GERENCIANDO UMA EXPERIÊNCIA INVESTIGATIVA NA PROMOÇÃO DO

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Relato de experiência - 369 -

Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2009 Abr-Jun; 18(2): 369-77.

GERENCIANDO UMA EXPERIÊNCIA INVESTIGATIVA NA PROMOÇÃO DO “VIVER SAUDÁVEL” EM UM PROJETO DE INCLUSÃO SOCIAL

Alacoque Lorenzini Erdmann1, Marli Terezinha Stein Backes2, Dirce Stein Backes3, Magda Santos Koerich4, Maria Aparecida Baggio5, Jacira Nunes Carvalho6, Betina Hörner Schlindwein Meirelles7

1DoutoraemFilosofiadaEnfermagem.ProfessorTitulardoDepartamentodeEnfermagemedoProgramadePós-GraduaçãoemEnfermagem(PEN)daUniversidadeFederaldeSantaCatarina(UFSC).Pesquisadora1AdoCNPq.SantaCatarina,Brasil.E-mail:alacoque@newsite.com.br

2DoutorandadoPEN/UFSC.EnfermeiradaSecretariaMunicipaldaSaúdedeCapãodoLeão.RioGrandedoSul,Brasil.E-mail:marli.backes@bol.com.br

3DoutoraemFilosofiadaEnfermagem.ProfessordoCentroUniversitárioFranciscano.RioGrandedoSul,Brasil.E-mail:backesdirce@ig.com.br

4DoutorandadoPEN/UFSC.ProfessorAssistentedoDepartamentodePatologiadaUFSC.SantaCatarina,Brasil.E-mail:mskoerich@ccs.ufsc.br

5DoutorandadoPEN/UFSC.ProfessorSubstitutodoDepartamentodeEnfermagemdaUFSC.BolsistadoCNPq.SantaCatarina,Brasil.E-mail:mariabaggio@yahoo.com.br

6DoutorandadoPEN/UFSC.ProfessorAdjuntodoDepartamentodeEnfermagemdaUniversidadeFederaldoPará.Pará,Brasil.E-mail:jacira@ufpa.com.br

7 DoutoraemFilosofiadaEnfermagem.ProfessorAdjuntodoDepartamentodeEnfermagemedoPEN/UFSC.SantaCatarina,Brasil.E-mail:betinam@ccs.ufsc.br

RESUMO: Relatodagerênciadeumaexperiência investigativapelospesquisadoresnarealizaçãodeumapesquisa-açãocomoficinaseducativasedepromoçãodasaúdejuntoàjovensintegrantesdeumprojetodeinclusãosocial,localizadonumdosmorrosdaGrandeFlorianópolis-SC.Intervirnarealidadeapartirdosignificadoqueosprópriosatoressociaisatribuemaoviversaudáveléumaimportanteestratégianoprocessode(re)construçãodeconhecimentosepráticasemsaúde/cuidado,comprometidaseengajadasnaconstruçãodacidadania.Gerenciaroprocessoinvestigativoinclui:exercitarcoletivamenteaconstruçãodeconhecimentos;potencializarcompetênciasinvestigativasnaformaçãodepesquisadores;despertarparaarticulaçõesnosespaçossociaisquepromovemocrescimentohumanodosatoresnosdiferentesmodosdesereviverseuprojetodesaúde.Agerênciadoprocessoinvestigativoem“laboratóriossociais”édesafiadorafrenteàrealidadedo“viveravida”embuscado“vivermaissaudável”emcondiçõespoucofavoráveisaoexercícioplenodacidadania.DESCRITORES:Pesquisaemenfermagem.Gestãoemsaúde.Cuidadosdeenfermagem.Promoçãodasaúde.Educaçãoemsaúde.

MANAGING AN INVESTIGATIVE EXPERIENCE IN THE PROMOTION OF “HEALTHY LIVING” IN A SOCIAL INCLUSION PROJECT

ABSTRACT: Thisisamanagementreportofaninvestigativeexperiencebyresearcherscarryingoutanaction-studybymeansofeducationalworkshopsandthehealthpromotionalongwithyoungpeoplewhotakepartinasocialinclusionproject,locatedinoneofthehillsofGreaterFlorianópolis-SC,Brasil.Interveninginrealitybasedonthemeaningwhichthesocialactorsthemselvesattributetohealthylivingisanimportantstrategyintheknowledgeandhealthcarepractice(re)constructionprocess,committedandengagedintheconstructionofcitizenship.Managingtheinvestigativeprocessincludes:tocollectivelyexerciseknowledgeconstruction;toachievepotentialinvestigativecompetencesinresearchereducation;togiverisetoarticulationsinsocialspaceswhichpromotethehumangrowthoftheactorsinthedifferentwaysofbeingandlivingtheirhealthproject.Managementoftheinvestigativeprocessin“sociallaboratories”ischallengingfacedwiththerealityof“livinglife”insearchof“healthierliving”inconditionswhicharescarcelyfavorabletothefullexerciseofcitizenship.DESCRIPTORS:Nursingresearch.Healthmanagement.Nursingcare.Healthpromotion.Healtheducation.

