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FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS

DOUTORADO EM GEOGRAFIA

BRUNO DE SOUZA LIMA

ÍCONES DE PAISAGEM DE MATO GROSSO DO SUL: ANÁLISE

FUNCIONAL E DE QUALIDADE VISUAL PARA O TURISMO DE

NATUREZA

Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação – Doutorado em Geografia,

da Faculdade de Ciências Humanas, da Universidade Federal da Grande

Dourados como requisito para a obtenção do título de Doutor em Geografia.

Orientador: Prof°. Dr. Charlei Aparecido da Silva

DOURADOS/MS

2021

ÍCONES DE PAISAGEM DE MATO GROSSO DO SUL: ANÁLISE

FUNCIONAL E DE QUALIDADE VISUAL PARA O TURISMO DE

NATUREZA

Banca examinadora

____________________________________________________

Prof. Dr. Charlei Aparecido da Silva

(Programa de Pós-Graduação em Geografia – Universidade Federal da Grande

Dourados/UFGD)

Presidente e Orientador

Prof. Dr. António Avelino Batista Vieira

(Universidade do Minho)

_____________________________________________________

Profa. Dra. Edvania Gomes de Assis Silva

(Universidade Federal do Delta do Parnaíba /UFDPar)

_____________________________________________________

Prof. Dr. Valdir Adilson Steinke

(Universidade de Brasília/UNB)

________________________________________________________

Prof. Dr. Edvaldo César Moretti

(Programa de Pós-Graduação em Geografia – Universidade Federal da Grande

Dourados/UFGD)

Dedico aos meus familiares, amigos, professores e

alunos que me acompanharam ao longo de todo esse

processo de doutoramento.

AGRADECIMENTOS

Lançar-se ao desafio de elaborar uma tese requer a capacidade do pesquisador em

equilibrar suas condições emocionais, pessoais, financeiras e profissionais durante o

processo de desenvolvimento da pesquisa. Nesta jornada, é necessário ressaltar que para

atingir tal equilíbrio, foi necessário amparar-se no suporte de diferentes indivíduos e

instituições para que ao final fosse possível chegar ao resultado pretendido. Durante os

quatro anos de desenvolvimento da tese, o indivíduo Bruno de Souza Lima passou por

uma série de desafios e obstáculos que, por certas vezes, estimulavam a desistência do

término da tese. Porém, em função deste apoio de algumas pessoas e de algumas

instituições, foi possível findar mais essa etapa de minha formação profissional.

Destarte, as próximas linhas buscam exprimir uma singela homenagem a todos que

tiveram uma cota de participação em minha conquista. Por mais que seja uma

demonstração simples, gostaria de ressaltar que todos vocês foram fundamentais para que

esta pesquisa fosse desenvolvida, e que sem vocês talvez não estaria agora escrevendo

esses agradecimentos. Assim sendo, agradeço:

• A minha família, meus pais Francisco Clarindo de Lima e Neuza Maria de Souza

Lima, que sempre prezaram por minha educação e de meu irmão, sempre

oferecendo suporte para que conseguíssemos alcançar nossos sonhos e objetivos.

Ao meu irmão Michel e minha cunhada Anelize, que sempre apoiaram minhas

decisões e me proporcionaram momentos de “escape” nas horas de pressão, seja

por meio de uma conversa, de uma tarde de tereré ou de um churrasquinho no fim

de semana. E um agradecimento especial a minhas sobrinhas Alice e Ana Luiza,

que recarregavam minha energia simplesmente com um sorriso e um abraço

quando eu precisava.

• Ao meu orientador Prof. Dr. Charlei Aparecido da Silva. Na verdade, fugindo das

formalidades, não gostaria de chamar de orientador, mas sim de AMIGO. Talvez

eu nunca tenha conhecido um ser humano com tamanha sensibilidade. Apenas de

nos primórdios de nossa amizade ele desconfiar que eu seria um “terrorista

acadêmico”, eu tenho certeza que eu nunca teria me tornado o que me tornei sem

a ajuda dele. E não falo apenas no sentido do título de mestre e doutor, falo no

sentido que eu não teria me constituído a pessoa que me vejo hoje. Você tem sido

muito importante na minha vida! Um agradecimento especial também a Giuliana,

sua esposa, e ao Raphael, seu filho, que sempre me receberam muito bem nas

manhãs, tardes e noites que busquei orientação com o Charlei.

• A todos meus amigos do meu círculo de convivência que compartilharam

importantes momentos comigo ao longo desses últimos quatro anos. Não vou

ousar citar todos aqui para não cometer nenhuma injustiça, mas sintam-se

homenageados nessas humildes e gratas palavras.

• Aos colegas de LGF, que estiveram presentes ao longo dessa caminhada,

participando de diversos momentos durante as atividades, eventos, aulas, reuniões

e confraternizações. Agradecimento especial a minha amiga, parceira de pesquisa

e “chefa” Patrícia Cristina Statella Martins, que sempre buscou me ajudar em

tudo, mesmo quando ela não tinha a menor obrigação, me dando suporte em

muitos momentos em que a tristeza e desanimo bateram, me ajudando a nunca

desistir e me inserindo e diversas empreitadas para me ajudar na minha formação

profissional. Agradeço também ao meu grande amigo Fábio Orlando Eichenberg,

que conheci enquanto ainda meu professor, e que me indicou a pós-graduação.

Foram bons momentos de trabalhos de campo, atividades, churrascos e uma boa

cerveja gelada. Muito obrigado meu irmão! Patrícia Silva Ferreira também é uma

grande amiga que a pós-graduação me deu. Para além da paciência que sempre

teve em me ajudar com dados da pesquisa, sempre foi uma parceira de eventos,

de viagens e de bons momentos de amizade. Por fim, gostaria de fazer também

um agradecimento especial a Nathália Karoline Soares. Talvez minha trajetória

com a Nathália tenha sido a mais aleatória de todas, pouco falávamos sobre

pesquisa, nosso foco era a “zoeira”. Mas mal sabe ela o quanto essas brincadeiras

e momentos de descontração foram importantes para mim.

• A UFGD por me propiciar ensino público e de qualidade. Em um momento

político tão conturbado no que tange a educação (não apenas a educação), sou a

prova viva da importância das instituições públicas na formação cidadã,

mostrando que o caminho para um país melhor é sim a educação.

• A todos os funcionários da UFGD, bem como aos professores e técnicos do

Programa de Pós-Graduação em Geografia, que constroem um ambiente propício

para que os acadêmicos desenvolvam suas pesquisas com relevante padrão de

qualidade. Especial agradecimento a secretária do PPGG, Erika Santos Gutierrez,

que sempre auxiliou nos processos de formação de doutorado durante toda a

caminhada.

• A instituições UNEMAT e UEMS em que tive a oportunidade de trabalhar como

docente no curso de turismo. Foram momentos de muito aprendizado e

crescimento profissional. Agradeço a todos os colegas de trabalho que tive durante

esse período e que me ajudaram a me construir enquanto professor.

Agradecimento especial a todos meus alunos que passaram por meus cuidados

durante esse tempo, tenho um carinho especial por cada um de vocês, e saibam

que aprendi muito com vocês também.

• Algumas instituições que tornaram a pesquisa possível, como o Instituto Homem

Pantaneiro em Corumbá-MS, a Prefeitura de Naviraí (representada pela Kátia V.

Chrestani Borges e Adriano Chaves de França), a UFMS-Aquidauana e a

Fundação Netrópica do Brasil (representada pela mestranda do PPGG Fernanda

Cano de Andrade Marques). Ambos contribuíram com hospedagem, transporte,

alimentação e informações durante a execução dos trabalhos de campo realizados

na pesquisa. Sem a ajuda destes atores seria impossível desenvolver esta pesquisa.

• A banca de qualificação pela gentileza, paciência, sensibilidade e competência

nos pertinentes apontamentos realizados durante essa etapa. Agradeço aos

professores Dr. António Avelino Batista Vieira, Dra. Edvania Gomes de Assis

Silva e Dr. Edvaldo César Moretti.

• A banca de defesa também pela gentileza, paciência, sensibilidade e competência

ao realizar a avaliação final da pesquisa, participando desse momento tão especial

na vida de um doutorando, referendando resultados e os aspectos

teóricos/metodológicos desenvolvidos durante a tese. Agradecimento aos

professores Dr. Charlei Aparecido da Silva, Dr. António Avelino Batista Vieira,

Dra. Edvania Gomes de Assis Silva, Dr. Valdir Adilson Steinke e Dr. Edvaldo

César Moretti. Agradeço também a disponibilidade dos membros suplentes da

banca, os professores Dr. Roberto Verdum e Dr. João Osvaldo Rodrigues Nunes.

Com muito carinho, meu muito obrigado a todos!

ÍCONES DE PAISAGEM DE MATO GROSSO DO SUL: ANÁLISE

FUNCIONAL E DE QUALIDADE VISUAL PARA O TURISMO DE

NATUREZA

RESUMO: O estado de Mato Grosso do Sul, sexto maior em extensão no Brasil, conta

com um território de relevantes paisagens, algumas delas inclusive reconhecidas

internacionalmente, como a Serra da Bodoquena e o Pantanal. Entretanto, além dos

conjuntos supracitados, a condição física do território sul-mato-grossense pressupõe uma

amplitude maior de relevantes paisagens passíveis de serem contempladas no Estado.

Para tal, a identificação dos diferentes elementos que compõem as paisagens e suas inter-

relações permite aferir as diferentes formas de paisagem em Mato Grosso do Sul. Neste

contexto, a pesquisa visa oferecer uma nova percepção acerca dos conjuntos

paisagísticos: o ícone de paisagem. O termo pode ser considerado como um táxon de

maior definição/delimitação de um determinado conjunto paisagístico, conceito o qual

pode atrelar-se a diferentes fins, como por exemplo, a valorização turística. Assim sendo,

buscou-se delimitar os diferentes conjuntos paisagísticos no território sul-mato-

grossense, buscando evidenciar sua condição funcional e sua qualidade visual para o

desenvolvimento de atividades ligadas ao segmento do Turismo de Natureza. Além da

construção teórica acerca dos temas pertinentes, a pesquisa teve como bases o

geoprocessamento e a execução de trabalhos de campo nas áreas de estudo. Na

espacialização cartográfica, foram elaborados mapas temáticos e de síntese que

permitiram compreender a complexidade dos ícones de paisagem elencados. Quanto aos

trabalhos de campo, estes primaram pela coleta de informações in loco nos ícones,

procedimentos amparados pela técnica fotográfica, mapeamento de drone, anotações de

informações em fichas de campo e coleta de pontos de GPS. Destarte, foram identificados

ao longo da pesquisa cinco ícones de paisagem: Serra do Amolar; Maciço do Urucum;

Serra da Bodoquena; Serra de Maracaju; e APA Ilhas e Várzeas do rio Paraná. A partir

das análises realizadas, foi possível evidenciar relevantes características físicas em tais

conjuntos, as quais justificam seu tratamento enquanto paisagem icônica em Mato Grosso

do Sul. Neste âmbito, os mapas sínteses apresentam a espacialização de diferentes pontos

destes ícones, os quais são atrelados a diferentes possibilidades de desenvolvimento de

atividades ligadas ao Turismo de Natureza. Assim sendo, a pesquisa apresenta resultados

passíveis subsidiar as tomadas de decisões de diferentes agentes da atividade turística em

Mato Grosso do Sul, sejam eles públicos e privados, bem como as comunidades locais

que habitam as áreas que abrangem os referidos ícones.

Palavras-chave: Conjuntos paisagísticos. Patrimônio natural. Atividade turística.

Planejamento territorial. Geoprocessamento.

LANDSCAPE ICONS FROM MATO GROSSO DO SUL: A

FUNCTIONAL AND VISUAL QUALITY ANALYSIS FOR NATURE

TOURISM

ABSTRACT: The estate of Mato Grosso do Sul, the sixth bigger in area in Brazil, has a

territory of significant landscapes, some of which are internationally recognized, like

Serra da Bodoquena and Pantanal. However, aside from those, the physical condition of

the state’s territory offers a bigger amplitude of relevant landscapes to be contemplated.

In order to assess the different forms of landscape in Mato Grosso do Sul, we identified

elements that compose these landscapes and their interrelation. In this context, this

research aims to offer a new perception regarding landscape groupings: landscape icons.

This term can be considered a taxon of bigger definition/delimitation in a certain

landscape grouping, a concept which can be used towards different means, for instance,

tourism appreciation. For this purpose, we delimited landscape groupings in Mato Grosso

do Sul, with the aim of highlighting their functional and visual quality conditions

regarding the development of activities for Nature Tourism. Besides the construction of

theory for relevant themes, this research had as its base geoprocessing and the execution

of field work in areas of interest. For the cartographical spatialization, we elaborated

thematic maps and summary maps, which offered an understanding into the complexity

of landscape icons. As for the field work, the focus was on collecting information in loco,

using photography, drone mapping, field notes and GPS points. Throughout the research,

we identified five landscape icons: Serra do Amolar; Maciço do Urucum; Serra da

Bodoquena; Serra de Maracaju; and APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná. From analyses,

it was possible to highlight relevant physical characteristics, which justify their treatment

as iconic landscapes in Mato Grosso do Sul. In the same vein, the summary maps show

the spatialization of different points in these icons, which are connected to different

development possibilities for activities in Nature Tourism. In resume, this research offers

results which would allow the process of decision making from varied agents of touristic

activities in Mato Grosso do Sul, be them public or private, as well as local communities

inhabiting areas in and surrounding the landscape icons.

Keywords: Landscape icons. Natural patrimony. Touristic activity. Territorial planning.

Geoprocessing.

ICONOS DEL PAISAJE DE MATO GROSSO DO SUL: ANÁLISIS

FUNCIONAL Y DE CALIDAD VISUAL PARA EL TURISMO DE

NATURALEZA

RESUMEN: El estado de Mato Grosso do Sul, sexto en superficie de Brasil, cuenta con

un territorio de paisajes relevantes, algunos de ellos reconocidos internacionalmente,

como la Serra da Bodoquena y el Pantanal. Sin embargo, además de los conjuntos

mencionados, la condición física de su territorio presupone una gama más amplia de

paisajes relevantes que pueden ser contemplados. Por lo tanto, la identificación de los

diferentes elementos que componen los paisajes y sus interrelaciones nos permite evaluar

las diferentes formas de paisaje en el estado. En este contexto, la investigación pretende

ofrecer una nueva percepción sobre los conjuntos de paisajes: el icono del paisaje. El

término puede ser considerado como un taxón de mayor definición/delimitación de un

determinado conjunto paisajístico, concepto que puede estar vinculado a diferentes fines,

como, por ejemplo, la valorización turística. Así, se buscó definir los diferentes conjuntos

paisajísticos en el territorio de Mato Grosso do Sul, buscando destacar su condición

funcional y calidad visual para el desarrollo de actividades relacionadas con el segmento

de Turismo de Naturaleza. Además de la construcción teórica sobre los temas relevantes,

la investigación se basó en el geoprocesamiento y la realización de trabajos de campo en

las zonas de estudio. En la espacialización cartográfica se elaboraron mapas temáticos y

de síntesis que permitieron comprender la complejidad de los iconos del paisaje

enumerados. En cuanto a los trabajos de campo, consistió en recoger información in situ

en los iconos, procedimientos apoyados por la técnica fotográfica, la cartografía con

drones, las anotaciones de información en fichas de campo y la recogida de puntos GPS.

Así, a lo largo de la investigación se identificaron cinco iconos paisajísticos: Serra do

Amolar; Maciço do Urucum; Serra da Bodoquena; Serra de Maracaju; y APA Ilhas e

Várzeas do Rio Paraná. A partir de los análisis realizados, fue posible destacar

características físicas relevantes en dichos grupos, que justifican su tratamiento como

paisajes icónicos en Mato Grosso do Sul. En este contexto, los mapas de síntesis presentan

la espacialización de diferentes puntos de estos iconos, que están vinculados a diferentes

posibilidades de desarrollo de actividades relacionadas con el Turismo de Naturaleza. Por

lo tanto, la investigación presenta resultados que pueden subsidiar la toma de decisiones

de diferentes agentes de la actividad turística en Mato Grosso do Sul, sean públicos o

privados, así como de las comunidades locales que habitan las áreas que abarcan estos

iconos.

Palabras clave: Conjuntos paisajísticos. Patrimonio natural. Actividad turística.

Ordenación del territorio. Geoprocesamiento.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa de Regionalização do Turismo 2019. .................................................. 33

Figura 2 - Localização dos Ícones de Paisagem em Mato Grosso do Sul. ..................... 36

Figura 3 - Estrutura teórico-metodológica de desenvolvimento da tese. ....................... 38

Figura 4 - Diversidade de paisagens sul-mato-grossenses. ............................................ 44

Figura 5 - Integração das principais escolas de paisagem .............................................. 48

Figura 6 - Paisagem na face sul da Serra de Maracaju. .................................................. 51

Figura 7 - Entardecer na Serra do Amolar, em Corumbá-MS ........................................ 60

Figura 8 - Estrada cortando a paisagem da Serra de Maracaju, Piraputanga-MS .......... 67

Figura 9 - Rio Aquidauana cortando a Serra de Maracaju em Piraputanga-MS ............ 69

Figura 10 - Atividade de mineração na paisagem do ícone Maciço do Urucum, Corumbá-

MS ................................................................................................................................ 109

Figura 11 - Além da condição do relevo e hidrografia, a vegetação também apresenta-se

relevante na Serra do Amolar, em Corumbá-MS ......................................................... 119

Figura 12 - Modelo de análise integrada da paisagem funcional e de qualidade visual o

mapeamento dos diferentes níveis de Turismo de Natureza. ....................................... 121

Figura 13 - APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná .......................................................... 130

Figura 14 - Porção central do Ícone de paisagem Serra de Maracaju .......................... 133

Figura 15 - Comunidade indígena Kaiowa Ñande Ru Marangatu na porção sul da Serra

de Maracaju. ................................................................................................................. 137

Figura 16 - Elementos paisagísticos como motivadores da produção de souvenires ... 148

Figura 17 - Ferramenta de navegação 3D no Monte Everest. ...................................... 149

Figura 18 - Simbologias utilizadas no marketing turístico de Mato Grosso do Sul ..... 150

Figura 19 - Espacialização das unidades de paisagem e dos ícones de paisagem de Mato

Grosso do Sul. .............................................................................................................. 155

Figura 20 - Delimitação do Ícone de paisagem Serra do Amolar (Corumbá-MS) ....... 157

Figura 21 - Delimitação do Ícone de paisagem Serra do Amolar (Corumbá-MS) ....... 158

Figura 22 - Localização ícone de paisagem Maciço do Urucum ................................. 160

Figura 23 - Paisagem do ícone Maciço do Urucum. .................................................... 161

Figura 24 - Contraste entre a paisagem do Maciço do Urucum e a atividade de mineração

no seu entorno, em Corumbá-MS. ................................................................................ 162

Figura 25 - Localização ícone de paisagem Serra do Amolar ...................................... 164

Figura 26 - Contraste hídrico, de relevo e vegetação na Serra do Amolar. .................. 167

Figura 27 - Localização ícone de paisagem Serra de Maracaju ................................... 170

Figura 28 - Faixa contínua de morrarias da Serra de Maracaju, em Aquidauana-MS. 171

Figura 29 - Serra de Maracaju formada por conjuntos de relevos testemunho, em Antônio

João-MS. ....................................................................................................................... 171

Figura 30 - Pegadas de Dinossauros impressas nos arenitos da Formação Botucatu -

Proximidades de Nioaque. ............................................................................................ 173

Figura 31 - Localização ícone de paisagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná ....... 176

Figura 32 - Paisagem da APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná estruturada nas planícies,

vegetações nativas, variedade hídrica e formação de ilhas fluviais. ............................ 177

Figura 33 - Delimitação das Unidades de Conservação inseridas nos limites da APA Ilhas

e Várzeas do Rio Paraná. .............................................................................................. 178

Figura 34 - Localização ícone de paisagem Serra da Bodoquena. ............................... 181

Figura 35 - Paisagem da Serra da Bodoquena. Destaque para o conjunto contínuo de

relevo que constituí a paisagem. ................................................................................... 183

Figura 36 - Delimitação do Geoparque Bodoquena Pantanal em Mato Grosso do Sul.

...................................................................................................................................... 185

Figura 37 - Estágios de desenvolvimento metodológico da pesquisa. ......................... 195

Figura 38 - Singularidade dos elementos da paisagem, correlações para a escolha dos

ícones. ........................................................................................................................... 199

Figura 39 - Exemplo de matriz de correlação de pesos atribuídos na reclassificação dos

dados de relevo e de vegetação/usos da terra do ícone de paisagem Serra do Amolar. 205

Figura 40 - Verificação in loco de dados secundários do ícone de paisagem APA Ilhas e

Várzeas do rio Paraná. .................................................................................................. 209

Figura 41 - Perímetro, área de abrangência do ícone de paisagem, Maciço do Urucum.

...................................................................................................................................... 211

Figura 42 - Mapeamento aéreo na aldeia Limão Verde, em Aquidauana-MS. ............ 214

Figura 43 - Mapeamento aéreo para ícones de paisagem com altura superior a 500 metros.

...................................................................................................................................... 215

Figura 44 - Mapeamento 1 aéreo para ícones de paisagem com altura inferior a 500

metros. .......................................................................................................................... 215

Figura 45 - Mapeamento 2 aéreo para ícones de paisagem com altura inferior a 500

metros. .......................................................................................................................... 216

Figura 46 - Registros fotográficos no ícone de paisagem APA Ilhas e Várzeas do rio

Paraná. .......................................................................................................................... 219

Figura 47 - Coleta de dados no ícone de paisagem Serra do Amolar por meio de ficha de

campo. .......................................................................................................................... 220

Figura 48 - Exemplo de aplicação do esquema de olhar da paisagem na análise do ícone

Maciço do Urucum. ...................................................................................................... 224

Figura 49 - Pontos de GPS amostrados durante a execução dos trabalhos de campo. . 225

Figura 50 - Paisagem do Maciço do Urucum na BR-262............................................. 228

Figura 51 - Contraste da paisagem do ícone Maciço do Urucum entre relevos com maiores

índices de aplainamento e relevos com maiores altitudes. ........................................... 229

Figura 52 - Apontamento dos diferentes conjuntos de relevos associados ao complexo

geomorfológico do Maciço do Urucum. ...................................................................... 230

Figura 53 - Paisagem associada ao complexo I de paisagens do ícone Maciço do Urucum.

...................................................................................................................................... 231

Figura 54 - Paisagem associada ao complexo II de paisagens do ícone Maciço do Urucum.

...................................................................................................................................... 231

Figura 55 - Paisagem associada ao complexo III de paisagens do ícone Maciço do

Urucum. ........................................................................................................................ 232

Figura 56 - Paisagem associada ao complexo IV de paisagens do ícone Maciço do

Urucum. ........................................................................................................................ 232

Figura 57 - Relevo do Maciço do Urucum ................................................................... 234

Figura 58 - Área de pastagem no ícone de paisagem Maciço do Urucum. .................. 235

Figura 59 - Exploração da atividade de mineração no ícone de paisagem Maciço do

Urucum. ........................................................................................................................ 236

Figura 60 - Predomínio das florestas estacionais semi-deciduais no ícone Maciço do

Urucum. ........................................................................................................................ 237

Figura 61 - Vegetação/usos das terras do Maciço do Urucum ..................................... 238

Figura 62 - Rede de Drenagem Maciço do Urucum ..................................................... 240

Figura 63 - Registro da placa de identificação na entrada da RPPN Engenheiro Eliezer

Batista. .......................................................................................................................... 242

Figura 64 - Sede de apoio da RPPN Acurizal. ............................................................. 242

Figura 65 - Acesso às trilhas na RPPN Engenheiro Eliezer Batista. ............................ 243

Figura 66 - Vista do ponto mais alto da trilha do Amolar na RPPN Engenheiro Eliezer

Batista. .......................................................................................................................... 243

Figura 67 - Trilha de bicicleta na RPPN Acurizal. ....................................................... 244

Figura 68 - Inscrições rupestres na Serra do Amolar. .................................................. 245

Figura 69 - Feições das morrarias do Amolar no ícone de paisagem. .......................... 246

Figura 70 - Áreas alagadas do pantanal do Uberaba-Mandioré no ícone de paisagem. 247

Figura 71 - As bordas da Serra, estruturadas em relevos mais planos propiciam o

estabelecimento de estruturas e comunidades. ............................................................. 247

Figura 72 - Relevo da Serra do Amolar ........................................................................ 248

Figura 73 - Faixa de floresta estacional semi-decidual nas proximidades do rio Paraguai

- ícone de paisagem Serra do Amolar. .......................................................................... 249

Figura 74 - A densidade das vegetações nativas de savanas contemplando quase a

totalidade da cobertura vegetal do ícone de paisagem Serra do Amolar. ..................... 250

Figura 75 - Vegetação/Usos das terras da Serra do Amolar ......................................... 251

Figura 76 - O rio Paraguai, considerado o principal canal fluvial nas imediações do ícone

de paisagem Serra do Amolar. ...................................................................................... 252

Figura 77 - Rede de drenagem da Serra do Amolar ..................................................... 253

Figura 78 - Visão aérea da comunidade indígena Limão Verde, em Aquidauana-MS. 254

Figura 79 - Imageamento aéreo realizado nas imediações de Piraputanga-MS. .......... 255

Figura 80 - Superfícies aplainadas e/ou moderadamente onduladas na faixa central do

ícone Serra de Maracaju. .............................................................................................. 257

Figura 81 - Planícies alagadas ligadas ao bioma pantaneiro, a noroeste de Aquidauana-

MS, na porção central da Serra de Maracaju. ............................................................... 257

Figura 82 - Morros e escarpas da Serra de Maracaju nas imediações da aldeia Limão

Verde, em Aquidauana-MS. ......................................................................................... 258

Figura 83 - Relevo da Serra de Maracaju – porção central .......................................... 259

Figura 84 - Vegetação nativa do tipo savana nas morrarias do distrito de Camisão-MS.

...................................................................................................................................... 260

Figura 85 - Floresta estacional nas bordas do rio Aquidauana, no trecho entre

Aquidauana-MS e o distrito de Camisão-MS. .............................................................. 261

Figura 86 - Contraste das áreas de pastagem e das morrarias, em Aquidauana-MS. ... 262

Figura 87 - Vegetação/Usos das terras da Serra de Maracaju – porção central ........... 263

Figura 88 - Meandros do rio Aquidauana em meio as morrarias presentes nas imediações

do distrito de Piraputanga-MS. ..................................................................................... 264

Figura 89 - Rede de drenagem da Serra de Maracaju – porção central ........................ 265

Figura 90 - Marco histórico de referência ao episódio da Retirada da Laguna nas

imediações do município de Bela Vista-MS. ............................................................... 267

Figura 91 - Superfícies aplainadas na faixa sul do ícone Serra de Maracaju – município

de Antônio João-MS. .................................................................................................... 269

Figura 92 - Ondulação dos relevos na faixa sul do ícone Serra de Maracaju – trecho entre

os municípios de Antônio João-MS e Bela Vista-MS. ................................................. 269

Figura 93 - Formação de relevos testemunho na faixa sul do ícone Serra de Maracaju –

município de Antônio João-MS. ................................................................................... 270

Figura 94 - Relevo da Serra de Maracaju – porção sul ................................................ 271

Figura 95 - Intensa concentração áreas de pastagem na faixa sul do ícone Serra de

Maracaju – município de Bela Vista-MS. .................................................................... 272

Figura 96 - Fragmentos remanescentes de vegetação nativa do tipo savana evidenciados

no trecho entre os municípios de Antônio João-MS e Bela Vista-MS. ........................ 273

Figura 97 - Florestas estacionais semi-deciduais na faixa sul do ícone Serra de Maracaju

– município de Bela Vista-MS. .................................................................................... 274

Figura 98 - Vegetação/usos das terras da Serra de Maracaju – porção sul. ................. 275

Figura 99 - O rio Apa apresenta-se como um dos principais cursos hídricos presentes na

face sul do ícone Serra de Maracaju. ............................................................................ 276

Figura 100 - Rede de drenagem da Serra de Maracaju – porção sul ............................ 277

Figura 101 - Sede da Gerência de Meio Ambiente (GEMA) – Naviraí-MS. ............... 279

Figura 102 - Portal, localizado no município de Naviraí-MS, um dos pontos de apoio que

integram a área compreendida pela APA Ilhas e Várzeas do rio Paraná. .................... 279

Figura 103 - O apoio terrestre/fluvial prestado pela Gerência de Meio Ambiente (GEMA)

e da Gerência de obras de Naviraí (GEROB) da prefeitura Naviraí-MS. .................... 280

Figura 104 - Paisagem observada no Portal do Parque Estadual Várzeas do rio Ivinhema,

localizado na área que divide as feições dos relevos ligados aos planaltos das áreas de

planícies. ....................................................................................................................... 282

Figura 105 - Observação aérea das planícies do rio Paraná. ........................................ 283

Figura 106 - Relevo da APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná. ...................................... 284

Figura 107 - Exemplares de vegetação do tipo savana encontradas na faixa central do

ícone de paisagem. ........................................................................................................ 285

Figura 108 - Predominância das florestas estacionais nas faixas ligadas aos cursos

hídricos do ícone de paisagem APA Várzeas e ilhas do Rio Paraná. ........................... 286

Figura 109 - Identificação de área de pastagem no perímetro do ícone. Proporcionalmente

ao perímetro do ícone, está é a dinâmica territorial que predomina nessas áreas. ....... 287

Figura 110 - Áreas dedicadas a agricultura, no território de Naviraí-MS, ainda no

perímetro do ícone de paisagem ................................................................................... 288

Figura 111 - Vegetação/usos das terras da APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná ......... 289

Figura 112 - Percepção aérea do padrão anostomosado associado ao curso do rio Paraná

no perímetro do ícone de paisagem. ............................................................................. 290

Figura 113 - Ponto de encontro do rio Amambaí com o rio Paraná. ............................ 291

Figura 114 - Rede de drenagem da APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná. .................... 292

Figura 115 - Procedimentos de campo no ícone Serra da Bodoquena ......................... 294

Figura 116 - Procedimentos de campo realizados durante período chuvoso na Serra da

Bodoquena .................................................................................................................... 294

Figura 117 - Planaltos da Bodoquena, porção central do ícone de paisagem .............. 297

Figura 118 - Depressões sul-mato-grossenses na faixa norte da Serra da Bodoquena 297

Figura 119 - Enquadramento do relevo ligado às serras e morrarias do baixo Paraguai

...................................................................................................................................... 298

Figura 120 - Relevo da Serra da Bodoquena ................................................................ 299

Figura 121 - Florestas estacionais, predominantes na cobertura da Serra da Bodoquena

...................................................................................................................................... 300

Figura 122 - Percentuais de savana florestadas na faixa oeste da Serra da Bodoquena 301

Figura 123 - Campos de pastagem na porção central da Serra da Bodoquena ............. 302

Figura 124 - Cultivo de aveia entre os fragmentos da Serra da Bodoquena ................ 302

Figura 125 - Vegetação/usos das terras da Serra da Bodoquena .................................. 303

Figura 126 - Vista aérea do rio Salobra ........................................................................ 306

Figura 127 - Trecho do córrego Três Morros ............................................................... 306

Figura 128 - Rede de drenagem da Serra da Bodoquena ............................................. 307

Figura 129 - Paisagem relacionada com o nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Maciço do Urucum. ...................................................................................... 311

Figura 130 - Paisagem relacionada com o nível 3 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Maciço do Urucum. Destaque para áreas de pastagens. ............................... 312

Figura 131 - Paisagem relacionada com o nível 3 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Maciço do Urucum. Destaque para áreas de mineração............................... 312

Figura 132 - Níveis de turismo de natureza no Maciço do Urucum ............................. 314

Figura 133 - Paisagem relacionada com o nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Serra do Amolar. .......................................................................................... 316

Figura 134 - Paisagem relacionada com o nível 2 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Serra do Amolar. .......................................................................................... 317

Figura 135 - Paisagem relacionada com o nível 3 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Serra do Amolar. .......................................................................................... 318

Figura 136 - Níveis de Turismo de Natureza na Serra do Amolar. .............................. 319

Figura 137 - Paisagem relacionada com o nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Serra de Maracaju – porção sul. ................................................................... 321

Figura 138 - Paisagem relacionada com o nível 2 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Serra de Maracaju – porção sul. ................................................................... 322

Figura 139 - Paisagem relacionada com o nível 3 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Serra de Maracaju – porção sul. ................................................................... 323

Figura 140 - Níveis de Turismo de Natureza na Serra de Maracaju – porção sul ........ 324

Figura 141 - Paisagem relacionada com o nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Serra de Maracaju – porção central. ............................................................. 326

Figura 142 - Paisagem relacionada com o nível 2 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Serra de Maracaju – porção central. ............................................................. 327

Figura 143 - Níveis de Turismo de Natureza na Serra de Maracaju – porção central. . 329

Figura 144 - Paisagem relacionada com o nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná. ............................................................ 331

Figura 145 - Paisagem relacionada com o nível 2 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná. ............................................................ 332

Figura 146 - Paisagem relacionada com o nível 3 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná. ............................................................ 333

Figura 147 - Níveis de Turismo de Natureza na APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná . 334

Figura 148 - Paisagem relacionada com o nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Serra da Bodoquena. ..................................................................................... 336

Figura 149 - Paisagem relacionada com o nível 2 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Serra da Bodoquena. ..................................................................................... 337

Figura 150 - Níveis de Turismo de Natureza na Serra da Bodoquena. ........................ 338

Figura 151 - Queimadas na região de Naviraí-MS ....................................................... 341

Figura 152 - Assoreamento no canal do Mirim, na APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná

...................................................................................................................................... 341

Figura 153 - Alteração na paisagem da Serra do Amolar em função de incêndios ...... 342

Figura 154 - Banhado do rio da Prata - Serra da Bodoquena ....................................... 343

Figura 155 - Turvamento da água no rio Formosinho, na Serra da Bodoquena........... 343

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Atribuição de significados para a palavra ícone nos dicionários...............142

Quadro 2 – Dados secundários utilizados na pesquisa..................................................200

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABAP Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

APA Área de Proteção Ambiental

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais

ECOA Ecologia e Ação

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FUNDTUR Fundação de Turismo

GPS Global Posittioning System

GTP Geossistema-Território-Paisagem

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

IHP Instituto do Homem Pantaneiro

IFLA Internacional de Arquitetos Paisagistas

IMASUL Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

IUCN União Internacional para a Conservação da Natureza

LGF Laboratório de Geografia Física

MTUR Ministério do Turismo

ONG Organização Não Governamental

PPGG Programa de Pós-Graduação em Geografia

RPCSA Rede de Proteção e Conservação da Serra do Amolar

RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural

SIG Sistema de Informação Geográfica

SIRGAS Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas

SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação

TERRASUL Instituto de Terras e Cartografia de Mato Grosso do Sul

TGS Teoria Geral dos Sistemas

TN Turismo de Natureza

UC Unidade de Conservação

UEMS Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

UFGD Universidade Federal da Grande Dourados

UICN Unión Internacional Para La Conservación De La Naturaleza Y De

Los Recursos Naturales

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a

Cultura

USGS United States Geological Survey

UTM Universal Transversa de Mercator

VANT Veículo Aéreo Não Tripulado

ZEE Zoneamento Ecológico Econômico

23

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ......................................................................................................... 24

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 29

1. CAPÍTULO I - PAISAGEM: SUAS ABORDAGENS E IMPLICAÇÕES NA

INVESTIGAÇÃO ESTRUTURAL E VISUAL PAISAGÍSTICA ................................ 42

1.1 O conceito de paisagem e seu uso no planejamento dos territórios ......................... 42

1.2 Concepções acerca de beleza cênica e qualidade visual das paisagens .................... 58

1.3 A análise física e visual das paisagens e sua importância na atividade turística ...... 72

2. CAPÍTULO II - O TURISMO DE NATUREZA ENQUANTO ATIVIDADE EM

MATO GROSSO DO SUL ............................................................................................ 87

2.1 A natureza da “natureza”: concepções acerca da apropriação da natureza pelo homem

........................................................................................................................................ 87

2.2 Turismo de natureza: que natureza é essa? ............................................................... 99

2.3 Patrimônio Natural no contexto do Turismo de Natureza ...................................... 122

3. CAPÍTULO III - ÍCONES DE PAISAGEM: O CONCEITO E SUAS

POSSIBILIDADES ...................................................................................................... 141

3.1 Ícones de paisagem como relevantes representações ............................................. 141

3.2 Os ícones de paisagem em Mato Grosso do Sul ..................................................... 159

4. CAPÍTULO IV - O EMPIRISMO, A ANÁLISE E A COMPREENSÃO DOS ÍCONES

DE PAISAGENS .......................................................................................................... 189

4.1 O empirismo como instrumento da investigação científica.................................... 191

4.2 A construção cartográfica: bases, ferramentas e procedimentos ............................ 196

4.3 Pesquisas de campo: preparação, execução e aquisição de dados primários ......... 206

4.4 Avaliação estrutural das paisagens de Mato Grosso do Sul ................................... 223

CAPÍTULO 5 – ANÁLISE DOS ÍCONES DE PAISAGEM DO MS ........................ 309

5.1 Níveis de Turismo de Natureza nos ícones de paisagem de Mato Grosso do Sul .. 309

5.1.1 Maciço do Urucum .............................................................................................. 309

5.1.2 Serra do Amolar .................................................................................................. 315

5.1.3 Serra de Maracaju – porção sul ........................................................................... 320

5.1.4 Serra de Maracaju – porção central ..................................................................... 325

5.1.5 APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná .................................................................... 330

5.1.6 Serra da Bodoquena ............................................................................................. 335

5.2 As alterações nas paisagens e seus impactos na constituição dos ícones ............... 339

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 346

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 354

APÊNDICES ................................................................................................................ 378

24

APRESENTAÇÃO

“[...] Anuncio aos leitores

Um segredinho aqui:

Recebi informações

Impulsivamente, escrevi.

Nesse Brasil tão imenso

Esse estado eu escolhi,

Indico-o para viver

Dizendo com muito prazer:

Esse estado eu escolhi.”

(ALENCAR, 2014, p. 41).

Em um país como o Brasil, em que os problemas sociais sempre imperaram na vida

da grande maioria dos brasileiros, me considero agraciado por sempre ter tido acesso à

educação, saúde e emprego, elementos básicos que tanto fazem falta a muitas pessoas e,

consequentemente, limita muito suas oportunidades de melhoria de vida.

Sempre tive na tutela de meus pais o reconhecimento da importância da educação

e qualificação profissional. Lembro de meus pais sempre falarem para mim e meu irmão:

“Não temos bens para deixar de herança para vocês, mas vamos nos esforçar para dar

educação para que possam buscar seus objetivos”. Tal “herança” sempre me fez levar a

sério os estudos, uma vez que, por mais que tenha cumprido todas minhas formações no

ensino público, busquei fazer jus aos impostos pagos por meus pais.

Em minha vida, tive apenas um emprego para além da docência. Trabalhei desde

os quinze anos em uma empresa do ramo imobiliário, onde permaneci por quase dez anos.

Apesar de ser grato ao período em que trabalhei na referida empresa, senti a necessidade

de buscar uma graduação acadêmica e pleitear novos desafios, assim como a grande

maioria dos adolescentes que buscam planejar um futuro.

Honestamente assumo que nunca passou pela minha cabeça o desejo de cursar

Turismo, muito menos partir para uma pós-graduação em Geografia. Porém felizmente

os caminhos da vida me direcionou a me tornar bacharel em Turismo e mestre e doutor

em Geografia. Chego a este momento com a certeza de estar no caminho certo, sem

arrependimentos por ter escolhido trilhar o caminho acadêmico em que me encontro hoje.

25

Lembro de uma fala de meu pai que, sofreu um infarto em meados de março de

2020. No hospital, em uma das visitas que lhe fiz enquanto estava sob cuidados médicos,

ele me apresentou ao seu colega de quarto: “Este é meu filho mais novo, ele é professor,

mas não é qualquer professor, é um professor de faculdade!”. Não que eu creia que

professores universitários sejam superiores/melhores que professores de ensino básico,

mas a fala de meu pai refletiu o orgulho que o mesmo sentira de mim, fato que me

comoveu e motivou ainda mais a tratar minha profissão com a devida importância e

competência.

Na graduação, fui instigado iniciar o caminho da pesquisa pela minha orientadora

de trabalho de conclusão de curso (TCC), a professora Dra. Dores Cristina Grechi, a qual

serei eternamente grato por me proporcionar uma tutoria de excelência em minha

iniciação enquanto pesquisador. Na ocasião, desenvolvemos uma pesquisa relacionada ao

uso de tecnologias/redes sociais na rede hoteleira de Dourados-MS. Ao finalizar o projeto

de iniciação científica, a pesquisa desenvolvida foi aclamada e aprovada com nota

máxima na defesa do título de bacharel em Turismo, na Universidade Estadual de Mato

Grosso do Sul (UEMS).

Depois dessa experiência, acreditava que seguiria a mesma linha de pesquisa, ou

pelo menos algo semelhante. Porém, tive a grata surpresa de conhecer o professor Dr.

Charlei Aparecido da Silva, que hoje carinhosamente o considero um amigo, para além

de sua incumbia de orientador. Ainda durante a graduação, meu professor (e hoje meu

amigo) Dr. Fábio Orlando Eichenberg, se ofereceu para intermediar uma possível relação

com o professor Charlei para uma orientação de mestrado. Na ocasião, lembro

perfeitamente a frase do Charlei: “Escreva um bom projeto, se inscreva no processo

seletivo e, se for aprovado, te oriento”. Confesso que, naquele momento a falta de

experiência me desanimava quanto as chances de ser aprovado para cursar o mestrado em

Geografia na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).

Apesar dos medos e insegurança, fui aprovado no mestrado em Geografia da UFGD

em 2015, onde por dois anos e sob tutela do professor Charlei, desenvolvemos uma

pesquisa voltada a categoria analítica da paisagem, relacionando as paisagens de Mato

Grosso do Sul ao segmento Turismo de Natureza. A dissertação foi defendida no 1º

semestre de 2017, sendo muito elogiada pelos membros da banca, e sendo desdobrada em

artigos e capítulos de livros ao longo dos últimos anos.

Acredito o período de formação no mestrado foi um divisor de águas em minha

vida, seja no aspecto pessoal, comportamental, profissional e, principalmente, humano. E

26

devo muito disso ao meu orientador Charlei e meus colegas de Laboratório de Geografia

Física (LGF/UFGD). Tal processo foi tão marcante que senti o desejo de prosseguir e, no

final de 2017, decidi participar do processo seletivo de doutorado em Geografia da

UFGD. Mesmo com uma certa “experiência” enquanto pesquisador, o “frio na barriga”

foi o mesmo durante a seleção. Felizmente novamente fui agraciado com um desfecho

positivo, iniciando o doutorado no início do ano de 2018. Seguindo uma linha de pesquisa

semelhante ao mestrado, decidimos aprofundar o estudo da paisagem e sua relação com

o Turismo de Natureza, porém dessa vez trazendo um novo conceito: ícones de paisagem

em Mato Grosso do Sul.

Em tempos de crise sanitária e contexto político conturbado no Brasil e no mundo,

confesso que não foi fácil centrar esforços para o desenvolvimento de uma tese de

doutorado. Porém, em nenhum momento tais aflições foram utilizadas como muleta para

oferecer uma pesquisa acadêmica de menor qualidade, pelo contrário, a tese serviu como

um “escape”, uma forma de tentar me alienar de uma tensa realidade posta nos âmbitos

familiar, acadêmico, econômico e profissional.

Ao longo dessas mais de trezentas páginas materializa-se não apenas frases

metricamente encaixadas em um contexto semântico, mas sim a concretização do

empenho pessoal, profissional, psicológico e afetivo de um pesquisador que buscou

empregar suas melhores habilidades para construir uma pesquisa de excelência.

Para alcançar o título de doutor em Geografia, a presente tese visa concretizar

quatro anos de pesquisa, a qual foi permeada por um caminho de dificuldades e desafios,

mas que possibilitou um crescimento profissional, intelectual e pessoal ao longo dos

processos desenvolvidos. Neste âmbito, a tese está estruturada em cinco capítulos.

O capítulo 1 conta como uma reflexão acerca da categoria analítica da paisagem.

Considerada o alicerce da presente investigação, buscou-se discutir a importância do

estudo da paisagem enquanto suporte para o planejamento territorial, podendo atribuir

diferentes tipos de usos das terras, inclusive, o direcionamento para atividades turísticas.

Além disso, o capítulo traz também uma discussão sobre os termos “beleza cênica” e

“qualidade visual da paisagem”, questão a qual permite importantes considerações aos

métodos e parâmetros aplicados na avaliação visual das paisagens. Por fim, o capítulo

apresenta diferentes métodos de aferições físicas e de qualidade visual das paisagens,

permitindo embasar os processos metodológicos aplicados na referida tese.

Quanto ao capítulo 2, possui a premissa de debater acerca do segmento Turismo de

Natureza. Conceito que vem sendo debatido sob diferentes perspectivas por

27

pesquisadores do mundo todo, busca-se inicialmente neste capítulo trazer à baila uma

reflexão acerca das históricas relações da humanidade com os demais elementos da

natureza, buscando compreender alguns dos diferentes significados que a natureza

adquiriu ao longo dos anos. A partir desta primeira aproximação, foi possível relacionar

tais significações com os princípios que norteiam o Turismo de Natureza. Na parte final,

buscou-se estabelecer um elo deste segmento turístico com o conceito de Patrimônio

Natural, que se apresenta como uma definição conceitual intimamente ligada com

ambientes potenciais ao desenvolvimento de práticas de Turismo de Natureza.

No capítulo 3, concentra-se o elemento central da tese: a discussão acerca dos

ícones de paisagem. Buscou-se então uma construção teórica, a qual valida e embasa a

perspectiva de tratar a delimitação de ícones de paisagem como uma unidade taxonômica

de maior detalhamento de uma unidade de paisagem, permitindo assim privilegiar a

valorização de relevantes conjuntos paisagísticos para atividades turísticas, neste caso,

em especial ao Turismo de Natureza. Após a discussão teórica acerca do conceito, o

capítulo é complementado com a descrição dos ícones de paisagem elencados no território

sul-mato-grossense.

Inicialmente, o capítulo 4 discorre sobre os processos metodológicos utilizados para

o desenvolvimento da tese. Neste âmbito, são apresentados os procedimentos teóricos, de

campo e técnicas cartográficas. Na parte final do capítulo, são apresentadas as análises

estruturais das paisagens de cada um dos ícones de paisagem elencados pela pesquisa.

Por fim, o capítulo 5 fecha a tese com a apresentação dos mapas sínteses de cada

um dos ícones de paisagem de Mato Grosso do Sul, permitindo visualizar os diferentes

níveis de Turismo de Natureza em cada um dos conjuntos paisagísticos. Com base nas

análises realizadas, o capítulo conta ainda com apontamentos/sugestões acerca do

direcionamento das referidas paisagens para o desenvolvimento de atividades ligadas ao

Turismo de Natureza.

A partir dos resultados alcançados ao final da pesquisa, espera-se que esta sirva

como inspiração para novos pesquisadores seguirem as investigações acerca da referida

temática, seja em Mato Grosso do Sul, em outros estados do Brasil, ou até mesmo em

outros países. Acredita-se que a construção de uma tese não deva servir apenas para a

obtenção de um título de doutor, mas sim que esta possa trazer benefícios para todos os

atores que estejam direta ou indiretamente envolvidos com o desenvolvimento da

atividade turística em um determinado território, seja o poder público, a comunidade

local, o trade turístico ou os turistas propriamente ditos.

28

Espera-se que o leitor consiga, por meio desta tese, “viajar” pelos ícones de

paisagem de Mato Grosso do Sul, e tenha possibilidade de descobrir conjuntos

paisagísticos que talvez não sejam de grande conhecimento do público geral e, quem sabe,

instigar o leitor a visitar e a conhecer algumas das paisagens aqui retratadas. Boa leitura!

29

INTRODUÇÃO

“[...] Amando a natureza

Unicamente do Brasil,

Rica e diferenciada,

Incluindo faunas mil

Nenhum país do mundo

Encontra céu azul anil,

Inclusive o MS:

Dentro dele permanece,

Engana quem diz ser vil.”

(ALENCAR, 2014, p. 15).

Construir uma tese de doutoramento apresenta-se como um desafio para qualquer

pesquisador que trilha o caminho de qualificação acadêmica, seja qual for a área científica

desejada. Nestes meandros que permeiam tal desafio, perguntas como “o que é uma

tese?”, “qual a abrangência de uma tese?”, “o que faz de minha pesquisa uma tese?”,

dentre outras dúvidas, surgem com dúvidas recorrentes durante o caminhar de formação

de um doutorando.

De fato, elaborar uma tese é uma construção proporcionalmente tão desafiadora

quanto complexa, uma vez que, exige do pesquisador a apresentação de discussões mais

aprofundadas acerca de uma determinada temática. Formalmente, a ABNT (2011, p. 3)

conceitua uma tese de doutorado como:

Documento que representa o resultado de um trabalho experimental ou

exposição de um estudo científico de tema único e bem delimitado. Deve ser

elaborado com base em investigação original, constituindo-se em real

contribuição para a especialidade em questão. É feito sob a coordenação de um

orientador (doutor) e visa a obtenção do título de doutor, ou similar.

Considerando a complexidade e importância de desenvolver uma tese, Eco (2008)

descreve alguns itens fundamentais a serem observados durante seu processo de

elaboração: a definição do tema; construção de bases documentais acerca do tema;

ordenar tais documentos; elaborar uma análise crítica dos documentos angariados;

estruturar de maneira orgânica as reflexões elaboradas; e por fim, buscar oferecer uma

leitura de fácil compreensão para o leitor, de maneira a possibilitar que o mesmo

compreenda o que se quis dizer a partir da elaboração da tese.

30

Para Eco (2008), uma tese não deve se findar após a banca de defesa. Para o autor,

a pesquisa defendida deve ser um ponto de partida para ampliar a discussão da temática

proposta, podendo ser explorada por outros pesquisadores nos próximos anos. Destarte,

a tese de doutoramento pode ser considerada uma forma de propor avanços científicos

nas mais diversas áreas, uma vez que, a proposta deve ser pautada em originalidade na

abordagem sobre o referido tema. Segundo o autor op. cit. (p. 5):

Fazer uma tese significa, pois, aprender a pôr ordem nas próprias ideias e

ordenar os dados: é uma experiência de trabalho metódico; quer dizer,

construir um "objeto" que, como princípio, possa também servir aos outros.

Assim, não importa tanto o tema da tese quanto a experiência de trabalho que

ela comporta.

Considerando tais premissas que compreendem a elaboração de uma pesquisa de

doutoramento, a tese aqui apresentada, consiste no desenvolvimento de uma articulação

analítica a partir da estruturação do conceito de ícone de paisagem, o qual apresenta-se

como uma unidade taxonômica engendrada na categoria analítica da paisagem e que, tem

em suas bases de sua fundamentação, discussões inerentes ao patrimônio natural. A partir

de tal articulação, a tese supracitada permite analisar essa vertente paisagística em Mato

Grosso do Sul.

A Geografia, enquanto ciência, permite evidenciar o estudo de diferentes

fenômenos, de maneira que, por meio das diferentes categorias analíticas que possui

(dentre algumas delas, o espaço, território, lugar, região e paisagem), possibilita

desenvolver análises e compreender diferentes problemáticas que permeiam os diferentes

pontos globo terrestre. Aqui buscar-se-á um aprofundamento das paisagens de Mato

Grosso do Sul, o qual dispõe de uma relevante diversidade paisagística ao longo de sua

extensão.

Até 11 de outubro de 1977, o estado ainda fazia parte do território de Mato Grosso,

sendo desmembrado a partir desta data pelo então presidente Ernesto Geisel, o qual

assinou a lei de criação de Mato Grosso do Sul. Dentre as justificativas para tal

desmembramento, foram apontadas a dificuldade de administração de um grande

território por apenas uma máquina administrativa e o risco de manter um grande e rico

estado próximo a áreas de fronteira. A instalação oficial de Mato Grosso do Sul se deu

em 1º de janeiro de 1979, assumindo como primeiro governador do estado Harry Amorim

Costa, indicado pelo presidente Ernesto Geisel. Desde seu início, Mato Grosso do Sul

teve a pecuária, a extração vegetal e mineral e a agricultura como principais fatores de

desenvolvimento do estado (BRASIL, 2017).

31

Dentre as 27 unidades federativas, Mato Grosso do Sul é considerado o 6º maior

estado em extensão, ocupando aproximadamente uma área de 358.159 km² (área que

corresponde ao território da Alemanha), o que corresponde ao próximo de 4,2% do

território brasileiro. Localizado na região centro-oeste, o estado faz limites com Goiás a

nordeste, Mato Grosso ao norte, Minas Gerais a leste, São Paulo a sudeste e Paraná ao

sul. Mato Grosso do Sul conta ainda com fronteiras internacionais com o Paraguai e a

Bolívia na faixa oeste/sul (FIALHO, 2014).

Conforme apontando por Brasil (2017), o estado de Mato Grosso do Sul conta com

uma população de aproximadamente 2.682.386 habitantes (até o ano de 2016), da qual

Ferraz, Nunes e Alonso Junior (2011) ressaltam uma parcela de aproximadamente 31.069

indígenas, divididos em 38 grupos e espalhados em 27 municípios de Mato Grosso do

Sul. Ainda de acordo com Brasil (2017), o estado tem como capital Campo Grande, e

conta com outros municípios importantes como Dourados, Três Lagoas, Corumbá,

Aquidauana, Nova Andradina, Naviraí e Ponta Porã.

Quanto a condição natural de Mato Grosso do Sul, a qual é subsidiada pelos biomas

do Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica, Fialho (2014) ressalta que o estado conta com

biomas considerados como os mais abundantes em biodiversidade no Brasil, fato que faz

do Mato Grosso do Sul mundialmente conhecido, principalmente em função do

Complexo do Pantanal e do Parque Nacional da Serra da Bodoquena. Ainda sobre as

condições naturais do estado, a autora op. cit. (p. 9) cita que:

O território estadual é drenado a leste pelos sistemas dos rios Paraná e a oeste

é drenado pelo Paraguai. Pelo Rio Paraguai escoam as águas da planície do

Pantanal e terrenos periféricos. Na baixada, produzem-se anualmente

inundações de longa duração. Na planície do Pantanal, no oeste do estado,

durante o período de cheias do Rio Paraguai, a região vira a maior região

alagadiça do planeta, lá se combinam vegetações de todo o Brasil (até mesmo

da Caatinga e da Floresta Amazônica).

No que tange a economia sul-mato-grossense, Fagundes et. al. (2017) e Fialho

(2014) chamam a atenção para o seu destaque nacional e internacional em função do

agronegócio. Dentre os produtos desenvolvidos, destaca-se a soja, milho, cana de açúcar,

algodão e a criação de bovinos, produções as quais possibilitam o dinamismo econômico

de Mato Grosso do Sul e alavanca a competitividade do estado. Além do agronegócio,

cita-se ainda o eixo de desenvolvimento ligado às indústrias, instaurado principalmente

em Corumbá, Campo Grande e Três Lagoas.

32

Entretanto, além das indústrias e do agronegócio, Mato Grosso do Sul também é

lócus do desenvolvimento do Turismo. De acordo com Fialho (2014), o estado tem como

principais cidades turísticas Bonito, Jardim e Bodoquena (municípios ligados ao Parque

Nacional da Serra da Bodoquena); o municípios de Corumbá, Aquidauana, Anastácio e

Porto Murtinho (relacionadas com o Complexo do Pantanal); Ponta Porã e Bela Vista

(cidades relacionadas com a faixa de fronteira com o Paraguai); e ainda os municípios de

Costa Rica, Rio Verde e Fátima do Sul. Dentre os municípios citados, a autora op. cit.

(2014, p. 127) destaca os destinos prioritários em Mato Grosso do Sul:

O estado possui três destinos prioritários: Campo Grande, Bonito e Corumbá.

Campo Grande foi selecionado por ser capital, enquanto Bonito e Corumbá

pelas belezas, encantos cênicos e natureza única, além do fato de já possuírem

um considerável fluxo de turistas. O MTur, atualmente, prioriza a distribuição

de recursos federais para estes três destinos indutores, uma vez que estes

podem dar e ter maior retorno em relação ao capital investido.

Ainda no que tange as políticas públicas de turismo em Mato Grosso do Sul, Fialho

(2014) chama a atenção para a gestão compartilhada e descentralizada proposta pelo

Ministério do Turismo, a qual no estado sul-mato-grossense possibilitou a delimitação de

8 regiões turísticas: Pantanal, Caminho dos Ipês, Bonito-Serra da Bodoquena, Grande

Dourados, Cerrado-Pantanal, Integra Costa Leste – Vale do Aporé, Vale das Águas e

Caminhos da Natureza – Cone Sul (figura 1).

33

Figura 1 - Mapa de Regionalização do Turismo 2019.

Fonte: Adaptado de MATO GROSSO DO SUL (2019)

Elaboração: LIMA, 2021

Diante das informações supracitadas até aqui, infere-se que a variabilidade das

paisagens advindas dos biomas sul-mato-grossense, a qual apresenta-se como

possibilidade de desenvolvimento turístico no estado, principalmente aqueles segmentos

que possuem na Natureza a base de suas atividades, como no caso do Turismo de

Natureza.

De acordo com o FUNDTUR (2020), a movimentação de passageiros no aeroporto

internacional de Campo Grande teve uma média de 773.589 desembarques em 2019.

Quanto ao desembarque terrestre na capital, o fluxo girou em torno de 614.387

passageiros no mesmo ano. Tendo como principal emissor nacional o estado de São

Paulo, e os Estados Unidos como principal emissor internacional, Mato Grosso do Sul

conta com um relevante fluxo turístico, o qual tem como principais motivações o turismo

de negócios, visita a familiares/amigos e práticas de ecoturismo.

Entretanto, apesar dos números apresentados em referência ao ano de 2019, espera-

se uma queda relevante nos números relativos ao ano de 2020, uma vez que, neste período

diversas atividades, inclusive o Turismo, sofreram com as normas restritivas impostas em

34

função da pandemia de Covid-191. Neste âmbito, o planejamento e gestão do território

sul-mato-grossense apresenta-se como condição sine qua non para a retomada da

atividade turística nos próximos anos.

A justificativa do projeto teve como premissa o fato de que, em Mato Grosso do

Sul, quanto ao desenvolvimento de pesquisas relacionadas a temática do turismo,

percebe-se que os objetos e áreas de estudo geralmente tratados restringem-se

basicamente as áreas da Serra de Bodoquena e Pantanal. Apesar da aptidão agropecuária

do Estado apresentada por Mato Grosso do Sul (2009), acredita-se que o Turismo também

possui potencial para enquadrar-se ainda mais enquanto relevante atividade econômica

no estado, uma vez que, a amplitude paisagística do estado permita tal expansão.

No cenário atual, dentre as paisagens que se destacam em Mato Grosso do Sul

citamos a Serra de Bodoquena, reconhecida pelo seu expressivo relevo, com áreas de

vegetação nativa conservada, conjunto de córregos, rios e cachoeiras. Destaca-se também

o município de Bonito – MS, considerado um destino turístico consolidado

internacionalmente.

Outro conjunto paisagístico com grande relevância no estado é o Pantanal, que é a

maior planície alagável do mundo. A dinâmica relacionada a cheia e a seca (pulsos de

inundação) é a responsável por paisagens singularidades, grande diversidade de fauna e

flora que, consequentemente, apresentam relevantes cenários paisagísticos para o

turismo.

Entretanto, apesar da existência destas paisagens reconhecidamente ligadas ao

Turismo no estado, surge a seguinte inquietação: existiriam em Mato Grosso do Sul outras

paisagens com relevância estrutural e com relevante qualidade visual para o

desenvolvimento de atividades do Turismo de Natureza para além da Serra da Bodoquena

e o Pantanal sul-mato-grossense? Tal questionamento instigou o desenvolvimento da

pesquisa, a qual visou investigar quais outras paisagens poderiam integrar esse grande

mosaico de paisagens relevantes para o Turismo de Natureza em Mato Grosso do Sul.

Além destas premissas, nota-se que, o Estado, notavelmente inclinado as dinâmicas

produtivas da agricultura e pecuária, conforme indicado por Mato Grosso do Sul (2009),

1 A Organização Pan-Americana de Saúde - entidade associada à Organização Mundial de Saúde (OMS) -

declarou, em 30 de janeiro de 2020, que o surto da doença causada pelo Covid-19 constitui uma Emergência

de Saúde Pública de Importância Internacional, o mais alto nível de alerta da Organização, conforme

previsto no Regulamento Sanitário Internacional. Em 11 de março de 2020, a Covid-19 foi caracterizada

pela OMS como uma pandemia (TASSO; MOESCH; NÓBREGA, 2021, p. 2).

35

vem perdendo a qualidade natural de seus ambientes, seja pelo desmatamento, seja pela

compactação do solo, seja pela poluição e contaminações diversas. Diante disso, apesar

de reconhecer o turismo também como uma atividade econômica, acredita-se que, por

meio de planejamento e gestão adequados, seja possível oferecer dinâmicas menos

agressivas as paisagens que compõem Mato Grosso do Sul (LIMA, SILVA, MARTINS,

2016).

Neste contexto, apresenta-se na tese a proposição do enquadramento teórico-

conceitual de uma nova perspectiva de análise da paisagem para fins turísticos: o “ícone

de paisagem”. A partir das discussões ora tratadas, apresenta-se subsídios a fim de

qualificar tal conceito como mais uma possibilidade de aferição paisagística e,

consequentemente, facilitar os processos de planejamento turísticos nos territórios.

Destarte, a tese objetivou caracterizar e identificar os diferentes ícones de paisagem

encontrados em Mato Grosso do Sul. Neste âmbito, buscou-se analisar a estrutura das

paisagens dos ícones de Mato Grosso do Sul, bem como mapear seus diferentes níveis de

Turismo de Natureza a partir de um modelo de análise integrada, evidenciando sua

funcionalidade e qualidade visual para o desenvolvimento de atividades turísticas ligadas

a esse segmento. Para que tais análises fossem possíveis, foi necessário elaborar um

modelo de aferição de indicadores de qualidade visual das paisagens para o Turismo de

Natureza.

Inicialmente, buscou-se elencar, por meio de referenciais teóricos e dados

secundários, as paisagens singulares existentes em Mato Grosso do Sul, de maneira que,

fosse possível identificar os conjuntos paisagísticos relevantes no estado. Neste contexto,

após esta aferição, estabeleceu-se sete ícones de paisagem: Serra do Amolar; Maciço do

Urucum; Serra da Bodoquena; Serra de Maracaju; e APA Ilhas e Várzeas do rio Paraná

(figura 2).

Ressalta-se que, os critérios que levaram a definição a priori dos referidos ícones

buscaram considerar principalmente a estruturação de conjuntos paisagísticos relevantes,

principalmente no que tange aspectos ligados aos tipos de relevo, vegetação e relevância

hídrica. Outro fato que auxiliou na determinação foi na chancela enquanto unidades de

conservação2 atribuídas a determinadas paisagens, designando assim um nível ainda

maior de relevância de tais conjuntos paisagísticos.

2 As unidades de conservação (UC) são espaços territoriais, incluindo seus recursos ambientais, com

características naturais relevantes, que têm a função de assegurar a representatividade de amostras

significativas e ecologicamente viáveis das diferentes populações, habitats e ecossistemas do território

36

Figura 2 - Localização dos Ícones de Paisagem em Mato Grosso do Sul.

Elaboração: LIMA, 2020.

nacional e das águas jurisdicionais, preservando o patrimônio biológico existente. Estas áreas asseguram

às populações tradicionais o uso sustentável dos recursos naturais de forma racional e ainda propiciam às

comunidades do entorno o desenvolvimento de atividades econômicas sustentáveis. Estas áreas estão

sujeitas a normas e regras especiais. São legalmente criadas pelos governos federal, estaduais e municipais,

após a realização de estudos técnicos dos espaços propostos e consulta à população (OLIVEIRA;

BARBOSA, 2010, p. 7).

37

Portanto, a investigação versará na tentativa de ampliar o conhecimento acerca das

diferentes paisagens dispostas ao longo do território sul-mato-grossense, as quais, em

função de seu caráter natural, privilegiam o desenvolvimento de atividades ligadas ao

Turismo de Natureza.

Neste âmbito, ressalta-se que o uso das geotecnologias foi um recurso essencial a

fim de se espacializar os dados referentes a composição estrutural e da qualidade cênica

das referidas paisagens. Considerando que, Mato Grosso do Sul é um estado dotado de

diversidades paisagísticas em função de seus componentes bióticos e abióticos, propõe-

se aqui um mapeamento de tais paisagens que propiciem o desenvolvimento de atividades

ligadas ao Turismo de Natureza, ampliando a gama de opções turísticas em Mato Grosso

do Sul, ou seja, apresentando possibilidades para além do Pantanal e a Serra de

Bodoquena, os quais apresentam-se enquanto destinos turísticos consolidados no Estado.

Em síntese, a figura 3 discorre sobre a estrutura teórico-metodológica adotada para o

desenvolvimento da tese.

38

Figura 3 - Estrutura teórico-metodológica de desenvolvimento da tese.

Fonte: Adaptado de LIMA, 2017

39

A figura 3 apresenta os caminhos tomados para o desenvolvimento da tese em

questão. Na primeira etapa, buscou-se estabelecer as bases da tese, de maneira a organizar

e estabelecer o objeto a ser estudado, a tese que norteia a pesquisa, bem como a

justificativa para execução da pesquisa e os objetivos a serem alcançados. No segundo

momento, foram privilegiados os aspectos conceituais, os quais permitiram reflexões

sobre as principais temáticas que norteiam a tese, tais quais: paisagem, natureza, Turismo

de Natureza, Patrimônio Natural e Ícone de Paisagem. Na sequência, inicia-se a aplicação

metodológica, a qual, dentre os processos utilizados, amparou-se na realização de

trabalhos de campo, na cartografia temática desenvolvida por meio de SIG’s, uso de

drones, GPS e técnicas de fotografia. A etapa três relaciona-se com os procedimentos

empíricos de investigação da estrutura da paisagem, os quais permitiram a compreensão

dos elementos que compõem as paisagens e suas relações enquanto conjuntos

paisagísticos de Mato Grosso do Sul. Na etapa quatro, as paisagens passaram por um

processo analítico quanto sua qualidade visual, permitindo uma aferição quanto sua

forma/estrutura. Por fim, a etapa cinco compreende a síntese da pesquisa, a qual busca

estabelecer as relações dos conjuntos paisagísticos aferidos nas etapas anteriores com o

segmento do Turismo de Natureza.

Espera-se apresentar efetivamente um mapeamento que possibilite o

desenvolvimento de produtos turísticos, uma vez que, por meio das análises e discussões

desenvolvidas acerca dos conjuntos paisagísticos pesquisados, seja possível perceber as

variadas possibilidades de inserção de diferentes atividades turísticas nas áreas em

questão. Ressalta-se ainda que, o esquema integrado de análise funcional e de qualidade

visual da paisagem possa ser utilizada em outros estudos de caso, possibilitando o

progresso científico no que tange a investigação dos territórios a partir do uso da categoria

analítica da paisagem. Por fim, espera-se que as análises, discussões e produtos que

venham a ser gerados a partir dos desdobramentos desta pesquisa sejam tomados pelo

poder público, mesmo que não em sua totalidade, mas que a investigação possa oferecer

em alguma medida uma contrapartida de melhorias para a população sul-mato-grossense,

bem como ampliar as discussões da comunidade científica.

Com o auxílio do Laboratório de Geografia Física da Universidade Federal da

Grande Dourados (LGF/UFGD), a investigação possui a premissa de colaborar com a

expansão turística em todo o Estado, estabelecendo novos direcionamentos na

investigação das diversas paisagens existentes no território sul-mato-grossense,

proporcionando a ampliação de pesquisas voltadas à temática do turismo para todo o

40

Estado, uma vez que, considera-se que os ícones de paisagem indicados possuam aspectos

de relevante qualidade visual e estrutural, seja em função das formas de relevo, da

litologia, das áreas remanescentes de vegetação nativa, ou até mesmo pela proteção

direcionada por aspectos legais.

41

42

1. CAPÍTULO I - PAISAGEM: SUAS ABORDAGENS E IMPLICAÇÕES NA

INVESTIGAÇÃO ESTRUTURAL E VISUAL PAISAGÍSTICA

Importante categoria analítica da Geografia, a paisagem apresenta-se como uma

relevante ferramenta de compreensão das complexidades das mais diferentes porções

terrestres, permitindo a elucidação de inquietações que permeiam diferentes áreas do

conhecimento. Nesta concepção, ao longo da história, diferentes

pensadores/pesquisadores se debruçaram em suas investigações na tentativa estabelecer

conceitos, teorias e modelos metodológicos acerca da paisagem, fato que obviamente

gerou uma ampla gama de possibilidades de aferição das paisagens.

Assim sendo, o capítulo em questão vislumbra apresentar uma reflexão acerca dos

conceitos de paisagem e suas aplicações no planejamento territorial. Em um segundo

momento, visando estabelecer uma relação com a iconização das paisagens, é trazido à

baila a discussão sobre a diferenciação conceitual entre os termos “beleza cênica” e

“qualidade visual”. Por fim, o capítulo aborda as possibilidades de aferições estrutural e

visual das paisagens, permitindo vislumbrar sua aplicação à atividade turística.

1.1 O conceito de paisagem e seu uso no planejamento dos territórios

Enquanto categoria analítica da ciência geográfica, a paisagem ganhou diversos

contornos ao longo da história, recebendo diversas abordagens, inúmeros enfoques e

sendo aplicada em diferentes contextos. Assim sendo, um relevante número autores, de

diferentes escolas da paisagem, buscaram compreender e conceituar este termo que, ao

mesmo tempo parece representar de maneira simples um determinado espaço geográfico,

dispõe de uma relativa complexidade na compreensão dos processos que envolvem a

instituição de tal categoria.

Ao abordar a categoria analítica da paisagem, Vieira e Verdum (2019) lembram

que, do ponto de vista do senso comum, a paisagem é frequentemente associada a aquilo

que a visão alcança. Entretanto, os autores op. cit. destacam o fato de que a paisagem

esconde por trás de sua estrutura uma série de características que não podem ser

contempladas pelo simples lance de vista. Diante de tal fato, a se considerar os diferentes

autores que estudam a paisagem, observa-se amplas e diferentes abordagens acerca da

mesma, seja como espaço físico, como reverencia a um cenário virtual ou como

identidade cultural. Tais pesquisas têm sido desenvolvidas no âmbito de projetos,

43

contemplação, qualidade de vida e bem-estar, planejamento territorial, como bem cultural

e até como instrumento no auxílio na gestão de normas e medidas de proteção

estabelecidas pelo poder público.

Para Coelho (2011), apesar da paisagem nos parecer um conceito de significado

unificado, a compreensão das paisagens entre artistas, geógrafos, arquitetos,

turismólogos, ecologistas e planejadores podem não recobrir a mesma realidade para

ambos os profissionais, de maneira que, apesar da materialidade ser a mesma, as

apreensões atribuídas por cada um deles são diferentes. Concebe-se então que, no

decorrer da história, a paisagem passou a assumir vários significados, sendo relacionada

a diversas conotações. Corroborando com tais afirmativas, Mendes (2010) atenta para a

complexidade do conceito de paisagem, de maneira que, em meio a um grande

contingente de definições e aproximações em função do emprego de diferentes

abordagens e especialidades daquele que às utilizam, torna-se difícil uma definição

completa e conceitual acerca de sua conceituação.

