maciço do Urucum.
Autor: LIMA, 2019.
Ressalta-se ainda que, a se considerar as áreas de maior elevação do Maciço, as
quais contam com altas cotas de altitude, consideráveis diferenças de declividade, o solo
rochoso e o distanciamento dos recursos hídricos, estas condições tornaram-se fatores
limitantes para o estabelecimento de assentamentos permanentes dos povos indígenas
(KASHIMOTO; MARTINS, 2013).
Muito em função da peculiar composição rochosa da morraria, a qual Martínez
Lopéz (2017) aponta a grande concentração de ferro e manganês, Freitas (2010) lembra
que o Maciço do Urucum vem sendo palco da exploração de minérios exercida pela
Empresa Vale (figura 24), conhecida como uma das grandes companhias do ramo da
162
mineração no Brasil. Pensando na proposta de desenvolvimento turístico do ícone,
percebe-se uma aderência aos pensamentos de Fossgard (2019), que lembra as múltiplas
funcionalidades dos recursos naturais, podendo servir por exemplo, tanto ao Turismo,
quanto às atividades mineradoras.
Figura 24 - Contraste entre a paisagem do Maciço do Urucum e a atividade de
mineração no seu entorno, em Corumbá-MS.
Autor: LIMA, 2019.
Para Thomas et. al. (2010), a região compreendida pelo Maciço do Urucum e seu
entorno apresenta uma condição de grande singularidade do ponto de vista paisagístico
em Mato Grosso do Sul, uma vez que, este conjunto é influenciado por ecossistemas
vizinhos, conta com exemplares endêmicos e ainda conta com exemplares de espécies
advindas de outras regiões do país.
É importante ressaltar ainda que, o Maciço do Urucum é parte integrante do
Geoparque Bodoquena Pantanal, citado pelo ICMBio (2013, p. 8) em função de suas
especificidades no perímetro do parque: “A região de Corumbá e Ladário apresenta
fósseis de Corumbella e Cloudina (560-570 milhões de anos atrás) e, na Morraria do
Urucum, existem depósitos ferríferos e manganezíferos”. Ainda sobre a inserção do
Maciço já área compreendida pelo geoparque, Rolim e Theodorovicz (2012, p. 230)
indicam que:
163
[...] em plena planície pantaneira eleva-se notavelmente a mais de 1.000 metros
de altitude, carregando em seu interior umas das maiores jazidas de manganês
e minério de ferro do mundo (razão de ser de seu nome, termo indígena
referente à tonalidade avermelhada).
Ao relacionar este ícone com o Zoneamento Ecológico-Econômico de Mato Grosso
do Sul, percebe-se o Maciço do Urucum inserido na Zona Planície Pantaneira – ZPP, a
qual dentro de suas diretrizes, aponta como principal recomendação um rigoroso processo
de controle acerca de qualquer atividade que possa impactar de maneira negativa o pulso
de inundação do pantanal. Dentre as atividades que permeiam essa zona, a pecuária é
aquela que mais incentivada, principalmente associada as áreas de planícies. O ZEE-MS
indica que a atividade pecuária deve estimulada e controlada a fim de evitar a
transformação de áreas úmidas em pastagem exótica. Quanto a implementação de culturas
agroindustriais, estas não são estimuladas nessa zona (MATO GROSSO DO SUL, 2015).
Ao se considerar as referidas características do Maciço do Urucum, percebe-se a
possibilidade de atrelar tal conjunto de paisagem enquanto um ícone no Estado de Mato
Grosso do Sul, de maneira que, embora compreenda uma área onde as dinâmicas
territoriais (notoriamente centralizada na mineração) impõem alterações nas referidas
paisagens, acredita-se que, a partir da valorização do ícone enquanto oportunidade de
atrelar suas paisagens ao Turismo de Natureza e, consequentemente, aliar práticas que
visem a valorização, conservação e preservação do conjunto paisagístico em questão.
3.2.2 Serra do Amolar
Pouco conhecida até mesmo por boa parte dos sul-mato-grossenses, a Serra do
Amolar (figura 25) é um imponente conjunto sequencial de relevos que contrastam com
as planícies inundadas do Pantanal, condição a qual eleva o grau de singularidade desse
ícone de paisagem, em função desses conjuntos de elevações serem permeados por um
entorno de relevantes recursos hídricos e, consequentemente, abarcados por expressivas
concentrações de vegetação nativa.
A tentativa aqui de desvelar e aprofundar os conhecimentos acerca da Serra do
Amolar vai ao encontro de uma deficiência apontada por Rabelo, Moreira e Bertassoni
(2012), os quais indicam que, ao longo dos últimos anos, percebe-se o baixo
desenvolvimento de pesquisas que viabilizem o reconhecimento científico das paisagens
que compreendem a região da serra.
164
Figura 25 - Localização ícone de paisagem Serra do Amolar
Elaboração: LIMA, 2020.
A respeito da Serra, Pereira (2015) destaca que essa se trata de uma formação
rochosa de aproximadamente 80 quilômetros de extensão, sendo abarcada por diferentes
165
tipos de vegetação: chaco, amazônica e de cerrado. Ainda sobre sua localização, a Serra
fica a aproximadamente 100 quilômetros da área urbana do município de Corumbá-MS,
conforme indica o Instituto do Homem Pantaneiro (2014). No que tange a ocupação dessa
área, o autor op. cit. indica a ocorrência considerável de grupos locais, como por exemplo,
a comunidade ribeirinha Barra do São Lourenço e Porto Amolar. Além destas citadas,
Martins (2018) lembra ainda a presença das comunidades do Paraguai Mirim e Baía do
Castelo. De acordo com Rabelo, Moreira e Bertassoni (2012), o ponto mais alto da serra
é o Pico do Amolar, o qual tem altitude estimada em 1.000 m.
Quanto a vivência destas comunidades na Serra do Amolar, o Instituto do Homem
Pantaneiro (2014) chama a atenção para o distanciamento dessa população para com os
serviços públicos básicos, bem como a escassez de oportunidades de geração de renda,
propiciando inclusive o desenvolvimento de atividades ligadas ao tráfico de drogas e
produtos diversos, fato ligado a condição fronteiriça com a Bolívia. Diante das
dificuldades e do baixo índice de desenvolvimento humano, atividades ligadas a pesca e
a coleta de iscas para a prática do turismo de pesca apresentam-se como alternativas de
geração de renda. Entretanto, o autor op. cit. ressalta a grande ocorrência de problemas
ligados ao alcoolismo, exploração sexual e gravidez precoce nestas comunidades.
Dentre as características marcantes da Serra do Amolar, destaca-se o pulso de
inundação (enchente e vazante) como a principal variável de interferência nos processos
ecológicos regionais. Quanto a diversidade dos ambientes e a diversidade de espécies
bióticas, indica-se como fatores influentes a variação climática (chuva e estiagem) e a
variação de relevo entre as planícies e os morros que integram a Serra (atingindo cotas de
até 1000m de altitude (INSTITUTO DO HOMEM PANTANEIRO, 2014, p. 13).
Acerca da importância da Serra do Amolar enquanto relevante ecossistema, o
Instituto do Homem Pantaneiro (2014, p. 11) cita as seguintes informações:
Pela sua incrível biodiversidade, o Ministério do Meio Ambiente classifica a
região como área de conservação de "Prioridade Extremamente Alta". [...] Pelo
potencial hídrico, o Parque Nacional do Pantanal Matogrossense - vizinho à
Serra do Amolar - é considerado um Sítio de Importância Internacional pela
Convenção de Ramsar, como uma das zonas úmidas que devem ser
conservadas em todo o Planeta. [...] Toda a região é classificada pela UNESCO
como Reserva da Biosfera Mundial. [...] E desde 2000, o Complexo de Áreas
Protegidas do Pantanal (Parque Nacional, Reservas Acurizal, Penha, Dorochê
e Rumo ao Oeste) carrega o título de Patrimônio Natural da Humanidade,
também pela UNESCO.
Ressaltando as supracitadas condições atreladas a Serra do Amolar, Pereira (2015,
p. 112) chama a atenção para uma interessante característica relacionada ao conjunto
166
paisagístico da Serra: “A região da Serra do Amolar, bem como as RPPNs em seu entorno,
são os locais onde existem as maiores áreas preservadas no Pantanal o que condiciona e
favorece um habitat ideal para as onças”. Tal informação é importante uma vez que, além
da possibilidade de preservação da espécie, a contemplação de onças na região é vista
como uma das atividades de maior apelo por parte dos visitantes da Serra. Atrela-se a esta
informação o fato da região ser rica em quantidade de espécies de animais, as quais muitas
encontram-se em processo de extinção, conforme indica o Instituto do Homem Pantaneiro
(2014).
Para Lima, Silva e Martins (2019), a Serra do Amolar compreende um conjunto
paisagístico onde predominam relevos montanhosos e grande quantidade de vegetação
nativa, uma configuração notoriamente singular no bioma pantaneiro, vide figura 26, a
qual mostra que, em contraste com a riqueza hídrica típica do bioma pantaneiro, a Serra
do Amolar estrutura-se enquanto ícone a partir desta contraposição com seus relevos e
vegetações. Neste contexto, os autores op. cit. ressaltam a importância do entendimento
deste ícone de paisagem, bem como compreender o entorno que relaciona-se com as
referidas paisagens.
Tal aferição pode ser justificada, por exemplo, ao visualizar as próprias dinâmicas
territoriais da Serra, visto o baixo grau de intervenção nestas áreas. Tomando como
referência a atividade pecuária, em grau comparativo com as planícies pantaneiras, a
Serra do Amolar detém índices relativamente menores de exploração desta atividade ao
longo de sua extensão. Sobre a atividade pecuária, o Instituto do Homem Pantaneiro
(2014, p. 15) frisa que “Durante muitos anos, a criação de gado foi a principal atividade
na área. Mas a grande cheia de 1974 e o assoreamento do rio Taquari contribuíram para
a diminuição dessa prática e o consequente abandono das fazendas”.
167
Figura 26 - Contraste hídrico, de relevo e vegetação na Serra do Amolar.
Autor: LIMA, 2019.
Além da condição física da Serra do Amolar, Martins (2018, p. 105) destaca a
condição fronteiriça em que o ícone está inserido:
A Serra do Amolar é um dos lugares de maior “contato” entre o Brasil e a
Bolívia, sobretudo pelas Lagoas Mandiore, Gaiba e Uberaba. A área central,
por sua vez, abriga o Canal Tamengo e a Laguna Cáceres, que congregam
diversos atrativos do pantanal boliviano. O rio Paraguai está no “caminho”
dessas duas áreas e proporciona belezas cênicas interessantes para aqueles que
fazem o trajeto da cidade de Corumbá a Serra do Amolar.
Quanto ao acesso da área em questão, este pode se dar através de avião ou barco,
fato que pressupõe um planejamento prévio logístico para acessar a Serra do Amolar,
mesmo que este acesso seja realizado por operadoras de viagem ou pelo IHP (Instituto
Homem Pantaneiro) – organização da sociedade civil que atua na conservação e
preservação do bioma Pantanal. Assim, pontos de apoio, como por exemplo, a Pousada
Amolar, utiliza-se de embarcações freteiras como meio de transportar insumos como
alimentos, remédios, combustível, produtos de limpeza e outros materiais necessários,
168
tanto para a comunidade local, quanto para visitantes (turistas, pesquisadores, etc.)
(MARTINS, 2018).
Considerar as questões que envolvem o acesso a Serra é de suma importância, uma
vez que, conforme apontado por Martins (2018), apesar da relevante condição cênica da
Serra do Amolar, percebe-se dificuldades no trato de políticas públicas e do trade turístico
no desenvolvimento de práticas voltadas ao turismo. Sobre a acessibilidade turística da
área, a autora op. cit. (p. 258) cita que: “É acessível apenas via ONGs: o IHP oferece o
turismo na Serra do Amolar nas RPPNs Acurizal e Engenheiro Eliezer Batista e a Ecoa
em Porto Amolar. Mas ainda assim é um produto para poucos”. Muito em função da
referida dificuldade de acesso e gestão tanto pública quanto privada, indica-se possíveis
entraves para que o turismo se desenvolva, acarretando principalmente nos altos custos
para efetivar sua prática. Entretanto, apesar destes por menores, Martins (2018, p. 261)
destaca que:
Apesar dessa dinâmica posta, o fato é que as paisagens desses locais estão
conservadas. Seja pela dificuldade de acesso, pela burocracia, pela questão
financeira. Além disso, é importante lembrar que no caso da Serra do Amolar
as ONGs presentes realizam um trabalho interessante e extremamente
necessário com a comunidade que envolve gestão, monitoramento,
fiscalização, combate ao incêndio, treinamento, ações sócias educativas,
empoderamento feminino, projetos ligados a eventos climáticos, habitação
dentre outros. Uma das ONGs locais atua inclusive em parceria constante com
a Polícia Militar Ambiental.
Destacando essa importância no que tange conservação e preservação da Serra do
Amolar, bem como os agentes envolvidos em tais ações, Moreira et. al. (2010, p. 2)
descreve que:
A associação da riqueza de espécies e dos processos ecológicos da planície
pantaneira com a Serra do Amolar, na divisa dos Estados do Mato Grosso e
Mato Grosso do Sul, junto à fronteira com a Bolívia, forma um corredor
biológico e geográfico potencialmente importante para a conservação do
Pantanal. Instituições proprietárias de terras nesta região, e que compartilham
essa visão têm realizado ações conservacionistas no trecho Corumbá – Parque
Nacional do Pantanal Mato-Grossense (Parna Pantanal), de modo a formarem
juntas a “Rede de Proteção e Conservação da Serra do Amolar” (RPCSA).
Essas instituições são: a RPPN Engenheiro Eliezer Batista com gestão do
Instituto Homem Pantaneiro (IHP), a Fazenda Santa Tereza de propriedade da
Sra. Teresa Bracher, as RPPNs Estância Dorochê; Acurizal, Penha e Rumo ao
Oeste todas sob a gestão da Fundação Ecotrópica, e que contam com o apoio
do Parna Pantanal gerido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio).
No Zoneamento Ecológico-Econômico de Mato Grosso do Sul, assim como o
Maciço do Urucum, a Serra do Amolar também está inserida na Zona Planície Pantaneira
169
– ZPP, conforme indicado por Mato Grosso do Sul (2015). Conforme já supracitado, esta
zona é amparada por estratégias de rigoroso controle de atividades danosas ao ambiente
pantaneiro, desestimulando a inserção de culturas agroindustriais e incentiva a
continuidade da atividade pecuária nas áreas de planície, desde que se evite a
transformação das áreas úmidas em pastagens exóticas.
Quanto a atividade turística, Moretti (2000; 2006) indica que a natureza está
intimamente ligada ao desenvolvimento do turismo no pantanal sul-mato-grossense,
principalmente em função de sua singularidade hídrica, condição a qual estimulou nas
últimas décadas um crescente aumento da atividade turística ligada a pesca. De acordo
com Moretti (2006, p. 39), o relevante aumento da atividade pesqueira proporcionado
pelo fluxo turístico tem causado pressões negativas no ambiente pantaneiro, “ou seja, a
atividade turística destrói o que proporciona a sua existência”. Entretanto, conforme
explanado por Moretti (2000; 2006), percebe-se cada vez mais a inserção de atividades
contemplativas ligadas ao ecoturismo nas áreas pantaneiras, as quais a priori prezam por
ações sustentáveis no desenvolvimento do turismo (que, porém, nem sempre conformam
todos os aspectos que abrangem os conceitos de sustentabilidade).
O conjunto paisagístico da Serra do Amolar se atrela ao pensamento de Hintze
(2013), que ressalta a valorização dos territórios para a atividade turística, uma vez que,
para o Turismo, quanto mais escassa ou singular a paisagem, mais ela é valorizada em
suas atividades.
Tais condições possibilitam estruturar bases para o planejamento e, posteriormente,
o desenvolvimento de atividades ligadas ao Turismo de Natureza, uma vez que, levando
em consideração as discussões elencadas em capítulos anteriores acerca deste segmento
e também do trato da paisagem e sua relação com o turismo, é possível inferir que a Serra
do Amolar a priori possa ser considerado um ícone de paisagem em Mato Grosso do Sul
e, consequentemente, apto enquanto lócus para práticas do Turismo de Natureza.
3.2.3 Serra de Maracaju
Considerada nesta pesquisa como um dos ícones de paisagem em Mato Grosso do
Sul, a Serra de Maracaju (figura 27) destaca-se como imponente conjunto de relevos que,
em alguns pontos do território sul-mato-grossense apresenta-se de maneira contínua
(figura 28), enquanto em outras feições é encontrada de maneira fragmentada (figura 29).
171
Figura 28 - Faixa contínua de morrarias da Serra de Maracaju, em Aquidauana-MS.
Fonte: Lima, 2019.
Figura 29 - Serra de Maracaju formada por conjuntos de relevos testemunho, em
Antônio João-MS.
Autor: LIMA, 2019.
Nas visões de Lima, Silva, Boin e Medeiros (2020), ao considerar a diversidade de
paisagens encontradas em Mato Grosso do Sul, a Serra de Maracaju se destaca por
apresentar uma relevante diversidade geológica, bem como diferentes feições de relevo e
faixas de vegetações nativas. Os autores op. cit. (p. 226) indicam que “A Serra inicia-se
172
na parte sul do estado, no interior do município de Ponta Porã, atravessa a faixa central
do território sul-mato-grossense, chegando até a porção norte do estado, no município de
Sonora”.
Sobre a Serra de Maracaju, Mato Grosso do Sul (2009), Tsilfidis e Soarez Filho
(2009) e Lima (2017) apontam essa formação como um importante conjunto, o qual se
encontra ameaçado em função das dinâmicas produtivas impostas ao longo de sua
extensão, fato que pressupõe uma relação de advertência frente a grande quantidade de
mananciais e nascentes dispostas na serra. Frente a tal perspectiva, o conjunto estrutural
e qualidade visual permitiriam o desenvolvimento de atividades ligadas ao Turismo de
Natureza nestas áreas que compreendem a Serra. Para Rego (2008), a Serra de Maracaju
se destaca como grande divisor dos dois grandes domínios biogeográficos de Mato
Grosso do Sul: o Cerrado na face leste e o Pantanal sul-mato-grossense.
Nunes et. al. (2013) sustentam que, ao ser comparada a outras áreas de Mato Grosso
do Sul, principalmente as feições sul e leste do estado, a Serra de Maracaju se apresenta
como um relevante conjunto de mosaicos paisagísticos, os quais são importantes na
conservação dos exemplares bióticos sul-mato-grossense, como, por exemplo, uma
variedade de exemplares de aves, as quais possuem variadas espécies ameaçadas ou em
vias de se tornarem ameaçadas de extinção. Corroborando com tal afirmativa, Tsilfidis e
Soares Filho (2009) evidenciam que, levando em consideração o positivo cenário
qualitativo e quantitativo dos recursos hídricos que permeiam a Serra de Maracaju, esses
mantêm uma intrínseca relação com a diversidade de fauna e flora das áreas associadas
aos afloramentos da serra.
É importante frisar ainda que, parte da área considerada integrante da Serra de
Maracaju também é incorporada na delimitação do Geoparque Bodoquena Pantanal.
Segundo o ICMBio (2013, p. 8) “Em Nioaque, são observadas pegadas fossilizadas de
dinossauros no leito rochoso de um rio” (figura 30). Assim, em função de seu
reconhecimento enquanto sítio paleontológico, esse recorte da Serra de Maracaju, em
Nioaque-MS, foi incorporado ao perímetro do Geoparque, ressaltando assim a
singularidade e importância desta porção da Serra.
173
Figura 30 - Pegadas de Dinossauros impressas nos arenitos da Formação Botucatu -
Proximidades de Nioaque.
Fonte: ROLIM; THEODOROVICZ, 2012, p. 246.
Apesar dessa inserção do fragmento da Serra de Maracaju encontrado em Nioaque-
MS, no quadrante do Geoparque Bodoquena Pantanal e considerando a grande extensão
desse conjunto paisagístico, Mato Grosso do Sul (2009, p 75) destaca o percentual
relativamente baixo de delimitação de áreas protegidas ao longo da extensão da serra:
Apesar de sua importância como representante da biodiversidade Atlântica, as
áreas protegidas representam apenas 3,65% do total desta zona, além de não
apresentar nenhum Parque. Nela encontram-se a APA do Córrego Ceroula e
Piraputanga, APA Municipal do Córrego Guariroba, APA Municipal da Bacia
do Rio Amambaí, APA Municipal da Sub-Bacia do Rio Cachoeirão, APA
Municipal das Nascentes do Rio APA, APA Municipal do Rio Anhandui, APA
Municipal do Rio Vacaria, APA Municipal Microbacia do Rio Dourados e
Brilhante, APA Municipal Rio Aquidauana (Corguinho), Parte da APA Rio
Cênico Rotas Monçoeiras, APA Sub-bacia do Rio Ivinhema – Angélica, RPPN
Laudelino Flores de Barcellos, MN Municipal Morraria, RPPN Campo Alegre,
MN Municipal Serra de Bonfim, MN Municipal Serra de Nioaque, RPPN
Morro do Peroba (Fazenda Capão Bonito) e RPPN Nova Querência.
174
Em contraste com a diversidade biótica e abiótica da Serra de Maracaju, Lima
(2017) lembra que, em função de atividades econômicas como a agricultura e a pecuária,
a serra encontra-se cada vez mais pressionada em função de tais dinâmicas territoriais, as
quais muitas vezes impõem impactos negativos a essas paisagens, como por exemplo, o
desmatamento, a compactação dos solos, queimadas, assoreamento de cursos hídricos,
dentre outros. Acerca das pressões supracitadas, Mato Grosso do Sul (2009, p. 75) cita
que:
Esta Zona encontra-se parcialmente inserida no Bioma da Mata Atlântica,
contudo foi a que sofreu e ainda vem sofrendo as maiores pressões, sendo
considerada a área mais crítica da vegetação do Mato Grosso do Sul. Restam
hoje pequenos fragmentos de Floresta Estacional Semidecidual Aluvial (trata-
se de formação ribeirinha ou floresta ciliar que ocorre ao longo dos cursos de
água ocupando os terrenos antigos das planícies quaternárias) bastante
alterados e na porção mais ao sul encontram-se pequenas manchas de Cerrado.
Ainda para justificar tais pressões, Mato Grosso do Sul (2009, p. 76) indica que:
Trata-se de uma Zona de terras de boa e regular aptidão agrícola dentro do
Mato Grosso do Sul, historicamente produtora de alimentos com alta
tecnologia, devendo-se, portanto, priorizar a manutenção desta vocação. Deve-
se observar que é uma região com grande desenvoltura econômica no campo,
provocando ao longo da história um intenso desmatamento com grande
prejuízo às matas ali existentes, em especial à Mata de Dourados, exuberante
até o final dos anos sessenta do século passado. Tal desmatamento tem
provocado um desaparecimento continuado do Bioma do Cerrado e
comprometendo com poluição (ainda controlada) vários corpos d’água,
inclusive suas nascentes.
Apesar da referida aptidão agropecuária indicada ao longo da extensão da Serra de
Maracaju, faz-se necessária especial atenção a conservação e preservação das matas
ciliares, das várzeas e dos fragmentos de vegetação nativa que perduram nessas áreas,
bem como deve-se empreender cuidados extras nos usos de agrotóxicos em lavouras que
margeiam a serra (MATO GROSSO DO SUL, 2009).
O ícone de paisagem se relaciona com a Zona Serra de Maracaju – ZSM do
Zoneamento Ecológico-Econômico de Mato Grosso do Sul, a qual estimula o
fortalecimento urbano, polos de ligação, infraestruturas, equipamentos públicos e
serviços básicos, condições as quais privilegiam a funcionalidade do desenvolvimento
regional. Tais incentivos estão intrinsicamente ligados a aptidão agrícola a qual a zona é
delimitada. Tal dinâmica, historicamente desenvolvida nessas porções de Mato Grosso
do Sul, proporcionaram ao longo dos tempos relevantes processos de desmatamento,
especialmente na Mata de Dourados (exuberante até o final dos anos de 1970), e que vem
acarretando perdas consideráveis do Bioma de Cerrado, bem como acarretando aumento
175
dos índices de poluição e comprometendo vários cursos d’água (MATO GROSSO DO
SUL, 2015).
Assim sendo, o ZEE-MS aponta a necessidade de maiores cuidados das matas
ciliares, das várzeas e dos fragmentos de vegetação nativa que ainda perduram na Zona
Serra de Maracaju, em especial, no entorno dos rios, como por exemplo, o rio Ivinhema.
Indica-se ainda a necessidade de cuidados especiais no trato de lavouras, considerando os
usos de agrotóxicos nessas áreas (MATO GROSSO DO SUL, 2015).
Nesse sentido, Lima (2017) indica o desenvolvimento do Turismo de Natureza,
mediante planejamento da atividade, como possibilidade de exploração dessas paisagens,
ocasionando menores impactos negativos e potencializando os positivos. Tal
possibilidade pode se amparar nas premissas apontadas por Lima, Silva, Boin e Medeiros
(2020), as quais indicam que a qualidade visual das paisagens da Serra de Maracaju é
resultado das interações e interrelações dos diferentes elementos físicos, condição a qual
pressupõe a materialização de cenários paisagísticos ímpares no contexto sul-mato-
grossense.
Dentro desta perspectiva, a valorização da Serra de Maracaju enquanto ícone de
paisagem de Mato Grosso do Sul pode ser tomada como estratégia de valorização das
referidas paisagens e, consequentemente, estímulo para o desenvolvimento do referido
segmento turístico.
3.2.4 APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná
A APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná (figura 31) é aqui considerado como um
ícone da paisagem localizado na faixa sudeste de Mato Grosso do Sul. De acordo com
Moraes e Bernardes (2011), a APA ilhas e Várzeas do Rio Paraná abrangem uma área de
10.000 km², perpassando pelos Estados de Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo. Em
uma condição de planície de inundação, as paisagens encontradas nessas porções denotam
relevância, principalmente condicionados a fauna e flora destas áreas (figura 32).
176
Figura 31 - Localização ícone de paisagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná
Elaboração: LIMA, 2020.
177
Figura 32 - Paisagem da APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná estruturada nas planícies,
vegetações nativas, variedade hídrica e formação de ilhas fluviais.
Autor: LIMA, 2020.
Vislumbrando tornar mais clara a compreensão acerca da criação, delimitação e os
objetivos da APA8, cita-se a seguir na íntegra os dois primeiros artigos apresentados por
Brasil (1997, p. 1):
Art. 1º Fica criada a Área de Proteção Ambiental - APA denominada APA das
Ilhas e Várzeas do Rio Paraná, compreendendo as ilhas e ilhotas situadas no
Rio Paraná, as águas interiores e as áreas lagunares e lacustres, as várzeas,
planícies de inundação e demais sítios especiais situados em suas margens,
desde o Reservatório de Itaipu e a foz do Rio Piquiri até a foz dos Rios
Paranapanema e Ivinheima, nos Estados do Paraná e de Mato Grosso do Sul,
com o objetivo de:
I - proteger a fauna e flora, especialmente as espécies ameaçadas de
extinção, tais como o Cervo-do-pantanal (Blatocerus dichotomus), o Bugio
(Alouatta fusca), a Lontra (Lutra longicaudis), a Anta (Tapirus terrestris), a
Jaguatirica (Leopardus pardalis) e a Onça-pintada (Panthera onça);
II - garantir a conservação dos remanescentes da Floresta Estacional
Semidecidual Aluvial e Submontana, dos ecossistemas pantaneiros e dos
recursos hídricos;
III - garantir a proteção dos sítios históricos e arqueológicos;
IV - ordenar o turismo ecológico, científico e cultural, e demais
atividades econômicas compatíveis com a conservação ambiental;
V - incentivar as manifestações culturais e contribuir para o resgate da
diversidade cultural regional;
8 A Área de Proteção Ambiental (APA) é uma categoria de unidade de conservação que permite a instalação
de loteamentos, projetos agrícolas, equipamentos turísticos e até alguns tipos de indústrias. As Áreas de
Proteção Ambiental podem ser formadas integralmente por terras particulares, pois sua finalidade é
proporcionar a ocupação ordenada de uma área que ainda possui características naturais relevantes, como
forma de minimizar os impactos ambientais nessas áreas (OLIVEIRA; BARBOSA, 2010, p. 15).
178
VI - assegurar o caráter de sustentabilidade da ação antrópica na região,
com particular ênfase na melhoria das condições de sobrevivência e qualidade
de vida das comunidades da APA e entorno.
Art. 2º A APA de que trata o artigo anterior fica localizada nos Municípios de
Altônia, São Jorge do Patrocínio, Vila Alta, Icaraíma, Querência do Norte,
Porto Rico, São Pedro do Paraná, Marilena, Nova Londrina e Diamante do
Norte, no Estado de Paraná, e Mundo Novo, Eldorado, Naviraí e Itaquiraí, no
Estado de Mato Grosso do Sul.
Considerando a grande área de abrangência, Moraes e Bernardes (2009) destacam
a APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná como uma área que aglutina um relevante conjunto
de unidades de conservação em seus domínios: o Parque Nacional de Ilha Grande, o
Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, Parques Municipais, RPPN’s e a Estação
Ecológica de Caiuá, as quais, apesar de estarem resguardadas enquanto unidades de
conservação, foram alvos da falta de planejamento, uma vez que, a ocupação ilegal das
referidas áreas culminaram em processos de degradação dos recursos naturais que
contemplam suas paisagens.
Além das referidas unidades, a área da APA ainda agrega a delimitação de RPPN’s
e do Parque Natural Municipal de Naviraí. A espacialização das áreas supracitadas como
integrantes do perímetro da APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná pode ser observada na
figura 33.
