Post on 25-Jul-2020
Mônica Labuto – Juíza Titular da 1ª Vara Regional da Infância, da Juventude e do Idoso Ana Lúcia Simões – Psicóloga da 1ª Vara Regional da Infância, da Juventude e do Idoso Silvana do Monte Moreira – Coordenadora dos Grupos de Apoio à Adoção Ana Gonzaga
Parceria:
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Ser humano Viver humanamente Para conviver humanamente, inventamos a economia, a política, a cultura, a ética e a religião. Mas nos últimos séculos o fizemos sob a inspiração da competição de todos com todos. Isso gerou a falta de solidariedade, o individualismo, a acumulação privada e o consumismo irresponsável O resultado? Uma solidão aterradora e uma profunda desumanização. Esse ciclo deve se encerrar, caso contrário ele conduzirá a Terra e a humanidade a um impasse sem retorno. O remédio está em nós: a cooperação que gera a comunidade e a participação de todos na construção de um mundo no qual todos possam caber e viver minimamente felizes. (Boff, Leonardo – A força da ternura, Rio de janeiro: Sextante, 2006, p.9)
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SUMÁRIO Breve histórico e diagnóstico Justificativa Objetivos gerais Objetivos específicos Modalidades de apadrinhamento Procedimentos para se tornar padrinho/madrinha Público Alvo Curso de padrinhos Executores e apoio Avaliação do Projeto Referências
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I – BREVE HISTÓRICO E DIAGNÓSTICO
O abandono crianças é uma prática muito antiga na história da Humanidade e se
fez presente em todas as sociedades. As sociedades grega e romana costumavam expor
as crianças de forma legitimada pelo pater familias, deixando-as largadas a sua própria
sorte, o que acarretava um alto índice de mortalidade. Aqueles expostos que conseguiam
sobreviver e tinham a oportunidade de serem acolhidos por outras pessoas costumavam
ser escravizados, vendidos ou até mesmo utilizados como objeto de mendicância
(CUNEO, 20071).
Na sociedade brasileira, foram os portugueses colonizadores que introduziram no
país o ato de expor, uma vez que os índios não possuíam este costume. Em
compensação, estes europeus trouxeram suas leis e instituições de assistência e
proteção à infância abandonada (WEBER, 20062).
Segundo Cuneo, a Roda dos Expostos ou Enjeitados também esteve presente no
nosso cotidiano, tornado-se uma das instituições brasileiras mais duradouras, já que
surgiu no período colonial, disseminou-se durante o Império e acompanhou o início da
República, sendo extinta definitivamente apenas na primeira metade do século XX, mais
precisamente no ano de 1.950. Este sistema foi praticamente a única medida tomada em
prol das crianças abandonadas no país até o século XIX, transformando-as de filhos
abandonados em filhos do Estado.
Na segunda metade do século XX, houve uma mudança extremamente relevante
para a nossa legislação. A Constituição Federal Brasileira é promulgada em 1988
consagrando “o princípio da dignidade humana (art.1º, III) como nuclear de todo o
ordenamento jurídico brasileiro, com sua especificação, no campo das relações familiares,
1 Cuneo, M. R. (2007). Abrigamento prolongado: os filhos do esquecimento. Acesso em 05 de abril de 2010, disponível em http://www.mp.rj.gov.br: http://www.mp.rj.gov.br/portal/page/portal/MCA/Censo/Terceiro_Censo/7_Abrigamento.pdf 2 Weber, L. N. (2006). Laços de Ternura: pesquisas e histórias de adoção. Curitiba: Editora Juruá.
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através dos arts 226 e 227” (LAURIA, 2002, p.193).
A Lei Maior aliada ao Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8069/90)
promovem uma mudança substancial na legislação infanto-juvenil, uma vez que passam a
considerar a criança e o adolescente como sujeito de direitos, merecendo serem
protegidos integralmente,independente de qualquer característica social, psicológica ou
econômica (LAURIA, 2002).
O ato de abrigar crianças e adolescentes começa a ser considerado pelo referido
Estatuto como uma medida provisória e excepcional, utilizável como forma de transição
para a colocação em família substituta, não implicando privação de liberdade (art.101, §
único). Todavia, a pesquisa realizada pelo IPEA4 (2003), revelou que a realidade é mais
cruel do que se imagina, pois mais da metade das crianças e adolescentes permanecem
institucionalizados há mais de dois anos (52,6%), desta amostra 32,9% se encontra
abrigada entre dois e cinco anos, enquanto que a percentagem cai para 13,3% no período
de seis a dez anos. Enquanto que 6,4% dos casos estão em abrigos por mais de dez
anos.
No intuito de diminuir o número de abrigamento prolongados, a Nova Lei da
Adoção (lei nº 12.010/09) estipula o prazo de 2 anos para a permanência de crianças e
adolescentes em programas e acolhimento institucional, colocando que poderão ocorrer
casos excepcionais, isto é, casos em que o prazo supracitado não será respeitado, mas
sua existência precisará ser devidamente fundamentada pela autoridade judicial (art19,§
2).
Quanto aos aspectos psicológicos, os estudiosos sobre infância e adolescência são
unânimes ao afirmar que o período prolongado de institucionalização é extremamente
prejudicial para a criança e adolescente, independente de ocorrer a reintegração à sua
família de origem ou o encaminhamento para uma família substituta, na modalidade de
guarda, tutela ou adoção.
3 Lauria, F. G. (2002). A Regulamentação de Visitas e o Princípio do Melhor Interesse da Criança. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris. 4 IPEA/DISOC. Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes. Capítulo II, 2003.