Para Gomes (2001), o estudo da paisagem perpassa pela sensibilidade artística, pela

variedade de interesses econômicos e políticos, pelo interesse empírico humano e busca

do conhecimento científico, ou seja, um amplo arcabouço de elementos que ampliam as

representações das relações entre a natureza e humanidade.

Sobre tal amplitude do conceito de paisagem, Aguiló Alonso et. al. (2004) indicam

que, as dificuldades de estabelecer uma definição clara sobre o termo, incidiu e tem

incidido no desenvolvimento tardio de metodologias de análises paisagísticas. Entretanto,

conforme apontado pelos autores op. cit., não se trata de ditar formas exatas de estudos

acerca da paisagem, mas sim que sejam exploradas as mais variadas possibilidades

possíveis, de maneira a criar um arcabouço metodológico que vise abarcar uma ampla

realidade de estudos paisagísticos.

Do ponto de vista do senso comum, Rodriguez (1984), Vieira (2014) e Vieira et. al.

(2018) indicam que a paisagem é percebida como um espaço alcançado em um lance de

vista, tomado como um simples olhar através de uma janela, ou seja, atrelada fortemente

a concepção estética da paisagem. Por outro lado, a paisagem também associada como

sinônimo de “área”, “território”, ou ainda “região”, sem nenhum conteúdo cientifico ou

hierarquização taxonômica.

Entretanto, a paisagem, denota um relativo grau de complexidade, a qual não pode

ser compreendida pelo simples olhar ou pela imaginação do observador. Neste âmbito, a

paisagem engloba uma série de inter-relações, as quais podem imbricar as condições

44

físicas dos elementos das paisagens, bem como as atribuições culturais atreladas a tais

conjuntos.

Ainda de acordo com Vieira et. al. (2018), a paisagem configura-se como uma

marca da sociedade, a qual é impressa no espaço geográfico. Inicialmente, a criação da

paisagem é estabelecida de duas maneiras: uma por meio dos artistas e naturalistas, os

quais durante suas viagens a partir do século XV, tiveram a chance de contemplar diversas

paisagens e, posteriormente, puderam desenhá-las e concretiza-las em quadros, poemas e

narrativas; e a outra maneira diz respeito a apropriação do espaço físico para diversas

atividades desenvolvidas pelo homem, como a agricultura e pecuária. A figura 4

exemplifica as diferentes paisagens materializadas nas dinâmicas territoriais de Mato

Grosso do Sul. A) Campos de cultivos de cana de açúcar na região da Serra de Maracaju;

B) Contraste no Maciço do Urucum entre a condição do relevo, áreas de pastagem e

sinalização protetiva/ambiental – Geopark Bodoquena Pantanal; C) Comunidade

indígena Limão Verde integrada nos fragmentos da Serra de Maracaju, em Aquidauana-

MS; D) Área com relevante cobertura vegetal nativa nas imediações das Várzeas do Rio

Ivinhema.

Figura 4 - Diversidade de paisagens sul-mato-grossenses.

Autor: LIMA, 2019

45

Ao discorrer sobre o papel da Geografia, Maciel (2009) lembra que, esta é detentora

de ferramentas que permitem analisar o mundo por meio das descrições das formas

operadas pela natureza e pelo homem, bem como estabelecer suas relações. Dentro do

contexto da paisagem, essa busca se dá na descoberta, inventariação e diferenciação do

espaço terrestres a partir, principalmente, dos elementos visíveis. Acerca do papel do

geógrafo na investigação da paisagem, o autor op. cit. (p. 2) lembra que:

Para compreender as formas que são reveladas através da observação, o

geógrafo deve reunir, comparar e decifrar os padrões espaciais constatados,

buscando analisar a localização dos elementos, a teia de relações que os unem

e os processos que os ensejam e alteram. Desta maneira, os elementos da

paisagem não são vistos como formas separadas, mas em íntimo e dinâmico

inter-relacionamento. A controvérsia central neste caso é se/como a descrição

detalhada, ordenada e sistemática da morfologia da paisagem conduziria

concomitantemente a algum tipo de reflexão sobre a conexão entre os

fenômenos e aquilo que lhes está subjacente, quer sejam processos simbólicos

ou relações de causa e efeito.

É por meio destas ferramentas disponibilizadas pela Geografia que, outras ciências

como o Turismo buscam a compreensão das complexidades que envolvem seus objetos

de estudo. No caso da atividade turística, a categoria analítica da paisagem, permite uma

série de análises que possibilitam uma melhor aferição dos fenômenos imbricados no

Turismo.

Na visão de Schama (1996), o aspecto cultural possui papel fundamental no

constructo da natureza, uma vez que, esta se estabelece a partir do imaginário projetado

em elementos da natureza. Para exemplificar essa relação cultural da paisagem, Schama

(1996) em sua obra indica diversos momentos históricos e lugares do ocidente em que,

estes três elementos constitutivos das paisagens agrestes – as árvores, a água e as rochas

– destacam-se enquanto fundamentais no ideário de paisagem de diversas culturas e em

diferentes momentos da história. Tais reflexões revelam que, enquanto constituintes da

paisagem, alguns elementos se mantêm inalterados de uma época para outra, enquanto

outros desaparecem, concepção a qual mantém relação direta com a instituição cultural

da paisagem.

Sobre a categoria de análise da paisagem, Haesbaert (2017) lembra que este é um

dos conceitos mais tradicionais empregados na leitura do espaço geográfico e que, tem

suas origens atreladas a diversas tradições, como por exemplo, a oriental (especialmente

na China e Japão, na relação da percepção e idealização de paisagens) ou na europeia

46

oriental (ligadas principalmente ao romantismo do século XIX). Sobre a origem do termo,

Haesbaert (op. cit., p. 295) cita que:

Trata-se de uma palavra originada dos termos latinos “pagus” (país, em francês

“pays” – pequena região) e “pagensis” (campestre, rural; em francês “paysan”

significa camponês), que por sua vez deram origem a “paesagio” (italiano),

“paysage” (francês) e “paisaje” (espanhol).

Para Zacharias (2008), ao longo da história, as diferentes concepções e abordagens

acerca da paisagem fizeram com que, se estabelecesse um escopo teórico para os estudos

paisagísticos, o qual foi desenvolvido em função dos estudos de diferentes escolas, de

maneira que, inicialmente, destacam-se como bases dessa condição teórica, as escolas de

Humboldt (paisagem em seu aspecto natural) e de Carl Sauer (concepção da relação tríade

entre natureza, sociedade e cultura). No bojo dessas discussões, Alexander Von

Humboldt, Immanuel Kant e Karl Ritter, a partir de suas reflexões acerca da natureza e

sociedade, são apontados como alguns dos principais precursores das discussões sobre as

paisagens, conforme indicam Rodriguez e Silva (2002, p. 96):

A ideia de ter uma visão totalizadora das interações da Natureza com a

Sociedade no mundo acadêmico começou no final do século XVIII e princípio

do século XIX, com os trabalhos de Kant, Humboldt e Ritter. Realmente, a

análise das interações da Natureza com a Sociedade foram empreendidas

dentro do contexto da Geografia e tiveram como consequência o surgimento

de duas formas de analisar a configuração do planeta Terra: uma visão voltada

para a Natureza (com as concepções principalmente de Humboldt, e

posteriormente do sábio russo Dokuchaev), firmando as bases para a Geografia

física e a ecológica biológica, e uma visão centrada no Homem e na Sociedade,

que foi a concepção da Geografia humana ou a antropogeografia de Karl Ritter.

Conforme apontado por Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2007), Humboldt,

juntamente com Dokuchaev, foram aqueles que ofereceram os primeiros subsídios dos

estudos paisagísticos, os quais culminaram na base teórica das escolas alemãs e russos-

soviéticas, estas que, primavam pelo reconhecimento da paisagem enquanto complexo

natural integral. Em outra vertente, as escolas francesas, anglo-saxónicas e euro-

ocidentais se estabeleceram enquanto escolas pautadas na compreensão da paisagem

enquanto espaço social, ou seja, considerando os aspectos socioculturais nos estudos

paisagísticos.

Haesbaert (2017) discorre que, na França, Paul Vidal de la Blache fora aquele que

mais influenciou os estudos da paisagem, fazendo uma relação intima entre região e

paisagem (ou “região paisagem”), de maneira a observa-la enquanto síntese integrada dos

elementos naturais e humanos ao longo de uma dada paisagem. Já na Alemanha, houve

47

também uma forte tradição da “Landschaftgeographie” ou Geografia da Paisagem, a qual

ganhou repercussão nos Estados Unidos, estimulada pelo trabalho desenvolvido por Carl

Sauer, reconhecido amplamente por seu clássico texto “A morfologia da paisagem”.

Percebe-se então que, a linha histórica trouxe uma série de pensadores que

atribuíram suas reflexões a partir de um dado contexto, o qual liga-se com as

complexidades encontradas em seu respectivo recorte temporal. Neste âmbito, faz-se

importante reconhecer tal construção histórica acerca da discussão da paisagem, porém é

importante tomar tais reflexões para a progressão contínua do conhecimento, sendo

possível estabelecer análises e compressões de cenários contemporâneos.

De acordo com Zacharias (2008), a analogia da diferenciação da abordagem em

cada uma das escolas que estudam a paisagem ao longo dos tempos, pode ser relacionada

em grande parte com as naturezas epistemológicas, teóricas e metodológicas adotadas e

defendidas pelos diferentes estudiosos da área. Outra condição relevante a ser observada

ainda é que, a aplicação dos referidos estudos e análises, mantinham (e continuam a

manter) uma intrínseca relação com os territórios e suas dinâmicas, de maneira que,

determinadas abordagens se mostram mais adequadas para algumas situações específicas

do que outras.

Em sua investigação, Eichenberg (2018) elaborou uma síntese sobre a integração

dos principais autores e escolas que debateram sobre paisagem ao longo da história,

contemplando tanto aquelas que permeiam a concepção naturalista, quanto as que versam

pela perspectiva humanista, conforme apresentado na figura 5.

48

Figura 5 - Integração das principais escolas de paisagem

Fonte: EICHENBERG, 2017, p. 59

Modificado por: LIMA (2021)

49

Entretanto, apesar de reconhecer a importância da construção histórica acerca das

diferentes escolas que estudaram a paisagem ao longo dos anos, a presente reflexão não

tem como por objetivo central a retomada dos debates que caracterizam e diferenciam

cada uma dessas vertentes paisagísticas. Acerca de tal concepção, autores como Lima

(2017), Eichenberg (2018) e Martins (2018) apresentam em suas reflexões, consideráveis

discussões sobre as diferentes correntes ideológicas que abordaram (e ainda abordam) os

estudos sobre a paisagem, as quais podem ser retomadas para melhor compreensão da

temática.

Portanto, em meio as diferentes abordagens, a conceituação da paisagem perpassa

por densa discussão teórica, a qual busca revelar o real conceito desta categoria analítica.

Dentre tais conceituações, Fidalgo (2014) ressalta a importância de reconhecer os

elementos que compõem a paisagem, os quais destacam-se os componentes: antrópicos,

bióticos, abióticos e cósmicos. Ao referir-se sobre a paisagem e os elementos que a

compõe, Haesbaert (2017, p. 295) debate sobre as relações entre natureza e sociedade nas

abordagens acerca dos estudos paisagísticos:

A relação com a natureza sempre foi muito destacada no debate sobre

paisagem, muitas vezes diferenciada entre paisagem natural e paisagem

cultural ou humanizada. Até os dias atuais, trata-se de um conceito central em

estudos de Ecologia e dos geossistemas, onde é enfatizada sua dimensão

material-objetiva. Na Geografia em sentido mais amplo podemos distinguir

duas grandes abordagens teóricas: uma corrente, mais tradicional, que enfatiza

as dimensões materiais ou “morfologia” e funcionalidade da paisagem,

difundida principalmente por aqueles que não se restringem ao seu papel

analítico mas também propõem políticas de intervenção a fim de proteger

paisagens materiais (o que resulta em processos de patrimonialização da

paisagem, por exemplo) e outra corrente, de domínio mais recente, que destaca

a dimensão imaterial ou simbólica do espaço ao trabalha-lo sob a ótica da

paisagem enfatizando-a como percepção e/ou representação. Uma outra

posição, de matriz fenomenológica, defende ainda a paisagem como espaço

experimentado, vivido.

Corroborando da importância dos elementos que compõem a paisagem, Almeida

(2006) e Cavalcanti (2014) lembram que, a paisagem é o resultado das relações exercidas

nos diferentes espaços. Estas relações podem possuir tanto origem natural, como também

podem advir de interferências humanas. Para Forman e Godron (1986, p. 11), a paisagem

como deve ser entendida como “uma porção de território heterogéneo composto por

conjuntos de ecossistemas em interacção que se repetem de forma similar”.

Além das condições das relações que formam as diversas paisagens distribuídas nos

espaços, Ab’Saber (2003) e Emídio (2006) discorrem sobre outra importante variável ao

50

se considerar análises paisagísticas: o tempo. Para os autores, o estudo das paisagens deve

levar em consideração o momento histórico da análise, uma vez que, a paisagem pode ser

considerada enquanto herança das modificações históricas causadas pelas dinâmicas

naturais e antrópicas exercidas com o passar do tempo.

A investigação das paisagens e suas representações designadas por meio de

diferentes linguagens (sejam poesias, relatos, iconografia, etc...), apresentam-se como

uma fonte de registro acerca dos diferentes olhares empreendidos a natureza/paisagem

em diferentes recortes históricos (GOMES, 2001).

Ainda sobre a condição temporal da paisagem, Sanz e Alonso (1996) lembram que,

a dinâmica da paisagem corresponde, em curto e médio prazo, as ações que o homem

exerce no meio que habita, de maneira que, tais atuações, em maior ou menor medida,

afetam o aspecto visível da paisagem, bem como podem afetar outros aspectos do meio

ambiente. Para a UICN (2011), a paisagem pode ser considerada o resultado de como as

sociedades se organizam e utilizam os sistemas naturais para sua subsistência.

Assim sendo, as condições passadas da paisagem mantêm relação direta com sua

configuração atual, conforme indicam Olivencia e Rodriguez (2008). Para os autores, tal

evolução configura-se enquanto valiosa informação para compreender a estrutura e

dinâmica atual dos conjuntos paisagísticos. A estrutura, porque é possível compreender

os diferentes tipos de vegetação, das mudanças de cultivo, dos tipos de terrenos. Já do

ponto de vista da dinâmica, as paisagens podem ser interpretadas em função de sua

progressão, regressão ou estabilidade, partindo de um ponto de vista pré-definido, ou seja,

por meio da compreensão das mudanças das paisagens a partir de um dado período,

possibilitando observar a sequência evolutiva das mesmas. Sobre a condição dinâmica

da paisagem, Olivencia e Rodriguez (2008, p. 152) indicam que:

La condición dinámica de los paisajes es algo ampliamente reconocido por la

ciencia del paisaje ya que forma parte de los fundamentos teóricos de la misma

desde sus primeras formulaciones. El concepto de paisaje participa

decididamente de la visión holística de los conjuntos o unidades de la

superficie terrestre y se reconoce como un complejo de elementos naturales y

humanos interconectados por relaciones causales de carácter recíproco. Es

precisamente la interacción permanente de los múltiples constituyentes del

paisaje lo que impulsa distintos procesos dinámicos que hacen evolucionar a

los sistemas ecoantrópicos, geosistemas o unidades de paisaje que se

reconocen en cada lugar o porción del territorio.

Destarte, percebe-se uma intrínseca relação da estrutura das paisagens com os

processos passados, de maneira que, a dinâmica da paisagem pode ser considerada uma

51

importante vertente a ser considerada em estudos paisagísticos. A face sul da Serra de

Maracaju (entre os municípios de Ponta Porã e Antônio João) é exemplo da relação entre

a condição estrutural/temporal da paisagem e seus usos nas dinâmicas territoriais.

Percebe-se exaustão territorial em função da exploração das áreas para cultivos em

contraste de áreas onde o relevo limita tais avanços (figura 6).

Figura 6 - Paisagem na face sul da Serra de Maracaju.

Autor: LIMA, 2019

A respeito dos estudos sobre a paisagem, os autores Olivencia e Rodriguez (2008)

citam ainda duas dificuldades ao exercer pesquisas dessa magnitude: a dualidade entre os

elementos naturais e culturais, e os diferentes ritmos de desenvolvimento dos elementos

que compõem a paisagem. O primeiro ponto relaciona-se com a dificuldade de integração

na análise da paisagem a partir da relação dos elementos naturais e culturais, visto a

problemática de relacionar as variáveis que compreendem ambos os elementos. Quanto

ao segundo ponto, as diferentes escalas de comportamentos dos elementos físicos,

biológicos e antrópicos, dificultam o estabelecimento de uma escala homogênea de

análise, considerando por exemplo, a diferença das mudanças climáticas, o tempo

geológico, a sucessão vegetal, a morfogênese dos solos, assim como as dinâmicas

territoriais impostas pelo homem.

Dentro de tais concepções apresentadas até aqui, parece consenso entre muitos

estudiosos que, o conceito de paisagem está atrelado a concepção sistêmica, ou seja, de

52

que esta deva ser compreendia em função da contextualização de sua totalidade,

evidenciada pela interação dos diferentes elementos que a compõem e,

consequentemente, propiciam o estabelecimento das diferentes paisagens.

Esta condição sistêmica possui suas bases no biólogo Ludwig Von Bertalanffy, o

qual, a partir da Teoria Geral dos Sistemas (TGS) criada no início dos anos cinquenta,

subsidiou a abordagem sistêmica em diversas áreas, inclusive na Geografia e que,

consequentemente, possibilitou sua aplicação nos diversos estudos aos quais amparam-

se na paisagem enquanto categoria analítica. Para Mauro e Valadão (2018), essa teoria se

espalhou por diversos campos do conhecimento, uma vez que, o modo mecânico e

compartimentalizado do conhecimento passou a mostrar-se cada vez mais impotentes e

insuficientes na tentativa de explicar a realidade. Neste sentido, no bojo da Geografia

Física, foram desenvolvidos diferentes modelos conceituais, metodológicos e de

classificação da paisagem, tomando como base os princípios da Teoria Geral dos

Sistemas. Dentre os principais precursores dos geossistemas, os autores op. cit. destacam

Sotchava e Bertrand, uma vez que, ambos desenvolveram relevantes propostas teórico-

metodológicas, as quais buscavam representar as principais características das paisagens

alvo de seus estudos: as extensas planícies da Rússia no caso de Sotchava, e a região

entrecortada da França no estudo de Bertrand.

Rodriguez e Silva (2002) e Saraiva (2005) lembram que, Sotchava é considerado o

criador do conceito de geossistema, o qual embasado pela Teoria Geral dos Sistemas e

pelo arcabouço teórico da escola russa de paisagem, passou a realizar estudos

paisagísticos a partir de cinco parâmetros sistêmicos fundamentais: estrutura,

funcionamento, dinâmica, evolução e informação. Neste sentido, o geossistema é

considerado por Sotchava como um complexo territorial natural, formado pela integração

dos diferentes componentes dos sistemas naturais. Entretanto, Sotchava (1977) lembra

que, apesar de considerar-se os geossistemas enquanto fenômenos naturais, fatores

econômicos e sociais também exercem influência sobre a estrutura destes.

Posteriormente, o francês Georges Bertrand buscou aprofundar a concepção acerca

do geossistema. Em sua abordagem, Bertrand (2004) buscou atrelar sua conceituação de

geossistema a condição taxonômica do relevo. Uma das abordagens sugeridas pelo autor

foi o GTP (Geossistema-Território-Paisagem). Conforme indica Ferreira (2010),

Bertrand considerava o geossistema enquanto uma porção territorial dotada de certa

homogeneidade fisionômica. No bojo desta discussão, Bertrand (2004, p. 146) define que:

53

O geossistema situa-se entre a 4ª e a 5ª grandeza temporo-espacial. Trata-se,

portanto, de uma unidade dimensional compreendida entre alguns quilômetros

quadrados e algumas centenas de quilômetros quadrados. É nesta escala que se

situa a maior parte dos fenômenos de interferência entre os elementos da

paisagem e que evoluem as combinações dialéticas mais interessantes para o

geógrafo. Nos níveis superiores a ele só o relevo e o clima importam e,

acessoriamente, as grandes massas vegetais. Nos níveis inferiores, os

elementos biogeográficos são capazes de mascarar as combinações de

conjunto. Enfim, o geossistema constitui uma boa base para os estudos de

organização do espaço porque ele é compatível com a escala humana.

Sobre a influência do paradigma geossistêmico no estudo da paisagem, Zacharias

(2008, p. 35) relata que:

O Paradigma Geossistêmico proposto por Sotchava (1960) e, posteriormente

por Bertrand (1977), que baseados nos princípios da TSG, trouxeram a

necessidade de se analisar a paisagem, de forma indissociável, pelas escalas

taxonômicas - ordem de grandeza em que se manifesta o fenômeno -, e escala

– espacial e temporal –, para a partir daí chegar à sua representação,

denominada como “Cartografia das Paisagens”.

Conforme apresentado, a paisagem denota um caráter sistêmico, a qual apresenta-

se enquanto resultado da interação dos diferentes elementos que a compõe. Do ponto de

vista reflexivo, é possível inferir que, diferentes dinâmicas territoriais também incidam

modificações (positivas ou negativas) na dinâmica de diferentes conjuntos paisagísticos,

como por exemplo, a atividade turística.

Na visão de Macedo (2002), a paisagem deve ser então considerada enquanto

produto e como um sistema. A ligação enquanto produto deve-se em função de

configurar-se enquanto resultado de um processo social de ocupação e gestão de território.

Já a paisagem enquanto sistema possui relação com a interligação dos elementos que a

compõe. Dentro desta concepção, o autor atribui a paisagem a três tipos de qualidade: a

ambiental, a funcional e a estética.

Sobre a evolução do estudo da paisagem na Geografia, Zacharias (2008) ressalta a

importância da Geografia Física, principalmente com ligação a Geomorfologia e a

Biogeografia, as quais suscitaram avanços nos estudos paisagísticos. Além disso, a

Geografia Física possibilitou ainda as primeiras representações cartográficas na tentativa

de análise das relações dos elementos que compõem as paisagens, buscando descreve-las

por meio de cenários gráficos.

Considerando a exploração das análises que podem ser realizadas a partir da

compreensão da paisagem, tais estudos ganham exponencial importância no

planejamento dos territórios. Entender a estrutura, relações e disposições da paisagem

apresenta-se como procedimento fundamental para compreender as potencialidades e/ou

54

limitações de tais conjuntos paisagísticos no desenvolvimento de diversos tipos de uso da

terra.

Corroborando desta ideia, Lacerda (2014) lembra que, a paisagem deve ser

considerada um elemento fundamental na abordagem dos territórios, uma vez que, a

paisagem dispõe de um arcabouço de informações que, aos poucos, traduz-se em políticas

territoriais, de maneira que, represente avanços significativos no diálogo entre gestores

territoriais e as comunidades locais.

Neste âmbito, conforme sugere a UICN (2011), para que haja um manejo e gestão

eficaz do território, é necessário atentar-se para parâmetros como: quantidade e qualidade

de água disponível; características dos solos; condições climáticas; densidade e condições

de usos da terra; limites exploratórios de fauna e flora no território em questão; dentre

outras variações dos elementos que compõem a paisagem. A partir do conhecimento

destas variáveis, é possível estabelecer uma significativa rentabilidade dos elementos em

questão, tanto do ponto de vista ecológico como econômico. Como exemplo de reflexão

acerca dos referidos parâmetros, UICN (2011, p. 21) aponta que:

Los porcentajes de espacios verdes o de carácter paisajístico suelen

expresarse en cantidad de vegetación disponible por habitante o en árboles

por ciudadano, y son uno de los principales indicadores de calidad de vida en

una ciudad. Por esta razón, el objetivo del manejo del paisaje no debe consistir

solamente en generar espacios agradables, sino también en cubrir una serie

de carencias ambientales.

Neste sentido, o planejamento norteado pela paisagem apresenta-se enquanto

instrumento eficaz na mediação das interações entre sociedade e geossistemas. Essa

orientação preconiza a determinação das condições ecológicas da paisagem,

possibilitando assim a diferenciação de sua gestão e, consequentemente, auxiliando na

organização territorial, tendo por base a interação entre a população local, representantes

econômicos e poder público (SEMENOV, 2017).

Pode-se considerar que, os estudos embasados na paisagem, podem auxiliar na

compressão das potencialidades e/ou fragilidades de um determinado território, dispondo

assim de argumentos e parâmetros que validem ou refutem as diversas dinâmicas

territoriais, sejam elas práticas de subsistência local, expansão urbana, inserção de

atividades agropecuárias, desenvolvimento turístico, dentre outras possibilidades. Assim

sendo, cabe ressaltar que o planejamento pode ter como foco diferentes vertentes, seja

para beneficiar os aspectos econômicos, a população local, aspectos ambientes, etc.,

cabendo assim um claro delineamento da finalidade de tal planejamento.

55

Nogué e Sala (2008) e Carré e Metailié (2007) acreditam que, os estudos sobre

paisagem estão se tornando cada vez mais um assunto de interesse geral, uma vez que,

auxilia em variadas políticas de ordenamento territorial, bem como em políticas setoriais

de caráter social, cultural e econômico, possibilitando assim oferecer a população local

um entorno atrativo, harmônico e com melhor qualidade de vida e sensação de bem estar.

Para Vieira (2014), a paisagem que, ora é referenciada como um cenário virtual, e

em outros momentos como identidade cultural, abarca uma grande diversidade de

significações a partir do enfoque empregado pelo pesquisador. Entretanto, ressalta-se que,

os estudos e projetos acerca da temática da paisagem têm sido desenvolvidos em função

do caráter contemplativo, na qualidade de vida e bem-estar humano, no planejamento

territorial e em função de normas e medidas de proteção estipuladas pelo poder público.

Neste sentido, considerando a importância da paisagem no planejamento territorial, a

autora op. cit. (p. 16) discorre que:

No planejamento do território a paisagem é importante porque, ao analisá-la,

constrói-se a evolução da história natural e cultural de um determinado

território, aspecto fundamental na percepção da especificidade de cada espaço

ao longo do tempo, com vistas ao seu desenvolvimento sustentado. A sua

compreensão implica no conhecimento de inúmeros fatores como a litologia,

o relevo, a hidrografia, o clima, os solos, a flora, a fauna, a estrutura ecológica,

o uso do solo e todas as expressões históricas e culturais da sociedade.

Ainda sobre a relação do território com a paisagem, Sanz e Alonso (1996, p.116)

indicam que:

El paisaje integra un conjunto de fenómenos naturales y culturales que se dan

en uma extensión de terreno. Por un lado, la estructura de las rocas y su

revestimiento vegetal y animal y, por otro, la aportación del elemento humano

y cultural constituyen los componentes esenciales del mismo. El paisaje es

considerado como un conjunto indisociable de todos esos elementos unidos a

um territorio. Dicho conjunto posee una estructura ordenada no reductible a

la suma de sus partes, sino que constituye un sistema de relaciones en el que

los procesos se encadenan; su aprehensión se realiza como un todo

(integración). Sus elementos constituyentes se interrelacionan,

condicionándose recíprocamente, de tal forma que su función sólo se concibe

dentro de un esquema dinámico integrado.

A importância dos componentes da paisagem e suas relações é compartilhada por

Rodriguez (1984), o qual indica que, os conhecimentos das ciências naturais no que

concerne a investigação de aspectos bióticos e abióticos que com estruturam a paisagem,

é fundamental na organização e apresentação de uma proposta de uso racional e proteção

dos territórios. Do ponto de vista da escala taxonômica, o autor op. cit. indica que, a

paisagem, de acordo com o nível de complexidade requerido na abordagem, pode ser

56

investigada em três níveis: planetário (conformado pela superfície geográfica como o

complexo territorial natural maior, como um todo), regional (se compõe de partes

complexas dos continentes e oceanos: países físico-geográficos, distritos, províncias e

regiões, os quais tem um caráter basicamente individual) e topológico ou local (unidades

elementares de caráter simples que compreende a “morfologia das paisagens”).

Desta maneira, ao proceder estudos acerca da categoria da paisagem, é necessário

estabelecer um nível escalar de abordagem, de maneira que, o nível de detalhamento seja

condizente com os resultados que vislumbram ser alcançados por meio das análises. A

concepção de níveis taxonômicos é abordada por diferentes estudiosos, tomando por

vezes diferentes parâmetros, fato que suscita que, cada pesquisador adote a vertente que

contemple de melhor modo seu objeto de estudo.

Sobre tal concepção, Rodríguez (1984), ao desenvolver estudos acerca da paisagem,

lembra que, a paisagem pode ser compreendida enquanto complexo geográfico natural,

denominação a qual possui aspecto sinônimo com termos como complexo físico-

geográfico, complexo natural territorial, complexo natural, geocomplexo ou complexo de

paisagem. Ambas denominações mantém relação com unidades territoriais naturais,

mantendo relação com seu tamanho e complexidade. Entretanto, o autor op. cit. chama a

atenção que, apesar de caracterizar-se como conjunto dotado de certa homogeneidade,

esses complexos podem sofrem com a influência de fatores externos, afetando assim no

auto desenvolvimento das paisagens, modificando e constituindo novas propriedades nos

complexos naturais, bem como possibilitando a perda de alguns traços característicos da

paisagem. Neste sentido, conceitos como desenvolvimento, dinâmica, funcionamento e

modificação, estão diretamente atrelados a transformação das paisagens enquanto

resultado da interação da sociedade e a natureza.

Assim sendo, percebe-se a importância da compreensão da paisagem com seus

respectivos usos, uma vez que, em função das possíveis dinâmicas territoriais impostas a

uma determinada paisagem, é possível que haja significativas alterações em sua estrutura.

Sobre tal assertiva, Rodríguez (1984) ressalta que, qualquer atividade propagada em um

determinado complexo natural (ou seja, um determinado conjunto paisagístico), sugere

uma cadeia de mudanças, isso deve-se a sua integridade e estreitas inter-relações dos

componentes que o forma. Tais alterações dependem em grande parte a fatores como o

tipo de atividade, sua continuidade e regime, suas propriedades e também as próprias

estruturas das paisagens envolvidas.

57

No tocante a possível modificação das paisagens, Rodríguez (1984) aponta três

diferentes elementos na formação das paisagens: relíquia, conservadores e progressistas.

Os elementos relíquia são aqueles que se mantém deste épocas passadas, apresentando-

se como herança das paisagens ao longo de seu desenvolvimento. Os elementos

conservadores que mais relacionam-se com as condições atuais da paisagem, definindo

sua estrutura. E por fim, os elementos progressistas ressaltam a dinâmica da paisagem,

sugerindo tendências para a continuidade do desenvolvimento das paisagens.

Prova da relevância dos estudos da paisagem no ordenamento territorial e gestão,

conservação e proteção dos diversos ambientes, Vieira (2014) lembra que, algumas

normativas foram desenvolvidas visando subsidiar tais prerrogativas, dentre elas, a

criação dos Doze Princípios da Carta Brasileira da Paisagem, no ano de 2010, por meio

da aprovação da portaria nº 127, de 30 de abril de 2009, de elaboração do Instituto do

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), medida a qual estabelece a chancela

das paisagens culturais brasileiras, atribuindo ativa participação dos membros da

Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP), organização a qual possui

filiação a Internacional de Arquitetos Paisagistas (IFLA). Além disso, conforme apontado

pela autora op. cit., outras normas e medidas de proteção do poder público brasileiro,

como a Lei 9.985/00, intitulada como Sistema Nacional de Unidades de Conservação da

Natureza, denotam a importância da paisagem ao longo dos territórios, de maneira a

apresentar suporte na proteção das paisagens naturais, com poucas alterações e com

notáveis índices de beleza cênica.

Na Europa, uma importante medida a respeito da paisagem foi tomada no ano de

2000, na cidade de Florença, na Itália, onde foi deliberada a Convenção Europeia da

Paisagem. Na ocasião, preocupados com o uso, exploração e acelerado processo de

transformação das europeias, o conselho europeu propôs políticas de gestão da paisagem

na Europa, de maneira que, a partir de diretrizes propostas no documento, os países que

aderissem as normativas, passaria a ter legislações especificas para o trato da paisagem,

auxiliando assim na gestão e ordenamento de suas paisagens (PINTO-CORREIA;

D’ABREU; OLIVEIRA, 2001)

No ato de sua atribuição, o Conselho da Europa (2000) atribui a Convenção

Europeia da Paisagem enquanto um instrumento de definições acerca da paisagem,

políticas da paisagem, qualidade paisagística, proteção, gestão e ordenamento da

paisagem, seja em paisagens naturais, urbanas, rurais e periurbanas, terrestres ou

aquáticas, cotidianas ou de caráter excepcional. Além disso, a convenção tem medidas

58

como a sensibilização do uso da paisagem, formação e educação, identificação e

avaliação paisagística, dentre outras medidas de proteção para as paisagens europeias.

Dito isto, nota-se que, apesar da legislação brasileira dispor de mecanismos que

visem a gestão e proteção dos diversos ambientes no Brasil, ainda não há um instrumento

específico no trato das paisagens, necessitando assim que, cada vez mais pesquisas

venham a ser desenvolvidas neste âmbito, de maneira que, facilite e sirva de base para a

compreensão destas paisagens e, consequentemente, auxiliando na gestão e uso dos

territórios.

Diante das perspectivas elencadas acerca das abordagens que perpassam a temática

da paisagem, Souza (2019) ressalta que, independentemente de tais variações, faz-se de

suma importância a compreensão desta categoria como um conceito operativo na

Geografia, seja por parte de professores, pesquisadores ou planejadores envolvidos nessa

área de conhecimento. Sob tal assertiva, o autor op. cit. (p. 9) cita que “É muito difícil

que uma problemática estudada pela Geografia não se manifeste no espaço através de

alguma paisagem, ou seja, alguma expressão visual/estética dos eventos constituídos na

interface sociedade-natureza”.

Nesta concepção, os aspectos que se destacam e norteiam as bases das investigações

das paisagens sul-mato-grossenses são os diferentes arranjos litológicos das paisagens, os

quais, consequentemente, influenciam nas formas de relevo, nos tipos de vegetação

nativas e nos diferentes usos da terra dispostos ao longo do território de Mato Grosso do

Sul.

1.2 Concepções acerca de beleza cênica e qualidade visual das paisagens

Conforme apresentado até o momento, a paisagem enquanto categoria analítica,

pode ser designada a compreender diferentes aspectos, podendo ser relacionada com

diferentes fenômenos. Dentre tais possibilidades, uma das características que mais se

destaca nos estudos paisagísticos é sua aparência visível, ou seja, a configuração final que

está posta como resultado das relações dos diferentes elementos que as compõem.

De fato, não se deve ignorar os processos e relações que são estabelecidos e que

acarretam na configuração final das paisagens, entretanto, a “simples” configuração

visual destas paisagens podem ser determinantes no desenvolvimento de diversas

atividades, como por exemplo, o turismo. Assim sendo, alguns estudos privilegiam a

59

investigação da qualidade visual das paisagens, de maneira que, por meio de

metodologias específicas, seja possível desenvolver tais aferições das diferentes

paisagens.

Nesta concepção, Vieira (2008) destaca a categoria analítica da paisagem do ponto

de vista perceptivo e enquanto elemento cênico. Assim sendo, o autor aponta a paisagem

enquanto conjunto a ser contemplado, ou seja, como uma unidade panorâmica capaz de

despertar o desejo de seu usufruto e, consequentemente, sendo passível a ser utilizada

como objeto de consumo, como por exemplo, pelo turismo. Para Silveira (2014), a

paisagem apresenta-se como o primeiro contato do turista com o lugar turístico, de

maneira que, a atratividade do local se dá em função da visão empreendida a uma

determinada paisagem.

No que tange a percepção e valorização da paisagem pela atividade turística,

Silveira (2014, p. 65, 66) indica que estas podem levar em consideração sua capacidade

enquanto espaço-suporte das práticas turísticas, sua relevância enquanto espaço visível e

ainda como espaço de representação simbólica:

A paisagem pode ser percebida e valorizada como espaço-suporte das práticas

turísticas quando os turistas se apropriam dos lugares de notável beleza cênica,

como espaços naturais (parques e áreas naturais em geral, protegidas ou não),

lugares míticos e/ou históricos (rotas e caminhos religiosos, sítios

arqueológicos e outros).

A paisagem pode ser percebida e valorizada como espaço visível – a vista de

um lugar, um ambiente para descanso e relaxamento ou de encantamento para

o turista. Uma paisagem notável (na praia, na cidade ou no campo) provoca

aumento no valor de uso de um lugar (estético e econômico) – por exemplo,

quando o quarto do hotel está voltado para uma bela vista.

A paisagem pode ser percebida e valorizada como espaço de representação

quando apresenta um caráter exclusivamente simbólico e pode representar um

elemento cultural ou outro aspecto que identifica o lugar; dito de outra forma,

a paisagem pode ser vista como uma marca do lugar. Nesse caso, ela é uma

porção do espaço turístico consumida como um “produto” e, ao mesmo tempo,

percebida como um objeto que revela a identidade cultural do lugar, como

produtos industriais (cristais, cosméticos, automóveis etc.) gastronomia típica

e produtos agrícolas com valor altamente simbólico (vinho, queijo etc.).

Assim sendo, Guedes (1999) ressalta a importância do estudo crítico do turismo

acerca da valorização da paisagem, a percepção da qualidade paisagística, a maneira

como o homem interage paisagem, as transformações do espaço, a postura ambiental

enquanto produto cultural e a construção da imagem do lugar. Todos estes nuances que

compreendem as paisagens são utilizados pelo marketing turístico na produção de

imagens que seduzam os potenciais turistas, como exemplificado na figura 7, a qual

demonstra a valorização imagética a partir de elementos como ângulo, horário e escala

60

de captura fotográfica podem valorizar paisagens como instrumentos de comercialização

turística, como neste registro do pôr-do-sol na Serra do Amolar, Corumbá-MS. Estas

imagens as quais criam o ideário de lugares distantes e exóticos, que congregam a

materialização dos desejos dos diferentes indivíduos.

Figura 7 - Entardecer na Serra do Amolar, em Corumbá-MS

Autor: LIMA, 2019

Entretanto, em muitos casos, principalmente na atividade turística, a qualidade

visual é vista como sinônimo de beleza cênica, fato o qual, apresenta-se de maneira

conflitante no que tange ao rigor científico na avaliação desta qualidade visual das

paisagens, visto que, a expressão “beleza cênica” denota uma relativa carga de

subjetividade e que, consequentemente, implica na consideração de juízo de valores,

descaracterizando a proposta de uma metodologia aplicável a diferentes casos de maneira

igualitária. Diante desta consideração, discorre-se a seguir sobre as terminologias “beleza

cênica” e “qualidade visual”, visando assim, estabelecer um comparativo destas

expressões e, justificar o uso do termo “qualidade visual da paisagem” ao longo da

pesquisa.

Do ponto de vista da contemplação, a paisagem geralmente é relacionada como um

local dotado de relevante beleza cênica, abarcada pela memória enquanto cenário de

61

alguma experiência aprazente. Neste contexto, a relação da paisagem com uma imagem

ou recordação é praticamente indissociável. No Brasil, os locais dotados de grande beleza

cênica se estabelecem enquanto patrimônio turístico nacional, atraindo diversos turistas

que buscam “admirar suas belezas”. Além da sensação de admiração ao belo, a raridade

da paisagem também se apresenta enquanto fator decisivo na atração de turistas,

possibilitando a valorização local, a geração de rendas diretas e indiretas (VIEIRA, 2014).

Sobre tal importância na relação da beleza cênica com determinados territórios,

Vieira e Verdum (2019) ressaltam esta condição diretamente relacionada com o

planejamento e gestão ambiental de tais locais, de maneira que, a beleza cênica passa a

ser utilizada como um dos parâmetros validadores das medidas de proteção e preservação

de certas paisagens, principalmente no âmbito da biodiversidade, dos hábitats e

ecossistemas. Ainda de acordo com os autores, tais medidas podem fomentar para além

da conservação, preservação e restauração do patrimônio natural/cultura, trazer

benefícios também nos âmbitos econômico e cultural. Os autores op. cit. (p. 15) citam

que “A beleza cênica foi um dos fatores determinantes para a criação de áreas territoriais,

especialmente protegidas e parâmetros de indicação para a criação de um patrimônio

cultural, e ainda permanece”.

É importante ressaltar que, conforme indica Vieira (2014), discorrer sobre o termo

belo perpassa pelo levantamento teórico de duas vertentes: o belo natural e o belo

artístico. Esse dualismo mantém relação intrínseca, uma vez que, a paisagem pode ser

considerada como uma simbiose entre natureza e sociedade humana, a qual deve ser

resguardada não apenas por suas características culturais e física, mas também por sua

condição estética.

Para Vieira (2014) a terminologia do belo foi aplicada nas paisagens europeias,

onde, teve intrínseca relação com a criação de jardins. A sublimidade das paisagens era

explicada por meio das manifestações da natureza e sua relação/enquadramento enquanto

pinturas. Essa contemplação pitoresca é recorrente do século XVIII, e permanece até os

dias atuais, considerando que, a venda de folhetos, fotos de calendários e cartões postais

nas lojas de souvenir e empresas turísticas representam a afeição das pessoas as paisagens

dispostas nestas gravuras.

Sobre a compreensão da beleza cênica das paisagens, Vieira (2014) discorre que:

“Reconhecer a beleza cênica de um lugar significa identificar e respeitar as suas

propriedades estéticas formais e estruturais marcadas pela harmonia e pela sua

historicidade”. Na concepção de Vieira et. al. (2018), a beleza cênica da paisagem insere-

62

se no contexto de propiciar sentimentos ou sensações agradáveis ao seu observado, tais

como o prazer, deleite, satisfação, tranquilidade, paz de espírito, dentre outras variações.

A respeito dessa concepção, os autores op. cit. (p. 17) lembram que:

A beleza cênica da paisagem é a identidade estética quando o espaço se

transforma em lugar, devendo ser lida nas suas concepções ontológica

(essência e qualidade), estética (modo de apreciação e valoração) e ética

(possibilidades e limites do agir e de conservar no seu conjunto paisagístico).

Reconhecer a beleza cênica de um lugar significa identificar e respeitar as suas

propriedades estéticas formais e estruturais marcadas pela harmonia e pela sua

historicidade. É o espaço cênico de observação da paisagem. Caracteriza-se

por ser o local central do olhar do observador ao fazer a leitura de uma

paisagem, ou seja, é o cenário com propriedades estéticas formais e estruturais

marcadas pela harmonia, proporção, luminosidade e equilíbrio.

Pode se dizer assim que, a beleza cênica, mantém uma relação íntima entre

sensações despertadas em seu observador a partir das relações estabelecidas com a

paisagem em questão, de maneira que, estas sensações podem variar ao comparar a

percepção obtida por outro sujeito. Neste sentido, é possível compreender que,

estabelecer o sentido daquilo que possui ou não uma beleza cênica, é passível de uma

análise com alto grau de subjetividade, ou seja, que depende da percepção de seu

observador, não sendo estabelecida como um padrão para todos.

Outro fato destacado por Tuan (1980) são os diferentes olhares empreendidos a

paisagem por visitantes e nativos. Enquanto o visitante possui um olhar mais superficial,

criando uma espécie de quadros individualizados de visão pautados na individualização

de aspectos visíveis da paisagem, o nativo, por sua vez, empreende uma visão mais

complexa, subsidiada por suas relações mais próximas com a totalidade de seu meio

ambiente em que vive. Em suma, pode-se dizer que a visão do visitante é

substancialmente estética, julgando as paisagens visitadas por sua aparência, atribuindo

seu juízo de valor a partir de algum critério de beleza. Neste âmbito, para que o visitante

ultrapasse a avaliação puramente estética, lhe é exigido um esforço adicional, a fim de

estimular uma compreensão mais aguçada acerca da complexidade que envolve uma

determinada paisagem. Em suas reflexões, o autor op. cit. (p. 107) discute tais relações

do observador e paisagem a partir do conceito de topofilia:

A palavra "topofilia" é um neologismo, útil quando pode ser definida em

sentido amplo, incluindo todos os laços afetivos dos seres humanos com o meio

ambiente material. Estes diferem profundamente em intensidade, sutileza e

modo de expressão. A resposta ao meio ambiente pode ser basicamente

estética: em seguida, pode variar do efêmero prazer que se tem de uma vista,

até a sensação de beleza, igualmente fugaz, mas muito mais intensa, que é

subitamente revelada. A resposta pode ser tátil: o deleite ao sentir o ar, água,

63

terra. Mais permanentes e mais difíceis de expressar, são os sentimentos que

temos para com um lugar, por ser o lar, o lócus de reminiscências e o meio de

se ganhar a vida.

As formas como as pessoas percebem e avaliam uma determinada paisagem podem

ser variadas. Um mesmo conjunto paisagístico pode apresentar realidades totalmente

diferentes quando observado por duas pessoas. Mesmo a partir da delimitação de dois

grupos sociais homogêneos seria diferente encontrar um consenso de todos os seus

participantes. Da mesma forma, a própria visão científica liga-se a alguma linha cultural

de pensamento, a qual está inserida em um grande leque de outras linhas de pensamento,

ou seja, também é influenciada por algum viés interpretativo (TUAN, 1980).

Tal afirmação converge com as ideias de Gomes (2001, p. 56), a qual indica que, a

representação da paisagem é fruto do olhar empreendido pelo indivíduo observador, este

que, por sua vez, é influenciado por condições fisiológicas, psicológicas, socioculturais e

econômicas. Neste sentido, cada indivíduo é capaz de organizar seu próprio mosaico de

paisagens dotados de seus respectivos significados particulares a sua percepção:

Esses mosaicos, como puzzles, são representações do existente ou do ansiado

para determinado espaço, apreendidos segundo determinada perspectiva. É

sabido que o espaço comporta coexistências que nem sempre são capturadas

ou valorizadas no recorte da paisagem efetuado, dependente desses filtros bem

como dos interesses que regem as representações.

Sobre tal assertiva, Cauquelin (2007) relaciona a percepção da beleza cênica dada

por um observador com uma contemplação de um quadro, o qual teria nos limites de sua

moldura as restrições culturais deste indivíduo, limitações as quais induzem o sujeito a

determinar aquilo que é feio ou belo em uma determinada paisagem, ou seja, ao avaliar a

beleza cênica de uma paisagem não tratamos de um olhar inocente, mas sim de um olhar

imbricado de valores culturais. Ainda de acordo com a autora op. cit. (p. 32) “[...]a

paisagem já está ligada a muitas emoções, a muitas infâncias, a muitos gestos e, parece,

sempre realizados”.

Se vamos ao campo, ao mar ou à montanha esperamos “desfrutar” a paisagem.

Estamos na expectativa de uma satisfação, mas não sabemos exatamente se

essa expectativa será preenchida e, o que é mais determinante, não sabemos

nem mesmo com o que ela poderia ser preenchida. Designamos isso,

vagamente, de “amor”: amamos, não amamos, preferimos, detestamos esse ou

aquele pedaço de natureza... por amor à natureza em geral. Porque estamos

felizes, pacificados, confiantes, embevecidos ou decepcionados diante do

espetáculo de uma paisagem. Claro que podemos invocar nossos humores,

nossos gostos, nossos caprichos: “Amo o mar, detesto montanha, o campo me

entedia, é muito vasto, muito sombrio, muito...”. Podemos também evocar

nossa infância, o apego a certas paisagens, o rio, as colinas, as lembranças

64

felizes-infelizes, para explicar a nós mesmos nossos sentimentos

(CAUQUELIN, 2007, p. 116).

Ainda sobre a variabilidade da percepção do indivíduo observador da paisagem

indica-se que:

O que causa ou impede a satisfação bem pode ser, à primeira vista, da ordem

de um estado de humor, de matiz psíquico: “Não tem condições de ver

monumentalidades, desejo ver algo de repousante, quero ir para o meio do

mato...”. A “intenção” de repousar, de se mexer e de desfrutar paisagens tem

múltiplas causas na vida social e individual. Poderíamos procura-las sem a

certeza de chegar a encontrar a resposta (CAUQUELIN, 2007, p. 117).

Conforme Tuan (1980) discorre, a percepção do ser humano com relação a

natureza/paisagem pode variar em função de diferentes aspectos. Seja por sua concepção

cultural, seja por sua diferença de sensibilidade dos sentidos, seja em função de variação

de idade, ou até mesmo pelas diferenças físico/biológicas entre homens e mulheres. Neste

sentido, não se pretende aqui estabelecer um modelo engessado e único que uniformize

todas as formas de percepção da paisagem, mas sim que, seja possível estabelecer alguns

parâmetros que facilitem as percepções que permeiam os diferentes aspectos/variáveis

apontadas pelo autor.

Também é importante ressaltar que o objetivo não é desprezar os valores atribuídos

pelo observador a paisagem em questão, mas sim que, seja possível estabelecer um

modelo de observação paisagística que permita aferir variáveis comuns, como por

exemplo, os níveis de alterações antrópicas, a variedade de elementos da paisagem, a

singularidade dos elementos encontrados no conjunto paisagísticos, etc.

Reconhecer as preferencias ambientais de um indivíduo perpassaria, portanto, pela

análise de sua herança biológica, criação, educação, trabalho e entorno físico. No que

tange as atitudes e preferencias sociais, seria necessário conhecer sua história cultural e

suas relações em grupo no âmbito de seu ambiente físico. Ainda assim, dificilmente seria

possível determinar nitidamente os estímulos que propiciaram uma determinada

avaliação acerca de um conjunto paisagístico (TUAN, 1980).

O processo de percepção da beleza cênica da paisagem enquanto bela ou feia

perpassaria então por três etapas: procedimento (tentativa de exercer uma percepção

estética), representação subjetiva (etapa a qual corresponde a expressão de sentimentos

expressos pela paisagem) e representação objetiva dos sentimentos (ou seja, corresponde

de fato as sensações absorvidas e expressas pelo observador). Essa condição do

observador em avaliar um determinado objeto ou cenário de maneira positiva ou negativa

65

é influenciada por diversos aspectos como: conhecimento adquirido e acumulado, as

experiências vividas e registradas pela memória humana, as percepções desenvolvidas,

bem como em função das construções de imagens mentais. Desta maneira, a definição de

beleza configura-se enquanto uma percepção estética estimulada por um conjunto de

propriedades estéticas de um objeto, a qual estabelece uma experiência agradável ou não

para seu observador, compreendidas por meio dos sentidos humanos, estimulados por

propriedades formais e estruturais como: harmonia, proporção, ordem, claridade, textura,

cor e integridade (VIEIRA et. al., 2018).

Percebe-se então que, a construção individual daquilo que é belo ou não leva em

consideração as experiências acumuladas ao longo da história do observador, de modo

que, uma relação mais próxima ou mais distante deste para com as características de

diferentes objetos, permite uma construção particularizada na avaliação positiva ou

negativa de uma paisagem, dificultando assim o estabelecimento de uma uniformidade

no juízo de valor a respeito da beleza cênica das diferentes paisagens as quais podem ser

observadas.

Acerca de tal fato, Souza (2019) destaca as experiências do observador como fato

determinante na associação daquilo que é relacionado com o belo ou não, uma vez que,

uma experiência que tenha sido agradável passa a ser alvo de repetição, enquanto fatos

desagradáveis evitam-se vivenciar novamente, fato que permite julgamentos como: o

bom, o mau; o belo, o feio; o prazer, o suplício; o vulgar, o sublime.

Ainda sobre a importância do observador na interpretação da beleza das paisagens,

Souza (2009, p. 57) ressalta a relevância deste indivíduo para tal ação, uma vez que “não

há espetáculo vazio de público”. Neste sentido, desde que não haja risco eminente, o

observador pode ter uma reação de contemplação e admiração de um determinado

fenômeno natural em detrimento a sentimentos como medo e repulsa. Neste sentido, o

autor op. cit. (p.57) cita que:

[...] Enquanto parte do público, o observador da dinâmica aterradora do

vulcão, da tempestade ou do mar turbulento, sem correr o risco de ser tragado

por esses fenômenos, por certo será marcado muito mais pela

admiração boquiaberta e não pelo temor desesperado.

Assim sendo, a paisagem é tomada como a expressão estética da natureza, a qual

pode ser associada a uma condição prazerosa ou não. A paisagem assim, a depender do

estado de equilíbrio ou desequilíbrio de seus elementos, pode suscitar o juízo de valor do

66

indivíduo observador acerca de sua bela ou sublimidade daquilo que se considera natural

(SOUZA, 2009).

Ao discorrer sobre o belo, Nohl (2001) indica que este termo estético fica

gradativamente mais no passado, considerando que, cada vez mais, a motivação de um

observador para aquilo que é belo ou não, está imbricada em uma vasta possibilidade de

categorias estéticas, as quais, certamente mantém uma íntima relação com as orientações

de valores predominantes em um determinado momento e em uma determinada

sociedade, ou seja, há uma variação considerável do que é belo ou não e, em que momento

é belo ou não. Em acordo ao exposto, o relato de Vieira e Verdum (2019, p. 15) confirma

tal assertiva:

As belezas cênicas das paisagens possuem importância em nível social,

cultural, histórico, econômico e ecologicamente. Muitas delas, ao lembrar o

passado, fortalecem o sentimento identitário; conectam as pessoas à natureza

e ao universo; produzem qualidade de vida e bem-estar social, relaxamento,

paz interior e elevação espiritual; por serem reais, são independentes de

qualquer convenção, possuem valor intrínseco, seja financeiro, seja utilitário;

apresentam atributos raros, elementos singulares da natureza; são permeadas

de cultura, contribuindo na reprodução social e no modo de vida das

comunidades.

Por outro lado, Vieira (2014) faz menção a “qualidade estética da natureza”, a qual

a autora indica esta como uma condição provisória, podendo ser compreendida

diferentemente em função de seu contexto, a partir de particularidades estabelecidas, uma

vez que, as formas da natureza possibilitem um domínio para o exercício da imaginação.

Assim, ao compreender as qualidades visuais das paisagens, seria possível criar ou

estabelecer funções as mesmas.

Na busca pela interpretação da paisagem, seja no aspecto físico ou visual, é

importante considerar para além de seus aspectos naturais, conforme indica Vieira (2014),

uma vez que, dificilmente é possível encontrar espaços naturais intocados, de maneira

que, de uma forma ou outra, a paisagem sempre estará impregnada pela história e,

consequentemente, se vê imersa em um entorno tecnoindustrial. Conforme ilustrado na

figura 8, ainda que a natureza se apresente como elemento predominante na paisagem,

ainda sim haverá elementos advindos de modificações humanas, seja na dinâmica

territorial (pastos, cultivos, etc.), construção de redes viárias, estrutura de rede elétrica e

de comunicações, dentre outros, fatos que podem ser evidenciados, por exemplo, na Serra

de Maracaju, Piraputanga-MS. Em sua definição, Vieira et. al. (2018, p. 18) indicam que:

67

A qualidade visual é a propriedade de qualificar os elementos visuais e

espaciais da paisagem, pois a combinação desses elementos cria qualidades

estéticas similares, permitindo a identificação de unidades paisagísticas por

parte do observador. Essa qualidade é de grande importância para o

planejamento da gestão dos territórios, para identificação e proteção dos

recursos cênicos, elaboração de planos de desenvolvimento turístico e para a

avaliação de impactos visuais e ambientais gerados pela implantação de

projetos arquitetônicos e outros empreendimentos que venham a intervir nessa

qualidade.

Figura 8 - Estrada cortando a paisagem da Serra de Maracaju, Piraputanga-MS

Autor: LIMA, 2019

A qualidade visual da paisagem é um tema que apresenta um crescente interesse da

sociedade, uma vez que, passou-se a perceber que esta condição está atrelada a qualidade

de vida da população, principalmente em relação a sua saúde e bem estar. Assim sendo,

a consciência da sociedade e dos governantes no quesito qualidade visual da paisagem,

tem estimulado um maior interesse e disponibilidade em fomentar estudos e metodologias

sobre o tema. Passa-se então cada vez mais a incluir e relacionar a qualidade visual das

paisagens nas tratativas acerca da conservação, gestão e planejamentos paisagísticos

(MENDES, 2010).

A qualidade visual seria então, uma ferramenta importante na gestão territorial,

possibilitando a identificação e proteção de recursos cênicos, auxiliando no planejamento

do desenvolvimento turístico, bem como no suporte para a avaliação de impactos visuais

e ambientais advindos da estruturação de projetos arquitetônicos e/ou outros

68

empreendimentos que vislumbrem alterar a qualidade visual destas paisagens (VIEIRA,

2014).

Considerando os estudos de qualidade visual como uma ferramenta de gestão

territorial, estes possibilitariam uma melhor compreensão de processos que, cada vez

mais, interferem positiva ou negativamente a qualidade visual das paisagens, tais como a

agricultura, instalações de engenharia em larga escala, mastros de rádio, usinas eólicas,

estradas, dentre outras intervenções (NOHL, 2001).

Destarte, as análises de qualidade visual das paisagens podem ser tomadas como

relevantes não apenas em estudos ligados ao Turismo, mas sim a diferentes vertentes que

possuam ligação com tais configurações paisagísticas, bem como na perspectiva de

avaliação do bem estar das comunidades locais que convivem diariamente com tais

conjuntos.

Para Vieira et. al. (2018), a forma mais simples de estabelecer uma avaliação da

qualidade de uma paisagem perpassaria por uma concepção daquilo que se considera

bonito/feio, entretanto, outros parâmetros podem ser utilizados para realizar tal aferição,

tais como: ordem, integridade, diversidade, singularidade, a raridade, a irreversibilidade,

a pureza e a representatividade, variáveis as quais, necessitam de técnicas de maior

precisão e que dispendam de maior poder analítico.

Propor uma análise da qualidade de uma paisagem para além da dicotomia entre o

belo e o feio pode auxiliar na redução da carga subjetiva da análise, ou seja, possibilita

evitar que, valores e avaliações exclusivamente pessoais do avaliador incidam juízos de

valores sobre um determinado conjunto paisagístico. É claro que, é quase que impossível

reduzir tal subjetividade a zero, entretanto, esta tentativa busca estabelecer parâmetros

que ofereçam suportes de análises mais objetivas possíveis.

Cabe ressaltar que, em suma, do ponto de vista do turista, há uma grande relação

das paisagens turísticas com a subjetividade, muitas vezes estimuladas por filmes,

propagandas, novelas, dentre outras construções de subjetividades. Entretanto,

considerando esta investigação científica, acredita-se ser importante o estabelecimento de

critérios que permitam uma melhor aferição dos elementos que compõem as paisagens e,

consequentemente.

Acerca dessa tentativa de reduzir a subjetividade da ponderação da qualidade visual

da paisagem, Lothian (1999) indica que, uma das possibilidades utilizadas por

planejadores, geógrafos e outros que buscam esse tipo de avaliação é o desenvolvimento

de mapeamentos e classificações desta qualidade visual assim como o tratamento dado

69

aos componentes que estruturam a paisagem, como os solos, acidentes geográficos ou

vegetação. Nesta tratativa, são elencados elementos que, por critérios previamente

estabelecidos, denotariam maior ou menor qualidade visual (por exemplo, que montanhas

e rios têm alta qualidade de paisagem).

Obviamente, o próprio ato da determinação de classificações e a construção de

mapeamentos carreguem em si uma certa subjetividade, entretanto, tais procedimentos

permitem, não a eliminação total da carga subjetiva, mas sim uma compreensão e

detalhada e ordenada das informações que compreende o objeto estudado, neste caso, das

paisagens.

Tomando como parâmetro conjuntos montanhosos e diversidade hídrica como

elementos determinantes na escala de alta qualidade visual, a faixa da Serra de Maracaju

(em Piraputanga-MS) que é acompanhada pelo rio Aquidauana, pode ser relacionada

enquanto área com relevante grau de qualidade visual, conforme observado na figura 9.

Assim, as paisagens teriam suas classificações qualitativas atreladas a uma escala

numérica ou classificadas enquanto detentoras de alta, média ou baixa qualidade. Em

suma, esse tipo de abordagem pressupõe que a qualidade da paisagem é uma característica

que pode ser avaliada de maneira semelhante suas características físicas. Para tal

avaliação física, Siefert e Dos Santos (2016) indicam que, esta seria realizada em função

do estabelecimento de chaves de interpretação (parâmetros) e, materializada em

mapeamentos, simulações e classificações numéricas.

Figura 9 - Rio Aquidauana cortando a Serra de Maracaju em Piraputanga-MS

Autor: LIMA, 2019

70

Uma abordagem alternativa ao paradigma objetivista ou físico da qualidade visual

da paisagem é o método psicofísico, o qual, utiliza das preferências de uma determinada

comunidade na compreensão do que é tido como qualidade geral da paisagem, medindo

suas preferências sem a influência do pesquisador. Nessa perspectiva, a comunidade em

questão referencia-se a tais paisagens a partir dos significados que estes elementos

paisagísticos representam para este grupo, seja em função de seu uso econômico, seja por

seus usos sociais, por práticas culturais ou ainda por seus ideais conservacionistas.

Nota-se então em paradoxo entre as visões objetivista/físico e

subjetivista/psicofísico da qualidade visual da paisagem indica que, enquanto uma

vertente indica que a qualidade paisagística possui relação com sua estrutura de maneira

objetiva, a outra indica que esse aspecto qualitativo está relacionado com seu espectador

(LOTHIAN, 1999). Sobre o uso de métodos objetivos, Tabacow e Xavier Da Silva (2011)

ressaltam a importância destes, uma vez que, facilitam o apoio a tomada de decisões,

considerando que, dispõem de informações valiosas acerca das paisagens, de maneira

que, particularmente, a visibilidade apresenta-se enquanto uma importante ferramenta de

análise.

Sobre as formas de abordagem acerca da qualidade visual da paisagem, Nohl (2001)

lembra que esta, enquanto objeto caracterizado por sua aparência externa, possibilita que,

diferentes níveis de compreensão sejam imprimidos em sua análise. Na visão do autor op.

cit., existe quatro níveis os quais o observador pode extrair informações ou conhecimento

da paisagem: perceptivo, expressivo, sintomático e simbólico.

O nível perceptivo estaria ligado a obtenção de informações por parte do observador

por meio dos sentidos, tais como a visualização, audição e olfato. Já o nível expressivo

consiste na associação de sentimentos e emoções do observador ao perceber os elementos

e estruturas da paisagem, ampliando assim a concepção subjetiva do indivíduo. O nível

sintomático consiste na compreensão da paisagem de maneira sistêmica, ou seja, na

interligação dos elementos, compreendendo a correspondência entre eles. E por fim, o

nível simbólico, mantém intrínseca relação com imagens utópicas e imaginação da cabeça

do expectador, de maneira que, cada paisagem pode simbolizar diferentes reflexões para

cada observador. De maneira geral, os níveis perceptivo e sintomático conjuntamente

contribuem para uma acepção narrativa da paisagem (informação estética com referência

a paisagem factual), enquanto os níveis expressivo e simbólico mantêm relação com a

71

poética função da paisagem (informação ligada às especificidades do expectador)

(NOHL, 2001).

Considerando os níveis de compreensão da paisagem propostos por Nohl (2001), a

investigação da qualidade visual das paisagens de Mato Grosso do Sul perpassa pelos

níveis perceptivo e sintomático, os quais apresentam uma concepção menos subjetiva

acerca da interpretação da paisagem, de maneira que, por meio da interpretação visual e

da análise da relação dos elementos da paisagem, seja possível qualificar os diferentes

níveis de qualidade encontradas nas paisagens sul-mato-grossenses.

Ainda a respeito da qualidade visual da paisagem, Hehl-Lange (2001) lembra que,

o planejamento e gestão dos elementos que constituem a paisagem constituem estratégias

fundamentais no valor visual e ecológico de uma determinada área, neste sentido, os

planejadores da paisagem possuem ferramentas para melhorar ou manter a qualidade

visual de determinados conjuntos paisagísticos. Considerando tal premissa, a Geografia

enquanto ciência que possibilita análises e reflexões acerca do planejamento do espaço

terrestre, possui fundamental importância na compreensão e gestão da qualidade visual

das paisagens.

Apesar das concepções e contradições entre “beleza cênica” e “qualidade visual da

paisagem”, Vieira (2014) lembra que, são inúmeras as metodologias que possibilitam ler,

descrever e interpretar as paisagens, cabendo ao pesquisador identificar a melhor forma

de abordagem perante os objetivos que lhe são peculiares.

Tendo por base as considerações tecidas até aqui, é possível discorrer que há

diferenças entre avaliar algo como belo/feio e algo com alta ou baixa qualidade.

Exemplificando, pensemos em dois carros: um desenvolvido por uma grande montadora

automobilista, e um segundo carro montado por uma empresa de menores recursos. Ao

analisar a beleza dos carros, é muito possível que se afirme que aquele modelo

desenvolvido pela empresa menos conhecida seja até mais bonito que o outro. Porém ao

analisar a qualidade dos carros, percebe-se que a partir de determinados parâmetros

(durabilidade das peças, conforto, segurança, potência, etc.) o carro da grande montadora

supera em nível qualitativos seu concorrente.

A partir dessa reflexão, é necessário deixar claro que não se pretende eliminar a

subjetividade da análise dos ícones de paisagem, mas sim criar parâmetros objetivos que

permitam identificar as variáveis que compõem um determinado conjunto paisagístico e,

desta maneira, possibilite utilizar tais aferições em processos de planejamentos territórios,

como por exemplo, o desenvolvimento do Turismo.

72

No caso dos ícones de paisagens de Mato Grosso do Sul, a condição cênica de suas

paisagens é tida como condição central nas discussões que envolvem o desenvolvimento

turístico do estado. Destarte, a definição de parâmetros claros de avaliação de qualidade

visual da paisagem apresenta-se como condição sine-qua-non para desenvolver

compreensões das paisagens sul-mato-grossenses para além do olhar estritamente

subjetivo entre o que é “belo ou não”.

1.3 A análise física e visual das paisagens e sua importância na atividade turística

As paisagens, enquanto materialização de um complexo conjunto de elementos que

interagem entre si, se estabelece enquanto diferentes configurações paisagísticas ao longo

dos diversos territórios. Assim sendo, a estrutura destas paisagens permite que, seja

possível elencar possibilidades de diferentes usos ao longo de sua extensão. Dentre tais

usos, dois aspectos podem ser apresentados como determinantes na delimitação de tais

dinâmicas: sua concepção física e visual. Para essa compreensão estrutural da paisagem,

Tabacow e Xavier da Silva (2011, p. 41) indicam que:

O conhecimento físico do território que abrange os ambientes em estudo, com

a reunião e utilização de toda a informação disponível, aí incluídos os eventos

passados naturais ou históricos que influíram nas características atuais, é

condição primordial, o ponto de partida para a compreensão dos fenômenos e

processos que ali estão ocorrendo.

A construção civil, o desenvolvimento turístico, a expansão agrícola/pecuária,

dentre outras atividades, remetem intrínseca relação no planejamento de suas atividades

com a disposição das diferentes paisagens no território, de maneira que, a morfologia

física e visual destas podem ser determinantes enquanto potencializadores ou limitadores

no desenvolvimento de tais dinâmicas.

Nesta perspectiva, Raimundo (2011) indica que, no trato de questões ambientais,

analisar a paisagem possibilita um estudo integrado de componentes ligados ao meio

físico (relevo, rochas, clima, recursos hídricos) e biológicos (fauna e flora). Tal

abordagem sistêmica permite, além do estudo da localidade em questão, também suas

conexões com os demais ambientes de seu entorno. Tal abordagem apresenta-se como

uma eficiente maneira de observar os limites da natureza em suportar determinadas

interferências. Destarte, diferentes níveis de potencialidades para o desenvolvimento de

73

atividades, como o turismo, por exemplo, podem ser elencados nas referidas áreas de

estudo.

Ao definir uma metodologia de investigação da paisagem, Mendes (2010) indica

ser necessário a definição de parâmetros de avaliação, de maneira que, tal percurso seja

condizente com os objetivos e finalidades previstos no estudo em questão. Além disso, é

essencial ainda a compreensão das características que irão ser consideradas,

possibilitando selecionar quais propriedades da paisagem irão garantir uma avaliação com

maiores graus de confiabilidade na pesquisa. Ou seja, em função dos resultados

esperados, alguns elementos que compõem a paisagem podem apresentar maiores ou

menores pesos na avaliação paisagística.

Assim sendo, neste trabalho, tratando mais especificamente da atividade turística,

faz-se importante compreender de que maneira a morfologia física e visual das paisagens

podem ser abordadas de maneira a auxiliar na compreensão da ligação entre tais

configurações paisagísticas com o segmento do Turismo de Natureza no Estado de Mato

Grosso do Sul.

Não obstante, Mendes (2010) ressalta a importância do uso de Sistemas de

Informação Geográfica (SIG) em investigações que envolvam a temática da paisagem,

uma vez que, está se apresenta como uma relevante ferramenta a ser utilizada no

planejamento e gestão da paisagem, bem como em estudos que envolvam modelos de

avaliação de qualidade ambiental. Os produtos gerados pela abordagem aportada pelos

SIG’s podem ser materializados em mapas de qualidade visual e de compreensão

estrutural da paisagem, podendo ser incorporados em estudos de planejamento e gestão.

De maneira geral, diferentes técnicas de investigação e avaliação possibilitam

extrair informações a partir de uma base digital de dados georreferenciados, os quais

podem possuir diferentes fontes, escalas, qualidade de informações, etc., de maneira a

propiciar bases que auxiliem na tomada de decisões e maiores delineamentos acerca do

estudo em questão. O estabelecimento de métodos, ferramentas e suas inúmeras

alternativas de aplicação podem ser resultado da construção de um diagnóstico da

problemática em questão, ou seja, na delimitação dos problemas que interferem nas

relações paisagísticas de uma determinada área (TABACOW; XAVIER DA SILVA,

2011).

Dentro do estabelecimento de critérios mais objetivos na avaliação da qualidade

visual das paisagens, a cartografia pode ser tomada como uma importante ferramenta

nestas aferições, uma vez que, considerando a espacialização dos diferentes elementos

74

que compõem as paisagens, permite-se relacionar tal espacialização com os parâmetros

estabelecidos para o desenvolvimento das análises.

Considerando a atividade turística, as paisagens são consideradas uma das

principais motivações da mobilização de fluxos turísticos, de maneira que, em muitos

casos, as mesmas são degradas em função das práticas insustentáveis praticadas durante

o exercício da atividade. Considerando tal relação entre a paisagem e a atividade turística,

faz-se importante conhecer a qualidade visual das paisagens turísticas, bem como as

relações com as dinâmicas ambientais e sociais do território, possibilitando que, seja

possível auxiliar no processo de planejamento e gestão do território, bem como propiciar

o uso equilibrado das paisagens pela atividade turística (SOARES; MEDEIROS; SALES

FILHO, 2014; PIRES, 1993).

Pires (1993) lembra ainda que, desenvolver investigações acerca da qualidade

visual das paisagens se mostra um importante procedimento na elaboração de

zoneamentos ambientais dos territórios. A partir de um diagnóstico multi e inter-temático,

é possível traçar estratégias eficazes de preservação ou de contenção da deterioração de

recursos naturais.

