ATAS – Parte 2 (pp. 3221-7534)

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RITUAIS, SÍMBOLOS, FESTAS ESCOLARES RITUAIS, SÍMBOLOS, FESTAS ESCOLARES CD-ROM DE ATAS | 3221 | COLUBHE 2012

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  • RITUAIS, SMBOLOS, FESTAS ESCOLARESRITUAIS, SMBOLOS,

    FESTAS ESCOLARES

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  • OS SENTIDOS E REPRESENTAES DA COMEMORAO EM LBUNS

    FOTOGRFICOS COMEMORATIVOS DA ESCOLA CAETANO DE CAMPOS SP

    Rachel Duarte ABDALAUniversidade de So Paulo e Universidade de Taubat

    PA L AV R AS- C H AV E

    Escola Caetano de Campos-SP;

    lbuns fotogrfi cos; Efemrides

    ID: 257

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  • Introduo A escola , por excelncia, o lugar onde se aprende a comemorar as datas cvicas,

    histricas e, inclusive as religiosas. Para a comemorao, so preparados e oferecidos aos alu-nos e aos seus familiares, desde uma programao composta de aes prprias do universo escolar, tais como apresentao de coral, exposio de trabalhos infantis, apresentaes tea-trais, e, muito frequentemente, acompanhadas do registro dessas aes sob a forma de foto-grafias.

    A Escola Caetano de Campos, de So Paulo, nutria a prtica de composio de l-buns fotogrficos como possvel verificar ao analisar o acervo de documentos da escola atu-almente sob a guarda do Centro de Referncia em Educao Mrio Covas. So 23 lbuns, sendo que a maioria deles elaborados na prpria escola. Dois deles so alusivos especificamente a efemrides: o lbum de Comemorao do IV Centenrio de So Paulo, de 1954, e o lbum co-memorativo do cinqentenrio do Jardim da infncia, de 1946.

    Alm destes, h no acervo dois lbuns que chamam a ateno por se tratarem de lbuns de outras escolas. O primeiro da Escola Normal Livre Paulo Andr, de Barretos-SP e o segundo do Colgio Estadual e Escola Normal Peixoto Gomide, Itapetininga-SP. Ambos referem-se homenagem ao 1. Centenrio do Ensino Normal em So Paulo, comemorado em 1946.

    Neste estudo, pretende-se analisar, com base numa retrospectiva histrica, o senti-do da comemorao e, numa perspectiva mais ampla, o prprio sentido de comemorar e as representaes que esse tipo de ao engendra no mbito do universo escolar, particularmente na produo de conjuntos de representao, como o caso do lbum fotogrfico.

    Considerando-se que educao um tema complexo e, por esse e outros motivos, como por exemplo, as diversas variveis que articula, suscita acalorados debates. No caso es-pecfico das comemoraes enfocadas nos lbuns estudados no foi diferente, duas deles espe-cificamente relativas ao universo escolar: centenrio do ensino primrio no estado de So Paulo e o cinqentenrio do Jardim da Infncia, e uma de cunho coletivo, a do IV Centenrio da cida-de de So Paulo, da qual a escola fez parte.

    A passagem e a comemorao da efemride suscitou acalorado debate sobre a situ-ao do ensino no estado. Assim como j havia sido por ocasio da comemorao do centen-rio do ensino primrio no Brasil em 1927, quando os jornais asseveraram que comemorar seria um ato vergonhoso, corroborando o quadro, j ele prprio, suficientemente vergonhoso da educao no pas.

    Em 2000 o Brasil comemorou os 500 anos do seu descobrimento. Nessa ocasio, intelectuais como Marilena Chau, apontaram discusses nessa mesma linha, inquirindo sobre o sentido de comemorar um fato questionvel e sobre a situao do pas. Comemorar o que? Esse um dos captulos da obra Brasil: mito fundador, escrito por Chau.

    Para alm das possveis comparaes entre as comemoraes das referidas efem-rides, o que poderia propiciar uma interessante anlise, inclusive em verificar a validade desses grupos comparativos, o que se pretende aqui apontar possibilidades de anlise dos lbuns fotogrficos realizados sobre essas comemoraes, no intuito de procurar perceber a forma como uma efemride guarda similitudes com outras efemrides comemoradas no Brasil, mas as formas de comemorao e registro apresentam particularidades, que devero ser indicadas ao longo deste estudo.

    Outra possibilidade investigativa repousa sobre a idia de analisar comparativamen-te como as efemrides foram comemoradas e registradas nos diversos estados do pas e nas diversas escolas. Entretanto, tambm reserva-se esse caminho para um outro estudo.

    Parece, neste momento, mais interessante e profcuo analisar a circulao de mode-los e de materiais a partir da comemorao do centenrio de ensino primrio de So Paulo, que envolveu diretamente a Escola Caetano de Campos. Ao investigar o acervo fotogrfico da esco-

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  • la, verificou-se, como j mencionado, que, alm dos lbuns fotogrficos da prpria escola, o acervo engloba ainda lbuns de outras escolas. Esse fato suscitou questionamento a respeito dos motivos que levaram a essa conformao do acervo. Desse modo, verificou-se que, como principal referncia nas comemoraes realizadas em So Paulo, no s na cidade, mas em to-do o estado, a Escola Caetano de Campos recebeu, entre outros materiais, esses lbuns foto-grficos que remontam histria das escolas neles representadas, com foco no ensino primrio.

    Assim, pretendeu-se investigar a circulao de modelos e de materiais, consideran-do-se a existncia desses lbuns nos quais possvel verificar muitas similitudes, tanto em sua composio, quanto nas imagens que apresentam. Interroga-se sobre a conformao desse modelo de se apresentar a escola e suas aes comemorativas.

    1. Histrias que originaram as comemoraes

    A retrospectiva histrica do incio do ensino primrio no Brasil remonta a 15 de ou-tubro de 1827, quando D. Pedro I assinou o decreto que oficializou a criao das escolas de primeiras letras em todas as regies populosas do ento Imprio.

    A justificativa histrica da comemorao foi explanada nos jornais, como fre-quente em efemrides de carter amplo e coletivo. Como exemplo, pode-se citar o jornal O Correio da Manh, que publicou do dia 15 de outubro de 1927, o prprio dia da efemride, arti-go que apresentava informaes sobre a data histrica.

    A lei de 15 de outubro de 1927 foi verdadeiramente a criadora da ins-truo primria em nosso pas. Em seu artigo 1o diz - .em todas as ci-dades, vilas e lugares mais populosos haver as escolas de primeiras letras que forem necessrias. Foi essa lei sancionada por D. Pedro I e referendada pelo visconde de So Leopoldo (Jos Feliciano Fernandes Pinheiro). A lei de 12 de agosto de 1834 (Acto Adcional) determinou a ao do governo geral quanto instruo primria e secundria, no s na Corte, como em todas as provncias. A partir dessa data passa-ram as assemblias legislativas municipais a ter a incumbncia de le-gislar sobre a instruo pblica e estabelecimentos prprios promov-la. S a instruo primria, secundria e superior na Corte e seu municpio continuou a ser da competncia do governo geral. Ou-tras disposies e regulamentos houve at que com o decreto de 17 de fevereiro de 1854 na lavra de Luiz Pedreira do Couto Ferraz, de-pois visconde do Bom Retiro, foi remodelado o ensino primrio e se-cundrio. (Centenrio do ensino de primeiras letras.1

    Alguns anos depois da comemorao, em 1933, o dia foi institudo como o Dia do Professor. Paula Perin Vicentini esclarece que:

    a Associao dos Professores Catlicos do distrito Federal (APC-DF) tomou a iniciativa de festejar, no Brasil, o Dia do Primeiro Mestre em 15 de outubro, dando origem ao Dia do Professor, que acabou por se consolidar como uma forma de dar visibilidade categoria. A data es-colhida correspondia primeira lei sobre o ensino primrio que, em 1827, criou as escolas de primeiras letras [...]2

    Assim, percebe-se a importncia auferida data, reforada pela constatao de que o ensino primrio considerado a base fundamental do ensino e que, portanto, deveria receber especial ateno, tanto no mbito poltico quanto social e representativo.

    Em 1946, quando se comemorou o centenrio do ensino primrio em So Paulo es-ses aspectos foram retomados, enfatizando-se as razes histricas das comemoraes.

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  • Ainda mais forte, foi a ampla exposio pelos jornais, em 1954, da histria da cidade de So Paulo, em seus mais diversificados aspectos. No lbum fotogrfico da Escola de Cam-pos, alm das aes da prpria escola, enfatiza-se ainda sua participao na programao pre-parada pela prefeitura enfocando os lugares considerados fundantes da histria da cidade, como por exemplo, o Ptio do Colgio. A seguir sero discutidos o sentido de se comemorar e o aspecto fundador das datas histricas.

    No caso do lbum do Cinqentenrio do Jardim da Infncia da Escola Caetano de Campos, percebe-se o orgulho do passado, que foi amplamente enaltecido e, a continuao, no presente, do trabalho realizado ao longo dos cinqenta anos.

    Moiss Kuhlmamnn Jnior afirma que: O jardim de infncia anexo Escola normal Caetano de Campos, construda na cabeceira da praa da Repblica na capital de so Pau-lo, a primeira instituio pblica a ser criada em 1896, materializan-do a proposta educacional do Partido Republicano. A escola primria e o jardim anexo seriam um local de estgio para as professoras e di-fundiriam modelos para as escolas oficiais em todo o estado, por meio da Revista do Jardim-da-Infncia, que teve dois nmeros publicados. 3

    Desse modo, percebe-se como a justificativa para a comemorao fortemente re-tomada e enfatizada, como uma autorizao e motivao para os festejos. Alm disso, aponta-se a circulao de modelos preconizada na produo da mencionada revista, que, mesmo no tendo tido grande durao, remete uma intencionalidade que pode ter gerado resultados que poderiam ser melhor analisados num outro momento.

    2. O sentido de comemorar e a idia de efemride

    Na introduo da obra dicionrio de Datas da Histria do Brasil, Circe Bittencourt in-cita a reflexo acerca do valor em se estudar datas histricas, inquirindo se esse j no consti-tuiria um tema ultrapassado para a compreenso da Histria. Numa perspectiva retrica, responde que uma resposta a essas indagaes deve partir de uma reflexo sobre a concep-o de datas histricas e o significado delas para a nossa sociedade. A autora assevera ainda que queiramos ou no, as datas so suportes da memria. Desse modo, as datas histricas podem ser percebidas como uma forma de oportunizar a reflexo sobre os fatos que as origina-ram. Essa oportunidade amplamente explorada por dois universos: o escolar e o miditico. 4

    Na escola, tradicionalmente se comemora, se aprende e se discute as datas histri-cas, cvicas e religiosas. No caso especfico do centenrio da criao do ensino primrio em So Paulo e o cinqentenrio do Jardim da Infncia, as datas so parte do prprio universo escolar. Portanto, parece lgico que haja as comemoraes de aspectos que so prprios da cultura escolar.