Figura 33 - Delimitação das Unidades de Conservação inseridas nos limites da APA
Ilhas e Várzeas do Rio Paraná.
Autor: FRANÇA, Adriano Chaves de, 2019.
179
Quanto a gestão da APA, Limont e Müller (2015) indicam que, em função de ser
instituída como uma unidade de conservação federal, a área é gerida pelo Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A Área de Proteção Ambiental das
Ilhas e Várzeas do Rio Paraná (APAIVRP) é fundamental na conservação da
biodiversidade da região, atuando na proteção dos atributos ecológicos encontrados nas
planícies do rio Paraná.
Ademais, Moraes e Bernardes (2009) registram a necessidade de mapeamentos de
maior precisão das áreas alagáveis afim de estabelecer estratégias de manejo da área
compreendida pela APA, uma vez que, tomando como base o acelerado processo de
degradação dos recursos naturais imposto a referida região, medidas de compensações
ambientais fazem-se necessárias para a preservação e conservação das paisagens
encontradas nestes territórios. No que tange as dinâmicas territoriais que potencializaram
as pressões acerca dos ambientes da APA, Milne, Murphy e Thomaz (2008, p. 10)
destacam o desenvolvimento da atividade pecuária:
Extensas áreas da planície do rio Paraná têm sido submetidas à pastagem por
gado nos últimos 50 anos. Esta atividade é especialmente observada na várzea
e nas ilhas da “Área de Proteção Ambiental das Ilhas e Várzeas do Rio Paraná”,
para onde o gado é levado principalmente durante o inverno, quando a
pastagem nas fazendas do lado paranaense apresentam uma perda da qualidade
do pasto em função da seca. Observações realizadas na área sugerem
fortemente que a pastagem por gado foi uma importante pressão ambiental que
afetou muitas áreas sazonalmente secas da planície de inundação do alto rio
Paraná [...].
Além da atividade pecuária, Chicati, Nanni, Oliveira e Cezar (2009) atentam que,
a qualidade dos solos encontrados na APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná estimulam o
desenvolvimento de atividades agrícolas, tais como a cultura de arroz. Neste sentido,
aliado às práticas pecuárias, estes cultivos também possuem potencial, a depender da
escala de produção, de estabelecer alterações nas paisagens deste ícone. Considerando
tais ressalvas do uso e ocupação da APA, Limont e Müller (2015) destacam a função da
unidade de conservação enquanto instrumento garantidor do uso sustentável destas áreas,
possibilitando a melhoria da vida das comunidades locais e do entorno.
No que tange o Zoneamento Ecológico-Econômico, o ícone de paisagem está
inserido na Zona Iguatemi – ZIG. Mato Grosso do Sul (2015) indica que as
recomendações para esta zona devem considerar as condições naturais e a tradição
histórica regional, as quais permeiam ações ligadas ao extrativismo vegetal, estimulando
180
ciclos produtivos que agreguem aos processos de recuperação do bioma de Mata
Atlântica. Considerada uma zona de consolidação, Mato Grosso do Sul (2015) recomenda
o desenvolvimento da agricultura atrelada a pecuária semiextensiva, bem como atividades
ligadas a agroindústria, industrializações em geral e a silvicultura. Quanto a medidas de
conservação/preservação das paisagens, o autor op. cit. (p. 86) descreve que:
O fato dessa Zona possuir apenas 1/5 de sua vegetação nativa, com importantes
fragmentos da mata atlântica, um dos biomas mais ameaçados do Brasil e do
estado e abrigar extensas áreas de várzeas, confere a essa Zona alto grau de
importância para a conservação e uso sustentável da biodiversidade e dos
recursos por ela sustentados, como água, solo, pesca, turismo e
hidroeletricidade. A existência de grandes áreas protegidas legalmente
instituídas como APAs, Parques e RPPNs, bem como de um comitê de bacias
hidrográficas atuante, o da Bacia do rio Ivinhema, favorece a implantação de
pagamento por serviços ambientais, dentre outros instrumentos de gestão
ambiental territorial e usos sustentável dos recursos naturais, em função do
suporte institucional e de governança já instituídos.
Considerando tais reflexões, destaca-se que a pesquisa tem como uma de suas
premissas estabelecer suportes que propiciem ferramentas de conservação dos ícones de
paisagem de Mato Grosso do Sul, neste caso, através de mapeamentos que permitam o
desenvolvimento do Turismo de Natureza, modalidade que pode possibilitar estímulos
para a manutenção das paisagens icônicas do estado.
A singularidade paisagística deste ícone vai ao encontro do que relata Cauquelin
(2007), uma vez que, a autora relata o caráter sedutor e persuasivo de um ícone a partir
de uma unidade/totalidade. No caso da APA, essa unidade é ressaltada principalmente em
função de sua amplitude hídrica que, juntamente com as relevantes faixas vegetacionais,
oferece um conjunto paisagístico homogêneo e aprazível.
Apesar da área da APA compreender parte dos territórios de três estados brasileiros
(Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná) e que, a estruturação paisagística independe de
barreiras limítrofes políticas-administrativas, ressalta-se que a investigação priorizará a
aferição do ícone de paisagem no âmbito sul-mato-grossense, admitindo tais paisagens
como possíveis bases para o estabelecimento de planejamento turístico em Mato Grosso
do Sul, neste caso, privilegiando atividades ligadas ao segmento do Turismo de Natureza.
3.2.5 Serra da Bodoquena
Do ponto de vista paisagístico de Mato Grosso do Sul, a Serra da Bodoquena (figura
34), conjuntamente com o Pantanal, apresenta-se como uma das maiores referências no
181
estado. Além de sua exuberância respaldada pelo relevo de destaque e vegetação nativa
relevante, a Serra é abrangida por um grande número de mananciais, os quais se destacam
em função de sua característica cristalina, advinda da relação de sua morfologia cárstica
resultante de rochas calcárias.
Figura 34 - Localização ícone de paisagem Serra da Bodoquena.
Elaboração: LIMA, 2020.
182
Além disso, a Serra da Bodoquena é associada ao município de Bonito-MS, o qual
foi referenciado por anos consecutivos como principal destino ecoturístico no mundo.
Acerca da singularidade dos recursos hídricos da Serra da Bodoquena, a Fundação
Neotrópica do Brasil (2019, p. 12) rela que:
[...] seus rios de água cristalina proporcionam paisagens de beleza cênica que
atraem milhares de turistas todos os anos para a região da Serra da Bodoquena.
Devido a sua característica cárstica, a região atua como uma grande superfície
de captação e armazenamento de água das chuvas, garantindo a perenidade de
rios que nascem na região, como o Salobra, o Perdido, o Formoso e o Prata,
todos com reconhecida importância econômica para o ecoturismo da região.
Além disso, todos esses rios irão desaguar por fim na planície pantaneira (rio
Miranda e Paraguai), o que torna a região de grande importância para a
manutenção do fluxo de inundação da planície, contribuindo assim no
equilíbrio e conservação também do bioma Pantanal.
Prova de sua relevância, aponta-se para recentes estudos direcionados para a
referida área, os quais Ribeiro (2017), Eichenberg (2018), Costa (2018) e Medeiros
(2020) empenharam esforços em discussões e análises que permearam a Serra da
Bodoquena em diferentes aspectos, visando compreender distintas vertentes que
abrangem esta porção de Mato Grosso do Sul, tais como: qualidade dos recursos hídricos
e dinâmicas territoriais como o turismo, agricultura e pecuária.
A Serra da Bodoquena (figura 35), imponente conjunto geomorfológico de Mato
Grosso do Sul, está localizada na face sudeste da planície pantaneira entre as coordenadas
19º 45’ e 22º 15’ de latitude sul e entre 57º 30’ e 56º 15’ de longitude oeste, e estende-se
ao longo 200 quilômetros em direção ao norte do estado com aproximadamente 50
quilômetros de largura, atingindo cotas de altitude que chegam até 800 metros (SALLUN
FILHO; KARMANN; BOGGIANI, 2004).
183
Figura 35 - Paisagem da Serra da Bodoquena. Destaque para o conjunto contínuo de
relevo que constituí a paisagem.
Autor: LIMA, 2021.
Indicando a importância da Serra da Bodoquena, Oliveira, Fernandes, Garnés e
Santos (2009) lembram a criação do Parque Nacional da Serra da Bodoquena em
setembro de 2000, o qual foi instituído com intuito de frear a degradação ambiental,
entretanto, essa tentativa não teve grande efetividade, uma vez que, grande parte de sua
extensão conflitara com questões fundiárias não regularizadas. Os autores op. cit.
ressaltam que, mesmo com as medidas protetivas da legislação ambiental, as quais
resguardam encostas e morros com declividades acima de 45º graus, as queimadas e
desmatamentos perduram ao longo dos anos na Serra. Segundo a Fundação Neotrópica
do Brasil (2019), o Parque Nacional da Serra da Bodoquena é a unidade de conservação
federal que está inserida 100% em território sul-mato-grossense, abrangendo os
municípios de Bonito, Bodoquena, Jardim e Porto Murtinho. A área que compreende o
parque é de 76.481 há, de acordo com Batista-Maria (2007).
O Parque Nacional da Serra da Bodoquena visa assegurar a perpetuidade dos
elementos ligados a fauna, flora, geomorfologia, paisagem, recursos hídricos, dentre
outros recursos. A preservação de tais aspectos evidenciam o parque como “verdadeiros
laboratórios vivos”, permitindo assim a ampla aplicação de pesquisas científicas em seus
domínios. Destarte, a parque é valorizado enquanto patrimônio natural, abarcado por
visões conservacionistas. Contraditoriamente ou não, muito em função de suas
184
singularidades, suas paisagens também são alvo de apropriação do mercado turístico
(RIBEIRO, 2017).
Discorrendo sobre o Parque Nacional da Serra da Bodoquena, o ICMBio (2013)
destaca a condição singular deste, uma vez que, encontra-se em uma área de superposição
de duas Reservas da Biosferas de interesse, segundo a UNESCO (Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura): a Mata Atlântica e o Pantanal.
Entretanto, é importante ressaltar o incipiente conhecimento acerca da fauna de
invertebrados da região, denotando o ainda baixo conhecimento da diversidade deste
grupo na área do parque. Um dos pontos que podem justificar essa falta de informação é
dificuldade de acesso e a baixa acessibilidade em diferentes pontos do parque, tornando
assim limitado o trabalho de pesquisadores, dificultando a catalogação de espécies e
amostras tanto de fauna quanto flora. Assim sendo, a região da Serra da Bodoquena é
compreendida como um conjunto paisagístico de grande potencial e relevância no que
tange sua biodiversidade (FUNDAÇÃO NEOTRÓPICA DO BRASIL, 2019).
Além da condição de Parque Nacional, em 2009, a Serra da Bodoquena,
conjuntamente com o Pantanal sul-mato-grossense, ganha uma nova e importante
chancela como relevante conjunto paisagístico: de geoparque. Acerca da definição de
geoparque, o ICMBio (2013, p. 8) cita que:
Em 2004, a UNESCO criou a Rede Mundial de Geoparques sob a filosofia de
que a herança geológica da Terra deve ser objeto de proteção passível de ser
integrado a uma estratégia de fomento ao desenvolvimento social e econômico
nos territórios. Os geoparques recebem tratamento equivalente às Reservas da
Biosfera e aos Patrimônios da Humanidade. O conceito de geoparque não se
encontra previsto nas categorias jurídicas de conservação. Refere-se a uma
rede de locais e itinerários de interesse e relevância, os quais são chamados
Geossítios. Através destes é possível encontrar elementos para a compreensão
da evolução geológica e paleontológica da região sob enfoques ecológicos,
científicos, arqueológicos, históricos, culturais e recreacionais.
Quanto a sua abrangência, o ICMBio (2013) e Costa (2018) indicam que este deve
ter sua delimitação física bem definida (figura 36) e, este deve abarcar a relação humana
para com o meio físico e biológico, primando de maneira prioritária a busca pelo
desenvolvimento sustentável aliado a conservação e a educação. Inicialmente delimitada
em uma área de 39, 700 km² via Decreto Estadual9, a proposta apresentada no dossiê de
candidatura como Geoparque delimitou uma área de 20.000 km², estipulada em um
9 Art. 2, Decreto Nº 12.897, de 22 de dezembro de 2009.
185
polígono irregular localizado entre os paralelos 18º48” e 22º14” de latitude sul e
meridianos 55º45” e 57º56” de longitude oeste de Greenwich.
Detalhando o processo de criação do Geoparque Bodoquena Pantanal, o ICMBio
(2013, p. 8) cita que:
O Decreto estadual nº 12.897, de 22 de dezembro de 2009, criou o Geoparque
Bodoquena Pantanal diante de diversas constatações [...]. Na Serra da
Bodoquena, ocorrem fósseis da megafauna pleistocênica que conviveram com
seres humanos na última glaciação (12.000 a 20.000 anos atrás). O Parque
Nacional da Serra da Bodoquena, zona núcleo das Reservas da Biosfera do
Pantanal e da Mata Atlântica, apresenta grande singularidade geológica, com
relevo de natureza cárstica e formação de tufas calcárias. Duas grutas tombadas
pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Lago
Azul e Nossa Senhora Aparecida, localizam-se em unidades de conservação
da categoria Monumento Natural. Na margem direita do rio Paraguai ocorrem
afloramentos de rochas com estromatólitos, importante registro científico da
evolução das primeiras formas de vida do planeta [...]. Esses e outros
fenômenos foram utilizados como justificativa para a criação de uma rede de
geossítios no Mato Grosso do Sul.
Quanto a sua localização, Rolim e Theodorovicz (2012) indicam que o Geoparque
Bodoquena Pantanal compreende em Mato Grosso do Sul as microrregiões da
Bodoquena; Baixo Pantanal e Aquidauana, abrangendo parcialmente a área de 11
municípios do estado: Bela Vista, Bodoquena, Bonito, Caracol, Corumbá, Guia Lopes da
Laguna, Jardim, Ladário, Miranda, Nioaque e Porto Murtinho. Ao longo de sua extensão,
os autores op. cit. relatam que a área do Geoparque compreende feições de relevo
contínuos e dissecados, inclusive a Serra da Bodoquena.
Figura 36 - Delimitação do Geoparque Bodoquena Pantanal em Mato Grosso do Sul.
186
Fonte: COSTA, 2018, p. 48.
Considerando o aspecto turístico, a Fundação Neotrópica do Brasil (2019) ressalta
a importância econômica da Serra da Bodoquena neste setor, uma vez que, no ano de
2018, este ícone de paisagem foi responsável por atrais 201 mil turista apenas na região
de Bonito-MS. Assim, a atividade é responsável por gerar direta ou indiretamente 60%
dos empregos na região. Destarte, o autor op. cit. destaca o desenvolvimento da economia
local a partir da produção da natureza, fato que coloca a Serra da Bodoquena na rota de
investimento do governo estadual, que injeta parte de seu orçamento no desenvolvimento
turístico da região. Considerando suas características e potencialidades, Mato Grosso do
Sul (2011) indicar serem justificados os incentivos ao desenvolvimento turístico no
estado.
Para Moretti e Lobo (2009), as áreas naturais têm forte relação com a atratividade
turística da região, consolidando o turismo na Serra da Bodoquena nos últimos anos, tanto
em âmbito nacional, quanto internacional. Neste cenário, o ecoturismo, segmento
designado pelo mercado e por diferentes estâncias da sociedade, é apontado como aquele
que vêm predominando no desenvolvimento de atividades turísticas na Serra da
Bodoquena.
187
Entretanto, Mato Grosso do Sul (2011) pondera a falta de integração da marca
Bonito-Serra da Bodoquena, uma vez que, é notória a construção da imagem individual
de Bonito-MS como destino turístico, nem sempre abarcando de maneira conjunta outros
pontos da Serra de Bodoquena. Assim sendo, destaca-se a necessidade de aproveitar-se
do marketing turístico angariado pelo destino Bonito para disseminar o desenvolvimento
do turismo na Serra da Bodoquena, algo que pode ser contemplado com práticas de
Turismo de Natureza.
De acordo com Mato Grosso do Sul (2015), o ícone de paisagem liga-se a Zona
Serra da Bodoquena – ZSB do Zoneamento Ecológico-Econômico de Mato Grosso do
Sul, região que é apontada como área de relevante beleza natural e dotada de bom nível
de preservação. Nesta zona, as principais atividades desenvolvidas são a pecuária e
turismo, apresentando até o momento níveis suportáveis de pressão ambiental. Segundo
o autor op. cit. (p. 137):
Considerando que essa Zona abriga quase a totalidade do relevo cárstico do
estado, com rios e cachoeiras de águas cristalinas além do maior conjunto de
remanescentes do Bioma Mata Atlântica do Mato Grosso do Sul, proporciona
a esta Zona uma maior atratividade turística baseada em ambientes naturais,
contudo é fundamental a implementação de estratégias de conservação de seu
capital natural, especialmente os recursos hídricos e biodiversidade.
Apesar da singularidade dos ambientes encontrados nesta zona, o ZEE-MS destaca
a presença de solos férteis nessa região, estimulando novos investimentos no setor
agropecuário e na exploração de minérios (MATO GROSSO DO SUL, 2015).
Diante do explicitado, é possível inferir que a Serra da Bodoquena encontra-se em
um patamar de relevante conjunto paisagístico em que pode ser considerado um ícone de
paisagem no contexto sul-mato-grossense, de maneira que, em virtude de seus elementos
bióticos e abióticos (inclusive ressaltados a partir da criação do Parque Nacional e do
Geoparque) concretize paisagens com característica que embasam o desenvolvimento do
Turismo de Natureza nesta porção de Mato Grosso do Sul.
189
4. CAPÍTULO IV - O EMPIRISMO, A ANÁLISE E A COMPREENSÃO DOS
ÍCONES DE PAISAGENS
Comum a todos os processos de desenvolvimento de pesquisas científicas, a
metodologia é uma importante etapa a ser destacada dentro destas construções. Assim
sendo, são descritos a seguir as etapas que permeiam a construção da referida pesquisa,
perpassando pela construção inicial das bases bibliográficas, pela coleta de dados de
campo, pela construção de estruturas que permitam o desenvolvimento de análises, pelo
processo de análise em si e, por fim, pela apresentação das discussões e de produtos
derivados da tese.
Destarte, considera-se como ponto inicial da pesquisa a construção das bases
bibliográficas que deem suporte para as temáticas que serão abordadas ao longo da tese.
Para Amaral (2007), a pesquisa bibliográfica é fundamental para o andamento de toda a
pesquisa, influenciando o desenvolvimento das demais etapas para sua conclusão. A
respeito da construção bibliográfica, Treinta et. al. (2014) chamam a atenção para a
dificuldade dos pesquisadores em delinear os referenciais que mais se adequam as
discussões propostas, uma vez que há uma grande quantidade de materiais, sejam artigos
científicos, artigos de internet, livros, teses, dissertações, etc., que podem servir de
embasamento nas pesquisas. Tal etapa visa contemplar alguns objetivos, conforme indica
Pizzani (2012, p. 54):
A revisão de literatura tem vários objetivos, entre os quais citamos: a)
proporcionar um aprendizado sobre uma determinada área do conhecimento;
b) facilitar a identificação e seleção dos métodos e técnicas a serem utilizados
pelo pesquisador; c) oferecer subsídios para a redação da introdução e revisão
da literatura e redação da discussão do trabalho científico.
No contexto da pesquisa bibliográfica, entende-se que as produções científicas
desenvolvidas até aqui nas diferentes áreas do conhecimento são suportes para pesquisas
contemporâneas e futuras, de maneira que, estas possibilitam o aprendizado acerca de
diferentes temas, o amadurecimento de discussões, bem como permite o avanço e novas
descobertas no contexto das referidas temáticas (PIZZANI, 2012). No que concerne a
relevância da pesquisa bibliográfica, Galvão (2010, p. 1) cita:
Pode-se afirmar, então, que realizar um levantamento bibliográfico é se
potencializar intelectualmente com o conhecimento coletivo, para se ir além.
É munir-se com condições cognitivas melhores, a fim de: evitar a duplicação
de pesquisas, ou quando for de interesse, reaproveitar e replicar pesquisas em
diferentes escalas e contextos; observar possíveis falhas nos estudos
190
realizados; conhecer os recursos necessários para a construção de um estudo
com características específicas; desenvolver estudos que cubram lacunas na
literatura trazendo real contribuição para a área de conhecimento; propor
temas, problemas, hipóteses e metodologias inovadores de pesquisa; otimizar
recursos disponíveis em prol da sociedade, do campo científico, das
instituições e dos governos que subsidiam a ciência.
Neste universo do amparo bibliográfico no desenvolvimento de pesquisas
científicas, Pizzani (2012) ressalta a importância do avanço tecnológico de informação e
comunicação, conjuntamente com crescimento da produção científica, conjectura a qual
ampliou a difusão de bases de dados permeados por um relevante e confiável conjunto de
artigos e trabalhos científicos de diversas áreas do conhecimento. Além destas bases
digitais de conhecimento, lembra-se ainda que, até mesmo os livros físicos, tomados
como meios tradicionais de fonte de informações, têm sido disponibilizados em meios
digitais, facilitando o acesso a informação e a ampliação das fontes de consulta para
subsidiar as pesquisas.
Assim sendo, a primeira etapa da pesquisa consistiu no levantamento bibliográfico
acerca das temáticas que envolvem a investigação: a paisagem, o Turismo de Natureza e
os ícones de paisagem elencados na pesquisa. Para tal aferição, buscou-se realizar
pesquisas bibliográficas em revistas especializadas, banco de teses e dissertações da
CAPES bem como o portal de periódicos da mesma instituição; consulta a livros e E-
Books, documentos estatais, sites de pesquisa nacionais e internacionais, assim como
banco de dados de variadas fontes institucionais.
É importante ressaltar que, considerando principalmente as temáticas da paisagem
e do Turismo de Natureza, primou-se pelo aprofundamento em referências internacionais.
Além disso, considerando a necessidade do estabelecimento de modelos de análises
apresentados enquanto objetivos da pesquisa, buscou-se o aporte bibliográfico para
subsidiar as análises propostas.
Realizada esta etapa inicial, a qual considera-se primordial para o embasamento de
dos demais procedimentos realizados na confecção da tese, apresenta-se na sequência as
demais etapas metodológicas utilizadas. Nesta abordagem, pretende-se explanar
primeiramente sobre o caráter empírico da pesquisa, discorrer sobre o processo de
construção cartográfica da tese, apresentar o processo de organização, planejamento e
execução dos trabalhos de campo e, por fim, apresentar informações acerca da estrutura
das paisagens dos ícones elencados em Mato Grosso do Sul organizadas a partir das
construções cartográficas e das aferições de campo.
191
4.1 O empirismo como instrumento da investigação científica
Desenvolver estudos acerca da categoria analítica da paisagem apresenta-se como
um desafio no que tange a compatibilização e equilíbrio entre aquilo que pode ser
analisado teoricamente e aquilo que necessita de uma maior aproximação do objeto em
questão.
A pesquisa aqui tratada tem o seu start a partir de reflexões teóricas acerca das
paisagens de Mato Grosso do Sul, de maneira que, aquilo que tem sido tratado aqui como
“ícones de paisagem” foram estabelecidos a priori a partir de análises e observações de
dados secundários, os quais possibilitaram uma primeira aproximação da hipótese de
existência dos referidos ícones.
Entretanto, apesar desta primeira aproximação, o trato dos referidos ícones de
paisagem carece de um aprofundamento maior, de maneira que, uma avaliação empírica
destes conjuntos paisagísticos justifica-se como condição sine qua non para validar tais
conjuntos paisagísticos. Neste contexto, o aparato metodológico de aferição de paisagens
deve ser composto de um conjunto de ações que viabilizem interpretar da melhor maneira
possível os enlaces que estruturam os conjuntos paisagísticos, aparato este que deve ser
permeado deste os embasamentos teóricos, até a experimentação/vivência prática das
paisagens em questão.
Nas visões de Moretti et. al. (2019), o crescente interesse em técnicas de análise de
campo, assim como interpretações de imagens espaciais e fotografias aéreas, têm
ampliado a variedade das possibilidades de estudo das paisagens e suas potencialidades
de uso, como por exemplo, o turismo.
Considerando tal importância do empirismo nas investigações científicas, permite-
se nesse momento discorrer brevemente sobre o trabalho empírico e, consequentemente,
justificar sua aplicação na pesquisa aqui tratada. Todavia, ressalta-se que não se pretende
aqui desenvolver um extenso e detalhado levantamento histórico e conceitual acerca do
empirismo, mas sim contextualizar sua aplicação no que tange a metodologia aplicada na
investigação dos ícones de paisagem de Mato Grosso do Sul.
Na tentativa de validação dos estudos empíricos que permeiam a temática da
paisagem, Strachulski (2015) lembra a influência de Alexander Von Humboldt no início
do século XIX, o qual pautava-se pela concepção empírica e estética da paisagem,
empenhada na verificação das paisagens por meio da observação das diferentes formas
de vegetação. O autor op. cit reforça que, no processo de investigação cientifica da
192
natureza, esta não deve ser apenas descrita, mas deve também ser entendida, compreensão
a qual pode ser desenvolvida a partir do empirismo, tão abordada na visão estética
utilizada por Humboldt.
Conforme destacado por Batista, Mocrosky e Mondini (2017), esta concepção de
ciência visa aliar o aspecto teórico das pesquisas com o suporte prático na busca de
respostas mais fidedignas da realidade estudada. Dentro deste contexto, é importante
destacar que, diferentemente do que muitos imaginam, as práticas empíricas requerem
um embasamento racional, conforme destaca Haguete (2013, p. 197):
O empirismo não dispensa a razão embora possa reduzi-la a uma razão
instrumental como arguiu a Escola de Frankfurt. O empirismo não é um
irracionalismo, embora possa ser um enfraquecimento da razão. Ele é uma
forma de conhecimento e exige racionalidade; não pode, portanto, ser rejeitado
simplesmente. Ele pode – e deve – ser corrigido, tornando-o consciente do fato
de não ser mera reflexão sensível na passividade da mente.
No âmbito da Geografia, Santos (1999, p. 124) destaca a importância das práticas
empíricas nas pesquisas deste campo do conhecimento:
Diríamos que somente as teorias geográficas, na verdade, não garantem o
caráter normativo da interpretação final da realidade. Portanto, a pesquisa
empírica e o trabalho de campo, deverão garantir abordagens interpretativas,
da realidade, pois ao invés de buscarmos conceitos puros, a Geografia
ampliaria a sua reflexão em relação aos diferentes usos dos conceitos na
realidade prática. Assim, a existência concreta de diferentes operacionalidades
teórico-empíricas da realidade pode indicar as possibilidades de encontrar em
outros pensadores e outras ciências contribuições para o avanço da Geografia.
Ao comentar sobre as bases para investigações qualitativas, Santos et. al. (2018)
ressaltam a tríade formada pela pesquisa bibliográfica, execução de registros fotográficos
e as observações empíricas como relevante conjunto metodológico, de maneira que, a
participação do pesquisador é efetiva e importante no professor de compreensão do
contexto que envolve o objeto estudado.
A adoção do empirismo tem sido cada vez maior no metiê científico, inclusive
integrando parte dos procedimentos de pesquisas tanto qualitativas, quanto quantitativas,
conforme aponta Haesbaert (2015, p. 8):
Ao lado de um reconhecimento da "objetividade" material da realidade, muitos
pesquisadores reconhecem no processo de conhecimento a percepção e/ou a
"experimentação" como momento preponderante nesse processo. Daí os
múltiplos sentidos da concepção empirista, muitas vezes utilizada tanto por
aqueles que priorizam a observação e a descrição direta ("de campo"), quanto
para aqueles que, mesmo fazendo uso de "n" fórmulas e modelos teóricos,
acabam sempre sobrevalorizando a "objetividade" dos dados empíricos, a sua
"experimentação" (ainda que feita em laboratório), traduzindo assim o
193
conhecimento pela dimensão formal e pela pretensa exatidão que os próprios
dados (geralmente estatísticos) assegurariam. Para muitos geógrafos
contemporâneos, a chamada "Geografia quantitativa", partidária desse "neo-
empirismo" ou "empirismo lógico", neopositivista, realizaram apenas uma
descrição mais sofisticada e muitas vezes mais abstrata, em relação aos
empiristas da Geografia clássica.
Em suma, a aplicação empírica no processo de desenvolvimento científico conduz
a uma inserção sensitiva do pesquisador para com seu objeto de pesquisa, dando ênfase a
aspectos singulares do objeto a partir de uma leitura “subjetiva” do investigador,
evidenciando particularidades existentes na realidade posta. Neste sentido, ao adotar
práticas empíricas em sua investigação, o pesquisador pode apontar dois caminhos a
serem seguidos: o primeiro é apontar para uma realidade compreensível a partir da
subjetividade, a qual pode assumir diferentes concepções a depender do ponto de vista de
cada indivíduo ou grupo; o segundo é adotar um “empirismo objetivo”, de maneira a
adotar uma visão única, objetiva e particular da realidade averiguada (HAESBAERT,
2015).
No que tange as verificações dos ícones de paisagem em Mato Grosso do Sul, as
práticas empíricas permitem a adoção híbrida das duas vertentes apontadas anteriormente.
Se por um lado a experiência permite observar as diferentes realidades e percepções que
envolvem os ícones e seus atores envolvidos, por outro é possível integralizar a visão de
paisagem como um conjunto que permita vislumbrar a atividade turística como um
elemento que permeie e atinja aspectos ligados ao ambiente, a economia, sociedade e
cultura.