Para Pires e Soldatelli (2010), a qualidade da paisagem pode variar em função do

estado e disposição dos elementos que compõem os conjuntos paisagísticos. Neste

sentido, esta qualidade pode ser potencializada em função de aspectos como a integridade,

autenticidade ou originalidade de tais paisagens, condições as quais podem estar atreladas

tanto a feições culturais quanto naturais.

Sobre estudos de qualidade visual da paisagem, Mendes (2010) lembra que estes

têm sido alvos de investigação científica desde a década de 1960, passando-se a partir daí

a verificar-se um crescimento de diferentes metodologias e abordagens.

Entretanto, Soares, Medeiros e Sales Filho (2014) lembram que, ao considerar a

paisagem como aquilo que se vê, a investigação da qualidade visual da paisagem fica

exposta a uma avaliação que pode variar em função de seu observador, visto que, a

paisagem pode pressupor diferentes significados para cada pessoa e, consequentemente,

pode passar a ter julgamentos distintos. Para Sanz e Alonso (1996), esta aferição

superficial da paisagem pode ser chamada de percepção visual, uma vez que, o observador

em questão, busca uma análise particular da paisagem, sem levar em conta outras fontes

de conhecimento.

Acerca da condição do indivíduo na compreensão das paisagens, Vilàs (1992, p.

205) indica que:

75

El paisaje, segun una de sus acepciones más generalizadas, es la apreciación

visual de un territorio. Esta definición trata pues de la percepción que tiene

del paisaje un individuo. Es de suma importancia, por consiguiente, tener en

cuenta en los estudios de percepción del paisaje que los individuos se forman

su propia concepción de la realidad, y que ésta no es percibida de manera

objetiva ni abstracta, sino que viene modificada por las características

psico1ógicas que posee el observador.

Neste contexto, Vìlas (1992) destaca algumas variáveis que implicam como fatores

limitantes/facilitadores na investigação das paisagens: refração da luz; distância; posição;

e ângulo visual. Sobre a refração da luz, levando em consideração a curvatura da Terra,

tal condição pode interferir na qualidade da paisagem observada, de maneira que, uma

maior ou menor refração de luz pode interferir na ocultação visual de elementos que

cobrem a área em questão. Quanto à distância, esta interfere na qualidade de visualização

das paisagens, uma vez que, quanto mais próximo do objeto, maior o nível de

detalhamento de seus componentes. No que tange a posição do indivíduo, compreende-

se como o campo de visão disponível para a visualização da paisagem, podendo ou não

sofrer interferências de “obstáculos” visuais. Por fim, o ângulo visual refere-se a

possibilidade de um objeto ser melhor observado por meio de uma visão perpendicular

do observador, permitindo maiores detalhes sobre a paisagem aferida.

Soares, Medeiros e Sales Filho (2014) ressaltam ainda que, outro aspecto que se

apresenta é a temporalidade da paisagem, ou seja, esta é composta pelo conjunto de

elementos naturais ou técnicos que se acumulam em tempos diferentes, possibilitando

assim, o aumento da diversidade e de elementos de uma dada paisagem. Para Sanz e

Alonso (1996), variáveis como a distância, posição do observador, condições

atmosféricas, tempo de duração da observação e iluminação, também interferem no

processo de análise da qualidade visual da paisagem.

Ainda sobre a dificuldade deste tipo de aferição, Vieira (2014) indica que, avaliar a

qualidade cênica de uma paisagem poderia passar por uma simples avaliação do que é

“bonito ou feio”, entretanto, tal análise apresenta-se carregada de subjetividade, fato que

poderia descaracterizar e/ou invalidar o caráter científico da investigação. Diante disso, a

autora apresenta indicadores que permitiriam desenvolver pesquisas acerca da qualidade

cênica da paisagem com um menor grau de subjetividade nas análises, dentre tais

76

indicadores, são apontados: a ordem, a integridade, a diversidade, a singularidade, a

raridade, a irreversibilidade, a pureza e a representatividade da paisagem.

Ao avaliarem as possibilidades de investigação da qualidade paisagística, Zube,

Sell e Taylor (1982) indicam que, de maneira geral, as análises podem ser dar com base

no julgamento de especialistas e de grupos não especialistas. Essas análises podem se

desdobrar em quatro tipos de abordagem que permitem realizar tal avaliação:

a) A abordagem de especialistas: a qual conta com o envolvimento de

profissionais treinados para desenvolver uma análise pericial da qualidade da paisagem,

possibilitando assim o desenvolvimento de métodos de gestão da paisagem;

b) A abordagem psicológica: este tipo de abordagem envolve uma população

ou público selecionado, de maneira que, por meio de aplicação de questionários, propõe-

se uma avaliação da qualidade da paisagem com base na condução de estímulo-resposta

no ato da avaliação do observador;

c) A abordagem cognitiva: mantém relação intrínseca com o significado da

paisagem em sua relação com o observador, de maneira que, atua na junção entre sua

experiência do passado, expectativa do futuro e condição sociocultural no trato com a

referida paisagem;

d) A abordagem experimental: apresenta uma compreensão da paisagem com

base na experiência das relações entre paisagem-homem, considerando que, ambos se

entrelaçam em seus processos de formação.

Percebe-se então que, mediante as possibilidades de abordagem na investigação da

qualidade visual da paisagem, cabe ao interlocutor desta, a determinação da melhor forma

de compreender e analisar a referida paisagem, de maneira que, seja possível alcançar os

objetivos propostos na pesquisa. Apesar de não ser citado pelos autores op. cit., percebe-

se a possibilidade de utilizar duas ou mais abordagens de maneira híbrida, permitindo

uma melhor concepção acerca da qualidade visual da paisagem. No caso da investigação

dos ícones de paisagem, é possível correlacionar as abordagens especialista e cognitiva,

as quais, conjuntamente, permitem uma aferição dos diferentes componentes da paisagem

e suas respectivas especificidades dentro do conjunto paisagísticos, análises as quais

possibilitam uma compreensão da dinâmica das paisagens e projetar condições futuras

quanto a seu uso, inclusive para o desenvolvimento de diferentes atividades, como por

exemplo, o Turismo.

Ainda sobre a delimitação de possíveis indicadores, Fidalgo (2014) indica que a

qualidade visual da paisagem deve compreender a unidade, a diversidade e a sua

77

singularidade. Entretanto, nota-se que, independentemente das variáveis utilizadas para a

avaliação da qualidade visual da paisagem, a metodologia deve ser clara e permitir

alcançar os objetivos propostos pela investigação em questão. Sobre tal fato, Silva et. at.

(2012) e Aguiló Alonso et. al. (2004) apontam três metodologias para a avaliação

paisagística: direta, indireta e mista.

Dentre os métodos apresentados, Pires (1993) e Vieira (2014) indicam que a

observação direta se apresenta como um método que considera o olhar subjetivo das

variáveis, uma vez que, possibilita a investigação por meio da aplicação de procedimentos

que envolvem profissionais da paisagem, público geral e também grupos representativos

da sociedade, aplicando assim certo grau de subjetividade à pesquisa. Tais levantamentos

são realizados por meio de fotografias, vídeos, figuras, slides, desenhos e verificações de

campo. O método direto divide-se ainda em dois procedimentos: o da subjetividade

controlada e da subjetividade aceita.

Entretanto, apesar de reconhecer que a subjetividade se faz presente nas

investigações acerca da qualidade visual das paisagens, Vieira (2014) e Lang e Blaschke

(2009) indicam a possibilidade de realizar tais análises de maneira mais objetiva, ou seja,

reduzir as cargas de subjetividade na investigação visual das paisagens. Dentro desta

concepção, Vieira (2014) aponta o método indireto na investigação da qualidade visual

da paisagem como possível solução com relação a subjetividade das análises.

Segundo Longhi e Teixeira (2010) e Vieira (2014), o método indireto consiste

basicamente na descrição, desagregação e análise posterior acerca das características

físicas, biológicas e sociais que se encontram nas referidas paisagens. Ainda sobre o

método indireto, Aguiló Alonso et. al. (2004, p. 520) citam que:

Los métodos indirectos de valoración a través de componentes deli paisaje,

utilizan para la desagregación características físicas del paisaje como, por

ejemplo, la topografía, los usos del suelo, la presencia de agua, etc. Cada

unidad de paisaje se valora en términos de cada componente agregándose

después los valores parciales para obtener un valor final. Las diferencias entre

los distintos métodos radican en la selección de componentes y en la forma de

valorar cada uno.

Na observação indireta, Pires (1993) pressupõe a necessidade de delimitar critérios

de pontuação e classificação dos elementos que compõem a paisagem. Acerca desta

premissa, o autor op. cit. (p. 70) indica que:

O método indireto de avaliação da qualidade visual da paisagem, a critério do

juízo de valor, possibilita a livre escolha das variáveis e dos critérios de

avaliação para cada um dos componentes básicos com os quais a paisagem

78

deve ser analisada, depois de conhecidas as limitações determinadas pelas

características territoriais e pela disponibilidade e qualidade dos dados a serem

utilizados.

Assim sendo, observa-se no método indireto uma relativa flexibilidade para cada

que cada pesquisador adeque os melhores indicadores em suas avaliações de qualidade

visual da paisagem, de maneira que, estes ofereçam uma melhor compreensão da

realidade que lhe é posta. No caso de Pires (2005), em suas análises, o autor utiliza a

investigação da diversidade, naturalidade, singularidade e detratores contidos na

paisagem, fatores os quais possibilitam realizar um levantamento dos elementos físicos

da paisagem e sua influência qualidade visual no contexto averiguado.

Outra possibilidade de observação indireta da qualidade visual da paisagem é

proposta por Silva, Henke-Oliveira e Saito (2012), os quais apresentam a técnica de

viewshed, a qual possibilita reduzir a subjetividade das análises. Este procedimento

técnico possibilita a livre escolha das variáveis a serem analisadas, após o reconhecimento

das características territoriais e por meio da disponibilidade e qualidade dos dados a serem

utilizados.

Ainda sobre o método indireto, Landovsky, Batista e Araki (2006, p. 189) apontam

que:

O Método Indireto das Componentes da Paisagem é aplicado através da análise

dos componentes físicos (meio abiótico: água, topografia), dos componentes

biológicos (meio biótico: vegetação, fauna) e dos componentes antrópicos (uso

do solo). Tais componentes devem ser valorados através de unidades regulares

(malha reticulada) ou unidades irregulares (em função de um componente

definidor da paisagem, por exemplo). Os métodos de avaliação e/ou valoração

da paisagem diferem entre si em vários aspectos, relacionados à sua aplicação,

finalidade e resultado. Em termos de objetividade, os métodos ditos indiretos,

isto é, aqueles onde a paisagem é avaliada a partir de seus componentes, são

os que menos expressam valores subjetivos, sendo por isso mais fácil e

amplamente aplicados na avaliação paisagística regional.

O método de observação indireta possui aderência àquilo que Roth (2021) descreve

como “Teoria Subjacente”, a qual atrela a atratividade da paisagem suas características

naturais e sua modelação para o uso humano. O método basicamente busca uma aferição

dos elementos que compõem a paisagem, de modo a interpretar aspectos positivos e

negativos no que tange sua atratividade enquanto áreas de desenvolvimento de atividades

recreativas. Pensamento semelhante é apresentado por Aguiló Alonso et. al. (2014, p.

781), o qual denomina sua abordagem como “Método de valoração através de descritores

da paisagem:

79

Estos métodos utilizan para la desagregación características físicas del paisaje

como, por ejemplo, la topografía, los usos del suelo, la presencia de agua, etc.

Cada unidad de paisaje se valora en términos de cada componente agregándose

después los valores parciales para obtener un valor final. Las diferencias entre

los distintos métodos radican en la selección de componentes y en la forma de

valorar cada uno. [...]. Se puede observar una certa constancia en la utilización

de algunos de ellos con los que se pueden formar tres grandes grupos (forma

del terreno, características sobresalientes y usos del suelo) y bastante

dispersión no exenta de contradicciones en el resto.

Conclui-se acerca do método de observação indireta que, este possibilita a menor

incidência de cargas subjetivas na análise, as quais buscam no apoio das geotecnologias

a sua investigação, possibilitando assim, como afirmam Silva, Henke-Oliveira e Saito

(2012), a avaliação da qualidade visual das paisagens investigadas.

Por fim, apresenta-se o método misto de investigação da qualidade visual da

paisagem, o qual, de acordo com Vieira (2014) compreende a investigação direta, a qual

aborda os aspectos subjetivos, e posteriormente, é realizada a abordagem indireta, em

função da desintegração dos componentes da paisagem.

Basicamente, o método misto busca integrar os métodos diretos e indiretos de

investigação de qualidade visual da paisagem, buscando utilizar as vantagens inerentes a

cada um dos modelos e, consequentemente, possibilitando uma aferição mais complexa

acerca dos elementos que instituem a qualidade visual das paisagens (PIRES, 1993).

Diante dos pressupostos teóricos apresentados, ressalta-se que o caminho

metodológico a ser utilizado na investigação dos ícones de paisagem em Mato Grosso do

Sul versa pela perspectiva do método indireto, o qual irá privilegiar a investigação dos

diferentes componentes a fim de aferir os diferentes graus de diversidade, naturalidade,

singularidade e detratores relacionados aos respectivos conjuntos paisagísticos (AGUILÓ

ALONSO et. al. (2004); PIRES, 1993 e 2005; LANDOVSKY; BATISTA; ARAKI

(2006); SILVA; LANG; BLASCHKE (2009); SILVA; HENKE-OLIVEIRA; SAITO

(2012); LONGHI E TEIXEIRA (2010); SILVA et. at. (2012); FIDALGO, 2014; VIEIRA

(2014); ROTH, 2021) Amparada por uma investigação especialista e cognitiva, a

investigação ampara-se na espacialização de dados secundários (desenvolvimento de

mapas temáticos e sínteses) e desenvolvimento de trabalhos de campo, procedimentos os

quais permitem a construção de bases para discutir a qualidade visual das paisagens dos

ícones sul-mato-grossenses (ZUBE; SELL; TAYLOR, 1982). Tal proposta apresenta-se

como um desafio, uma vez que, Sanz e Alonso (1996) ressaltam a dificuldade em, dentre

as diversas possibilidades, adequar a melhor maneira de cartografar a qualidade visual da

paisagem

80

Apesar das diferentes formas de abordagem acerca da qualidade visual da

paisagem, Mendes (2010) indica não haver problema em utilizar diferentes modelos de

aferição, de maneira que, a combinação de metodologias pode possibilitar uma melhor

representação da qualidade visual na área em questão, facilitando assim a tomada de

decisão nas políticas de gestão.

Para além das metodologias de abordagem, Vieira et. al. (2018) indicam fatores que

podem influenciar e alterar a observação da qualidade visual da paisagem: distância,

posição do observador, condições atmosféricas e iluminação. A relatividade da distância

acerca da paisagem observada pode alterar cores, brilho, textura e a granulometria. A

posição mais próxima ou mais distante do observador influencia na apreciação da forma

e tamanho da paisagem observada, dificultando ou facilitando a compreensão dos

elementos que a compõe. As condições atmosféricas incidem modificações nas

propriedades visuais da paisagem, tais como visibilidade, nitidez, alteração das cores,

brilho, luminosidade, textura e geometria das formas. Por fim, aos cuidados com a

iluminação pode propiciar uma observação com ou sem sombras, disponibilizar cores

mais claras e brilhantes, favorecer contrastes de luz, etc.

No que tange os ícones de paisagem de Mato Grosso do Sul propostos na pesquisa,

ressalta-se os fatores limitantes a aproximação de alguns pontos dos referidos conjuntos

paisagísticos (tais como: obstáculos naturais, perímetro de áreas particulares, perímetro

de áreas protegidas, limitação dos transportes utilizados, etc.), fatores os quais em muitos

momentos dificultam uma análise mais aproximada destas paisagens. Neste âmbito,

durante os trabalhos de campo, buscou-se abordar/analisar os ícones dentro de um

perímetro de um buffer de 30 quilômetros, distância a qual foi tomada como limite

máximo para a construção de uma base de dados primários de qualidade satisfatória para

as análises pretendidas.

Tais observações denotam a importância da construção de um aparato de pesquisa

o qual vislumbre os melhores cenários possíveis para a observação e compreensão das

paisagens em questão, de modo que, possibilite angariar dados e informações com o

melhor grau de confiabilidade e, consequentemente, disponibilizando meios para que

sejam realizadas análises que mais se aproximem da realidade observada.

Entretanto, além da investigação de qualidade visual, outra perspectiva é importante

na avaliação funcional: a estrutura da paisagem. Conforme indicam Almeida (2006),

Emídio (2006) e Cavalcanti (2014), a paisagem vai além da concepção visual,

perpassando compreensão da complexidade dos diversos elementos que a forma, seja eles

81

os processos tectônicos, geomorfológios, climáticos, hidrológicos, biogeográficos e

culturais. Portanto, além da importância da observação dos aspectos visuais da paisagem,

reconhecer os processos que a forma se faz de suma importância para o planejamento e

gestão de tais paisagens.

Para Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2007), a estrutura da paisagem representa a sua

forma de organização interior, instituída pelas relações dos componentes que a compõem.

Assim sendo, investigar e compreender a estrutura da paisagem abarca reconhecer sua

essência, de maneira que, a análise estrutural visa explicar a combinação dos

componentes da paisagem na formatação de conjuntos integrais. Além disso, os autores

op. cit. (p. 112) ressaltam ainda a importância da análise estrutural no planejamento

territorial:

Concebe-se ainda, que a estrutura espacial constitui a forma de ordenamento

espacial e que o espaço conceitua-se como reflexo na comunidade

psicofisiológica das formas, determinando assim a importância teórico-

conceitual da análise estrutural dos objetos geográficos. Porém ao mesmo

tempo, o conhecimento pode ser útil para a avaliação quantitativa do grau de

complexidade de estrutura paisagística para o planejamento regional. Os

projetos de construção de estradas, a instalação de obras hidroelétricas, a

avaliação do potencial turístico dos territórios, etc.

Ainda sobre a investigação estrutural, Mauro e Valadão (2018) lembram que, a

estrutura da paisagem está disposta sobre duas formas de organização: a vertical e

horizontal. Do ponto de vista vertical, a compreensão da paisagem se dá em função da

composição e inter-relações dos componentes que a forma no sentido vertical, ou seja, de

que maneira a litologia está ligada ao relevo, que se liga a vegetação, que se liga aos usos

da terra, que possui influência do clima, e assim sucessivamente. Já no aspecto horizontal,

a análise da paisagem permeia a investigação da organização espacial, ou seja, verifica-

se a composição de unidades sistêmicas de diversas classes, as quais propiciam a

formação de um mosaico de unidades de paisagem.

Concomitantemente com o exposto ao parágrafo anterior, Aguiló Alonso et. al.

(2004) relatam que, de maneira geral, pode-se afirmar que as paisagens dos elementos

que compõem sua estrutura, ou seja, a partir da combinação da geomorfologia, clima,

fauna, flora, componentes hídricos e alterações naturais e antrópicas.

Para Bel e Galván (2008), o primeiro passo na investigação estrutural da paisagem

dever ser a identificação dos principais elementos que caracterizam a paisagem, ou seja,

deve-se determinar quais elementos bióticos, abióticos e culturais que compõem a

paisagem. Essa caracterização se faz importante uma vez que, possibilite o

82

desenvolvimento de uma representação cartográfica das partes do território que possuem

características próprias, permite a visualização das características internas da paisagem,

bem como propicia analisar a evolução da paisagem ao longo dos tempos e descrever as

dinâmicas que levaram a estabelecer seu estado atual.

Na avaliação de tais estruturas, Lang e Blaschke (2009) lembram que, a variação

espacial das paisagens geralmente é representada em um mapa temático, de maneira que,

por meio da representação matricial ou raster seja possível espacializar a complexidade

das estruturas que compõem as paisagens, bem como delimitar os limites e transições de

unidades homogêneas.

Sobre a delimitação destas unidades homogêneas, Rodriguez, Silva e Cavalcanti

(2007) e Chaves e Puebla (2013) as denominam como unidades de paisagem, as quais,

por meio da sobreposição e inter-relação dos elementos que compõe as paisagens, formam

áreas com características semelhantes, apresentando conjuntos paisagísticos com feições

específicas, possibilitando sua ordenação em função dos diferentes usos possíveis,

inclusive o turismo. Ao definirem unidade de paisagem, Bel e Galván (2008, p. 54) citam

que:

Se entiende como unidad de paisaje una parte del territorio caracterizada por

uma combinación específica de componentes y de dinámicas claramente

reconocibles, que le confieren una fisonomía y una identidad diferenciada del

resto. La unidad de paisaje debe considerar también las relaciones

particulares (sociales, económicas, culturales) que se han establecido entre

un territorio y sus habitantes y que configuran parte de la identidad de las

personas que lo habitan. Cada unidad de paisaje debe ser única, singular,

diferente a las demás, atendiendo a criterios estructurales, funcionales e

históricos diversos. Esto no implica desconocer, ni menospreciar aquellos

posibles elementos afines entre dos o más unidades de paisaje.

É importante ressaltar que, essas unidades de paisagem se decompõem em

fragmentos cada vez mais detalhados, os quais apresentam diferentes formas de relevo

(montanhas, barrancos, planícies, etc.), variações de altitude (baixa, média e alta). Essas

variações suscitam diferentes tipos de paisagens, cujas características irão influenciar na

adaptação cultural, de maneira a facilitar o estabelecimento de residências, do transporte

e das atividades econômicas (agricultura, industrias, turismo) (BEL; GALVÁN, 2008).

Neste contexto de fragmentação, o estabelecimento de “ícones de paisagens” pode

ser tomada como fragmentos menores das unidades de paisagem, os quais permitiriam

maiores níveis de detalhamento dos conjuntos paisagísticos em questão, assunto que será

melhor abordado no capítulo seguinte.

83

Tal investigação baseia-se na íntima relação do turismo com a paisagem, uma vez

que, conforme indicam Cruz (2002), Pires (2005), Emídio (2006) e Braga (2006), em uma

sociedade cada vez mais influenciada pelo cotidiano urbano, as paisagens, principalmente

aquelas que denotam maior proximidade com os aspectos naturais, apresentam-se como

grande fator motivacional de deslocamentos turísticos. Sobre a importância da paisagem

para o turismo, Yázigi (2002) lembra que, reduzir o turismo a mera questão da paisagem

é falseador, entretanto, é inegável a importância dos aspectos paisagísticos no turismo.

Além disso, Soares, Medeiros e Sales (2013) ressaltam que, muitos destinos

turísticos só existem em função das especificidades de suas paisagens, uma vez que, é na

paisagem que se estabelece o primeiro contato do turista com o destino a ser visitado.

Nicolás (1989) lembra que a paisagem é um dos muitos recursos mobilizados pelas

atividades econômicas do turismo, sendo utilizada enquanto chamariz e impulsionador de

suas atividades. No que tange a importância das paisagens nas atividades turísticas,

Almeida (2006) ressalta a busca de cenários exóticos pelo turismo, estimulando os fluxos

turísticos para tais locais.

Considerando a relação do turismo com a paisagem, Méndez-Méndez et. al. (2018)

indicam que, os projetos ligados a atividade turística possuem intrínseca relação com

áreas rurais, as quais dispõem de recursos naturais e culturais que muitas vezes são

subvalorizados, mas que podem ser explorando enquanto matéria-prima do turismo.

Apesar dessa possibilidade, a atividade requer planejamento, estratégia a qual garantirá

(ou deveria garantir) a longevidade do turismo na área em questão. Para tal avaliação da

qualidade turística dos tipos de paisagem, deve-se atentar para indicadores relacionados

a três critérios principais: aspecto visual (avaliar a qualidade visual da paisagem); aspecto

ambiental (avaliação da estabilidade geomorfológica, estado de conservação dos

componentes bióticos e abióticos, e a produtividade, sustentabilidade, acessibilidade e

instalações associadas aos componentes culturais da paisagem); e o aspecto interpretativo

(relacionado a avaliação das possibilidades da paisagem em dispor de características que

facilitem ações didáticas). Para cada um destes critérios, estabelece-se a qualidade dos

tipos de paisagem por meio de três indicadores: a) diversidade da paisagem (qualidade

visual da paisagem); b) fragmentação espacial (aspecto ambiental); e c)

representatividade/singularidade (aspecto interativo da paisagem).

Em suma, percebe-se a relevância da condição visual e estrutural da paisagem na

atividade turística, de maneira que, a compreensão de tais variáveis nos mais diferentes

conjuntos paisagísticos permite evidenciar diferentes perspectivas de desenvolvimento do

84

Turismo nestas localidades, auxiliando assim no processo de planejamento dos

usos/ocupações dos territórios.

A paisagem no turismo estaria ligada então ao seu aspecto estrutural, enquanto

locus de configurações físicas as quais permitem o desenvolvimento de atividades

(suporte funcional da paisagem), e ao seu aspecto cênico (suporte de qualidade visual),

considerando a sua capacidade de atratividade enquanto conjunto de belezas naturais e

culturais que despertam o interesse dos indivíduos em um determinado complexo

paisagístico. Diante do exposto, estas condições permitiriam o desenvolvimento de

práticas de diversos segmentos turísticos, inclusive do Turismo de Natureza.

Para Soares, Medeiros e Sales Filho (2013), para além da paisagem, é possível

pensar em uma “paisagem turística”, a qual representa a atribuição de um valor turístico

a uma dada paisagem, ou seja, uma espécie de mercantilização da paisagem para a

atividade turística. Na paisagem turística, soma-se as particularidades estruturais e visuais

da paisagem com os demais equipamentos turísticos (hospedagem, restaurantes,

transportes, etc.), bem como ao segmento turístico que está no momento atual em

evidência, configurando-se assim como uma paisagem dotada de valor turístico.

Considerando a qualidade visual em áreas turísticas, Siefert e Dos Santos (2016)

chamam a atenção para a importância das potencialidades naturais das paisagens, as quais

devem apresentar-se proeminentes nas mesmas com relação a elementos artificiais que

foram inseridos posteriormente nestas áreas. Ou seja, para o turismo, quão menor for o

grau de intervenção antrópica nas destinações turísticas, maior têm-se a qualidade visual

paisagística. Tal condição não pressupõe a exclusão total de estruturas artificiais, uma vez

que, a construção de pontes, passarelas, dentre outros, em muitos casos apresentam-se

como essenciais para a atividade turística.

Neste âmbito, ressalta-se que, as intervenções são inerentes aos locais voltados a

atividade turística, ou seja, podemos dizer que é impossível desenvolver o Turismo em

um determinado local sem que haja alterações antrópicas nestes destinos. Porém, no caso

do Turismo de Natureza, em função das características do segmento, quão menor forem

tais intervenções, mais atrativas serão as paisagens desta localidade.

Ponderando que, nos últimos anos há uma relativa crescente no corpo

epistemológico acerca paisagem que tem auxiliado na gestão dos recursos naturais e,

consequentemente, no planejamento e gestão dos territórios, Picher Fernández, Gómez

Jiménez e Montero Serrano (2006) ressaltam a importância de não apenas descrever e

85

caracterizar a paisagem, mas sim que se faça diagnósticos dos potenciais paisagísticos

para as diversas atividades, inclusive o turismo.

Considerando as diferentes formas de análises da paisagem, é necessário optar pelos

modelos que melhor se adequem ao objeto/problemática que se objetiva investigar. Neste

caso, optou-se por adotar uma análise integrada, tomando como base tanto a condição

estrutural/funcional, quanto de qualidade visual das paisagens.

86

87

2. CAPÍTULO II - O TURISMO DE NATUREZA ENQUANTO ATIVIDADE EM

MATO GROSSO DO SUL

Um termo relativamente novo e alvo de diversas concepções conceituais, o Turismo

de Natureza apresenta-se como um segmento cada vez mais debatido no contexto da

atividade turísticas. Vezes confundido com o Ecoturismo, o Turismo de Natureza

pressupõe uma intrínseca relação com os ambientes naturais e, consequentemente,

inserido em uma linha tênue de impactos positivos e negativos sobre esses espaços.

Considerando tais premissas, inicialmente o capítulo propicia uma melhor

compreensão das relações do ser humano com a natureza. Outra perspectiva abordada é

das interações deste segmento turístico com a natureza, buscando clarear de que maneira

tais ambientes naturais são apropriados pelo Turismo de Natureza. Por fim, o capítulo

aborda a influência do conceito de Patrimônio Natural na acepção do Turismo de

natureza, discussão a qual embasa a premissa dos ícones de paisagem, tratado no capítulo

3.

2.1 A natureza da “natureza”: concepções acerca da apropriação da natureza pelo

homem

O que é natureza? Onde podemos encontrá-la? Quais os limites das relações do

homem com a natureza? Essas e outras perguntas sempre permearam e continuam a

permear o imaginário daqueles que tentam compreender de que maneira aquilo que é

chamado de “natural” é posto na realidade do homem, ou seria melhor “de que maneira

o homem se insere na natureza?”. As diferentes visões explanadas ao longo da história

demonstram a pluralidade de visões acerca da temática, passando daqueles que se

apresentam mais como naturalistas, até aqueles em que acreditam na natureza apenas

enquanto recurso para a sobrevivência humana.

Nestes nuances da investigação da natureza e suas relações, Vitte (2016) ressalta a

importância da Geografia Física, ciência a qual tem o papel de descrever os espaços e

paisagens, visando demonstrar as variações da natureza e suas relações espaciais. De

acordo com o autor op. cit. (p. 297) “O importante a ressaltar também é que a descrição,

associada à razão, permite reconstruir a história da natureza e as transformações do

espaço”.

88

Obviamente o não se pretende aqui abordar toda a história da relação entre o homem

e a natureza, uma vez que, como diria Thomas (1989, p. 19) “Infelizmente, o tema é tão

vasto e o material disponível tão abundante que nenhum autor isolado pode almejar

abarca-lo, muito menos em um livro relativamente reduzido”. A intencionalidade do trato

desta relação neste tópico tem por finalidade apresentar bases de discussão acerca da

maneira como o homem observa, se relaciona e utiliza a natureza, base a qual

fundamentará a abordagem sobre o Turismo de Natureza, discutido no subitem

apresentado posteriormente.

Para Leví (2012), antes da escrita, não se encontravam elementos concretos que

permitiam descrever objetivamente as interações do homem e natureza, tal fato talvez

esteja atrelado a indissociação entre ambos. Entretanto, desde a origem dos seres humanos

(australopitecos) até o estabelecimento do homem atual (homo sapiens), a espécie

humana é dependente da natureza para sobreviver. Muito em função disso, com o passar

dos anos, cada vez mais a ciência busca respostas na compreensão das relações existentes

entre o meio natural e o homem.

Uma conceituação objetiva da natureza é apontada por Whitehead, (1994, p. 7), o

qual designa que a natureza seria “aquilo que observamos pela percepção obtida através

dos sentidos”. Entretanto, apesar da objetividade aparente da definição, a abordagem

teórico-conceitual da natureza perpassa por um vasto campo reflexivo. Ao relacionar o

homem e natureza, Porto-Gonçalves (1989) cita as comunidades indígenas e orientais

como aquelas que, via de regra, são relacionadas como os modelos de maior relação

harmônica com a natureza. Para o autor op. cit. (p. 23) “Toda sociedade, toda cultura cria,

inventa, institui uma determinada ideia do que seja a natureza. Nesse sentido, o conceito

de natureza não é natural, sendo na verdade criado e instituído pelos homens. Constitui

um dos pilares através do qual os homens erguem as suas relações sociais, sua produção

material e espiritual, enfim, a sua cultura”. Esta condição expressa por Porto-Gonçalves

(1989) suscita a necessidade de reflexão e análise acerca de como foi e como é concebia

a ideia de natureza em nossa sociedade, uma vez que, esta tem servido como fonte de

nossa produção e vivência e, consequentemente, que têm causado uma série efeitos

indesejáveis no âmbito ecológico.

Considerando tal amplitude da temática, Thomas (1989) por exemplo, em seu livro

“O homem e o mundo natural: mudanças de atitude em relação às plantas e aos animais

(1500-1800)”, buscou realizar um recorte histórico nos limites da Inglaterra, com algumas

aproximações de países do Reino Unido, da Europa e até mesmo com a América do Norte.

89

Em sua aproximação, Thomas (1989) trata das relações do homem com os animais e

natureza nos séculos XVI, XVII e XVIII. Apesar do recorte temporal, espacial, cultural,

ambiental e socioeconômico em que Thomas desenvolve sua análise, sua investigação

pode ser considerada um importante marco na discussão da apropriação da natureza pelo

homem, uma vez que, o autor busca retratar um período onde o predomínio do homem

sobre a natureza apresentou-se como uma característica marcante no contexto tratado.

Tal reflexão faz-se importante uma vez que, além de Thomas, inúmeros artistas,

pensadores, escritores, filósofos, dentre outros, buscaram contribuir com a discussões

acerca da busca pela compreensão das relações entre o homem e a natureza, condição a

qual certamente e naturalmente perpassou (e continua a trilhar) diversas vertentes,

concepções e intencionalidades ao longo de toda a história.

Sobre as diferentes condições que permearam as relações entre homem e natureza

ao longo da história, Porto-Gonçalves (1989) lembra que, cada cultura impõe seus valores

a tal relação, ou seja, toda cultura ao ser observada de fora ou pela ótica de indivíduos

com outros valores pode ser tomada como irracional. Entretanto, podemos considerar que

toda cultura pode ser considerada um sem sentido que faz sentido para aqueles que nela

estejam envolvidos. De maneira geral, nenhuma cultura pode ser considerada

universalmente racional, entretanto ao mesmo tempo todas são racionais ao

considerarmos seus valores próprios. Acerca desta concepção, o autor op. cit. (1989, p.

97) indica que “em nossa sociedade, por exemplo, a natureza é vista como algo passível

de ser dominado e submetido ao Homem todo-poderoso... E só não vê quem não quer a

íntima relação dessa ideia com os propósitos de dominação e submissão de um homem

por outro homem”.

Tais valores empreendidos por cada cultura em suas relações com a natureza,

estariam atrelados aos modelos de produção e consumo de tais grupos culturais, bem seus

estilos de vida, organização social, sistema econômico, articulação política e tomada de

decisões, variáveis as quais podem propiciar diferentes consequências sobre o meio que

são instituídas. Neste âmbito, estilos de vida pautados na priorização do crescimento

econômico e acúmulo de bens por vezes podem causar efeitos completamente opostos no

que tange o uso de recursos e regeneração ambiental quando comparados a estilos

estabelecidos sob a lógica de satisfação de necessidades básicas, exploração racional e

preservação dos ambientes naturais, por exemplo (CASASOLA, 2003).

Corroborando com a ideia supracitada, Bezerra (2018) destaca que a valorização da

natureza está diretamente ligada aos diferentes momentos vivenciados pela humanidade,

90

bem como suas atitudes ao perpassar pois tais fatos. Neste âmbito a autora op. cit. (p. 55)

cita que:

A essência da relação entre o homem e a natureza pode ser revelada pela

história humana inscrita sobre a superfície terrestre. Os valores são elementos

mediadores e definidores das relações que ocorrem entre a entidade humana e

os objetos que o rodeiam. Os valores atribuídos pelo homem à natureza trazem

em si a essência de suas ações e atitudes em relação aos processos naturais e

ao meio onde vive. Observando por esse prisma, pode-se afirmar que há uma

conexão entre a racionalidade das ações humanas e a questão ética perante a

dimensão natural da Terra. Assim, a valorização dos recursos naturais pode

incluir variáveis que vão além das dimensões sociais e econômicas, fortemente

impostas no mundo moderno e contemporâneo, trazendo para o debate os

fundamentos da postura antropocêntrica, a ética e o comportamento do homem

frente à natureza.

A respeito do predomínio humano sobre a natureza, Thomas (1989) indica que, na

Inglaterra durante o período moderno, tal concepção era relacionada com as concepções

de filósofos e com a Bíblia. Nesta concepção, o pensamento da época, fortemente

influenciado pelos princípios da religião cristã, apontava para uma natureza voltada ao

propósito de subsídio para o homem, tido como espécie superior as demais. Este princípio

partiria desde a ideia do “Jardim do Éden”, o qual teria sido criado para abrigar ao homem

como seu paraíso. Uma vez tendo infringido as leis de Deus (materializado na forma de

Adão) o homem teria perdido a sua condição de fácil domínio da natureza e, assim, a

natureza teria sofrido alterações a fim de causar maiores dificuldades ao homem, como a

aparição de pragas, mosquitos, espinhos, a selvageria de várias espécies de animais, a

aparição de solos pedregosos, dentre outros. Entretanto, mesmo com essa mutação da

natureza, a ideia de domínio do homem continuaria a permanecer ao longo dos anos, de

modo que, enquanto ser dominante, o homem teria autoridade sobre as demais espécies,

domando-os, tomando-os como alimentos, distração (animais domésticos), estética ou

para outras finalidades.

Thomas (1989) lembra ainda que, no início do período moderno inglês, as

interações do homem com a natureza perpassavam ainda pela discussão dos “seres

humanos inferiores”. Essa ideia é relacionada com o fato de que, aqueles que não

pertencessem a grupos exclusivos e/ou famílias tradicionais, eram tratados como seres

inferiores e, igualmente relacionados como “animais”, ou seja, aqueles que fugiam dos

costumes, regras e tradições dos povos estabelecidos, eram tradados então como animais,

como por exemplo, os índios americanos ou os negros africanos. Entretanto, como indica

o autor op. cit., essa forma de pensamento não pode ser elencada de maneira generalizada,

uma vez que, nem todas pessoas da Inglaterra achavam que o mundo existia

91

exclusivamente para o homem. Assim, tais atitudes causavam muitas vezes a essas

pessoas os sentimentos de culpa, desconforto e vergonha.

Tal uso de elementos da natureza enquanto metáforas da vida cotidiana é

relacionada aos dias atuais por Porto-Gonçalves (1989, p. 25):

Sem que nos apercebamos, usamos em nosso dia a dia uma série de expressões

que trazem em seu bojo a concepção de natureza que predomina em nossa

sociedade. Chama-se de burro ao aluno ou a pessoa que não entende o que se

fala ou ensina; de cachorro ao mau-caráter; de cavalo ao indivíduo mal-

educado; de vaca, piranha e veado àquele ou àquela que não fez a opção sexual

que se considera correta, etc... Juntemos os termos: burro, cachorro, cavalo,

vaca, piranha e veado são todos nomes de animais, de seres da natureza

tomados – em todos os casos – em sentido negativo de oposição a

comportamentos considerados cultos, civilizados e bons.

Entretanto, independente da corrente defendida, faz-se importante uma reflexão de

maior amplitude, visando uma abordagem que contemple um equilíbrio entre a

estabilidade do ambiente e a satisfação das necessidades do homem. Para tal

compreensão, é importante desdobrar de que maneira as relações entre homem e natureza

se desdobram em meio a suas interações.

De acordo com Rodríguez (1984), os problemas encontrados na interação entre

sociedade e natureza, bem como as questões imbricadas no uso racional, proteção e

transformação dos recursos naturais, encontram-se cada vez mais uma realidade

particular, ou seja, são permeadas por novas realidades complexas, as quais necessitam

de análises das interações e interdependência dos componentes que compõem os

territórios naturais. Para o autor op. cit., esses tipos de análises fazem-se necessárias, uma

vez que, o desconhecimento das leis da natureza, de seu comportamento e de suas inter-

relações e interações dos diferentes componentes geralmente finda no desenvolvimento

de processos negativos na natureza e, consequentemente, acarreta em impactos

indesejáveis para a sociedade.

Do ponto de vista das relações do homem com os animais, na Inglaterra, percebe-

se uma evolução histórica permeada pela relação entre os benefícios aos quais os animais

poderiam oferecer ao homem, passando por suas funcionalidades enquanto alimento,

transporte, segurança, eliminadores de espécies menores indesejáveis. Neste contexto, os

primeiros animais a serem tomados por uma relação mais próxima do homem foram os

cavalos, cães e gatos, onde, em um primeiro momento sendo tidos por conta de alguma

funcionalidade, passaram ao longo dos tempos a manter uma relação de maior afetividade

com os homens. Quanto as árvores, inicialmente valorizadas enquanto aspecto econômico

no século XIII, e protegidas em função de seu uso enquanto matéria-prima (madeira) e

92

como lócus de espécies de caça, a partir dos séculos XVI e XVII tomou novas

significações, as quais inclui seu adorno estético e condições ligadas a nobreza e

valorização social (THOMAS, 1989).

Para Garnier (2008), durante sua histórica conquista de terras, o homem aprendeu

e cada vez mais aprimorou técnicas para domar e controlar muitos dos elementos naturais,

tais como pedra, fogo, plantas, animais, ferro, carvão, óleo, dentre outros.

Consequentemente, a apropriação e acúmulo dos elementos da natureza acabou por

designar valores de mais valia para os mesmos, estimulando trocas e comércio.

Neste âmbito, percebe-se que o homem ao longo de sua história passou a se

apropriar de diferentes elementos encontrados na natureza, de maneira que, tais processos

passaram a trazer melhores condições de vida para as diferentes sociedades em questão.

Assim sendo, o ideário de “natureza intocada” pode ser tomado como utopia, uma vez

que, apesar de uma necessária reflexão sobre os modelos atuais de exploração dos

recursos, dificilmente seria possível pensar na extinção destes processos.

Nas visões de Souza e Elesbão (2017), a relação entre homem e natureza passou

por mudanças ao longo da história, sendo alterada principalmente em função da crescente

utilização dos recursos naturais disponíveis. Tais usos foram influenciados pela revolução

tecnológica, a qual propiciou mudanças nas relações entre a economia e natureza. O cada

vez mais intensivo uso dos recursos naturais acarretou no aumento da degradação

ambiental ao longo dos tempos e, consequentemente, posteriormente desdobrou novas

discussões acerca da necessidade da preservação do meio ambiente. Neste contexto, a

natureza passou a ser entendido como um tipo de capital, um “capital natural”, instituído

em função do meio ambiente e seus atributos.

Lenoble (1990) lembra que, determinar o que é natureza para o homem apresenta-

se como um desafio, uma vez que, a pesar o período averiguado, o homem viveu

“diferentes naturezas”. Tal condição permite avaliar que, cada época e civilização

vivenciou diferentes representações de natureza, as quais certamente influenciaram e

continuam a influenciar sábios e artistas, entre eles, pintores, músicos e poetas, de maneira

que, dentre tais personalidades, o autor chama a atenção para seu contemporâneo

Aristóteles, considerado um dos gênios que buscou esmiuçar as complexidades da

natureza e suas regras impostas ao homem. Sobre as definições do termo natureza,

Lenoble (1990, p. 183) descreve que:

Como todas as palavras que designam uma ideia muito geral, a palavra

Natureza parece clara quando a empregamos mas, quando sobre ela refletimos,

93

parece-nos complexa e talvez mesmo obscura. Também os dicionários

comuns, enciclopédias das ciências comuns, não se comprometem. Definem a

Natureza deste modo: “O conjunto das coisas que existem naturalmente” e se,

para obter mais esclarecimentos, procuramos uma explicação no adverbio

“naturalmente”, encontramos: “Naturalmente: pelas forças da natureza, de

modo natural”.

Em suma, conforme sugere Hernández (2009), as interações do homem com

natureza possuem diferentes critérios ao relacionar o contexto histórico-cultural em

questão. Exemplificando tal fato, podemos citar a diferença no trato com a natureza dos

povos originais andinos em comparação as sociedades urbanas pós-modernistas, de

maneira que, cada um conjunto mantém relações diferentes com a natureza em função de

seus hábitos, objetivos e linhas de pensamento. Com relação aos povos originários de

todos os continentes, seus vínculos com a natureza atrelam-se a uma condição de

espiritualidade, forças naturais (divindades), culto aos elementos naturais. Em

contrapartida, nas sociedades urbanizadas, as quais então envoltas em ambientes de

natureza fortemente transformadas, aspectos como o consumo em massa, distanciamento

de ambientes naturais, alto índice de exploração natural, dentre outros, marcam as

relações estabelecidas por essas sociedades com a natureza.

Em suma, podemos afirmar que, mesmo com o passar dos séculos, as características

físicas da natureza é a mesma, mas a valorização é diferente de acordo com o momento

histórico da humanidade, períodos os quais designam diferentes funcionalidades e valores

a natureza por cada um desses grupos.

Neste contexto, uma importante concepção abordada por Porto-Gonçalves (2013)

é a condição polissêmica da natureza, a qual pode ser interpelada de maneiras distinta de

acordo com a cultura em questão. Tal concepção é cada vez mais clara, uma vez que, cada

vez mais a espécie humana empreende um domínio cultural e político da natureza.

Principalmente na latente vertente capitalista contemporânea, percebe-se um movimento

de dissociação do homem e a natureza. Esse pensamento atrela-se as ideias de Whitehead

(1994), o qual relata ser possível compreender a natureza de maneira homogênea, a qual

é considerada independente do pensamento a ela atribuída (ligada a percepção sensível),

ou heterogênea, a qual atrela-se as relações entre ela e o pensamento sobre ela. Neste

sentido, seria possível pensar em uma visão integral e global da natureza, em

contrapartida, percebe-se atribuições de múltiplos olhares para com a natureza em função

das possíveis diversas intencionalidades.

Deste modo, percebe-se a complexidade da compreensão acerca de uma

conceituação objetiva da natureza, de maneira que, a mesma estaria atrelada a diferentes

94

visões, as quais podem inclusive se oporem em função das diferentes finalidades com as

quais a natureza é tratada nas relações com o homem. A natureza em um viés econômico

possivelmente terá uma vertente totalmente diferente de uma visão naturalista de mundo.

Tais oposições se fazem presentes ao longo de toda história da humanidade, em diferentes

contextos e com divergentes finalidades de interação.

As relações do homem com a natureza se estabeleceram desde os primórdios da

humanidade na terra, uma vez que, este dependia completamente da natureza para sua

sobrevivência, estabelecendo assim uma relação conectiva entre o ser humano e natureza.

Entretanto, nos dias atuais, percebe-se cada vez mais a dependência e influência das

indústrias e tecnologias no cotidiano do homem, fato ampliado após a revolução

industrial. Em função desta dependência industrial e tecnológica, o homem passou a

distanciar-se da natureza pura, de maneira que, frente a tal condição, os campos da

psicologia, filosofia, ciências ambientais, literatura, dentre outras, passaram a estimular

tentativas de reconexão entre o ser humano e a natureza (MOGHADAM; SINGH;

YAHYA, 2015).

Acerca da inserção do homem no contexto industrial, Leví (2012, p. 24) ressalta

que:

O conflito Homem-natureza surge em resultado desses processos industriais,

responsáveis não só pelo desenvolvimento económico, criação de emprego,

melhoria da qualidade de vida mas também pela destruição da sua própria fonte

de sobrevivência. Após várias décadas de utilização irracional dos recursos, o

homem começa a ter consciência dos danos que tem vindo a causar ao meio

ambiente e como resultado vários movimentos foram surgindo no sentido de

despertar as nações para uma consciência ambiental que tenha como base a

gestão racional dos recursos naturais. Nos últimos anos tem-se assistido a uma

crescente preocupação do homem com o meio ambiente, levando-o a redefinir

as suas prioridades e a adoptar uma nova filosofia de actuação “fazer mais com

menos recursos”. Contudo, no início a preocupação era meramente económica,

ou seja, as sociedades possuíam um modelo desenvolvimento onde não havia

lugar para um equilíbrio entre o homem e a natureza, mas sim para a produção

em massa e criação de riqueza.

Para Macedo e Diniz (2007), após a expansão das cidades, a sociedade passa a

apresentar uma necessidade de reaproximação do chamado “natural”. Paisagens como

pastos e campos de cultivos, por mais que se apresentem como áreas transformadas,

passaram a ser transformados em signos de natureza real. Para Moghadam, Singh e Yahya

(2015), a agricultura, a domesticação de plantas e animais selvagens permitiram o homem

estabelecer suas civilizações, passando de uma sociedade caçadora-coletora para uma

condição e civilizatória.

95

Nas visões de Moghadam, Singh e Yahya (2015), a revolução industrial agiu como

uma válvula propulsora na transformação das áreas naturais em urbanas, de maneira a

transformar tudo em função do atendimento das necessidades humanas: construção de

edifícios, estradas, estradas de ferro, carros, etc. transformações as quais distanciavam (e

continuam a distanciar) cada vez mais o homem da natureza. A tecnologia e a indústria

passaram a estabelecer novas relações sociais (invenções do aparelho televisor, telefone,

celular, computador, internet), colocando as relações com a natureza em um segundo

plano. Para Hernandez (2009), a revolução industrial derrubou as últimas barreiras

técnicas que impediam o uso indiscriminado dos recursos naturais, acarretando na busca

implacável da humanidade na exploração desordenada e devastadora da natureza em prol

do chamado idealizado “progresso”.

A partir do século XIX, o pragmatismo passa a tomar as bases do pensamento, uma

vez que, a ciência e a técnica passam a assumir um significado central na vida do homem.

Neste contexto, a natureza transforma-se cada vez mais em um objeto a ser possuído e

dominado, sendo subdividida através dos ramos da Física, Química e Biologia, enquanto

o homem é associado a partir da Economia, Sociologia, Antropologia, História,

Psicologia, etc. Considerando tal concepção, torna-se cada vez mais difícil desenvolver

um pensamento orgânico e integrado entre homem e natureza (PORTO-GONÇALVES,

1989). Sobre tal ruptura, Porto-Gonçalves (1989, p. 35) relata que:

A ideia de uma natureza objetiva e exterior ao homem, o que pressupõe uma

ideia de homem não natural e fora da natureza, cristaliza-se com a civilização

industrial inaugurada pelo capitalismo. As ciências da natureza se separam das

ciências dos homens; cria-se um abismo colossal entre uma e outra e, como

veremos mais adiante, tudo isso não é só uma questão de concepção do mundo.

A ecologia enquanto saber e, sobretudo, o movimento ecológico tentam

denunciar as consequências dessas concepções, embora o façam, muitas vezes,

permeados pelos princípios e valores dos seus detratores...

Conforme sugere Porto-Gonçalves (2013) o ideário que permeia os últimos séculos

é o da dominação da natureza como condição necessária para o desenvolvimento. O autor

op. cit. ressalta que, o vocábulo “desenvolver” significa “des-envolver”, ou seja,

desarticular a autonomia/envolvimento que o povo tem para com seu espaço. Nesta

concepção, a técnica surge como ferramenta perfeita para aumentar a produtividade

capitalista, auxiliando no supracitado desenvolvimento.

Acerca da mercantilização da natureza pelo homem, Hernández (2009, p. 107)

explica que:

96

El hombre no siempre ha desarrollado actividades compatibles con los tempos

naturales, a medida que se avanzó en el proceso de internacionalización del

capital, instrumentalizado por las revoluciones científico-tecnológicas, los

tiempos de producción que el hombre “exige” a la Naturaleza son cada vez

más distantes de lo que deberían ser. El hombre compite por los recursos

naturales, siendo esta característica muy evidente en las guerras creadas para

el dominio de tal o cual recurso estratégico.

Em contrapartida as cidades e campos rurais, as paisagens/ecossistemas naturais

protegidas por grupos preservacionistas tomaram novos significados, passando a serem

mercantilizadas, sendo tidas como símbolos de paz, conforto e harmonia, estando a

disposição das elites que, dentro de um protocolo de sujeito “conscientizado” atuam como

guardiões da natureza. Em um processo inverso e contraditório, as paisagens tidas como

naturais passam a exercer uma condição de status para aqueles mais abastados e,

consequentemente, propiciando situações de segregação espacial (MACEDO; DINIZ,

2007).

Acerca da apropriação da natureza pelo homem na sociedade pós-revolução

industrial, Porto-Gonçalves (1989, p. 25) indica que:

A natureza se define, em nossa sociedade, por aquilo que se opõe à cultura. A

cultura é tomada como algo superior e que conseguiu controlar e dominar a

natureza. Daí se tomar a revolução neolítica, a agriCULTURA, um marco da

história, posto que com ela o homem passou da coleta daquilo que a natureza

naturalmente dá para a coleta daquilo que se planta, que se cultiva.

Ainda sobre tais mudanças homem/natureza, Schama (1996, p. 23) ressalta que:

Diz-se, portanto, que a agricultura intensiva possibilitou todo tipo de males

modernos. Rasgou a terra para alimentar populações cujas demandas (por

necessidade ou por luxo) provocaram mais inovações tecnológicas, que, por

sua vez, ao exaurir os recursos naturais, impulsionaram mais e mais o ciclo

exasperado de exploração ao longo de toda a história do Ocidente.

Para Moghadam, Singh e Yahya, (2015, p. 93), apesar da dependência do homem

com relação às indústrias, sua relação com a natureza ainda permanece:

To put it all together, it can be said that human have a deep connection to

nature, and although this connection has been weakened by human’s gradual

dependence on industry, human’s physical and psychological essential need to

nature has not been weakened at all. Nature has been the source of

psychological well-being and physical health for human from the beginning of

his existence on the planet Earth. Hence there had been a strong and deep

relationship between human and nature. But the industrialization and

urbanization has gradually kept human away from his main home and caused

a big gap in human’s relationship with nature. Thus, human has been alienated

from nature, and such an alienation can be called the main reason of all his

physical and especially psychological disorders. But in recent years as this

alienation and separation has been felt threatening both for human and nature,

the attempts has been started for reconciliation between human and nature, a

97

reconciliation which can bring a psychological well-being for human in these

years of human degradation.

Entretanto, apesar da relevante interferência do período industrial na natureza,

Schama (1996) enfatiza que este fato histórico por si só não pode ser levado em

consideração como o único e determinante acontecimento que interferiu nas interações

com a natureza. Para o autor, os ecossistemas sustentam a vida no planeta independente

da interferência humana, uma vez que, são atuantes antes mesmo da ascendência do Homo

sapies. Entretanto, é difícil acreditar que exista um único sistema natural que não tenha

sido afetado positivamente ou negativamente pela cultura humana. Nesta concepção, tais

alterações não devem ser atribuídas apenas nos séculos industriais, mas sim que, estas

vem acontecendo deste a antiga mesopotâmia, abarcando mudanças desde as calotas

polares até as florestas equatoriais, ou seja, toda natureza que nos permeia.

Tal condição é confirmada por Garnier (2008), que indica o fato de que as

sociedades humanas historicamente modificaram seus habitats, seja para facilitar a vida,

para aumentar suas produções ou simplesmente para atender aquilo que tais sociedades

tinham como visão ideal de mundo. Essas modificações acarretaram ao longo dos tempos

modificações radicais na biodiversidade. Dentre tais modificações, destaca-se o final do

século 20, em que o homem passa a um nível superior de domínio da natureza: a

manipulação de genes. Os avanços cada vez mais rápidos do conhecimento propiciaram

ao homem a revelação de inúmeras espécies, bem como possibilitou altera-las e “melhorá-

las” em prol de benefícios ao homem, principalmente com relação a alimentação

(aproximadamente 15 tipos de plantas atualmente são utilizados para alimentar a maioria

da humanidade).

Essa manipulação do homem sobre a natureza estabelece uma relação quase que de

“Deus criador”, representando uma realidade em que a humanidade tem a possibilidade

de realizar alterações na natureza que antes eram impensáveis. Entretanto, essa busca

pelas satisfações humanas tem cobrado certos preços. Cada vez mais nota-se a ocorrência

de alterações nos sistemas naturais, os quais desencadeiam desastres que acarretam

grandes consequências em áreas naturais.

De fato, parece razoável pensar que, muitas das alterações e apropriações da

natureza pelo homem trouxeram uma ampla gama de benefícios, os quais propiciaram

seu gradativo bem estar ao longo dos séculos. A problemática em questão é a intensidade

de tais explorações, as quais ocasionaram as supracitados alterações, trazendo alterações

no fluxo sistêmico dos diferentes sistemas naturais encontrados no globo terrestres. Neste

98

sentido, tais modificações acarretam cada vez mais impactos negativos, como por

exemplo, o chamado efeito estufa que, contraditoriamente é tratado por muitos como um

“problema contornável” em função dos avanços e soluções da ciência. Portanto, a noção

de que o homem possui passe livre para incidir mudanças na natureza tem sido cada vez

mais colocada à prova, uma vez que, não há certezas de que a ciência sempre conseguirá

contornar a problemática em questão.

Mudanças drásticas na natureza, ou seja, a excessiva exploração de seus recursos

em função das mais diversas dinâmicas territoriais, podem pressupor alterações em níveis

global e local. Dentre as alterações globais, as climáticas aparecem como um elemento

que incide relevantes transtornos na biodiversidade que, apesar de sua escala global, pode

ser mitigada a partir de esforços em nível local, atuando para limitar tais mudanças e

auxiliar na conservação da biodiversidade (GARNIER, 2008).

Além da questão climática, outras alterações podem ser elencadas a partir das

alterações provocadas nos sistemas naturais, tais como a diminuição da diversidade de

fauna e flora, poluição de cursos hídricos, perda de qualidade dos solos, diminuição da

qualidade do ar, dentre outras consequências.

Considerando os desdobramentos negativos da intensa industrialização e,

consequentemente, nas mudanças ocasionadas a natureza, passou-se a perceber reflexos

destes aspectos negativos no ambiente e na qualidade de vida do homem. Frente a isso,

despertou-se novas reflexões acerca do modelo de desenvolvimento posto, ou seja,

tornou-se necessário pensar no equilíbrio entre a manutenção dos sistemas naturais e a

satisfação das necessidades humanas, carecendo assim a adoção de práticas menos

depredativas para com a natureza. Tal concepção surge no final dos anos 60 e início dos

anos 70 do século XX, sendo tratada em diversas conferências internacionais na tentativa

de criar diretrizes para a implementação daquilo que é tratado como “desenvolvimento

sustentável” (LEVÍ, 2012).

Esta preocupação com a preservação da natureza e acesso restrito a mesma mantém

uma intrínseca relação com o turismo. Atividades como o ecoturismo apresentam cada

vez mais uma seletividade de seus praticantes, principalmente em função do poder

econômico apresentado pelos mesmos, deixando de lado assim aqueles que não possuem

a mesma condição monetária. Tal discussão apresenta-se como fundamental na visão de

Vitte (2012, p. 8) pois:

“[...] as relações econômicas de possessão, que se realizam em muitas

dimensões do humano, reduz o outro, toma-o indiferente, exclui e segrega

99

espacialmente, toma o outro mercadoria. No caso da natureza, uma mercadoria

rara, cara e cujas paisagens são desfrutadas por poucos, por aqueles que

possuem dinheiro para pagar por um momento de lazer e prazer cênico”.

Ao ressaltar a importância da natureza na atividade turística, Silva (2006, p. 76) cita

que:

Como um produto qualquer, a natureza, na atividade turística, passa a ter maior

significado ou demanda em grupos sociais sem possibilidade, em seu

cotidiano, de manter relações diretas com áreas pouco antropizadas,

equilibradas devido à baixa alteração dos processos naturais. Assim, os

grandes consumidores de natureza, mais particularmente, do Turismo de

Natureza, serão indivíduos, em sua maioria, urbanos-industriais, que buscam

nessa prática, incorporar ou difundir a concepção de natureza que permeia a

sociedade atual que tem ligações intrínsecas com os movimentos filosóficos

anteriormente comentados (o Naturalismo e o Romantismo) e com aspectos

ambientais incorporados nas últimas quatro décadas, pela política, cultura,

economia, educação e lazer.

Assim sendo, faz-se necessário que, dentro das possibilidades de inserção da

atividade turística na tentativa de conservação/preservação da natureza, sejam

desenvolvidas estratégias possibilitem que o acesso a tais áreas, de maneira a permitir que

a sociedade passe a dispor de condições de interação e contemplação destes ambientes

com menores níveis de intervenção antrópica. Neste contexto, a criação de áreas

protegidas apresenta-se como uma dessas estratégias, a qual denota um caráter de

conservação, bem como propicia o uso/interação responsável com seus visitantes.

Tomando como premissa as discussões apresentadas, acredita-se que o Turismo de

Natureza pode ser apontado como uma das opções na promoção da interação da sociedade

com a natureza e, mediante o desenvolvimento de um planejamento turístico, propiciar o

estimulo a conservação/preservação de tais áreas. Mediante tal premissa, o próximo item

visa desdobrar a relação deste segmento turístico com a natureza, de maneira a

compreender em que medida as áreas naturais atuais podem ser englobadas dentro de

propostas de desenvolvimento de atividades ligadas ao Turismo de Natureza.

2.2 Turismo de natureza: que natureza é essa?

O turismo, atividade econômica em crescente expansão pós período industrial, é

caracterizada como um ramo que envolve o deslocamento dos indivíduos em diversos

pontos do globo terrestre (e até mesmo fora dele, quando consideramos os primeiros

ensaios do turismo espacial), movimentações as quais possuem suas motivações pautadas

em diferentes variáveis que permeiam o imaginário de cada turista.

100

A cultura, o conhecimento científico, a saúde, o lazer, o descanso, dentre outras

possibilidades, são algumas das variáveis que podem incentivar e despertar o desejo de

viajar de diferentes turistas. Cada vez mais, uma importante vertente ganha destaque e

apelo na busca por destinos turísticos: a natureza. Para Silva (2006, p. 77):

Os segmentos do Turismo que mais incorporarão práticas turísticas ligadas ao

Turismo de Natureza serão, portanto, aqueles que excluem o convívio direto

com ambientes urbanos, os quais, muitas vezes, irão servir somente de aporte

por meio do oferecimento de serviços de hospedagem, alimentação ou

agenciamento, necessários para o seu desenvolvimento. A oferta turística

original, bem como, a potencialidade turística, resultam diretamente do

ambiente natural.

Neste contexto, a paisagem se apresenta como uma importante categoria analítica,

uma vez que, considerando nossa capacidade de percepção e entendimento de diferentes

espaços, esta se concretiza como uma ferramenta que permite promover, praticar ou

vivenciar viagens. Em suma, do ponto de vista mercadológico, a paisagem se torna um

importante recurso de venda de roteiros turísticos. Tal premissa se ampara do fato que a

paisagem é considera por alguns como a principal motivação dos fluxos turísticos,

considerando que as pessoas se deslocam para ver, escutar, cheirar (sentir ou perceber)

outras paisagens, bem como se relacionar com outras pessoas diferentes de seu cotidiano

(RAIMUNDO, 2011).

Assim sendo, o segmento do Turismo de Natureza passa a ser uma modalidade de

turismo que possibilita o “reencontro” do homem com a natureza, permitindo um

distanciamento, mesmo que durante um curto período de tempo, dos conglomerados

urbanos caracterizados por apresentar um cenário oposto à calmaria e simplicidade

geralmente encontradas em ambientes de maior naturalidade.

Para Teles (2011), o fluxo de deslocamentos para áreas naturais tem crescido cada

vez mais em todo o mundo. Neste sentido, a frenética busca por tais ambientes acabou

por simplificar o segmento Turismo de Natureza, acarretando em uma certa

homogeneização da oferta turística relacionada ao uso de recursos naturais para

atividades turísticas. Esta homogeneização acaba por estimular confusões conceituais

acerca do tema, necessitando assim de maiores esclarecimentos específicos sobre este

segmento.

Destarte, o Turismo de Natureza revela um papel social importante, na tentativa de

reaproximação para com a natureza, de maneira a oferecer atividades que privilegie o

contato direto com a mesma. Entretanto, qual é a natureza do Turismo de Natureza?

Considerando as reflexões expostas no item anterior, a natureza adquiriu, adquire e pode

101

ver a adquirir diferentes significados para os sujeitos e, portanto, faz-se necessário aqui

estabelecer qual natureza é entendida pela conceituação do segmento Turismo de

Natureza.

Na concepção de Leví (2012, p. 62) “O Turismo de Natureza é um conceito

complexo, uma vez que abrange diversos fatores e como tal vários autores procuram

abordar o conceito de acordo com a sua visão”. Em sua conceituação, Martins e Silva

(2018, p. 499) definem o Turismo de Natureza como:

[...] todo o turismo realizado em ambientes que tem na paisagem seu principal

atrativo. Acontece independente da existência de estruturas formais e é movido

basicamente pelos interesses do mercado, ainda que não necessariamente

exista uma preocupação ambiental e social. Nessa perspectiva, motiva-se pelos

lócus da natureza (risco, descanso, lazer ou retorno às raízes) e não ocorre

necessariamente em áreas protegidas. A característica do ambiente é um dos

elementos centrais, considerando a importância da paisagem, suas formas e

funções que se materializam na beleza cênica ou no geossistema.

Cabe ressaltar a amplitude conceitual que permeia a expressão Turismo de

Natureza, de maneira que, distintos autores apresentam suas definições com base em

diferentes perspectivas, sejam relacionadas aos princípios preservacionistas, sejam em

função da vertente econômica, ou ainda pelo simples desenvolvimento de atividades que

propiciem um contato mais aproximado para com a natureza.

Nesta abordagem, o Turismo de Natureza será embasado a partir do conceito

estabelecido por Lima, Silva e Boin (2018, p. 13), os quais definem o segmento como:

O Turismo de Natureza deve ser considerado, então, como a atividade turística

na qual a natureza se apresenta como elemento principal, de modo que esta

sirva como base para o desenvolvimento da atividade, seja pelo seu aspecto

visual/cênico, seja por seu aspecto funcional, podendo haver variação dos

interesses, ou seja, pode primar pela aventura/radicalidade, descanso,

recreação ou a simples busca pela “volta às origens”, não havendo

necessariamente a preocupação ambiental, tanto por parte dos turistas, quanto

pelos promotores da atividade.

É importante frisar que, a abordagem aqui tomada como base conceitual diferencia-

se daquilo que se define como Ecoturismo, uma vez que se entende que este pode ser

tomado como segmento turístico diferente do Turismo de Natureza, ou seja, os princípios,

premissas, estruturas, atuações, dentre outras variáveis, diferenciam-se entre os referidos

segmentos3.

3 Sobre a diferenciação entre os segmentos Turismo de Natureza e Ecoturismo, ver Silva (2006), Lima

(2017), Eichenberg (2018) e Martins (2018).

102

Teles (2011) lembra que na década de 1970 houve uma expansão de produtos

turísticos desenvolvidos em função do uso de recursos naturais, os quais muitos deles

eram equivocadamente designados como ecoturismo. Além disso, outra ideia errônea

difundida neste mesmo período foi tratar este segmento enquanto sinônimo de turismo

sustentável, desconsiderando que este é um conceito amplo e que permeia todas as formas

de turismo, e não exclusivamente ao ecoturismo.

Além do Ecoturismo, o Turismo de Natureza é frequentemente tratado de forma

similar ou até mesmo como sinônimo de termos como “Turismo Responsável”, “Turismo

Ecológico”, “Turismo Baseado na Natureza”, dentre outras nomenclaturas, amplitude de

conceitos os quais, de acordo com Rodrigues (2018) nos desafia a estabelecer limites

claros acerca da amplitude da terminologia Turismo de Natureza, bem como as tipologias

que este compreende.

Nas visões de Martins e Silva (2018), o Turismo de Natureza congrega práticas

turísticas as quais não privilegiam prioritariamente a conservação e consciência

ambiental, fato que pressupõe a necessidade de sua dissociação do ecoturismo. Para os

autores op. cit., o Turismo de Natureza caracteriza-se como um segmento orientado pelo

mercado, o qual atua na indução e formatação de produtos a serem comercializados. Ao

definir o termo Turismo de Natureza, Silva (2006, p. 86) discorre sobre as essências que

permeiam o segmento:

Pouco utilizado o termo não nega a existência de impactos ambientais e

concebe que a base da motivação turística e o deslocamento dos fluxos

turísticos das áreas emissoras para as receptoras ocorrem, predominantemente,

a partir de aspectos da natureza. Os aspectos socioculturais e os arranjos

turísticos das áreas receptoras servem de complemento, facilitando sua prática

e desenvolvimento. Esse segmento turístico congrega tipologias turísticas que

se utilizam, direta ou indiretamente, da natureza consumindo-a como um

produto de mercado. Explora os valores ambientais que permeiam a sociedade

atual, potencializando os aspectos do Romantismo e do Naturalismo presentes

no movimento ambientalista, abordados no item anterior.

Ao relacionar a atividade turística com a natureza, é importante pensar que, o

ideário de “natureza” construído ao longo da história adquiriu diferentes significados em

cada temporalidade. Nesta concepção, a cultura pode ser considerada como fator

preponderante no contexto destas mudanças, uma vez que, ela orienta as diversas

maneiras como os indivíduos podem se apropriar da natureza, tendo como ideologias e

diferentes formas de ver o mundo. Assim sendo, considerando um contexto atual, as

políticas públicas ligadas ao turismo, bem como ações que visam a conservação da

natureza e cultura, também estão pautadas em interesses e prioridades estabelecidos pelos

103

governos nacionais e internacionais, interferindo assim diretamente na forma de observar

e tratar aquilo que se considera como “natureza” (RODRIGUES, 2016).

Em muitos casos, a natureza e, consequentemente, as atividades que possui relação

intrínseca com a mesma (como no caso do Turismo de Natureza), podem atrelar-se com

a condição de saúde do ser humano. Destacando a importância da Natureza para o ser

humano, Moghadam, Singh e Yahya (2015, p. 92) citam que “So nature can bring a

“tranquility and rest to the mind” to think about our place and our self in this world”.

Para Souza (2019), cada vez mais o ideário de paisagem passa a ser tomado quase

como sinônimo de reencontro com a natureza, condição a qual não se atrela apenas

discussões científicas ou construções filosóficas, mas também nas relações cotidianas

comuns a todos indivíduos, seja no trabalho, nos momentos de férias e feriados, durante

o tempo de descanso e até mesmo nas frações de natureza representada em quadros ou

esculturas das casas. Conforme a reflexão do autor op. cit., os indivíduos buscam cada

vez mais, seja em menor ou maior escala, relacionar-se/aproximar-se de elementos que

remontam a aspectos naturais. É importante ressaltar que, o ideário de “Natureza”

almejado pelo visitante/turista, nem sempre remete a “Natureza intocada”, mas sim que,

muitas vezes relaciona-se com a ideia de natureza alterada, como por exemplo, praias,

balneários, animais domesticados, etc.

A natureza, materializada na paisagem, não se apresenta como um simples elemento

em sua constituição. Esta é vista como um ideal a ser buscado, uma vez que,

contraditoriamente, a própria modernidade buscou se afastar. Assim sendo, o retorno a

natureza (mesmo que uma natureza imbricada de elementos artificiais) possibilitaria

retomar uma visão perdida nos últimos tempos, a qual foi sendo esquecida em função dos

processos de artificialização do cotidiano humano, ligados principalmente aos centros

urbanos (SOUZA, 2019).

Considerando tal assertiva, o Turismo de Natureza pode ser indicado como uma

atividade que possibilita tal aproximação do ser humano com os ambientes de maior

naturalidade, propiciando assim experiências que causem bem estar aos praticantes, além

de estimular a manutenção e conservação dos ambientes onde tais práticas são

desenvolvidas.

Lopes e Santos (2014) lembram que, na atividade turística, os recursos naturais são

considerados relevantes elementos com capacidade de atração e, consequentemente, de

desenvolvimento turístico em diferentes regiões do país. Fauna, flora e recursos hídricos

são exemplos das importantes variantes que atuam para atrair a atenção dos turistas.