GESTIÓN DE LA EXPERIENCIA DEL INVESTIGADOR EN LA PROMOCIÓN “VIDA SANA” EN UN PROYECTO DE INCLUSIÓN SOCIAL

RESUMEN: Informedelaexperienciadegestiónrealizadaporinvestigadoresenunainvestigación-accióncontallereseducativosydepromociónde la saludcon jóvenesmiembrosdeunproyectode inclusión social, situadoenunade las colinasde laGranFlorianópolis-SC,Brasil.Intervenirenlarealidadapartirdelsignificadoquelospropiosactoressocialesatribuyenalhechodevivirunavidasaludableesunaestrategiaimportanteenelprocesode(re)construccióndeconocimientosyprácticasensaludycuidado,comprometidasydedicadasalaconstruccióndelaciudadanía.Gestionarelprocesodeinvestigaciónincluye:trabajarunidosparaconstruirelconocimiento;aumentarlascapacidadesdeinvestigaciónenlaformacióndelosinvestigadores;despertarparaarticularespaciossocialesquefomentenelcrecimientodelosactoresenlasdiferentesformasdeserydevivirsuproyectodesalud.Lagestióndelprocesodeinvestigaciónenel“laboratoriosocial”seenfrentaaladifícilrealidadde“vivirlavida”enlabúsquedade“unavidasana”encondicionespocofavorablesparaelplenoejerciciodelaciudadanía.DESCRIPTORES:Investigaciónenenfermería.Gestiónensalud.Atencióndeenfermería.Promocióndelasalud.Educaciónensalud.

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CONSTRUINDO PRÁTICAS DE SAÚDE/CUIDADO E GERENCIANDO A (RE)CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

Nocontextosocialatual,asaúde/cuidadocomoumapráticadeeducaçãoepromoçãopró-ativaaindaestálongedeseefetivar.Estafragilida-desemostra,sobretudo,nosespaçossociaismaisvulneráveis,comonocasodasfavelaseperiferiasdasgrandescidades.

Emfacedestassituaçõesmaisvulneráveis,queretratamapossívelcarênciadeintervençõesplaneja-dasesistematizadaseconsiderandoseraEnferma-gemumaprofissãocomprometidacomocuidadointegral,propõe-sepensarerefletir,enquantopes-quisadorasdoGrupodePesquisaemAdministraçãodeEnfermagemeSaúde (GEPADES),nosentidodeencontrar formase/ouestratégiasdecuidadoparaabarcaracomplexidadedasintervençõesnoschamadosespaçossociaismaisvulneráveis.1

Oracionalismocientíficomovidopelalógicacartesiana, ainda predominante no contexto da saúde,nosinduzapensarqueviveremcondiçõesdeprecariedadeevulnerabilidadeévivernumacondiçãode doença.Desconsideram-se, nessaperspectiva,ossignificadosqueosprópriosatoressociais,mesmoqueemcondiçõesdesfavoráveis,atribuem ao seu cotidiano e, principalmente, ao seu viversaudávelnocotidianodesuarealidade.

É importante epossível abuscadenovascompreensõesereflexõesacercadoviversaudávelem tempos pós-modernos, orientados fundamen-talmente,porolharesqueabarcamainserçãoativae criativadosdiferentes atores sociais em seuprocessosaúdeedoença.

O ser saudável éuma construçãoapartirdascondiçõesreaisemqueseviveeapartirdasinterações que se constrói comos espaçosquese compartilha.2Compreenderosereovivernomundo, implica em compreender o ser a partir do significadoquecadaindivíduo,nasuasingulari-dade,atribuiàssuasvivências,comportamentos,interações,enfim,aosdiferentesmovimentosdeser e relacionar-se neste mundo.3

Oincentivoparaumestilodevidasaudávelemproldosersaudáveldeveviratravésdeinstru-mentossociais,ouseja,atravésdepráticassociaisdemandadasporredesdecolaboraçãosolidária.Éprecisoquetodososprofissionais,empresaseorganizaçõesgovernamentais ounão-governa-mentaisestejamenfronhadosnestatarefa.4

Compreenderomundo imagináriodo serfamíliasaudávelnoquotidianoemtempospós-

modernos, exige uma imagemde ser famíliasaudávelqueelaspróprias constroemao longodetodasasinteraçõesdoseuprocessodeviver,isto é, pormeiode seus significados, crenças,valores, símbolos, situações existenciais, laçosde afeto, entre outros.5Considera-se,emsíntese,queosaspectosapresentadospelasfamíliascomofundamentaisnaconstruçãodoseusersaudável,enquantomaneiradeviver,possibilitaafirmarqueafamíliadocoraçãopodeserumcaminhoparaserfamíliasaudável.

Estudoacercado“ViversaudávelemtemposdeAIDS:acomplexidadeeainterdisciplinaridadenocontextodeprevençãodainfecçãopeloHIV”,evidenciouque compreenderoprocessodevi-verhumanoesersaudáveléumatarefadifícileinatingívelquandoapreendidaisoladamenteoudeformafragmentada.6Paraasuaconcretizaçãoéprecisodacooperaçãoeparceriadosdiversossetoresda sociedade,da re-ligaçãodos saberesdisciplinares,dosentidoéticoehumanonoviveremsociedadeafimdecompreenderosproblemasemergentese,sobretudo,encontrarestratégiasqueestimulemapromoçãodasaúde.