    Mircea Eliade denomina de prestgio das origens o af em identificar a data que originou a comemorao. Para o autor, a idia de que a perfeio estava no princpio parece muito antiga. Ela , em todo caso, extremamente difundida.5

    Alm disso, reflete sobre o sentido do ano, afirmando que o ano trata-se sempre de um ciclo, isto , de uma durao temporal que tem um comeo e um fim.6 Mais do que isso, esse ciclo traz um sentido de renovatio, marcado por comemoraes cclicas e, ao mesmo tem-po, a soma dos anos traz consigo um sentido de tradio. Desse modo, comemorar efemrides, ou seja, o aniversrio de datas significativas para uma dada coletividade mobiliza a ateno e os esforos da sociedade na qual essa data faz sentido. Com essa premissa, poderia-se dizer que comemorar o centenrio do ensino primrio no Brasil implica impacto em grande parte da sociedade brasileira e no s a especificamente vinculada ao universo escolar. Eliade assevera ainda sobre a aura que determinadas datas produzem. A passagem das efemrides se presta a

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  • produzir um processo de focalizao. Nesse caso, o foco incidiu diretamente sobre a situao da educao no pas.

    Recorrendo perspectiva de Marilena Chau, j mencionada na introduo, pode-se ainda acrescentar a elaborao de Marcel Detienne na obra Comparar o incomparvel, na qual o autor reflete sobre a idia de fundar. Afirma que:

    O que devemos colocar no ato de fundar que nos parece estar no co-rao de estabelecer um territrio? Sem dvida, a singularidade de um espao, marcada por um nome, traos particulares, um limite de-terminado em um espao mais vasto. Sem dvida, um comeo no tempo, em uma Histria, em uma cronologia; com alguma coisa como um acontecimento inicial, isolado, reconhecido, saliente e at solene. A fundao parece exigir um incio significativo, pronto para ir no sen-tido de um processo histrico. 7

    A partir dessa anlise, podemos inferir que, de fato, no caso das efemrides aqui analisadas houve a delimitao daquilo que podemos chamar de ato fundador. A identificao dos marcos permitiu articular aes, anlises e representaes. Assim, passados cem anos do ato fundador, no caso do ensino primrio, cinqenta, no do Jardim da Infncia e quatrocentos, no do aniversrio da cidade de So Paulo, houve um grande balano que englobou as mudan-as ao longo do tempo em comparao com o ento momento presente, como veremos a se-guir. Pode-se, ainda, considerar-se essa anlise temporal numa perspectiva de traduo cultural, conforme asseverou Peter Burke.

    O momento, portanto, do incio do sculo XX, era propcio a manifestaes sobre o cenrio educacional no pas. Muitos estados estavam em franco processo de reforma educacio-nal, outros j a haviam realizado e, no caso do Rio de Janeiro, esta estava se iniciando. De qualquer forma, o que importa ressaltar que havia clara efervescncia da rea educacional que foi posta em evidncia com o advento do novo sistema poltico no Brasil, a Repblica. Esse outro aspecto que no pode passar despercebido: o ensino primrio no Brasil foi criado, como vimos, durante o perodo imperial, pelo ento imperador do Brasil. Como alerta Detienne, pen-sando no fundar, fazemos referncia a um ato, a gestos, a um ritual ou a um cerimonial insepa-rvel de um indivduo.8

    Desse modo, a ocasio serviu para que se fizesse uma retrospectiva histrica das transformaes do ensino primrio ao longo de seus cem anos englobando suas implicaes e os sujeitos que se envolveram com essas aes, seja no passado, seja no presente.

    Ainda acerca da relao entre presente e passado e sobre o significado de buscar a simbologia histrica da comemorao, Mnica Velloso, por ocasio da comemorao dos 500 anos do descobrimento do Brasil faz a seguinte anlise:

    Debruando-se sobre o passado para nele buscar as fontes simblicas capazes de construir uma inteligibilidade para o presente, as festas comemorativas [...] configuram-se como acontecimentos particular-mente significativos para a reflexo histrica. Ao trazer tona as mais distintas percepes do passado, tais festas revelam os conflitos da prpria sociedade que comemora.9

    De fato, as efemrides proporcionam uma anlise do passado, mas principalmente do presente. Podemos citar, como exemplo, a repercusso e as crticas veiculadas nos jornais da iniciativa da Cmara Municipal do Rio de Janeiro que decidiu suspender suas atividades em comemorao ao Centenrio do Ensino Primrio no Brasil, em 1927:

    A Cmara dos Deputados no trabalhou, ontem. No houve sesso porque, passagem do primeiro centenrio da oficializao do ensino primrio, no Brasil, partiu de um representante da Nao, a idia de

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  • uma homenagem do parlamento aquela efemride. Cem anos de difu-so do ensino elementar valem bem, uma consagrao. Mas esta no poderia ser prestada sem a sugesto do sr. Dioclecio Duarte, reque-rendo Cmara no marcasse para ontem, ordem do dia. O trabalho , tambm, uma homenagem nobre. Trabalhando tambm se reve-rencia um feito como esse de que foi magna pars, o visconde de So Leopoldo. (grifos nossos)10

    A crtica mais ferrenha versou sobre o quadro educacional qualificado como vergo-nhoso. A sutileza observada no artigo anterior d lugar uma custica anlise do papel do ce-nrio poltico no mbito educacional.

    Cmara no funcionar, a ttulo de comemorao. Fazem bem os pol-ticos. Afinal de contas so eles que lucram com a misria do analfabe-tismo. No fossem os 75% {de analfabetos, no Brasil} e no estariam repoltreados na preguia a ganhar seis contos por ms, para cumprir as ordens de um governo que tambm s existe em virtude da des-graa. Por isso no tratam, no querem diminuir a cifra. Ser-lhes-ia horrvel reduzi-la a zero. Morreriam.11

    O centenrio do ensino primrio no estado de So Paulo concentrou diversas discus-ses sobre a escola, destacando-se s relativas questo do analfabetismo. Essa discusso j havia sido muito enfatizada por ocasio da comemorao do primeiro centenrio do ensino pri-mrio no Brasil, em 1927, quando, segundo estatsticas dos jornais, uma grande parte da popu-lao brasileira ainda era analfabeta, por isso, como vimos, aps os cem anos da lei do ensino primrio, a data deveria ser motivo de vergonha nacional e no de comemorao. No caso es-pecfico do ensino primrio em So Paulo, embora as crticas e debates tenham sido mais ame-nos, os jornais noticiaram questes que deveriam receber maior ateno do poder pblico em relao ao ensino primrio.

    Para Armando Martins de Barros, h ainda outro sentido em comemorar no mbito es-colar relacionado aos registros fotogrficos que produzem.

    Eventos? Encontraremos as fotos de festas juninas, as festas do ndio, da rvore, do soldado, da bandeira, de fim do ano. A cada uma, na origem desse cotidiano festivo, a possibilidade de identificarmos o fio ordenador de uma pedagogia preocupada em provocar a socializao da criana pela ludicidade de atividades festivas, congregadoras do educando junto aos demais temas sociais. 12

    Essa afirmao permite refletir sobre a relao e a diferenciao entre o cotidiano escolar, crivado de comemoraes cclicas, anualmente realizadas, e as efemrides, que, por seu carter simblico e amplo exigem maior preparo e mobilizao de esforos na realizao de suas comemoraes.

    De acordo com Cynthia Greive Veiga, O tema das festas como comunho do sentimento de pertencimento nacional e social foi bastante analisado na perspectiva de sua vocao pedaggica. Da preparao, por meio da participao ativa dos pro-fessores e alunos, apresentao, a festa permeada por uma idia de educao integral e permanente [...] As festas, expresso da arte, devem ser dias de regozijo pblico e devem estar na rua e no corao de todos os cidados.13

    Desse modo, as festas e comemoraes esto impregnadas no cotidiano e na cultu-ra escolar e na sociedade na qual essa cultura se insere. Configura-se como parte significativa da educao, pois, a partir de sua preparao e realizao pode-se trabalhar preceitos morais e

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  • conteudsticos. Representam assim, um carter pedaggico inegvel e propcio a outros desdo-bramentos como, por exemplo, o seu registro por meio de fotografias, com o intuito de preser-var esses momentos.

    3. A circulao de modelos o caso dos lbuns fotogrficos da e na Escola Cae-tano de Campos Os quatro lbuns objetos desta anlise apresentam os seguintes aspectos em comum:

    so de cunho artesanal, o que pode ser constatado pelas inscries das legendas e de textos escritos mo; e constituem-se como uma narrativa que engloba desde aspectos que remon-tam histria da data a ser comemorada, at a identificao dos principais atores envolvidos nos festejos, tanto no passado quanto no presente. Considerando-se o aspecto fundante, apre-cem representados os responsveis pelo fato comemorado, como exemplo, no caso do IV Cen-tenrio de So Paulo, a ampla veiculao e louvao da figura do Padre Anchieta, reconhecido como um dos fundadores da cidade.

    Pelas legendas das fotos do lbum, percebe-se a incluso da Escola nos Festejos re-alizados pela Prefeitura em 9 de julho. Alm de participar das comemoraes da cidade, a esco-la realizou sua prpria comemorao entre 25 e 31 de outubro, como possvel constatar pela inscrio no lbum, em cuja pgina fixado o panfleto especialmente produzido pela escola para a ocasio.

    O lbum o registro das atividades de comemorao. Apresenta aspectos da execu-o do orfeo do Curso Normal no auditrio da escola; do Corpo cnico, em foto posada dos atores e aspectos da representao da pea teatral; das Conferncias, como fotos dos confe-rencistas e da atenta platia; da Exposio escolar comemorativa, com fotos das autoridades na abertura da exposio e de registros dos objetos e trabalhos expostos.

    A organizao do lbum tambm remete aos diversos nveis de ensino englobados na escola: festejos do pr-primrio, do curso normal e do ginsio.

    A principal tnica que norteia os registros fotogrficos apresentados no lbum alusi-vo comemorao da Escola Caetano de Campos do IV Centenrio de So Paulo a da ao. A maioria das fotos apresenta as diversas atividades realizadas, como por exemplo, a da partici-pao da escola no desfile realizado pelas ruas da cidade. Em uma das fotografias do lbum a legenda remete a este aspecto enfatizando a ao: em pleno desfile.

    As fotos dos diversos desfiles realizados pela escola e com a sua participao com-preendem grande parte dos registros apresentados no lbum, donde se apreende que o desfile deve ter tido realmente lugar de destaque durante os festejos.

    De acordo com Armando Martins de Barros, Os desfiles, embora de curta durao e representando um tempo n-fimo daquele que vivemos na escola, dispem de um nmero despro-porcional de fotos ao longo de nossa vida escolar. Por que dar nfases nesse desfiles: para a comunidade? possvel identificar na materiali-dade das fotografias o registro da marcha, as bandas, a homogenei-dade das formaes em ordem unida ao esforo da escola em ser apresentada como disciplina. 14

    O total envolvimento da escola Caetano de Campos nas atividades de comemorao so enfatizados em legendas como esta: todo o instituto no ptio do colgio.