104

Acerca da importância dos recursos naturais e sua relação com a atividade turística, as

autoras op. cit. (p. 57) ressaltam que:

Uma área com potencial turístico e bem preservada, com paisagens cênicas,

vegetação altamente preservação, recursos hídricos em abundância com

ausência de poluição, torna o turismo uma importante via econômica. A grande

dificuldade encontra-se exatamente em dinamizar o uso e estabelecer um

balanço positivo no uso destes recursos a favor da atividade turística. A

vegetação brasileira apresenta alto índice de diversidade e apresenta-se

essencial em diversos locais, transformando a paisagem local, regional e

global. Além de ser útil a nidificação para a fauna em geral, é responsável

também pela manutenção dos corpos hídricos existentes. Da mesma forma a

fauna apresenta relevante destaque para atrair o turismo, pois associado a uma

vegetação preservada, a fauna torna-se abundante e exuberante. A avifauna

torna-se tão abundante a ponto dos turistas se beneficiarem de belos voos,

cantos e presença. [...] Corpos hídricos bem preservados, longe de

contaminação por esgotos e ineficiente saneamento básico, possuem

excelentes condições para a prática de atividades na água. Neste sentido, rios,

cachoeiras, praias e balneários, são importantes aspectos naturais para compor

o turismo nestas áreas.

Na visão de Hernández (2009), dentre as atividades econômicas, o turismo pode ser

considerado aquela que mais tem aproximado suas relações com a natureza. Tal

aproximação possui uma relação direta com o desenvolvimento tecnológico dos meios de

comunicação e transporte, os quais possibilitam novos vínculos da “sociedade turística”

com aspectos naturais e culturais valorizados principalmente em função de seu apelo

cênico. Ainda de acordo com o autor op. cit., essas relações com os ambienteis naturais

baseiam-se principalmente no ócio e lazer, fato que em muitos casos mascaram estudos

mais profundos do turismo em tais áreas, acerca principalmente dos impactos causados

nas paisagens naturais e culturais. Sobre a importância de tais paisagens, Hernández

(2009, p. 112) relata que:

En el turismo la “materia prima” son los paisajes naturales y culturales, que

antes de ser puestos en “producción” son ambientes con niveles mínimos de

transformación. Cuando estos son utilizados, sociabilizados e incorporados a

la lógica de mercado para ponerlos em producción por sus cualidades

escénicas, pierden las características por las cuales fueron valorizados. Algo

similar sucede con el turismo cultural, se suele presionar los bienes culturales

mediante el sobreuso o sobreexposición, degradándolos y poniendo en riesgo

su conservación. Las infraestructuras creadas para la explotación turística

constituyen um dualismo en el espacio urbano-turístico: el rostro visible de la

ciudad turística, la que se debe vender y comercializar, y el rostro oculto, la

pobreza cotidiana, los barrios sin servicios básicos alejados de los atractivos

turísticos.

Nesta concepção, percebe-se então uma linha ténue entre o “retorno” do ser humano

às áreas naturais e a conservação e manutenção de tais ambientes. Esse fato acarreta em

uma visão muito comum acerca da atividade turística, taxada muitas vezes como uma

105

prática que destrói os diversos ambientes em que é inserida. De fato, o desenvolvimento

indiscriminado e sem planejamento do turismo pode acarretar em consequências

desastrosas em diversos ambientes, entretanto, o estabelecimento da atividade de maneira

estruturada e planejada pode sim ser utilizada como uma estratégia de promover o bem

estar do ser humano e auxiliar na preservação de áreas com maiores índices de

naturalidade.

Tal planejamento deve equalizar o máximo possível as quatro vertentes que

envolvem a atividade turística: social, cultural, ambiental e econômica. Do ponto de vista

social, o Turismo enquanto prática que envolve relações entre sociais, deve buscar sempre

promover a integração e o bem estar entre os visitantes e visitados. No que tange a cultura,

a atividade turística pode ser tomada como um estímulo a valorização cultural dos

destinos turísticos. Na perspectiva ambiental, a atividade pode possibilitar a valorização

de aspectos e naturais e, consequentemente, estimular a educação ambiental no trato de

tais paisagens. E por fim, enquanto atividade econômica, o Turismo propicia a geração

de divisas, tanto para comunidade local, quanto para investidores do setor turístico. Ou

seja, as bases do planejamento não devem privilegiar apenas uma vertente, como

geralmente é comum observar uma sobreposição econômica em detrimento às demais,

mas sim deve propiciar o equilíbrio entre as variáveis que envolvem o Turismo. No que

tange a complexidade da atividade turística e sua importância para o planejamento, Teles

(2011, p. 16) cita que:

Sem dúvida, para que se proponham ações de baixo impacto e se maximize os

efeitos positivos do Turismo, a primeira tarefa para o profissional é entender a

atividade e o segmento em toda sua complexidade. É fundamental

compreender as conexões existentes entre o Turismo de Natureza e as

diferentes formas de organização da sociedade e, assim, visualizar possíveis

caminhos que serão perseguidos para implantação de projetos. No caso do

Turismo, não podemos entender o espaço como se fosse um tabuleiro de xadrez

pronto para receber qualquer empreendimento sem considerar os impactos que

poderão surgir a partir dessas ações. No que tange ao Turismo de Natureza, o

leitor pôde perceber a complexidade que envolve a palavra “natureza” e a

necessidade de estar conectado a este universo.

De acordo com Luchiari (1999), o turismo desenvolve-se na linha tênue e

contraditória entre o crescimento econômico e a desencadeamento de processos de

degradação ambiental. Neste “embate”, o turismo muitas vezes se coloca como única

opção de desenvolvimento econômica de muitas localidades, acarretando assim em

processos de subordinação cultura das comunidades locais em função das demandas

106

externas dos agentes do turismo. Acerca desta interferência externa no processo de

planejamento e desenvolvimento turístico, a autora op. cit. (p. 130) destaca que:

A organização territorial dos lugares turísticos não responde somente à lógica

do lugar, do meio, e da população local. Ela reproduz atributos valorizados nos

centros urbanos emissores, sintetizando, na materialidade das cidades que se

expandem, as novas representações sociais imprimidas ao uso do território. Por

isto, os lugares não permanecerão “provincianos”. “selvagens” ou

“autênticos”, porque estes atributos não representam mais a sociedade.

Ainda sobre o processo de planejamento no turismo, Ribeiro (2017) lembra que,

para o desenvolvimento de atividades turísticas ligadas a ambientes naturais são

necessárias “adequações” na estruturação dos atrativos e de sua região. Neste sentido,

devem haver cuidados em tais ações, uma vez que, alterações abruptas nestes ambientes

podem ocasionar a descaracterização e/ou artificialização das paisagens.

Ao relacionar a importância dos espaços naturais com o turismo, Miranda (2013)

indica que estes locais possuem características físicas atrativas ao desenvolvimento de

atividades ligadas às práticas recreativas ligadas ao turismo, proporcionando a

reaproximação da natureza e gerando novas sensações a seus praticantes. Nesta

concepção, Gorni e Dreher (2010) destacam o Turismo de Natureza como segmento que

se destaca na relação com ambientes naturais, propiciando a convivência com aspectos

da fauna e flora de ambientes que se diferenciam dos grandes centros urbanos. Na visão

de Luzar et. al. (1995), o turismo desenvolvido em ambientes de maior naturalidade, além

de promover a conservação ecológica das áreas, pode propiciar a valorização cultural e

social com os atores que mantém relação direta e indireta com tais locais. Esta condição

é confirmada por Ballesteros Pelegrín (2014, p. 49) ao indicar que “El turismo de

naturaleza está generando efectos positivos, como es el acercamiento al medio natural y

aumento de la conciencia ambiental entre la población, así como la creación de nuevos

mercados para las economías locales y nacionales”.

Deste modo, aliando o fato de que, na contemporaneidade estabelece-se a

reaproximação do ser humano com ambientes de maior naturalidade e/ou menor grau de

antropização, a atividade turística surge como um meio para alcançar tal aproximação,

mesmo considerando que para realizar suas práticas o turismo venha requerer a

construção de infraestruturas de apoio no atendimento de seus turistas e,

consequentemente, diminuindo tal “naturalidade” do ambiente.

Tal fato é confirmado por Aguiar (2005), que indica que apesar de ser possível o

desenvolvimento do turismo sem que haja necessariamente a modificação dos espaços

107

em que a atividade se estabelece, as modificações materiais são inevitáveis, ou seja, a

estruturação dos chamados equipamentos turísticos é necessária para que o fluxo da

atividade e atendimento a seus praticantes aconteça. Dentre tais estruturas, exemplifica-

se dentre os mais comuns: hotéis, pousadas, campings, restaurantes, bares e lanchonetes,

etc. Para o autor op. cit. (p. 31):

Na grande maioria dos casos, os espaços naturais são re-apropriados pela

atividade turística, desprendendo os recursos naturais da lógica do lugar que

atribuiu a eles o valor de uso. Uma nova relação é construída sob urna lógica

que é determinada pelos sujeitos promotores da atividade turística, que

determinam a instalação dos equipamentos, as regras, as políticas e o

marketing turístico, o que inclui os turistas e moradores das localidades

turísticas. Esta relação entre turismo de massa, que se dá a partir da década de

1950, e a apropriação dos espaços naturais para a prática desta atividade, que

se dá a partir das preocupações futuras geradas com os movimentos

ambientalistas na década de 1970 é o que podemos chamar de ecoturismo.

Dentro deste contexto, Aguiar (2005) reflete que a fetichização e espetacularização

da natureza faz com que cada vez mais os espaços naturais passem a ser ocupados por

agentes turísticos, atuando nos mais diversos segmentos que busquem na natureza a sua

matéria prima.

Para Luchiari (1999) essa fetichização e espetacularização da natureza estimula

cada vez mais o turismo de massa, ampliando a busca por destinos em que tais cenários

se apresentam atrativos para práticas turísticas. Tal lógica estimula cada vez mais a

apropriação de novas paisagens, uma vez que, a democratização do turismo acaba por

“vulgarizar” paisagens antes exclusivas das elites, estas que por sua vez buscam novos

destinos mais aprazíveis aos seus desejos de exclusividade.

Conforme sugere Luchiari (1999), esta recorrente busca por “novas paisagens” faz

parte da dinâmica do turismo, uma vez que, nesta atividade não há o desaparecimento de

uma paisagem, mas sim uma substituição de um conjunto paisagístico por outro. Assim

sendo, por mais perverso que possa parecer, o esgotamento de recursos naturais não

significa a morte da paisagem, mais sim uma nova configuração a ser explorada pelo

turismo.

Para Silveira (2014), a estruturação de espaços turísticos segue a dinâmica ditada

pelos atores envolvidos na atividade. Assim como outras atividades econômicas, o

turismo é desenvolvido tanto a partir da transformação de lugares já existentes, quanto na

criação de novos locais turísticos. Neste sentido, a atividade turística sempre buscará

estabelecer-se em paisagens que permitam o desenvolvimento de espaços que motivem

108

fluxos turísticos pelos mais diversos interesses, inclusive a busca por ambientes com

menores graus de intervenções antrópicas.

Com base nessas considerações, podemos dizer que os espaços turísticos surgem e

evoluem em função da dinâmica alimentada pela ação de determinados atores. Nesse

sentido, o turismo, do mesmo modo que qualquer outra atividade – como a indústria, por

exemplo -, é um elemento atuante tanto na transformação de lugares já existentes quanto

na criação de novos (SILVEIRA, 2014, p. 26).

No contexto brasileiro, Moretti e Lobo (2009) destacam que as políticas públicas

sempre estiveram alinhadas a tentativa de ligar as belezas naturais do país enquanto pano

de fundo para um cenário de paraíso tropical, de sensualidade, de receptividade e ao

prazer. Neste âmbito, ao longo dos anos, a natureza se estabeleceu como elemento

fundamental na consolidação da imagem turística brasileira.

Entretanto, ao utilizar a natureza como matéria prima, o turismo, ou mais

especificamente, o Turismo de Natureza, pode buscar nesses ambientes de maior

naturalidade objetivos distintos. Fossgard (2019) indica que, a busca de práticas turísticas

em ambientes naturais atrela-se a diferentes objetivos, tais como o interesse na vida

selvagem de uma determinada região, a beleza cênica das paisagens, a necessidade de

encontrar-se em ambientes silenciosos, dentre outras possibilidades, variações as quais

apresentam-se de suma importância para que os agentes turísticos possam preparar os

produtos desejados por seus turistas.

Fossgard (2019) chama a atenção para outro fato: os recursos naturais a serem

utilizados na atividade turística, em muitos casos, também servem como base de outras

atividades paralelas, como nas operações de extração (por exemplo, silvicultura,

agricultura, mineração, pesca) (Figura 10), produção de energia (por exemplo, moinhos

de vento, energia hidrelétrica), interesses na proteção da natureza (por exemplo, reservas

naturais, parques nacionais) e na subsistência de comunidades locais. Tais conflitos

podem influenciar positiva ou negativamente na proposta de inserção do Turismo de

Natureza em uma determinada localidade.

109

Figura 10 - Atividade de mineração na paisagem do ícone Maciço do Urucum,

Corumbá-MS

Autor: LIMA, 2019

Acerca das relações entre o ser humano e a natureza, Diegues (2000) atenta para “o

mito moderno da natureza intocada”, o qual suscita (principalmente pela vertente

naturalista) a necessidade do isolamento da natureza em referência às interações com o

ser humano, de maneira a utiliza-la estritamente sob o ponto de vista da admiração e

reverenciamento e, consequentemente, protegendo o paraíso perdido, desejado e

procurado desde a “expulsão do jardim do Éden”.

Para Lopes e Santos (2014), considerando a relação entre o turismo e os recursos

naturais, ressalta-se a necessidade de cada vez mais ampliar-se o debate acerca desta

combinação, uma vez que, os recursos naturais auxiliam na realização do turismo, assim

como o turismo possibilita o desenvolvimento de uma determinada área,

desenvolvimento que, dependendo da maneira em que é estimulado, pode incidir aspectos

negativos nos referidos recursos e, consequentemente, atrapalhar o processo de

retroalimentação das relações supracitadas.

Tendo em vista tais assertivas, ressalta-se que, talvez seja impossível manter áreas

naturais primitivas, ou seja, sem quaisquer tipos de interação entre ser humano e natureza.

Neste caso, o Turismo de Natureza, enquanto atividade pautada em um planejamento

estruturado, pode atuar como uma atividade relativamente passível de integralizar o ser

humano com a natureza, admitindo menores níveis de deterioração ambiental.

110

Neste contexto, ao pressupor a inserção do Turismo de Natureza, é necessário

atentar-se para os anseios dos turistas a serem buscados na atividade, qual o grau de

naturalidade das paisagens em questão e quais os impactos de outras atividades que estão

inseridas no raio de atuação das práticas do segmento turístico. Este fato expõe que,

apesar de que, a princípio o Turismo de Natureza necessita “apenas” da natureza para que

ele ocorra, percebe-se que outras variáveis influenciam direta e indiretamente na

conformação de sua prática.

Considerando as questões abordadas e, a fim de justificar os subtítulo proposto

nessa seção, a natureza na abordagem aqui tomada do Turismo de Natureza, pressupõe o

usufruto da mesma enquanto lócus da atividade turística, desde áreas com maiores graus

de naturalidade até aquelas que possuem intervenções humanas (tais como estruturas

turísticas de apoio ou estruturas ligadas a produção de propriedades rurais), de maneira

que, dentro do contexto buscado pelo segmento, seja possível desenvolver atividades

turísticas em que a natureza impõe-se como um elemento central em tais práticas,

independente das tipologias4 dos segmento do Turismo de Natureza que venham a ser

desenvolvidas.

É importante ressaltar que, as discussões teóricas apresentadas na referida pesquisa

nem sempre poderão primar pelas melhores práticas de planejamento e execução de

atividades ligadas ao Turismo de Natureza. Entretanto, acredita-se que, tais reflexões

permitam um olhar mais aguçado, dotado de maior criticidade frente aos desafios na

gestão de áreas naturais e sua relação com distintas atividades econômicas (neste caso, o

turismo).

Apesar do estabelecimento do Turismo de Natureza enquanto um segmento

conceitual e amparado por uma definição, faz-se importante um maior aprofundamento

acerca dos elementos que estruturam e procuram solidificar seu conceito. Considerando

Turismo de Natureza e sua intrínseca relação com áreas naturais, é possível indicar que,

mediante as diferentes configurações da natureza, esta pode impor aos praticantes deste

segmento uma ampla variedade de experiências. Sobre tal assertiva, Souza (2019, p. 83)

cita que:

Quando se está cercado de paisagens que demonstram a imposição da natureza,

o sentimento do sublime aflora e desconcerta a razão: surge o medo, o

desconforto, a admiração ou o respeito amedrontado. A natureza pode

demonstrar seu poder e força através de diferentes configurações

geomorfológicas, climáticas ou hídricas. Por exemplo, imaginar a solidão

4 Para saber mais sobre o termo “tipologia” e suas diferenciações com o termo “segmento”, ver Silva (2006)

111

dentro de um bote em alto mar, calmo ou revolto, é sempre angustiante. Da

mesma forma, aparece a sensação de desprazer com a imaginação de estar

perdido no deserto ou isolado no cume da montanha.

Ao relacionar o uso da natureza em atividade turísticas, Donaire (2002) indica

quatro possibilidades de interações:

- Natureza como cenário: onde o turista se contenta com a contemplação dos

elementos naturais;

- Natureza como objeto a ser estudado: o turista busca a compreensão dos diferentes

componentes naturais;

- Natureza como variável de aventura: a estrutura da natureza permite ao turista

praticar atividades que envolva riscos e emoção;

- Natureza modificada/artificializada: áreas em que os elementos estão presentes,

mas passou por alterações para chegar ao estágio atual, mas que o cenário natural seja

indispensável (por exemplo, campos de golf, áreas rurais, etc.).

Acerca das diferentes possibilidades de uso da natureza em atividades turísticas,

Ribeiro (2017) ressalta que, as diferentes motivações do turista suscitam a busca de

diferentes locais para satisfaze-las, uma vez que, por exemplo, em caso da necessidade

de relaxamento, o indivíduo poderá optar por passar um período em uma praia, assim

como em caso da necessidade da busca por adrenalina, o turista buscará satisfazer-se em

ambientes mais extremos, onde a natureza lhe imponha desafios. No que tange as

variáveis que estimulam a realização de viagens que objetivam práticas turísticas, Moretti

et. al. (2019, p. 132) citam que:

En estos viajes aparece con nitidez un factor de incentivo común para el

viajero: la búsqueda de lo diferente, la necesidad, el interés o el deseo de ir ai

encuentro de lo singular, observar y, en alguna medida, vivir esta que resulta

nuevo. En esa novedad juegan un papel fundamental los paisajes, es decir, el

conjunto de elementos visuales, sensoriales y ecosistémicos que caracterizan

a los destinos y los hacen atractivos al visitante.

Considerando tais assertivas, Figurelli e Porto (2008) lembram que, o turismo,

desde seu surgimento, mantém relação direta com a fuga da vida cotidiana, buscando fora

da habitualidade, locais que possibilitem a desconexão com a realidade rotineira e a

“reconexão” com a natureza. Sobre as possíveis variáveis que estimulam os indivíduos a

buscarem a natureza como esses ambientes de fuga, Almeida (2019) relata que:

Vários são os estímulos para uma busca contínua: os recursos naturais como

vegetação fora do comum, vida selvagem para ser observada e fotografada,

áreas marítimas de arrecifes para observações e para prática de mergulho,

112

cavernas, montanhas, cachoeiras e cursos d'água para diversas práticas

desportivas, além da contemplação.

Enquanto cenário, a natureza disponibiliza a atividade turística uma série de

possibilidades frente a seu desenvolvimento. Para Sandeville Júnior e Suguimoto (2008)

e Ruschmann (2008), a própria relação da natureza com o turismo é dada muito mais em

função da demanda do que da oferta. Nas visões de Sandeville Júnior e Suguimoto (2008),

o crescente fascínio pela prática do turismo em ambientes naturais advém da necessidade

de compensar e “fugir” das pressões estabelecidas nos grandes centros urbanos, de

maneira que, o encontro com paisagens tidas como naturais satisfaça tais anseios, ainda

que, haja uma precariedade na consciência de preservação e conservação destas áreas.

Neste contexto, tanto Ruschmann (2008) quanto Sandeville Júnior e Suguimoto

(2008) alertam para a necessidade de atrelar a busca pelo contato com a natureza ao

interesse do reconhecimento dos destinos visitados, buscando compreender das relações

socioculturais ali imbricadas, da condição e estruturação ambiental das referidas áreas,

dentre outras informações. Exemplificando esse cenário, Sandeville Júnior e Suguimoto

(2008, p. 3) menciona que:

Os resorts definem muito bem esse cenário. Geralmente eles estão situados em

locais de natureza exuberante, com praias, vegetação e paisagens muito

agradáveis. No entanto, o turista que se hospeda em um resort possui ao seu

dispor toda infra-estrutura que faz com que ele não necessite sair de dentro do

complexo, pois em muitos casos, esses empreendimentos se encontram

isolados de qualquer outro tipo de infra-estrutura (restaurantes, bancos, lojas,

etc). Isso faz com que o local onde estão inseridos fique em segundo plano,

como se servissem apenas de pano de fundo, de cenário, que muitas vezes nem

é percebido.

Para Beni (2001), a paisagem apresenta-se como um dos principais alvos do

desenvolvimento turístico em diversas localidades, de maneira que, os aspectos cênicos,

conformados pela combinação das características geográficas, ecológicas e mesológicas,

fundamentam a capacidade de atração desses destinos turísticos. Essa capacidade de

atração é fortemente utilizada como estratégia de marketing dos destinos turísticos,

conforme indicam Sandeville Júnior e Suguimoto (2008), fato que, transforma a

paisagem/natureza como um quadro ou fotografia, ou seja, simplificando o significado

desta, limitando a vivência e as possíveis experiência com os conjuntos paisagísticos

naturais.

Frente a esse contexto, os Sandeville Júnior e Suguimoto (2008, p. 8) mencionam

que “é importante atentar-se ao fato de que é necessária especial atenção à paisagem

113

quando ela se insere no contexto turístico, justamente para que não a encare como cenário,

mas que seja ela a experiência vivida nos lugares”.

Considerando tal importância no cuidado do desenvolvimento do turismo em

ambientes naturais, Ruschmann (2008) destaca a relevância do planejamento, o qual se

apresenta como fundamental e indispensável, visando oferecer o máximo de equilíbrio e

harmonia entre a atividade, os recursos físicos e socioculturais das áreas com potencial

turístico. Dentro deste contexto de importância do planejamento no desenvolvimento da

atividade turística, Moretti et. al. (2019, p. 137) chamam a atenção para os diferentes

graus de intervenções que o turismo pode ocasionar nas paisagens onde se insere:

El uso del paisaje por el turismo y para muchos la creación de los llamados

paisajes turísticos se puede hacer de varias maneras que van desde la

intervención más suave a la total transformación del paisaje, pasando según

se señala en la literatura de una subordinación de la actividad turística a la

función principal del espacio como ocorre en un área natural, a la creación

de un paisaje nuevo que transforma el paisaje existente, como sucede en las

llamadas ciudades turísticas, los resorts de playa o los parques temáticos,

produciendo paisajes totalmente alejados de la realidad que los rodea.

Como objeto a ser estudado, a relação da natureza com atividade turística está

cada vez mais interligada com as concepções conservacionistas e preservacionistas.

Considerando tal premissa, Lopes e Santos (2014) indicam que esse fato tem ligação

direta com as crescentes discussões acerca da perda de biodiversidade nos mais diferentes

ambientes. Neste sentido, os recursos naturais ainda existentes ganham grande valor de

atração, muitas vezes ligados a áreas protegidas, as quais, são utilizadas em atividades

turísticas quando o modelo de gestão permite.

Ainda de acordo com Lopes e Santos (2014), além de incentivar praticas turísticas

com bases preservacionistas e conservacionistas, tais áreas permitem o desenvolvimento

de pesquisas, bem como possibilita melhorias no desenvolvimento regional, comunidades

autóctones e vizinhas, propiciando um maior conhecimento da cultura popular e gerando

divisas para essas comunidades.

Figurelli e Porto (2008) lembram que, é cada vez mais crescente o turismo voltado

a apreciação e compreensão da natureza, de maneira que, este tipo de atividade vem

demonstrando ser um dos mais promissores nas últimas décadas, propiciando os recuos

de pacotes tradicionais de turismo, os quais geralmente atrelam-se ao modelo denominado

“turismo de massa”.

É importante ressaltar que, de maneira geral, todas atividades humanas causam

impactos, sejam eles negativos ou positivos, em maior ou em menor escalar. Neste

114

sentido, o desenvolvimento do turismo de maneira planejada, pode incentivar a pratica de

uma atividade pautada na educação ambiental e turística, de maneira que, possibilite o

fornecimento de informações a seus praticantes e, consequentemente, propicie o

reconhecimento da importância dos referidos ambientes e a manutenção da atividade

turística nestes locais (SILVA; MARACAJÁ, 2012).

Para Silva e Maracajá (2012), a educação ambiental está ligada a compreensão

acerca da importância da conservação ambiental e dos recursos naturais, enquanto a

educação turística refere-se ao reconhecimento da importância da atividade turística no

desenvolvimento local, seja no ponto de vista econômico, seja social. De acordo com os

autores op. cit. (p. 277) “[...] observa-se que ambas as educações são necessárias para a

utilização do meio ambiente com parcimônia, seja pela comunidade, seja pelo turista, bem

como para o desenvolvimento sustentável do turismo”.

Nas acepções de Figurelli e Porto (2008, p. 447) “[...] reafirma-se a concreta

possibilidade de o turismo ser um meio de educar ambientalmente a população podendo,

ao mesmo tempo, fazer uso das ferramentas da Educação Ambiental para benefício

próprio”. Assim, é possível inferir que, além de cenário, a natureza pode ser utilizada na

atividade turística de maneira pedagógica, permitindo compreender a importância de sua

manutenção enquanto elemento essencial na qualidade de vida.

Em suma, o uso da natureza enquanto objeto a ser estudado geralmente associa-se

a práticas voltadas ao segmento do ecoturismo5 e suas variantes, atividades as quais

privilegiam o desenvolvimento de práticas turísticas sustentáveis. Considerando tal

afirmação, Bueno e Pires (2006) lembram que o incentivo a práticas ecoturísticas

privilegia o incentivo a novos comportamentos e atitudes por parte dos indivíduos que

praticam tais atividades, de maneira a estimular experiências que primem pelo fomento

do conhecimento e informações dos ambientes onde o turismo está inserido. Neste

sentido, Brasil (2010a, p 17) cita que:

Ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza, de forma

sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca

a formação de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do

ambiente, promovendo o bem-estar das populações.

Dessa forma, considerando a possibilidade de uso da natureza em atividades

turísticas com a finalidade de aprendizado, estimula-se a vivência e usufruto de paisagens

5 Sobre a conceituação do segmento Ecoturismo, ver Silva (2006), Lima (2017), Eichenberg (2018) e

Martins (2018).

115

rurais/naturais, florestas, regiões litorâneas, bem como outros ecossistemas, fomentando

a discussão acerca de novas maneiras de como os turistas podem utilizar tais espaços.

Neste contexto, a visitação a áreas protegidas ganha espaço e está cada vez mais

popularizada, ainda que, em um primeiro momento, tais visitações tenham um caráter

mais científico (BRASIL, 2010a).

Enquanto variável de aventura, a natureza pode ser considerada um importante

elemento a ser considerado, uma vez que, as diferentes configurações e estruturas das

paisagens podem pressupor desafios e, consequentemente, obstáculos a serem superados

pelos indivíduos que praticam diferentes atividades turísticas que findam na necessidade

aventureira.

Na visão de Marinho (2007), as novas relações com as questões ambientais têm

suscitado a ampliação de atividades em ambientes naturais, dentre elas, atividades de

aventura na natureza. Tais práticas não são novidades, entretanto, nota-se um crescente

interesse de práticas esportivas relacionadas com a natureza. Acerca do crescimento de

tais práticas a autora op. cit., (p. 5) comenta que:

De fato, é importante enfatizar o quadro contraditório em que as atividades de

aventura na natureza emergem: por um lado, as pessoas procuram, de várias

formas, estar sempre em segurança (em inúmeras situações cotidianas, no

trabalho, com a família, etc.) e, por outro, buscam se expor a riscos (ainda que

fictícios, imaginários e controlados) em atividades de aventura na natureza.

No contexto das práticas turísticas de aventura, Brasil (2010b) ressalta que tais

atividades estão relacionadas com determinado esforço e riscos assumidos6, os quais

variam sua intensidade de acordo com a especificidade de cada atividade, bem como a

capacidade física e psicológica do indivíduo, neste caso, o turista.

Frente ao exposto, a natureza apresenta-se como elemento fundamental nestas

práticas turísticas, de maneira que, os diferentes locais naturais (seja terra, água ou ar),

determinem e/ou sejam fundamentais para o desenvolvimento de atividades ligados a

distintas práticas esportivas, condições as quais podem estar ligadas a: possibilidade da

prática, objetivos das atividades, motivações e meios utilizados para seu

desenvolvimento, e ainda a necessidade de equipamentos inovadores/tecnológicos para a

fluidez dos praticantes para com o ambiente, conforme indica Marinho (2007). Tendo em

vista tais especificidades, Viana e Nascimento (2009, p. 85) indicam que:

6 “Riscos assumidos” significam que ambas as partes têm conhecimento e co-responsabilidade sobre os

riscos envolvidos (BRASIL, 2010b, p. 16).

116

A diversidade de práticas de aventura que materializam este segmento varia

sob diferentes aspectos, em função dos territórios em que são operadas, dos

equipamentos, habilidades e técnicas exigidas em relação aos riscos que podem

envolver e da contínua inovação tecnológica. A seguir, há uma lista (não

completa) com as mais conhecidas práticas do mercado do turismo de

aventura. Ela está agrupada em terra, água e ar, com base em normas

reconhecidas internacionalmente.

As práticas de aventura na natureza em geral são realizadas em grupos, essas

atividades em certa medida são elitizadas. Essa condição está associada muito em função

dos altos custos de equipamentos específicos, os quais são indispensáveis no

desenvolvimento de algumas modalidades, causando assim o acesso desigual a diferentes

públicos (MARINHO, 2007).

Considerando o uso da natureza enquanto variável de aventura, Brasil (2010b)

lembra que, tais atividades podem ser somadas à oferta turísticas dos destinos que

possuam em outro segmento como atividade principal, de maneira que possibilite assim

agregar valor aos produtos turísticos oferecidos. Considerando ainda as observações do

autor op. cit, no Brasil, a diversidade natural de suas paisagens apresenta-se como uma

relevante propulsão no desenvolvimento de atividades de aventura em ambientes naturais.

No que tange as diferentes nomenclaturas que são associadas as práticas de aventura

em ambientes naturais, López-Richard e Chináglia (2004) relatam o uso das expressões

“esportes de aventura” e “esportes radicais”. Explanando sobre os aspectos diferenciais

que fundamentam as duas expressões os autores op. cit. (p. 203) explicam que:

Os esportes de aventura nascem a partir da reprodução total ou parcial de

experiências e técnicas expedicionárias em constante evolução: montanhismo,

deslocamento por cordas fixas, canoagem, viagens de bicicleta etc. Em todas

elas, os fatores naturais adicionam um importante elemento de incerteza, e o

participante está intrinsecamente motivado pela sensação de desbravar,

conhecer e encarar obstáculos imprevistos. Já os chamados esportes radicais

englobam um grande número de atividades nas quais o desafio consiste em

executar manobras de alta complexidade e vencer obstáculos – muitas vezes

conhecidos de antemão – a partir de habilidades técnicas em modalidades

esportivas nas quais fatores naturais imprevisíveis podem ou não influir no

resultado.

Por fim, relaciona-se o turismo ao uso da natureza enquanto espaço modificado,

de maneira que, apesar da desconfiguração destes espaços enquanto “natureza intocada”,

ainda sim serve como lócus de atividades turísticas. De acordo com Sandeville Júnior e

Suguimoto (2008), em suma, os lugares turísticos utiliza-se de paisagens que os

qualifiquem como tal, mesmo que estas paisagens sejam artificiais, como no caso de

destinos turísticos planejados.

117

É cada vez mais comum a surgimento de centros turísticos artificiais, os quais visam

atender o anseio da fuga cotidiana dos turistas, os quais buscam o anonimato, descanso,

realizam compras de souvenirs, assistem diferentes espetáculos culturais artificiais, fazem

registros fotográficos, gravam vídeos das diversas paisagens encontradas e, por fim,

retornam aos seus locais de origem (FRATUCCI, 2000).

Com relação a modificação da natureza pelo ser humano, Coriolano e Silva (2005)

indicam que essa premissa se liga ao resultado do processo de adaptação humana à

natureza, constituindo assim ao longo dos anos o chamado patrimônio cultural, este que

revele as singularidades das cidades, chácaras, fazendas e demais locais apropriados pelo

ser humano.

Neste contexto, o turismo apresenta-se como uma atividade passível de apropriar-

se de tais cenários, de maneira a utilizar essas diferentes particularidades enquanto fatores

de atração nos espaços artificializados, centros urbanos, seja áreas onde as atividades

rurais são predominantes.

Ao comentar sobre os diferentes espaços apropriados pelo turismo, Beni (2001, p.

56) chama a atenção para o chamado espaço natural adaptado, o qual descreve como:

[...] partes da crosta terrestre em que predominam as espécies dos reinos

vegetal, animal e mineral sob as condições que o homem lhes fixou. Também

chamado de “espaço rural” para assinalar as atividades produtivas que nele se

realizam ao se arar e semear a terra fértil, construir canais de irrigação, cortar

as matas originais, plantar novas árvores, criar gado ou explorar jazidas

minerais. No espaço natural adaptado, ou rural, as árvores e os cereais crescem

de acordo com as forças da natureza, mas é o homem quem decide onde devem

nascer e quanto hão de viver, inclusive determinando como devem crescer ao

plantá-los segundo uma ordem geométrica e acelerando o ritmo natural de

desenvolvimento com fertilizantes, ou mudando até sua forma natural, como

faz com as árvores frutíferas que são podadas para aumentar a produção.

Conforme indica Souza (2019), é comum associar o espaço rural com a natureza,

muito em função da premissa de que as paisagens de maior naturalidade são encontradas

justamente na oposição das cidades, ou seja, no campo. Além da concentração de

pequenas, médias ou grandes áreas conservadas, por mais que se considere atividades

modificadoras da natureza, associa-se também outros aspectos rurais como possibilidade

de maior aproximação de áreas naturais, tais como os campos de pastagem, cultivos, os

cursos hídricos não poluídos, o “ar puro”, pomares, dentre outros elementos.

Frente ao exposto, percebe-se diferentes possibilidades de uso da natureza na

atividade turística as quais podem variar em função dos objetivos pretendidos ao se

praticar a atividade turística. Neste sentido, os diferentes usos da natureza podem suscitar

118

o desenvolvimento de variados segmentos turísticos. Considerando o Turismo de

Natureza e as possibilidades do uso da natureza, a única associação que se distancia das

premissas deste segmento é a abordagem da natureza enquanto objeto a ser estudado,

possibilidade a qual possui maior correlação com as bases conceituais do segmento do

ecoturismo, o qual, como já foi citado trechos anteriores do capítulo, não é o foco da

referida pesquisa.

Essas diferentes interações do turismo com o ambiente natural podem ser

exemplificadas pela fala de Neves (2013), uma vez que, o autor ressalta que o Turismo

de Aventura, por exemplo, frequentemente é associado ao Turismo de Natureza, de

maneira que se percebe uma predominância do ambiente natural no desenvolvimento de

suas atividades, mesmo considerando que o fator principal da atividade seja a aventura.

Segundo o autor op. cit. (p. 162) “Mesmo admitindo a forte relação do turismo de

aventura com o turismo natureza, destaca-se que um não se limita ao outro, pois lançar-

se na natureza representa apenas um dos enfoques da aventura, igualmente desafiadores”.

Esta variação indicada por Donaire (2002) permite inferir que seja possível

determinar diferentes níveis de atividades e ambientes possíveis de serem associados ao

Turismo de Natureza, facilitando assim na delimitação e mapeamento de áreas passíveis

de serem associadas a tal semento turístico.

Neste contexto, Oliveira (2013) ressalta a importância das paisagens no Turismo de

Natureza. De acordo com a autora op. cit., a variedade de paisagens privilegia uma

relevante diversidade de ambientes naturais, os quais possibilitam o desenvolvimento de

diferentes atividades turísticas que tenham suas práticas recreativas amparadas pela

natureza.

Sendo assim, as paisagens e os diferentes elementos que as compõem, podem ser

relacionadas com diferentes tipos de práticas, desde a simples contemplação, até

atividades em que as funções motoras humanas sejam mais exigidas, como em situações

de aventuras. Sobre essa possibilidade, Souza (2019) indaga que, é comum verificar o

encantamento dos indivíduos em função de paisagens que se destacam em função de

diferentes elementos, sejam eles: a vegetação, os tipos de relevo, as rochas, a composição

hidrográfica, aspectos climáticos, etc. Esse fato é perceptível até mesmo nos catálogos de

agências de turismo, as quais exploram tais elementos paisagísticos na aproximação de

seu cliente aos ambientes que exprimem uma oposição ao turbulento cotidiano dos

grandes centros urbanos.

119

Considerando as indicações do autor op. cit., é comum observar a exploração

comercial das paisagens na atração dos turistas, atração esta que, geralmente liga-se a

aspectos de destaque da paisagem, como por exemplo, no caso da Serra do Amolar em

Corumbá-MS, em que o relevo e a hidrografia apresentam uma condição singular para

aqueles que visualizam suas paisagens (Figura 11).

Figura 11 - Além da condição do relevo e hidrografia, a vegetação também apresenta-se

relevante na Serra do Amolar, em Corumbá-MS

Autor: LIMA, 2019

Levando em consideração as discussões propostas até aqui e, para fins de

desenvolver as análises no decorrer da pesquisa, propõe-se estabelecer diferentes níveis

de abordagem do Turismo da Natureza e sua relação com as diferentes paisagens de Mato

Grosso do Sul. Para tal concepção, buscou-se estabelecer parâmetros a partir de autores

como Vieira et. al. (2018), Lothian (1999), Nohl, (2001), Siefert e Dos Santos (2016),

Tabacow e Xavier Da Silva (2011), Fidalgo (2014), Sousa (2014) e Pires (2005).

No modelo proposto, buscou-se estabelecer três níveis de relação do Turismo de

Natureza com as paisagens (figura 12). No primeiro nível, a natureza apresenta-se como

fundamental no desenvolvimento do Turismo de Natureza, de maneira que, as

características estruturais e/ou visuais são utilizadas de maneira direta. Nesse nível, do

ponto de vista da qualidade visual, inserem-se paisagens: com maiores níveis de

naturalidade; que contemplem maiores números de elementos com relevante grau de

naturalidade; e que comportem elementos de maior singularidade. Quanto a condição

120

estrutural das paisagens, contemplam-se: paisagens que possibilitem suporte direto nas

atividades turísticas a serem desenvolvidas bem como a variedade de elementos que

permitam tal suporte. Neste nível, indica-se a possibilidade do desenvolvimento de

tipologias do Turismo de Natureza como: contemplação de paisagens litológicas,

geomorfológicas, fauna ou flora (caminhadas, safaris, etc.); realização de trilhas; e

atividades aquáticas (mergulhos, canoagem, etc.).

No segundo nível, as atividades do Turismo de Natureza também possuem ligação

com as características estruturais e de qualidade visual das paisagens, entretanto, neste

nível, a natureza apresenta-se como elemento complementar no desenvolvimento de tais

atividades. Na relação da qualidade visual das paisagens, estas englobam conjuntos

paisagísticos com níveis médios de naturalidade e singularidade, abrangendo

principalmente a transição de áreas com maiores e menores índices de naturalidade. A

estrutura dessas paisagens atua como suporte indireto das diferentes tipologias do

Turismo de Natureza, por exemplo: no caso do turismo de aventura, a paisagem natural

apresenta-se como importante elemento, entretanto assume um segundo plano, uma vez

que, o foco da atividade é a busca pela a adrenalina. Dentre as possibilidades de

desenvolvimento turístico, indica-se atividades aéreas (asa delta, parapente, balonismo,

paraquedismo, bungee jumping, etc.), de aventura (Ciclismo, montanhismo, trekking,

rapel, rafting, windsurfe, bodyboard), pesca, recreação em balneários, acampamentos e

sol e praia.

Considerando o terceiro nível, o Turismo de Natureza é relacionado com o uma

interação superficial com a paisagem natural, de maneira que, esta se apresenta

basicamente como lócus das atividades desenvolvidas. As paisagens que marcam esse

nível caracterizam-se com baixos níveis de naturalidade, com maiores níveis de

intervenções antrópicas e elementos com pouca ou nenhuma singularidade. Considerando

a estrutura, basicamente apresentam-se como cenário para satisfazer uma ou mais

intencionalidades que não possuem ligação direta com a natureza, geralmente associadas

a paisagens com maiores intervenções humanas, como no caso de áreas afetadas por

maiores índices de desmatamento, pastagens e cultivos diversos. Neste sentido, atividades

como vivências de costumes rurais (passeios a cavalo, vivência do plantio de culturas,

vivência na criação de animais, etc.), convivência em comunidades tradicionais, estâncias

de saúde, são exemplos desse nível de Turismo de Natureza.

121

Figura 12 - Modelo de análise integrada da paisagem funcional e de qualidade visual o mapeamento dos diferentes níveis de Turismo de

Natureza.

Organização: LIMA, 2020

122

Acerca da “naturalidade” estabelecida como parâmetro, convém ressaltar que esta

relaciona-se com os ambientes com menores índices de intervenções humanas, ou seja,

os quais pressupõe o estabelecimento de paisagens em que as dinâmicas naturais dos

elementos que compõem os referidos conjuntos paisagísticos sejam preservadas o

máximo.

Na figura 12, é possível observar em síntese a organização dos diferentes níveis de

turismo de natureza e sua relação com as paisagens: descrição conceitual, parâmetros

relacionados com a identificação da qualidade visual paisagística, parâmetros

relacionados com a identificação da análise funcional da paisagem e associação das

tipologias do Turismo de Natureza com os diferentes níveis. Destarte, acredita-se que o

modelo ora apresentado possibilite aferir as diferentes configurações paisagísticas de

Mato Grosso do Sul, de maneira a permitir compreender a complexidade dos elementos

que se inter-relacionam na conformação das referidas paisagens.

2.3 Patrimônio Natural no contexto do Turismo de Natureza

Ao lançar-se ao desafio de uma discussão conceitual acerca de uma determinada

temática, é possível e provável deparar-se com diversas vertentes e conceitos os quais

podem dificultar o clareamento da proposta final de síntese. No trato do Turismo de

Natureza, conceito relativamente novo, esta máxima não é diferente.

Conforme já discutido por autores como Silva (2006), Lima (2017), Eichenberg

(2018) e Martins (2018), a polissemia de termos e conceitos dificultam o estabelecimento

e fortalecimento conceitual do segmento do Turismo de Natureza, fato que os referidos

autores buscaram contribuir por meio de suas reflexões e análises. Visando auxiliar nesse

desvelar do Turismo de Natureza, a seguir, buscar-se-á explanar acerca de um termo que

será de fundamental importância na determinação do conceito de ícone de paisagem nos

próximos capítulos: patrimônio natural.

Levando em consideração as reflexões desenvolvidas por Silva, Martins e Lima

(2018), é importante ressaltar que, toma-se como base o conceito de patrimônio natural

para o embasamento desta investigação, uma vez que, este representa a valorização de

elementos bióticos e abióticos que conformam a paisagem. A referida definição parece

mais acertada quando comparados a outros conceitos, como por exemplo geopatrimônio,

123

o qual restringe-se a valorização de elementos abióticos (geologia e geomorfologia),

deixando de lado ou atribuindo pouca relevância aos aspectos bióticos da paisagem.

Neste âmbito, para Bezerra (2018), o patrimônio natural engloba a valorização tanto

da geodiversidade, quanto da biodiversidade:

A biodiversidade é um dos valores fundamentais do patrimônio natural e

significa a diversidade de formas de vida contidas nos processos da natureza,

como as diferentes espécies de vegetal, animal e de micro-organismos, e

também os genes que eles contêm, bem como os ecossistemas que o

conformam (p. 64).

Por sua vez, a geodiversidade diz respeito às formas terrestres, às feições

geológicas, geomorfológicas, paleontológicas, hidrológicas, pedológicas e

atmosféricas, bem como todos os sistemas e processos terrestres (p. 65).

Para Vieira e Cunha (2006, p. 147), a valorização do patrimônio natural tem

intrínseca relação com as preocupações ambientais que foram potencializadas nas últimas

décadas:

A crescente preocupação que as sociedades têm evidenciado em torno dos

problemas ambientais e da preservação da natureza tem proporcionado o

desenvolvimento de estratégias capazes de fomentar o equilíbrio entre a

indispensável exploração dos recursos (nomeadamente os naturais não

renováveis) e a sua preservação, num quadro de desenvolvimento sustentável.

Neste sentido, ao nível do património natural, têm sido desenvolvidos esforços

com vista à valorização dos diversos elementos passíveis de serem preservados

e potenciados, nomeadamente no âmbito da educação ambiental ou das

actividades de recreio, lazer e turismo.

O patrimônio é um conceito construído a partir do discurso da memória, sendo

designado a partir de determinadas práticas espaciais. Entretanto, também é uma prática

política, uma vez que, este é determinado a partir de um recorte/seleção, ao qual busca-

se atribuir importância e direcionar comportamentos para que indivíduos possam o

valorizar. Neste ínterim, algumas perguntas norteadoras são colocas em discussão: quem

possui legitimidade de determinar o que é patrimônio ou não? Para que e para quem são

esses patrimônios? Tais questionamentos tem crescido nas últimas décadas, estimulando

a ampliação dos debates entre os diferentes indivíduos interessados no trato dos referidos

patrimônios. Porém, ao mesmo tempo, diferentes entraves institucionais e burocráticos

têm dificuldade a ampla inserção de todos os agentes envolvidos/interessados (RIBEIRO,

2017).

Nos dias atuais, Bezerra (2011) lembra que o sistema de proteção de áreas

protegidas pode ser considerado um importante instrumento para a conservação do

patrimônio natural em nível global. Institucionalizado pela União Internacional para a

124

Conservação da Natureza (IUCN) desde 1994, a determinação de um conjunto de

unidades forma o sistema mundial de áreas protegidas. Estas unidades estão divididas em

categorias, as quais são classificadas de acordo com os objetivos de gestão de cada uma

delas. No âmbito das diferentes categorias de áreas protegidas, a autora op. cit. (p. 36)

destaca em especial as funcionalidades dos parques nacionais:

Dentre as categorias de áreas protegidas, os parques nacionais destacam-se por

sua importância no processo de conservação ambiental e de desenvolvimento,

tendo em vista os objetivos de proteção e utilização humana. Essas unidades

protegidas são consideradas fundamentais no processo de gestão do patrimônio

natural, visto que foram criados de modo a objetivar a manutenção da

integridade dos ecossistemas, permitindo-se o uso de seus recursos de forma

indireta. O uso dos parques nacionais, segundo seus objetivos de gestão, está

relacionado a pesquisa, educação, recreação e visitação turística. Embora os

usos permitidos sejam indiretos, considera-se um desafio construir

instrumentos eficazes para o processo de gestão, instrumentos que permita um

monitoramento capaz de conservar a integridade desses recursos e, ao mesmo

tempo, possibilitar o desenvolvimento humano.

A instituição de tais áreas protegidas privilegiou o equilíbrio entre a preservação e

seu uso social, uma vez que, conforme sugerem Oliveira e Barbosa (2010),

diferentemente do que comumente é pensado, estes espaços não são intocáveis, pelo

contrário, estes podem desempenhar significativas vantagens para os municípios onde

estão alocados, uma vez que, permitem evitar ou diminuir acidentes naturais como

enchentes e desabamentos; auxiliam na manutenção da qualidade do ar, solo e recursos

hídricos; permitem o desenvolvimento de práticas ligadas ao turismo ecológico; bem

como a geração de empregos e renda.

O marco fundamental na disseminação de áreas protegidas teve bases na instituição

do Parque Nacional de Yellowstone, no Estados Unidos. Entretanto, a preocupação com

a preservação da natureza e a busca por de convívio harmonioso com tais ambientes

naturais datam de períodos mais antigos, uma vez que, culturas antigas, como das nações

orientais, já demonstravam preocupação com tais áreas. Porém, é inegável a importância

do modelo americano de parques nacionais, os quais passaram a ser replicados em

diferentes pontos do globo terrestre, estimulando a criação de diversos sistemas de

parques, os quais objetivaram o uso público recreacional por parte da população, sem que

houvesse um uso direto dos recursos naturais. Tais movimentações possibilitaram que um

relevante número de indivíduos passasse a ter uma maior consciência ambiental e/ou

percepção dos graves problemas físicos-naturais e socioculturais que permeiam a

realidade dos diferentes países do globo, ampliando assim a discussão conceitual acerca

do meio ambiente e patrimônio (BEZERRA, 2011).

125

No que se refere ao trato conceitual da expressão patrimônio natural, Karpinski

(2018) ressalta a dificuldade em encontrar, nas diferentes áreas ligadas as ciências

humanas e sociais, referenciais teóricos que tratam especificamente sobre esse conceito.

Neste sentido, a maioria dos materiais que referenciam em seus títulos os termos

patrimônio cultural e natural acabam por tratar apenas do primeiro. Ainda de acordo com

o autor op. cit., a produção bibliográfica passou a utilizar o termo “Patrimônio

Ambiental”. Neste contexto, o autor op. cit. (p. 315) indica que:

“[...] após a “virada cultural” e os estudos “pós-coloniais”, a utilização da

categoria “natural” atrelada à de Patrimônio passou a ser um problema

conceitual, uma vez que a fronteira entre Natureza e Cultura, constructo da

modernidade europeia, tornou-se tênue e, para alguns, inexistente.

Neste ínterim, conforme indicado por Vieira (2014), o termo “patrimônio” foi alvo

de um alargamento conceitual, o qual possibilitou um maior favorecimento à valorização

do patrimônio natural, o qual contempla a ideia de proteção não apenas de um patrimônio

individualizado, mas sim de se considerar o meio que o envolve, ou seja, sua

materialização na paisagem passa ser a ser vista de maneira integrada em medidas

protetivas e conservacionistas.

Apesar da ampliação da discussão conceitual acerca do termo patrimônio natural,

Scifoni (2006b) destaca que não há apenas uma linha discursiva, ou seja, não se

estabeleceu um consenso de uma visão única sobre o conceito. Porém, segundo a autora

op. cit. (p. 28), a “monumentalidade” e o “cotidiano” apresentam-se como dois princípios

norteadores na definição de patrimônio natural:

Do ponto de vista do patrimônio natural, a monumentalidade reflete uma

natureza espetacular, grandiosa, quase sempre ausente de condição humana,

intocável e disponível apenas para a fruição visual. Já o discurso do cotidiano

prioriza outros valores, como a experiência pessoal e coletiva dos diversos

grupos sociais, constituindo o patrimônio como a representação da diversidade

cultural presente em uma sociedade nacional.

Portanto, as novas concepções conceituais que permeiam a expressão patrimônio

natural advêm de uma longa dinâmica de discussões e reflexões acerca deste objeto que

por vezes foi relegado à um papel secundário na discussão patrimonial. Entretanto, é

incontestável que o as discussões desenvolvidas sobre o patrimônio natural não tenham

caminhado simultaneamente com as evoluções teóricas do conceito puro de patrimônio.

Assim, considerando as discussões acerca das relações entre o ser humano e a natureza,

percebe-se a tendência das diversas produções em associar tais processos relacionais aos

campos da memória, sentimentalismo, mitologias e rituais (KARPINSKI, 2018).

126

Na visão de Jiménez (2016), o estreitamento conceitual entre paisagem e

patrimônio é relativamente recente, permeando pouco mais dos últimos vinte anos. Neste

sentido, ainda é comum ao falar de paisagem, relacionar tal discussão quase que

exclusivamente ao meio dito natural, da mesma forma que, ao discorrer sobre patrimônio,

é comum atrela-lo com a arte, história e monumentos. Tal dicotomia ainda carrega a

dicotomia do mundo ocidental-europeu, que instiga a necessidade de preservação de

legados recebidos pelos povos ancestrais, bem como sua transmissão enquanto herança

para seus descendentes.

De acordo com Raimundo, Sarti e Pacheco (2019), a partir do final do século XVIII

e início do século XIV, o trato para com a natureza sofre mudanças, de maneira que, esta

passa a ser observada a partir de um viés de patrimonialização, ganhando uma nova

conotação na cultura ocidental. Foi de acordo com os autores op. cit. (p. 796) “Nesse

período, há uma significação sobre a natureza dentro do contexto do rápido processo de

urbanização e industrialização que os países centrais enfrentavam”. Assim sendo, o mito

do paraíso perdido é retomado, surgindo como um elemento indicador e de determinação

do equilíbrio dos ambientes naturais. Portanto, é nessa época que o mundo ocidental

aflora de maneira intensa a ideia de conservação e patrimonialização da natureza,

condição a qual acabou levando a delimitação das primeiras áreas protegidas

(RAIMUNDO; SARTI; PACHECO, 2019).

De forma geral, essa mudança histórica no que tange o trato da natureza estimulou

uma série de alterações, tanto com relação a consciência dos indivíduos que vivenciam e

utilizam os diferentes elementos naturais que estruturam a paisagem, bem como

diferentes entidades/atores incentivadores da manutenção dessas áreas, e ainda de

diversos setores econômicos, como por exemplo o turismo, que passa a observar nessa

mudança uma possibilidade de gerar divisas.

De maneira ampla, levando em consideração o conceito de patrimônio tomado nos

países tidos como desenvolvidos, este é associado a ideia de herança coletiva, a qual

carece de medidas preservacionistas, a fim de manter-se para usufruto das gerações

futuras, visando assim manter vestígios direitos e/ou indiretos que contemplem a história

do homem e da sociedade (VIEIRA, 2014).

Patrimônio é destacado por Robalo (2014, p. 23) como “[...] um bem herdado

transmitido de geração em geração, que abrange a componente material e imaterial da

cultura dos territórios, constituindo-se assim como bens públicos, cuja conservação e

proteção estão sob a alçada do Estado dos territórios”. Ainda de acordo com o autor op.

127

cit. (p. 23) “É neste contexto que surgem os termos património natural e cultural que são

fundamentais na nossa visão de perspectiva de paisagem integrada”, conceitos os quais

ganharam uma visão mais consolidada e abrangente a partir da convenção do patrimônio

mundial natural e cultural realizada em Paris no ano de 1972, considerada um marco no

trato da paisagem e suas relações no que tange o patrimônio natural e cultural. Na ocasião,

foram apresentadas definições para os patrimônios cultural e natural, conforme cita

Scifoni (2006b, p. 36):

Segundo a Convenção do Patrimônio Mundial o patrimônio cultural foi

definido como os monumentos, as obras arquitetônicas ou de artes plásticas,

as estruturas arqueológicas, os conjuntos urbanos e lugares notáveis. Já o

patrimônio natural foi estabelecido como as formações físicas, biológicas,

geológicas e fisiográficas, as zonas de habitat de espécies ameaçadas e

novamente os lugares notáveis.

Destarte, percebe-se que, além dos valores atribuídos a natureza em si, a trajetória

humana soma-se a esta valorização patrimonial. Portanto, no âmbito do patrimônio

natural, seus valores ligam-se a elementos como a biodiversidade, geodiversidade, beleza

cênica, assim como também se atrela às expressões culturais materiais e imateriais,

inseridas nos meios naturais (BEZERRA, 2011, p. 27).

Neste âmbito, Scifoni (2006b) ressalta que o patrimônio natural não se resume

apenas a vegetações nativas, ambientes e ecossistemas poucos alterados pela humanidade.

Para a autora, tais paisagens se estabelecem como uma memória social, uma vez que, é

objeto de ações socioculturais ao longo do tempo, as quais permitem a produção e

reprodução da vida humana.

De acordo com Teles e Steinke (2019), o Patrimônio Natural pode ainda ser

subdividido em Natural Abiótico e em Natural Biótico. Nesta concepção, o Patrimônio

Biótico seria aquele submetido a maiores medidas de proteção ambiental, uma vez que,

está ligado diretamente à biodiversidade. Já o Patrimônio Abiótico liga-se aos elementos

que conformam a geodiversidade. Sobre a atenção dada ao patrimônio biótico, Bezerra

(2011, p. 22) cita que:

Em relação à conservação dos processos da natureza, o foco principal é a

proteção do patrimônio vivo, dada a constante ameaça e o acelerado processo

de perdas ou extinção de espécies da flora e da fauna, o que compromete a vida

dos seres vivos no planeta. Os principais motivos que impulsionam a defesa

do patrimônio natural são evitar que se destruam os processos evolutivos

biológicos, construídos durante milhões de anos, os quais mantêm vivas as

espécies, inclusive o homem; promover a manutenção dos ecossistemas pelo

importante papel que desempenham na regulação do equilíbrio dos fenômenos

bioecológicos ocorridos na biosfera e pela disponibilização de recursos e

serviços ofertados ao bem-estar e ao desenvolvimento humano. Soma-se a isso,

128

o princípio básico maior da conservação da natureza, os motivos bioéticos,

entendidos como o dever moral do homem de não eliminar a vida de outros

seres vivos, nem os processos geofísicos que lhe dão sustentação, os quais se

constituem como legado das presentes e futuras gerações.

Em certa medida, o conceito de Patrimônio Natural atrela-se àquilo que Bovet Pla

(1992, p. 106) conceitua como paisagem natural: “El elemento dominante en estos

paisajes nunca sera el antrópico, aunque pueda estar presente. La dominancia

corresponderá a los elementos abióticos, a los bióticos, o a los dos simultáneamente”.

Assim sendo, não se exclui a possível existência de elementos antrópicos no âmbito do

Patrimônio Natural, entretanto, é notória a predominância dos elementos bióticos e

abióticos nesses cenários.

Considerando a ideia de patrimônio, Catão (2013) ressalta que, cresce o interesse

econômico acerca deste, bem como o direcionamento de políticas públicas com vieses

protecionistas. As áreas em que se encontram esses patrimônios são cada vez mais são

visadas por interesses de investimentos privados, os quais buscam uma ressignificação

enquanto valor de mercado para patrimônios, sejam naturais ou culturais, designando

novos usos destes para além de seus valores científicos, documentais, simbólicos e

afetivos. Neste sentido, o turismo pode ser apontado como uma dessas atividades que se

utilizam do valor patrimonial de uma determinada localidade.

Para o turismo, o patrimônio se estabelece enquanto um produto, o qual adquire

valor em função do acumulo histórico de valores em uma determinada localidade,

apresentando-se como um elemento singular e, consequentemente, despertando o

interesse de consumo por parte de diferentes demandas de turistas (CARLOS, 2017).

Acerca da apropriação de patrimônios para a atividade turística, Hintze (2013, p.

373) cita que:

[...] nem só da produção de bens materiais vive o capitalismo contemporâneo,

aliás, ele caminha para uma produção cada vez mais expressiva de signos, de

imagens de consumo e o turismo é estratégia privilegiada para esse

movimento. A apropriação e a produção de novas commodities a partir da ideia

de turismo são frenéticas. Portanto, cabe perguntar: o que qualquer coisa

precisa para ser um atrativo turístico? Praticamente tudo pode virar atrativo

para o turismo, bastando mostrar-se potencialmente como uma nova fonte de

lucros para o capital.

Na concepção de Hintze (2013), dentro deste contexto de associação patrimonial

com a atividade turística, o discurso oficial dos governos ganha protagonismo, uma vez

que, estes atuam na transformação da cultura e da natureza em commodity, aliando o

129

discurso conservacionista/preservacionista com os anseios do capital na conformação de

produtos turísticos.

Apesar da possibilidade de atribuir um caráter positivo na associação do Turismo

com a natureza, ou seja, na valorização de áreas de pouca intervenção humana e,

consequentemente, estimular sua conservação, tais práticas podem causar um efeito

contrário, uma vez que, a excessiva exploração destas áreas imbricada por um viés

puramente (ou prioritariamente) econômico pode acarretar na depreciação destes

patrimônios naturais.

Para Catão (2013), no turismo, o patrimônio é diretamente relacionado com a

criação de atrativos, produtos, roteiros e nos projetos de planejamento de destinos. Mais

especificamente acerca do patrimônio natural, pode-se indicar que este constitua

conjuntos naturais representativos, os quais se destaquem por suas feições visuais ou

científicas, ambos valores que podem ser abordados no desenvolvimento de atividades

ligadas ao Turismo de Natureza. Entretanto, conforme indica Robalo (2014), o valor de

tais patrimônios está interligado à conservação empregada a tais elementos, exigindo

assim cuidados ao incidir pressões de atividades humanas aos mesmos.

Considerando a abordagem teórica, a natureza enquanto patrimônio é tomada como

uma materialidade que toma forma na paisagem, de maneira que, essa materialização

permita aos seus observadores a percepção e compreensão da complexidade que envolve

tais patrimônios naturais. Em muitos casos, a chancela enquanto patrimônio natural é

instituída a partir da criação/delimitação/instituição de áreas protegidas, a qual é

legitimada por estatutos jurídicos, normatizando os territórios em questão e legitimando

a necessidade de conservação/preservação da natureza, a qual é relacionada com a

qualidade de vida e sobrevivência humana (PAES, 2016). APA Ilhas e Várzeas do Rio

Paraná (com uma área de 1.005.188,39 hectares e instituída em 1997) e Parque Estadual

Várzeas do Rio Ivinhema (com 73.345,15 hectares e estabelecida em 1998) na região do

município de Naviraí-MS. Áreas protegidas que denotam relevante composição biótica e

abiótica e, consequentemente, materializando por meio de seu patrimônio natural,

paisagens singulares no estado de Mato Grosso do Sul (figura 13).

130

Figura 13 - APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná

Autor: LIMA, 2020

Neste contexto, o patrimônio natural, no âmbito do Turismo de Natureza, seria a

principal fonte/matéria-prima no desenvolvimento da atividade, de maneira que,

possibilita o movimento de fluxos turísticos que objetivam algum tipo de contato com

este patrimônio natural, seja ele científico, interesse aventureiro, cênico ou ambiente

parcialmente modificado. Considerando ainda o patrimônio natural enquanto matéria-

prima, ressalta-se a importância de sua manutenção a fim de garantir a continuidade da

atividade.

Tal concepção converge com os apontamentos de Figueiró, Vieira e Cunha (2013),

os quais ressaltam que, o patrimônio natural, materializado na paisagem, não deixa de ser

um recurso, considerando que, é justamente o uso milenar e sustentável que em muitos

casos denota a singularidade de diversas paisagens do globo terrestre, justificando a

importância de sua conservação. Considerando tal assertiva, os autores op. cit. (p. 27)

citam que:

131

Estratégias e práticas conservacionistas que tenham por finalidade garantir a

perpetuidade de estruturas e funções paisagísticas relevantes não devem se

opor a qualquer forma de uso, mas regulá-las, direcionando-as para ritmos e

frequências compatíveis com a resiliência natural e cultural deste sistema.

De acordo com Catão (2013) e Scifoni (2006b), embora a nomenclatura

“patrimônio natural” tenha sido estimulada pela Unesco na década de 1970, sua

concepção é muito mais antiga, atrelada à preocupação de salvaguarda de monumentos

que, no início, ligavam-se aos monumentos históricos e artísticos, mas a posteriori

abarcou também a ideia de monumento natural. A convenção da UNESCO em 1972

resultou formatação documento intitulado Convenção do Patrimônio Mundial, Cultural e

Natural. No documento, a Unesco (1972, p. 2) estabeleceu enquanto patrimônio natural:

Os monumentos naturais constituídos por formações físicas e biológicas ou por

grupos de tais formações com valor universal excepcional do ponto de vista

estético ou científico; As formações geológicas e fisiográficas e as zonas

estritamente delimitadas que constituem habitat de espécies animais e vegetais

ameaçadas, com valor universal excepcional do ponto de vista da ciência ou

da conservação; Os locais de interesse naturais ou zonas naturais estritamente

delimitadas, com valor universal excepcional do ponto de vista da ciência,

conservação ou beleza natural.

Considerando a definição proposta pela Unesco, Pereira (2018) relaciona sua

elaboração a partir da ligação do patrimônio natural com a condição estética da paisagem,

valorização cênica, bem como uma visão acerca da complexidade sistêmica que envolve

o funcionamento da natureza, destacando seus valores quanto a qualidade visual, ao

aspecto científico e a conservação.

Acerca desta premissa, Fernández (2011) destaca que, toda paisagem possui um

apelo cênico em maior ou menor grau, porém este não deve ser o único parâmetro a ser

considerado para estabelecer proteger ou não uma determinada paisagem, ou seja, não só

aquelas paisagens extraordinariamente belas são dignas de proteção legal. Neste âmbito,

para que uma paisagem seja elencada como passível de proteção do Estado, esta deve

apresentar alguma relevância no campo histórico, social, cultural, científico, ambiental,

econômico ou, claro, estético, uma vez que, é necessário pensar que a paisagem cumpre

funções na sociedade e, portanto, tais relevâncias devem ser levadas em consideração ao

determinar se essa função será cumprida ao se estabelecer tais medidas protetivas.

Em sua concepção, Bezerra (2018) salienta que a biodiversidade é considerada um

dos pilares que edificam o conceito de patrimônio natural, uma vez que, esta, relaciona-

se com as diversas formas de vida inseridas nos processos da natureza, englobando as

132

diferentes espécies de vegetal, animais e micro-organismos, assim como o conjunto de

ecossistemas estabelecidos.

Percebe-se então uma forte associação da conformação de tais patrimônios ao

conjunto natural dos diferentes elementos materializados nas paisagens, os quais

determinam diferentes aspectos relevantes a serem considerados, seja a diversidade de

fauna e flora, as diferentes formas de relevo, a variedade hídrica, as diferenças climáticas,

as dinâmicas territoriais, dentre outros aspectos.

Com relação a evolução da definição de patrimônio natural no Brasil, Catão (2013,

p. 65) cita que:

No Brasil, é na Constituição Federal de 1937 que aparece pela primeira vez o

termo monumento natural. Em seu artigo 134 está descrito que os atentados

contra os monumentos históricos, artísticos e naturais seriam equiparados aos

cometidos contra o patrimônio nacional. A visão de monumento natural

preponderantemente estética parece ter sido a que inspirou hegemonicamente

a construção das leis de proteção no Brasil. Essa perspectiva se contrapõe a

outra ideia de patrimônio, mais voltada à tradição, aos costumes e às

lembranças coletivas.

Apesar dos esforços desenvolvidos no Brasil na tentativa de estimular as paisagens

quanto patrimônio, é notável a dificuldade do país em promover essa valorização entre

seus cidadãos. Algo que pode ser relacionado com essas dificuldades é a própria

legislação ambiental, a qual se mostra frágil em um país de pouco ou nenhuma

valorização cultural da paisagem, prova disso é a valorização de práticas políticas

econômicas atreladas aos pressupostos de desenvolvimento, as quais privilegiam a

instalação de grandes empreendimentos, os quais muitas vezes, contraditoriamente, são

causadores de variados impactos negativos que alteram as paisagens (SOUZA, 2019).

Scifone (2006a) ressalta outra dificuldade, uma vez que, considera que o processo

de valorização patrimonial no Brasil apresenta-se como um trâmite extremamente

desigual, de maneira que, na maioria das vezes, são privilegiados enquanto patrimônios

apenas aqueles bens considerados de magnitude monumentais ou que denotem a

possibilidade de exploração por parte do mercado turístico. Assim sendo, a possibilidade

de fomento de diferentes patrimônios naturais nos territórios pode estar atrelada a valor

de uso/exploração atribuídos principalmente pelos setores políticos e econômicos. Tal

premissa corrobora com a importância territorial do patrimônio/paisagem, apontada por

Jiménez (2016, p. 368):

“El patrimonio territorial, el paisaje, se convierten así en un recurso al

servicio del desarrollo y se integra en las políticas de ordenación territorial

133

como se ha podido comprobar con las propuestas incluidas en diferentes

planes de ordenación territorial a escala regional [...]l”.

Assim sendo, a partir de suas diferentes interações de fatores naturais e humanos e,

por meio do estabelecimento de políticas territoriais, o patrimônio pode ser entendido

como um importante fator impulsionador de desenvolvimento regional e local. Porém,

conforme alertar Luchiari (2001), é importante atenta-se para a exclusão social que pode

ser reproduzida em função do uso seletivo do território. Para a autora op. cit. (p. 19)

“Hoje, a preservação representa a elitização social na seletividade dos lugares. Apenas os

que puderem pagar pelas paisagens naturais idealizadas no imaginário social

contemporâneo ganharão a hegemonia nessa nova configuração territorial”. Tal premissa

coloca em evidencia os antagonismos entre a preservação da natureza e o

desenvolvimento social.

Exemplo desta lógica são os diferentes direcionamentos do território sul-mato-

grossense, uma vez que, de acordo com as diretrizes Zoneamento Ecológico Econômico

(MATO GROSSO DO SUL, 2009), aponta-se a valorização de áreas como o Pantanal e

a Serra da Bodoquena, em detrimento de áreas como Serra de Maracaju que, apesar

também apresentar relevantes características bióticas e abióticas, é direcionada ao

desenvolvimento de atividades ligadas a agricultura e pecuária, como exemplificado na

porção central do Ícone de paisagem Serra de Maracaju, nas imediações do distrito de

Piraputanga-MS. Na serra, é possível encontrar importantes e relevantes áreas

conservadas, dotadas de elementos singulares e diversidades de elementos no que tange

o relevo, vegetação e recursos hídricos (figura 14).

Figura 14 - Porção central do Ícone de paisagem Serra de Maracaju

134

Autor: LIMA, 2019

Considerando as abordagens a nível mundial e de Brasil, Scifoni (2006a) indica ser

possível compreender duas direções acerca da ideia de patrimônio natural. Na esfera

mundial, o termo se estabelece enquanto expressão ligada a grandiosidade e beleza,

aspectos relacionados com a monumentalidade e com a exaltação estética. Assim, outro

elemento vem à baila: a intocabilidade, considerando a necessidade poupar estes

conjuntos patrimoniais de intervenções humanas. Por outro lado, no Brasil, o patrimônio

natural possui uma maior associação com a sociedade, tendo intrínsecas relações com as

práticas sociais e memórias coletivas. Nesta dualidade de acepções do patrimônio natural

em âmbitos mundial e brasileiro, a autora op. cit. (p. 58) lembra que “Não há um único

discurso, nem consenso. São diferentes concepções de patrimônio que podem ser

compreendidas sob dois princípios: o da “monumentalidade” e o do “cotidiano”.

Há também outro significado que aparece no Brasil a partir de algumas experiências

regionais: o patrimônio natural passou a ser entendido como conquista da sociedade, com

um significado ligado às práticas sociais e à memória coletiva; portanto, um patrimônio

natural que, antes de tudo, faz parte da vida humana e não algo que a ela se opõe

(SCIFONI, 2006a, p. 58).

Considerando este ideário de patrimônio natural, Vieira e Verdum (2019) lembram

que, historicamente, algumas sociedades buscaram organizar-se em seus países tratativas

de proteção de fauna, flora, sítios geológicos, arqueológicos e conjuntos paisagísticos,

135

atuando na criação de reservas, parque nacionais e identificando/valorizando

monumentos naturais.

Após essa primeira etapa local, buscou-se a organização em escala macro, através

da criação de organizações internacionais, realização de encontros mundiais e

estabelecimento de regulações jurídicas nos referidos âmbitos. Ressalta-se que, em

grande parte dos países, a implantação de áreas protegidas ocorreu por imposição de

organismos internacionais.