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Segundo Bowlby5 para uma criança se desenvolver saudavelmente é
imprescindível a construção de vínculos de qualidade com seus cuidadores, que não
precisam ser obrigatoriamente os pais biológicos, basta apenas que haja uma boa
interação entre o adulto e a criança. No caso de um apego de qualidade precária, Bowlby
sinaliza que a probabilidade de desenvolver comportamentos anti-sociais na adolescência
e na adultez aumenta significativamente porque tais crianças não conseguiram
desenvolver um apego saudável e consequentemente terão dificuldades em maior ou
menor grau nas interações sociais. Sendo assim, pode-se concluir , através dos seus
estudos, que o ato de privar a criança de uma relação segura de amor, deixando de lado
suas necessidades básicas, coloca em risco seu desenvolvimento emocional, cognitivo e
social.
Como bem pontua Cuneo, obra já citada. P. 101, “na institucionalização, as
oportunidades para o desenvolvimento integral das crianças são poucas. De fato, a
submissão a rotinas rigorosas, o convívio restrito às mesmas pessoas, a falta de vida em
família, a fragilidade das trocas afetivas e a ausência de cuidados personalizados e de
atenção individualizada geram prejuízos que afetam o desenvolvimento global da
criança”.
Mediante o exposto, apresentamos o Projeto Apadrinhar, cujo objetivo primordial é
proporcionar uma melhor qualidade de vida às crianças e aos adolescentes
institucionalizados, na medida em que possibilita a estes a construção de vínculos
afetivos saudáveis e estáveis com pessoas que não estão diretamente inseridas em
algum programa de acolhimento institucional. Desta forma, o Projeto está apenas
garantindo um direito estabelecido na nossa Lei Maior, mas que é tão esquecido, tão
menosprezado durante a experiência do abrigamento: a convivência comunitária. 5 Bowlby, J. (2004). Teoria do Apego e Perda. São Paulo: Editora Martins Fontes.
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II - JUSTIFICATIVA
A família e a comunidade são os espaços mais apropriados ao desenvolvimento
integral de crianças e adolescentes.
Aprovado em novembro de 2006 pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e
do Adolescente (Conanda), o Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária tem
o objetivo de orientar a elaboração de políticas públicas que visem a efetivar o direito de
crianças e adolescentes ao convívio familiar e comunitário.
O plano foi estruturado para ser implantado até 2015.
Relatórios apontam que o PNCFC ainda é desconhecido da população brasileira e
que o país carece de políticas públicas que implementem o PNCFC até 2015.
O PNCFC tem previsão, dentre outras, de realização de mapeamento e análise das
iniciativas de apoio sócio-familiar e a inclusão dos dados sobre crianças e adolescentes
que vivem com adultos sem vínculo legal, estejam em situação de rua ou em programas
de acolhimento institucional.
Estimativas da campanha “Criança Não é de Rua” indicam que cerca de 25 mil
crianças vivem na rua em municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes.
Outras crianças e adolescentes encontram-se acolhidos em entidades de
acolhimento institucional espalhadas pelo Brasil, alijados, portanto, da convivência
familiar, natural ou substituta, a que têm direito.
Dessas crianças várias já estão na fase dita ”inadotável”, tanto para brasileiros
quanto para estrangeiros. Do cuidado com os “inadotáveis” surgiu o presente projeto de
apadrinhamento que visa, na essência, propiciar a essas crianças e adolescentes a
convivência familiar.
Buscou-se, no apadrinhamento civil português, o guia para o presente projeto.
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A experiência portuguesa de Apadrinhamento Civil, retratada pelo Professor
Guilherme de Oliveira6 em “Apadrinhamento Civil: uma iniciativa portuguesa, com
certeza”, reproduz, quase que fielmente, a situação que leva ao apadrinhamento afetivo
no estado do Rio de Janeiro, conforme se verifica no texto a seguir transcrito:
“O regresso à família biológica supõe que os serviços sociais tenham os meios de
intervenção capazes de modificar a família de tal modo que ela possa passar a fornecer
um ambiente seguro para a criança. Mas, se isto é fácil de dizer, a verdade é que é muito
difícil de realizar. Em primeiro lugar, porque os serviços não dispõem de técnicos
suficientes para se dedicarem a cada família tanto quanto ela necessitaria; em segundo
lugar, porque não basta a atenção e dedicação dos técnicos se eles não tiverem a
colaboração de outros serviços de apoio, como serviços clínicos ou de educação parental;
em terceiro lugar, porque, numa época de dificuldades econômicas e de falta de emprego,
como a que país está a atravessar, é mais provável que as famílias frágeis piorem a sua
vida do que o contrário.
O encaminhamento para adoção, por sua vez, também não se mostra fácil.
Ressalvados os casos em que os pais dão o necessário consentimento, e os casos de
grave descumprimento das funções parentais em que se torne evidente que a criança não
poderá regressar nunca à família, resta uma longa série de situações em que nem se
consegue obter o consentimento dos pais biológicos nem a degradação familiar atingiu os
extremos que as autoridades portuguesas costumam exigir para decidir impor a ruptura
com a família biológica.
Tudo somado, a realidade mostra que as crianças que, num primeiro momento de
emergência, foram internadas em instituição de acolhimento, por lá continuam, ao abrigo
de uma esperança vaga de que as famílias melhorem ou decidam consentir na adoção.