Combasenas considerações anteriores, épossívelargumentarqueoviversaudáveléumprocesso singular, complexo,plural, permeadopelaordem,desordem,organização,econstruídoapartirdossignificadosquecadaindivíduoougru-posocialatribuiaoseuprocessosaúdeedoença.Depende,então,dosdiferentesmovimentosqueintegramoprocessodeviverasaúdeeadoença.

Essacompreensãodesersaudávelnapers-pectivadeMorin, pensadorda complexidade,implica em reconhecer o ser humano como um sercomplexoporexcelência,oqualinteragepormeio de comportamentos e atitudes complexas, istoé,nãolinearesouprevisíveis.7 O autor com-plementaa idéiadizendo:“cadaindivíduovivee experimenta-se como sujeito singular; essasubjetividadesingular,quediferenciacadaum,écomumatodos”.8:78

Entendendo serumdosgrandesobjetivosdaEnfermagema construçãodo conhecimentoconectado comasdiferentes situaçõesdo con-textodevidadecadaindivíduoougruposocial,oProgramadePós-GraduaçãoemEnfermagem(PEN)daUniversidadeFederaldeSantaCatarina(UFSC), emsuaestrutura teórico-filosófica,pri-mapelainclusãosocialeodesenvolvimentodecompetênciasprofissionaiscapazesdeabarcaracomplexidadedoprocessosaúde-doençaemseusdiferentesimagináriossociais.

ErdmannAL,BackesMTS,BackesDS,KoerichMS,BaggioMA,CarvalhoJN,et.al.

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Nessaperspectiva,adinâmicaorganizacio-naldoPEN/UFSCofereceumaestruturaágileflexível capazdeatender as exigênciasda evo-luçãodoconhecimento.Dentreospropósitos,oprogramapermitecapacitarenfermeiroseoutrosprofissionaisda saúde,paraumaprática trans-formadora, técnica epoliticamente competente,atravésdodesenvolvimentodeestudosavançadosemsaúdeeenfermagem.Estesarticuladosnumaperspectivainterdisciplinar,sãocapazesdegerareampliarabasefilosófica,científica,políticaemeto-dológicaparaodesenvolvimentodoconhecimentoemsaúde,compromissadacomumapráticasocialtransformadora,políticae tecnicamentevoltadaparaamelhoriadaqualidadedevida.9

Aindanamesmadireção,oGEPADEStêmcomomarcoteórico-filosóficooprocessodeviver,sersaudáveleadoecercomcidadania,nascondi-çõesnaturaisesociaisdoprocessodevidahumanaembuscadomelhorviveredemelhorespráticasdecuidadosnosserviçosdesaúde.

Entendemos,apartirdoexposto,queparacompreenderosignificadodoviversaudável,apartirdosdiferentesimagináriossociais,éprecisoinvestirnogerenciamentodepráticascriativaseinovadorasde cuidado emenfermagem/saúdevoltadasparaapromoçãoeeducaçãoemsaúde.AcreditamosqueosGruposdePesquisarelaciona-dosàadministraçãoegerenciamentodocuidadodeenfermagem/saúdevêmadquirindoespaçose responsabilidade crescente no sentido de criar, fomentareproporestratégiasprático-interativascapazesdelevaremcontaacomplexidadeesingu-laridade de cada ser humano em seu contexto real econcreto.AgerênciadoprocessoinvestigativonoGEPADESincluiaconstruçãodeestratégiasnoprocessodere-construçãodeconhecimentosqueviabilizemmudançasoutransformaçõessociais.

Foipensandonestaseoutrasquestões,quealguns integrantesdoGEPADES iniciaram,noanode2007,umProjetodePesquisanointuitodecompreender,inicialmente,osignificadodo“viversaudável”paraos jovensque integramoCentroCulturalEscravaAnastásia(CCEA)e,apartirdossignificadosevidenciados,instauraremumproces-sodeintervençãocomestratégiasdoprocessodeinvestigação-açãocentradasemoficinasinterativaseeducativascapazesdepromoverasaúdeeacida-dania.Tambémteveopropósitodesubsidiarestra-tégiasparaposteriorestrabalhosdestanatureza,aseremrealizadoscomgruposvulneráveis.

Propomos-nos,nesteartigo,relataragerên-cia de uma experiência investigativadopontodevistadospesquisadoresmediantearealizaçãodeumapesquisa-açãocomjovensintegrantesdeumprojetodeinclusãosocial,localizadoemumdosmorrosdaGrandeFlorianópolis-SC,pormeiodeoficinaseducativasedepromoçãodasaúde.Entendemosserestaumapropostarelevanteparacompreenderosdesafiosqueseapresentamàque-lesquesepropõemaumtrabalhodeinserçãoeintervençãosocialcomoumaexperiênciainvesti-gativa,principalmente,nosespaçosconsideradosdemaiorvulnerabilidadesocial.

