Almeida e Garcia, Lorena, 2008

download Almeida e Garcia, Lorena, 2008

of 23

Transcript of Almeida e Garcia, Lorena, 2008

  • Artigo

    Revista de Arqueologia, 21, n.2: 97-119, 2008 97

    ResumoDurante a anlise dos stios Cavalo Branco e Nova Ipixuna 3, no leste Amaznico, onde identificou-se cermica Tupinamb3, comea-mos a comparar as semelhanas e diferenas referentes indstria cermica, s dimenses e a densidade de material arqueolgico nesses s-tios. Neste artigo, pretendemos levantar alguns questionamentos e possibilidades para anlises intra/inter-stios e chamar a ateno para as di-ferentes dinmicas de organizao espacial de grupos Tupi-Guarani etnolgicos, ao perceber nesses o complexo universo com que nos de-paramos ao interpretarmos o registro arqueo-lgico.

    Palavras-chave: Arqueologia Tupinamb, Amaz-nia, cermica, etnografia Tupi-Guarani.

    AbstractDuring the analysis of two eastern Amazon archaeological sites, Cavalo Branco and Nova Ipixuna 3, where we identified Tupinamb ce-

    Aspectos do Espao Tupinamb no LesteAmaznico

    Fernando Ozrio de Almeida1 Lorena Gomes Garcia2

    1 Doutorando em arqueologia pelo MAE/USP. 2 Mestranda em arqueologia pelo MAE/USP e Arqueolga da Scientia Consultoria Cientifica. 3 Sub-TradioTupinamb da Amaznia: ligada aos grupos falantes do tronco Tupi (mais especificamente da famlia Tupi-Guarani, excetuando os Guarani), cuja cultura material seria (e essa pergunta que permeia nossos estudos) uma extenso da Tradio Polcroma Amaznica. No entanto, diferenas tecno-tipolgicas (Almeida, 2008), tornam necessria uma distino entre os Tupinamb da Amaznia e os Tupinamb do litoral. H divergncias entre os prprios autores quanto ao uso de Tupi ou Tupinamb, questo muito mais complexa do que uma simples terminologia, que mereceria um artigo por si s.

  • Revista de Arqueologia, 21, n.2: 97-119, 2008

    Almeida, F. O.; Garcia, L. G.

    98

    ramics, we compared similarities and differen-ces in pottery technology, as well as density of artifacts and site size. In this paper, we discuss intra and inter-site analysis in order to call at-tention to the dynamics of the spatial organi-zation of Tupi-Guarani ethnographic groups, highlighting the complex universe which we come across when interpreting the archaeolo-gical record.

    Keywords: Tupinamb archaeology, Amazonia, ce-ramics, Tupi-Guarani ethnography.

    IntroduoDentre os 31 stios encontrados durante

    o levantamento arqueolgico na rea da Linha de Transmisso Tucuru(PA)-Aailndia(MA)4, dois stios destacaram-se pela proximidade geo-grfica e pela semelhana da indstria cermica, associada ocupao Tupinamb pr-histrica do baixo rio Tocantins: os stios Cavalo Branco e Nova Ipixuna 3.

    Se houve semelhanas na cermica e na localizao, isso no aconteceu em uma com-parao da dimenso dos stios. Enquanto o stio Cavalo Branco teve seu permetro estima-do em 170.000m, o stio Nova Ipixuna 3 foi delimitado e estimado em 14.200m. As dife-renas prosseguem em inmeras caractersticas. No entanto, a dimenso dos stios central problemtica aqui tratada. Seria o stio Cavalo Branco uma aldeia e o stio Nova Ipixuna 3 um acampamento? Esta a pergunta base para o incio do estudo.

    Aplicaes e PossibilidadesInicialmente, seria interessante refletir

    sobre os resultados de diferentes pesquisas que contribuem com a questo aqui apresen-tada: stio aldeia x stio acampamento.

    As observaes etnoarqueolgicas re-alizadas por Kent (1996:55) junto comuni-dade Kutse do Botswana, regio sul-africana, indicaram que as estratgias de mobilidade influenciam de diferentes formas no processo de formao do registro arqueolgico: (1)Pe-ople who plan to stay at a camp for a short period of time will have a smaller artifact inventory than those who anticipate a long occupation; and (2) groups who plan a short occupation also invest less effort in site construction and perform fewer camp maintenance activities than those who anticipate a long occupation. Both of these factors will influence archaeological visi-bility and interpretations of abandonment behavior. imprescindvel considerar que tais variveis devem ser observadas a partir da comparao entre grupos culturalmente similares, levando em conta as diferentes estratgias de mobilida-de e a influncia destas na formao de estru-turas observveis no sitio arqueolgico.

    Mas... Como exatamente podemos estabelecer significados corretos a uma distncia que tanto cul-tural quanto temporal? O que sobre o passado pode-mos concretamente visualizar no presente etnogrfico? (Heckenberger, 2001: 23). Tais questes foram apropriadamente colocadas por Heckenberger (op. cit.) para pensar na ocupao do alto Xin-gu, na perspectiva da construo de uma hist-ria de longa durao5. Tambm podem ser inte-ressantes para refletir a respeito da arqueologia Tupinamb, a partir da busca das continuidades que estruturam essas sociedades, revelando-nos traos culturais comparveis ao arqueologica-mente evidenciado. O modelo elaborado por Brochado (1984) , sem dvida, uma referncia

    4 Trabalhos executados pela Scientia Consultoria Cientfica, nos anos de 2003 a 2005, sob coordenao da Dra. Solange Caldarelli.5 No presente artigo no estabeleceremos a discusso sobre a Longue Dure e suas aplicaes na pesquisa arqueolgica. Ver Braudel (1966) e Hodder (2007).

  • Revista de Arqueologia, 21, n.2: 97-119, 2008

    Aspectos do Espao Tupinamb no Leste Amaznico

    99

    quanto busca da longa durao temporal no contexto Tupinamb. Nosso trabalho, por sua vez, procurou identificar aspectos que indiquem essas continuidades para tipos de assentamento Tupinamb na fronteira oriental da Amaznia. O que torna necessrio ressaltar que no pre-tendemos realizar analogias diretas a partir dos exemplos etnogrficos. O que se prope aqui um dilogo entre os grupos Tupi-Guarani atuais e pr-histricos.

    Scatamacchia e Moscoso (1989:39) fize-ram uma leitura das fontes histricas documen-tadas durante os sculos XVI e XVII, buscando descries que caracterizassem a distribuio es-pacial das aldeias, a sua relao com o meio ambiente e sua durao temporal (...). Em relao aos Tupinambs, [observaram os autores], as informaes mais completas descrevem apenas as aldeias ou stios de habitao. En-tretanto, outras ocupaes puderam ser evidenciadas ar-queologicamente, como o caso dos acampamentos para coleta de moluscos e as reas de enterramento.

    No caso dos acampamentos para coleta de moluscos, Scatamacchia e Moscoso (op.cit.) referem-se ao trabalho realizado por Beltro e Faria (1970), em stio litorneo Tupiguarani onde, segundo as autoras, cermica, artefatos lticos e materiais sseos foram evidenciados.

    Meggers e Maranca (1980:237) correla-cionam dados etno-histricos e etnogrficos para reconstituio experimental de organiza-o social baseada na distribuio espacial dos tipos cermicos do sitio Queimada Nova, fi-liado tradio Tupiguarani, com o intuito de estimular investigaes similares. As autoras comparam o espao do stio Queimada Nova com os dados etnogrficos da organizao es-pacial dos Tapirap, a partir dos estudos reali-zados por Baldus (1970) e Wagley (1977) sobre esse grupo indgena.

