Tecnologias que canalizam vida para o Sertão

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº1293 Junho/2013 Tecnologias que canalizam vida para o sertão Todos os dias ela acorda às 5h30m da manhã para jogar água nas plantas, dar de beber aos animais, colher alguns legumes, frutas, cuidar das galinhas, da casa e depois de tudo isso preparar a filha para levar à escola que fica a 1 km de distância da localidade onde mora. Esse percurso ela faz de bicicleta todos os dias. Ela é Antonia Rosiane do Nascimento, 35 anos, que cria sozinha sua única filha. Engajada nas lutas da Associação sua coragem anima a vida da comunidade que se junta a outras histórias de lutas e vitórias. Ela agradece muito a Deus e as entidades que possibilitaram o acesso à água na comunidade. “Com a água o quintal tá sempre verdinho”, relata Rosiane. “Não existe sucesso sem união, organização e coragem”. A frase e a história de Rosiane marcaram o início da nossa visita à localidade de Morro Vermelho em Massapê distante 252 km de Fortaleza. Nos dirigindo para a comunidade encontramos terra bastante molhada e verde, um dia antes de nossa chegada havia chovido muito na região e o céu ainda estava nublado. Horas depois algumas gotas ousaram cair para refrescar nossa caminhada, mas logo parou. O cenário de encher os olhos nos causou admiração. O zelo e a riqueza com a plantação de hortaliças, frutas e legumes ao redor das casas espelha organização e esperança da comunidade e se contradiz com o cenário de seca mostrado quase todos os dias nos grandes meios de comunicação. A terra doada às famílias por um grande empresário da região, que pouco tempo depois da doação veio a falecer tem esse nome devido à grade concentração de barro vermelho, conhecido como piçarra uma mistura de terra, areia e pedra que forma uma espécie de argila com coloração avermelhada. O cascalho está por toda a comunidade que já existe há mais de quarenta anos, conta alguns moradores que já estão desde então por lá. Massapê “Quando chega o tempo rico da colheita trabalhador vendo a riqueza se deleita chama família e sai pelo roçado vai cantando alegre”. Luiz Gonzaga

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº1293

Junho/2013

Tecnologias que canalizam vida para o sertão

Todos os dias ela acorda às 5h30m da manhã para jogar água nas plantas, dar de beber aos animais, colher alguns legumes, frutas, cuidar das galinhas, da casa e depois de tudo isso preparar a filha para levar à escola que fica a 1 km de distância da localidade onde mora. Esse percurso ela faz de bicicleta todos os dias.

Ela é Antonia Rosiane do Nascimento, 35 anos, que cria sozinha sua única filha. Engajada nas lutas da Associação sua coragem anima a vida da comunidade que se junta a outras histórias de lutas e vitórias. Ela agradece muito a Deus e as entidades que possibilitaram o acesso à água na comunidade. “Com a água o quintal tá sempre verdinho”, relata Rosiane.

“Não existe sucesso sem união, organização e coragem”. A frase e a história de Rosiane marcaram o início da nossa visita à localidade de Morro Vermelho em Massapê distante 252 km de Fortaleza.

Nos dirigindo para a comunidade encontramos terra bastante molhada e verde, um dia antes de nossa chegada havia chovido muito na região e o céu ainda estava nublado. Horas depois algumas gotas ousaram cair para refrescar nossa caminhada, mas logo parou.

O cenário de encher os olhos nos causou admiração. O zelo e a riqueza com a plantação de hortaliças, frutas e legumes ao redor das casas espelha organização e esperança da comunidade e se contradiz com o cenário de seca mostrado quase todos os dias nos grandes meios de comunicação.

A terra doada às famílias por um grande empresário da região, que pouco tempo depois da doação veio a falecer tem esse nome devido à grade concentração de barro vermelho, conhecido como piçarra uma mistura de terra, areia e pedra que forma uma espécie de argila com coloração avermelhada. O cascalho está por toda a comunidade que já existe há mais de quarenta anos, conta alguns moradores que já estão desde então por lá.

Massapê

“Quando chega o tempo rico da colheitatrabalhador vendo a riqueza se deleita

chama família e sai pelo roçado vai cantando alegre”.

Luiz Gonzaga

Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará

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O solo é duro e seria impossível achar que ali pudesse se produzir alguma coisa. Com esperança e fé a comunidade conseguiu se instalar e criar suas famílias, como é o caso do casal Renato e Edineuda que nasceram, casaram e constituíram família. Eles contam que sempre moraram longe de tudo, o que precisavam tinham que andar léguas, e tudo era muito difícil, principalmente a água. “Já passamos por muitas dificuldades, mas hoje as coisas estão mais diferentes. Não precisamos mais andar léguas e léguas para conseguir o que necessitamos. Temos quase tudo no quintal da nossa casa”. Conta seu Renato, 72 anos, admirado com os tempos de hoje.

A força da águaEles e o restante dos moradores estão satisfeitos demais com a união da comunidade que se habituaram às novas tecnologias sociais implantadas para solucionar os problemas de escassez de água nas regiões semiáridas. Antes o acesso à água era do açude sítio morro vermelho distante 300 metros.“Pode não ser muito longe, mas várias viagens carregando lata d´água na cabeça ou nos braços fica pesado demais”, relata Pedro Cunha do Nascimento que reside com sua família no local há mais de 23 anos. Ele conta que a primeira tecnologia, a cisterna calçadão, chegou à região há cerca de 5 anos. Quem diria que a 16 km de distância do município de Massapê andando mata adentro poderia existir tanta concentração de tecnologia?“Com a cisterna calçadão a gente pode ter água mais limpa e boa para beber, antes a gente bebia uma água barrenta”, conclui seu Pedro.Já Francisco Porto, 75 anos, que também mora na localidade há mais de 20 anos conta que nunca tinha ouvido falar dessas coisas que guardam água. “Eu já andei por muitos lugares, já vi muita tristeza e falta d´água, mas aqui tudo é perto da gente, temos água no quintal de casa. A água que temos é vida.”Além dos legumes eles também cultivam frutas como mamão, caju, laranja, tangerina, manga, coco, banana e dizem orgulhosos que não utilizam nenhum tipo de agrotóxico nocivo para cuidar das plantas. Eles produzem seus próprios defensivos naturais à base de pimenta, sabão, alho, nin (planta típica da região), coco. Na comunidade ainda tem uma casa de sementes com 21 sócios, 03 barreiros trincheira, 01 cisterna de enxurrada e 02 barreirinhas. Com todos esses canais a comunidade pode celebrar a farta colheita, mesmo não tendo um grande inverno, as águas que caíram garantiram milho, feijão, jerimum, maxixe, que foram símbolos de agradecimento na festa da colheita, momento de confraternização onde a comunidade se reúne para agradecer a Deus os frutos produzidos. A festa acontece em junho e concentra muitas famílias que vem também de outras regiões para partilhar e celebrar. “É um momento de muita fé. O terreiro da casa fica todo enfeitado e colorido com bandeirinhas para receber as visitas que chegam é cedo. Isso é coisa de Deus”, conta com muita animação dona Maria Anádia. Ela e os filhos cuidam da logística da festa.Com a ajuda do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Massapê, a Associação Rural de Morro Vermelho e da Cáritas Ceará as tecnologias foram instaladas para ajudar na qualidade de vida e segurança alimentar além da produção do bem viver.

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