Mas o tempo passa depressa, as famílias habituam-se a ter seus filhos cuidados em
instituições, os serviços de assistência passam a ocupar-se de novos casos urgentes, as
próprias instituições acomodam-se às “suas crianças” ... e o número de jovens internados
6 OLIVEIRA, Guilherme de. Apadrinhamento civil: uma iniciativa portuguesa, com certeza. Revista do
advogado, São Paulo, a.28 n.101(Dez.2008), p.37-46
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durante muito tempo é considerado por todos demasiado.”
A realidade do Estado do Rio de Janeiro, assim como a do próprio Brasil, em muito
se assemelha, resguardadas as proporções de estarmos tratando de um país- continente,
com as de Portugal.
As instituições de acolhimento encontram-se com crianças e adolescentes que
estão em um verdadeiro limbo: não fazem parte do perfil desejado por brasileiros, não são
elegíveis, em tese, à adoção internacional e, ao completarem 18 anos, serão lançadas ao
mundo. Como enfrentarão esse mundo? Tais adolescentes têm escolaridade baixa ou
formação deficiente, vez que oriundos de escolas que não primam pela excelência.
Os jovens que são lançados no mercado de trabalho não são profissionalizados,
não têm boa formação e não têm como competir nesse mundo excessivamente
globalizado e que nos impõe padrão elevado de conhecimento.
Os jovens de entidade de acolhimento não dominam, em sua grande maioria, as
ferramentas tecnológicas do futuro e não estão preparados para enfrentar, em boas
condições de competitividade, o ENEM e o vestibular.
A realidade é cruel e não estamos preparando nossos jovens para o futuro.
O PROJETO APADRINHAR surge como uma alternativa de correção de tantas
distorções, na tentativa de propiciar às crianças e aos adolescentes abrigados a chance
de tornarem-se jovens e adultos competitivos e produtivos.
Parafraseando o já citado Professor Guilherme de Oliveira o APADRINHAMENTO
objetiva constituir-se em uma “terceira via” para a definição do “projecto de vida” das
crianças; pretende-se alargar as possibilidades de escolha dos técnicos no momento de
prever um rumo definitivo, para além do acolhimento temporário de emergência7. Sempre
que tanto o regresso à família biológica quanto a decisão em favor da adopção parecerem
difíceis, restará aos técnicos esta outra via.
7 Ibidem.
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A Lei Portuguesa nº 103/2009, de 11 de setembro de 2009, aprovou o regime
jurídico do apadrinhamento civil, alterando o Código de Registro Civil, o Código do
Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares, a Lei de Organização e
Funcionamento dos Tribunais Judiciais e o Código Civil.
Da Lei do Apadrinhamento Civil Português, destacamos:
Artigo 2º - Definição
O apadrinhamento civil é uma relação jurídica, tendencialmente de caráter
permanente, entre uma criança ou jovem e uma pessoa singular ou uma família
que exerça os poderes e deveres próprios dos pais e que com ele estabeleçam
vínculos afectivos que permitam o seu bem-estar e desenvolvimento,
constituída por homologação ou decisão judicial e sujeita a registro civil.
Artigo 4º - Capacidade para Apadrinhar
Podem apadrinhar pessoas maiores de 25 anos, previamente habilitadas para o
efeito, sem prejuízo do disposto no nº 5 do artigo 11º.
Artigo 5º - Capacidade para ser apadrinhado
1 – Desde que o apadrinhamento civil apresente reais vantagens para a criança
ou o jovem e desde que não se verifiquem os pressupostos da confiança com
vista à adopção, a apreciar pela entidade competente para a constituição do
apadrinhamento civil, pode ser apadrinhado qualquer criança ou jovem menor
de 18 anos.
a) Que esteja a beneficiar de uma medida de acolhimento em instituição;
b) Que esteja a beneficiar de outra medida de promoção e protecção;
c) Que se encontre numa situação de perigo confirmada em processo de uma
comissão de protecção de crianças e jovens ou em processo judicial;
d) Que, para além dos casos previstos nas alíneas anteriores, seja
encaminhada para o apadrinhamento civil por iniciativa das pessoas ou das
entidades referidas no artigo 10º.
2 – Também pode ser apadrinhada qualquer criança ou jovem menor de 18
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anos que esteja a beneficiar de confiança administrativa, confiança judicial ou
medida de promoção e protecção de confiança a instituição com vista a futura
adopção ou pessoa seleccionada para a adopção quando, depois de uma
reaprecciação fundamentada do caso, se mostre que a adopção é inviável.
......
Artigo 7º - Exercício das responsabilidades parentais dos padrinhos:
1 – Os padrinhos exercem as responsabilidades parentais, ressalvadas as
limitações previstas no compromisso de apadrinhamento civil ou na decisão
judicial.
2 – São aplicáveis, com as necessárias adaptações, os artigos 1936º a 1941º
do Código Civil.
3 – Se os pais da criança ou do jovem tiverem falecido, se estiverem inibidos do
exercício das responsabilidades parentais ou se forem incógnitos, são ainda
aplicáveis, com as devidas adaptações, os artigos 1943º e 1944º do mesmo
Código.
4 – As obrigações estabelecidas nos artigos referidos no número anterior são
cumpridas perante as entidades que constituem o vínculo de apadrinhamento
civil.
5 – É aplicável, com as necessárias adaptações, o disposto nos artigos 2º a 4º
do Decreto-Lei nº 272/2001, de 13 de outubro.
......
Artigo 12º - Habilitação dos padrinhos
1 – A habilitação consiste na certificação de que a pessoa singular ou os
membros da família que pretendem apadrinhar uma criança ou um jovem
possuem idoneidade e autonomia de vida que lhes permitam assumir as
responsabilidades próprias do vínculo de apadrinhamento civil.