    Assis (1996:38), baseando-se principal-mente em dados etno-histricos, construiu um modelo de espacialidade para os Tupinamb (do litoral), com o conceito do espao habita-

    do no sentido de que este no se restringisse apenas aldeia, mas que fosse compreendido como conjunto de elementos espaciais que ajudam na execuo de atividades no interior ou nas proximida-des dos assentamentos.

    A bibliografia sobre as possibilidades de anlise espacial extensa. Examinemos nossos estudos de caso antes de recorrer aos dados et-nogrficos.

    Uma breve descrio dos stios Nova Ipixuna 3 e Cavalo Branco

    O sitio arqueolgico Cavalo Branco est localizado em rea de pasto, em mdia e baixa vertente de morro com declividade suave. O s-tio encontra-se dentro do permetro da cidade de Marab/PA. O igarap Matrinx, delimita-dor da parte leste do stio, afluente do igarap Flecheiras que desgua no baixo rio Tocantins, cuja distncia para o stio Cavalo Branco de aproximadamente 15 quilmetros.

    J o stio arqueolgico Nova Ipixuna 3 est localizado, em municpio homnimo, na plancie de inundao do rio Ipixuna (tambm afluente do rio Tocantins), cuja margem situa-se aproximadamente 150 metros do stio. O terreno possui suaves ondulaes e atualmente encontra-se coberto por pasto sujo com grande quantidade de palmeiras.

    Os stios Nova Ipixuna 3 e Cavalo Bran-co distam aproximadamente 25 quilmetros um do outro. Ambos esto localizados na re-gio sudeste do Par.

    A mesma metodologia de escavao foi utilizada para os stios Cavalo Branco e Nova Ipixuna 3. Ambos foram trabalhados a partir de uma amostragem sistemtica, atravs de uma malha de quadras de 1m, porm com diferen-a na escolha do espaamento do grid, obede-cendo s especificidades espaciais de cada um deles. Para a escavao do stio Cavalo Branco

  • Revista de Arqueologia, 21, n.2: 97-119, 2008

    Almeida, F. O.; Garcia, L. G.

    100

    a malha foi formada com quadriculamento de 20mx20m; j para o Nova Ipixuna 3, o espaa-mento foi de 10mx10m. O rebaixamento das unidades foi feito atravs de nveis artificiais de 10cm at o esgotamento do material6.

    O stio Nova Ipixuna 3 foi delimitado com escavao de 144 quadras, das quais 73 ne-gativas (ausncia de material arqueolgico) e 71 positivas. O stio apresentou uma camada arque-olgica sub-superficial com profundidade mdia de 30cm e mxima de 70cm em algumas situa-es. As escavaes renderam a coleta de 2.439 fragmentos cermicos e 13 peas de material ltico. Obteve-se o registro de manchas escuras de solo para a rea de maior concentrao ce-rmica, porm no foram realizadas anlise de sedimentos.

    J o stio Cavalo Branco foi delimitado com a execuo de 584 quadras, das quais 375 apresentaram material arqueolgico e 209 foram estreis. O material foi encontrado, em mdia, at os 30cm de profundidade. No entanto, hou-ve casos extremos de material em at 210cm. A principal rea de concentrao cermica foi caracterizada por um sedimento extremamen-te escuro, de cor very dark brown, caracterizado como solo antrpico, a partir das anlises fsico-qumicas do solo7 (Almeida, 2008). Estudiosos da arqueologia Tupinamb, como Assis (1996), tendem a indicar essas manchas escuras como sendo as antigas reas de habitao.

    As escavaes no stio Cavalo Branco renderam um total de aproximadamente 3.500 fragmentos lticos e 50.000 fragmentos cermi-

    6 Aps dois nveis estreis era realizada uma tradagem no centro da quadra.7 Realizadas por Dirse Kern (MPEG).

    Fig.1 - LT Tucuru-Aailndia: Mapa de localizao dos stios Nova Ipixuna 3 e Cavalo Branco.

  • Revista de Arqueologia, 21, n.2: 97-119, 2008

    Aspectos do Espao Tupinamb no Leste Amaznico

    101

    cos. Na rea onde foi encontrada uma grande mancha de solo antrpico, supostamente a rea de habitao do stio, a densidade de material foi tamanha que, em um nvel de 10cm, foram encontrados mais de mil fragmentos.

    A cermica do stio Cavalo Branco

    A cermica do stio Cavalo Branco pode, a grosso modo, ser descrita como sendo acor-delada, com antiplstico predominantemente mineral (46% da amostra), seguido pelo vege-tal: carvo e/ou cariap (28% da amostra). Foi observada principalmente a queima incompleta (63,5%). O tratamento de superfcie era fino com freqente presena de engobo de colora-o branca e vermelha.

    Outros atributos que chamaram a aten-

    o foram as recorrentes bordas cambadas, assim como as bordas vazadas (ocas). Ambas poderiam ser consideradas como uma das par-ticularidades da cermica Tupinamb do baixo e mdio Tocantins (Almeida, 2008). Inflexes em forma de ombro tambm foram seguida-mente observadas durante a anlise cermica.

    Os estudos indicaram a presena de 17 diferentes tipos de formas cermicas (Fig.2), com vasos possuidores de contorno simples, inflectido e composto. Os volumes reconstitu-dos dessas formas variaram de 0,04 a 47 litros.

    Apesar da necessidade de realizar anli-ses mais aprofundadas, foi possvel (Almeida, 2008:154-158) fazer sugestes quanto aos pos-sveis usos dos vasos. Baseado-se no trabalho de Amaral (Scientia, 2008), com stios Tupi-namb do mdio baixo rio Tocantins e do oeste maranhense, assim como nos trabalhos de La

    Fig. 2 - Amostra de formas de vasilhas cermicas encontrada no stio Cavalo Branco

  • Revista de Arqueologia, 21, n.2: 97-119, 2008

    Almeida, F. O.; Garcia, L. G.

    102

    Salvia & Brochado (1989), e Brochado (1991), foram sugeridas funes de armazenamento de alimentos, armazenamento de lquidos, servio e consumo de bebidas fermentadas (ou no-fermentadas), servio e consumo de alimentos frios, assim como para coco e assamento (Al-meida, op. cit.).

    A decorao mostrou-se extremamen-te rica e variada, tanto nos atributos plsticos quanto nos pintados (Fig.3). Nesta ltima ca-tegoria houve inmeras combinaes de pig-mentos vermelho, branco, preto, e amarelo

    (ocasionalmente) com predominncia dos dois primeiros. O pigmento branco no necessaria-mente ficava restrito como base para a execu-o de motivos com pintura vermelha. O inver-so tambm foi observado. Bandas vermelhas, demarcadoras de inflexes no corpo do vaso, constantemente observadas na cermica Tupi, tambm foram freqentes na anlise da inds-tria do Cavalo Branco. Dos fragmentos estuda-dos8 considerados diagnsticos9, 33% possuam decorao pintada.