Acerca do desenvolvimento de um trabalho teórico-empírico, Santos (1999) lembra
que, para que seja possível desenvolver novas descobertas (seja qual for o campo do
conhecimento) é necessário considerar a realidade posta para o objeto estudado, bem
como levar em consideração os diferentes processos que permeiam seu entorno. Neste
sentido, é importante considerar os possíveis grupos sociais que de maneira direta ou
indireta atrelam-se ao objeto de estudo.
No caso da investigação dos ícones de paisagem em Mato Grosso do Sul, estes estão
inseridos em contextos das mais diversas ordens, tais como: áreas protegidas, terras
indígenas, áreas de fronteira, comunidades autóctones, áreas ligadas a gestão pública,
áreas privadas de usos múltiplos, dinâmicas territoriais, etc., ou seja, cada ícone, dentro
de sua realidade, mantém diferentes processos relacionais, os quais podem ou não incidir
diferentes conotações dentro do processo de investigação dos ícones. Neste sentido, levar
em consideração tais especificidades é de suma importância dentro da determinação dos
194
ícones de paisagem e sua relação com o desenvolvimento do Turismo de Natureza,
percepções/considerações que, na maioria das vezes, só podem ser atribuídas com o
suporte das experiências empíricas. Neste contexto, Santos (1999, p. 120) considera que
“A importância do empírico, portanto, é promover contato, ou seja, é a análise voltada
para as tendências de interpretações que os pesquisados promovem do mundo, num
movimento dinâmico orientado pelas determinações sociais do seu lugar”.
Porém, Santos (1999) ressalta ser necessário atentar-se para a dimensão da pesquisa
desenvolvida, de maneira que, na medida em que o pesquisador se debruça no estudo de
um dado objeto, tais esforços implicam em consequências neste, bem como para os
sujeitos que estão integralizados direta ou indiretamente em seu contexto. Exemplos
dessas consequências podem ser o estimulo de intervenções públicas ou de empresas
privadas, podendo viabilizar ações, possibilitar medidas de controle, bem como atrair
capitais públicos e/ou privados no investimento de infraestruturas.
Algo que também é oportuno frisar é a relação entre sujeito e objeto na pesquisa.
Batista, Mocrosky e Mondini (2017) discorrem sobre a relação opositiva entre estes
elementos na pesquisa, uma vez que, recorrentemente percebe a preocupação e a
necessidade de distanciamento entre estes, de maneira que, não haja interferência das
preferências do sujeito para com o seu objeto de estudo. Em certa medida, acredita-se
que, essa plausível interferência impossibilite a aquisição de dados isentos de
pessoalidades do observador.
No caso da pesquisa dos ícones de paisagem de Mato Grosso do Sul, apesar do
caráter geográfico do estudo, é notória a tentativa de direcionamento da pesquisa para o
segmento turístico, condição a qual, a priori, apesar da segmentação, visa abarcar uma
série de vertentes, tais como o direcionamento territorial, estimulo a questões ambientais
e valorização social e cultural.
Em suma, Batista, Mocrosky e Mondini (2017) discutem a impossibilidade de
delimitar uma forma universal e considerada ideal para desenvolver a busca pelo
conhecimento, uma vez que, a maneira como cada objeto deve ser abordado é muito
particular de cada pesquisa, cabendo ao pesquisador delinear o roteiro metodológico que
melhor responda seus questionamentos, e que permitam alcançar os objetivos propostos
na investigação. A fim de sintetizar as reflexões estabelecidas até aqui, a pesquisa em
questão buscou estabelecer um conjunto metodológico (figura 37) que melhor possibilita-
se conceituar os ícones de paisagem, bem como identifica-los no território sul-mato-
grossense.
196
Neste âmbito, a figura 37 tem como premissa o detalhamento dos estágios
metodológicos que permearam a construção da tese, dentre os quais, no estágio I
apresenta-se os principais temas teóricos que embasam as discussões da tese, no estágio
II são elencadas as fontes de dados (primários e secundários), bem como os softwares
utilizados nas construções cartográficas e, por fim, o estágio III detalha o processo de
análise, indicando os softwares utilizados para as análises e sínteses dos dados
compilados, bem como as resultados e considerações observados ao final da pesquisa.
4.2 A construção cartográfica: bases, ferramentas e procedimentos
No que concerne a investigação dos ícones de paisagem em Mato Grosso do Sul, a
cartografia apresenta-se como importante elemento de mapeamento e interpretação dos
referidos conjuntos. Juntamente com os supracitados embasamentos teórico e práticas
empíricas, a construção cartográfica amplia os horizontes das análises tanto teóricas,
quanto práticas, atuando assim como importante suporte na investigação das paisagens.
Corroborando com a importância da cartografia na investigação científica,
Romagnoli (2009, p. 169) ressalta que:
A cartografia se apresenta como valiosa ferramenta de investigação,
exatamente para abarcar a complexidade, zona de indeterminação que a
acompanha, colocando problemas, investigando o coletivo de forças em cada
situação, esforçando-se para não se curvar aos dogmas reducionistas. Contudo,
mais do que procedimentos metodológicos delimitados, a cartografia é um
modo de conceber a pesquisa e o encontro do pesquisador com seu campo.
Entendemos que a cartografia pode ser compreendida como método, como
outra possibilidade de conhecer, não como sinônimo de disciplina intelectual,
de defesa da racionalidade ou de rigor sistemático para se dizer o que é ou não
ciência, como propaga o paradigma moderno.
No caso dos ícones de paisagem, relatou-se em momentos anteriores do capítulo as
diferentes relações territoriais existentes ao longo dos referidos conjuntos paisagísticos,
os quais interferem diretamente na configuração paisagísticas de Mato Grosso do Sul.
Além disso, considerando o ponto de vista estrutural da paisagem, está é formada por
diferentes feições dos elementos naturais, acarretando em variadas configurações
paisagísticas ao longo dos ícones. Considerando tais premissas, o mapeamento
cartográfico permite a espacialização das referidas informações de maneira mais
esclarecida, auxiliando nos processos de análise e discussões acerca das paisagens e seus
possíveis direcionamentos frente a usos, conservação, valorização, etc.
197
Algo importante a ser ressaltado é que, apesar da cartografia dar subsídios para
análises preliminares, o pesquisador só conhece a totalidade do objeto a ser estudado na
medida em que percorre e realiza um reconhecimento dos territórios que abrangem tal
realidade (COSTA, 2014).
Neste sentido, em um primeiro momento, a cartografia pode atuar como suporte
inicial de reconhecimento da realidade posta (mapas primários), bem como pode
possibilitar a construção de mapeamentos analíticos, que permitam tecer considerações e
discussões sobre o objeto estudado (mapas temáticos e mapas síntese). No caso da
pesquisa dos ícones de paisagem em Mato Grosso do Sul, os mapas primários atuaram
como suporte na execução dos trabalhos de campo, enquanto os mapas temáticos e
sínteses foram construídos a partir do processo de observação de campo, indicando
informações e reflexões pertinentes acerca dos ícones.
Nestas concepções, aliada ao trabalho empírico, a cartografia pode oferecer um
arcabouço de análises e reflexões que permitam o mapeamento e direcionamento de ações
daqueles que a priori são designados aqui enquanto ícones de paisagem no território sul-
mato-grossense, delineando caminhos para a inserção do Turismo de Natureza nas
respectivas áreas.
Na visão de Zacharias (2008), na construção cartográfica, devem prevalecer a
síntese, a objetividade, a clareza da informação e a sistematização dos elementos que
estão sendo representados. Atendidas essas qualidades, no que tange o estudo das
potencialidades e fragilidades das paisagens, os mapas temáticos são tidos como
importantes ferramentas de comunicação entre planejadores e atores sociais em
ordenamentos territoriais por meio de suas representações gráficas e visuais. Já os mapas
sínteses são tomados como o resultado de integração de informações, as quais
possibilitam vislumbrar outros aspectos analíticos das paisagens.
Face ao exposto, discorre-se a seguir sobre os principais elementos que constituíram
o processo de construção cartográfica da referida pesquisa: delimitação da área de estudo,
fonte de dados, escala de análise e o uso de softwares na construção cartográfica e
diagramação dos produtos gerados.
4.2.1 Delimitação da área de estudo e fonte de dados secundários
Desenvolver uma investigação acerca de uma determinada problemática requer a
delimitação de uma área de atuação, ou seja, definir a área ou as áreas de estudo(s) na(s)
198
qual(is) o(s) objeto(s) da pesquisa esteja(m) inserido(s). No caso de estudos voltados a
temática da paisagem, o delineamento das porções territoriais abordadas é de suma
importância para o desenvolvimento das análises e discussões que permeiam a complexão
relacionado desta categoria analítica.
Ao considerar as diferentes categorias de análise da cartografia das paisagens, a
delimitação da área de estudo é tida como a primeira etapa a ser considerada, condição a
qual Zacharias (2008, p. 39) destaca que:
Sem dúvida alguma, a delimitação da área de estudo irá depender
essencialmente dos objetivos e finalidades ao qual o futuro inventário da
paisagem se propõe. Entretanto, antes de fazer o recorte geográfico e espacial
que envolverá a área de estudo, o Geógrafo deve realizar um estudo prévio dos
principais problemas a serem levantados, das escalas (geográficas e
cartográficas) necessárias para avaliar as questões socioambientais, bem como
o tamanho (proporção) das unidades territoriais envolvidas. E, não o contrário,
como acontece em muitos trabalhos, onde talvez por um lógica de
“comodidade”, definem a área de abrangência do mapeamento, inventário e
síntese da paisagem, sem proceder um estudo prévio das reais problemáticas
envolvidas.
Dentre as possibilidades de delimitação da área de estudo, umas das possibilidades
apontadas por Zacharias (2008) chama a atenção: unidade homogênea. Nesta definição
de área pesquisada, adota-se o contorno de paisagens bem definidas, em função de suas
relações e dinâmicas internas, adotando seus limites como como área que engloba feições
homogêneas do conjunto paisagístico em questão. Como suporte desta delimitação,
podem ser utilizados também as áreas de bacias hidrográficas e limites legais. Entretanto,
tal recorte deve levar em consideração as diferentes estratégias, estudos e escalas a serem
executadas.
No caso dos ícones de paisagem de Mato Grosso do Sul, seguindo os pressupostos
teóricos que permearam a conceituação do termo no capítulo 3, a priori, delimitou-se os
ícones a partir das feições visuais das paisagens, ou seja, tomando como elementos base
aqueles que se destacam ao olhar do observador. Para tal, desenvolveu-se uma
interpretação visual de imagens de satélite e de dados secundários referente aos tipos de
relevo, vegetação e recursos hídricos de Mato Grosso do Sul, os quais auxiliaram na
delimitação de conjuntos paisagísticos com aspectos singulares do território sul-mato-
grossense (figura 38). Além disso, a delimitação legal de unidades de conservação em
Mato Grosso do Sul também auxiliou na delimitação de alguns ícones, como por exemplo,
da APA Várzeas e Ilhas do Rio Paraná.
199
Figura 38 - Singularidade dos elementos da paisagem, correlações para a escolha dos
ícones.
Elaboração: LIMA, 2020.
Quanto aos dados que deram suporte a construção cartográfica, foi necessário
elaborar uma pesquisa de fonte de dados cartográficos secundários, de maneira a
encontrar subsídios de dados vetoriais e rasters que propiciassem a construção das cartas
e/ou mapas temáticos e síntese que compreendem os ícones de paisagem. Desta maneira,
buscou-se nas bases de geoinformações do IBGE, IMASUL e USGS a coleta dos
referidos dados (quadro 2) para a composição da construção cartográfica da pesquisa.
Além do uso dos dados relacionados com o destaque visual dos ícones de paisagem
(relevo, vegetação e recursos hídricos), ressalta-se que, a título de apresentar informações
complementares, buscou-se o uso e apresentação de dados acerca de aspectos referentes
a litologia, aos solos e ao clima dos ícones de paisagem.
200
Quadro 2 – Dados secundários utilizados na pesquisa
Fonte Tipo de
dado
Ano Escala
Litologia IBGE Vetorial 2019 1:250.000
Relevo IBGE Vetorial 2019 1:250.000
Solos IBGE Vetorial 2019 1:250.000
Vegetação /
Usos das
terras
IBGE Vetorial 2019 1:250.000
Rede de
drenagem
IBGE Vetorial 2019 1:250.000
Imagem de
Satélite
Sentinel-2ª
USGS Raster 2019 Resolução
de 20
metros
Unidades de
Conservação
IMASUL Vetorial 2020 1:250.000
Organização: LIMA, (2020)
4.2.2 Escala de abordagem
Na pesquisa científica, a determinação da escala de abordagem apresenta-se como
relevante elemento a ser considerado na investigação, uma vez que, esta, permite
estabelecer uma relação escalar com a realidade do objeto em questão. Além disso,
considerar a escala de abordagem pressupõe adequar a qualidade dos dados utilizados
para com a escala de apresentação dos possíveis produtos, neste caso, de cartas e mapas.
Do ponto de vista conceitual, Santos (2012, p. 105) descreve a escala como algo
relativamente simples, atrelando-a “[...] uma medida de proporção entre o que é
representado num mapa e suas dimensões no mundo real”. Quanto a sua abrangência, a
autora op. cit. (p. 105) explica que “A distinção entre pequena e grande escala na
cartografia está relacionada ao tamanho ou as dimensões de ocorrência do fenômeno
estudado”.
201
Na visão de Francisco (2011), a depender dos objetivos da pesquisa, a escala de
análise influencia no grau de generalização ou de detalhamento de determinados aspectos.
Quanto a importância do delineamento da necessidade de apresentação de dados gerais
ou de nível de detalhe, Santos (2012, p. 103) apresenta um exemplo mais caro sobre a
referida questão:
Sobre a problemática da escala, tomemos como exemplo para essa discussão,
os principais mapas de solos do Brasil, que se apresentam em escalas pequenas
e extremamente generalistas. Diante as dimensões continentais do país, se
fazem necessários mapeamentos com escalas compatíveis a realidade
regional/local, que se aproximem ao máximo da realidade do fenômeno a ser
representado, neste caso, o solo.
Neste caso, convém lembrar que os fenômenos geográficos podem estar atrelados
a variadas escalas. No entanto, pode ser impossível compreende-lo a depender da escala
em que se pretende trabalhar. Em suma, algumas escalas (geográficas maiores) impedem
a visualização de alguns fatores, sendo necessário assim adotar escalas que permitam uma
melhor interpretação dos fatores que sejam pertinentes para a pesquisa
(ZACHARIAS,2008).
Neste processo de relação entre a escala a ser utilizada e o objeto a ser observado,
Castro (2014) ressalta a importância da pertinência do objeto, devendo assim atribuir a
escala que melhor responda a esta pertinência, podendo até mesmo serem utilizadas
diferentes escalas durante o processo de pesquisa. Ainda na concepção de Castro (2014),
destaca que todo fenômeno está relacionado com uma dimensão de ocorrência,
observação e de análise julgada como mais adequada. Neste sentido, a escala é associada
como uma medida, a qual não necessariamente seja a mesma do fenômeno, mas sim uma
medida proporcional que permita melhor observá-lo, apreciá-lo e analisá-lo. Em suma, a
escala pode ser considerada como uma maneira de dividir o espaço, estabelecendo um
paralelo entre a realidade percebida e a concebida, de maneira que, por meio desta
representação, seja possível atribuir significados e designar reflexões coerentes e lógicas
a partir deste modelo representado.
Tomando o caso dos ícones de paisagem e, considerando a grande expansão
territorial atribuída a estes, as construções cartográficas são tomadas como possibilidades
de representações dos referidos conjuntos paisagísticos, de modo que, a partir da
definição escalar, seja possível compreender a estrutura destas paisagens e,
consequentemente, designar as considerações e reflexões que se apresentam pertinentes
aos objetivos traçados na pesquisa.
202
No caso das paisagens, há um arcabouço teórico acerca das escalas atribuídas aos
estudos paisagísticos, designando escalas taxonômicas para desenvolver investigações
voltas as paisagens. Geralmente, tais concepções escalares do estudo da paisagem estão
atreladas ao ramo da geoecologia das paisagens, trata por exemplo por Rodriguez, Silva
e Cavalcanti (2007).
Tomando as discussões aqui realizadas, a pesquisa aqui desenvolvida não buscou
estabelecer uma escala de abordagem padrão, uma vez que, os referidos ícones de
paisagem apresentam diferentes extensões territoriais, fato que dificulta a padronização
de uma escala de análise única. Assim sendo, buscou-se utilizar as escalas que melhor
representa-se cada conjunto paisagístico, maximizando a relação entre o nível de
detalhamento das informações e o desenvolvimento de produções cartográficos passíveis
de representação em modelo de impressão A3 (no caso dos mapas referentes ao ícone de
paisagem Serra de Maracaju, em função de sua extensão territorial, foi necessário a
representação em modelo A2). Neste sentido, buscou-se utilizar dados secundários
compatíveis com as escalas estabelecidas. É importante destacar ainda que, no caso da
Serra de Maracaju, em que sua extensão territorial se apresenta ainda maior que todos os
demais ícones de paisagem, buscou-se desenvolver recortes de pontos representativos do
ícone, vislumbrando designar amostras que não comprometam a compreensão da
condição estrutural das paisagens que materializam o ícone.
4.2.3 Softwares de geoprocessamento e diagramação
Ainda no que tange ao processo de construção cartográfica, alguns softwares são
necessários para promover a espacialização dos dados primários e secundários, de
maneira a possibilitar a elaboração de produtos que vislumbrem ao pesquisador elaborar
discussões e direcionamentos acerca das temáticas abordadas na pesquisa. Para a
investigação dos ícones de paisagem em Mato Grosso do Sul, buscou-se auxílio em
softwares que permitissem o desenvolvimento de mapas temáticos e mapas sínteses
relacionados com a estrutura das referidas paisagens sul-mato-grossense.
Sobre o uso de SIG’s (Sistemas de Informações Geográficas), Santos (2018)
destaca sua importância, considerando que, os dados geoespaciais especializados nestes
softwares podem ser integrados e analisados por diferentes campos do conhecimento,
apresentando-se assim como uma ferramenta multidisciplinar, permitindo assim a
aferição diferentes fenômenos espaciais, ligados a diferentes vertentes científicas. Esse
203
avanço é designado por Silva e Rodrigues (2009) muito em função da ascensão
tecnológica das últimas décadas, a qual permitiu a evolução dos microcomputadores e o
desenvolvimento de softwares e hardwares cada vez mais avançados, condição a qual
acarretou em significativas inovações nos mais diversos ramos da ciência, inclusive na
Geografia.
Por meio do uso dos SIG’s (Sistemas de Informações Geográficas), será realizada
a identificação estrutural das paisagens, abordagem sugerida por Rodriguez, Silva e
Cavalcanti (2007), procedimento o qual permitirá delimitar os limites, a abrangência, as
características e possíveis direcionamentos de uso de cada um dos ícones de paisagem,
tomando como premissa a compreensão dos elementos físicos que os compõem,
permitindo assim justificar a determinação de áreas homogêneas passíveis de serem
elencadas como ícones no território sul-mato-grossense.
Neste processo, utilizou-se basicamente três softwares: ArcView GIS 10.2.2, QGIS
2.18 e Corel DRAW Graphics Suite 2018. Buscou-se o suporte dos referidos programas
computacionais em função da facilidade de tratamento de dados, bem como por
oferecerem as ferramentas pertinentes para o desenvolvimento dos produtos requeridos
para o processo de análise e discussão das problemáticas da pesquisa.
O uso dos softwares ArcView GIS 10.2.2 e do QGIS 2.18 se deram com finalidades
diferentes. No QGIS 2.18, privilegiou-se o ajuste de dados, estabelecendo correções de
possíveis distorções/falhas dos dados secundários, junção de shapefiles, recorte de dados,
intersecção, união e dissolução de camadas, bem como permitiu a delimitação das áreas
de pesquisas. Já o ArcView GIS 10.2.2 permitiu efetivamente a montagem das bases dos
mapas temáticos. Entretanto, no que tange os mapas sínteses, o ArcView GIS 10.2.2
possibilitou a confecção do mapa que apresenta os níveis de desenvolvimento do Turismo
de Natureza nos ícones de paisagem. Para a construção do mapa síntese, utilizou-se duas
ferramentas especificas dos arcToolbox: reclass e weighted overlay.
Seguindo as discussões elaboradas ao longo dos capítulos anteriores e, tomando
como modelo teórico norteador a figura 12 do capítulo 2 (ver página 120), após
transformar as camadas vetoriais em arquivos rasters, buscou-se através da ferramenta
reclass realizar uma reclassificação dos principais temas que norteiam o aspecto visual
dos ícones de paisagem: relevo, vegetação/uso das terras e massas d’água. Neste sentido,
atribuiu-se pesos para os diferentes tipos de relevo, vegetação/uso das terras e massas
d’água encontrados em cada um dos ícones, visando correlacionar tais elementos com os
204
três possíveis níveis de Turismo de Natureza, conforme o exemplo do ícone Serra do
Amolar apresentado na figura 39.
205
Figura 39 - Exemplo de matriz de correlação de pesos atribuídos na reclassificação dos dados de relevo e de vegetação/usos da terra do ícone de
paisagem Serra do Amolar.
Elaboração: LIMA, 2020.
206
A delimitação numérica dos pesos (5, 3 e 1) leva em conta os levantamentos já
realizados por Lima (2017), valores os quais, após uma série de testes, apresentaram-se
mais adequados para desenvolver cruzamento de dados da etapa posterior, a qual
efetivamente proporcionou a confecção do mapa de níveis de Turismo de Natureza nos
ícones de paisagem.
Após a reclassificação dos temas de interesse, a ferramenta weighted overlay
permitiu o cruzamento de dados dos referidos temas, de maneira a resultar em um mapa
síntese com as áreas de interesse para os três níveis de Turismo de Natureza propostos.
Ressalta-se que, neste primeiro momento, privilegiou-se a construção e análise do mapa
de níveis de Turismo de Natureza em um dos ícones de paisagem propostos, neste caso,
do ícone de paisagem Serra do Amolar. Frente a isso, aponta-se a pretensão de repetir o
referido procedimento para os demais seis ícones discutidos no âmbito da pesquisa.
Por fim, no que tange o processo de construção cartográfica da pesquisa, o Corel
DRAW Graphics Suite 2018 permitiu o refinamento gráfico dos produtos cartográficos
gerados, permitindo a adequação/elaboração de textos, inserção de fotos, padronização
de ícones e ajustes de enquadramentos. Em suma, o software foi utilizado na fase de
diagramação final dos mapas gerados ao longo do processo de desenvolvimento da tese.
4.3 Pesquisas de campo: preparação, execução e aquisição de dados primários
Propor o desenvolvimento de uma pesquisa paisagística em Mato Grosso do Sul
apresenta-se como um grande desafio. Ao longo de sua extensão, o estado sul-mato-
grossense é permeado por uma relevante variedade de paisagens, as quais estão associadas
a diferentes culturas, estado de conservação/preservação, uso e ocupação, direcionamento
de políticas públicas, dentre outras variáveis. Grande parte dessas associações mantém
intrínseca relação com a composição estrutural destas paisagens, a qual advém das
diferentes interações dos elementos bióticos e abióticos que as compõem.
Diante da referida pluralidade paisagística de Mato Grosso do Sul, compreender
tais feições requer além de conhecimento teórico, o reconhecimento in loco das áreas de
interesse em questão. Neste contexto, a delimitação de ícones de paisagem no território
sul-mato-grossense requer a investigação de campo como condição sine qua non para
validar a tese da existência de relevantes conjuntos paisagísticos no estado.
207
Portanto, conforme sugerido por Cavalcanti (2014), após a realização de pesquisas
prévias acerca dos dados secundários disponíveis que apresentem informações sobre as
paisagens a serem investigadas, permite-se partir para etapa de campo da pesquisa, a qual
possibilitou desenvolver avanços acerca dos conhecimentos já angariados acerca da
problemática em questão.
Ao relatar sobre o trabalho de campo, Cruz Neto (2001) crê que este procedimento
está inserido dentro de um contexto de contraposição a inquietações cotidianas, nas quais
as pesquisas apresentam-se como uma tentativa de desvendar tais problemáticas. Assim
sendo, a pesquisa está atrelada a aferição daquilo que é desconhecido, trazendo
conhecimentos acerca daquilo que nos é estranho. Nesta perspectiva, a compreensão deste
cenário desconhecido pode ter na aferição de campo uma condição fundamental para que
tal aprendizado seja desenvolvido.
De acordo com Lakatos e Marconi (2003) e Prodanov e Freitas (2013), o trabalho
de campo propicia a construção de um banco de dados de informações e conhecimentos
referentes ao objeto alvo do estudo, permitindo assim a elaboração de discussões e
análises que visem subsidiar possíveis respostas e/ou soluções para a problemática em
questão, ou até mesmo propiciar a descoberta de novos fenômenos, bem como estabelecer
relações entre o fenômeno inicial e o novo fenômeno descoberto. Corroborando com esta
ideia, Duarte (2002) indica que, no processo de desenvolvimento de uma pesquisa, alguns
questionamentos surgem logo no início da investigação, enquanto outros tornam-se
aparentes apenas a partir da execução dos trabalhos de campo.
Assim sendo, ao propor uma pesquisa de campo, Lakatos e Marconi (2003, p. 186)
compreendem ser necessário obedecer a algumas etapas a serem contempladas no
procedimento de investigação de campo:
As fases da pesquisa de campo requerem, em primeiro lugar, a realização de
uma pesquisa bibliográfica sobre o tema em questão. Ela servirá, como
primeiro passo, para se saber em que estado se encontra atua1mente o
problema, que trabalhos já foram realizados a respeito e quais são as opiniões
reinantes sobre o assunto. Como segundo passo, permitirá que se estabeleça
um modelo teórico inicial de referência, da mesma forma que auxiliará na
determinação das variáveis e elaboração do plano geral da pesquisa. Em
segundo lugar, de acordo com a natureza da pesquisa, deve-se determinar as
técnicas que serão empregadas na coleta de dados e na determinação da
amostra, que deverá ser representativa e suficiente para apoiar as conclusões.
Por último, antes que se realize a coleta de dados é preciso estabelecer tanto as
técnicas de registro desses dados como as técnicas que serão utilizadas em sua
análise posterior.
208
Na investigação dos ícones de paisagem em Mato Grosso do Sul, as bases teóricas
foram fundamentais na compreensão da categoria analítica da paisagem, suas aplicações
e as possibilidades de empreender técnicas e procedimentos na identificação dos referidos
conjuntos paisagísticos no estado, condições pertinentes para o desenvolvimento de uma
aferição de campo que permita a estruturação de um banco de dados que ofereça dados
primários para a fundamentação das análises e discussões propostas.
Considerando esta relação entre os dados aferidos em campo e sua aplicação nas
análises realizadas a posteriori, convém ressaltar que, ao se considerar a delimitação e
compreensão dos ícones de paisagem em Mato Grosso do Sul e sua possível relação com
o desenvolvimento do segmento do Turismo de Natureza, os trabalhos de campo aqui
realizados vislumbraram a compreensão das realidades em que estão inseridos os
referidos ícones, bem como privilegiou ressaltar e destacar as condições estruturais das
paisagens a fim de justificar sua catalogação enquanto conjunto paisagístico a ser
destacado no território sul-mato-grossense.
Outro interessante ponto a ser ressaltado é a importância dos trabalhos de campo na
validação de mapeamentos temáticos (figura 40). Apesar de ser possível propor a
construção de mapas temáticos a partir de dados secundários, os trabalhos de campo
possibilitam uma real aferição dos dados utilizados, permitindo assim o desenvolvimento
de possíveis ajustes, bem como atribuir maiores níveis de detalhamento temático da área
em questão (ZACHARIAS,2008).
209
Figura 40 - Verificação in loco de dados secundários do ícone de paisagem APA Ilhas e
Várzeas do rio Paraná.
Autor: LIMA, 2019.
Tomando como base as orientações propostas nos parágrafos anteriores, buscou-se
desenvolver trabalhos de campo que possibilitassem a verificação in loco das paisagens
que integram os aqui considerados ícones de paisagem de Mato Grosso do Sul. Tais
procedimentos objetivaram a construção de banco de dados, os quais compreendem:
coleta de pontos de GPS, os quais auxiliaram na identificação de pontos de interesse nos
ícones de paisagem tratados; a construção de acervo fotográfico das feições encontradas
nos ícones de paisagem; a gravação de vídeos aéreos por meio de sobrevoo de drone, os
quais permitiram registros de imagens oblíquas dos ícones; o preenchimento de fichas de
campo (apêndice I) com informações acerca dos elementos estruturais das paisagens
aferidas; e a coleta de dados e informações com agentes públicos e privados que possuem
interação direta ou indireta nas áreas que compreendem as paisagens investigadas.
Os dados primários obtidos a partir dos trabalhos de campo subsidiaram também a
construção de vídeos, os quais foram utilizados ao longo do texto, principalmente para
ilustrar de maneira mais interativa a descrição de cada um dos ícones de paisagem. Os
vídeos foram construídos, armazenados na plataforma Youtube e disponibilizados na
forma de QR Code em trechos da tese.
210
Além disso, a execução dos trabalhos de campo possibilitou o ajuste das
delimitações das áreas consideradas enquanto ícones de paisagem. No caso do ícone de
paisagem Maciço do Urucum (figura 41), o trabalho de campo permitiu observar que
porções territoriais que a priori não haviam sido consideradas na delimitação do
perímetro do ícone, deveriam ser incorporadas na área de abrangência do conjunto
paisagístico.
211
Figura 41 - Perímetro, área de abrangência do ícone de paisagem, Maciço do Urucum.
Elaboração: LIMA, 2020.