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2 – A habilitação dos padrinhos cabe ao organismo competente da segurança
social.
3 – Mediante acordos de cooperação celebrados com o organismo competente
da segurança social, as instituições que disponham de meios adequados
podem adquirir a legitimidade para designar e habilitar padrinhos.
4 – À recusa de habilitação dos padrinhos é aplicável o disposto no artigo 7º do
Decreto-Lei nº 120/98, de 8 de Maio, e pelas Leis nº 31/2003, de 22 de agosto,
e 28/2007, de 2 de Agosto.
Outro artigo que se demonstra bastante salutar para o fortalecimento do programa
se encontra inserido no artigo 23º a seguir transcrito:
Artigo 23º - Direitos
1 – Os padrinhos e afilhados têm direito a:
a) Beneficiar do regime jurídico de faltas e licenças equiparado ao dos pais e
dos filhos;
b) Beneficiar de prestações sociais nos mesmos termos dos pais e dos filhos;
c) Acompanhar-se reciprocamente na assistência na doença, como se fossem
pais e filhos.
2 – Os padrinhos têm direito a:
a) Considerar o afilhado como dependente para efeitos do disposto nos artigos
79º, 82º e 83º do Código IRS;
b) Beneficiar do estatuto de dador de sangue;
3 – O afilhado beneficia das prestações de protecção nos encargos familiares e
integra, para o efeito, o agregado familiar dos padrinhos.
A Lei é composta de 33 artigos, foi aprovada em 23 de julho de 2009 e promulgada
em 31 de agosto do mesmo ano.
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A realidade brasileira, tão próxima da realidade portuguesa e ao mesmo tempo tão
distante em número de crianças e adolescentes institucionalizados, pode, e deve, chegar
a um denominador comum no que se refere à proteção integral da criança e do
adolescente: o apadrinhamento será um passo fundamental para o alcance de tal
objetivo.
No Brasil e, especificamente no Rio de Janeiro, a quantidade de crianças – a partir
dos 10 anos de idade – é bastante significativa. Tais crianças, como já dito, não
encontram pretendentes nacionais e já se localizam na linha de corte para as adoções
internacionais. O apadrinhamento surge como uma enorme esperança de futuro para
essas crianças que passarão a ter o pleno exercício do direito à convivência familiar e
comunitária.
Não serão, como alguns contrários podem argumentar, filhos de seus padrinhos,
não carregarão o sobrenome, não farão parte da sucessão, mas, herdarão o legado maior
de terem um futuro, de não serem meras vitimas do abandono familiar e da falta de
recursos do Estado. Deixarão de ser filhos do Estado, Estado esse que tem, de fato,
exercido o papel de mau padrasto.
III - OBJETIVOS GERAIS
O PROJETO APADRINHAR objetiva proporcionar visibilidade à sociedade das
crianças e adolescentes disponíveis para adoção e/ou em situação de risco, estimulando
o pleno exercício do afeto, do cuidado, da solidariedade e da própria cidadania. Permitirá,
também, que crianças e adolescentes envolvidos no projeto construam vínculos
saudáveis com pessoas que não estão inseridas nos programas de acolhimento
institucional, mas que possuem disponibilidade emocional e/ou financeira suficiente para
proporcionar uma melhor qualidade de vida para eles através do respeito aos seus
direitos fundamentais e do pleno exercício da sua cidadania.
O PROJETO APADRINHAR busca unir as duas pontas, próximas e que por
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razões diversas não se encontram: quem quer ajudar e quem precisa receber essa ajuda.
Busca formar um laço direto entre o padrinho/madrinha e a criança/ adolescente,
construindo laços de afeto, apoio material, com possibilidades de amparo educacional e
profissional.
IV- OBJETIVOS ESPECÍFICOS
a) Concretizar a experiência de convivência familiar e comunitária de crianças e
adolescentes em programa de acolhimento institucional; inclusive após o retorno
destes à instituição;
b) Experenciar a vivência de vinculação afetiva com um grupo familiar, com
participação de rotinas e atos da vida doméstica;
c) Consolidar vínculos afetivos saudáveis, que poderão dar suporte emocional e/ou
financeiro, às crianças e adolescentes inseridos no projeto, após a reintegração à
sua família natural ou substituta, e até mesmo nos casos em que o desligamento
institucional é obrigatório devido ao surgimento da maioridade;
d) Sensibilizar a comunidade, para que possa estreitar os laços com o programa de
acolhimento institucional, permitindo assim, várias formas de contribuição:
afetivamente, prestando serviços às crianças/adolescentes institucionalizados e
financeiramente;
e) Conscientizar a sociedade em geral acerca da realidade vivenciada, dentro das
entidades de acolhimento institucional, pelas crianças e adolescentes lá acolhidas.
V - MODALIDADES DE APADRINHAMENTO
V.I – AFETIVO
O APADRINHAMENTO AFETIVO consiste em cuidar, isto é, dar atenção, carinho e
se preocupar com o bem-estar de uma criança ou adolescente ou grupo de irmãos que se
encontre em uma das entidades de acolhimentos da competência da 3ª Vara da Infância,
Juventude e Idoso da Comarca da Capital do Rio de Janeiro, podendo o
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padrinho/madrinha levá-lo(s) para passar(em) finais de semana, feriados, festas de final
de ano e/ou período de férias escolares na casa do padrinho/madrinha.