    A decorao plstica foi representada

    Fig. 3 - Decorao pintada e decorao plstica no stio Cavalo Branco

    8 A anlise cermica equivale a 2.500 fragmentos diagnsticos.9 Bordas, bases, paredes decoradas, apliques etc.

  • Revista de Arqueologia, 21, n.2: 97-119, 2008

    Aspectos do Espao Tupinamb no Leste Amaznico

    103

    principalmente pelos ungulados, digitungula-dos, corrugados e incisos. Esta ltima tcnica de decorao aparece como uma particulari-dade dos Tupinamb do sudeste paraense. Da mesma forma, o corrugado, encontrado em inmeras variaes - muitas das quais semelhan-tes s tradicionais vasilhas Guarani - tambm se apresentou de forma idiossincrtica em alguns exemplares; o caso dos fragmentos em que essa decorao aparece apenas na face externa da borda, no prosseguindo para o restante do corpo. Dentro do campo dos fragmentos diag-nsticos, os portadores de decorao plstica representaram 24%.

    Durante a anlise observou-se que ra-ramente havia uma borda sem uma decorao mnima, demonstrando a grande preocupao que as(os) oleiras(os) do stio Cavalo Branco tiveram com a aparncia dos vasos. Muitos des-tes, certamente, foram utilizados para ativida-des cerimoniais.

    Dentro dos estudos dos artefatos lti-cos, realizados por Galhardo, e descritos por Almeida (2008), alguns aspectos gerais devem ser mencionados. Foi observada uma indstria ltica expedita, realizada principalmente em sei-xos rolados de silexito e quartzo, com dimen-es limitadas (dificilmente maiores que 10cm de comprimento). Os lascamentos foram rea-lizados principalmente atravs da tcnica uni-polar, ainda que produtos bipolares tambm

    tenham sido identificados. A debitagem dos seixos pelo mtodo de fatiagem foi observa-da em ambas as tcnicas, produzindo, muitas vezes, lascas corticais espessas, com morfolo-gia que lembra gomos de laranja e calotas. Por fim, Galhardo (Almeida, op. cit.) relata que as lminas (artefatos polidos) encontradas no s-tio apresentam-se fragmentadas (exceo feita a apenas uma pea), principalmente na regio distal. H ocorrncia de lminas com sinais de lascamento posteriores quebra, o que pode refletir o aproveitamento de matria-prima e o uso para outra atividade.

    At o momento, o stio Cavalo Branco possui 6 dataes radiocarbnicas, duas das quais, estimadas em mais de 5.000 AP, no se-ro consideradas, j que so totalmente incon-gruentes com as datas Tupinamb encontradas no restante do pas. As demais esto organiza-das na Tabela 1.

    Pode-se observar que h uma inverso estratigrfica quanto s dataes. No entanto, as primeiras duas datas vm de unidades de escavao excepcionais. A quadra T2 fazia parte de uma trincheira localizada em um mon-tculo que, provavelmente, serviu como rea de lixeira (Almeida, op. cit.). A quadra 40V-81D, por sua vez, atingiu 200cm de profundidade; nada parecido com o pacote arqueolgico de 30cm encontrado no restante do stio. Ou seja, tratava-se de duas reas cujos contextos deposi-

    10 Beta Analytic.

    Tabela 1 Dataes do Stio Cavalo Branco

    Stio Quadra Nvel Material N Lab. Datao10 Cavalo Branco 40V-81D 150-160cm Carvo 210847 690 AP a 550 APCavalo Branco T2 50-60cm Carvo 210848 720 AP a 640 APCavalo Branco 1R-100D 30-40cm Carvo 210849 1290 AP a 1160 APCavalo Branco 220V-340D 30-40cm Carvo 230214 860 AP a 740 AP

  • Revista de Arqueologia, 21, n.2: 97-119, 2008

    Almeida, F. O.; Garcia, L. G.

    104

    cionais destoaram do restante do stio, causan-do anomalias que podiam passar a impresso dessas inverses.

    A Cermica do stio NovaIpixuna 3

    O acordelamento foi a tcnica de manu-fatura utilizada na confeco dos vasilhames ce-rmicos do stio Nova Ipixuna 3. A anlise11 do antiplstico revelou o predomnio quase total de minerais de quartzo e xidos ferrosos (91% da amostra), provavelmente j presentes na argila e no adicionados aps a sua coleta. J os tempe-ros vegetais, cariap e/ou carvo, foram iden-tificados em uma pequena porcentagem (9%) do total de fragmentos analisados, sem uma re-presentatividade quantitativamente significativa se comparada ao ndice de temperos vegetais utilizados na cermica do stio Cavalo Branco (28% de todo o seu conjunto cermico anali-sado). A maior parte dos fragmentos possua queima incompleta, o que comum na maioria das sociedades ceramistas pr-coloniais, tendo em vista a realizao da queima em ambientes oxidantes (ao ar livre). Quanto ao tratamento de superfcie, apesar da predominncia de um acabamento fino, foi observado que 43% do to-tal de fragmentos possuam a face externa com alisamento mdio ou grosso. Acrescenta-se que houve um baixo ndice de superfcies com en-gobo. Vrios tipos de decorao plstica, tais como corrugado, roletado, digitungulado, inci-so, ungulado, entalhado e alguns combinados entre si, foram identificados, revelando muita variedade (Fig. 3) e pouca quantidade12.

    A pintura, quando identificada, esteve representada por faixas horizontais, em geral localizada nos lbios e nos ombros (nesse caso,

    em vermelho). Em um dos exemplares da co-leo cermica, a pintura branca ocorreu em todo o permetro do gargalo e na face externa do lbio. J a pintura preta foi percebida apenas vestigialmente na face externa de alguns frag-mentos.

    A anlise evidenciou pouca variabilidade no conjunto de formas do stio Nova Ipixuna 3, somando um total de 6 tipos (Fig. 4), que com-portam volumes estimados entre 8 e 48 litros.

    Assim como aconteceu no stio Cava-lo Branco, o stio Nova Ipixuna 3 no recebeu um estudo aprofundado quanto s funes dos vasos. No entanto, nada impede que algumas sugestes sejam feitas. A observao mais evi-dente se refere reduzida quantidade de tipos, indicando uma provvel restrio nas funes dos vasos desse stio. No foram observados vasos carenados, ou com ombros, preferen-cialmente decorados, semelhantes aos cambuchi caguab Guarani (La Salvia & Brochado, 1989), tambm presentes na indstria cermica do stio Cavalo Branco (Almeida, 2008: 155), e relaciona-dos ao servio e ao consumo de bebidas fermen-tadas (e.g. de mandioca, ou milho). Tambm no foram observados assadores (de mandioca?) no stio Nova Ipixuna 3, como aconteceu no nosso outro stio de estudo. Ausncias essas que pode-riam nos levar a sugerir a inexistncia da horticul-tura no stio Nova Ipixuna 3, o que vem em total acordo com a proposta de que se trata de um stio acampamento. Comparando as propostas funcionais sugeridas, a partir da morfologia ce-rmica, para os Guarani (La Salvia & Brochado, op.cit.), para os Tupinamb do litoral (Brochado, op.cit), e para os diversos grupos pr-histricos identificados no mdio-baixo Tocantins (Scien-tia, 2008), tem-se a impresso de que os vasos desse stio, com volumes expressivos (sempre

    11 A analise cermica equivale a 330 fragmentos diagnsticos de um total de 2349 fragmentos coletados. 12 Foram identificados entre 1 a 3 peas de cada tipo de decorao plstica.

  • Revista de Arqueologia, 21, n.2: 97-119, 2008

    Aspectos do Espao Tupinamb no Leste Amaznico

    105

    superiores a 8 litros), podem estar relacionados a funes mais simples como o armazenamen-to, o preparo, e o consumo de alimentos (lqui-dos ou slidos).