Assim sendo, os Estados passaram a atuar cada vez mais na participação e

ratificação de convenções internacionais e, posteriormente, aplicar suas diretrizes em

âmbito nacional. Tais aplicações suscitaram a proteção de paisagens, monumentos

naturais, fauna e flora, sendo abordadas não de maneira individual, mas sim dentro do

contexto das legislações e convenções que contemplam a ideia de patrimônio mundial,

instituindo áreas protegidas como parques nacionais (relacionados atualmente a

denominações como unidades de conservação, áreas naturais protegidas ou simplesmente

áreas protegidas) (VIEIRA; VERDUM, 2019).

No que tange a relação do patrimônio natural e sua preservação/conservação, Vieira

e Verdum (2019) assinalam que, a beleza cênica das paisagens estruturadas a partir desses

patrimônios é um importante parâmetro a ser considerado na planificação e gestão

ambiental destes locais, possibilitando garantir a manutenção de determinadas paisagens,

biodiversidade, hábitats e ecossistemas. Além disso, a preservação, conservação e

restauração dos patrimônios também podem trazer vantagens econômicas e sociais.

Conforme aponta Vieira (2008), no âmbito da atividade turística, é possível

compreender que, as paisagens ditas “naturais” possibilitam uma ampla gama de

características a serem apropriadas pelo turismo, como por exemplo: a originalidade e

diversidade morfológica; a presença de relevantes cursos hídricos; qualidade do ar; a

variabilidade e qualidade de vegetação original da área; bem como a presença harmônica

de comunidades tradicionais que ocupam tais paisagens (VIEIRA, 2008). Acerca das

possibilidades de usufruto dos patrimônios naturais para a atividade turística, Vieira

(2008, p. 40) cita que:

[...] a valorização dos factores naturais, inerentes a estes espaços de montanha

e a estas paisagens peculiares, tem constituído uma mais valia na sua promoção

enquanto área de lazer, área privilegiada para a prática de determinados

segmentos específicos de turismo e mesmo para a prática de desportos,

considerados de natureza ou mesmo “radicais”, que encontram aqui condições

excepcionais para a sua prática.

136

A apropriação do patrimônio natural para atividade turística associa-se a um

fenômeno contemporâneo, associado ao relevante crescimento do turismo enquanto

atividade econômica em âmbito global. É cada vez mais comum a exploração de áreas

ditas “naturais” para satisfazer os anseios de turistas e visitantes (SCIFONI, 2006b).

Entretanto, Vieira (2008) ressalta que interesse do geógrafo na valorização do

Patrimônio Natural extrapola a mais-valia dessas paisagens para o uso turístico, podendo

ser relacionada também com outras atividades humanas, como por exemplo, atividades

ligadas a subsistência de populações tradicionais.

Neste âmbito Catão (2013) lembra que, apesar dos discursos protecionistas da

natureza, leis, decretos e políticas públicas, uma outra variável tem sido trazida à baila

nas discussões da temática: o envolvimento de povos indígenas e populações tradicionais.

Comumente, o termo patrimônio está ligado a outras terminologias como legado,

patrimônio natural, recursos naturais, dentre outras, entretanto, percebe-se cada vez mais

que estas variações mantém relações com aqueles que direta ou indiretamente estão

associados a tais ambientes, como por exemplo os povos indígenas e comunidades

tradicionais. Tal premissa deve ser considerada a partir da ideia de biodiversidade, tendo

em vista que, tais grupos possuem importantes conhecimentos acerca de tais ambientes.

Assim, a manutenção e conservação do patrimônio pode ser atrelada a manutenção

cultural destes povos, mesmo que em certa medida os conhecimentos, visões e direitos

dessas populações sejam negados por alguns pesquisadores e cientistas da natureza. Nesta

relação entre conservação/proteção do patrimônio natural e o uso social, a autora op. cit

(p. 69) afirma que:

Da mesma forma, subjacente à ideia de preservação e conservação da natureza,

está a concepção de que os diversos usos sociais dessas áreas, ou seja, as

apropriações desse patrimônio, feitas por diversos grupos sociais, são

consideradas por outros como perdas, destruição ou degradação. A

recuperação e preservação dos bens são, portanto, a outra face da moeda.

Ainda acerca sobre a dicotomia entre a preservação/conservação e o uso social do

patrimônio natural, Paes (2016, p. 26) chama a atenção:

A questão não é negar a validade dos processos de conservação da natureza

trazidos pela questão ambiental contemporânea, mas assumir que existem

várias formas de concepção da natureza que devem ser respeitadas. Claro que

devemos considerar que já caminhamos muito em relação a um primeiro

modelo mais preservacionista e biocentrado; mas ainda teríamos muito a

aprender com o etnoconhecimento das populações tradicionais constituídos na

escala do lugar, e mesmo com o simples fato de reconhecer que também essas

populações são nosso patrimônio histórico e não apenas a sua natureza agora

ironicamente sacralizada por nós.

137

Como se pode ver, é importante atrelar a ideia de patrimônio natural com as

comunidades tradicionais que permeiam as referidas áreas, uma vez que, estes não apenas

fazem parte destas paisagens, mas também possuem importantes conhecimentos acerca

dos elementos bióticos e abióticos que compõem tais conjuntos paisagísticos, podendo

atuarem como importantes atores no desenvolvimento da atividade turística, além de

poderem ser beneficiados enquanto geração de divisas decorrente do turismo.

No território sul-mato-grossense, as relações territoriais com comunidades

tradicionais são muito fortes, como por exemplo a comunidade ribeirinha da Serra do

Amolar e das Varzeas do rio Ivinhema/Ilhas do rio Parana, a aldeia limão verde na porção

central da Serra de Maracaju, da comunidade indígena Kaiowa Ñande Ru Marangatu na

proximidade do município Antônio João, dentre outros exemplos. Exemplificada na

imagem aérea da figura 15, a comunidade indígena Kaiowa Ñande Ru Marangatu na

porção sul da Serra de Maracaju, município de Antônio João-MS. A considerar um

possível desenvolvimento do Turismo de Natureza nesta área, a comunidade local pode

ser inserida no planejamento e execução da referida prática turística, auxiliando no uso

do patrimônio natural associado ao ícone de paisagem Serra de Maracaju.

Figura 15 - Comunidade indígena Kaiowa Ñande Ru Marangatu na porção sul da Serra

de Maracaju.

Autor: LIMA, 2019

138

Considerando a necessidade de reconhecer a complexidade existente na gestão e

uso do patrimônio natural, Paes (2016) avalia que, nos dias atuais, a valorização das

paisagens naturais é tratada cada vez mais de maneira priorizada nas práticas sociais,

políticas e econômicas, exigindo assim em contrapartida cada vez mais um entendimento

para além dos aspectos técnicos e operacionais que envolvem esses patrimônios, visando

contornar conflitos de interesses, adequando a apropriação territorial e respeitando as

representações simbólicas que os envolvem. Já para Bezerra (2018, p. 55), os meios

técnicos-científicos devem ser priorizados:

Os sistemas sociais, econômicos, políticos e institucionais criados pelo homem

passam a incorporar paulatinamente a consciência ambiental e o impulso para

o desenvolvimento de meios técnico-científicos que contribuam para o

processo de gestão da conservação do patrimônio natural.

Para todos os efeitos, é importante ressaltar que, tanto os meios técnico-científicos,

quanto considerar as especificidades das relações territoriais que envolvem os

patrimônios naturais, devem ser considerados como importantes elementos a serem

abordados na gestão e uso dos referidos patrimônios. Se por um lado o conhecimento

científico é importante na condição técnica, as experiências empíricas e a compreensão

da realidade posta são fundamentais no ponto de vista operacional dos usos do patrimônio

natural.

Face ao exposto, tais medidas evitam apropriações indevidas dos patrimônios por

parte da atividade turísticas, as quais Aguiar (2005) indica que, por vezes, o turismo atua

de maneira a esconder as relações desse acervo patrimônio com o lugar onde está

estabelecido, bem como suas relações com quem vivenciam a rotina destas destinações,

ou seja, os indivíduos autóctones. Neste contexto, na maioria dos casos, o turismo

reapropria o patrimônio natural, de maneira a requalificar os recursos naturais, alterando

a lógica original de uso destes no lugar e por seus indivíduos locais. À medida que que o

autor op. cit. tece tais críticas a atividade turística, propõe a necessidade do florescer de

uma nova lógica que oriente o desenvolvimento do turismo, de maneira que, os indivíduos

que promovem a atividade turística e determinam a inserção de equipamentos, elaboram

regras, políticas e planos de marketing turísticos, passem a incluir neste processo de

implementação turística os turistas e os moradores locais dos referidos destinos.

Acerca dos conflitos supracitados nas apropriações de patrimônios pelo turismo,

Scifoni (2006b) destaca que, modalidades ligadas ao turismo de massa têm

desconfigurado o significado destes patrimônios, uma vez que, nestas modalidades, a

139

compreensão da importância destes patrimônios não se apresenta como foco das

atividades desenvolvidas, fato que, acarreta no usufruto de tais conjuntos patrimoniais

como meros objetos de consumo e mercadoria. Sobre tal superficialidade de uso dos

patrimônios no âmbito do turismo de massa, Scifoni (2006b, p. 66) relata que:

O turismo de massa patrocina a visitação aos patrimônios sob o pretexto de

lazer, distração ou até mesmo para demonstrar status cultural e social. Mas à

medida que o patrimônio é incorporado aos roteiros turísticos nessa dimensão,

perde-se aquilo que constitui a maior riqueza no seu contato, ou seja, a sua

função cognitiva, como suporte de conhecimento histórico-cultural ou natural

do lugar.

Dada as relações de apropriação do patrimônio natural pelo turismo, Rodrigues

(2016) explica que, essa posse tomada pela atividade turística é direcionada pelas políticas

públicas de turismo, as quais podem dar diferentes direcionamentos quanto aos seus usos.

Por um lado, ao tomar o patrimônio natural nas práticas turísticas, é possível despertar

sentimentos de pertencimento, uma vez que sejam aplicadas práticas que estimule a

sensibilização e responsabilização do indivíduo com relação a uma mudança de atitude

para com a natureza. Em contrapartida, o patrimônio natural pode ser tomado como um

elemento segregado, ou seja, que pode ser acessado por poucos, de maneira que, os

indivíduos continuem acomodados acerca de suas responsabilidades na gestão e

preservação/conservação da natureza.

No caso deste estudo voltado ao reconhecimento de ícones de paisagem em Mato

Grosso do Sul, os quais são caracterizados em função dos conjuntos de patrimônios

naturais que os moldam, indica-se que, apesar da premissa inicial ser o mapeamento e a

avaliação das possibilidades de uso destas áreas em atividades do segmento de Turismo

de Natureza, espera-se que, tais verificações e análises subsidiem o ordenamento

territorial, principalmente naquilo que tange a atividade turística, possibilitando que as

comunidades e atores locais possam ter subsídios para direcionar os usos das terras,

permitindo valorizar a condição social, cultural/simbólica, ambiental e econômica dos

envolvidos.

É oportuno frisar que, a discussão teórica proposta nos capítulos subsequentes

acerca do termo “ícone de paisagem” fundamenta-se diretamente com a ideia de

patrimônio natural, de maneira que, este ou o conjunto destes patrimônios, em função de

sua singularidade, possam subsidiar a concepção de conjuntos paisagísticos enquanto

ícones de destaque no estado de Mato Grosso do Sul.

140

141

3. CAPÍTULO III - ÍCONES DE PAISAGEM: O CONCEITO E SUAS

POSSIBILIDADES

O presente item vislumbra a constituição conceitual de um termo que, a priori,

apresenta-se como fundamental nos desdobramentos da pesquisa: ícone de paisagem. Em

suma, essa expressão, até o momento, não é abordada por nenhum arcabouço teórico,

constituindo-se assim em uma discussão inédita. Porém, ao mesmo tempo em que se

destaca o ineditismo do trato deste conceito, ressalta-se o desafio e, consequentemente,

as dificuldades na busca de elaboração e consolidação do termo “ícone de paisagem”.

Assim sendo, espera-se que as discussões tratadas aqui na tentativa de validação do

referido conceito não sejam tomadas como verdade absoluta, mas sim que, estas reflexões

iniciais sirvam como uma experiência embrionária para novas perspectivas,

aprimoramentos e fortalecimento conceitual, de maneira que, seja possível a consolidação

da expressão ícone de paisagem e que esta possibilite e facilite abordagens teóricas da

categoria analítica da paisagem nas diversas áreas do conhecimento, seja na Geografia,

seja em áreas afins como o Turismo.

3.1 Ícones de paisagem como relevantes representações

A atividade turística é reconhecidamente um processo consumidor de paisagens,

sejam urbanas ou rurais, as quais em função das mais variadas motivações, despertam o

desejo do turista em consumi-las. Assim sendo, acredita-se aqui na possibilidade

estabelecer um termo que simbolize o enaltecimento de conjuntos paisagísticos,

facilitando a identificação e mapeamento de relevantes paisagens presentes em diferentes

porções territoriais, permitindo assim maiores possibilidades de orientação de políticas

públicas ligadas principalmente no que tange às dinâmicas territoriais das referidas áreas.

Dentro do processo de enaltecimento das paisagens, podemos citar a reflexão de

Hintze (2013), o qual discute a valorização dos territórios pela atividade turística. Para o

autor, op. cit. (p. 373): “Quanto mais escasso o bem, mais valorado fica. Quanto mais

poluído o ar da cidade de São Paulo, mais caro o ‘ar puro’ das ‘Chapadas do Brasil”.

Nesse contexto, a possibilidade de estabelecer ícones de paisagem em Mato Grosso do

Sul se apresenta como uma ferramenta que valoriza os conjuntos paisagísticos singulares

e escassos do estado.

142

Para iniciar esta discussão, julga-se necessário compreender o significado puro da

palavra ícone e, para isso, sintetiza-se no quadro 1 as acepções designadas por dicionários

para o referido vocábulo. Em dicionários como Ferreira (2001), Fernandes, Luft e

Guimarães (2001) e Houaiss e Villar (2001), é possível encontrar algumas definições para

o termo, tais como: “Símbolo gráfico que representa um objeto pelos seus traços mais

característicos”; “Figura apresentada na tela do computador us. para identificar e/ou

acionar um programa ou um recurso de programa”; “Imagem pintada da Virgem, ou dos

santos, na igreja russa e grega”; “Algo ou alguém que se distingue ou simboliza

determinada época, cultura, área do conhecimento”; “Imagem ou ídolo”; “Signo que

expressa uma relação de semelhança ou analogia com o objeto que designa ou

representa”; dentre outras definições. A partir dessas definições, é possível compreender

as diferentes vertentes que a palavra ícone abrange e, consequentemente, torna-se factível

o estabelecimento de uma nova expressão por meio da junção dessa palavra com outras,

neste caso, ícone + de + paisagem.

Quadro 1 – Atribuição de significados para a palavra ícone nos dicionários

Fontes: FERREIRA (2001, p. 370); FERNANDES, LUFT e GUIMARÃES (2001, p. 290); HOUAISS e

VILLAR (2001, p. 367).

Organização: LIMA (2020)

143

Considerando as definições apresentadas pelos dicionários, é possível inferir o

apontamento de quatro linhas de pensamento. A primeira se relaciona com a ideia de

ícone como representação religiosa, relacionando-se com divindades da vertente

religiosa. O segundo aspecto trata das simbologias ou imagens associadas a informática.

A terceira variação se conecta aos estudos de linguísticas, os quais tratam do ícone como

signo de representação, em semelhança ou analogia a determinados objetos. Por fim, a

quarta abordagem trás o significado que mais se aproxima do ideário de ícone de

paisagem, uma vez que, designa a palavra ícone como sentido figurado, de maneira a

destacar e/ou distinguir algo ou alguém em função de características relevantes dentro de

um universo comum. Sobre os diferentes significados atrelados a palavra ícone, Shibaki

(2010, p. 7) relata que:

A própria palavra ícone, como categoria de análise, é complexa, sobretudo

quando remete a diferentes ramos de estudo e abordagens, como no caso dos

sinais utilizados pela área da Informática e Internet que, por meio de um

pequeno desenho, identificado como ícone, é usado, geralmente, para

representar um atalho para um arquivo ou programa específico, porém, com

significado conceitual muito diferente aos abordados pela Semiótica ou

utilizados indiscriminadamente por setores ligados ao Marketing.

Para Paiva (2014), o termo ícone ainda conserva seu significado nos tempos atuais,

o qual tem origem no grego (eikón), e se relaciona com o ideário de imagem. Associado

historicamente a imagens religiosas na Idade Média, o ícone mantém uma relação direta

como representação, seja em imagem, figura, retrato ou ilustração.

Além disso, Shibaki (2010) e Paiva (2014) lembram ainda que a palavra ícone se

refere a pessoas que se destacam em diferentes contextos sociais (seja em âmbito local

ou global), e ainda a objetos que se destacam tanto no trato de estudos da semiótica, como

também podem estar atrelados a sua exaltação visual. Assim sendo, o autor op. cit. (2010,

p. 18) discorre sobre a variabilidade dos significados atribuídos ao vocábulo, citando o

marketing como importante elemento a ser considerado no uso do termo:

A banalização da palavra ícone está presente em um cenário em que o

marketing predomina, ou seja, além de sua propagação, sobretudo na internet,

com suas funções específicas, tudo o que se deseja expor de forma exacerbada

é nomeado ícone, como, por exemplo, ícone da moda, ícone da modernidade,

ícone da música, cujo significado pode ser a imagem de uma pessoa, um objeto,

uma tendência. Portanto, nem sempre o uso da palavra ícone, nestas ocasiões

citadas, remete ao significado da palavra, que pode ser usada somente de forma

a valorizar a exaltação da pessoa, objeto ou tendência em questão.

Destarte, o vocábulo ícone é recorrentemente utilizado na promoção e valorização

de imagens. Mesmo considerando a proximidade com os estudos voltados a semiótica, a

designação do conceito de ícone atualmente contempla o processo de valorização da

144

cultura visual, o qual baliza o processo das investigações imbricadas nesse contexto

sociocultural (SHIBAKI, 2010; KUDELSKA, 2015).

Nas considerações de Cauquelin (2007), percebe-se a relação do ícone como

elemento de sedução e persuasão, que busca a união, apelo ou convocação de uma

unidade material. Assim sendo, o ícone pode ser reconhecido para além de uma simples

representação imagética, mas também como a proposição de um

reconhecimento/exaltação de uma totalidade.

Essa concepção permite validar a possibilidade de atrelar a ideia de ícone com a

tentativa de valorização e exaltação de conjuntos paisagísticos, de maneira a destacar

características relevantes dos elementos que compõem esses complexos, cujas

particularidades podem qualificar essas paisagens, seja no âmbito funcional, seja de

qualidade visual para o desenvolvimento de atividades ligadas ao Turismo de Natureza.

Nessa perspectiva, Cauquelin (2007, p. 74) procura destacar a imagem-semelhança

estabelecida entre a natureza e a paisagem, de maneira a conectá-las para além de uma

representação imagética e, o ícone, corresponderia a materialização dessa paisagem como

conjunto natural:

Na natureza em que sua apresentação é de ordem icônica, a paisagem

responderá, com efeito, à regra de separação e de substituição dos termos de

uma relação: será ícone da Natureza, e não semelhante a ela; será construída,

artificialmente produzida para convocar a natureza a preencher o vazio que o

traço perigráfico estende ao olhar. Assim é que se tornou possível a relação

paisagem-natureza como a de uma verdade indizível e de seu correspondente

gráfico, de uma voz ausente e do nome pronunciado. Relação de homonímia.

Para auxiliar o fortalecimento da expressão ícone de paisagem, buscou-se angariar

referenciais teóricos que embasem as discussões pretendidas. Entretanto, conforme já

citado em parágrafos anteriores, poucos materiais tratam da relação do termo ícone

diretamente com os ambientes ditos naturais (ou seja, documentos em língua portuguesa

ou estrangerias que discorram objetivamente sobre o termo “´ícone de paisagem” ligada

a vertente da natureza). Todavia, apesar da carência de materiais que relacionam a

natureza a essa vertente, foi possível captar alguns documentos que tratam da perspectiva

de ícone, ainda que a partir de um viés da paisagem urbana.

Nessa medida, busca-se, mesmo em meio as dificuldades de atrelar o ideário de

ícone de paisagem a natureza, extrair concepções do trato de ícones urbanos que possam

ser aplicados a expressão discutida nesta seção, de maneira que, seja possível estabelecer

correspondências no trato da paisagem urbana e natural e, consequentemente, vislumbrar

145

a possibilidade de valorização dos relevantes conjuntos paisagísticos presentes no

território sul-mato-grossense.

No caso das cidades, Fernandes (2009) frisa que, as paisagens são formadas por

ícones que as diferenciam, trazendo singularidades que, inclusive, inserem-nas em

diferentes rotas turísticas. Assim sendo, muitas cidades são identificadas e associadas a

ícones bastante específicos, os quais são utilizados em imagens representativas desses

ambientes urbanos, seja através de diferentes linguagens textuais, seja por meio de

reproduções no cinema, na fotografia, peças publicitárias ou até mesmo simples folhetos

promocionais.

Considerando o Rio de Janeiro, cidade referência no que tange a associação

paisagística com a atividade turística, indica-se como exemplos desses ícones da

paisagem urbana a Floresta da Tijuca, o Jardim Botânico, o Morro do Corcovado e o Pão

de Açúcar, os quais se consolidaram como cartões-postais paisagísticos da cidade carioca.

Assim sendo, esses locais se apresentam como os principais ícones associados ao

cotidiano da paisagem urbana da Cidade Maravilhosa (MALTA, 2018).

Para Cardoso (2016), no caso do Morro do Corcovado soma-se ainda a associação

do Cristo Redentor, atribuindo ainda mais valor ao referido ícone, visto a

representatividade dessa paisagem inclusive em âmbito internacional. Por outro lado, a

autora op. cit. ressalta que, as favelas do Rio de Janeiro também podem ser consideradas

ícones, uma vez que, a partir da modificação da paisagem causada pela ocupação de

encostas e morros tal dinâmica associa a forma de uso e ocupação dessas áreas como um

ícone de manifestação social.

Ao elencar ícones da paisagem urbana internacional, Monnet (2006) se recorda do

letreiro de Hollywood em Los Angeles/EUA, da Torre Eiffel em Paris/França ou do Anjo

(monumento da independência) na cidade do México, considerados elementos icônicos

tanto no campo visual quanto simbólico, nas respectivas cidades. Nesse sentido, o autor

op. cit. ressalta a importância e interdependência entre o simbolismo e o ícone, para que

haja uma eficiente valorização do referido conjunto ou objeto, buscando equalizar sua

referência tanto para autóctones, quanto para os passantes, independente da percepção

simbólica que cada indivíduo atribuí ao ícone.

Destarte, através dos sinais visíveis de apropriação atores sociais, individuais ou

coletivos, fundamentam sua apropriação espacial, bem como são percebidos por outros

indivíduos externos ao contexto em questão. Assim sendo, considerar a gestão do espaço

físico e suas representações perpassa pelo reconhecimento da produção social dos

146

territórios (territorialização), de seus significados (simbolização) e do reconhecimento

de ícones representativos (iconização). Considerar essas três vertentes é importante, uma

vez que, tendo em vista o campo de poder instável, ou seja, de diferentes supremacias

institucionais ou econômicas, a produção/estabelecimento de ícones pode ser alvo de

manipulação de atores dominantes específicos, desconsiderando os demais atores sociais

(MONNET, 2006).

Entretanto, o valor simbólico desses ícones de paisagem depende de uma série de

variáveis, as quais se transformam no tempo e espaço. No século XXI, por exemplo, é

possível inferir que o conceito de ícone de paisagem se alia ao papel de prestação de

serviços ecossistêmicos7. Nessa concepção, percebe-se que a ideia de simbólico não está,

necessária ou diretamente, ligada aos valores empreendidos pelos autóctones.

No caso da atividade turística, a exaltação de ícones de paisagem não deve ser um

instrumento puramente econômico, uma vez que, mesmo que o turismo seja considerado

um fator de movimentação de divisas ele deve estar em consonância com outros interesses

que envolvem a valorização dos conjuntos paisagísticos, perpassando não apenas pela

geração de renda para a população local, mas também primando pela conservação de

áreas naturais, valorizando as relações socioculturais, bem como propiciando a

aproximação de visitantes/turistas da realidade dos territórios onde estão localizados esses

ícones.

Partindo desses pressupostos teóricos, é possível inferir a importância dos ícones

não apenas como conjuntos materiais a serem absolvidos e utilizados pelo turismo na

produção e consumo de suas atividades, mas também como importantes formas de

representação carregadas de simbolismo, aliando-as às imagens contemporâneas dos

locais tidos como turísticos (PAIVA, 2014).

Com referência ao processo de delimitação de ícones urbanos, Shibaki (2010)

debate acerca dos processos que envolvem as imediações do referido ícone, uma vez que

esse é estabelecido como síntese, amparado por uma significação que permite divulgar a

totalidade do entorno que o envolve, neste caso, os demais elementos urbanos que

contextualizam esse ícone. Entretanto, a autora op. cit. (p. 13) cita justamente a

7 Por serviços ecossistêmicos, entenda-se a prestação e disponibilização de recursos, e serviços que são

fornecidos diretamente ou não. Ou seja, todo o arcabouço de funções que a natureza possui que são

indispensáveis para a reprodução da vida no planeta. Para mais informações, acessar:

https://tendenciasemse.com.br/o-que-sao-servicos-ecossistemicos/.

147

problemática da desconsideração, em muitos casos propositalmente, das realidades do

entorno em que os ícones estão inseridos:

Levando em conta que a eleição e o uso de certos ícones, tanto por órgãos

públicos quanto por agentes privados da atividade turística são formas de

seleção e, que, portanto, são excludentes, acabam por não revelar outras facetas

da metrópole, ou seja, tem-se como hipótese o fato de que o que é exaltado e

mostrado é sempre um fragmento previamente selecionado, ou seja, uma forma

de ocultação, de acordo com intencionalidades implícitas que estão, neste caso,

também vinculadas à produção e apropriação do espaço, servindo os ícones

urbanos como elementos legitimadores de uma identificação, tanto por parte

de visitantes como por parte dos moradores, sobretudo em relação à sua

memória coletiva, podendo, inclusive, ser alterado o grau de sua importância,

de acordo com os movimentos socioeconômicos e políticos que são

estabelecidos.

Tendo em vista principalmente o setor ligado ao turismo, a apropriação dos

referidos ícones está associada aos anseios desse mercado, o qual se pauta na reprodução

e divulgação dos ícones como ferramenta de marketing, vislumbrando potencializar a

promoção de destinos turísticos (SHIBAKI, 2010). Sobre a relação dos ícones com a

atividade turística, Paiva (2014, p. 107) afirma que:

Na contemporaneidade, a lógica do consumo reforça a relação entre o turismo,

os ícones urbanos e arquitetônicos e a imagem turística, condicionada pelas

práticas sociais (econômicas, políticas e cultural-ideológicas) da globalização

que têm direcionado sobremaneira o planejamento, a gestão e as intervenções

urbanas em consonância com o processo de espetacularização da arquitetura e

valorização da sua carga simbólica.

Um exemplo dessa interação dos ícones com o turismo é apontado por Paiva (2014),

quando lembra que as experiências que envolvem as viagens do setor de turismo podem

ser “eternizadas” através da aquisição de souvenires, que buscam materializar a

representação de conjuntos paisagísticos relevantes, seja no âmbito urbano, seja no de

ambientes naturais, como réplicas que podem ocorrer por meio da confecção de maquetes,

chaveiros, quadros, artesanatos, dentre outros, como exemplificado na figura 16: A)

Conjunto de diferentes souvenires baseados na representação do Monte Fuji, em

Honshu/Japão; B) Escultura de madeira da Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro/Brasil; C)

Quebra-cabeças 3D da Muralha da China, linha Leste/Oeste da China; D) A Torre Eiffel

em Paris/França talvez seja um dos souvenires mais reconhecidos no mundo, sendo

reproduzida em diferentes formas, como por exemplo, chaveiros.

148

Figura 16 - Elementos paisagísticos como motivadores da produção de souvenires

Organização: LIMA, 2019

Tomando esses exemplos, percebe-se a capacidade dos ícones de paisagem (sejam

eles urbanos, naturais ou mistos) para se tornarem conjuntos paisagísticos de relevante

expressão, a ponto de serem transformados em artefatos representativos na atividade

turística dos referidos territórios.

Além disso, Paiva (2014, p. 113) ressalta ainda a importância da evolução

tecnológica e seu uso, pela atividade turística, na representação de tais paisagens: “A

representação, interpretação e circulação dos ícones na atualidade estão condicionadas

pelos avanços tecnológicos na produção e divulgação de imagens, associadas à lógica do

consumo dos lugares e imagens que caracterizam o turismo contemporâneo”, assim como

demonstrado na figura 17, a qual ilustra o exemplo da ferramenta de navegação 3D no

Monte Everest. A ferramenta possibilita uma experiência de contemplação deste conjunto

de paisagem, o qual pode ser associado como ícone, vista sua singularidade paisagística

e seu apelo como referência de experiência turística. Com tais tecnologias surgem cada

vez mais ferramentas que permitem uma aproximação dos ícones com o indivíduo e que,

149

consequentemente, podem estimular o reconhecimento in loco do ícone de paisagem em

questão.

Figura 17 - Ferramenta de navegação 3D no Monte Everest.

Fonte: REALITYMAPS, 2020.

Organização: LIMA, 2020.

No caso de Mato Grosso do Sul, alguns elementos são utilizados como fatores

estimulantes na valorização das paisagens sul-mato-grossenses, de maneira que, tais

símbolos se atrelam às condições singulares de áreas como o Pantanal e a Serra de

Bodoquena. Essas simbologias são utilizadas intensamente no marketing turístico dessas

regiões, como observado na figura 18: A) A relevante quantidade de cachoeiras presentes

na Serra de Bodoquena, que são utilizadas como um chamariz para o turismo, como no

caso da agência Bonito Way; B) Incluso na delimitação do Geoparque Bodoquena

Pantanal, o município de Nioaque-MS investe na simbologia de esculturas de

dinossauros, em referência ao sítio paleontológico que existe em seu território; C) Em

Mato Grosso do Sul, é possível encontrar grande diversidade de souvenires ligados a

fauna, flora e cultura sul-mato-grossense.

150

Figura 18 - Simbologias utilizadas no marketing turístico de Mato Grosso do Sul

Organização: LIMA, 2020.

Tal concepção está atrelada as ideias de Moretti (2006, p. 74), o qual indica que

“Estes elementos são vendidos pelos empreendedores turísticos, que criam através do

chamado “marketing turístico” o “paraíso na terra””. A apropriação da natureza permite

a consolidação dos destinos turísticos a serem comercializados.

151

Ao considerar o grau de relação entre a paisagem urbana e natural na delimitação

do termo ícone de paisagem, é possível traçar paralelos a partir dos autores já

referenciados no trato dos ícones urbanos de paisagem. Se por um lado conjuntos como

o Morro do Corcovado e a Floresta da Tijuca, aglomerados essencialmente reconhecidos

por suas características essencialmente naturais, são tratados como ícones no contexto da

paisagem urbana, por que não seria possível considerar, da mesma forma, conjuntos de

florestas, relevos e outras variáveis como ícones de paisagem em cenários que não sejam

nas cidades?

Além disso, da mesma forma que os ícones urbanos buscam sintetizar simbolismos

e significações na realidade urbana, os ícones de paisagem em ambientes naturais também

podem estar atrelados a contextos socioculturais das áreas em que esses estiverem

associados e, consequentemente, podem valorizar o conjunto paisagístico do entorno em

os ícones estão inseridos. Para validar tal assertiva, cita-se a referência de Shibaki (2010,

p. 43) acerca da paisagem e sua associação com elementos icônicos:

Há, neste sentido, a geração de uma cadeia de representações, em que a

paisagem, enquanto representação de uma sociedade em um determinado

período histórico se constitui em espaço que contém ícones, que também

evocam significados aos indivíduos que, por sua vez, estão condicionados a

uma visão de mundo pessoal, particular, que possui influências de diversas

esferas.

Considerando tal apontamento, é plausível fazer tal associação com a delimitação

de ícones de paisagens em ambientes naturais. Nesse sentido, diferentes elementos da

natureza, materializados nas paisagens, permitem envolver o(s) seu(s) observado(res) em

função de seu destaque, sua imponência, sua singularidade, diversidade de elementos,

dentre outras variáveis que estimulem a exaltação dos conjuntos paisagísticos, os quais

podem permitir sua funcionalidade no desenvolvimento de diferentes atividades, como

por exemplo, o turismo.

Evocar o contato com a natureza e, consequentemente, envolver-se na sua

imponência, permite o despertar de sentimentos e a saída da zona de conforto,

possibilitando ao sujeito exprimir novas sensações como o medo, desconforto, euforia ou

um misto de respeito com intimidação. Tais sensações podem ser expressas pela natureza

em função de seu poder/força, representada por meio das diferentes feições do relevo, das

variações climáticas, da diversidade hídrica, da variedade de fauna e flora, ou seja, a

imponência de um ou mais elementos da paisagem pode ocasionar a maximização da

valorização em um determinado conjunto paisagístico (SOUZA, 2019).

152

Na visão de Cauquelin (2007), é antiga a noção da natureza constituída de um

conjunto estruturado, compreendida por um grupo de regras próprias de composição e

dotada de simbolismo para aqueles que mantém relações com ela, noção datada por volta

de 1415, que surgiu na Holanda e transitou pela Itália, transbordando ao longo do tempo

por diversas localidades, estabelecendo a paisagem como algo que ultrapassa o papel

decorativo, alcançando plenitude e significação como conjunto de elementos naturais

materializados na paisagem. Ao tratar da atribuição de significação e simbolismo às

paisagens, a autora op. cit. (p.38) destaca o trato paisagístico para além das artes, vertente

defendida por muitos autores que discutem essa categoria analítica:

Pois essa “forma simbólica” estabelecida pela perspectiva não se limita ao

domínio da arte; ela envolve de tal modo o conjunto de nossas construções

mentais que conseguiríamos ver através de seu prisma. Por isso é que ela é

chamada de “simbólica”: liga, num mesmo dispositivo, todas as atividades

humanas, a fala, as sensibilidades, os atos. Parece bem pouco verossímil que

uma simples técnica – é verdade que longamente regulada – possa transformar

uma visão global que temos das coisas: a visão que mantemos da natureza, a

ideia que fazemos das distancias, das proporções, da simetria.

Considerando tal assertiva, podemos pensar que a materialização dos elementos da

natureza em diferentes conjuntos paisagísticos pode ganhar diferentes conotações a

depender do simbolismo que são tomados por seus observadores. Nesse sentido, é

possível inferir que um conjunto paisagístico possa ser exaltado como ícone de paisagem

frente a suas singularidades para o desenvolvimento de atividades turísticas. Por outro

lado, esse mesmo conglomerado pode ser avaliado como um empecilho para o

desenvolvimento de atividades agrícolas, por exemplo.

Uma visão que vai ao encontro do exposto anteriormente é a importância da

compreensão e descrição da natureza para além de sua figura artística, visão defendida

por Gomes (2017). Para o autor, as paisagens não podem ser tomadas apenas como

conjunto estático, mas cujos enquadramentos permitam uma compreensão acerca de suas

estruturas que vislumbre entender a complexidade das diferentes interações imbricadas

em sua composição. Assim, as imagens e visões atribuídas a contemplação de conjuntos

paisagísticos devem auxiliar no julgamento e na construção de conhecimento acerca

desses.

Em suma, Gomes (2017) indica que a constituição de quadros que reproduzem a

natureza (sejam fotografias, obras de artes, mapas etc.) não deve ser tomada de maneira

individual, mas sim que esses se complementem e auxiliem na compreensão da

complexidade do todo que essas reproduções visam amostrar. Como exemplos desses

153

“enquadramentos” poderiam ser citados os diferentes mapas temáticos desenvolvidos

acerca de diferentes territórios, os quais visam apresentar características geológicas,

climáticas, de vegetação, dentre outras; temas que devem ser conectados para que seja

possível uma interpretação das interrelações que findam na materialização das referidas

paisagens. Nessa perspectiva, o autor op. cit. (p. 134) cita a importância da categoria

analítica da paisagem na compreensão da natureza, de maneira que:

Isso significa que, em um determinado lugar e momento da história, o resultado

da ação de reconfigurar a natureza a partir dos instrumentos disponibilizados

pela cultura passou a ser estimado com muita admiração, a tal ponto que se

tornou um objeto estético, tema de pintura. Esse recorte, fragmento de um

ambiente, fixado sobre um suporte, além de um objeto estético, é um

instrumento pedagógico. A ideia de paisagem nos ensina a olhar de outra

forma, nos ensina a ver coisas, conteúdos, valores, onde parecia antes nada

haver de admirável. Desde então, parece que aprendemos a apreciar e que

incorporamos, de modo quase natural na vida cotidiana, os valores, os

conteúdos contidos nesses fragmentos expostos ao olhar.

Tomando esse indicativo, para além de um quadro individualizado, o trato desses

conjuntos como ícones de paisagem permitiria a integração desses diferentes recortes e,

consequentemente, caracterizaria o conjunto paisagístico de maneira ampla, o que

permitiria a compreensão da complexidade das paisagens e possíveis direcionamentos

quanto ao uso dessas áreas.

Destarte, do ponto de vista escalar, o ícone de paisagem pode ser considerado uma

unidade taxonômica maior, que integra aquilo que Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2007)

chamam de “unidade de paisagem”. Assim sendo, o ícone pode ser considerado uma

escala de maior detalhamento na investigação da paisagem, que destaca um conjunto

paisagístico frente sua configuração estrutural. Tal estruturação permite sua associação a

diferentes vertentes, como por exemplo, a aferição funcional e visual das paisagens para

o Turismo de Natureza. Sobre a delimitação taxonômica, Bolós i Capdevila (1992, p. 64)

indica que:

La taxonomía se puede considerar division «vertical» de los objetos, en tanto

que toma en cuenta su jerarquía y su subordinación. Crea posibilidades de

clasificación en muchos niveles: un ejemplo de taxonomía lo tenemos en la

clasificación de los paisajes por su tamaño, en la que los más grandes

superficialmente inc1uyen de forma jerarquizada los de tamaño

inmediatamente inferior. O también en la clasificación por la dominancia de

elementos

Em sua investigação, Eichenberg (2018) mapeou as unidades de paisagem

existentes em Mato Grosso do Sul. Neste sentido, a figura 19 busca sintetizar a ideia

taxonômica dos ícones de paisagem, a qual apresenta-se como uma escala de maior

154

detalhamento das unidades de paisagem, permitindo delimitar conjuntos paisagísticos que

apresentem uma relevância estrutural no que tange as relações e inter-relações dos

elementos que compreendem tais paisagens, seja em função do relevo, da vegetação,

cursos hídricos, etc.

155

Figura 19 - Espacialização das unidades de paisagem e dos ícones de paisagem de Mato

Grosso do Sul.

Fonte: Eichenberg, 2018

Adaptado por: Lima, 2020

156

Neste âmbito, a figura supracitada permite perceber que, uma unidade de paisagem

pode compreender um ou mais ícones de paisagem ao longo de sua extensão, como no

caso por exemplo, da unidade baixo pantanal, que abarca os ícones de paisagem Serra do

Amolar e Maciço do Urucum. Outra possibilidade é que, o ícone de paisagem, em função

de sua extensão, possa compreender mais de uma unidade de paisagem, como no caso da

Serra de Maracaju.

Ao discorrer sobre as possibilidades de identificação de unidades visuais de

paisagem, Aguiló Alonso et. al. (2004) comentam sobre um método que se aproxima

daquilo que se pretende tratar como ícone de paisagem: o método de compartimentos de

paisagem. Segundo os autores op. cit., a paisagem é constituída por uma série de

compartimentos paisagísticos, os quais são caracterizados por suas singularidades, sua

abrangência e o conteúdo visual associado a eles. Ainda nessa vertente, discorrem sobre

a necessidade de agregar nessas abordagens o auxílio de fotografias aéreas e visitas

técnicas de campo, as quais permitem uma melhor delimitação dos referidos

compartimentos de paisagem. Na demarcação desses compartimentos, Aguiló Alonso et.

al. (2004, p. 509) sugerem que:

En zonas montaiíosas con cuencas y divisarias claramente marcadas, la

definición de las unidades puede partir de un fuerte apoyo topográfico. Así,

las divisarias de aguas sirven para definir los límites de cada unidad. La

fijación de sus dimensiones y el cierre de la totalidad de su perímetro se hace

con criterio visual, admitiendo que el área a cubrir por una unidad debe ser

aquella que abarque con la vista un observador situado aproximadamente en

su zona central.

Complementando, fica claro que nem sempre será possível estabelecer uma

compartimentação uniforme. Nesse sentido, outras características menos marcantes como

o relevo podem ser utilizadas para tais demarcações, tais como vegetação, hidrografia etc.

Outra opção é, não havendo uma delimitação clara, considerar uma totalidade maior de

paisagem, por mais que isso comprometa a compactação visual do conjunto.

No caso específico do relevo, Vieira (2008) lembra que ele deve ser entendido como

uma das variantes que compõem o sistema ambiental e que, seja em função de sua

originalidade/raridade, seja em função de sua condição enquanto elemento estruturante,

permite o estabelecimento de paisagens dotadas de características únicas, remetendo a

essas uma identidade própria. Ainda sobre a importância geomorfologia, o autor op. cit.

(p. 36) indica que:

157

Com efeito, os elementos geomorfológicos constituem a base sobre a qual se

desenvolve a paisagem, resultando como factores estruturantes das diversas

paisagens, razão pela qual frequentemente se fala de paisagem de montanha,

paisagem litoral, paisagem granítica, paisagem cársica, etc. A sua importância

revela-se ainda na relação com o solo e a vegetação, servindo-lhes de suporte

físico e, inclusivamente, de factor gerador.

Considerando a delimitação dos ícones de paisagem é possível perceber que,

relevos mais bem definidos (figura 20) permitem uma melhor compactação dos conjuntos

de paisagem, enquanto relevos de maior ondulação (figura 21) dificultam essa

delimitação (AGUILÓ ALONSO et. al., 2004). Na figura 20, a qual ilustra uma paisagem

da Serra do Amolar em Corumbá-MS, nota-se uma maior facilidade na delimitação do

ícone de paisagem, uma vez que a paisagem é estruturada de maneira mais homogênea,

tanto com relação ao relevo, quanto a vegetação e recursos hídricos.

Figura 20 - Delimitação do Ícone de paisagem Serra do Amolar (Corumbá-MS)

Autor: IHP - Instituto Homem Pantaneiro, 2019.

Já na figura 21, mesmo na feição central (Aquidauana-MS), onde os relevos e as

vegetações da Serra de Maracaju mais se destacam, percebe-se a dificuldade de delimitar

um conjunto paisagístico uniforme da Serra, dada a grande concentração de

fragmentações ao longo de sua extensão.

158

Figura 21 - Delimitação do Ícone de paisagem Serra do Amolar (Corumbá-MS)

Autor: LIMA, 2019.

Considerando as discussões elencadas até aqui e com amparo dos debates

embrionários de Lima, Silva e Martins (2019), toma-se como conceituação de ícone de

paisagem a:

Materialidade de conjuntos paisagísticos que destacam-se em função de suas

características, sejam em virtude de sua singularidade, por seu grau de

naturalidade, e/ou pela variabilidade de elementos, condições as quais estarão

atreladas de maneira conjunta ou individual em função principalmente de

elementos alçados ao campo visual, como os tipos de relevos, a variedade de

vegetação, os cursos hídricos ou marcos advindos de alterações humanas.

Ao delinear este ideário de ícone de paisagem, Lima, Silva e Martins (2019)

acreditam ser possível, deste modo, destacar aspectos relevantes das paisagens,

permitindo assim a valorização de seus aspectos estruturais (forma), e designar diferentes

possibilidades de uso (função), as quais devem estar atreladas a condições de manutenção

do referido ícone. Assim sendo, considera-se a priori que, a tese desta pesquisa apoia-se

na eminencia da existência de conjuntos paisagísticos que atendam a essas condições ora

apresentadas, permitindo assim o mapeamento e apresentação de ícones de paisagem em

159

Mato Grosso do Sul passíveis de serem reverenciados enquanto relevantes conjuntos

paisagísticos que possam ser relacionados a diferentes práticas turísticas, neste caso, do

Turismo de Natureza.

A partir das devidas reflexões acerca da proposição do conceito de ícones de

paisagem, o próximo item visa apresentar os conjuntos paisagísticos de Mato Grosso do

Sul que, a priori, estão elencados como ícones de paisagem no Estado e que podem ser

associados ao desenvolvimento de atividades voltadas aos segmentos do Turismo de

Natureza.

3.2 Os ícones de paisagem em Mato Grosso do Sul

A partir das discussões tratadas até o momento, os quais permearam temas como

paisagem e sua relação estrutural, visual e funcional, a natureza e suas acepções no

embasamento do segmento do Turismo de Natureza, e a busca de definição e

consolidação teórica da expressão ícone de paisagem, buscou-se estabelecer um

embasamento teórico que permitisse dar suporte para o trato dos objetos de estudo

propostos nesta investigação: Os ícones de paisagem de Mato Grosso do Sul.

A priori, acredita-se na existência de 5 conjuntos icônicos de paisagem no território

sul-mato-grossense: Serra do Amolar, Maciço do Urucum, Serra da Bodoquena, Serra de

Maracaju e APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná. Destarte, na sequência, apresenta-se

informações acerca dos referidos ícones, de maneira a destacar e contextualizar sua

notoriedade enquanto paisagens a serem elencadas como icônicas em Mato Grosso do

Sul.

3.2.1 Maciço do Urucum

A região de Corumbá-MS, além da imponência do ícone de paisagem Serra do

Amolar, conta ainda com outro conjunto paisagístico icônico: o Maciço do Urucum

(figura 22). Ilustrando as paisagens da BR-262 e da estrada-parque MS-228, o Maciço

impõe-se como conjunto paisagístico de relevante variações de relevo e que conta com

um entorno permeado por significante percentual de vegetação nativa, embora sofra

pressões das dinâmicas territoriais presentes nessas áreas.

160

Figura 22 - Localização ícone de paisagem Maciço do Urucum

Elaboração: LIMA, 2020.

Além da porção territorial de Corumbá-MS, Kashimoto e Martins (2013) lembram

que o ícone de paisagem Maciço do Urucum também ocupa parte do território de Ladário-

MS. De acordo com Freitas (2010) e Martínez Lopez (2017), o Maciço do Urucum está

localizado na faixa oeste de Mato Grosso do Sul, mas especificamente nas coordenadas

19º10’S e 57º35’W. Ao discorrer sobre o Maciço, Martínez Lopez (2017, p. 53) cita que:

161

Na topografia da planície banhada pelo rio Paraguai, a ‘Morraria do Urucum’

eleva-se abruptamente a mais de mil metros de altitude, estendendo-se dos

municípios de Corumbá e Ladário até a fronteira Brasil-Bolívia, conformada

pelas formações Serra do Rabicho, Morro Grande, Serra de Santa Cruz, Morro

de Tromba dos Macacos, Serra do Jacadigo e Morro do Urucum.

Justificando a estruturação da paisagem do Maciço, Kashimoto e Martins (2013)

indicam que, as faixas de densas florestas consolidam-se nas baixas vertentes da morraria

(piemonte), as quais, em função dos solos férteis e por não serem inundáveis, possibilitam

a formação de tais vegetações. É possível perceber uma maior densidade de vegetação

nos taludes que compreendem o entorno do relevo escarpado da morraria (figura 23).

Figura 23 - Paisagem do ícone Maciço do Urucum.

Autor: LIMA, 2019.

Ressalta-se ainda que, a se considerar as áreas de maior elevação do Maciço, as

quais contam com altas cotas de altitude, consideráveis diferenças de declividade, o solo

rochoso e o distanciamento dos recursos hídricos, estas condições tornaram-se fatores

limitantes para o estabelecimento de assentamentos permanentes dos povos indígenas

(KASHIMOTO; MARTINS, 2013).

Muito em função da peculiar composição rochosa da morraria, a qual Martínez

Lopéz (2017) aponta a grande concentração de ferro e manganês, Freitas (2010) lembra

que o Maciço do Urucum vem sendo palco da exploração de minérios exercida pela

Empresa Vale (figura 24), conhecida como uma das grandes companhias do ramo da

162

mineração no Brasil. Pensando na proposta de desenvolvimento turístico do ícone,

percebe-se uma aderência aos pensamentos de Fossgard (2019), que lembra as múltiplas

funcionalidades dos recursos naturais, podendo servir por exemplo, tanto ao Turismo,

quanto às atividades mineradoras.

Figura 24 - Contraste entre a paisagem do Maciço do Urucum e a atividade de

mineração no seu entorno, em Corumbá-MS.

Autor: LIMA, 2019.

Para Thomas et. al. (2010), a região compreendida pelo Maciço do Urucum e seu

entorno apresenta uma condição de grande singularidade do ponto de vista paisagístico

em Mato Grosso do Sul, uma vez que, este conjunto é influenciado por ecossistemas

vizinhos, conta com exemplares endêmicos e ainda conta com exemplares de espécies

advindas de outras regiões do país.

É importante ressaltar ainda que, o Maciço do Urucum é parte integrante do

Geoparque Bodoquena Pantanal, citado pelo ICMBio (2013, p. 8) em função de suas

especificidades no perímetro do parque: “A região de Corumbá e Ladário apresenta

fósseis de Corumbella e Cloudina (560-570 milhões de anos atrás) e, na Morraria do

Urucum, existem depósitos ferríferos e manganezíferos”. Ainda sobre a inserção do

Maciço já área compreendida pelo geoparque, Rolim e Theodorovicz (2012, p. 230)

indicam que:

163

[...] em plena planície pantaneira eleva-se notavelmente a mais de 1.000 metros

de altitude, carregando em seu interior umas das maiores jazidas de manganês

e minério de ferro do mundo (razão de ser de seu nome, termo indígena

referente à tonalidade avermelhada).

Ao relacionar este ícone com o Zoneamento Ecológico-Econômico de Mato Grosso

do Sul, percebe-se o Maciço do Urucum inserido na Zona Planície Pantaneira – ZPP, a

qual dentro de suas diretrizes, aponta como principal recomendação um rigoroso processo

de controle acerca de qualquer atividade que possa impactar de maneira negativa o pulso

de inundação do pantanal. Dentre as atividades que permeiam essa zona, a pecuária é

aquela que mais incentivada, principalmente associada as áreas de planícies. O ZEE-MS

indica que a atividade pecuária deve estimulada e controlada a fim de evitar a

transformação de áreas úmidas em pastagem exótica. Quanto a implementação de culturas

agroindustriais, estas não são estimuladas nessa zona (MATO GROSSO DO SUL, 2015).

Ao se considerar as referidas características do Maciço do Urucum, percebe-se a

possibilidade de atrelar tal conjunto de paisagem enquanto um ícone no Estado de Mato

Grosso do Sul, de maneira que, embora compreenda uma área onde as dinâmicas

territoriais (notoriamente centralizada na mineração) impõem alterações nas referidas

paisagens, acredita-se que, a partir da valorização do ícone enquanto oportunidade de

atrelar suas paisagens ao Turismo de Natureza e, consequentemente, aliar práticas que

visem a valorização, conservação e preservação do conjunto paisagístico em questão.

3.2.2 Serra do Amolar

Pouco conhecida até mesmo por boa parte dos sul-mato-grossenses, a Serra do

Amolar (figura 25) é um imponente conjunto sequencial de relevos que contrastam com

as planícies inundadas do Pantanal, condição a qual eleva o grau de singularidade desse

ícone de paisagem, em função desses conjuntos de elevações serem permeados por um

entorno de relevantes recursos hídricos e, consequentemente, abarcados por expressivas

concentrações de vegetação nativa.

A tentativa aqui de desvelar e aprofundar os conhecimentos acerca da Serra do

Amolar vai ao encontro de uma deficiência apontada por Rabelo, Moreira e Bertassoni

(2012), os quais indicam que, ao longo dos últimos anos, percebe-se o baixo

desenvolvimento de pesquisas que viabilizem o reconhecimento científico das paisagens

que compreendem a região da serra.

164

Figura 25 - Localização ícone de paisagem Serra do Amolar

Elaboração: LIMA, 2020.

A respeito da Serra, Pereira (2015) destaca que essa se trata de uma formação

rochosa de aproximadamente 80 quilômetros de extensão, sendo abarcada por diferentes

165

tipos de vegetação: chaco, amazônica e de cerrado. Ainda sobre sua localização, a Serra

fica a aproximadamente 100 quilômetros da área urbana do município de Corumbá-MS,

conforme indica o Instituto do Homem Pantaneiro (2014). No que tange a ocupação dessa

área, o autor op. cit. indica a ocorrência considerável de grupos locais, como por exemplo,

a comunidade ribeirinha Barra do São Lourenço e Porto Amolar. Além destas citadas,

Martins (2018) lembra ainda a presença das comunidades do Paraguai Mirim e Baía do

Castelo. De acordo com Rabelo, Moreira e Bertassoni (2012), o ponto mais alto da serra

é o Pico do Amolar, o qual tem altitude estimada em 1.000 m.

Quanto a vivência destas comunidades na Serra do Amolar, o Instituto do Homem

Pantaneiro (2014) chama a atenção para o distanciamento dessa população para com os

serviços públicos básicos, bem como a escassez de oportunidades de geração de renda,

propiciando inclusive o desenvolvimento de atividades ligadas ao tráfico de drogas e

produtos diversos, fato ligado a condição fronteiriça com a Bolívia. Diante das

dificuldades e do baixo índice de desenvolvimento humano, atividades ligadas a pesca e

a coleta de iscas para a prática do turismo de pesca apresentam-se como alternativas de

geração de renda. Entretanto, o autor op. cit. ressalta a grande ocorrência de problemas

ligados ao alcoolismo, exploração sexual e gravidez precoce nestas comunidades.

Dentre as características marcantes da Serra do Amolar, destaca-se o pulso de

inundação (enchente e vazante) como a principal variável de interferência nos processos

ecológicos regionais. Quanto a diversidade dos ambientes e a diversidade de espécies

bióticas, indica-se como fatores influentes a variação climática (chuva e estiagem) e a

variação de relevo entre as planícies e os morros que integram a Serra (atingindo cotas de

até 1000m de altitude (INSTITUTO DO HOMEM PANTANEIRO, 2014, p. 13).

Acerca da importância da Serra do Amolar enquanto relevante ecossistema, o

Instituto do Homem Pantaneiro (2014, p. 11) cita as seguintes informações:

Pela sua incrível biodiversidade, o Ministério do Meio Ambiente classifica a

região como área de conservação de "Prioridade Extremamente Alta". [...] Pelo

potencial hídrico, o Parque Nacional do Pantanal Matogrossense - vizinho à

Serra do Amolar - é considerado um Sítio de Importância Internacional pela

Convenção de Ramsar, como uma das zonas úmidas que devem ser

conservadas em todo o Planeta. [...] Toda a região é classificada pela UNESCO

como Reserva da Biosfera Mundial. [...] E desde 2000, o Complexo de Áreas

Protegidas do Pantanal (Parque Nacional, Reservas Acurizal, Penha, Dorochê

e Rumo ao Oeste) carrega o título de Patrimônio Natural da Humanidade,

também pela UNESCO.

Ressaltando as supracitadas condições atreladas a Serra do Amolar, Pereira (2015,

p. 112) chama a atenção para uma interessante característica relacionada ao conjunto

166

paisagístico da Serra: “A região da Serra do Amolar, bem como as RPPNs em seu entorno,

são os locais onde existem as maiores áreas preservadas no Pantanal o que condiciona e

favorece um habitat ideal para as onças”. Tal informação é importante uma vez que, além

da possibilidade de preservação da espécie, a contemplação de onças na região é vista

como uma das atividades de maior apelo por parte dos visitantes da Serra. Atrela-se a esta

informação o fato da região ser rica em quantidade de espécies de animais, as quais muitas

encontram-se em processo de extinção, conforme indica o Instituto do Homem Pantaneiro

(2014).

Para Lima, Silva e Martins (2019), a Serra do Amolar compreende um conjunto

paisagístico onde predominam relevos montanhosos e grande quantidade de vegetação

nativa, uma configuração notoriamente singular no bioma pantaneiro, vide figura 26, a

qual mostra que, em contraste com a riqueza hídrica típica do bioma pantaneiro, a Serra

do Amolar estrutura-se enquanto ícone a partir desta contraposição com seus relevos e

vegetações. Neste contexto, os autores op. cit. ressaltam a importância do entendimento

deste ícone de paisagem, bem como compreender o entorno que relaciona-se com as

referidas paisagens.

Tal aferição pode ser justificada, por exemplo, ao visualizar as próprias dinâmicas

territoriais da Serra, visto o baixo grau de intervenção nestas áreas. Tomando como

referência a atividade pecuária, em grau comparativo com as planícies pantaneiras, a

Serra do Amolar detém índices relativamente menores de exploração desta atividade ao

longo de sua extensão. Sobre a atividade pecuária, o Instituto do Homem Pantaneiro

(2014, p. 15) frisa que “Durante muitos anos, a criação de gado foi a principal atividade

na área. Mas a grande cheia de 1974 e o assoreamento do rio Taquari contribuíram para

a diminuição dessa prática e o consequente abandono das fazendas”.

167

Figura 26 - Contraste hídrico, de relevo e vegetação na Serra do Amolar.

Autor: LIMA, 2019.

Além da condição física da Serra do Amolar, Martins (2018, p. 105) destaca a

condição fronteiriça em que o ícone está inserido:

A Serra do Amolar é um dos lugares de maior “contato” entre o Brasil e a

Bolívia, sobretudo pelas Lagoas Mandiore, Gaiba e Uberaba. A área central,

por sua vez, abriga o Canal Tamengo e a Laguna Cáceres, que congregam

diversos atrativos do pantanal boliviano. O rio Paraguai está no “caminho”

dessas duas áreas e proporciona belezas cênicas interessantes para aqueles que

fazem o trajeto da cidade de Corumbá a Serra do Amolar.

Quanto ao acesso da área em questão, este pode se dar através de avião ou barco,

fato que pressupõe um planejamento prévio logístico para acessar a Serra do Amolar,

mesmo que este acesso seja realizado por operadoras de viagem ou pelo IHP (Instituto

Homem Pantaneiro) – organização da sociedade civil que atua na conservação e

preservação do bioma Pantanal. Assim, pontos de apoio, como por exemplo, a Pousada

Amolar, utiliza-se de embarcações freteiras como meio de transportar insumos como

alimentos, remédios, combustível, produtos de limpeza e outros materiais necessários,

168

tanto para a comunidade local, quanto para visitantes (turistas, pesquisadores, etc.)

(MARTINS, 2018).

Considerar as questões que envolvem o acesso a Serra é de suma importância, uma

vez que, conforme apontado por Martins (2018), apesar da relevante condição cênica da

Serra do Amolar, percebe-se dificuldades no trato de políticas públicas e do trade turístico

no desenvolvimento de práticas voltadas ao turismo. Sobre a acessibilidade turística da

área, a autora op. cit. (p. 258) cita que: “É acessível apenas via ONGs: o IHP oferece o

turismo na Serra do Amolar nas RPPNs Acurizal e Engenheiro Eliezer Batista e a Ecoa

em Porto Amolar. Mas ainda assim é um produto para poucos”. Muito em função da

referida dificuldade de acesso e gestão tanto pública quanto privada, indica-se possíveis

entraves para que o turismo se desenvolva, acarretando principalmente nos altos custos

para efetivar sua prática. Entretanto, apesar destes por menores, Martins (2018, p. 261)

destaca que:

Apesar dessa dinâmica posta, o fato é que as paisagens desses locais estão

conservadas. Seja pela dificuldade de acesso, pela burocracia, pela questão

financeira. Além disso, é importante lembrar que no caso da Serra do Amolar

as ONGs presentes realizam um trabalho interessante e extremamente

necessário com a comunidade que envolve gestão, monitoramento,

fiscalização, combate ao incêndio, treinamento, ações sócias educativas,

empoderamento feminino, projetos ligados a eventos climáticos, habitação

dentre outros. Uma das ONGs locais atua inclusive em parceria constante com

a Polícia Militar Ambiental.

Destacando essa importância no que tange conservação e preservação da Serra do

Amolar, bem como os agentes envolvidos em tais ações, Moreira et. al. (2010, p. 2)

descreve que:

A associação da riqueza de espécies e dos processos ecológicos da planície

pantaneira com a Serra do Amolar, na divisa dos Estados do Mato Grosso e

Mato Grosso do Sul, junto à fronteira com a Bolívia, forma um corredor

biológico e geográfico potencialmente importante para a conservação do

Pantanal. Instituições proprietárias de terras nesta região, e que compartilham

essa visão têm realizado ações conservacionistas no trecho Corumbá – Parque

Nacional do Pantanal Mato-Grossense (Parna Pantanal), de modo a formarem

juntas a “Rede de Proteção e Conservação da Serra do Amolar” (RPCSA).

Essas instituições são: a RPPN Engenheiro Eliezer Batista com gestão do

Instituto Homem Pantaneiro (IHP), a Fazenda Santa Tereza de propriedade da

Sra. Teresa Bracher, as RPPNs Estância Dorochê; Acurizal, Penha e Rumo ao

Oeste todas sob a gestão da Fundação Ecotrópica, e que contam com o apoio

do Parna Pantanal gerido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da

Biodiversidade (ICMBio).

No Zoneamento Ecológico-Econômico de Mato Grosso do Sul, assim como o

Maciço do Urucum, a Serra do Amolar também está inserida na Zona Planície Pantaneira

169

– ZPP, conforme indicado por Mato Grosso do Sul (2015). Conforme já supracitado, esta

zona é amparada por estratégias de rigoroso controle de atividades danosas ao ambiente

pantaneiro, desestimulando a inserção de culturas agroindustriais e incentiva a

continuidade da atividade pecuária nas áreas de planície, desde que se evite a

transformação das áreas úmidas em pastagens exóticas.

Quanto a atividade turística, Moretti (2000; 2006) indica que a natureza está

intimamente ligada ao desenvolvimento do turismo no pantanal sul-mato-grossense,

principalmente em função de sua singularidade hídrica, condição a qual estimulou nas

últimas décadas um crescente aumento da atividade turística ligada a pesca. De acordo

com Moretti (2006, p. 39), o relevante aumento da atividade pesqueira proporcionado

pelo fluxo turístico tem causado pressões negativas no ambiente pantaneiro, “ou seja, a

atividade turística destrói o que proporciona a sua existência”. Entretanto, conforme

explanado por Moretti (2000; 2006), percebe-se cada vez mais a inserção de atividades

contemplativas ligadas ao ecoturismo nas áreas pantaneiras, as quais a priori prezam por

ações sustentáveis no desenvolvimento do turismo (que, porém, nem sempre conformam

todos os aspectos que abrangem os conceitos de sustentabilidade).

O conjunto paisagístico da Serra do Amolar se atrela ao pensamento de Hintze

(2013), que ressalta a valorização dos territórios para a atividade turística, uma vez que,

para o Turismo, quanto mais escassa ou singular a paisagem, mais ela é valorizada em

suas atividades.

Tais condições possibilitam estruturar bases para o planejamento e, posteriormente,

o desenvolvimento de atividades ligadas ao Turismo de Natureza, uma vez que, levando

em consideração as discussões elencadas em capítulos anteriores acerca deste segmento

e também do trato da paisagem e sua relação com o turismo, é possível inferir que a Serra

do Amolar a priori possa ser considerado um ícone de paisagem em Mato Grosso do Sul

e, consequentemente, apto enquanto lócus para práticas do Turismo de Natureza.

3.2.3 Serra de Maracaju

Considerada nesta pesquisa como um dos ícones de paisagem em Mato Grosso do

Sul, a Serra de Maracaju (figura 27) destaca-se como imponente conjunto de relevos que,

em alguns pontos do território sul-mato-grossense apresenta-se de maneira contínua

(figura 28), enquanto em outras feições é encontrada de maneira fragmentada (figura 29).

170

Figura 27 - Localização ícone de paisagem Serra de Maracaju

Elaboração: LIMA, 2020.

171

Figura 28 - Faixa contínua de morrarias da Serra de Maracaju, em Aquidauana-MS.

Fonte: Lima, 2019.

Figura 29 - Serra de Maracaju formada por conjuntos de relevos testemunho, em

Antônio João-MS.

Autor: LIMA, 2019.

Nas visões de Lima, Silva, Boin e Medeiros (2020), ao considerar a diversidade de

paisagens encontradas em Mato Grosso do Sul, a Serra de Maracaju se destaca por

apresentar uma relevante diversidade geológica, bem como diferentes feições de relevo e

faixas de vegetações nativas. Os autores op. cit. (p. 226) indicam que “A Serra inicia-se

172

na parte sul do estado, no interior do município de Ponta Porã, atravessa a faixa central

do território sul-mato-grossense, chegando até a porção norte do estado, no município de

Sonora”.

Sobre a Serra de Maracaju, Mato Grosso do Sul (2009), Tsilfidis e Soarez Filho

(2009) e Lima (2017) apontam essa formação como um importante conjunto, o qual se

encontra ameaçado em função das dinâmicas produtivas impostas ao longo de sua

extensão, fato que pressupõe uma relação de advertência frente a grande quantidade de

mananciais e nascentes dispostas na serra. Frente a tal perspectiva, o conjunto estrutural

e qualidade visual permitiriam o desenvolvimento de atividades ligadas ao Turismo de

Natureza nestas áreas que compreendem a Serra. Para Rego (2008), a Serra de Maracaju

se destaca como grande divisor dos dois grandes domínios biogeográficos de Mato

Grosso do Sul: o Cerrado na face leste e o Pantanal sul-mato-grossense.

Nunes et. al. (2013) sustentam que, ao ser comparada a outras áreas de Mato Grosso

do Sul, principalmente as feições sul e leste do estado, a Serra de Maracaju se apresenta

como um relevante conjunto de mosaicos paisagísticos, os quais são importantes na

conservação dos exemplares bióticos sul-mato-grossense, como, por exemplo, uma

variedade de exemplares de aves, as quais possuem variadas espécies ameaçadas ou em

vias de se tornarem ameaçadas de extinção. Corroborando com tal afirmativa, Tsilfidis e

Soares Filho (2009) evidenciam que, levando em consideração o positivo cenário

qualitativo e quantitativo dos recursos hídricos que permeiam a Serra de Maracaju, esses

mantêm uma intrínseca relação com a diversidade de fauna e flora das áreas associadas

aos afloramentos da serra.

É importante frisar ainda que, parte da área considerada integrante da Serra de

Maracaju também é incorporada na delimitação do Geoparque Bodoquena Pantanal.

Segundo o ICMBio (2013, p. 8) “Em Nioaque, são observadas pegadas fossilizadas de

dinossauros no leito rochoso de um rio” (figura 30). Assim, em função de seu

reconhecimento enquanto sítio paleontológico, esse recorte da Serra de Maracaju, em

Nioaque-MS, foi incorporado ao perímetro do Geoparque, ressaltando assim a

singularidade e importância desta porção da Serra.

173

Figura 30 - Pegadas de Dinossauros impressas nos arenitos da Formação Botucatu -

Proximidades de Nioaque.

Fonte: ROLIM; THEODOROVICZ, 2012, p. 246.

Apesar dessa inserção do fragmento da Serra de Maracaju encontrado em Nioaque-

MS, no quadrante do Geoparque Bodoquena Pantanal e considerando a grande extensão

desse conjunto paisagístico, Mato Grosso do Sul (2009, p 75) destaca o percentual

relativamente baixo de delimitação de áreas protegidas ao longo da extensão da serra:

Apesar de sua importância como representante da biodiversidade Atlântica, as

áreas protegidas representam apenas 3,65% do total desta zona, além de não

apresentar nenhum Parque. Nela encontram-se a APA do Córrego Ceroula e

Piraputanga, APA Municipal do Córrego Guariroba, APA Municipal da Bacia

do Rio Amambaí, APA Municipal da Sub-Bacia do Rio Cachoeirão, APA

Municipal das Nascentes do Rio APA, APA Municipal do Rio Anhandui, APA

Municipal do Rio Vacaria, APA Municipal Microbacia do Rio Dourados e

Brilhante, APA Municipal Rio Aquidauana (Corguinho), Parte da APA Rio

Cênico Rotas Monçoeiras, APA Sub-bacia do Rio Ivinhema – Angélica, RPPN

Laudelino Flores de Barcellos, MN Municipal Morraria, RPPN Campo Alegre,

MN Municipal Serra de Bonfim, MN Municipal Serra de Nioaque, RPPN

Morro do Peroba (Fazenda Capão Bonito) e RPPN Nova Querência.

174

Em contraste com a diversidade biótica e abiótica da Serra de Maracaju, Lima

(2017) lembra que, em função de atividades econômicas como a agricultura e a pecuária,

a serra encontra-se cada vez mais pressionada em função de tais dinâmicas territoriais, as

quais muitas vezes impõem impactos negativos a essas paisagens, como por exemplo, o

desmatamento, a compactação dos solos, queimadas, assoreamento de cursos hídricos,

dentre outros. Acerca das pressões supracitadas, Mato Grosso do Sul (2009, p. 75) cita

que:

Esta Zona encontra-se parcialmente inserida no Bioma da Mata Atlântica,

contudo foi a que sofreu e ainda vem sofrendo as maiores pressões, sendo

considerada a área mais crítica da vegetação do Mato Grosso do Sul. Restam

hoje pequenos fragmentos de Floresta Estacional Semidecidual Aluvial (trata-

se de formação ribeirinha ou floresta ciliar que ocorre ao longo dos cursos de

água ocupando os terrenos antigos das planícies quaternárias) bastante

alterados e na porção mais ao sul encontram-se pequenas manchas de Cerrado.

Ainda para justificar tais pressões, Mato Grosso do Sul (2009, p. 76) indica que:

Trata-se de uma Zona de terras de boa e regular aptidão agrícola dentro do

Mato Grosso do Sul, historicamente produtora de alimentos com alta

tecnologia, devendo-se, portanto, priorizar a manutenção desta vocação. Deve-

se observar que é uma região com grande desenvoltura econômica no campo,

provocando ao longo da história um intenso desmatamento com grande

prejuízo às matas ali existentes, em especial à Mata de Dourados, exuberante

até o final dos anos sessenta do século passado. Tal desmatamento tem

provocado um desaparecimento continuado do Bioma do Cerrado e

comprometendo com poluição (ainda controlada) vários corpos d’água,

inclusive suas nascentes.

Apesar da referida aptidão agropecuária indicada ao longo da extensão da Serra de

Maracaju, faz-se necessária especial atenção a conservação e preservação das matas

ciliares, das várzeas e dos fragmentos de vegetação nativa que perduram nessas áreas,

bem como deve-se empreender cuidados extras nos usos de agrotóxicos em lavouras que

margeiam a serra (MATO GROSSO DO SUL, 2009).

O ícone de paisagem se relaciona com a Zona Serra de Maracaju – ZSM do

Zoneamento Ecológico-Econômico de Mato Grosso do Sul, a qual estimula o

fortalecimento urbano, polos de ligação, infraestruturas, equipamentos públicos e

serviços básicos, condições as quais privilegiam a funcionalidade do desenvolvimento

regional. Tais incentivos estão intrinsicamente ligados a aptidão agrícola a qual a zona é

delimitada. Tal dinâmica, historicamente desenvolvida nessas porções de Mato Grosso

do Sul, proporcionaram ao longo dos tempos relevantes processos de desmatamento,

especialmente na Mata de Dourados (exuberante até o final dos anos de 1970), e que vem

acarretando perdas consideráveis do Bioma de Cerrado, bem como acarretando aumento

175

dos índices de poluição e comprometendo vários cursos d’água (MATO GROSSO DO

SUL, 2015).