O padrinho/madrinha poderá, de conformidade com sua disponibilidade de tempo,
passear com a criança ou buscá-la para um evento específico: jogo de futebol, vôlei,
basquete, cinema, viagem, festa, etc. O padrinho/madrinha, a depender do período do
apadrinhamento, pode comparecer às reuniões escolares, auxiliar o afilhado nas lições de
casa e incentivá-lo à leitura na busca de conhecimento e cultura
Outrossim, é importante o padrinho/madrinha ter a preocupação em transmitir
valores morais e éticos e orientar seu(s) afilhado(s) com relação à higiene pessoal,
educação, contribuindo também para sua formação intelectual, e para o exercício da
cidadania.
V.II – MATERIAL
O APADRINHAMENTO MATERIAL consiste, de conformidade com a condição
sócio-econômica do padrinho/madrinha, em assumir algumas despesas referentes ao(s)
afilhado(s); dentre elas, destacam-se:
a) despesas escolares, onde o padrinho constará como responsável financeiro no
contrato de prestação de serviços educacionais;
b) na hipótese de a criança/adolescente se encontrar matriculado em escola pública que o
atenda para o futuro, o padrinho poderá assumir cursos complementares, dentre eles:
inglês, espanhol, informática, pré-vestibular, balé, música, desenho, teatro, vôlei,
basquete, futebol, judô, caratê e outros.
c) as despesas com o vestiário do afilhado, e/ou com o material escolar e/ou com
remédios, médicos, exames.
Assim sendo, esta modalidade de apadrinhamento pode propiciar a entrada no
mercado de trabalho aos afilhados adolescentes em bom nível de competitividade.
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No intuito de aderir à modalidade em tela, o padrinho/madrinha, ouvido o MP,
deverá firmar - com a 3ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso da Comarca da
Capital do Estado do Rio de Janeiro - o termo de responsabilidade das obrigações
financeiras assumidas pelo prazo mínimo de 1 (um) ano.
Cabe destacar que o apadrinhamento material poderá, também, estender-se ao
apadrinhamento afetivo. Neste caso, o padrinho/madrinha passará pelo curso para
padrinhos e poderá assumir afetivamente seu(s) afilhado(s), conforme foi explicitado
anteriormente. Importante destacar que a inclusão do apadrinhamento afetivo não
desobriga às obrigações materiais já assumidas.
V.III – APADRINHAMENTO FAMILIAR
Algumas famílias naturais solicitam ajuda aos programas de acolhimento
institucional no intuito de prestar assistência aos seus filhos não por falta de amor e
cuidado, mas, por falta de recursos econômicos. A equipe técnica da 3ª Vara da Infância,
Juventude e Idoso da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro ao detectar tal
possibilidade, incluirá a referida família natural como candidata ao apadrinhamento
familiar.
A partir da inclusão no sistema familiar, a equipe técnica buscará, em conjunto com
os parceiros da sociedade civil organizada, um ou vários padrinhos, podendo ser pessoa
física ou jurídica.
O apadrinhamento objetivará: propiciar condições dignas de habitação, higiene,
educação e trabalho. Será verificada a necessidade de mobiliário, eletrodomésticos,
vestiário, alimentação, educação e emprego para os adultos do núcleo familiar.
Os membros do sistema familiar, em tela, deverão freqüentar a escola de família,
curso de alfabetização de adultos, se for o caso, e cursos profissionalizantes oferecidos
pelo governo ou por entidades da sociedade civil.
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A família apadrinhada será acompanhada pela equipe técnica da 3ª Vara da
Infância, Juventude e Idoso da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro pelo
período de 1 (um) ano, onde já deverá ter condições de se manter por si própria.
As famílias só poderão ser apadrinhadas uma única vez, excepcionalmente, em
caso de falecimento de um dos mantenedores da família, ou acometimento de
enfermidade que o impeça de laborar, poderá o juízo, a partir de seu livre convencimento,
reinseri-la no programa em questão por período único, improrrogável, de 1 (um) não
sujeito a renovação.
V.IV - PADRINHO/MADRINHA PRESTADOR(A) DE SERVIÇO
Nesta modalidade, o padrinho/madrinha prestador de serviço apoiará o
apadrinhamento prestando serviços gratuitos, em suas horas disponíveis, de
conformidade com sua área de formação e de interesse.
Será firmado um Termo de Compromisso de Voluntariado com a 3ª Vara da
Infância, da Adolescência e do Idoso da comarca da capital do Estado do Rio de Janeiro e
o padrinho/madrinha passará a executar as atividades relacionadas à divulgação do
projeto, compilação de relatórios pré e pós apadrinhamento, ministrar aulas aos grupos
interessados no apadrinhamento, apoio na área de serviço social, psicologia, direito,
estatística, pedagogia, dentre outros.
V.V – PADRINHO/MADRINHA PESSOA JURÍDICA
A Sociedade, simples ou empresária, assim como OSCIPS, ONGS, fundações,
Entidades Religiosas, dentre outras, poderá apadrinhar uma determinada entidade de
acolhimento institucional.
O APADRINHAMENTO PESSOA JURÍDICA poderá ser realizado da seguinte
forma: Apoio material ou financeiro – exatamente da mesma forma que atuará o
PADRINHO MATERIAL:
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a) Prestação de Serviços visando divulgar o apadrinhamento entre seus empregados e
incentivando essa nova cultura;
b) Atividades de Cultura e Lazer no intuito de providenciar transporte e ingressos para
filmes, teatros, passeios, zoológico, cristo redentor, floresta da tijuca, pão de açúcar, rio
water planet, dentre outros;
c) Atividades de Formação Profissional com o objetivo de instalar sala de informática, com
equipamentos e instrutores, teatro, dança e/ou esportes.