    Quanto ao material ltico, Sirlei Hoeltz argumenta que o stio Nova Ipixuna 3 no apre-senta, em comparao com os fragmentos cermicos, uma indstria ltica significativa. Considerando apenas as 13 peas que o compem, as interpretaes ficam preju-dicadas. Entretanto, os tipos de artefatos, como a lasca retocada e o quebra-coquinho ou bigorna, demonstram que algumas atividades estavam sendo executadas com o auxlio de objetos lticos, porm, no necessariamente dentro da rea do assentamento. Ela tambm indica que, foi possvel observar certas similaridades entre os objetos lticos do stio Cavalo Branco e do stio Nova Ipixuna 3 ao menos, no que diz respeito morfologia e ao tipo de matria-prima (Almeida, 2008: 251).

    Foram obtidas, at o momento, duas da-taes radiocarbnicas para o stio Nova Ipixu-na 3 (Tabela 2):

    O stio Nova Ipixuna 3 apresentou uma datao que apontava para um perodo anterior ao do contato com os europeus. No entanto, a cronologia desse stio aponta tambm para uma ocupao j no perodo colonial, diferentemente do stio Cavalo Branco.

    Semelhanas e diferenas en-tre os stios

    Retomemos alguns pontos explicitados logo na introduo. O primeiro e mais simples a proximidade geogrfica entre os dois stios, ambos situados na bacia do mdio baixo rio Tocantins (a cerca de 15 quilmetros desse rio),

    Fig. 4 - Alguns fragmentos decorados e morfologia na cermica Sitio Nova Ipixuna 3

  • Revista de Arqueologia, 21, n.2: 97-119, 2008

    Almeida, F. O.; Garcia, L. G.

    106

    com uma distncia aproximada de 25 quilme-tros um do outro. Da mesma forma, uma srie de atributos comuns foram observados na cer-mica dos stios Cavalo Branco e Nova Ipixuna 3. Tais semelhanas levaram-nos a inferir estes dois stios como possuidores de uma indstria cermica Tupinamb amaznica.

    A ltima convergncia entre esses stios refere-se questo cronolgica. Percebe-se que h duas dataes bem prximas. Enquanto o s-tio Cavalo Branco possui uma data de 1.290 AP a 1.160 AP, o stio Nova Ipixuna 3 possui uma no perodo de 1.280 AP a 1.140 AP. Tal proximi-dade temporal, no entanto, no justificaria afir-mar uma ocupao simultnea nos dois stios.

    Ainda quanto cronologia, importante apontar que, tanto no stio Cavalo Branco quan-to no stio Nova Ipixuna 3, houve uma disso-nncia nas dataes. Tal constatao indica que ambos os stios sofreram reocupaes.

    A partir da rica tipologia de formas do

    stio Cavalo Branco foi observada tambm uma grande variao de funes, algumas destas provavelmente ligadas ao cultivo de alimentos, como os assadores e os vasos para consumo de bebidas fermentadas. O que no ocorreu no s-tio Nova Ipixuna 3, onde foi sugerida uma res-trio quanto s funes dos vasos.

    Tambm foram apontadas discrepncias quanto dimenso e densidade do material arqueolgico nos stios Cavalo Branco e Nova Ipixuna 3. O clculo da densidade de material por m (Tabela 3) ideal para esse tipo de com-parao, uma vez que permite estabelecer rela-es entre reas com diferentes amostragens.

    O que diz a etnografiaAinda nos faltam dados etnogrficos que

    resultem de estudos mais aprofundados sobre as estruturas dos diferentes tipos de assentamento utilizados pelos diferentes grupos pertencentes

    Tabela 3 Densidades lticas e cermicas dos Stios Cavalo Branco e Nova Ipixuna 3

    Stios Ltico Cermica Quantidade Densidade (m) Quantidade Densidade (m)Cavalo Branco 3.127 32,51 35.55013 369,23 Nova Ipixuna 3 13 0,09 2.349 15,67

    13 Como anteriormente mencionado o nmero total de fragmentos lticos e cermicos do stio Cavalo Bran-co maior, em torno de 50.000 e 3500, respectivamente do que o apresentado na tabela. Nesta, s contabi-lizamos o material das quadras pertencentes malha de unidades de escavao (unidades complementares foram separadas).

    Tabela 2 - Dataes do Stio Nova Ipixuna 3

    Stios Quadra Nvel Material N Lab. Datao calibradaNova Ipixuna 3 40R-10E 30-40cm Carvo 210850 480 AP a 290 APNova Ipixuna 3 20R-70E 40-50cm Carvo 210851 1280 AP a 1140 AP 1110 AP a 1100 AP

  • Revista de Arqueologia, 21, n.2: 97-119, 2008

    Aspectos do Espao Tupinamb no Leste Amaznico

    107

    famlia Tupi-Guarani da regio amaznica.

    Ainda assim, dados importantes para reflexo

    e para o dilogo com a arqueologia podem ser destacados.

    Os Arawet, estudados por Viveiros de Castro (1986: 267-273), apresentaram um pa-dro de assentamento ligado sazonalidade. No perodo de chuva, a aldeia se fragmentava em pequenos grupos nucleares que se dispersa-vam em diversos acampamentos pela mata, rea-lizando atividades de trekking14, ou seja, ligados coleta, e caa de animais. Findado o perodo das chuvas, ocorria um reagrupamento dentro do espao da aldeia. O que no impediu que mesmo no perodo de seca, os Arawet produ-zissem algumas estruturas que no pertenciam aldeia. Tratava-se de acampamentos de mata, para abrigar caadores ou famlias, em curtas expedies.

    Outro dado interessante do estudo feito por Viveiros de Castro o fato de que todas as aldeias Arawet localizavam-se em reas de antigas roas:

    Se toda roa foi, antes, mata, toda aldeia foi, antes, roa (grifo nosso). Quando um grupo decide mu-dar-se para outro lugar, abre primeiro as roas de milho, e se instala no meio delas. Com o passar do tempo e das safras as plantaes vo recuando, e resta uma aldeia (1996: 312).

    Tais palavras sintetizam duas das princi-pais caractersticas da aldeia Arawet explicita-das pelo autor; a primeira refere-se s escolhas que derivam formao do espao ocupado e a segunda estruturao desse espao, formado por seu pluricentrismo, isto , a ausncia de um espa-o pblico, cerimonial e centralmente situado. A aldeia parece um agregado de pequenas aldeias, bairros de

    casas voltadas para si mesmas (Viveiros de Castro, 1996: 316).

    Os Tapirap, estudados por Baldus (1970) e Wagley (1977), tambm sazonalmen-te15 fragmentavam a aldeia em grupos familiares que se deslocavam para a savana. Em um local considerado mais propcio, um abrigo tempor-rio seria erguido. Alm da caa, os homens pes-cavam e coletavam ovos de tartaruga. Tanto os homens como as mulheres coletavam frutas e castanhas na mata. Segundo Wagley (op. cit.:52) era comum a prtica de queimadas nos acam-pamentos. Isso porque a gramnea que nascia aps essa prtica seria atraente para atrair os animais desejados.

    Os Parakan constituram um caso a parte. A ciso interna, no fim do sculo XIX, criou um grupo mais sedentrio (os Parakan orientais) e um grupo praticamente nmade (os Parakan ocidentais). Quando Fausto (2000:59) indica que os Parakan ocidentais foram au-mentando o perodo de trekking, para gradativa-mente deixarem de praticar a agricultura, l-se nas entrelinhas que o grupo, quando uno, pra-ticava sazonalmente essa atividade. Dessa for-ma temos um curioso exemplo de um grupo, os Parakan ocidentais, sem prticas agrcolas, mas que se unia na aldeia em um perodo, para em seguida, com as mudanas sazonais, se frag-mentar em pequenos grupos, os quais constru-am acampamentos na mata.