    No caso dos lbuns da Escola Normal Livre Paulo Andr, de Barretos-SP e do Colgio Estadual e Escola Normal Peixoto Gomide, Itapetininga-SP, ambos homenageiam o 1. Cente-nrio do Ensino Normal em So Paulo, comemorado em 1946. Desse modo, apresentam algu-mas caractersticas em comum. E, apresentam tambm caractersticas que marcam a composio de lbuns escolares, tais como a narratividade e a composio artesanal.

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  • O lbum da escola de Barretos iniciado com um retrato do ento presidente da Repblica, Eurico Gaspar Dutra, com o epteto de homenagem. Esse um exemplo da j aludi-da prtica de marcar os responsveis no presente e no passado pelas efemrides. Seguem-se a esse, outros retratos, como o do inspetor geral de instruo em visita escola.

    O lbum composto tambm por diversos registros das instalaes da escola. So aspectos da fachada (sem e com alunos), do salo de festas, da sala de desenho (com alunos), da sala de cincias fsicas e naturais (sem e com alunos), do gabinete biomtrico, vestirio, da fachada interna e do ptio de recreio com alunos.

    Essa caracterstica tambm observada no lbum da escola de Itapetininga que apresenta aspectos do ptio interno, da sala da diretoria, da vice-diretoria, do salo nobre, da sala de aula, da escada interna, dos corredores, da sala de trabalho manuais - seo masculina, da sala de educao fsica, galpo, da sala de geografia, da sala de qumica e da sala de fsica. No caso do lbum da escola Peixoto Gomide, de Itapetininga, fotos das instalaes com pesso-as rara, contando-se apenas uma ocorrncia.

    A composio desses lbuns e o seu envio para compor o acervo da Escola Caetano de Campos parecem ter sido uma oportunidade de apresentar e de enaltecer as duas escolas. A prpria Escola Caetano de Campos, em duas ocasies, em 1898 e em 1908 realizou lbuns com essas caractersticas. A nfase nas instalaes e nas condies materiais das escolas refora-da pelas poucas aparies de pessoas, alunos e professores, nas fotos. Nos quatro lbuns essa uma caracterstica marcante. Considerando-se que os lbuns produzidos pela Escola Caetano de Campos so anteriores e que esta escola foi constituda como uma referncia no estado, pode-se delinear a possibilidade de seus lbuns terem servido como modelo para os demais, mas no h at o momento, como se comprovar tal teoria. De qualquer forma o princpio de procedncia e de cronologia so indcios que permitem elaborar esta hiptese.

    O lbum da escola Paulo Andr de Barretos ainda composto por registros de ou-tras festas comemoradas no mbito da escola, como por exemplo, o do altar da Festa do Expe-dicionrio, realizada em outubro de 1945, e outras Festas cvicas realizadas no recinto da escola, como a Semana da Ptria, a Homenagem ao Expedicionrio Barretense, e ainda, aspec-tos de excurses escolares das normalistas.

    A homenagem ao 1 Centenrio do Ensino Normal em So Paulo est explicitada em uma das pginas do lbum especialmente dedicada efemride.

    Uma das primeiras fotos do lbum da Escola Peixoto Gomide de Itapetininga jus-tamente do altar da missa em comemorao ao centenrio do ensino normal no estado de So Paulo. A esta, segue-se a fotografia da missa realizada em homenagem efemride.

    O lbum finalizado com retratos dos grupos representantes da escola no campeo-nato inter-colegial e de aspectos da aula de educao fsica

    Por ltimo, o lbum comemorativo do cinqentenrio do Jardim da Infncia da Esco-la Caetano de Campos, 18 de maio de 1846- 1946, tambm enfatiza o prdio, pois a primeira fotografia apresentada do prdio, com inscries de apreo. Em seguida, um retrato do Prof. Gabriel Prestes, com a legenda: 1. Director e creador do Jardim de Infncia. O retrato da atual diretora, Profa. Carolina Ribeiro e dos atuais professores seguem ao do criador, reforan-do uma nfase do papel da histria e da hierarquia educacional, como j foi observado nos ou-tros lbuns. Consideraes finais

    Para alm de perceber as similitudes encontradas entre os quatro lbuns analisados, preciso considerar suas condies de emergncia, que, embora estejam relacionadas a efe-mrides comemoradas no mbito escolar, so efemrides diferentes. Nos registros das instala-es detecta-se uma inteno de valorizao que remete a uma tradio.

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  • Desse modo, o sistema de representao das aes e da materialidade da escola circula em diferentes momentos e em diferentes suportes. Nesse estudo procurou-se analisar o caso de alguns lbuns fotogrficos que poderiam subsidiar essa reflexo. Os lbuns produzidos pela Escola Paulo Andr de Barretos e pela Escola Peixoto Gomide de Itapetiniga no ficaram restritos ao mbito do espao que representam, mas foram compostos visando uma apresenta-o dessas escolas em outros espaos. Poderia-se dizer que a sua composio tem um objetivo e um interlocutor bem definidos. Poderia-se, mais do que isso, inferir que esse interlocutor justamente a principal referncia para a composio desses lbuns: a Escola Caetano de Cam-pos. E, para a Escola Caetano de Campos a referncia e a interlocuo seria com sua prpria histria e com sua lugar na sociedade e na memria paulistana e educacional.

    Fontes lbuns Fotogrficos de Escola Caetano de Campos: de 1895, de 1908, lbum de Comemorao do IV Centenrio de So Paulo e lbum do cinqentenrio do Jardim de Infncia. Centro de Referncia em Educao Mrio Covas lbum fotogrfico da Escola Normal Livre Paulo Andr, de Barretos-SP homenagem ao 1. Cen-tenrio do Ensino Normal em So Paulo, 1846-1946. Centro de Referncia em Educao Mrio Covas lbum do Colgio Estadual e Escola Normal Peixoto Gomide, Itapetininga-SP. Centro de Refe-rncia em Educao Mrio Covas lbuns de recortes de jornal do Acervo Fernando de Azevedo do Instituto de Estudos Brasilei-ros-IEB/USP

    Referncias Bibliogrficas Barros, A. M. de. (2005). Os lbuns fotogrficos com motivos escolares: veredas do olhar. In: Histria da Educao em perspectiva: ensino, pesquisa, produo e novas investigaes. Gatti Jr., D. e Incio Filho, G. (orgs.) Campinas, SP: Autores Associados; Uberlndia, MG: EDUFU (Coleo Memria da Educao). Bittencourt, C. (org.). (2007). Dicionrio de datas da Histria do Brasil. So Paulo: Contexto. Burke, P. e Hsia, R. Po-chia (orgs.). (2009). A traduo cultural: nos primrdios da Europa Mo-derna. Trad. Roger Maioli dos Santos. So Paulo: Editora UNESP. Carvalho, M. M. C. de. (1989). A Escola e a Repblica. So Paulo: Brasiliense (Coleo Tudo histria, 127) Detienne, M. Comparar o incomparvel. Aparecida-SP: Idias & Letras, 2004. Eliade, M. (2006) Mito e realidade. 6. ed., So Paulo: Perspectiva. Julia, D. (2001) A cultura escolar como objeto histrico. In: Revista Brasileira de Histria da Educao(1), jan. - jun. 9-44. Kossoy, B. (2001). Fotografia & Histria. 2. ed. rev. So Paulo: Ateli Editorial. Kuhlmann Jr., M. (2000) Educando a Infncia Brasileira. In: Lopes, E. M. T., Faria, L. M. de, Veiga, C. G. (orgs.) 500 anos de Educao no Brasil. Belo Horizonte: Autntica (Coleo Histori-al, 6) Oliveira, M. C. M. de. (1997) Memria escolhida: imagem e histria nas fotografias do lbum Photographico da Escola Normal - 1895. 1997. So Paulo: Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo [Dissertao de Mestrado]. ____________. (2002) Palimpsestos: Fotografia na Escola Normal da Praa (1889-1910). So Paulo: Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo. [Tese Doutorado]. Veiga, C. G. (2000) Educao esttica para o povo. In: Lopes, E. M. T., Faria, L. M. de, Veiga, C. G. (orgs.) 500 anos de Educao no Brasil. Belo Horizonte: Autntica, pp. 399-422. (Coleo Histria, 6)

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  • Velloso, M. P. (2000) Com, mor? Descobrimento, comemorao e nacionalidade nas revistas humorsticas ilustradas. In Projeto Histria: revista do Programa de Estudos ps-graduados em Histria do Departamento de Histria da Pontifcia Universidade Catlica de so Paulo, no. 20. Vicentini, P. P. (2007) 15 de outubro (1933) Dia do Professor. In: BITTENCOURT, Circe (org.). Dicionrio de datas da Histria do Brasil. So Paulo: Contexto, pp. 245-248. Vidal, D. G. (1998) A fotografia como fonte para a historiografia educacional sobre o sculo XIX: uma primeira aproximao. In FARIA Filho, Luciano M. de.(org.) Educao, Modernidade e Civilizao. Autntica, Belo Horizonte, pp. 73-89. ______________. (1994). Fontes visuais na Histria: significar uma pea. In Varia Histria, n13, junho, Belo Horizonte, pp.128-131. 1 O Correio da Manh, Rio de Janeiro, 15 out. 1927. 2 VICENTINI, P. P. (2007) 15 de outubro (1933) Dia do Professor. In: BITTENCOURT, Circe (org.). Dicionrio de datas da Histria do Brasil. So Paulo: Contexto, p. 245. 3 Kuhlmann Jr., M. (2000) Educando a Infncia Brasileira. In: LOPES, Elaine Marta Teixeira, FARIA, Luciano Mendes de, VEIGA, Cynthia Greive (orgs.) 500 anos de Educao no Brasil. Belo Horizonte: Autntica (Coleo Historial, 6) p. 477. 4 Bittencourt, C. (org.). (2007). Dicionrio de datas da Histria do Brasil. So Paulo: Contexto. p. 11. 5 Eliade, M. (2006) Mito e realidade. 6. ed., So Paulo: Perspectiva. p. 51. 6 Idem, p.44. 7 Detienne, M. Comparar o incomparvel. Aparecida-SP: Idias & Letras, 2004. p. 51. 8 Idem. p. 51. 9 Velloso, M. P. (2000) Com, mor? Descobrimento, comemorao e nacionalidade nas revistas humorsticas ilustradas. In Projeto Histria: revista do Programa de Estudos ps-graduados em Histria do Departamento de Histria da Pontifcia Universidade Catlica de so Paulo, no. 20. p. 129. 10 O ensino primrio, O Brasil, Rio de Janeiro, 16 out.1927. 11 Centenrio vergonhoso, A Manh, Rio de Janeiro, 15 out. 1927. 12 Barros, A. M. de. (2005). Os lbuns fotogrficos com motivos escolares: veredas do olhar. In: Histria da Educao em perspectiva: ensino, pesquisa, produo e novas investigaes. Gatti Jr., D. e Incio Filho, G. (orgs.) Campinas, SP: Autores Associados; Uberlndia, MG: EDUFU (Coleo Memria da Educao) p. 126. 13 Veiga, C. G. (2000) Educao esttica para o povo. In: Lopes, E. M. T., Faria, L. M. de, Veiga, C. G. (orgs.) 500 anos de Educao no Brasil. Belo Horizonte: Autntica, pp. 399-422. (Coleo Histria, 6), p. 414. 14 Barros, 2005, Op. Cit. p. 127.