Assim sendo, o ZEE-MS aponta a necessidade de maiores cuidados das matas

ciliares, das várzeas e dos fragmentos de vegetação nativa que ainda perduram na Zona

Serra de Maracaju, em especial, no entorno dos rios, como por exemplo, o rio Ivinhema.

Indica-se ainda a necessidade de cuidados especiais no trato de lavouras, considerando os

usos de agrotóxicos nessas áreas (MATO GROSSO DO SUL, 2015).

Nesse sentido, Lima (2017) indica o desenvolvimento do Turismo de Natureza,

mediante planejamento da atividade, como possibilidade de exploração dessas paisagens,

ocasionando menores impactos negativos e potencializando os positivos. Tal

possibilidade pode se amparar nas premissas apontadas por Lima, Silva, Boin e Medeiros

(2020), as quais indicam que a qualidade visual das paisagens da Serra de Maracaju é

resultado das interações e interrelações dos diferentes elementos físicos, condição a qual

pressupõe a materialização de cenários paisagísticos ímpares no contexto sul-mato-

grossense.

Dentro desta perspectiva, a valorização da Serra de Maracaju enquanto ícone de

paisagem de Mato Grosso do Sul pode ser tomada como estratégia de valorização das

referidas paisagens e, consequentemente, estímulo para o desenvolvimento do referido

segmento turístico.

3.2.4 APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná

A APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná (figura 31) é aqui considerado como um

ícone da paisagem localizado na faixa sudeste de Mato Grosso do Sul. De acordo com

Moraes e Bernardes (2011), a APA ilhas e Várzeas do Rio Paraná abrangem uma área de

10.000 km², perpassando pelos Estados de Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo. Em

uma condição de planície de inundação, as paisagens encontradas nessas porções denotam

relevância, principalmente condicionados a fauna e flora destas áreas (figura 32).

176

Figura 31 - Localização ícone de paisagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná

Elaboração: LIMA, 2020.

177

Figura 32 - Paisagem da APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná estruturada nas planícies,

vegetações nativas, variedade hídrica e formação de ilhas fluviais.

Autor: LIMA, 2020.

Vislumbrando tornar mais clara a compreensão acerca da criação, delimitação e os

objetivos da APA8, cita-se a seguir na íntegra os dois primeiros artigos apresentados por

Brasil (1997, p. 1):

Art. 1º Fica criada a Área de Proteção Ambiental - APA denominada APA das

Ilhas e Várzeas do Rio Paraná, compreendendo as ilhas e ilhotas situadas no

Rio Paraná, as águas interiores e as áreas lagunares e lacustres, as várzeas,

planícies de inundação e demais sítios especiais situados em suas margens,

desde o Reservatório de Itaipu e a foz do Rio Piquiri até a foz dos Rios

Paranapanema e Ivinheima, nos Estados do Paraná e de Mato Grosso do Sul,

com o objetivo de:

I - proteger a fauna e flora, especialmente as espécies ameaçadas de

extinção, tais como o Cervo-do-pantanal (Blatocerus dichotomus), o Bugio

(Alouatta fusca), a Lontra (Lutra longicaudis), a Anta (Tapirus terrestris), a

Jaguatirica (Leopardus pardalis) e a Onça-pintada (Panthera onça);

II - garantir a conservação dos remanescentes da Floresta Estacional

Semidecidual Aluvial e Submontana, dos ecossistemas pantaneiros e dos

recursos hídricos;

III - garantir a proteção dos sítios históricos e arqueológicos;

IV - ordenar o turismo ecológico, científico e cultural, e demais

atividades econômicas compatíveis com a conservação ambiental;

V - incentivar as manifestações culturais e contribuir para o resgate da

diversidade cultural regional;

8 A Área de Proteção Ambiental (APA) é uma categoria de unidade de conservação que permite a instalação

de loteamentos, projetos agrícolas, equipamentos turísticos e até alguns tipos de indústrias. As Áreas de

Proteção Ambiental podem ser formadas integralmente por terras particulares, pois sua finalidade é

proporcionar a ocupação ordenada de uma área que ainda possui características naturais relevantes, como

forma de minimizar os impactos ambientais nessas áreas (OLIVEIRA; BARBOSA, 2010, p. 15).

178

VI - assegurar o caráter de sustentabilidade da ação antrópica na região,

com particular ênfase na melhoria das condições de sobrevivência e qualidade

de vida das comunidades da APA e entorno.

Art. 2º A APA de que trata o artigo anterior fica localizada nos Municípios de

Altônia, São Jorge do Patrocínio, Vila Alta, Icaraíma, Querência do Norte,

Porto Rico, São Pedro do Paraná, Marilena, Nova Londrina e Diamante do

Norte, no Estado de Paraná, e Mundo Novo, Eldorado, Naviraí e Itaquiraí, no

Estado de Mato Grosso do Sul.

Considerando a grande área de abrangência, Moraes e Bernardes (2009) destacam

a APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná como uma área que aglutina um relevante conjunto

de unidades de conservação em seus domínios: o Parque Nacional de Ilha Grande, o

Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, Parques Municipais, RPPN’s e a Estação

Ecológica de Caiuá, as quais, apesar de estarem resguardadas enquanto unidades de

conservação, foram alvos da falta de planejamento, uma vez que, a ocupação ilegal das

referidas áreas culminaram em processos de degradação dos recursos naturais que

contemplam suas paisagens.

Além das referidas unidades, a área da APA ainda agrega a delimitação de RPPN’s

e do Parque Natural Municipal de Naviraí. A espacialização das áreas supracitadas como

integrantes do perímetro da APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná pode ser observada na

figura 33.

Figura 33 - Delimitação das Unidades de Conservação inseridas nos limites da APA

Ilhas e Várzeas do Rio Paraná.

Autor: FRANÇA, Adriano Chaves de, 2019.

179

Quanto a gestão da APA, Limont e Müller (2015) indicam que, em função de ser

instituída como uma unidade de conservação federal, a área é gerida pelo Instituto Chico

Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A Área de Proteção Ambiental das

Ilhas e Várzeas do Rio Paraná (APAIVRP) é fundamental na conservação da

biodiversidade da região, atuando na proteção dos atributos ecológicos encontrados nas

planícies do rio Paraná.

Ademais, Moraes e Bernardes (2009) registram a necessidade de mapeamentos de

maior precisão das áreas alagáveis afim de estabelecer estratégias de manejo da área

compreendida pela APA, uma vez que, tomando como base o acelerado processo de

degradação dos recursos naturais imposto a referida região, medidas de compensações

ambientais fazem-se necessárias para a preservação e conservação das paisagens

encontradas nestes territórios. No que tange as dinâmicas territoriais que potencializaram

as pressões acerca dos ambientes da APA, Milne, Murphy e Thomaz (2008, p. 10)

destacam o desenvolvimento da atividade pecuária:

Extensas áreas da planície do rio Paraná têm sido submetidas à pastagem por

gado nos últimos 50 anos. Esta atividade é especialmente observada na várzea

e nas ilhas da “Área de Proteção Ambiental das Ilhas e Várzeas do Rio Paraná”,

para onde o gado é levado principalmente durante o inverno, quando a

pastagem nas fazendas do lado paranaense apresentam uma perda da qualidade

do pasto em função da seca. Observações realizadas na área sugerem

fortemente que a pastagem por gado foi uma importante pressão ambiental que

afetou muitas áreas sazonalmente secas da planície de inundação do alto rio

Paraná [...].

Além da atividade pecuária, Chicati, Nanni, Oliveira e Cezar (2009) atentam que,

a qualidade dos solos encontrados na APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná estimulam o

desenvolvimento de atividades agrícolas, tais como a cultura de arroz. Neste sentido,

aliado às práticas pecuárias, estes cultivos também possuem potencial, a depender da

escala de produção, de estabelecer alterações nas paisagens deste ícone. Considerando

tais ressalvas do uso e ocupação da APA, Limont e Müller (2015) destacam a função da

unidade de conservação enquanto instrumento garantidor do uso sustentável destas áreas,

possibilitando a melhoria da vida das comunidades locais e do entorno.

No que tange o Zoneamento Ecológico-Econômico, o ícone de paisagem está

inserido na Zona Iguatemi – ZIG. Mato Grosso do Sul (2015) indica que as

recomendações para esta zona devem considerar as condições naturais e a tradição

histórica regional, as quais permeiam ações ligadas ao extrativismo vegetal, estimulando

180

ciclos produtivos que agreguem aos processos de recuperação do bioma de Mata

Atlântica. Considerada uma zona de consolidação, Mato Grosso do Sul (2015) recomenda

o desenvolvimento da agricultura atrelada a pecuária semiextensiva, bem como atividades

ligadas a agroindústria, industrializações em geral e a silvicultura. Quanto a medidas de

conservação/preservação das paisagens, o autor op. cit. (p. 86) descreve que:

O fato dessa Zona possuir apenas 1/5 de sua vegetação nativa, com importantes

fragmentos da mata atlântica, um dos biomas mais ameaçados do Brasil e do

estado e abrigar extensas áreas de várzeas, confere a essa Zona alto grau de

importância para a conservação e uso sustentável da biodiversidade e dos

recursos por ela sustentados, como água, solo, pesca, turismo e

hidroeletricidade. A existência de grandes áreas protegidas legalmente

instituídas como APAs, Parques e RPPNs, bem como de um comitê de bacias

hidrográficas atuante, o da Bacia do rio Ivinhema, favorece a implantação de

pagamento por serviços ambientais, dentre outros instrumentos de gestão

ambiental territorial e usos sustentável dos recursos naturais, em função do

suporte institucional e de governança já instituídos.

Considerando tais reflexões, destaca-se que a pesquisa tem como uma de suas

premissas estabelecer suportes que propiciem ferramentas de conservação dos ícones de

paisagem de Mato Grosso do Sul, neste caso, através de mapeamentos que permitam o

desenvolvimento do Turismo de Natureza, modalidade que pode possibilitar estímulos

para a manutenção das paisagens icônicas do estado.

A singularidade paisagística deste ícone vai ao encontro do que relata Cauquelin

(2007), uma vez que, a autora relata o caráter sedutor e persuasivo de um ícone a partir

de uma unidade/totalidade. No caso da APA, essa unidade é ressaltada principalmente em

função de sua amplitude hídrica que, juntamente com as relevantes faixas vegetacionais,

oferece um conjunto paisagístico homogêneo e aprazível.

Apesar da área da APA compreender parte dos territórios de três estados brasileiros

(Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná) e que, a estruturação paisagística independe de

barreiras limítrofes políticas-administrativas, ressalta-se que a investigação priorizará a

aferição do ícone de paisagem no âmbito sul-mato-grossense, admitindo tais paisagens

como possíveis bases para o estabelecimento de planejamento turístico em Mato Grosso

do Sul, neste caso, privilegiando atividades ligadas ao segmento do Turismo de Natureza.

3.2.5 Serra da Bodoquena

Do ponto de vista paisagístico de Mato Grosso do Sul, a Serra da Bodoquena (figura

34), conjuntamente com o Pantanal, apresenta-se como uma das maiores referências no

181

estado. Além de sua exuberância respaldada pelo relevo de destaque e vegetação nativa

relevante, a Serra é abrangida por um grande número de mananciais, os quais se destacam

em função de sua característica cristalina, advinda da relação de sua morfologia cárstica

resultante de rochas calcárias.

Figura 34 - Localização ícone de paisagem Serra da Bodoquena.

Elaboração: LIMA, 2020.

182

Além disso, a Serra da Bodoquena é associada ao município de Bonito-MS, o qual

foi referenciado por anos consecutivos como principal destino ecoturístico no mundo.

Acerca da singularidade dos recursos hídricos da Serra da Bodoquena, a Fundação

Neotrópica do Brasil (2019, p. 12) rela que:

[...] seus rios de água cristalina proporcionam paisagens de beleza cênica que

atraem milhares de turistas todos os anos para a região da Serra da Bodoquena.

Devido a sua característica cárstica, a região atua como uma grande superfície

de captação e armazenamento de água das chuvas, garantindo a perenidade de

rios que nascem na região, como o Salobra, o Perdido, o Formoso e o Prata,

todos com reconhecida importância econômica para o ecoturismo da região.

Além disso, todos esses rios irão desaguar por fim na planície pantaneira (rio

Miranda e Paraguai), o que torna a região de grande importância para a

manutenção do fluxo de inundação da planície, contribuindo assim no

equilíbrio e conservação também do bioma Pantanal.

Prova de sua relevância, aponta-se para recentes estudos direcionados para a

referida área, os quais Ribeiro (2017), Eichenberg (2018), Costa (2018) e Medeiros

(2020) empenharam esforços em discussões e análises que permearam a Serra da

Bodoquena em diferentes aspectos, visando compreender distintas vertentes que

abrangem esta porção de Mato Grosso do Sul, tais como: qualidade dos recursos hídricos

e dinâmicas territoriais como o turismo, agricultura e pecuária.

A Serra da Bodoquena (figura 35), imponente conjunto geomorfológico de Mato

Grosso do Sul, está localizada na face sudeste da planície pantaneira entre as coordenadas

19º 45’ e 22º 15’ de latitude sul e entre 57º 30’ e 56º 15’ de longitude oeste, e estende-se

ao longo 200 quilômetros em direção ao norte do estado com aproximadamente 50

quilômetros de largura, atingindo cotas de altitude que chegam até 800 metros (SALLUN

FILHO; KARMANN; BOGGIANI, 2004).

183

Figura 35 - Paisagem da Serra da Bodoquena. Destaque para o conjunto contínuo de

relevo que constituí a paisagem.

Autor: LIMA, 2021.

Indicando a importância da Serra da Bodoquena, Oliveira, Fernandes, Garnés e

Santos (2009) lembram a criação do Parque Nacional da Serra da Bodoquena em

setembro de 2000, o qual foi instituído com intuito de frear a degradação ambiental,

entretanto, essa tentativa não teve grande efetividade, uma vez que, grande parte de sua

extensão conflitara com questões fundiárias não regularizadas. Os autores op. cit.

ressaltam que, mesmo com as medidas protetivas da legislação ambiental, as quais

resguardam encostas e morros com declividades acima de 45º graus, as queimadas e

desmatamentos perduram ao longo dos anos na Serra. Segundo a Fundação Neotrópica

do Brasil (2019), o Parque Nacional da Serra da Bodoquena é a unidade de conservação

federal que está inserida 100% em território sul-mato-grossense, abrangendo os

municípios de Bonito, Bodoquena, Jardim e Porto Murtinho. A área que compreende o

parque é de 76.481 há, de acordo com Batista-Maria (2007).

O Parque Nacional da Serra da Bodoquena visa assegurar a perpetuidade dos

elementos ligados a fauna, flora, geomorfologia, paisagem, recursos hídricos, dentre

outros recursos. A preservação de tais aspectos evidenciam o parque como “verdadeiros

laboratórios vivos”, permitindo assim a ampla aplicação de pesquisas científicas em seus

domínios. Destarte, a parque é valorizado enquanto patrimônio natural, abarcado por

visões conservacionistas. Contraditoriamente ou não, muito em função de suas

184

singularidades, suas paisagens também são alvo de apropriação do mercado turístico

(RIBEIRO, 2017).

Discorrendo sobre o Parque Nacional da Serra da Bodoquena, o ICMBio (2013)

destaca a condição singular deste, uma vez que, encontra-se em uma área de superposição

de duas Reservas da Biosferas de interesse, segundo a UNESCO (Organização das

Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura): a Mata Atlântica e o Pantanal.

Entretanto, é importante ressaltar o incipiente conhecimento acerca da fauna de

invertebrados da região, denotando o ainda baixo conhecimento da diversidade deste

grupo na área do parque. Um dos pontos que podem justificar essa falta de informação é

dificuldade de acesso e a baixa acessibilidade em diferentes pontos do parque, tornando

assim limitado o trabalho de pesquisadores, dificultando a catalogação de espécies e

amostras tanto de fauna quanto flora. Assim sendo, a região da Serra da Bodoquena é

compreendida como um conjunto paisagístico de grande potencial e relevância no que

tange sua biodiversidade (FUNDAÇÃO NEOTRÓPICA DO BRASIL, 2019).

Além da condição de Parque Nacional, em 2009, a Serra da Bodoquena,

conjuntamente com o Pantanal sul-mato-grossense, ganha uma nova e importante

chancela como relevante conjunto paisagístico: de geoparque. Acerca da definição de

geoparque, o ICMBio (2013, p. 8) cita que:

Em 2004, a UNESCO criou a Rede Mundial de Geoparques sob a filosofia de

que a herança geológica da Terra deve ser objeto de proteção passível de ser

integrado a uma estratégia de fomento ao desenvolvimento social e econômico

nos territórios. Os geoparques recebem tratamento equivalente às Reservas da

Biosfera e aos Patrimônios da Humanidade. O conceito de geoparque não se

encontra previsto nas categorias jurídicas de conservação. Refere-se a uma

rede de locais e itinerários de interesse e relevância, os quais são chamados

Geossítios. Através destes é possível encontrar elementos para a compreensão

da evolução geológica e paleontológica da região sob enfoques ecológicos,

científicos, arqueológicos, históricos, culturais e recreacionais.

Quanto a sua abrangência, o ICMBio (2013) e Costa (2018) indicam que este deve

ter sua delimitação física bem definida (figura 36) e, este deve abarcar a relação humana

para com o meio físico e biológico, primando de maneira prioritária a busca pelo

desenvolvimento sustentável aliado a conservação e a educação. Inicialmente delimitada

em uma área de 39, 700 km² via Decreto Estadual9, a proposta apresentada no dossiê de

candidatura como Geoparque delimitou uma área de 20.000 km², estipulada em um

9 Art. 2, Decreto Nº 12.897, de 22 de dezembro de 2009.

185

polígono irregular localizado entre os paralelos 18º48” e 22º14” de latitude sul e

meridianos 55º45” e 57º56” de longitude oeste de Greenwich.

Detalhando o processo de criação do Geoparque Bodoquena Pantanal, o ICMBio

(2013, p. 8) cita que:

O Decreto estadual nº 12.897, de 22 de dezembro de 2009, criou o Geoparque

Bodoquena Pantanal diante de diversas constatações [...]. Na Serra da

Bodoquena, ocorrem fósseis da megafauna pleistocênica que conviveram com

seres humanos na última glaciação (12.000 a 20.000 anos atrás). O Parque

Nacional da Serra da Bodoquena, zona núcleo das Reservas da Biosfera do

Pantanal e da Mata Atlântica, apresenta grande singularidade geológica, com

relevo de natureza cárstica e formação de tufas calcárias. Duas grutas tombadas

pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Lago

Azul e Nossa Senhora Aparecida, localizam-se em unidades de conservação

da categoria Monumento Natural. Na margem direita do rio Paraguai ocorrem

afloramentos de rochas com estromatólitos, importante registro científico da

evolução das primeiras formas de vida do planeta [...]. Esses e outros

fenômenos foram utilizados como justificativa para a criação de uma rede de

geossítios no Mato Grosso do Sul.

Quanto a sua localização, Rolim e Theodorovicz (2012) indicam que o Geoparque

Bodoquena Pantanal compreende em Mato Grosso do Sul as microrregiões da

Bodoquena; Baixo Pantanal e Aquidauana, abrangendo parcialmente a área de 11

municípios do estado: Bela Vista, Bodoquena, Bonito, Caracol, Corumbá, Guia Lopes da

Laguna, Jardim, Ladário, Miranda, Nioaque e Porto Murtinho. Ao longo de sua extensão,

os autores op. cit. relatam que a área do Geoparque compreende feições de relevo

contínuos e dissecados, inclusive a Serra da Bodoquena.

Figura 36 - Delimitação do Geoparque Bodoquena Pantanal em Mato Grosso do Sul.

186

Fonte: COSTA, 2018, p. 48.

Considerando o aspecto turístico, a Fundação Neotrópica do Brasil (2019) ressalta

a importância econômica da Serra da Bodoquena neste setor, uma vez que, no ano de

2018, este ícone de paisagem foi responsável por atrais 201 mil turista apenas na região

de Bonito-MS. Assim, a atividade é responsável por gerar direta ou indiretamente 60%

dos empregos na região. Destarte, o autor op. cit. destaca o desenvolvimento da economia

local a partir da produção da natureza, fato que coloca a Serra da Bodoquena na rota de

investimento do governo estadual, que injeta parte de seu orçamento no desenvolvimento

turístico da região. Considerando suas características e potencialidades, Mato Grosso do

Sul (2011) indicar serem justificados os incentivos ao desenvolvimento turístico no

estado.

Para Moretti e Lobo (2009), as áreas naturais têm forte relação com a atratividade

turística da região, consolidando o turismo na Serra da Bodoquena nos últimos anos, tanto

em âmbito nacional, quanto internacional. Neste cenário, o ecoturismo, segmento

designado pelo mercado e por diferentes estâncias da sociedade, é apontado como aquele

que vêm predominando no desenvolvimento de atividades turísticas na Serra da

Bodoquena.

187

Entretanto, Mato Grosso do Sul (2011) pondera a falta de integração da marca

Bonito-Serra da Bodoquena, uma vez que, é notória a construção da imagem individual

de Bonito-MS como destino turístico, nem sempre abarcando de maneira conjunta outros

pontos da Serra de Bodoquena. Assim sendo, destaca-se a necessidade de aproveitar-se

do marketing turístico angariado pelo destino Bonito para disseminar o desenvolvimento

do turismo na Serra da Bodoquena, algo que pode ser contemplado com práticas de

Turismo de Natureza.

De acordo com Mato Grosso do Sul (2015), o ícone de paisagem liga-se a Zona

Serra da Bodoquena – ZSB do Zoneamento Ecológico-Econômico de Mato Grosso do

Sul, região que é apontada como área de relevante beleza natural e dotada de bom nível

de preservação. Nesta zona, as principais atividades desenvolvidas são a pecuária e

turismo, apresentando até o momento níveis suportáveis de pressão ambiental. Segundo

o autor op. cit. (p. 137):

Considerando que essa Zona abriga quase a totalidade do relevo cárstico do

estado, com rios e cachoeiras de águas cristalinas além do maior conjunto de

remanescentes do Bioma Mata Atlântica do Mato Grosso do Sul, proporciona

a esta Zona uma maior atratividade turística baseada em ambientes naturais,

contudo é fundamental a implementação de estratégias de conservação de seu

capital natural, especialmente os recursos hídricos e biodiversidade.

Apesar da singularidade dos ambientes encontrados nesta zona, o ZEE-MS destaca

a presença de solos férteis nessa região, estimulando novos investimentos no setor

agropecuário e na exploração de minérios (MATO GROSSO DO SUL, 2015).

Diante do explicitado, é possível inferir que a Serra da Bodoquena encontra-se em

um patamar de relevante conjunto paisagístico em que pode ser considerado um ícone de

paisagem no contexto sul-mato-grossense, de maneira que, em virtude de seus elementos

bióticos e abióticos (inclusive ressaltados a partir da criação do Parque Nacional e do

Geoparque) concretize paisagens com característica que embasam o desenvolvimento do

Turismo de Natureza nesta porção de Mato Grosso do Sul.

188

189

4. CAPÍTULO IV - O EMPIRISMO, A ANÁLISE E A COMPREENSÃO DOS

ÍCONES DE PAISAGENS

Comum a todos os processos de desenvolvimento de pesquisas científicas, a

metodologia é uma importante etapa a ser destacada dentro destas construções. Assim

sendo, são descritos a seguir as etapas que permeiam a construção da referida pesquisa,

perpassando pela construção inicial das bases bibliográficas, pela coleta de dados de

campo, pela construção de estruturas que permitam o desenvolvimento de análises, pelo

processo de análise em si e, por fim, pela apresentação das discussões e de produtos

derivados da tese.

Destarte, considera-se como ponto inicial da pesquisa a construção das bases

bibliográficas que deem suporte para as temáticas que serão abordadas ao longo da tese.

Para Amaral (2007), a pesquisa bibliográfica é fundamental para o andamento de toda a

pesquisa, influenciando o desenvolvimento das demais etapas para sua conclusão. A

respeito da construção bibliográfica, Treinta et. al. (2014) chamam a atenção para a

dificuldade dos pesquisadores em delinear os referenciais que mais se adequam as

discussões propostas, uma vez que há uma grande quantidade de materiais, sejam artigos

científicos, artigos de internet, livros, teses, dissertações, etc., que podem servir de

embasamento nas pesquisas. Tal etapa visa contemplar alguns objetivos, conforme indica

Pizzani (2012, p. 54):

A revisão de literatura tem vários objetivos, entre os quais citamos: a)

proporcionar um aprendizado sobre uma determinada área do conhecimento;

b) facilitar a identificação e seleção dos métodos e técnicas a serem utilizados

pelo pesquisador; c) oferecer subsídios para a redação da introdução e revisão

da literatura e redação da discussão do trabalho científico.

No contexto da pesquisa bibliográfica, entende-se que as produções científicas

desenvolvidas até aqui nas diferentes áreas do conhecimento são suportes para pesquisas

contemporâneas e futuras, de maneira que, estas possibilitam o aprendizado acerca de

diferentes temas, o amadurecimento de discussões, bem como permite o avanço e novas

descobertas no contexto das referidas temáticas (PIZZANI, 2012). No que concerne a

relevância da pesquisa bibliográfica, Galvão (2010, p. 1) cita:

Pode-se afirmar, então, que realizar um levantamento bibliográfico é se

potencializar intelectualmente com o conhecimento coletivo, para se ir além.

É munir-se com condições cognitivas melhores, a fim de: evitar a duplicação

de pesquisas, ou quando for de interesse, reaproveitar e replicar pesquisas em

diferentes escalas e contextos; observar possíveis falhas nos estudos

190

realizados; conhecer os recursos necessários para a construção de um estudo

com características específicas; desenvolver estudos que cubram lacunas na

literatura trazendo real contribuição para a área de conhecimento; propor

temas, problemas, hipóteses e metodologias inovadores de pesquisa; otimizar

recursos disponíveis em prol da sociedade, do campo científico, das

instituições e dos governos que subsidiam a ciência.

Neste universo do amparo bibliográfico no desenvolvimento de pesquisas

científicas, Pizzani (2012) ressalta a importância do avanço tecnológico de informação e

comunicação, conjuntamente com crescimento da produção científica, conjectura a qual

ampliou a difusão de bases de dados permeados por um relevante e confiável conjunto de

artigos e trabalhos científicos de diversas áreas do conhecimento. Além destas bases

digitais de conhecimento, lembra-se ainda que, até mesmo os livros físicos, tomados

como meios tradicionais de fonte de informações, têm sido disponibilizados em meios

digitais, facilitando o acesso a informação e a ampliação das fontes de consulta para

subsidiar as pesquisas.

Assim sendo, a primeira etapa da pesquisa consistiu no levantamento bibliográfico

acerca das temáticas que envolvem a investigação: a paisagem, o Turismo de Natureza e

os ícones de paisagem elencados na pesquisa. Para tal aferição, buscou-se realizar

pesquisas bibliográficas em revistas especializadas, banco de teses e dissertações da

CAPES bem como o portal de periódicos da mesma instituição; consulta a livros e E-

Books, documentos estatais, sites de pesquisa nacionais e internacionais, assim como

banco de dados de variadas fontes institucionais.

É importante ressaltar que, considerando principalmente as temáticas da paisagem

e do Turismo de Natureza, primou-se pelo aprofundamento em referências internacionais.

Além disso, considerando a necessidade do estabelecimento de modelos de análises

apresentados enquanto objetivos da pesquisa, buscou-se o aporte bibliográfico para

subsidiar as análises propostas.

Realizada esta etapa inicial, a qual considera-se primordial para o embasamento de

dos demais procedimentos realizados na confecção da tese, apresenta-se na sequência as

demais etapas metodológicas utilizadas. Nesta abordagem, pretende-se explanar

primeiramente sobre o caráter empírico da pesquisa, discorrer sobre o processo de

construção cartográfica da tese, apresentar o processo de organização, planejamento e

execução dos trabalhos de campo e, por fim, apresentar informações acerca da estrutura

das paisagens dos ícones elencados em Mato Grosso do Sul organizadas a partir das

construções cartográficas e das aferições de campo.

191

4.1 O empirismo como instrumento da investigação científica

Desenvolver estudos acerca da categoria analítica da paisagem apresenta-se como

um desafio no que tange a compatibilização e equilíbrio entre aquilo que pode ser

analisado teoricamente e aquilo que necessita de uma maior aproximação do objeto em

questão.

A pesquisa aqui tratada tem o seu start a partir de reflexões teóricas acerca das

paisagens de Mato Grosso do Sul, de maneira que, aquilo que tem sido tratado aqui como

“ícones de paisagem” foram estabelecidos a priori a partir de análises e observações de

dados secundários, os quais possibilitaram uma primeira aproximação da hipótese de

existência dos referidos ícones.

Entretanto, apesar desta primeira aproximação, o trato dos referidos ícones de

paisagem carece de um aprofundamento maior, de maneira que, uma avaliação empírica

destes conjuntos paisagísticos justifica-se como condição sine qua non para validar tais

conjuntos paisagísticos. Neste contexto, o aparato metodológico de aferição de paisagens

deve ser composto de um conjunto de ações que viabilizem interpretar da melhor maneira

possível os enlaces que estruturam os conjuntos paisagísticos, aparato este que deve ser

permeado deste os embasamentos teóricos, até a experimentação/vivência prática das

paisagens em questão.

Nas visões de Moretti et. al. (2019), o crescente interesse em técnicas de análise de

campo, assim como interpretações de imagens espaciais e fotografias aéreas, têm

ampliado a variedade das possibilidades de estudo das paisagens e suas potencialidades

de uso, como por exemplo, o turismo.

Considerando tal importância do empirismo nas investigações científicas, permite-

se nesse momento discorrer brevemente sobre o trabalho empírico e, consequentemente,

justificar sua aplicação na pesquisa aqui tratada. Todavia, ressalta-se que não se pretende

aqui desenvolver um extenso e detalhado levantamento histórico e conceitual acerca do

empirismo, mas sim contextualizar sua aplicação no que tange a metodologia aplicada na

investigação dos ícones de paisagem de Mato Grosso do Sul.

Na tentativa de validação dos estudos empíricos que permeiam a temática da

paisagem, Strachulski (2015) lembra a influência de Alexander Von Humboldt no início

do século XIX, o qual pautava-se pela concepção empírica e estética da paisagem,

empenhada na verificação das paisagens por meio da observação das diferentes formas

de vegetação. O autor op. cit reforça que, no processo de investigação cientifica da

192

natureza, esta não deve ser apenas descrita, mas deve também ser entendida, compreensão

a qual pode ser desenvolvida a partir do empirismo, tão abordada na visão estética

utilizada por Humboldt.

Conforme destacado por Batista, Mocrosky e Mondini (2017), esta concepção de

ciência visa aliar o aspecto teórico das pesquisas com o suporte prático na busca de

respostas mais fidedignas da realidade estudada. Dentro deste contexto, é importante

destacar que, diferentemente do que muitos imaginam, as práticas empíricas requerem

um embasamento racional, conforme destaca Haguete (2013, p. 197):

O empirismo não dispensa a razão embora possa reduzi-la a uma razão

instrumental como arguiu a Escola de Frankfurt. O empirismo não é um

irracionalismo, embora possa ser um enfraquecimento da razão. Ele é uma

forma de conhecimento e exige racionalidade; não pode, portanto, ser rejeitado

simplesmente. Ele pode – e deve – ser corrigido, tornando-o consciente do fato

de não ser mera reflexão sensível na passividade da mente.

No âmbito da Geografia, Santos (1999, p. 124) destaca a importância das práticas

empíricas nas pesquisas deste campo do conhecimento:

Diríamos que somente as teorias geográficas, na verdade, não garantem o

caráter normativo da interpretação final da realidade. Portanto, a pesquisa

empírica e o trabalho de campo, deverão garantir abordagens interpretativas,

da realidade, pois ao invés de buscarmos conceitos puros, a Geografia

ampliaria a sua reflexão em relação aos diferentes usos dos conceitos na

realidade prática. Assim, a existência concreta de diferentes operacionalidades

teórico-empíricas da realidade pode indicar as possibilidades de encontrar em

outros pensadores e outras ciências contribuições para o avanço da Geografia.

Ao comentar sobre as bases para investigações qualitativas, Santos et. al. (2018)

ressaltam a tríade formada pela pesquisa bibliográfica, execução de registros fotográficos

e as observações empíricas como relevante conjunto metodológico, de maneira que, a

participação do pesquisador é efetiva e importante no professor de compreensão do

contexto que envolve o objeto estudado.

A adoção do empirismo tem sido cada vez maior no metiê científico, inclusive

integrando parte dos procedimentos de pesquisas tanto qualitativas, quanto quantitativas,

conforme aponta Haesbaert (2015, p. 8):

Ao lado de um reconhecimento da "objetividade" material da realidade, muitos

pesquisadores reconhecem no processo de conhecimento a percepção e/ou a

"experimentação" como momento preponderante nesse processo. Daí os

múltiplos sentidos da concepção empirista, muitas vezes utilizada tanto por

aqueles que priorizam a observação e a descrição direta ("de campo"), quanto

para aqueles que, mesmo fazendo uso de "n" fórmulas e modelos teóricos,

acabam sempre sobrevalorizando a "objetividade" dos dados empíricos, a sua

"experimentação" (ainda que feita em laboratório), traduzindo assim o

193

conhecimento pela dimensão formal e pela pretensa exatidão que os próprios

dados (geralmente estatísticos) assegurariam. Para muitos geógrafos

contemporâneos, a chamada "Geografia quantitativa", partidária desse "neo-

empirismo" ou "empirismo lógico", neopositivista, realizaram apenas uma

descrição mais sofisticada e muitas vezes mais abstrata, em relação aos

empiristas da Geografia clássica.

Em suma, a aplicação empírica no processo de desenvolvimento científico conduz

a uma inserção sensitiva do pesquisador para com seu objeto de pesquisa, dando ênfase a

aspectos singulares do objeto a partir de uma leitura “subjetiva” do investigador,

evidenciando particularidades existentes na realidade posta. Neste sentido, ao adotar

práticas empíricas em sua investigação, o pesquisador pode apontar dois caminhos a

serem seguidos: o primeiro é apontar para uma realidade compreensível a partir da

subjetividade, a qual pode assumir diferentes concepções a depender do ponto de vista de

cada indivíduo ou grupo; o segundo é adotar um “empirismo objetivo”, de maneira a

adotar uma visão única, objetiva e particular da realidade averiguada (HAESBAERT,

2015).

No que tange as verificações dos ícones de paisagem em Mato Grosso do Sul, as

práticas empíricas permitem a adoção híbrida das duas vertentes apontadas anteriormente.

Se por um lado a experiência permite observar as diferentes realidades e percepções que

envolvem os ícones e seus atores envolvidos, por outro é possível integralizar a visão de

paisagem como um conjunto que permita vislumbrar a atividade turística como um

elemento que permeie e atinja aspectos ligados ao ambiente, a economia, sociedade e

cultura.

Acerca do desenvolvimento de um trabalho teórico-empírico, Santos (1999) lembra

que, para que seja possível desenvolver novas descobertas (seja qual for o campo do

conhecimento) é necessário considerar a realidade posta para o objeto estudado, bem

como levar em consideração os diferentes processos que permeiam seu entorno. Neste

sentido, é importante considerar os possíveis grupos sociais que de maneira direta ou

indireta atrelam-se ao objeto de estudo.

No caso da investigação dos ícones de paisagem em Mato Grosso do Sul, estes estão

inseridos em contextos das mais diversas ordens, tais como: áreas protegidas, terras

indígenas, áreas de fronteira, comunidades autóctones, áreas ligadas a gestão pública,

áreas privadas de usos múltiplos, dinâmicas territoriais, etc., ou seja, cada ícone, dentro

de sua realidade, mantém diferentes processos relacionais, os quais podem ou não incidir

diferentes conotações dentro do processo de investigação dos ícones. Neste sentido, levar

em consideração tais especificidades é de suma importância dentro da determinação dos

194

ícones de paisagem e sua relação com o desenvolvimento do Turismo de Natureza,

percepções/considerações que, na maioria das vezes, só podem ser atribuídas com o

suporte das experiências empíricas. Neste contexto, Santos (1999, p. 120) considera que

“A importância do empírico, portanto, é promover contato, ou seja, é a análise voltada

para as tendências de interpretações que os pesquisados promovem do mundo, num

movimento dinâmico orientado pelas determinações sociais do seu lugar”.

Porém, Santos (1999) ressalta ser necessário atentar-se para a dimensão da pesquisa

desenvolvida, de maneira que, na medida em que o pesquisador se debruça no estudo de

um dado objeto, tais esforços implicam em consequências neste, bem como para os

sujeitos que estão integralizados direta ou indiretamente em seu contexto. Exemplos

dessas consequências podem ser o estimulo de intervenções públicas ou de empresas

privadas, podendo viabilizar ações, possibilitar medidas de controle, bem como atrair

capitais públicos e/ou privados no investimento de infraestruturas.

Algo que também é oportuno frisar é a relação entre sujeito e objeto na pesquisa.

Batista, Mocrosky e Mondini (2017) discorrem sobre a relação opositiva entre estes

elementos na pesquisa, uma vez que, recorrentemente percebe a preocupação e a

necessidade de distanciamento entre estes, de maneira que, não haja interferência das

preferências do sujeito para com o seu objeto de estudo. Em certa medida, acredita-se

que, essa plausível interferência impossibilite a aquisição de dados isentos de

pessoalidades do observador.

No caso da pesquisa dos ícones de paisagem de Mato Grosso do Sul, apesar do

caráter geográfico do estudo, é notória a tentativa de direcionamento da pesquisa para o

segmento turístico, condição a qual, a priori, apesar da segmentação, visa abarcar uma

série de vertentes, tais como o direcionamento territorial, estimulo a questões ambientais

e valorização social e cultural.

Em suma, Batista, Mocrosky e Mondini (2017) discutem a impossibilidade de

delimitar uma forma universal e considerada ideal para desenvolver a busca pelo

conhecimento, uma vez que, a maneira como cada objeto deve ser abordado é muito

particular de cada pesquisa, cabendo ao pesquisador delinear o roteiro metodológico que

melhor responda seus questionamentos, e que permitam alcançar os objetivos propostos

na investigação. A fim de sintetizar as reflexões estabelecidas até aqui, a pesquisa em

questão buscou estabelecer um conjunto metodológico (figura 37) que melhor possibilita-

se conceituar os ícones de paisagem, bem como identifica-los no território sul-mato-

grossense.

195

Figura 37 - Estágios de desenvolvimento metodológico da pesquisa.

Elaboração: LIMA, 2020.

196

Neste âmbito, a figura 37 tem como premissa o detalhamento dos estágios

metodológicos que permearam a construção da tese, dentre os quais, no estágio I

apresenta-se os principais temas teóricos que embasam as discussões da tese, no estágio

II são elencadas as fontes de dados (primários e secundários), bem como os softwares

utilizados nas construções cartográficas e, por fim, o estágio III detalha o processo de

análise, indicando os softwares utilizados para as análises e sínteses dos dados

compilados, bem como as resultados e considerações observados ao final da pesquisa.

4.2 A construção cartográfica: bases, ferramentas e procedimentos

No que concerne a investigação dos ícones de paisagem em Mato Grosso do Sul, a

cartografia apresenta-se como importante elemento de mapeamento e interpretação dos

referidos conjuntos. Juntamente com os supracitados embasamentos teórico e práticas

empíricas, a construção cartográfica amplia os horizontes das análises tanto teóricas,

quanto práticas, atuando assim como importante suporte na investigação das paisagens.

Corroborando com a importância da cartografia na investigação científica,

Romagnoli (2009, p. 169) ressalta que:

A cartografia se apresenta como valiosa ferramenta de investigação,

exatamente para abarcar a complexidade, zona de indeterminação que a

acompanha, colocando problemas, investigando o coletivo de forças em cada

situação, esforçando-se para não se curvar aos dogmas reducionistas. Contudo,

mais do que procedimentos metodológicos delimitados, a cartografia é um

modo de conceber a pesquisa e o encontro do pesquisador com seu campo.

Entendemos que a cartografia pode ser compreendida como método, como

outra possibilidade de conhecer, não como sinônimo de disciplina intelectual,

de defesa da racionalidade ou de rigor sistemático para se dizer o que é ou não

ciência, como propaga o paradigma moderno.

No caso dos ícones de paisagem, relatou-se em momentos anteriores do capítulo as

diferentes relações territoriais existentes ao longo dos referidos conjuntos paisagísticos,

os quais interferem diretamente na configuração paisagísticas de Mato Grosso do Sul.

Além disso, considerando o ponto de vista estrutural da paisagem, está é formada por

diferentes feições dos elementos naturais, acarretando em variadas configurações

paisagísticas ao longo dos ícones. Considerando tais premissas, o mapeamento

cartográfico permite a espacialização das referidas informações de maneira mais

esclarecida, auxiliando nos processos de análise e discussões acerca das paisagens e seus

possíveis direcionamentos frente a usos, conservação, valorização, etc.

197

Algo importante a ser ressaltado é que, apesar da cartografia dar subsídios para

análises preliminares, o pesquisador só conhece a totalidade do objeto a ser estudado na

medida em que percorre e realiza um reconhecimento dos territórios que abrangem tal

realidade (COSTA, 2014).

Neste sentido, em um primeiro momento, a cartografia pode atuar como suporte

inicial de reconhecimento da realidade posta (mapas primários), bem como pode

possibilitar a construção de mapeamentos analíticos, que permitam tecer considerações e

discussões sobre o objeto estudado (mapas temáticos e mapas síntese). No caso da

pesquisa dos ícones de paisagem em Mato Grosso do Sul, os mapas primários atuaram

como suporte na execução dos trabalhos de campo, enquanto os mapas temáticos e

sínteses foram construídos a partir do processo de observação de campo, indicando

informações e reflexões pertinentes acerca dos ícones.

Nestas concepções, aliada ao trabalho empírico, a cartografia pode oferecer um

arcabouço de análises e reflexões que permitam o mapeamento e direcionamento de ações

daqueles que a priori são designados aqui enquanto ícones de paisagem no território sul-

mato-grossense, delineando caminhos para a inserção do Turismo de Natureza nas

respectivas áreas.

Na visão de Zacharias (2008), na construção cartográfica, devem prevalecer a

síntese, a objetividade, a clareza da informação e a sistematização dos elementos que

estão sendo representados. Atendidas essas qualidades, no que tange o estudo das

potencialidades e fragilidades das paisagens, os mapas temáticos são tidos como

importantes ferramentas de comunicação entre planejadores e atores sociais em

ordenamentos territoriais por meio de suas representações gráficas e visuais. Já os mapas

sínteses são tomados como o resultado de integração de informações, as quais

possibilitam vislumbrar outros aspectos analíticos das paisagens.

Face ao exposto, discorre-se a seguir sobre os principais elementos que constituíram

o processo de construção cartográfica da referida pesquisa: delimitação da área de estudo,

fonte de dados, escala de análise e o uso de softwares na construção cartográfica e

diagramação dos produtos gerados.

4.2.1 Delimitação da área de estudo e fonte de dados secundários

Desenvolver uma investigação acerca de uma determinada problemática requer a

delimitação de uma área de atuação, ou seja, definir a área ou as áreas de estudo(s) na(s)

198

qual(is) o(s) objeto(s) da pesquisa esteja(m) inserido(s). No caso de estudos voltados a

temática da paisagem, o delineamento das porções territoriais abordadas é de suma

importância para o desenvolvimento das análises e discussões que permeiam a complexão

relacionado desta categoria analítica.

Ao considerar as diferentes categorias de análise da cartografia das paisagens, a

delimitação da área de estudo é tida como a primeira etapa a ser considerada, condição a

qual Zacharias (2008, p. 39) destaca que:

Sem dúvida alguma, a delimitação da área de estudo irá depender

essencialmente dos objetivos e finalidades ao qual o futuro inventário da

paisagem se propõe. Entretanto, antes de fazer o recorte geográfico e espacial

que envolverá a área de estudo, o Geógrafo deve realizar um estudo prévio dos

principais problemas a serem levantados, das escalas (geográficas e

cartográficas) necessárias para avaliar as questões socioambientais, bem como

o tamanho (proporção) das unidades territoriais envolvidas. E, não o contrário,

como acontece em muitos trabalhos, onde talvez por um lógica de

“comodidade”, definem a área de abrangência do mapeamento, inventário e

síntese da paisagem, sem proceder um estudo prévio das reais problemáticas

envolvidas.

Dentre as possibilidades de delimitação da área de estudo, umas das possibilidades

apontadas por Zacharias (2008) chama a atenção: unidade homogênea. Nesta definição

de área pesquisada, adota-se o contorno de paisagens bem definidas, em função de suas

relações e dinâmicas internas, adotando seus limites como como área que engloba feições

homogêneas do conjunto paisagístico em questão. Como suporte desta delimitação,

podem ser utilizados também as áreas de bacias hidrográficas e limites legais. Entretanto,

tal recorte deve levar em consideração as diferentes estratégias, estudos e escalas a serem

executadas.

No caso dos ícones de paisagem de Mato Grosso do Sul, seguindo os pressupostos

teóricos que permearam a conceituação do termo no capítulo 3, a priori, delimitou-se os

ícones a partir das feições visuais das paisagens, ou seja, tomando como elementos base

aqueles que se destacam ao olhar do observador. Para tal, desenvolveu-se uma

interpretação visual de imagens de satélite e de dados secundários referente aos tipos de

relevo, vegetação e recursos hídricos de Mato Grosso do Sul, os quais auxiliaram na

delimitação de conjuntos paisagísticos com aspectos singulares do território sul-mato-

grossense (figura 38). Além disso, a delimitação legal de unidades de conservação em

Mato Grosso do Sul também auxiliou na delimitação de alguns ícones, como por exemplo,

da APA Várzeas e Ilhas do Rio Paraná.

199

Figura 38 - Singularidade dos elementos da paisagem, correlações para a escolha dos

ícones.

Elaboração: LIMA, 2020.

Quanto aos dados que deram suporte a construção cartográfica, foi necessário

elaborar uma pesquisa de fonte de dados cartográficos secundários, de maneira a

encontrar subsídios de dados vetoriais e rasters que propiciassem a construção das cartas

e/ou mapas temáticos e síntese que compreendem os ícones de paisagem. Desta maneira,

buscou-se nas bases de geoinformações do IBGE, IMASUL e USGS a coleta dos

referidos dados (quadro 2) para a composição da construção cartográfica da pesquisa.

Além do uso dos dados relacionados com o destaque visual dos ícones de paisagem

(relevo, vegetação e recursos hídricos), ressalta-se que, a título de apresentar informações

complementares, buscou-se o uso e apresentação de dados acerca de aspectos referentes

a litologia, aos solos e ao clima dos ícones de paisagem.

200

Quadro 2 – Dados secundários utilizados na pesquisa

Fonte Tipo de

dado

Ano Escala

Litologia IBGE Vetorial 2019 1:250.000

Relevo IBGE Vetorial 2019 1:250.000

Solos IBGE Vetorial 2019 1:250.000

Vegetação /

Usos das

terras

IBGE Vetorial 2019 1:250.000

Rede de

drenagem

IBGE Vetorial 2019 1:250.000

Imagem de

Satélite

Sentinel-2ª

USGS Raster 2019 Resolução

de 20

metros

Unidades de

Conservação

IMASUL Vetorial 2020 1:250.000

Organização: LIMA, (2020)

4.2.2 Escala de abordagem

Na pesquisa científica, a determinação da escala de abordagem apresenta-se como

relevante elemento a ser considerado na investigação, uma vez que, esta, permite

estabelecer uma relação escalar com a realidade do objeto em questão. Além disso,

considerar a escala de abordagem pressupõe adequar a qualidade dos dados utilizados

para com a escala de apresentação dos possíveis produtos, neste caso, de cartas e mapas.

Do ponto de vista conceitual, Santos (2012, p. 105) descreve a escala como algo

relativamente simples, atrelando-a “[...] uma medida de proporção entre o que é

representado num mapa e suas dimensões no mundo real”. Quanto a sua abrangência, a

autora op. cit. (p. 105) explica que “A distinção entre pequena e grande escala na

cartografia está relacionada ao tamanho ou as dimensões de ocorrência do fenômeno

estudado”.

201

Na visão de Francisco (2011), a depender dos objetivos da pesquisa, a escala de

análise influencia no grau de generalização ou de detalhamento de determinados aspectos.

Quanto a importância do delineamento da necessidade de apresentação de dados gerais

ou de nível de detalhe, Santos (2012, p. 103) apresenta um exemplo mais caro sobre a

referida questão:

Sobre a problemática da escala, tomemos como exemplo para essa discussão,

os principais mapas de solos do Brasil, que se apresentam em escalas pequenas

e extremamente generalistas. Diante as dimensões continentais do país, se

fazem necessários mapeamentos com escalas compatíveis a realidade

regional/local, que se aproximem ao máximo da realidade do fenômeno a ser

representado, neste caso, o solo.

Neste caso, convém lembrar que os fenômenos geográficos podem estar atrelados

a variadas escalas. No entanto, pode ser impossível compreende-lo a depender da escala

em que se pretende trabalhar. Em suma, algumas escalas (geográficas maiores) impedem

a visualização de alguns fatores, sendo necessário assim adotar escalas que permitam uma

melhor interpretação dos fatores que sejam pertinentes para a pesquisa

(ZACHARIAS,2008).

Neste processo de relação entre a escala a ser utilizada e o objeto a ser observado,

Castro (2014) ressalta a importância da pertinência do objeto, devendo assim atribuir a

escala que melhor responda a esta pertinência, podendo até mesmo serem utilizadas

diferentes escalas durante o processo de pesquisa. Ainda na concepção de Castro (2014),

destaca que todo fenômeno está relacionado com uma dimensão de ocorrência,

observação e de análise julgada como mais adequada. Neste sentido, a escala é associada

como uma medida, a qual não necessariamente seja a mesma do fenômeno, mas sim uma

medida proporcional que permita melhor observá-lo, apreciá-lo e analisá-lo. Em suma, a

escala pode ser considerada como uma maneira de dividir o espaço, estabelecendo um

paralelo entre a realidade percebida e a concebida, de maneira que, por meio desta

representação, seja possível atribuir significados e designar reflexões coerentes e lógicas

a partir deste modelo representado.

Tomando o caso dos ícones de paisagem e, considerando a grande expansão

territorial atribuída a estes, as construções cartográficas são tomadas como possibilidades

de representações dos referidos conjuntos paisagísticos, de modo que, a partir da

definição escalar, seja possível compreender a estrutura destas paisagens e,

consequentemente, designar as considerações e reflexões que se apresentam pertinentes

aos objetivos traçados na pesquisa.

202

No caso das paisagens, há um arcabouço teórico acerca das escalas atribuídas aos

estudos paisagísticos, designando escalas taxonômicas para desenvolver investigações

voltas as paisagens. Geralmente, tais concepções escalares do estudo da paisagem estão

atreladas ao ramo da geoecologia das paisagens, trata por exemplo por Rodriguez, Silva

e Cavalcanti (2007).

Tomando as discussões aqui realizadas, a pesquisa aqui desenvolvida não buscou

estabelecer uma escala de abordagem padrão, uma vez que, os referidos ícones de

paisagem apresentam diferentes extensões territoriais, fato que dificulta a padronização

de uma escala de análise única. Assim sendo, buscou-se utilizar as escalas que melhor

representa-se cada conjunto paisagístico, maximizando a relação entre o nível de

detalhamento das informações e o desenvolvimento de produções cartográficos passíveis

de representação em modelo de impressão A3 (no caso dos mapas referentes ao ícone de

paisagem Serra de Maracaju, em função de sua extensão territorial, foi necessário a

representação em modelo A2). Neste sentido, buscou-se utilizar dados secundários

compatíveis com as escalas estabelecidas. É importante destacar ainda que, no caso da

Serra de Maracaju, em que sua extensão territorial se apresenta ainda maior que todos os

demais ícones de paisagem, buscou-se desenvolver recortes de pontos representativos do

ícone, vislumbrando designar amostras que não comprometam a compreensão da

condição estrutural das paisagens que materializam o ícone.

4.2.3 Softwares de geoprocessamento e diagramação

Ainda no que tange ao processo de construção cartográfica, alguns softwares são

necessários para promover a espacialização dos dados primários e secundários, de

maneira a possibilitar a elaboração de produtos que vislumbrem ao pesquisador elaborar

discussões e direcionamentos acerca das temáticas abordadas na pesquisa. Para a

investigação dos ícones de paisagem em Mato Grosso do Sul, buscou-se auxílio em

softwares que permitissem o desenvolvimento de mapas temáticos e mapas sínteses

relacionados com a estrutura das referidas paisagens sul-mato-grossense.

Sobre o uso de SIG’s (Sistemas de Informações Geográficas), Santos (2018)

destaca sua importância, considerando que, os dados geoespaciais especializados nestes

softwares podem ser integrados e analisados por diferentes campos do conhecimento,

apresentando-se assim como uma ferramenta multidisciplinar, permitindo assim a

aferição diferentes fenômenos espaciais, ligados a diferentes vertentes científicas. Esse

203

avanço é designado por Silva e Rodrigues (2009) muito em função da ascensão

tecnológica das últimas décadas, a qual permitiu a evolução dos microcomputadores e o

desenvolvimento de softwares e hardwares cada vez mais avançados, condição a qual

acarretou em significativas inovações nos mais diversos ramos da ciência, inclusive na

Geografia.

Por meio do uso dos SIG’s (Sistemas de Informações Geográficas), será realizada

a identificação estrutural das paisagens, abordagem sugerida por Rodriguez, Silva e

Cavalcanti (2007), procedimento o qual permitirá delimitar os limites, a abrangência, as

características e possíveis direcionamentos de uso de cada um dos ícones de paisagem,

tomando como premissa a compreensão dos elementos físicos que os compõem,

permitindo assim justificar a determinação de áreas homogêneas passíveis de serem

elencadas como ícones no território sul-mato-grossense.

Neste processo, utilizou-se basicamente três softwares: ArcView GIS 10.2.2, QGIS

2.18 e Corel DRAW Graphics Suite 2018. Buscou-se o suporte dos referidos programas

computacionais em função da facilidade de tratamento de dados, bem como por

oferecerem as ferramentas pertinentes para o desenvolvimento dos produtos requeridos

para o processo de análise e discussão das problemáticas da pesquisa.

O uso dos softwares ArcView GIS 10.2.2 e do QGIS 2.18 se deram com finalidades

diferentes. No QGIS 2.18, privilegiou-se o ajuste de dados, estabelecendo correções de

possíveis distorções/falhas dos dados secundários, junção de shapefiles, recorte de dados,

intersecção, união e dissolução de camadas, bem como permitiu a delimitação das áreas

de pesquisas. Já o ArcView GIS 10.2.2 permitiu efetivamente a montagem das bases dos

mapas temáticos. Entretanto, no que tange os mapas sínteses, o ArcView GIS 10.2.2

possibilitou a confecção do mapa que apresenta os níveis de desenvolvimento do Turismo

de Natureza nos ícones de paisagem. Para a construção do mapa síntese, utilizou-se duas

ferramentas especificas dos arcToolbox: reclass e weighted overlay.

Seguindo as discussões elaboradas ao longo dos capítulos anteriores e, tomando

como modelo teórico norteador a figura 12 do capítulo 2 (ver página 120), após

transformar as camadas vetoriais em arquivos rasters, buscou-se através da ferramenta

reclass realizar uma reclassificação dos principais temas que norteiam o aspecto visual

dos ícones de paisagem: relevo, vegetação/uso das terras e massas d’água. Neste sentido,

atribuiu-se pesos para os diferentes tipos de relevo, vegetação/uso das terras e massas

d’água encontrados em cada um dos ícones, visando correlacionar tais elementos com os

204

três possíveis níveis de Turismo de Natureza, conforme o exemplo do ícone Serra do

Amolar apresentado na figura 39.

205

Figura 39 - Exemplo de matriz de correlação de pesos atribuídos na reclassificação dos dados de relevo e de vegetação/usos da terra do ícone de

paisagem Serra do Amolar.

Elaboração: LIMA, 2020.

206

A delimitação numérica dos pesos (5, 3 e 1) leva em conta os levantamentos já

realizados por Lima (2017), valores os quais, após uma série de testes, apresentaram-se

mais adequados para desenvolver cruzamento de dados da etapa posterior, a qual

efetivamente proporcionou a confecção do mapa de níveis de Turismo de Natureza nos

ícones de paisagem.

Após a reclassificação dos temas de interesse, a ferramenta weighted overlay

permitiu o cruzamento de dados dos referidos temas, de maneira a resultar em um mapa

síntese com as áreas de interesse para os três níveis de Turismo de Natureza propostos.

Ressalta-se que, neste primeiro momento, privilegiou-se a construção e análise do mapa

de níveis de Turismo de Natureza em um dos ícones de paisagem propostos, neste caso,

do ícone de paisagem Serra do Amolar. Frente a isso, aponta-se a pretensão de repetir o

referido procedimento para os demais seis ícones discutidos no âmbito da pesquisa.

Por fim, no que tange o processo de construção cartográfica da pesquisa, o Corel

DRAW Graphics Suite 2018 permitiu o refinamento gráfico dos produtos cartográficos

gerados, permitindo a adequação/elaboração de textos, inserção de fotos, padronização

de ícones e ajustes de enquadramentos. Em suma, o software foi utilizado na fase de

diagramação final dos mapas gerados ao longo do processo de desenvolvimento da tese.

4.3 Pesquisas de campo: preparação, execução e aquisição de dados primários

Propor o desenvolvimento de uma pesquisa paisagística em Mato Grosso do Sul

apresenta-se como um grande desafio. Ao longo de sua extensão, o estado sul-mato-

grossense é permeado por uma relevante variedade de paisagens, as quais estão associadas

a diferentes culturas, estado de conservação/preservação, uso e ocupação, direcionamento

de políticas públicas, dentre outras variáveis. Grande parte dessas associações mantém

intrínseca relação com a composição estrutural destas paisagens, a qual advém das

diferentes interações dos elementos bióticos e abióticos que as compõem.

Diante da referida pluralidade paisagística de Mato Grosso do Sul, compreender

tais feições requer além de conhecimento teórico, o reconhecimento in loco das áreas de

interesse em questão. Neste contexto, a delimitação de ícones de paisagem no território

sul-mato-grossense requer a investigação de campo como condição sine qua non para

validar a tese da existência de relevantes conjuntos paisagísticos no estado.

207

Portanto, conforme sugerido por Cavalcanti (2014), após a realização de pesquisas

prévias acerca dos dados secundários disponíveis que apresentem informações sobre as

paisagens a serem investigadas, permite-se partir para etapa de campo da pesquisa, a qual

possibilitou desenvolver avanços acerca dos conhecimentos já angariados acerca da

problemática em questão.

Ao relatar sobre o trabalho de campo, Cruz Neto (2001) crê que este procedimento

está inserido dentro de um contexto de contraposição a inquietações cotidianas, nas quais

as pesquisas apresentam-se como uma tentativa de desvendar tais problemáticas. Assim

sendo, a pesquisa está atrelada a aferição daquilo que é desconhecido, trazendo

conhecimentos acerca daquilo que nos é estranho. Nesta perspectiva, a compreensão deste

cenário desconhecido pode ter na aferição de campo uma condição fundamental para que

tal aprendizado seja desenvolvido.

De acordo com Lakatos e Marconi (2003) e Prodanov e Freitas (2013), o trabalho

de campo propicia a construção de um banco de dados de informações e conhecimentos

referentes ao objeto alvo do estudo, permitindo assim a elaboração de discussões e

análises que visem subsidiar possíveis respostas e/ou soluções para a problemática em

questão, ou até mesmo propiciar a descoberta de novos fenômenos, bem como estabelecer

relações entre o fenômeno inicial e o novo fenômeno descoberto. Corroborando com esta

ideia, Duarte (2002) indica que, no processo de desenvolvimento de uma pesquisa, alguns

questionamentos surgem logo no início da investigação, enquanto outros tornam-se

aparentes apenas a partir da execução dos trabalhos de campo.

Assim sendo, ao propor uma pesquisa de campo, Lakatos e Marconi (2003, p. 186)

compreendem ser necessário obedecer a algumas etapas a serem contempladas no

procedimento de investigação de campo:

As fases da pesquisa de campo requerem, em primeiro lugar, a realização de

uma pesquisa bibliográfica sobre o tema em questão. Ela servirá, como

primeiro passo, para se saber em que estado se encontra atua1mente o

problema, que trabalhos já foram realizados a respeito e quais são as opiniões

reinantes sobre o assunto. Como segundo passo, permitirá que se estabeleça

um modelo teórico inicial de referência, da mesma forma que auxiliará na

determinação das variáveis e elaboração do plano geral da pesquisa. Em

segundo lugar, de acordo com a natureza da pesquisa, deve-se determinar as

técnicas que serão empregadas na coleta de dados e na determinação da

amostra, que deverá ser representativa e suficiente para apoiar as conclusões.

Por último, antes que se realize a coleta de dados é preciso estabelecer tanto as

técnicas de registro desses dados como as técnicas que serão utilizadas em sua

análise posterior.

208

Na investigação dos ícones de paisagem em Mato Grosso do Sul, as bases teóricas

foram fundamentais na compreensão da categoria analítica da paisagem, suas aplicações

e as possibilidades de empreender técnicas e procedimentos na identificação dos referidos

conjuntos paisagísticos no estado, condições pertinentes para o desenvolvimento de uma

aferição de campo que permita a estruturação de um banco de dados que ofereça dados

primários para a fundamentação das análises e discussões propostas.

Considerando esta relação entre os dados aferidos em campo e sua aplicação nas

análises realizadas a posteriori, convém ressaltar que, ao se considerar a delimitação e

compreensão dos ícones de paisagem em Mato Grosso do Sul e sua possível relação com

o desenvolvimento do segmento do Turismo de Natureza, os trabalhos de campo aqui

realizados vislumbraram a compreensão das realidades em que estão inseridos os

referidos ícones, bem como privilegiou ressaltar e destacar as condições estruturais das

paisagens a fim de justificar sua catalogação enquanto conjunto paisagístico a ser

destacado no território sul-mato-grossense.

Outro interessante ponto a ser ressaltado é a importância dos trabalhos de campo na

validação de mapeamentos temáticos (figura 40). Apesar de ser possível propor a

construção de mapas temáticos a partir de dados secundários, os trabalhos de campo

possibilitam uma real aferição dos dados utilizados, permitindo assim o desenvolvimento

de possíveis ajustes, bem como atribuir maiores níveis de detalhamento temático da área

em questão (ZACHARIAS,2008).

209

Figura 40 - Verificação in loco de dados secundários do ícone de paisagem APA Ilhas e

Várzeas do rio Paraná.

Autor: LIMA, 2019.

Tomando como base as orientações propostas nos parágrafos anteriores, buscou-se

desenvolver trabalhos de campo que possibilitassem a verificação in loco das paisagens

que integram os aqui considerados ícones de paisagem de Mato Grosso do Sul. Tais

procedimentos objetivaram a construção de banco de dados, os quais compreendem:

coleta de pontos de GPS, os quais auxiliaram na identificação de pontos de interesse nos

ícones de paisagem tratados; a construção de acervo fotográfico das feições encontradas

nos ícones de paisagem; a gravação de vídeos aéreos por meio de sobrevoo de drone, os

quais permitiram registros de imagens oblíquas dos ícones; o preenchimento de fichas de

campo (apêndice I) com informações acerca dos elementos estruturais das paisagens

aferidas; e a coleta de dados e informações com agentes públicos e privados que possuem

interação direta ou indireta nas áreas que compreendem as paisagens investigadas.

Os dados primários obtidos a partir dos trabalhos de campo subsidiaram também a

construção de vídeos, os quais foram utilizados ao longo do texto, principalmente para

ilustrar de maneira mais interativa a descrição de cada um dos ícones de paisagem. Os

vídeos foram construídos, armazenados na plataforma Youtube e disponibilizados na

forma de QR Code em trechos da tese.

210

Além disso, a execução dos trabalhos de campo possibilitou o ajuste das

delimitações das áreas consideradas enquanto ícones de paisagem. No caso do ícone de

paisagem Maciço do Urucum (figura 41), o trabalho de campo permitiu observar que

porções territoriais que a priori não haviam sido consideradas na delimitação do

perímetro do ícone, deveriam ser incorporadas na área de abrangência do conjunto

paisagístico.

211

Figura 41 - Perímetro, área de abrangência do ícone de paisagem, Maciço do Urucum.

Elaboração: LIMA, 2020.

212

Entretanto, conforme apontado por Costa e Scarlato (2019, p. 648), o trabalho de

campo não pode ser tomado por uma visão simplista durante o processo de construção de

conhecimento, devendo assim ser amparado por um conjunto metodológico coerente:

Tan importante como llevar a campo instrumentos y equipos es desarrollar el

mirar, el ver y el pensar la complejidad de interacciones que territorios y

paisajes pueden revelar, pues es donde son legitimadas o rechazadas las

teorías. El trabajo de campo es comienzo, medio, fin y reinicio de la

investigación geográfica; es el laboratorio de los geógrafos que evalúan (y

producen) representaciones espaciales, que proponen teorías.

Neste âmbito, os subitens a seguir visam apresentar de forma sucinta os materiais

utilizados durante o procedimento de preparação e execução dos trabalhos de campos

desenvolvidos durante o processo de aferição dos ícones de paisagem em Mato Grosso

do Sul.

4.3.1 Drone e sua operacionalização na captura de imagens aéreas

Ao idealizar e propor a investigação de ícones de paisagem em Mato Grosso do Sul,

uma das premissas elencadas foi a possibilidade de desenvolvimento de um mapeamento

oblíquo destes conjuntos paisagísticos. Dentre as ferramentas que possibilitam tal feito, o

drone apresenta-se como um equipamento que tem ganhado destaque nas pesquisas

científicas.

No que tange a popularização do uso dos drones, Silva et. al. (2015) lembram que,

inicialmente, os veículos aéreos não tripulados (VANT’s) eram utilizados com

exclusivamente para fins militares, sendo hoje operacionalizados hoje nas mais diversas

aplicações, inclusive em mapeamentos e mapeamentos ambientais, mostrando relevantes

vantagens competitivas quanto a capacidade de deslocamento, tempo de reduzido e menor

custo de operação, a se comprar por exemplo, com um mapeamento desenvolvido através

de um helicóptero ou avião. Por meio da captação de imagens aéreas de drones, é possível

desenvolver a verificação de falhas na vegetação, bem como elaborar a identificação de

usos da terra e uma determinada área, por exemplo.

O uso e aplicação deste tipo de equipamento nas mais diversas áreas é apontado por

Fagundes e Iescheck (2019, p. 59):

As Aeronaves Remotamente Pilotadas (ARPs), também conhecidas como

drone ou VANT (Veículo Aéreo Não Tripulado), são atualmente utilizadas

213

para as mais diversas aplicações e demandas. Como exemplo, pode-se citar o

mapeamento topográfico, o mapeamento temático, (como vegetação, uso do

solo, áreas impermeabilizadas, sítios arqueológicos e áreas susceptíveis a

deslizamento de terra), o monitoramento florestal e agrícola, a inspeção de

estruturas verticais para apoio à engenharia civil, o monitoramento agrícola, as

missões de resgate e o auxílio a desastres.

Destarte, na área de pesquisas geográficas, percebe-se uma franca expansão do uso

de drones em suas investigações, uma vez que, utilizando-se de um levantamento

devidamente processado com rigor científico e atentando-se para a acurácia dos

procedimentos desenvolvidos, é possível obter imagens e/ou dados georreferenciados

com alta resolução e, consequentemente, permitindo sua aferição com alto nível de

detalhamento. Tais levantamentos possibilitam o desenvolvimento de aferições que

englobam diferentes temáticas como a geologia, mineração, segurança pública,

arquitetura, engenharia, geotecnia, dentre muitas outras áreas (MACEDO; SARAIVA

JUNIOR; LIMA, 2019.

Prudkin e Breunig (2019) indicam que a mobilidade e facilidade de acesso tem sido

fatores estimuladores da inserção de drones nas pesquisas científicas. Para a avaliação

dos ícones de paisagem, tais premissas são imprescindíveis, visto a grande extensão dos

conjuntos paisagísticos em questão, bem como em função das limitações de acessos de

algumas áreas destes ícones.

Na execução do mapeamento de drone, ressalta-se a importância do planejamento

do voo. Neste contexto, devem ser avaliadas as características da área em questão, limites

e perímetros, avaliar a direção do vento, determinar os melhores horários para realizar o

sobrevoo, definir pontos de lançamento e pouso, avaliar e definir a câmera a ser utilizada,

altitude a ser alcança, velocidade de voo e a condição meteorológica. Além disso, é

necessário seguir as instruções de segurança estipuladas pelo manual técnico de cada

modelo de drone (FAGUNDES; IESCHECK, 2019).

O modelo utilizado para avaliar os ícones de paisagem foi um DJI Phantom 4

advanced, quatro motores, equipado com câmera de resolução 4K, cartão de memória de

12 GB, com autonomia de aproximadamente 20 minutos por carga de bateria, com

alcance de 500 metros de altura. O referido modelo conta com software próprio de

operação, o qual apresenta-se relativamente intuitivo e conta com protocolos de segurança

nativos, como indica Soares (2018, p. 34):

O Software da DJI® por ser um programa fechado e possuir um objetivo

comercial, a empresa chinesa criou um sistema de segurança para seus drones,

para que em áreas de segurança como aeródromos e aeroportos, não sejam

sobrevoados, não colocando, assim, em risco as operações de aeronaves de

214

transporte de passageiros. Há relatos de usuários que, nas áreas adjacentes aos

aeroportos, o drone não consegue levantar voo. Mesmo assim foram feitos

testes com a controladora NAZA®.

Utilizando o equipamento supracitado (figura 42), buscou-se realizar voos que

variaram de 10 a 15 minutos, ambos com a câmera ativada no modo filmagem. Ressalta-

se a dificuldade na determinação nos pontos de parada para realização dos voos, uma vez

que, nem sempre o melhor ângulo de visualização do ícone de paisagem dispunha de área

ampla e segura para organização do ponto de decolagem/pouso.

Figura 42 - Mapeamento aéreo na aldeia Limão Verde, em Aquidauana-MS.

Autor: Silva, 2019.

As figuras 43, 44 e 45 indicam o procedimento operacional do drone na captura de

imagens dos ícones de paisagem. Considerando que o modelo utilizado tem uma

limitação de altura de 500 metros, o ângulo de designado para observação dos ícones que

possuem altitudes maiores que essa metragem foi de 90º, enquanto para ícones com

altitudes menores a 500 metros privilegiou-se uma variação angular entre 120º e 150°.

215

Figura 43 - Mapeamento aéreo para ícones de paisagem com altura superior a 500

metros.

Elaboração: LIMA, 2020.

Figura 44 - Mapeamento 1 aéreo para ícones de paisagem com altura inferior a 500

metros.

Elaboração: LIMA, 2020.

216

Figura 45 - Mapeamento 2 aéreo para ícones de paisagem com altura inferior a 500

metros.

Elaboração: LIMA, 2020.