    Por fim, encontramos os Urubu-Kaapor, estudados por Bale (1994). Esse grupo, den-tro dos escolhidos para dialogar com os dados arqueolgicos, o mais sedentrio. Os Urubu-Kaapor se organizariam em um sistema eco-lgico mais prximo do indicado para os Tupi-

    14 Bale (1994:210) define grupos trekkers como sendo os que passam 6 meses por ano longe da aldeia, para a qual acabam voltando. Os trekkers fariam parte de um grande grupo agrrio em que tambm estariam inseridos os cacicados e os semisendentrios. 15 Ao contrrio do que acontece com os demais grupos, os Tapirap deixam a aldeia no perodo de seca (Wagley: 1977:52).

  • Revista de Arqueologia, 21, n.2: 97-119, 2008

    Almeida, F. O.; Garcia, L. G.

    108

    Figs. 5 - Densidade de material cermico por m no stio Cavalo Branco

    Fig. 6 - Densidade de material cermico por m no stio Nova Ipixuna 3

  • Revista de Arqueologia, 21, n.2: 97-119, 2008

    Aspectos do Espao Tupinamb no Leste Amaznico

    109

    namb (histricos do litoral), onde o ncleo aldeia era abandonado somente quando ela (aldeia) era transferida para um outro lugar. Ri-beiro, que esteve entre os Kaapor quase meio sculo antes, teve a oportunidade de descrever abrigos de roa de 2,5 metros de comprimento por 1,1 de largura e dois de altura (...). Enquanto a roa cresce na mata, eles ficam a colher o que plantaram o ano passado no alto Coracy, onde tambm h mais caa do que peixe. Assim somente daqui a uns quatro ou cinco meses voltaro quele pouso (2006: 86).

    Stio aldeia Cavalo Branco e stio acampamento Nova Ipi-xuna 3?

    Sem dvida, no somente as dimenses dos dois stios estudados variaram, como tam-bm a densidade de material, esta ltima mui-to superior no Cavalo Branco do que no Nova Ipixuna 3. Foi observado que a cermica do stio Nova Ipixuna 3 no era to bem acaba-da, com 43% de fragmentos com alisamento mdio ou grosso na face externa frente a 29% do stio Cavalo Branco. Outra varivel que logo chamou a nossa ateno foi a decorao da ce-rmica. Enquanto o stio Nova Ipixuna 3 pos-sua somente 19% dos fragmentos analisados com alguma decorao, o stio Cavalo Branco apresentou 24% dos seus fragmentos analisa-dos com decorao plstica e 33% pintados. Se levarmos em conta que muito raramente deco-raes plsticas e pintadas eram encontradas no mesmo vaso, poderamos sugerir um nmero de fragmentos decorados (analisados) em torno de 55%.

    Supe-se que os vasos so decorados para serem mostrados (vide, por exemplo, a anlise funcional elaborada por Schaan, 2004), uma acanhada estrutura temporria, como um acampamento, ocupada talvez apenas por um pequeno ncleo familiar, certamente no seria o local mais adequado para a(o) artes(o) ex-

    por as suas habilidades, ao contrrio de uma aldeia com espao aberto para grandes ceri-mnias. O que no impediria a existncia de vasos decorados em estruturas temporrias. Ao deixar a aldeia, o grupo pode ter esco-lhido alguns dos seus melhores vasos, o que provavelmente incluiria algum com decorao, para a temporada fora. Isso porque os vasos decorados Tupi no possuam apenas uso ritu-alstico (vide La Salvia e Brochado, 1989). As funes eram mltiplas.

    As consideraes e questionamentos apresentados at aqui se encontram sumariza-das a seguir da seguinte maneira:

    De um lado, encontramos o stio Cavalo Branco, de grande extenso, alta densidade de vestgios arqueolgicos, possuidor de uma ce-rmica extremamente variada e elaborada, com inmeras possibilidades funcionais, alm de uma indstria ltica bem representada quantita-tivamente, com presena de artefatos de vrias etapas de produo e diferentes possibilida-des de uso. Fatores que, ao lado de uma gran-de mancha de solo antrpico (de 2 ha.), tido por Petersen et. al (2001:100) como indicativo de lixo residencial, podem indicar que o stio Cavalo Branco foi ocupado como aldeia. Do outro lado encontra-se o stio Nova Ipixuna 3, delimitado em uma pequena rea , com baixa densidade de vestgios arqueolgicos, com ma-terial cermico de acabamento menos cuidado-so, rara decorao, pouca variao funcional, e uma escassa industria ltica.

    Foi possvel identificar tanto nos traba-lhos etnogrficos (e.g. Viveiros de Castro, 1986; Bale, 1994; Fausto, 2000, etc.) quanto nos es-tudos de carter arqueolgico (e.g. Assis, 1996), que uma multiplicidade de tipos de estruturas pode ocorrer fora da aldeia.

    As variaes comeariam na localizao das estruturas prximas ou distantes das al-deias. A funo da estrutura (e.g. caa, pesca, rea de coleta, a combinao destes, ou rea de

  • Revista de Arqueologia, 21, n.2: 97-119, 2008

    Almeida, F. O.; Garcia, L. G.

    110

    cultivo) no possuiria necessariamente relao direta com a distncia entre essas estruturas e a aldeia. Haveria a possibilidade da ocorrncia de uma estrutura em rea de roa prxima aldeia, e outra para caa muito mais distante, ou o con-trrio. Da a nossa preocupao em no fazer uma apressada caracterizao mais especifica de acampamento para o stio Nova Ipixuna 3, deixando-o apenas com a abrangente deno-minao de estrutura temporria. No entan-to, possvel sugerir que os dados levantados at o momento parecem indicar mais para um acampamento, para caa e coleta etc., do que para uma estrutura de roa. Esses dados so referentes ausncia de lminas de machado, necessrias para a abertura de um roado. Su-gestes que no s podem pautar estudos futu-ros inter-stios, como j serviram de base para a anlise intra-sitio proposta a seguir.

    Diferentes Tipos de Ocupao Intra-stio

    A extensa teia de possibilidades verifica-da na comparao dos stios foi fundamental no momento de aprofundar a anlise do espao do stio Cavalo Branco. A presena de uma segun-da mancha de solo antrpico (SA) identificada nesse sitio foi o indicativo de que estvamos li-dando com uma dinmica mais complexa que a inicialmente inferida. Percebeu-se que havia uma grande mancha de SA (aproximadamente 21.200 m), com grande densidade de material ltico e cermico, com presena de restos fau-nsticos, e com uma provvel rea de refugo secundrio (Fig. 7, rea 1). Ao mesmo tempo foi observada que havia uma pequena mancha de SA (de aproximadamente 10.200 m), cuja freqncia reduzida de vestgios mascarou a

    Fig. 7 - Duas reas com solo antrpico no stio Cavalo Branco

  • Revista de Arqueologia, 21, n.2: 97-119, 2008

    Aspectos do Espao Tupinamb no Leste Amaznico

    111

    rea no mapa de densidade de material (Fig. 7, rea 2). Se a rea 1 foi a grande responsvel pela inferncia de que o stio Cavalo Branco havia sido uma aldeia, resta saber qual seria a funo da rea 2.