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  • CD-ROM DE ATAS | 3234 | COLUBHE 2012

  • AS ASSOCIAES CATLICAS DE ALUNOS E O TEATRO: DISPOSITIVOS DA PEDAGOGIA CATLICA NAS PRIMEIRAS

    DCADAS DO SCULO XX

    Giana Lange do AMARALFaculdade de Educao/Universidade Federal de Pelotas

    PA L AV R AS- C H AV E

    Cultura escolar; Associaes catlicas

    de alunos; Teatro estudantil

    ID: 1157

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  • CD-ROM DE ATAS | 3236 | COLUBHE 2012

  • Este texto faz parte de um estudo que analisa aspectos da cultura escolar de uma instituio catlica de Pelotas, o Colgio Gonzaga, nas primeiras dcadas do sculo XX, enfo-cando determinadas prticas escolares e os processos envolvidos na aquisio de uma cultura fundamentada nos princpios do catolicismo.

    A partir de uma viso que privilegia a participao discente, busca-se enfocar as aes dos sujeitos (corpo docente e discente) de uma escola atravs da imposio, apropriao e uso que faziam de prticas culturais que extrapolavam as atividades desenvolvidas na sala de aula: as associaes catlicas de alunos e o teatro. Prticas culturais entendidas conforme for-mulaes de Roger Chartier como estratgias de pensar a realidade e constru-la.

    Estas eram atividades que, indubitavelmente, serviam como estratgia de adeso aos princpios do catolicismo e de normalizao disciplinar, gerando valores, atitudes, posturas, sen-timentos e idias compartilhados, que resultavam das tticas de apropriao e das estratgias de imposio de modelos culturais, ou seja, da forma pela qual os indivduos reinterpretam e se utilizam de modelos culturais impostos e que esto em circulao num determinado momento (CERTEAU, 1994).

    No Brasil, nas duas ltimas dcadas, os estudos que envolvem a temtica cultura es-colar, no mbito da Histria da Educao, tm contribudo para a construo paulatina de uma histria cultural da educao cuja configurao ainda encontra-se em construo.1

    Nesta anlise busca fundamentar-se a utilizao do termo cultura escolar em JULIA (2001, p. 10), que a identifica como

    um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, um conjunto de prticas que permitem a trans-misso desses conhecimentos e a incorporao desses comporta-mentos: normas e prticas coordenadas a finalidades que podem variar segundo as pocas (finalidades religiosas, scio-polticas ou simplesmente de socializao)

    Este autor nos alerta para o fato de que a cultura escolar no pode ser estudada sem a anlise precisa das relaes conflituosas ou pacficas que ela mantm, a cada perodo de sua histria, com o conjunto das culturas que lhe so contemporneas: cultura religiosa, cultura poltica ou cultura popular.

    FRAGO (1994), a partir de uma concepo mais ampla afirma que cultura escolar de-ve ser entendida como um conjunto dos aspectos institucionalizados que caracterizam a escola como organizao, o que inclui,

    prticas e condutas, modos de vida, hbitos e ritos - histria cotidia-na do fazer escolar -, objetos materiais - funo, uso, distribuio no espao, materialidade fsica, simbologia, introduo, transformao, desaparecimento... -, e modos de pensar, assim como significados e idias compartilhadas. FRAGO (1994, p. 5)

    Embora com este estudo busque-se identificar caractersticas da cultura escolar de uma determinada escola catlica sabe-se que esta uma forma de possibilitar reflexes sobre prticas que se repetiam nas demais escolas catlicas do pas no perodo analisado. Dessa for-ma, nesta pesquisa, so seguidos alguns passos metodolgicos indicados por FRIGERIO e POGGI (1996) no que se refere anlise da instituio escolar. Segundo essas autoras,

    se considerarmos as instituies educativas como um objeto de co-nhecimento complexo, s pode-se apreender delas alguns aspectos, dos quais se delineiam a questo, tambm complexa, do recorte na anlise da instituio educacional e das prioridades para a recopila-

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  • o de informaes e para seu processamento. (FRIGERIO e POGGI, 1996, p. 40).

    As autoras apontam caminhos de anlise do territrio escolar, onde so tecidas es-

    tratgias de atuao do pesquisador junto aos arquivos e aos atores educacionais. Da mesma forma, alguns conceitos desenvolvidos por NVOA (1992, 1995) e MAGALHES (1996) e (2005) e Werle (2005) respaldaram aspectos terico-metodolgicos desta anlise que teve por base fontes escritas e iconogrficas.

    Os relatrios anuais apresentados pelo Gonzaga comunidade, na forma de livre-tos com a designao de Lembranas, se constituram em uma fonte fundamental na coleta de dados, pois possibilitaram uma aproximao dos discursos e intenes emitidos pela Escola. Tais fontes embora se caracterizem pelo seu carter oficial, no deixam de ser um produto cul-tural de uma instituio escolar especfica em um determinado contexto histrico, tendo sido elas, analisadas a partir dessa compreenso. Nesse sentido, CHARTIER (1992, p. 18) enfatiza que os historiadores da cultura devem criar suas prprias estratgias para lerem os textos com os quais trabalham, pois eles afetam o leitor de formas variadas e individuais. Os documentos que descrevem aes simblicas do passado no so textos inocentes e transparentes; foram escritos por autores com diferentes intenes e estratgias.

    Da mesma forma importante, tambm, levar em conta, quando possvel, os as-pectos formais das fontes, realizando a arqueologia dos objetos culturais, concebidos como discursos que informam os valores subjacentes educao. Esses discursos articulados nos documentos devem ser compreendidos como prticas de representao e, como tais, so pers-pectivadas por uma posio determinada: a do sujeito que as produz enquanto tambm nelas se produz (CHARTIER, 1990).

    Ressalta-se que as Lembranas, davam, portanto, uma visibilidade das atividades e do andamento da vida escolar do Gonzaga. Em 1899, foi publicado pela primeira vez o relat-rio com a premiao dos alunos em comportamento, aplicao, aproveitamento e melhor classi-ficao nas notas das disciplinas. A partir da dcada de 1920, alm do andamento da vida escolar, aparecem, nas Lembranas, fotos dos alunos premiados, dos participantes das asso-ciaes catlicas, do batalho militar, das festas religiosas, das excurses, dos festivais teatrais e musicais e de autoridades civis e religiosas. Tambm h muitas fotografias dos prdios do Gonzaga, com tomadas de seus espaos internos e externos.

    Neste trabalho foram analisadas 25 fotografias que constam nas Lembranas e que documentam aspectos das comemoraes realizadas pelas Associaes Catlicas de Alu-nos, nas quais as apresentaes teatrais tinham um destaque especial. Na utilizao de fotogra-fias tomou-se por base LEITE (2000) e CARDOSO E MAUAD (1997).

    CARDOSO e MAUAD (1997), alm de considerarem a fotografia como a materiali-zao da experincia vivida, das memrias de uma trajetria de vida, de flagrantes sensacio-nais, de lembranas do passado, de mensagens codificadas em signos, consideram-na, tambm, como uma marca cultural de uma poca que reflete uma dada viso de mundo, repre-sentando uma fonte que pode transmitir-nos muito mais do que os nossos olhos podem ver. Esses autores apontam, ento, para a importncia da compreenso da imagem fotogrfica co-mo um documento que revela aspectos da vida material de um determinado tempo do passado e do qual a mais detalhada descrio verbal no daria conta. E, tambm, como uma ima-gem/monumento, ou seja, aquilo que no passado a sociedade pretendia que fosse perenizado de si mesma para o futuro.

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  • 1 As Associaes catlicas de alunos No Brasil, o regime republicano consolidou a separao entre a Igreja Catlica e o Es-

    tado. Com a Constituio Republicana de 1891 foi posto fim ao regalismo2 que sustentava essa inter-relao de interesses entre a Igreja e o Estado. Nas primeiras dcadas da Repblica assis-tiu-se a uma reorganizao das escolas catlicas, sendo esta uma estratgia fundamental da Igreja para sua prpria reestruturao no pas. Muitas escolas, predominantemente de ensino secundrio, voltadas para a formao das elites, foram criadas, tendo a ordem dos jesutas re-levante papel neste sentido.

    No Rio Grande do Sul este processo desenvolveu-se de forma singular e muito signifi-cativa, graas ideologia do governo castilhista, que estimulava a iniciativa particular na rea educacional, o que propiciou a abertura de vrios estabelecimentos de ensino catlicos.

    Em nosso pas o Positivismo inspirou e influenciou a vida intelectual e poltica durante o sculo XIX e incio do XX. Mas foi no Rio Grande do Sul, com a ascenso do Partido Republi-cano Rio-Grandense (PRR), que a ideologia positivista obteve maior penetrao, apresentando caractersticas bastante peculiares. As idias comtianas, adaptadas estrutura poltico-administrativa gacha e figura do lder Jlio de Castilhos, originaram o Castilhismo, que do-minou o cenrio poltico deste estado durante a Repblica Velha.3 Neste contexto foi criado pe-los jesutas, em Pelotas, em 1894, o Colgio Gonzaga, primeira instituio catlica de ensino primrio e secundrio da cidade, obra do pioneirismo dos padres jesutas Anselmo de Souza e Gustavo Locher4.

    O mtodo educacional dos jesutas, que uniformizava a pedagogia por eles aplicada em toda a sua extensa rede de colgios, se fundamentava na Ratio Studiorum, que definia critrios e organizava o conhecimento escolar.5 O sistema de ensino pautado pelos princpios da disciplina, da obedincia, do respeito e dos bons exemplos, tendo por base a inculcao moral e religiosa, visava a formao de alunos dceis, obedientes mas ao mesmo tempo preparados para ocuparem futuramente posies e responsabilidades de mando. As permanentes ativida-des propostas aos alunos, o controle do espao e do tempo, a emulao e a premiao aos me-lhores alunos eram importantes dispositivos utilizados pelos jesutas para atingirem os seus objetivos educacionais.6

    Nas escolas catlicas brasileiras, durante as primeiras dcadas do sculo XX, a partici-pao dos alunos em atividades extra-classe, atravs de grupos organizados, como as associa-es catlicas e o teatro, servia de estmulo adeso aos princpios do catolicismo e normalizao disciplinar.