RECONHECENDO O LOCAL E EXPLICI-TANDO A METODOLOGIA DA PROPOS-TA DE TRABALHO

OCCEA,projetodeinclusãosocial,foifun-dadoemsetedejunhode1994,nacapelaNossaSenhoradoMonteSerratdaGrandeFlorianópoliseoseuregistrooficial,emCartório,nodia25demaiode1998.Nasceu,apartirdotrabalhodeumgrupodacomunidade,quetinhacomoobjetivoaeducaçãoequereuniarepresentantesdedife-rentesentidadeseinstituições,dentreelas:EscolaBásicaLuciaLivramentoMayvorne,CrecheCa-suloLBA,CrecheMonteSerrat,GrupoPinheiroeEscoladeDatilografia.*

Osobjetivosdestas entidades centravam-se, inicialmente,no fortalecimentodas relaçõesinterpessoais, buscando estimular, intensificareaperfeiçoarareflexãoeaparticipaçãonavidacomunitária.OCentroCultural foi projetadocomafinalidadedeabrigarprojetoseatividadeseducativasparaosmoradoresdoMorro.Apartirdestainiciativadesencadearam-seoutrosprojetosarticuladospeloCCEAcomo:ProjetoTravessia,MovimentodosTrabalhadoresoriundosdosQui-lomboseoFórumdoMaciço,todostendocomofocoaarticulaçãodeforçassociaiseaconstituiçãode redes. Esse processo possibilitou a existência do Aroeira–ConsórcioSocialdaJuventude,noqualoprojetodepesquisaemquestãoestáarticuladoeengajadomaisefetivamente.

SurgidoapartirdoconvênioentreoGover-noFederal-MinistériodoTrabalho-eoCCEA,o Aroeira assume o compromisso de articular sujeitos coletivos, atuantes nas comunidadesde periferia daGrande Florianópolis, para odesenvolvimentodeprocessos educativosquevisempossibilitarajovensentre16e24anos,em

* GrohV.CentroCulturalEscravaAnastácia.DocumentoBase;2006.

Gerenciandoumaexperiênciainvestigativanapromoçãodo...

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situaçãodevulnerabilidadesocial,oaumentodaauto-estimaedacompreensãodarealidadesócio-cultural,ocompromissocomunitárioecidadãoeainserçãonomundodotrabalho,buscandooempoderamento e a autonomiadesses sujeitosindividuaisecoletivos.**

TendoreconhecidoasatividadesdoCCEA,queapresentavaumacarênciadecuidadosdesaú-de/enfermagem,algunsintegrantesdoGEPADESsepropuseram,pormeiodeumprojetodeumapesquisa-ação,adesenvolverumasériedeativi-dades,apartirdoanode2007,nesseespaço.

Apropostadepesquisacompreendeuduasetapassistematizadaseinterligadas.Naprimeiraetapanospropomos,enquantopesquisadoras,acompreenderosignificadodoviversaudávelnaperspectivadosjovensdoCCEApormeiodométo-dodaGroundedTheory10-11e,nasegunda,realizarumaexperiênciainvestigativadeumprocessodeintervençãocomoapoiodapesquisa-ação.12

Opresenteartigofocará,noentanto,apenasàsegundaetapa,naqualaspesquisadorastive-ramumainserçãonoprojetodeinclusãosocial,pormeiodapesquisa-ação,maisespecificamentepormeiodeoficinaseducativasedepromoçãodasaúde,comtrêsgruposdejovensexistentes(Gru-podaGastronomia,GrupodaEstéticaeGrupodaComunidadeNovaDescoberta).Nasoficinas,num total de 15 encontros, foram trabalhados os seguintestemas,sugeridospelosprópriosjovens:osignificadodoviversaudável,oconhecimentodocorpohumano,asDST,sexualidadeeosméto-dosanticoncepcionais.Alémdestestemas,foramsugeridosoutrosqueserãotrabalhadosposterior-mente, tais como: leptospirose,natureza,meioambiente,reciclagemdolixo,promoçãodasaúde,desnutrição,desidratação,músicaeesportes.

Os relatos foram registrados por seispesquisadoras, autoras do estudo, após cadaumdos 15 encontros comos jovens, e foramdiscutidos, analisados e descritos por todas as autorasdesteartigo.

Trata-se, portanto, de um relato de experiên-ciadaspesquisadoraseautorassobreoprocessogerencialvividonestapesquisa-açãocomasofi-cinaseducativasedepromoçãodasaúdejuntocomjovensintegrantesdeumprojetodeinclusãosocial,localizadoemumdosmorrosdaGrandeFlorianópolis-SC.

Sãorecortesdefalasdospesquisadoresquedãovozaoprocessodereflexãoediscussãopelos

**GrohV.CentroCulturalEscravaAnastácia.DocumentoBase;2006.

mesmosnosencontrosdogrupodepesquisa.Aspesquisadorasforamdenominadascomaletra“p”eumnúmeronaidentificaçãodasfalasrelatadasem seis depoimentos.

Oprojetodepesquisa,objetodeste relato,seguiutodasasrecomendaçõesdaResoluçãoNo 196/96doMinistériodaSaúde,13 sendo submetido eaprovadopeloComitêdeÉticaemPesquisadaUFSC,nareuniãode17dedezembrode2007,soboNº350/07.