    A anlise das densidades da rea 1 e rea 2 (Tabela 4) mostraram uma grande dis-crepncia entre os nmeros, semelhante com-parao dos dados dos stios Cavalo Branco e Nova Ipixuna 3.

    Para comparar as indstrias cermicas das duas reas, foram selecionadas quadras pertencentes a cada uma delas.16 Foi escolhido o dobro de quadras da rea 1 (12) em relao rea 2 (que possua apenas 6 quadras inseri-das na malha de sondagens analisada), com o objetivo de melhorar o senso de proporo. A amostragem ficou assim dividida: a rea 1 apre-senta 292 fragmentos diagnsticos, e a rea 2, apenas 7617.

    O material selecionado foi insuficiente para estabelecer uma comparao de uma das principais categorias, a das formas, j que foi possvel reconstituir apenas uma vasilha da rea 2. No entanto, a comparao em outros campos trouxe resultados interessantes.

    De forma geral, o que se observa uma grande semelhana entre as cermicas da rea 1

    e da rea 2. Sem dvida, estamos lidando com a mesma indstria cermica. Quase todos os as-pectos predominantes da cermica eram iguais ou prximos, como demonstra a Tabela 5.

    No entanto, encontramos algumas dife-renas entre as reas, que sero exploradas para inferirmos respostas s questes referentes rea 2. A comparao entre os tratamentos de superfcie indica que, enquanto a rea 1 apre-senta uma grande maioria de fragmentos bem acabados (alisamento fino), a rea 2 apresenta um nmero superior de fragmentos com alisa-mento mdio, tanto na face interna quanto na face externa. Essa seria uma primeira evidncia de que a cermica da rea 2, da mesma forma como aconteceu no stio Nova Ipixuna 3, no era to bem acabada quanto a da rea 1. No entanto, preciso ter cautela. No s os n-meros do alisamento mdio so extremamen-te prximos na amostragem da rea 2, como tambm observou-se o fato de apenas a rea 1 apresentar fragmentos com alisamento grossei-ro (Grficos 1 e 2).

    A rea 2 no apresentou nenhum frag-mento com decorao corrugada, mas foram encontradas decoraes incisas, unguladas e di-gitunguladas, alm das roletadas, que no apare-cem na rea 1. Na verdade, essa maior variao

    16 Foram analisadas, alm de uma amostra qualitativa proveniente de reas ampliadas e a trincheira, apenas quadras da malha 40 x 40 metros (ao invs de 20x20 metros), ou seja, um quarto do total escavado.17 importante esclarecer que, se estamos lidando com diferentes amostragens, uma quase quatro vezes superior outra, nossos resultados devem ser obtidos em cima das devidas propores numricas.

    Tabela 4 Comparao de densidade entre a Area 1 e a Area 2

    Ltico Cermica Quantidade Densidade (m) Quantidade Densidade (m)

    rea 1 806 36,4 17.911 892,0

    rea 2 76 11,3 3.117 439,3

    Stio Cavalo Branco

  • Revista de Arqueologia, 21, n.2: 97-119, 2008

    Almeida, F. O.; Garcia, L. G.

    112

    encontrada na rea 1 baseada mais na com-binao das decoraes plsticas tradicionais do que na utilizao de decoraes diferentes (Grfico 3).

    nas decoraes pintadas, finalmente, que possvel observar a maior diferenciao entre as duas reas. Enquanto que, na rea 1 foram encontradas quatro cores (i.e. vermelho,

    branco, preto e amarelo) em diferentes combi-naes, a rea 2, a exemplo do que foi obser-vado no stio Nova Ipixuna 3, apresentou pou-qussimos fragmentos pintados (Grfico 4).

    As dataes tambm carregam informa-es importantes na comparao das duas reas. Trs momentos distintos de ocupao do stio podem ser observados. Nada impede a ocor-

    Tabela 5 Comparao de atributos cermicos entre as duas reas

    Atributo rea 1 rea 2

    Tcnica de Manufatura Acordelado Acordelado

    Antiplstico Mineral MineralComposio do Mineral Quartzo Quartzo

    Aspecto do Quartzo Sub-angular Sub-angular

    Engobo Branco Branco

    Morfologia da Borda Direta DiretaInclinao da Borda Inclinada Externa Inclinada Externa

    Espessura da Borda Normal ReforadaLbio Arredondado Arredondado

    Espessura do Lbio Entre 0,5 e 1,0cm Entre 0,5 e 1,0cm

    Dimetro da Boca Entre 11 e 20cm Entre 11 e 20cm

    Espessura do Fragmento Entre 0,6 e 1,0cm Entre 0,6 e 1,0cm

    Grficos 1 e 2: Tratamento de superfcie na cermica da rea 1 e rea 2

    Grfico 1 - Tratamento de superfcie na cermica da rea 1 e rea 2

  • Revista de Arqueologia, 21, n.2: 97-119, 2008

    Aspectos do Espao Tupinamb no Leste Amaznico

    113

    rncia de outras reocupaes nos intervalos das datas, ainda que seja mais sensato basear as in-ferncias nos dados obtidos at o momento.

    A primeira ocupao, por volta de 1.200 AP, teria acontecido apenas na rea 1, possi-velmente na forma de uma aldeia. Quatrocen-tos anos depois, ocorreria a segunda (800 AP), uma estrutura temporria, provavelmente ape-nas na rea 2. Por fim, uma terceira ocupao, por volta de 680 AP, teria acontecido de novo na rea 1, onde uma nova aldeia seria erguida, com presena de lixeiras no entorno (vide Al-meida, 2008) (Tabela 6).

    De volta etnografiaO dilogo com a etnografia mais uma

    vez contribui para a problemtica, ao indicar a tendncia reocupao de reas por grupos Tupi-Guarani. Baseado na hiptese de Dene-

    van (1992, 2006), de que machados de pedra encontrariam grande dificuldade em abrir cla-reiras em reas com mata primria, Bale (1994) acredita que reas com mata secundria (i.e. an-teriormente ocupadas) seriam indicadas para uma reocupao. O autor (ibid.: 147) indica que esses locais seriam atraentes, pois possuiriam solos mais frteis (fruto dos resduos orgnicos deixados pela ocupao anterior) e uma srie de espcies semi-domesticadas18, interessan-tes no s para a alimentao humana, como tambm a de outros animais. Ou seja: essas re-as eram mais do que ideais para encontrar todo tipo de alimento, de frutas caa. Talvez um local desses, uma antiga aldeia tomada por mata secundria, fosse interessante para a instalao de acampamento temporrio onde caa e coleta seriam a base da alimentao.

    Tamanhos eram os atrativos dessas re-

    Grfico 3 - Decorao Plstica na cermica da rea

    1 e rea 2

    Grfico 4 - Decorao Pintada na cermica da rea 1 e rea 2

    18 Que serviriam inclusive de referncia, assim como os restos materiais deixados pela antiga ocupao, para

    identificar esses locais.

  • Revista de Arqueologia, 21, n.2: 97-119, 2008

    Almeida, F. O.; Garcia, L. G.

    114

    as que estas podem no ter sido palco apenas de reocupao por um mesmo grupo, como tambm por grupos diferentes. Para Bale (1994.:140), () the major long term beneficiaries of the past forest management by the Kaapor Indians have not been Kaapor descendents. Rather, the benefi-ciaries have been there traditional enemies, the foraging Guaj, who traditionally rely heavily on the palms and other disturbance indicator plants found in the Kaapor fallows ()19. O que leva a se cogitar a possi-bilidade de que os stios arqueolgicos da re-gio-foco de estudo poderiam no s possuir diferentes tipos de assentamentos por parte de um mesmo grupo, mas tambm ocupaes por grupos diversos.