    As apresentaes artstico-culturais dos alunos, envolvendo desfiles nas ruas, a msi-ca, o canto, as declamaes e os discursos, assim como a imprensa e o grmio estudantil, fo-ram atividades bastante incentivadas no Colgio Gonzaga desde a sua fundao. Essas prticas, que faziam parte das festas escolares, eram momentos de ruptura da rotina dos estudos e do trabalho em sala de aula. Como acontecia em outras escolas brasileiras neste perodo, festeja-vam, regularmente, as efemrides cvicas nacionais, como as proclamaes da independncia poltica do pas e da Repblica, o descobrimento da Amrica, a abolio da escravatura e os dias da bandeira e de Tiradentes.

    Neste contexto, pode-se afirmar que a expresso objetiva e palpvel do esprito religi-oso dos colgios catlicos era a freqncia aos sacramentos e o florescimento e desenvolvimen-to das associaes pias entre o corpo discente. Em articulao com as missas, a confisso e a comunho se incorporavam nas prticas educativas dirias dos estudantes. Atravs da escola recebiam solenemente, com a presena do bispo, a primeira comunho, a crisma e at mesmo o batismo.

    Um panorama sobre a vida religiosa dos alunos e a ao educacional dos Irmos Las-salistas dez anos aps terem assumido o Gonzaga nos relatado a seguir a partir da corres-

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  • pondncia do Padre Lenz, capelo responsvel pela direo espiritual dos alunos e dos Irmos daquela escola, datada de 19367:

    Temos no Ginsio 700 alunos dos quais 70 so internos. Vou para l todos os dias s 5h30min. s 6h a comunidade dos Irmos. s 6h30min algumas confisses dos alunos internos. A seguir rezo um pouco de brevirio e mais algumas confisses (dos alunos externos). s 8h, missa para todos. Desde o princpio da missa, enchem-se to-dos os bancos, ao todo 28 com 7 a 8 assistentes por banco. O espa-o da entrada tomado de imediato e, muitas vezes, o corredor diante da capela. De ordinrio, as comunhes so 25 a 30; por ve-zes, 50 a 70. [...] Os grandes so precisamente os mais fiis. Da 5a B aparecem todos pelo menos uma vez por semana, sendo que os da 5a A, so mais indolentes. Aos domingos dos ltimos tempos, at se faz preciso fechar a porta logo aps o primeiro sinal, porque a capela no comporta todos os rapazes. (PARMAGNANI e RUEDELL, 1995, p. 96 e 97)

    importante lembrar que aos alunos era obrigatria a freqncia s missas domi-nicais, momento em que tinham, inclusive, sua presena fiscalizada pelos Irmos. Mas, durante a semana, estavam desobrigados dessa prtica. Como as aulas no Gonzaga tinham incio s 8h30 min, muitos antecipavam sua chegada e assistiam s missas dirias na capela da escola. Percebe-se, dessa forma, o quanto, entre os alunos, fora assimilada a pedagogia de La Salle, que tambm fundamentava a formao moral e religiosa do educando atravs da sua devoo, que se manifestava na participao nas missas, freqncia nos sacramentos e orao

    Os alunos da 5a srie a que se refere o capelo eram concluintes do curso ginasial. Naquela poca, vigorava o currculo de 10 anos, sendo que 4 anos correspondiam ao Curso Primrio, 1 ano ao Curso de Admisso e 5 anos ao Ginsio. Esses alunos grandes tinham, provavelmente, entre 16 e 20 anos.

    Em suas correspondncias, Padre Lenz comenta sobre as aulas de Religio minis-tradas diariamente aos alunos de todas as sries. Conforme a opinio do Padre, os rapazes do Gonzaga eram diferentes daqueles que com ele conviveram no Ginsio Catarinense:

    Aqui os alunos, tambm os da 5a srie, tm cada dia aula de Religio e estas aulas preparadas pelos Irmos com uma conscincia admir-vel. Devem fazer eles mesmos exames bem rigorosos de Religio: Dogmtica, Apologtica e Asctica. Vi os programas. [...] Aqui ocor-reu sem alteraes todo o ano. A opinio que formei, vindo para c, foi-se firmando sempre mais. Os meninos de Pelotas so de outra ra-a, muito mais generosos e nobres que os de Florianpolis. So me-nos ingratos, menos preguiosos e menos mal criados. Encontrei aqui meninos os quais nunca encontrei l. (PARMAGNANI e RUEDELL, 1995, p. 97).

    A disciplina de Religio, embora fosse facultativa, conforme a indicao da legislao federal, figurava entre aquelas em que os alunos concorriam para o recebimento de premiao. Alm das aulas de religio, ministradas pelos Irmos, o capelo jesuta tambm se encarregava de realizar visitas espordicas s salas de aula para palestrar sobre temas de interesse doutri-nrio catlico.

    No Gonzaga ao corpo discente era tambm propiciado o aprofundamento de seus co-nhecimentos sobre o catolicismo e vivncia crist atravs da participao nas associaes cat-

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  • licas como as Congregaes Marianas, Juventude Estudantil Catlica, Apostolado da Orao e tambm diversos retiros espirituais dos quais geralmente participavam jovens ligados Juven-tude Estudantil Catlica.

    Salienta-se que as associaes catlicas de alunos, at meados da dcada de 1960, eram dispositivos pedaggicos bastante comuns nas escolas que pertenciam a diversas congre-gaes religiosas.

    Desde os primeiros anos do sculo XX, sabe-se da existncia, no Gonzaga, da Con-gregao Mariana que se destinava, inclusive, participao de ex-alunos que, ao sarem do Colgio, continuavam fiis prtica da Religio e Congregao. Em 1924, foram criadas duas Congregaes independentes: uma para os alunos internos - Nossa Senhora do Rosrio - e outra para os externos -Nossa Senhora da Glria.

    A Companhia de Jesus dirigiu o Gonzaga at o ano de 1926, quando os Irmos Lassalistas assumiram a sua direo, tarefa qual se dedicaram at o ano de 2003. Com os lassalistas no Gonzaga, as Congregaes Marianas, sob a orientao dos padres capeles jesu-tas, continuaram a cumprir com seus objetivos de estimular os congregados a serem modelos de aplicao, procedimentos, moralidade e obedincia, atravs da fervorosa prtica dos deveres religiosos e do bom encaminhamento para uma vivncia crist na vida social. Os congregados participavam de conferncias cujos temas eram sempre considerados altamente morais e edu-cativos. Realizavam reunies semanais, participavam de devoes especficas e colaboravam com a organizao e apresentao das festas religiosas que anualmente faziam parte do calen-drio escolar, dando-lhes um brilho especial. Dentre elas, a de So Joo Batista de La Salle, no dia 15 de maio, a Procisso de Corpus Christi, a festa de So Luiz Gonzaga, em 21 de junho, a festa do Corao de Jesus, as cerimnias de primeira comunho e crisma dos alunos e as festas titulares das congregaes de N. S. da Glria, N. S. do Rosrio e N. S. da Conceio.

    Essas associaes contavam com uma diretoria, eleita pelos alunos, composta por di-versos cargos: diretor espiritual (padre capelo), prefeito, 1 e 2 assistentes, secretrio, tesou-reiro, bibliotecrio e consultores.

    No Gonzaga, cada associao religiosa tinha sua prpria diretoria e seus programas de atuao. Por vezes dividiam seus trabalhos em sees como por exemplo: - Congregao do SS. Menino Jesus, fundada em 1927, formada por meninos dos Cursos Preliminares, tendo por objetivos

    alcanar de Deus, pela meditao do Menino Jesus, 1) que em todas as casas de educao Deus tenha o primeiro lugar; 2) que em toda parte e em todo o tempo tanto os professores como os alumnos pos-sam livremente observar as leis de Deus e da Igreja; 3) que os me-ninos no sejam expostos a perder a f naquellas escolas onde Deus menos honrado; 4) que Deus seja servido em suscitar numerosas vocaes para professores christos e educadores religiosos. (LEM-BRANA DO GYMNASIO GONZAGA, 1930, p. 75).

    - Grmio So Tarcsio, fundado em 1930, tinha por finalidade: a devoo especial e ntima unio com Cristo Sacramentado, assim como a contribuio para a piedade e esplendor do culto divino, servindo aos turnos do altar, preparando os coroinhas. - Conferncia Vicentina, fundada em 1928. Segundo seus relatrios, visava ao atendimento material e espiritual a famlias carentes atravs da distribuio de gneros alimentcios e agasa-lhos, livros, brochuras e jornais para fazer frente aos inimigos da f catlica e para a propaga-o da mesma.

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  • - Cruzada Eucarstica, fundada quando os jesutas ainda administravam o Gonzaga. Funcio-nava em todas as classes do Gonzaga, havendo em cada uma, diretoria prpria, eleita no incio do ano, tendo por objetivo o incentivo a todos os alunos comunho freqente. - Centro de Juventude Catlica, fundado em 1934. Baseado nos princpios de vida espiritual intensa, esprito de renncia e de disciplina, seus membros objetivavam apostolizar a juventu-de.

    Portanto, essas associaes religiosas visavam, alm do aprofundamento do conheci-mento da doutrina catlica, o desenvolvimento de uma ao apostlica interna que acabava por contribuir para a consolidao do projeto poltico-pedaggico da Igreja, exercendo o importante papel de regulao da vida escolar. Esses grupos representavam um papel fundamental no con-junto de estratgias e tticas didticas utilizadas pelos lassalistas para alcanar a produo e obedincia do corpo discente.

    preciso reconhecer que os alunos participantes dessas agremiaes constituam-se em uma elite, um modelo de conduta a ser seguido pelos demais.

    2 As apresentaes teatrais

    Na programao festiva anual dos colgios catlicos as sesses artstico-culturais visavam interromper a monotonia da lida escolar. As apresentaes musicais, teatrais, literrias e cvicas, assim como os festejos religiosos, eram considerados como de grande importncia pedaggica no sentido de aprimorar a educao e os valores catlicos. No Gonzaga, as associa-es religiosas dos alunos sempre se faziam presentes com sua participao atravs de confe-rncias, dissertaes, rcitas, exibies musicais, teatrais e cinematogrficas.

    Ao que tudo indica, o teatro era das atividades que mais despertava o interesse dos alunos. Como a realizao de apresentaes teatrais com fins educativos estava prevista na Ratio Studiorum, elas faziam parte da cultura escolar desde o tempo em que o Gonzaga per-tencia aos jesutas, sendo praticadas com regularidade, geralmente s com personagens mas-culinos e com temticas impregnadas de religiosidade.

    Os lassalistas tambm foram grandes incentivadores do teatro entre os alunos. PARMAGNANI e RUEDELL (1995, p. 166) assinalam que no comeo do sculo XX, os Irmos dirigiam, na Frana, 43 internatos onde as sesses teatrais eram previstas no planejamento anual. No primeiro grande internato criado por eles no Brasil, o Instituto So Jos, em Canoas, no Rio Grande do Sul, logo introduziram a arte teatral, continuada no Gonzaga, com a transfe-rncia daquele internato para Pelotas.