212
Entretanto, conforme apontado por Costa e Scarlato (2019, p. 648), o trabalho de
campo não pode ser tomado por uma visão simplista durante o processo de construção de
conhecimento, devendo assim ser amparado por um conjunto metodológico coerente:
Tan importante como llevar a campo instrumentos y equipos es desarrollar el
mirar, el ver y el pensar la complejidad de interacciones que territorios y
paisajes pueden revelar, pues es donde son legitimadas o rechazadas las
teorías. El trabajo de campo es comienzo, medio, fin y reinicio de la
investigación geográfica; es el laboratorio de los geógrafos que evalúan (y
producen) representaciones espaciales, que proponen teorías.
Neste âmbito, os subitens a seguir visam apresentar de forma sucinta os materiais
utilizados durante o procedimento de preparação e execução dos trabalhos de campos
desenvolvidos durante o processo de aferição dos ícones de paisagem em Mato Grosso
do Sul.
4.3.1 Drone e sua operacionalização na captura de imagens aéreas
Ao idealizar e propor a investigação de ícones de paisagem em Mato Grosso do Sul,
uma das premissas elencadas foi a possibilidade de desenvolvimento de um mapeamento
oblíquo destes conjuntos paisagísticos. Dentre as ferramentas que possibilitam tal feito, o
drone apresenta-se como um equipamento que tem ganhado destaque nas pesquisas
científicas.
No que tange a popularização do uso dos drones, Silva et. al. (2015) lembram que,
inicialmente, os veículos aéreos não tripulados (VANT’s) eram utilizados com
exclusivamente para fins militares, sendo hoje operacionalizados hoje nas mais diversas
aplicações, inclusive em mapeamentos e mapeamentos ambientais, mostrando relevantes
vantagens competitivas quanto a capacidade de deslocamento, tempo de reduzido e menor
custo de operação, a se comprar por exemplo, com um mapeamento desenvolvido através
de um helicóptero ou avião. Por meio da captação de imagens aéreas de drones, é possível
desenvolver a verificação de falhas na vegetação, bem como elaborar a identificação de
usos da terra e uma determinada área, por exemplo.
O uso e aplicação deste tipo de equipamento nas mais diversas áreas é apontado por
Fagundes e Iescheck (2019, p. 59):
As Aeronaves Remotamente Pilotadas (ARPs), também conhecidas como
drone ou VANT (Veículo Aéreo Não Tripulado), são atualmente utilizadas
213
para as mais diversas aplicações e demandas. Como exemplo, pode-se citar o
mapeamento topográfico, o mapeamento temático, (como vegetação, uso do
solo, áreas impermeabilizadas, sítios arqueológicos e áreas susceptíveis a
deslizamento de terra), o monitoramento florestal e agrícola, a inspeção de
estruturas verticais para apoio à engenharia civil, o monitoramento agrícola, as
missões de resgate e o auxílio a desastres.
Destarte, na área de pesquisas geográficas, percebe-se uma franca expansão do uso
de drones em suas investigações, uma vez que, utilizando-se de um levantamento
devidamente processado com rigor científico e atentando-se para a acurácia dos
procedimentos desenvolvidos, é possível obter imagens e/ou dados georreferenciados
com alta resolução e, consequentemente, permitindo sua aferição com alto nível de
detalhamento. Tais levantamentos possibilitam o desenvolvimento de aferições que
englobam diferentes temáticas como a geologia, mineração, segurança pública,
arquitetura, engenharia, geotecnia, dentre muitas outras áreas (MACEDO; SARAIVA
JUNIOR; LIMA, 2019.
Prudkin e Breunig (2019) indicam que a mobilidade e facilidade de acesso tem sido
fatores estimuladores da inserção de drones nas pesquisas científicas. Para a avaliação
dos ícones de paisagem, tais premissas são imprescindíveis, visto a grande extensão dos
conjuntos paisagísticos em questão, bem como em função das limitações de acessos de
algumas áreas destes ícones.
Na execução do mapeamento de drone, ressalta-se a importância do planejamento
do voo. Neste contexto, devem ser avaliadas as características da área em questão, limites
e perímetros, avaliar a direção do vento, determinar os melhores horários para realizar o
sobrevoo, definir pontos de lançamento e pouso, avaliar e definir a câmera a ser utilizada,
altitude a ser alcança, velocidade de voo e a condição meteorológica. Além disso, é
necessário seguir as instruções de segurança estipuladas pelo manual técnico de cada
modelo de drone (FAGUNDES; IESCHECK, 2019).
O modelo utilizado para avaliar os ícones de paisagem foi um DJI Phantom 4
advanced, quatro motores, equipado com câmera de resolução 4K, cartão de memória de
12 GB, com autonomia de aproximadamente 20 minutos por carga de bateria, com
alcance de 500 metros de altura. O referido modelo conta com software próprio de
operação, o qual apresenta-se relativamente intuitivo e conta com protocolos de segurança
nativos, como indica Soares (2018, p. 34):
O Software da DJI® por ser um programa fechado e possuir um objetivo
comercial, a empresa chinesa criou um sistema de segurança para seus drones,
para que em áreas de segurança como aeródromos e aeroportos, não sejam
sobrevoados, não colocando, assim, em risco as operações de aeronaves de
214
transporte de passageiros. Há relatos de usuários que, nas áreas adjacentes aos
aeroportos, o drone não consegue levantar voo. Mesmo assim foram feitos
testes com a controladora NAZA®.
Utilizando o equipamento supracitado (figura 42), buscou-se realizar voos que
variaram de 10 a 15 minutos, ambos com a câmera ativada no modo filmagem. Ressalta-
se a dificuldade na determinação nos pontos de parada para realização dos voos, uma vez
que, nem sempre o melhor ângulo de visualização do ícone de paisagem dispunha de área
ampla e segura para organização do ponto de decolagem/pouso.
Figura 42 - Mapeamento aéreo na aldeia Limão Verde, em Aquidauana-MS.
Autor: Silva, 2019.
As figuras 43, 44 e 45 indicam o procedimento operacional do drone na captura de
imagens dos ícones de paisagem. Considerando que o modelo utilizado tem uma
limitação de altura de 500 metros, o ângulo de designado para observação dos ícones que
possuem altitudes maiores que essa metragem foi de 90º, enquanto para ícones com
altitudes menores a 500 metros privilegiou-se uma variação angular entre 120º e 150°.
215
Figura 43 - Mapeamento aéreo para ícones de paisagem com altura superior a 500
metros.
Elaboração: LIMA, 2020.
Figura 44 - Mapeamento 1 aéreo para ícones de paisagem com altura inferior a 500
metros.
Elaboração: LIMA, 2020.
216
Figura 45 - Mapeamento 2 aéreo para ícones de paisagem com altura inferior a 500
metros.
Elaboração: LIMA, 2020.
Em resumo, os dados obtidos a partir da operacionalização do drone subsidiaram a
construção de banco de dados de fotografias aéreas, permitiu um reconhecimento dos
ícones de paisagem através de um outro ponto de vista, bem como subsidiou a elaboração
de material áudio visual na descrição dos trabalhos de campos realizados ao longo da
pesquisa. Tais abordagem são importantes, uma vez que, a partir da escala ou ponto de
visão, muda-se a percepção da paisagem (por exemplo: a visualização de cursos hídricos
por meio de imagem vertical e na horizontal – como no caso do ícone de paisagem APA
Ilhas e Várzeas do Rio Paraná).
4.3.2 GPS
Considerando o mapeamento e delimitação das áreas de interesse que
compreendem os ícones de paisagem, o GPS (Global Positioning System) pode ser
tomado como uma ferramenta fundamental da pesquisa. Abreu (2007) destaca que o GPS
nada mais é que um aparelho que permite ao observador determinar sua exata posição na
superfície terrestre, desde que esteja localizado em um ponto qualquer da superfície
amparado por uma cobertura mínima de satélites que permita designar suas coordenadas.
217
Além de dispor de informações de latitude e longitude, o aparelho GPS pode
receptar diversos dados geográficos ou topográficos, podendo ainda (a depender de
configuração de cada aparelho) fornecer informações adicionais como nome de ruas,
avenidas, edificações, dentre outras. (MACIEL, 2012).
Na elaboração da referida pesquisa, utilizou-se o modelo GPS Montana 650,
admitindo-se a margem de precisão mínima de 10 metros, uma vez que, considerando a
extensão territorial das áreas estudadas, acredita-se que esta margem de erro seja
admissível no processo de análise. No que permeia o uso das informações obtidas por
meio do GPS, indica-se que estas subsidiam a localização de áreas de interesse dos ícones
de paisagem, tanto no material fotográfico, quanto dados secundários e fichas de
anotações de campo.
4.3.3 Câmera fotográfica
A se considerar um estudo desenvolvido a partir da categoria analítica da paisagem,
admite-se o registro fotográfico como um importante instrumento a ser utilizado como
subsídio de informações pertinentes às análises e discussões das paisagens em questão.
Considerando o desafio aqui proposto, de identificação dos ícones de paisagem de Mato
Grosso do Sul, a técnica fotográfica apresenta-se como condição sine qua non para
embasar e comprovar a referida proposta.
Para além de uma “ilustração” no trabalho científico, Steinke (2014) indica que esta
ferramenta possui potencial informativo, devendo demonstrar cientificamente os
fenômenos em questão. Neste ínterim, a técnica fotográfica vem sendo aperfeiçoada ao
longo de suas aplicações, oferecendo subsídios para as pesquisas desenvolvidas em vários
âmbitos.
Pensando-se no contexto da produção do conhecimento científico, a fotografia pode
ser colocada como possibilidade de materialização da informação, apresentando-se como
um contraponto a recorrente abstração assumida por investigações estritamente teóricas.
Tal possibilidade surge uma vez que, a fotografia possibilita uma representação
automática e precisa, justificada pelo seu alto grau de comunicação e transmissão de
conhecimento (RAMOS; OLSCHOWSKY, 2009).
Quanto ao uso de imagens na articulação e complementação da linguagem textual,
Guran (2013, p. 81) cita que:
218
Para que a utilização da fotografia seja eficaz na apresentação das conclusões
da pesquisa, é necessário que haja uma articulação entre as duas linguagens, a
escrita e a visual, de modo que uma complemente e enriqueça a outra. Na
verdade, trata-se de concatenar dois discursos distintos que só funcionam
juntos se dialogarem entre si. As fotografias, para facilitar a leitura, devem ser
ordenadas de modo a produzirem um sentido por si mesmas em seu conjunto
e, também, individualmente na sua relação com o texto. Para tanto, é vantajoso
que elas se intercalem ao texto, formando um todo com as informações
escritas. Desta forma, a narrativa é enriquecida, par e passo, pela informação
visual, que dialeticamente ganha força, por sua vez, pela leitura textual do que
representa.
Desta forma, conforme sugerem Ramos e Olschowsky (2009), as fotos científicas
são utilizadas no contexto de retratar os objetos e fenômenos inseridos nos processos de
pesquisas, permitindo a construção de banco de dados imagéticos, podendo ser
consultados e utilizados ao longo das análises e discussões das investigações. Em suma,
as fotos científicas buscam retratar com o máximo de fidelidade a morfologia natural da
cena em questão.
No que tange a escolha da máquina fotográfica a ser utilizada, dos elementos a
serem fotografados, técnicas de enquadramento e análises da paisagem por meio da
fotografia, importantes variáveis que compreendem a técnica fotográfica, autores como
Lins e Steinke (2014) e Azevedo, Steinke e Leite (2014) foram tomados como referência
na tratativa dos referidos temas.
Neste contexto, na investigação dos ícones de paisagem de Mato Grosso do Sul
(figura 46), utilizou-se o equipamento a câmera digital Nikon D3100 com zoom de 3x
(lente de 18-55mm), adotando a resolução das fotos em 4608x3072. O banco de dados
fotográficos construído a partir deste equipamento foi utilizado na construção textual da
pesquisa, exemplificando as paisagens hora tratadas nas discussões, bem como auxiliou
na qualificação dos produtos gerados nos processos de análise, discussões e resultados,
tanto mapas, quanto figuras sínteses.
219
Figura 46 - Registros fotográficos no ícone de paisagem APA Ilhas e Várzeas do rio
Paraná.
Autor: SILVA, 2020.
4.3.4 Anotações de campo/fichas de campo
Considerando o processo da execução de trabalhos de campo, a construção de banco
de dados informacionais é abarcada por diferentes técnicas e instrumentos, conforme já
descrito nos subitens anteriores. Entretanto, talvez o mais simples procedimento ainda
seja bastante pertinente na investigação científica: as anotações de campo. Na compilação
de tais registros, o uso de fichas de campo é bastante comum na organização destas
informações angariadas durante os trabalhos de campo (figura 47).
220
Figura 47 - Coleta de dados no ícone de paisagem Serra do Amolar por meio de ficha de
campo.
Autor: LIMA, 2019.
Mesmo em pesquisas descritivas, cabe ao pesquisador ultrapassar os limites da
mera descrição do fenômeno, de maneira que, este estabeleça avanços, análises e
discussões acerca da problemática apresentada. Destarte, as anotações de campo são tidas
como fundamentais no suporte a tais reflexões, permitindo a retomada de ideias e
informações observadas durante a execução dos trabalhos de campo (PRODANOV;
FREITAS, 2013).
No âmbito dos registros de campo, Oliveira (2014) destaca o papel do observador,
o qual necessita se posicionar enquanto elemento integrante da pesquisa, uma vez que,
seu comportamento, impressões e suposições interferem naquilo que será angariado
221
enquanto informação, e que, será utilizada como subsídio de suas análises e discussões
nos momentos subsequentes da pesquisa.
Tal posicionamento do observador/pesquisador faz das anotações de campo algo
pessoal e intransferível, conforme aponta Cruz Neto (2001). Segundo o autor op. cit., as
anotações de campo consistem na materialização dos esforços empreendidos pelo
pesquisador, o qual é construído a partir do somatório de informações coletadas ao longo
do processo de investigação. Assim sendo, é possível inferir uma relação de continuidade
da primeira até a última ida a campo.
No campo descritivo do trabalho de campo, as fichas descritivas auxiliam na coleta
de informações pertinentes a pesquisa. No caso de estudos voltados a paisagem, tal
procedimento permite a observação da estrutura paisagística, das diferentes dinâmicas
territoriais, dos agentes envolvidos direta e indiretamente nos conjuntos paisagísticos em
questão, dentre outras variáveis. No caso da descrição do meio físico, Triviños (1987)
aponta ser importante tomar como suporte mapas, cartas e figuras que permitam uma
melhor interpretação do cenário observado em campo.
Ao propor um modelo de ficha de campo, Triviños (1987) indica que esta deve
contemplar o preenchimento de informações gerais, tais como data, horário, local, nome
do pesquisador, dentre outras informações. Contemplada as informações básicas, a ficha
deve ser composta também campos para anotações específicas. Acerca da disposição dos
campos de anotação, estes podem ser “livres” ou campos com informações pré-
estabelecidas.
Na pesquisa, utilizou-se durante os trabalhos de campos desenvolvidos um modelo
de ficha de campo (apêndice I). Por meio desse instrumento, foi possível registrar
importantes feições das paisagens observadas, tais como: tipologias de relevos locais e
regionais; bioma e bacia hidrográfica em que o ícone de paisagem está inserido;
estruturação da rede de drenagem; unidade de paisagem dominante; unidade climática
dominante; predomínios das paisagens no ícone e seu entorno; tipos de vegetação
dominantes; e os usos da terra predominantes ao longo das áreas observadas. Além disso,
a ficha contemplou informações básicas como: data do trabalho de campo; horário de
preenchimento da ficha; coordenada, latitude e ponto de amostragem do GPS; limite
municipal; bem como a indicação de registros fotográficos ou não.
4.3.5 Imagens de satélite
222
As imagens de satélite podem ser consideradas um dado informacional de ampla
aplicação no campo da pesquisa científica. Neste sentido, seu uso pode variar a depender
dos objetivos propostos em uma determinada investigação. Tal amplitude de informações
que permeiam as imagens de satélite é destacada por Fernandes (2005), uma vez que,
através destas, é possível identificar uma série de informações que conformam o meio
físico, permitindo uma melhor compreensão dos territórios e, consequentemente,
possibilitando a formulação de planejamentos que auxiliem a tomada de decisões por
parte do poder público.
Tais aplicações a partir de imagens de satélite tem sido possível em função da
crescente qualidade de imagens disponibilizadas, as quais são cada vez mais amparadas
pelo mapeamento de satélites de alta resolução espacial, condição que permite a obtenção
de informações detalhadas acerca da superfície terrestre. A partir deste suporte
tecnológico, torna-se possível a extração de múltiplos dados, os quais podem ser
aplicados em estudos de natureza geológicas, ambientais, agrícolas, cartográficos,
florestais, urbanos, dentre outras múltiplas aplicações (FERNANDES, 2005).
Quanto a aplicação das imagens de satélite em estudos voltados a paisagem, Toebe
(2011, p. 2) cita que:
Por meio de imagens de satélite é possível observar o ambiente e sua
transformação, destacando elementos da paisagem, tais como o relevo, a
vegetação, a água e o uso de solo em diversos períodos de tempo e de extensas
áreas da superfície da terra, sendo possível, assim, observar as áreas que
obtiveram maiores transformações, sejam elas positivas ou negativas.
Levando em consideração a premissa da avaliação dos conjuntos paisagísticos que
permeiam o território sul-mato-grossense, as imagens de satélite podem ser tomadas
como relevante ferramenta de apoio, visto que, estas permitem estabelecer aproximações
no campo visual destes conjuntos, os quais, nesta pesquisa, pretendem-se ser validados
enquanto ícones de paisagem.
Assim sendo, na execução dos trabalhos de campo que permearam o processo de
investigação dos ícones de paisagem de Mato Grosso do Sul, as imagens de satélite foram
utilizadas na elaboração de mapas físicos das áreas visitadas durante as supracitadas
visitas de campo. Neste ínterim, os referidos produtos auxiliaram na compreensão das
paisagens observadas em campo, possibilitando correlaciona-las com os demais mapas
temáticos primários, bem como orientaram os planos de voos executados com o drone,
permitindo observar as áreas de maior interesse para captação das imagens aéreas.
223
As imagens de satélite foram adquiridas por meio do site USGS, no qual foi possível
adquirir de forma gratuita imagens do satélite SENTINEL-2A, com resolução de 20
metros. É importante destacar que, buscou-se adquirir imagens de períodos mais recentes
(tomando como base as datas de execução dos trabalhos de campo), bem como
privilegiou-se imagens com melhores visibilidades, descartando aquelas com distorções
e interferências visuais de nuvens.
4.4 Avaliação estrutural das paisagens de Mato Grosso do Sul
Corroborando com autores como Olivencia e Rodriguez (2008), Vitte (2016) e
Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2007), os quais ressaltam a importância da avaliação
estrutural das paisagens, neste ponto, são apresentados os resultados da avaliação
estrutural das paisagens relacionadas aos conjuntos paisagísticos reconhecidos neste
estudo como ícones. Neste processo, a execução de trabalhos de campo em consonância
com a construção de materiais cartográficos permitiu a elaboração das análises ora
apresentadas, permitindo o reconhecimento das referidas paisagens e, consequentemente,
possibilitando discussões e análises posteriores acerca de suas relações com o possível
desenvolvimento de atividades ligadas ao segmento do Turismo de Natureza.
Em síntese, a figura 48 permite compreender o olhar empreendido na análise das
paisagens dos ícones. Conforme pode ser observado, nesta articulação metodológica de
abordagem da paisagem, primou-se por inter-relacionar diferentes ângulos de observação
paisagística: a visão horizontal, estimulada pelo olhar de campo e registros fotográficos;
pelo ângulo vertical, associado a interpretação de imagens de satélite e as bases
cartográficas temáticas de dados secundários; e pela observação oblíqua, permitida pelo
imageamento de drone, o qual permite o elo dimensional entre a condição horizontal e
vertical.
224
Figura 48 - Exemplo de aplicação do esquema de olhar da paisagem na análise do ícone Maciço do Urucum.
Elaboração: LIMA, 2020.
225
Além dos registros fotográficos, preenchimento de fichas de campo e
imageamentos aéreos, é importante destacar que, durante a execução dos trabalhos de
campo, foram registrados pontos de GPS, os quais possibilitam registrar pontos de
interesse nos ícones de paisagem ou em seu entorno. A figura 49 apresenta a
espacialização dos pontos registrados ao longo dos trabalhos de campos realizados.
Figura 49 - Pontos de GPS amostrados durante a execução dos trabalhos de campo.
Elaboração: LIMA, 2020
226
Isto posto, nos itens subsequentes discorre-se sobre as execuções dos trabalhos de
campo em cada ícone de paisagem, sendo apresentados informações e materiais
angariados durante os referidos processo. Além disso, apresenta-se informações gerais
acerca da estrutura das paisagens, bem como informações que contemple os elementos
que destacam-se no campo visual destes conjuntos paisagísticos: o relevo, a
vegetação/usos das terras e a rede de drenagem.
4.4.1 Maciço do Urucum
Faça a leitura do QR code com seu dispositivo para saber mais sobre o ícone, ou acesse:
https://www.youtube.com/watch?v=iPPQD0EWYuo&t=380s10
O primeiro ícone de paisagem a ser alvo de uma abordagem in loco foi o Maciço
do Urucum. Cabe destacar a dificuldade de abordagem neste ícone de paisagem, uma vez
que, na BR-262, além da pouca variedade de pontos de paradas/acostamentos para o
desenvolvimento de observações e coleta de dados, as áreas que compreendem o Maciço
e seu entorno são relacionadas com a exploração da atividade de mineração, condição a
qual estabelece uma série de áreas com acesso restrito. Já na MS-228 (Estrada parque do
Pantanal11), além da restrição das propriedades privadas de mineração e atividades
agropecuária, a pavimentação da via (estrada sem pavimentação asfáltica e com relevante
concentração de rochas) dificulta o acesso de determinadas áreas por meio de carro de
pequeno porte.
A título de informações estruturais gerais das paisagens do ícone Maciço do
Urucum, sua litologia12 é composta pela Formação Bocaina, Formação Pantanal Fácies
10 OBS: o vídeo em questão compila imagens e informações do trabalho de campo dos ícones de paisagem
Maciço do Urucum e Serra do Amolar 11 A Estrada Parque Pantanal é uma Área de Especial Interesse Turístico (AEIT) criada pelo Governo do
Estado de Mato Grosso do Sul em março de 1993. Compreende trechos da MS-184 e da MS-228,
municípios de Miranda, Corumbá e Ladário, e tem área de cerca de 6.800 hectares, dos quais 85% no
município de Corumbá. Fonte: Imasul, 2021. Disponível em: https://www.imasul.ms.gov.br/estrada-
parque-do-pantanal-2/. 12 As legendas e referidas paletas de cores referentes aos tipos de litologias e de solos que constam nos
mapas dos ícones de paisagem podem ser consultadas no apêndice II.
227
Depósitos Aluvionares, Formação Pantanal Fácies Terraços Aluvionares, Complexo Rio
Apa, Formação Santa Cruz, Formação Tamengo, Formação Urucum e Formação Xaraiés.
Dentre tais estruturas litológicas, a Formação Pantanal, Formação Santa Cruz e Formação
Urucum conformam o núcleo central do ícone de paisagem, a primeira ligada aos
patamares mais planos, e as duas últimas ligadas aos pontos mais altos (LACERDA
FILHO et. al., 2006).
No que tange a composição pedológica do Maciço do Urucum, está associa-se a
presença de cambissolos, gleissolos, latossolos, chernossolos, argissolos, planossolos e
vertissolos. Nesta estrutura, destaca-se a ocorrência dos cambissolos e vertissolos,
designado pelo IBGE (2015) como solos mais jovens, que no Maciço estão ligados aos
patamares de maiores declividades. Chama-se a atenção ainda para os argilossos,
encontrados nas partes mais altas do ícone.
Quanto a condição climática do ícone de paisagem, percebe-se que o Maciço do
Urucum está localizado na unidade climática A1-I-b. De acordo com Zavattini (2009),
está área possui índices pluviométricos com média anual de 1.100 mm, com inverno-
outono com variação de +/- 200 mm, contando como uma alta umidade do ar e
temperaturas que podem ultrapassar os 35ºC no verão. Considerando as altas atitudes do
Maciço, Zavattini (2009) ressalta que esta condição possibilita a ocorrência de
temperaturas mais agradáveis nestes pontos, além de permitir áreas com maior ventilação.
4.4.1.1 Relevo do Maciço do Urucum
A geomorfologia do Maciço do Urucum pode ser considerada a característica física
que mais desperta atenção deste ícone de paisagem. Comprovação de tal fato pode se dar
em função da logomarca do Geopark Bodoquena-Pantanal, o qual é idealizado em função
da silhueta das morrarias do Urucum (figura 50).
228
Figura 50 - Paisagem do Maciço do Urucum na BR-262.
Autor: LIMA, 2019.
Tendo por base o mapeamento técnico do relevo do ícone de paisagem Maciço do
Urucum, percebe-se claramente o delineamento de dois compartimentos geomorfológicos
bem definidos: os relevos com maior aplainamento, ligados as planícies do bioma
pantaneiro da região; e os relevos montanhosos, marcados pela estruturação
geomorfológica mais declivosa.
Conforme aponta o IBGE (2009), as áreas compreendidas pelas planícies e
pantanais estão associadas a baixas declividades, podendo estruturar-se em superfícies
planas ou levemente onduladas. No caso do Maciço do Urucum, as planícies contrastam
diretamente com as feições montanhosas do ícone, atuando como suporte do destaque
paisagístico das áreas de maior altitude (figura 51)
229
Figura 51 - Contraste da paisagem do ícone Maciço do Urucum entre relevos com
maiores índices de aplainamento e relevos com maiores altitudes.
Autor: LIMA, 2019.
Com relação as áreas associadas as morrarias do Urucum, estas relacionam-se com
os relevos dissecados do ícone de paisagem (IBGE, 2009). Conforme evidenciado durante
a execução dos trabalhos de campo, a delimitação do ícone se dá não em função de uma
formação geomorfológica, mas sim a partir da estruturação do conjunto de diferentes
relevos dissecados encontrados neste perímetro. Neste sentido, o ícone Maciço do
Urucum pode ser associado enquanto um complexo geomorfológico (figura 52).
230
Figura 52 - Apontamento dos diferentes conjuntos de relevos associados ao complexo
geomorfológico do Maciço do Urucum.
Elaboração: LIMA, 2020.
Considerando os complexos apresentados, apesar das semelhanças de ambos
enquanto estruturação de relevos dissecados, é possível atribuir algumas caracterizações
peculiares a cada complexo. Em certa medida, podemos reconhecer nos complexos I
(figura 53) e IV (figura 56) são formados por conjuntos de morros de relevo fortemente
ondulado e relevos testemunho. Já o complexo II (figura 54) é formado por morros
231
chamados pelo IBGE (2009) de topos aguçados, associados aos padrões de drenagem da
área. Por fim, o complexo III (figura 55), caracterizado por seu alto índice de dissecação,
apresenta-se como aquele de maior destaque no ícone, tanto em função de sua altitude,
quanto suas proximidades do campo de visão do observador que contempla o ícone.
Figura 53 - Paisagem associada ao complexo I de paisagens do ícone Maciço do
Urucum.
Autor: LIMA, 2019.
Figura 54 - Paisagem associada ao complexo II de paisagens do ícone Maciço do
Urucum.
Autor: LIMA, 2019.
232
Figura 55 - Paisagem associada ao complexo III de paisagens do ícone Maciço do
Urucum.
Autor: LIMA, 2019.
Figura 56 - Paisagem associada ao complexo IV de paisagens do ícone Maciço do
Urucum.
Autor: LIMA, 2019.
233
Em síntese, a figura 57 apresenta o mapa de relevo do Maciço do Urucum, o qual
espacializa os tipos de relevo que compreendem o ícone de paisagem.
235
4.4.1.2 Vegetação/Usos das terras Maciço do Urucum
Também considerada uma importante variável na valorização do ícone de paisagem
Maciço do Urucum, a vegetação e os usos das terras apresentam relevantes considerações
na estruturação das paisagens do ícone. Muito em função da limitação das áreas de maior
aplainamento no perímetro do ícone, bem como a condição pantanosa destas porções, as
áreas de pastagem (figura 58) limitam-se a pequenas porções territoriais. Outra condição
que limita a exploração pecuária na área do ícone é a exploração de extração de minérios
(figura 59), atividade difundida em meio as formações das florestas estacionais semi-
deciduais, estrutura vegetacional que predominante no Maciço do Urucum. Tal aferição
é condizente com a afirmação de Fossgard (2019), o qual indica que os recursos naturais
de um determinado ícone de paisagem podem ser abrangidos por diferentes usos para
além da atividade turística.
Figura 58 - Área de pastagem no ícone de paisagem Maciço do Urucum.
Autor: LIMA, 2019.
236
Figura 59 - Exploração da atividade de mineração no ícone de paisagem Maciço do
Urucum.
Autor: LIMA, 2019.
Destacada na paisagem do ícone Maciço do Urucum, as florestas estacionais semi-
deciduais são relacionadas pelo IBGE (2012, p. 92) a regiões “marcada por acentuada
seca hibernal e por intensas chuvas de verão; na zona subtropical, correlaciona-se a clima
sem período seco, porém com inverno bastante frio (temperaturas médias mensais
inferiores a 15º C), que determina repouso fisiológico e queda parcial da folhagem. Estão
estabelecidas nos topos de relevos, nas zonas intermediarias de taludes e nas porções
levemente onduladas (figura 60). Tomando como base o mapeamento realizado por IBGE
(2019), evidencia-se no mapa elaborado a ocorrência de áreas de florestas estacionais
semi-deciduais, pastagem e área urbana (figura 61).
237
Figura 60 - Predomínio das florestas estacionais semi-deciduais no ícone Maciço do
Urucum.