A PESSOA JURÍDICA poderá, ainda, assumir a vida acadêmica (de) das crianças
ou adolescentes, comprometendo-se a arcar com suas despesas educacionais durante o
período de acolhimento institucional. Ressalte-se, nesse aspecto, a importância de prover
aos adolescentes cursos técnicos e profissionalizantes.
VI – PROCEDIMENTOS PARA SE TORNAR PADRINHO/MADRINHA VI.I - AFETIVO
O procedimento para o APADRINHAMENTO AFETIVO é simples. O candidato a
padrinho/madrinha deverá comparecer à 3ª Vara da Infância, Juventude e Idoso da
Comarca da Capital localizada na Avenida Ernani Cardoso nº 152, 1º andar, no bairro
Cascadura, fone: 21-25833512, e contatar o Setor de Psicologia e Serviço Social, para
agendar uma entrevista e levar cópia autenticada da carteira de identidade, CPF e
certidão de casamento, se houver, cópia simples do comprovante de residência e de
rendimentos.
Além disso, será fundamental a participação da entrevista com os profissionais
supracitados, podendo este número ser ampliado dependendo da particularidade do caso.
Em sendo casado(a), tendo companheira(o) e/ou filhos, os demais membros da entidade
familiar(,) também, serão entrevistados, vez que o apadrinhamento é um projeto que
afetará a dinâmica familiar como um todo.
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Após a realização da entrevista e do preenchimento do requerimento, o(s)
candidato(s) receberá (ão) uma visita domiciliar, previamente agendada, pela assistente
social do juízo mencionado anteriormente. A equipe técnica elaborará, então, um relatório
psicológico e social e o encaminhará ao Juiz.
A 3ª Vara da Infância, Juventude e Idoso da Capital do Estado do Rio de Janeiro,
em parceria com o Grupo de Apoio à Adoção ANA GONZAGA II (GAAAGll), propiciará aos
inscritos no PROJETO APADRINHAR um curso composto de 3 (três) sessões, com
duração de 1 hora e 30 minutos cada, que versará sobre o programa. As aulas serão
ministradas por psicólogos, assistentes sociais, advogados e pessoas que já tenham
passado por programas anteriores. Os palestrantes serão serventuários da justiça,
componentes do GAAAG II e voluntários. Ao final do curso será fornecido um certificado
com validade de 2 (dois) anos a todos os que frequentarem todas as aulas.
Posteriormente, após a decisão do Juiz, ouvido o representante do Ministério
Público, a equipe do PROJETO APADRINHAR entrará em contato com o candidato,
para que inicie as visitas a seu afilhado.
A equipe técnica fará um breve relato do histórico de vida da criança/adolescente a
ser apadrinhado, objetivando subsidiar o PADRINHO/MADRINHA com dados que
auxiliarão o bom desenvolvimento do projeto. Com a ciência do histórico o
padrinho/madrinha poderá atuar focalmente, auxiliando o afilhado em eventuais
dificuldades que tenha enfrentado.
A equipe técnica poderá autorizar a visitação durante a tramitação do procedimento
de certificação do padrinho/madrinha, desde que tais visitas atendam ao melhor interesse
das crianças e adolescentes envolvidos.
Serão realizadas pelo menos três visitas na instituição onde se encontrar
o(s)afilhado(s), no intuito de começar a estabelecer um vinculo com ele(s). Além disso, o
período de visitação pode ser ampliado em razão da disponibilidade do padrinho e da
receptividade do(s) afilhado (s) em questão. As visitas não poderão ser realizadas nos
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períodos das aulas ou das atividades extracurriculares da criança e/ou adolescente a ser
apadrinhado.
Em seguida, a equipe técnica do Projeto contatará o padrinho para encaminhar o
afilhado juntamente com o TERMO DE RESPONSABILIDADE nunca inferior a 6 (seis)
meses, assinado pelo Juiz e pelo(s) PADRINHO(s).
O referido TERMO DE RESPONSABILIDADE poderá ser revogado pelo Juízo caso
a equipe técnica da 3ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso verifique que a interação
entre padrinho/madrinha configure-se como prejudicial para o(s) afilhado(s).
Ao final do apadrinhamento, o padrinho/madrinha deverá participar de uma
avaliação do projeto, principalmente do período em que conviveu com a
criança/adolescente. A avaliação será realizada através de um questionário a ser
entregue à equipe técnica, em uma entrevista no Fórum, quando do término do
apadrinhamento, devendo ser acostada uma foto da criança com os padrinhos.
VI.II - MATERIAL
O candidato a padrinho/madrinha deverá comparecer à 3ª Vara da Infância,
Juventude e Idoso da Comarca da capital do Estado do Rio de Janeiro, localizada na
Avenida Ernani Cardoso nº 152, 1º andar, no bairro Cascadura, fone: 25833512, e
procurar o Setor de Psicologia E Serviço Social .
Acrescente-se, ainda, que deverá informar seu objetivo e sua condição de ajuda,
assim como o perfil da criança ou adolescente que deseja apadrinhar. A equipe técnica do
Juízo indicará a(s) criança(s)/adolescente(s) institucionalizado(s) para o
padrinho/madrinha, que poderá ou não aceitar os nomes sugeridos.
O padrinho/madrinha firmará, então, um TERMO DE RESPONSABILIDADE nunca
inferior a 1 (um) ano. Todavia, não será preciso freqüentar o Curso de Padrinhos, e
consequentemente não passará pela visita domiciliar realizada pela Assistente Social do
Juízo.