    Sugerindo uma funo para a rea 2

    Os machados de pedra do stio Cavalo Branco podem contribuir para a discusso. Foi observado anteriormente que a indstria ltica desse stio utilizava como principal suporte os seixos de rio. As lminas de machado parecem no ter fugido regra, e mesmo sendo uma maioria de lminas fragmentadas, a morfolo-

    gia destas indicou que haviam sido produzidas a partir de seixos com dimenses limitadas (i.e. com comprimento dificilmente maior que 10cm). Sem dvida, trata-se de uma tecnolo-gia muito mais pertinente a lidar com a mata secundria do que com as grandes rvores da floresta primria.

    O mapa de distribuio das lminas po-lidas pelo stio indicou que, dos 10 exemplares encontrados na malha de sondagens (de 20 x 20m), apenas trs (CB-139, CB-984 e CB-2263) pertenciam rea 1. Outros trs (CB-1138, CB-1543 e CB-1687) foram encontrados no entorno desse local. J na rea 2, foram en-contradas duas lminas de machado (CB-943 e CB-967) e outra nas proximidades (CB-975). Trata-se de um nmero significativo, no ob-servado no stio Nova Ipixuna 3, para uma rea de dimenses reduzidas,20 ao ponto de ser pos-svel inferir que a rea 2 poderia estar ligada a uma atividade que necessitasse da abertura de uma clareira. A priori, essa abertura seria muito mais necessria em uma rea de roa do que em um acampamento temporrio.

    A hiptese de que o stio pode ter sido ocupado na forma de uma rea de roa respal-

    19 Outro exemplo pode ser observado no estudo de Silva et al. (2004), que indica a presena de fragmentos de cermica Tupi em uma aldeia Xikrim (sudeste paraense). 20 Como foi observado anteiormente, a densidade de fragmentos lticos por m da rea 2 era muito inferior da rea 1, o que no se aplica comparao entre a quantidade de lminas de machado nessas reas, fato que d s lminas um papel preponderante na compreenso da funcionalidade da rea 2.

    Tabela 6 Dataes das reas 1 e 2 do stio Cavalo Branco

    rea Quadra Nvel Material N Lab. Datao

    1 T2 N6 Carvo 210848 720 AP a 640 AP1 40V-81D 150-160cm Carvo 210847 690 AP a 550 AP2 220V-340D 30-40cm Carvo 230214 860 AP a 740 AP1 1R-100D 30-40cm Carvo 210849 1290 AP a 1160 AP

  • Revista de Arqueologia, 21, n.2: 97-119, 2008

    Aspectos do Espao Tupinamb no Leste Amaznico

    115

    dada pela nica lmina ainda no comentada. A pea CB-1654, que pode ser observada no canto superior esquerdo do mapa (Fig. 8), foi encontrada em um local do stio com presena quase nula de cermica. A anlise de sua mor-fologia leva a crer, segundo Galhardo (Almeida, 2008; Scientia, 2008), que a pea era um enx, instrumento descrito por Prous et al. (2002, apud Almeida, op. cit.) como: (...) morfologicamente semelhante ao machado, mas encabado de forma que o gume seja perpendicular ao comprimento do cabo. Nas

    lminas especializadas, este gume geralmente dissim-trico (uma das faces sendo mais convexa que a outra), para facilitar o ataque da matria trabalhada. Os en-xs servem, sobretudo, para aplainar, cavar ou limpar concavidades largas(...).

    Assim, apesar de ser impossvel fazer uma ligao direta da rea 2 com essa lmina, esse mais um indcio de que, em algum mo-mento, a rea do stio Cavalo Branco ou parte dela foi utilizada como roado.

    O que no impossibilita que, assim como

    Fig. 8 - Mapa de disperso das lminas (ou fragmentos de lminas) de machado no stio Cavalo Branco

  • Revista de Arqueologia, 21, n.2: 97-119, 2008

    Almeida, F. O.; Garcia, L. G.

    116

    o exemplo etnogrfico dos Guaj e dos Kaapor, outro grupo tambm tenha utilizado a rea para abertura de roa, acampamento temporrio etc. Apesar de, a priori, ter sido considerado que o stio Cavalo Branco havia sido ocupado por um nico grupo, nada indica que uma reocupao por parte de um diferente grupo no possa ter ocorrido. Ocupaes que, se ocorreram, o te-riam sido, provavelmente, por perodos curtos e cujas dimenses das estruturas no s podem ter escapado malha sistemtica de quadras im-plantadas no stio Cavalo Branco (de 20 x 20m) como tambm pela escolha de s analisar a ce-

    rmica das quadras localizadas a cada 40 metros (i.e. da amostragem inicial).

    A seleo fotogrfica (Fig.9), realizada com o material cermico de quadras no analisa-das do stio Cavalo Branco, em alguns momen-tos parece ter indicado a presena de cermica diferente da encontrada na rea 1 e na rea 2. Extremamente simples, com colorao diferente, e com presena de antiplstico mineral em gran-des propores e dimenses, essa cermica (e.g. quadras 200V-380D e 140V-260D) deixa sugeri-da a hiptese, a ser testada em um estudo futuro, da reocupao do stio por um grupo diferente.

    Fig. 9 - Cermica encontrada nas quadras 200V-380D e 140V-260D

  • Revista de Arqueologia, 21, n.2: 97-119, 2008

    Aspectos do Espao Tupinamb no Leste Amaznico

    117

    ResumindoAtravs de um estudo que buscou a todo

    o momento um dilogo entre arqueologia e et-nografia, buscamos relacionar dimenso espa-cial, densidade de material, e caractersticas da cermica arqueolgica dos stios Cavalo Bran-co e Nova Ipixuna 3, para observar um com-plexo de estruturas, com diferentes funes, localizadas em variadas distncias do entorno da aldeia. O estudo comparativo dos stios Ca-valo Branco, considerados por ns uma aldeia, e Nova Ipixuna 3, com funo sugerida de acampamento, ainda que denominado de for-ma abrangente como uma estrutura tempor-ria, teve a inteno de jogar luz sobre as ques-tes de assentamento dos grupos Tupinamb amaznicos. Curiosamente, iluminou um dos nossos objetos de estudo, o stio Cavalo Branco, em uma anlise intra-stio. Foi inferi-do que alm de ter sido ocupado, pelo menos uma vez, na forma de aldeia, o stio Cavalo Branco teria sido ocupado tambm, pelo mes-mo grupo, como uma estrutura temporria. Sugeriu-se que o stio foi utilizado como roa, e que talvez essa estrutura estivesse ligada a tal funo. Da mesma forma, baseados em algumas caractersticas dissonantes presentes em alguns fragmentos cermicos encontrados fora das duas manchas de solo antrpico, su-geriu-se que o sitio possivelmente foi ocupado por outro(s) grupo(s).

    ConclusesA impossibilidade de se chegar a infern-

    cias mais concretas quanto aos dados espaciais da arqueologia Tupinamb da Amaznia traz a certeza de que estamos lidando com uma com-plexa rede de possibilidades. Os resultados dos estudos parecem afirmar a dissonncia entre as dinmicas espaciais dos grupos amaznicos e os do litoral, o que esperamos levar a uma reflexo maior quanto a ambos os grupos. H uma srie de outros dados, ainda a ser publicada, quanto variabilidade cermica e morfologia das aldeias desses e de outros stios estudados (vide Almei-da, 2008; Scientia, 2008), que certamente trar subsdios para uma melhor compreenso desses

    to pouco conhecidos Tupinamb Amaznicos.