    Em 1929 foi fundado o Corpo Cnico, tendo por fim o aprimoramento da cultura intelectual e social dos alunos, proporcionando horas convenientemente recreativas, por meio de representaes teatrais (LEMBRANA DO GYMNASIO GONZAGA, 1929, p. 90). Em seus en-contros mensais alguns membros do grupo faziam uso da palavra, dissertando sobre uma tese previamente preparada.

    O Corpo Cnico possua uma diretoria eleita, sendo que dela participavam Ir-mos, professores e colaboradores do grupo de artistas amadores. Essa era uma forma de manter a vigilncia, orientao e regulao do ritmo coletivo de um trabalho que divulgaria o nome da instituio escolar, dando visibilidade aos valores que lhes eram caros.

    As peas teatrais eram rigorosamente escolhidas para que correspondessem no s s expectativas da escola mas, tambm, de toda a comunidade catlica que pagava para assis-tir boa e honesta arte. As apresentaes, que eram intercaladas com nmeros musicais e declamatrios, contavam, inclusive, com a presena do bispo diocesano e de autoridades locais. Por diversas vezes o Corpo Cnico organizou matins gratuitas para outras escolas e para asilos. Geralmente eram encenados dramas dos sculos passados, cujos ttulos eram bem su-gestivos, como O Remorso que Mata, O Triunfo da Coragem, Sublime Dedicao, Gene-

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  • roso Perdo, Os Gondoleiros da Morte, O Mrtir da Eucaristia, Paixo de Cristo, entre ou-tros. Tambm representavam algumas comdias. Dentre elas, Estudante em Apuros, O In-gls Mal Vestido, Quiabo e Lamparina.

    O Corpo Cnico realizava festivais de teatro que, alm de serem apresentados no Teatro Gonzaga e no Colgio So Jos, de Pelotas, tambm eram levados para cidades pr-ximas, como Arroio Grande, Canguu e Rio Grande. Em diversos perodos, os Congregados Ma-rianos tambm tiveram seus grupos teatrais que se apresentavam no Ginsio e fora dele. importante salientar que essas atividades constituam-se em uma excelente fonte de arrecada-o de fundos, que eram revertidos para outras iniciativas artstico-culturais e/ou religiosas.

    Um indcio da importncia dessa prtica cultural no Gonzaga, foi a construo de seu teatro. Por algum tempo, ele foi um dos poucos espaos disponveis na cidade para a reali-zao de espetculos, uma vez que os tradicionais teatros haviam se transformado em cinemas. Dessa forma, o espao do teatro servia, tambm, como mais uma fonte de renda ao Colgio.

    As cerimnias e festas religiosas eram, tambm, abrilhantadas pela participao da Schola Cantorum, reorganizada em 1929, sendo que os cantores eram escolhidos entre os alunos pensionistas.

    Outra festa que motivava grandes comemoraes era o aniversrio onomstico do diretor do Gonzaga. Geralmente sua programao ficava por conta do Grmio dos Estudantes que organizava magnficas manifestaes de apreo ao Rev. Irmo Diretor. Logo cedo havia missa na capela do Ginsio, da qual participavam os alunos e professores. Aps, acontecia ses-so solene, onde atravs de discursos os alunos enalteciam as virtudes do homenageado, en-tregando-lhe flores. noite, as famlias dos alunos eram convidadas para assistirem s apresentaes artstico-culturais. Todos confraternizavam, vibrando com as manifestaes das habilidades musicais, teatrais e declamatrias que o Gonzaga proporcionava a seus alunos.

    No Gonzaga, no perodo estudado, havia uma preocupao em comemorar as datas cvico-religiosas. O dia do aniversrio do Colgio, talvez por no se enquadrar nessa categoria e apresentar caractersticas que pudessem remeter a sentimentos considerados por demais pro-fanos, perdia em brilho e participao para as festas dos dias de So Joo Batista de La Salle e de So Luiz Gonzaga, as festas titulares das Congregaes Marianas N. Sra. da Glria (conside-rada, nos relatrios, das festas do Ginsio a que mais comove e empolga) e N. Sra. do Ros-rio, Corpus Christi, e as comemoraes de exaltao ptria.

    Dentre as festas patriticas, principalmente a partir da implantao do Estado No-vo, o dia 7 de setembro era comemorado com grande entusiasmo e participao de todas as escolas. No deve ser esquecido que esse um perodo em que a Igreja Catlica caminhava de mos dadas com o governo brasileiro, que atendera muitas de suas reivindicaes no campo educacional. A ditadura de Vargas, atravs da implantao do Estado Novo, era enaltecida.

    Palavras finais

    Assim como em outras escolas catlica destinadas formao da elite brasileira, no Gonzaga constata-se o controle e a vigilncia constante sobre as atividades discentes fora do espao da sala de aula, nas quais sempre havia a participao e orientao dos Irmos. Essas atividades faziam parte de seu projeto poltico-pedaggico, sendo que muitas delas estavam includas no currculo a ser desenvolvido ao longo do ano. O controle do espao, a escanso do tempo, o sistema de premiao e a emulao, podem ser considerados como mais um dos dis-positivos que faziam parte das estratgias escolares. As atividades extra-classe desenvolvidas pelos alunos eram uma forma de lev-los produo e obedincia, mantendo-os ocupados em seus momentos de lazer em torno de uma causa fundamental: o desenvolvimento do espri-to cristo catlico.

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  • Pode-se afirmar que a avaliao do desempenho comportamental dos alunos, no qual se inclua a assuno dos valores e princpios do catolicismo (participao nas associaes reli-giosas, missas, sacramentos e retiros) um aspecto fundamental no s para caracterizao da identidade do corpo discente do Gonzaga, mas tambm de toda essa instituio escolar.

    No Gonzaga, sendo ele um estabelecimento de ensino catlico, a ideia de organi-zao hierrquica permeava toda a sua cultura escolar. O olhar vigilante dos Irmos, com sua presena controladora, estava presente tanto junto s organizaes estudantis, quanto nas as-sociaes catlicas, no Grmio de Estudantes e no Corpo Cnico. Se no havia um representan-te religioso organizando e orientando as atividades fora do mbito da sala de aula, l estavam os leigos, geralmente ex-alunos, que prontamente se dispunham a acompanhar os alunos. In-clusive nas associaes estudantis, a presidncia de honra cabia a um Irmo da Congregao. Tal postura tinha como objetivo conduzir o corpo discente produo esperada, evitando pos-sveis desorientaes que pudessem ser perniciosas formao dos alunos.

    Dessa forma, propunham-se a educar novas geraes formando, junto s elites, li-deranas catlicas que se dirigiam aos cursos superiores e que se encaminhariam como profis-sionais liberais ou trabalhadores em empresas privadas ou rgos pblicos. Buscavam, assim, vincular o catolicismo organizao social, cultural, econmica e poltica da comunidade pelo-tense, visando a formao de indivduos letrados, catlicos, patriticos, ordeiros, dceis e teis, enquadrados sua classe social.

    Por este estudo constata-se que o Gonzaga poderia ser definido como uma escola organizada onde tudo funcionava muito bem, com uma disciplina exemplar, imposta pela vigi-lncia e autoridade dos Irmos. Uma escola que propiciava um meio seguro de aprendizagem e formao num prdio com dependncias amplas e modernas. Uma escola crist destinada queles que podiam pagar e que se sujeitavam s suas regras bem definidas, em relao ao processo de ensino no qual incorporava-se a formao religiosa e comportamental oferecida aos alunos.

    Finalizando, ressalta-se a importncia para os alunos do Gonzaga, dos espaos em que se desenvolveram prticas culturais que extrapolaram a sala de aula e propiciaram possibi-lidades de vivncias que certamente tm papel fundamental na produo do conhecimento so-bre a realidade. Isso confirma que o papel da escola na formao de seus alunos transcende mera transmisso de conhecimentos. Portanto, aos alunos que desenvolvem prticas culturais fora dos limites da sala de aula, so propiciadas vivncias e possibilidades de superao de con-flitos, que acabam por produzir o conhecimento da realidade. E, indubitavelmente, tais vivn-cias se refletem de maneira positiva no encaminhamento futuro dos alunos egressos.

    Nesse sentido, cabe ressaltar a organizao e atuao desses estudantes em torno das associaes religiosas e de grupos de teatro. Certamente o envolvimento nessas prticas tambm influenciou fortemente sua adeso aos princpios do catolicismo. Referncias AMARAL, G. L. (1999). O Gymnasio Pelotense e a Maonaria: uma face da histria da educao

    em Pelotas. Pelotas: Seiva Publicaes. CARDOSO, C. F., MAUAD A M. (1997) Histria e Imagem: os Exemplos da Fotografia e do Ci-

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  • 1 Sobre as definies de cultura escolar mais utilizadas, similitudes e diferenas entre as concepes de autores como Dominique Julia, Andr Chervel, Jean-Claude Forquim e Antnio Viao Frago ver FARIA FILHO et alli (2004, p. 139 a 159). 2 Doutrina que defende a ingerncia do chefe de Estado em questes religiosas. 3 Sobre os interesses do governo positivista gacho no campo educacional ver, entre outros, TAMBARA (1995), CORSETTI (1998), GIOLO (1997) e AMARAL (1999). 4 O padre Locher, em sua passagem pela cidade, escreveu o livro Vade Mecum Philosophico, em 1898, abordando aspectos da concepo ideolgica hegemnica no sistema educacional catlico rio-grandense de ento. Tal obra um importante subsdio para o esclarecimento de questes que se referem s posturas dos jesutas no campo educacional. 5 Sobre o assunto ver FRANCA (1952), MAIA (1996), TAMBARA (1995) e SAVIANI (2007). 6 Sobre o sistema disciplinar e de vigilncia no cotidiano de uma escola catlica, consultar DALLABRI-DA (2001). 7 Mesmo aps ter-se retirado do Gonzaga,alugando a instituio aos Irmos Lassalistas, nos primeiros anos da dcada de 1920, a Companhia de Jesus continuou a manter um padre para dar assistncia religio-sa capelania da escola. O Padre Brentano (capelo de 1928 a 1932) foi fundador do Crculo Operrio Pelotense; o Padre Lenz (capelo em 1936),ex-provincial dos jesutas, veio transferido do Ginsio Catari-nense, Florianpolis, onde exercia o cargo de Prefeito de disciplina; o padre Jaime Chemello (capelo em 1960 e 1961) foi bispo de Pelotas e presidente da CNBB Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil.