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VI.III - FAMILIAR
Em relação a esta modalidade, o candidato a padrinho/madrinha deverá
comparecer à 3ª Vara da Infância, Juventude e Idoso da Comarca da Capital do Estado
do Rio de Janeiro, situada na Avenida Ernani Cardoso nº 152, 1º andar, no bairro
Cascadura, fone: 21-25833512, e contatar o Setor de Psicologia e serviço social.
O referido candidato precisará informar seu objetivo e sua condição de ajuda. A
equipe técnica supracitada procurará uma família - inscrita no programa de
apadrinhamento familiar - e a repassará ao candidato a padrinho/madrinha que poderá
aceitar ou recusar tal escolha. O padrinho/madrinha firmará, então, um TERMO DE
RESPONSABILIDADE nunca inferior a 1 (um) ano.
O padrinho familiar frequentará o curso de Padrinhos, em procedimento similar ao
apadrinhamento afetivo, inclusive no que tange a visita domiciliar e realização de relatório
social e psicológico pela equipe técnica.
VI. IV- PRESTADOR DE SERVIÇO
O candidato deverá se dirigir à referida 3ª Vara da Infância, Juventude e Idoso da
Comarca da Capital, situada na Avenida Ernani Cardoso, nº 152, 1º andar, no bairro
Cascadura, tel: 21-25833512 e procurar a sala da equipe técnica da vara para se
inscrever nesta proposta de apadrinhamento. Outrossim, precisará encaminhar um
currículo sucinto, informando a atividade que deseja desempenhar, o horário disponível e
em que periodicidade.
Os profissionais responsáveis pela seleção do Projeto efetuarão a análise das
informações e entrarão em contato. Para os referidos padrinhos/madrinhas prestadores
de serviços será facultativo o comparecimento às aulas mencionadas no item relativo aos
PADRINHOS AFETIVOS, podendo a equipe técnica exigir a obrigatoriedade do curso,
caso haja necessidade para a melhoria do serviço prestado.
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VI. V- PESSOA JURÍDICA
O Representante Legal, administrador ou procurador, da pessoa jurídica deverá
encaminhar - pessoalmente ou portador - à equipe técnica da 3ª Vara da Infância,
Juventude e Idoso da Comarca supracitada, o contrato social ou estatuto social
autenticado ou publicado no Diário Oficial, cópias simples do CNPJ e do documento
comprobatório de competência para assinatura de Termo de Compromisso, onde
constarão nomes, cargos e qualificações completas dos representantes legais.
A pessoa jurídica deverá encaminhar correspondência, firmada por quem tenha
competência contratual ou estatutária para tal, onde conste a que se propõe no
PROJETO APADRINHAR.. Depois da análise da proposta, em um prazo máximo de
30 (trinta) dias a contar do recebimento da proposta, a equipe técnica em questão.
Entrará em contato para entregar o TERMO DE COMPROMISSO a ser firmado
juntamente com o perfil da(s) criança(s)/adolescente(s) indicados. Além disso, tais
profissionais enviarão ao padrinho nesta modalidade um relatório trimestral sobre o
acompanhamento de seus afilhados.
VI.VI – QUEM PODE SER PADRINHO/ MADRINHA AFETIVO(A)?
Qualquer pessoa física, com capacidade civil suprida, que demonstre, em
entrevista psicológica e social, apresentar disponibilidade emocional e tempo suficiente
para exercer a função de padrinho/madrinha. Há de se considerar, também, a
necessidade de receber, por parte da equipe técnica da Vara supramencionada, parecer
favorável.
O candidato já poderá encontrar-se habilitado à adoção, em fase de habilitação, já
ter adotado ou jamais ter participado de qualquer procedimento relacionado ao instituto da
adoção. Vale ressaltar que tais procedimentos são similares, mas, não correlacionados e
são totalmente independentes.
O instituto da adoção, cujo processamento ocorre na Vara da Infância, Juventude e
Idoso, não tem relação direta com o PROJETO APADRINHAR. Na adoção, os
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Requerentes passam, obrigatoriamente, por um processo de habilitação que, ao final, os
torna aptos a adotarem uma ou mais crianças, a depender do perfil selecionado. Os
Requerentes tornar-se-ão pais e mães adotivos para todos os efeitos, inclusive
sucessórios.
Já, no Projeto em tela, o procedimento é temporário e não gera relação de
parentesco e muito menos de direito sucessório. O projeto visa à construção de relações
afetivas saudáveis, que podem durar um certo período de tempo.
Através do PROJETO APADRINHAR busca-se quebrar paradigmas e
preconceitos, busca-se mostrar que a criança e o adolescente institucionalizados não são
tão diferentes das crianças e adolescentes que povoam os nossos cotidianos. Cuidar
dessas crianças e adolescentes é uma rara oportunidade de crescimento pessoal.
Embora não seja o objetivo principal da nossa proposta, é claro que podem surgir
casos de adoções, após o período em que padrinho/madrinha/afilhado/afilhada estiverem
juntos. Todavia, nesta hipótese, é imprescindível a prévia habilitação na Vara da Infância,
Juventude de competência da respectiva residência, atendendo, desta forma, as
exigências da legislação sobre o referido instituto.
O padrinho/madrinha, a depender de decisão judicial embasada no estudo
psicológico e social da equipe técnica do Juízo, poderá obter a guarda do(a) afilhado(a)
durante a tramitação do processo de habilitação, desde que seja comprovado pelo Juízo
que nenhuma pessoa habilitada, nacional ou estrangeiro, na Comarca, deseje adotá-lo.
Depois de prolatada a sentença de habilitação, o PADRINHO deverá requerer a
conversão da guarda em adoção, sendo dispensável outro estagio de convivência,
devendo a criança ou adolescente ser ouvido em audiência, quando manifestará a sua
vontade.