    No temos a menor dvida de que o aprofunda-

    mento nos estudos desses grupos, aliando varia-bilidade material e espacial com a profundidade

    temporal (que deve ser empurrada mais para o

    fundo com novas pesquisas, principalmente na Amaznia ocidental), trar mais um ingrediente para a cada vez mais revigorada arqueologia dos Tupinamb e dos Guarani.

    AgradecimentosSolange B. Caldarelli, Renato Kipnis,

    Eduardo G. Neves, Fabiola A. Silva, Daniella Novo, Danilo Galhardo, Silrlei Hoeltz, Eneida Malerbi e Srgio da Silveira.

    Referncias Bibliogrficas

    ALMEIDA, F. O. 2008. O Complexo Tupi da Amaznia Oriental. Dissertao de mestrado, MAE-USP. ASSIS, V. S. 1996. Da Espacialidade Tupinamb. Dissertao de Mestrado, Instituto de Filosofia e Cincias Humanas da PUC-RS. ARAJO COSTA, F. H. 1983. Projeto Baixo Tocantins: Salvamento Arqueolgico na Regio de Tucuru Par. Dissertao de Mestrado, FFLCH- USP.BALDUS, H. 1944 1949. Os Tapirap, Tribo Tupi no Brasil Central. Arquivo Municipal vol. XCVI-CV. So Paulo.

  • Revista de Arqueologia, 21, n.2: 97-119, 2008

    Almeida, F. O.; Garcia, L. G.

    118

    BALE, W. 1994. Footprints of the Forest: Kaapor Ethnobotany the historical ecology of plant domestication by an Amazonian people. New York, Columbia University Press. BELTRO, M. C. de M. C. & FARIA, E. G. de. 1970. Acampamentos Tupi-Guarani para Coleta de Moluscos. Revista do MAE, USP, So Paulo, v. XIX: 97-135,BROCHADO, J. P. 1984. An Ecological Model of the Spread of Pottery and Agriculture into Eastern South America. PhD Dissertation, University of Illinois at Urbana Champain.BROCHADO, J. P. 1991. What did the Tupinamb Cook in Their Vessels? An Humble contribu-tion to ethnographic analogy. Revista de Arqueologia(6):40-88.BRAUDEL, F. 1966. La Mditerrane et le monde mditerranen a lpoque de Philippe II. Paris. Armand Colin. DENEVAN W. M. 1992. Stone vs. Metal Axes: the ambiguity of shifting cultivation in prehistoric Amazonia. Journal of the Steward Anthropological Society (20): 153-165. _______________ .2006. Pre-European Forest Cultivation in Amaznia. In: BALE, W. & ERI-CKSON, C. (Eds.). Time and Complexity in Historical Ecology: studies in the neotropical lowlands. Columbia University Press, New York, pp. 57-86.FAUSTO, C. 2001. Inimigos Fiis: histria, guerra e xamanismo na Amaznia. So Paulo, Edusp. FERNANDES, F. 1963. A Organizao Social dos Tupinamb. So Paulo, Difuso Europia do Livro na Estante Virtual.HECKENBERGER, M. J. 2001. Estrutura, Histria e Transformao: A cultura Xinguana na Longue Dure,1000-2000 D.C. In: FRANCHETTO, B. e HECKENBERGER, M. (Orgs.). Os Povos do Alto Xingu : histria e cultura. Rio de Janeiro, Ed. UFRJ, pp. 21-62.HODDER, I. 2007. Material Culture and the Long Term. Blackwell Science. KENT, S. 1996. Models of abandonment and material culture frequencies. In Abandonment of settle-ments and regions: Etnoarchaeological and archaeological approaches. Cameron, C. & Tomka, S. Cambridge (eds.). University Press, New York, pp. 54-72. LA SALVIA, F. & BROCHADO J. P. 1989. Cermica Guarani. Posenato Arte e Cultura, Porto Alegre.MEGGERS, B. E MARANCA, S. 1980. Uma Reconstituio Experimental de Organizao Social Baseada na Distribuio de Tipos de Cermica num sitio Habitao da Tradio Tupiguarani. Re-vista Pesquisas IAP, Rio Grande do Sul, (31):227-247. ORME, B. 1981. Anthropology for Archaeologists: an introduction. British Library, London. PETERSEN, J. B., NEVES, E. G. & HECKENBERGER, M. J. 2001. Gift from the Past: Terra Preta and the Prehistoric Amerindian Occupation in Amazonia. In: McEWAN, C., BARRETO, C. & NEVES, E. G. (eds.). Unknown Amazon. British Museum Press, London.PROUS, A.P., ALONSO, M., PIL, H., XAVIER, L., LIMA, A. P. & SOUZA, G. N. 2002. Os Ma-chados Pr-Histricos Descrio de Colees Brasileiras e Trabalhos Experimentais: Fabricao de Lminas, Cabos, Encabamento e Utilizao. Revista Canind, Xing, (2): 161-236.RIBEIRO, D. 2006. Dirios ndios: os Urubus-Kaapor. Companhia das Letras, So Paulo. SCATAMACCHIA, M. C. M. e MOSCOSO, F. 1989. Anlise do Padro de Estabelecimento Tupi-Guarani: Fontes Etno-Historicas e Arqueolgicas. Revista de Antropologia (30-2):37-53. SCHAAN, D. P. 2004. The Camutins Chiefdom: Rise and Development of Social Complexity on Maraj Island, Brazilian Amazon. Tese de Doutorado. Universidade de Pittsburgh.SCIENTIA CONSULTORIA CIENTFICA. 2004. Projeto: Levantamento Arqueolgico na Faixa de

  • Revista de Arqueologia, 21, n.2: 97-119, 2008

    Aspectos do Espao Tupinamb no Leste Amaznico

    119

    Servido da Linha de Transmisso Tucuru/Aailndia (PA/MA) (4 circuito). Caldarelli, S. (org.), So Paulo. SCIENTIA CONSULTORIA CIENTFICA. 2008. Relatrio Final: Projeto de Salvamento dos Stios Arqueolgicos Localizados na rea Diretamente Afetada da Linha de Transmisso Tucuru/PA Aailndia/MA (4 Circuito). Caldarelli, S. (org.). SILVA, F. A., APPOLONI C. R., QUIONES F. R. E., SANTOS A. O., SILVA L. M. da, BAR-BIERI P. F. & FILHO, V. F. N. 2004. A Arqueometria e a Anlise de Artefatos Cermicos: um estu-do de fragmentos cermicos etnogrficos e arqueolgicos por fluorescncia de Raios X (EDXRF) e transmisso Gama. Revista de Arqueologia, Belm, (17): 41-61. SIMES, M. F. & ARAUJO-COSTA, F. 1987. Pesquisas arqueolgicas no baixo rio Tocantins (Par). Revista Arqueologia, Belm, (4-1):11-28. VIVEIROS DE CASTRO, E. 1986. Arawet : os deuses canibais. Jorge Zahar, Rio de Janeiro. ______________________.1992. Arawet : o povo do Ipixuna. So Paulo: Cedi.WAGLEY, C. 1977. Welcome of Tears: the Tapirap Indians of Central Brazil. Oxford University Press, New York.