A GERÊNCIA DE UMA PESQUISA-AÇÃO NA CONSTRUÇÃO DO VIVER SAUDÁ-VEL: DANDO VOZ AOS PESQUISADO-RES, ATORES DESSE PROCESSO.

Salienta-se que anteriormente ao projetoemcurso,odesenvolvimentodeaçõesdesaúde/cuidadoaosjovensdoCCEAestavarestritoàexe-cuçãodeaçõesdiretamentedirigidasaosproble-mas,maisespecificamentequandoosjovenseramencaminhadosoubuscavamaUnidadeLocaldeSaúdeeaíeramavaliadoseatendidosconformesuasnecessidades.Aresoluçãodoproblema,na-quelecontexto,sereduziaaoaspectoindividual,prestadodeformafragmentadaesemênfasenapromoçãoeeducaçãoemsaúde.

Esta constatação,previamenteobservada,nosfezpensarerefletirnanecessidadedepromo-veragerência/gestãodoviversaudávelnapers-pectivadosjovens,istoé,apartirdacompreensãodaaçãosocialcomoumsistemaabertoàtrocadeinformações e interações.Mais especificamente,apartir da superaçãodasdicotomias clássicaspormeiodapromoçãode interdependências evínculosefetivosentreosserviçosdesaúde,uni-versidadeseatoressociais.14

Frenteàsevidênciasdequearealidadeemquestãodeixavaadesejaremtermosdepromoçãoeeducaçãoemsaúde,buscamosinstaurarumpro-cessodeintervençãoquelevasseemcontaaspectosdoviversaudável,apartirdemedidaspráticasparticipativaseconstrutivistas,dopontodevistadospesquisadorescomotambémdosjovens.

A partir do que vivenciamos nas oficinas educati-vas com os jovens, ficou a certeza do quanto é desafiador ser professora-pesquisadora. [...] chamou a atenção o fato da necessidade sentida pelos jovens de realmente quererem tomar conhecimento acerca do seu próprio corpo. Com relação aos jovens percebi que precisamos ser pacientes e dar tempo para que eles se sintam à

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vontade e livres para expressarem os seus sentimentos. Somente a presença do pesquisador não é suficiente. É preciso estar com eles para poder compreender o seu processo de viver e, então, entender suas expectativas, seus significados e dúvidas (p1).

Do relato acima,destaca-se a expressãoé preciso estar com ele.Éfundamentaleemergen-tequesedesenvolvamespaçosdeconvivênciaepartilhasdevidapelodiálogoabertocomarea-lidade concretadosatores sociais,não somenteparacapturarinformações“dadosdepesquisa”,maspara “estar junto”, isto é, compreender assingularidades, complexidades e pluralidadessubjacentesnocotidianoexistencial.

Semmuitopensar,osquestionamentosnosreportaramaafirmativadeMorinquediz:“Hoje,apresençadadialógica,daordemedesordemmostraqueoconhecimentodevetentarnegociarcomaincerteza.Issosignificaaomesmotempoemqueoobjetivodoconhecimentonãoédescobriro segredodomundooua equação-chave,masdialogarcomomundo”.8:205

Durante 17 anos trabalhei como enfermeira em hospital geral. Nessa época considerava as atividades nas Unidades Básicas de Saúde como de menor importância e acreditava que os profissionais de lá sabiam menos que os dos hospitais. Estou, e sempre estive profissio-nalmente envolvida com a doença e muito pouco com prevenção ou promoção da saúde. Ao inserir-me nesse projeto, pretendia não me envolver... Nosso interesse maior era a pesquisa, compreender como aqueles jovens percebiam e que significados atribuíam ao viver saudá-vel. Questionávamos como seria possível ser saudável nas condições sociais problemáticas em que os jovens estavam envolvidos. E assim, subimos o morro! Para mim, poucas atividades foram tão gratificantes como esta, tanto nos aspectos profissionais e de aprendizagem em pesquisa, como também pessoalmente... percebi o quanto esperavam de nós. Demonstravam de maneira enfática o quanto contavam conosco para orientar as questões de saúde. Essa expectativa em relação a nós me deixou apreensiva. Cada um dos três grupos apresenta-va características diferentes e todos eram desafiadores. Estava diante do desconhecido! As histórias de vida daqueles jovens me sensibilizaram para a importância de aproximar a academia da comunidade. Como gasta-mos nossa energia em produção de conhecimentos aos quais essa parcela da população não tem acesso! Percebo esse projeto como uma aula prática sobre produção de conhecimento em Enfermagem e saúde (p2).

Estesegundorelatodemonstra,deumlado,oestranhamentodiantedonovoedodiferentee,deoutro,apossibilidadedecontinuamentefazermos

novaseconstrutivasdescobertas,capazesdepro-vocara“zonadeconforto”.Afrase–As histórias de vida daqueles jovens me sensibilizaram para a importância de aproximar a academia da comu-nidade, evidenciaqueatransformaçãopessoalesocialcomeçaoudevecomeçarpelaacademia.Épreciso,gradativamente,transcenderotradicionalehegemônico“espaçosaladeaula”parao“espaçolaboratóriosocial”,oqualpossibilitaoencontrodasintersubjetividadesepermiteacolhereinte-grarodiferente,oincertoeoaleatórioaoprocessodeconstruçãodoconhecimento.