Em resumo, os dados obtidos a partir da operacionalização do drone subsidiaram a

construção de banco de dados de fotografias aéreas, permitiu um reconhecimento dos

ícones de paisagem através de um outro ponto de vista, bem como subsidiou a elaboração

de material áudio visual na descrição dos trabalhos de campos realizados ao longo da

pesquisa. Tais abordagem são importantes, uma vez que, a partir da escala ou ponto de

visão, muda-se a percepção da paisagem (por exemplo: a visualização de cursos hídricos

por meio de imagem vertical e na horizontal – como no caso do ícone de paisagem APA

Ilhas e Várzeas do Rio Paraná).

4.3.2 GPS

Considerando o mapeamento e delimitação das áreas de interesse que

compreendem os ícones de paisagem, o GPS (Global Positioning System) pode ser

tomado como uma ferramenta fundamental da pesquisa. Abreu (2007) destaca que o GPS

nada mais é que um aparelho que permite ao observador determinar sua exata posição na

superfície terrestre, desde que esteja localizado em um ponto qualquer da superfície

amparado por uma cobertura mínima de satélites que permita designar suas coordenadas.

217

Além de dispor de informações de latitude e longitude, o aparelho GPS pode

receptar diversos dados geográficos ou topográficos, podendo ainda (a depender de

configuração de cada aparelho) fornecer informações adicionais como nome de ruas,

avenidas, edificações, dentre outras. (MACIEL, 2012).

Na elaboração da referida pesquisa, utilizou-se o modelo GPS Montana 650,

admitindo-se a margem de precisão mínima de 10 metros, uma vez que, considerando a

extensão territorial das áreas estudadas, acredita-se que esta margem de erro seja

admissível no processo de análise. No que permeia o uso das informações obtidas por

meio do GPS, indica-se que estas subsidiam a localização de áreas de interesse dos ícones

de paisagem, tanto no material fotográfico, quanto dados secundários e fichas de

anotações de campo.

4.3.3 Câmera fotográfica

A se considerar um estudo desenvolvido a partir da categoria analítica da paisagem,

admite-se o registro fotográfico como um importante instrumento a ser utilizado como

subsídio de informações pertinentes às análises e discussões das paisagens em questão.

Considerando o desafio aqui proposto, de identificação dos ícones de paisagem de Mato

Grosso do Sul, a técnica fotográfica apresenta-se como condição sine qua non para

embasar e comprovar a referida proposta.

Para além de uma “ilustração” no trabalho científico, Steinke (2014) indica que esta

ferramenta possui potencial informativo, devendo demonstrar cientificamente os

fenômenos em questão. Neste ínterim, a técnica fotográfica vem sendo aperfeiçoada ao

longo de suas aplicações, oferecendo subsídios para as pesquisas desenvolvidas em vários

âmbitos.

Pensando-se no contexto da produção do conhecimento científico, a fotografia pode

ser colocada como possibilidade de materialização da informação, apresentando-se como

um contraponto a recorrente abstração assumida por investigações estritamente teóricas.

Tal possibilidade surge uma vez que, a fotografia possibilita uma representação

automática e precisa, justificada pelo seu alto grau de comunicação e transmissão de

conhecimento (RAMOS; OLSCHOWSKY, 2009).

Quanto ao uso de imagens na articulação e complementação da linguagem textual,

Guran (2013, p. 81) cita que:

218

Para que a utilização da fotografia seja eficaz na apresentação das conclusões

da pesquisa, é necessário que haja uma articulação entre as duas linguagens, a

escrita e a visual, de modo que uma complemente e enriqueça a outra. Na

verdade, trata-se de concatenar dois discursos distintos que só funcionam

juntos se dialogarem entre si. As fotografias, para facilitar a leitura, devem ser

ordenadas de modo a produzirem um sentido por si mesmas em seu conjunto

e, também, individualmente na sua relação com o texto. Para tanto, é vantajoso

que elas se intercalem ao texto, formando um todo com as informações

escritas. Desta forma, a narrativa é enriquecida, par e passo, pela informação

visual, que dialeticamente ganha força, por sua vez, pela leitura textual do que

representa.

Desta forma, conforme sugerem Ramos e Olschowsky (2009), as fotos científicas

são utilizadas no contexto de retratar os objetos e fenômenos inseridos nos processos de

pesquisas, permitindo a construção de banco de dados imagéticos, podendo ser

consultados e utilizados ao longo das análises e discussões das investigações. Em suma,

as fotos científicas buscam retratar com o máximo de fidelidade a morfologia natural da

cena em questão.

No que tange a escolha da máquina fotográfica a ser utilizada, dos elementos a

serem fotografados, técnicas de enquadramento e análises da paisagem por meio da

fotografia, importantes variáveis que compreendem a técnica fotográfica, autores como

Lins e Steinke (2014) e Azevedo, Steinke e Leite (2014) foram tomados como referência

na tratativa dos referidos temas.

Neste contexto, na investigação dos ícones de paisagem de Mato Grosso do Sul

(figura 46), utilizou-se o equipamento a câmera digital Nikon D3100 com zoom de 3x

(lente de 18-55mm), adotando a resolução das fotos em 4608x3072. O banco de dados

fotográficos construído a partir deste equipamento foi utilizado na construção textual da

pesquisa, exemplificando as paisagens hora tratadas nas discussões, bem como auxiliou

na qualificação dos produtos gerados nos processos de análise, discussões e resultados,

tanto mapas, quanto figuras sínteses.

219

Figura 46 - Registros fotográficos no ícone de paisagem APA Ilhas e Várzeas do rio

Paraná.

Autor: SILVA, 2020.

4.3.4 Anotações de campo/fichas de campo

Considerando o processo da execução de trabalhos de campo, a construção de banco

de dados informacionais é abarcada por diferentes técnicas e instrumentos, conforme já

descrito nos subitens anteriores. Entretanto, talvez o mais simples procedimento ainda

seja bastante pertinente na investigação científica: as anotações de campo. Na compilação

de tais registros, o uso de fichas de campo é bastante comum na organização destas

informações angariadas durante os trabalhos de campo (figura 47).

220

Figura 47 - Coleta de dados no ícone de paisagem Serra do Amolar por meio de ficha de

campo.

Autor: LIMA, 2019.

Mesmo em pesquisas descritivas, cabe ao pesquisador ultrapassar os limites da

mera descrição do fenômeno, de maneira que, este estabeleça avanços, análises e

discussões acerca da problemática apresentada. Destarte, as anotações de campo são tidas

como fundamentais no suporte a tais reflexões, permitindo a retomada de ideias e

informações observadas durante a execução dos trabalhos de campo (PRODANOV;

FREITAS, 2013).

No âmbito dos registros de campo, Oliveira (2014) destaca o papel do observador,

o qual necessita se posicionar enquanto elemento integrante da pesquisa, uma vez que,

seu comportamento, impressões e suposições interferem naquilo que será angariado

221

enquanto informação, e que, será utilizada como subsídio de suas análises e discussões

nos momentos subsequentes da pesquisa.

Tal posicionamento do observador/pesquisador faz das anotações de campo algo

pessoal e intransferível, conforme aponta Cruz Neto (2001). Segundo o autor op. cit., as

anotações de campo consistem na materialização dos esforços empreendidos pelo

pesquisador, o qual é construído a partir do somatório de informações coletadas ao longo

do processo de investigação. Assim sendo, é possível inferir uma relação de continuidade

da primeira até a última ida a campo.

No campo descritivo do trabalho de campo, as fichas descritivas auxiliam na coleta

de informações pertinentes a pesquisa. No caso de estudos voltados a paisagem, tal

procedimento permite a observação da estrutura paisagística, das diferentes dinâmicas

territoriais, dos agentes envolvidos direta e indiretamente nos conjuntos paisagísticos em

questão, dentre outras variáveis. No caso da descrição do meio físico, Triviños (1987)

aponta ser importante tomar como suporte mapas, cartas e figuras que permitam uma

melhor interpretação do cenário observado em campo.

Ao propor um modelo de ficha de campo, Triviños (1987) indica que esta deve

contemplar o preenchimento de informações gerais, tais como data, horário, local, nome

do pesquisador, dentre outras informações. Contemplada as informações básicas, a ficha

deve ser composta também campos para anotações específicas. Acerca da disposição dos

campos de anotação, estes podem ser “livres” ou campos com informações pré-

estabelecidas.

Na pesquisa, utilizou-se durante os trabalhos de campos desenvolvidos um modelo

de ficha de campo (apêndice I). Por meio desse instrumento, foi possível registrar

importantes feições das paisagens observadas, tais como: tipologias de relevos locais e

regionais; bioma e bacia hidrográfica em que o ícone de paisagem está inserido;

estruturação da rede de drenagem; unidade de paisagem dominante; unidade climática

dominante; predomínios das paisagens no ícone e seu entorno; tipos de vegetação

dominantes; e os usos da terra predominantes ao longo das áreas observadas. Além disso,

a ficha contemplou informações básicas como: data do trabalho de campo; horário de

preenchimento da ficha; coordenada, latitude e ponto de amostragem do GPS; limite

municipal; bem como a indicação de registros fotográficos ou não.

4.3.5 Imagens de satélite

222

As imagens de satélite podem ser consideradas um dado informacional de ampla

aplicação no campo da pesquisa científica. Neste sentido, seu uso pode variar a depender

dos objetivos propostos em uma determinada investigação. Tal amplitude de informações

que permeiam as imagens de satélite é destacada por Fernandes (2005), uma vez que,

através destas, é possível identificar uma série de informações que conformam o meio

físico, permitindo uma melhor compreensão dos territórios e, consequentemente,

possibilitando a formulação de planejamentos que auxiliem a tomada de decisões por

parte do poder público.

Tais aplicações a partir de imagens de satélite tem sido possível em função da

crescente qualidade de imagens disponibilizadas, as quais são cada vez mais amparadas

pelo mapeamento de satélites de alta resolução espacial, condição que permite a obtenção

de informações detalhadas acerca da superfície terrestre. A partir deste suporte

tecnológico, torna-se possível a extração de múltiplos dados, os quais podem ser

aplicados em estudos de natureza geológicas, ambientais, agrícolas, cartográficos,

florestais, urbanos, dentre outras múltiplas aplicações (FERNANDES, 2005).

Quanto a aplicação das imagens de satélite em estudos voltados a paisagem, Toebe

(2011, p. 2) cita que:

Por meio de imagens de satélite é possível observar o ambiente e sua

transformação, destacando elementos da paisagem, tais como o relevo, a

vegetação, a água e o uso de solo em diversos períodos de tempo e de extensas

áreas da superfície da terra, sendo possível, assim, observar as áreas que

obtiveram maiores transformações, sejam elas positivas ou negativas.

Levando em consideração a premissa da avaliação dos conjuntos paisagísticos que

permeiam o território sul-mato-grossense, as imagens de satélite podem ser tomadas

como relevante ferramenta de apoio, visto que, estas permitem estabelecer aproximações

no campo visual destes conjuntos, os quais, nesta pesquisa, pretendem-se ser validados

enquanto ícones de paisagem.

Assim sendo, na execução dos trabalhos de campo que permearam o processo de

investigação dos ícones de paisagem de Mato Grosso do Sul, as imagens de satélite foram

utilizadas na elaboração de mapas físicos das áreas visitadas durante as supracitadas

visitas de campo. Neste ínterim, os referidos produtos auxiliaram na compreensão das

paisagens observadas em campo, possibilitando correlaciona-las com os demais mapas

temáticos primários, bem como orientaram os planos de voos executados com o drone,

permitindo observar as áreas de maior interesse para captação das imagens aéreas.

223

As imagens de satélite foram adquiridas por meio do site USGS, no qual foi possível

adquirir de forma gratuita imagens do satélite SENTINEL-2A, com resolução de 20

metros. É importante destacar que, buscou-se adquirir imagens de períodos mais recentes

(tomando como base as datas de execução dos trabalhos de campo), bem como

privilegiou-se imagens com melhores visibilidades, descartando aquelas com distorções

e interferências visuais de nuvens.

4.4 Avaliação estrutural das paisagens de Mato Grosso do Sul

Corroborando com autores como Olivencia e Rodriguez (2008), Vitte (2016) e

Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2007), os quais ressaltam a importância da avaliação

estrutural das paisagens, neste ponto, são apresentados os resultados da avaliação

estrutural das paisagens relacionadas aos conjuntos paisagísticos reconhecidos neste

estudo como ícones. Neste processo, a execução de trabalhos de campo em consonância

com a construção de materiais cartográficos permitiu a elaboração das análises ora

apresentadas, permitindo o reconhecimento das referidas paisagens e, consequentemente,

possibilitando discussões e análises posteriores acerca de suas relações com o possível

desenvolvimento de atividades ligadas ao segmento do Turismo de Natureza.

Em síntese, a figura 48 permite compreender o olhar empreendido na análise das

paisagens dos ícones. Conforme pode ser observado, nesta articulação metodológica de

abordagem da paisagem, primou-se por inter-relacionar diferentes ângulos de observação

paisagística: a visão horizontal, estimulada pelo olhar de campo e registros fotográficos;

pelo ângulo vertical, associado a interpretação de imagens de satélite e as bases

cartográficas temáticas de dados secundários; e pela observação oblíqua, permitida pelo

imageamento de drone, o qual permite o elo dimensional entre a condição horizontal e

vertical.

224

Figura 48 - Exemplo de aplicação do esquema de olhar da paisagem na análise do ícone Maciço do Urucum.

Elaboração: LIMA, 2020.

225

Além dos registros fotográficos, preenchimento de fichas de campo e

imageamentos aéreos, é importante destacar que, durante a execução dos trabalhos de

campo, foram registrados pontos de GPS, os quais possibilitam registrar pontos de

interesse nos ícones de paisagem ou em seu entorno. A figura 49 apresenta a

espacialização dos pontos registrados ao longo dos trabalhos de campos realizados.

Figura 49 - Pontos de GPS amostrados durante a execução dos trabalhos de campo.

Elaboração: LIMA, 2020

226

Isto posto, nos itens subsequentes discorre-se sobre as execuções dos trabalhos de

campo em cada ícone de paisagem, sendo apresentados informações e materiais

angariados durante os referidos processo. Além disso, apresenta-se informações gerais

acerca da estrutura das paisagens, bem como informações que contemple os elementos

que destacam-se no campo visual destes conjuntos paisagísticos: o relevo, a

vegetação/usos das terras e a rede de drenagem.

4.4.1 Maciço do Urucum

Faça a leitura do QR code com seu dispositivo para saber mais sobre o ícone, ou acesse:

https://www.youtube.com/watch?v=iPPQD0EWYuo&t=380s10

O primeiro ícone de paisagem a ser alvo de uma abordagem in loco foi o Maciço

do Urucum. Cabe destacar a dificuldade de abordagem neste ícone de paisagem, uma vez

que, na BR-262, além da pouca variedade de pontos de paradas/acostamentos para o

desenvolvimento de observações e coleta de dados, as áreas que compreendem o Maciço

e seu entorno são relacionadas com a exploração da atividade de mineração, condição a

qual estabelece uma série de áreas com acesso restrito. Já na MS-228 (Estrada parque do

Pantanal11), além da restrição das propriedades privadas de mineração e atividades

agropecuária, a pavimentação da via (estrada sem pavimentação asfáltica e com relevante

concentração de rochas) dificulta o acesso de determinadas áreas por meio de carro de

pequeno porte.

A título de informações estruturais gerais das paisagens do ícone Maciço do

Urucum, sua litologia12 é composta pela Formação Bocaina, Formação Pantanal Fácies

10 OBS: o vídeo em questão compila imagens e informações do trabalho de campo dos ícones de paisagem

Maciço do Urucum e Serra do Amolar 11 A Estrada Parque Pantanal é uma Área de Especial Interesse Turístico (AEIT) criada pelo Governo do

Estado de Mato Grosso do Sul em março de 1993. Compreende trechos da MS-184 e da MS-228,

municípios de Miranda, Corumbá e Ladário, e tem área de cerca de 6.800 hectares, dos quais 85% no

município de Corumbá. Fonte: Imasul, 2021. Disponível em: https://www.imasul.ms.gov.br/estrada-

parque-do-pantanal-2/. 12 As legendas e referidas paletas de cores referentes aos tipos de litologias e de solos que constam nos

mapas dos ícones de paisagem podem ser consultadas no apêndice II.

227

Depósitos Aluvionares, Formação Pantanal Fácies Terraços Aluvionares, Complexo Rio

Apa, Formação Santa Cruz, Formação Tamengo, Formação Urucum e Formação Xaraiés.

Dentre tais estruturas litológicas, a Formação Pantanal, Formação Santa Cruz e Formação

Urucum conformam o núcleo central do ícone de paisagem, a primeira ligada aos

patamares mais planos, e as duas últimas ligadas aos pontos mais altos (LACERDA

FILHO et. al., 2006).

No que tange a composição pedológica do Maciço do Urucum, está associa-se a

presença de cambissolos, gleissolos, latossolos, chernossolos, argissolos, planossolos e

vertissolos. Nesta estrutura, destaca-se a ocorrência dos cambissolos e vertissolos,

designado pelo IBGE (2015) como solos mais jovens, que no Maciço estão ligados aos

patamares de maiores declividades. Chama-se a atenção ainda para os argilossos,

encontrados nas partes mais altas do ícone.

Quanto a condição climática do ícone de paisagem, percebe-se que o Maciço do

Urucum está localizado na unidade climática A1-I-b. De acordo com Zavattini (2009),

está área possui índices pluviométricos com média anual de 1.100 mm, com inverno-

outono com variação de +/- 200 mm, contando como uma alta umidade do ar e

temperaturas que podem ultrapassar os 35ºC no verão. Considerando as altas atitudes do

Maciço, Zavattini (2009) ressalta que esta condição possibilita a ocorrência de

temperaturas mais agradáveis nestes pontos, além de permitir áreas com maior ventilação.

4.4.1.1 Relevo do Maciço do Urucum

A geomorfologia do Maciço do Urucum pode ser considerada a característica física

que mais desperta atenção deste ícone de paisagem. Comprovação de tal fato pode se dar

em função da logomarca do Geopark Bodoquena-Pantanal, o qual é idealizado em função

da silhueta das morrarias do Urucum (figura 50).

228

Figura 50 - Paisagem do Maciço do Urucum na BR-262.

Autor: LIMA, 2019.

Tendo por base o mapeamento técnico do relevo do ícone de paisagem Maciço do

Urucum, percebe-se claramente o delineamento de dois compartimentos geomorfológicos

bem definidos: os relevos com maior aplainamento, ligados as planícies do bioma

pantaneiro da região; e os relevos montanhosos, marcados pela estruturação

geomorfológica mais declivosa.

Conforme aponta o IBGE (2009), as áreas compreendidas pelas planícies e

pantanais estão associadas a baixas declividades, podendo estruturar-se em superfícies

planas ou levemente onduladas. No caso do Maciço do Urucum, as planícies contrastam

diretamente com as feições montanhosas do ícone, atuando como suporte do destaque

paisagístico das áreas de maior altitude (figura 51)

229

Figura 51 - Contraste da paisagem do ícone Maciço do Urucum entre relevos com

maiores índices de aplainamento e relevos com maiores altitudes.

Autor: LIMA, 2019.

Com relação as áreas associadas as morrarias do Urucum, estas relacionam-se com

os relevos dissecados do ícone de paisagem (IBGE, 2009). Conforme evidenciado durante

a execução dos trabalhos de campo, a delimitação do ícone se dá não em função de uma

formação geomorfológica, mas sim a partir da estruturação do conjunto de diferentes

relevos dissecados encontrados neste perímetro. Neste sentido, o ícone Maciço do

Urucum pode ser associado enquanto um complexo geomorfológico (figura 52).

230

Figura 52 - Apontamento dos diferentes conjuntos de relevos associados ao complexo

geomorfológico do Maciço do Urucum.

Elaboração: LIMA, 2020.

Considerando os complexos apresentados, apesar das semelhanças de ambos

enquanto estruturação de relevos dissecados, é possível atribuir algumas caracterizações

peculiares a cada complexo. Em certa medida, podemos reconhecer nos complexos I

(figura 53) e IV (figura 56) são formados por conjuntos de morros de relevo fortemente

ondulado e relevos testemunho. Já o complexo II (figura 54) é formado por morros

231

chamados pelo IBGE (2009) de topos aguçados, associados aos padrões de drenagem da

área. Por fim, o complexo III (figura 55), caracterizado por seu alto índice de dissecação,

apresenta-se como aquele de maior destaque no ícone, tanto em função de sua altitude,

quanto suas proximidades do campo de visão do observador que contempla o ícone.

Figura 53 - Paisagem associada ao complexo I de paisagens do ícone Maciço do

Urucum.

Autor: LIMA, 2019.

Figura 54 - Paisagem associada ao complexo II de paisagens do ícone Maciço do

Urucum.

Autor: LIMA, 2019.

232

Figura 55 - Paisagem associada ao complexo III de paisagens do ícone Maciço do

Urucum.

Autor: LIMA, 2019.

Figura 56 - Paisagem associada ao complexo IV de paisagens do ícone Maciço do

Urucum.

Autor: LIMA, 2019.

233

Em síntese, a figura 57 apresenta o mapa de relevo do Maciço do Urucum, o qual

espacializa os tipos de relevo que compreendem o ícone de paisagem.

234

Figura 57 - Relevo do Maciço do Urucum

Elaboração: LIMA, 2020.

235

4.4.1.2 Vegetação/Usos das terras Maciço do Urucum

Também considerada uma importante variável na valorização do ícone de paisagem

Maciço do Urucum, a vegetação e os usos das terras apresentam relevantes considerações

na estruturação das paisagens do ícone. Muito em função da limitação das áreas de maior

aplainamento no perímetro do ícone, bem como a condição pantanosa destas porções, as

áreas de pastagem (figura 58) limitam-se a pequenas porções territoriais. Outra condição

que limita a exploração pecuária na área do ícone é a exploração de extração de minérios

(figura 59), atividade difundida em meio as formações das florestas estacionais semi-

deciduais, estrutura vegetacional que predominante no Maciço do Urucum. Tal aferição

é condizente com a afirmação de Fossgard (2019), o qual indica que os recursos naturais

de um determinado ícone de paisagem podem ser abrangidos por diferentes usos para

além da atividade turística.

Figura 58 - Área de pastagem no ícone de paisagem Maciço do Urucum.

Autor: LIMA, 2019.

236

Figura 59 - Exploração da atividade de mineração no ícone de paisagem Maciço do

Urucum.

Autor: LIMA, 2019.

Destacada na paisagem do ícone Maciço do Urucum, as florestas estacionais semi-

deciduais são relacionadas pelo IBGE (2012, p. 92) a regiões “marcada por acentuada

seca hibernal e por intensas chuvas de verão; na zona subtropical, correlaciona-se a clima

sem período seco, porém com inverno bastante frio (temperaturas médias mensais

inferiores a 15º C), que determina repouso fisiológico e queda parcial da folhagem. Estão

estabelecidas nos topos de relevos, nas zonas intermediarias de taludes e nas porções

levemente onduladas (figura 60). Tomando como base o mapeamento realizado por IBGE

(2019), evidencia-se no mapa elaborado a ocorrência de áreas de florestas estacionais

semi-deciduais, pastagem e área urbana (figura 61).

237

Figura 60 - Predomínio das florestas estacionais semi-deciduais no ícone Maciço do

Urucum.

Autor: LIMA, 2019.

238

Figura 61 - Vegetação/usos das terras do Maciço do Urucum

Elaboração: LIMA, 2020.

239

4.4.1.3 Rede de Drenagem Maciço do Urucum

Quanto as redes de drenagem associadas ao ícone de paisagem Maciço do Urucum

(figura 62), dentro do perímetro do ícone não se percebe a inclusão de rios estruturados

em grandes canais, entretanto, ainda sim percebe-se a conformação de diferentes padrões

de drenagem estabelecidos ao longo de sua extensão. Dentre tais variações, percebe-se a

estruturação de canais retilíneos, padrões de drenagem dentríticos e radiais centrífugos.

Os canais retilíneos, designados pelo IBGE (2009, p. 95) como canais que “ocorrem

em amplas planícies constituídas por depósitos quaternários, os canais retilíneos podem

ser indicativos de movimentos neotectônicos e são frequentemente interrompidos por

feições anômalas”. Já os padrões de drenagem dentríticos associam-se as rochas com

resistência uniforme, distribuindo-se em várias direções, formando ângulos agudos com

graduações variadas (porém nunca estruturam ângulos retos). Tanto os canais retilíneos

quanto os padrões dentríticos ocorrem nos complexos I e III do ícone de paisagem.

Já o padrão radial centrífugo é visivelmente aparente no complexo II do Maciço do

Urucum (figura 52, p. 227), o qual associa-se a definição proposta por IBGE (2009), que

relaciona sua distribuição a partir de um divisor central, que acarreta na divergência dos

canais para canais opostos.

É possível perceber ainda que, no entorno do ícone, mais precisamente no seu

extremo nordeste, está localizado o rio Paraguai, importante canal fluvial meandrante que

norteia os cursos hídricos da bacia do Paraguai. Além disso, também no entorno do ícone

é perceptível a formação de grandes e pequenos lagos.

240

Figura 62 - Rede de Drenagem Maciço do Urucum

Elaboração: LIMA, 2020.

241

4.4.2 Serra do Amolar

Faça a leitura do QR code com seu dispositivo para saber mais sobre o ícone, ou acesse:

https://www.youtube.com/watch?v=iPPQD0EWYuo&t=380s13

Na aferição da Serra do Amolar, buscou-se acessar as áreas de interesse por meio

de via fluvial, mais especificamente, por meio do rio Paraguai, contando com o apoio

logístico do Instituto Homem Pantaneiro (IHP)14, suporte oferecido em aspectos que

tange o acesso (transporte), a alimentação e hospedagem.

Durante os dias de expedição, foram utilizados dois pontos de apoio na Serra do

Amolar: a RPPN Engenheiro Eliezer Batista (figura 63) e a RPPN Acurizal (figura 64).

Além das abordagens via rio Paraguai, no primeiro ponto percorreu-se a trilha amolar, de

aproximadamente sete (7) quilômetros (percurso de ida e volta) (figuras 65 e 66). Já na

RPPN Acurizal executou-se uma trilha de bicicleta de aproximadamente cinco (05)

quilômetros (percurso de ida e volta) (figura 67).

13 OBS: o vídeo em questão compila imagens e informações do trabalho de campo dos ícones de

paisagem Maciço do Urucum e Serra do Amolar 14 O Instituto Homem Pantaneiro (IHP) é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que atua

na conservação e preservação do bioma Pantanal e da cultura local. Para mais informações acesse:

https://www.institutohomempantaneiro.org.br/

242

Figura 63 - Registro da placa de identificação na entrada da RPPN Engenheiro Eliezer

Batista.

Autor: LIMA, 2019.

Figura 64 - Sede de apoio da RPPN Acurizal.

Autor: IHP, 2019.

243

Figura 65 - Acesso às trilhas na RPPN Engenheiro Eliezer Batista.

Autor: LIMA, 2019.

Figura 66 - Vista do ponto mais alto da trilha do Amolar na RPPN Engenheiro Eliezer

Batista.

Autor: LIMA, 2019.

244

Figura 67 - Trilha de bicicleta na RPPN Acurizal.

Autor: LIMA, 2019.

Sobre as formações litológicas do ícone de paisagem Serra do Amolar, percebe-se

a ocorrência de Depósitos Aluvionares, período litológico mais recente e ligado as bordas

fluviais do ícone, e a Formação Urucum, que estrutura as feições escarpadas que

predominam na paisagem da Serra (LACERDA FILHO et. al., 2006). Do ponto de vista

histórico, são encontrados ainda registros rupestres em algumas rochas do ícone (figura

68).

245

Figura 68 - Inscrições rupestres na Serra do Amolar.

Autor: LIMA, 2019.

Do ponto de vista pedológico, a Serra do Amolar possui uma variedade de solos

dos tipos cambissolos, gleissolos e vertissolos. Conforme apontado pelo IBGE (2015), os

cambissolos e vertissolos, composições mais jovens estão concentradas nas áreas que

compõem os morros e suas encostas. Já os gleissolos, solos característicos de áreas

alagadas, estão concentrados nas áreas mais baixas e próximas com maior contato hídrico.

Por fim, o aspecto climático da Serra do Amolar se assemelha bastante as condições

encontradas no ícone de paisagem Maciço do Urucum. Inserido na unidade climática A1-

I-a, é contemplada por índices pluviométricos que giram em torno de 1.100 mm anuais e

inverno-outono seco com variação aproximada de 200 mm, de altas temperaturas no verão

(média de +/- 35ºC), havendo amenidade de temperatura nas faixas mais altas dos morros.

4.4.2.1 Relevo Serra do Amolar

As formas de relevo, conjuntamente com a variedade hídrica da Serra do Amolar,

embasam a justificativa de elencar a Serra do Amolar enquanto ícone paisagístico em

Mato Grosso do Sul. Os relevos escarpados da Serra contrastam dentre de um bioma de

planícies pantaneiras. Justamente o fato do Pantanal estar intimamente ligado a áreas de

planícies inundadas, a “Serra” do Amolar é um conjunto paisagístico pouco conhecido

246

por parte até mesmo dos sul-mato-grossenses, fato atrelado pela impensável existência de

uma Serra dentro deste bioma.

Os tipos de relevo evidenciados neste ícone são as morrarias do Amolar, o pantanal

do Uberaba-Madioré e as planícies e pantanais. As morrarias do Amolar (figura 69) é a

forma de relevo predominante no ícone, aguçando o olhar do observador na contraposição

das planícies que englobam seu entorno. Para o IBGE (2009), a formação dos morros

pode ser relacionada aos resultados de uma dissecação homogênea dos relevos.

Figura 69 - Feições das morrarias do Amolar no ícone de paisagem.

Autor: IHP, 2019.

Já o pantanal do Uberaba-Madioré (figura 70) possui feições de características mais

pantaneiras, estruturadas em relevos com variação estrutural entre superfícies planas e

levemente onduladas, propiciando a formação de pequenos, médios e grandes

lagos/lagoas. Nestas porções, ressalta-se que as condições físicas em questão dificultam

o acesso as referidas áreas.

247

Figura 70 - Áreas alagadas do pantanal do Uberaba-Mandioré no ícone de paisagem.

Autor: IHP, 2019.

Por fim, as planícies e pantanais (figura 71) contemplam algumas áreas de encostas,

formadas por superfícies de maior aplainamento e próximas ao canal fluvial do rio

Paraguai, permeando a faixa leste do ícone de paisagem. Esta condição geomorfológica

permite o estabelecimento de pontos de apoios e moradia de comunidades locais. A figura

72 apresenta o mapa de tipos de relevo da Serra do Amolar.

Figura 71 - As bordas da Serra, estruturadas em relevos mais planos propiciam o

estabelecimento de estruturas e comunidades.

Autor: LIMA, 2019.

248

Figura 72 - Relevo da Serra do Amolar

Elaboração: LIMA, 2020.

249

4.4.2.2 Vegetação Serra do Amolar

Aliando os esforços empenhados na conservação/preservação da Serra do Amolar,

bem como as dificuldades encontradas no acesso dessas áreas, o quantitativo de vegetação

nativa deste ícone de paisagem é relevantemente expressivo. Tal fato desperta o interesse

do IHP e de outras instituições sem fins lucrativos em destinar esforços para a preservação

de fauna e flora entradas nessas porções do pantanal.

Exemplo desta relevância pode ser observada em função dos tipos de vegetação da

Serra do Amolar e os usos das terras encontrados em seu perímetro. Percebe-se que não

há grandes aglomerados urbanos na Serra, bem como as áreas destinadas as práticas

pecuárias restringem-se a pequenas porções do pantanal do Uberaba-Madioré, localizadas

na face oeste do ícone de paisagem.

Também se percebe pequenas frações de florestas estacionais semi-deciduais

(figura 73), onde os maiores quantitativos permeiam as bordas da porção centro-sul do

ícone, abrangendo ainda pequenas faixas a norte, leste e oeste. No ícone de paisagem,

essas florestas estão mais próximas das áreas mais planas e das porções alagadas.

Figura 73 - Faixa de floresta estacional semi-decidual nas proximidades do rio Paraguai

- ícone de paisagem Serra do Amolar.

Autor: LIMA, 2019.

250

Em suma, as savanas de vegetação nativa (figura 74) são aquelas que predominam

no ícone de paisagem, as quais permeiam as áreas de encostas e topos de morro, sendo

privilegiadas pela condição estrutural geomorfológica, a qual dificulta o acesso e ações

ligadas ao desmatamento destas paisagens. De acordo com o IBGE (2012), as savanas

tem suas características atreladas a predominância arbórea e herbácea. As primeiras

compostas por árvores que possuem porte médio ou baixo, que podem variar de 3 a 10

metros, espaçadas e com copas amplas. Já as herbáceas distribuem-se de maneira

contínua, formando uma espécie de tapete de árvores e arbustos, condição semelhante a

encontrada na Serra do Amolar. Os tipos de vegetação e usos das terras na Serra do

Amolar podem ser observados na figura 75.

Figura 74 - A densidade das vegetações nativas de savanas contemplando quase a

totalidade da cobertura vegetal do ícone de paisagem Serra do Amolar.

Autor: LIMA, 2019.

251

Figura 75 - Vegetação/Usos das terras da Serra do Amolar

Elaboração: LIMA, 2020.

252

4.4.2.3 Rede de Drenagem Serra do Amolar

Conforme já citado anteriormente, a drenagem da área do ícone Serra do Amolar e

de seu entorno é condição relevante (conjuntamente com o relevo) na determinação da

importância visual e funcional do ícone. Ao se considerar a área que compreende o

perímetro do ícone, destaca-se a ocorrência de poucos canais hídricos associados a braços

do padrão dentrítico. A figura 77 sintetiza a espacialização da rede de drenagem que

conforma as paisagens da Serra.

Apesar de enquadrarem-se fora do perímetro de delimitação da Serra do Amolar,

percebe-se a relevância visual e funcional dos elementos de drenagem que permeiam o

entorno do ícone. Tais elementos estão atrelados a canais retilíneos, meandrantes, padrões

dentríticos de drenagem, bem como a diversa concentração de pequenos, médios e

grandes lagos/lagoas, condições de drenagem muito associadas a estruturação do bioma

do Pantanal (IBGE, 2009).

Destacando um importante canal incluso nestes elementos de entorno do ícone de

paisagem, aponta-se o rio Paraguai (figura 76), o qual pode ser considerado o principal

canal fluvial de acesso a Serra do Amolar.

Figura 76 - O rio Paraguai, considerado o principal canal fluvial nas imediações do

ícone de paisagem Serra do Amolar.

Autor: LIMA, 2019.

253

Figura 77 - Rede de drenagem da Serra do Amolar

Elaboração: LIMA, 2020.

254

4.4.3 Serra de Maracaju – porção central

Faça a leitura do QR code com seu dispositivo para saber mais sobre o ícone, ou acesse:

https://www.youtube.com/watch?v=uqwzbWWuk8I&t=527s

Considerando a grande extensão territorial da Serra de Maracaju, as investigações

de campo no referido ícone de paisagem necessitaram ser divididas em diferentes

expedições, visando aferir com maior acuracidade as faces norte, central e sul que

compreendem a Serra. As aferições na porção central da Serra de Maracaju abrangeram

áreas do município de Aquidauana-MS e entorno, permitindo a observação das principais

feições nesta faixa da serra. Convém ressaltar que, uma importante abordagem realizada

nesta expedição foi a visita a aldeia indígena Limão Verde (figura 78), localizada no

município de Aquidauana-MS, local o qual permitiu a captação relevantes imageamentos

das paisagens que compreendem esse trecho da Serra.

Figura 78 - Visão aérea da comunidade indígena Limão Verde, em Aquidauana-MS.

Autor: LIMA, 2019.

255

Outro importante ponto de exploração foram as paisagens encontradas nas

proximidades do distrito de Piraputanga-MS (figura 79), local em que foi possível

desenvolver uma série de registros fotográficos e imageamentos aéreos de importantes

feições de relevo em contraste com o rio Aquidauana, importante canal fluvial que

permeia as referidas porções territoriais.

Figura 79 - Imageamento aéreo realizado nas imediações de Piraputanga-MS.

Autor: LIMA, 2019.

No que tange a variedade litológica da faixa central do ícone de paisagem Serra de

Maracaju, é possível identificar estruturas como os Depósitos Aluvionares, ligados aos

cursos hídricos da área, as Formações Pantanal Fácies Depósitos Aluvionares, Pantanal

Fácies Terraços Aluvionares e Cuiabá, identificados nas feições direcionadas ao bioma

do Pantanal, identifica-se ainda a Cobertura Detrito-Lateríticas, considerada uma faixa

geológica relativamente recente e relacionada com os relevos de maior aplainamento da

Serra e, por fim, nota-se a ocorrência das Formações Aquidauana, Botucatu e Furnas, as

quais integram um período geológico intermediário e estruturam as feições mais

exponentes da Serra (LACERDA FILHO et. al., 2006).

Quanto aos solos que abrangem a faixa central da Serra de Maracaju, percebe-se a

ocorrências de solos do tipo os planossolos, ligados as áreas de entrada das planícies

pantaneiras, os latossolos, solos profundos e de boa drenagem distribuídos em vários

pontos desta faixa central, os neossolos e argissolos, presentes nas áreas com relevos de

256

maior elevação, e os gleissolos e plintossolos, atrelados as faixas de cursos hídricos desta

porção central do ícone (IBGE, 2015).

Relacionando com as unidades climáticas de Zavattini (2009), a porção central do

ícone de paisagem Serra de Maracaju está localizada exatamente na faixa zonal que divide

os climas de regionais de Mato Grosso do Sul, condição a qual relacionasse com a

impossibilidade de definição do período seco no outono-inverno, além ser uma área onde

geralmente as chuvas de primavera superam as de verão.

4.4.3.1 Relevo Serra de Maracaju – porção central

Em consonância com a própria nomenclatura do ícone de paisagem em questão, o

relevo é tomado como principal elemento físico a se destacar na Serra de Maracaju. Muito

em função de sua grande extensão territorial, a Serra é distribuída de maneira

fragmentadas ao longo de Mato Grosso do Sul, de maneira que, enquanto em alguns

pontos da Serra o relevo é caracterizado por relevos de leve, médias e forte ondulações,

outras feições são caracterizadas por relevos de maior dissecação. Ressalta-se ainda a

grande ocorrência de relevos testemunho em vários pontos da Serra de Maracaju.

Quanto aos tipos de relevos evidenciados na Serra de Maracaju, na escala de análise

proposta, são atribuídos basicamente a duas categorias: planaltos e patamares da borda

ocidental da bacia do Paraná e as planícies e pantanais sul-mato-grossenses. Neste

contexto, o grau de generalização geomorfológica dos dados dificulta o mapeamento das

diferentes formas de relevo existentes nessas áreas. Entretanto, a partir do trabalho de

campo, foi possível reconhecer diferentes feições da geomorfologia na faixa central do

ícone, tais como: áreas de superfícies planas, áreas de superfícies planas alagadas e

morrarias/escarpas.

Quanto as áreas de superfícies planas (figura 80), estas podem ser encontradas na

faixa centro-sul da área delimitada como faixa central do ícone. Nestas áreas, é possível

observar territórios marcados por relevos que variam entre levemente ondulado à

superfícies de maior aplainamento.

257

Figura 80 - Superfícies aplainadas e/ou moderadamente onduladas na faixa central do

ícone Serra de Maracaju.

Autor: LIMA, 2019.

Com relação aos relevos marcados pelas superfícies planas alagadas (figura 81),

estas estão restritas as áreas que compreendem as porções territoriais mais próximas da

entrada do bioma pantaneiro, sendo marcadas pela presença de pequenos, médios e

grandes banhados na medida que se aproxima do pantanal sul-mato-grossense.

Figura 81 - Planícies alagadas ligadas ao bioma pantaneiro, a noroeste de Aquidauana-

MS, na porção central da Serra de Maracaju.

Autor: BOIN, 2017.

258

Por fim, as áreas em que a Serra de Maracaju é mais destacada em sua porção central

estão relacionadas com a ocorrência de morros e escarpas (figura 82). Tais relevos são

perceptíveis com maior intensidade nas imediações de Aquidauana-MS e nos distritos de

Piraputanga e Camisão, locais permeados por grandes paredões sedimentares,

distribuídos em conjuntos de relevos descontínuos. A figura 83 indica as formas de relevo

que caracterizam a porção central do ícone Serra de Maracaju.

Figura 82 - Morros e escarpas da Serra de Maracaju nas imediações da aldeia Limão

Verde, em Aquidauana-MS.

Autor: LIMA, 2019.

259

Figura 83 - Relevo da Serra de Maracaju – porção central

Elaboração: LIMA, 2020.

260

4.4.3.2 Vegetação/usos das terras Serra de Maracaju – porção central

Em consonância com as formas de relevo encontradas na porção central da Serra

de Maracaju, os tipos de vegetação e usos das terras acompanham tais características

geomorfológicas. Além da área urbana dos municípios de Aquidauana-MS e Anastácio-

MS, a feição central da Serra compreende grandes porções territoriais dedicadas à

atividade pecuária. No que tange as vegetações nativas, percebe-se poucas faixas de

florestas estacionais semi-deciduais, em contrapartida, observa-se relevante quantitativo

de vegetações do tipo savanas arbóreas e herbáceas (IBGE, 2012).

Este expressivo percentual de vegetação nativa ligado as savanas arbóreas e

herbáceas (figura 84) ligam-se as áreas onde os relevos de morros e escarpas estão

presentes, de maneira que, muito em função da dificuldade de acesso, estas porções

mantêm relevantes índices de preservação/conservação. Além desta condição estrutural,

a relação das áreas preservadas/conservadas com territórios indígenas também se

apresenta como fator determinante na manutenção destes exemplares de vegetação.

Figura 84 - Vegetação nativa do tipo savana nas morrarias do distrito de Camisão-MS.

Autor: LIMA, 2019.

Já as restritas faixas de florestas estacionais (figura 85) encontradas na faixa central

do ícone de paisagem Serra de Maracaju estão associadas a alguns cursos hídricos

localizados no perímetro do ícone, como por exemplo, o rio Aquidauana. Em muitos

261

pontos do ícone percebe-se uma supressão dos percentuais deste tipo de vegetação em

função da pressão de atividades pecuárias.

Figura 85 - Floresta estacional nas bordas do rio Aquidauana, no trecho entre

Aquidauana-MS e o distrito de Camisão-MS.

Autor: LIMA, 2019.

Conforme pode se perceber, a porção central da Serra de Maracaju é constituída na

sua maior totalidade por áreas de pastagem (figura 86), as quais são estabelecidas nas

feições de relevo com maior aplainamento e nas proximidades das encostas das morrarias

e dos recursos hídricos que compreendem o ícone supracitado. As vegetações e usos das

terras da porção central do ícone de paisagem Serra de Maracaju podem ser observados

no mapa da figura 87.

262

Figura 86 - Contraste das áreas de pastagem e das morrarias, em Aquidauana-MS.

Autor: BOIN, 2017.

263

Figura 87 - Vegetação/Usos das terras da Serra de Maracaju – porção central

Elaboração: LIMA, 2020.

264

4.4.3.3 Rede de Drenagem Serra de Maracaju – porção central

No que concerne à rede de drenagem da porção central da Serra de Maracaju (figura

89), percebe-se a predominância do padrão de drenagem pelo IBGE (2009) como

dentrítico, padrão esse que se liga a pequenos, médios e grandes cursos hídricos, como o

rio Aquidauana (figura 88), o qual destaca-se em meio aos conjuntos paisagísticos das

morrarias e escarpas encontradas na região de Aquidauana-MS e dos distritos de

Camisão-MS e Piraputanga-MS.

Figura 88 - Meandros do rio Aquidauana em meio as morrarias presentes nas

imediações do distrito de Piraputanga-MS.

Autor: LIMA, 2019.

Destaca-se ainda a relevância dos cursos hídricos nos trechos em que estes estão

associados a conservação/preservação das florestas estacionais semi-deciduais, condição

a qual valoriza tais paisagens, permitindo uma contraposição a áreas em que tais cursos

hídricos atuam exclusivamente como “suporte” da atividade pecuária, carecendo de matas

ciliares em seu entorno. Além do rio Aquidauana e de um relevante número de córregos,

o ícone de paisagem Serra de Maracaju e seu entorno contempla trechos de importantes

canais fluviais como os rios Dois Irmãos, Ribeirão do Taquaruçu, Ribeirão Vermelho,

dentre outros.

265

Figura 89 - Rede de drenagem da Serra de Maracaju – porção central

Elaboração: LIMA, 2020.

266

4.4.4 Serra de Maracaju – porção sul

Faça a leitura do QR code com seu dispositivo para saber mais sobre o ícone, ou acesse:

https://www.youtube.com/watch?v=M6adMETdMhs&t=380s

Conforme já explicitado anteriormente, em função da extensão territorial do ícone

de paisagem Serra de Maracaju, buscou-se fragmentar as expedições de campo neste

conjunto paisagístico em três, abordando separadamente as porções, sul, central e norte

da Serra. No que tange a porção sul, percorreu-se as paisagens da Serra de Maracaju

localizadas nos territórios dos municípios de Ponta Porã-MS, Antônio João-MS e Bela

Vista-MS.

Quanto as peculiaridades territoriais na referida investigação, destaca-se a

proximidade da faixa de fronteira com o Paraguai, além da concentração de grandes

propriedades rurais e de territórios indígenas ligados a comunidade Kaiowa Ñande Ru

Marangatu. Outra condição interessante a ser destacada para além das condições físicas

desta faixa da Serra de Maracaju é a referência histórica, visto que, partes dos territórios

em que questão possuem ligações com a Retirada da Laguna15 (figura 90), episódio

associado a guerra do Paraguai, ocorrida entre os anos de 1864 – 1870.

15 Para saber mais sobre o fato histórico, ler “TAUNAY, Alfredo D’Escragnolle, Visconde de. A

Retirada da Laguna – episódio da Guerra do Paraguai. 13. ed. São Paulo: Ediouro, 1952”.

267

Figura 90 - Marco histórico de referência ao episódio da Retirada da Laguna nas

imediações do município de Bela Vista-MS.

Autor: LIMA, 2019.

A litologia que permeia a Serra de Maracaju em sua face sul é majoritariamente

compreendida pela Formação Aquidauana, sendo margeada por faixas da Formação

Botucatu, condição litológica a qual privilegia a estruturação dos relevos característicos

dessa região. Lacerda Filho et. al. (2006, p. 51) ressalta a ocorrência da Formação

Botucatu na região de Bela Vista-MS e Antônio João-MS, citando que “Os afloramentos

desta formação no Mato Grosso do Sul são raros, exceto nas calhas das principais

drenagens. Geralmente sustenta chapadões cobertos por solos areno-argilosos e areias”.

Além destas duas formações principais, estão inseridos no perímetro do ícone fragmentos

da Formação Serra Geral, Formação Cerradinho e rochas do Grupo Cuiabá.

Ao analisar os tipos de solos associados ao ícone de paisagem, nota-se a maior

ocorrência de argissolos, locais geralmente associados às práticas pecuárias, enquanto os

plintossolos estão localizados nas associações com os cursos hídricos. Outra tipologia

pedológica evidenciada foi a dos latossolos, os quais sua ocorrência atrela-se às áreas

onde predominam cultivos diversos. Percebe-se ainda pequenas frações de composições

de solos ligados aos nitossolos, planossolo e neossolos em alguns pontos do perímetro de

delimitação do ícone (IBGE, 2015).

268

A porção sul do ícone Serra de Maracaju está inserida na unidade climática B1-IV,

que é descrita por Zavattini (2009) como uma unidade que contemplam picos que podem

ultrapassar a altitude de 700 metros, e que está atrelada a índices pluviométricos que em

média variam entre 1.200 e 1.400 mm, os quais as chuvas de primavera são ligeiramente

maiores que as de verão e os valores do período de outono-inverno giram em torno de

300 mm.

4.4.4.1 Relevo Serra de Maracaju – porção sul

Assim como supracitado nas descrições do relevo da porção central da Serra de

Maracaju, as feições geomorfológicas do ícone possuem feições variáveis ao longo de

sua extensão no território sul-mato-grossense. Dentro desta variação, a porção sul da

Serra de Maracaju é marcada por relevos distintos daqueles observados em sua faixa

central.

Entretanto, assim como já supracitado no texto, os tipos de relevos indicam uma

representação generalista dos relevos destas áreas, indicando uma estruturação

geomorfológica composta por majoritariamente pelos planaltos e patamares da borda

ocidental da bacia do Paraná, por uma relevante faixa designada como depressões sul-

mato-grossenses e uma pequena área designada como planície.

Apesar da classificação como grandes conjuntos homogêneos de relevo, por meio

do trabalho de campo, foi possível verificar que, as áreas identificadas como planaltos e

patamares da borda ocidental da bacia do Paraná são contempladas por variações

geomorfológicas, uma vez que, percebe-se ao longo de suas extensões a ocorrência de

áreas com superfícies de maior aplainamento, relevos de ondulação variável e formação

de relevos testemunhos. Diferentemente das feições centrais da Serra, nestes pontos não

são encontrados relevos escarpados.

Os relevos de aplainamento (figura 91) apresentam-se como feições intermitentes

entre os relevos testemunhos e ondulados que permeiam as paisagens da Serra de

Maracaju em sua porção sul. Dada as especificidades da estrutura geomorfológica, tais

relevos são tidos como suporte no desenvolvimento das dinâmicas territoriais encontradas

nestas áreas (pecuária e pequenos cultivos).

269

Figura 91 - Superfícies aplainadas na faixa sul do ícone Serra de Maracaju – município

de Antônio João-MS.

Autor: LIMA, 2019.

Quanto os relevos de baixas, médias e altas ondulações (figura 92), estes são mais

evidentes no trecho entre os municípios de Antônio João e Bela Vista-MS. Considerando

as variações de intensidade das ondulações destes relevos, é possível evidenciar um

equilíbrio entre as áreas mais conservadas/preservadas e os limites das explorações de

dinâmicas territoriais (atividades ligadas a agropecuária).

Figura 92 - Ondulação dos relevos na faixa sul do ícone Serra de Maracaju – trecho

entre os municípios de Antônio João-MS e Bela Vista-MS.

Autor: LIMA, 2019.

270

Por fim, os relevos testemunhos (figura 93) são tidos como feições bem definidas,

as quais destacam-se nas paisagens da porção sul do ícone. Considerando as dificuldades

de acesso a tais conjuntos, estes relevos denotam menores graus de intervenções humanas,

designando feições singulares a serem tomadas no contexto desta face sul da Serra de

Maracaju. Na figura 94 é possível perceber os tipos de relevos encontrados nessa porção

da serra.

Figura 93 - Formação de relevos testemunho na faixa sul do ícone Serra de Maracaju –

município de Antônio João-MS.

Autor: LIMA, 2019.

271

Figura 94 - Relevo da Serra de Maracaju – porção sul

Elaboração: LIMA, 2020.

272

4.4.4.2 Vegetação/usos das terras Serra de Maracaju – porção sul

Ao se investigar a porção sul do ícone de paisagem Serra de Maracaju, percebe-se

que, além das características físicas do relevo, os tipos de vegetações e usos das terras

têm importante papel na compreensão das dinâmicas territoriais que norteiam a

estruturação das paisagens nestes pontos.

Neste contexto, algo que desperta a atenção são as grandes extensões de áreas de

pastagem (figura 95) encontradas nas paisagens da face sul da Serra de Maracaju. Tais

áreas dedicadas a atividade pecuária estão associadas às extensões de relevos aplainados

e levemente ondulados, os quais apresentam aptidões para o desenvolvimento da referida

atividade.

Figura 95 - Intensa concentração áreas de pastagem na faixa sul do ícone Serra de

Maracaju – município de Bela Vista-MS.

Autor: LIMA, 2019.

As áreas contempladas por vegetações nativas do tipo savana (figura 96)

apresentam um quantitativo relativamente restrito quando comparadas aos campos de

pastagem. No trecho entre Antônio João-MS e Bela Vista-MS, as savanas se restringem

basicamente a “recortes” dentro das grandes propriedades da região. Esse tipo de

273

vegetação ganha maior destaque no entorno de Bela Vista-MS, mais especificamente, em

áreas mais próximas da fronteira com o Paraguai.

Figura 96 - Fragmentos remanescentes de vegetação nativa do tipo savana evidenciados

no trecho entre os municípios de Antônio João-MS e Bela Vista-MS.

Autor: LIMA, 2019.

Quanto as florestas estacionais (figura 97), estas possuem faixas pouco expressivas

nos perímetros sul da Serra de Maracaju. Nestas áreas, esse tipo de vegetação está

associado basicamente com os cursos do rio Apa e do rio Piripucu, além de pontos em

que as florestas estacionais se associam as savanas que compreende o entorno de Bela

Vista-MS.

274

Figura 97 - Florestas estacionais semi-deciduais na faixa sul do ícone Serra de Maracaju

– município de Bela Vista-MS.

Autor: LIMA, 2019.

Destarte, é possível inferir que, a estruturação física das paisagens que abrangem a

porção sul da Serra de Maracaju mantém relação direta com as dinâmicas territoriais

destas áreas, uma vez que, percebe-se a manutenção das vegetações nativas apenas nas

áreas em que há limitações físicas para a exploração de atividades como a agricultura e

pecuária, limitações estas que são impostas seja pelas diferenças de altitudes de relevo,

seja em função da presença dos cursos hídricos de maior imponência na região, como por

exemplo, o rio Apa. Na figura 98 são apresentados os usos das terras e tipos de vegetação

na face sul da Serra de Maracaju.

275

Figura 98 - Vegetação/usos das terras da Serra de Maracaju – porção sul.

Elaboração: LIMA, 2020.

276

4.4.4.3 Rede de Drenagem Serra de Maracaju – porção sul

Assim como o padrão de drenagem apontado pelo IBGE (2009) e evidenciado na

face central do ícone de paisagem Serra de Maracaju, a porção sul do ícone é caracterizado

pelo padrão dentrítico, sendo permeados por canais fluviais meandrantes, como no caso

do rio Apa (figura 99).

Figura 99 - O rio Apa apresenta-se como um dos principais cursos hídricos presentes na

face sul do ícone Serra de Maracaju.

Autor: LIMA, 2019.

Assim como na face central da Serra de Maracaju, os principais cursos hídricos

(figura 100) tem importante função na manutenção das vegetações nativas,

principalmente na conservação das florestas estacionais. Além do rio Apa, a rede de

drenagem da porção sul do ícone de paisagem Serra de Maracaju é composta por lagos,

córregos e rios como o Piripucu e Estrela.

277

Figura 100 - Rede de drenagem da Serra de Maracaju – porção sul

Elaboração: LIMA, 2020.

278

4.4.5 APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná

Faça a leitura do QR code com seu dispositivo para saber mais sobre o ícone, ou acesse:

https://www.youtube.com/watch?v=7KXz6p2fqNk&t=387s

O ícone de paisagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná, localizado no sudeste de

Mato Grosso do Sul (fronteira territorial com o Paraguai e com os estados de São Paulo

e Paraná), tem suas paisagens destacadas em função de sua relevante condição hídrica, a

qual, conforme sugere a nomenclatura do ícone, está atrelada principalmente pelo canal

fluvial do rio Paraná. Entretanto, as características paisagísticas singulares deste ícone,

além de causar uma instigante inquietação quanto a compreensão e contemplação,

também são tomadas como um desafio, uma vez que, para sua investigação é necessário

superar dificuldades em sua abordagem, como a limitação de acesso e a sua amplitude

territorial.

Destarte, considerando tais dificuldades, buscou-se a execução de dois (002)

trabalhos de campo, a fim de, contemplar as informações necessárias para compreender

e analisar o referido ícone de paisagem. Neste ínterim, é importante destacar a

importância do apoio prestado pela prefeitura do município de Naviraí-MS, a qual

demonstrou total apoio desde o início das tratativas para a realização de expedições de

campo nas áreas que compreendem o perímetro do ícone. Neste apoio, os setores da

Gerência de Meio Ambiente de Naviraí (GEMA) (figura 101) e da Gerência de obras de

Naviraí (GEROB) atuaram de maneira direta no suporte das atividades, representadas na

ocasião pelos técnicos Kátia V. Chrestani Borges / Adriano Chaves de França,

respectivamente.

279

Figura 101 - Sede da Gerência de Meio Ambiente (GEMA) – Naviraí-MS.

Autor: LIMA, 2019.

Além da sede da Gerência de Meio Ambiente (GEMA) da prefeitura de Naviraí-

MS, outro ponto de apoio utilizado foi o portal do Parque Natural Municipal de Naviraí

(figura 102), o qual foi instituído a partir do decreto municipal Nº 042/2011. O parque

municipal é uma das áreas protegidas que estão inseridas no perímetro do ícone de

paisagem.

Figura 102 - Portal, localizado no município de Naviraí-MS, um dos pontos de apoio

que integram a área compreendida pela APA Ilhas e Várzeas do rio Paraná.

Autor: LIMA, 2019.

280

Em virtude da singularidade do ícone de paisagem, o qual tem como principal

elemento a abrangência hídrica, buscou-se desenvolver abordagens tanto por vias

terrestres, quanto por vias fluviais (figura 103). Tais aproximações permitiram melhores

observações das diferentes paisagens encontradas ao longo da extensão do ícone.

Figura 103 - O apoio terrestre/fluvial prestado pela Gerência de Meio Ambiente

(GEMA) e da Gerência de obras de Naviraí (GEROB) da prefeitura Naviraí-MS.

Autor: LIMA, 2020.

Considerando a litologia que abrange o ícone de paisagem APA Várzeas e Ilhas do

Rio Paraná, percebe-se uma estrutura estabelecida nos períodos geológicos mais recentes.

Além da ocorrência de rochas do Grupo Caiuá (período cretáceo), as demais estruturas se

estabelecem no período do quaternário, variando entre o pleistoceno e o holoceno,

compreendendo formas como os Depósitos Aluvionares, os Aluviões Fluviolacustres, os

Terraços Holocênicos e os Terraços Pleistocênicos (LACERDA FILHO et. al. 2006).

Gleissolos, neossolos e planossolos formam o conjunto pedológico que acompanha

os trechos em que predominam os cursos hídricos da APA. Já os latossolos compreendem

uma relevante faixa territorial, a qual se intensifica nos extremos do perímetro do ícone

(em oposição às áreas em que os cursos hídricos se destacam). Os argissolos da APA

281

concentram-se em fragmentos da face norte e sul do ícone de paisagem. Percebe-se ainda

a ocorrência de organossolos na porção sul do ícone, solos estes que, de acordo com o

IBGE (2015, p. 310), caracterizam-se por constituir-se de “material orgânico proveniente

de acumulação de restos vegetais em grau variado de decomposição, em ambientes mal a

muito mal drenados, ou úmidos de altitude elevada, que ficam saturados com água por

poucos dias no período chuvoso”.

O ícone de paisagem APA Várzeas e Ilhas do Rio Paraná está inserido na unidade

climática B2-X-a-b delimitada por Zavattini (2009), a qual de acordo com o autor op. cit

(p. 119):

Os índices pluviométricos nos vales do Ivinhema e Pardo (Xa) giram em torno

de 1.300 a 1.500 mm, com fortes variações anuais, caso dos anos de 1983 e

1985 (de 1.400 a 2.100 mm e de 1.000 a 1.400 mm, respectivamente). Vale

destacar que nessa porção as chuvas de primavera são superiores às de verão,

e que no período outono-inverno os índices ficam ao redor de 400/500 mm. Já

a porção meridional Xb (vales dos rios Amambaí e Iguatemi) é mais bem

regada que a anterior (de 1.500 a 1.700 mm), no que se assemelha bastante ao

centro-sul do Planalto Divisor (VII). Observe-se que as chuvas de primavera

dessa porção também são superiores às de verão, aproximando-a da porção Xa,

mas seus índices de outono-inverno já são bem maiores (de 500 a 600 mm) que

os daquela.

Ainda discorrendo sobre a condição climática das unidades de contemplam o ícone

de paisagem, Zavattini (2009) lembra que, na porção Xb, os totais dos períodos de verão,

outono e inverno apresentam índices muitos semelhantes quando comparados entre si,

acarretando assim em uma equilibrada distribuição pluviométrica anual.

4.4.5.1 Relevo APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná

Assim como os demais ícones de paisagens abordados na pesquisa, o relevo

também se apresenta como um notório elemento estrutural que destaca a paisagem do

ícone APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná. Entretanto, neste caso, diferentemente dos

relevos dos outros ícones de paisagem, aqui o relevo se destaca não por seus contrastes

de altos índices altimétricos, mas sim pelas relevantes áreas planas associadas a

diversidade hídrica que englobam essa porção de Mato Grosso do Sul.

O relevo do ícone é estruturado em duas feições geomorfológicas bem definidas:

os planaltos sul-mato-grossenses e as planícies do rio Paraná. Apesar de transição destas

áreas ocorrerem de maneira quase imperceptível, é possível descrever algumas

características que distinguem as duas feições de relevo apontadas no mapeamento.

282

Quanto aos planaltos sul-mato-grossenses (figura 104), o IBGE (2009, p. 30) indica

que, estavas feições geomorfológicas “Os planaltos são conjuntos de relevos planos ou

dissecados, de altitudes elevadas, limitados, pelo menos em um lado, por superfícies mais

baixas, onde os processos de erosão superam os de sedimentação”. Neste contexto, os

planaltos sul-mato-grossenses presentes no perímetro do ícone de paisagem estão

localizados em áreas de transição com as feições mais planas da borda sudeste de Mato

Grosso do Sul.

Figura 104 - Paisagem observada no Portal do Parque Estadual Várzeas do rio

Ivinhema, localizado na área que divide as feições dos relevos ligados aos planaltos das

áreas de planícies.

Autor: LIMA, 2020.

Já as planícies do rio Paraná (figura 105), conforme sugere a denominação da forma

de relevo, está intrinsicamente com os recursos hídricos da região, abarcando extensões

territoriais margeadas por rios, riachos, ribeirões e lagos/lagoas, sendo caracterizado

como por relevos de planícies fluviais. O mapa apresentando na figura 106 refere-se aos

tipos de relevos encontrados no ícone.

283

Figura 105 - Observação aérea das planícies do rio Paraná.

Autor: LIMA, 2019.

284

Figura 106 - Relevo da APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná.

Elaboração: LIMA, 2020.

285

4.4.5.2 Vegetação/usos das terras APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná

Ao discorrer sobre a vegetação e usos das terras do ícone de paisagem APA Ilhas e

Várzeas do Rio Paraná, convém ressaltar que, apesar das vegetações nativas não

constituírem os maiores percentuais quantitativos dentro do perímetro do ícone, estas

possuem relevante papel na estruturação das paisagens da área pesquisada,

principalmente nas áreas em que a diversidade hídrica se apresenta de maneira mais

intensa.

Na aferição dos tipos de vegetação e usos das terras do referido ícone, é possível

observar a concentração de áreas de savanas, florestas estacionais, pastagem e de cultivos

diversos. No caso das vegetações nativas do tipo savana (figura 107), quando comparadas

aos outros tipos de vegetações/usos, percebe-se um quantitativo reduzido das savanas,

concentradas basicamente na região central do ícone de paisagem, próxima da área

transitória entre os planaltos e as planícies, sendo constituída por áreas de savanas

arbóreas (IBGE, 2012).

Figura 107 - Exemplares de vegetação do tipo savana encontradas na faixa central do

ícone de paisagem.

Autor: LIMA, 2020.

286

Outra importante vegetação nativa que pode ser encontrada no ícone de paisagem

APA Ilhas e Várzeas do rio Paraná são as florestas estacionais (figura 108). Tomada as

características a atribuídas pelo IBGE (2012) a esse tipo de vegetação, as florestas

estacionais estão intensamente presentes nas ilhas formadas nos entrelaces do rio Paraná,

bem como margeiam o entorno de outros canais fluviais do ícone.

Figura 108 - Predominância das florestas estacionais nas faixas ligadas aos cursos

hídricos do ícone de paisagem APA Várzeas e ilhas do Rio Paraná.

Autor: LIMA, 2020.

Considerada a forma de uso das terras que abrangem as maiores porções territoriais

do ícone de paisagem, as áreas de pastagem (figura 109). Com exceção das áreas brejosas,

as quais dificultam as ações dessa atividade, os campos de pastagem podem ser

encontrados nos demais pontos do ícone, principalmente nas feições associadas aos

planaltos sul-mato-grossenses.

287

Figura 109 - Identificação de área de pastagem no perímetro do ícone.

Proporcionalmente ao perímetro do ícone, está é a dinâmica territorial que predomina

nessas áreas.

Autor: SILVA, 2020.

Quanto as áreas dedicadas a agricultura (figura 110), estas estão concentradas na

face norte do ícone, estabelecidas em áreas onde os latossolos e os argissolos são

predominantes. Além disso, nos pontos onde essa atividade é desenvolvida, a rede de

drenagem apresenta-se como fator favorável para seu desenvolvimento. Quanto aos tipos

de vegetações e usos das terras no ícone, a figura 111 apresenta tais informações.

288

Figura 110 - Áreas dedicadas a agricultura, no território de Naviraí-MS, ainda no

perímetro do ícone de paisagem

Autor: SILVA, 2020.

289

Figura 111 - Vegetação/usos das terras da APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná

Elaboração: LIMA, 2020.

290

4.4.5.3 Rede de Drenagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná

A drenagem do ícone de paisagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná (figura 114)

é tomada como um dos principais aspectos físicos que valorizam a estrutura das paisagens

nesta área, tanto no aspecto visual quanto funcionam. Neste âmbito, o relevante número

de cursos hídricos que integram a área é de suma importância para a manutenção das

paisagens em questão, principalmente no que tange a preservação/conservação das

vegetações nativas do ícone.

Quando ao padrão de drenagem, o ícone é caracterizado pelo formato dentrítico,

sendo estruturado por canais fluviais meandrantes. Entretanto, as feições que ganham

destaque no ícone de paisagem é o rio Paraná (figura 112), associado ao canal fluvial do

tipo anastomosado, tipo tipologia a qual é designada pelo IBGE (2009, p. 95) como:

“Forma ramificada em canais múltiplos, largos e relativamente rasos que

transportam grande volume de carga de fundo em setores de gradiente mais

elevado. A natureza do substrato que favorece este padrão é constituída por

solos impermeáveis que auxiliam o escoamento rápido na superfície”.

Ainda com o autor op. cit. (p. 96) “O sistema fluvial anastomosado está interligado

a ambientes de leques aluviais, bem como a leques deltaicos”, condição que se assemelha

ao observado nos trechos observados do ícone de paisagem.

Figura 112 - Percepção aérea do padrão anostomosado associado ao curso do rio Paraná

no perímetro do ícone de paisagem.

Autor: LIMA, 2020.

291

Além do rio Paraná, a drenagem da área em questão também contempla córregos,

ribeirões, lagos/lagoas, veredas e outros relevantes rios, tais como: o Amambaí (figura

113), o Iguatemi, o Ivinhema e o Samambaia.

Figura 113 - Ponto de encontro do rio Amambaí com o rio Paraná.

Autor: LIMA, 2020.

292

Figura 114 - Rede de drenagem da APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná.

Elaboração: LIMA, 2020.

293

4.4.6 Serra da Bodoquena

Faça a leitura do QR code com seu dispositivo para saber mais sobre o ícone, ou acesse:

https://www.youtube.com/watch?v=XyRu9QiF40U

Localizado na porção sudoeste de Mato Grosso do Sul, o ícone de paisagem Serra

de Bodoquena é caracterizado por uma relevante faixa de relevo cárstico, condição a qual

designa paisagens singulares nestas áreas, tanto em função de sua variedade de fauna e

flora, quanto em função da ocorrência de cursos hídricos com águas cristalinas. Tais

características tornam a as paisagens da Serra da Bodoquena reconhecidas em âmbito

nacional e internacional, atraindo fluxos de turísticos para a visitação de diferentes pontos

do ícone.

No caso do ícone Serra de Bodoquena, este é dotado de condições físicas singulares,

as quais propiciam o desenvolvimento de rotas turísticas, conforme sugere Fernandes

(2009). Ainda de acordo com o autor, tais características podem ser marcantes a ponto de

relacionar cidades e regiões diretamente ao ícone, neste caso, da Serra da Bodoquena e

sua intrínseca relação com o município homônimo Bodoquena-MS, bem como aqueles

localizados em seu entorno, Bonito-MS e Jardim-MS.

Para a compreensão das paisagens da Serra da Bodoquena, buscou-se realizar um

trabalho de campo nos dias 31 de julho e 1 de agosto de 2021 nas áreas que compreendem

o ícone de paisagem (figura 115). Na ocasião, a expedição teve apoio da Fundação

Neotrópica do Brasil, representada na figura da colaboradora Fernanda Cano de Andrade

Marques, a qual também compõem o quadro de discentes do PPGG-UFGD em nível de

mestrado. O procedimento permitiu a coleta de pontos de GPS, anotações campo,

registros fotográficos e mapeamento aéreo de drone.

294

Figura 115 - Procedimentos de campo no ícone Serra da Bodoquena

Autor: LIMA, 2021

Para um mapeamento satisfatório dos conjuntos paisagísticos em questão e,

considerando a extensão do ícone, buscou-se estabelecer pontos de paradas estratégicos,

de maneira a contemplar uma maior cobertura das áreas de interesse e, consequentemente,

subsidiar as análises dos componentes das paisagens. Dentre as dificuldades encontradas,

ressalta-se a mudança do tempo na manhã do dia 1 de agosto que, em função das

características chuvosas, limitou a qualidade dos registros fotográficos e dos

mapeamentos aéreos (figura 116).

Figura 116 - Procedimentos de campo realizados durante período chuvoso na Serra da

Bodoquena

Autor: LIMA, 2021

295

No que tange a estrutura litológica do ícone, está possui suas bases conformadas

pela Formação Bocaína, caracterizado por seus conjuntos calcários, os quais contemplam

quase que toda a totalidade do conjunto paisagístico, ligando-se diretamente com os

relevos de serras e morrarias que caracterizam o ícone. Quanto as demais litologias

mapeadas, destaca-se a ocorrência da Formação Xaraiés e Depósitos Aluvionares, ambas

ligadas ao período geológico mais recente do quaternário, e que foram mapeados na faixa

central do ícone, área em que há a junção dos dois grandes conjuntos de relevo que

formam a serra. Além das supracitadas litologias, percebe-se também uma pequena

ocorrência da Formação Cerradinho, localizada na porção nordeste do ícone (LACERDA

FILHO et. al. 2006).

Em consonância com a ocorrência litologias apresentadas, aponta-se a

predominância dos solos do tipo Chernossolo Rindizico Artico, associado às áreas ligadas

a Formação Bocaína e, consequentemente, com os pontos mais altos dos relevos do ícone,

sendo caracterizados como solos rasos e com riqueza orgânica, relacionada com as

grandes concentrações de vegetação nativa nestes pontos. Já na parte central do ícone de

paisagem, é possível observar a ocorrência de outras tipologias pedológicas, associadas

aos Gleissolos e Nitossolos, ligados aos pontos mais baixos da serra. É possível observar

ainda pequenas ocorrências de Vertissolos e Neossolos, nas porções norte e central,

respectivamente, os quais ligam-se às encostas das serras do ícone (IBGE, 2015).