Autor: LIMA, 2019.
239
4.4.1.3 Rede de Drenagem Maciço do Urucum
Quanto as redes de drenagem associadas ao ícone de paisagem Maciço do Urucum
(figura 62), dentro do perímetro do ícone não se percebe a inclusão de rios estruturados
em grandes canais, entretanto, ainda sim percebe-se a conformação de diferentes padrões
de drenagem estabelecidos ao longo de sua extensão. Dentre tais variações, percebe-se a
estruturação de canais retilíneos, padrões de drenagem dentríticos e radiais centrífugos.
Os canais retilíneos, designados pelo IBGE (2009, p. 95) como canais que “ocorrem
em amplas planícies constituídas por depósitos quaternários, os canais retilíneos podem
ser indicativos de movimentos neotectônicos e são frequentemente interrompidos por
feições anômalas”. Já os padrões de drenagem dentríticos associam-se as rochas com
resistência uniforme, distribuindo-se em várias direções, formando ângulos agudos com
graduações variadas (porém nunca estruturam ângulos retos). Tanto os canais retilíneos
quanto os padrões dentríticos ocorrem nos complexos I e III do ícone de paisagem.
Já o padrão radial centrífugo é visivelmente aparente no complexo II do Maciço do
Urucum (figura 52, p. 227), o qual associa-se a definição proposta por IBGE (2009), que
relaciona sua distribuição a partir de um divisor central, que acarreta na divergência dos
canais para canais opostos.
É possível perceber ainda que, no entorno do ícone, mais precisamente no seu
extremo nordeste, está localizado o rio Paraguai, importante canal fluvial meandrante que
norteia os cursos hídricos da bacia do Paraguai. Além disso, também no entorno do ícone
é perceptível a formação de grandes e pequenos lagos.
241
4.4.2 Serra do Amolar
Faça a leitura do QR code com seu dispositivo para saber mais sobre o ícone, ou acesse:
https://www.youtube.com/watch?v=iPPQD0EWYuo&t=380s13
Na aferição da Serra do Amolar, buscou-se acessar as áreas de interesse por meio
de via fluvial, mais especificamente, por meio do rio Paraguai, contando com o apoio
logístico do Instituto Homem Pantaneiro (IHP)14, suporte oferecido em aspectos que
tange o acesso (transporte), a alimentação e hospedagem.
Durante os dias de expedição, foram utilizados dois pontos de apoio na Serra do
Amolar: a RPPN Engenheiro Eliezer Batista (figura 63) e a RPPN Acurizal (figura 64).
Além das abordagens via rio Paraguai, no primeiro ponto percorreu-se a trilha amolar, de
aproximadamente sete (7) quilômetros (percurso de ida e volta) (figuras 65 e 66). Já na
RPPN Acurizal executou-se uma trilha de bicicleta de aproximadamente cinco (05)
quilômetros (percurso de ida e volta) (figura 67).
13 OBS: o vídeo em questão compila imagens e informações do trabalho de campo dos ícones de
paisagem Maciço do Urucum e Serra do Amolar 14 O Instituto Homem Pantaneiro (IHP) é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que atua
na conservação e preservação do bioma Pantanal e da cultura local. Para mais informações acesse:
https://www.institutohomempantaneiro.org.br/
242
Figura 63 - Registro da placa de identificação na entrada da RPPN Engenheiro Eliezer
Batista.
Autor: LIMA, 2019.
Figura 64 - Sede de apoio da RPPN Acurizal.
Autor: IHP, 2019.
243
Figura 65 - Acesso às trilhas na RPPN Engenheiro Eliezer Batista.
Autor: LIMA, 2019.
Figura 66 - Vista do ponto mais alto da trilha do Amolar na RPPN Engenheiro Eliezer
Batista.
Autor: LIMA, 2019.
244
Figura 67 - Trilha de bicicleta na RPPN Acurizal.
Autor: LIMA, 2019.
Sobre as formações litológicas do ícone de paisagem Serra do Amolar, percebe-se
a ocorrência de Depósitos Aluvionares, período litológico mais recente e ligado as bordas
fluviais do ícone, e a Formação Urucum, que estrutura as feições escarpadas que
predominam na paisagem da Serra (LACERDA FILHO et. al., 2006). Do ponto de vista
histórico, são encontrados ainda registros rupestres em algumas rochas do ícone (figura
68).
245
Figura 68 - Inscrições rupestres na Serra do Amolar.
Autor: LIMA, 2019.
Do ponto de vista pedológico, a Serra do Amolar possui uma variedade de solos
dos tipos cambissolos, gleissolos e vertissolos. Conforme apontado pelo IBGE (2015), os
cambissolos e vertissolos, composições mais jovens estão concentradas nas áreas que
compõem os morros e suas encostas. Já os gleissolos, solos característicos de áreas
alagadas, estão concentrados nas áreas mais baixas e próximas com maior contato hídrico.
Por fim, o aspecto climático da Serra do Amolar se assemelha bastante as condições
encontradas no ícone de paisagem Maciço do Urucum. Inserido na unidade climática A1-
I-a, é contemplada por índices pluviométricos que giram em torno de 1.100 mm anuais e
inverno-outono seco com variação aproximada de 200 mm, de altas temperaturas no verão
(média de +/- 35ºC), havendo amenidade de temperatura nas faixas mais altas dos morros.
4.4.2.1 Relevo Serra do Amolar
As formas de relevo, conjuntamente com a variedade hídrica da Serra do Amolar,
embasam a justificativa de elencar a Serra do Amolar enquanto ícone paisagístico em
Mato Grosso do Sul. Os relevos escarpados da Serra contrastam dentre de um bioma de
planícies pantaneiras. Justamente o fato do Pantanal estar intimamente ligado a áreas de
planícies inundadas, a “Serra” do Amolar é um conjunto paisagístico pouco conhecido
246
por parte até mesmo dos sul-mato-grossenses, fato atrelado pela impensável existência de
uma Serra dentro deste bioma.
Os tipos de relevo evidenciados neste ícone são as morrarias do Amolar, o pantanal
do Uberaba-Madioré e as planícies e pantanais. As morrarias do Amolar (figura 69) é a
forma de relevo predominante no ícone, aguçando o olhar do observador na contraposição
das planícies que englobam seu entorno. Para o IBGE (2009), a formação dos morros
pode ser relacionada aos resultados de uma dissecação homogênea dos relevos.
Figura 69 - Feições das morrarias do Amolar no ícone de paisagem.
Autor: IHP, 2019.
Já o pantanal do Uberaba-Madioré (figura 70) possui feições de características mais
pantaneiras, estruturadas em relevos com variação estrutural entre superfícies planas e
levemente onduladas, propiciando a formação de pequenos, médios e grandes
lagos/lagoas. Nestas porções, ressalta-se que as condições físicas em questão dificultam
o acesso as referidas áreas.
247
Figura 70 - Áreas alagadas do pantanal do Uberaba-Mandioré no ícone de paisagem.
Autor: IHP, 2019.
Por fim, as planícies e pantanais (figura 71) contemplam algumas áreas de encostas,
formadas por superfícies de maior aplainamento e próximas ao canal fluvial do rio
Paraguai, permeando a faixa leste do ícone de paisagem. Esta condição geomorfológica
permite o estabelecimento de pontos de apoios e moradia de comunidades locais. A figura
72 apresenta o mapa de tipos de relevo da Serra do Amolar.
Figura 71 - As bordas da Serra, estruturadas em relevos mais planos propiciam o
estabelecimento de estruturas e comunidades.
Autor: LIMA, 2019.
249
4.4.2.2 Vegetação Serra do Amolar
Aliando os esforços empenhados na conservação/preservação da Serra do Amolar,
bem como as dificuldades encontradas no acesso dessas áreas, o quantitativo de vegetação
nativa deste ícone de paisagem é relevantemente expressivo. Tal fato desperta o interesse
do IHP e de outras instituições sem fins lucrativos em destinar esforços para a preservação
de fauna e flora entradas nessas porções do pantanal.
Exemplo desta relevância pode ser observada em função dos tipos de vegetação da
Serra do Amolar e os usos das terras encontrados em seu perímetro. Percebe-se que não
há grandes aglomerados urbanos na Serra, bem como as áreas destinadas as práticas
pecuárias restringem-se a pequenas porções do pantanal do Uberaba-Madioré, localizadas
na face oeste do ícone de paisagem.
Também se percebe pequenas frações de florestas estacionais semi-deciduais
(figura 73), onde os maiores quantitativos permeiam as bordas da porção centro-sul do
ícone, abrangendo ainda pequenas faixas a norte, leste e oeste. No ícone de paisagem,
essas florestas estão mais próximas das áreas mais planas e das porções alagadas.
Figura 73 - Faixa de floresta estacional semi-decidual nas proximidades do rio Paraguai
- ícone de paisagem Serra do Amolar.
Autor: LIMA, 2019.
250
Em suma, as savanas de vegetação nativa (figura 74) são aquelas que predominam
no ícone de paisagem, as quais permeiam as áreas de encostas e topos de morro, sendo
privilegiadas pela condição estrutural geomorfológica, a qual dificulta o acesso e ações
ligadas ao desmatamento destas paisagens. De acordo com o IBGE (2012), as savanas
tem suas características atreladas a predominância arbórea e herbácea. As primeiras
compostas por árvores que possuem porte médio ou baixo, que podem variar de 3 a 10
metros, espaçadas e com copas amplas. Já as herbáceas distribuem-se de maneira
contínua, formando uma espécie de tapete de árvores e arbustos, condição semelhante a
encontrada na Serra do Amolar. Os tipos de vegetação e usos das terras na Serra do
Amolar podem ser observados na figura 75.
Figura 74 - A densidade das vegetações nativas de savanas contemplando quase a
totalidade da cobertura vegetal do ícone de paisagem Serra do Amolar.
Autor: LIMA, 2019.
252
4.4.2.3 Rede de Drenagem Serra do Amolar
Conforme já citado anteriormente, a drenagem da área do ícone Serra do Amolar e
de seu entorno é condição relevante (conjuntamente com o relevo) na determinação da
importância visual e funcional do ícone. Ao se considerar a área que compreende o
perímetro do ícone, destaca-se a ocorrência de poucos canais hídricos associados a braços
do padrão dentrítico. A figura 77 sintetiza a espacialização da rede de drenagem que
conforma as paisagens da Serra.
Apesar de enquadrarem-se fora do perímetro de delimitação da Serra do Amolar,
percebe-se a relevância visual e funcional dos elementos de drenagem que permeiam o
entorno do ícone. Tais elementos estão atrelados a canais retilíneos, meandrantes, padrões
dentríticos de drenagem, bem como a diversa concentração de pequenos, médios e
grandes lagos/lagoas, condições de drenagem muito associadas a estruturação do bioma
do Pantanal (IBGE, 2009).
Destacando um importante canal incluso nestes elementos de entorno do ícone de
paisagem, aponta-se o rio Paraguai (figura 76), o qual pode ser considerado o principal
canal fluvial de acesso a Serra do Amolar.
Figura 76 - O rio Paraguai, considerado o principal canal fluvial nas imediações do
ícone de paisagem Serra do Amolar.
Autor: LIMA, 2019.
254
4.4.3 Serra de Maracaju – porção central
Faça a leitura do QR code com seu dispositivo para saber mais sobre o ícone, ou acesse:
https://www.youtube.com/watch?v=uqwzbWWuk8I&t=527s
Considerando a grande extensão territorial da Serra de Maracaju, as investigações
de campo no referido ícone de paisagem necessitaram ser divididas em diferentes
expedições, visando aferir com maior acuracidade as faces norte, central e sul que
compreendem a Serra. As aferições na porção central da Serra de Maracaju abrangeram
áreas do município de Aquidauana-MS e entorno, permitindo a observação das principais
feições nesta faixa da serra. Convém ressaltar que, uma importante abordagem realizada
nesta expedição foi a visita a aldeia indígena Limão Verde (figura 78), localizada no
município de Aquidauana-MS, local o qual permitiu a captação relevantes imageamentos
das paisagens que compreendem esse trecho da Serra.
Figura 78 - Visão aérea da comunidade indígena Limão Verde, em Aquidauana-MS.
Autor: LIMA, 2019.
255
Outro importante ponto de exploração foram as paisagens encontradas nas
proximidades do distrito de Piraputanga-MS (figura 79), local em que foi possível
desenvolver uma série de registros fotográficos e imageamentos aéreos de importantes
feições de relevo em contraste com o rio Aquidauana, importante canal fluvial que
permeia as referidas porções territoriais.
Figura 79 - Imageamento aéreo realizado nas imediações de Piraputanga-MS.
Autor: LIMA, 2019.
No que tange a variedade litológica da faixa central do ícone de paisagem Serra de
Maracaju, é possível identificar estruturas como os Depósitos Aluvionares, ligados aos
cursos hídricos da área, as Formações Pantanal Fácies Depósitos Aluvionares, Pantanal
Fácies Terraços Aluvionares e Cuiabá, identificados nas feições direcionadas ao bioma
do Pantanal, identifica-se ainda a Cobertura Detrito-Lateríticas, considerada uma faixa
geológica relativamente recente e relacionada com os relevos de maior aplainamento da
Serra e, por fim, nota-se a ocorrência das Formações Aquidauana, Botucatu e Furnas, as
quais integram um período geológico intermediário e estruturam as feições mais
exponentes da Serra (LACERDA FILHO et. al., 2006).
Quanto aos solos que abrangem a faixa central da Serra de Maracaju, percebe-se a
ocorrências de solos do tipo os planossolos, ligados as áreas de entrada das planícies
pantaneiras, os latossolos, solos profundos e de boa drenagem distribuídos em vários
pontos desta faixa central, os neossolos e argissolos, presentes nas áreas com relevos de
256
maior elevação, e os gleissolos e plintossolos, atrelados as faixas de cursos hídricos desta
porção central do ícone (IBGE, 2015).
Relacionando com as unidades climáticas de Zavattini (2009), a porção central do
ícone de paisagem Serra de Maracaju está localizada exatamente na faixa zonal que divide
os climas de regionais de Mato Grosso do Sul, condição a qual relacionasse com a
impossibilidade de definição do período seco no outono-inverno, além ser uma área onde
geralmente as chuvas de primavera superam as de verão.
4.4.3.1 Relevo Serra de Maracaju – porção central
Em consonância com a própria nomenclatura do ícone de paisagem em questão, o
relevo é tomado como principal elemento físico a se destacar na Serra de Maracaju. Muito
em função de sua grande extensão territorial, a Serra é distribuída de maneira
fragmentadas ao longo de Mato Grosso do Sul, de maneira que, enquanto em alguns
pontos da Serra o relevo é caracterizado por relevos de leve, médias e forte ondulações,
outras feições são caracterizadas por relevos de maior dissecação. Ressalta-se ainda a
grande ocorrência de relevos testemunho em vários pontos da Serra de Maracaju.
Quanto aos tipos de relevos evidenciados na Serra de Maracaju, na escala de análise
proposta, são atribuídos basicamente a duas categorias: planaltos e patamares da borda
ocidental da bacia do Paraná e as planícies e pantanais sul-mato-grossenses. Neste
contexto, o grau de generalização geomorfológica dos dados dificulta o mapeamento das
diferentes formas de relevo existentes nessas áreas. Entretanto, a partir do trabalho de
campo, foi possível reconhecer diferentes feições da geomorfologia na faixa central do
ícone, tais como: áreas de superfícies planas, áreas de superfícies planas alagadas e
morrarias/escarpas.
Quanto as áreas de superfícies planas (figura 80), estas podem ser encontradas na
faixa centro-sul da área delimitada como faixa central do ícone. Nestas áreas, é possível
observar territórios marcados por relevos que variam entre levemente ondulado à
superfícies de maior aplainamento.
257
Figura 80 - Superfícies aplainadas e/ou moderadamente onduladas na faixa central do
ícone Serra de Maracaju.
Autor: LIMA, 2019.
Com relação aos relevos marcados pelas superfícies planas alagadas (figura 81),
estas estão restritas as áreas que compreendem as porções territoriais mais próximas da
entrada do bioma pantaneiro, sendo marcadas pela presença de pequenos, médios e
grandes banhados na medida que se aproxima do pantanal sul-mato-grossense.
Figura 81 - Planícies alagadas ligadas ao bioma pantaneiro, a noroeste de Aquidauana-
MS, na porção central da Serra de Maracaju.
Autor: BOIN, 2017.
258
Por fim, as áreas em que a Serra de Maracaju é mais destacada em sua porção central
estão relacionadas com a ocorrência de morros e escarpas (figura 82). Tais relevos são
perceptíveis com maior intensidade nas imediações de Aquidauana-MS e nos distritos de
Piraputanga e Camisão, locais permeados por grandes paredões sedimentares,
distribuídos em conjuntos de relevos descontínuos. A figura 83 indica as formas de relevo
que caracterizam a porção central do ícone Serra de Maracaju.
Figura 82 - Morros e escarpas da Serra de Maracaju nas imediações da aldeia Limão
Verde, em Aquidauana-MS.
Autor: LIMA, 2019.
260
4.4.3.2 Vegetação/usos das terras Serra de Maracaju – porção central
Em consonância com as formas de relevo encontradas na porção central da Serra
de Maracaju, os tipos de vegetação e usos das terras acompanham tais características
geomorfológicas. Além da área urbana dos municípios de Aquidauana-MS e Anastácio-
MS, a feição central da Serra compreende grandes porções territoriais dedicadas à
atividade pecuária. No que tange as vegetações nativas, percebe-se poucas faixas de
florestas estacionais semi-deciduais, em contrapartida, observa-se relevante quantitativo
de vegetações do tipo savanas arbóreas e herbáceas (IBGE, 2012).
Este expressivo percentual de vegetação nativa ligado as savanas arbóreas e
herbáceas (figura 84) ligam-se as áreas onde os relevos de morros e escarpas estão
presentes, de maneira que, muito em função da dificuldade de acesso, estas porções
mantêm relevantes índices de preservação/conservação. Além desta condição estrutural,
a relação das áreas preservadas/conservadas com territórios indígenas também se
apresenta como fator determinante na manutenção destes exemplares de vegetação.
Figura 84 - Vegetação nativa do tipo savana nas morrarias do distrito de Camisão-MS.
Autor: LIMA, 2019.
Já as restritas faixas de florestas estacionais (figura 85) encontradas na faixa central
do ícone de paisagem Serra de Maracaju estão associadas a alguns cursos hídricos
localizados no perímetro do ícone, como por exemplo, o rio Aquidauana. Em muitos
261
pontos do ícone percebe-se uma supressão dos percentuais deste tipo de vegetação em
função da pressão de atividades pecuárias.
Figura 85 - Floresta estacional nas bordas do rio Aquidauana, no trecho entre
Aquidauana-MS e o distrito de Camisão-MS.
Autor: LIMA, 2019.
Conforme pode se perceber, a porção central da Serra de Maracaju é constituída na
sua maior totalidade por áreas de pastagem (figura 86), as quais são estabelecidas nas
feições de relevo com maior aplainamento e nas proximidades das encostas das morrarias
e dos recursos hídricos que compreendem o ícone supracitado. As vegetações e usos das
terras da porção central do ícone de paisagem Serra de Maracaju podem ser observados
no mapa da figura 87.
262
Figura 86 - Contraste das áreas de pastagem e das morrarias, em Aquidauana-MS.
Autor: BOIN, 2017.
263
Figura 87 - Vegetação/Usos das terras da Serra de Maracaju – porção central
Elaboração: LIMA, 2020.
264
4.4.3.3 Rede de Drenagem Serra de Maracaju – porção central
No que concerne à rede de drenagem da porção central da Serra de Maracaju (figura
89), percebe-se a predominância do padrão de drenagem pelo IBGE (2009) como
dentrítico, padrão esse que se liga a pequenos, médios e grandes cursos hídricos, como o
rio Aquidauana (figura 88), o qual destaca-se em meio aos conjuntos paisagísticos das
morrarias e escarpas encontradas na região de Aquidauana-MS e dos distritos de
Camisão-MS e Piraputanga-MS.
Figura 88 - Meandros do rio Aquidauana em meio as morrarias presentes nas
imediações do distrito de Piraputanga-MS.
Autor: LIMA, 2019.
Destaca-se ainda a relevância dos cursos hídricos nos trechos em que estes estão
associados a conservação/preservação das florestas estacionais semi-deciduais, condição
a qual valoriza tais paisagens, permitindo uma contraposição a áreas em que tais cursos
hídricos atuam exclusivamente como “suporte” da atividade pecuária, carecendo de matas
ciliares em seu entorno. Além do rio Aquidauana e de um relevante número de córregos,
o ícone de paisagem Serra de Maracaju e seu entorno contempla trechos de importantes
canais fluviais como os rios Dois Irmãos, Ribeirão do Taquaruçu, Ribeirão Vermelho,
dentre outros.
266
4.4.4 Serra de Maracaju – porção sul
Faça a leitura do QR code com seu dispositivo para saber mais sobre o ícone, ou acesse:
https://www.youtube.com/watch?v=M6adMETdMhs&t=380s
Conforme já explicitado anteriormente, em função da extensão territorial do ícone
de paisagem Serra de Maracaju, buscou-se fragmentar as expedições de campo neste
conjunto paisagístico em três, abordando separadamente as porções, sul, central e norte
da Serra. No que tange a porção sul, percorreu-se as paisagens da Serra de Maracaju
localizadas nos territórios dos municípios de Ponta Porã-MS, Antônio João-MS e Bela
Vista-MS.
Quanto as peculiaridades territoriais na referida investigação, destaca-se a
proximidade da faixa de fronteira com o Paraguai, além da concentração de grandes
propriedades rurais e de territórios indígenas ligados a comunidade Kaiowa Ñande Ru
Marangatu. Outra condição interessante a ser destacada para além das condições físicas
desta faixa da Serra de Maracaju é a referência histórica, visto que, partes dos territórios
em que questão possuem ligações com a Retirada da Laguna15 (figura 90), episódio
associado a guerra do Paraguai, ocorrida entre os anos de 1864 – 1870.
15 Para saber mais sobre o fato histórico, ler “TAUNAY, Alfredo D’Escragnolle, Visconde de. A
Retirada da Laguna – episódio da Guerra do Paraguai. 13. ed. São Paulo: Ediouro, 1952”.
267
Figura 90 - Marco histórico de referência ao episódio da Retirada da Laguna nas
imediações do município de Bela Vista-MS.
Autor: LIMA, 2019.
A litologia que permeia a Serra de Maracaju em sua face sul é majoritariamente
compreendida pela Formação Aquidauana, sendo margeada por faixas da Formação
Botucatu, condição litológica a qual privilegia a estruturação dos relevos característicos
dessa região. Lacerda Filho et. al. (2006, p. 51) ressalta a ocorrência da Formação
Botucatu na região de Bela Vista-MS e Antônio João-MS, citando que “Os afloramentos
desta formação no Mato Grosso do Sul são raros, exceto nas calhas das principais
drenagens. Geralmente sustenta chapadões cobertos por solos areno-argilosos e areias”.
Além destas duas formações principais, estão inseridos no perímetro do ícone fragmentos
da Formação Serra Geral, Formação Cerradinho e rochas do Grupo Cuiabá.
Ao analisar os tipos de solos associados ao ícone de paisagem, nota-se a maior
ocorrência de argissolos, locais geralmente associados às práticas pecuárias, enquanto os
plintossolos estão localizados nas associações com os cursos hídricos. Outra tipologia
pedológica evidenciada foi a dos latossolos, os quais sua ocorrência atrela-se às áreas
onde predominam cultivos diversos. Percebe-se ainda pequenas frações de composições
de solos ligados aos nitossolos, planossolo e neossolos em alguns pontos do perímetro de
delimitação do ícone (IBGE, 2015).
268
A porção sul do ícone Serra de Maracaju está inserida na unidade climática B1-IV,
que é descrita por Zavattini (2009) como uma unidade que contemplam picos que podem
ultrapassar a altitude de 700 metros, e que está atrelada a índices pluviométricos que em
média variam entre 1.200 e 1.400 mm, os quais as chuvas de primavera são ligeiramente
maiores que as de verão e os valores do período de outono-inverno giram em torno de
300 mm.
4.4.4.1 Relevo Serra de Maracaju – porção sul
Assim como supracitado nas descrições do relevo da porção central da Serra de
Maracaju, as feições geomorfológicas do ícone possuem feições variáveis ao longo de
sua extensão no território sul-mato-grossense. Dentro desta variação, a porção sul da
Serra de Maracaju é marcada por relevos distintos daqueles observados em sua faixa
central.
Entretanto, assim como já supracitado no texto, os tipos de relevos indicam uma
representação generalista dos relevos destas áreas, indicando uma estruturação
geomorfológica composta por majoritariamente pelos planaltos e patamares da borda
ocidental da bacia do Paraná, por uma relevante faixa designada como depressões sul-
mato-grossenses e uma pequena área designada como planície.
Apesar da classificação como grandes conjuntos homogêneos de relevo, por meio
do trabalho de campo, foi possível verificar que, as áreas identificadas como planaltos e
patamares da borda ocidental da bacia do Paraná são contempladas por variações
geomorfológicas, uma vez que, percebe-se ao longo de suas extensões a ocorrência de
áreas com superfícies de maior aplainamento, relevos de ondulação variável e formação
de relevos testemunhos. Diferentemente das feições centrais da Serra, nestes pontos não
são encontrados relevos escarpados.
Os relevos de aplainamento (figura 91) apresentam-se como feições intermitentes
entre os relevos testemunhos e ondulados que permeiam as paisagens da Serra de
Maracaju em sua porção sul. Dada as especificidades da estrutura geomorfológica, tais
relevos são tidos como suporte no desenvolvimento das dinâmicas territoriais encontradas
nestas áreas (pecuária e pequenos cultivos).
269
Figura 91 - Superfícies aplainadas na faixa sul do ícone Serra de Maracaju – município
de Antônio João-MS.
Autor: LIMA, 2019.
Quanto os relevos de baixas, médias e altas ondulações (figura 92), estes são mais
evidentes no trecho entre os municípios de Antônio João e Bela Vista-MS. Considerando
as variações de intensidade das ondulações destes relevos, é possível evidenciar um
equilíbrio entre as áreas mais conservadas/preservadas e os limites das explorações de
dinâmicas territoriais (atividades ligadas a agropecuária).
Figura 92 - Ondulação dos relevos na faixa sul do ícone Serra de Maracaju – trecho
entre os municípios de Antônio João-MS e Bela Vista-MS.
Autor: LIMA, 2019.
270
Por fim, os relevos testemunhos (figura 93) são tidos como feições bem definidas,
as quais destacam-se nas paisagens da porção sul do ícone. Considerando as dificuldades
de acesso a tais conjuntos, estes relevos denotam menores graus de intervenções humanas,
designando feições singulares a serem tomadas no contexto desta face sul da Serra de
Maracaju. Na figura 94 é possível perceber os tipos de relevos encontrados nessa porção
da serra.
Figura 93 - Formação de relevos testemunho na faixa sul do ícone Serra de Maracaju –
município de Antônio João-MS.
Autor: LIMA, 2019.
272
4.4.4.2 Vegetação/usos das terras Serra de Maracaju – porção sul
Ao se investigar a porção sul do ícone de paisagem Serra de Maracaju, percebe-se
que, além das características físicas do relevo, os tipos de vegetações e usos das terras
têm importante papel na compreensão das dinâmicas territoriais que norteiam a
estruturação das paisagens nestes pontos.
Neste contexto, algo que desperta a atenção são as grandes extensões de áreas de
pastagem (figura 95) encontradas nas paisagens da face sul da Serra de Maracaju. Tais
áreas dedicadas a atividade pecuária estão associadas às extensões de relevos aplainados
e levemente ondulados, os quais apresentam aptidões para o desenvolvimento da referida
atividade.
Figura 95 - Intensa concentração áreas de pastagem na faixa sul do ícone Serra de
Maracaju – município de Bela Vista-MS.
Autor: LIMA, 2019.
As áreas contempladas por vegetações nativas do tipo savana (figura 96)
apresentam um quantitativo relativamente restrito quando comparadas aos campos de
pastagem. No trecho entre Antônio João-MS e Bela Vista-MS, as savanas se restringem
basicamente a “recortes” dentro das grandes propriedades da região. Esse tipo de
273
vegetação ganha maior destaque no entorno de Bela Vista-MS, mais especificamente, em
áreas mais próximas da fronteira com o Paraguai.
Figura 96 - Fragmentos remanescentes de vegetação nativa do tipo savana evidenciados
no trecho entre os municípios de Antônio João-MS e Bela Vista-MS.
Autor: LIMA, 2019.
Quanto as florestas estacionais (figura 97), estas possuem faixas pouco expressivas
nos perímetros sul da Serra de Maracaju. Nestas áreas, esse tipo de vegetação está
associado basicamente com os cursos do rio Apa e do rio Piripucu, além de pontos em
que as florestas estacionais se associam as savanas que compreende o entorno de Bela
Vista-MS.
274
Figura 97 - Florestas estacionais semi-deciduais na faixa sul do ícone Serra de Maracaju
– município de Bela Vista-MS.
Autor: LIMA, 2019.
Destarte, é possível inferir que, a estruturação física das paisagens que abrangem a
porção sul da Serra de Maracaju mantém relação direta com as dinâmicas territoriais
destas áreas, uma vez que, percebe-se a manutenção das vegetações nativas apenas nas
áreas em que há limitações físicas para a exploração de atividades como a agricultura e
pecuária, limitações estas que são impostas seja pelas diferenças de altitudes de relevo,
seja em função da presença dos cursos hídricos de maior imponência na região, como por
exemplo, o rio Apa. Na figura 98 são apresentados os usos das terras e tipos de vegetação
na face sul da Serra de Maracaju.