Éinegávelqueexperiênciasdestanatureza,longedosbancosacadêmicostradicionais,acabamporprovocarumconfrontopessoaleprofissionalcapazesde instaurarumnovo raciocínio eumnovomododecompreenderosfenômenossociais,muitasvezes,confundidosenãocompreendidosaosolhos cientificizados, comobemesclareceaperspectivadopensamentocomplexo.7

[...] apesar de termos sido bem recebidas pelos integrantes do primeiro encontro tive a impressão muito forte de que manifestavam um sentimento de “medo”, ou seja, algo como se o trabalho ou a presença de pessoas estranhas ao ambiente (nessecasodospesquisado-res) pudesse comprometer alguma “coisa”. O entra e sai de alguns integrantes, isto é, saídas estratégicas, pareceu-nos bastante estranho. Algo peculiar aconteceu no final da primeira oficina, visto que o coordenador do grupo ficou muito preocupado com o recado recebido por alguém de fora que o tirou do grupo e lhe falou: “fulano, vem cá!” (pareciaapreensivo) e, logo lhe disse, ainda: “é urgente!”. Assim como estas expressões, várias ou-tras se fizeram presentes ao longo das diferentes oficinas. Por vezes me sentia como estranha, por vezes me sentia uma verdadeira heroína... (p3).

Aexpressãomanifestavam um sentimento de medo, evidencia, em síntese, o “estranha-mento” entre academia/pesquisadores e atoressociais/jovens em situaçãodevulnerabilidade.Nessadireçãoquestionamo-nos: de que formaasaúdeouosprofissionaisdasaúdepodemoudeveminterferirnesta“ordemsocialjáestabele-cida”?Comoprovocarumanovaorganizaçãoouordemsocialnestesespaços,consideradoscomodesagregadoreseperigosos?

Peloolhardacomplexidadenadaestáper-dido,mastudoépossívelepassíveldeumanovaorganização.7Dessemodo,compreenderosigni-ficadodestaorganização específicados jovens,significaacolheroprocessodeordem-desordem-organizaçãoque caminhamparalelamentenumesforço pela sobrevivência humana. Significa

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compreender e acolher o estranhamento, como algo inerente à existênciahumanae comopos-sibilidadedeumanova(re)organização,mesmoque inicialmente incompreendidoaosolhosdasimplificação.

As primeiras oficinas foram, além de educativas, também de estranhamento e conhecimento uns dos ou-tros. Houve o estranhamento por parte dos integrantes do grupo e da própria comunidade, que para sentirem-se seguros no seu contexto, precisaram conhecer quem eram as pessoas estranhas, de onde vinham e quais as intenções/interesses para com o grupo e comunidade. [...] Conviver por algumas horas com esses jovens, ao mesmo tempo em que impressiona, provoca e assusta, é um momento de aprendizagem, de solidariedade, de cuidado e admiração pelas diferentes formas de expressarem os talentos artísticos, como também os significados que atribuem ao cotidiano em que vivem. Percebo que a educação e promoção da saúde decorrem da interação e da relação entre as pesquisadoras e os jovens, estas, permeadas pelo diálogo e pelo respeito à diversidade (p4).

A solidariedade, o cuidado interativo, aadmiraçãopelonovoediferenteeavalorizaçãodo outro como ser uno e complexo, nascem do encontro intersubjetivo edo contato coma re-alidade concretados sujeitos, como já foraditoanteriormente.

Oprocessodeaprendizagemevidenciadonorelatoacimamostraqueprecisamos,enquantopesquisadores,conhecerprofundamenteaculturaemqueosindivíduossociaisougruposcoletivosestãoinseridos.Emoutraspalavras,precisamoscompreendercomoasquestõesestruturantesdes-saculturapodemnosajudaraentenderosmodosparticularesnosquaisosindivíduosouumgruposocialviveedásentidoàsuacondiçãodevida.15

Muito mais que construir novos conhecimentos, a experiência do morro foi para mim um processo de des-construção de muitas verdades acumuladas ao longo dos anos acadêmicos. [...] Pude perceber o quanto é difícil lidar e gerenciar os conflitos e confrontações pessoais e encontrar alternativas e estratégias de inclusão social principalmente nas realidades sociais mais vulneráveis, quando seria fácil, nesse momento, atribuir toda a res-ponsabilidade aos representantes de governo. Muitas vezes, senti o peso da nossa responsabilidade social en-quanto enfermeiras, pesquisadoras, ou seja, profissionais formadas e preparadas para intervir com conhecimento e competência nas diferentes demandas sociais. Outras vezes, sentia vontade de gritar e julgar as autoridades que pouco se importam com estas realidades. [...] Pre-cisamos articular, integrar e potencializar as diferentes

formas de conhecimento para compreendermos o real significado do processo de viver saudável nos diferentes imaginários e espaços sociais (p5).