As etapas obrigatórias encontram-se inseridas na tipificação de cada forma de
APADRINHAMENTO, podendo em qualquer das espécies, ser prorrogado o prazo mínimo
estabelecido, desde que não haja objeção da equipe técnica, levando-se em conta
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sempre o melhor interesse da criança/adolescente.
VII – PÚBLICO ALVO
Crianças e adolescentes com possibilidades remotas de adoção, residentes em
entidade de acolhimento na capital do Estado do Rio de Janeiro, situado na área de
abrangência da 3ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso da Comarca da Capital do
Estado do Rio de Janeiro.
As crianças e adolescentes a serem apadrinhados se encontram em programa de
acolhimento institucional, na maioria das vezes há muitos anos, e não possuem quaisquer
condições de reinserção na família natural.
Os futuros afilhados serão preparados pelas equipes técnicas dos programas de
acolhimento institucional, para que desejem vivenciar novas experiências, sabendo que
após o término do prazo estipulado pelo juízo, deverão retornar à instituição onde se
encontravam anteriormente.
VIII – CURSO DE PADRINHOS
Os padrinhos para se tornarem aptos ao exercício da função, serão preparados em
curso(s) especializado(s) no tema, podendo ser reprovados, dependendo da avaliação da
equipe técnica da Vara supracitada.
O curso será ministrado pela equipe técnica da 3ª Vara da Infância, Juventude e
Idoso da Comarca em tela, podendo contar no quadro de instrutores com a presença de
pessoas ligadas aos grupos de apoio à adoção, em especial o Grupo de Apoio à Adoção
Ana Gonzaga II, profissionais que atuam nos programas de acolhimento institucional ou
familiar, profissionais que militam na área da infância e Juventude.
O Curso de Padrinhos será realizado anualmente, de preferência no horário
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noturno, e constará de 3 (três) sessões, de 1h 30m cada, onde serão abordados assuntos
como: violência física e psicológica, negligência e maus tratos, limites, vínculo e apego, a
contextualizar a vida destas crianças/adolescentes, aspectos jurídicos, as
responsabilidades sociais do cidadão e questões ligadas à comunicação e preconceitos
que podem causar impasses na interação padrinho-afilhado.
IX – EXECUTORES E APOIO
O PROJETO APADRINHAR será desenvolvido pela 3ª Vara da Infância,
Juventude e Idoso da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro em parceria com o
Grupo de Apoio à Adoção Ana Gonzaga II e contará com o apoio da ANGAAD e de outros
grupos irmãos como o Rosa com Adoção, Quintal da Casa de Ana, Adote de Rio das
Ostras, entre outros.
Acrescente-se, também, que as equipes técnicas dos abrigos contribuíram
significativamente com o projeto, comunicando constantemente à equipe técnica da vara
acerca dos encontros estabelecidos entre os candidatos a padrinhos/madrinhas e as
crianças/, indicados pelo Juízo para participar do projeto.
X – AVALIAÇÃO DO PROJETO
O projeto piloto será avaliado a cada dois anos pela equipe técnica da 3ª Vara da
Infância, Juventude e do Idoso para readequá-lo às realidades sociais e alterações
legislativas, visando o cumprimento dos objetivos acima elencados.
XI – Contatos
Projeto Apadrinhar: apadrinhar3vijirj@globo.com
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XII – DATA e ASSINATURAS Rio de Janeiro, 02 de dezembro de 2009.
Mônica Labuto
Juíza Titular da 3ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso
Ana Lúcia Simões
Psicóloga da 3ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso
Silvana do Monte Moreira
Coordenadora dos Grupos de Apoio à Adoção Ana Gonzaga I e II
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XII - REFERÊNCIAS Bowlby, J. (2004). Teoria do Apego e Perda. São Paulo: Editora Martins Fontes. Cuneo, M. R. (2007). Abrigamento prolongado: os filhos do esquecimento. Acesso em 05 de abril de 2010, disponível em http://www.mp.rj.gov.br: http://www.mp.rj.gov.br/portal/page/portal/MCA/Censo/Terceiro_Censo/7_Abrigamento.pdf Lauria, F. G. (2002). A Regulamentação de Visitas e o Princípio do Melhor Interesse da Criança. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris. Oliveira, G. d. (dezembro 2008). Apadrinhamento civil: uma iniciativa portuguesa, com certeza. Revista do Advogado , 37-46. Weber, L. N. (2006). Laços de Ternura: pesquisas e histórias de adoção. Curitiba: Editora Juruá. Vara da da Infância de Campo Grande. Projeto Padrinho - sua ajuda faz parte da justiça. Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Acesso em 05 de abril de 2010, disponível em ABRAMINJ: http://abraminj.ledes.net/manager/titan.php?target=openFile&fileId=343 Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande Sul e Instituto Amigos e Lucas. Programa de Apadrinhamento Afetivo Para Crianças e Adolescentes de abrigos do Rio Grande do Sul - Dê carinho, dê futuro. Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Acesso em 05 de abril de 2010, disponível em TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL: http://jij.tj.rs.gov.br/jij_site/docs/INFORMACOES/APADRINHAMENTO.HTM. Vara da Infância, da Juventude e do Idoso de Teresopolis. Lar Acolhedor. Teresopolis, Rio de Janeiro. Constituição da República Federativa do Brasil. (1988). Estatuto da Criança e do Adolescente. (1990). Assembléia da República. (11 de setembro de 2009). Lei 103. Regime Jurídico do Apadrinhamento. Portugal: Diário da República.