275
Figura 98 - Vegetação/usos das terras da Serra de Maracaju – porção sul.
Elaboração: LIMA, 2020.
276
4.4.4.3 Rede de Drenagem Serra de Maracaju – porção sul
Assim como o padrão de drenagem apontado pelo IBGE (2009) e evidenciado na
face central do ícone de paisagem Serra de Maracaju, a porção sul do ícone é caracterizado
pelo padrão dentrítico, sendo permeados por canais fluviais meandrantes, como no caso
do rio Apa (figura 99).
Figura 99 - O rio Apa apresenta-se como um dos principais cursos hídricos presentes na
face sul do ícone Serra de Maracaju.
Autor: LIMA, 2019.
Assim como na face central da Serra de Maracaju, os principais cursos hídricos
(figura 100) tem importante função na manutenção das vegetações nativas,
principalmente na conservação das florestas estacionais. Além do rio Apa, a rede de
drenagem da porção sul do ícone de paisagem Serra de Maracaju é composta por lagos,
córregos e rios como o Piripucu e Estrela.
278
4.4.5 APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná
Faça a leitura do QR code com seu dispositivo para saber mais sobre o ícone, ou acesse:
https://www.youtube.com/watch?v=7KXz6p2fqNk&t=387s
O ícone de paisagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná, localizado no sudeste de
Mato Grosso do Sul (fronteira territorial com o Paraguai e com os estados de São Paulo
e Paraná), tem suas paisagens destacadas em função de sua relevante condição hídrica, a
qual, conforme sugere a nomenclatura do ícone, está atrelada principalmente pelo canal
fluvial do rio Paraná. Entretanto, as características paisagísticas singulares deste ícone,
além de causar uma instigante inquietação quanto a compreensão e contemplação,
também são tomadas como um desafio, uma vez que, para sua investigação é necessário
superar dificuldades em sua abordagem, como a limitação de acesso e a sua amplitude
territorial.
Destarte, considerando tais dificuldades, buscou-se a execução de dois (002)
trabalhos de campo, a fim de, contemplar as informações necessárias para compreender
e analisar o referido ícone de paisagem. Neste ínterim, é importante destacar a
importância do apoio prestado pela prefeitura do município de Naviraí-MS, a qual
demonstrou total apoio desde o início das tratativas para a realização de expedições de
campo nas áreas que compreendem o perímetro do ícone. Neste apoio, os setores da
Gerência de Meio Ambiente de Naviraí (GEMA) (figura 101) e da Gerência de obras de
Naviraí (GEROB) atuaram de maneira direta no suporte das atividades, representadas na
ocasião pelos técnicos Kátia V. Chrestani Borges / Adriano Chaves de França,
respectivamente.
279
Figura 101 - Sede da Gerência de Meio Ambiente (GEMA) – Naviraí-MS.
Autor: LIMA, 2019.
Além da sede da Gerência de Meio Ambiente (GEMA) da prefeitura de Naviraí-
MS, outro ponto de apoio utilizado foi o portal do Parque Natural Municipal de Naviraí
(figura 102), o qual foi instituído a partir do decreto municipal Nº 042/2011. O parque
municipal é uma das áreas protegidas que estão inseridas no perímetro do ícone de
paisagem.
Figura 102 - Portal, localizado no município de Naviraí-MS, um dos pontos de apoio
que integram a área compreendida pela APA Ilhas e Várzeas do rio Paraná.
Autor: LIMA, 2019.
280
Em virtude da singularidade do ícone de paisagem, o qual tem como principal
elemento a abrangência hídrica, buscou-se desenvolver abordagens tanto por vias
terrestres, quanto por vias fluviais (figura 103). Tais aproximações permitiram melhores
observações das diferentes paisagens encontradas ao longo da extensão do ícone.
Figura 103 - O apoio terrestre/fluvial prestado pela Gerência de Meio Ambiente
(GEMA) e da Gerência de obras de Naviraí (GEROB) da prefeitura Naviraí-MS.
Autor: LIMA, 2020.
Considerando a litologia que abrange o ícone de paisagem APA Várzeas e Ilhas do
Rio Paraná, percebe-se uma estrutura estabelecida nos períodos geológicos mais recentes.
Além da ocorrência de rochas do Grupo Caiuá (período cretáceo), as demais estruturas se
estabelecem no período do quaternário, variando entre o pleistoceno e o holoceno,
compreendendo formas como os Depósitos Aluvionares, os Aluviões Fluviolacustres, os
Terraços Holocênicos e os Terraços Pleistocênicos (LACERDA FILHO et. al. 2006).
Gleissolos, neossolos e planossolos formam o conjunto pedológico que acompanha
os trechos em que predominam os cursos hídricos da APA. Já os latossolos compreendem
uma relevante faixa territorial, a qual se intensifica nos extremos do perímetro do ícone
(em oposição às áreas em que os cursos hídricos se destacam). Os argissolos da APA
281
concentram-se em fragmentos da face norte e sul do ícone de paisagem. Percebe-se ainda
a ocorrência de organossolos na porção sul do ícone, solos estes que, de acordo com o
IBGE (2015, p. 310), caracterizam-se por constituir-se de “material orgânico proveniente
de acumulação de restos vegetais em grau variado de decomposição, em ambientes mal a
muito mal drenados, ou úmidos de altitude elevada, que ficam saturados com água por
poucos dias no período chuvoso”.
O ícone de paisagem APA Várzeas e Ilhas do Rio Paraná está inserido na unidade
climática B2-X-a-b delimitada por Zavattini (2009), a qual de acordo com o autor op. cit
(p. 119):
Os índices pluviométricos nos vales do Ivinhema e Pardo (Xa) giram em torno
de 1.300 a 1.500 mm, com fortes variações anuais, caso dos anos de 1983 e
1985 (de 1.400 a 2.100 mm e de 1.000 a 1.400 mm, respectivamente). Vale
destacar que nessa porção as chuvas de primavera são superiores às de verão,
e que no período outono-inverno os índices ficam ao redor de 400/500 mm. Já
a porção meridional Xb (vales dos rios Amambaí e Iguatemi) é mais bem
regada que a anterior (de 1.500 a 1.700 mm), no que se assemelha bastante ao
centro-sul do Planalto Divisor (VII). Observe-se que as chuvas de primavera
dessa porção também são superiores às de verão, aproximando-a da porção Xa,
mas seus índices de outono-inverno já são bem maiores (de 500 a 600 mm) que
os daquela.
Ainda discorrendo sobre a condição climática das unidades de contemplam o ícone
de paisagem, Zavattini (2009) lembra que, na porção Xb, os totais dos períodos de verão,
outono e inverno apresentam índices muitos semelhantes quando comparados entre si,
acarretando assim em uma equilibrada distribuição pluviométrica anual.
4.4.5.1 Relevo APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná
Assim como os demais ícones de paisagens abordados na pesquisa, o relevo
também se apresenta como um notório elemento estrutural que destaca a paisagem do
ícone APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná. Entretanto, neste caso, diferentemente dos
relevos dos outros ícones de paisagem, aqui o relevo se destaca não por seus contrastes
de altos índices altimétricos, mas sim pelas relevantes áreas planas associadas a
diversidade hídrica que englobam essa porção de Mato Grosso do Sul.
O relevo do ícone é estruturado em duas feições geomorfológicas bem definidas:
os planaltos sul-mato-grossenses e as planícies do rio Paraná. Apesar de transição destas
áreas ocorrerem de maneira quase imperceptível, é possível descrever algumas
características que distinguem as duas feições de relevo apontadas no mapeamento.
282
Quanto aos planaltos sul-mato-grossenses (figura 104), o IBGE (2009, p. 30) indica
que, estavas feições geomorfológicas “Os planaltos são conjuntos de relevos planos ou
dissecados, de altitudes elevadas, limitados, pelo menos em um lado, por superfícies mais
baixas, onde os processos de erosão superam os de sedimentação”. Neste contexto, os
planaltos sul-mato-grossenses presentes no perímetro do ícone de paisagem estão
localizados em áreas de transição com as feições mais planas da borda sudeste de Mato
Grosso do Sul.
Figura 104 - Paisagem observada no Portal do Parque Estadual Várzeas do rio
Ivinhema, localizado na área que divide as feições dos relevos ligados aos planaltos das
áreas de planícies.
Autor: LIMA, 2020.
Já as planícies do rio Paraná (figura 105), conforme sugere a denominação da forma
de relevo, está intrinsicamente com os recursos hídricos da região, abarcando extensões
territoriais margeadas por rios, riachos, ribeirões e lagos/lagoas, sendo caracterizado
como por relevos de planícies fluviais. O mapa apresentando na figura 106 refere-se aos
tipos de relevos encontrados no ícone.
285
4.4.5.2 Vegetação/usos das terras APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná
Ao discorrer sobre a vegetação e usos das terras do ícone de paisagem APA Ilhas e
Várzeas do Rio Paraná, convém ressaltar que, apesar das vegetações nativas não
constituírem os maiores percentuais quantitativos dentro do perímetro do ícone, estas
possuem relevante papel na estruturação das paisagens da área pesquisada,
principalmente nas áreas em que a diversidade hídrica se apresenta de maneira mais
intensa.
Na aferição dos tipos de vegetação e usos das terras do referido ícone, é possível
observar a concentração de áreas de savanas, florestas estacionais, pastagem e de cultivos
diversos. No caso das vegetações nativas do tipo savana (figura 107), quando comparadas
aos outros tipos de vegetações/usos, percebe-se um quantitativo reduzido das savanas,
concentradas basicamente na região central do ícone de paisagem, próxima da área
transitória entre os planaltos e as planícies, sendo constituída por áreas de savanas
arbóreas (IBGE, 2012).
Figura 107 - Exemplares de vegetação do tipo savana encontradas na faixa central do
ícone de paisagem.
Autor: LIMA, 2020.
286
Outra importante vegetação nativa que pode ser encontrada no ícone de paisagem
APA Ilhas e Várzeas do rio Paraná são as florestas estacionais (figura 108). Tomada as
características a atribuídas pelo IBGE (2012) a esse tipo de vegetação, as florestas
estacionais estão intensamente presentes nas ilhas formadas nos entrelaces do rio Paraná,
bem como margeiam o entorno de outros canais fluviais do ícone.
Figura 108 - Predominância das florestas estacionais nas faixas ligadas aos cursos
hídricos do ícone de paisagem APA Várzeas e ilhas do Rio Paraná.
Autor: LIMA, 2020.
Considerada a forma de uso das terras que abrangem as maiores porções territoriais
do ícone de paisagem, as áreas de pastagem (figura 109). Com exceção das áreas brejosas,
as quais dificultam as ações dessa atividade, os campos de pastagem podem ser
encontrados nos demais pontos do ícone, principalmente nas feições associadas aos
planaltos sul-mato-grossenses.
287
Figura 109 - Identificação de área de pastagem no perímetro do ícone.
Proporcionalmente ao perímetro do ícone, está é a dinâmica territorial que predomina
nessas áreas.
Autor: SILVA, 2020.
Quanto as áreas dedicadas a agricultura (figura 110), estas estão concentradas na
face norte do ícone, estabelecidas em áreas onde os latossolos e os argissolos são
predominantes. Além disso, nos pontos onde essa atividade é desenvolvida, a rede de
drenagem apresenta-se como fator favorável para seu desenvolvimento. Quanto aos tipos
de vegetações e usos das terras no ícone, a figura 111 apresenta tais informações.
288
Figura 110 - Áreas dedicadas a agricultura, no território de Naviraí-MS, ainda no
perímetro do ícone de paisagem
Autor: SILVA, 2020.
289
Figura 111 - Vegetação/usos das terras da APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná
Elaboração: LIMA, 2020.
290
4.4.5.3 Rede de Drenagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná
A drenagem do ícone de paisagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná (figura 114)
é tomada como um dos principais aspectos físicos que valorizam a estrutura das paisagens
nesta área, tanto no aspecto visual quanto funcionam. Neste âmbito, o relevante número
de cursos hídricos que integram a área é de suma importância para a manutenção das
paisagens em questão, principalmente no que tange a preservação/conservação das
vegetações nativas do ícone.
Quando ao padrão de drenagem, o ícone é caracterizado pelo formato dentrítico,
sendo estruturado por canais fluviais meandrantes. Entretanto, as feições que ganham
destaque no ícone de paisagem é o rio Paraná (figura 112), associado ao canal fluvial do
tipo anastomosado, tipo tipologia a qual é designada pelo IBGE (2009, p. 95) como:
“Forma ramificada em canais múltiplos, largos e relativamente rasos que
transportam grande volume de carga de fundo em setores de gradiente mais
elevado. A natureza do substrato que favorece este padrão é constituída por
solos impermeáveis que auxiliam o escoamento rápido na superfície”.
Ainda com o autor op. cit. (p. 96) “O sistema fluvial anastomosado está interligado
a ambientes de leques aluviais, bem como a leques deltaicos”, condição que se assemelha
ao observado nos trechos observados do ícone de paisagem.
Figura 112 - Percepção aérea do padrão anostomosado associado ao curso do rio Paraná
no perímetro do ícone de paisagem.
Autor: LIMA, 2020.
291
Além do rio Paraná, a drenagem da área em questão também contempla córregos,
ribeirões, lagos/lagoas, veredas e outros relevantes rios, tais como: o Amambaí (figura
113), o Iguatemi, o Ivinhema e o Samambaia.
Figura 113 - Ponto de encontro do rio Amambaí com o rio Paraná.
Autor: LIMA, 2020.
293
4.4.6 Serra da Bodoquena
Faça a leitura do QR code com seu dispositivo para saber mais sobre o ícone, ou acesse:
https://www.youtube.com/watch?v=XyRu9QiF40U
Localizado na porção sudoeste de Mato Grosso do Sul, o ícone de paisagem Serra
de Bodoquena é caracterizado por uma relevante faixa de relevo cárstico, condição a qual
designa paisagens singulares nestas áreas, tanto em função de sua variedade de fauna e
flora, quanto em função da ocorrência de cursos hídricos com águas cristalinas. Tais
características tornam a as paisagens da Serra da Bodoquena reconhecidas em âmbito
nacional e internacional, atraindo fluxos de turísticos para a visitação de diferentes pontos
do ícone.
No caso do ícone Serra de Bodoquena, este é dotado de condições físicas singulares,
as quais propiciam o desenvolvimento de rotas turísticas, conforme sugere Fernandes
(2009). Ainda de acordo com o autor, tais características podem ser marcantes a ponto de
relacionar cidades e regiões diretamente ao ícone, neste caso, da Serra da Bodoquena e
sua intrínseca relação com o município homônimo Bodoquena-MS, bem como aqueles
localizados em seu entorno, Bonito-MS e Jardim-MS.
Para a compreensão das paisagens da Serra da Bodoquena, buscou-se realizar um
trabalho de campo nos dias 31 de julho e 1 de agosto de 2021 nas áreas que compreendem
o ícone de paisagem (figura 115). Na ocasião, a expedição teve apoio da Fundação
Neotrópica do Brasil, representada na figura da colaboradora Fernanda Cano de Andrade
Marques, a qual também compõem o quadro de discentes do PPGG-UFGD em nível de
mestrado. O procedimento permitiu a coleta de pontos de GPS, anotações campo,
registros fotográficos e mapeamento aéreo de drone.
294
Figura 115 - Procedimentos de campo no ícone Serra da Bodoquena
Autor: LIMA, 2021
Para um mapeamento satisfatório dos conjuntos paisagísticos em questão e,
considerando a extensão do ícone, buscou-se estabelecer pontos de paradas estratégicos,
de maneira a contemplar uma maior cobertura das áreas de interesse e, consequentemente,
subsidiar as análises dos componentes das paisagens. Dentre as dificuldades encontradas,
ressalta-se a mudança do tempo na manhã do dia 1 de agosto que, em função das
características chuvosas, limitou a qualidade dos registros fotográficos e dos
mapeamentos aéreos (figura 116).
Figura 116 - Procedimentos de campo realizados durante período chuvoso na Serra da
Bodoquena
Autor: LIMA, 2021
295
No que tange a estrutura litológica do ícone, está possui suas bases conformadas
pela Formação Bocaína, caracterizado por seus conjuntos calcários, os quais contemplam
quase que toda a totalidade do conjunto paisagístico, ligando-se diretamente com os
relevos de serras e morrarias que caracterizam o ícone. Quanto as demais litologias
mapeadas, destaca-se a ocorrência da Formação Xaraiés e Depósitos Aluvionares, ambas
ligadas ao período geológico mais recente do quaternário, e que foram mapeados na faixa
central do ícone, área em que há a junção dos dois grandes conjuntos de relevo que
formam a serra. Além das supracitadas litologias, percebe-se também uma pequena
ocorrência da Formação Cerradinho, localizada na porção nordeste do ícone (LACERDA
FILHO et. al. 2006).
Em consonância com a ocorrência litologias apresentadas, aponta-se a
predominância dos solos do tipo Chernossolo Rindizico Artico, associado às áreas ligadas
a Formação Bocaína e, consequentemente, com os pontos mais altos dos relevos do ícone,
sendo caracterizados como solos rasos e com riqueza orgânica, relacionada com as
grandes concentrações de vegetação nativa nestes pontos. Já na parte central do ícone de
paisagem, é possível observar a ocorrência de outras tipologias pedológicas, associadas
aos Gleissolos e Nitossolos, ligados aos pontos mais baixos da serra. É possível observar
ainda pequenas ocorrências de Vertissolos e Neossolos, nas porções norte e central,
respectivamente, os quais ligam-se às encostas das serras do ícone (IBGE, 2015).
Acerca do aspecto climático do ícone de paisagem Serra da Bodoquena, este é
compreendido quase na sua totalidade pela unidade climática B1-IV e, relaciona-se
parcialmente com a unidade B1-III na porção nordeste do ícone. De acordo com Zavattini
(2009, p. 114), a unidade B1-IV está associada diretamente ao Planalto da Bodoquena:
Situado ao sul da faixa zonal divisora (B1) e estendido “grosseiramente” no
sentido norte-sul, contém picos que ultrapassam 700 metros de altitude e
possui as seguintes características pluviométricas: índices anuais entre 1.200 e
1.400 mm, chuvas de primavera ligeiramente superiores às de verão e período
outono-inverno com valores ao redor de 300 mm. Nessa porção, onde as
massas de ar polar (20% – PA e de 25% a 15% – PV) costumam apresentar
índices de participação superiores aos da onda de leste (de 20% a 15%), e o
número de passagens de FPA (eixo principal) é quase tão elevado quanto o da
vizinha região VII (centro-sul do Planalto Divisor), o papel exercido pela onda
do interior (TC) é considerável (de 20% a 30%), levando a crer na ocorrência
de contrastes térmicos acentuados entre o verão e o inverno. Infelizmente, tais
fatos ficam sem comprovação por causa da inexistência de postos
meteorológicos na área, onde se destacam as cidades de Bonito e Bodoquena.
296
Neste âmbito, é possível perceber a ligação sistêmica entre os componentes base
que estruturam as paisagens do ícone, os quais possuem também uma interrelação com
os tipos de relevos, vegetações/usos das terras e cursos hídricos que serão apresentados e
discutidos a seguir.
4.4.6.1 Relevo Serra da Bodoquena
Conforme a própria nomenclatura do ícone sugere, o relevo apresenta-se como uma
condição singular na configura do conjunto paisagístico da Serra de Bodoquena. Neste
âmbito, considerando a atividade turística, tais condições oferecem uma estrutura propícia
para o desenvolvimento de atividades, tanto em por conta das funcionalidades dos
elementos que conformam as paisagens, quanto em função da qualidade visual. Conforme
apontado por Salzo (2006), a Serra da Bodoquena é composta por áreas em que as
altitudes variam entre 200 e 800 metros.
Dentre as três variações de relevos mapeados, a tipologia predominante refere-se
aos Planaltos da Bodoquena, os quais, de acordo com o IBGE (2009, p. 30), destacam-se
enquanto relevos planos ou dissecados, associados a elevadas altitudes, e que são “[...]
limitados, pelo menos em um lado, por superfícies mais baixas, onde os processos de
erosão superam os de sedimentação”. No caso do referido ícone, os planaltos carbonáticos
propiciam a materialização de formações dissecadas, as quais estabelecem uma singular
configuração geomorfológica nestas porções, associada às áreas mais altas do ícone,
conforme representado na figura 117.
297
Figura 117 - Planaltos da Bodoquena, porção central do ícone de paisagem
Autor: LIMA, 2021
A segunda forma de relevo encontrada ao longo da extensão do ícone são as
depressões sul-mato-grossenses, as quais, de acordo com o IBGE (2009), configuram-se
como relevos planos ou ondulados localizados nas face mais baixas do ícone, e que são
associadas a rochas de classes variadas. No que concerne ao ícone de paisagem, a
ocorrência deste tipo de relevo é muito pequena, podendo ser encontrada em pequenas
porções nos extremos sul e norte do ícone, conforme figura 118.
Figura 118 - Depressões sul-mato-grossenses na faixa norte da Serra da Bodoquena
Autor: LIMA, 2021
298
Por fim, a terceira forma de relevo encontrada no ícone liga-se às serras e morrarias
do baixo Paraguai, as quais estão localizadas e pequenos fragmentos da faixa oeste-
noroeste do ícone de paisagem (figura 119). Segundo o IBGE (2009, p. 30), este tipo de
relevo liga-se aos relevos acidentados, os quais podem estar materializados a partir de
rochas diversas, “[...] formando cristas e cumeadas ou as bordas escarpadas de planaltos”.
Tais características são condizentes com o aspecto sistêmico da paisagem, uma vez que,
tais relevos podem ser encontradas nas bordas dos planaltos, os quais permeiam quase a
totalidade do ícone.
Figura 119 - Enquadramento do relevo ligado às serras e morrarias do baixo Paraguai
Autor: LIMA, 2021
A figura 120 retrata os tipos de relevo supracitados que foram mapeados no ícone
de paisagem Serra da Bodoquena.
300
4.4.6.2 Vegetação/usos das terras Serra da Bodoquena
Além da condição geomorfológica, o ícone também é permeado por um relevante
quantitativo de vegetações nativas ao longo de sua extensão, condição a qual agrega
maiores índices de interesses turísticos nestes conjuntos paisagísticos, tanto por sua
funcionalidade, quanto a sua qualidade visual. Nas áreas mapeadas, foi possível perceber
a incidência de vegetações dos tipos florestas estacionais e savanas, as quais são
intercaladas por áreas de pastagem.
Quanto as florestas estacionais (figura 121) encontradas ao longo da extensão do
ícone, percebe-se que este tipo de vegetação é predominante nos conjuntos paisagísticos,
podendo ser associado às faces norte e sul do ícone. Segundo o IBGE (2012) este tipo de
vegetação associa-se ao clima estacional. Ainda de acordo com o autor op. cit., este tipo
de vegetação pode ser encontrado com maior facilidade em áreas da depressão pantaneira
sul-mato-grossense, margeando cursos hídricos da Bacia do Rio Paraguai, como
observado na área compreendida pelo ícone em questão.
Figura 121 - Florestas estacionais, predominantes na cobertura da Serra da Bodoquena
Autor: LIMA, 2021
Em paisagens tomadas prioritariamente por vegetações do tipo floresta estacional,
é possível ainda identificar no ícone pequenos fragmentos de savanas, as quais estão
301
localizadas em pequenas bordas da porção oeste/centro-oeste da área pesquisada, em
trechos de transição de áreas mais altas e as pastagens. Dentre as variações de tipos de
savanas apontadas pelo IBGE (2012), o ícone de paisagem Serra da Bodoquena
contempla diminutos fragmentos de savanas gramíneo-lenhosas, arborizadas e
florestadas. Tais vegetações são características em áreas de cerrado e, consequentemente,
comumente encontradas nas áreas centrais do Brasil, dispondo de exemplares
vegetacionais de pequeno porte (figura 122).
Figura 122 - Percentuais de savana florestadas na faixa oeste da Serra da Bodoquena
Autor: LIMA, 2021
Associadas às porções com menores declividades no relevo de planalto do ícone,
as áreas de pastagens podem ser identificadas principalmente na faixa central do ícone de
paisagem, mais especificamente na faixa intermediária entre os dois grandes blocos de
relevo que caracterizam este conjunto paisagístico. Conforme apontado pelo IBGE
(2012), em uma escala regional e exploratória, nem sempre é possível
identificar/diferenciar precisamente as áreas de pastagem (figura 123) e de agricultura
cíclica (figura 124), de maneira que, é possível identificar alguns campos de cultivos
nessas porções.
302
Figura 123 - Campos de pastagem na porção central da Serra da Bodoquena
Autor: LIMA, 2021
Figura 124 - Cultivo de aveia entre os fragmentos da Serra da Bodoquena
Autor: LIMA, 2021
A figura 125 sintetiza o mapeamento da vegetação/usos das terras no ícone de
paisagem Serra da Bodoquena, a qual possibilita visualizar a espacialização das variações
supracitadas nos parágrafos anteriores.
305
4.4.6.3 Rede de Drenagem Serra da Bodoquena
Diante das singularidades relacionadas ao ícone de paisagem Serra da Bodoquena,
os cursos hídricos apresentam-se como uma importante variável, seja por seu caráter
visual, seja por suas funcionalidades, uma vez que, em função de sua estruturação cárstica
e, a ocorrência de rochas calcárias, os conjuntos paisagísticos encontrados nessa porção
relacionam-se diretamente com os processos hídricos. Neste âmbito, além da estruturação
dos conjuntos geomorfológicos, é possível observar nestas áreas a concentração de cursos
hídricos com relevantes índices de cristalinidade, fato que, do ponto de vista turístico,
apresenta-se como importante variável do ponto de vista visual e funcional para práticas
ligadas ao turismo.
No que tange o padrão de drenagem observado no ícone, percebe-se o predomínio
do padrão dentrítico, o qual é condizente com a estrutura de rochas estratificadas
horizontalmente, conforme características observadas na estruturação dos conjuntos
paisagísticos do ícone. No perímetro pesquisado, percebe-se distribuições deste padrão
de drenagem em todas as direções do ícone de paisagem, característica a qual é
relacionada ao referido padrão de drenagem pelo IBGE (2009).
Tal padrão de drenagem é composto pelo predomínio de canais retilíneos e
meandrantes, os quais apresentam-se de maneira alternada, muito em função da
variabilidade do relevo ao longo da extensão do ícone de paisagem. Dentre os principais
cursos hídricos no perímetro do ícone, destaca-se os rios Formoso, Salobra e Perdido
(figura 126). Porém, ao longo do ícone é possível encontrar ainda uma série de córregos
de vazão menos representativas, mas que também integram os cursos hídricos destes
conjuntos paisagísticos (figura 127).
306
Figura 126 - Vista aérea do rio Salobra
Autor: LIMA, 2021
Figura 127 - Trecho do córrego Três Morros
Autor: LIMA, 2021
Na figura 128 é apresentada a espacialização da drenagem do ícone de paisagem
Serra da Bodoquena.
309
CAPÍTULO 5 – ANÁLISE DOS ÍCONES DE PAISAGEM DO MS
5.1 Níveis de Turismo de Natureza nos ícones de paisagem de Mato Grosso do Sul
Aqui, apresenta-se os diferentes níveis de Turismo de Natureza em cada um dos
ícones de paisagem elencados em Mato Grosso do Sul. Ressalta-se que, para o
estabelecimento de tais níveis, foram levados em conta a definição de parâmetros para a
aferição das referidas paisagens, conforme indicações de autores como Vieira et. al.
(2018), Siefert e Dos Santos (2016) e Mendes (2010).
Neste âmbito, buscar-se-á a seguir apresentar uma descrição acerca dos referidos
conjuntos paisagísticos os quais, em função de suas variações de qualidade visual e
funcional estabelecidos por meio da classificação dos relevos, vegetação/usos das terras
e drenagem, permitiram estabelecer os três níveis de Turismo de Natureza discutidos no
capítulo 2 desta pesquisa.
É importante pensar que, as classificações dos elementos que compõem as
paisagens foram estabelecidas dentro da complexidade paisagística de cada ícone, ou seja,
um mesmo elemento pode assumir diferente referência aos níveis de Turismo de Natureza
a depender dos elementos que norteiam/destacam (seja uma paisagem de relevo
destacado, de relevância de um determinado tipo de vegetação, ou da predominância de
um representativo quantitativo hídrico).
Não se trata aqui de mapear e determinar qual paisagem é “potencial ou não” para
o Turismo de Natureza, mas sim apontar que os ícones se apresentam como conjuntos
relevantes para estas práticas turísticas e propor possíveis orientações frente as variadas
atividades deste segmento que podem ser desenvolvidas nos diferentes níveis
identificados.
5.1.1 Maciço do Urucum
O ícone de paisagem Maciço do Urucum materializa-se como importante conjunto
paisagístico em Mato Grosso do Sul muito em função de sua singularidade de relevo, o
qual é permeado predominantemente por morrarias e, consequentemente, propicia a
concentração de relevantes percentuais de vegetação nativa, principalmente nas faixas de
maiores cotas altimétricas e declividades.
310
Diante de tais características expostas, percebe-se basicamente um predomínio de
áreas ligadas aos níveis 1 e 3 de Turismo de Natureza, percebendo-se apenas diminutos
percentuais ligados ao nível 2 no extremo nordeste e em pontos a sudeste do ícone, os
quais estão atrelados principalmente aos quantitativos mais expressivos de massas d’água
no ícone. Assim sendo, convém destacar e descrever os níveis que prioritariamente
conformam o ícone, ou seja, as áreas identificadas em nível 1 e 3.
A classificação dos níveis no ícone praticamente se resume a uma oposição das
áreas mais altas e com maior conservação da vegetação nativa (nível 1) e as áreas como
maiores intervenções antrópicas (nível 3).