Este relato de p5, principalmente na ex-pressãoo peso da nossa responsabilidade social enquanto enfermeiras, pesquisadoras,provocaaumasériede indagações,quais sejam:Qualanossaresponsabilidadesocialenquantoenfermei-rosepesquisadores,faceàscrescentesinjustiçasedesigualdadessociais?Qualanossaparceladeresponsabilidade faceaos chamados“excluídossociais”?Oqueestamosfazendoconcretamenteenquanto cidadãos no sentidode promover ainclusãosocial?

Falardesentimentos,significadosepercep-çõesapartirdeumarealidadevivenciada,longedaacademiaedossaberesformalmenteinstituídos,provocou,apriori,sentimentosdedúvida,medo,insegurançaeincertezasosquais,gradativamente,foramsuplantadosporumasensaçãodebem-estaresatisfaçãoprofissional,comomostramosrecortesdasfalasacima.Senãoépossívelsalvaromundo,quefaçamospelomenosanossaparte.

A educação dos jovens não é tarefa fácil e pudemos evidenciar isto, pois nem sempre as nossas atividades eram priorizadas. O contato que tivemos foi com a par-ticipação de adolescentes/jovens em grupos como o da Gastronomia ou com uma mãe que trazia seu filho para as oficinas no Grupo da Estética. Mas, também ficou evidente que muitos dos conhecimentos, principalmen-te as crenças e preconceitos a respeito de temas como sexualidade e doenças sexualmente transmissíveis, são repassados através da família, de gerações a gerações. Era comum a experiência familiar ilustrar as discussões durante as oficinas, muitas vezes carregadas de mitos e significados (p6).

Mesmoqueemmuitosmomentosasativida-deseducativasnãotenhamsidopriorizadaspelosjovens, pode-seperceberavontadedevencer,derecomeçareaesperançadenovamentepoderemvoltarasonhar,sonhoesteque,paramuitosjovensqueviviamàmargemdasociedadee/ounumacondiçãodefuga,drogaseoutros,nãopassavadeumautopia.Osjovensdemonstraram,pormeiodesuasatitudeseexpressões,quesonhamcomalgonovoediferente,paraoqualnósprofissionaisdasaúdeaindanãodespertamos.

Rostos sofridos, corpos machucados, co-rações feridossãoalgumasdasexpressõesqueforamvisibilizadassemmuitoesforçodepensa-mento.Compreender os sentimentosque cadajovem, cada integrantedoMorro, resguardavapara si, no entanto, já foiuma tarefapor si só

ErdmannAL,BackesMTS,BackesDS,KoerichMS,BaggioMA,CarvalhoJN,et.al.

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desafiadoraeindutoradenovosconhecimentosepossibilidadeseducativas.

Emmuitosmomentoschegamosàconclusãodequenãocompreendíamosnemmesmoanossarealidadecientificizadapelosvalorese conheci-mentoshegemônicosdeuma sociedadeque sediz“perfeita”e“segura”de todasasverdades.Assim, compreender o jovem “ex-traficante”como cidadão, compotencialpara transformara sua realidade pessoal e o contexto social como um todo, exigiu, inicialmente, reverposturas eatitudes,confrontarvalores,paracompreendereaceitar o diferente.

Oprocessode intervençãopormeiodasoficinas demonstrou que a enfermagempodeterumaatuaçãorelevantenestaáreaespecífica,atravésdoestabelecimentodevínculosseguros,construídosapartirdeumainteraçãodeconfiança,decarátereducativoedepromoçãodasaúde,fatoeste jádemonstradopor estudosanteriormenterealizados.16

Podemos constatar a importânciados as-pectos culturais e, principalmentedonível deescolaridadeedaEscola,paraossujeitos frenteaosprogramasdeprevençãoeasformasdereagiràsagressõesdomeio,comotambémacapacidadedemensuraroimpactodestasquestõesemsuasvidas.Logicamente,nãohouveuminteresseemconhecer este aspecto especificamente,masob-servamosqueosrelatosmaiselaboradosoupartedos conhecimentos combase científica, queosadolescentesdetêmsobreasquestõesdiscutidas,foram repassados nas escolas, geralmente nasaulasdebiologia.

Acreditamosque todosestesaspectos têmrelevância,poisquandofalamosem“viversau-dável”,nãopodemosdeixardedarumespectromaisamploaestefato.Implicanaadoçãodopen-samentodeque,paraqueasaçõesdepromoçãodasaúdeemelhorqualidadedevidasejammaisefetivas, temosqueenvolverváriosaspectosdoviverrelacionadosàeducação,cultura,condiçõessocioeconômicas,aspectospsicológicos,biológicosecomportamentais,alémdasaúde,constituindo-senumarededeinter-relações.Estaéumadiscus-sãoquedesenvolvemosemalgunsmomentos,atéporqueasdiferençasdedistribuiçãoderendaesociais eram citadas em muitos momentos.