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  • DOS IDEAIS E DO SIMBOLISMO DA FESTA DA RVORE NA I REPBLICA

    Alberto Filipe de Abreu ARAJOUniversidade do Minho

    Joaquim Machado de ARAJOUniversidade Catlica Portuguesa

    PA L AV R AS- C H AV E

    Festa da rvore; Educao

    republicana; Simbolismo vegetal

    ID: 68

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  • J impulsionada sobretudo por elementos da maonaria no perodo monrquico, a Festa da r-vore assume especial relevo aps a implantao da Repblica sobretudo at ao eclodir da pri-meira Guerra Mundial (1916-1919). Intimamente associada aos ideais e valores republicanos, a Festa da rvore realiza-se pela primeira vez no Seixal em 26 de Maio de 1907, promovida pela Liga Nacional de Instruo, entretanto criada para promover a instruo nacional, principalmen-te a instruo primria, e que foi presidida por Bernardino Machado. Entre 1912 e 1915, vrias iniciativas so fortemente impulsionadas pelo jornal Sculo Agrcola, com especial relevo no ano de 1913 em que, pela primeira vez, se realizou no mesmo dia a nvel nacional. Desta poca temos notcia de Festas da rvore em vrios pontos de Portugal, nomeadamente em Lisboa, Porto, Coimbra, Leiria, Aveiro, Santarm, Castelo Branco, vora, Alcovas, Alcoba-a, Lourinh, Barreiro, Seixal, Moita, Fundo, Almodvar, Lous, Montemor-o-Novo e Amadora. A Festa da rvore obedecia a um esquema organizativo que inclua um cortejo cvico com auto-ridades locais, professores, alunos e povo em geral, a entoao do hino nacional e de canes patriticas, plantao de rvore, recitao pelos alunos de poemas por eles compostos, discurso consagrador dos valores cvicos da Repblica e eventual lanche final que acentuava a vocao societria e fraternal da festa. O valor educativo, moral e cvico da Festa da rvore particularmente realado no discurso pedaggico republicano, nomeadamente em comunicaes a congressos da Liga Nacional de Instruo, em revistas como Educao Nacional e a Ilustrao Portuguesa e outras publicaes, enquanto representao e expresso do ideal de regenerao que atravessa a mundividncia republicana (Catroga, 1991 e Arajo, 1994 e 1997). A sua importncia cvica e pedaggica tra-duz-se mesmo na elaborao de um Guia para a organizao e realizao da festa da rvore (Walgde e Queiroz, s.d.). Assim, sob o pretexto da festa da rvore, as elites republicanas, cul-turais, polticas ou pedaggicas, endoutrinavam a sociedade com os novos valores republicanos solidariedade, igualdade e liberdade (Teixeira Bastos) que serviam para consagrar uma educao moral, cvica e patritica que buscava, mais que criar uma rutura radical com o pas-sado e mesmo com os ensinamentos da pedagogia iluminista e republicana do sculo XVIII, estabelecer uma continuidade com estes sobretudo retomando o ideal regenerador do nosso republicanismo que fazia do postulado da antropologia iluminista o de que o ser humano infinitamente perfectvel uma das suas pedras angulares. Este ideal estava bem simbolizado pela plantao da rvore e, para alm da sua dimenso poltica, inscrevia-se numa mundiviso educacional e numa prtica pedaggica que requeria um tempo lento em ordem formao de um homem novo (Alberto Filipe Arajo) que era o cidado republicano, imbudo de idealismo, de bondade, de altrusmo e de solidariedade, formado numa demopedia que se proclamava laica e completa numa linha da mens sana in corpore sano de Juvenal e que os pedagogos re-publicanos, nomeadamente Joo de Barros, muito apreciavam. portanto sob este fundo que a nossa comunicao se inscreve. Esta comunicao apresenta um estudo sobre a Festa da rvore enquanto ritual, smbolo e festa escolar da I Repblica, re-toma e explicita as representaes dominantes sobre o sentido republicano da Festa, utilizando como principias fontes jornais, revistas e outras publicaes da poca, que submete a um con-junto de procedimentos hermenuticos com o objetivo de recensear as metforas utilizadas, identificar as ideias fora recorrentes a elas associadas, sublinhar a relao entre ideologia e mito, ilustrar a pregnncia simblica (Ernst Cassirer) das manifestaes ideolgicas, polticas e pedaggicas vertidas na Festa da rvore e evidenciar o simbolismo vegetal bem como os mitos subjacentes para compreender o alcance simblico e arquetpico do iderio educacional republi-cano. Partindo dos vrios textos que publicitam a realizao da Festa da rvore e dos estudos mais ideologizados da autoria dos pedagogos e de propagandistas da causa republicana, procu-ramos, num primeiro momento, realar os ideologemas mais significativos e recorrentes que esto presentes nessas fontes para, num segundo momento, discutirmos se a recenso desses

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  • mesmos ideologemas, que contm j em si vrias representaes culturalistas da rvore en-quanto veiculadoras dos valores republicanos, so suscetveis j de as esgotar. O que se pre-tende pois discutir, numa perspetiva da hermenutica simblica de Gilbert Durand, se esses ideologemas no transmitiro, mediante o sentido mais profundo da semntica que habita a metfora hortcola, um cenrio simblico, seno mesmo mtico, em que o simbolismo vegetal, bem estudado por Mircea Eliade, estende os seus ramos para paragens cujo semantismo j arquitetado e condensado em mitos, heris, deuses ou outras figuras mticas de que Anteu um bom exemplo. Consideramos para o nosso estudo os contributos de Fernando Catroga (1991:446-449), Alber-to Filipe Arajo (1994:122-130), Joaquim Pintassilgo (1998:177-200) e Jos Neiva Vieira (2010) sobre a Festa da rvore na Primeira Repblica. Os dois primeiros autores associam a Festa da rvore ao tema da regenerao csmica, discutem as continuidades e ruturas da Repblica face Monarquia e enfatizam as ideias de refundao e redeno que a revoluo republicana sim-boliza na construo de uma ptria nova e na formao de um homem novo. Por seu lado, Joa-quim Pintassilgo (1998) retoma a Festa da rvore como festa revolucionria, realando-lhe o significado cvico-pedaggico enquanto ritual potenciador de regenerao social, e o seu es-quema organizativo e Jos Neiva Vieira elenca vrias festas da rvore e apresenta representa-es iconogrficas e conferncias florestais da poca, ao mesmo tempo que enfatiza o culto ancestral da rvore, smbolo da vida, do esprito e do conhecimento, smbolo de fecundidade e de verticalidade, smbolo de transformao e de evoluo, smbolo de segurana e de proteo. As interpretaes culturalistas de autores, tais como Fernando Catroga (1991) e Joaquim Pin-tassilgo (1998), em muito contriburam para uma melhor compreenso do significado da Festa da rvore na Primeira Repblica, contudo no esgotam a riqueza semntica que a rvore como smbolo primrio (Paul Ricoeur) contm. Por conseguinte, na presente comunicao defende-se uma interpretao que radicaliza a leitura culturalista na base de uma interpretao mtico-simblica que melhor d conta dos fluxos metafricos (dimenso vegetal), simblicos (dimen-so csmica, onrica e potica) e mticos (dimenso arquetipal) da rvore j no como mera representao culturalista, mas antes como smbolo vivo e atuante do imaginrio social e mti-co. A este respeito, Fernando Catroga, no seu Republicanismo em Portugal (1991), embora evocando as figuras de Prometeu e de Anteu como ideais da regenerao republicana e da formao do seu homem novo, nunca ter abandonado o seu registo ideo-metafrico prprio do imaginrio social. J a nossa abordagem, assentando naturalmente noutros pressupostos hermenuticos, ousa conferir a essas mesmas figuras um estatuto realmente mtico e pregnan-temente simblico. Este passo marca a diferena visto que, ao contrrio de Catroga, ns defen-demos que so os grandes mitos e a sua simblica que eterniza as grandes ideias educativas, com a da formao do homem novo, e no as meras mundividncias ideo-polticas e sociais ainda que estas obviamente as sirvam para as promover. Aquilo que se pretende discutir e defender, como concluso final, , na linha dos estudos de Jean-Pierre Sironneau, a relao entre ideologia e mito. Os autores, mediante um processo hermenutico ancorado na mitanlise (Gilbert Durand), procuram a partir de um sentido apa-rente ou patente, o do discurso ideo-pedaggico, encontrar um sentido latente onde os grandes smbolos e traos mticos se escondem. Resumindo, aceita-se que, por uma exigente anlise de contedo de inspirao estruturalista figurativa (Gilbert Durand), os textos analisados da poca sejam recenseados em unidades significativas de sentido para depois se proceder sua inter-pretao hermenutica para deles se extrair uma espcie de sumo mtico-simblico e no limite colecionarmos uma espcie de murmrio que borbulha por detrs das estruturas sinttico-semnticas onde o sentido ltimo do politesmo dos deuses vem desaguar. Para este estudo, utilizamos como bibliografia auxiliar os trabalhos realizados por: Catroga, F. (1991). O Republicanismo em Portugal. Da Formao ao 5 de Outubro de 1910. 2 Vol. Coim-

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  • bra: Faculdade de Letras; Pintassilgo, Joaquim (1998). Repblica e Formao de Cidados. A Educao Cvica nas Escolas Primrias da Primeira Repblica Portuguesa. Lisboa: Edies Coli-bri; Vieira, Jos Neiva (2010). O Culto da rvore e a 1 Repblica. Lisboa: Ministrio da Agricul-tura, e Desenvolvimento Rural e das Pescas/Autoridade Florestal Nacional; Arajo, Alberto Filipe (1997). O Homem Novo no Discurso Pedaggico de Joo de Barros. Braga: IEP/CEEP/UM; e Walgde, A. e Queiroz, Eusbio (s. d.). Guia para a organizao e realizao da festa da rvore. Porto: Companhia Portuguesa Editora.

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  • CD-ROM DE ATAS | 3252 | COLUBHE 2012

  • FESTAS ESCOLARES E A TRADIO DA PREMIAO NO LICEU FRANCS RJ

    Ana Luiza Grillo BALASSIANOUSP

    PA L AV R AS- C H AV E

    Festas escolares; Cultura escolar;

    Processos identitrios

    ID: 845

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  • CD-ROM DE ATAS | 3254 | COLUBHE 2012

  • O presente texto faz parte das investigaes da pesquisa que tem como objeto o Liceu Francs do Rio de Janeiro, um estabelecimento escolar constitudo por duas sees: uma brasi-leira e outra francesa. A consulta ao arquivo escolar sinalizou uma quantidade de indcios de que a celebrao enquanto ritual de memria fazia parte das prticas escolares. Assim, a partir das consultas realizadas a festa realizada anualmente pelas comemoraes do aniversrio do Liceu ganhava a cada ano as particularidades e especificidades do ritual de premiao indicando para os melhores, para o aluno que se destacava no espao-tempo da sua escolarizao.

    As festas escolares podem ser compreendidas por diferentes olhares. Num primeiro ins-tante refletem datas, rituais e personagens muitas das vezes externos ao estabelecimento esco-lar, mas quando observados no cotidiano da instituio representam pertencimentos que se quer marcar, aproximar e por isso importante reconhecer os contextos scio-histricos em que esto inseridos. De outro modo, as festas relacionadas diretamente ao estabelecimento escolar se reportam a ritos de passagem como: as comemoraes da fundao e na seqncia as festas do aniversrio, as festas de encerramento do ano escolar, as festas de formatura en-tre outras.