Acerca do aspecto climático do ícone de paisagem Serra da Bodoquena, este é

compreendido quase na sua totalidade pela unidade climática B1-IV e, relaciona-se

parcialmente com a unidade B1-III na porção nordeste do ícone. De acordo com Zavattini

(2009, p. 114), a unidade B1-IV está associada diretamente ao Planalto da Bodoquena:

Situado ao sul da faixa zonal divisora (B1) e estendido “grosseiramente” no

sentido norte-sul, contém picos que ultrapassam 700 metros de altitude e

possui as seguintes características pluviométricas: índices anuais entre 1.200 e

1.400 mm, chuvas de primavera ligeiramente superiores às de verão e período

outono-inverno com valores ao redor de 300 mm. Nessa porção, onde as

massas de ar polar (20% – PA e de 25% a 15% – PV) costumam apresentar

índices de participação superiores aos da onda de leste (de 20% a 15%), e o

número de passagens de FPA (eixo principal) é quase tão elevado quanto o da

vizinha região VII (centro-sul do Planalto Divisor), o papel exercido pela onda

do interior (TC) é considerável (de 20% a 30%), levando a crer na ocorrência

de contrastes térmicos acentuados entre o verão e o inverno. Infelizmente, tais

fatos ficam sem comprovação por causa da inexistência de postos

meteorológicos na área, onde se destacam as cidades de Bonito e Bodoquena.

296

Neste âmbito, é possível perceber a ligação sistêmica entre os componentes base

que estruturam as paisagens do ícone, os quais possuem também uma interrelação com

os tipos de relevos, vegetações/usos das terras e cursos hídricos que serão apresentados e

discutidos a seguir.

4.4.6.1 Relevo Serra da Bodoquena

Conforme a própria nomenclatura do ícone sugere, o relevo apresenta-se como uma

condição singular na configura do conjunto paisagístico da Serra de Bodoquena. Neste

âmbito, considerando a atividade turística, tais condições oferecem uma estrutura propícia

para o desenvolvimento de atividades, tanto em por conta das funcionalidades dos

elementos que conformam as paisagens, quanto em função da qualidade visual. Conforme

apontado por Salzo (2006), a Serra da Bodoquena é composta por áreas em que as

altitudes variam entre 200 e 800 metros.

Dentre as três variações de relevos mapeados, a tipologia predominante refere-se

aos Planaltos da Bodoquena, os quais, de acordo com o IBGE (2009, p. 30), destacam-se

enquanto relevos planos ou dissecados, associados a elevadas altitudes, e que são “[...]

limitados, pelo menos em um lado, por superfícies mais baixas, onde os processos de

erosão superam os de sedimentação”. No caso do referido ícone, os planaltos carbonáticos

propiciam a materialização de formações dissecadas, as quais estabelecem uma singular

configuração geomorfológica nestas porções, associada às áreas mais altas do ícone,

conforme representado na figura 117.

297

Figura 117 - Planaltos da Bodoquena, porção central do ícone de paisagem

Autor: LIMA, 2021

A segunda forma de relevo encontrada ao longo da extensão do ícone são as

depressões sul-mato-grossenses, as quais, de acordo com o IBGE (2009), configuram-se

como relevos planos ou ondulados localizados nas face mais baixas do ícone, e que são

associadas a rochas de classes variadas. No que concerne ao ícone de paisagem, a

ocorrência deste tipo de relevo é muito pequena, podendo ser encontrada em pequenas

porções nos extremos sul e norte do ícone, conforme figura 118.

Figura 118 - Depressões sul-mato-grossenses na faixa norte da Serra da Bodoquena

Autor: LIMA, 2021

298

Por fim, a terceira forma de relevo encontrada no ícone liga-se às serras e morrarias

do baixo Paraguai, as quais estão localizadas e pequenos fragmentos da faixa oeste-

noroeste do ícone de paisagem (figura 119). Segundo o IBGE (2009, p. 30), este tipo de

relevo liga-se aos relevos acidentados, os quais podem estar materializados a partir de

rochas diversas, “[...] formando cristas e cumeadas ou as bordas escarpadas de planaltos”.

Tais características são condizentes com o aspecto sistêmico da paisagem, uma vez que,

tais relevos podem ser encontradas nas bordas dos planaltos, os quais permeiam quase a

totalidade do ícone.

Figura 119 - Enquadramento do relevo ligado às serras e morrarias do baixo Paraguai

Autor: LIMA, 2021

A figura 120 retrata os tipos de relevo supracitados que foram mapeados no ícone

de paisagem Serra da Bodoquena.

299

Figura 120 - Relevo da Serra da Bodoquena

Elaboração: LIMA, 2021

300

4.4.6.2 Vegetação/usos das terras Serra da Bodoquena

Além da condição geomorfológica, o ícone também é permeado por um relevante

quantitativo de vegetações nativas ao longo de sua extensão, condição a qual agrega

maiores índices de interesses turísticos nestes conjuntos paisagísticos, tanto por sua

funcionalidade, quanto a sua qualidade visual. Nas áreas mapeadas, foi possível perceber

a incidência de vegetações dos tipos florestas estacionais e savanas, as quais são

intercaladas por áreas de pastagem.

Quanto as florestas estacionais (figura 121) encontradas ao longo da extensão do

ícone, percebe-se que este tipo de vegetação é predominante nos conjuntos paisagísticos,

podendo ser associado às faces norte e sul do ícone. Segundo o IBGE (2012) este tipo de

vegetação associa-se ao clima estacional. Ainda de acordo com o autor op. cit., este tipo

de vegetação pode ser encontrado com maior facilidade em áreas da depressão pantaneira

sul-mato-grossense, margeando cursos hídricos da Bacia do Rio Paraguai, como

observado na área compreendida pelo ícone em questão.

Figura 121 - Florestas estacionais, predominantes na cobertura da Serra da Bodoquena

Autor: LIMA, 2021

Em paisagens tomadas prioritariamente por vegetações do tipo floresta estacional,

é possível ainda identificar no ícone pequenos fragmentos de savanas, as quais estão

301

localizadas em pequenas bordas da porção oeste/centro-oeste da área pesquisada, em

trechos de transição de áreas mais altas e as pastagens. Dentre as variações de tipos de

savanas apontadas pelo IBGE (2012), o ícone de paisagem Serra da Bodoquena

contempla diminutos fragmentos de savanas gramíneo-lenhosas, arborizadas e

florestadas. Tais vegetações são características em áreas de cerrado e, consequentemente,

comumente encontradas nas áreas centrais do Brasil, dispondo de exemplares

vegetacionais de pequeno porte (figura 122).

Figura 122 - Percentuais de savana florestadas na faixa oeste da Serra da Bodoquena

Autor: LIMA, 2021

Associadas às porções com menores declividades no relevo de planalto do ícone,

as áreas de pastagens podem ser identificadas principalmente na faixa central do ícone de

paisagem, mais especificamente na faixa intermediária entre os dois grandes blocos de

relevo que caracterizam este conjunto paisagístico. Conforme apontado pelo IBGE

(2012), em uma escala regional e exploratória, nem sempre é possível

identificar/diferenciar precisamente as áreas de pastagem (figura 123) e de agricultura

cíclica (figura 124), de maneira que, é possível identificar alguns campos de cultivos

nessas porções.

302

Figura 123 - Campos de pastagem na porção central da Serra da Bodoquena

Autor: LIMA, 2021

Figura 124 - Cultivo de aveia entre os fragmentos da Serra da Bodoquena

Autor: LIMA, 2021

A figura 125 sintetiza o mapeamento da vegetação/usos das terras no ícone de

paisagem Serra da Bodoquena, a qual possibilita visualizar a espacialização das variações

supracitadas nos parágrafos anteriores.

303

Figura 125 - Vegetação/usos das terras da Serra da Bodoquena

304

Elaboração: LIMA, 2021

305

4.4.6.3 Rede de Drenagem Serra da Bodoquena

Diante das singularidades relacionadas ao ícone de paisagem Serra da Bodoquena,

os cursos hídricos apresentam-se como uma importante variável, seja por seu caráter

visual, seja por suas funcionalidades, uma vez que, em função de sua estruturação cárstica

e, a ocorrência de rochas calcárias, os conjuntos paisagísticos encontrados nessa porção

relacionam-se diretamente com os processos hídricos. Neste âmbito, além da estruturação

dos conjuntos geomorfológicos, é possível observar nestas áreas a concentração de cursos

hídricos com relevantes índices de cristalinidade, fato que, do ponto de vista turístico,

apresenta-se como importante variável do ponto de vista visual e funcional para práticas

ligadas ao turismo.

No que tange o padrão de drenagem observado no ícone, percebe-se o predomínio

do padrão dentrítico, o qual é condizente com a estrutura de rochas estratificadas

horizontalmente, conforme características observadas na estruturação dos conjuntos

paisagísticos do ícone. No perímetro pesquisado, percebe-se distribuições deste padrão

de drenagem em todas as direções do ícone de paisagem, característica a qual é

relacionada ao referido padrão de drenagem pelo IBGE (2009).

Tal padrão de drenagem é composto pelo predomínio de canais retilíneos e

meandrantes, os quais apresentam-se de maneira alternada, muito em função da

variabilidade do relevo ao longo da extensão do ícone de paisagem. Dentre os principais

cursos hídricos no perímetro do ícone, destaca-se os rios Formoso, Salobra e Perdido

(figura 126). Porém, ao longo do ícone é possível encontrar ainda uma série de córregos

de vazão menos representativas, mas que também integram os cursos hídricos destes

conjuntos paisagísticos (figura 127).

306

Figura 126 - Vista aérea do rio Salobra

Autor: LIMA, 2021

Figura 127 - Trecho do córrego Três Morros

Autor: LIMA, 2021

Na figura 128 é apresentada a espacialização da drenagem do ícone de paisagem

Serra da Bodoquena.

307

Figura 128 - Rede de drenagem da Serra da Bodoquena

Elaboração: LIMA, 2021

308

309

CAPÍTULO 5 – ANÁLISE DOS ÍCONES DE PAISAGEM DO MS

5.1 Níveis de Turismo de Natureza nos ícones de paisagem de Mato Grosso do Sul

Aqui, apresenta-se os diferentes níveis de Turismo de Natureza em cada um dos

ícones de paisagem elencados em Mato Grosso do Sul. Ressalta-se que, para o

estabelecimento de tais níveis, foram levados em conta a definição de parâmetros para a

aferição das referidas paisagens, conforme indicações de autores como Vieira et. al.

(2018), Siefert e Dos Santos (2016) e Mendes (2010).

Neste âmbito, buscar-se-á a seguir apresentar uma descrição acerca dos referidos

conjuntos paisagísticos os quais, em função de suas variações de qualidade visual e

funcional estabelecidos por meio da classificação dos relevos, vegetação/usos das terras

e drenagem, permitiram estabelecer os três níveis de Turismo de Natureza discutidos no

capítulo 2 desta pesquisa.

É importante pensar que, as classificações dos elementos que compõem as

paisagens foram estabelecidas dentro da complexidade paisagística de cada ícone, ou seja,

um mesmo elemento pode assumir diferente referência aos níveis de Turismo de Natureza

a depender dos elementos que norteiam/destacam (seja uma paisagem de relevo

destacado, de relevância de um determinado tipo de vegetação, ou da predominância de

um representativo quantitativo hídrico).

Não se trata aqui de mapear e determinar qual paisagem é “potencial ou não” para

o Turismo de Natureza, mas sim apontar que os ícones se apresentam como conjuntos

relevantes para estas práticas turísticas e propor possíveis orientações frente as variadas

atividades deste segmento que podem ser desenvolvidas nos diferentes níveis

identificados.

5.1.1 Maciço do Urucum

O ícone de paisagem Maciço do Urucum materializa-se como importante conjunto

paisagístico em Mato Grosso do Sul muito em função de sua singularidade de relevo, o

qual é permeado predominantemente por morrarias e, consequentemente, propicia a

concentração de relevantes percentuais de vegetação nativa, principalmente nas faixas de

maiores cotas altimétricas e declividades.

310

Diante de tais características expostas, percebe-se basicamente um predomínio de

áreas ligadas aos níveis 1 e 3 de Turismo de Natureza, percebendo-se apenas diminutos

percentuais ligados ao nível 2 no extremo nordeste e em pontos a sudeste do ícone, os

quais estão atrelados principalmente aos quantitativos mais expressivos de massas d’água

no ícone. Assim sendo, convém destacar e descrever os níveis que prioritariamente

conformam o ícone, ou seja, as áreas identificadas em nível 1 e 3.

A classificação dos níveis no ícone praticamente se resume a uma oposição das

áreas mais altas e com maior conservação da vegetação nativa (nível 1) e as áreas como

maiores intervenções antrópicas (nível 3).

Quanto às áreas ligadas ao nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de paisagem

Maciço do Urucum, é possível inferir que, seu mapeamento ocorre em função

principalmente da ocorrência das áreas de morraria, relevo predominante no ícone, bem

como sua associação com as áreas conservadas de florestas estacionais (figura 129). Tal

combinação acarreta em um conjunto paisagístico singular, o qual apresenta-se como

relevante lócus funcional para atividades ligadas ao nível 1 do Turismo de Natureza.

No âmbito das possibilidades de atividades turísticas a serem desenvolvidas nas

referidas áreas, indica-se uma condição oportuna para desenvolvimento de práticas

contemplativas, visto a amplitude de vegetações nativas, bem como a singularidade

geomorfológica e litológica associada às paisagens do ícone. Além do ponto de vista

contemplativo, muito em função das especificidades estruturais dos elementos

supracitados, há a possibilidade também da exploração didático/científica acerca das

características encontradas nestas paisagens. Assim sendo, as práticas de trilhas,

caminhadas, expedições didáticas/científicas e expedições fotográficas apresentam-se

como práticas recomendadas nessas porções do Maciço do Urucum.

311

Figura 129 - Paisagem relacionada com o nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Maciço do Urucum.

Autor: LIMA, 2021

Já os demais fragmentos paisagísticos predominantes no ícone relacionam-se como

o nível 3 de Turismo de Natureza. Do ponto de vista estrutural, os referidos conjuntos

estão intrinsicamente relacionados com as áreas com maiores índices de intervenções

antrópicas, as quais ligam-se principalmente com as áreas de pastagem e mineração.

Quanto ao relevo, tais conjuntos se estabelecem basicamente nas porções das planícies e

pantanais, entendendo-se até as áreas limítrofes com as morrarias (figuras 130 e 131).

Muito em função do alto grau de intervenção humana, tais paisagens apresentam-

se como possível lócus de atividades ligadas ao nível 3 de Turismo de Natureza,

possibilitando o desenvolvimento de práticas ligadas ao ambiente rural, tais como

passeios a cavalo, vivência do plantio de culturas diversas, vivência na criação de animais,

contemplação da paisagem rural, instâncias ligadas a tratamentos de saúde, etc.

312

Figura 130 - Paisagem relacionada com o nível 3 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Maciço do Urucum. Destaque para áreas de pastagens.

Autor: LIMA, 2021

Figura 131 - Paisagem relacionada com o nível 3 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Maciço do Urucum. Destaque para áreas de mineração.

Autor: LIMA, 2021

313

Algo a se destacar é a disponibilidade da Estrada Parque Pantanal na MS-228, a

qual permeia o entorno do ícone de paisagem e, consequentemente, potencializa o uso de

tais paisagens enquanto atrativo para o desenvolvimento de atividades ligadas ao Turismo

de Natureza, seja no nível 1 ou 3. No âmbito da atividade turística, este ícone de paisagem

atrela-se a concepção indicada por Catão (2013), uma vez que, os conjuntos paisagísticos

envolvidos pressupõe sua valorização enquanto atrativos para o turismo, passíveis de

serem organizados enquanto produtos e roteiros, bem como serem incluídos em projetos

de desenvolvimento turístico de destinos. A figura 132 compreende o mapa de

espacialização dos níveis de Turismo de Natureza no ícone de paisagem Maciço do

Urucum.

314

Figura 132 - Níveis de turismo de natureza no Maciço do Urucum

Elaboração: LIMA, 2021

315

5.1.2 Serra do Amolar

Acerca dos níveis de Turismo de Natureza mapeados no ícone de paisagem Serra

do Amolar, conforme observado nas análises da estrutura de suas paisagens, percebe-se

conjuntos paisagísticos de relevante singularidade, de importante grau de naturalidade,

com diversidade de elementos ligados a fauna, flora, relevos e condições hídricas, e por

fim, conta com poucas ações detratoras em suas paisagens.

O nível 1 (figura 133) de relação do ambiente com atividades ligadas ao Turismo

de Natureza é identificado quase que na totalidade do ícone de paisagem Serra do Amolar,

ressaltando assim a excepcionalidade dos conjuntos paisagísticos do ícone.

Ainda sobre o nível 1, é possível analisar que, considerando os parâmetros

utilizados para o cruzamento de dados, o relevo das morrarias do Amolar é predominante

na delimitação deste nível, compreendendo ainda áreas relacionadas ao pantanal do

Uberaba-Mandioré. Quanto a vegetação, percebe-se a predominância das vegetações do

tipo savanas, enquanto as florestas estacionais estão presentes em pequenos fragmentos

da face sul do ícone de paisagem. Considerando as bases teóricas associadas aos níveis

de relação do ambiente com o Turismo de Natureza, o nível 1 mapeado na Serra do

Amolar pode ser associado a atividades como a contemplação da paisagem litológica,

geomorfológica e de fauna e/ou flora, contemplação esta que pode ser delineada durante

a execução de caminhadas/trilhas. Além disso, considerando a diversidade hídrica

encontrada nas proximidades das áreas designadas ao nível 1, indica-se ainda a

possibilidade de atividades como mergulhos, práticas de canoagem e stand up paddle.

316

Figura 133 - Paisagem relacionada com o nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Serra do Amolar.

Autor: LIMA, 2019.

Já as áreas relacionadas com o nível 2 (figura 134) de relação do ambiente com

atividades ligadas ao Turismo de Natureza são encontradas em pequenas faixas do ícone

de paisagem, principalmente na face leste. Associa-se a este nível principalmente os

relevos das planícies e pantanais, agregando ainda fragmentos do pantanal do Uberaba-

Mandioré. No que tange aos tipos de vegetações, percebe-se a associação das savanas e

das florestas estacionais. Além disso, as massas d’água do perímetro do ícone também

são associadas ao nível 2.

Ao correlacionar o nível 2 com o Turismo de Natureza, ressalta-se que, as paisagens

deste nível são tomadas de maneira indireta nas atividades deste segmento. Nesta

concepção, é possível vislumbrar o desenvolvimento de atividades ligadas a vertente da

aventura, tais como atividades aéreas ligadas a práticas de asa delta (desde que sejam

estruturadas áreas para tais práticas), parapente, balonismo e paraquedismo. Além disso,

atividades como o ciclismo, trilhas/caminhadas, acampamentos e atividades de recreação

em áreas naturais também podem ser associadas a este nível. No que tange aos recursos

317

hídricos presentes nas proximidades das áreas de nível 2, é possível apontar para práticas

de windsurf16 e turismo de pesca e náutico (desde que obedecidas as legislações em vigor).

Figura 134 - Paisagem relacionada com o nível 2 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Serra do Amolar.

Autor: LIMA, 2019.

Por fim, discorre-se sobre as áreas correspondentes ao nível 3 (figura 135) de

relação do ambiente com atividades ligadas ao Turismo de Natureza, as quais ocupam

pequenas porções territoriais, localizadas em faixas da face oeste e uma pequena faixa de

ocorrência a leste do ícone de paisagem. Os relevos deste nível associam-se ao pantanal

do Uberaba-Mandioré e as planícies e pantanais. Quanto as vegetações e usos das terras

relacionadas a este nível, percebe-se uma grande influência das áreas de pastagem,

principalmente nas áreas localizadas na porção oeste, enquanto na face leste, observa-se

pequenos fragmentos de florestas estacionais.

Considerando que este nível privilegia os aspectos naturais como um cenário para

a satisfação de outras intencionalidades, permite-se aferir que, no desenvolvimento do

Turismo de Natureza, o nível 3 do ícone de paisagem Serra do Amolar pode proporcionar

o desenvolvimento de atividades ligadas ao turismo rural (passeios a cavalo, vivência do

plantio de culturas diversas, vivência na criação de animais, etc.), bem como pode

16 Assim como os esportes que lhe deram origem, o windsurf proporciona a seus praticantes um contato

íntimo e direto com a natureza. Os esportistas podem desfrutar da companhia não só do mar, como também

de rios e represas. Para saber mais sobre esta modalidade, acesse:

https://ambientes.ambientebrasil.com.br/ecoturismo/eco-esportes/windsurfing.html

318

propiciar um turismo voltado a convivência das comunidades locais ribeirinhas da Serra

do Amolar. No mapa apresentado na figura 136 é possível observar as áreas onde são

estabelecidos os três níveis de Turismo de Natureza na Serra do Amolar.

Figura 135 - Paisagem relacionada com o nível 3 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Serra do Amolar.

Autor: LIMA, 2019.

De maneira geral, é possível enquadrar o ícone Serra do Amolar naquilo que Hintze

(2013) indica como valorização de paisagens escassas, de maneira que, dotada de um alto

índice de singularidade, a serra desperta o interesse em sua valorização enquanto território

turístico, elencado como oposição a paisagens urbanas ou paisagens com altos índices de

intervenções humanas. Os níveis de Turismo de Natureza no ícone de paisagem Serra do

Amolar são apresentados na figura 136.

319

Figura 136 - Níveis de Turismo de Natureza na Serra do Amolar.

Elaboração: LIMA, 2020.

320

5.1.3 Serra de Maracaju – porção sul

O ícone de paisagem Serra de Maracaju, dentre os conjuntos elencados como alvos

da presente investigação, apresenta-se com aquele que compreende a maior extensão

paisagística a ser analisada. Neste contexto, de maneira a propiciar uma melhor

compreensão da variabilidade das paisagens no ícone, apresentam-se análises em dois

pontos distintos da serra: uma na face central; e um segundo na face sul.

Destarte, muito em função da extensão do ícone e, consequentemente, a variação

estrutural das paisagens (tipos de litologia, formas de relevo, vegetações/formas de uso

da terra, variação hídrica, solos e clima), o ícone Serra de Maracaju conforma uma

diversidade paisagística em diferentes pontos de sua localização. No caso da porção sul,

esta é diretamente influenciada pela condição estrutural da paisagem, a qual propicia uma

intensa atuação de atividades como a agricultura e pecuária.

O nível 1 de Turismo de Natureza (figura 137), ou seja, o qual pressupõe maiores

graus de naturalidade, ocorre em pequenos fragmentos na porção sul do ícone de

paisagem Serra de Maracaju, os quais associam-se basicamente a ocorrência de pequenos

percentuais de savanas, principalmente na região compreendida pelo rio Apa, próximo a

faixa de fronteira com o Paraguai. Tais pontos ligados ao nível 1 associa-se também ao

relevo dos planaltos e patamares da borda ocidental da bacia do Paraná, os quais em escala

de maior detalhamento variam entre relevos levemente ondulados, ondulados.

Quanto ao desenvolvimento de atividades turística neste nível 1 de Turismo de

Natureza no ícone, percebe-se uma limitação, muito em função do diminuto percentual

do referido nível nesta porção da Serra de Maracaju. Assim sendo, dentro das

especificidades supracitadas, permite-se indicar a possibilidade do desenvolvimento de

pontuais atividades que contemple trilhas e contemplação paisagísticas acerca dos

exemplares vegetativos presentes nessa porção, bem como a exploração das condições

hídricas proporcionadas pelo rio APA, como por exemplo, o passeio de barco em

pequenas embarcações em pontos estratégicos do curso hídrico.

321

Figura 137 - Paisagem relacionada com o nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Serra de Maracaju – porção sul.

Autor: LIMA, 2021

No que tange o mapeamento do nível 2 de Turismo de Natureza, este apresenta-se

como a classificação predominante na porção sul do ícone de paisagem Serra de

Maracaju. Sua ocorrência se dá em função da principalmente pelos relevos prevalecentes

dos planaltos e patamares da borda ocidental da bacia do Paraná, os quais, em escala

detalhada, se desdobra em relevos ondulados e fortemente ondulados, relacionados

inclusive com a ocorrência de relevos testemunhos, vide figura 138.

Quanto a cobertura vegetal/usos da terra, o nível 2 na porção sul do ícone, é possível

inferir que, além de pequenos fragmentos de florestas estacionais que tangenciam alguns

cursos hídricos e relevos testemunhos nestas áreas, percebesse a predominância de

pastagens e áreas preparadas ou a serem preparadas para cultivos diversos.

Ao relacionar o referido nível 2 na porção sul do ícone, é possível apontar para

atividades que privilegiem o usufruto das paisagens que contrapõem os relevos

testemunhos e trechos fortemente ondulados, os quais privilegiam, em contraste com a

vegetação nativa que persistem, estruturas favoráveis para o desenvolvimento de

trekkings, rotas de mountain bike, trilhas de montanhismo nas parte mais altas, bem como

permite ainda o desenvolvimento de atividades aéreas como parapente e balonismo.

322

Figura 138 - Paisagem relacionada com o nível 2 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Serra de Maracaju – porção sul.

Autor: LIMA, 2021

O terceiro e último nível corresponde a uma faixa bem delimitada na porção sul do

ícone Serra de Maracaju. Em suma, o nível 3 (figura 139) relaciona-se principalmente

com os relevos ligados as áreas de depressões sul-mato-grossenses, os quais apresentam

uma intrínseca relação com os extensos campos de pastagem, tendo as vegetações nativas

limitadas a pequenos trechos ligados à cursos hídricos e acompanhados por fragmentos

de florestas estacionais. Neste âmbito, as paisagens ligam-se a relevos de maior

aplainamento à levemente ondulados, as quais privilegiam paisagens homogêneas e aptas

a práticas agropecuárias.

No que tange as possibilidades de atividades turísticas nas porções de nível 3,

percebe-se que, a estrutura paisagística evidenciada nestas áreas apresenta uma forte

tendência as práticas agropecuárias, de maneira que, a atividade turística possa ser

inserida basicamente em função do desenvolvimento do turismo rural, agroturismo,

turismo de experiência, passeios a cavalos, bem como a partir da estruturação de

estâncias.

323

Figura 139 - Paisagem relacionada com o nível 3 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Serra de Maracaju – porção sul.

Autor: LIMA, 2021

Considerando a totalidade do ícone de paisagem Serra de Maracaju, é possível

indicar que, a porção sul, ora apresentada, pode ser apontada como aquela que menos

detém percentuais ligados ao nível 1 de Turismo de Natureza, ou seja, não é permeada

por uma variedade de elementos singulares, nem dispõe de uma relevante quantidade de

elementos que denotam expressivos graus de naturalidade. Tal condição pode ser

justificada em função da aptidão agropecuária destas áreas e, consequentemente,

acarretam e maiores intervenções antrópicas nesta porção do ícone, conforme apontado

por Mato Grosso do Sul (2019).

Tal materialização da paisagem na porção sul do ícone Serra de Maracaju atrela-se

as discussões apresentadas por Sanz e Alonso (1996), UICN (2011) e Olivencia e

Rodriguez (2008), os quais indicam que a configuração atual das paisagens reflete a

organização histórica das sociedades que se estabelecem nos referidos territórios. Neste

âmbito, a dinâmica das paisagens da porção sul do ícone relaciona-se com sua aptidão

estrutural para o desenvolvimento de atividades agropecuárias e, consequentemente, a

exploração de tais atividades pelas sociedades que ali habitam. Na sequência, a figura 140

apresenta os níveis de Turismo de Natureza especializados na porção sul do ícone de

paisagem Serra de Maracaju.

324

Figura 140 - Níveis de Turismo de Natureza na Serra de Maracaju – porção sul

Elaboração: LIMA, 2021

325

5.1.4 Serra de Maracaju – porção central

Ainda no trato do ícone de paisagem Serra de Maracaju, a porção central deste

conjunto paisagístico compreende singulares e representativas paisagens, principalmente

na região dos municípios de Anastácio e Aquidauana, bem como dos distritos de

Piraputanga e Camisão. Contemplado por relevantes cursos hídricos, tais como o rio

Aquidauana, o ribeirão Taquaruçu e um relevante número de córregos, as paisagens desta

porção apresentam-se como áreas passíveis de implementação de atividades ligadas ao

segmento Turismo de Natureza.

Quanto aos níveis de turismo na porção central do ícone, evidenciou-se o

mapeamento apenas dos níveis 1 e 2, de maneira que o nível 3 não foi identificado nessas

áreas do ícone. Assim sendo, as paisagens relacionadas com o nível 1 possuem uma

intrínseca relação com as concentrações de vegetações do tipo savana, localizadas

principalmente na região dos vales da Serra de Maracaju, nas proximidades de

Aquidauana (figura 141).

No que tange os relevos ligados a este nível, ressalta-se que a escala de trabalho

utilizada apresenta um relevo uniforme, ligado aos planaltos e patamares da borda

ocidental da bacia do Paraná, porém, em nível de maior detalhamento observado em

campo, aponta-se para a ocorrência de relevantes conjuntos de relevos escarpados que,

em associação a cursos hídricos como o rio Aquidauana, acarreta na formação dos vales

da Serra de Maracaju. Tal condição pode ser apontada como uma das justificativas para

os relevantes exemplares de vegetação nativa encontrados nestas áreas. Outra importante

informação a ser ressaltada é a presença de terras indígenas nas áreas que compreendem

o nível 1 (Aldeia Limão Verde), as quais são habitadas por comunidades tradicionais que

utilizam tais paisagens para sua subsistência.

Sobre as atividades ligadas ao Turismo de Natureza passíveis de serem realizadas

nas áreas de nível 1 desta porção do ícone, ressalta-se o grande potencial para atividades

contemplativas, uma vez que, observa-se altos índices de qualidade visual e funcional nos

referidos conjuntos paisagísticos. Montanhismo e rapel são atividades passíveis de

sempre exploradas em conjunto com outras atividades contemplativas. Além da variedade

litológica a ser explorada, as paisagens permitem o desenvolvimento de trilhas a fim de

contemplar a geomorfologia, vegetação nativa e faunística destas áreas. A condição

hídrica proporcionada pelo rio Aquidauana também possibilita seu uso enquanto atrativo

326

a partir do desenvolvimento de atividades aquáticas como mergulhos, passeios de

caiaque/canoa e recreações.

Figura 141 - Paisagem relacionada com o nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Serra de Maracaju – porção central.

Autor: LIMA, 2021

A respeito do nível 2 de Turismo de Natureza na porção central do ícone, este

compreende o maior percentual nestas áreas centrais da Serra de Maracaju (figura 142).

Em suma, tais paisagens contrastam com aquelas relacionadas ao nível 1, evidenciando

uma clara dualidade paisagística em função da identificação dos referidos conjuntos

característicos.

Destarte, enquanto o nível 1 relaciona-se com relevos dissecados e vegetações de

savana, o nível 2 dispõe de relevos ondulados à levemente ondulados, os quais são

identificados em um maior detalhamento dos planaltos e patamares da borda ocidental da

bacia do Paraná. Uma outra variação de relevo identificado relaciona-se com as planícies

e pantanais sul-mato-grossenses, mapeados em um pequeno percentual na face oeste do

ícone.

Quanto a vegetação/usos das terras relacionados com o nível 2, liga-se a ocorrência

de florestas estacionais, as quais acompanham o entorno dos cursos hídricos destas áreas,

e que se intercala com áreas de pastagem encontradas ao longo de toda a porção central

do ícone.

327

Para o desenvolvimento de atividades ligadas ao Turismo de Natureza nestas áreas,

aponta-se para a possibilidade de uso dos referidos conjuntos paisagísticos em atividades

de aventura, tais como passeios de bicicleta, criação de áreas de camping e de recreação.

Nos trechos de contraste entre vegetações estacionais e cursos hídricos, se apresenta como

possibilidade o desenvolvimento de trilhas, pesca e outras atividades recreativas

aquáticas.

Figura 142 - Paisagem relacionada com o nível 2 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Serra de Maracaju – porção central.

Autor: LIMA, 2021

Conforme apontado por Lima, Silva, Boin e Medeiros (2020), Mato Grosso do Sul

(2009), Tsilfidis e Soarez Filho (2009) e Lima (2017), a Serra de Maracaju,

principalmente em sua porção central, apresenta-se como um conglomerado de conjuntos

paisagísticos singulares, os quais são permeados por relevantes percentuais de vegetação

nativa, importantes cursos hídricos e trechos de destacados relevos. Porém, tais paisagens

se intercalam com trechos em que a agricultura e pecuária apresentam-se de maneira mais

intensa e, consequentemente, acarretam na preocupação da manutenção dos referidos

conjuntos. Neste âmbito, atividades alternativas e desenvolvidas de maneira planejada,

tais como o Turismo de Natureza, podem pressupor dinâmicas que permitam a

manutenção das paisagens supracitadas.

328

Assim sendo, do ponto de vista turístico, é importante ressaltar que a porção central

do ícone de paisagem Serra de Maracaju está localizada no chamado “Portal do Pantanal”,

ou seja, uma rota intrinsecamente ligada a uma das regiões mais exploradas pelo Turismo

em Mato Grosso do Sul. Além disso, é nesta porção também que está localizada a Estrada

Parque (MS-450), que liga Aquidauana e Dois Irmãos do Buriti, a qual é permeada por

sítios arqueológicos em meio aos vales da Serra de Maracaju. A figura 143 apresenta os

níveis de Turismo de Natureza nesta porção do ícone.

329

Figura 143 - Níveis de Turismo de Natureza na Serra de Maracaju – porção central.

Elaboração: LIMA, 2021

330

5.1.5 APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná

O ícone de paisagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná apresenta-se como um

conjunto paisagístico com relevantes singularidades a serem destacadas. Além da

explícita predominância hídrica, suas paisagens são encontradas em uma zona de

intersecção de limites estaduais: Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná. Neste âmbito,

limitou-se a estabelecer tratativas no âmbito sul-mato-grossense, uma vez que, por meio

de levantamentos de campo, foi possível perceber que a exploração turística por parte do

estado paranaense apresenta-se em um estágio mais avançado quando comparada a

realidade de Mato Grosso do Sul – segundo apontamentos da Gerência de Meio Ambiente

de Naviraí-MS (GEMA) e da Gerência de obras de Naviraí-MS (GEROB).

Com as análises visuais e funcionais das paisagens do ícone de paisagem, foi

possível aferir a ocorrência bem definida dos três níveis de Turismo de Natureza

mapeados no ícone. Especificamente neste caso, foi possível perceber uma grande

influência equitativa na delimitação dos níveis, percebendo-se uma clara importância dos

tanto dos tipos de relevo, quanto das vegetações/usos das terras e a amplitude hídrica do

ícone.

No caso do nível 1 de Turismo de Natureza, este foi mapeado em áreas ligadas

principalmente aos trechos em que se destaca a vazão do rio Paraná, principal curso

hídrico que norteia o ícone. Neste sentido, as paisagens refletem configurações singulares,

uma vez que, tal amplitude hídrica contrasta com importantes concentrações de

vegetações nativas do tipo savanas, bem como trechos de florestas estacionais que

permeiam o entorno dos cursos hídricos dessas áreas. O relevo também se destaca, uma

vez que, diferentemente dos outros ícones de paisagens apresentados até então, estas áreas

se destacam por relevos aplainados ligados às planícies do rio Paraná, configuração a qual

denota ainda mais singularidade a tais paisagens (figura 144).

Desta forma, ao relacionar tais paisagens como o nível 1 de Turismo de Natureza,

percebe-se a possibilidade de desenvolvimento de atividades ligadas a contemplação das

referidas paisagens, a qual pode ser estimulada por meio de passeios em embarcações de

pequeno e médio porte, permitindo a visitação das ilhas que são formadas ao longo da

extensão do ícone. Neste âmbito, a observação pode privilegiar o reconhecimento de

diferentes espécies de fauna e flora, as quais se estabelecem em função das características

estruturais das paisagens do ícone. Considerando as supracitadas paradas nas ilhas, é

331

possível o desenvolvimento de roteiros de trilhas contemplativas, bem como a proposição

de atividades aquáticas como mergulhos, práticas de canoagem e stand up paddle.

Figura 144 - Paisagem relacionada com o nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná.

Autor: LIMA, 2021

Assim como no nível 1 de Turismo de Natureza, o nível 2, encontrado

principalmente nas poções centrais e nordeste do ícone, também liga-se aos relevos das

planícies do rio Paraná, os quais estruturam paisagens com baixas variações de

declividade, compreendendo as áreas do entorno dos principais curso hídricos do ícone

de paisagem (figura 145). Quanto aos tipos de vegetações e usos das terras, este nível é

associado aos campos de pastagem e de agricultura, os quais se intercalam entre as

florestas estacionais e cursos hídricos ligados ao nível 1 de Turismo de Natureza.

Para a atividade turística, ressalta-se que é neste nível que está localizado o portal

do Parque Natural Municipal de Naviraí, o qual apresenta-se como uma importante

estrutura passível de auxiliar na proposição de atividades turísticas nestas áreas.

Considerando as características físicas associadas a este nível, percebe-se a possibilidade

do desenvolvimento de rotas para passeios de bike, estruturação de áreas de camping e

estimulo ao turismo de pesca nos cursos hídricos compreendidos por estas áreas, tais

como o rio Ivinhema, rio Amambai e rio Iguatemi.

332

Figura 145 - Paisagem relacionada com o nível 2 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná.

Autor: LIMA, 2021

No trato do nível 3 de Turismo de Natureza, este foi mapeado prioritariamente na

faixa oeste do ícone de paisagem, porções as quais caracterizam-se por relevos associados

aos planaltos sul-mato-grossenses, compreendendo as partes mais altas do ícone e

dispondo de relevos levemente ondulados (figura 146). Diferentemente dos outros níveis

identificados, as porções que contemplam o nível 3 permeiam áreas com cursos hídricos

pouco representativos. Muito em função da predominância de latossolos nestas áreas,

percebe-se que as vegetações/usos das terras privilegiam as práticas agropecuárias, de

maneira que as vegetações nativas restringem-se a reservas legais e pequenas matas de

galeria.

Diante das características expostas, aponta-se para a possibilidade de estimulo a

atividades turística ligadas às práticas do agroturismo e turismo rural, uma vez que,

percebe-se a concentração de conjuntos agroindustriais e de pequenas propriedades rurais

que podem propiciar experiências turísticas em função de suas práticas cotidianas.

333

Figura 146 - Paisagem relacionada com o nível 3 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná.

Autor: LIMA, 2021

Destarte, o ícone APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná associa-se a concepção de um

conjunto homogêneo passível de seduzir e persuadir seu observador. Para Cauquelin

(2007), um relevante conjunto paisagístico pode ser observado para além de uma simples

representação imagética, uma vez que, este pode também estimular o

reconhecimento/exaltação de uma determinada totalidade, concepção a qual pode ser

relacionada ao referido ícone tratado. Assim sendo, é possível atrelar as características

físicas das paisagens do referido ícone com a possibilidade de desenvolver atividades

ligadas aos níveis de Turismo de Natureza identificados e apresentados na figura 147.

334

Figura 147 - Níveis de Turismo de Natureza na APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná

Elaboração: LIMA, 2021

335

5.1.6 Serra da Bodoquena

Juntamente com as paisagens pantaneiras, o ícone de paisagem Serra da Bodoquena

destaca-se como uma das áreas que mais se apresentam propícias ao desenvolvimento de

atividades turísticas. Além de sua singularidade relacionada aos cursos hídricos

cristalinos da região, os conjuntos paisagísticos se destacam em função de seu relevo

destacado e diversidade de fauna e flora ao longo de sua extensão.

Tais concepções sustentam o mapeamento de níveis de Turismo de Natureza no

referido ícone (figura 150), o qual é associado aos níveis 1 e 2, denotando cenários de

singularidades passíveis de serem utilizadas em atividades do referido segmento turístico.

Considerando a extensão do ícone, o nível 3 foi mapeado em percentuais ínfimos na

porção norte e sul (associado a intersecção entre áreas de pastagens e as depressões sul-

mato-grossense) e, portanto, nesta análise, não carece de maiores detalhamentos acerca

desta pequena porção.

No que se refere ao mapeamento do nível 1 (figura 148) de Turismo de Natureza

no ícone, este associa-se sua ocorrência em função dos relevos dos Planaltos da

Bodoquena, os quais compreendem as porções mais altas do ícone, bem como atrela-se a

presença de extensas faixas de vegetações nativas do tipo florestas estacionais, as quais

são encontradas nessas áreas ligadas ao referido nível. Além disso, estas porções ligam-

se a importantes curso hídricos que, principalmente em função de sua característica

cristalina, acarretam na formação de relevantes cachoeiras e quedas d’águas com

relevante interesse para o desenvolvimento de atividades turísticas. A ocorrência deste

nível ocorre basicamente na totalidade dos dois grandes conjuntos de relevos norte e sul.

Assim sendo, considerando as possibilidades de uso das referidas paisagens para o

Turismo, ressalta-se o alto nível funcional e de qualidade visual encontrada nestas áreas

da Serra da Bodoquena, de maneira que, haja a possibilidade de práticas turísticas ligadas

a contemplação litológica, de fauna e flora, criação de trilhas interpretativas, recreação

em rios e cachoeiras, bem como práticas turísticas associadas a pesquisas.

336

Figura 148 - Paisagem relacionada com o nível 1 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Serra da Bodoquena.

Autor: LIMA, 2021

Já o nível 2 (figura 149) de Turismo de Natureza relaciona-se basicamente com as

áreas mais baixas do ícone, associado as áreas de transições dos planaltos, as depressões

sul-mato-grossesses e pequenos fragmentos de serras e morrarias. Apesar da variação dos

relevos, a principal característica que norteia este nível são as áreas de pastagens

(intercalando campos de cultivos diversos) e pequenas faixas de savanas. Do ponto de

vista hídrico, estas áreas são permeadas por pequenos córregos ao longo de sua extensão.

Apesar de compreender relevantes campos de pastagem e culturas, tais paisagens

possuem um plano de fundo com um relevante cenário visual, o qual vislumbra seu uso

enquanto lócus turístico.

Destarte, ao discorrer sobre as possibilidades de atividades turísticas nestas porções,

é possível indicar o desenvolvimento de passeios ciclísticos contemplativos, rotas de

trekking, contemplação de aves e práticas de balonismo e parapente. Tais atividades se

beneficiariam do contato indireto da natureza, privilegiado pelas paisagens de segundo

plano neste nível.

337

Figura 149 - Paisagem relacionada com o nível 2 de Turismo de Natureza no ícone de

paisagem Serra da Bodoquena.

Autor: LIMA, 2021

É importante ressaltar que, o referido ícone de paisagem já é permeado pelo

desenvolvimento de algumas atividades turísticas, principalmente relacionadas ao

semento ecoturístico. Assim sendo, convém destacar que a referida análise não possui a

premissa de alterar a dinâmica turística destes conjuntos paisagísticos, mais sim colaborar

com uma análise mais detalhada da estrutura da paisagem e, consequentemente, propiciar

o delineamento de novas possibilidades de inserção da atividade turística nestes pontos.

Do ponto de vista da importância do ícone de paisagem Serra da Bodoquena,

percebe-se que os apontamentos de Mato Grosso do Sul (2009) são pertinentes, uma vez

que, avaliada a condição estrutural dos referidos conjuntos paisagísticos, é possível inferir

que estes possuem um relevante apelo, tanto no que se refere a condição funcional, quanto

de qualidade visual para o desenvolvimento da atividade turística. Dentro desta

concepção, justifica-se o enquadramento do ícone enquanto uma das áreas prioritárias

tratadas pelo governo estadual no âmbito do Turismo.

338

Figura 150 - Níveis de Turismo de Natureza na Serra da Bodoquena.

Elaboração: LIMA, 2021

339

Realizadas as análises dos níveis de Turismo de Natureza em cada um dos ícones

de paisagem de Mato Grosso do Sul, permite-se afirmar/confirmar a relevância dos

conjuntos paisagísticos elencados como tal na referida pesquisa, de modo que, cada um

destes arranjos de paisagem demonstrou contemplar aspectos estruturais relevantes que

justifiquem seu enquadramento enquanto paisagem icônica a ser destacada no estado.

Seja em função da diversidade, naturalidade, singularidade e/ou detratores

relacionados com os tipos de relevo, vegetação/usos das terras e cursos hídricos

encontrados em cada um dos ícones, percebe-se que tais paisagens demonstram a

capacidade de oferecer subsídios para o desenvolvimento de diferentes tipologias e

atividades ligadas ao segmento do Turismo de Natureza.

As reflexões e análises ora apresentadas vão ao encontro das discussões tratadas

por Cruz (2002), Pires (2005), Emídio (2006) e Braga (2006), os quais ressaltam o

crescente interesse, principalmente de indivíduos urbanos, na visitação e usufruto de

ambientes com maiores índices de naturalidade. Nesta perspectiva, a

compreensão/interpretação estrutural dos referidos ícones de paisagem permite

estabelecer novas possibilidades frente ao supracitado interesse em áreas com essas

características, uma vez que, conforme apontado por Nicolás (1989), as paisagens têm a

capacidade de promover e estimular fluxos turísticos.

Na perspectiva do desenvolvimento de uma atividade turística planejada, o

mapeamento ora apresentado pode ser tomado com uma das ferramentas base para a

estruturação e desenvolvimento de atividades turísticas nas porções que compreendem os

ícones de paisagem, conforme sugerido por Ruschmann (2008). É importante ressaltar

ainda que, a perspectiva de desenvolvimento do Turismo aqui defendida prima pela

consideração de diferentes aspectos, sejam eles sociais, culturais e ambientais, e não

apenas a vertente econômica (a qual geralmente se sobressai no desenvolvimento do

Turismo), portanto, espera-se que tais resultados apresentados sejam utilizados a

posteriori em um movimento integrador destas diferentes vertentes.

5.2 As alterações nas paisagens e seus impactos na constituição dos ícones

Considerando as reflexões apresentada anteriormente sobre a perspectiva dos

ícones de paisagem, Lima, Silva e Martins (2019) acreditam ser possível identificar

340

conjuntos paisagísticos singulares nos territórios, de modo que, permita-se destacar

aspectos relevantes das paisagens, valorizando aspectos estruturais (forma), e designar

diferentes possibilidades de uso (função), as quais devem estar atreladas a condições de

manutenção do referido ícone.

Portanto, ressalta-se aqui que uma das premissas para o reconhecimento de um

ícone de paisagem seja a manutenção das características físicas que o destacam enquanto

relevante conjunto paisagísticos, seja em função de seu relevo, vegetação, cursos hídricos

e/ou outros elementos que denotem a singularidade da(s) referida(s) paisagem(s).

Conforme Sanz e Alonso (1996) destacam, a dinâmica da paisagem está associada

as modificações da configuração estrutural desta ao longo dos tempos, as quais podem se

estabelecer em curto, médio ou longo prazo, variabilidade a qual pode estar ligada aos

processos naturais de transformação da natureza, ou estar diretamente ligada a ações

exercidas pelo ser humano nos ambientes que habitam. Estas modificações podem ser

ocorrer em maiores ou menores escalas e, consequentemente, acarretar em mudanças no

aspecto visível e/ou estrutural das paisagens.

Destarte, observar e compreender as dinâmicas das paisagens se apresenta como

um importante passo no planejamento territorial, inclusive na estruturação de localidades

com potencial de atratividade turística. Considerando que uma brusca alteração da

paisagem pode impactar no interesse turístico das paisagens, é importante pensar que as

mudanças nas paisagens (sejam naturais ou advindas de ações antrópicas) podem torna-

se fatores limitadores para o desenvolvimento de algumas atividades. Assim sendo, de

acordo com Rodriguez (1984), é necessária especial atenção a complexo natural em

questão, bem como as inter-relações entre os componentes que forma tal paisagem.

Neste contexto, mais especificamente nos ícones de paisagem de Mato Grosso do

Sul aqui abordados, percebe-se que recentes acontecimentos têm propiciado relevantes

impactos em suas paisagens, especialmente no que tange o aspecto visível das mesmas e,

consequentemente, impactando na qualidade visual e funcional que destacam a relevância

turísticas desses conjuntos.

Dentre os ícones elencados, pode-se citar o exemplo do ícone APA Ilhas e Várzeas

do Rio Paraná, que possui no período de seca um dos principais fatores modificadores de

suas paisagens. Além dos reincidentes focos de queimadas (naturais ou de origem

criminosa) (figura 151), o ícone também é afetado pela modificação de bancos de areia,

assoreamento de cursos hídricos e diminuição da vazão hídrica (figura 152).

341

Figura 151 - Queimadas na região de Naviraí-MS

Autor: BORGES, Kátia V. Chrestani (2020)

Figura 152 - Assoreamento no canal do Mirim, na APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná

Autor: BORGES, Kátia V. Chrestani (2021)

No caso do Pantanal Sul-mato-grossense, as queimadas apresentam-se como um

fator complicador na manutenção paisagística (figura 153), uma vez que, principalmente

em períodos de seca, grandes porções da região de Corumbá e entorno sofrem com as

queimadas ao longo de suas paisagens. Mais recentemente, em 2020, a Serra do Amolar

passou por um período crítico de queimadas, as quais impactaram decisivamente na

342

condição visual e estrutural de suas paisagens. De acordo com o Pantanal SOS (2020), é

necessário empenhar esforços para minimizar os impactos das queimadas no Pantanal:

Vale ressaltar que os incêndios são problemas recorrentes no Pantanal,

principalmente na Serra do Amolar. Para combatê-los, é preciso criar soluções

ainda mais eficientes do que as que já existem. No ano de 2006, a Secretaria

do Meio Ambiente (SEMA), Ibama, juntamente com o Ecoa, Parque Nacional

do Pantanal Matogrossense e Instituto do Meio Ambiente de Mato Grosso do

Sul (IMASUL), desenvolveram uma brigada contra queimadas. Ela foi

formada pela população nativa, pois são os mais impactados pelo fogo, além

de conhecerem a região e proximidades como ninguém.

Figura 153 - Alteração na paisagem da Serra do Amolar em função de incêndios

Fonte: PANTANAL SOS, 2020

Outro ícone de paisagem que frequentemente passa por graves alterações em sua

paisagem é a Serra da Bodoquena. Também alvo de frequentes queimadas nas últimas

décadas, o ícone recorrentemente vem tendo sua estrutura paisagísticas impactada,

principalmente no que tange a cobertura vegetal (figura 154). Outra preocupação

recorrente neste ícone é o turvamento dos cursos hídricos, geralmente associado a ações

ligadas as práticas agropecuárias da região, condição que altera consideravelmente o

aspecto visual de rios e córregos do ícone (figura 155).

343

Figura 154 - Banhado do rio da Prata - Serra da Bodoquena

Autora: MARQUES, Fernanda Cano de Andrade, 2021

Figura 155 - Turvamento da água no rio Formosinho, na Serra da Bodoquena

Autora: MARQUES, Fernanda Cano de Andrade, 2020

Conforme supracitado, a tese desta pesquisa apoia-se na eminencia da existência de

conjuntos paisagísticos que atendam a essas condições ora apresentadas, permitindo

assim o mapeamento e apresentação de ícones de paisagem em Mato Grosso do Sul

passíveis de serem reverenciados enquanto relevantes conjuntos paisagísticos que possam

ser relacionados a diferentes práticas turísticas, neste caso, do Turismo de Natureza.

Considerando as reflexões de Silveira (2014), considerar as dinâmicas das paisagens

344

apresenta-se como condição sine qua non para a estruturação e gestão dos espaços

turísticos.

Assim sendo, observou-se que cada um dos ícones apresentados é permeado por

estruturas paisagísticas que se destacam enquanto forma e estrutura, de modo que, tais

características permitem ser associadas ao desenvolvimento de atividades turísticas.

Entretanto, conforme destacado, para que os referidos ícones mantenham tais condições

de singularidade é necessário se atentar para possíveis alterações em suas dinâmicas, uma

vez que, alterações bruscas como desmatamentos, queimadas, assoreamento de cursos

hídricos, poluições diversas, dentre outras alterações, podem extirpar a excepcionalidade

paisagísticas de um ícone de paisagem.

345

346

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegando ao estágio final da pesquisa, cabe retomar um questionamento elaborado

logo no início da investigação: o que é uma tese? Considerando tal provocação, é

necessária uma reflexão se o objetivo de construção de uma tese de doutoramento em

Geografia foi alcançado, uma vez que, para além de uma das etapas burocráticas para a

obtenção do título de doutor, a tese também deve materializar uma contribuição na

construção do conhecimento científico de uma determinada temática/área.

Neste sentido, finda-se esse processo de pesquisa com o sentimento de ter alcançado

os objetivos propostos, contribuindo para a progressão científica no campo dos estudos

paisagísticos da Geografia. Acredita-se ter sido alcançada a premissa de uma discussão

teórica e de aplicação de uma nova perspectiva de estudo de conjuntos paisagísticos: a

delimitação e aferição de ícones de paisagem. Tomando por base aspectos conceituais

dos patrimônios naturais e dos ícones urbanos, foi possível articular uma nova perspectiva

escalar das paisagens, permitindo um maior detalhamento dos diferentes elementos que

compõem os conjuntos paisagísticos e, consequentemente, associar tais características e

interrelações às mais diversas possibilidades de usos, como por exemplo, a atividade

turística.

Considerando a área de concentração do Programa de Pós-graduação em Geografia,

a qual abrange a Produção do espaço regional e Fronteira, é possível inferir que a presente

pesquisa traz importante contribuição na compreensão do espaço sul-mato-grossense, de

maneira a compreender as dinâmicas das paisagens e sua possível inserção em práticas

turísticas. Dentre as linhas de pesquisa do programa, o mapeamento dos ícones de

paisagem alinha-se as pesquisas voltadas às “Políticas Públicas, Dinâmicas Produtivas e

da Natureza”, uma vez que, aborda contextos ligados às políticas públicas de Turismo no

estado, bem como dispõe de análises físicas da paisagem, englobando as dinâmicas

territoriais e o uso da natureza ao longo da extensão dos referidos conjuntos paisagísticos.

Por meio do conjunto teórico/metodológica apresentada durante o documento,

acredita-se que a discussão e aplicação desta “nova” perspectiva analítica da paisagem

foi comprovada enquanto tese, a qual buscou evidenciar sua aplicabilidade por meio de

um estudo paisagístico em diferentes conjuntos paisagísticos do território sul-mato-

grossense.

Apesar da metodologia conter um relativo grau de subjetividade, esta apresenta-se

como um modelo pautado em parâmetros estabelecidos a fim de permitir a aferição dos

347

componentes das paisagens e, consequentemente, compreender a complexidade

paisagística, seus elementos, qualidade visual e funcionalidades.

Dentro do contexto geral da pesquisa, destaca-se aqui o desafio quanto a escala de

abordagem da pesquisa, uma vez que, considerando a amplitude e a localização dos ícones

de paisagem, foi necessário especial esforço para desenvolver uma cobertura satisfatória

aos objetivos da pesquisa. Cita-se especialmente os empenhos investidos em trabalhos de

campo, os quais possibilitaram a abordagem in loco dos conjuntos paisagísticos alvos de

investigação. Para que tais procedimentos pudessem ser realizados, foi necessário grande

empenho financeiro pessoal, bem como contou-se com uma série de apoios institucionais

e de colegas pesquisadores ao longo de todo processo.

Neste âmbito, assume-se a limitação quanto ao nível de detalhamento em função da

escala de abordagem. Assim sendo, indica-se a possibilidade de aprofundamentos futuros

acerca das referidas áreas, de maneira a possibilitar direcionamentos mais objetivos sobre

tipologias turísticas a serem desenvolvidas em pontos específicos dos ícones de paisagem

tratados. Tal perspectiva atrela-se, por exemplo, a etapas posteriores de planejamento

turístico, como a inventariação de pontos de interesse turístico nos ícones.

Diante da referida condição escalar de abordagem, permite-se considerar a

possibilidade de que os ícones de paisagem, em escalas de maior detalhamento, sejam

desmembrados em ícones de menores amplitudes, como no caso da Serra de Maracaju,

ícone caracterizado por formações descontínuas ao longo de sua formação.

Ainda acerca da metodologia utilizada, para além da supracitada limitação escalar,

indica-se a possibilidade de aperfeiçoamento dos parâmetros utilizados no

estabelecimento dos níveis de Turismo de Natureza nos ícones de paisagem, uma vez que,

os parâmetros utilizados apresentam-se como uma primeira aproximação de aferição dos

ícones, podendo ser melhorados em investigações futuras. Outra condição passível de

melhoria refere-se ao uso de dados secundários com maiores níveis de detalhamento, os

quais podem permitir um melhor delineamento dos ícones de paisagem.

No que tange aos resultados alcançados ao fim da pesquisa, percebe-se a relevância

em despender esforços acerca de estudos com maiores níveis de detalhamento acerca das

paisagens sul-mato-grossenses, de maneira a vislumbrar possíveis melhores cenários

entre as dinâmicas territoriais e a manutenção dos conjuntos paisagísticos naturais que

permeiam o estado. Neste âmbito, o estudo ora apresentado possibilita em primeiro

diagnóstico em prol da promoção de uma atividade turística planejada, e que incentive

348

práticas mais responsáveis frente ao desenvolvimento de suas práticas em ambientes

naturais.

Assim sendo, tais diagnósticos apresentados em cada ícone permitem observar

diferentes pontos de interesse quanto a qualidade visual e funcionalidade paisagística para

o desenvolvimento de atividades ligadas ao segmento do Turismo de Natureza, as quais

podem estar associadas a um dos três níveis supracitados nas descrições dos ícones.

Neste processo de aferição paisagística, destaca-se a importância do uso de dados

primários e secundários como subsídios das análises. Sobre tal questão, aponta-se que

além do uso de dados secundários previamente disponibilizados nas mais diversas fontes,

também haja procedimentos de correspondência/conferência em campo, possibilitando

uma melhor compreensão in loco da realidade posta acerca dos diferentes conjuntos

paisagísticos, bem como possibilite coleta de dados e produção de novos dados primários,

os quais podem permitir um maior enriquecimento de informações sobre os objetos em

questão.

Aliados a esse procedimento, é importante citar também o relevante papel das

técnicas, materiais e demais procedimentos utilizados durante a pesquisa. Neste âmbito,

evidencia-se a importância de alinhar dados teóricos e dados empíricos, de maneira que,

as linhas de pensamento utilizadas e as metodologias de abordagens sejam compatíveis

com os objetivos propostos na pesquisa, neste caso, na compreensão das paisagens sul-

mato-grossenses.

Ressalta-se que, apesar de ser um desejo no início da pesquisa, não foram mapeados

pontos específicos da paisagem para o desenvolvimento de atividades do Turismo de

Natureza (por exemplo: apontamento de um paredão específico para o desenvolvimento

de um rapel), possibilidade limitada em função da extensão dos ícones, fato que poderia

acarretar a não inclusão de importantes pontos que não puderam ser mapeados in loco

durante os trabalhos de campo. Porém, acredita-se que a delimitação das áreas ligadas aos

diferentes níveis de Turismo de Natureza desenvolvida nesta pesquisa permita estimular

novas pesquisas que vislumbre a localização de pontos específicos de interesse ligados as

mais diferentes atividades englobadas pelo segmento.

De maneira geral, ao findar a pesquisa, tem-se a disposição um mapeamento

territorial que permite evidenciar dois importantes aspectos: a qualidade visual e as

funcionalidades das paisagens de conjuntos paisagísticos em Mato Grosso do Sul. Tais

apontamentos apresentam-se como importante elementos a serem considerados em

planejamento turísticos. Assim sendo, os aspectos singulares encontrados nos referidos

349

ícones de paisagem (seja destaque de relevo, níveis de conservação de vegetação nativa,

ou destaque de cursos hídricos) permitem indicar a possibilidade de diferentes tipologias

ligadas ao segmento de Turismo de Natureza.

Entretanto, apesar da pesquisa apresentar elementos que fundamente planejamentos

e modelos de gestão turística, é importante pensar que nem todos os atores envoltos na

atividade turística pensam de maneira semelhante. Os objetivos almejados por trade

turístico, poder público, comunidade local e turistas podem ser diferentes e, por vezes,

conflitantes. Neste sentido, espera-se aqui subsidiar planejamentos que visem buscar um

planejamento turístico equilibrado entre as partes interessadas.

Nas aferições realizadas, foi possível perceber que, os ícones de paisagem Serra do

Amolar e Serra da Bodoquena apresentam-se como relevantes conjuntos paisagísticos

inserido em uma região que já conta com a atenção do poder público no que tange as

políticas voltadas ao Turismo, tendo sua singularidade associada aos expressivos relevos,

vegetações conservadas e cursos hídricos. O mesmo não acontece com o ícone Maciço

do Urucum que, apesar de também possuir relevo e vegetações destacadas e, inserir-se

nas proximidades do Pantanal, não possui grandes atenções acerca da atividade turística

por conta do Estado.

Quanto ao ícone de paisagem APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná, este está inserido

em uma área de fronteira estadual (São Paulo e Paraná), de maneira que, sua singularidade

se dá principalmente em função do rio Paraná, o qual materializa relevantes paisagens em

meio a formação de ilhas fluviais e, consequentemente, ambientes com relevante

conservação da vegetação. Justamente pela intersecção de gestões, sejam municipais ou

estaduais, o ícone apresenta grande potencial para o desenvolvimento de atividades

ligadas ao Turismo de Natureza, porém ainda sofre com os diferentes interesses

territoriais das supracitadas gestões, de maneira que, percebe-se alguns esforços na

tentativa de conservação das áreas e desenvolvimento de práticas mais responsáveis. Algo

positivo neste ícone é a ocorrência de diferentes delimitações de áreas protegidas nestas

porções.

Já o ícone de paisagem Serra de Maracaju apresenta-se como a maior área, dentre

as destacadas na pesquisa, fato que acarreta em uma grande variabilidade das paisagens

e de suas dinâmicas territoriais, de maneira que, alguns pontos são caracterizados por

relevos ondulados e a presença de extensos campos de cultivos (como na porção sul), e

áreas em que percebe-se relevos mais escarpados e melhores níveis de conservação da

vegetação nativa, intercalados por campos de pastagem (como na porção central).

350

Apontada por Mato Grosso Do Sul (2015) como área prioritária para desenvolvimento da

agropecuária, o ícone demonstra possuir também características que podem ser

associadas a outras práticas, como o Turismo de Natureza, por exemplo.

Tais reflexões são importantes na medida que permitem uma melhor compreensão

acerca da complexidade das paisagens, bem como a melhor maneira de estabelecer um

planejamento territorial adequado a tais áreas. Neste âmbito, a referida pesquisa busca

apresentar ao final possibilidades de associar tais paisagens a práticas planejadas do

Turismo de Natureza.

É pertinente destacar que, ao sugerir o direcionamento das referidas áreas para o

desenvolvimento do segmento Turismo de Natureza, sabe-se da capacidade da atividade

turística em proporcionar efeitos negativos nos ambientes em que esta é inserida. Porém,

apesar das diferenças conservacionistas ao relacionar tal segmento com o ecoturismo, o

Turismo de Natureza pode ser considerado um segmento que permite um melhor

aproveitamento das paisagens, possibilitando a conservação dos ambientes em que ele e

desenvolvido. Neste âmbito, apesar de, como toda atividade turística, acarretar em

impactos positivos e negativos, este segmento pode ser estimulado como uma

possibilidade de reaproximação da sociedade com a natureza e, desta forma, propiciar

também mecanismos de estimulo ao uso responsável dos recursos naturais na atividade

turística.

É neste ponto que autores como Luchiari (1999), Hehl-Lange (2001), Picher

Fernández, Gómez Jiménez e Montero Serrano (2006), Rodriguez, Silva e Cavalcanti

(2007), Ruschmann (2008), Teles (2011), Vieira (2014), Lima, Silva e Martins (2016),

Semenov (2017), Moretti et. al. (2019), Vieira e Verdum (2019), dentre outros, devem

ter suas reflexões consideradas, principalmente naquilo que concerne o desenvolvimento

planejado do Turismo. Quando cita-se aqui o planejamento, convém destacar a

necessidade de um planejamento amplo, ou seja, não apenas um plano que contemple

apenas o aspecto econômico e, consequentemente, os atores detentores do capital, mas

sim que, seja considerada a sociedade envolvida no contexto destes territórios, o respeito

a suas condições culturais, bem como sejam atentadas também as condições ambientais

das referidas paisagens.

Acerca do atual gerenciamento das áreas ligadas aos referidos ícones de paisagem,

percebe-se a importante atuação de alguns atores que foram evidenciados ao longo da

pesquisa. Instituições como o IHP (Instituto Homem Pantaneiro), Fundação Neotrópica

do Brasil, Prefeitura de Naviraí, dentre outras, têm desenvolvidos importantes papéis na

351

gestão e conservação dos ícones de paisagem. Além disso, os papéis prestados por meio

de pesquisas pelas Universidades também devem ser elencados como importantes

medidas de investigação das paisagens de Mato Grosso do Sul.

Considerando a premissa inicial da pesquisa de que, o Pantanal e a região da

Bodoquena são aquelas áreas que recebem maior atenção do poder público no que tange

a atividade turística, percebe-se que, as demais áreas também possuem características que

podem receber maiores atenções do poder público e, inclusive já possuem algumas

iniciativas voltadas ao desenvolvimento da atividade turística.

Obviamente que, para que tais cenários de desenvolvimento do Turismo de

Natureza sejam possíveis, é preciso empreender uma melhor reflexão sobre os acessos e

infraestruturas que permeiam tais paisagens, de maneira a permitir melhores fluxos de

visitantes nestas áreas.

É importante ressaltar que, apesar da relevância e possível potencialidade de tais

paisagens para o desenvolvimento da atividade turística, faz-se necessária a inclusão das

comunidades locais que habitam os ícones e seus entornos, de maneira que, tais atores

sejam considerados dentro do processo participativo de planejamento e organização da

atividade turística nos respectivos territórios. Assim sendo, acredita-se que o

desenvolvimento do Turismo de Natureza alinhado aos desejos e necessidades das

respectivas comunidades possa ser uma importante ferramenta na subsistência destes

grupos. Exemplo desta tratativa é a comunidade indígena da aldeia Limão Verde, em

Aquidauana-MS. Na ocasião, as lideranças indígenas demonstraram interesse na inserção

das práticas turísticas em seus territórios, de maneira que, com auxílio do poder público

e das universidades, a comunidade indígena pudesse ser orientada e qualificada, a fim de

obter melhores subsídios para gerir a atividade turística na porção central do ícone de

paisagem Serra de Maracaju.

Nesta perspectiva percebe-se que, para além da viabilidade turística de tais

paisagens, os referidos ícones também podem estar atrelados a uma condição histórico-

cultural com aos povos que habitam tais áreas. Assim sendo, indica-se a possibilidade de

estudos futuros abrangerem tais relações dos ícones com a memória e pertença destes

grupos.

Destarte, acredita-se que outros grupos de interesses nos ícones de paisagem

também possuam interesse e capacidades de gerir tais territórios a partir de orientações

ligadas ao desenvolvimento do Turismo de Natureza. Assim sendo, investigações como

esta possibilitam ampliar o mapeamento das paisagens sul-mato-grossenses e,

352

consequentemente, oferecer melhores subsídios para se pensar a atividade turística de

maneira integrada no estado.

Diante de tais considerações, é possível afirmar que a presente investigação

permitiu validar o modelo de aferição da paisagem por meio do conceito de ícone de

paisagem, apresentando sua referida aplicação em conjuntos paisagísticos de Mato

Grosso do Sul. Neste sentido, apesar da pesquisa se desdobrar na identificação de cinco

ícones de paisagem, aponta-se para a possibilidade da delimitação de outros ícones de

paisagem no território sul-mato-grossense, de maneira que, apesar dos esforços

desenvolvidos nessa investigação, deixa-se em aberto a possibilidade da existência de

outros conjuntos paisagísticos passíveis de serem enquadrados enquanto ícones no

contexto sul-mato-grossense e, consequentemente, que permitam a associação da

estrutura de suas paisagens ao desenvolvimento de atividades turísticas, seja ligadas ao

segmento Turismo de Natureza, seja a outros segmentos.

Convém destacar que, inicialmente a pesquisa buscava aferir mais dois outros

ícones de paisagem: Parque Estadual Nascentes do rio Taquari; e Monumento Natural

Municipal Serra do Bom Jardim/Parque Natural Municipal Templo dos Pilares. Porém,

em função do agravamento da pandemia da Covid-19 nos anos de 2020 e 2021, o

cronograma e procedimentos foram afetados e, consequentemente, tiveram que ser

alterados. As condições financeiras durante este período também foi um fator limitante,

acarretando assim na reformulação da pesquisa abordando apenas cinco ícones de

paisagem.

Apesar das dificuldades e alteração do plano original, indica-se que tais

apontamentos desenvolvidos na pesquisa podem ser de grande utilidade ao poder público

de Mato Grosso do Sul, uma vez que, considerando o período pós-pandemia de Covid-

19, a busca por viagens com destino a espaços naturais e abertos se estabelece como uma

possível tendência. Neste âmbito, o fomento ao Turismo de Natureza nos diferentes

ícones apontados pode apresenta-se como uma importante oportunidade de retomar e

estimular o crescimento da atividade turística em território sul-mato-grossense. Destarte,

ressalta-se a importância da continuidade de pesquisas dessa natureza.

Para além do contexto sul-mato-grossense, espera-se que este modelo analítico de

ícones de paisagem também sirva para a aferição de relevantes conjuntos paisagísticos de

outros territórios, possibilitando uma melhor compreensão da complexidade das

paisagens e suas possibilidades de uso e ocupações.

353

Concluindo, permite-se aqui destacar o sentimento de dever cumprido ao findar o

processo de doutoramento, uma vez que, apesar dos inúmeros desafios enfrentados ao

longo deste período, foi possível alcançar os objetivos propostos na referida pesquisa e,

consequentemente, contribuir com a produção do conhecimento cientifico. Apesar do fim

do supracitado ciclo, deixa-se claro aqui desejo de continuar contribuindo para a

investigação científica, das complexidades geográficas e do estudo do fenômeno turístico.

Em tempos sombrios em que o ensino e a pesquisa vivem em um contexto de

desvalorização e desconfiança, deixo aqui apenas um destaque: VIVA A CIÊNCIA!

354

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APÊNDICES

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Apêndice I – Ficha de campo

Ficha de Descrição Geral

Ponto de Amostragem Nº (GPS): Local (município): Coleta de amostra: ( ) sim, ( ) não Registro fotográfico ( ) sim.. ( ) não N.o Foto:

Projeto: Data: / / Hora: Resp:

Localização (posição do observador): Coordenadas (GPS):

Situação, geral do local : Altitude(GPS):

CARACTERÍSTICAS FÍSICAS/ESTRUTURAIS

Relevo Local Relevo Regional Bioma / Rede de drenagem UPG-MS / BH / Unidade Climática Planícies Taludes/encostas Planícies Taludes/encostas Cerrado Rios encaixados UPG-MS Bacia Planícies

fluviais Montanhoso Planícies

fluviais Montanhoso Mata Atlântica Rios

meandrantes Paraguai

Ondulado Relevos testemunho / inselbergers

Ondulado Relevos testemunho / inselbergers

Pantanal Planície restrita Paraná

Feição de relevo distinta: Planície expressiva

Unidade Climática

PREDOMÍNIO DA PAISAGEM

ÍCONE DE PAISAGEM ENTORNO DO ÍCONE Vegetação Nativa Relevo destacado Relevo destacado TIPOS Usos Vegetação em quantidade/qualidade

relevante Vegetação em quantidade/qualidade

relevante Savana florestada Veg Nativa Pastagem

Destaque da rede drenagem/cursos d’água Destaque da rede drenagem/cursos d’água

Savanas de cerrado Cana-de-açucar Sivilcutura

Predomínio de usos antrópicos Predomínio de usos antrópicos Florestas fluviais Soja Outros:

Outros: Outros: Cobertura antropizada Milho

Outras Observações:

380

Apêndice II – Paleta de cores das litologias e solos

381