Quanto às áreas ligadas ao nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de paisagem
Maciço do Urucum, é possível inferir que, seu mapeamento ocorre em função
principalmente da ocorrência das áreas de morraria, relevo predominante no ícone, bem
como sua associação com as áreas conservadas de florestas estacionais (figura 129). Tal
combinação acarreta em um conjunto paisagístico singular, o qual apresenta-se como
relevante lócus funcional para atividades ligadas ao nível 1 do Turismo de Natureza.
No âmbito das possibilidades de atividades turísticas a serem desenvolvidas nas
referidas áreas, indica-se uma condição oportuna para desenvolvimento de práticas
contemplativas, visto a amplitude de vegetações nativas, bem como a singularidade
geomorfológica e litológica associada às paisagens do ícone. Além do ponto de vista
contemplativo, muito em função das especificidades estruturais dos elementos
supracitados, há a possibilidade também da exploração didático/científica acerca das
características encontradas nestas paisagens. Assim sendo, as práticas de trilhas,
caminhadas, expedições didáticas/científicas e expedições fotográficas apresentam-se
como práticas recomendadas nessas porções do Maciço do Urucum.
311
Figura 129 - Paisagem relacionada com o nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Maciço do Urucum.
Autor: LIMA, 2021
Já os demais fragmentos paisagísticos predominantes no ícone relacionam-se como
o nível 3 de Turismo de Natureza. Do ponto de vista estrutural, os referidos conjuntos
estão intrinsicamente relacionados com as áreas com maiores índices de intervenções
antrópicas, as quais ligam-se principalmente com as áreas de pastagem e mineração.
Quanto ao relevo, tais conjuntos se estabelecem basicamente nas porções das planícies e
pantanais, entendendo-se até as áreas limítrofes com as morrarias (figuras 130 e 131).
Muito em função do alto grau de intervenção humana, tais paisagens apresentam-
se como possível lócus de atividades ligadas ao nível 3 de Turismo de Natureza,
possibilitando o desenvolvimento de práticas ligadas ao ambiente rural, tais como
passeios a cavalo, vivência do plantio de culturas diversas, vivência na criação de animais,
contemplação da paisagem rural, instâncias ligadas a tratamentos de saúde, etc.
312
Figura 130 - Paisagem relacionada com o nível 3 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Maciço do Urucum. Destaque para áreas de pastagens.
Autor: LIMA, 2021
Figura 131 - Paisagem relacionada com o nível 3 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Maciço do Urucum. Destaque para áreas de mineração.
Autor: LIMA, 2021
313
Algo a se destacar é a disponibilidade da Estrada Parque Pantanal na MS-228, a
qual permeia o entorno do ícone de paisagem e, consequentemente, potencializa o uso de
tais paisagens enquanto atrativo para o desenvolvimento de atividades ligadas ao Turismo
de Natureza, seja no nível 1 ou 3. No âmbito da atividade turística, este ícone de paisagem
atrela-se a concepção indicada por Catão (2013), uma vez que, os conjuntos paisagísticos
envolvidos pressupõe sua valorização enquanto atrativos para o turismo, passíveis de
serem organizados enquanto produtos e roteiros, bem como serem incluídos em projetos
de desenvolvimento turístico de destinos. A figura 132 compreende o mapa de
espacialização dos níveis de Turismo de Natureza no ícone de paisagem Maciço do
Urucum.
315
5.1.2 Serra do Amolar
Acerca dos níveis de Turismo de Natureza mapeados no ícone de paisagem Serra
do Amolar, conforme observado nas análises da estrutura de suas paisagens, percebe-se
conjuntos paisagísticos de relevante singularidade, de importante grau de naturalidade,
com diversidade de elementos ligados a fauna, flora, relevos e condições hídricas, e por
fim, conta com poucas ações detratoras em suas paisagens.
O nível 1 (figura 133) de relação do ambiente com atividades ligadas ao Turismo
de Natureza é identificado quase que na totalidade do ícone de paisagem Serra do Amolar,
ressaltando assim a excepcionalidade dos conjuntos paisagísticos do ícone.
Ainda sobre o nível 1, é possível analisar que, considerando os parâmetros
utilizados para o cruzamento de dados, o relevo das morrarias do Amolar é predominante
na delimitação deste nível, compreendendo ainda áreas relacionadas ao pantanal do
Uberaba-Mandioré. Quanto a vegetação, percebe-se a predominância das vegetações do
tipo savanas, enquanto as florestas estacionais estão presentes em pequenos fragmentos
da face sul do ícone de paisagem. Considerando as bases teóricas associadas aos níveis
de relação do ambiente com o Turismo de Natureza, o nível 1 mapeado na Serra do
Amolar pode ser associado a atividades como a contemplação da paisagem litológica,
geomorfológica e de fauna e/ou flora, contemplação esta que pode ser delineada durante
a execução de caminhadas/trilhas. Além disso, considerando a diversidade hídrica
encontrada nas proximidades das áreas designadas ao nível 1, indica-se ainda a
possibilidade de atividades como mergulhos, práticas de canoagem e stand up paddle.
316
Figura 133 - Paisagem relacionada com o nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Serra do Amolar.
Autor: LIMA, 2019.
Já as áreas relacionadas com o nível 2 (figura 134) de relação do ambiente com
atividades ligadas ao Turismo de Natureza são encontradas em pequenas faixas do ícone
de paisagem, principalmente na face leste. Associa-se a este nível principalmente os
relevos das planícies e pantanais, agregando ainda fragmentos do pantanal do Uberaba-
Mandioré. No que tange aos tipos de vegetações, percebe-se a associação das savanas e
das florestas estacionais. Além disso, as massas d’água do perímetro do ícone também
são associadas ao nível 2.
Ao correlacionar o nível 2 com o Turismo de Natureza, ressalta-se que, as paisagens
deste nível são tomadas de maneira indireta nas atividades deste segmento. Nesta
concepção, é possível vislumbrar o desenvolvimento de atividades ligadas a vertente da
aventura, tais como atividades aéreas ligadas a práticas de asa delta (desde que sejam
estruturadas áreas para tais práticas), parapente, balonismo e paraquedismo. Além disso,
atividades como o ciclismo, trilhas/caminhadas, acampamentos e atividades de recreação
em áreas naturais também podem ser associadas a este nível. No que tange aos recursos
317
hídricos presentes nas proximidades das áreas de nível 2, é possível apontar para práticas
de windsurf16 e turismo de pesca e náutico (desde que obedecidas as legislações em vigor).
Figura 134 - Paisagem relacionada com o nível 2 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Serra do Amolar.
Autor: LIMA, 2019.
Por fim, discorre-se sobre as áreas correspondentes ao nível 3 (figura 135) de
relação do ambiente com atividades ligadas ao Turismo de Natureza, as quais ocupam
pequenas porções territoriais, localizadas em faixas da face oeste e uma pequena faixa de
ocorrência a leste do ícone de paisagem. Os relevos deste nível associam-se ao pantanal
do Uberaba-Mandioré e as planícies e pantanais. Quanto as vegetações e usos das terras
relacionadas a este nível, percebe-se uma grande influência das áreas de pastagem,
principalmente nas áreas localizadas na porção oeste, enquanto na face leste, observa-se
pequenos fragmentos de florestas estacionais.
Considerando que este nível privilegia os aspectos naturais como um cenário para
a satisfação de outras intencionalidades, permite-se aferir que, no desenvolvimento do
Turismo de Natureza, o nível 3 do ícone de paisagem Serra do Amolar pode proporcionar
o desenvolvimento de atividades ligadas ao turismo rural (passeios a cavalo, vivência do
plantio de culturas diversas, vivência na criação de animais, etc.), bem como pode
16 Assim como os esportes que lhe deram origem, o windsurf proporciona a seus praticantes um contato
íntimo e direto com a natureza. Os esportistas podem desfrutar da companhia não só do mar, como também
de rios e represas. Para saber mais sobre esta modalidade, acesse:
https://ambientes.ambientebrasil.com.br/ecoturismo/eco-esportes/windsurfing.html
318
propiciar um turismo voltado a convivência das comunidades locais ribeirinhas da Serra
do Amolar. No mapa apresentado na figura 136 é possível observar as áreas onde são
estabelecidos os três níveis de Turismo de Natureza na Serra do Amolar.
Figura 135 - Paisagem relacionada com o nível 3 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Serra do Amolar.
Autor: LIMA, 2019.
De maneira geral, é possível enquadrar o ícone Serra do Amolar naquilo que Hintze
(2013) indica como valorização de paisagens escassas, de maneira que, dotada de um alto
índice de singularidade, a serra desperta o interesse em sua valorização enquanto território
turístico, elencado como oposição a paisagens urbanas ou paisagens com altos índices de
intervenções humanas. Os níveis de Turismo de Natureza no ícone de paisagem Serra do
Amolar são apresentados na figura 136.
320
5.1.3 Serra de Maracaju – porção sul
O ícone de paisagem Serra de Maracaju, dentre os conjuntos elencados como alvos
da presente investigação, apresenta-se com aquele que compreende a maior extensão
paisagística a ser analisada. Neste contexto, de maneira a propiciar uma melhor
compreensão da variabilidade das paisagens no ícone, apresentam-se análises em dois
pontos distintos da serra: uma na face central; e um segundo na face sul.
Destarte, muito em função da extensão do ícone e, consequentemente, a variação
estrutural das paisagens (tipos de litologia, formas de relevo, vegetações/formas de uso
da terra, variação hídrica, solos e clima), o ícone Serra de Maracaju conforma uma
diversidade paisagística em diferentes pontos de sua localização. No caso da porção sul,
esta é diretamente influenciada pela condição estrutural da paisagem, a qual propicia uma
intensa atuação de atividades como a agricultura e pecuária.
O nível 1 de Turismo de Natureza (figura 137), ou seja, o qual pressupõe maiores
graus de naturalidade, ocorre em pequenos fragmentos na porção sul do ícone de
paisagem Serra de Maracaju, os quais associam-se basicamente a ocorrência de pequenos
percentuais de savanas, principalmente na região compreendida pelo rio Apa, próximo a
faixa de fronteira com o Paraguai. Tais pontos ligados ao nível 1 associa-se também ao
relevo dos planaltos e patamares da borda ocidental da bacia do Paraná, os quais em escala
de maior detalhamento variam entre relevos levemente ondulados, ondulados.
Quanto ao desenvolvimento de atividades turística neste nível 1 de Turismo de
Natureza no ícone, percebe-se uma limitação, muito em função do diminuto percentual
do referido nível nesta porção da Serra de Maracaju. Assim sendo, dentro das
especificidades supracitadas, permite-se indicar a possibilidade do desenvolvimento de
pontuais atividades que contemple trilhas e contemplação paisagísticas acerca dos
exemplares vegetativos presentes nessa porção, bem como a exploração das condições
hídricas proporcionadas pelo rio APA, como por exemplo, o passeio de barco em
pequenas embarcações em pontos estratégicos do curso hídrico.
321
Figura 137 - Paisagem relacionada com o nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Serra de Maracaju – porção sul.
Autor: LIMA, 2021
No que tange o mapeamento do nível 2 de Turismo de Natureza, este apresenta-se
como a classificação predominante na porção sul do ícone de paisagem Serra de
Maracaju. Sua ocorrência se dá em função da principalmente pelos relevos prevalecentes
dos planaltos e patamares da borda ocidental da bacia do Paraná, os quais, em escala
detalhada, se desdobra em relevos ondulados e fortemente ondulados, relacionados
inclusive com a ocorrência de relevos testemunhos, vide figura 138.
Quanto a cobertura vegetal/usos da terra, o nível 2 na porção sul do ícone, é possível
inferir que, além de pequenos fragmentos de florestas estacionais que tangenciam alguns
cursos hídricos e relevos testemunhos nestas áreas, percebesse a predominância de
pastagens e áreas preparadas ou a serem preparadas para cultivos diversos.
Ao relacionar o referido nível 2 na porção sul do ícone, é possível apontar para
atividades que privilegiem o usufruto das paisagens que contrapõem os relevos
testemunhos e trechos fortemente ondulados, os quais privilegiam, em contraste com a
vegetação nativa que persistem, estruturas favoráveis para o desenvolvimento de
trekkings, rotas de mountain bike, trilhas de montanhismo nas parte mais altas, bem como
permite ainda o desenvolvimento de atividades aéreas como parapente e balonismo.
322
Figura 138 - Paisagem relacionada com o nível 2 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Serra de Maracaju – porção sul.
Autor: LIMA, 2021
O terceiro e último nível corresponde a uma faixa bem delimitada na porção sul do
ícone Serra de Maracaju. Em suma, o nível 3 (figura 139) relaciona-se principalmente
com os relevos ligados as áreas de depressões sul-mato-grossenses, os quais apresentam
uma intrínseca relação com os extensos campos de pastagem, tendo as vegetações nativas
limitadas a pequenos trechos ligados à cursos hídricos e acompanhados por fragmentos
de florestas estacionais. Neste âmbito, as paisagens ligam-se a relevos de maior
aplainamento à levemente ondulados, as quais privilegiam paisagens homogêneas e aptas
a práticas agropecuárias.
No que tange as possibilidades de atividades turísticas nas porções de nível 3,
percebe-se que, a estrutura paisagística evidenciada nestas áreas apresenta uma forte
tendência as práticas agropecuárias, de maneira que, a atividade turística possa ser
inserida basicamente em função do desenvolvimento do turismo rural, agroturismo,
turismo de experiência, passeios a cavalos, bem como a partir da estruturação de
estâncias.
323
Figura 139 - Paisagem relacionada com o nível 3 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Serra de Maracaju – porção sul.
Autor: LIMA, 2021
Considerando a totalidade do ícone de paisagem Serra de Maracaju, é possível
indicar que, a porção sul, ora apresentada, pode ser apontada como aquela que menos
detém percentuais ligados ao nível 1 de Turismo de Natureza, ou seja, não é permeada
por uma variedade de elementos singulares, nem dispõe de uma relevante quantidade de
elementos que denotam expressivos graus de naturalidade. Tal condição pode ser
justificada em função da aptidão agropecuária destas áreas e, consequentemente,
acarretam e maiores intervenções antrópicas nesta porção do ícone, conforme apontado
por Mato Grosso do Sul (2019).
Tal materialização da paisagem na porção sul do ícone Serra de Maracaju atrela-se
as discussões apresentadas por Sanz e Alonso (1996), UICN (2011) e Olivencia e
Rodriguez (2008), os quais indicam que a configuração atual das paisagens reflete a
organização histórica das sociedades que se estabelecem nos referidos territórios. Neste
âmbito, a dinâmica das paisagens da porção sul do ícone relaciona-se com sua aptidão
estrutural para o desenvolvimento de atividades agropecuárias e, consequentemente, a
exploração de tais atividades pelas sociedades que ali habitam. Na sequência, a figura 140
apresenta os níveis de Turismo de Natureza especializados na porção sul do ícone de
paisagem Serra de Maracaju.
324
Figura 140 - Níveis de Turismo de Natureza na Serra de Maracaju – porção sul
Elaboração: LIMA, 2021
325
5.1.4 Serra de Maracaju – porção central
Ainda no trato do ícone de paisagem Serra de Maracaju, a porção central deste
conjunto paisagístico compreende singulares e representativas paisagens, principalmente
na região dos municípios de Anastácio e Aquidauana, bem como dos distritos de
Piraputanga e Camisão. Contemplado por relevantes cursos hídricos, tais como o rio
Aquidauana, o ribeirão Taquaruçu e um relevante número de córregos, as paisagens desta
porção apresentam-se como áreas passíveis de implementação de atividades ligadas ao
segmento Turismo de Natureza.
Quanto aos níveis de turismo na porção central do ícone, evidenciou-se o
mapeamento apenas dos níveis 1 e 2, de maneira que o nível 3 não foi identificado nessas
áreas do ícone. Assim sendo, as paisagens relacionadas com o nível 1 possuem uma
intrínseca relação com as concentrações de vegetações do tipo savana, localizadas
principalmente na região dos vales da Serra de Maracaju, nas proximidades de
Aquidauana (figura 141).
No que tange os relevos ligados a este nível, ressalta-se que a escala de trabalho
utilizada apresenta um relevo uniforme, ligado aos planaltos e patamares da borda
ocidental da bacia do Paraná, porém, em nível de maior detalhamento observado em
campo, aponta-se para a ocorrência de relevantes conjuntos de relevos escarpados que,
em associação a cursos hídricos como o rio Aquidauana, acarreta na formação dos vales
da Serra de Maracaju. Tal condição pode ser apontada como uma das justificativas para
os relevantes exemplares de vegetação nativa encontrados nestas áreas. Outra importante
informação a ser ressaltada é a presença de terras indígenas nas áreas que compreendem
o nível 1 (Aldeia Limão Verde), as quais são habitadas por comunidades tradicionais que
utilizam tais paisagens para sua subsistência.
Sobre as atividades ligadas ao Turismo de Natureza passíveis de serem realizadas
nas áreas de nível 1 desta porção do ícone, ressalta-se o grande potencial para atividades
contemplativas, uma vez que, observa-se altos índices de qualidade visual e funcional nos
referidos conjuntos paisagísticos. Montanhismo e rapel são atividades passíveis de
sempre exploradas em conjunto com outras atividades contemplativas. Além da variedade
litológica a ser explorada, as paisagens permitem o desenvolvimento de trilhas a fim de
contemplar a geomorfologia, vegetação nativa e faunística destas áreas. A condição
hídrica proporcionada pelo rio Aquidauana também possibilita seu uso enquanto atrativo
326
a partir do desenvolvimento de atividades aquáticas como mergulhos, passeios de
caiaque/canoa e recreações.
Figura 141 - Paisagem relacionada com o nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Serra de Maracaju – porção central.
Autor: LIMA, 2021
A respeito do nível 2 de Turismo de Natureza na porção central do ícone, este
compreende o maior percentual nestas áreas centrais da Serra de Maracaju (figura 142).
Em suma, tais paisagens contrastam com aquelas relacionadas ao nível 1, evidenciando
uma clara dualidade paisagística em função da identificação dos referidos conjuntos
característicos.
Destarte, enquanto o nível 1 relaciona-se com relevos dissecados e vegetações de
savana, o nível 2 dispõe de relevos ondulados à levemente ondulados, os quais são
identificados em um maior detalhamento dos planaltos e patamares da borda ocidental da
bacia do Paraná. Uma outra variação de relevo identificado relaciona-se com as planícies
e pantanais sul-mato-grossenses, mapeados em um pequeno percentual na face oeste do
ícone.
Quanto a vegetação/usos das terras relacionados com o nível 2, liga-se a ocorrência
de florestas estacionais, as quais acompanham o entorno dos cursos hídricos destas áreas,
e que se intercala com áreas de pastagem encontradas ao longo de toda a porção central
do ícone.
327
Para o desenvolvimento de atividades ligadas ao Turismo de Natureza nestas áreas,
aponta-se para a possibilidade de uso dos referidos conjuntos paisagísticos em atividades
de aventura, tais como passeios de bicicleta, criação de áreas de camping e de recreação.
Nos trechos de contraste entre vegetações estacionais e cursos hídricos, se apresenta como
possibilidade o desenvolvimento de trilhas, pesca e outras atividades recreativas
aquáticas.
Figura 142 - Paisagem relacionada com o nível 2 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Serra de Maracaju – porção central.
Autor: LIMA, 2021
Conforme apontado por Lima, Silva, Boin e Medeiros (2020), Mato Grosso do Sul
(2009), Tsilfidis e Soarez Filho (2009) e Lima (2017), a Serra de Maracaju,
principalmente em sua porção central, apresenta-se como um conglomerado de conjuntos
paisagísticos singulares, os quais são permeados por relevantes percentuais de vegetação
nativa, importantes cursos hídricos e trechos de destacados relevos. Porém, tais paisagens
se intercalam com trechos em que a agricultura e pecuária apresentam-se de maneira mais
intensa e, consequentemente, acarretam na preocupação da manutenção dos referidos
conjuntos. Neste âmbito, atividades alternativas e desenvolvidas de maneira planejada,
tais como o Turismo de Natureza, podem pressupor dinâmicas que permitam a
manutenção das paisagens supracitadas.
328
Assim sendo, do ponto de vista turístico, é importante ressaltar que a porção central
do ícone de paisagem Serra de Maracaju está localizada no chamado “Portal do Pantanal”,
ou seja, uma rota intrinsecamente ligada a uma das regiões mais exploradas pelo Turismo
em Mato Grosso do Sul. Além disso, é nesta porção também que está localizada a Estrada
Parque (MS-450), que liga Aquidauana e Dois Irmãos do Buriti, a qual é permeada por
sítios arqueológicos em meio aos vales da Serra de Maracaju. A figura 143 apresenta os
níveis de Turismo de Natureza nesta porção do ícone.
329
Figura 143 - Níveis de Turismo de Natureza na Serra de Maracaju – porção central.
Elaboração: LIMA, 2021
330
5.1.5 APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná
O ícone de paisagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná apresenta-se como um
conjunto paisagístico com relevantes singularidades a serem destacadas. Além da
explícita predominância hídrica, suas paisagens são encontradas em uma zona de
intersecção de limites estaduais: Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná. Neste âmbito,
limitou-se a estabelecer tratativas no âmbito sul-mato-grossense, uma vez que, por meio
de levantamentos de campo, foi possível perceber que a exploração turística por parte do
estado paranaense apresenta-se em um estágio mais avançado quando comparada a
realidade de Mato Grosso do Sul – segundo apontamentos da Gerência de Meio Ambiente
de Naviraí-MS (GEMA) e da Gerência de obras de Naviraí-MS (GEROB).
Com as análises visuais e funcionais das paisagens do ícone de paisagem, foi
possível aferir a ocorrência bem definida dos três níveis de Turismo de Natureza
mapeados no ícone. Especificamente neste caso, foi possível perceber uma grande
influência equitativa na delimitação dos níveis, percebendo-se uma clara importância dos
tanto dos tipos de relevo, quanto das vegetações/usos das terras e a amplitude hídrica do
ícone.
No caso do nível 1 de Turismo de Natureza, este foi mapeado em áreas ligadas
principalmente aos trechos em que se destaca a vazão do rio Paraná, principal curso
hídrico que norteia o ícone. Neste sentido, as paisagens refletem configurações singulares,
uma vez que, tal amplitude hídrica contrasta com importantes concentrações de
vegetações nativas do tipo savanas, bem como trechos de florestas estacionais que
permeiam o entorno dos cursos hídricos dessas áreas. O relevo também se destaca, uma
vez que, diferentemente dos outros ícones de paisagens apresentados até então, estas áreas
se destacam por relevos aplainados ligados às planícies do rio Paraná, configuração a qual
denota ainda mais singularidade a tais paisagens (figura 144).
Desta forma, ao relacionar tais paisagens como o nível 1 de Turismo de Natureza,
percebe-se a possibilidade de desenvolvimento de atividades ligadas a contemplação das
referidas paisagens, a qual pode ser estimulada por meio de passeios em embarcações de
pequeno e médio porte, permitindo a visitação das ilhas que são formadas ao longo da
extensão do ícone. Neste âmbito, a observação pode privilegiar o reconhecimento de
diferentes espécies de fauna e flora, as quais se estabelecem em função das características
estruturais das paisagens do ícone. Considerando as supracitadas paradas nas ilhas, é
331
possível o desenvolvimento de roteiros de trilhas contemplativas, bem como a proposição
de atividades aquáticas como mergulhos, práticas de canoagem e stand up paddle.
Figura 144 - Paisagem relacionada com o nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná.
Autor: LIMA, 2021
Assim como no nível 1 de Turismo de Natureza, o nível 2, encontrado
principalmente nas poções centrais e nordeste do ícone, também liga-se aos relevos das
planícies do rio Paraná, os quais estruturam paisagens com baixas variações de
declividade, compreendendo as áreas do entorno dos principais curso hídricos do ícone
de paisagem (figura 145). Quanto aos tipos de vegetações e usos das terras, este nível é
associado aos campos de pastagem e de agricultura, os quais se intercalam entre as
florestas estacionais e cursos hídricos ligados ao nível 1 de Turismo de Natureza.
Para a atividade turística, ressalta-se que é neste nível que está localizado o portal
do Parque Natural Municipal de Naviraí, o qual apresenta-se como uma importante
estrutura passível de auxiliar na proposição de atividades turísticas nestas áreas.
Considerando as características físicas associadas a este nível, percebe-se a possibilidade
do desenvolvimento de rotas para passeios de bike, estruturação de áreas de camping e
estimulo ao turismo de pesca nos cursos hídricos compreendidos por estas áreas, tais
como o rio Ivinhema, rio Amambai e rio Iguatemi.
332
Figura 145 - Paisagem relacionada com o nível 2 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná.
Autor: LIMA, 2021
No trato do nível 3 de Turismo de Natureza, este foi mapeado prioritariamente na
faixa oeste do ícone de paisagem, porções as quais caracterizam-se por relevos associados
aos planaltos sul-mato-grossenses, compreendendo as partes mais altas do ícone e
dispondo de relevos levemente ondulados (figura 146). Diferentemente dos outros níveis
identificados, as porções que contemplam o nível 3 permeiam áreas com cursos hídricos
pouco representativos. Muito em função da predominância de latossolos nestas áreas,
percebe-se que as vegetações/usos das terras privilegiam as práticas agropecuárias, de
maneira que as vegetações nativas restringem-se a reservas legais e pequenas matas de
galeria.
Diante das características expostas, aponta-se para a possibilidade de estimulo a
atividades turística ligadas às práticas do agroturismo e turismo rural, uma vez que,
percebe-se a concentração de conjuntos agroindustriais e de pequenas propriedades rurais
que podem propiciar experiências turísticas em função de suas práticas cotidianas.
333
Figura 146 - Paisagem relacionada com o nível 3 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná.
Autor: LIMA, 2021
Destarte, o ícone APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná associa-se a concepção de um
conjunto homogêneo passível de seduzir e persuadir seu observador. Para Cauquelin
(2007), um relevante conjunto paisagístico pode ser observado para além de uma simples
representação imagética, uma vez que, este pode também estimular o
reconhecimento/exaltação de uma determinada totalidade, concepção a qual pode ser
relacionada ao referido ícone tratado. Assim sendo, é possível atrelar as características
físicas das paisagens do referido ícone com a possibilidade de desenvolver atividades
ligadas aos níveis de Turismo de Natureza identificados e apresentados na figura 147.
334
Figura 147 - Níveis de Turismo de Natureza na APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná
Elaboração: LIMA, 2021
335
5.1.6 Serra da Bodoquena
Juntamente com as paisagens pantaneiras, o ícone de paisagem Serra da Bodoquena
destaca-se como uma das áreas que mais se apresentam propícias ao desenvolvimento de
atividades turísticas. Além de sua singularidade relacionada aos cursos hídricos
cristalinos da região, os conjuntos paisagísticos se destacam em função de seu relevo
destacado e diversidade de fauna e flora ao longo de sua extensão.
Tais concepções sustentam o mapeamento de níveis de Turismo de Natureza no
referido ícone (figura 150), o qual é associado aos níveis 1 e 2, denotando cenários de
singularidades passíveis de serem utilizadas em atividades do referido segmento turístico.
Considerando a extensão do ícone, o nível 3 foi mapeado em percentuais ínfimos na
porção norte e sul (associado a intersecção entre áreas de pastagens e as depressões sul-
mato-grossense) e, portanto, nesta análise, não carece de maiores detalhamentos acerca
desta pequena porção.
No que se refere ao mapeamento do nível 1 (figura 148) de Turismo de Natureza
no ícone, este associa-se sua ocorrência em função dos relevos dos Planaltos da
Bodoquena, os quais compreendem as porções mais altas do ícone, bem como atrela-se a
presença de extensas faixas de vegetações nativas do tipo florestas estacionais, as quais
são encontradas nessas áreas ligadas ao referido nível. Além disso, estas porções ligam-
se a importantes curso hídricos que, principalmente em função de sua característica
cristalina, acarretam na formação de relevantes cachoeiras e quedas d’águas com
relevante interesse para o desenvolvimento de atividades turísticas. A ocorrência deste
nível ocorre basicamente na totalidade dos dois grandes conjuntos de relevos norte e sul.
Assim sendo, considerando as possibilidades de uso das referidas paisagens para o
Turismo, ressalta-se o alto nível funcional e de qualidade visual encontrada nestas áreas
da Serra da Bodoquena, de maneira que, haja a possibilidade de práticas turísticas ligadas
a contemplação litológica, de fauna e flora, criação de trilhas interpretativas, recreação
em rios e cachoeiras, bem como práticas turísticas associadas a pesquisas.
336
Figura 148 - Paisagem relacionada com o nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Serra da Bodoquena.
Autor: LIMA, 2021
Já o nível 2 (figura 149) de Turismo de Natureza relaciona-se basicamente com as
áreas mais baixas do ícone, associado as áreas de transições dos planaltos, as depressões
sul-mato-grossesses e pequenos fragmentos de serras e morrarias. Apesar da variação dos
relevos, a principal característica que norteia este nível são as áreas de pastagens
(intercalando campos de cultivos diversos) e pequenas faixas de savanas. Do ponto de
vista hídrico, estas áreas são permeadas por pequenos córregos ao longo de sua extensão.
Apesar de compreender relevantes campos de pastagem e culturas, tais paisagens
possuem um plano de fundo com um relevante cenário visual, o qual vislumbra seu uso
enquanto lócus turístico.
Destarte, ao discorrer sobre as possibilidades de atividades turísticas nestas porções,
é possível indicar o desenvolvimento de passeios ciclísticos contemplativos, rotas de
trekking, contemplação de aves e práticas de balonismo e parapente. Tais atividades se
beneficiariam do contato indireto da natureza, privilegiado pelas paisagens de segundo
plano neste nível.