    A relao da celebrao das festas de inaugurao e de encerramento do ano letivo ob-servada nos seus discursos e fotografias sugere um relatrio do que acontecia durante o ano letivo de cada Instituio. Fazendo, portanto, parte de uma dinmica que percebia os aconte-cimentos e fatos do cotidiano escolar que se queria mostrar como uma propaganda, sobretudo, da escola republicana que se ia constituindo na virada do sculo XIX para o sculo XX.

    As celebraes desde a pedra fundamental da construo dos prdios escolares demar-cam a ideia de prdio monumento na marcao do espao da regio onde se insere fazem par-te deste universo de festas escolares e da constituio da Instituio escolar. Ao se analisar as festas escolares o conceito de cultura escolar de Julia (2001) que a percebe como um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de prticas que permitem a transmisso desses conhecimentos e incorporao desses comportamentos. Portanto, as festas escolares representando aspectos da cultura esco-lar esto em concomitncia com o espao tempo em que acontecem. Assim, a importncia de se perceber nas festas escolares normas e prticas singulares de cada instituio escolar mes-mo que se reportem a temticas comuns como uma celebrao de formatura.

    O presente texto aponta as festas escolares internas do Liceu Francs, em especial as celebraes das premiaes fazendo parte da programao das comemoraes do aniversrio da fundao da instituio. O Liceu foi fundado na Rua do Catete 351 no dia 13 de novembro de 1915 e depois se estabeleceu no prdio construdo para a escola na Rua das Laranjeiras 13-15. O projeto de construo do prdio escolar do Liceu Francs do Rio de Janeiro no ano de 1922 recebeu celebrao da pedra fundamental constituda por personalidades tanto francesas quanto brasileiras. Denotando, assim, a importncia daquele projeto para o contexto scio-histrico, poltico e cultural das primeiras dcadas do sculo XX no bairro de Laranjeiras, regio mais prxima do Centro da cidade que se modernizava na busca de pas civilizado. Assim, enfa-tizando a celebrao como propaganda de um projeto franco-brasileiro. Para a Frana represen-tava a propaganda e para o Brasil o desejo da elite de educar seus filhos numa escola francesa.

    Na consulta ao acervo do Liceu foram encontradas premiaes ainda quando o Liceu se situava na Rua do Catete, indicando para uma prtica da instituio escolar de premiar os me-lhores, os mais bem sucedidos no s na escolarizao, mas como uma prtica difundida em outras atividades escolares. A festa, a comemorao da entrega de prmios representou uma marca que foi se constituindo com data marcada, ou seja, se reportando as comemoraes do aniversrio da instituio. Nesse sentido, ficou uma indagao: O que se queria celebrar nas comemoraes da sua fundao? E quem seriam os personagens desse espao tempo? Essa resposta entendida dentro das permanncias e rupturas que fazem parte de um processo de

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  • longa durao reflete a cultura escolar como um processo dinmico e em movimento relacional com o contexto scio-histrico e poltico em que se est inserido.

    Auditrio do Liceu Francs. Dcada de 1940. AECFB Assim, se nos reportarmos s primeiras dcadas essas festas procuravam privilegiar,

    premiar os primeiros alunos de cada srie e por disciplina. E isso sugeria uma excluso permiti-da pelo espao da escola, sobretudo, numa data que simbolicamente deveria ser de todos e no somente daqueles que melhor se destacaram.

    Premio escolar (Arquivo Colgio Franco-Brasileiro)

    Nas narrativas memorialsticas de antigos alunos, portanto, a premiao representou uma dis-tino da prpria escola. Assim, ficou sugerido Liceu como escola das celebraes dos prmios indiciada pelos prmios e medalhas que se seguiram por todas as dcadas analisadas. Premiaes essas que indicavam tambm o Liceu como a escola do outro por aqueles que no recebiam os prmios. A idia de premiar e destacar os melhores vinha de encontro com outra questo apontada nas narrativas, ou seja, Liceu como sinnimo de boa educao e cultura foi uma chave central para os antigos alunos da seo brasileira quando apontaram a razo de terem ido estudar no Liceu. Ficou sugerido, portanto, a relao com a Frana, a seo francesa e terem tido profes-sores franceses indicando prestgio para a escola. Apontaram que suas famlias escolheram o Liceu por acreditarem na educao e na cultura e esta foi uma questo carregada de emoo. Nessa boa educao indicaram o rigor, a ordem e a cultura francesa como um dos eixos cen-

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  • trais. Rigor e ordem que caminhavam juntos no modo de se apresentar, no comportamento, que era indicado e avaliado como as demais disciplinas escolares no boletim de notas. Cultura sugerindo contato e imerso na cultura francesa lembrada pelas msicas, filmes, imagens pro-jetadas nas salas e paredes da escola e no convvio com professores e alunos da outra seo. Apontaram tambm para os professores franceses e atividades extraclasse indicando aproxima-es com os franceses e (re) significadas nas atividades culturais que a escola proporcionava. Interessante perceber que estas atividades eram lembradas de modo coletivo e sugerindo um espao experimentado de modo diverso, mas sem a marca da premiao que exclua quem no recebesse o prmio ou a medalha.

    A idia de premiar os melhores (re) significou nas narrativas questes mais amplas do espao escolar e foi na contramo de um espao plural e acolhedor para aqueles que no esta-vam inseridos no contexto da premiao.

    Programao de premiao

    Ao analisar ao longo das dcadas as premiaes mudam o foco, mas o ato simblico e

    a fora do ritual continuam com a concretude das medalhas na cultura escolar no s do Liceu, mas de outras instituies escolares. O importante, me parece compreender a representativi-dade dessas marcas na trajetria individual e coletiva tanto da instituio como dos alunos no s no tempo presente da premiao, mas como se coloca na trajetria de cada um individual-mente. Assim, as premiaes sugeriram mais significado naqueles que no a receberam do que dos premiados nas narrativas memorialsticas e quando apontadas pelo olhar da Instituio in-dicam o rigor, a imagem que se quer perpetuar na memria do estabelecimento escolar.

    No contexto especifico do Liceu as premiaes nas comemoraes da escola ao longo das dcadas foram se transformando em premiaes de concursos internos instituio ou ou-tras premiaes por participaes em atividades externas representando o coletivo do estabele-cimento escolar. Desse modo, sugere a premiao fortalecendo a participao de cada aluno num coletivo seja o do espao restrito da escola ou o mais amplo da sociedade maior. E, por-tanto a premiao se (re) significa produzindo dessa experincia uma complexidade identitria e reflexiva tanto para os participantes como para o coletivo da escola.

    Referencias: JULIA, Dominique. A cultura escoalr como objeto histrico. Revista Brasileira de Histria da Educao, Campinas. N.1, p,9-44, 2001.

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  • CD-ROM DE ATAS | 3258 | COLUBHE 2012

  • FESTAS ESCOLARES, RITUAIS E SMBOLOS: A POLTICA EDUCACIONAL E A CONSTITUIO

    DO IMAGINRIO SOCIAL NO RIO GRANDE DO SUL DOS POSITIVISTAS (1889/1930)

    Berenice CORSETTIUniversidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS

    Elisete Enir Bernardi GARCIASecretaria Municipal de Educao de So Leopoldo/RS

    PA L AV R AS- C H AV E

    Festas escolares; Rituais; Smbolos;

    Rio Grande do Sul/Brasil

    ID: 506

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  • CD-ROM DE ATAS | 3260 | COLUBHE 2012

  • Introduo No Rio Grande do Sul/Brasil da Primeira Repblica, foi desenvolvida uma poltica educa-

    cional marcada por caractersticas muito especficas, prprias desse momento histrico. O tra-balho que apresentamos trata, no contexto dessa poltica, de um de seus aspectos, ou seja, a construo do imaginrio coletivo cujo esclarecimento nos permite compreender a hegemonia ideolgica conseguida pelos dirigentes republicanos de orientao positivista. A partir de uma tipologia de fontes primrias que consideramos muito significativa para esse fim, ou seja, os relatrios da Secretaria do Interior e Exterior, onde estava situada a Instruo Pblica, a legis-lao do perodo e a Revista UNITAS, revista oficial da Arquidiocese de Porto Alegre, foi poss-vel descortinar a forma como foi construdo o imaginrio social legitimador do poder poltico republicano.

    O grupo poltico que assumiu, com o advento da Repblica, a direo da poltica esta-dual, buscou implementar um projeto de modernizao conservadora que visou consolidar o modelo capitalista como base do desenvolvimento regional. Nesse processo, a educao teve um papel significativo, j que a ela foi atribuda a tarefa de formar o cidado dos novos tempos do capitalismo. Nesse contexto, a poltica educacional envolveu aes especficas destinadas constituio de um imaginrio social legitimador de seu projeto, que estaremos analisando, luz dos elementos empricos obtidos na investigao sobre o tema.

    O trabalho apresentado historiogrfico, desenvolvido a partir de fontes primrias, analisadas a partir de uma leitura hermenutica e de uma metodologia de carter dialtico.

    1. Os instrumentos de construo do imaginrio republicano

    Os instrumentos de construo do imaginrio republicano foram fundamentalmente a palavra escrita, os smbolos cvicos e os rituais. Em paralelo, a ao mediadora com a Igreja Catlica possibilitou a manipulao dos smbolos e sentimentos religiosos, bem a gosto da pers-pectiva ideolgica do positivismo.

    A palavra escrita e falada foi um instrumento largamente utilizado pelos positivistas, em sua ao pela consolidao do domnio republicano. Seu uso foi feito atravs dos mais distintos canais, como jornais, particularmente o oficial do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR), A Federao, como outras publicaes, conferncias pblicas, cerimnias, enfim, em todos os veculos e eventos em que a oportunidade de expressar a mensagem republicana se colocou. Nesse momento, alm da defesa veemente dos princpios programticos, destacava-se a rea-firmao dos valores cvicos que distinguiam os republicanos de seus oponentes liberais, como a transparncia no trato da coisa pblica, a moralidade administrativa, as virtudes dos lderes, a excelncia do regime, a defesa intransigente da Constituio.

    1.1. O mito da origem Um aspecto da construo do imaginrio cuja relevncia merece ser destacada o mito

    da origem1, atravs do qual os republicanos procuraram estabelecer uma verso dos fatos que, desde o incio da Repblica, dava legitimidade frao poltico-partidria que ascendera ao po-der. Colocando-se contra as foras do passado, os positivistas buscavam destruir a oposio liberal. Os acontecimentos ento situados numa verso mitificada da verdade transmitiam a superioridade do novo momento histrico.

    Exemplo tpico dessa formulao foi a sistemtica identificao realizada entre o liberais rio-grandenses e a monarquia e desta com o atraso ou a inviabilizao das solues desejadas pelo povo gacho. As dificuldades atravessadas