Porfim,nossograndedesafioconsisteemaproximar e integraro conhecimento científicoao saberpopular; emsentir e significaroviversaudável a partir da compreensão dos atoressociais;emintegrarolocalaoglobal1oquenão

significaquedevemosoupodemostransformartudo.Onossoesforço,enquantopesquisadoras,devesersempreodecriarestratégiasviáveis,ouseja,iralémdaquantidadedeinformaçõesquejáestãodisponíveis.Nessaperspectivapropomosestratégiasdegerenciamento,taiscomo:

-intervençãorealeconcretanasrealidadessocialmentevulneráveis;

-aproximaçãodosaberacadêmicoaosaberpopular;

-projetosdepesquisaapartirdosreaispro-blemas sociais;

-processoinvestigativomaisabertoàsdife-rentes possibilidades de apreender e interpretar maiscoletivamentearealidadesocial;

-pesquisasque,alémdeinvestigativas,te-nhamtambémumaintervençãosocial;

-propostascriativaseinterdisciplinaresdeintervençãosocial;

-exercíciodoaprendergerenciandoproces-sosquepotencializamcompetênciasinvestigativasnaformaçãoderecursoshumanosempesquisa;

-“laboratóriossociais”paraacompreensãodomundo realdo“viver avida” embuscado“vivermaissaudável”.

O exercíciodoprocesso investigativo é aoportunidadedeaprendergerenciandoumtraba-lhocoletivodeconstruçãodeconhecimentoscujascompetênciassãopotencializadasnosgruposdepesquisa,espaçosdeformaçãoderecursoshuma-nosempesquisanosdiferentesníveis.Estascom-petênciaspolítico-gerenciais,deatitudesevisãode compromisso social, centram-senoexercíciodearticulaçõesconstrutivasedialógicas,rumoaoalcance de metas e produtos importantes para o desempenhodogrupo.

Apráticadaconstruçãoeviabilizaçãodepro-jetosdepesquisanosgrupodepesquisaseconstituinumsolofértildeexperiênciaspotencializadorasdeformaçãodepesquisadoresedeconsolidaçãodeconhecimentosemlinhasdepesquisaoutemáticasrelevantesparaoavançodaprofissãocomociênciacomprometidacomabuscademelhorsaúdedoscidadãosougrupossociais.

Gerenciaroprocesso investigativo requerqueseimplementeoprocessogerencialnopro-jetar/conceber, implementar e analisar ações eestratégiasqueresultemnaconstruçãodenovosconhecimentosou saberes e empráticas alicer-çadasporestesnovosconhecimentosousaberesrumoamudançase/outransformaçãosocial.

Gerenciandoumaexperiênciainvestigativanapromoçãodo...

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CONSIDERAÇÕES FINAISParaconstruirovivermaissaudávelépre-

ciso conhecer, se interar e se apropriardos sig-nificadosvivenciadosnoquotidiano imagináriode cada indivíduo e grupo social. Incrementarpráticasdiferenciadasemsaúde/cuidado,implicaemconstruire/ouprojetarpráticasimportantesdopontodevistadosujeito,substantivascienti-ficamenteeviáveiseconomicamente.

O relatoda gerênciadeuma experiência investigativadopontodevistadaspesquisado-ras,mediantearealizaçãodeumapesquisa-açãocomjovensintegrantesdeumprojetodeinclusãosocial,localizadoemumdosmorrosdaGrandeFlorianópolis,pormeiodeoficinaseducativasedepromoçãoda saúde, apontapara estratégiasimportantes tantoparaoprocesso investigativonasuaconcepçãoeviabilização,comoparaospes-quisadorescomoserespolíticos,emsuasatitudesevisãosobreseucompromissosocial.

Deoutromodo,aintervençãonarealidadeapartirdosignificadoqueosprópriosatoressociaisatribuemaoviversaudável,éumaimportantees-tratégiagerencialnoprocessode(re)construçãodoconhecimento acadêmico e a possibilidade de con-tribuirdeformaativaeresponsávelnaconstruçãodepráticasemsaúde/cuidado,comprometidaseengajadasnaconstruçãodacidadania.

Destacam-seaindacomopontossignificati-vosdesterelatosobreagerênciadoprocessoinves-tigativo:aimportânciadoexperienciaroexercíciodeconstruçãodeconhecimentoscoletivamente;oaprendergerenciandooprocessoquepotencializacompetênciasinvestigativasnaformaçãoderecur-soshumanosempesquisaemdiversosníveis;e,odespertarparaarticulaçõesnosespaçossociaisquepromovemocrescimentohumanodosatorespor relaçõesmúltiplasediversas, interagindoerespeitandoosdiferentesmodosdeseredeviveroprojetodesaúdedecadacidadão.

Agerênciadoprocesso investigativo em“laboratórios sociais” édesafiadoranamedidaemqueaacademiaseaproximadomundorealdo“viveravida”embuscado“vivermaissaudável”emcondiçõespoucoounadafavoráveisàconcre-tudedoexercícioplenodacidadanianagestãodo“viversaudável”.

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MarliTerezinhaSteinBackesAv.RubensArrudaRamos,178488015-700-Florianópolis,SC,BrasilE-mail:marli.backes@bol.com.br

Recebido em: 10 de setembro de 2008Aprovaçãofinal:26demaiode2009

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