337
Figura 149 - Paisagem relacionada com o nível 2 de Turismo de Natureza no ícone de
paisagem Serra da Bodoquena.
Autor: LIMA, 2021
É importante ressaltar que, o referido ícone de paisagem já é permeado pelo
desenvolvimento de algumas atividades turísticas, principalmente relacionadas ao
semento ecoturístico. Assim sendo, convém destacar que a referida análise não possui a
premissa de alterar a dinâmica turística destes conjuntos paisagísticos, mais sim colaborar
com uma análise mais detalhada da estrutura da paisagem e, consequentemente, propiciar
o delineamento de novas possibilidades de inserção da atividade turística nestes pontos.
Do ponto de vista da importância do ícone de paisagem Serra da Bodoquena,
percebe-se que os apontamentos de Mato Grosso do Sul (2009) são pertinentes, uma vez
que, avaliada a condição estrutural dos referidos conjuntos paisagísticos, é possível inferir
que estes possuem um relevante apelo, tanto no que se refere a condição funcional, quanto
de qualidade visual para o desenvolvimento da atividade turística. Dentro desta
concepção, justifica-se o enquadramento do ícone enquanto uma das áreas prioritárias
tratadas pelo governo estadual no âmbito do Turismo.
339
Realizadas as análises dos níveis de Turismo de Natureza em cada um dos ícones
de paisagem de Mato Grosso do Sul, permite-se afirmar/confirmar a relevância dos
conjuntos paisagísticos elencados como tal na referida pesquisa, de modo que, cada um
destes arranjos de paisagem demonstrou contemplar aspectos estruturais relevantes que
justifiquem seu enquadramento enquanto paisagem icônica a ser destacada no estado.
Seja em função da diversidade, naturalidade, singularidade e/ou detratores
relacionados com os tipos de relevo, vegetação/usos das terras e cursos hídricos
encontrados em cada um dos ícones, percebe-se que tais paisagens demonstram a
capacidade de oferecer subsídios para o desenvolvimento de diferentes tipologias e
atividades ligadas ao segmento do Turismo de Natureza.
As reflexões e análises ora apresentadas vão ao encontro das discussões tratadas
por Cruz (2002), Pires (2005), Emídio (2006) e Braga (2006), os quais ressaltam o
crescente interesse, principalmente de indivíduos urbanos, na visitação e usufruto de
ambientes com maiores índices de naturalidade. Nesta perspectiva, a
compreensão/interpretação estrutural dos referidos ícones de paisagem permite
estabelecer novas possibilidades frente ao supracitado interesse em áreas com essas
características, uma vez que, conforme apontado por Nicolás (1989), as paisagens têm a
capacidade de promover e estimular fluxos turísticos.
Na perspectiva do desenvolvimento de uma atividade turística planejada, o
mapeamento ora apresentado pode ser tomado com uma das ferramentas base para a
estruturação e desenvolvimento de atividades turísticas nas porções que compreendem os
ícones de paisagem, conforme sugerido por Ruschmann (2008). É importante ressaltar
ainda que, a perspectiva de desenvolvimento do Turismo aqui defendida prima pela
consideração de diferentes aspectos, sejam eles sociais, culturais e ambientais, e não
apenas a vertente econômica (a qual geralmente se sobressai no desenvolvimento do
Turismo), portanto, espera-se que tais resultados apresentados sejam utilizados a
posteriori em um movimento integrador destas diferentes vertentes.
5.2 As alterações nas paisagens e seus impactos na constituição dos ícones
Considerando as reflexões apresentada anteriormente sobre a perspectiva dos
ícones de paisagem, Lima, Silva e Martins (2019) acreditam ser possível identificar
340
conjuntos paisagísticos singulares nos territórios, de modo que, permita-se destacar
aspectos relevantes das paisagens, valorizando aspectos estruturais (forma), e designar
diferentes possibilidades de uso (função), as quais devem estar atreladas a condições de
manutenção do referido ícone.
Portanto, ressalta-se aqui que uma das premissas para o reconhecimento de um
ícone de paisagem seja a manutenção das características físicas que o destacam enquanto
relevante conjunto paisagísticos, seja em função de seu relevo, vegetação, cursos hídricos
e/ou outros elementos que denotem a singularidade da(s) referida(s) paisagem(s).
Conforme Sanz e Alonso (1996) destacam, a dinâmica da paisagem está associada
as modificações da configuração estrutural desta ao longo dos tempos, as quais podem se
estabelecer em curto, médio ou longo prazo, variabilidade a qual pode estar ligada aos
processos naturais de transformação da natureza, ou estar diretamente ligada a ações
exercidas pelo ser humano nos ambientes que habitam. Estas modificações podem ser
ocorrer em maiores ou menores escalas e, consequentemente, acarretar em mudanças no
aspecto visível e/ou estrutural das paisagens.
Destarte, observar e compreender as dinâmicas das paisagens se apresenta como
um importante passo no planejamento territorial, inclusive na estruturação de localidades
com potencial de atratividade turística. Considerando que uma brusca alteração da
paisagem pode impactar no interesse turístico das paisagens, é importante pensar que as
mudanças nas paisagens (sejam naturais ou advindas de ações antrópicas) podem torna-
se fatores limitadores para o desenvolvimento de algumas atividades. Assim sendo, de
acordo com Rodriguez (1984), é necessária especial atenção a complexo natural em
questão, bem como as inter-relações entre os componentes que forma tal paisagem.
Neste contexto, mais especificamente nos ícones de paisagem de Mato Grosso do
Sul aqui abordados, percebe-se que recentes acontecimentos têm propiciado relevantes
impactos em suas paisagens, especialmente no que tange o aspecto visível das mesmas e,
consequentemente, impactando na qualidade visual e funcional que destacam a relevância
turísticas desses conjuntos.
Dentre os ícones elencados, pode-se citar o exemplo do ícone APA Ilhas e Várzeas
do Rio Paraná, que possui no período de seca um dos principais fatores modificadores de
suas paisagens. Além dos reincidentes focos de queimadas (naturais ou de origem
criminosa) (figura 151), o ícone também é afetado pela modificação de bancos de areia,
assoreamento de cursos hídricos e diminuição da vazão hídrica (figura 152).
341
Figura 151 - Queimadas na região de Naviraí-MS
Autor: BORGES, Kátia V. Chrestani (2020)
Figura 152 - Assoreamento no canal do Mirim, na APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná
Autor: BORGES, Kátia V. Chrestani (2021)
No caso do Pantanal Sul-mato-grossense, as queimadas apresentam-se como um
fator complicador na manutenção paisagística (figura 153), uma vez que, principalmente
em períodos de seca, grandes porções da região de Corumbá e entorno sofrem com as
queimadas ao longo de suas paisagens. Mais recentemente, em 2020, a Serra do Amolar
passou por um período crítico de queimadas, as quais impactaram decisivamente na
342
condição visual e estrutural de suas paisagens. De acordo com o Pantanal SOS (2020), é
necessário empenhar esforços para minimizar os impactos das queimadas no Pantanal:
Vale ressaltar que os incêndios são problemas recorrentes no Pantanal,
principalmente na Serra do Amolar. Para combatê-los, é preciso criar soluções
ainda mais eficientes do que as que já existem. No ano de 2006, a Secretaria
do Meio Ambiente (SEMA), Ibama, juntamente com o Ecoa, Parque Nacional
do Pantanal Matogrossense e Instituto do Meio Ambiente de Mato Grosso do
Sul (IMASUL), desenvolveram uma brigada contra queimadas. Ela foi
formada pela população nativa, pois são os mais impactados pelo fogo, além
de conhecerem a região e proximidades como ninguém.
Figura 153 - Alteração na paisagem da Serra do Amolar em função de incêndios
Fonte: PANTANAL SOS, 2020
Outro ícone de paisagem que frequentemente passa por graves alterações em sua
paisagem é a Serra da Bodoquena. Também alvo de frequentes queimadas nas últimas
décadas, o ícone recorrentemente vem tendo sua estrutura paisagísticas impactada,
principalmente no que tange a cobertura vegetal (figura 154). Outra preocupação
recorrente neste ícone é o turvamento dos cursos hídricos, geralmente associado a ações
ligadas as práticas agropecuárias da região, condição que altera consideravelmente o
aspecto visual de rios e córregos do ícone (figura 155).
343
Figura 154 - Banhado do rio da Prata - Serra da Bodoquena
Autora: MARQUES, Fernanda Cano de Andrade, 2021
Figura 155 - Turvamento da água no rio Formosinho, na Serra da Bodoquena
Autora: MARQUES, Fernanda Cano de Andrade, 2020
Conforme supracitado, a tese desta pesquisa apoia-se na eminencia da existência de
conjuntos paisagísticos que atendam a essas condições ora apresentadas, permitindo
assim o mapeamento e apresentação de ícones de paisagem em Mato Grosso do Sul
passíveis de serem reverenciados enquanto relevantes conjuntos paisagísticos que possam
ser relacionados a diferentes práticas turísticas, neste caso, do Turismo de Natureza.
Considerando as reflexões de Silveira (2014), considerar as dinâmicas das paisagens
344
apresenta-se como condição sine qua non para a estruturação e gestão dos espaços
turísticos.
Assim sendo, observou-se que cada um dos ícones apresentados é permeado por
estruturas paisagísticas que se destacam enquanto forma e estrutura, de modo que, tais
características permitem ser associadas ao desenvolvimento de atividades turísticas.
Entretanto, conforme destacado, para que os referidos ícones mantenham tais condições
de singularidade é necessário se atentar para possíveis alterações em suas dinâmicas, uma
vez que, alterações bruscas como desmatamentos, queimadas, assoreamento de cursos
hídricos, poluições diversas, dentre outras alterações, podem extirpar a excepcionalidade
paisagísticas de um ícone de paisagem.
346
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegando ao estágio final da pesquisa, cabe retomar um questionamento elaborado
logo no início da investigação: o que é uma tese? Considerando tal provocação, é
necessária uma reflexão se o objetivo de construção de uma tese de doutoramento em
Geografia foi alcançado, uma vez que, para além de uma das etapas burocráticas para a
obtenção do título de doutor, a tese também deve materializar uma contribuição na
construção do conhecimento científico de uma determinada temática/área.
Neste sentido, finda-se esse processo de pesquisa com o sentimento de ter alcançado
os objetivos propostos, contribuindo para a progressão científica no campo dos estudos
paisagísticos da Geografia. Acredita-se ter sido alcançada a premissa de uma discussão
teórica e de aplicação de uma nova perspectiva de estudo de conjuntos paisagísticos: a
delimitação e aferição de ícones de paisagem. Tomando por base aspectos conceituais
dos patrimônios naturais e dos ícones urbanos, foi possível articular uma nova perspectiva
escalar das paisagens, permitindo um maior detalhamento dos diferentes elementos que
compõem os conjuntos paisagísticos e, consequentemente, associar tais características e
interrelações às mais diversas possibilidades de usos, como por exemplo, a atividade
turística.
Considerando a área de concentração do Programa de Pós-graduação em Geografia,
a qual abrange a Produção do espaço regional e Fronteira, é possível inferir que a presente
pesquisa traz importante contribuição na compreensão do espaço sul-mato-grossense, de
maneira a compreender as dinâmicas das paisagens e sua possível inserção em práticas
turísticas. Dentre as linhas de pesquisa do programa, o mapeamento dos ícones de
paisagem alinha-se as pesquisas voltadas às “Políticas Públicas, Dinâmicas Produtivas e
da Natureza”, uma vez que, aborda contextos ligados às políticas públicas de Turismo no
estado, bem como dispõe de análises físicas da paisagem, englobando as dinâmicas
territoriais e o uso da natureza ao longo da extensão dos referidos conjuntos paisagísticos.
Por meio do conjunto teórico/metodológica apresentada durante o documento,
acredita-se que a discussão e aplicação desta “nova” perspectiva analítica da paisagem
foi comprovada enquanto tese, a qual buscou evidenciar sua aplicabilidade por meio de
um estudo paisagístico em diferentes conjuntos paisagísticos do território sul-mato-
grossense.
Apesar da metodologia conter um relativo grau de subjetividade, esta apresenta-se
como um modelo pautado em parâmetros estabelecidos a fim de permitir a aferição dos
347
componentes das paisagens e, consequentemente, compreender a complexidade
paisagística, seus elementos, qualidade visual e funcionalidades.
Dentro do contexto geral da pesquisa, destaca-se aqui o desafio quanto a escala de
abordagem da pesquisa, uma vez que, considerando a amplitude e a localização dos ícones
de paisagem, foi necessário especial esforço para desenvolver uma cobertura satisfatória
aos objetivos da pesquisa. Cita-se especialmente os empenhos investidos em trabalhos de
campo, os quais possibilitaram a abordagem in loco dos conjuntos paisagísticos alvos de
investigação. Para que tais procedimentos pudessem ser realizados, foi necessário grande
empenho financeiro pessoal, bem como contou-se com uma série de apoios institucionais
e de colegas pesquisadores ao longo de todo processo.
Neste âmbito, assume-se a limitação quanto ao nível de detalhamento em função da
escala de abordagem. Assim sendo, indica-se a possibilidade de aprofundamentos futuros
acerca das referidas áreas, de maneira a possibilitar direcionamentos mais objetivos sobre
tipologias turísticas a serem desenvolvidas em pontos específicos dos ícones de paisagem
tratados. Tal perspectiva atrela-se, por exemplo, a etapas posteriores de planejamento
turístico, como a inventariação de pontos de interesse turístico nos ícones.
Diante da referida condição escalar de abordagem, permite-se considerar a
possibilidade de que os ícones de paisagem, em escalas de maior detalhamento, sejam
desmembrados em ícones de menores amplitudes, como no caso da Serra de Maracaju,
ícone caracterizado por formações descontínuas ao longo de sua formação.
Ainda acerca da metodologia utilizada, para além da supracitada limitação escalar,
indica-se a possibilidade de aperfeiçoamento dos parâmetros utilizados no
estabelecimento dos níveis de Turismo de Natureza nos ícones de paisagem, uma vez que,
os parâmetros utilizados apresentam-se como uma primeira aproximação de aferição dos
ícones, podendo ser melhorados em investigações futuras. Outra condição passível de
melhoria refere-se ao uso de dados secundários com maiores níveis de detalhamento, os
quais podem permitir um melhor delineamento dos ícones de paisagem.
No que tange aos resultados alcançados ao fim da pesquisa, percebe-se a relevância
em despender esforços acerca de estudos com maiores níveis de detalhamento acerca das
paisagens sul-mato-grossenses, de maneira a vislumbrar possíveis melhores cenários
entre as dinâmicas territoriais e a manutenção dos conjuntos paisagísticos naturais que
permeiam o estado. Neste âmbito, o estudo ora apresentado possibilita em primeiro
diagnóstico em prol da promoção de uma atividade turística planejada, e que incentive
348
práticas mais responsáveis frente ao desenvolvimento de suas práticas em ambientes
naturais.
Assim sendo, tais diagnósticos apresentados em cada ícone permitem observar
diferentes pontos de interesse quanto a qualidade visual e funcionalidade paisagística para
o desenvolvimento de atividades ligadas ao segmento do Turismo de Natureza, as quais
podem estar associadas a um dos três níveis supracitados nas descrições dos ícones.
Neste processo de aferição paisagística, destaca-se a importância do uso de dados
primários e secundários como subsídios das análises. Sobre tal questão, aponta-se que
além do uso de dados secundários previamente disponibilizados nas mais diversas fontes,
também haja procedimentos de correspondência/conferência em campo, possibilitando
uma melhor compreensão in loco da realidade posta acerca dos diferentes conjuntos
paisagísticos, bem como possibilite coleta de dados e produção de novos dados primários,
os quais podem permitir um maior enriquecimento de informações sobre os objetos em
questão.
Aliados a esse procedimento, é importante citar também o relevante papel das
técnicas, materiais e demais procedimentos utilizados durante a pesquisa. Neste âmbito,
evidencia-se a importância de alinhar dados teóricos e dados empíricos, de maneira que,
as linhas de pensamento utilizadas e as metodologias de abordagens sejam compatíveis
com os objetivos propostos na pesquisa, neste caso, na compreensão das paisagens sul-
mato-grossenses.
Ressalta-se que, apesar de ser um desejo no início da pesquisa, não foram mapeados
pontos específicos da paisagem para o desenvolvimento de atividades do Turismo de
Natureza (por exemplo: apontamento de um paredão específico para o desenvolvimento
de um rapel), possibilidade limitada em função da extensão dos ícones, fato que poderia
acarretar a não inclusão de importantes pontos que não puderam ser mapeados in loco
durante os trabalhos de campo. Porém, acredita-se que a delimitação das áreas ligadas aos
diferentes níveis de Turismo de Natureza desenvolvida nesta pesquisa permita estimular
novas pesquisas que vislumbre a localização de pontos específicos de interesse ligados as
mais diferentes atividades englobadas pelo segmento.
De maneira geral, ao findar a pesquisa, tem-se a disposição um mapeamento
territorial que permite evidenciar dois importantes aspectos: a qualidade visual e as
funcionalidades das paisagens de conjuntos paisagísticos em Mato Grosso do Sul. Tais
apontamentos apresentam-se como importante elementos a serem considerados em
planejamento turísticos. Assim sendo, os aspectos singulares encontrados nos referidos
349
ícones de paisagem (seja destaque de relevo, níveis de conservação de vegetação nativa,
ou destaque de cursos hídricos) permitem indicar a possibilidade de diferentes tipologias
ligadas ao segmento de Turismo de Natureza.
Entretanto, apesar da pesquisa apresentar elementos que fundamente planejamentos
e modelos de gestão turística, é importante pensar que nem todos os atores envoltos na
atividade turística pensam de maneira semelhante. Os objetivos almejados por trade
turístico, poder público, comunidade local e turistas podem ser diferentes e, por vezes,
conflitantes. Neste sentido, espera-se aqui subsidiar planejamentos que visem buscar um
planejamento turístico equilibrado entre as partes interessadas.
Nas aferições realizadas, foi possível perceber que, os ícones de paisagem Serra do
Amolar e Serra da Bodoquena apresentam-se como relevantes conjuntos paisagísticos
inserido em uma região que já conta com a atenção do poder público no que tange as
políticas voltadas ao Turismo, tendo sua singularidade associada aos expressivos relevos,
vegetações conservadas e cursos hídricos. O mesmo não acontece com o ícone Maciço
do Urucum que, apesar de também possuir relevo e vegetações destacadas e, inserir-se
nas proximidades do Pantanal, não possui grandes atenções acerca da atividade turística
por conta do Estado.
Quanto ao ícone de paisagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná, este está inserido
em uma área de fronteira estadual (São Paulo e Paraná), de maneira que, sua singularidade
se dá principalmente em função do rio Paraná, o qual materializa relevantes paisagens em
meio a formação de ilhas fluviais e, consequentemente, ambientes com relevante
conservação da vegetação. Justamente pela intersecção de gestões, sejam municipais ou
estaduais, o ícone apresenta grande potencial para o desenvolvimento de atividades
ligadas ao Turismo de Natureza, porém ainda sofre com os diferentes interesses
territoriais das supracitadas gestões, de maneira que, percebe-se alguns esforços na
tentativa de conservação das áreas e desenvolvimento de práticas mais responsáveis. Algo
positivo neste ícone é a ocorrência de diferentes delimitações de áreas protegidas nestas
porções.
Já o ícone de paisagem Serra de Maracaju apresenta-se como a maior área, dentre
as destacadas na pesquisa, fato que acarreta em uma grande variabilidade das paisagens
e de suas dinâmicas territoriais, de maneira que, alguns pontos são caracterizados por
relevos ondulados e a presença de extensos campos de cultivos (como na porção sul), e
áreas em que percebe-se relevos mais escarpados e melhores níveis de conservação da
vegetação nativa, intercalados por campos de pastagem (como na porção central).
350
Apontada por Mato Grosso Do Sul (2015) como área prioritária para desenvolvimento da
agropecuária, o ícone demonstra possuir também características que podem ser
associadas a outras práticas, como o Turismo de Natureza, por exemplo.
Tais reflexões são importantes na medida que permitem uma melhor compreensão
acerca da complexidade das paisagens, bem como a melhor maneira de estabelecer um
planejamento territorial adequado a tais áreas. Neste âmbito, a referida pesquisa busca
apresentar ao final possibilidades de associar tais paisagens a práticas planejadas do
Turismo de Natureza.
É pertinente destacar que, ao sugerir o direcionamento das referidas áreas para o
desenvolvimento do segmento Turismo de Natureza, sabe-se da capacidade da atividade
turística em proporcionar efeitos negativos nos ambientes em que esta é inserida. Porém,
apesar das diferenças conservacionistas ao relacionar tal segmento com o ecoturismo, o
Turismo de Natureza pode ser considerado um segmento que permite um melhor
aproveitamento das paisagens, possibilitando a conservação dos ambientes em que ele e
desenvolvido. Neste âmbito, apesar de, como toda atividade turística, acarretar em
impactos positivos e negativos, este segmento pode ser estimulado como uma
possibilidade de reaproximação da sociedade com a natureza e, desta forma, propiciar
também mecanismos de estimulo ao uso responsável dos recursos naturais na atividade
turística.
É neste ponto que autores como Luchiari (1999), Hehl-Lange (2001), Picher
Fernández, Gómez Jiménez e Montero Serrano (2006), Rodriguez, Silva e Cavalcanti
(2007), Ruschmann (2008), Teles (2011), Vieira (2014), Lima, Silva e Martins (2016),
Semenov (2017), Moretti et. al. (2019), Vieira e Verdum (2019), dentre outros, devem
ter suas reflexões consideradas, principalmente naquilo que concerne o desenvolvimento
planejado do Turismo. Quando cita-se aqui o planejamento, convém destacar a
necessidade de um planejamento amplo, ou seja, não apenas um plano que contemple
apenas o aspecto econômico e, consequentemente, os atores detentores do capital, mas
sim que, seja considerada a sociedade envolvida no contexto destes territórios, o respeito
a suas condições culturais, bem como sejam atentadas também as condições ambientais
das referidas paisagens.
Acerca do atual gerenciamento das áreas ligadas aos referidos ícones de paisagem,
percebe-se a importante atuação de alguns atores que foram evidenciados ao longo da
pesquisa. Instituições como o IHP (Instituto Homem Pantaneiro), Fundação Neotrópica
do Brasil, Prefeitura de Naviraí, dentre outras, têm desenvolvidos importantes papéis na
351
gestão e conservação dos ícones de paisagem. Além disso, os papéis prestados por meio
de pesquisas pelas Universidades também devem ser elencados como importantes
medidas de investigação das paisagens de Mato Grosso do Sul.
Considerando a premissa inicial da pesquisa de que, o Pantanal e a região da
Bodoquena são aquelas áreas que recebem maior atenção do poder público no que tange
a atividade turística, percebe-se que, as demais áreas também possuem características que
podem receber maiores atenções do poder público e, inclusive já possuem algumas
iniciativas voltadas ao desenvolvimento da atividade turística.
Obviamente que, para que tais cenários de desenvolvimento do Turismo de
Natureza sejam possíveis, é preciso empreender uma melhor reflexão sobre os acessos e
infraestruturas que permeiam tais paisagens, de maneira a permitir melhores fluxos de
visitantes nestas áreas.
É importante ressaltar que, apesar da relevância e possível potencialidade de tais
paisagens para o desenvolvimento da atividade turística, faz-se necessária a inclusão das
comunidades locais que habitam os ícones e seus entornos, de maneira que, tais atores
sejam considerados dentro do processo participativo de planejamento e organização da
atividade turística nos respectivos territórios. Assim sendo, acredita-se que o
desenvolvimento do Turismo de Natureza alinhado aos desejos e necessidades das
respectivas comunidades possa ser uma importante ferramenta na subsistência destes
grupos. Exemplo desta tratativa é a comunidade indígena da aldeia Limão Verde, em
Aquidauana-MS. Na ocasião, as lideranças indígenas demonstraram interesse na inserção
das práticas turísticas em seus territórios, de maneira que, com auxílio do poder público
e das universidades, a comunidade indígena pudesse ser orientada e qualificada, a fim de
obter melhores subsídios para gerir a atividade turística na porção central do ícone de
paisagem Serra de Maracaju.
Nesta perspectiva percebe-se que, para além da viabilidade turística de tais
paisagens, os referidos ícones também podem estar atrelados a uma condição histórico-
cultural com aos povos que habitam tais áreas. Assim sendo, indica-se a possibilidade de
estudos futuros abrangerem tais relações dos ícones com a memória e pertença destes
grupos.
Destarte, acredita-se que outros grupos de interesses nos ícones de paisagem
também possuam interesse e capacidades de gerir tais territórios a partir de orientações
ligadas ao desenvolvimento do Turismo de Natureza. Assim sendo, investigações como
esta possibilitam ampliar o mapeamento das paisagens sul-mato-grossenses e,
352
consequentemente, oferecer melhores subsídios para se pensar a atividade turística de
maneira integrada no estado.
Diante de tais considerações, é possível afirmar que a presente investigação
permitiu validar o modelo de aferição da paisagem por meio do conceito de ícone de
paisagem, apresentando sua referida aplicação em conjuntos paisagísticos de Mato
Grosso do Sul. Neste sentido, apesar da pesquisa se desdobrar na identificação de cinco
ícones de paisagem, aponta-se para a possibilidade da delimitação de outros ícones de
paisagem no território sul-mato-grossense, de maneira que, apesar dos esforços
desenvolvidos nessa investigação, deixa-se em aberto a possibilidade da existência de
outros conjuntos paisagísticos passíveis de serem enquadrados enquanto ícones no
contexto sul-mato-grossense e, consequentemente, que permitam a associação da
estrutura de suas paisagens ao desenvolvimento de atividades turísticas, seja ligadas ao
segmento Turismo de Natureza, seja a outros segmentos.
Convém destacar que, inicialmente a pesquisa buscava aferir mais dois outros
ícones de paisagem: Parque Estadual Nascentes do rio Taquari; e Monumento Natural
Municipal Serra do Bom Jardim/Parque Natural Municipal Templo dos Pilares. Porém,
em função do agravamento da pandemia da Covid-19 nos anos de 2020 e 2021, o
cronograma e procedimentos foram afetados e, consequentemente, tiveram que ser
alterados. As condições financeiras durante este período também foi um fator limitante,
acarretando assim na reformulação da pesquisa abordando apenas cinco ícones de
paisagem.
Apesar das dificuldades e alteração do plano original, indica-se que tais
apontamentos desenvolvidos na pesquisa podem ser de grande utilidade ao poder público
de Mato Grosso do Sul, uma vez que, considerando o período pós-pandemia de Covid-
19, a busca por viagens com destino a espaços naturais e abertos se estabelece como uma
possível tendência. Neste âmbito, o fomento ao Turismo de Natureza nos diferentes
ícones apontados pode apresenta-se como uma importante oportunidade de retomar e
estimular o crescimento da atividade turística em território sul-mato-grossense. Destarte,
ressalta-se a importância da continuidade de pesquisas dessa natureza.
Para além do contexto sul-mato-grossense, espera-se que este modelo analítico de
ícones de paisagem também sirva para a aferição de relevantes conjuntos paisagísticos de
outros territórios, possibilitando uma melhor compreensão da complexidade das
paisagens e suas possibilidades de uso e ocupações.
353
Concluindo, permite-se aqui destacar o sentimento de dever cumprido ao findar o
processo de doutoramento, uma vez que, apesar dos inúmeros desafios enfrentados ao
longo deste período, foi possível alcançar os objetivos propostos na referida pesquisa e,
consequentemente, contribuir com a produção do conhecimento cientifico. Apesar do fim
do supracitado ciclo, deixa-se claro aqui desejo de continuar contribuindo para a
investigação científica, das complexidades geográficas e do estudo do fenômeno turístico.
Em tempos sombrios em que o ensino e a pesquisa vivem em um contexto de
desvalorização e desconfiança, deixo aqui apenas um destaque: VIVA A CIÊNCIA!
354
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Apêndice I – Ficha de campo
Ficha de Descrição Geral
Ponto de Amostragem Nº (GPS): Local (município): Coleta de amostra: ( ) sim, ( ) não Registro fotográfico ( ) sim.. ( ) não N.o Foto:
Projeto: Data: / / Hora: Resp:
Localização (posição do observador): Coordenadas (GPS):
Situação, geral do local : Altitude(GPS):
CARACTERÍSTICAS FÍSICAS/ESTRUTURAIS
Relevo Local Relevo Regional Bioma / Rede de drenagem UPG-MS / BH / Unidade Climática Planícies Taludes/encostas Planícies Taludes/encostas Cerrado Rios encaixados UPG-MS Bacia Planícies
fluviais Montanhoso Planícies
fluviais Montanhoso Mata Atlântica Rios
meandrantes Paraguai
Ondulado Relevos testemunho / inselbergers
Ondulado Relevos testemunho / inselbergers
Pantanal Planície restrita Paraná
Feição de relevo distinta: Planície expressiva
Unidade Climática
PREDOMÍNIO DA PAISAGEM
ÍCONE DE PAISAGEM ENTORNO DO ÍCONE Vegetação Nativa Relevo destacado Relevo destacado TIPOS Usos Vegetação em quantidade/qualidade
relevante Vegetação em quantidade/qualidade
relevante Savana florestada Veg Nativa Pastagem
Destaque da rede drenagem/cursos d’água Destaque da rede drenagem/cursos d’água
Savanas de cerrado Cana-de-açucar Sivilcutura
Predomínio de usos antrópicos Predomínio de usos antrópicos Florestas fluviais Soja Outros:
Outros: Outros: Cobertura antropizada Milho
Outras Observações: